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FOTOGRAFIA E HISTÓRIA: A leitura de imagens do Colégio Imaculada Conceição Marisa Farias dos Santos Lima (UNEMAT) O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa realizada no Colégio Imaculada Conceição (CIC), localizado na cidade de Cáceres-MT. A investigação procurou estabelecer reflexões sobre algumas fotografias encontradas no acervo desta instituição. Dessa forma procurou-se conhecer os teóricos que trabalham a temática Fotografia e História como também analisar algumas fotografias encontradas no Acervo do Colégio Imaculada Conceição. O referencial teórico da pesquisa está delimitado principalmente nas obras de Burke (1997, 2000, 2004), Barthes (2008), Kossoy (2001, 2003, 2005), Arruda (2002), Martinez (2005), Pesavento (1994,2004) e Mauad (1996 e 1997). As imagens analisadas foram escolhidas por apresentarem fragmentos da realidade e apresentarem significados não explícitos na imagem. Dessa forma segundo Mauad (1996) a mensagem iconográfica processa-se no tempo tanto como imagem/documento quanto como imagem/monumento. Esse trabalho será elaborado em três etapas, a primeira apresenta as contribuições da história dos Annales desde o seu surgimento como também as transformações historiográficas ocorridas em especial da História Cultural. A segunda que tem como finalidade apresentar a fotografia como fonte de pesquisa. Com base de estudo os autores Martinez (2004); Kossoy (2001, 2003 e 2005), Barthes (2008), Burke (2004) e Mauad (1996 e 1997). A última tem como foco principal analisar as fotografias selecionadas durante o processo da pesquisa. Peter Burke em sua obra A Escola dos Annales (1929-1989): A Revolução Francesa da historiografia fez uma análise sobre o movimento dos Annales desde o seu surgimento. Nesta perspectiva Burke (1997) aborda a criticidade, o surgimento e a propagação do movimento iniciado por Marc Bloch e Lucien III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR 2127

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FOTOGRAFIA E HISTÓRIA: A leitura de imagens do Colégio Imaculada

Conceição

Marisa Farias dos Santos Lima (UNEMAT)

O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa realizada no

Colégio Imaculada Conceição (CIC), localizado na cidade de Cáceres-MT.

A investigação procurou estabelecer reflexões sobre algumas

fotografias encontradas no acervo desta instituição.

Dessa forma procurou-se conhecer os teóricos que trabalham a

temática Fotografia e História como também analisar algumas fotografias

encontradas no Acervo do Colégio Imaculada Conceição. O referencial teórico

da pesquisa está delimitado principalmente nas obras de Burke (1997, 2000,

2004), Barthes (2008), Kossoy (2001, 2003, 2005), Arruda (2002), Martinez

(2005), Pesavento (1994,2004) e Mauad (1996 e 1997).

As imagens analisadas foram escolhidas por apresentarem

fragmentos da realidade e apresentarem significados não explícitos na

imagem.

Dessa forma segundo Mauad (1996) a mensagem iconográfica

processa-se no tempo tanto como imagem/documento quanto como

imagem/monumento.

Esse trabalho será elaborado em três etapas, a primeira

apresenta as contribuições da história dos Annales desde o seu surgimento

como também as transformações historiográficas ocorridas em especial da

História Cultural.

A segunda que tem como finalidade apresentar a fotografia como

fonte de pesquisa. Com base de estudo os autores Martinez (2004); Kossoy

(2001, 2003 e 2005), Barthes (2008), Burke (2004) e Mauad (1996 e 1997). A

última tem como foco principal analisar as fotografias selecionadas durante o

processo da pesquisa.

Peter Burke em sua obra A Escola dos Annales (1929-1989): A

Revolução Francesa da historiografia fez uma análise sobre o movimento dos

Annales desde o seu surgimento.

Nesta perspectiva Burke (1997) aborda a criticidade, o

surgimento e a propagação do movimento iniciado por Marc Bloch e Lucien

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Febvre, batizado posteriormente por Escola dos Annales, em homenagem a

revista Annales d’ Histórie Économique et Sociale, criada pelos mesmos em

1929. O autor faz uma análise a respeito da teoria e da prática do historiador

com as demais áreas do conhecimento, sendo planejada, desde o seu início,

para ser algo mais do que outra revista histórica.

Lucien Febvre e Marc Bloch foram os impulsionadores da

revolução historiográfica, pois não concordavam com o tipo de história que

privilegiam heróis e os grandes feitos destes, voltando apenas para o campo

político.

A Escola dos Annales, segundo Burke (1997), pode ser analisada

em três momentos: A Primeira Geração fase em que demonstrou as

particularidades dos métodos e conceitos até então diferentes do que até então

havia se produzido. Lucien Febre e Marc Bloch são os dois líderes desse

período inicial.

Na Segunda Geração O principal impulsionador teórico foi

Fernand Braudel o qual tornou-se diretor da revista após Febvre. Sua

participação nesse contexto foi o enfoque dado ao pensamento de que a

estrutura está sujeitas as mudanças, as quais podem ocorrer de forma lenta.

A Terceira Geração corresponde a várias mudanças intelectuais,

como por exemplo a ideia de que o centro do pensamento histórico estava em

vários lugares ou espaços. Assim houve a abertura para o estudo de novas

temáticas, fato que causou comentários sobre uma possível fragmentação.

A Escola dos Annales foi se desenvolvendo e criando um corpo

de discípulos voltados para a problemática. Após a morte de Bloch, a direção

da Revista dos Annales fica sob a responsabilidade de Febvre, que veio a

publicar uma obra sobre a religião dos Rabelais. Sua obra juntamente com as

de Bloch, impulsionou a história das mentalidades. Febvre por muito tempo

comandou esses revolucionários intelectuais da história francesa e deixou em

seu lugar Fernand Braudel.

Lucien Febvre conheceu Braudel quando este estava escrevendo

o Mediterrâneo, durante a segunda Guerra mundial. Braudel fez uma análise

das difusões das fronteiras culturais, políticas e econômicas, produziu sua obra

como um todo, ou seja, uma visão de história totalizante e contribuiu

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significativamente para a transformação das nações de tempo e espaço, dentro

de um conceito como nenhum outro historiador havia feito até o momento.

Burke destaca ainda a importância de um grupo de jovens e pela

primeira vez por mulheres dentre as que mais se destacaram Christiane

Klapich, Arlete Farge dentre outras, esse grupo foi responsável pela

fragmentação da história, iniciou-se a partir de então, um movimento feminista,

o qual deu mais ênfase a cultura e a mentalidade, houve também um retorno à

política ligada à narrativa e maior preocupação com a antropologia (etno-

história). Surge então uma “Nova História”.

Nesse momento, a Antropologia estava passando por

modificações, indo rumo a uma Antropologia cultural, onde se destacou vários

pesquisadores como Piere Bourdieu que trabalhava com a sociedade da

Educação como instrumento de reprodução social. Roger Chartier que produziu

ensaios preocupados com a re-escrita e transformação que ocorria nos textos

particulares visando à imagem do outro, a figura do imaginário e a sociedade

como representação dentre outro.

Pode-se dizer que esse grupo composto por mulheres, o retorno

á política foi reação contra Braudel e seu determinismo, esse retorno tem como

alicerce entre outros, Michel Foucault. A história produzida pelos Annales

tornou-se popular, despertando o interesse do público pela História Nova.

Nesta perspectiva Burke (2000) em seu trabalho Variedades da

História Cultural, afirma que precisamente em 1800 foi o inicio da fase que o

autor chama de História Cultural, com o surgimento de nomes como

Burckchardt e Huizinga. Apesar de ambos partilharam de algumas

discordâncias de análise, os mesmos tiveram os propósitos iguais, ou seja, a

busca de conhecimentos e pesquisa em diversos tipos de arte, para chegar ao

estudo da cultura.

A partir de então, despertou a curiosidade em vários estudiosos

em diferentes países. Como destaca o autor:

Não há concordância sobre o que constitui história cultural, menos

ainda sobre o que constitui cultura. Há mais de quarenta anos, dois

estudiosos americanos começaram a mapear as variações do

emprego do termo em inglês, e reuniram mais de duzentas definições

concorrentes. Levando-se em conta outras línguas e as últimas

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quartas décadas, seria fácil reunir muito mais. Portanto, na busca de

nosso tema talvez fosse adequado adaptar a definição de homem dos

existencialistas e dizer que a história cultural não tem essência. “Só

pode ser definida em termos de nossa própria história”. (BURKE,

2000, p.13).

Portanto, segundo o autor existem motivos internos e externos na

história cultural para que esta venha se ocupar com a história da cultura

popular. Internamente, havia uma reação contra história política, a história

econômica e as deficiências apresentadas pela história cultural, pois todas não

incluíam o povo em suas pesquisas, além dos aspectos destes se verem como

os únicos inovadores da disciplina.

Exteriormente temos a influência da ascensão dos estudos

culturais, seguido de uma crítica á visão monocular da cultura que enfatizava

unicamente a cultura tradicional, além de tentar entender o “[...] mundo das

mercadorias, publicidade e TV”. (BURKE, 2005: 31).

Tais problemas são de mera reflexão, pois são alguns fatos que

apontam serem objetos da História Cultural, dentre elas destaca textos ou

imagens que retrata o período de uma determinada sociedade, sem pensar

pela qual motivo e sem problematizar os mesmos.

Nesta perspectiva a história cultural é uma forma que o historiador

encontrou para ser livrar da mesmice que a história é simplesmente passada

desenvolvendo assim uma metodologia de estudo ampla de um determinado

documento ou fonte histórica.

Sandra Jathay Pesavento em sua obra História e História Cultural

(2004) destaca que a historia cultural pode ser referida como história do tempo

presente, é algo ainda a desenvolver. Trata-se de uma história ainda não

acabada, em que o historiador não cumpre o seu papel de reconstruir um

processo já acabado que se conhecem o fim e as conseqüências.

A autora ainda afirma que a história cultural possibilita vários

campos metodológicos;

“[...] indo das práticas às representações, cruzando formas de agir e

pensar, resgatando a forma pela qual relações sociais concretas e

materiais eram traduzidas em termos de cultura e incorporadas

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através de valores, idéias e normas institucionais”. (PESAVENTO,

1994, p. 129).

Em sua obra Testemunha Ocular (2004) Peter Burke apresenta

que é necessário especificar também as novas fontes que passaram a serem

utilizadas na escrita da história dentro da proposta teórico-metodológica da

História Cultural, em especial as fotografias que segundo o autor servem para

apoiar as interpretações de sociedades e idéias de um determinado período

histórico.

Vale ressaltar que existem vários autores que se dedicam ao estudo da

temática fotografia e história, portanto, para efeito desse estudo serão apresentados as

contribuições de Kossoy (2001), Burke (2004), Mauad (1996 e 1997) e Martinez

(1996).

Os autores citados afirmam que as imagens fotográficas não devem ser

entendidas apenas como uma reprodução de um momento ou situação casual, mas

devem ser entendidas e analisadas como fonte histórica digna de investigação.

Segundo Boris Kossoy (2001), a imagem fotográfica possui várias

facetas e realidades, assim, segundo o autor:

As fontes fotográficas são uma possibilidade de investigação e

descoberta que promete frutos na medida em que se tentar

sistematizar suas informações, estabelecer metodologias adequadas

de pesquisa e análise para decifração de seus conteúdos, e por

conseqüência, da realidade que os originou.” (KOSSOY, 2001 p.32)

Dentro dessa perspectiva o autor também evidencia que alguns fatores

devem ser observados na análise do documento: a tecnologia empregada, atuação do

fotógrafo, as casas editoriais, os ‘‘consumidores’’ dessas imagens e etc, Segundo

Kossoy esses itens podem influenciar no reconhecimento do significado da fotografia.

Burke (2004) afirma que os historiadores da arte ao analisar uma

imagem ou descrevê-las têm que entender que não são apenas meras

ilustrações e sim um documento ou fonte histórica que deve ser analisada

cautelosamente, pois sua complexidade é ampla.

As fotografias ou imagens apresentam pontos interessantes de

observação, as quais servem, segundo o autor, para distorcer a realidade

social a qual reflete e não devem ser consideradas simples reflexões de suas

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épocas e lugares, mas sim extensões dos contextos sociais em que elas foram

produzidas.

Assim, o autor destaca no início do seu trabalho a seguinte

pergunta: como podem as imagens ser utilizadas como evidência histórica? É

prudente iniciar pelo seu sentido. Porém, pode o sentido de imagens ser

traduzido em palavras? Segundo o autor a imagens são feitas para comunicar.

Num outro sentido elas nada nos revelam. Imagens são irremediavelmente

mudas. O autor apropria-se da afirmação de Michel Foucault; “[...] o que vemos

nunca está no que dizemos”. (BURKE, 2004, p. 43).

O teórico exemplifica dois enfoques comuns para se interpretar

uma imagem são elas: a Iconografia e a Iconologia, ambas evidentemente

utilizadas na análise e compreensão da fotografia apresentada como uma fonte

histórica extremamente rica, que traz embutida a possibilidade do produtor e

todo contexto no qual foi concebida.

Nesta perspectiva a Iconografia, é uma percepção repentina de

uma determinada imagem, entretanto essa mesma imagem pode ser

interpretada de forma diferenciada. Já a Iconologia diferentemente da

iconografia tenta explicar a imagem e representações de único período.

A imagem, ela também, ao ser lida a posteriori pelo historiador, pelo

especialista e pelo leigo é reconstruída a cada época. A ela, no

conjunto ou nos detalhes, são agregados novos significados e

valores. Por isso mesmo as imagens podem despertar maior ou

menor interesse em cada momento histórico, de acordo com a

apropriação que se faz delas. (PAIVA, 2002).

Portanto os enfoques iconográficos e iconológicos assumem um

importante papel, auxiliando os historiadores a reconstruir sensibilidades do

passado. (BURKE, 2004, p. 56).

Outra pergunta apresentada pelo autor diz respeito ao significado

das imagens e principalmente significado para quem? Burke (2007) destaca

que a importância e o significado das imagens dependem do contexto social.

Neste sentido, ao tratar a imagens como evidência, deve-se estar

alerta para a questão de que muitas delas não foram elaboradas com esse

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propósito, mas para cumprir uma função estética, religiosa e política.

(MARTINEZ, 2004).

Sendo assim a fotografia compreendida, deixa de ser uma

imagem retirada no tempo para se tornar uma mensagem que se processa

através do tempo, tanto como imagem/documento quanto como

imagem/monumento. (CARDOSO E MAUAD, 1997). Neste contexto, a imagem

fotográfica compreendida como documento revela aspectos da vida material de

um determinado tempo do passado que vai além de uma descrição verbal

detalhada.

Assim, segundo os autores, o pesquisador deve fazer uma leitura

que ultrapasse a avaliação da fotografia como mera ilustração e não deve se

restringir à avaliação iconográfica da foto.

Dessa forma a imagem fotográfica como monumento, impõe ao

historiador uma avaliação que ultrapasse o âmbito descritivo. Neste caso, ela é

agente do processo de criação de uma memória que deve promover tanto a

legitimação de uma determinada escolha quanto, por outro lado, o

esquecimento de todas as outras. (CARDOSO E MAUAD, 1997).

Sobre esse aspecto Martinez (2004) ainda afirma como qualquer

outro documento a fotografia sem dúvida é um documento histórico que

necessita extremamente de uma análise profunda respeitando um critério de

seleção. Portanto, Martinez (2004) destaca três pontos essenciais para que

esse material seja analisado:

O primeiro passo é entender que, numa dada sociedade, coexistem e

se articulam múltiplos códigos e níveis de codificação, que fornecem

significados ao universo cultural dessa mesma sociedade. Os códigos

são elaborados na prática social e não podem nunca ser vistos como

entidades a-históricas. O segundo passo é conceder a fotografia

como resultado de um processo de construção de sentido. A

fotografia, assim concebida, revela-nos, através do estudo da

produção da imagem, uma pista para se chegar ao que não está

aparente ao primeiro olhar, mas que concede sentido à foto. “O

terceiro passo é perceber que a relação acima proposta não é

automática, posto que entre o sujeito que olha e a imagem que

elabora existe todo um processo de investimento de sentido que deve

ser avaliado”. (MARTINEZ, 2004, p. 08, grifo da autora).

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Nesta perspectiva, com base nos estudos de semiótica, Mauad

(1996) sugere observar alguns pontos para superar a mera “analogia” da

fotografia com a realidade, concepção própria do senso comum são eles: a) a

relação entre signo e imagem: no contexto da mensagem veiculada, a imagem

incorpora funções sígnicas (como representação simbólica); b) a relação entre

o plano do conteúdo (elementos da fotografia relacionados ao contexto no qual

se insere como o corte temático e/ou temporal) e o plano da expressão

(compreensão das opções técnicas e estéticas); c) compreender a fotografia

como uma escolha efetuada em um conjunto de escolhas possíveis. (MAUAD,

1996).

Neste contexto pode-se analisar que todas as fotografias de

grandes ou pequenos eventos registradas no universo escolar são

acontecimentos que de certa forma guardam consigo algum tipo de

recordação. Entretanto essas fotografias nos mostram aspectos importantes e

significativos diversos do cotidiano escolar. É neste sentido a autora destaca

“[...] A fotografia não fala por si só, é necessário que as perguntas sejam

feitas”. (MAUAD, 1996, p.10)

Mauad (1996) levanta alguns questionamentos ao analisar as

fotografias; quais as finalidades são destacadas para que essas fotografias

sejam tiradas essas fotografias? Porque e por quem são conservadas?

Assim este estudo pressupõe em analisar algumas fotografias que

estão no acervo do Colégio Imaculada Conceição localizada nesta Cidade de

Cáceres-MT, como será apresentado no capítulo seguinte.

Segundo Barthes (2008, p. 13) “[...] o que a fotografia reproduz ao

infinito só ocorreu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais

poderá repetir-se existencialmente”.

Partindo do pressuposto de que as fotografias podem ser

comparadas a fragmentos de tempos históricos, este capítulo tem por objetivo

apresentar algumas imagens que retratam o cotidiano do Colégio Imaculada

Conceição, localizado na cidade de Cáceres-MT.

A escolha por esta instituição ocorreu devido o acervo fotográfico

que a escola possui além de ser uma instituição centenária e ser a

materialização da presença da educação católica no município e ser referencia

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de formação para os filhos da elite cacerense. Assim, objetivou-se ao analisar

as imagens perceber resquícios do cotidiano escolar.

Uma das dificuldades encontradas para a realização da pesquisa

foi a falta de informação quanto aos autores das fotografias, o instrumento

fotográfico utilizado e o ano da sua realização.

As irmãs Azuis são chamadas a irem mais longe, a palmilhar

caminhos novos e desconhecidos, sempre longe, onde a voz dos pobres as

chamar. De Cáceres vêm apelos que encontram eco no seu coração

missionário que, animado pelo espírito da madre Emilie, sua fundadora, ardia

de zelo pela salvação das almas.

A escolha pelas fotografias do Colégio Imaculada Conceição

ocorreu porque a escola é considerada tradicional na cidade e possui um

acervo grande sobre a escola e a cidade de Cáceres.

Segundo Kossoy (2003, p. 37) a fotografia é um “[...] fragmento

congelado de uma realidade passada”. Assim, segundo o autor ela não

reproduz apenas um local ou lugar de memória, mas retrata também pessoas e

suas particularidades, propositalmente apresentadas ou não, cabe ao

pesquisador, segundo Kossoy, desvendar o ontem com os olhos de “hoje”.

Algo que deve ser analisado segundo Kossoy é pensar as

diferentes e simultâneas realidades que a fotografia comporta, assim segundo

o autor:

Os homens colecionam esses inúmeros pedaços congelados do

passado, em forma de imagens, para que possam recordar, a

qualquer momento, trechos de suas trajetórias ao longo da vida.

Apreciando essas imagens, “descongelam” momentaneamente seus

conteúdos e contam a si mesmos e aos mais próximos suas histórias

de vida. Acrescentando, omitindo ou alterando fatos e circunstâncias

que advêm de cada foto, o retratado ou o retratista tem sempre, na

imagem única ou no conjunto das imagens colecionadas, o start da

lembrança, da recordação, ponto de partida, enfim, da narrativa dos

fatos e emoções. (KOSSOY, 2005, p. 43)

As imagens selecionadas para essa pesquisa apresentam

situações diferenciadas tais como as categorias de grupos de alunas e

religiosas, situações no interior de sala de aula.

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Fotografia 1:

Fotografia 1 Acervo Colégio Imaculada Conceição

A fotografia 1 não possui identificação sobre qual o motivo da foto

ou quem são as aulas e a religiosa presentes na imagem. Vale ressaltar que a

imagem foi selecionada, pois apresenta um possível padrão de fotografia para

apresentar as turmas do colégio.

Na maioria das imagens do acervo as alunas são apresentadas

assim e com a presença da professora da turma. Em algumas imagens as

meninas estão de joelhos e a religiosa sentada ou em pé.

Outro aspecto a ser observado diz respeito ao uniforme escolar,

apesar da imagem não ser colorida, mas segundo depoimento da bibliotecária

da escola, os uniformes sempre eram azuis com detalhes em branco,

possivelmente para relacionar a cor do hábito da Ordem a qual as religiosas

faziam parte. A organização das alunas, divididas por faixa etária e nível

escolar, isso parece remeter a disciplina e ordem, critérios presentes nas

escolas religiosas.

A figura central da imagem parece ser representada pela

religiosa, a qual se distingue das demais personagens não somente pela faixa

etária, mas também pela pose contida. Essa imagem possivelmente foi tirada

com alunas que não estavam matriculadas como internas, já que a instituição

oferecia tanto o regime de internato como o de externato. O primeiro era

oferecido para as jovens que escolhiam a vocação religiosa.

Fotografia 2:

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Fotografia 2 Acervo Colégio Imaculada Conceição

A fotografia 2 também não possui registro de data ou ano, a

escolha por essa imagem ocorreu devido pois apresenta um arranjo estético, a

disposição das carteiras, a luminosidade que entra pelas janelas amplas, a

concentração das alunas, parecem comunicar a ordem e a disciplina

necessários para a aprendizagem.

Essa imagem foi selecionada porque foge do padrão de imagens

encontradas no Colégio, ou seja, a maioria das imagens que apresentam as

salas de aula, nelas a presença da professora é imprescindível.

Pode-se perceber que as alunas estão concentradas na leitura de

um livro, possivelmente essa imagem retrata um dia de aula como outro

qualquer, entretanto surge um questionamento será que essas meninas eram

comportadas mesmo? Ou será que foi apenas uma “pose” para que a fotografia

fosse tirada?

Essa imagem percebe-se disciplinarização dos alunos

principalmente em relação ao uniforme sempre padronizado é interessante

observar que eram vestidos ou saias abaixo do joelho, ou seja, o corpo em

momento algum era exposto.

O plano de tomada da fotografia valoriza a completude da sala de

aula e as alunas, nesse período, as melhores alunas assentavam-se nas

primeiras carteiras de cada fila.

Fotografia 3:

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Fotografia 3 Acervo Colégio Imaculada Conceição

Na fotografia 03 o primeiro plano destaca professora e aluna em

aprendizado, vale ressaltar que a presença religiosa na imagem é explicito no

hábito da madre e no desenho do terço no canto do quadro negro.

A mobília da sala é simples apenas um armário, sobre a

organização das carteiras ela se faz presente, contudo a postura das aulas

demonstra descontração. O uniforme das alunas em relação às imagens

anteriores demonstrou mudanças, as mangas mais curtas e a sobriedade

sustentada com a introdução da gravatinha. Sobre esse aspecto Lonza (2005,

p.32) afirma que o uniforme tem três funções básicas: “[...] representar a

identidade da instituição, promover a segurança dos alunos fora da escola e

estimular o orgulho dos estudantes pelo colégio”. Esse modelo de uniforme foi

um dos mais bonitos da escola em conversa informal com uma ex-aluna do

CIC, nos eventos cívicos o uniforme do CIC era sempre o mais destacado.

Assim segundo o autor a roupa torna-se motivo de orgulho e

respeito. Outro fator que deve ser destacado é que o uniforme também

evidencia tendências da moda segundo a época das fotografias. Sobre a

Fotografia 3, não há como indicar essa afirmação, pois não há identificação de

data, porém, é possível perceber um elemento diferenciado, no caso a

gravatinha, que mescla um acessório masculino em roupa feminina e mais em

um uniforme de uma escola religiosa e tradicional da cidade de Cáceres.

Fotografia 4:

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Fotografia 4 Acervo Colégio Imaculada Conceição

A fotografia 4 apresenta a imagem do prédio do Colégio

Imaculada Conceição apresenta a reforma e o aumento do prédio no período

de 1939-1940 mais ou menos conforme assinalado a caneta na própria

fotografia. Esta imagem destaca as transformações ocorridas no colégio, como

também na própria cidade fazendo jus ao discurso governamental de que era

preciso a construção de novos prédios adequados à Educação, devido às

mudanças ocorridas no âmbito da Legislação Educacional com as

transformações no ensino ocasionadas pela Reforma Capanema.

A localização do CIC pode ser considerada emblemática, pois

está inserido em uma região onde as relações culturais, sociais e simbólicas

são definidas como apresentou Arruda (2002). Esse espaço segundo o autor

resumia-se entre a Matriz, a Praça Barão e o rio Paraguai, na esquina com a

praça está localizado o Colégio Imaculada Conceição.

Sobre a documentação vale ressaltar que a maioria das

fotografias guardadas no CIC não possuem identificações, ocasionando

dificuldades na reconstituição histórica.

Como afirma Martinez (2004) a fotografia como documento

desempenhou um determinado papel na construção cultural da sociedade. Ou

seja, os autores pesquisados auxiliaram-me no sentido de compreender que

além de servirem como testemunhas de situações passadas, as fotografias são

portadoras de sentidos que determinados grupos, através delas, pretendiam

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imprimir numa sociedade num dado momento histórico. (MARTINEZ, 2004, p.

23).

Pode-se dizer que as fotografias analisadas certamente tinham

um propósito em demonstrar a ordem, a disciplina e principalmente o legado da

qualidade de ensino marca das instituições católicas de ensino.

Dessa forma pode-se afirmar que as imagens escolhidas

possivelmente demonstram autoridade e respeito em relação aos alunos que

ali estudavam, as maneiras de vestir e se comportar. Vale ressaltar que as

imagens escolhidas são em sua maioria reflexos do cotidiano escolar. Contudo

faz-se necessário uma abordagem mais aprofundada sobre elas.

Assim, pode-se concluir que as fotografias escolares sem dúvida são

documentos que se constituem como valiosas fontes para a pesquisa sobre a

história da educação.

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LONZA, Furio. et al. História do Uniforme Escolar no Brasil. São Paulo, Editora Rhodia, 2005. PESAVENTO, Sandra Jathay. Um novo olhar sobre a cidade: a nova historia

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Alegre na virada do século XIX: Cultura e Sociedade. Porto Alegre/Canoas/São

Leopoldo;Ed. Da UFRGS/Ed.Unisinos, 1994, p. 126-143.

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MARTINEZ, Silvia Alicia. O uso da fotografia na história da Educação: Leituras (possíveis) de um retrato de formatura. Anais do III Seminário Internacional das Redes de Conhecimento e Tecnologia-Professoras e professores: textos, imagens e som. Rio de Janeiro, 2005. MAUAD, Ana Maria. Através da imagem: fotografia e história: Interfaces. 1996,Revista Tempo, vol.1 n. 2, p. 73-98 Disponível in: http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg2-4.pdf. Acessado em 18/nov./2010.

 

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