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Departamento de Direito “FUNDAMENTOS DO PÓS-POSITIVISMO: OS SENTIDOS DO CON- CEITO DE POVO NAS DECISÕES JURÍDICAS" Aluna: Amanda Albano Souza da Silva Orientadora: Rachel Nigro 1. Introdução Haja visto o entendimento do conceito de "povo" e a identificação de seus efeitos a partir da análise inicial da obra "QUEM É O POVO ? a questão fundamental da democracia.” de Friedrich Müller, procede-se agora ao questionamento acerca da utilização 1 do referido conceito nas decisões jurídicas, tendo como pano de fundo o cenário político-jurí- dico brasileiro. Isto posto, faz-se relevante a compreensão do papel das instituições jurídicas na efeti- vação do princípio democrático regente da nossa Constituição Federal e de que forma o con 2 - ceito "povo" é utilizado como constituinte da consciência e identidade nacional e como o dis- curso com base na noção de “povo” atua na justificação das decisões jurídicas. 2. Objetivos Visa-se aprofundar os questionamentos iniciados na pesquisa "Fundamentos do Pós- Positivismo: "Quem é o Povo?" de Friedrich Müller” acerca da utilização abstrata e valora 3 - tiva do conceito de "povo", avançando junto ao peculiar panorama político-jurídico brasileiro e a consequente crise de representatividade. MÜLLER, F. QUEM É O POVO ? a questão fundamental da democracia. 7.ed.rev.at.amp. São Paulo: Editora Revista 1 dos Tribunais, 2013. 126p. Art. 1º §único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos 2 desta Constituição. ALBANO, A. FUNDAMENTOS DO PÓS-POSITIVISMO: QUEM É O POVO? DE FRIEDRICH MÜLLER. Rio de 3 Janeiro, 2015. 14p. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2015/relatorios_pdf/ccs/DIR/DIR-Aman- da_Albano.pdf> Acesso em: jun/16. 1

“FUNDAMENTOS DO PÓS-POSITIVISMO: OS SENTIDOS DO … · Departamento de Direito entendimento sobre os usos (e abusos) de conceitos indeterminados na argumentação jurídica e na

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“FUNDAMENTOS DO PÓS-POSITIVISMO: OS SENTIDOS DO CON-CEITO DE POVO NAS DECISÕES JURÍDICAS"

Aluna: Amanda Albano Souza da Silva

Orientadora: Rachel Nigro

1. Introdução

Haja visto o entendimento do conceito de "povo" e a identificação de seus efeitos a

partir da análise inicial da obra "QUEM É O POVO ? a questão fundamental da

democracia.” de Friedrich Müller, procede-se agora ao questionamento acerca da utilização 1

do referido conceito nas decisões jurídicas, tendo como pano de fundo o cenário político-jurí-

dico brasileiro.

Isto posto, faz-se relevante a compreensão do papel das instituições jurídicas na efeti-

vação do princípio democrático regente da nossa Constituição Federal e de que forma o con2 -

ceito "povo" é utilizado como constituinte da consciência e identidade nacional e como o dis-

curso com base na noção de “povo” atua na justificação das decisões jurídicas.

2. Objetivos

Visa-se aprofundar os questionamentos iniciados na pesquisa "Fundamentos do Pós-

Positivismo: "Quem é o Povo?" de Friedrich Müller” acerca da utilização abstrata e valora3 -

tiva do conceito de "povo", avançando junto ao peculiar panorama político-jurídico brasileiro

e a consequente crise de representatividade.

MÜLLER, F. QUEM É O POVO ? a questão fundamental da democracia. 7.ed.rev.at.amp. São Paulo: Editora Revista 1

dos Tribunais, 2013. 126p.

Art. 1º §único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos 2

desta Constituição.

ALBANO, A. FUNDAMENTOS DO PÓS-POSITIVISMO: QUEM É O POVO? DE FRIEDRICH MÜLLER. Rio de 3Janeiro, 2015. 14p. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2015/relatorios_pdf/ccs/DIR/DIR-Aman-da_Albano.pdf> Acesso em: jun/16.

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Isto é: associar as manifestações populares, a atuação direta e democrática do "povo"

em protestos coletivos, como ocorreu nas manifestações de junho de 2013 e em outros mo-

mentos, aos instrumentos cívicos de construção da identidade nacional e o papel das institui-

ções jurídicas na desmitificação da retórica vazia no que se refere à participação popular me-

diante análise das recentes decisões do STF ao julgar: 1. ADIN 5.081/ DF (Fidelidade Partidá-

ria) 2. ADIN 4.650/DF (Financiamento de Campanhas Eleitorais e 3. ADPF 378/DF (Consti-

tucionalidade e controle popular sobre o rito formal do processo de impeachment) . 4

3. Metodologia

Buscar-se-á a compreensão da invocação da participação popular e do conceito de

povo na construção da consciência/identidade nacional e, consequentemente, nas decisões ju-

rídicas atuais. Tendo como contexto o cenário político-jurídico brasileiro iniciado em jun/

2013, o trabalho arrisca algumas comparações a outros períodos da História política brasileira

e do processo complexo de construção da identidade nacional brasileira. 5 6

Posto isso, partindo da corrente filosófico-jurídica pós positivista serão analisadas as 7

decisões do Supremo Tribunal Federal justificadas e apoiadas na democracia, buscando a ra-

tio decidendi e a lógica nos discursos aplicadas nas referidas decisões que tenham respaldo 8

na argumentação referente à representação da vontade popular e ao conceito político de povo.

4. Metódica Estruturante

A metódica estruturante proposta por Müller é inovadora ao defender a impureza me-

todológica , ou seja, reconhece-se a necessária complementaridade entre direito e realidade, 9 10

NIGRO, Rachel. CIDADANIA E IDENTIDADE NACIONAL - Considerações Interdisciplinares sobre a Construção 4

do Estado Nacional Brasileiro de Século XIX. Rio de Janeiro, 2000. 149p. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Direito. Pontifícia Universidade Católica.

CARVALHO, J. M. A FORMAÇÃO DAS ALMAS - O Imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das 5

Letras, 1990. 166p.

Idem. OS BESTIALIZADOS: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 6

196p.

MÜLLER, F. O NOVO PARADIGMA DO DIREITO Introdução à teoria e metódica estruturantes. 3ª ed.rev.at.amp. 7

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. 272p.

HABERMANS, J. A INCLUSÃO DO OUTRO: estudos de teoria política. São Paulo: Edições Loyola, 2002. 390p. 8

MÜLLER, F. Op. Cit.9

Id. TEORIA ESTRUTURANTE DO DIREITO. 3ª ed.rev.e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. 300p10

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utilizando-os inclusive como contra-balanceadores, afastando-se os extremos (decisionismo x

positivismo):

Não se trata, portanto, de um pragmatismo geral, ideológico, mas de

um pragmatismo formado pelos conceitos e modo operandi técnico- metodo-lógicos e operacionalizando nos detalhes desses mesmos conceitos e modi operandi. Assim o “direito” e a “realidade” não aparecem mais como categorias opostas abstratas; elas atuam agora como elementos da ação jurídica, sintetizáveis no trabalho jurídico efetivo de caso para caso- na forma da norma produzida. E essa ação jurídica é uma ação pela e na lin-guagem [Sprachhabdeln], é geração do texto com base em textos, inscreve-se na estrutura textiforme da democracia fundada no Estado de Direito. 11

(grifo nosso)

Difere-se da interpretação tradicional e do positivismo jurídico ao passo que reconhe-

ce a interpretação constitucional, que acentua a normatividade principiológica, valorativa e a

argumentação. Assinalando-se assim a distinção entre norma e texto normativo valoriza-se o

trabalho interpretativo e judicial. Enquanto o texto normativo representa o dispositivo legal, a

norma equivale ao texto normativo interpretado ao caso concreto, à realidade, sendo, portanto,

resultado do processo de concretização do direito, da atividade jurisdicional e, ao mesmo

tempo, um movimento de (re)construção. Em suma, o que se quer dizer é que o texto repre-

senta a letra da lei, ao passo que a norma é a reconstrução do texto junto ao fato jurídico rele-

vante, ao caso concreto. A norma é, por fim, a conjunção do direito e realidade.

Deve-se pontuar ainda que a Teoria Estruturante do Direito não trata apenas e tão so-

mente de distinguir “norma jurídica” e “texto de norma”, mas também pretende superar os

antagonismos “ser” e “dever-ser”. Isto é: “O novo paradigma os torna [“ser” e dever-ser”]

compatíveis entre si, os torna operacionais pela prática cotidiana dos operadores do direito”. 12

4.1 Pós-Positivismo e Filosofia da Linguagem - Uso de Conceitos Indeterminados

A margem interpretativa advinda do processo de concretização do texto normativo

confere papel importante ao que podemos chamar de um dos fundamentos do pós-positivis-

mo: a filosofia da linguagem. Esta confere-nos subsídios para indagações que trazem melhor

Id. O NOVO PARADIGMA DO DIREITO Introdução à teoria e metódica estruturantes. 3ª ed.rev.at.amp. São Paulo: 11Editora Revista dos Tribunais, 2013. p.13

Ibid. p.25312

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entendimento sobre os usos (e abusos) de conceitos indeterminados na argumentação jurídica

e na construção normativa.

A virada linguistica propõe entender a linguagem como uma atividade, algo ativo e

dinâmico, e não mais um instrumento rígido à serviço do essencialismo. Ao reconhecer a in-

determinação de sentido, ou seja, entender que conceitos que aparentemente são concretos, e

claros, são na verdade abertos e indeterminados de tal maneira que não abrangem completa-

mente todos os casos e situações possíveis. Isto é, face à realidade podem surgir casos em que

conceitos como “povo” são utilizados com diferentes sentidos, implicando em diversas inter-

pretações. Nesse sentido, Humboldt é o primeiro a ressaltar que a linguagem apresenta, além de sua função cognitiva e expressiva, a função comunicativa. A lingua-gem é definida como uma ação humana, uma atividade, um processo contí-nuo que não pode ser analisada como um objeto, mas sim, compreendida pelos falantes que dela participam. Por isso, Humboldt insiste: “A linguagem só existe na fala continuada, a gramática e o léxico são apenas comparáveis com seu esqueleto morto”. E prossegue: “Uma vez que a linguagem vive na boca do povo, ela é uma produção e reprodução progressiva da capacidade geradora de palavras no seu uso cotidiano de fala 13

Sendo assim, a virada linguistica rompe com a ideia platônica de que a linguagem seria ape-

nas mero instrumento, com função designativa, apta a expressar o pensamento . E avança-se 14

para a perspectiva que investiga os usos da linguagem, conferindo dinamismo e atividade aos

conceitos. Isto é: (…)O sentido das expressões não deve mais ser buscado na estrutura lógica e semântica das proposições linguísticas. A atenção do filósofo deve se dirigir para unidades de outra ordem que serão, sobretudo, caracterizadas por outros critérios. Os novos critérios são, com efeito, fornecidos pelo uso que se faz da linguagem nos diferentes contextos, ou seja, nas diversas for-mas de vida da qual se faz parte. Não basta que uma proposição seja analisa-da segundo suas unidades mínimas de significação, como propõe Frege, por maior que seja a utilidade de uma tal análise. Uma vez que o significado re-side em toda a proposição, aí compreendido a maneira segunda a qual é uti-lizada efetivamente, então, o significado da linguagem natural dependerá, em última análise, do uso que se faz dos enunciados. (grifo nosso) 15

NIGRO, Rachel. A virada linguístico-pragmática e o pós-positivismo. Revista Direito, Estado e Sociedade, Rio de Ja13 -neiro, 2009. p 183.

DE ANDRÉA, Fernando. Robert Alexy, Introdução crítica. Forense Universitária: Rio de Janeiro, 2013, p. 1114

NIGRO, Rachel. Pressupostos Pragmáticos da linguagem e interpretação moral da constituição. Revista Novos Estudos 15

Jurídicos - Eletrônica, Vol. 21 - n. 1 - jan-abr 2016. p. 228

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Face ao exposto selecionamos uns dos mais potentes e indeterminados conceitos: povo

- para ser analisado na esteira da filosofia pragmática da linguagem de Müller, visto que a teo-

ria estruturante por ele defendida procura correlacionar a normatividade ao comprometimento

com o Estado de Democrático de Direito.

5. Sentidos do Povo

Sem pretensões exaustivas, haja visto sua impossibilidade, far-se-á breve recapitula-

ção dos diferentes sentidos atribuíveis ao povo em sua analise jurídico-política trazidos por

Friedrich Müller, quando da indagação “Quem é o povo?”. Propõe a análise do povo como:

a) ativo; b) legitimante; c) ícone; d) destinatário das prestações civilizatórias e e) participante.

a) O povo, enquanto povo ativo refere-se ao eleitores, aqueles detentores do poder de

voto. Portanto, que formalmente preenchem os requisitos objetivos trazidos pela

Constituição; 16

b) Também chamado de “instância global de atribuição de legitimidade” o povo en-

quanto legitimante abrange a totalidade dos cidadãos do Estado, sejam natos ou naturalizados,

detentores ou não da cidadania ativa (leia-se: poder de voto); 17

c) Já enquanto ícone sua existência é meramente artificial, trata-se da criação de um

povo abstrato (ou até mesmo concreto através de dizimações e colonizações), inexistente pre-

viamente nos moldes tais e quais sejam necessário para justificação/respaldo de determinado

sistema vigente. 18

d) Enquanto destinatário das prestações civilizatórias trata-se dos endereçados das

prestações estatais, sejam positivas - quando se exige uma atuação estatal pró-ativa, sejam

negativas - quando imprescindível abstenção estatal. Influi no que se denomina “camada fun-

cional do problema”.

CF/88 Art. 14§ 1o O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os anal16 -fabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. § 2o Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

CF/88 Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes 17

não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repar-tição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maiori-dade, pela nacionalidade brasileira; II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionali-dade brasileira. § 1o Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.

Em razão do caráter abstrato, é ausente referência textual para exemplificação. 18

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e) O povo participante é aquele politicamente participante, que atua na manutenção da

atividade e dinâmica democrática, isto é: exige politização, engajamento e proatividade popu-

lar. 19

6. Povo e a Construção do Estado-Nação

Dentre os sentidos de nação, desde sua concepção originaria romana - para indicar po-

vos sem organização política, passando pela ideia clássica de origem comum geográfica e cul-

tural até concepções mais modernas pós Revolução Francesa - e a sua associação política.

Tem-se o sentido de nação harmonizado com a titularidade da soberania, o identificação polí-

tica dos indivíduos. A consciência nacional aparece como instrumento de mobilização dos ci-

dadãos e facilitador de sua ativação política.

Certos é que intelectuais quando da construção do Estado-Nação na “invenção da re-

publica” afirmavam a inexistência de povo no Brasil moderno, mas apenas e tão somente uma

elite dominante que conduzia o pais ao seu modo, tais como: Louis Couty ao afirmar que: "a

situação funcional desta população [do Brasil] pode resumir-se em uma palavra: o Brasil não

tem povo". E no mesmo sentido, Raul Pompéia: 20

Desenganem-se os idealistas: o povo fluminense não existe. [...] Dirão que o povo fluminense fez a agitação abolicionista e a agitação republicana [...]. O povo fluminense não fez nada disso. Um grupo de homens denodados, bas-tante ativo é certo, para parecer a multidão, fez o movimento abolicionista e o movimento republicano do Rio de Janeiro. Em volta desses campeões de-votados acercavam-se curiosos; e foi só. 21

Deve-se dizer que mais uma vez resta comprovada a pluralidade do conceito de povo.

O que inexistir era o povo enquanto o critério por eles estipulado, ou pior: delimitado. Sabe-se

que na realidade brasileira à época a problemática existente era a abundância de povos e não

sua ausência:

CF/88 Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: XV - autorizar referendo e convocar plebiscito; 19Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Fede-ral ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. § 2o A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.

COUTY, Louis. Apud CARVALHO, J. M. OS BESTIALIZADOS: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São 20Paulo: Companhia das Letras, 2012. p.66

POMPÉIA, Raul. Apud Ibid. p. 6921

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O problema não era a ausência de povo: era povo demais. Mais especifica-mente, era haver mais de um povo: “Aqui há povo; há mais que povo: há povos". Entre os povos, havia o bom é o mau povo: o bom era o brasileiro republicano, nacionalista, florianista; o mau, o estrangeiro, particularmente o português, antinacional, monarquista ou, na melhor das hipóteses, politica-mente apático: “Os povos, portanto, não comparecem às manifestações em que o povo se manifeste por Floriano; é assim a multidão que comparece proporcionalmente à que existe na cidade parece pequena. 22

Além da pluralidade há de se falar dos processos/tentativas de exclusão do povo en-

quanto totalidade na participação eleitoral/governamental. Havia tanto a exclusão legal do

processo eleitoral: restrição à alfabetizados que correspondiam a 80% do eleitorado; e a auto

exclusão do processo através das fraudes (que não foi prioridade da república erradicá-las.)

No Rio de Janeiro, especificamente, enfrentava-se ainda a violência - uso de capoeiras pelos

candidatos para garantir o resultado desejado, coibindo o eleitorado.

Fato é que o povo brasileiro enquanto tal foi construído, através de sequências de atos,

simbologias, hino (fixo), mito de origem, “mito do herói” (Tiradentes), invenção de tradições,

o uso da alegoria feminina como representativa da República, e movimentos que criaram/

acentuaram a ideia de consciência nacional, despertaram o pertencimento. Acontecimentos

pré republicanos como: a Guerra do Paraguai - que criou um inimigo externo - o Movimento

abolicionista - que além de inserir novos ideais políticos permitiu a formação de um exerci23 -

to nacional; republicanos: a própria invenção da República - trazendo ideais republicanos e 24

a manipulação do imaginário popular a fim de delimitar regimes e ideologias; pós republica-

nos: movimentos como a revolta da vacina acabavam por unir a população com justificativas

morais, apelo aos bons costumes e defesa a honra pessoal, mas na verdade representavam

mais que isso: a resistência à repressão governamental.

CARVALHO, J. M. Op. cit. p. 7322

Ideais ainda que tímidos e insuficientes quando a efetiva liberdade. Isto é: sabe-se que se tratou de uma libertação formal, 23

inexistindo quaisquer amparos ou políticas de transição. Não houve amparo educacional, trabalhista, financeiro; o que preva-lecia cegamente era o interesse da nação, sem qualquer preocupação com a progressão individual de escravo a homem livre.

A invenção da republica enriqueceu o debate, com a batalha pelo imaginário popular pelos três modelos de república. Isto 24

é: as três tentativas de definir a natureza do novo regime, três ideologias de legitimação do novo regime: jacobinismo à fran-cesa (acesso direto/democracia clássica). Liberalismo à americana (indivíduos autônomos/mão invisível do mercado) e posi-tivismo (ainda mais utópico/idade de ouro/ seres humanos realizados plenamente/ sociedade comunitária e incorporadora). Vale ressaltar a ironia no que tange ao positivismo, haja visto que de acordo com as teses positivistas, um governo militar seria uma retrogradação social. No entanto, os militares se sentiam atraídos em razão de sua formação técnica, que se conec-tava ao positivismo em razão da ênfase dada por este à ciência e ao desenvolvimento industrial.

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O papel da simbologia restou fundamental na manipulação e condução do imaginário

popular e foi o principal instrumento utilizado pelos positivistas ortodoxos. Certo é que:

Um símbolo estabelece uma relação de significado ente dois objetos, duas ideias, ou entre objetos e ideias, ou entre duas imagens. Embora o estabele-cimento dessa relação possa partir de um ato de vontade, sua aceitação, sua eficácia política, vai depender da existência daquilo que Baczko chamou de comunidade de imaginação, ou comunidade de sentido. Inexistindo esse ter-reno comum, que terá umas raízes seja no imaginário preexistente, seja em aspirações coletivas em busca de um novo imaginário, a relação de signifi-cado não se estabelece e o símbolo cai no vazio, se não no ridículo. 25

E nada mais propício para ilustrar a re(construção) do povo republicano e a

tentativa de assentar bases/raízes comuns para maior eficácia da simbologia que a obra A Pá-

tria, de Pedro Bruno, que retrata a tecelagem da republica e sua criação, através das simbolo-

gias - representada pela bandeira.

7. Multidão x Povo

A crise de representatividade e a busca por legitimação do sistema democrático de di-reito nos convida a análise das manifestações populares ocorridas em junho de 2013. Em con-junto a referida analise, e a investigação do conceito de povo, necessário trazer a concepção de Multidão proposta por NEGRI que a diferencia da do povo. Para o autor: 26

Faz-se necessário insistir um pouco sobre a diferença entre os conceitos de multidão e povo. A multidão não pode ser apreendida ou explicada em ter-

Id. A FORMAÇÃO DAS ALMAS - O Imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 25

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NEGRI, Antônio. Para uma definição ontológica da Multidão. LUGAR COMUM- Estudos de mídia, cultura e demo26 -cracia. Rio de Janeiro, 2004.

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A pátria. Pedro Bruno

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mos contratualistas (por contratualismo entendo menos uma experiência em-pírica do que a filosofia transcendental da qual é tributária). Em um sentido mais geral, a multidão desafia qualquer representação por se tratar de uma multiplicidade incomensurável. O povo é sempre representado como unida-de, ao passo que a multidão não é representável, ela apresenta sua face monstruosa vis-à-vis os racionalismos teleológicos e transcendentais da mo-dernidade. Ao contrário do conceito de povo, o conceito de multidão é de uma multiplicidade singular, um universal concreto. O povo constitui um corpo social; a multidão não, porque a multidão é a carne da vida. 27

(grifo nosso)

Dessa forma, enquanto em um primeiro momento poder-se-ia associar as manifesta-

ções ao “povo participante” mencionado por Müller como aquele que consagra a democracia

viva, para Negri aparentemente tratar-se-ia de uma multidão. Isso porque pela ausência de

unicidade, pelo tom explosivo, potencial e livre, as manifestações demonstraram-se revoluci-

onárias, sem pretensões políticas partidárias definidas, desafiando representações. Supera-se

assim, a ideia de um sujeito político definido, entendendo-se a multidão como algo muito

maior, não representável, dinâmico e potencial. 28

Segundo o sociólogo Marcelo Burgos: “Seja qual for o desfecho mais imediato das manifestações, sua razão de fundo é a luta por acesso à política, que tem sido sistematicamente interdi-tado, em cima, por anéis de interesses que articulam máquinas partidárias e o grande empresariado, sempre justificado pela fórmula do que se convencio-nou denominar de “presidencialismo de coalização”; e em baixo, pelos me-canismos de controle do acesso ao voto que incluem desde o clientelismo tradicional até a coerção mais direta e brutal realizada pelos mandões locais, do que são exemplo as milícias. O grito das ruas traz essa voz sufocada pelo amesquinhamento da representação política e por isso seu alvo principal são as instituições cuja legitimidade está fundada no voto.”

Assim, o impulso democrático, a luta por mais participação e direitos - inclusive o de

falar e se ser ouvido - os questionamentos sobre a representação política e principalmente a

Op. cit. p. 1727

Faz-se necessário citar Negri quanto ao esclarecimento a cerca da potencialidade: “Convém insistir aqui sobre a potência 28

global do processo: na verdade, a potência desliza entre globalidade e singularidades, seguindo um ritmo às vezes sincrônico, feito de conexões mais ou menos intensas (rizomáticas, como têm sido chamadas), às vezes diacrônico, feito de sístoles e diástoles, de evolução e crises, de concentração e dissipação do fluxo. Em outras palavras, a produção de subjetividade, a produção que o sujeito faz de si mesmo é, simultaneamente, produção da consistência da multidão - já que a multidão é um conjunto de singularidades.” Op. cit. p. 19

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magnitude/potência dos protestos, seu apartidarismo, e irrepresentatividade, todas essas carac-

terísticas tão bem descritas por Negri, aproximam as manifestações atuais da multidão.

8. O Povo no Supremo Tribunal Federal

Posto isso, feitas as considerações a cerca da potencialidade histórica do povo e seu

consequente uso politico analisar-se-à como tal conceito aparece nas decisões judiciais. Mais

precisamente: apresentaremos o julgamento das ADINs: 5.081/ DF e 4.650/DF e da ADPF

378 escolhidas por demonstrarem como o povo é utilizado como legitimante e invocado como

razão de decidir.

Na ADIN 5.081/ DF discute-se a possibilidade de perda do mandato parlamentar em

virtude da infidelidade partidária nas eleições regidas pelo sistema majoritário, e com isso a

extensão da fidelidade atinente ao sistema proporcional. O Supremo Tribunal Federal ao fixar

a tese jurídica de inaplicabilidade da fidelidade partidária (ao sistema majoritário utiliza o

povo no sentido do povo ativo. Isto é: invoca-se a vontade popular manifestada nas eleições e,

com isso, justifica-se através dos detentores da cidadania ativa, aqueles aptos a votarem e fa-

zerem representar através do exercício do direito de voto.

Em seguida, na ADIN 4.650/DF tem-se a discussão sobre a (in)constitucionalidade

parcial da Legislação Eleitoral, especificamente a Lei dos Partidos Políticos - 9.096/95 e a Lei

das Eleições - 9.504/97, ao que pese: a viabilidade de doações advindas de pessoas jurídicas.

Mais uma vez, o Tribunal envolve os aspectos do povo ativo, aos eleitores, aqueles que po-

dem votar e serem votados para justificar a impossibilidade e inconstitucionalidade da atuação

das pessoas jurídicas no processo eleitoral através de doações às campanhas, não sendo assim,

atores sociais legítimos a integrarem o povo. Nas palavras do Min. Lewandowski: “(…), povo

é o conjunto de cidadãos. Ponto. Não se confunde com um concerto de empresas.”

Por fim, no julgamento da ADPF 378/DF, cujo enfoque é a constitucionalidade formal/

do rito processual do Impeachment, aborda-se a compatibilidade da Lei 1.079/50 junto a

Constituição Federal. O povo aparece tanto no seu viés ativo (leia-se no exercício da cidada-

nia mediante o poder do voto) através da escolha de seu representantes e principalmente do

controle sobre eles (ao que pese a determinação do voto aberto) quanto povo participante vis-

to que abrange uma postura popular pró-ativa, participante e imprescindível para a democra-

cia ativa e o real controle popular.

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8.1 Fidelidade Partidária: Sistemas Eleitorais e Garantia da Soberania Popular. ADIN 5.081/ DF.

Na ADIN 5.081, de Relatoria do Min. Luis Roberto Barroso, julgou-se a inconstituci-

onalidade de expressões contidas na Resolução 22.610/07 e fixou-se a tese jurídica de impos-

sibilidade de perda do mandato em razão da troca de partido às eleições atinentes ao sistema

majoritário.

O sistema eleitoral brasileiro, como se sabe, adota duas grandes técnicas para exercí-

cio dos direitos políticos, quais sejam: sistema majoritário e sistema proporcional. O primeiro

abrange as eleições dos chefes do Poder Executivo e Senadores; trata-se da eleição daqueles

que obtiverem a maioria dos votos, em nada interferindo os votos dos demais candidatos na

composição governamental. Comporta ainda esse sistema as espécies simples e absoluta. Exi-

ge-se a maioria simples quando para eleição de Senadores e Prefeitos de Municípios que

comportem eleitorado inferior à 200 mil. Enquanto que cabe a espécie majoritária absoluta 29

quando da eleição de Presidentes, Governadores, e Prefeitos (quando face a eleitorado superi-

or à 200 mil). 30

Já o sistema eleitoral proporcional incidente nas eleições de vereadores, deputados es-

taduais e federais consiste no procedimento pelo qual primeiramente define-se a quantidade

de cadeiras de cada partido (aqueles que obtiverem votos em quantidade igual ou superior

quociente eleitoral ) , e dentro dos partidos vitoriosos selecionar os candidatos mais votados 31

para a composição das referidas cadeiras. Determinar-se-à as vagas a serem preenchidas por

cada partido através do quociente partidário - valor obtido da razão entre os votos partidários

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços 29dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respecti-vo Estado e os seguintes preceitos: II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil eleitores; Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.

Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro domingo de 30outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subseqüente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77 Art. 77 § 2º Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos. 3º Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição em até vinte dias após a proclama-ção do resultado, concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.

O quociente eleitoral corresponde ao total de votos dividido pelo numero de de cadeiras a serem preenchidas.31

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sobre o quociente eleitoral. Objetiva-se com isso conceder representatividade ao maior nu32 -

mero possível de ideais, principalmente os minoritários. Isto é: evitar a ditadura da maioria.

Posto isso, percebe-se que no sistema proporcional a eleição possui um foco maior na

legenda partidária, nas ideias representadas pelo partido. No entanto, por vezes, a complexi-

dade dos cálculos acaba por influenciar as filiações partidárias, sobrepondo-se ao alinhamento

do candidato às legendas. Por isso, não raro é a ocorrência de infidelidade partidária pós-elei-

ção.

O primeiro posicionamento adotado pelo STF, em 1989, em sede de Mandado de Se-

gurança n. 20.927, de relatoria do Min. Moreira Alves, foi negativo à existência de fidelidade

partidária, inexistindo consequentemente a sanção jurídica de perda do mandato em caso de

migração.

Porém, o referido entendimento foi “reformado” em 2007, através dos Mandados de

Segurança nº 26.602, 26.603 e 26.604. O Supremo Tribunal Federal chancelou o entendi33 -

mento do Tribunal Superior Eleitoral, proferido na Consulta nº 1.398/2007 solicitada pelo

Partido Democratas (DEM), segundo o qual “os mandatos obtidos em eleição proporcional

pertencem ao partido político, e, portanto, que a mudança de agremiação partidária, após a

diplomação, dá ao respectivo partido o direito de postular a retenção do mandato eletivo.”

Após a chancela do STF, o TSE elaborou a Resolução nº 22.610 que prevê:

Art. 1o - O partido político interessado pode pedir, perante a Justiça Eleitoral, a decretação da

perda de cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem justa causa.

Um dos fundamentos mais pertinentes a este trabalho refere-se a invocação da sobera-

nia popular como respaldo à defesa da filiação partidária. Isso porque, em razão do sistema

Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Esta32 -do, em cada Território e no Distrito Federal.

A INFIDELIDADE PARTIDÁRIA COMO GESTO DE DESRESPEITO AO POSTULADO DEMOCRÁTICO. - A exigência de fidelida33 -de partidária traduz e reflete valor constitucional impregnado de elevada significação político- -jurídica, cuja observância, pelos detentores de mandato legislativo, representa expressão de respeito tanto aos cidadãos que os elegeram (vínculo popular) quanto aos partidos políticos que lhes propiciaram a candidatura (vínculo partidário). - O ato de infidelidade, seja ao partido político, seja, com maior razão, ao próprio cidadão-eleitor, constitui grave desvio ético-político, além de representar inadmissível ultraje ao princípio democrático e ao exercício legíti-mo do poder, na medida em que migrações inesperadas, nem sempre motivadas por justas razões, não só surpreendem o próprio corpo eleitoral e as agremiações partidárias de origem - desfalcando-as da representatividade por elas conquistada nas urnas -, mas culminam por gerar um arbitrário desequilíbrio de forças no Parlamento, vindo, até, em clara fraude à vontade popular e em frontal transgressão ao sistema eleitoral proporcional, a asfixiar, em face de súbita redução numérica, o exercício pleno da oposição política. A prática da infideli-dade partidária, cometida por detentores de mandato parlamentar, por implicar violação ao sistema proporcional, mutila o direito das minori-as que atuam no âmbito social, privando-as de representatividade nos corpos legislativos, e ofende direitos essenciais - notadamente o direito de oposição - que derivam dos fundamentos que dão suporte legitimador ao próprio Estado Democrático de Direito, tais como a soberania popular, a cidadania e o pluralismo político (CF, art. 1º, I, II e V). - A repulsa jurisdicional à infidelidade partidária, além de prestigiar um valor eminentemente constitucional (CF, art. 17, § 1º, "in fine"), (a) preserva a legitimidade do processo eleitoral, (b) faz respei-tar a vontade soberana do cidadão, (c) impede a deformação do modelo de representação popular, (d) assegura a finalidade do siste-ma eleitoral proporcional, (e) valoriza e fortalece as organizações partidárias e (f) confere primazia à fidelidade que o Deputado eleito deve observar em relação ao corpo eleitoral e ao próprio partido sob cuja legenda disputou as eleições. (grifo nosso)

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eleitoral adotado a filiação partidária demonstra-se essencial a representatividade objetivada

pelo procedimento proporcional, a defesa da minoria e a possibilidade de manter-se um deba-

te plural. No entanto, a aplicação da fidelidade partidária indistintamente aos dois sistemas

(proporcional e majoritário) representaria demasiado equivoco uma vez que envolvem dife-

rentes aspectos. Enquanto no sistema proporcional a defesa da soberania encontra-se no per-

tencimento do mandato ao partido político, assegurando-se assim a representatividade da mi-

noria e a garantia do debate plural nas Casas Legislativas; no sistema majoritário o enfoque

encontra-se no candidato e não, primordialmente, em seu partido político (e consequente le-

genda). Assim, torna-se impróprio, a extensão da fidelidade partidária ao sistema majoritário.

Nesse sentido:

“Se a soberania popular integra o núcleo essencial do princípio democrático, não se afigura legítimo estender, por construção jurisprudencial, a regra da fidelidade partidária ao sistema majoritário, por implicar desvirtuamen-to da vontade popular vocalizada nas eleições, como antes se expôs. Tal medida, sob a justificativa de contribuir para o fortalecimento dos partidos brasileiros, além de não ser necessariamente idônea a esse fim, viola a sobe-rania popular, ao retirar os mandatos de candidatos escolhidos legitimamente por votação majoritária dos eleitores. Se o objetivo perseguido é o aperfeiço-amento da democracia representativa e do modelo eleitoral brasileiro, a ex-tensão da fidelidade partidária ao sistema majoritário subverte esse propósito, agravando o problema sob o pretexto de saná-lo.” (grifo nos-so)

8.2 Financiamento de Campanhas Eleitorais: Princípios Democráticos e Igualdade Polí-tica. ADIN 4.650/DF

A ação direta de inconstitucionalidade de nº4.650/DF julgada em setembro de 2015 e de relatoria do Min. Luiz Fux aborda o modelo de financiamento das campanhas eleitorais e a (in)constitucionalidade parcial de dispositivos da Lei dos Partidos Políticos (9.096/95) e da 34

Lei das Eleições (9.504/97) quando tratam da possibilidade de doações eleitorais por pesso35 -as jurídicas. Dentre os argumentos suscitados aborda-se o desequilíbrio entre os candidatos e a consequente violação do principio da igualdade. Isto é: a ausência de condições equânimes dificulta a concorrência e em ultima analise o próprio exercício da cidadania. Dificultando a concorrência fere-se alem da isonomia a pluralidade de debate, própria da democracia. Nas palavras do Min. Luiz Fux:

Arts. 31, 38, III, e 39 caput e §5º.34

Arts. 23, §1o, I e II, 24 e 81 caput e §1º.35

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Enquanto governo “do povo, pelo povo e para o povo”, a democracia não pode prescindir de uma atividade política intensa e preocupada com tutela dos valores republicanos. É preciso, assim, construir uma relação sinérgica entre os representantes do povo e a sociedade civil, resgatando, neste parti-cular, a confiança e a credibilidade da população em geral no sistema políti-co.

A pergunta que se faz é: quem deve financiar as campanhas: o povo ou o poder econômico? Quais interesses devem prevalecer? O processo democrático, as eleições devem propiciar condições iguais a todos os candidatos, eleições livres, nas palavras do Min. Toffoli: “(…) o exercício da democracia pressupõe a existência de eleições tão livres, universais e equânimes quanto possível.” (grifo nosso) e do Min. Fux: “Assim é que autorizar que pes-soas jurídicas participem da vida política seria, em primeiro lugar, contrário à essência do próprio regime democrático.” Importante mencionar ainda além do ora citado parágrafo único do art. 1º da Consti-tuição Federal, a soberania popular, o art. 14 que exemplifica o exercício da referida sobera-nia. Em nenhum desses dispositivos ha qualquer menção às pessoas jurídicas. Segundo anali-se do Min. Dias Toffoli:

Observa-se, assim, a toda evidência, que o parágrafo único do art. 1o e o caput do art. 14 da Constituição Federal não se destinam à pessoa jurídica: essa não pode votar, não pode ser votada e, caso pudesse votar, o voto não teria o mesmo valor, formal e material, para todas. Não há, portanto, comando ou princípio constitucional que justifique a participação de pessoas jurídicas no processo eleitoral brasileiro, em qualquer fase ou forma, já que não podem exercer a soberania pelo voto direto e secreto. Conforme bem apontado por Daniel Sarmento e Aline Osorio, em trabalho desenvolvido para subsidiar a presente ação direta,

“[a] permissão legal para arrecadação de fundos para cam-panhas eleitorais via pessoas jurídicas é, em si prejudicial à democracia, pois concede a quem não tem voto uma rota alternativa – e, como visto, mais ‘eficaz’ - para participar do processo político-eleitoral.” (Eleições, dinheiro e democra-cia: a ADI 4.650 e o modelo de financiamento de campanhas eleitorais. p. 9).

Com efeito, o financiamento eleitoral deve ter liame com os atores sociais que participam do pleito: os eleitores, os partidos políticos e os candida-tos. É inegável que as pessoas jurídicas desempenham relevante papel na sociedade, exercendo, por exemplo, pressão social sobre o Estado, mas não são – e não podem ser - atores do processo eleitoral. Se as pessoas jurídicas não participam do processo democrático - pois não gozam de cidadania -, admitir que possam financiar o processo elei-toral é violar um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, qual seja, o da soberania popular. Não é demais ressaltar que o processo eleitoral é o principal instrumento de efetivação do modelo democrático representativo, pois viabiliza a

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concretização dos ideais republicano e da soberania popular. (grifo do original)

No mesmo sentido o Min. Lewandowski:

Quando se permite, tal como enseja nossa legislação, que o poder econômico influencie as eleições, a legitimidade dos pleitos fica irremediavelmente tis-nada, porquanto desatendido fica axioma basilar da democracia, reiterado em todas as nossas constituições e gravado na atual com o merecido desta-que no art. 1o, parágrafo único, de acordo com o qual “todo o poder emana do povo”. Ora, povo é o conjunto de cidadãos. Ponto. Não se confunde com um concerto de empresas. Segue-se, portanto, a inafastável conclusão de que a vontade das pessoas jurídicas não pode concorrer com a dos eleitores, considerados seja individualmente, seja coletivamente, e muito menos sobrepor-se a ela. (grifo nosso)

Percebe-se que, mais uma vez, o povo é utilizado como aparato legitimador no julga-

mento pelo STF, que invocando a soberania popular, os princípios democráticos, a isonomia e

o livre e efetivo exercício dos direitos políticos (de eleger e ser eleito em condições equâni-

mes) decidiu pela inviabilidade do financiamento das campanhas por pessoas jurídicas. Pon-

tua-se que a mencionada decisão não atingiu o quorum (maioria de 2/3) para modulação dos 36

efeitos, tendo repercussão já para as eleições de 2016.

8.3 Processo de Impeachment: Legitimidade Constitucional e Controle Popular. ADPF 378/DF

Sem pretensões de cunho politico tampouco analise do mérito do processo de impea-chmet e a existência ou não de crime de responsabilidade. Limitar-nos-emos a abordagem do STF ao rito formal a ser obedecido e como o povo aparece no julgamento. Trata-se na ADPF 378 que visa analisar a compatibilidade da Lei 1.079/50 com a Constituição Federal, a forma de votação e rito do processo de impeachment. Entendeu-se dentre outros aspectos: 1. inexistência do direito à defesa da presidente antes da admissão da abertura do processo , que a 2. “não é possível a apresentação de candidaturas ou chapas 37

Lei 9.868/9 Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança 36

jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

“NÃO HÁ DIREITO A DEFESA PRÉVIA (ITEM A DO PEDIDO CAUTELAR): A apresentação de defesa prévia não é uma exigência 37do princípio constitucional da ampla defesa: ela é exceção, e não a regra no processo penal. Não há, portanto, impedimento para que a pri-meira oportunidade de apresentação de defesa no processo penal comum se dê após o recebimento da denúncia. No caso dos autos, muito embora não se assegure defesa previamente ao ato do Presidente da Câmara dos Deputados que inicia o rito naquela Casa, colocam-se à disposição do acusado inúmeras oportunidades de manifestação em ampla instrução processual. Não há, assim, violação à garantia da ampla defesa e aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil em tema de direito de defesa. Improcedência do pedido.” “A DEFESA TEM DIREITO DE SE MANIFESTAR APÓS A ACUSAÇÃO (ITEM E DO PEDIDO CAUTELAR): No curso do procedi-mento de impeachment, o acusado tem a prerrogativa de se manifestar, de um modo geral, após a acusação. Concretização da garantia consti-tucional do devido processo legal (due process of law). Precedente: MS 25.647-MC, Redator p/ acórdão Min. Cezar Peluso, Plenário. Proce-dência do pedido.”

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avulsas para formação de comissão especial” 3. compete à Câmara apenas autorizar (ou não) 38

a instauração do processo ; 4. possibilidade de aplicação subsidiaria dos Regimentos Internos 39

(da Camara dos Deputados e do Senado) e 5. a votação formadora da comissão especial tem 40

que ser aberta . 41

Este último item merece especial atenção, ao que pese sua fundamentação: controle dos representados sobre seus representantes. Apesar da inexistência de previsão constitucional ou legislativa (Lei 1.079/50), tampouco regimental, sobre a forma de votação (se aberta ou fechada), a justificativa para o voto aberto é a garantia da possibilidade de controle social so-bre os procedimentos do impeachemt, o controle popular, publicidade e transparência ao rito - face a potencialidade do processo - além, claro da segurança jurídica conferida pela manuten-ção procedimental observada no rito do impeachment de 1992 (Collor). Nesse sentido e atendendo aos princípios democráticos proferiu posicionou-se Min. Barroso sobre o voto aberto:

O voto aberto é aquele que melhor realiza referidos princípios, conferindo aos representados ferramentas para que possam exercer o contro-le social sobre todas as etapas deste procedimento e examinar a atuação de seus representantes. Na realidade social brasileira, de grave crise de repre-sentatividade e desconfiança dos eleitores em relação aos governantes, a exigência de publicização das votações adquire um destaque ainda mai-

”É incompatível com o art. 58, caput e § 1º, da Constituição que os representantes dos partidos políticos ou blocos parlamentares deixem 38de ser indicados pelos líderes, na forma do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, para serem escolhidos de fora para dentro, pelo Plenário, em violação à autonomia partidária. Em rigor, portanto, a hipótese não é de eleição. Para o rito de impeachment em curso, contudo, não se considera inválida a realização de eleição pelo Plenário da Câmara, desde que limitada, tal como ocorreu no caso Collor, a ratificar ou não as indicações feitas pelos líderes dos partidos ou blocos, isto é, sem abertura para candidaturas ou chapas avulsas. Procedência do pedi-do.”

RITO DO IMPEACHMENT NA CÂMARA (ITEM C DO PEDIDO CAUTELAR): 2.1. O rito do impeachment perante a Câmara, previs39 -to na Lei nº 1.079/1950, partia do pressuposto de que a tal Casa caberia, nos termos da CF/1946, pronunciar-se sobre o mérito da acusação. Em razão disso, estabeleciam-se duas deliberações pelo Plenário da Câmara: a primeira quanto à admissibilidade da denúncia e a segunda quanto à sua procedência ou não. Havia, entre elas, exigência de dilação probatória. 2.2. Essa sistemática foi, em parte, revogada pela Consti-tuição de 1988, que, conforme indicado acima, alterou o papel institucional da Câmara no impeachment do Presidente da República. Con-forme indicado pelo STF e efetivamente seguido no caso Collor, o Plenário da Câmara deve deliberar uma única vez, por maioria qualificada de seus integrantes, sem necessitar, porém, desincumbir-se de grande ônus probatório. Afinal, compete a esta Casa Legislativa apenas autori-zar ou não a instauração do processo (condição de procedibilidade). 2.3. A ampla defesa do acusado no rito da Câmara dos Deputados deve ser exercida no prazo de dez sessões (RI/CD, art. 218, § 4º), tal como decidido pelo STF no caso Collor (MS 21.564, Rel. para o acórdão Min. Carlos Velloso).

É POSSÍVEL A APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DOS REGIMENTOS INTERNOS DA CÂMARA E DO SENADO (ITEM B DO PEDI40 -DO CAUTELAR): A aplicação subsidiária do Regimento Interno da Câmara dos Deputados e do Senado ao processamento e julgamento do impeachment não viola a reserva de lei especial imposta pelo art. 85, parágrafo único, da Constituição, desde que as normas regimentais sejam compatíveis com os preceitos legais e constitucionais pertinentes, limitando-se a disciplinar questões interna corporis. Improcedência do pedido.

A VOTAÇÃO PARA FORMAÇÃO DA COMISSÃO ESPECIAL SOMENTE PODE SE DAR POR VOTO ABERTO (CAUTELAR 41INCIDENTAL): No impeachment, todas as votações devem ser abertas, de modo a permitir maior transparência, controle dos representantes e legitimação do processo. No silêncio da Constituição, da Lei nº 1.079/1950 e do Regimento Interno sobre a forma de votação, não é admis-sível que o Presidente da Câmara dos Deputados possa, por decisão unipessoal e discricionária, estender hipótese inespecífica de votação secreta prevista no RI/CD, por analogia, à eleição para a Comissão Especial de impeachment. Em uma democracia, a regra é a publicidade das votações. O escrutínio secreto somente pode ter lugar em hipóteses excepcionais e especificamente previstas. Além disso, o sigilo do escrutínio é incompatível com a natureza e a gravidade do processo por crime de responsabilidade. Em processo de tamanha magnitude, que pode levar o Presidente a ser afastado e perder o mandato, é preciso garantir o maior grau de transparência e publicidade possível. Nesse caso, não se pode invocar como justificativa para o voto secreto a necessidade de garantir a liberdade e independência dos congressistas, afastando a possibilidade de ingerências indevidas. Se a votação secreta pode ser capaz de afastar determinadas pressões, ao mesmo tempo, ela enfraquece o controle popular sobre os representantes, em violação aos princípios democrático, representativo e republicano. Por fim, a votação aberta (simbólica) foi adotada para a composição da Comissão Especial no processo de impeachment de Collor, de modo que a manutenção do mesmo rito seguido em 1992 contribui para a segurança jurídica e a previsibilidade do procedimento. Procedência do pedido.

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or. Como já afirmei, o Brasil é um País no qual o imaginário social supõe que por trás de cada porta fechada são conduzidas tenebrosas transações e – acrescento – que cada votação secreta está a encobrir barganhas e acordos pouco republicanos. Portanto, em um processo de tamanha seriedade como o do impeachment, não é possível invocar como justificativa para o voto secre-to a necessidade de garantir a liberdade e independência dos congressistas, afastando a possibilidade de ingerências indevidas (por exemplo, de lideran-ças partidárias, dos pares ou de outras autoridades). Se a votação secreta pode ser capaz de afastar determinadas pressões, ao mesmo tempo, ela enfraquece a possibilidade de controle popular sobre os representantes, o que vai na contramão das exigências dos princípios democrático, re-presentativo e republicano. Daí porque não se pode admitir o escrutínio sigiloso em processo desta natureza. (grifo nosso)

9. Conclusão

Portanto, através da síntese histórica realizada, propícia a relembrar a construção do Estado-Nação e do povo demonstrou-se como este (o povo) aparece em momentos oportunos para justificar objetivos diversos, inclusive para integrar a sociedade brasileira, (re)construí-la, moldá-la e por vezes negá-la o que comprova que o sentido da expressão é aberta, contex-tual e vive em disputa.

Passou-se pela crise de representatividade, pela busca de legitimação do sistema de-mocrático, valorização de seus princípios, as concepções de povo e como esse conceito pode ser perigoso em razão de seus usos e potencialidade. Viu-se a importância e consequências advindas da legitimação em nome desse sujeito coletivo maior com a análise das decisões do Supremo Tribunal Federal - ADIN 5.081/ DF /ADIN 4.650/DF/ADPF 378/DF - escolhidas criteriosamente em razão da temática jurídico-política e uso do conceito povo - sob vários as-pectos: soberania e vontade populares, princípios democráticos, povo ativo e participante, controle dos representados sobre representantes, entre outros. Em suma: a metodologia proposta junto à análise da matriz linguístico-pragmática uti-

lizada nas decisões examinadas permitiu a compreensão de que povo é um conceito indeter-

minado, plurívoco, dotado de carga valorativa e legitimadora, quiçá ilusória. Dessa forma, o

povo não se restringe a quóruns pré estabelecidos ou a mera massa de manobra, mas sim, é

apenas um conceito construído e reconstruído coletivamente e usado estrategicamente em dis-

cursos políticos e decisões jurídicas.

10. Referências

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