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Futebol Americano: jogo para “menininhas” Escuta-se, de longe, um grito de “hut” da quarterback do São Paulo Spartans. Atrás de um “pocket” (defesa em formato de V) sólido, a jogadora tem um longo tempo para ler a defesa das Rhynos Ladies e lançar a bola direto para a “end zone” em um passe perfeito para a wide receiver (recebedora) de seu time. TOUCHDOWN SÃO PAULO SPARTANS! A situação acima, a primeira vista, pode ser estranha. O que meninas estão fazendo em meio a um jogo tão bruto e masculino igual ao futebol americano? É exatamente este preconceito que diversas garotas paulistas estão tentando quebrar. Este preconceito, inclusive, não se restringe ao Brasil. Mesmo nos EUA, onde o esporte é um dos principais (ao lado do basquete e do beisebol) e é jogado desde o início de 1900, não há espaço para mulheres. Atualmente, o Estado de São Paulo conta com quatro equipes femininas de flag football, uma das modalidades do futebol americano que troca as pancadas diretas por bandeirinhas na cintura. Além das já citadas São Paulo Spartans e Rhynos Ladies, Palmeiras Locomotives e SP Pirates buscam seu espaço no esporte. Este último é o que tem a história mais recente. “Depois que conheci o flag por meio de um amigo, me identifiquei muito com o jogo. Então, entrei no Spartans e joguei lá por um tempo. Por diversos motivos, resolvi deixar a equipe, mas a vontade de continuar jogando era maior. Então, resolvi montar o SP Pirates, em setembro de 2009. Algumas meninas do Spartans que jogavam comigo resolveram se unir a mim e, junto com algumas novatas, fizemos o time”, contou a fundadora e Defensive End da equipe, Taira Monezzi. Inspirada na história e na cultura pirata, tema que foi totalmente incorporado pela equipe, que usa roupas pretas com uma caveira no peito, o time conta com cerca de 20 jogadoras, capitãs de ataque e defesa, além de um treinador, que, no caso, é homem: Fábio Corvo.

Futebol Americano Feminino

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Futebol Americano: jogo para “menininhas”

Escuta-se, de longe, um grito de “hut” da quarterback do São Paulo Spartans. Atrás de um “pocket” (defesa em formato de V) sólido, a jogadora tem um longo tempo para ler a defesa das Rhynos Ladies e lançar a bola direto para a “end zone” em um passe perfeito para a wide receiver (recebedora) de seu time. TOUCHDOWN SÃO PAULO SPARTANS!

A situação acima, a primeira vista, pode ser estranha. O que meninas estão fazendo em meio a um jogo tão bruto e masculino igual ao futebol americano? É exatamente este preconceito que diversas garotas paulistas estão tentando quebrar. Este preconceito, inclusive, não se restringe ao Brasil. Mesmo nos EUA, onde o esporte é um dos principais (ao lado do basquete e do beisebol) e é jogado desde o início de 1900, não há espaço para mulheres.

Atualmente, o Estado de São Paulo conta com quatro equipes femininas de flag football, uma das modalidades do futebol americano que troca as pancadas diretas por bandeirinhas na cintura. Além das já citadas São Paulo Spartans e Rhynos Ladies, Palmeiras Locomotives e SP Pirates buscam seu espaço no esporte. Este último é o que tem a história mais recente.

“Depois que conheci o flag por meio de um amigo, me identifiquei muito com o jogo. Então, entrei no Spartans e joguei lá por um tempo. Por diversos motivos, resolvi deixar a equipe, mas a vontade de continuar jogando era maior. Então, resolvi montar o SP Pirates, em setembro de 2009. Algumas meninas do Spartans que jogavam comigo resolveram se unir a mim e, junto com algumas novatas, fizemos o time”, contou a fundadora e Defensive End da equipe, Taira Monezzi.

Inspirada na história e na cultura pirata, tema que foi totalmente incorporado pela equipe, que usa roupas pretas com uma caveira no peito, o time conta com cerca de 20 jogadoras, capitãs de ataque e defesa, além de um treinador, que, no caso, é homem: Fábio Corvo.

Comandado pela experiência de um amante de longa data do futebol americano, as meninas superam dificuldades técnicas e provam que não é necessário ser uma conhecedora total das regras do esporte para jogar. “Sinceramente, acho que meu grau de instrução não é dos mais altos. Sempre aprendo coisas novas com o Corvo ou então conheço novas regras, que sempre estão mudando. Consigo jogar direitinho e me virar”, disse Taira.

Apesar de não participar de campeonatos oficiais organizados pela LPFA (Liga Paulista de Futebol Americano), como o Torneio Principal Feminino de Flag, por ainda estar “engatinhando” no esporte, o SP Pirates disputou amistosos ao longo do ano contra as outras equipes do Estado. Para as próximas temporadas, no entanto, a equipe já pensa em saltos maiores, mas que ficam ainda na modalidade flag. “Pretendemos participar dos próximos torneios de Flag organizados pela LPFA. Mas, por enquanto, ficaremos apenas na modalidade de bandeirinhas. O Tackle (futebol americano com proteções e maior contato), por enquanto, não está nos planos”, disse a presidente.

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Visão Masculina – Bernardo Plum é um dos brasileiros que não perde uma transmissão de futebol americano. Depois de seu intercâmbio para os EUA, em que jogou por seis meses como kicker (chutador) em um colégio de Indiana, o esporte tomou sua vida. Tanto isso é verdade, que, em 2008, uniu-se a alguns amigos do colégio para formar sua própria equipe: o Santo André Sentinels.

Apesar de não estar mais em atividade, Bernardo acompanha todas as vertentes do futebol no Brasil, inclusive as mulheres, as quais chamam muito a sua atenção. “É impressionante como as meninas que começam a jogar futebol americano conseguem trazer uma leveza e um clima diferente para o esporte. Não sei se é porque elas têm esse lado mais de união, mas conseguem se superar, em diversos momentos, de uma forma que eu não vejo quando os meninos jogam. Mesmo quando a diferença no placar é muita entre os times, elas continuam se esforçando até o fim”, disse Bernardo.

Depois de passar por diversas experiências nacionais e internacionais que o levaram ao conhecimento, admiração e amor pelo futebol americano, o ex-atleta conseguiu entender o porquê do esporte não se desenvolver com mais facilidade e no Brasil. Para ele, a ignorância nacional em relação ao “Football” acaba criando um preconceito em volta do esporte por muitos não conhecerem o espírito real de cada partida.

“Depois de que vivenciei a modalidade, eu entendi o quanto o esporte pode ser apaixonante e por que os americanos gostam tanto dele. Como muitos brasileiros não tiveram a chance de ter o contato que eu tive, o esporte parece um monstro de sete cabeças e que é feito apenas para brutamontes, coisas que não são verdadeiras. As regras são fáceis. Basta apenas um pouco de paciência. O Brasil tem aquela cabeça que é voltada apenas para o futebol tradicional, que é dinâmico. Se um leigo assiste a uma partida de futebol americano, a quantidade de paradas acaba irritando e a pessoas não termina de ver o jogo, perdendo todas as jogas brilhantes que podem ser feitas. Entre as meninas, isso é ainda mais evidente, já que muitas nem ao menos gostam de esportes. É questão do brasileiro dar uma chance e ver além do tradicional para que o Football se desenvolva aqui”, explicou.

Pouca demanda, pouca divulgação – O futebol americano enfrenta barreiras e confrontos, além das batalhas frequentes que acontecem no campo de jogo. O pouco investimento no esporte, e quase nenhuma divulgação, fazem com que o Football ande a passos curtos em busca de um espaço maior no cenário brasileiro.

Uma mesma palavra, com significados diferentes, e realidades totalmente opostas. ‘Football’ em português significa ‘futebol’. Porém, no Brasil, o futebol é praticado com os pés, enquanto, nos Estados Unidos, com as mãos. Aqui, o futebol figura disparado na preferência de todos os brasileiros e o amor por este esporte ultrapassa o limite de apenas ‘um entretenimento’..

Atualmente com transmissões da NFL (National Football League) em dois canais fechados, será que o futebol americano chegará algum dia a esse nível de paixão que o ‘xará’ brasileiro alcançou? O jornalista André Kfouri, comentarista de futebol americano em um dos canais, acredita que já há um crescimento. “É um esporte altamente estratégico, de conquista de território. Acho essa dinâmica interessante.

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Acho que pode se popularizar, sim. Isso já está acontecendo, com campeonatos bem organizados, times de diferentes estados. Tem sido legal ver esse crescimento”, afirmou.

Para o lado feminino, o cenário é ainda pior. O futebol tradicional do Brasil, onze contra onze, jogando com os pés, já é tabu quando se trata de mulheres. Nos últimos tempos, o futebol feminino conquistou um espaço muito grande na mídia brasileira. Porém, sem a merecida divulgação. Agora imagine: se o tão falado e badalado ‘futebol’ não recebe apoio quando se trata do sexo feminino, e o ‘football’?

No dia 4 de março deste ano, um novo marco do esporte foi sacramentado no Brasil: foi criada a LBFA (Liga Brasileira de Futebol Americano), formada por equipes que sentiram a necessidade de criar uma instituição jurídica para suportar o campeonato que desejavam promover.

Dos 14 times que fazem parte dela, oito participaram, em 2009, do Torneio Touchdown, o primeiro campeonato de longa duração a reunir agremiações de diferentes cidades ao redor do país. Segundo o presidente da LBFA Eustáquio Alves Ferreira Jr., o objetivo da Liga é a profissionalização das equipes. “O nosso foco principal é que seja dado um passo importante em direção a profissionalização da gestão das equipes. Por isso, todos participantes tem uma CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica)”, declarou.

No Estado de São Paulo, a LPFA é a entidade que organiza a Liga Flag São Paulo, principal campeonato de futebol americano do Estado. Atualmente, ela é disputada na categoria Flag Football 9x9 e conta com 14 equipes. Além deste campeonato, há também o Torneio de Integração, que funciona como grupo de acesso da Liga. As cidades que possuem representantes na Liga são: São Paulo, Diadema, São Bernardo, Santo André, Valinhos, Sorocaba e Avaré. Devido ao seu crescimento, a LPFA conta com equipes que levam a marca de Corinthians e Palmeiras, clubes tradicionais da cidade de São Paulo.

Em julho, iniciou-se o Torneio Principal Feminino de Flag e, em dezembro, acontecem as finais da competição, com jogos entre São Paulo Spartans e Rhynos Ladies: dia 5, os times entram em campo para cumprir tabela; uma semana depois, no dia 12, as mesmas equipes decidem quem será a grande campeã da categoria.

Com a criação dessas duas Ligas, espera-se um maior movimento na prática e divulgação desse esporte, que, por ora, parece ser violento, mas é uma atividade física como qualquer outra e que merece ser valorizada. O apoio dado pelos meios de comunicação em geral ainda é pouco, mas com todo esse movimento e apreço que alguns brasileiros estão criando é possível acreditar que, em alguns anos, nós possamos ver o tão famoso American Football fazer sucesso aqui também.

Tabela – Conheça o Futebol Americano1. Regras Básicas: O principal objetivo do Futebol Americano é levar a bola até o fim do campo adversário (End Zone) e somar o maior número de pontos possíveis nos quatro quartos de 15 minutos de jogo.

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Para fazer isso, a equipe que está no ataque tem quatro tentativas (down) para avançar no mínimo 10 jardas (o campo tem 100 jardas de comprimento por 53 metros de largura) com jogadas aéreas (passes) ou terrestres (runs). Caso o time consiga as 10 jardas, a bola continua em sua posse e o mesmo continua avançando. Caso não consiga, a bola passa para o outro time.

A equipe que alcança a End Zone ganha seis pontos (touchdown) e tem o direito tentar mais um ponto (extra point) que pode valer um ponto (field gols - chute) ou dois pontos (nova jogada).

Durante sua campanha, o time pode optar por chutar um field goal a qualquer momento, que, caso convertido, vale três pontos. Essa jogada é normalmente escolhida pelas equipes que estão a menos de 45 jardas das traves do goal e não conseguiram alcançar as 10 jardas mínimas após o terceiro down.

2. Modalidade Flag: A modalidade Flag compartilha do mesmo objetivo e quase todas as mesmas regras do Futebol Americano Tradicional (Tackle). A grande diferença é que em vez dos atletas tentarem derrubar o jogador com a bola por meio do contato físico, o defensor deve retirar uma fita (flag) para parar um down. Para tanto, todos os jogadores usam um cinto em que duas fitas ficam presas por velcro.