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Curso NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA Disciplina FUNDAMENTOS DA NEUROANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E APRENDIZAGEM

FUNDAMENTOS DA NEUROANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO … · 2018. 5. 10. · Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 9 A informação

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Curso NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA

Disciplina FUNDAMENTOS DA

NEUROANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO

CENTRAL E APRENDIZAGEM

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Curso NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA Disciplina FUNDAMENTOS DA NEUROANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E APRENDIZAGEM

Marta Pires Relvas

www.avm.edu.br

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Su

mári

o

05 Apresentação

07 Aula 1

Funções gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem Auto avaliação

31 Aula 2 Plasticidade cerebral e Memória; Atenção

Auto avaliação

52 Aula 3 A filogênese do sistema nervoso Percepção, Linguagem e Pensamento

Auto Avaliação

67 Aula 4 Estruturas Neurais dos Movimentos e da Aprendizagem Motora Auto Avaliação

101 Aula 5 Neurociência, Educação Inclusão Auto Avaliação

130 Aula 6 Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem Auto Avaliação

151 Aula 7 Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade

164 Aula 8 Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica.

173 Referências bibliográficas

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Fundamentos da Neuroanatomia e Fisiologia do Sistema Nervoso Central e Aprendizagem

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taçã

o

Prezado aluno, nesta disciplina abordaremos sobre um assunto muito interessante. Não são apenas as estrelas no universo que fascinam o homem com o seu impressionante número. Em outro universo, o nosso universo biológico interno, uma gigantesca “galáxia” com centenas de milhões de pequenas células nervosas que formam o cérebro e o sistema nervoso comunicam-se umas com as outras através de pulsos eletroquímicos para produzir atividades muito especiais: nossos pensamentos, sentimentos, dor, emoções, sonhos, movimentos e muitas outras funções mentais e físicas, sem as quais não seria possível expressarmos toda a nossa riqueza interna e nem perceber o nosso mundo externo como o som, o cheiro, o sabor, e também a luz e o brilho, inclusive o das estrelas. Então é sobre isso que esse caderno com 8 aulas vai tratar. Na primeira aula falaremos de alguns conceitos do sistema nervoso. Na segunda aula o assunto será a plasticidade cerebral e a memória. Na terceira aula conheceremos a filogênese do sistema nervoso. Em sequência iremos analisar a neurobiologia do conhecimento aplicada à construção da inteligência e da afetividade. Finalmente, o assunto da última aula se refere as aplicações das aulas anteriores no âmbito da sala de aula a partir de uma nova perspectiva biológica. Aproveite ao máximo!

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etiv

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s

Este caderno de estudos tem como objetivos: Expor sobre o sistema nervoso: nossa galáxia interna; Distinguir partes do cérebro; Reconhecer a existência da plasticidade do cérebro; Estudar a memória, seus tipos e funções; Demonstrar a filogênese do sistema nervoso; Discutir sobre a linguagem e seus distúrbios; Abordar as regiões encefálicas numa visão integrada; Analisar os impactos da neurobiologia no âmbito da sala de

aula.

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Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem Marta Relvas

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Agora sim vamos à primeira aula! Todos os estímulos do nosso ambiente causando sensações, como dor e calor, todos os sentimentos, pensamentos, programação de respostas emocionais e motoras, bases neurais da aprendizagem e memória, ação de drogas psicoativas, causas de distúrbios mentais, e qualquer outra ação ou sensação do ser humano, não podem ser entendidos sem o fascinante conhecimento do processo de comunicação entre os neurônios. E é sobre o neurônio que nossa aula começa! Depois de sabermos o que é neurônio vamos estudar as diferenças do neurônio e de outras células nervosas. Conheceremos as partes da célula nervosa e suas funções, ou seja, conheceremos o corpo celular, a membrana neuronal, os dentritos, o axônio e o terminal nervoso. Depois passearemos pelo cérebro e sue hemisférios, sem falar que também discorreremos por uma breve história de seu descobrimento. Por fim, começaremos a falar do sistema nervoso e seu funcionamento para que a partir daí possamos entender as outras aulas.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Entender a organização e funcionamento do sistema nervoso,

mas para isto precisamos saber de outras coisas como os próximos tópicos que se seguem;

Definir o que são neurônios; Reconhecer a diferença de um neurônio e de outras células; Entender por que o cérebro é cinzento; Conhecer partes e funções da célula nervosa; Saber o que são sinapses e como elas ocorrem; Conhecer as funções e diferenças dos hemisférios cerebrais

(direito e esquerdo).

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 8

O que são neurônios?

Neurônios são células especializadas. Eles são

feitos para receber certas conexões específicas,

executar funções apropriadas a passar suas decisões a

um evento particular a outros neurônios que estão

relacionados com aqueles eventos. Estas

especializações incluem uma membrana celular que é

especializada para transportar sinais nervosos como

pulsos eletroquímicos; o dendrito, (do grego dendron,

ou árvore) que recebe e libera os sinais, o axônio (do

grego axoon, ou eixo), o “cabo” condutor de sinais, e

pontos de contatos sinápticos, onde a informação pode

ser passada de uma célula a outra.

O QUE FAZ O NEURÔNIO SER DIFERENTE DE

OUTRAS CÉLULAS NERVOSAS?

Assim como as outras células, os neurônios se

alimentam, respiram, têm os mesmos genes, os

mesmos mecanismos bioquímicos e as mesmas

organelas. Então, o que faz um neurônio de diferente?

Neurônios diferem de outras células em um aspecto

importante: eles processam informação. Ele deve

desencadear informações sobre o estado interno do

organismo e seu ambiente externo, avaliar esta

informação, e coordenar atividades apropriadas à

situação e às necessidades correntes das pessoas.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 9

A informação é processada através de um

evento conhecido como impulso nervoso. O impulso

nervoso é a transmissão de um sinal codificado

de um dado estímulo ao longo da membrana do

neurônio, a partir do ponto em que ele foi estimulado.

Dois tipos de fenômenos estão envolvidos no

processamento do impulso nervoso: elétrico e químico.

Eventos elétricos propagam um sinal dentro do

neurônio, e processos químicos transmitem o sinal de

um neurônio a outro ou a uma célula muscular.

CÉLULAS GLIAIS

Além dos neurônios, o sistema nervoso apresenta-se constituído pelas células glia, ou células gliais, cuja função é dar sustentação aos neurônios e auxiliar o seu funcionamento. As células da glia constituem cerca de metade do volume do nosso encéfalo. Há diversos tipos de células gliais. Os astrócitos, por exemplo, dispõem-se ao longo dos capilares sanguíneos do encéfalo, controlando a passagem de substâncias do sangue para as células do sistema nervoso. Os oligodendrócitos e as células de Schwann enrolam-se sobre os axônios de certos neurônios, formando envoltórios isolantes. Neurônios recebem sinais nervosos de axônios de outros neurônios. A maioria dos sinais é liberada aos dendritos. Os sinais gerados por um neurônio são enviados através do corpo celular, que contém o núcleo, o “armazém” de informações genéticas. Axônios são as principais unidades condutoras do neurônio. O cone axonal é a região na qual os sinais das células são iniciados. Células de Schwann, as quais não são partes da célula nervosa, mas um dos tipos das células gliais, exercem a importante função de isolar neurônios por envolver seus processos membranosos ao redor do axônio formando a bainha de mielina, uma substância gordurosa que ajuda os axônios a transmitirem mensagens mais rapidamente do que as não mielinizadas. A mielina é quebrada em vários pontos pelos nodos de Ranvier, de forma que em uma secção transversal o neurônio se parece com um cordão de salsichas. Ramos do axônio de um neurônio (o neurônio pré-sináptico) transmitem sinais a outro neurônio (o neurônio pós-sináptico) em um local chamado sinapse. Os ramos de um único axônio podem formar sinapses com até 1000 outros neurônios.

IMPULSO NERVOSO

ELÉTRICO QUÍMICO

SINAL DO NEURÔNIO

NEUROTRANSMISSORES LIBERADOS

CAPTADO POR OUTRO NEURÔNIO

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 10

Processos químicos sobre interações entre neurônios

ocorrem no final do axônio, chamados sinapse. Tocando

intimamente com o dendrito de outra célula (mas sem

continuidade material entre ambas as células), o axônio

libera substâncias químicas chamadas

neurotransmissores, os quais se unem a receptores

químicos na membrana do neurônio seguinte.

O CÉREBRO É CINZENTO. POR QUÊ?

Talvez você já tenha ouvido o termo “matéria

cinzenta” para o cérebro. Em uma secção transversal

feita no cérebro, é fácil ver as áreas cinzentas e

brancas. O córtex e outras células nervosas são

cinzentos, e as regiões, entre eles, brancas. A coloração

acinzentada é produzida pela agregação de milhares de

corpos celulares, enquanto que o branco é a cor da

mielina. A cor branca revela a presença de feixes de

axônios passando pelo cérebro, mais que em outras

áreas nas quais as conexões estão sendo feitas.

Nenhum neurônio tem conexão direta com outro. No

final do axônio, encontram-se filamentos terminais, e

estes estão próximos de outros neurônios. Eles podem

estar próximos dos dendritos de outros neurônios

(algumas vezes em estruturas especiais chamadas

espinhas dendríticas) ou próximo ao corpo celular.

Parte da célula nervosa e suas funções

CORPO CELULAR

Corpo celular é a “fábrica” do neurônio. Ele

produz todas as proteínas para os dendritos, axônios e

terminais sinápticos, e contém organelas especializadas

tais como mitocôndrias, aparelho de Golgi, retículo

endoplasmático, grânulos secretórios, ribossomos e

polissomos para fornecer energia e agrupar as partes

em produtos completos.

Você sabia?

O cérebro é o órgão onde se radicam a sensibilidade consciente, a mobilidade voluntária e a inteligência; por este motivo é considerado como o centro nervoso mais importante de todo o sistema.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 11

Fonte: HTTP: //www.primeirobhp.vilabol.uol.com.br/

VAMOS RELEMBRAR UM POUCO DA ESTRUTURA DAS CÉLULAS?

Citosol é o fluido aquoso e salgado com uma solução rica em potássio dentro da célula contendo enzimas responsáveis pelo metabolismo celular. Núcleo - Derivado do latim nux, castanha, o núcleo é o arquivista e o arquiteto da célula. Como arquivista ele contém os genes, consistindo de DNA, o qual contém a “história” da célula, a informação básica para manufaturar todas as proteínas características. Como arquiteto ele sintetiza RNA, a partir do DNA, e o transporta através de poros ao citoplasma para uso na síntese de proteínas. Nucléolo é uma organela que está envolvida ativamente na síntese de ribossomos e na transferência de RNA ao citosol. Aparelho de Golgi é uma estrutura ligada à membrana que exibe um papel no empacotamento de peptídeos e proteínas (incluindo os neurotransmissores) dentro das vesículas. Poliribossomos – Existem vários ribossomos unidos por um cordão. O cordão é um fio único de RNAm (RNA mensageiro, uma molécula envolvida na síntese de proteínas do lado de fora do núcleo). Os ribossomos associados atuam nele para fazer múltiplas cópias da mesma proteína. Mitocôndria é a parte da célula responsável pela energia na forma de ATP (adenosina trifosfato). Os neurônios necessitam de uma enorme quantidade de energia. O cérebro é um dos tecidos mais ativos metabolicamente. No homem, por exemplo, o cérebro usa 40 ml de oxigênio por minuto. A mitocôndria usa oxigênio e glucose para produzir a maioria da energia da célula.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 12

MEMBRANA NEURONAL

A membrana neuronal serve como uma barreira

na união do citoplasma interno do neurônio e para

excluir certas substâncias que flutuam no fluido que

banha o neurônio.

A membrana, com seu mosaico de proteínas, é

responsável por muitas funções importantes:

Mantém certos íons e pequenas moléculas

fora da célula e deixa outras dentro;

Acumula nutrientes e rejeita substâncias

nocivas;

Catalisa reações enzimáticas;

Estabelece um potencial elétrico dentro da

célula;

Conduz um impulso;

É sensível a certos neurotransmissores e

neuromoduladores.

A membrana é feita de lipídio e proteínas -

gorduras e cadeias de aminoácidos. A estrutura básica

desta membrana é uma camada bilateral ou um

“sandwich” de fosfolipídios, organizado de tal forma que

a região polar (carregada) está voltada para fora e a

região não polar para dentro.

O cérebro consome grandes quantidades de ATP. A energia química armazenada em ATP é usada como combustível na maioria das reações bioquímicas do neurônio. Por exemplo, proteínas especiais na membrana neuronal usam energia liberada pela quebra de ATP em ADP para bombear certas substâncias através da membrana para estabelecer diferenças de concentração entre o lado interno e externo do neurônio. Retículo Endoplasmático Rugoso (RER) e Retículo Endoplasmático Liso (REL) são sistemas de tubos para o transporte de materiais para dentro do citoplasma. Ele pode ter ribossomos (RER) ou não (REL). Com ribossomos, o RE é importante para a síntese de proteínas.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 13

A face externa da membrana contém os

receptores, pequenas regiões moleculares

especializadas que fornecem uma espécie de

“recipiente” para outras moléculas externas, em um

esquema análogo a uma chave e fechadura. Para cada

molécula externa, existe um receptor correspondente.

Quando as moléculas se unem aos receptores,

seguem-se algumas alterações da membrana e no

interior da célula, tais como a modificação da

permeabilidade de alguns íons.

DENDRITOS

Estas estruturas se ramificam como galhos de

uma árvore e serve como o principal aparato para

receber sinais de outras células nervosas. Eles

funcionam como “antenas” do neurônio e são cobertos

por milhares de sinapses. A membrana dendrítica sob a

sinapse (a membrana pós-sináptica) tem muitas

moléculas de proteínas especializadas, os receptores,

que detectam os neurotransmissores na fenda

sináptica. Uma célula nervosa pode ter muitos

dendritos que se ramificam muitas vezes, sua

superfície é irregular e coberta em espinhas dendríticas

que é o local onde as conexões sinápticas são feitas.

AXÔNIO

Geralmente, é um longo processo que se projeta

nas regiões distantes do sistema nervoso. O axônio é a

principal unidade condutora do neurônio, capaz de

conduzir sinais elétricos a distâncias longas e curtas,

ou seja, desde 0,1mm até 2m. Muitos neurônios não

têm axônios. Estes são chamados de “células

amácrinas”, todos os processos neuronais são

dendritos. Neurônios com axônios muito curtos

também são encontrados.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 14

Os axônios de muitos neurônios são envolvidos

em uma bainha de mielina, que é composta de

membranas de células intersticiais e é envolvida ao

redor do axônio para formar várias camadas

concêntricas. A bainha de mielina é quebrada em vários

pontos pelos nodos de Ranvier. A mielina protege o

axônio e previne interferência entre axônios à medida

que elas passam ao longo dos feixes.

As células que circundam as fibras nervosas

periféricas, ou seja, as fibras dispostas fora do cérebro

e medula espinhal, são chamadas de células de

Schwann (porque foram primeiramente descritas por

Theodor Schwann). As células que envolvem os axônios

dentro do sistema nervoso central (cérebro e medula

espinhal) são chamadas de oligodendrócitos. Entre cada

par de células de Schwann sucessivas, existe o nodo de

Ranvier.

O local onde o axônio se junta à célula se chama

cone axonal. É daí que a despolarização conhecida

como potencial de ação ocorre.

NEURÔNIOS: CÉLULAS NERVOSAS Um neurônio típico apresenta três partes distintas: corpo celular, dendritos e axônio. No corpo celular, a parte mais volumosa da célula nervosa, se localiza o núcleo e a maioria das estruturas citoplasmáticas. Os dendritos (do grego dendron, árvore) são prolongamentos finos e geralmente ramificados que conduzem os estímulos captados do ambiente ou de outras células em direção ao corpo celular.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 15

TERMINAL NERVOSO (TERMINAL PRÉ-SINÁPTICO)

Sinapses são junções formadas com outras

células nervosas, onde o terminal pré-sináptico de uma

célula faz contato com a membrana pós-sináptica de

outra. São nestas junções que os neurônios são

excitados, inibidos ou modulados. Existem dois tipos de

sinapses: a elétrica e a química.

As sinapses elétricas ocorrem quando o terminal

pré-sináptico está em continuidade com o pós-

sináptico. Íons e pequenas moléculas passam por eles,

conectando então canais de uma célula à próxima, de

forma que alterações elétricas em uma célula são

transmitidas quase instantaneamente à próxima. Os

íons podem gerar fluxo em ambas as direções destas

junções, embora eles tendam a ser unidirecionais.

ARRANJOS SINÁPTICOS NO SNC

A. Uma sinapse axo-dendrítica. B. Uma sinapse axo-somática. C. Uma sinapse axo-axônica.

O axônio é um prolongamento fino, geralmente mais longo que os dendritos, cuja função é transmitir para outras células os impulsos nervosos provenientes do corpo celular. Os corpos celulares dos neurônios estão concentrados no sistema nervoso central e, também, em pequenas estruturas globosas espalhadas pelo corpo, os gânglios nervosos. Os dendritos e o axônio, genericamente chamados de fibras nervosas, estendem-se por todo o corpo, conectando os corpos celulares dos neurônios entre si e às células sensoriais, musculares e glandulares.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 16

Nas sinapses químicas, o modo de transmissão

não é elétrico, e sim carreado por neurotransmissores,

substâncias neuroativas liberadas no lado pré-sináptico

da junção. Existem dois tipos de junções químicas. O

tipo I é uma sinapse excitatória, geralmente encontrada

em dendritos; o tipo II é uma sinapse inibitória,

geralmente encontrada em corpos celulares.

Substâncias diferentes são liberadas nestes dois tipos

de sinapses.

Cada botão terminal é conectado a outros

neurônios através de uma pequena fenda chamada

sinapse. As características físicas e neuroquímicas de

cada sinapse determinam a força e a polaridade do

sinal de input. Mudando a constituição de vários

neurotransmissores químicos, pode ocasionar o

aumento ou a diminuição da estimulação que a

despolarização do neurônio causa no dendrito vizinho.

Alterando os neurotransmissores, também, altera a

estimulação, que pode ser inibitória ou excitatória.

Descobrimento do cérebro. Uma breve

história

O século XX foi notável para o estudo do

cérebro. Verdadeira “caixa preta” para a compreensão

Quer saber mais?

A eletroencefalogra-fia é um dos maiores instrumentos de investigação da atividade cerebral. A forma mais freqüentemente utilizada é o eletroencefalograma (EEG) de rotina, o qual dura 20-40 minutos e usa aproximadamente 20 eletrodos diferentes de escalpo colocados de acordo com alguns sistemas. O EEG é um registro da atividade elétrica cerebral usando eletrodos colocados no escalpo. Os eletrodos captam qualquer alteração na atividade neural. Consequentemente, os sinais obtidos são apenas uma medida grosseira da atividade neural em um volume cerebral funcionalmente grande.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 17

sobre seu funcionamento, o cérebro pode afinal ser

despido e visto como podemos, através do raio X.

Sistema nervoso: neurônios nossa galáxia interna

O eletroencefalograma tornou-se uma

extraordinária ”ferramenta” permitindo avanços no

estudo da atividade cerebral in vivo. Outra contribuição

é a técnica conhecida como Pósitron Emission

Tomography, que possibilita marcar o oxigênio e

glicose permitindo ao cientista acompanhar seus

passos “cérebro a dentro”. Por essa técnica é possível

discriminar áreas cerebrais em pessoas com atividades

diferentes, acendendo pequenas em pontos do cérebro

na leitura de um texto ou situações emotivas.

Há ainda o Magnetic Ressonance Imaging que

mede mudanças de concentração do oxigênio no

sangue que irriga o cérebro, que é transmitido por

proteína com teor magnético. Propriedades,

monitoradas por ondas de rádio com sinais que

revelam regiões mais ativas nessa ou outra função.

Resultados obtidos por essas e outras técnicas

extraordinárias inauguram nova era da neurociência,

trazendo concepções sobre ação cerebral fazendo

brotar teorias jamais sonhadas para estudo da

cognição, da memória.

A medicina, sem dúvida, está a desvendar

segredos profundos da amnésia e da incapacidade de

reconhecimento de rostos, realizar operações

matemáticas e muitas outras disfunções. Não só a

medicina ganha com esse mergulho da ciência na

mente humana como também a educação.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 18

O cérebro sempre foi o órgão essencial da

aprendizagem e da saúde. Precisamos sempre

estimular, animar, “Acordar” a mente.

O CÉREBRO E SEUS HEMISFÉRIOS

O cérebro humano constitui-se por dois

hemisférios cerebrais (esquerdo e direito). O hemisfério

esquerdo controla o lado direito do corpo e o hemisfério

direito controla o lado esquerdo. Cada hemisfério

divide-se em lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e

lobo temporal. Os dois hemisférios cerebrais eram

vistos como dois irmãos, um ativo, dinâmico e falante,

e outro tolo e mudo.

Em 1950, verificou-se que mesmo separando-se

os dois hemisférios, estes continuavam a funcionar

independentemente.

Em 1960, percebeu-se que o hemisfério direito

era mudo, mas não tolo. O esquerdo é resumidamente

verbal e analítico. O direito é rápido, complexo,

espacial, perceptivo e configuracional.

Nosso cérebro é duplo, portanto, necessita

receber estímulos específicos. Hemisfério direito exalta

a liberdade de aceitar informações, sem preocupações

analíticas. A atenção desliza com rapidez, detendo-se

Importante

É importante guardar que há um cruzamento das ligações entre o cérebro e o resto do corpo. Sendo assim, o hemisfério direito controla o lado direito e vice-versa.

Cerebelo Lobo

temporal

Lobo frontal Lóbulo

occipital

Lobo parietal

Tronco cerebral

Para navegar

Acesse o site http://www.epub.org.br/cm/home.htm da Revista Cérebro Mente, revista eletrônica de divulgação científica em neurociência.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 19

diante de uma nova idéia apenas o tempo necessário.

Não existe nada que seja unicamente regulado por um

dos hemisférios.

HEMISFÉRIO ESQUERDO

HEMISFÉRIO DIREITO

Função verbal: Seleciona palavras para descrever, definir. Simbólica: Usa símbolos para representar. Analítica: Desenvolve a habilidade passo a passo. Abstrata: Seleciona pequena parte da informação para representar o todo. Temporal: Marca o tempo e a sequência. Racional: Busca razão nos fatos. Lógica: Extrai conclusões lógicas.

Função não verbal: Percebe as coisas através de imagens. Concreta: Concebe coisas em sua integralidade. Sintética: Agrupa informações e forma um todo. Analógica: Compreende relações e percebe semelhanças. Não temporal: Não possui sensação de tempo. Intuitiva: Prefere seguir palpites ou amostras.

CÉREBRO: USE-O OU PERCA-O

Esta afirmação é atualmente pesquisada.

Estudos comprovam que a mente pode conservar até

idéias avançadas se for usada por mais tempo e de

forma saudável.

A partir dessa certeza, inúmeras pesquisas

sugerem exercícios que estimulam a ação cerebral. Os

de maior popularidade são os exercícios NEURÓBICOS.

Como a própria palavra sugere é uma combinação de

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 20

“neurônios” e exercícios físicos ou aeróbicos. Conservar

a juventude do cérebro não é difícil. O cérebro

necessita de estímulos. Estudos e pesquisas estão

comprovando isto com base na comprovação de que as

células nervosas, quando excitadas, produzem

neurotrofinas, moléculas que estimulam seu

crescimento e reação.

O princípio básico desses exercícios consiste em

se fugir da rotina, pois o cérebro cria hábitos com a

rotina e, desse modo, sua ação nas atividades que são

feitas sempre parece ser a de um “piloto automático” e

ao se quebrar sistematicamente esses hábitos estariam

impondo desafios geradores de neutrofinas que é o

verdadeiro “adubo cerebral”.

Os estímulos propostos pelos exercícios

neuróbicos dirigem-se aos hemisférios esquerdo e

direito e destaca a importância da mudança de hábitos,

CÉREBRO SARADO Exercícios simples, como ler, dançar, desenhar e jogar xadrez, estimulam a atividade dos neurônios, melhoram a memória, as habilidades e o raciocínio.

(Juliane Zaché) Como anda sua malhação? As pernas estão durinhas, a barriguinha bem definida e o braço bem torneado? Ótimo. E o cérebro? Também está malhadíssimo? A pergunta pode parecer inusitada, mas tem fundamento. Cada vez mais a ciência confirma a importância de se exercitar tal órgão para que as potencialidades de cada um, da memória à coordenação, sejam desenvolvidas ao máximo. Não se trata, é claro, de um trabalho muscular, até porque o cérebro não é um músculo. Na verdade, os pesquisadores defendem que é preciso manter constantemente a atividade dos neurônios (as células nervosas do órgão). Assim, o cérebro fica afiado e não atrofia como um músculo que não é usado. A malhação, nesse caso, é feita com estímulos frequentes, como aprender um novo movimento de dança, ler sobre um assunto com o qual não se está habituado ou simplesmente mudar o caminho do escritório até a casa. Atitudes como essas, de acordo com os cientistas, são capazes de aumentar o poder de raciocínio, a concentração e até habilidades como desenhar e escrever.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 21

desempenhando-se com a outra mão atividades

habituais diárias como alternar o pulso do relógio,

inserir frases curtas em contextos mais amplos,

desenvolver analogias, explorar a intuição, entre

muitas outras, garantirão um cérebro sempre em forma

e jovem.

Somos tentados a perguntar: Que razão leva

um cérebro a permanecer produtivo e criativo durante

uma vida inteira e reserva a outro o destino de

conduzir-se muito mal na fase madura dos seus donos?

Durante os últimos anos, a ciência acumulou

muitas respostas a essas duas perguntas respostas

que têm também o efeito de desmentir as crendices

acerca do processo de envelhecimento do cérebro.

Testes em laboratórios e estudos epistemológicos

trouxeram à tona uma das mais notáveis

características do cérebro: a sua habilidade em

amoldar-se à situação das perdas de neurônios

comandadas pela biologia, (isto é, sua plasticidade)

sem perder assim o seu vigor, mesmo nas mais

avançadas idades. O mais importante de tudo, porém,

é você saber usar a plasticidade cerebral para

determinar qual daqueles dois caminhos você seguirá.

Em grande parte, está em suas mãos o destino

do seu cérebro. O cérebro atua sob o tema: “Use-o ou

perca-o!”

O sistema nervoso

O sistema nervoso detecta estímulos externos e

internos, tanto físicos quanto químicos, e desencadeia

as respostas musculares e glandulares. Assim, é

responsável pela integração do organismo com o seu

meio ambiente.

Para pensar

Qual será sua resposta ao desafio lançado pela autora?

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 22

Ele é formado, basicamente, por células

nervosas, que se interconectam de forma específica e

precisa, formando os chamados circuitos neurais.

Através desses circuitos, o organismo é capaz de

produzir respostas estereotipadas que constituem os

comportamentos fixos e invariantes (por exemplo, os

reflexos) ou, então, produzir comportamentos variáveis

em maior ou menor grau.

Todo ser vivo dotado de um sistema nervoso é

capaz de modificar o seu comportamento em função de

experiências passadas. Essa modificação comportamental

é chamada de aprendizado, e ocorre no sistema

nervoso através da propriedade chamada plasticidade

cerebral.

A célula nervosa ou, simplesmente neurônio, é

o principal componente do sistema nervoso.

Considerada sua unidade anatomofisiológica, estima-se

que no cérebro humano existam aproximadamente 15

bilhões destas células, responsáveis por todas as

funções do sistema.

Existem diversos tipos de neurônios, com

diferentes funções dependendo da sua localização e

estrutura morfológica, mas em geral constituem-se dos

mesmos componentes básicos:

1. O corpo do neurônio, constituído de núcleo e

pericário, dá suporte metabólico a toda célula;

2. O axônio (fibra nervosa), prolongamento

único e grande que aparece na soma, é

responsável pela condução do impulso

nervoso para o próximo neurônio, podendo

ser revestido ou não por mielina (bainha

axonial), célula glial especializada;

3. Os dendritos são prolongamentos menores em

forma de ramificações (arborizações terminais)

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 23

que emergem do pericário e do final do axônio,

sendo, na maioria das vezes, responsáveis pela

comunicação entre os neurônios através das

sinapses. Basicamente, cada neurônio possui

uma região receptiva e outra efetora em

relação à condução da sinalização.

OS DIFERENTES TIPOS DE NEURÔNIOS No centro da substância cinzenta há um canal - o canal central da medula - que permanece no adulto como resquício da luz do tubo neural embrionário. Os neurônios da substância cinzenta são de dois tipos: neurônios de axônio longo (tipo I) e neurônios de axônio curto (tipo II). Os neurônios de tipo I possuem longos axônios que saem da medula para constituir a raiz ventral. Tais neurônios radiculares podem ser viscerais (neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso autônomo que inervam as glândulas, músculos lisos e cardíacos), ou somáticos (neurônios motores primários que inervam os músculos estriados esqueléticos). Além dos neurônios radiculares, há os neurônios cordonais, também de tipo I, cujos longos axônios localizam-se no interior da medula em vias ascendentes ou descendentes. As vias ascendentes são formadas principalmente pelos neurônios cordonais de projeção, que terminam fora da medula, no encéfalo, e integram as vias ascendentes da medula. As vias descendentes são formadas principalmente pelos neurônios cordonais de associação, cujo axônio passa pela substância branca e se bifurca em um ramo ascendente e outro descendente, ambos terminando na substância cinzenta da própria medula. A função dos neurônios cordonais de associação é a integração intersegmentar da medula. Os neurônios do tipo II possuem o axônio curto que permanece sempre no interior da própria substância cinzenta. Tais neurônios estabelecem a conexão entre fibras aferentes dorsais e fibras eferentes ventrais, participando, assim, de vários arcos reflexos medulares. Fonte: http://www.enciclopedia.com.br/MED2000/pedia98a/anat31dk.htm

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 24

A SINAPSE

É a estrutura dos neurônios através da qual

ocorrem os processos de comunicação entre os

mesmos, os seja, onde ocorre a passagem do sinal

neural (transmissão sináptica) através de processos

eletroquímicos específicos, isso graças a certas

características particulares da sua constituição.

Em uma sinapse, os neurônios não se tocam,

permanecendo um espaço entre eles denominado fenda

sináptica, onde um neurônio pré-sináptico liga-se a um

outro denominado neurônio pós-sináptico. O sinal

nervoso (impulso), que vem através do axônio da

célula pré-sináptica chega em sua extremidade e

provoca na fenda a liberação de neurotransmissores

depositados em bolsas chamadas de vesículas

sinápticas. Este elemento químico se liga quimicamente

a receptores específicos do neurônio pós-sináptico,

dando continuidade à propagação do sinal.

NEUROTRANSMISSORES

Neurotransmisores são substâncias liberadas por um neurônio, considerado como neurônio pre-sináptico, em resposta a um estímulo. Esses neurotransmissores são jogados no espaço sináptico e se unem a um neurorreceptor específico no neurônio seguinte, chamado então, de neurônio post-sináptico. Com frequência em suas sínteses intervêm substâncias precursoras e enzimas. A neurotransmissão química é de fundamental importância para o mecanismo de diversas patologias e para a ação de fármacos e é a responsável pela conversão de energia elétrica para energia química entre um neurônio e outro na sinapse. A neurotransmissão, então, implica a necessidade de síntese do transmissor, de armazenamento e de liberação. Os transmissores terão, então, que atuar em neurorreceptores específicos da membrana pós-sináptica e ser removidos rapidamente da fenda sináptica por metabolização, difusão ou recaptação. O efeito do estímulo do neurorreceptor é, então, observado na alteração da membrana da célula pós-sináptica e nos eventos que disso decorrem.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 25

Um neurônio pode receber ou enviar entre

1.000 a 100.000 conexões sinápticas em relação a

outros neurônios, dependendo de seu tipo e localização

no sistema nervoso. O número e a qualidade das

sinapses em um neurônio pode variar, entre outros

fatores, pela experiência e aprendizagem,

demonstrando a capacidade plástica do SN.

ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL

Funcionalmente, pode-se afirmar que o sistema

nervoso é composto por neurônios sensoriais, motores

e de associação. As informações provenientes dos

receptores sensoriais aferem ao Sistema Nervoso

Central (SNC), onde são integradas (codificação/

comparação/ armazenagem / decisão) por neurônios

de associação ou interneurônios, e enviam uma

resposta que afere a algum órgão efetor (músculo,

glândula).

Os neurotransmissores se acoplam, assim, aos neurorreceptores. Atualmente, os neurorreceptores vêm sendo intensamente estudados. Cada neurotransmissor pode atuar sobre diversos subtipos de receptores de uma mesma categoria e o subgrupo de neurorreceptores descritos é crescente na literatura. Fonte: http://www.psiqweb.med.br

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 26

Kandel sugere que o “movimento voluntário é

controlado por complexo circuito neural no cérebro

interconectando os sistemas sensoriais e motor. (...) o

sistema motivacional”. As respostas desencadeadas

pelo SNC são tão mais complexas quanto mais

exigentes forem os estímulos ambientais (aferentes).

Para tanto, o cérebro necessita de uma

intrincada rede de circuitos neurais conectando suas

principais áreas sensoriais e motoras, ou seja, grandes

concentrações de neurônios capazes de armazenar,

interpretar e emitir respostas eficientes a qualquer

estímulo, tendo também a capacidade de, a todo

instante, em decorrência de novas informações,

provocar modificações e rearranjos em suas conexões

sinápticas, possibilitando novas aprendizagens.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 27

AUTO AVALIAÇÃO 1

A história sobre o descobrimento do cérebro teve muita

importância em vários campos na ciência.

Descreva aqui alguns pontos sobre tal relevância em

seu campo de trabalho.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Lobo frontal - Responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoção. Lobo Parietal - Responsável pela sensação de dor, tato, gustação, temperatura, pressão. Estimulação de certas regiões deste lobo em pacientes conscientes produz sensações gustativas. Também está relacionado com a lógica matemática. Lobo temporal - É relacionado primariamente com o sentido de audição, possibilitando o reconhecimento de tons específicos e intensidade do som. Tumor ou acidente afetando esta região provoca deficiência de audição ou surdez. Esta área também exibe um papel no processamento da memória e emoção. Lobo Occipital - Responsável pelo processamento da informação visual. Danos nesta área promovem cegueira total ou parcial. Lobo Límbico (ao redor da junção do hemisfério cerebral e tronco encefálico) - Está envolvido com aspectos do comportamento emocional e sexual e com o processamento da memória.

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 28

RESUMO

Vimos até agora:

Neurônios são células especializadas;

Neurônios recebem sinais nervosos de

axônios de outros neurônios;

Um neurônio típico apresenta três partes

distintas: corpo celular, dendritos e axônio;

No corpo celular, a parte mais volumosa da

célula nervosa, se localiza o núcleo e a

maioria das estruturas citoplasmáticas;

A informação é processada através de um

evento conhecido como impulso nervoso;

As sinapses elétricas ocorrem quando o

terminal pré-sináptico está em continuidade

com o pós-sináptico;

Sinapses são junções formadas com outras

células nervosas, onde o terminal pré-

sináptico de uma célula faz contato com a

membrana pós-sináptica de outra;

As sinapses elétricas ocorrem quando o

terminal pré-sináptico está em continuidade

com o pós-sináptico;

O século XX foi notável para o estudo do

cérebro;

O cérebro humano constitui-se por dois

hemisférios cerebrais (esquerdo e direito);

Os estímulos propostos pelos exercícios

neuróbicos dirigem-se aos hemisférios

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Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 29

esquerdo e direito e destaca a importância da

mudança de hábitos, desempenhando-se com

a outra mão atividades habituais diárias como

alternar o pulso do relógio, inserir frases

curtas em contextos mais amplos,

desenvolver analogias, explorar a intuição,

entre muitas outras, garantirão um cérebro

sempre em forma e jovem.

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Plasticidade cerebral e Memória; Atenção Marta Relvas

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LA2

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o

Nesta aula falaremos sobre a plasticidade cerebral. Veremos que Plasticidade cerebral é o ponto culminante da nossa existência e seu desenvolvimento se dá ao longo da vida. Deste desenvolvimento depende todo o processo de aprendizagem e também de reabilitação das funções motoras e sensoriais. Acontece mais ou menos assim. Logo depois do nascimento, diversos processos são desencadeados no desenvolvimento das atividades cerebrais. Um recém-nascido possui cerca de um quarto da massa cerebral de um adulto, mas já tem quase todos os neurônios que precisará por toda a sua vida. Os neurônios se expandirão e se organizarão em grandes redes de processamentos. Os processos de: memorização, atenção, percepção, linguagem e pensamento são complexos envolvendo sofisticadas reações químicas e circuitos interligados de neurônios. As células nervosas ou neurônios, quando são ativadas liberam hormônios ou neurotransmissores que atingem outras células nervosas através de ligações denominadas sinapses. Bem vou parar por aqui, mas vem comigo que vamos ver isso tudo mais explicadinho.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

Conhecer o papel da plasticidade cerebral; Reconhecer a relação entre memória, atenção, linguagem,

pensamento e aprendizagem; Se aprofundar nos mistérios do funcionamento cerebral; Verificar o papel da emoção nas funções cerebrais; Conhecer como se processa a perda de memória; Aprender como exercitar o cérebro para melhorar a memória.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 32

O que é plasticidade cerebral?

Plasticidade cerebral é a denominação das

capacidades adaptativas do Sistema Nervoso Central -

SNC – ou seja é a sua habilidade para modificar sua

organização estrutural própria e funcionamento. É a

propriedade do sistema nervoso que permite o

desenvolvimento de alterações estruturais em resposta

à experiência e como adaptação a condições mutantes

e a estímulos repetidos.

Este fato é melhor compreendido através do

conhecimento do neurônio, da natureza das suas

conexões sinápticas e da organização das áreas

cerebrais. A cada nova experiência do indivíduo,

portanto, redes de neurônios são rearranjadas, outras

tantas sinapses são reforçadas e múltiplas

possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se

possíveis.

Até bem pouco tempo, existia a idéia que a falta

de capacidade dos neurônios se dividirem supunha a

impossibilidade de se fazer algo quanto às conexões de

neurônios, impedindo, assim, o indivíduo de aprender.

Ainda há alguns decênios, os neurobiólogos pensavam que os genes impunham as conexões iniciais entre neurônios (as células nervosas), mas interrogavam-se sobre o fato de saber se, sim ou não, qualquer maturação cerebral era tributária dos genes. Assim, considerava-se que a atividade cerebral, sob a forma de influxo nervoso ou de potenciais de ação no interior dos neurônios, modelava o número, a distribuição e a eficiência das sinapses (as regiões de contato entre dois neurônios), permitindo aos neurônios transmitir informações entre si. Mas, no decurso dos vinte últimos anos, as investigações mostraram que é a própria atividade cerebral que atua diretamente sobre o desenvolvimento das sinapses e que os potenciais de ação são necessários a esse desenvolvimento. Estas investigações põem em evidência um duplo fenômeno: por um lado, a plasticidade cerebral não é indefinida (quando certo número de ajustamentos estão terminados, as

Dica da professora

O estudo dos neurônios já foi realizado na aula anterior a esta.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 33

As reconexões neuronais é uma reorganização

responsável pelas modificações que são observadas no

sistema nervoso do indivíduo. Por esses meios, diz-se

que o indivíduo pode aprender e reaprender atividades

desenvolvidas por ele previamente de forma

espontânea e harmoniosa. Porém, este processo é

gradual, dependendo do desenvolvimento do sistema

nervoso, devendo ser valorizados os pequenos

progressos de cada dia.

O cérebro pode promover reconexão de circuitos

neuronais até quando há uma pequena perda de

conectividade, pois tende a uma recuperação

autônoma, enquanto uma grande perda terá perda

permanente da função, mas que para tanto necessitam

de objetivos precisos mantendo níveis adequados de

estímulos facilitadores e inibidores.

Os neurônios desenvolvem brotamentos

axonais, promovendo um aumento na habilidade

funcional e um aumento aparente na força através do

aprendizado. A prática de um exercício ou uma

atividade leva a uma melhora nas habilidades e

desempenho dos nossos aprendizes.

O sistema nervoso de uma criança em

desenvolvimento é mais plástico que o sistema nervoso

do adulto, a atuação correta e eficaz na estimulação da

plasticidade é de fundamental importância para a

máxima da função motora/sensitiva do indivíduo,

vias neuronais perdem qualquer capacidade de se modificar), e, por outro lado, em certas partes do cérebro é essencial, em contrapartida, que se mantenha uma plasticidade permanente, porque se trata de circuitos neuronais que permitem a aprendizagem e asseguram ao cérebro o armazenamento contínuo de novos conhecimentos. Fonte: http://www.citi.pt/educacao_final/trab_final_inteligencia_artificial/

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 34

visando facilitar o processo de aprender a aprender em

nosso cotidiano. É o nosso grande desafio, como

profissional que somos, conhecer o cérebro de nossos

aprendizes e clientes, e tão logo o funcionamento, pois

cada um tem as suas próprias características.

COMO SE DÁ A PLASTICIDADE CEREBRAL?

Podemos encontrar várias teorias sobre como

se dá a recuperação das funções perdidas em uma

lesão cerebral: ela poderia ser medida por partes

adjacentes de tecido nervoso que não foram lesadas, e

o efeito da lesão dependeria mais da quantidade de

tecido poupado do que da sua localização; pela

alteração qualitativa de uma via nervosa íntegra

controlando uma função que antes não era sua; através

de estratégias motoras diferentes para realizar uma

atividade que esteja perdida, sendo o movimento

recuperado diferente do original, embora o resultado

final seja o mesmo.

captam

Neurônio É um canal de comunicação

entre dois

Soma

É um canal de comunicação

entre dois Sinapse

Transmissão Sináptica

Possibilita a

Neurônios (Biológicos) Interconectam-se

com 1º

Podem ou não vir de um

Estímulos

ou Corpo Celular

Constitui-se de

Realiza a passagem do

representa, de algum modo, um determinado

são

é resultado de um

é o menor estimulo capaz de causar um

processa e transmite

é consequência da atividade do

Estimulo Limiar

Axônio

Potencial de Ação

Impulso Nervoso

Sinal Neural

Dendrito

Ramificações

Conhecimento

2º 4º 3º

Contem a

conduz

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 35

Estas formas de regeneração do SNC são

crucialmente dependentes do ambiente tissular no qual

os novos axônios estão crescendo. Eles podem não

conseguir estabelecer conexões sinápticas apropriadas,

devido aos fatores tróficos, condições desfavoráveis de

substratos extracelulares, barreiras mecânicas, como

de cicatrizes gliais densas ou outros mecanismos

inibitórios.

As áreas motoras do SNC demonstram os

princípios do brotamento e da sinaptogênese reativa. O

brotamento colateral já foi identificado no córtex, no

núcleo vermelho e em outras regiões cerebrais,

sugerindo que este é um fenômeno generalizado.

Supersensitividade de desnervações, por outro lado, já

foi demonstrada no núcleo caudado. A base das

mudanças reorganizacionais é a presença de conexões

intracorticais que permitem interações variáveis entre

neurônios no córtex motor primário.

Outro mecanismo ainda em fase de testes é o

transplante de células. O uso do transplante,

combinado com o treinamento adequado, demonstra

que pode haver recuperação através deste, associado

com programas de reabilitação, com melhora na

habilidade motora.

A Lei Pública Americana, P.L. 94-142, diz: "Dificuldade de aprendizagem específica significa uma perturbação em um ou mais processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se por uma aptidão imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. O termo inclui condições como deficiências perceptivas, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e afasia de desenvolvimento. O termo não engloba as crianças que têm problemas de aprendizagem resultantes principalmente de deficiência visual, auditiva ou motora, de deficiência mental, de perturbação emocional ou de desvantagens ambientais, culturais ou econômicas" (Federal Register, 1977).

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 36

A PLASTICIDADE CEREBRAL NO ADULTO

Durante muitas décadas, acreditou-se que o

cérebro de um adulto maduro não possuía capacidade

de regenerar suas células nervosas, ou seja, formar

novas sinapses, e que as conexões entre os neurônios

congelavam-se em posições imutáveis. Pensava-se que

o cérebro era semelhante a um computador,

permanecendo estável e imutável, com memória e

capacidade fixa.

Mas nos últimos anos, neurocientistas

descobriram que o cérebro muda durante a vida e que

essa mudança é benéfica. Experiências revelaram que

situações desafiadoras e ambientes ”complexos”,

agradáveis e divertidos fornecem capacidade extra de

que o cérebro precisa para reconfigurar-se. Essa

plasticidade dispara um mecanismo pelo qual o cérebro

remodela-se, para aprender a sentir-se melhor, ou

pode ser induzido a se auto-reparar, no caso de sofrer

lesões ou contrair doenças.

Exercícios mentais tais como fazer contas,

aprender novo jogo de tabuleiro, ler atentamente e

refletir sobre o texto, jogo de quebra-cabeça são alguns

exemplos de ginástica cerebral. Além desses temos

também as atividades físicas – caminhadas, exercícios

aeróbicos, tai chi chuan, hidroginástica, alongamentos

– que aumentam a produção de endorfina, responsável

pela sensação de bem-estar, e retarda problemas

cognitivos associados ao envelhecimento. Com

atividades físicas regulares, o sangue passa a circular e

levar mais oxigênio às áreas menos irrigadas do

cérebro, aumentando a quantidade de conexões

neurais, melhorando a memória e a capacidade de

raciocínio.

Dica de leitura

TENÓRIO, Robinson Moreira. Cérebros e Computadores. São Paulo: Escrituras, 2002.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 37

A PLASTICIDADE CEREBRAL NA CRIANÇA

Logo depois do nascimento, diversos processos

são desencadeados no desenvolvimento das atividades

cerebrais. Um recém-nascido possui cerca de um

quarto da massa cerebral de um adulto, mas já tem

quase todos os neurônios que precisará por toda a sua

vida. Os neurônios se expandirão e se organizarão em

grandes redes de processamentos.

Os primeiros anos de vida da criança são

fundamentais para o desenvolvimento da criança. O

contato físico, o ouvir a voz da mãe, as entonações

diferentes das vozes, as luzes e cores... enfim, cada

experiência nova, cada contato dispensado na época

certa faz realizar conexões sinápticas. Criando

condições favoráveis para o surgimento de

determinadas competências (musicalidade, raciocínio

lógico-matemático, inteligência espacial), capacidades

que se estabelecem na primeira infância. As emoções e

o equilíbrio psicológico dependem do exercício cerebral

realizado nos primeiros minutos de existência e se

estendem até a adolescência, além de estimular e

fortalecer conexões do sistema límbico. O estímulo

certo, na hora certa, pode proporcionar a capacidade

de controlar suas emoções ou vice-versa.

Sem memória não há aprendizagem

A memória é a base de todo o saber e também

de toda a existência humana, desde o nascimento.

Todo o nosso cérebro funciona através da memória.

Comemos, andamos, falamos porque nos lembramos

de como fazê-lo. A memória determina nossa

individualidade como pessoas e como povos. O cérebro

manda secretar um ou outro neurotransmissor ou

hormônio quando estamos alegres ou tristes, quando

sentimos medo ou prazer. Acontecimentos com maior

Dica de leitura

ZIMMER, Carl. A fantástica história do cérebro. O funcionamento do cérebro humano. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 38

carga emocional são relembrados com mais nitidez,

pois neuroquímicos são estimulados, garantindo sua

memorização. A memória é uma das funções mais

importantes do cérebro, está ligada ao aprendizado e à

capacidade de repetir acertos e evitar erros. “A

memória é a reprodução mental das experiências

captadas pelo corpo por meio de movimentos e dos

sentidos. Essas representações são evocadas na hora

de executar atividades, tomar decisões e resolver

problemas, na escola e na vida”, afirma Elvira Lima,

psicóloga e antropóloga, especialista em

desenvolvimento humano. O conceito de memória vai,

portanto, muito além do poder de recordar. Memória é,

também, a capacidade de planejamento, abstração,

julgamento crítico e atenção.

Cientistas do laboratório de Neuroengenharia, da Universidade da Geórgia (Estados Unidos) construíram um pequeno robô que se move utilizando sinais de células do cérebro de um rato, cultivadas "in vitro". Este é o primeiro robô do mundo cujos movimentos são controlados por uma rede de neurônios. O objetivo do pesquisador Steve Potter e sua equipe é a criação de sistemas de computação que funcionem da mesma forma que o cérebro humano. Para isso, eles estão estudando os mecanismos básicos do aprendizado, memorização e processamento de informações de neurônios cultivados em laboratório. (...) Os cientistas acreditam que poderão um dia construir uma rede neural artificial que aprende como o cérebro humano. "O aprendizado é frequentemente definido como a mudança derradeira no comportamento, resultante da experiência," disse o Dr. Potter. "A fim de que uma rede aprenda, ela deve estar apta a se comportar. Utilizando multieletrodos como uma interface de duas vias para uma rede cultivada de células do córtex de um mamífero, nós estamos dando a estas redes um corpo artificial com o qual se comportar." Pense sobre qual a sua opinião sobre os limites do desenvolvimento tecnológico nesta área.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 39

Ao vivenciar uma experiência, o sujeito recebe

informações de todo o tipo. Em determinadas

situações, os sentidos visuais e auditivos podem estar

sendo mais exigidos, neurônios são ativados de forma

consistente e simultânea, a “força sináptica” dessas

conexões são potencializadas. Sinais luminosos são

captados pela retina e sons pelos aparelhos auditivos,

são transformados em impulsos elétricos que migram

para o córtex cerebral, eles circulam antes de serem

descartados ou arquivados. O impulso morre, mas a

passagem por determinado caminho estabelece

conexões, criam-se “ganchos”, que permite ao cérebro

recriar imagens. Quando essa informação é resgatada

da memória, o conhecimento será acessado de forma

simples e rápida. O que não tem nada a ver com

decoreba.

Por exemplo, se o estudante não aprende o

conteúdo é porque não encontrou nenhuma referência

nos arquivos já formados para abrigar a nova

informação, com isso, a aprendizagem não ocorre. Não

adianta insistir no mesmo tipo de explicação. Por isso,

os conhecimentos do aluno precisam ser investigados,

recordar aulas anteriores e dispor de diversos recursos

pedagógicos são importantes para formar “ganchos”,

facilitando a aprendizagem. Se o assunto estudado

estiver ligado a um som, a uma linguagem e a um

cheiro, três áreas diferentes do cérebro tentarão

recuperar esta memória. Isso pode ocorrer em outras

situações e não só na escola.

Recursos como associar imagens com sons,

palavras, cores e assim por diante, facilitam o

armazenamento e o acesso a determinado

conhecimento. Criar letra para música, versinhos

rimados, frases engraçadas, são associações que levam

à memorização.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 40

O papel da emoção nas funções cerebrais

Temos duas memórias, uma que se emociona,

sente, comove... outra que compreende, analisa,

pondera, reflete... Trata-se de emoção e de razão.

Essa dualidade se articula através de um mecanismo

dinâmico, uma impulsionando a outra com grande

rapidez nas tomadas de decisões. Cada pessoa

apresenta diferentes reações conforme a utilização de

suas mentes. Nessa interação o sistema límbico está

presente, personagem importante para o cérebro.

Elemento responsável pelo prazer e pelo aprendizado

situa-se nesta região. A falta de libidinação gera

problemas conflitantes, inibindo o processo de

aprendizagem, “aprender é um ato desejante e sua

negação é o não aprender. O desejo é movido pelo

inconsciente, que nesse momento do aprender ou não

aprender responde às informações libidinadas

(negação, recusa, omissão, rejeição)...” A emoção está

para o prazer assim como o prazer está para o

aprendizado, e a auto-estima é a ferramenta que

movimenta os estímulos para gerar bons resultados.

O cérebro processa tão velozmente essa relação que

não se pode perceber a ligação de elementos

consultando uns aos outros ao resolver uma simples

questão.

Em "O erro de Descartes", o neurologista António Damásio propõe que a ausência de emoção e de sentimento podem destruir a racionalidade, a característica que determina o ser humano. Para Damásio, ao contrário do que é comum se afirmar, as decisões sensatas não saem de uma "cabeça fria", nem a razão está situada numa região separada da mente, onde as emoções não estão autorizadas a penetrar. A famosa frase do filósofo francês, "penso, logo existo", sugere uma atividade ("pensar") exclusiva da mente, separada do corpo. Damásio contesta o dualismo da frase e sustenta que certos aspectos do processo da emoção e do sentimento são indispensáveis para a racionalidade, e que os sentimentos e emoções são uma percepção direta de nossos estados corporais e constituem um elo entre corpo e consciência.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 41

Memória e Atenção – uma depende da

outra.

O termo memória tem sua origem etimológica

no latim e significa a faculdade de reter e/ou readquirir

idéias, imagens, expressões e conhecimento. É o

registro de experiências e fatos vividos e observados,

podendo ser resgatados quando preciso. Isso faz com

que a memória seja a base para a aprendizagem, pois,

com as experiências que possuímos armazenadas na

memória temos a oportunidade e habilidade de mudar

o nosso comportamento. Ou seja, a aprendizagem é a

aquisição de novos conhecimentos e a memória é a

fixação ou retenção desses conhecimentos adquiridos.

COMO SE FORMA A MEMÓRIA

Para se construir a memória, passamos por um

processo de assimilação. E é através desse processo

que enviamos as informações para a memória de curta

ou de longa duração. Neste momento, o hipocampo é

ativado. O hipocampo ajuda a selecionar onde os

aspectos importantes para fatos, eventos serão

armazenados e está envolvido, também, com o

reconhecimento de novidades e com as relações

espaciais, tais como o reconhecimento de uma rota

rodoviária. É ele que filtra os dados, usa e joga fora

Para sustentar sua tese, o autor começa o livro com uma análise sobre o comportamento de Phineas Cage, um operário norte-americano vítima de um grave acidente no século 19 - uma barra de ferro perfurou seu cérebro, sem matá-lo. O caso Cage, pela primeira vez na história, tornou evidente a ligação entre lesão cerebral e limitação da racionalidade.

(Cícero Solimões) DAMÁSIO, Antônio. O Erro de Descartes. Emoção, Razão e o Cérebro Humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 42

informações de curto prazo e se encarrega de enviar

outras para diferentes partes do córtex cerebral. Essas

informações se envolvem numa verdadeira “sopa

química” que passa a provocar “intercâmbio” entre os

neurônios. Nesta fase, o hipocampo descansa e quem

passa a trabalhar é o lobo frontal.

O hipocampo é uma pequena estrutura bilobular alojada profundamente no centro do cérebro. Tal como o teclado do nosso computador, o hipocampo é como uma espécie de posto de comando. À medida que os neurônios do córtex recebem informação sensorial, transmitem-na ao hipocampo. Somente após a resposta do hipocampo é que os neurônios sensoriais começam a formar uma rede durável (assembléia). Sem o "consentimento" do hipocampo, a experiência desvanece-se para sempre. É aqui que entra a carga afetiva necessária para que o estímulo se fixe na memória de longo prazo. A atitude de "consentimento" do hipocampo parece depender de duas questões. Primeiro, a informação tem algum significado emocional, portanto, tem que ter alguma importância afetiva. O nome de uma pessoa muito atraente tem mais probabilidade de conseguir "autorização" do hipocampo para se fixar no "disco rígido" de nosso computador do que o nome do jornalista que escreve o obituário do jornal. É assim que nossa consciência se constrói, sempre em conformidade com nossos próprios interesses emotivos. Fonte: BALLONE, G. J. em http://www.psiqweb.med.br/cursos/memoria/html

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 43

ATENÇÃO!

O lobo frontal funciona como um “coordenador

geral” de todas as memórias e da atenção. É

responsável pela guarda das informações, bem como

de classificá-las de acordo com seus diferentes tipos.

Nessa área cerebral as diferentes memórias se

completam dando origem ao raciocínio.

É o lobo frontal que acessamos quando

“vasculhamos” nossa memória à procura de

informações guardadas no córtex. Essa parte do

cérebro é extremamente complexa e, por isso,

bastante sensível. A idade, a depressão, o estresse e

também a sobrecarga de informações afetam a nossa

memória. O volume de informações sobrecarrega o

lobo frontal que, em muitos momentos, nos “desligam”

ou geram aqueles “brancos” que tantas vezes nos

desesperam.

A memória não está localizada em uma

estrutura isolada no cérebro: ela é um fenômeno

biológico e psicológico envolvendo uma aliança de

sistemas cerebrais que funcionam juntos.

O processo de memorização é complexo,

envolvendo sofisticadas reações químicas e circuitos

interligados de neurônios. As células nervosas ou

neurônios, quando são ativadas, liberam hormônios ou

neurotransmissores que atingem outras células

nervosas através de ligações denominadas sinapses.

Quanto mais conexões, mais memória!

Os fatos antigos, naturalmente, têm mais tempo

de se fixar em nosso banco de dados e daí sua melhor

fixação, o que não ocorre com fatos recentes, que têm

pouco tempo para se fixarem e, ainda, podem ter sua

capacidade de fixação alterada por razões relacionadas

a variações de estado emocional ou a problemas de

ordem física.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 44

Cada célula cerebral (ou neurônio) contribui para

o comportamento e para a atividade mental,

conduzindo ou deixando de conduzir impulsos. Todos os

processos da memória são explicados em termos

destas descargas.

As alterações decorrentes da aprendizagem e da

memória são chamadas plasticidade.

Quando uma célula é ativada, é desencadeada a

liberação de substâncias químicas nas sinapses,

chamadas neurotransmissores, tornando-as mais

efetivas. Pesquisas revelaram que neurônios

“exercitados” possuem um número maior de

ramificações (dendritos) se comunicando com dendritos

de outros neurônios.

Assim, para que as memórias sejam criadas, é

preciso que as células nervosas formem novas

interconexões e novas moléculas de proteína.

TIPOS DE MEMÓRIA

Memória Ultra rápida

A retenção da informação não dura mais do que

alguns minutos.

Memória de Curto Prazo ou de Curta Duração

Esse tipo de memória não forma “arquivos”.

Nela guardamos informações que serão utilizadas

dentro de pouco tempo. Logo após sua utilização,

esquecemos os dados nela armazenados.

Exemplo: Local onde estacionou o carro, o

conteúdo decorado para uma prova.

Memória de Longo Prazo ou de Longa

Duração

Importante

Para amarrar essa aula vamos relembrar? Plasticidade Cerebral é a denominação das capacidades adaptativas do Sistema Nervoso Central (SNC) - sua habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento. É a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 45

Armazena as informações por um longo período.

A capacidade de armazenamento é limitada. Pode ser

dividida em Declarativa e Não declarativa.

Memória Declarativa é a memória para fatos e

eventos, reúne tudo que podemos evocar por meio de

palavras. Pode ser episódica quando envolver eventos

datados, isto é, relacionados ao tempo. E será

Semântica quando envolver o significado das palavras

ou quando envolver conceitos atemporais.

Memória Não declarativa é aquela para

procedimentos e habilidades. Pode ser De

Procedimentos quando se referir às habilidades e

hábitos como, por exemplo, dirigir e nadar. De Dicas

quando for evocada, resgatada por meio de dicas,

como acontece quando ouvimos sons ou sentimos

algum odor que nos lembram uma situação há tempos

vivida. Será Associativa quando nos fizer associar um

determinado comportamento a um fato. Um bom

exemplo disso é quando salivamos ao ver um prato

apetitoso. Nós lembramos o quanto é saborosa aquela

comida e nosso organismo responde a essa lembrança.

E, finalmente, a memória poderá ser Não Associativa

quando for resgatada através de estímulos repetitivos.

Ocorre, por exemplo, quando ouvimos o latido de um

cão pequeno. Esse tipo de latido não nos causará medo

porque saberemos relacioná-lo com o de um animal

que não oferece perigo.

PERDA DE MEMÓRIA

A perda de memória pode estar associada a

determinadas doenças neurológicas, a distúrbios

psicológicos, a problemas metabólicos e também a

certas intoxicações. A forma mais frequente de perda

de memória é conhecida popularmente como

“esclerose” ou demência.

Dica de filme

Sugestão de filme: AMNÉSIA Um ladrão ataca um casal, terminando por matar a mulher e deixando o homem à beira da morte. Porém, ele sobrevive e durante sua recuperação busca recuperar a memória, já que foi afetado por uma amnésia que o fez esquecer os trágicos momentos do assalto, que precisam ser relembrados para que detalhes sobre o assassino possam ser entregues à polícia a fim de encontrar o responsável pela morte de sua esposa. Atenção: este filme tem uma estrutura de roteiro muito diferente e, a fim de compor as etapas da história, a narrativa se dá de trás para frente!

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 46

A demência mais comum é a doença de

Alzheimer que se caracteriza por perda acentuada de

memória acompanhada de graves manifestações

psicológicas como, por exemplo, a alienação.

Estados psicológicos alterados como o estresse,

a ansiedade e a depressão podem, também, alterar a

memória.

A falta de vitamina B1 (tiamina) e o alcoolismo

levam à perda de memória para fatos recentes e com

frequência estão associados a problemas de marcha e

confusão mental.

Doenças de tireóide, como o hipotireoidismo,

geralmente, se acompanham de comprometimento de

memória.

O uso de medicação tranquilizante (“calmantes”)

por tempo prolongado provoca a diminuição da

memória e favorece também a depressão, o que leva a

uma situação que pode se confundir com a demência.

A vida sedentária, com excesso de preocupações

e insatisfações, bem com a dieta deficiente, favorece a

perda de memória.

Contrariamente ao esquecimento comum

ocorrido normalmente no dia-a-dia de nossas vidas,

existem algumas doenças e injúrias no cérebro que

causam séria perda de memória e, também, interferem

com a capacidade de aprender. A esta instabilidade dá-

se o nome de Amnésia.

COMO MELHORAR A MEMÓRIA

A contínua atividade intelectual como a leitura,

exercícios de memória, palavras cruzadas e jogo de

xadrez auxiliam a manutenção da memória.

Para pesquisar

Analise a diferença entre o nível de atividade mental de uma criança com o de um adulto. Muitas vezes a redução desta atividade é dramática. Agora, pense em um idoso. O que acontece nesta faixa etária? Experimente fazer uma listagem das atividades cotidianas de uma criança, um adulto e um idoso, verificando esta diferença. Não deixe, ainda, de pensar em sugestões para que esta redução de atividades (e conseqüentemente da memória) não seja tomada com naturalidade ou como “coisas da idade”.

Quer saber mais?

Fatores que podem causar perda total ou parcial da memória: Concussão; Alcoolismo

crônico; Drogas e

medicamentos; Tumor cerebral; Encefalite.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 47

O estilo de vida ativa com atividade física

realizada regularmente e uma dieta saudável são

pontos importantes para a manutenção da memória.

A diminuição da memória que ocorre na 3ª

idade, na maioria das vezes, é absolutamente benigna,

mas, frequentemente, por falta de melhor informação,

angustia o idoso que tem dificuldade de aceitá-la como

um fato normal.

Semelhante ao que ocorre com exercícios

musculares realizados para se manter a boa forma

física, a atividade cerebral também deve ser realizada

com frequência, sempre procurando estimular nossos

principais sentidos: olfato, paladar, tato, visão e

audição, bem como nossa memória e inteligência.

O declínio de nossas funções mentais que ocorre

com a idade se deve em grande parte à falta de

atividade mental que com frequência segue

paralelamente ao envelhecimento. Vários trabalhos

realizados em diversos países demonstram claramente

que o declínio mental que ocorre com a idade pode ser

evitado.

Devemos estimular nossas percepções, nossa

memória (recente e antiga), noções espaciais,

habilidades lógicas e verbais.

Os exercícios cerebrais nada mais são do que

estímulos às funções cerebrais que podem estar

decadentes devido à idade e que já foram ativas no

passado.

A ativação deve ser feita diariamente, durante

as atividades normais, como o caminhar, durante as

refeições ou mesmo durante as compras.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 48

Muitas coisas podem ser feitas para melhorar a

memória. Várias técnicas e cuidados podem ser

utilizados. Entre eles:

Dormir bem;

Beber bastante água;

Uma boa alimentação;

Relaxar;

Associar fatos a imagens (técnicas

mnemônicas);

Estimular a memória utilizando o máximo da

capacidade mental;

Visualizar imagens;

Praticar jogos de xadrez, palavras cruzadas;

Exercícios físicos.

AUTO AVALIAÇÃO

Analise, no texto abaixo sobre “Depressão Infantil e

dificuldades na aprendizagem, a relação entre

afetividade, memória e aprendizagem”, e escreva uma

atividade para trabalhar com seu grupo.

Há um sintoma básico da depressão chamado

estreitamento do campo vivencial. Isso quer dizer que o

universo de interesses do deprimido vai sendo cada vez

menor e mais restrito e a preocupação com suas

próprias angústias e seu próprio sofrimento emocional

toma conta de todo seu interesse e seus prazeres. Não

há ânimo suficiente para admirar um dia bonito, para

interessar-se na realização ocupacional, para

relacionar-se socialmente, para assistir a um filme

interessante, para interessar-se pela escola, enfim,

nada lhe dá prazer, nada pode motivá-lo.

ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 49

Neste caso, o campo vivencial fica tão estreitado que só

cabe o próprio paciente com seu sofrimento, o restante

de tudo que a vida pode lhe oferecer não interessa. Os

campos da consciência e da motivação estão

seriamente comprometidos nos estados depressivos,

daí a dificuldade em manter um bom nível de

memória, de rendimento intelectual, de iniciativas e

participações para tocar adiante o dia-a-dia. Percebem-

se os reflexos desta inibição global até na atividade

motora, que fica bastante diminuída, e até na própria

expressão da mímica, através da aparência de

abatimento e de desinteresse. Fonte: BALLONE, G. J. Em

http://www.psiqweb.med.br

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RESUMO

Vimos até agora:

O sistema nervoso de uma criança em

desenvolvimento é mais plástico que o

sistema nervoso do adulto, a atuação correta

e eficaz na estimulação da plasticidade é de

fundamental importância para a máxima da

função motora/sensitiva do indivíduo, visando

facilitar o processo de aprender a aprender

em nosso cotidiano. É o nosso grande

desafio, como profissional que somos,

conhecer o cérebro de nossos aprendizes e

clientes, e tão logo o funcionamento, pois

cada um tem as suas próprias características;

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 50

A memória é a base de todo o saber e

também de toda a existência humana, desde

o nascimento. Todo o nosso cérebro funciona

através da memória. Comemos, andamos,

falamos porque nos lembramos de como fazê-

lo. A memória determina nossa

individualidade como pessoas e como povos;

Ao vivenciar uma experiência, o sujeito

recebe informações de todo o tipo. Em

determinadas situações, os sentidos visuais e

auditivos podem estar sendo mais exigidos,

neurônios são ativados de forma consistente

e simultânea, a “força sináptica” dessas

conexões são potencializadas;

A perda de memória pode estar associada a

determinadas doenças neurológicas, a distúrbios

psicológicos, a problemas metabólicos e

também a certas intoxicações. A forma mais

frequente de perda de memória é conhecida

popularmente como “esclerose” ou demência;

A contínua atividade intelectual como a

leitura, exercícios de memória, palavras

cruzadas e jogo de xadrez auxiliam a

manutenção da memória;

O estilo de vida ativa com atividade física

realizada regularmente e uma dieta saudável

são pontos importantes para a manutenção

da memória.

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A Filogênese do Sistema Nervoso Percepção, Linguagem e Pensamento Marta Relvas

AU

LA3

Apr

esen

taçã

o

A neurociência é o estudo da realização física do processo de informação no sistema nervoso humano. O estudo da neurociência engloba três áreas principais: a neurofisiologia, a neuroanatomia e a neuropsicologia. A neurofisiologia é o estudo das funções do sistema nervoso. Ela utiliza eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de áreas maiores do cérebro. Ocasionalmente, separam as conexões nervosas para avaliar os resultados. A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, em nível microscópio e macroscópio. Os neuroanatomistas dissecam o cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura. A neuropsicologia é o estudo da relação entre as funções neurais e psicológicas. A principal pergunta da neuropsicologia é qual área específica do cérebro controla ou media as funções psicológicas. O principal método de estudo usado pelos neuropsicólogos é o estudo do comportamento ou mudanças cognitivas que acompanham lesões em partes específicas do cérebro. Estudos experimentais com indivíduos normais também são comuns. E é sobre um pouco de cada ponto desses que trataremos nessa aula.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Descrever a filogênese do sistema nervoso; Entender a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso; Rever pontos sobre a plasticidade cerebral e a memória; Conhecer mais sobre a linguagem e outras funções de alto

nível; Estudar os distúrbios da fala e da compreensão, além de ver

outros distúrbios; Analisar a especialização dos hemisférios; Reconhecer as implicações nas ciências cognitivas.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 53

Filogênese do sistema nervoso

Os seres vivos, mesmos os mais primitivos,

devem se ajustar continuamente ao meio ambiente, que

também é mutável, para sobreviver enquanto indivíduo e

ainda como espécie.

Essa resposta pode ser um encurtamento da

célula produzido pela propriedade chamada

contratilidade. Essa reação normalmente acontece no

sentido de fugir a um estímulo nocivo ou para se

aproximar de um estímulo agradável.

Experiências com o microorganismo unicelular

chamado de ameba demonstraram que ela se afasta

lentamente do ponto onde fora tocado por uma micro-

agulha. São reações rudimentares, sem especialização de

nenhuma das propriedades citadas.

Em seres mais complexos, pluricelulares, como as

esponjas do mar, já encontramos células diferenciadas.

Algumas dessas células, as mais internas, se

especializaram em movimentos de contração; outras

localizadas na superfície desenvolveram mais as

Os seres unicelulares, os mais primitivos na escala filogenética, possuem três propriedades fundamentais para a sua adaptação ao meio ambiente e conseqüente sobrevivência. Essas propriedades são irritabilidade, condutibilidade e contratilidade.

Através da irritabilidade, a célula detecta as modificações do meio ambiente. Essa sensibilidade celular, causada por um estímulo, é conduzida à outra parte da célula através da condutibilidade, possibilitando uma resposta a esse estímulo.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 54

propriedades de irritabilidade e condutibilidade. Quando a

água que passa pelos orifícios no interior das esponjas

contêm substâncias irritantes, as células constitutivas se

contraem, fechando a passagem do líquido para o interior

da esponja.

A evolução filogenética providenciou para que

essas células especializadas em conduzir sinais se

agrupassem e formassem um sistema nervoso central.

Esse sistema de comando conta com neurônios sensitivos

ou aferentes, que são responsáveis pela coleta de

informações oriundas do meio ambiente. Essas

informações ou sinais são enviados ao centro de

comando, formado pelo sistema nervoso central para que

este elabore e retome uma determinada reação ou

resposta. Essa resposta é possível graças aos neurônios

eferentes ou motores.

As respostas podem ser elaboradas e retomadas a

partir de qualquer ponto do sistema nervoso central como

encéfalo, medula, tubo raquidiano. Os reflexos patelares,

observados no joelho do homem, quando se bate com um

martelete nessa região, o que provoca o estiramento

involuntário da perna para frente, é um exemplo de

reação a partir da medula.

Outro tipo de neurônio trouxe um considerável

aumento do número de sinapses, o que aumentou

significativamente a complexidade do sistema nervoso.

Esse neurônio foi denominado de neurônio de associação

ou internunciais. Ele associa os diversos tipos de

informações e elabora as respostas a serem dadas ao

estímulo. Seria o rudimento de inteligência, capaz de

elaborar.

Essa aglutinação numa das extremidades dos

animais foi dando origem ao encéfalo, que é uma porção

do sistema nervoso central composto pelo cérebro,

mesoencéfalo, cerebelo, tronco encefálico.

Importante

Nos metazoários, seres ainda mais complexos, as células musculares responsáveis pela contratilidade foram ficando na parte mais interior do animal. Na superfície ficaram as células sensoriais responsáveis pela identificação do estímulo. Essa distância entre as células sensoriais e as musculares foi compensada pela especialização de células exclusivas para permitir a condutibilidade da informação colhida na superfície, levando-as até o interior do ser, para que houvesse uma resposta, que pode ser de repulsão ou de aproximação, dependendo do teor do estímulo. Estamos falando dos neurônios.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 55

O crescimento gradual do encéfalo, observado

na escala filogenética, atinge seu maior tamanho no

ser humano.

Os neurônios de associação situados no encéfalo

foram os responsáveis pelo surgimento das funções

psíquicas superiores. Chegava, assim, ao ápice, a

evolução do sistema nervoso.

Linguagem e outras funções de alto nível

A ÁREA DE BROCA E ÁREA DE WERNICKE

Em 1861, o neurologista francês Paul Broca

identificou um paciente que era quase totalmente

incapaz de falar e tinha uma lesão nos lobos frontais, o

que gerou questionamentos sobre a existência de um

centro da linguagem no cérebro. Mais tarde, descobriu

casos nos quais a linguagem havia se comprometido

devido a lesões no lobo frontal do hemisfério esquerdo.

A recorrência dos casos levou Broca a propor, em 1864,

que a expressão da linguagem é controlada por apenas

um hemisfério, quase sempre o esquerdo. Esta visão

confere com resultados do procedimento de Wada, no

qual um hemisfério cerebral é anestesiado. Na maioria

dos casos, a anestesia do hemisfério esquerdo, mas não

a do direito, bloqueia a fala. A área do lobo frontal

esquerdo dominante que Broca identificou como sendo

crítico para a articulação da fala veio a ser conhecida

como área de Broca (BEAR, 2002).

O crescimento do número de neurônios de associação aconteceu de forma agrupada e em uma das extremidades dos seres vivos, o que seria mais tarde a sua cabeça. Durante os deslocamentos, os animais percebiam mais rapidamente as mudanças do meio através desses neurônios agrupados nessa extremidade e podiam elaborar resposta mais rápida, livrando-se de perigos ou para encontrar alimento. Essa extremidade especializou-se em explorar ambientes e por isso foi aparelhada com boca, olhos, ouvido ou antenas e nariz, enfim, todos os órgãos dos sentidos. Devido a sua importância, esse agrupamento de neurônios foi protegido por um crânio.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 56

Em 1874, o neurologista Karl Wernicke

identificou que lesões na superfície superior do lobo

temporal, entre o córtex auditivo e o giro angular,

também interrompiam a fala normal. Essa região é

atualmente denominada área de Wernicke. Tendo

estabelecido que há duas áreas de linguagem no

hemisfério esquerdo, Wernicke e outros começaram a

mapear as áreas de processamento da linguagem no

cérebro e levantaram hipóteses acerca de

interconexões entre o córtex auditivo, a área de

Wernicke, a área de Broca e os músculos requeridos

para a fala.

O modelo neurolinguístico de Wernicke considera que a área de Broca conteria os programas motores de fala, ou seja, as memórias dos movimentos necessários para expressar os fonemas, compô-los em palavras e estas em frases. A área de Wernicke, por outro lado, conteria as memórias dos sons que compõem as palavras, possibilitando a compreensão.

(Lent, 2002, pág. 637)

Assim, se essas duas áreas fossem conectadas,

o indivíduo poderia associar a compreensão das

palavras ouvidas com a sua própria fala.

Atualmente, o modelo de Wernicke teve que ser

corrigido quando se observou que pacientes com lesões

bem restritas à porção posterior do giro temporal

superior (a área de Wernicke) apresentavam na

verdade uma surdez linguística e não uma verdadeira

afasia de compreensão. A área de Wernicke seria,

então, responsável pela identificação das palavras e

não da compreensão do seu significado.

KARL WERNICKE

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 57

Distúrbios da fala e da compreensão

Damos o nome de afasia a alguns dos distúrbios

da linguagem falada causados por acidentes vasculares

cerebrais na sua fase aguda. Entretanto, nem todos os

distúrbios da linguagem podem ser chamados de

afasia. São chamados de afasia apenas aqueles que

atingem regiões realmente responsáveis pelo

processamento da linguagem e não distúrbios do

sistema motor, do sistema atencional, e outros que

seriam apenas coadjuvantes do processo. Ao contrário

de um doente que não consegue falar devido à

paralisia de um nervo facial, os portadores de afasia

podem apresentar problemas de linguagem sem ter

qualquer problema no funcionamento muscular facial.

A área de Wernicke é responsável pela compreensão e pela escolha das palavras que usamos. Sem ela, não conseguiríamos achar as palavras nem entender o que os outros dizem. Mas não adianta só saber montar a frase na mente. É preciso que ela faça sentido. Aí é que entra uma outra região: a área de Broca. A área de Broca é responsável pela nossa expressão verbal e escrita. É com essa parte do cérebro que juntamos as sílabas de cada palavra de uma forma coerente. Viver sem a área de Broca é um desafio mental. Fonte: http://www.drauziovarella.com.br/cerebro/palavracerebro.asp

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 58

Segundo Lent (2002), as afasias são

classificadas em afasia de expressão, de compreensão

e de condução, de acordo com os sintomas do paciente

e com a região cerebral atingida.

A afasia de Broca é também chamada de afasia

motora e não-fluente, já que as pessoas têm

dificuldade de falar, mesmo que possam entender a

linguagem ouvida ou lida. Pessoas com este tipo de

afasia têm dificuldade em dizer qualquer coisa, fazendo

pausas para procurar a palavra certa (anomia). A

marca típica de afasia de Broca é um estilo telegráfico

de fala, no qual se empregam, principalmente, palavras

de conteúdo (substantivos, verbos, adjetivos), além da

incapacidade de construir frases gramaticalmente

corretas (agramatismo). É provocada por lesões sobre

a região lateral inferior do lobo frontal esquerdo.

A afasia de compreensão ou afasia de Wernicke

atinge a região cortical posterior em torno da ponta do

sulco lateral de Sylvius do lado esquerdo. Os pacientes

não conseguem compreender o que lhes é dito. Emitem

respostas verbais sem sentido e, também, não

conseguem demonstrar compreensão através de

gestos. Apesar de possuir uma fala fluente, ela também

Uma pessoa vítima de afasia pode não conseguir contar, nomear, por exemplo, os dias da semana e os meses do ano ou ainda perder a noção gramatical. É difícil para alguém com afasia interpretar o que ouve. "É como se a pessoa, mesmo ouvindo, ficasse 'surda' para as palavras, por não reconhecer o significado das mesmas", explica a Dra. Heloísa, que completa que "muitas vezes o portador de afasia consegue perceber alguma palavra e reconhece o restante da comunicação". A perda parcial ou total da capacidade de ler e escrever também fazem parte da sintomatologia do portador de afasia. Ele ainda pode não conseguir organizar gestos de forma a representar ou comunicar o que quer. "Por exemplo, o paciente não consegue, com gestos, mostrar o que deseja comer ou indicar que deseja comer". Fonte: http://www.boasaude.uol.com.br.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 59

não tem sentido, pois não compreendem o que eles

mesmos dizem. Enquanto na afasia de Broca, a fala é

perturbada, mas a compreensão está intacta; na afasia

de Wernicke, a fala é fluente, mas a compreensão é

pobre.

A afasia de condução é provocada por lesão de

feixe arqueado, feixes que conectam a área de Broca

com a área de Wernicke. Os pacientes seriam capazes

de falar espontaneamente, embora cometessem erros

de repetição e de resposta a comandos verbais.

Outros distúrbios

Afasia é apenas uma das desordens que resulta

de lesões do cérebro. Abaixo temos uma pequena lista

de algumas delas:

Alexia: Inabilidade adquirida de

compreender a linguagem escrita;

Agrafia: Inabilidade adquirida de produzir

linguagem escrita apesar da presença

linguagem oral, da leitura e de controle de

movimentos normal;

Apraxia: Inabilidade de ter movimentos

propositais apesar da compreensão normal

das instruções, da força, do reflexo e da

coordenação normais;

Agnosia Visual: Perda da habilidade de

reconhecer ou identificar a presença de

objetos, apesar das funções visuais estarem à

presença de objetos, apesar das funções

visuais estarem intactas. Uma forma

específica da agnosia visual foi registrada

como propagnosia, inabilidade de reconhecer

faces;

Síndrome da Negligência: A tendência a

ignorar coisas numa região particular do

espaço ignorando o módulo sensorial

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 60

responsável pelos estímulos provenientes

daquela região. Pacientes com uma forma

dessa síndrome chamada síndrome da

negligência unilateral ignoram as informações

provenientes do lado esquerdo ou direito do

corpo e podem até esquecer de barbear essa

parte do rosto ou de vestir esse lado do corpo.

A alexia agnósica corresponde a uma dificuldade maior para a identificação das palavras (compreensão global) do que para a identificação de letras isoladas. O indivíduo utiliza o dedo para a identificação das letras e a identificação das palavras soletradas é satisfatória. Nesses pacientes, a cópia é imperfeita, ainda que a escrita espontânea ou ditada seja satisfatória. A alexia agnósica está, freqüentemente, associada a outras manifestações de agnosia visual, notadamente a agnosia para as cores. A agrafia é a manifestação na escrita das alterações afásicas que ocorrem na linguagem oral. Ainda que exista uma dissociação entre a possibilidade de denominar por escrito e verbalmente, a ausência da palavra existe tanto na linguagem escrita como na linguagem oral. Apraxia é o prejuízo na capacidade de executar atividades motoras, apesar de as capacidades motoras, função sensorial e compreensão estarem intactas para a tarefa exigida. Na realidade, é a perda da capacidade de executar eficientemente a intenção para um ato para um determinado fim, mas não há comprometimento anatômico das estruturas cerebrais envolvidas na execussão desse ato (seja ele da musculatura voluntária, da fala, da mímica). Agnosia não é uma alteração exclusiva das sensações nem exclusiva da capacidade central de perceber objetos externos, mas uma alteração intermediária entre as sensações e a percepção. Em alguns casos, observa-se a perda da intensidade e da extensão das sensações, permanecendo inalteradas as sensações elementares, em outros há integridade e extensão, mas perda da capacidade de reconhecimento dos objetos. Fonte: http://www.psiqweb.med.br

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 61

A especialização dos hemisférios e o

pensamento.

Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo

controla a fala em mais de 95% dos seres humanos,

mas isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao

contrário, é a prosódia do hemisfério direito que

confere à fala nuances afetivas essenciais para a

comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é

também responsável pela realização mental de cálculos

matemáticos, pelo comando da escrita e pela

compreensão dela através da leitura. Já o hemisfério

direito é melhor na percepção de sons musicais e no

reconhecimento de faces, especialmente quando se

trata de aspectos gerais. O hemisfério esquerdo

participa também do reconhecimento de faces, mas

sua especialidade é descobrir precisamente quem é o

dono de cada face. Da mesma forma, o hemisfério

direito é especialmente capaz de identificar categorias

gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que

detecta as categorias específicas. O hemisfério direito é

melhor na detecção de relações específicas. O

hemisfério direito é melhor na detecção espaciaes,

particularmente as relações métricas, quantificáveis,

aquelas que são úteis para o nosso deslocamento no

mundo. O hemisfério esquerdo não deixa de participar

dessa função, mas é melhor no reconhecimento de

relações espaciais categoriais qualitativas. Finalmente,

o hemisfério esquerdo produz movimentos mais

precisos da mão e da perna direitas do que o

hemisfério direito é capaz de fazer com a mão e a

perna esquerda (na maioria das pessoas).

Quer saber mais?

Apesar de o nosso cérebro ser dividido em dois hemisférios ,não existe relação de dominância entre eles, pelo contrário, eles trabalham em conjunto, utilizando dois milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras cerebrais e se encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de especialização hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas funções são representadas em apenas um dos lados, outras nos dois) e de assimetria (um hemisfério não é igual ao outro).

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 62

Lent, 2002

Implicações nas ciências cognitivas

Existem redundâncias consideráveis no sistema

nervoso. A existência de processamento paralelo é

amplamente aceita na neurociência e acredita-se que

ele seja necessário devido à rapidez e complexidade do

processamento da informação no cérebro das criaturas

vivas. O poder da computação paralela pode ser

observado nos modernos computadores seriais que

demoram muito mais que o cérebro humano para

processar informações visuais. Nos últimos anos,

reconheceu-se que computadores com processamento

paralelo são necessários para acelerar o processamento

de imagens, aproximando-se da velocidade do cérebro

humano.

Esse é um dos caminhos pelo qual a

neurociência pode ajudar as ciências cognitivas. A

psicologia cognitiva tem se esforçado para modelar as

atividades intelectuais com elementos que interajam

numa maneira neurologicamente plausível. Esses

modelos estão ajudando a mostrar como a cognição

pode ser estruturada através dos princípios básicos de

operação da mente.

DICA DE LEITURA

KASTRUP, V. A invenção de si e do mundo. São Paulo: Papirus, 1999. O presente trabalho se situa no campo dos estudos da cognição e, mais especificamente, na interface entre a Psicologia e a Biologia. A partir das contribuições da Segunda Cibernética no domínio da Ciência Cognitiva, o tema da auto-organização e dos sistemas autopoiéticos colocam problemas de grande relevância. Interessa aos autores em especial avaliar o sentido desta poiesis e o estatuto do si mesmo que resulta dessa atividade de criação da realidade conhecida. Esse trabalho se organiza em torno dessa problemática da criação do si mesmo (sujeito cognoscente ou unidade do organismo vivo). As idéias seminais de H. Maturana e F. Varela são retomadas de modo a explicitar a pertinência da formulação de um processo cognitivo criador.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 63

AUTO AVALIAÇÃO

Descrever as áreas de Broca e de Wernicke?

E quais são as suas diferenças e qual a relação com a

aprendizagem?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

A evolução filogenética providenciou para que

essas células especializadas em conduzir

sinais se agrupassem e formassem um

sistema nervoso central. Esse sistema de

comando conta com neurônios sensitivos ou

aferentes, que são responsáveis pela coleta

de informações oriundas do meio ambiente;

O crescimento gradual do encéfalo, observado

na escala filogenética, atinge seu maior

tamanho no ser humano;

Os neurônios de associação situados no

encéfalo foram os responsáveis pelo

surgimento das funções psíquicas superiores.

Chegava, assim, ao ápice, a evolução do

sistema nervoso;

Observando a estrutura do sistema nervoso,

percebemos que eles têm partes situadas

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 64

dentro do cérebro, da coluna vertebral e outras

distribuídas por todo corpo. As primeiras

recebem o nome coletivo de sistema nervoso

central (SNC), e as últimas de sistema nervoso

periférico (SNP);

O neurologista francês Paul Broca identificou um

paciente que era quase totalmente incapaz de

falar e tinha uma lesão nos lobos frontais, o que

gerou questionamentos sobre a existência de um

centro da linguagem no cérebro. Mais tarde,

descobriu casos nos quais a linguagem havia se

comprometido devido a lesões no lobo frontal do

hemisfério esquerdo;

A área do lobo frontal esquerdo dominante que

Broca identificou como sendo crítico para a

articulação da fala veio a ser conhecida como

área de Broca;

Em 1874, o neurologista Karl Wernicke

identificou que lesões na superfície superior do

lobo temporal, entre o córtex auditivo e o giro

angular, também interrompiam a fala normal.

Essa região é atualmente denominada área de

Wernicke;

Atualmente, o modelo de Wernicke teve que ser

corrigido quando se observou que pacientes com

lesões bem restritas à porção posterior do giro

temporal superior (a área de Wernicke)

apresentavam na verdade uma surdez linguística

e não uma verdadeira afasia de compreensão. A

área de Wernicke seria, então, responsável pela

identificação das palavras e não da compreensão

do seu significado;

A afasia de Broca é também chamada de afasia

motora e não-fluente;

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 65

A afasia de condução é provocada por lesão

de feixe arqueado, feixes que conectam a

área de Broca com a área de Wernicke;

O hemisfério esquerdo produz movimentos

mais precisos da mão e da perna direitas do

que o hemisfério direito é capaz de fazer com

a mão e a perna esquerda (na maioria das

pessoas).

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Estruturas Neurais dos Movimentos e da Aprendizagem Motora Fátima Alves e Marta Relvas

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Como podemos ver, a motricidade humana envolve uma série de fatores, como; estruturais, sociais, ambientais, psicológicos, funcionais, históricos, motores, entre outros. Nesta aula vamos compreender como o homem desenvolve, aprende e controla o seu corpo. Podemos conceituar motricidade como o resultado de traduções e organizações perceptivas e motoras expressas em movimentos, ou seja, o movimento humano, é o resultado de traduções perceptivo-motoras que o indivíduo desenvolve, aprende e estabelece em seu organismo. Com o tempo, estas traduções e organizações perceptivo-motoras se automatizam, existindo uma grande quantidade de aparatos necessariamente reflexos.

Obj

etiv

os

Após o estudo do conteúdo desta aula, você deverá ser capaz de: Distinguir desenvolvimento, aprendizagem e controle motor; Reconhecer as principais áreas cerebrais responsáveis pelo

movimento; Descrever os tipos de movimento contidos no corpo; Compreender como a emoção influencia o comportamento

motor; Entender o controle do movimento pelo cérebro; Saber como funciona o planejamento do movimento.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 68

Introdução

A motricidade humana envolve uma série de

fatores, derivados de situações; sociais, ambientais,

psicológicos, funcionais, históricos, motores, entre

outros.

O movimento tem início motivado por carência

de origem reflexa fisiológica, ou por carência advinda

das razões emocionais, quando o sujeito está em um

ambiente que a deflagra, terminando quando forem

atingidos a satisfação ou o êxito do que a motivou.

Podemos conceituar motricidade como o

resultado de traduções e organizações perceptivas e

motoras expressas em movimentos, ou seja, o

movimento humano, é o resultado de traduções

perceptivo-motoras que o indivíduo desenvolve,

aprende e estabelece em seu organismo. Com o

tempo, estas traduções e organizações perceptivo-

motoras se automatizam, existindo uma grande

quantidade de aparatos necessariamente reflexos.

A motricidade pode ser classificada em quatro

níveis:

Voluntária – tipicamente faz parte do desejo

do indivíduo como andar, pular, correr, etc.;

Automática – aquela que passa pelos estágios

da aprendizagem atingindo o nível de

automatização, independente da análise

consciente, da ação que se desenvolve.

A questão da automatização está mais ligada à

questão do isolamento da consciência da ação, do que

propriamente dos mecanismos que atuam diretamente

na automatização, porque a necessidade do homem

não é só a de se mover, é saber para onde, como e

onde se mover. Quando nos movermos, necessitamos

Para pesquisar

Você sabe como o homem desenvolve, aprende e controla o seu corpo? Que tal uma pesquisa?

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 69

previamente de sabermos para onde estamos indo.

Reflexa – é a motricidade que está contida no

corpo. Provavelmente, o grande percentual

de nossas capacidades reflexas vem embutido

em nosso organismo, porém também

aprendemos, tornando nossos reflexos

melhores do que eram originalmente.

Involuntária – a que é causada por patologia,

como a Doença de Parkinson, por exemplo,

que provoca atos motores que o corpo não

consegue controlar. Nela estão envolvidas

dimensões de debilidades posturais,

debilidades para aprender, dificuldade para

melhorar o desempenho desejado, entre

outras. Há algum tempo atrás, falava-se da

involuntária como a automática, porém isto

não se confirmou como verdadeiro.

Relações com a motricidade:

Aprendizagem Motora, onde o indivíduo pode

aprender a desenvolver sua postura, a se

mover com eficiência e obter determinada

performance;

Desenvolvimento Motor é diferente de

aprendizagem motora, e a diferença está

circunscrita na idéia de que o

desenvolvimento motor é algo contido no

organismo, independe das vivências formais

para se desenvolver;

Controle Motor é um estudo mais avançado e

atual, tem aprofundamento nos implícitos da

motricidade humana. Atualmente muito

estudado no campo das próteses,

apresentando muita dificuldade para se fazer

uma boa adaptação do corpo e controle em uma

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 70

perna, em um braço. Depende muito em

saber como o próprio organismo controla seu

movimento.

O controle motor é uma área que, na engenharia

mecânica, na engenharia de prótese é muito

importante, pois chegou um momento em que se

entende que controlar o corpo é algo que o homem tem

de mais difícil para aprender. A postura, por exemplo, é

algo muito complicado para o organismo, pelo menos

no sentido do entendimento de como funciona o

mecanismo, pois o organismo é plenamente apto em

realizar. Portanto, o controle motor figura realmente

como uma área de entendimento muito difícil.

A aprendizagem motora tem relação com os

Métodos e Técnicas da Aprendizagem Motora, visto que

há relação com a pedagogia do ensino, onde a

progressão e a adaptação são cuidadosamente

articulados. Já o Desenvolvimento Motor está por vezes

contido na aprendizagem motora, onde depende de

estímulos para se aprimorar. O Controle Motor é o

aparato neural que permite sejamos capazes de

controlar nosso corpo. Por exemplo, jogar uma bola,

um peso, e não ir junto com ele; estar em uma posição

econômica, e não em uma posição desgastante.

Para isso temos as funções envolvidas e as

estruturas nervosas relacionadas.

O neurônio é o grande elemento em nosso

estudo, pois ele representa tudo para o que fazemos,

seja um movimento, seja a afetividade, seja

composições musicais, são todas definidas por

microscópicas estruturas, pequenas células que não

conseguimos ver, a não ser com um microscópio

eletrônico de excelente potência.

:: NEURÔNIO:

Estas minúsculas células determinam todo nosso comportamento e funções, nossa fala, nosso olhar, nossos movimentos.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 71

A mitocôndria, o sintetizador do ATP, que é

responsável por dinamizar os processos realizados pelo

neurônio. Como se fosse a força que gera o impulso

para que um neurônio se comunique com outro, para

produzir então o comportamento desejado, e assim por

diante. Através do entendimento de como o neurônio

se comunica, é que será possível entender como ocorre

todo o processo.

Um neurônio detona todo o processo, porém um

grande conjunto de neurônios é que são responsáveis

pelo resultado final, e é por isso que é necessário

entender suas localizações e como estão envolvidos.

Além disto, é importante falarmos sobre a

questão da afetividade no comportamento, ou seja, a

emoção do ponto de vista da neurologia e sua relação

com o desenvolvimento motor e aprendizagem motora.

De um ponto de vista pragmático, mecanicista,

podemos dizer que tudo o que fazemos depende destas

minúsculas células chamadas neurônios, onde está

contida toda nossa organização física e de vida, que se

encontram no núcleo celular, com seus 46 pares de

cromossomos.

Durante um grande período, houve na literatura

a ênfase relativa ao desenvolvimento perceptivo. Na

verdade, o desenvolvimento perceptivo é suporte do

desenvolvimento das potencialidades mecânicas,

motoras, de uma forma geral. Quanto maior o

desenvolvimento perceptivo, mais capaz e fluente será

o indivíduo para interagir as partes corporais com o

ambiente.

Desta forma, se fôssemos pensar em como

melhorar as funções motoras de um indivíduo, em

reabilitação ou aprendizagem no aspecto motor,

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 72

poderíamos dizer que o desenvolvimento perceptivo é

aquele que vai levar o indivíduo a construir um grupo

sinonímico ou de interpretação do movimento que vai

garantir a especialização do movimento.

É importante frisar que especialização não

significa automatização do movimento. Especialização

é tomada aqui tanto no aspecto mecânico quanto

cognitivo. Sempre que pensarmos em movimento,

devemos pensar em uma visão declarativa e de

procedimentos, ou seja, em uma visão cognitiva e de

automatização mecânica do nosso corpo.

Se não fosse assim, estaremos equivocados ao

analisarmos o movimento, ou seja, como ensinar, como

entender e como avaliar o movimento, se não se partir

do movimento visto de uma ótica declarativa

(cognitiva) e de uma ótica de procedimentos

(mecânica). Normalmente, em todo ato mecânico

existe um percentual cognitivo, ou seja: como é melhor

fazer, qual a forma mais eficiente de utilizar o corpo.

Isso ocorre quando o indivíduo vai decidir como a

forma mais elegante e sofisticada do uso do corpo, que

apresenta o aspecto declarativo do movimento.

Desenvolvimento Motor é o um processo natural

da interação do corpo com as coordenadas genéticas

definidas para que, a um determinado momento,

possam ser alcançadas. Normalmente, a criança,

seguindo a sequência natural do animal quadrúpede,

rasteja, engatinha, anda, corre, salta e trepa (escala),

devido a uma predisposição orgânica já codificada para

isso.

As intervenções feitas nesse processo, segundo

as pesquisas, não são rentáveis. Quando se quer

acelerar o desenvolvimento do andar de uma criança,

por exemplo, e se utiliza de andadores, estimulando a

Dica do professor

Ato Mecânico: Fazer algo sem pensar; reproduzir algo mecanicamente Ex.: Dirigir ou andar.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 73

criança por meio de recompensas, ela não andará

muito mais precocemente do que outra criança não

estimulada. Isto se dá porque a sequência natural é

definida pelos próprios genes do indivíduo.

O cérebro, neste sentido, desempenha um papel

muito importante, e pode ser pensado em três

dimensões: o arquicérebro, o cérebro dos hominídeos e

o neocérebro (do homem atual). Pode-se dizer que o

arquicérebro tinha uma determinação de proceder

cognitivamente, estruturado à base do tronco

encefálico, e esse animal não tinha o privilégio de

poder mudar as coisas, “estar emotivamente

envolvido”.

O estado da vontade, de voluntariedade era

muito menor do que o hominídeo, que já tinha

desenvolvido um cérebro quase neo, que lhe dava a

capacidade de interagir e modificar sua própria

linhagem.

Podemos dizer que, filogeneticamente os

cérebros evoluíram de uma mecanicidade para uma

reflexão. Por outro lado, as crianças evoluem partindo

de um período reflexivo, o ser humano tem embutido

por uma herança de reflexão para proteção, e até para

garantir a própria evolução do sistema.

É possível que o indivíduo evolua

independentemente da estimulação? Será que por

determinação do organismo ele irá evoluir? Tudo

indica que sim. A estimulação do ambiente vai ser

sempre prática. É muito importante sabermos a

distinção entre ser bom e ser efetivo. Se estimularmos

uma criança para que tenha um avanço no organismo

para andar, talvez ela desenvolva algumas percepções

a mais do que a que não foi estimulada.

Importante

Hominídeos: primatas antropóides, incluindo o homem e seus ancestrais fósseis, como os australopitecos.

Importante

O arquicérebro, gânglio supra-esofágico dos invertebrados superiores, equivalente a um cérebro primitivo.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 74

No entanto, foi garantido ao nosso organismo o

momento crítico do desenvolvimento. Assim, não

adianta antecipar o caminhar com andadores, pois os

que andam com andadores podem apresentar

problemas como “geno valgo” ou “varo”, com maior

constância.

O tempo para andar será praticamente o

mesmo. Isto é indicado por pesquisas como a de

Piaget com os gêmeos, onde um foi estimulado a

esquiar muito precocemente e o outro não; mas

posteriormente, aquele que não sabia esquiar foi

ensinado e, aprendendo em um ritmo muito maior,

conseguiu rapidamente igualar-se ao primeiro. Outro

exemplo é o da natação precoce, onde nadar muito

cedo pode ter consequências benéficas, porém também

pode apresentar consequências negativas.

A própria evolução do tempo dará ao indivíduo

uma capacidade maior de entender o mundo, pelo

desenvolvimento do cérebro, do encéfalo de uma forma

geral. Podemos então esperar que este desenvol-

vimento motor e este desenvolvimento neural, baseado

nas teorias maturacionistas tenham muito valor.

Pesquisas indicam que o formato maturacional

dos neurônios, que são os grandes responsáveis por

tudo, vai evoluir com o tempo. Levam a crer que o

conjunto de ingredientes (proteínas, cálcio, etc., que

formam todo o apêndice do neurônio), com o tempo irá

aumentar, tornando o cérebro ainda mais eficiente.

A parte da aprendizagem motora é mais formal,

mais interativa, direcionada por uma série de teorias

que embasam esta área: a teoria dos esquemas

motores, a teoria dos feedbacks-loops, uma série de

teorias que compõem certa bibliografia.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 75

Nós procuramos, dentro da aprendizagem

motora, a questão da performance, ou seja, ensinar

para que o indivíduo tenha mais condições, que possa

tirar partido de suas funções, para melhorar seu

desempenho físico, no que tange à relação corpo e

movimento.

O controle motor é um assunto mais evoluído da

ciência, que procura analisar como o indivíduo controla

o corpo para aprender. Existe uma teoria, chamada

teoria dos sistemas dinâmicos, que diz que a

aprendizagem, tanto no aspecto cognitivo, quanto no

aspecto do controle corporal, se desenvolve a partir de

desbloqueios.

O Ser evolui para controlar melhor o seu corpo e

para aprender mais sobre o movimento à medida que

se desbloqueia funções que estão mais ou menos

garantidas no sistema.

Diferentemente, pode-se pensar em uma teoria

que traz as informações, o neurônio gradativamente

aprende, e as funções vão se tornando mais

significativas.

A teoria dos sistemas dinâmicos diz que o

indivíduo tem contido em si neurônios próprios para

executar certas ações. Porém, apresenta certas

reivindicações impostas pela necessidade de seu

desenvolvimento. Conforme o indivíduo vai melhorando

suas funções, passa a desbloquear condições que

impedem o pleno exercício destas funções.

Outra possibilidade, é que os mecanismos

reflexos, que estariam em um invólucro, garantidos

geneticamente, mas limitados pelo peso do corpo,

questões de equilíbrio, e gradativamente, à medida que

o indivíduo fosse evoluindo, ou tendo experiências,

tivessem ocorrendo os desbloqueios e, evidentemente

Dica do professor

Então não se considera que a pessoa aprende, e sim que já tem aprendido intrinsecamente? Para certos aspectos sim, como por exemplo: no controle da postura, mas não no geral.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 76

os neurônios iriam se superpondo até atingir um ápice

de função.

A teoria da maturação tem razão, embora em

uma época remota a maturação tivesse grande

destaque, com a idéia de que o homem se firmava

baseado em seu processo de amadurecimento e até

com vantagens em relação ao meio-ambiente.

As áreas do cérebro e os neurônios

De acordo com BROCAS, o cérebro é dividido

funcionalmente em várias áreas, como as áreas

corticais, a área pré-frontal, as áreas motoras primária e

secundária, as sensoriais (3, 1, 2) e as áreas 7 e 5, que

nos interessam particularmente, por que são áreas

integradoras das ações e informações periféricas, de

impulsos que vêm de nossos apêndices corporais

(somatosensoriais, proprioceptivos, visuais, auditivos,

etc.).

Os neurônios aprendem, e isto é falado há muito

tempo, desde 1872. Porém, de um tempo para cá, mais

recentemente, investiga-se o porquê deste

aprendizado, de que maneira ele acontece. Eles se

especializam? Será que o corpo é organizado por

vínculos diretos com os neurônios, para cada neurônio

uma função, ou os neurônios formam assembléias,

“grupos” para funcionarem em nosso corpo?

Cerebelo Lobo temporal

Lobo frontal Lóbulo occipital

Lobo parietal

Tronco cerebral

Você sabia?

No aprendizado de um movimento de esqui, a aprendizagem não dependeria do tempo, mas sim da ação do corpo que seriam estabelecidos por todas as relações com graus de liberdade das articulações que, em interação com o cérebro, seriam liberados para funcionar dentro de um projeto motor rentável.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 77

Tudo indica que os neurônios formam

assembléias. Eles se juntam, especializando-se em

determinadas funções, e isto dá uma grande

plasticidade ao sistema, uma capacidade que garante a

continuidade do sistema caso um neurônio falhe, por

exemplo.

Como é que os neurônios aprendem? Para

tentar explicar, temos duas teorias: a neural e a

pedagógica. A teoria neural diz que os neurônios

formam assembléias e que constituem esquemas.

Porém, onde estão localizados estes esquemas? As

primeiras pesquisas apontaram o córtex, como sendo o

centro do controle motor. Lansley, em pesquisas sobre

tarefas motoras com ratos, demonstrou que realmente

o córtex era o centro da aprendizagem. Isto é verdade

em parte, como veremos.

Posteriormente ao estudo de Lansley, foram

feitos estudos para saber como o indivíduo aprendia

em movimento. Demonstrou-se que, em movimento, o

indivíduo codificava, engramatizava certas partes do

movimento, e que existiam neurônios com preferência

ao movimento, mas não específico para o movimento.

O que seria isto? Um determinado neurônio

apresentava um registro maior na encefalografia para

um determinado movimento com o braço, por exemplo,

do que para outro movimento, embora vários outros

neurônios apresentassem também registros que,

inobstante serem menores, não eram menos

importantes, para a tarefa motora que se estava

realizando.

Desta forma, os neurônios aprendem sobre um

movimento, e podem executá-lo melhor

posteriormente. Se os neurônios fossem aprender e

esquecessem, toda vez que fôssemos executar um

movimento, teríamos que reaprender. Por isso que se

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 78

diz que os neurônios aprendem e constituem grupos

(esquemas) que vão funcionar sempre que tivermos

que executar o movimento, ou que tivermos que

utilizá-lo como base para um movimento novo.

O esquema se forma neuralmente, como se

fosse uma raiz, e é ali que o sistema voluntário, de

projeção das células piramidais, irá projetar uma força

melhor para aquele movimento, referente ao programa

que temos a executar.

Podemos então regular o movimento

cognitivamente, de acordo com a necessidade,

controlando os impulsos nervosos para os setores

musculares que irão executar o movimento.

Os neurônios trabalham, então, em

cooperativas, sendo que eles têm hierarquia em função,

mas não hierarquia no grupo. Eles atuam em vários

esquemas, com percentuais de ativação diferentes.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 79

Os neurônios aprendem e se engramatizam,

provavelmente, de um ponto de vista mecânico, no

cerebelo. E como isto ocorre? Se olhássemos um

pedaço do córtex cerebelar, veríamos que temos as

células de Purkinge quase na superfície do córtex

cerebelar e as células granulares mais profundamente

colocadas.

Toda vez que fazemos um movimento,

informações são projetadas no cérebro via medula. A

velocidade, direção e torque de um membro projetado,

por exemplo, são detectados por minúsculos sensores,

como os corpúsculos de Paccini, de Rufini, os órgãos

tendinosos de golgi, o fuso neuromuscular.

Estas informações vão para dois estágios: o

cinestésico, onde temos plena consciência do

movimento, da posição de nosso corpo, temos uma

percepção clara de movimento.

Quando um indivíduo tem uma lesão cerebelar,

ele é incapaz de saber, de ter esta propriedade (por

exemplo, quando fecha os olhos, provavelmente irá

cair). O organismo dele não tem condições de perceber

os graus de liberdade do corpo.

Importante

Corpúsculos de Paccini Captam especialmente estímulos vibráteis e táteis. Formados por uma fibra nervosa cuja porção terminal, amielínica, envolta por várias camadas que correspondem a diversas células de sustentação. A camada terminal capta a aplicação de pressão, e transmite para outras camadas e envia aos centros nervosos correspondentes.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 80

Para a ocorrência da aprendizagem, devem

existir mecanismos neurais que dêem suporte. No

cerebelo, temos as fibras de Moss e as fibras

trepadeiras, que emergem da substância negra (local

onde são integradas as informações proprioceptivas do

corpo). As informações do corpo em movimento são

enviadas de alguma forma para a substância negra, são

interpretadas, e fluem através dos axônios das células

trepadeiras, abrangendo (se enrolando) os dendritos da

célula de Purkinge, que estão localizadas dentro do

cerebelo, no núcleo cerebelar. As células trepadeiras

passam pelo cerebelo, não residem nele. Já as fibras

de Moss são responsáveis por trazer o feedback do

meio ambiente para o sistema. Elas vêm do tronco

encefálico, com dicas do núcleo da base, do tálamo, do

próprio cerebelo.

Assim, as informações proprioceptivas vêm das

células trepadeiras, enquanto que as relativas ao meio-

ambiente vêm das fibras de Moss, depois de terem sido

captadas e analisadas pelo sistema.

A célula de Moss se transforma em célula

granular, formando posteriormente a célula T, indo

repousar sobre os dendritos da célula de Purkinge.

Todos os dois feedbacks, o feedforward, que

ocorre antes do movimento, do acontecimento e o

feedback, que ocorre durante e após a realização do

movimento, do acontecimento, são importantes.

Em uma pesquisa nas células de Purkinge, com

animais, um pesquisador notou que quando o

feedforward de uma célula havia chegado, e o de outra

não, o registro produzia uma determinada curva. Por

outro lado, quando os impulsos elétricos chegavam ao

mesmo tempo nas células trepadeiras e de Moss, o

registro dava uma queda suficiente, chamada de Long-

Importante

Receptores de superfície de Krause > Frio de Ruffini > Calor de Krause > Frio Discos de Merkel Tato e Pressão de Vater-Pacini > Pressão de Meissner > Tato Terminações nervosas livres > Principalmente dor.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 81

term Depression (Depressão de longa duração, ou

LTD), que realmente durava horas.

Esta baixa é o período em que uma série de

reações bioquímica está ocorrendo no interior da célula

de Purkinge, é o momento em que uma célula está

aprendendo. E quais são estas combinações?

Quando uma célula de Moss (ou paralela) se

encontra com o dendrito da célula de Purkinge e o

axônio de uma célula trepadeira, devem trabalhar em

conjunto. Quando as células projetam impulsos

independentemente, não ocorre aprendizagem.

Para haver aprendizagem, é preciso que as

múltiplas reações bioquímicas ocorram ao mesmo

tempo, entrem no interior da célula de Purkinge. As

células em T e as trepadeiras devem carrear uma série

de reações bioquímicas simultâneas para que haja

conhecimento, abrindo então os vários canais da célula

de Purkinge.

Estes canais são abertos através de impulsos

elétricos e químicos na sinapse das células T e

trepadeiras com as células de Purkinge. A combinação

de todas as substâncias (Na, Ca, AMPA, glutamato [que

forma a proteína quinase através do DAG]) consolida

as informações que vieram através das células.

Uma traz informações sobre o corpo, e a outra,

sobre o meio ambiente. Se as informações sobre o

meio-ambiente tiverem sido entendidas corretamente,

o organismo consegue aprender que aquela ação ou

movimento é adequado para aquele meio-ambiente.

Essa informação fica localizada no cerebelo, que

informa para o córtex cerebral através do tálamo. O

cerebelo aprende e, ao mesmo tempo, informa ao

cérebro.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 82

A aprendizagem, para ser fixada, necessita de

repetição. Ao mesmo tempo em que a informação é

processada em um neurônio, é processada em outros

milhares; se algumas sinapses não ocorrerem, os

outros garantirão a informação para o sistema.

Quando realmente a aprendizagem ocorre? O

canal AMPA se satura e não abre mais, existindo uma

falência na entrada de (Na) necessária para ocorrer a

aprendizagem. Assim, passa a não existir novo

processo de aprendizagem naquele neurônio.

ATIVIDADE FÍSICA. MAIS NEURÔNIOS COM EXERCÍCIO

Adolescentes que fazem esportes regularmente apresentam desempenho 20% superior em testes escolares, ao dos sedentários. Pesquisas comprovaram que o exercício físico é capaz de estimular, de fato, a produção de neurônios. Durante um século acreditava-se que as pessoas nasciam com um determinado número de neurônios, e que ao longo da vida esse número só decrescia. - Essa idéia mudou depois de pesquisas como as feitas no Laboratório de Genética do Salk Institute, na Califórnia. Ao colocarem camundongos em um ambiente com vários brinquedos e possibilidades de interação social e atividade física, cientistas descobriram que havia a produção de novos neurônios no hipocampo, região onde se processam a memória e o aprendizado. O simples fato de haver rodas para os camundongos se exercitarem, era suficiente para estimular a criação de neurônios, diz o neurobiólogo brasileiro Alysson Renato Muotri, pesquisador associado do Salk Institute. No entanto, se, colocados para nadar em situação estressante ou forçados à atividade física, efeito era negativo. O exercício precisa ser voluntário e prazeroso para que ocorra maior produção de neurônios. Outros testes concluíram que animais que fazem exercícios têm melhor memória e maior capacidade de aprendizado. O efeito também foi notado em relação à idade: Animais mais velhos que se exercitam regularmente estimulam a memória e aumentam a capacidade de aprender novas informações que jovens sedentários.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 83

Desta forma, o conteúdo aprendido no neurônio

não se perde mais. O que acontece quando a pessoa

esquece, ou “perde” a aprendizagem é que o

mecanismo fisiológico associado com aquele

conhecimento não tem mais como fazê-lo. Não existem

mais mecanismos fisiológicos de busca do

conhecimento, fato este conhecido como retroação de

memória.

Emoção

Tudo indica que a aprendizagem está

intimamente ligada à afetividade, ao desejo. Para cada

ato motor, temos um esquema: para andar, correr,

corrigir a postura. Nesta combinação dos neurônios

motores medulares com a musculatura periférica, há

uma garantia de uma sequência do movimento

adequada ao peso do corpo. Os neurônios aprendem

então junto com as unidades motoras da musculatura o

ajustamento necessário para que o sistema seja o mais

econômico e eficiente possível.

Qualquer que seja o movimento teremos

impingida a emoção. Seria difícil imaginar um trabalho

de reabilitação com o paciente totalmente

desinteressado do tratamento. O componente

motivacional é fundamental para que a aprendizagem

ocorra satisfatoriamente.

A emoção fazer parte do movimento é algo que

não se pode separar, porque está dentro do feixe

neural, do organismo neural que funciona no

movimento. O movimento tem sempre um “peso” de

sentimento, de emoção. Quando um indivíduo não

quer fazer um movimento, ou está motivado para fazê-

lo, o componente emocional se sobressai.

Dica de filme

Assista ao filme: O Homem Bicentenário

Apresenta a estória de uma família e seu novo utensílio doméstico: o robô chamado Andrew (Robin Williams), que realiza tarefas domésticas simples. Entretanto, aos poucos o robô vai aprensentando traços característicos do ser humano, como curiosidade, inteligência e personalidade própria. É o início da saga de Andrew em busca de liberdade e de se tornar, na medida do possível, humano.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 84

Como a condição neural se relaciona com a

emoção?

O sistema límbico está diretamente ligado por

terminações nervosas ao núcleo da base, ou gânglios

da base. Todas as vezes que o sistema sensitivo-motor

interage com o movimento, na verdade, a emoção

estará contida, seja para bem ou mau. Se um indivíduo

está perturbado pelo medo, ou pela euforia demasiada,

ansiedade, com certeza isto irá repercutir no sistema

sensório-motor afetando o desempenho do indivíduo.

Pesquisas demonstraram que um indivíduo que

se torna extremamente habilidoso, o ambiente tende a

interferir muito pouco em sua emoção, mas quando o

indivíduo está em processo de aprendizagem, o

ambiente interfere muito em sua emoção. A

participação da platéia é significativamente efetiva para

a performance desse indivíduo, especialmente na

relação entre os sistemas internos.

Não se pode frear uma emoção. O que se pode

fazer é controlar as emoções, de modo que se possa

canalizar ou filtrar. Isso é algo que a experiência do

indivíduo ajuda muito. Tratar com emoções é o trabalho

do profissional da saúde.

A relação do aspecto afetivo no

movimento

A afetividade está ligada também a aspectos

comuns do movimento, como a postura, por exemplo,

“cabisbaixa” é causada por motivo psicológico. Isto nos

leva a crer que, ao falarmos sobre o movimento, temos

que obrigatoriamente nos referirmos ao aspecto

emotivo.

Dica do professor

Emoção, numa definição mais geral, é um impulso neural que move um organismo para a ação.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 85

O controle do movimento pelo cérebro

O Sistema Nervoso Central (SNC) é organizado

hierarquicamente por níveis de controle, sendo o

cérebro anterior o ponto extremo superior e a medula

espinhal, o extremo inferior.

Para uma melhor compreensão deste sistema,

faz-se necessário nominar esta hierarquia sob três

níveis de controle. O nível mais alto é o nível do

pensamento, da abstração, da lógica, da sensatez, para

se fazer um ato motor. Eles estão garantidos pelas

áreas de associação do neocórtex e pelos gânglios da

base, que são responsáveis pela estruturação do

pensamento objetivo em uma ação a ser executada.

As estratégias para comandar os vários grupos

musculares do nosso corpo de forma a funcionarem

proficientemente são geradas por estas estruturas.

Embora haja uma divisão didática das estruturas que

estão mais envolvidas em determinado evento, todas

as estruturas cerebrais trabalham conjuntamente para

produzir o efeito desejado.

Os níveis intermediários, representados pelo

córtex motor e cerebelo, têm função imediata na

elaboração de táticas.

Tática é uma espécie de pré-ocorrência de um

evento; ela é intermediária em relação à estratégia,

por exemplo, porque a tática é mais utilizada para

projeção de um evento.

No terceiro nível, o da execução, que é o nível

menos “inteligente”, mais mecânico do ato motor,

temos a elaboração de eventos automatizados,

garantidos pelo tronco encefálico e medula espinhal.

Isto acontece independentemente de nosso controle

mental ou sub-cortical.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 86

Estes níveis têm relação com os sistemas

piramidal e extrapiramidal, no que se refere à

aprendizagem. No nível piramidal, tem relação com o

primeiro nível funcional do SNC visto acima, controle

direto sobre o movimento.

O nível intermediário estaria em uma transição

entre o piramidal e o extrapiramidal; ocorrendo o

impulso voluntário, organizado, juntamente com a

automatização, para que o movimento fosse mais

plástico. Finalmente, o sistema autônomo, ou terceiro

nível, que seria o sistema extrapiramidal.

Para fazermos a apreciação das diferentes

contribuições dos três níveis hierárquicos no

movimento, podemos exemplificar a posição de um

tenista em posição extensa em pé, esperando o

momento do saque de um adversário.

Neste caso, o córtex neocerebral possui

informações baseadas em feedbacks de origens visuais

e auditivas, “exteroceptores”, somáticos, “somato-

sensorial” na epiderme, “proprioceptivo” mecanismos

interoceptivos, com relação à posição do seu corpo no

espaço e do meio ambiente em si.

Estratégias precisam ser relacionadas para

mover o corpo, a partir da posição inicial, para o

recebimento da bola quando esta for sacada pelo

adversário. Além destas, outras estratégias que

preencham as demandas da devolução da bola.

Podemos convir aqui, que neste momento,

várias formas de devolução podem ser escolhidas —

uma batida com efeito na bola, uma bola em curva em

alta velocidade e assim por diante. Estas alternativas

são filtradas através dos gânglios da base e daí,

voltando para o córtex até que uma decisão final é

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 87

tomada (com base, em grande parte, em experiências

passadas).

As áreas motoras do córtex e do cerebelo

definem então as táticas necessárias para efetivação do

evento escolhido (ex., rebater a bola fazendo uma

curva em direção centro-esquerda do oponente) e

envia instruções para o tronco encefálico e medula

espinhal. A ativação dos neurônios do tronco

encefálico e medula espinhal efetivam, então, os

componentes do movimento a ser executado.

Uma apropriada ativação (periodicisada (1) –

timing) dos neurônios motores na medula cervical gera

o movimento coordenado dos ombros, cotovelo, punho

e dedos. Simultaneamente, o tronco encefálico envia

impulsos para a coluna torácica e lombar, com objetivo

de proceder ao ajustamento postural (mecânico,

automático) adequado à posição do tenista. Ou seja,

ajustamento que previne o corpo de uma possível

queda durante a rebatida da bola.

Quando nascemos, estamos impingidos de uma

gama de mecanismos reflexos, que não somem de

nosso organismo conforme vamos aprendendo. Este

mecanismo é garantido pelo sistema. Por exemplo, se

cairmos para trás, a primeira coisa que fazemos é

colocar as mãos para trás, e isto não foi aprendido; no

máximo, foi melhorado. Assim, vemos que é possível

treinar os reflexos, algo que não era pensado há alguns

anos atrás.

É possível melhorar a performance motora

através da melhora das funções neurofisiológicas

comuns, de nível superior “alto”, assim como é possível

com os níveis médio e baixo, ou seja, dos sistemas

puramente reflexivos. Muitos dos nossos reflexos são

aprendidos.

:: Periodicisada

1- Quando fazemos um movimento estratégico, tático, nós não fazemos apenas um movimento, mas sim uma seqüência hierarquizada de movimentos — contrações e inibições musculares apropriadas — para compor o que discriminamos como sendo o movimento global, final.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 88

No decurso da nossa vida, entretanto, ocorre

uma diminuição de nossa potencialidade reflexiva,

fenômeno este que ocorre a partir dos 20 anos de

idade, e deve-se ao não estímulo do reflexo, que vai se

perdendo aos poucos. Não se deve confundir,

entretanto, reflexo com tempo de reação, que é o

tempo cognitivo para se elaborar um movimento; no

tempo de reação, existe o processamento mental.

O Cerebelo é uma estrutura no organismo, que

recebe todas as informações que o indivíduo projeta

quando deseja fazer um movimento. Na fase final do

movimento, o organismo compara as informações

sensoriais do meio ambiente recebidas por feedback

com aquelas que foram projetadas para executar o

movimento corretamente.

Se as informações do feedback estiverem de

acordo com as projetadas, então o movimento sairá

correto. Se não, provavelmente o movimento será

executado incorretamente. Além disso, a informação

sensorial durante o movimento é de suma importância,

não somente para o movimento em execução, mas

para outros subsequentes e similares.

O organismo seria tremendamente ineficaz se

não aproveitasse estas informações; aquilo que você

aprende com seu corpo vai sendo armazenado como

percepções. Quanto mais essas informações forem

exacerbadas, mais informações estarão disponíveis

para o sistema, e então a aprendizagem será facilitada.

O funcionamento apropriado de cada um dos três níveis

de controle depende tão profundamente de informações

sensoriais que o sistema motor do cérebro deveria ser

considerado como sendo um sistema sensório motor

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 89

O córtex no planejamento do movimento

Todas as vezes que desejamos realizar o

movimento, o planejamos. E este planejamento é

realizado no córtex. O planejamento do movimento

exige atividade neural, exige consumo de glicose. O

córtex pré-frontal é o local em nosso córtex onde o

pensamento lógico, criatividade, decisão, e consciência

ocorrem. As áreas secundárias motoras (área 6) se

subdividem em duas subáreas, assinaladas por

Penfield, que mapeou o cérebro.

Os córtices pré-frontal e parietal têm uma

função muito importante no movimento. As áreas 5 e

7 são áreas posteriores de associação de alta

resolução. Podemos pensar que estas áreas do córtex

têm a propriedade de conhecer o movimento.

No lobo occipital, temos as áreas da visão, as

áreas 17 (primária), 18 (associação) e 19 (associação

da visão). Sem a área 17, não se consegue ver, por

isso é primária; sem as outras duas, a visão é

prejudicada, mas ainda se consegue ver. Além destas,

existe a área de alta resolução (IT), que é responsável

pela resolução 3-D das imagens. Devem existir outras

áreas de alta resolução para fala e audição, por

exemplo.

As áreas 5 e 7 têm a propriedade de integrar as

informações múltiplas do sistema, sejam visuais,

sensitivas, auditivas, em suma, todas do sistema

sensorial. Integrar, neste contexto, significa identificar

a posição do corpo, selecionar quais sons são

importantes, quais imagens têm importância naquele

momento, juntar as informações e mandar para a área

6, e sendo que esta irá articular a projeção do

movimento com base nas informações passadas pelas

áreas 5 e 7.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 90

Assim, as áreas 5 e 7 têm a capacidade de

selecionar todas as sensações recebidas, as envia para

a área que organiza, a 6, que irá mandá-las para a área

que executa, a 4. Daí, a área 4 executa, mandando as

ordens para as musculaturas envolvidas. Enquanto isso,

o tronco encefálico, por meio das vias ventro-mediais,

manda ordens para as musculaturas responsáveis pela

postura. Quando se sofre lesão na área 5, o indivíduo

pode sofrer da “síndrome da negligência”, onde pensa

que está sem a perna.

Nossas pernas são guiadas por um sistema

chamado de “mecanismos de padrões de movimentos”.

Temos na medula, na parte medular V, um grupo de

neurônios chamados de “medula sacra”. O impulso

deste grupo de neurônios da medula sacra pode vir

tanto da periferia, quanto do córtex. Se o impulso vier

do córtex, o movimento será voluntário; se vier da

periferia, o movimento da perna será automático, como

o ato de andar, por exemplo.

Planejamento do movimento

Em relação às áreas motoras e sensoriais

envolvidas no movimento, é importante se estabelecer

que o controle do movimento pelo cérebro parte do

princípio de que o cérebro tem uma série de núcleos

(“sites”), que interagem com o tronco encefálico e os

neurônios motores (em nível medular), e recebe

informações de várias partes do corpo para que possa

efetuar o movimento.

Nosso movimento envolve sempre o movimento

voluntário — o movimento em si — e os ajustes

posturais. Não podemos pensar em movimento sem

pensar nos ajustes posturais, já que em todo

movimento que fazemos, existe uma grande

quantidade (talvez até 60%) que é realizada em nível

Dica do professor

Ou seja... quando queremos acertar um alvo, toda nossa mobilização consciente está dirigida para o movimento de acertar o alvo; não dirigimos nosso pensamento para outros aspectos do movimento, que são ajustados reflexivamente.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 91

medular, automaticamente, que é responsável pela

manutenção da postura.

Quando falamos anteriormente no controle

motor, não abordamos os aspectos reflexivos, somente

os aspectos cognitivos — parte intelectual do

movimento —, onde nosso organismo consciente

planeja, coordenam e executam o movimento. As

principais áreas que estão envolvidas no movimento,

que foram abordadas por nós, em relação ao cérebro,

foram as áreas 4 (área motora primária) e 6

(subdividida em área suplementar e área pré-motora

(PMA)).

Falamos que todas têm funções específicas no

controle e organização do movimento; no entanto,

existem outras áreas, que não são de movimento

propriamente dito, mas são de associação, e o

movimento necessita delas para que possa ocorrer.

Destacamos as áreas 5 e 7 (de associação), e as áreas

3, 1 e 2 (sensoriais), que são áreas somatosensoriais,

que recebem as informações periféricas de nosso

corpo. Estas áreas (3, 1 e 2) também recebem

informações proprioceptivas, que inicialmente passam

por regiões subconscientes (cerebelo).

A área 5 necessita receber “input” direto das

áreas 3, 1 e 2, e a área 7 recebe informações visuais e

auditivas de uma área infero-temporal, no lóbulo

temporal inferior. O grande lóbulo anterior possui

neurônios que são responsáveis por “pensar” o

movimento adiante, antecipar eventos e planejar

eventos de alta qualidade, como estratégias e tomadas

de decisão. A área IT (infero-temporal) não é uma área

de associação, mas de percepção, ou seja, recebe

informações das áreas 17, 18 e 19, as lapida, e envia à

área 7.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 92

Porque precisamos de informações antecipadas

e planejar com antecedência nossas ações? Porque

necessitamos projetar nosso movimento e, para

fazermos isto, precisamos saber informações sobre

como nosso corpo está em relação ao ambiente. Além

disso, temos um sentido de proteção de nosso corpo,

que deve estar localizado em nosso arqui-cerebelo e

arqui-córtex, que não permite que façamos um

movimento abrupto, sem coordenação, mesmo em

movimentos rápidos.

Contribuições dos córtices para o

movimento

Os córtices motor, parietal e pré-frontal têm

importantes contribuições ao movimento. O pré-frontal

estende-se da parte anterior do cérebro ao sulco

salviano, e o parietal estende-se a partir do sulco

salviano, posteriormente. Eles funcionam da seguinte

forma: a partir do momento em que estamos

interessados em executar o movimento, nosso cérebro

fica ativo, ou seja, todas as áreas ficam ativas e

interagem entre si. Fora isto, estes córtices ficam em

estado de latência, aguardando um evento.

Ramificações de várias partes do córtex descem,

por axônios, aos núcleos da base. Assim, quando

desejamos um movimento, todo o córtex fica ativo, e

automaticamente todas as informações sensoriais

convergem às áreas 4 e 6, que se intercomunicam e, a

partir daí, a imagem ainda não produzida (executada)

do movimento converge para os gânglios da base,

depois para as porções ventral e lateral do tálamo e,

finalmente, para a área 6, ou seja, de volta ao córtex.

O tálamo, na realidade, é um filtro, ou estação-

relé. Todas as informações desejadas e que convergem

para o córtex passam pelo tálamo. É um núcleo

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 93

intermediário, que tem a função de filtrar as

informações indesejadas (em relação ao aspecto motor)

e, além disto, faz parte de um circuito que converge da

formação reticulada, da base do tronco encefálico, que

sai da porção ventral lateral (VLP), e a formação

reticulada tem a função de alertar (estado de alerta) o

tálamo, para que este atue sobre o córtex. O tálamo,

ainda pode ser um comparador, um selecionador de

informações.

A contribuição dos córtices pré-frontal e parietal

é a organização de uma possível ocorrência de um

movimento. Em um dado movimento, o córtex pré-

frontal atua projetando a ocorrência deste movimento.

A área 6 tem uma estreita relação com todo o córtex,

recebe informações visuais da área 7 (área

distribuidora), somatosensoriais das áreas 3, 1 e 2, e

do córtex pré-frontal. Ou seja, a área 6 tem

informações proprioceptivas, auditivas, visuais,

somatosensoriais e estratégicas para o movimento.

Quando todas estas informações são traduzidas

pelos núcleos da base, e filtradas pelo tálamo, chega à

área 6, e a intenção do movimento já está produzida.

A área 6 pode, inclusive, reter estas informações por

um tempo, até que o movimento seja efetivamente

executado. Assim, a função do córtex pré-frontal é

organizar o movimento, conjuntamente com os núcleos

da base, implementando uma imagem do movimento a

ser realizado, que fica em “stand-by”, aguardando a

execução do movimento.

O córtex parietal tem a função de receber todas

as informações possíveis das áreas 4 e 6, a fim de

transmiti-las para o córtex. A área 6 organiza o

movimento a partir das informações recebidas, até que

um comando, vindo da área 4, determine que o

movimento seja executado.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 94

A área 4, sede dos neurônios piramidais, na

lâmina 5, apresenta a menor sensibilidade aos

estímulos; ou seja, é a mais apropriada para produzir o

impacto que provocará a ocorrência real, física, do

movimento. Após o movimento estar todo projetado na

área 6, a área 4 detonará o comando para a execução

do movimento. A área 6 também envia, junto com a

área 4, axônios para os neurônios motores, e tem

junção com os músculos relacionados com as funções

antigravitacionais, ou seja, ajuste da postura. Ambas

as áreas, 6 e 4, estão relacionadas com a musculatura

distal do corpo, relacionada a movimentos complexos.

A área 6 regula a polidez, a sofisticação do movimento.

Em pesquisas realizadas com PET (Post-estimuli

Tomography – Tomografia pós-estímulo), que registra a

ativação sanguínea do cérebro, indivíduos faziam

movimentos com os dedos, movimentos aprendidos

com um planejamento anterior, e eram medida a

atividade do córtex.

Ao pensar e fazer o movimento, o fluxo

sanguíneo concentrava-se em certas áreas, a área pré-

frontal, responsável pela estratégia do movimento, as

áreas 6 e 4, e as áreas somatosensoriais do córtex

parietal. Quando, no entanto, instruía-se ao indivíduo

para que somente pensasse no movimento, sem

executá-lo, todas as áreas eram ativadas, exceto a 4.

Em nível subcortical, não existe atividade de

organização do movimento; isto inobstante o fato de

que, tanto em nível subcortical, quanto cerebelar,

exista o movimento desejado produzido

automaticamente, sem controle da consciência.

Quanto maior atividade automática estiver sendo

executada, menor será o registro encefalográfico,

embora sempre exista algum registro, em algum nível.

Dica do professor

Reflexo... uma reação corporal automática à estimulação

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 95

No reflexo, já existe outro mecanismo; o reflexo

patelar, por exemplo, não aparece em nível central

como planejamento, apenas como ocorrência. Ao se

bater no tendão patelar, provoca-se um arco reflexo

em nível medular, porém o neurônio motor que ali está

presente tem ligação direta com o cerebelo e córtex.

Com a ocorrência do movimento, os

mecanismos sensores, proprioceptivos, serão

informados da ocorrência do evento, e somente será

informada a execução do movimento ao córtex.

Gânglios da base

Os Gânglios (ou Núcleos) da Base são

estruturadores do movimento mecânico em si;

enquanto o pensamento estrutura o movimento, os

gânglios da base atuam colocando parâmetros no

pensamento. As áreas 6 e 4 estipulam cognitivamente

o movimento, porém este acontece com força e

direção, e são os gânglios da base os responsáveis por

este aspecto.

Os núcleos da base são formados pelo núcleo

caudado e o putamen que, juntos, são chamados de

núcleo estriado. Os globos pálidos (são dois), os

núcleos subtalâmicos, o tálamo e a substância negra,

também fazem parte do núcleo da base. Os núcleos da

base ficam situados profundamente ao telencéfalo

(hemisférios cerebrais).

Dentro dos núcleos da base, o circuito motor

inicia-se com uma ativação dos neurônios do córtex

frontal, ou seja, o desejo do movimento. Os neurônios

do córtex frontal ficam conectados ao putamen, ou

seja, o putamen recebe o “input” do movimento; o

putamen, por sua vez, inibe os neurônios dos globos

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 96

pálidos, e daí, desestimula o contato do tálamo, que

ativa o cérebro, na área motora suplementar (SMA).

Na doença de Parkinson, por falta de oxigênio no

cérebro, algumas das células morrem. Inicia-se com

1/3 de degeneração, até a degeneração completa, das

células da substância negra. A doença chamada de

Balila, por sua vez, ocorre por deterioração do tálamo.

Quando existe uma deterioração do núcleo estriado,

ocorre uma falta de coordenação motora, imprecisão no

movimento, ou seja, uma série de distúrbios motores

ocorre. Os núcleos da base são grandes mediadores

dos eventos da motricidade.

O papel do cerebelo

O movimento necessita de ser objetivo, e a

objetividade do movimento em termos de

direcionamento, sequência e lógica, tem no cerebelo o

grande suporte. O cerebelo fica posicionado por trás da

ponte, sustentado por dois tendúnculos, chamados de

tendúnculos cerebelares. O cerebelo, inobstante seu

tamanho reduzido, possui 50% de todas as células

nervosas do sistema nervoso. Ele tem em seu córtex,

e seus núcleos profundos, suas principais estruturas. O

cerebelo evoluiu muito dos homídeos ao homem

moderno, pela filogênese, e parece que atualmente o

cerebelo é um dos órgãos que provoca o “disparo”

necessário para a execução de um movimento pela

área motora primária.

Uma das partes mais importantes do cerebelo é

o circuito lateral. Ao mesmo tempo em que as

informações descem para os núcleos da base, chegam

ao tálamo e voltam ao córtex cerebral, também se

inicia o mesmo processo de fomento de informações no

cerebelo. Quando o movimento chega à área 6, no

aguardo para ser “disparado” pela área 4, o cerebelo

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 97

envia as informações das sinergias musculares

necessárias às coordenações musculares, às unidades

motoras.

O cerebelo, então, coordena a entrada dos

músculos na sequência correta para que o movimento

seja executado com precisão; e o faz através do núcleo

lateral do tálamo, conectando-se através de sua porção

ventral lateral (VLC) diretamente à área 4.

Tudo o que o cerebelo faz é operacionalizar,

diante da força direcionada pelos gânglios da base,

organizar a entrada dos vários grupos musculares na

sequência do movimento.

O cerebelo, sabendo do que o sistema deseja, e

tendo informações proprioceptivas sobre o que o corpo

está executando, se torna capaz de fazer comparações

do movimento, tornando possível organizar correções,

quando há tempo possível para fazê-lo.

Se as correções não puderem ser imediatas

(como no caso do movimento balístico), o cerebelo se

comunica com o córtex, indicando o erro. O sistema é

tão plástico, que ele corrige, informa e é informado.

Como vimos nessa aula, para executarmos um

simples movimento envolvemos diversas estruturas

neurais que possibilitam sentirmos e organizar nossas

ações. Desenvolvemos e aprendemos continuamente

durante nossa vida.

Aqui terminamos nossa abordagem

neurofisiológica do desenvolvimento, da aprendizagem

e controle motor.

Vamos verificar seus conhecimentos em

algumas abordagens da quarta aula.

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 98

EXERCÍCIO 1

Descreva a importância dos neurônios para o

movimento.

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EXERCÍCIO 2

Descreva a função do cerebelo e do córtex motor.

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RESUMO

Vimos até agora

Conceitos da motricidade como resultado de

traduções e organizações perceptivas e motoras

expressas em movimentos, descrevendo os

movimentos como: reflexos, automatizados,

voluntários e involuntários;

Conceitos da motricidade de acordo com seus

aspectos, como: desenvolvimento motor,

aprendizagem motora e controle motor;

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Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 99

Áreas cerebrais responsáveis pelos

movimentos, assim como o cerebelo e córtex

motor entre outras;

Sistemas periféricos informativos do

movimento;

Hierarquia do controle motor;

O reflexo postural no controle do corpo e do

movimento;

Como a emoção tem importância e interfere

no nosso movimento;

Aspectos gerais da memória para

aprendizagem e execução dos movimentos.

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Neurociência Educação e Inclusão Marta Relvas

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o

Seja bem-vindo a essa quinta aula que você terá a oportunidade de conhecer algumas noções básicas das chamadas neurociências, além de alguns conceitos essenciais para compreender o funcionamento do sistema nervoso. Além dessa visão mais introdutória, três focos fundamentais desta aula merecem destaque: o primeiro diz respeito ao próprio conceito de aprendizagem onde este é repensado sob a ótica da anatomia neuronal. O segundo foco refere-se aos transtornos de aprendizagem, e as contribuições das neurociências para melhor entender, através da análise neuroanatômica e neuroquímica do comportamento, como estes se originam e como podem ser trabalhados. O terceiro diz respeito ao conhecimento de diferentes linguagens e os sistemas neurais envolvidos na mesma. Por fim, aprenderemos um pouco mais sobre como a nova forma de conceber o sistema nervoso - obtida através de pesquisas recentes nesse campo - tem influenciado não apenas a concepção de aprendizagem, mas também a de inclusão.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

Conhecer o que é a neurociência e como esta pode auxiliar no

entendimento da aprendizagem; Entender melhor o funcionamento cerebral a partir de suas

diferentes regiões e responsabilidades funcionais; Desvendar o neurônio, seus constituintes e suas funções; Refletir sobre como as novas concepções do sistema cerebral

influenciaram uma nova percepção da inclusão; Aprender sobre alguns dos principais transtornos e distúrbios

de aprendizagem, diferenciando estes de uma simples dificuldade de aprendizagem;

Conhecer algumas medidas favorecedoras da inclusão que a escola pode tomar no sentido de oferecer condições apropriadas a alunos com dificuldades de aprendizagem;

Aprender quais seriam os sistemas nervosos envolvidos na aquisição da fala, da escrita e da aritmética e como estes funcionam.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 102

Introdução - As Neurociências

O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas do encéfalo, vem a alegria, o prazer, o riso e a diversão, o pesar, o ressentimento, o desânimo e a lamentação. E por isto, de uma maneira especial, adquirimos sabedoria e conhecimento, e enxergamos e ouvimos e sabemos o que é justo e injusto, o que é bom e o que é ruim, o que é doce e o que é amargo... E pelo mesmo órgão tornamo-nos loucos e delirantes, e medos e terrores nos assombram... Todas estas coisas suportamos do encéfalo quando não está sadio... Neste sentido sou da opinião de que o encéfalo exerce o maior poder sobre o homem.

(Hípócrates - Acerca das Doenças Sagradas, século IX a.C)

CONHECENDO AS NEUROCIÊNCIAS E SUAS

APLICABILIDADES NO COTIDIANO HUMANO

Muitas pessoas vivem com limitações funcionais

relacionadas às lesões ou às doenças do sistema

nervoso. As pessoas que apresentam danos encefálicos,

lesões da medula espinhal, defeitos congênitos e

doenças neurológicas têm de se adaptar aos seus

efeitos. Tarefas aparentemente simples como se sentar,

ficar de pé, se vestir, recordar nomes tornam-se

desafios incríveis. Por isso, surge a necessidade de

cada vez mais estudar o sistema nervoso central, para

aprender, pois, atualmente, com a descoberta da

plasticidade neural, surge um novo olhar, uma

esperança tanto para aqueles ditos “padrões normais

da sociedade” quanto para os portadores de outras

deficiências para lidar com o dia-a-dia da vida.

Importante

Neurociências decifram os nossos sentidos, através das janelas da visão, olfato, audição, tato e paladar.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 103

COMO A NEUROCIÊNCIA PODE COLABORAR PARA

O AVANÇO DA INCLUSÃO SOCIAL?

Neurociência é uma ciência nova que trata do

desenvolvimento químico, estrutural, funcional e

patológico do sistema nervoso. As pesquisas científicas

começaram no início do século XIX. Nessa ocasião, os

fisiologistas Fristsch e Hitzig relataram que a

estimulação elétrica de áreas específicas do córtex

cerebral de um animal evocava movimentos, e os

médicos Broca e Wernicke confirmaram

separadamente, por necropsia, danos cerebrais

localizados em pessoas que tiveram déficits de

linguagem após algum acidente.

Em 1890, Cajal, neuroanatomista, estabeleceu

que cada célula nervosa é única, distinta e individual. O

cientista Sherrington, estudando reações, relata que as

células nervosas (neurônios) respondem a estímulos e

são conectadas por sinapses.

Em 1970, desenvolveram-se novas técnicas e

produção de imagens, produzindo com clareza o

encéfalo e a medula espinhal em vida, fornecendo

informações fisiológicas e patológicas nunca antes

disponíveis. Entre as técnicas, existem a tomografia

computadorizada axial (TCA), a tomografia por emissão

de pósitrons (PCT) e a ressonância magnética (RM).

Uma abordagem além dos ditos anteriores

inclui:

NEUROCIÊNCIA MOLECULAR – Investiga a

química e a física envolvidas na função neural. Estuda

os íons e suas trocas necessárias para que uma célula

nervosa conduza informações de uma parte do sistema

nervoso para a outra, reduzindo ao nível mais

fundamental a sensação, o movimento, a compreensão,

Para pensar

Um caminho a desvendar: Portas da percepção – A idéia de cinco sentidos está ultrapassada, há dezenas deles, mas é o processamento sensorial que realmente importa.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 104

o planejamento, o relacionamento, a fala e muitas

outras funções humanas que dependem de alterações

químicas/físicas.

NEUROCIÊNCIA CELULAR – Considera as

distinções entre os tipos de células no sistema nervoso

e como funciona cada um respectivamente. As

investigações com os neurônios recebem e transmitem

informações, e os papéis das células não neurais do

sistema nervoso são questões ao nível celular.

NEUROCIÊNCIA DE SISTEMAS – Tem a

finalidade de investigar grupos de neurônios que

executam uma função comum, através de circuitos e

conexões, como exemplo tem-se o sistema

proprioceptivo, que transmite informações de posição e

movimento do sistema músculo-esquelético para o

SNC, e o sistema motor, que controla os movimentos.

NEUROCIÊNCIA COMPORTAMENTAL –

Estuda a interação entre os sistemas que influenciam o

comportamento, o controle postural, a influência

relativa de sensações visuais, vestibulares e

proprioceptivas no equilíbrio em diferentes condições.

NEUROCIÊNCIA COGNITIVA – Atua nos

estudos do pensamento, da aprendizagem, da

memória, do planejamento, do uso da linguagem e das

diferenças entre memória para eventos específicos e

para a execução de habilidades motoras.

Nos próximos capítulos, abordaremos os

seguintes temas:

Os íons, as funções das células nervosas;

Transmissão das informações entre as células

nervosas;

Importante

PROPRIOCEPÇÃO, uma capacidade bem menos conhecida que a audição, a visão, o paladar, o tato e o olfato. É neste caminho que a neurociência quer alcançar.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 105

A linguagem formada e compreendida;

A capacidade de ficar de pé, de andar e o

controle dessas habilidades, bem como o

processo neurobiológico das emoções;

Patologias/disfunções/transtornos/dificuldades

da aprendizagem humana;

A atuação multidisciplinar dos profissionais

para promover ao máximo a

independência/autonomia e a qualidade de

vida do sujeito aprendente.

Como o cérebro humano aprende e como

guarda saberes

Conhecer a história do educando e tratá-lo como

sujeito único pode mudar o rumo de muitas crianças.

PASSEANDO NA HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO

CÉREBRO HUMANO

Filogeneticamente, o cérebro humano pode ser

dividido em 3 unidades:

Cérebro primitivo (autopreservação, agressão);

Cérebro intermediário (emoções);

Cérebro racional/superior (tarefas intelectuais).

O CÉREBRO PRIMITIVO é constituído pelas

estruturas do tronco cerebral, do cerebelo, do

mesencéfalo, pelos bulbos olfatórios e pelo mais antigo

núcleo da base cerebral. Esse cérebro, anatomicamente

delimitado da forma descrita, corresponde ao cérebro

dos répteis.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 106

O CÉREBRO INTERMEDIÁRIO aparece nos

mamíferos primitivos inicialmente, porém, já tem

estruturas do sistema límbico e corresponde ao cérebro

dos mamíferos inferiores.

O CÉREBRO SUPERIOR, encontrado nos atuais

mamíferos, tais como nos primatas, golfinhos e seres

humanos, compreende a maior parte dos hemisférios

cerebrais, formado por um tipo de córtex e mais

recentemente denominado neocórtex, e por alguns

grupos neuronais subcorticais.

Essas três camadas cerebrais vão aparecendo,

uma após a outra, durante o desenvolvimento do

embrião e do feto (ontogenia), representando,

cronologicamente, a evolução (filogenia) das espécies

até o Homo Sapiens. Observando-se, então, na

superfície medial do cérebro dos mamíferos, uma

região constituída por células cinzentas (neurônios)

formando o lobo límbico e a borda ao redor do tronco

encefálico.

O cérebro mais primitivo é herança evolutiva dos

répteis, e abriga mecanismos neuronais básicos da

reprodução e da autoconservação, o que inclui o ritmo

cardíaco, a circulação sanguínea e a respiração.

Os comportamentos básicos como a seleção do

lugar, a territorialidade, o envolvimento na caça, o

acasalamento, o cuidar da cria e a formação de

hierarquias sociais e a seleção de líderes têm origem

nessas estruturas primitivas, bem como a participação

nos comportamentos ritualistas. Parece que estes

comportamentos formam parte das condutas

burocráticas e políticas do ser humano atual.

O sistema límbico já se encontra em torno desse

cérebro de réptil primitivo, sob a forma de rudimentos

do sistema límbico que existe no ser humano. O comporta-

Importante

Nosso organismo dispõe de marcadores biológicos dos quais nem sequer damos conta, que também têm papel fundamental.

Page 107: FUNDAMENTOS DA NEUROANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO … · 2018. 5. 10. · Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 9 A informação

Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 107

mento dos mamíferos, desde as classes mais inferiores

até as mais desenvolvidas, incluindo os humanos,

difere do dos répteis não só na maior quantidade de

comportamentos possíveis, mas também na qualidade

desses comportamentos, surgindo nos mamíferos a

emoção. É importante, também, saber que as emoções

da fúria são gerenciadas por este sistema límbico, são

praticamente iguais ao gato, a um cão e a um ser

humano submetido a uma situação quando estressado,

demonstra-se, então, que esse tipo de reação não

sofreu mudanças na escala filogenética dos mamíferos.

Também fazem parte, desse sistema límbico, os

sistemas neuroendócrino, neurovegetativo, os ritmos

circadianos e as emoções, como visto anteriormente.

Junto a essa região, encontra-se a amígdala

cerebral que realiza a função da agressividade em

situações emergenciais, acredita-se também ser

responsável pelo comportamento altruísta, o amor,

precisamente o com as crias.

Nas estruturas cerebrais primitivas da agressão,

estudos demonstram que o hipotálamo, o tálamo, o

mesencéfalo, o hipocampo e o núcleo amigdalóide

trabalham atuando em perfeita sintonia, produzindo um

comportamento de ataque, podendo ser acelerado ou

retardado, devido à interação das estruturas, ocorrendo

então uma destrutividade, pois sem elas não haveria a

verdadeira agressão. A verdadeira força da

agressividade está em uma região com grande

quantidade de neurônios, denominada de “armazém

neural” e na emoção processada pelo sistema límbico.

Por último, na evolução cerebral, aparece o

neocórtex que se apresenta em estado rudimentar nos

mamíferos inferiores, e nos primatas sofre grande modifica

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 108

ção, finalmente o desenvolvimento definitivo nos

hominídeos e nos grandes mamíferos aquáticos.

Como uma análise final, pode-se dizer que o

cérebro humano traz em si toda a história da evolução,

tanto a anatômica e a fisiológica, com probabilidades de

ter iniciado na água, quando os peixes desenvolveram

um tubo para transportar os nervos de partes distantes

de seu corpo para um lugar central de controle,

formação esta denominada de neurogênese animal.

Quando ocorre a retirada das amígdalas

cerebrais (que se encontram em duas regiões -

temporal profunda de cada hemisfério), faz com que o

animal se torne dócil, sexualmente indistinto,

descaracterizado afetivamente e indiferente às

situações de riscos. Porém, quando estimulado com

potencial elétrico, provoca crises de violenta

agressividade. No humano, porém, a lesão das

amígdalas faz com que o indivíduo perca o sentido

afetivo da percepção de uma informação de fora para

dentro do organismo/corpo, como a visão de uma

pessoa conhecida, sem que identifique o sentimento de

gostar ou não da pessoa em questão. Funcionando

conjuntamente com o hipotálamo, as amígdalas têm

como função identificar perigos, gerando medo,

ansiedade e estado de alerta, preparando-se para fugir

ou lutar.

Outras regiões do cérebro primitivo

HIPOCAMPO - responsável pelos fenômenos da

memória de longa duração. Quando ocorre lesão nos

hipocampos, não há registros de experiências vividas.

O hipocampo intacto possibilita ao animal lembrar e

comparar as reações vividas anteriormente, permitindo

a melhor opção, garantindo, assim, a perpetuação da

espécie.

Você sabia?

O cérebro é o órgão onde se radicam a sensibilidade consciente, a inteligência, a mobilidade voluntária, por este motivo é considerado como o centro nervoso mais importante de todo o sistema.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 109

TÁLAMO – tem como função a reatividade

emocional do homem e dos animais. O tálamo conecta-

se com as estruturas corticais da área pré-frontal e com

o hipotálamo e, através da via fórnix, com o hipocampo

e o giro cingulado.

HIPOTÁLAMO - região do sistema límbico mais

importante, pois controla o comportamento emocional,

como várias condições internas do corpo, por exemplo,

a temperatura, a vontade de comer e beber são

denominadas funções neurovegetativas internas do

encéfalo. O hipotálamo é a via de comunicação com

todos os níveis do sistema límbico e desempenha

também o papel das emoções especificamente, sendo

que as partes laterais parecem ser envolvidas com o

prazer, e a raiva encontra-se na porção mediana, está

ligada ao desprazer e à tendência das “gargalhadas

incontroláveis”.

Sistemicamente, como a emoção é realizada no

encéfalo?

A via dos estímulos emocionais ocorre de duas

maneiras:

Tomando o hipotálamo como referência:

Os estímulos entram pelos receptores sensoriais,

passam pelo hipotálamo, vindo do sistema límbico

(amígdala) e se dirigem às glândulas, porém, retornam

ao sistema límbico, vindo do próprio hipotálamo aos

centros límbicos e, destes aos núcleos pré-frontais,

aumentando, por um mecanismo denominado de

retroalimentação ou feedback negativo, a ansiedade,

podendo até chegar a um estado de pânico.

GIRO CINGULADO - situa-se na face medial do

cérebro entre o sulco cingulado e o corpo caloso, que é

um feixe nervoso ligando os dois hemisférios cerebrais.

A porção frontal coordena odores e visões com memórias

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 110

agradáveis de emoções anteriores, ainda é responsável

pela reação emocional à dor e pela regulação do

comportamento agressivo. É importante ressaltar que,

na retirada do giro cingulado (cingulectomia) em

animais selvagens, ocorre uma domesticação, enquanto

que a simples secção de um feixe (cingulomia)

interrompe a comunicação neural do circuito de Papez,

reduzindo o nível de depressão e de ansiedade

preexistente.

TRONCO CEREBRAL – responsável pelas

reações emocionais, porém de forma bem primitiva, na

verdade, apenas reflexos.

O tronco cerebral é constituído pela formação

reticular e do locus cerulous, que é um conjunto de

neurônios secretores de noradrenalina, tais estruturas

primitivas participam dos mecanismos de alertas que

são vitais para a sobrevivência, e na manutenção do

ciclo de vigília e sono.

ÁREA TEGMENTAL VENTRAL – é o grupo de

neurônios localizados em uma parte do tronco cerebral

que secreta dopamina. A descarga espontânea ou a

estimulação elétrica desses neurônios produz sensações

de prazer, e indivíduos que apresentam, por defeito

genético, redução no número de receptores dessa área

tornam-se incapazes de se sentirem recompensados

pelas satisfações comuns da vida e buscam novas

experiências, alternativas de prazer.

SEPTO – situado à frente do tálamo, em cima

do hipotálamo, sua estimulação pode causar diversos

comportamentos como, por exemplo, as sensações de

prazer e experiências sexuais.

ÁREA PRÉ-FRONTAL - Conectadas com o

tálamo, a amígdala cerebral e outras áreas subcorticais

Para

navegar

Aprofundando os estudos dos hemisférios cerebrais: http://www.epub.org.br/em/home.htm da revista Cérebro e Mente. Revista eletrônica de divulgação científica em Neurociência.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 111

explicam o importante papel que desempenham na

expressão dos estados afetivos. Quando o córtex do

pré- frontal sofre lesão, o indivíduo perde o senso de

responsabilidades sociais, bem como a capacidade de

concentração e de abstração. Em alguns, mantêm

intactas a consciência e algumas funções cognitivas

como a linguagem, mas não consegue resolver

problemas mais elementares.

Caso ocorra a prática de lobotomia pré- frontal,

as pessoas entram em “bloqueio afetivo” e não

demonstram qualquer sinal de alegria, tristeza,

esperança ou desesperança, suas atitudes não

demonstram qualquer sinal de afeto.

Maneira fácil de compreender o

funcionamento do sistema nervoso

central e a Educação.

O cérebro é o instrumento da aprendizagem.

(Marta Relvas)

Para se compreender o caminho percorrido das

informações pelos estímulos sensoriais até chegarem

ao cérebro, há de se ter necessidade de uma

abordagem anatômica e fisiológica (forma e função),

porém desejo facilitar essa decodificação. Para isso,

faz-se entender que existem movimentos de conexões

nervosas que são dinâmicas e velozes, devido à

integração entre três sistemas fundamentais para a

construção de saberes do sujeito que aprende. O

primeiro aspecto é o sistema de informação, o segundo

é o da compreensão dos sistemas biológicos e o

terceiro que adentra em nosso cotidiano é o da

cibernética, formando assim uma teia de conectividade.

Importante

Hemisfério esquerdo: função verbal, simbólica, analítica, abstrata, temporal, racional, lógica. Hemisfério direito: função não verbal, concreta, sintética, analógica, não temporal, intuitiva.

Para pensar

O imageamento revolucionou as neurociências por permitir investigar neurônios, resta saber até que ponto poderá explicar o funcionamento da mente.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 112

Diante disso, é fato que diversas dificuldades de

aprendizagens poderão ser resolvidas ou amenizadas

quando os educadores tiverem seus olhares focalizados

na promoção do desenvolvimento dos diversos

estímulos neurais que se expõe de forma a compreender

os processos e os princípios das estruturas do cérebro,

conhecendo e identificando cada área funcional,

visando estabelecer rotas alternativas para a aquisição

da aprendizagem, utilizando-se de recursos sensoriais

como instrumento do pensar e do fazer.

É fundamental que os educadores conheçam as

estruturas cerebrais como interfaces da aprendizagem

e que seja sempre um campo a ser explorado. Para

isso, os estudos da biologia cerebral vêm contribuindo

para a práxis em sala de aula, na compreensão das

dimensões cognitivas, motoras, afetivas e sociais no

redimensionamento do sujeito aprendente e suas

formas de interferir nos ambientes pelos quais

perpassa.

A formação do sistema nervoso nos faz entender

melhor a adaptação sensório-motora dos seres vivos,

por consequência dos sujeitos aprendentes, haja visto

que dos mais primitivos dos humanos ao atual ajustam-

se continuamente ao meio ambiente, que é mutável,

com a finalidade de preservação da espécie.

Para isso, três aspectos são fundamentais para a

adaptação dos indivíduos ao meio ambiente:

irritabilidade, condutibilidade e contratilidade que são

realizadas no sistema nervoso, através de estruturas

microscópicas denominadas neurônios.

A irritabilidade é a propriedade em que a célula

detecta as modificações do meio ambiente. Tal

sensibilidade celular causada por um estímulo é

conduzida a outra parte da célula por intermédio da

Você sabia?

Através do imageamento cerebral, é possível mostrar córtex, e amígdala cerebral ativados durante o reconhecimento de expressão facial. Emoções e aprendizagem para sobrevivência da espécie.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 113

condutibilidade. E a contratilidade é a propriedade que

garante o movimento da célula, realizando, assim,

muitas vezes, a defesa do organismo.

Então, após toda essa sistematização, pergunta-

se: Para que serve o sistema nervoso central? Qual a

ligação com o aprender?

O sistema nervoso coordena as atividades

internas e externas do organismo, produzindo uma

integração e a busca em manter a homeostase

(equilíbrio) do indivíduo com o mundo externo.

Anatomia da aprendizagem

A ativação de uma área cortical, determinada

por um estímulo, provoca alterações também em

outras áreas, pois o cérebro não funciona com regiões

isoladas. Isto ocorre devido à existência de um grande

número de vias de associações, precisamente

organizadas, atuando nas duas direções. Estas vias

podem ser muito curtas, ligando áreas vizinhas que

trafegam de um lado para outro sem sair da substância

cinzenta. Outras podem constituir feixes longos e

trafegam pela substância branca para conectar um giro

a outro, ou um lobo a outro, dentro do mesmo

hemisfério cerebral. São as conexões intra-

hemisféricas. Por último, existem feixes comissurais

que conduzem a atividade de um hemisfério para outro,

sendo o corpo caloso o mais importante deles.

As associações recíprocas entre as diversas

áreas corticais asseguram a coordenação entre a

chegada de impulsos sensitivos, sua decodificação e

associação, até a atividade motora de resposta. A isto

chamamos de funções nervosas superiores,

desempenhadas pelo córtex cerebral.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 114

LOBO FRONTAL

O córtex pré–frontal está relacionado com as

funções superiores representadas por vários aspectos

comportamentais humanos. Recebe impulsos nervosos

dos lobos parietal e temporal através de feixes de

longas fibras de associações situados no giro do

cíngulo. Lesões bilaterais da área pré-frontal

determinam perda da concentração, diminuição da

habilidade intelectual e déficit de memória e

julgamento.

Incluem-se três giros frontais, o giro orbital, a

maior parte do giro frontal medial e, aproximadamente,

a metade do giro do cíngulo.

LOBO TEMPORAL

Possui funções situadas em porções diferentes.

A parte posterior está relacionada com a recepção e a

decodificação de estímulos auditivos, que se coordenam

com impulsos visuais; a parte anterior está relacionada

com a atividade motora visceral (olfação e gustação) e

com alguns aspectos dos comportamentos instintivos.

LOBO PARIETAL

Está relacionado à interpretação, à integração de

informações visuais (provenientes do córtex occipital) e

somatossensitivas primárias, principalmente o tato. A

lesão do córtex primário occipital determina a perda do

campo visual, enquanto que as lesões do lobo parietal

resultam na perda do conhecimento geral, na

inadequação do reconhecimento de impulsos sensoriais

e na falta de interpretação das relações espaciais

(visual, espacial e motora).

Para

navegar

Visite o site http://www.sistemanervoso.com Por causa de muitas imagens, ele demora um pouco a abrir... mas vale a pena!! Conteúdos e imagens são excelentes.

Importante

Quando o cérebro recebe as estimulações corretas, uma imensidão de neurônios recobre seu funcionamento normal e outro grande número é despertado para novas tarefas de aprendizagem.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 115

LOBO OCCIPITAL

Esta região realiza a integração visual, a partir

da recepção dos estímulos que ocorrem nas áreas

primárias, levando informações para serem apreciadas

e decodificadas nas áreas secundárias e de associação

visual. Estes centros visuais são conectados por fibras

intra-hemisféricas ao córtex do parietal do mesmo lado,

bem como as outras áreas corticais tais como ao lobo

temporal, para outras atividades integradoras. Além da

integração intra-hemisférica, as áreas parietais direita e

esquerda e as temporais posteriores são conectadas

através do corpo caloso, comunicando os dois

hemisférios pelas fibras comissurais inter-hemisféricas.

RELAÇÃO DAS FUNÇÕES DESEMPENHADAS POR

DIFERENTES REGIÕES

ÁREA CORTICAL FUNÇÕES

Córtex moto primário (giro pré-central) Inicia o comportamento motor

voluntário

Córtex sensitivo primário (giro pós-

central)

Recebe informações sensitivas do

corpo

Córtex visual primário Detecta estímulos visuais

Córtex auditivo primário Detecta estímulos auditivos

Córtex de associação motora (área pré-

motora)

Coordena movimentos complexos

Centro da fala (área de Broca) Produção da fala articulada

Córtex de associação somestésica Base do esquema corporal

Área de associação visual Processa a visão complexa

Área de associação auditiva Processa a audição complexa

Área de Wernicke Compreensão da fala

Área pré-frontal Planejamento, emoção, julgamento

Área temporo-parietal Percepção espacial

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 116

Os neurônios realizam SINAPSES - região em

que ocorre a transformação do estímulo elétrico

(gerado no corpo celular) em estímulos químicos,

mediados pelos neurotransmissores como, por

exemplo, adrenalina, noradrenalina, acetilcolina (ação

excitatória), dopamina, ácido gama aminobutírico

(GABA), ação inibitória, e a serotonina como ação

excitatória ou inibitória.

É importante destacar uma classificação

sistemática dos neurotransmissores organizados

abaixo:

Aminoácidos - Neurotransmissor (GABA,

Glicina, Glutamato, Aspartato);

Pequenas moléculas – Neurotransmissor

(Acetilcolina, Serotonina, Adrenalina,

Noradrenalina, Dopamina);

Peptídeos neuroativos – Neurotransmissor

(Calcitonina, Encefalina, Dinorfina);

Íons e gases – zinco, monóxido de carbono e

óxido de nitrogênio.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 117

Assim, os neurônios são responsáveis pela

recepção, interpretação, produção e condução de

impulsos nervosos de um sistema biológico para outro.

Reinventando e organizando o cérebro -

uma nova concepção para a inclusão

Após estudarmos o SNC e os neurônios,

pretendo desenvolver um novo olhar dirigido à

formação cerebral, farei uma organização a fim de levá-

lo a refletir melhor sobre as várias maneiras que o

cérebro pode se apresentar e realizar tarefas.

Bem, com todos esses cérebros que nós,

humanos, temos, fica mais fácil conversar sobre

MÚLTIPLAS EFICIÊNCIAS para melhor incluir o sujeito

que aprende.

“Somos o que somos por causa daquilo que aprendemos e lembramos”.

Eric Kandel

Genial/Criativo

Individual

Motor

Social

Afetivo

Genial/CriativoGenial/CriativoGenial/Criativo

IndividualIndividualIndividual

MotorMotorMotor

SocialSocialSocial

AfetivoAfetivoAfetivo

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 118

Eficiências como:

O CÉREBRO INDIVIDUAL é o órgão que temos

dentro da caixa craniana, é “meu” e ninguém “tira”,

formado por várias estruturas anatômicas e dividido em

regiões como frontal, parietal, temporal, occipital, cada

uma com suas especificidades, que vimos anteriormente.

É responsável pela cognição, memória, tarefas

intelectuais, decisões e escolhas.

O CÉREBRO SOCIAL é o responsável pelas

relações com o meio, a cultura, a sociedade e os

conflitos, todos precisam conviver em harmonia, claro

que ele depende do cérebro individual para realizar tal

tarefa que é tão árdua e difícil. Ele está representado

nas regiões do pré-frontal, pois requer atenção,

habilidades nas atitudes positivas da personalidade.

O CÉREBRO MOTOR é representado pelos

movimentos do corpo, localiza-se na região parietal, e é

responsável pelas destrezas e refinamentos dessas

habilidades, ele é conjugado ao cerebelo que nos dá a

possibilidade de nos tornarmos eretos e bípedes,

mantendo, assim, o tônus ou a rigidez muscular.

Entendendo os movimentos dos músculos do

corpo para compreender a sua dinâmica e a

multiplicidade.

Como os movimentos musculares acontecem?

Ao compreender a dimensão motora do sujeito,

pode-se perceber o quanto é importante conhecer a

neurofisiologia muscular; pois, em muitos casos,

alterações nesses comandos acontecem, trazendo

então transtornos na locomoção, que em muitas vezes

atrapalham ou não a aprendizagem, isso dependerá de

Para pensar

O cérebro não é uma máquina genética pré-programada, mas uma rede maleável, que podemos,pelo menos em tese, alterar e curar.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 119

como esse sujeito será estimulado para a realização de

suas atividades. O importante é sempre integrar o

sujeito em sua plenitude biológica, psicológica e social.

É necessário que todos os aspectos promovam a

qualidade de vida e a autonomia do humano, a acolhida

sempre será primordial para o sujeito construir a auto-

estima.

O CÉREBRO AFETIVO-EMOCIONAL é

inseparável e fundamental para a realização e a

manutenção de nossas vidas, são sistemas naturais que

organizam as emoções positivas ou negativas,

controlando e equilibrando o comportamento humano.

São várias regiões interconectadas. Existe a integração

de áreas distintas da região cerebral, tais como o

córtex frontal orbital, o córtex cingulado anterior e as

amígdalas cerebrais. O córtex frontal tem um papel

crucial no refreamento da explosão impulsiva, enquanto

que o córtex cingulado anterior ativa outras regiões

para responder o conflito. As amígdalas cerebrais são

pequenas; porém, são uma importante porção do

cérebro, pois estão envolvidas na produção de uma

resposta ao medo e outras emoções negativas.

O CÉREBRO CRIATIVO, INVENTIVO,

GENIAL. Ah! É esse que nós, humanos, estamos

buscando, ou seja, usar todas as potencialidades do

hemisfério direito para resolver problemas e através

dele expressar melhor os nossos desejos, vontades e

sentimentos.

O fascínio pelas descobertas das pesquisas em

neurociências aumentou com o grande estímulo

advindo da década do cérebro. O principal ensinamento

dessa década é que o cérebro tem muito mais

capacidade de sofrer modificações do que se pensava

até alguns anos atrás. Hoje está claro que, antes,

mesmo o cérebro adulto, o qual se pensava ser

imutável, pode ser sede de renovação, a partir de

Você sabia?

O manto da consciência é o córtex; dele dependem nossas funções mais elaboradas, como a capacidade de ler e compreender esta leitura.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 120

algumas áreas com capacidade para gerar novas

células. Essa possibilidade abre inúmeras portas em

pesquisas para o estudo de novas drogas com efeito

sobre o desenvolvimento do sistema nervoso (SN), bem

como para a utilização de técnicas de reabilitação que

usem as JANELAS DE OPORTUNIDADES para o

desenvolvimento de determinadas funções.

Os fatores envolvidos para a aprendizagem

podem ser divididos em:

Fatores relacionados com a escola;

Fatores relacionados com a família;

Fatores relacionados com a criança.

A ESCOLA

Para se ter um bom rendimento e, assim, uma

boa acolhida na inclusão:

Condições físicas da sala de aula como

higiene, boa iluminação, limite aceitável de

número de alunos/turma;

Condições pedagógicas, disponibilidade de

material didático, adequado com a faixa

etária e método pedagógico de acordo com a

realidade da criança;

Condições de corpo docente, que se referem

à motivação, à dedicação, à qualificação e à

remuneração adequada.

A FAMÍLIA

Deve oferecer condições adequadas para que o

ensino e a aprendizagem sejam de sucesso. A

escolaridade dos pais influencia o desempenho na

estimulação da criança para um melhor envolvimento

com os estudos. O hábito da leitura é fundamental para

o desenvolvimento cognitivo da criança.

Importante

A base para explicar a noção da inteligência é o paradigma cognitivo do processamento da informação, o qual é decomposto nos seguintes aspectos: percepção, atenção, memória, raciocínio, intenção, aprendizagem, explicação e generalização.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 121

História familiar de alcoolismo, de drogas e

outros problemas são fatores desagregadores da

família.

A CRIANÇA

Com comprometimentos físicos, destacam-se:

Dificuldades sensoriais, responsáveis pela

aferência perceptiva adequada, sejam visual

ou/e auditiva, podendo ser hereditárias,

congênitas ou adquiridas, agudas ou crônicas.

Exemplos: otite crônica, tonsilites, sinusites

atrapalham a percepção sensorial, interferindo no

processo de aprender.

A criança que não escuta bem, frequentemente

parece desatenta, inquieta.

Portadores de estrabismo convergente, sendo

tratados tardiamente, a cirurgia só será

estética, pois a visão não se estabelecerá

mais e estará instalada a ambliopia;

Miopias, astigmatismo, hipermetropia.

Portanto, tanto a percepção auditiva como a

visual devem fazer parte do exame da criança na

escola.

Outras doenças como hipotireoidismo,

parasitoses, anemia, doenças reumáticas, nefropatias,

cardiopatias, desnutrição, pneumopatias e doenças

imunoalérgicas, também, implicam grave e complicado

desempenho escolar.

Com comprometimentos psicológicos:

Importante

O cérebro possui a capacidade de exibir imagens internas e de ordenar essas imagens num processo chamado pensamento.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 122

Ao entrar na escola, a criança pode desenvolver

alguns transtornos psicológicos como a timidez, a

insegurança, a ansiedade, a baixa auto-estima, a

necessidade de afirmação e a falta de motivação. Portanto,

pode ocorrer a evolução dos transtornos quando

associados aos conflitos, destacando-se as fobias, a

depressão, o transtorno de humor, o transtorno

opositor desafiante e a conduta anti-social. Muitas

vezes, confundimos com déficit de atenção e

hiperatividade.

Comprometimentos neurológicos:

As situações mais frequentes, mas não causas

primárias das dificuldades para aprender, são as

seguintes:

Deficiência mental, paralisia cerebral, epilepsia

serão abordadas posteriormente.

A criança não aprende por apresentar algum

grau de comprometimento mental. Encaminhar e

avaliar através de atendimento pedagógico por

testagem psicométrica, pois não se trata de um caso

com dificuldades de aprender, mas, com potencial

intelectual rebaixado, por isso o ponto de vista

pedagógico é fundamental.

Exame neurológico como eletroencefalograma,

para a avaliação de epilepsia, com ausência infantil,

com crises parciais motoras sensoriais, é de primordial

importância para detectar tal transtorno, pois muito

auxiliará o fazer pedagógico para acompanhar o

desenvolvimento da criança comprometida.

As crianças com PC têm dificuldades de aprender

frequentemente, pois dois terços delas têm

comprometimento mental.

Importante

Um bom ensino, por conseqüência, é aquele que se adianta ao desenvolvimento, ou seja, que se dirige às funções psicológicas que estão em vias de se completarem. Portanto, desafiar, exigir o intelecto da criança, mesmo com limitações é fundamental para que se conquistem estágios mais elevados de raciocínio, o que poderá ser alcançado se a escola investir na zona de desenvolvimento potencial de educando.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 123

Este é, sem dúvida, um fator limitador para a

aprendizagem, mas um terço das crianças com PC têm

inteligência normal e, em alguns casos, são

superdotadas.

Compreender todos os processos é colaborar na

avaliação cognitiva para não se correr o risco de

manter em escolas especiais crianças com bom

potencial.

Procedimentos a seguir quando a criança

apresenta dificuldades de aprendizagem:

É necessário que haja uma equipe

multidisciplinar e interdisciplinar para conhecer a

criança no seu todo, para não segmentá-la, e sim

avaliá-la e acompanhá-la todo tempo.

Dependendo do caso, essa equipe deve ser

constituída por pedagogo, pediatra, neuropediatra,

psicólogo, psiquiatra infantil, fonoaudiólogo,

otorrinolaringologista, oftalmologista, educador infantil

especializado, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e

assistente social, neuropedagogo...

Múltiplos atendimentos deverão ser

predominantes em cada caso:

Sensitivo-sensoriais - fonoaudiólogo, otorrino,

oftalmologista, neuropedagogo.

Percepto-motores - psicopedagogo,

psicomotricista, terapeuta ocupacional,

neuropedagogo.

Motores - fisioterapeuta, psicomotricista,

terapeuta ocupacional;

Emocionais - psicólogo, psiquiatra;

Sociais - assistente social para apoio da família,

neuropedagogo.

Quer

saber mais?

A Lei Pública Americana, P.L. 94-142, diz que: “Dificuldade de aprendizagem” específica significa uma perturbação em um ou mais processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se por uma aptidão imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. O termo inclui condições como deficiências perceptivas, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e afasia de desenvolvimento. O termo não engloba as crianças que têm problemas de aprendizagem resultantes principalmente de deficiência mental, de perturbação emocional ou de desvantagens ambientais culturais ou econômicas. Federal Register, 1977.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 124

Após detecção dos principais problemas que

interferem na aprendizagem, o escolar é encaminhado

para o tratamento específico e deve ser acompanhado

constantemente, pois em cada momento o foco deve

estar centrado nas dificuldades da criança.

Abaixo, relaciono algumas patologias associadas

às dificuldades de aprendizagem:

Epilepsia;

Transtorno de humor bipolar;

Transtorno de humor depressivo;

Transtorno da ansiedade;

Transtorno de conduta;

Transtorno de tiques;

Transtorno de déficit de atenção.

RELAÇÃO ENTRE ALGUMAS DOENÇAS

NEUROPSIQUIÁTRICAS E O NEUROTRANSMISSOR

- PESQUISAS ESTÃO SENDO DESENVOLVIDAS

Várias doenças antes consideradas como

psiquiátricas e que excluíam pessoas do convívio social,

hoje, estão entre as doenças orgânicas neurológicas.

São a esquizofrenia, o transtorno obsessivo-

compulsivo, a síndrome de Gilles de la Tourette

(transtornos dos tiques), a depressão, as psicoses, e o

autismo.

Estudos sobre a doença de Parkinson trouxeram

muitas informações importantes como as alterações

motoras observadas que dependem da maior produção

do neurotransmissor dopamina, outra situação

verificada foi a alteração no comportamento, na

motivação, levando à depressão e outros sintomas

psiquiátricos, podendo ocorrer melancolia, perda da

auto-estima, ansiedade e pensamento suicida.

Para

navegar

The Human Behavior e Evolution Society http://www.hbes. com/. Trata-se de um grupo interdisciplinar de pesquisa que tem como foco o estudo da natureza humana, incluindo a evolução das nossas emoções, da cognição.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 125

Hoje já é possível identificar alterações

orgânicas em receptores de neurotransmissores nas

pessoas portadoras de esquizofrenia e, com isso, pode-

se ter esperança de uma nova geração de substâncias

químicas psicoativas. Muitas são as doenças

neuropsiquiátricas que têm substrato orgânico com

baixa ou excessiva produção de neurotransmissores.

A serototonina está envolvida em algumas

patologias como transtorno do pânico, transtorno

obsessivo-compulsivo, percepção da dor, regulação das

atividades viscerais, algumas funções cognitivas,

afetivas e neuroendócrinas. Medicamentos e alimentos

que determinam aumento na produção da serotonina

têm ação antidepressiva e antipânico.

Observe o quadro abaixo, ele contém a relação

entre doenças X neurotransmissor.

APRENDER A LER E A ESCREVER PERPASSA PELA

COMPREENSÃO HUMANA

A aquisição deste sistema de comunicação

humana é extremamente complexa e envolve todas as

áreas cerebrais para que se desenvolva.

DOENÇAS NEUROTRANSMISSOR

Doença de Parkinson Falta Dopamina

Coréia de Huntington Falta GABA, Acetilcolina, Serotonina e Encefalina

Gilles de la Tourette Falta Acetilcolina e Serotonina, excesso de

Dopamina

Esquizofrenia Provavelmente excesso de Dopamina

Psicose Maníaco/depressiva Disfunção dos níveis de Serotonina e

Catecolamina

Síndrome do Déficit de

Atenção

Falta Noradrenalina

Dica de filme

“Hormônios controladores da vida”. Discovery Channel.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 126

Não existe nada mais inteligente e intrincado

para o cérebro do que se capacitar para a leitura e para

a escrita.

É nesse papel que o educador tem

responsabilidade, pois não basta ler ou escrever sinais,

e sim dar sentido a todos os estímulos recebidos. Por

isso, a leitura e a escrita não dependem apenas de

sistemas biológicos descritos nas explicações

anteriores, mas também da cultura de quem lê.

A boa leitura e a escrita dependem de bons olhos, bons ouvidos, bom cérebro e boa cultura.

(Marta Relvas)

EXERCÍCIO 1

Qual a relação entre o Estudo da Neurociência e a

Educação?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 2

O que significa dizer que um sujeito é possui transtorno

ou uma dificuldade no aprendizado?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Você sabia?

A área de Broca é responsável pela nossa expressão verbal e escrita. É com essa parte do cérebro que juntamos as sílabas de cada palavra de uma forma coerente. Viver sem a área de Broca é um desafio mental.

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 127

RESUMO

Vimos até agora:

A neurociência é uma ciência nova que trata

do desenvolvimento químico, estrutural,

funcional e patológico do sistema nervoso;

Filogeneticamente o cérebro é dividido em:

primitivo, intermediário e racional/superior;

O hipocampo, o tálamo, o hipotálamo, o giro

cingulado, o tronco cerebral, a área

tegmental ventral, o septo e a área pré-

frontal seriam regiões do cérebro primitivo;

O cérebro é o instrumento de aprendizagem e

diferentes regiões corticais participam do

processo de aprender, sendo importante

estudar a anatomia para entender melhor

como este se dá;

O cérebro é constituído de neurônios e que o

ser humano é organizado por 100 bilhões de

neurônios e 10 milhões de conexões

aproximadamente;

Através de uma nova forma de pensar o

cérebro, podemos entendê-lo a partir de suas

múltiplas eficiências tais como o cérebro

individual, o cérebro social, o cérebro motor,

o cérebro afetivo-emocional e o cérebro

criativo;

Para manter o equilíbrio mental, dormir

frequentemente e regularmente, alimentar-se

corretamente, divertir-se, ter um horário

regular de trabalho e praticar exercícios são

medidas recomendáveis;

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Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 128

Que os transtornos de aprendizagem não são

meras dificuldades de aprendizagem,

devendo ser entendidos como inabilidades

específicas em indivíduos que apresentam

resultados significativamente abaixo do

esperado para seu nível de desenvolvimento,

escolaridade e capacidade intelectual;

Que a escola inclusiva precisa reunir

condições físicas, pedagógicas e de equipe

favoráveis à inclusão, sendo a participação da

família uma necessidade fundamental;

Que o amadurecimento das linguagens

relativas à fala, à escrita e à aritmética

dependem do amadurecimento

neurofisiológico das estruturas cerebrais;

Que os principais distúrbios de leitura são a

alexia e a dislexia; de escrita são a agrafia, a

disortografia, a discaligrafia e a disgrafia; e

de aritmética são a acalculia e a discalculia,

podendo esta última ser mental ou gráfica;

Que vale estar atento às novas pesquisas em

neurociências para entender melhor a

complexidade cerebral envolvida no ato de

aprender.

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129

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Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem Marta Relvas

AU

LA

6

Apr

esen

taçã

o

Nesta aula aprofundaremos alguns aspectos teórico-conceituais analisados na anterior no que diz respeito à contribuição das neurociências, da plasticidade cerebral e da inteligência humana. Mas engana-se quem achar que esta é apenas uma aula de revisão e aprofundamento, uma vez que estaremos, também, aprendendo novos conceitos e proposições teóricas que ainda não tínhamos nos deparado. Um bom exemplo disso são as contribuições teóricas de Goleman (Inteligência Cognitiva e Emocional) e de Gardner (Inteligências Múltiplas). Visando alcançar esses objetivos, esta aula foi dividida em quatro momentos: no primeiro, analisaremos algumas das principais síndromes envolvidas com a Educação Inclusiva e a contribuição das neurociências para lidar com as mesmas no âmbito escolar e no familiar. Num segundo momento, refletiremos sobre a criança com limitações na aprendizagem e as atenções especiais de que ela necessita, dando um destaque especial a alguns tipos de síndromes. Num terceiro momento, aprofundaremos o conceito de plasticidade cerebral visto na aula anterior, pensando como este se aplica ao entendimento da necessidades especiais e a educação inclusiva como um todo. Num momento final, consideraremos as teorias da inteligência emocional e das inteligências múltiplas.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Uma melhor compreensão de como as neurociências podem contribuir

para o entendimento das necessidades especiais de aprendizagem e o tipo de suporte que elas podem favorecer àqueles que trabalham com aprendizagem.

Analisar o emprego de atividades lúdico-pedagógicas específicas que podem ser aplicadas como suporte para potencializar a inteligência.

Entender a importância da teoria da plasticidade cerebral e suas contribuições para a compreensão do cérebro normal e do cérebro lesionado;

Uma melhor compreensão de como as teorias das inteligências múltiplas e da inteligência emocional contribuíram e podem contribuir para um melhor entendimento do processo de aprendizagem e de como lidar com as dificuldades envolvidas no mesmo.

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

131

Introdução

Enquanto redijo este texto, muitas crianças

estão nascendo com algum tipo de limitação motora,

afetivo/emocional, social. Talvez uma cegueira, uma

paralisia cerebral, uma síndrome de Down ou sofrendo

um acidente, tornando-se um portador de necessidades

e atenção especial, ou mesmo na transformação do

processo de envelhecimento celular, limitando-se nos

seus afazeres e prazeres da vida.

Essa situação não faz escolhas, pode ser de

classe econômica financeira alta ou não, enfim, o

confronto com a realidade inesperada demandará

ajustamentos e adaptações orgânicas/mentais e sociais

para lidar com uma nova situação.

Outros comportamentos inadequados podem

aparecer no adulto como compras excessivas,

bebedeiras, atos ofensivos, promiscuidade sexual e

outros temerários são comuns, bem como julgamentos

inadequados.

O sujeito cerebral e suas inteligências:

emocional, múltiplas – entender para

incluir

Entender os mecanismos de funcionamento da

memória humana constitui um dos grandes desafios da

ciência moderna. As inteligências que atuam no cérebro

e contribuem para a utilização da memória dividem-se

em emocional e múltiplas. Todavia, executando-se a

inteligência artificial, todas as outras inteligências são

parte de herança genética humana e os níveis básicos

de cada uma se manifestam universalmente e

independentes da educação e da cultura. O cérebro

humano encontra-se anatomicamente partido ao meio.

Existe uma divisão de papéis entre esses hemisférios.

Dica de filme

A história de Brooke Ellison. Como uma borboleta. Casamento proibido.

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

132

Na maioria das pessoas, o direito é responsável pela

percepção espacial, atividades artísticas, musicais e

criatividade. É o lado emocional e intuitivo do cérebro.

Já o hemisfério esquerdo é o lado racional e analítico. A

ele cabem o domínio da linguagem, a matemática e o

pensamento lógico. A maioria das pessoas escreve com

sua mão direita, comandada pelo hemisfério esquerdo.

Mas, se os centros responsáveis pela fala e escrita

estiverem instalados na metade direita do cérebro, o

indivíduo será canhoto.

Discorrer sobre inteligência e aprendizagem não

é uma tarefa fácil, mesmo considerando que o assunto

é de grande interesse científico. Os estudiosos têm tido

dificuldades em encontrar um método adequado para a

observação da inteligência, o que dificulta as pesquisas.

Entre os autores, destacamos Eduard Claparède, Alfred

Binet, Teodore Simon, Sherman, Feldman, Daniel

Goleman, Howard Gardner, Maturana.

Os conceitos, estudos e métodos concernentes a

estes temas, bem como sua aplicação nas escolas, nas

empresas e na vida diária, são de valor ímpar para o

crescimento e o desenvolvimento eficiente da

inteligência e da aprendizagem humana.

Pode-se considerar que todos os seres vivos são

inteligentes, pois buscam alternativas de situações

problemas, desde o vegetal mais simples ao realizar a

fotossíntese para sobreviver, como o humano

realizando cálculos espaciais para o lançamento de um

O desenvolvimento desse capítulo visa apresentar os conceitos primários, explicar o que se entende, descrever os diversos tipos de inteligências, destacar os tipos de testes realizados, os conceitos de Q.I. e Q.E., as pessoas consideradas excepcionais, ressaltar a importância da aplicação dos diversos tipos de inteligências na educação escolar.

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

133

foguete. A inteligência existe por uma questão de

SOBREVIVÊNCIA da espécie.

Porém, nem tudo é tão simples assim. Vamos

desvendar os períodos da história do desenvolvimento

das pesquisas sobre inteligência.

PLATÃO – 427 - 347 a.C. – o primeiro a crer

que a inteligência vinha da cabeça por ter

forma aproximada de uma esfera, que

considerava o símbolo da perfeição.

ARISTÓTELES – 384 – 322 a.C. - acreditava

que a mente se encontrava no coração, pelo

fato de ser órgão quente e pulsante. Para ele,

a cabeça servia como refrigeração do corpo.

LEONARDO DA VINCI - 1452 – 1519 - célebre

artista fez desenhos detalhados da fisiologia

humana, acreditava que o pensamento vinha

do cérebro. Mas não se sabia como.

RENÉ DESCARTES - 1596 – 1650 – com sua

frase “penso, logo existo”, o filósofo francês

consagrou a tese de que o pensamento podia

viver dentro da cabeça, mas era algo

imaterial como a alma.

Os antigos procuravam medir a inteligência pelo

tamanho do crânio e da testa. Sempre houve interesse

em medir o grau de inteligência entre alunos de uma

escola, empregados de uma empresa, mas não havia

um meio para se fazer com exatidão a medida da

inteligência. Um dos primeiros estudiosos a formular

teste de inteligência foi Hermann Ebbinghaus, psicólogo

alemão, aproximadamente em 1900. Para determinar o

desenvolvimento mental de seus alunos, tomaram várias

sentenças das quais omitiam palavras pedindo aos

alunos que preenchessem os espaços em branco. O

governo francês, impressionado com o grande número

de reprovações nas escolas primárias, pediu ao Dr.

Alfred Binet, diretor dos Laboratórios de Psicologia

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

134

Experimental de Sobornne, em 1904, que resolvesse

esse grave problema.

Binet atribui o grande número de reprovações ao

fato de as classes serem heterogêneas, isto é, em uma

única classe havia alunos bem desenvolvidos em

inteligência e também outros pouco desenvolvidos

intelectualmente. Reuniu-se, então, ao Dr. Theodore

Simon para juntos encontrarem um padrão para

medirem a inteligência das crianças. Ambos julgaram

necessário encontrar um meio para medir o raciocínio,

a capacidade de adaptação de julgamento e a

capacidade de crítica.

CONCEITO DE INTELIGÊNCIA

Existe uma infinidade de definições sobre a

inteligência, mas muitos autores a definiram como “a

capacidade de aprender”.

Um deles enfatiza um ajustamento ou adaptação

do indivíduo ao meio, isto é, segundo essas definições,

a inteligência seria a capacidade de resolver problemas

novos, de modo que a pessoa mais inteligente seria aquela

que mais facilmente consegue mudar o seu

comportamento em função da existência da situação,

de conceber novas maneiras de enfrentá-las.

Um segundo grupo de definições diz que a

inteligência é a capacidade de aprender. O indivíduo

mais inteligente seria o que apreende mais e mais

depressa.

Um terceiro tipo de definições postula que a

inteligência é a capacidade de pensar abstratamente,

isto é, de utilizar os conceitos e símbolos das mais

variadas situações, principalmente símbolos verbais e

numéricos.

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

135

Estas três maneiras de conceber a inteligência,

na verdade, não se excluem mutuamente. São, antes

disso, aspectos de um mesmo processo.

Claparède definiu inteligência como a capacidade

de resolver situações novas por meio de pensamento.

Diz ele que, quando uma pessoa realiza alguma ação,

sua atividade se transforma em hábito, e, portanto, há

muitas atividades que realizamos sem usar o intelecto

como, por exemplo, as habituais, as reflexivas e as

intuitivas. Sempre, porém, que estamos diante de uma

situação pela primeira vez e não temos outros recursos

aos quais invocar (hábitos, reflexos, instinto),

precisamos recorrer à inteligência.

Trabalhos realizados por Binet e Simon fizeram

um teste para medir a inteligência, a atenção e a

memória da criança, denominado de escala Binet-

Simon. O trabalho de Binet-Simon permitiu a

classificação das crianças em normais, subnormais

(retardadas) e super normais.

CONCEITUAÇÃO DE INTELIGÊNCIA DE ACORDO

COM OS SEUS PESQUISADORES

Segundo Daniel Goleman, inteligência é emoção,

e o raciocínio se mede pelo quociente emocional (Q.

E.). O autocontrole das emoções determina a

inteligência. Tese desenvolvida pela Universidade de

Harvard, defende o livro “Emotional Intelligence”.

As pesquisas mostram que as crianças que têm

dificuldades de relacionamento na escola têm oito

vezes mais chances de fracassar em suas ambições.

Outro indicador importante: crianças que não sabem

controlar a gula enviando sinais de um perigoso

descontrole emocional. Ele avalia, por exemplo, que os

impulsos da gula são mais resistentes ao autocontrole

do que os da raiva.

Para pensar

Segundo o pesquisador, as crianças que aprendem a controlar suas emoções têm maior potencial de inteligência e mais chance de êxito na vida afetiva e profissional. Quanto mais a criança dominar seus impulsos e aprender a negociar com os outros para realizar seus desejos, mais inteligente ela será. Esse tipo de inteligência não se mede com um teste numérico.

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

136

Aqueles que aprendem na infância a negociar a

satisfação de seus desejos, tornam-se adultos mais

habilitados na busca da própria felicidade.

Para Goleman, entre as emoções, o controle da

ansiedade é o mais controvertido. Ele diz que um pouco

de ansiedade é ótimo para apurar a rapidez de

raciocínio e aumentar a concentração, mas alerta que a

ansiedade em excesso paralisa o cérebro.

O mais importante, no que se refere à

ansiedade, é saber administrar a carga de trabalho

para não atingir nível de estresse. Afinal, entre os

requisitos da inteligência emocional, está a capacidade

de negociar mesmo para melhor atingir objetivos,

numa equação de custos e benefícios.

Sua pesquisa é bem aceita pelos educadores

brasileiros, pois a maioria concorda que o autocontrole

dos impulsos sofre influência decisiva no ambiente familiar

e que faz parte do afeto dos pais saber a hora de dizer

não. O potencial de inteligência está associado à

capacidade de percepção e o afeto dos pais é o maior

estímulo.

O autocontrole favorece a curiosidade,

estimulando a inteligência. Isto se aprende, na infância,

em casa e na escola. Mas os adultos também podem

ampliar seu potencial de conexões cerebrais, ainda que

muito menos do que as crianças, exercitando-se contra

a rigidez de idéias e se abrindo para a vida.

HOWARD GARDNER SOBRE OS ASPECTOS DA

MULTIPLICIDADE

De acordo com as inteligências múltiplas, cada

inteligência deve apresentar um grupo de componentes

que formam a base do mecanismo de processamento

de informações necessárias para lidar com um

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

137

determinado tipo de material. A teoria das inteligências

múltiplas afirma que as habilidades para se compor

uma música, construir um computador ou uma ponte,

organizar uma campanha política, produzir um quadro

requerem algum tipo de inteligência, mas não

necessariamente o mesmo tipo de inteligência, por isso

sendo considerada múltipla.

INTELIGÊNCIA LINGUÍSTICA – é a habilidade

de usar a linguagem para convencer, agradar, estimular

ou transmitir idéias. Seus comportamentos centrais são

uma sensibilidade para os sons, ritmos e significado das

palavras e uma especial percepção das diferentes

funções da linguagem.

Área cerebral responsável por essa inteligência:

área de comunicação, nas estruturas de Wernicke e

Broca, região parietal.

LÓGICA MATEMÁTICA - manifesta-se na

facilidade para o cálculo, na capacidade de perceber a

geometria nos espaços, raciocínio dedutivo.

Área responsável - todas as conexões neurais do

encéfalo e pré-frontal.

CORPORAL CINESTÉSICA – habilidade para

resolver problemas ou criar produtos utilizando o

próprio corpo de diversas maneiras. Envolve tanto a

autocontrole corporal quanto a destreza para manipular

objetos.

Área parietal superior motora.

ESPACIAL – capacidade de formar um modelo

mental preciso de uma situação espacial e utilizar esse

modelo para orientar-se entre objetivos ou transformar

as características de um determinado espaço.

Para pensar

O educador necessita conhecer as inteligências múltiplas, para compreender a multiplicidade e a singularidade de seus educandos.

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

138

Área parietal e temporal do hemisfério direito de

encéfalo.

MUSICAL – é a habilidade para produzir ou

reproduzir uma peça musical, para discriminar sons,

perceber temas musicais, ritmos.

Área das regiões temporais dos hemisférios

direito e esquerdo do encéfalo.

INTERPESSOAL – habilidade de compreender

as outras pessoas, entender humores, temperamentos

e motivação de outras pessoas. Esse tipo de

inteligência ressalta nos indivíduos de fácil

relacionamento pessoal, como líderes de grupo,

políticos, terapeutas, professores.

Área relacionada é a região do pré-frontal e

frontal no encéfalo.

INTRAPESSOAL – é a inteligência do

correlativo interno; é a habilidade para ter acesso aos

próprios sentimentos, sonhos e ideais, para utilizar-se

em prol da solução de problemas.

É a competência de uma pessoa para conhecer-

se e estar bem consigo mesma, administrando seus

sentimentos e emoção a favor de seus projetos.

Áreas envolvidas nesta inteligência são o

sistema límbico/hipotálamo/neuroendócrino, bem como

a região pré-frontal do encéfalo.

PICTÓRICA – é a faculdade de reproduzir,

através de desenhos, objetos e situações reais ou

mentais.

Área cerebral de ação é a mesma relacionada à

espacial.

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

139

NATURALISTA – é a inteligência que se

manifesta em pessoas que possuem, em intensidade

maior do que as outras, uma atração pelo mundo

natural, extrema sensibilidade para identificar e

entender a paisagem nativa e, até mesmo, um certo

sentimento de êxtase diante do espetáculo não

construído pelo homem.

Área ligada ao hemisfério direito do encéfalo,

bem como sistema hipotálamo/hipofisário/pineal.

A RELAÇÃO ENTRE AS FORMAS DE INTELIGÊNCIA

E A EDUCAÇÃO

A questão da definição perfeita de inteligência é

um dos motivos que obriga os cientistas cada vez mais

a estudarem a sua forma e estrutura.

Numa visão tradicional, inteligência é definida

operacionalmente como a capacidade de responder a

itens em testes de inteligência, enquanto às múltiplas

inteligências implica novos paradigmas para a

educação, pois determinam que os alunos sejam

construtores do seu conhecimento. Neste processo, a

intuição e a descoberta são elementos fundamentais

para a construção do conhecimento. Neste novo modelo

educacional, o aluno deve ser considerado um ser total

que possui outras inteligências além da linguística e da

lógica matemática, que devem ser desenvolvidas, e o

professor o facilitador do processo de aprendizagem, e

não mero transmissor de informações prontas.

DISTINÇÃO ENTRE INTELIGÊNCIA INTELECTUAL E

EMOCIONAL

As duas acrescentam, isoladamente, às

qualidades de uma pessoa, onde na medida em que

cada uma tem tanto inteligência cognitiva quanto

emocional, essas margens se misturam. Mas mesmo

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

140

assim, a inteligência emocional contribui mais ainda

para as qualidades que nos tornam plenamente

humanos. Para obtermos uma inteligência emocional

bem distinta, o ser humano tem que conhecer a si

próprio para poder julgar determinadas coisas, as

reflexões demoradas, as vezes que fomos indiferentes

ao que de fato sentiu-se sobre uma determinada

situação, ou tarde demais damos conta desses

sentimentos. Essa maneira é considerada pelos

cientistas em metacognição, ou seja, o que se refere à

consciência do processo de pensar, e metaestado de

espírito para a consciência de nossas emoções, isto é,

que a mente observa e investiga tudo o que está

vivenciando, incluindo as emoções.

A mente humana possui potencial para lidar com

diversos tipos de conteúdos, e um desempenho

incomum tende a ser específico a conteúdos

particulares. Os seres humanos evoluíram até

apresentar diversas inteligências e não se basearam de

formas diferentes em uma inteligência flexível. No

entanto, existe uma combinação e cooperação das

inteligências em qualquer atividade humana complexa.

O cultivo de uma inteligência não implica que as

outras não possam ser adquiridas: indivíduos

diferentes, em culturas diferentes, desenvolvem, em

maior ou menor grau, diferentes tipos de inteligências.

Entretanto, a teoria das inteligências múltiplas não leva

à crença de que o aumento de uma inteligência remeta

ao decréscimo de outra. O problema talvez resida na

tentativa de aplicar modelos de uma sociedade em

outras, com diferentes tradições e histórias, e

diferentes tipos de inteligências favorecidas.

Cada vez mais ocorre um convencimento de que

progresso, sucesso e felicidade humana estão

intimamente ligados a melhores oportunidades

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

141

educacionais, que poderiam ser invocados

esquematizando-se um esforço centrado nas sete

regiões intelectuais, nas quais a maioria dos seres

humanos possui potencial para sólido avanço,

considerando-se, é claro, o contexto cultural no qual

estes indivíduos estão inseridos.

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL X FUNCIONAMENTO

CEREBRAL X APRENDIZAGEM

Atualmente, se aceita a idéia de que temos duas

memórias: uma emocional que se emociona, sente,

comove... E outra racional que compreende, avalia,

julga, analisa, pondera, reflete...

O dualismo razão/emoção se une por meio de

um mecanismo dinâmico, uma impelindo a outra com

grande velocidade na tomada de decisões. Na

realidade, estas duas memórias são complementares.

Para que ocorra a interação para o cérebro. Segundo

Relvas (2005, p. 51), o elemento responsável pelo prazer e

aprendizado situa-se nesta região. A ausência de

libidinação ocasiona problemas conflitantes, impedindo

o processo de aprendizagem.

Aprender é um ato desejante e sua negação é o não aprender. O desejo é movido pelo inconsciente, que nesse momento do aprender ou não aprender responde às informações libidinadas (negação, recusas, omissão, rejeição...).

A autora ressalta da oportunidade a proporção

existente entre emoção, prazer e aprendizado, quando

fala que

A emoção está para o prazer assim como o prazer está para o aprendizado, e a auto-estima é a ferramenta que movimenta os estímulos para gerar bons resultados.

Para refletir

Se até bem pouco tempo perguntássemos “onde moram” no cérebro as inteligências emocionais, seria considerada uma pergunta absurda, quase que banal.

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Machado (1980) comenta:

O fenômeno da emoção é muito complexo e nele participam áreas corticais e subcorticais (...) sabe-se que as áreas do cérebro relacionadas com o comportamento emocional ocupam territórios bastante grandes (...).

Goleman (1995) menciona que a amígdala

cortical funciona como um depósito de memória

emocional, afirmando que:

A vida sem amígdala não tem o menor significado do ponto de vista emocional.

Experimentos com animais demonstraram que,

quando há secção ou retirada da amígdala, ocorre

ausência do medo e da raiva, perda do interesse em

competir ou cooperar. Comprova-se, desta forma, que

sentimentos como afeição, paixão e manifestações

como lágrimas, sinal emocional exclusivo dos homens,

são desencadeados pela amígdala cortical.

No funcionamento da amígdala e sua interação

com o neocórtex, está o centro da inteligência

emocional. Quanto mais intenso o estímulo da

amígdala, mais forte o registro; as experiências que

mais nos apavoram ou emocionam na vida estão entre

nossas lembranças indeléveis. Isto significa que o

cérebro tem dois sistemas de memória: um para fatos

comuns e outro para fatos imbuídos de emoção.

O córtex pré-frontal á a região do cérebro

responsável pela memória funcional. Mas os circuitos

que vão do cérebro límbico aos lobos pré-frontais

indicam que os sinais de forte emoção (ansiedade,

raiva e afins) podem criar estática neural, sabotando a

capacidade do lobo pré-frontal de manter a memória

funcional. É por este motivo que, quando estamos

perturbados emocionalmente, costumamos dizer:

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“SIMPLESMENTE EU NÃO CONSIGO RACIOCINAR”. A

contínua perturbação emocional cria deficiência nas

aptidões intelectuais da criança reduzindo e, às vezes,

até mutilando a capacidade de aprendizagem.

O fato de que as áreas encefálicas reguladoras

do comportamento emocional têm também papel

regulador do sistema nervoso autônomo justifica-se

quando observamos que as emoções expressam-se, em

sua maioria, por manifestações viscerais (choro,

aumento de salivação, eriçar dos pêlos) e são

comumente seguidas de alterações na pressão arterial,

no ritmo cardíaco.

RAZÃO E EMOÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO-

APRENDIZAGEM – APRENDER COM A CABEÇA E

COM O CORAÇÃO

Para enfrentarmos o mundo da informação, não

basta, simplesmente, encará-lo com a razão. O melhor

caminho para as convivências sociais do mundo atual é

unir razão e emoção, para que se construa o alicerce

necessário à construção do conhecimento e da

aprendizagem significativa.

O maior desafio do mundo atual das informações

é como organizá-las, como encontrar meios que

viabilizem a organização das informações e que

permitam torná-las disponíveis quando necessárias.

O excesso de informação da atualidade, por

vezes, gera uma certa confusão mental, pois se torna

cada vez mais difícil e complexo compreender e

armazenar esse bombardeio de informações,

ocasionando “congestão mental”. Não há diferença

entre confusão e ausência de informações. Será, desta

forma, inviável chegar ao conhecimento crítico se

pensarmos numa relação puramente racional com as

informações. Quem deseja enfrentar o mundo da

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informação apenas com a cabeça, com abstrações, não

irá muito longe.

Relvas (2005, p.101) diz que:

Sentir com a cabeça e pensar com o coração é colocar-se em ação diante das informações, das multiplicidades, das diferenças. É fazer perguntas diante das afirmações, e abandonar a obsessão pela certeza absoluta e definitiva.

A aprendizagem pode ser considerada como um

compromisso essencialmente emocional. Cabe ao

ensino o compromisso com a motivação, estimulação e

orientação da aprendizagem. Não se pode ensinar a

quem não quer aprender, a quem não se encontra

disponível para as incertezas e busca de conhecimento.

Ensinar consiste fundamentalmente em aprender.

Aprender a enfrentar o desafio de elaborar estratégias,

meios eficazes na mobilização do educando, de sua

emoção em paralelo com a razão.

O papel educacional deve estar centrado na

formação do ser pensante, crítico e transformador, que

desenvolva a capacidade de lidar com os problemas

educacionais e sociais, evitando-se, desta forma, o que

Relvas define como “empobrecimento da espécie

humana”. Deve-se buscar por parte do educando o

autoquestionamento, por mais que este tenha

comprometimentos em dimensões motoras, sociais e

cognitivas. O importante é acreditar no potencial que

cada um de nós tem que desenvolver e projetar-se

para o mundo, sendo um sujeito mais pleno e feliz,

independente de nossas limitações afetivas,

emocionais, motoras, sociais e biológicas.

Se a aprendizagem ocorre num ambiente

motivador, que desperta o gosto, o interesse, este

processo acontece de fato, é verdadeiro, pois tem

significado.

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Aprender a aprender é fundamental para uma

sociedade justa e digna. Aprender significativo implica

emocionar-se até certo ponto, sempre que nos

relacionarmos novamente com o conteúdo aprendido.

Quem aprendeu com a cabeça e com o coração tem

constantemente algo a falar sobre o aprendizado,

compartilhando e partilhando com os demais.

AS EMOÇÕES E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

De acordo com concepções contemporâneas do

desenvolvimento humano, quando a criança atinge a

idade escolar, as funções neurossensório-motoras e as

demais funções cerebrais (sensação, percepção,

emoção) estão ainda muito confusas e, por isso, a

discriminação entre o seu eu e sua experiência não se

realiza apenas na dimensão cognitiva. Para isso,

segundo Goleman, é necessário uma ação mediadora

da educação, que deve tomar como sua função

promover a construção da afetividade e a organização

dessas funções. Por este motivo, a educação deve

centrar-se na avaliação de quatro pontos:

Como a criança procura resolver suas

dificuldades;

Qual o nível de auto-estima da criança;

Avaliar as características de humor da

criança;

As posturas da criança diante do adulto,

resultantes de sua relação com a família, tais

como nível de autonomia, relação com figuras

de autoridade e relação com estruturas de

poder.

Cabe ao professor, em vez de se deixar

contagiar pelo descontrole emocional das crianças,

procurar contagiá-las com sua racionalidade.

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RAZÃO OU EMOÇÃO, QUEM MANDA EM NÓS?

O grande filósofo Hume dizia que precisamos de

paixões para motivar nossas ações. Concordando com

Hume, pode-se afirmar que creditamos boa parte do

progresso da humanidade a nossa imperiosa

necessidade de satisfazer nossas básicas necessidades

emocionais, além de segurança, diversão, conforto,

facilidades para o convívio. A internet, por exemplo,

pode ser vista como um recurso criado pela razão para

aproximar as pessoas, permitir que troquem

informações, independente de sua particular situação

espacial. É a razão sendo usada para providenciar

recursos de contato entre pessoas.

No entanto, é preciso reconhecer que a razão

pode ir um pouquinho além do que propunha Hume.

Acreditamos que seja possível encontrar um lugar para

a razão de tal forma que esta consiga mudar um pouco

daquilo que desejamos. É possível, inclusive, dizer que

boa parte do progresso da humanidade se deve à

restrição de certos impulsos emocionais, devido a uma

troca racional deles por outras formas de satisfação.

A razão intervém quando se trata de estabelecer

quais são os deveres, quando se trata de lembrá-los na

hora certa de conter um forte desejo. Porém, por

detrás dos ditames da razão, permanece a emoção.

Quando numa dada situação deixa-se o

emocional ganhar, o comportamento da pessoa é

orientado em direção a conveniências emocionais

momentâneas. Selecionam-se atitudes e alternativas

que tenham grande potencial de benefício imediato

para a pessoa e seus familiares, mesmo que possam

significar péssimas opções para eles no futuro. Se

fossem parceiras, as atitudes deveriam ser

selecionadas não apenas por sua significação imediata,

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mas também considerando sua eficácia global, mesmo

que essas atitudes sejam, no curto prazo,

desagradáveis ou constrangedoras.

Outra forma de abuso emocional ocorre quando

este tenta “usar” o racional para providenciar suporte

para intenções inconvenientes. Neste caso, o racional

estará sendo “servo” dos motivos emocionais e as

soluções podem parecer ganhar certa justificação, pois

este racional estaria sendo usado para suportar uma

decisão emocional equivocada. Esta situação recebe o

nome de racionalização: é o uso de “desculpas

racionais” para fugir (ou evitar) a solução de certos

problemas de grande significação emocional.

Finalizando, no que se refere ao dualismo razão e

emoção, concluo que as emoções são importantes para a

racionalidade. Na relação entre sentimento e pensamento,

a faculdade emocional guia as nossas decisões a todo o

momento, atuando de mãos dadas com a mente racional e

capacitando ou incapacitando o próprio pensamento. Da

mesma forma, o cérebro pensante exerce um papel de

administrador de nossas emoções, a não ser naqueles

momentos em que lhe escapam o controle e o cérebro

emocional torna-se licencioso.

Conforme fala-nos Goleman,

Num certo sentido temos dois cérebros, duas mentes, e dois tipos diferentes de inteligência: o racional e a emocional. Nosso desempenho ao longo da vida é determinado tanto pelo Q.I, como também pela inteligência emocional. Isso resolve a antiga concepção de antagonismo existente entre razão e emoção, faz-se necessário encontrar o equilíbrio inteligente entre ambas.

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O antigo paradigma defendia um ideal de razão

livre do peso da emoção. O novo paradigma incita o ser

humano a harmonizar a cabeça e o coração.

Face a tudo que trabalhamos juntos até aqui,

espero ter contribuído para você subsidiar a reflexão e

a prática docente. Bem como todas as pessoas

envolvidas direta e indiretamente no mundo da

informação chamada EDUCAÇÃO.

EXERCÍCIO 1

Segundo o músico compositor Caetano Velloso,

“Narciso acha feio o que não é espelho”. Comente esta

frase, relacionando-a com a criança e suas outras

deficiências especiais.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

As neurociências oferecem um suporte

importante não apenas para a compreensão,

mas também no que diz respeito à adoção de

princípios e práticas pedagógicas aplicáveis

aos transtornos, distúrbios e dificuldades de

aprendizagem;

Mudanças ambientais interferem na

plasticidade cerebral e, consequentemente,

na aprendizagem;

Dica de filme

A Maravilhosa Máquina Humana – Reader´s Digest. Coleção Grandes Autores – Atta Mídia e Educação. O Cérebro – série Abril S/A.

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Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem

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A plasticidade cerebral se dá em função do

próprio desenvolvimento cerebral ou em

função de uma resposta às experiências do

meio;

Segundo Gardner, existem 9 tipos de

inteligência: lógica matemática, linguística,

corporal sinestésica, espacial, musical,

interpessoal, intrapessoal, pictórica e

naturalista;

A aprendizagem pode ser considerada como

um compromisso essencialmente emocional,

cabendo ao ensino o compromisso com a

motivação, a estimulação e a orientação da

aprendizagem, afinal não se pode ensinar a

quem não quer aprender;

Para Daniel Goleman, inteligência é emoção e

esta pode ser medida pelo quoeficiente

emocional (QE). O autocontrole das emoções

favorece a curiosidade, estimulando o

aprendizado e, portanto, para ele, determina

o grau de inteligência.

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Neurobiologia e a aquisição da Inteligência Cognitiva e a Afetividade Marta Relvas

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Nessa sétima aula vamos passear entre a inteligência e a afetividade. A ciência admite a existência de dois cérebros, divididos pela diferença de suas funções ligadas às regiões que as operam. As emoções são conjuntos de reações químicas e neurais que ocorrem no cérebro emocional e que usam o corpo como “teatro", ocasionando até as emoções viscerais, que afetam os órgãos internos, de acordo com a sua intensidade. O cérebro emocional é do apetite, do sono, do desejo sexual, da secreção dos hormônios e do sistema imunológico. O cérebro cognitivo é responsável pelo pensamento, pela concentração, pela atenção, pelo controle dos instintos, dos impulsos, pelos comportamentos morais, pelos movimentos voluntários e pela linguagem. O importante na construção dessa relação é saber usar essas competências para uma melhor qualidade de vida, capacitando o ser humano para suportar as adversidades, sendo generoso e empreendedor, cultivando sempre a equilibração entre e a razão e a emoção.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

Refletir sobre a relação entre inteligência e afetividade; Conhecer a evolução da inteligência humana; Ter uma visão integrada das regiões encefálicas; Discutir sobre razão e emoção, principalmente razão e emoção

no processo de ensino aprendizagem; Reconhecer como se aprende com a cabeça e com o coração.

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Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade

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Inteligência e afetividade

As nossas emoções são uma fonte valiosa de

informação e ajudam-nos a tomar decisões, estas são

resultado não só da razão, mas da junção de ambas,

associadas a outras competências emocionais que

podem nos levar ao sucesso na construção das relações

no trabalho, tais como:

Tolerância à ambiguidade - É a habilidade

para lidar com o inesperado;

Compostura - Essa competência emocional

tem a ver com a capacidade de absorver

frustrações;

Autoconfiança - É a capacidade de confiar em

si mesmo e de resolver determinadas

responsabilidades;

Empatia - Habilidade para ler nas entrelinhas

e trabalhar com as emoções, os sentimentos

e as motivações dos outros;

Energia - É a capacidade de manter o foco e o

compromisso durante um determinado tempo

e diante de coisas difíceis;

Humildade - É a capacidade de adaptação de

cada um;

Criatividade - É a criação de novas soluções

para velhos problemas;

Planejamento - É a prioridade nas ações.

A evolução da inteligência humana

Um dos mais fascinantes temas da ciência é

como surgiu a inteligência humana ao longo da

evolução dos grandes primatas aos hominídeos

chegando até o ser humano. A inteligência é um tema

fascinante porque nos dá a chave para o tesouro do

entendimento sobre nós mesmos e como a seleção

natural pôde produzir tamanha maravilha como o

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Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade

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cérebro humano e sua capacidade em tempo tão curto.

Também é uma explanação sobre a natureza da nossa

singularidade no reino animal e porque nós somos

assim hoje.

De fato, muitas facetas da evolução da

inteligência humana são ainda matéria de considerável

mistério, porque ela não pode ser observada

diretamente no registro paleontológico como um osso,

ou os dentes, por exemplo. A evidência reunida por

cientistas sobre a inteligência vem indiretamente a

partir da observação do aumento do tamanho da

capacidade craniana, de artefatos produzidos como

resultado da inteligência humana, tais como a

fabricação de ferramentas, a caça cooperativa e a

guerra, o uso do fogo, e o cozimento de alimentos, a

arte, o enterramento dos mortos, e poucas outras

coisas mais.

Por que ela se desenvolveu em primatas e não em

outros gêneros animais? Provavelmente pela inerente

instabilidade de ambientes territoriais, quando

comparados com os ambientes aquáticos, e quase

certamente devido às séries de mudanças dramáticas no

clima africano em certos pontos da história geológica.

Portanto, os fenômenos probabilísticos podem ser muito

bem a explicação por que estamos agora na posição de

sermos os mais inteligentes de todos os animais da Terra.

Este passo evolucionário foi espetacular porque

deu origem ao círculo cada vez mais rápido de

feedback positivo entre a evolução cultural (trazida

pela linguagem) e o desenvolvimento posterior do

cérebro ao aumentar enormemente o sucesso

reproduzido e às chances de sobrevivência do

organismo assim armados com um cérebro capaz de

alta flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de

aprendizagem. Em um período de um a dois milhões de

Para pensar

O aparecimento da inteligência, juntamente com a linguagem, foi um passo espetacular da evolução animal. Ela apareceu em primatas, mas poderia ter sido desenvolvida igualmente bem em outros mamíferos avançados, tais como golfinhos.

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Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade

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anos (praticamente um piscar de olhos em termos de

tempo geológico), este poderoso impulso de evolução

neural levou ao que somos hoje e ao que o homem

será nos próximos 100.000 anos.

Há hipóteses atualmente sobre a existência de

uma "massa crítica" de neurônios como um pré-

requisito para a "explosão" evolucionária da

inteligência. Em outras palavras, abaixo de um certo

número de neurônios (ou tamanho do cérebro), a

inteligência é altamente limitada e não leva à invenção,

imaginação, comunicação social, simbólica e outras

coisas que não existem em cérebros não-humanos. Um

número grande de fatores evolucionários convergentes

determinaram um rápido aumento no cérebro e a

complexidade do cérebro de hominídeos e levaram à

primeira espécie verdadeiramente Homo. A massa crítica

foi atingida e, após isso, foi apenas uma questão de

evolução quantitativa.

DEFININDO INTELIGÊNCIA

Mas o que é inteligência? Antes de embarcar em

uma viagem ao entendimento desta evolução, deve-se

conhecer melhor o objeto dessa questão.

Será a inteligência unicamente presente nos seres humanos? É claro que não. A inteligência humana parece ser composta de um número de funções neurais correlacionadas e cooperativas, muitas das quais já estão presentes em outros primatas, tais como a dexteridade manual, visão colorida estereoscópica altamente sofisticada e acurada, reconhecimento e uso de símbolos complexos, coisas abstratas que representam outras memórias de longo prazo . De fato, a visão científica atual é de que existem vários graus de complexidade de inteligência presente em mamíferos e que nós compartilhamos com eles muitas características que anteriormente pensávamos que eram únicas ao homem (tais como linguagem simbólica, como já foi provado que ocorre em primatas).

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Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade

155

Parece que existem tantas definições de

inteligência quanto existem cientistas trabalhando no

campo. De acordo com a Enciclopédia Britânica, "ela é

a habilidade de se adaptar efetivamente ao ambiente,

seja fazendo uma mudança em nós mesmos, ou

mudando o ambiente, ou achando um novo ambiente".

Esta é uma definição inteligente, porque ela incorpora

aprendizado (uma mudança em nós mesmos),

manufatura e abrigo (mudança do ambiente) e

migração (encontrando um novo ambiente). De modo a

nos adaptar efetivamente, o cérebro deve usar todas

estas funções. Portanto, "inteligência não é um

processo mental único, mas sim uma combinação de

muitos processos mentais dirigidos à adapatação

efetiva do ambiente", prossegue a definição da EB -

Enciclopédia Britânica.

Reconhecer quais são os componentes da

inteligência é muito importante em termos de montar

uma "teoria da inteligência". Uma das teorias mais

sólidas e interessantes foi proposta por Sternberg (veja

a tabela) e se relaciona diretamente à evolução. Ele

propõe que a inteligência é feita de três aspectos

integrados e interdependentes: no mundo interno, as

relações com o mundo externo, as experiências que

relacionam ao mundo externo e o interno.

OS COMPONENTES DA INTELIGÊNCIA O mundo interno: cognição 1. processos para decidir o que fazer e o quão

bem foi feito. 2. processos para fazer o que foi decidido ser feito. 3. processos para aprender como fazer.

O mundo externo: percepção e ação

1. adaptação a ambientes existentes. 2. modelagem de ambientes existentes em novos. 3. a seleção de novos ambientes quando os antigos se provam insatisfatórios.

A integração dos ambientes internos e externos através da experiência

1. a habilidade de se adaptar às novas situações. 2. processos para criar objetivos e para planejamento. 3. mudança dos processos cognitivos pela experiência externa.

Para refletir

A inteligência é uma entidade multifatorial, envolvendo coisas tais como a linguagem, o pensamento, a memória, o raciocínio, a consciência (a percepção de si mesmo), a capacidade para a aprendizagem e a integração de várias modalidades sensoriais.

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156

Um dos melhores exemplos que demonstram os

três aspectos da inteligência é a caça cooperativa nos

hominídeos. O mundo externo é caracterizado por um

terreno extenso tridimensional onde existem animais

muito rápidos, muito grandes ou muito perigosos como

presas em potencial. Aprender como emboscar a presa,

como aproximar-se dela e como matá-la com um

machado de pedra são habilidades cognitivas. Ser capaz

de caçar em vários ambientes, se mover, parar ou ir

quando a caça se torna escassa, fabricar armas de caça,

armadilhas animais são exemplos de processos

relacionados aos mundos interno e externo.

Finalmente, ser capaz de se comunicar e

coordenar a caça com outros seres humanos, delinear

uma estratégia para caçar mais efetivamente, e

desenvolver e sustentar todo o processo de caça por

meio da cognição, percepção e ação são exemplos da

integração entre os mundos interno e externo.

O quanto da inteligência humana, do pensamento,

do raciocínio, da imaginação e do planejamento são

devidos à linguagem? Praticamente tudo, nós poderíamos

dizer. De fato, esses processos são uma espécie de

"processamento interno da linguagem", como se diz. Um

dos mais importantes experts em evolução humana, lan

Tattersall, da Inglaterra, propôs que o sucesso da

humanidade é largamente o resultado da linguagem com

toda a sua riqueza de sintaxe e semântica. A linguagem,

portanto, é fundamental para a nossa capacidade de

pensar, e o intelecto humano e as conquistas que vamos

explicar neste artigo seriam impossíveis sem a linguagem.

Para Tattersall, a linguagem é "mais ou menos sinônimo

com o pensamento simbólico" e isto faz toda a diferença.

Neste contexto, aparece uma das mais

importantes propriedades da mente humana que é a

consciência, ou autopercepção. Nós não temos muitas

evidências se elas existem em outros animais, e

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157

quando ou onde elas aparecem em humanos pela

primeira vez. Será a autoconsciência um produto da

evolução? Será que ela é vantajosa para a adaptação e

a sobrevivência? A resposta é sim. A autoconsciência

nos permite construir a realidade além de meras

sensações físicas como imaginar uma situação e as

consequências de nossas ações, antes que qualquer

coisa aconteça.

Razão e emoção no processo de ensino

aprendizagem - aprender com a cabeça e

com o coração

O maior desafio do mundo da informação é,

para quem estuda, como organizá-la, como encontrar

critérios que viabilizem a organização da informação e

que permitam, com isto, torná-la disponível quando

necessária. Ora, tais critérios são, antes de tudo,

formas de pensar e de sentir, ou seja, forma de viver.

Quem pretende enfrentar o mundo da informação

somente com a cabeça, com abstrações, não irá muito

longe. O excesso de informação mal compreendida,

mal armazenada, significa o mesmo que confusão. Não

há uma distância entre confusão e falta de informação.

Não será possível chegar ao conhecimento crítico,

inovador, com uma relação meramente racional diante

das informações. Este é o caminho da congestão

mental. O acúmulo de dados, seja em computadores,

seja em cérebros vivos, não representa conhecimento.

A análise, a fragmentação dos dados, sem uma

correspondente síntese, não leva a nenhum

conhecimento útil e pode, pelo contrário, levar a

muitos conhecimentos inúteis.

Podem-se criar várias disciplinas falando de

cidadania, honestidade. Os valores têm de ser vividos,

vivenciados; a crise na educação não é outra coisa

senão a perda de sentido, nos remete à idéia da

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Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade

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educação ter um sentido coletivo.

Deve-se desenvolver a capacidade de pensar

criativamente o cotidiano, talvez encontremos diversas

soluções paulatinas.

Ver o que não está aparente no conteúdo

programado, no concreto, mas considerar o

crescimento humano que a pessoa adquiriu durante

aquela experiência.

Tudo isso é aprender. E aprender é sempre adquirir uma força para outras vitórias, na sucessão interminável da vida.

(Cecília Meireles)

O grande desafio da sociedade da informação é

estimular uma saudável relação emocional tanto quanto

racional com as informações. Como eu reajo

emocionalmente diante do conhecimento? Se imaginar

que um professor, um programa de computação, um

curso televisivo, ou seja, qual for vai colocar na mente

um determinado conhecimento, então pressuponha-se

que a mente é algo como uma caixa vazia ou um papel

em branco a ser preenchido. Neste caso, pressuponha-

se que é o objeto e não o sujeito do processo de

conhecer. A percepção de quanto a emoção está

ocupando a mente desvia as informações,

relacionando-as em forma de rede com a vida

cotidiana, com os sonhos e desejos. Não estou

percebendo que o discurso do professor ou de alguma

outra fonte de informação é apenas parte do processo

de aprendizado e que, se deixar que essa parte fique

desacompanhada da emoção, do zelo e cuidado, tudo

será um amontoado de palavras ou dados inúteis, uma

perda de tempo, um desperdício em todos os sentidos.

Aprender com a cabeça e com o coração é

colocar-se em movimento diante das informações. É

Para pensar

Aprender com a cabeça e com o coração implica conviver com as incertezas.

Dica da professora

A alternativa é aprender com a cabeça e com o coração.

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Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade

159

fazer perguntas diante das afirmações. É abandonar a

obsessão pela certeza absoluta e definitiva diante do

conhecimento científico, filosófico ou seja lá de que

outro tipo for. É começar a olhar tanto para o texto

quanto para o contexto do texto, quanto para o

processo íntimo de auto-questionamento. Precisa saber

observar os pensamentos e sentimentos, sem agarrar-

se a eles, sem pretender descanso nas convicções, pois

estas podem ser becos sem saída do processo de

aprendizagem.

É tomar o conhecimento sempre dentro de

contextos, sempre ligado a uma perspectiva ou teoria

que o delimite, que permita ver as falhas, as

limitações, as lacunas do próprio conhecimento. Não

posso pretender agarrar-me a algo que considero

passível de afundar a qualquer momento. E se o

conhecimento é aprendido com a razão tanto quanto

com a emoção, há sempre este risco. A emoção

representa, para o conhecimento, seu contexto mais

insondável, algo como um mar aberto em torno de uma

ilha de idéias bem organizadas; ou, no máximo, de um

arquipélago. Conhecer não é percorrer terras planas e

seguras. Conhecer é viajar por espaços delimitados

pela ignorância e pelo risco do retrocesso.

O ensino é um compromisso com a estimulação,

com a provocação, com a orientação da aprendizagem.

Ninguém pode ensinar a quem não se encontra

disponível para as incertezas e em busca de

conhecimento. Não é possível orientar sem aprender a

orientar com o orientado. Ensinar é fundamentalmente

aprender. Aprender a enfrentar o desafio da vinculação

da emoção com a razão no processo de conhecer e,

além disso, enfrentar o desafio de criar meios,

mecanismos, recursos, instrumentos, estratégias e

táticas que mobilizem, no educando, sua emoção em

paralelo com sua razão. Esquecer ou reprimir a

Para refletir

A aprendizagem é um compromisso fundamentalmente emocional.

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Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade

160

primeira em função da segunda, sob a alegação de que

a emoção apenas atrapalha o conhecimento científico, é

retroceder mais de um século na psicologia da

aprendizagem.

Aprender com o aprendiz é buscar, com ele,

maneiras de reconstruir o conhecimento em parceria,

com base nas vivências e reflexões propiciadas pelas

dinâmicas de grupo, pelas circunstâncias geográficas e

históricas vividas no momento da aprendizagem, pelas

varias estratégias de ensino-aprendizagem, valorizando

tanto a análise quanto a síntese, tanto a cultura escrita

quanto a expressão oral, a capacidade de interação e

de estabelecer e cumprir compromissos. Aprender um

conteúdo é não apenas dominá-lo, mas envolver-se

com ele, habitá-lo, transformá-lo em algo renovado

pela vida e que nele depositamos.

Estar em busca de, estar ideologicamente

inquieto, insatisfeito, é pré-condição de aprendizado

efetivo. Ter aprendido algo significativo implica

conseguir emocionar-se, até certo ponto, toda vez que

relacionamos novamente com tal conteúdo. Quem

aprendeu com a cabeça e com o coração, sempre, tem

algo a dizer sobre o que parece ter aprendido.

Consegue reemocionar-se toda vez que se envolve com

o aprendido. Assim, torna-se mais persuasivo,

convincente quando busca partilhar seu conhecimento

com os demais.

A representação do aprendido não é apenas uma

reapresentação do conhecido, em forma racional,

abstrata. É também uma representificação, uma nova

viagem, um novo mergulho.

Para aprender, o sujeito necessita estar apto a

fazer um investimento pessoal no sentido de renovar-

se com o conhecimento. Implica um movimento que

Importante

Aprender é uma aventura e quem ensina não deve interromper a viagem do aprendiz com falsas bóias de salva-vidas.

Importante

Aprender a aprender é realmente o mais importante na sociedade da informação.

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Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade

161

envolve tanto a utilização dos recursos cognitivos

mesclados com os processos internos quanto com as

possibilidades socioafetivas. Vale dizer que a

aprendizagem vai acontecendo à medida que o

aprendiz vai construindo uma série de significados que

são resultados das interações que ela fez e continua em

seu contexto social.

A dimensão da proposta escolar para o novo

milênio, e o seu êxito estão diretamente ligados à

construção de seres pensantes, críticos, com

instrumentos capazes de melhorar o seu social

promovendo a democratização. A vivência da cidadania

plena é aprendida e internalizada na ação social e

emocional.

A plena integralidade do ser humano, entendida

entre a razão e a emoção, entre o subjetivo e o

objetivo, entre o individual e o coletivo, constitui o ser

cidadão, pleno em suas capacidades de exercer seus

deveres e viver seus direitos para redimensionar os

problemas sociais.

Em verdade, cremos que a educação deva ser

um ato de “resgatar a dignidade do ser humano e sua

infinita nobreza”, e propiciar uma convivência em que

todos tenham um espaço digno e sejam mais felizes.

EXERCÍCIO 1

Descreva sobre a relação e interferências que ocorrem

entre a emoção e a razão e vice versa.

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____________________________________________

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Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade

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EXERCÍCIO 2

Descreva sobre como o hipotálamo participa dos

fenômenos da emoção e do comportamento.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Razão e emoção no processo da aprendizagem, significa aprender com a cabeça e com o coração. Inteligência e afetividade são fontes valorosas de informações para " tomada" de decisão. Processo de inteligência: cognição, percepção, integração, experiência. O ensino é um compromisso com a estimulação, provocação e orientação da aprendizagem. Para aprender o sujeito necessita estar apto a fazer um investimento intelectual.

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Neurociência como interface Científica para a Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica Marta Relvas

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LA

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o

Nesta última aula teremos oportunidade de pensar a Educação a partir das contribuições da nova neurobiologia influenciada por pensadores como Humberto Maturana, Francisco Varela, Edgar Morin e Leonardo Boff. Nessa visão, a idéia de vida é repensada como um sistema contínuo de troca de matéria e energia com o meio ambiente e a própria sala de aula é revista como um núcleo autopoiético, interdependente e autônomo. A partir dessa ótica as limitações espaço-temporais da sala de aula funcionam como atratores caóticos e permitem a constituição de uma estrutura física e mental coletiva para a sala de aula. Em diferentes momentos são traçados paralelos curiosos entre os fundamentos neurocientíficos e a dinâmica dos processos pedagógicos. O aprendizado nessa aproximação pode ser entendido como uma mudança na configuração da conduta do ser vivo altera sua conduta, ajustando-a ao meio o que permite ao ser realizar o seu acoplamento estrutural, conjugando as interações que realiza com o meio numa mesma sintonia. Quer saber mais? Então saboreie mais essa aula.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

Conhecer o papel do conhecimento neurocientífico e seus

reflexos no âmbito da Educação; Analisar o aprendizado a partir de uma concepção sistêmica

aberta; Refletir sobre a relação entre homeostase, criação e

aprendizado. Estudar como as limitações espaço-temporais afetam a

dinâmica pedagógica na sala de aula; Tecer um paralelo entre alguns conceitos neurobiológicos como

membrana e autopoese e o aprendizado em sala de aula.

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Aula 8 |Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica

165

Estamos chegando ao final de nossa trilha pelos

caminhos da neurociência e as suas relações com a

Educação. Como toda interseção, a mescla se impõe,

as diferenças se misturam. Mas como todo final, aqui

também se prenuncia o início de algo a ser revisto,

reencaminhado. É este o objetivo das nossas reflexões

a esta altura. Desvelar os novos ciclos que irão

proceder nossos comentários e observações feitas

durante os módulos anteriores.

Como ciclo que se encerra, alguns

questionamentos latejam em nossa mente: enfim, qual

o papel da neurociência para a educação? Quais as

contribuições mais importantes e pertinentes? Que

novos desafios e novas questões são postas à mesa?

Quais caminhos a neurobiologia abre à educação e

vice-versa? Estamos certos de que estas indagações

povoarão nossas reflexões para além destes módulos,

calçando-se talvez em nossos cotidianos.

O nosso objetivo, nesta etapa, é entender e

encaminhar as questões acima expostas, pretendemos

passear por algumas destas temáticas que estão

presentes na “sala de aula”. Como foco central de

nosso olhar está a neurociência como interface entre os

fenômenos que unem os elementos da sala de aula: o

professor, os alunos entre si e o conteúdo.

O objetivo desta aula é discutir alguns

importantes fundamentos neurocientíficos presentes na

organização, estruturação e funcionamento do

aprendizado. Nosso pressuposto é o de que a sala de

aula é um ambiente de vida, onde estão presentes

diversos elementos como criatividade, cooperação,

empreendimento, busca de autonomia, aprendizagem,

mudanças de hábitos e atitudes e, sobretudo,

fortalecimento de elos sociais através da solidariedade

e do afeto.

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Aula 8 |Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica

166

Neurociência como interface científica para a

Educação Cognitiva e Emocional nas Práticas

Pedagógicas

A Neurociência e o desvendar dos estudos dos

cérebros na sala de aula podem, e muito, contribuir

para uma educação mais justa e menos excludente,

pois assim, o educador tem a possibilidade de

compreender melhor como ensinar, já que existem

diferentes maneiras de se aprender.

Os conhecimentos são construídos por meio da

ação e da interação. Aprendemos quando nos

envolvemos ativamente no processo de produção de

conhecimento, por meio da mobilização de atividades

mentais, e na interação com o outro. A emoção, em

suas diferentes manifestações, moldade e associada à

razão, deve ser usada em favor da aprendizagem, pois

o emocional e o racional fazem parte de uma mesma

realidade – o desenvolvimento e o crescimento do ser

humano

Contemporaneamente, a afetividade é vista

como um processo interacional entre os aspectos

orgânicos e sociais, que permite ao ser humano afetar

e ser afetado pelos acontecimentos. Entretanto, na

atualidade diversos pensadores relacionam e ressaltam

a importância da afetividade no processo de

desenvolvimentos e aprendizagem do indivíduo.

De acordo com Piaget (1979, p.31) os estados

afetivos não se configuram sem a participação dos

elementos cognitivos, assim como também não existem

comportamentos puramente cognitivos. De acordo com

o autor “pode ajudar a construir uma compreensão

mais realista das crianças e de como elas constroem o

saber, com também da influência da afetividade e da

atividade social sobre o desenvolvimento”.

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Aula 8 |Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica

167

Vygotsky (1998, p. 61) há a análise de que a

emoção não é vista como algo natural da criança, que

nasce com ela ou que faz parte da sua natureza

enquanto espécie, o teórico da mediação afirma que a

manifestação inicial da emoção faça parte da herança

biológica. Mas apesar disso, a emoção nas interações

sociais perde seu caráter instintivo para dar lugar a um

nível mais complexo de atuação do ser humano.

E, para o médico e psicólogo francês Henri

Wallon a emoção um papel fundamental no processo

de desenvolvimento humano: “Quando nasce uma

criança, todo contato estabelecido com as pessoas que

cuidam dela, são feitos via emoção”. Na teoria

walloniana a afetividade é um domínio funcional que

aliada à cognição e a motricidade, constitui a pessoa de

modo completo.

Em vista dessa análise pode-se afirmar que o

aprendizado é, quase sempre, facilitado quando o

individuo encontra-se bem emocionalmente e

efetivamente ligado a quem o ensina.

Além de Wallon, o médico neurocientista Antônio

Damásio (1996) realizou pesquisas acerca do cérebro

humano e demonstra como a razão não está

desvinculada do afetivo. O pesquisador propõe a

existência de relações entre corpo e mente: [...] o

hipotálamo, o tronco cerebral e o sistema límbico

intervêm na regulação do corpo e em todos os

processos neurais em que se baseiam os fenômenos

mentais, como por exemplo, a percepção, a

aprendizagem, a memória, a emoção, o sentimento

[...] o raciocínio e a criatividade (DAMÁSIO, 1996, p.

151)

Damásio (1996) esclarece que corpo e cérebro

estão interligados por circuitos bioquímicos e neurais

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Aula 8 |Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica

168

que se relacionam reciprocamente, sendo que as duas

principais interconexões são a corrente sanguínea, que

transporta os sinais químicos, como os hormônios, e os

nervos motores e sensoriais periféricos, que

transportam sinais de todo o corpo para o cérebro. (p.

114).

A principal função do Educador é a integração

de informações sensitivo-sensoriais com o estado

psíquico interno, onde é atribuído um conteúdo afetivo.

Estar atento às emoções e saber lidar com elas na sala

de aula.

(...) Educar a emoção é a habilidade relacionada com o motivar a si mesmo e persistir mediante frustrações, controlar impulsos, canalizando emoções para situações apropriadas; praticar gratificações prorrogadas, motivar pessoas, ajudando-as a liberarem seus melhores talentos, e conseguir seu engajamento aos objetivos de interesses comuns. (RELVAS, 2008, p.113).

O cérebro humano é o único órgão do corpo

humano relacionado a consciência, cognição, emoção,

imaginação, criação, inteligência intencional e o instinto

como sobrevivência da espécie humana.

É constituído por uma teia de conexões de

minúsculas células neurais denominadas de neurônios,

em média 86 bilhões quando nasecemos, porém, isso

não significa que permaneceremos com essa

quantidade até a fase adulta, perdemos neurônios ao

longo da vida.

O importante para o cérebro humano e que as

informações precisam ser coerentes, contextualizadas e

associadas com experiências anteriores que estejam

arquivadas nas áreas específicas cerebrais, para que

ocorra a assimilação e entendimento de determinados

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Aula 8 |Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica

169

conhecimentos. Uma outra base fundamental que dá ao

cérebro o suporte da construção de saberes e

conhecimento é a informação ser sustentada por meio

de uma carga emocional para que se possa sustentar e

despertar o interesse do indivíduo, pois, aprender está

relacionado a subjetividade do querer saber.

O importante é o professor reconsiderar que não

existem cérebros que não aprendem. O que existe são

cérebros com mentes, experiências, vivências, culturas,

desejos e expectativas diferentes. O Professor precisa

estar integrado nesse processo da construção do

conhecimento e da aprendizagem do aluno, pois não

basta incluí-lo apenas, e sim, fazer com que o cérebro

seja capaz de se integrar e interagir socialmente com

as informações recebidas nos conteúdos escolares para

que sejam aplicados no cotidiano.

A afetividade é a base da motivação intrínseca

da aprendizagem. O aluno precisa perceber a confiança

no seu professor para aprender a gostar do conteúdo

escolar, por isso, o educador tem uma função de

destaque nessa relação. Ao estabelecer confiança o

nosso cérebro é capaz de liberar neurotransmissores do

prazer, do gostar e do querer numa estrutura

denominada de núcleos da base, próximo a área da

ínsula que se articula com o sistema de recompensa do

sistema límbico emocional do cérebro. Só se promove a

aprendizagem quando se estabelece a confiança entre

as partes envolvidas.

A aprendizagem a princípio é cognitiva mas a

base é emocional. O professor é o encantador dos

conteúdos curriculares, podendo promover sinapses de

qualidade no cérebro de seus alunos, com emoções

positivas e ativando o cérebro de recompensa.

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Aula 8 |Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica

170

O professor que conheça o funcionamento do

cérebro cognitivo, emocional, motor, tem mais

condições de promover uma aula mais participativa dos

seus educandos, pois seus conteúdos poderão ser

emoldurados de diferentes maneiras com desafios

afetivos e emocionais, como por exemplo:

dramatização, textos, flimes, jogos, usando

tecnologias,etc.

A questão centrada é: Não é a quantidade de

informações promovidas nos neurônios, e, sim, a

qualidade dos estímulos nessas células. Por esse

motivo, o Professor e a família devem ser considerados

os geradores do potencial do cérebro do estudante no

que permeia o processo da aprendizagem cognitiva,

motora e afetiva de aprender a aprender, desaprender

para reaprender, competências e habilidades

consideradas como alicerce fundamental para o

desenvolvimento da excelência da Educação no século

XXI, a fim de alcançar a autopoiése e autonomia do

sujeito cerebral, através da sensibilidade emocional do

cérebro límbico, promovendo, então, o entendimento

cognitivo do sentir, do pensar e do agir.

EXERCÍCIO 1

Esclareça como é possível pensar a sala de aula

enquanto um Núcleo Auto-poiético?

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EXERCÍCIO 2

Que tipo de missão o professor deve ocupar-se: a

trans-missão ou a sub-missão da cultura?

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____________________________________________

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____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Um dos mais fascinantes temas da ciência é

como surgiu a inteligência humana ao longo da

evolução dos grandes primatas aos hominídeos

chegando até o ser humano;

Deste modo, o papel do tronco encefálico é

principalmente efetuador, para o qual recebe um

grande número de fibras descendentes

originadas nas estruturas telencefálicas e

diencefálicas, ligadas mais diretamente à

integração e à coordenação dos fenômenos

emocionais;

As experiências de Hess demonstram a

participação do hipotálamo nos fenômenos da

emoção e do comportamento;

Lesões ou estimulações do núcleo dorso-medial

e dos núcleos anteriores do tálamo já foram

correlacionadas com alterações de reatividade

emocional no homem e em animais;

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Aula 8 |Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica

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A área pré-frontal tem importantes conexões

com o núcleo dorso-medial do tálamo,

recebendo e enviando fibras a este núcleo.

Fulton e Jacobsen estudaram os efeitos da

ablação desta área sobre o comportamento

de chimpanzés;

Na face medial de cada hemisfério cerebral,

observa- se um anel cortical contínuo

constituído pelo giro do cíngulo, istmo do

cíngulo, giro parahipocampal e hipocampo;

O hipocampo é uma formação arquiencefálica

bastante desenvolvida no homem. O papel do

hipocampo na regulação do comportamento

emocional foi inicialmente apontado por

Papez que chamou a atenção para o aumento

da reatividade emocional causada por lesões

do hipocampo pelo vírus da raiva. Outra

função importante do hipocampo é a sua

participação no fenômeno da memória;

A arquitetura de um sistema de interação em

tempo real com agentes humanos deveria

prever, em sua estrutura, explicitamente as

crenças e o raciocínio afetivo;

Três pontos são fundamentais na discussão:a

emoção exerce influência nos processos de

raciocínio; os sistemas cerebrais destinados à

emoção estão intrinsecamente enredados nos

sistemas destinados à "razão"; a mente não

pode ser separada do corpo.

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