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INSTITUTO DE FÍSICA- IF UFRJ UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL SAULO SARMENTO SOARES Rio de Janeiro 2012 15/2012 l- F. U. F. R. J. BIBLIOTECA REGíSTR. DATA

FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

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Page 1: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

INSTITUTO DE FÍSICA- IF UFRJ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINOFUNDAMENTAL

SAULO SARMENTO SOARES

Rio de Janeiro

2012

15/2012

l- F. U. F. R. J.

B I B L I O T E C AREGíSTR. DATA

Page 2: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

INSTITUTO DE FÍSICA- IF UFRJ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FÍSICA NAS SERIES INICIAIS DO ENSINOFUNDAMENTAL

SAULO SARMENTO SOARES

Monografia de conclusão de curso em

Licenciatura em Física, apresentada no

Instituto de Física da Universidade Federal

do Rio de Janeiro, sob orientação do

Professor Francisco Artur Braun Chaves.

Rio de Janeiro

2012

Page 3: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

INSTITUTO DE FÍSICA- IF UFRJ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FÍSICA NAS SERIES INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Saulo Sarmento Soares

Banca Examinadora:

Presidente: Francisco Artur Braun Chaves

2° Membro: Vitorvani Soares

3° Membro: Deise Miranda Vianna

4° Membro: Marcos Binderly Gaspar

Rio de Janeiro, de de 2012.

Page 4: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

À minha mãe Rosany e à minha avó

Nadyr, por toda a dedicação a mim, tendo

sido indispensável na minha vida

acadêmica e pessoal e por me

proporcionarem tudo, que tenho e que sou.

Page 5: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Agradecimentos

Primeiramente, a Deus, por ter me dado força e sabedoria e por ser a razãodo meu viver. Agradeço a minha irmã Samyra por todo o esforço e cuidadoscomigo. Minha esposa Marcelle, por toda a paciência e compreensão; e, a todosmeus familiares que foram o meu alicerce para que eu pudesse chegar até aqui.

Agradeço ao Professor Artur, por toda a paciência, prontidão, por seussábios conselhos e compreensão que teve comigo durante o desenvolvimentodeste trabalho.

Agradeço aos professores Vitorvani, Deise e Gaspar por todos osconhecimentos que me passaram e por influenciarem diretamente na minha vidaacadêmica.

Agradeço a todos os professores que tive, desde o Ensino Fundamental atéhoje, pois todos tiveram participação direta na minha formação acadêmica.

Agradeço aos companheiros de graduação Jordão, André magrelo, RafaelJucá e ADJ, por toda a motivação, influência, amizade, momentos de alegria emomentos de estudos.

Page 6: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Sumário

1. Introdução

2. Física no Ensino Fundamental 10

2.1. Ensino-Aprendizagem Significativo para Crianças e Adolescentes

2.2. Porquê ensinar Física desde as Séries Iniciais

3. Formação dos Professores das Séries Iniciais 21

3.1. Física na Formação dos Professores das Séries Iniciais

3.2. Conceitos Físicos aprendidos e ensinados no Curso de Formação

4. Análise e Abordagem dos Conteúdos Programáticos 29

4.1. Temas de Física Abordados do 2° ao 5° ano do Ensino Fundamental

4.2. Como os temas devem ser abordados em sala de aula

5. Atividade Prática 36

5.1. Planejamento da Atividade Prática

5.2. Aplicação da Aula Experimental para os 3° e 4° anos

5.3. Análise e Comentários dos Alunos e Professores

6. Conclusão 48

6.1. Quais são as Problemáticas do Ensino de Física das Séries Iniciais

6.2. Pesquisas em Ensino de Física e a Realidade em sala de aula

6.3.0 que mudar no Ensino de Física das Séries Iniciais

7. Referências Bibliográficas 54

Page 7: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Resumo

Este trabalho é iniciado com uma análise das pesquisas de ensino de Física

relacionadas com o ensino-aprendizagem significativo, construtivista e

experimental nas séries iniciais do Ensino Fundamental, ou seja, 1° ao 5°

anos, (antigo primário). O assunto abordado: Formação de Professores, é

baseado em artigos e teses de pesquisas feitas sobre o tema, onde só

estamos interessados em saber qual o enfoque que deve ser dado em

Física na formação destes professores, para que possam desenvolver um

bom ensino de desta referida matéria no Ensino Fundamental. Foi feita uma

análise dos temas abordados pelos livros didáticos de Ciências do Ensino

Fundamental e como os mesmos deveriam ser abordados em sala de aula.

Também foi pesquisado como se deve abordar a Física nas séries iniciais,

bem como o enfoque que pode ser dado nas aulas de Ciências do Ensino

Fundamental. Realizaremos, também, uma atividade prática de campo,

onde fora proposta uma aula para o 4° ano, nos moldes das pesquisas já

realizadas, onde pesquisamos os motivos e dificuldades pelos quais as

mesmas não sejam amplamente utilizadas nas nossas escolas.

Page 8: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

1. Introdução

A idéia deste trabalho surgiu nas aulas de instrumentação para o

ensino de Física da UFRJ. Durante a pesquisa de um tema experimental,

proposto em sala, foi encontrado em um site www.lapef.fe.usp.br, da

Faculdade de Educação da USP, que tinha vídeos sobre Física no Ensino

Fundamental. Nestes vídeos, podemos perceber como as crianças se

encantavam com os fenômenos físicos e falavam de física como gente

grande, surgindo assim os seguintes questionamentos:

O que existe de tão diferente e encantador nestes vídeos e por quê

os conceitos de Física não são abordados desta maneira na maioria das

escolas?

Foi tentando responder a essas perguntas que surgiu a idéia

proposta neste trabalho sobre o ensino de Física nas séries iniciais do

Ensino Fundamental.

Problemas que serão pesquisados:

Por que em grande parte das escolas brasileiras os temas de Física,

que deveriam ser abordados nas aulas de Ciências, não são abordados de

forma coerente com as atuais pesquisas feitas sobre ensino de Física nas

séries iniciais do Ensino Fundamental?

Por que existe um abismo entre metodologias pesquisadas e o

ensino de Ciências praticado nas escolas municipais do Estado do Rio de

Janeiro?

Page 9: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Hipóteses que serão pesquisadas:

As pesquisas em ensino de Física para as séries iniciais do Ensino

Fundamental são relativamente recentes, levando-se em consideração o

enfoque dado nos vídeos citados anteriormente.

Com o crescimento do número destas pesquisas e, como estas ainda

são recentes, ainda não houve tempo para as escolas das séries iniciais e

dos cursos de formação de professores e universidades se adaptarem a

essa nova realidade de ensinar Física nas aulas de Ciências, onde são

apresentados os conceitos de Física aos alunos, com um enfoque de ensino

significativo com exemplos do cotidiano: experimental, concreto e

construtivista.

Pesquisa de Campo:

A pesquisa de campo que será apresentada no capítulo 5 deste

trabalho, para testar estas hipóteses levantadas, foi realizada na Escola

Municipal Professor Castilho, localizada no bairro de Guaratiba, cidade do

Rio de Janeiro. Nesta escola, verificamos a possibilidade de aplicação de

uma aula com o mesmo enfoque dado nos vídeos citados, utilizado como

exemplo expositivo e motivacional. Utilizamos somente os recursos

disponibilizados às professoras cedidos pela prefeitura do Rio de Janeiro,

tentando ter o mínimo de interferências possíveis para efeito de pesquisa.

Page 10: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

2. Física no Ensino Fundamental

Este tópico tem por objetivo justificar (com a utilização das pesquisas

citadas na bibliografia) a importância do ensino de Física nas séries iniciais do

Ensino Fundamental. Embora, a princípio, pareça impossível e árduo o ensino-

aprendizagem de Física nas aulas de Ciências no Ensino Fundamental, para

alunos tão imaturos, com raciocínio ainda muito concreto e sem capacidade de

abstração.

Este novo horizonte é muito gratificante aos educadores que colocam tais

projetos em prática, tendo a chance de perceber a curiosidade aguçada em seus

alunos e o interesse em aprender aquilo que faz parte do seu cotidiano e do que

eles observam todos os dias, mas sem entenderem o porquê.

Na atual sociedade em que vivemos, com o grande desenvolvimento

tecnológico, onde os conceitos de Física são o carro chefe de toda essa

tecnologia, a abordagem dos conceitos de Física nas aulas de Ciências que todas

estas pesquisas propõem, é bastante interessante e coerente com a realidade

atual dos alunos que vivem numa sociedade cada vez mais dinâmica. Esta Física

proposta pelas pesquisas é abordada de maneira conceituai e estruturada para o

entendimento dos alunos desta faixa etária, sem a utilização da sofisticada

Matemática, que ainda é uma novidade para estes alunos das séries iniciais do

Ensino Fundamental, mas nem por isso o aprendizado tem menor importância,

pois os mesmos conceitos serão remodelados o entendimento dos alunos nas

séries vindouras, facilitando a introdução da Matemática, como ferramenta de

comprovação destes mesmos conceitos, conforme veremos no decorrer do

capítulo dois.

2.7 Ensino-Aprendizaqem Significativo para Crianças e Adolescentes

Bons professores usam a memória como armazém de informação,

professores fascinantes usam a memória como suporte da criatividade.

Bons professores cumprem o conteúdo programático das aulas, professores

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Page 11: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

fascinantes também cumprem o conteúdo programático, mas seu objetivo

fundamental é ensinar os alunos a serem pensadores e não repetidores de

informação (CURY, 2003).

Atualmente, existe um grande número de bons professores

espalhados nas nossas escolas, como foi citado pelo pesquisador psiquiatra

Augusto Cury; porém, os professores fascinantes - também citados por ele

- atualmente, são muito raros, por diversos fatores que discutiremos mais a

frente.

Falar de ensino de Ciências para crianças não é nada fácil. Para que

ocorra o aprendizado o professor fascinante tem que na maior parte do

tempo dar significado a tudo aquilo que esteja sendo ensinado, transmitindo

tudo com o máximo de clareza e objetividade possível, e como sabemos isto

é uma tarefa muito difícil e desafiante.

Ensinar Física para crianças sem dar significado aos conceitos é o

mesmo que nada, pois horas depois, na maioria das vezes, elas já se

esqueceram de tudo o que fora aprendido, o que pode ser comprovado por

qualquer professor de Ensino Fundamental. Para ilustrar o que foi citado,

propomos o seguinte experimento aos professores de Ensino Fundamental:

Peça que um professor movimente um carro imaginário, repetindo os

movimentos feitos por uma outra pessoa qualquer, que apertará três botões,

também imaginários, que podem ser desenhados em um papel, como

ilustrado no desenho abaixo:

BOTÕES:

BOTÃO 1. BOTÃO 2. BOTÃO 3.

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Page 12: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Para dar início ao movimento do carro a pessoa apertará uma vez o

botão 1, mantendo o mesmo pressionado com a mão esquerda; e, com a

mão direita irá apertar e soltar uma vez o botão 3 e, em seguida,

simultaneamente soltar o botão 1 com a mão esquerda e pressionar o botão

2 com a mão direita, mantendo o mesmo pressionado. O carro imaginário

iniciará o movimento. Repetindo o mesmo movimento, porém, agora em vez

de um toque no botão 3, dever-se-á dar dois toques e, assim

sucessivamente. Repetindo esta seqüência lógica, o carro aumentará de

velocidade.

Executar esta tarefa, repetindo os movimentos feitos pela pessoa,

parecerá impossível para o professor, mas se for dado um significado a essa

tarefa, tornar-se-á trivial. Como, por exemplo, dizer ao professor que, o

botão 1 representa a embreagem do carro; o botão 2, representa o

acelerador e o botão 3 representa a marcha. E, que um toque no botão 3

representa a primeira marcha, dois toques representam a segunda marcha e

assim sucessivamente.

Se o professor souber dirigir essa tarefa - aparentemente impossível

- tornar-se-á trivial. Esse exemplo pode ser comparado com o ensino-

aprendizado dos conceitos físicos, sem que sejam dados os respectivos

significados.

As crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental são ainda

imaturas, com pouca capacidade de abstração e, por isso, necessitam tanto

de exemplos concretos, significativos e bem ilustrados para todos os

conceitos que estejam sendo ensinados em sala de aula.

Outro ponto importante é o prazer e a alegria em aprender, que são

fatores que dependem muito da motivação dada pelos professores em sala

de aula e, por isso, o professor tem um papel de fundamental importância no

processo de ensino-aprendizagem.

Normalmente, as aulas que temos as melhores e mais fortes

lembranças são aquelas que gostávamos do professor e, por "coincidência"

eram as aulas que mais aprendíamos a matéria. Por exemplo, eu lembro

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Page 13: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

perfeitamente das minhas aulas de Ciências, da quinta série do Ensino

Fundamental (antigo primeiro grau), onde a professora Rita de Cássia

revolucionou a maneira de eu ver as aulas de Ciências, pois todas as suas

aulas de Ciências eram dadas no laboratório de uma escola municipal, que

ela reativou depois de anos parado.

As aulas desta professora foram tão marcantes na minha vida que

me influenciaram na paixão por Ciências, sendo então responsável por eu

estar produzindo este trabalho, no qual busco explicações para saber por

que essa metodologia não é utilizada por todos os professores de Ciências

do Ensino Fundamental.

O livro texto que será utilizado neste trabalho será: Ciências no

Ensino Fundamental, citado na referência. Este livro é a fonte de inúmeras

pesquisas feitas pelos autores em ensino de Física no Ensino Fundamental.

Esta obra é uma espécie de roteiro de como podem ser abordados os

conceitos físicos nas aulas de Ciências do Ensino Fundamental.

O mesmo é um dos livros que foram recebidos pelas escolas

municipais do Rio de Janeiro, que é composto por várias obras de apoio

pedagógico e tem por objetivo facilitar a atualização e o desenvolvimento

dos professores.

A seguir, será feita uma breve análise de trechos retirados deste livro

que também será utilizada como apoio na pesquisa de campo do capítulo 5

deste trabalho:

Temos consciência de que ensinar um conjunto de conceitos

desconectados da estrutura do pensamento físico tem levado alunos e

professores a não sentirem prazer nem alegria nessas aulas. Sem prazer e

alegria não há ensino e muito menos aprendizagem. Não é isso que

queremos para nossos alunos (CARVALHO, VANNUCCHI, BARROS,

GONÇALVES e REY, 2010).

O aprender com emoção e alegria e ensinar com eloqüência são

aspectos de extrema importância para o processo de ensino-aprendizagem.

Como também podemos ver nas citações retiradas do livro "Pais Brilhantes

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Page 14: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Professores Fascinantes" (CURY, 2003), mesmo sendo redigido por um

psiquiatra que estuda a mente humana, em sua bibliografia cita VIGOTSKY

e PIAGET, também citados no livro texto. As semelhanças entre os livros

não param por aí. Tudo o que foi escrito pelos pesquisadores em educação

no livro texto pode ser confirmado pelo que foi escrito por este psiquiatra.

Durante as leituras, por várias vezes temos a impressão que ambos os livros

tenham sido escritos pela mesma pessoa. Vejamos algumas destas

semelhanças:

Nós só conseguimos dar detalhes das experiências que envolvem

perdas, alegrias, elogio, medos, frustrações. Por quê? Porque a emoção

determina a qualidade do registro. Quanto maior o volume emocional

envolvido em uma experiência, mais o registro será privilegiado e mais

chance terá de ser resgatado.

Ensinar a matéria estimulando a emoção dos alunos desacelera o

pensamento, melhora a concentração e produz um registro privilegiado

(CURY, 2003).

Se esse primeiro contato for agradável, se fizer sentido para as

crianças, elas gostarão de Ciências e a probabilidade de serem bons alunos

nos anos posteriores será maior. Do contrário, se esse ensino exigir

memorização de conceitos, além do adequado a essa faixa etária e for

descompromissado com a realidade do aluno, será muito difícil eliminar a

aversão que eles terão pelas Ciências (CARVALHO, VANNUCCHI,

BARROS, GONÇALVES e REY, 2010).

O ponto importante nestes trechos para analisarmos e compararmos,

é que o ensino-aprendizado significativo vai muito além do significado

científico. Tudo o que queremos ensinar, principalmente para crianças, tem

que ter emoção, diversão e proporcionar prazer, tanto para quem aprende

como para quem ensina. Assim, segundo as pesquisas, terão um registro

privilegiado na mente humana que será facilmente resgatado no futuro.

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Page 15: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A quantidade exagerada de informação dadas na escola é

estressante. Educar é provocar a inteligência, é a arte dos desafios. Se um

professor não conseguir provocar a inteligência dos alunos durante sua

exposição, ele não educou. O que é mais importante na educação: dúvida

ou a resposta? Muitos pensam que é a resposta. Mas a resposta é uma das

maiores armadilhas intelectuais. Quem determina o tamanho da resposta é

o tamanho da dúvida. A dúvida nos provoca muito mais do que a resposta

(CURY, 2003).

Em nossas pesquisas de ensino de Ciências para os primeiros ciclos

do ensino fundamental, temos detectado a importância de propor aos alunos

situações problemáticas interessantes. Ao tentar resolvê-las, os alunos se

envolvem intelectualmente com a situação física apresentada, constróem

suas próprias hipóteses, tomam consciência da possibilidade de testá-las,

procuram as relações casuais e, elaborando os primeiros conceitos

científicos, (re)constroem o conhecimento socialmente adquirido - um dos

principais objetivos da educação escolar (CARVALHO, VANNUCCHI,

BARROS, GONÇALVES e REY, 2010).

Na análise dos trechos anteriores podemos perceber que as

hipóteses levantadas pelas pesquisas em Psicologia são comprovadas

pelos pesquisadores em educação. Quando é citado "temos detectado a

importância de propor situações problemáticas interessantes para que os

alunos construam suas próprias hipóteses", os educadores não estão dando

uma quantidade exagerada de informação, como é feito no ensino

tradicional e muito menos dando a resposta pronta para seus alunos. Na

verdade, está sendo provocado a inteligência e a arte de desafiar, como foi

citado por Augusto Cury.

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Page 16: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A sala de aula não é um exército de pessoas caladas nem um teatro

onde o professor é o único ator e os alunos, espectadores passivos. Todos

são atores da educação. A educação deve ser participativa.

Os professores devem suportar o vício de transmitir o conhecimento

pronto, como se fossem verdades absolutas. Até porque, a cada dez anos,

muitas verdades da ciência se tornam folclore e perdem seu valor (CURY,

2003).

No ensino tradicional, as interações em sala de aula se dão quase

exclusivamente entre professor e alunos e entre alunos e professor; a

interação entre alunos tem uma influência secundária, quando não

indesejável ou desagradável.

No ensino construtivista, não se ignora a importância da interação

professor-aluno. Entretanto, a interação entre os alunos não pode, nem

deve, ser desprezada. Na escola, na sala de aula, deve haver tempo para

comunicação, reflexão e argumentação entre os alunos - fatores

importantes para o desenvolvimento da racionalidade e dos conteúdos

metodológicos e atitudinais, pois a interação do aluno com seus iguais é

imprescindível na construção, eminentemente social, de um novo

conhecimento (CARVALHO, VANNUCCHI, BARROS, GONÇALVES e REY,

2010).

Nestes trechos, a similaridade do que foi constatado pelas pesquisas

de Psicologia e as de educação é tão grande, que ambos os pesquisadores

dizem a mesma coisa com palavras diferentes. Nesta análise, podemos

destacar a confirmação de que a interação entre os alunos é fundamental

para que os conceitos sejam compreendidos. A dúvida de um aluno auxilia

na ratificação do entendimento do grupo, e na construção dos conceitos,

como nos tem mostrado estas pesquisas.

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Page 17: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A comparação das pesquisas experimentais feitas em escolas de

São Paulo, citadas no livro "Ciências no Ensino Fundamental" (CARVALHO,

VANNUCCHI, BARROS, GONÇALVES e REY, 2010) e as teorias e

hipóteses citadas no livro "Pais Brilhantes e Professores Fascinantes"

(CURY, 2003), foi extremamente importante para o desenvolvimento deste

trabalho. Ainda foi possível constatar que o livro texto, motivador desta

pesquisa, está de acordo com tudo que foi escrito por Cury, que também é

um escritor contemporâneo, indicando uma pequena parte das nossas

hipóteses, que estas pesquisas ainda são recentes, levando-se em

consideração o tempo do ensino de Física no Brasil.

2.2. Por que ensinar Física desde as Séries Iniciais

O enfoque deste trabalho não é o de comprovar a necessidade de

ensinar Física desde as séries iniciais, visto que, já existem diversas

pesquisas em andamento com esse propósito. Como já foi citado

anteriormente, o objetivo deste trabalho é entender porque ainda não são

colocadas em prática todas essas teorias.

O desenvolvimento deste tópico será apenas de análise de

pesquisas já realizadas anteriormente em ensino que utilizaremos para

ratificar essa necessidade do ensino de Física desde as séries iniciais do

Ensino Fundamental.

Pesquisas atuais têm mostrado a importância de ensinar os

conceitos físicos desde as séries iniciais, pois as crianças desta faixa etária

estão como um vulcão em erupção, em plena atividade mental. Os conceitos

físicos, uma vez compreendidos pelas crianças, nunca mais serão apagados

de sua memória e ainda terão um registro privilegiado no futuro se no

momento do ensino-aprendizagem tiverem uma carga emocional atrelada ao

mesmo, como já citado no tópico ensino-aprendizagem significativo para

crianças e adolescentes.

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Page 18: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Em qual época é mais fácil aprender? Na infância! Por quê? Porque

ela é a fase em que mais perguntamos e abrimos as janelas da nossa

mente. As crianças aprendem línguas com facilidade, não apenas porque

estão menos entulhadas de informações na memória, mas porque são

perguntadoras. Em que época os cientistas produzem suas idéias mais

brilhantes? Na maturidade ou quando ainda são imaturos? Quando

imaturos, porque duvidam, se estressam e perguntam mais (CURY, 2003).

No parágrafo acima podemos destacar a importância da infância

para o aprendizado. Quem nunca ouviu falar de uma criança que tem seus

pais com nacionalidades diferentes? Essa criança com 3 ou 4 anos de idade

fala os dois idiomas (de seu pai e mãe) fluentemente e com muita facilidade.

Porém, para esta mesma criança, no futuro, quando já for adulta, aprender

um terceiro idioma será um pouco mais difícil.

Por outro lado, se esse mesmo adulto estiver fazendo o mesmo

cursinho no país de origem desta nova língua que está aprendendo, a

fluência deste idioma será muito mais rápida, pois como também já foi

citado, terá um envolvimento emocional neste aprendizado.

Outro ponto que é muito importante a ser destacado é que, mesmo

que essas novas propostas de ensino de Física nas aulas de Ciências do

Ensino Fundamental, não sejam ainda matematizadas e definida

conceitualmente com um formalismo físico, como é feito no Ensino Médio,

este ensino para crianças tem se mostrado, através de pesquisas, tão

importante quanto ou, talvez, até mais importante para estes alunos. Abaixo

destacamos alguns trechos do livro texto para exemplificação do que foi dito:

Durante o desenvolvimento escolar, do sexto ao nono ano, esses

significados, esse conhecimentos provisórios, devem ser reorganizados,

adquirindo novos significados; as relações entre as variáveis, agora somente

apontadas, mais tarde serão matematizadas e estruturadas em leis e teorias

(CARVALHO, VANNUCCHI, BARROS, GONÇALVES e REY, 2010).

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Page 19: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Nossa proposta é a de oferecer aos alunos dos primeiros anos do

Ensino Fundamental atividades de conhecimento físico que irão levá-los a

pensar e a resolver um problema do mundo físico, dentro de suas

condições. Estamos, principalmente, ensinando os alunos a gostar de Física

(CARVALHO, VANNUCCHI, BARROS, GONÇALVES e REY, 2010).

Gostaria de destacar que esta construção do conhecimento que foi

citada não é uma tarefa nada fácil para os professores que estão interagindo

com crianças e adolescentes de uma faixa etária que é pura explosão de

pensamentos acelerados. Por isso que ensinar Física desde as séries

iniciais se torna indispensável.

Quando os alunos chegam ao Ensino Médio se deparam, logo nas

primeiras aulas, com uma cinemática totalmente pronta e que precisa de um

bom conhecimento em funções para a correta interpretação de gráficos.

Normalmente, estes alunos que provavelmente não tiveram uma boa base

no Ensino Fundamental, têm dois discursos: "Física é muito difícil para mim";

ou, "eu não suporto Física". Isso, para justificarem seus fracassos com esta

disciplina.

Mas, na verdade, as pesquisas em ensino nos têm mostrado que o

conhecimento é necessariamente construído e não pode ser apresentado

pronto para os alunos, pois assim o mesmo é insignificante, difícil e chato.

Abaixo, destacamos alguns trechos destas pesquisas para

exemplificação do que foi dito:

O processo cognitivo evolui sempre numa reorganização do

conhecimento, que os alunos não chegam diretamente ao conhecimento

correto. Este é adquirido por aproximações sucessivas, que permitem a

reconstrução dos conhecimentos que o aluno já tem (CARVALHO,

VANNUCCHI, BARROS, GONÇALVES e REY, 2010).

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Page 20: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

O objetivo fundamental da memória é dar suporte para um raciocínio

criativo, esquemático, organizacional, e não para lembranças exatas (CURY,

2003).

Atualmente, professores têm argumentado que este ensino

construtivista (citado neste trabalho) possui diversas falhas e que entre a

teoria e prática existe um grande abismo. Com o grande volume de

demandas educacionais que os professores precisam enfrentar no dia a dia

em sala de aula, tais como: novas disciplinas, novos métodos e diversidade

de alunos, parece que nada do que esteja sendo proposto será eficaz e

argumentam que o ensino tradicional é o que melhor se aplica à realidade

da sala de aula.

Por outro lado, vejamos a contra-argumentação dada pelo autor,

citado abaixo, para os professores que pregam que o retorno ao ensino

tradicional seria a solução para muito dos problemas educacionais atuais.

As dificuldades que os professores de Ciências vivem

cotidianamente nas salas de aula quase nunca são conseqüência da

aplicação de novas propostas curriculares com uma orientação

construtivista, senão que, na maior parte dos casos, ocorrem devido à

tentativa de manter um tipo de educação científica que em seus conteúdos,

em suas atividades de aprendizagem, em seus critérios de avaliação e,

sobretudo, em suas metas está muito próxima dessa tradição (POZO,

CRESPO, 2009).

Estes mesmos autores ainda citam que a saudade do passado não

deve impedir que percebamos as enormes mudanças culturais que estão

ocorrendo que tornaria inviável o retorno deste ensino tradicional.

Diante do mundo cada vez mais tecnológico em que vivemos, onde

cada vez mais cedo as crianças interagem com estas tecnologias e com o

aumento do acesso as informações e globalização perguntamos:

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Page 21: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Será que ainda é possível no Ensino Fundamental dar uma aula de

Ciências tradicional, sem uma abordagem conceituai e construtivista dos

fenômenos físicos que nos rodeiam e que também estão por trás de muitas

destas tecnologias?

3 Formação dos Professores das Séries Iniciais

3.1. Física na Formação dos Professores das Séries Iniciais

Os temas abordados neste tópico serão exclusivamente baseados

em pesquisas realizadas anteriormente e publicadas em revistas de

divulgação científica em ensino de Física.

Nosso objetivo aqui não é de uma análise profunda do curso de

Formação de Professores, pois este não é foco deste trabalho, mas a

contextualização é muito importante, visto que, este tem participação direta

no ensino de Física nas séries iniciais.

A formação em Física que professores das séries iniciais têm no

curso de Formação de Professores, também conhecido como Magistério, é

determinante para o bom desenvolvimento do ensino físico nas séries

iniciais do Ensino Fundamental, pois serão estes profissionais que irão

desenvolver e pôr em prática tudo o que as pesquisas preconizam como

ideal para o ensino de Física nas séries iniciais, pois são estes professores

que conduzirão os pequeninos na construção e desenvolvimento do

aprendizado.

A seguir, analisaremos os relatos de uma pesquisa realizada no

início dos anos 90, em uma escola pública de magistério de Porto Alegre,

RS.

Durante um ano, vivenciamos o ensino de Física praticado na escola-

caso (2° semestre de 1989 e 1° semestre de 1990). Essa vivência nos

mostrou que o ensino de Física na escola não era o adequado para a

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Page 22: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

habilitação Magistério, pois estava completamente dissociado do ensino de

Ciências feito nas séries iniciais. Devido a essa inadequação detectada,

procuramos subsídio para mudança (OSTERMANN, MOREIRA, SILVEIRA,

1992).

Sabemos que ainda hoje os professores das séries iniciais,

normalmente quando têm aulas de Física no curso profissionalizante,

habilitação Magistério, não são muito diferentes das que são lecionadas no

Ensino Médio, como foi identificado nesta pesquisa.

Não estamos questionando aqui qual deveria ser o conteúdo

programático abordado no Ensino Médio, especialização Magistério, e

muitos menos, dizer como deveria ser a aula de Física no Magistério, por

não ser o foco desta pesquisa. Porém, no desenvolvimento da mesma e

leitura de pesquisas anteriores, ficou clara a necessidade de uma

abordagem dos conceitos físicos diferenciados das que são dadas nas aulas

do Ensino Médio tradicional. Esta abordagem poderia ser em aulas de Física

extras, em cursos de formação continuada de professores, em curso de

especialização ou outras formas, nas quais deixaremos em aberto aqui para

pesquisas futuras.

No desenvolvimento da pesquisa, na escola citada anteriormente, os

pesquisadores propuseram uma nova estratégia instrucional conforme

citado abaixo:

Os dados obtidos neste estudo nos sugerem que a Física é

indispensável no 2° grau Magistério, mas deve ser ensinada com um

enfoque distinto daquele usualmente dado ao 2° grau tradicional (com

programa de preparação para trabalho). Ao invés de ser preparatório para

estudos posteriores, o 2° grau Magistério é um curso de formação

profissional. Nada mais natural, então, que a Física seja ensinada com outro

enfoque. Este enfoque deve ser basicamente conceituai e qualitativo, com

muita experimentação, concentrando-se naqueles conceitos físicos que

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Page 23: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

serão abordados no ensino de Ciências nas séries iniciais (OSTERMANN,

MOREIRA, SILVEIRA, 1992).

Para estes pesquisadores esta nova estratégia instrucional deveria

ter algumas características, tais como:

Abordar conceitos físicos relevantes para as ciências das séries iniciais.

Qualitativa e com ênfase conceituai.

Aliada a experimentação à argumentação teórica do professor, sempre que

possível com discussões participativas dos alunos, a fim de criar

contradições e insatisfações com as concepções existentes.

Promover a formulação da concepção científica, quando esta parecia

potencialmente significativa para os alunos.

Essa nova estratégia instrucional foi aplicada no 2° semestre da

escola caso citada pelos pesquisadores. As aulas que as alunas tiveram no

1° semestre foram dadas no modo tradicional. A seguir, alguns dos relatos

que foram analisados:

"No 2° semestre, a gente participou formulando junto os conceitos.

Com as aulas práticas nós víamos o que estávamos fazendo e todas as

alunas se comprometeram com o trabalho. Estas experiências que fizemos

no 2° semestre podem ser feitas com as crianças, se adaptadas à idade

delas, para construir dentro delas o conhecimento da Física certo. Do

mesmo jeito que nós pensávamos errado, a criança também pensa e nós

devemos tentar mudar isso dentro da criança." (aluna C.A 16 anos).

"No 2° semestre, as aulas melhoraram bastante porque tinham as

experiências, e as discussões sobre as nossas idéias trazidas para a aula

eram importantes." (Aluna S.E, 15 anos).

23

Page 24: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

"Só a partir de nossas próprias idéias é que podemos aprender e

reconhecer nossas limitações frente à posição trazida pelo professor. O que

nós fizemos nas aulas (2° semestre), explorando as idéias até chegar às

idéias certas, é melhor caminho para se aprender." ( aluna R. O, 16 anos).

Os pesquisadores citados acima concluíram que:

A Física é indispensável no 2° grau Magistério, mas deve ser

ensinada com um enfoque distinto daquele usualmente dado ao 2° grau

tradicional (com programas de preparação para o trabalho). Ao invés de ser

preparatório para estudos posteriores, o 2° grau Magistério é um curso de

formação profissional. Nada mais natural, então, que a Física seja ensinada

com outro enfoque (OSTERMANN, MOREIRA, SILVEIRA, 1992).

A próxima pesquisa, que será analisada, teve como objetivo principal

trazer uma proposta para melhorar o ensino de Física nas séries iniciais do

Ensino Fundamental e foi realizada com professores que já lecionavam.

Esta proposta pode ser caracterizada como formação continuada de

professores, conforme podemos ver nos objetivos da pesquisa na citação

abaixo:

Promover uma introdução aos conceitos físicos durante as séries

iniciais, de forma que esta não só deixe de ser um obstáculo adicional ao

ensino subsequente, mas que, principalmente, desperte o interesse das

crianças para Ciência, foi o objetivo da proposta que relatamos neste artigo.

A maneira mais adequada para atingir este objetivo é através da formação

continuada de professores. Assim, desenvolveu-se um programa de

qualificação de professores das séries iniciais do Ensino Fundamental. Parte

do programa foi aplicado na forma de um curso de extensão universitária da

UFRGS e parte na forma de minicurso oferecido no II Encontro Estadual de

Ensino de Física realizado pelo Instituto de Física da UFRGS (DAMASIO,

STEFFANI 2008).

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Page 25: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Nesta pesquisa, assim como na anterior também, é citada a

abordagem dos conceitos físicos no curso de Formação de Professores das

Séries Iniciais do Ensino Fundamental (Magistério) como podemos ver:

A formação de professores - com exceção de raros casos - das

séries iniciais, não vê com atenção necessária a capacitação para ensino

de ciências naturais. Como conseqüência, os professores carregam

informações equivocadas ou mesmo errôneas. Estas informações são

repassadas aos estudantes, causando um ensino conceitua/mente

equivocado de Física nas séries iniciais (DAMASIO, STEFFANI 2008).

No desenvolvimento e aplicação do programa de qualificação de

professores, propostos na pesquisa citada, os pesquisadores também

tiveram cuidados na seleção das experiências e de materiais que seriam

utilizados. Procuraram utilizar materiais de baixo custo e de fácil acesso que

pudessem ser utilizados por qualquer escola, independente da cidade ou

condições financeiras da mesma.

Diferentemente da primeira pesquisa, citada neste tópico, onde a

pesquisa de campo foi realizada com professoras do curso de Formação de

Professores (Magistério), esta foi realizada com 12 professoras, já formadas,

durante o período de recesso escolar, onde foi respeitado o ritmo de

aprendizagem das referidas profissionais da educação.

A avaliação do programa foi feita através de entrevistas que consistia

de 10 perguntas, das quais destacamos algumas que chamaram mais

atenção, conforme citado abaixo:

A primeira e a segunda pergunta diziam respeito da conscientização

de que se ensina Física nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Apenas

duas professoras afirmaram ter uma idéia superficial de que a ensinavam

antes do curso; outras duas, afirmaram ter consciência que a ensinavam a

25

Page 26: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

seus alunos; e, uma terceira disse ter consciência, mas que não intitulava

'Física' aos conceitos abordados. Porém, a maioria (seis) disse que não

tinha consciência de que ensinavam Física antes do curso.

A terceira e a quarta pergunta buscavam levantar informações sobre

a segurança das professoras para o ensino de Física nas séries iniciais,

antes e depois do curso, respectivamente. Dez professoras disseram que

não tinham nenhuma segurança antes do curso; duas professoras

declararam que já tinham alguma segurança. Após o curso, de maneira

geral, todas as professoras declararam maior segurança para ensinar Física

a seus alunos e uma das profissionais da educação chegou a sugerir a

ampliação da carga horária do curso (DAMASIO, STEFFANI 2008).

A pesquisa citada foi desenvolvida durante o curso de mestrado de

DAMASIO, que obteve a seguinte conclusão:

Pode-se avaliar como tendo colhido resultados positivos, tanto em

relação aos professores de Ensino Fundamental, que tiveram algumas

lacunas de sua formação parcialmente preenchidas, como em relação aos

alunos das séries iniciais, que tiveram aulas que eles classificaram como

divertidas e passaram a ver a Física como uma disciplina legal, até fácil

(DAMASIO, STEFFANI 2008).

A leitura e análise de pesquisas, realizadas anteriormente, levou-nos

a refletir e está nos ajudando a responder a pergunta feita na introdução

desta monografia: "Por que os conceitos de Física não são abordados desta

maneira na maioria das escolas?"

Este tópico nos mostra que para que a Física seja abordada nas

séries iniciais, de acordo com as pesquisas recentes, temos também que

solucionar alguns problemas na formação de professores, que já foram

levantados por pesquisas um pouco mais antigas e que ainda não foram

solucionados.

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Page 27: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

3.1 Conceitos Físicos Aprendidos e Ensinados no Curso de Formação

No decorrer das leituras dos artigos, livros e pesquisas para o

desenvolvimento deste trabalho, foi possível constatar a existência de um

paradoxo no ensino brasileiro na referida disciplina Física.

Tentando buscar explicações e verificações para as hipóteses

levantadas na introdução deste trabalho, foi possível perceber que as

"recentes pesquisas" sejam um dos possíveis motivos da não aplicabilidade

e abordagem das mesmas nas escolas do estado do Rio de Janeiro, que é,

inclusive, o foco de pesquisa deste trabalho. Não podemos ignorar outras

hipóteses que apareceram no desenvolvimento desta monografia, as quais

faremos um breve relato aqui por interferirem diretamente no nosso objeto

de pesquisa.

Sendo assim, utilizaremos um pouco de metáforas poéticas para

tentar relatar o mais breve possível essas complexas constatações que

deixaremos em aberto para futuras pesquisas, pois não queremos perder o

nosso foco de pesquisa.

Segue abaixo uma pequena crônica que tenta relatar tudo sobre este

paradoxo que chamaremos de paradoxo do ensino:

No curso de formação de professores, como foi visto anteriormente,

as aulas de Física não são significativas, adequadas, nem estão de acordo

com o que tem mostrado as pesquisas citadas neste trabalho. Para que se

alcance um bom desenvolvimento dos conceitos físicos nas aulas de

Ciências do Ensino Fundamental, os futuros professores deveriam ter um

enfoque de ensino da Física voltada para o Ensino Médio, onde o

conhecimento físico aprendido no curso de Formação de Professores

deveria ser significativo e experimental, de modo que ensinasse a estes

futuros profissionais da educação a utilização do método científico, bem

como, a utilização de uma física conceituai e divertida, que não necessita de

um formalismo técnico para com as crianças do Ensino Fundamental.

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Page 28: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

No entanto, a realidade em sala de aula é bem diferente da

idealizada aqui. As aulas de Ciências, no Ensino Fundamental, com raras

exceções, abordam temas de Física.

Os alunos, por não aprenderem a gostar de Ciências, não 'abrem a

mente para viajar neste divertido mundo' dos conceitos físicos e quando

chegam ao Ensino Médio e lhes são apresentados uma enorme quantidade

de conceitos físicos que não tem significado algum para eles, exigindo-lhes,

ainda, a necessidade de uma Matemática um pouco mais sofisticada, eles

passam a dizer que odeiam Física. Na verdade, sabemos que não a odeiam,

simplesmente, nunca foram 'apresentados' um ao outro.

Os poucos alunos que descobrem por conta própria esse mundo

encantador da Ciência ficam limitados por seus colegas de classe. Sendo

assim, decidem fazer faculdade de Ciências. Na faculdade, alguns

acreditam que podem mudar o ensino da Física e optam por fazer

Licenciatura em Física.

Já na licenciatura, descobrimos que a Física é ensinada do mesmo

jeito que é ensinada no curso de Formação de Professores, todavia de

modo bem mais conceituai e com uma Matemática mais sofisticada ainda.

Os alunos que querem tentar mudar o ensino da Física, ficam encantados

com as poucas disciplinas em ensino de Física que se tem na licenciatura e

decidem utilizar tudo o que foi aprendido nestas aulas.

Quando chegam a seu primeiro dia de aula em uma escola de

Formação de Professores de Ensino Médio, descobrem que é uma exceção

e é apenas um 'beija-flor tentando apagar o fogo na floresta'. A pergunta que

fica é: Fazer a nossa parte para apagar este "incêndio" no ensino da Física

ou continuar neste paradoxo?

Os professores de Ensino Médio que estão tentando mudar o

panorama do ensino da Física no Brasil, mesmo não tendo sido qualificado

adequadamente, são apenas 'beija-flores tentando apagar todo o "incêndio"'

no ensino da Física. Mas a hora em que os "elefantes" com toda a sua

majestosa contribuição decidirem, de uma vez por todas, acabar com o

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Page 29: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

"incêndio" da educação, há de se ter uma fortíssima convicção que o nosso

sonho estará realizado. E o paradoxo do fracasso no ensino da Física será

transformado no paradoxo do sucesso.

Consequentemente, os alunos do Ensino Fundamental aprenderão a

gostar de Física, pois terão aulas de Ciências com professores capacitados

e treinados com as metodologias e conceitos de ensinos atuais, que

possivelmente aprenderão no curso de Formação de Professores ou em

cursos de reciclagem. Quando estes mesmos alunos chegarem ao Ensino

Médio terão melhor entendimento dos conceitos físicos, pois eles já estarão

familiarizados com estes conceitos e terão maior facilidade de aplicação

junto à Matemática. Chegando a faculdade, provavelmente, desenvolverão

um bom trabalho e produzirão excelentes pesquisas para melhorar ainda

mais o ensino da Física e, no futuro, tornar-se-ão "elefantes", infinitamente

mais eficientes que os anteriores e apagarão as últimas chamas deste

"incêndio" no ensino da Física, concretizando-se, assim, o paradoxo do

sucesso do ensino da Física no Brasil.

4 Análise e Abordagem dos Conteúdos Programáticos

4.1 Temas de Física Abordados do 2° ao 5° ano do Ensino Fundamental

Neste tópico será feita uma análise qualitativa dos conceitos físicos

abordados nos livros de Ciências e materiais de apoio pedagógico utilizados

pela Escola Municipal Professor Castilho, citada na introdução.

Os livros analisados são os que foram recebidos pelas escolas do

município do Rio de Janeiro, da FNDE (Ministério da Educação), referentes

aos anos 2010/2011/2012. Estes são livros da Coleção Porta Aberta e Ciência,

(editora FTD, 1a edição. São Paulo, 2008), os mesmos citados na referência.

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Page 30: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Livro; Porta Aberta e Ciência 2° ano:

Na unidade seis: Água, ar e solo, faz-se uma abordagem do conceito

físico: Ar, muito similar à abordagem feita na atividade prática deste trabalho,

citado no capítulo 5.

O experimento sugerido pelo livro é exatamente o mesmo utilizado

nesta pesquisa. Porém, o desenvolvimento que o livro propõe para o

experimento é muito diferente do que as pesquisas em ensino têm proposto. O

livro inicia bem o experimento descrevendo os materiais utilizados, dando-lhes

significados. A contradição com as pesquisas em ensino vem quando, na

primeira etapa, ele escreve "como fazer" e, em seguida, dá um passo a passo

dizendo tudo o que deve ser feito pelo aluno: "1) Amasse o papel e aperte bem

no fundo do copo; 2) vire o copo de boca para baixo..." e, daí por diante.

Contrariando, assim, as pesquisas citadas anteriormente, que nos diz que o

conhecimento não pode ser dado pronto. O professor deve propor o problema

em forma de desafio e o aluno investigando a solução do problema constrói o

conhecimento junto com seus similares, sob a orientação do professor. Este

comentário foi inevitável devido ao fato de estar diretamente ligado ao

experimento desenvolvido na atividade prática desta pesquisa. Não nos

aprofundaremos mais nesta análise, visto que, esta não é o foco deste

trabalho, deixando, então, em aberto para pesquisas futuras de análise crítica

aos livros didáticos.

Na unidade nove: Planeta Terra e Outros Astros são abordados

diversos conceitos físicos, tais como: sistema solar, movimento de translaçao e

rotação, fases da lua. No tópico: Fases da lua é proposto o experimento da

lanterna representando o sol e uma bola espetada num palito representando a

lua. Este experimento também não foi proposto em forma de desafio, onde o

aluno deveria resolver o problema.

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Page 31: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Livro Porta Aberta e Ciência 3° ano:

Neste livro, o que nos chama atenção é que, os conceitos físicos que

foram abordados superficialmente no livro anterior são novamente estudados;

porém, com um aprofundamento maior, caracterizando, assim, a construção do

conhecimento, conforme preconiza as pesquisas em ensino.

Na unidade um: Terra e Universo, o conceito de rotação da Terra é

relacionado com dia e noite e sombras. Também, são relacionadas, e muito

bem, as estações do ano, com a inclinação do eixo de rotação da Terra e o

movimento de translação. Na representação esquemática do movimento de

translação da Terra a elipse representada é quase circular com o sol no centro,

evidenciando uma correção dos livros antigos de Ensino Fundamental, que

tinham uma elipse bem acentuada com o sol descentralizado, que muitas

vezes causava confusão da relação das estações do ano com a inclinação do

eixo de rotação da Terra.

Na unidade dois: Vento, uma fonte de energia o conceito de ar é

novamente abordado, diferentemente da abordagem anterior, onde o objetivo

era comprovar a existência de ar. Neste livro, o conceito de ar é relacionado

com a formação e velocidade do vento, ou seja, aborda o conceito Ar em

movimento. No tópico: Força do vento é feita uma relação bem

superficialmente do conceito de ar em movimento com energia eólica.

Livro Porta Aberta e Ciência 4° ano:

Na unidade dois: Composição e propriedades da água são

abordados diversos conceitos físicos, tais como: composição, propriedades e

estados físicos da água. O conceito de Água foi apresentado superficialmente

no livro do 2° (segundo) ano. Já no livro do 4° (quarto) ano são abordadas as

propriedades da água, caracterizando que a metodologia utilizada pelo livro é

de construção gradual do conhecimento.

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Page 32: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Na unidade quatro: As características da atmosfera terrestre são

abordados os conceitos de: atmosfera, o ar e suas propriedades, pressão,

altitude, temperatura e umidade do ar. Da mesma maneira que o conceito de

Água foi construído conforme citado anteriormente, o conceito de Ar foi

também sendo construído. No livro do 2° (segundo) ano foi apresentado o

experimento para comprovar a existência do ar; no livro do 3° (terceiro) ano foi

apresentado um experimento para comprovar o movimento do ar e no livro do

4° (quarto) ano são apresentadas as propriedades do ar.

Os livros disponibilizados para esta escola em questão estão, de

certa forma, de acordo com as pesquisas recentes do ensino da Física, pois os

conceitos físicos são abordados com a utilização de experimentos, mesmo que

estes tenham que ser ainda ajustados. Os conceitos são apresentados de

forma conceituai e vão se aprofundando gradativamente, caracterizando o

construtivismo do conhecimento.

4.2 Como os Temas Devem Ser Abordados em Sala de Aula

Antes de falar de como os temas devem ser abordados, faremos

uma pequena introdução sobre a SPA (síndrome do pensamento

acelerado), citada inúmeras vezes por Augusto Cury, no livro, "Pais

Brilhantes Professores Fascinantes", a qual comentaremos superficialmente

para não fugir do foco deste trabalho.

Segundo Cury, umas das principais causas da SPA é o excesso de

estímulo visual e sonoro produzido pela TV, o excesso de informações e a

paranóia do consumo e da estética, gerando assim, uma compulsão por

novos estímulos, semelhante ao que ocorre na dependência das drogas.

Os portadores de SPA se agitam na cadeira, têm conversas

paralelas, não se concentram, mexem com os colegas, que são tentativas

de aliviar a ansiedade gerada pela SPA. Provavelmente, todos os

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Page 33: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

professores já conheceram algum aluno com SPA, caso não, certamente um

dia o conhecerá.

A SPA dos alunos faz com que as teorias educacionais e

psicológicas do passado quase não funcionem, porque, enquanto os

professores falam, os alunos estão agitados, inquietos, sem concentração e,

ainda por cima, viajando nos seus pensamentos. Os professores estão

presentes na sala de aula e os alunos estão em outro mundo (CURY, 2003).

Qual professor que nunca, em algum momento de sua vida

acadêmica, se deparou com o que foi citado por Cury no trecho acima? Pois

é como este pesquisador da mente humana descreveu e muito bem. A

nossa teoria educacional tradicional parece que não está funcionando mais,

e muitos professores questionam porquê.

Devido essa constatação feita por Cury ficou ainda mais reforçado o

que as pesquisas em ensino de Física das séries iniciais preconizam como

ideal. As atuais metodologias de ensino são mais dinâmicas, experimentais

e significativas, onde os alunos estão o tempo todo interagindo entre si e

com o professor, fazendo com que os alunos, mesmo os que têm SPA,

aprendam os conceitos que estão sendo ensinados com maior facilidade.

No tópico 2.5 várias pesquisas em ensino citadas falavam da

importância do ensino significativo para crianças. Para Cury, o significado

vai muito além do simples entendimento dos alunos. O significado aguça a

curiosidade, prende a atenção, sendo uma poderosa ferramenta, citada

tanto pelos pesquisadores de ensino como por Cury, para dar esse

significado ao questionamento. Esse questionamento que foi utilizado pelo

livro texto Ciências no Ensino Fundamental, citado no tópico 2.1 tem um

papel psicológico fundamental no aprendizado, como podemos ver nas

citações abaixo:

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Page 34: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A arte da pergunta faz parte da educação dos nossos sonhos. Ela

transforma a sala de aula e a sala da nossa emoção num ambiente poético,

agradável, inteligente (CURY, 2003).

A exposição interrogada transforma a informação em conhecimento,

e o conhecimento, em experiência. O melhor professor não é o mais

eloqüente, mas o que mais instiga e estimula a inteligência (CURY, 2003).

As palavras: "Porquê? Como? Onde? Qual o Fundamento disso?"

devem fazer parte da sua rotina.

A exposição interrogada gera a dúvida, a dúvida gera o estresse

positivo, e este estresse abre as janelas da inteligência. Assim, formamos

pensadores, e não repetidores de informações (CURY, 2003).

A comprovação do que foi escrito pelo psiquiatra Cury está na

citação abaixo retirada do livro texto, que também foi utilizado na pesquisa

de campo.

Em nossa proposta, o experimento tem a função de gerar uma

situação problemática, ultrapassando a simples manipulação de materiais.

Por isso, dedicamos um tempo especial para que o aluno reflita e possa

contar o que fez, tomando consciência de suas ações e propondo

explicações casuais (CARVALHO, VANNUCCHI, BARROS, GONÇALVES e

REY, 2010).

Outro ponto importante, que merece destaque neste tópico, é que o

conhecimento nunca pode ser dado pronto para o aluno, como já foi dito

anteriormente. Pois quando apresentamos um problema com solução não

estamos aguçando a curiosidade dos alunos, mas sim acabando com o

encantamento da descoberta e não estamos levando o aluno à reflexão, que

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Page 35: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

é importantíssima no processo de ensino-apredizagem, como podemos ver

na citação abaixo:

Quando levamos nossos alunos a refletir sobre os problemas

experimentais que são capazes de resolver, ensinamo-lhes, mais do que

conceitos pontuais, a pensar cientificamente o mundo, a construir uma visão

de mundo (CARVALHO, VANNUCCHI, BARROS, GONÇALVES e REY,

2010).

Esse refletir sobre o problema, citado por CARVALHO, é de certa

forma uma conclusão do raciocínio das crianças, pois no livro texto, utilizado

neste trabalho, ao final de cada atividade, a professora, depois de fazer os

questionamentos para os alunos, solicita que eles escrevam e desenhem

tudo aquilo que entenderam e aprenderam na aula.

Essa conclusão de raciocínio das crianças pode ser comprovada

com as citações de Vygotsky feitas no artigo de LIMA e CARVALHO:

Diz Vygotsky que, quando a escrita ainda não oferece à criança

segurança para refletir o pensamento desejado, ela emprega o desenho

como o meio mais eficiente para exprimir seu pensamento. Mas, de acordo

com a elevação do domínio da escrita, ela se satisfaz com seu texto e,

então, o desenho começa a assumir outras funções, principalmente aquela

de descrever graficamente o que já o foi pela escrita (LIMA, CARVALHO

2002).

Para Vygotsky, as crianças não desenham aquilo que vêem, mas

sim, o que sabem a respeito dos objetos, então, podemos afirmar que

representam seus pensamentos, seus conhecimentos e/ou suas

interpretações sobre dada situação vivida ou imaginada (LIMA, CARVALHO

2002).

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Page 36: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

5 Atividade Prática

A pesquisa de campo proposta neste trabalho e que foi realizada na

Escola Municipal Professor Castilho, localizada no bairro de Guaratiba,

cidade do Rio de Janeiro, onde buscamos respostas aos problemas citados

no início desta monografia, será meramente qualitativo, pois uma análise

quantitativa fugiria do nosso escopo, por não ter condições de dar um

tratamento estatisticamente correto aos dados pesquisados neste trabalho,

deixando assim, esta análise quantitativa em aberto para pesquisas futuras

de outras áreas de pesquisa.

5.1 Planejamento da Atividade Prática

O planejamento das atividades da pesquisa de campo proposta

neste trabalho será toda baseado na atividade 2 do capítulo 5 do livro texto

"Ciências no Ensino Fundamental", visto que, não temos como objetivo

neste trabalho propor novas maneiras de se fazer esse planejamento. O

principal objetivo deste trabalho, juntamente com os professores, é o de

incentivar aos mesmos a utilizar o material de apoio pedagógico já existente

em sua escola e, também, de descobrir os motivos pelos quais este material

não é utilizado amplamente nas escolas municipais do Rio de Janeiro, como

já fora citado na introdução.

As propostas de trabalho com os professores serão apresentadas no

centro de estudos, numa reunião que ocorre mensalmente na escola citada.

Serão apresentados slides com as propostas e objetivos deste trabalho,

onde também serão apresentados os livros de apoio pedagógico e um vídeo

com a atividade 2 do livro texto. No final da apresentação será pedido que

os professores respondam ao questionário, que será analisado no tópico:

análise e comentários dos alunos e professores.

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Page 37: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Com a finalidade de verificar as hipóteses, será proposto aos

professores que, durante o desenvolvimento das atividades, solicitem o

mínimo possível o licenciando, evitando a interferência externa do mesmo,

para uma melhor análise do processo de ensino-aprendizagem que ocorra

entre aluno e professor durante a realização da atividade.

Para verificar se existia a possibilidade de desenvolvimento

satisfatório das atividades, propostas pelos livros de apoio pedagógicos

recebidos pelas escolas municipais do Rio de Janeiro, sem a necessidade

de um treinamento específico, dividimos as atividades em dois momentos:

Primeiramente, solicitamos aos professores que realizassem a leitura

do capítulo 4 do livro texto, que é uma explicação detalhada das etapas de

ação e reflexão que os alunos passam durante a realização das atividades

de conhecimento físico. Estas etapas são primordiais para o bom

desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Segue abaixo as 7

(sete) etapas que são detalhadas no livro texto:

- O professor propõe o problema;

- Agindo sobre os objetos para ver como eles reagem;

- Agindo sobre os objetos para obter o efeito desejado;

- Tomando consciência de como foi produzido o efeito desejado;

- Dando as explicações causais;

- Escrevendo e desenhando;

- Relacionando atividade e cotidiano.

Posteriormente, solicitamos aos professores que fizessem a leitura

da atividade 2 do capítulo 5 do livro texto, onde foi feito uma análise e

comentário por pesquisadores em educação das atividades que foram

realizadas em escolas de São Paulo. Depois das leituras, sugerimos que os

professores assistissem novamente ao vídeo da respectiva atividade,

analisando este vídeo conforme os enfoques lidos anteriormente, dados

pelos pesquisadores.

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Page 38: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Após a realização das etapas anteriores, imaginamos que os

professores já tenham posse dos requisitos mínimos para a realização da

atividade. Segue abaixo a descrição da atividade 2 do capítulo 5 do livro

texto:

O problema do copo:

Esta atividade tem por objetivo discutir a existência do ar e do

espaço ocupado por ele.

Material utilizado na atividade:

- copo plástico transparente e rígido;

- recipiente transparente (balde, pote de cozinha, etc.) com água. Sua

profundidade deve ser suficiente para que os copos fiquem totalmente

submersos;

- folhas de papel (ofício, jornal etc.).

O problema:

Como será que a gente faz para colocar este papel dentro do copo e

afundar o copo dentro da bacia com água, sem molhar o papel?

5.2Aplicacão da Aula Experimental para 3° e 4° ano

Para aplicação da aula experimental, proposta neste trabalho, foram

escolhidas duas turmas da Escola Municipal Professor Castilho, de acordo

com a disponibilidade de horários das professoras para realização da

atividade proposta, ou seja: Não foi escolhida a "melhor" nem a "pior" turma,

nem foi dado nenhum tratamento estatístico para esta escolha.

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Page 39: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

No dia posterior a apresentação feita aos professores, conforme

citado anteriormente, as professoras Kátia ( 3° ano) e Jurema (4° ano)

realizaram a atividade nas suas respectivas turmas, no mesmo dia, porém,

em horários diferentes.

As professoras iniciaram a atividade pedindo aos alunos que

formassem grupos. Posteriormente, apresentaram todo material pedagógico

e, em seguida, propuseram o problema em forma de desafio.

"De que maneira eu vou colocar o papel no meu copo e vou colocar

o copo dentro do balde sem molhar o papel?" (Professora Kátia).

Durante a fala desta professora, o que chamou bastante atenção foi

a indagação de um aluno perguntando se aquilo era mágica. Foi possível

perceber a ciência e o lúdico se confundirem por um momento e alguns dos

objetivos da atividade se realizarem, pois nesta pergunta foi possível

perceber a curiosidade e atenção dos alunos voltadas para a atividade,

exatamente como foi previsto pelas pesquisas.

Posteriormente a apresentação do material, as professoras

escreveram o problema no quadro e os alunos iniciaram a atividade, onde

ficou bastante característico a agitação, interação e motivação dos alunos,

que se aproximaram dos objetos para ver como eles reagem e como obtém

o efeito desejado. Também como foi previsto pelas pesquisas.

Ao término da etapa anterior, as professoras recolheram todo o

material e com perfeição iniciaram as etapas de tomar consciência de como

foi produzido o efeito desejado. Os alunos, já sentados, discutiam em grupo

como conseguiram realizar o desafio e resolver o problema. Eles,

naturalmente, davam as explicações causais, com muita personalidade e

conhecimento, falando como se já tivessem estudado aquilo antes. Vale

destacar que, as professoras ainda não tinham abordado este conceito em

sala de aula. Evidenciando, assim, a construção do conhecimento que,

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Page 40: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

posteriormente, foi relacionado com o cotidiano dos alunos, caracterizado

pela pergunta da professora Jurema:

"E se eu fizesse um furinho no copo, o que aconteceria?"

E o aluno responde: "O ar sairia pelo furinho!"

Para finalizar, as professoras pediram que os alunos escrevessem e

desenhassem tudo aquilo que eles fizeram durante a atividade (que será

detalhado no tópico 5.3).

O que também chamou bastante atenção foi à similaridade das duas

professoras durante o desenvolvimento da atividade e, também, da

interação e comportamento dos alunos com o vídeo feito pelo LAPEF.

Contrariando, em parte, o que se imaginava: "Que não seria possível a

realização plena e satisfatória das atividades sem um treinamento especifico

dado por especialistas", pois tudo o que foi proposto pelas pesquisas foi

apresentado às professoras da maneira descrita no tópico 5.1 deste

trabalho, o qual imaginamos que não seja a mais adequada, mas para efeito

de pesquisa tentamos reproduzir as condições mais realistas possíveis para

execução da atividade. Levando em consideração os recursos disponíveis

aos professores das escolas municipais do Rio de Janeiro, que são:

bibliotecas, que recentemente receberam livros de apoio pedagógicos com

as pesquisas citadas neste trabalho, e acesso à internet na sala de

informática. Sendo assim, a única interferência externa aos recursos

disponíveis na escola seria a motivação dada pelo licenciando para

utilização dos mesmos.

5.3 Análise e Comentários dos Alunos e Professores

Depois de apresentar as propostas de trabalho e como seria

desenvolvida a atividade em sala de aula com os professores, conforme

citado no tópico 5.2., foi solicitado às professoras que participariam da

atividade que respondessem ao questionário a seguir.

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Solicitamo-lhes que suas respostas fossem as mais sinceras

possíveis, pois seriam utilizadas para uma análise qualitativa, que seria um

complemento do que está sendo pesquisado neste trabalho.

Questionário feito ás professoras

1. Você aborda algum tipo de tópico (conceito) de Física nas suas aulas de

Ciências dadas nas séries iniciais do Ensino Fundamental? Qual(is)?

Respostas:

• Professora Jurema (4°ano): "Sim. Acho que quando falamos

sobre o ar, a água, luz, calor, vento.,., mesmo que indiretamente,

estamos abordando a Física."

• Professora Kátia (3°ano): "De uma certa forma, quando

trabalhamos alguns conceitos como água, ar, vento, luz estamos

trabalhando a Física, abordando-a de forma mais simples."

2. Você já tinha ouvido falar de algum trabalho ou de alguma pesquisa sobre

ensino de Física no Ensino Fundamental?

Respostas:

• Professora Jurema (4°ano): "Não."

• Professora Kátia (3°ano): "Não."

3. Você já tinha ouvido falar dos livros de apoio pedagógico que sua escola

recebeu no ano de 2011? Caso sim, você já utilizou alguma vez esse

conceito em sala de aula?

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Respostas;

• Professora Jurema (4°ano): "Não."

• Professora Kátia (3°ano): "Não."

4. Você se lembra de algum conceito que tenha aprendido nas aulas de Física

do curso de Formação de Professores? Caso sim, você já utilizou alguma

vez esse conceito em sala de aula?

Respostas:

• Professora Jurema (4°ano); "Não. Não tive aulas de Física no

meu curso de Formação de Professores."

• Professora Kátia (3°ano): "Não, porque durante o curso de

Formação de Professores não tive aulas de Física."

5. O que você achou das metodologias propostas na pesquisa em ensino de

Física nos livros que chegaram recentemente à sua escola?

Respostas:

• Professora Jurema (4°ano): "A partir da experiência realizada em

sala de aula, após ter conhecido o livro de apoio pedagógico,

achei muito interessante e modificador. Mobiliza a turma, provoca

uma troca de idéias e estimula a busca de novas informações

sobre o tema."

• Professora Kátia (3°ano): "Depois de conhecer o livro de apoio

pedagógico e realizada a experiência em sala de aula foi possível

perceber que o trabalho é viável e muito interessante. Os alunos

ficam motivados, trocam idéias e constróem o conhecimento

juntos."

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6. Você se sente segura para abordar os conceitos físicos da maneira como

são abordados nas pesquisas apresentadas neste trabalho? Caso não, o

que você acha que faltaria para você sentir mais segurança?

Respostas:

• Professora Jurema (4°ano): "Com certeza."

• Professora Kátia (3°ano): "Sim."

Desenhos e comentários feitos pelos alunos que participaram da atividade.

Nesta análise não iremos nos prender aos erros de português dos

alunos, visto que, o foco aqui é a análise de como se deu o desenvolvimento

da atividade em sala de aula.

Segundo as pesquisas citadas anteriormente, os conceitos físicos

aprendidos pelos alunos são construídos pela interação dos mesmos, como

o experimento com a orientação do professor. Durante o desenvolvimento

da atividade, em nenhum momento, a resposta foi dada pelas professoras

aos alunos e, mesmo assim, de certa forma, eles conseguiram explicar - da

maneira deles - os motivos pelos quais o papel não molhava. Na busca da

solução do desafio, brincando, percebiam a existência do ar e que, de certa

forma, ele ocupava um lugar dentro do copo, conforme podemos observar

no que foi escrito a seguir pelos alunos:

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Turma do 3° ano - Professora Kátia

O aluno diz que fez uma experiência, que colocou o papel dentro do

copo e que na primeira vez não conseguiu; e, no final, diz que o ar não

deixou a água entrar no copo.

Podemos perceber que este aluno conseguiu relacionar o fato do

papel não molhar com a existência do ar dentro do copo e ainda percebeu

que o ar ficou preso no fundo do copo, exatamente como ocorreu com os

alunos da pesquisa do livro texto.

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Turma do 3° ano - Professora Kátia

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Neste, a aluna diz que a aula de Ciências foi muito legal e descobriu

que se coloca o papel no copo e o copo de cabeça para baixo dentro do

balde o papel não molha e também diz que o ar não deixou a água entrar.

Durante o desenvolvimento da atividade ficou claro o entusiasmo,

interesse e vontade dos alunos em resolver o desafio. Todos os alunos

estavam bastante à vontade e fazendo tudo com muita atenção. A atividade

parecia uma brincadeira, mas, na verdade, eles estavam, de certa forma,

pesquisando a solução de um problema, tendo os primeiros contatos com

método científico e dando um significado para tudo aquilo que estava sendo

aprendido e que, segundo as pesquisas, terão um registro privilegiado em

suas mentes, por ter uma carga emocional envolvida neste aprendizado.

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Turma do 4° ano - Professora Jurema

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Foi possível perceber que, embora os alunos do 4° ano tenham uma

facilidade com a escrita melhor que os alunos do 3° ano, a conclusão do

problema não foi muito diferente. Evidenciando que os conhecimentos

prévios são importantes na construção do conhecimento, porém não são

determinantes para estruturação do aprendizado em nossas mentes, pois

existem vários fatores emocionais, motivacíonais e psicológicos que, juntos

com os conhecimentos prévios construíram o aprendizado.

A forma como este aluno descreveu a atividade é bem similar à descrita

anteriormente, onde ele diz que prendeu o papel no fundo do copo e o ar

não deixou entrar água.

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Turma do 4° ano - Professora Jurema

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Curiosamente, esta aluna parece querer ir além do desafio proposto em

sala de aula. Não satisfeita com o ar preso no fundo do copo, pergunta:

"Por que o ar ficou preso no copo e não deixou a água entrar?"

Fica a incógnita no ar: será que esta pergunta da aluna foi involuntária

ou proposital?

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6 Conclusão

6.1 Quais São as Problemáticas do Ensino de Física das Séries Iniciais

Antes de iniciar o desenvolvimento das atividades apresentadas

neste trabalho, realizadas na escola Professor Castilho, imaginávamos que

não seria possível a realização satisfatória das atividades da maneira como

eram propostas pelas pesquisas, devido à falta de treinamento específico

aos professores, que na maioria das vezes, nunca tiveram aulas de Física

no curso de Formação de Professores, conforme visto nos tópicos 3.1 e

5.3. deste trabalho. Porém, depois de realizar a atividade e analisar os

vídeos, relatórios e as argumentações dos alunos durante a atividade, ficou

notório que existe a possibilidade de desenvolvimento deste tipo de

atividade em quaisquer escolas, inclusive nas escolas municipais do

estado do Rio de Janeiro, mesmo com os mínimos de recursos disponíveis

a estes professores, como já citado anteriormente.

Diante desses fatos, foi possível constatar que o que falta hoje para

que o ensino de Física no Ensino Fundamental das escolas municipais do

Rio de Janeiro esteja de acordo com o que é proposto pelas pesquisas

citadas neste trabalho é a motivação que deva ser estimulada nos

professores, para utilizarem os recursos que, aos poucos, estão sendo

disponibilizados às escolas municipais. Desconsiderando as

particularidades e realidades diversas existentes entre as escolas.

Como o objetivo principal deste trabalho é a exposição da temática

aqui citada, buscando um entendimento das possíveis causas do ensino de

Física não estar de acordo com as pesquisas, consideraremos que todas as

escolas municipais do município do Rio de Janeiro possuam os recursos

mínimos citados em 5.2 e 5.3.

Não podemos deixar de citar que a motivação da qual tratamos neste

trabalho vai muito além do simples fato de um licenciando visitar as escolas

apresentando os livros, vídeos e material utilizados no desenvolvimento das

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atividades. O sucesso da atividade apresentada neste trabalho foi um caso

muito específico e particular e que ainda precisa ser testado

quantitativamente e estar de acordo com a realidade de cada escola.

Temos que levar em consideração que o material de apoio

pedagógico que foi utilizado na atividade coincidentemente foi recebido pela

escola em questão meses antes da realização da pesquisa de campo. As

professoras que participaram da atividade relataram que nunca tiveram

aulas de Física no curso de Formação de Professores (Magistério) e, muito

menos, curso de aperfeiçoamento, para correção desta falha no ensino da

Física.

Todavia, para a nossa análise qualitativa as impressões foram muito

boas. O sucesso da atividade na Escola Professor Castilho é uma 'luz no

fim do túnel', onde é possível visualizar - num futuro próximo - a utilização

do que vem sendo pesquisado em ensino de Física nas escolas.

A velocidade de mudança desta importante maneira de se ensinar

devidamente Física nas séries iniciais do Ensino Fundamental, vai

depender da velocidade com que estas pesquisas serão implementadas

nas graduações de Licenciatura em Física, cursos de Magistério e a

implementação pelas Secretarias de Educação nas escolas, através de

palestras, congressos e/ou cursos de formação continuada.

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6.2 Pesquisas em Ensino de Física e a Realidade em Sala de Aula

Foi possível constatar através da verificação bibliográfica dos artigos

sobre pesquisas no ensino da Física nas séries iniciais do Ensino

Fundamental que, a hipótese citada na introdução desde trabalho, de que

as pesquisas em ensino da Física, são relativamente recentes, levando-se

em consideração o enfoque significativo, construtivista, conceituai e

experimental, citados pelo livro texto, e que - de certa forma - estavam

corretas.

No tópico 3.1 foi possível perceber a existência de uma similaridade

entre as referências de vários artigos citados, sugerindo que os

pesquisadores não possuem uma variedade muito grande de autores, ou

seja, existem poucas pesquisas sobre o ensino da Física nas séries iniciais

do Ensino Fundamental. Para exemplificar, CARVALHO foi citada por todas

as pesquisas utilizadas no tópico 3.1 deste trabalho e OSTERMANN foi

citada em duas pesquisas, também utilizadas neste tópico.

Foi possível perceber que existem diversos fatores ligados a essa

carência de pesquisa de ensino de Física nas séries iniciais do Ensino

Fundamental, tais como: falta de motivação para os pesquisadores,

existência de poucos pesquisadores nos Institutos de Física, que

pesquisem assuntos ligados à educação e às pesquisas, visto que, tudo

isso é muito recente, entre tantos outros fatores que não nos

aprofundaremos por não ser nosso foco. Dentre os fatores citados,

analisaremos o fato das pesquisas serem recentes, por ser uma de nossas

hipóteses para a não utilização destas no processo ensino-aprendizagem

nas escolas municipais do estado do Rio de Janeiro.

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Abaixo relacionamos os números de pesquisas citadas na nossa

bibliografia com o ano de publicação das mesmas:

oor>aU)UlQ.

1992 2002 2003 2004 2007 2008 2009 2010

ANO DE PUBLICAÇÃO

A pesquisa mais antiga é a do ano de 1992. A próxima pesquisa

citada na bibliografia deste trabalho foi publicada em 2002, e todas as

citações subsequentes têm, no máximo, 10 anos de publicação,

caracterizando, assim, a nossa hipótese de pesquisas recentes.

Outro ponto importante para destaque é que, o número de pesquisas

no tema aumentou consideravelmente com o passar dos anos, e nos anos

2009 e 2010 diminuiu, provavelmente em função de termos iniciado nossa

pesquisa bibliográfica em 2010.

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6.3O que Mudar no Ensino de Física das Séries Iniciais

Para que ocorram as mudanças significativas no ensino da Física

nas séries iniciais do Ensino Fundamental, assim como foi citado no tópico

3.2 e para que possamos transformar o paradoxo do fracasso do ensino em

paradoxo do sucesso, temos que iniciar esse processo de mudança o mais

rápido possível, com o que estiver ao nosso alcance.

É necessária uma divulgação científica destas recentes pesquisas,

para um público-alvo específico (professores das séries iniciais).

No desenvolvimento da pesquisa de campo foi possível verificar que

esta divulgação não existia e que está sendo iniciada com os livros de apoio

pedagógicos que as escolas receberam em 2011. Também, verificamos a

possibilidade de uma abordagem dos conceitos físicos nas aulas de

Ciências da maneira proposta pelas pesquisas citadas neste trabalho,

mesmo com os mínimos recursos disponibilizados aos professores.

Com o aumento destas pesquisas de ensino, como vimos no tópico

anterior, concluímos que, num futuro próximo, as universidades estarão

mais fundamentadas para essa abordagem dos conceitos físicos para

crianças das séries iniciais, preparando - ainda melhor - os futuros

profissionais da educação, que serão aqueles que levarão essas novidades

aos cursos de Magistério, onde são formados os professores das séries

iniciais, que é o objetivo principal dessas pesquisas e a locomotiva para que

ocorra essa mudança nas séries iniciais.

Conforme visto no tópico 5.1, a única interferência externa que os

professores da escola caso tiveram foi a motivação dada pelo licenciando

que lhes apresentou as pesquisas, vídeos e materiais pedagógicos.

Interferências mínimas dos órgãos públicos ou até mesmo privados teriam

grande impacto no ensino da Física nas séries iniciais e também nas séries

subsequentes.

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Somente e simplesmente com a chegada do livro tema utilizado

nesta pesquisa às escolas municipais do Rio de Janeiro já foi uma grande

vitória para o ensino da Física. Essa vitória será ainda maior quando essa

divulgação chegar aos cursos de Magistério, por intermédio dos licenciados

e/ou através de órgãos competentes, através de cursos de formação

continuada e/ou treinamentos específicos de qualificação.

Assim, estes professores terão maior facilidade e segurança para

abordagem dos conceitos físicos nas séries iniciais, onde estes conceitos

serão abordados com um enfoque significativo, experimental e com

exemplos do cotidiano dos alunos, concreto e construtivista.

Levando-se em consideração estas idéias construtivistas, as

crianças que tiverem aulas com professores qualificados serão

adolescentes e adultos com uma capacidade de compreensão dos

conceitos físicos muito maiores do que nós temos hoje.

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Page 54: FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

7 Referências Bibliográficas

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Marcelo Alves; GONÇALVES, Maria Elisa Rezende; REY, Renato Casal de.

Ciências no Ensino Fundamental (o conhecimento físico). 1a ed, São Paulo:

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3- POZO, Juan Ignacio; CRESPO, Miguel Angel Gómez. A Aprendizagem e o

Ensino de Ciências, (do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico). 5a

ed, Porto Alegre: Artmed, 2009.

4- BIZZO, Nélio. Mais Ciência no Ensino Fundamental, (metodologia de ensino

em foco). 1a ed, São Paulo: Editora Brasil, 2009.

5- GIL, Ângela; FANIZZI, Sueli. Porta Aberta: Ciências 2° Ano. 1a ed, São

Paulo: FTD, 2008.

6- GIL, Ângela; FANIZZI, Sueli. Porta Aberta: Ciências 3° Ano. 1a ed, São

Paulo: FTD, 2008.

7- GIL, Ângela; FANIZZI, Sueli. Porta Aberta: Ciências 4° Ano. 1a ed, São

Paulo: FTD, 2008.

8- DAMASIO, Felipe; STEFFANI, Maria Helena. A física nas séries iniciais (2°

ao 5°) do ensino fundamental: desenvolvimento e aplicação de um programa

visando a qualificação de professores. Revista brasileira de ensino de física

Vol. 30 n. 4 ano de 2008.

19- LIMA, Maria da Conceição Barbosa. "Exercícios de Raciocínio" em três

Linguagens: Ensino de Física nas Séries Iniciais. Revista brasileira de ensino

de física Vol. 4 n. 1, 2002.

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10- MATOS, Ellen Conceição Teixeira De; MASSUNAGA, Marcelo Shoey de

Oliveira. Ensino de Ciências Naturais no Ensino Fundamental: Os conteúdos

de Física nesta etapa da Educação. Artigo: Laboratório de Ciências Físicas,

Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, 2004.

11- OSTERMANN, Fernanda; MOREIRA, Marco Antônio; SILVEIRA, Fernando

Lang da. A Física na Formação de Professores para as Séries Iniciais. Revista

brasileira de ensino de física Vol. 14 n. 2, 1992.

12- MONTEIRO, Marco Aurélio Alvarenga; TEIXEIRA, Odete Pacubi Baierl. O

Ensino De Física Nas Séries Iniciais Do Ensino Fundamental: Um Estudo Das

Influências das Experiências Docentes em sua Prática em Sala de Aula.

Revista Investigações em Ensino de Ciências Vol. 9 n.1, 2004.

13- SCHOEDER, Carlos. A Importância da Física nas Quatro Primeiras Séries

do Ensino Fundamental. Revista brasileira de ensino de física Vol. 29 n. 1, 2007.

14- MAIA, Cledisson Gonçalves. Atividade Experimental no Ensino de Física.

Monografia de pós-graduação, faculdade de educação da UFMG Dezembro de

2007.

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