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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO - Rodrigo Miguel Trentin GOVERNANÇA NA EMPRESA FAMILIAR Estratégia e mecanismos para a minimização de conflitos no processo sucessório Dissertação PORTO VELHO - RO 2010

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE ...livros01.livrosgratis.com.br/cp151183.pdf · Podemos considerar empresas familiares a grande maioria das empresas em atividade

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO -

Rodrigo Miguel Trentin

GOVERNANÇA NA EMPRESA FAMILIAR – Estratégia e

mecanismos para a minimização de conflitos no processo sucessório

Dissertação

PORTO VELHO - RO 2010

Livros Grátis

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Rodrigo Miguel Trentin

GOVERNANÇA NA EMPRESA FAMILIAR – Estratégia e

mecanismos para a minimização de conflitos no processo sucessório

Dissertação apresentada ao programa de Pós-

Graduação em Administração - PPGMAD, do Núcleo

de Ciências Sociais Aplicadas - NUCS, da Fundação

Universidade Federal de Rondônia - UNIR, como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Administração.

Orientador

Prof. Dra. Maria Berenice Alho da Costa Tourinho

Porto Velho

2010

GOVERNANÇA NA EMPRESA FAMILIAR – Estratégia e

mecanismos para a minimização de conflitos no processo

sucessório./Rodrigo Miguel Trentin - Porto Velho, 2010. 84f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Rondônia. Núcleo

de Ciências Sociais. Programa de Pós Graduação em Administração.

Orientador: Prof. Dra. Maria Berenice Alho da Costa Tourinho

1. Empresas Familiares. 2. Governança Corporativa 3. Sucessão.

I.Trentin, Rodrigo Miguel. II. Fundação Universidade Federal de

Rondônia. III.Título

T729g

Trentin, Rodrigo Miguel

CDD 658

Ficha Catalográfica

RODRIGO MIGUEL TRENTIN

GOVERNANÇA NA EMPRESA FAMILIAR – Estratégia e mecanismos

para a minimização de conflitos no processo sucessório

Dissertação julgada adequada para a obtenção do Título de Mestre em Administração, e

aprovada em sua forma final pelo programa de pós-graduação – Mestrado em Administração

(PPGMAD) da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Porto Velho, 25 de novembro de 2010.

Prof. Dr. Osmar Siena

Coordenador do Programa de Pós Graduação

Mestrado em Administração - PPGMAD

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dra. Maria Berenice Alho da Costa Tourinho (Orientador)

Programa de Pós Graduação Mestrado em Administração PPGMAD/UNIR

Prof. Dra. Mariluce Paes de Souza (Membro Interno)

Programa de Pós Graduação Mestrado em Administração PPGMAD/UNIR

Prof. Drª. Maria do Carmo (Membro Externo)

Universidade Federal de Rondônia - UNIR

Dedico mais uma etapa cumprida de minha

vida a minha família. Meus pais, por sempre

me ensinarem o caminho correto, a Fabíola,

minha esposa, por seu apoio incondicional e

a todos os amigos que de alguma forma,

contribuíram para mais um momento de

realização.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, e por uma questão de fé, agradeço a Deus, pela saúde concedida,

pela sabedoria e principalmente por iluminar a guiar meu caminho.

Agradeço a minha amada família, sempre meu porto seguro e exemplo que tenho

em poder trilhar o caminho correto em busca da minha realização e felicidade. A

minha amada esposa Fabíola, por sua paciência e seu apoio incondicional nesses

anos em que grande parte de minha dedicação e do meu tempo foi direcionado aos

estudos.

A todos os amigos que ajudaram na elaboração do trabalho e, principalmente, na

compreensão de minha ausência das reuniões e encontros que tanto aprimoram a

beleza da vida e a felicidade em viver.

A professora Dra. Berenice Tourinho, minha orientadora, por sua imensa

contribuição e sua serenidade e sabedoria nos momentos de orientar o curso do

trabalho.

A professora Dra. Mariluce Paes de Souza, que com seu conhecimento auxiliou de

forma indispensável esse trabalho.

A todos os professores do PPGMAD que durante esses dois anos nos

proporcionaram a oportunidade de aprender e a nos desenvolver tanto

intelectualmente como pessoalmente.

E a todos os meus colegas da Turma2008 do PPGMAD, onde foi possível cultivar

verdadeiras amizades. Tenho orgulho de participar de uma turma tão unida e tão

inteligente. Todos os momentos juntos, sejam as aulas, sejam os churrascos de

confraternização, deixarão saudades.

TRENTIN, Rodrigo Miguel. GOVERNANÇA NA EMPRESA FAMILIAR – Estratégia e mecanismos para a minimização de conflitos no processo sucessório. Dissertação (Mestrado em Administração). Programa de Pós Graduação – Mestrado em Administração (PPGMAD) da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR) 84 p. Porto Velho, 2010.

RESUMO

Podemos considerar empresas familiares a grande maioria das empresas em atividade no mundo, aumentando, assim, a expectativa de todos os interessados no sucesso da gestão e, por consequência, no sucesso e na perpetuação dessas empresas. Os interessados podem ser as famílias proprietárias e seus herdeiros, e mesmo a sociedade, que desenvolve suas atividades profissionais nessas empresas, ou o poder público, que arrecada boa parte dos seus impostos das empresas familiares. As empresas familiares possuem grandes vantagens e algumas particularidades em sua gestão que podem gerar conflitos, justamente pelo sentimento envolvido na participação da família. Um dos pontos mais delicados é a sucessão, a passagem da primeira para a segunda geração e assim sucessivamente. O presente estudo procurou analisar uma estratégia que pudesse minimizar esses conflitos e se os mecanismos de Governança, quando aplicados às empresas familiares, contribuem para minimizar esses conflitos advindos do processo de sucessão. A metodologia do trabalho foi definida por meio de um estudo de caso no Grupo Rovema, um Grupo multi-familiar que esta estruturando seu processo de sucessão e já tem alguns mecanismos de Governança aplicados em sua gestão. O estudo teve natureza aplicada, abordando o problema de forma qualitativa e segundo o modelo de estudos descritivos. Em complemento ao roteiro de entrevista desenvolvido, foi utilizada uma pesquisa realizada pela MB Consultoria com os membros da empresa, buscando compreender o alinhamento e o conhecimento dos mecanismos de Governança e o interesse e participação no processo sucessório. Foi possível verificar que muitos desses mecanismos minimizam alguns conflitos com fontes diferentes ao da sucessão, mas a falta de comunicação e conhecimento dos reais objetivos desses mecanismos, pode criar uma resistência na participação da segunda geração na gestão do Grupo, gerando conflitos no processo sucessão. Os mecanismos de Governança ainda não estão implementados em sua totalidade, mas a cultura organizacional do Grupo provê um campo estruturado para a implantação desses mecanismos e um provável sucesso nesse processo. Pelos resultados que o grupo apresenta, é fato que ainda há muito para se aprimorar na gestão e na administração de cada um dos três eixos da empresa familiar: família, propriedade e gestão, mas com as devidas adaptações e correções, os mecanismos de Governança já implementados, podem ser a estratégia correta para criar uma base sólida para o desenvolvimento e perpetuação do Grupo. Palavras Chave: Governança – Sucessão – Empresa Familiar

TRENTIN, Rodrigo Miguel. GOVERNANCE IN FAMILY BUSINESS - Strategy and mechanisms to minimize conflict in the succession process. Dissertação (Master´s Degree). Program Graduate - Masters in Business Administration (PPGMAD) of the Federal University of Rondônia (UNIR) 84 p. Porto Velho, 2010.

ABSTRACT

We can consider family businesses the vast majority of companies operating in the world, what increases the expectation of all stakeholders in the success of management and consequently on the success and perpetuation of these companies. This interest can come from the owner families and their heirs, or from the society that develops professional activities in these companies or the government, which collects much of its taxes on family businesses. Family businesses may have great advantages and some peculiarities in their management that can generate conflict, just by the feeling involved in family environment. One of the most delicate processes is the succession, the transition from first to the second generation and so on. This study sought to examine a strategy that could minimize these conflicts and the mechanisms of governance applied to family businesses, contributing to minimize such conflicts arising from the succession process. The methodology of the study was defined through a case study in Rovema Group, a multi-family group that have structured their succession process and already has some mechanisms of governance applied in their management. The methodology defined the nature of research as applied to a qualitative approach and following the model of descriptive studies. In addition to the interview guide developed, we used a survey conducted by MB Consulting with members of the company, seeking to understand the alignment and knowledge of the mechanisms of governance and the interest and participation in the succession process. It was possible to verify that many of these mechanisms minimize conflicts from different sources to the succession, but the lack of communication and knowledge of the real goals of these mechanisms can create a resistance in the second generation's participation in the management of the Group, generating conflicts in the succession process. Directly linked to succession, the governance mechanisms are not implemented in its entirety, but the organizational culture of the Group provides a structured field for the deployment of these mechanisms and a possible success in this process. By the results that the group presents, the fact is that there is still much to improve the management and administration of each of the three axes of the family business: family, ownership and management, but with appropriate adjustments and corrections, the mechanisms of governance have implemented, may be the right strategy to create a solid foundation for the development and perpetuation of the Group

Key Words – Governance – Succession – Family Business

Lista de Figuras e Gráficos

Figura 1 – As 10 maiores empresas Familiares do Brasil por renda liquida........... 22

Figura 2 – Comparativo de Crescimento da receita 2003 – 2004........................... 23

Figura 3 – Modelo dos Três Círculos na Empresa Familiar.................................... 25

Figura 4 – Modelo Tridimensional de Desenvolvimento.......................................... 30

Figura 5 – Tabela de Relação de Performance entre Familiares............................ 34

Figura 6 – Esquema de Governança Corporativa em Empresa Familiar................ 43

Figura 7 – Modelo de Implementação da Governança na Empresa Familiar......... 50

Figura 8 – Disposição dos Entrevistados no Modelo dos Três Círculos................. 57

Figura 9 – Situação do grupo Rovema no Modelo Tridimensional de

Desenvolvimento..................................................................................................... 70

Gráfico 1 – Faixa Etária dos Entrevistados............................................................. 59

Gráfico 2 – Escolaridade dos Entrevistados........................................................... 59

Gráfico 3 – Percepção Estrutural do Grupo............................................................ 61

Gráfico 4 – Principais Necessidades de Melhoria no Grupo................................... 62

Gráfico 5 – Opinião sobre o Gerenciamento do Grupo........................................... 62

Gráfico 6 – Envolvimento no dia-a-dia da Empresa................................................ 64

Gráfico 7 – Opinião sobre missão, visão e valores................................................. 65

Gráfico 8 – Opinião sobre Código de Ética, Acordo Societário e Critério de Ingresso

de Familiares........................................................................................................... 65

Gráfico 9 – Ocupação Profissional dos Entrevistados............................................ 67

Gráfico 10 – Interesse em Atuar em Empresa do Grupo........................................ 67

Gráfico 11 – Contribuição do Grupo para sua Sustentabilidade Financeira........... 68

Gráfico 12 – O que mudaria no Grupo se Tivesse Autonomia................................ 69

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

PIB – Produto Interno Bruto

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa

FECOMERCIO/RO – Federação do Comércio do Estado de Rondônia

OECD – Organization for Economic Co-operation and Development

CVM – Comissão de Valores Mobiliários

Sumário

Capítulo 1 Introdução 13

1.2 Apresentação do Tema e Problema................................................................ 15

1.3 Objetivo do Estudo.......................................................................................... 16

1.3.1 Objetivo Geral.............................................................................................. 16

1.3.2 Objetivos Específicos................................................................................... 16

1.4 Justificativa..................................................................................................... 17

1.5 Organização do Trabalho............................................................................... 18

Capítulo 2 Revisão da Literatura 19

2.1 Conceituação de Empresa Familiar................................................................ 19

2.2 Importância das Empresas Familiares no Brasil e no Mundo......................... 21

2.3 Modelo de Gestão das Empresas Familiares................................................. 23

2.4 Modelo dos Três Círculos ................................................................................. 25

2.5 Evolução da Empresa Familiar....................................................................... 27

2.6 Conflitos da Empresa Familiar........................................................................ 31

2.7 Sucessão na Empresa Familiar...................................................................... 36

2.8 Governança Corporativa................................................................................. 40

2.9 Estratégias de Governança na Empresa Familiar........................................... 42

2.10 Implementação da Governança na Empresa Familiar................................... 49

Capítulo 3 Metodologia 52

3.1 Natureza do Estudo........................................................................................ 52

3.2 Operacionalização da Pesquisa..................................................................... 52

3.3 Caracterização Amostral................................................................................. 54

3.3.1 O Grupo Rovema......................................................................................... 54

Capítulo 4 Resultados Obtidos na Pesquisa 56

4.1 Análise Descritiva............................................................................................ 56

4.2 Tabulação Simples dos Dados........................................................................ 56

4.3 Caracterização dos Grupos Pesquisados ...................................................... 57

4.3.1 Identificação dos Entrevistados..................................................................... 58

4.4 Percepção do Negócio..................................................................................... 60

4.4.1 Conhecimento das Empresas e Ramos do Grupo........................................ 60

4.4.2 Conhecimento da estrutura Funcional da Empresa...................................... 61

4.5 Cultura Organizacional..................................................................................... 63

4.6 Expectativas Pessoais..................................................................................... 66

4.7 Gestão e Processos de Governança no Grupo Rovema................................. 70

4.8 Análise da Estratégia de Governança no Grupo Rovema ............................... 72

Capítulo 5 Conclusões 75

Referências Bibliográficas 78

Apêndice A – Roteiro de Entrevista 83

1. INTRODUÇÃO

Instabilidade econômica, alta inflação e a indecisão política na qual se vivia há

alguns anos, no Brasil, entre outros fatores, contribuíram para forjar a visão

imediatista dos empresários. Qualquer investimento feito deveria ter um retorno em

curto prazo. Qualquer tempo a mais trazia consigo um risco grande, praticamente

inviável.

Foi com essa mentalidade que a maioria das empresas do país foi criada e

uma grande porcentagem dessas empresas nem chegou aos dias de hoje. As que

chegaram, ainda trazem em sua raiz esse exemplo de administração imediatista.

Nos últimos quinze anos, verificou-se um fortalecimento e uma estabilidade

econômica e política, que mesmo longe do ideal, é um fenômeno com poucos

antecedentes em nossa história. O fato é que a realidade já é outra, mas a visão de

alguns empresários, principalmente das empresas familiares, ainda continua presa

aos modelos do passado, e isso pode contribuir muito para um alto grau de

mortalidade das empresas nos primeiros anos de existência.

Segundo Gersik (1997), um dos grandes problemas apresentados pelas

empresas familiares e que contribui para a morte dessas empresas, são os conflitos

causados principalmente pela intensa ligação entre família, propriedade e gestão.

Com isso, a criação do Modelo dos Três Círculos serviu como uma ferramenta capaz

de facilitar a compreensão entre os conflitos pessoais, dilemas de propriedade e a

participação familiar na empresa.

Bower (HSM Online, 2009) comenta que para uma empresa construir uma

gestão baseada em baixo custo, inovação constante e foco no cliente, é necessário

continuidade. E, para garantir essa continuidade, é preciso um investimento no

processo sucessório, principalmente nas empresas familiares, onde geralmente o

processo de sucessão se apresenta de duas formas: ou os filhos escolhem um líder

entre eles, e esta pode ser uma escolha competente, ou a rivalidade entre irmãos

está instalada.

14

Segundo Nigel Nicholson (HSM Online, 2009), a governança pode ser uma

ferramenta de proteção. Porém em alguns tipos de empresas, como as pequenas

empresas familiares, o excesso de procedimentos pode se tornar um peso para a

gestão. Mas é válido salientar a afirmação do autor de que a “governança é

essencial para evitar os conflitos”.

Nesse contexto, a governança se apresenta como um mecanismo capaz de

contribuir para a minimização do alto grau de mortalidade das empresas familiares

devido sua essência estar pautada nos mecanismos de solução de conflitos e na

harmonização dos interesses dos atores envolvidos no processo, já que

conceitualmente, a governança surgiu para superar o “conflito de agência”. (Instituto

Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC - 2006)

De um lado, a empresa familiar proporciona condições para os membros da

família envolvidos no processo, seja na gestão ou na propriedade, lhes fornecendo

ganhos e incentivos individuais para poupar ou investir. Ao mesmo tempo, os

mesmos que compartilham dos resultados, criam um ambiente repleto de rivalidades

pessoais que não são facilmente resolvidos dentro da empresa familiar. Juntos,

esses fatores sugerem que as empresas familiares apresentam uma restrição na sua

gestão que inibe a sua capacidade de gerir em grande escala e em ambientes

tecnologicamente complexos. (CARNEY, 1998)

Ainda, segundo o sitio do IBGC, a preocupação da Governança Corporativa é

“criar um conjunto eficiente de mecanismos, tanto de incentivos como de

monitoramento, a fim de assegurar que o comportamento dos executivos esteja

sempre alinhado com o interesse dos acionistas”.

Entende-se que essa procura pela solução de conflitos contribuirá para a

eliminação, ou pelo menos a minimização, de problemas que influenciam

diretamente a gestão e o sucesso das empresas familiares, como sucessão,

relacionamento entre os familiares e a interferência negativa da família no processo

de gestão. Com isso acredita-se ser possível criar um ambiente interno propício para

o estabelecimento de uma vantagem competitiva e o desenvolvimento longevo das

empresas familiares, contribuindo assim, ainda mais para o desenvolvimento de toda

a sociedade.

15

Parte-se do pressuposto que, com a Governança, as empresas familiares,

que geram milhões de empregos e têm uma participação de 50 a 75% do PIB (Wall

Street Journal, maio 2000, p. 12), podem finalmente conquistar um local de destaque

no mercado, aumentando cada vez mais a sua participação e, consequentemente, o

desenvolvimento econômico de toda a sociedade, já que envolve duas das mais

consolidadas formas de instituição social do mundo: família e empresa.

1.2 APRESENTAÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

Conforme aponta o Relatório 2007 sobre Empreendedorismo no Brasil, do

Global Entrepreneurship Monitor (GEM), dos 7,5 milhões de brasileiros que

empreendem, 41,6% não o fazem voluntariamente, mas por necessidade. Mesmo se

for considerada a função social que esse contingente exerce, o fato de contarmos

com um esforço produtivo tão elevado entre os indivíduos que se aventuram pela via

da sobrevivência, essa pode ser uma das causas do baixo crescimento qualitativo

das empresas e de nossa economia.

Pelo nível de participação das Empresas Familiares no mercado, é relevante

focar o estudo nesse tipo de empresa que, apesar da particularidade de seus

problemas, pode atingir um patamar de sucesso e participação de mercado. O que

pode contribuir nesse sentido é uma visão administrativa que favoreça o crescimento

de qualidade e integração na gestão como pregado nas teorias da Governança

Corporativa.

Pode-se comprovar a importância das empresas familiares na afirmação de

Davis (2006, p. 4), “As empresas familiares são tremendamente complicadas, mas,

ao mesmo tempo, decisivas para a saúde da nossa economia e a satisfação de

milhões de pessoas”.

Segundo Daft (1997), por tratar-se de um sistema aberto, as organizações

empresariais se adaptam continuamente ao desafio de controlar e coordenar as

atividades internas em face das perturbações ambientais e das incertezas. Os

administradores desempenham, nesse sentido, seu papel de estruturar e coordenar

os recursos organizacionais para alcançar o propósito da organização.

16

Dentre os principais problemas apresentados nos estudos sobre empresa

familiar, surge a sucessão. Segundo Gueiros e Oliveira (2000), apenas 30% das

empresas familiares conseguem chegar à segunda geração.

Nessa conjuntura, a questão que identifica a problemática desse trabalho é:

Pode a Governança, aplicada às empresas familiares como uma estratégia de

minimização dos conflitos, principalmente os decorrentes da sucessão, estabelecer

uma relação com a sua capacidade de escolhas, assegurando a sua permanência

no mercado e seu potencial competitivo?

O problema levantado para a pesquisa, pode ser estudado no Grupo Rovema,

empresa familiar que possui em sua gestão, mecanismos de Governança. Foi

possível conhecer melhor a aplicação e resultados dessas ferramentas e como elas

influenciam na minimização dos conflitos da empresa e dão suporte para o

desenvolvimento e sucessão na empresa.

1.3 OBJETIVOS DO ESTUDO

Nesta seção são apresentados os objetivos geral e específicos do estudo

proposto, visando a uma melhor compreensão do problema.

1.3.1 OBJETIVO GERAL

Identificar se a estratégia de utilização dos mecanismos de Governança,

quando aplicados a empresa familiar, minimizam os conflitos advindos do processo

de sucessão.

1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Compreender a gestão dentro da empresa familiar;

Conhecer o processo de governança dentro da empresa;

Identificar os principais pontos de conflito;

Analisar como a Governança influencia na minimização desses

conflitos.

17

1.4 JUSTIFICATIVA

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2002), 97%

das empresas no Brasil são consideradas familiares, e essas empresas respondem

por 48% do Produto Interno Bruto – PIB, brasileiro e, apesar de serem em sua

grande maioria micros e pequenas empresas, grandes grupos como Votorantin e

Pão de Açúcar são empresas familiares.

Diante da influente participação e importância dessas empresas para a

sustentação econômica do país, justifica-se desenvolver um estudo para analisar

formas de minimizar os conflitos que influenciam na mortalidade de quase metade

dessas empresas nos seus dois primeiros anos de vida.

Identifica-se que a sucessão é um dos pontos delicados a serem tratados

dentro da empresa familiar, e com isso, busca-se identificar a estratégia que possa

contribuir de forma mais efetiva para a minimização desses conflitos e

consequentemente, prover uma maior possibilidade de sucesso e longevidade para

as empresas familiares.

No Estado de Rondônia e, particularmente em Porto Velho, em consulta a

órgãos como Sebrae/RO, Federação do Comércio do Estado de Rondônia –

Fecomercio-RO, IBGE e Junta Comercial do Estado de Rondônia constatou-se não

existir nenhuma informação formatada sobre a participação das Empresas

Familiares no mercado e sua participação no PIB do município ou do Estado.

Apesar de não possuir essas informações, não se descarta o potencial

apresentada em nosso Estado com o estimado crescimento populacional e

econômico devido aos investimentos do Governo Federal na construção das Usinas

Hidroelétricas no Rio Madeira, dentre outros investimentos advindos de incentivos

proporcionados pelo Estado. Essa oportunidade pode ser explorada por empresas

locais, desde que apresentem competência e qualidade em seus produtos e

serviços.

Diante da importância das empresas familiares na economia e na sociedade,

e da compreensão de suas limitações, principalmente em decorrência dos conflitos

causados pela particularidade de sua gestão, parte-se do pressuposto teórico de que

18

a Governança é um mecanismo de impacto que, se aplicada nas empresas

familiares, pode contribuir significativamente para alcançar a consolidação das

mesmas e o consequente desenvolvimento da região onde estas estão situadas.

1.5 Organização do Trabalho

Para uma melhor compreensão da estrutura e sequencia do trabalho,

apresenta-se nessa seção, sua organização.

O segundo capítulo, denominado Revisão da Literatura, aborda o tema central

do trabalho, com a conceituação de empresa familiar e sua importância no cenário

nacional e mundial, seja na economia, seja para a sociedade. Na sequencia,

apresenta-se o modelo de gestão seguido nas empresas familiares, a caracterização

e divisão dos eixos dentro do Modelo dos Três Círculos de John Davis e sua

evolução no tempo, dentro do Modelo Tridimensional de Desenvolvimento. Aborda

também, os conflitos dentro da empresa familiar, o processo de sucessão e como os

princípios da governança podem ser uma estratégia para minimizar os conflitos

advindos da sucessão.

No terceiro capítulo é descrito a metodologia empregada para a execução do

estudo, com as etapas de operacionalização e caracterização amostral e

apresentação do Grupo selecionado para o estudo de caso.

O quarto capítulo refere-se a apresentação, análise e discussão dos

resultados obtidos, buscando conhecer a gestão do Grupo estudado, quais os

mecanismos de governança já estão aplicados, identificar os principais pontos de

conflito e como a Governança influencia na minimização dos mesmos.

No quinto capítulo apresentam-se as considerações finais deste trabalho.

19

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Conceituação de Empresa Familiar

Existem várias denominações e definições sobre o que é uma empresa

familiar. No entanto, desde a década de 50, quando foram iniciado estudos com

Christensen (1953), até os dias atuais ainda não foi possível encontrar corpo teórico

convergente, unificado e maduro. Em alguns estudos mais recentes, realizados em

1996, foram encontradas mais de 30 definições diferentes para a empresa familiar.

Donneley (1964) considera uma empresa familiar quando esta se constitui

com uma família e quando essa ligação influencia a política da empresa nos

interesses e nos objetivos da família. Essas ligações são definidas por ser o

relacionamento familiar um fator determinante para a sucessão, a participação de

esposa e filhos no conselho de administração e a identificação dos valores da

empresa com os valores da família, dentre outros.

Lodi (1998) considera familiar a organização que tem sua origem e historia

vinculadas a uma mesma família há pelo menos duas gerações, ou àquelas que

mantém membros na administração da empresa. Destaca ainda que o

empreendimento do fundador sem herdeiros, não se caracteriza como uma empresa

familiar, mas apenas um negócio individual.

Os historiadores de economia Douglas North e Robert Thomas (apud

LOURENZO, 2006), atribuem à criação de um sistema definido de direitos de

propriedade industrial o ponto de partida para a industrialização e o fortalecimento

do capitalismo americano. Com base nesses preceitos, podem-se observar duas

indicações importantes: todo fundador não deixa para seus herdeiros apenas um

conjunto patrimonial; ele torna seus descendentes sócios independente de suas

escolhas, e os transforma em membros de uma família empresária. Estes dois

fatores tornam o processo muito complexo, mas a maioria dos herdeiros, bem como

suas famílias, não está preparada para este desafio.

Bornholdt (2005, p. 34) considera uma empresa familiar quando um ou mais

dos fundadores pode ser identificado numa organização ou grupo de empresas que:

20

1. O controle acionário pertence a uma família e/ou a seus herdeiros;

2. Os laços familiares determinam a sucessão no poder;

3. Os parentes se encontram em posições estratégicas, como na diretoria

ou no conselho de administração;

4. As crenças e os valores da organização identificam-se com os da

família;

5. Os atos dos membros da família repercutem na empresa, não

importando se nela atuam; e

6. Ausência de liberdade total ou parcial de vender suas

participações/quotas acumuladas ou herdadas na empresa.

Existe também a diferenciação entre empresas “familiares” e empresas “multi

familiares” considerando que esta última é composta por vários e diferentes núcleos

familiares não cosanguíneos entre si.

Algumas outras diferenciações podem ser feitas levando em conta a

participação acionária e na gestão que a família exerce.

Sob este ângulo, as empresas familiares no “sentido amplo” são consideradas

aquelas empresas que possuem participação acionária relevante de uma família, ou

grupo de familiares, mas a gestão é exercida por executivos que não

necessariamente pertencem a família.

No “sentido restrito”, são aquelas organizações cuja administração esta sob o

comando dos próprios sócios ou grupos familiares.

21

2.2 A importância das empresas familiares no Brasil e no mundo

É fato que as empresas familiares são a grande maioria em todo o mundo. A

existência dessas empresas é tão expressiva que Gersik et al. (1997) constatou que

80% (oitenta por cento) de todas as empresas do mundo são familiares. Santos

(1997) comenta que mais de 50% (cinquenta por cento) do PIB americano é gerado

por empresas familiares e segundo Revista FORTUNE, (1998) mais de um terço das

quinhentas companhias mais bem sucedidas nos Estados Unidos é familiar.

O survey de 1995 do Institute for Family Enterprise da Universidade de

Atlanta apurou que nos Estados Unidos empresas familiares tradicionais ou aquelas

de capital aberto nas quais a família fundadora mantém uma influência significativa

(caso da Ford, onde a família detém a mesma proporção do capital votante, 40%, do

que tinha em 1956, quando a empresa abriu o capital) são responsáveis por 59% do

emprego e 78% dos empregos novos. O mesmo estudo constatou que 27 milhões

de pessoas trabalham em suas próprias empresas (Wall Street Journal, 1996).

Na Alemanha, as empresas familiares (a imensa maioria de capital fechado)

concentram-se nas três milhões de pequenas e médias empresas do Mittlestand,

que têm em média menos de 100 funcionários e respondem por metade do

faturamento e dois terços do emprego do setor industrial. Dentre elas, 500 dominam

nichos mundiais em produtos avançados de alta qualidade (Financial Times Survey

of Germany, 1996).

No Brasil, a pesquisa e os estudos sobre empresa familiar são ainda menores

em relação ao nível mundial. Sabe-se, porém, que a influência e a participação na

geração de empregos e na participação do PIB são de suma importância para o

desenvolvimento do País.

Algumas pesquisas mostram que as empresas familiares geram cerca de dois

milhões de empregos, tem participação no PIB em cerca de 12% no agro negócios,

34% na indústria e 54% no ramo de serviço e dentre as quase oito milhões de

empresas que o Brasil possui, 90% são empresas familiares, principalmente as

pequenas e médias empresas (NOVELLO, MELENDEZ, D’AVILA, 1995).

22

Existem também empresas que obtiveram grande sucesso e hoje tem

destaque no cenário nacional como o Grupo Votorantin da família Ermírio de Moraes

e o Grupo Pão de Açúcar, pertencente à família Diniz e o Grupo Gerdau,

pertencente a família Gerdau. No conjunto mundial, as empresas controladas e

administradas por famílias são responsáveis por mais da metade dos empregos e,

dependendo do país, geram de 50 a 75% do PIB (Wall Street Journal, maio 2000, p.

12).

Em uma pesquisa realizada pelo Grupo Prosperare em 2005, foi possível

verificar a relevância de grandes empresas familiares para a economia do país, com

base em sua receita líquida. Apesar da data da pesquisa, é possível verificar aqui, a

relevância dessas empresas, principalmente em comparação com as empresas não

familiares.

Figura 1. As dez maiores empresas familiares do Brasil por renda liquida Fonte: Grupo Prosperare, 2005

Apesar do pensamento de que as empresas familiares estão sempre em

desvantagens em relação as empresas não familiares, numa comparação feita,

ainda pelo Grupo Prosperare (2005), analisando 797 (setecentas e noventa e sete)

empresas relacionadas na Revista Valor 1000 (2005), fez um comparativo com o

crescimento do setor, e o crescimento das empresas familiares e não familiares.

23

Figura 2 Crescimento de receita – 2003 - 2004 Fonte: Grupo Prosperare, 2005

Os números mostram que, apesar desse paradigma de incredulidade na

empresa familiar, e de todas as suas especificidades que lhes incorre em alguns

problemas e conflitos bem particulares, sua efetividade vem sendo bem

demonstrada pela literatura especializada.

2.3 Modelo de Gestão das Empresas Familiares

A maioria das empresas familiares tem uma estrutura enxuta. A centralização

do poder e das atividades mais importantes fica na mão do Gerente-Proprietário,

pessoa que exerce maior influência no planejamento, na tomada de decisões e na

obediência às regras e normas que são traçadas para o alcance de seu objetivo.

Segundo Weber (1992, p. 33), “poder significa toda a probabilidade de impor a

própria vontade numa relação social, mesmo contra resistência, seja qual for o

fundamento dessa probabilidade”.

A imposição da vontade para ser compreendida necessita de entendimento

do conceito de dominação, entendido como “a probabilidade de encontrar obediência

a uma ordem de determinado conteúdo” (Weber, 1992). Ocorre que, as decisões

que são tomadas pelo Gerente-Proprietário normalmente são baseadas no

empirismo, sem profissionalização e, por deter o poder, suas regras e ordens são

24

seguidas independente de concordância. Isso não significa que os caminhos

ordenados pela gestão das empresas familiares estejam incorretos, mas a falta de

profissionalização e o envolvimento da cultura familiar na cultura organizacional

pode ser um ponto negativo quando se trata de resultados à longo prazo.

Estar em uma empresa familiar é algo que afeta todos os participantes. O

papel do presidente do conselho é diferente quando a empresa foi fundada por seu

pai, e sua mãe e seus irmãos participam das reuniões assim como se sentam em

torno da mesa de jantar. O trabalho do gestor é diferente quando na porta ao lado,

esta também a sua irmã mais nova. (DAVIS, 2006, p. 3)

Por haver essa grande identificação com o fundador, às vezes a dificuldade

entre o que é intuitivo ou emocional prevalece ao racional fazendo com que as

decisões nem sempre sejam certas. Apesar da diversidade que caracteriza as

empresas controladas por famílias, nas primeiras etapas do ciclo de vida, em quase

todas é possível identificar alguns dilemas em comum, como:

aceitar as mudanças ou manter-se fiel à estratégia definida pelo

fundador?;

empregar os integrantes da família ou afastá-los da administração do

negócio?;

expandir a empresa ou manter a estrutura original?;

profissionalizar a gestão ou, apostando no sucesso conquistado,

manter a “administração intuitiva”?; e,

planejar a sucessão ou permitir que a geração seguinte assuma o

comando naturalmente?

Alguns desses dilemas foram respondidos em uma pesquisa realizada pela

revista Family Business (apud HSM Management, 2003). Nessa pesquisa, pode-se

identificar alguns traços comuns nas características das organizações mais

longevas. Muitas se mantiveram realmente pequenas com o passar do tempo e,

mesmo depois do processo de sucessão, em geral, não negociam suas ações em

25

bolsa de valores, mantém o capital fechado e familiar para impulsionar o

desenvolvimento; boa parte dessas empresas funciona fora das grandes cidades.

Essa diferença não se prende apenas a um sentimento. As empresas

familiares possuem uma forma organizacional peculiar que tem consequências

positivas e negativas, o que pode ser um diferencial é a forma como são elaboradas

as estratégias para maximizar os pontos positivos e minimizar os negativos.

2.4 O Modelo dos Três Círculos (Propriedade, Família e Empresa)

Como alternativa para identificar as fontes dos conflitos interpessoais, e

distinguir as prioridades e limitações da empresa, buscando compreender o

comportamento de seus integrantes, foi criado, na década de 70, pelo professor

John Davis, um estudioso das empresas familiares no mundo, juntamente com

Renato Tagiuri na Harvard University, o “Modelo dos Três Círculos”. Esse modelo

visa traçar um paralelo entre empresa, família e propriedade (DAVIS, 2006. p. 5).

Figura 3 – Modelo de Três Círculos da Empresa Familiar Fonte: John Davis, 2006

Ao analisar esse modelo, pode-se visualizar a empresa familiar, bem como

verificar a complexidade na relação entre os subsistemas:

1

4

7

2

5

3

6 Gestão/Empresa Família

Propriedade

26

1 – Familiares sem participação nos outros sistemas – A grande maioria dos

componentes da família, tanto descendentes quanto aqueles que se incorporam à

mesma, possuem algum interesse com a vida e o futuro da empresa. A família deve

ser preparada e sensibilizada, sem exceção, e em momento algum os profissionais

devem desconsiderar este ponto.

2 – Sócios-proprietários, não gestores e não familiares – Pode haver na constituição

da empresa, ou no decorrer de sua gestão, a participação de uma pessoa que não

faz parte da empresa como gestor e nem membro da família. A visão geral e o

distanciamento deste com a cultura familiar podem levá-lo a ter idéias que podem

ajudar no desenvolvimento da empresa.

3 – Gestores, não proprietário e não familiar – Grupo importante para a

administração da empresa se tratado de forma correta. O gestor tem um papel

importante na aplicação de uma cultura diferenciada que pode evitar alguns

conflitos.

4 – Familiares proprietários sem participação na gestão – Por se tratar de um

membro da família, essa pessoa tem um interesse especial pela empresa, pois

vislumbra que o sucesso dos negócios é a garantia de uma vida tranquila para a

família.

5 – Proprietário gestores não familiares – Sua influência é importante para o

desenvolvimento da empresa. O envolvimento emocional com a família deve ser

evitado para minimizar os conflitos.

6 – Gestores familiares e não proprietário – Importante por fazer parte da família e

ter uma dedicação especial devido ao seu interesse de sucesso profissional. Porém,

não se pode confundir com um proprietário.

7 – Familiares, gestores e proprietários – Uma das pessoas que tem maior influência

dentro da empresa, deve manter dentro da hierarquia, a disciplina, a política salarial

e outros procedimentos da empresa para que não haja confusão nos papéis.

A grande razão pela qual o modelo dos três círculos teve uma aceitação tão

ampla é que ele é teoricamente elegante e imediatamente aplicável, sendo uma

27

ferramenta muito útil para a compreensão da fonte de conflitos interpessoais,

dilemas de papéis, prioridades e limites em empresas familiares. (DAVIS, 2006, p.7)

Antigas ou de história recente, as empresas familiares também se destacam

por uma peculiaridade: as presenças constantes de conflitos e disputas, que

obedecem a objetivos e prioridades diferentes dos que regem as relações

estritamente familiares. Os estudos revelam que os problemas se intensificam a

medida que as empresas “envelhecem” (GERSIK, 1997).

Os Três pontos que podem ajudar a manter a longevidade da empresa a

medida que elas envelhecem é uma boa definição de missão, valores e ética. A

missão ajuda a visualizar a razão de ser da empresa, deve representar a estrutura

de pensamento e trabalho de todos os envolvidos na empresa, o valor que

impulsiona em relação a si mesma e aquilo que poderá concretizar. Os valores são

as convicções e os princípios morais que estão por de trás da cultura da empresa.

Os valores dão significado às normas, decisões e padrões comportamentais dos

sócios e executivos.

Vale sempre lembrar que todos esses temas não são criados de um dia para

outro dentro da empresa. Eles surgem com a cultura da empresa e devem ter uma

prática e um exercício de educação permanente para que não se percam com o

passar do tempo e com isso venham a ocasionar atritos para as próximas gerações

(BERNHOEFT, 2003).

No entanto, as maiores fontes de atrito decorrente da sucessão são o

dinheiro, a propriedade e o controle da empresa. Ainda que inevitáveis, acredita-se

que essas dificuldades podem ser solucionadas por meio de um planejamento

adequado capaz de levar em consideração os interesses da empresa e da família.

2.5 Evolução da Empresa Familiar

Com respeito a empresas familiares, a aparição de novos empreendimentos é

fundamental para a economia de todos os países capitalistas pela geração de

emprego e renda e pela captação de impostos, além de criar uma imagem simbólica

das oportunidades oferecidas a comunidade a qual se insere a empresa familiar, de

28

poder colocar seu conhecimento e sua dedicação a prova em prol do

desenvolvimento pessoal, de sua família e da sociedade, num contexto mais amplo.

O empreendedor é a primeira figura e o primeiro estágio dessas empresas. É

a partir do perfil do fundador que se molda a cultura organizacional da empresa,

suas crenças, suas regras, seus valores, tudo isso perpetua-se através dos ciclos de

desenvolvimento das três dimensões.

Nesse primeiro estágio, é comum o questionamento se a empresa pode ser

considerada realmente familiar, pois a maioria dos fundadores não envolve muito os

membros de suas famílias como funcionários ou acionistas. (DAVIS, 2006, p. 138)

Dentre vários fatores externos e internos que motivam essas pessoas a se

tornarem empreendedores, Levison (1986) apresenta duas motivações que tem um

impacto particularmente duradouro.

O primeiro é o desejo de deixar de ser empregado, e se tornar proprietário-

gerente de sua própria empresa, basicamente por algumas frustrações em

empregos anteriores, desentendimentos com ex-chefes e falta de progresso na

carreira.

O segundo ponto esta ligado a explorar uma oportunidade. Aqui, os

empreendedores são frequentemente inspirados por figuras de sucesso ou que já

estejam aproveitando essas oportunidades no mundo empresarial. Em alguns casos,

esse relacionamento rende bons acordos e a empresa começa seu desenvolvimento

baseado nesse aspecto mais subjetivo, sem focar a organização e a gestão da

administração.

Outro ponto, citado por Dyer (1992), é a disponibilidade financeira como um

catalisador que pode ajudar a acelerar ou não, o aproveitamento dessa oportunidade

e o desenvolvimento da empresa. Uma pesquisa da Coopers & Lybrand em 1994

(apud DAVIS, 2006), aponta que 73% do capital inicial das empresas, vem de

poupanças pessoais ou de membros da família e só 27% de empréstimos bancários.

Com a evolução da empresa e após uma transição em seus valores, em sua

visão, identidade e comportamento, nasce a empresa familiar. É preciso

desmistificar e quebrar o paradigma em relação a um dito popular que diz “pai rico,

29

filho nobre, neto pobre”. Todas as empresas passam por diferentes ciclos de vida

que independem de gerações. (BORNHOLDT, 2005)

Segundo John Davis (2006, p. 140), “esse passo requer ao mesmo tempo

ações concretas e um passo psicológico”. Dentre as ações concretas estão a

contratação de membros da família, a preparação dos mesmos para os cargos de

gerência e a distribuição acionária da empresa. Do lado psicológico, identifica-se a

basicamente deixar de ver a empresa como uma atividade individual e considerá-la

um patrimônio familiar.

A participação familiar pode ocorrer de forma súbita ou gradual, e isso muito

depende do estágio em que a família se encontra no processo de transformação do

empreendimento individual em um patrimônio familiar. Filhos mais velhos que fazem

parte do inicio do sonho do empreendimento, podem exigir sua participação, seja no

controle acionário, como forma de retirar proventos da empresa, ou como uma

oportunidade profissional, pleiteando cargos gerencias e forçando sua entrada na

empresa por fazer parte do sistema. No estagio de uma família jovem, com filhos

ainda novos, a preparação dos mesmos pode ocorrer de forma gradual,

desenvolvendo um desejo de ter um legado que sobreviva a ele.

Complementando o Modelo dos Três Círculos, criado por John Davis, foi

adicionado a esse modelo a variável “tempo”, que trouxe como resultado o “Modelo

de Desenvolvimento”. Tal modelo é baseado na evolução do desenvolvimento da

empresa, no desenvolvimento da propriedade e no desenvolvimento da família.

30

Figura 4 - Modelo Tridimensional de Desenvolvimento Fonte: John Davis, 2006

O Modelo Tridimensional de Desenvolvimento apresenta sequencialmente as

etapas pelas quais passa cada um dos três subsistemas ao longo de determinado

tempo. O momento mais importante no desenvolvimento das empresas é o momento

da transição, e é esse modelo que possibilita analisar as escolhas que modelarão o

futuro das empresas familiares.

É claro que cada uma das situações apresenta vantagens e desvantagens,

mas nenhuma delas garante o sucesso e a continuidade da empresa. Com isso, o

empreendedor pode enfrentar algum desapontamento caso os membros da família

não tenham o mesmo entusiasmo pela empresa ou pela idéia de uma empresa

familiar.

Em decorrência da necessidade de uma mudança comportamental e na

gestão da organização a medida que ela cresce, alguns empresários não

acompanham a necessária evolução, seja ela na gestão e/ou no comportamento,

alguns conflitos surgem na empresa familiar, e, dependendo do nível desses

Eixo da

Empresa

Passagem

do

Bastão

Trabalho

Conjunto

Entrada

na

Empresa

Jovem

Família

Empresária

Proprietário

Controlador

Sociedade entre

Irmãos

Consórcio

de Primos

Início

Expansão/

Formalização

Maturidade

Eixo da

Propriedade

Eixo da Família

31

conflitos e da preparação do empreendedor e dos sucessores, quando é chegado o

momento da sucessão, existe a possibilidade do surgimento de um conflito ainda

maior, que pode ocasionar no fechamento da empresa e, ainda, desentendimentos

dentro do circulo familiar.

2.6 Conflitos da Empresa Familiar

Os conflitos estão presentes em qualquer relação entre duas ou mais

pessoas, e podem ser explícitos ou subjacentes. O inicio desse processo é uma

oposição potencial ou incompatibilidade. Essa oposição possui três fontes:

comunicação, estrutura e variáveis pessoais. (ROBBINS, 2002)

Aqui se pode dar um destaque a comunicação. A existência de ruídos, a falta

de comunicação ou uma comunicação insuficiente, pode trazer diferentes

percepções dos diferentes tipos de pessoas que permeiam a organização e com

isso, criar as oposições e incompatibilidades que iniciam o processo de conflito.

Quando no ambiente de relacionamentos agrupam-se as relações familiares,

societárias e empresariais, a potencialidade do conflito aumenta pela diversidade de

interesses e de posições de pensamento apresentada por pessoas que, apesar de

estarem dentro de um mesmo circulo, apresentam interesses e opiniões difusas.

Putnam (1997 p.148), afirma que “o conflito não é apenas inevitável, ele

representa a natureza das organizações complexas, Não significa a ruptura de um

sistema intencionalmente cooperativo antes é central ao que uma organização é”

A gestão e a organização do conflito são necessárias para que sejam

aproveitados de maneira positiva todos os seus efeitos.

Bornholdt (2005) explica que a melhor maneira de solucionar esses conflitos,

é encará-los de frente “pois vistos a luz do sol, são bem menores do que se

imagina”. A conversa e a discussão dos conflitos de forma clara e aberta, evitam que

eles se propaguem de forma velada e acabem gerando rupturas familiares.

Davis (2010) afirma que por sua natureza, as empresas familiares são mais

sensíveis aos conflitos e por isso, tendem a evitar ou postergar situações

conflituosas que possas gerar comportamentos desagradáveis dentro do núcleo

familiar.

32

A existência de conflitos dentro da empresa familiar é um fato, que muitas

vezes pode ser abafado, porém, sua importância e relevância na gestão é muito

grande. Geralmente, esses conflitos aumentam com o passar do tempo,

influenciando diretamente na evolução da empresa e nos resultados da organização.

Segundo Robins (2002), o conflito passa por diversas fases. A comunicação

esta numa primeira fase da estrutura dos conflitos e aborda “dificuldades porque a

palavra pode não ter o mesmo significado para as duas partes” ou mesmo em

virtude de ruídos, “onde a mensagem será recebida com um significado muito

diferente daquela que foi originalmente pretendida”.

Lodi (1999, p. 3) afirma que “o primeiro sinal vital de uma família que vai

continuar junto é a capacidade de antecipar as crises e conflitos através de uma boa

previsão e planejamento”.

Os principais conflitos que acontecem dentro da empresa familiar, segundo

Bornholdt (2005) são:

Pai vs filho;

Briga entre irmãos;

Relação entre cônjuges; e

Relação ente primos.

Geralmente, os conflitos se originam nas diferentes expectativas entre o

individual e o coletivo. Outras vezes, surgem de resquícios, nem sempre

conscientes, do passado.

Leach (1994) apresenta uma lista de algumas características existentes no

relacionamento entre pai e filho, que, apesar de numa primeira análise parece ser

um bom relacionamento, esses conflitos existem e influenciam na gestão da

empresa familiar:

Existência de ciúmes por parte do fundador;

Crescimento da influência do filho na empresa, não aceito pelo pai;

33

O pai pode ver ingratidão no filho quando esse pede pra sair da empresa;

Chantagem emocional (pressão para o ingresso do filho na empresa);

Desejo de profissionalização da gestão por parte do filho;

Incompatibilidade nos perfis de gestão entre pais e filhos; e

Falta de capacidade empreendedora do herdeiro.

O choque de gerações muitas vezes esta na raiz dos conflitos. Com o passar

do tempo, a convivência entre pais e filhos tanto no sistema familiar como na

empresa pode fazer aflorar alguns sentimentos que eram velados nesse

relacionamento e o confronto entre a velha e a nova geração torna-se um conflito.

Leach complementa que além dos conflitos entre pais e filhos, o conflito entre

irmãos podem causar grandes problemas de perpetuação da empresa familiar. A

percepção de alguns sentimentos surge desde a fase jovem e tem reflexo na fase

adulta, quando mistura-se o pessoal com o profissional. Alguns dos conflitos mais

observados entre irmãos são:

Desconfiança do irmão;

Ciúmes dos filhos pela exclusividade dos pais;

Filho mais novo pode ser visto pelo mais velho como incapaz e mimado pelos

pais;

Relacionamento machista, colocando as filhas em segundo plano;

Luta pelo poder;

Filho busca maior reconhecimento em função de sua maior contribuição para

a empresa.

Em uma pesquisa que buscou estudar a relação de melhores performances

entre familiares, levando se em conta a hierarquia entre essas pessoas, John Davis

(apud HSM Management, 2010) desenvolveu uma escala de 1 (um) a 5 (cinco),

34

sendo 1 (um) o índice de menor conflito, e 5 (cinco) o índice de maior conflito. Esse

estudo de performance chegou aos seguintes índices:

Relação Índice

Pai – Filha 1,8

Pai – Filho 2,5

Filho – Pai 3,1

Irmã – Irmão 3,2

Figura 5: Tabela de Relação de Performance entre Familiares Fonte: Forum HSM. Gestão de Empresa Familiar, 2010

Pelos índices apresentados pela tabela, pode-se perceber que quando a 1ª

geração ainda esta no comando e tem a entrada dos herdeiros na empresa –

relação entre pai e filha ou pai e filho – o nível de conflito é menor, entre 1,8 e 2,5. Já

quando assume a 2ª geração, e os relacionamentos passam a uma Sociedade entre

Irmãos, como definido por Davis (2006) os relacionamentos entre irmãos apresenta

um índice maior de conflitos, entre 3,1 e 3,2. Isso mostra primeiramente a dificuldade

de um processo de sucessão e a importância que uma sucessão bem feita tem na

minimização dos conflitos e consequentemente numa maior oportunidade de

desenvolvimento e evolução da empresa.

Ao analisar as fontes do conflito, Bornholdt (2005) sugere ser razoável a

distinção entre conflitos interpessoais, intersistêmicos e os conflitos de interesse. O

primeiro diz respeito aos atritos e divergências entre pessoas ou grupos, comumente

elementos como sentimentos e emoções estão presentes nessa classificação dos

conflitos.

Para analisar os conflitos intersistêmicos, recorre-se ao Modelo dos Três

Círculos e a inter relação entre cada um dos três sistemas que ele envolve. O

convívio entre familiares com diferentes papeis em distintos espaços não é simples,

mas é algo que pode ser trabalhado de forma a ter esses problemas minimizados e

que interfiram o mínimo no poder de competitividade e desenvolvimento da empresa

familiar.

35

Esses conflitos intersistêmicos podem ser divididos basicamente em três inter

relações: Conflito entre o sistema empresarial e familiar, conflito entre o sistema

familiar e societário e conflito entre o sistema societário e empresarial.

Entre os sistemas Empresarial e Familiar, a origem dos conflitos esta entre

“pertencer a família empresária” e “ser o empresário executivo”. Os interesses

divergentes como na participação financeira da empresa, nos benefícios e na

necessidade de ter espaço para os futuros herdeiros, causa discussões e

divergências entre os interesses. Um ponto importante para a minimização de

conflitos é a definição dos critérios de ingresso a partir do acordo societário e do

código de ética.

Nos conflitos entre os sistemas Familiar e Societário, Bornholdt (2005, p. 51)

apresenta alguns pontos que devem ser passíveis de atenção, justamente pela

dinamicidade do sistema societário e principalmente na preocupação da entrada de

potenciais sócios e herdeiros. Destacam-se:

Compra e venda de ações e quotas: definição de critérios de

avaliação da empresa, limite de vendas e compras de ações e liquidez

para combater imprevistos como crises conjugais, dificuldades

financeiras e mortes.

Definição de pacto pré-nupcial: Apesar de polêmico, a definição de

pactos pré-nupciais garante maior estabilidade administrativa em

situações de instabilidade familiar.

Definição de direito a voto: Definição de representantes legais e

cotas de votos por ação.

Sequestros, mortes ou tragédias: Geralmente esses assuntos são

evitados no inicio do desenvolvimento da governança e também são

tratados de forma sigilosa. Porém, por mais que alguns aspectos sejam

incômodos de serem tratados, é importante se resguardar de qualquer

imprevisto.

36

Já a principal causa dos conflitos entre os sistemas Societário e Empresarial é

a percepção equivocada entre a equação do “bônus e do ônus”, percebendo no

outro apenas bônus, sem no entanto considerar o peso do ônus. Um ponto que pode

gerar um comportamento pacífico entre as partes é a criação de indicadores de

desempenho e referenciais mensuráveis, tanto para o investimento na gestão,

quanto para o pagamento de dividendos e criação de valor para a empresa.

Independente dos sistemas que apresentam os conflitos, a comunicação é

uma das chaves para se minimizá-los. O acordo familiar é uma ferramenta capaz de

regular a convivência entre a empresa, a família e a propriedade através do

estabelecimento de regras de conduta (BORNHOEEFT, 2003).

Dificilmente todos os conflitos que são apresentados dentro de uma empresa

podem ser resolvidos e superados. Com a particularidade das empresas familiares,

esses conflitos podem causar muito mais consequências desagradáveis, e minimizá-

los é de fundamental importância.

2.7 Sucessão na Empresa Familiar

Vários são os pontos que podem ser indicados como conflituosos entre os

atores envolvidos nos sistemas das empresas familiares. Porém, em sua maioria

consiste em inveja, desconfiança e busca por um lugar de destaque dentro da

empresa, seja nos cargos ocupados, seja num retorno financeiro mais atraente.

A sucessão também se apresenta como uma das principais causadoras de

conflito dentro da empresa familiar por ser uma tarefa muito difícil e desafiadora.

Com a segunda geração assumindo o controle da empresa, é provável que haja uma

mudança no foco da gestão e uma perda de vínculo com a gestão anterior.

Leach (1994) apresenta uma pesquisa realizada na Inglaterra, onde apenas

24% das empresas conseguem sobreviver à segunda geração, e somente 14%

conseguem ir além da terceira. Nos Estados Unidos, uma pesquisa aponta que 40%

das empresas fracassam no primeiro ano, 60% em menos de dois anos e 90% até o

final do décimo ano. (DAVIS, 2006, p. 139).

O processo de sucessão, segundo Bornholdt (2005, p. 58) implica o

envolvimento de pelo menos dois atores: os sucedidos e os sucessores. “Ambos

37

precisam estar preparados para uma transição com sofrimentos, ambiguidades e

constantes lutas e fugas”, algumas vezes reflexo de mecanismos de defesa nem

sempre tão conscientes.

O desafio primordial é que, com o aumento dos sócios, que nem sempre tem

compromissos mútuos e interligados em relação à empresa, consigam dar

continuidade ao trabalho desenvolvido pelo fundador e alcancem a prosperidade da

organização, independente da posição que esse assuma dentro ou fora da empresa.

Um dos erros cometidos pelas empresas é tratar a sucessão como um

evento, algo que pode ser feito num curto período. Na verdade, a sucessão deve ser

vista como um processo sempre feito com a maior antecedência possível, e não

envolver só o sucedido e o sucessor, e sim, todos que fazem parte da vida da

empresa, como funcionários, fornecedores, clientes e credores.

Lourenzo (1999, p. 101), apresenta um conjunto de dificuldades no processo

sucessório:

Centralização do poder pelo fundador;

Incompatibilidade na visão estratégica entre sucessores e fundador;

Conflitos familiares;

Resistência do fundador em se afastar do comando;

Falta de planejamento da sucessão;

Interferência de clientes, fornecedores ou empregados antigos;

Falta de apoio do sucedido na troca de comando;

Sucessores sem vocação ou com falta de interesse pelo negócio;

Falta de preparo dos sucessores.

É fato que a sucessão é um dos fatores críticos para o sucesso das empresas

familiares e “a falta de planejamento ou orientação para enfrentar a sucessão com o

38

devido preparo esta entre as mais frequentes explicações para a derrocada de

grupos familiares” (WERNER, 2004, p. 50).

Um processo organizado de sucessão, geralmente envolve alguns pontos

principais. Apesar de não existir uma formula que possa ser aplicada em qualquer

empresa, alguns passos são indicados por autores e consultores.

Basicamente, duas escolas com posições definidas se dividem na forma de

preparo dos sucessores, segundo Bornholdt (2005).

A primeira, acredita que o preparo do jovem deva ser feito dentro da empresa,

começando de baixo e subindo gradativamente para o topo. As principais vantagens

dessa linha são: o conhecimento de toda a empresa, incluindo seus produtos,

processos, processos formais e informais, proximidade com as pessoas que

trabalharão sobre seu comando e um aprofundamento na cultura organizacional.

A segunda escola defende a idéia da preparação do herdeiro fora da

empresa, fazendo carreira em outras empresas antes de assumir seu papel dentro

da empresa da família. As grande vantagens são desenvolver habilidades sem os

vícios da sua empresa familiar, adquirir capacidade empresarial sem a pressão de

“ser o herdeiro” e conhecer outros métodos de administração e culturas

organizacionais.

O mais importante é poder adaptar as bases da preparação técnica dos

herdeiros de forma ajustada a particularidade de cada empresa. Levar em conta seu

aporte financeiro, sua estrutura física e alguma característica que pode acelerar o

processo de sucessão. O que não pode ser esquecido é que quanto mais cedo

começar o processo, maior a possibilidade de êxito.

Além da qualificação técnica, alguns fatores subjetivos e de comportamento

devem ser levados em consideração segundo afirma Lodi (2000, p. 1):

A competência sem a integridade e o comprometimento não dá segurança. Um sucessor escolhido que não consiga a confiança em sua honestidade, não tome decisões no interesse da empresa e não saiba se comunicar com os acionistas e “stakeholders”, não serve, não importa a sua qualificação em outros aspectos.

39

Com o desenvolvimento da governança nas empresas familiares e a criação

dos conselhos de administração e da família, a estruturação e a criação de planos

para a sucessão e a longevidade da empresa ganham novo foco através de ações

que, além de preparar para o futuro, buscam minimizar os conflitos que por ventura

aconteçam nesse período.

As recomendações da aplicação governança nas empresas familiares

geralmente é a utilização de um comitê para a definição de critérios para o acesso

dos herdeiros nas empresas. Geralmente esses critérios integram o acordo

societário (BORNHOLDT, 2005, p. 67).

O autor ainda relaciona alguns passos que devem ser dados pela empresa

para preparar os sucessores. Primeiramente, devem passar por um estagio de

férias, programas de treinee gerencial, e conhecimento de funções técnicas e

gerenciais da empresa.

Um ponto interessante, é que para esse passo seja proporcionado a todos os

herdeiros, independente do nível de interesse e de carreira que irão seguir. Esse

conhecimento básico, ajuda na comunicação e no entendimento da tomada de

decisão dos gestores à frente da empresa.

Cumprida a primeira parte, passa-se para os estágios subseqüentes:

A empresa precisa possuir uma descrição de perfil com as

competências e exigências curriculares para cada uma das etapas:

É importante ter a descrição dos planos de carreira para as

competências gerenciais e técnicas;

A empresa precisa descrever regras para quem faz o “caminho

interno”, seguindo cada passo; e

É muito útil descrever o perfil e os critérios de entrada para quem faz

“carreira externa” e pretende entrar mais tarde numa das posições

previstas.

40

Ainda segundo Bornholdt, após a finalização do processo de sucessão, um

ator não pode ser deixado de lado: o sucedido. Por sua história, relacionamentos e

conquistas dentro da organização, é natural que exista um sentimento complexo. A

passagem do poder simboliza também a “perda da identidade”, e ficar sem

atividades, sem desafios, pode trazer um sentimento de infelicidade que pode refletir

na interferência da nova gestão, atrapalhando assim, sua evolução.

Segundo Cecília Lodi (2000, p. 1), “assistir de sua poltrona, em casa, a gestão

da empresa por seus filhos pode causar toda a sorte de sentimentos positivos e

negativos. Ciúme é o sentimento mais habitual”.

É fato que a sucessão é um processo complexo, porém se for bem

organizado e bem operacionalizado, principalmente baseados nas estratégias de

governança, a possibilidade de êxito cresce exponencialmente.

2.8 Governança Corporativa

O desenvolvimento da governança corporativa teve uma aceleração nos

últimos anos em virtude da expropriação de riqueza dos acionistas, por parte dos

gestores em empresas com uma estrutura pulverizada e de acionistas minoritários

que não conseguiam fazer valer sua participação nas decisões empresariais,

principalmente após alguns escândalos empresariais nos Estados Unidos, Japão e

Itália.

Os conflitos ou problemas de agência ocorrem quando existem visões e

praticas diferentes dentro de uma organização por seus stakeholders no momento

em que cada um deles tanta tirar proveito de sua ação para maximizar seus ganhos.

Jensen e Meckling (1976, p. 38) definem um relacionamento de agencia como

“um contrato no qual uma ou mais pessoas – o principal – engajam outra pessoa – o

agente – para desempenhar alguma tarefa em seu favor, envolvendo a delegação de

autoridade para a tomada de decisão pelo agente”. O Conflito de agencia existe

justamente quando os interesses individuais sobrepõem os interesses

organizacionais.

O processo de governança corporativa procura, dentro do atual cenário,

estudar formas e caminhos de desenvolver critérios de convivência mais harmoniosa

41

entre o capital, a gestão, a família e a sociedade nos quais está inserida (Bornholdt

2005, p.26).

Segundo a Organization for Economic Co-Operation and Development -

OECD (2005) governança corporativa é um conjunto de relações entre a gerência

corporativa e o conselho diretivo e demais grupos que possuam algum vínculo direto

com a empresa. A partir desse principio, pode-se afirmar que a governança fornece

a estrutura pela qual os objetivos da companhia são definidos, assim como os meios

para atingir esses objetivos e monitorar seu desempenho.

Para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), governança corporativa “é o

conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar o desempenho de uma

companhia ao proteger todas as partes interessadas e envolve, principalmente:

transparência, equidade de tratamento dos acionistas e prestação de contas”.

(Cartilha de Governança, 2002)

Os estudos sobre Governança surgem com Coase em 1937, com a

publicação de seu artigo The Nature of the Firm, no qual trata a Teoria da Firma e os

Custos de Transação.

Com o objetivo de minimizar esses custos de transação e trazer um

diferencial competitivo para as empresas, alguns mecanismos de governança foram

indicadas, principalmente por Williamson (1989), North (1990) e Zylbersztajn (1995)

(apud LOURENZO, 2006).

Santos e Leal (2007) ressaltam que o conceito de governança corporativa não

se restringe apenas as empresas de capital aberto e que são listadas na Bolsa de

Valores, mas se aplica a todas as empresas que procuram uma relação de

transparência e confiança com as partes que mantém algum relacionamento.

Diante das particularidades apresentadas na gestão das empresas familiares

e da abrangência apresentadas nas teorias da governança corporativa, esta se

apresenta como uma estratégia capaz de contribuir para a minimização dos conflitos

e o consequente desenvolvimento da empresa familiar.

42

2.9 Estratégias de Governança em Empresa Familiar

Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, a governança na

empresa familiar estabelece as relações não só em âmbito da separação entre

propriedade e gestão, mas nas relações entre a família, patrimônio societário, e

empresa. Como consequência, o sucesso na questão da governança na empresa

familiar depende da capacidade da família em definir sua atuação nessas três

esferas, criando mecanismos formais e legais para administrar suas diferenças e

conflitos.

Barney (1996, p. 340) afirma que quanto mais preparada uma empresa

estiver para poder criar uma vantagem competitiva frente a uma oportunidade ou

uma ameaça do mercado, com um menor custo de transação, mais fácil será para

aplicar estratégias que desenvolvam a empresa baseado nas escolhas advindas da

governança.

C. K. Prahalad (1998) afirma que “as competências essenciais são o

aprendizado coletivo na organização, (...) competência essencial é comunicação,

envolvimento e um profundo comprometimento em trabalhar através das fronteiras

da organização”.

Para Bornholdt (2005) os princípios da governança na empresa familiar estão

ligados a todos os relacionamentos entre a família (sócio e herdeiros) e entre a

empresa (gestores familiares ou não) e como “o espaço onde a racionalidade e a

objetividade de normas e regras entre os sistemas família, empresa e sociedade, e

os diferentes sentimentos podem aparecer e ser elaborados e integrados às

conquistas individuais e coletivas e às renúncias pessoais”.

43

Figura 6: Esquema de Governança Corporativa em Empresa Familiar Fonte: Bornholdt, 2005.

A profissionalização da gestão é um dos pontos de busca da empresa

familiar, por acreditar que ela pode trazer benefícios administrativos que contribuirão

para a longevidade da empresa.

A forma como deve-se enxergar a profissionalização da gestão é o ponto

inicial para que ela ocorra de forma a realmente criar valor a empresa. Lodi (1998, p.

25) ressalta que “esse vocábulo de fácil transito não passa mesmo de uma confusão

semântica, pois ao tentar explicar tudo acaba não tendo precisão”.

Ainda para Lodi, profissionalização:

é o processo pelo qual uma organização familiar assume praticas administrativas mais racionais, modernas e menos personalizadas; a adoção de determinado código de formação ou de conduta num grupo de trabalhadores; ou a substituição de métodos intuitivos por métodos racionais (ibid, p. 25)

Código de Ética, condutas e princípios

Conselho de Familia

Estratégias Desempenho Indicadores

Retorno

Assembléia de Acionistas

Conselho de Administração

Critérios para entrar/sair

Remuneração Carreira

Transações Votos

Regimes Valores

Família

Sociedade Empresa

44

Com o advento da profissionalização na empresa familiar, a governança

apresenta algumas formas de apoio à gestão, que irá variar de acordo com o porte,

geração e número de herdeiros. A estrutura de governança nessas empresas

geralmente se constitui de conselhos de apoio, definidos como: conselho de família,

conselho societário, conselho de administração e grupo executivo.

Os primeiros passos para a profissionalização das empresas em geral no

Brasil surgem em 1976 com a criação da Lei das Sociedades de Capital Aberto,

onde era exigido a criação de um conselho de administração nessas empresas.

Pela situação do mercado na época da criação da lei, com uma demanda

maior do que a oferta, as empresas não tinham grande preocupação em criar

conselhos de administração efetivos e atuantes, a grande maioria dos membros

desses eram apenas amigos pessoais ou aliados políticos, uma espécie de ação

entre amigos. (BORNHOLDT, 2005, p.76)

Com o desenvolvimento do mercado e o crescimento da oferta, a

competitividade aumentou e a diferenciação por meio de competências gerencias

apontam quais empresas deverão ter um maior sucesso. O que era uma

competência no passado, passou a ser uma exigência num ambiente com uma

gestão muito mais complexa e com riscos maiores.

De uma forma mais ampla, Bornholdt (2005) menciona outras formas de

conselhos que devam funcionar sempre pautados nas boas práticas da governança

corporativa, como transparência, equidade, prestação de contas, e responsabilidade

corporativa e social. Estes conselhos são:

Conselho de família;

Conselho de administração;

Conselho superior;

Gestão executiva;

Conselho consultivo;

Conselho fiscal, auditoria independente; e

45

Conselho de sócios e assembléia de acionistas.

Esses órgãos da governança corporativa são os instrumentos unificadores

dos sistemas família, propriedade e gestão, permitindo assim atender as demandas

de cada um dos sistemas e da intersecção entre eles, criando um alicerce para a

perpetuação da empresa.

Para Bornholdt, (2005, p.79) O Conselho de Família é um órgão optativo, mas

de fundamental importância. Delibera sobre os interesses e expectativa dos

familiares nos negócios. Também cuida de suas participações na sociedade e zela

pelo patrimônio dos sócios e acionistas, além disso administra os conflitos de

interesse entre familiares, deixando-os restritos ao âmbito desse conselho,

diminuindo a ingerência e as interferências nas decisões.

John Davis (2006, p.237), afirma que há pelo menos quatro razões para se

formar um Conselho de Família:

1. Trata-se de um cenário ideal para se educar os membros da família

sobre os direitos e responsabilidades advindos da propriedade de uma

empresa e sua gerência;

2. Ele ajuda a esclarecer os limites entre a família e a empresa, e dá, aos

membros que estão nos círculos da empresa ou de propriedade, a

oportunidade de serem ouvidos. Isso reduz a probabilidade de

assuntos embutidos nas decisões empresariais e vice-versa.

3. A experiência mostra que as famílias que possuem empresas usam

frequentemente reuniões informais, como aniversários, Natal ou

Páscoa, para discutir assuntos prementes de negócios familiares,

usualmente com resultados frustrantes. Um conselho de família provê

o cenário adequado, no qual os parentes podem discutir seus assuntos

sem tumultuar os eventos familares com discussão de negócios; e

4. O Conselho pode prover a estrutura que ajudará a família a criar uma

visão comum e um “código de compreensão” – um plano familiar.

46

O Conselho de Administração é um dos mais importantes órgãos da

Governança e tem por objetivo dar suporte a administração para melhorar seu

desempenho e criar riqueza para as empresas e para a família acionista. Tem sido

visto também como um órgão estabilizador das relações entre acionistas, executivos

e familiares e, ao mesmo tempo, como agente de mudanças para os novos tempos.

Para Davis (2006, p. 229) a estrutura do Conselho de Administração irá

depender do estágio de desenvolvimento do sistema, particularmente nas

dimensões de propriedade e empresa, porém cita três finalidades fundamentais de

um Conselho de Administração:

1. Considerar e representar os interesses dos proprietários;

2. Formular e monitorar o objetivo estratégico de longo prazo das

empresas; e

3. Ser o principal conselheiro para o executivo principal

Bornholdt (2005, p. 115), complementa com mais cinco pontos que o

Conselho de Administração tem que seguir para cumprir sua missão:

1. Proteger o patrimônio da organização e dos acionistas;

2. Agregar valor ao negócio;

3. Zelar pela cultura organizacional (crenças, valores e princípios);

4. Cuidas para a perpetuação e o futuro da empresa; e

5. Contribuir para o pensamento e o posicionamento estratégico.

A composição do Conselho esta ligada diretamente ao sucesso do mesmo e

da gestão da empresa. Esses critérios seguem um processo de profissionalização,

com a participação de membros externos, remuneração dos membros do conselho e

principalmente, uma maior atuação e cooperação para o bom desempenho e

perpetuação da empresa.

De acordo com o IBGC (2009) a missão do conselho de administração é

“proteger e valorizar o patrimônio da companhia e maximizar o retorno do

47

investimento. O conselho deve ter pleno conhecimento dos valores da empresa,

propósitos e crenças, zelando pelo seu aprimoramento”.

A implementação desses conselhos esta ligada diretamente ao porte da

empresa, a complexidade do sistema familiar e societário. Além da definição de

quais conselhos comporão a estrutura da empresa, é necessário definir de forma

inteligente os integrantes de cada um dos conselhos e qual o papel que será

desempenhado por eles durante sua gestão.

Vidigal (1996) cita a importância da presença de conselheiros externos, pois

esses levam para a empresa novas visões, além de poder atuar como uma força de

moderação em caso de conflitos entre os familiares.

O Protocolo Familiar é mais um dos pontos estipulados pela governança que

apóia a gestão e minimiza os conflitos dentro da empresa. O protocolo visa

estabelecer regras, dentro de um Código de Ética, que servirá como base do

pensamento e valores, e, principalmente, do comportamento das gerações que

sucederão a responsabilidade pela gestão da empresa.

Algumas condutas, principalmente dos familiares, conselheiros e os principais

executivos, são as referências da organização, já que são eles que formam a cultura

da organização. Se houver desvios de conduta entre os que tem por obrigação

comandar a organização, esses desvios permearão toda a organização.

De acordo com o IBGC (2004), de um modo geral, um código precisa cobrir

principalmente os seguintes assuntos:

Cumprimento das leis e pagamentos de tributos;

Pagamentos ou recebimentos questionáveis;

Conflito de interesse;

Informações privilegiadas;

Recebimento de presentes;

Discriminação no ambiente de trabalho;

48

Doações;

Assédio moral e sexual;

Atividades políticas;

Relações com a comunidade;

Uso de álcool e drogas;

Direito à privacidade;

Nepotismo;

Política de negociação das ações da empresa;

Processos judiciais e arbitragem;

Mútuos entre partes relacionadas; e,

Prevenção e tratamento de fraudes.

Para as empresas familiares, Bornholdt (2005, p. 167) adiciona alguns pontos

específicos, devido a complexidade em relação aos conflitos de interesse e pelo

interesse futuro na organização:

Usar a imagem e o prestígio da empresa;

Fornecer produtos ou serviços para a empresa da família;

Representar a empresa familiar no mercado;

Usar o tempo da empresa para uso pessoal e/ou da família;

Usar bens e serviços da sociedade;

Usar empregados, fornecedores ou clientes da empresa;

Viajar a serviço ou participar de seminários e congressos com a

família; e,

49

Emprestar dinheiro da empresa ou para ela.

A amplitude da governança e as metodologias que ela fornece para organizar

e principalmente estruturar a gestão das empresas traz benefícios para a empresa

familiar principalmente pelo foco profissional e formal em sua estrutura apesar de ser

extremamente flexível às particularidades das empresas familiares.

2.10 A implementação da Governança nas Empresas Familiares

Inicialmente, a implementação da governança pode gerar algum desconforto

inicial, por se tratar de uma mudança tanto na estrutura da empresa, como no

comportamento das pessoas que estão envolvidas na gestão, na família e na

sociedade.

A implementação da governança corporativa pode ocorrer simultaneamente

em mais de um sistema, ou em apenas um deles de cada vez. O que deve ser um

dos motivos direcionadores da prioridade de inicio são as inquietudes na gestão, as

necessidades de organização e os conflitos já instalados.

Com base nas publicações, pode-se afirmar que não existe um modelo

padronizado e estruturado que possa ser aplicado em qualquer empresa familiar no

mundo. Esses modelos se relacionam muito com a cultura empresarial do local

aonde a empresa exerce suas atividades. Mas práticas bem sucedidas em outros

países podem servir de referência para reflexões e adaptações. Bornholdt completa

esse idéia ao afirmar que “as opções não são as mesmas para todas as empresas.

Mas os conselhos de administração ainda ocupam o maior espaço dos debates e

das preocupações entre executivos, investidores e consultores” (2005, p. 76).

Lourenzo (2006) propõe um modelo implementação da Governança para

empresas brasileiras de pequeno e médio porte que ainda estejam na passagem da

primeira para a segunda geração, conforme ilustrado na figura 7:

50

Figura 7. Modelo de Implementação da Governança na Empresa Familiar Fonte: Adaptado de Lourenzo, 2006

A divisão de proposta por Lorenzo em 4 etapas visa facilitar a separação de

cada uma das partes envolvidas no processo para, posteriormente, agrupá-las e

integrá-las em torno do objetivo geral da empresa. A contratação de um mentor, ou

consultor externo, também é um dos pontos sugeridos por Lourenzo no seu modelo.

Além de conhecimento técnico e experiência em governança corporativa, talvez

exista a necessidade de um profissional ligado a área comportamental durante a

execução da implementação (2006, p. 93).

Segundo Bornholdt (2005, p. 32) a implementação da governança nas

empresas familiares, com um respectivo acordo societário, é a chave para diminuir

desavenças, regras conflitos de interesse e perpetuar a organização. É um processo

DIAGNOSTICO

FAMILIAR/

EMPRESARIAL

Conscientização Palestra Familiar

Reuniões Privativas

DIAGNÓSTICO DA

ESTRUTURA

Encontros Societários

Evento Familiar

- Monitoramento

- Correção de

Desvios

Reuniões do Conselho

Reuniões Privadas

- Identificação dos

conflitos - Mapeamento do

poder

ACOMPANHAMENTO DO MODELO

- Estabelecimento

do Protocolo Familiar

- Conselhos

- Aplicação da

Governança

Familiar

IMPLEMENTAÇÃO

DO MODELO

Reuniões de Conselho Desenvolvimento

Societário e Familiar

51

e um instrumento que permite a redução de ansiedades, geram adesão, coesão e

uma melhoria na qualidade de vidas das famílias empresárias.

O autor ainda completa afirmando que “no futuro, a implementação das boas

práticas de governança não será mais uma opção a ser considerada. Ou as

empresas adotam as praticas recomendadas ou tendem a sair do mercado”.

(BORNHOLDT, 2005, p. 77)

52

3. METODOLOGIA

3.1 Natureza do Estudo

O estudo teve natureza aplicada, abordando o problema de forma qualitativa,

que, segundo Richardson “podem descrever a complexidade de determinado

problema, analisar a interação de certas variáveis em maior nível de profundidade e

entendimento”. (1989, p. 39)

A pesquisa foi conduzida segundo o modelo de estudos descritivos (SELLTIZ

et al, 1975, p. 75), buscando verificar a possível relação entre as variáveis

“governança”, “minimização de conflitos”, com um foco especifico aos conflitos

advindos com a sucessão, como fatores que podem assegurar o melhor nível de

competitividade, não necessariamente no sentido causal hipotético, mas sim no

sentido relacional.

A operacionalização da pesquisa foi realizada através de um estudo de caso

definido por Gil (1999) como um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos

objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado.

Nesse sentido, foi identificado na cidade Porto Velho - Rondônia, o Grupo

Rovema, empresa que se enquadra na definição de empresa familiar apresentada

por Donneley em 1964, conforme anteriormente descrita no referencial teórico, onde

os mecanismos de governança começaram a ser aplicados.

3.2 Operacionalização da Pesquisa

A operacionalização da pesquisa seguiu as seguintes etapas:

1. Com base no referencial teórico, foi relacionado o Grupo Rovema para

realização do estudo de caso. A empresa selecionada qualifica-se na definição de

empresa familiar segundo Donneley (1964) e apresenta em sua gestão, a aplicação

de mecanismos, ligados às teorias da Governança, o que permitiu traçar uma

relação entre a aplicação desses mecanismos e a minimização dos conflitos.

53

2. Foi aplicado um questionário sócio-demográfico, buscando identificar a

configuração da estrutura da empresa; o tipo de gestão adotado; o tipo de

participação dos funcionários na gestão; o tipo de formação dos partícipes internos e

o rendimento alcançado, atingindo assim, o primeiro objetivo específico indicado no

projeto. O questionário foi desenvolvido com base nas definições apresentadas pelo

Modelo dos Três Círculos de John Davis (2006), possibilitando a identificação e

compreensão de cada um dos sistemas envolvidos na empresa familiar:

Propriedade, Família e Gestão.

3. Foi realizado o exame de ferramentas documentais utilizadas no

processo de gestão, que corroboraram com a identificação dos processos de gestão,

ligados a governança, fossem eles formais ou informais, ligados a gestão e também

a aspectos mais subjetivos de comportamento, buscando estabelecer relações

possíveis com os conflitos existentes.

4. Foi utilizado como material de apoio à análise, a pesquisa desenvolvida

pela MB Consultoria nos dias 10, 11 e 12 de novembro de 2009 em Porto Velho -

RO e nos dias 19 e 20 do mesmo mês em Manaus – AM. A pesquisa da MB

Consultoria teve como objetivo apresentar um Diagnóstico de Alinhamento entre

sócios e Herdeiros do Grupo em estudo. A mesma foi realizada com 25 (vinte e

cinco) pessoas, entre sócios, herdeiros e familiares que atuam ou não nas empresas

do Grupo. Familiares com idade inferior a 17 (dezessete) anos, não participaram.

Com base nas informações da pesquisa, foi possível compreender, de forma

quantitativa, o comportamento e as relações dentro da empresa, principalmente no

que se refere ao conhecimento e percepções dos mecanismos de governança.

5. Também foi desenvolvido um questionário semi-estruturado, que

passou a ser uma entrevista semi-estruturada, com o objetivo de sistematizar

informações sobre os fatores determinantes da governança, seu conhecimento e

aplicação por parte dos gestores e funcionários. Essa mudança na forma de

aplicação do questionário semi-estruturado deu-se por solicitação dos gestores da

empresa, que receavam por uma saturação dos potenciais entrevistados, já que a

empresa vem desenvolvendo entrevistas e pesquisas para aprimorar a sua gestão.

O questionário utilizado foi adaptado da ferramenta de pesquisa utilizada por

Lourenzo (2006), em sua Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de

54

Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da

Universidade de São Paulo, sob o título: “Estratégias de Governança na Empresa

Familiar – Modelo para Redução de Conflitos e Perpetuação da Empresa”. Essa

entrevista semi-estruturada corroborou para a compreensão dos gráficos

desenvolvidos pela MB Consultoria em sua pesquisa.

6. Por fim, procedeu-se a comparação descritiva dos fatores conceituais

da governança e sua apropriação na prática pelos gestores da empresa, buscando

construir a análise do processo de governança existente e suas características de

impacto no processo sucessório.

3.3 Caracterização Amostral

O Grupo Rovema contempla quatro importantes pontos que podem

proporcionar uma maior qualidade a pesquisa. Se enquadra na definição de

empresa familiar adotado no referencial teórico, está em fase de sucessão, aplica

algumas estratégias de governança em sua gestão e permitiu acesso as

informações solicitadas e necessárias no transcurso da pesquisa.

3.3.1 O Grupo Rovema

O Grupo Rovema iniciou suas atividades no ano de 1985 no ramo de Bombas

Injetoras com as demais atividades incrementadas ao longo do desenvolvimento da

região.

Hoje, o Grupo é composto por 8 empresas em segmentos distintos da

economia sendo eles: Concessionárias Scania, Fiat, Suziki e Iveco, Remopeças,

Rovema Energia, Fazenda Rio Madeira Agropecuária e Locadora Hertz.

O grupo possui 470 funcionários sendo que nove desses funcionários são

membros da família. O grupo esta sob o comando da primeira geração das famílias

e apresentava como forma de gestão a centralização das decisões estratégicas em

dois membros do conselho.

Preocupados com os rumos da organização em decorrência do seu

crescimento e da perspectiva de desenvolvimento econômico do Estado de

Rondônia, os gestores do grupo iniciam um processo de preparação para a

55

sucessão das empresas do grupo, iniciativa que veio ao encontro de uma exigência

do Grupo Scania de que suas representantes começassem um processo de

planejamento de sucessão.

Diante disso, a empresa contrata a consultoria externa da empresa Lodi

Consultoria, coordenada por Cecília Lodi para utilizar a governança como um

processo de gestão capaz de organizar a estrutura do grupo, minimizar os conflitos

existentes e criar um diferencial de mercado.

O trabalho de consultoria e estruturação começou em julho de 2005, com o

primeiro encontro de sensibilização dos proprietários e dos integrantes da família da

necessidade de uma preparação para a sucessão no grupo.

No total, foram seis encontros que duraram até maio de 2006 e trabalharam

pontos como a reestruturação do mapa societário, código de conduta, reorganização

de testamentos, critérios de ingresso de familiares no grupo e organização e

implantação do conselho de administração do grupo.

Depois do termino das reuniões da consultoria e da implementação das

exigências e estrutura proposta, a empresa se prepara para a segunda fase da

reestruturação que é a utilização do Balanced Scorecard como ferramenta de apoio

gerencial.

56

4. RESULTADOS OBTIDOS NA PESQUISA

Este capítulo compreende a descrição e análise dos resultados da pesquisa

aplicada no Grupo Rovema em 2010 que possibilitou o conhecimento sobre a

percepção do negócio, a percepção de futuro da empresa, a cultura organizacional e

as expectativas pessoais.

Essas informações possibilitaram verificar se os mecanismos de governança

conseguem de fato minimizar os conflitos e fortalecer o processo de sucessão.

4.1 Análise Descritiva

Os gráficos apresentados foram todos adaptados ou retirados da pesquisa

feita pela MB Consultoria e os comentários e análises, complementadas com as

informações das entrevistas com membros da família.

4.2 Tabulação Simples dos Dados

A seguir apresenta-se a tabulação simples dos dados, realizada com a

ferramenta Microsoft Office Excel 2007. Após a tabulação procedeu-se à análise

individual dos dados levantados na pesquisa através da aplicação dos questionários

e a correlação estabelecida para análise.

57

4.3 Caracterização dos grupos pesquisados.

Dentro do grupo pesquisado, pode-se fazer uma divisão levando em

consideração sua participação acionária e sua posição no Modelo dos Três Círculos

de John Davis (2006).

Classificação Descrição Qtde de

Pessoas

1 Familiares sem participação nos outros sistemas 6

4 Familiares proprietários sem participação na

gestão

9

6 Gestores familiares e não proprietários 2

7 Familiares, gestores e proprietários 8

Figura 8: Disposição dos membros do Grupo Rovema no Modelo dos Três Círculos Fonte: Dados da pesquisa, 2010

Ainda sobre uma diferente análise é possível dividir este grupo de uma outra

forma e assim, identificar os membros da 1ª geração que tem participação societária,

num número de 6 (seis) pessoas, herdeiros da 2ª geração dos sócios do Grupo, com

8 (oito) pessoas e familiares, como cônjuges e/ou parceiros dos sócios e/ou

herdeiros do grupo num total de 11 (onze) pessoas.

Essa primeira análise nos permite verificar a divisão dos familiares dentro de

cada um dos eixos do Modelo dos Três Círculos, relacionando com as ansiedades e

preocupações que cada um desses membros trás consigo e os potenciais problemas

e conflitos que podem surgir dessa configuração, com base nas teorias e pesquisas,

principalmente Davis e Bornholdt.

Observa-se que apesar de 32% dos entrevistados fazer parte tanto do eixo da

família, quanto da propriedade e da gestão, mostrando que esses têm o

conhecimento e a responsabilidade pelo sucesso ou não do Grupo Rovema, 60%

não fazem parte da gestão, obtendo assim uma ânsia maior por informações sobre o

funcionamento da gestão e dos resultados de todo o Grupo.

58

4.3.1 - Identificação dos entrevistados

Como forma de conhecer o perfil social dos membros das famílias do grupo

estudado, a primeira parte da pesquisa buscou levantar informações referentes ao

lado pessoal com dados que podem colaborar no entendimento das aspirações pela

sucessão e os possíveis conflitos decorrentes desse processo.

Uma das variáveis pra entender o momento que se encontra o eixo da família

é a idade dos membros da mesma, pelas informações da pesquisa, é possível

afirmar que a maioria dos membros da empresa se encontra na idade de 26 a 41

anos.

Ainda é possível identificar que a maioria dos membros da 1ª geração tem

sua faixa etária entre 31 e 50 anos e a 2ª geração com até 35 anos, o que pode

classificar a família, dentre outros fatores, no Modelo Tridimensional de

Desenvolvimento (DAVIS, 2006), como uma sociedade entre irmãos.

Ao analisarmos a idade dos participantes da empresa, esse momento é

primordial e decisivo da sucessão. Apesar de haver alguns mecanismos de

Governança já instalados, as idades já avançadas conforme levantado nos dados da

MB Consultoria, apresenta que o momento da entrada de novos membros na gestão

e o questionamento sobre a propriedade irá acontecer.

Corroborando com essa informação, as entrevistas com alguns membros do

Grupo Rovema, mostraram uma preocupação com o investimento tardio nesse

processo, que acabou sendo acelerado pelo falecimento de seu principal gestor e

acionista.

59

Gráfico 1 – Faixa etária dos entrevistados Fonte: MB Consultoria, 2010

Com a exigência do nível superior para o ingresso dos familiares nas

empresas do Grupo, conforme exposto nos Critérios de Ingresso de Familiares,

outro ponto importante para análise foi o grau de escolaridade dos entrevistados.

Gráfico 2 - Grau de Escolaridade dos Entrevistados Fonte: MB Consultoria, 2010

Os dados sugerem que essa exigência, que foi definida em 2002, no Critério

de Ingresso de Familiares, faz com que 68% dos entrevistados ou já tenham

concluído ou estejam em fase de conclusão de um Curso de Nível Superior. As

60

especialidades cursadas não estão em sua totalidade ligadas a gestão de empresas,

mas apresenta o interesse dos membros da família em se especializarem,

demonstrando, conforme sugerido por um dos gestores do Grupo, o perfil

empreendedor dos entrevistados.

Um ponto de destaque é que dos oito membros que são proprietários,

pertencem a família e estão na gestão, apenas 3 (três) já concluíram o ensino

superior, e um está em fase de conclusão. Isso demonstra que a maior parte dos

membros que possuem um curso superior, ou estão em fase de conclusão, estão

entre os herdeiros, corroborando com a exigência do Critério de Ingresso de

Familiares.

Essa preocupação da 2ª geração em seguir os Critérios de Ingresso de

Familiares, pode ser considerada um ponto de minimização dos conflitos advindos

da sucessão. Primeiramente por considerar os acordos dentro do Grupo e segundo,

por demonstrar o interesse no conhecimento, dando mais segurança a 1ª geração

no momento de passagem do bastão.

4.4 - Percepção do Negócio

4.4.1 Conhecimento das empresas e ramos do Grupo

Todos os Sócios familiares que trabalham na empresa e herdeiros conhecem

100% das empresas do Grupo e 85% dos membros da família que não são sócios e

nem trabalham na empresa conhecem todas as empresas do Grupo.

Observa-se aqui a falta de conhecimento dos familiares e herdeiros sobre as

empresas que compõem o Grupo Rovema por parte daqueles que não estão ligados

diretamente a gestão do Grupo. Essa falta de informação e conhecimento vai de

encontro com os princípios da Governança Corporativa de transparência e prestação

de contas, bem como com um dos principais motivos da geração de conflito, os

ruídos, ou mesmo, a falta de comunicação entre os familiares e herdeiros não

participantes da gestão.

61

4.4.2 Conhecimento da estrutura funcional da empresa

Perguntados sobre sua percepção da estrutura do grupo, os pesquisados

responderam de forma geral, que o Grupo se apresenta forte e estruturado, mas

com necessidade de uma melhor estruturação.

Gráfico 3: Percepção estrutural do Grupo Rovema Fonte: MB Consultoria, 2010

Numa análise nas respostas de cada um dos grupos pesquisados, pode-se

perceber que os Sócios e Familiares tem opinião parecida e sua grande maioria

acredita que o grupo é forte e estruturado. Essa visão muda no grupo dos Herdeiros,

onde a maioria acha que o Grupo é forte, mas necessita de melhorias na sua

estruturação.

Essa diferença de percepção se justifica principalmente, como citado por um

dos entrevistados, pelo perfil inovador e empreendedor da nova geração. Essa

afirmação corrobora com a análise de que o investimento da nova geração no

aprimoramento e na aquisição de novos conhecimentos, principalmente dos

advindos dos cursos de graduação, possam trazer novos rumos a gestão.

Dentro dessa necessidade de melhorias na estruturação, procurou-se

compreender em quais áreas os entrevistados percebem uma maior necessidade de

melhoria.

62

Gráfico 4: Principais necessidades de melhoria no Grupo Fonte: MB Consultoria, 2010

A gestão e a qualificação dos profissionais foram os dois pontos que

obtiveram destaque junto aos entrevistados.

Um dos pontos citados pelos Gestores do Grupo nas entrevistas, foi a baixa

qualificação da mão de obra local, o que segundo eles, acaba por tirar o foco do

Conselho de Administração das ações e pensamentos relacionados a estratégia,

forçando-os a direcionar seus esforços para muitas atividades operacionais no

sentido de suprir essa deficiência.

Gráfico 6: Opinião sobre o gerenciamento do Grupo Fonte: MB Consultoria, 2010

63

Apesar de afirmar que o Grupo Rovema precisa de melhorias na parte de

Gestão, 67% dos entrevistados acredita que o Grupo é bem gerenciado pelos

executivos que se encontram a frente das empresas.

Numa análise mais destacada, pode-se verificar que tanto Sócios quanto

Herdeiros tem uma visão similar da competência gerencial do Grupo, apenas 1 (um)

dos Herdeiros acredita que os executivos poderiam gerenciar melhor o negócio.

Numa análise aportada pelo Gráfico 3, os herdeiros apresentam uma sugestão de

que é necessária uma mudança na estruturação do Grupo, no entanto pode-se

afirmar pela satisfação da gestão do Grupo Rovema, que essa mudança não

envolve os gestores.

Esses dados corroboram com a percepção coletada durante a entrevista de

que a Gestão do Grupo Rovema tem sido satisfatória, porém, como o grupo esta

num processo de evolução, localizado na fase de expansão/formalização, levando

em conta o Modelo Tridimensional de Desenvolvimento de Davis (2006), além de

uma grande expectativa quanto ao futuro do Grupo, principalmente pelas

oportunidades do mercado no estado (Construção das Usinas Hidrelétricas de Jirau

e Santo Antônio), como a nível nacional (Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de

2016), os membros da família e herdeiros acham necessária uma estruturação mais

profissional e organizada de todas as empresas que envolvem o Grupo Rovema.

4.5 Cultura Organizacional

Outro tópico da pesquisa buscou analisar a participação e o conhecimento da

cultura organizacional do grupo por parte de Sócios, herdeiros e Familiares.

Segundo Kissil (1998), a cultura organizacional ou cultura corporativa é o

conjunto de hábitos e crenças estabelecidos através de normas, valores, atitudes e

expectativas compartilhados por todos os membros da organização.

O primeiro ponto a ser pesquisado analisa a participação e envolvimento junto

a rotina das empresas do Grupo.

64

Gráfico 6: Envolvimento no dia-a-dia da empresa Fonte: MB Consultoria, 2010

Percebe-se através das respostas que mais da metade dos entrevistados

(52%) não recebe informação ou a recebe de modo informal. Essa falta de

informação sobre as atividades diárias das empresas pode contribuir para o

desenvolvimento de conflitos.

No tópico relacionado a opinião sobre missão, visão e valores do Grupo, fica

latente o nível de desconhecimento por parte dos Familiares e também a crença por

parte dos Sócios e Herdeiros de que apesar de conhecerem, não acreditam que elas

sejam cumpridas na íntegra.

65

Gráfico 7: Opinião sobre missão, visão e valores Fonte: MB Consultoria, 2010

Praticamente a mesma situação ocorre quando pesquisado o conhecimento

sobre os mecanismos de Governança adotados pelo Grupo como o Código de Ética,

Acordo Societário e Critério de Ingresso de Familiares.

Gráfico 8: Opinião sobre o Código de Ética, Acordo Societário e Critério de Ingresso de Familiares nas empresas do Grupo Fonte: MB Consultoria, 2010

66

Quase metade dos respondentes, apesar de afirmar conhecer, não acredita

na total cumprimento desses mecanismos, e no eixo dos Familiares, quase metade

os desconhece.

Apesar das respostas dos entrevistados apresentarem, nas perguntas sobre

conhecimento e expectativas de melhoria da gestão do Grupo uma visão de

necessidade de aprimoramento na Gestão, é fato, nas repostas sobre cultura

organizacional, a falta de conhecimento e participação diária no grupo dos

Familiares.

As entrevistas nos mostram que apesar de estarem numa idade que o

interesse pelo ingresso no negócio fica mais latente e de acreditarem que mudanças

na gestão e qualificação dos funcionários do Grupo Rovema, a falta de credibilidade

dada a alguns desses jovens pelos principais gestores, faz com que a necessidade

de informação e comunicação, fique em segundo plano.

Essa falta de conhecimento, principalmente relacionada aos mecanismos de

Governança que já estão aplicados na empresa, mostra uma fragilidade, que pode

fazer com que a estratégia de utilização da Governança no Grupo Rovema, não

atinja o objetivo de criar uma estrutura aonde a divisão de responsabilidades e poder

possa criar um ambiente propício para a busca da inteligência na decisão e não só

por uma relação de poder.

4.6 Expectativas Pessoais

O último tópico da pesquisa buscou conhecer as expectativas pessoais de

gestores, herdeiros e familiares, e uma visão geral sobre expectativas futuras da

participação desses na empresa.

Quanto às expectativas pessoais, o primeiro ponto pesquisado tratou de

identificar a ocupação profissional dos entrevistados como fator a sinalizar a

disposição ao processo sucessório.

67

Gráfico 9: Ocupação profissional dos entrevistados Fonte: MB Consultoria, 2010

O gráfico mostra que mais da metade dos entrevistados não trabalha em

empresas do Grupo, representando principalmente herdeiros e membros da 2ª

geração.

Para os que ainda não atuam no grupo, foi perguntando se tem interesse em

começar a atuar, a grande maioria, disse não ter interesse, principalmente por achar

as exigências dos Critérios de Ingresso de Familiares, uma barreira para a entrada

em alguma empresa do Grupo.

Gráfico 10: Interesse em atuar em alguma empresa do Grupo Fonte: MB Consultoria, 2010

68

Essa demonstração de falta de interesse pode ser um fator que venha a

trazer conflitos dentro da organização. Demonstra claramente uma falta de

conhecimento dos objetivos principais dos mecanismos de governança que estão

sendo aplicados dentro da organização e também uma comunicação deficitária dos

interesses do grupo com essa forma de Gestão.

Apesar da demonstrada falta de motivação para ingressar nas empresas do

Grupo, a contribuição financeira que ele proporciona para as famílias é de

fundamental importância para a sua sustentabilidade financeira conforme

demonstrado no Gráfico 11.

Gráfico 11: Contribuição do Grupo Rovema para sua sustentabilidade financeira Fonte: MB Consultoria, 2010

Apesar da necessidade dos rendimentos do grupo para a sustentabilidade

financeira, a falta de interesse na participação nas empresas do grupo se reflete

principalmente no retorno financeiro que as decisões dos atuais gestores trazem pra

as empresa do Grupo Rovema e também, nas exigências impostas pelo Critério de

Ingresso de Familiares.

Um dos gestores do Grupo complementa a informação da pesquisa ao afirmar

que os jovens só terão mais interesse em participar da gestão, quando houver a

necessidade de trabalharem para se sustentar. Enquanto isso, essa satisfação

69

financeira é um dos motivos da passividade e comodidade em apenas observar a

distância o que ocorre na empresa.

Mesmo demonstrando pouco interesse em trabalhar em uma das empresas

do Grupo, a grande maioria dos entrevistados, ao ser questionado sobre o que

mudariam nas empresas do grupo se tivessem autonomia para isso, citaram uma

reestruturação organizacional e em segundo ponto, melhorias na comunicação

interna.

Gráfico 12: Opinião sobre o que mudaria no Grupo se tivesse autonomia Fonte: MB Consultoria, 2010

Foi possível observar nas entrevistas que o Grupo Rovema passa por um

processo de evolução gerencial, com uma grande preocupação na melhoria da

estrutura organizacional e a implementação de mecanismos de controle, é possível

afirmar que a atual estrutura causa insatisfação, principalmente por verificar a

necessidade de qualificação, seja dos membros externos à família, seja com a

capacitação dos membros da mesma.

Essa necessidade se completa com a informação de que Gestores, Herdeiros

e Familiares vêem oportunidades no mercado local em médio e longo prazo, e

acreditam que a competitividade vai aumentar e a dificuldade em manter o

desenvolvimento e o retorno financeiro do Grupo vai ser cada vez maior.

70

4.7 Gestão e Processos de Governança no Grupo Rovema

Utilizando como base o Modelo dos Três Círculos proposto por John Davis,

pode-se identificar o momento atual que está cada um dos sistemas, representados

por eixos, dentro do Grupo Rovema.

Figura 9: Posicionamento do Grupo Rovema no Modelo Tridimensional de Desenvolvimento Fonte: Dados da pesquisa, 2010

É possível visualizar no Eixo da Propriedade que o Grupo hoje está na fase

de Sociedade entre Irmãos. Ainda por ser um Grupo multi-familiar, existem a relação

de mais de uma família e de diferentes “irmãos” se relacionando na participação

acionário das empresas do Grupo.

Isso implica, conforme afirma Davis (2006, p.41) em alguns desafios-chave

como:

Desenvolver um processo de partilha de controle entre os proprietários;

Definir o papel dos sócios não funcionários; e

Eixo da Empresa/Gestão

Passagem do

Bastão

Trabalho Conjunto

Entrada na

Empresa

Jovem Família

Empresária

Proprietário Controlador

Sociedade entre Irmãos

Consórcio de Primos

Início

Expansão/ Formalização

Maturidade

Eixo da Propriedade

Eixo da Família

71

Controlar a orientação das facções dos ramos das famílias.

Num estudo do Eixo da Família, é possível entender, embora haja a

particularidade de um grupo multi-familiar, que o processo é de Entrada na Empresa.

As principais características dessa fase é ter uma geração mais velha entre 35 e 55

anos e a geração mais jovem entre adolescência e 30 anos.

Os principais fatores de preocupação dessa fase da família, ainda segundo

Davis (2005, p. 73), principalmente quando ligado a um grupo multi-familiar, o que

caracteriza muitos membros na família, a principal preocupação é administrar a

transição da meia idade e um processo de seleção entre os vários membros da

família que por ventura se interessem por papéis executivos dentro das empresas do

Grupo. Além desse desafio, separar e individualizar a geração mais nova e facilitar

um bom processo para as decisões no inicio sobre carreiras é de suma importância

para a manutenção de um bom ambiente entre os familiares e por consequência, na

gestão da empresa.

No Eixo da Empresa/Gestão, observa-se o Grupo, de uma forma geral, num

processo de Expansão/Formalização. Depois de sobreviver ao período inicial, a fase

de expansão/formalização tem como principais características a evolução para uma

estrutura cada vez mais formal e funcional e uma diversificação nos produtos ou

linhas de negócios.

Dentre os pontos mais desafiantes dessa fase estão, segundo Davis: (2006,

p. 114)

Evolução do papel do proprietário-gerente e profissionalização da empresa;

Planejamento estratégico;

Sistemas e políticas organizacionais; e

Administração do caixa.

Com a identificação de cada fase que o Grupo se apresenta, em cada um dos

eixos do Modelo Tridimensional de Desenvolvimento, podemos compreender melhor

a gestão dentro da empresa e fazer um paralelo entre as principais dificuldades

apresentadas por essas etapas e como os mecanismos de governança podem

minimizar esses problemas.

72

4.8 Análise da estratégia de governança no Grupo Rovema

Após o contato com uma consultoria externa e a primeira parte de análise e

conhecimento da estrutura empresarial e de gestão do Grupo, foi identificada a

necessidade de reestruturação do acordo societário.

Por se tratar de um Grupo multi-familiar com várias empresas no Grupo, foi

indicada a criação de uma Holding Administrativa para que a gestão e a divisão da

participação de todos os sócios tivesse proporções bem definidas. Até aquele

momento, existiam três situações distintas: uma definição jurídica de participações;

uma situação “combinada” e uma situação acertada.

O acordo societário unificou e reestruturou cotas e participação de cada um

dos membros da família, seu poder de voto nas decisões da empresa e os

benefícios pela participação na sociedade, bem como a reestruturação dos

testamentos dos membros fundadores da primeira geração das empresas do Grupo.

Esse acordo possibilitou um maior conhecimento e visualização da real situação e

estrutura da empresa, a definição de critérios de ingresso de membros pertencentes

a família e regras para a venda de cotas. Toda a formalização e divulgação da

situação real e regularizada promoveu uma união da família.

Após a estruturação formal e legal da sociedade, o passo seguinte, segundo a

consultoria externa, foi a criação de um Código de Conduta. Os principais pontos do

Código de Conduta tratam de formalizar algumas regras e exigências relacionadas

ao bom convívio e relacionamento entre os Proprietários, Herdeiros e Familiares.

Foram definidas e regulamentadas regras a viagens de negocio e

acompanhamentos, utilização de bens e serviços do grupo por membros da família,

criação por membros da família de empresas concorrentes, definição de porta voz

do grupo, dependendo da situação que deverá ser tratada, regras para discussão

familiares e entrada de familiares do grupo em novos negócios.

No quarto encontro do processo de aplicação dos mecanismos de

governança no Grupo, com o suporte da consultoria, foram definidos os Critérios de

Ingresso de Familiares e a estruturação do Conselho de Administração.

73

A definição de critérios de ingresso de familiares nas empresas do Grupo

representou uma diminuição nos anseios e nos conflitos decorrentes da inveja e

insatisfação de alguns familiares participarem da gestão e outros não.

Alguns dos critérios definidos foram:

O membro da família deve ter cursado uma faculdade e ter, pelo menos,

curso básico de inglês;

Ter no mínimo 21 anos para ingresso como funcionário, ou 16 anos para

ingresso como estagiário;

Passar por um plano de treinamento de 90 dias para conhecimento das

empresas do Grupo e alinhamento com a cultura empresarial e o modelo de

gestão adotado; e

Ter trabalhado em uma empresa fora do Grupo.

Já a criação do Conselho de Administração proporcionou uma oportunidade

de integração de mais membros da família e de gestores que ocupam cargos

estratégicos nas empresas do grupo, mas não fazem parte do circulo familiar. Para

um acompanhamento dos trabalhos e das reuniões do grupo, um consultor externo é

convidado como ouvinte para a participação no Conselho.

Dentro dos mecanismos de governança indicados na literatura, para uma

empresa com o porte e com a definição dentro do Modelo Tridimensional de

Desenvolvimento, a falta da estruturação do Conselho de Família corrobora com a

indicação na pesquisa de um conhecimento na parte da gestão, como apresentado

no Gráfico 5, muito provavelmente em relação do trabalhado no Conselho de

Administração.

Conforme já identificado anteriormente, na fase de expansão

/profissionalização, o Grupo apresenta como principais pontos de conflitos,

primeiramente a falta de conhecimento por parte dos membros não participantes da

Gestão e que também não integram o Conselho de Administração da realidade da

empresa, como exposto nos Gráficos 7 e 8.

Hoje, como o grupo tem um rendimento financeiro satisfatório, essas pessoas

acabam por se acomodar e até mesmo evitar uma participação na empresa, até

74

porque, não existe um mecanismo formal para que elas possam participar, mas é

fato que com a expansão e o amadurecimento das famílias e das gerações mais

novas, existirá uma preocupação natural com a sua participação nas atividades do

Grupo como uma forma de garantir sua sustentabilidade financeira e sua

consequente atividade enquanto empresa.

De outro lado, a ausência de interesse dos herdeiros em ingressar nas

empresas do Grupo, pode provocar uma verdadeira pulverização nas ações do

Grupo ou a necessidade de admissão de profissionais externos para o controle da

gestão.

Segundo Davis (2006) a venda das ações da empresa para terceiros e a

admissão membros externos a família para a gestão do Grupo, não pode ser

considerada uma escolha errada. O mais importante, principalmente para evitar

conflitos entre a família, é o conhecimento das consequências dessas ações para

cada um dos integrantes do eixo familiar.

75

5. CONCLUSÕES

Em análise dos dados coletados com a pesquisa desenvolvida no Grupo

Rovema e dos documentos de gestão utilizados pelo Grupo, e com base nas teorias

da Governança, pode-se identificar se a implementação dos mecanismos desta é

uma estratégia válida para minimizar os conflitos advindos da sucessão.

Com base no Modelo Tridimensional de Desenvolvimento, podem-se

identificar os principais pontos causadores de possíveis conflitos. Porém, os

mecanismos de Governança que já são utilizados pelo Grupo se apresentam,

conforme apontado na literatura e também na pesquisa, como uma boa estratégia

para a minimização dos conflitos de uma forma geral.

O Acordo Societário e o Código de Ética ajudaram a minimizar os conflitos por

interesses na partilha e no controle das propriedades e definiu o papel dos sócios

dentro desse processo, bem como as regras de comportamento de cada pessoa,

independente do papel que ela exerce dentro do Grupo.

No lado da gestão, a criação do Conselho de Administração trouxe aos

membros da família a possibilidade de participar e conhecer o que vem sendo

trabalhando dentro da gestão das empresas do Grupo Rovema. Possibilitou uma

evolução na visão dos proprietários e gestores da primeira geração e a

profissionalização da gestão de algumas empresas do Grupo, com a implementação

de mecanismos de controle e definição de metas atuais e futuras para esses

gestores profissionais.

Porém, ainda é possível observar uma participação da diretoria nos processos

operacionais e com uma tomada de decisão centralizada, o que diminui a agilidade

na tomada de decisão e acaba por desmotivar a participação dos herdeiros junto à

gestão das empresas do Grupo.

Muito dessa situação ainda é causada pela ineficiência no funcionamento do

Conselho de Administração que, apesar de colaborar com uma melhoria na visão

76

dos gestores do Grupo, ainda não exerce todos os papéis e atribuições que um

Conselho deveria desempenhar, como refere Lodi (2000).

Hoje, a empresa se diz apta para a implementação de ferramentas como o

Balanced Scorecard e já realiza um trabalho junto a uma empresa de consultoria

para o desenho de uma nova arquitetura organizacional.

No Eixo da Família, é possível afirmar que o Critério de Ingresso de

Familiares formalizou, estruturou e aumentou o nível de exigência para a entrada

dos familiares na empresa. Isso faz com que a preparação técnica seja levada em

consideração em detrimento do merecimento pela propriedade ou por ser membro

da família, um critério unicamente jurídico hereditário.

Essas exigências técnicas proporcionam uma preparação dos membros da

segunda geração para o processo sucessório. Com mecanismos mensuráveis de

avaliação e seleção, todo o processo se apresenta mais justo a todos os

interessados.

Também é possível afirmar que não existe nenhum conflito explícito em

relação à sucessão. Os gestores que estão à frente do Grupo são bem avaliados

por sua forma de gestão, apesar da pesquisa verificar uma grande intenção de

alterar o modelo atual de gestão da empresa.

A falta de interesse de 67% dos membros da família em atuar no grupo é

preocupante, principalmente por visualizarmos na entrevista que essa falta de

interesse deve-se ao alto grau de exigência do Critério de Ingresso de Familiares

que, na contra mão de seu objetivo, apesar de formalizar os critérios de ingresso,

elevou demais as exigências, causando um desânimo e uma acomodação em

alguns membros da segunda geração.

Inobstante haver uma situação confortável para a primeira e segunda geração

advinda do retorno financeiro que os gestores vêm trazendo para os herdeiros e

membros da família, é preocupante a falta de interesse que a grande maioria dos

herdeiros tem em participar das empresas do Grupo Rovema.

A falta de interesse demonstra, primordialmente, que se tratado de forma

incompleta, sem a devida comunicação e o conhecimento de todos os participantes

77

de cada um dos três eixos da empresa, os mecanismos de Governança podem não

apresentar os resultados esperados, ou ainda, trazer uma reação adversa ao seu

objetivo.

Essa falta de informação pode vir a gerar ruídos para o processo de

sucessão, a partir do momento em que o retorno esperado pelos proprietários

passar a não ser o desejado.

O que pode ajudar a minimizar esse foco de possível desenvolvimento de

conflito é a criação do Conselho de Família, onde seriam aplicados conceitos

básicos de governança como a transparência e a prestação de contas, bem como o

envolvimento de todos na cultura organizacional do Grupo.

Portanto, após análise dos dados coletados e aportados pela literatura sobre

governança e sucessão, infere-se que, mesmo aplicada de forma ainda incompleta

no Grupo Rovema, os mecanismos de Governança se apresentam como uma

estratégia capaz de minimizar os conflitos da empresa familiar, entretanto, a falta de

uma comunicação clara e o conhecimento dos objetivos de cada um dos

mecanismos de governança tem causado um desinteresse na participação dos

membros da segunda geração no Grupo, podendo gerar um conflito maior nesse

processo tão delicado. A organização da gestão e da propriedade, propicia a

tranquilidade para o Grupo poder trabalhar a implementação de todos os

mecanismos de Governança, possibilitando a minimização dos conflitos advindos da

sucessão e preparando a empresa para o sucesso da 2ª geração.

78

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82

7. Roteiro de Entrevista

Nas próximas páginas estão contidas as perguntas formuladas para o

instrumento de pesquisa utilizado no levantamento de dados junto aos membros da

família e gestores do grupo Rovema, conforme descrito no capítulo três.

83

APÊNDICE - A

UNIR – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDONIA

PPGMAD – PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

ROTERIO DE ENTREVISTA

Perspectiva Histórica da Empresa

História da Fundação e entrada de herdeiros

Quanto tempo operando em Porto Velho

Principais crises enfrentadas pela empresa e formas de gerenciamento empregadas

em cada uma delas

Caracterização e Configuração da estrutura da empresa

Perfil do Respondente

Idade:

Formação:

Cargo na Empresa: ( ) Direção ( ) Gerência ( ) Operacional

Membro da família: ( ) sim ( ) não

Tempo na empresa:

Estrutura da Empresa

Setor: ( ) serviço ( ) industria ( ) comércio

Geração familiar no comando: ( ) primeira ( ) segunda

Número de Funcionários: Familiares ____ não familiares ____

84

Existe um organograma? Ele é seguido? Ele atende a critérios de competência ou a

laços de cosanguinidade?

A hierarquia é obedecida?

Os cargos são delimitados

A empresa possui visão, missão e valores declarados? Estes são conhecidos pelos

stakeholders?

Quem exerce o papel de liderança na família, também exerce papel de liderança na

empresa?

Conhecimento de governança corporativa na empresa e de sua aplicabilidade

Existe um protocolo familiar elaborado? Quais foram os participantes da elaboração

do protocolo familiar?

É importante a elaboração de um código de conduta para o desenvolvimento das

reuniões? Existe alguma estrutura definida dentro dessa definição?

Existe a separação da gestão da empresa em conselhos? Quais as atribuições e

responsabilidades desses conselhos?

Qual a sua opinião sobre a preparação de herdeiros para o processo sucessório?

Existem conflitos entre familiares relacionados com a gestão da empresa?

Quais são as principais causas de conflitos?

Como são tratados os conflitos familiares?

Como os conflitos familiares ligados à gestão da empresa podem ser evitados?

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