Fragulho Stencil,

uma fonte de metal

que está – há mais de oitenta

anos! – ao serviço de uma casa

vinícola da região demarcada

dos Vinhos do Douro.

Um typeface design «vintage»,

algo diferente das fontes stencil

usuais. Lançado em Maio de

2011 por Paulo Heitlinger.

Uma fonte em formato

OpenType, que integra a

colecção «Letras de Portugal».

www.tipografos.net/fonts

Peter Behrens: Elektrische Tee- und Wasserkessel, 1909.

ABCDEFGHIJKL

MNOPQRSTUVWXYZ

Tonéis de madeira de carvalho portuguesa,

nos armazéns da Quinta do Fragulho. Cortesia de

José Morais e Bento Morais. Foto: P. Heitlinger.

123?4567890.

3

A Casa dos Lagares, Sociedade

Agrícola e Comercial, Lda.,

é uma empresa familiar que há

várias gerações está ligada à vinha

e ao afamado vinho do Douro.

Está situada em Cheires, e a quinta

onde nascem os vinhos da marca

Fragulho estende-se por 20 hectares

de vinha onde se encontram as

melhores castas locais, Touriga

Nacional, Tinta Roriz e Touriga

Franca (entre as castas tintas) e

Malvasia Fina e Moscatel (entre as

brancas), bem adaptadas aos solos

de textura predominatemente xisto

argiloso, à altitude (300 metros)

e ao peculiar clima da região.

O facto de existirem em Portugal letras

stencil de latão que sobreviveram mais

de 80 anos deve-se ao especial cuidado

que José Morais, Bento Morais e Joana

Lencastre dedicam a todos os edifícios,

lagares, terrenos, instrumentos e

ferramentas que representam o valioso

património da Casa dos Lagares.

Com persistência têm preservado

e renovado um precioso espólio de

instrumentos e artigos relacionados

com a cultura do vinho – documentos e

instrumentos que reflectem o knowhow

que transformou os vinhos do Douro

no mais bem sucedido produto agrícola

de Portugal. Deste modo, também as

antigas letras de latão, depois de usadas

inúmeras vezes – os restos de tinta

assim o provam – são cuidadosamente

guardadas, para estarem prontas a

entrar de serviço, a qualquer momento.

José e Bento Morais levam

25 anos a recuperar vários

edifícios, lagares e terrenos,

para os porem aos serviço da

produção vinícola da Casa dos

Lagares, situada em Cheires,

perto de Alijó. Os vinhos de

mesa e Vinhos do Porto que eles

produzem têm sido distinguidos

com vários prémios e merecem

o louvor de diversos acreditados

enólogos. O autor da fonte

aqui apresentada achou-os

simplesmente extraordinários.

AÁÂÃÄÅĄĂĀBCÇĆĈĊČDEÈÉÊËĒĔĖĘĚFGĜĞHIÌÍÎÏĬĪĨĮİJKLŁMNÑŃŇOÒÓÔÕÖŌŎØPQRSŚŜŞŠTUÙÚÛÜŨŪŬŮŰŲVWŴXYŶŸZŹŻŽ[Æ,Œ]¿¡012346789:;,.

Os diacríticos incluídos na Fragulho Stencil alargam

o âmbito da sua utilização. Um fonte de P. Heitlinger.

PINHÃOAGUARDENTE

VINÍCOLA

FRAGULHOFragulho Stencil, prova de composição. Assim como

muitos bons vinhos do Porto são produto de uma

cuidada combinação de castas, também a fonte digital

aqui apresentada é uma mistura de padrões de letra

ligeiramente diferentes, mas harmonizando entre si.

FRANÇAISAGUARDENTE VINÍCOLADOURO VINHATEIRO

PÓRT WINETOURIGA NACIONAL(CEPA TÔRTA)5 VEZES SANTO

Fragulho Stencil, prova de

composição. Assim como

muitos bons vinhos do Porto

são produto de uma cuidada

combinação de castas, também a

fonte digital aqui apresentada é

uma mistura de padrões de letra

ligeiramente diferentes, mas

harmonizando entre si.

VINHO NATURAL & FORTIFICADOHARMONIZAÇÕES COM VINHO DO PORTO

ORGULHO BRITÂNICOGRAU

NOTAS

Um stencil representa um glifo, símbolo ou qualquer outra forma ou imagem, que possa ser desenhada ou aplicada com um molde em negativo, um escantilhão.

Um escantilhão (gabarito, no Brasil) é fabricado por corte ou perfuração em plástico, papel, papelão, lata, latão, outros metais ou outros materiais. É usado para aplicar formas de letras e imagens sobre todo o género de superfícies.

P ensados para a rápida letragem de sacos, fardos, pipas e toneis, caixas de madeira, latão e outros tipos de paco-tes e embalagens, foram desen volvidos vários dese-

nhos, dos quais derivaram os respectivos tipos digitais hoje à venda. Os stencils antigos são raríssimos e alguns apresentam moldes de letras particularmente belos – como é o caso das letras preservadas na Casa dos Lagares, em Cheires, Alijó.

D e onde vieram os stencils usados na Casa dos Laga-res? E outros semelhantes, espalhados por Portugal? Já desde o século xvii e xviii se usaram, em França

e na Alemanha, escantilhões para produzir livros litúrgicos de grande formato. Também se usaram stencils para produ-zir cartas de jogar. A primeira descrição do processo de fabri-car escantilhões surge, por volta de 1690, na Description des Arts et Métiers, editada por um pequeno grupo de especialis-tas para a Academia das Ciências em Paris. Porém, Diderot lançou a sua Encyclopédie, e este livro ficou por publicar. No século xviii já era possivel comprar alfabetos de stencil, com

belas Romanas de estilo «Didone» – ou em elaboradas formas de letra caligráficas. Também se faziam, por enco-menda, motivos gráficos para cartões de visita. Alguns destes stencils foram comprados por Benjamin Franklin a um fornecedor em Paris, de nome Bery.

A definição exacta do termo francês – pochoir – , «feuille de carton ou de métal découpée, pour colorier avec une brosse, le dessin ayant le con-

tour de la découpure», aparece no dicionário Larousse de 1874 – o que não nos deve admirar muito, pois conhece-mos stencils elaborados muito cedo, já no século xvii. Ao lado mostra-se um desses arquétipos. As partes das letras interrompidas eram ligadas à mão, com uma caneta.

652 SE 5

Barco de pesca artesanal,

pintado com letras

stencil. Compare a

semelhança com a fonte

Fragulho Stencil, prova

de composição. Esta

comparação serve para

demonstrar que muitas

sinalizações feitas com

letras stencil têm uma

origem comum: o molde

«Didone» francês...

Escantilhão de lata comprado numa loja de ferragens tradicional em Chaves.

Escantilhões em lata da Casa dos Lagares.Duas pequenas incisões laterais assinalam a linha de base das letras, auxiliando a pessoa que vai pintar as letras a posicioná-las com maior precisão.

Vistos em França.

Visto em Braga.

Visto no Algarve.

Bibliografia: Stencils

Plaque Découpée Universelle. Paris. Exposition Universelle,

1878. La plaque découpée universelle fut mise au point

par l‘ingénieur J.-A. David en 1876. Elle se présente

comme une plaque de zinc, de 113 x 65 mm, découpée à

la manière d‘un pochoir. Elle devait permettre de réaliser

un alphabet complet. Les matrices proposées sont autant

de modules potentiels à partir desquels il est possible

de créer des lettres et des combinaisons de signes. Pour

montrer le bien fondé de sa trouvaille, J.-A. David a mis

au point une linéale géométrique extrêmement novatrice

– en 1876! Cette invention a dû considérablement

influencer le mouvement moderne et ses nombreux

alphabets modulaires (Herbert Bayer, Josef Albers, etc.).

Kindel, Eric. The ‘Plaque Découpée Universelle’: a geometric sanserif

in 1870s Paris. Typography papers, 7. Department of

Typography, University of Reading.

Heitlinger, Paulo. Transito. Digitalização de um alfabeto

stencil de Jan Tschichold. www.tipografos.net/fonts

Heitlinger, Paulo. Fontes Stencil. Cadernos de Tipografia, Nr.

2, pp. 31. Julho de 2007.

Heitlinger, Paulo. Letras de stencil, antigas. Cadernos de

Tipografia e Design, Nr. 17, Outubro de 2010.

Heitlinger, Paulo. Alfabetos. Dinalivro. Lisboa. 2010.

Marked by time, Revista Eye 10 (40), 2001, pp. 48-51.

Kindel, Eric. Fit to be seen: stencils for architects, engineers and

surveyors‘, AA Files, no. 61, 2010, pp. 100-109.

Kindel, Eric. Stencil work in America, 1850-1900. Revista Baseline

38, 2002, p. 5-12. If a history of stencil letters and their

myriad applications is to be assembled from a past

more distant than the 20th century, the United States

in the 50 or so years before 1900 is one place and period

that certainly merits review. There, stencil work was

diverse and inventive to a degree that in hindsight seems

remarkable but on reflection is in keeping with a time of

considerable fertility in the design of letters, and rapid

advances in trade, transport and manufacturing...

Recollecting stencil letters. Typography Papers 5, 2003. University

of Reading, 2003. http://www.reading.ac.uk/web/FILES/

typography/Kindel_Patents_Progress_JotPHS.pdf

M