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1199601521 '; 1111111111111111111111111111111111111111 ',· FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO CÉLIA AMARAL SOUZA MARENGO BARTH MARKETING DE PRODUTOS DE LUXO: SIMBOLISMO, MARCAS E ESTRATÉGIA Dissertação de Mestrado apresentada:_à Esq9la de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Área de Concentração: Mercadologia ORIENTADOR: PROF. DR. RUBENS DA COSTA SANTOS SÃO PAULO 1996 '. 1199601521

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

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Page 1: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

·~

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

CÉLIA AMARAL SOUZA MARENGO BARTH

MARKETING DE PRODUTOS DE LUXO: SIMBOLISMO, MARCAS E ESTRATÉGIA

Dissertação de Mestrado apresentada:_à Esq9la de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.

Área de Concentração: Mercadologia

ORIENTADOR: PROF. DR. RUBENS DA COSTA SANTOS

SÃO PAULO

1996

'. 1199601521

Page 2: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Ao Nelson

e

ao F emando Miguel.

pág.2

Page 3: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Agradecimentos

O presente trabalho não seria possível sem o apmo de muitas

pessoas que, de uma forma ou de outra, deram sua contribuição.

Assim sendo, gostaria de agradecê-las:

• ao Nelson, que me incentivou e que nos momentos mais

dificeis estava ao meu lado para me dar apoio;

• aos meus pais, meus irmãos, minha avó e meu sobrinho

que deram sempre carinho e força;

• ao Prof. Rubens da Costa Santos pela orientação no

decorrer desta dissertação;

• à minha amiga V ivian, que me deu muitas idéias;

• ao Luís Tadeu e à Ester pelo incentivo;

• aos Srs. Pierre Crouvillard, Remi Coubronne, Gilberto B.

Pereira, Suzanne Strehlau, Ana Maria Magalhães e Carla

Terzaghi, que auxiliaram na realização da parte prática;

à CAPES, sem a qual este trabalho não teria sido possível.

Obrigada.

Célia Amaral Souza Marengo Barth

pág.3

Page 4: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Barth, Celia Amaral Souza Marengo.

Marketing de produtos de luxo: simbolismo,

marcas e estratégias, São Paulo, EAESP/FGV,

1996. (Dissertação de Mestrado apresentada

ao curso de pós-graduação da EAESP/FGV, área

de concentração: Mercadologia)

Resumo. Trata-se de revisão

bibliográfica sobre produtos e serviços de

luxo, a fim de verificar como as empresas

adotam estratégias para diferenciação de

seus produtos, utilizando ferramentas de um

marketing diferenciado e construindo uma

imagem de marca adequada.

Palavras chaves: Luxo Produtos

Imagem - Marca - Necessidades do Consumidor

Comunicação Segmentação de Mercado

Distribuição - Preço

pág.4

Page 5: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

, INDICE

Índice .................................................................................................... 5

1. Introdução ......................................................................................... 8

2. Justificativa ....................................................................................... 12

3. Metodologia ...................................................................................... 16

4. Revisão Bibliográfica ........................................................................ 19

4.1. Produtos de luxo, significado e símbolos ................................ 20

4.2. Primórdios do luxo ................................................................. 30

4.3. Necessidades e comportamento do consumidor ...................... 33

4.3.1. Necessidades ........................................................... 33

4.3.2. Comportamento do consumidor de luxo ................... 34

4.4. Marca, imagem e comunicação da marca no luxo ................... 38

4. 5. Estratégia dos produtos de luxo .............................................. 4 7

4.6. Posicionamento e segmentação dos produtos de luxo .............. 52

4.6.1. Posicionamento dos produtos de luxo ...................... 52

4.6.2. Segmentação dos produtos de luxo ........................... 53

4. 7. Marketing dos produtos de luxo .............................................. 62

4. 7.1. Política de produto ................................................... 65

4.7.2. Política de preço ...................................................... 68

4. 7.3. Política de distribuição ............................................. 71

4. 7.4. Política de promoção I comunicação .......... , ............. 79

pág.5

Page 6: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

\ I

4.8. Conclusões da revisão bibliográfica ........................................ 87

5. Entrevistas realizadas junto às empresas ............................................ 89

5 .1. Questionário ............................................................... 90

5.2. Entrevista N° 1 ............................................................ 93

5.3. Entrevista N° 2 ............................................................ 97

5.4. Entrevista N° 3 ....................... ~ .................................... 101

5. 5. Entrevista N° 4 ............................................................ 106

5.6. Comentários sobre as entrevistas ................................. 109

6. Conclusões ........................................................................................ 110

7. Limitações do estudo e sugestões de pesquisas futuras ...................... 114

8. Bibliografia ....................................................................................... 116

pág.6

Page 7: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

"Superjlu, chose tres nécessaire ...

j 'aime le luxe et même la mollesse ... "

Voltaire

pág.7

Page 8: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

1. INTRODUÇÃO

Esta dissertação de mestrado tem como foco o marketing de -...J ·

produtos de luxo, em especial o simbolismo, as marcas e as

estratégias.

No mundo contemporâneo, onde se sobressaem idéias como

política ecológica, economia dos recursos naturais e produtividade

infmita, pode ser estranho que ainda sobrevivam os apelos

mercadológicos para o consumo dos assim chamados produtos de

luxo, visto que, em princípio, tais produtos exigem dos seus

consumidores atitudes nem sempre racionais no momento da decisão

pela aquisição.

Cumpre reparar que nem sempre os produtos de luxo

correspondem a bens físicos, como os tradicionais "carros, jóias,

perfumes, roupas de griffe, etc.". O consumidor também toma a

decisão por utilizar os serviços de luxo, muitas vezes com a mesma

motivação que o levaria a adquirir os objetos de luxo. Basta lembrar

de serviços como hotéis, restaurantes, vôos de primeira classe, etc.

No decorrer deste texto, a expressão "produtos de luxo"

englobará não somente os objetos materiais como também os

serviços de luxo.

pág.8

Page 9: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Os motivos que levam o consumidor a desejar (e

consequentemente a adquirir um produto de luxo ou a usufruir um

serviço de luxo) são objeto de extensos estudos. Muitas vezes

disfarçadas em reais vantagens (conceitos como qualidade

diferenciada, conforto merecido, etc.), as motivações podem chegar a

representar questões estritamente psicológicas ou de enquadramento

social. Usufruir de um produto qualquer de luxo pode causar efeitos

psicológicos de projeção social, de diferenciação entre os pares ou,

ao contrário, de adequação a um perfil de moda. A utilização de um

carro importado no Brasil da era do início da abertura das

importações foi (e continua sendo, embora talvez em menor grau)

como um sinal para a comunidade de que o indivíduo seria distinto

socialmente devido ao seu poder econômico ou devido à sua

capacidade intelectual superior demonstrada na escolha do bem.

Paradoxalmente, pode demonstrar também um desespero psicológico

em seguir os novos padrões daquela casta social a que pertence (não

ter o bem seria um sinal doentio ou de fracasso ... ).

As motivações dos consumidores de produtos de luxo são muito

mais complexas e intrincadas do que as simples postulações acima

apresentadas. Tais motivações, para serem bem entendidas, exigem

estudos psicológicos (a nível do indivíduo), sociais e econômicos. A

inserção do indivíduo no seu meio, a inserção do seu grupo social na

comunidade ou ainda a inserção do país na comunidade internacional

subsidiam algumas explicações para inúmeros comportamentos de

consumo.

pág.9

Page 10: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Claramente, em contrapartida à motivação do consumidor do

produto de luxo, existem os agentes responsáveis por toda uma

estrutura econômica de produção, distribuição, estabelecimento de

imagens de marca e de comunicação com o consumidor próprios dos

produtos e dos serviços luxuosos. Citam-se os exemplos atuais (e

tradicionais) das assim denominadas maisons (Maison Christian

Dior, Maison Cartier), símbolos de tais agentes direcionados

exclusivamente para atender às motivações dos consumidores de

luxo.

Apesar de toda esta caracterização fascinante que distingue o

mercado de luxo dos demais mercados, toda a teoria e -prática

tradicionais do marketing constituem as ferramentas básicas para a

estratégia e posicionamento destes produtos ou serviços. Dada a

complexidade motivacional relacionada com este mercado, tornam-se

também igualmente complexas as táticas de diferenciação dos

produtos de luxo de uma dada empresa. Afinal, concorrência também

é uma certeza neste mercado (obviamente, as regras desta

concorrência nem de perto se assemelham às regras que ditam a

concorrência no segmento dos commodities).

O mundo dos consumidores dos produtos e serviços de luxo não

constituem uma massa uniforme, com motivações idênticas. Apesar

dos vários elementos comuns que unem os desejos por tais produtos,

existe uma real segmentação de mercados. Tal segmentação não é

somente determinada por estratificações de poder econômico de

pág. 10

Page 11: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

compra. Os próprios ambientes culturais onde o indivíduo se insere

são determinantes· dessa segmentação. O produto de luxo para o

grupo social das pessoas intelectualmente mais esclarecidas, com

capacidade de opinião própria, claramente se distingue do grupo

orientado diretamente pela mídia básica, visto que exige uma

estratégia mais sofisticada para penetrar nos meandros das

motivações psicológicas que resultarão na efetiva compra.

Quanto à estratégia adotada pelas empresas de produtos ou

serviços de luxo, vê-se que muitas adotam uma estratégia de

marketing particularmente eficaz a fim de elaborar produtos,

estabelecer distribuição, determinar pontos de venda e defmir a

comunicação dos produtos de luxo coerente com o "universo" a qual

pertencem, seja através de uma política de marketing global

emergente (exemplo: Kenzo ), seja pela presença no decorrer do

tempo de uma marca tradicional (exemplo: Guerlain).

pág.ll

Page 12: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

2. JUSTIFICATIVA

Nesta dissertação, pretende-se estudar o marketing dos produtos

e serviços de luxo, ressaltando aspectos relacionados com o

simbolismo, as marca e estratégias.

A aceleração na velocidade com que ocorrem as mutações nos

mercados consumidores e nas estruturas organizacionais exigem, e

exigirão cada vez mais, dos novos profissionais que responderão

pelas estratégias do marketing de luxo um profundo conhecimento do

seu métier. Esta dissertação de mestrado poderá oferecer uma

contribuição a estes profissionais.

Em artigo publicado, BRESCANCINI [1995 - p. 26] menciona

que o Comitê Colbert, associação francesa que congrega, entre

outras, as marcas Dior, Hermes, Lalique e Christofle, anunciou que

as vendas destas tradicionais marcas saltaram de US$ 4 bilhões em

1988 para US$ 6 bilhões em 1994.

É interessante observar os apelos mercadológicos que levam

alguns poucos milhões de consumidores em todo o mundo a

adquirirem produtos de luxo, pois são preponderantemente os valores

psico-sociológicos, acima dos econômicos, que os levam a adquirir

estes tipos de produto.

pág.12

Page 13: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

As marcas são um empreendimento e uma assinatura, existindo

uma tradição e uma soma de valores voltosa associada ao negócio.

Apesar de se tratar de um segmento altamente elitizado, que

oferece oportunidade de compra a poucos privilegiados, muitas

grif.fes famosas têm feito um esforço sobrenatural para sua

sustentação no mercado e sua Imagem de marca, implicando

estratégias complexas desenvolvidas pelas empresas deste segmento.

A motivação deste estudo deu-se principalmente pelas

"crescentes" importações ocorridas no nosso mercado, pela tendência

de consumir produtos importados e pela busca da satisfação do

consumidor através deste tipo de consumo, além da busca constante

do ser humano em diferenciar-se através da compra de bens de luxo.

Com a globalização dos mercados a nível mundial e, em

particular, com a abertura do mercado nacional às importações nos

últimos anos, criou-se uma situação sui generis para o consumo de

luxo no Brasil.

Antes desta referida abertura comercial no Brasil, produtos,

como por exemplo carros importados, eram extremamente escassos,

quase "proibidos". A posse de um Mercedez Benz indicava uma

ostentação quase agressiva, pela simples apresentação desta marca

(sempre lembrando que esta marca na Europa, apesar de possuir uma

imagem de qualidade, não transmite esta atmosfera de luxo).

pág. 13

Page 14: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Os equipamentos eletrônicos (áudio, vídeo, etc.) das marcas

internacionais eram considerados como caracterizadores de status

pessoal para os afortunados que os possuiam, indicando, no mínimo,

que a pessoa "costuma viajar ao exterior". Produtos comuns no

exterior se travestiam com uma imagem de raridade e de luxo no

Brasil.

A própria reserva de mercado para bens de informática concedia

aos raros possuidores de um equipamento comum americano um

status de "acima do lugar comum em termos tecnológicos". Era o

caso em que produtos pertencentes à esfera das commodities no

mercado americano chegavam ao Brasil com uma atmosfera de luxo

tecnológico.

A partir da abertura para as importações no Brasil, o conceito de

luxo está em profunda turbulência. A chegada, aos milhares, de

carros importados de todas as procedências, de todos os preços e

qualidades, está no mínimo diminuindo a aura de raridade sobre o

assunto. A expressão "carro importado" deixou de ser um sinônimo

óbvio de "qualidade para quem pode". O simples fato de possuir um

carro importado não mais concede tantos prazeres psicológicos aos

possuidores. A atmosfera de luxo migrou da expressão "carro

importado" para "carro importado caro".

A preservação do caráter de luxo associado a uma marca é tão

ou mais complexa do que o lançamento inicial. Cumpre lembrar o

pág.14

Page 15: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

caso do chocolate Ferrero Rocher, de procedência italiana,

considerado um produto comum na Itália, mas um produto de luxo e

raro no Brasil pela estratégia dos importadores. No Brasil, somente

era encontrado em lojas onde o clima de luxo ("lojas de importados")

já estava previamente instalado. Hoje, talvez por um descuido ou

descontrole, o mesmíssimo chocolate é vendido pelos camelôs de São

Paulo, destruindo qualquer imagem de charme que o produto ainda

possuísse.

pág. 15

Page 16: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

3. METODOLOGIA

A dissertação apresenta aspectos exploratórios, objetivando

levantar conceitos e sistematizar idéias na área de produtos de luxo e

marketing de luxo. Nesta dissertação, não houve a intenção de

apresentar hipóteses e testá-las.

O estudo é de natureza teórico-empírica. Ao ser definida uma

dissertação desta natureza, compreendem-se duas etapas para sua

elaboração: revisão bibliográfica e uma pesquisa de campo.

Na parte de revisão bibliográfica, elaborou-se um estudo de

artigos, livros e materiais que tratam do assunto, em bibliotecas e

instituições onde puderam ser pesquisados, a fim de recolher,

selecionar, analisar, articular e sintetizar estas contribuições

existentes sobre o tema.

A pesqmsa bibliográfica foi realizada no Brasil e,

principalmente, em Paris (França), dado que o tema da dissertação é

bastante explorado nesse último país. Cabe observar que Paris possui

escolas de nível superior oferecendo cursos de marketing com

especialização em produtos de luxo.

pág. 16

Page 17: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Na parte da pesqmsa de campo, foram feitas algumas

entrevistas com executivos de empresas posicionadas no segmento de

marketing de luxo.

Para esta pesquisa de campo, foram escolhidas empresas de

diferentes segmentos do mercado de luxo.

As empresas e seus executivos foram selecionados através de

amostra não-probabilística, ou seja, foram feitos contatos com

profissionais da área cujos depoimentos supõe-se serem relevantes e

pertinentes ao estudo.

Os cuidados metodológicos seguidos durante a revisão

bibliográfica, a consolidadação das idéias e a preparação do texto

final da dissertação de mestrado incluem algumas das recomendações

mencionadas em RUIZ [I 980].

Utiliza-se tipicamente a pesqmsa dita exploratória para os

seguintes objetivos [MA TT AR, 1993 - pg. 85]:

familiarizar e elevar o conhecimento e a

compreensão de um problema em perspectiva;

auxiliar a desenvolver a formulação mais precisa do

problema de pesquisa;

pág.17

Page 18: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

• acumular a priori informáções disponíveis

relacionadas a um problema de pesquisa conclusiva

a ser efetuada futuramente;

• ajudar no desenvolvimento ou na criação de

hipóteses explicativas de fatos a serem verificados

numa pesquisa causal;

• auxiliar na determinação de variáveis relevantes a

serem consideradas em um problema de pesquisa

conclusiva;

• clarificar conceitos;

• estabelecer prioridades para futuras pesquisas .

A pesquisa exploratória se faz útil quando o pesquisador já tem

algum conhecimento sobre o assunto em questão, permitindo uma

clarificação de idéias.

A dissertação é assim dividida:

capítulos relativos à introdução, à justificativa e à

metodologia;

capítulos com itens pertinentes à revisão

bibliográfica;

entrevistas;

capítulos com as conclusões, limitações do estudo e

sugestões para estudos futuros;

bibliografia .

pág.18

Page 19: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

pág.19

Page 20: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

4.1. PRODUTOS DE LUXO, SIGNIFICADO E SÍMBOLOS

Um produto é algo que pode ser oferecido a um mercado, para

sua apreciação, aquisição, uso ou consumo, podendo satisfazer um

desejo ou uma necessidade [KOTLER, 1994 - p.506]. Na compra de

um bem, deve-se analisar o que se oculta sob cada produto. No tema

do luxo, são examinados os atributos dos produtos de luxo, pois

refere-se sempre a produtos que possuem um posicionamento

diferenciado, uma estratégia elaborada e uma imagem de marca bem

cuidada.

Para começar a considerar os fatores que diferenciam os

produtos de luxo, segundo DICHTER, "Os objetos que nos cercam

não apresentam somente aspectos utilitários. Estes são, também e

sobretudo, os espelhos . que refletem nossa própria imagem.

Númerosos são os aspectos de nós mesmos que estes objetos nos

fazem descobrir. Na pnmetra vez que compramos um barco,

descobrimos em nós mesmos uma série de aspectos de nossa

personalidade, estabelecendo também uma nova ligação entre nós e

todas as propriedades do barco". [DICHTER, 1970- p.l0-11]

"Geralmente, a compra de um produto de luxo demonstra que a

pessoa que o adquiriu tem posses suficientes para a aquisição ou que

busca algum tipo de satisfação com este bem, pois, muitas vezes,

examinando-se somente a função utilidade deste produto, este

pág.20

Page 21: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

poderia ser substituído por um produto similar. A compra de um

artigo de luxo vem exprimir que quem o adquiriu deixou de lado a

função necessidade intrínseca do produto para atender a um jogo

pessoal de desejos, inscrito em condutas frívolas ou ostentatórias."

[SERRAF, 1991 - p.7]

A palavra luxo tem por defmição: "modo-de vida caracterizado

por grandes gastos consagrados na aquisição de bens supérfluos, pelo

gosto de ostentação, suntuosidade excessiva, magnificência"

[ROBERT, 1990].

Segundo CASTAREDE, a palavra "luxo" vem do latim "luxus",

com o significado de abundância e refmamento [CAST AREDE,

1992 - p. 7]. O luxo é um conceito extremamente contestado.

Constatando-se que a metade do mundo é mal nutrida, onde a

"verdadeira luta" é aquela relacionada com a igualdade de chances e

oportunidades, a vitrine do luxo insulta e choca. O luxo é geralmente

estigmatizado e condenado por todos os discursos políticos. O luxo é

enxergado simultaneamente como mal necessário, válvula de escape,

mola da economia, indispensável, eterno e universal.

JEANNIN cita em seu livro o modo pelo qual Nietzche mostra as

sensações causadas pelos objetos de luxo: "O luxo é uma forma de

triunfo permanente sobre todos aqueles que são pobres, atrasados,

sem poder, maus, insatisfeitos, ... ". [JEANNIN, 1983- p. 53]

pág.21

Page 22: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

No texto [LOMBARD, 1989 - p.27], os elementos

caracterizadores de um produto de luxo obrigatoriamente se baseiam

nas seguintes condições necessárias (os exemplos não são do autor da

referência bibliográfica):

• uma superioridade técnica ou tecnológica (exemplo: automóveis

Rolls-Royce ),

• uma estética particular (exemplo: malas Louis Vuitton),

• um preço elevado (exemplos: porcelana Noritake, Hôtel

George V),

• uma distribuição seletiva (exemplo: Maison Cartier),

• uma grande marca (exemplo: relógios Rolex), .

• uma clientela de "conhecidos" (exemplo: griffes que vestem

artistas ou personalidades) e

• esnobismo (exemplo: iates).

Os produtos de luxo são aqueles geralmente considerados

"supérfluos" aos quais são agregados artificialmente elementos de

prestígio e de , sedução. Podem corresponder ainda a objetos

excepcionais que justifiquem esforços e sacrificios para "beneficiar"

seus consumidores.

Produtos de luxo são aqueles que possuem um significado capaz

de desempenhar uma função diferenciada dentro da gama de

pág.22

Page 23: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

produtos tangíveis. Seus consumidores se destacam dentro de um

sistema de influências interpessoais ou sociais em uma sociedade de

aparências. Na sociedade, principalmente a de cultura ocidental,

existe a noção de que as personalidades que consomem os produtos

de luxo possuem os valores reconhecidos e desejados pela

consumidor comum, possuindo inclusive o poder de destrui-los ou

revalorizá-los.

A utilização do luxo acaba determinando o nível do consumidor

na hierarquia social, na distinção das classes econômicas. Atribui

uma conotação de filiação a grupos distintos numa grande sociedade

de massa. Os produtos de luxo concedem a quem os consome uma

posição de aparência que equivale a um status social e a um atributo

de distinção. Induz a uma diferença psicológica e social, no sentido

de uma posição de capacidade superior.

Os produtos de luxo se manifestam como sinal do poderio do

dinheiro, como símbolo de poder de satisfação e de liberdade ou,

ainda, como marcas de intimidação.

ALLÉRES fala do luxo reservado a classes dominantes, aquelas que

são elegantes e de bom gosto, onde este luxo torna-se uma

instituição e referência, oferecendo uma imagem exata de uma

sociedade hierarquizada e de um poder absoluto.

[ALLÉRES, 1992- p.79]

pág.23

Page 24: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

"Os objetos tem seus valores simbólicos e sua

consumação é muitas vezes de competição, de status.

Em numerosos casos, a compra de um determinado

carro, de uma segunda residência ou de artigos de griffi

exprimem uma vontade explícita de se diferenciar

socialmente. Assim, os produtos d~ luxo são sempre

valorizados e procurados, mostrando a persistência de

códigos de diferenciação social pelo uso de

determinados produtos ( ... ). Nós consumimos, através

de objetos e marcas, pelo dinamismo, poder, elegância,

virilidade, feminilidade, refinamento, segurança e tantas

outras imagens que influenciam nossas escolhas ... "

[LIPOVETSKY, 1987- p.205/6]

Os artigos de luxo tendem a ser produzidos de materiais de

excelente qualidade e são reputados pela sua raridade ou tecnologia

especial, o que é fundamental para diferenciá-los. São desenvolvidos

através de uma concepção excepcional, de criação única. Apresentam

um custo muito elevado. Integram um valor de savoir-faire

específico.

O resultado da sua fabricação. representa uma condensação de

riqueza, que se enquadra em uma escala de valores já reconhecidos

dentro de uma cultura. A marca, o valor de decoração, o objeto ou

bem de durabilidade variada caracterizam uma categoria de bens de

pág.24

Page 25: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

acesso dificil, cuja detenção e uso são reservados a grupos distintos e

privilegiados.

A origem ou as características fisicas adotadas pelos objetos de

luxo implicam geralmente um carater excêntrico e original afetado

por certo exotismo. O ciclo de vida destes produtos é todo especial.

"Os produtos de luxo são originários de um tempo antigo ou

restauram uma época passada, sendo valorizados pela sua

antiguidade. Alternativamente, podem constituir produtos de

vanguarda, antecipando uma moda ou uma tendência. Os produtos

de luxo são resultantes de um sav_oir-faire artesanal ou de uma obra

original de um artista ou, ainda, são integrantes de uma série limitada

de um pequeno número de exemplares. O grau de distinção do

produto pode ser "medido" pelo seu ponto de venda (loja de prestígio

ou única) ou pela origem do mesmo. Pode ser marcado por uma

assinatura, uma estampa ou uma marca que lhe dão autenticidade e

garantia. Muitas vezes a assinatura de um pintor, a gri.ffe de um

costureiro, a marca de uma caneta ou de um automóvel são

suficientes para estabelecer o valor, não somente aos olhos de um

comprador ou de um iniciante, mas sobretudo aos olhos dos

numerosos consumidores que são excluídos." [SERRAF, 1991 - p.8]

"O luxo ( ... ), objeto de desejo ou de frustração, tomou-se objeto de

tensão entre um direito e um fato, entre um desejo de posse cada vez

pág.25

Page 26: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

mruor e uma faculdade de satisfação, cada vez mais reduzida ... "

[PERROT, 1995 - p.125]

Segundo GATARD, o produto de luxo não tem uma defmição

natural: todo objeto é suscetível de invocar o luxo desde que o

contexto de sua utilização o permita [GATARD, 1991- p.17].

SERRAF mostra uma outra perspectiva que pode ser adotada para

defmir os . produtos de luxo ao lado daquela baseada nas suas

características intrínsecas: as dimensões comportamentais do

consumidor que lhes são associadas [SERRAF, 1991 - p.8].

A defmição dos produtos de luxo a partir das suas

características intrínsecas podem apreender três fatores do domínio

de luxo [FILSER, 1994- p.348]:

A natureza do produto - o caráter luxuoso pode ser conferido

a um bem pelas matérias primas que entram em sua

composição, ou ainda pelo carater único do seu processo de

fabricação (pode-se considerar que se trata de uma defmição

econômica de produto de luxo, pois é o custo de produção do

produto que determina sua característica luxuosa).

A origem do produto - um produto pode ser luxuoso porque

tem . uma origem geográfica fora do comum (artesanato

exótico) ou porque vem de uma época passada (antiguidade)

ou, ao contrário, porque antecipa uma tendência (produto de

pág.26

Page 27: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

vanguarda). O caráter prestigioso desta ongem deve ser

atestada por uma garantia, seja esta exterior ao produto (a loja

que o vende) ou agregada ao produto (certificado de

autenticidade).

• A função simbólica do produto- o produto de luxo preenche

uma função essencial para estruturar as relações

inter-pessoais. É o uso que é feito de um produto que defme

seu caráter excepcional, então luxuoso. Se encontram aqui as

funções desenvolvidas por Baudrillard. O objeto de luxo é

então utilizado para que suas características sejam transferidas

em direção daquele que o usa.

Sendo ligado ao conceito da belezª' em seu sentido amplo e

genérico, o luxo está correlacionado com os cinco sentidos

[CASTAREDE, 1992 - p.21/22]. A audição, afora o fato de ser

fundamental para a comunicação e a emoção (juntamente com a voz

humana), perde para a visão na associação dos objetos de luxo.

Existem poucos objetos de luxo ligados à orelha e muitos, ao

contrário, que nossos olhos nos fazem descobrir. Os objetos de luxo

que o olhar descobre são:

• os lugares, os jardins, os imóveis, a arquitetura, a

natureza;

• os objetos de deslocamento (bagagem,. me1os de

locomoção, lugar de hospedagem);

pág.27

Page 28: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

• a decoração do cotidiano, móveis, prataria, mesas,

bibelots, objetos de arte;

• os ornamentos de sedução, como roupas, jóias, perfumes

(o atrativo visual dos mesmos);

O sentido do odor revela um reino misterioso dos perfumes. O

olfato sempre foi maltratado pelos filósofos. Platão e Aristóteles

falavam que o prazer proporcionado pelo olfato seria menos puro que

os proporcionados pela visão e pela audição. Kant considerava o

olfato como um sentido ingrato, obtendo mais desprazeres que

satisfações, e julgava-o, consequentemente, inútil de se cultivar.

Hegel o excluía do estético porque ele nem permite o verdadeiro

conhecimento do mundo nem o verdadeiro conhecimento de si. O

movimento de reabilitação do olfato começa verdadeiramente no

século 18, com os sensualistas. A revalorização do olfato é ligada

então ao conhecimento intuitivo, com conexões ao "faro", à

sagacidade, à penetração do espírito e à simpatia.

"O luxo, é em suma, o reencontro do homem e de sua história, o

ato voluntario de um indivíduo no que tem de único para marcar sua

liberdade e para ( ... ) se elevar acima de sua condição".

[d'ISTRIA, 1991 -p.I4]

Um produto dito de luxo pela sua natureza pode ser considerado

um investimento e, inclusive, poderá ser trocado em um mercado de

acordo com a lei da oferta e da demanda. Em se falando de mercado

pág.28

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de arte, a transposição para este domínio das práticas do marketing é

concebível. Em contrapartida, ao se falar do mercado de perfumes, o

valor intrínseco do bem não apresenta relação com a importância

essencial da função simbólica. Pode-se acrescentar ainda que, se o

produto é luxuoso por sua natureza, esta característica luxuosa será

duradoura no tempo e no espaço: um quadro de Rembrandt pode ser

apreciado tanto no Japão como nos Estados Unidos; ao contrário, um

produto de luxo simbólico terá um valor incerto: as roupas que são

consideradas como luxuosas nos Estados Unidos podem ser

rejeitadas .em outros países.

Assim, os produtos de luxo abrangem uma grande variedade de

projeções econômicas, morais, sociais, culturais e psicológicas. São,

antes de tudo e sobretudo, objetos de recompensa pessoal.

pág.29

Page 30: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

4.2. PRIMÓRDIOS DO LUXO

CASTAREDE apresenta uma visão sobre os primórdios da

conceituação daquilo que hoje denominamos como luxo. Entende

como um elemento indispensável à humanidade por responder a uma

necessidade psicologica e biológica fundamental.

[CASTAREDE, 1992- p.7/ll]

O mundo nasceu com o luxo. Sua criação é luxuosa, abundante.

A água, a terra e o fogo não são uma forma de luxo dado o excesso

com que se apresentaram na criação?

As aspirações profundas do homem são ligadas ao desejo do

luxo, ao desejo de superar a carência. O homem é um ser insatisfeito

e persegue um sonho: um alvo inacessível que, portanto, o ajuda a

progredir. O luxo é também uma forma de se procurar um excesso,

fonte do progresso e, consequentemente, fonte de incitamento para

obtenção de vantagens ou melhor vida.

O médio, o medíocre e o banal são os inimigos: empobrece e

dilui nosso dinamismo. O nivelamento pela média nunca dá bons

frutos. A criatividade e a inovação baseiam-se nesta vontade de ir

sempre mais longe e de não se contentar somente com a satisfação

das necessidades imediatas.

pág.JO

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O luxo participa de um movimento em direção da exigência e

da excelência. Desde sua origem, o homem se expõe a um certo

número de considerações de luxo: assim, a roupa não corresponde

somente à sua função de proteger do frio; passa a ser um enfeite. O

homem tem fome (necessidade obviamente básica) mas, para se

servir à mesa, acaba utilizando utensílios cada vez mais sofisticados.

Claramente os atuais talheres de prata Christofle não têm seu valor

associado ao simples ato de saciamento básico da fome.

Pode-se dizer que, até a idade média, o luxo foi o reflexo do

mistério religioso que estimulava o homem a se exceder nas suas

oferendas ou nas buscas por sinais. Os templos e as catedrais, em

suas grandiosidades e suntuosidades, revelam este movimento

misterioso que incitavam os indivíduos a atos generosos gratuítos.

O luxo pode igualmente ser também uma marca de identidade

(ser diferente do vizinho). Esta reflexão nasce com o aparecimento

das camadas sociais e das castas. O luxo se toma atributo de uma

classe. É a marca do poder, como atesta a importância dos

ornamentos, das coroas, das armas e dos brasões.

Os reis construíam os castelos que não serviam somente para

proteção. Artistas da ltalia foram chamados para construir os castelos

do Vale do Loire. O luxo é um chamado à consideração (ser aceito,

pertencer ao grupo). Os hábitos da corte mudam constantemente e é o

pág.31

Page 32: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

rei que inspira a moda. As festas são cada vez mais numerosas e

suntuosas.

Tal inspiração segue até os nossos dias de hoje, nas festas

suntuosas promovidas por F orbes, Mickael J ackson, etc.

CASTAREDE [1992- p.ll] contém a menção a Jean Duvignaud no

seu livro Festas e Civilizações, justificando ser a festa um real

componente do luxo: "A festa, efêmera ou transitória, faz nascer

sementes de idéias e de desejos até então desconhecidos e que muitas

vezes a ela sobrevivem. Privados desta atividade aparentemente

gratuita, desta fmalidade sem fim, a espécie humana cairia no

animalesco".

Os filófosos e pensadores de todos os tempos têm opinado em

abundância sobre o luxo: desde apologias à sua vital necessidade e

aos beneficios ao desenvolvimento da humanidade, até criticas

ferozes comparando o luxo a demonstrações associadas ao inferno

(imoral, pernicioso e depravado). Todavia, a maioria dos

pensamentos a respeito do luxo esbarram no problema de sua exata

caracterização: o luxo como mero sinônimo de riqueza até o luxo

com todas as conotações de excesso e de distinção social.

pág.32

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4.3. NECESSIDADES E COMPORTAMENTO DO

CONSUMIDOR

4.3.1. NECESSIDADES

Segundo ALLÉRES, nas sociedades economicamente

desenvolvidas e nas sociedades em via de desenvolvimento, existe

cada vez mais uma tendência ao aumento do consumo e nos níveis de

aquisição de bens e de serviços de toda natureza, os quais são cada

vez mais procurados, mostrando uma multiplicação de necessidades.

[ALLÉRES, 1990- p.9]

"A noção de necessidade é solidária ao bem-estar na mística de

igualdade" [BAUDRILLARD, 1970 - p.93]. "Isto significa uma

quase generalização de certos desejos de consumo e do nível de

satisfação mais e mats completo, traduzindo uma certa

"democratização" no consumo desde os anos 50 (cultura, lazer,

esportes, luxo ... )." [ALLÉRES, 1990- p.9]

Entretanto "se todos os homens são Iguais perante as

necessidades e satisfações" [BAUDRILLARD, 1970 - p.61], esta

igualdade se exprime somente face aos valores de uso dos bens e

serviços que traduzam uma relação de utilidade objetiva, natural ou

racional. O valor de troca dos bens muitas vezes traduz um nível de

necessidade subjetivo, menos lógico e natural.

pág.33

Page 34: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

O dilema da evolução do poder de compra e do nível de

consumo é tal que, de um lado, vem favorecer uma certa

uniformidade de alguns modelos de consumo, facilitando o efeito de

mimetismo e reencontro entre classes sociais, e, por outro lado,

antagonicamente, vem manter as diferenças de hábitos e de níveis de

consumo destas classes sociais, de modo a sustentar um excedente de

desejos. Deste fato resultam os produtos diferenciadores, consumidos

somente por certas classes sociais.

Nunca é por demais repetitivo citar MASLOW [1970], com o

conceito pelo qual existe uma ordem específica sobre o

desenvolvimento das necessidades, em função da história das

necessidades do indivíduo. A hierarquia das necessidades começa

com as fisiológicas (fome, sede) e chega às de estima (prestígio) e de

auto-realização (auto-satisfação). As necessidades situadas mais no

topo desta hierarquia são alvo de extrema ambiguidade psicológica

no indivíduo, campo fértil para a proliferação da criação das

necessidades artificiais e ilusórias ("sonhos").

4.3.2. COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE LUXO

A compreensão do comportamento da compra de um produto de

luxo é ainda complexa. De fato, conforme

FILSER [1994- p. 347/348], o produto de luxo caracteriza bem os

limites dos modelos cognitivos de tomada de decisão do consumidor.

Explicar o produto através de seus atributos tangíveis não é

pág.34

Page 35: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

evidentemente satisfatório, pois esta atitude conduz ao desprezo de

todas as conotações simbólicas veiculadas pelo produto de luxo. Mas

estas evocações não podem ser levadas em conta nos modelos de

medidas clássicas de estudo de mercado.

A análise de comportamento de compra no domínio do luxo

depara com dois problemas: as definições de fronteiras do setor (e,

em particular, a pesquisa dos métodos de classificação utilizados pelo

consumidor) e, do outro lado, a seleção de instrumentos de análise

adaptados às características simbólicas do produto.

Duas categorias de fatores exercem uma influência determinante

sobre a compra dos produtos de luxo:

• Os fatores psicológicos - o consumidor retira da posse do

produto de luxo as satisfações pessoais. Neste caso, é a

relação direta do indivíduo com o produto que é

valorizada, sem que o reconhecimento do meio social seja

necessário. A compra de um produto de luxo traz então

valores hedonistas ou narcisistas ou, ainda, reforça a

confiança em si mesmo.

• Os fatores sociológicos - o produto de luxo é valorizado

através da imagem que projeta no indivíduo no me10

social. O principal emprego do produto será o

reconhecimento daquele que o usa, seja pelo estrato social

pág.35

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a que pertence, seja pelos estratos sociais superiores ou

inferiores.

Estes empregos do produto de luxo, pelas suas características e

pelas suas relações com os valores do consumidor, demonstram a

característica multi-dimensional do mercado de luxo e a necessidade

para o produtor de definir o posicionamento que quer dar a seu

produto ou marca.

CASTAREDE apresenta considerações sobre a universalidade e

a diversidade do luxo, o qual permanecerá sempre como um território

à parte, misterioso, controvertido e sobretudo diverso. Sua unidade é

sua especificidade. Ele não responde às motivações das outras

atividade humanas. Não responde também às normas gerais das

atividades econômicas. Pode-se dizer que o luxo está além da lógica

econômica e da lógica mental triviais.

[CASTAREDE, 1992- p.l8/20]

O luxo tem sua lógica própria, que não é reduzida a nenhuma

regra porque está acima dos domínios dos desejos e das

necessidades. O ato da compra obedece a uma única regra:

agradar-se ou agradar alguém. É necessário distinguir:

• a compra para st

• a compra para presente

pág.36

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A compra para SI mexe com os domínios do

auto-posicionamento psico-social e da aparência própria. Pode

representar também a satisfação de um longo desejo, como a posse

de uma coleção de objetos, por exemplo. É necessário compreender a

psicologia daquele de quem se está estudando a motivação própria de

compra. É uma compra freudiana por definição, sendo importante,

portanto, determinar o alvo inconsciente procurado pelo comprador.

A arte do vendedor é detectar esta motivação, sendo importantes os

estudos de psicologia e de motivação baseada nos estilos sociais.

A compra para presente contém aspectos do prazer de um boa

compra (um bom negócio, visto que o presente não é para si mesmo)

e também aspectos relacionados com os efeitos causados pelo

produto, ou seja, a projeção que o presenteador faz sobre o recebedor

do presente.

Como em qualquer atividade com cunho mercadológico, não é

simples determinar se os agentes econômicos geradores dos produtos

de luxo atendem às "necessidades" dos seus consumidores ou se, na

verdade, criam, ampliam ou estimulam tais necessidades. Com

certeza, a resposta é um misto dos dois, em ciclos de realimentação

positiva. Quem "inventou" a grif.fe de roupas? As necessidades

psico-sociaiS do consumidor ou as empresas geradoras destes

produtos?

pág.37

Page 38: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

4.4. MARCA, IMAGEM DE MARCA E COMUNICAÇÃO DA

MARCA NO LUXO

"Imagem de marca é um conjunto de percepções que um

consumidor cultiva a propósito de um produto, de uma empresa, de

uma pessoa ou de uma idéia. Estruturalmente, a imagem está ligada a

uma forma de associação entre o estímulo e um número variado de

atributos discriminados, além de conhecimentos objetivos e de

representações subjetivas." [DUBOIS, 1990 - p.65]

" . . . quando se vende um sonho, cada palavra, cada gesto, cada

impressão dada tem sua importância. É preciso evitar tudo aquilo que

possa banalizar; é uma questão de imagem ... " [ VINCENT, 1990- p.

33]

KAPFERER identifica diferentes funções possíveis das marcas

e diferentes razões que podem fazer com que a marca não atenda às

suas funções para um consumidor. [KAPFERER, 1992 - p. 114]

A primeira razão é a da praticidade. A marca permite com que

se reconheça instantaneamente um produto como satisfatório, sem

que seja necessária uma nova função comparativa. No campo do

luxo, o "satisfatório" indica principalmente necessidades

psicológicas. "Quando eu compro um produto( ... ), eu vejo a marca".

Trata-se de uma função de praticidade, de comodidade, de

pág.38

Page 39: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

simplicidade, de facilitação do movimento até o produto portador da

marca. Este desejo de se "economizar um esforço de reflexão" pode

ser aplicado aos produtos portadores de marcas satisfatórias em

detrimento dos produtos banalizados. Claramente, elementos de

identidade visual ajudam a reconhecer a marca.

A segunda razão é a garantia. A consulta da marca permite

verificar se a mesma pertence ao grupo das grandes marcas. A

notoriedade da marca é uma promessa de qualidade superior.

A terceira razão é a especificidade. Pode-se verificar se se trata

de uma marca X ou Y, pois "só tais marcas me oferecem aquilo( ... )

que eu procuro". Trata-se da marca emitindo uma promessa,

oferecendo uma certeza de correspondência exata com as

necessidades específicas. Uma consumidora diria "eu me visto só

com Sonia Rykiel por que são os vestidos que me caem bem

sempre". Trata-se da "marca-atributo". Neste caso, a marca carrega

os atributos específicos do produto cuja configuração única faz com

que responda a um problema específico do comprador. Outro

exemplo é o caso do Chanel n° 5: algumas mulheres dizem que este

pefume "a elas se assemelha", tratando-se de uma identificação total

entre a compradora e a imagem da mulher que usa o Chanel no 5.

Muitas marcas, além dos atributos fisicos, também tramsitem

atributos psicológicos que são muitas vezes identificados como sendo

os mesmos dos compradores.

pág.39

Page 40: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

A quarta razão é a personalização. As marcas compradas por

um indivíduo dizem um pouco daquilo que ele é, tanto no plano

psicológico como no plano social. No plano psicológico, trata-se da

marca "personalidade", da marca "estilo de vida". Como exemplo,

cita-se Ri v e Gauche, que "não é para mulheres volúveis". A

característica da marca remete à característica do consumidor, a

imagem que tem de si ou que desejaria projetar. Mas a marca é

tambem indicador social. Cada classe social defme as normas e os

limites de atuação. Para dimensionar os significados psicológicos e

sociais da marca, utilizam-se os esquemas:

• "as pessoas que compram um da marca __ _

não sabem reconhecer um bom "

(sensibilidade às grandes marcas pelo medo de não ser

reconhecido como um conhecedor do assunto)~

• "as pessoas que compram um da marca

são assim obrigados, por terem recursos

financeiros limitados" (atribuição da escolha da marca a

um problema fmanceiro pesando sobre o comprador);

• "há gente que julga o outro pela marca que ele

compra" (reconhecimento do papel simbólico da marca);

• "no caso de um , eu prefiro comprar uma marca

que não é comprada por todo mundo" (testemunha o

pág.40

Page 41: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

desejo explícito do comprador de se diferenciar pela

marca).

KAPFERER [1992 - p.125] lista os fatores que levam o

consumidor a comprar sempre da mesma marca (fatores da fidelidade

à marca):

O primeiro fator de fidelidade é a convicção. O consumidor

julga que somente uma marca lhe convém. Esta convicção é o

resultado de um processo de comparação metódica do tipo "eu não

experimento mais, é esta marca que me convém".

O segundo fator de fidelidade é a satisfação preguiçosa. "Apesar

de eu não ter experimentado todas, as outras marcas não são

melhores". Alguns poderão talvez encontrar melhores produtos em

outras marcas, mas esta hipótese parece improvável ao consumidor.

Esta generalização sem base empírica tem uma vantagem de

comodidade evidente.

O terceiro fator de fidelidade é a crença no risco. "Prefiro não

ter riscos experimentando outros produtos". Em um meio onde os

riscos poderão ser graves, é melhor não ter qualquer risco.

O quarto fator de fidelidade é a inércia. "Pego este produto por

hábito, não é necessariamente o melhor". É o caráter "prático" que

predomina.

pág.41

Page 42: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Segundo CASTAREDE, em matéria de luxo a marca é

primordial, sendo tão importante quanto o produto. É um valor

patrimonial. De forma a inspirar uma comunicação eficiente, é

conveniente que se limite o território de reconhecimento da marca e

que se transmita a sua história, sua genealogia, seu fundador, suas

tradições e seus códigos. [CASTAREDE, 1992- p.90]

A legitimidade da marca é fundamentada sobre a qualidade do

produto em questão e sobre seu refmamento, porque a grandeza da

marca de luxo é estruturada no savoir-faire, na tradição da qualidade,

na criatividade, mas também na "lenda". Os clientes fazem

igualmente parte da marca. Alguns clientes, ao adotarem a marca,

contribuem positivamente para sua imagem~ há também clientes que

desestruturam uma imagem de marca.

A seletividade e a inacessibilidade são os vetores da marca.

Entretanto, esta pode se desvalorizar por causa de clientes

inconvenientes ou de um acidente de erro de estratégia. A cópia, a

pirataria e a falsificação são também desvalorizadores da marca,

principalmente no caso do luxo.

"A comunicação de uma imagem de marca, clara e coerente a

um público alvo, constitui um dos papéis furidamentais do

marketing" [PARK, 1986 - p. 137]. Segundo MARION [1987] e

CEGARRA [1990], dentro do domínio do luxo é ·sem dúvida a

marca, o nome, como grif.fe ou garantia, o critério determinante na

pág.42

Page 43: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

escolha do comprador. ARMENGAUD [1990- p.68] acrescenta que

a marca se torna uma grif.fe quando ela escapa do domínio

econômico e comercial em sentido estrito, para se tornar um modo de

identificação e de referência sociológica.

O luxo é um fator de identificação: é um modo de se

diferenciar, de se afirmar, de não ser como os outros ou de copiar

aquilo ou aquele que se admira. Comprando-se um objeto de luxo,

compra-se na verdade o ingresso a um clube [CASTAREDE, 1992-

p.87]. Compra-se uma imagem cujo correspondente valor de uso não

pode ser entretanto ausente, de onde vem a obrigação de perfeição na

apresentação (beleza) e na utilização (qualidade absoluta). A

comunicação da marca relativa ao produto de luxo deve ter em conta

todos os fatores relevantes. No tocante ao valor de uso, a

comunicação é similar às outra formas de comunicação comercial.

Em contrapartida, a comunicação que traz luz sobre o universo

mental é mais sutil e mais delicada. É eminentemente variada em

função dos públicos e das evoluções da mentalidade em voga.

Seguindo os atributos dos indivíduos alvo, a comunicação pode ter

elementos de ostentação, de adequação, de diferenciação, de

reconhecimento, de expressão pessoal, de realização de uma obra ou

de um sonho.

O comprador de um produto de luxo procura ser tratado a parte

e como uma pessoa diferente. Ele deseja antes de tudo a necessidade

de consideração e de "pertencer".

pág.43

Page 44: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

A comunicação se faz essencialmente sobre a marca. A marca

tira sua legitimidade e sua personalidade dos seguintes fatores

[CASTAREDE, 1992- p.91]:

• do produto;

• da clientela;

• da distribuição;

• da comunicação;

• do tempo (a legitimidade, a idade, a história, etc.);

• do território ( made in ... ) ;

• da genealogia (a garantia do criador e do talento) .

As marcas associadas ao luxo possuem uma sub-classificação

interessante, estudada por Kapferer, conforme citação em

ARMENGAUD [1990- p.56]:

• marca "produto", onde existe uma associação clara entre a

marca e o produto comercializado (exemplo: todas as

marcas de champagne);

• marca "guarda-chuva", onde a marca compreende uma

extensa gama de produtos (exemplos: Cartier, Hermes,

Yves Saint-Laurent);

pág.44

Page 45: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

• marca "garantia", onde existe uma dissociação evidente

entre o fabricante e o proprietário da marca, mas esta

última fornece um aval sobre a qualidade (exemplo: Pierre

Cardin);

• marca "corporação", onde existe uma forte identidade

entre a marca e uma grande corporação proprietária de

uma ou mais marcas (exemplo: grupo L VMH - Louis

Vuitton Mõet Hennessy).

A classificação acima não é estática. Existe migração de marcas

entre as classes apontadas. Para as marcas de luxo, existe uma grande

dificuldade é migrar de marca "produto" para marca "guarda-chuva"

ou "garantia".

Apesar do poderio comercial associado às grande marcas do

mercado de ·luxo, a marca é sempre um ente frágil, onde se

convergem todos os esforços e custos para a sua preservação. Os

cinco problemas para a construção da marca de luxo são:

• onde é o equilíbrio entre a construção e a destruição da

marca de luxo?

• pode-se reviver uma imagem de luxo degradada?

• pode-se criar rapiftamente uma imagem no luxo?

pág.45

Page 46: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

• pode-se construir uma nnagem de luxo sobre novas

origens?

• onde é o limite da flexibilidade de uma imagem?

Conforme citação em ARMENGAUD [1990 - p.74], Kapferer

estabelece as seguintes funções básicas para as marcas de luxo:

• simplicação e identidade;

• garantia~

• imaginação e de simbolismo.

Mesmo levando em conta que a procura pelo luxo se orienta

também em direção dos desejos de satisfação das necessidades

materiais, a dimensão imaginária constitui um composto essencial. A

comunicação será a principal ferramenta para reforçar e construir

esta dimensão. A marca tem uma verdadeira personalidade. Pouco

importa que a marca se apoie sobre diferentes produtos. Ela deve

estar coerente com o conjunto dos produtos e o consumidor deverá

reencontrar o que se chama de "território de legitimidade da marca".

A plena e constante consciência disto é vital para a sobrevivência das

marcas associadas ao luxo.

pág.46

Page 47: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

4.5. ESTRATÉGIA DOS PRODUTOS DE LUXO

Os ingredientes básicos do luxo são: a raridade, o elitismo e o

excepcional. Entretanto, por razões econômicas e fmanceiras

evidentes, tanto no segmento de luxo como em qualquer outro

segmento, as empresas têm o interesse de alargar seu volume de

negócios. O paradoxo da estratégia dos produtos de luxo consiste em

aumentar a produção e alargar a difusão sem ultrapassar o limite que

excluiria o produto ou o serviço da esfera de luxo. Ao mesmo tempo,

consiste em um crescimento limitado e compatível com sua imagem

de raridade e de exceção. [BECHTOLD, 1991 - p.41]

Quanto mais a imagem de raridade e de elitismo for marcante,

mais a identidade da marca será forte e mais a diversificação da linha

de produtos será possível (visto que seu poder integratório permitirá

agregar o carimbo "luxo" aos novos produtos).

A estratégia de luxo consiste em estabelecer um clima de

elitismo e de raridade criando assim uma esfera simbólica ao redor de

um produto ou de um serviço.

E o "clima" que cria o luxo antes mesmo do objeto ou do

serviço propriamente ditos. Em sendo dificil defmir um clima, é

possível todavia oferecer uma lista de componentes da cultura de

luxo para a elaboração das respectivas estratégias:

pág.47

Page 48: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

• elitismo,

• inacessibilidade,

• excepcionalidade,

• transgressão do cotidiano,

• raridade,

• refmamento,

• estética I harmonia e

• valor (de forma secundária).

Esta lista não é exaustiva e nem todos os critérios são de fato

indispensáveis para que um produto ou um serviço seja inserido na

categoria de luxo. A associação de alguns destes critérios já pode

caracterizar o luxo.

Os meios simbólicos que transformam um pão ordinário em um

"pão de luxo" são os mesmos utilizados para transformar uma roupa

comum em uma roupa de luxo. O marketing de luxo é complexo,

uma vez que o luxo tem uma cultura complexa, específica. O luxo é

primeiramente um modo de ser, de viver, de comprar, de consumir e

de utilizar. Em todos os produtos de luxo, a parte imaterial é imensa.

Em todos os serviços de luxo, o clima criado é primordial.

pág.48

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Na França as estratégias mercadológicas utilizadas dividem-se

em duas categorias [BECHTOLD, 1991- p. 42]:

• aquelas que se desenvolvem em tomo de um só produto

ou de um só grupo de produtos, apoiando-se na tradição

de maisons relacionada com produtos ou serviços, e

• aquelas que pesquisam a diversificação na segmentação

da marca.

A pnmerra estratégia pode ser denominada "estratégia de

sempre retomar ao centro", ao redor da história da maison. A

segunda é mais uma estratégia de diversificação. A inovação está

presente nas duas estratégias mas, no primeiro caso, a inovação

consiste em uma pesquisa de desenvolvimento para melhorar os

produtos ou serviços existentes; no segundo caso, a inovação exige

um alargamento da linha de produtos.

Para as marcas que escolheram se desenvolver ao redor dos

produtos que têm sempre fabricado, coloca-se o problema da imagem

da modernidade. Possuem a necessidade de inovar para ficar no

movimento da atualidade. Em contrapartida, as marcas que se

diversificam se chocam com o problema da coerência que deve ser

mantida com a tradição da imagem e da marca.

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Page 50: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Como exemplo, ainda da mesma referência bibliográfica, temos

o caso da Guerlain, fundada em 1828 e já há quase dois séculos fiel

ao seu posicionamento de "tradição de perfume", apesar dos anos de

crescimento dos produtos de cuidados da pele e de maquillage que

fizeram a modernidade da marca. A manutenção da tradição se

manifesta também numa distribuição exclusiva para Paris nas

boutiques Guerlain; no resto da França e no mundo inteiro, os

produtos são distribuídos através de um número restrito e selecionado

canais. Esta estratégia de distribuição faz parte do posicionamento da

Guerlain.

ROUX classifica as estratégias de lançamento de produtos de

luxo em duas grandes linhas básicas [ROUX, 1994 - p.5/6]:

• estratégia de diferenciação com campanha de notoriedade

massiva ao nível internacional; e

• estratégia de especialízação ou de nicho.

A estratégia de lançamento massivo é muito custosa. Assim, em

1985, a marca Christian Dior fez um gasto de 40 milhões de dólares

no lançamento do perfurme Poisson, lançamento que foi um sucesso

mundial. Esta estratégia foi seguida por várias marcas.

A segunda estratégia é a da especialização ou de nicho. A

empresa pratica, baseada na força de sua imagem, uma distribuição

pág.50

Page 51: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

bem seletiva e reduzida, utilizando a mídia impressa e relações

públicas para a criação do evento. É o caso do Boucheron no

domínio da joalheria ou da Lalique no setor dos cristais. Nos dois

casos, as maisons procuram uma smergta com o seu métier de

origem ao lançar novos produtos, permanecendo no "território

legítimo da marca". O frasco de perfume Boucheron, lançado

somente em três pontos de venda em Paris, tem a forma de um anel

de ouro com uma pedra de saftra e a publicidade usa a frase: "mais

que um perfume, uma jóia". Sua nova jóia é um perfume. Lalique

escolheu um frasco em cristal lapidado para seu perfume. Esta

estratégia não conduz aos efeitos perversos que podem ocorrer com a

primeira estratégia, que pode levar o produto ao mass market.

LOMBARD cita e expande profundamente o conceito da

geopolítica aplicado ao marketing dos produtos de luxo

[LOMBARD, 1989, p. 33]. O sucesso dos produtos de luxo se baseia

em uma estratégia que ultrapassa as fronteiras das nações, sempre

lembrando que, na história, existiram as nações "formadoras de

moda" e as nações seguidoras.

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4.6. POSICIONAMENTO E SEGMENTAÇÃO DOS PRODUTOS

DE LUXO

4.6.1. POSICIONAMENTO DOS PRODUTOS DE LUXO

BLANCKAERT discorre sobre a veracidade da afirmativa

simplista que relaciona o mercado de luxo com um único fator, o do

alto poder aquisitivo, tema este importante para o posicionamento

dos produtos de luxo pelas respectivas empresas [BLANCKAERT,

1996- p.l33/135].

Os produtos de luxo são produtos tipicamente caros. A partir

deste fato, é razoável admitir que o índice mais revelador da clientela

de luxo é o seu poder de compra. A técnica de administração neste

setor (seleção de amostra estatisticamente significativa para enquete,

escolha de mídia de alto nível, seleção da zona de implantação de

lojas privilegiadas) se apoiam sobre esta hipótese.

A progressão global do poder de compra, mas sobretudo o peso

dos fatores simbólicos e afetivos, têm modificado a natureza do

mercado de proutos de luxo. Os novos "entrantes" no mundo do luxo

compensam, pela aquisição dos produtos altamente simbólicos e

caros, o eventual patrimônio faltante de sua história familiar

(síndrome do noveau riche).

pág.52

Page 53: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Se se defmir como consumidor de luxo, como toda pessoa tendo

comprado nos último dois ou três anos, ao menos cinco produtos de

luxo (jóia com diamantes, pele, perfume, caneta ou isqueiro com

preço superior a U$ 1 00, etc.), então milhões de indivíduos estarão

incluídos neste grupo. Entretanto, não existe homogeneidade de

interesses nesta população. Talvez seja necessário repartir em dois

grandes universos de luxo: o primeiro, com importância nos símbolos

e representações nas quais as marcas constituem o sinal do parecer; e

o segundo, onde a autenticidade e a procura do absoluto, onde as

marcas fornecem os sinais de excelência.

A força da empresa atuando no mercado do luxo consiste em se

posicionar na fronteira destes dois universos e, mais complicado

ainda, em integrá-los. A marca busca então seu magnetismo ao redor

de uns e sua legitimidade ao redor de outros, para se tomar uma ·

marca de luxo.

4.6.2. SEGMENTAÇÃO DOS PRODUTOS DE LUXO

Mesmo no contexto dos produtos de luxo, pode-se fazer uma

segmentação. Uma classificação didática do luxo é apresentada em

CASTAREDE [1992- p.61].

Primeiramente, separado em setores, o luxo pode ser assim

classificado:

pág.53

Page 54: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

• Mercado cultural

objetos de arte

• Meios de transporte

automóveis

iates

aviões a jato de uso pessoal

• Uso pessoal

alta costura

prêt-à-porter

perfumaria

acessórios do vestuário, artigos de couro

sapatos

cosméticos

relógios

joalheria e bijouteria

• Lazer

. . cruzerros em nav1os

esportes de luxo (golfe, pólo, equitação)

coleções (atividades dos colecionadores em geral)

hotelaria de luxo

• Equipamentos da casa

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Page 55: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

cristaleria

prataria

porcelana

faiança

• Alimentícios

vinhos e bebidas

especiarias de luxo

restaurantes de luxo

O mercado de luxo representa hoje cerca de 90 bilhões de

dólares anuais, número este que varia em função do mercado que de

fato se inclui na categoria de luxo. A análise deste mercado efetuado

pela empresa de consultoria McKinsey [CASTAREDE, 1992- p.64 e

MUTSCHELLER, 1992- p.71] indica que 18% do mesmo está

relacionado com os automóveis de luxo, no que tange aos Rolls

Royce, Bentley, F errari, Alpha Romeo, Porsche ·e Jaguar (que sem

dúvida são os carros de luxo), podendo-se ainda agrupar alguns

Mercedez Benz. Os BMW, outrora considerado como luxuosos, hoje

estão mais "banalizados", de acordo com tal consultoria.

A alta costura é chamada de "o farol do luxo" e pode-se agregar

o prêt-a-porter (este último não é considerado propriamente luxuoso).

Este grupo encabeça o luxo com 23% de participação. A alta costura

não representa mais do que alguns poucos bilhões de dólares; a fatia

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Page 56: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

de peso é adicionada pelo prêt -a-porter que representa o grande

volume de negócios.

A tabela abaixo foi extraída de MUTSCHELLER [1992- p.71],

o qual por sua vez utiliza dados de relatórios de McKinsey,

mostrando a segmentação do mercado de 1990, por volume de

vendas:

PARTICIPAÇÃO DOS SETORES ECONÔMICOS NO TOTAL DE VENDAS

ALTA COSTURA & PRÊT-A-PORTER 23%

AUTOMÓVEIS 18%

ACESSÓRIOS DE MODA & COURO 14%

CosMÉTicos 10%

PERFUMES 10%

BEBIDAS 9%

RELÓGIOS 4%

CHAMPAGNE 3%

OUTROS 9%

fonte: McKinsey - Relatório de 1990 - páginas 2 a 6

Uma outra forma de classificação

[CAST AREDE, 1992 - p.65/67], divide os produtos de luxo em três

grandes círculos.

pág.56

Page 57: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Nesta classificação em círculos, o pnmerro deles é o dos

produtos ditos "haut de gamme". São os produtos de luxo acessíveis

a alguns poucos felizardos. Tais produtos correspondem ao assim

chamado "super luxo", incluindo a alta costura, alta joalheria,

relógios de luxo, obras de arte, prataria, baixelas raras, automóveis

"especiais", iates, palácios, etc.

O segundo círculo é mais acessível, onde se encontram os

objetos elegantes de uma reputação de bom gosto e chie. Este

segundo círculo resulta de uma escolha deliberada de compra de um

objeto onde se aceita pagar mais caro por causa da marca ou de uma

conotação valorizante. Corresponde a uma forma de valorização

social ou econômica perante os seus pares, incluindo peles,

vestimentas prêt-a-porter, acessórios do vestuário, malas de viagem,

relógios, canetas, etc. Exemplos típicos são gravatas Hermes, bolsas

Vuitton e canetas Mont Blanc.

O terceiro círculo é daqueles produtos um pouco particulares

ligados ao universo do consumo corrente, sendo bastante acessíveis.

Este círculo é o do luxo das sensações e dos prazeres: perfumes,

lazeres, gastronomia e esportes. Corresponde fundamentalmente ao

luxo dos cinco sentidos e das manifestações do corpo. Incluem-se

portanto os perfumes, os produtos alimentares, os vinhos, etc.

pág-. 57

Page 58: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Olhando os três círculos acima delineados, verifica-se que o

primeiro é mais ligado ao patrimônio, o segundo à imagem e o

terceiro ao universo da qualidade superior e do bem-estar.

CLASSIFICAÇÃO NOS 3 CÍRCULOS DOS PRODUTOS DE LUXO

círculo 1

11p atri m ô n i 0 11

círculo 3

.. qualidade e bem estar'•

ILUSTRAÇÃO ESQUEMÁTICA DA PRÓPRIA AUTORA COM BASE EM

CAST AREDE [1992 - P.65/67]

O produto de luxo do pnmerro círculo é por defmição

prestigioso. O produto quase que se vende sozinho, com procura

espontânea por parte do mercado, e praticamente não exige esforços

mercadológicos. O preço possui uma importância secundária, a

pág.58

Page 59: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

distribuição é altamente seletiva (critério vital) e a comunicação

utilizará muito o recurso "de boca em boca". O brilho e o prestígio

são utilizados como a mais espontâneas das formas de comunicação.

O segundo círculo necessita de uma política de marketing mais

delicada. O produto, por si só, tem sua razão de ser. Entretanto, deve

ser acompanhado de toda uma série de técnicas: preços elaborados

segundos critérios psicologicamente astutos, uma comunicação mais

racional, bem como uma distribuição seletiva, controlada e

relativamente extensa.

O terceiro círculo engloba os perfumes, bebidas e lazeres,

assentando-se sobre a publicidade e a distribuição. Os produtos

oferecerão concorrência entre marcas concorrentes. Os preços são

sempre razoáveis e os produtos se distinguirão pela comunicação,

Os métodos mercadológicos característicos de cada um destes

segmentos do luxo são explorados em

ALLÉRES [1990- p.1431145], que se enxerga os círculos acuna

com os atributos de luxo inacessível, luxo intermediário e luxo

acessível.

O luxo inacessível seria assim composto pelas maisons mais

antigas, de prestígio, cuja notoriedade é internacionalmente

reconhecida. A proteção contra invasões no mercado é enorme, com

inúmeras barreiras, tomando os negócios infranquiáveis. O mercado

pág.59

Page 60: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

se distingue pela qualidade inigualável de seus produtos e objetos,

pelos seus métodos de fabricação (muitas vezes artesanais e

tradicionais) e pela celebridade de seu criador, ao redor do qual se

contrói a imagem e a notoriedade da marca e da maison. O

patrimônio cultural da maison é extremamente bem cuidado,

incluindo a história notória de seus criadores, o culto de seu passado

e a imagem de suas criações. A estratégia de marketing repousa em

políticas de relações exteriores (inclusive internacionais), ao redor de

profissionais· e da mídia especializada, cultivando o desejo

permanente dos compradores de proteger sua diferença pela

aquisição de objetos raros, originais, célebres e inacessíveis (aos

outros).

O luxo intermediário incluiria os produtos considerados de

grande qualidade mas menos perfeitos, com distribuição ampliada

mas controlada, preço mais acessível e comunicação bem seletiva.

Este luxo se endereça a uma classe bastante abastada, igualmente

desejosa de manter uma distinção social bem marcada em relação às

classes menos favorecidas, notadamente pela aquisição dos produtos

e objetos de alto nível, com marcas antigas bem selecionadas ou de

novos criadores emergentes. Esta classe social, menos audaciosa ao

nível de sua expressão de seus gostos de luxo, seleciona as marcas e

os objetos entre aqueles escolhidos pela classe dominante. O trabalho

de marca é portanto essencial, no sentido a se atribuir a aura de

raridade aos produtos. A estratégia normalmente consiste em uma

pág.60

Page 61: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

distribuição seletiva dos produtos, mantendo-se a acessibilidade nos

preços.

O luxo acessível seria uma classe de produtos originária dos

novos criadores emergentes, das novas marcas e da ampliação da

oferta de produtos das maisons tradicionais, que ampliaram

consideravelmente o leque de produtos "quase substituíveis" e

multiplicaram a concorrência entre as oportunidades de escolha

ofertadas aos compradores. Os produtos e objetos deste mercado de

luxo dito acessível são fabricados racionalmente, em série, a custos

menores, tendo como imperativo uma qualidade menos elevada,

constituindo produtos menos raros, menos originais e destinados a

uma classe de consumidores menos abastados. Os preços destes

produtos são extremamente estudados, respondendo a uma relação

qualidade/preço quase perfeita. A grande dificuldade de um

marketing apropriado a este mercado é garantir a distinção do

produto no meio de uma concorrência acirrada e conseguir manter os

sinais de mútuo reconhecimento entre o público utilizador do

produto.

pág.61

Page 62: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

4. 7. MARKET/NG DOS PRODUTOS DE LUXO

O papel do marketing é provocar, criar uma demanda para o

consumidor. Nos meios do consumo, o marketing anuncia aos

consumidores que estes possuem uma necessidade insatisfeita. O

resultado de uma campanha publicitária ou de um lançamento de um

produto depende de uma aproximação dos atrativos de um produto

com o seu público alvo.

"... os produtos de luxo têm suas particularidades

no sentido em que provocam uma demanda mais

orientada a um sistema de valores do que a uma

necessidade não satisfeita. O produto de luxo não

responde a um problema preciso, mas sim a um desejo

incerto sobre o qual consumidor não tem consciência

clara. Os diversos atrativos que compõem a

diferenciação dos produtos de luxo são moldáveis

unicamente através dos discursos. O produto de luxo é

um produto cuja utilidade se toma acessória e o

acessório se toma importante. O ato da compra depende

inteiramente da apresentação do produto e de seus

apelos psico-sociológicos, visto que o produto banal é o

ligado ao elemento de funcionalidade."

[FAUCHOIS, 1991, p.23]

pág.62

Page 63: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

No lançamento de um produto dito de luxo, seu criador começa

por colocá-lo no mercado com forte ajuda dos meios de

comunicação. Em paralelo, promove uma difusão de informação

relativa ao culto do nome e da marca, os quais deverão ser

reconhecidos por seus sinais e códigos, estes últimos constituindo a

originalidade da política do marketing das maisons de luxo. A

especificidade do marketing de luxo se fundamenta na supremacia

essencial do produto. Sem um produto de qualidade superior, raro e

emoldurado por uma aura misteriosa, não existiria o conceito do

marketing de luxo. A sutileza é fator essencial na defmição e na

manutenção da marca. Em CASTAREDE [1992- p.81], consta que

a hierarquia da Maison Cartier se perguntou certa vez sobre a

possibilidade "de se lavar com um sabão Cartier", com uma resposta

negativa em face da preservação da marca, tão importante quanto a

preservação da qualidade dos produtos envolvidos.

As ferramentas típicas do marketing se especializam quando o

produto em questão se insere no mundo do luxo. A tabela a seguir

[CAST AREDE, 1992 - p.86] mostra, de forma bastante simplificada

e reducionista, o esquema das "diferenças" entre o marketing do luxo

e do marketing de consumo de massa.

pág.63

Page 64: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

MARKETING DO LUXO E DO MARKETING DE CONSUMO DE MASSA

LUXO GRANDE CONSUMO

Necessidades da • pertencer ao grupo • psicológico pirâmide de Maslow

• ser considerado pelo grupo • segurança

• sentir -se realizado

Produto • objeto • utilidade

• técnica • comodidade

• arte • embalagem

Distribuição • seletiva • lojas de departamento

• duty free • lojas próximas

• lojas de departamento

• exportação

Comunicação • seletiva • grande público

• direcionada • TV

• TV (às vezes) • publicidade

• revistas

Estratégia • eliminação da concorrência • eliminação da pela diferenciação concorrência por custos e

publicidade

Resultados • máxima margem • máximo volume

fonte: CASTAREDE, 1992- pág.86

pág.64

Page 65: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Já é tradicional e bem disseminada a conceituação elaborada por

Me CARTIIY (1982, p.35], conhecida como "4Ps" - produto, preço,

promoção e ponto (distribuição). Estes conceitos precisam ser

enfocados nos produtos de luxo.

4. 7 .1. POLÍTICA DE PRODUTO

Para a elaboração eficaz de uma linha de produtos ou serviços

ditos de luxo, é necessário investir desde os primeiros passos na sua

concepção, pois é partir desta concepção é que o produto já começa a

se diferenciar e a ter uma atmosfera de luxo. Determinadas fases da

criação de um produto de luxo farão parte de um papel fundamental

da estratégia de marketing da maison ou da empresa.

A importância da elaboração do produto pode ser exemplificada

por RICHERS, onde

"... a coroa dos frascos de perfume pertence

indubitavelmente à linha Lalique, hoje um empresa

que fatura cerca de US$ 90 a US$ 100 milhões por

ano com uma linha reduzida de perfumes, a mais cara

das quais custa US$ 2.750 e é acondicionada em um

fraco de 600 ml. Os frascos são produzidos com o

mais fmo cristal, com desenhos florais e numerados ...

A empresa mantém sua produção propositadamente

limitada e cria modelos novos a cada ano para oferecer

novas opções aos colecionadores. São apenas

pág.65

Page 66: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

perfumes, afmal, mas com a conotação de livros

raros." [RICHERS, 1994- p. 25]

O produto de luxo é um objeto e um espaço mental

[CASTAREDE, 1992 - p.87]. A comunicação se aplica à sua

qualidade, ao seu preço, à sua utilização, à sua comodidade e,

sobretudo, à sua originalidade, valor, beleza, novidade e sua

capacidade de fazer o consumidor pertencer a um clube de

privilegiados. O produto conta uma história e sua conotação vai

representar um papel fundamental. A comunicação contribuirá para

determinar o ato da compra.

A caracterização de um produto de luxo apresenta facetas

contraditórias [BLANCKAERT, 1996 - p.136!139]. Na ótica do

marketing tradicional, toda reflexão sobre o produto passa por uma

análise de necessidades e expectativas de mercado. Aplicado à ótica

dos produtos de luxo, tal regra se revela inoperante e, algumas vezes,

contra-produtiva. A razão principal é a aparência fútil do luxo. De

um ponto de vista puramente materialista, não oferece aparentemente

nenhuma vantagem funcional decisiva em relação ao correspondente

produto não de luxo. Uma bolsa Vuitton não protege melhor que uma

bolsa ordinária. Um relógio Cartier não é diferente de um outro que

marque horas. O ouro de um anel de Chaumet não é diferente do

ouro de uma jóia de outra joalheiria.

pág.66

Page 67: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Pelo contrário, estes três produtos, possuidores de qualidade

excepcional e produzidos completamente diferente de outros,

conferem àqueles que os usam prazer e status.

No mundo do luxo, a vantagem do consumidor é antes de tudo

psicológica e fortemente impregnada de simbolismo. O artigo de luxo

se defme globalmente, isto é, ao redor de todas as suas características

que determinam sua compra e seu consumo. Deste modo, todos os

detalhes contam e entram na qualidade. A embalagem desempenha

um papel de destaque, assim como os serviços. A cortesia do

vendedor, a elegância e o conforto do ponto de venda contribuem

diretamente na defmição do produto de luxo.

-0 serviço pós-venda exerce um papel essencial. Ao comprar um

produto de luxo, o consumidor experimenta um sentimento de culpa.

Quase sempre ele compra com o coração. Uma experiência negativa

sobre a qualidade intrínseca do produto ou do serviço pós-venda, ou

mesmo um prazo de reparo muito longo, traz consequências graves,

desvalorizando a compra e a relação quase passional que se tem com

a marca.

Por todas estas razões, não se pode imaginar os produtos de

luxo concebidos somente a partir de resultados de estudos. Os

estudos de mercado podem se fazer necessários ao sucesso de um

produto de luxo. Mas eles intervêm por outras razões e em um outro

pág.67

Page 68: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

momento. Eles são um complemento, não são uma condição

suficiente. Previlegia-se o marketing de oferta sobre o de demanda.

Comprando um produto de luxo, o consumidor não procura

necessariamente resolver um problema mas, antes de tudo,

concretizar seus sonhos ou comunicar um sentimento, uma paixão,

um sinal. O mesmo consumidor, incapaz de imaginar os produtos

que o seduzirão, é capaz de exprimir suas reações, notadamente

afetivas, face aos produtos, aos condicionamentos ou aos visuais

publicitários.

4. 7 .2. POLÍTICA DE PREÇO

Os produtos de luxo têm, em princípio, uma alta qualidade, sendo

constituído por materiais caros, nobres ou raros, passando por um

método de fabricação minucioso e qualificado, além de ter uma

distribuição seleta e uma comunicação limitada e luxuosa. Desta

forma, os preços farão parte de uma escala de valores elevados. Em

consequência, o preço elevado de mercado é um dos critérios

determinantes para pertencer a um umverso de luxo e um dos

elementos importantes de sua classificação na hierarquia dos produtos

de luxo.

A definição dos preços dos produtos e dos objetos de luxo, que

muitas vezes parecem talvez irrealistas, são o resultado de

pág.68

Page 69: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

componentes racionais, alguns bem aparentes e outros menos, e de

componentes irracionais [ALLÉRES, 1990- p. 157].

Em termos absolutos ou relativos, os produtos de luxo são caros

e reconhece-se um produto de luxo pelo seu preço. O problema é

determinar o referencial sobre o qual o produto é dito caro.

Sob a ótica clássica, os dois determinantes maiores da formação

de preço são os custos de fabricação e o posicionamento diante da

concorrência.

No caso dos produtos de luxo, determina-se o preço fmal

integrando o custo de fabricação e o seu valor simbólico de

"passaporte para o sonho". Entretanto, não é fácil quantificar o preço

de um sonho.

Afirmando sua característica única e excepcional, o produto de

luxo é fortemente sobre-taxado por uma estética e uma criatividade, o

que o liberta parcialmente do confronto com os concorrentes. Um

produto de luxo tem como referência ele mesmo.

Como os produtos de luxo são destinados à venda, é preciso

estabelecer uma contrapartida monetária ao valor ligado ao objeto.

Pode-se até supor que tal definição se dará a partir do capital

representado pelo nome da marca, mas a magia do nome não é

suficiente para justificar qualquer preço.

pág.69

Page 70: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Uma outra análise é a do valor percebido pela clientela. No caso

dos produtos de luxo, o valor afetivo vem a acrescentar ·e, às vezes, a

substituir o valo{ do uso, dependendo do próprio objeto, de suas

características objetivas e simbólicas, e também da idéia que o

cliente faz de si comprando o produto.

Conforme é demonstrado em

BLANCKAERT [1996- p.l411143], tarifar o valor agregado

imaginário é um exercício delicado. Comprando um produto de luxo,

um consumidor acessa um universo. O preço do produto tem sempre

um sentido, existindo uma relação que se estabelece entre o preço e o

produto. No seio desta relação, existe a qualidade e a verdade. Em

todos os lugares do mundo, os clientes dos produtos de luxo

conhecem o valor das coisas, comparam com os concorrentes,

passando de uma boutique a outra, inclusive em viagens.

Contrário às aparências; existe no luxo uma forma de

elasticidade ligada ao preço.

O preço é de fato essencial, o produto de luxo tem um preço de

mercado, um preço elevado, conhecido, justificado e aceito pelos

clientes. Em todos os casos, é falso pensar que se pode eternamente

vender um produto de luxo "a não importa qual preço."

Em BLANCKAERT [1996- p.144], é ilustrado o exposto com

um pequeno texto de Patrick Frey, transposto abaixo:

pág.70

Page 71: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

" ... nossos produtos são caros? Por que todo este

trabalho, este perfeccionismo, estas experiências mil

vezes recomeçadas, quando se pode copiar a um preço

baixo, quando se pode fazer mais ou menos a mesma

coisa mais rapida e facilmente, dividindo o preço por

dois? Pare! Todos estes que trabalham no universo de

luxo conhecem um dia o momento de desencorajamento

( ... ) mas face às seduções da simplificação, é preciso

obrigatoriamente resistir e perceber o savoir faire. O

tesouro impalpável, adquirido durante séculos,

transmitido no seio da maison, é constituído afmal por

milhares de detalhes. É caro?( ... ) Os preços dos objetos

de luxo não são frutos de algo arbitrário. O preço

remunera um trabalho de exceção. E é nosso dever,

profissionais da criação e da distribuição, de explicar tal

preço. A qualidade de nossos produtos pode se

apresentar diante do mercado sem qualquer complexo,

dada uma única bandeira: savoir faire et faire savoir".

4. 7 .3. POLÍTICA DE DISTRIBUIÇÃO

A política de distribuição tem que ser coerente com a aura do

produto. Exige-se desta forma canais seletos e pouco numerosos de

distribuição, os quais, ao mesmo tempo, agregarão atmosfera ao

produto e receberão do produto de luxo uma contribuição para a

pág.71

Page 72: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

determinação do nível do ponto de venda, em uma realimentação

positiva.

Segundo CHARRUEAU, os canats de distribuição que se

oferecem às grandes marcas de luxo são limitados. Tratam-se das

grandes magazins, as boutiques que levam o nome da marca, algumas

boutiques multi-marcas e alguns pontos de duty free shopping.

[CHARRUEAU, 1991 - p. 137]

O paradoxo da distribuição dos produtos de luxo é apresentado

em BLANCKAERT [1996- p.145/147]. Para uma empresa de luxo,

as questões relativas à difusão dos seus produtos, bem como à

escolha do canal de distribuição, se apresentam tão importantes

quanto no caso das empresas que comercializam produtos "comuns".

Algumas maisons de luxo estabelecem uma estratégia que visa gerar

a raridade, tendo um esforço compensador de comunicação destinado

a levar a demanda em direção ao ponto de venda. Apresenta a

vantagem de poder reproduzir em toda a parte do mundo a atmosfera

criada na loja de origem, que retrata a essência da marca. Chanel e

Hermes adotam esta política.

Outras corporações escolheram multiplicar a distribuição vta

sistemas de boutiques, de franquias ou de concessão de licenças, ou

mesmo em ocasiões especiais de encontro entre a marca e os

consumidores. A vantagem se apresenta no caso dos acessórios do

pág.72

Page 73: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

vestuário ou de outros objetos de valor unitário limitado,

acrescentando volume e notoriedade à marca.

O grande paradoxo está em se saber qual o limite no número de

pontos de venda acima do qual se cessaria o conceito de distribuição

seletiva.

O número máximo absoluto de pontos de vendas depende

claramente das ambições geográficas e parece ter uma importância

menos acentuada do que a natureza de tais pontos.

Pode-se acrescentar que a atmosfera que reina na apresentação

dos produtos nos pontos de venda conta mais do que a superficie que

lhes é concedida. As políticas das boutiques e das franquias relevam

todas o mesmo princípio de aumentar a intensidade do controle do

fabricante sobre a distribuição de seus produtos.

Cada maison tem sua estratégia de distribuição, diferenciando

os produtos segundo os pontos de venda. Cristian Dior e Chanel

dispõem de boutiques reservadas aos acessórios do vestuário.

Boucheron abriu em Paris uma loja unicamente consagrada aos

perfumes. Algumas empresas compensam a banalização da

distribuição por uma personalização acentuada do produto (por

exemplo, várias bolsas numeradas, tratamento individual para cada

cliente, etc.). Yves Saint Laurent e Saint Laurent Rive Gauche

co-existem com posicionamentos distintos. A Cerruti reserva a marca

pág.73

Page 74: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

"1881" aos produtos criados pela maison e a marca Nino Cerruti aos

produtos fabricados sob licença. A prática das multimarcas é,

entretanto, um exercício delicado, sendo preciso ter certeza de que as

diferentes entidades se reforçam umas às outras e não estimulam o

fenômeno da canibalização.

O conceito de distribuição seletiva, extensivamente usado e

associado com os produtos de luxo, é detalhado em COMITÉ

COLBERT [1989 - cap. 1]. Como o nome indica, este sistema

consiste em um fabricante limitar seu canal de distribuição,

escolhendo seus distribuidores e seus clientes. Consequentemente, o

produtor "recusa a venda a qualquer um".

É conveniente delimitar o domínio do conceito de distribuição

seletiva em relação ao de concessão exclusiva e ao da sua forma

extrema, a franquia.

A franquia faz parte de um esquema de seleção da distribuição,

mas sua atuação principal é no licenciamento da marca, na utilização

do nome comercial ou no fornecimento de um savoir faire, e não

simplesmente na expedição de um bem.

Ninguém contesta aos varejistas o direito de selecionar e de

vender os produtos que correspondam ao posicionamento de suas

lojas e de suas estratégias comerciais. Portanto, o poder dos grandes

pág.74

Page 75: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

distribuidores é tal que sua decisão de comprar ou de não comprar

pode ter consequências graves para seus fornecedores.

Os fabricantes, do seu lado, reinvidicam o direito de selecionar

seus varejistas e de vender a quem melhor lhe parecer, direito que é o

corolário daquele do comprador. A fmalidade desta reinvidicação é a

de controlar a política comercial que lhe pareça melhor adaptada

para a marca em questão.

A categoria dos produtos de luxo, de alta qualidade e de

prestígio, precisa de uma seleção bem apurada dos varejistas, de

modo que os esforços de manutenção da marca não sejam arruinados

durante a difusão. O fabricante deverá poder selecionar os

comerciantes que contribuirão ao prestígio de seu produto e exigir

destes um quadro de funcionários qualificados e um respeito à

estratégia comercial e de marketing. O fabricante deverá poder

rejeitar os pontos de venda que desvalorizem a imagem da marca,

isto é, as lojas que não podem atender a estes critérios de exigência

ou, também, aos critérios que construíram o nome da marca. Uma

distribuição inadequada povocará um desaparecimento do mito e

então, em seguida, do produto propriamente dito. Na França, alguns

fabricantes se recusam terminantemente a colocar seus produtos na

rede Monoprix ou, até mesmo, na Galeria Lafayette.

A empresa dona da marca Christofle (prataria) diagnosticou,

certa vez, que 80% de seu movimento de vendas na França estava

pág.75

Page 76: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

concentrado em 20% das lojas. As demais lojas ofereciam na vitrine

apenas uma pequena parcela da coleção como chamariz, mas os

negócios na prática eram direcionados para as marcas concorrentes

quando o comprador se frustrava ao não encontrar o objeto desejado.

A marca famosa somente era utilizada para chamar uma clientela

selecionada, mas no interesse contrário do fabricante.

Os grandes fabricantes de perfume conheceram uma situação

idêntica e empreenderam uma ação para reduzir o número de

varejistas agregados, para proteger sua imagem e também no sentido

de uma melhor administração. Uma quantidade excessiva de

magasins tem por consequência um crescimento considerável das

despesas, da estrutura, dos gastos de publicidade sobre os pontos

individuais de vendas, dos custos de colocação dos produtos e dos

custos de treinamento dos varejistas, sem a contrapartida da

rentabilidade nas vendas realizadas pelo grande número de pontos de

comercialização.

A racionalização do canal de distribuição não gera lucros

somente aos fabricantes. Os distribuidores agregados encontram

igualmente um interesse como mostrou a experiência da Camisa

Lacoste em Madrid, que tinha 120 pontos de vendas nessa cidade

onde estava há 22 anos. Depois que fecharam 40 destas lojas, as 80

lojas restantes realizaram um volume de negócios 30% maior.

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A seletividade oferecida assegura aos distribuidores a realização

de um certo volume de negócios e de margem. Se eles são muito

numerosos em uma mesma região, as vendas de cada um não serão

suficientes para pagarem as despesas promocionais, necessárias para

sustentar a marca (decoração, pessoal, etc.). Sem estes investimentos,

a estratégia do fabricante não poderia ser respeitada e a marca não se

desenvolveria. A distribuição seletiva é então um sistema de

colaboração entre o produtor e os distribuidores, permitindo estimular

os varejistas e obter assim uma melhora eficaz do canal de venda.

Finalmente, o consumidor aproveitará também com as economias

destes custos de distribuição.

Dos elementos precedentes, pode-se deduzir que o consumidor

é beneficiário de uma política restritiva no canal de distribuição dos

produtos de luxo:

• o ponto de venda terá a gama completa da linha de

produtos de determinada marca, inclusive as novidades e

não somente os encalhes em estoque~

• o ponto de venda poderá aconselhar o consumidor de

acordo com o treinamento do fabricante~

• o ponto de venda assegurará um serviço de garantia e de

pós-venda eficaz~

pág.77

Page 78: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

• o ponto de vendas apresentará um quadro de funcionários

adequados à imagem do produto em questão~

• o cliente estará seguro de comprar os produtos autenticos

da marca e não cópias.

As vantagens acima delineadas a favor de uma seletividade no

canal de distribuição podem aparentemente se chocar com algumas

críticas que normalmente são feitas a esta política: a redução do

número de varejistas afasta geograficamente os consumidores do

canal de distribuição. Entretanto, no sentido de desfazer a

argumentação de tal crítica típica, é importante ressaltar que:

• os produtos citados não são de primeira necessidade cuja

compra quase cotidiana justificaria uma distribuição mais

próxima~

• no ato da compra de um produto de luxo, o deslocamento

decorrente da seletividade dos pontos de venda não tem se

mostrado como um ponto negativo pela maioria dos

consumidores, os quais, ao contrário, julgam que ir atrás

de uma boutique Guerlain, Vuitton ou Hermes constitui

um prazer em SI.

Finalmente, no caso específico da França, a seletividade dos

canats de distribuição dos produtos correspondentes às marcas de

pág.78

Page 79: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

luxo é também importante para a manutenção de uma imagem

coletiva associada ao país como um todo. Um grande volume de

negócios se realiza pela exportação, principalmente para Japão e para

os Estados Unidos. Em 1988, os 70 filiados do Comité Colbert

realizaram 70% do seu volume de negócios fora da França. Os

produtos de luxo fazem parte de um patrimônio cultural da França e

servem para a promoção da notoriedade no exterior. A imagem da

França nos Estados Unidos e em outros países é muito boa no

terrreno dos produtos de luxo, tais como os perfumes, bebidas

alcoólicas ( champagne, em especial), moda, etc. A França é então

uma vitrine onde se mantém uma reputação dos seus fabricantes de

produtos de luxo. Para ser capaz de vender sua imagem no exterior,

os fabricantes devem controlar sua imagem no país de origem. A

grande vitrine do país não pode ser maculada. A distribuição seletiva

faz parte integrante desta imagem de luxo que faz vender os produtos

no mundo, devendo ser aplicada de modo idêntico e coerente a nível

mundial.

A distribuição seletiva assegura um equilíbrio entre os interesses

algumas vezes divergentes de diferentes sócios: produtores,

distribuidores, consumidores e estado.

4. 7 .4. POLÍTICA DE PROMOÇÃO I COMUNICAÇÃO

A promoção de um produto de luxo deve ser minuciosamente

planejada para atingir o ideal ou o sonho do consumidor, prometendo

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Page 80: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

as atmosferas desejadas de luxo, sedução, riqueza, poder, beleza, etc.

Vê-se que, na promoção de um produto de luxo, existem inúmeros

apelos mais importantes do que a veiculação do produto propriamente

dito. Cabe exemplificar através do caso dos cartões de crédito ditos

seletos (exemplo: American Express ), onde o apelo "viagens, seguros

de perda de malas, salas VIP, restaurantes, acesso a joalheirias" é

anunciado de forma muito mais insistente do que as características

intrínsecas de um cartão de crédito.

Segundo DAMAS, a promoção no universo de luxo não é como

uma oferta de economia que se propõe ao consumidor; este aspecto

utilitário é "desprezado" no imaginário do luxo; a promoção no luxo é

muitas vezes apresentada como uma forma de presente que colabora

com um sonho. [DAMAS, 1991 - p. 154]

O luxo fascina o público e as mídias. Os desfiles de alta costura

atraem em média 600 a 700 jornalistas por vez na Europa. Em

BLANCKAERT [1 996 - p. 149/151], entretanto, é enxergado um

paradoxo na comunicação de produtos de luxo. Os estudos

qualitativos, realizados junto às elites, revela que os consumidores

tradicionais do luxo mostram uma nova tendência diretamente oposta

à banalização das marcas. Em ocasiões de interação social, os que se

consideram como autênticos conhecedores manifestam cada vez

mais reservas face a certos nomes fortemente submetidos à mídia.

Eles demonstram um grande prazer ao falar do sublime petit

armagnac (bebida alcoólica) que descobriram. Paradoxalmente, a

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Page 81: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

falta de notoriedade deste produto reforça seu capital de imagem e

todos os esforços de comunicação se traduziriam provavelmente por

uma erosão de seu status. Longe de se reforçarem mutuamente, o

produto e a sua promoção poderão parecer antônimos.

Examinando as estratégias de comunicação no domínio do luxo,

algumas regras emergem para sobrepor este último paradoxo. Seja

qual for a ação de comunicação utilizada, a excelência na qualidade

deverá determinar as escolhas dos materiais, dos visuais e da

decoração.

Ao nível de mensagem, parece que a comunicação do luxo tem

a vantagem de se apoiar sobre o efeito da origem induzida pela

personalidade do criador ou do universo ligado a uma maison. A

publicidade centrada sobre o produto ou sobre o destinatário, típicas

em outros segmentos, pode ser omitida portanto em proveito do

produto de luxo, o que é válido principalmente quando se aventura

para além dos territórios de mercado inicialmente explorados.

Entretanto, quanto mais a técnica é forte e participativa no valor

agregado do produto aos olhos do público, mais será difícil de fugir

do limite de seu setor específico de atuação. Cristian Dior pode

utilizar uma comunicação onde os produtos não são exatamente

mencionados, podendo a qualquer momento incorporar novas linhas

de produtos. Mas é quase impossível, no caso dos relógios suíços,

dos cognacs e dos vinhos, ocorrer uma diversificação de atuação

(teria sentido uma bolsa Rolex?).

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Page 82: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Pode-se igualmente procurar otimizar a dosagem do esforço

promocional. Com um mesmo orçamento, parece que no luxo as

ações encontram mais ressonância quando são investidas em relações

públicas, de patrocínio e de mecenato do que quando investidas na

mídia. Um verdadeiro objeto de luxo é perene e os pontos

encontrados na mídia serão sempre mais fracos se se comparar com o

brinco brilhando na orelha, de forma gratuíta, em alguma

personagem pública com credibilidade aos adeptos da marca.

Em ROUX [ 1994 - p. 7 /9], são tecidas considerações

importantes sobre o que ela caracteriza como um círculo vicioso nas

promoções dos produtos de luxo. Desde o lançamento do perfume

Poison, os orçamentos de 50 milhões de dólares passaram a se tomar

comuns para os lançamentos de um perfume ao nível internacional.

Assim, para Gió de Armani, a L'Oreal investiu 50 milhões de

dólares. Os investimentos no mercado americano para o perfume de

Lauder foram de 25 milhões de dólares e de 30 milhões de dólares

para o de Calvin Klein.

A importância dos custos de lançamento se justifica pela

pesquisa de viabilidade do mercado intenacional. Tendo em conta

estes altos investimentos, as marcas procuram um retomo sobre o

investimento bem rápido e, portanto, um volume de negócios

considerável. Os distribuidores desejam um giro de estoque elevado

e, para atingir seus objetivos, obrigam as marcas a fazerem

pág.82

Page 83: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

promoções. O resultado é uma redução das margens, correndo o risco

de permitir uma queda da lucratividade global das marcas.

A prática de promoções sobre o mercado de perfumes e de

cosméticos se toma a regra ditada pelo mercado americano.

Conforme citado em ROUX [1994- p.7], o painel Sécodip- Intercor

Parfumerie revelou que no último semestre de 1992 havia mais de

600 marcas com ofertas promocionais, só no mercado de perfumes.

Entre as marcas ativas neste período, notam-se Nina Ricci, Cacharel,

Guy Larouche, Givenchy, Azzaro, Lâncome e Lacoste. A oferta de

promoções é vasta: caixa com vários produtos ou ofertas de produtos,

brindes condicionados à compra de certos produtos ou a um valor

mínimo de compra. Nota-se uma demasiada oferta de artigos

promocionais similar ao que acontece no mercado de produtos de

massa.

As promoções são uma ação de curto prazo, tendo um efeito

imediato e diretamente mensurável sobre as vendas, ampliando o

volume de negócios. Esta orientação promocional generalizada

provém de uma forte pressão por parte do administrador que exige

performances fmanceiras a curto prazo. Os gerentes das marcas ou

dos produtos encontram na promoção um modo de satisfazer a esses

objetivos e de atender às pressões internas.

Ora, para os produtos de massa e, sobretudo, para as marcas de

prestígio, a intensificação promocional pode trazer consequências

pág.83

Page 84: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

desastrosas a longo prazo. As promoções acarretam os seguintes

efeitos:

• as promoções são fáceis de copiar por um concorrente,

anulando assim o efeito favorável sobre as vendas e sobre

a participação de mercado;

• as· promoções criam um hábito por parte do distribuidor,

assim como por parte do consumidor; este último tenderá

a esperar pelas promoções para comprar e as promoções

serão sempre mais e mais antecipadas (é o círculo vicioso

das promoções);

• as promoções têm igualmente o efeito de aumentar o

papel do preço no comportamento de compra; elas

diminuem o papel da marca na compra e contribuem para

elevar o valor monetário como critério de escolha;

• as promoções reforçam a infidelidade do consumidor.

Em ROUX [1994 - p.7/9], é descrita a estratégia a ser usada

pelas marcas de luxo tendo em conta estes fatores acima expostos:

A primeira é de recusar entrar na espiral de promoções. Trata-se

de uma estratégia deliberada de proteção ao status da marca, de

afirmação de seu prestígio e de sua seletividade. Boucheron, Chanel,

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Page 85: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Guerlain, Hermes e Lalique são exemplos desta estratégia, que é

levada com coerência, acarretando uma condição de. sucesso. Neste

caso, se privilegia a imagem de longo prazo e as margens em

detrimento do volume de vendas e do volume de negócios a curto

prazo.

A segunda estratégia consiste em entrar em uma lógica de luta

concorrencial frontal e em aplicar as técnicas do marketing de massa.

Este caso se aplica às marcas cujo crescimento de participação de

mercado só se pode obter através da perda dos concorrentes. São as

marcas fortes tanto em notoriedade quanto em posição concorrencial.

Mas, mesmo neste caso, para não correr o risco da banalização,

convém tomar as seguintes precauções:

• estudar as ofertas promocionais da concorrência (e seus

efeitos comparados com as vendas), a participação de

mercado e os lucros~

• identificar, por meio de estudos qualitativos, os tipos de

promoções suscetíveis de reforçar a recompra e a

fidelidade da marca, bem como aquelas que são

valorizadas pelos consumidores, não alterando nem a

qualidade, nem o valor da marca, nem seu status;

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• determinar a origem das vendas ocasionadas pela

promoção (compradores regulares ou ocasionais da

marca, compras por substituição, etc.).

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Page 87: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

4.8. CONCLUSÕES DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A associação da idéia do luxo com um clima, sonho ou um

estado de espírito transparece na maioria dos textos pesquisados.

Na revisão bibliográfica, comparecem os seguintes principais

conceitos sobre o luxo considerados extremamente relevantes pela

autora desta dissertação:

• atributos intangíveis subentendidos no produto de luxo,

além dos aspectos utilitários~

• caracterização dos produtos de luxo através de uma

~

superioridade técnica, uma estética particular, uma

tradição, um preço elevado, uma raridade, uma distribuição

seletiva, ênfase em uma grande marca, etc.

luxo como um meio de satisfação pessoal psicológica;

luxo como fator de distinção e de identificação ('"ingresso a

um clube");

utilização do luxo como determinante aparente do nível do

consumidor na hierarquia social;

luxo como marca de intimidação;

luxo como clima de elitismo e de raridade, criando uma

esfera simbólica;

luxo sub-dividido em 3 círculos: inacessível, intermediário

e acessível, cada qual com sua estratégia;

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Page 88: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

• grif.fe como a marca que escapa do domínio econômico e

comercial, tornando-se um modo de identíficação e de

referência sociológica;

• políticas de preço e de distribuição paradoxais;

• grande exigência de cuidado e coerência na comunicação e

na promoção dos produtos de luxo.

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Page 89: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

5. ENTREVISTAS REALIZADAS JUNTO ÀS EMPRESAS

Dada a natureza também empírica dessa dissertação, em caráter

complementar realizaram-se entrevistas junto a alguns executivos

ligados a empresas que lidam com produtos ou serviços de luxo.

Trata-se de uma pesquisa de cunho exploratório, sendo que

alguns aspectos metodológicos foram abordados no capítulo

METODOLOGIA nesta dissertação.

Foram eleitas 4 marcas internacionais do mercado de luxo,

representantes de alguns segmentos distintos:

• canetas - Montblanc

malas & bolsas- Louis Vuitton

cosméticos - Clarins

• bebidas - Mõet-Hennessy

Os profissionais foram localizados através de contatos

telefônicos, procurando-se os responsáveis pelas políticas - de

marketing. O contato inicial foi efetuado através de carta de

apresentação.

pág.89

Page 90: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

As perguntas foram elaboradas tentando abranger grande parte

da teoria estudada durante a revisão bibliográfica. As duas primeiras

questões, bem como a última, tiveram um caráter mais generalista; as

demais questões tiveram um caráter mais específico.

As entrevistas foram feitas pessoalmente, com a divulgação

prévia dos objetivos do trabalho e da lista das perguntas, para

garantir o entendimento e a reflexão por parte do entrevistado.

As entrevistas foram realizadas no período do mês de julho de

1996.

5.1. QUESTIONÁRIO

As perguntas são as que se seguem:

1. Como V.Sa. define o conceito de luxo?

2. Como sua empresa define o Marketing para os produtos

e/ou serviços de luxo?

3. Como sua empresa associa os produtos e/ou serviços de

luxo com a marca?

4. Como se desenvolve uma notoriedade de marca,

principalmente no segmento de luxo?

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Page 91: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

5. Quais são os requisitos que um produto de luxo deve

possuir?

6. De que forma se agrega valor a um produto dito de luxo?

7. Qual é o mercado que a sua empresa visa atingir com tais

produtos e/ou serviços de luxo? Como é a "maneira de ser"

do público alvo?

8. A política de preços para produtos de luxo é paradoxal,

visto que, às vezes, o luxo é associado à manutenção de

preços elevados, o que poderia contradizer a lei da

elasticidade da demanda. Como sua empresa enxerga o tal

paradoxo dos preços associados aos produtos de luxo?

9. A política de distribuição dos produtos de luxo é paradoxal,

visto que a adoção de canais de distribuição seletos

contradiz a idéia de que a multiplicidade dos pontos de

venda atingiria um público mais vasto. Como sua empresa )

enxerga o tal paradoxo da distribuição dos produtos de

luxo? O seu cliente compraria mais tais produtos se os

mesmos fossem encontrados ao lado de sua residência?

1 O. A comunicação e as promoções dos produtos ditos de luxo

induzem a um paradoxo, visto que podem levar à queima

de uma imagem de raridade, de seletividade e de

exclusividade para os connaisseurs. Como sua empresa

enxerga este paradoxo? Como sua empresa divulga os

produtos de luxo?

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11. A aquisição dos produtos de luxo é baseada mais no caráter

simbólico associado ao mesmos do que nas características

intrínsecas. Entre os principais aspectos sócio-psicológicos

envolvidos, podem ser citados: o desejo de ser diferente

(superior, distinto), o desejo de ser igual (de pertencer ao

grupo), o desejo de parecer conhecedor, o desejo de atingir

um sonho pessoal, etc. Quais são as motivações

sócio-psicológicas encontra,das no público alvo de sua

empresa que são exploradas para viabilizar as vendas dos

produtos e/ou serviços de luxo?

12. Apesar da sua função profissional de alguma forma

associada ao planejamento das estratégias de

comercialização dos produtos e/ou serviços de luxo de sua

empresa, como é a sua atitude pessoal ao ser seduzido por

. uma divulgação de um produto com a aura do luxo?

13. Qual é sua opinião sobre a evolução futura do mercado do

luxo no mundo e, especificamente, no Brasil dada a sua

péssima distribuição de renda?

14. Para sintetizar, quais são as suas considerações finais para

o Marketing dos produtos e/ou serviços de luxo?

pág.92

Page 93: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

5.2. ENTREVISTA N° 1

Empresa:

Entrevistado:

Período:

LOUIS VUITTON

Sr. Pierre Crouvillard

Diretor Operacional da América do Sul

Julho de 1996

Resposta à Pergunta n° I - "No meu modo de entender, o luxo

está acima do utilitário. Apesar de existir a função de utilitário nos

produtos de luxo, o luxo precisa ter características de

excepcionalidade, ser inédito e ter qualidade."

Resposta à Pergunta n° 2- "O marketing está orientado para sua

clientela do luxo, que é uma clientela reduzida. Precisa ser, então, um

marketing seletivo, sempre em contato com os clientes. As malas,

bolsas e acessórios que a Louis Vuitton fabrica tem qualidade e

robustez."

Resposta à Pergunta n° 3 - "A associação dos p-rodutos com a

marca se faz através da qualidade do produto, da sua

excepcionalidade e da distinção."

Resposta à Pergunta n° 4 - "A notoriedade se dá através da

tradição da maison, da qualidade, da sua excepcionalidade."

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Page 94: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Resposta à Pergunta no 5 - Os requisitos que um produto de

luxo deve possuir são:

-apresentação,

- qualidade,

- excepcionalidade,

- savoir faire,

-cuidado na sua concepção,

- matérias primas de primeira grandeza,

- serviço excelente ao cliente,

-local de venda do produto condizente com o produto.

Resposta à Pergunta no 6 - "Agrega-se valor através da

qualidade do produto e do serviço de venda."

Resposta à Pergunta n° 7 - "Qualquer um que queira usar e

tenha condições de pagar. Quanto à maneira de ser, temos dois

grupos: os que querem se diferenciar em uma escala social (visto que

o produto é caro por excelência) e as pessoas que procuram usar um

produto de excepcional qualidade."

Resposta à Pergunta n° 8- "No meu entender, o produto de luxo

tem que ser caro por excelência, de forma associada à sua qualidade.

O preço tem grande influencia psicológica e a empresa já estabelece

o seu nível de preços em função de um mercado seleto e distinto.

Não existe tal paradoxo~ precisa ser caro, vende mesmo sendo caro."

pág.94

Page 95: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Resposta à Pergunta n° 9 - "A distribuição te!ll que ser pequena.

Se não for seletiva, o que é uma caracteristica do produto de luxo,

passaria a caracterizar um produto de massa. No caso da Louis

Vuitton, só temos lojas exclusivas, com pessoal uniformizado e

dando um bom atendimento ao cliente. Se se quer explorar o

mercado de luxo, não se pode colocar o produto em qualquer lugar.

Como exemplo, em uma cidade como São Paulo, eu só poderia ter no

máximo duas lojas."

Resposta à Pergunta n° 1 O - "Em se tratando de um produto de

luxo, a seleção da mídia deve ser feita com muito cuidado. A

concepção e a elaboração do anúncio precisam ter qualidade, além de

uma comunicação cuidadosa correspondendo à imagem do produto."

Resposta à Pergunta n° 11 - "A motivação é puramente social,

através da posição de distinção que a pessoa quer ocupar na escala

social (motivação de aparecer através do "ser diferente" em relação

ao outro)."

Resposta à Pergunta no 12 - "Sempre apreciei os objetos de

luxo. Não estou isento de uma certa vaidade. Aprecio a qualidade do

produto e o serviço que é oferecido.Todos têm seu amor próprio e

vaidade."

Resposta à Pergunta no 13 - "Enquanto o mundo for mundo,

sempre haverá espaço para o mercado de luxo, às vezes com suas

pág.95

Page 96: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

vendas mais aquecidas, às vezes menos. Entretanto, sempre haverá

alguém que queira ser diferente e que queira cultivar o belo. A boa

situação econômica facilita o mercado do luxo."

Resposta à Pergunta n° 14 - "O marketing de luxo deverá conter

uma comunicação excepcional, um produto altamente diferenciado

pela sua qualidade e tecnologia, um preço elevado, uma venda em

um "ambiente de luxo" com pessoas bem treinadas e um serviço de

atendimento ao cliente bem trabalhado."

pág.96

Page 97: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

5.3. ENTREVISTA N° 2

Empresa:

Entrevistado:

Período: ·

MÚET - CHANDON

Sr. Remi Coubronne

Gerente de produto da marca do cognac

Hennessy

Julho de 1996

Resposta à Pergunta no 1 - "Defmo luxo como sendo tudo aquilo

que tem uma diferença de beleza, refmamento, aura e raridade em

relação aos demais produtos."

Resposta à Pergunta no 2 - "Adotamos um marketing

diferenciado de acordo com a tradição e os produtos da empresa."

Resposta à Pergunta n° 3 - "A associação se dá entre a imagem

da marca e a qualidade, a base tecnologica, a história e a tradição.

Pode-se citar o exemplo da Mõet Chandon que sempre foi a

champagne dos reis; a empresa sempre foi fornecedora oficial da

coroa dinamarquesa."

Resposta à Pergunta n° 4 - "A notoriedade da marca se constrói

através de -relações públicas em eventos bem segmentados, a fim de

mostrar que determinadas pessoas que são notórias estão

consumindo. Os outros, que não tem o acesso, passam a sonhar. Por

pág.97

Page 98: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

exemplo, nas vitórias das corridas de Formula I, a comemoração é

sempre feita com a champagne Mõet Chandon."

Resposta à Pergunta n° 5 -"Os requisitos são:

- qualidade,

- diferenciação,

-raridade,

- excepcionalidade.

Resposta à Pergunta n° 6 - "Se agrega valor através de apelos

psicológicos. Por exemplo, se o preço for caro, o consumidor de

produtos de luxo vai preferir pagar por achar que, exibindo este

produto, os outros notarão que ele tem muito dinheiro para gastar."

Resposta à Pergunta n° 7 - "A empresa VISa atingir

preferencialmente o consumidor que reconheça uma boa bebida e

.esteja disposto a pagar mais por ela. O público consumidor dos

produtos da empresa são formados pelos novos ricos (que precisam

ostentar e acabam divulgando bem a marca), o consumidor que

entende de gastronomia e o rico que não aparece (que sabe apreciar

uma boa bebida e não precisa ostentar). Recentemente, visitando uma

loja na cidade do Rio de Janeiro, uma senhora questionou sobre qual

seria a melhor champagne vendida na loja; acabou por levar a mais

cara."

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Resposta à Pergunta n° 8 - "No caso específico dos produtos da

empresa Mõet-Hennessy, pode-se observar que o preço precisa ser

elevado em função da qualidade e raridade pois, neste mercado de

luxo, quanto mais caro e mais raro, melhor. Recentemente abaixamos

o preço de um dos nossos produtos de R$150,00 para R$120,00 e as

nossas vendas cairam. Resolvemos então elevar o preço deste mesmo

produto para R$180,00 e as vendas aumentaram consideravelmente.

Outro exemplo é a estratégia da champagne Don Perignon, baseada

em "A champagne mais cara do Brasil".

Resposta à Pergunta n° 9 - "No caso das bebidas ditas de luxo,

escolhemos mais pontos de vendas em comparação a qualquer outro

produto de luxo, mas mesmo assim esta escolha tem que ser seleta.

Não podemos vender uma champagne Don Perignon em um

Carrefour, pois poderia "queimar a imagem". Selecionamos as

melhores delicatessen, restaurantes e lojas Duty Free do país."

Resposta à Pergunta n° 1 O - "A grande questão é saber

comunicar. Não se pode fazer qualquer tipo de promoção. Não se

pode dar descontos. A Mõet-Hennessy costuma utilizar eventos para

a promoção de seus produtos, além de pessoas conhecidas do jet-set

bebendo nossa bebida (aparecendo na revista Caras). As promoções

devem ser feitas com produtos adequados; por exemplo, na compra

de uma champagne Mõet Chandon se ganha uma lata do patê de fois

gras."

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Resposta à Pergunta n° 11 -"As motivações são principalmente

de pertencer ao grupo de privilegiados, de ostentar ·e exibir sua

condição fmanceira. V ale a pena citar a diferença de consumo entre a

champagne Clicquot e a champagne Mõet Chandon em restaurantes;

apesar das duas terem o mesmo preço, a champagne Clicquot tem

mais saída pois seu rótulo laranja tem mais destaque, chamando

atenção daqueles que estão presentes no restaurante. O consumidor

que entende de champagne tomaria Mõet Chandon"

Resposta à Pergunta no 12 - "Apesar de achar bonito, não sou

consumidor do luxo. Busco sempre o menor custo com maior

beneficio."

Resposta à Pergunta n° 13 - "Enquanto houver ricos ou novos

ricos no Brasil e no mundo, haverá produtos de luxo, pois haverá

mercado consumidor. Na China, os novos ricos compram o cognac

Hennessy Paradis (o preço da garrafa é de US$ 2.000) para

competirem sobre quem quebra mais garrafas cheias (ou seja, quem

pode disperdiçar mais garrafas)."

Resposta à Pergunta n° 14 - " Tem que ser um marketing

refinado, bem cuidado, para ser condizente com o produto."

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5.4. ENTREVISTA N° 3

Empresa:

Entrevistada:

Período:

PHYTOERVAS

Importadora exclusiva da marca CLARINS

Srta. Suzanne Strehlau

Supervisora da marca importada

Julho de 1996

Resposta à Pergunta no I - "O luxo é um produto que oferece

mais do que a satisfação de um beneficio básico, ou seja, uma

imagem pessoal."

Resposta à Pergunta n° 2 - "O marketing que a empresa adota é

extremamente bem cuidado e elaborado, a fim de ser condizente

com a estratégia dos produtos da empresa. A Clarins produz

produtos cosméticos de altíssima qualidade com base em extratos

naturais. A Phytoervas distribui no Brasil com exclusividade uma

série de produtos de luxo, como Givenchy, Carolina Herrera, Chanel,

Issey Myake, Jean Paul Gualtier. Como distribuidora exclusiva, é

obrigada a seguir os padrões mundiais estabelecidos pelas marcas.

Em cuna destes pontos essenctats, outros fatores

mercadológicos atuam, como a propaganda, o merchandising, os

échantillons, as embalagens e, sobretudo, o sistema de distribuição.

O número _de pontos de venda é escolhido cuidadosamente de modo

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Page 102: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

que possam apresentar a qualidade de atendimento essencial para a

Clarins. O atendimento é personalizado, cada cliente possui sua ficha

de atendimento e uma conselheira de beleza. Deste modo, é possível

realizar um tratamento na pele acompanhando a mudança de

necessidade da cliente (cada linha de produto é especializada em um

tipo de tratamento: por exemplo, para controlar uma oleosidade ou

um envelhecimento precoce)( ... ) O preço caracteriza um produto de ·

luxo, pois independente dos custos, é preciso estabelecer um patamar

elevado de modo a selecionar os consumidores e se afastar do

mercado de massa."

Resposta à Pergunta n° 3 - "O papel da marca é fundamental

pois nele estão embutidos conceitos não tangíveis, de cunho social e

psicológico."

Resposta à Pergunta n° 4 - "A notoriedade da marca vem

sobretudo da alta qualidade e do requinte nos detalhes. A embalagem

branca com vermelho e dourado lembra a origem da linha. O médico

Courtin Clarins possuía uma clínica onde fazia os próprios produtos.

O sucesso foi tão grande que hoje é uma empresa multinacional

ainda familiar. O nome, o logotipo, a ambientação do ponto de venda

e o merchandising, além de fazer a identificação, transmitem ao

consumidor os valores do luxo como qualidade, exclusividade,

especialidade."

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Resposta à Pergunta n° 5 - "O produto tem que ter qualidade,

exclusividade e imagem de marca."

Resposta à Pergunta n° 6 - "O valor é agregado no atendimento

à cliente que, por exemplo, recebe miniaturas de outros produtos,

pode testar sua fragrância e textura através dos testers e tem

aconselhamento na hora da compra. A consumidora . se dispõe a

pagar mais mas, ao mesmo tempo, exige mais, como uma

embalagem com estilo. O consumidor de um produto de luxo quer

glamour na hora da compra e, principalmente, quer se sentir especial

cada vez que vai usar o produto. A propaganda é essencial para

identificação da consumidora com a imagem que deseja formar de si

mesma."

Resposta à Pergunta no 7 - "Dentro do segmento de prestígio, a

Clarins atua no nível médio. Os preços, embora altos, são mais

acessíveis se comparados com a Orlane e com a Chanel. Deseja um

produto de altíssima qualidade com resultados garantidos, mas dentro

de um preço elevado porém acessível. O concorrente mais direto da

Clarins é a Lancôme. Aqui no Brasil, ocorreu um efeito interessante

no posicionamento da Lancôme e da Helena Rubinstein, ambas da

Lóreal. Como HR já foi produzido no Brasil, tem uma imagem

menor perante a consumidora do que a Lancôme (no resto do mundo,

é o oposto). A consumidora Clarins tem como preocupação as bases

medicinais e naturais dos produtos, além da tradição e credibilidade

pág. 103

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da empresa associadas com anos de resultados positivos nos

tratamentos da pele."

Resposta à Pergunta n° 8 - "O mercado de luxo não foi feito

para ser de grande volume, portanto a demanda sempre terá de ser

pequena. Se esta aumentar perderá os pontos que determinam sua

existência como marca de luxo. O segmento da população de compra

destes produtos são pouco afetados pelo fator preço ou são dispostos

a pagar o diferencial de um produto de luxo. A demanda é

razoavelmente estável pois o público alvo de modo geral é fiel à

marca."

Resposta à Pergunta n° 9 - "O cliente de luxo não compraria

mais um produto que fosse vulgarizado em diversos pontos de venda,

pois isto acabaria com a imagem dos produtos de luxo. Este produto

migraria para o mercado de semi-prestígio ainda em fase de

implantação de conceitos no Brasil (por exemplo a Bourjois e a

Revlon). O produto de luxo não é um bem de conveniência."

Resposta à Pergunta n° 1 O - "A comunicação é envolta em

glamour e em nada se assemelha a um produto de massa. O meio de

comunicação pode ser comum com outros produtos de massa como

um cinema ou TV, porém a mensagem, a produção, a qualidade são

diferenciadas ( ... ). Na verdade, é importante o efeito que se

estabelece como um produto a ser cobiçado e admirado em quem o

possui."

pág. 104

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Resposta à Pergunta n° 11 - "A motivação da consumidora é

parecer maravilhosamente bonita, jovem e saudável."

Resposta à Pergunta no 12- "Encantamento e desejo de posse."

Resposta à Pergunta n° 13 - " A tendência do mercado, ao meu

ver, é a diminuição da distância entre produtos de luxo e de massa.

Por exemplo, o creme V asenol já dispõe de um creme específico para

mãos e unhas. Pond's Institute e Elida Gibbs estão tentando oferecer

qualidade e outros aspectos dos produtos de luxo, mas como seu

negócio é volume, essas marcas não atenderão o público do mercado

de luxo( ... ). A péssima distribuição de renda favorece a continuidade

do mercado de luxo."

Resposta à Pergunta n° 14- "O marketing aplicado aos produtos

de luxo tem que ser sofisticado; é necessário realizar promoção com

material de primeira qualidade, é necessário haver coerência, é

necessário transmitir o conceito de luxo desde o primeiro contato do

consumidor com o produto, transpassando a idéia do luxo como

sofisticado e caro."

pág. 105

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5.5. ENTREVISTA N° 4

Empresa:

Entrevistada:

Período:

MONTBLANC

Sra. Ana Maria Magalhães

Gerente de Produto

Julho de 1996

Resposta à Pergunta n° 1 - "Luxo, no caso de um produto, é o

que se torna imprescindível pela sua imagem."

Resposta à Pergunta n° 2 - "Adota-se um marketing

extremamente cuidado, onde o produto é elaborado com materiais da

melhor qualidade, onde o preço é elevado de acordo com o produto e

onde a comunicação é bem cuidada. O produto é colocado em pontos

de venda bem selecionados."

Resposta à Pergunta n° 3 -"A empresa associa os produtos com

a marca utilizando produtos feitos com os melhores materiais e da

melhor qualidade, e também prestando um serviço diferenciado."

Resposta à Pergunta n° 4 - "Para se desenvolver uma

notoriedade de marca, deve-se fazer um trabalho direcionado desde

sua base para um público exigente e seleto: desde sua fabricação,

passando pela exposição nos melhores pontos de venda, além de um

pág.106

Page 107: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

serviço de atendimento de alto nível com pessoas devidamente

treinadas."

Resposta à Pergunta no 5 - "Os produtos de luxo devem possuir

uma qualidade excepcional dos materiais com que são feitos e um

serviço diferenciado, ou seja, devem se destacar dos produtos

similares pelo seu alto nível."

Resposta à Pergunta n° 6 - "Agrega-se valor a um produto de

luxo através do valor de seus materiais preciosos."

Resposta à Pergunta n° 7 - "O mercado da empresa é um

público de nível A, exigente e que procura um produto de imagem,

qualidade e funcionalidade. Os consumidores são aqueles que

pertencem a uma gama de privilegiados."

Resposta à Pergunta n° 8 - "Um produto de luxo como a

Montblanc não custa caro somente por ser um produto de luxo, mas

também por utilizar os melhores materiais existentes, a melhor mão

de obra para sua fabricação, sua colocação somente em lugares de

destaque e muito cuidado com o atendimento. Seria um paradoxo se

fosse um produto exatamente igual aos outros e custasse caro

somente pela etiqueta."

Resposta à Pergunta n° 9 - "Não acho paradoxal a politica de

distribuição dos produtos, pois não são todos os pontos de vendas

pág.107

Page 108: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

que condizem com o nível de atendimento necessário para os

produtos Montblanc. Os pontos de vendas precisam ser bem

selecionados, e com pessoal treinado conhecedor do produto que

vendem."

Resposta à Pergunta n° 10- "Todo o trabalho de mídia realizado

pela Montblanc é direcionado para um público determinado. As

promoções realizadas são institucionais, com o objetivo de solidificar

a imagem que a Mont Blanc possui."

Resposta à Pergunta n° 11 - "A motivação de nosso público alvo

se baseia no desejo de possuir uma ótima qualidade feito com os

melhores materiais e que o diferencie da massa."

Resposta à Pergunta no 12 - "Concluo que sou pessoalmente

totalmente impulsiva em uma compra de um bem de luxo, uma vez

que tenha a quantia para pagar por tal produto."

Resposta à Pergunta n° 13 - "O mercado do luxo tende a

aumentar conforme a situação brasileira vá melhorando e se

estabilizando."

Resposta à Pergunta n° 14 - " Um marketing completamente

diferenciado e diferente daquele aplicado aos produtos de massa."

pág. 108

Page 109: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

5.6. COMENTÁRIOS SOBRE AS ENTREVISTAS

Os pareceres dos entrevistados demonstram uma boa convivência

com os conceitos levantados na fase de pesquisa bibliográfica. As

respostas utilizam termos, definições e argumentações extremamente

afmados com os principais autores do tema "marketing de luxo",

constituindo, portanto, "ilustrações" sobre o tema.

Os entrevistados enxergam seus produtos como sendo bem

posicionados e dirigidos para uma clientela diferenciada em sua

maneira de ser.

Os 4 P's (preço, produto, ponto de venda e promoção), assim

como a imagem da marca de luxo, aparecem nas entrevistas como

alvos permanentes de atenção.

Com relação aos contatos pessoms com os entrevistados, é

importante ressaltar a atenção e o profissionalismo encontrados. Um

ponto comum a todos os entrevistados foi a exiguidade do tempo

disponível, o que fez com que houvesse uma limitação ao escopo

estrito das perguntas, não se permitindo divagações que talvez

fornecessem outros subsídios enriquecedores para esta dissertação.

O capítulo 6 (Conclusões) apresenta algumas considerações fmais

a respeito dos resultados das entrevistas, de forma relacionada com os

conceitos levantados na revisão bibliográfica.

pág.109

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6. CONCLUSÕES

O gerenciamento de uma empresa de luxo encontra uma

realidade distinta daquela encontrada em empresas que lidam com

outros produtos. Necessita-se de outras qualidades, responde-se a

outras exigênCias, as receitas são diferentes, o marketing de produto

de luxo é específico e, acima de tudo, paradoxal.

Um produto de luxo é por defmição um produto raro. Logo, o

marketing consiste precisamente em difundi-lo. Como fazer para que

o produto apareça nas ruas sem queimar seu capital de prazer e de

sonho inalcançável?

No umverso do luxo, o valor estético dos objetos criados

necessita ser levado ao conhecimento de um grande número de

pessoas, mostrando sua beleza e sua riqueza, sua originalidade e sua_

contribuição ao sonho, para se atingir um reconhecimeto universal e

atemporal.

Os aspectos ostentatórios relacionados com o luxo são

extensamente abordados na bibliografia, conforme já examinado nos

capítulos precedentes. Desejos de auto-diferenciação em relação ao

meio circundante (distinção) aparecem sempre associados a esta

gama de produtos.

pág. 110

Page 111: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

A conceituação do luxo não é trivial. Mostraram-se algumas

sub-classificações do mercado de luxo, cada qual com suas

características e suas estratégias mercadológicas associadas.

Estabelecer uma política de marketing eficaz tornou-se um

grande desafio para as empresas do segmento do luxo, que buscam

assegurar o surgimento de novos produtos ou de novas marcas,

sempre mantendo a imagem de seletividade em um universo bem

dinâmico. A política de marketing muitas vezes sofre com a

ambiguidade de manter a personalidade da imagem de cada um de

seus produtos e de, ao mesmo tempo, compor a homogeneidade da

notoriedade global da marca.

As entrevistas demonstraram uma sintonia entre os conceitos

delineados na bibliografia estudada e as atitudes dos profissionais da

área. Percebeu-se inclusive o uso comum de um jargão próprio do

marketing de luxo. Os principais conceitos abordados na revisão

bibliográfica e reforçados pelos entrevistados foram:

• excepcionalidade do produto~

• utilização de material de primeira qualidade~

• qualidade na fabricação do produto~

• raridade~

• qualidade do serviço de venda;

• savoir faire;

• tradição da empresa;

• diferenciação do produto em relação aos demais;

pág. 111

Page 112: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

• diferenciação do consumidor na sociedade (distinção);

Os entrevistados, em geral, manifestaram uma preocupação

grande em não caracterizar seus produtos como luxo fútil, isto é, um

produto sem qualidades excepcionais mergulhado em uma aura

artificial de vantagens diferenciadoras para o seu possuidor. Os

entrevistados, talvez por força dos cargos ocupados, frizaram as

qualidades intrínsecas e tangíveis de seus produtos como um dos

principais alicerces do preço elevado (o qual nunca é negado).

Os entrevistados não manifestaram concordância com a visão

do paradoxo mercadológico dos produtos de luxo

[BLANCKAERT, 1996 -p.l311153]. O alto preço, fator vital para a

distinção de quem compra, não aparece como possível fator inibitório

para o sucesso comercial ou como desafio diante da concorrência. O

canal extremamente seletivo de distribuição, também fator

importante no mundo do luxo, não aparece como possível fator

inibitório para uma eventual expansão de mercados ou de penetração

nos mercados existentes.

O alto preço no mercado de luxo serve como status

diferenciador entre os pares para o comprador, como no exemplo

citado na entrevista do Sr. Remi Coubronne (MÚET CHANDON),

quando visitava uma loja no Rio, onde uma senhora procurava por

uma champagne, não sabia a diferença entre as várias champagnes

expostas e acabou por levar a mais cara, gerando então o

pág. 112

Page 113: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

questionamento: para que um . preço baixo para vencer a

concorrência? Caricaturesco é o relato nesta entrevista no qual a

empresa MOET CHANDON abaixou o preço da champagne e as

vendas cairam.

Para uma marca de luxo, perdurar no tempo é saber se adaptar,

é ultrapassar o universo dos símbolos e tornar-se uma referência

universal. As marcas utilizadas pelas empresas entrevistadas

possuem uma unagem extremamente forte, alvo de estratégias

mercadológicas uniformes a nível mundial. No ambiente do luxo, não

existe um mercado brasileiro bem distinto do mercado internacional.

A globalização, no luxo, é mais do que um fato.

pág.113

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7. LIMITAÇÕES DO ESTUDO E SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS

A escassez de material bibliográfico sobre o assunto no Brasil,

exigiu que a maior parte da pesquisa teórica ocorresse na França,

dado que os maiores teóricos do luxo se encontram nesse país. Tal

fato pode ter limitado e conduzido a dissertação para aspectos

relacionados com produtos de luxo de renome internacional em

detrimento das marcas exclusivamente brasileiras (apesar de que tais

marcas internacionais possuem uma presença extremamente

significativa em nosso país).

Entretanto, a dificuldade em se encontrar no Brasil dados de

pesquisa em campo com relação ao mercado brasileiro no segmento

do luxo cria a oportunidade para pesquisas futuras sobre o assunto.

Para estudos futuros, registra-se a sugestão de um estudo mais

aprofundado das motivações psicológicas do consumidor dos

produtos de luxo.

Sugere-se também uma pesquisa quantitativa neste segmento do

luxo (as empresas pesquisadas aparentemente não possuem noções

claras a respeito do tamanho do mercado total de luxo no Brasil).

pág. 114

Page 115: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

Outro tema que poderá ser objeto de estudo e que praticamente

não foi abordado nesta disssertação, por não ser objeto direto do

estudo desta, é a influência da cópia e da falsificação no desgaste da

imagem do produto de luxo.

pág.115

Page 116: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESéOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE

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