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Órgão informativo da Federação Nacional dos Engenheiros – Ano XVIII – Nº 172 – Setembro/2016 Sindical A luta dos engenheiros ferroviários por remuneração e valorização Página 4 Entrevista É preciso preservar norma que garante segurança na indústria Página 7 Ywane Yamazaki/Estadão Cinquenta anos da Lei 5.194 Fundamental aos profissionais e à sociedade, legislação que regulamenta a atividade de engenharia e foi promulgada em 24 de dezembro de 1966 precisa ser atualizada à luz das novas tecnologias. Página 5 2016 1966 Neide Makiko Furukawa/Embrapa

Fundamental aos profissionais e à sociedade, legislação ... · valorização de sua atividade. No cenário de batalhas a serem ... mediação da mão de obra.” Como ele indica,

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Órgão informativo da Federação Nacional dos Engenheiros – Ano XVIII – Nº 172 – Setembro/2016

Sindical

A luta dos engenheiros ferroviários por remuneração e valorização

Página 4

Entrevista

É preciso preservar norma que garante segurança na indústria

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Cinquenta anos da Lei 5.194Fundamental aos profissionais e à sociedade, legislação que regulamenta a atividade de engenharia e foi

promulgada em 24 de dezembro de 1966 precisa ser atualizada à luz das novas tecnologias. Página 5

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da Equatorial-Celpa, a concessionária de energia do estado do Pará. A ideia central do grupo que fundou a cooperativa era a de passar de consumidor à condição de “prossumidor”, além de contribuir para o fomento de uma matriz energética brasileira renovável e muito mais barata.Em benefício da sociedade e do meio ambiente, a Coober busca acelerar essa transição de matriz energética centralizada para uma descentralizada, cooperativa, colaboracionista e sustentável, através da capacitação, regulamentações, tributações, financiamentos e plano de desenvolvimento para envolver as pessoas na criação de um

novo modelo energético. A empresa Ser-venlog elaborou o projeto e os engenheiros eletricistas paraenses Makoto Kadosaki e Jander Rego, este com grande experiência no setor elétrico, foram os responsáveis pela implantação e operação do sistema.Para o advogado ambientalista Raphael Sampaio Vale, presidente da Coober, colocar a cooperativa em operação re-presenta uma mudança histórica no setor elétrico brasileiro. “Todos nós estamos na expectativa de começar a gerar a própria energia elétrica de fonte limpa, sem agredir a natureza e sem causar prejuízos às popu-lações que normalmente são afetadas pelos grandes projetos”, afirmou Vale.

Eugenia von Paumgartten é presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Pará (Senge-PA)

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opinião

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ENGENHEIRO – Publicação mensal da Federação Nacional dos EngenheirosDiretor responsável: Murilo Celso de Campos Pinheiro. Conselho Editorial: Murilo Celso de Campos Pinheiro, Carlos Bastos Abraham, Manuel José Menezes Vieira, Disneys Pinto da Silva, Antonio Florentino de Souza Filho, Luiz Benedito de Lima Neto, José Luiz Bortoli de Azambuja, Flávio José Albergaria de Oliveira Brízida, Thereza Neumann Santos de Freitas, Maria Odinéa M. Santos Ribeiro, Modesto F. dos Santos Filho, Clarice M. de Aquino Soraggi, Gerson Tertuliano, Edson Kiyoshi Shimabukuro (licenciado), Sebastião A. da Fonseca Dias, Wissler Botelho Barroso, Francisco Wolney Costa da Silva, José Ailton Ferreira Pacheco, Tadeu Ubirajara Moreira Rodriguez, Maria de Fátima Ribeiro Có, Antônio Ciro Bovo, José Carlos Ferreira Rauen, Lincolin Silva Américo (licenciado), Celso Atienza, Cláudio Henrique Bezerra Azevedo. Editora: Rita Casaro. Revisora: Soraya Misleh. Diagramadores: Eliel Almeida e Francisco Fábio de Souza. Projeto gráfico: Maringoni. Sede: SDS Edifício Eldorado, salas 106/109 – CEP 70392-901 – Brasília – DF – Telefone: (61) 3225-2288. E-mail: [email protected]. Site: www.fne.org.br. Tiragem: 10.000. Fotolito e impressão: Folha Gráfica. Edição: setembro de 2016. Artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não refletindo necessariamente a opinião da FNE.

ao lEitor

Trabalho e profissão na pautaEngenheiro traz em matéria de capa nesta edição debate sobre a Lei 5.194/1966, que regulamenta a profissão da categoria e completa 50 anos em dezembro próximo. Para quem estuda o assunto, a legislação segue sendo fundamental para garantir o adequado exercício das habilitações técnicas e proteger a sociedade. Contudo, as novas tecnologias e lacunas no texto legal que se mostraram relevantes ao longo do tempo apontam necessidade de atualização.

Também na pauta a luta dos engenheiros ferroviários contra o sucateamento do setor e pela valorização de sua atividade.

No cenário de batalhas a serem travadas está a ameaça de terceirização indiscriminada do trabalho, inclusive das chamadas atividades-fim das empresas. O processo representaria grave precarização e não ajudaria a economia.

Na mesma linha, em entrevista, Elenildo Queiroz Santos, presidente do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat), alerta para o risco de se eliminar a Norma Regulamentadora nº 12. A regra estabelece critérios para atividade com máquinas e equipamentos e é fundamental para evitar acidentes que podem resultar em mutilação e morte.

Em C&T, os aplicativos que usam a tecnologia de realidade aumentada que se popularizou com o Pokémon GO, mas pode ter várias utilidades, especialmente na educação.

E mais o que acontece nos estados.

Boa leitura!

Investimento de R$ 600 mil foi bancado pelos 23 integrantes da iniciativa, que ratearão os resultados da microusina solar por meio de desconto diretamente na conta de energia.

Eugenia von Paumgartten

DIAnTE DE VáRIAS dificuldades e do cenário de crise experimentado no País, surge no município de Paragominas, no interior do estado do Pará, um empreen-dimento alternativo para minimizar impactos econômicos, prejuízos ao meio ambiente e às populações que, normal-mente, são afetadas por grandes projetos convencionais voltados à produção de energia. Com capacidade de 75KWp, uma microusina de energia solar fotovoltaica, a primeira do Brasil, foi inaugurada no 5 de agosto último. A iniciativa é da Coo-perativa Brasileira de Energia Renovável (Coober), foi fundada em fevereiro deste ano com base nas novas regras da Agência nacional de Energia Elétrica (Aneel), que entraram em vigor em dezembro de 2015, com o objetivo de estimular a geração de energia pelos próprios consumidores e, assim, contribuir para a diminuição de impactos ambientais e favorecer o desenvolvimento econômico e social.

Para a criação da Coober foram necessá-rios R$ 600 mil, um investimento bancado por 23 cooperados, quase todos profissio-nais liberais, que ratearão os resultados da microusina solar que serão descontados diretamente na conta de energia. Dependen-do do nível de consumo, individualmente, o esperado é que cerca da metade do quadro funcional da cooperativa tenha a sua conta de luz completamente zerada, já que toda a energia produzida será injetada no sistema

Paragominas tem primeira cooperativa de energia renovável do País

Estratégia pioneira no Pará

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sindical

Murilo Pinheiro: é preciso mobilização e pressão sobre o Congresso Nacional.

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aEm pauta no Congresso Nacional, a regulamentação da terceirização deve se tornar realidade, mas é preciso impedir a aprovação de proposta que represente precarização. A análise é de Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). “A dúvida é se o texto se limitará a proteger os terceirizados da atividade--meio das empresas, trazendo benefícios e segurança a esses trabalhadores, ou se, como desejam os empresários e o governo, em lugar disso, retirará direitos de quem é contratado direto, sem a inter-mediação da mão de obra.”

Como ele indica, o fantasma da terceirização ilimitada segue à es-preita. É o que autoriza o Projeto de Lei Complementar (PLC) 30/2015. Já aprovado na Câmara sob o nº 4.330/04 e em tramitação no Senado, tal inclui essa possibilidade em atividades-fim nas companhias e inclusive a chamada “pejotização” – em que o trabalhador é obrigado a abrir uma empresa para ser admitido e exercer função nas mesmas bases que se fosse contratado formal-mente, porém sem quaisquer direitos, como férias e décimo terceiro. Segundo Toninho, há naquela Casa outras propo-sições com escopo menos abrangente (veja quadro). “Se depender da vontade

do relator, senador Paulo Paim (PT-RS), o texto a ser aprovado terá o condão de beneficiar os terceirizados sem prejudi-car os que não são. Existe projeto nesse sentido e mesmo que não houvesse, poderia ser proposto um substitutivo. Porém, a pressão empresarial é pela aprovação do texto oriundo da Câmara.” Ele continua: “As principais causas são a redução de custos da mão de obra, já que os terceirizados recebem menos, trabalham mais, há pouco investimento

em equipamentos de proteção, menos direitos e benefícios sociais.”

Segundo estudo do Departamento In-tersindical de Estatística e Estudos Socio-econômicos (Dieese) elaborado em 2014 e intitulado “Terceirização e desenvolvimen-to: uma conta que não fecha”, a jornada semanal desse segmento – que soma mais de 14 milhões de pessoas no Brasil – chega a ser de três horas a mais do que a dos con-tratados via Consolidação das Leis do Tra-balho (CLT), que são cerca de 35 milhões. E a permanência no emprego se reduz à metade, dada a alta rotatividade – de 64,4%, ante 33% dos diretamente admitidos.

Como observa o presidente da As-sociação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Ger-mano Siqueira, os terceirizados também ganham em média 30% a menos. Além disso, esse contingente é mais frequen-temente vítima de acidentes de trabalho. De acordo com o Dieese, responde por oito de cada dez registrados no Brasil.

A desculpa da criseUm dos argumentos recorrentes do

patronato em momentos de crise, como o atual, para tentar aprovar a terceirização ilimitada é de que impedirá o fechamento de companhias, gerará ou manterá em-pregos. Conforme Siqueira, tal alegação é falaciosa: “Não há nenhum indicativo

convincente de que empresas ‘quebrem’ por conta do modelo trabalhista brasileiro ou de que a economia tenha encolhido por conta da formalização nos limites da CLT.” Ele continua: “A rigor, o custo econômico direto do trabalho no Brasil é dos menores em comparação com vários outros países.” Para o presidente da Anamatra, é, portanto, falso o argumento de que a terceirização serviria à solução da crise no Brasil. Na sua opinião, ao invés disso, impactará negativamente a economia – ao reduzir a remuneração do trabalhador e consequen-temente seu poder de compra, com reflexos deletérios sobre o mercado interno.

Na visão de Toninho, para evitar essa investida contra os trabalhadores, é crucial ao movimento sindical manter a unidade de ação. É necessário ainda “estudar o assunto, denunciar as per-versidades das propostas patronais e governamentais sobre o tema, além de pressionar os parlamentares para que estendam aos terceirizados os mesmos direitos dos contratados diretamente, em lugar de precarizar os direitos desses”.

Murilo Pinheiro, presidente da FNE, enfatiza: “É preciso que a mobilização e a pressão sobre o Congresso Nacional e o Executivo sejam intensificadas, sob pena de profundo retrocesso. É inadmis-sível que se percam as conquistas alcan-çadas em décadas de luta e consolidadas na Constituição de 1988. Temos que caminhar no sentido oposto. A precariza-ção do trabalho é claramente nefasta ao conjunto da sociedade e ameaça nossas intenções de construir uma nação justa, democrática e desenvolvida.”

Movimento sindical deve lutar para evitar retrocessos e garantir proteção a direitos

Terceirização é precarização do trabalhoSoraya Misleh

Modelo brasileiro ou regras previstas na CLT não prejudicam economia ou representam custos elevados, afirma presidente de associação nacional de magistrados.

• PL 30/2015, do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), permite que qualquer ativida-de de uma empresa possa ser terceirizada. Aguarda leitura de requerimento do sena-dor Paulo Paim (PT-RS), que solicita a tra-mitação conjunta do PLS 300/2015 (o que já ocorre com os PLS 87/2010 e 447/2011).

• PLS 87/2010, do senador Eduardo Aze-redo (PSDB-MG), abre a possibilidade de que a terceirização abranja qualquer atividade da contratante.

• PLS 554/2015, dos senadores Paulo Paim (PT--RS) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), regula os contratos de terceirização e distingue entre atividades essenciais (ou inerentes) e não essenciais (não inerentes ou ainda atividades-meio) como fator de legitimação legal da terceirização de serviços no Brasil. Aguarda designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

• PLS 447/2011, do senador Sérgio Souza (PMDB-PR), visa determinar a respon-

sabilidade solidária da administração pública e da tomadora de serviços, com o respectivo prestador, pelos encargos previdenciários resultantes da execução do contrato e, em caso de dolo ou culpa, pelos trabalhistas.

• PLS 300/2015, do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), limita a terceirização para a atividade-meio.

Fonte: Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)

Principais projetos em tramitação no Congresso

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CrEsCE brasil

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Problemas no setor estão longe de ser resolvidos. Principal nó a ser desatado é situação dos profissionais

Ferroviários desrespeitadosSoraya Misleh

Apesar de a ferrovia ter registrado al-guns avanços nos últimos anos, os gargalos no setor continuam. Um deles diz respeito à situação da mão de obra especializada, segundo Clarice Soraggi, diretora regional Sudeste da FNE e membro do Conselho Deliberativo da Associação de Engenhei-ros Ferroviários (Aenfer). Para ela, esse é o principal nó a ser desatado.

Atualmente, informa Soraggi, há 393 ferroviários ainda trabalhando na Valec e cedidos à Inventariança da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A, estatal dissolvida em 1999 e extinta em 2007). Desse número, em torno de 50 são engenheiros. “Ao longo desses anos, vêm sendo tratados com des-

aposentadoria aos profissionais oriundos da Fepasa (Ferrovia Paulista S.A., incorporada em 1998 à RFFSA) é discutida todo ano com as empresas pelo Seesp (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo). É sempre uma luta garantir índices dentro da inflação. A defasagem salarial alcança quase 40%”, informa Marcos Wanderley Ferreira, diretor do sindicato paulista e presidente da Federação das Associações de Engenheiros Ferroviários (Faef). De acordo com ele, nos últimos três anos, a categoria ficou sem rea-juste e tem sido necessário recorrer à Justiça.

O alerta já havia sido feito pela FNE – juntamente com a Aenfer e a Faef –, por ocasião do lançamento pelo governo federal da segunda fase do Programa de Investimen-tos em Logística, em 9 de junho de 2015 – a primeira foi apresentada em 2012, e muito

pouco saiu do papel. Observando um dos gargalos para tanto, a falta de pessoal capa-citado para tocar os projetos, as entidades viram com preocupação que o PIL 2 também não dava atenção a isso. Recomendaram, assim, ser necessário investir na valorização

do ferroviário. Além disso, pontuou Soraggi à época (confira em http://goo.gl/CQRL0h), “fomentar a criação de cursos de pós-gradua-ção lato sensu junto às universidades e às empresas”. Medida apontada pelas entidades ainda, cuja batalha segue na atualidade, é a aprovação do projeto de lei que caracteriza como essenciais e exclusivas de Estado as carreiras de engenheiro, inclusive agrônomo, e arquiteto no serviço público.

A expectativa positiva com relação ao PIL 2 vem dando lugar à descrença, pelo menos quanto à valorização profissional.

Modelo equivocadoA promessa é de R$ 86,4 bilhões em in-

vestimentos para construção e modernização de 7,5 mil km de ferrovias, via concessões à iniciativa privada, até 2018. Também são apontados problemas quanto à operacionali-zação e ao planejamento das ações previstas. “O que nos preocupa é o modelo escolhido, que permite que o patrimônio seja apenas cuidado corretivamente. A manutenção preventiva foi abolida, o que acarretará uma grande perda patrimonial. O Ministério dos Transportes e o Ministério Público já levan-taram que a concessão, da forma que foi feita, ocasionou ao País uma perda de mais de R$ 40 bilhões”, afirma Soraggi.

Ela continua: “Com a concessão de toda a malha, a solução pode estar se tornando um problema. Nesse processo, os grandes

conglomerados assumiram o controle das ferrovias, que são o meio de transporte dos seus insumos e produtos, e as transformaram em centro de custos dos seus negócios. Dei-xaram de lado uma visão mais abrangente do transporte ferroviário, como o modo capaz de promover a multimodalidade e captar as cargas mais apropriadas a esse modo (granelizáveis e em contêineres) e sua integração com o rodoviário e o aquaviário.” Além disso, ela observa que alguns permis-sionários não vêm cumprindo as metas de investimentos estabelecidas em seus con-tratos. “Apesar de eventuais restrições e da inexistência de indicadores de desempenho, têm obtido a renovação automática de seus contratos, antes do prazo que expiraria na próxima década”, salienta.

José Manoel Ferreira Gonçalves, presidente da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias (FerroFrente), é categórico: “Infelizmente, o que se constata por todos os cantos do País não são fatos isolados, mas o resultado de políticas públicas muito mal elaboradas e pessimamente executadas. Afinal de contas, apesar de tanta promessa, o que se vê é o contínuo sucateamento dos dormentes, trilhos e vagões. Se, por um lado, os trens precisam de investimentos privados, por outro lado, o transporte sobre trilhos é de máximo interesse público. Não podemos, portanto, ficar na mão de duas ou três empresas.”Clarice Soraggi: Com a concessão de toda a

malha à iniciativa privada, gargalos se mantêm.

Como herança da desestatização nos anos 1990, setor enfrenta sucateamento.

Marcos Wanderley Ferreira: Defasagem salarial da categoria alcança quase 40%.

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Beatriz Arruda

Engenheiros sofrem com perdas acumuladas, descumprimento do piso salarial e falta de condições de trabalho.

respeito. Índices oficiais de reajuste não são respeitados, acumulando aos dias de hoje um prejuízo de 60%. Os 13 primeiros níveis da nossa tabela possuem valores abaixo do salário mínimo nacional, uma ilegalidade. O piso da categoria, determinado pela Lei 4.950-A/66, não é cumprido”, lamenta.

O cenário, frisa, é de descaso e abandono. Sinais da herança nefasta do desmonte das ferrovias nos anos 1990, os problemas estão longe de ser sanados, como afirma Soraggi. “Houve redução gritante de engenheiros ferroviários com as concessões, em torno de 90% foram desligados. No geral, esse qua-dro se mantém. A incorporação no Acordo Coletivo de Trabalho da complementação de

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EngEnharia

Cinquenta anos após a promulgação da legislação que regulamentou o ofício de engenheiros, agrônomos e arquitetos, profissionais e especialistas consideram a Lei 5.194/1996 ainda atual e importante, especialmente por destacar o caráter social e humano da atividade e garantir regras para o seu exercício. Nesse sentido, Fátima Có, di-retora de Assuntos do Exercício Profissional da FNE, faz questão de reproduzir o artigo 1º, que diz claramente que tais profissões são caracterizadas pelas realizações de inte-resse social e humano. Para ela, isso dá uma amplitude para todo tipo de evolução e se diferencia, e muito, do Decreto 23.569, de 11 de dezembro de 1933. “A lei da década de 1960 definiu quais tipos de serviços são da engenharia e os diversos tipos de mo-dalidade, a do (presidente) Getúlio Vargas criou apenas a profissão.”

No entanto, alterações são defendidas, tendo em vista os parâmetros criados pelas novas tecnologias e a necessi-dade de atualização para que a norma cumpra plenamente o seu objetivo. O diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), Newton Guenaga Filho, destaca o que considera “incoerência� do texto legal, que não tra-ta como crime o desempenho de funções da área por quem não tem formação. “O leigo que for flagrado exercendo alguma atividade da engenharia não é criminali-zado, comete apenas uma contravenção penal”, critica. Já o diplomado, salienta, responde perante a Justiça e pode ser preso por erros técnicos. Ele defende a punição rigorosa nos dois casos.

Em trabalho técnico apresentado no 8º Congresso Nacional dos Profissionais (CNP), em junho de 2013, o geógrafo, professor e servidor do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Otaviano Eugênio Batista, afirma que algumas questões devem constar no que ele define de “nova lei”. Entre essas, a inclusão da criminalização do exercício ilegal da profissão, assim como o respaldo legal e claro quanto à possibilidade de

punição ao profissional, com a suspensão do exercício por determinado período ou o seu cancelamento em definitivo. Segundo Batista, o dispositivo da lei que trata da matéria é dúbio e de difícil aplicação ao prever que “o cancelamento do registro será efetuado por má conduta pública e escândalos praticados pelo profissional ou sua condenação definitiva por crime considerado infamante”. Com relação ao exercício ilegal, tramita na Câmara dos Deputados o PL 6.699/2002, que tipifica a prática como crime, incluindo-o no artigo 282 do Código Penal, que prevê pena de detenção de seis meses a dois anos.

Caráter socialAinda conforme o trabalho de Batista,

a atualização da Lei 5.194 passaria por ressaltar com mais propriedade o caráter social da atividade e sua essencialidade ao desenvolvimento do País, além de incorporar ao texto o piso salarial (Lei 4.950-A/66) e a engenharia pública (Lei 11.888/2008), entre outros itens. Em relatório de janeiro último, o Confea in-forma que tramitam dez projetos de lei no Senado que interferem na lei, e mais 14 matérias na Câmara (quadro completo em http://goo.gl/yyBqaQ), entre favoráveis e conflitantes aos interesses da categoria.

Fátima Có reforça a necessidade de mudanças, mas pontuais. Segundo ela, quando a lei foi publicada, o sistema pro-fissional era dividido em 15 regiões, o que atualmente significa uma insuficiência de representatividade no plenário do Confea. “Hoje buscamos a inclusão de todos os entes federativos.” Outro ponto questionado pela diretora da FNE é exigir do profissio-nal com registro original no Crea de um determinado estado que vai trabalhar em outro a comprovação de residência e visto do conselho local. “Tenho dúvida se isso se mantém frente à evolução tecnológica e facilidade de locomoção atual.”

Um dos aspectos salientados por Guenaga é o poder de fiscalização conferido ao Confea com a lei de 1966, prerrogativa até então mais próxima do Executivo. Para ele, é necessá-rio esclarecer que os conselhos – federal e regionais, autarquias da União que reúnem atualmente cerca de 1,3 milhão de profis-sionais – existem para proteger a sociedade.

Questão levantada ainda pelo dirigente paulista é que a legislação cinquentenária de-legou mais poder ao Sistema Confea/Creas no que tange à implementação de resolu-ções referentes às atribuições profissionais. “Sem dúvida, a lei nos deu mais autonomia nessa questão. O que não é pouca coisa”, evidencia. O sindicalista cita o exemplo do

curso de Engenharia de Inovação criado, recentemente, pelo Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), em São Paulo. Ele explica que a nova modalidade já foi aprovada pelo Crea paulista e agora o processo está no conselho federal. “Deve ser incluída à Resolução 473/2002 de tabela de títulos. Depois disso, serão definidas as atribuições.” Todo esse procedimento, res-salva, é garantido ao Confea pela Lei 5.194.

HistóricoO marco regulatório em vigor teve origem

no Projeto de Lei 3.171 apresentado em setembro de 1957 pelo engenheiro agrô-nomo Napoleão Fontenele (1902-1975), então deputado federal pelo Partido Social Democrático (PSD) do Espírito Santo. Ini-cialmente, a matéria dispunha apenas sobre a regulamentação profissional do agrônomo. O PL tramitou no Congresso Nacional durante nove anos e, em 1966, recebeu um substitutivo no Senado que ampliava o seu mérito, dando-lhe competência para regular, também, o exercício da profissão de enge-nheiros e arquitetos. O parecer do deputado federal Carlos Werneck ao substitutivo foi favorável, destacando que “à primeira vista entendemos não ser boa técnica uma lei regular o exercício de várias profissões, exceto quando se trate de profissões cuja estrutura orgânica, pelo menos quanto à sua natureza, se assente em dispositivos comuns a todas elas”. No entanto, prosseguiu em seu parecer, “(...) fomos procurados por repre-sentantes das profissões, em apreço, os quais deram-nos explicações mais detalhadas dos objetivos da junção, o que nos levou a uma consideração mais detalhada da matéria”.

O projeto foi sancionado em 24 de dezembro de 1966 pelo então presidente Marechal Humberto Castello Branco com vetos ao parágrafo 2º do artigo 52 e ao artigo 82. Os vetos foram derrubados pelo Legis-lativo. Confira no site da FNE a legislação pertinente à regulamentação profissional da categoria e conheça todo o histórico da matéria que deu origem à Lei 5.194 no site da FNE: http://goo.gl/2nQPXf.

Ainda fundamental à sociedade e aos profissionais, Lei 5.194/1966 demanda atualização

Regulamentação no século XXIRosângela Ribeiro Gil

Fac-símile da sanção da lei, com vetos, pelo então presidente Marechal Humberto Castello Branco.

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A engenharia e a Internet das Coisas

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Espírito olímpico na atuação do Senge

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Pré-candidatos de Goiânia recebem “Cresce Brasil – Cidades”

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Entidade acompanha obra de duplicação da BR-135

O presidente do Sindica-to dos Engenheiros de Goiás (Senge-GO), Gerson Tertuliano, também diretor-regional Centro--Oeste da FNE, aproveitou o encontro com os pré-candidatos à Prefeitura de Goiânia para entregar a eles a publicação do projeto “Cresce Brasil + En-genharia + Desenvolvimento – Cidades”. Receberam o docu-mento Vanderlan Cardoso (PSB), Delegado Waldir Soares (PR), Adriana Accorsi (PT), Francisco Júnior (PSD), Luiz Bittencourt (PTB) e Iris Rezende Machado (PMDB). O evento aconteceu em 1º de agosto último, na reunião do Conselho de Desenvolvi-mento Econômico, Sustentável

e Estratégico de Goiânia. A iniciativa, lançada em 2006 pela federação, tornou-se instrumento de mobilização dos engenheiros em prol do desenvolvimento na-cional e vem sendo atualizada e aprimorada. Neste ano de eleições municipais volta-se à discussão sobre a qualidade de vida nas ci-dades e o desenvolvimento local. O objetivo é fazer um diagnóstico dos problemas comuns às médias e grandes cidades brasileiras perti-nentes à engenharia e propor solu-ções factíveis. Lançado em junho último, no Rio de Janeiro, o “Cresce Brasil – Cidades” foi produzido com a colaboração de especialis-tas e profissionais de todo o País que participaram das discussões

promovidas pela FNE e está sendo apresentado aos candidatos a Pre-feito e à sociedade. Contém notas técnicas sobre finanças municipais, parcerias público-privadas (PPPs), habitação, engenharia pública, transportes e mobilidade urbana, saneamento, iluminação e internet públicas. O trabalho está disponível em www.crescebrasil.org.br.

“As Olimpíadas terminaram deixando nos brasileiros um misto de orgulho, alegria, saudade, realiza-ções e a sensação de dever cumpri-do. O Brasil saiu com o sentimento de uma grande conquista, não de medalhas, sendo a maior vitória mostrar ao mundo como se faz algo simples e engenhoso.” A opinião é de Maria Helena Araújo, presiden-te do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Ceará (Senge-CE). Segundo observou ela, todas as profissões tecnológicas estiveram presentes nos jogos, na feitura e montagem dos espaços e aparelhos dos diversos locais olímpicos e seu entorno; nos espetáculos de abertura e encerramento; na mobilidade e transporte – dois grandes desafios a serem superados. “Demonstrou que, mesmo com simplicidade, a tecnologia nacional é forte. Não dei-xou nada a desejar, o espetáculo foi do tamanho do Brasil e do coração e do calor humano de seu povo”, afirmou Araújo. “É isso que se quer

transmitir no sindicato, entusiasmo, garra, compromisso, realização – esse espírito que contagiou os brasileiros nesses dias que queremos transmitir aos profissionais do Ceará. Propondo à sociedade coisas novas, que é possível vencer os desafios”, completou. Para tanto, a presidente do Senge avalia ser necessário dispor de uma sede apta a receber os pro-fissionais confortavelmente. “Uma das metas principais do sindicato é o encontro de gerações, com troca de conhecimento, experiência e compartilhamento de saberes que possibilitarão surgir ideias para o País, bem como propor aos gestores municipais projetos desenvolvimen-tistas e, ao mesmo tempo, mostrar capacidade de executá-los a baixo custo, com compromisso e serie-dade”, explanou. Por conta disso, informou ela, a meta é entregar aos profissionais e à sociedade, no dia 11 de dezembro próximo, novos es-paços com múltiplas possibilidades de utilização. A Internet das Coisas, que

transformou a maneira de a humanidade se relacionar entre si e com as máquinas e agilizou processos em todas as áreas da engenharia, foi tema da palestra realizada em Florianópolis, no dia 15 de agosto, pelo engenheiro eletricista e professor da Uni-versidade de São Paulo Marcelo Zuffo. O evento no auditório da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) contou com cerca de 200 pessoas e encerrou o ciclo de atividades promovido pelo Diário Catarinense com parceria

e apoio da FNE e do Sindicato dos Engenheiros no Estado de Santa Catarina (Senge-SC), que integra as discussões do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”. Conforme Zuffo explanou durante sua conferência, o Brasil é o terceiro maior consumidor de tecnologia do mundo. No entanto, essa di-nâmica não é acompanhada por pesquisa e desenvolvimento no País. “Nós perdemos a capacida-de de pensar no futuro. Precisa-mos mudar isso”, afirmou. Para o professor, a engenharia precisa ir muito além da indústria, terá que entrar na área da linguística e da psicologia. Para o presiden-te do Senge, Fábio Ritzmann, “no momento de instabilidade econômica, social e política, o tema é oportuno, um estímulo para se buscar novas soluções, e isso passa pela tecnologia”. Ele destacou que a palestra mostrou que a internet não se limita aos

computadores e aponta para um avanço tecnológico do qual a en-genharia brasileira deve participar como protagonista. O dirigente defendeu ainda que tenha internet pública, “para facilitar o acesso à tecnologia para pessoas de baixa renda”. O evento contou ainda com a participação do presi-dente da FNE, Murilo Pinheiro, que enfatizou a fundamental atuação dos profissionais da engenharia para que haja desen-volvimento socioeconômico e também científico e tecnológi-co. Ele lembrou que essa é uma das premissas do movimento “Engenharia Unida”. Também debateram o tema André Pier-re Mattei, diretor do Instituto Senai de Inovação em Sistemas Embarcados; Otávio Ferrari Filho, diretor da Associação de Usuários de Informática e Telecomunicações (Sucesu-SC), e Victor Rocha Pusch, diretor da empresa SensorWeb.

Presidente da FNE, Murilo Pinheiro (no púlpito), no evento realizado na Fiesc pelo Senge-SC.

Superintendente do Dnit-MA, Geraldo Fernandes, em reunião com presidente Berilo Macedo e diretores do Senge.

Gerson Tertuliano, presidente do Senge (à dir.), entrega “Cresce Brasil – Cidades” a Iris Rezende Machado.

O superintendente regional do Departamento Nacional de Infra-estrutura do Maranhão (Dnit-MA), Gerardo de Freitas Fernandes, em reunião com o presidente do Sin-dicato dos Engenheiros no Estado do Maranhão (Senge-MA), Berilo Macedo, e os diretores Ivanilde Soares, Irandi Marques, Maria Odinéa Ribeiro e Jorge Gondim, explanou sobre o status da obra de duplicação da BR-135 (MA), no trecho Estiva-Bacabeira. Ficou acordado na ocasião que o sindicato acompanhará a execução do projeto e o Dnit fornecerá relatório mensal e cronograma físico sobre o seu an-damento, além de permitir acesso da equipe de engenheiros da entidade ao local das obras. A empreitada

teve início em setembro de 2012 e sofreu alterações no cronograma do empreendimento, motivadas, principalmente, por cortes de verbas federais e pelos intensos períodos de chuva. A obra propiciará melhoria do tráfego, aumento da segurança dos usuários da rodovia e redução do tempo de percurso, trazendo be-nefícios econômicos para o estado.

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Santos, do Diesat: Conquistas históricas da classe trabalhadora e da sociedade em geral podem ser exterminadas.

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Enquanto empresas questionam norma, integridade física e vida do trabalhador ficam na berlinda

Suspensão da NR 12 será retrocessoJéssica Silva

Desde a sua última revisão, em 2010, a Norma Regulamentadora nº 12, que reúne medidas de segurança para trabalho com máquinas e equipamentos, vem sendo questionada por quem é responsável pela sua aplicação. Se-gundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), seria necessário um investimento de R$ 100 bilhões para adequação do parque fabril à NR. Por outro lado, dados da Previdência Social apontam números que podem ser mais significativos e chocantes que as cifras do patronato. Entre 2011 e 2013, o setor respondeu por 461.177 acidentes típicos (excluindo-se trajeto e doenças), no total de 1.284.694. Além disso, conforme compilação divul-

gada pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), no mesmo período, ocorreram 221.843 acidentes relativos especificamente à operação de máquinas e equipamentos, o que resultou em mais de 600 mortes. Nesse triênio, foram comunicadas ainda 41.993 fraturas e 13.724 amputações. Para Elenildo Queiroz Santos, presidente do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat), a suspensão da NR 12 seria um ataque não só à saúde, mas ao direito do trabalhador. “Hoje a justificativa são os bilhões; depois podem questionar conquistas históricas, que serão exterminadas”, critica.

Para que serve a NR 12 e qual é a sua importância?A NR 12 começou a ser discutida há muito tempo, devido a números alarmantes de mutilados, principalmente em metalúr-gicas, segundo a Previdência Social. Em 2010, foram padronizadas e estipuladas medidas de segurança que preveem erros humanos e de máquinas no ambiente de trabalho, abrangendo todo o parque industrial. Isso é muito importante para o trabalhador, pois temos a definição de referência técnica e de princípios funda-mentais de medidas de proteção a serem adotadas em máquinas e equipamentos em todo o País. De 2007 a 2013, período em que a norma foi implantada, a taxa de acidentes de trabalho caiu 17%, de 1.378 acidentes para 1.142 a cada 100 mil trabalhadores. Claro que ainda é um número menor do que almejamos, mas já é significativo. É um custo a menos com essa problemática a ser direcionado a outros setores da sociedade.

O empresariado afirma que a norma exige um alto investimento financeiro para ser cumprida. Como o Diesat e os trabalhadores veem essa posição? Essa reclamação dos patrões não procede. Os R$ 100 bilhões é valor superestimado para ser negociado. Isso mostra uma falha de mercado, pois ainda hoje indústrias compram máquinas fora do padrão pedido na NR. Comparando, é como comprar um fusca e depois ter que colocar freio ABS e airbag. É claro que sairá mais caro.

A queixa relativa à adaptação só existe porque ainda há o mercado de maquinário sucateado, e cabe ao governo também configurar mudança nesse cenário. Não é rasgando a NR 12 que vão se resolver pro-blemas financeiros do setor empresarial.

O acidente de trabalho também gera um prejuízo à empresa, assim como multas e penalizações pelo não cumprimento das metas?Um acidentado no ambiente de trabalho é responsabilidade da empresa. Se ela, por sua vez, não responde hoje ao Ministério Público, do Trabalho ou à Previdência, vai responder judicialmente, o que gera tam-bém um custo. O valor da multa ainda é

ínfimo se comparado com o valor estima-do a cumprir a norma. Mas uma máquina autuada pode ser interditada, e é isso que se quer evitar, porque gera perda de capital para os patrões. Além disso, com um am-biente perigoso, os funcionários cobram medidas, fazem paralisações e até greves. Porém, antes do prejuízo, a empresa pode procurar o sindicato e verificar uma for-ma de proteger o trabalhador. Assim, ela busca um termo, uma negociação com a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRT), Secretaria de Rela-ções do Trabalho e órgãos fiscalizadores. Dependendo do maquinário, é realmente difícil regimentar no prazo estipulado, de 30 a 120 dias. Quando é feito o acordo com anuência (da SRT), sindicatos e as representações dentro da fábrica, como Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e o próprio Serviço Espe-cializado em Engenharia do Trabalho (Sesmet), são elaborados prazos flexíveis para a regularização das máquinas, de forma segura para os trabalhadores.

Contesta-se ainda a extensão do texto da NR, o que a tornaria impraticável. A contestação é incoerente, pois a repre-sentação patronal participou dos debates que construíram os anexos da norma. Eles estiveram à disposição, discutiram e concordaram. As comissões referentes às regulamentações foram feitas de forma tripartite, com representações governa-

mentais, patronais e dos trabalhadores pelos sindicatos. É incabível que tentem suspender a NR, como já ocorre, em de-creto legislativo que aguarda comissão no Congresso (PDC 1.408/2013).

A terceirização da atividade-fim, que também está em pauta no Congresso, pode elevar o número de acidentes de trabalho?Se considerarmos os dados que a própria Previdência divulga de que, a cada três trabalhadores acidentados, um deles é ter-ceirizado, com certeza essa regra terá efeito nos números totais. Levando em conta que o terceiro é o que tem menos benefícios, esse número pode ser ainda maior, pois a Previdência só computa como acidente para estatísticas aqueles que tiveram seu benefício deferido em perícia e os trabalhos formais (leia matéria na página 3).

Nesse cenário, qual é o papel da Engenharia de Segurança no Trabalho?É importante e indispensável. É o enge-nheiro que vai fazer a empresa, aos poucos, mudar e investir em segurança coletiva. Porque é isso que a norma traz, métodos para resguardar a integridade física e a saúde dos trabalhadores. Muitas máqui-nas exigem um equipamento de proteção individual (EPI), por emissão de ruídos ou outra situação, mas temos que pensar em proteção coletiva. O Sesmet e a Cipa são responsáveis pela adequação do ambiente quanto à qualidade de vida do trabalhador.

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Febre com o jogo virtual populariza realidade aumentada e suas múltiplas possibilidades

Muito além de Pokémon GODeborah Moreira

Menos de 24 horas após seu lançamento no Brasil, em 3 de agosto último, mais de 50 milhões de brasileiros já haviam baixado Pokémon GO, jogo criado com a tecnologia de realidade aumentada para dispositivos móveis, como smartphones. A aposta da Nintendo, que detém os direitos da franquia, e Niantic, desenvolvedora do aplicativo para as plataformas iOS e Android, consolida uma linguagem que já vem sendo desenvol-vida ao longo de anos no País e no mundo. As possibilidades da realidade aumentada, ou realidade misturada, são infinitas.

É o que afirma o estudioso no assunto desde o início dos anos 2000, o professor André Pase, do Laboratório de Pesquisa em Mobilidade e Convergência Midiática. O UbiLab, como é conhecido, surgiu por conta do núcleo de Desenvolvimento de Jogos Digitais e da Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Comu-nicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). “A realidade aumentada vem sendo utilizada de diversas formas. Já desenvolvemos um aplicativo de geolo-calização para o campus da PUCRS, ins-pirado no que já existe em cidades como Londres e Paris, específicos para turismo. Nos últimos meses, estamos trabalhando em um para a área da moda. As possibili-dades são múltiplas”, comenta Pase.

EducaçãoNo Brasil, atualmente, um dos setores

que mais investe nessa tecnologia é o da educação. Como no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que ofere-ce atualmente a ferramenta a 80 mil alunos de quatro cursos técnicos – Automação In-dustrial, Redes de Computadores, Eletroele-trônica e Segurança do Trabalho. São quatro aplicativos no total, que já tiveram 13.668 downloads no Google Play e na Apple Store. A instituição possui, ainda, o Senai App, que mistura diversas tecnologias, incluindo realidade aumentada e virtual. Este já soma 14.674 downloads – sendo 679 usuários ativos, que ainda estão matriculados.

Bruno Duarte, gestor do Programa de Tec-nologias Educacionais do Senai, conta que os estudos para agregar a realidade aumentada iniciaram em 2012, juntamente com outros aplicativos para mobile. Em 2014, a ferramen-ta foi criada a partir do uso de software livre, o que vem sendo feito por muitas desenvolve-doras. “Customizamos nossa versão a partir de um conjunto de instruções e programações livres. Também fizemos parceria com empre-sas referências, como a Sociedade Fraunhofer, da Alemanha”, explica.

No caso dos apps do Senai, existe um menu inicial para orientar o estudante sobre em qual página e em qual livro encontra determinada imagem. Depois, ele aponta a câmera e aciona a realidade aumentada, proporcionando uma experiência em vídeos simuladores pelos quais os objetos impressos ganham movimento, imagem e som. “A ima-gem do livro é o gatilho para que a imagem 3D apareça”, completa Duarte.

A realidade aumentada combina a captura de imagens reais com a projeção

de figuras em 3D. O efeito dessa combi-nação de elementos gráficos é uma maior interatividade entre o usuário, o ambiente em que ele está e a tecnologia em si. Para acioná-la, é preciso uma webcam de um smartphone, por exemplo. Assim, a partir de marcações feitas em imagens reais, a câmera dispara o mecanismo que passa a transmitir uma imagem holográfica em 3D, que interage com a realidade. “Tanto a realidade aumentada quanto a virtual são tecnologias imersivas. A realidade aumentada, ou misturada, tem um grau de imersão diferente da virtual, que é imer-são total”, explica o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) Marcelo Zuffo, que coordena o Centro Interdisciplinar em Tecnologias Interativas da instituição desde 2011. Em 2001, ele desenvolveu o primeiro sistema brasileiro de realidade virtual totalmente imersivo chamado Caverna Digital. Há pelo menos 12 anos, esse centro desen-volve uma linha de pesquisa na área de

energia – em usinas hidrelétricas, na área nuclear, fontes renováveis, entre outras.

Zuffo conta que existem diversos pro-dutos sendo desenvolvidos, como o ades-tramento de procedimento de manutenção crítica de infraestrutura de rede elétrica, que será demonstrado em setembro, na Semana de Engenharia Elétrica da Poli. “Virtual é o radical romano que representa virtuoso, que é melhor do que a média. Quando o termo foi criado, foi imaginado que haveria um mundo melhor que o real, com auxílio de um computador. Usando o conceito de imersão, tentamos iludir o sistema psicocognitivo humano para que ele acredite que o que está vendo é real. Na realidade aumentada a gente tenta misturar o mundo real com o virtual, que é basicamente a brincadeira com o Pokémon GO”, completa Zuffo.

O jogo da Nintendo, como outros aplicativos similares, usa uma base geor-referenciada, do Google Maps, em que o jogador deve se locomover pela cidade para “caçar” as criaturas. Nesse caso, os elementos reais são ruas, prédios, praças ou parques. Quando o aplicativo detecta a presença de uma criatura, abre a câmera para sua captura. “Na realidade aumenta-da temos os três ‘is’: imersão, interação e imaginação”, acrescenta o professor da Poli. “Trata-se de uma tecnologia intrinsecamente relacionada à engenha-ria. A indústria do entretenimento tem se apropriado, mas tenho pensado em como tornar esse movimento estrutural no Brasil. De dois anos para cá, o preço caiu bastante e empresas estão oferecen-do mais e melhor”, afirma Zuffo.

Para ele, é natural que a tecnologia se popularize. “É um processo. A tecnologia 3D artificial começa a ser definida ainda na Renascença, quando pintores começam a trabalhar com perspectiva. Depois, faz uma evolução com o cinema. Surgem os primeiros filmes em 3D. James Cameron, com o filme ‘Avatar’, deu um grande salto, que acabou levando às televisões 3D. Agora, são os jogos eletrônicos.”

Aplicativo de realidade aumentada da Disney coloca personagens de Star Wars no ambiente do usuário.

Rita

Cas

aro