1
- 14 sábado, 8 de agosto de 2015 MULHER opular P ágina P A figura paterna representa um símbolo de heroísmo para as filhas desde a infância. Conforme o tempo passa, o elo tende a ganhar mais força e a admi- ração pelo pai, consequentemente, cresce ainda mais. É provável que, nesse caso, as filhas reconheçam nos pais um modelo importante a ser seguido e, então, a velha frase ‘eu quero ser como você quando eu crescer’ se transforma em vocação profis- sional na vida adulta. “Como aprendemos por cópia e repeti- ção, essa influência surge naturalmente sobre nosso desenvolvimento. A maneira como lidamos com as nossas emoções e as escolhas que fazemos são reflexos do que foi vivido durante a infância, ao obser- varmos o comportamento daqueles que são mais próximos, neste caso, o pai. Uma vez que a filha tem verdadeira adoração e foi positivamente influenciada pelo pai, aprendendo a admirar a maneira com que ele lidava com a carreira, certamente isso a influenciará na escolha da sua própria profissão”, explica a psicóloga Heloisa Capelas. Caroline Ramos, 18, é filha de Silvio e um exemplo da expressão ‘tal pai, tal filha’. “Quando eu era menor, as coisas eram mais difíceis, então o meu pai estava na maior parte do tempo trabalhando e se empenhando pra tentar construir um futu- ro mais estável para a minha família. Me lembro que eu sempre esperava ele chegar do trabalho à noite, pois era o momento que eu tinha pra vê-lo. Conforme fui cres- cendo, fomos nos aproximando cada vez mais. Nas férias, eu aproveitava para ir ao trabalho junto com ele para conhecer mais sobre a empresa onde ele é dono”, conta. “Meu pai me inspira pela história de vida dele. Sempre batalhou para conquistar o que tem hoje e, esse exemplo, me motiva a trabalhar bastante para conquistar meus objetivos também”, acrescenta. Caroline conta que quando estava no últi- mo ano do colégio, tinha muitas dúvidas em relação à carreira profissional que seguiria, mas nenhuma das opções que teve a atraiu tanto quanto a possibilidade de ter a própria empresa, assim como o pai. “Meu pai me deu liberdade para escolher o que julgo melhor. Mas percebi que a melhor opção seria trabalhar junto com ele, aprender, ganhar experiência no mesmo ramo de atividade e dar continuidade ao que ele construiu. Eu me identifico bastante com o mundo dos negócios e do empreendedorismo, e isso também me fez seguir esse caminho e iniciar minha carreira profissional na empresa do meu pai”, diz. A estudante de Direito, Alana Dengler, 19, se enche de orgulho ao falar que de- cidiu seguir a profissão do pai, Geraldo, que é advogado. “Meu pai é meu maior exemplo e se eu for metade do que ele é, serei muito realizada. Embora ele não tenha me influenciado diretamente na escolha da minha profissão, me dando livre arbítrio para decidir, tivemos uma relação muito forte desde quando nasci. Ele me inspirou a ler e, sem dúvidas, a leitura é fundamental para cursar Direito e seguir essa carreira. Líamos juntos quando eu era criança, e, no decorrer do tempo, fui me interessando pelo seu ramo profissional, admirando a forma como ele se dedicava aos seus clientes, a satisfação em ganhar causas e, o aprendizado com as causas que havia perdido. Gostava do jeito que ele contribuía com a sociedade, e foi então, que decidi fazer a mesma coisa”, detalha. Bruna Martins, 23, está cursando o último ano de Farmácia e também decidiu seguir, profissionalmente, os passos do pai, José. “Antes de prestar o vestibular eu não tinha muita certeza sobre qual área seguir. Mas meu pai me ajudou a escolher minha área de formação contando sua história. Ele começou a trabalhar em farmácias desde muito cedo e continua até hoje, com 32 anos de carreira. Como pai, ele realiza um ótimo trabalho. Está sempre pronto para me ajudar, me ensinar tudo o que apren- deu em anos de experiência; tanto na vida profissional quanto na vida pessoal”, observa. “Hoje, meu pai é gerente em uma farmácia e eu sou gerente em uma outra. Entre os meus principais objetivos está ser uma influente gerente farmacêutica para, daqui alguns anos, quando meu pai se aposentar, poder agregar valor e experiên- cia para realizar nosso plano de um futuro empreendimento: uma drogaria”, diz . Embora não seja o caso de Caroline, Alana e Bruna, muitos pais têm o sonho de ver as filhas seguirem a sua profissão e às vezes isso pode acabar gerando uma certa ‘pressão’. Segundo a psicóloga An- gélica Capelari, docente de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, é preciso que os pais saibam que esse desejo nem sempre é viável. “Em algumas vezes, os pais desejam que as filhas sigam sua profissão por achar que não fez tudo o que poderia ter feito, e a filha pode dar continuidade ao trabalho dele. Ele pensa: ‘Minha filha pode dar continuidade ao meu trabalho, por estar mais próxima a mim e pela confiança que tenho nela...’. Isso, nem sempre é viável, porque, se a filha não sonha com a mesma coisa, gera um grande conflito. E, a filha, por sua vez, terá que escolher aquilo que oferecerá me- nos sofrimento a ele: não decepcionar o pai ou não seguir a área que tanto sonha”, comenta. O professor doutor João Carlos Messias, coordenador de Psicologia da Unisal, aponta que a alternativa para os pais que desejam que suas filhas sigam a mesma carreira que eles, é uma conversa à base de sinceridade e respeito. “Os pais tentarem manter escondido um desejo tão impor- tante como esse pode não ser uma boa ideia. Seria mais honesto, para a relação, se os pais pudessem expressar seus desejos em relação aos filhos. Da mesma forma, será muito aceitável respeitar a decisão dos filhos, mesmo que seja contrária às suas expectativas. Os pais têm todo o direito de desejar algo para seus filhos e os filhos têm o direito de desejar outra coisa. Por essa razão, vale a pena manter um diálogo aberto, franco e respeitoso”, aconselha. “A vida é feita de escolhas e a carreira é, com segurança, uma das mais complexas. Especialmente em um mundo tão dinâmico como o nosso atual. Uma relação saudável entre pai e filhos contri- bui para a criação de referenciais pessoais que orientem as decisões a serem tomadas ao longo da vida”, completa. A psicóloga Heloisa Capelas acrescenta que, as crianças sempre mostram suas tendências e aptidões logo nas primei- ras fases da infância. Por isso, segundo ela, observar a filha pode ser um ótimo jeito para encaminhá-la para uma boa Primella Leite [email protected] Fotos: Divulgacão Mulheres optam por seguir a profissão dos pais escolha profissional. “Ter consciência sobre si mesmo e o que te agrada são passos fundamentais para que a filha descubra uma profissão que vá de en- contro com a sua própria felicidade e realização. Seja em relação à profissão ou qualquer outra área da vida, o que os pais mais desejam é que suas filhas sejam felizes. Então, para quem usa a tão famosa frase ‘Eu faço tudo pela felicidade da minha filha!’, por favor, repensem e, não, não faça isso! Dê es- trutura! Dê recursos! Instrumentalize apenas! Instrumentalize para que ela, por ela mesma, encontre o seu lugar no mundo”, finaliza. Alana é filha do advogado Geraldo Caroline é filha do empresário Silvio Bruna é filha do farmacêutico José

Fotos: Divulgacão Mulheres optam por seguir a profissão

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

- 14sábado, 8 de agosto de 2015MULHER opularPáginaP

A figura paterna representa um símbolo de heroísmo para as filhas desde a infância. Conforme o tempo passa, o

elo tende a ganhar mais força e a admi-ração pelo pai, consequentemente, cresce ainda mais. É provável que, nesse caso, as filhas reconheçam nos pais um modelo importante a ser seguido e, então, a velha frase ‘eu quero ser como você quando eu crescer’ se transforma em vocação profis-sional na vida adulta.“Como aprendemos por cópia e repeti-ção, essa influência surge naturalmente sobre nosso desenvolvimento. A maneira como lidamos com as nossas emoções e as escolhas que fazemos são reflexos do que foi vivido durante a infância, ao obser-varmos o comportamento daqueles que são mais próximos, neste caso, o pai. Uma vez que a filha tem verdadeira adoração e foi positivamente influenciada pelo pai, aprendendo a admirar a maneira com que ele lidava com a carreira, certamente isso a influenciará na escolha da sua própria profissão”, explica a psicóloga Heloisa Capelas. Caroline Ramos, 18, é filha de Silvio e um exemplo da expressão ‘tal pai, tal filha’. “Quando eu era menor, as coisas eram mais difíceis, então o meu pai estava na maior parte do tempo trabalhando e se empenhando pra tentar construir um futu-ro mais estável para a minha família. Me lembro que eu sempre esperava ele chegar do trabalho à noite, pois era o momento que eu tinha pra vê-lo. Conforme fui cres-cendo, fomos nos aproximando cada vez mais. Nas férias, eu aproveitava para ir ao trabalho junto com ele para conhecer mais sobre a empresa onde ele é dono”, conta. “Meu pai me inspira pela história de vida dele. Sempre batalhou para conquistar o que tem hoje e, esse exemplo, me motiva a trabalhar bastante para conquistar meus objetivos também”, acrescenta.Caroline conta que quando estava no últi-mo ano do colégio, tinha muitas dúvidas em relação à carreira profissional que seguiria, mas nenhuma das opções que teve a atraiu tanto quanto a possibilidade de ter a própria empresa, assim como o pai. “Meu pai me deu liberdade para escolher o que julgo melhor. Mas percebi que a melhor opção seria trabalhar junto com ele, aprender, ganhar experiência no mesmo ramo de atividade e dar continuidade ao que ele construiu. Eu me identifico bastante com o mundo dos negócios e do empreendedorismo, e isso também me fez seguir esse caminho e iniciar minha carreira profissional na empresa do meu pai”, diz.A estudante de Direito, Alana Dengler, 19, se enche de orgulho ao falar que de-cidiu seguir a profissão do pai, Geraldo, que é advogado. “Meu pai é meu maior exemplo e se eu for metade do que ele é, serei muito realizada. Embora ele não tenha me influenciado diretamente na escolha da minha profissão, me dando livre arbítrio para decidir, tivemos uma relação muito forte desde quando nasci. Ele me inspirou a ler e, sem dúvidas, a leitura é fundamental para cursar Direito e seguir essa carreira. Líamos juntos quando eu era criança, e, no decorrer do tempo, fui me interessando pelo seu ramo profissional, admirando a forma como ele se dedicava aos seus clientes, a satisfação

em ganhar causas e, o aprendizado com as causas que havia perdido. Gostava do jeito que ele contribuía com a sociedade, e foi então, que decidi fazer a mesma coisa”, detalha.Bruna Martins, 23, está cursando o último ano de Farmácia e também decidiu seguir, profissionalmente, os passos do pai, José. “Antes de prestar o vestibular eu não tinha muita certeza sobre qual área seguir. Mas meu pai me ajudou a escolher minha área de formação contando sua história. Ele começou a trabalhar em farmácias desde muito cedo e continua até hoje, com 32 anos de carreira. Como pai, ele realiza um ótimo trabalho. Está sempre pronto para me ajudar, me ensinar tudo o que apren-deu em anos de experiência; tanto na vida profissional quanto na vida pessoal”, observa. “Hoje, meu pai é gerente em uma farmácia e eu sou gerente em uma outra. Entre os meus principais objetivos está ser uma influente gerente farmacêutica para, daqui alguns anos, quando meu pai se aposentar, poder agregar valor e experiên-cia para realizar nosso plano de um futuro empreendimento: uma drogaria”, diz .Embora não seja o caso de Caroline, Alana e Bruna, muitos pais têm o sonho de ver as filhas seguirem a sua profissão e às vezes isso pode acabar gerando uma certa ‘pressão’. Segundo a psicóloga An-gélica Capelari, docente de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, é preciso que os pais saibam que esse desejo nem sempre é viável. “Em algumas vezes, os pais desejam que as filhas sigam sua profissão por achar que não fez tudo o que poderia ter feito, e a filha pode dar continuidade ao trabalho dele. Ele pensa: ‘Minha filha pode dar continuidade ao meu trabalho, por estar mais próxima a mim e pela confiança que tenho nela...’. Isso, nem sempre é viável, porque, se a filha não sonha com a mesma coisa, gera um grande conflito. E, a filha, por sua vez, terá que escolher aquilo que oferecerá me-nos sofrimento a ele: não decepcionar o pai ou não seguir a área que tanto sonha”, comenta.O professor doutor João Carlos Messias, coordenador de Psicologia da Unisal, aponta que a alternativa para os pais que desejam que suas filhas sigam a mesma carreira que eles, é uma conversa à base de sinceridade e respeito. “Os pais tentarem manter escondido um desejo tão impor-tante como esse pode não ser uma boa ideia. Seria mais honesto, para a relação, se os pais pudessem expressar seus desejos em relação aos filhos. Da mesma forma, será muito aceitável respeitar a decisão dos filhos, mesmo que seja contrária às suas expectativas. Os pais têm todo o direito de desejar algo para seus filhos e os filhos têm o direito de desejar outra coisa. Por essa razão, vale a pena manter um diálogo aberto, franco e respeitoso”, aconselha. “A vida é feita de escolhas e a carreira é, com segurança, uma das mais complexas. Especialmente em um mundo tão dinâmico como o nosso atual. Uma relação saudável entre pai e filhos contri-bui para a criação de referenciais pessoais que orientem as decisões a serem tomadas ao longo da vida”, completa.A psicóloga Heloisa Capelas acrescenta que, as crianças sempre mostram suas tendências e aptidões logo nas primei-ras fases da infância. Por isso, segundo ela, observar a filha pode ser um ótimo jeito para encaminhá-la para uma boa

Primella [email protected]

Fotos: Divulgacão

Mulheres optam por seguir a profissão dos pais

escolha profissional. “Ter consciência sobre si mesmo e o que te agrada são passos fundamentais para que a filha descubra uma profissão que vá de en-contro com a sua própria felicidade e realização. Seja em relação à profissão ou qualquer outra área da vida, o que os pais mais desejam é que suas filhas

sejam felizes. Então, para quem usa a tão famosa frase ‘Eu faço tudo pela felicidade da minha filha!’, por favor, repensem e, não, não faça isso! Dê es-trutura! Dê recursos! Instrumentalize apenas! Instrumentalize para que ela, por ela mesma, encontre o seu lugar no mundo”, finaliza.

Alana é filha do advogado Geraldo

Caroline é filha do empresário Silvio

Bruna é filha do farmacêutico José