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FUNDAÇÃO FACULDADE DE DIREITO DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO ARTIGO ALCOOLISMO E JUSTA CAUSA. UMA QUESTÃO CONTROVERTIDA EDUARDO GABRIEL DE OLIVEIRA CARDOSO Salvador 2011

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FUNDAÇÃO FACULDADE DE DIREITO DA BAHIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO DO TRABALHO E

PROCESSO DO TRABALHO

ARTIGO

ALCOOLISMO E JUSTA CAUSA. UMA QUESTÃO CONTROVERTIDA

EDUARDO GABRIEL DE OLIVEIRA CARDOSO

Salvador 2011

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“Pelo álcool, e já agora pelas asas temerosas da droga, o que se quer é fugir da seqüência monótona das horas e dos dias para alcançar, em pouco tempo, o reino do sonho e da fantasia.

[...] Sem que se perceba, é todo um sentido de vida

toda a mentalidade individual e social que está em jogo, arrastando de roldão valores essenciais [...] à cidadania,

à sombra indiferente dos guardiões da República.”

Miguel Reale O Estado de São Paulo – 30/05/1998

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RESUMO Em 1943, a postura paternalista do Estado – que em muito refletia a figura do líder do regime, Getúlio Vargas – terminou entalhada nas linhas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que desde então prevê, na alínea “f” do seu art. 482, como uma das hipóteses de justa causa para a rescisão do contrato de emprego, a embriaguez habitual ou em serviço; considerava-se, então, que o empregado dependente de álcool incidia em falta grave a ensejar, até mesmo, a rescisão sumária do pacto laboral. Com o passar dos anos e a evolução do conhecimento científico, em 1967, a Organização Mundial de Saúde entendeu por bem incluir o alcoolismo crônico no Código Internacional de Doenças, de sorte que tal comportamento restou caracterizado como uma grave patologia. De mais a mais, diante da mudança paradigmática que elevou a dignidade humana à condição de finalidade própria das relações sociais, e considerando o fato de que o empregado acometido da síndrome de dependência alcoólica deve obter tratamento circunstancialmente adequado, a doutrina e a jurisprudência se viram forçados a levar a efeito uma releitura do referido dispositivo consolidado, de modo que ganha força o entendimento consubstanciado na inaplicabilidade desta norma aos alcoolistas. Palavras-chave: Justa Causa; Embriaguez; Alcoolismo; Patologia; Rescisão/Suspensão do

Contrato de Trabalho.

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SUMÁRIO

1 I�TRODUÇÃO

2 A JUSTA CAUSA PARA RESCISÃO DO CO�TRATO DE TRABALHO

2.1 CONCEITO

2.2 PREVISÃO LEGAL

2.3 REQUISITOS

3 EMBRIAGUEZ E ALCOOLISMO

3.1 CONCEITO E MANIFESTAÇÕES

3.2 EMBRIAGUEZ E ALCOOLISMO: UMA DISTINÇÃO NECESSÁRIA

3.2.1 O álcool na humanidade

3.2.2 Alcoolismo: um problema psico-social

4 O ALCOOLISMO E A RESCISÃO/SUSPE�SÃO DO CO�TRATO DE

EMPREGO: UMA RELEITURA CRÍTICA DO ART. 482, F, DA CLT

4.1 DA (IN)CAPACIDADE LABORATIVA DOS ALCOOLISTAS CRÔNICOS:

BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A SUSPENSÃO OU EXTINÇÃO DO CONTRATO

DE EMPREGO

4.2 O MAIS RECENTE PRONUNCIAMENTO DO TST SOBRE O TEMA: PELA

INAPLICABILIDADE DO ART. 482, F, DA CLT, AOS ALCOOLISTAS CRÔNICOS

5 CO�CLUSÃO

REFER�CIAS

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1 I�TRODUÇÃO

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê expressamente, na alínea “f” de

seu art. 482, a justa causa para a dispensa do empregado que apresenta embriaguez habitual ou

em serviço.

Durante muito tempo, o Poder Judiciário deu a este preceito uma interpretação fria

e rigorosamente legalista, pela qual o obreiro flagrado em estado de embriaguez – dentro ou fora

do ambiente de trabalho – poderia ser dispensado por justa causa, sem ter direito a qualquer

indenização. Tal posicionamento era corroborado, inclusive, pela doutrina, que estabelecia como

justificativa a nobreza da intenção do legislador quando da edição desta norma.

Todavia, alguns acontecimentos permitiram uma radical mudança de entendimento

sobre o tema: primeiro, o fenômeno da constitucionalização do Direito promoveu uma alteração

paradigmática na hermenêutica jurídica; depois, o avanço científico redundou na descoberta de

que o alcoolismo crônico se revela verdadeiramente uma patologia, ocasião em que foi criada

uma classificação especial para a doença.

Por conseguinte, segundo os valores que norteiam o atual paradigma justrabalhista,

tornou-se possível fixar o entendimento de que o alcoolismo não configura causa jurídica ou

socialmente justificável para o término do enlace contratual empregatício, de sorte que deve o

pacto ser apenas suspenso, enquanto perdurar a moléstia, devendo ser extinto somente se não

houver possibilidade de cura, ocasião em que o trabalhador passaria a perceber o respectivo

benefício previdenciário.

Nesse contexto, far-se-á doravante uma análise sobre os impactos do alcoolismo

na relação de trabalho: inicialmente, serão tecidos breves comentários acerca da justa causa para

rescisão do pacto laboral, ocasião em que serão estudados – além da previsão legal – seu conceito

e requisitos; posteriormente, na exposição sobre embriaguez e alcoolismo, além de um detalhado

relato histórico, serão feitas as diferenciações pertinentes, bem como estipuladas algumas noções

conceituais; finalmente, será levada a efeito uma releitura crítica do supracitado dispositivo legal,

ao tempo em que será feito um apanhado da jurisprudência que trata do assunto, a fim de que

reste demonstrada e comprovada a referida alteração paradigmática, bem assim os efeitos práticos

advindos desta alteração.

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2 A JUSTA CAUSA PARA RESCISÃO DO CO�TRATO DE TRABALHO

A doutrina trabalhista mais moderna, na esteira de Fábio Hiroshi Suzuki, leciona

que o contrato de trabalho não só se conforma com o presente do trabalhador, mas também com o

seu futuro; o labor, assim, teria se tornado o grande instrumento de alcance da dignidade humana,

devendo ser preservado.1

Conforme ensina Maurício Godinho Delgado, desde o seu nascimento mesmo, e

durante a maior parte do tempo de sua existência, o Direito do Trabalho vem atuando de forma a

evitar que o contrato de trabalho chegue ao seu término, tendo em vista que o desemprego não

interessa à sociedade, acabando por frear o seu crescimento econômico e social.2

Assim, far-se-á doravante uma breve análise sobre a rescisão do contrato de

trabalho, fenômeno este que – se cotejado com a alteração paradigmática que centralizou a

dignidade humana como finalidade do Estado e do Direito – se mostra anômalo e contrário aos

verdadeiros anseios sociais.

2.1 CONCEITO

As relações de emprego podem chegar ao fim em decorrência de causas

involuntárias ou por ato de vontade. Neste contexto, a realidade mostra que é muito mais comum

o término desta espécie de contrato por ato voluntário.

Sob este prisma, considera-se legítima a dispensa do empregado em conseqüência

do livre exercício do direito potestativo do empregador, previsto no Capítulo V do Título IV da

CLT, uma vez que a legislação permite que este ponha fim à relação de emprego por ato

unilateral de vontade, independentemente da manifestação do empregado.

Com efeito, ainda que o empregado não pratique falta de qualquer natureza, pode

o empregador dispensá-lo imotivadamente, devendo arcar, contudo, neste caso, com o pagamento

da indenização legalmente fixada. Por outro lado, acaso o empregado incorra em alguma falta,

1 SUZUKI, Fábio Hiroshi. Proteção contra dispensa imotivada no direito do trabalho brasileiro: uma análise da proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa. Revista de Direito do Trabalho. v. 32, n. 123, p. 7-52, jul./set. 2006. 2 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 1097.

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poderá o contrato de emprego ser rescindido sem qualquer ônus para o empregador, tendo em

vista que a legislação considera justa a causa da dispensa.

Conforme leciona José Cairo Júnior, “o contrato de trabalho contém uma cláusula

resolutiva tácita. Desta forma, o contratante que se sentir lesado pode pleitear a resolução do

contrato de emprego por inadimplemento das obrigações contratuais.”3

Sendo assim, diante da conduta faltosa de uma das partes no cumprimento dos

deveres inerentes ao vínculo empregatício, é conferido à parte prejudicada o direito de extinguir

unilateralmente o contrato com certas vantagens rescisórias de cunho compensatório. Importa-

nos, entretanto, a análise da justa causa obreira.

Segundo o ensinamento de Wagner Giglio, que parte de um conceito bastante

amplo, “justa causa é todo ato faltoso grave, praticado por uma das partes, que autorize a outra

a rescindir o contrato, sem ônus para o denunciante”.4

Como salientado alhures, a doutrina pátria costuma qualificar a dispensa de acordo

com a causa imputada ao trabalhador para a extinção do liame contratual. A despedida com justa

causa seria aquela ocasionada pela prática de conduta omissiva ou comissiva do empregado que

se constitua em infração grave, legitimando o término contratual por iniciativa do empregador.

De acordo com a doutrina, são três os sistemas jurídicos da justa causa que podem

ser encontrados nos diversos ordenamentos jurídicos: o genérico, o taxativo e o misto.5

Pelo sistema genérico, cabe ao juiz, diante de um caso concreto, avaliar a causa

como justa para acarretar a extinção unilateral do deslinde contratual por iniciativa do

empregador. A legislação não especifica as hipóteses de justa causa, cabendo ao Judiciário

enquadrar a conduta do trabalhador como tal.

No sistema taxativo, as hipóteses que se configuram como de justa causa são

previstas na lei, competindo ao intérprete apenas identificar que o caso concreto se adéqua a

alguma das modalidades elencadas na legislação.

3 CAIRO JÚNIOR, José. Direito do Trabalho. v. 1. Salvador: JusPODIVM, 2006, p. 362. 4 GIGLIO, Wagner. Justa Causa: teoria, prática e jurisprudência dos artigos 482 e 483 da CLT, 2ª ed. São Paulo: LTr, 1985, p. 18. 5 GOMES, Orlando e GOTTSCHALK, Elson. Curso de direito do trabalho. 16. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 349.

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Por último, o sistema misto combina elementos dos dois sistemas anteriores. A lei

arrola de maneira exemplificativa as hipóteses de justa causa, dando margem ao intérprete para

acatar outras hipóteses como de justa causa, levando em conta a situação casuística posta.

2.2 PREVISÃO LEGAL

Nesse contexto, não obstante a divergência doutrinária e jurisprudencial6, tem-se

que – na legislação trabalhista brasileira – “as justas causas são objeto de enumeração taxativa”.7

Desta forma, os motivos autorizadores da rescisão contratual por justa causa teriam sido

elencados pelo legislador pátrio no art. 482 da CLT, não podendo a despedida ser considerada por

justa causa acaso não abarque uma das hipóteses ali constantes.

Ocorre que, além do rol encontrado no art. 482 do estatuto consolidado, outras

modalidades de justa causa estão também tipificadas em dispositivos celetistas, na sua legislação

complementar e mesmo em leis esparsas. No entanto, a doutrina é quase unânime em entender

que o art. 482 da CLT é exaustivo, tendo em vista que as hipóteses específicas previstas fora

desse elenco subsumem-se perfeitamente às hipóteses ali elencadas. É o caso da não realização

das horas extras pelo ferroviário em caso de serviços urgentes (parágrafo único do art. 240 da

CLT) que pode se encaixar como insubordinação.8

Isso confirma a afirmação de doutrina especializada no sentido de que as hipóteses

enumeradas no art. 482 da CLT são bastante heterogêneas, abarcando uma grande gama de

situações hipotéticas.9

6 Nesse sentido, Eduardo Gabriel Saad, para quem “é exemplificativa a relação de justas causas constante do artigo sob comento. Alguns autores – como Mario de la Cueva – entendem que à lei é impossível abranger todas as circunstâncias da vida do trabalho e todos os conflitos que explodem entre patrões e empregados. Por essa razão, concluem que a relação das justas causas deve ser exemplificativa. A multifária vida empresarial não pode ser apreendida em toda a sua extensão por uma lei. A relação contida no art.482, sob comentário, é exemplificativa, mas são tão amplos seus termos que poucas faltas graves lhes escaparão. Todavia, admitimos a possibilidade de fato não previsto na CLT e que venha a quebrar, irremediavelmente, a confiança que o empregador que depositar em seu empregado .” (SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 41º ed. Atual., rev. e ampl. São Paulo: LTR, 2008. p. 519.) 7 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho: noções fundamentais de direito do trabalho, sujeitos e institutos do direito individual. 5. ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 520. 8 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 24. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2008, p. 350. 9 TEIXEIRA, Sérgio Torres. Morfologia do Direito de Despedir: Modalidades de Dispensa. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região. v. 14, n. 31, p. 72-108, ago. 2003.

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Contudo, é de clareza solar que a situação deve estar enquadrada em uma das

modalidades previstas em lei para configuração da justa causa; vale dizer, a previsão legal é

requisito necessário à dispensa por justa causa, o que, de certa forma, denota a vontade legislativa

de restringir tais hipóteses, em busca da continuidade do vínculo empregatício.

2.3 REQUISITOS

A despeito do entendimento contrário de alguns autores, como Wagner Giglio,

para quem a gravidade do ato faltoso constitui o único requisito para a caracterização da justa

causa,10 outros requisitos – afora a previsão legal – são apontados na doutrina e na jurisprudência

como imprescindíveis para a configuração da justa causa. São eles: nexo de causalidade entre a

causa e a dispensa, a atualidade da dispensa e a proporcionalidade entre a causa e seu efeito.11

Por nexo de causalidade, entende-se que seria a ligação entre o ato faltoso do

trabalhador e a dispensa, sendo aquele a causa desta; justamente para assegurar esse requisito, a

dispensa deve ser imediata, pois o empregador que toma conhecimento da falta e ainda assim

mantém o empregado trabalhando está perdoando-o tacitamente. Mostra-se unânime, portanto, o

entendimento de que a aplicação da penalidade deve ocorrer assim que o empregador tome

conhecimento do ato faltoso em questão; disso, temos o requisito da atualidade do ato faltoso.

Neste passo, a punição deve ser aplicada em seguida a falta, ou seja, uma vez

caracterizado e conhecido o erro cometido pelo empregado, a reprimenda deve ser aplicada de

imediato, sob pena de restar caracterizado o perdão tácito, sendo mesmo ilícita a sua aplicação

posterior. De fato, entende-se que o empregador que mantém na empresa o empregado praticante

de falta grave e, após longo período, o despede com base naquela conduta anterior,

provavelmente esconde um motivo escuso ou tenta livrar-se do pagamento das verbas rescisórias

previstas na legislação.

De seu turno, Sérgio Pinto Martins esclarece que o ato faltoso constitui elemento

objetivo fundamental, devendo “a gravidade do ato praticado pelo empregado [...] abalar a

fidúcia que deve existir na relação de emprego”.12

10 GIGLIO, Wagner. Justa Causa: teoria, prática e jurisprudência dos artigos 482 e 483 da CLT, 2ª ed. São Paulo: LTr, 1985, p. 18. 11 TEIXEIRA, Sérgio Torres. Op. Cit., Loc. Cit. 12 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, 21. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p 349.

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Nesse sentido, Maurício Godinho Delgado aponta a necessidade do ato praticado

pelo empregado ter repercussão negativa no cumprimento das obrigações contratuais trabalhistas

ou tornar impossível o convívio no ambiente laborativo.13 Dessa forma, segundo o autor, as

prerrogativas do poder disciplinar do empregador não atingiriam o empregado na sua intimidade

nem no seu universo familiar, social ou político.

A priori, pode-se classificar o poder disciplinar como manifestação do poder de

direção, sendo aquele o direito do empregador de impor sanções aos seus empregados pela

prática de uma falta. Entretanto, resta incontroverso que ao empregador cumpre a análise da

gravidade da falta cometida e aplicação de uma penalidade proporcional à mesma, sob pena de se

responsabilizar pelo abuso do poder de comando.

Assim, interessante trazer à baila o preceito insculpido no art. 493 da CLT,

segundo o qual “constitui falta grave a prática de qualquer dos fatos a que se refere o art. 482,

quando por sua repetição ou natureza representem séria violação dos deveres e obrigações do

empregado”.

Dando seguimento ao estudo do tema, percebe-se também que um ponto bastante

controverso diz respeito à ocorrência dos atos faltosos graves fora do ambiente de trabalho.

Sucede que o multicitado art. 482 da CLT prevê a caracterização da justa causa

por ato do empregado praticado fora do ambiente de trabalho, de modo que – numa interpretação

concorde o rigor legal – mesmo afastado das instalações da empresa o trabalhador que cometesse

falta grave estaria enquadrado nas hipóteses de justa causa.

O assunto ganha ainda maior importância quando estabelecida sua relação com o

tema em comento, pois a alínea “f” da CLT desdobra-se em duas hipóteses distintas: a primeira,

denominada embriaguez habitual, seria aquela que não guarda relação com o serviço executado

pelo empregado, mas que – devido à sua freqüência (v.g., quando há reiteradas ocorrências dentro

de um curto período de tempo) – reflete na sua produtividade ou causa danos à imagem da

empresa; já a segunda, chamada embriaguez em serviço, necessariamente ocorre no ambiente de

trabalho, não sendo relevante a habitualidade.14

Neste sentido, Eduardo Gabriel Saad assevera que “a embriaguez habitual não tem

como requisito o local. Se o empregado, mesmo fora dos muros da empresa, se entrega à

13 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 1187. 14 Ibidem, p.1196;

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embriaguez com habitualidade, fica impossibilitado de cumprir as obrigações decorrentes do

contrato de trabalho”15. De outro lado, quanto à embriaguez em serviço, que induvidosamente

afeta diretamente a execução do trabalho, o mesmo autor afirma que “basta que o empregado

compareça uma vez embriagado ao serviço para que se justifique a ruptura contratual. Todavia,

deve o empregador atentar para o fato de que, hodiernamente, é o alcoolismo tido como uma

enfermidade”16.

A partir desta última observação levada a efeito pelo mencionado doutrinador

paulista, portanto, será desenvolvido o vertente estudo, porquanto sobre esta base de pensamento

edificar-se-á toda a linha argumentativa dos que pretendem seja feita uma releitura crítica da

alínea “f” do art. 482 do diploma consolidado.

15 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 41º ed. Atual., rev. e ampl., São Paulo: LTR, 2008. p.520; 16 Ibidem, Loc. Cit.

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3 EMBRIAGUEZ E ALCOOLISMO

Diante da análise proposta, no sentido de aferir se a embriaguez se configura como

falta grave a ensejar a dispensa por justa causa, salutar sejam tecidos breves comentários sobre a

embriaguez e o alcoolismo (sua faceta patológica), quando serão estudados seus conceitos, seus

efeitos físicos e mentais, bem como suas conseqüências jurídicas.

3.1 CONCEITO E MANIFESTAÇÕES

O consumo de bebida alcoólica, de per si, não configura embriaguez, levando-se

em conta que grande parte daqueles que consomem bebida alcoólica o fazem moderadamente17.

Estudos diversos documentaram, inclusive, que esse consumo moderado pode trazer benefícios

tanto para homens como em mulheres.18 Mas é justamente o abuso na ingestão de bebida

alcoólica que leva o indivíduo ao estado de embriaguez.

Nesse sentido, cumpre destacar que o termo embriaguez, de acordo com a

definição extraída do Dicionário da Língua Portuguesa, significa: “1. Turbação passageira das

faculdades em virtude do excesso de bebida alcoólica ingerida; 2. Estado de quem se acha

embriagado”19.

Nesta linha, a embriaguez consiste na perda ou redução da capacidade do sujeito

de determinar-se – ao menos de forma plena – nos seus próprios atos, tendo em vista que se

encontra dominado pelos efeitos da bebida. É a intoxicação aguda produzida no corpo humano

pelo álcool ou por substância de efeitos análogos20.

As formas de manifestação da embriaguez podem ser divididas em fases

dinâmicas. Segundo constata Wagner Giglio21, são três essas fases: excitação, confusão e sono,

normalmente nessa ordem.22

17 PINTO, Flávia Ferreira. Embriaguez: justa causa para extinção do contrato de trabalho. Disponível em: http://jus.uol.com.br/revista/texto/9575. Acesso em: 05 jan. 2011. 18VARELLA, Drauzio. Alcoolismo. Disponível em: http://www.drauziovarella.com.br/ExibirConteudo/355/alcoolismo Acesso em 20 dez. 2010. 19 Melhoramentos minidicionário da língua portugesa. 1. Ed. São Paulo: Melhoramentos, 1992, p. 181. 20 MASSON, Cléber Rogério. Direito Penal esquematizado – Parte geral. Vol. 1, 3. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2010, p. 447. 21 GIGLIO, WAGNER. Justa Causa: teoria, prática e jurisprudência dos artigos 482 e 483 da CLT. 2ª ed. São Paulo: LTr, 1985, p. 152.

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A etapa da excitação se caracteriza pelo estado de euforia, tornando o indivíduo

mais confiante e desinibido; em geral, os mais tímidos se mostram mais sociáveis, conferindo-lhe

uma sensação de prazer e vivacidade.

Na segunda fase, o indivíduo passa de eufórico a confuso, apresentando, em geral,

visão embaçada, falsa percepção das coisas ao seu redor, perda de reflexos, dificuldade de se

expressar e, por vezes, se torna agressivo. Acerca da última fase, a descrição feita por Wagner

Giglio revela-se precisa: “na última fase, a de sono, o indivíduo apresenta-se pálido, com pulso e

respiração lentos e pressão sanguínea baixa; a perda da consciência é mais ou menos completa.”23

3.2 EMBRIAGUEZ E ALCOOLISMO: UMA DISTINÇÃO NECESSÁRIA

A CLT aponta, no seu art. 482, alínea “f”, como uma das causas justificadoras para

a dispensa sancionatória do empregado, a embriaguez em serviço e a embriaguez habitual,

consoante abordado linhas acima.

Em que pese seja a embriaguez habitual apontada como justa causa no estatuto

consolidado, é importante destacar que há uma linha muito tênue entre esta e o alcoolismo,

podendo-se dizer, mesmo, que o primeiro é – quase sempre – decorrência lógica do último.

Nesta linha de pensamento, pode-se afirmar que aquele indivíduo que se encontra

habitualmente embriagado, em geral, sofre da chamada “embriaguez patológica ou alcoolismo

crônico”24.

Exatamente dentro desse contexto é que se discute se a embriaguez habitual – que

se configura, na esmagadora maioria das vezes, como doença crônica – ainda pode ser apontada

como justa causa para dispensa do empregado, divergência esta que será longamente debatida ao

longo do presente trabalho.

Assim, para que se possa chegar a uma conclusão fundamentada sobre o tema,

revela-se imprescindível uma análise sobre o alcoolismo, seu surgimento e suas repercussões

biopsicossociais.

22 De forma similar, Cléber Rogério Masson, que identifica as etapas da embriaguez em: 1ª) fase euforia; 2ª) fase agitada; 3ª) fase comatosa (MASSON, Cléber Rogério. Op. cit., p. 448.) 23 GIGLIO, Wagner. Op. cit., Loc. cit. 24 MASSON, Cléber Rogério. Direito Penal esquematizado – Parte geral. Vol. 1, 3. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2010, p. 447.

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3.2.1 O álcool na humanidade

O surgimento da bebida alcoólica encontra-se submersa nos primórdios do tempo.

Segundo propõe Robert Dudley, fisiologista da Universidade da Califórnia, a

predileção para o consumo do álcool pelos seres humanos foi passado pelos primatas ancestrais

do Homo sapiens, os quais eram altamente dependentes de frutas (as quais, em processo de

fermentação natural, produzem o etanol)25.

Entre os seres humanos, acredita-se que o consumo de bebida alcoólica tenha se

iniciado na pré-história, há cerca de 10.000 anos, com o surgimento das primeiras sociedades

nômades, época da aparição da agricultura.26

Desde então, a utilização de bebida alcoólica e substâncias entorpecentes fez-se

sempre presente no ciclo de vida da civilização. “Quase todas as sociedades, em seus períodos

evolutivos, recorreram ao álcool, por motivos religiosos, curativos ou cerimoniais”27. O álcool

sempre foi rodeado de simbolismo e era tido como o componente essencial de bebidas degustadas

nos ritos de alimentação dos povos.

Veja-se, por exemplo, a origem da cerveja, que – segundo documentos históricos –

remonta à antiguidade. Pela análise de tais documentos, desde seis mil anos antes de Cristo

(6.000 a.C.), a cerveja era utilizada em cerimoniais religiosos na Babilônia, tendo, mais tarde, se

destacado como uma de suas mais importantes indústrias.28

Entretanto, com as transformações sócio-econômicas, especialmente com a

Revolução Industrial, o álcool ganhou outra conotação. A produção em massa ocasionada pela

industrialização e as concentrações urbanas aumentaram exacerbadamente a disponibilidade e,

conseqüentemente, o consumo da bebida. Nesse contexto, surge o alcoolismo29.

25 YOON, Carol Kaesuk. De onde vem a atração humana pelo álcool. Disponível em: http://www.propagandasembebida.org.br/artigos/integra.php?id=6. Acesso em: 28 jan. 2011. 26 CISA – Centro de Informações Sobre a Saúde e Álcool. História do álcool. Disponível em: http://www.cisa.org.br/categoria.html?FhIdCategoria=ab55bc5a7c659a512bc280b46296ec3d. Acesso em: 18 jan. 2011. 27 VARGAS, Heber Soares. Repercussões do álcool e do alcoolismo. 2.ed. rev. atual. São Paulo: Fundo Editorial Byk, 1988, p. 17. 28 Ibidem, p. 21. 29 GIGLIOTTI, Analice; BESSA, Marco Antonio. Síndrome de dependência do álcool: critérios diagnósticos. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26s1/a04v26s1.pdf. Acesso em: 20 jan. 2011.

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3.2.2 Alcoolismo: um problema psico-social

Atualmente, após tantos significados e funções atribuídas à bebida alcoólica,

chegou-se à conclusão de que o consumo inveterado do álcool é considerado como um grave

problema de saúde pública e uma enfermidade complexa. De fato, em 1967, a partir da 8ª

Conferência Mundial de Saúde, o conceito patológico do alcoolismo foi incorporado à

Classificação Internacional das Doenças (CID-8) pela Organização Mundial de Saúde.30

Sob a ótica médica, o alcoolismo consiste em uma doença crônica31, com aspectos

comportamentais e socioeconômicos, que se caracteriza pelo consumo compulsivo de álcool,

tornando o usuário paulatinamente tolerante à intoxicação produzida pela droga, desenvolvendo

sinais e sintomas de abstinência quando o seu uso é interrompido32.

O alcoolismo – ou síndrome de dependência do álcool – tem seus componentes de

evolução muito bem identificados por Analice Gigliotti e Marco Antonio Bessa: segundo os

autores, os elementos do alcoolismo passam pelo “estreitamento de repertório” – caracterizado

pela diminuição dos intervalos de consumo – seguindo para a “saliência do comportamento na

busca do álcool”, fazendo com que o indivíduo coloque a bebida à frente de tudo e de todos,

utilizando-a nos momentos mais impróprios, como na direção de um veículo automotor ou

mesmo no local de trabalho.33

Em outros termos, a tolerância do indivíduo ao álcool é significativamente

ampliada, tornando-o capaz de realizar normalmente as atividades da vida cotidiana, apesar de

altos teores de álcool no sangue34; interrompendo-se o uso do álcool – ainda de acordo com as

lições de Analice Gigliotti e Marco Antonio Bessa – aparecem os “sintomas repetidos de

30CISA – Centro de Informações Sobre a Saúde e Álcool. História do álcool. Disponível em: http://www.cisa.org.br/categoria.html?FhIdCategoria=ab55bc5a7c659a512bc280b46296ec3d. Acesso em: 18/01/2011. 31 Previsão no Código Internacional de Doenças – CID, sob a referência F-10.2, dentre outras, com especialidades variadas. 32 VARELLA, Drauzio. Alcoolismo. Disponível em: http://www.drauziovarella.com.br/ExibirConteudo/355/ alcoolismo. Acesso em 20 dez. 2010. 33 GIGLIOTTI, Analice; BESSA, Marco Antonio. Síndrome de dependência do álcool: critérios diagnósticos. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26s1/a04v26s1.pdf. Acesso em: 20 jan. 2011. 34 Veja-se, aqui, que essa característica demonstra que, em alguns casos, o consumo de bebida alcoólica não afetará o rendimento do empregado no trabalho, em que pese ele já sofra de alcoolismo crônico.

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abstinência”35, tais como tremor intenso, ansiedade, irritabilidade e alucinações, dentre inúmeros

outros.

Nesse estágio, o aumento da ingestão da bebida torna-se um alívio aos sintomas da

abstinência, o que traz uma enorme pressão física e psicológica para voltar a beber; e, por fim,

mesmo após longos períodos de abstinência, se o indivíduo torna a beber, rapidamente revolve ao

padrão antigo de dependência.

Esta última se apresenta a face mais cruel da doença, já que um longo período de

esforço para se livrar do vício se esvaece com uma pequena recaída. Como visto, o corpo e a

mente se manifestam a todo tempo como se clamassem pelo álcool no período de abstinência.

Não se trata de tarefa das mais fáceis se livrar do vício, acabando por escapar da simples vontade

do indivíduo. Nesse sentido, pondera bem Wagner Giglio ao asseverar que “psicologicamente, o

apelo aos entorpecentes parece resultar de um desejo de compensação (pelas frustrações sofridas)

e de fuga (da realidade)”, de modo que – continua o autor – “não é de se estranhar a disseminação

do vício, no mundo moderno, tão rico em frustrações, adversidades, temores e infortúnios”36.

Insta salientar, contudo, que os problemas vão muito além dos abalos psíquicos e

danos físicos ao próprio indivíduo. Segundo notícia extraída do sítio mantido pela Secretaria de

Saúde do Distrito Federal na rede mundial de computadores, o álcool está associado à maioria

dos acidentes de trânsito no Brasil e no mundo, respondendo por cerca de 70% dos casos de

violência contra a mulher, bem como à considerável parcela dos acidentes de trabalho.37

Nesse sentido, se de um lado o álcool pode irmanar, comungando alegria, de outro

pode estimular a agressividade, a discórdia e a dor, rompendo laços de família, de amizade e

trabalho38, oferecendo perigo à sociedade como um todo, e não só ao enfermo.

Assim, deve-se entender o alcoolismo não só como uma doença (enquanto conduta

individual), mas também como uma denúncia (do resultado da interação do meio). A sociedade

35 GIGLIOTTI, Analice; BESSA, Marco Antonio. Síndrome de dependência do álcool: critérios diagnósticos. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26s1/a04v26s1.pdf. Acesso em: 20 jan. 2011. 36 GIGLIO, WAGNER. Justa Causa: teoria, prática e jurisprudência dos artigos 482 e 483 da CLT. 2ª ed. São Paulo: LTr, 1985, p. 149. 37 BRASIL. Secretaria do Estado de Saúde do Distrito Federal. Alcoolismo: problema de saúde pública no Brasil. Disponível em: http://www.saude.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_CHAVE=48583. Acesso em: 20 jan. 2011. 38 GIGLIOTTI, Analice; BESSA, Marco Antonio. Op. Cit., Loc. Cit.

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que reprime o alcoolista é a mesma que promove o alcoolismo, já que o indivíduo se rende ao

vício para fugir do olhar repressor da coletividade.39

O alcoolista, hoje reconhecido como doente pela Organização Mundial da Saúde,

deve ser enxergado e tratado como tal, e não mais através de conceitos punitivos ou moralistas

que, ao invés de resolver o problema, simplesmente agravam o mal.40

Por outras palavras, a possibilidade de despedida por justa causa do trabalhador

por embriaguez habitual deve ser analisada sob esta óptica, a partir do olhar do ébrio habitual,

que – antes de ser vilão – é um pobre coitado, vítima da sociedade volúvel em que vivemos, e que

sofre de uma doença grave, que merece – como qualquer outra – o devido tratamento.

39 JORGE, Roberto. Aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos, relacionados ao uso do álcool e abuso de bebidas alcoólicas no Brasil. Rev. Associação Brasileira de Psiquiatria, v. 5, n. 18, 177-178, 1983 apud VARGAS, Heber Soares. Repercussões do álcool e do alcoolismo. 2.ed. rev. atual. São Paulo: Fundo Editorial Byk, 1988, p. 176. 40 VARGAS. Heber Soares. Repercussões do álcool e do alcoolismo. 2.ed. rev. atual. São Paulo: Fundo Editorial Byk, 1988, p. 19.

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4 O ALCOOLISMO E A RESCISÃO/SUSPE�SÃO DO CO�TRATO DE EMPREGO:

UMA RELEITURA CRÍTICA DO ART. 482, F, DA CLT

Fixadas as premissas necessárias ao corte epistemológico do presente trabalho,

passa-se doravante ao enfrentamento das implicações jurídicas advindas da rescisão do contrato

de emprego por justa causa, motivada pela embriaguez do trabalhador acometido de alcoolismo

crônico.

Como já exaustivamente explanado alhures, a alínea “f” do art. 482 da CLT prevê,

como uma das hipóteses taxativas de rescisão motivada do contrato de trabalho, a embriaguez

habitual ou em serviço.

Indubitavelmente a compreensão do tema não se restringe à simples apreciação de

uma das hipóteses positivadas na legislação trabalhista, mas também da análise de um assunto

que ultrapassa os contornos da seara jurídica e afeta o cotidiano de muitos trabalhadores e

empregadores de toda a sociedade.

4.1 DA (IN)CAPACIDADE LABORATIVA DOS ALCOOLISTAS CRÔNICOS: BREVES

COMENTÁRIOS SOBRE A SUSPENSÃO OU EXTINÇÃO DO CONTRATO DE EMPREGO

Antes de adentrar no estudo das conseqüências advindas do alcoolismo durante o

vínculo laboral, faz-se necessário enfatizar novamente que – nos termos da legislação trabalhista

consolidada – a embriaguez habitual ou em serviço constituem hipóteses expressas de rescisão do

contrato de trabalho por justa causa (art.482, f, da CLT).

Ao adotar esta regra, a intenção do legislador foi justamente preservar a disciplina

e a ordem interna no âmbito das empresas, bem como o bom desenvolvimento do trabalho;41 ora,

se a embriaguez induz ao senso de irresponsabilidade, retirando do empregador a possibilidade de

estabelecer uma relação de confiança com o empregado, outra saída não encontrou o legislador

senão positivar esta hipótese abstratamente prevista.

Ultrapassada esta questão, vê-se que o mencionado dispositivo convém ao caso de

empregado que – habitualmente alcoolizado, ou alcoolizado durante a jornada de trabalho – cause 41 PINTO, Flavia Ferreira. Embriaguez: justa causa para extinção do contrato de trabalho?. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1344, 7 mar. 2007. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/9575>. Acesso em: 15 fev. 2011.

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prejuízos ao empregador, aos seus colegas de profissão ou até mesmo a terceiros. Ressalte-se que

tais prejuízos não seriam somente aqueles de ordem material, mas também de ordem moral, como

bem expõe Amauri Mascaro Nascimento, segundo o qual “o empregador não precisa sofrer

prejuízos materiais para que a justa causa do empregado se caracterize”42.

Coaduna-se com este posicionamento Regina Coeli Matos Cunha, para quem a

embriaguez do trabalhador pode vulnerar o ambiente de trabalho, o que – por conseqüência –

pode acarretar flagrantes danos de ordem patrimonial e extrapatrimonial, e possibilitaria – ao

menos em tese – a condenação do empregado ao pagamento de indenização correspondente ao

dano experimentado, haja vista a previsão constitucional de que a honra, a intimidade e a imagem

das pessoas são invioláveis (art. 5°, X, da CF/88). Ademais, sustenta a doutrinadora ainda que o

alcoolismo do empregado abala a fidúcia da própria relação trabalhista, fazendo com que o

empregador perca a confiança no seu empregado, de sorte que seria perfeitamente lícita, portanto,

a sua despedida motivada em tais casos43.

Outrossim, Wagner Giglio sustenta que o alcoolismo acarreta um malefício

indireto à disciplina interna da empresa, posto que resta criado um constrangimento de via dupla

entre o empregado ébrio e os demais. Com efeito, o referido doutrinador aduz que a legislação

trabalhista traduz um modo de agir estatal, no intuito de evitar a propagação do consumo de

bebidas alcoólicas entre a população;44 digno de nota, outrossim, que a legislação foi consolidada

em 1943, durante a chamada “era Vargas”, quando o Estado assumiu uma função eminentemente

paternalista.

Em contrapartida, pode-se dizer – em apertada síntese – que, segundo a visão de

Amauri Mascaro Nascimento, a embriaguez habitual deve ser excluída das hipóteses de justa

causa previstas na CLT, pois não seria razoável a rescisão do contrato de trabalho motivada por

fato não relacionado ao ambiente laborativo.45

De fato, denota-se que a punição pela embriaguez habitual se configura como a

sanção por uma conduta praticada pelo obreiro completamente fora do contexto do contrato de

trabalho. A atuação neste sentido não estaria violando a intimidade e a vida privada do

42 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 24. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 1021. 43 CUNHA, Regina Coeli Matos. Embriaguez no serviço. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 344, 16 jun. 2004. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/5341>. Acesso em: 17 nov. 2010. 44 GIGLIO, Wagner. Justa causa. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1985, p. 155. 45 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. Cit., p. 1026.

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empregado? Será que poder diretivo do empregador chega a tal ponto que lhe possibilite impor o

comportamento do trabalhador fora do âmbito da empresa?

Talvez a resposta seja positiva diante da visão antiquada e preconceituosa

arraigada na sociedade da década de quarenta, período no qual o estatuto trabalhista foi

elaborado. No entanto, não é coerente imaginar que, hoje, época em que a pessoa humana é

colocada como o centro do ordenamento jurídico46 se admita que a sua intimidade e sua vida

privada sejam transgredidas de tal forma.

Neste sentido é que se afirma que a justa causa por decorrência da embriaguez

habitual só poderia restar caracterizada se repercutisse no desempenho das atividades laborais47,

sob pena de estar o empregador invadindo indevidamente a esfera privada do seu empregado.48

Ora, há de se partir da premissa segundo a qual – caso o trabalhador se encontre

habitualmente embriagado, mas tal fato não gere reflexos na execução de suas funções – não

pode o empregador dispensá-lo com base no art. 482, “f”, da CLT, sob pena de violação dos

direitos constitucionais à inviolabilidade da intimidade e da vida privada do empregado.

Trilhando o mesmo caminho em profunda investigação profunda sobre o assunto,

mas apresentando uma visão ainda mais protetiva, Arnaldo Süssekind afirma categoricamente

que o trabalhador viciado em álcool deve ser considerado como portador de uma patologia,49

porquanto a Organização Mundial de Saúde catalogou formalmente em seus registros a

“síndrome alcoólica crônica” como doença grave.

Destarte, o entendimento voltado para esta diretriz pauta-se na idéia de que o

alcoolismo deve ser encarado como doença grave e não desvio de conduta suficiente a ensejar a

rescisão do contrato de trabalho, nascendo então a conseqüente necessidade de encaminhamento

do empregado para tratamento médico clínico ou ambulatorial.

Diante disto, o tema tem sido objeto de constante reflexão no âmbito doutrinário e

jurisprudencial, em discussões sobre as potenciais implicações da retirada desta hipótese –

46Nesse sentido, Sarlet, ao afirmar que “o Estado é que existe em função da pessoa humana, e não o contrário, já que o homem constitui a finalidade precípua, e não meio da atividade estatal” (Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 8. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 113). 47SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho para concursos públicos. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2010, p. 255. 48Na mesma linha, Mauricio Godinho Delgado48, segundo o qual, mesmo sendo habitual, a embriaguez somente deve ser levada em conta se houver repercussões no contrato de trabalho, uma vez que, caso contrário, se estaria admitindo interferência abusiva do empregador na vida pessoal, familiar e social do indivíduo. (DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 1115). 49 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 340.

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embriaguez habitual ou em serviço – do rol de razões para dispensa por justa causa elencadas no

art.482, da CLT, mormente quando esta embriaguez decorre de patologia (síndrome alcoólica

crônica).

De um lado, parte da doutrina – como é o caso de Arnaldo Süssekind – defende

que a lei deveria facultar ao empregador a suspensão do contrato de trabalho, com a obrigação de

que o empregado se submetesse ao devido tratamento médico para reabilitação. Para esta corrente

doutrinária, a adoção dessa postura certamente possibilitaria ao trabalhador uma oportunidade

para que tivesse uma melhoria da saúde física e mental, ao passo que o empregador evitaria a

diminuição da produtividade decorrente das licenças médicas e faltas injustificadas, além do que

– acaso efetivada a despedida por justa causa – não seria preciso alocar recursos financeiros com

o treinamento de novos empregados.50

Neste diapasão, a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho norteia-se, nos

dias atuais, pela não caracterização da justa causa nos casos de embriaguez patológica, porquanto

nestes casos o elemento volitivo da culpa do empregado restaria prejudicado, como se infere do

julgado doravante transcrito:

ALCOOLISMO. NÃO-CARACTERIZAÇÃO DA JUSTA CAUSA. REINTEGRAÇÃO. Revela-se em consonância com a jurisprudência desta Casa a tese regional no sentido de que o alcoolismo crônico, catalogado no Código Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde OMS, sob o título de síndrome de dependência do álcool, é doença, e não desvio de conduta justificadora da rescisão do contrato de trabalho. Registrado no acórdão regional que “restou comprovado nos autos o estado patológico do autor”, que o levou, inclusive, “a suportar tratamento em clínica especializada”, não há falar em configuração da hipótese de embriaguez habitual, prevista no art. 482, “f”, da CLT, porquanto essa exige a conduta dolosa do reclamante, o que não se verifica na hipótese. Recurso de revista não-conhecido, integralmente.51

Pelo exposto, percebe-se com certa facilidade que o entendimento jurisprudencial

supra volta-se a favor da suspensão do pacto laboral nos casos de alcoolismo do empregado, pois

não poderia o empregador efetivar a rescisão contratual – ainda mais por justa causa – de um

trabalhador comprovadamente acometido de alcoolemia crônica. Em outros termos, pelo fato do

empregado dispor da síndrome alcoólica crônica – doença enquadrada internacionalmente como

50 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 340. 51 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n° 1530/2004-022-15-00. Rel. Min Rosa Maria Weber Candiota da Rosa. 3ª Turma. DJ de 06 nov. 2009. Disponível em: www.tst.jus.br. Acesso em: 20 jan. 2011.

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de caráter grave, diga-se de passagem – seria justificada tão-somente a suspensão do contrato de

trabalho, gerando para este a oportunidade de buscar tratamento médico adequado.

Entretanto, questiona-se quem seria o patrocinador de tal tratamento: por um lado,

em proposta de cunho eminentemente protecionista, respaldada na tese da função social do

contrato de trabalho52, alguns autores – como é o caso de Flávia Ferreira Pinto – firmam

entendimento no sentido de que – a depender do porte da empresa – o empregador deveria

implementar programas de prevenção e reparação dos empregados ébrios habituais; por outro

lado, a mesma autora questiona a viabilidade da proposta, pelos mais diversos motivos, tais como

a inexistência de fundamentação legal que obrigue os empregadores a serem onerados com mais

este encargo financeiro ou a não classificação de tal patologia como doença ocupacional.53

Diante do imbróglio, emerge a corrente jurisprudencial que defende o

encaminhamento do empregado que padece do alcoolismo crônico ao órgão previdenciário, uma

vez que o alcoolismo crônico passou a ser considerado moléstia grave, devendo o trabalhador

doente perceber o respectivo auxílio:

RECURSO DE REVISTA. INQUÉRITO PARA APURAÇÃO DE FALTA GRAVE. ALCOOLISMO. JUSTA CAUSA. O alcoolismo crônico, nos dias atuais, é formalmente reconhecido como doença pela Organização Mundial de Saúde - OMS, que o classifica sob o título de -síndrome de dependência do álcool-, cuja patologia gera compulsão, impele o alcoolista a consumir descontroladamente a substância psicoativa e retira-lhe a capacidade de discernimento sobre seus atos. Assim é que se faz necessário, antes de qualquer ato de punição por parte do empregador, que o empregado seja encaminhado ao INSS para tratamento, sendo imperativa, naqueles casos em que o órgão previdenciário detectar a irreversibilidade da situação, a adoção das providências necessárias à sua aposentadoria. No caso dos autos, resta incontroversa a condição do obreiro de dependente químico. Por conseguinte, reconhecido o alcoolismo pela Organização Mundial de Saúde como doença, não há como imputar ao empregado a justa causa como motivo ensejador da ruptura do liame empregatício. Recurso de revista conhecido e provido.54

Com efeito, ganha força a tese fulcrada na idéia de que – antes de qualquer atitude

rescisória por parte do empregador – deve o contrato de emprego ser suspenso, sendo o

52 É comum associar-se a proteção à dignidade humana à solidariedade contratual [...] como meios de promoção social e esse amálgama a uma nova realidade nas relações interprivadas. Segundo esse ponto de vista, o núcleo do contrato deixa de ser a autonomia da vontade para passar a ser a solidariedade constitucional. (SANTOS, José Aparecido dos. Função social do contrato nas relações de trabalho e de consumo. Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/bh/jose_aparecido_dos_santos2.pdf>. Acesso em: : 15 fev. 2011) 53 PINTO, Flavia Ferreira. Embriaguez: justa causa para extinção do contrato de trabalho?. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1344, 7 mar. 2007. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/9575>. Acesso em: 15 fev. 2011. 54 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n° 1864/2004-092-03-00. Rel. Min Lélio Bentes Corrêa. 1ª Turma. DJ de 28 mar. 2008. Disponível em: www.tst.jus.br. Acesso em: 20 jan. 2011.

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empregado encaminhado ao Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS durante o prazo

necessário ao devido tratamento, ocasião em que deve permanecer afastado e perceber o

respectivo auxílio-doença a partir do 16º dia, nos termos do art. 476, da CLT e art.60 da Lei nº

8.213/91, in verbis:

Art. 476 - Em caso de seguro-doença ou auxílio-enfermidade, o empregado é considerado em licença não remunerada, durante o prazo desse benefício. Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz.

Para essa corrente jurisprudencial, portanto, acaso a junta médica do referido

órgão previdenciário ateste a inaptidão para o exercício de suas funções, nos exatos termos do art.

475 da CLT, o contrato deve permanecer suspenso enquanto durar a incapacidade laborativa,

devendo – por conseqüência lógica – ser concedida aposentadoria por invalidez ao obreiro que

não recupera sua força de trabalho, conforme reza o supracitado dispositivo legal, in verbis:

Art. 475 - O empregado que for aposentado por invalidez terá suspenso o seu contrato de trabalho durante o prazo fixado pelas leis de previdência social para a efetivação do benefício. §1º - Recuperando o empregado a capacidade de trabalho e sendo a aposentadoria cancelada, ser-lhe-á assegurado o direito à função que ocupava ao tempo da aposentadoria, facultado, porém, ao empregador, o direito de indenizá-lo por rescisão do contrato de trabalho, nos termos dos arts. 477 e 478, salvo na hipótese de ser ele portador de estabilidade, quando a indenização deverá ser paga na forma do art. 497.

De fato, parcela relevante da jurisprudência entende que – a depender do grau de

evolução da doença – o empregado deve ser afastado temporariamente para tratamento ou mesmo

passar a perceber do órgão previdenciário a aposentadoria por invalidez, consoante se depreende

do decisum a seguir trasladado:

RECURSO DE REVISTA PATRONAL ALCOOLISMO. Diante do posicionamento da OMS, que catalogou o alcoolismo como doença no Código Internacional de Doenças (CID), sob o título de síndrome de dependência do álcool (referência F-10.2), impõe-se a revisão do disciplinamento contido no art. 482, letra f, da CLT, de modo a impedir a dispensa por justa causa do Trabalhador alcoolista (embriaguez habitual), mas, tão-somente, levar à suspensão de seu contrato de trabalho, para que possa ser submetido a tratamento médico ou mesmo a sua aposentadoria, por invalidez. Recurso de Revista conhecido em parte e desprovido.55

No entanto, os partidários dessa corrente defendem também que deve se proceder

periodicamente perícias médicas, a fim de que seja constatada a continuidade da condição

55 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho AIRR e RR-813281/2001. Rel. Min José Luciano de Castilho Pereira. 1ª Turma. DJ de 22 set. 2006. Disponível em: www.tst.jus.br. Acesso em: 20 jan. 2011.

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patológica do obreiro ou se – ao revés – este estaria apto a retornar ao quadro funcional do

empregador, conforme procedimento estabelecido nos arts. 46 e 47 do Decreto nº 3.048/1999, a

seguir reproduzido, ipsis litteris:

Art.46 - O segurado aposentado por invalidez está obrigado, a qualquer tempo, sem prejuízo do disposto no parágrafo único e independentemente de sua idade e sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da previdência social, processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado e tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos. Parágrafo único. Observado o disposto no caput, o aposentado por invalidez fica obrigado, sob pena de sustação do pagamento do benefício, a submeter-se a exames médico-periciais, a realizarem-se bienalmente. Art.47 - O aposentado por invalidez que se julgar apto a retornar à atividade deverá solicitar a realização de nova avaliação médico-pericial. Parágrafo único. Se a perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social concluir pela recuperação da capacidade laborativa, a aposentadoria será cancelada, observado o disposto no art. 49.

De mais a mais, há nas cortes trabalhistas até mesmo o entendimento segundo o

qual a dispensa de empregado acometido desta grave moléstia – ainda que sem justa causa – se

revela verdadeiro abuso de poder, capaz de causar ao empregado e seus familiares inclusive os

mais nefastos danos morais, conforme se extrai da ementa a seguir transcrita:

RECURSO DE REVISTA. DOENÇA GRAVE. ALCOOLISMO. DISPENSA ARBITRÁRIA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. 1. Trata-se de hipótese de empregado portador de síndrome de dependência do álcool, catalogada pela Organização Mundial de Saúde como doença grave, que impele o portador à compulsão pelo consumo da substância psicoativa, tornado-a prioritária em sua vida em detrimento da capacidade de discernimento em relação aos atos cotidianos a partir de então praticados, cabendo tratamento médico. 2. Nesse contexto, a rescisão do contrato de trabalho por iniciativa da empresa, ainda que sem justa causa, contribuiu para agravar o estado psicológico do adicto, culminando em morte por suicídio. 3. A dispensa imotivada, nessas condições, configura o abuso de direito do empregador que, em situação de debilidade do empregado acometido de doença grave, deveria tê-lo submetido a tratamento médico, suspendendo o contrato de emprego. 4. Desse modo, resta comprovado o evento danoso, ensejando, assim, o pagamento de compensação a título de dano extrapatrimonial ou moral. 5. O dano moral em si não é suscetível de prova, em face da impossibilidade de fazer demonstração, em juízo, da dor, do abalo moral e da angústia sofridos. O dano ocorre “in re ipsa”, ou seja, o dano moral é consequência do próprio fato ofensivo, de modo que, comprovado o evento lesivo, tem-se, como consequência lógica, a configuração de dano moral, exsurgindo a obrigação de pagar indenização, nos termos do art. 5º, X, da Constituição Federal. Recurso de revista conhecido e provido.56

56 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n° 1957740-59.2003.5.09.0011(Convertido de Agravo de Instrumento de mesmo número). Rel. Min. Walmir Oliveira da Costa. 1ª Turma. DJ de 15 dez.. 2010. Disponível em: www.tst.jus.br. Acesso em: 15 jan. 2011.

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Digno de nota, portanto, que os Tribunais foram além da simples negativa de

aplicabilidade do aludido art. 482, “f”, da CLT em determinados casos, para considerar a

dispensa de empregado alcoolista um verdadeiro ato ilícito, agravante de seu precário estado de

saúde e, como tal, causador de danos morais.

4.2 O MAIS RECENTE PRONUNCIAMENTO DO TST SOBRE O TEMA: PELA

INAPLICABILIDADE DO ART. 482, “F”, DA CLT AOS ALCOOLISTAS CRÔNICOS

Em novíssima decisão acerca do assunto, amplamente divulgada nos meios

eletrônicos de comunicação57, o TST consolidou o entendimento segundo o qual o alcoolismo

crônico é um vício tal que degrada a saúde física e psíquica do obreiro, tanto assim que a OMS

incluiu o mal no Código Internacional de Doenças – CID, o que comprova a natureza patológica

do fenômeno.

Ademais, a Corte frisou que a punição extrema – dispensa por justa causa, na

forma do art. 482, “f”, da CLT – mostra-se incompatível com o desiderato de proteção do

indivíduo alcoolista que é hodiernamente empregado, tendo em vista que tal conduta feriria de

morte o direito fundamental à saúde, à dignidade da pessoa humana e os valores sociais do

trabalho, constitucionalmente consagrados.

No referido acórdão, por sinal, o Ministro Relator foi incisivo ao repudiar “o ato

do empregador que adota a dispensa por justa causa como punição sumária ao trabalhador em

caso de embriaguez, em que o autor é vítima de alcoolismo”58.

Nesse sentido, vale a reprodução da ementa deste julgado, a seguir colacionado

ipsis litteris:

RECURSO DE REVISTA. JUSTA CAUSA. ALCOOLISMO CRÔNICO. REINTEGRAÇÃO. A OMS formalmente reconhece o alcoolismo crônico como doença no Código Internacional de Doenças (CID). Diante de tal premissa, a jurisprudência desta C. Corte firmou-se no sentido de admitir o alcoolismo como patologia, fazendo-se necessário, antes de qualquer ato de punição por parte do empregador, que o empregado seja encaminhado para tratamento médico, de modo a reabilitá-lo. A própria Constituição da República prima pela proteção à saúde, além de adotar, como fundamentos, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho (arts. 6º e 1º, incisos III e IV). Repudia-se ato do empregador que adota a dispensa por justa causa

57 Notícias do TST. Demitido por alcoolismo crônico é reintegrado no emprego..Disponível em www.tst.jus.br. Acesso em 25 fev. 20114 58 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n° 130400-51.2007.5.09.0012. Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga. 6ª Turma. DJe de 25 fev. 2011. Disponível em: www.tst.jus.br. Acesso em: 15 jan. 2011.

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como punição sumária ao trabalhador. Precedentes. Recurso de revista não conhecido.para que possa ser submetido a tratamento médico ou mesmo a sua aposentadoria, por invalidez. Recurso de Revista conhecido em parte e desprovido.59

Ante o exposto, pode-se concluir que o tratamento dispensado ao alcoolista –

diante do atual enquadramento do mal como uma patologia – não deve ser o mesmo conferido a

um trabalhador faltoso e irresponsável, tendo em vista que – ao contrário deste – aquele não

possui o discernimento necessário para responder pelos próprios atos. Trata-se de pessoa que

merece especial cuidado do empregador, da sociedade e do Estado.

5 CO�CLUSÃO

Conforme exposto no decorrer do presente trabalho, em quase todos os países do

mundo o Direito do Trabalho rendeu-se ao princípio da supremacia constitucional, de modo que

os seus respectivos ordenamentos jurídicos – como não poderia deixar de ser – passaram a sofrer

forte influência dos ditames constitucionais.

No Brasil, mormente após a promulgação da Constituição Federal de 1988

(CF/88), percebe-se facilmente a ocorrência de um deslocamento paradigmático com visas à

proteção do emprego e, conseqüentemente, da própria dignidade humana. Vale dizer, o emprego

passou a ser entendido como meio de atingir a dignidade e ferramenta de melhoria social, de

modo que a dispensa – em sentido diametralmente oposto – passou a ser vista como óbice ao

alcance desses objetivos.

Nesse sentido, se antes a embriaguez habitual ou em serviço constituía causa justa

para a rescisão do contrato de emprego, nos moldes da legislação trabalhista, atualmente tanto a

doutrina quanto a jurisprudência entendem que – nos casos de alcoolismo crônico – a ruptura

abrupta do pacto laboral não se mostra o melhor caminho a ser trilhado.

De fato, uma vez que a alteração paradigmática operada a partir do fenômeno da

constitucionalização do Direito possibilitou fosse a dignidade alçada à condição de fim último da

humanidade, e a partir do momento em que o alcoolismo passou a ser classificado como doença,

a manutenção daquela hermenêutica se apresentava um verdadeiro entrave à evolução social.

59 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho TST-RR-130400-51.2007.5.09.0012. Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga. 6ª Turma. DJe de 25 fev. 2011. Disponível em: www.tst.jus.br. Acesso em: 25 fev. 2011.

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Diante disto, as cortes trabalhistas – que antes aplicavam indiscriminadamente a

legislação, sem levar em conta a distinção entre o alcoolista (condição patológica) e o empregado

faltoso em decorrência do consumo de álcool – passaram a entender que, sendo o indivíduo

doente, deve ser o contrato suspenso enquanto durar o tratamento.

Destarte, o empregado alcoolista – entendido assim como portador da síndrome da

dependência alcoólica – não poderá mais ser dispensado sob a justificativa de que a embriaguez

constitui falta grave, apta a ensejar a rescisão do contrato de emprego por justa causa, devendo

neste caso ser o pacto suspenso e o trabalhador submetido a tratamento, percebendo – por via de

conseqüência – o benefício previdenciário (auxílio-doença), ou mesmo ser afastado por invalidez,

passando a perceber, assim, a respectiva aposentadoria integral.

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