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FRANK LLOYD WRIGHT OS PRINCÍPIOS DE SUA ARQUITETURA ORGÂNICA WRIGHT-PHOTO Vazio. Acredito ser este o ponto culminante da arquitetura como um todo. Por mais que enchamos o mundo de construções, tudo deve se encerrar no espaço que “sobra” entre elas. É no vazio entre as paredes de uma casa que vivemos. E no vazio entre as edificações é que transitamos. A edificação em si, portanto, deve ser pensada e concebida de modo a preservar estes espaços da melhor maneira. Não por acaso, o arquiteto e hisotriador italiano Bruno Zevi (1918- 2000), afirmou que o grande protagonista do fato arquitetônico é o espaço vazio onde se vive. Tal afirmação sugere que o conjunto arquitetônico deve ser pensado de dentro para fora. Este cuidado com o espaço vazio (tanto interno quanto externo à edificação) revela uma preocupação maior com o indivíduo que nele irá viver. Nesse contexto, o espaço é pensado como uma unidade, levando-se em conta as necessidades das pessoas e a harmonia com o entorno. Tais características definem a chamada Arquitetura Orgânica, da qual Zevi era partidário, e tem como representante maior um dos grandes arquitetos do século XX: Frank Lloyd Wright. Norte-americano, Wright (1867-1959) foi o autor de verdadeiros marcos da arquitetura mundial do século passado, como a residência Edgar Kaufmann, mais conhecida como Casa da Cascata (Fallingwater House, 1935) e o museu Guggenheim de Nova York (1959).

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FRANK LLOYD WRIGHT

OS PRINCÍPIOS DE SUA ARQUITETURA ORGÂNICA

WRIGHT-PHOTO

Vazio. Acredito ser este o ponto culminante da arquitetura como um todo. Por mais que enchamos o mundo de construções, tudo deve se encerrar no espaço que “sobra” entre elas. É no vazio entre as paredes de uma casa que vivemos. E no vazio entre as edificações é que transitamos. A edificação em si, portanto, deve ser pensada e concebida de modo a preservar estes espaços da melhor maneira. Não por acaso, o arquiteto e hisotriador italiano Bruno Zevi (1918-2000), afirmou que o grande protagonista do fato arquitetônico é o espaço vazio onde se vive. Tal afirmação sugere que o conjunto arquitetônico deve ser pensado de dentro para fora. Este cuidado com o espaço vazio (tanto interno quanto externo à edificação) revela uma preocupação maior com o indivíduo que nele irá viver. Nesse contexto, o espaço é pensado como uma unidade, levando-se em conta as necessidades das pessoas e a harmonia com o entorno. Tais características definem a chamada Arquitetura Orgânica, da qual Zevi era partidário, e tem como representante maior um dos grandes arquitetos do século XX: Frank Lloyd Wright. Norte-americano, Wright (1867-1959) foi o autor de verdadeiros marcos da arquitetura mundial do século passado, como a residência Edgar Kaufmann, mais conhecida como Casa da Cascata (Fallingwater House, 1935) e o museu Guggenheim de Nova York (1959).

FALLINGWATER HOUSE. FONTE: WWW.ARCHDAILY.COM.BR

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GUGGENHEIM NY. FONTE: HTTP://BESTTOPDESIGN.COM/ARCHITECTURE/FRANK-LLOYD-WRIGHT-ARCHITECT-WITHOUT-LIMITS/

Também realizou trabalhos voltados ao planejamento urbano, design mobiliário e artefatos artísticos, como nos revela a arquiteta Ana Tagliari, em seu livro “Frank Lloyd Wright: princípio, espaço e forma na arquitetura residencial” (Annablume, 2011). Além disso, o arquiteto escreveu vários livros e artigos falando sobre a sua arquitetura. O objetivo aqui é apresentar os princípios nos quais se fundamentou o organicismo wrightiano, com base na publicação de Ana Tagliari. De acordo com a autora, seis princípios básicos nortearam a obra residencial do arquiteto. Estes princípios, segundo ela, foram sintetizados pelo próprio Wright na publicação “The Natural House” (1954). São eles:

Integridade: para Wright, a integridade em arquitetura acontece a partir da integração entre as partes originando um todo, uma unidade indivisível. Tal princípio diz respeito tanto à relação entre os elementos próprios do edifício quanto à relação entre a edificação e o entorno. Portanto, o edifício íntegro é aquele onde cada elemento (paredes, janelas, estruturas) é concebido simultaneamente e tem igual importância para o todo e, ao mesmo tempo, repousa sobre a paisagem e dela passa a fazer parte. As residências do arquiteto apresentavam, também, uma profunda integração entre os ambientes externo e interno.

RESIDÊNCIA GEORGE STURGES, 1939. INTEGRAÇÃO ENTRE OS ELEMENTOS E O REPOUSO SOBRE A PAISAGEM. FONTE: HTTP://WWW.ARCHDAILY.COM.BR

Continuidade: Wright aponta em seus escritos dois tipos de continuidade: espacial e física. A primeira é definida pela integração dos espaços internos e externos, segundo a teoria da “destruição da caixa”. De acordo com Tagliari, o arquiteto tinha clara intenção de fazer uma planta livre e contínua, na qual não existiriam rigorosas interrupções entre os espaços internos ou externos. Deste modo, a residência wrightiana elimina a ideia de cômodos pensados como caixas ao lado de caixas, onde severas paredes delimitam a função doméstica de cada ambiente. A segunda diz respeito à continuidade formal da edificação, na qual os elementos estéticos e estruturais se fundem de modo a formar uma

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unidade indivisível. Graças a isso, não existe uma quebra entre as fachadas, mas sim uma continuidade entre elas, como se constituissem um mesmo plano.

RESIDÊNCIA FREDERICK C. ROBIE, 1906. DETALHE DA CONTINUIDADE FORMAL (FÍSICA) DOS ELEMENTOS. FONTE: HTTP://WWW.ARCHDAILY.COM.BR

Plasticidade: assim o arquiteto denomina a fusão visual entre os elementos. Ana Tagliari explica que plasticidade é a nossa percepção ao observar a forma da casa; no caso da residência wrightiana, ela afirma que plasticidade “deve ser vista como uma expressão de continuidade e integridade”, concluindo assim que a fusão entre ornamentos e os demais elementos da edificação a torna plasticamente contínua, onde as partes estão integradas como um todo.

RESIDÊNCIA STANLEY ROSENBAUM, 1939. INTEGRAÇÃO E CONTINUIDADE. FONTE: HTTP://WWW.EARTHHEALING.INFO/DAILYJUNE07.HTM

Natureza dos Materiais: o uso adequado dos materiais significa honestidade. Wright defendia o uso dos materiais de modo a ressaltar suas propriedades naturais, o que, de acordo com Tagliari, determina a volumetria e a proporção do edifício orgânico. Portanto, o termo natureza se refere ao padrão natural e inerente do material. O arquiteto presava pelo uso dos materiais naturais (pedra, madeira e tijolo), mas também reconhecia as possibilidades dos industrializados (como o aço e o vidro).Gramática: dada a relação entre todos os elementos do edifício, esses devem “falar” a mesma língua, constituindo um discurso materializado na forma do edifício.

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Simplicidade: segundo Tagliari, esta é a característica essencial da arquitetura orgânica. Significa a abolição de qualquer elemento docorativo aplicado posteriormente, ou que não faça parte da gramática da edificação. Mas, para Wright, isso não quer dizer que simplicidade seja sinônimo de planificação total. O arquiteto acreditava que se deve saber retirar todo o potencial da natureza do material, concebendo assim um edifício simples.

RESIDÊNCIA EDGAR KAUFMAN (FALLINGWATER), 1935. A PEDRA E OS OUTROS MATERIAIS CONVERSAM HARMONIOSAMENTE, ENQUANTO AS LINHAS RETAS DOS VOLUMES SE SOBREPOEM DE MODO SIMPLES E OBJETIVO. FONTE: WWW.GOOGLE.COM.BR/IMGRES

O conhecimento dos princípios wrightianos para a arquitetura orgânica nos permite perceber a preocupação do arquiteto em relação ao indivíduo e ambiente. Em tempos nos quais tanto se fala em sustentabilidade, tais princípios, devidamente aplicados ao contexto, se revelam como uma boa opção para a arquitetura brasileira atual – a exemplo de Vilanova Artigas, que recorreu ao organicismo wrightiano na década de 1940, momento em que o modernismo corbusiano era realidade para poucos brasileiros (ARANTES, 2002).

CASA RIO BRANCO PARANHOS, ARTIGAS, 1943. O USO DO TIJOLO POSSIBILITAVA UM CUSTO MENOR QUE O DO CONCRETO ARMADO. FONTE: HTTP:WWW.G-ARQUITETURA.COM.BR/1943.HTML

Trazer a qualidade para o indivíduo e uma inserção adequada da arquitetura ao meio é (ou deveria ser) a função primordial do arquiteto. É por isso que devemos prestar atenção em Frank Lloyd Wright e sua arquitetura. Prezando pelo espaço em que vivemos, que é o vazio entre os elementos construídos, é que fugimos de uma arquitetura vazia.

O video a seguir traz uma matéria a respeito de Wright e da Casa da Cascata (em inglês):

http://www.youtube.com/watch?v=gSRXHl9RbbUREFERÊNCIAS

1 - TAGLIARI, Ana. Frank Lloyd Wright: princípio, espaço e forma na arquitetura residencial. São Paulo: Annablume, 2011.2 - ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

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3 - ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura Nova: Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, de Arigas aos mutirões. São Paulo: Editora 34, 2002.