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FOTOGRAFIA E HISTÓRIA: A leitura de imagens do Colégio Imaculada
Conceição
Marisa Farias dos Santos Lima (UNEMAT)
O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa realizada no
Colégio Imaculada Conceição (CIC), localizado na cidade de Cáceres-MT.
A investigação procurou estabelecer reflexões sobre algumas
fotografias encontradas no acervo desta instituição.
Dessa forma procurou-se conhecer os teóricos que trabalham a
temática Fotografia e História como também analisar algumas fotografias
encontradas no Acervo do Colégio Imaculada Conceição. O referencial teórico
da pesquisa está delimitado principalmente nas obras de Burke (1997, 2000,
2004), Barthes (2008), Kossoy (2001, 2003, 2005), Arruda (2002), Martinez
(2005), Pesavento (1994,2004) e Mauad (1996 e 1997).
As imagens analisadas foram escolhidas por apresentarem
fragmentos da realidade e apresentarem significados não explícitos na
imagem.
Dessa forma segundo Mauad (1996) a mensagem iconográfica
processa-se no tempo tanto como imagem/documento quanto como
imagem/monumento.
Esse trabalho será elaborado em três etapas, a primeira
apresenta as contribuições da história dos Annales desde o seu surgimento
como também as transformações historiográficas ocorridas em especial da
História Cultural.
A segunda que tem como finalidade apresentar a fotografia como
fonte de pesquisa. Com base de estudo os autores Martinez (2004); Kossoy
(2001, 2003 e 2005), Barthes (2008), Burke (2004) e Mauad (1996 e 1997). A
última tem como foco principal analisar as fotografias selecionadas durante o
processo da pesquisa.
Peter Burke em sua obra A Escola dos Annales (1929-1989): A
Revolução Francesa da historiografia fez uma análise sobre o movimento dos
Annales desde o seu surgimento.
Nesta perspectiva Burke (1997) aborda a criticidade, o
surgimento e a propagação do movimento iniciado por Marc Bloch e Lucien
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Febvre, batizado posteriormente por Escola dos Annales, em homenagem a
revista Annales d’ Histórie Économique et Sociale, criada pelos mesmos em
1929. O autor faz uma análise a respeito da teoria e da prática do historiador
com as demais áreas do conhecimento, sendo planejada, desde o seu início,
para ser algo mais do que outra revista histórica.
Lucien Febvre e Marc Bloch foram os impulsionadores da
revolução historiográfica, pois não concordavam com o tipo de história que
privilegiam heróis e os grandes feitos destes, voltando apenas para o campo
político.
A Escola dos Annales, segundo Burke (1997), pode ser analisada
em três momentos: A Primeira Geração fase em que demonstrou as
particularidades dos métodos e conceitos até então diferentes do que até então
havia se produzido. Lucien Febre e Marc Bloch são os dois líderes desse
período inicial.
Na Segunda Geração O principal impulsionador teórico foi
Fernand Braudel o qual tornou-se diretor da revista após Febvre. Sua
participação nesse contexto foi o enfoque dado ao pensamento de que a
estrutura está sujeitas as mudanças, as quais podem ocorrer de forma lenta.
A Terceira Geração corresponde a várias mudanças intelectuais,
como por exemplo a ideia de que o centro do pensamento histórico estava em
vários lugares ou espaços. Assim houve a abertura para o estudo de novas
temáticas, fato que causou comentários sobre uma possível fragmentação.
A Escola dos Annales foi se desenvolvendo e criando um corpo
de discípulos voltados para a problemática. Após a morte de Bloch, a direção
da Revista dos Annales fica sob a responsabilidade de Febvre, que veio a
publicar uma obra sobre a religião dos Rabelais. Sua obra juntamente com as
de Bloch, impulsionou a história das mentalidades. Febvre por muito tempo
comandou esses revolucionários intelectuais da história francesa e deixou em
seu lugar Fernand Braudel.
Lucien Febvre conheceu Braudel quando este estava escrevendo
o Mediterrâneo, durante a segunda Guerra mundial. Braudel fez uma análise
das difusões das fronteiras culturais, políticas e econômicas, produziu sua obra
como um todo, ou seja, uma visão de história totalizante e contribuiu
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significativamente para a transformação das nações de tempo e espaço, dentro
de um conceito como nenhum outro historiador havia feito até o momento.
Burke destaca ainda a importância de um grupo de jovens e pela
primeira vez por mulheres dentre as que mais se destacaram Christiane
Klapich, Arlete Farge dentre outras, esse grupo foi responsável pela
fragmentação da história, iniciou-se a partir de então, um movimento feminista,
o qual deu mais ênfase a cultura e a mentalidade, houve também um retorno à
política ligada à narrativa e maior preocupação com a antropologia (etno-
história). Surge então uma “Nova História”.
Nesse momento, a Antropologia estava passando por
modificações, indo rumo a uma Antropologia cultural, onde se destacou vários
pesquisadores como Piere Bourdieu que trabalhava com a sociedade da
Educação como instrumento de reprodução social. Roger Chartier que produziu
ensaios preocupados com a re-escrita e transformação que ocorria nos textos
particulares visando à imagem do outro, a figura do imaginário e a sociedade
como representação dentre outro.
Pode-se dizer que esse grupo composto por mulheres, o retorno
á política foi reação contra Braudel e seu determinismo, esse retorno tem como
alicerce entre outros, Michel Foucault. A história produzida pelos Annales
tornou-se popular, despertando o interesse do público pela História Nova.
Nesta perspectiva Burke (2000) em seu trabalho Variedades da
História Cultural, afirma que precisamente em 1800 foi o inicio da fase que o
autor chama de História Cultural, com o surgimento de nomes como
Burckchardt e Huizinga. Apesar de ambos partilharam de algumas
discordâncias de análise, os mesmos tiveram os propósitos iguais, ou seja, a
busca de conhecimentos e pesquisa em diversos tipos de arte, para chegar ao
estudo da cultura.
A partir de então, despertou a curiosidade em vários estudiosos
em diferentes países. Como destaca o autor:
Não há concordância sobre o que constitui história cultural, menos
ainda sobre o que constitui cultura. Há mais de quarenta anos, dois
estudiosos americanos começaram a mapear as variações do
emprego do termo em inglês, e reuniram mais de duzentas definições
concorrentes. Levando-se em conta outras línguas e as últimas
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quartas décadas, seria fácil reunir muito mais. Portanto, na busca de
nosso tema talvez fosse adequado adaptar a definição de homem dos
existencialistas e dizer que a história cultural não tem essência. “Só
pode ser definida em termos de nossa própria história”. (BURKE,
2000, p.13).
Portanto, segundo o autor existem motivos internos e externos na
história cultural para que esta venha se ocupar com a história da cultura
popular. Internamente, havia uma reação contra história política, a história
econômica e as deficiências apresentadas pela história cultural, pois todas não
incluíam o povo em suas pesquisas, além dos aspectos destes se verem como
os únicos inovadores da disciplina.
Exteriormente temos a influência da ascensão dos estudos
culturais, seguido de uma crítica á visão monocular da cultura que enfatizava
unicamente a cultura tradicional, além de tentar entender o “[...] mundo das
mercadorias, publicidade e TV”. (BURKE, 2005: 31).
Tais problemas são de mera reflexão, pois são alguns fatos que
apontam serem objetos da História Cultural, dentre elas destaca textos ou
imagens que retrata o período de uma determinada sociedade, sem pensar
pela qual motivo e sem problematizar os mesmos.
Nesta perspectiva a história cultural é uma forma que o historiador
encontrou para ser livrar da mesmice que a história é simplesmente passada
desenvolvendo assim uma metodologia de estudo ampla de um determinado
documento ou fonte histórica.
Sandra Jathay Pesavento em sua obra História e História Cultural
(2004) destaca que a historia cultural pode ser referida como história do tempo
presente, é algo ainda a desenvolver. Trata-se de uma história ainda não
acabada, em que o historiador não cumpre o seu papel de reconstruir um
processo já acabado que se conhecem o fim e as conseqüências.
A autora ainda afirma que a história cultural possibilita vários
campos metodológicos;
“[...] indo das práticas às representações, cruzando formas de agir e
pensar, resgatando a forma pela qual relações sociais concretas e
materiais eram traduzidas em termos de cultura e incorporadas
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através de valores, idéias e normas institucionais”. (PESAVENTO,
1994, p. 129).
Em sua obra Testemunha Ocular (2004) Peter Burke apresenta
que é necessário especificar também as novas fontes que passaram a serem
utilizadas na escrita da história dentro da proposta teórico-metodológica da
História Cultural, em especial as fotografias que segundo o autor servem para
apoiar as interpretações de sociedades e idéias de um determinado período
histórico.
Vale ressaltar que existem vários autores que se dedicam ao estudo da
temática fotografia e história, portanto, para efeito desse estudo serão apresentados as
contribuições de Kossoy (2001), Burke (2004), Mauad (1996 e 1997) e Martinez
(1996).
Os autores citados afirmam que as imagens fotográficas não devem ser
entendidas apenas como uma reprodução de um momento ou situação casual, mas
devem ser entendidas e analisadas como fonte histórica digna de investigação.
Segundo Boris Kossoy (2001), a imagem fotográfica possui várias
facetas e realidades, assim, segundo o autor:
As fontes fotográficas são uma possibilidade de investigação e
descoberta que promete frutos na medida em que se tentar
sistematizar suas informações, estabelecer metodologias adequadas
de pesquisa e análise para decifração de seus conteúdos, e por
conseqüência, da realidade que os originou.” (KOSSOY, 2001 p.32)
Dentro dessa perspectiva o autor também evidencia que alguns fatores
devem ser observados na análise do documento: a tecnologia empregada, atuação do
fotógrafo, as casas editoriais, os ‘‘consumidores’’ dessas imagens e etc, Segundo
Kossoy esses itens podem influenciar no reconhecimento do significado da fotografia.
Burke (2004) afirma que os historiadores da arte ao analisar uma
imagem ou descrevê-las têm que entender que não são apenas meras
ilustrações e sim um documento ou fonte histórica que deve ser analisada
cautelosamente, pois sua complexidade é ampla.
As fotografias ou imagens apresentam pontos interessantes de
observação, as quais servem, segundo o autor, para distorcer a realidade
social a qual reflete e não devem ser consideradas simples reflexões de suas
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épocas e lugares, mas sim extensões dos contextos sociais em que elas foram
produzidas.
Assim, o autor destaca no início do seu trabalho a seguinte
pergunta: como podem as imagens ser utilizadas como evidência histórica? É
prudente iniciar pelo seu sentido. Porém, pode o sentido de imagens ser
traduzido em palavras? Segundo o autor a imagens são feitas para comunicar.
Num outro sentido elas nada nos revelam. Imagens são irremediavelmente
mudas. O autor apropria-se da afirmação de Michel Foucault; “[...] o que vemos
nunca está no que dizemos”. (BURKE, 2004, p. 43).
O teórico exemplifica dois enfoques comuns para se interpretar
uma imagem são elas: a Iconografia e a Iconologia, ambas evidentemente
utilizadas na análise e compreensão da fotografia apresentada como uma fonte
histórica extremamente rica, que traz embutida a possibilidade do produtor e
todo contexto no qual foi concebida.
Nesta perspectiva a Iconografia, é uma percepção repentina de
uma determinada imagem, entretanto essa mesma imagem pode ser
interpretada de forma diferenciada. Já a Iconologia diferentemente da
iconografia tenta explicar a imagem e representações de único período.
A imagem, ela também, ao ser lida a posteriori pelo historiador, pelo
especialista e pelo leigo é reconstruída a cada época. A ela, no
conjunto ou nos detalhes, são agregados novos significados e
valores. Por isso mesmo as imagens podem despertar maior ou
menor interesse em cada momento histórico, de acordo com a
apropriação que se faz delas. (PAIVA, 2002).
Portanto os enfoques iconográficos e iconológicos assumem um
importante papel, auxiliando os historiadores a reconstruir sensibilidades do
passado. (BURKE, 2004, p. 56).
Outra pergunta apresentada pelo autor diz respeito ao significado
das imagens e principalmente significado para quem? Burke (2007) destaca
que a importância e o significado das imagens dependem do contexto social.
Neste sentido, ao tratar a imagens como evidência, deve-se estar
alerta para a questão de que muitas delas não foram elaboradas com esse
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propósito, mas para cumprir uma função estética, religiosa e política.
(MARTINEZ, 2004).
Sendo assim a fotografia compreendida, deixa de ser uma
imagem retirada no tempo para se tornar uma mensagem que se processa
através do tempo, tanto como imagem/documento quanto como
imagem/monumento. (CARDOSO E MAUAD, 1997). Neste contexto, a imagem
fotográfica compreendida como documento revela aspectos da vida material de
um determinado tempo do passado que vai além de uma descrição verbal
detalhada.
Assim, segundo os autores, o pesquisador deve fazer uma leitura
que ultrapasse a avaliação da fotografia como mera ilustração e não deve se
restringir à avaliação iconográfica da foto.
Dessa forma a imagem fotográfica como monumento, impõe ao
historiador uma avaliação que ultrapasse o âmbito descritivo. Neste caso, ela é
agente do processo de criação de uma memória que deve promover tanto a
legitimação de uma determinada escolha quanto, por outro lado, o
esquecimento de todas as outras. (CARDOSO E MAUAD, 1997).
Sobre esse aspecto Martinez (2004) ainda afirma como qualquer
outro documento a fotografia sem dúvida é um documento histórico que
necessita extremamente de uma análise profunda respeitando um critério de
seleção. Portanto, Martinez (2004) destaca três pontos essenciais para que
esse material seja analisado:
O primeiro passo é entender que, numa dada sociedade, coexistem e
se articulam múltiplos códigos e níveis de codificação, que fornecem
significados ao universo cultural dessa mesma sociedade. Os códigos
são elaborados na prática social e não podem nunca ser vistos como
entidades a-históricas. O segundo passo é conceder a fotografia
como resultado de um processo de construção de sentido. A
fotografia, assim concebida, revela-nos, através do estudo da
produção da imagem, uma pista para se chegar ao que não está
aparente ao primeiro olhar, mas que concede sentido à foto. “O
terceiro passo é perceber que a relação acima proposta não é
automática, posto que entre o sujeito que olha e a imagem que
elabora existe todo um processo de investimento de sentido que deve
ser avaliado”. (MARTINEZ, 2004, p. 08, grifo da autora).
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Nesta perspectiva, com base nos estudos de semiótica, Mauad
(1996) sugere observar alguns pontos para superar a mera “analogia” da
fotografia com a realidade, concepção própria do senso comum são eles: a) a
relação entre signo e imagem: no contexto da mensagem veiculada, a imagem
incorpora funções sígnicas (como representação simbólica); b) a relação entre
o plano do conteúdo (elementos da fotografia relacionados ao contexto no qual
se insere como o corte temático e/ou temporal) e o plano da expressão
(compreensão das opções técnicas e estéticas); c) compreender a fotografia
como uma escolha efetuada em um conjunto de escolhas possíveis. (MAUAD,
1996).
Neste contexto pode-se analisar que todas as fotografias de
grandes ou pequenos eventos registradas no universo escolar são
acontecimentos que de certa forma guardam consigo algum tipo de
recordação. Entretanto essas fotografias nos mostram aspectos importantes e
significativos diversos do cotidiano escolar. É neste sentido a autora destaca
“[...] A fotografia não fala por si só, é necessário que as perguntas sejam
feitas”. (MAUAD, 1996, p.10)
Mauad (1996) levanta alguns questionamentos ao analisar as
fotografias; quais as finalidades são destacadas para que essas fotografias
sejam tiradas essas fotografias? Porque e por quem são conservadas?
Assim este estudo pressupõe em analisar algumas fotografias que
estão no acervo do Colégio Imaculada Conceição localizada nesta Cidade de
Cáceres-MT, como será apresentado no capítulo seguinte.
Segundo Barthes (2008, p. 13) “[...] o que a fotografia reproduz ao
infinito só ocorreu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais
poderá repetir-se existencialmente”.
Partindo do pressuposto de que as fotografias podem ser
comparadas a fragmentos de tempos históricos, este capítulo tem por objetivo
apresentar algumas imagens que retratam o cotidiano do Colégio Imaculada
Conceição, localizado na cidade de Cáceres-MT.
A escolha por esta instituição ocorreu devido o acervo fotográfico
que a escola possui além de ser uma instituição centenária e ser a
materialização da presença da educação católica no município e ser referencia
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de formação para os filhos da elite cacerense. Assim, objetivou-se ao analisar
as imagens perceber resquícios do cotidiano escolar.
Uma das dificuldades encontradas para a realização da pesquisa
foi a falta de informação quanto aos autores das fotografias, o instrumento
fotográfico utilizado e o ano da sua realização.
As irmãs Azuis são chamadas a irem mais longe, a palmilhar
caminhos novos e desconhecidos, sempre longe, onde a voz dos pobres as
chamar. De Cáceres vêm apelos que encontram eco no seu coração
missionário que, animado pelo espírito da madre Emilie, sua fundadora, ardia
de zelo pela salvação das almas.
A escolha pelas fotografias do Colégio Imaculada Conceição
ocorreu porque a escola é considerada tradicional na cidade e possui um
acervo grande sobre a escola e a cidade de Cáceres.
Segundo Kossoy (2003, p. 37) a fotografia é um “[...] fragmento
congelado de uma realidade passada”. Assim, segundo o autor ela não
reproduz apenas um local ou lugar de memória, mas retrata também pessoas e
suas particularidades, propositalmente apresentadas ou não, cabe ao
pesquisador, segundo Kossoy, desvendar o ontem com os olhos de “hoje”.
Algo que deve ser analisado segundo Kossoy é pensar as
diferentes e simultâneas realidades que a fotografia comporta, assim segundo
o autor:
Os homens colecionam esses inúmeros pedaços congelados do
passado, em forma de imagens, para que possam recordar, a
qualquer momento, trechos de suas trajetórias ao longo da vida.
Apreciando essas imagens, “descongelam” momentaneamente seus
conteúdos e contam a si mesmos e aos mais próximos suas histórias
de vida. Acrescentando, omitindo ou alterando fatos e circunstâncias
que advêm de cada foto, o retratado ou o retratista tem sempre, na
imagem única ou no conjunto das imagens colecionadas, o start da
lembrança, da recordação, ponto de partida, enfim, da narrativa dos
fatos e emoções. (KOSSOY, 2005, p. 43)
As imagens selecionadas para essa pesquisa apresentam
situações diferenciadas tais como as categorias de grupos de alunas e
religiosas, situações no interior de sala de aula.
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Fotografia 1:
Fotografia 1 Acervo Colégio Imaculada Conceição
A fotografia 1 não possui identificação sobre qual o motivo da foto
ou quem são as aulas e a religiosa presentes na imagem. Vale ressaltar que a
imagem foi selecionada, pois apresenta um possível padrão de fotografia para
apresentar as turmas do colégio.
Na maioria das imagens do acervo as alunas são apresentadas
assim e com a presença da professora da turma. Em algumas imagens as
meninas estão de joelhos e a religiosa sentada ou em pé.
Outro aspecto a ser observado diz respeito ao uniforme escolar,
apesar da imagem não ser colorida, mas segundo depoimento da bibliotecária
da escola, os uniformes sempre eram azuis com detalhes em branco,
possivelmente para relacionar a cor do hábito da Ordem a qual as religiosas
faziam parte. A organização das alunas, divididas por faixa etária e nível
escolar, isso parece remeter a disciplina e ordem, critérios presentes nas
escolas religiosas.
A figura central da imagem parece ser representada pela
religiosa, a qual se distingue das demais personagens não somente pela faixa
etária, mas também pela pose contida. Essa imagem possivelmente foi tirada
com alunas que não estavam matriculadas como internas, já que a instituição
oferecia tanto o regime de internato como o de externato. O primeiro era
oferecido para as jovens que escolhiam a vocação religiosa.
Fotografia 2:
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Fotografia 2 Acervo Colégio Imaculada Conceição
A fotografia 2 também não possui registro de data ou ano, a
escolha por essa imagem ocorreu devido pois apresenta um arranjo estético, a
disposição das carteiras, a luminosidade que entra pelas janelas amplas, a
concentração das alunas, parecem comunicar a ordem e a disciplina
necessários para a aprendizagem.
Essa imagem foi selecionada porque foge do padrão de imagens
encontradas no Colégio, ou seja, a maioria das imagens que apresentam as
salas de aula, nelas a presença da professora é imprescindível.
Pode-se perceber que as alunas estão concentradas na leitura de
um livro, possivelmente essa imagem retrata um dia de aula como outro
qualquer, entretanto surge um questionamento será que essas meninas eram
comportadas mesmo? Ou será que foi apenas uma “pose” para que a fotografia
fosse tirada?
Essa imagem percebe-se disciplinarização dos alunos
principalmente em relação ao uniforme sempre padronizado é interessante
observar que eram vestidos ou saias abaixo do joelho, ou seja, o corpo em
momento algum era exposto.
O plano de tomada da fotografia valoriza a completude da sala de
aula e as alunas, nesse período, as melhores alunas assentavam-se nas
primeiras carteiras de cada fila.
Fotografia 3:
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Fotografia 3 Acervo Colégio Imaculada Conceição
Na fotografia 03 o primeiro plano destaca professora e aluna em
aprendizado, vale ressaltar que a presença religiosa na imagem é explicito no
hábito da madre e no desenho do terço no canto do quadro negro.
A mobília da sala é simples apenas um armário, sobre a
organização das carteiras ela se faz presente, contudo a postura das aulas
demonstra descontração. O uniforme das alunas em relação às imagens
anteriores demonstrou mudanças, as mangas mais curtas e a sobriedade
sustentada com a introdução da gravatinha. Sobre esse aspecto Lonza (2005,
p.32) afirma que o uniforme tem três funções básicas: “[...] representar a
identidade da instituição, promover a segurança dos alunos fora da escola e
estimular o orgulho dos estudantes pelo colégio”. Esse modelo de uniforme foi
um dos mais bonitos da escola em conversa informal com uma ex-aluna do
CIC, nos eventos cívicos o uniforme do CIC era sempre o mais destacado.
Assim segundo o autor a roupa torna-se motivo de orgulho e
respeito. Outro fator que deve ser destacado é que o uniforme também
evidencia tendências da moda segundo a época das fotografias. Sobre a
Fotografia 3, não há como indicar essa afirmação, pois não há identificação de
data, porém, é possível perceber um elemento diferenciado, no caso a
gravatinha, que mescla um acessório masculino em roupa feminina e mais em
um uniforme de uma escola religiosa e tradicional da cidade de Cáceres.
Fotografia 4:
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Fotografia 4 Acervo Colégio Imaculada Conceição
A fotografia 4 apresenta a imagem do prédio do Colégio
Imaculada Conceição apresenta a reforma e o aumento do prédio no período
de 1939-1940 mais ou menos conforme assinalado a caneta na própria
fotografia. Esta imagem destaca as transformações ocorridas no colégio, como
também na própria cidade fazendo jus ao discurso governamental de que era
preciso a construção de novos prédios adequados à Educação, devido às
mudanças ocorridas no âmbito da Legislação Educacional com as
transformações no ensino ocasionadas pela Reforma Capanema.
A localização do CIC pode ser considerada emblemática, pois
está inserido em uma região onde as relações culturais, sociais e simbólicas
são definidas como apresentou Arruda (2002). Esse espaço segundo o autor
resumia-se entre a Matriz, a Praça Barão e o rio Paraguai, na esquina com a
praça está localizado o Colégio Imaculada Conceição.
Sobre a documentação vale ressaltar que a maioria das
fotografias guardadas no CIC não possuem identificações, ocasionando
dificuldades na reconstituição histórica.
Como afirma Martinez (2004) a fotografia como documento
desempenhou um determinado papel na construção cultural da sociedade. Ou
seja, os autores pesquisados auxiliaram-me no sentido de compreender que
além de servirem como testemunhas de situações passadas, as fotografias são
portadoras de sentidos que determinados grupos, através delas, pretendiam
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imprimir numa sociedade num dado momento histórico. (MARTINEZ, 2004, p.
23).
Pode-se dizer que as fotografias analisadas certamente tinham
um propósito em demonstrar a ordem, a disciplina e principalmente o legado da
qualidade de ensino marca das instituições católicas de ensino.
Dessa forma pode-se afirmar que as imagens escolhidas
possivelmente demonstram autoridade e respeito em relação aos alunos que
ali estudavam, as maneiras de vestir e se comportar. Vale ressaltar que as
imagens escolhidas são em sua maioria reflexos do cotidiano escolar. Contudo
faz-se necessário uma abordagem mais aprofundada sobre elas.
Assim, pode-se concluir que as fotografias escolares sem dúvida são
documentos que se constituem como valiosas fontes para a pesquisa sobre a
história da educação.
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