Frugivorismo - Os Frutos Do Paraiso

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    O Frugivorismo e a Idade de Ouro da Humanidade

    Lus A. Weber Salvi

    Pg 9

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    Lus A. Weber Salvi

    Os Frutos

    do

    Paraso

    O Frugivorismo e a Idade de Ouro da Humanidade

    ____________________________ LUS AUGUSTO WEBER SALVI

    permitida a reproduo mediante a citao da fonte.

    Contatos: [email protected]

    _______________________________________________

    Olhai as aves do cu, no semeiam nem colhem e nem juntam em

    celeiros. E no entanto, vosso Pai celeste as alimenta. Aprendei com os

    lrios do campo, vede como crescem, e no trabalham e nem fiam. E no

    entanto, nem Salomo em toda a sua glria jamais se vestiu como um

    deles.

    Mt 6, 26 ss.

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    ndice

    Introduo 5

    I. EM BUSCA DO IDEAL

    1. O Novo Passo da Evoluo 11

    2. O Alimento Perfeito 18

    3. Observando a Natureza 21

    4. A Yoga Alimentar 23

    5. O Homem Natural 25

    6. O Homem Civilizado 33

    7. A Vez das Vitaminas 37

    II. O RESGATE DO PARASO

    8. O Fardo Leve 43

    9. Simplicidade e Ecologia 47

    10. Beleza e Sensibilidade 56

    11. A Imortalidade da Alma e do Corpo 59

    12. O Cnone do Paraso 62

    13. Sobre o Granivorismo 69

    III. PREPARANDO O REGIME

    14. O Carma Residual 76

    15. A Adoo do Regime 80

    16. Dinmica Diettica 84

    17. Servindo a Mesa 93

    IV. ASPECTOS COMPLEMENTARES

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    18. As Calorias 99

    19. Outros Recursos 103

    20. Tcnicas de Respirao 109

    21. O Mito do Alimento Abundante 115

    22. A Meditao 118

    23. Dicas Finais 125

    24. Concluso 127

    APNDICES

    1. A Comunidade: Uma Experincia 131

    2. A Reforma Urbanstica 137

    3. A Procura da Perfeio Perdida 140

    Bibliografia 142

    Obras Editadas de Lus A. Weber Salvi 145

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    Introduo

    H muito que a imagem do fruto est relacionada ao Paraso, tendo como emblema central a da

    "rvore da Vida", cujos frutos eram capazes de conceder a imortalidade, embora tendo sua

    contraparte, neste contexto certamente simblico, atravs da rvore do Conhecimento, que repre-

    sentava todo o oposto. Ainda assim, nos mitos da Idade de Ouro, so os frutos que primeiro surgem

    no imaginrio idlico, tal como o da videira, capaz de produzir o "precioso" vinho, empregado

    inclusive na Eucaristia.

    Em funo disto, o ttulo desta obra, "Os Frutos do Paraso", encontra dois nveis de

    desenvolvimento no corpo deste volume, um literal e outro simblico.

    Literalmente, trata da forma de nutrio que melhor se adequa imagem que podemos ter da

    alimentao perfeita para o ser humano, aquela que emprega frutas e frutos, analisando nisto os

    tantos benefcios diretos ou indiretos destas dietas consideradas "paradisacas".

    A partir da, permite entrevr a natureza de uma sociedade urea, incluindo os elevados bene-

    fcios culturais de suas instituies, a partir da prpria tica de simplicidade, despojamento e

    perfeio, que o prprio frugivorismo representa, centraliza e dinamiza.

    Como forma de relacionar ambos os fatores, partiremos do fato de que uma das grandes

    caractersticas da Idade de Ouro, est na forma sutil de alimentao. O alimento a necessidade

    mais fundamental do homem, simbolizando por isto o seu verdadeiro patamar de cultura.

    Por isto o homem real ou o novo expoente racial, ecolgico, equilibrado, universalista e

    multidimensional, na medida em que possa e tenha de optar, dever buscar sempre que possvel

    formas indenes de nutrio, encontrando especialmente nos frutos naturais e nas frutas a sua forma

    mnima de alimento mais nobre e legtimo.

    Como enquadrar esta forma de alimentao no contexto evolutivo humano? Consta que o ser

    humano uma entidade quaternria ou seja, o seu "arqutipo" original abrange quatro nveis de

    existncia, razo pela qual o seu plano evolutivo deve cumprir etapas visando gerar ou desenvolver

    quatro veculos de expresso, a saber: o corpo fsico, o corpo emocional, o corpo mental e o corpo

    espiritual.

    Para os presentes fins, tais corpos esto centralizados respectivamente nas regies do estmago,

    do corao, da garganta e da cabea; cabendo notar que cada uma destas regies apresenta um com-

    plexo de glndulas e orgos, sendo constitudos tambm pelos quatro Elementos, vistos, nas suas

    naturezas fsicas, como slido, lquido, gasoso e gneo.

    E neste caso, cada um destes planos possui uma forma de nutrio: o corpo fsico recebe

    alimento denso, o corpo emocional recebe alimento psquico, o corpo mental recebe alimento

    intelectual e o corpo espiritual recebe alimento luminoso (tico, etc.).

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    Nesta tica, tudo alimento, e certamente a natureza da atividade de cada plano interfere na

    qualidade e na quantidade de nutrio de outro. Assim, um alimento fsico pesado inevitavelmente

    ir prejudicar a assimilao ou a expreso de sentimentos e pensamentos refinados, na medida em

    que demanada para si um excesso de energia.

    Ocorre que o ser humano no vive apenas em um corpo de cada vez, mas em vrios ao mesmo

    tempo (sobretudo na medida em que evolui), posto que este plano quaternrio integra a natureza

    geral do homem enquanto espcie. Isto significa que existem tambm ao menos quatro grandes

    ngulos para focalizar o Todo, resultando em 16 focos secundrios, implicando na existncia de 16

    sub-tipos de Elementos: 4 sub-tipos de Terra, 4 sub-tipos de gua, 4 sub-tipos de Ar e 4 sub-tipos

    de Fogo.

    Na prtica, considerando que "Elementos so alimentos" (ou "matrias-prima"), tudo isto pode

    ser visto como modalidades mltiplas de alimentos fsicos, emocionais, mentais e espirituais.

    OS 16 SUB-TIPOS NUTRICIONAIS ELEMENTARES

    Plano Material

    material-fsica = carnivorismo

    material-psquica = sexualidade

    material-intelectual = autoafirmao

    material-luminosa = contemplao

    Plano Emocional

    emocional-fsica = vegetarianismo

    emocional-psquica = sensualidade

    emocional-intelectual = concentrao

    emocional-luminosa = devoo

    Plano Mental

    mental-fsica = frugivorismo

    mental-psquica = imaginao

    mental-intelectual = compreenso

    mental-luminosa = revelao

    Plano Espiritual

    espiritual-fsica = granivorismo

    espiritual-psquica = identidade

    espiritual-intelectual = intuio

    espiritual-luminosa = iluminao

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    Na tabela acima, temos uma descrio daquilo que pode ser considerado a natureza de cada um

    destes 16 sub-tipos nutricionais, relacionado aos subplanos evolutivos, sem pretender limitar o

    assunto.

    O homem da nova raa raiz est adentrando na sua etapa quaternria-maior, ou seja, no plano

    espiritual. E ser desde este ngulo que ele dever focalizar o Todo, de modo que deve saber tratar

    os planos fsico, emocional e mental, desde o ngulo do esprito. Para isto dever aprender e

    praticar as quatro formas de alimentao espiritual, ou seja: espiritual-fsica, espiritual-psquica,

    espiritual-mental e espiritual-luminosa

    Estes quatro tens resumem aquilo que se pode denominar de o programa evolutivo da raa-raiz

    emergente. Na presente obra vamos tratar dos aspectos evolucionrios do homem (granivorismo,

    etc.) e, mais que isto, efetuar, a ttulo de recapitulao, uma ampla digresso sobre a base

    nutricional rya (frugivorismo) como preparao para esta nova etapa.

    Hoje tambm se fala muito (e geralmente de forma incorreta) de "alimentao prnica" (ou pra-

    nivorismo), mas este padro deve ser visto unicamente como parcial e complementar para o ser hu-

    mano encarnado, vlido unicamente para os ltimos estgios de evoluo csmica, portanto ainda

    alm dos prprios quadros da hierarquia. O tema seria absolutamente abstrato, caso no se

    considere que, na verdade, se trata de uma nutrio base de gua. Ainda assim, deve-se ter

    presente que a mudana do vegetarianismo para o "viver de luz" (ou de gua, que seja)

    excessivamente radical, existindo uma srie de dietas intermedirias.

    Assim, mais importante que se ocupar de "viver de luz", pensar de forma realista nos processos

    que podem a isto conduzir. E estes correspondem a dietas intermedirias, que se destinam na

    verdade a ser definitivas na maior parte das existncias humanas. Dentro do "caminho-do-meio" do

    Buda, existe um amplo espectro de possibilidades, que permitem maior liberdade de ao de

    pensamento. Partimos de uma dieta inteiramente racional, o frugivorismo, e no vamos muito alm,

    atravs do granivorismo (ambos crudvoros), como sendo suficiente para comear (para dietas mais

    avanadas, recomendamos a nossa obra Nutrio Prnica, Captulo "Dietas Elementares").

    isto que serve, portanto, para o ser humano. Os gros ou as sementes surgem neste caso como

    a forma mais excelente de nutrio. Neste quadro, o frugivorismo aparece como uma retomada do

    plano natural, da simplicidade e do desapego, afastando-nos do artificialismo e dos requintes

    alimentares desnecessrios e prejudiciais ao homem ntegro. Assim, tal como apresentamos nesta

    obra, o frugivorismo na verdade apenas uma base cultural para a Nova Era, vista desde o ngulo

    da cincia concreta, e sequer a mais avanada ou atual, como veremos.

    Um ditado muito divulgado no Oriente, reza que "o homem aquilo que come". Quando o

    Genesis prescreve como base alimentar humana ervas, frutos e gros, est tambm designando trs

    padres aceitveis de nutrio para o homem daquela poca e para toda esta raa-raiz, tendo sido,

    apenas mais tarde, e sob condies ambientais e culturais crticas, acrescentada a carne, necessidade

    que, na verdade, a humanidade j havia ultrapassado.

    "Ervas, frutos e gros" correspondem literalmente s bases alimentares do vegetarianismo, do

    frugivorismo e do granivorismo (este ltimo um aspecto do frutivorismo, e no do frugivorismo),

    que representam as formas de nutrio propostas para a jovem civilizao atlante, que tinha j duas

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    iniciaes ou que devia tratar de fomentar e educar o plano emocional. Seguindo as correlaes com

    os Planos acima dados, estas so as bases nutricionais de cada Raa-raiz:

    a. Ciclo Lemuriano ........... carnivorismo

    b. Ciclo Atlante ................. vegetarianismo

    c. Ciclo ryo ..................... frugivorismo

    d. Ciclo Americano ........... granivorismo

    Assim, se o padro nutricional mais denso do ciclo racial que termina hoje o frugivorismo,

    ento por lgica o novo ciclo deve partir do padro seguinte, que o granivorismo, e a forma mais

    sutil de alimentao densa. O frugivorismo , repetimos, apenas uma recapitulao diettica da

    sabedoria do ciclo que concluimos atualmente, com sua ampla capacitao cientfica e, portanto,

    naturalista. Por isto os frutos tm acompanhado as imagens idlicas nesta raa, e por isto to fcil

    ser vegetariano em nossos dias, como uma simples recapitulao atlante.

    Para uma civilizao que inaugurou positivos contatos com energias espirituais e o sentido da

    sntese, como foi a ariana, realizando a unidade do cu e da terra e forjando a verdadeira imagem do

    paraso, nada mais justo que lhe prescrever a dieta perfeita, que a das frutas. De resto, o seu grau

    racial, que o terceiro, est associado ao reino animal (3 Reino da Natureza), e isto significa que a

    base animal do ser humano que a dos grandes smios, os quais se alimentam de frutas deve ser

    simbolicamente reconstituda nesta raa. Assim, se o frugivorismo no hoje ainda uma positiva

    evoluo alimentar, representa com certeza uma regenerao da dieta humana e a reintegrao mais

    pura com suas bases naturais, colocando-o s portas da sua mais autntica condio, aquela que

    dever conhecer doravante, inclusive sob uma modalidade diettica mais estrita; o granivorismo.

    Sendo o frugivorismo a dieta natural da raa hoje em extino, a restituio desta base diettica

    humana torna-se importante como preparao ativa para as novas coisas.

    A evoluo alimentar depende, estritamente, da capacidade que cada ser humano possui de

    compensar as suas deficincias naturais. O organismo pode se revelar capaz de produzir muita coisa

    (as famosas "protenas animais", por exemplo), mas uma coisa certa: se ele as recebe pronta, no

    se dar ao trabalho de faz-lo.

    Esta capacitao est necessariamente ligada evoluo espiritual. Eventualmente, a atividade

    de certas glndulas poder ser estimulada (ou at re-estimulada), conforme a necessidade. Sabemos

    que a maior parte de nossas estruturas de DNA, assim como nossa capacidade mental, esto ociosas.

    E isto, certamente, apenas porque no exigimos de ns mesmos estas atividades, dado o estgio

    ainda primitivo de evoluo em que vivemos. Esqueamos a tola teoria de que as cadeias abertas de

    DNA so "lixeiras" da evoluo: tratam-se isto sim de potencialidades latentes, presentes em nosso

    Plano arquetpico, feitos que somos imagem de Deus, embora sem termos alcanado ainda esta

    integridade. Da se dizer, tambm, que usamo apenas 10 % de nossa capacidade intelectual.

    A alimentao crudvora est muito em voga em nossos dias, assim como o frugivorismo (sendo

    modas entre os artistas de Hollywood). Outra acepo mais esotrica a "alimentao prnica",

    qual daremos tambm alguma ateno nesta obra, embora a nfase recaia amplamente no

    frugivorismo e profunda revoluo cultural que por s s representa para o ser humano, numa

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    espcie de coroao de seu plano de perfeio natural, de modo que tudo o que diga respeito ao

    "alm disto", se tratar j de positiva "transcendncia" das necessidades naturais.

    O frugivorismo, com sua qualificao ternria (mental, rya) determina, pois, um ponto de

    mutao no quadro da energia humana e, at por isto, certamente requer todo um aprendizado e uma

    adaptao a fim de poder ser positivamente sustentado. Aqueles que vivem num clima quente

    estaro talvez mais naturalmente inclinados a isto, mas os restantes podem desenvolver frmulas

    compensatrias, tais como as que este livro oferece.

    No plano institucional, o frugivorismo representa independncia, liberdade e simplicidade,

    revelando que o ser humano encontra suas origens e poderes em estreita relao com a Natureza. E

    nisto, a vocao do presente trabalho surge como um complemento natural ao Evangelho da

    Natureza, ttulo da obra em que tratamos de apresentar o plano da Criao como o novo grande

    foco de revelao espiritual do mundo, vinculado s energias do Esprito Santo e da ordem

    institucional perfeita, associado assim ao deus Brahma do Oriente (fonte dos Manus ou avatares

    raciais-civilizatrios).

    O esclarecimento da importncia do frugivorismo como forma de minorar os males da terra, no

    sero a menor virtude deste livro. Nem que seja como um elemento de estmulo para a pessoa sair

    do carnivorismo, seguindo a chamada lgica do menor, como elemento dinamizador, onde vale a

    premissa segundo a qual, para seguir algum plano, preciso traar um plano mais bsico de ao.

    Neste caso, torna-se mais fcil a um carnvoro se converter ao vegetarianismo, quando compreende

    que aquilo que deveria praticar , na realidade, o frugivorismo.

    Que o estudo deste trabalho, possa trazer ao leitor tanta satisfao quanto trouxe ao autor em

    escrev-lo, representando a promessa de uma forma de vida mais livre, iluminada e prxima do

    den almejado.

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    Parte I

    EM BUSCA DO IDEAL

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    Captulo 1

    O Novo Passo da Evoluo

    Ao longo de sua evoluo e dentro das diversas civilizaes que suscitou, o homem tem expressado

    vrios quadros alimentares, e de forma mais sistemtica chegou ao experimento do vegetarianismo

    (num sentido amplo) na Idade de Ouro rya, tambm previsto na Bblia. Mas hoje, com o desen-

    volvimento da cincia, ao tratarmos o tema da nutrio do homem no podemos deixar de debruar-

    nos detidamente sobre o frugivorismo, por representar uma daquelas verdades ltimas sobre a dieta

    humana, e tambm uma atitude revolucionria no seu modo de viver, capaz de trazer perspectivas

    realmente novas, dada sua profunmda integrao com a Natureza.

    Sempre sustentamos que, por suas caractersticas psico-fisiolgicas, o homem a rigr um ser

    frugvoro, semelhana de outras espcies a ele aparentadas, e que o vegetarianismo representa

    "apenas um meio-termo e uma adaptao do carnivorismo primitivo e profundamente danoso, para

    o frugivorismo perfeito e plenamente indene" (Lus A. W. Salvi, O Evangelho da Natureza,

    Captulo 13).

    Diz A. Balbach em As Frutas na Medicina Domstica:

    A julgar pelo seu instinto natural, no pervertido, e pelos rgos do seu aparelho digestivo,

    especialmente pela configurao dos seus dentes, o homem no onvoro, mas sim frugvoro.

    (pg. 42)

    Assim, e na medida em que o ser humano se inspira na cincia concreta para buscar os seus

    caminhos, ele deve se inclinar decisivamente pelo frugivorismo. O propalado "onivorismo" humano

    apenas a percepo da imensa capacidade humana de adaptar-se ao meio, assim como das vrias

    etapas culturais pelas quais ele tem passado em sua evoluo como espcie. E nisto tem ora

    progredido e ora regredido, conforme ascendem e decaem os ciclos culturais da humanidade.

    Hoje, no entanto, sob o desafio de assumir uma civilizao planetria, o homem deve no apenas

    recolher a melhor experincia das Idades, como tambm avanar na sua caminhada rumo sua

    Verdade essencial. Adotar uma vez mais o frugivorismo, j proposto nos mitos originais da

    Civilizao, representa reencontrar os seus melhores valores e o seu equilbrio na face da Terra,

    permitindo que todas as coisas convivam em paz, e at ensaiar um novo passo na evoluo.

    Uma obra como esta, verdadeiro libelo simplicidade, muito mais de reflexo que um

    receiturio, buscando uma mente livre dos preconceitos que adquirimos atravs de hbitos culturais

    e alimentares arraigados. Complementa aquilo que muitos vegetariamos j sabem sobre a natureza

    humana, embora nem sempre compreendam que ainda empregam muitos artifcios em sua dieta e

    que estas complexidades sustentam um estilo de vida muitas vezes comprometedor com a harmonia

    prpria e global, especialmente quando no seguido risca.

    E mesmo que no possamos ainda contar com tantos exemplos humanos ilustres como ocorre

    entre os adeptos do vegetarianismo at por ser o frugivorismo algo novo, diramos, temos no

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    entanto o apoio da razo, dos sentimentos e tambm o exemplo de certas espcies animais que se

    alimentam de frutas, s vezes at exclusivamente, dentre elas algumas muito prximas do homem,

    como so os primatas.

    De resto este no um trabalho apenas terico, pois basea-se na experincia prpria (como ser

    melhor visto no Apndice desta obra) e de outras pessoas. Ainda assim, muito do que apresenta

    poder parecer utopia; mas se ver tratar-se de uma proposta sria e at necessria se o homem de-

    seja seguir evoluindo. Com sempre tem acontecido, ao menos certo nmero de indivduos dever

    assumir de incio este projeto de perfeio, por amor terra e vida, servindo de modelo e demons-

    trando ter chegado um novo momento da evoluo humana e planetria; pois estes so tambm os

    que iro guiar a Terra de algum modo em sua nova etapa evolutiva, porque Deus apenas concede os

    seus maiores dons queles que fazem plenamente a sua Vontade, obedecendo s suas leis.

    Esta forma de nutrio seria, pois, o passo adiante para a humanidade, para alm do lacto-

    vegetarianismo corrente na ndia e que vem sendo rapidamente adotado pelo mundo ocidental,

    graas grande semelhana alcanada com a dieta tradicional. O frugivorismo j inclui uma inequ-

    voca dimenso interior, alm de levar a idia da ecologia a um plano mais universal.

    E da mesma forma como em O Evangelho da Natureza anunciamos que o vegetarianismo

    apenas um "meio-termo" em termos de qualidade nutricional para o ser humano, e uma preparao

    para a verdadeira dieta humana que a frugvora, tambm agora, apresentando vrios aspectos do

    universo do frugivorismo, anunciamos o passo seguinte na forma do granivorismo, a nutrio

    atravs da energia vital e dos elementos presente nos gros.

    Desde j, saibamos, portanto, que o frugivorismo representa uma reprogramao alimentar

    pacfica, mas com poderosos efeitos psquicos, pois permite um retorno natureza num elevado

    grau de integridade. como se o homem estivesse fazendo mais que meramente deixar de fazer o

    mal, mas estivesse fazendo o bem.

    Em sua obra Evolucin, Degeneracin y Regeneracin Alimentarias del Hombre, o dr. Scola,

    Martin G. deixa claro o que entende como o ideal alimentar humano, primando pelo frugivorismo.

    Neste caso, na acepo rya, parcialmente vlida ainda, degenerao significa carnivorismo,

    regenerao significa vegetariarismo e evoluo significa frugivorismo. Este quadro, porm, est

    rapidamente mudando, para dar lugar ao granivorismo, ao qual concedemos um Captulo, adiante.

    Para termos bem claro, este novo quadro ser, pois, o seguinte: degenerao = vegetarianismo,

    regenerao = frugivorismo e evoluo = granivorismo. Com isto o vegetariarismo cai

    positivamente como dieta saudvel, ao passo que torna o carnivorismo algo totalmente insus-

    tentvel, aqum da prpria ignorncia, prprio unicamente dos brbaros e das feras, mesmo quando

    empregado num entorno ritualstico especfico como tirar o sangue ou selecionar "tipos" de carnes.

    Muitos se assustam com as possibilidades alimentares sutis do granivorismo, h muito usado

    pelos yogues, porque afinal no era para todos. Qu dizer do chamado "pranivorismo" que, de

    fsico, emprega apenas gua? Mas eis a o frugivorismo que, bem entendido, no oferece nenhum

    risco sade ou qualquer desafio razo, e ainda assim objeto de inteis controvrsias e pre-

    conceitos, a ponto de quase no se mencionar a sua possibilidade, apesar de ser praticado por vrias

    espcies de animais na Natureza! que quase inexistem ainda sociedades humanas adeptas desta

    saudvel prtica, e isto por simples falta de virtude e veraz racionalidade.

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    Por esta razo ele nos coloca s portas para novas dimenses de experincia, misteriosas mas

    visceralmente vitais condio humana. Por esta razo inclumos neste trabalho certas informaes

    sobre etapas ulteriores para as quais ele abre as portas, seja visando o grau da iluminao mediante

    o granivorismo, como para aqueles que estiverem se preparando para a experincia da ascenso,

    atravs do pranivorismo, a nutrio diretamente efetuada pela luz.

    O frugivorismo , positivamente, um salto alm do vegetarianismo. Pois, ainda que possa ser

    enquadrado dentro deste, o frugvoro no emprega os vegetais no seu todo, mas apenas as frutas,

    que so a ltima etapa de evoluo. como se o ser humano mal tocasse a Terra e quase dela nem

    dependesse, razo pela qual as religies enfatizam o sistema de coleta como um ideal ureo de

    humanidade, coisa de resto apenas possvel num ambiente equilibrado e, talvez, com reduzida

    populao.

    Devido a isto, o frugivorismo introduz o ser humano num processo nutricional superior atravs

    da direta assimilao da energia csmica, contida no alimento vivo, na medida em que inicia um

    padro cultural de perfeio e unidade. Isto poder conduz ao seu tempo ao granivorismo e depois

    ao pranivorismo, concluso natural do frugivorismo ao nvel da hierarquia, que mencionamos

    parcialmente na presente obra, at porque supre certas necessidades do regime frugvoro, tal como o

    incremento de calorias (ou de energia), muito embora o tema seja aprofundado em nossa obra

    Nutrio Etrica, a qual tal como O Livro dos Chohans, est dedicada ao universo dos Mestres e

    seus cdigos de Ascenso.

    O plano humano mais humilde, contemplando necessidades fsicas reais, mas ainda assim

    muito belo e menos sacrificado. Mas o ser humano apenas pode pretender retornar ao Paraso

    quando fizer as pazes com a Natureza. E nisto o frugivorismo traz uma imagem promissora, porque

    desta forma ele j no necessita suar para se alimentar, nem gerar conflitos sociais ou conjugais, ou

    sofrer da morte-em-vida pela ausncia de sade.

    O homem do amanh certamente ser um ser que desejar voltar a mergulhar profundamente na

    natureza em busca de caminhos para a sua existncia. O materialismo ter esgotado suas promessas,

    revelando uma vez mais que a "matria", tal como entendida, algo importante, mas limitado em

    suas possibilidades, e que deve ter seu lugar disposto num conjunto dinmico de energias csmicas.

    O novo homem ser um amante do sensvel, e nos meandros da Natureza ele encontrar respostas s

    suas necessidades mais profundas.

    Alm do esgotamento da matria, a prpria evoluo da tcnica, sempre respaldada em algum

    grau sobre os recursos naturais e a ciberntica natural, tambm aproximar o homem de suas ori-

    gens, facilitando a compreenso dos mecanismos biolgicios e at mentais.

    Ele perceber novamente que existe muito pouco o que acrescentar Criao, e se voltar ento

    para dentro de si, ao mesmo tempo em que, com respeito e devoo, procurar empregar seus dons

    para comungar com a natureza, atravs das chaves da cincia, da beleza e da harmonia. Ele com-

    preender que o conceito de "natureza" pode ser algo muito elevado e puro na medida em que

    desperte sua conscincia para todo o espectro da Criao. A Natureza pode, realmente, oferecer

    chaves infinitas e eternas ao homem, se ele souber seguir com sabedoria os seus caminhos.

    Tratar ento de resgatar ou apurar procedimentos que o aproximem das fontes da Criao, ou

    que possibilitem que a essncia do universo esteja ao seu alcance. Um dos caminhos que ele

    encontrar para isto o da alimentao, com tudo o que ela envolve e representa, reencontrando

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    ento nos antigos textos preciosas indicaes sobre as verdades mais sagradas sobre a questo, o

    que ele confrontar com o melhor da cincia moderna e assim realizar a sua sntese.

    O cuidado com a alimentao no novo na Histria da humanidade. Remonta a perodos

    antigos e hoje estamos apenas reconhecendo a importncia destes valores, mas tambm aprendendo

    novas coisas no contato entre as culturas, que nos permitiro dar o novo passo da evoluo.

    A raa rya, com sua mentalidade cientfica, soube apontar o caminho para a verdadeira nutrio

    do homem. E assim que os hindus tem se mantido fiis ao sistema vegetariano atravs dos mi-

    lnios, preparando o terreno para um quadro de perfeio futura.

    Mesmo economicamente a produo vegetal sai muito mais em conta do que a animal. Porm,

    mais que isto, a idia da compaixo por todos os seres foi desenvolvido pelas religies orientais, em

    especial. Mas o prprio Genesis aponta claramente que ao homem caberia alimentar-se com

    vegetais, sobretudo frutos:

    Iahweh Deus fez crescer do solo toda espcie de rvores formosas de ver e boas de comer...

    (Gn 2,9)

    Apesar de tambm mencionar as "ervas do campo", ao que parece no fala exatamente em

    plantar e nem estimula a agricultura, de modo que a nfase estaria antes no sistema de coleta, que

    no seria considerado um trabalho daquela espcie que custa o suor do rosto, como passou a

    acontecer aps a primeira Queda do homem, com a sua expulso do paraso. Mesmo ento no fora

    institudo ainda o carnivorismo, o que apenas aconteceu aps o Dilvio, dando incio ao derradeiro

    obscurecimento espiritual da humanidade. Com a primeira Queda teria sido instituda a agricultura

    como a alimentao da Idade de Prata:

    Maldito o solo por causa de ti! Com sofrimento te nutrirs todos os dias de tua vida. Ele

    produzir para ti espinhos e cardos, e comers a erva do campo. Com o suor de teu rosto co-

    mers teu po (...) (Gen 3, 17-9)

    Nisto estaria implcita a inevitvel degradao do solo e o servio constante, num ciclo vicioso

    em que o homem vive para comer na medida em que o trabalho pesado tambm lhe exige maior

    alimentao.

    Caberia destacar igualmente a preferncia de Deus pela oferenda de Abel, o pastor, recusando a

    oferta de Cain, o agricultor (Genesis 4). Enciumado, Cain mata Abel, caindo a humanidade mais um

    degrau na desgraa, porque isto resulta na sua expulso do solo frtil, obrigando a buscar

    continuamente novos solos. Inclui-se aqui uma leitura simblica no sentido de que o pastor o

    homem de religio, e o agricultor o homem profano preocupado com o amanh e que "fere" a terra

    para dela tirar o seu sustento.

    Deduz-se daqui que o pastoreio, associado a um sistema de coletas e a uma agricultura

    rudimentar, seria a frmula da Idade de Prata. Na Idade de Bronze resta uma agricultura dura e

    surge o comrcio como forma de suprir as necessidades, donde o destino "errante" de Cain, depois

    que a terra foi amaldioada.

    Traos dietticos podem ser observados na forma de alimentao providencial que os judeus

    conseguiram em sua longa peregrinao pelo deserto do Sinai, com o manah celeste, as codornas e

    a gua tirada das pedras. O Alcoro apresenta algumas suras que comentam este episdio em

    termos simblicos:

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    15

    E quando Moiss pediu gua para seu povo, dissemo-lhe: "Bate na rocha com teu cajado." E

    da rocha brotaram doze nascentes. E cada tribo soube que nascente lhe pertencia. (2, 60)

    Citamos aqui esta passagem porque o tema no deixa de assemelhar-se passagem do final do

    Apocalipse onde fala da rvore da Vida que d frutos "doze vezes ou a cada ms e suas folhas

    servem para curar as naes" (22, 2). Literalmente, poderamos pensar num pomar com espcies

    selecionadas de tal modo que haja frutas todo o ano. A existncia deste pomar seria capaz de

    conduzir ao trecho seguinte:

    E foi-lhes dito: "Comei e bebei do que Deus criou, mas no corrompais a terra." (2, 60)

    "Corromper a terra" seria arar e virar para semear e colher. De forma determinante, o homem

    no deveria plantar visando a agricultura comum, embora pudesse plantar, isto sim, rvores

    frutferas de toda a espcie. Porm, o homem raramente se adequa a to grande ideais, e a prpria

    liberdade parece muitas vezes lhe pesar:

    E quando dissestes: "No suportamos mais este alimento, sempre o mesmo. Pede a teu deus

    que faa sair do solo o que o solo produz: vegetais, pepino, milho, lentilhas, cebolas." Respon-

    deu Moiss: "Quereis trocar o melhor pelo inferior? Voltai ao Egito: encontrareis o que pedis."

    (2, 61)

    Certamente o melhor so os frutos naturais, e o inferior os produtos da agricultura sistemtica.

    Os hebreus tinham saudades daquilo que possuam no Egito, da terem construdo o bezerro de ouro

    que simboliza o comrcio, atividade na qual se especializaram j naquela Terra, como mostra as

    habilidades de Jos que lhe proporcionaram a mais alta estima do fara, ao lhe encherem os

    celeiros. Motivados com tais sucessos, os hebreus ansiavam a fartura e a liberalidade que

    conheceram no Egito. Mas isto nem sempre possvel ou recomendvel. O que fez Moiss foi

    retomar o destino dos hebreus como povo eleito, sendo que nas condies culturais e ambientais em

    que se encontravam, a agricultura e o comrcio no lhes eram possveis e nem recomendveis.

    Segue a mesma sura ento:

    E o aviltamento e a pobreza se estenderam sobre eles como um flagelo, e a ira de Deus

    sobrecarregou-se porque rejeitavam os sinais de Deus e matavam injustamente os Profetas, e

    porque eram desobedientes e transgressores. (2, 61)

    Assim, a nostalgia dos tempos de Jos tornara-se uma quimera. Novamente temos a misria

    como resultado da cobia e da luxria.

    Desvalorizar o valor da fruta desvaloriza o ato de comer para viver, afastando-se da

    simplicidade e assim da espiritualidade. Na medida em que sobrevaloriza o paladar, o homem passa

    a desejar viver para comer, e no o contrrio, representando isto uma forma de corrupo de

    conscincia. A agricultura uma forma onerosa de vida porque exigia o sedentarismo, condio que

    apenas poderia ser aceita pelos profetas hebreus depois que certo degrau de conscincia fosse

    alcanado, embora um dia voltasse a ser abandonado. Muitos naturalmente se rebelavam contra es-

    tes austeros ditames superiores, chegando a acontecer revoltas entre eles.

    Certamente a condio nmade est vinculada ao frugivorismo assim como ao frutivorismo e

    ao crudivorismo. O Evangelho da Paz apresenta o po zimo no como o fruto do acidente

    apresentado pelo folclore judeu, de quando os hebreus fugiam do fara e no houve tempo do fer-

    mento crescer; mas como uma prtica diettica recomendvel e natural: o trigo colhido, macerado

  • 16

    16

    e a massa resultante umidificada e levedada apenas com o Sol (cujo poder fermentativo bem

    conhecido).

    Os hebreus estavam francamente em prova no deserto, e por esta razo tiveram que permanecer

    ali por tanto tempo, at realizar toda uma mudana de gerao, havendo Moiss empregado um

    programa educativo especial para a nova gerao, e que poderia ser definido como Bases para a

    Conquista da Terra Prometida, coisa que culminaria com a tomada de Jerusalm, quando um novo

    modo de vida lhes aguardava, simbolizado pela instituio da monarquia. Os judeus viviam,

    todavia, entre batalhas, e isto iria perdurar at a chegada de Salomo, o conciliador, mas tambm o

    responsvel pela perda da unidade racial.

    Coleta simples em solo rico ou equilibrado: esta , pois, a forma de subsistncia na Idade de

    Ouro ou no Paraso, sendo os frutos aquela etapa final do ciclo da vida, onde a planta oferece os

    seus trabalhos e procura renovar o seu ciclo. Por ser um regime perfeito, o frugivorismo poder re-

    querer uma srie de condies tambm ideais. Certamente esta dieta destina-se ao homem completo

    que almeja a perfeio, o homem pleno enfim, com a mente esclarecida e a sensibilidade do co-

    rao.

    Pois esta mudana inicia por nossos sentidos, nossa razo e sentimentos. Nisto, o que nos move

    a adotar uma dieta melhor a compaixo (respeito alheio) e a sade (auto-respeito).

    A nova humanidade tem todos os recursos para alcanar a perfeio contida na natureza humana.

    A dor do animal cedo pode ser percebida pela humanidade. Mas hoje, graas aos recursos

    tecnolgicos que ampliam (ou aceleram e antecipam) a nossa percepo, sabemos que os vegetais

    tambm tm sensibilidade e sofrem, sentindo at mesmo as simples ameaas sua integridade. Tra-

    ta-se de fato de um reino especialmente sensvel, tendo relao com o nosso plano psquico

    (emoes, sentimentos).

    A Vida Secreta das Plantas, de Peter Tompkins e Christopher Bird uma obra clssica que trata

    da "sensibilidade das plantas", inclusive dos importantes experimentos da comunidade escocesa de

    Findhorn, uma das grandes referncias dos movimentos da Nova Era.

    Considerar este fato representa um amadurecimento de nossos sentimentos (seno de nossos

    sentidos). No se trata j de algo bruto e evidente como a dor animal. Significa que tambm pode-

    mos sofrer por simples simpatia e que desejamos ser disto preservados. Respeitando o Reino

    Vegetal eliminamos o carma psicolgico que poderia acarretar (desenvolvemos este ponto em

    Captulo apropriado).

    Talvez esta atitude no seja de todo nova, e o homem antigo j soube compreender a conscincia

    de todos os reinos. Os povos primitivos e os xams so sensveis a estes fatos. Quando por neces-

    sidade colhem uma planta ou matam um animal, pedem desculpas ao esprito destes seres ou s

    espcies locais. Tambm pedem licena para entrar em ambientes especiais como uma caverna e em

    regies diferentes como outros pases.

    Assim como o vegetarianismo est associado aquisio do dom dos sentimentos e da

    intensidade, na completa emancipao do reino vegetal, o frugivorismo representa a reconquista do

    dom da razo e da mentalidade, juntamente completa emancipao desde a etapa animal. E desta

    forma vamos recompondo a harmonia entre os reinos

  • 17

    17

    Nossa situao atual a de implantar uma nova raa-raiz, como seus devidos cnones de

    perfeio. No podemos voltar nos passos de nossos antepassados. Deste modo, se a raa atlante

    vegetariana a e rya foi frugvora, caber nova raa-raiz ser granvora, porque afinal seus cdigos

    de iluminao requerem um positivo desapego.

    At l, tratemos de recapitular o frugivorismo ou mesmo o vegetarianismo para quem ainda no

    o fez. Assumir o frugivorismo ter paz com a razo que nos mostra que esta a verdade natural do

    homem, no que diz respeito sua nutrio. E tambm ter o corao tranqilo sobre aquilo que nos

    cabe eticamente cumprir.

    Este o sinal positivo de uma Nova Era, na qual as referncias de auto-realizao no se limitam

    ao palpvel, de modo que ele pode tocar com delicadeza as coisas tangveis, porque seus valores

    esto equilibrados com respostas e estmulos em outros nveis.

    Sem esta espcie de valor a humanidade no ter salvao. Existem outros mundos e corpos

    espera de serem utilizados pelo homem, mas enquanto ele carregar demais no material, ficar preso

    a ele, comprometendo a sua integridade, a sua essncia e o seu propsito real de existncia.

    O homem tem a tendncia de suicidar-se cotidianamente, at porque no sabe bem o que fazer

    com a sade, a energia e a lucidez. Deveria na verdade empregar a energia sobrante em atividades

    espirituais construtivas, tais como a da meditao; mas por falta de cultura e de disciplina, sua

    existncia vazia o leva a buscar compensaes em coisas densas, entre elas as comidas pesadas.

    Deve ele perseguir novos valores e, nesta busca empregar todas as ferramentas necessrias, as quais

    so, classicamente, e de forma bsica, o auxlio do Mestre, da Doutrina e da Comunidade. Engana-

    se quem julga poder obter resultados positivos de outra forma.

    Enfrentar um novo sentido para a vida uma das tarefas que o novo homem deve empreender,

    sob pena de destruir irremediavelmente o seu prprio ambiente, como tem feito ao longo de sua

    histria. Muitos desertos na Terra so tristes heranas humanas, e os perigos hoje so

    imensuravelmente maiores, apesar da sua tambm grande capacidade de curar as feridas deixadas

    ao longo de sua evoluo.

    Por isto todo um processo global deve ser feito para reeducar-se. No teria muito sentido, por

    exemplo, assumir um naturismo estrito sob um urbanismo violento. Tais condies dificultariam

    muito a adoo de tal regime plenamente sensibilizante. Mas sob o Cnone da Perfeio

    Espiritualidade, Fraternidade & Ecologia esta medida tem o seu lugar de honra e coroa um

    processo de retorno Verdade natural.

    um importante passo na evoluo adotar o frugivorismo, e tal coisa dever acontecer

    plenamente na nova humanidade (tal como a anterior massificou o vegetarianismo), representando o

    seu resgate do den. Atravs desta verdadeira Dieta do Paraso, o homem poder se aproximar

    uma vez mais da Perfeio e esperar solucionar por fim as consequncias de sua Queda original, a

    qual gerou desarmonias em quatro nveis: pessoal, conjugal, social e espiritual.

    Nos prximos Captulos vamos observar como esta dieta pode auxiliar a sanar estas quatro

    maldies.

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    18

    Captulo 2

    O Alimento Perfeito

    Os frutos so a ltima etapa dos processos pelos quais passam os seres vivos, encerrando o seu ciclo

    biolgico e por vezes at mesmo o seu ciclo vital. A simbologia resultante que se trata do que de

    mais avanado existe, podendo at mesmo oferecer bases para uma evoluo real, como a que

    realizam as espcies quando se acham em transformao e adaptao.

    Em certo sentido, os bebs tambm so frutos da evoluo humana, e eles representam

    igualmente a renovao desta espcie. Num outro sentido, a criao artstica e a evoluo cultural

    so frutos abstratos da criatividade humana, culminando com a iluminao espiritual, que re-

    presenta uma analogia espiritual da gerao fsica.

    Uma dualidade tambm se apresenta no conceito nutrio. De modo que, inicialmente, devemos

    saber discernir entre "frutos" e "frutas".

    "Fruto" por definio todo o produto da flor. E nisto incluem-se vrias espcies de produtos

    como sementes, legumes, vagens e frutas. A dieta baseada nestes grupos chama-se frutivorismo.

    "Fruta" um produto especfico, que pode ser carnoso ou seco. Constitui-se de pericarpo

    (tambm chamado "ovrio maduro" da flor) e semente. So geralmente doces, perfumados e

    atraentes. Mas tambm pode-se incluir as nozes e castanhas. A dieta baseada neste grupo especial

    chama-se frugivorismo.

    Nas frutas os alimentos necessrios ao homem esto presentes de forma perfeita e balanceada:

    vitaminas, fibras, acares, leos, protenas, etc.

    Alm disto, as frutas apresentam muitas funes reguladoras e medicinais. De resto so bonitas,

    limpas e perfumadas; enfim, sempre muito atraentes.

    O homem nada necessita a no ser frutas, e a busca por outros produtos se deve amplamente

    insuficiente valorizao das frutas. O campons que tem um pomar farto e pensa poder passar fome

    se no comer carne, vive uma triste iluso que empobrece ainda mais a sua vida.

    As frutas secas fornecem especialmente carbohidratos, fibras, sais minerais e vitaminas.

    Castanhas e nozes so ricas em protenas e leos, devendo-se dar preferncia quelas que podem

    ser bem digeridas cruas, como a castanha-do-Par, as nozes e as avels.

    Como o frugivorismo implica no crudivorismo e, preferencialmente, na ausncia de

    condimentos, pode-se perguntar sobre as calorias necessrias ao homem. Adiante vamos aprofundar

    este tema, mas adiantamos que as prprias frutas realizam fartamente a proviso necessria de

    acares e graxas. Quase toda a fruta rica em aucar ou leo, como o abacate e a banana, que so

    alimentos bastante completos.

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    19

    Seu aucar (frutose ou levulose) um dos nicos saudveis ao homem. No d cries e de fcil

    assimilao.

    E sua gordura equibrada e natural. No se trata de leos refinados empregando o artifcio do

    aquecimento ou outros procedimentos estranhos e nefastos.

    Com tudo isto, no frugivorismo procura-se suplantar de vez os "pecadilhos" ainda remanescentes

    no lacto-vegetarianismo, a saber: farinceos, verduras, condimento, laticnios, cozimento e refino.

    Os farinceos so produtos pastosos, especialmente quando cozidos, modificando assim a sua

    natureza. Comidos crus e como gros a sua conotao distinta (mas isto dificilmente se enquadra

    no caso presente). Em larga escala e para ampla assimilao, o cultivo do gro algo trabalhoso,

    mas para fins de nutrio crudvora, pode ser difundido pela Natureza ou encontrado em estado

    natural.

    Muitos feijes so nocivos sade, especialmente aqueles que contm alto teor de uria.

    Pitgoras era inimigo dos feijes.

    Os leos so refinados e tambm excessivos. Seu cozimento (presente desde a extrao, a no

    ser nos casos de extrao a frio) traz sempre algum grau de saturao e toxidade.

    As verduras no raro so insonsas, sujas e pertencem a um reino vivo que tambm merece ser

    respeitado. Seu consumo costuma requer cozimento.

    Os condimentos so no geral nocivos e excessivos. Acares e sais abundam nas frutas, mas

    refinados ou concentrados suplantam as necessidades naturais. Por isto podem acarretar em diabetes

    e hipertenso. So conservantes naturais, tendo sido empregados originalmente em conservas e

    carnes secas. O sal tambm acumula gua em excesso:

    O sal irritante e o corpo deve expuls-lo para ver-se livre da sua prejudicial presena. Da a

    urina, as lgrimas, e todas as nossas secrees serem salgadas. (M. Lazaeta Acharan, Medicina

    Natural ao Alcance de Todos, pg. 138, Hemus)

    No preciso insistir no fato de que o livre-arbtrio humano favorece uma srie de

    artificialismos e anomalias. Fala-se, por exemplo, que a carne e o sangue humanos so adocicados,

    atraindo insetos como os mosquitos e at as feras.

    Observamos ainda que alm de poupar mais o sistema digestivo, o frugivorismo permite certo

    relaxamento com os dentes. A eliminao dos accares nocivos um grande passo, e sem o amido

    diminui a necessidade de cuidados.

    Segue-se a completa eliminao dos laticnios, sempre putrefativos em algum grau. Na etapa do

    frugivorismo eliminamos totalmente os derivados lcteos, especialmente o queijo (os monges co-

    mumente desprezam os laticnios). O mito da protena animal pode ser atacado j na etapa ve-

    getariana. Quando o leigo pergunta-se onde conseguir a "protena animal", ele logo pensa em

    carnes, ovos e derivados do leite. Mas, de onde a vaca tira esta protena? O fato que as protenas

    so produzidas pelo prprio metabolismo do corpo. Tal mito, amparado pelo "onivorismo" humano

    (que apenas revela a capacidade de adaptao deste reino altamente evoludo), oculta muitas vezes

    o simples apego pela carne.

    De fato, atualmente vm se multiplicando tanto os adeptos do vegetarianismo por todo o mundo,

    e sempre com resultados to positivos, que a Cincia apenas no a proclama como o regime mnimo

    aceitvel para a sade do corpo e da mente, por simples medo de mudana. Afinal, est provado que

  • 20

    20

    esta dieta no comporta nenhum radicalismo, sequer gerando maiores consequncias em termos de

    comportamento, a no ser salutares melhoras.

    Estes "cientistas" deveriam explicar, por exemplo, porque que os smios, inclusive os de

    grande porte como o orangotango, a preguia, o gorila e o chipanz, tendo um sistema digestivo to

    semelhante ao do homem, se recusam a caar e a comer qualquer tipo de carne, fugindo assim

    classificao de "onvoro" que os cientistas atribuem ao homem...

    Infelizmente, parece que os mdicos ocidentais ainda so mais amigos da doena do que do

    doente. O dia em que eles receberem para manter a sade e no para curar a doena, como se faz no

    Oriente, ento as coisas iro mudar. Um dos grandes crimes humanos o da comercializao da

    sade.

    Para falar a verdade, tornou-se to facilitado ser vegetariano hoje, sob uma oferta to ostensiva e

    uma qualidade to avanada de produtos (inclusive "substituindo" e at "imitando" a carne, como a

    soja e o glten), que o verdadeiro guerreiro da luz deveria olhar positivamente para diante. J no se

    pode considerar uma virtude cuidar da sade fsica e poupar os animais. O buscador da evoluo

    deve hoje cuidar da sade psquica e poupar tambm as plantas.

    Este passo representar algo realmente significativo na evoluo da sensibilidade humana,

    porque se dirige para algo que o homem no percebe com os sentidos fsicos. Ele tem a sorte de

    contar com os indcios da cincia no tocante sensibilidade dos vegetais (preparando-o assim para

    uma revelao de ordem mental), mas isto apenas serve para confirmar aquilo que ele pode saber

    por s, que tem no seu corao e que foi ditado por Deus no incio da Criao: ele foi feito para

    comer especialmente frutos e gros:

    Eis vos dou todas as ervas que do semente, que esto sobre toda a superfcie da terra, e

    todas as rvores que do frutos que do semente: isto ser o vosso alimento." (Genesis 1, 29).

    No fala, portanto, em agricultura sistemtica, mas em aproveitar os gros das ervas naturais

    "que esto sobre toda a superfcie da terra", e at dos frutos, quase dando nfase especial aos gros

    ou s sementes. Muitas destas ervas realmente no so comestveis, mas sim os seus gros, que

    podem ser aproveitados de muitas formas, mas com especial valor nutricional quando ingeridos

    crus, mesmo se germinados.

  • 21

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    Captulo 3

    Observando a Natureza

    O frugivorismo um regime que nos leva a observar muito detidamente o comportamento dos seres

    vivos, a fim de discernir qual a sua verdadeira natureza.

    Analisemos ento sucintamente os seguintes tens: fonte de alimentao, tamanho do animal,

    volume alimentar e forma de alimentao.

    Iniciando com as fontes de alimento dos grupos de animais, podemos associar os tipos principais

    de dietas segundo a alimentao que praticam, classificando-os em termos gerais como carnvoros,

    herbvoros e frugvoros.

    No entanto, tal como nas opes de dietas humanas, a regra geral igualmente a dieta mixta.

    Muitos carnvoros tambm pastam, como o urso. O grande panda inclusive totalmente

    vegetariano, comendo apenas brotos de bambus. Muitos herbvoros comem frutas, quando as

    alcanam. E muitos frugvoros comem folhas tenras e pastam, ou at devoram outros animais

    pequenos. Granvoros como os pssaros tambm apreciam frutas e insetos.

    O tamanho dos animais no geral uma caracterstica destas dietas. Ainda assim, existem animais

    de todos os tamanhos em cada classificao.

    Como as plantas so a forma viva mais bsica e abundante, os animais herbvoros foram os

    primeiros a surgir na face da terra e tambm constituem os mais pesados e robustos. Os dinossauros

    eram em geral vegetarianos, tanto os primeiros, de pequeno porte, como os maiores que vieram

    depois.

    Mais tarde surgiram aqueles que passaram a comer estes seres vivos. Necessitando de mais

    mobilidade para perseguir, caar e matar, eram no geral animais de porte mdio, com grande

    habilidade e agressividade.

    Por fim surgiram aqueles que se alimentaram especialmente dos frutos, hbeis e aptos a subir em

    rvores e, portanto, de porte menor.

    Os pssaros surgiram diretamente destes dinossauros. Muitos eram carnvoros, como as

    chamadas aves de rapina de hoje. Mas depois a maioria tornou-se frugvora por gozarem de especial

    intimidade com as rvores. De constituio frgil, sentiam-se ali protegidos e abrigados.

    Neste sentido, existe certa primordialidade em relao ao vegetarianismo. Os animais herbvoros

    podem ser equiparados ao elemento Terra, situado na base de tudo.

    A quantidade ou o volume de alimento a ser ingerido em cada dieta tambm deve ser observado.

    A disponibilidade do tipo preferencial de alimento pode variar.

    O carnivorismo um tipo de alimentao concentrada, e sua obteno pode ser difcil. O

    vegetarianismo um tipo de alimentao abundante, mas a obteno tende a ser mais fcil. O

    frugivorismo um tipo de alimentao mdia, e sua obteno relativamente fcil.

  • 22

    22

    Finalmente, devemos observar a forma de comer em cada espcie. Os herbvoros comem

    abaixados, pastando. Os carnvosos comem agachados, agarrando o alimento. Os frugvoros comem

    de p ou sentados, tendo nas mos o alimento.

    O ato de abaixar-se para comer a forma mais primitiva. Os carnvoros agarram os seres vivos

    que esto no seu nvel, por assim dizer. E os frugvoros procuram os frutos no alto das rvores.

    Nisto tudo existe uma distino especial dos membros. Os herbvoros tm pouca ou nenhuma

    habilidade especial com seus membros, empregando-os meramente para se locomover ou como

    defesa.

    Certos carnvoros usam suas garras para ferir, rasgar e agarrar. Os frugvoros tm mos para

    segurar objetos e frutas.

    Os macacos so uma das poucas espcies que podem andar em duas e quatro patas. Outras

    tambm podem elevar-se e fazer uso das mos dianteiras para agarrar as coisas com certa

    habilidade. Mas nenhuma se compara ao homem. Nisto, atribuda uma importncia capital ao

    polegar humano. Graas a ele o homem capaz de manusear objetos com especial destreza.

    O homem a nica espcie da natureza plenamente ereta, na qual as mos jamais so

    empregadas na locomoo, a no ser na tenra infncia, enquanto se desenvolve o corpo. Isto torna a

    coluna humana um ponto delicado, suscetvel em atividades no naturais, como esforo excessivo,

    tenso e repetitivo.

    Para o ser humano, abaixar-se para agarrar, semear e colher um alimento (agricultura) um

    esforo perigoso. Tratar com animais (criao) tambm sempre complexo e arriscado. Estes

    tampouco gostam de ser domados, ainda que certos povos selvagens consigam um controle mais

    natural sobre eles. Os animais no querem morrer e mat-los uma agresso terrvel. Apenas a

    coleta de frutas parece lhe ser menos onerosa e daninha. O homem colhe as frutas limpas e

    perfeitas, pendentes de seus pednculos, como ofertas da Natureza.

    O homem carnvoro se identifica com o esprito das feras que caam. O homem vegetariano se

    identifica com o esprito dos erbvoros que pastam. O homem fugvoro se identifica com o esprito

    dos animais que colhem.

    Ainda assim, podemos fazer uma anlise criteriosa do organismo humano, e observando a

    posio vertical do homem, as suas enzimas digestivas alcalinas (prprias aos vegetais), o tamanho

    de seu instestino e a sua sensibilidade a odores, j no teremos dvidas sobre a verdadeira nutrio

    humana.

    Captulo 4

  • 23

    23

    A Ioga Alimentar

    A palavra yoga significa "unir", sendo nisto semelhante "religio", do latim religare que significa

    "unio". Neste sentido, o frugivorismo representa plenamente aquilo que poderamos chamar de

    "yoga alimentar".

    O frugivorismo pode ser enquadrado como uma dieta yogue. Sri Sivananda confirma isto em

    Cincia do Pranayama, afirmando que "uma dieta consistente apenas de leite e frutas, constitui um

    esplndido menu para os estudantes de yoga". Podemos sem dificuldades substituir o leite ou

    simplesmente abandon-lo. O autor considera ainda esta a dieta ideal para a atividade intelectual e

    espiritual:

    A dieta de frutas exerce uma suave e benigna influncia no organismo e constitui um tipo de

    dieta muito apropriada para Yoguis. (...) As frutas so grandes produtoras de energias e

    constituem uma forma natural de dieta. As frutas ajudam a concentrao e o enfoque mental.

    Adotando o frugivorismo estamos respeitando estritamente s leis que regem a nossa fisiologia

    e, portanto, sendo obedientes vontade do Criador. Alm disto, por sua simplicidade, preserva o

    meio ambiente e confere ao homem uma liberdade e uma qualidade superior de conscincia.

    Representa um passo importante para revogar as maldies trazidas humanidade pelo pecado

    de desobedincia vontade de Deus, que proibira que o homem comesse do fruto da rvore do

    Bem e do Mal que, em ltima instncia, significa fazer pleno uso de seu livre-arbtrio, indo contra

    as leis naturais.

    Na vida tudo est regido por leis. O homem pode usar o livre-arbtrio para obedecer ou

    desobedecer s leis naturais. E em caso de desobedincia deve pagar as consequncias, porque

    apenas assim ele conhece os resultados de seus atos e pode numa futura oportunidade procurar as

    vias corretas.

    A razo disto que ao homem muito dado: ele a Imagem manifestada do Criador! Por isto

    deve manifestar responsabilidade, uma vez que, como Criatura-Modelo, se destina a co-administrar

    a Criao!

    Ainda que os caminhos espirituais sejam repletos de mistrios e subjetividades, temos a

    possibilidade de manusear os procedimentos fsicos necessrios nossa sobrevivncia, e faz-lo de

    forma sbia para que no comprometa a nossa sade e disposio.

    Assim, tendo com instrumento aquilo que bsico, podemos iniciar a jornada de forma cientfica

    e racional, manipulando os recursos externos. Isto importante quando queremos tomar conta de

    nossa integridade.

    Muitas religies podem tender a colocar isto em segundo plano, por no ser o homem

    exatamente o seu corpo. Com isto se pretende sugerir a possibilidade de "sublimar" os alimentos

    menos saudveis. Mas nisto reside na verdade uma dicotomia patolgica.

    , pelo contrrio, aperfeioando a dieta que o homem d mostras concretas de que realmente no

    se identifica tanto com o corpo. Do contrrio sua dubiedade pode soar a hipocirisia, mais ou menos

    como o sujeito que afirma ser celibatrio, mas dorme em cama com mulher.

  • 24

    24

    At porque, no final no basta ser, tambm preciso parecer. Estes argumentos condescendentes

    servem aos mais fracos, embora por vezes empreguem aqueles realmente sublimados que, neste

    caso, na verdade apenas ocasionalmente quebram suas regras, para no chamarem ateno sobre

    suas pessoas ou acerca de questes eventualmente polmicas diante de pessoas no preparadas.

    Tratam-se, pois, do encontro de casos extremos. Mas se pretendemos evoluir positivamente

    como indivduos, no h como deixar de lado o respeito s leis naturais. Apenas neste caminho ele

    pode aspirar por conquistar o seu destino individual, e no permanecer dependente dos iluminados

    para a sua salvao. Alm disto, trata-se tambm de um servio evoluo. Se ele pretende se

    tornar um dos luminares que a humanidade necessita, ser tambm por este caminho de perfeio

    que ir ascender.

    O frugvoro aquele que encontra as oportunidades ideais para comungar com a Criao. Ele

    no participa dos ciclos que violentam a terra, o homem e os outros reinos. um yogue natural, a

    prpria personificao da unidade (yug), e prope-se a difundir a Verdade natural porque sabe ser

    ela tambm sagrada.

    Ao adotarmos o frugivorismo no fazemos apenas por ascetismo ou como medida de sade.

    Trata-se tambm de respeitar as leis naturais e a nossa prpria constituio, assim como o Plano

    geral a que, como homens, estamos destinados a cumprir. Sem administrar com competncia as

    nossas bases fsicas, dificilmente poderemos ascender aos outros mundos como necessitaramos.

    Com isto no estamos dizendo que o naturismo dispensa atitudes espirituais. Pelo contrrio, ele

    as estimula e necessita. Serve justamente para incentivar o surgimento de outras leis que no aque-

    las meramente fsicas e exteriores pelas quais o homem surgiu, mediante uma economia especial de

    energias e pelo seu refinamento natural.

    O naturismo representa uma liberao destas condies fsicas originais, da mesma forma como

    a criana deixa o bero e o homem abandona os seus pais.

    A unidade com as leis naturais, significa que o homem se capacita a adentrar em outro nvel de

    leis, no caso as supra-naturais. Enquanto ele no honra a Natureza, acha-se na condio sub-natural

    e a natureza representa para ele uma contnua fonte de desafios. J aquele que acata as leis naturais

    pode empreg-las como fator de transcendncia. Neste sentido, a sade fsica apenas a mais

    elementar das provas.

    Captulo 5

  • 25

    25

    O Homem Natural

    Se o homem evoluiu no seio da natureza, ela tambm regenerativa para aquele que perdeu o

    contato com suas origens. At porque a natureza no apenas matria. Ela tambm sentimento e

    conceito, assim como luz e mistrio. Os mistrios da natureza no so simples e nem esto

    plenamente assimilados pelo homem, de modo que ela tem muito a oferecer em termos de caminho

    e crescimento. As leis naturais permanecem na base da linguagem dos Mistrios e dos mitos que

    envolvem as mais elevadas concepes.

    O "guerreiro-viajante" da mstica tolteca de Castaeda convive intensamente com a natureza e os

    seus mistrios. nela que encontra os seus caminhos eternos e infinitos. E o ensinamento da Agni

    Ioga recorda que "Jesus e Buda fizeram os seus milagres dentre as belezas da natureza."

    Mas quando pensamos hoje no conceito do homem natural e suas virtudes, logo nos vm

    mente as idias do "bom selvagem" de Rousseau e as imagens dos ndios desnudos evocando a

    inocncia do Paraso original, como os europeus encontraram no Brasil.

    Nem todo o selvagem assim bom, mas muitos realmente o so. E a simplicidade uma de suas

    virtudes. Tampouco todo o ndio anda nu, sem que isto altere substancialmente o seu modo de vida.

    O naturismo, entendido como nudismo, tende a ser uma prtica salutar na medida em que

    desmistifica o corpo. Em alguns casos o nudismo realmente comporta elementos simblicos.

    Na ndia existem certas seitas nudistas, como a faco jainista dos digambaras ("vestidos de

    nuvens"). No Apocalipse 10,1, Jesus apresentado como "vestido por nuvens", talvez imagem do

    Ado original (Kadmon).

    Os gregos, no seu hedonismo tradicional, chamavam a estes jainas de gimnosofistas ("amigos do

    corpo"), sem compreender o sentido asctico e despojado da atitude oriental, semelhante da seita

    medieval dos Adamitas.

    Estes ascetas buscam lugares quentes, onde o despojamento lhes facilitado, mais ou menos

    como no caso dos ndios. Os cientistas modernos afirmam que o Sol representa um poderoso

    afrodisaco. Mas sem dificuldades podemos estimar que, no caso dos msticos, afeitos ao espiritual,

    a energia solar adquire outra conotao. Prova disto so as prticas levadas a cabo por iogues e

    msticos avanados empregando a energia solar.

    Seja como for, o naturismo permite a confluncia do simples e do belo, j presente nas frutas,

    sempre um smbolo de perfeio, idlio e liberdade.

    ndios e hindus tm em comum a simplicidade e o despojamento. Na existncia natural dos

    ndios, os malefcios Natureza externa e interior nunca chegam a ser grandes:

    Os ndios do Xingu no pem fogo em suas matas, no caam indiscriminadamente,

    raramente comem carne. (Edilson Martins, Nossos ndios, Nossos Mortos, pg. 107)

    Mas as solues meramente naturais terminam se esgotando. As tribos se dividem, mas a

    natureza tem limites. Logo faltar comida e sobrar gente outra vez. E ento iniciam os crimes

    contra a Natureza.

  • 26

    26

    Por isto necessrio desenvolver padres culturais mais avanados e satisfatrios, sendo a

    agricultura e a pecurria apenas alguns destes recursos. Neste quadro, os hindus enriquecem o

    comportamento com medidas filosficas. Porm, a abstinncia sexual no mera convenincia

    material, mas uma sabedoria espiritual.

    Semear parasos uma das solues. Mas o Paraso no apenas um lugar externo. A Bblia

    mostra que ele apenas existia enquanto a atitude interior do homem era digna. Hoje mesmo o ser

    humano tem muitas habilidades para gerar lugares idlicos. No entanto, ele segue semeando

    desertos. O verdadeiro problema est no corao do homem; de modo que ali que deve ser sanado

    antes de tudo.

    No caso dos ndios, a nudez se deve vrias causas, como a ausncia de recursos e a falta de

    necessidade de maiores abrigos. verdade que certos ndios se vestiram em funo do clima, mas

    no geral a questo climtica no determinante. A vida natural tem suas prprias compensaes.

    Poucos ndios da Amaznia usavam roupas, e esta condio se estendia a quase toda a populao

    indgena "oriental" da Amrica do Sul. Apenas aqueles que viviam nos Andes ou prximos como os

    da Amaznia peruana, ou mais ao sul como os do Chaco paraguaio e os pampeanos, que adotaram

    as vestimentas, basicamente ponchos, certamente sob a influncia dos povos andinos.

    Os Andes so realmente um lugar frio. Mas outras partes do Con-tinente a temperatura tambm

    cai razoavelmente. Ali os ndios se abrigavam nas malocas e ao fogo. Muitas vezes eles at se

    adaptaram ao frio intenso, como certas tribos da Patagnia (os yamanas e outros) entre as quais o

    uso de roupas fazia mais mal que bem. A roupa guardava umidade e esfriava os seus corpos, alm

    de trazer problemas de higiene, e at virus perigosos quando dadas pelo homem branco.

    Na Amrica do Sul o homem apenas se vestiu quando se tornou realmente necessrio. Talvez

    isto tenha se repetido em outras partes do mundo. Nossos antepassados europeus vieram do frio

    Norte na Europa. Mas tanto eles como os Mediterrneos e os africanos se vestiam apenas em parte.

    Os semitas (judeus e rabes) que sempre fizeram um amplo uso de roupas.

    Fora o aspecto moral, a vestimento teve origem em povos montanheses ou setentrionais. Porm,

    a prpria civilizao tambm teve origem nestas regies.

    A ausncia de pelagem no corpo humano deve ser visto como algo muito especial. Podemos

    pensar que, se o homem devesse cobrir-se, ele teria mais pelos. Sua pele exposta representa um

    fator de sensibilidade, que no deve ser comprometida ao ser fustigada continuamente sob os

    elementos. Por outro lado, pode ser justamente a possibilidade de confecionar a roupa que permite

    este progressivo despelamento. Assim, em caso de necessidade ele pode fazer roupas, ainda que, em

    princpio, no deveria necessitar us-las. De fato muitas vezes o asceta apenas se veste

    "socialmente". Pessoalmente, a roupa nada significa para ele, que no reconhece o pudor e nem

    necessita de proteo.

    Mas a nudez absoluta tampouco a marca da perfeio. O Paraso no meramente um lugar

    quente. tambm um lugar de gente que se adapta razoavelmente s circunstncias climticas.

    Haver problema em vestir-se unicamente por pudor? Qual a fronteira entre a vergonha e a

    modstia? Na verdade isto pouco importa. Pois o verdadeiro homem natural no aquele que vive

    num lugar fisicamente afvel, ou aquele que se protege do frio.

  • 27

    27

    O homem natural por excelncia aquele que, vestido ou desnudo, convive intensamente com os

    ciclos da Natureza e faz deste convvio uma condio de crescimento, sem excessos de qualquer

    parte.

    Neste sentido, a experincia das Estaes sempre enriquecedora. Aqueles que no conhecem o

    frio e o calor, por razes artificiais ou mesmo naturais, perdem uma oportunidade de vivenciar

    plenamente os ciclos naturais e de experienciar os movimentos internos que o clima provoca no ser

    humano.

    Nos casos mais elevados, aquele que aceita este mundo como tal, abre a porta da convivncia

    com os outros mundos. No Evangelho Essnio da Paz, que a regra naturista de So Joo (Batista),

    temos uma passagem tocante a este respeito:

    ...se cumprirdes os mandamentos de vossa me-terra, ento, quando o vosso corpo estiver

    demasiado quente, ela vos enviar o anjo do frio para refrescar-vos. E quando o vosso corpo

    estiver demasiado frio, ela vos enviar o anjo do calor para aquecer-vos de novo. (XXXI)

    possvel que um batismo preliminar de Natureza deva ser procurado em regies mais quentes.

    Mas, assim como os verdadeiros iogues, procuram as alturas dos Himalayas para se provarem, os

    grandes iniciados tambm comeam a se provar em latitudes mais baixas. Este caminho

    independente do uso de roupas sinaliza a evoluo do homem natural, pois assim como o homem

    tropical em mdia mais simples, o iogue iniciante tambm menos evoludo.

    De um modo geral, os povos que vivem no centro dos hemisfrios (regies subtropical e

    temperada) tm a oportunidade de realizar este convvio com os verdadeiros ciclos da Natureza,

    sendo muitas vezes uma ocasio para serem celebrados.

    Nas regies quentes (Equatorias) ou frias (Polares), o clima mais ou menos constante e as

    variaes se dirigem mais desde um polo (Vero ou Inverno) at o equilbrio (Primavera ou

    Outono), do que a realmente oscilar entre os opostos.

    Mas nas reas amenas (Temperada), os climas podem chegar a graus bastante baixos no Inverno

    e elevados no Vero. Tais contrastes seriam fatais se fossem diretamente confrontados. Mas, neste

    caso, e presena das Estaes intermedirias, Outono e Primavera, servem de preparao para a

    chegada daquelas de clima extremo.

    O ser humano dificilmente suporta grandes variaes de temperatura. Mas a presena de quatro

    Estaes bem definidas permite o aclimatamento progressivo, de modo que quando chegam as Es-

    taes mais rigorosas o corpo e a mente se encontram preparados.

    De modo que as Estaes vm e vo, e o habitante desta regio no chega a ressentir-se da

    mudana, e at se habitua a conviver com ela e a lhe apreciar. Por isto tais regies representam

    verdadeiras pirmides climticas.

    Esta condio especialmente favorvel formao de um carter humano ntegro. Como o

    reino humano o quarto, o convvio constante com os quatro elementos atravs das quatro Estaes

    lhe permite desenvolver o seu plano interior com mais facilidade.

    Ao aceitar e vencer este desafio, ele comea a se identificar com a totalidade dos ciclos da

    Natureza e a se tornar rico e diversificado. Sabe que o mundo pode mudar vontade, mas ele

    mesmo representa um ncleo interno, fixo e inaltervel, dotado de um poder prprio que transcende

    os elementos, de modo que alcana naturalmente uma quintessncia. Pode-se mesmo dizer que os

  • 28

    28

    Quatro Temperamentos so desenvolvidos e integrados, gerando um novo de carter central e fixo,

    como numa mandala humana...

    Assim, este ambiente tambm muito til para a iniciao, onde o homem deve aprender a

    manejar energias contrrias, visando uma sntese.

    preciso notar que as regies mais identificadas aos "parasos" situam-se nesta faixa central da

    Terra, como o Egito, a Mesopotmia e a ndia setentrional, que foram com certeza os grandes polos

    de fundao da Quinta Raa-Raiz, associada mencionada quintessncia humana ou espiritual.

    Nas Amricas tambm temos este ambiente favorvel sntese humana, especialmente no Sul. O

    homem dos pampas robusto e vigoroso, mas no meramente em funo do regime carnvoro que

    adotou no passado sob a economia de pecuria, como pensava Saint-Hilaire. preciso considerar o

    conjunto do seu modus vivendi, que extremamente telrico, ao conviver intensamente com as mu-

    danas climticas e temperar o seu esprito e o seu corpo sob a variedade enriquecedora da

    Natureza.

    No Sul estes extremos so ainda reforados por fatores naturais ou artificiais, como os ventos

    frios que vm da Patagnia (Pampeiro, Minuano) aumentando a sensao trmica, ou o calor gerado

    pela poluio, o desmatamento e o ambiente urbano. Apesar disto o gacho tempera a sua alma nas

    suas tradies e na fora da natureza que o acolhe.

    Os povos vizinhos no entendem porque os riograndenses quase no usam calefao ou

    refrigerao. Quando o argentino chega ao Rio Grande do Sul, ele se pergunta porque o gacho no

    usa calefao. Mesmo os nortistas estranham o calor que pode fazer ali, no vero, sobretudo na

    Capital.

    Apesar de fazer bastante frio e calor nas estaes extremas, nesta rea no existe uma cultura de

    frio ou de calor. O ser humano local simplesmente se adapta e suporta aquele perodo que, de resto,

    sempre fugaz (e ainda por vezes nem sempre caracterizado, sobretudo hoje em dia quando os

    climas andam to alterados, no geral, mais aquecidos).

    As Estaes extremas no duram o suficiente para assustar. E quando se comea a acostumar, o

    clima j est mudando. Assim, cada estao vivida como uma aventura e experimentada como

    algo a ser aproveitado, do qual se deve procurar tirar o melhor proveito. De resto, sempre existe o

    refgio natural das praias no vero (a costa gacha fresca e ventosa), e do fogo da lareira no

    inverno (a opo das serras, s vezes com neve, tambm apreciada). So tradies que o gacho

    cultiva e que substituem as medidas artificiais, onerosas e desnecessrias.

    realmente boa a sensao de vivenciar os ciclos da Natureza. Significa tambm que existem

    mais opes de atividades. O indivduo pode se programar para realizar cada tarefa em sua estao,

    e at aguardar com certa ansiedade a sua chegada.

    Este quadro representa, pois, o mximo do homem natural, numa viso civilizatria, que de to

    integrado e adaptado se capacita a superar a prpria Natureza, na medida em que os seus ciclos j

    no representam um desafio. Na verdade, a palavra mgica aqui equilbrio e centralidade,

    enquanto unidade-na-variedade, ou numa palavra, universalismo. Neste ambiente cultiva-se uma

    bela harmonia com os elementos, atravs da comunho, sem cair em maiores artificialismos. Aos

    ndios bastavam as fogueiras, as peles e as malocas (por vezes eram abrigos subterrneos). A

    natureza era relativamente farta: frutas, pinhes, peixes, caa; e de resto alguma roa.

  • 29

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    diferente de um clima limitado que apresenta poucos ou excessivos desafios. O calor extremo

    exteriorizante e o frio extremo interiorizante; so importantes como experincia, mas no por

    todo o tempo, seno simplificam em demasia o carter. Com isto temos os exemplos extremos dos

    povos tropicais e dos povos rticos, regies nas quais dificilmente se pode edificar verdadeiras

    civilizaes. No que seja impossvel ali a cultura superior, apenas que exige maiores investimentos

    e a colheita nunca ser to prdiga quanto nas faixas temperadas.

    Mas tudo isto pode ser apenas uma das necessidades gerais do homem a mais perfeita com

    certeza, aquela que coroa um quadro completo de possibilidades.

    uma grande beno poder contar com vrias regies climticas mais ou menos definidas,

    especialmente no mesmo pas. Isto favorece o progresso e o enriquecimento humano ao ampliar

    alternativas, no apenas climticas, como tambm de variedade natural: flora, fauna, minerais,

    temperamentos humanos, etc.

    Uma das caractersticas dos grandes polos mundiais de cultura , justamente, abrangerem

    territrios com latitudes que vo desde o Equador, at o centro do Hemisfrio, no paralelo 30 (na

    nova raa, tambm o paralelo 40). E uma das funes dos imprios, justamente abranger tal

    amplitude. Atualmente tal coisa apenas acontece na ndia e no Brasil.

    sempre prazeroso viajar por este imenso pas, convivendo com o seu povo. A populao do

    interior, relativamente isolada, costuma receber bem os viajantes. Esta hospitalidade natural

    reconhecida internacionalmente. A vastido do Brasil se reflete na generosidade da alma de seu po-

    vo. Temos at um ditado oportuno: "Calma que o Brasil grande", alusivo tragdia poltica do

    pas.

    Os amplos espaos das regies interiores (hoje sobretudo os grandes parques nacionais), so um

    ambiente para refletir sobre a imensido e at sobre as foras da Natureza. Estes lugares so capazes

    de proporcionar um "batismo natural" como poucos no mundo.

    No s os temperamentos, mas os prprios reinos, planos e elementos esto bem caracterizados

    em tudo isto.

    No Serrado transparece a fora mineral. Ali se encontra o geo-magnetismo mais forte do planeta.

    Na Amaznia transparece a fora vegetal. Ali se acham as reservas de bio-massa mais

    extraordinrias da Terra.

    No Pantanal transparece a fora animal. A bio-diversidade e a abundncia de vida ali

    assombrosa.

    E nos Pampas transparece a fora humana. A riqueza interior do homem pampeano especial

    em funo da variedade climtica j mencionada.

    Assim, cada um pode procurar experimentar estes ambientes tendo em vista o desenvolvimento

    de energias anlogas. Trata-se esta de uma cosmologia especialmente desenvolvida para o Brasil,

    onde cada regio serve como base para uma iniciao. Tal coisa tambm pode ser vista em termos

    de latitude:

    01 a 10 = 1 grau ..... elemento terra ..... materialidade.

    11 a 20 = 2 grau ..... elemento gua ..... psiquismo.

  • 30

    30

    21 a 30 = 3 grau ..... elemento ar ......... mentalidade.

    31 a 40 = 4 grau ..... elemento fogo ...... intuio.

    Este tema melhor desenvolvido em nossa obra Geografia Sagrada da Amrica do Sul, onde no

    elemento Ar dispomos aos Andes (contguos ao Pantanal), posto que as montanhas se relacionam

    simbologia do Terceiro Grau. No Brasil tambm existem montanhas, mas as maiores (com 3 mil

    metros, metade dos picos andinos portanto) acham-se no Norte, na fronteira com a Venezuela, uma

    regio bela mas inspita e remota, com amplas savanas que j foram o leito de oceanos.

    Assim, nos cerca de 40 que mede o Brasil em cada direo, podemos tecer um completo quadro

    evolutivo contemplando a totalidade do ser humano. E isto permite o surgimento do homem natural

    por excelncia, o ser humano completo e ntegro no seu prprio nvel.

    A Natureza Como Caminho

    Aquilo que a natureza tem a oferecer realmente magia e libertao. Fora, sade, beleza e alegria

    so consequncias naturais de uma comunho intensa com a criao. O simples contato com os

    animais silvestres uma experincia maravilhosa. Mas tambm contatos especiais com os seres

    sutis da natureza esto reservados ao homem desperto em sua sensibilidade e que busque um

    ambiente preservado, onde no ser difcil contatar os chamados seres elementais e ouvir a sua

    maravilhosa sinfonia. Ali onde existe abundncia de vida silvestre, estes reinos tambm estaro

    aflorando.

    Certamente no podemos esperar alcanar uma comunho mais profunda com a Natureza num

    meio-ambiente deteriorado e repleto de artificialismos. Mas tambm possvel regenerar o

    ambiente, como se realizou em Findhorn.

    O excesso de artificialismo sempre termina por degenerar amplamente o ser humano. Suas

    energias se deterioram no excesso de facilidades e comodismos, forjando uma condio oposta

    barbrie, mas igualmente inadeqada.

    E neste caso, ele apenas pode se regenerar entregando-se s leis naturais e abrindo-se ao novo,

    inclusive o aqui-e-agora, experienciando a criao viva.

    O homem deve aprender com a fora dos elementos; deve saber dominar estas energias em sua

    expresso mais pura. Ele tem dentro de si estas foras, e no contato com suas expresses naturais

    que alcana controlar estas tendncias universais.

    O iniciado que controla os elementos a partir de um centro de transcendncia chamado drago,

    e este processo consumado na 5 Iniciao. O drago aquele animal fabuloso que sente-se

    vontade em todos os elementos. Ele tem escamas de anfbios, asas de pssaros e patas de

    mamferos, alm de cuspir fogo.

    Tudo isto significa poder real e liberao, assim como cincia, amor puro e criatividade. So os

    atributos do Adepto, o Mestre de 5 grau.

  • 31

    31

    Em seu prprio nvel, o homem apenas preserva a sua condio natural de conscincia como

    nmade, sem fixar-se terra e sem criar razes materiais. Com isto ele toma literalmente a Natureza

    como caminho.

    O nomadismo tende saudvel rusticidade, e a auto-imagem no se fixa e nem fixada pelos

    outros muito fortemente. As incertezas e os desafios geram um estado de alerta e de humildade. Por

    isto os nmades muitas vezes tm orgulho de sua condio.

    A raz importante para a evoluo, mas apenas quando ela est saudvel. De resto, "raz" no

    sinnimo de fixao material, podendo abranger uma cultura complexa.

    Sob condies adequadas, o homem tambm pode cultivar este nomadismo de forma harmnica

    com o sedentarismo. A civilizao rya, precisamente, alcanou esta condio.

    Para que ele possa usufruir dos melhores frutos do sedentarismo, necessita sujeitar-se a um

    controle central, tal como ofereciam certas cidades-estado na Antiguidade.

    Por outro lado, a ausncia completa de razes pode se tornar um mal. No sem razo que So

    Bento, o criador do monasticismo cristo, afirmava que os piores monges so os itinerantes. Eles

    no criam razes e nem entram no ritmo comum; no conhecer bem o indivduo pode sujeitar a

    situaes perigosas como a dos falsos monges, ladres e vagabundos. A fama dos ciganos demons-

    tra bem a situao.

    Ocorre, porm, que tambm entre estes viandantes que se pode esperar encontrar os melhores

    monges. Jesus e Buda no teriam alcanado afirmar a conscincia divina sem terem assumido a

    condio de peregrinos e andarilhos. Por isto So Paulo estimula o bom acolhimento, dizendo:

    "Muitos acolheram anjos sem o saber".

    preciso sentir-se livre sobre a terra para expressar a verdade da condio humana a de

    peregrino eterno; a de um ser csmico.

    Mais ainda, numa poca matriarcal como a que estamos entrando, o homem (especialmente o

    gnero masculino) deve reaprender a amar com plenitude e integridade. Ele necessita restaurar a sua

    masculinidade, e isto apenas far confrontando-se com o mistrio do desconhecido, e deleitando-se

    com as belezas naturais.

    No passado patriarcal recente o homem estava acomodado em sua postura machista, cujo

    domnio alcanou patamares de verdadeiro terror; mas agora isto est mudando.

    O amante-viajante a imagem masculina que o futuro aprovar. As grandes culturas que

    desenvolveram os mistrios do corao foram de origem atlante. Novamente esta energia se acende

    no mundo, requerendo atitudes corajosas e generosas, pois os homens j comeam a perder terreno,

    inclusive para as novas "amazonas".

    Para fazer frente aos desafios do Novo Mundo, ele deve tornar-se um amante-viajante e vice-

    versa. Aquele que no sabe viajar incapaz de completar uma mulher, e aquele que no respeita a

    Terra no pode ser um bom amante.

    Amar, inclusive de forma conjugal, ser no Novo Mundo mais que uma opo pessoal, mas um

    caminho sagrado de Totalidade. No se trata apenas de um sacramento formal de noivos buscando

    as benos de uma Igreja a fim de conseguirem conviver melhor, mas da complementaridade

    csmica entre duas metades predestinadas, tal como Plato descreve o mito das almas-gmeas.

  • 32

    32

    Neste caso as promessas ureas de convivncia apesar da pobreza, da enfermidade e dor, pode se

    realizar de forma plena, motivada pelo prprio amor sagrado do casal.

    O homem deve tratar de assimilar a energia lunar positiva, que representa profundidade,

    continuidade e intensidade. O novo Yang deve afirmar-se em contato com o Ying universal. Isto

    significa que a natureza oferece os elementos necessrios para este aprendizado, que depois poder

    ser completado pela religio superior. O viajante pode eleger uma rota de peregrinao e uma meta

    a alcanar, de preferncia com um sentido simblico que vincule o sagrado ao feminino, tal como

    um santurio dedicado Virgem, uma cidade em especial, etc. Outra boa sugesto para o legtimo

    andarilho, comear sua jornada em regies mais quentes e ir descendo rumo s temperadas.

    Para tomar a Natureza como caminho, devemos literalmente caminhar dentre as belezas naturais

    e aceitar os seus desafios, humanos e naturais. Aquele que vence as intempries com recursos

    naturais e at sobrenaturais, pode se considerar um vitorioso sobre si mesmo e pronto para os

    relacionamentos humanos de qualquer natureza.

    Captulo 6

    O Homem Civilizado

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    Aquele que realiza o rito da renncia alimentar abala as estruturas da convivncia vulgar dentro e

    fora de si. J desde o frugivorismo torna-se proibitivo coabitar nas cidades. E isto nos apresenta o

    seguinte paradoxo: acaso no vinculamos sempre o frugivorismo raa rya, a qual a prpria

    responsvel pelo padro urbano de vida? Sim, e a explicao a seguinte: Referimo-nos como

    verdadeiramente ryos a padres urbanos bastante superiores aqueles hoje existentes, de tal modo

    que nos praticamente impossvel imaginar. Tentemos faz-lo, no entanto faamos uma viagem

    no tempo!

    Pensemos numa cidade clssica e grandiosa, sem rudos e repleta de beleza arquitetnica, com

    mirades de templos, de praas e ruas arborizadas, com universidades onde se ensinam as leis

    superiores e tudo oscila em torno da harmonia csmica, sendo a prpria cidade um retrato do cu na

    terra: doze portas representando os signos zodiacais (como na Jerusalm celeste de So Joo ou

    como Repblica de Plato), quatro divises aludindo s direes do espao e s classes sociais

    (como na Tenochtitlan asteca), etc. Estamos no Egito, na Babilnia, na Prsia, na ndia, na China,

    no Mxico, no Peru? No importa, em toda a parte imperava a mesma viso grandiosa de unidade

    cu-terra. E como isto seria contrrio uma nutrio que leve o homem para alm da simples terra?

    Repetimos, portanto, o que temos apresentado em algumas partes desta obra: a comunidade

    pode, sim, servir de esteio para a prtica frugvora, e at alm. Certamente mesmo aqueles que

    desejam "viver de luz" na verdade, de gua, ao que importante a meditao na luz, tal como se

    daria num agrupamento de mestres, podem encontrar na comunidade uma base salutar e slida.

    Por isto, ao contrrio do que talvez se poderia pensar, neste Captulo tampouco vamos fazer uma

    crtica simplista "civilizao", em funo daquilo que se observa hoje nas grandes cidades e seu

    modus videndi, que representa antes de tudo um quadro final de decadncia, sugerindo talvez at o

    prprio esgotamento de todo um modelo social. Antes, vamos observar a forma como a urbanidade

    pode ser empregada, pois a ordem civilizada tambm tem (ou teve) o seu papel no quadro evolutivo

    humano. Mesmo estando nos direcionando hoje para uma cultura ps-urbana, o que tampouco

    significa no-urbana e certamente muito mais do que apenas colocar mato dentro das cidades: que

    tal uma sntese, empregando os avanados recursos modernos?

    De fato, preciso reaprender o que seja "civilizao". E na verdade no to fcil definir o que

    seja "civilizado". A palavra sugere algo que prima pela cidadania e at pela cidade.

    Na poca positivista tinha-se o conceito de que a civilizao se caracteriza por edificar habita-

    es permanentes e slidas. H certo tempo se percebeu, porm, que tal concepo comportava um

    preconceito, visto a variedade cultural dos povos e as diversas condies s quais devem se adaptar.

    Hoje se enfatiza a existncia de um Estado central, de moeda etc.

    Ainda assim, a idia do urbanismo no de todo errnea. Afinal, as cidades apenas surgiram

    como algo permanente, depois que apareceu na Terra uma sabedoria superior capaz de afirmar o

    sagrado para alm dos cnones naturais e at humanos. Tal coisa aconteceu a partir da Raa rya,

    h cerca de 5 mil anos atrs, onde os iluminados se capacitavam a chegar Quinta Iniciao.

    Por isto, ao falarmos de "civilizao", tambm estamos em princpio nos referindo ao urbanismo,

    e de preferncia atravs de edificaes permanentes.

    A cidade est associada ao conceito de centro, simbolizado pelo nmero 5 e pela cruz de braos

    iguais ou mandala (exaltada na Quinta raa-raiz). At ento somente