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10 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE ANÁLISE DA CIDADANIA ENQUANTO PODER NA IMPLEMENTAÇÃO DO COMITE DE BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SANTO ANTONIO, SUL DO ESTADO DO TOCANTINS. PALMAS - TO FEVEREIRO, 2006

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS … · fundaÇÃo universidade federal do tocantins campus universitÁrio de palmas pÓs-graduaÇÃo stricto sensu em ciÊncias do ambiente

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE

ANÁLISE DA CIDADANIA ENQUANTO PODER NA IMPLEMENTAÇÃO DO COMITE DE BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SANTO ANTONIO, SUL DO

ESTADO DO TOCANTINS.

PALMAS - TO

FEVEREIRO, 2006

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE

ANÁLISE DA CIDADANIA ENQUANTO PODER NA IMPLEMENTAÇÃO DO COMITE DE BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SANTO ANTONIO, SUL DO

ESTADO DO TOCANTINS.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do Ambiente da Fundação Universidade Federal do Tocantins, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências do Ambiente

Mestrando: Antonio César Mello Orientador: Prof. Dr. Lucio Flavo Marini Adorno

PALMAS - TO FEVEREIRO, 2006

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

________ Mello, Antonio Cesar Análise da cidadania enquanto poder na implementação do comitê de bacia hidrográfica do rio Santo Antonio, sul do Estado do Tocantins. – Palmas : UFT, 2006. _____p.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Tocantins, Curso de Pós-Graduação em Ciência do Ambiente, 2006. Orientador: Prof. Dr. Lucio Flavo Marini Adorno.

1. 2. Comitê de Bacia Hidrográfica. 3 Política Nacional de Recursos Hídricos. 4 Cidadania.

________

Bibliotecário: Paulo Roberto Moreira de Almeida

CRB-2 / 1118 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos do autor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

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DEDICATÓRIA.

Dedico a meu Pai Celestial, Jesus Cristo, que me fez romper em fé.

É na adversidade que conhecemos o verdadeiro sentido do amor e das pessoas que realmente nos amam. Esta Dissertação é dedicada a todos que, em uma prova de grande amor, se doaram, torceram e abdicaram de parte de suas vidas para que a minha fosse estabelecida. Dedico a minha amada esposa Angélica e ao meu amado filho Lucas que renunciaram a parte de suas vidas em prol deste projeto. Aos meus Pais, que durante anos sonharam pela minha felicidade e sempre acreditaram nela, me encorajando e me fortalecendo nos momentos de dificuldades; A minha Querida Irmã fonte de alegria e espelho de perseverança.

Ao meu orientador Lucio Favo Marini Adorno que me adotou e que me mostrou o caminho da ciência com seus conselhos, apontamentos, discussões e esclarecimentos. Ao Prof. Dr. Jandislau José Lui, pela atenção dispensada e pelos cuidados científicos. A minha amiga Suyene Diniz que mostrou-se muito mais que uma colega de mestrado mas um verdadeira amiga que durante o curso me fortaleceu para a conclusão deste projeto.

AGRADECIMENTO.

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“Por tudo que tens feito e tudo que vais fazer, por tuas promessas e tudo que És, eu quero te agradecer com todo meu ser. Te agradeço meu Senhor.” (Te Agradeço – Diante do Trono).

Ao amigo e professor Paulo Régis Rosa da Silva, que na graduação do curso de direito me apresentou o Direito Ambiental e suas nuances.

Ao querido amigo e professor Eduardo Andréa Lemus Erasmo, pelas incansáveis horas de discussão.

Aos Professores e colegas do mestrado que muito me ensinaram a compreender e a construir um sentimento holístico na formação da ciência.

Aos amigos Mônia Praxedes, Ricardo Batista, Rodrigo Prieto, Neurizete Izidio, Raynnell Ferreira Barbosa e Silvia Gomes Amorim que se desdobraram para garantir a minha tranqüilidade durante minhas idas e vindas para o curso. Aos meus alunos que vivenciaram e torceram pela construção do presente projeto.

SUMÁRIO

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES, TABELAS E FOTOS...................................... VIRESUMO....................................................................................................... VIIIABSTRACT................................................................................................... IXINTRODUÇÃO.............................................................................................. 10CAPÍTULO 1 - DA POLIS À POLIS............................................................. 13CAPÍTULO 2 - DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS – Lei 9.433/97.................................................................................................. 31CAPÍTULO 3 - A SUSTENTABILIDADE E OS CONFLITOS SOCIAIS NA MANUTENÇÃO DO COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA........................ 483.1 - A importância da participação democrática na gestão do comitê de bacia hidrográfica e seus reflexos no desenvolvimento regional................. 483.2 – Os conflitos sociais e a implantação viável dos comitês de bacia hidrográfica...................................................................................................

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3.3 - Os Comitês de Bacia no Rio Grande do Sul: Formação, Dinâmica de Funcionamento e Perspectivas.................................................................... 61

CAPÍTULO 4 – BACIA DO RIO SANTO ANTONIO..................................... 684.1 – Característica ambientais da bacia...................................................... 734.2 - Características sociais......................................................................... 744.2.1 – Renda per capta............................................................................... 744.2.2 – Saneamento..................................................................................... 754.2.3 – Ensino.......................................................................................... 764.3 – Características econômicas................................................................ 76CAPÍTULO 5 – O CONHECIMENTO LOCAL NA GESTÃO DAS ÁGUAS. 78CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 92REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 96ANEXOS....................................................................................................... 101

LISTA DE ILUSTRAÇÕES, TABELAS E FOTOS.

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Fig. 01 - O Processo Decisório no SNGRH.

Fig. 02- Triangulo de Definição/ compreensão de um objeto ou fato sujeito à decisão ( Le Moigne, J-L., 1977).

Fig. 03 - Bacia Hidrográfica do Rio Santo Antonio – Sistema T-7.

Fig. 04 – Gráfico de Ocupação da Bacia.

Fig. 05 – Nascente do Rio Santo Antonio – Próximo ao Assentamento Gameleira – Município de Figueirópolis – Fonte: Arquivos da Escola Estadual Alair Sena Conceição.

Fig. 06 - Gráfico de Tempo de Moradia na Bacia.

Fig. 07 – Gráfico de Renda dos Moradores da Bacia.

Fig. 08 – Gráfico de Idade dos Moradores da Bacia.

Fig. 09 – Questão 01.

Fig. 10 - Questão 02.

Fig. 11 – Questão 03.

Fig. 12 – Questão 04.

Fig. 13 – Questão 05.

Fig. 14 – Questão 08.

Fig. 15 – Questão 09.

Fig. 16 – Questão 10.

Fig. 17 – Questão 11.

Fig. 18 – Agenda 21 local na região Norte.

Fig. 19 – Proporção dos Municípios que iniciaram a agenda 21 Local.

Fig. 20 – Situação dos municípios quanto a agenda 21 local.

Fig. 21 – Municípios, por tipo de Órgãos Municipais de Meio Ambiente.

Fig. 22 – Questão 05.

Fig. 23 – Questão 06.

Tabela 1 – Renda Per Catpa dos municípios da Bacia do Rio Santo Antonio.

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Foto 1 - Divisa dos Municípios de Gurupi e Peixe - TO. Rio Santo Antonio. BR 242

- KM 374.

Foto 2 - Represamento do Córrego Mutuca nas proximidades da BR 153– Gurupi –

TO.

Foto 3 - Sistema de Tratamento de Efluentes da Transbrasiliana Transporte e

Turismo. Efluentes lançados no Córrego Mutuca Gurupi – TO.

Foto 4 - Olaria junto à área de Preservação Permanente do Córrego Mutuca Gurupi

– TO.

Foto 5 - Nascente do Córrego Mutuca (Represamento e Mata Nativa) – Gurupi – TO

- Tributário da bacia do Rio Santo Antonio.

Foto 6 - Lixo urbano lançado na nascente do Rio Santo Antonio –Figueirópolis - TO.

Foto 7 - Córrego Água Franca – Tributário da Bacia do Rio Santo Antonio (Gurupi –

TO).

Foto 8 - Residências próximas ao córrego Água Franca e população ribeirinha.

Foto 9 - Canalização, “Parque Municipal do Mutuca” (vegetação alterada) e

continuação do processo de canalização do córrego com o mesmo nome.

(Perímetro Urbano de Gurupi – TO).

RESUMO

O presente estudo procurou analisar a sustentabilidade de implantação do Comitê

da bacia do rio Santo Antonio, localizado ao sul do Estado do Tocantins, tendo uma

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atenção especial para a manutenção deste instituto criado pela Lei 9.433/98, a fim

de que o mesmo se sustente independentemente de posicionamentos políticos,

tornando-o assim viável. Para tal, a participação popular como bem subjetivo da

participação cidadã torna-se fundamental. Neste diapasão buscou descrever e

entender a estrutura Política, do poder e da cidadania, nascida na Grécia, bem como

a trilha traçada pelo Brasil no que tange a política nacional de recursos hídricos.

Assim, este estudo congrega instrumentais teóricos, jurídicos e metodológicos para

demonstrar a concretude da efetivação da norma jurídica referente a gestão das

águas e suas deficiências, mediante questionamentos realizados de forma direta e

indireta na população impactante e sua visão enquanto atores diretamente

envolvidos na temática. Com isto, busca estabelecer parâmetros para a implantação

de um comitê, pautado e mantido pela comunidade de influencia, com a utilização

prioritária de instrumentos delegados pela própria lei relacionando com o exercício

da cidadania, observando-se a cultura local e seu grau de interesse decisório para a

composição do comitê.

Palavra-Chave: Comitê de Bacia Hidrográfica, Política Nacional de Recursos

Hídricos, Cidadania.

ABSTRACT

The present study aimed to analyze the sustainability of the implantation of the Santo

Antonio river basin committee, located in the southern region of the State of

Tocantins, Brazil, with special attention to the maintenance of this institute created by

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Law 9.433/98, so that it can support itself independently of political beliefs, becoming

it thus viable. For such, people’s participation as a subjective value of citizen

participation becomes fundamental. With this objective this study aimed to describe

and understand the structure of politics, power and citizenship, originated in Greece,

as well as the way Brazil has been dealing with matters concerning the politics of

water supplies. Thus, this study joins theoretical, legal and methodological

instruments in order to demonstrate the viability of the accomplishment of the of the

law referring the management of water resources and its deficiencies throughout

active questioning of the affected population and their views as directly involved

actors in the thematic here discussed. This way, the study aims to establish adequate

parameters for the implantation of a committee, directed and supported by the

community in the area of the river influence, with priority use of instruments provided

by the law itself and related to citizenship exercise, respecting local culture and its

degree of interest in deciding committee’s composition.

Key-words: River Basin Committee, National politics of water resources, Citizenship.

INTRODUÇÃO

Recordamos de quando fomos apresentados, quando ainda estagiávamos na

Fundação de Proteção Ambiental do Estado do Rio Grande do Sul (FEPAM), à lida

do Direito Ambiental, área à época tida como emergente na vasta gama de opções

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que a ciência jurídica comporta. Depois de formado e efetivamente disposto a

continuar buscando o conhecimento e a pratica ambiental não nos opusemos,

quando no exercício da função de Procurador do Município de Gurupi, fomos

chamados a regulamentar a temática ambiental na Lei Orgânica local e a

assumirmos a presidência do Conselho Municipal de Meio Ambiente.

Quando passamos a dirigir a política local ambiental de Gurupi nos anos de

1998 a 2000, acompanhado de valorosos colegas, verificamos a grande dificuldade

para a implantação da política, tendo em vista o desinteresse da própria

comunidade, sustentada pelo desconhecimento da norma jurídica e das reais

necessidades de defesa e preservação ambiental. Um dos marcos de tal

apontamento ocorreu quando verificamos que por culpa, na acepção jurídica do

termo, os moradores ribeirinhos de alguns córregos do município de Gurupi, vinham

lançando dejetos e efluentes diretamente nos córregos do município e ao mesmo

tempo vinham colhendo peixes que afloravam à água em busca de oxigênio em

decorrência da proliferação da poluição e diminuição da oxigenação da água, esta

dicotomia nos chamou a atenção, pois até então pensávamos estar em um ambiente

ainda equilibrado, frente às ações de degradações vistas, por exemplo, em Porto

Alegre/RS.

O fato de verificarmos que o Estado situado em uma das regiões mais ricas

do planeta em água, tem em determinadas épocas, seus leitos e veios de água

secos, e obervando-se que, segundo moradores antigos, tais cursos jamais secavam

e eram fonte de lazer e alimentação, passamos então a observar melhor a

problematizaçao que nos foi apresentado.

Corroborando com estes fatos, no ano de 2002, fomos convidados na

qualidade de Assessor de Extensão da Faculdade Unirg, a participar de uma reunião

de trabalho realizado na Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente do Estado do

Tocantins (SEPLAN) tendo por objeto o estudo da potencialidade hídrica do Estado

no intuito de criação de um curso de graduação em engenharia das águas, fato este

que também nos marcou, pois notamos que o Tocantins é dotado de uma

potencialidade hídrica singular e que esta será a médio e longo prazo utilizado na

implantação de um conjunto significativo de usinas hidrelétricas. Entretanto, restou o

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questionamento: Porque um Estado tão rico em água não adotou mecanismos para

tutelá-la e preservá-la? Quais os motivos que levam a população a observar

passivamente a degradação do bem ambiental? E quais os mecanismos que o

Poder Público vem adotando para reverter este quadro?

Partindo destas premissas e observando os mandamentos da Lei 9.433/97, a

lei das águas, é que iniciamos o estudo para então entendermos o processo de

gestão de bacia hidrográfica no Estado do Tocantins. Notadamente que iniciamos

nosso enfoque na construção do exercício da cidadania, pois a lei das águas assim

estabelece, de forma inovadora a participação da população envolvida na bacia

hidrográfica como parte integrante dos organismos de gestão, e recordamos as

premissas do que vem a ser cidadania no seu nascedouro, ao ponto de verificarmos

que a lei das águas quer buscar resgatar, pois a água ultrapassou o simbolismo do

bem ambiental sensível aos sentidos mas está diretamente vinculada à vida.

Enfocando então para um estudo mais apurado da Lei das Águas, sua

construção, seus enfoques, seus sonhos esculpidos pelo legislador, visto que em

muitos casos verificamos que a dicotomia existente entre a lei brasileira e a lei

francesa, na qual a nossa foi espelhada, existe uma distância operacional muito

grande para a operacionalização dos instrumentos apresentados na norma,

principalmente pela barreira política e social. Política, pois nos deparamos com a

vontade política dos governantes para a implantação da norma e a busca da

sustentabilidade regional e social, pois devemos nos ater à formação social da

comunidade da bacia para que esta possa assumir suas responsabilidades cidadãs.

Em determinados momentos verificamos que a gestão das águas, exercida no

comitê de bacia é conflituosa, pois surgem interesses de cunho individualizado e

setorial, para melhor aproveitamento da bacia, e tais conflitos devem ser superados

para a manutenção e viabilidade do próprio comitê, ultrapassando inclusive as

diferenças políticas, as quais são visíveis no modelo de exercício democrático

adotado no Brasil, fazendo do comitê de bacia hidrográfica não um projeto político

mas o que realmente a norma busca estabelecer, o comitê como política de Estado.

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Como visto, o pólo de discussões sobre a temática água é o Comitê de Bacia

Hidrográfica e sua existência esta diretamente vinculada a participação da

sociedade e a vontade política para a sua implantação, entretanto, instituições como

as universidades podem adotar, como no Rio Grande do Sul papel de relevante

interesse quando assumem a responsabilidade pela mobilização social, e esta

mediante mecanismos políticos de representação instam o gestor executivo a um

posicionamento mais concreto na implantação do Comitê.

Para que pudéssemos ter cientificamente comprovada tais hipóteses, a da

importância da população e de seu conhecimento sobre a bacia, a capacidade de

mobilização e interesse pelo tema em uma prática cidadã, é que escolhemos a

bacia que envolve o terceiro maior pólo político – administrativo e populacional do

estado do Tocantins, a bacia do Rio Santo Antônio, pois nesta bacia se encontra o

município de Gurupi, terceira maior cidade do Estado, Figueirópolis, Sucupira e

Cariri do Tocantins, cidades estas também significativas na economia do Estado,

cuja política sobre águas precisava ser tecnicamente analisada, visto que Palmas já

esta caminhando para a mobilização social com intuito de atender a norma e

Araguaína a qual já possui o comitê do Lontra e Corda. Sendo assim, são estes os

fatores relevantes que nos levaram a analisar o exercício da cidadania enquanto

poder na implementação do comitê de bacia hidrográfica do rio Santo Antônio, sul do

Estado do Tocantins.

CAPÍTULO 1 - DA POLIS À POLIS

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Para que possamos nos ater a evolução do processo de gestão da bacia

hidrográfica, tendo por base a participação popular, necessário se faz compreender

a evolução da formação político-social do governo e da sociedade.

Ver a evolução política da humanidade tendo por objeto de estudo o exercício

da cidadania, termo muito bem difundida em nossos dias, apesar da propagação dos

direitos o efetivo exercício por parte dos indivíduos ser inexpressivo, em especial na

gestão das águas é o desafio do presente capítulo no qual faremos uma breve

abordagem no tocante a evolução do exercício da cidadania ao longo do processo

de formação das cidades, enfocando a esfera político-social.

A origem da expressão política é originaria da palavra grega pólis foi usada

pela primeira vez por Aristóteles, definindo a cidade-estado onde se dava a

comunidade política, e tem por significado a vida em sociedade.

A cidade-estado era o centro das discussões, era tida como o palco dos

liames, discussões e decisões do grupo societário que ali vivia. Daí verificarmos que

os que viviam na política, vivam na pólis, na cidade, e eram, portanto cidadãos.

Membros da comunidade política.

Torna-se necessário compreendermos o porquê da composição da cidade e

sua perfeição segundo Aristóteles. Para ele a pólis é algo natural na evolução da

sociedade, pois não se formaria de forma arbitrária e sim por livre necessidade das

pessoas. Sendo ela um coroamento natural e necessário de um desenvolvimento

progressivo, em que cada uma das fases sucessivas é ela própria natural e

necessária e é ela própria em seu fim,

Pois a cidade é o fim dessas comunidades, e a natureza de uma coisa é o seu fim; porquanto o que cada coisa é, depois de alcançar o seu pleno desenvolvimento, dizemos que esta aí a natureza da coisa, tanto para um homem como para um cavalo ou uma família; além disso, a causa final, o fim de uma coisa é o seu melhor bem, e a auto-suficiências é, ao mesmo tempo um fim e um bem por excelência. (CHEVALLIER, 1982: 93)

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Atentando para a teoria finalista (teleológica), de Aristóteles o completo

civismo é a soma de tudo, do antes, do comportamento anterior, pois nele se

encontram seus fins e assim sua natureza no decorrer do desenvolvimento. Da

mesma forma que o veio de água é anterior ao mar (cujo fim, cuja natureza é correr

e chegar ao mar) a cidade é anterior as suas partes: individuo, família, aldeias e por

fim a própria cidade.

Reitera-se que neste local, os indivíduos, imbuídos de um novo

comportamento, encontram uma vida nova, e identificam-se como cidadãos, do

grego polítai, membros da pólis. Sendo, segundo Chevallier (1982:93),

esta vinculação o fim natural do desenvolvimento individual, ela dá ao homem o seu verdadeiro sentido, permitindo-lhe realizar a sua natureza verdadeira, pois o homem é, por essência, um ser destinado a só viver plenamente, a só desabrochar em sua plenitude na polis: é um zôon plitikón, um animal político.

A evolução de tal pensamento demonstra a facilidade que os povos antigos

tinham em mergulhar na evolução de si próprios, buscando a natureza em seu fim,

mas tal comportamento, a observação da natureza humana implicava em observar-

se como parte natural da evolução da sociedade.

J.J. Chevalier assim comenta (1982:21) A origem do pensamento político esta ligado ao tranqüilo e claro racionalismo do espírito grego. Em vez de se consagrarem ao campo da religião, como os povos da Índia e da Judéia, em vez de verem este mundo em termos de fé, os gregos postaram-se no reino do pensamento, e , tendo a coragem de espantar-se com as coisas visíveis, de interrogar a si próprios sobre elas, procuraram conceber o universo à luz da razão. (...) É fácil aceitar o mundo físico e o mundo das instituições humanas como igualmente inevitáveis, e não formular qualquer interrogação sobre o sentido das relações do homem com a natureza, ou das relações do individuo com instituições como a família ou o Estado. (Grifamos) Entretanto, tal aceitação, sempre natural para o espírito religioso, era impossível aos gregos.

Daí verificarmos o nascedouro do espírito de cidadania, onde ter per si e para

si a pólis, era algo, segundo Aristóteles intrínseco àqueles que evoluíram e

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chegaram ao ápice desta própria evolução, observando-se como apontado a sua

relação com o homem e com a própria natureza.

Aristóteles nos brinda com seus altos estudos na interpretação da pólis, da

vivência em sociedade e do espírito de cidadania, entretanto, não se atem a fatores

evolutivos da própria pólis, ou seja, a mistura racial, as conquistas territoriais, e a

miscigenação comportamental. Nega qualquer aspiração de uma Cosmópolis de um

império universal baseado na igualdade humana.

A cidadania na Grécia antiga, representava o direito de ser ouvido em

assembléia, de participar de questões importantes na gestão da pólis, bem como de

exercer cargos públicos.

O exercício da cidadania, entretanto exigia dos cidadãos sacrifícios e

prerrogativas para o exercício de suas funções.

Oliveira apud Fustel (1977:83) que assim afirma: “Aristóteles costumava dizer

que não podia ser cidadão aquele que precisava trabalhar para viver, posto que não

podia se desligar dos negócios públicos para tratar com mais cuidado dos seus

negócios particulares”.

Oliveira continua: (1977:83) “Ser cidadão para os antigos significava ter o

direito de participar da vida política e administrativa da polis, isto é, o direito de

participar das atividades comunitárias da cidade”.

Surge então a era helenística, capitaniada por Alexandre o Grande, conhecido

pelas suas conquistas e pela sua grande expansão territorial. O que fez com que a

pólis de Aristóteles fosse revista, pois o espírito de cidadania, foi alterado com o

ingresso de pessoas que não compunham a evolução natural citada pelo pensador

grego.

O homem como animal político, fração da polis ou cidade como governo autônomo, desapareceu com a morte de Aristóteles, com Alexandre, o homem torna-se um individuo. Esse indivíduo tem sua própria vida e suas relações com as

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demais pessoas que, como ele compõe o mundo habitado (CHEVALIER 1982:138).

De Alexandre a Constantino, durante seis séculos, se ergueram impérios,

dentre eles o Greco-romano, que passam a administrar a Cosmópolis que segundo

escreve Bréhier apud Chevallier, (1982:138)

Não há duvidas de que este longo período de seis séculos revestem-se de, ao mesmo tempo, de extraordinária importância e de singular unidade é o período durante o qual se fixaram os traços essenciais e permanentes da nossa civilização ocidental: ao despotismo das velhas civilizações orientais, da Ásia Menor, ao regime da Cidade grega, esse período viu de fato suceder a idéia de um Estado que administra no interesse comum e se submete as regras jurídicas perfeitamente definidas; a idéia de dignidade da pessoa humana, dos direitos inerentes à pessoa, torna-se o alicerce da vida social; realiza-se uma forma de civilização realmente universal, no sentido de que não esta limitada por nenhuma tradição nacional ou local; ela de direito alcança todos os homens por acreditar na identidade da razão comum a todos.(...)

Na sociedade romana o sui iuris, onde o cidadão estava apto a praticar os

negócios jurídicos, os quais incluíam a participação na gestão da polis, desde que

não contrariasse o Estado e no culto comum. Na antiguidade a cidadania era tão

valiosa que uma das grandes punições era a perda da cidadania.

Entretanto, somente com a Revolução Francesa, que surgiu como reação

política ao despotismo e ao antigo regime bem como à concepção orgânica da

sociedade é que se buscou restabelecer alguns direitos individuais frente ao estado

o que foi comemorado com os direitos elencados na declaração de 1789.

Moura (1996:85) cita que “o núcleo doutrinário da referida declaração são os

três primeiros artigos. O primeiro diz respeito à condição natural do homem, que

precede a formação da sociedade civil. O segundo estabelece a finalidade da

associação política. O terceiro artigo faz menção ao princípio da legalidade do poder

que cabe a nação”.

Com a Carta Francesa surge a Declaração de Direitos do Homem e do

cidadão, passa-se a buscar uma inversão nas relações entre poder e liberdade, já

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que o individuo passa a ter vários direitos garantidos frente ao Estado, rompendo-se

assim com a estrutura greco-romana.

Eis uma breve exposição da gênese da política e da cidadania, entretanto

seus conceitos continuaram evoluindo e como nos dizeres de Robert Dahl apud

Moura(1996:31) “nunca houve ninguém com bastante conhecimento para contribuir

com mais de uma pequena fração do que sabemos sobre política”. É restabelecido o

direito de participação ao cidadão frente ao Estado, decorrente do principio da

liberdade.

Contemporaneamente o termo cidadania esvaziou-se de seu significado tão

simbólico e profundo e passou a indicar a atividade que, de alguma maneira, tem

como referência o Estado o qual por um conjunto normativo, que sustenta o poder,

veio a arbitrar e mediar os conflitos afim de garantir a convivência de seus cidadãos

e o exercício desta cidadania, Assim sustenta Moura (1996:32):

A política, por sua vez passou a ser a atividade que lida com o poder mais ou menos legítimo de algum homem sobre o outro e a qualidade especial deste poder é que ele esta fundamentando na autoridade pública.

A grande ferramenta da política, no império greco-romano é a lei, para

Thomas Hobbes sua exteriorização de poder consiste nos meios de alcançar alguma

aparente vontade futura, já para Max Weber poder é impor a vontade própria mesmo

contra a vontade alheia. O poder político é monopólio da violência legitima.

(MOURA1996:31)

As ações do Estado, hoje, são materializadas pelo governo, ente cuja função

é estabelecer as prioridades na diminuição dos anseios sociais, nos anseios da

sociedade, nos anseios dos cidadãos, atendendo imediatamente alguns e

parcialmente outros. Tais explicações clássicas tem origem nos conceitos dos

chamados contratualistas, dentre os quais destacamos Thomas Hobbes, John

Locke e Jean Jacques Rosseau.

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Verificamos que no século XX a liberdade para o exercício da cidadania não

são prerrogativas suficientes para o exercício da coletividade. Necessário se faz que

ele tenha uma vida digna e a liberdade. Garantir os direitos fundamentais e condição

hoje são imprescindíveis para o exercício da cidadania. Entretanto, para a

consolidação deste direito é exercido uma grande disputa pelo poder político.

A maior ferramenta para a construção da sociedade é a legislação,

instrumento normativo de conduta e comportamento da sociedade que busca regrar

os comportamentos sociais e do próprio Estado na busca do bem comum, objetivos

este da própria sociedade, garantindo os direitos individuais, coletivos e do próprio

Estado.

O exercício do viver na cidade e estar sob um conjunto de regras de

ordenamento consensual que possibilita vislumbrar instâncias e acontecimentos nos

quais se manifesta o poder, enquanto elemento de disputa dos grupos socialmente

divididos em classe e tendo seus representantes na arena política, enquanto um de

seus possíveis cenários de encontro e confronto. A organização consciente dos

grupos e sua contínua articulação permitem os embates pela conquista do poder. Os

grupos que se mantêm nos poderes constituídos possuem comunidades

hegemônicas fortes de sustentação. Com isso, o fazer política é estar participando

da arena dos embates sociais.

A política se manifesta como a atividade pela qual a sociedade reflexiona e

questiona a validade de suas instituições, com suas normas e comportamentos. Os

grupos se organizam em luta pelo campo do poder, de um lado os representantes

dos dominantes-hegemônicos e, do outro, os subordinados.

O projeto político deve responder as demandas e interesses da população.

Para tal, recursos técnicos, materiais, econômicos e humanos deverão estar

disponíveis. Essa racionalidade implica em analisar gastos, custos e benefícios,

articulando-se com grupos não hegemônicos e buscando, pelo menos, o

desenvolvimento institucional da sociedade. Junto a esta racionalidade política o

contexto internacional acaba tendo um peso forte, pois pactos e alianças acabam

sendo realizados.

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A política e a civilidade ficam sob a guarda do Estado, havendo todo um

conjunto de normativas reguladoras para as relações sociais. Uma cidadania, por

exemplo, que se faz representar pela igualdade jurídica. As pessoas são iguais

perante a lei e unicamente perante a lei, porque a cidadania consiste em instrumento

criado pelo capitalismo para compensar a desigualdade social, isto é, a situação em

que alguns acumulam riquezas, acumulam propriedades, enquanto outros não. Não

existe cidadania sem garantia de direitos e nem sem igualdade e segurança jurídica.

Dessa forma, ao focalizar a tipologia do Estado de direito democrático logra-

se perceber que embates e conquistas históricas foram efetivadas para sua

instalação, colocando em movimento também o próprio conceito de política.

A doutrina do Estado possui diversas classificações quanto a forma de

governo: a de Aristóteles, a de Maquiavel e de Montesquieu. A classificação

aristotélica dividia-se em três Monarquia, Aristocracia e Democracia sendo que suas

formas impuras de governo respectivamente são a Tirania, a Oligarquia e a

Demagogia. Já Maquiavel estabelecia as forma de governo em termos dualistas:

uma parte a monarquia, o poder singular e de outra parte a República ou poder

plural. E Montesquieu enumera em sua obra Espírito das Leis, as formas de governo

como: república, monarquia e despotismo.

O Estado Democrático de Direito reúne os princípios do Estado Democrático

e do Estado de Direito, não como simples reunião formal dos respectivos elemento,

revela um conceito novo que os supera, na medida em que incorpora um

componente revolucionário de transformação do status quo. Podemos conceituar a

democracia como um processo de convivência social em que o poder emana do

povo, há de ser exercido, direta ou indiretamente, pelo povo e em proveito do povo.

A democracia não necessita de pressupostos especiais; basta a existência de uma

sociedade; se seu governo emana do povo, é democracia; se não, não o é. A

Constituição de 1988 estrutura um regime democrático consubstanciando esses

objetivos de igualização por via dos direitos sociais e da universalização de

prestações sociais; a democratização dessas prestações, ou seja, a estrutura de

modos democráticos, constitui fundamento do Estado Democrático de Direito. A

30

doutrina afirma que a democracia repousa sobre três princípios fundamentais: o

princípio da maioria, o princípio da igualdade e o princípio da liberdade; em verdade,

repousa sobre dois princípios fundamentais, que lhe dão a essência conceitual: o da

soberania popular, segundo o qual o povo é a única fonte do poder, que se exprime

pela regra de que todo o poder emana do povo; a participação, direta e indireta, do

povo no poder, para que este seja efetiva expressão da vontade popular; nos casos

em que a participação é indireta, surge um princípio derivado ou secundário: o da

transferência; Igualdade e Liberdade, também, não são princípios, mas valores

democráticos, no sentido que a democracia constitui instrumento de sua realização

no plano prático; a igualdade é valor fundante da democracia, não igualdade formal,

mas a substancial.

Moura apud Diniz (2006:19) estabelece que

Sendo o Estado uma organização jurídica precária, mutável1, destinada a realizar os fins dos nacionais, e, como tal, deve reger-se pela vontade soberana da nação, o detentor do poder político tem como função atingir os interesses sociais, bem como desenvolver a sociedade em seus eixos sócio-econômico-cultural de forma ordenada. O poder é do povo e é outorgado aos representantes que são eleitos para que organizem ações positivas no sentido de realizar o bem estar social. Todavia, o tomador de decisões não se imbui da função que exerce como representante popular e passa a buscar interesses particularizados que o desviam de sua função original.

Fazer política, então, na sociedade contemporânea, pode significar inúmeros

posicionamentos e defesas teóricas, mas como pano de fundo, ainda continua

imperando a necessidade de alguns grupos sociais manterem sobre os outros no

cenário da polis/urbes/cidade e com a extensão para os grupos sociais que

passaram também a ter influência direta dos grandes núcleos de disputa pelo poder.

Diniz (2006:19).

1 Pessoa Jurídica de Direito Público – Estado – sua existência tem uma razão histórica, sua criação é constitucional, parte de uma necessidade social.O animus de constituir um corpo social diferente dos membros integrantes é fundamental para que o Estado exista, todavia, a roupagem que possui é atributo único e exclusivo dos indivíduos integrantes do Estado, em função disso diz-se que a sua estrutura é precária e mutável.

31

No que cinge ao exercício da política através do poder prossegue Diniz

(2006:20)

que o poder é algo inerente à natureza humana, tanto como ato ou como algo potencializável. Essa capacidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos, como demarca Bobbio (2000, 933) “designa a capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos”. Ele existe em diversos graus e pode ser exercida por vários meios e agir sobre infindáveis objetos. Bobbio nos traz a seguinte classificação para o poder: o poder econômico, poder ideológico e o poder político. O primeiro se sustenta na posse de certos bens. Na posse dos meios de produção reside uma enorme fonte de poder. Já o segundo se baseia na influência que as idéias formuladas e expressas em determinadas circunstâncias por individuo (ou grupo- classe) investido de algum tipo de autoridade interfere no comportamento social. O poder qualificado como político refere-se ao poder do homem sobre o homem. Baseia-se na posse de instrumentos mediante os quais se exerce a força física, é o poder coercitivo no sentido mais e estrito da palavra.

Neste sentido sustenta Dallari (1998:68):

Essa tarefa foi empreendida por JELLINEK, que dá como nota característica e diferenciadora a dominação, peculiar ao poder estatal. Há, segundo ele, duas espécies de poder: o poder dominante e o poder não-dominante. Este último é o que se encontra em todas as sociedades que não o Estado, tanto naquelas em que se ingressa voluntariamente quanto nas de que se é integrante involuntário. Assim, mesmo as outras sociedades políticas só têm um poder não-dominante, uma vez que não dispõem de imperium. A característica principal do poder não-dominante é que não dispõe de força para obrigar com seus próprios meios à execução de suas ordens. Embora JELLINEK não o esclareça, essa deficiência de força só pode ter o sentido de meio de coação legal, pois uma sociedade particular pode chegar a dispor de grande força em sentido material. De qualquer maneira, essa noção de poder não-dominante acaba por levar à caracterização de um poder disciplinador, desprovido de dominação ou imperi um.

Diante dessa visão podemos estabelecer que a Política não tem fins

perpetuamente estabelecidos, e muito menos um fim que os compreenda a todos e

que possa ser considerado como verdadeiro. Os fins da Política são tantos quantos

forem as metas que um grupo organizado se propõe, de acordo com o tempo e as

circunstancias.

32

Dentre as diversas situações que se formam no cenário político institucional

que determinam a tomada de decisões temos que uma das questões pertinente a

Política que se faz notar é a crescente inquietação sobre o estado do meio

ambiente. Essa teve suas primeiras demonstrações nos anos da década de

sessenta, quando as preocupações em todo o mundo acerca dos efeitos

indesejáveis do desenvolvimento econômico, sobretudo sobre a qualidade do meio

ambiente tornaram-se enormes com a crescente deterioração da qualidade da água

e do ar, o acúmulo de resíduos sólidos, os ruídos nas áreas urbanas e o mau uso da

terra, oriundos nitidamente da industrialização das economias, fato que levou a

humanidade a organizar-se em fóruns mundias com temas econômicos, sociais e

ambientais..

Naquela época não havia um consenso claro acerca das questões

ambientais. Os países industrializados não aceitavam as propostas de vários

cientistas para diminuir ou estancar o crescimento de suas economias, e os países

em desenvolvimento, aspirando alcançar o desenvolvimento dos países mais ricos,

não se sensibilizavam com as questões ambientais.

Esse, o jogo de interesses pessoais, vem sendo um dos grandes dilemas

políticos da atualidade em todo o Globo Terrestre, pois os dirigentes de Estado não

conseguem estabelecer um conjunto de ações, diretrizes, que venham a nortear

toda a estruturação de uma Política Ambiental, isso não em virtude de uma

incapacidade administrativa, mas por ser o tema recente no cenário político e de

conceitos controversos e fundamentalmente econômicos.

A relação homem natureza no mundo moderno ocidental é meio conturbada.

Se remontarmos os primórdios da colonização americana teremos uma narrativa

exaustiva de degradação ambiental. O homem ocidental sempre enxergou a

natureza como sua serva, e que toda a sua produção existia e existe com o fim único

e exclusivo de satisfazê-lo. Assim caminhamos numa história de depredação do

ambiente de forma inconteste, o que hoje reflete em resultados muitas vezes

irreversíveis. As mudanças ecológicas advindas dessa relação, por vezes violenta,

são frutos da dicotomia homem-natureza/sujeito-objeto, advinda do paradigma

moderno característico da sociedade ocidental.

33

A Construção dessa relação teve sua gênese no iluminismo que tem como

pensamento inicial a aplicação da ciência à indústria, que trouxe uma idéia de

supremacia da teoria sobre a técnica gerando uma visão diferente da relação

homem/natureza. O homem então se apresenta no cenário como ser manipulador

do meio ambiente, desencadeando uma visão antropocêntrica, a proteção da

natureza fica condicionada aos interesses do homem, como um objeto passível de

apropriação, uso e disposição. Sendo que

“(...) os interesses de todas as entidades não humanas devem, portanto, ser sempre subordinados aos interesses humanos. No exemplo dessa concepção de antropocentrismo é uma posição teológica cristã que considera que, como a humanidades está no topo da hierarquia divina na Terra, os interesses de animais e plantas tem que subordinar-se aos interesses humanos. A destinação da natureza não humana na Terra é servir à humanidade”. (NOBRE, 2002:319).

Conforme o geógrafo Milton Santos apud citado GIANSANTI, os novos

conhecimentos e técnicas permitiram ao homem moderno exercer tanto um controle

ativo da natureza (desviando cursos de rios, construindo pontes, criando variedades

de animais e espécies de plantas, recuperando solos, etc.) quanto um controle

passivo, quando a força da natureza ainda não pode ser controlada, mas pode ser

prevista (mudanças de tempo, erupções vulcânicas, terremotos, etc.) Para esse

pesquisador a natureza deixa de ser algo que funciona apenas segundo leis

naturais, e passa a ser um grande conjunto de objetos dos quais o homem escolhe

alguns que aprende a utilizar. (GIANSANTI, 1998:20)

As ultimas duas décadas de nosso século vem registrando um estado de

profunda crise mundial. É uma crise complexa, multidimensional cujas facetas

afetam todos os aspectos de nossa vida - a saúde e o modo de vida, qualidade do

meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma

crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e

premência sem precedências e toda a historia da humanidade. Pela primeira vez,

temos que nos defrontar com a real ameaça de extinção da raça humana e toda a

vida no planeta. (CAPRA, 1999:19)

34

Toda a problemática advinda da relação conturbada homem/natureza

desencadeou reflexões de diversas facções da sociedade no que tange a

necessidade de se preservar o meio ambiente, e essas ponderações denominaram-

se desenvolvimento sustentável. (DINIZ, 2006:24)

As idéias precursoras do desenvolvimento sustentável são creditadas a um

engenheiro florestal norte-americano Gifford Pinchot. Primeiro chefe do serviço de

florestas do país, no século XIX, ele defendia como destaca A. Diegues, a

conservação dos recursos apoiada em três princípios básicos: “o uso dos recursos

naturais pela geração presente, a prevenção do desperdício e o desenvolvimento

dos recursos naturais para muitos e não para poucos cidadãos”.(GIANSANTI,

1998:23)

Pinchot era contrário ao termo “desenvolvimento a qualquer custo” que era o

vigente no período. No século seguinte a palavra de ordem contra a degradação

ambiental vai ser desenvolvimento sustentável. Essa mudança comportamental

surgiu em decorrência de uma sensibilização crescente das pessoas em relação a

situação do planeta e a degradação ambiental.

Passo expressivo na construção do que viria a ser o desenvolvimento

sustentável, ocorreu nos anos 70 a pedido do governo da Suécia, a Conferência da

Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente ou Conferência que

Estocolmo, em 1972.

O processo de preparação para a Conferência de Estocolmo foi no Encontro

de Founex em junho de 1971, esse teve como pauta a análise da relação intensa

entre o meio ambiente e o desenvolvimento. O Relatório de Founex identificou os

principais tópicos dessa problemática, presentes até hoje na agenda internacional.

(SACHS, 1993:11)

Todavia a dicotomia de mundos existentes entre o Sul e o Norte,

desencadeou uma discussão calorosa sobre as questões pertinentes a

industrialização e crescimento. Isso porque, os países do Norte empregavam um

35

discurso pautado no crescimento zero para os países do Sul. E em contraposição os

países do Sul, também denominados desenvolvimentistas, reclamavam o seu direito

a crescimento e desenvolvimento, qualquer que fosse o preço. Esse embate trouxe a

foco central as discrepâncias vividas pelos dois hemisférios, enquanto o norte se

preocupava com a emissão de gases poluidores, os países do cone norte se viam as

voltas com o grande número de miseráveis e a fome latente.

Foi em 1987 que a idéia de desenvolvimento sustentável ganha

reconhecimento efetivo com a publicação do Relatório Nosso Futuro Comum ou

Relatório Brundtland, que carrega o nome de Gro Herlem Brundtland, primeira

ministra da Noruega que foi a Coordenadora da Comissão de Meio Ambiente e

Desenvolvimento da ONU. O Relatório apresenta 109 recomendações visando

concretização das propostas definidas na Conferência de 1972 (GIANSANTI,

1998:52). Passa a entender

“O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidade do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades Ele contem dois conceitos chave: 1. o conceito de “necessidades” sobretudo as necessidades essenciais dos pobres no mundo, que devem receber a máxima prioridade; 2. a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.” (GIANSANTI, 1998:10)

Em 1992, no Rio de Janeiro ocorreu o maior evento mundial até hoje

realizado sobre meio ambiente, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) que teve com ápice a apresentação e

assinatura de diversos países a Agenda 21. Essa que vem a ser um plano de ação

estratégica, que constitui a mais ousada e abrangente tentativa já feita de promover,

em escala planetária, novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de

proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Sua proposição só foi

possível em virtude da colaboração de governos e instituições da sociedade civil de

179 países, que ficaram envolvidos em sua produção durante 2 anos, e o resultado

final foi apresentado no Rio de Janeiro.

36

A ECO-92 representou um avanço no sentido de reforçar a idéia segundo a

qual desenvolvimento e meio ambiente constituem um binômio central e indissolúvel,

e como tal, deve ser incorporado às política públicas e às práticas sociais de todos

os países (DINIZ, 2006:34). A base da construção do conceito de desenvolvimento

sustentável, surge como um contraponto aos tradicionais modelos de

desenvolvimento econômico, caracterizados pelos fortes impactos negativos na

sociedade e no ambiente.

Apesar da Agenda 21 ser um ato internacional, sem caráter mandatário, a

ampla adesão aos seus princípios tem favorecido a inserção de novas posturas

frente aos usos dos recursos naturais, a alteração de padrões de consumo e a

adoção de tecnologias mais brandas e limpas, e representa um tomada de posição

ante a premente necessidade de assegurar a manutenção da qualidade do ambiente

natural e dos complexos ciclos da biosfera.

Para Sachs (2002:85) a ocorrência do desenvolvimento sustentável depende

da obediência de três critérios fundamentais de forma simultânea: a equidade social,

a prudência ecológica e eficiência economia.

1.Sustentabilidade Social – para sua obtenção deve se ter como meta alcançar um patamar razoável de homogeneidade social, promover uma distribuição eqüitativa de renda justa, igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais; 2.Sustentabilidade Cultural - essa se baseia na mudança no interior da continuidade, ou seja, o equilíbrio entre respeito à tradição e inovação; 3.Sustentabilidade Ecológica – necessidade da preservação do potencial do capital natureza na sua produção de recursos renováveis e no limitar do uso dos recursos não-renováveis; 4.Sustentabilidade Ambiental - baseia-se no respeito e conscientização da capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais; 5.Sustentabilidade Territorial - insere as feições pertinentes as configurações urbanas e rurais, a melhoria do ambiente urbano e a superação das disparidades inter-regionais; 6.Sustentabilidade Econômica – necessário se faz traçar um desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado, segurança alimentar, com capacidade de modernização contínua dos instrumentos de produção, razoável nível de autonomia na pesquisa cientifica e tecnológica; 7.Sustentabilidade política nacional - determina a importância da democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos, a capacidade do Estado em desenvolver

37

projetos nacionais em parceiras com todos os empreendedores e um nível de coesão social razoável; 8.Sustentabilidade política internacional - traz a eficácia do sistema de prevenção de guerras da ONU na garantia da paz e na promoção da cooperação internacional, bem como um controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de negócios, um pacote Norte-Sul de co-desenvolvimento, baseado no princípio da igualdade, sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica e um controle institucional efetivo da aplicação do princípio da precaução na gestão do meio ambiente e dos recursos naturais.

O desenvolvimento sustentável é um desafio planetário. A conservação da

biodiversidade entra em cena a partir de uma longa e ampla reflexão sobre o futuro

da humanidade. A biodiversidade necessita ser protegida para garantir os direitos

das futuras gerações. (SACHS apud DINIZ, 2006:35)

De Founex a Estocolmo e ao relatório Brundtland tem-se a necessidade de

maior crescimento econômico como formas, conteúdos e usos sociais

completamente transformados, atendendo às necessidades das pessoas buscando

uma distribuição mais justa da renda, a conservação dos recursos e enfatizando

técnicas limpas de produção. (SACHS, 1993:24)

O progresso ao longo dos caminhos da transição dependerá, em grande parte, da

capacidade e da resolução dos diferentes paises de projetarem e implementarem as

estratégias nacionais, adaptadas a sua configuração de fatores naturais, culturais e

sócio-politicos. Mesmo assim, a ação global será necessária de muitas maneiras.

(SACHS, 1993:24)

O conceito de desenvolvimento sustentável foi formulado pelo fundador do

Wordwatch Institute, Lester Brawn no inicio da década de 1980, que definiu

comunidade sustentável como a que é capaz de satisfazer às próprias necessidades

sem reduzir as oportunidades das gerações futuras (CAPRA, 2003:19). Foi a partir

de 1987 que a idéia de desenvolvimento sustentável ganha reconhecimento efetivo

com a publicação do Relatório Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland, que

carrega o nome de GroHerlem Brundtland, primeira ministra da Noruega que foi a

38

Coordenadora da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, ao usar

a mesma definição (GIANSANTI, 1998:53)

Notar a evolução de nosso ordenamento jurídico é de cabal importância para

atentarmos à evolução que ora paira sobre o Direito Pátrio. Ao buscarmos a gênese

da legislação ambiental somos levados ao período imperial onde pela Legislação

Afonsina, observávamos que parte do meio ambiente pertencia à nobreza e à coroa,

certamente pelo valor econômico que se tinha por exemplo sobre o Pau Brasil.

Segundo relato de Ann Helen Wainer (1999:158-163 apud Frey):

“no Brasil as, as primeiras formulações legislativas disciplinadoras do meio ambiente vão ser encontradas na legislação portuguesa que aqui esteve em vigência até o advento do Código Civil de 1916. Por ocasião do descobrimento, vigoravam em Portugal as Ordenações Afonsinas, editadas sob o reino de Don Afonso IV, cujo trabalho de compilação, baseada no Direito Romano e Canônico , foi concluída em 1446.”

Daí passando pelas Ordenações Manuelinas, Filipinas, esta de importante

significado pois traz no seu corpo o conceito de poluição, leis pré-republicanas, onde

destacou-se o estadista, José Bonifácio de Andrade e silva que nos dizeres de Edis

Milaré (2004:117):

“ José Bonifácio Chamou a Atenção, até com veemência, para a depredação do solo pátrio devida e das suas riquezas, previu a desertificação como os “paramos da Líbia”, a erosão devido a tantas causas; acentuou a precariedade de que hoje chamamos de erosão devido a tantas causas: acentuou a precariedade do que hoje chamamos de recursos naturais renováveis. Naquele mesmo século, algumas dezenas de pensadores e escritores alertavam o país para a degradação do seu mundo natural; inclusive , alguns deles associavam tal calamitoso estado de coisas à economia escravagista”.

Após 1970, pautado no Código Civil de 1916 passamos a ter um processo

“inflacionário” de Leis e regulamentações, e com relação às normas ambientais não

foi diferente, o que trouxe uma grande evolução para o que hoje conhecemos como

Direito Ambiental.

39

A evolução legislativa nada mais é, ou tenta ser, o reflexo dos reclames

sociais, suas evoluções e retrocessos, e com as leis ambientais não foi diferente,

notamos in an passa a evolução da norma ambiental como reflexo dos ditames

elitistas formadores de opinião e mandatários do poder constituído.

Notadamente que a evolução foi consolidada na Carta Magna do País, onde

passamos a ter um capítulo próprio para ditar o posicionamento ambiental do Brasil.

A Constituição de 1988, além do já estabelecido no art. 225 prescreve as

seguintes normas obrigatórias de atuação da administração pública e dos

particulares são algumas delas: preservação e restauração dos processos

ecológicos essenciais e provimento do manejo ecológico das espécies e

ecossistemas; preservação à diversidade e integridade do patrimônio genético;

exigência na forma da lei, de licenciamento de obras ou atividades potencialmente

poluidoras; exigência do estudo de impacto ambiental para atividades

potencialmente causadoras de significativa degradação ao meio ambiente; controle

sobre a produção, comercialização e emprego de técnicas, métodos e substâncias

que comportem risco à vida, á qualidade de vida e meio ambiente; promoção da

educação ambiental em todos os níveis de ensino.

A inclusão de um capitulo exclusivo para as questões de meio ambiente, no

título Ordem Social, na Constituição de 1988, trouxe a tona o grau de relevância do

tema. Contudo, o legislador Constituinte fez mais, tratou de incluir a variável

ambiental ao longo de todo o texto da Carta Magna, em disposições importantes,

tais como a detalhada distribuição de competências em matéria ambiental para as

unidades da Federação2 e a defesa do meio ambiente como um dos princípios

gerais da atividade econômica3, como pressuposto do desenvolvimento sustentável.

Verificamos ai uma nova transferência expressa na Carta Política, retornando-

se a um determinação do exercício da cidadania agora como valor determinante da

sociedade brasileira. Hoje não exercemos mais a cidadania como impunha

2 Artigos 21, XIX, XX, XXI, XXIII e XXV; 22, IV, XII, XXVI; 23 I, III, IV, VI, VII, IX, XI e, 24, VI, VII e VIII da Constituição Federal. De 1988. 3 Artigo 170, V, da Constituição Federal de 1988.

40

Aristóteles, mas na evolução do Estado retornamos à polis por determinação do

próprio Estado que assim exige de seus cidadãos o exercício na tutela ambiental

como pratica da existência do próprio Estado.

CAPÍTULO 2 - DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS – LEI 9.433/97.

41

O estabelecido por cidadania no Estado moderno vem concretamente

demonstrado na responsabilidade transferida aos cidadãos brasileiros com a edição

da Lei 9.433/97, a qual trata da Política Nacional de Recursos Hídricos e chama a

participação das comunidades envolvidas para a gestão da bacia hidrográfica. Isto

decorre das preocupações levantadas com o uso dos recursos hídricos nos últimos

anos e sua realidade e têm levado o mundo a busca de uma série de medidas

sociais, objetivando continuar viabilizando as diversas atividades públicas e privadas

que têm como base as águas doces, em particular, aquelas que incidem diretamente

sobre a qualidade de vida da população.

Além disso, estudos sobre o modo de apropriação e os tipos de relações mantidas pelos atores da dinâmica territorial com os recursos naturais conduziram, sobretudo ao longo das últimas quatro décadas, a um processo de revisão das atribuições do Estado,4 do papel dos usuários e do próprio uso da água. As idéias de descentralização e de participação adquiriram, então, um novo sentido na arena político-administrativa brasileira, transformando-se em importantes questões para os governos que têm sustentado o ponto de vista hegemônico sobre a modernização do Estado. Os processos de mudanças institucionais e sociais introduzidos através de políticas governamentais ocorrem, contudo, de forma extremamente variada, e embora reflitam preocupações globais com forte penetração nas sociedades, são localmente apropriados e recriados com nuanças infindáveis (cf. MACHADO, 2002).

Shiklomanov apud Machado,(2002:13- 24), nos demonstra que:

97,5% da água disponível na Terra são salgadas e 2,493% estão concentrados em geleiras ou regiões subterrâneas de difícil acesso; sobram, portanto, apenas 0,007% de água doce para o uso humano, disponível em rios, lagos e na atmosfera Com o crescimento acelerado da população e o desenvolvimento industrial e tecnológico, essas poucas fontes disponíveis de água doce estão comprometidas ou correndo risco. A poluição dos mananciais, o desmatamento, o assoreamento dos rios, o uso inadequado de irrigação e a impermeabilização do solo, entre tantas outras ações do homem moderno, são responsáveis pela morte e contaminação da água. Atualmente, mais de 1,3 bilhão de

4 Por aparelho de Estado, entendo a administração pública em sentido amplo, ou seja, a estrutura organizacional do Estado em seus três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e três níveis (União, Estados-membros e Municípios). O aparelho do Estado é constituído pelo governo, isto é, pela cúpula dirigente nos três Poderes, por um corpo de funcionários civis e pelas forças armadas.

42

pessoas carecem de água doce no mundo, e o consumo humano de água duplica a cada 25 anos, aproximadamente. Com base nesse cenário, a água doce adquire uma escassez progressiva e um valor cada vez maior, tornando-se um bem econômico propriamente dito.

Observando-se a situação privilegiada do Brasil, país que detém cerca de

12% daqueles 0,007% de toda a água doce disponível no planeta destinada ao

consumo humano, irrigação e atividades industriais, graves problemas o afligem,

relacionados à distribuição irregular dos recursos hídricos e o desperdício presente

em todos os níveis da sociedade Setenta por cento da água brasileira estão na

região Norte, onde está situada a bacia amazônica e vivem apenas 7% da

população; a região Sudeste, que tem a maior concentração populacional (42,63%

do total brasileiro), dispõe de apenas 6% dos recursos hídricos, e a região Nordeste,

que abriga 28,91% da população dispõe apenas de 3,3%. Portanto, apenas 30% dos

recursos hídricos brasileiros estão disponíveis para 93% da população. Em média,

entre 40% e 60% da água tratada são perdidos no percurso entre a captação e os

domicílios, em função de tubulações antigas, vazamentos, desvios clandestinos e

tecnologias obsoletas. Além disso, a água doce no Brasil está também ameaçada

pelo crescimento da população e da ocupação desordenada do solo, do

desenvolvimento industrial e tecnológico, que vêm acompanhados de poluição,

erosão, desertificação e contaminação do lençol freático. Segundo o Censo 2000 do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos cinqüenta anos do

século passado, a população brasileira mais que triplicou, passando de 54 milhões

para 170 milhões de pessoas. (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2002: 25).

Como resultado das diversidades sociais e regionais, da pressão antrópica e

da expansão das atividades industriais, rios, riachos, canais e lagoas foram

aterrados, assoreados, desviados e até mesmo canalizados; suas margens foram

ocupadas, as matas ciliares e áreas de reservas suprimidas. Imensas quantidades

de lixo acumulam-se no seu interior e nas encostas desmatadas, sujeitas à erosão.

Regiões no passado alagadiças, com pântanos, mangues, brejos ou várzeas foram,

primeiro, aterradas e, depois, impermeabilizadas e edificadas.

Diante dessa realidade, consolidou-se, então, no Brasil um amplo conceito de

saneamento ambiental, que envolve, além do abastecimento de água e de

esgotamento sanitário, drenagem, resíduos sólidos (plásticos, vidros, borrachas,

43

metais, tecidos, isopor, madeira, piche) e controle de vetores (FUNDAÇÃO

NACIONAL DA SAÚDE, 1999). Isso porque o abastecimento de água está

fortemente ligado ao conceito de limpeza. Portanto, uma política de água envolve

necessariamente, políticas de saneamento e de meio ambiente. Mas a política das

águas no Brasil nunca privilegiou o saneamento. Por mais de 60 anos, essa política

foi fortemente dominada pela supremacia da geração de energia, preocupação

expressa até mesmo na denominação do órgão nacional dedicado a disciplinar o

uso da água: Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica – DNAEE. É

natural que tenha sido assim; a necessidade de geração de energia elétrica para

impulsionar o desenvolvimento e a industrialização, e até mesmo para permitir a

implantação de sistemas de abastecimento de água mais complexos, com uso de

bombeamento por meio de motores elétricos, determinou a prioridade para o uso

energético da água.

Durante os anos 90 do século passado, face à dramática realidade e

situações nas quais a água está inserida, o governo brasileiro, diante dos alertas

sobre a iminente crise de disponibilidade de água, em especial após a realização da

Eco 92 no Rio de Janeiro e do preceituado no artigo 21, 22, 23 e 26 da Constituição

Federal de 1988, equacionou medidas com o objetivo de minorar os problemas já

existentes, num país onde ainda convivem a cultura da abundância e da finitude do

recurso água.

Assim determinam os artigos 21, 22, 23 e 26 da Constituição Federal:

Art. 21. Compete à União:

XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:

b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;

XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

44

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; (Constituição da República Federativa do Brasil: 1988)

Em dezembro de 1996, após uma longa tramitação e de dois substitutivos, o

Congresso Nacional aprovou o Projeto de Lei Nacional de Recursos Hídricos, que

instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos. Em 8 de janeiro de 1997, o Presidente da

República sancionou a Lei nº. 9.433/97, dotando o Brasil dos instrumentos legais e

institucionais necessários ao ordenamento das questões referentes à disponibilidade

e ao uso sustentável de suas águas. (SETTI: 2000:155)

Os principais instrumentos dessa Política são: os Planos de Recursos

Hídricos, elaborados por bacia hidrográfica e por Estado; o enquadramento dos

corpos d'água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a outorga de

direito de uso; e a cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Como a implementação

de tais instrumentos é de caráter executivo, foi criada, através da Lei nº. 9.984 de 17

de julho de 2000, a Agência Nacional de Águas (ANA), o órgão gestor dos recursos

hídricos de domínio da União. Trata-se de uma agência gestora de um recurso

natural e não uma agência reguladora da prestação de serviços públicos como as

demais existentes como ANEEL de eletricidade e ANATEL de telefonia.

A Lei 9.433/97 demarca concretamente a sustentabilidade dos recursos

hídricos em três aspectos: disponibilidade da água, utilização racional e utilização

integrada. (SETTI: 2000:169).

No âmbito dos estados-membros da federação, as constituições promulgadas

em 1989 refletiram a mesma sensibilidade presente na Constituição Federal em

relação aos recursos hídricos, incluindo entre seus preceitos artigos e até capítulos

direta ou indiretamente ligados à problemática da água, a seus usos e prioridades e

45

a sua participação nos recursos naturais e no meio ambiente. Em geral, as normas

estaduais, de acordo com suas próprias Constituições, têm por objetivo assegurar

que a água, recurso natural essencial à vida, ao desenvolvimento econômico e ao

bem-estar social, possa ser controlada e utilizada, em padrões de qualidade

satisfatórios, por seus usuários atuais e futuros.

Alguns estados adiantaram-se à regulamentação federal e instituíram os seus

primeiros planos estaduais de recursos hídricos. São eles, São Paulo, Lei 7.663/91,

Minas Gerais, Lei 11.504/94, Rio Grande do Sul, Lei 10.350/94, Ceará, Lei

11.996/92, Distrito Federal, Lei 512/93, Paraíba, Lei 6.308/96, Pará, Lei 5.793/94,

Santa Catarina, Lei 9.022/93 e Rio Grande do Norte, Lei .6.908/96. (Setti: 2000:231-

241) Outros Estados, por razões diversas mas, sobretudo, de ordem político-

partidária, só começaram a regulamentar dispositivos constitucionais mais

recentemente. É o caso particular do estado do Tocantins. Após transcorridos três

anos da publicação da lei nº 1.307/2002, foi de pouquíssimo relevo o avanço

institucional desse estado na regulamentação e aplicação da lei, visto tratar-se de

um Estado cuja potencialidade hídrica é inconteste, em relação à institucionalização,

por exemplo, de Comitês de Bacias Hidrográficas, o estado tocantinense caminha

para a formação de seu segundo Comitê, enquanto o Rio Grande do Sul (Lei nº.

10.350/94) já conta com treze e Minas Gerais (Lei nº. 11.504/94) com nove. (SETTI:

2000: 175)

A nova Lei das Águas, como ficou conhecida, foi refletida nas demais

legislações estaduais, trazendo uma profunda mudança na gestão dos recursos

hídricos, sobretudo se verificadas as legislações e ações de como a mesma era

tratada pelo poder público. A Lei das águas trouxe novas nuances e paradigmas,

como a atenção para este recurso natural limitado, a delimitação da bacia

hidrográfica como território de gestão, a dotação da água como bem de uso comum

do povo e por fim a assimilação de que a utilização e o novo modelo de gestão

repercutirá significativamente nos atores envolvidos.

Neste sentido (MACHADO, Carlos José Saldanha. Recursos hídricos e cidadania no Brasil: limites, alternativas e desafios. Ambient. soc. [online]. jul./dez. 2003, vol.6, no.2 ) assim, Algumas considerações de ordem geral, referentes aos fundamentos da Lei das Águas, merecem ser destacadas. A primeira refere-se à compreensão da água como um recurso

46

natural que, embora considerado renovável, é limitado, estando sujeito a diversas formas de esgotamento. A segunda liga-se ao estabelecimento da bacia hidrográfica como unidade territorial de gestão em detrimento de outras unidades político-administrativas, como os municípios, estados e regiões, uma vez que ela integra as relações causa-efeito que ocorrem na rede de drenagem fluvial,5 locus de manifestação dos diversos aspectos de que a gestão ambiental desse recurso deve dar conta. A terceira consideração diz respeito à concepção dos recursos hídricos como bem público, portanto da água como um bem de uso de todos, ou comum do povo, e que, conseqüentemente, deve ser compartilhada com o propósito de atender aos interesses coletivos de toda a população. A quarta consideração está vinculada à constatação empírica de que os usos da água envolvem por vezes uma interação conflituosa entre um conjunto significativo de interesses sociais diversos. A quinta consideração relaciona-se à construção de um arcabouço normativo-administrativo que, reconhecendo a legitimidade de tais interesses, estabelece um processo de gestão de recursos hídricos que permite contemplar seu uso múltiplo, não favorecendo uma determinada atividade ou um determinado grupo social. Para tanto, essa gestão integrada deve ser colegiada, devendo por isso ser descentralizada e contar com ampla participação social, incorporando representantes do poder público, dos usuários (aqueles que fazem uso econômico da água) e das diversas comunidades. Essa incorporação materializa-se na criação de um ente colegiado, o Comitê de Bacia Hidrográfica.

Uma atenção especial deve ser dada a gestão publica, como estabelece a

norma, integrada e colegiada, pois trata-se de um instrumento de enquadramento

institucional de conflitos, os quais ocorrerão inevitavelmente pois o Brasil por ser um

país de dimensões continentais, tem, consequentemente, características

diversificadas de ordem social, ambiental, física, geográfica, hidrográfica e

econômica. Trata-se de uma concepção que se consolidou há pouco tempo no

espaço institucional oficial, mas cujo desenvolvimento remete a um processo

organizativo que se deu no terreno fertilizado pelos inúmeros movimentos sociais

que, desde a década de 70, fazem parte da realidade política brasileira. Mais

recentemente, e tendo por referência possibilidades de uma cidadania ativa abertas

pela Constituição de 1988, essa movimentação ampla e multifacetada desdobrou-se

em uma tessitura democrática, constituída na interface entre Estado e sociedade,

5 Uma bacia hidrográfica é um sistema terrestre e aquático geograficamente definido e composto por sistemas físicos, biológicos, econômicos e sociais. Contém, portanto, uma grande diversidade de ambientes onde se desenvolvem diferentes atividades econômicas, as quais exercem uma influência direta na vegetação, nos solos, na topografia, nos corpos d'água e na biodiversidade em geral. Esta unidade geográfica tem no seu rio formador o ponto central para onde se convergem os remanescentes de todas as atividades ali desenvolvidas.

47

aberta a práticas de representação e interlocução públicas. Nos anos recentes,

multiplicaram-se os fóruns públicos nos quais questões como direitos humanos, raça

e gênero, cultura, meio ambiente e qualidade de vida, moradia, saúde, proteção à

infância e adolescência apresentaram-se como questões a serem levadas em conta

em uma gestão partilhada e negociada da coisa pública (CARVALHO & TEIXEIRA,

2000).

O espírito da norma é claro quando o legislador estabelecer uma gestão

colegiada. Geri-la como determina a lei, é administrá-la de modo a evitar a sua

deterioração, conservando suas características desejáveis e aprimorando aquelas

que necessitam de melhorias. O gerenciamento ambiental dessa unidade territorial

depende de haver entendimento, da parte de cada agente, sobre seu papel,

responsabilidades e atribuições, bem como adequados canais de comunicação com

os demais agentes para que se evitem ações mutuamente neutralizadoras,

confrontos e desgastes. O pressuposto a defender é a prevalência dos interesses da

coletividade sobre o particular. Daí a necessidade de sistemas colegiados de

autogestão ou co-gestão, formados por Comitês de Bacias. Isto porque, quando não

estão implantados e funcionando regularmente, é freqüente que aquele agente com

maior poder e influência imponha sua vontade aos demais, prejudicando-os em seus

interesses econômicos ou políticos, ao deteriorar o meio ambiente apropriando-se de

seus recursos naturais sem considerar as necessidades dos demais agentes.

A decisão tomada por um ente colegiado como um Comitê de Bacia

Hidrográfica reduz os riscos de corrupção do ator que toma uma decisão individual a

partir de interesses privados; limita o grau de liberdade de condutas abusivas e

arbítrio e de exercício discricionário do poder por parte do executivo. Reduz ainda os

riscos de captura da instituição pelo técnico ou pelo funcionário, de modo que o

recurso institucional seja apropriado para atender a interesses específicos e não às

finalidades públicas e coletivas. O Comitê, portanto, previne e reduz riscos de que o

aparato público seja apropriado por interesses imediatistas, orientando as políticas

públicas e formulando planos de desenvolvimento integrado. (MACHADO, 2002)

Contudo, o instrumental para promover a gestão pública, colegiada e

integrada dos recursos hídricos, nos moldes descritos anteriormente, deixa de ser

tão-somente técnico-científico pela simples razão de se tratar de um recurso repleto

48

de interesses políticos, econômicos e culturais no seu uso e apropriação. Cabe

desvelar esses interesses para que a democracia, participativa ou direta, seja um

componente da administração da coisa pública (res publica). Isso significa que, para

a efetiva sustentabilidade político-institucional da gestão do comitê, ações que

impõem uma ordem técnico-científica ao setor tecnocrático devem ser substituídas

por ações orientadas pela negociação sociotécnica.6 Quem vive e molda, portanto, o

território de uma bacia hidrográfica, tem acesso a ele e tem o direito de sustento e

abrigo. É a comunidade mesma que deve arcar com as conseqüências diretas das

ações implantadas no território onde vivem e/ou trabalham seus membros.

(MACHADO, 2002)

Dentre as formas de negociação social, e no intuito de contermos as

manobras resta importante identificarmos a modalidades dos planos de negociação

para a dissolução dos conflitos. No plano econômico, conduzida através do

mercado, onde o preço serve como expressão do valor e o dinheiro, como

instrumento de negociação. Nem sempre é suficiente ao gerenciamento do recurso

natural. Negociação no plano político direto onde é o utilizado na gestão das bacias

hidrográficas, pois é reservado para as questões sociais mais complexas, ou que

podem ser resolvidas por consenso,. Neste processo o interesse regional ou local

serve como referencia de valor. Negociação social no plano político administrativo é

a negociação em que o interesse social global serve como expressão de valor e por

derradeiro a negociação social no plano jurídico o qual é o plano hierarquicamente

mais alto onde estão vinculados os demais tipos de negociação, pautado na

legislação, na ética e nos costumes. (FREITAS, 2000:15-16)

O ordenamento constitucional prescreveu vários mecanismos capazes de

assegurar aos cidadãos a defesa judicial do meio ambiente. Entre eles estão as

seguintes ações judiciais: a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato

normativo; a ação civil pública; a ação popular constitucional; o mandado de

segurança coletivo e o mandado de injunção, além, são claro, das ações de

6 O uso que fazemos do termo sociotécnico - criado nos anos 60 por um grupo de sociólogos britânicos que estudavam as organizações empresariais e estendido posteriormente ao estudo das tecnologias por historiadores, sociólogos e antropólogos (MACHADO, 2000 - tem por objetivo enfatizar a necessidade de fazer dialogar o social e o técnico, face à complexidade, à heterogeneidade e à diversidade dos elementos que se combinam e se misturam num dado espaço geográfico de uma sociedade mais ampla, formando um emaranhado de relações constitutivas das práticas e ações cotidianas dos atores da dinâmica territorial.

49

procedimento comum e das medidas ou ações cautelares respectivas. Dessa forma,

é importante o papel reservado ao Poder Judiciário na tutela ambiental, pois é

através dele que se exercerão os direitos da cidadania, uma vez que a ele serão

submetidas as ameaças e lesões de direito perpetradas contra o ambiente. Mesmo

assim, como alertam os especialistas em Direito Ambiental (AGUIAR, 1996), o ator

que decidir fazer uso dos instrumentos jurisdicionais deve avaliar cautelosamente a

sua escolha, a fim de que o resultado esperado tenha um mínimo de eficácia

possível. A complexidade das causas – envolvendo aspectos científicos, técnicos, de

pesquisa de campo e mesmo de laboratórios – pode tornar os processos judiciais

lentos, no caso de isenção de custas, ou caros, no caso da necessidade de uma

pronta resposta.

Torna-se importante acrescentar a fragilidade e os limites da participação da

sociedade no contexto de um modelo de cidadania ambiental que tem como base a

defesa judicial dos direitos como sua principal arma e forma última de controle dos

atos ilícitos, o que se torna ainda mais relevante considerando a dificuldade e o

despreparo do poder judiciário brasileiro para lidar com as questões relativas ao

meio ambiente. O problema foi estampado em matéria publicada na Folha de São

Paulo7 intitulada "Justiça deixa maiores poluidores impunes". A matéria nos lembra

que "após três anos de promulgação da Lei de Crimes Ambientais e de 20 anos da

Política Nacional de Meio Ambiente, a justiça brasileira não consegue enquadrar

grandes poluidores nas normas do direito ambiental", e faz menção à afirmação do

jurista Édis Milaré de que "a justiça que tarda é injustiça, principalmente quando se

trata de problemas tão preocupantes quanto os do ambiente". Há toda uma tradição

romana arraigada no direito brasileiro, baseada na concepção de propriedade

privada, de forte acento individualista e privatista, incompatível com a visão social e

coletiva necessariamente presente no direito ambiental.

Nesses tempos de mudanças e futuro incerto, a administração democrática

de um bem de uso comum do povo, a água, está no centro de nossas inquietações e

perplexidades diante dos rumos da modernização brasileira no cenário de um mundo

globalizado. Não obstante, para que a gestão colegiada seja instrumento de

implementação do desenvolvimento sustentável, é necessário atentar para algumas

7 Jornal de 14 de outubro de 2001, p. C-1

50

fragilidades a serem vencidas, a fim de que ocorra uma maior representatividade e

efetiva participação da sociedade em entidades de gestão pública, colegiada, como

os Comitês de Bacias.

Torna-se relevante destacar que o princípio da gestão colegiada, integrada,

descentralizada e participativa no Brasil é fundamental para a compreensão da lei

como instrumento de mudança do paradigma de política pública. Contudo, o

princípio em questão é motivo para alguns conflitos entre Sociedade Civil e Poder

Público, uma vez que há uma cultura administrativa de forte tradição centralizadora e

tecnocrática ainda bastante arraigada no Brasil. Mesmo que a Constituição Federal

de 1988 tenha instituído um pacto federativo entre União, Estados e Municípios

através do princípio de subsidiaridade,8 a cultura do poder centralizado é uma

herança da fundação da República, transmitida de geração a geração, que tem

condicionado a evolução da política brasileira.

No caso dos recursos hídricos, essa cultura sobrevive através de toda uma

geração de especialistas das mais variadas formações que ocupam cargos

decisórios em órgãos do Poder Público, detentores de conhecimentos sobre as

bacias hidrográficas e agindo com base em extensas redes de relações socio-

profissionais. Tratam-se de funcionários públicos que compartilham a crença

segundo a qual os técnicos são os que sabem o que é melhor para todos. Esses

funcionários não entendem que as ciências e as tecnologias não devem tutelar a

democracia direta na gestão integrada das águas, pois nenhum desenvolvimento

sustentável poderá existir sem a participação ampliada das populações envolvidas.

A gestão integrada, descentralizada e participativa de uma bacia hidrográfica

é um assunto sério demais para ficar nas mãos tão somente dos técnicos do Poder

Público. Além disso, como nos tem ensinado as Ciência Sociais em geral, a

Antropologia e a Sociologia, em particular, toda e qualquer decisão tomada com

base em critérios técnicos serve a algum propósito político, quer se tenha ou não

consciência disso (MACHADO, 2000: 77). Tal característica deve-se ao fato de que

todo e qualquer técnico, na condição de pessoa humana, traz dentro de si os valores 8 No direito administrativo, esse princípio consiste na orientação de que tudo quanto pode ser decidido em níveis hierárquicos mais baixos de governo não será resolvido por níveis mais altos dessa hierarquia. Em outras palavras, o que pode ser decidido no âmbito de governos regionais, e mesmo locais, não deve ser tratado na capital federal ou nas capitais dos estados.

51

políticos, éticos, morais e hábitos profissionais da sociedade e da cultura da qual faz

parte, valores esses que norteiam suas ações individuais. Uma pessoa habitua-se a

tal ponto com certas identidades que, mesmo quando sua situação social muda, ela

encontra dificuldade para acompanhar as novas exigências.

A lógica da gestão territorial participativa e descentralizada contida na "Lei de

Águas" não pode esconder o fato de que o termo 'participação' acomoda-se a

diferentes interpretações, já que se pode participar ou tomar parte em alguma coisa

de formas diferentes, que podem variar da condição de simples espectador, mais ou

menos marginal, à de protagonista de destaque. Assim, a pretendida e esperada

participação da sociedade, dos usuários e das comunidades em geral está

formalmente incluída na Lei, garantida por meio de sua representação eqüitativa nos

Comitês e demais organismos de bacia hidrográfica, assim como nos Conselhos

estaduais e nacional.

Mas a participação efetiva e material da sociedade também deve ser

garantida através de outros mecanismos, que valorizem as histórias particulares de

cada localidade e as diversas contribuições das populações envolvidas,

incorporando-as aos planos diretores e ao enquadramento dos cursos de água. Não

se trata apenas de apresentar à população um plano diretor de bacia, elaborado no

espaço de trabalho fechado do corpo técnico-científico do Poder Público com o

objetivo de validá-lo, mas de garantir a efetiva participação da população local na

consolidação e materialização de um pacto através da prática política anteriormente

denominada "gestão colegiada e integrada com negociação sociotécnica". A base

empírica do conhecimento local da população sobre os corpos d'água de uma bacia

hidrográfica deve ser valorizada, pois possui um valor socioambiental inigualável.

Além disso, os cursos d'água fazem parte da história do indivíduo, da família e da

comunidade que integram essa população, ganhando sentidos simbólicos que

ocupam uma parte importante de seu patrimônio cultural (MACHADO E CARDOSO,

2000: 06).

A defesa da participação, portanto, não envolve apenas um princípio

democrático de sentido humanista, filosófico (quando não degenera para o

demagógico ou puramente retórico), mas é também parte importante na construção

de uma nova forma de encarar a gestão de recursos públicos caros e escassos. Ela

52

pressupõe ainda o fato de que uma pessoa envolvida na tomada de uma decisão

sentir-se-á comprometida e procurará vê-la cumprida. Será, portanto, um agente de

implementação dessas decisões, não apenas um agente passivo. De fato, a

aceitação é maior quando existe participação em todo o processo de gestão de um

projeto ou de uma política, e quando o participante faz sua própria escolha. Nos

comitês de bacias hidrográficas, a população envolvida é gestora e deve poder

reconhecer as decisões que resultam num plano diretor ou no enquadramento de

um rio como propriamente suas, ou pelo menos deve estar convicta de que elas são

a expressão de um consenso possível, resultante de uma negociação sociotécnica

onde suas aspirações foram consideradas.

É imprescindível a participação ativa dos Municípios nos Comitês de Bacias

Hidrográficas. De acordo com a competência administrativa comum que lhes é

reservada junto à União, aos Estados e ao Distrito Federal (Constituição Federal, 23,

VI), onde assim esta esculpido:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

Cabe a eles o exercício de policiamento das águas, inclusive em relação aos

bens federais e estaduais. De fato, nos termos da Lei Orgânica e de Posturas dos

Municípios, isso os credencia a estabelecer medidas restritivas ou de controle para

preservar, por exemplo, as águas de um lago em seu território, ou fazer com que

proprietários de um "lava-a-jato" não desperdicem água tratada obrigando-os à

utilização de poços artesianos para esse fim. No exercício do poder de polícia, o

Município pode exigir o pagamento de taxa – modalidade de receita tributária, como

inscrita na Constituição Federal (art. 145, II, e § 2º) – para licenciar ou inibir certos

usos das águas e até multar infratores por seu mau uso, segundo os interesses

comuns urbanos ou metropolitanos. Mas o envolvimento desses entes da federação

nesse processo ainda é muito tímido, como testemunha o fato de apenas três

Prefeitos dos 5.561 municípios brasileiros terem comparecido à reunião do IV Fórum

Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas realizada no mês de maio de 2002 no

Estado de Santa Catarina e como verificaremos nos capítulos futuros

53

Devemos frisar que as novas idéias suscitadas pela política de recursos

hídricos são importantes para as mudanças sociais e políticas ou, pelo menos, elas

constituem uma reinterpretarão de antigas idéias que vigoraram por algumas

décadas. Mas é importante não esquecer que as preocupações dos cidadãos com o

meio ambiente sempre foram instáveis, variadas e ambíguas. Alcançaram raramente

a intensidade necessária para forçar uma mudança radical das políticas, exceto

quando os cidadãos agem de forma organizada e melhor qualificada para o

exercício da cidadania ambiental. Além disso, as preocupações expressas pelos

cidadãos ultrapassam freqüentemente suas preocupações reais, como testemunham

suas escolhas de consumo, de moradia ou de transporte. Pode-se esperar que a

emergência de uma crise ambiental, como a escassez de água nesse início de

século, um evento cíclico com escala temporal alternada, provoque reações muito

pontuais, e não uma reorientação fundamental do pensamento ou do

comportamento. (MACHADO: 2000:67)

O fato de que as novas idéias sobre gestão de recursos hídricos não tenham

ainda transformado substantivamente a administração pública da maioria dos

Estados e Municípios da federação, ou os comportamentos individuais, não significa,

no entanto, que elas sejam ineficazes. Seu efeito medir-se-á ao longo das próximas

décadas, e não em anos. Ele dependerá das mudanças que ocorrerem na forma

como governantes e parlamentares vêm se tornando donos do poder desde a época

da Colônia (Faoro, 1957), mantendo com os cidadãos relações pessoais de favor,

clientela e tutela, que caracteriza a indistinção atual entre o público e o privado na

organização do aparelho do Estado no Brasil.

Esperar que tais intervenções marquem, ocasionalmente, mudanças de

comportamentos em grande escala é, talvez, ilusório, e nos leva a ignorar nossa

responsabilidade coletiva em produzir mudanças mais realistas. Grandes mudanças

sociais ocorrem com freqüência, mas, à exceção das revoluções, estendem-se

durante décadas ou períodos até mais longos. Além disso, essas mudanças não se

originam unicamente das políticas públicas, e não ocorrem necessariamente por

causa delas. Tais políticas podem, certamente, desempenhar um papel relevante,

mas não podem sozinhas, forçar uma mudança social. O que elas podem, na

verdade, é ajudar na interação das forças em jogo. Numerosos e distintos tipos de

54

mudanças podem se interagir. Nesse sentido, mesmo as mudanças individuais, que

parecem inexpressivas, podem mostrar-se bastante úteis, uma vez agrupadas.

(MACHADO E SALDANHA, 2000)

Qualquer lei nova implica duas mudanças que ultrapassam, na maioria das

vezes, os limites da nossa capacidade de apreensão da realidade imediata:

introduzir modelos de conduta antes inexistentes, e modificar as relações dos

indivíduos entre si e entre esses e o Estado. Esta transformação representa um

conjunto de perturbações que pode chegar a ser muito violento. Daí a necessidade

de um período de adaptação para prover, ajustar e até renunciar, pois o legislador

pode verificar que o que se pensou como realizável, mostra-se, na prática,

impossível de se efetivar, ou pode até mesmo levar a resultados absolutamente

contrários aos esperados. (MACHADO E SALDANHA, 2000)

Afora seus efeitos empíricos, a lei, em si mesma, é um objeto intelectual, uma

estrutura abstrata que necessita ser compreendida e desenvolvida, pois, ao ser

analisada, ela revela significados que vão além do que está escrito. Ou melhor, o

que não está dito expressamente na lei é tão obrigatório quanto o que aparece no

texto, apenas com a condição de que suas conseqüências sejam rigorosamente

lógicas e não estejam em oposição com os fins sociais aos quais o legislador se

propôs.

Não se pode esquecer que a lei é instituída sob as condicionantes da

realidade de seu tempo para reger, porém, no futuro. Para que não ocorra uma

situação de anarquia e insegurança, é necessário regular as situações novas e as

mudanças que são continuamente produzidas pela evolução ambiental, social,

econômica e tecnológica.

Sem deixar de reconhecer o grande esmero das autoridades oficiais, tanto

federal, quanto estaduais, na elaboração da "Lei das Águas", podemos afirmar com

segurança que, à medida que passe o tempo, aparecerão – um depois do outro –

distintos problemas. Alguns deles já foram abordados nos Projetos de Lei nºs 1.616 e

4.147 ora em tramitação no Congresso Nacional. Trata-se de uma obra humana e,

como tal, a lei é imperfeita, embora seja também, pelo mesmo fato de ser humana,

aperfeiçoável. Isso significa que, seguindo a nova Lei, podemos aguardar um

55

autêntico trabalho de gestão, desenvolvendo a lei em todos os seus alcances e

conseqüências, interpretando-a, eliminando suas contradições, preenchendo os

vazios, afastando suas incoerências. Em suma, fazer com que se alcance, na

medida do possível, o ideal de uma clareza absoluta, de maneira que todos os

atores da dinâmica territorial de uma bacia hidrográfica possam conhecer e discutir

as "leis do jogo" do delicadíssimo ato de tratar de um bem de uso comum do povo, a

água.

Finalmente, em termos de arcabouço jurídico, a legislação brasileira sobre

meio ambiente, embora tenha alcançado um expressivo nível de complexidade e

abrangência na última década, ainda se ressente de várias brechas remanescentes.

Ainda não se conseguiu consolidar uma legislação que proporcione à cidadania uma

totalidade normativa coerente e homogênea (MACHADO, 2000). Exemplo disso é o

Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257), aprovado pelo Congresso Nacional em 10 de

julho de 2001, após 11 anos de negociações e adiamentos, que veio estabelecer as

diretrizes e ações necessárias à sustentabilidade dos meios urbanos. Essa nova

legislação atinge 85% da população brasileira moradora de áreas urbanas. As

inovações contidas no Estatuto situam-se em três campos: novos instrumentos de

natureza urbanística voltados para induzir – mais do que normalizar – as formas de

uso e ocupação do solo; nova estratégia de gestão que incorpora a idéia de

participação direta do cidadão em processos decisórios sobre o destino da cidade; e

a ampliação das possibilidades de regularização das posses urbanas, até hoje

situadas na ambígua fronteira entre o legal e o ilegal. O desafio lançado pelo

Estatuto incorpora o que existe de mais vivo e vibrante no desenvolvimento da

democracia brasileira: a participação direta (e universal) dos cidadãos nos processos

decisórios. Audiências públicas, plebiscitos, referendos, além da obrigatoriedade de

implementação de orçamentos participativos são, assim, mencionados como

instrumentos que os municípios devem utilizar para ouvir diretamente os cidadãos

em momentos de tomada de decisão a respeito de sua intervenção sobre o território.

(MACHADO, 2000)

Os novos conceitos que permeiam as leis nacional e estaduais de recursos

hídricos das últimas décadas surgiram da necessidade de conter ou contornar uma

crise de qualidade e quantidade, nascida do uso excessivo e mal organizado do

56

recurso hídrico, um dos elementos vitais para a vida humana no Planeta.

(MACHADO, 2000)

As políticas públicas em discussão no Brasil se encaminham para a

implantação de instituições que contam com a participação da sociedade, pois o

modelo anterior, que concentrava responsabilidades unicamente nas mãos do

Estado, encontra-se superado. Vem daí a necessidade das mudanças que se

pretende implantar através de políticas específicas de recursos hídricos. Essas

políticas constituem,assim, uma novidade no campo normativo ao contemplar a

sociedade civil como parte do poder de decisão, juntamente com o Estado e os

Municípios onde se encontra a bacia hidrográfica, sendo uma de suas ferramentas o

Comitê de Bacia hidrográfico.

Formalmente, o aperfeiçoamento do sistema brasileiro de gerenciamento de

recursos hídricos depende de nossa capacidade de exercer a cidadania. Mas, como

lembra Paulo Affonso Leme Machado (2000, 424) "para que não se destrua a gestão

participativa e nem se torne a mesma ineficaz, será preciso que o controle social

encontre meios de contínua e organizada informação." Realmente ai teremos uma

gestão sustentada pela cidadania, pois as leis constituem um processo, e não letras

sem vontade

Nesse sentido, para aqueles que escolheram o caminho da democracia direta

e constitucional, tanto sob o ponto de vista político quanto profissional, essas

reflexões podem tornar-se, na verdade, um estímulo ao compromisso de todos de

agir sempre em prol do bem-estar desta e das futuras gerações, de forma

inequívoca. Tal escolha envolve princípios e direitos fundamentais, como a defesa

da democracia e o repúdio à arbitrariedade e ao desmando, remediando,

consequentemente, os problemas socioambientais causados pelos padrões atuais

de desenvolvimento econômico e de utilização dos recursos naturais.

Efetivamente a Política Nacional de Recursos Hídricos vem arraigada de

instrumentos que buscam a tutela do bem ambiental, fonte de uma evolução social

do movimento ambientalista e das necessidades sociais. Entretanto ao estabelecer

uma política nacional que trata de um tema desta envergadura, e mesmo por ser

57

intrínseco do exercício político, é natural que o mesmo venha fomentar as

discussões em prol do amadurecimento do tema.

Criar mecanismos legais para a tutela ambiental sem torná-los efetivos é

exercitar a construção de meras ferramentas jurídicas sem uso. Os conflitos sociais,

quando exercitados de forma legal, gerarão um concreto instrumento de valorização,

de construção da própria política do comitê e de sua viabilidade, pautado assim em

uma construção democrática, com fundamentos sustentáveis.

CAPÍTULO 3 – A SUSTENTABILIDADE E OS CONFLITOS SOCIAIS NA MANUTENÇÃO DO COMITÊ

58

Tornar um comitê de bacia hidrográfica sustentável ou viável implica em

aceitar os conflitos sociais decorrentes da vida do próprio comitê. Como visto na

norma jurídica a aceitabilidade de tal condição tendo por foco o bem comum é

condição imposta não só na esfera política, mas principalmente na esfera social.

3.1- A importância da participação democrática na gestão do comitê de bacia hidrográfica

Como já demonstrado nos capítulos anteriores a questão ambiental a partir da

segunda metade do século XX passou a influenciar significativamente as estruturas

político-social, o que propiciou o surgimento de ações que visavam a preservação

ambiental ou mesmo o seu uso de forma racional.

A lógica funcional que está na base do sistema político-administrativo

prevalecente nas democracias representativas do mundo ocidental pressupõe que

aqueles que exercem funções públicas deveriam, a princípio, estar em condições de

transformar as concepções politicamente defendidas também em planos de ação

pertinentes e, por conseguinte, em correspondentes resultados políticos. Mas, à

medida que aumenta a complexidade e a diferenciação funcional da sociedade

moderna, declina a capacidade de condução e de governabilidade por parte do

sistema político-administrativo. Particularmente os problemas ambientais mostram

de forma mais nítida, "que a política deveria conseguir muito e acaba conseguindo

pouco" (LUHMANN apud FREY1990: 169).

Na abordagem política de participação democrática, a participação popular

torna-se a base da política ambiental, indispensável para uma mudança substancial

do atual quadro de políticas públicas. O planejamento deve ser compreendido não

apenas como orientado pelas necessidades da população, mas também como

conduzido por ela. Uma vez que as condições de poder político são vistas como

responsáveis para os atuais problemas ambientais, afetando em primeiro lugar os

mais pobres, é fácil compreender a reivindicação em favor da alteração dessas

condições de poder, o que significaria dar um peso mais forte aos interesses

anteriormente marginalizados nos processos políticos de decisão.

59

O modelo de imposição de vontade pública conduzida pela base – o qual, a

propósito, é defendido pelo movimento ecológico como ordem política preferencial9 –

aposta antes no confronto do que na cooperação, o princípio norteador do

ecodesenvolvimento. No lugar das elites oligárquicas, é a base, ou seja, a própria

população que deve determinar as diretrizes políticas. A pretensão de condução e

controle político pela base e a conseqüente necessidade de romper com o

compromisso de elite exigem a descentralização do processo de decisão e a

introdução de uma democracia participativa. Só desta maneira os cidadãos podem

tornar-se atores efetivos dos processos decisórios.

Nos dizeres de Leff (2001:99):

a crise ambiental incorpora novas demandas às reivindicações tradicionais de democracia, justiça social e de propriedade territorial das lutas populares. As demandas ambientais promovem a participação democrática da sociedade no uso e manejo dos recursos atuais e potenciais, assim como a construção de novos estilos de desenvolvimento, fundados em princípios da sustentabilidade ecológica, equidade social, diversidade étnica e autonomia cultural.

Em contrapartida às abordagens de condução estatal, que apostam no

conhecimento superior dos agentes planejadores, a abordagem política de

participação democrática procura conscientemente o conflito com as elites

dominantes e parte da necessidade de alterações das condições de poder

existentes, do desenvolvimento de novos mecanismos de formação de vontade

política em defesa dos grupos política, social e economicamente desprivilegiados da

sociedade, o que exige o desdobramento efetivo e a resolução dos conflitos sócio-

ambientais.

Distinguimos assim duas orientações distintas dentro da abordagem política

de participação democrática; primeiro, uma vertente que enfatiza a própria luta do

povo, mais especificamente dos excluídos contra o poder predominante das elites

tradicionais e, segundo, uma vertente que se concentra na idéia e na suposta força

9 Para LEFF (1992: 48) trata-se no movimento ambiental de "un movimiento histórico, de transformación civilizatoria", o qual "se sustenta em principios de autonomía, autogestión y autodeterminación para promover una democracia participativa y un desarollo descentralizado".

60

da sociedade civil e na necessidade da criação de uma esfera pública, que deveria

tornar-se a força motriz do sistema político e a força transformadora dentro de um

projeto de desenvolvimento sustentável. A primeira aposta tendencialmente no

conflito e na luta dos grupos e indivíduos excluídos pelo acesso ao poder social e,

na seqüência, ao poder político, a segunda no próprio processo discursivo e no

princípio do entendimento, impulsionado por uma sociedade civil organizada e

engajada nos processos políticos.

A abordagem política de participação democrática, a concepção de uma

democracia discursiva ou reflexiva. Esta aposta, do mesmo modo, no fortalecimento

da sociedade civil, porém dando menos ênfase à luta dos marginalizados, dos

desprovidos de poder contra a elite dominadora, mas sim à democratização do

processo político, à imposição do melhor argumento no processo comunicativo de

formação de opinião e à criação de uma esfera pública, sustentada pela sociedade

civil, que deveria se tornar a força motriz para a promoção do desenvolvimento

sustentável. (FREY: 2001)

No caso da democracia discursiva não se trata tão pouco de uma abordagem

elaborada explicitamente a partir de uma preocupação com a questão ambiental,

porém, a proposta apresenta características que podem ser úteis para se pensar

uma concepção do desenvolvimento sustentável e possíveis soluções para a crise

ecológica. A opção a favor da radicalização do princípio democrático não se deve,

em primeiro lugar, a uma suposta melhor performance na questão ambiental

(Lafferty/Meadowcroft 1996: 3), mas se impõe, de forma geral, devido à crescente

perda de confiança em boa parte das instituições sociais e à retração da

participação política que nos países industrializados afeta todas as áreas de tomada

de decisão pública (FIORINO apud Frrey, 1996: 210). O ponto de partida são as

próprias limitações da democracia liberal referentes à capacidade de resolução de

problemas, por um lado, e referentes à contribuição para a emancipação do povo,

por outro. (Frey: 2001)

Não é pela importância instrumental que estes autores preconizam a

democracia e a participação, contudo eles atribuem à democracia um valor

"intrínseco" (SCHMIDT apud Frrey, 1995:174), e a participação é compreendida

como um "valor em si" (HABERMAS apud Frrey, 1973). Mas para além dessa

61

preocupação humanista, a adoção dos princípios básicos da teoria da democracia

deliberativa ou dialógica pela concepção da democracia ecológica (MASON apud

Frrey, 1999; DRYZEK, 1992 e 1996) pode ser entendida como uma resposta ao fato

de que a aplicação de meios e instrumentos autoritários e centralizados. (Frey: 2001)

Visto que a distribuição de poder nas democracias liberais é bastante desigual

e domina as posições privilegiadas do capital e dos interesses econômicos com seu

grande potencial de pressão, os valores ambientais costumam sair perdendo em

relação às orientações para o lucro financeiro (imediato). A democracia liberal

privilegia os interesses particulares de pessoas ou grupos sociais afetados em

detrimento dos interesses ecológicos de caráter geral e difuso. Em geral, o empenho

em favor de soluções para problemas ecológicos de grande escala, que não

beneficiam grupos sociais específicos, não se traduz em vantagens eleitorais

significativas.

Contudo, a abordagem política de participação democrática parte da

necessidade de uma ampla participação para determinar os objetivos das políticas

ambientais, visto que, no fundo, trata-se de questões altamente subjetivas e sujeitas

a juízos de valor. Parte-se do pressuposto de que só uma abordagem participativa

estaria em condições de incorporar as necessidades de todos os segmentos da

sociedade, de futuras gerações e de outras espécies (PAEHLKE apud Frrey, 1996:

19). Deste ângulo, torna-se imprescindível uma democratização ecológica que

requer a proliferação de valores democráticos e ao mesmo tempo de valores

ecológicos, ou seja, tanto a democratização do processo político como a

ecologização das políticas públicas (DRYZEK apud Frrey, 1996a: 108s). Trata-se no

caso da democracia ecológica ou ambiental de uma concepção normativa que

aposta na possibilidade de que é possível chegar-se a uma compreensão e a

soluções comuns dos problemas ambientais pelo aperfeiçoamento do processo

comunicativo e pela garantia das condições sociais e ecológicas da liberdade

comunicativa (MASON, 1999 apud Frey: 2001)

A nível dos municípios existem possibilidades de adoção de mecanismos de

mercado na perseguição do desenvolvimento sustentável. Todavia, tais

possibilidades costumam ser restritas, porque as empresas locais se encontram em

concorrência com empresas de outros municípios e Estados, provocando a

62

resistência dos interesses econômicos locais. Outro fator limitador concerne à

resistência do eleitorado a quaisquer medidas que atinjam o bolso do cidadão, o que

deixa bastante evidente que a implementação de tais mecanismos depende de um

processo de participação política e de conscientização, para que o cidadão aceite

tais medidas em favor do bem comum e de um ambiente mais saudável. (Frey:

2001)

Uma perspectiva estratégica pede um modelo político que seja caracterizado

por um Estado politicamente - mas não necessariamente economicamente - ativo.

Este deve procurar criar e fomentar estruturas da sociedade civil e também abrir,

criar, lutar para a ampliação, de forma ativa, das margens de ação junto aos

cidadãos, procurando, desta maneira, capacitar a sociedade civil e os grupos

tradicionalmente desprivilegiados, para que assim os próprios cidadãos possam

defender e sustentar, a longo prazo, o projeto de reforma iniciado - sem dúvida a

melhor forma de garantir a sua sustentabilidade, neste caso em, em especial os

Comitês de Bacia Hidrográfica. Para incluir, de forma perene, aqueles setores

tradicionalmente marginalizados e necessitados no processo político, parece

imprescindível o fomento e o apoio à organização formal desses setores, a fim de

que esses possam mostrar-se mais resistentes contra tentativas de manipulação e

formas de cooptação por parte de futuros chefes políticos. Contudo, a perseguição

do desenvolvimento sustentável dentro de uma perspectiva democrática exige, pelo

menos por enquanto, um Estado ativo e facilitador. Cabe em particular aos

municípios estimular a participação e o engajamento cívico, sendo este

imprescindível para avançar no fortalecimento da consciência ecológica, e promover

desta forma os fundamentos para implementação de um outro modelo de

desenvolvimento consentâneo com as necessidades de uma sociedade sustentável.

3.2 – Os Conflitos sociais e a implantação viável dos Comitês de Bacia

Hidrográfica no Brasil.

Ver a sociedade como algo pré-determinado, implica, em um processo de

auto alienação. Como atentado nos capítulos anteriores, desde os primórdios da

humanidade verifica-se a necessidade de se estabelecer mecanismos para a gestão

comportamental da sociedade. Entretanto, planejar exige a contínua verificação dos

fatos, fatores e atores envolvidos, fazendo-se com isto que as decisões sejam as

63

mais próximas possíveis das necessidades apresentadas, neste diapasão criaram-

se os Comitês de Bacia Hidrográfica, instituídos, acima de interesses

governamentais, com uma função sine qua, dentro e um Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos o qual é espelhado em princípios aplicados na

experiência francesa desde os anos 60, assim distribuído em suas esferas de

responsabilidade, conforme estabelecido pela norma jurídica, Lei 9.433/97:

• Conselho Nacional de Recursos Hídricos - órgão hierarquicamente mais elevado, a quem cabe decidir sobre as grandes questões do setor.

• Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e Distrito Federal- órgão mais elevado na hierarquia do Sistema em nível estadual.

• Comitês de Bacias Hidrográficas - instâncias descentralizadas e participativas de discussão e deliberação, contando com a participação de diferentes setores da sociedade (usuários das águas, políticos, sociedade civil organizada) e destinados a agir como fóruns de decisão no âmbito das bacias.

• Agências da Água – organismos com atuação em nível de bacias, os quais visam dar apoio técnico e funcionar como secretaria executiva dos respectivos comitês de bacia. Suas funções são, principalmente, operacionalizar a cobrança pelo uso das águas e elaborar os planos plurianuais de investimentos e atividades, os quais devem ser votados pelos Comitês.

• Organizações Civis de Recursos Hídricos - organizações de cidadãos com atuação nas respectivas bacias hidrográficas.

Neste sentido são esclarecedores os ensinamentos de MAGALHAES JR.,

Antônio que utilizaremos neste capítulo.

64

Fig. 01 - O Processo Decisório no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Os Comitês de Bacia foram criados visando a efetiva implantação, no Brasil,

da gestão descentralizada10 e participativa11, congregando representantes do poder

público, mas também de usuários das águas e da sociedade civil organizada. Busca-

se no comitê a implantação e o exercício da cidadania participativa e democrática,

entretanto deveremos nos ater para o fato de não estarmos na França e que nosso

exercício de cidadania estar fragilizado pela ausência de condições de uma

cidadania individual.

O processo decisório específico do Comitê segundo os quais diferentes

atores discutem e decidem sobre questões de interesse para os planos de gestão

plurianuais das bacias com o auxílio das Agências da Água devem levar em

consideração da premissa acima apresentada, logo a efetivação dos Comitês no

Brasil implica em "inovações", inovação estas que deverão respeitar as

peculiaridades locais, e ai em verdade reside uma as grandes obstáculos para a

implantação do Comitê.

Se qualquer sistema decisório envolve fluxos, transformações e informações,

isto vale também para os Comitês de Bacia (fig. 2). Paradoxalmente, a experiência

francesa mostra que as Agências da Água são os organismos de bacia com maior

10 Gestão descentralizada é aqui concebida como a gestão que incorpora o princípio de subsidiariedade, e cujo processo decisório flui em diferentes escalas espaciais, desde o nível federal, aos níveis mais locais relativamente próximos do cidadão (municípios, bacias hidrográficas, etc.). 11 Gestão das águas participativa é aqui concebida como a gestão não unicamente Estatal, mas que incorpora a participação de diferentes setores da sociedade, incluindo os usuários das águas e representantes da sociedade civil organizada.

65

acesso às informações sobre as realidades locais, já que são elas as principais

responsáveis pela geração, tratamento e divulgação de informações a serem

utilizadas nos planos de gestão de bacias. Acompanhando o "dia a dia" das bacias,

as Agências adquirem competência para conhecer detalhadamente os quadros

naturais, econômicos e sociais de interesse na aplicação da cobrança pelo uso da

água. Mas as atividades, propostas e relatórios das Agências dependem da

aprovação dos Comitês, os quais devem, portanto, saber avaliar e interpretar as

informações apresentadas e necessárias ao processo decisório. Sem tal controle, os

comitês, ou certos setores representados nos comitês, ficam vulneráveis e obrigados

a aprovar o que não conhecem.

Sabendo-se que nem todo consenso é democrático, e que nem toda decisão

é justa, cabe, portanto, aos comitês realizar um trabalho de preparação, educação e

informação de seus integrantes e da comunidade afim de que evite ou minimize

problemas derivados do desequilíbrio de forças internas, como arranjos locais ou

setoriais que possam defender os interesses da coletividade, em pleno exercício da

cidadania, e conseqüente melhoria da qualidade ambiental das bacias e da

qualidade de vida dos cidadãos.

A pré organização da implantação do comitê resulta num processo de ampla

difusão das informações da bacia a seus atores, bem como a função estratégica que

a mesma exerce diretamente na qualidade de vida de seus atores. A não

preparação deste processo pré organizacional implica na potencial sustentabilidade

do comitê como sendo auto suficiente (independente) deixando-o fragilizado as

ameaças externas como por exemplo a vontade política, sobre a vontade local dos

atores. Neste sentido MAGALHAES JR. Destaca, estes riscos e desafios potenciais

aos quais estão expostos os Comitês de Bacia ilustram a necessidade da atenção a

ser dada ao processo decisório nesta fase de adaptação e transição, cujas raízes e

consolidação de princípios devem ser bem preparadas e instaladas a fim de evitar o

surgimento e possível agravamento das referidas "deformações" internas. Como

dito, o controle das informações é a garantia do poder das decisões.

A crescente valorização dos comitês (e outras organizações de bacia, como

consórcios intermunicipais) vem ao encontro dos estudos que demonstram que

apesar de grupos serem mais lentos do que indivíduos isolados na tomada de

66

decisões, a probabilidade de acertos aumenta. Ademais, as pessoas estão sempre

mais dispostas a aceitarem uma decisão que elas auxiliaram a tomar. Entretanto,

obstáculos podem surgir em nível de grupos decisórios, como o desequilíbrio de

forças entre indivíduos ou setores representados, indivíduos mal preparados e

informados, indivíduos desinteressados, pouco sensíveis ou com baixa competência

interpessoal, além de processos de interação ineficientes (HAMPTON apud

MAGALHAES JR.,).

O comportamento do Comitê e de sua implantação implica de situações

regionais, bem distintas que possam produzir as informações necessárias e cuja

qualidade não esteja viciadas por interesses governamentais ou de cunho político, e

não estatal. ideal depende de cada contexto e situação (contingências). Em um país

com escassez de bases de dados e informações qualitativa e quantitativamente

adequadas, qualquer informação pode adquirir importância e relevância. A utilização

otimizada das informações vai ao encontro do princípio da precaução, muito

defendido atualmente em termos de políticas públicas no campo de meio ambiente,

segundo o qual não deve-se tomar uma decisão sem antes terem certa segurança

sobre suas conseqüências.

A fig. 2 demonstra que a definição de um objeto ou fato se faz segundo uma

triangulação baseada na ponderação de uma definição funcional (o que o objeto

faz), uma definição ontológica (o que o objeto é) e uma definição genética (o que o

objeto será). Para Teilhard de Chardin apud MOIGNE (1977), definir um objeto é

conhecê-lo em sua história, (hereditariedade) e seu projeto (futuro). Cada nova

decisão envolve novos objetos, fatos e/ou contextos, exigindo novas definições da

posição de cada um, assim na nossa visão deverá agir o gestor que for implantar o

Comitê. (MAGALHAES JR.2001). Deverá ter claro que a hereditariedade deverá ser

levantada e que o futuro devera ser planejado, atendo-se que cada infomação para

a implantação do comitê de bacia será um novo objeto a ser analisado para que a

construção seja viável.

67

Fig. 02 – Triangulo de Definição/ compreensão de um objeto ou fato sujeito ä decisão ( Le Moigne, J-L., 1977).

As visões histórica, orgânica e funcional relativas aos pólos dos objetos

devem ser integradas no processo decisório visando a legitimação das hipóteses

iniciais, mas a definição de cada objeto depende também da relação do observador

com a realidade observada (interação sujeito-objeto).

A utilização de informações na gestão das águas e as conseqüentes tomadas

de decisões que partem dos integrantes de diversos níveis de poder em um sistema

de gestão nacional podem facilitar ou dificultar o processo de gestão, determinando

a qualidade, quantidade e tipologia das informações utilizadas.

Naturalmente que para a implantação de um comitê deveremos identificar os

problemas, por exemplo, decorrentes do envolvimento dos atores. Outro seria

desenvolver sobre os problemas decorrentes a análise do mesmo buscando-se

alternativas para a solução do mesmo, no caso por exemplo do desconhecimento da

bacia e das funções institucionais da tutela ambiental, deveriam ser adotadas

medidas para que os atores tomassem conhecimento do problema levantado. A

terceira; é a escolha entre as alternativas a quarta, a implementação e por ultimo a

avaliação dos resultados.

A gestão participativa é certamente dependente dos níveis de decisão e

responsabilidades associadas, sem as quais os decisores não podem atuar

(MAXIMIANO, 1977:300)

• Decisões independentes: não precisam de discussão, informação ou acordo do grupo, sendo tomadas

68

unilateralmente para acelerar o processo e resolver os problemas;

• Decisões colaborativas ou consultivas: são tomadas por grupos de pessoas às quais foram dadas responsabilidade e autoridade para tal, exigindo discussões, participação e aconselhamento das pessoas afetadas por elas;

• Decisões de grupos potencializados (empowered): são tomadas pelos grupos que receberam poderes para tal, não precisando ser aprovadas ou revistas por níveis hierárquicos superiores.

A cidadania individual neste caso é de fundamental importância para a

motivação, não basta que o ator envolvido tenha apenas um sentido de orgulho

pessoal, como maior catalisador que leva as pessoas a descobrir e utilizar o seu

próprio poder pessoal, neste caso ela tem que estar em condições plenas de

exercício da sua cidadania coletiva. No caso do Rio Santo Antônio, verificamos uma

renda per capta que prejudica a coletividade da cidadania. A gestão neste caso fica

adstrita a elite dominante, classes políticas e detentores do conhecimento.

Não há que se discutir confiança ou mesmo poder na gestão, tão pouco

objetivos se os atores desconhecem os princípios básicos de tais significâncias.

Quando os decisores desconhecem suas funções a própria relação constitutiva do

comitê fica prejudicada ante o desequilíbrio de forças imposta naturalmente pelo

desequilíbrio existente. Assim, se temos nos órgãos instituidores organismos

conhecedores de seu poder, naturalmente ele ira se sobrepor aos desconhecedores,

quebrando assim o equilíbrio estampado na lei 9.433/97. Resta então o bom censo

para se buscar na pluralidade de idéias a força subjetiva do bom senso, diante da

concretude de interesses como a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

Segundo Magalhães Jr a carência de informações adequadas no processo

decisório resulta em grande parte da ausência ou ineficiência de sistemas de coleta

(monitoramento), transmissão e tratamento de dados. A constatação da relação

direta entre disponibilidade de informações e gestão sustentável das águas tem

levado o governo brasileiro a implementar bases de Informações sobre recursos

hídricos no país, seja em nível institucional (sistemas específicos segundo cada

instituição como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Instituto Nacional de

Meteorologia), seja em nível espacial (bases estaduais, sistema nacional de

69

informações sobre recursos hídricos, em implantação). Entretando, após transcorrido

15 anos da instituição da norma, verificamos que em alguns Estados, especialmente

o Estado do Tocantins, não possui ainda uma base de dados formados, pautando

suas ações no modelo econômico de desenvolvimento, ou seja, aplicando seus

estudos somente em regiões potencialmente econômicas ou resultante de projetos

de captação de recursos, no caso do Lontra e estudos iniciais da bacia do rio

Manoel Alves.

No contexto de uma década na qual iniciaram-se os debates sobre a

necessidade de uma política e um sistema de gestão das águas no país, a

promulgação da Constituição Federal de 1988 sacramentou o domínio público das

águas no Brasil (águas federais e estaduais) e estabeleceu a bacia hidrográfica

como base para o planejamento regional.(MILLARE, ANO :239)

Magalhães Jr. corroborando com o entendimento acima narrado estabelece:

Os conflitos existentes entre atores do poder público na gestão das águas, seja ele municipal, estadual ou federal, decorrem em grande parte das dificuldades de conciliação de papéis. Principalmente em um país continental como o Brasil, com problemas sócio-econômicos graves, grandes desigualdades regionais, e carência de dados hidroambientais, não é fácil concatenar os poderes de formulação de políticas ambientais com a operacionalização dos poderes de outorga pelo uso da água e de fiscalização (poder de polícia), e de todos estes com os interesses econômicos multisetoriais. Como exemplo, a SRH é responsável pelo fornecimento de outorgas em cursos d'água de domínio da União, mas em muitos casos não há dados hidrológicos suficientes, levando à liberação de licenças por prazo determinado mesmo sem o conhecimento necessário sobre disponibilidade hídrica local.

Assim, inegáveis e visíveis são os obstáculos que devem ser vencidos pelos

comitês, incluindo a falta de experiência de gestão descentralizada e a falta de

conhecimento das realidades locais, fatores essenciais às iniciativas e pressões para

geração de dados. Ademais, os sempre lembrados interesses setoriais intracomitês

podem atrapalhar o atendimento das reais necessidades.

Magalhães Jr. cita que os problemas atuais dos comitês de bacia franceses

estão voltados ao combate da poluição difusa de origem agrícola (agrotóxicos,

fertilizantes), sempre difícil de combater por seu caráter espacial, a poluição das

70

águas subterrâneas, para a qual é mais fácil investir em prevenção, e a poluição

pelas águas pluviais (especificamente importante nas zonas urbanizadas).

E segue:

A experiência francesa, da qual deriva o sistema brasileiro de gestão, demonstra que no início da operacionalização das Agências financeiras de bacia, foram necessários investimentos do Estado (subsídios, recursos a "fundo perdido"), até que houvesse recursos em "caixa" gerados pela cobrança, e passíveis de utilização para instalação de novas obras e manutenção da infra-estrutura instalada. Após um certo tempo, as Agências adquiriram fundos de reserva passíveis de financiamento dos planos plurianuais de investimentos, fornecendo empréstimos e subsídios às coletividades locais (comunas, departamentos) e às indústrias, a fim de viabilizar a construção de redes coletoras e estações de tratamento de esgotos.

Lembremos, entretanto que as proporções entre a França e o Brasil são bem

dispares, especialmente, na questão geografia populacional, territorial e

socioeconômica, alem a total inexperiência da gestão descentralizada e participativa,

a qual aumenta a dificuldade da implantação da norma.

Assim devemos nos ater às variáveis humanas em detrimento do meio

ambiente, seus comportamentos perante a bacia, seus conhecimentos e

desconhecimentos, suas ações e omissões devem ser levadas em consideração e

não apenas a vontade política de implantação dos órgãos em decorrência normativa.

Neste sentido Leff (2004:174) cita:

A interdisciplinaridade, na perspectiva da mudança global, foi proposta como com o projeto sobre as dimensões humanas da mudança global “ The Human Dimensions of Global Change Programme” (HDGCP), LANÇADO EM 1987....O projeto parte da aceitação de que o projeto do “Programa Internacional da Biosfera e da Geosfera” não poderia continuar modelando seus dados e pretendendo simular a realidade físico-biológica sem incorporar “variáveis humanas”que vêm tendo cada vez maior peso nesses processos de mudança global..... os modelos físicos pareciam falhar por falta de informação sobre a sociedade, e o programa se lançou à busca de novos dados que buscassem preencher as lacunas dos dados matemáticos, sem uma analise das condições epistemológicas e metodológicas para integrar conhecimentos das ciências físico-biologicas e dos processos socioculturais.

71

Verificar as mudanças exigidas vai além de simplesmente observar o

fenômeno de um determinado foco, o qual é dado por subjetividade culturais,

econômicas e sociais, se desatrelar de tais mecanismos importa em analisar os atos

e fatos fugindo a sua concreticitude.

A realidade apresenta-se como o campo onde exercitamos a atividade pratico - sensível, sobre cujo fundamento surgirá a imediata intuição prática da realidade. Onde o individuo cria suas próprias representações das coisas e elabora todo um sistema correlativo de noções que capta e fixa os aspectos fenomênicos da realidade, não sendo necessariamente correspondente a lei do fenômeno. (Kosik. 2002, p14)

Ir além da observação subjetiva, ou mesmo cartesiana, é o grande desafio na

implantação do comitê.

3.3 - Os Comitês de Bacia no Rio Grande do Sul: Formação, Dinâmica de Funcionamento e Perspectivas.

O presente capítulo aborda a formação, dinâmica interna e tendências dos

Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas no estado do Rio Grande do

Sul12.

A analise in casu demonstra que antes mesmo da implantação do

"parlamentos das águas", devemos atentar para as experiências pioneiras de

comitês, e que muito influíram na sua formulação e hoje, por sua vez, os comitês de

bacia que vão sendo instalados são formados e moldados dentro do marco legal

federal (Lei 9.433/97) e das respectivas leis estaduais onde os comitês se localizam.

Além disso, a legislação brasileira inspirou-se em doutrina e experiências

internacionais, como já visto, que vão ao encontro da implementação desse tipo de

experiência institucional na gestão de recursos hídricos. Tendo em vista, pois, este

reforço mútuo, essa realimentação positiva, entre legislação, doutrina e experiências

12 O Artigo Os comitês de bacia no Rio Grande do Sul: formação, dinâmica de funcionamento e perspectivas autores Eugenio Miguel Cánepa, Isidoro Zorzi Luiz Antônio Timm Grassi, Percy B. Soares Neto.

72

nacionais e internacionais, parece oportuno realizar um exame abrangente de como

as coisas ocorreram e estão se desenrolando num estado da Federação, o Rio

Grande do Sul, o qual, através da Lei estadual 10.350/94, se constitui numa das

unidades federadas pioneiras no estabelecimento de um sistema de gestão de

recursos hídricos, descentralizado e participativo.

Atentando para o capítulo anterior os agentes do Estado buscaram identificar

e provocar lideranças nas diferentes bacias hidrográficas que catalisassem os

demais atores para a configuração do que se chamavam "comissões provisórias".

Também chamadas comissões pró-comitês ou comissões de sistematização, eram

instituídas em função da mobilização da sociedade das bacias em torno da

preocupação com os recursos hídricos. Os trabalhos desenvolvidos no âmbito das

comissões provisórias eram de mobilizar a sociedade, discutir e preparar a formação

dos comitês. O que no caso ainda não foi cogitado para a bacia do rio Santo

Antônio

Segundo os autores essa fase do processo foi uma importante oportunidade

de aprendizagem coletiva, onde continuamente os técnicos do Estado levavam e

traziam para os grupos de cada uma das bacias informações, idéias e novas formas

de superar algumas situações de entrave, ou seja, as informações foram levadas a

fim de que se nivelasse a relação dos atores. O diálogo assim estabelecido entre as

diferentes experiências acabou, informalmente, criando uma ritualística, com suas

particularidades em cada uma das bacias. Tais situações se repetiram e se repetem

até hoje, sendo que para cada particularidade ainda devem surgir novas saídas.

Alertam os autores que este processo de mobilização da sociedade gaúcha

foi lento, simplesmente pela linha de trabalho adotada. Entretanto, possibilitou que

se formassem grupos de pessoas e instituições aglutinados pelo objetivo de

estabelecer e construir os comitês de bacia. Deve-se ter presente que o processo

adotado para a formação dos comitês gaúchos buscou uma construção pela base,

mas que esta foi uma intenção explícita do Estado e que cumpriu sempre o papel de

tutor, não se confundindo a construção pela base com espontaneismo. O Estado

acompanhou a formação de cada um dos comitês do RS, estruturando, em parceria

com as comissões provisórias, diversas reuniões e seminários para divulgação da

73

legislação e discussão de como seria o comitê a ser criado em cada uma das

respectivas bacias hidrográficas.

As comissões eram reconhecidas formalmente pelo Governo do Estado e

mantinham estreita relação com a Secretaria Executiva do CRH, que acompanhava

os trabalhos de cada comissão passo a passo e balizando as discussões. O

primeiro, e mais fundamental, passo neste processo de mobilização era o de fazer a

sociedade e as lideranças políticas de cada região conhecer a legislação de

recursos hídricos. Visitas as Câmaras de Vereadores, Prefeituras, Associações de

Produtores Rurais, Industriais, Universidades, etc., tornaram-se rotinas para os

membros das comissões provisórias.

Na discussão da formação dos comitês, ainda no âmbito das comissões

provisórias, ocorria também um debate sobre a própria composição do Comitê. Ao

grupo de instituições locais, sempre acompanhadas pelos representantes do Estado,

cabia identificar os diferentes usos da água que ocorriam na respectiva bacia e

também os segmentos representativos da população. Esta discussão, com base no

conhecimento da comunidade de sua realidade local, bem como em alguns

trabalhos técnicos existentes, resultava na proposta de estrutura dos comitês a ser

encaminhada ao CRH. Esta proposta indicava quais as categorias de usuários e de

representantes da população da bacia, bem como o número de vagas relativo a

cada uma. Aceita essa proposta pelas instâncias decisórias do Governo, a mesma

servia de base para o decreto de criação do Comitê. Esse indicava apenas as

categorias e respectivas vagas e não instituições específicas.

Iniciada a transição de comissão provisória para comitê, cabia ao grupo

envolvido estruturar as primeiras eleições para preenchimento das vagas de cada

categoria. O processo eleitoral iniciava-se com uma convocação por edital público

para inscrições de Instituições para ocupar as vagas de cada uma das categorias do

Comitê. As instituições inscritas deveriam enquadrar-se em critérios pré-

estabelecidos, para participar em dia e hora marcados do processo eleitoral. Este

processo, coordenado pela Secretaria Executiva do Conselho de Recursos Hídricos,

desenvolvia-se da seguinte forma: os inscritos de cada categoria reuniam-se

separadamente e, entre si, elegiam os ocupantes das vagas correspondentes, para

um mandato de dois anos. Ao final do encontro, cada categoria entregava uma ata

74

aos membros da comissão provisória e do CRH, oficializando o resultado eleitoral.

Desses resultados por categoria emergia a representação inicial do Comitê. Este

processo repetiu-se inúmeras vezes pelo Estado, e repete-se até hoje, nas eleições

bianuais dos Comitês de Bacia.

O passo seguinte da ritualística se caracterizava pela instalação oficial do

Comitê, com a convocação da primeira reunião onde se elegia a primeira diretoria,

composta de Presidente e Vice-presidente, representantes, obrigatoriamente, de

categorias dos grupos "usuários" ou "população da bacia". Em seguida, passava-se

à redação e aprovação Regimento Interno, obedecidas algumas diretrizes comuns

emanadas de Decreto governamental e do CRH. Entre essas, a obrigatoriedade de

cada comitê contar com uma Secretaria Executiva, com seu titular indicado pelo

Presidente e referendado pelo plenário e com uma Comissão Permanente de

Assessoramento à Diretoria. Dados estes passos, cada comitê estava em condições

de começar a operar dentro das atribuições estabelecidas pela "lei das águas".

A presença do Estado e seu papel impulsionador de toda a implantação do

SERH se evidenciam por diversos fatos. Como já foi dito, desde o início do

processo, em todas as atividades preparatórias à criação de todos os comitês, houve

participação de representantes do Estado. E não se tratou de uma presença formal,

apenas, mas de efetiva contribuição para que ficasse assegurado o cumprimento

dos preceitos legais e, mais ainda, do respeito à implantação de uma política pública

que adota uma doutrina de gerenciamento expressa na Lei Estadual. Por outro lado,

enquanto era iniciada a criação dos comitês, começavam a ser providenciados

outros recursos institucionais que configuravam a instalação de um verdadeiro

"sistema" de gestão: a reforma e regulamentação do Conselho de Recursos Hídricos

(adaptando o antigo, criado por decreto aos termos da Lei); a implantação, embora

incipiente do Departamento de Recursos Hídricos; o início da efetiva integração do

órgão ambiental (Fundação Estadual de Proteção Ambiental – FEPAM) com o novel

Sistema e ainda uma reforma na regulamentação do Fundo Estadual de

Investimentos em Recursos Hídricos (anterior à Lei 10.350/94) para que pudesse ser

utilizado como instrumento de apoio financeiro ao Sistema. Este último recurso

possibilitou que, paralelamente aos processos de formação dos respectivos comitês,

fossem contratados pelo CRH estudos de identificação das disponibilidades e

75

demandas hídricas, usos e conflitos. Estes estudos cumpriram diferentes papéis nos

processos de formação dos Comitês, mas o mínimo que se pode dizer deles é que,

sem dúvida, chamaram a atenção das pessoas e entidades componentes, quer das

comissões provisórias, quer dos comitês instalados, sobre os diversos problemas

que afligem as comunidades na utilização dos recursos hídricos nas suas

respectivas bacias. Outra função desses estudos foi servir de material para um

exercício de discussão sobre a bacia, por parte da comissão provisória (muitas

vezes em eventos ampliados para as comunidades) e como instrumento de

aglutinação das próprias comissões. As críticas surgidas no seio das comissões,

sobre esses trabalhos, contribuíram, por sua vez, para um aperfeiçoamento de

metodologia e de escopo de estudos análogos a serem contratados pelo DRH para

outras bacias.

A título exemplificativo do que foi exposto na descrição geral anterior, faremos

alguns comentários sobre os passos concretos na formação de alguns dos primeiros

comitês instalados após a promulgação da Lei 10.350/94.

O processo de formação do Comitê do Lago Guaíba, no Estado do Rio

grande do Sul, por exemplo, teve início com um Seminário promovido pelo programa

Pró-Guaíba, desenvolvido pelo Estado com recursos do Banco Interamericano de

Desenvolvimento, no dia 02 de Abril de 1997. Passaram-se um ano e seis meses de

discussões, reuniões, fóruns para divulgação da legislação, visitas aos municípios e

muita articulação política para que em dezembro de 1998 instalado o comitê e eleita

sua primeira diretoria. Composto de 40 membros – 16 representantes dos usuários

da água, 16 representantes da população da bacia e 8 representantes do Governo –

o comitê tem realizado reuniões regulares sempre com o quorum estabelecido

regimentalmente.

Na primeira gestão, o Comitê do Lago Guaíba, sob a Presidência da

representação da PUC-RS, buscou consolidar-se e firmar-se como um grupo coeso

de trabalho. Foram estruturados, no âmbito do Comitê, três grupos de trabalho, que

funcionaram durante dois anos: um para estudos e montagem de uma proposta de

construção do enquadramento dos cursos d’água, outro de comunicação social e

educação ambiental e outro de relações institucionais. Finalizada a primeira gestão,

o comitê encontrava-se com uma demanda de necessidades de estudos básicos

76

para iniciar o processo de enquadramento e uma ação de educação ambiental

concluída.

As principais atividades do Comitê do lago são: estruturação de proposta de

enquadramento, articulada com os estudos preliminares para a construção do Plano

de Bacia. Conta ainda com o trabalho de um grupo específico de educação

ambiental, outro de comunicação social e, finalmente, um quarto grupo que trabalha

a questão da representatividade.

No decorrer de todo este processo de formação dos comitês no RS, pode-se

identificar um enorme esforço, por parte das pessoas envolvidas, em mobilizar a

sociedade de cada bacia, chamando a atenção sobre a importância do trabalho em

andamento e do papel de um comitê de bacia. Também convém destacar a

importância de algumas instituições que se constituíram em verdadeiros pilares do

processo.

No Rio Grande do Sul desde as primeiras experiências de articulação local

nas bacias, as Universidades cumpriram um papel estratégico. Em muitas delas,

foram as principais articuladoras do processo de formação de comitês. Antes da

promulgação da Lei 10.350/94, na formação do Comitê Sinos, a UNISINOS foi

fundamental na sua estruturação, e hoje ainda abriga sua Secretaria Executiva. Este

precedente estabeleceu uma tendência, hoje confirmada pelo número de

presidências e secretarias executivas que estão a cargo das instituições de ensino e

pesquisa. O primeiro comitê a formar-se oficialmente, após a promulgação da Lei

10.350/94, o da bacia do rio Taquari-Antas, teve a primeira Presidência a cargo da

representação da Universidade de Caxias do Sul, que dá suporte à Secretaria

Executiva (mantendo-se a situação, presentemente, na segunda gestão). Também o

Comitê Pardo e o Comitê Lago Guaíba tiveram suas respectivas primeiras

Presidências exercidas por representantes de Universidades.

O autor afirma que o SERH-RS passa por um momento crítico. Entretanto, é

preciso ter clareza e muito cuidado sobre o significado do termo crise. De fato, já se

tornou um lugar comum dizer-se que o ideograma chinês para crise combina os

símbolos de risco e oportunidade. Ponderando bem as coisas, é precisamente isso

que queremos ressaltar neste momento.

77

No tocante a construção do comitê lago Guaíba e possível estruturação do

comitê do rio Santo Antônio, podemos verificar que a alavanca propulsora para a

concatenação técnico - cientifica, bem como a articulação da população da Bacia do

Guaíba ficou a cargo da PUC-RS. Assim como, a do comitê SINOS ficou a cargo da

UNISINOS. Podemos então, estabelecer um parâmetro técnico-funcional que nos

indica as Faculdades ou Universidades sediadas na Bacia do Rio Santo Antônio

como as mais indicadas para a realização da sensibilização social e política quanto a

necessidade de se estabelecer estruturas concretas de manejo da Bacia.Vale

ressalvar, que tal situação insere as Instituições de Ensino Superior em uma de suas

vertentes de atuação, a extensão.

78

CAPÍTULO 4 – BACIA DO RIO SANTO ANTÔNIO

O Estado do Tocantins destaca-se pela sua potencialidade hídrica. Estudos e

ações já estão sendo desencadeadas para o aproveitamento de nossas águas,

dentre eles a construção de nove usinas hidrelétricas no Rio Tocantins, cuja vazão

até a confluência com o rio Araguaia é de 5000m3/s13 .Por sua vez, a bacia do Rio

Santo Antônio, também será afeta pela construção futura da UHE de Ipueiras, ora

suspensa.

Em qualquer circunstância, reconhecer os fenômenos sócio-ambientais, e

fazê-los instrumentos para a motivação política são de fundamental importância para

a análise de sustentabilidade de implantação do um comitê da bacia hidrográfica.

As experiências de intervenções visando o desenvolvimento regional,

planejadas setorialmente e implementadas sem suficiente articulação entre os

setores e atores envolvidos, têm deixado marcas preocupantes no cenário dos

recursos hídricos das, com influência direta na qualidade de vida da população. O

novo cenário, que haverá de emergir da implementação da Política Nacional de

Recursos Hídricos e do correspondente Sistema de Gerenciamento, constitui-se em

uma esperança positiva pelos rebatimentos integradores sobre as atividades

antrópicas que visam o desenvolvimento regional. A Bacia do Rio Santo merece

lugar de destaque no contexto Tocantinense. Identificada no sistema estadual como

caracterizada como sistema t7 a qual constitui-se num espaço de integração entre

os rios e córregos, segundo Atlas do Tocantins (1999). Possui uma área de 6.058,31

Km2 respondendo por 1,1% distribuídos nos seguintes municípios: Cariri, 1.062,43

Km2, Figueirópolis, 1.931,45 Km2, Gurupi, 1.839,34 Km2 e Sucupira, 1.225,09 Km2,

contando com uma população total de setenta e cinco mil e sessenta e dois

habitantes (IBGE, 2003), não tendo vazão até o momento levantada. A região tem

sido cenário de importantes atividades agrícolas e comerciais.

13 (http://www.ana.gov.br/gestaoRecHidricos/PlanejHidrologico/docs/TDR-Araguaia-Tocantins Rev 10.mar.03)

79

Foto 1 - Divisa dos Municípios de Gurupi e Peixe - TO

Rio Santo Antonio. BR 242 - KM 374.

Historicamente, a ocupação da bacia esta voltada à instalação de pequenos

grupos familiares próximo aos mananciais e a investimento de caráter econômico,

como a construção da BR – 153, no caso do município de Gurupi, Cariri do

Tocantins, e Figueirópolis, tem seu nascedouro com a construção da rodovia, isso

porque a história das cidades está intimamente ligada a construção da Belém-

Brasília, marco do surgimento e desenvolvimento de muitas outras cidades, ao longo

de sua extensão no antigo Norte goiano.14 a bacia tem sido fornecedora de recursos

e riquezas. Em contrapartida, tem sido receptora de despejos e resíduos,

configurando hoje uma situação ambiental crítica, traduzida na degradação dos

ecossistemas naturais e no prejuízo à qualidade de vida de setores significativos da

população. Um dos indicadores mais expressivos desta situação é constituído pela

degradação dos seus recursos hídricos. A bacia apresenta conflitos de diversos

tipos: atividades setoriais exercidas predatoriamente; atividades setoriais em conflito

com outras; e a disputa do mesmo recurso para fins diferentes. Consumidores

14 (http://www.achetudoeregiao.com.br/TO/historia_de_gurupi.htm . Rev. 10.fev.06)

80

urbanos, rurais, entre outros, representam interesses legítimos que devem ser

compatibilizados no marco das disponibilidades e capacidade de suporte dos

ecossistemas naturais.

Foto 2 - Represamento do Córrego Mutuca nas proximidades da BR 153– Gurupi – TO.

Foto 3 - Sistema de Tratamento de Efluentes da

Transbrasiliana Transporte e Turismo. Efluentes lançados no Córrego Mutuca

Gurupi – TO.

Situada, na região sul do Estado do Tocantins, tendo dentro de sua

abrangência a cidade de Gurupi, a T-7 faz parte do sistema hidrográfico que merece

significativa atenção por parte das autoridades, em decorrência dos impactos

causados pela explosão urbana que vem sofrendo alguns municípios da região,

alem, naturalmente da ausência de sistemas de esgotos sanitários, entre outros

fatores.

81

Quando ainda, presidíamos o Conselho Municipal de Meio Ambiente do

município de Gurupi, verificamos que os oleiros vinham retirando clandestinamente

terra das margens dos córregos e afluente do sistema T-7, sendo protagonistas de

acirradas discussões com os moradores, em virtude dos tributários estarem sofrendo

grande assoreamento, inviabilizando seu acesso a todos os usuários e prejudicando,

por conseguinte a qualidade de vida local.

Foto 4 - Olaria junto à área de Preservação Permanente do Córrego Mutuca

Gurupi – TO.

Boa parte dos conflitos assinalados são seqüelas das intervenções que

visavam o desenvolvimento regional, planejadas e implementadas sob uma visão de

ganhos setoriais e imediatistas, alheias ao conceito de gestão ecologicamente

correta, baseado na ética da solidariedade.

Não verificamos até o momento qualquer experiência de planejamento para o

desenvolvimento regional que têm atingido a região hidrográfica em pauta.

O que tentamos salientar no presente capítulo é a ausência de planejamento

integrado e de mecanismos indutores da coordenação e articulação de ações, tanto

para avaliar os efeitos inter-setoriais das intervenções pensadas, quanto para

implementar aquelas já decididas em nível institucional ou individual. Esta realidade

se reflete negativamente nas disponibilidades quanti-qualitativas dos recursos

hídricos da bacia que, por sua vez, constituem-se em indicadores indiretos da

qualidade de vida da população. Neste sentido, a gestão de recursos hídricos,

pautada nos princípios que norteiam a política nacional sobre o tema, tem o

potencial de reverter às práticas usuais de gestão setorial até agora predominantes

82

na região. Potencial, este, que só poderá ser efetivado se a política for, de fato,

implementada. Acontece, justamente, que o país vive um intenso processo de

discussão que visa este objetivo. Discute-se a regulamentação da lei 9.433/97 para

vê-la de fato implementada. A percepção da existência de vontade política para que

isso seja uma realidade gera expectativas pelos rebatimentos que a lei nacional

haverá de ter na gestão dos recursos hídricos estaduais e, em conseqüência, na

Bacia do Rio Santo Antônio. Verificamos ainda a tendência de implantação pautada

no desenvolvimento econômico, como forma a posteriore de mitigação dos impactos

causados.

Em verdade, foram necessários anos de discussões e reflexões para concluir

o óbvio: o atributo da sustentabilidade é inerente ao conceito de desenvolvimento.

Só há desenvolvimento real quando há eqüidade social, resultante de um processo

distributivo de uma economia ativa, mas praticada com respeito à capacidade de

suporte dos ecossistemas. É numa sociedade com este entendimento que aparece a

lei da Política Nacional de Recursos Hídricos. Lei que incorpora princípios básicos

da Declaração de Dublin sobre Recursos Hídricos e Desenvolvimento Sustentável

(1992) e cuja promulgação representa a culminação de um processo de discussões

iniciadas em 1984, com as primeiras reuniões de Órgãos Gestores de Recursos

Hídricos. A política assume que os recursos hídricos se constituem em bens

públicos, vulneráveis, finitos e necessários a múltiplos usos; dotados, por escassos,

de valor econômico.

Dentre os instrumentos da política nacional de recursos hídricos consta a

figura - importantíssima, diga-se desde já - dos Planos de Recursos Hídricos, que

deverão ser estabelecidos por bacia hidrográfica, por estado e para o país. Trata-se

de planos diretores, de longo prazo, com horizontes de planejamento compatível

com o período de implantação de seus programas e projetos. Outro instrumento

previsto é o da Outorga de direitos de uso dos recursos hídricos. Mas este não é

independente do anterior. De fato, conforme a lei, toda outorga estará condicionada

às prioridades de uso estabelecidas no referidos planos. E como a cobrança pelo

uso do recurso está atrelada, justamente, à obtenção da outorga do direito de uso,

fica evidente, por efeito de vínculo, a tremenda força potencial do instrumento Plano

de Recursos Hídricos. Por outra parte, há uma outra dimensão de fundamental

83

importância em relação a este instrumento. É que sua aprovação dá-se não em um

gabinete de tecnocratas, mas no Comitê de Bacia, assembléia de participação das

forças vivas atuantes na respectiva bacia. O comitê é a célula básica da efetivação

do caráter participativo e descentralizador que permeia a nova política de recursos

hídricos. Trata-se, portanto, de uma peça fundamental no arcabouço do sistema de

gestão dos recursos hídricos. Peça que se constitui em um instrumento de

democracia participativa, que haverá de complementar àqueles próprios da

democracia representativa. Neste ponto, é oportuno citar um dos Princípios mais

importantes de Declaração de Dublin: "O desenvolvimento e a gestão da água

devem ser baseados na participação dos usuários, dos planejadores e dos que

tomam decisões políticas, em todos os níveis" (Declaração de Dublin, 1992). Em

síntese, tanto pelo seu caráter vinculante com a Outorga de direitos de uso, como

pela sua gênese através do Comitê de Bacia, o Plano constitui-se numa peça

chamada a ter grande relevância no gerenciamento dos recursos hídricos.

Observa-se que cenários definidos como metas, sem tomada de

conhecimento de sua viabilidade técnica e econômica, correm o risco de converter-

se em simples declarações de propósitos, bem intencionados mas irreais e, pelo

mesmo, podem comprometer o prestígio, o poder de influência e até a própria vida

do respectivo comitê tornando-o, insustentável. E, em conseqüência, a viabilidade

dos planos e programas por ele estabelecidos.

4.1 – Características ambientais da bacia.

A Bacia Hidrográfica do rio Santo Antônio, correspondente ao sistema t-7 da

hidrografia tocantinense e lançado na região política XIV do Estado do Tocantins,

tendo como pólo o município de Gurupi, possui um clima úmido com moderada

deficiência hídrica tendo como precipitação media anual a quantidade de 1500 mm,

estando assentada no complexos metamórficos do arqueano e proterozóico inferios.

(Localização geológico), tendo por Fitoecologia o cerrado e Solo o latossolo de

erodibilidade potencial muito fraca a fraca.

84

Foto 5 - Nascente do Córrego Mutuca (Represamento e Mata Nativa) – Gurupi - TO

Tributário da bacia do Rio Santo Antonio.

Legenda: Rios

Represamento da UHE de Ipueiras

Rodovias Pavimentadas

Rodovias não pavimentadas

Ferrovia (Planejada)

Fig. 3 – Bacia Hidrográfica do Rio

Santo Antônio – Sistema T-7.15

4.2 - Características Sociais.

4.2.1 – Renda Per Capta.

Município Esperança

de vida ao nascer

Taxa de

alfabe-tização

de adultos

Taxa bruta de

frequênciaescolar

Renda per

capita

Índice de esperança

de vida (IDHM-L)

Índice de

educação(IDHM-

E)

Índice de PIB (IDHM-

R)

Índice de Des.

Humano Municipal(IDH-M)

Rankingpor UF

Ranking Nacional

Gurupi 71,683 0,906 0,926 242,097 0,778 0,913 0,689 0,793 2 725 Cariri do Tocantins 72,065 0,823 0,852 177,940 0,784 0,833 0,638 0,752 4 1835 Figueirópolis 68,797 0,810 0,854 144,685 0,730 0,825 0,603 0,719 14 2637

Sucupira 71,687 0,770 0,794 143,211 0,778 0,778 0,601 0,719 15 2639 Tabela 1 – Renda Per Capta dos municípios da Bacia do Rio Santo Antônio16

15 Fonte: Atlas do Estado do Tocantins. 2002.

85

4.2.2 – Saneamento

Quando atentamos para o saneamento da Região Política XVI do Estado do

Tocantins verificamos entre os fatores levantados (anexo I e II) entre as formas de

abastecimento e de tipo de escoamento de dejetos domiciliares os dados que

seguem:

Em 1991, a região tinha 28.570 domicílios, e destes 12.235 residências

possuíam água canalizada, sendo estas da rede geral ou de poços artesianos e

16.335 não possuíam água canalizada. Já em 2000, a região passou a possuir

37.024 domicílios com 19.680 residências com água canalizada, sendo estas da

rede geral ou de poços artesianos e 7.272 não possuíam água canalizada.

Por sua vez o esgoto tratado em 2000, verificamos (anexo III) que das 37.024

residências 30.404, possuíam banheiro sanitário, cujo destino dos resíduos 156 são

destinados a rede geral de esgotos , 7.557 para fossa séptica, 21.795 para fossa

rudimentares, 491 para valas e para o rio diretamente. Observamos ainda que 6.620

domicílios não possuíam sanitários.

Foto 6 - Lixo urbano lançado na nascente do Rio Santo Antonio –Figueirópolis - TO.

16 IDH –Disponivel em : http://www.frigoletto.com.br/GeoEcon/idhto.htm . Acesso em: 02. jan. 2005.

86

Foto 7 - Córrego Água Franca – Tributário da Bacia do Rio

Santo Antonio (Gurupi – TO).

Foto 8 - Residências próximas ao córrego Água Franca e população ribeirinha.

4.2.3 – Ensino.

Com relação ao ensino (anexo IV), verificou-se que das 37.024 residências

pesquisadas, 7.485 eram sem instrução ou possuíam um ano de instrução, 8.539 de

1 a 3 anos, 10.618 de 4 a sete anos de instrução, 4.252 de 8 a 10, 4.945 de 11 a 14

e 1168 de 15 anos ou mais de instrução.

4.3 – Características econômicas

No que se refere a geração de emprego e renda, verificamos no mesmo

mostruário estatístico os seguintes dados.

Em 2000 a região XIV possuía 312 empresas tendo gerado 1.506 empregos,

Já no setor do comercio foram constatados 1258 estabelecimentos que geraram

4.450 empregos tendo o setor de prestação de serviços contribuído com 2.017

estabelecimentos e gerando 5.734 empregos.

Daí partimos a analisar os dados e verificamos que uma maior quantidade

residências passaram a ser atendidas com o abastecimento de água seja qual for a

87

sua origem, tratada ou não, originária de rio ou lençol freático, e verificamos também

que o mesmo não ocorreu com os dados relativos ao saneamento básico, levando-

nos a crer que passou-se a poluir mais o lençol freático da região, visto que a

maioria das residência lança seus dejetos em fossas sépticas.

Foto 9 - Canalização, “Parque Municipal do Mutuca” (vegetação alterada) e continuação do

processo de canalização do córrego com o mesmo nome. (Perímetro Urbano de Gurupi – TO).

Verificamos também a fragilidade do ensino e da renda apresentada, e daí a

grande estratégia que deve ser formulada para a aplicabilidade da cidadania

individual em prol da exigência da coletiva.

A geração de emprego e renda deixa claro a necessidade de maior

aplicabilidade na gestão econômica destes setores os quais poderão quando

aquecidos propiciar uma melhor conscientizarão e atenção dos atores para os

reclames ambientais.

88

CAPÍTULO 5 – O CONHECIMENTO LOCAL NA GESTÃO DAS ÁGUAS

Um dos grandes instrumentos que utilizaremos neste capítulo são os dados

apresentados pelo IBGE em especial no levantamento do Suplemento de Meio

Ambiente da Pesquisa de Informações Básicas Municipais - MUNIC o qual

investigou a existência e as características da Agenda 21 Local no Brasil, onde

verificaremos os casos específicos da região Norte do país e os dados relativos ao

Estado do Tocantins, traçando-se após um paralelo entre a realidade regional e local

na gestão ambiental, bem como na análise levantada em pesquisa realizada nos

meses de agosto de 2005 a janeiro de 2006, usando-se o método analítico-dedutivo

das informações apresentadas tendo por amostragem a população formadora de

opinião dos municípios de Gurupi, Cariri do Tocantins, Sucupira e Figueirópolis17,

sendo elas: universitários, estes detentores do conhecimento e como vimos

anteriormente uma ferramenta que pode ser usada diretamente na gestão do comitê

(caso PUC-RS), estudantes secundaristas, cuja informação nos leva a verificar o

grau de interesse e conhecimento pela bacia, professor, estes diretamente ligados

como agentes capacitadores, representante Classista, especificamente os ligados a

área agropastoril e comercial, por serem agentes em menor escala, em comparação

a comunidade urbana, mas dirigentes de classes não menos impactantes da bacia,

administradores públicos, estes detentores da vontade política e conhecedores

técnicos, em tese, da gestão e da norma e por fim os advogado, especialistas nas

normas constitucionais, no interesse público e privado, e naturalmente defensores

dos direitos e deveres individuais e coletivos.

Responderam 506 pessoas ao questionário18 que foi aplicado via internet19 e

de forma direta, aos representantes classistas e administradores públicos, conforme

formulário anexado o qual segue idêntica formatação do disponível na pagina da

Faculdade Unirg.

17 A proporção da área da bacia em cada município ainda não foi levantada pelo órgãos competentes. 18 Vide anexo 1. 19 Disponível em: http://www.professor.unirg.edu.br/amello/index_cesar.php.

89

Gráfico de ocupação

16%

66%

11% 2% 3%2%

EstudanteSecundarista

EstudanteUniversitário

Advogado

Professor

Representanteclassista

AdministradorPúblico

Fig. 04 – Gráfico de Ocupação da Bacia.

Dos dados levantados verificamos que 66% dos entrevistados são oriundos

da classe universitária, isto em decorrência do questionário ter sido aplicado junto a

cinco turmas da Faculdade UNIRG de Gurupi, sendo 2 turmas do curso de

fisioterapia, 2 do curso de direito e 1 do curso de ciências da computação. Segue-se

com 16% dos pesquisados como alunos do ensino médio, parte do município de

Gurupi, mas em sua maioria dos municípios de Cariri do Tocantins, Figueirópolis e

Sucupira. O direcionamento a este público serve para observarmos a aplicação da

educação ambiental junto as escolas estaduais.

Em contato com a direção da Escola Estadual Alair Sena Conceição, situada

em Figueirópolis - TO, verificamos que a escola além de trabalhar a educação

ambiental tem também em uma de suas vertentes a conscientização da nascente do

rio Santo Antônio, realizando visitas e intervenções, cedendo-nos inclusive as fotos

da nascente que abaixo reproduzimos.

Fig. 5 - Nascente do Rio Santo Antônio – Próximo ao

Assentamento Gameleira – Município de Figueirópolis – Fonte: Arquivos da Escola Estadual Alair Sena Conceição.

90

Verificamos ainda que 11% dos entrevistados são professores, também

oriundos da universidade e das escolas secundaristas.

Quando ao tempo de residência no município atentamos que 35% dos

entrevistados estão na região da bacia de 3 a 5 anos, o que reflete também o fluxo

universitário, os quais na sua maioria não são natos do município de Gurupi, mas

estão em transito.

O que chama a atenção é que 14% dos entrevistados estão a menos de um

ano no município, o que explica pela contratação de profissionais habilitados nas

áreas de saúde e pelos universitários.

Por sua vez notamos que 35% dos entrevistados residem no município de 3 a

5 anos, também em decorrência do publico universitário que ali reside.

Gráfico Tempo de Moradia14%

35%

25%26%

Menos de 1 anoDe 1 a 3 anos

De 3 a 5 anosMais de 5 anos

Fig. 6 – Gráfico de Tempo de Moradia na Bacia.

A renda de 45% dos entrevistados é inferior a um salário mínimo, isto se dá

em decorrência do publico secundarista e dos universitários que não possuem renda

própria. Já 38% dos entrevistados tem renda em entre 1 a 5 salários mínimos e 14%

de 5 a 10 salários mínimos, aqui enquadramos os professores e administradores

públicos.

Gráfico de Renda

45%

38%

14% 3% Ate 1 (um) salário mínimo

De 1 (um) a 5 (cinco) SalarioM inimosDe 5 (cinco) a 10 (dez)Salario M inimos

Acima de 10 (dez) SaláriosM ínimos

Fig. 7 – Gráfico de Renda dos Moradores da Bacia.

91

No que se refere à idade notamos também a influencia da classe universitária

e secundarista, onde 57% tem entre 18 a 25 anos e 16% com menos de 18 anos.

Gráfico de Idade

16%

15%57%

12%

Menos de18 anosDe 18 a 25anosDe 25 a 35anosMais de 35anos

Fig. 8 – Gráfico de Idade dos Moradores da Bacia.

Após esta análise sócio-econômica-cultural, e verificando-se que os

atores entrevistados são potenciais difusores de conhecimento e agentes

multiplicadores, passamos aos questionamentos mais precisos sobre o tema.

A primeira questão refere-se a demonstração sobre o conhecimento

existencial dos córregos, ou tributários e sub-tributários do Rio Santo Antônio.

Aqui observamos que 65% do púbico entrevistado tem ciência de que

estão junto a um córrego e 35% desconhecem tal questionamento.

65%

35%Sim

Não

Questão 01: Você conhece o(s) córrego (s) que banha (m) sua cidade?

Fig. 9 – Questão 01.

A segunda questão vem a confrontar com a primeira, pois o fato de se

saber que estamos próximos a uma córrego não implica no conhecimento total da

bacia onde se vive. Aqui 41% dos entrevistados alega que seu município tem

apenas 1 córrego, 22% alegam que seu município tem 2 córregos, 19% tem mais de

3 córregos e 18% três córregos. Em verdade os Município Gurupi e Figueirópolis

tem mais de 3 córregos, o que demonstra um desconhecimento por parte da maioria

da população com relação a formação da bacia hidrográfica onde vive.

92

41%

18%

19%

22%

1 corregos

2 corregos

3 corregos

Mais de 3corregos

Questão 02:Quantos são os córregos que cortam seu município?

Fig. 10 – Questão 02.

Notamos, entretanto que a maioria da população tem ciência de que

vive em uma bacia hidrográfica, mas esta maioria não é gritante pois 47% da

população desconhece o tema.

47%

53%

Sim

Não

Questão 03:Você vive em alguma bacia hidrográfica?

Fig. 11 – Questão 03.

A maioria da população, 56%, não costuma usar dos recursos hídricos para

qualquer atividade, seja de lazer ou de uso direto, entretanto 20% da população

costuma usar dos recursos para a pesca.

19%

56% 20%

5%

Costumo tomarbanho Costumo lavarroupasCostumo pescar

Não faço nada

QUESTÃO 04: Sua relação com o recurso hídrico de sua cidade é:

Fig. 12 - Questão 04.

93

Aqui a maioria dos entrevistados, 76% dos entrevistados alegam que

desconhecem a existência de qualquer, ONG, o que demonstra que as existentes

não estão operando ou se tornando conhecer para a eventual participação e que

realmente não existem estes organismos de participação social.

76%

24%Sim

Não

QUESTÃO 07: Você conhece alguma Organização não governamental (ONG) que atue na preservação do meio ambiente em seu

município?

Fig. 13 – Questão 05.

Um órgão que demonstra estar caminhando para um canal de

mobilização social é o Ministério Público, e aqui não especificamos se estadual ou

federal, apenas buscamos atentar para uma de suas prerrogativas, a tutela

ambiental, e verificamos que 79% da população entrevistada conhece alguma ação

para a preservação ambiental, e aqui não nos atemos aos procedimento judicial,

ação, e sim qualquer movimento por eles desenvolvidos, palestras, orientações, etc.

79%

21%Sim

Não

QUESTÃO 08: Você conhece alguma ação do Ministério Público para a preservação do

meio ambiente em seu município?

Fig. 14 – Questão 08.

Outro dado que chama a atenção são os 79% da população que

alegam ter ouvido falar em desenvolvimento sustentável, não buscamos aqui nos

94

aprofundar no tema pois para tal teríamos que tecer sobre valores da ética ambiental

o que sabemos ser desconhecido da maioria brasileira.

79%

21%

Sim

Não

QUESTÃO 09: Você ja ouviu falar em desenvolvimento sustentável?

Fig. 15 – Questão 09.

Notamos, paradoxalmente que embora 79% da população já tenha

ouvido falar em desenvolvimento sustentável e que 75% da população entrevistada

gostaria de participar da gestão das águas, que os mesmos alegam num total de

78% não conhecem qualquer ação política para a gestão ambiental.

22%

78%

Sim

Não

QUESTÃO 10: Você conhece alguma ação política para a preservação ambiental em seu município?

Fig. 16 – Questão 10.

75%

25%

Sim

Não

QUESTÃO 11: Você gostaria de participar das discussões referentes a administração das águas em

seu município?

Fig. 17 – Questão 11.

95

A comparação com a existência de agendas 21 local torna-se relevante como

forma de reafirmar os dados levantados pois é ela um órgão colegiado de caráter

consultivo e deliberativo, e resulta de um amadurecimento dos atores envolvidos na

temática ambiental. Temos que a Agenda 21 Local20 é um instrumento de

planejamento de políticas públicas que envolve tanto a sociedade civil e o governo

em um processo amplo e participativo de consulta sobre os problemas ambientais,

sociais e econômicos locais e o debate sobre soluções para esses problemas

através da identificação e implementação de ações concretas que visem o

desenvolvimento sustentável local.

A pesquisa realizada pelo IBGE considerou existir Agenda 21 no município

sempre que o processo tenha se iniciado, mesmo que sem nenhuma formalização

legal. Nos municípios com Agenda 21 perguntou-se se houve formalização pública

da Agenda 21, através de lei, decreto ou resolução municipal, se foi instalado um

Fórum da Agenda 21 Local e, em caso afirmativo, que entidades o integram. O

Fórum é importante pois mostra a oficialização da Agenda 21 e dá uma indicação de

quão participativo é o processo pela composição de seus membros.

Outro ponto investigado foi o estágio em que se encontra a Agenda 21,

entendido como sendo o quanto se evoluiu numa escala de quatro fases que vai da

sensibilização/mobilização da comunidade até implementação, de fato, da Agenda

21, passando pelas fases intermediárias de definição do diagnóstico e da elaboração

do Plano de Desenvolvimento Sustentável. Por último, perguntou-se que temas

estão sendo abordados na Agenda 21 (ambientais, econômicos ou sociais).

Conforme verificamos na pesquisa de Informações Básicas Municipais, 1.652

municípios brasileiros (29,7% do total) já iniciaram o processo de Agenda 21, contra

59,9% que não iniciaram, e 10,4% não sabem o que é Agenda 21). Constata-se que

quanto maior a faixa de população do município maior é a proporção de localidades

com Agenda 21, que passa de 16,5%, na faixa dos municípios com até 5 000

habitantes, para 69,7% entre aqueles com mais de 500 000 habitantes.

20 Disponível em: http://www.mma.gov.br/index.cfm?id_estrutura=18&id_conteudo=1081. Acesso em: 02.nov.2005.

96

Fig. 18 – Agenda 21 local na região Norte.

Cabe ressaltar que a proporção dos municípios que desconhece o que seja a

Agenda 21 é baixa em todas as faixas e cai fortemente à medida que se muda de

faixa. Note-se que, na faixa dos mais populosos, não há nenhum município que

desconheça o que seja a Agenda 21. O mesmo ocorre entre os municípios que não

iniciaram o processo da Agenda 21, mas a queda da proporção é bem menos

acentuada. E como a Agenda 21 é proporcionalmente mais presente nos municípios

mais populosos, verifica-se que cerca da metade da população brasileira reside em

municípios com Agenda 21 implantada. No recorte regional, a região norte esta em

terceira colocação com (14,5%) dos municípios com agenda 21,vindo atrás das

regiões Nordeste com 63,8% e Sudeste (15,8%). Os dados encontrados permitem

dizer que 24,3% da população da Região Norte se concentravam em municípios

com Agenda 21.

Fig. 19 - Proporção dos Municípios que iniciaram a agenda 21 Local.

97

Verificamos pelo gráfico acima que pouco mais de 10% dos municípios

tocantinenses demonstram a existência da agenda 21 local.

Fig. 20 – Situação dos municípios quanto a agenda 21 local.

A figura 19 mostra a distribuição dos municípios com Agenda 21 no país de

acordo com o estágio em que se encontravam à época da pesquisa.

Pelo mapa acima verificamos que inexistiam até a época da pesquisa a

implantação da agenda 21 junto aos municípios do sistema T-7 de bacia hidrográfica

no Estado do Tocantins.

A pesquisa aponta que “Em Tocantins, por outro lado, somente um dos

municípios tem Fórum instalado, portanto, o processo avançou, mas não é possível

avaliar a participação dos diferentes setores da sociedade no mesmo, nem a forma

como vem se dando a organização e a construção da Agenda 21.”

98

A repartição de competências estabelecidas pela A Lei Federal n. 6.938, de

agosto de 1981, bem como as determinações da Carta Política, delegaram aos

municípios a responsabilidade comum na gestão dos recursos ambientais,

esculpidos nas responsabilidades do Sistema Nacional de Meio Ambiente –

SISNAMA.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu novo e definitivo marco para a

ação municipal no que diz respeito ao meio ambiente. Entre os avanços destacam-

se a consagração do tema ambiental como matéria constitucional, objeto de

competência comum entre todos os entes federados, e a inclusão dos municípios

como entes partícipes da federação em igualdade de condições, dotados de

autonomia política, administrativa e financeira. A partir dessa época, multiplicaram-

se os municípios dotados de órgãos ambientais, em um contexto político-institucional

no qual o processo de descentralização estava associado à bandeira da

democratização e à crise fiscal das instâncias centrais e governo, além de

corresponder a um paradigma de eficiência do setor público (MACHADO:2001:258).

Os resultados do Suplemento de Meio Ambiente revelam a existência de

organizações de meio ambiente vários formatos. Conforme ilustra a figura 21, cerca

de 6% dos municípios brasileiros possuíam, em 2002, secretarias encarregadas

exclusivamente de meio ambiente, enquanto em 26% dos municípios a questão

ambiental é tratada em secretarias conjuntas com outras áreas, e ainda, em 36%

dos municípios a questão ambiental foi instituída no interior de organizações pré-

existentes, unidades administrativas subordinadas e/ou associadas a outras

secretarias, departamentos ou órgão similar. As várias formas de organização

pesquisadas incidem em diferentes graus nas diversas regiões do País.

A análise por faixas de população mostra que todos os municípios com mais

de 500 000 habitantes têm algum órgão de meio ambiente, sendo que 45% possuem

secretarias exclusivas, 24% têm secretaria conjunta e os 31% restantes possuem

órgão subordinado a uma secretaria de outro setor. No outro extremo, entre os

municípios com até 5 000 habitantes, apenas 2% têm secretaria exclusiva para meio

99

ambiente, enquanto 49% não apresentam nenhuma estrutura institucional

respondendo pelas questões ambientais.

Fig. 21 – Municípios, por tipo de Órgãos Municipais de Meio Ambiente.

Neste aspecto a pesquisa desenvolvida na região da bacia demonstra que a

população tem conhecimento da inexistência de qualquer órgão de gestão

ambiental.

39%

61%

Sim

Não

QUESTÃO 05: Seu Município tem Secretaria de Meio Ambiente?

Fig. 22 – Questão 05.

100

A gestão do meio ambiente pode estar associada a outros temas ou setores

de atividades com os quais mantém uma agenda conjunta e estabelecem relações

de interdependência. No caso, a área ambiental é compartilhada com outros temas

em 62% dos municípios brasileiros, quer seja instituída na forma de secretaria

conjunta ou na forma de departamento, assessoria ou órgão similar.

No que tange aos Conselhos estes são instâncias colegiadas, compostas por

representantes de organizações públicas civis, de interesse público e privado, que

podem exercer diversas funções, tais como: debate de problemas públicos,

proposição de soluções, tomada de decisão, assessoria e acompanhamento de

processos decisórios e de ações governamentais. Os conselhos municipais de

políticas públicas vêm resgatar a forma Aristotélica de se exercer a cidadania.

A região Norte tem poucos conselhos municipais de meio ambiente, ativos

20%, o que demonstra uma fragilidade na gestão participativa e mesmo na

manutenção das políticas setoriais.

Neste particular analisando a pesquisa da bacia T-7 notamos que 57% dos

entrevistados acreditam que não existe conselho municipal de meio ambiente em

sua comunidade, verificando-se assim que em cidadãos como do município de

Gurupi, onde o conselho existe formalmente mas não esta funcionando, torna seu

conhecimento por parte da população através do próprio interesse, especialmente o

acadêmico em vê-lo funcionando.

43%

57% Sim

Não

QUESTÃO 06: Seu Município tem Conselho Municipal de Meio Ambiente

Fig. 23 – Questão 06.

Daí verificarmos que a Bacia T-7, na região política XIV do Estado do

Tocantins que o processo de mobilização em prol de um comitê de bacia inexiste,

tampouco para a formação e implantação de uma agenda 21 local, estando em um

101

processo pré-embrionário, estando as decisões ainda atreladas ao Poder Público.

Notamos ainda que a população é critica ao verificar a inexistências dos conselhos,

das secretarias e das omissões dos organismos políticos, demonstra também estar

atenta as ações do Parquet (Ministério Público), e embora não informado sobre a

total composição da bacia o interesse em participar na gestão das águas.

102

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como atentamos no presente trabalho a abordagem política de participação

democrática, a participação popular torna-se a base da política ambiental,

indispensável para uma mudança substancial do atual quadro de políticas públicas.

O planejamento passou a ser exigido e deve ser compreendido não apenas como as

necessidades da população, mas também como conduzido por ela.

Contudo, a abordagem política de participação democrática parte da

necessidade de uma ampla participação para determinar os objetivos das políticas

ambientais, visto que, no fundo, trata-se de questões altamente subjetivas e sujeitas

a juízos de valor. Parte-se do pressuposto de que só uma abordagem participativa

estaria em condições de incorporar as necessidades de todos os segmentos da

sociedade, de futuras gerações e de outras espécies. Assim, torna-se

imprescindível uma democratização ecológica que requer a proliferação de valores

democráticos e ao mesmo tempo de valores ecológicos, ou seja, tanto a

democratização do processo político como a ecologização das políticas públicas. No

caso da democracia ecológica ou ambiental, parte-se de uma concepção normativa

que aposta na possibilidade de que é possível chegar-se a uma compreensão e a

soluções comuns dos problemas ambientais pelo aperfeiçoamento do processo

comunicativo e pela garantia das condições sociais e ecológicas da liberdade

comunicativa.

A nível da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Antônio, verificamos que existem

possibilidades de adoção de mecanismos de mercado, como a implantação do ICMS

ecológico, na perseguição do desenvolvimento sustentável. Todavia, tais

possibilidades estão restritas, porque as empresas locais se encontram em

concorrência com empresas de outros municípios, provocando a resistência dos

interesses econômicos locais. Outro fator limitador concerne à resistência do

eleitorado a quaisquer medidas que atinjam o bolso do cidadão, o que deixa

bastante evidente que a implementação de tais mecanismos depende de um

processo de participação política e de conscientização, para que o cidadão aceite

tais medidas em favor do bem comum e de um ambiente mais saudável.

103

Face necessário que as visões histórica, orgânica e funcional relativas aos

pólos dos objetos, neste caso a implantação de um comitê de bacia, devem estar

integradas no processo decisório, devendo os atores envolvidos terem noção da

composição da bacia e sua ocupação, fato ainda pouco difundido, devem saber a

composição e sua legitimação no processo de discussão, o que efetivamente

conforme demonstrado na pesquisa fica a desejar pois poucos sãos os atores que

conhecem a realidade local e devem saber como são os mecanismos de

funcionamento, a fim de que possam buscar a melhor trajetória para a dissolução

dos conflitos, o que também inexiste.

A cidadania individual neste caso é de fundamental importância para a

motivação, não basta que o ator envolvido tenha apenas um sentido de orgulho

pessoal, como maior catalisador que leva as pessoas a descobrir e utilizar o seu

próprio poder pessoal, neste caso ela tem que estar em condições plenas de

exercício da sua cidadania coletiva. No caso do Rio Santo Antônio, verificamos uma

renda per capta que prejudica a coletividade da cidadania. A incapacidade de

desenvolvimento da cidadania coletiva implica na não participação no processo

decisório e a levar a população a observar a degradação ambiental como se o fator

fosse externo a seu meio. A gestão neste caso fica adstrita a elite dominante,

classes políticas e detentores do conhecimento.

Não há que se discutir confiança ou mesmo poder na gestão, tão pouco

objetivos se os atores desconhecem os princípios básicos de tais significâncias.

Quando os decisores desconhecem suas funções a própria relação constitutiva do

comitê fica prejudicada ante o desequilíbrio de forças imposta naturalmente pelo

desequilíbrio existente. Assim, se temos nos órgãos instituidores organismos

conhecedores de seu poder, naturalmente ele ira se sobrepor aos desconhecedores,

quebrando assim o equilíbrio estampado na lei 9.433/97. Resta então o bom censo

para se buscar na pluralidade de idéias a força subjetiva do bom senso, diante da

concretude de interesses como a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

Observamos que a implantação do comitê é algo necessário, ante ao quadro

em que se encontra a bacia e, em contrapartida, verificamos dentre as pessoas que

tem um grupo de atores que podem e tem condições intelectuais e de conhecimento

para iniciar o processo de discussão, as universidades. A exemplo do comitê lago

104

Guaíba, e aqui ressaltamos que independentemente do tamanho quantitativo do

curso d’água, o modelo de gestão vai se ater ao tamanho da comunidade envolvida,

que a articulação da população da Bacia ficou a cargo da PUC-RS. Assim como, a

do comitê SINOS ficou a cargo da UNISINOS, o que nos leva a crer que tais órgãos

não devem deixar este espaço a cargo somente dos entes políticos, cuja meta, pelo

sistema vigente restringe-se a medidas eleitoreiras, e não de estado, cabendo as

instituições de ensino que tem claro seu papel na integração regional, um forte para

criação de núcleos e programas de extensão voltados para a gestão das águas

através dos comitês de bacia, usando como ferramenta principal a educação, não

apenas a ambiental, mas todas as disciplinas que possam interagir na composição e

na mobilização social.

Neste caso a Faculdade UNIRG nos coloca que inexiste qualquer projeto de

implantação ou mesmo estudo de um comitê ou mesmo da bacia. Observamos que

tratar-se de uma Faculdade municipal e que suas ações estão muito mais pautadas

em interesses políticos do que acadêmicos, esta conclusão é oriundo das

observações feitas durante os 3 anos em que estivemos a frente da Assessoria de

Extensão e da Assessoria de Assuntos Comunitário da UNIRG.

Com relação ao Campus da UFT em Gurupi, a mesma também não possui

qualquer estudo voltado especificamente para a Bacia, entretanto demonstra

interesse visto que a implantação do comitê seria de grande importância para a

manutenção da bacia, de suas matas ciliares e na retenção ao assoreamento, ações

que se não forem adotadas repercutiram diretamente no empreendimento UHE de

ipueiras quando estiver em operação.

Em qualquer circunstância, reconhecer os fenômenos sócio-ambientais, e

fazê-los instrumentos para a motivação política são de fundamental importância para

a análise de sustentabilidade de implantação do um comitê da bacia hidrográfica.

O fato de inexistirem estudos apurados da bacia do Rio Santo Antônio até o

momento demonstra a preocupação que os gestores públicos, locais e estaduais

tem dispensado ao assunto água, pautados em uma visão bifocal de

sustentabilidade econômica e social, transferem a bacia um valor insignificante, o

105

que em verdade não deveria ocorrer já que a Bacia do Rio Santo merece lugar de

destaque no contexto Tocantinense.

Daí verificarmos que a Bacia T-7, na região política XIV do Estado do

Tocantins que o processo de mobilização em prol de um comitê de bacia inexiste,

tampouco para a formação e implantação de uma agenda 21 local, estando em um

processo pré-embrionário, pois as decisões ainda estão atreladas ao Poder Público

o qual não vem adotando qualquer medida para a implantação do comitê ou mesmo

da agenda 21 local para reverter o quadro. Notamos ainda que a população seja

critica ao verificar a inexistência dos conselhos, das secretarias e das omissões dos

organismos políticos, demonstra também estar atenta às ações do Parquet

(Ministério Público), restando apenas um órgão para difundir as idéias e os ditames

da cidadania ambiental para a construção do comitê mediante a pressão social

sobre o poder público, tudo no mais claro exercício da política democrática, cidadã,

fazendo da água não apenas um pólo de discussão, mas de resgate e

amadurecimentos político.

106

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_________ "Tecnologia, Sociedade e Meio Ambiente: uma Análise Bibliográfica da Reflexão Teórica Contemporânea – Primeira Parte", Revista Interdisciplinar Archetypon, Rio de Janeiro, 23(8):71-93, 2000a. _________ "A Questão Ambiental Brasileira: uma Análise Sociológica do Processo de Formação do Arcabouço Jurídico-Institucional", Revista de Estudos Ambientais, Blumenau, 2(2-3):5-20, 2000b. MACHADO, C. J. S., MIRANDA, N. & PINHEIRO, A. A. dos S. "A Nova Aliança entre Estado e Sociedade na Administração da Coisa Pública: Descentralização e Participação na Política Nacional de Recursos Hídricos", In: MACHADO, C. J. S. (Org.), Gestão de Água Doce: Usos Múltiplos, Políticas Públicas e Exercício da Cidadania no Brasil. Rio de Janeiro: EdUERJ, pp. 17-54, 2002. MACHADO, C. J. S. & CARDOSO, M. L. de M., "O Paradoxo da Democrácia das Águas". Revista Informativa da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre, 2:5-6, 2000. MACHADO, P. A. L., Direito Ambiental Brasileiro, 9ª ed., rev., atual. e ampl., 2ª tiragem, São Paulo: Malheiros Editores, 2001. MACHADO, Carlos José Saldanha. Recursos hídricos e cidadania no Brasil: limites, alternativas e desafios. Ambient. soc. [online]. jul./dez. 2003, vol.6, no.2 MAGALHAES JR., Antônio. Variáveis e desafios do processo decisório no contexto dos Comitês de Bacia Hidrográfica no Brasil. Ambient. soc., jan./jun. 2001, no.8, p.21-48. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração - da Escola científica à competitividade em economia globalizada. São Paulo: Ed. Atlas, 1977, p. 329-333. MILARÉ. Edis. Direito do Ambiente. Ed. Revista dos Tribunais. 2004. MOURA, Maria M. de. Brasília; UNB/ICPRI. Dissertação 1996. NOBRE,Marcos;AMAZONAS, Mauricio de Carvalho. Desenvolvimento Sustentável; a institucionalização de um conceito. Brasília: ed. Ibama, 2002. OLIVEIRA, Flavia de Paiva.Direito, Meio ambiente e cidade - uma abordagem multidisciplinar, pág 83. Lumine. São Paulo. 2004. Programa Pantanal.Disponivel em : http://www.mma.gov.br/port/sqa/pantanal/site/w orkcazu.ht ml. Acesso em 27. set.03. RHIN-MEUSE INFORMATIONS (jornal do Comitê e da Agência Rhin-Meuse): Metz, número especial de set-out/1989. RHIN-MEUSE INFORMATIONS: Metz, número especial de dez/1989-jan/1990. SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. _________, Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo: Nobel, 1993 SETTI, Arnaldo Augusto, Introdução ao Gerenciamento dos Recursos Hídricos, 2ª Ed, Brasília, ANA/ANNEL, 2001. SILVA, Demetrius David da, PRUSKI, Fernando Falco, Gestão de Recursos Hídricos: aspectos legais, econômicos e sociais, Associação Brasileira dos Recursos Hídricos; Universidade Federal de Viçosa;2000 SILVA, Nilvo L. A. da; ZANARDI JUNIOR, Volney; PINEDA, Maria D. S.; TRACY, D. Dez Passos para o Empowerment - Um Guia Sensato para a Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1994, p. 01 - 165. ZORZI, Isidoro; FILIPPINI, Antônio F.; CÁNEPA, Eugenio M.; SCHNEIDER, Vânia E. "A Gestão de Recursos Hídricos no RS – uma estratégia de participação da sociedade civil". Fascículo avulso do Comitê de Gerenciamento da Bacia do Rio Taquari / Antas. Caxias do Sul, abril de 2000.

110

ZINATO, Maria do Carmo, A construção da Cidadania propulsionada pela água, Associação Brasileira de Recursos Hídricos. 2000

111

ANEXO 1: QUESTIONÁRIO APLICADO VIA INTERNET.

112

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMASPÓS -GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE

Prezado colaborador. O presente questionário é parte integrante da pesquisa de dissertação do tema: ANÁLISE DE SUSTENTABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DO COMITE DA BACIA DO RIO SANTO ANTÔNIO, SUL DO ESTADO DO TOCANTINS.Solicitamos a sua colaboração para preencher com veracidade as questões abaixo para que seus resultados demonstrem com precisão sua realidade.

VOCÊ É: VOCÊ MORA EM: VOCÊ MORA EM SEU MUNICIPIO A:

Estudante Secundarista. Gurupi. Menos de 1 ano.

SUA RENDE É DE: SUA IDADE É DE:

Até 1 (um) Salário Mínimo. Menos de 18 anos.

QUESTÃO 01: Você conhece o(s) corregos(s) que banha(m) sua cidade?

Sim

Não

QUESTÃO 02: Quantos são os corregos que cortam seu município?

1

2

3

mais de 3

QUESTÃO 03: Você vive em alguma bacia hidrográfica?

Sim

Não

QUESTÃO 04: Sua relação com o recurso hídrico de sua cidade é:

Costumo tomar banho.

113

Costumo pescar.

Costumo lavar roupa.

Não faço nada nos recursos hídrico de meu município.

QUESTÃO 05: Seu Município tem Secretaria de Meio Ambiente?

Sim

Não

QUESTÃO 06: Seu Município tem Conselho Municipal de Meio Ambiente?

Sim

Não

QUESTÃO 07: Você conhece alguma Organização não governamental (ONG) que atue na preservação do meio ambiente em seu município?

Sim

Não

QUESTÃO 08: Você conhece alguma ação do Ministério Público para a preservação do meio ambiente em seu município?

Sim

Não

QUESTÃO 09: Você ja ouviu falar em desenvolvimento sustentável?

Sim

Não

QUESTÃO 10: Você conhece alguma ação política para a preservação ambiental em seu município?

Sim

Não

QUESTÃO 11: Você gostaria de participar das discussões referentes a administração das águas em seu município?

Sim

Não

Limpar Enviar

114

ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO APLICADO PESSOALMENTE COM AS MESMAS QUESTOES DA INTERNET

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE

Prezado colaborador.

O presente questionário é parte integrante da pesquisa de dissertação do tema: ANÁLISE DE

SUSTENTABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DO COMITE DA BACIA DO RIO SANTO ANTÔNIO, SUL DO ESTADO DO TOCANTINS.

Solicitamos a sua colaboração para preencher com veracidade as questões abaixo para que

seus resultados demonstrem com precisão sua realidade.

VOCÊ É:

( ) Estudante secundarista.

( ) Estudante universitário.

( ) Professor.

( ) Representante Classista.

( ) Administrador Público.

( ) Advogado.

VOCÊ MORA EM:

( ) GURUPI.

( ) CARIRI DO TOCANTINS.

( ) FIGUEIRÓPOLIS.

( ) SUCUPIRA.

VOCÊ MORA EM SUE MUNICÍPIO A:

( ) MENOS DE 1 ANO.

116

( ) DE 1 A 3 ANOS.

( ) DE 3 A 5 ANOS.

( ) MAIS DE 5 ANOS.

QUESTÃO 01: Você conhece o(s) córrego (s) que banha (m) sua cidade?

( ) Sim

( ) Não

QUESTÃO 02: Quantos são os córregos que cortam seu município?

( ) 1

( ) 2

( ) 3

( ) mais de 3

QUESTÃO 04: Você vive em alguma bacia hidrográfica?

( ) Sim

( ) Não

QUESTÃO 05: Sua relação com o recurso hídrico de sua cidade é:

( ) Costumo tomar banho.

( ) Costumo pescar.

( ) Costumo lavar roupa.

( ) Não faço nada nos recurso hídrico de meu município.

QUESTÃO 06: Seu Município tem Secretaria de Meio Ambiente:

( ) Sim

( ) Não

QUESTÃO 07: Seu Município tem Conselho Municipal de Meio Ambiente:

117

( ) Sim

( ) Não

QUESTÃO 08: Você conhece alguma Organização não governamental (ONG) que atue

na preservação do meio ambiente em seu município:

( ) Sim

( ) Não

QUESTÃO 09: Você conhece alguma ação do Ministério Público para a preservação do

Meio Ambiente em seu Município.

( ) Sim

( ) Não

QUESTÃO 10: Você já ouviu falar em desenvolvimento sustentável.

( ) Sim.

( ) Não.

QUESTÃO 11: Você conhece alguma ação política para a preservação ambiental em seu

município.

( ) Sim.

( ) Não.

QUESTÃO 12: Você gostaria de participar das discussões referentes a administração

das águas em seu município.

( ) Sim.

( ) Não.

118

ANEXO 3 - LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981 QUE DISPÕE SOBRE A POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, SEUS FINS E MECANISMOS DE FORMULAÇÃO E APLICAÇÃO, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

119

Presidência da República Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981

Regulamento Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art 1º - Esta Lei, com fundamento no art. 8º, item XVII, alíneas c, h e i , da Constituição Federal, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente, cria o Conselho Nacional do Meio Ambiente e institui o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental.

Art. 1º Esta Lei, com fundamento nos incisos VI e VII, do art. 23, e no art. 225 da Constituição Federal, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, cria o Conselho Superior do Meio Ambiente - CSMA, e institui o Cadastro de Defesa Ambiental. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

Art 1º - Esta lei, com fundamento nos incisos VI e VII do art. 23 e no art. 235 da Constituição, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental. (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990)

DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;

VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII - recuperação de áreas degradadas;

120

IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X - educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;

II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;

V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera.

V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

DOS OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, do Territórios e dos Municípios;

III - ao estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologia s nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

121

VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas á sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

Art. 5º - As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão formuladas em normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico, observados os princípios estabelecidos no art. 2º desta Lei.

Parágrafo único. As atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente.

DO SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Art. 6º Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:

I - Órgão Superior: o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, com a função de assistir o Presidente da República na formulação de diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente; II - Órgão Central: a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, do Ministério do Interior, à qual cabe promover, disciplinar e avaliar a implantação da Política Nacional do Meio Ambiente; III - Órgãos Setoriais: os órgãos ou entidades integrantes da Administração Pública Federal, direta ou indireta, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, cujas entidades estejam, total ou parcialmente, associadas às de preservação da qualidade ambiental ou de disciplinamento do uso de recursos ambientais; IV - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e projetos e de controle e fiscalização das atividades suscetíveis de degradarem a qualidade ambiental; V - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas áreas de jurisdição.

I - Órgão Superior: o Conselho Superior do Meio Ambiente - CSMA, com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989) II - Órgão Consultivo e Deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, adotado nos termos desta Lei, para assessorar, estudar e propor ao Conselho Superior do Meio Ambiente - CSMA diretrizes políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais, e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989) III - Órgão Central: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, com a finalidade de coordenar, executar e fazer executar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, e a preservação, conservação e uso racional, fiscalização, controle e fomento dos recursos ambientais; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989) IV - Órgãos Setoriais: os órgãos ou entidades integrantes da administração federal direta e indireta, bem como as Fundações instituídas pelo Poder Público, cujas atividades estejam associadas às de proteção da qualidade ambiental ou àquelas de disciplinamento do uso de recursos ambientais; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

I - órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais; (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990)

122

II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida; (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990)

III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990)

IV - órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990)

V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições; (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

§ 1º Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaboração normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA.

§ 2º O s Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior.

§ 3º Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste artigo deverão fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamentação, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada.

§ 4º De acordo com a legislação em vigor, é o Poder Executivo autorizado a criar uma Fundação de apoio técnico científico às atividades da SEMA. (Vide Lei nº 7.804, de 1989)

DO CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Art. 7º - É criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, cuja composição, organização, competência e funcionamento serão estabelecidos, em regulamento, pelo Poder Executivo. Parágrafo único - Integrarão, também, o CONAMA: a) representantes dos Governos dos Estados, indicados de acordo com o estabelecido em regulamento, podendo ser adotado um critério de delegação por regiões, com indicação alternativa do representante comum, garantida sempre a participação de um representante dos Estados em cujo território haja área crítica de poluição, asssim considerada por decreto federal; b) Presidentes das Confederações Nacionais da Indústria, da Agricultura e do Comércio, bem como das Confederações Nacionais dos Trabalhadores na Indústria, na Agricultura e no Comércio; c) Presidentes da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza; d) dois representantes de Associações legalmente constituídas para a defesa dos recursos naturais e de combate à poluição, a serem nomeados pelo Presidente da República.

Art. 7º O Conselho Superior do Meio Ambiente - CSMA tem por finalidade assessorar o Presidente da República na formalização da Política Nacional e das diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989) (Revogado pela Lei nº 8.028, de 1990) § 1º O Conselho Superior do Meio Ambiente - CSMA é presidido pelo Presidente da República, que o convocará pelo menos 2 (duas) vezes ao ano. (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

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§ 2º São membros do Conselho Superior do Meio Ambiente - CSMA: (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989) I - o Ministro da Justiça; II - o Ministro da Marinha; III - o Ministro das Relações Exteriores; IV - o Ministro da Fazenda; V - o Ministro dos Transportes; VI - o Ministro da Agricultura; VII - o Ministro da Educação; VIII - o Ministro do Trabalho; IX - o Ministro da Saúde; X - o Ministro das Minas e Energia; XI - o Ministro do Interior; XII - o Ministro do Planejamento; XIII - o Ministro da Cultura; XIV - o Secretário Especial de Ciência e Tecnologia; XV - o Representante do Ministério Público Federal; XVI - o Representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC; XVII - 3 (três) representantes do Poder Legislativo Federal; XVIII - 5 (cinco) cidadãos brasileiros indicados pelo conjunto das entidades ambientalistas não governamentais. § 3º Poderão participar das reuniões do Conselho Superior do Meio Ambiente - CSMA, sem direito a voto, pessoas especialmente convidadas pelo seu Presidente. (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989) § 4º A participação no Conselho Superior do Meio Ambiente - CSMA é considerada como de relevante interesse público e não será remunerada. (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989) § 5º. O Ministro do Interior é, sem prejuízo de suas funções, Secretário-Executivo do Conselho Superior do Meio Ambiente - CSMA.(Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989) (Revogado pela Lei nº 8.028, de 1990)

Art. 8º Incluir-se-ão entre as competências do CONAMA:

Art. 8º Compete ao CONAMA: (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990)

I - estabelecer, mediante proposta da SEMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluídoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pela SEMA; (Vide Lei nº 7.804, de 1989)

II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem como a entidades privadas, as informações indispensáveis ao exame da matéria;

II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem como a entidades privadas, as informações indispensáveis; o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA apreciará os estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios de impacto ambiental, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, nas áreas consideradas Patrimônio Nacional pela Constituição Federal; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional. (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990)

124

III - decidir, como última instância administrativa em grau de recurso, mediante depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas pela SEMA; (Vide Lei nº 7.804, de 1989)

IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental; (VETADO);

V - determinar, mediante representação da SEMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de fiananciamento em estabelecimentos oficiais de crédito; (Vide Lei nº 7.804, de 1989)

VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes;

VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos.

Parágrafo único. O Secretário do Meio Ambiente é, sem prejuízo de suas funções, o Presidente do Conama. (Incluído pela Lei nº 8.028, de 1990)

DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Art. 9º - São Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II - o zoneamento ambiental; (Regulamento)

III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - a criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e as de relevante interesse ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal;

VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental;

IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.

X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzí-las, quando inexistentes; (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

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XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

Art. 10 - A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento por órgão estadual competente, integrante do SISNAMA, sem prejuízo de outras licenças exigíveis.

Art. 10 - A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

§ 1º Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial do Estado, bem como em um periódico regional ou local de grande circulação.

§ 2º Nos casos e prazos previstos em resolução do CONAMA, o licenciamento de que trata este artigo dependerá de homologação da SEMA. (Vide Lei nº 7.804, de 1989)

§ 3º O órgão estadual do meio ambiente e a SEMA, esta em caráter supletivo, poderão, se necessário e sem prejuízo das penalidades pecuniárias cabíveis, determinar a redução das atividades geradoras de poluição, para manter as emissões gasosas, os efluentes líquidos e os resíduos sólidos dentro das condições e limites estipulados no licenciamento concedido. (Vide Lei nº 7.804, de 1989)

§ 4º - Caberá exclusivamente ao Poder Executivo Federal, ouvidos os Governos Estadual e Municipal interessados, o licenciamento previsto no “caput” deste artigo, quando relativo a pólos petroquímicos e cloroquímicos, bem como a instalações nucleares e outras definidas em lei.

§ 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA o licenciamento previsto no caput deste artigo, no caso de atividades e obras com significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

Art. 11. Compete à SEMA propor ao CONAMA normas e padrões para implantação, acompanhamento e fiscalização do licenciamento previsto no artigo anterior, além das que forem oriundas do próprio CONAMA. (Vide Lei nº 7.804, de 1989)

§ 1º A fiscalização e o controle da aplicação de critérios, normas e padrões de qualidade ambiental serão exercidos pela SEMA, em caráter supletivo da atuação do órgão estadual e municipal competentes. (Vide Lei nº 7.804, de 1989)

§ 2º Inclui-se na competência da fiscalização e controle a análise de projetos de entidades, públicas ou privadas, objetivando a preservação ou a recuperação de recursos ambientais, afetados por processos de exploração predatórios ou poluidores.

Art. 12. As entidades e órgãos de financiamento e incentivos governamentais condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses benefícios ao licenciamento, na forma desta Lei, e ao cumprimento das normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA.

Parágrafo único. As entidades e órgãos referidos no caput deste artigo deverão fazer constar dos projetos a realização de obras e aquisição de equipamentos destinados ao controle de degradação ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente.

Art. 13. O Poder Executivo incentivará as atividades voltadas ao meio ambiente, visando:

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I - ao desenvolvimento, no País, de pesquisas e processos tecnológicos destinados a reduzir a degradação da qualidade ambiental;

II - à fabricação de equipamentos antipoluidores;

III - a outras iniciativas que propiciem a racionalização do uso de recursos ambientais.

Parágrafo único. Os órgãos, entidades e programas do Poder Público, destinados ao incentivo das pesquisas científicas e tecnológicas, considerarão, entre as suas metas prioritárias, o apoio aos projetos que visem a adquirir e desenvolver conhecimentos básicos e aplicáveis na área ambiental e ecológica.

Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios;

II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público;

III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;

IV - à suspensão de sua atividade.

§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

§ 2º No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao Secretário do Meio Ambiente a aplicação Ambiente a aplicação das penalidades pecuniárias prevista neste artigo.

§ 3º Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda, restrição ou suspensão será atribuição da autoridade administrativa ou financeira que concedeu os benefícios, incentivos ou financiamento, cumprimento resolução do CONAMA.

§ 4º Nos casos de poluição provocada pelo derramamento ou lançamento de detritos ou óleo em águas brasileiras, por embarcações e terminais marítimos ou fluviais, prevalecerá o disposto na Lei nº 5.357, de 17 de novembro de 1967. (Revogado pela Lei nº 9.966, de 2000)

Art. 15 - É da competência exclusiva do Presidente da República, a suspensão prevista no inciso IV do artigo anterior por prazo superior a 30 (trinta) dias. § 1º - O Ministro de Estado do Interior, mediante proposta do Secretário do Meio Ambiente e/ou por provocação dos governos locais, poderá suspender as atividades referidas neste artigo por prazo não excedente a 30 (trinta) dias. § 2º - Da decisão proferida com base no parágrafo anterior caberá recurso, com efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, para o Presidente da República

Art. 15. O poluidor que expuser a perigo a incolumidade humana, animal ou vegetal, ou estiver tornando mais grave situação de perigo existente, fica sujeito à pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa de 100 (cem) a 1.000 (mil) MVR. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

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§ 1º A pena e aumentada até o dobro se: (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

I - resultar:

a) dano irreversível à fauna, à flora e ao meio ambiente;

b) lesão corporal grave;

II - a poluição é decorrente de atividade industrial ou de transporte;

III - o crime é praticado durante a noite, em domingo ou em feriado.

§ 2º Incorre no mesmo crime a autoridade competente que deixar de promover as medidas tendentes a impedir a prática das condutas acima descritas. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

Art. 16 - Os Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios poderão adotar medidas de emergência, visando a reduzir, nos limites necessários, ou paralisar, pelo prazo máximo de 15 (quinze) dias, as atividades poluidoras. (Revogado pela Lei nº 7.804, de 1989) Parágrafo único - Da decisão proferida com base neste artigo, caberá recurso, sem efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, ao Ministro do Interior.(Revogado pela Lei nº 7.804, de 1989) Art. 17 - É instituído, sob a administração da SEMA, o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dediquem à consultoria técnica sobre problemas ecológicos ou ambientais e à indústria ou comércio de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras.

Art. 17. Fica instituído, sob a administração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA: (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

I - Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a consultoria técnica sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e comércio de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

II - Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração, produção, transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da fauna e flora. (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

Art. 17-A. São estabelecidos os preços dos serviços e produtos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, a serem aplicados em âmbito nacional, conforme Anexo a esta Lei. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-B. É criada a Taxa de Fiscalização Ambiental - TFA.(Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) § 1o Constitui fato gerador da TFA, o exercício das atividades mencionadas no inciso II do art. 17 desta Lei, com a redação dada pela Lei no 7.804, de 18 de julho de 1989. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) § 2o São sujeitos passivos da TFA, as pessoas físicas ou jurídicas obrigadas ao registro no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais.(Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-B. Fica instituída a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA, cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

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Recursos Naturais Renováveis – Ibama para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais." (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 1o Revogado. (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 2o Revogado.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

Art. 17-C. A TFA será devida em conformidade com o fato gerador e o seu valor corresponderá à importância de R$ 3.000,00 (três mil reais). (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) § 1o Será concedido desconto de 50% (cinqüenta por cento) para empresas de pequeno porte, de 90% (noventa por cento) para microempresas e de 95% (noventa e cinco por cento) para pessoas físicas. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) § 2o O contribuinte deverá apresentar ao Ibama, no ato do cadastramento ou quando por ele solicitada, a comprovação da sua respectiva condição, para auferir do benefício dos descontos concedidos sobre o valor da TFA, devendo, anualmente, atualizar os dados de seu cadastro junto àquele Instituto. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) § 3o São isentas do pagamento da TFA, as entidades públicas federais, distritais, estaduais e municipais, em obediência ao constante da alínea "a" do inciso IV do art. 9o do Código Tributário Nacional. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-C. É sujeito passivo da TCFA todo aquele que exerça as atividades constantes do Anexo VIII desta Lei.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 1o O sujeito passivo da TCFA é obrigado a entregar até o dia 31 de março de cada ano relatório das atividades exercidas no ano anterior, cujo modelo será definido pelo Ibama, para o fim de colaborar com os procedimentos de controle e fiscalização.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 2o O descumprimento da providência determinada no § 1o sujeita o infrator a multa equivalente a vinte por cento da TCFA devida, sem prejuízo da exigência desta. (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 3o Revogado. (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

Art. 17-D. A TFA será cobrada a partir de 1o de janeiro de 2000, e o seu recolhimento será efetuado em conta bancária vinculada ao Ibama, por intermédio de documento próprio de arrecadação daquele Instituto. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-D. A TCFA é devida por estabelecimento e os seus valores são os fixados no Anexo IX desta Lei." (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 1o Para os fins desta Lei, consideram-se: (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

I – microempresa e empresa de pequeno porte, as pessoas jurídicas que se enquadrem, respectivamente, nas descrições dos incisos I e II do caput do art. 2o da Lei no 9.841, de 5 de outubro de 1999; (Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

II – empresa de médio porte, a pessoa jurídica que tiver receita bruta anual superior a R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) e igual ou inferior a R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais); (Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

III – empresa de grande porte, a pessoa jurídica que tiver receita bruta anual superior a R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais). (Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 2o O potencial de poluição (PP) e o grau de utilização (GU) de recursos naturais de cada uma das atividades sujeitas à fiscalização encontram-se definidos no Anexo VIII desta Lei. (Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

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§ 3o Caso o estabelecimento exerça mais de uma atividade sujeita à fiscalização, pagará a taxa relativamente a apenas uma delas, pelo valor mais elevado.(Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

Art. 17-E. É o Ibama autorizado a cancelar débitos de valores inferiores a R$ 40,00 (quarenta reais), existentes até 31 de dezembro de 1999. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-F. A TFA, sob a administração do Ibama, deverá ser paga, anualmente, até o dia 31 de março, por todos os sujeitos passivos citados no § 2o do art. 17-B desta Lei.(Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-F. São isentas do pagamento da TCFA as entidades públicas federais, distritais, estaduais e municipais, as entidades filantrópicas, aqueles que praticam agricultura de subsistência e as populações tradicionais. (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

Art. 17-G. O não-pagamento da TFA ensejará a fiscalização do Ibama, a lavratura de auto de infração e a conseqüente aplicação de multa correspondente ao valor da TFA, acrescido de 100 % (cem por cento) desse valor, sem prejuízo da exigência do pagamento da referida Taxa. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) Parágrafo único. O valor da multa será reduzido em 30% (trinta por cento), se o pagamento for efetuado em sua totalidade, até a data do vencimento estipulado no respectivo auto de infração.(Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-G. A TCFA será devida no último dia útil de cada trimestre do ano civil, nos valores fixados no Anexo IX desta Lei, e o recolhimento será efetuado em conta bancária vinculada ao Ibama, por intermédio de documento próprio de arrecadação, até o quinto dia útil do mês subseqüente.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

Parágrafo único. Revogado." (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

Art. 17-H. A TFA não recolhida até a data do vencimento da obrigação será cobrada com os seguintes acréscimos:(Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) I - juros de mora, contados do mês subseqüente ao do vencimento, à razão de 1% a.m. (um por cento ao mês), calculados na forma da legislação aplicável aos tributos federais; (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) II - multa de mora de 0,33% (trinta e três centésimos por cento) ao dia de atraso, até o limite máximo de 20% (vinte por cento) (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) Parágrafo único. Os débitos relativos à TFA poderão ser parcelados, a juízo do Ibama, de acordo com os critérios fixados em portaria do seu Presidente. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-H. A TCFA não recolhida nos prazos e nas condições estabelecidas no artigo anterior será cobrada com os seguintes acréscimos: (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

I – juros de mora, na via administrativa ou judicial, contados do mês seguinte ao do vencimento, à razão de um por cento; (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

II – multa de mora de vinte por cento, reduzida a dez por cento se o pagamento for efetuado até o último dia útil do mês subseqüente ao do vencimento;(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

III – encargo de vinte por cento, substitutivo da condenação do devedor em honorários de advogado, calculado sobre o total do débito inscrito como Dívida Ativa, reduzido para dez por cento se o pagamento for efetuado antes do ajuizamento da execução.(Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 1o-A. Os juros de mora não incidem sobre o valor da multa de mora.(Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

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§ 1o Os débitos relativos à TCFA poderão ser parcelados de acordo com os critérios fixados na legislação tributária, conforme dispuser o regulamento desta Lei.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

Art. 17-I. As pessoas físicas e jurídicas, que já exerçam as atividades mencionadas nos incisos I e II do art. 17 desta Lei, com a redação dada pela Lei no 7.804, de 1989, e que ainda não estejam inscritas nos respectivos cadastros, deverão fazê-lo até o dia 30 de junho de 2000.(Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) Parágrafo único. As pessoas físicas e jurídicas, enquadradas no disposto neste artigo, que não se cadastrarem até a data estabelecida, incorrerão em infração punível com multa, ficando sujeitas, ainda, às sanções constantes do art. 17-G desta Lei, no que couber. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-I. As pessoas físicas e jurídicas que exerçam as atividades mencionadas nos incisos I e II do art. 17 e que não estiverem inscritas nos respectivos cadastros até o último dia útil do terceiro mês que se seguir ao da publicação desta Lei incorrerão em infração punível com multa de: (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

I – R$ 50,00 (cinqüenta reais), se pessoa física; (Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

II – R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais), se microempresa; (Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

III – R$ 900,00 (novecentos reais), se empresa de pequeno porte; (Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

IV – R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais), se empresa de médio porte; (Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

V – R$ 9.000,00 (nove mil reais), se empresa de grande porte. (Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

Parágrafo único. Revogado.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

Art. 17-J. A multa de que trata o parágrafo único do art. 17-I terá como valor a importância correspondente a R$ 20.000,00 (vinte mil reais) (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) Parágrafo único. O valor da multa será reduzido em 50% (cinqüenta por cento) para empresas de pequeno porte, em 90% (noventa por cento) para microempresas e em 95% (noventa e cinco por cento) para pessoas físicas. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) (Revogado pela Lei nº 10.165, de 2000)

Art. 17-L. As ações de licenciamento, registro, autorizações, concessões e permissões relacionadas à fauna, à flora, e ao controle ambiental são de competência exclusiva dos órgãos integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-M. Os preços dos serviços administrativos prestados pelo Ibama, inclusive os referentes à venda de impressos e publicações, assim como os de entrada, permanência e utilização de áreas ou instalações nas unidades de conservação, serão definidos em portaria do Ministro de Estado do Meio Ambiente, mediante proposta do Presidente daquele Instituto. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-N. Os preços dos serviços técnicos do Laboratório de Produtos Florestais do Ibama, assim como os para venda de produtos da flora, serão, também, definidos em portaria do Ministro de Estado do Meio Ambiente, mediante proposta do Presidente daquele Instituto. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-O. Os proprietários rurais, que se beneficiarem com redução do valor do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, com base em Ato Declaratório Ambiental - ADA, deverão recolher

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ao Ibama 10% (dez por cento) do valor auferido como redução do referido Imposto, a título de preço público pela prestação de serviços técnicos de vistoria.(Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) § 1o A utilização do ADA para efeito de redução do valor a pagar do ITR é opcional. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) § 2o O pagamento de que trata o caput deste artigo poderá ser efetivado em cota única ou em parcelas, nos mesmos moldes escolhidos, pelo contribuinte, para pagamento do ITR, em documento próprio de arrecadação do Ibama.(Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) § 3o Nenhuma parcela poderá ser inferior a R$ 50,00 (cinqüenta reais). (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) § 4o O não-pagamento de qualquer parcela ensejará a cobrança de juros e multa nos termos da Lei no 8.005, de 22 de março de 1990.(Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000) § 5o Após a vistoria, realizada por amostragem, caso os dados constantes do ADA não coincidam com os efetivamente levantados pelos técnicos do Ibama, estes lavrarão, de ofício, novo ADA contendo os dados efetivamente levantados, o qual será encaminhado à Secretaria da Receita Federal, para as providências decorrentes. (Incluído pela Lei nº 9.960, de 2000)

Art. 17-O. Os proprietários rurais que se beneficiarem com redução do valor do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR, com base em Ato Declaratório Ambiental - ADA, deverão recolher ao Ibama a importância prevista no item 3.11 do Anexo VII da Lei no 9.960, de 29 de janeiro de 2000, a título de Taxa de Vistoria.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 1o-A. A Taxa de Vistoria a que se refere o caput deste artigo não poderá exceder a dez por cento do valor da redução do imposto proporcionada pelo ADA.(Incluído pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 1o A utilização do ADA para efeito de redução do valor a pagar do ITR é obrigatória.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 2o O pagamento de que trata o caput deste artigo poderá ser efetivado em cota única ou em parcelas, nos mesmos moldes escolhidos pelo contribuinte para o pagamento do ITR, em documento próprio de arrecadação do Ibama.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 3o Para efeito de pagamento parcelado, nenhuma parcela poderá ser inferior a R$ 50,00 (cinqüenta reais). (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 4o O inadimplemento de qualquer parcela ensejará a cobrança de juros e multa nos termos dos incisos I e II do caput e §§ 1o-A e 1o, todos do art. 17-H desta Lei.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 5o Após a vistoria, realizada por amostragem, caso os dados constantes do ADA não coincidam com os efetivamente levantados pelos técnicos do Ibama, estes lavrarão, de ofício, novo ADA, contendo os dados reais, o qual será encaminhado à Secretaria da Receita Federal, para as providências cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

Art. 17-P. Constitui crédito para compensação com o valor devido a título de TCFA, até o limite de sessenta por cento e relativamente ao mesmo ano, o montante efetivamente pago pelo estabelecimento ao Estado, ao Município e ao Distrito Federal em razão de taxa de fiscalização ambiental.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 1o Valores recolhidos ao Estado, ao Município e ao Distrital Federal a qualquer outro título, tais como taxas ou preços públicos de licenciamento e venda de produtos, não constituem crédito para compensação com a TCFA. (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

§ 2o A restituição, administrativa ou judicial, qualquer que seja a causa que a determine, da taxa de fiscalização ambiental estadual ou distrital compensada com a TCFA restaura o direito de crédito do Ibama contra o estabelecimento, relativamente ao valor compensado.(Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

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Art. 17-Q. É o Ibama autorizado a celebrar convênios com os Estados, os Municípios e o Distrito Federal para desempenharem atividades de fiscalização ambiental, podendo repassar-lhes parcela da receita obtida com a TCFA." (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000)

Art. 18. São transformadas em reservas ou estações ecológicas sob a responsabilidade da SEMA, as florestas e as demais formas de vegetação natural de preservação permanente, relacionadas no art. 2º da Lei nº 4.771, de 15/09/1965 - Código Florestal, e os pousos das aves de arribação protegidas por convênios, acordos ou tratados assinados pelo Brasil com outras nações. (Revogado pela Lei nº 9.985, de 2000) Parágrafo único. As pessoas físicas ou jurídicas que, de qualquer modo, degradarem reservas ou estações ecológicas, bem como outras áreas declaradas como de relevante interesse ecológico, estão sujeitas às penalidades previstas no art. 14 desta Lei.(Revogado pela Lei nº 9.985, de 2000)

Art. 19. Ressalvado o disposto nas Leis nºs 5.357, de 17 de novembro de 1967, e 7.661, de 16 de maio de 1988, a receita proveniente da aplicação desta Lei será recolhida de acordo com o disposto no art. 4º da Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989))

Art. 20. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Art. 21. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 31 de agosto de 1981; 160º da Independência e 93º da República.

JOÃO FIGUEIREDO Mário Andreazza

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 2.9.1981

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ANEXO 4 - LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997 QUE INSTITUIU A POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS, CRIA O SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS, REGULAMENTA O INCISO XIX DO ART. 21 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E ALTERA O ART. 1º DA LEI Nº 8.001, DE 13 DE MARÇO DE 1990, QUE MODIFICOU A LEI Nº 7.990, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1989.

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Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997.

Mensagem de veto

Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

CAPÍTULO I

DOS FUNDAMENTOS

Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:

I - a água é um bem de domínio público;

II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais;

IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;

V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

CAPÍTULO II

DOS OBJETIVOS

Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;

II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;

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III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

CAPÍTULO III

DAS DIRETRIZES GERAIS DE AÇÃO

Art. 3º Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade;

II - a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País;

III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;

IV - a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional;

V - a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;

VI - a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras.

Art. 4º A União articular-se-á com os Estados tendo em vista o gerenciamento dos recursos hídricos de interesse comum.

CAPÍTULO IV

DOS INSTRUMENTOS

Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - os Planos de Recursos Hídricos;

II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água;

III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

V - a compensação a municípios;

VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

SEÇÃO I

DOS PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 6º Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam a fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos.

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Art. 7º Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e terão o seguinte conteúdo mínimo:

I - diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;

II - análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;

III - balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;

IV - metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis;

V - medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para o atendimento das metas previstas;

VI - (VETADO)

VII - (VETADO)

VIII - prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos;

IX - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;

X - propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.

Art. 8º Os Planos de Recursos Hídricos serão elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o País.

SEÇÃO II

DO ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE ÁGUA EM CLASSES, SEGUNDO OS USOS PREPONDERANTES DA ÁGUA

Art. 9º O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água, visa a:

I - assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas;

II - diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas permanentes.

Art. 10. As classes de corpos de água serão estabelecidas pela legislação ambiental.

SEÇÃO III

DA OUTORGA DE DIREITOS DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 11. O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água.

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Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos:

I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;

II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo;

III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;

IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;

V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água.

§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em regulamento:

I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;

II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;

III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

§ 2º A outorga e a utilização de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica estará subordinada ao Plano Nacional de Recursos Hídricos, aprovado na forma do disposto no inciso VIII do art. 35 desta Lei, obedecida a disciplina da legislação setorial específica.

Art. 13. Toda outorga estará condicionada às prioridades de uso estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver enquadrado e a manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso.

Parágrafo único. A outorga de uso dos recursos hídricos deverá preservar o uso múltiplo destes.

Art. 14. A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Poder Executivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal.

§ 1º O Poder Executivo Federal poderá delegar aos Estados e ao Distrito Federal competência para conceder outorga de direito de uso de recurso hídrico de domínio da União.

§ 2º (VETADO)

Art. 15. A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias:

I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;

II - ausência de uso por três anos consecutivos;

III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas;

IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;

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V - necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de fontes alternativas;

VI - necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água.

Art. 16. Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á por prazo não excedente a trinta e cinco anos, renovável.

Art. 17. (VETADO)

Art. 18. A outorga não implica a alienação parcial das águas, que são inalienáveis, mas o simples direito de seu uso.

SEÇÃO IV

DA COBRANÇA DO USO DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:

I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor;

II - incentivar a racionalização do uso da água;

III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.

Art. 20. Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga, nos termos do art. 12 desta Lei.

Parágrafo único. (VETADO)

Art. 21. Na fixação dos valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos devem ser observados, dentre outros:

I - nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu regime de variação;

II - nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado e seu regime de variação e as características físico-químicas, biológicas e de toxidade do afluente.

Art. 22. Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados e serão utilizados:

I - no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos de Recursos Hídricos;

II - no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

§ 1º A aplicação nas despesas previstas no inciso II deste artigo é limitada a sete e meio por cento do total arrecadado.

§ 2º Os valores previstos no caput deste artigo poderão ser aplicados a fundo perdido em projetos e obras que alterem, de modo considerado benéfico à coletividade, a qualidade, a quantidade e o regime de vazão de um corpo de água.

§ 3º (VETADO)

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Art. 23. (VETADO)

SEÇÃO V

DA COMPENSAÇÃO A MUNICÍPIOS

Art. 24. (VETADO)

SEÇÃO VI

DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 25. O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos é um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão.

Parágrafo único. Os dados gerados pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos serão incorporados ao Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.

Art. 26. São princípios básicos para o funcionamento do Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos:

I - descentralização da obtenção e produção de dados e informações;

II - coordenação unificada do sistema;

III - acesso aos dados e informações garantido à toda a sociedade.

Art. 27. São objetivos do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos:

I - reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil;

II - atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos em todo o território nacional;

III - fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

CAPÍTULO V

DO RATEIO DE CUSTOS DAS OBRAS DE USO MÚLTIPLO, DE INTERESSE COMUM OU COLETIVO

Art. 28. (VETADO)

CAPÍTULO VI

DA AÇÃO DO PODER PÚBLICO

Art. 29. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, compete ao Poder Executivo Federal:

I - tomar as providências necessárias à implementação e ao funcionamento do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

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II - outorgar os direitos de uso de recursos hídricos, e regulamentar e fiscalizar os usos, na sua esfera de competência;

III - implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em âmbito nacional;

IV - promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.

Parágrafo único. O Poder Executivo Federal indicará, por decreto, a autoridade responsável pela efetivação de outorgas de direito de uso dos recursos hídricos sob domínio da União.

Art. 30. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, cabe aos Poderes Executivos Estaduais e do Distrito Federal, na sua esfera de competência:

I - outorgar os direitos de uso de recursos hídricos e regulamentar e fiscalizar os seus usos;

II - realizar o controle técnico das obras de oferta hídrica;

III - implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em âmbito estadual e do Distrito Federal;

IV - promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.

Art. 31. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, os Poderes Executivos do Distrito Federal e dos municípios promoverão a integração das políticas locais de saneamento básico, de uso, ocupação e conservação do solo e de meio ambiente com as políticas federal e estaduais de recursos hídricos.

TÍTULO II

DO SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS

CAPÍTULO I

DOS OBJETIVOS E DA COMPOSIÇÃO

Art. 32. Fica criado o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com os seguintes objetivos:

I - coordenar a gestão integrada das águas;

II - arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos;

III - implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;

IV - planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos;

V - promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Art. 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos: I - o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; II - os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; III - os Comitês de Bacia Hidrográfica; IV - os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; V - as Agências de Água.

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Art. 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos: (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

I – o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

I-A. – a Agência Nacional de Águas; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

II – os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

III – os Comitês de Bacia Hidrográfica; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

IV – os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

V – as Agências de Água. (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

CAPÍTULO II

DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 34. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é composto por:

I - representantes dos Ministérios e Secretarias da Presidência da República com atuação no gerenciamento ou no uso de recursos hídricos;

II - representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;

III - representantes dos usuários dos recursos hídricos;

IV - representantes das organizações civis de recursos hídricos.

Parágrafo único. O número de representantes do Poder Executivo Federal não poderá exceder à metade mais um do total dos membros do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

Art. 35. Compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos:

I - promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;

II - arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entre Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;

III - deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões extrapolem o âmbito dos Estados em que serão implantados;

IV - deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;

V - analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e à Política Nacional de Recursos Hídricos;

VI - estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

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VII - aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e estabelecer critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;

VIII - (VETADO)

IX - acompanhar a execução do Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;

IX – acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

X - estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso.

Art. 36. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos será gerido por:

I - um Presidente, que será o Ministro titular do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal;

II - um Secretário Executivo, que será o titular do órgão integrante da estrutura do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, responsável pela gestão dos recursos hídricos.

CAPÍTULO III

DOS COMITÊS DE BACIA HIDROGRÁFICA

Art. 37. Os Comitês de Bacia Hidrográfica terão como área de atuação:

I - a totalidade de uma bacia hidrográfica;

II - sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia, ou de tributário desse tributário; ou

III - grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.

Parágrafo único. A instituição de Comitês de Bacia Hidrográfica em rios de domínio da União será efetivada por ato do Presidente da República.

Art. 38. Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua área de atuação:

I - promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades intervenientes;

II - arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos hídricos;

III - aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;

IV - acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;

V - propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos as acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hídricos, de acordo com os domínios destes;

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VI - estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados;

VII - (VETADO)

VIII - (VETADO)

IX - estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

Parágrafo único. Das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica caberá recurso ao Conselho Nacional ou aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com sua esfera de competência.

Art. 39. Os Comitês de Bacia Hidrográfica são compostos por representantes:

I - da União;

II - dos Estados e do Distrito Federal cujos territórios se situem, ainda que parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação;

III - dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua área de atuação;

IV - dos usuários das águas de sua área de atuação;

V - das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.

§ 1º O número de representantes de cada setor mencionado neste artigo, bem como os critérios para sua indicação, serão estabelecidos nos regimentos dos comitês, limitada a representação dos poderes executivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios à metade do total de membros.

§ 2º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias de rios fronteiriços e transfronteiriços de gestão compartilhada, a representação da União deverá incluir um representante do Ministério das Relações Exteriores.

§ 3º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias cujos territórios abranjam terras indígenas devem ser incluídos representantes:

I - da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, como parte da representação da União;

II - das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.

§ 4º A participação da União nos Comitês de Bacia Hidrográfica com área de atuação restrita a bacias de rios sob domínio estadual, dar-se-á na forma estabelecida nos respectivos regimentos.

Art. 40. Os Comitês de Bacia Hidrográfica serão dirigidos por um Presidente e um Secretário, eleitos dentre seus membros.

CAPÍTULO IV

DAS AGÊNCIAS DE ÁGUA

Art. 41. As Agências de Água exercerão a função de secretaria executiva do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica.

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Art. 42. As Agências de Água terão a mesma área de atuação de um ou mais Comitês de Bacia Hidrográfica.

Parágrafo único. A criação das Agências de Água será autorizada pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos mediante solicitação de um ou mais Comitês de Bacia Hidrográfica.

Art. 43. A criação de uma Agência de Água é condicionada ao atendimento dos seguintes requisitos:

I - prévia existência do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;

II - viabilidade financeira assegurada pela cobrança do uso dos recursos hídricos em sua área de atuação.

Art. 44. Compete às Agências de Água, no âmbito de sua área de atuação:

I - manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em sua área de atuação;

II - manter o cadastro de usuários de recursos hídricos;

III - efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

IV - analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos gerados pela cobrança pelo uso de Recursos Hídricos e encaminhá-los à instituição financeira responsável pela administração desses recursos;

V - acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos em sua área de atuação;

VI - gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação;

VII - celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução de suas competências;

VIII - elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à apreciação do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;

IX - promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em sua área de atuação;

X - elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica;

XI - propor ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica:

a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao respectivo Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com o domínio destes;

b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos;

c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

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CAPÍTULO V

DA SECRETARIA EXECUTIVA DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 45. A Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos será exercida pelo órgão integrante da estrutura do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, responsável pela gestão dos recursos hídricos.

Art. 46. Compete à Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos: I - prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos; II - coordenar a elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e encaminhá-lo à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos; III - instruir os expedientes provenientes dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos e dos Comitês de Bacia Hidrográfica; IV - coordenar o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos; V - elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e submetê-los à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

Art. 46. Compete à Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos: (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

I – prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

II – revogado; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

III – instruir os expedientes provenientes dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos e dos Comitês de Bacia Hidrográfica;" (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

IV – revogado;" (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

V – elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e submetê-los à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

CAPÍTULO VI

DAS ORGANIZAÇÕES CIVIS DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 47. São consideradas, para os efeitos desta Lei, organizações civis de recursos hídricos:

I - consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas;

II - associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos;

III - organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área de recursos hídricos;

IV - organizações não-governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos e coletivos da sociedade;

V - outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos.

Art. 48. Para integrar o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, as organizações civis de recursos hídricos devem ser legalmente constituídas.

TÍTULO III

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DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES

Art. 49. Constitui infração das normas de utilização de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos:

I - derivar ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a respectiva outorga de direito de uso;

II - iniciar a implantação ou implantar empreendimento relacionado com a derivação ou a utilização de recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos, que implique alterações no regime, quantidade ou qualidade dos mesmos, sem autorização dos órgãos ou entidades competentes;

III - (VETADO)

IV - utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou serviços relacionados com os mesmos em desacordo com as condições estabelecidas na outorga;

V - perfurar poços para extração de água subterrânea ou operá-los sem a devida autorização;

VI - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valores diferentes dos medidos;

VII - infringir normas estabelecidas no regulamento desta Lei e nos regulamentos administrativos, compreendendo instruções e procedimentos fixados pelos órgãos ou entidades competentes;

VIII - obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes no exercício de suas funções.

Art. 50. Por infração de qualquer disposição legal ou regulamentar referentes à execução de obras e serviços hidráulicos, derivação ou utilização de recursos hídricos de domínio ou administração da União, ou pelo não atendimento das solicitações feitas, o infrator, a critério da autoridade competente, ficará sujeito às seguintes penalidades, independentemente de sua ordem de enumeração:

I - advertência por escrito, na qual serão estabelecidos prazos para correção das irregularidades;

II - multa, simples ou diária, proporcional à gravidade da infração, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 10.000,00 (dez mil reais);

III - embargo provisório, por prazo determinado, para execução de serviços e obras necessárias ao efetivo cumprimento das condições de outorga ou para o cumprimento de normas referentes ao uso, controle, conservação e proteção dos recursos hídricos;

IV - embargo definitivo, com revogação da outorga, se for o caso, para repor incontinenti, no seu antigo estado, os recursos hídricos, leitos e margens, nos termos dos arts. 58 e 59 do Código de Águas ou tamponar os poços de extração de água subterrânea.

§ 1º Sempre que da infração cometida resultar prejuízo a serviço público de abastecimento de água, riscos à saúde ou à vida, perecimento de bens ou animais, ou prejuízos de qualquer natureza a terceiros, a multa a ser aplicada nunca será inferior à metade do valor máximo cominado em abstrato.

§ 2º No caso dos incisos III e IV, independentemente da pena de multa, serão cobradas do infrator as despesas em que incorrer a Administração para tornar efetivas as medidas previstas nos citados incisos, na forma dos arts. 36, 53, 56 e 58 do Código de Águas, sem prejuízo de responder pela indenização dos danos a que der causa.

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§ 3º Da aplicação das sanções previstas neste título caberá recurso à autoridade administrativa competente, nos termos do regulamento.

§ 4º Em caso de reincidência, a multa será aplicada em dobro.

TÍTULO IV

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 51. Os consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas mencionados no art. 47 poderão receber delegação do Conselho Nacional ou dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, por prazo determinado, para o exercício de funções de competência das Agências de Água, enquanto esses organismos não estiverem constituídos.

Art. 51. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos e os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos poderão delegar a organizações sem fins lucrativos relacionadas no art. 47 desta Lei, por prazo determinado, o exercício de funções de competência das Agências de Água, enquanto esses organismos não estiverem constituídos. (Redação dada pela Lei nº 10.881, de 2004)

Art. 52. Enquanto não estiver aprovado e regulamentado o Plano Nacional de Recursos Hídricos, a utilização dos potenciais hidráulicos para fins de geração de energia elétrica continuará subordinada à disciplina da legislação setorial específica.

Art. 53. O Poder Executivo, no prazo de cento e vinte dias a partir da publicação desta Lei, encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei dispondo sobre a criação das Agências de Água.

Art. 54. O art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1º .............................................................................

........................................................................................

III - quatro inteiros e quatro décimos por cento à Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal;

IV - três inteiros e seis décimos por cento ao Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica - DNAEE, do Ministério de Minas e Energia;

V - dois por cento ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

....................................................................................

§ 4º A cota destinada à Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal será empregada na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e na gestão da rede hidrometeorológica nacional.

§ 5º A cota destinada ao DNAEE será empregada na operação e expansão de sua rede hidrometeorológica, no estudo dos recursos hídricos e em serviços relacionados ao aproveitamento da energia hidráulica."

Parágrafo único. Os novos percentuais definidos no caput deste artigo entrarão em vigor no prazo de cento e oitenta dias contados a partir da data de publicação desta Lei.

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Art. 55. O Poder Executivo Federal regulamentará esta Lei no prazo de cento e oitenta dias, contados da data de sua publicação.

Art. 56. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 57. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 8 de janeiro de 1997; 176º da Independência e 109º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Gustavo Krause

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 9.1.1997

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ANEXO 5 - LEI Nº 1.307, DE 22 DE MARÇO DE 2002 QUE DISPÕE SOBRE A POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS, E ADOTA OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

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LEI Nº 1.307, DE 22 DE MARÇO DE 2002. Publicado no Diário Oficial nº 1156 Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos, e adota outras providências. O Governador do Estado do Tocantins Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Tocantins decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I DA POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS CAPÍTULO I DAS FINALIDADES E DOS PRINCÍPIOS Art. 1º. É instituída a Política Estadual de Recursos Hídricos, tendo por finalidade: I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade e quantidade adequados aos respectivos usos; II - incentivar a racionalização do uso dos recursos hídricos; III - fomentar o desenvolvimento regional com base no aproveitamento múltiplo, integrado e sustentável dos recursos hídricos; IV - promover a prevenção e a defesa contra o efeito de eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais; V - obter recursos para o financiamento de programa, projetos e intervenções no âmbito dos recursos hídricos. Art. 2º. São princípios da Política Estadual de Recursos Hídricos: I - o reconhecimento dos recursos hídricos como bem: a) de domínio público; b) dotado de valor ambiental, social e econômico; c) essencial à vida; d) utilizável segundo premissas de desenvolvimento sustentável; II - a priorização do abastecimento humano e da dessedentação de animais em situações de escassez; III - a gestão descentralizada, com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades, estimulando o uso múltiplo das águas; IV - a adoção da bacia hidrográfica como unidade físico-territorial para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos. CAPÍTULO II DAS DIRETRIZES Art. 3º. São diretrizes da Política Estadual de Recursos Hídricos: I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, superficiais e subterrâneos, associada aos aspectos de quantidade e qualidade; II - a adequação da gestão dos recursos hídricos: a) às diversidades físicas, sociais e econômicas das diferentes regiões do

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Estado; b) à gestão ambiental; III - a articulação com o planejamento: a) dos setores usuários; b) regional, estadual e nacional; IV - o fomento de projetos de melhoria das condições de quantidade e qualidade dos recursos hídricos, com a participação do Poder Público e dos segmentos organizados da sociedade; V - assegurar, em caso de escassez hídrica e mediante a compensação aos usuários racionados, a garantia do uso dos recursos hídricos de forma: a) prioritária, conforme o inciso II do art. 2º desta Lei; b) a obter maior retorno econômico. CAPÍTULO III DOS INSTRUMENTOS Art. 4º. São instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos: I - o Plano Estadual de Recursos Hídricos; II - os planos de bacia hidrográfica, incluindo-se o enquadramento dos corpos de água em classe de uso preponderante; III - a outorga de direito de uso dos recursos hídricos; IV - a cobrança de taxa pelo uso dos recursos hídricos; V - a compensação aos municípios; VI - o Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos; VII - a educação ambiental. Seção I Do Plano Estadual de Recursos Hídricos Art. 5º. O Plano Estadual de Recursos Hídricos: I - estabelece as diretrizes para a elaboração dos planos das bacias hidrográficas; II - leva em conta: a) visões estratégicas de desenvolvimento social, ambiental e econômica; b) a situação do Estado no contexto das bacias hidrográficas do País; III - estabelece as bases para captação de recursos financeiros nacionais, internacionais e estrangeiros para aplicação em obras, estudos e serviços de preservação e conservação de recursos hídricos; IV - é atualizado sempre que a evolução das questões relativas ao uso dos recursos hídricos assim o recomendar. Parágrafo único. As diretrizes e a previsão dos recursos financeiros para a elaboração e a implementação do Plano Estadual de Recursos Hídricos constam das Leis relativas ao plano plurianual de ação, diretrizes orçamentárias e orçamento anual do Estado. Art. 6º. Na ausência de planos de bacias hidrográficas, o Plano Estadual de Recursos Hídricos baseia-se em levantamentos, estudos de inventário, caracterização ou

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diagnóstico das bacias hidrográficas que tenham a precisão e a abrangência suficientes e adequadas. Seção II Dos Planos de Bacia Hidrográfica Art. 7º. Os planos de bacia hidrográfica têm como conteúdo mínimo: I - o diagnóstico da situação dos recursos hídricos do Estado; II - a avaliação de alternativas de: a) crescimento demográfico; b) evolução das atividades produtivas; c) modificações dos padrões de uso e cobertura do solo; III - o balanço entre disponibilidade e demandas futuras em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais; IV - as metas de racionalização de uso, aumento de quantidade e melhoria da qualidade; V - a proposta de enquadramento dos corpos de águas em classes de usos preponderantes com as metas respectivas; VI - as medidas, programas e projetos a serem desenvolvidos para o atendimento das metas previstas; VII - as prioridades para outorga de direitos de uso dos recursos hídricos; VIII as diretrizes e os critérios para a cobrança de taxa pelo uso dos recursos hídricos; IX - as propostas para a criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos; X - os programas de gestão de águas subterrâneas, compreendendo a: a) pesquisa, o planejamento e o mapeamento da vulnerabilidade à poluição; b) delimitação de áreas destinadas a sua proteção, controle e monitoramento; XI - o projeto de adensamento e modernização da rede hidrometeorológica para o monitoramento dos recursos hídricos; XII - os programas envolvendo os seguintes aspectos no âmbito dos recursos hídricos: a) investimentos em pesquisas, projetos e obras relativas à utilização, recuperação, conservação e proteção; b) desenvolvimento institucional, tecnológico e gerencial de valorização profissional e de comunicação social; c) recuperação, conservação, proteção e utilização, definidos mediante articulação técnica e financeira com a União e os Estados lindeiros; XIII-o estabelecimento de bases para captação de recursos financeiros nacionais, internacionais e estrangeiros. Seção III Da Outorga do Direito de Uso dos Recursos Hídricos

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Art. 8º. A outorga do direito de uso dos recursos hídricos: I - tem por finalidade assegurar o controle ao acesso e ao uso da água; II - condiciona-se às prioridades de uso estabelecidas no Plano Estadual de Recursos Hídricos; III - respeita a: 1. classe em que o corpo de água estiver enquadrado; 2. manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso; IV - preserva o uso múltiplo dos recursos hídricos; V - efetiva-se por ato da autoridade competente do Poder Executivo; VI - tem prazo inicial limitado a trinta e cinco anos, renováveis na forma do regulamento; VII - pode ser: a) suspensa parcial ou totalmente para: 1. atender as situações de calamidade; 2. prevenir ou reverter grave degradação ambiental; 3. atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de fontes alternativas; 4. manter as características de navegabilidade do corpo de água; b) cancelada por: 1. descumprimento dos termos da outorga; 2. ausência de uso três anos consecutivos, ressalvados os casos formalmente justificados. Art. 9º. Estão sujeitos à outorga: I - a derivação ou captação de parcela da água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; II - a extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; III - o lançamento em corpo de água, de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final; IV - o aproveitamento dos potenciais hidrelétricos, na forma da Lei; V - usos, ações ou intervenções que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água. Art. 10. Independe de outorga: I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais distribuídos no meio rural; II - as derivações, captações, lançamentos e acumulações de volumes de água considerados insignificantes. Seção IV Da Cobrança de Taxa pelo Uso

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dos Recursos Hídricos Art. 11. É sujeito à cobrança de taxa o uso de recursos hídricos que dependa de outorga, nos termos desta Lei. Parágrafo único. Na fixação dos valores cobrados pelo uso dos recursos hídricos são observados: I - nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu regime de variação; II - nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado e seu regime de variação, e as características físicas, químicas, biológicas e de toxidade do efluente. Art. 12. Os valores arrecadados com a cobrança de taxa são aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que forem gerados, para: I - financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos no Plano Estadual de Recursos Hídricos; II - serviços e obras de saneamento de interesse comum; III - pagamento da implantação e custeio administrativo dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, limitado a 7,5% do total arrecadado, nos termos em que dispuser o regulamento aprovado pelo Chefe do Poder Executivo. Seção V Da Compensação aos Municípios Art. 13. O Estado: I - institui programas voltados para o: a) fomento do uso múltiplo dos reservatórios; b) desenvolvimento regional nos municípios que: 1. tenham área inundada por reservatório ou impactados por sua implantação; 2. sofram restrições decorrentes da implantação de unidades de conservação destinadas à proteção de recursos hídricos; II - destina aos municípios que tiverem seu processo de desenvolvimento prejudicados com a implantação desta Lei: a) recursos para financiamento de ações de uso coletivo; b) obras de infra-estrutura urbana. Art. 14. Na compensação de que trata esta Seção o Estado pode utilizar: I - sem prejuízo do disposto no art. 12 desta Lei, até 7,5% dos valores arrecadados com a cobrança de taxa pelo uso dos recursos hídricos; II - parte da compensação financeira decorrente da exploração dos recursos hídricos ou pelo implemento de seu uso; III - recursos provindos do Fundo Estadual de Recursos Hídricos, instituído por esta Lei. Parágrafo único. São ressarcidos os recursos do Fundo Estadual de Recursos Hídricos quando utilizados no funcionamento de obras das quais decorram geração de

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receitas. Seção VI Do Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos Art. 15. A coleta, o tratamento, o armazenamento, a recuperação e a divulgação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão são organizados na conformidade do Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos, compatível com o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos. Art. 16. São princípios básicos do Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos: I - descentralização da obtenção e produção de dados e informações; II - coordenação unificada do sistema; III - garantia de acesso da sociedade às informações. Art. 17. São objetivos do Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos: I - reunir, tratar e divulgar informações sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos; II - atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos em todo o território do Estado; III - fornecer subsídios para a elaboração e atualização dos Planos de Recursos Hídricos. Seção VII Da Educação Ambiental Art. 18. A educação ambiental, voltada para a preservação, conservação, recuperação, expansão e valorização do uso racional dos recursos hídricos, é implementada através de realização de campanhas educativas, mobilização e sensibilização social, nos termos do regulamento. CAPÍTULO IV DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS OU AQÜÍFEROS Seção I Disposições Preliminares Art. 19. São consideradas águas subterrâneas as que ocorrem natural ou artificialmente no subsolo, de forma a ser suscetível de extração e utilização. Art. 20. A utilização das águas subterrâneas classificadas como "água mineral" é regida por esta Lei, subsidiariamente à legislação própria. Art. 21. As captações de águas subterrâneas já existentes devem ser regularizadas,

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com o pedido de outorga, no prazo máximo de cento e oitenta dias da vigência desta Lei. Art. 22. A recarga artificial de aqüíferos: I - depende de autorização do órgão gestor dos recursos hídricos; II - está condicionada à comprovação de: a) conveniência técnica, econômica e sanitária; b) preservação da qualidade das águas subterrâneas. Seção II Da Restrição ao Uso das Águas Subterrâneas Art. 23. O Poder Público pode restringir a captação e o uso das águas subterrâneas, no interesse: I - da conservação, proteção ou manutenção do equilíbrio natural; II - dos serviços de abastecimento coletivo de água; III - de questões geológicas, geotécnicas ou ecológicas. Art. 24. A restrição de que trata o artigo anterior instrumentaliza-se através da instituição de áreas de proteção e controle do uso de águas subterrâneas, classificadas em: I - Área de Proteção Máxima, compreendendo, no todo ou em parte, de zonas de recarga de aqüíferos altamente vulneráveis à poluição e que se constituem em depósitos de águas essenciais para o abastecimento público; II - Área de Restrição e Controle, caracterizada pela necessidade de disciplina das extrações, controle máximo das fontes poluidoras implantadas e restrição a novas atividades potencialmente poluidoras; III - Área de Proteção de Poços e outras Captações, incluindo a distância mínima entre poços e outras captações e o respectivo perímetro de proteção. Subseção I Da Área de Proteção Máxima Art. 25. Na Área de Proteção Máxima é proibido: I - o estabelecimento de indústria de alto risco ambiental, pólos petroquímicos, carboquímicos e cloroquímicos, usinas nucleares e quaisquer outras fontes de grande impacto ambiental ou extrema periculosidade; II - o trabalho agrícola que, utilizando-se de produtos tóxicos de grande mobilidade, possa colocar em risco as águas subterrâneas, na conformidade da relação divulgada pelo órgão gestor dos recursos hídricos do Estado; III - o parcelamento do solo para fins de adensamento populacional sem o adequado sistema de tratamento de efluentes ou de disposição de resíduos sólidos. § 1º. Nos casos de escassez de água subterrânea ou de prejuízo sensível aos aproveitamentos existentes na Área de Proteção Máxima, o órgão gestor dos recursos hídricos do Estado pode: I - proibir novas captações até que o aqüífero se recupere ou seja superado o fato que determinou a carência de água;

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II - restringir e regular a captação de água subterrânea estabelecendo o volume máximo a ser extraído e o regime de operação; III - controlar as fontes de poluição existentes mediante procedimento específico de monitoramento; IV - restringir novas atividades potencialmente poluidoras. § 2º. Considera-se poluição qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas das águas subterrâneas que possam: I - ocasionar prejuízo à saúde, à segurança e ao bem-estar das populações; II - comprometer o seu uso para fins agropecuários, industriais, comerciais e recreativos; III - causar danos à fauna e à flora. Subseção II Da Área de Restrição e Controle Art. 26. As medidas estabelecidas no artigo anterior podem ser adotadas na Área de Restrição e Controle quando houver escassez de água subterrânea ou prejuízo sensível aos aproveitamentos existentes. Subseção III Da Área de Proteção de Poços e outras Captações Art. 27. É instituído na Área de Proteção de Poços e outras Captações um perímetro imediato de proteção sanitária cujo raio é cinqüenta metros a partir do ponto de captação, cercado, protegido e com o interior resguardado da entrada ou infiltração de poluentes. § 1º. São tamponados os poços: I - abandonados ou em funcionamento que acarretem ou possam acarretar poluição ou, ainda, que representem riscos aos aqüíferos; II - cujas perfurações foram realizadas para fins diversos da extração de água. § 2º. A desativação temporária ou definitiva dos poços deve ser comunicada pelo responsável ao órgão gestor dos recursos hídricos. Art. 28. Os poços jorrantes devem ser dotados de dispositivos que impeçam o desperdício da água ou eventuais desequilíbrios ambientais. Art. 29. As escavações, sondagens ou obras que atingirem águas subterrâneas, cuja finalidade é a pesquisa relativa à lavra mineral ou outros fins, devem ter tratamento idêntico ao do poço abandonado. TÍTULO II DO SISTEMA ESTADUAL DE GERENCIAMENTO

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DOS RECURSOS HÍDRICOS CAPÍTULO I DA COMPOSIÇÃO E DOS OBJETIVOS Seção I Disposições Preliminares Art. 30. É instituído o Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, com os seguintes objetivos: I - executar a Política Estadual de Recursos Hídricos; II - formular, atualizar e aplicar o Plano Estadual de Recursos Hídricos e os planos de bacias hidrográficas; III - coordenar a gestão integrada dos recursos hídricos; IV - arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; V - promover a cobrança de taxa pelo uso dos recursos hídricos. Art. 31. O Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos tem a seguinte estrutura operacional: I - Conselho Estadual de Recursos Hídricos; II - Comitês de Bacia Hidrográfica; III - Agências de Bacia Hidrográfica; IV - órgãos dos poderes públicos estadual e municipais cujas competências se relacionem com a gestão dos recursos hídricos. Parágrafo único. O Conselho Estadual de Recursos Hídricos tem suas competências, objetivos, composição e atuação estabelecidos em Decreto. Seção II Dos Comitês de Bacia Hidrográfica Art. 32. Os Comitês de Bacia Hidrográfica são entidades colegiadas, com atribuições normativa, deliberativa e consultiva, reconhecidos e qualificados por ato do Chefe do Poder Executivo, mediante proposta do Conselho Estadual de Recursos Hídricos e têm as seguintes atribuições: I - submeter à homologação do Conselho Estadual de Recursos Hídricos: a) a constituição da respectiva Agência de Bacia Hidrográfica; b) a aprovação do Plano de Bacia Hidrográfica; b) o enquadramento dos corpos de água da bacia hidrográfica, em classe de uso e conservação; c) os valores a serem cobrados e os critérios da respectiva cobrança de taxa pelo uso da água da bacia hidrográfica; d) as propostas de acumulações, derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes; II - acompanhar a execução do Plano de Bacia Hidrográfica; III - elaborar o relatório anual sobre a situação dos recursos hídricos de sua respectiva bacia hidrográfica;

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IV - aprovar: a) a previsão orçamentária anual da respectiva Agência de Bacia Hidrográfica e o seu plano de contas; b) os programas anuais e plurianuais de investimentos em serviços e obras de interesse dos Recursos Hídricos, obedecido o respectivo Plano de Bacia Hidrográfica; V - ratificar convênios e contratos relacionados aos respectivos Planos de Bacias Hidrográficas; VI - implementar ações conjuntas com o órgão competente do Poder Executivo visando a definição dos critérios de preservação e uso das faixas marginais de proteção de rios, lagoas e lagunas; VII - dirimir, em primeira instância, eventuais conflitos relativos ao uso da água. Parágrafo único. Das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica cabe recurso ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos. Seção III Das Agências de Bacia Hidrográfica Art. 33. As Agências de Bacia Hidrográfica são entidades executivas de apoio aos respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica, com personalidade jurídica de direito privado e de intuito não lucrativo. Art. 34. A criação e o funcionamento das Agências de Bacia Hidrográfica são autorizados pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos, mediante solicitação de um ou mais Comitês de Bacia Hidrográfica, atendida a viabilidade financeira assegurada pela cobrança de taxa pelo uso dos recursos hídricos em sua área de atuação, comprovada nos respectivos Planos de Bacia Hidrográfica. Art. 35. Compete às Agências de Bacia Hidrográfica: I - manter o: a) balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos; b) cadastro de usuários dos recursos hídricos; II - efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança de taxa pelo uso dos recursos hídricos; III - emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos gerados pela cobrança de taxa pelo uso dos recursos hídricos; IV - encaminhar balanço à instituição financeira responsável pela administração dos recursos; V - acompanhar a administração dos recursos financeiros arrecadados com a

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cobrança de taxa pelo uso dos recursos hídricos; VI - implementar o Sistema Estadual de Informações sobre os Recursos Hídricos; VII - celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços; VIII- elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à apreciação dos respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica; IX - promover os estudos necessários à gestão dos recursos hídricos; X - elaborar as propostas dos planos de bacia hidrográfica para apreciação pelos respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica; XI - propor, aos respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica: a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos; b) os valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos; c) o plano de aplicação dos valores arrecadados com a cobrança de taxa pelo uso dos recursos hídricos; d) o rateio dos custos das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo. Parágrafo único. As Agências de Bacia Hidrográfica podem celebrar parceria com entidades federais, estaduais ou municipais, nacionais, internacionais ou estrangeiras, destinadas ao fomento e à execução das atividades dos recursos hídricos. CAPÍTULO II DAS INFRAÇÕES E DAS PENALIDADES Art. 36. São infrações a esta Lei: I - derivar ou utilizar recursos hídricos, independentemente da finalidade, sem a respectiva outorga de direito de uso, à exceção do disposto no art. 10 desta Lei; II - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valores diferentes dos medidos; III - descumprir determinações normativas ou atos que visem a aplicação desta Lei e de seu regulamento; IV - obstar ou dificultar ações fiscalizadoras; V - perfurar poços para extração de água subterrânea ou operá-los sem a devida autorização; VI - deixar de reparar os danos causados ao meio ambiente, fauna, bens patrimoniais e saúde pública. Art. 37. Além da reparação dos danos causados o autor das irregularidades de que trata o artigo anterior, observado o disposto em regulamento, está sujeito à: I - advertência por escrito feita pelo respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica, na qual são estabelecidos prazos para correção das irregularidades; II - multa proporcional à gravidade da infração, entre R$ 100,00 e R$

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10.000,00, por dia, a ser aplicada pela autoridade competente; III - cassação da outorga de uso de água, efetivada pela autoridade que a houver concedido. § 1º. Na reincidência a multa é aplicada em dobro. § 2º. Das sanções estabelecidas nos incisos I e II do caput deste artigo cabe recurso administrativo no prazo de dez dias. § 3º. Da cassação de outorga cabe pedido de reconsideração a ser apresentado no prazo de dez dias da notificação. § 4º. O infrator com endereço conhecido é notificado por via postal, e os demais mediante publicação no Diário Oficial do Estado. TÍTULO III DO FUNDO ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS Art. 38. É instituído o Fundo Estadual de Recursos Hídricos - FERH, vinculado à Secretaria do Planejamento e Meio Ambiente, destinado à captação de recursos para custeio e investimentos em programas e projetos do Plano Estadual de Recursos Hídricos. Art. 39. Constituem receitas do FERH: I - dotações orçamentárias que lhe forem destinadas; II - transferências da União ou Estados vizinhos destinadas à execução de planos, programas e projetos de interesse comum; III - compensação financeira que o Estado vier a receber em decorrência da exploração dos recursos hídricos ou pelo impedimento de seu uso; IV - recursos financeiros gerados da cobrança de taxa pelo uso dos recursos hídricos; V - empréstimos, nacionais, internacionais e estrangeiros; VI - recursos financeiros provenientes: a) da ajuda e cooperação nacional, internacional ou estrangeira e de acordos intergovernamentais; b) de aplicação das multas de que trata esta Lei; VII - as doações, os legados e as contribuições de entidades públicas ou privadas, nacionais, internacionais ou estrangeiras. Parágrafo único. Ato do Chefe do Poder Executivo regulamentará o funcionamento, a administração, a destinação e as condições de aplicação dos recursos do FERH. DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 40. O Poder Executivo pode celebrar consórcios, convênios, acordos de cooperação técnica e contratos com entidades de direito público ou privado, nacionais,

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internacionais e estrangeiras, para implantar, implementar, manter ou executar operações especiais relativas ao disposto nesta Lei, inclusive para: I - autorizar a gestão associada de serviços públicos e atividades relacionadas com o gerenciamento de recursos hídricos; II - transferir ou receber em transferência a gestão associada de serviços públicos no âmbito dos recursos hídricos, na conformidade do art. 241 da Constituição Federal. Art. 41. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Palácio Araguaia, em Palmas, aos 22 dias do mês de março de 2002; 181º da Independência, 114º da República e 14º do Estado. JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS Governador do Estado

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ANEXO 6 - LEI N 9.984, DE 17 DE JULHO DE 2000 QUE O DISPÕE SOBRE A CRIAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS - ANA, ENTIDADE FEDERAL DE IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS E DE COORDENAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

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Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 9.984, DE 17 DE JULHO DE 2000.

Estrutura Regimental (ANA)

Mensagem de Veto nº 966

Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências.

O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

Dos Objetivos

Art. 1o Esta Lei cria a Agência Nacional de Águas – ANA, entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, integrante do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, estabelecendo regras para a sua atuação, sua estrutura administrativa e suas fontes de recursos.

CAPÍTULO II

Da Criação, Natureza Jurídica e Competências da

Agência Nacional de Águas – ANA

Art. 2o Compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos promover a articulação dos planejamentos nacional, regionais, estaduais e dos setores usuários elaborados pelas entidades que integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e formular a Política Nacional de Recursos Hídricos, nos termos da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997.

Art. 3o Fica criada a Agência Nacional de Águas - ANA, autarquia sob regime especial, com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de implementar, em sua esfera de atribuições, a Política Nacional de Recursos Hídricos, integrando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Parágrafo único. A ANA terá sede e foro no Distrito Federal, podendo instalar unidades administrativas regionais.

Art. 4o A atuação da ANA obedecerá aos fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos e será desenvolvida em articulação com órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cabendo-lhe: (Vide Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)

I – supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento da legislação federal pertinente aos recursos hídricos;

II – disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o controle e a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos;

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III – (VETADO)

IV – outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio da União, observado o disposto nos arts. 5o, 6o, 7o e 8o;

V - fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da União;

VI - elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos de domínio da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos Comitês de Bacia Hidrográfica, na forma do inciso VI do art. 38 da Lei no 9.433, de 1997;

VII – estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitês de Bacia Hidrográfica;

VIII – implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União;

IX – arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União, na forma do disposto no art. 22 da Lei no 9.433, de 1997;

X – planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, em articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil, em apoio aos Estados e Municípios;

XI - promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos financeiros da União em obras e serviços de regularização de cursos de água, de alocação e distribuição de água, e de controle da poluição hídrica, em consonância com o estabelecido nos planos de recursos hídricos;

XII – definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos e privados, visando a garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, conforme estabelecido nos planos de recursos hídricos das respectivas bacias hidrográficas;

XIII - promover a coordenação das atividades desenvolvidas no âmbito da rede hidrometeorológica nacional, em articulação com órgãos e entidades públicas ou privadas que a integram, ou que dela sejam usuárias;

XIV - organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos;

XV - estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a gestão de recursos hídricos;

XVI - prestar apoio aos Estados na criação de órgãos gestores de recursos hídricos;

XVII – propor ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos o estabelecimento de incentivos, inclusive financeiros, à conservação qualitativa e quantitativa de recursos hídricos.

XVIII - (Vide Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)

§ 1o Na execução das competências a que se refere o inciso II deste artigo, serão considerados, nos casos de bacias hidrográficas compartilhadas com outros países, os respectivos acordos e tratados.

§ 2o As ações a que se refere o inciso X deste artigo, quando envolverem a aplicação de racionamentos preventivos, somente poderão ser promovidas mediante a observância de critérios a serem definidos em decreto do Presidente da República.

166

§ 3o Para os fins do disposto no inciso XII deste artigo, a definição das condições de operação de reservatórios de aproveitamentos hidrelétricos será efetuada em articulação com o Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS.

§ 4o A ANA poderá delegar ou atribuir a agências de água ou de bacia hidrográfica a execução de atividades de sua competência, nos termos do art. 44 da Lei no 9.433, de 1997, e demais dispositivos legais aplicáveis.

§ 5o (VETADO)

§ 6o A aplicação das receitas de que trata o inciso IX será feita de forma descentralizada, por meio das agências de que trata o Capítulo IV do Título II da Lei no 9.433, de 1997, e, na ausência ou impedimento destas, por outras entidades pertencentes ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

§ 7o Nos atos administrativos de outorga de direito de uso de recursos hídricos de cursos de água que banham o semi-árido nordestino, expedidos nos termos do inciso IV deste artigo, deverão constar, explicitamente, as restrições decorrentes dos incisos III e V do art. 15 da Lei no 9.433, de 1997.

Art. 5o Nas outorgas de direito de uso de recursos hídricos de domínio da União, serão respeitados os seguintes limites de prazos, contados da data de publicação dos respectivos atos administrativos de autorização:

I – até dois anos, para início da implantação do empreendimento objeto da outorga;

II – até seis anos, para conclusão da implantação do empreendimento projetado;

III – até trinta e cinco anos, para vigência da outorga de direito de uso.

§ 1o Os prazos de vigência das outorgas de direito de uso de recursos hídricos serão fixados em função da natureza e do porte do empreendimento, levando-se em consideração, quando for o caso, o período de retorno do investimento.

§ 2o Os prazos a que se referem os incisos I e II poderão ser ampliados, quando o porte e a importância social e econômica do empreendimento o justificar, ouvido o Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

§ 3o O prazo de que trata o inciso III poderá ser prorrogado, pela ANA, respeitando-se as prioridades estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos.

§ 4o As outorgas de direito de uso de recursos hídricos para concessionárias e autorizadas de serviços públicos e de geração de energia hidrelétrica vigorarão por prazos coincidentes com os dos correspondentes contratos de concessão ou atos administrativos de autorização.

Art. 6o A ANA poderá emitir outorgas preventivas de uso de recursos hídricos, com a finalidade de declarar a disponibilidade de água para os usos requeridos, observado o disposto no art. 13 da Lei no 9.433, de 1997.

§ 1o A outorga preventiva não confere direito de uso de recursos hídricos e se destina a reservar a vazão passível de outorga, possibilitando, aos investidores, o planejamento de empreendimentos que necessitem desses recursos.

§ 2o O prazo de validade da outorga preventiva será fixado levando-se em conta a complexidade do planejamento do empreendimento, limitando-se ao máximo de três anos, findo o qual será considerado o disposto nos incisos I e II do art. 5o.

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Art. 7o Para licitar a concessão ou autorizar o uso de potencial de energia hidráulica em corpo de água de domínio da União, a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL deverá promover, junto à ANA, a prévia obtenção de declaração de reserva de disponibilidade hídrica.

§ 1o Quando o potencial hidráulico localizar-se em corpo de água de domínio dos Estados ou do Distrito Federal, a declaração de reserva de disponibilidade hídrica será obtida em articulação com a respectiva entidade gestora de recursos hídricos.

§ 2o A declaração de reserva de disponibilidade hídrica será transformada automaticamente, pelo respectivo poder outorgante, em outorga de direito de uso de recursos hídricos à instituição ou empresa que receber da ANEEL a concessão ou a autorização de uso do potencial de energia hidráulica.

§ 3o A declaração de reserva de disponibilidade hídrica obedecerá ao disposto no art. 13 da Lei no 9.433, de 1997., e será fornecida em prazos a serem regulamentados por decreto do Presidente da República.

Art. 8o A ANA dará publicidade aos pedidos de outorga de direito de uso de recursos hídricos de domínio da União, bem como aos atos administrativos que deles resultarem, por meio de publicação na imprensa oficial e em pelo menos um jornal de grande circulação na respectiva região.

CAPÍTULO III

Da Estrutura Orgânica da Agência

Nacional de Águas - ANA

Art. 9o A ANA será dirigida por uma Diretoria Colegiada, composta por cinco membros, nomeados pelo Presidente da República, com mandatos não coincidentes de quatro anos, admitida uma única recondução consecutiva, e contará com uma Procuradoria.

§ 1o O Diretor-Presidente da ANA será escolhido pelo Presidente da República entre os membros da Diretoria Colegiada, e investido na função por quatro anos ou pelo prazo que restar de seu mandato.

§ 2o Em caso de vaga no curso do mandato, este será completado por sucessor investido na forma prevista no caput, que o exercerá pelo prazo remanescente.

Art. 10. A exoneração imotivada de dirigentes da ANA só poderá ocorrer nos quatro meses iniciais dos respectivos mandatos.

§ 1o Após o prazo a que se refere o caput, os dirigentes da ANA somente perderão o mandato em decorrência de renúncia, de condenação judicial transitada em julgado, ou de decisão definitiva em processo administrativo disciplinar.

§ 2o Sem prejuízo do que prevêem as legislações penal e relativa à punição de atos de improbidade administrativa no serviço público, será causa da perda do mandato a inobservância, por qualquer um dos dirigentes da ANA, dos deveres e proibições inerentes ao cargo que ocupa.

§ 3o Para os fins do disposto no § 2o, cabe ao Ministro de Estado do Meio Ambiente instaurar o processo administrativo disciplinar, que será conduzido por comissão especial, competindo ao Presidente da República determinar o afastamento preventivo, quando for o caso, e proferir o julgamento.

Art. 11. Aos dirigentes da ANA é vedado o exercício de qualquer outra atividade profissional, empresarial, sindical ou de direção político-partidária.

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§ 1o É vedado aos dirigentes da ANA, conforme dispuser o seu regimento interno, ter interesse direto ou indireto em empresa relacionada com o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

§ 2o A vedação de que trata o caput não se aplica aos casos de atividades profissionais decorrentes de vínculos contratuais mantidos com entidades públicas ou privadas de ensino e pesquisa.

Art. 12. Compete à Diretoria Colegiada:

I - exercer a administração da ANA;

II - editar normas sobre matérias de competência da ANA;

III - aprovar o regimento interno da ANA, a organização, a estrutura e o âmbito decisório de cada diretoria;

IV - cumprir e fazer cumprir as normas relativas ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

V - examinar e decidir sobre pedidos de outorga de direito de uso de recursos hídricos de domínio da União;

VI - elaborar e divulgar relatórios sobre as atividades da ANA;

VII - encaminhar os demonstrativos contábeis da ANA aos órgãos competentes;

VIII - decidir pela venda, cessão ou aluguel de bens integrantes do patrimônio da ANA; e

IX - conhecer e julgar pedidos de reconsideração de decisões de componentes da Diretoria da ANA.

§ 1o A Diretoria deliberará por maioria simples de votos, e se reunirá com a presença de, pelo menos, três diretores, entre eles o Diretor-Presidente ou seu substituto legal.

§ 2o As decisões relacionadas com as competências institucionais da ANA, previstas no art. 3o, serão tomadas de forma colegiada.

Art. 13. Compete ao Diretor-Presidente:

I – exercer a representação legal da ANA;

II - presidir as reuniões da Diretoria Colegiada;

III - cumprir e fazer cumprir as decisões da Diretoria Colegiada;

IV - decidir ad referendum da Diretoria Colegiada as questões de urgência;

V - decidir, em caso de empate, nas deliberações da Diretoria Colegiada;

VI - nomear e exonerar servidores, provendo os cargos em comissão e as funções de confiança;

VII – admitir, requisitar e demitir servidores, preenchendo os empregos públicos;

VIII - encaminhar ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos os relatórios elaborados pela Diretoria Colegiada e demais assuntos de competência daquele Conselho;

169

IX - assinar contratos e convênios e ordenar despesas; e

X - exercer o poder disciplinar, nos termos da legislação em vigor.

Art. 14. Compete à Procuradoria da ANA, que se vincula à Advocacia-Geral da União para fins de orientação normativa e supervisão técnica:

I - representar judicialmente a ANA, com prerrogativas processuais de Fazenda Pública;

II - representar judicialmente os ocupantes de cargos e de funções de direção, inclusive após a cessação do respectivo exercício, com referência a atos praticados em decorrência de suas atribuições legais ou institucionais, adotando, inclusive, as medidas judiciais cabíveis, em nome e em defesa dos representados;

III - apurar a liquidez e certeza de créditos, de qualquer natureza, inerentes às atividades da ANA, inscrevendo-os em dívida ativa, para fins de cobrança amigável ou judicial; e

IV - executar as atividades de consultoria e de assessoramento jurídicos.

Art. 15. (VETADO)

CAPÍTULO IV

Dos Servidores da ANA

Art. 16. A ANA constituirá, no prazo de trinta e seis meses a contar da data de publicação desta Lei, o seu quadro próprio de pessoal, por meio da realização de concurso público de provas, ou de provas e títulos, ou da redistribuição de servidores de órgãos e entidades da administração federal direta, autárquica ou fundacional.

§ 1o Nos termos do inciso IX do art. 37 da Constituição, fica a ANA autorizada a efetuar contratação temporária, por prazo não excedente a trinta e seis meses, do pessoal técnico imprescindível ao exercício de suas atribuições institucionais. (Vide Medida Provisória nº 155, de 23.12.2003) (Revogado pela Lei 10.871, de 2004)

§ 2o Para os fins do disposto no § 1o, são consideradas necessidades temporárias de excepcional interesse público as atividades relativas à implementação, ao acompanhamento e à avaliação de projetos e programas de caráter finalístico na área de recursos hídricos, imprescindíveis à implantação e à atuação da ANA.(Vide Medida Provisória nº 155, de 23.12.2003) (Revogado pela Lei 10.871, de 2004)

Art. 17. A ANA poderá requisitar, com ônus, servidores de órgãos e entidades integrantes da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, quaisquer que sejam as atribuições a serem exercidas. (Vide Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)

§ 1o As requisições para exercício na ANA, sem cargo em comissão ou função de confiança, ficam autorizadas pelo prazo máximo de vinte e quatro meses, contado da instalação da autarquia.

§ 2o Transcorrido o prazo a que se refere o § 1o, somente serão cedidos para a ANA servidores por ela requisitados para o exercício de cargos em comissão.

§ 3o Durante os primeiros trinta e seis meses subseqüentes à instalação da ANA, as requisições de que trata o caput deste artigo, com a prévia manifestação dos Ministros de Estado do Meio Ambiente e do Planejamento, Orçamento e Gestão, serão irrecusáveis e de pronto atendimento.

170

§ 4o Quando a cessão implicar redução da remuneração do servidor requisitado, fica a ANA autorizada a complementá-la até atingir o valor percebido no Órgão ou na entidade de origem.

Art. 18. Ficam criados, com a finalidade de integrar a estrutura da ANA: (Vide Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)

I - quarenta e nove cargos em comissão, sendo cinco cargos de Natureza Especial, no valor unitário de R$ 6.400,00 (seis mil e quatrocentos reais), e quarenta e quatro cargos do Grupo Direção e Assessoramento Superiores - DAS, assim distribuídos: nove DAS 101.5; cinco DAS 102.5; dezessete DAS 101.4; um DAS 102.4; oito DAS 101.3; dois DAS 101.2; e dois DAS 102.1;

II - cento e cinqüenta cargos de confiança denominados Cargos Comissionados de Recursos Hídricos - CCRH, sendo: trinta CCRH - V, no valor unitário de R$ 1.170,00 (mil cento e setenta reais); quarenta CCRH - IV, no valor unitário de R$ 855,00 (oitocentos e cinqüenta e cinco reais); trinta CCRH - III, no valor unitário de R$ 515,00 (quinhentos e quinze reais); vinte CCRH - II, no valor unitário de R$ 454,00 (quatrocentos e cinqüenta e quatro reais); e trinta CCRH - I, no valor unitário de R$ 402,00 (quatrocentos e dois reais).

§ 1o O servidor investido em CCRH exercerá atribuições de assessoramento e coordenação técnica e perceberá remuneração correspondente ao cargo efetivo ou emprego permanente, acrescida do valor da função para a qual tiver sido designado.

§ 2o A designação para função de assessoramento de que trata este artigo não pode ser acumulada com a designação ou nomeação para qualquer outra forma de comissionamento, cessando o seu pagamento durante as situações de afastamento do servidor, inclusive aquelas consideradas de efetivo exercício, ressalvados os períodos a que se referem os incisos I, IV, VI e VIII e alíneas a e e do inciso X do art. 102 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e o disposto no art. 471 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.

§ 3o A Diretoria Colegiada da ANA poderá dispor sobre a alteração de quantitativos e a distribuição dos CCRH dentro da estrutura organizacional da autarquia, observados os níveis hierárquicos, os valores da retribuição correspondente e os respectivos custos globais.

§ 4o Nos primeiros trinta e seis meses seguintes à instalação da ANA, o CCRH poderá ser ocupado por servidores ou empregados requisitados na forma do art. 3o.

Art 18-A - (Vide Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)

CAPÍTULO V

Do Patrimônio e das Receitas

Art. 19. Constituem patrimônio da ANA os bens e direitos de sua propriedade, os que lhe forem conferidos ou que venha a adquirir ou incorporar.

Art. 20. Constituem receitas da ANA:

I - os recursos que lhe forem transferidos em decorrência de dotações consignadas no Orçamento-Geral da União, créditos especiais, créditos adicionais e transferências e repasses que lhe forem conferidos;

II - os recursos decorrentes da cobrança pelo uso de água de corpos hídricos de domínio da União, respeitando-se as formas e os limites de aplicação previstos no art. 22 da Lei no 9.433, de 1997;

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III - os recursos provenientes de convênios, acordos ou contratos celebrados com entidades, organismos ou empresas nacionais ou internacionais;

IV - as doações, legados, subvenções e outros recursos que lhe forem destinados;

V - o produto da venda de publicações, material técnico, dados e informações, inclusive para fins de licitação pública, de emolumentos administrativos e de taxas de inscrições em concursos;

VI - retribuição por serviços de quaisquer natureza prestados a terceiros;

VII - o produto resultante da arrecadação de multas aplicadas em decorrência de ações de fiscalização de que tratam os arts. 49 e 50 da Lei n° 9.433, de 1997;

VIII - os valores apurados com a venda ou aluguel de bens móveis e imóveis de sua propriedade;

IX - o produto da alienação de bens, objetos e instrumentos utilizados para a prática de infrações, assim como do patrimônio dos infratores, apreendidos em decorrência do exercício do poder de polícia e incorporados ao patrimônio da autarquia, nos termos de decisão judicial; e

X – os recursos decorrentes da cobrança de emolumentos administrativos.

Art. 21. As receitas provenientes da cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União serão mantidas à disposição da ANA, na Conta Única do Tesouro Nacional, enquanto não forem destinadas para as respectivas programações.

§ 1o A ANA manterá registros que permitam correlacionar as receitas com as bacias hidrográficas em que foram geradas, com o objetivo de cumprir o estabelecido no art. 22 da Lei no 9.433, de 1997.

§ 2o As disponibilidades de que trata o caput deste artigo poderão ser mantidas em aplicações financeiras, na forma regulamentada pelo Ministério da Fazenda.

§ 3o (VETADO)

§ 4o As prioridades de aplicação de recursos a que se refere o caput do art. 22 da Lei no 9.433, de 1997, serão definidas pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, em articulação com os respectivos comitês de bacia hidrográfica.

CAPÍTULO VI

Disposições Finais e Transitórias

Art. 22. Na primeira gestão da ANA, um diretor terá mandato de três anos, dois diretores terão mandatos de quatro anos e dois diretores terão mandatos de cinco anos, para implementar o sistema de mandatos não coincidentes.

Art. 23. Fica o Poder Executivo autorizado a:

I - transferir para a ANA o acervo técnico e patrimonial, direitos e receitas do Ministério do Meio Ambiente e de seus órgãos, necessários ao funcionamento da autarquia;

II - remanejar, transferir ou utilizar os saldos orçamentários do Ministério do Meio Ambiente para atender às despesas de estruturação e manutenção da ANA, utilizando, como recursos, as dotações orçamentárias destinadas às atividades fins e administrativas, observados os mesmos subprojetos, subatividades e grupos de despesas previstos na Lei Orçamentária em vigor.

172

Art. 24. A Consultoria Jurídica do Ministério do Meio Ambiente e a Advocacia-Geral da União prestarão à ANA, no âmbito de suas competências, a assistência jurídica necessária, até que seja provido o cargo de Procurador da autarquia.

Art. 25. O Poder Executivo implementará a descentralização das atividades de operação e manutenção de reservatórios, canais e adutoras de domínio da União, excetuada a infra-estrutura componente do Sistema Interligado Brasileiro, operado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS.

Parágrafo único. Caberá à ANA a coordenação e a supervisão do processo de descentralização de que trata este artigo.

Art. 26. O Poder Executivo, no prazo de noventa dias, contado a partir da data de publicação desta Lei, por meio de decreto do Presidente da República, estabelecerá a estrutura regimental da ANA, determinando sua instalação.

Parágrafo único. O decreto a que se refere o caput estabelecerá regras de caráter transitório, para vigorarem na fase de implementação das atividades da ANA, por prazo não inferior a doze e nem superior a vinte e quatro meses, regulando a emissão temporária, pela ANEEL, das declarações de reserva de disponibilidade hídrica de que trata o art. 7o.

Art. 27. A ANA promoverá a realização de concurso público para preenchimento das vagas existentes no seu quadro de pessoal.

Art. 28. O art. 17 da Lei no 9.648, de 27 de maio de 1998, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 17. A compensação financeira pela utilização de recursos hídricos de que trata a Lei no 7.990, de 28 de dezembro de 1989, será de seis inteiros e setenta e cinco centésimos por cento sobre o valor da energia elétrica produzida, a ser paga por titular de concessão ou autorização para exploração de potencial hidráulico aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios em cujos territórios se localizarem instalações destinadas à produção de energia elétrica, ou que tenham áreas invadidas por águas dos respectivos reservatórios, e a órgãos da administração direta da União." (NR)

"§ 1o Da compensação financeira de que trata o caput:" (AC)*

"I – seis por cento do valor da energia produzida serão distribuídos entre os Estados, Municípios e órgãos da administração direta da União, nos termos do art. 1o da Lei no 8.001, de 13 de março de 1990, com a redação dada por esta Lei;" (AC)

"II – setenta e cinco centésimos por cento do valor da energia produzida serão destinados ao Ministério do Meio Ambiente, para aplicação na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, nos termos do art. 22 da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e do disposto nesta Lei." (AC)

"§ 2o A parcela a que se refere o inciso II do § 1o constitui pagamento pelo uso de recursos hídricos e será aplicada nos termos do art. 22 da Lei no 9.433, de 1997." (AC)

Art. 29. O art. 1o da Lei no 8.001, de 13 de março de 1990, com a redação dada pela Lei no 9.433, de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1o A distribuição mensal da compensação financeira de que trata o inciso I do § 1o do art. 17 da Lei no 9.648, de 27 de maio de 1998, com a redação alterada por esta Lei, será feita da seguinte forma:" (NR)

"I – quarenta e cinco por cento aos Estados;"

173

"II - quarenta e cinco por cento aos Municípios;"

"III – quatro inteiros e quatro décimos por cento ao Ministério do Meio Ambiente;" (NR)

"IV – três inteiros e seis décimos por cento ao Ministério de Minas e Energia;" (NR)

"V – dois por cento ao Ministério da Ciência e Tecnologia."

"§ 1o Na distribuição da compensação financeira, o Distrito Federal receberá o montante correspondente às parcelas de Estado e de Município."

"§ 2o Nas usinas hidrelétricas beneficiadas por reservatórios de montante, o acréscimo de energia por eles propiciado será considerado como geração associada a estes reservatórios regularizadores, competindo à ANEEL efetuar a avaliação correspondente para determinar a proporção da compensação financeira devida aos Estados, Distrito Federal e Municípios afetados por esses reservatórios." (NR)

"§ 3o A Usina de Itaipu distribuirá, mensalmente, respeitados os percentuais definidos no caput deste artigo, sem prejuízo das parcelas devidas aos órgãos da administração direta da União, aos Estados e aos Municípios por ela diretamente afetados, oitenta e cinco por cento dos royalties devidos por Itaipu Binacional ao Brasil, previstos no Anexo C, item III do Tratado de Itaipu, assinado em 26 de março de 1973, entre a República Federativa do Brasil e a República do Paraguai, bem como nos documentos interpretativos subseqüentes, e quinze por cento aos Estados e Municípios afetados por reservatórios a montante da Usina de Itaipu, que contribuem para o incremento de energia nela produzida." (NR)

"§ 4o A cota destinada ao Ministério do Meio Ambiente será empregada na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e na gestão da rede hidrometeorológica nacional." (NR)

"§ 5o Revogado."

Art. 30. O art. 33 da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos:"

"I – o Conselho Nacional de Recursos Hídricos;"

"I-A. – a Agência Nacional de Águas;" (AC)

"II – os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal;"

"III – os Comitês de Bacia Hidrográfica;"

"IV – os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos;" (NR)

"V – as Agências de Água."

Art. 31. O inciso IX do art. 35 da Lei no 9.433, de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 35. .................................................................

.............................................................................."

174

"IX – acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas; " (NR)

"............................................................................"

Art. 32. O art. 46 da Lei no 9.433, de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 46. Compete à Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos:"

"I – prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos;"

"II – revogado;"

"III – instruir os expedientes provenientes dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos e dos Comitês de Bacia Hidrográfica;"

"IV – revogado;"

"V – elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e submetê-los à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos."

Art. 33. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 17 de julho de 2000; 179o da Independência e 112o da República.

MARCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA MACIEL Edward Joaquim Amadeo Swaelen Marcus Vinicius Pratini de Moraes Rodolpho Tourinho Neto Martus Tavares José Sarney Filho

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 18.7.2000