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Curso NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA
Disciplina FUNDAMENTOS DA
NEUROANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO
CENTRAL E APRENDIZAGEM
Curso NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA Disciplina FUNDAMENTOS DA NEUROANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E APRENDIZAGEM
Marta Pires Relvas
www.avm.edu.br
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05 Apresentação
07 Aula 1
Funções gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem Auto avaliação
31 Aula 2 Plasticidade cerebral e Memória; Atenção
Auto avaliação
52 Aula 3 A filogênese do sistema nervoso Percepção, Linguagem e Pensamento
Auto Avaliação
67 Aula 4 Estruturas Neurais dos Movimentos e da Aprendizagem Motora Auto Avaliação
101 Aula 5 Neurociência, Educação Inclusão Auto Avaliação
130 Aula 6 Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem Auto Avaliação
151 Aula 7 Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
164 Aula 8 Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica.
173 Referências bibliográficas
Fundamentos da Neuroanatomia e Fisiologia do Sistema Nervoso Central e Aprendizagem
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Prezado aluno, nesta disciplina abordaremos sobre um assunto muito interessante. Não são apenas as estrelas no universo que fascinam o homem com o seu impressionante número. Em outro universo, o nosso universo biológico interno, uma gigantesca “galáxia” com centenas de milhões de pequenas células nervosas que formam o cérebro e o sistema nervoso comunicam-se umas com as outras através de pulsos eletroquímicos para produzir atividades muito especiais: nossos pensamentos, sentimentos, dor, emoções, sonhos, movimentos e muitas outras funções mentais e físicas, sem as quais não seria possível expressarmos toda a nossa riqueza interna e nem perceber o nosso mundo externo como o som, o cheiro, o sabor, e também a luz e o brilho, inclusive o das estrelas. Então é sobre isso que esse caderno com 8 aulas vai tratar. Na primeira aula falaremos de alguns conceitos do sistema nervoso. Na segunda aula o assunto será a plasticidade cerebral e a memória. Na terceira aula conheceremos a filogênese do sistema nervoso. Em sequência iremos analisar a neurobiologia do conhecimento aplicada à construção da inteligência e da afetividade. Finalmente, o assunto da última aula se refere as aplicações das aulas anteriores no âmbito da sala de aula a partir de uma nova perspectiva biológica. Aproveite ao máximo!
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Este caderno de estudos tem como objetivos: Expor sobre o sistema nervoso: nossa galáxia interna; Distinguir partes do cérebro; Reconhecer a existência da plasticidade do cérebro; Estudar a memória, seus tipos e funções; Demonstrar a filogênese do sistema nervoso; Discutir sobre a linguagem e seus distúrbios; Abordar as regiões encefálicas numa visão integrada; Analisar os impactos da neurobiologia no âmbito da sala de
aula.
Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem Marta Relvas
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Agora sim vamos à primeira aula! Todos os estímulos do nosso ambiente causando sensações, como dor e calor, todos os sentimentos, pensamentos, programação de respostas emocionais e motoras, bases neurais da aprendizagem e memória, ação de drogas psicoativas, causas de distúrbios mentais, e qualquer outra ação ou sensação do ser humano, não podem ser entendidos sem o fascinante conhecimento do processo de comunicação entre os neurônios. E é sobre o neurônio que nossa aula começa! Depois de sabermos o que é neurônio vamos estudar as diferenças do neurônio e de outras células nervosas. Conheceremos as partes da célula nervosa e suas funções, ou seja, conheceremos o corpo celular, a membrana neuronal, os dentritos, o axônio e o terminal nervoso. Depois passearemos pelo cérebro e sue hemisférios, sem falar que também discorreremos por uma breve história de seu descobrimento. Por fim, começaremos a falar do sistema nervoso e seu funcionamento para que a partir daí possamos entender as outras aulas.
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Entender a organização e funcionamento do sistema nervoso,
mas para isto precisamos saber de outras coisas como os próximos tópicos que se seguem;
Definir o que são neurônios; Reconhecer a diferença de um neurônio e de outras células; Entender por que o cérebro é cinzento; Conhecer partes e funções da célula nervosa; Saber o que são sinapses e como elas ocorrem; Conhecer as funções e diferenças dos hemisférios cerebrais
(direito e esquerdo).
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 8
O que são neurônios?
Neurônios são células especializadas. Eles são
feitos para receber certas conexões específicas,
executar funções apropriadas a passar suas decisões a
um evento particular a outros neurônios que estão
relacionados com aqueles eventos. Estas
especializações incluem uma membrana celular que é
especializada para transportar sinais nervosos como
pulsos eletroquímicos; o dendrito, (do grego dendron,
ou árvore) que recebe e libera os sinais, o axônio (do
grego axoon, ou eixo), o “cabo” condutor de sinais, e
pontos de contatos sinápticos, onde a informação pode
ser passada de uma célula a outra.
O QUE FAZ O NEURÔNIO SER DIFERENTE DE
OUTRAS CÉLULAS NERVOSAS?
Assim como as outras células, os neurônios se
alimentam, respiram, têm os mesmos genes, os
mesmos mecanismos bioquímicos e as mesmas
organelas. Então, o que faz um neurônio de diferente?
Neurônios diferem de outras células em um aspecto
importante: eles processam informação. Ele deve
desencadear informações sobre o estado interno do
organismo e seu ambiente externo, avaliar esta
informação, e coordenar atividades apropriadas à
situação e às necessidades correntes das pessoas.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 9
A informação é processada através de um
evento conhecido como impulso nervoso. O impulso
nervoso é a transmissão de um sinal codificado
de um dado estímulo ao longo da membrana do
neurônio, a partir do ponto em que ele foi estimulado.
Dois tipos de fenômenos estão envolvidos no
processamento do impulso nervoso: elétrico e químico.
Eventos elétricos propagam um sinal dentro do
neurônio, e processos químicos transmitem o sinal de
um neurônio a outro ou a uma célula muscular.
CÉLULAS GLIAIS
Além dos neurônios, o sistema nervoso apresenta-se constituído pelas células glia, ou células gliais, cuja função é dar sustentação aos neurônios e auxiliar o seu funcionamento. As células da glia constituem cerca de metade do volume do nosso encéfalo. Há diversos tipos de células gliais. Os astrócitos, por exemplo, dispõem-se ao longo dos capilares sanguíneos do encéfalo, controlando a passagem de substâncias do sangue para as células do sistema nervoso. Os oligodendrócitos e as células de Schwann enrolam-se sobre os axônios de certos neurônios, formando envoltórios isolantes. Neurônios recebem sinais nervosos de axônios de outros neurônios. A maioria dos sinais é liberada aos dendritos. Os sinais gerados por um neurônio são enviados através do corpo celular, que contém o núcleo, o “armazém” de informações genéticas. Axônios são as principais unidades condutoras do neurônio. O cone axonal é a região na qual os sinais das células são iniciados. Células de Schwann, as quais não são partes da célula nervosa, mas um dos tipos das células gliais, exercem a importante função de isolar neurônios por envolver seus processos membranosos ao redor do axônio formando a bainha de mielina, uma substância gordurosa que ajuda os axônios a transmitirem mensagens mais rapidamente do que as não mielinizadas. A mielina é quebrada em vários pontos pelos nodos de Ranvier, de forma que em uma secção transversal o neurônio se parece com um cordão de salsichas. Ramos do axônio de um neurônio (o neurônio pré-sináptico) transmitem sinais a outro neurônio (o neurônio pós-sináptico) em um local chamado sinapse. Os ramos de um único axônio podem formar sinapses com até 1000 outros neurônios.
IMPULSO NERVOSO
ELÉTRICO QUÍMICO
SINAL DO NEURÔNIO
NEUROTRANSMISSORES LIBERADOS
CAPTADO POR OUTRO NEURÔNIO
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 10
Processos químicos sobre interações entre neurônios
ocorrem no final do axônio, chamados sinapse. Tocando
intimamente com o dendrito de outra célula (mas sem
continuidade material entre ambas as células), o axônio
libera substâncias químicas chamadas
neurotransmissores, os quais se unem a receptores
químicos na membrana do neurônio seguinte.
O CÉREBRO É CINZENTO. POR QUÊ?
Talvez você já tenha ouvido o termo “matéria
cinzenta” para o cérebro. Em uma secção transversal
feita no cérebro, é fácil ver as áreas cinzentas e
brancas. O córtex e outras células nervosas são
cinzentos, e as regiões, entre eles, brancas. A coloração
acinzentada é produzida pela agregação de milhares de
corpos celulares, enquanto que o branco é a cor da
mielina. A cor branca revela a presença de feixes de
axônios passando pelo cérebro, mais que em outras
áreas nas quais as conexões estão sendo feitas.
Nenhum neurônio tem conexão direta com outro. No
final do axônio, encontram-se filamentos terminais, e
estes estão próximos de outros neurônios. Eles podem
estar próximos dos dendritos de outros neurônios
(algumas vezes em estruturas especiais chamadas
espinhas dendríticas) ou próximo ao corpo celular.
Parte da célula nervosa e suas funções
CORPO CELULAR
Corpo celular é a “fábrica” do neurônio. Ele
produz todas as proteínas para os dendritos, axônios e
terminais sinápticos, e contém organelas especializadas
tais como mitocôndrias, aparelho de Golgi, retículo
endoplasmático, grânulos secretórios, ribossomos e
polissomos para fornecer energia e agrupar as partes
em produtos completos.
Você sabia?
O cérebro é o órgão onde se radicam a sensibilidade consciente, a mobilidade voluntária e a inteligência; por este motivo é considerado como o centro nervoso mais importante de todo o sistema.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 11
Fonte: HTTP: //www.primeirobhp.vilabol.uol.com.br/
VAMOS RELEMBRAR UM POUCO DA ESTRUTURA DAS CÉLULAS?
Citosol é o fluido aquoso e salgado com uma solução rica em potássio dentro da célula contendo enzimas responsáveis pelo metabolismo celular. Núcleo - Derivado do latim nux, castanha, o núcleo é o arquivista e o arquiteto da célula. Como arquivista ele contém os genes, consistindo de DNA, o qual contém a “história” da célula, a informação básica para manufaturar todas as proteínas características. Como arquiteto ele sintetiza RNA, a partir do DNA, e o transporta através de poros ao citoplasma para uso na síntese de proteínas. Nucléolo é uma organela que está envolvida ativamente na síntese de ribossomos e na transferência de RNA ao citosol. Aparelho de Golgi é uma estrutura ligada à membrana que exibe um papel no empacotamento de peptídeos e proteínas (incluindo os neurotransmissores) dentro das vesículas. Poliribossomos – Existem vários ribossomos unidos por um cordão. O cordão é um fio único de RNAm (RNA mensageiro, uma molécula envolvida na síntese de proteínas do lado de fora do núcleo). Os ribossomos associados atuam nele para fazer múltiplas cópias da mesma proteína. Mitocôndria é a parte da célula responsável pela energia na forma de ATP (adenosina trifosfato). Os neurônios necessitam de uma enorme quantidade de energia. O cérebro é um dos tecidos mais ativos metabolicamente. No homem, por exemplo, o cérebro usa 40 ml de oxigênio por minuto. A mitocôndria usa oxigênio e glucose para produzir a maioria da energia da célula.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 12
MEMBRANA NEURONAL
A membrana neuronal serve como uma barreira
na união do citoplasma interno do neurônio e para
excluir certas substâncias que flutuam no fluido que
banha o neurônio.
A membrana, com seu mosaico de proteínas, é
responsável por muitas funções importantes:
Mantém certos íons e pequenas moléculas
fora da célula e deixa outras dentro;
Acumula nutrientes e rejeita substâncias
nocivas;
Catalisa reações enzimáticas;
Estabelece um potencial elétrico dentro da
célula;
Conduz um impulso;
É sensível a certos neurotransmissores e
neuromoduladores.
A membrana é feita de lipídio e proteínas -
gorduras e cadeias de aminoácidos. A estrutura básica
desta membrana é uma camada bilateral ou um
“sandwich” de fosfolipídios, organizado de tal forma que
a região polar (carregada) está voltada para fora e a
região não polar para dentro.
O cérebro consome grandes quantidades de ATP. A energia química armazenada em ATP é usada como combustível na maioria das reações bioquímicas do neurônio. Por exemplo, proteínas especiais na membrana neuronal usam energia liberada pela quebra de ATP em ADP para bombear certas substâncias através da membrana para estabelecer diferenças de concentração entre o lado interno e externo do neurônio. Retículo Endoplasmático Rugoso (RER) e Retículo Endoplasmático Liso (REL) são sistemas de tubos para o transporte de materiais para dentro do citoplasma. Ele pode ter ribossomos (RER) ou não (REL). Com ribossomos, o RE é importante para a síntese de proteínas.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 13
A face externa da membrana contém os
receptores, pequenas regiões moleculares
especializadas que fornecem uma espécie de
“recipiente” para outras moléculas externas, em um
esquema análogo a uma chave e fechadura. Para cada
molécula externa, existe um receptor correspondente.
Quando as moléculas se unem aos receptores,
seguem-se algumas alterações da membrana e no
interior da célula, tais como a modificação da
permeabilidade de alguns íons.
DENDRITOS
Estas estruturas se ramificam como galhos de
uma árvore e serve como o principal aparato para
receber sinais de outras células nervosas. Eles
funcionam como “antenas” do neurônio e são cobertos
por milhares de sinapses. A membrana dendrítica sob a
sinapse (a membrana pós-sináptica) tem muitas
moléculas de proteínas especializadas, os receptores,
que detectam os neurotransmissores na fenda
sináptica. Uma célula nervosa pode ter muitos
dendritos que se ramificam muitas vezes, sua
superfície é irregular e coberta em espinhas dendríticas
que é o local onde as conexões sinápticas são feitas.
AXÔNIO
Geralmente, é um longo processo que se projeta
nas regiões distantes do sistema nervoso. O axônio é a
principal unidade condutora do neurônio, capaz de
conduzir sinais elétricos a distâncias longas e curtas,
ou seja, desde 0,1mm até 2m. Muitos neurônios não
têm axônios. Estes são chamados de “células
amácrinas”, todos os processos neuronais são
dendritos. Neurônios com axônios muito curtos
também são encontrados.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 14
Os axônios de muitos neurônios são envolvidos
em uma bainha de mielina, que é composta de
membranas de células intersticiais e é envolvida ao
redor do axônio para formar várias camadas
concêntricas. A bainha de mielina é quebrada em vários
pontos pelos nodos de Ranvier. A mielina protege o
axônio e previne interferência entre axônios à medida
que elas passam ao longo dos feixes.
As células que circundam as fibras nervosas
periféricas, ou seja, as fibras dispostas fora do cérebro
e medula espinhal, são chamadas de células de
Schwann (porque foram primeiramente descritas por
Theodor Schwann). As células que envolvem os axônios
dentro do sistema nervoso central (cérebro e medula
espinhal) são chamadas de oligodendrócitos. Entre cada
par de células de Schwann sucessivas, existe o nodo de
Ranvier.
O local onde o axônio se junta à célula se chama
cone axonal. É daí que a despolarização conhecida
como potencial de ação ocorre.
NEURÔNIOS: CÉLULAS NERVOSAS Um neurônio típico apresenta três partes distintas: corpo celular, dendritos e axônio. No corpo celular, a parte mais volumosa da célula nervosa, se localiza o núcleo e a maioria das estruturas citoplasmáticas. Os dendritos (do grego dendron, árvore) são prolongamentos finos e geralmente ramificados que conduzem os estímulos captados do ambiente ou de outras células em direção ao corpo celular.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 15
TERMINAL NERVOSO (TERMINAL PRÉ-SINÁPTICO)
Sinapses são junções formadas com outras
células nervosas, onde o terminal pré-sináptico de uma
célula faz contato com a membrana pós-sináptica de
outra. São nestas junções que os neurônios são
excitados, inibidos ou modulados. Existem dois tipos de
sinapses: a elétrica e a química.
As sinapses elétricas ocorrem quando o terminal
pré-sináptico está em continuidade com o pós-
sináptico. Íons e pequenas moléculas passam por eles,
conectando então canais de uma célula à próxima, de
forma que alterações elétricas em uma célula são
transmitidas quase instantaneamente à próxima. Os
íons podem gerar fluxo em ambas as direções destas
junções, embora eles tendam a ser unidirecionais.
ARRANJOS SINÁPTICOS NO SNC
A. Uma sinapse axo-dendrítica. B. Uma sinapse axo-somática. C. Uma sinapse axo-axônica.
O axônio é um prolongamento fino, geralmente mais longo que os dendritos, cuja função é transmitir para outras células os impulsos nervosos provenientes do corpo celular. Os corpos celulares dos neurônios estão concentrados no sistema nervoso central e, também, em pequenas estruturas globosas espalhadas pelo corpo, os gânglios nervosos. Os dendritos e o axônio, genericamente chamados de fibras nervosas, estendem-se por todo o corpo, conectando os corpos celulares dos neurônios entre si e às células sensoriais, musculares e glandulares.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 16
Nas sinapses químicas, o modo de transmissão
não é elétrico, e sim carreado por neurotransmissores,
substâncias neuroativas liberadas no lado pré-sináptico
da junção. Existem dois tipos de junções químicas. O
tipo I é uma sinapse excitatória, geralmente encontrada
em dendritos; o tipo II é uma sinapse inibitória,
geralmente encontrada em corpos celulares.
Substâncias diferentes são liberadas nestes dois tipos
de sinapses.
Cada botão terminal é conectado a outros
neurônios através de uma pequena fenda chamada
sinapse. As características físicas e neuroquímicas de
cada sinapse determinam a força e a polaridade do
sinal de input. Mudando a constituição de vários
neurotransmissores químicos, pode ocasionar o
aumento ou a diminuição da estimulação que a
despolarização do neurônio causa no dendrito vizinho.
Alterando os neurotransmissores, também, altera a
estimulação, que pode ser inibitória ou excitatória.
Descobrimento do cérebro. Uma breve
história
O século XX foi notável para o estudo do
cérebro. Verdadeira “caixa preta” para a compreensão
Quer saber mais?
A eletroencefalogra-fia é um dos maiores instrumentos de investigação da atividade cerebral. A forma mais freqüentemente utilizada é o eletroencefalograma (EEG) de rotina, o qual dura 20-40 minutos e usa aproximadamente 20 eletrodos diferentes de escalpo colocados de acordo com alguns sistemas. O EEG é um registro da atividade elétrica cerebral usando eletrodos colocados no escalpo. Os eletrodos captam qualquer alteração na atividade neural. Consequentemente, os sinais obtidos são apenas uma medida grosseira da atividade neural em um volume cerebral funcionalmente grande.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 17
sobre seu funcionamento, o cérebro pode afinal ser
despido e visto como podemos, através do raio X.
Sistema nervoso: neurônios nossa galáxia interna
O eletroencefalograma tornou-se uma
extraordinária ”ferramenta” permitindo avanços no
estudo da atividade cerebral in vivo. Outra contribuição
é a técnica conhecida como Pósitron Emission
Tomography, que possibilita marcar o oxigênio e
glicose permitindo ao cientista acompanhar seus
passos “cérebro a dentro”. Por essa técnica é possível
discriminar áreas cerebrais em pessoas com atividades
diferentes, acendendo pequenas em pontos do cérebro
na leitura de um texto ou situações emotivas.
Há ainda o Magnetic Ressonance Imaging que
mede mudanças de concentração do oxigênio no
sangue que irriga o cérebro, que é transmitido por
proteína com teor magnético. Propriedades,
monitoradas por ondas de rádio com sinais que
revelam regiões mais ativas nessa ou outra função.
Resultados obtidos por essas e outras técnicas
extraordinárias inauguram nova era da neurociência,
trazendo concepções sobre ação cerebral fazendo
brotar teorias jamais sonhadas para estudo da
cognição, da memória.
A medicina, sem dúvida, está a desvendar
segredos profundos da amnésia e da incapacidade de
reconhecimento de rostos, realizar operações
matemáticas e muitas outras disfunções. Não só a
medicina ganha com esse mergulho da ciência na
mente humana como também a educação.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 18
O cérebro sempre foi o órgão essencial da
aprendizagem e da saúde. Precisamos sempre
estimular, animar, “Acordar” a mente.
O CÉREBRO E SEUS HEMISFÉRIOS
O cérebro humano constitui-se por dois
hemisférios cerebrais (esquerdo e direito). O hemisfério
esquerdo controla o lado direito do corpo e o hemisfério
direito controla o lado esquerdo. Cada hemisfério
divide-se em lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e
lobo temporal. Os dois hemisférios cerebrais eram
vistos como dois irmãos, um ativo, dinâmico e falante,
e outro tolo e mudo.
Em 1950, verificou-se que mesmo separando-se
os dois hemisférios, estes continuavam a funcionar
independentemente.
Em 1960, percebeu-se que o hemisfério direito
era mudo, mas não tolo. O esquerdo é resumidamente
verbal e analítico. O direito é rápido, complexo,
espacial, perceptivo e configuracional.
Nosso cérebro é duplo, portanto, necessita
receber estímulos específicos. Hemisfério direito exalta
a liberdade de aceitar informações, sem preocupações
analíticas. A atenção desliza com rapidez, detendo-se
Importante
É importante guardar que há um cruzamento das ligações entre o cérebro e o resto do corpo. Sendo assim, o hemisfério direito controla o lado direito e vice-versa.
Cerebelo Lobo
temporal
Lobo frontal Lóbulo
occipital
Lobo parietal
Tronco cerebral
Para navegar
Acesse o site http://www.epub.org.br/cm/home.htm da Revista Cérebro Mente, revista eletrônica de divulgação científica em neurociência.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 19
diante de uma nova idéia apenas o tempo necessário.
Não existe nada que seja unicamente regulado por um
dos hemisférios.
HEMISFÉRIO ESQUERDO
HEMISFÉRIO DIREITO
Função verbal: Seleciona palavras para descrever, definir. Simbólica: Usa símbolos para representar. Analítica: Desenvolve a habilidade passo a passo. Abstrata: Seleciona pequena parte da informação para representar o todo. Temporal: Marca o tempo e a sequência. Racional: Busca razão nos fatos. Lógica: Extrai conclusões lógicas.
Função não verbal: Percebe as coisas através de imagens. Concreta: Concebe coisas em sua integralidade. Sintética: Agrupa informações e forma um todo. Analógica: Compreende relações e percebe semelhanças. Não temporal: Não possui sensação de tempo. Intuitiva: Prefere seguir palpites ou amostras.
CÉREBRO: USE-O OU PERCA-O
Esta afirmação é atualmente pesquisada.
Estudos comprovam que a mente pode conservar até
idéias avançadas se for usada por mais tempo e de
forma saudável.
A partir dessa certeza, inúmeras pesquisas
sugerem exercícios que estimulam a ação cerebral. Os
de maior popularidade são os exercícios NEURÓBICOS.
Como a própria palavra sugere é uma combinação de
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 20
“neurônios” e exercícios físicos ou aeróbicos. Conservar
a juventude do cérebro não é difícil. O cérebro
necessita de estímulos. Estudos e pesquisas estão
comprovando isto com base na comprovação de que as
células nervosas, quando excitadas, produzem
neurotrofinas, moléculas que estimulam seu
crescimento e reação.
O princípio básico desses exercícios consiste em
se fugir da rotina, pois o cérebro cria hábitos com a
rotina e, desse modo, sua ação nas atividades que são
feitas sempre parece ser a de um “piloto automático” e
ao se quebrar sistematicamente esses hábitos estariam
impondo desafios geradores de neutrofinas que é o
verdadeiro “adubo cerebral”.
Os estímulos propostos pelos exercícios
neuróbicos dirigem-se aos hemisférios esquerdo e
direito e destaca a importância da mudança de hábitos,
CÉREBRO SARADO Exercícios simples, como ler, dançar, desenhar e jogar xadrez, estimulam a atividade dos neurônios, melhoram a memória, as habilidades e o raciocínio.
(Juliane Zaché) Como anda sua malhação? As pernas estão durinhas, a barriguinha bem definida e o braço bem torneado? Ótimo. E o cérebro? Também está malhadíssimo? A pergunta pode parecer inusitada, mas tem fundamento. Cada vez mais a ciência confirma a importância de se exercitar tal órgão para que as potencialidades de cada um, da memória à coordenação, sejam desenvolvidas ao máximo. Não se trata, é claro, de um trabalho muscular, até porque o cérebro não é um músculo. Na verdade, os pesquisadores defendem que é preciso manter constantemente a atividade dos neurônios (as células nervosas do órgão). Assim, o cérebro fica afiado e não atrofia como um músculo que não é usado. A malhação, nesse caso, é feita com estímulos frequentes, como aprender um novo movimento de dança, ler sobre um assunto com o qual não se está habituado ou simplesmente mudar o caminho do escritório até a casa. Atitudes como essas, de acordo com os cientistas, são capazes de aumentar o poder de raciocínio, a concentração e até habilidades como desenhar e escrever.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 21
desempenhando-se com a outra mão atividades
habituais diárias como alternar o pulso do relógio,
inserir frases curtas em contextos mais amplos,
desenvolver analogias, explorar a intuição, entre
muitas outras, garantirão um cérebro sempre em forma
e jovem.
Somos tentados a perguntar: Que razão leva
um cérebro a permanecer produtivo e criativo durante
uma vida inteira e reserva a outro o destino de
conduzir-se muito mal na fase madura dos seus donos?
Durante os últimos anos, a ciência acumulou
muitas respostas a essas duas perguntas respostas
que têm também o efeito de desmentir as crendices
acerca do processo de envelhecimento do cérebro.
Testes em laboratórios e estudos epistemológicos
trouxeram à tona uma das mais notáveis
características do cérebro: a sua habilidade em
amoldar-se à situação das perdas de neurônios
comandadas pela biologia, (isto é, sua plasticidade)
sem perder assim o seu vigor, mesmo nas mais
avançadas idades. O mais importante de tudo, porém,
é você saber usar a plasticidade cerebral para
determinar qual daqueles dois caminhos você seguirá.
Em grande parte, está em suas mãos o destino
do seu cérebro. O cérebro atua sob o tema: “Use-o ou
perca-o!”
O sistema nervoso
O sistema nervoso detecta estímulos externos e
internos, tanto físicos quanto químicos, e desencadeia
as respostas musculares e glandulares. Assim, é
responsável pela integração do organismo com o seu
meio ambiente.
Para pensar
Qual será sua resposta ao desafio lançado pela autora?
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 22
Ele é formado, basicamente, por células
nervosas, que se interconectam de forma específica e
precisa, formando os chamados circuitos neurais.
Através desses circuitos, o organismo é capaz de
produzir respostas estereotipadas que constituem os
comportamentos fixos e invariantes (por exemplo, os
reflexos) ou, então, produzir comportamentos variáveis
em maior ou menor grau.
Todo ser vivo dotado de um sistema nervoso é
capaz de modificar o seu comportamento em função de
experiências passadas. Essa modificação comportamental
é chamada de aprendizado, e ocorre no sistema
nervoso através da propriedade chamada plasticidade
cerebral.
A célula nervosa ou, simplesmente neurônio, é
o principal componente do sistema nervoso.
Considerada sua unidade anatomofisiológica, estima-se
que no cérebro humano existam aproximadamente 15
bilhões destas células, responsáveis por todas as
funções do sistema.
Existem diversos tipos de neurônios, com
diferentes funções dependendo da sua localização e
estrutura morfológica, mas em geral constituem-se dos
mesmos componentes básicos:
1. O corpo do neurônio, constituído de núcleo e
pericário, dá suporte metabólico a toda célula;
2. O axônio (fibra nervosa), prolongamento
único e grande que aparece na soma, é
responsável pela condução do impulso
nervoso para o próximo neurônio, podendo
ser revestido ou não por mielina (bainha
axonial), célula glial especializada;
3. Os dendritos são prolongamentos menores em
forma de ramificações (arborizações terminais)
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 23
que emergem do pericário e do final do axônio,
sendo, na maioria das vezes, responsáveis pela
comunicação entre os neurônios através das
sinapses. Basicamente, cada neurônio possui
uma região receptiva e outra efetora em
relação à condução da sinalização.
OS DIFERENTES TIPOS DE NEURÔNIOS No centro da substância cinzenta há um canal - o canal central da medula - que permanece no adulto como resquício da luz do tubo neural embrionário. Os neurônios da substância cinzenta são de dois tipos: neurônios de axônio longo (tipo I) e neurônios de axônio curto (tipo II). Os neurônios de tipo I possuem longos axônios que saem da medula para constituir a raiz ventral. Tais neurônios radiculares podem ser viscerais (neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso autônomo que inervam as glândulas, músculos lisos e cardíacos), ou somáticos (neurônios motores primários que inervam os músculos estriados esqueléticos). Além dos neurônios radiculares, há os neurônios cordonais, também de tipo I, cujos longos axônios localizam-se no interior da medula em vias ascendentes ou descendentes. As vias ascendentes são formadas principalmente pelos neurônios cordonais de projeção, que terminam fora da medula, no encéfalo, e integram as vias ascendentes da medula. As vias descendentes são formadas principalmente pelos neurônios cordonais de associação, cujo axônio passa pela substância branca e se bifurca em um ramo ascendente e outro descendente, ambos terminando na substância cinzenta da própria medula. A função dos neurônios cordonais de associação é a integração intersegmentar da medula. Os neurônios do tipo II possuem o axônio curto que permanece sempre no interior da própria substância cinzenta. Tais neurônios estabelecem a conexão entre fibras aferentes dorsais e fibras eferentes ventrais, participando, assim, de vários arcos reflexos medulares. Fonte: http://www.enciclopedia.com.br/MED2000/pedia98a/anat31dk.htm
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 24
A SINAPSE
É a estrutura dos neurônios através da qual
ocorrem os processos de comunicação entre os
mesmos, os seja, onde ocorre a passagem do sinal
neural (transmissão sináptica) através de processos
eletroquímicos específicos, isso graças a certas
características particulares da sua constituição.
Em uma sinapse, os neurônios não se tocam,
permanecendo um espaço entre eles denominado fenda
sináptica, onde um neurônio pré-sináptico liga-se a um
outro denominado neurônio pós-sináptico. O sinal
nervoso (impulso), que vem através do axônio da
célula pré-sináptica chega em sua extremidade e
provoca na fenda a liberação de neurotransmissores
depositados em bolsas chamadas de vesículas
sinápticas. Este elemento químico se liga quimicamente
a receptores específicos do neurônio pós-sináptico,
dando continuidade à propagação do sinal.
NEUROTRANSMISSORES
Neurotransmisores são substâncias liberadas por um neurônio, considerado como neurônio pre-sináptico, em resposta a um estímulo. Esses neurotransmissores são jogados no espaço sináptico e se unem a um neurorreceptor específico no neurônio seguinte, chamado então, de neurônio post-sináptico. Com frequência em suas sínteses intervêm substâncias precursoras e enzimas. A neurotransmissão química é de fundamental importância para o mecanismo de diversas patologias e para a ação de fármacos e é a responsável pela conversão de energia elétrica para energia química entre um neurônio e outro na sinapse. A neurotransmissão, então, implica a necessidade de síntese do transmissor, de armazenamento e de liberação. Os transmissores terão, então, que atuar em neurorreceptores específicos da membrana pós-sináptica e ser removidos rapidamente da fenda sináptica por metabolização, difusão ou recaptação. O efeito do estímulo do neurorreceptor é, então, observado na alteração da membrana da célula pós-sináptica e nos eventos que disso decorrem.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 25
Um neurônio pode receber ou enviar entre
1.000 a 100.000 conexões sinápticas em relação a
outros neurônios, dependendo de seu tipo e localização
no sistema nervoso. O número e a qualidade das
sinapses em um neurônio pode variar, entre outros
fatores, pela experiência e aprendizagem,
demonstrando a capacidade plástica do SN.
ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL
Funcionalmente, pode-se afirmar que o sistema
nervoso é composto por neurônios sensoriais, motores
e de associação. As informações provenientes dos
receptores sensoriais aferem ao Sistema Nervoso
Central (SNC), onde são integradas (codificação/
comparação/ armazenagem / decisão) por neurônios
de associação ou interneurônios, e enviam uma
resposta que afere a algum órgão efetor (músculo,
glândula).
Os neurotransmissores se acoplam, assim, aos neurorreceptores. Atualmente, os neurorreceptores vêm sendo intensamente estudados. Cada neurotransmissor pode atuar sobre diversos subtipos de receptores de uma mesma categoria e o subgrupo de neurorreceptores descritos é crescente na literatura. Fonte: http://www.psiqweb.med.br
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 26
Kandel sugere que o “movimento voluntário é
controlado por complexo circuito neural no cérebro
interconectando os sistemas sensoriais e motor. (...) o
sistema motivacional”. As respostas desencadeadas
pelo SNC são tão mais complexas quanto mais
exigentes forem os estímulos ambientais (aferentes).
Para tanto, o cérebro necessita de uma
intrincada rede de circuitos neurais conectando suas
principais áreas sensoriais e motoras, ou seja, grandes
concentrações de neurônios capazes de armazenar,
interpretar e emitir respostas eficientes a qualquer
estímulo, tendo também a capacidade de, a todo
instante, em decorrência de novas informações,
provocar modificações e rearranjos em suas conexões
sinápticas, possibilitando novas aprendizagens.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 27
AUTO AVALIAÇÃO 1
A história sobre o descobrimento do cérebro teve muita
importância em vários campos na ciência.
Descreva aqui alguns pontos sobre tal relevância em
seu campo de trabalho.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Lobo frontal - Responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoção. Lobo Parietal - Responsável pela sensação de dor, tato, gustação, temperatura, pressão. Estimulação de certas regiões deste lobo em pacientes conscientes produz sensações gustativas. Também está relacionado com a lógica matemática. Lobo temporal - É relacionado primariamente com o sentido de audição, possibilitando o reconhecimento de tons específicos e intensidade do som. Tumor ou acidente afetando esta região provoca deficiência de audição ou surdez. Esta área também exibe um papel no processamento da memória e emoção. Lobo Occipital - Responsável pelo processamento da informação visual. Danos nesta área promovem cegueira total ou parcial. Lobo Límbico (ao redor da junção do hemisfério cerebral e tronco encefálico) - Está envolvido com aspectos do comportamento emocional e sexual e com o processamento da memória.
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 28
RESUMO
Vimos até agora:
Neurônios são células especializadas;
Neurônios recebem sinais nervosos de
axônios de outros neurônios;
Um neurônio típico apresenta três partes
distintas: corpo celular, dendritos e axônio;
No corpo celular, a parte mais volumosa da
célula nervosa, se localiza o núcleo e a
maioria das estruturas citoplasmáticas;
A informação é processada através de um
evento conhecido como impulso nervoso;
As sinapses elétricas ocorrem quando o
terminal pré-sináptico está em continuidade
com o pós-sináptico;
Sinapses são junções formadas com outras
células nervosas, onde o terminal pré-
sináptico de uma célula faz contato com a
membrana pós-sináptica de outra;
As sinapses elétricas ocorrem quando o
terminal pré-sináptico está em continuidade
com o pós-sináptico;
O século XX foi notável para o estudo do
cérebro;
O cérebro humano constitui-se por dois
hemisférios cerebrais (esquerdo e direito);
Os estímulos propostos pelos exercícios
neuróbicos dirigem-se aos hemisférios
Aula 1 | Funções Gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem 29
esquerdo e direito e destaca a importância da
mudança de hábitos, desempenhando-se com
a outra mão atividades habituais diárias como
alternar o pulso do relógio, inserir frases
curtas em contextos mais amplos,
desenvolver analogias, explorar a intuição,
entre muitas outras, garantirão um cérebro
sempre em forma e jovem.
30
Plasticidade cerebral e Memória; Atenção Marta Relvas
AU
LA2
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o
Nesta aula falaremos sobre a plasticidade cerebral. Veremos que Plasticidade cerebral é o ponto culminante da nossa existência e seu desenvolvimento se dá ao longo da vida. Deste desenvolvimento depende todo o processo de aprendizagem e também de reabilitação das funções motoras e sensoriais. Acontece mais ou menos assim. Logo depois do nascimento, diversos processos são desencadeados no desenvolvimento das atividades cerebrais. Um recém-nascido possui cerca de um quarto da massa cerebral de um adulto, mas já tem quase todos os neurônios que precisará por toda a sua vida. Os neurônios se expandirão e se organizarão em grandes redes de processamentos. Os processos de: memorização, atenção, percepção, linguagem e pensamento são complexos envolvendo sofisticadas reações químicas e circuitos interligados de neurônios. As células nervosas ou neurônios, quando são ativadas liberam hormônios ou neurotransmissores que atingem outras células nervosas através de ligações denominadas sinapses. Bem vou parar por aqui, mas vem comigo que vamos ver isso tudo mais explicadinho.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Conhecer o papel da plasticidade cerebral; Reconhecer a relação entre memória, atenção, linguagem,
pensamento e aprendizagem; Se aprofundar nos mistérios do funcionamento cerebral; Verificar o papel da emoção nas funções cerebrais; Conhecer como se processa a perda de memória; Aprender como exercitar o cérebro para melhorar a memória.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 32
O que é plasticidade cerebral?
Plasticidade cerebral é a denominação das
capacidades adaptativas do Sistema Nervoso Central -
SNC – ou seja é a sua habilidade para modificar sua
organização estrutural própria e funcionamento. É a
propriedade do sistema nervoso que permite o
desenvolvimento de alterações estruturais em resposta
à experiência e como adaptação a condições mutantes
e a estímulos repetidos.
Este fato é melhor compreendido através do
conhecimento do neurônio, da natureza das suas
conexões sinápticas e da organização das áreas
cerebrais. A cada nova experiência do indivíduo,
portanto, redes de neurônios são rearranjadas, outras
tantas sinapses são reforçadas e múltiplas
possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se
possíveis.
Até bem pouco tempo, existia a idéia que a falta
de capacidade dos neurônios se dividirem supunha a
impossibilidade de se fazer algo quanto às conexões de
neurônios, impedindo, assim, o indivíduo de aprender.
Ainda há alguns decênios, os neurobiólogos pensavam que os genes impunham as conexões iniciais entre neurônios (as células nervosas), mas interrogavam-se sobre o fato de saber se, sim ou não, qualquer maturação cerebral era tributária dos genes. Assim, considerava-se que a atividade cerebral, sob a forma de influxo nervoso ou de potenciais de ação no interior dos neurônios, modelava o número, a distribuição e a eficiência das sinapses (as regiões de contato entre dois neurônios), permitindo aos neurônios transmitir informações entre si. Mas, no decurso dos vinte últimos anos, as investigações mostraram que é a própria atividade cerebral que atua diretamente sobre o desenvolvimento das sinapses e que os potenciais de ação são necessários a esse desenvolvimento. Estas investigações põem em evidência um duplo fenômeno: por um lado, a plasticidade cerebral não é indefinida (quando certo número de ajustamentos estão terminados, as
Dica da professora
O estudo dos neurônios já foi realizado na aula anterior a esta.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 33
As reconexões neuronais é uma reorganização
responsável pelas modificações que são observadas no
sistema nervoso do indivíduo. Por esses meios, diz-se
que o indivíduo pode aprender e reaprender atividades
desenvolvidas por ele previamente de forma
espontânea e harmoniosa. Porém, este processo é
gradual, dependendo do desenvolvimento do sistema
nervoso, devendo ser valorizados os pequenos
progressos de cada dia.
O cérebro pode promover reconexão de circuitos
neuronais até quando há uma pequena perda de
conectividade, pois tende a uma recuperação
autônoma, enquanto uma grande perda terá perda
permanente da função, mas que para tanto necessitam
de objetivos precisos mantendo níveis adequados de
estímulos facilitadores e inibidores.
Os neurônios desenvolvem brotamentos
axonais, promovendo um aumento na habilidade
funcional e um aumento aparente na força através do
aprendizado. A prática de um exercício ou uma
atividade leva a uma melhora nas habilidades e
desempenho dos nossos aprendizes.
O sistema nervoso de uma criança em
desenvolvimento é mais plástico que o sistema nervoso
do adulto, a atuação correta e eficaz na estimulação da
plasticidade é de fundamental importância para a
máxima da função motora/sensitiva do indivíduo,
vias neuronais perdem qualquer capacidade de se modificar), e, por outro lado, em certas partes do cérebro é essencial, em contrapartida, que se mantenha uma plasticidade permanente, porque se trata de circuitos neuronais que permitem a aprendizagem e asseguram ao cérebro o armazenamento contínuo de novos conhecimentos. Fonte: http://www.citi.pt/educacao_final/trab_final_inteligencia_artificial/
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 34
visando facilitar o processo de aprender a aprender em
nosso cotidiano. É o nosso grande desafio, como
profissional que somos, conhecer o cérebro de nossos
aprendizes e clientes, e tão logo o funcionamento, pois
cada um tem as suas próprias características.
COMO SE DÁ A PLASTICIDADE CEREBRAL?
Podemos encontrar várias teorias sobre como
se dá a recuperação das funções perdidas em uma
lesão cerebral: ela poderia ser medida por partes
adjacentes de tecido nervoso que não foram lesadas, e
o efeito da lesão dependeria mais da quantidade de
tecido poupado do que da sua localização; pela
alteração qualitativa de uma via nervosa íntegra
controlando uma função que antes não era sua; através
de estratégias motoras diferentes para realizar uma
atividade que esteja perdida, sendo o movimento
recuperado diferente do original, embora o resultado
final seja o mesmo.
captam
Neurônio É um canal de comunicação
entre dois
Soma
É um canal de comunicação
entre dois Sinapse
Transmissão Sináptica
Possibilita a
Neurônios (Biológicos) Interconectam-se
com 1º
Podem ou não vir de um
Estímulos
ou Corpo Celular
Constitui-se de
Realiza a passagem do
representa, de algum modo, um determinado
são
é resultado de um
é o menor estimulo capaz de causar um
processa e transmite
é consequência da atividade do
Estimulo Limiar
Axônio
Potencial de Ação
Impulso Nervoso
Sinal Neural
Dendrito
Ramificações
Conhecimento
2º 4º 3º
Contem a
conduz
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 35
Estas formas de regeneração do SNC são
crucialmente dependentes do ambiente tissular no qual
os novos axônios estão crescendo. Eles podem não
conseguir estabelecer conexões sinápticas apropriadas,
devido aos fatores tróficos, condições desfavoráveis de
substratos extracelulares, barreiras mecânicas, como
de cicatrizes gliais densas ou outros mecanismos
inibitórios.
As áreas motoras do SNC demonstram os
princípios do brotamento e da sinaptogênese reativa. O
brotamento colateral já foi identificado no córtex, no
núcleo vermelho e em outras regiões cerebrais,
sugerindo que este é um fenômeno generalizado.
Supersensitividade de desnervações, por outro lado, já
foi demonstrada no núcleo caudado. A base das
mudanças reorganizacionais é a presença de conexões
intracorticais que permitem interações variáveis entre
neurônios no córtex motor primário.
Outro mecanismo ainda em fase de testes é o
transplante de células. O uso do transplante,
combinado com o treinamento adequado, demonstra
que pode haver recuperação através deste, associado
com programas de reabilitação, com melhora na
habilidade motora.
A Lei Pública Americana, P.L. 94-142, diz: "Dificuldade de aprendizagem específica significa uma perturbação em um ou mais processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se por uma aptidão imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. O termo inclui condições como deficiências perceptivas, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e afasia de desenvolvimento. O termo não engloba as crianças que têm problemas de aprendizagem resultantes principalmente de deficiência visual, auditiva ou motora, de deficiência mental, de perturbação emocional ou de desvantagens ambientais, culturais ou econômicas" (Federal Register, 1977).
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 36
A PLASTICIDADE CEREBRAL NO ADULTO
Durante muitas décadas, acreditou-se que o
cérebro de um adulto maduro não possuía capacidade
de regenerar suas células nervosas, ou seja, formar
novas sinapses, e que as conexões entre os neurônios
congelavam-se em posições imutáveis. Pensava-se que
o cérebro era semelhante a um computador,
permanecendo estável e imutável, com memória e
capacidade fixa.
Mas nos últimos anos, neurocientistas
descobriram que o cérebro muda durante a vida e que
essa mudança é benéfica. Experiências revelaram que
situações desafiadoras e ambientes ”complexos”,
agradáveis e divertidos fornecem capacidade extra de
que o cérebro precisa para reconfigurar-se. Essa
plasticidade dispara um mecanismo pelo qual o cérebro
remodela-se, para aprender a sentir-se melhor, ou
pode ser induzido a se auto-reparar, no caso de sofrer
lesões ou contrair doenças.
Exercícios mentais tais como fazer contas,
aprender novo jogo de tabuleiro, ler atentamente e
refletir sobre o texto, jogo de quebra-cabeça são alguns
exemplos de ginástica cerebral. Além desses temos
também as atividades físicas – caminhadas, exercícios
aeróbicos, tai chi chuan, hidroginástica, alongamentos
– que aumentam a produção de endorfina, responsável
pela sensação de bem-estar, e retarda problemas
cognitivos associados ao envelhecimento. Com
atividades físicas regulares, o sangue passa a circular e
levar mais oxigênio às áreas menos irrigadas do
cérebro, aumentando a quantidade de conexões
neurais, melhorando a memória e a capacidade de
raciocínio.
Dica de leitura
TENÓRIO, Robinson Moreira. Cérebros e Computadores. São Paulo: Escrituras, 2002.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 37
A PLASTICIDADE CEREBRAL NA CRIANÇA
Logo depois do nascimento, diversos processos
são desencadeados no desenvolvimento das atividades
cerebrais. Um recém-nascido possui cerca de um
quarto da massa cerebral de um adulto, mas já tem
quase todos os neurônios que precisará por toda a sua
vida. Os neurônios se expandirão e se organizarão em
grandes redes de processamentos.
Os primeiros anos de vida da criança são
fundamentais para o desenvolvimento da criança. O
contato físico, o ouvir a voz da mãe, as entonações
diferentes das vozes, as luzes e cores... enfim, cada
experiência nova, cada contato dispensado na época
certa faz realizar conexões sinápticas. Criando
condições favoráveis para o surgimento de
determinadas competências (musicalidade, raciocínio
lógico-matemático, inteligência espacial), capacidades
que se estabelecem na primeira infância. As emoções e
o equilíbrio psicológico dependem do exercício cerebral
realizado nos primeiros minutos de existência e se
estendem até a adolescência, além de estimular e
fortalecer conexões do sistema límbico. O estímulo
certo, na hora certa, pode proporcionar a capacidade
de controlar suas emoções ou vice-versa.
Sem memória não há aprendizagem
A memória é a base de todo o saber e também
de toda a existência humana, desde o nascimento.
Todo o nosso cérebro funciona através da memória.
Comemos, andamos, falamos porque nos lembramos
de como fazê-lo. A memória determina nossa
individualidade como pessoas e como povos. O cérebro
manda secretar um ou outro neurotransmissor ou
hormônio quando estamos alegres ou tristes, quando
sentimos medo ou prazer. Acontecimentos com maior
Dica de leitura
ZIMMER, Carl. A fantástica história do cérebro. O funcionamento do cérebro humano. Rio de Janeiro: Campus, 2004.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 38
carga emocional são relembrados com mais nitidez,
pois neuroquímicos são estimulados, garantindo sua
memorização. A memória é uma das funções mais
importantes do cérebro, está ligada ao aprendizado e à
capacidade de repetir acertos e evitar erros. “A
memória é a reprodução mental das experiências
captadas pelo corpo por meio de movimentos e dos
sentidos. Essas representações são evocadas na hora
de executar atividades, tomar decisões e resolver
problemas, na escola e na vida”, afirma Elvira Lima,
psicóloga e antropóloga, especialista em
desenvolvimento humano. O conceito de memória vai,
portanto, muito além do poder de recordar. Memória é,
também, a capacidade de planejamento, abstração,
julgamento crítico e atenção.
Cientistas do laboratório de Neuroengenharia, da Universidade da Geórgia (Estados Unidos) construíram um pequeno robô que se move utilizando sinais de células do cérebro de um rato, cultivadas "in vitro". Este é o primeiro robô do mundo cujos movimentos são controlados por uma rede de neurônios. O objetivo do pesquisador Steve Potter e sua equipe é a criação de sistemas de computação que funcionem da mesma forma que o cérebro humano. Para isso, eles estão estudando os mecanismos básicos do aprendizado, memorização e processamento de informações de neurônios cultivados em laboratório. (...) Os cientistas acreditam que poderão um dia construir uma rede neural artificial que aprende como o cérebro humano. "O aprendizado é frequentemente definido como a mudança derradeira no comportamento, resultante da experiência," disse o Dr. Potter. "A fim de que uma rede aprenda, ela deve estar apta a se comportar. Utilizando multieletrodos como uma interface de duas vias para uma rede cultivada de células do córtex de um mamífero, nós estamos dando a estas redes um corpo artificial com o qual se comportar." Pense sobre qual a sua opinião sobre os limites do desenvolvimento tecnológico nesta área.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 39
Ao vivenciar uma experiência, o sujeito recebe
informações de todo o tipo. Em determinadas
situações, os sentidos visuais e auditivos podem estar
sendo mais exigidos, neurônios são ativados de forma
consistente e simultânea, a “força sináptica” dessas
conexões são potencializadas. Sinais luminosos são
captados pela retina e sons pelos aparelhos auditivos,
são transformados em impulsos elétricos que migram
para o córtex cerebral, eles circulam antes de serem
descartados ou arquivados. O impulso morre, mas a
passagem por determinado caminho estabelece
conexões, criam-se “ganchos”, que permite ao cérebro
recriar imagens. Quando essa informação é resgatada
da memória, o conhecimento será acessado de forma
simples e rápida. O que não tem nada a ver com
decoreba.
Por exemplo, se o estudante não aprende o
conteúdo é porque não encontrou nenhuma referência
nos arquivos já formados para abrigar a nova
informação, com isso, a aprendizagem não ocorre. Não
adianta insistir no mesmo tipo de explicação. Por isso,
os conhecimentos do aluno precisam ser investigados,
recordar aulas anteriores e dispor de diversos recursos
pedagógicos são importantes para formar “ganchos”,
facilitando a aprendizagem. Se o assunto estudado
estiver ligado a um som, a uma linguagem e a um
cheiro, três áreas diferentes do cérebro tentarão
recuperar esta memória. Isso pode ocorrer em outras
situações e não só na escola.
Recursos como associar imagens com sons,
palavras, cores e assim por diante, facilitam o
armazenamento e o acesso a determinado
conhecimento. Criar letra para música, versinhos
rimados, frases engraçadas, são associações que levam
à memorização.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 40
O papel da emoção nas funções cerebrais
Temos duas memórias, uma que se emociona,
sente, comove... outra que compreende, analisa,
pondera, reflete... Trata-se de emoção e de razão.
Essa dualidade se articula através de um mecanismo
dinâmico, uma impulsionando a outra com grande
rapidez nas tomadas de decisões. Cada pessoa
apresenta diferentes reações conforme a utilização de
suas mentes. Nessa interação o sistema límbico está
presente, personagem importante para o cérebro.
Elemento responsável pelo prazer e pelo aprendizado
situa-se nesta região. A falta de libidinação gera
problemas conflitantes, inibindo o processo de
aprendizagem, “aprender é um ato desejante e sua
negação é o não aprender. O desejo é movido pelo
inconsciente, que nesse momento do aprender ou não
aprender responde às informações libidinadas
(negação, recusa, omissão, rejeição)...” A emoção está
para o prazer assim como o prazer está para o
aprendizado, e a auto-estima é a ferramenta que
movimenta os estímulos para gerar bons resultados.
O cérebro processa tão velozmente essa relação que
não se pode perceber a ligação de elementos
consultando uns aos outros ao resolver uma simples
questão.
Em "O erro de Descartes", o neurologista António Damásio propõe que a ausência de emoção e de sentimento podem destruir a racionalidade, a característica que determina o ser humano. Para Damásio, ao contrário do que é comum se afirmar, as decisões sensatas não saem de uma "cabeça fria", nem a razão está situada numa região separada da mente, onde as emoções não estão autorizadas a penetrar. A famosa frase do filósofo francês, "penso, logo existo", sugere uma atividade ("pensar") exclusiva da mente, separada do corpo. Damásio contesta o dualismo da frase e sustenta que certos aspectos do processo da emoção e do sentimento são indispensáveis para a racionalidade, e que os sentimentos e emoções são uma percepção direta de nossos estados corporais e constituem um elo entre corpo e consciência.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 41
Memória e Atenção – uma depende da
outra.
O termo memória tem sua origem etimológica
no latim e significa a faculdade de reter e/ou readquirir
idéias, imagens, expressões e conhecimento. É o
registro de experiências e fatos vividos e observados,
podendo ser resgatados quando preciso. Isso faz com
que a memória seja a base para a aprendizagem, pois,
com as experiências que possuímos armazenadas na
memória temos a oportunidade e habilidade de mudar
o nosso comportamento. Ou seja, a aprendizagem é a
aquisição de novos conhecimentos e a memória é a
fixação ou retenção desses conhecimentos adquiridos.
COMO SE FORMA A MEMÓRIA
Para se construir a memória, passamos por um
processo de assimilação. E é através desse processo
que enviamos as informações para a memória de curta
ou de longa duração. Neste momento, o hipocampo é
ativado. O hipocampo ajuda a selecionar onde os
aspectos importantes para fatos, eventos serão
armazenados e está envolvido, também, com o
reconhecimento de novidades e com as relações
espaciais, tais como o reconhecimento de uma rota
rodoviária. É ele que filtra os dados, usa e joga fora
Para sustentar sua tese, o autor começa o livro com uma análise sobre o comportamento de Phineas Cage, um operário norte-americano vítima de um grave acidente no século 19 - uma barra de ferro perfurou seu cérebro, sem matá-lo. O caso Cage, pela primeira vez na história, tornou evidente a ligação entre lesão cerebral e limitação da racionalidade.
(Cícero Solimões) DAMÁSIO, Antônio. O Erro de Descartes. Emoção, Razão e o Cérebro Humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 42
informações de curto prazo e se encarrega de enviar
outras para diferentes partes do córtex cerebral. Essas
informações se envolvem numa verdadeira “sopa
química” que passa a provocar “intercâmbio” entre os
neurônios. Nesta fase, o hipocampo descansa e quem
passa a trabalhar é o lobo frontal.
O hipocampo é uma pequena estrutura bilobular alojada profundamente no centro do cérebro. Tal como o teclado do nosso computador, o hipocampo é como uma espécie de posto de comando. À medida que os neurônios do córtex recebem informação sensorial, transmitem-na ao hipocampo. Somente após a resposta do hipocampo é que os neurônios sensoriais começam a formar uma rede durável (assembléia). Sem o "consentimento" do hipocampo, a experiência desvanece-se para sempre. É aqui que entra a carga afetiva necessária para que o estímulo se fixe na memória de longo prazo. A atitude de "consentimento" do hipocampo parece depender de duas questões. Primeiro, a informação tem algum significado emocional, portanto, tem que ter alguma importância afetiva. O nome de uma pessoa muito atraente tem mais probabilidade de conseguir "autorização" do hipocampo para se fixar no "disco rígido" de nosso computador do que o nome do jornalista que escreve o obituário do jornal. É assim que nossa consciência se constrói, sempre em conformidade com nossos próprios interesses emotivos. Fonte: BALLONE, G. J. em http://www.psiqweb.med.br/cursos/memoria/html
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 43
ATENÇÃO!
O lobo frontal funciona como um “coordenador
geral” de todas as memórias e da atenção. É
responsável pela guarda das informações, bem como
de classificá-las de acordo com seus diferentes tipos.
Nessa área cerebral as diferentes memórias se
completam dando origem ao raciocínio.
É o lobo frontal que acessamos quando
“vasculhamos” nossa memória à procura de
informações guardadas no córtex. Essa parte do
cérebro é extremamente complexa e, por isso,
bastante sensível. A idade, a depressão, o estresse e
também a sobrecarga de informações afetam a nossa
memória. O volume de informações sobrecarrega o
lobo frontal que, em muitos momentos, nos “desligam”
ou geram aqueles “brancos” que tantas vezes nos
desesperam.
A memória não está localizada em uma
estrutura isolada no cérebro: ela é um fenômeno
biológico e psicológico envolvendo uma aliança de
sistemas cerebrais que funcionam juntos.
O processo de memorização é complexo,
envolvendo sofisticadas reações químicas e circuitos
interligados de neurônios. As células nervosas ou
neurônios, quando são ativadas, liberam hormônios ou
neurotransmissores que atingem outras células
nervosas através de ligações denominadas sinapses.
Quanto mais conexões, mais memória!
Os fatos antigos, naturalmente, têm mais tempo
de se fixar em nosso banco de dados e daí sua melhor
fixação, o que não ocorre com fatos recentes, que têm
pouco tempo para se fixarem e, ainda, podem ter sua
capacidade de fixação alterada por razões relacionadas
a variações de estado emocional ou a problemas de
ordem física.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 44
Cada célula cerebral (ou neurônio) contribui para
o comportamento e para a atividade mental,
conduzindo ou deixando de conduzir impulsos. Todos os
processos da memória são explicados em termos
destas descargas.
As alterações decorrentes da aprendizagem e da
memória são chamadas plasticidade.
Quando uma célula é ativada, é desencadeada a
liberação de substâncias químicas nas sinapses,
chamadas neurotransmissores, tornando-as mais
efetivas. Pesquisas revelaram que neurônios
“exercitados” possuem um número maior de
ramificações (dendritos) se comunicando com dendritos
de outros neurônios.
Assim, para que as memórias sejam criadas, é
preciso que as células nervosas formem novas
interconexões e novas moléculas de proteína.
TIPOS DE MEMÓRIA
Memória Ultra rápida
A retenção da informação não dura mais do que
alguns minutos.
Memória de Curto Prazo ou de Curta Duração
Esse tipo de memória não forma “arquivos”.
Nela guardamos informações que serão utilizadas
dentro de pouco tempo. Logo após sua utilização,
esquecemos os dados nela armazenados.
Exemplo: Local onde estacionou o carro, o
conteúdo decorado para uma prova.
Memória de Longo Prazo ou de Longa
Duração
Importante
Para amarrar essa aula vamos relembrar? Plasticidade Cerebral é a denominação das capacidades adaptativas do Sistema Nervoso Central (SNC) - sua habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento. É a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 45
Armazena as informações por um longo período.
A capacidade de armazenamento é limitada. Pode ser
dividida em Declarativa e Não declarativa.
Memória Declarativa é a memória para fatos e
eventos, reúne tudo que podemos evocar por meio de
palavras. Pode ser episódica quando envolver eventos
datados, isto é, relacionados ao tempo. E será
Semântica quando envolver o significado das palavras
ou quando envolver conceitos atemporais.
Memória Não declarativa é aquela para
procedimentos e habilidades. Pode ser De
Procedimentos quando se referir às habilidades e
hábitos como, por exemplo, dirigir e nadar. De Dicas
quando for evocada, resgatada por meio de dicas,
como acontece quando ouvimos sons ou sentimos
algum odor que nos lembram uma situação há tempos
vivida. Será Associativa quando nos fizer associar um
determinado comportamento a um fato. Um bom
exemplo disso é quando salivamos ao ver um prato
apetitoso. Nós lembramos o quanto é saborosa aquela
comida e nosso organismo responde a essa lembrança.
E, finalmente, a memória poderá ser Não Associativa
quando for resgatada através de estímulos repetitivos.
Ocorre, por exemplo, quando ouvimos o latido de um
cão pequeno. Esse tipo de latido não nos causará medo
porque saberemos relacioná-lo com o de um animal
que não oferece perigo.
PERDA DE MEMÓRIA
A perda de memória pode estar associada a
determinadas doenças neurológicas, a distúrbios
psicológicos, a problemas metabólicos e também a
certas intoxicações. A forma mais frequente de perda
de memória é conhecida popularmente como
“esclerose” ou demência.
Dica de filme
Sugestão de filme: AMNÉSIA Um ladrão ataca um casal, terminando por matar a mulher e deixando o homem à beira da morte. Porém, ele sobrevive e durante sua recuperação busca recuperar a memória, já que foi afetado por uma amnésia que o fez esquecer os trágicos momentos do assalto, que precisam ser relembrados para que detalhes sobre o assassino possam ser entregues à polícia a fim de encontrar o responsável pela morte de sua esposa. Atenção: este filme tem uma estrutura de roteiro muito diferente e, a fim de compor as etapas da história, a narrativa se dá de trás para frente!
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 46
A demência mais comum é a doença de
Alzheimer que se caracteriza por perda acentuada de
memória acompanhada de graves manifestações
psicológicas como, por exemplo, a alienação.
Estados psicológicos alterados como o estresse,
a ansiedade e a depressão podem, também, alterar a
memória.
A falta de vitamina B1 (tiamina) e o alcoolismo
levam à perda de memória para fatos recentes e com
frequência estão associados a problemas de marcha e
confusão mental.
Doenças de tireóide, como o hipotireoidismo,
geralmente, se acompanham de comprometimento de
memória.
O uso de medicação tranquilizante (“calmantes”)
por tempo prolongado provoca a diminuição da
memória e favorece também a depressão, o que leva a
uma situação que pode se confundir com a demência.
A vida sedentária, com excesso de preocupações
e insatisfações, bem com a dieta deficiente, favorece a
perda de memória.
Contrariamente ao esquecimento comum
ocorrido normalmente no dia-a-dia de nossas vidas,
existem algumas doenças e injúrias no cérebro que
causam séria perda de memória e, também, interferem
com a capacidade de aprender. A esta instabilidade dá-
se o nome de Amnésia.
COMO MELHORAR A MEMÓRIA
A contínua atividade intelectual como a leitura,
exercícios de memória, palavras cruzadas e jogo de
xadrez auxiliam a manutenção da memória.
Para pesquisar
Analise a diferença entre o nível de atividade mental de uma criança com o de um adulto. Muitas vezes a redução desta atividade é dramática. Agora, pense em um idoso. O que acontece nesta faixa etária? Experimente fazer uma listagem das atividades cotidianas de uma criança, um adulto e um idoso, verificando esta diferença. Não deixe, ainda, de pensar em sugestões para que esta redução de atividades (e conseqüentemente da memória) não seja tomada com naturalidade ou como “coisas da idade”.
Quer saber mais?
Fatores que podem causar perda total ou parcial da memória: Concussão; Alcoolismo
crônico; Drogas e
medicamentos; Tumor cerebral; Encefalite.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 47
O estilo de vida ativa com atividade física
realizada regularmente e uma dieta saudável são
pontos importantes para a manutenção da memória.
A diminuição da memória que ocorre na 3ª
idade, na maioria das vezes, é absolutamente benigna,
mas, frequentemente, por falta de melhor informação,
angustia o idoso que tem dificuldade de aceitá-la como
um fato normal.
Semelhante ao que ocorre com exercícios
musculares realizados para se manter a boa forma
física, a atividade cerebral também deve ser realizada
com frequência, sempre procurando estimular nossos
principais sentidos: olfato, paladar, tato, visão e
audição, bem como nossa memória e inteligência.
O declínio de nossas funções mentais que ocorre
com a idade se deve em grande parte à falta de
atividade mental que com frequência segue
paralelamente ao envelhecimento. Vários trabalhos
realizados em diversos países demonstram claramente
que o declínio mental que ocorre com a idade pode ser
evitado.
Devemos estimular nossas percepções, nossa
memória (recente e antiga), noções espaciais,
habilidades lógicas e verbais.
Os exercícios cerebrais nada mais são do que
estímulos às funções cerebrais que podem estar
decadentes devido à idade e que já foram ativas no
passado.
A ativação deve ser feita diariamente, durante
as atividades normais, como o caminhar, durante as
refeições ou mesmo durante as compras.
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 48
Muitas coisas podem ser feitas para melhorar a
memória. Várias técnicas e cuidados podem ser
utilizados. Entre eles:
Dormir bem;
Beber bastante água;
Uma boa alimentação;
Relaxar;
Associar fatos a imagens (técnicas
mnemônicas);
Estimular a memória utilizando o máximo da
capacidade mental;
Visualizar imagens;
Praticar jogos de xadrez, palavras cruzadas;
Exercícios físicos.
AUTO AVALIAÇÃO
Analise, no texto abaixo sobre “Depressão Infantil e
dificuldades na aprendizagem, a relação entre
afetividade, memória e aprendizagem”, e escreva uma
atividade para trabalhar com seu grupo.
Há um sintoma básico da depressão chamado
estreitamento do campo vivencial. Isso quer dizer que o
universo de interesses do deprimido vai sendo cada vez
menor e mais restrito e a preocupação com suas
próprias angústias e seu próprio sofrimento emocional
toma conta de todo seu interesse e seus prazeres. Não
há ânimo suficiente para admirar um dia bonito, para
interessar-se na realização ocupacional, para
relacionar-se socialmente, para assistir a um filme
interessante, para interessar-se pela escola, enfim,
nada lhe dá prazer, nada pode motivá-lo.
ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 49
Neste caso, o campo vivencial fica tão estreitado que só
cabe o próprio paciente com seu sofrimento, o restante
de tudo que a vida pode lhe oferecer não interessa. Os
campos da consciência e da motivação estão
seriamente comprometidos nos estados depressivos,
daí a dificuldade em manter um bom nível de
memória, de rendimento intelectual, de iniciativas e
participações para tocar adiante o dia-a-dia. Percebem-
se os reflexos desta inibição global até na atividade
motora, que fica bastante diminuída, e até na própria
expressão da mímica, através da aparência de
abatimento e de desinteresse. Fonte: BALLONE, G. J. Em
http://www.psiqweb.med.br
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RESUMO
Vimos até agora:
O sistema nervoso de uma criança em
desenvolvimento é mais plástico que o
sistema nervoso do adulto, a atuação correta
e eficaz na estimulação da plasticidade é de
fundamental importância para a máxima da
função motora/sensitiva do indivíduo, visando
facilitar o processo de aprender a aprender
em nosso cotidiano. É o nosso grande
desafio, como profissional que somos,
conhecer o cérebro de nossos aprendizes e
clientes, e tão logo o funcionamento, pois
cada um tem as suas próprias características;
Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória; Atenção 50
A memória é a base de todo o saber e
também de toda a existência humana, desde
o nascimento. Todo o nosso cérebro funciona
através da memória. Comemos, andamos,
falamos porque nos lembramos de como fazê-
lo. A memória determina nossa
individualidade como pessoas e como povos;
Ao vivenciar uma experiência, o sujeito
recebe informações de todo o tipo. Em
determinadas situações, os sentidos visuais e
auditivos podem estar sendo mais exigidos,
neurônios são ativados de forma consistente
e simultânea, a “força sináptica” dessas
conexões são potencializadas;
A perda de memória pode estar associada a
determinadas doenças neurológicas, a distúrbios
psicológicos, a problemas metabólicos e
também a certas intoxicações. A forma mais
frequente de perda de memória é conhecida
popularmente como “esclerose” ou demência;
A contínua atividade intelectual como a
leitura, exercícios de memória, palavras
cruzadas e jogo de xadrez auxiliam a
manutenção da memória;
O estilo de vida ativa com atividade física
realizada regularmente e uma dieta saudável
são pontos importantes para a manutenção
da memória.
51
A Filogênese do Sistema Nervoso Percepção, Linguagem e Pensamento Marta Relvas
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o
A neurociência é o estudo da realização física do processo de informação no sistema nervoso humano. O estudo da neurociência engloba três áreas principais: a neurofisiologia, a neuroanatomia e a neuropsicologia. A neurofisiologia é o estudo das funções do sistema nervoso. Ela utiliza eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de áreas maiores do cérebro. Ocasionalmente, separam as conexões nervosas para avaliar os resultados. A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, em nível microscópio e macroscópio. Os neuroanatomistas dissecam o cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura. A neuropsicologia é o estudo da relação entre as funções neurais e psicológicas. A principal pergunta da neuropsicologia é qual área específica do cérebro controla ou media as funções psicológicas. O principal método de estudo usado pelos neuropsicólogos é o estudo do comportamento ou mudanças cognitivas que acompanham lesões em partes específicas do cérebro. Estudos experimentais com indivíduos normais também são comuns. E é sobre um pouco de cada ponto desses que trataremos nessa aula.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Descrever a filogênese do sistema nervoso; Entender a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso; Rever pontos sobre a plasticidade cerebral e a memória; Conhecer mais sobre a linguagem e outras funções de alto
nível; Estudar os distúrbios da fala e da compreensão, além de ver
outros distúrbios; Analisar a especialização dos hemisférios; Reconhecer as implicações nas ciências cognitivas.
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 53
Filogênese do sistema nervoso
Os seres vivos, mesmos os mais primitivos,
devem se ajustar continuamente ao meio ambiente, que
também é mutável, para sobreviver enquanto indivíduo e
ainda como espécie.
Essa resposta pode ser um encurtamento da
célula produzido pela propriedade chamada
contratilidade. Essa reação normalmente acontece no
sentido de fugir a um estímulo nocivo ou para se
aproximar de um estímulo agradável.
Experiências com o microorganismo unicelular
chamado de ameba demonstraram que ela se afasta
lentamente do ponto onde fora tocado por uma micro-
agulha. São reações rudimentares, sem especialização de
nenhuma das propriedades citadas.
Em seres mais complexos, pluricelulares, como as
esponjas do mar, já encontramos células diferenciadas.
Algumas dessas células, as mais internas, se
especializaram em movimentos de contração; outras
localizadas na superfície desenvolveram mais as
Os seres unicelulares, os mais primitivos na escala filogenética, possuem três propriedades fundamentais para a sua adaptação ao meio ambiente e conseqüente sobrevivência. Essas propriedades são irritabilidade, condutibilidade e contratilidade.
Através da irritabilidade, a célula detecta as modificações do meio ambiente. Essa sensibilidade celular, causada por um estímulo, é conduzida à outra parte da célula através da condutibilidade, possibilitando uma resposta a esse estímulo.
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 54
propriedades de irritabilidade e condutibilidade. Quando a
água que passa pelos orifícios no interior das esponjas
contêm substâncias irritantes, as células constitutivas se
contraem, fechando a passagem do líquido para o interior
da esponja.
A evolução filogenética providenciou para que
essas células especializadas em conduzir sinais se
agrupassem e formassem um sistema nervoso central.
Esse sistema de comando conta com neurônios sensitivos
ou aferentes, que são responsáveis pela coleta de
informações oriundas do meio ambiente. Essas
informações ou sinais são enviados ao centro de
comando, formado pelo sistema nervoso central para que
este elabore e retome uma determinada reação ou
resposta. Essa resposta é possível graças aos neurônios
eferentes ou motores.
As respostas podem ser elaboradas e retomadas a
partir de qualquer ponto do sistema nervoso central como
encéfalo, medula, tubo raquidiano. Os reflexos patelares,
observados no joelho do homem, quando se bate com um
martelete nessa região, o que provoca o estiramento
involuntário da perna para frente, é um exemplo de
reação a partir da medula.
Outro tipo de neurônio trouxe um considerável
aumento do número de sinapses, o que aumentou
significativamente a complexidade do sistema nervoso.
Esse neurônio foi denominado de neurônio de associação
ou internunciais. Ele associa os diversos tipos de
informações e elabora as respostas a serem dadas ao
estímulo. Seria o rudimento de inteligência, capaz de
elaborar.
Essa aglutinação numa das extremidades dos
animais foi dando origem ao encéfalo, que é uma porção
do sistema nervoso central composto pelo cérebro,
mesoencéfalo, cerebelo, tronco encefálico.
Importante
Nos metazoários, seres ainda mais complexos, as células musculares responsáveis pela contratilidade foram ficando na parte mais interior do animal. Na superfície ficaram as células sensoriais responsáveis pela identificação do estímulo. Essa distância entre as células sensoriais e as musculares foi compensada pela especialização de células exclusivas para permitir a condutibilidade da informação colhida na superfície, levando-as até o interior do ser, para que houvesse uma resposta, que pode ser de repulsão ou de aproximação, dependendo do teor do estímulo. Estamos falando dos neurônios.
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 55
O crescimento gradual do encéfalo, observado
na escala filogenética, atinge seu maior tamanho no
ser humano.
Os neurônios de associação situados no encéfalo
foram os responsáveis pelo surgimento das funções
psíquicas superiores. Chegava, assim, ao ápice, a
evolução do sistema nervoso.
Linguagem e outras funções de alto nível
A ÁREA DE BROCA E ÁREA DE WERNICKE
Em 1861, o neurologista francês Paul Broca
identificou um paciente que era quase totalmente
incapaz de falar e tinha uma lesão nos lobos frontais, o
que gerou questionamentos sobre a existência de um
centro da linguagem no cérebro. Mais tarde, descobriu
casos nos quais a linguagem havia se comprometido
devido a lesões no lobo frontal do hemisfério esquerdo.
A recorrência dos casos levou Broca a propor, em 1864,
que a expressão da linguagem é controlada por apenas
um hemisfério, quase sempre o esquerdo. Esta visão
confere com resultados do procedimento de Wada, no
qual um hemisfério cerebral é anestesiado. Na maioria
dos casos, a anestesia do hemisfério esquerdo, mas não
a do direito, bloqueia a fala. A área do lobo frontal
esquerdo dominante que Broca identificou como sendo
crítico para a articulação da fala veio a ser conhecida
como área de Broca (BEAR, 2002).
O crescimento do número de neurônios de associação aconteceu de forma agrupada e em uma das extremidades dos seres vivos, o que seria mais tarde a sua cabeça. Durante os deslocamentos, os animais percebiam mais rapidamente as mudanças do meio através desses neurônios agrupados nessa extremidade e podiam elaborar resposta mais rápida, livrando-se de perigos ou para encontrar alimento. Essa extremidade especializou-se em explorar ambientes e por isso foi aparelhada com boca, olhos, ouvido ou antenas e nariz, enfim, todos os órgãos dos sentidos. Devido a sua importância, esse agrupamento de neurônios foi protegido por um crânio.
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 56
Em 1874, o neurologista Karl Wernicke
identificou que lesões na superfície superior do lobo
temporal, entre o córtex auditivo e o giro angular,
também interrompiam a fala normal. Essa região é
atualmente denominada área de Wernicke. Tendo
estabelecido que há duas áreas de linguagem no
hemisfério esquerdo, Wernicke e outros começaram a
mapear as áreas de processamento da linguagem no
cérebro e levantaram hipóteses acerca de
interconexões entre o córtex auditivo, a área de
Wernicke, a área de Broca e os músculos requeridos
para a fala.
O modelo neurolinguístico de Wernicke considera que a área de Broca conteria os programas motores de fala, ou seja, as memórias dos movimentos necessários para expressar os fonemas, compô-los em palavras e estas em frases. A área de Wernicke, por outro lado, conteria as memórias dos sons que compõem as palavras, possibilitando a compreensão.
(Lent, 2002, pág. 637)
Assim, se essas duas áreas fossem conectadas,
o indivíduo poderia associar a compreensão das
palavras ouvidas com a sua própria fala.
Atualmente, o modelo de Wernicke teve que ser
corrigido quando se observou que pacientes com lesões
bem restritas à porção posterior do giro temporal
superior (a área de Wernicke) apresentavam na
verdade uma surdez linguística e não uma verdadeira
afasia de compreensão. A área de Wernicke seria,
então, responsável pela identificação das palavras e
não da compreensão do seu significado.
KARL WERNICKE
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 57
Distúrbios da fala e da compreensão
Damos o nome de afasia a alguns dos distúrbios
da linguagem falada causados por acidentes vasculares
cerebrais na sua fase aguda. Entretanto, nem todos os
distúrbios da linguagem podem ser chamados de
afasia. São chamados de afasia apenas aqueles que
atingem regiões realmente responsáveis pelo
processamento da linguagem e não distúrbios do
sistema motor, do sistema atencional, e outros que
seriam apenas coadjuvantes do processo. Ao contrário
de um doente que não consegue falar devido à
paralisia de um nervo facial, os portadores de afasia
podem apresentar problemas de linguagem sem ter
qualquer problema no funcionamento muscular facial.
A área de Wernicke é responsável pela compreensão e pela escolha das palavras que usamos. Sem ela, não conseguiríamos achar as palavras nem entender o que os outros dizem. Mas não adianta só saber montar a frase na mente. É preciso que ela faça sentido. Aí é que entra uma outra região: a área de Broca. A área de Broca é responsável pela nossa expressão verbal e escrita. É com essa parte do cérebro que juntamos as sílabas de cada palavra de uma forma coerente. Viver sem a área de Broca é um desafio mental. Fonte: http://www.drauziovarella.com.br/cerebro/palavracerebro.asp
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 58
Segundo Lent (2002), as afasias são
classificadas em afasia de expressão, de compreensão
e de condução, de acordo com os sintomas do paciente
e com a região cerebral atingida.
A afasia de Broca é também chamada de afasia
motora e não-fluente, já que as pessoas têm
dificuldade de falar, mesmo que possam entender a
linguagem ouvida ou lida. Pessoas com este tipo de
afasia têm dificuldade em dizer qualquer coisa, fazendo
pausas para procurar a palavra certa (anomia). A
marca típica de afasia de Broca é um estilo telegráfico
de fala, no qual se empregam, principalmente, palavras
de conteúdo (substantivos, verbos, adjetivos), além da
incapacidade de construir frases gramaticalmente
corretas (agramatismo). É provocada por lesões sobre
a região lateral inferior do lobo frontal esquerdo.
A afasia de compreensão ou afasia de Wernicke
atinge a região cortical posterior em torno da ponta do
sulco lateral de Sylvius do lado esquerdo. Os pacientes
não conseguem compreender o que lhes é dito. Emitem
respostas verbais sem sentido e, também, não
conseguem demonstrar compreensão através de
gestos. Apesar de possuir uma fala fluente, ela também
Uma pessoa vítima de afasia pode não conseguir contar, nomear, por exemplo, os dias da semana e os meses do ano ou ainda perder a noção gramatical. É difícil para alguém com afasia interpretar o que ouve. "É como se a pessoa, mesmo ouvindo, ficasse 'surda' para as palavras, por não reconhecer o significado das mesmas", explica a Dra. Heloísa, que completa que "muitas vezes o portador de afasia consegue perceber alguma palavra e reconhece o restante da comunicação". A perda parcial ou total da capacidade de ler e escrever também fazem parte da sintomatologia do portador de afasia. Ele ainda pode não conseguir organizar gestos de forma a representar ou comunicar o que quer. "Por exemplo, o paciente não consegue, com gestos, mostrar o que deseja comer ou indicar que deseja comer". Fonte: http://www.boasaude.uol.com.br.
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 59
não tem sentido, pois não compreendem o que eles
mesmos dizem. Enquanto na afasia de Broca, a fala é
perturbada, mas a compreensão está intacta; na afasia
de Wernicke, a fala é fluente, mas a compreensão é
pobre.
A afasia de condução é provocada por lesão de
feixe arqueado, feixes que conectam a área de Broca
com a área de Wernicke. Os pacientes seriam capazes
de falar espontaneamente, embora cometessem erros
de repetição e de resposta a comandos verbais.
Outros distúrbios
Afasia é apenas uma das desordens que resulta
de lesões do cérebro. Abaixo temos uma pequena lista
de algumas delas:
Alexia: Inabilidade adquirida de
compreender a linguagem escrita;
Agrafia: Inabilidade adquirida de produzir
linguagem escrita apesar da presença
linguagem oral, da leitura e de controle de
movimentos normal;
Apraxia: Inabilidade de ter movimentos
propositais apesar da compreensão normal
das instruções, da força, do reflexo e da
coordenação normais;
Agnosia Visual: Perda da habilidade de
reconhecer ou identificar a presença de
objetos, apesar das funções visuais estarem à
presença de objetos, apesar das funções
visuais estarem intactas. Uma forma
específica da agnosia visual foi registrada
como propagnosia, inabilidade de reconhecer
faces;
Síndrome da Negligência: A tendência a
ignorar coisas numa região particular do
espaço ignorando o módulo sensorial
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 60
responsável pelos estímulos provenientes
daquela região. Pacientes com uma forma
dessa síndrome chamada síndrome da
negligência unilateral ignoram as informações
provenientes do lado esquerdo ou direito do
corpo e podem até esquecer de barbear essa
parte do rosto ou de vestir esse lado do corpo.
A alexia agnósica corresponde a uma dificuldade maior para a identificação das palavras (compreensão global) do que para a identificação de letras isoladas. O indivíduo utiliza o dedo para a identificação das letras e a identificação das palavras soletradas é satisfatória. Nesses pacientes, a cópia é imperfeita, ainda que a escrita espontânea ou ditada seja satisfatória. A alexia agnósica está, freqüentemente, associada a outras manifestações de agnosia visual, notadamente a agnosia para as cores. A agrafia é a manifestação na escrita das alterações afásicas que ocorrem na linguagem oral. Ainda que exista uma dissociação entre a possibilidade de denominar por escrito e verbalmente, a ausência da palavra existe tanto na linguagem escrita como na linguagem oral. Apraxia é o prejuízo na capacidade de executar atividades motoras, apesar de as capacidades motoras, função sensorial e compreensão estarem intactas para a tarefa exigida. Na realidade, é a perda da capacidade de executar eficientemente a intenção para um ato para um determinado fim, mas não há comprometimento anatômico das estruturas cerebrais envolvidas na execussão desse ato (seja ele da musculatura voluntária, da fala, da mímica). Agnosia não é uma alteração exclusiva das sensações nem exclusiva da capacidade central de perceber objetos externos, mas uma alteração intermediária entre as sensações e a percepção. Em alguns casos, observa-se a perda da intensidade e da extensão das sensações, permanecendo inalteradas as sensações elementares, em outros há integridade e extensão, mas perda da capacidade de reconhecimento dos objetos. Fonte: http://www.psiqweb.med.br
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 61
A especialização dos hemisférios e o
pensamento.
Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo
controla a fala em mais de 95% dos seres humanos,
mas isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao
contrário, é a prosódia do hemisfério direito que
confere à fala nuances afetivas essenciais para a
comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é
também responsável pela realização mental de cálculos
matemáticos, pelo comando da escrita e pela
compreensão dela através da leitura. Já o hemisfério
direito é melhor na percepção de sons musicais e no
reconhecimento de faces, especialmente quando se
trata de aspectos gerais. O hemisfério esquerdo
participa também do reconhecimento de faces, mas
sua especialidade é descobrir precisamente quem é o
dono de cada face. Da mesma forma, o hemisfério
direito é especialmente capaz de identificar categorias
gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que
detecta as categorias específicas. O hemisfério direito é
melhor na detecção de relações específicas. O
hemisfério direito é melhor na detecção espaciaes,
particularmente as relações métricas, quantificáveis,
aquelas que são úteis para o nosso deslocamento no
mundo. O hemisfério esquerdo não deixa de participar
dessa função, mas é melhor no reconhecimento de
relações espaciais categoriais qualitativas. Finalmente,
o hemisfério esquerdo produz movimentos mais
precisos da mão e da perna direitas do que o
hemisfério direito é capaz de fazer com a mão e a
perna esquerda (na maioria das pessoas).
Quer saber mais?
Apesar de o nosso cérebro ser dividido em dois hemisférios ,não existe relação de dominância entre eles, pelo contrário, eles trabalham em conjunto, utilizando dois milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras cerebrais e se encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de especialização hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas funções são representadas em apenas um dos lados, outras nos dois) e de assimetria (um hemisfério não é igual ao outro).
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 62
Lent, 2002
Implicações nas ciências cognitivas
Existem redundâncias consideráveis no sistema
nervoso. A existência de processamento paralelo é
amplamente aceita na neurociência e acredita-se que
ele seja necessário devido à rapidez e complexidade do
processamento da informação no cérebro das criaturas
vivas. O poder da computação paralela pode ser
observado nos modernos computadores seriais que
demoram muito mais que o cérebro humano para
processar informações visuais. Nos últimos anos,
reconheceu-se que computadores com processamento
paralelo são necessários para acelerar o processamento
de imagens, aproximando-se da velocidade do cérebro
humano.
Esse é um dos caminhos pelo qual a
neurociência pode ajudar as ciências cognitivas. A
psicologia cognitiva tem se esforçado para modelar as
atividades intelectuais com elementos que interajam
numa maneira neurologicamente plausível. Esses
modelos estão ajudando a mostrar como a cognição
pode ser estruturada através dos princípios básicos de
operação da mente.
DICA DE LEITURA
KASTRUP, V. A invenção de si e do mundo. São Paulo: Papirus, 1999. O presente trabalho se situa no campo dos estudos da cognição e, mais especificamente, na interface entre a Psicologia e a Biologia. A partir das contribuições da Segunda Cibernética no domínio da Ciência Cognitiva, o tema da auto-organização e dos sistemas autopoiéticos colocam problemas de grande relevância. Interessa aos autores em especial avaliar o sentido desta poiesis e o estatuto do si mesmo que resulta dessa atividade de criação da realidade conhecida. Esse trabalho se organiza em torno dessa problemática da criação do si mesmo (sujeito cognoscente ou unidade do organismo vivo). As idéias seminais de H. Maturana e F. Varela são retomadas de modo a explicitar a pertinência da formulação de um processo cognitivo criador.
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 63
AUTO AVALIAÇÃO
Descrever as áreas de Broca e de Wernicke?
E quais são as suas diferenças e qual a relação com a
aprendizagem?
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RESUMO
Vimos até agora:
A evolução filogenética providenciou para que
essas células especializadas em conduzir
sinais se agrupassem e formassem um
sistema nervoso central. Esse sistema de
comando conta com neurônios sensitivos ou
aferentes, que são responsáveis pela coleta
de informações oriundas do meio ambiente;
O crescimento gradual do encéfalo, observado
na escala filogenética, atinge seu maior
tamanho no ser humano;
Os neurônios de associação situados no
encéfalo foram os responsáveis pelo
surgimento das funções psíquicas superiores.
Chegava, assim, ao ápice, a evolução do
sistema nervoso;
Observando a estrutura do sistema nervoso,
percebemos que eles têm partes situadas
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 64
dentro do cérebro, da coluna vertebral e outras
distribuídas por todo corpo. As primeiras
recebem o nome coletivo de sistema nervoso
central (SNC), e as últimas de sistema nervoso
periférico (SNP);
O neurologista francês Paul Broca identificou um
paciente que era quase totalmente incapaz de
falar e tinha uma lesão nos lobos frontais, o que
gerou questionamentos sobre a existência de um
centro da linguagem no cérebro. Mais tarde,
descobriu casos nos quais a linguagem havia se
comprometido devido a lesões no lobo frontal do
hemisfério esquerdo;
A área do lobo frontal esquerdo dominante que
Broca identificou como sendo crítico para a
articulação da fala veio a ser conhecida como
área de Broca;
Em 1874, o neurologista Karl Wernicke
identificou que lesões na superfície superior do
lobo temporal, entre o córtex auditivo e o giro
angular, também interrompiam a fala normal.
Essa região é atualmente denominada área de
Wernicke;
Atualmente, o modelo de Wernicke teve que ser
corrigido quando se observou que pacientes com
lesões bem restritas à porção posterior do giro
temporal superior (a área de Wernicke)
apresentavam na verdade uma surdez linguística
e não uma verdadeira afasia de compreensão. A
área de Wernicke seria, então, responsável pela
identificação das palavras e não da compreensão
do seu significado;
A afasia de Broca é também chamada de afasia
motora e não-fluente;
Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso: percepção, linguagem e pensamento 65
A afasia de condução é provocada por lesão
de feixe arqueado, feixes que conectam a
área de Broca com a área de Wernicke;
O hemisfério esquerdo produz movimentos
mais precisos da mão e da perna direitas do
que o hemisfério direito é capaz de fazer com
a mão e a perna esquerda (na maioria das
pessoas).
66
Estruturas Neurais dos Movimentos e da Aprendizagem Motora Fátima Alves e Marta Relvas
AU
LA4
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esen
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o
Como podemos ver, a motricidade humana envolve uma série de fatores, como; estruturais, sociais, ambientais, psicológicos, funcionais, históricos, motores, entre outros. Nesta aula vamos compreender como o homem desenvolve, aprende e controla o seu corpo. Podemos conceituar motricidade como o resultado de traduções e organizações perceptivas e motoras expressas em movimentos, ou seja, o movimento humano, é o resultado de traduções perceptivo-motoras que o indivíduo desenvolve, aprende e estabelece em seu organismo. Com o tempo, estas traduções e organizações perceptivo-motoras se automatizam, existindo uma grande quantidade de aparatos necessariamente reflexos.
Obj
etiv
os
Após o estudo do conteúdo desta aula, você deverá ser capaz de: Distinguir desenvolvimento, aprendizagem e controle motor; Reconhecer as principais áreas cerebrais responsáveis pelo
movimento; Descrever os tipos de movimento contidos no corpo; Compreender como a emoção influencia o comportamento
motor; Entender o controle do movimento pelo cérebro; Saber como funciona o planejamento do movimento.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 68
Introdução
A motricidade humana envolve uma série de
fatores, derivados de situações; sociais, ambientais,
psicológicos, funcionais, históricos, motores, entre
outros.
O movimento tem início motivado por carência
de origem reflexa fisiológica, ou por carência advinda
das razões emocionais, quando o sujeito está em um
ambiente que a deflagra, terminando quando forem
atingidos a satisfação ou o êxito do que a motivou.
Podemos conceituar motricidade como o
resultado de traduções e organizações perceptivas e
motoras expressas em movimentos, ou seja, o
movimento humano, é o resultado de traduções
perceptivo-motoras que o indivíduo desenvolve,
aprende e estabelece em seu organismo. Com o
tempo, estas traduções e organizações perceptivo-
motoras se automatizam, existindo uma grande
quantidade de aparatos necessariamente reflexos.
A motricidade pode ser classificada em quatro
níveis:
Voluntária – tipicamente faz parte do desejo
do indivíduo como andar, pular, correr, etc.;
Automática – aquela que passa pelos estágios
da aprendizagem atingindo o nível de
automatização, independente da análise
consciente, da ação que se desenvolve.
A questão da automatização está mais ligada à
questão do isolamento da consciência da ação, do que
propriamente dos mecanismos que atuam diretamente
na automatização, porque a necessidade do homem
não é só a de se mover, é saber para onde, como e
onde se mover. Quando nos movermos, necessitamos
Para pesquisar
Você sabe como o homem desenvolve, aprende e controla o seu corpo? Que tal uma pesquisa?
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 69
previamente de sabermos para onde estamos indo.
Reflexa – é a motricidade que está contida no
corpo. Provavelmente, o grande percentual
de nossas capacidades reflexas vem embutido
em nosso organismo, porém também
aprendemos, tornando nossos reflexos
melhores do que eram originalmente.
Involuntária – a que é causada por patologia,
como a Doença de Parkinson, por exemplo,
que provoca atos motores que o corpo não
consegue controlar. Nela estão envolvidas
dimensões de debilidades posturais,
debilidades para aprender, dificuldade para
melhorar o desempenho desejado, entre
outras. Há algum tempo atrás, falava-se da
involuntária como a automática, porém isto
não se confirmou como verdadeiro.
Relações com a motricidade:
Aprendizagem Motora, onde o indivíduo pode
aprender a desenvolver sua postura, a se
mover com eficiência e obter determinada
performance;
Desenvolvimento Motor é diferente de
aprendizagem motora, e a diferença está
circunscrita na idéia de que o
desenvolvimento motor é algo contido no
organismo, independe das vivências formais
para se desenvolver;
Controle Motor é um estudo mais avançado e
atual, tem aprofundamento nos implícitos da
motricidade humana. Atualmente muito
estudado no campo das próteses,
apresentando muita dificuldade para se fazer
uma boa adaptação do corpo e controle em uma
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 70
perna, em um braço. Depende muito em
saber como o próprio organismo controla seu
movimento.
O controle motor é uma área que, na engenharia
mecânica, na engenharia de prótese é muito
importante, pois chegou um momento em que se
entende que controlar o corpo é algo que o homem tem
de mais difícil para aprender. A postura, por exemplo, é
algo muito complicado para o organismo, pelo menos
no sentido do entendimento de como funciona o
mecanismo, pois o organismo é plenamente apto em
realizar. Portanto, o controle motor figura realmente
como uma área de entendimento muito difícil.
A aprendizagem motora tem relação com os
Métodos e Técnicas da Aprendizagem Motora, visto que
há relação com a pedagogia do ensino, onde a
progressão e a adaptação são cuidadosamente
articulados. Já o Desenvolvimento Motor está por vezes
contido na aprendizagem motora, onde depende de
estímulos para se aprimorar. O Controle Motor é o
aparato neural que permite sejamos capazes de
controlar nosso corpo. Por exemplo, jogar uma bola,
um peso, e não ir junto com ele; estar em uma posição
econômica, e não em uma posição desgastante.
Para isso temos as funções envolvidas e as
estruturas nervosas relacionadas.
O neurônio é o grande elemento em nosso
estudo, pois ele representa tudo para o que fazemos,
seja um movimento, seja a afetividade, seja
composições musicais, são todas definidas por
microscópicas estruturas, pequenas células que não
conseguimos ver, a não ser com um microscópio
eletrônico de excelente potência.
:: NEURÔNIO:
Estas minúsculas células determinam todo nosso comportamento e funções, nossa fala, nosso olhar, nossos movimentos.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 71
A mitocôndria, o sintetizador do ATP, que é
responsável por dinamizar os processos realizados pelo
neurônio. Como se fosse a força que gera o impulso
para que um neurônio se comunique com outro, para
produzir então o comportamento desejado, e assim por
diante. Através do entendimento de como o neurônio
se comunica, é que será possível entender como ocorre
todo o processo.
Um neurônio detona todo o processo, porém um
grande conjunto de neurônios é que são responsáveis
pelo resultado final, e é por isso que é necessário
entender suas localizações e como estão envolvidos.
Além disto, é importante falarmos sobre a
questão da afetividade no comportamento, ou seja, a
emoção do ponto de vista da neurologia e sua relação
com o desenvolvimento motor e aprendizagem motora.
De um ponto de vista pragmático, mecanicista,
podemos dizer que tudo o que fazemos depende destas
minúsculas células chamadas neurônios, onde está
contida toda nossa organização física e de vida, que se
encontram no núcleo celular, com seus 46 pares de
cromossomos.
Durante um grande período, houve na literatura
a ênfase relativa ao desenvolvimento perceptivo. Na
verdade, o desenvolvimento perceptivo é suporte do
desenvolvimento das potencialidades mecânicas,
motoras, de uma forma geral. Quanto maior o
desenvolvimento perceptivo, mais capaz e fluente será
o indivíduo para interagir as partes corporais com o
ambiente.
Desta forma, se fôssemos pensar em como
melhorar as funções motoras de um indivíduo, em
reabilitação ou aprendizagem no aspecto motor,
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 72
poderíamos dizer que o desenvolvimento perceptivo é
aquele que vai levar o indivíduo a construir um grupo
sinonímico ou de interpretação do movimento que vai
garantir a especialização do movimento.
É importante frisar que especialização não
significa automatização do movimento. Especialização
é tomada aqui tanto no aspecto mecânico quanto
cognitivo. Sempre que pensarmos em movimento,
devemos pensar em uma visão declarativa e de
procedimentos, ou seja, em uma visão cognitiva e de
automatização mecânica do nosso corpo.
Se não fosse assim, estaremos equivocados ao
analisarmos o movimento, ou seja, como ensinar, como
entender e como avaliar o movimento, se não se partir
do movimento visto de uma ótica declarativa
(cognitiva) e de uma ótica de procedimentos
(mecânica). Normalmente, em todo ato mecânico
existe um percentual cognitivo, ou seja: como é melhor
fazer, qual a forma mais eficiente de utilizar o corpo.
Isso ocorre quando o indivíduo vai decidir como a
forma mais elegante e sofisticada do uso do corpo, que
apresenta o aspecto declarativo do movimento.
Desenvolvimento Motor é o um processo natural
da interação do corpo com as coordenadas genéticas
definidas para que, a um determinado momento,
possam ser alcançadas. Normalmente, a criança,
seguindo a sequência natural do animal quadrúpede,
rasteja, engatinha, anda, corre, salta e trepa (escala),
devido a uma predisposição orgânica já codificada para
isso.
As intervenções feitas nesse processo, segundo
as pesquisas, não são rentáveis. Quando se quer
acelerar o desenvolvimento do andar de uma criança,
por exemplo, e se utiliza de andadores, estimulando a
Dica do professor
Ato Mecânico: Fazer algo sem pensar; reproduzir algo mecanicamente Ex.: Dirigir ou andar.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 73
criança por meio de recompensas, ela não andará
muito mais precocemente do que outra criança não
estimulada. Isto se dá porque a sequência natural é
definida pelos próprios genes do indivíduo.
O cérebro, neste sentido, desempenha um papel
muito importante, e pode ser pensado em três
dimensões: o arquicérebro, o cérebro dos hominídeos e
o neocérebro (do homem atual). Pode-se dizer que o
arquicérebro tinha uma determinação de proceder
cognitivamente, estruturado à base do tronco
encefálico, e esse animal não tinha o privilégio de
poder mudar as coisas, “estar emotivamente
envolvido”.
O estado da vontade, de voluntariedade era
muito menor do que o hominídeo, que já tinha
desenvolvido um cérebro quase neo, que lhe dava a
capacidade de interagir e modificar sua própria
linhagem.
Podemos dizer que, filogeneticamente os
cérebros evoluíram de uma mecanicidade para uma
reflexão. Por outro lado, as crianças evoluem partindo
de um período reflexivo, o ser humano tem embutido
por uma herança de reflexão para proteção, e até para
garantir a própria evolução do sistema.
É possível que o indivíduo evolua
independentemente da estimulação? Será que por
determinação do organismo ele irá evoluir? Tudo
indica que sim. A estimulação do ambiente vai ser
sempre prática. É muito importante sabermos a
distinção entre ser bom e ser efetivo. Se estimularmos
uma criança para que tenha um avanço no organismo
para andar, talvez ela desenvolva algumas percepções
a mais do que a que não foi estimulada.
Importante
Hominídeos: primatas antropóides, incluindo o homem e seus ancestrais fósseis, como os australopitecos.
Importante
O arquicérebro, gânglio supra-esofágico dos invertebrados superiores, equivalente a um cérebro primitivo.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 74
No entanto, foi garantido ao nosso organismo o
momento crítico do desenvolvimento. Assim, não
adianta antecipar o caminhar com andadores, pois os
que andam com andadores podem apresentar
problemas como “geno valgo” ou “varo”, com maior
constância.
O tempo para andar será praticamente o
mesmo. Isto é indicado por pesquisas como a de
Piaget com os gêmeos, onde um foi estimulado a
esquiar muito precocemente e o outro não; mas
posteriormente, aquele que não sabia esquiar foi
ensinado e, aprendendo em um ritmo muito maior,
conseguiu rapidamente igualar-se ao primeiro. Outro
exemplo é o da natação precoce, onde nadar muito
cedo pode ter consequências benéficas, porém também
pode apresentar consequências negativas.
A própria evolução do tempo dará ao indivíduo
uma capacidade maior de entender o mundo, pelo
desenvolvimento do cérebro, do encéfalo de uma forma
geral. Podemos então esperar que este desenvol-
vimento motor e este desenvolvimento neural, baseado
nas teorias maturacionistas tenham muito valor.
Pesquisas indicam que o formato maturacional
dos neurônios, que são os grandes responsáveis por
tudo, vai evoluir com o tempo. Levam a crer que o
conjunto de ingredientes (proteínas, cálcio, etc., que
formam todo o apêndice do neurônio), com o tempo irá
aumentar, tornando o cérebro ainda mais eficiente.
A parte da aprendizagem motora é mais formal,
mais interativa, direcionada por uma série de teorias
que embasam esta área: a teoria dos esquemas
motores, a teoria dos feedbacks-loops, uma série de
teorias que compõem certa bibliografia.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 75
Nós procuramos, dentro da aprendizagem
motora, a questão da performance, ou seja, ensinar
para que o indivíduo tenha mais condições, que possa
tirar partido de suas funções, para melhorar seu
desempenho físico, no que tange à relação corpo e
movimento.
O controle motor é um assunto mais evoluído da
ciência, que procura analisar como o indivíduo controla
o corpo para aprender. Existe uma teoria, chamada
teoria dos sistemas dinâmicos, que diz que a
aprendizagem, tanto no aspecto cognitivo, quanto no
aspecto do controle corporal, se desenvolve a partir de
desbloqueios.
O Ser evolui para controlar melhor o seu corpo e
para aprender mais sobre o movimento à medida que
se desbloqueia funções que estão mais ou menos
garantidas no sistema.
Diferentemente, pode-se pensar em uma teoria
que traz as informações, o neurônio gradativamente
aprende, e as funções vão se tornando mais
significativas.
A teoria dos sistemas dinâmicos diz que o
indivíduo tem contido em si neurônios próprios para
executar certas ações. Porém, apresenta certas
reivindicações impostas pela necessidade de seu
desenvolvimento. Conforme o indivíduo vai melhorando
suas funções, passa a desbloquear condições que
impedem o pleno exercício destas funções.
Outra possibilidade, é que os mecanismos
reflexos, que estariam em um invólucro, garantidos
geneticamente, mas limitados pelo peso do corpo,
questões de equilíbrio, e gradativamente, à medida que
o indivíduo fosse evoluindo, ou tendo experiências,
tivessem ocorrendo os desbloqueios e, evidentemente
Dica do professor
Então não se considera que a pessoa aprende, e sim que já tem aprendido intrinsecamente? Para certos aspectos sim, como por exemplo: no controle da postura, mas não no geral.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 76
os neurônios iriam se superpondo até atingir um ápice
de função.
A teoria da maturação tem razão, embora em
uma época remota a maturação tivesse grande
destaque, com a idéia de que o homem se firmava
baseado em seu processo de amadurecimento e até
com vantagens em relação ao meio-ambiente.
As áreas do cérebro e os neurônios
De acordo com BROCAS, o cérebro é dividido
funcionalmente em várias áreas, como as áreas
corticais, a área pré-frontal, as áreas motoras primária e
secundária, as sensoriais (3, 1, 2) e as áreas 7 e 5, que
nos interessam particularmente, por que são áreas
integradoras das ações e informações periféricas, de
impulsos que vêm de nossos apêndices corporais
(somatosensoriais, proprioceptivos, visuais, auditivos,
etc.).
Os neurônios aprendem, e isto é falado há muito
tempo, desde 1872. Porém, de um tempo para cá, mais
recentemente, investiga-se o porquê deste
aprendizado, de que maneira ele acontece. Eles se
especializam? Será que o corpo é organizado por
vínculos diretos com os neurônios, para cada neurônio
uma função, ou os neurônios formam assembléias,
“grupos” para funcionarem em nosso corpo?
Cerebelo Lobo temporal
Lobo frontal Lóbulo occipital
Lobo parietal
Tronco cerebral
Você sabia?
No aprendizado de um movimento de esqui, a aprendizagem não dependeria do tempo, mas sim da ação do corpo que seriam estabelecidos por todas as relações com graus de liberdade das articulações que, em interação com o cérebro, seriam liberados para funcionar dentro de um projeto motor rentável.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 77
Tudo indica que os neurônios formam
assembléias. Eles se juntam, especializando-se em
determinadas funções, e isto dá uma grande
plasticidade ao sistema, uma capacidade que garante a
continuidade do sistema caso um neurônio falhe, por
exemplo.
Como é que os neurônios aprendem? Para
tentar explicar, temos duas teorias: a neural e a
pedagógica. A teoria neural diz que os neurônios
formam assembléias e que constituem esquemas.
Porém, onde estão localizados estes esquemas? As
primeiras pesquisas apontaram o córtex, como sendo o
centro do controle motor. Lansley, em pesquisas sobre
tarefas motoras com ratos, demonstrou que realmente
o córtex era o centro da aprendizagem. Isto é verdade
em parte, como veremos.
Posteriormente ao estudo de Lansley, foram
feitos estudos para saber como o indivíduo aprendia
em movimento. Demonstrou-se que, em movimento, o
indivíduo codificava, engramatizava certas partes do
movimento, e que existiam neurônios com preferência
ao movimento, mas não específico para o movimento.
O que seria isto? Um determinado neurônio
apresentava um registro maior na encefalografia para
um determinado movimento com o braço, por exemplo,
do que para outro movimento, embora vários outros
neurônios apresentassem também registros que,
inobstante serem menores, não eram menos
importantes, para a tarefa motora que se estava
realizando.
Desta forma, os neurônios aprendem sobre um
movimento, e podem executá-lo melhor
posteriormente. Se os neurônios fossem aprender e
esquecessem, toda vez que fôssemos executar um
movimento, teríamos que reaprender. Por isso que se
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 78
diz que os neurônios aprendem e constituem grupos
(esquemas) que vão funcionar sempre que tivermos
que executar o movimento, ou que tivermos que
utilizá-lo como base para um movimento novo.
O esquema se forma neuralmente, como se
fosse uma raiz, e é ali que o sistema voluntário, de
projeção das células piramidais, irá projetar uma força
melhor para aquele movimento, referente ao programa
que temos a executar.
Podemos então regular o movimento
cognitivamente, de acordo com a necessidade,
controlando os impulsos nervosos para os setores
musculares que irão executar o movimento.
Os neurônios trabalham, então, em
cooperativas, sendo que eles têm hierarquia em função,
mas não hierarquia no grupo. Eles atuam em vários
esquemas, com percentuais de ativação diferentes.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 79
Os neurônios aprendem e se engramatizam,
provavelmente, de um ponto de vista mecânico, no
cerebelo. E como isto ocorre? Se olhássemos um
pedaço do córtex cerebelar, veríamos que temos as
células de Purkinge quase na superfície do córtex
cerebelar e as células granulares mais profundamente
colocadas.
Toda vez que fazemos um movimento,
informações são projetadas no cérebro via medula. A
velocidade, direção e torque de um membro projetado,
por exemplo, são detectados por minúsculos sensores,
como os corpúsculos de Paccini, de Rufini, os órgãos
tendinosos de golgi, o fuso neuromuscular.
Estas informações vão para dois estágios: o
cinestésico, onde temos plena consciência do
movimento, da posição de nosso corpo, temos uma
percepção clara de movimento.
Quando um indivíduo tem uma lesão cerebelar,
ele é incapaz de saber, de ter esta propriedade (por
exemplo, quando fecha os olhos, provavelmente irá
cair). O organismo dele não tem condições de perceber
os graus de liberdade do corpo.
Importante
Corpúsculos de Paccini Captam especialmente estímulos vibráteis e táteis. Formados por uma fibra nervosa cuja porção terminal, amielínica, envolta por várias camadas que correspondem a diversas células de sustentação. A camada terminal capta a aplicação de pressão, e transmite para outras camadas e envia aos centros nervosos correspondentes.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 80
Para a ocorrência da aprendizagem, devem
existir mecanismos neurais que dêem suporte. No
cerebelo, temos as fibras de Moss e as fibras
trepadeiras, que emergem da substância negra (local
onde são integradas as informações proprioceptivas do
corpo). As informações do corpo em movimento são
enviadas de alguma forma para a substância negra, são
interpretadas, e fluem através dos axônios das células
trepadeiras, abrangendo (se enrolando) os dendritos da
célula de Purkinge, que estão localizadas dentro do
cerebelo, no núcleo cerebelar. As células trepadeiras
passam pelo cerebelo, não residem nele. Já as fibras
de Moss são responsáveis por trazer o feedback do
meio ambiente para o sistema. Elas vêm do tronco
encefálico, com dicas do núcleo da base, do tálamo, do
próprio cerebelo.
Assim, as informações proprioceptivas vêm das
células trepadeiras, enquanto que as relativas ao meio-
ambiente vêm das fibras de Moss, depois de terem sido
captadas e analisadas pelo sistema.
A célula de Moss se transforma em célula
granular, formando posteriormente a célula T, indo
repousar sobre os dendritos da célula de Purkinge.
Todos os dois feedbacks, o feedforward, que
ocorre antes do movimento, do acontecimento e o
feedback, que ocorre durante e após a realização do
movimento, do acontecimento, são importantes.
Em uma pesquisa nas células de Purkinge, com
animais, um pesquisador notou que quando o
feedforward de uma célula havia chegado, e o de outra
não, o registro produzia uma determinada curva. Por
outro lado, quando os impulsos elétricos chegavam ao
mesmo tempo nas células trepadeiras e de Moss, o
registro dava uma queda suficiente, chamada de Long-
Importante
Receptores de superfície de Krause > Frio de Ruffini > Calor de Krause > Frio Discos de Merkel Tato e Pressão de Vater-Pacini > Pressão de Meissner > Tato Terminações nervosas livres > Principalmente dor.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 81
term Depression (Depressão de longa duração, ou
LTD), que realmente durava horas.
Esta baixa é o período em que uma série de
reações bioquímica está ocorrendo no interior da célula
de Purkinge, é o momento em que uma célula está
aprendendo. E quais são estas combinações?
Quando uma célula de Moss (ou paralela) se
encontra com o dendrito da célula de Purkinge e o
axônio de uma célula trepadeira, devem trabalhar em
conjunto. Quando as células projetam impulsos
independentemente, não ocorre aprendizagem.
Para haver aprendizagem, é preciso que as
múltiplas reações bioquímicas ocorram ao mesmo
tempo, entrem no interior da célula de Purkinge. As
células em T e as trepadeiras devem carrear uma série
de reações bioquímicas simultâneas para que haja
conhecimento, abrindo então os vários canais da célula
de Purkinge.
Estes canais são abertos através de impulsos
elétricos e químicos na sinapse das células T e
trepadeiras com as células de Purkinge. A combinação
de todas as substâncias (Na, Ca, AMPA, glutamato [que
forma a proteína quinase através do DAG]) consolida
as informações que vieram através das células.
Uma traz informações sobre o corpo, e a outra,
sobre o meio ambiente. Se as informações sobre o
meio-ambiente tiverem sido entendidas corretamente,
o organismo consegue aprender que aquela ação ou
movimento é adequado para aquele meio-ambiente.
Essa informação fica localizada no cerebelo, que
informa para o córtex cerebral através do tálamo. O
cerebelo aprende e, ao mesmo tempo, informa ao
cérebro.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 82
A aprendizagem, para ser fixada, necessita de
repetição. Ao mesmo tempo em que a informação é
processada em um neurônio, é processada em outros
milhares; se algumas sinapses não ocorrerem, os
outros garantirão a informação para o sistema.
Quando realmente a aprendizagem ocorre? O
canal AMPA se satura e não abre mais, existindo uma
falência na entrada de (Na) necessária para ocorrer a
aprendizagem. Assim, passa a não existir novo
processo de aprendizagem naquele neurônio.
ATIVIDADE FÍSICA. MAIS NEURÔNIOS COM EXERCÍCIO
Adolescentes que fazem esportes regularmente apresentam desempenho 20% superior em testes escolares, ao dos sedentários. Pesquisas comprovaram que o exercício físico é capaz de estimular, de fato, a produção de neurônios. Durante um século acreditava-se que as pessoas nasciam com um determinado número de neurônios, e que ao longo da vida esse número só decrescia. - Essa idéia mudou depois de pesquisas como as feitas no Laboratório de Genética do Salk Institute, na Califórnia. Ao colocarem camundongos em um ambiente com vários brinquedos e possibilidades de interação social e atividade física, cientistas descobriram que havia a produção de novos neurônios no hipocampo, região onde se processam a memória e o aprendizado. O simples fato de haver rodas para os camundongos se exercitarem, era suficiente para estimular a criação de neurônios, diz o neurobiólogo brasileiro Alysson Renato Muotri, pesquisador associado do Salk Institute. No entanto, se, colocados para nadar em situação estressante ou forçados à atividade física, efeito era negativo. O exercício precisa ser voluntário e prazeroso para que ocorra maior produção de neurônios. Outros testes concluíram que animais que fazem exercícios têm melhor memória e maior capacidade de aprendizado. O efeito também foi notado em relação à idade: Animais mais velhos que se exercitam regularmente estimulam a memória e aumentam a capacidade de aprender novas informações que jovens sedentários.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 83
Desta forma, o conteúdo aprendido no neurônio
não se perde mais. O que acontece quando a pessoa
esquece, ou “perde” a aprendizagem é que o
mecanismo fisiológico associado com aquele
conhecimento não tem mais como fazê-lo. Não existem
mais mecanismos fisiológicos de busca do
conhecimento, fato este conhecido como retroação de
memória.
Emoção
Tudo indica que a aprendizagem está
intimamente ligada à afetividade, ao desejo. Para cada
ato motor, temos um esquema: para andar, correr,
corrigir a postura. Nesta combinação dos neurônios
motores medulares com a musculatura periférica, há
uma garantia de uma sequência do movimento
adequada ao peso do corpo. Os neurônios aprendem
então junto com as unidades motoras da musculatura o
ajustamento necessário para que o sistema seja o mais
econômico e eficiente possível.
Qualquer que seja o movimento teremos
impingida a emoção. Seria difícil imaginar um trabalho
de reabilitação com o paciente totalmente
desinteressado do tratamento. O componente
motivacional é fundamental para que a aprendizagem
ocorra satisfatoriamente.
A emoção fazer parte do movimento é algo que
não se pode separar, porque está dentro do feixe
neural, do organismo neural que funciona no
movimento. O movimento tem sempre um “peso” de
sentimento, de emoção. Quando um indivíduo não
quer fazer um movimento, ou está motivado para fazê-
lo, o componente emocional se sobressai.
Dica de filme
Assista ao filme: O Homem Bicentenário
Apresenta a estória de uma família e seu novo utensílio doméstico: o robô chamado Andrew (Robin Williams), que realiza tarefas domésticas simples. Entretanto, aos poucos o robô vai aprensentando traços característicos do ser humano, como curiosidade, inteligência e personalidade própria. É o início da saga de Andrew em busca de liberdade e de se tornar, na medida do possível, humano.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 84
Como a condição neural se relaciona com a
emoção?
O sistema límbico está diretamente ligado por
terminações nervosas ao núcleo da base, ou gânglios
da base. Todas as vezes que o sistema sensitivo-motor
interage com o movimento, na verdade, a emoção
estará contida, seja para bem ou mau. Se um indivíduo
está perturbado pelo medo, ou pela euforia demasiada,
ansiedade, com certeza isto irá repercutir no sistema
sensório-motor afetando o desempenho do indivíduo.
Pesquisas demonstraram que um indivíduo que
se torna extremamente habilidoso, o ambiente tende a
interferir muito pouco em sua emoção, mas quando o
indivíduo está em processo de aprendizagem, o
ambiente interfere muito em sua emoção. A
participação da platéia é significativamente efetiva para
a performance desse indivíduo, especialmente na
relação entre os sistemas internos.
Não se pode frear uma emoção. O que se pode
fazer é controlar as emoções, de modo que se possa
canalizar ou filtrar. Isso é algo que a experiência do
indivíduo ajuda muito. Tratar com emoções é o trabalho
do profissional da saúde.
A relação do aspecto afetivo no
movimento
A afetividade está ligada também a aspectos
comuns do movimento, como a postura, por exemplo,
“cabisbaixa” é causada por motivo psicológico. Isto nos
leva a crer que, ao falarmos sobre o movimento, temos
que obrigatoriamente nos referirmos ao aspecto
emotivo.
Dica do professor
Emoção, numa definição mais geral, é um impulso neural que move um organismo para a ação.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 85
O controle do movimento pelo cérebro
O Sistema Nervoso Central (SNC) é organizado
hierarquicamente por níveis de controle, sendo o
cérebro anterior o ponto extremo superior e a medula
espinhal, o extremo inferior.
Para uma melhor compreensão deste sistema,
faz-se necessário nominar esta hierarquia sob três
níveis de controle. O nível mais alto é o nível do
pensamento, da abstração, da lógica, da sensatez, para
se fazer um ato motor. Eles estão garantidos pelas
áreas de associação do neocórtex e pelos gânglios da
base, que são responsáveis pela estruturação do
pensamento objetivo em uma ação a ser executada.
As estratégias para comandar os vários grupos
musculares do nosso corpo de forma a funcionarem
proficientemente são geradas por estas estruturas.
Embora haja uma divisão didática das estruturas que
estão mais envolvidas em determinado evento, todas
as estruturas cerebrais trabalham conjuntamente para
produzir o efeito desejado.
Os níveis intermediários, representados pelo
córtex motor e cerebelo, têm função imediata na
elaboração de táticas.
Tática é uma espécie de pré-ocorrência de um
evento; ela é intermediária em relação à estratégia,
por exemplo, porque a tática é mais utilizada para
projeção de um evento.
No terceiro nível, o da execução, que é o nível
menos “inteligente”, mais mecânico do ato motor,
temos a elaboração de eventos automatizados,
garantidos pelo tronco encefálico e medula espinhal.
Isto acontece independentemente de nosso controle
mental ou sub-cortical.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 86
Estes níveis têm relação com os sistemas
piramidal e extrapiramidal, no que se refere à
aprendizagem. No nível piramidal, tem relação com o
primeiro nível funcional do SNC visto acima, controle
direto sobre o movimento.
O nível intermediário estaria em uma transição
entre o piramidal e o extrapiramidal; ocorrendo o
impulso voluntário, organizado, juntamente com a
automatização, para que o movimento fosse mais
plástico. Finalmente, o sistema autônomo, ou terceiro
nível, que seria o sistema extrapiramidal.
Para fazermos a apreciação das diferentes
contribuições dos três níveis hierárquicos no
movimento, podemos exemplificar a posição de um
tenista em posição extensa em pé, esperando o
momento do saque de um adversário.
Neste caso, o córtex neocerebral possui
informações baseadas em feedbacks de origens visuais
e auditivas, “exteroceptores”, somáticos, “somato-
sensorial” na epiderme, “proprioceptivo” mecanismos
interoceptivos, com relação à posição do seu corpo no
espaço e do meio ambiente em si.
Estratégias precisam ser relacionadas para
mover o corpo, a partir da posição inicial, para o
recebimento da bola quando esta for sacada pelo
adversário. Além destas, outras estratégias que
preencham as demandas da devolução da bola.
Podemos convir aqui, que neste momento,
várias formas de devolução podem ser escolhidas —
uma batida com efeito na bola, uma bola em curva em
alta velocidade e assim por diante. Estas alternativas
são filtradas através dos gânglios da base e daí,
voltando para o córtex até que uma decisão final é
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 87
tomada (com base, em grande parte, em experiências
passadas).
As áreas motoras do córtex e do cerebelo
definem então as táticas necessárias para efetivação do
evento escolhido (ex., rebater a bola fazendo uma
curva em direção centro-esquerda do oponente) e
envia instruções para o tronco encefálico e medula
espinhal. A ativação dos neurônios do tronco
encefálico e medula espinhal efetivam, então, os
componentes do movimento a ser executado.
Uma apropriada ativação (periodicisada (1) –
timing) dos neurônios motores na medula cervical gera
o movimento coordenado dos ombros, cotovelo, punho
e dedos. Simultaneamente, o tronco encefálico envia
impulsos para a coluna torácica e lombar, com objetivo
de proceder ao ajustamento postural (mecânico,
automático) adequado à posição do tenista. Ou seja,
ajustamento que previne o corpo de uma possível
queda durante a rebatida da bola.
Quando nascemos, estamos impingidos de uma
gama de mecanismos reflexos, que não somem de
nosso organismo conforme vamos aprendendo. Este
mecanismo é garantido pelo sistema. Por exemplo, se
cairmos para trás, a primeira coisa que fazemos é
colocar as mãos para trás, e isto não foi aprendido; no
máximo, foi melhorado. Assim, vemos que é possível
treinar os reflexos, algo que não era pensado há alguns
anos atrás.
É possível melhorar a performance motora
através da melhora das funções neurofisiológicas
comuns, de nível superior “alto”, assim como é possível
com os níveis médio e baixo, ou seja, dos sistemas
puramente reflexivos. Muitos dos nossos reflexos são
aprendidos.
:: Periodicisada
1- Quando fazemos um movimento estratégico, tático, nós não fazemos apenas um movimento, mas sim uma seqüência hierarquizada de movimentos — contrações e inibições musculares apropriadas — para compor o que discriminamos como sendo o movimento global, final.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 88
No decurso da nossa vida, entretanto, ocorre
uma diminuição de nossa potencialidade reflexiva,
fenômeno este que ocorre a partir dos 20 anos de
idade, e deve-se ao não estímulo do reflexo, que vai se
perdendo aos poucos. Não se deve confundir,
entretanto, reflexo com tempo de reação, que é o
tempo cognitivo para se elaborar um movimento; no
tempo de reação, existe o processamento mental.
O Cerebelo é uma estrutura no organismo, que
recebe todas as informações que o indivíduo projeta
quando deseja fazer um movimento. Na fase final do
movimento, o organismo compara as informações
sensoriais do meio ambiente recebidas por feedback
com aquelas que foram projetadas para executar o
movimento corretamente.
Se as informações do feedback estiverem de
acordo com as projetadas, então o movimento sairá
correto. Se não, provavelmente o movimento será
executado incorretamente. Além disso, a informação
sensorial durante o movimento é de suma importância,
não somente para o movimento em execução, mas
para outros subsequentes e similares.
O organismo seria tremendamente ineficaz se
não aproveitasse estas informações; aquilo que você
aprende com seu corpo vai sendo armazenado como
percepções. Quanto mais essas informações forem
exacerbadas, mais informações estarão disponíveis
para o sistema, e então a aprendizagem será facilitada.
O funcionamento apropriado de cada um dos três níveis
de controle depende tão profundamente de informações
sensoriais que o sistema motor do cérebro deveria ser
considerado como sendo um sistema sensório motor
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 89
O córtex no planejamento do movimento
Todas as vezes que desejamos realizar o
movimento, o planejamos. E este planejamento é
realizado no córtex. O planejamento do movimento
exige atividade neural, exige consumo de glicose. O
córtex pré-frontal é o local em nosso córtex onde o
pensamento lógico, criatividade, decisão, e consciência
ocorrem. As áreas secundárias motoras (área 6) se
subdividem em duas subáreas, assinaladas por
Penfield, que mapeou o cérebro.
Os córtices pré-frontal e parietal têm uma
função muito importante no movimento. As áreas 5 e
7 são áreas posteriores de associação de alta
resolução. Podemos pensar que estas áreas do córtex
têm a propriedade de conhecer o movimento.
No lobo occipital, temos as áreas da visão, as
áreas 17 (primária), 18 (associação) e 19 (associação
da visão). Sem a área 17, não se consegue ver, por
isso é primária; sem as outras duas, a visão é
prejudicada, mas ainda se consegue ver. Além destas,
existe a área de alta resolução (IT), que é responsável
pela resolução 3-D das imagens. Devem existir outras
áreas de alta resolução para fala e audição, por
exemplo.
As áreas 5 e 7 têm a propriedade de integrar as
informações múltiplas do sistema, sejam visuais,
sensitivas, auditivas, em suma, todas do sistema
sensorial. Integrar, neste contexto, significa identificar
a posição do corpo, selecionar quais sons são
importantes, quais imagens têm importância naquele
momento, juntar as informações e mandar para a área
6, e sendo que esta irá articular a projeção do
movimento com base nas informações passadas pelas
áreas 5 e 7.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 90
Assim, as áreas 5 e 7 têm a capacidade de
selecionar todas as sensações recebidas, as envia para
a área que organiza, a 6, que irá mandá-las para a área
que executa, a 4. Daí, a área 4 executa, mandando as
ordens para as musculaturas envolvidas. Enquanto isso,
o tronco encefálico, por meio das vias ventro-mediais,
manda ordens para as musculaturas responsáveis pela
postura. Quando se sofre lesão na área 5, o indivíduo
pode sofrer da “síndrome da negligência”, onde pensa
que está sem a perna.
Nossas pernas são guiadas por um sistema
chamado de “mecanismos de padrões de movimentos”.
Temos na medula, na parte medular V, um grupo de
neurônios chamados de “medula sacra”. O impulso
deste grupo de neurônios da medula sacra pode vir
tanto da periferia, quanto do córtex. Se o impulso vier
do córtex, o movimento será voluntário; se vier da
periferia, o movimento da perna será automático, como
o ato de andar, por exemplo.
Planejamento do movimento
Em relação às áreas motoras e sensoriais
envolvidas no movimento, é importante se estabelecer
que o controle do movimento pelo cérebro parte do
princípio de que o cérebro tem uma série de núcleos
(“sites”), que interagem com o tronco encefálico e os
neurônios motores (em nível medular), e recebe
informações de várias partes do corpo para que possa
efetuar o movimento.
Nosso movimento envolve sempre o movimento
voluntário — o movimento em si — e os ajustes
posturais. Não podemos pensar em movimento sem
pensar nos ajustes posturais, já que em todo
movimento que fazemos, existe uma grande
quantidade (talvez até 60%) que é realizada em nível
Dica do professor
Ou seja... quando queremos acertar um alvo, toda nossa mobilização consciente está dirigida para o movimento de acertar o alvo; não dirigimos nosso pensamento para outros aspectos do movimento, que são ajustados reflexivamente.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 91
medular, automaticamente, que é responsável pela
manutenção da postura.
Quando falamos anteriormente no controle
motor, não abordamos os aspectos reflexivos, somente
os aspectos cognitivos — parte intelectual do
movimento —, onde nosso organismo consciente
planeja, coordenam e executam o movimento. As
principais áreas que estão envolvidas no movimento,
que foram abordadas por nós, em relação ao cérebro,
foram as áreas 4 (área motora primária) e 6
(subdividida em área suplementar e área pré-motora
(PMA)).
Falamos que todas têm funções específicas no
controle e organização do movimento; no entanto,
existem outras áreas, que não são de movimento
propriamente dito, mas são de associação, e o
movimento necessita delas para que possa ocorrer.
Destacamos as áreas 5 e 7 (de associação), e as áreas
3, 1 e 2 (sensoriais), que são áreas somatosensoriais,
que recebem as informações periféricas de nosso
corpo. Estas áreas (3, 1 e 2) também recebem
informações proprioceptivas, que inicialmente passam
por regiões subconscientes (cerebelo).
A área 5 necessita receber “input” direto das
áreas 3, 1 e 2, e a área 7 recebe informações visuais e
auditivas de uma área infero-temporal, no lóbulo
temporal inferior. O grande lóbulo anterior possui
neurônios que são responsáveis por “pensar” o
movimento adiante, antecipar eventos e planejar
eventos de alta qualidade, como estratégias e tomadas
de decisão. A área IT (infero-temporal) não é uma área
de associação, mas de percepção, ou seja, recebe
informações das áreas 17, 18 e 19, as lapida, e envia à
área 7.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 92
Porque precisamos de informações antecipadas
e planejar com antecedência nossas ações? Porque
necessitamos projetar nosso movimento e, para
fazermos isto, precisamos saber informações sobre
como nosso corpo está em relação ao ambiente. Além
disso, temos um sentido de proteção de nosso corpo,
que deve estar localizado em nosso arqui-cerebelo e
arqui-córtex, que não permite que façamos um
movimento abrupto, sem coordenação, mesmo em
movimentos rápidos.
Contribuições dos córtices para o
movimento
Os córtices motor, parietal e pré-frontal têm
importantes contribuições ao movimento. O pré-frontal
estende-se da parte anterior do cérebro ao sulco
salviano, e o parietal estende-se a partir do sulco
salviano, posteriormente. Eles funcionam da seguinte
forma: a partir do momento em que estamos
interessados em executar o movimento, nosso cérebro
fica ativo, ou seja, todas as áreas ficam ativas e
interagem entre si. Fora isto, estes córtices ficam em
estado de latência, aguardando um evento.
Ramificações de várias partes do córtex descem,
por axônios, aos núcleos da base. Assim, quando
desejamos um movimento, todo o córtex fica ativo, e
automaticamente todas as informações sensoriais
convergem às áreas 4 e 6, que se intercomunicam e, a
partir daí, a imagem ainda não produzida (executada)
do movimento converge para os gânglios da base,
depois para as porções ventral e lateral do tálamo e,
finalmente, para a área 6, ou seja, de volta ao córtex.
O tálamo, na realidade, é um filtro, ou estação-
relé. Todas as informações desejadas e que convergem
para o córtex passam pelo tálamo. É um núcleo
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 93
intermediário, que tem a função de filtrar as
informações indesejadas (em relação ao aspecto motor)
e, além disto, faz parte de um circuito que converge da
formação reticulada, da base do tronco encefálico, que
sai da porção ventral lateral (VLP), e a formação
reticulada tem a função de alertar (estado de alerta) o
tálamo, para que este atue sobre o córtex. O tálamo,
ainda pode ser um comparador, um selecionador de
informações.
A contribuição dos córtices pré-frontal e parietal
é a organização de uma possível ocorrência de um
movimento. Em um dado movimento, o córtex pré-
frontal atua projetando a ocorrência deste movimento.
A área 6 tem uma estreita relação com todo o córtex,
recebe informações visuais da área 7 (área
distribuidora), somatosensoriais das áreas 3, 1 e 2, e
do córtex pré-frontal. Ou seja, a área 6 tem
informações proprioceptivas, auditivas, visuais,
somatosensoriais e estratégicas para o movimento.
Quando todas estas informações são traduzidas
pelos núcleos da base, e filtradas pelo tálamo, chega à
área 6, e a intenção do movimento já está produzida.
A área 6 pode, inclusive, reter estas informações por
um tempo, até que o movimento seja efetivamente
executado. Assim, a função do córtex pré-frontal é
organizar o movimento, conjuntamente com os núcleos
da base, implementando uma imagem do movimento a
ser realizado, que fica em “stand-by”, aguardando a
execução do movimento.
O córtex parietal tem a função de receber todas
as informações possíveis das áreas 4 e 6, a fim de
transmiti-las para o córtex. A área 6 organiza o
movimento a partir das informações recebidas, até que
um comando, vindo da área 4, determine que o
movimento seja executado.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 94
A área 4, sede dos neurônios piramidais, na
lâmina 5, apresenta a menor sensibilidade aos
estímulos; ou seja, é a mais apropriada para produzir o
impacto que provocará a ocorrência real, física, do
movimento. Após o movimento estar todo projetado na
área 6, a área 4 detonará o comando para a execução
do movimento. A área 6 também envia, junto com a
área 4, axônios para os neurônios motores, e tem
junção com os músculos relacionados com as funções
antigravitacionais, ou seja, ajuste da postura. Ambas
as áreas, 6 e 4, estão relacionadas com a musculatura
distal do corpo, relacionada a movimentos complexos.
A área 6 regula a polidez, a sofisticação do movimento.
Em pesquisas realizadas com PET (Post-estimuli
Tomography – Tomografia pós-estímulo), que registra a
ativação sanguínea do cérebro, indivíduos faziam
movimentos com os dedos, movimentos aprendidos
com um planejamento anterior, e eram medida a
atividade do córtex.
Ao pensar e fazer o movimento, o fluxo
sanguíneo concentrava-se em certas áreas, a área pré-
frontal, responsável pela estratégia do movimento, as
áreas 6 e 4, e as áreas somatosensoriais do córtex
parietal. Quando, no entanto, instruía-se ao indivíduo
para que somente pensasse no movimento, sem
executá-lo, todas as áreas eram ativadas, exceto a 4.
Em nível subcortical, não existe atividade de
organização do movimento; isto inobstante o fato de
que, tanto em nível subcortical, quanto cerebelar,
exista o movimento desejado produzido
automaticamente, sem controle da consciência.
Quanto maior atividade automática estiver sendo
executada, menor será o registro encefalográfico,
embora sempre exista algum registro, em algum nível.
Dica do professor
Reflexo... uma reação corporal automática à estimulação
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 95
No reflexo, já existe outro mecanismo; o reflexo
patelar, por exemplo, não aparece em nível central
como planejamento, apenas como ocorrência. Ao se
bater no tendão patelar, provoca-se um arco reflexo
em nível medular, porém o neurônio motor que ali está
presente tem ligação direta com o cerebelo e córtex.
Com a ocorrência do movimento, os
mecanismos sensores, proprioceptivos, serão
informados da ocorrência do evento, e somente será
informada a execução do movimento ao córtex.
Gânglios da base
Os Gânglios (ou Núcleos) da Base são
estruturadores do movimento mecânico em si;
enquanto o pensamento estrutura o movimento, os
gânglios da base atuam colocando parâmetros no
pensamento. As áreas 6 e 4 estipulam cognitivamente
o movimento, porém este acontece com força e
direção, e são os gânglios da base os responsáveis por
este aspecto.
Os núcleos da base são formados pelo núcleo
caudado e o putamen que, juntos, são chamados de
núcleo estriado. Os globos pálidos (são dois), os
núcleos subtalâmicos, o tálamo e a substância negra,
também fazem parte do núcleo da base. Os núcleos da
base ficam situados profundamente ao telencéfalo
(hemisférios cerebrais).
Dentro dos núcleos da base, o circuito motor
inicia-se com uma ativação dos neurônios do córtex
frontal, ou seja, o desejo do movimento. Os neurônios
do córtex frontal ficam conectados ao putamen, ou
seja, o putamen recebe o “input” do movimento; o
putamen, por sua vez, inibe os neurônios dos globos
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 96
pálidos, e daí, desestimula o contato do tálamo, que
ativa o cérebro, na área motora suplementar (SMA).
Na doença de Parkinson, por falta de oxigênio no
cérebro, algumas das células morrem. Inicia-se com
1/3 de degeneração, até a degeneração completa, das
células da substância negra. A doença chamada de
Balila, por sua vez, ocorre por deterioração do tálamo.
Quando existe uma deterioração do núcleo estriado,
ocorre uma falta de coordenação motora, imprecisão no
movimento, ou seja, uma série de distúrbios motores
ocorre. Os núcleos da base são grandes mediadores
dos eventos da motricidade.
O papel do cerebelo
O movimento necessita de ser objetivo, e a
objetividade do movimento em termos de
direcionamento, sequência e lógica, tem no cerebelo o
grande suporte. O cerebelo fica posicionado por trás da
ponte, sustentado por dois tendúnculos, chamados de
tendúnculos cerebelares. O cerebelo, inobstante seu
tamanho reduzido, possui 50% de todas as células
nervosas do sistema nervoso. Ele tem em seu córtex,
e seus núcleos profundos, suas principais estruturas. O
cerebelo evoluiu muito dos homídeos ao homem
moderno, pela filogênese, e parece que atualmente o
cerebelo é um dos órgãos que provoca o “disparo”
necessário para a execução de um movimento pela
área motora primária.
Uma das partes mais importantes do cerebelo é
o circuito lateral. Ao mesmo tempo em que as
informações descem para os núcleos da base, chegam
ao tálamo e voltam ao córtex cerebral, também se
inicia o mesmo processo de fomento de informações no
cerebelo. Quando o movimento chega à área 6, no
aguardo para ser “disparado” pela área 4, o cerebelo
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 97
envia as informações das sinergias musculares
necessárias às coordenações musculares, às unidades
motoras.
O cerebelo, então, coordena a entrada dos
músculos na sequência correta para que o movimento
seja executado com precisão; e o faz através do núcleo
lateral do tálamo, conectando-se através de sua porção
ventral lateral (VLC) diretamente à área 4.
Tudo o que o cerebelo faz é operacionalizar,
diante da força direcionada pelos gânglios da base,
organizar a entrada dos vários grupos musculares na
sequência do movimento.
O cerebelo, sabendo do que o sistema deseja, e
tendo informações proprioceptivas sobre o que o corpo
está executando, se torna capaz de fazer comparações
do movimento, tornando possível organizar correções,
quando há tempo possível para fazê-lo.
Se as correções não puderem ser imediatas
(como no caso do movimento balístico), o cerebelo se
comunica com o córtex, indicando o erro. O sistema é
tão plástico, que ele corrige, informa e é informado.
Como vimos nessa aula, para executarmos um
simples movimento envolvemos diversas estruturas
neurais que possibilitam sentirmos e organizar nossas
ações. Desenvolvemos e aprendemos continuamente
durante nossa vida.
Aqui terminamos nossa abordagem
neurofisiológica do desenvolvimento, da aprendizagem
e controle motor.
Vamos verificar seus conhecimentos em
algumas abordagens da quarta aula.
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 98
EXERCÍCIO 1
Descreva a importância dos neurônios para o
movimento.
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EXERCÍCIO 2
Descreva a função do cerebelo e do córtex motor.
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RESUMO
Vimos até agora
Conceitos da motricidade como resultado de
traduções e organizações perceptivas e motoras
expressas em movimentos, descrevendo os
movimentos como: reflexos, automatizados,
voluntários e involuntários;
Conceitos da motricidade de acordo com seus
aspectos, como: desenvolvimento motor,
aprendizagem motora e controle motor;
Aula 4 | Estruturas Neurais dos Movimentos e da aprendizagem Motora 99
Áreas cerebrais responsáveis pelos
movimentos, assim como o cerebelo e córtex
motor entre outras;
Sistemas periféricos informativos do
movimento;
Hierarquia do controle motor;
O reflexo postural no controle do corpo e do
movimento;
Como a emoção tem importância e interfere
no nosso movimento;
Aspectos gerais da memória para
aprendizagem e execução dos movimentos.
100
Neurociência Educação e Inclusão Marta Relvas
AU
LA
5
Apr
esen
taçã
o
Seja bem-vindo a essa quinta aula que você terá a oportunidade de conhecer algumas noções básicas das chamadas neurociências, além de alguns conceitos essenciais para compreender o funcionamento do sistema nervoso. Além dessa visão mais introdutória, três focos fundamentais desta aula merecem destaque: o primeiro diz respeito ao próprio conceito de aprendizagem onde este é repensado sob a ótica da anatomia neuronal. O segundo foco refere-se aos transtornos de aprendizagem, e as contribuições das neurociências para melhor entender, através da análise neuroanatômica e neuroquímica do comportamento, como estes se originam e como podem ser trabalhados. O terceiro diz respeito ao conhecimento de diferentes linguagens e os sistemas neurais envolvidos na mesma. Por fim, aprenderemos um pouco mais sobre como a nova forma de conceber o sistema nervoso - obtida através de pesquisas recentes nesse campo - tem influenciado não apenas a concepção de aprendizagem, mas também a de inclusão.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Conhecer o que é a neurociência e como esta pode auxiliar no
entendimento da aprendizagem; Entender melhor o funcionamento cerebral a partir de suas
diferentes regiões e responsabilidades funcionais; Desvendar o neurônio, seus constituintes e suas funções; Refletir sobre como as novas concepções do sistema cerebral
influenciaram uma nova percepção da inclusão; Aprender sobre alguns dos principais transtornos e distúrbios
de aprendizagem, diferenciando estes de uma simples dificuldade de aprendizagem;
Conhecer algumas medidas favorecedoras da inclusão que a escola pode tomar no sentido de oferecer condições apropriadas a alunos com dificuldades de aprendizagem;
Aprender quais seriam os sistemas nervosos envolvidos na aquisição da fala, da escrita e da aritmética e como estes funcionam.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 102
Introdução - As Neurociências
O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas do encéfalo, vem a alegria, o prazer, o riso e a diversão, o pesar, o ressentimento, o desânimo e a lamentação. E por isto, de uma maneira especial, adquirimos sabedoria e conhecimento, e enxergamos e ouvimos e sabemos o que é justo e injusto, o que é bom e o que é ruim, o que é doce e o que é amargo... E pelo mesmo órgão tornamo-nos loucos e delirantes, e medos e terrores nos assombram... Todas estas coisas suportamos do encéfalo quando não está sadio... Neste sentido sou da opinião de que o encéfalo exerce o maior poder sobre o homem.
(Hípócrates - Acerca das Doenças Sagradas, século IX a.C)
CONHECENDO AS NEUROCIÊNCIAS E SUAS
APLICABILIDADES NO COTIDIANO HUMANO
Muitas pessoas vivem com limitações funcionais
relacionadas às lesões ou às doenças do sistema
nervoso. As pessoas que apresentam danos encefálicos,
lesões da medula espinhal, defeitos congênitos e
doenças neurológicas têm de se adaptar aos seus
efeitos. Tarefas aparentemente simples como se sentar,
ficar de pé, se vestir, recordar nomes tornam-se
desafios incríveis. Por isso, surge a necessidade de
cada vez mais estudar o sistema nervoso central, para
aprender, pois, atualmente, com a descoberta da
plasticidade neural, surge um novo olhar, uma
esperança tanto para aqueles ditos “padrões normais
da sociedade” quanto para os portadores de outras
deficiências para lidar com o dia-a-dia da vida.
Importante
Neurociências decifram os nossos sentidos, através das janelas da visão, olfato, audição, tato e paladar.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 103
COMO A NEUROCIÊNCIA PODE COLABORAR PARA
O AVANÇO DA INCLUSÃO SOCIAL?
Neurociência é uma ciência nova que trata do
desenvolvimento químico, estrutural, funcional e
patológico do sistema nervoso. As pesquisas científicas
começaram no início do século XIX. Nessa ocasião, os
fisiologistas Fristsch e Hitzig relataram que a
estimulação elétrica de áreas específicas do córtex
cerebral de um animal evocava movimentos, e os
médicos Broca e Wernicke confirmaram
separadamente, por necropsia, danos cerebrais
localizados em pessoas que tiveram déficits de
linguagem após algum acidente.
Em 1890, Cajal, neuroanatomista, estabeleceu
que cada célula nervosa é única, distinta e individual. O
cientista Sherrington, estudando reações, relata que as
células nervosas (neurônios) respondem a estímulos e
são conectadas por sinapses.
Em 1970, desenvolveram-se novas técnicas e
produção de imagens, produzindo com clareza o
encéfalo e a medula espinhal em vida, fornecendo
informações fisiológicas e patológicas nunca antes
disponíveis. Entre as técnicas, existem a tomografia
computadorizada axial (TCA), a tomografia por emissão
de pósitrons (PCT) e a ressonância magnética (RM).
Uma abordagem além dos ditos anteriores
inclui:
NEUROCIÊNCIA MOLECULAR – Investiga a
química e a física envolvidas na função neural. Estuda
os íons e suas trocas necessárias para que uma célula
nervosa conduza informações de uma parte do sistema
nervoso para a outra, reduzindo ao nível mais
fundamental a sensação, o movimento, a compreensão,
Para pensar
Um caminho a desvendar: Portas da percepção – A idéia de cinco sentidos está ultrapassada, há dezenas deles, mas é o processamento sensorial que realmente importa.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 104
o planejamento, o relacionamento, a fala e muitas
outras funções humanas que dependem de alterações
químicas/físicas.
NEUROCIÊNCIA CELULAR – Considera as
distinções entre os tipos de células no sistema nervoso
e como funciona cada um respectivamente. As
investigações com os neurônios recebem e transmitem
informações, e os papéis das células não neurais do
sistema nervoso são questões ao nível celular.
NEUROCIÊNCIA DE SISTEMAS – Tem a
finalidade de investigar grupos de neurônios que
executam uma função comum, através de circuitos e
conexões, como exemplo tem-se o sistema
proprioceptivo, que transmite informações de posição e
movimento do sistema músculo-esquelético para o
SNC, e o sistema motor, que controla os movimentos.
NEUROCIÊNCIA COMPORTAMENTAL –
Estuda a interação entre os sistemas que influenciam o
comportamento, o controle postural, a influência
relativa de sensações visuais, vestibulares e
proprioceptivas no equilíbrio em diferentes condições.
NEUROCIÊNCIA COGNITIVA – Atua nos
estudos do pensamento, da aprendizagem, da
memória, do planejamento, do uso da linguagem e das
diferenças entre memória para eventos específicos e
para a execução de habilidades motoras.
Nos próximos capítulos, abordaremos os
seguintes temas:
Os íons, as funções das células nervosas;
Transmissão das informações entre as células
nervosas;
Importante
PROPRIOCEPÇÃO, uma capacidade bem menos conhecida que a audição, a visão, o paladar, o tato e o olfato. É neste caminho que a neurociência quer alcançar.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 105
A linguagem formada e compreendida;
A capacidade de ficar de pé, de andar e o
controle dessas habilidades, bem como o
processo neurobiológico das emoções;
Patologias/disfunções/transtornos/dificuldades
da aprendizagem humana;
A atuação multidisciplinar dos profissionais
para promover ao máximo a
independência/autonomia e a qualidade de
vida do sujeito aprendente.
Como o cérebro humano aprende e como
guarda saberes
Conhecer a história do educando e tratá-lo como
sujeito único pode mudar o rumo de muitas crianças.
PASSEANDO NA HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO
CÉREBRO HUMANO
Filogeneticamente, o cérebro humano pode ser
dividido em 3 unidades:
Cérebro primitivo (autopreservação, agressão);
Cérebro intermediário (emoções);
Cérebro racional/superior (tarefas intelectuais).
O CÉREBRO PRIMITIVO é constituído pelas
estruturas do tronco cerebral, do cerebelo, do
mesencéfalo, pelos bulbos olfatórios e pelo mais antigo
núcleo da base cerebral. Esse cérebro, anatomicamente
delimitado da forma descrita, corresponde ao cérebro
dos répteis.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 106
O CÉREBRO INTERMEDIÁRIO aparece nos
mamíferos primitivos inicialmente, porém, já tem
estruturas do sistema límbico e corresponde ao cérebro
dos mamíferos inferiores.
O CÉREBRO SUPERIOR, encontrado nos atuais
mamíferos, tais como nos primatas, golfinhos e seres
humanos, compreende a maior parte dos hemisférios
cerebrais, formado por um tipo de córtex e mais
recentemente denominado neocórtex, e por alguns
grupos neuronais subcorticais.
Essas três camadas cerebrais vão aparecendo,
uma após a outra, durante o desenvolvimento do
embrião e do feto (ontogenia), representando,
cronologicamente, a evolução (filogenia) das espécies
até o Homo Sapiens. Observando-se, então, na
superfície medial do cérebro dos mamíferos, uma
região constituída por células cinzentas (neurônios)
formando o lobo límbico e a borda ao redor do tronco
encefálico.
O cérebro mais primitivo é herança evolutiva dos
répteis, e abriga mecanismos neuronais básicos da
reprodução e da autoconservação, o que inclui o ritmo
cardíaco, a circulação sanguínea e a respiração.
Os comportamentos básicos como a seleção do
lugar, a territorialidade, o envolvimento na caça, o
acasalamento, o cuidar da cria e a formação de
hierarquias sociais e a seleção de líderes têm origem
nessas estruturas primitivas, bem como a participação
nos comportamentos ritualistas. Parece que estes
comportamentos formam parte das condutas
burocráticas e políticas do ser humano atual.
O sistema límbico já se encontra em torno desse
cérebro de réptil primitivo, sob a forma de rudimentos
do sistema límbico que existe no ser humano. O comporta-
Importante
Nosso organismo dispõe de marcadores biológicos dos quais nem sequer damos conta, que também têm papel fundamental.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 107
mento dos mamíferos, desde as classes mais inferiores
até as mais desenvolvidas, incluindo os humanos,
difere do dos répteis não só na maior quantidade de
comportamentos possíveis, mas também na qualidade
desses comportamentos, surgindo nos mamíferos a
emoção. É importante, também, saber que as emoções
da fúria são gerenciadas por este sistema límbico, são
praticamente iguais ao gato, a um cão e a um ser
humano submetido a uma situação quando estressado,
demonstra-se, então, que esse tipo de reação não
sofreu mudanças na escala filogenética dos mamíferos.
Também fazem parte, desse sistema límbico, os
sistemas neuroendócrino, neurovegetativo, os ritmos
circadianos e as emoções, como visto anteriormente.
Junto a essa região, encontra-se a amígdala
cerebral que realiza a função da agressividade em
situações emergenciais, acredita-se também ser
responsável pelo comportamento altruísta, o amor,
precisamente o com as crias.
Nas estruturas cerebrais primitivas da agressão,
estudos demonstram que o hipotálamo, o tálamo, o
mesencéfalo, o hipocampo e o núcleo amigdalóide
trabalham atuando em perfeita sintonia, produzindo um
comportamento de ataque, podendo ser acelerado ou
retardado, devido à interação das estruturas, ocorrendo
então uma destrutividade, pois sem elas não haveria a
verdadeira agressão. A verdadeira força da
agressividade está em uma região com grande
quantidade de neurônios, denominada de “armazém
neural” e na emoção processada pelo sistema límbico.
Por último, na evolução cerebral, aparece o
neocórtex que se apresenta em estado rudimentar nos
mamíferos inferiores, e nos primatas sofre grande modifica
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 108
ção, finalmente o desenvolvimento definitivo nos
hominídeos e nos grandes mamíferos aquáticos.
Como uma análise final, pode-se dizer que o
cérebro humano traz em si toda a história da evolução,
tanto a anatômica e a fisiológica, com probabilidades de
ter iniciado na água, quando os peixes desenvolveram
um tubo para transportar os nervos de partes distantes
de seu corpo para um lugar central de controle,
formação esta denominada de neurogênese animal.
Quando ocorre a retirada das amígdalas
cerebrais (que se encontram em duas regiões -
temporal profunda de cada hemisfério), faz com que o
animal se torne dócil, sexualmente indistinto,
descaracterizado afetivamente e indiferente às
situações de riscos. Porém, quando estimulado com
potencial elétrico, provoca crises de violenta
agressividade. No humano, porém, a lesão das
amígdalas faz com que o indivíduo perca o sentido
afetivo da percepção de uma informação de fora para
dentro do organismo/corpo, como a visão de uma
pessoa conhecida, sem que identifique o sentimento de
gostar ou não da pessoa em questão. Funcionando
conjuntamente com o hipotálamo, as amígdalas têm
como função identificar perigos, gerando medo,
ansiedade e estado de alerta, preparando-se para fugir
ou lutar.
Outras regiões do cérebro primitivo
HIPOCAMPO - responsável pelos fenômenos da
memória de longa duração. Quando ocorre lesão nos
hipocampos, não há registros de experiências vividas.
O hipocampo intacto possibilita ao animal lembrar e
comparar as reações vividas anteriormente, permitindo
a melhor opção, garantindo, assim, a perpetuação da
espécie.
Você sabia?
O cérebro é o órgão onde se radicam a sensibilidade consciente, a inteligência, a mobilidade voluntária, por este motivo é considerado como o centro nervoso mais importante de todo o sistema.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 109
TÁLAMO – tem como função a reatividade
emocional do homem e dos animais. O tálamo conecta-
se com as estruturas corticais da área pré-frontal e com
o hipotálamo e, através da via fórnix, com o hipocampo
e o giro cingulado.
HIPOTÁLAMO - região do sistema límbico mais
importante, pois controla o comportamento emocional,
como várias condições internas do corpo, por exemplo,
a temperatura, a vontade de comer e beber são
denominadas funções neurovegetativas internas do
encéfalo. O hipotálamo é a via de comunicação com
todos os níveis do sistema límbico e desempenha
também o papel das emoções especificamente, sendo
que as partes laterais parecem ser envolvidas com o
prazer, e a raiva encontra-se na porção mediana, está
ligada ao desprazer e à tendência das “gargalhadas
incontroláveis”.
Sistemicamente, como a emoção é realizada no
encéfalo?
A via dos estímulos emocionais ocorre de duas
maneiras:
Tomando o hipotálamo como referência:
Os estímulos entram pelos receptores sensoriais,
passam pelo hipotálamo, vindo do sistema límbico
(amígdala) e se dirigem às glândulas, porém, retornam
ao sistema límbico, vindo do próprio hipotálamo aos
centros límbicos e, destes aos núcleos pré-frontais,
aumentando, por um mecanismo denominado de
retroalimentação ou feedback negativo, a ansiedade,
podendo até chegar a um estado de pânico.
GIRO CINGULADO - situa-se na face medial do
cérebro entre o sulco cingulado e o corpo caloso, que é
um feixe nervoso ligando os dois hemisférios cerebrais.
A porção frontal coordena odores e visões com memórias
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 110
agradáveis de emoções anteriores, ainda é responsável
pela reação emocional à dor e pela regulação do
comportamento agressivo. É importante ressaltar que,
na retirada do giro cingulado (cingulectomia) em
animais selvagens, ocorre uma domesticação, enquanto
que a simples secção de um feixe (cingulomia)
interrompe a comunicação neural do circuito de Papez,
reduzindo o nível de depressão e de ansiedade
preexistente.
TRONCO CEREBRAL – responsável pelas
reações emocionais, porém de forma bem primitiva, na
verdade, apenas reflexos.
O tronco cerebral é constituído pela formação
reticular e do locus cerulous, que é um conjunto de
neurônios secretores de noradrenalina, tais estruturas
primitivas participam dos mecanismos de alertas que
são vitais para a sobrevivência, e na manutenção do
ciclo de vigília e sono.
ÁREA TEGMENTAL VENTRAL – é o grupo de
neurônios localizados em uma parte do tronco cerebral
que secreta dopamina. A descarga espontânea ou a
estimulação elétrica desses neurônios produz sensações
de prazer, e indivíduos que apresentam, por defeito
genético, redução no número de receptores dessa área
tornam-se incapazes de se sentirem recompensados
pelas satisfações comuns da vida e buscam novas
experiências, alternativas de prazer.
SEPTO – situado à frente do tálamo, em cima
do hipotálamo, sua estimulação pode causar diversos
comportamentos como, por exemplo, as sensações de
prazer e experiências sexuais.
ÁREA PRÉ-FRONTAL - Conectadas com o
tálamo, a amígdala cerebral e outras áreas subcorticais
Para
navegar
Aprofundando os estudos dos hemisférios cerebrais: http://www.epub.org.br/em/home.htm da revista Cérebro e Mente. Revista eletrônica de divulgação científica em Neurociência.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 111
explicam o importante papel que desempenham na
expressão dos estados afetivos. Quando o córtex do
pré- frontal sofre lesão, o indivíduo perde o senso de
responsabilidades sociais, bem como a capacidade de
concentração e de abstração. Em alguns, mantêm
intactas a consciência e algumas funções cognitivas
como a linguagem, mas não consegue resolver
problemas mais elementares.
Caso ocorra a prática de lobotomia pré- frontal,
as pessoas entram em “bloqueio afetivo” e não
demonstram qualquer sinal de alegria, tristeza,
esperança ou desesperança, suas atitudes não
demonstram qualquer sinal de afeto.
Maneira fácil de compreender o
funcionamento do sistema nervoso
central e a Educação.
O cérebro é o instrumento da aprendizagem.
(Marta Relvas)
Para se compreender o caminho percorrido das
informações pelos estímulos sensoriais até chegarem
ao cérebro, há de se ter necessidade de uma
abordagem anatômica e fisiológica (forma e função),
porém desejo facilitar essa decodificação. Para isso,
faz-se entender que existem movimentos de conexões
nervosas que são dinâmicas e velozes, devido à
integração entre três sistemas fundamentais para a
construção de saberes do sujeito que aprende. O
primeiro aspecto é o sistema de informação, o segundo
é o da compreensão dos sistemas biológicos e o
terceiro que adentra em nosso cotidiano é o da
cibernética, formando assim uma teia de conectividade.
Importante
Hemisfério esquerdo: função verbal, simbólica, analítica, abstrata, temporal, racional, lógica. Hemisfério direito: função não verbal, concreta, sintética, analógica, não temporal, intuitiva.
Para pensar
O imageamento revolucionou as neurociências por permitir investigar neurônios, resta saber até que ponto poderá explicar o funcionamento da mente.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 112
Diante disso, é fato que diversas dificuldades de
aprendizagens poderão ser resolvidas ou amenizadas
quando os educadores tiverem seus olhares focalizados
na promoção do desenvolvimento dos diversos
estímulos neurais que se expõe de forma a compreender
os processos e os princípios das estruturas do cérebro,
conhecendo e identificando cada área funcional,
visando estabelecer rotas alternativas para a aquisição
da aprendizagem, utilizando-se de recursos sensoriais
como instrumento do pensar e do fazer.
É fundamental que os educadores conheçam as
estruturas cerebrais como interfaces da aprendizagem
e que seja sempre um campo a ser explorado. Para
isso, os estudos da biologia cerebral vêm contribuindo
para a práxis em sala de aula, na compreensão das
dimensões cognitivas, motoras, afetivas e sociais no
redimensionamento do sujeito aprendente e suas
formas de interferir nos ambientes pelos quais
perpassa.
A formação do sistema nervoso nos faz entender
melhor a adaptação sensório-motora dos seres vivos,
por consequência dos sujeitos aprendentes, haja visto
que dos mais primitivos dos humanos ao atual ajustam-
se continuamente ao meio ambiente, que é mutável,
com a finalidade de preservação da espécie.
Para isso, três aspectos são fundamentais para a
adaptação dos indivíduos ao meio ambiente:
irritabilidade, condutibilidade e contratilidade que são
realizadas no sistema nervoso, através de estruturas
microscópicas denominadas neurônios.
A irritabilidade é a propriedade em que a célula
detecta as modificações do meio ambiente. Tal
sensibilidade celular causada por um estímulo é
conduzida a outra parte da célula por intermédio da
Você sabia?
Através do imageamento cerebral, é possível mostrar córtex, e amígdala cerebral ativados durante o reconhecimento de expressão facial. Emoções e aprendizagem para sobrevivência da espécie.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 113
condutibilidade. E a contratilidade é a propriedade que
garante o movimento da célula, realizando, assim,
muitas vezes, a defesa do organismo.
Então, após toda essa sistematização, pergunta-
se: Para que serve o sistema nervoso central? Qual a
ligação com o aprender?
O sistema nervoso coordena as atividades
internas e externas do organismo, produzindo uma
integração e a busca em manter a homeostase
(equilíbrio) do indivíduo com o mundo externo.
Anatomia da aprendizagem
A ativação de uma área cortical, determinada
por um estímulo, provoca alterações também em
outras áreas, pois o cérebro não funciona com regiões
isoladas. Isto ocorre devido à existência de um grande
número de vias de associações, precisamente
organizadas, atuando nas duas direções. Estas vias
podem ser muito curtas, ligando áreas vizinhas que
trafegam de um lado para outro sem sair da substância
cinzenta. Outras podem constituir feixes longos e
trafegam pela substância branca para conectar um giro
a outro, ou um lobo a outro, dentro do mesmo
hemisfério cerebral. São as conexões intra-
hemisféricas. Por último, existem feixes comissurais
que conduzem a atividade de um hemisfério para outro,
sendo o corpo caloso o mais importante deles.
As associações recíprocas entre as diversas
áreas corticais asseguram a coordenação entre a
chegada de impulsos sensitivos, sua decodificação e
associação, até a atividade motora de resposta. A isto
chamamos de funções nervosas superiores,
desempenhadas pelo córtex cerebral.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 114
LOBO FRONTAL
O córtex pré–frontal está relacionado com as
funções superiores representadas por vários aspectos
comportamentais humanos. Recebe impulsos nervosos
dos lobos parietal e temporal através de feixes de
longas fibras de associações situados no giro do
cíngulo. Lesões bilaterais da área pré-frontal
determinam perda da concentração, diminuição da
habilidade intelectual e déficit de memória e
julgamento.
Incluem-se três giros frontais, o giro orbital, a
maior parte do giro frontal medial e, aproximadamente,
a metade do giro do cíngulo.
LOBO TEMPORAL
Possui funções situadas em porções diferentes.
A parte posterior está relacionada com a recepção e a
decodificação de estímulos auditivos, que se coordenam
com impulsos visuais; a parte anterior está relacionada
com a atividade motora visceral (olfação e gustação) e
com alguns aspectos dos comportamentos instintivos.
LOBO PARIETAL
Está relacionado à interpretação, à integração de
informações visuais (provenientes do córtex occipital) e
somatossensitivas primárias, principalmente o tato. A
lesão do córtex primário occipital determina a perda do
campo visual, enquanto que as lesões do lobo parietal
resultam na perda do conhecimento geral, na
inadequação do reconhecimento de impulsos sensoriais
e na falta de interpretação das relações espaciais
(visual, espacial e motora).
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Importante
Quando o cérebro recebe as estimulações corretas, uma imensidão de neurônios recobre seu funcionamento normal e outro grande número é despertado para novas tarefas de aprendizagem.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 115
LOBO OCCIPITAL
Esta região realiza a integração visual, a partir
da recepção dos estímulos que ocorrem nas áreas
primárias, levando informações para serem apreciadas
e decodificadas nas áreas secundárias e de associação
visual. Estes centros visuais são conectados por fibras
intra-hemisféricas ao córtex do parietal do mesmo lado,
bem como as outras áreas corticais tais como ao lobo
temporal, para outras atividades integradoras. Além da
integração intra-hemisférica, as áreas parietais direita e
esquerda e as temporais posteriores são conectadas
através do corpo caloso, comunicando os dois
hemisférios pelas fibras comissurais inter-hemisféricas.
RELAÇÃO DAS FUNÇÕES DESEMPENHADAS POR
DIFERENTES REGIÕES
ÁREA CORTICAL FUNÇÕES
Córtex moto primário (giro pré-central) Inicia o comportamento motor
voluntário
Córtex sensitivo primário (giro pós-
central)
Recebe informações sensitivas do
corpo
Córtex visual primário Detecta estímulos visuais
Córtex auditivo primário Detecta estímulos auditivos
Córtex de associação motora (área pré-
motora)
Coordena movimentos complexos
Centro da fala (área de Broca) Produção da fala articulada
Córtex de associação somestésica Base do esquema corporal
Área de associação visual Processa a visão complexa
Área de associação auditiva Processa a audição complexa
Área de Wernicke Compreensão da fala
Área pré-frontal Planejamento, emoção, julgamento
Área temporo-parietal Percepção espacial
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 116
Os neurônios realizam SINAPSES - região em
que ocorre a transformação do estímulo elétrico
(gerado no corpo celular) em estímulos químicos,
mediados pelos neurotransmissores como, por
exemplo, adrenalina, noradrenalina, acetilcolina (ação
excitatória), dopamina, ácido gama aminobutírico
(GABA), ação inibitória, e a serotonina como ação
excitatória ou inibitória.
É importante destacar uma classificação
sistemática dos neurotransmissores organizados
abaixo:
Aminoácidos - Neurotransmissor (GABA,
Glicina, Glutamato, Aspartato);
Pequenas moléculas – Neurotransmissor
(Acetilcolina, Serotonina, Adrenalina,
Noradrenalina, Dopamina);
Peptídeos neuroativos – Neurotransmissor
(Calcitonina, Encefalina, Dinorfina);
Íons e gases – zinco, monóxido de carbono e
óxido de nitrogênio.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 117
Assim, os neurônios são responsáveis pela
recepção, interpretação, produção e condução de
impulsos nervosos de um sistema biológico para outro.
Reinventando e organizando o cérebro -
uma nova concepção para a inclusão
Após estudarmos o SNC e os neurônios,
pretendo desenvolver um novo olhar dirigido à
formação cerebral, farei uma organização a fim de levá-
lo a refletir melhor sobre as várias maneiras que o
cérebro pode se apresentar e realizar tarefas.
Bem, com todos esses cérebros que nós,
humanos, temos, fica mais fácil conversar sobre
MÚLTIPLAS EFICIÊNCIAS para melhor incluir o sujeito
que aprende.
“Somos o que somos por causa daquilo que aprendemos e lembramos”.
Eric Kandel
Genial/Criativo
Individual
Motor
Social
Afetivo
Genial/CriativoGenial/CriativoGenial/Criativo
IndividualIndividualIndividual
MotorMotorMotor
SocialSocialSocial
AfetivoAfetivoAfetivo
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 118
Eficiências como:
O CÉREBRO INDIVIDUAL é o órgão que temos
dentro da caixa craniana, é “meu” e ninguém “tira”,
formado por várias estruturas anatômicas e dividido em
regiões como frontal, parietal, temporal, occipital, cada
uma com suas especificidades, que vimos anteriormente.
É responsável pela cognição, memória, tarefas
intelectuais, decisões e escolhas.
O CÉREBRO SOCIAL é o responsável pelas
relações com o meio, a cultura, a sociedade e os
conflitos, todos precisam conviver em harmonia, claro
que ele depende do cérebro individual para realizar tal
tarefa que é tão árdua e difícil. Ele está representado
nas regiões do pré-frontal, pois requer atenção,
habilidades nas atitudes positivas da personalidade.
O CÉREBRO MOTOR é representado pelos
movimentos do corpo, localiza-se na região parietal, e é
responsável pelas destrezas e refinamentos dessas
habilidades, ele é conjugado ao cerebelo que nos dá a
possibilidade de nos tornarmos eretos e bípedes,
mantendo, assim, o tônus ou a rigidez muscular.
Entendendo os movimentos dos músculos do
corpo para compreender a sua dinâmica e a
multiplicidade.
Como os movimentos musculares acontecem?
Ao compreender a dimensão motora do sujeito,
pode-se perceber o quanto é importante conhecer a
neurofisiologia muscular; pois, em muitos casos,
alterações nesses comandos acontecem, trazendo
então transtornos na locomoção, que em muitas vezes
atrapalham ou não a aprendizagem, isso dependerá de
Para pensar
O cérebro não é uma máquina genética pré-programada, mas uma rede maleável, que podemos,pelo menos em tese, alterar e curar.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 119
como esse sujeito será estimulado para a realização de
suas atividades. O importante é sempre integrar o
sujeito em sua plenitude biológica, psicológica e social.
É necessário que todos os aspectos promovam a
qualidade de vida e a autonomia do humano, a acolhida
sempre será primordial para o sujeito construir a auto-
estima.
O CÉREBRO AFETIVO-EMOCIONAL é
inseparável e fundamental para a realização e a
manutenção de nossas vidas, são sistemas naturais que
organizam as emoções positivas ou negativas,
controlando e equilibrando o comportamento humano.
São várias regiões interconectadas. Existe a integração
de áreas distintas da região cerebral, tais como o
córtex frontal orbital, o córtex cingulado anterior e as
amígdalas cerebrais. O córtex frontal tem um papel
crucial no refreamento da explosão impulsiva, enquanto
que o córtex cingulado anterior ativa outras regiões
para responder o conflito. As amígdalas cerebrais são
pequenas; porém, são uma importante porção do
cérebro, pois estão envolvidas na produção de uma
resposta ao medo e outras emoções negativas.
O CÉREBRO CRIATIVO, INVENTIVO,
GENIAL. Ah! É esse que nós, humanos, estamos
buscando, ou seja, usar todas as potencialidades do
hemisfério direito para resolver problemas e através
dele expressar melhor os nossos desejos, vontades e
sentimentos.
O fascínio pelas descobertas das pesquisas em
neurociências aumentou com o grande estímulo
advindo da década do cérebro. O principal ensinamento
dessa década é que o cérebro tem muito mais
capacidade de sofrer modificações do que se pensava
até alguns anos atrás. Hoje está claro que, antes,
mesmo o cérebro adulto, o qual se pensava ser
imutável, pode ser sede de renovação, a partir de
Você sabia?
O manto da consciência é o córtex; dele dependem nossas funções mais elaboradas, como a capacidade de ler e compreender esta leitura.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 120
algumas áreas com capacidade para gerar novas
células. Essa possibilidade abre inúmeras portas em
pesquisas para o estudo de novas drogas com efeito
sobre o desenvolvimento do sistema nervoso (SN), bem
como para a utilização de técnicas de reabilitação que
usem as JANELAS DE OPORTUNIDADES para o
desenvolvimento de determinadas funções.
Os fatores envolvidos para a aprendizagem
podem ser divididos em:
Fatores relacionados com a escola;
Fatores relacionados com a família;
Fatores relacionados com a criança.
A ESCOLA
Para se ter um bom rendimento e, assim, uma
boa acolhida na inclusão:
Condições físicas da sala de aula como
higiene, boa iluminação, limite aceitável de
número de alunos/turma;
Condições pedagógicas, disponibilidade de
material didático, adequado com a faixa
etária e método pedagógico de acordo com a
realidade da criança;
Condições de corpo docente, que se referem
à motivação, à dedicação, à qualificação e à
remuneração adequada.
A FAMÍLIA
Deve oferecer condições adequadas para que o
ensino e a aprendizagem sejam de sucesso. A
escolaridade dos pais influencia o desempenho na
estimulação da criança para um melhor envolvimento
com os estudos. O hábito da leitura é fundamental para
o desenvolvimento cognitivo da criança.
Importante
A base para explicar a noção da inteligência é o paradigma cognitivo do processamento da informação, o qual é decomposto nos seguintes aspectos: percepção, atenção, memória, raciocínio, intenção, aprendizagem, explicação e generalização.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 121
História familiar de alcoolismo, de drogas e
outros problemas são fatores desagregadores da
família.
A CRIANÇA
Com comprometimentos físicos, destacam-se:
Dificuldades sensoriais, responsáveis pela
aferência perceptiva adequada, sejam visual
ou/e auditiva, podendo ser hereditárias,
congênitas ou adquiridas, agudas ou crônicas.
Exemplos: otite crônica, tonsilites, sinusites
atrapalham a percepção sensorial, interferindo no
processo de aprender.
A criança que não escuta bem, frequentemente
parece desatenta, inquieta.
Portadores de estrabismo convergente, sendo
tratados tardiamente, a cirurgia só será
estética, pois a visão não se estabelecerá
mais e estará instalada a ambliopia;
Miopias, astigmatismo, hipermetropia.
Portanto, tanto a percepção auditiva como a
visual devem fazer parte do exame da criança na
escola.
Outras doenças como hipotireoidismo,
parasitoses, anemia, doenças reumáticas, nefropatias,
cardiopatias, desnutrição, pneumopatias e doenças
imunoalérgicas, também, implicam grave e complicado
desempenho escolar.
Com comprometimentos psicológicos:
Importante
O cérebro possui a capacidade de exibir imagens internas e de ordenar essas imagens num processo chamado pensamento.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 122
Ao entrar na escola, a criança pode desenvolver
alguns transtornos psicológicos como a timidez, a
insegurança, a ansiedade, a baixa auto-estima, a
necessidade de afirmação e a falta de motivação. Portanto,
pode ocorrer a evolução dos transtornos quando
associados aos conflitos, destacando-se as fobias, a
depressão, o transtorno de humor, o transtorno
opositor desafiante e a conduta anti-social. Muitas
vezes, confundimos com déficit de atenção e
hiperatividade.
Comprometimentos neurológicos:
As situações mais frequentes, mas não causas
primárias das dificuldades para aprender, são as
seguintes:
Deficiência mental, paralisia cerebral, epilepsia
serão abordadas posteriormente.
A criança não aprende por apresentar algum
grau de comprometimento mental. Encaminhar e
avaliar através de atendimento pedagógico por
testagem psicométrica, pois não se trata de um caso
com dificuldades de aprender, mas, com potencial
intelectual rebaixado, por isso o ponto de vista
pedagógico é fundamental.
Exame neurológico como eletroencefalograma,
para a avaliação de epilepsia, com ausência infantil,
com crises parciais motoras sensoriais, é de primordial
importância para detectar tal transtorno, pois muito
auxiliará o fazer pedagógico para acompanhar o
desenvolvimento da criança comprometida.
As crianças com PC têm dificuldades de aprender
frequentemente, pois dois terços delas têm
comprometimento mental.
Importante
Um bom ensino, por conseqüência, é aquele que se adianta ao desenvolvimento, ou seja, que se dirige às funções psicológicas que estão em vias de se completarem. Portanto, desafiar, exigir o intelecto da criança, mesmo com limitações é fundamental para que se conquistem estágios mais elevados de raciocínio, o que poderá ser alcançado se a escola investir na zona de desenvolvimento potencial de educando.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 123
Este é, sem dúvida, um fator limitador para a
aprendizagem, mas um terço das crianças com PC têm
inteligência normal e, em alguns casos, são
superdotadas.
Compreender todos os processos é colaborar na
avaliação cognitiva para não se correr o risco de
manter em escolas especiais crianças com bom
potencial.
Procedimentos a seguir quando a criança
apresenta dificuldades de aprendizagem:
É necessário que haja uma equipe
multidisciplinar e interdisciplinar para conhecer a
criança no seu todo, para não segmentá-la, e sim
avaliá-la e acompanhá-la todo tempo.
Dependendo do caso, essa equipe deve ser
constituída por pedagogo, pediatra, neuropediatra,
psicólogo, psiquiatra infantil, fonoaudiólogo,
otorrinolaringologista, oftalmologista, educador infantil
especializado, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e
assistente social, neuropedagogo...
Múltiplos atendimentos deverão ser
predominantes em cada caso:
Sensitivo-sensoriais - fonoaudiólogo, otorrino,
oftalmologista, neuropedagogo.
Percepto-motores - psicopedagogo,
psicomotricista, terapeuta ocupacional,
neuropedagogo.
Motores - fisioterapeuta, psicomotricista,
terapeuta ocupacional;
Emocionais - psicólogo, psiquiatra;
Sociais - assistente social para apoio da família,
neuropedagogo.
Quer
saber mais?
A Lei Pública Americana, P.L. 94-142, diz que: “Dificuldade de aprendizagem” específica significa uma perturbação em um ou mais processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se por uma aptidão imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. O termo inclui condições como deficiências perceptivas, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e afasia de desenvolvimento. O termo não engloba as crianças que têm problemas de aprendizagem resultantes principalmente de deficiência mental, de perturbação emocional ou de desvantagens ambientais culturais ou econômicas. Federal Register, 1977.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 124
Após detecção dos principais problemas que
interferem na aprendizagem, o escolar é encaminhado
para o tratamento específico e deve ser acompanhado
constantemente, pois em cada momento o foco deve
estar centrado nas dificuldades da criança.
Abaixo, relaciono algumas patologias associadas
às dificuldades de aprendizagem:
Epilepsia;
Transtorno de humor bipolar;
Transtorno de humor depressivo;
Transtorno da ansiedade;
Transtorno de conduta;
Transtorno de tiques;
Transtorno de déficit de atenção.
RELAÇÃO ENTRE ALGUMAS DOENÇAS
NEUROPSIQUIÁTRICAS E O NEUROTRANSMISSOR
- PESQUISAS ESTÃO SENDO DESENVOLVIDAS
Várias doenças antes consideradas como
psiquiátricas e que excluíam pessoas do convívio social,
hoje, estão entre as doenças orgânicas neurológicas.
São a esquizofrenia, o transtorno obsessivo-
compulsivo, a síndrome de Gilles de la Tourette
(transtornos dos tiques), a depressão, as psicoses, e o
autismo.
Estudos sobre a doença de Parkinson trouxeram
muitas informações importantes como as alterações
motoras observadas que dependem da maior produção
do neurotransmissor dopamina, outra situação
verificada foi a alteração no comportamento, na
motivação, levando à depressão e outros sintomas
psiquiátricos, podendo ocorrer melancolia, perda da
auto-estima, ansiedade e pensamento suicida.
Para
navegar
The Human Behavior e Evolution Society http://www.hbes. com/. Trata-se de um grupo interdisciplinar de pesquisa que tem como foco o estudo da natureza humana, incluindo a evolução das nossas emoções, da cognição.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 125
Hoje já é possível identificar alterações
orgânicas em receptores de neurotransmissores nas
pessoas portadoras de esquizofrenia e, com isso, pode-
se ter esperança de uma nova geração de substâncias
químicas psicoativas. Muitas são as doenças
neuropsiquiátricas que têm substrato orgânico com
baixa ou excessiva produção de neurotransmissores.
A serototonina está envolvida em algumas
patologias como transtorno do pânico, transtorno
obsessivo-compulsivo, percepção da dor, regulação das
atividades viscerais, algumas funções cognitivas,
afetivas e neuroendócrinas. Medicamentos e alimentos
que determinam aumento na produção da serotonina
têm ação antidepressiva e antipânico.
Observe o quadro abaixo, ele contém a relação
entre doenças X neurotransmissor.
APRENDER A LER E A ESCREVER PERPASSA PELA
COMPREENSÃO HUMANA
A aquisição deste sistema de comunicação
humana é extremamente complexa e envolve todas as
áreas cerebrais para que se desenvolva.
DOENÇAS NEUROTRANSMISSOR
Doença de Parkinson Falta Dopamina
Coréia de Huntington Falta GABA, Acetilcolina, Serotonina e Encefalina
Gilles de la Tourette Falta Acetilcolina e Serotonina, excesso de
Dopamina
Esquizofrenia Provavelmente excesso de Dopamina
Psicose Maníaco/depressiva Disfunção dos níveis de Serotonina e
Catecolamina
Síndrome do Déficit de
Atenção
Falta Noradrenalina
Dica de filme
“Hormônios controladores da vida”. Discovery Channel.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 126
Não existe nada mais inteligente e intrincado
para o cérebro do que se capacitar para a leitura e para
a escrita.
É nesse papel que o educador tem
responsabilidade, pois não basta ler ou escrever sinais,
e sim dar sentido a todos os estímulos recebidos. Por
isso, a leitura e a escrita não dependem apenas de
sistemas biológicos descritos nas explicações
anteriores, mas também da cultura de quem lê.
A boa leitura e a escrita dependem de bons olhos, bons ouvidos, bom cérebro e boa cultura.
(Marta Relvas)
EXERCÍCIO 1
Qual a relação entre o Estudo da Neurociência e a
Educação?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 2
O que significa dizer que um sujeito é possui transtorno
ou uma dificuldade no aprendizado?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Você sabia?
A área de Broca é responsável pela nossa expressão verbal e escrita. É com essa parte do cérebro que juntamos as sílabas de cada palavra de uma forma coerente. Viver sem a área de Broca é um desafio mental.
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 127
RESUMO
Vimos até agora:
A neurociência é uma ciência nova que trata
do desenvolvimento químico, estrutural,
funcional e patológico do sistema nervoso;
Filogeneticamente o cérebro é dividido em:
primitivo, intermediário e racional/superior;
O hipocampo, o tálamo, o hipotálamo, o giro
cingulado, o tronco cerebral, a área
tegmental ventral, o septo e a área pré-
frontal seriam regiões do cérebro primitivo;
O cérebro é o instrumento de aprendizagem e
diferentes regiões corticais participam do
processo de aprender, sendo importante
estudar a anatomia para entender melhor
como este se dá;
O cérebro é constituído de neurônios e que o
ser humano é organizado por 100 bilhões de
neurônios e 10 milhões de conexões
aproximadamente;
Através de uma nova forma de pensar o
cérebro, podemos entendê-lo a partir de suas
múltiplas eficiências tais como o cérebro
individual, o cérebro social, o cérebro motor,
o cérebro afetivo-emocional e o cérebro
criativo;
Para manter o equilíbrio mental, dormir
frequentemente e regularmente, alimentar-se
corretamente, divertir-se, ter um horário
regular de trabalho e praticar exercícios são
medidas recomendáveis;
Aula 5 | Neurociência, Educação e Inclusão 128
Que os transtornos de aprendizagem não são
meras dificuldades de aprendizagem,
devendo ser entendidos como inabilidades
específicas em indivíduos que apresentam
resultados significativamente abaixo do
esperado para seu nível de desenvolvimento,
escolaridade e capacidade intelectual;
Que a escola inclusiva precisa reunir
condições físicas, pedagógicas e de equipe
favoráveis à inclusão, sendo a participação da
família uma necessidade fundamental;
Que o amadurecimento das linguagens
relativas à fala, à escrita e à aritmética
dependem do amadurecimento
neurofisiológico das estruturas cerebrais;
Que os principais distúrbios de leitura são a
alexia e a dislexia; de escrita são a agrafia, a
disortografia, a discaligrafia e a disgrafia; e
de aritmética são a acalculia e a discalculia,
podendo esta última ser mental ou gráfica;
Que vale estar atento às novas pesquisas em
neurociências para entender melhor a
complexidade cerebral envolvida no ato de
aprender.
129
Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem Marta Relvas
AU
LA
6
Apr
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taçã
o
Nesta aula aprofundaremos alguns aspectos teórico-conceituais analisados na anterior no que diz respeito à contribuição das neurociências, da plasticidade cerebral e da inteligência humana. Mas engana-se quem achar que esta é apenas uma aula de revisão e aprofundamento, uma vez que estaremos, também, aprendendo novos conceitos e proposições teóricas que ainda não tínhamos nos deparado. Um bom exemplo disso são as contribuições teóricas de Goleman (Inteligência Cognitiva e Emocional) e de Gardner (Inteligências Múltiplas). Visando alcançar esses objetivos, esta aula foi dividida em quatro momentos: no primeiro, analisaremos algumas das principais síndromes envolvidas com a Educação Inclusiva e a contribuição das neurociências para lidar com as mesmas no âmbito escolar e no familiar. Num segundo momento, refletiremos sobre a criança com limitações na aprendizagem e as atenções especiais de que ela necessita, dando um destaque especial a alguns tipos de síndromes. Num terceiro momento, aprofundaremos o conceito de plasticidade cerebral visto na aula anterior, pensando como este se aplica ao entendimento da necessidades especiais e a educação inclusiva como um todo. Num momento final, consideraremos as teorias da inteligência emocional e das inteligências múltiplas.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Uma melhor compreensão de como as neurociências podem contribuir
para o entendimento das necessidades especiais de aprendizagem e o tipo de suporte que elas podem favorecer àqueles que trabalham com aprendizagem.
Analisar o emprego de atividades lúdico-pedagógicas específicas que podem ser aplicadas como suporte para potencializar a inteligência.
Entender a importância da teoria da plasticidade cerebral e suas contribuições para a compreensão do cérebro normal e do cérebro lesionado;
Uma melhor compreensão de como as teorias das inteligências múltiplas e da inteligência emocional contribuíram e podem contribuir para um melhor entendimento do processo de aprendizagem e de como lidar com as dificuldades envolvidas no mesmo.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
131
Introdução
Enquanto redijo este texto, muitas crianças
estão nascendo com algum tipo de limitação motora,
afetivo/emocional, social. Talvez uma cegueira, uma
paralisia cerebral, uma síndrome de Down ou sofrendo
um acidente, tornando-se um portador de necessidades
e atenção especial, ou mesmo na transformação do
processo de envelhecimento celular, limitando-se nos
seus afazeres e prazeres da vida.
Essa situação não faz escolhas, pode ser de
classe econômica financeira alta ou não, enfim, o
confronto com a realidade inesperada demandará
ajustamentos e adaptações orgânicas/mentais e sociais
para lidar com uma nova situação.
Outros comportamentos inadequados podem
aparecer no adulto como compras excessivas,
bebedeiras, atos ofensivos, promiscuidade sexual e
outros temerários são comuns, bem como julgamentos
inadequados.
O sujeito cerebral e suas inteligências:
emocional, múltiplas – entender para
incluir
Entender os mecanismos de funcionamento da
memória humana constitui um dos grandes desafios da
ciência moderna. As inteligências que atuam no cérebro
e contribuem para a utilização da memória dividem-se
em emocional e múltiplas. Todavia, executando-se a
inteligência artificial, todas as outras inteligências são
parte de herança genética humana e os níveis básicos
de cada uma se manifestam universalmente e
independentes da educação e da cultura. O cérebro
humano encontra-se anatomicamente partido ao meio.
Existe uma divisão de papéis entre esses hemisférios.
Dica de filme
A história de Brooke Ellison. Como uma borboleta. Casamento proibido.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
132
Na maioria das pessoas, o direito é responsável pela
percepção espacial, atividades artísticas, musicais e
criatividade. É o lado emocional e intuitivo do cérebro.
Já o hemisfério esquerdo é o lado racional e analítico. A
ele cabem o domínio da linguagem, a matemática e o
pensamento lógico. A maioria das pessoas escreve com
sua mão direita, comandada pelo hemisfério esquerdo.
Mas, se os centros responsáveis pela fala e escrita
estiverem instalados na metade direita do cérebro, o
indivíduo será canhoto.
Discorrer sobre inteligência e aprendizagem não
é uma tarefa fácil, mesmo considerando que o assunto
é de grande interesse científico. Os estudiosos têm tido
dificuldades em encontrar um método adequado para a
observação da inteligência, o que dificulta as pesquisas.
Entre os autores, destacamos Eduard Claparède, Alfred
Binet, Teodore Simon, Sherman, Feldman, Daniel
Goleman, Howard Gardner, Maturana.
Os conceitos, estudos e métodos concernentes a
estes temas, bem como sua aplicação nas escolas, nas
empresas e na vida diária, são de valor ímpar para o
crescimento e o desenvolvimento eficiente da
inteligência e da aprendizagem humana.
Pode-se considerar que todos os seres vivos são
inteligentes, pois buscam alternativas de situações
problemas, desde o vegetal mais simples ao realizar a
fotossíntese para sobreviver, como o humano
realizando cálculos espaciais para o lançamento de um
O desenvolvimento desse capítulo visa apresentar os conceitos primários, explicar o que se entende, descrever os diversos tipos de inteligências, destacar os tipos de testes realizados, os conceitos de Q.I. e Q.E., as pessoas consideradas excepcionais, ressaltar a importância da aplicação dos diversos tipos de inteligências na educação escolar.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
133
foguete. A inteligência existe por uma questão de
SOBREVIVÊNCIA da espécie.
Porém, nem tudo é tão simples assim. Vamos
desvendar os períodos da história do desenvolvimento
das pesquisas sobre inteligência.
PLATÃO – 427 - 347 a.C. – o primeiro a crer
que a inteligência vinha da cabeça por ter
forma aproximada de uma esfera, que
considerava o símbolo da perfeição.
ARISTÓTELES – 384 – 322 a.C. - acreditava
que a mente se encontrava no coração, pelo
fato de ser órgão quente e pulsante. Para ele,
a cabeça servia como refrigeração do corpo.
LEONARDO DA VINCI - 1452 – 1519 - célebre
artista fez desenhos detalhados da fisiologia
humana, acreditava que o pensamento vinha
do cérebro. Mas não se sabia como.
RENÉ DESCARTES - 1596 – 1650 – com sua
frase “penso, logo existo”, o filósofo francês
consagrou a tese de que o pensamento podia
viver dentro da cabeça, mas era algo
imaterial como a alma.
Os antigos procuravam medir a inteligência pelo
tamanho do crânio e da testa. Sempre houve interesse
em medir o grau de inteligência entre alunos de uma
escola, empregados de uma empresa, mas não havia
um meio para se fazer com exatidão a medida da
inteligência. Um dos primeiros estudiosos a formular
teste de inteligência foi Hermann Ebbinghaus, psicólogo
alemão, aproximadamente em 1900. Para determinar o
desenvolvimento mental de seus alunos, tomaram várias
sentenças das quais omitiam palavras pedindo aos
alunos que preenchessem os espaços em branco. O
governo francês, impressionado com o grande número
de reprovações nas escolas primárias, pediu ao Dr.
Alfred Binet, diretor dos Laboratórios de Psicologia
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
134
Experimental de Sobornne, em 1904, que resolvesse
esse grave problema.
Binet atribui o grande número de reprovações ao
fato de as classes serem heterogêneas, isto é, em uma
única classe havia alunos bem desenvolvidos em
inteligência e também outros pouco desenvolvidos
intelectualmente. Reuniu-se, então, ao Dr. Theodore
Simon para juntos encontrarem um padrão para
medirem a inteligência das crianças. Ambos julgaram
necessário encontrar um meio para medir o raciocínio,
a capacidade de adaptação de julgamento e a
capacidade de crítica.
CONCEITO DE INTELIGÊNCIA
Existe uma infinidade de definições sobre a
inteligência, mas muitos autores a definiram como “a
capacidade de aprender”.
Um deles enfatiza um ajustamento ou adaptação
do indivíduo ao meio, isto é, segundo essas definições,
a inteligência seria a capacidade de resolver problemas
novos, de modo que a pessoa mais inteligente seria aquela
que mais facilmente consegue mudar o seu
comportamento em função da existência da situação,
de conceber novas maneiras de enfrentá-las.
Um segundo grupo de definições diz que a
inteligência é a capacidade de aprender. O indivíduo
mais inteligente seria o que apreende mais e mais
depressa.
Um terceiro tipo de definições postula que a
inteligência é a capacidade de pensar abstratamente,
isto é, de utilizar os conceitos e símbolos das mais
variadas situações, principalmente símbolos verbais e
numéricos.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
135
Estas três maneiras de conceber a inteligência,
na verdade, não se excluem mutuamente. São, antes
disso, aspectos de um mesmo processo.
Claparède definiu inteligência como a capacidade
de resolver situações novas por meio de pensamento.
Diz ele que, quando uma pessoa realiza alguma ação,
sua atividade se transforma em hábito, e, portanto, há
muitas atividades que realizamos sem usar o intelecto
como, por exemplo, as habituais, as reflexivas e as
intuitivas. Sempre, porém, que estamos diante de uma
situação pela primeira vez e não temos outros recursos
aos quais invocar (hábitos, reflexos, instinto),
precisamos recorrer à inteligência.
Trabalhos realizados por Binet e Simon fizeram
um teste para medir a inteligência, a atenção e a
memória da criança, denominado de escala Binet-
Simon. O trabalho de Binet-Simon permitiu a
classificação das crianças em normais, subnormais
(retardadas) e super normais.
CONCEITUAÇÃO DE INTELIGÊNCIA DE ACORDO
COM OS SEUS PESQUISADORES
Segundo Daniel Goleman, inteligência é emoção,
e o raciocínio se mede pelo quociente emocional (Q.
E.). O autocontrole das emoções determina a
inteligência. Tese desenvolvida pela Universidade de
Harvard, defende o livro “Emotional Intelligence”.
As pesquisas mostram que as crianças que têm
dificuldades de relacionamento na escola têm oito
vezes mais chances de fracassar em suas ambições.
Outro indicador importante: crianças que não sabem
controlar a gula enviando sinais de um perigoso
descontrole emocional. Ele avalia, por exemplo, que os
impulsos da gula são mais resistentes ao autocontrole
do que os da raiva.
Para pensar
Segundo o pesquisador, as crianças que aprendem a controlar suas emoções têm maior potencial de inteligência e mais chance de êxito na vida afetiva e profissional. Quanto mais a criança dominar seus impulsos e aprender a negociar com os outros para realizar seus desejos, mais inteligente ela será. Esse tipo de inteligência não se mede com um teste numérico.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
136
Aqueles que aprendem na infância a negociar a
satisfação de seus desejos, tornam-se adultos mais
habilitados na busca da própria felicidade.
Para Goleman, entre as emoções, o controle da
ansiedade é o mais controvertido. Ele diz que um pouco
de ansiedade é ótimo para apurar a rapidez de
raciocínio e aumentar a concentração, mas alerta que a
ansiedade em excesso paralisa o cérebro.
O mais importante, no que se refere à
ansiedade, é saber administrar a carga de trabalho
para não atingir nível de estresse. Afinal, entre os
requisitos da inteligência emocional, está a capacidade
de negociar mesmo para melhor atingir objetivos,
numa equação de custos e benefícios.
Sua pesquisa é bem aceita pelos educadores
brasileiros, pois a maioria concorda que o autocontrole
dos impulsos sofre influência decisiva no ambiente familiar
e que faz parte do afeto dos pais saber a hora de dizer
não. O potencial de inteligência está associado à
capacidade de percepção e o afeto dos pais é o maior
estímulo.
O autocontrole favorece a curiosidade,
estimulando a inteligência. Isto se aprende, na infância,
em casa e na escola. Mas os adultos também podem
ampliar seu potencial de conexões cerebrais, ainda que
muito menos do que as crianças, exercitando-se contra
a rigidez de idéias e se abrindo para a vida.
HOWARD GARDNER SOBRE OS ASPECTOS DA
MULTIPLICIDADE
De acordo com as inteligências múltiplas, cada
inteligência deve apresentar um grupo de componentes
que formam a base do mecanismo de processamento
de informações necessárias para lidar com um
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
137
determinado tipo de material. A teoria das inteligências
múltiplas afirma que as habilidades para se compor
uma música, construir um computador ou uma ponte,
organizar uma campanha política, produzir um quadro
requerem algum tipo de inteligência, mas não
necessariamente o mesmo tipo de inteligência, por isso
sendo considerada múltipla.
INTELIGÊNCIA LINGUÍSTICA – é a habilidade
de usar a linguagem para convencer, agradar, estimular
ou transmitir idéias. Seus comportamentos centrais são
uma sensibilidade para os sons, ritmos e significado das
palavras e uma especial percepção das diferentes
funções da linguagem.
Área cerebral responsável por essa inteligência:
área de comunicação, nas estruturas de Wernicke e
Broca, região parietal.
LÓGICA MATEMÁTICA - manifesta-se na
facilidade para o cálculo, na capacidade de perceber a
geometria nos espaços, raciocínio dedutivo.
Área responsável - todas as conexões neurais do
encéfalo e pré-frontal.
CORPORAL CINESTÉSICA – habilidade para
resolver problemas ou criar produtos utilizando o
próprio corpo de diversas maneiras. Envolve tanto a
autocontrole corporal quanto a destreza para manipular
objetos.
Área parietal superior motora.
ESPACIAL – capacidade de formar um modelo
mental preciso de uma situação espacial e utilizar esse
modelo para orientar-se entre objetivos ou transformar
as características de um determinado espaço.
Para pensar
O educador necessita conhecer as inteligências múltiplas, para compreender a multiplicidade e a singularidade de seus educandos.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
138
Área parietal e temporal do hemisfério direito de
encéfalo.
MUSICAL – é a habilidade para produzir ou
reproduzir uma peça musical, para discriminar sons,
perceber temas musicais, ritmos.
Área das regiões temporais dos hemisférios
direito e esquerdo do encéfalo.
INTERPESSOAL – habilidade de compreender
as outras pessoas, entender humores, temperamentos
e motivação de outras pessoas. Esse tipo de
inteligência ressalta nos indivíduos de fácil
relacionamento pessoal, como líderes de grupo,
políticos, terapeutas, professores.
Área relacionada é a região do pré-frontal e
frontal no encéfalo.
INTRAPESSOAL – é a inteligência do
correlativo interno; é a habilidade para ter acesso aos
próprios sentimentos, sonhos e ideais, para utilizar-se
em prol da solução de problemas.
É a competência de uma pessoa para conhecer-
se e estar bem consigo mesma, administrando seus
sentimentos e emoção a favor de seus projetos.
Áreas envolvidas nesta inteligência são o
sistema límbico/hipotálamo/neuroendócrino, bem como
a região pré-frontal do encéfalo.
PICTÓRICA – é a faculdade de reproduzir,
através de desenhos, objetos e situações reais ou
mentais.
Área cerebral de ação é a mesma relacionada à
espacial.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
139
NATURALISTA – é a inteligência que se
manifesta em pessoas que possuem, em intensidade
maior do que as outras, uma atração pelo mundo
natural, extrema sensibilidade para identificar e
entender a paisagem nativa e, até mesmo, um certo
sentimento de êxtase diante do espetáculo não
construído pelo homem.
Área ligada ao hemisfério direito do encéfalo,
bem como sistema hipotálamo/hipofisário/pineal.
A RELAÇÃO ENTRE AS FORMAS DE INTELIGÊNCIA
E A EDUCAÇÃO
A questão da definição perfeita de inteligência é
um dos motivos que obriga os cientistas cada vez mais
a estudarem a sua forma e estrutura.
Numa visão tradicional, inteligência é definida
operacionalmente como a capacidade de responder a
itens em testes de inteligência, enquanto às múltiplas
inteligências implica novos paradigmas para a
educação, pois determinam que os alunos sejam
construtores do seu conhecimento. Neste processo, a
intuição e a descoberta são elementos fundamentais
para a construção do conhecimento. Neste novo modelo
educacional, o aluno deve ser considerado um ser total
que possui outras inteligências além da linguística e da
lógica matemática, que devem ser desenvolvidas, e o
professor o facilitador do processo de aprendizagem, e
não mero transmissor de informações prontas.
DISTINÇÃO ENTRE INTELIGÊNCIA INTELECTUAL E
EMOCIONAL
As duas acrescentam, isoladamente, às
qualidades de uma pessoa, onde na medida em que
cada uma tem tanto inteligência cognitiva quanto
emocional, essas margens se misturam. Mas mesmo
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
140
assim, a inteligência emocional contribui mais ainda
para as qualidades que nos tornam plenamente
humanos. Para obtermos uma inteligência emocional
bem distinta, o ser humano tem que conhecer a si
próprio para poder julgar determinadas coisas, as
reflexões demoradas, as vezes que fomos indiferentes
ao que de fato sentiu-se sobre uma determinada
situação, ou tarde demais damos conta desses
sentimentos. Essa maneira é considerada pelos
cientistas em metacognição, ou seja, o que se refere à
consciência do processo de pensar, e metaestado de
espírito para a consciência de nossas emoções, isto é,
que a mente observa e investiga tudo o que está
vivenciando, incluindo as emoções.
A mente humana possui potencial para lidar com
diversos tipos de conteúdos, e um desempenho
incomum tende a ser específico a conteúdos
particulares. Os seres humanos evoluíram até
apresentar diversas inteligências e não se basearam de
formas diferentes em uma inteligência flexível. No
entanto, existe uma combinação e cooperação das
inteligências em qualquer atividade humana complexa.
O cultivo de uma inteligência não implica que as
outras não possam ser adquiridas: indivíduos
diferentes, em culturas diferentes, desenvolvem, em
maior ou menor grau, diferentes tipos de inteligências.
Entretanto, a teoria das inteligências múltiplas não leva
à crença de que o aumento de uma inteligência remeta
ao decréscimo de outra. O problema talvez resida na
tentativa de aplicar modelos de uma sociedade em
outras, com diferentes tradições e histórias, e
diferentes tipos de inteligências favorecidas.
Cada vez mais ocorre um convencimento de que
progresso, sucesso e felicidade humana estão
intimamente ligados a melhores oportunidades
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
141
educacionais, que poderiam ser invocados
esquematizando-se um esforço centrado nas sete
regiões intelectuais, nas quais a maioria dos seres
humanos possui potencial para sólido avanço,
considerando-se, é claro, o contexto cultural no qual
estes indivíduos estão inseridos.
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL X FUNCIONAMENTO
CEREBRAL X APRENDIZAGEM
Atualmente, se aceita a idéia de que temos duas
memórias: uma emocional que se emociona, sente,
comove... E outra racional que compreende, avalia,
julga, analisa, pondera, reflete...
O dualismo razão/emoção se une por meio de
um mecanismo dinâmico, uma impelindo a outra com
grande velocidade na tomada de decisões. Na
realidade, estas duas memórias são complementares.
Para que ocorra a interação para o cérebro. Segundo
Relvas (2005, p. 51), o elemento responsável pelo prazer e
aprendizado situa-se nesta região. A ausência de
libidinação ocasiona problemas conflitantes, impedindo
o processo de aprendizagem.
Aprender é um ato desejante e sua negação é o não aprender. O desejo é movido pelo inconsciente, que nesse momento do aprender ou não aprender responde às informações libidinadas (negação, recusas, omissão, rejeição...).
A autora ressalta da oportunidade a proporção
existente entre emoção, prazer e aprendizado, quando
fala que
A emoção está para o prazer assim como o prazer está para o aprendizado, e a auto-estima é a ferramenta que movimenta os estímulos para gerar bons resultados.
Para refletir
Se até bem pouco tempo perguntássemos “onde moram” no cérebro as inteligências emocionais, seria considerada uma pergunta absurda, quase que banal.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
142
Machado (1980) comenta:
O fenômeno da emoção é muito complexo e nele participam áreas corticais e subcorticais (...) sabe-se que as áreas do cérebro relacionadas com o comportamento emocional ocupam territórios bastante grandes (...).
Goleman (1995) menciona que a amígdala
cortical funciona como um depósito de memória
emocional, afirmando que:
A vida sem amígdala não tem o menor significado do ponto de vista emocional.
Experimentos com animais demonstraram que,
quando há secção ou retirada da amígdala, ocorre
ausência do medo e da raiva, perda do interesse em
competir ou cooperar. Comprova-se, desta forma, que
sentimentos como afeição, paixão e manifestações
como lágrimas, sinal emocional exclusivo dos homens,
são desencadeados pela amígdala cortical.
No funcionamento da amígdala e sua interação
com o neocórtex, está o centro da inteligência
emocional. Quanto mais intenso o estímulo da
amígdala, mais forte o registro; as experiências que
mais nos apavoram ou emocionam na vida estão entre
nossas lembranças indeléveis. Isto significa que o
cérebro tem dois sistemas de memória: um para fatos
comuns e outro para fatos imbuídos de emoção.
O córtex pré-frontal á a região do cérebro
responsável pela memória funcional. Mas os circuitos
que vão do cérebro límbico aos lobos pré-frontais
indicam que os sinais de forte emoção (ansiedade,
raiva e afins) podem criar estática neural, sabotando a
capacidade do lobo pré-frontal de manter a memória
funcional. É por este motivo que, quando estamos
perturbados emocionalmente, costumamos dizer:
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
143
“SIMPLESMENTE EU NÃO CONSIGO RACIOCINAR”. A
contínua perturbação emocional cria deficiência nas
aptidões intelectuais da criança reduzindo e, às vezes,
até mutilando a capacidade de aprendizagem.
O fato de que as áreas encefálicas reguladoras
do comportamento emocional têm também papel
regulador do sistema nervoso autônomo justifica-se
quando observamos que as emoções expressam-se, em
sua maioria, por manifestações viscerais (choro,
aumento de salivação, eriçar dos pêlos) e são
comumente seguidas de alterações na pressão arterial,
no ritmo cardíaco.
RAZÃO E EMOÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM – APRENDER COM A CABEÇA E
COM O CORAÇÃO
Para enfrentarmos o mundo da informação, não
basta, simplesmente, encará-lo com a razão. O melhor
caminho para as convivências sociais do mundo atual é
unir razão e emoção, para que se construa o alicerce
necessário à construção do conhecimento e da
aprendizagem significativa.
O maior desafio do mundo atual das informações
é como organizá-las, como encontrar meios que
viabilizem a organização das informações e que
permitam torná-las disponíveis quando necessárias.
O excesso de informação da atualidade, por
vezes, gera uma certa confusão mental, pois se torna
cada vez mais difícil e complexo compreender e
armazenar esse bombardeio de informações,
ocasionando “congestão mental”. Não há diferença
entre confusão e ausência de informações. Será, desta
forma, inviável chegar ao conhecimento crítico se
pensarmos numa relação puramente racional com as
informações. Quem deseja enfrentar o mundo da
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
144
informação apenas com a cabeça, com abstrações, não
irá muito longe.
Relvas (2005, p.101) diz que:
Sentir com a cabeça e pensar com o coração é colocar-se em ação diante das informações, das multiplicidades, das diferenças. É fazer perguntas diante das afirmações, e abandonar a obsessão pela certeza absoluta e definitiva.
A aprendizagem pode ser considerada como um
compromisso essencialmente emocional. Cabe ao
ensino o compromisso com a motivação, estimulação e
orientação da aprendizagem. Não se pode ensinar a
quem não quer aprender, a quem não se encontra
disponível para as incertezas e busca de conhecimento.
Ensinar consiste fundamentalmente em aprender.
Aprender a enfrentar o desafio de elaborar estratégias,
meios eficazes na mobilização do educando, de sua
emoção em paralelo com a razão.
O papel educacional deve estar centrado na
formação do ser pensante, crítico e transformador, que
desenvolva a capacidade de lidar com os problemas
educacionais e sociais, evitando-se, desta forma, o que
Relvas define como “empobrecimento da espécie
humana”. Deve-se buscar por parte do educando o
autoquestionamento, por mais que este tenha
comprometimentos em dimensões motoras, sociais e
cognitivas. O importante é acreditar no potencial que
cada um de nós tem que desenvolver e projetar-se
para o mundo, sendo um sujeito mais pleno e feliz,
independente de nossas limitações afetivas,
emocionais, motoras, sociais e biológicas.
Se a aprendizagem ocorre num ambiente
motivador, que desperta o gosto, o interesse, este
processo acontece de fato, é verdadeiro, pois tem
significado.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
145
Aprender a aprender é fundamental para uma
sociedade justa e digna. Aprender significativo implica
emocionar-se até certo ponto, sempre que nos
relacionarmos novamente com o conteúdo aprendido.
Quem aprendeu com a cabeça e com o coração tem
constantemente algo a falar sobre o aprendizado,
compartilhando e partilhando com os demais.
AS EMOÇÕES E A PRÁTICA PEDAGÓGICA
De acordo com concepções contemporâneas do
desenvolvimento humano, quando a criança atinge a
idade escolar, as funções neurossensório-motoras e as
demais funções cerebrais (sensação, percepção,
emoção) estão ainda muito confusas e, por isso, a
discriminação entre o seu eu e sua experiência não se
realiza apenas na dimensão cognitiva. Para isso,
segundo Goleman, é necessário uma ação mediadora
da educação, que deve tomar como sua função
promover a construção da afetividade e a organização
dessas funções. Por este motivo, a educação deve
centrar-se na avaliação de quatro pontos:
Como a criança procura resolver suas
dificuldades;
Qual o nível de auto-estima da criança;
Avaliar as características de humor da
criança;
As posturas da criança diante do adulto,
resultantes de sua relação com a família, tais
como nível de autonomia, relação com figuras
de autoridade e relação com estruturas de
poder.
Cabe ao professor, em vez de se deixar
contagiar pelo descontrole emocional das crianças,
procurar contagiá-las com sua racionalidade.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
146
RAZÃO OU EMOÇÃO, QUEM MANDA EM NÓS?
O grande filósofo Hume dizia que precisamos de
paixões para motivar nossas ações. Concordando com
Hume, pode-se afirmar que creditamos boa parte do
progresso da humanidade a nossa imperiosa
necessidade de satisfazer nossas básicas necessidades
emocionais, além de segurança, diversão, conforto,
facilidades para o convívio. A internet, por exemplo,
pode ser vista como um recurso criado pela razão para
aproximar as pessoas, permitir que troquem
informações, independente de sua particular situação
espacial. É a razão sendo usada para providenciar
recursos de contato entre pessoas.
No entanto, é preciso reconhecer que a razão
pode ir um pouquinho além do que propunha Hume.
Acreditamos que seja possível encontrar um lugar para
a razão de tal forma que esta consiga mudar um pouco
daquilo que desejamos. É possível, inclusive, dizer que
boa parte do progresso da humanidade se deve à
restrição de certos impulsos emocionais, devido a uma
troca racional deles por outras formas de satisfação.
A razão intervém quando se trata de estabelecer
quais são os deveres, quando se trata de lembrá-los na
hora certa de conter um forte desejo. Porém, por
detrás dos ditames da razão, permanece a emoção.
Quando numa dada situação deixa-se o
emocional ganhar, o comportamento da pessoa é
orientado em direção a conveniências emocionais
momentâneas. Selecionam-se atitudes e alternativas
que tenham grande potencial de benefício imediato
para a pessoa e seus familiares, mesmo que possam
significar péssimas opções para eles no futuro. Se
fossem parceiras, as atitudes deveriam ser
selecionadas não apenas por sua significação imediata,
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
147
mas também considerando sua eficácia global, mesmo
que essas atitudes sejam, no curto prazo,
desagradáveis ou constrangedoras.
Outra forma de abuso emocional ocorre quando
este tenta “usar” o racional para providenciar suporte
para intenções inconvenientes. Neste caso, o racional
estará sendo “servo” dos motivos emocionais e as
soluções podem parecer ganhar certa justificação, pois
este racional estaria sendo usado para suportar uma
decisão emocional equivocada. Esta situação recebe o
nome de racionalização: é o uso de “desculpas
racionais” para fugir (ou evitar) a solução de certos
problemas de grande significação emocional.
Finalizando, no que se refere ao dualismo razão e
emoção, concluo que as emoções são importantes para a
racionalidade. Na relação entre sentimento e pensamento,
a faculdade emocional guia as nossas decisões a todo o
momento, atuando de mãos dadas com a mente racional e
capacitando ou incapacitando o próprio pensamento. Da
mesma forma, o cérebro pensante exerce um papel de
administrador de nossas emoções, a não ser naqueles
momentos em que lhe escapam o controle e o cérebro
emocional torna-se licencioso.
Conforme fala-nos Goleman,
Num certo sentido temos dois cérebros, duas mentes, e dois tipos diferentes de inteligência: o racional e a emocional. Nosso desempenho ao longo da vida é determinado tanto pelo Q.I, como também pela inteligência emocional. Isso resolve a antiga concepção de antagonismo existente entre razão e emoção, faz-se necessário encontrar o equilíbrio inteligente entre ambas.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
148
O antigo paradigma defendia um ideal de razão
livre do peso da emoção. O novo paradigma incita o ser
humano a harmonizar a cabeça e o coração.
Face a tudo que trabalhamos juntos até aqui,
espero ter contribuído para você subsidiar a reflexão e
a prática docente. Bem como todas as pessoas
envolvidas direta e indiretamente no mundo da
informação chamada EDUCAÇÃO.
EXERCÍCIO 1
Segundo o músico compositor Caetano Velloso,
“Narciso acha feio o que não é espelho”. Comente esta
frase, relacionando-a com a criança e suas outras
deficiências especiais.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
As neurociências oferecem um suporte
importante não apenas para a compreensão,
mas também no que diz respeito à adoção de
princípios e práticas pedagógicas aplicáveis
aos transtornos, distúrbios e dificuldades de
aprendizagem;
Mudanças ambientais interferem na
plasticidade cerebral e, consequentemente,
na aprendizagem;
Dica de filme
A Maravilhosa Máquina Humana – Reader´s Digest. Coleção Grandes Autores – Atta Mídia e Educação. O Cérebro – série Abril S/A.
Aula 6 | Neurociência Bases neurais da Inteligência Humana e aprendizagem
149
A plasticidade cerebral se dá em função do
próprio desenvolvimento cerebral ou em
função de uma resposta às experiências do
meio;
Segundo Gardner, existem 9 tipos de
inteligência: lógica matemática, linguística,
corporal sinestésica, espacial, musical,
interpessoal, intrapessoal, pictórica e
naturalista;
A aprendizagem pode ser considerada como
um compromisso essencialmente emocional,
cabendo ao ensino o compromisso com a
motivação, a estimulação e a orientação da
aprendizagem, afinal não se pode ensinar a
quem não quer aprender;
Para Daniel Goleman, inteligência é emoção e
esta pode ser medida pelo quoeficiente
emocional (QE). O autocontrole das emoções
favorece a curiosidade, estimulando o
aprendizado e, portanto, para ele, determina
o grau de inteligência.
150
Neurobiologia e a aquisição da Inteligência Cognitiva e a Afetividade Marta Relvas
AU
LA7
Apr
esen
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o
Nessa sétima aula vamos passear entre a inteligência e a afetividade. A ciência admite a existência de dois cérebros, divididos pela diferença de suas funções ligadas às regiões que as operam. As emoções são conjuntos de reações químicas e neurais que ocorrem no cérebro emocional e que usam o corpo como “teatro", ocasionando até as emoções viscerais, que afetam os órgãos internos, de acordo com a sua intensidade. O cérebro emocional é do apetite, do sono, do desejo sexual, da secreção dos hormônios e do sistema imunológico. O cérebro cognitivo é responsável pelo pensamento, pela concentração, pela atenção, pelo controle dos instintos, dos impulsos, pelos comportamentos morais, pelos movimentos voluntários e pela linguagem. O importante na construção dessa relação é saber usar essas competências para uma melhor qualidade de vida, capacitando o ser humano para suportar as adversidades, sendo generoso e empreendedor, cultivando sempre a equilibração entre e a razão e a emoção.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Refletir sobre a relação entre inteligência e afetividade; Conhecer a evolução da inteligência humana; Ter uma visão integrada das regiões encefálicas; Discutir sobre razão e emoção, principalmente razão e emoção
no processo de ensino aprendizagem; Reconhecer como se aprende com a cabeça e com o coração.
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
152
Inteligência e afetividade
As nossas emoções são uma fonte valiosa de
informação e ajudam-nos a tomar decisões, estas são
resultado não só da razão, mas da junção de ambas,
associadas a outras competências emocionais que
podem nos levar ao sucesso na construção das relações
no trabalho, tais como:
Tolerância à ambiguidade - É a habilidade
para lidar com o inesperado;
Compostura - Essa competência emocional
tem a ver com a capacidade de absorver
frustrações;
Autoconfiança - É a capacidade de confiar em
si mesmo e de resolver determinadas
responsabilidades;
Empatia - Habilidade para ler nas entrelinhas
e trabalhar com as emoções, os sentimentos
e as motivações dos outros;
Energia - É a capacidade de manter o foco e o
compromisso durante um determinado tempo
e diante de coisas difíceis;
Humildade - É a capacidade de adaptação de
cada um;
Criatividade - É a criação de novas soluções
para velhos problemas;
Planejamento - É a prioridade nas ações.
A evolução da inteligência humana
Um dos mais fascinantes temas da ciência é
como surgiu a inteligência humana ao longo da
evolução dos grandes primatas aos hominídeos
chegando até o ser humano. A inteligência é um tema
fascinante porque nos dá a chave para o tesouro do
entendimento sobre nós mesmos e como a seleção
natural pôde produzir tamanha maravilha como o
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
153
cérebro humano e sua capacidade em tempo tão curto.
Também é uma explanação sobre a natureza da nossa
singularidade no reino animal e porque nós somos
assim hoje.
De fato, muitas facetas da evolução da
inteligência humana são ainda matéria de considerável
mistério, porque ela não pode ser observada
diretamente no registro paleontológico como um osso,
ou os dentes, por exemplo. A evidência reunida por
cientistas sobre a inteligência vem indiretamente a
partir da observação do aumento do tamanho da
capacidade craniana, de artefatos produzidos como
resultado da inteligência humana, tais como a
fabricação de ferramentas, a caça cooperativa e a
guerra, o uso do fogo, e o cozimento de alimentos, a
arte, o enterramento dos mortos, e poucas outras
coisas mais.
Por que ela se desenvolveu em primatas e não em
outros gêneros animais? Provavelmente pela inerente
instabilidade de ambientes territoriais, quando
comparados com os ambientes aquáticos, e quase
certamente devido às séries de mudanças dramáticas no
clima africano em certos pontos da história geológica.
Portanto, os fenômenos probabilísticos podem ser muito
bem a explicação por que estamos agora na posição de
sermos os mais inteligentes de todos os animais da Terra.
Este passo evolucionário foi espetacular porque
deu origem ao círculo cada vez mais rápido de
feedback positivo entre a evolução cultural (trazida
pela linguagem) e o desenvolvimento posterior do
cérebro ao aumentar enormemente o sucesso
reproduzido e às chances de sobrevivência do
organismo assim armados com um cérebro capaz de
alta flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de
aprendizagem. Em um período de um a dois milhões de
Para pensar
O aparecimento da inteligência, juntamente com a linguagem, foi um passo espetacular da evolução animal. Ela apareceu em primatas, mas poderia ter sido desenvolvida igualmente bem em outros mamíferos avançados, tais como golfinhos.
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
154
anos (praticamente um piscar de olhos em termos de
tempo geológico), este poderoso impulso de evolução
neural levou ao que somos hoje e ao que o homem
será nos próximos 100.000 anos.
Há hipóteses atualmente sobre a existência de
uma "massa crítica" de neurônios como um pré-
requisito para a "explosão" evolucionária da
inteligência. Em outras palavras, abaixo de um certo
número de neurônios (ou tamanho do cérebro), a
inteligência é altamente limitada e não leva à invenção,
imaginação, comunicação social, simbólica e outras
coisas que não existem em cérebros não-humanos. Um
número grande de fatores evolucionários convergentes
determinaram um rápido aumento no cérebro e a
complexidade do cérebro de hominídeos e levaram à
primeira espécie verdadeiramente Homo. A massa crítica
foi atingida e, após isso, foi apenas uma questão de
evolução quantitativa.
DEFININDO INTELIGÊNCIA
Mas o que é inteligência? Antes de embarcar em
uma viagem ao entendimento desta evolução, deve-se
conhecer melhor o objeto dessa questão.
Será a inteligência unicamente presente nos seres humanos? É claro que não. A inteligência humana parece ser composta de um número de funções neurais correlacionadas e cooperativas, muitas das quais já estão presentes em outros primatas, tais como a dexteridade manual, visão colorida estereoscópica altamente sofisticada e acurada, reconhecimento e uso de símbolos complexos, coisas abstratas que representam outras memórias de longo prazo . De fato, a visão científica atual é de que existem vários graus de complexidade de inteligência presente em mamíferos e que nós compartilhamos com eles muitas características que anteriormente pensávamos que eram únicas ao homem (tais como linguagem simbólica, como já foi provado que ocorre em primatas).
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
155
Parece que existem tantas definições de
inteligência quanto existem cientistas trabalhando no
campo. De acordo com a Enciclopédia Britânica, "ela é
a habilidade de se adaptar efetivamente ao ambiente,
seja fazendo uma mudança em nós mesmos, ou
mudando o ambiente, ou achando um novo ambiente".
Esta é uma definição inteligente, porque ela incorpora
aprendizado (uma mudança em nós mesmos),
manufatura e abrigo (mudança do ambiente) e
migração (encontrando um novo ambiente). De modo a
nos adaptar efetivamente, o cérebro deve usar todas
estas funções. Portanto, "inteligência não é um
processo mental único, mas sim uma combinação de
muitos processos mentais dirigidos à adapatação
efetiva do ambiente", prossegue a definição da EB -
Enciclopédia Britânica.
Reconhecer quais são os componentes da
inteligência é muito importante em termos de montar
uma "teoria da inteligência". Uma das teorias mais
sólidas e interessantes foi proposta por Sternberg (veja
a tabela) e se relaciona diretamente à evolução. Ele
propõe que a inteligência é feita de três aspectos
integrados e interdependentes: no mundo interno, as
relações com o mundo externo, as experiências que
relacionam ao mundo externo e o interno.
OS COMPONENTES DA INTELIGÊNCIA O mundo interno: cognição 1. processos para decidir o que fazer e o quão
bem foi feito. 2. processos para fazer o que foi decidido ser feito. 3. processos para aprender como fazer.
O mundo externo: percepção e ação
1. adaptação a ambientes existentes. 2. modelagem de ambientes existentes em novos. 3. a seleção de novos ambientes quando os antigos se provam insatisfatórios.
A integração dos ambientes internos e externos através da experiência
1. a habilidade de se adaptar às novas situações. 2. processos para criar objetivos e para planejamento. 3. mudança dos processos cognitivos pela experiência externa.
Para refletir
A inteligência é uma entidade multifatorial, envolvendo coisas tais como a linguagem, o pensamento, a memória, o raciocínio, a consciência (a percepção de si mesmo), a capacidade para a aprendizagem e a integração de várias modalidades sensoriais.
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
156
Um dos melhores exemplos que demonstram os
três aspectos da inteligência é a caça cooperativa nos
hominídeos. O mundo externo é caracterizado por um
terreno extenso tridimensional onde existem animais
muito rápidos, muito grandes ou muito perigosos como
presas em potencial. Aprender como emboscar a presa,
como aproximar-se dela e como matá-la com um
machado de pedra são habilidades cognitivas. Ser capaz
de caçar em vários ambientes, se mover, parar ou ir
quando a caça se torna escassa, fabricar armas de caça,
armadilhas animais são exemplos de processos
relacionados aos mundos interno e externo.
Finalmente, ser capaz de se comunicar e
coordenar a caça com outros seres humanos, delinear
uma estratégia para caçar mais efetivamente, e
desenvolver e sustentar todo o processo de caça por
meio da cognição, percepção e ação são exemplos da
integração entre os mundos interno e externo.
O quanto da inteligência humana, do pensamento,
do raciocínio, da imaginação e do planejamento são
devidos à linguagem? Praticamente tudo, nós poderíamos
dizer. De fato, esses processos são uma espécie de
"processamento interno da linguagem", como se diz. Um
dos mais importantes experts em evolução humana, lan
Tattersall, da Inglaterra, propôs que o sucesso da
humanidade é largamente o resultado da linguagem com
toda a sua riqueza de sintaxe e semântica. A linguagem,
portanto, é fundamental para a nossa capacidade de
pensar, e o intelecto humano e as conquistas que vamos
explicar neste artigo seriam impossíveis sem a linguagem.
Para Tattersall, a linguagem é "mais ou menos sinônimo
com o pensamento simbólico" e isto faz toda a diferença.
Neste contexto, aparece uma das mais
importantes propriedades da mente humana que é a
consciência, ou autopercepção. Nós não temos muitas
evidências se elas existem em outros animais, e
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
157
quando ou onde elas aparecem em humanos pela
primeira vez. Será a autoconsciência um produto da
evolução? Será que ela é vantajosa para a adaptação e
a sobrevivência? A resposta é sim. A autoconsciência
nos permite construir a realidade além de meras
sensações físicas como imaginar uma situação e as
consequências de nossas ações, antes que qualquer
coisa aconteça.
Razão e emoção no processo de ensino
aprendizagem - aprender com a cabeça e
com o coração
O maior desafio do mundo da informação é,
para quem estuda, como organizá-la, como encontrar
critérios que viabilizem a organização da informação e
que permitam, com isto, torná-la disponível quando
necessária. Ora, tais critérios são, antes de tudo,
formas de pensar e de sentir, ou seja, forma de viver.
Quem pretende enfrentar o mundo da informação
somente com a cabeça, com abstrações, não irá muito
longe. O excesso de informação mal compreendida,
mal armazenada, significa o mesmo que confusão. Não
há uma distância entre confusão e falta de informação.
Não será possível chegar ao conhecimento crítico,
inovador, com uma relação meramente racional diante
das informações. Este é o caminho da congestão
mental. O acúmulo de dados, seja em computadores,
seja em cérebros vivos, não representa conhecimento.
A análise, a fragmentação dos dados, sem uma
correspondente síntese, não leva a nenhum
conhecimento útil e pode, pelo contrário, levar a
muitos conhecimentos inúteis.
Podem-se criar várias disciplinas falando de
cidadania, honestidade. Os valores têm de ser vividos,
vivenciados; a crise na educação não é outra coisa
senão a perda de sentido, nos remete à idéia da
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
158
educação ter um sentido coletivo.
Deve-se desenvolver a capacidade de pensar
criativamente o cotidiano, talvez encontremos diversas
soluções paulatinas.
Ver o que não está aparente no conteúdo
programado, no concreto, mas considerar o
crescimento humano que a pessoa adquiriu durante
aquela experiência.
Tudo isso é aprender. E aprender é sempre adquirir uma força para outras vitórias, na sucessão interminável da vida.
(Cecília Meireles)
O grande desafio da sociedade da informação é
estimular uma saudável relação emocional tanto quanto
racional com as informações. Como eu reajo
emocionalmente diante do conhecimento? Se imaginar
que um professor, um programa de computação, um
curso televisivo, ou seja, qual for vai colocar na mente
um determinado conhecimento, então pressuponha-se
que a mente é algo como uma caixa vazia ou um papel
em branco a ser preenchido. Neste caso, pressuponha-
se que é o objeto e não o sujeito do processo de
conhecer. A percepção de quanto a emoção está
ocupando a mente desvia as informações,
relacionando-as em forma de rede com a vida
cotidiana, com os sonhos e desejos. Não estou
percebendo que o discurso do professor ou de alguma
outra fonte de informação é apenas parte do processo
de aprendizado e que, se deixar que essa parte fique
desacompanhada da emoção, do zelo e cuidado, tudo
será um amontoado de palavras ou dados inúteis, uma
perda de tempo, um desperdício em todos os sentidos.
Aprender com a cabeça e com o coração é
colocar-se em movimento diante das informações. É
Para pensar
Aprender com a cabeça e com o coração implica conviver com as incertezas.
Dica da professora
A alternativa é aprender com a cabeça e com o coração.
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
159
fazer perguntas diante das afirmações. É abandonar a
obsessão pela certeza absoluta e definitiva diante do
conhecimento científico, filosófico ou seja lá de que
outro tipo for. É começar a olhar tanto para o texto
quanto para o contexto do texto, quanto para o
processo íntimo de auto-questionamento. Precisa saber
observar os pensamentos e sentimentos, sem agarrar-
se a eles, sem pretender descanso nas convicções, pois
estas podem ser becos sem saída do processo de
aprendizagem.
É tomar o conhecimento sempre dentro de
contextos, sempre ligado a uma perspectiva ou teoria
que o delimite, que permita ver as falhas, as
limitações, as lacunas do próprio conhecimento. Não
posso pretender agarrar-me a algo que considero
passível de afundar a qualquer momento. E se o
conhecimento é aprendido com a razão tanto quanto
com a emoção, há sempre este risco. A emoção
representa, para o conhecimento, seu contexto mais
insondável, algo como um mar aberto em torno de uma
ilha de idéias bem organizadas; ou, no máximo, de um
arquipélago. Conhecer não é percorrer terras planas e
seguras. Conhecer é viajar por espaços delimitados
pela ignorância e pelo risco do retrocesso.
O ensino é um compromisso com a estimulação,
com a provocação, com a orientação da aprendizagem.
Ninguém pode ensinar a quem não se encontra
disponível para as incertezas e em busca de
conhecimento. Não é possível orientar sem aprender a
orientar com o orientado. Ensinar é fundamentalmente
aprender. Aprender a enfrentar o desafio da vinculação
da emoção com a razão no processo de conhecer e,
além disso, enfrentar o desafio de criar meios,
mecanismos, recursos, instrumentos, estratégias e
táticas que mobilizem, no educando, sua emoção em
paralelo com sua razão. Esquecer ou reprimir a
Para refletir
A aprendizagem é um compromisso fundamentalmente emocional.
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
160
primeira em função da segunda, sob a alegação de que
a emoção apenas atrapalha o conhecimento científico, é
retroceder mais de um século na psicologia da
aprendizagem.
Aprender com o aprendiz é buscar, com ele,
maneiras de reconstruir o conhecimento em parceria,
com base nas vivências e reflexões propiciadas pelas
dinâmicas de grupo, pelas circunstâncias geográficas e
históricas vividas no momento da aprendizagem, pelas
varias estratégias de ensino-aprendizagem, valorizando
tanto a análise quanto a síntese, tanto a cultura escrita
quanto a expressão oral, a capacidade de interação e
de estabelecer e cumprir compromissos. Aprender um
conteúdo é não apenas dominá-lo, mas envolver-se
com ele, habitá-lo, transformá-lo em algo renovado
pela vida e que nele depositamos.
Estar em busca de, estar ideologicamente
inquieto, insatisfeito, é pré-condição de aprendizado
efetivo. Ter aprendido algo significativo implica
conseguir emocionar-se, até certo ponto, toda vez que
relacionamos novamente com tal conteúdo. Quem
aprendeu com a cabeça e com o coração, sempre, tem
algo a dizer sobre o que parece ter aprendido.
Consegue reemocionar-se toda vez que se envolve com
o aprendido. Assim, torna-se mais persuasivo,
convincente quando busca partilhar seu conhecimento
com os demais.
A representação do aprendido não é apenas uma
reapresentação do conhecido, em forma racional,
abstrata. É também uma representificação, uma nova
viagem, um novo mergulho.
Para aprender, o sujeito necessita estar apto a
fazer um investimento pessoal no sentido de renovar-
se com o conhecimento. Implica um movimento que
Importante
Aprender é uma aventura e quem ensina não deve interromper a viagem do aprendiz com falsas bóias de salva-vidas.
Importante
Aprender a aprender é realmente o mais importante na sociedade da informação.
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
161
envolve tanto a utilização dos recursos cognitivos
mesclados com os processos internos quanto com as
possibilidades socioafetivas. Vale dizer que a
aprendizagem vai acontecendo à medida que o
aprendiz vai construindo uma série de significados que
são resultados das interações que ela fez e continua em
seu contexto social.
A dimensão da proposta escolar para o novo
milênio, e o seu êxito estão diretamente ligados à
construção de seres pensantes, críticos, com
instrumentos capazes de melhorar o seu social
promovendo a democratização. A vivência da cidadania
plena é aprendida e internalizada na ação social e
emocional.
A plena integralidade do ser humano, entendida
entre a razão e a emoção, entre o subjetivo e o
objetivo, entre o individual e o coletivo, constitui o ser
cidadão, pleno em suas capacidades de exercer seus
deveres e viver seus direitos para redimensionar os
problemas sociais.
Em verdade, cremos que a educação deva ser
um ato de “resgatar a dignidade do ser humano e sua
infinita nobreza”, e propiciar uma convivência em que
todos tenham um espaço digno e sejam mais felizes.
EXERCÍCIO 1
Descreva sobre a relação e interferências que ocorrem
entre a emoção e a razão e vice versa.
____________________________________________
____________________________________________
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____________________________________________
Aula 7 | Neurobiologia na Aquisição da Inteligência Cognitiva e da Afetividade
162
EXERCÍCIO 2
Descreva sobre como o hipotálamo participa dos
fenômenos da emoção e do comportamento.
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RESUMO
Vimos até agora:
Razão e emoção no processo da aprendizagem, significa aprender com a cabeça e com o coração. Inteligência e afetividade são fontes valorosas de informações para " tomada" de decisão. Processo de inteligência: cognição, percepção, integração, experiência. O ensino é um compromisso com a estimulação, provocação e orientação da aprendizagem. Para aprender o sujeito necessita estar apto a fazer um investimento intelectual.
163
Neurociência como interface Científica para a Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica Marta Relvas
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Nesta última aula teremos oportunidade de pensar a Educação a partir das contribuições da nova neurobiologia influenciada por pensadores como Humberto Maturana, Francisco Varela, Edgar Morin e Leonardo Boff. Nessa visão, a idéia de vida é repensada como um sistema contínuo de troca de matéria e energia com o meio ambiente e a própria sala de aula é revista como um núcleo autopoiético, interdependente e autônomo. A partir dessa ótica as limitações espaço-temporais da sala de aula funcionam como atratores caóticos e permitem a constituição de uma estrutura física e mental coletiva para a sala de aula. Em diferentes momentos são traçados paralelos curiosos entre os fundamentos neurocientíficos e a dinâmica dos processos pedagógicos. O aprendizado nessa aproximação pode ser entendido como uma mudança na configuração da conduta do ser vivo altera sua conduta, ajustando-a ao meio o que permite ao ser realizar o seu acoplamento estrutural, conjugando as interações que realiza com o meio numa mesma sintonia. Quer saber mais? Então saboreie mais essa aula.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Conhecer o papel do conhecimento neurocientífico e seus
reflexos no âmbito da Educação; Analisar o aprendizado a partir de uma concepção sistêmica
aberta; Refletir sobre a relação entre homeostase, criação e
aprendizado. Estudar como as limitações espaço-temporais afetam a
dinâmica pedagógica na sala de aula; Tecer um paralelo entre alguns conceitos neurobiológicos como
membrana e autopoese e o aprendizado em sala de aula.
Aula 8 |Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica
165
Estamos chegando ao final de nossa trilha pelos
caminhos da neurociência e as suas relações com a
Educação. Como toda interseção, a mescla se impõe,
as diferenças se misturam. Mas como todo final, aqui
também se prenuncia o início de algo a ser revisto,
reencaminhado. É este o objetivo das nossas reflexões
a esta altura. Desvelar os novos ciclos que irão
proceder nossos comentários e observações feitas
durante os módulos anteriores.
Como ciclo que se encerra, alguns
questionamentos latejam em nossa mente: enfim, qual
o papel da neurociência para a educação? Quais as
contribuições mais importantes e pertinentes? Que
novos desafios e novas questões são postas à mesa?
Quais caminhos a neurobiologia abre à educação e
vice-versa? Estamos certos de que estas indagações
povoarão nossas reflexões para além destes módulos,
calçando-se talvez em nossos cotidianos.
O nosso objetivo, nesta etapa, é entender e
encaminhar as questões acima expostas, pretendemos
passear por algumas destas temáticas que estão
presentes na “sala de aula”. Como foco central de
nosso olhar está a neurociência como interface entre os
fenômenos que unem os elementos da sala de aula: o
professor, os alunos entre si e o conteúdo.
O objetivo desta aula é discutir alguns
importantes fundamentos neurocientíficos presentes na
organização, estruturação e funcionamento do
aprendizado. Nosso pressuposto é o de que a sala de
aula é um ambiente de vida, onde estão presentes
diversos elementos como criatividade, cooperação,
empreendimento, busca de autonomia, aprendizagem,
mudanças de hábitos e atitudes e, sobretudo,
fortalecimento de elos sociais através da solidariedade
e do afeto.
Aula 8 |Neurociência como Interface Científica para Educação Cognitiva e Emocional na Prática Pedagógica
166
Neurociência como interface científica para a
Educação Cognitiva e Emocional nas Práticas
Pedagógicas
A Neurociência e o desvendar dos estudos dos
cérebros na sala de aula podem, e muito, contribuir
para uma educação mais justa e menos excludente,
pois assim, o educador tem a possibilidade de
compreender melhor como ensinar, já que existem
diferentes maneiras de se aprender.
Os conhecimentos são construídos por meio da
ação e da interação. Aprendemos quando nos
envolvemos ativamente no processo de produção de
conhecimento, por meio da mobilização de atividades
mentais, e na interação com o outro. A emoção, em
suas diferentes manifestações, moldade e associada à
razão, deve ser usada em favor da aprendizagem, pois
o emocional e o racional fazem parte de uma mesma
realidade – o desenvolvimento e o crescimento do ser
humano
Contemporaneamente, a afetividade é vista
como um processo interacional entre os aspectos
orgânicos e sociais, que permite ao ser humano afetar
e ser afetado pelos acontecimentos. Entretanto, na
atualidade diversos pensadores relacionam e ressaltam
a importância da afetividade no processo de
desenvolvimentos e aprendizagem do indivíduo.
De acordo com Piaget (1979, p.31) os estados
afetivos não se configuram sem a participação dos
elementos cognitivos, assim como também não existem
comportamentos puramente cognitivos. De acordo com
o autor “pode ajudar a construir uma compreensão
mais realista das crianças e de como elas constroem o
saber, com também da influência da afetividade e da
atividade social sobre o desenvolvimento”.
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Vygotsky (1998, p. 61) há a análise de que a
emoção não é vista como algo natural da criança, que
nasce com ela ou que faz parte da sua natureza
enquanto espécie, o teórico da mediação afirma que a
manifestação inicial da emoção faça parte da herança
biológica. Mas apesar disso, a emoção nas interações
sociais perde seu caráter instintivo para dar lugar a um
nível mais complexo de atuação do ser humano.
E, para o médico e psicólogo francês Henri
Wallon a emoção um papel fundamental no processo
de desenvolvimento humano: “Quando nasce uma
criança, todo contato estabelecido com as pessoas que
cuidam dela, são feitos via emoção”. Na teoria
walloniana a afetividade é um domínio funcional que
aliada à cognição e a motricidade, constitui a pessoa de
modo completo.
Em vista dessa análise pode-se afirmar que o
aprendizado é, quase sempre, facilitado quando o
individuo encontra-se bem emocionalmente e
efetivamente ligado a quem o ensina.
Além de Wallon, o médico neurocientista Antônio
Damásio (1996) realizou pesquisas acerca do cérebro
humano e demonstra como a razão não está
desvinculada do afetivo. O pesquisador propõe a
existência de relações entre corpo e mente: [...] o
hipotálamo, o tronco cerebral e o sistema límbico
intervêm na regulação do corpo e em todos os
processos neurais em que se baseiam os fenômenos
mentais, como por exemplo, a percepção, a
aprendizagem, a memória, a emoção, o sentimento
[...] o raciocínio e a criatividade (DAMÁSIO, 1996, p.
151)
Damásio (1996) esclarece que corpo e cérebro
estão interligados por circuitos bioquímicos e neurais
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que se relacionam reciprocamente, sendo que as duas
principais interconexões são a corrente sanguínea, que
transporta os sinais químicos, como os hormônios, e os
nervos motores e sensoriais periféricos, que
transportam sinais de todo o corpo para o cérebro. (p.
114).
A principal função do Educador é a integração
de informações sensitivo-sensoriais com o estado
psíquico interno, onde é atribuído um conteúdo afetivo.
Estar atento às emoções e saber lidar com elas na sala
de aula.
(...) Educar a emoção é a habilidade relacionada com o motivar a si mesmo e persistir mediante frustrações, controlar impulsos, canalizando emoções para situações apropriadas; praticar gratificações prorrogadas, motivar pessoas, ajudando-as a liberarem seus melhores talentos, e conseguir seu engajamento aos objetivos de interesses comuns. (RELVAS, 2008, p.113).
O cérebro humano é o único órgão do corpo
humano relacionado a consciência, cognição, emoção,
imaginação, criação, inteligência intencional e o instinto
como sobrevivência da espécie humana.
É constituído por uma teia de conexões de
minúsculas células neurais denominadas de neurônios,
em média 86 bilhões quando nasecemos, porém, isso
não significa que permaneceremos com essa
quantidade até a fase adulta, perdemos neurônios ao
longo da vida.
O importante para o cérebro humano e que as
informações precisam ser coerentes, contextualizadas e
associadas com experiências anteriores que estejam
arquivadas nas áreas específicas cerebrais, para que
ocorra a assimilação e entendimento de determinados
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conhecimentos. Uma outra base fundamental que dá ao
cérebro o suporte da construção de saberes e
conhecimento é a informação ser sustentada por meio
de uma carga emocional para que se possa sustentar e
despertar o interesse do indivíduo, pois, aprender está
relacionado a subjetividade do querer saber.
O importante é o professor reconsiderar que não
existem cérebros que não aprendem. O que existe são
cérebros com mentes, experiências, vivências, culturas,
desejos e expectativas diferentes. O Professor precisa
estar integrado nesse processo da construção do
conhecimento e da aprendizagem do aluno, pois não
basta incluí-lo apenas, e sim, fazer com que o cérebro
seja capaz de se integrar e interagir socialmente com
as informações recebidas nos conteúdos escolares para
que sejam aplicados no cotidiano.
A afetividade é a base da motivação intrínseca
da aprendizagem. O aluno precisa perceber a confiança
no seu professor para aprender a gostar do conteúdo
escolar, por isso, o educador tem uma função de
destaque nessa relação. Ao estabelecer confiança o
nosso cérebro é capaz de liberar neurotransmissores do
prazer, do gostar e do querer numa estrutura
denominada de núcleos da base, próximo a área da
ínsula que se articula com o sistema de recompensa do
sistema límbico emocional do cérebro. Só se promove a
aprendizagem quando se estabelece a confiança entre
as partes envolvidas.
A aprendizagem a princípio é cognitiva mas a
base é emocional. O professor é o encantador dos
conteúdos curriculares, podendo promover sinapses de
qualidade no cérebro de seus alunos, com emoções
positivas e ativando o cérebro de recompensa.
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O professor que conheça o funcionamento do
cérebro cognitivo, emocional, motor, tem mais
condições de promover uma aula mais participativa dos
seus educandos, pois seus conteúdos poderão ser
emoldurados de diferentes maneiras com desafios
afetivos e emocionais, como por exemplo:
dramatização, textos, flimes, jogos, usando
tecnologias,etc.
A questão centrada é: Não é a quantidade de
informações promovidas nos neurônios, e, sim, a
qualidade dos estímulos nessas células. Por esse
motivo, o Professor e a família devem ser considerados
os geradores do potencial do cérebro do estudante no
que permeia o processo da aprendizagem cognitiva,
motora e afetiva de aprender a aprender, desaprender
para reaprender, competências e habilidades
consideradas como alicerce fundamental para o
desenvolvimento da excelência da Educação no século
XXI, a fim de alcançar a autopoiése e autonomia do
sujeito cerebral, através da sensibilidade emocional do
cérebro límbico, promovendo, então, o entendimento
cognitivo do sentir, do pensar e do agir.
EXERCÍCIO 1
Esclareça como é possível pensar a sala de aula
enquanto um Núcleo Auto-poiético?
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EXERCÍCIO 2
Que tipo de missão o professor deve ocupar-se: a
trans-missão ou a sub-missão da cultura?
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RESUMO
Vimos até agora:
Um dos mais fascinantes temas da ciência é
como surgiu a inteligência humana ao longo da
evolução dos grandes primatas aos hominídeos
chegando até o ser humano;
Deste modo, o papel do tronco encefálico é
principalmente efetuador, para o qual recebe um
grande número de fibras descendentes
originadas nas estruturas telencefálicas e
diencefálicas, ligadas mais diretamente à
integração e à coordenação dos fenômenos
emocionais;
As experiências de Hess demonstram a
participação do hipotálamo nos fenômenos da
emoção e do comportamento;
Lesões ou estimulações do núcleo dorso-medial
e dos núcleos anteriores do tálamo já foram
correlacionadas com alterações de reatividade
emocional no homem e em animais;
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A área pré-frontal tem importantes conexões
com o núcleo dorso-medial do tálamo,
recebendo e enviando fibras a este núcleo.
Fulton e Jacobsen estudaram os efeitos da
ablação desta área sobre o comportamento
de chimpanzés;
Na face medial de cada hemisfério cerebral,
observa- se um anel cortical contínuo
constituído pelo giro do cíngulo, istmo do
cíngulo, giro parahipocampal e hipocampo;
O hipocampo é uma formação arquiencefálica
bastante desenvolvida no homem. O papel do
hipocampo na regulação do comportamento
emocional foi inicialmente apontado por
Papez que chamou a atenção para o aumento
da reatividade emocional causada por lesões
do hipocampo pelo vírus da raiva. Outra
função importante do hipocampo é a sua
participação no fenômeno da memória;
A arquitetura de um sistema de interação em
tempo real com agentes humanos deveria
prever, em sua estrutura, explicitamente as
crenças e o raciocínio afetivo;
Três pontos são fundamentais na discussão:a
emoção exerce influência nos processos de
raciocínio; os sistemas cerebrais destinados à
emoção estão intrinsecamente enredados nos
sistemas destinados à "razão"; a mente não
pode ser separada do corpo.
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Refe
rên
cia
s b
iblio
grá
ficas
BEAR, Mark F.CONNORS, Barry W. Neurociências: Desvendando o Sistema Nervoso. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2008 DAMÁSIO, Antônio R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras,1996. KANDEL, Erick. Princípios de Neurociência. 5ª edição. Porto Alegre: Editora Artmed,2014 MATURANA, Humberto R. e VARELA, Francisco. A Árvore do Conhecimento: as bases da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001. OLIVEIRA, Martha Khol de. Vygotsky. São Paulo: Scipione, 1993. RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação – Despertando Inteligências e Afetividade no processo da Aprendizagem. Rio de Janeiro, 5 ed. WAK Editora, 2010. __________________. Neurociência e Educação, gêneros e potencialidades na sala de aula. Rio de Janeiro, 2 ed. WAK Editora, 2010. VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991. WALLON, H. Do ato ao pensamento: ensaio de psicologia comparada. Petrópolis: Vozes, 2008.