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Fundação Oswaldo Cruz Instituto Fernandes Figueira Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher ESTUDO DA MORFOLOGIA E DA SINTAXE DA LINGUAGEM DE INDIVÍDUOS AUTISTAS DE ALTO DESEMPENHO. Gabriella Martins Dutra Barreira Rio de Janeiro Abril de 2011

Fundação Oswaldo Cruz Instituto Fernandes Figueira Pós ... · Aos sujeitos deste estudo e suas famílias que disponibilizaram de ... com 45,5% e 60% de ... syntax of individuals

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Fundação Oswaldo Cruz

Instituto Fernandes Figueira Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher

ESTUDO DA MORFOLOGIA E DA SINTAXE DA LINGUAGEM

DE INDIVÍDUOS AUTISTAS DE ALTO DESEMPENHO.

Gabriella Martins Dutra Barreira

Rio de Janeiro Abril de 2011

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Fundação Oswaldo Cruz Instituto Fernandes Figueira Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher

ESTUDO DA MORFOLOGIA E DA SINTAXE DA LINGUAGEM

DE INDIVÍDUOS AUTISTAS DE ALTO DESEMPENHO.

Gabriella Martins Dutra Barreira

Dissertação apresentada à Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências.

Orientador: Dr. Juan Clinton Llerena Junior Co-Orientadora: Dra. Maria Lúcia Novaes Menezes

Rio de Janeiro Abril de 2011

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Dedico este trabalho ao Raulzinho, que com muita paciência me apresentou ao mundo colorido e fascinante do autismo.

iv

Agradecimentos

Primeiramente agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Juan Clinton Llerena Junior que acreditou na possibilidade de se concretizar este estudo e que confiou na minha capacidade em realizá-lo.

À minha co-orientadora Dra. Maria Lúcia Menezes por todo o apoio e incentivo dado a mim nos últimos cinco anos. Lúcia, seus conselhos e ensinamentos me fizeram crescer como profissional e pessoa e espero continuar todo o seu trabalho no campo da avaliação da linguagem, sem o qual minha formação estaria definitivamente incompleta.

Ao Dr. Adailton Pontes que sempre esteve disponível e interessado e sem o qual este trabalho não teria tido início. Sua colaboração foi essencial para a compreensão de que caminho seguir, quando a dissertação ainda era apenas uma ideia.

À Profa Dra Renata Mousinho que sempre foi exemplo de professora e profissional, ética e competente e que prontamente aceitou fazer parte da minha banca, sempre com carinho e profissionalismo.

Ao Dr. Paulo Galhanone que ofereceu seus conhecimentos como estatístico e teve papel fundamental no desenvolvimento da metodologia e na obtenção dos resultados deste trabalho.

À Rosana Gomes que, com carinho, revisou e corrigiu esta dissertação.

À Dra. Maria Alice Genofre que revisou o texto, dando apoio e estímulo à conclusão deste trabalho.

Aos profissionais do Setor de Neuropsiquiatria/Neurologia que acompanham e apóiam há cinco anos meu desenvolvimento como profissional da Fonoaudiologia.

Às amigas e companheiras do Ambulatório de Fonoaudiologia Especializado em Linguagem, em especial à Lú Mayrink, que sempre vibraram com minhas conquistas profissionais e pessoais. Este é um trabalho não só meu, mas de todo o setor.

Aos professores da Pós Graduação e aos queridos colegas de curso da turma de 2009. Cada um de vocês acrescentou algo na profissional e pessoa que estou me tornando. Obrigada por respeitar e valorizar meu trabalho.

Aos membros da Secretaria Acadêmica, pelo suporte e carinho sempre presentes.

v

Aos sujeitos deste estudo e suas famílias que disponibilizaram de maneira altruísta sua fala e seu tempo.

Aos meus pacientes do consultório e suas famílias, pela vibração com minhas conquistas e compreensão com minha ausência durante este tempo.

À minha mãe, Silvana, que, mesmo ausente em todo meu percurso profissional, esteve sempre ao meu lado como exemplo de ética, carinho e atenção com as outras pessoas.

Ao meu pai, Fernando, que em toda minha formação educacional e profissional sempre me estimulou a ser e fazer o melhor que eu poderia.

À Lilian, minha madrasta, que foi a primeira a perceber e acreditar que eu poderia me tornar uma grande Fonoaudióloga.

À minha irmã, Dinha, que sempre me fez querer ser melhor, instigando meu pensamento crítico e raciocínio e não deixando eu me contentar em ser apenas uma pessoa mediana.

Aos meus tios e primos maternos que torceram e vibraram com minhas conquistas e sempre tiveram um carinho e uma conversa à disposição, especialmente quando a rotina tornava-se árdua demais.

Aos meus amigos e amigas, em especial à Dri, Nat e Mari Borba, que torceram por mim, me incentivaram e me apoiaram.

Por fim, agradeço aos autistas que cruzaram e cruzarão meu caminho, servindo de inspiração e estímulo, fazendo com que a paixão pela minha profissão jamais termine.

vi

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo avaliar a morfologia e sintaxe da linguagem de indivíduos autistas de alto desempenho. Foram incluídos vinte e um sujeitos (vinte meninos e uma menina) na faixa etária entre oito anos e dezesseis anos e onze meses de idade (média de idade de 12,8 anos), sem alterações neurológicas e genéticas em comorbidade com o diagnóstico de Autismo de Alto Desempenho. Toda a população teve o desenvolvimento cognitivo (WISC-III) e a aquisição do vocabulário receptivo (PPVT-R) avaliados e só foram incluídos aqueles com Coeficiente de Inteligência Global e Escore Padrão do Vocabulário Receptivo na média ou acima da média esperada para a população típica. Apenas um sujeito (4,8%) tinha o nível de escolaridade materna como ensino fundamental incompleto, o que mostra que os sujeitos incluídos nesta pesquisa provavelmente apresentaram ambiente sociocultural e estímulos pedagógicos favoráveis ao bom desenvolvimento de sua linguagem oral. Os sujeitos tiveram sua linguagem avaliada através do Clinical Evaluation Language Fundamentals – Revised (CELF-R), composto por seis subtestes que analisam o desenvolvimento oral da linguagem receptiva e expressiva. A população obteve média do escore padrão igual ou maior que o esperado para sua faixa etária em todos os subteste, exceto no subteste da Linguagem Expressiva, Formulação de Sentenças. A partir deste resultado, comparou-se o escore padrão do subteste Formulação de Sentenças de cada sujeito com o grau de escolaridade materna, e aprofundou-se o estudo de cada item deste subteste. Utilizando o teste ANOVA, não foi possível identificar correlação estatisticamente significativa entre o resultado do subteste Formulação de Sentenças e o grau de escolaridade materna, reforçando a suposição de que a dificuldade em formular sentenças semânticas e gramaticalmente corretas tem relação com o diagnóstico de Autismo de Alto Desempenho e não com o ambiente ao qual o sujeito foi exposto. Dentre as diferentes categorias das palavras-alvo utilizadas no subteste Formulação de Sentenças, os sujeitos apresentaram maior dificuldade em produzir frases com palavras categorizadas como Conjunções Subordinadas e Coordenadas, com 45,5% e 60% de sentenças com falhas, respectivamente. Ao analisar cada palavra-alvo independentemente, os sujeitos apresentaram maior dificuldade nas sentenças formuladas com duas palavras-alvo (todas formuladas com mais de 50% de falhas) ou apenas com as conjunções Mas e Ou (com 52,4% e 57,1% das frases produzidas com falhas, respectivamente). As dificuldades apresentadas, neste estudo, por esta população na formulação oral de sentenças associadas às dificuldades pragmáticas já descritas na literatura e aceitas na comunidade científica internacional, mostram que a comunicação oral desses sujeitos apresenta muitas alterações, dificultando a manutenção adequada do diálogo e o engajamento na interação social com seus pares.

Palavras-Chaves: Fonoaudiologia; Transtornos do Desenvolvimento da Linguagem; Transtorno Autístico.

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ABSTRACT

The object of this study was to assess the language morphology and syntax of individuals with high functioning autism. Twenty and one subjects were included (twenty males and one female) between eight years and sixteen years and eleven months (mean age of 12,8 years), without other neurological or genetic syndromes, beyond High Functioning Autism. The study population’s cognitive development (WISC-III) and receptive vocabulary (PPVT-R) was assessed and only the ones with Global IQ and Standard Score on or beyond the mean expected for the typical population were included. Only one subject (4,8%) had a low level of the maternal education, which shows that the study population probably had had good sociocultural environment and learning stimulus that have influenced the oral language development. The language’s subjects was assessed by the Clinical Evaluation Language Fundamentals – Revised (CELF-R), which have six subtests the evaluate the receptive e expressive language development. The study population had the mean standard score equal or higher than the expected for the age in all subtests, except in Formulated Sentences, an expressive language subtest. After this result, each Formulated Sentences standard score was compared with the maternal education and each item was analyzed in a more detailed way. Trough the ANOVA test, no statistic significant correlation was found between the standard score in Formulated Sentences and the maternal education, reinforcing the hypothesis that the difficult in formulating semantically and grammatically correct sentences has relation with the High Functioning Autism diagnosis and not with the environment to which the subject has been exposed. The subjects showed greater difficulties in producing sentences with words categorized as subordinate and coordinate conjunction, with 45,5% and 60% of the sentences with errors, respectively. When analyzing each target-word independently, the subjects showed greater difficult in sentences formulated with two targets-words (every sentence formulated with at least 50% of errors) or with the conjunctions But and Or (with 52,7% and 57,1% of the sentences formulated with errors, respectively). The difficulties presented by the population in this study in formulating sentences associated to the pragmatic difficulties already described I the literature and accepted by the international scientific community, show that this subjects e oral communication presents many deficits, making it hard to maintain an adequate dialogue and the engagement in the social interaction with their peers.

Key-Words: Speech, Language and Hearing Sciences; Language

Development Disorders; Autistic Disorder.

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SUMÁRIO

Capítulo 1. – Introdução.....................................................................................10

Capítulo 2. – Quadro Teórico.............................................................................13

2.1. – Construto Teórico do Desenvolvimento da Linguagem................13

2.2. – Os Transtornos do Espectro Autista.............................................19

2.3. – A Linguagem nos Transtornos do Espectro Autista......................21

Capítulo 3. – Justificativa...................................................................................25

Capítulo 4. – Hipótese.......................................................................................30

Capítulo 5. – Objetivos.......................................................................................30

5.1. – Objetivo Geral...............................................................................30

5.2. – Objetivos Específicos....................................................................30

Capítulo 6. – Metodologia..................................................................................31

6.1. – População de Estudo....................................................................31

6.1.1. – Critérios de Inclusão........................................................32 6.1.2. – Critérios de Exclusão.......................................................34 6.1.3. – Amostra...........................................................................34 6.2. – Material..........................................................................................36

6.2.1. – Termo de Consentimento................................................36 6.2.2. – Questionário para pais ou responsáveis.........................36 6.2.3. – PPVT-R............................................................................37

6.2.4. – CELF-R............................................................................37 6.3. – Procedimentos..............................................................................40

6.3.1. – Ambiente e aplicação do material....................................40 6.3.2. – Correção e computação do escore..................................42 6.3.3. – Análise dos dados...........................................................43 Capítulo 7. – Aspectos Éticos............................................................................44

Capítulo 8. – Resultados....................................................................................45

Capítulo 9. – Discussão.....................................................................................55

Capítulo 10. – Conclusão...................................................................................71

Capítulo 11. – Referências Bibliográficas..........................................................74

Anexo 1. – Termo de Consentimento 1.............................................................80

Anexo 2. – Termo de Consentimento 2.............................................................82

Anexo 3. – Anamnese........................................................................................84

Anexo 4. – PPVT-R............................................................................................93

Anexo 5. – CELF-R ...........................................................................................94

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"A maior parte do tempo eu me sinto

como um antropólogo em Marte". Temple Grandin (PhD e Autista)

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CAPÍTULO 1 – Introdução

As primeiras descrições sobre o autismo1 foram feitas por Leo Kanner

(Kanner, 1943) e Hans Asperger (Asperger, 1944), que, de maneira isolada,

relataram os casos que acompanhavam e suas respectivas suposições teóricas

para a síndrome, até então desconhecida. Kanner estudou 11 crianças de 2 a 8

anos, que apresentavam inabilidade no relacionamento interpessoal; atraso na

aquisição da fala (embora não em todas as crianças) e no uso comunicativo da

mesma; dificuldades na atividade motora global e, por fim, insistência

obsessiva na manutenção da rotina com limitação na variedade de atividades.

Asperger, que acompanhou 4 crianças e teve seu estudo mais amplamente

divulgado apenas na década de 80, ressaltou a dificuldade dos sujeitos em

fixar o olhar durante situações sociais e as peculiaridades nos gestos

estereotipados e sem significado. Descreveu ainda que a linguagem2 das

crianças poderia se apresentar sem comprometimento nos três primeiros anos

de vida, sem alterações gramaticais e com vocabulário variado, porém com fala

monótona, além da maneira ingênua e inapropriada de aproximar-se das

pessoas.

Nas décadas subsequentes aos primeiros relatos, diversos

pesquisadores estudaram casos semelhantes aos de Kanner e Asperger o que

resultou numa polêmica quanto à etiologia e à definição da síndrome, levando

1 Os diferentes termos apresentados no decorrer da Introdução para denominar o Autismo foram utilizados com o objetivo de acompanhar o histórico e as mudanças diagnósticas relativas ao transtorno. Neste estudo, no entanto, as denominações Transtornos do Espectro Autista e Autista de Alto Desempenho serão utilizadas respectivamente em referência ao diagnóstico mais amplo ou para denominar os sujeitos inseridos neste espectro, mas cuja inteligência se encontra na ou acima média da esperada para sua faixa etária. 2 O termo Linguagem engloba a Pragmática, a Semântica e a Estrutura (Fonética, Fonologia, Morfologia e Sintaxe), sendo apenas esta última o objeto deste estudo.

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à sua uniformização pelos sistemas de classificação de transtornos mentais e

do comportamento (CID – Classificação de Transtornos Mentais e de

Comportamento, da OMS – e DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais, da APA). O autismo foi agrupado inicialmente dentro da

classificação de esquizofrenia, e em seguida, como uma psicose infantil. A

partir da década de 80, assistiu-se a uma verdadeira revolução paradigmática

no conceito, sendo o autismo retirado da categoria de psicose. Na CID-10

passou a fazer parte dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, enquanto

que o DSM-IV trouxe o Transtorno Autista como integrando os Transtornos

Invasivos do Desenvolvimento (Pervasive Developmental Disorder).

No final da década de 90, a psiquiatra inglesa Lorna Wing (Wing, 1997),

preocupada com as diferenças entre as demandas diagnósticas na pesquisa e

na clínica, propôs a noção de “espectro autista” ou “continuum” para designar

déficits qualitativos na denominada Tríade de Comprometimentos (domínio da

comunicação social; domínio da interação social; domínio da imaginação

social).

Com as denominações Transtornos do Espectro Autista e Transtorno

Invasivo do Desenvolvimento e a inclusão do termo “qualitativo” ao invés de

apenas “presença ou ausência” de um determinado comportamento no DSM-

IV, ficou clara a grande variedade de fenótipos3 que o diagnóstico engloba.

(Klin, 2003).

Assim, os Transtornos do Espectro Autista passam a ser classificados

como um conjunto de transtornos do desenvolvimento caracterizado por déficits

nas habilidades sociais e no uso comunicativo da linguagem verbal e não- 3 O termo Fenótipo de Linguagem será utilizado, neste estudo em referência às diferentes manifestações clínicas de linguagem apresentadas pelos sujeitos que receberam o mesmo diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista.

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verbal, bem como em comportamentos restritos e repetitivos, que se

apresentam de maneira heterogênea, no que diz respeito à qualidade e

intensidade de suas manifestações. Devido à heterogeneidade, estão incluídos

no mesmo grupo diagnóstico o Autismo de Baixo e o de Alto Desempenho. O

primeiro envolveria aproximadamente 70% dos sujeitos, que teriam, além das

características principais citadas acima, algum grau de retardo mental

associado (Minshew e Williams, 2007). O segundo grupo também apresentaria

as características centrais, mas com desenvolvimento cognitivo dentro ou

acima do esperado para sua faixa etária. Klin (2006) afirma que a essa

variedade clínica se associa uma grande heterogeneidade genética.

O termo Autismo de Alto Desempenho, cuja estrutura da linguagem é

tema de estudo desta dissertação, é caracterizado, então, como uma condição

marcada pelos déficits na reciprocidade social, dificuldades na comunicação e

por um conjunto de interesses restritos o que é incomum e que normalmente

leva a um isolamento social, na ausência de atraso no desenvolvimento

cognitivo (Bennet et al. 2008).

O presente trabalho tem, pois, como objeto o estudo da Estrutura da

Linguagem (que neste estudo refere-se apenas à Morfologia e Sintaxe) de

sujeitos Autistas de Alto Desempenho, na faixa etária de oito a dezesseis anos

e onze meses.

13

CAPÍTULO 2 – Quadro Teórico

2.1. – Construto Teórico do Desenvolvimento da Linguagem

Dentre as várias teorias que estudam a linguagem e seu

desenvolvimento, o estudo tem como embasamento teórico aquela elaborada

por Bloom e Lahey, que definem: “Linguagem é um código pelo qual idéias

são expressas através de um sistema convencional de signos arbitrários para

comunicar” (Bloom e Lahey, apud Menezes, 2003).

“Código é uma maneira de representar uma coisa por outra. A

linguagem é uma forma de representação” (Bloom e Lahey, 1978). Assim, ao

emitir sons, fonemas formadores de palavras que, por sua vez formam frases,

as crianças vão adquirindo o código linguístico que estabelece a estrutura da

linguagem.

“As crianças aprendem linguagem para expressar suas ideias,

interpretar a mensagem de outras pessoas e para atribuir conteúdo a essa

mensagem (Bloom e Lahey, 1978). Elas desenvolvem ideias sobre objetos e

eventos através de experiências interativas, de manipulação e de observação

em diversos contextos. O conteúdo (semântica) da linguagem é o resultado do

conhecimento que os indivíduos desenvolvem em relação a pessoas, eventos e

as relações entre eles” (Bloom e Lahey, 1978).

A linguagem é usada com vários propósitos, a maioria dos quais envolve

a interação com outras pessoas, com objetos e eventos, ou seja, o uso

(pragmática). As crianças aprendem a linguagem para se comunicar (Bloom e

Lahey, 1978). O uso da linguagem é um ato social e as crianças o adquirem no

14

seu contexto como um meio de obter objetos, manter e regular contato com

outras pessoas.

A integração das três dimensões da linguagem (estrutura, conteúdo e

uso) é representada na figura abaixo, o diagrama de Venn. Onde os três

círculos se sobrepõem, encontra-se o conhecimento da linguagem, que orienta

as ações do falante e interpreta mensagens (Bloom e Lahey, 1978).

Fonte: Bloom e Lahey, 1989; 18.

Contudo, o desenvolvimento das três dimensões da linguagem e sua

integração são resultados da interação contínua entre os potenciais físicos,

cognitivos, linguísticos e as condições ambientais – com seus aspectos

psicossociais, culturais e econômicos. As etapas do desenvolvimento não são

estáticas e as crianças com desenvolvimento típico aprendem sua língua nativa

em período relativamente curto e sem instruções (Bloom, apud Menezes,

2003).

A literatura científica especializada (Filipek et al., 1999; Loukusa et al.,

2007) tem como consenso que os Autistas de Alto Desempenho apresentam

déficits na aquisição e desenvolvimento do conteúdo (semântica) e do uso

15

(pragmática). Mas, estudos recentes (Eigsti e Bennetto, 2001 e 2006; Eigsti et

al. 2007) relatam que a estrutura (morfologia e sintaxe) de linguagem desses

sujeitos também apresenta alterações. Como o projeto terá como objeto esta

dimensão da linguagem, descreveremos a seguir, mais detalhadamente os

conceitos que estão envolvidos na estrutura da linguagem.

Embora a estrutura da linguagem envolva as habilidades fonológicas

(relacionadas ao som da fala), morfológicas (relacionadas à formação das

palavras) e de sintaxe (relacionadas à formação das frases), o estudo não

abarcará as características fonológicas do Transtorno do Espectro Autista.

Segundo Eigsti e Bennetto (2009), o início das habilidades linguísticas é

um processo do desenvolvimento caracterizado por um percurso uniforme

entre as crianças, apesar da evidente variabilidade de fatores como a língua,

cultura, diferenças individuais de inteligência ou sociabilidade e envolvimento

dos pais.

As palavras são compostas por uma ou mais unidades básicas de

significado chamadas morfemas e as regras para a formação das palavras a

partir dos morfemas são chamadas morfologia. A morfologia é utilizada pelos

interlocutores para: modificar o significado do radical das palavras e produzir

distinções semânticas; derivar com prefixos e sufixos os substantivos, verbos,

adjetivos, advérbios, entre outros, para especificar suas funções sintáticas na

sentença; estender ou modificar o significado do radical das palavras através

da adição de um prefixo.

Lahey (1988) separa as palavras do léxico em duas categorias: Palavras

de Conteúdo (substantivos, verbos, adjetivos e advérbios) e Palavras

Funcionais (preposições, artigos, conjunções e pronomes). Para ela, as

16

palavras de conteúdo são as principais partes de uma sentença, pois carregam

o significado da mesma e apresentam significado próprio quando expressas

sozinhas, além de serem constantemente adicionadas ao nosso léxico. Já as

palavras funcionais, para a autora, unem as palavras de conteúdo em uma

frase, mas seus significados dependem da relação existente entre as palavras

de conteúdo. Assim, novas palavras dessa categoria raramente são

adicionadas ao léxico.

As palavras de diferentes categorias se combinam formando sentenças

com um significado semântico específico. Dependendo da combinação e das

palavras utilizadas, a sentença formada pode ser categorizada como ativa,

passiva, negativa, interrogativa, imperativa, entre outras.

Wiig e Semel (1980) explicitam que as crianças com o desenvolvimento

normal da linguagem parecem aprender as regras linguísticas para a formação

das palavras (morfologia) de maneira casual e fácil e, na maioria, o

processamento e a produção de palavras, expressões e sentenças

rapidamente se tornam muito automáticas. Elas, primeiro, aprendem uma regra

geral e depois refinam seu conhecimento ao adquirir as regras mais

específicas.

Em relação ao desenvolvimento das estruturas de sentenças (sintaxe),

os mesmos autores declaram que aos três anos de idade, as crianças

entendem e expressam as relações funcionais entre sujeitos, predicados

(verbos) e objetos nas frases.

Segundo Bloom (1991), o desenvolvimento de sentenças complexas

começa entre 2 e 3 anos de idade conforme as crianças adquirem os

conectivos sintáticos e aprendem a expressar diferentes relações entre as

17

orações. O primeiro conectivo sintático que as crianças aprendem, e, é também

o mais geral, inicialmente, usado para expressar conjunção com diferentes

significados de relação conectiva: aditivo, temporal, causal e adversativo. Os

outros conectivos semanticamente mais específicos são adquiridos

sucessivamente com essas categorias de diferentes relações. Por exemplo, e,

então e quando são adquiridos com relações temporais e porque e então com

relações causais.

Em suma, a autora afirma que no desenvolvimento das sentenças

complexas as crianças primeiramente justapõem duas sentenças simples sem

um conectivo, juntam duas orações com o conectivo geral e, para, então unir

duas orações com significados semânticos diferentes e seus conectivos

explícitos.

Johnson e Myklebust (1967) atestam que os distúrbios de formulação e

sintaxe variam em relação à natureza e à severidade. Em alguns casos, o

maior problema está na conceituação e na produtividade, enquanto que, em

outros, é, primariamente sintático. Na maioria, entretanto, ambos estão

presentes.

As crianças com distúrbios no desenvolvimento da linguagem têm

muitos problemas no processamento de sentenças faladas, quando as

sentenças aumentam na complexidade estrutural e na compreensão sintática

(Wiig e Semel,1980). Elas apresentam dificuldades em integrar a estrutura

superficial e a estrutura profunda (estrutura gramatical e a semântica,

respectivamente), em processar as sentenças e abstrair as regras para a

estrutura.

18

Os problemas que as crianças com distúrbios no desenvolvimento da

linguagem têm com as estruturas das sentenças podem refletir em limitações:

na aquisição das regras para formação da sentença (sintaxe); na lembrança

imediata de sentenças devido a limitações na memória auditiva de curto prazo;

na sequenciação temporal ao relembrar palavras; no processamento e

abstração do significado da palavra com referência adequada e apropriada à

estrutura da sentença; na análise, síntese e integração simultâneas das

estruturas superficiais e profundas das sentenças, resultando em um

processamento relativamente mais lento e sequenciado do significado e da

estrutura; e na velocidade e eficácia para relembrar estruturas da sentença da

memória de longo prazo em produção de linguagem espontânea para a

formulação de sentença (Wiig e Semel,1980).

Em relação à aquisição das estruturas sintáticas nesses sujeitos, Wiig e

Semel (1980) expõem que os problemas refletem na interpretação, repetição e

formulação das sentenças. Para uma expressão verbal precisa e adequada, é

necessária a compreensão da natureza dos significados das palavras, como

eles podem ser afetados pelas diversas relações e contextos e se adaptar a

novos significados.

A interação entre a cognição e a linguagem deveria ser observada

intuitivamente na área de desenvolvimento dos significados das palavras e na

formação dos conceitos (semântica).

19

2.2. – Os Transtornos do Espectro Autista

O CID-10 (1993) e o DSM-IV (1994) estabeleceram como critério

diagnóstico para os Transtornos do Espectro Autista o comprometimento,

identificado até os três anos de idade, em três áreas principais: alterações

qualitativas das interações sociais recíprocas; alterações qualitativas dos

diferentes tipos de comunicação; interesses e comportamentos restritos,

estereotipados e repetitivos.

Segundo Rappin e Dunn (2003), para receber o diagnóstico de autismo

os indivíduos devem apresentar déficits em: (1) sociabilidade, empatia, e na

habilidade de inferir sobre o que outra pessoa está pensando ou vivenciando;

(2) uso comunicativo da linguagem e imaginação, e brincadeira criativa; (3)

flexibilidade cognitiva e comportamental e variação dos interesses e atividades.

De acordo com o mesmo estudo, o diagnóstico dos Transtornos do Espectro

Autista pode ser utilizado para indivíduos cuja inteligência varia da deficiência

mental grave ao superdotado.

A complexidade e a ampla variabilidade de sintomas nos Transtornos

do Espectro Autista apontam para etiologias múltiplas, que são atualmente

agrupadas sob o continuum diagnóstico, devido à sintomatologia

comportamental central similar (Filipek et al., 1999). Diversos estudos (Rapin e

Dunn, 2003; Tager-Flusberg e Joseph, 2003; Volkmar et al., 2004) certificam

que a etiologia para os Transtornos do Espectro Autista ainda não pode ser

estipulada com clareza, mas que o componente genético tem um importante

papel no desenvolvimento da alteração.

20

Klin (2006) revela que há maior incidência de Transtornos do Espectro

Autista em meninos do que em meninas, com proporções médias de cerca de

3,5 a 4,0 meninos para cada menina. A proporção varia em função do grau de

funcionamento intelectual, portanto, quanto maior o déficit cognitivo da

população menor a diferença entre as proporções dos gêneros. Isso ocorre,

pois as meninas com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista tendem a

ser mais graves, com maior déficit cognitivo. Portanto, nos Autistas de Alto

Desempenho, sujeitos sem déficit cognitivo, esta proporção aumenta, com um

índice de 9 homens para cada mulher.

A diferença de incidência dos Transtornos do Espectro Autista em

relação ao gênero sugere que os transtornos têm uma possível condição

genética relacionada à sua existência (Bailey et al., 1995). De fato, segundo

Klin (2003), os Transtornos do Espectro Autista são os transtornos do

desenvolvimento mais fortemente associados a fatores genéticos, com maiores

taxas de inabilidades ou dificuldades sociais em membros da família de

indivíduos com tal diagnóstico. Estudos de gêmeos e famílias indicam que a

concordância estimada para os Transtornos do Espectro Autista está acima de

90% em gêmeos univitelinos, muito maior que em outros transtornos

psiquiátricos (Bayley et al., 1995). De acordo com Santangelo e Folstein

(1999), as evidências indicam que de 2 a 10 genes em interação estão

envolvidos nestes transtornos, mas estes achados variam de acordo com os

estudos.

Todavia, de acordo com Tager-Flusberg e Joseph (2003), a procura

pelos genes associados aos Transtornos do Espectro Autista e aos

mecanismos neurobiológicos que fundamentam os sintomas comportamentais

21

é dificultada pela sua heterogeneidade. Uma forma de aumentar a

possibilidade de se encontrar um maior efeito genético é reduzir a variabilidade

fenotípica na amostra. Ao restringir o fenótipo, pode-se esperar uma etiologia

genética mais homogênea.

2.3. – A Linguagem nos Transtornos do Espectro Autista

Em relação aos distúrbios de comunicação nos Transtornos do Espectro

Autista, o DSM-IV lista quatro critérios: (1) atraso no desenvolvimento ou

ausência total de linguagem; (2) déficit visível na habilidade de iniciar ou

sustentar conversação nas crianças verbais; (3) uso estereotipado e repetitivo

da linguagem; (4) ausência de brincadeiras espontâneas e variadas de faz-de-

conta ou de brincadeira com imitação social apropriada ao nível de

desenvolvimento.

Norbury et al. (2010) declaram que apesar desses sintomas principais

comuns, os aspectos estruturais da linguagem, além da semântica e da

pragmática, variam consideravelmente nos Transtornos do Espectro Autista. A

heterogeneidade nos perfis de linguagem é, talvez, mais evidente em relação

ao desenvolvimento do léxico (vocabulário de uma língua, formado por itens

lexicais, ou seja, palavras). Para crianças com Transtorno do Espectro Autista,

os atrasos na aquisição das primeiras palavras são comuns, porém ainda

assim existe uma variação considerável na aquisição dos vocabulários, com

alguns indivíduos alcançando escores de vocabulário típico ou ainda acima da

média (Kjelgaard & Tager-Flusberg, 2001; Luyster et al., 2007; Mottron, 2004).

22

De acordo com Landa (2007), os sinais de inabilidade social e

comunicativa dos Transtornos do Espectro Autista podem estar presentes já no

primeiro ano de vida, antes mesmo do período em que se espera o início da

expressão verbal em crianças com desenvolvimento típico. Esta inabilidade

social e comunicativa pode ser observada na ausência do balbucio, na não-

sincronização de padrões vocais com o cuidador (jogos vocálicos), pouco ou

nenhum uso de gestos e iniciativa às respostas comunicativas dos outros e no

não-compartilhamento da expressão de afetividade. No segundo e terceiro ano

de vida, a iniciação dos atos comunicativos sociais (por exemplo, apontar,

iniciar atenção compartilhada), que requerem atenção integrada aos aspectos

sociais e não-sociais do contexto, está deficiente em relação à função de

pedido, como, por exemplo, levar a mão da pessoa até o objeto que deseja (um

uso não-social da linguagem).

Segundo Artigas (1999) e Rapin (1996), a principal preocupação dos

pais é a ausência de linguagem na maioria das crianças com Transtornos do

Espectro Autista em idade pré-escolar (dos dois aos seis anos). Muller e

Narbona (2005) ressaltam que na idade pré-escolar as alterações do

desenvolvimento da linguagem constituem o sintoma de alarme mais frequente

para que o diagnóstico seja realizado no período.

A atenção compartilhada, ou seja, a habilidade em compartilhar o olhar,

a posição da cabeça ou gestos entre duas pessoas para estabelecer um ponto

comum de interesse, é preditiva para os ganhos lingüísticos tardios dentro dos

Transtornos do Espectro Autista (Charman et al., 2003; Sigman e McGovern,

2005). As crianças com tal diagnóstico podem conseguir usar as pistas sociais

23

para orientar sua atenção, porém sem entender as intenções sociais

associadas a essas pistas.

Johnson e Myklebust (1967) sustentam que a variedade das

capacidades cognitivas dos indivíduos diagnosticados no espectro tem relação

direta com a heterogeneidade vista também no desenvolvimento de sua

linguagem.

Loukusa et al. (2007) descrevem a interpretação literal de expressões

como a característica mais evidente da linguagem no Autista de Alto

Desempenho, que causa dificuldades para o aprendizado de idiomas,

compreensão de humor, assim como metáforas e ironia. A interpretação literal

seria explicada, segundo Bishop (2002) pela dificuldade em fazer inferências

contextuais.

Os indivíduos Autistas de Alto Desempenho frequentemente apresentam

uma prosódia única, marcada por características supra-segmentais da fala

(relaciona-se as características como acentuação, ritmo, entoação e aspectos

da fala concatenada) como volume alto, entonação robótica ou monótona, hiper

nasalidade e velocidade rápida ou lenta de forma pouco comum (Shriberg et

al., 2001). A fala também é marcada por palavras formais e precisas,

neologismos e expressões atípicas (Rutter et al., 1992).

Eigsti e Bennetto (2009) mostram a conclusão de diversos outros

autores de que o desenvolvimento gramatical no Autismo de Alto Desempenho

é uma área sem alterações, limitando as dificuldades de linguagem dos sujeitos

à pragmática. Os autores acreditam ainda que a idade de aquisição da

linguagem tem um impacto significativo em eventuais ganhos de linguagem e

levantam a possibilidade de que o atraso inicial na aquisição da linguagem –

24

uma das características que definem os Transtornos do Espectro Autista –

pode ter influência no decorrer de seu desenvolvimento e em eventuais ganhos

de habilidades gramaticais no final da infância ou quando adolescentes.

No estudo de Eigsti et al. (2006), as autoras mostraram que as crianças

autistas apresentaram dificuldades em realizar testes que avaliavam o

desenvolvimento das habilidades sintáticas e que utilizaram caminhos atípicos

para simplificar as sentenças mais complexas, como supressão de pronomes e

advérbios e conjugação inadequada de verbos auxiliares. Acrescentou que em

contraste ao desenvolvimento sintático, a aquisição lexical é uma área de

relativa aptidão para as crianças com autismo. Acreditam que essas

habilidades lexicais aprimoradas vistas nesses sujeitos possam estar

relacionadas com a facilidade na habilidade da memória de curto prazo

característica do transtorno (Bennetto et al., 1996; Eigsti & Bennetto, 2001;

Hermelin e O’Connor, 1975).

25

CAPÍTULO 3 – Justificativa

O Instituto Fernandes Figueira (IFF) / FIOCRUZ, através do Ambulatório

de Neuropsiquiatria/Neurologia, recebe crianças e adolescentes de outras

instituições do estado do Rio de Janeiro, bem como de outros estados do

Brasil, para diagnóstico e acompanhamento. Grande parte da população que

recebe o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista é encaminhada para o

Ambulatório de Fonoaudiologia Especializado em Linguagem (AFEL) /

Neurologia para avaliação do desenvolvimento de sua linguagem.

O interesse pela realização do estudo surgiu a partir da observação do

atendimento desta população encaminhada para diagnóstico de Transtorno do

Espectro Autista ao ambulatório de Neuropsiquiatria/Neurologia e das

avaliações do desenvolvimento da linguagem dos sujeitos realizadas no AFEL.

Associado a isto, os encontros semanais deste setor (AFEL/Neurologia)

fomentaram a necessidade de ampliar o conhecimento acerca das alterações

de linguagem presentes nesta população como um todo e, em especial, a

linguagem dos Autistas de Alto Desempenho.

Nas últimas décadas, diversos estudos sobre a prevalência dos

Transtornos do Espectro Autista vêm sendo realizados em função de sua

importância epidemiológica, das peculiaridades de suas características e dos

distúrbios do desenvolvimento a ele associados (Baron-Cohen, 1995; Wing,

1997).

O primeiro estudo epidemiológico sobre o Transtorno do Espectro

Autista foi realizado por Victor Lotter, em 1966, em que relatou um índice de

prevalência de 4,5 em 10.000 crianças em um condado de Londres. Esta

26

prevalência mudou substancialmente ao longo dos anos em diversos estudos,

e atualmente, em sua última revisão bibliográfica de estudos epidemiológicos,

Fombonne (2009) mostrou que a prevalência atual de Transtornos do Espectro

Autista no Canadá seria de aproximadamente um autista para cada 150

crianças. O estudo também observou que nos locais de pouco

desenvolvimento na assistência à saúde o aumento da prevalência era

subestimado, havendo menos diagnósticos e, consequentemente, menos

encaminhamentos para acompanhamento especializado. No Brasil, ainda hoje,

não existem dados epidemiológicos oficiais em relação aos Transtornos do

Espectro Autista.

Fica claro, então, e nunca é demais enfatizar que “o aumento súbito nos

índices de prevalência dos Transtornos do Espectro Autista significa que mais

indivíduos estão sendo identificados com esta ou outras condições similares, e

não que a incidência geral do transtorno esteja aumentando” (Klin, 2006), o que

contraria a ideia de que muitos novos casos estariam surgindo em função de

vacinas ou metais pesados presentes no organismo dos sujeitos (Doja e

Roberts, 2006).

No Brasil, no âmbito da Saúde Coletiva, o Ministério da Saúde, através

da Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e Redução da

Mortalidade Infantil determina que “O monitoramento permanente de

ocorrências de deficiências e incapacidades nas crianças, assim como a

análise da prevalência e tendência, constitui uma meta a ser alcançada pelos

gestores de saúde, objetivando o planejamento de serviços” (Ministério da

Saúde, 2005: 34).

27

Sendo assim, os estudos epidemiológicos internacionais recentes sobre

os Transtornos do Espectro Autista, aliados aos objetivos do Ministério da

Saúde para a Saúde Integral da Criança com deficiências e incapacidades,

explicitam a importância dos trabalhos que investigam as características

clínicas relacionadas tanto ao diagnóstico quanto ao tratamento dos sujeitos

com o transtorno.

Tager-Flusberg e Joseph (2003) realçaram que um dos maiores

objetivos dos estudos na área é encontrar as causas que dão base ao

transtorno e desenvolver novos tratamentos que irão diminuir os efeitos graves

e debilitantes dos Transtornos do Espectro Autista nas crianças e em suas

famílias. Os autores afirmam que tais objetivos só poderão ser alcançados

quando os transtornos forem confiáveis, objetivamente diagnosticados, e

tiverem um fenótipo claramente definido.

As publicações científicas recentes mostram o interesse internacional

em se estudar os Transtornos do Espectro Autista com um enfoque genético.

Diversos pesquisadores têm debatido que novas técnicas, que vão além dos

padrões de procedimentos, serão necessárias para que avanços reais sejam

obtidos na busca por genes para os Transtornos do Espectro Autista nos

próximos anos (Risch et al,. 1999; Rutter, 2000; Szatmari, 1999). Em sua

maioria, os estudos afirmam que, para isso, há a necessidade de

homogeneizar a amostra de sujeitos, agrupando-os de acordo com os

diferentes subtipos clínicos (Miles e Hillman, 2000; Tager-Flusberg e Joseph,

2003).

Miles e Hillman (2000) afirmam que uma das maneiras para aumentar a

possibilidade de encontrar uma maior correlação genética nos Transtornos do

28

Espectro Autista é reduzir a variabilidade fenotípica na amostra. Ao estreitar os

diferentes fenótipos, pode-se esperar uma etiologia genética mais homogênea.

Existem diversos métodos disponíveis para se estreitar os fenótipos dos

Transtornos do Espectro Autista, um deles envolve a identificação de subtipos

dentro desse espectro (Szatmari, 1999).

No entanto, Miles e Hillman (2000) salientam que, mesmo após

estreitarem ao máximo a amostra de acordo com os fenótipos de

características físicas, não foi possível encontrar uma causa única para o

transtorno e afirmam a importância de outros estudos que tentem

homogeneizar ainda mais a amostra, agrupando os sujeitos de acordo com

outros tipos de fenótipos, além daqueles que já foram pesquisados, como por

exemplo o fenótipo de linguagem, objeto deste estudo.

De fato, Dawson et al. (2002) sugerem que os achados genéticos

alimentam a expectativa de que a definição dos subtipos de fenótipos de

linguagem dentro da população com Transtornos do Espectro Autista poderá

oferecer benefícios importantes aos estudos genéticos.

Tager-Flusberg e Joseph (2003) asseguram que os estudos genéticos

nos Transtornos do Espectro Autista evidenciaram que dividir as amostras de

sujeitos de acordo com o déficit de linguagem pode ser útil na identificação de

genes associados ao componente de linguagem nos transtornos.

Dentro da população mais homogênea de Autistas de Alto Desempenho,

em geral, com alterações de linguagem menos grave que os sujeitos com

Autismo de Baixo Desempenho, um fator importante na identificação dos seus

diferentes fenótipos de linguagem (relacionados ao conteúdo, uso ou estrutura)

29

é a classificação das possíveis alterações na estrutura da linguagem destes

indivíduos (Eigst et al., 2007).

Eigst e Bennetto (2009), em outro estudo, expõem que as crianças e os

adolescentes com Autismo de Alto Desempenho normalmente são

considerados como tendo as habilidades gramaticais intactas, apesar dos seus

déficits pragmáticos. No entanto, os autores acreditam que o questionamento

acerca da adequação ou alteração das habilidades gramaticais na população

deveria ser baseado em dados empíricos extensos, ainda escassos.

A discussão na literatura internacional recente destaca a necessidade de

pesquisas, especialmente em áreas com sistema de saúde pouco desenvolvido

como o Brasil, que estudem os diferentes subtipos de alterações na estrutura

de linguagem no Autismo de Alto Desempenho, como será feito neste trabalho.

30

CAPÍTULO 4 – Hipótese

O Autismo de Alto Desempenho, além das alterações pragmáticas já

descritas com maior frequência na literatura e utilizadas como critério

diagnóstico, também pode apresentar alterações na estrutura da linguagem

oral.

CAPÍTULO 5 – Objetivos

5.1. – Objetivo geral:

Analisar quantitativamente a morfologia e a sintaxe da linguagem dos

sujeitos Autistas de Alto Desempenho.

5.2. – Objetivos específicos:

Avaliar quantitativamente a estrutura (morfologia e sintaxe) da

linguagem dos sujeitos.

Analisar os desempenhos obtidos pelos sujeitos em cada subteste

aplicado.

31

CAPÍTULO 6 – Metodologia

Trata-se de um estudo transversal retrospectivo, com abordagem

quantitativa, desenvolvido no Ambulatório de Fonoaudiologia Especializado em

Linguagem (AFEL) / Setor de Neurologia do Departamento de Pediatria do

Instituto Fernandes Figueira (IFF) / Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Foi

estabelecido o Instituto Fernandes Figueira – FIOCRUZ como campo para a

realização desse estudo por ser uma instituição que, através do Ambulatório de

Neuropsiquiatria/ Neurologia, recebe crianças e adolescentes – do Rio de

Janeiro e de outros estados do Brasil – com suspeita de Transtornos do

Espectro Autista, fator de fundamental importância para o desenvolvimento

deste trabalho.

6.1. – População de Estudo

A população do estudo foi composta através de uma amostra por

conveniência, tendo origem na totalidade de sujeitos com diagnóstico de

Transtornos do Espectro Autista cadastrados no banco de dados do setor de

Neurologia/Neuropsiquiatria da Instituição. Parte dos sujeitos foi encaminhada

para avaliação de linguagem no Ambulatório de Fonoaudiologia Especializado

em Linguagem (AFEL) / Neurologia e fazem parte do banco da dados da

pesquisa intitulada “Avaliação do desenvolvimento da linguagem da população

atendida no Ambulatório de Fonoaudiologia Especializado em Linguagem”,

registrada no Comitê de Ética em Pesquisa com o número 0572/05. Aqueles

32

que apresentaram os critérios de inclusão estabelecidos neste estudo foram

incluídos na população.

Foi realizada avaliação da linguagem em sujeitos diagnosticados com

Transtornos do Espectro Autista pelo neurologista responsável no Ambulatório

de Neuropsquiatria/Neurologia do IFF, utilizando os critérios do CID-10 e do

DSM-IV. O diagnóstico de Autismo de Alto Desempenho foi complementado

através da avaliação do desenvolvimento cognitivo feita por um psicólogo,

utilizando o WISC-III (Wechsler, 1991).

O DSM-IV e o CID-10 categorizam a Síndrome de Asperger como

separada do autismo, apesar de ambos afirmarem que a validade diagnóstica

desta distinção é incerta. O Serviço de Neurologia do IFF/FIOCRUZ, baseado

em diversas pesquisas (Frith, 2004; Hippler e Klicpera, 2003; Howlin, 2003) que

também mostraram que a distinção entre Autismo de Alto Desempenho e

Síndrome de Asperger não é clara, utiliza apenas o diagnóstico de Autismo de

Alto Desempenho para a população com Transtornos do Espectro Autista sem

déficit cognitivo. Com isso, neste estudo a amostra será composta por sujeitos

com este diagnóstico, não havendo diferenciação para os sujeitos com

Síndrome de Asperger.

Todos os indivíduos participantes também foram avaliados no

Ambulatório de Genética, através de anamnese específica, heredograma,

cariótipo, triagem para erros inatos e critério para afastar Síndrome do X Frágil.

6.1.1. – Critérios de Inclusão para os sujeitos do estudo

A população do estudo foi constituída por 21 sujeitos na faixa etária de

oito a dezesseis anos e onze meses de idade, avaliados no Ambulatório de

33

Fonoaudiologia Especializado em Linguagem (AFEL) / Neurologia de Janeiro

de 2006 à Dezembro de 2010 e diagnosticados como Autistas de Alto

Desempenho.

O diagnóstico de Autismo de Alto Desempenho foi realizado de acordo

com os critérios do CID-10 e do DSM-IV e com o coeficiente de inteligência (QI)

global no teste psicométrico Wechsler Intelligence Scale for Children4 (WISC-

III), cujo ponto de corte foi o escore padrão (EP) ≥ 70. Foi utilizado o Peabody

Picture Vocabulary Test- Revised (PPVT-R, Dunn e Dunn, 1981) para avaliar a

aquisição lexical do vocabulário receptivo, tendo como ponto de corte o EP ≥

85.

Os sujeitos foram submetidos à testagem psicométrica e só foram

incluídos no estudo aqueles que não apresentavam déficit cognitivo de acordo

com o estipulado pelo WISC-III, avaliação reconhecida e utilizada na maioria

dos estudos internacionais da área (Bennet et al., 2008; Eigsti e Bennetto,

2009; Filipek et al. 1999). Com isso, procurou-se evitar que as possíveis

alterações apresentadas na avaliação da estrutura da linguagem fossem

secundárias ao déficit cognitivo, mas sim explicadas pela dificuldade de

linguagem inerente ao diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista.

Os sujeitos também foram submetidos à avaliação do vocabulário

receptivo e só foram incluídos aqueles que não apresentam déficits nesta

habilidade, de acordo com o estipulado pelo PPVT-R, teste também

reconhecido e utilizado em diversos estudos internacionais da área (Filipek et

al. 1999; Tager-Flusberg e Joseph, 2003; Eigsti e Bennetto, 2009). Os

4 O WISC-III foi desenvolvido para avaliar a capacidade intelectual de crianças e adolescentes e pode ser utilizado para diferentes finalidades, como por exemplo, avaliação psicoeducacional, diagnóstico de crianças com retardo cognitivo em idade escolar, avaliação clínica, neuropsicológica e pesquisa.

34

resultados adequados do PPVT-R demonstraram que o vocabulário receptivo

não seria a causa das falhas em algum subteste do CELF-R.

6.1.2. – Critérios de Exclusão para os sujeitos do estudo

Foram excluídos os sujeitos com diagnóstico de outros transtornos

neurológicos e/ou psiquiátricos, alterações genéticas, deficiência auditiva ou

visual.

6.1.3. – Amostra

O fluxograma abaixo esquematiza a entrada dos sujeitos no estudo, de

Janeiro de 2006 à Dezembro de 2010.

Fluxograma dos pacientes incluídos no estudo desde Janeiro de 2006.

924 pacientes acompanhados no

Ambulatório de Neurologia/

Neuropsiquiatria

323 pacientes autistas

avaliados no AFEL

302 pacientes que não apresentam os critérios de

inclusão do estudo

21 pacientes que apresentam os

critérios de inclusão do estudo

35

Inicialmente, a amostra foi composta por 23 sujeitos que preenchiam os

critérios de inclusão estabelecidos para o estudo, avaliados no período de

Janeiro de 2006 a Outubro de 2010. No entanto, após análise dos prontuários,

2 sujeitos foram excluídos, uma vez que um apresentava transtorno

neurológico (epilepsia) e o outro tinha confirmação de alteração genética

(Síndrome do X Frágil). Ambos os sujeitos que foram excluídos da população

não apresentaram déficit cognitivo ou lexical. No entanto, optou-se por excluí-

los da amostra estudada uma vez que as possíveis dificuldades apresentadas

no teste que avaliou a estrutura da linguagem (CELF-R) poderiam ocorrer em

função da co-morbidade identificada e não apenas pelo diagnóstico de

Transtorno do Espectro Autista.

Por fim, a amostra estudada conteve 21 sujeitos com média de idade

12,8 anos, com idades entre oito anos e três meses e dezesseis anos e onze

meses.

Dos 21 sujeitos incluídos, 20 eram do gênero masculino e apenas 1 do

gênero feminino. Esta diferença marcante entre os sujeitos com Transtornos do

Espectro Autista é bastante estudada, especialmente em pesquisas que

analisam o fator genético no distúrbio. Tager-Flusberg e Joseph (2003) relatam

em seu estudo que o Transtorno do Espectro Autista é muito mais prevalente

em sujeitos do gênero masculino. Klin (2006) explica ainda que, em sua

maioria, as meninas diagnosticadas dentro dos Transtornos do Espectro

Autista apresentam quadros, muitas vezes graves, de déficit cognitivo, o que

faz com que a diferença de prevalência entre os gêneros se torne ainda mais

discrepante em sujeitos sem déficit cognitivo. Dessa forma, a baixíssima

prevalência de meninas neste estudo poderia ser explicada tanto pela diferença

36

de prevalência de gênero inerente aos Transtornos do Espectro Autista, bem

como pelo fato de só terem sido incluídos sujeitos sem déficit cognitivo.

6.2. – Material

6.2.1. – Termo de Consentimento (anexos 1 e 2)

O documento registra a permissão e consequente concordância, através

da assinatura dos responsáveis dos sujeitos focais, em participar da pesquisa.

6.2.2. – Questionário para os pais ou responsáveis dos

sujeitos da população de estudo (anexo 3).

O instrumento aplicado é composto por sete módulos, e sua elaboração

foi baseada em modelos de questionários utilizados em entrevistas com o

responsável de pacientes, em serviços de Fonoaudiologia de hospitais nos

Estados Unidos. Os módulos, na sua maioria, são compostos por questões

categóricas, isto é, as respostas são afirmativas ou negativas.

O objetivo do questionário foi o de fornecer uma anamnese, contendo a

história pregressa e os dados clínicos da criança, desde sua concepção até o

presente momento, permitindo traçar o perfil da população estudada e

correlacionar os dados demográficos com os resultados do desenvolvimento da

linguagem.

37

6.2.3. – PPVT - Peabody Picture Vocabulary Test – Revised

(Dunn & Dunn, 1981; Adaptação de Menezes, 1984).

É um instrumento clínico utilizado na avaliação do vocabulário receptivo

na faixa etária de 2 a 33 anos. O escore padrão (EP) corresponde a uma média

de 100 e um desvio padrão (DP) de 15. O resultado é obtido através da

transformação do escore bruto em escore padrão. Média: EP entre 85 e

115.Peabody Picture Vocabulary Test – PPVT. (Dunn & Dunn, 1981;

Adaptação de Menezes, 1984). O PPVT-R foi criado para avaliar a

compreensão do significado de palavras isoladas utilizando figuras

selecionadas. Os itens são apresentados em ordem crescente de dificuldade e

são classificados em diferentes categorias (substantivos, verbos e adjetivos).

6.2.4. – Clinical Evaluation Language Fundamentals-Revised

– CELF-R (Menezes, 1995).

Instrumento proposto por Wiig e padronizado no português brasileiro por

Menezes (1995), que avalia a compreensão e expressão de estrutura e

semântica da linguagem de crianças e adolescentes na faixa etária de oito a

dezesseis anos e onze meses de idade. O CELF-R foi baseado no modelo

teórico do desenvolvimento da linguagem de Bloom e Lahey (1978) e já

descrito no Quadro Teórico deste estudo. No entanto, os subtestes e itens da

bateria do CELF-R desconsideraram o uso da linguagem como foco de sua

análise, limitando-se a investigar o conteúdo e a forma da linguagem.

A adoção do conceito do desenvolvimento da linguagem no processo de

avaliação clinica da bateria do CELF-R é justificado por dois fatores:

38

• é um esquema pelo qual os componentes da linguagem são classificados

e descritos, o que auxilia na compreensão e, eventualmente, na

explicação de como os comportamentos da linguagem são apreendidos e

desenvolvidos.

• fornece um modelo dentro do qual se torna possível observar, avaliar e

analisar alguns elementos fundamentais no desempenho da linguagem do

estudante e, ao verificar possíveis deficiências, sugerir medidas de

intervenção.

Os subtestes da bateria do CELF-R foram desenvolvidos tendo como

preocupação central elementos e domínios da linguagem que podem ser

distinguidos em dois grupos:

• as relações entre semântica, morfologia e sintaxe e pragmática, ou

noções estritamente relacionadas ao conteúdo, forma e uso da linguagem;

• a correlação de domínios da linguagem receptiva e expressiva e

qualquer variação estritamente relacionada a complementos, tais como: ouvir

e falar ou decodificar e codificar.

O esquema teórico norteou a concepção dos seis subtestes utilizados no

estudo e apresentados detalhadamente a seguir.

• Ordens Orais: avalia a habilidade para interpretar, relembrar e executar

ordens verbais, que aumentam em extensão e complexidade, através de

22 itens. O sujeito deve identificar figuras a partir da apresentação visual e

de uma ordem auditiva. Por exemplo, “Mostre o primeiro triângulo preto

grande”.

• Classes de Palavras: avalia a habilidade para perceber e compreender as

relações associativas entre conceitos de palavras, através de 27 itens. O

39

sujeito deve identificar, dentre as quatro palavras apresentadas

auditivamente, as duas que apresentam relação associativa. Por exemplo,

“tigre leão pau bebê”.

• Relações Semânticas: avalia a habilidade para interpretar relações

semânticas em sentenças, através de 28 itens. O sujeito deve identificar

quais as duas respostas corretas, dentre as quatro opções apresentadas

visualmente, para a questão apresentada auditivamente. Por exemplo, “As

melancias são maiores do que”:

a) bicicletas

b) lápis

c) maçãs

d) carros

• Relembrar Sentenças: avalia a habilidade para relembrar e reproduzir a

estrutura externa de sentenças que variam em extensão e complexidade

sintática, através de 26 itens. O sujeito deve repetir oralmente a sentença

apresentada auditivamente. Por exemplo, “O cachorro seguiu a bola”.

• Ordenar Sentenças: avalia a habilidade para reunir palavras, para formar

sentenças gramatical e semanticamente adequadas, através de 22 itens.

O sujeito deve ordenar adequadamente a sequência de palavras

desordenadas. Apresentadas visualmente. Por exemplo, “VIU O

CACHORRO A MENINA”.

• Formulação de Sentenças: avalia a habilidade para formular sentenças

compostas e complexas, através de 20 itens. O subteste mapeia aspectos

da expressão da linguagem relacionados ao: reconhecimento das

limitações da seleção da palavra impostas por palavras e conceitos

40

específicos; reconhecimento das limitações estruturais impostas em

sentenças através das seleções de palavras especificas; identificação e

formulação de sentenças que são completas, significativas e

gramaticalmente corretas. O sujeito deve formular uma sentença a partir

da apresentação auditiva (uma palavra ou a combinação de duas

palavras) e visual de uma figura. Por exemplo, “Faça uma frase com as

palavras ‘Mesmo que’”. A palavra-alvo apresentada auditivamente pode

ser classificada gramaticalmente como pertencente a uma das seguintes

categorias: Substantivo, Verbo, Adjetivo, Pronome Indefinido, Conjunções

Subordinadas (exerce o papel de ligar as orações e estabelece entre elas

uma relação de dependência sintática) e Conjunções Coordenadas (liga

as orações que são independentes entre si, ou seja, que possuem

significados individuais).

6.3. – Procedimentos

6.3.1. – Ambiente e aplicação do material

O termo de consentimento, o questionário para os pais e o CELF-R

foram aplicados por uma equipe, formada por três fonoaudiólogas, todas com

experiência em aplicação de testes.

Antes da aplicação do CELF-R nos sujeitos deste estudo, as

pesquisadoras realizaram um treinamento intensivo, sob a orientação da

pesquisadora responsável pela padronização do mesmo. O treinamento

consistiu em: (a) familiarização com os itens do questionário e do CELF-R; (b)

41

treinamento de contato de olhar e tom de voz dirigido à criança, objetivando

tornar a postura das pesquisadoras a mais semelhante possível entre si,

neutralizando suas diferenças, que poderiam interferir na relação com os

sujeitos e seus responsáveis, o que ocasionaria conseqüências nas respostas

do questionário e nos resultados da aplicação da CELF-R. Os responsáveis

foram entrevistados e as crianças testadas em sessões individuais, em salas

cedidas pela coordenação da instituição onde estava sendo realizada a

pesquisa de campo. O encontro com o responsável tinha início com a

apresentação da pesquisadora, a explicação do critério de inclusão e a

importância da sua contribuição. Em seguida era perguntado se concordavam

com participação da criança no estudo. Se a resposta fosse afirmativa,

solicitava-se a assinatura no termo de consentimento para, então, realizar-se a

aplicação do questionário.

A partir das respostas, obteve-se uma anamnese, contendo a história

pregressa e dados clínicos do sujeito desde a sua concepção até o presente

momento, estabelecendo o primeiro perfil dos sujeitos. A análise, junto com os

dados clínicos em seus prontuários, foram de fundamental importância para

determinar a sua inclusão no grupo de estudo.

Os encontros com os sujeitos foram agendados para a aplicação

individual do CELF-R. A pesquisadora encontrava o sujeito na sala de espera

do AFEL e o convidava para dirigir-se à sala reservada Antes de iniciar a

aplicação da escala, sentavam em uma mesa apropriada para a idade da

criança e a pesquisadora procurava uma posição confortável para ambos e que

facilitasse o manuseio do material, manual de figuras e as anotações nas

folhas do protocolo de aplicação da CELF-R. Comentários e perguntas sobre a

42

escola e programas de televisão preferidos foram utilizados como facilitador

para interação com o sujeito que geralmente, parecia mais comunicativo após a

aproximação informal.

Em seguida procedia-se a introdução do CELF-R, iniciando–se sempre

pela aplicação da Escala da Linguagem Compreensiva e depois a da

Linguagem Expressiva.

O período de aplicação do CELF-R variou entre 60 e 120 minutos,

divididos em dois ou três encontros, dependendo da idade e do grau de

comunicação do sujeito, visto que os menores e mais tímidos necessitavam de

mais tempo. Os sujeitos, em sua maioria, demonstravam muito interesse no

material oferecido, bem como prazer no seu manuseio.

6.3.2. – Correção e computação do escore

A correção e pontuação das tarefas na folha de resposta da escala da

Linguagem Compreensiva e da Linguagem Expressiva foram realizadas de

forma individual pela própria examinadora.

Cada item recebeu uma pontuação específica que foi somada, obtendo-

se o escore bruto de cada subteste. Em seguida, cada escore bruto foi

transformado em escore padrão, considerando uma média 10 e um DP 3.

O escore padrão da Linguagem Receptiva foi calculado pela soma dos

escores padrão dos subtestes Ordens Orais, Classes de Palavras e Relações

Semânticas, e esta soma foi transformada em um escore padrão equitativo a

esse resultado. O escore padrão da Linguagem Expressiva foi calculado

através da soma dos escores padrão dos subtestes Formulação de Sentenças,

43

Relembrar Sentenças e Ordenar Sentenças, e esta soma foi transformada em

um novo escore padrão equitativo a esse resultado. Os escores da Linguagem

Receptiva e Expressiva consideraram a média 100 e desvio padrão 15.

O escore global da Linguagem foi obtido através da soma dos três

escores da Linguagem Receptiva e Expressiva que foi transformado em um

novo escore equivalente a esse resultado. Como resultado final teve-se que a

Linguagem Global encontrava-se com desenvolvimento adequado para o

escore padrão global ≥ 85, com distúrbio leve ≥ 78, distúrbio moderado ≥ 70 e

distúrbio grave < 70. Os escores padrão foram apresentados por idade,

considerando um ano de intervalo, com faixa etária compreendida entre oito

anos e dezesseis anos e onze meses.

As falhas apresentadas nos subtestes do CELF-F foram, em seguida,

classificadas como falhas sintáticas (cujo conteúdo semântico estava

adequado), falhas semânticas (mas com estrutura sintática adequada) ou

sentenças com falhas sintáticas e semânticas (onde erros sintáticos e

semânticos se apresentavam concomitantemente).

6.3.3. – Análise dos Dados

Os resultados obtidos em cada subteste foram incluídos em um Banco

de Dados criado para armazenamento e análise dos dados, numa planilha do

programa estatístico Microsoft Excel.

As variáveis estudadas relacionavam-se às características demográficas

dos sujeitos (idade, sexo, escolaridade da mãe e renda familiar) e à avaliação

da linguagem individual (escore padrão e desvio padrão).

44

Os dados foram apresentados através de proporções e de médias do

escore padrão e desvio padrão (no caso de variáveis numéricas relacionadas à

avaliação da linguagem).

Inicialmente, foram analisados os resultados de cada subteste do CELF-

R individualmente, através das médias de seus escores padrão, bem como de

seu desvio padrão. Os dados foram tabulados e foram analisados item por item

dos subtestes cuja média de escore padrão obtida estava abaixo da média da

população com desenvolvimento típico e de mesma faixa etária, levando-se em

consideração as habilidades específicas avaliadas em cada um. A partir dos

resultados da análise detalhada, novas tabelas e gráficos de proporção foram

construídos de acordo com as especificidades de cada subteste utilizando

também o programa de análise estatística Microsoft Excel.

CAPÍTULO 7 – Aspectos Éticos

Os pais ou responsáveis dos sujeitos focais assinaram o “Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido”, aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP) de acordo com a Resolução nº 196, admitindo a participação

de seu filho nesta pesquisa. Os sujeitos já avaliados pelo AFEL e incluídos no

estudo de maneira retrospectiva, ou seja, no período anterior à aprovação do

mesmo pelo CEP, assinaram o termo de consentimento do projeto intitulado

“Avaliação do desenvolvimento da linguagem da população atendida no

Ambulatório de Fonoaudiologia Especializado em Linguagem”, registrado no

CEP com o número 0572/05, que consta em anexo.

45

CAPÍTULO 8 – Resultados

Neste capítulo serão apresentados os resultados do trabalho, que teve

como objetivo analisar a morfologia e a sintaxe da linguagem de 21 crianças e

adolescentes Autistas de Alto Desempenho, na faixa etária de oito anos a

dezesseis anos e onze meses.

Variáveis Amostra

Idade (anos) 12,8 (2,85)

Sexo (M:F) 20:01

QI Global 93; (10,44)

QI Verbal 95,8; (11,35)

QI Executivo 92; 68 (10,23)

PPVT-R (Peabody) 123,4; 98 (14,78)

Tabela 1 – Dados demográficos

No teste que avaliou o vocabulário receptivo (Peabody Picture

Vocabulary Test – Revised; PPVT-R; Dun e Dun, 1981), os sujeitos

apresentaram resultado na média ou acima da média da população com

desenvolvimento típico, com média do Escore Padrão 123,4 (média do EP da

população com desenvolvimento típico equivale a 100), variando de 98 a 144.

O resultado demonstra que a população não apresentou dificuldade no

vocabulário receptivo, obtendo muitas vezes um resultado muito acima da

média esperada para sua faixa etária.

46

Linguagem Receptiva Linguagem Expressiva

Sub-teste Escore Padrão Sub-teste Escore

Padrão Ordens Orais 10,86 ± 2,42 Relembrar Sentenças 11,79 ± 2,30 Classe de Palavras 11,64 ± 2,92 Ordenar Sentenças 13,86 ± 2,13 Relações Semânticas 10,21 ± 3,76 Formulação de Sentenças 6,71 ± 2,22 Total 105,43 ± 14,26 Total 104,71 ± 10,61

Linguagem Global Total 105,43 ± 10,14Tabela 2 – Resultados do teste CELF-R

No instrumento de avaliação da Estrutura e da Semântica da Linguagem

Oral, o CELF-R, cujos resultados foram objeto de análise no estudo, os sujeitos

apresentaram média do Escore Padrão (EP) da Linguagem Global 105,43

(média do EP da população com desenvolvimento típico equivale a 100),

variando o EP de 85 a 119, com Desvio Padrão (DP) de 10,14, demonstrando

que todos os sujeitos obtiveram resultados na média ou acima da média da

população com o desenvolvimento típico.

Na avaliação da Linguagem Receptiva, os sujeitos apresentaram média

do EP equivalente a 105,43 (média do EP da população com desenvolvimento

típico equivale a 100), sendo o EP mínimo 76 e o máximo 128, com DP

equivalente a 14,26. Nesta parte do teste, composta por 3 subtestes cujos

resultados serão descritos a seguir, dois sujeitos apresentaram resultados

inadequados, com EP equivalentes a 76 e 83, demonstrando dificuldades em

compreender habilidades envolvidas na semântica e na estrutura mais

complexa da linguagem oral. Ambos os sujeitos apresentaram dificuldades,

evidenciadas pelo EP abaixo da média, no subteste Relações Semânticas e um

deles também apresentou esta dificuldade no subteste Classe de Palavras

(estes déficits serão detalhados na descrição específica dos resultados de cada

47

subteste). Porém, como ambos apresentaram QI Global, EP do Vocabulário

Receptivo e EP Global da Linguagem Oral adequados, cumprindo os critérios

de inclusão, não foram excluídos da amostra estudada.

No subteste da Linguagem Receptiva, Ordens Orais, os sujeitos

apresentaram média do EP equivalente a 10,86 (média do EP da população

com desenvolvimento típico equivale a 10), variando o EP de 4 a 15, com DP

equivalente a 2,42. Quatro (19%) sujeitos obtiveram EP abaixo da média da

população com desenvolvimento típico, evidenciando dificuldades em

interpretar, relembrar e executar ordens verbais. Estes sujeitos erraram, no

total, 25 itens do subteste, sendo 40% (n=10) relacionados à Orientação Direita

e Esquerda, 36% (n=9) à Orientação em Série e 24% (n=6) à Orientação com

três ordens de extensão.

No subteste da Linguagem Receptiva, Classe de Palavras, os sujeitos

apresentaram média do EP equivalente a 11,64 (média do EP da população

com desenvolvimento típico equivale a 10), variando o EP de 5 a 15, com DP

equivalente a 2,92. Um (4,8%) sujeito obteve EP abaixo da média da

população com desenvolvimento típico, evidenciando dificuldades em perceber

e compreender as relações associativas entre conceitos de palavras. Este

sujeito apresentou 12 falhas, sendo 41,7% (n=5) delas relacionadas à Classe

Semântica, 33,3% (n=4) aos Antônimos, 25% (n=3) à Relações Espaciais e

nenhuma falha relacionada à Relações Temporais.

No subteste da Linguagem Receptiva, Relações Semânticas, os sujeitos

apresentaram média do EP equivalente a 10,21 (média do EP da população

com desenvolvimento típico também equivale a 10), variando o EP de 4 a 16,

com DP equivalente a 3,76. Três (14,3%) obtiveram EP abaixo da média da

48

população com desenvolvimento típico, evidenciando dificuldades em

interpretar relações semânticas entre sentenças. Esses sujeitos erraram,

somando-se suas falhas, 48 itens do subteste, sendo 35,4% (n=17)

relacionados à Relações Passivas, 27,1% (n=13) à Relações Temporais,

20,8% (n=10) à Relações Espaciais e 16,7% (n=8) à Relações Comparativas.

Na avaliação da Linguagem Expressiva, os sujeitos apresentaram média

do EP equivalente a 104,71 (média do EP da população com desenvolvimento

típico equivale a 100), sendo o EP mínimo 72 e o máximo 124, com DP

equivalente a 10,61. Nesta parte do teste, composta por 3 subtestes cujos

resultados serão também detalhados a seguir, um (4,8%) dos sujeitos

apresentou resultado inadequado, com EP equivalente a 72, demonstrando

dificuldades em utilizar as habilidades envolvidas na expressão da linguagem

oral. O sujeito apresentou dificuldades, evidenciadas pelo EP abaixo da média,

nos subtestes Formulação de Sentenças e Relembrar Sentenças (estes déficits

serão detalhados na descrição específica dos resultados de cada subteste). No

entanto, como este sujeito também apresentou QI Global, EP do Vocabulário

Receptivo e EP Global da Linguagem Oral adequados, cumprindo os critérios

de inclusão, não foi excluído da amostra estudada.

No subteste da Linguagem Expressiva, Relembrar Sentenças, os

sujeitos apresentaram média do EP equivalente a 11,79 (média do EP da

população com desenvolvimento típico equivale a 10), variando o EP de 5 a 16,

com DP equivalente a 2,30. Um (4,8%) sujeito obteve EP abaixo da média da

população com desenvolvimento típico, evidenciando dificuldades em

relembrar e reproduzir a estrutura das sentenças. Este sujeito apresentou 10

falhas, sendo 30% (n=3) delas relacionadas às Sentenças Ativas com Oração

49

Coordenada, 30% (n=3) à Sentenças Ativas com Oração Relativa, 10% (n=1) à

Sentenças Ativas com Adjetivo, 10% (n=1) à Sentenças Ativas com Oração

Subordinada, 10% (n=1) à Sentenças Passivas com Oração Coordenada, 10%

(n=1) à Sentenças Passivas com Oração Subordinada e nenhuma (n=0) falha

relacionada à Sentenças Ativas, Passivas, Passivas com Oração Negativa,

Interrogativas, Interrogativas com Oração Negativa e Interrogativas com

Oração Passiva.

No subteste da Linguagem Expressiva, Ordenar Sentenças, os sujeitos

apresentaram média do EP equivalente a 13,86 (média do EP da população

com desenvolvimento típico equivale a 10), variando o EP de 8 a 16, com DP

equivalente a 2,13. Nenhum dos sujeitos obteve EP abaixo da média da

população com desenvolvimento típico, não evidenciando dificuldades em

reunir palavras na seqüência adequada, para formar sentenças gramatical e

semanticamente adequadas.

No subteste da Linguagem Expressiva, Formulação de Sentenças, os

sujeitos apresentaram média do EP equivalente a 6,71 (média do EP da

população com desenvolvimento típico equivale a 10), variando o EP de 3 a 11,

com DP equivalente a 2,22. Dez (47,6%) sujeitos obtiveram EP abaixo da

média da população com desenvolvimento típico, evidenciando dificuldades em

formular sentenças compostas e complexas, com palavras-alvo de diferentes

categorias gramaticais. Estas falhas foram mais acentuadas na formulação de

sentenças que tinham como palavras-alvo: antes, depois, mas, ou, e/porque,

qualquer/até, e/mas, antes/se, sempre que/até, depois/a menos que.

50

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

analfabeta fundamental incompleto

fundamental completo

médio incompleto

médio completo

superior incompleto

superior completo

Perc

entu

al d

a A

mos

tra

Escolaridade Materna

Nível de Escolaridade Materna da Amostra em Estudo

Gráfico 1 – Proporção da Escolaridade Materna

O nível de escolaridade materna também foi analisado e obteve-se que

38% (n=8) das mães dos sujeitos incluídos na amostra tinham formação

acadêmica superior, sendo que 5 dessas já haviam concluído a graduação,

enquanto 3 ainda cursavam a faculdade. Dos 62% (n=13) que não tinham

freqüentado o ensino superior, 11 tinham concluído o ensino médio, 1 tinha

concluído o ensino fundamental, enquanto outra tinha como escolaridade o

ensino fundamental incompleto.

Utilizando o teste ANOVA, compararam-se os resultados do subteste

Formulação de Sentenças e o grau de escolaridade materna. Os dados obtidos

demonstraram não haver, nesta população, uma relação estatisticamente

significativa entre estas duas variáveis.

51

Escolaridade Materna X EP - Formulação de Sentenças

0

2

4

6

8

10

12

0 1 2 3 4 5

Escolaridade Materna

EP-F

orm

ulaç

ão d

e Se

nten

ças

6

p=0,74

Gráfico 2 - Desempenho no subteste Formulação de Sentenças (escore padrão) em função da

Escolaridade Materna. A reta tracejada é a reta de regressão e que segundo o valor encontrado de p=0,74 indica não haver correlação significativa entre as variáveis.

A partir da acentuada diferença observada entre o resultado do subteste

Formulação de Sentenças e os resultados dos demais subtestes do CELF-R,

fez-se necessária uma análise detalhada dos resultados deste subteste.

Cada subitem foi classificado de acordo com a categoria gramatical de

sua palavra-alvo e, posteriormente , todos foram agrupados em seis categorias,

sendo elas, Substantivo, Verbo, Adjetivo, Pronome Indefinido, Conjunções

Subordinadas e Conjunções Coordenadas.

Vale ressaltar que um dos sujeitos (4,8%) apresentou um perfil de

resultados diferenciado no subteste Formulação de Sentenças, não

conseguindo formular 85% das sentenças solicitadas, apesar de ter alcançado

escores máximos em todos os outros subtestes do CELF-R. O adolescente

obteve pontuação mínima em cada palavra-alvo nas categorias Adjetivo,

Pronome Indefinido, Conjunções Subordinadas e Conjunções Coordenadas. O

mesmo apresentou pontuação diferente de zero apenas nas sentenças com

52

palavra-alvo das categorias Substantivo e Verbo, sendo essas, sentenças com

estrutura mais simples tanto semântica quanto gramaticalmente.

Percentual de Falhas na Formulação de Sentenças

0,010,020,030,040,050,060,070,0

substantantivo verbo adjetivo pronome subordinada coordenada

Categoria da Palavra-Alvo

%

Gráfico 3 – Percentual de Falhas no subteste Formulação de Sentenças de acordo com a

categoria da palavra-alvo

Na categoria Substantivo, nenhum (0%) dos 21 sujeitos apresentou

falhas na formulação de sentenças.

Apenas 9,5% (n=2) dos sujeitos apresentaram dificuldades em formular

sentenças utilizando a palavra-alvo da categoria gramatical Verbo. Um (4,8%)

sujeito apresentou falha semântica, produzindo uma sentença sem significado,

enquanto outro (4,8%) apresentou falha sintática, não utilizando o objeto

indireto para o verbo transitivo direto e indireto.

23,8% (n=5) dos sujeitos não conseguiram formular adequadamente a

sentença que utilizava a palavra-alvo da categoria Adjetivo. Um (4,8%) sujeito

não conseguiu formular a sentença, um (4,8%) sujeito apresentou falha

sintática e semântica e três (14,3%) formularam as sentenças utilizando a

palavra-alvo inadequada.

21,4% (n=9) das frases com as palavras-alvo da categoria Pronome

Indefinido foram formuladas inadequadamente. Na palavra-alvo “nenhum”,

53

28,6% (n=6) apresentaram falhas, enquanto que apenas 14,3% (n=3) dos

sujeitos apresentaram falhas com a palavra-alvo “cada um”. No total, seis

(66,7%) das falhas cometidas foram sintáticas e apenas uma (11,1%) foi tanto

sintática quanto semântica, além das falhas em função do sujeito que não

conseguiu formular as sentenças (22,2%).

A categoria Conjunções Subordinadas é composta por onze palavras-

alvo diferentes. No total das palavras-alvo da categoria, 45,5% (n=105) das

sentenças foram formuladas com falhas. As únicas palavras-alvo desta

categoria que apresentaram menos de 33% de falhas foram “Quando” e

“Porque” e ambas merecerão destaque na discussão que será feita no próximo

capítulo. Ao mesmo tempo, nenhuma das palavras-alvo utilizadas

individualmente apresentou mais de 50% de falhas na formulação das

sentenças, variando de 19% (n=4) a 47,6% (n=10) de falhas. No entanto,

quando a mesma sentença deveria conter duas palavras-alvo, o percentual de

falhas aumentou consideravelmente, variando de 52,4% (n=11) a 66,7%

(n=14). Do total de falhas cometidas na categoria Conjunções Subordinadas,

41,3% (n=44) foram falhas apenas sintáticas, 19,3% (n=20) falhas apenas

semânticas, 20,2% (n=21) falhas ao mesmo tempo sintáticas e semânticas,

13,7% (n=14) falhas por não conseguirem formular a sentença e 5,5% (n=6)

falhas por não utilizarem a palavra-alvo correta.

A categoria Conjunções Coordenadas é composta por cinco palavras-

alvo diferentes. No total das palavras-alvo da categoria, 60% (n=63) das

sentenças foram formuladas com falhas. Nenhuma das palavras-alvo desta

categoria apresentou menos de 33% de falhas. Ao mesmo tempo, duas das

três palavras-alvo utilizadas individualmente apresentou mais de 50% de falhas

54

na formulação das sentenças, variando de 38,1% (n=8) a 57,1% (n=12) de

falhas. No entanto, quando a mesma sentença deveria conter duas palavras-

alvo, o percentual de falhas aumentou consideravelmente, variando de 66,7%

(n=14) a 85,7% (n=18). Do total de falhas cometidas na categoria Conjunções

Coordenadas, 58,5% (n=36) foram falhas apenas sintáticas, 10,8% (n=7) falhas

apenas semânticas, 13,8% (n=9) falhas ao mesmo sintáticas e semânticas,

9,2% (n=6) falhas por não conseguirem formular a sentença e 7,7% (n=5)

falhas por não utilizarem a palavra-alvo correta.

Substantivo Verbo Adjetivo Pronome Conjunção Subordinada

Conjunção Coordenada

Sem Falhas 100% 90% 76% 79% 53% 38% Falha Sintática 0% 5% 0% 14% 19% 36%

Falha Semântica 0% 5% 0% 0% 9% 7% Falha Sintática e Semântica 0% 0% 5% 2% 10% 9%

Não Respondeu 0% 0% 5% 5% 6% 6% Não Usou Palavra-alvo 0% 0% 14% 0% 3% 5%

Tabela 3 – Tipos de Falhas de acordo com a Categoria da Palavra-alvo

55

CAPÍTULO 9 – Discussão

Pesquisas sobre as alterações pragmáticas na linguagem de indivíduos

Autistas de Alto Desempenho são amplamente realizadas e divulgadas na

comunidade científica internacional (Gold et al., 2010; Groen et al., 2010; Rapin

e Dunn, 2003). No entanto, estudos que enfoquem a aquisição morfológica e

sintática desses sujeitos ainda são bastante escassos e seus resultados muito

divergentes (Eigsti e Bennetto, 2009; Norbury et al., 2010; Weismer et al.,

2010).

A quantidade de estudos sobre este tema é ainda muito menor no Brasil

(Miilher e Fernandes, 2009). Frente à escassez de resultados, tem-se pouca

informação acerca das particularidades desta população, especialmente no que

diz respeito aos dados demográficos destes sujeitos e ao desenvolvimento da

estrutura da linguagem, que provavelmente difere dos estudos internacionais

em função das diferenças entre os idiomas.

A escolaridade materna foi analisada na população deste estudo,

formada por 21 sujeitos com o diagnóstico de Autismo de Alto Desempenho,

com desenvolvimento cognitivo e aquisição lexical adequados. Chamou a

atenção o fato de as mães dos sujeitos estudados terem, de uma maneira

geral, um nível alto de escolaridade, mesmo sendo esses sujeitos originários

de um hospital público federal. Neste estudo, apenas um sujeito (4,8%) tinha a

mãe com ensino fundamental incompleto, o que mostra que os sujeitos

incluídos nesta pesquisa provavelmente apresentaram ambiente sociocultural e

estímulos pedagógicos favoráveis ao bom desenvolvimento de sua linguagem

oral.

56

Os sujeitos também foram submetidos à avaliação do vocabulário

receptivo (PPVT-R) e não apresentaram déficits nesta habilidade,

demonstrando não ter dificuldade para compreender as palavras ditas por

outras pessoas (Wiig e Semel, 1980). Norbury et al. (2010) explicam a

facilidade que os sujeitos com Transtornos do Espectro Autista apresentam em

testes como o PPVT-R, ao relatarem que as crianças com Transtornos do

Espectro Autista parecem priorizar o som das palavras (fonologia) ao invés do

significado social e semântico das mesmas em testes que avaliam o léxico.

Esta estratégia provavelmente explica o bom desempenho desses sujeitos em

testes de vocabulário receptivo, onde é exigido um simples mapeamento da

forma fonológica e a associação à uma figura e onde as demandas sociais e

semânticas são mínimas.

A avaliação CELF-R foi aplicada em todos os sujeitos incluídos na

pesquisa, com o objetivo de identificar os possíveis déficits morfológicos e/ou

sintáticos desta população. Todos os sujeitos avaliados apresentaram

resultado adequado no desenvolvimento da Linguagem Global, obtido através

do Escore Padrão (EP) da Linguagem Global, o que mostra que esses sujeitos

não apresentam alterações identificáveis se considerarmos o resultado do

escore padrão global da linguagem. No entanto, ao observarmos os resultados

no Escore Padrão de cada subteste da Linguagem Receptiva e da Linguagem

Expressiva, que nos possibilita uma análise mais detalhada das habilidades

avaliadas, alguns sujeitos apresentaram alterações (9,6% e 4,8%,

respectivamente).

De todos os subtestes do teste CELF-R aplicados apenas o subteste

Formulação de Sentenças apresentou resultado inadequado em grande parte

57

da população deste estudo (47,6%). Além disso, este foi o único subteste a

apresentar média de escore padrão (6,71) abaixo da média esperada (10) para

a população de mesma faixa etária, mas com desenvolvimento típico. Todos os

outros subtestes apresentaram média de seu escore padrão similar ou até

mesmo acima da média esperada. Se compararmos os resultados do subteste

Formulação de Sentenças com os outros dois subtestes da Linguagem

Expressiva, fica claro que a dificuldade não está na expressão da linguagem

oral e sim nas habilidades envolvidas no subteste cujos resultados

apresentaram distúrbio.

Norbury et al. (2010) explicam a possível justificativa para os resultados

mais baixos em testes como o subteste Formulação de Sentenças ao

afirmarem que, em seu estudo as crianças com Transtorno do Espectro Autista

obtiveram escores mais baixos em um teste que exigia definições verbais. Isso

porque as definições exigem melhor compreensão da variedade de

características semânticas associadas à uma dada palavra e a habilidade de

selecionar as características mais relevantes para passar para outra pessoa,

exigindo conhecimento social e semântico. Assim, para esses sujeitos seria

mais fácil a repetição de frases ou a ordenação de palavras já existentes do

que a formulação própria de sentenças, com diversas possibilidades

semânticas.

Wiig e Semel (1980) afirmam que a memória verbal é utilizada na

construção de produção da linguagem. No entanto, as autoras também falam

da diferença entre a formulação de sentenças orais e a repetição das mesmas,

ao relatarem que a produção da linguagem não depende apenas da memória,

58

sendo também influenciada pelas experiências passadas do sujeito, seus

sentimentos no momento e o ambiente comunicativo.

A partir do resultado discrepante entre a média do escore padrão do

subteste Formulação de Sentenças e os outros subtestes, verificou-se a

possibilidade de existir uma correlação entre o resultado neste subteste e o

grau de escolaridade materna. O interesse na correlação entre essas duas

variáveis surgiu baseado no fato de que o ambiente sociocultural a que o

sujeito está exposto quando criança teria influência no desenvolvimento de sua

linguagem oral. No entanto, após a realização da comparação dessas variáveis

através do teste ANOVA, verificou-se que, na população estudada, não houve

correlação estatisticamente significativa entre o grau de escolaridade materna e

a capacidade em formular sentenças. Essa falta de correlação entre um

importante indicador do ambiente a que o sujeito foi submetido e sua habilidade

em produzir sentenças orais reforça a suposição de que essa dificuldade em

formular sentenças semânticas e gramaticalmente corretas tem relação com o

diagnóstico de Autismo de Alto Desempenho e não com o ambiente ao qual o

sujeito foi exposto. Caso o ambiente lingüístico não fosse adequado, seria

esperado que essas dificuldades seria mais acentuadas.

Frente à isto, optou-se por aprofundar este estudo apenas nos

resultados obtidos no subteste Formulação de Sentenças por ter apresentado

resultado muito discrepante em relação aos resultados dos demais subtestes

subtestes.

A primeira análise feita especificamente com o subteste Formulação de

Sentenças foi realizada através da classificação de cada palavra-alvo utilizada

na produção de cada sentença. Com isso, todas as frases produzidas foram

59

agrupadas em seis diferentes categorias que se assemelhavam no que diz

respeito às características gramaticais da palavra-alvo, bem como sua

complexidade e relevância dentro da sentença.

Em seguida, cada falha observada em cada sentença foi analisada em

relação ao seu tipo, podendo ser uma falha sintática, semântica, ao mesmo

tempo sintática e semântica. Estas falhas também poderiam ocorrer por não ter

utilizada a palavra-alvo solicitada ou por não ter conseguido formular a

sentença semântica e/ou gramaticalmente corretas.

Substantivos e verbos são as primeiras categorias gramaticais

adquiridas pelas crianças com desenvolvimento típico, ainda na primeira

infância. Wiig e Semel (1980) relatam que tanto a complexidade semântica de

uma palavra quanto a complexidade gramatical determinam a ordem de

aquisição da mesma. As autoras também afirmam que muitas crianças com

distúrbio de linguagem preferem utilizar em suas sentenças palavras como

substantivos, verbos e adjetivos. São as palavras que transmitem o significado

em uma frase, algumas tem significado mesmo isoladas (Bloom, in apud

Menezes, 2003).

Um dos sujeitos avaliados apresentou um padrão de respostas que se

destacou dos outros Autistas de Alto Desempenho, pois o mesmo só conseguiu

formular frases utilizando as palavras de categoria gramatical mais simples e

que por si só transmitem significado em uma frase. Este adolescente, no

entanto, obteve escores máximos nos outros subtestes, o que demonstra que

sua dificuldade encontra-se especificamente nas habilidades envolvidas na

produção oral de sentenças, apesar de apresentar inteligência muito acima da

média esperada para sua faixa etária.

60

O primeiro resultado obtido mostra que nenhum sujeito teve dificuldade

em formular sentenças com a palavra-alvo categorizada como substantivo e

que apenas dois sujeitos (9,6%) apresentaram dificuldades em sentenças com

a palavra-alvo categorizada como verbo.

Essa baixa prevalência de falhas em ambos os tipos de sentenças é

justificada pela baixa complexidade das categorias gramaticais e semânticas

(conteúdo) de suas palavras-alvo.

Os dois sujeitos que apresentaram falha na formulação de sentenças

com a palavra-alvo da categoria verbo variaram no tipo de falha cometida. Um

deles formulou uma sentença adequada do ponto de vista sintático, porém com

falha semântica, fazendo uma frase sem significado usual (“Quando a mãe

abriu a janela, deu um ar para esfriar a comida que estava quente”). Já o outro

sujeito formulou uma sentença com alteração especificamente gramatical,

fazendo uso de um verbo direto e indireto, porém sem o uso do objeto indireto.

A falha gramatical apresentada por este sujeito provavelmente poderia ser

explicada por uma característica relatada por Klin (2006) e presente nos

Transtornos do Espectro Autista, que diz respeito à dificuldade desses sujeitos

em focar sua atenção no outro, prevalecendo o enfoque sobre o objeto, e que

teria relação com sua dificuldade de interação social.

Cinco sujeitos apresentaram dificuldades em formular sentenças com a

palavra-alvo da categoria adjetivo, incluindo o sujeito que não conseguiu

formular a maioria das sentenças e que já foi descrito anteriormente. Dentre os

outros quatro sujeitos, apenas um apresentou falha na formulação da sentença,

sendo esta falha ao mesmo tempo sintática e semântica (“a menina levantei a

bola no alto que cobriria a mão”). Os outros três sujeitos formularam uma

61

sentença adequada sintática e semanticamente, porém substituindo o gênero

da palavra-alvo (alto por alta). Segundo Wiig e Semel (1980), os sujeitos com

distúrbio de linguagem apresentam dificuldades com os sufixos e prefixos das

palavras, onde a diferenciação que deveria existir com a utilização dos mesmos

não tem sua relevância reconhecida por essas crianças, o que poderia ter

relação com essas três falhas similares apresentadas pelos sujeitos deste

estudo.

Na categoria Pronome Indefinido os sujeitos deveriam formular duas

sentenças, cada uma com uma palavra diferente (nenhum ou cada um). No

total de sentenças formuladas nesta categoria, 21,4% continham falhas em sua

construção, sendo 66,7% das falhas do tipo sintático e 11,1% do tipo sintático e

semântico concomitantemente (o restante das falhas ocorreu em função do

sujeito que não conseguiu formular ambas as sentenças desta categoria). Em

sua maioria, as falhas ocorreram em função da dificuldade em utilizar os

pronomes indefinidos com seus complementos.

Os sujeitos apresentaram maior dificuldade em formular as sentenças

com a palavra-alvo nenhum, com 28,6% de falhas, enquanto que as sentenças

com a palavra-alvo cada um foram formuladas com 14,3% de falhas. A

diferença de porcentagem de falhas no uso dos dois pronomes pode ter

ocorrido em função da maior complexidade gramatical no uso do pronome

nenhum, uma vez que cada um pode ser, e de fato foi, utilizado diretamente

como o sujeito da frase, como em “cada um está escolhendo seu lanche”. Já o

pronome nenhum deveria ser utilizado com um acompanhamento para que

fizesse sentido e também em uma sentença negativa, o que aumenta a

complexidade gramatical e a consequente dificuldade em formular sentenças

62

com essa palavra-alvo. Eigsti et al. (2007) mostram em seu estudo que as

crianças no grupo com Transtornos do Espectro Autista, mesmo sendo

pareadas no QI não-verbal e na aquisição lexical, produziram sentenças

sintaticamente menos complexas do que as crianças no grupo com

desenvolvimento típico, o que corrobora a ideia deste estudo de que quanto

mais complexa a palavra-alvo é, maior a dificuldade desses sujeitos em

formular uma sentença utilizando-a.

Em alguns casos de frases formuladas com falhas com o pronome

nenhum, as falhas ocorreram em função do uso inadequado do pronome,

utilizando-o com o sentido de ninguém, como no caso da sentença “nenhum

escolheu o sapato”. A dificuldade apresentada especificamente por estes

sujeitos parece ter maior relação com a semântica do pronome nenhum do

que com sua complexidade sintática, demonstrando que a aquisição de

conceitos também parece influenciar nas alterações gramaticais apresentadas

pela população. De fato, Eigsti et al. (2007) também explicitam a possibilidade

de que algumas dificuldades gramaticais apresentadas pela população com

Transtornos do Espectro Autista ocorrem em função da dificuldade em formular

conceitos mais complexos ao proporem que “as crianças na amostra pensam

sobre um conjunto mais simplificado/limitado de conceitos e, portanto, sua

linguagem pode ser gramaticalmente mais simples por causa dessas limitações

conceituais”.

Os sujeitos desta população apresentaram dificuldades mais marcantes

nas sentenças com palavras-alvo das categorias Conjunções Subordinadas e

Conjunções Coordenadas. Estas são palavras que estabelecem a união para

63

manter a estrutura da sentença junta, e seu significado depende da relação

entre as palavras que elas estão conectando (Bloom apud Menezes, 2003).

Os sujeitos apresentaram 45,5% de falhas nas sentenças com palavras-

alvo da categoria Conjunções Subordinadas. Das onze sentenças formuladas

com palavras-alvo dentro desta categoria, apenas Quando e Porque

obtiveram menos de 33% das sentenças formuladas com falhas (23,8% e 19%,

respectivamente). A maior facilidade em formular sentenças com estas duas

palavras pode ser explicada pelo fato de que ambas as conjunções, no

português, também podem ser utilizadas como um Pronome Interrogativo e, de

fato, foram utilizadas com esta função interrogativa em muitas das sentenças.

Com isso, os sujeitos poderiam formular orações subordinadas ou então

sentenças interrogativas, sendo que esta última apresenta uma construção

gramatical bem menos complexa, facilitando a produção de sentenças corretas.

Bloom (1991) afirma que os conectivos adquiridos inicialmente são aqueles que

também tinham funções não conectivas, como e, então e porque. A mesma

autora declara que Quando é o primeiro pronome interrogativo a aparecer na

aquisição de sentenças complexas e funcionar como conjunção nas relações

temporais ao invés da forma pronominal. Sendo assim, pode-se imaginar que

ambas as palavras-alvo citadas acima foram aprendidas inicialmente pelos

sujeitos como pronomes interrogativos, para só em seguida serem utilizados

como conjunções subordinadas, ligando duas orações. Dessa forma, a

formulação de sentenças com essas duas palavras-alvo utilizadas como

Pronome Interrogativo seria, sem dúvida, gramaticalmente mais simples do que

as outras palavras-alvo da categoria, que só poderiam ser utilizadas como

64

conjunções subordinadas, exigindo a produção de sentenças gramaticalmente

mais complexas.

Loukusa et al. (2007) descrevem que estes sujeito apresentam, quando

sua língua materna é inglesa, dificuldades relacionadas as denominadas wh-

questions. No entanto, assim como na população estudada, os sujeitos

acompanhados por Loukusa também obtiveram melhor desempenho em

sentenças com Quando e Porque, demonstrando que essas palavras são

aprendidas por um processo de lexicalização, onde o uso constante e repetitivo

favorece o aprendizado.

As nove sentenças restantes com palavras-alvo desta categoria se

dividiam em respostas com dois padrões diferentes. Quatro delas deveriam ser

formuladas com apenas uma palavra-alvo (Antes, Depois, Se, Mesmo que),

enquanto que as outras cinco sentenças deveriam ser formuladas com duas

palavras-alvo concomitantemente (Qualquer/Até, E/Porque, Antes/Se,

Sempre que/Até, Depois/A menos que).

No primeiro grupo de sentenças, os sujeitos apresentaram menos

dificuldade ao utilizarem as palavras-alvo Se e Mesmo que (33,3% e 38,1%,

respectivamente), ainda assim apresentando mais falhas do que ao utilizarem

as palavras-alvo de outras categorias. Em ambas as palavras-alvo, a maioria

das falhas cometidas foi categorizada como falha sintática ou sintática e

semântica, além de dois sujeitos que não conseguiram formular as sentenças

com nenhuma dessas palavras. Os sujeitos que formularam as sentenças com

falhas apresentaram dificuldades em utilizar o tempo verbal correto exigido pela

conjunção (por exemplo, “mesmo que o menino viu o colega dele, resolveram

não conversar” ou “se acabou a aula, eles sairão da escola”) ou formularam

65

apenas uma das sentenças, deixando de realizar a subordinação necessária

(por exemplo, “se eu perder o ônibus”). Estas falhas representam claramente a

dificuldade apresentada por boa parte desta população na formulação das

sentenças com conjunções. Eigsti e Benneto (2009) também observaram a

dificuldade morfológica e sintática de sujeitos com Autismo de Alto

Desempenho. Estas autoras afirmaram que a fala espontânea de crianças com

Transtornos do Espectro Autista é marcada por uma limitação das formas

morfológicas e sintáticas (preposições, conjunções, artigos, inflexões verbais e

auxiliares) e uma sintaxe menos complexa (incluindo orações coordenadas e

subordinadas) em relação aos indivíduos com desenvolvimento típico.

Ainda no grupo de sentenças formuladas apenas com uma palavra-alvo,

os sujeitos deveriam utilizar as conjunções Antes e Depois. As sentenças com

essas palavras foram formuladas com maior porcentagem de falhas (42,9% e

47,6%, respectivamente) do que as sentenças descritas até aqui. O maior

número de falhas nestas sentenças se deve a dois fatores: às falhas em função

da complexidade gramatical e as falhas semânticas. Ambas as palavras-alvo

poderiam ser utilizadas como conjunção subordinada temporal ou como

advérbio de tempo ou lugar, mas sempre se referindo a outra sentença (por

exemplo, “antes de fazer as compras, a moça pegou o carrinho”) ou

complemento (“a menina chegou depois dos dois meninos”). No entanto, os

sujeitos apresentaram muita dificuldade em realizar esta associação,

produzindo sentenças incompletas e, consequentemente sem sentido (por

exemplo, “antes que acabe o tempo” e “a mulher está depois”). Muitos sujeitos

apresentaram dificuldades semânticas enquanto formulavam frases com essas

duas palavras-alvo, mesmo nas sentenças sintaticamente corretas (por

66

exemplo, “a menina ultrapassou os meninos depois de ganhar a corrida” e “a

mulher comprou a comida, antes que ela pagasse”). A dificuldade semântica

apresentada pelos sujeitos de maneira marcante nas sentenças construídas

com estas palavras-alvo pode ser explicada pela maior subjetividade destas

conjunções, fazendo com que o sujeito compreendesse e empregasse noções

de temporalidade e espacialidade, características menos concretas. Eigsti et al.

(2007) sugerem em seu estudo que falar sobre eventos ou pessoas não-

presentes ou subjetivos irá exigir do sujeito estruturas relativamente mais

complexas e as alterações nesta fala podem ocorrer devido à dificuldades

conceituais mais do que ao conhecimento sintático.

As habilidades referentes às Relações Temporais e Espaciais surgiram

como dificuldades apresentadas por diversos sujeitos em diferentes subtestes,

demonstrando que os conceitos abstratos de temporalidade e espacialidade

representam uma área a ser melhor pesquisada em Autistas de Alto

Desempenho.

Os sujeitos apresentaram muita dificuldade em formular as sentenças

subordinadas com duas palavras-alvo, com mais de 50% de falhas em todas

elas (entre 52,4% e 66,7% de sentenças erradas). A maior parte das falhas

nestas sentenças foi apenas sintática (por exemplo, “depois pega o ônibus, a

menos que se atrase”) ou ao mesmo tempo sintática e semântica (“por que

sempre que tem tanto barulho aqui até acabar”). Nessas sentenças a

complexidade gramatical foi ainda maior em função da exigência do uso de

duas palavras-alvo, aumentando consequentemente também a complexidade

semântica. Segundo Eigsti et al. (2007), as crianças aprendem itens com

significado semântico mais simples antes de aprenderem aqueles de maior

67

complexidade e, portanto, são mais propensas a produzirem os menos

complexos.

Os sujeitos apresentaram dificuldades marcantes ao formularem

sentenças com palavras-alvo da categoria Conjunções Coordenadas, com 60%

de falhas no total das frases produzidas. Das 5 sentenças produzidas por cada

sujeito nesta categoria, apenas a conjunção E foi utilizada com menos de 50%

de falhas, apresentando um total de 38,1% de falhas (ainda assim, uma

porcentagem maior que muitas palavras-alvo). Bloom e Lahey (1991) afirmam

que o primeiro conectivo sintático que as crianças aprendem, e, é também o

mais geral, o que explicaria a menor dificuldade destes sujeitos em utilizar este

conectivo nas sentenças coordenadas.

Mais da metade das sentenças formuladas com as palavras-alvo Mas ou

Ou apresentaram falhas (52,4% e 57,1%, respectivamente). A grande maioria

das falhas cometidas com estas palavras-alvo foi em decorrência de falhas

sintáticas apenas. Os sujeitos apresentaram dificuldades em formular ambas

as sentenças exigidas para que ocorresse uma relação de coordenação

através da conjunção solicitada. Com isso, produziam sentenças incompletas,

onde apenas a oração coordenada aparecia, omitindo toda a oração principal

(por exemplo, “mas os outros estão correndo” e “ou o repolho ou a batata”).

Outra falha sintática muito comum nas sentenças produzidas com estas

palavras-alvo foi a omissão do sujeito da frase ou de outras Palavras de

Conteúdo, como por exemplo, na frase “ou comprava melão ou comprava

alface”. Wiig e Semel (1980) afirmaram que em seu estudo com crianças com

dificuldades de linguagem, a característica mais marcante foi a freqüência com

que os sujeitos, objetos e verbos foram omitidos.

68

Nas sentenças que deveriam ser formuladas com duas palavras-alvo, o

padrão de falhas sintáticas se manteve, mas, os sujeitos também apresentaram

muitas falhas sintáticas e semânticas concomitantemente. Esse aumento

marcante na porcentagem de falhas em frases com duas palavras-alvo (87,5%

de falhas) mostra claramente a dificuldade em formular sentenças muito

complexas, tanto no que diz respeito à construção gramatical, quanto ao

conteúdo semântico explicitado através da mesma. Wiig e Semel (1980)

afirmam que as crianças com distúrbios de linguagem, incluindo os sujeitos

com Transtornos do Espectro Autista, apresentam dificuldades em processar e

formular sentenças muito longas ou complexas e que partes dessas sentenças

podem se perder durante o processo de compreensão ou expressão da

mesma.

A população deste estudo apresentou um aumento gradual na

porcentagem de falhas, no subteste que avaliou a formulação de sentenças, de

acordo com a maior complexidade das palavras-alvo utilizadas na formulação

de sentenças. Palavras-alvo mais complexas exigem sentenças com maior

complexidade gramatical e consequentemente conteúdo semântico mais

elaborado. O desenvolvimento das sentenças complexas em crianças típicas

poderia explicar essa diferença no percentual de falhas entre as diferentes

palavras-alvo.

Primeiramente, palavras menos complexas, como substantivos (carro),

verbos (deu) e adjetivos (alto) surgem logo no início do desenvolvimento de

linguagem infantil, fazendo parte constantemente do contexto da criança.

Bloom e Lahey (1991) relatam que o desenvolvimento de sentenças complexas

começa a partir de três anos de idade conforme as crianças adquirem os

69

conectivos sintáticos e aprendem a expressar diferentes significados de

relações entre as orações. Levando-se em consideração a faixa etária média

da população estudada (12,8 anos), fica claro que nesta etapa do

desenvolvimento, a produção oral de sentenças complexas já deveria se

apresentar com menos alterações, especialmente nas palavras-alvo adquiridas

primeiramente.

A complexidade da palavra-alvo existente em sentenças coordenadas e

subordinadas também pode explicar o aumento observado no percentual de

falhas. Bloom e Lahey (1991) explicam como se dá o desenvolvimento típico

das sentenças complexas, mostrando o claro aumento de sua complexidade ao

utilizarem os conectivos: “no desenvolvimento das sentenças complexas as

crianças primeiramente justapõem duas sentenças simples sem um conectivo,

então juntam duas orações com o conectivo geral e, e então unem duas

orações com diferentes significados semânticos”.

Outro fator que influencia no maior número de falhas nas sentenças com

palavras-alvo mais complexas é a subjetividade que envolve o conceito dessas

palavras. Dessa forma, é mais fácil formular uma sentença utilizando a palavra-

alvo Carro, que por ser um substantivo tem um significado por si só, do que a

palavra-alvo Ou, que por ser uma conjunção só apresenta significado dentro de

uma sentença específica e mais complexa. Eigsti et al. (2007) também

apresentam a subjetividade da palavra como um fator relevante na

complexidade da sentença ao afirmarem que “os déficits sintáticos também

podem ser explicados pelo fato de que as crianças apresentam maior

dificuldade em falar sobre coisas que foram removidas espacial e

temporalmente”. Assim, alterações no desenvolvimento da linguagem podem

70

explicar a maior dificuldade em formular sentenças com palavras-alvo mais

abstratas. Essa dificuldade em formular sentenças com conteúdo abstrato foi

observada nos sujeitos estudados nesta população, pois a maioria das

sentenças produzidas por eles que descreviam as figuras-estímulo utilizadas

como estímulo visual neste subteste. Cabe lembrar que os sujeitos poderiam

formular sentenças com qualquer conteúdo semântico, não sendo necessário

utilizar a figura apresentada. A dificuldade em imaginar e criar algo por conta

própria foi relatada por Klin (2006) em sujeitos com Transtornos do Espectro

Autista e explicaria o fato de que o conteúdo semântico das sentenças

produzidas pelos diferentes sujeitos, de uma maneira geral, se assemelhavam

muito entre si, quase sempre descrevendo a cena apresentada.

Eigsti et al. (2007) corroboram os achados deste estudo, no que diz

respeito aos déficits sintáticos existentes na população Autista de Alto

Desempenho, ao afirmarem que em seu estudo “o achado mais impressionante

foi a clara presença de déficits sintáticos no grupo composto por autistas.

Mesmo tendo sido controlados no que diz respeito ao desenvolvimento lexical e

ao QI não-verbal, as crianças com Autismo produziram linguagem que foi

significantemente menos complexa do que poderia ser esperado para seu nível

de desenvolvimento”.

As autoras também sugerem que as alterações morfológicas e sintáticas

apresentadas por estes sujeitos devem acompanhar as dificuldades

pragmáticas descritas na literatura científica, tornando ainda mais árdua a

comunicação e a interação social.

Este estudo apresentou como desenho metodológico uma pesquisa

transversal, especialmente em decorrência ao curto tempo estipulado numa

71

pós-graduação como o Mestrado, com apenas 1 ano para trabalho de campo.

Uma pesquisa que pudesse comparar os resultados da população com

Autismo de Alto Desempenho com os de uma população com desenvolvimento

típico ou com outra alteração de linguagem, como por exemplo o Déficit

Específico de Linguagem ou a Síndrome de Wiiliams, exigiria maior tempo de

avaliações e análise de resultados, mas certamente poderia trazer resultados

significativos para esta área. Um estudo com acompanhamento dos sujeitos

com Autismo de Alto Desempenho, onde sua linguagem seria avaliada no

período do diagnóstico e reavaliada em outros momentos posteriores, também

traria resultados importantes, mostrando como essa linguagem evolui de

acordo com a idade e o desenvolvimento dos sujeitos.

Outra possibilidade de continuação deste estudo seria comparar os

resultados das avaliações entre os sujeitos, utilizando-se o diagnóstico

diferencial entre Autismo de Alto Desempenho e Síndrome de Asperger, uma

vez que diversos autores creditam esta diferença de diagnósticos às alterações

na estrutura de linguagem presentes apenas no primeiro grupo.

CAPÍTULO 10 – Conclusão

O objetivo deste estudo foi analisar a morfologia e a sintaxe de crianças

e adolescentes com diagnóstico de Autismo de Alto Desempenho, através de

teste padronizado (CELF-R). À partir destes resultados, esperava-se poder

confirmar a hipótese de que estes sujeitos apresentam, além das alterações

pragmáticas já descritas na literatura, falhas também no desenvolvimento da

estrutura de sua linguagem oral.

72

Os resultados obtidos neste trabalho estão em conformidade com

aqueles encontrados nos estudos de Eigsti et al. (2007) e Eigsti e Bennetto

(2009), onde as autoras afirmaram que os sujeitos com Transtornos do

Espectro Autista apresentaram déficits importantes no desenvolvimento da

sintaxe, prejudicando a fluência de sua expressão da linguagem oral.

Na população estudada, os sujeitos não apresentaram dificuldades nos

subtestes que avaliavam a compreensão da linguagem oral (Ordens Orais,

Classe de Palavras e Relações Semânticas), nem nos subtestes que avaliavam

a expressão da linguagem oral através da memória para sentenças (Relembrar

Sentenças) e da ordenação de palavras soltas para produzir uma sentença

correta (Ordenar Sentenças), onde as médias dos escores padrão foram

semelhantes ou acima da média que àquelas encontradas na população com

desenvolvimento típico. No entanto, no subteste da expressão da linguagem

oral Formulação de Sentenças, a população apresentou média dos escores

padrão abaixo do encontrado na população com desenvolvimento típico,

demonstrando uma dificuldade específica nas habilidades avaliadas neste

subteste.

Dentre as sentenças formuladas neste subteste, os sujeitos

apresentaram maior dificuldade em produzir sentenças que utilizasse

conjunções subordinadas ou coordenadas, que são categorias de palavras cujo

significado depende da relação entre as palavras que elas estão conectando.

Estas dificuldades aumentaram de acordo com a complexidade gramatical e

com a maior subjetividade do conceito das palavras-alvo envolvidas. A maior

parte das falhas apresentadas pelos sujeitos era em função de falhas

sintáticas, como omissão de sujeitos ou verbos e principalmente das orações

73

que deveriam se ligar as orações coordenadas ou subordinadas produzidas.

Algumas falhas tanto sintáticas quanto semânticas também foram identificados,

especialmente nas sentenças mais complexas e extensas, como naquelas

onde duas palavras-alvo deveriam ser utilizadas.

A afirmação de que estes sujeitos apresentam QI Global e

desenvolvimento lexical adequados favorecem a ideia de que a inabilidade em

formular sentenças orais adequadas do ponto de vista gramatical tem relação

direta com um distúrbio de linguagem específico dos Transtornos do Espectro

Autista e não com um possível déficit cognitivo ou um distúrbio específico de

compreensão da linguagem oral.

Novos estudos devem ser realizados nesta área, oferecendo a

possibilidade de generalização dos achados em outras populações dentro dos

Transtornos do Espectro Autista e em pesquisas com outras possibilidades de

desenhos metodológicos.

74

CAPÍTULO 11 – Referências Bibliográficas5

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80

Anexo 1

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do Projeto de Pesquisa

“Avaliação do desenvolvimento da linguagem da população atendida no

Ambulatório de Fonoaudiologia Especializado em Linguagem”.

81

82

Anexo 2

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do Projeto de Pesquisa

“Estudo da Morfologia e da Sintaxe da Linguagem de Indivíduos Autistas

de Alto Desempenho”.

83

84

Anexo 3

Questionário para os pais ou responsáveis dos sujeitos

ANAMNESE

Examinador: ______________________ Código: _____ Data da entrevista: ___/____/___ I - Dados de Identificação 1. Nome: _________________________________________________ Pront.:___________ 2. Nasc.: ___/____/___ Idade___ (a;m) Sexo: M (1) F (2) Ordem de Nascimento:____

3. Procedência: BAR (1) BI (2) Alojamento Conjunto (3) Follow-up (4) Pediatria (5)

Neurologia (6) Genética (7) Psicologia / Psiquiatria (8) Externo (8) Outros (9)

4. Etnia: branca (1) parda (2) negra (3)

5. Endereço: ________________________________________________________________

6. Cidade: _________________ UF: ____ CEP:___________ Tel: ________ Cel:__________

7. Gemelar: Sim (1) Não (2) Filho: Biológico (1) Adotado (2)

8. Queixa Principal: Compreensão da fala Trocas na fala Fala ininteligível Não fala

Problemas na interação Dificuldade na leitura Dificuldade na escrita

Problema Auditivo Outros Qual? _____________________________________

9. Quando percebeu que seu filho (a) apresentava esta dificuldade _____________________

___________________________________________________________________________

10. Informante da Anamnese: __________________________________________________

11. Responsável pela criança: __________________________________________________

Pais (1) Mãe (2) Pai (3) Avô(ó) (4) Irmã(o) (5) Tio(a) (6) Outros (7)

11.1 - *Escolaridade do Responsável:

Analfabeto (1) Fundamental 1 (2) Fundamental 2 (3) Ens. Médio Incompleto (4) Ens. Médio

Completo (5) Superior Incompleto (6) Superior Completo (7)

11.2 - Profissão: ____________________ 12.3 - Ocupação: ______________________

12. Mãe: __________________________________________________ Pront.:___________

12.1 - *Escolaridade: Analfabeto (1) Fundamental 1 (2) Fundamental 2 (3) Ens. Médio

Incompleto (4) Ens. Médio Completo (5) Superior Incompleto (6) Superior Completo (7)

12.2 - Profissão: ____________________ 13.3 - Ocupação: _______________________

13. Pai: ____________________________________________________________________

13.1 - *Escolaridade: Analfabeto (1) Fundamental 1 (2) Fundamental 2 (3) Ens. Médio

Incompleto (4) Ens. Médio Completo (5) Superior Incompleto (6) Superior Completo (7)

13.2 - Profissão: _______________________ 14.3 - Ocupação: ____________________

14. Faixa de renda da família: Até 1 salário mínimo (1) De 1 a 3 salários (2) De 4 a 6

salários (3) De 7 a 9 salários (4) Acima de 10 salários (5)

16. Os pais moram juntos? Sim (1) Não (2) Não soube informar (3)

17. Estado civil: Casados(1) União estável(2) Separados(3) Viúva(o)(4) Solteira(o)(5)

18. Quem mora na casa? Pais Mãe Pai Irmãos Avós Tios Primos Outros

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18.1- Quantas pessoas moram na casa? ______________

19. Possui irmãos? Sim (1) Não (2) Não soube informar (0) Quantos? _______

19.1- Prematuros? Sim (1) Não (2) Não soube informar (0)

19.2- Saudáveis? Sim (1) Não (2) Não soube informar (0)

19.4- Nome / idade: _______________________________________________________

_________________________________________________________________________

20. Situação habitacional: Casa própria (1) Casa alugada (2) Aptº próprio (3) Aptº alugado (4)

Outros (5):__________________

20.1- Área de risco: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

20.2- Nº de cômodos: 1 cômodo (1) De 2 a 3 cômodos (2) De 4 a 6 cômodos (3) Mais

de 6 (4)

II - Dados Referentes à Herança Genética:

1 - **Algum membro da família possui (ou possuiu) uma das dificuldades abaixo?

Dificuldade Relação de parentesco Idade

1.1 – Problema de fala ou de linguagem S (1) N (2)

1.2 – Problema auditivo S (1) N (2)

1.3 – Distúrbios de aprendizado S (1) N (2)

1.4 - Problemas neurológicos S (1) N (2)

1.5 - Deficiência mental S (1) N (2)

1.6 - Problemas emocionais S (1) N (2)

1.7 – Síndrome Genética S (1) N (2)

1.8 – Outros: __________ S (1) N (2)

III. Dados Referentes à Gestação: 1 - Número de gestações: ____ 1.1. Tipo de Gestação: Única (1) Múltipla (2)

1.2- Ordem da criança no nº de gestações?_______________

1.3- Abortos? Sim (1) Não (2) Não soube informar (0)

1.4- Espontâneos nº_____ Provocados nº_____

2 - Idade da mãe na concepção: Abaixo de 18 anos (1) Entre 18 e 34 anos (2) Acima de 35

anos (3)

3 - Acompanhamento pré-natal: Não soube informar (0) Sim ( 1 ) Não ( 2 )

3.1- Número de consultas: Não soube informar (0) Até 3 (1) De 3 a 6 (2) De 6 a 9 (3) Mais

de 9 (4)

3.2- Local do Pré-natal: __________________________________________________

3.3- Rede de Assistência: Não soube informar (0) SUS (1) Particular (2)

4 - Trabalhou durante o período de gestação? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

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4.1- Grau de atividade: Não soube informar (0) Leve (1) Moderado (2) Pesado (3)

Tipo de Atividade: ____________________________

5 - Problema de saúde da mãe durante a gestação:

Problema de Saúde Período da gestação (trimestre)

Hipertensão Materna Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Diabetes Gestacional Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Hipoglicemia Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Oligodramnia (perda de Líq.

Amniótico)

Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Pré - Eclampsia Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Eclampsia Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Febre Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Sangramentos Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Medidas Abortivas Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Prob.Emocionais ________________ Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Outros: ________________________ Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

6 - Uso de medicação pela mãe durante a gestação:

Medicamentos Período da gestação (trimestre)

Uso Regular (vitaminas, etc.) Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Controle de Hemorragia/ Impedir

aborto

Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Controle de Hipertensão Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Controle de Infecções (antibióticos) Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

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Controle de Problemas Respiratórios Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

P/ tratamento Psiquiátrico Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

P/ Tratamento Neurológico Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Corticóide/ Surfactante Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º (4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

Outros:________________________ Sim, mas não sabe quando (1) Não (2) 1º (3) 2º ( 4) 3º (5) Toda a

gestação (6)

8 - Foi vacinada contra:

8.1- Hepatite B: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

8.2- Tétano: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

8.3- Rubéola: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

9 - HIV: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

10 – Hospitalização Materna? Não soube informar (0) Sim, mas não sabe quanto tempo (1)

Não (2)

1º Trimestre (3) 2º Trimestre (4) 3º Trimestre (5) Toda a gestação (6)

10.1- Número de dias de hospitalização materna: _______

10.2- Motivo?____________________________________________________________

10.3- Repouso durante gestação? Não soube informar(0) Sim, mas não sabe quando(1)

Não (2)

1º Trimestre (3) 2º trimestre (4) 3º trimestre (5) Toda a gestação (6)

11 - Fez uso drogas?

Cigarro Número de maços/dia: ___________

Álcool Maconha Cocaína Outros: ______________________

IV - Dados Referentes ao Parto e Nascimento: 1 - *Tipo de parto: Normal (1) Cesáreo (2) Outros (3)

1.1- Uso de Fórceps? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

1.2- Local de nascimento: _____________________________________________________

3 - Anestesia: Peridural (1) Raquidiana (2) Locorregional (3) Geral (4) Nenhuma (5)

4 - *Idade gestacional: Até 36+6 semanas (1) Entre 37 e 41+6 semanas (2) A partir de 42

semanas (3)

4.1 –Critério utilizado D.U.M (1) Capurro (2) Ballard (3) Ultrassom (4)

5 – História de Consangüinidade? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

6- Tempo de Bolsa Rota: Não soube informar (0) Horas (1) Dias (2)

7 - Líquido Amniótico: Não soube informar (0) Claro / grumoso (1) Tinto de mecônio (2)

Mecônio espesso (3) Outros: ____________________________

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8 - *Peso ao nascer: Menor de1.000g (1) Entre 1.000g e 1.499g (2)

Entre 1.500g e 2.499g (3) Acima de 2.500g (4)

9 – Classificação por tamanho: PIG (1) AIG (2) GIG (3)

10 - Chorou ao nascer? Sim (1) Não (2)

11 – Sugou ao nascer? Sim (1) Não (2)

12 - APGAR

Minuto / Faixa Acima de 7 Entre 6 e 4 Abaixo de 3

10º

Intercorrências:

1 – Cianose: Não soube informar (0) Sim (1) Não ( 2 )

2 - Icterícia* (bilirrubina): Não soube informar (0) Sim ( 1 ) Não ( 2 )

3 – Nível de Bilirrubina Total (mg): ________

4 - Exsanguineotransfusão: Não soube informar (0) Sim ( 1 ) Não ( 2 )

5 – Fototerapia: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

6 – Fototerapia Nº___________

7- Sepse: Não soube informar (0) Sim, mas não sabe o agente (1) Não (2)

Sepse suspeita (3) Sepse confirmada (4)

8 – Hipoglicemia: Não soube informar (0) Sim, assintomática (1) Não (2) Sim, sintomática (3)

9 – Parada Cardio-Respiratória: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

10 – Assistência Respiratória: Não soube informar (0) Oxi-Hood (1) Não (2)

CPAP Nasal (3) CPAP Traqueal (4) Ventilação Mecânica (VMI) (5)

11 – Qual a tensão de O2? ______________

12 – Hipertensão Intracraniana (HIC): Não soube informar (0) Sim, mas não sabe o grau (1)

Não (2) HIC Grau I (3) HIC Grau II (4) HIC Grau III (5) HIC Grau IV (6)

13 – Meningite Neonatal (antes do 28º dia de vida): Não soube informar (0)

Sim, mas não sabe o agente (1) Não (2) Haemophilus (3) Meningococo B (4)

Meningococo C (5) Estreptococopneumoniae (6)

14 – Infecção Perinatal: Não soube informar (0) Sim, mas não sabe o agente (1) Não (2)

Sífilis (VDRL) (3) Grupo TORCH (Toxoplasmose, Rubéola, Citomegalovirus) (4)

15 – Hidrocefalia Congênita: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

16 – Crise Convulsiva Perinatal: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

17 – *Necessitou de UTI? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

18 – Oxigênio? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

19 – Entubação? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

20 – Incubadora? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

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21 – *Internação após o nascimento: Não soube informar (0) Sim, mas não sabe quanto

tempos (1) Não (2) Até 7 dias (3) De 8 a 15 dias (4) De 16 a 30 dias (5)

De 1 a 2 meses (6) De 3 a 6 meses (7) Acima de 6 meses (8)

22 – *Diagnóstico de síndrome genética: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

Investigando (3)

23 – Diagnóstico de síndrome neurológica: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

Investigando (3)

V - Dados referentes ao histórico médico 1.Complicações clínicas nos primeiro ano de vida

Doenças Idade Freqüência

Pneumonia

Otites

Alergia

Problemas Alimentares

Crise Convulsiva Febril

Epilepsia Confirmada

Outras Complicações

“Freqüência”: Até 2 vezes (1) Até 3 vezes (2) Mais de 3 vezes (3)

2 – Cirurgias : Sim (1) Não (2)

Tipo Idade Severidade Tempo de Hospitalização

Obs:_______________________________________________________________________

3- Faz uso de medicação? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

Medicamentos em Uso: __________________________________________________

VI – Dados referentes ao desenvolvimento 1 - Alimentação:

1.1 - Por quanto tempo se alimentou de leite materno?

Sim, mas não sabe quanto tempo (1) Não (2) Somente no 1º mês (3) De 1 a 3 meses (4)

De 4 a 6 meses (5) De 7 a 12 meses (6) De 1 a 2 anos (7) De 2 a 3 anos (8) Mais

de 3 anos ( 9 )

1.2 – Apresenta(ou) dificuldade para se alimentar? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às vezes ( 3 )

1.3 – Quais tipos de alimentos? Sólidos ( 1 ) Líquidos ( 2 ) Pastosos ( 3 )

Obs: ____________________________________________________________________

90

2 - Desenvolvimento motor: 1 - Acha que seu filho (sua filha) teve des. motor semelhante ao de outras crianças ?

Sim (1) Não (2)

2 - Engatinhou? Sim (1) Não (2) id: _______

3 - Andou antes de 18 meses? Sim (1) Não (2) id: _______

4 - Corre sem cair? Sim (1) Não (2)

5 - Pula? Sim (1) Não (2)

6 - Sobe e desce escada sem ajuda? (24 meses) Sim (1) Não (2)

7 - Segura o copo sem derramar ? (36 meses) Sim (1) Não (2)

8 - Pedala triciclo (36 meses): Sim (1) Não (2)

9 - Controlou a urina com quantos anos? Sim, mas não sabe quando ( 1 ) Não ( 2 )

Antes de 2 anos (3) De 2 a 3 anos (4) De 4 a 5 anos (5) Acima de 6 anos ( 6 )

10 - Controlou as fezes com quantos anos? Sim, mas não sabe quando (1) Não (2)

Antes de 2 anos (3) De 2 a 3 anos (4) De 4 a 5 anos (5) Acima de 6 anos (6)

3 – Desenvolvimento da linguagem: 1 - * Você acha que seu filho(a) ouve bem ? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

2 - * Ele(a) vira a cabeça em direção ao som? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

3 – Ele(a) parece não escutar quando falam com ele Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

4 - * Ele(a) sempre responde quando falam com ele? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

5 - Ele(a) foi um bebê que emitia sons? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

6 - * Quando falou a 1ª palavra? Ainda não fala (1) Antes de 1 ano (2) Entre 12 e 18

meses (3) Entre 18 e 24 meses (4) Entre 2 e 3 anos (5) Entre 3 e 4 anos (6)

Entre 4 e 5 anos (7) Entre 5 e 6 anos (8) Após 6 anos (9)

7 - * Quando falou seqüência de 2 palavras? Sim, mas não sabe quando(1) Ainda não fala(2)

Não fala seqüência de 2 palavras(3) Antes de 2 anos(4) Entre 2 e 3 anos (5) Entre

3 e 4 anos (6) Entre 4 e 5 anos (7) Entre 5 e 6 anos (8) Após 6 anos (9)

8 - * Seu filho(a) tem dificuldade para falar ? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

9 – Você compreende o que ele fala? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

10 - *Outras pessoas compreende o que ele(a) fala? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

11- * Ele(a) fala usando frases ? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

12 - *Ele(a) fala corretamente? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

13 – Ele(a) parece compreender o dizem a ele(a)? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

14 - * Ele(a) obedece à pedidos verbais? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

15 - * Ele(a) conta estórias ou descreve experiências compreensíveis? Sim ( 1 ) Não ( 2 )

Às Vezes ( 3 )

16 – Ele(a) confunde nome de animais, objetos e pessoas? Sim ( 1 ) Não ( 2 ) Às Vezes ( 3 )

17 - *Ele(a) freqüentemente hesita ou repete sons e palavras? Sim (1) Não (2) Às Vezes (3)

91

18 - *Ele(a) já fez tratamento fonoaudiológico? Sim, mas não sabe quanto ( 1 ) Não ( 2 )

Até 6 meses de tratamento ( 3 ) De 6 meses a 1 ano de tratamento ( 4 ) De 1 a 2 anos de

tratamento ( 5 ) De 2 a 3 anos de tratamento ( 6 ) De 3 a 4 anos de tratamento ( 7 ) Mais

de 4 anos de Tratamento ( 8 )

19 –Idade__________(a;m)

VI – Dados referentes ao comportamento social e emocional

1 - Seu filho apresenta(ou) um destes comportamentos:

Comportamento Não soube informar (0) Sim (1) Não (2) Às vezes(3)

Período Natureza do

Tratamento

Timidez

Nervosismo

Dificuldade em separar-se dos pais

Medo/pesadelo

Horário para dormir

Dificuldade em manter-se sentado

Dificuldade durante o treinamento

do uso do banheiro

Sucção Digital

Chupeta

Rói Unha

2 - Interação 2.1 - Seu(ua) filho(a) tem oportunidade de brincar com crianças ? Não soube informar (0) Sim

(1) Não (2) Às vezes (3)

2.2 - Ele(a) brinca com crianças da mesma idade? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

Às vezes (3)

2.3 - Ele(a) brinca com crianças menores? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

Às vezes (3)

2.4 - Ele(a) prefere brincar com crianças maiores? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

Às vezes (3)

2.5 - A criança apresenta dificuldade de relacionamento com as pessoas que moram na casa?

Não soube informar (0) Sim (1) Não (2) Às vezes (3)

2.6 - Fala muito? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2) Às vezes (3)

2.7 - Quase não fala? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2) Às vezes (3)

2.8 - E com as pessoas fora do âmbito familiar? Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

Às vezes (3)

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Que tipo de atividade ele prefere: Assistir TV

Jogar futebol

Brincar com bonecas (os)

Brincar de casinha

Video Game

Empinar pipa

Brincar com carrinhos

VII - Dados referentes a creche e escola 1 - Em que período a criança fica na escola?

Não soube informar (0) Manhã (1) Não freqüenta escola (2)

Tarde (3) Integral (4)

2 - Série: ____________________

3 - Nome da Escola: __________________________________________________________

4 – Repetência: Não soube informar (0) Sim (1) Não (2)

4.1- Que série repetiu? _____________________________________________________

*5 - Apresenta dificuldade em alguma atividade?

Não soube informar (0) Sim, em atividades motoras (1) Não (2)

Sim, na comunicação verbal (3) Sim, na interação social (4)

Data: ____/___/___ _______________________________________________________

Assinatura do Responsável

ATENÇÃO CARTA DE CONSENTIMENTO XEROX DO SUMÁRIO DE ADMISSÃO NEONATAL DO DEPARTAMENTO DE NEONATOLOGIA

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Anexo 4

Protocolo do Peabody Picture Vocabulary Test – Revised –PPVT-R (Dunn & Dunn, 1981; Adaptação de Menezes, 1984).

PPVT Peabody Picture Vocabulary Test - Revised Form L 001. carro (4) 002. mão (1) 003. cama (3) 004. bicicleta (4) 005. porta (1) 006. cobra (4) 007. barco (3) 008. roda (3) 009. vaca (1) 010. vassoura (3) 011. tambor (3) 012. boca (2) 013. avião (3) 014. pescoço (2) 015. machucado (4) 016. rabo (2) 017. vazio (3) 018. cerca (4) 019. desastre (2) 020. rede (2) 021. rasgando (4) 022. bandeira (4) 023. medindo (2) 024. descascando (3) 025. gaiola (1) 026. ferramenta (4) 027. estrela (4) 028. cambalhota (2) 029. flecha (2) 030. amarrando (2) 031. ninho (1) 032. carta (2) 033. anzol (3) 034. apagando (3) 035. alimentando (1) 036. pinguim (1) 037. costura (2) 038. entregando (1) 039. nadar (2) 040. pára-quedas (3) 041. peludo (4) 042. legume (4) 043. ombro (3) 044. gota (2) 045. pata (2) 046. enfeitado (3) 047. pregador (4) 048. horta (2) 049. torneira (2) 050. grupo (3) 051. alface (4) 052. vaso (3) 053. pedal (1) 054. máscara (3) 055. surpreso (4) 056. casca (2) 057. mecânico (2) 058. pandeiro (1) 059. desapontado (4)

060. prêmio (3) 061. jarra (3) 062. microfone (4) 063. sinal (1) 064. tronco (2) 065. pessoa (2) 066. narinas (1) 067. discussão (1) 068. exausto (2) 069. coqueiro (1) 070. cerimônia (4) 071. churrasqueira (3) 072. veículo (4) 073. globo (3) 074. chavear (1) 075. prendedor (2) 076. ferrão (3) 077. represa (4) 078. espátula (3) 079. colaborar (2) 080. nuca (1) 081. galho (2) 082. raposa (4) 083. destruindo (4) 084. varanda (1) 085 medallhão (1) 086. sortudo (3) 087. tubular (1) 088. marfim (1) 089. lixa (4) 090. cochichar (4) 091. bombeiro (4) 092. isolamento (1) 093. inflado (3) 094. costa (3) 095. regulável (2) 096. frágil (3) 097. agressão (1) 098. eletrodoméstico (1) 099. pirâmide (4) 100. flamejante (1) 101. içando (1) 102. sótão (3) 103. lecionar (4) 104. arruinado (4) 105. meditando (2) 106. vasado (3) 107. indicar (4) 108. elo (4) 109. satisfação (4) 110. arqueiro (2) 111. transparecer (3) 112. cereal (1) 113. lampejar (4) 114. erva (3) 115. pedestre (2) 116. paralelogramo (1) 117. inatividade (3) 118. ilha (2)

119. candelabro (3) 120. obstáculo (4) 121. sexteto (1) 122. tranquilidade (3) 123. pontiagudo (4) 124. obesidade (4) 125. esférico (2) 126. medicamento (2) 127. felino (2) 128. árido (2) 129. exterior (1) 130. constelação (4) 131. córnea (2) 132. mercantil (1) 133. ascender (3) 134. filtrar (1) 135. consumir (4) 136. dilúvio (3) 137. perpendicular (3) 138. reabastecer (1) 139. emanação (3) 140. unicórnio (1) 141. ira (3) 142. incandescente (4) 143. arrogante (2) 144. confidenciar (3) 145. ovóide (4) 146. náutico (3) 147. tangente (1) 148. castigante (4) 149. percurso (1) 150. subjugado (1) 151. desamparo (3) 152. júbilo (2) 153. surrupiar (4) 154. fidelidade (4) 155. carniça (3) 156. indigente (2) 157. convexo (1) 158. macilento (2) 159. divergente (4) 160. pré-histórico (3) 161. eletrônica (2) 162. entomologista (3) 163. coagir (1) 164. ancião (1) 165. hipocampo (4) 166. espectro (4) 167. consternação (1) 168. numismático (2) 169. obelisco (1) 170. golfrar (4) 171. perambular (2) 172. cítrico (4) 173. osculação (3) 174. gótico (3) 175. homúnculo (4)

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Anexo 5

Protocolo do Clinical Evaluation Language Fundamentals – Revised – CELF-R (Menezes, 1995).

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