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Tiragem: 46555 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Informação Geral Pág: 23 Cores: Cor Área: 11,26 x 31,46 cm² Corte: 1 de 1 ID: 43368944 21-08-2012 DR One Harmonious Afternoon, de Alessandro Rolandi O que há de comum, hoje, entre as ruas de Taiwan e as do Egipto? Ou entre os bairros do subúrbio parisiense e as favelas do Rio de Ja- neiro? Para Jacinto Lageira, crítico de arte e professor de estética na Universidade de Paris 1 Panthéon- Sorbonne, agora na qualidade de di- rector artístico do festival Fuso, que hoje começa em Lisboa, é através do olhar que vários artistas lançam sobre a vida em sociedade que me- lhor distinguimos o que nos faz agir e interagir. Um olhar que não tem a preocupação formal da narrativa e, sobretudo, que privilegia o modo como o vídeo capta um quotidiano ainda sem o peso da ficção. O festival Fuso, produzido pela Duplacena, reúne filmes em suporte vídeo que procuram compreender o modo como as diferentes práti- cas — do olhar, do fixar, do debater — podem criar um mapa que dese- nhe um mundo certamente contra- ditório, irónico, lúdico, revoltado e lutador. Os olhares de oito programadores — o crítico de artes plásticas do PÚ- BLICO Nuno Crespo, o ex-director do Museu Berardo e actual progra- mador de Marseille-Provence 2013 Capital Europeia da Cultura, Jean- François Chougnet, o investigador e curador João Laia, a fundadora do Museu de Arte Contemporânea Uma semana para olhar o mundo de Herzliya, em Israel, Dalia Le- vin, a artista e professora de Artes e New Media da Universidade de Paris Françoise Parfait, a historia- dora Isabel Nogueira, o artista José Drummond, e a directora do Festival Internacional de Arte Electrónica VideoBrasil, Solange Farkas — pro- põem percursos de entrada livre nos museus Nacional de História Natural, da Electricidade, de Arte Contemporânea do Chiado, de Arte Antiga, e o espaço BES Arte & Finan- ça, no Marquês de Pombal. Uma vez em galerias, noutras em claustros e jardins. Um filme como One Harmonious Afternoon, de Alessandro Rolandi, inserido no programa Utopia, de José Drummond, vai ao encontro dessa relação conflituosa entre quo- tidiano e resistência, ao mostrar um campo de golfe improvisado num baldio em Pequim como poderosa metáfora para um jogo de ilusões. Será também nesse sentido que ca- minhará a obra da franco-argelina Katia Kameli, escolhida por Choug- net e apresentada em antestreia mundial, que observa o cruzamen- to entre uma memória pessoal e a identidade plural dos lugares. O festival define-se como um mo- mento de reconhecimento e comu- nicação — ou como explica Isabel Nogueira na defesa do seu progra- ma, um modo de recondução ao es- sencial que é “o olhar e a palavra” — e terá na secção competitiva na- cional a sua pedra de toque. Jacinto Lageira diz mesmo que é importante repensar a ideia de “pintor da his- tória” e, por isso, reflectir sobre o modo como os diferentes géneros artísticos, na sua forma e no seu conteúdo, reestruturam a própria ideia de ficção. Videoarte Tiago Bartolomeu Costa Festival Fuso começa hoje em Lisboa para mostrar a vida em sociedade a partir do olhar de oito programadores

Fuso publico

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Page 1: Fuso publico

Tiragem: 46555

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 23

Cores: Cor

Área: 11,26 x 31,46 cm²

Corte: 1 de 1ID: 43368944 21-08-2012

DR

One Harmonious Afternoon, de Alessandro Rolandi

O que há de comum, hoje, entre

as ruas de Taiwan e as do Egipto?

Ou entre os bairros do subúrbio

parisiense e as favelas do Rio de Ja-

neiro? Para Jacinto Lageira, crítico

de arte e professor de estética na

Universidade de Paris 1 Panthéon-

Sorbonne, agora na qualidade de di-

rector artístico do festival Fuso, que

hoje começa em Lisboa, é através

do olhar que vários artistas lançam

sobre a vida em sociedade que me-

lhor distinguimos o que nos faz agir

e interagir. Um olhar que não tem

a preocupação formal da narrativa

e, sobretudo, que privilegia o modo

como o vídeo capta um quotidiano

ainda sem o peso da fi cção.

O festival Fuso, produzido pela

Duplacena, reúne fi lmes em suporte

vídeo que procuram compreender

o modo como as diferentes práti-

cas — do olhar, do fi xar, do debater

— podem criar um mapa que dese-

nhe um mundo certamente contra-

ditório, irónico, lúdico, revoltado

e lutador.

Os olhares de oito programadores

— o crítico de artes plásticas do PÚ-

BLICO Nuno Crespo, o ex-director

do Museu Berardo e actual progra-

mador de Marseille-Provence 2013

Capital Europeia da Cultura, Jean-

François Chougnet, o investigador

e curador João Laia, a fundadora

do Museu de Arte Contemporânea

Uma semana para olhar o mundo

de Herzliya, em Israel, Dalia Le-

vin, a artista e professora de Artes

e New Media da Universidade de

Paris Françoise Parfait, a historia-

dora Isabel Nogueira, o artista José

Drummond, e a directora do Festival

Internacional de Arte Electrónica

VideoBrasil, Solange Farkas — pro-

põem percursos de entrada livre

nos museus Nacional de História

Natural, da Electricidade, de Arte

Contemporânea do Chiado, de Arte

Antiga, e o espaço BES Arte & Finan-

ça, no Marquês de Pombal. Uma vez

em galerias, noutras em claustros

e jardins.

Um fi lme como One Harmonious

Afternoon, de Alessandro Rolandi,

inserido no programa Utopia, de

José Drummond, vai ao encontro

dessa relação confl ituosa entre quo-

tidiano e resistência, ao mostrar um

campo de golfe improvisado num

baldio em Pequim como poderosa

metáfora para um jogo de ilusões.

Será também nesse sentido que ca-

minhará a obra da franco-argelina

Katia Kameli, escolhida por Choug-

net e apresentada em antestreia

mundial, que observa o cruzamen-

to entre uma memória pessoal e a

identidade plural dos lugares.

O festival defi ne-se como um mo-

mento de reconhecimento e comu-

nicação — ou como explica Isabel

Nogueira na defesa do seu progra-

ma, um modo de recondução ao es-

sencial que é “o olhar e a palavra”

— e terá na secção competitiva na-

cional a sua pedra de toque. Jacinto

Lageira diz mesmo que é importante

repensar a ideia de “pintor da his-

tória” e, por isso, refl ectir sobre o

modo como os diferentes géneros

artísticos, na sua forma e no seu

conteúdo, reestruturam a própria

ideia de fi cção.

Videoarte Tiago Bartolomeu Costa

Festival Fuso começa hoje em Lisboa para mostrar a vida em sociedade a partir do olhar de oito programadores