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8/18/2019 Fundamentos AMERICA LATINA - Aula Sobre Desigualdade e a Disputa Pela Terra
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UNIVERSIDADA FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA – UNILA
FUNDAMENTOS DA AMÉRICA LATINA
TEMA: Diversidade NÃO é desigualdade. Trabalho sobre o conceito dedesigualdade e suas projeções. A disputa pela terra na América Latina".
Prof Dirceu Basso
Curso de Desenvolvimento Rural eSegurança Alimentar - UNILA
CONCEITOS GERAIS PARA TRATAR SOBRE OS TEMAS DA DESIGUALDADE ECONFLITOS SOCIAIS
1) Desigualdade
A base para averiguar a desigualdade está na análise da distribuiçãodos bens/recursos, sejam imateriais e materiais:
(i) por méritos
(ii) por herança
Remete-nos a cidadania – aos direitos.
2) Estratificação social
Produzida por fatores de:
(i) desigualdade social: adquiridos e/ou herdados;
(ii) diferença social: dada pelas identidades e o prestígio dado pela
sociedade (auto-estima e seu imaginário).
Pode ser:
(i) hierarquizada/estamental;
(ii) não hierarquizada/aberta – Neste caso é importante o conceito de
mobilidade social
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3) Mobilidade social (MS):
a) Nas sociedades hierarquizadas/estamental.
os indivíduos pertencem a uma TS, ocupam posições normatizadas.
Portanto, não há mobilidade social, pertencem a um estrato. Ex.: Weber e
seus estudos na Índia; A sociedade americana e questão racial, em que
negros não podiam ascender posições; no Brasil colonial éramos
estamental.
Importante: Em um mesmo estrato pode haver MS
b) não hierarquizada/aberta.
Nestas sociedades os indivíduos ocupam posições diferentes, com
menor ou maior status dados pelos atributos. Porém não há vedação
ascendente e descendente.
Indicadores de status (prestígio) e os pesos atribuídos – em uma
Totalidade Social (TS), como sendo o universo de validação da estratificação.
a) rendab) religião
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c) poder
d) patrimônio
e) escolaridade
f) ...
Importante: um mesmo atributo/indicador pode ser utilizada por TS diferentes,
porém o peso dado ao atributo pode ser diferenciado, como exemplo o peso
da religião na França.
na modernidade ... (B. S. Santos – Projeto de modernidade)
Ex: pais e filhos com a educação e a capacitação profissional(estabilizada, ascendente,...)
Como as pessoas/filhos se percebem com relação a seus projetos
de vida e produção em relação a sociedade/pais?
Como as pessoas percebem o Estado e as políticas públicas
4) Exclusão/inclusão:
cidadania – sempre atribuída, que é dado. Direito público.
Identidade (sociocultural –valores- e socioprofissional, é
autoreferênciada; eu escolho, é um direito privado.
Para Dahrendorf, como se reproduz a desigualdade ou a igualdade/cidadania:
a) Prerrogativas (direitos)
b) Provimentos (oportunidades)
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a) Poder é o que decide as condições e as chances no contexto dos
interesses;
b) Existem mecanismos que gera impedimento para que todos tenham
acesso aos bens, como exemplo: propriedade dos bens; portanto,
barreiras que impede que B acesse os bens que já está dada a A.
c) O Estado pode fazer a inversão de prioridades e ampliar as chances devida;
d) A relação entre prerrogativas/oportunidades e chances é que vai
determinar as desigualdades.
e) O jogo do poder se dá na distribuição dos provimentos;
f) Quem tem poder define as regras e condições por ampliação e ou por
transformação;
f) Mobilidade social implica novas demandas sociais
Provimentos
Prerrogativas
Conflitos
Interesses
Chances de
vida
Poder
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Desigualdade da América Latina, de acordo com relatório da ONU.
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/08/brasil-avanca-mas-e-quarto-pais-mais-desigual-da-america-latina-diz-onu.html,acessado em 21/08/12
Relatório do programa ONU-Habitat traz dados sobre distribuição derenda.
O Brasil, no entanto, avançou no combate a desigualdades nas últimas décadas. De acordocom o estudo, o país era, em 1990, o número 1 do ranking das nações com piordistribuição de renda.
De acordo com o levantamento “Estado das cidades da América Latina e do Caribe 2012 –Rumo a uma nova transição urbana”, divulgado nesta terça-feira (21), a América Latina é aregião mais urbanizada do mundo.
O estudo destaca o forte crescimento do PIB brasileiro, de 1970 a 2009, deixando para trás oMéxico e os países que formam o Cone Sul – Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai – e“cobrando relevância mundial”. Hoje, o PIB do país representa 32% do total do PIB da
América Latina. Ainda assim, quando se analisa o PIB per capita, o Brasil ocupa umamodesta 13ª colocação, de pouco mais de US$ 4 mil por ano, abaixo da média latino-americana e dos países mais desenvolvidos da região, como México, Chile, Argentina eUruguai, e até mesmo da Venezuela, que tem a economia muito dependente do petróleo.
O Brasil ainda perde para a maioria dos vizinhos na questão da pobreza. Pouco mais de 20%da população vive em situação de pobreza ou indigência, percentual maior do que no Uruguai,na Argentina, no Chile e no Peru. Costa Rica e Panamá também ficam a frente do Brasil, commenores percentuais na Taxa de Pobreza Urbana.
Entretanto, o número de pobres e indigentes no Brasil caiu pela metade em duas décadas: de
41%, em 1990, para 22% da população em 2009. Argentina e Uruguai também reduziram pelametade o número de pobres, que hoje são 9% da população, em ambos os países. Mas foi o
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Chile o grande campeão no combate à pobreza, com redução de 70% - de 39%, em 1990, para12%, em 2009, referente a percentual da população pobre no país.
São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2012
Desigualdade, o fracasso da esquerda
No Brasil, os mais ricos recebem do governo 13 vezes mais que a turma doBolsa Família.
JÁ DEVE ser insuportável para os ufanistas de plantão receber a notícia, contida emrelatório da ONU, de que o Brasil é o quarto país mais desigual de uma região, aAmérica Latina, que é a mais desigual do mundo.
O que, sim, diminuiu foi a pobreza, no Brasil como na América Latina. Em 20 anos(até 2009), a taxa de pobres caiu de 48% para 33%, informa a ONU . Mesmonesse capítulo, o Brasil continua mal na foto: Argentina, Chile e Uruguai têm 12% depobres, enquanto, no Brasil, a taxa quase duplica (22%).
Brasil – Dados do Censo Agropecuário / 2006.
Censo Agropecuário de 2006, com os dados trabalhados por Alves e Rocha (2010)1.
Os resultados indicam uma heterogeneidade da agricultura em que de um lado há
produtores muito produtivos e, de outro, produtores “incapacitados de sobreviver, a
menos que seja à custa de políticas assistencialistas” (IPEA, 2010, p.344), conforme
pode ser observado na Tabela 1.
Tabela 1: Estratificação dos estabelecimentos em termos de produção gerada – 2006.
Grupos Nº deestabelecimentos
por grupos
Participação dosestabelecimentos
(em %)
Participação dovalor produzido
(em%)
Valor médio mensalproduzido por
estabelecimentos(salários mínimos)
1º Grupo 424 mil 8 85 80
2º Grupo 976 mil 19 11 4,5
3º Grupo 3,8 milhões 73 4 0,4
Fonte: Alves e Rocha (2010), extraídos do estudo de Ipea (2110. p. 345).
1 Idem (p. 334)
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Como mostra a Tabela 01, o estudo de Alves e Rocha (2010) dimensionou a
concentração da produção, definindo três grupos. O primeiro, que pode ser
atendido por políticas de alcance geral, representou 8% dos estabelecimentos e
gerou 85% do valor da produção. O segundo grupo, composto por 19% dos
estabelecimentos e responsáveis por 11% do valor produzido, deve ser assistido
por políticas mais específicas. O terceiro, o qual deve ser o foco central das
políticas públicas, reuniu a maior parte da pobreza rural. Deste grupo fazem parte
73% dos estabelecimentos, que produzem cerca de 4% da produção. A solução do
problema neste grupo é bem mais complexa e desafiadora. Além disso, mostrou-se que a maior parte dele encontra-se na região nordeste, a qual possui o maior
contingente de população rural do país (IPEA, 2010, p. 344).
Paraná – Dados Fonte: IBGE - PNAD
Os dados da Tabela 03 chamam a atenção para o contingente de famílias
Paranaenses que deixaram a faixa de renda de até meio salário mínimo per
capita; em 2001 elas representavam 34,9 das famílias, e em 2009 não passavam de
24,1%.
Tabela 03 – Nº de famílias rurais por faixa de rendimentos per capita – Paraná –2001 -2009.
Faixas de rendimentos
Até ½ SM Acima de ½ até 1
SM
Mais de 1 SM Renda não
declarada
TotalAno
Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs.
2001 171.856 34,9 132.762 27,0 184.301 37,4 3.697 0,8 492.616
2004 151.351 30,9 153.819 31,4 182.602 37,3 2.420 0,5 490.192
2007 150.586 30,2 131.826 26,5 201.661 40,5 14.128 2,8 498.201
2009 121.903 24,1 149.772 29,6 227.298 44,9 6.910 1,4 505.883
Fonte: IBGE - PNAD
Extraído do artigo de Ângela Bazotti & Marisa Sugamosto (2011).
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Segunda parte da Aula: Concepções sobre a terra
GEHLEN, Ivaldo. Estrutura, dinâmica social e concepção sobre terra no meio rural
do Sul. In: Cadernos de Sociologia /Programa Pós-Graduação em Sociologia –
PPGS/UFRGS. v.6, Porto Alegre, 1994.
A pertinência da questão se coloca em razão de diversos fatores:
Pelas transformações estruturais que alteram a composição e asrelações pela decomposição, (re)afirmação e/ou emergência de
“forças”sociais nesse meio;
Reinterpretação analítica sobre o rural produzida nas últimas décadas,
dentre eles Abromavay (1992), Martins, J.S. (1981), Hobsbawn (1978);
Resgate das lutas sociais agrárias, particularmente a da terra, e o
resgate analítico dos atores sociais historicamente engajados, mas até
então “ausentes” nessas análises; Utilização do conceito de “grupo social”, e por vezes de classe social,
em discursos, na mídia e até mesmo em estudos acadêmicos, através
de categorias imprecisas e até de grosseira simplificação, como por
exemplo, “popular”, “trabalhadores”, “povo”, etc.
Enfatização do estudo das classes sociais, através do qual, mesmo
que de forma polêmica, chega-se à aproximação da complexidade de
uma sociedade em formação/transformação.
O estudo dos grupos e das classes sociais na perspectiva particular do meio rural é
tarefa teórica que demanda observação sistemática específica, com rigor
metodológico desta realidade complexa. P155
Estudos recentes sugerem uma perspectiva analítica abrangente, não dualista.
A diversidade de concepções , a rigidez do campo analítico – demarcado por
matrizes construídas com base em experiências históricas já distanciadas no tempo
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e no espaço – e as contradições inerentes aos interesses em si das classes e
grupos sociais, se expressam por formas específicas no meio rural e neste,
através de relações particulares com a terra, que se apresenta como um
espaço de relação, portanto, de poder.
Na complexa e diversificada formação da sociedade brasileira [e
latinoamericana] a terra ocupa lugar central, quer no campo de e em disputa de
poder, quer como criação e/ou afirmação social.
A diversidade de concepções e interesses e a contemporaneidade da questão
dificultam sua identificação precisa.
Seu caráter específico, dada a natureza das relações sociais rurais e o processo de
sua formação histórica, dificulta sua conceitualização. P.155
Pressuposto colocado: os atores sociais se relacionam, se articulam e se
organizam a partir de interesses aglutinadores e que se referenciam a um modelo
de sociedade específica, por isso em conflito.
Diante disso, busca-se oferecer um olhar sobre a realidade que expresse a
representação histórica do real – o qual possibilita reconstruir (ou representar) a
realidade com a perspectiva das transformações estruturais que dele emergem e
que por sua vez também a afetam (JOLLIVET, 1982 apud GEHLEN, 1994)
As grandes transformações, às vezes revolucionárias, da América Latina no séculoXX, estão profundamente marcadas pela participação dos atores sociais rurais;
As lutas sociais rurais aumentaram, se expandem, e se complexificam.
Algumas dessas lutas, por vezes revoltas, como o “Levante de 1957” no Sudoeste
do Paraná, as ações cotidianas de bandidismo social, as ocupações ilegais de terras
cujos exemplos marcantes são os da Fazenda Sarandi (RS) em 1962 e 1979,
outros, revelam conflitos por interesses específicos de emergência e ou
afirmação de classe. P.156-7
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Concepções sobre a terra e partilha do “Campo” pelas classes sociais. P. 157
Considerando a terra espaço mediador de relações, cinco concepções principais
definidoras desta relação e do poder, construídas historicamente, estão em
confronto e fundamentam tipos sociais com interesses específicos no meio
rural em referência.
1. A primeira concepção considera a terra como uma fonte de poder e a usa como
meio especulativo. Daí elabora-se um certo arcabouço filosófico (“visão de mundo”)orientador e legitimador tanto do comportamento social de classe, como do
comportamente privado. A origem do poder está na propriedade da terra,
legitimada por norma jurídica (legal). Historicamente, possibilitou a emergência
do latifundiário e a constituição da oligarquia agrária. Para quem o acesso à
terra significa a manutenção de ou acesso a privilégios, uma espécie de
investidura no poder. Por isso a apropriação de grandes extensões territoriais.
No Brasil, na revolução de 1930 a oligarquia agrária perdeu formalmente o
poder político, mas não destruiu o latifúndio e nem o poder de influência da
racionalidade latifundiária. Historicamente procura manter-se aliada às forças de
controlo social e armadas do Estado. Ela, mesmo em decadência contínua, cria
organizações próprias novas – ver a UDR. P.158
No Sul do Brasil, conforme Germer (1988) apud Gehlen (1994), suarepresentatividade estatística é desproporcional à sua forte influência política –
principalmente na definição de políticas e na barganha de recursos oficiais.
Diante o esgotamento de terras livres (devolutas) e o preço especulativo da terra na
região Sul, a estratégia é apropriar-se de terras (por compra ou grilagem) Centro-
Oeste e/ou norte do país.
Grilagem: termo utilizado para designar a apropriação privada de terras através da
força, da chantagem, por influência pessoal junto a órgãos responsáveis, etc. A
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palavra vem de “grilo”, animal que delimita seu território por seu grito particular [
além da nuance de Feres: papéis guardados em gaveta com grilos por alguns dias
com o passar dos dias os papéis ganhavam um aspecto amarelado, de antiguidade].
Com base nesta concepção de terra, fonte de poder e meio de especulação, e
estimulados pelos financiamentos subsidiados, constitui-se a partir de meados
dos anos 1960 um “grupo social” fortemente aliado aos interesses da oligarquia
no que concerne à propriedade fundiária, mas divergente, até mesmo contraditório,
no que diz respeito aos interesses empresariais capitalistas. É a função
especulativa da terra, mais do que o poder originário dela, que conta para
esses novos grandes proprietários fundiários. Dados de 1983 indicam que maisde um terço dos 300 maiores grupos ou empresas econômicas do Brasil possuíam
importantes investimentos em terras, e em 1985, dos 476 maiores patrimônios
fundiários, 190 pertenciam a grupos econômicos , um novo tipo de
latifundismo/ neo-latifundiários - propriedade permaneciam inexploradas,
cumprindo função especulativa e protegidas por cercas e jagunços. Seus
proprietários usam o Estado para implantação de infra-estrutura, acesso a crédito
subvencionado, políticas fiscais privilegiadas, outros.
Então, latifundiários tradicionais e neo-latifundiários mobilizam-se para:
Defesa de privilégios: subsídios, anistia de impostos, etc;
Domínio ideológico;
Defesa da propriedade da terra;
Manutenção e ampliação do pode político.
2. A segunda concepção em relação a terra considera-a uma fonte de produção
de riqueza ; espaço de geração de lucros e de acumulação . Acumulação que
depende da exploração do trabalho assalariado combinado à intenção tecnológica e
à especulação sobre os preços dos produtos e da terra. A legitimidade ideológica
é sustentada pelo liberalismo-burguês. P.160
Seu poder fundamenta-se, portanto, na acumulação resultante da exploração
intensiva da terra, da força e dos meios de trabalho.
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Emergidos da “modernização”, portanto, de origem recente. Os atores sociais que se
alinham com essa concepção podem ser descatacas três:
(i) burguesia “rural”, proprietária, excepcionalmente arrendatária, de
áreas relativamente grandes de terras, monocultora, ou combinando
duas ou três culturas quando se trata de cereais. Preferem residir
na cidade e desempenhar profissão de tipo liberal, comercial ou de
serviços. A gestão da unidade e todo o trabalho no sistema
produtivo é executado por terceiros, sob contrato assalariado;
(ii) o empresariado rural, também no Sul identificado como granjeiro ,
composto por proprietários e arrendatários de área “médias” (60 a
300 há). Grupo social ascendente, nascido com a “modernização”na agricultura – empresário moderno e articulado. Precisa do
trabalho alheio complementar para viabilizar o sistema produtivo de
tipo intensivo. A gestão é feita diretamente pelo
proprietário/arrendatário que também ocupa o principal do seu
trabalho e geralmente mão-de-obra reside no meio rural. Seu
espírito liberal e empreendedor nem sempre encontra nos órgãos
oficiais e nas decisões governamentais a agilidade e o apoiodesejado.
(iii) Semi-empresariado (“colonos fortes” ou “agricultores
consolidados”). Seu caráter transitório dificulta atribuir-lhe um
nome mais adequado. Possuem área, geralmente, inferior a 100 ha,
o trabalho é predominantemente familiar. São modernos nos
critérios de seleção tecnológica, de produtos e de métodos de
produção. Diferentenciam-se do pequeno produtor familiar clássicobasicamente pelo seu potencial acumulador e de consumo e pelo
comportamento de classe. Tendem, progressivamente, a introjetar e
a reproduzir a racionalidade capitalista, tendo como referência os
granjeiros, considerando a terra como meio de produção de
riqueza, portanto, fonte de lucros.
3. A terceira concepção considera a terra um espaço de trabalho, necessário
para a produção e reprodução da vida, de afirmação social e de realização da
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cidadania. Esta concepção que adquire progressivamente consistência teórica e
amplia o universo de adesões entre os intelectuais brasileiros.
O grupo social caboclo, inspirado na longa tradição indígena, é o que melhor
incorpora a (re)produção histórica desta concepção sendo referencia original para
seu desenvolvimento teórico.
O Colono / agricultor tradicional – maioria de origem européia – o confronto cultural
com esta concepção “cabocla” produziu um impacto que afeta seu sistema de viver,
de produzir, de representação liberal-burguês. A forte heterogeneidade social aliada
ao fraco poder de acumulação desses produtores se exprime nas condições gerais
de vida e resulta de causas diversas, entre outras, as diferentes condições de
inserções no meio (rede de articulação, condições de trabalho, serviços públicosdisponíveis, etc), a baixa produtividade do trabalho, a quantidade de força de
trabalho produtiva e o número de pessoas que divide o orçamento familiar, p. 164.
Alinham-se com essa concepção os minifundiários, grupo amplo e com
diferenciação internas importantes, composto por pequenos proprietários,
arrendatários, parceiros e ocupantes, com área não superior às possibilidades de
trabalho familiar e, em muitos casos, inferior, conforme mostram as abundantes
estatísticas – conforme IBGE em 1985, 41,9% dos estabelecimentos do Sul, e noParaná 50,5%, tinham até 10ha, metade do módulo rural regional. Devido a esta
situação muitos utilizam do assalariamento temporário para melhorar a renda
familiar. Seu projeto de vida e nível de aspiração social tende a se fechar nos limites
das necessidades familiares. Por isso, temo o fenômeno de “semi-proletarização” de
parte desses agricultores se constitui uma resposta imediata, e provavelmente
transitória, ao processo de modernizador da agropecuária na região Sul.
Alternativas que se apresentam a esses agricultores:
(i) ascender para condição de semi-empresário;
(ii) mudar de estatuto profissional, pela perda da terra parcial ou total;
(iii) atrelar-se por contrato às agroindústrias integradoras;
(iv) afirma-se na condição, mas criando ou participando de novas estratégias
de resistência e de viabilização econômica.
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Para viabilizar novas estratégias alternativas, necessitam capacitar-se para uma
racionalidade nova (para eles) de gestão do sistema de produção, recriando formas
de solidariedade e de organizações. P.165
4. A quarta concepção considera a terra um espaço de trabalho que carrega
consigo a subjugação do trabalhador pela necessidade de venda de seu
trabalho, concepção esta resultante da proletarização de parte da força de trabalho
do meio rural. Tal condição engendra um processo de despojamento desses
trabalhadores, além do seu trabalho, também do seu saber empírico e técnico em
relação ao uso da terra, assim como do sonho de possuí-la como campo de
realização de um projeto de vida e de mediação de um projeto político (de classe)para a sociedade.
A terra para o trabalhador submetido a esta condição, passa a ser cativeiro, pois
constitui um espaço de desgaste de sua energia e de sua capacidade criadora, ou
seja, de sua vida. A terra se apresenta como lugar de frustação enquanto cidadão,
de sua exclusão e de sua marginalização enquanto ator social. A luta contra o
explorador ( o “dono”) é mediada pela terra e no horizonte dessa luta está a
libertação da terra (pela reforma agrária, por exemplo), como necessidade para suainclusão sal como cidadão e para construção de sua identidade.
Tipos sociais identificam-se com esta concepção: os assalariados – permanentes
profissionalizados e temporários -
5. Como quinta concepção reune-se os que ocupam posição completamente
marginal no modelo social vigente. A terra tem significados diferentessegundo a experiência histórica ou condição de vida dos atores.
Dentre eles destacam-se:
(i) a concepção indígena, segundo o qual a terra é um espaço integrado à
vida da comunidade (tribo) e não pode ser subjugado, dividido ou
apropriado privadamente;
(ii) a concepção cabocla , visto acima, onde a terra é um espaço onde se
reproduz a vida familiar. A falta de terra extermina os caboclos, pois eles
não realizam acumulação capaz de garantir sua reprodução ... .
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(iii) os biscateiros ou “semi-proletários – vivem no limite entre proletários e
marginalizados.
(iv) marginalizados – são os atores sociais excluídos do mercado formal de
trabalho
Terceira parte da aula.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Modo de Produção Capitalista, Agricultura eReforma Agrária. São Paulo: FFLCH, 2007.
Cap. 7 - A concentração da terra e a reforma agrária. P. 66
A concentração da terra não é igual à concentração de capital na produção
capitalista; ao contrário, revela a irracionalidade do método que retira capital do
processo produtivo, imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra.
Por sua vez, a concentração de capital é aumento de poder de exploração, éaumento da capacidade produtiva do trabalhador; é aumento, portanto, da
capacidade de extração do trabalho não-pago, da mais-valia.
Assim, a concentração da terra aumenta o poder de extração da fração de mais-
valia sem participar do processo produtivo, apenas por haver proprietários
privados da terra.
A renda capitalista da terra pode ser obtida através do aluguel, do arrendamento
(que são evidências de que ela existe) ou de uma só vez, pela venda da terra.
Conforme Oliveira, é por isso que o proprietário de terra é um personagem de
dentro do capitalismo. Ao se apropriar de grandes extensões de terra, ele retém
essa terra com valor, ou seja, com o objetivo de especular, de poder se apropriar da
renda da terra. É o que fazem os grandes capitalistas que se converteram em
colonizadores, vendedores da mercadoria terra.
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Diante disso, a propriedade capitalista da terra tem que ser entendida como
uma contradição do desenvolvimento do modo capitalista de produção, tem
que ser entendida como produto de uma relação social que ela é.
É por isso que a propriedade e a concentração da terra no capitalismo constituem-se
em mecanismo de produção de capital.
Conforme Martins (1981,p.171) apud Oliveira (2007, p. 171),
“Portanto, não só relações não-capitalistas de produção podem
ser dominadas e reproduzidas pelo capital, como é o caso daprodução familiar de tipo camponês, como também,
determinadas relações podem não parecer integrantes do
processo do capital, embora sejam, como é o caso da
propriedade capitalista da terra”.
Assim, compreendida a questão da propriedade capitalista da terra, cabe ressaltare entender, nesse contexto, o processo de discussão da reforma agrária. P.67
A reforma agrária historicamente aparece no capitalismo como necessidade
conjuntural de o capital resolver a questão social advinda da concentração das
terras.
Como o Estado não tem garantido o processo dentro da lógica capitalista, asreformas agrárias têm sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as
pressões sociais advindas da concentração da terra.
Já, os exemplos de reformas agrárias sob o capitalismo apontam para a direção
de uma das estratégias da expansão do capitalismo no campo – transformar aqueles
camponeses que começam a concentrar terra, conforme casos norte-americanos e
europeu, em pequenos capitalistas.
Reforma Agrária.
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A reforma agrária aparece na história, em geral, relacionada simultaneamente, às
lutas, revoltas ou mesmo revoluções camponesas – com uma idéia de revolução
agrária -; e às ações de governos visando modificar a estrutura agrária de regiões
ou países – está agora mais relacionada a idéia de reforma propriamente dita. P.
68-9
No século XX, a reforma agrária apareceu principalmente nos países em
desenvolvimento com grande concentração da propriedade privada da terra em
pouxas mãos, e uma grande massa de camponeses sem terra ou com pouca terra.
Nesses países a reforma agrária constituiu-se em instrumento político dos
governos para frearem movimentos revolucionários cujo objetivo era a revolução
socialista – planos de desenvolvimento econômico a implantação de projetos de
reforma agrária para tentar anteciparem-se às revoluções.
A reforma agrária constitui-se, portanto, em um conjunto de ações governamentais
realizadas pelos países capitalistas visando modificar a estrutura fundiária comvistas a assegurar melhorias nos ganhos sociais, políticos, culturais, técnicos,
econômicos (crescimento da produção agrícola) e de reordenação do território.
Assim, a reforma agrária provoca alterações na estrutura fundiária sem alterar
o modo capitalista de produção existentes nas sociedades.
Para sua implantação há a necessidade de duas políticas fundamentais:a) a política fundiária;
b) e a política agrícola (assistência social, técnica, de fomento a
produção,comercialização, beneficiamento e industrialização e demais
ações como crédito, seguros, preços etc).
Oliveira (2007), parte do estabelecimento de uma diferença conceitual entre
reforma e revolução agrária.
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Assim, a revolução agrária implica necessariamente, na transformação da
estrutura fundiária realizada de forma simultânea com toda a estrutura social
existente, visando a construção de outra sociedade.
Revoluções agrárias – podem ser divididas em três grupos:
1. Primeiro refere-se às revoluções agrárias que ocorreram na transição do
feudalismo para o capitalismo, especialmente na Europa – lutas dos
camponeses servos contra os senhores feudais, contra a corvéia (renda-em-
trabalho, contra a renda em produto, contra a renda em dinheiro, os tributos e
outras;2. Segundo grupo, estão aquelas que ocorreram no bojo das revoluções
socialistas;
3. Terceiro, estão a revolução Mexicana e a guerra civil dos Estados
Unidos.
Reforma Agrária na América Central p.96
Na América Central a reforma agrária tem sido constantemente adiada, por isso,
está na base das revoluções sociais. Um líder camponês guatemalteco exilado
explica a luta dos camponeses, comentando:
“Em meu país, basta que uma pessoa defenda seus direitos
para que seja chamada de subversiva, Mas nós, oscamponeses, não entendemos nada dessas coisas, nem
sabemos bem o que seja comunismo. A única coisa que
sabemos é que tomaram nossas terras, e sem elas não
temos o que comer. Que caminho nos resta? Ficar olhando
nossos filhos morrerem de fome?” (BENJAMIN, 1986:36).
Este quadro deriva do processo de expropriação a que foram submetidos os
camponeses historicamente, pois, antes praticavam uma agricultura voltada para
o consumo, e gradativamente foram sendo expulsos de suas terras pelas elites que
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concentraram as terras e passaram a produzir para o mercado mundial
(algodão, café, banana e carne bovina). Em 1975, menos de 5% dos proprietários
concentravam dois terços das melhores terras.
Em El Salvador, a reforma agrária veio no bojo da guerra civil travada pela Frente
Marti. “Esta é uma guerra entre os que têm e os que não têm. Um pequeno número
de famílias é dono da maior parte da terra, enquanto a maioria dos camponeses
nada tem. Enquanto isso não mudar, não haverá paz” (BENJAMIN, 1986:36),
comentário geral no país durante a década de 1980.
A reforma agrária foi assinada em março de 1980, e seria implantadagradativamente. Durante a primeira fase, na qual foram criadas 300
cooperativas, só foram beneficiadas cerca de 7% das famílias camponesas do
país, e, mesmo para elas, a vida pouco mudou. As queixas dos membros: a
terra destinada era pobre; falta de apoio técnico e de créditos, outros problemas.
Assim, a reforma agrária prometida pelas elites não foi executada, sobrando
aos camponeses um caminho: a continuidade da luta pela terra e com ela acontinuidade da guerra civil, que durou até o início dos anos 90.
Outros países ....
Reforma Agrária na América do Sul p. 98
Conforme Oliveira, na América do Sul foram vários os países que experimentaram a
execução de políticas de reformas agrárias visando reduzir as possibilidades de
vivenciarem revoluções socialistas.
No Peru foi realizada pelo governo do general Velasco Alvarado, na década de
1970. Foi profunda, foram criadas mais de mil empresas associativas e assentados
mais de um milhão de camponeses (CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO, nº 94,
1986:29).
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A principal característica da reforma agrária peruana foi seu componente
associativo, pois, a terra foi entregue aos componeses na forma de cooperativas ou,
então, sob a forma das sociedades agrícolas de interesse social (SAIS), que se
tornaram a unidade produtiva básica da reforma dos Andes – visava resolver o
problema das comunidades indígenas.
No final dos anos 80 e 90, a reforma agrária peruana conheceu uma
contrareforma com a dissolução das cooperativas - terras parceladas entre os
camponeses - e sociedades agrárias de interesse social, nos Andes, as terras das
SAIS foram ocupadas e partilhadas.
Dados estatísticos do Brasil.
Estatísticas do meio rural brasileiro – 2010-2011. Dieese – MDA
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Do Livro de:
ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. – 3ª. Ed. –
São Paulo: Edusp, 2007.
Posfácio à terceira edição – Abramovay (2007).
1. Unidades familiares formam o módulo dominante do qual se organiza o
crescimento da agricultura contemporânea;
2. O setor agropecuário corresponde à parte cada vez menor da criação da
riqueza e da ocupação do trabalho social, no mundo todo;
3. Mais do que uma categoria social ou uma realidade econômica, a agricultura
familiar é um valor ;
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4. A importância da agricultura familiar nos países em desenvolvimento foi
amplamente reconhecida como base para organizar as políticas de combate a
pobreza (IFPRI, 2005) – International Food Policy Research Institute.
5. Da agricultura como setor ao meio rural como bem público :
patrimônio cultural;
questão ambienta e paisagística das regiões;;
Unidades pluriativas – vistas em função da sua multifuncionalidade;
Portanto:
(i) Quais as funções da agricultura na organização do meio rural?(ii) Quais as funções do meio rural para a vida da sociedade?
Caráter público que o meio rural assume – o uso do espaço não mais se limita
às necessidades da agricultura, mas como moradia, atividades não-agrícolas,
outros;
A gestão setorial (agricultura) vai se convertendo em gestão territorial.
Fim
Obrigado pela atenção,
Prof Dirceu Basso
UNILA