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"Ernest Dishte r" (pai de ssa ciên- cia ), f)Ois o logotipo da CO LGATE é classifi ca do como pass ando de ma scul ino para o feminino. O au- tor desse verbete, Joan Vo lckaett, é gei ente do departamento in- ternacio na l de em ba lagem, da consultoria interna da "Pr odutos Nestlé" , na Su íça . Os exemplos mostram c la ramente a tendência do au tor de seguir, na Eu r opa , os modelos americanos, até em tex- tos e exe mplos. O ve rbete "Transporte" está in- completo, pois nada cont ém so- bre as cnic as de tr ansporte, e mesmo o transporte int erno da empresa escond ensa do em pouca s ginas, se m uma concl u- são ou ut ilid ade. Por ou tr o lado, no enta nto, a parte legal está ex- celentement e ap resentada. Ass im, é possível afirmar que se trat a de uma obra de alca nce prático para o profi ss io nal que traba lha em empre sa al emã, mos- t ra ndo claramente o "estado da ciê ncia" na Alemanha. Ao técn i- co brasileiro inte re ssa esta ob ra em diversas circunstâncias: 1. 0 q ua ndo trabal ha em empre- sa alemã e se deve integrar na mane ira de pensar do adminis- t ra dor ge rmânico ou da empre- sa alemã; 2. 0 q ua ndo trabalha em empre- sa multinacional e deve conside- rar o efeito de cert os procedimen- t os em diversos pa íse s; 3. 0 quando faz estud os compa- ra tivos entre a administração em diversos países; 4. 0 qua ndo se dedica ao estudo da ad ministração, procura biblio- gra fia alemã e necessita sa ber o que s e f az na Al ema nha de hoje, e prec isa conhecer o vocabulário. O pre ço relativamente elevado recomenda o liv ro para aquisição por parte de bibliotec as, t ant o de empresas quan to de universid a- des. A impress ão é excelente, as ilustrações suficient es, e os grá- fic os e tabelas claros. O Kurt Ernst Weil Frentes de Expansão e Estrutura Agrária Por Otávio Guilherme Velho (es - tudo do processo de pen etra ção numa área da Transamazônica) Rio de Janeiro, Zahar, 1972. Eotudo do I'Nceuo de Penetrasão numa ,(,.a da Tranoamaz&nlca O caráter colonial de organização das atividades econômicas sub- metidas à determinação dos mer- cados internacionais, que mar- cou a história do Brasil, teve co- mo implicações: de um lado, a decadência de regiões cujo pro- duto ec on ômico não mais cons- tituiu mercadoria re levante no co- mércio internacional ou que ti- veram esgotadas suas font es na- tu ra is (tais como, por exemplo, as zonas açucareiras do Nordeste e minerado ras em Minas Gerais etc.); de outro, o su rgimento de regiões que embora contornadas pelas fronteiras geopolíticas não chegaram a ser fronteiras econô- micas, isto é, não se estruturaram nos qua dr os de uma economia mercantil ou, quando muito, ela- boraram o que se chama uma "economia de excedente" (pod e- se enumerar, como exemplos, as regiões do norte de Goiá s, sul do Pa rá, Ma ra nhão, etc.) . A análise da expan o da eco- nomia de mercado capitalista so- bre essas regiões, isto é, o estudo das fr entes de expan são da so- ciedade brasile ira é que consti- tui o objeto de estudo de Otávio Gu ilherme Velho. Trata-se, como ele mesmo af irm a, de uma "aná- 1 i se descritiva" de diferent es f ren t es de expansão, pelas qua is pass ou uma regi ão do Médio To- can tin s s mar ge ns do rio lta- caiú nas ), denominada pelo IBGE " mic rorregiã o" de Marabá, local i- zad a no Estado do Pará e que ve m a ser a refe nc ia empírica deste estudo. Mara é, na ve r- dade, lu ga r privilegiado para esse tip o de an álise na medida em que por aí entrecruzara m corren- tes de povoamento vindas de Goiás, Pará e Maran hão, em mo- mentos históricos descontínuos e nem sem pre gerando a fixaç ão do homem em ca ráter defin it ivo , o que provocou a renovação até nossos dias de fr ent es de expan- são inic ia das em fins do cul o XVI. O que caracteriza este estudo como tr abalho sociológico (ou antropológico, pa ra ser fiel à área acadêmica na qual foi produzido) e não geográfico (em cuja esfe ra mais comumente são real i zad os os est ud os sobre frentes de ex- pansão) é a abo rd agem pelo ân - gulo das relações sociais de pr o- dução. Assim, as frentes pasto - ri l, extrativista (com a borrac ha, castanha, diamante e posterior- mente minér ios de ferr o), e mais recentemente a agrícola, eviden- ciadas pelo incremento demog - fico na reg i ão em dife re ntes mo- mentos históricos são analisadas exaustivame nt e atra vés das re- lações de traba lho que nelas se estabelecem, marca.das pelo ca - ráter extrema mente t ra dicional e espoliativo da mão-de-obra e expl icadas pela necessidade de acumulaç ão e rep rodução do ca - pital na sociedade brasi le ira co- mo um todo. Vale r es sa lt ar, no c on junto do trabalho, a an álise das re laç õe s sociais elaborad as na ex tração da castanha do Pará, onde ap arecem os ti pos humanos do traba lhador isolado q ue se embr enha nas matas por meses a fio, carregado de dívidas e de doenças, e do comerciante (financiador e com- pra dor do produto), que na s fren- Resenha bibliogf ic a 155

Frentes de Expansão e Estrutura Agrária - SciELO · consultoria interna da "Produtos Nestlé", na Suíça. Os exemplos mostram claramente a tendência do autor de seguir, na Europa,

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Page 1: Frentes de Expansão e Estrutura Agrária - SciELO · consultoria interna da "Produtos Nestlé", na Suíça. Os exemplos mostram claramente a tendência do autor de seguir, na Europa,

"Ernest Dishter" (pai dessa ciên­cia ), f)Ois o logotipo da CO LGATE é classificado como passando de mascul ino para o feminino. O au­tor desse verbete, Joan Vo lckaett, é gei ente do departamento in­ternaciona l de emba lagem, da consu ltoria interna da "Produtos Nestlé" , na Su íça . Os exemplos mostram cla ramente a tendência do autor de seguir, na Europa, os modelos americanos, até em tex­tos e exemp los.

O verbete "Transporte" está in­comp leto, pois nada contém so­bre as técnicas de transporte, e mesmo o t ransporte interno da empresa está condensado em poucas páginas, sem uma conc lu­são ou utilidade. Por outro lado, no enta nto, a parte legal está ex­celentemente apresentada.

Assim, é possível afirmar que se trata de uma obra de alca nce prático para o profi ss ional que traba lha em empresa alemã, mos­t ra ndo claramente o "estado da ciência" na Alemanha . Ao técn i­co brasilei ro interessa esta obra em diversas circunstâncias:

1.0 qua ndo trabal ha em empre­sa alemã e se deve integrar na maneira de pensar do adminis­trador germânico ou da empre­sa alemã;

2.0 qua ndo trabalha em empre­sa multinacional e deve conside­rar o efe ito de certos procedimen­tos em diversos países;

3.0 quando faz estudos compa­ra tivos entre a admin ist ração em diversos países;

4.0 quando se dedica ao estudo da ad ministração, procura biblio­gra fia alemã e necessita saber o que s e faz na Alema nha de hoje, e prec isa conhecer o vocabulário.

O preço relativamente elevado recomenda o livro para aquis ição por parte de bibliotecas, tanto de empresas quanto de universida­des. A impressão é excelente, as ilustrações suficientes, e os grá­ficos e tabelas claros. O

Kurt Ernst Weil

Frentes de Expansão e Estrutura Agrária

Por Otávio Guilherme Velho (es­tudo do processo de penetração numa área da Transamazônica) Rio de Janeiro, Zahar, 1972.

Eotudo do I'Nceuo de Penetrasão numa ,(,.a da Tranoamaz&nlca

U~llatua

O caráter colonial de organização das atividades econômicas sub­metidas à determinação dos mer­cados internacionais, que mar­cou a história do Brasil, teve co­mo imp licações : de um lado, a decadência de regiões cujo pro­duto econômi co não mais cons­tituiu mercadoria re levante no co­mércio internacional ou que ti­veram esgotadas suas fontes na­tu ra is (tai s como, por exemplo, as zonas açucareiras do Nordeste e mineradoras em Minas Gerais etc.); de outro, o surgim ento de regiões que embora contornadas pelas f ron te iras geopolíticas não chegaram a ser frontei ras econô­micas, isto é, não se estrutura ram nos quadros de uma economia merca ntil ou, quando muito, ela­boraram o que se chama uma " economia de excedente" (pode­se enumerar, como exemplos, as regiões do norte de Goiás, sul do Pa rá, Ma ra nhão, etc.) .

A aná lise da expansão da eco­nomia de mercado capitalista so­bre essas regiões, isto é, o estudo das frentes de expansão da so­ciedade brasileira é que consti-

tui o objeto de estudo de Otávio Gu ilherme Velho. Trata-se, como ele mesmo afirma, de uma "aná-1 i se descritiva" de diferentes f ren tes de expansão, pelas qua is passou uma região do Médio To­cantins (às margens do rio lta­caiú nas), denominada pelo IBGE " microrregião" de Marabá, local i­zada no Estado do Pará e que vem a ser a referência empírica deste estudo. Marabá é, na ver­dade, lugar priv ilegiado para esse tipo de análise na medida em que por aí entrecruzara m corren­tes de povoamento vindas de Goiás, Pará e Maranhão, em mo­mentos históricos descontínuos e nem sempre geran do a fixação do homem em ca ráter defin itivo, o que provocou a renovação até nossos dias de frentes de expan­são in iciadas em f ins do século XVI.

O que caracteriza este estudo como trabalho sociológico (ou antropológico, para ser fie l à área acadêmica na qual foi produzido) e não geográf ico (em cuja esfe ra mais comumente são real izados os estudos sobre f rentes de ex­pansão) é a abordagem pelo ân­gulo das relações sociai s de pro­dução. Assim, as f rentes pasto­ri l, extrativista (com a borracha, casta nha, diamante e posterior­mente minérios de ferro), e mais recentemente a agrícola, eviden­ciadas pelo incremento demográ­fico na região em diferentes mo­mentos históricos são analisadas exaustivamente através das re­lações de t raba lho que nelas se estabe lecem, marca.das pelo ca­ráter extrema mente t radicional e espoliativo da mão-de-obra e expl icadas pela necessidade de acumulação e reprodução do ca­pital na sociedade brasi le ira co­mo um todo.

Vale ressa ltar, no con junto do t rabalho, a análise das re lações sociais elaboradas na ext ração da castanha do Pará, onde aparecem os ti pos humanos do t raba lhador isolado que se embrenha nas matas por meses a fio, carregado de dívidas e de doenças, e do comerciante (financiador e com­prador do produto), que nas fren-

R esenha bibliográf ica

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tes de expansão é a categoria so­cial mais importante e poderosa, superior inclusive ao latifundiá­rio. Isso porque diz G. Ve lho, " on­de a terra não constitui bem es­casso (. .. ) a posse do capital e dos meios e canais de comerciali­zação antecede a questão da posse da terra" (p. 41). O "bar­racão" e a coerção f ísica apare­cem, nesse sistema, como ele­mentos necessários à acumula­ção de cap ital que se processa em uma cadeia de exploração, a partir dos castanheiros, envol­vendo no âmbito local os arren­datários dos castanhais e os co­merciantes de Marabá e atingi n­do os grupos exportadores em Be­lém e os grandes grupos impor­tadores no estrangeiro.

Outro ponto de destaque nesse trabalho é a forma como o autor lida com o aspecto geográfico. Em uma região em que o aspecto físico é tão determinante é pre-ciso bastante segurança teórica para que a aná lise não caia em um determin ismo geográfico. E isso O. G. Velho conseguiu muito bem, mostrando que "a inf luên­cia geográfica só pode ser en­tendida quando mediat izada pe-las forças sociais envolvidas" (p. 42).

Bastante evidenc iado no texto está também o papel da política como elemento que garante as condições sociais necessárias à realização do processo produti­vo: ora at ravés da violência das armas, como ocorreu no conflito polít ico de 1919 em Marabá, o qual objetivava manter a mão-de­obra - que desejava retornar ao Nordeste e demais regiões de origem, com a decadência da bor­racha - presa a Marabá para re­começar nova fase extrativista : a da castan ha; ora por meio de decretos-leis e disputas ele itora is definindo um novo sistema de exploração dos castanha is - não mais pela extração livre, mas pe­lo arrendamento por períodos de­term inados e renováveis, de áreas pertencentes ao poder pú­blico, o que permite a barganha partidária. Fina lmente, o papel da política e do Estado, não ape-

nas como assegurador das ativi­dades econômicas, mas em suas funções pós-liberais de orienta­ção e comando do processo, apa­rece na criação de órgãos como a Sudam, no estabelecimento de incentivos f iscais para a implan­tação de empresas na região e especialmente na const rução da estrada Belém-Bras ília e, recen­temente, da Tra nsamazônica. São funções que marcam o caráter de incorporação def in itiva daquela região ao mercado capitalista na­cional e internacional e atestam a dominância do político sobre o econômico como modo part icular de real ização do capitalismo no Brasil (p. 170).

Em síntese, pode-se afirmar que a pretensão do autor de rea­lizar um estudo que "pudesse tra­zer uma contribuição a futuras elaborações teóricas" (introdu­ção) fo i plenamente alcançada. Isso na med ida em que ao con­clu ir que as frentes de expansão podem significar uma a lternati­va à migração pa ra as cidades ou uma tentat iva de escapar às de­term inações de um sistema que prescinde de boa parte de seu contingente populacional (como é o caso dos migrantes nordes­ti nos na época da borracha e atua lmente), o est udo de O. G. Velho permite pôr em questão problemas como o caráter da pe­quena agricultura e do campe­sinato no Brasil, suas perspecti ­vas futuras e, enfim, a própria especificidade do cap italismo no Brasil, especia I mente no seu mundo rural. E levanta uma hi­pótese importante: "a região de ltaca iúnas estaria sendo um la­boratório onde se engendrariam as soluções capital istas para a conquista por etapas da Amazô­nia: agricultura marginal de sub­sistência, estradas, pequena pro­dução agríco la-mercantil , pecuá­ria intensiva e grande exploração mineral ; quando possível partin­do de uma produção extrativa tradicional ou nova que auxi lias­se uma acumulação loca l" (p. 16ru. o

Maria Rita Garcia Loureiro

Revista de Administração de Empresas

Etapas de Acumulación y Alianzas de Clases en la Argentina

Por Mônica Peralta Ramos. Ar­gentina, Sigla XXI Argentina Edi­tores, 1972. 187 p.

Etapas de · acumulación y alianzas de clases en la Argentina (1930-1970}

Mais do que o título sugere, o livro de Mônica Peralta Ramos é uma aná lise da situação argen­t ina num sent ido amplo e atual. O movimento peronista recebe um lugar de destaque nesta aná­lise, expl icado como d~corrência de uma fase determmada de acumulação de capital naquele país. Os acontecimentos mais re­centes na Argentina, como a vi­tória do peronismo, podem ser facilmente compreendidos na ter­ceira parte do livro, onde ela es­clarece as tendências mais mo­dernas que este movimento as­sume. Além disso, a sua aná lise pode ser utilizada como modelo de ap licação de uma teoria a uma realidade empírica .

A autora propõe-se a lidar com dois níveis de análise - o eco­nômico, para obter as bases do entendimento do outro níve l -o politico, aqui entendido em ter­mos de interesses e alianças de classes.

No seu esquema, a autora mostra a dependência dos paí­ses subdesenvolvidos em nossos dias, como o reflexo de uma nova etapa da expansão capitalista.