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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba - PR – 26 a 28/05/2016 1 Futebol Americano no Rádio Em Convergência: Segmentação e Pioneirismo na Universidade AM 1 Ramiro BRITES Pereira da Silva 2 Júlio Porto DESORDI 3 Lucas Altamor DELGADO 4 Marina FORTES Barin 5 Viviane BORELLI 6 Universidade Federal de Santa Maria, RS RESUMO As coberturas dos jogos do Santa Maria Soldiers, na Liga Nacional de 2015 e no Campeonato Gaúcho de 2016 de Futebol Americano, feitas pela equipe do Radar Esportivo, da Rádio Universidade AM, são o contexto para discussões como a segmentação no radiojornalismo em contexto de convergência, e principalmente esse meio como um difusor e fomentador de esportes pouco populares no país, como o Futebol Americano. Fez-se revisão bibliográfica de conceitos centrais para a discussão, como de segmentação no radiojornalismo e convergência, para que fosse possível refletir sobre as jornadas esportivas. PALAVRAS-CHAVE: Jornada esportiva; Radiojornalismo; Convergência; Segmentação; Futebol Americano INTRODUÇÃO O Futebol Americano é um esporte que está em franca ascendência no Brasil. Mesmo com a tradição no Rugby dos nossos vizinhos argentinos, herança inglesa, a bola oval nunca foi tão requisitada como nos dois últimos anos. Em 2015, 14 mil pessoas foram a Arena Pantanal acompanhar o Cuiabá Arsenal na final da Superliga Centro-Sul de Futebol Americano. Foi o segundo maior público da Arena construída para a copa de 2014 em 2015, atrás somente do “clássico das multidões”, Flamengo contra Vasco, válido pelo Campeonato Brasileiro do Futebol que já estamos mais acostumados. 7 1 Trabalho submetido ao no IJ 05 Rádio, TV e Internet do XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul realizado de 26 a 28 de maio de 2016. 2 Aluno líder do grupo e estudante do 5º. Semestre do Curso de Jornalismo da UFSM, email: [email protected]. 3 Estudante do 7º Semestre de Jornalismo da UFSM, email: [email protected] 4 Estudante do 7º. Semestre do Curso de Jornalismo da UFSM, email: [email protected] 5 Estudante do 7º Semestre do Curso de Jornalismo da UFSM, email: [email protected] 6 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo da UFSM, email: [email protected] 7 Disponível em: www.esportes.terra.com.br/futebol-americano/futebol-americano-cresce-em-audiencia-e- praticantes-no-brasil,adce1c28a4cccee56a647b96fd75100bo1whpde3.html. Acesso: 18 de abril de 2016.

Futebol Americano no Rádio Em Convergência: Segmentação e ... · pareceria com a equipe do Radar Esportivo, desde 2014 a rádio veicula o Planeta Oval, que vai ao ar, toda a quinta-feira

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Futebol Americano no Rádio Em Convergência: Segmentação e Pioneirismo

na Universidade AM1

Ramiro BRITES Pereira da Silva2

Júlio Porto DESORDI 3

Lucas Altamor DELGADO4

Marina FORTES Barin5

Viviane BORELLI6

Universidade Federal de Santa Maria, RS

RESUMO

As coberturas dos jogos do Santa Maria Soldiers, na Liga Nacional de 2015 e no Campeonato

Gaúcho de 2016 de Futebol Americano, feitas pela equipe do Radar Esportivo, da Rádio

Universidade AM, são o contexto para discussões como a segmentação no radiojornalismo

em contexto de convergência, e principalmente esse meio como um difusor e fomentador de

esportes pouco populares no país, como o Futebol Americano. Fez-se revisão bibliográfica

de conceitos centrais para a discussão, como de segmentação no radiojornalismo e

convergência, para que fosse possível refletir sobre as jornadas esportivas.

PALAVRAS-CHAVE: Jornada esportiva; Radiojornalismo; Convergência; Segmentação;

Futebol Americano

INTRODUÇÃO

O Futebol Americano é um esporte que está em franca ascendência no Brasil. Mesmo

com a tradição no Rugby dos nossos vizinhos argentinos, herança inglesa, a bola oval nunca

foi tão requisitada como nos dois últimos anos. Em 2015, 14 mil pessoas foram a Arena

Pantanal acompanhar o Cuiabá Arsenal na final da Superliga Centro-Sul de Futebol

Americano. Foi o segundo maior público da Arena construída para a copa de 2014 em 2015,

atrás somente do “clássico das multidões”, Flamengo contra Vasco, válido pelo Campeonato

Brasileiro do Futebol que já estamos mais acostumados.7

1 Trabalho submetido ao no IJ 05 – Rádio, TV e Internet do XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul

realizado de 26 a 28 de maio de 2016. 2 Aluno líder do grupo e estudante do 5º. Semestre do Curso de Jornalismo da UFSM, email: [email protected]. 3 Estudante do 7º Semestre de Jornalismo da UFSM, email: [email protected] 4 Estudante do 7º. Semestre do Curso de Jornalismo da UFSM, email: [email protected] 5 Estudante do 7º Semestre do Curso de Jornalismo da UFSM, email: [email protected] 6 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo da UFSM, email: [email protected] 7 Disponível em: www.esportes.terra.com.br/futebol-americano/futebol-americano-cresce-em-audiencia-e-

praticantes-no-brasil,adce1c28a4cccee56a647b96fd75100bo1whpde3.html. Acesso: 18 de abril de 2016.

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As primeiras transmissões televisivas de Futebol Americano no Brasil foram feitas

por Luciano do Valle, na TV Bandeirantes, ainda nos anos 90. Ele transmitia a NFL, Liga

Norte-Americana de Futebol Americano. Mas, no ano passado, na TV fechada, o numero de

telespectadores é surpreendente. Mais de 500 mil pessoas passaram pelo canal ESPN, durante

o Super Bowl 49, a grande final da NFL em 2015. Um aumento de 84% em relação ao mesmo

evento em 2014. Além disso, as hashtags do Esporte Interativo e da ESPN, canais detentores

dos direitos de imagem da NFL, aparecem frequentemente entre os assuntos mais comentados

no Twitter.

No radiojornalismo, as experiências de Futebol Americano ainda são tímidas. Mídias

alternativas, principalmente rádios webs, tentam suprir a falta de mídia específica para esse

esporte, que a cada ano ganha mais adeptos e praticantes, no país do futebol. Nessa direção,

uma emissora pública na frequência AM e do interior do país se propôs, pela primeira vez, a

transmitir um jogo de Futebol Americano, ao vivo. Trata-se da Rádio Universidade AM,

integrante da Coordenadoria de Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM).

A Rádio Universidade AM, prefixo ZYK 292, com potência de 10 Kw e frequência

de 800 kHz, está no ar desde 27 de maio de 1968. Sua transmissão cobre 150 municípios do

Rio Grande do Sul e, por vezes, ultrapassa as fronteiras do Uruguai e da Argentina.

Nesse artigo, o objetivo principal é discutir o papel da mídia radiofônica na difusão,

divulgação e visibilidade de esportes pouco populares no país, especificamente, o Futebol

Americano a partir da experiência das Jornadas Esportivas realizadas pelos integrantes do

projeto Radar Esportivo.

Os cursos de Comunicação Social possuem estreita relação com a Rádio Universidade

AM, por meio do desenvolvimento de projetos de ensino, pesquisa e extensão. Disciplinas

como de Radiojornalismo I, II e III, ministradas pelo professor Paulo Roberto Oliveira

Araújo, têm na rádio um lugar primordial para sua realização. Alunos também produzem, ao

longo do período acadêmico programas radiofônicos,como o Na Boca do Monte e o

Culturália

O Radar Esportivo está no ar desde o fim da década de 1980, quando era comandado

por Sérgio Carvalho e Ciro Knackfuss. Nos anos 90, Candido Otto da Luz esteve à frente do

programa, e no fim desta década contou com a parceria do jornalista da Rádio, Gilson Piber.

O Radar Esportivo é produzido por alunos dos cursos de Comunicação Social da UFSM, com

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a tutela dos professores. A atual coordenadora do projeto é a professora Viviane Borelli e o

supervisor é o técnico da Rádio Universidade Ciro Oliveira.

O Radar Esportivo cobria a Divisão de Acesso de futebol, competição que o

Riograndense F.C. e E.C. Internacional, clubes profissionais de futebol de Santa Maria,

disputavam. Além da Universidade AM, outras rádios da cidade cobriam os mesmos jogos,

como Medianeira AM, Guarathan AM e Imembuí AM. A transmissão da Rádio da UFSM se

distinguia em dois aspectos: não era uma rádio comercial e o caráter educacional das

transmissões. As Jornadas Esportivas de futebol acabaram em 2009 e foram retomadas no

final de 2015, mas agora com os jogos de Futebol Americano.

A importância do rádio em um esporte que circula em meios alternativos é enorme.

Por ser um veículo mais barato e fácil de produzir do que a televisão, facilita o trabalho da

mídia que se dispõe a transmitir sem considerar o retorno financeiro. Tanto é que as

transmissões de Futebol Americano no Brasil se limitam à Liga Norte-Americana,

desconsiderando o esporte praticado no nosso país. A segmentação do interesse do ouvinte

de rádio, faz com que o veículo seja um meio estratégico para divulgação do esporte.

No contexto do Rio Grande do Sul, há algumas iniciativas que merecem destaque:

Renan Jardim, da Rádio Gaúcha, produz o Touchdown Gaúcha, poadcast exclusivo para o

site da emissora, que por vezes tem inserções de entrevistas na programação convencional.

Na Rádio Guaíba, o programa Bola Oval, apresentado por Gutiéri Sanchez e João Vitor

Ferreira, vai ao ar todo sábado das 21h às 22h. Nesse sentido, a Rádio Universidade AM

também é pioneira no estado na produção de programas especializados na bola oval. Em

pareceria com a equipe do Radar Esportivo, desde 2014 a rádio veicula o Planeta Oval, que

vai ao ar, toda a quinta-feira das 17h05 ás 18h, desde 2014.

Na sequência, discutimos alguns conceitos importantes para a reflexão - como de

jornadas esportivas em rádio, a especificidade da narração esportiva, o papel do rádio no

contexto de convergência – para que possamos depois detalhar e refletir sobre a experiência

pioneira do projeto Radar e as transmissões dos jogos do Santa Maria Soldiers no

Campeonato Gaúcho e na Liga Nacional pela Rádio Universidade AM.

AS JORNADAS ESPORTIVAS E A NARRAÇÃO EM RÁDIO

A Jornada Esportiva do Radar Esportivo foi constituída no mesmo modelo da maioria

das transmissões esportivas de futebol, é claro com as devidas adequações. Antes e após as

partidas, aconteciam o Pré-Jogo e Pós-Jogo, junto com os comentaristas, narrador e

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repórteres, quem ancora essas partes da transmissão é o plantonista, que ficava no estúdio da

Rádio.

A transmissão lance a lance de uma competição constitui-se no momento

mais importante da cobertura esportiva em uma emissora de rádio. [...]. A

descrição do fato que se desenrola cabe ao narador, cujo trabalho

complementa-se com a intervenção dos repórteres, dos comentaristas e do

plantão. O conjunto deste trabalho ganha, em alguns estados brasileiros, a

denominação de jornada esportiva. ( FERRARETTO, 2001, p.322)

Ferraretto (2001) define o Plantão Esportivo como: “profissional que, escudado em

um arquivo atualizado e no trabalho de radioescutas e de produtores, dá informações

adicionais a respeito do que acontece durante uma transmissão esportiva” (2001, p.316). Cabe

a ele, contextualizar o ouvinte sobre a campanha de equipes, atletas e também deve noticiar

“resultados paralelos ao evento narrado” (FERRARETO, 2001, p.316).

Algumas vezes, os plantonistas também são responsáveis pelas mídias sociais e outros

meios de interação, como aplicativos de mensagens instantâneas e SMS, para passar aos

outros componentes da transmissão a participação do ouvinte. Os repórteres já no ar desde o

Pré-Jogo, buscam entrevistas e informações prévias da partida, como expectativa de público.

“O repórter esportivo [...] na transmissão ao vivo de uma competição, é chamado repórter de

campo, constituindo-se no integrante da equipe mais próximo dos lances da partida”

(FERRARETTO, 2001, p.317).

Outro tipo de repórter comum nas transmissões de eventos esportivos é aquele que

entrevista e conversa com o público que assiste presencialmente a partida, proporcionando,

muitas vezes, uma interação entre ouvinte-radialista. Estes são informalmente conhecidos por

“repórteres da galera”, ou repórter da torcida. O comentarista “representa um elemento de

opinião. [...] Durante a transmissão de um evento esportivo, analisa, considera, sugere, opina

e critica o que está ocorrendo. ” (FERRARETTO, 2001, p.317).

O narrador pode ser considerado o membro mais importante da Jornada Esportiva.

Além de ser o “mestre de cerimônias” da transmissão, “misturando informação e emoção, o

narrador segura a transmissão de um evento esportivo, descrevendo-o em detalhes, mexendo

com a sensorialidade do ouvinte e fornecendo a ele uma visão do que acontece”

(FERRARETTO, 2001, p.316).

A isenção durante uma transmissão esportiva é um item de divergência nas

transmissões esportivas Brasil a fora. Se por um lado, a cobertura deve criar uma empatia

com o ouvinte, que no caso do esporte, é provavelmente, torcedor, por outro viés o

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“jornalismo pressupõe um distanciamento crítico do acontecimento narrado”

(FERRARETTO, 2001, p.318).

Pensemos na transmissão de Rádio de qualquer evento esportivo, um discurso criado

a partir do esporte. O que Umberto Eco nomeia de “Falação Esportiva”: é a espetacularização

do esporte, “o esporte elevado em enésima potência” (1984, p.223). Para Eco (1984), o que

realmente está em jogo é o discurso criado sobre o esporte. Isso é extremamente visível no

rádio: o narrador tem de criar a imagem do jogo para o ouvinte, e o que ele diz, é a partir dos

indícios e dados do que acontece.

Eco (1984) ainda provoca o leitor, no sentido de que, os jogos olímpicos, por exemplo,

só não acontecem encenados por atores pela questão financeira. Seria mais caro contratar

atores do que atletas. “O esporte atual é essencialmente um discurso sobre a imprensa

esportiva: para além de três diafragmas está o esporte praticado que no limite poderia não

existir” (ECO, 1984, p.223).

O que o autor não considera, nesse momento, é a individualidade do atleta, aquele

que essencialmente joga o jogo. O esporte elevado a potência nenhuma.

O atleta enquanto monstro nasce no momento em que o esporte é

elevado ao quadrado: isto é, quando o esporte, de jogo que era jogado

em primeira pessoa, se torna uma espécie de discurso sobre o jogo,

ou seja, o jogo enquanto espetáculo para os outros, e depois o jogo

enquanto jogado por outros e visto por mim. O esporte ao quadrado

é o espetáculo esportivo (ECO, 1984, p.222).

Por mais que no Futebol Americano brasileiro exista o esporte espetáculo – os

jogadores entram correndo e enfileirados, anunciados por confetes, com um rock’n’roll

explodindo nas caixas de som, aos moldes norte-americanos e a torcida comparece e paga

ingresso- em um esporte que, aos poucos, profissionaliza-se a distância entre o atleta, a

comissão técnica e o público parece ser encurtada. É visível a dificuldade que todos passam

para fazer aquele evento acontecer quando comparado com o futebol, por exemplo.

Se no futebol, tradicional e conhecido do público do rádio, nós já cremos em um

discurso construído pelos radialistas, mesmo conhecendo as posições dos jogadores - por

exemplo: sabemos que o 10 é meia ofensivo, o 3 o zagueiro e o 9 o atacante – no futebol

americano, a missão da equipe de transmissão é mais desafiadora. Essa equipe tem o dever

de criar para o ouvinte uma imagem de um esporte que ele nunca teve contato, ou teve, foi

mais restrita.

O RÁDIO EM CONTEXTO DE CONVERGÊNCIA

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Convergência pode ser compreendida como a produção de fluxos de conteúdos por

meio de “múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos

e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase

qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam” (JENKINS, 2009,

p.29). A convergência compreende “transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais

e sociais” (JENKINS, 2009, p.29).

O radiojornalismo tem muito o que acrescentar ao webjornalismo e vice-versa. Com

a internet, o rádio ganhou novos horizontes, novas fronteiras – ou a falta delas- assim como

novos públicos e diferentes exigências:

O radiojornalismo, hoje não pode mais ser considerado eminentemente

local. Com a ruptura dos limites de espaço e tempo no webjornalismo e a

oferta cada vez maior de informações para o público o rádio, caso não

passasse a mesclar informações locais, nacionais e internacionais, ficara

parar trás. Assim o globalismo e glocalismo da rede mundial de

computadores passam a integrar o jornalismo radiofônico (LOPEZ, 2009,

p.34).

No entanto, vale a ressalva de que o fato de o rádio poder atingir novos públicos em

outros lugares, não significa que ele perca o caráter local. Isto é, produzir notícias para um

determinado espaço geográfico não significa limitar que outras pessoas de outros lugares

tenham interesse. No caso específico do esporte, onde propomos esta análise, durante a

narração de um jogo, é comum o narrador gritar mais forte “gol” – ou no nosso caso o

touchdown- para a equipe da mesma cidade da rádio. Porque o rádio pressupõe uma relação

próxima com o público, e o radiojornalismo esportivo deve ser carregado de emoção, nunca

desconsiderando o alerta do ícone do radiojornalismo sul rio-grandense Ruy Carlos

Osterman, citado por Ferraretto (2001, p.38): “[...] o homem do rádio deve se emocionar e

passar essa emoção para seu público, mas sabendo distinguir a emoção da paixão”.

Desde a sua “era dourada”, o rádio sempre teve o pressuposto de ser um veículo que

buscava interagir com o público. Gisela Ortriwano (1998) retoma a obra de Bertold Brecht

para problematizar essa questão. Cinco textos dispersos, escritos entre 1927-1932, três deles

de pouca circulação e dois que permaneceram manuscritos até sua morte. Brecht via o rádio

com “dupla mão-de-direção”:

O rádio, antes de ser um meio de comunicação de massa, era um meio

interativo de comunicação, que se viu limitado em sua capacidade

bidirecional à medida em que se constituía o sistema econômico de sua

exploração (ORTRIWANO, 1998, p.13)

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A interação também é uma das características do webjornalismo, como aponta

Palácios (2005), que aponta mais duas características em comum entre a web e o

radiojornalismo: a busca pela instantaneidade e a supressão dos limites espaço e tempo. Se

anteriormente, o ineditismo da notícia no jornalismo impresso era posto em cheque pelo

radiojornalismo, no webjornalismo a notícia instantânea chega em outro patamar.

Mais do que apenas a internet, a popularização do telefone celular e, principalmente,

dos telefones com conexão móvel, mudou a perspectiva que tínhamos de radiojornalismo.

Antes, um ouvinte poderia participar de um programa de rádio, sendo entrevistado do local

de um acidente que o próprio ouvinte relatou; hoje, o ouvinte-internauta pode mandar um

áudio via aplicativos de mensagens instantâneas para a rádio e ser veiculado no ar, por livre

iniciativa, sem nem mesmo ser entrevistado pelo jornalista.

Com a popularização da internet e do telefone celular, o ouvinte ganhou um mundo

de possibilidades em relação à interação e participação no jornalismo. O jornalista, por sua

vez, ganhou um universo de possiblidades do ponto de vista da produção. O velho gravador

e o bloco de notas não podem ser esquecidos, pois a tecnologia pode ser traiçoeira, mas, num

só dispositivo, o jornalista tem acesso a um gravador, um bloco de notas, uma câmera

fotográfica – que, por mais simples que seja, tem a resolução necessária para a vinculação

online-, além da própria linha telefônica, comumente usada em inserções ao vivo dos

jornalistas.

Como salienta Lopez (2009), os celulares são uma ferramenta de trabalho de extrema

importância para os jornalistas que atuam no Rádio:

Ele pode ser utilizado para transmissões ao vivo, muitas vezes com

qualidade de áudio superior aos telefones fixos e com a vantagem de

possibilitarem a mobilidade. Ao jornalista multimídia, ou o que procura

utilizar os potenciais do site de uma emissora de rádio, por exemplo, o

aparelho de telefone celular tem ainda a utilidade de captar vídeos, fotos,

conectar-se à internet para envio imediato de textos e arquivos, entre outras

funcionalidades (LOPEZ, 2009, p.30).

Desde a segunda metade da década de 80, é tendência no Rádio a segmentação. Em

sua grande maioria, por motivos comerciais, a segmentação é, como diz Ferraretto (2001), a

busca por particularidades dentro de características globais, como aspectos demográgicos e

socioeconômicos. Dentro de um público heterogêneo, “oferecer um serviço com destinatário

definido, buscando também anunciantes a estes ouvintes específicos” (FERRARETTO,

2001, p. 53).

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A internet serve como uma ferramenta que torna possível algumas especificações de

público-alvo. A segmentação ultrapassa os interesses comerciais. No caso das transmissões

ao vivo de futebol americano, na Universidade AM, o interesse nunca foi comercial, por se

tratar de uma emissora pública. O interesse foi a potencialização do alcance do trabalho da

equipe do Radar Esportivo e o aprendizado por parte dos alunos, mas, principalmente, a

visibilidade que poderia ser dada ao Soldiers, ao suprir a falta de uma mídia que cobrisse o

futebol americano em Santa Maria.

Essa divulgação só teve sucesso porque a internet e o rádio estavam bem integrados.

Enquanto acontecia a transmissão, a equipe fazia o minuto-a-minuto da partida via Twitter,

onde acontecia boa parte da interação, além do Whatsapp, que foi o mecanismo mais utilizado

para a participação do ouvinte-internauta, como Lopez (2009) define o ouvinte do rádio em

um contexto de convergência.

O público de cerca de 700 pessoas presentes no estádio - número considerado bom

para o espetáculo - participou ativamente durante toda a partida. Porém, os interessados de

futebol americano, no resto do estado e do país, tinham como único veículo de imprensa

cobrindo o jogo - a Rádio Universidade. O Radar Esportivo nunca teve tamanha audiência,

como quando teve um público tão bem definido.

Na transmissão, a equipe esforçou-se para que não somente o público conhecedor do

futebol americano tivesse acesso, escutasse e entendesse o que estava acontecendo em campo.

Para isso, a transmissão foi efetivada com uma boa dose de didatismo para que a jornada

fosse acessível para um público de rádio heterogêneo. Nessa experiência, a segmentação,

ainda, aumentou a heterogeneidade do público. O Radar Esportivo é escutado, basicamente,

por quem tem interesse em esportes praticados na região central do Rio Grande do Sul e se

restringe aos ouvintes que vivem nessa região. O público interessado pelo futebol americano

praticado no Brasil está mais disperso, pois abrange todas as regiões do país. Nesse sentido,

as jornadas contaram com a participação de ouvintes-internautas de diversos estados

brasileiros.

A EXPERIÊNCIA DO RADAR ESPORTIVO

Como já visto anteriormente nesse artigo, o futebol americano no Brasil, tem ganhado

grandes proporções, nos últimos anos. A mídia sul rio-grandense abriu os olhos para isso nos

últimos tempos, ao passo em que a final do campeonato estadual de futebol americano, será

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no Beira-Rio, estádio reformado para a Copa do Mundo de 2014, com capacidade superior a

50.000 pessoas, num megaevento denominado Gaúcho Bowl.

Além disso, o Santa Maria Soldiers já foi campeão gaúcho em 2013 e entrou no

campeonato de 2016 com um time forte. Atentos a tudo isso, e com a vontade inerente a quem

faz radiojornalismo esportivo de fazer uma Jornada Esportiva, a equipe do Radar Esportivo

se lançou na empreitada de cobrir, pela primeira vez numa emissora pública, no Rio Grande

do Sul – muito provavelmente no Brasil- uma partida de futebol americano.

A primeira experiência foi em 20 de novembro de 2015, no jogo Santa Maria Soldiers

contra Porto Alegre Bulls, despedida do Soldiers da Liga Nacional, segunda maior

competição promovida pela Confederação Brasileira de Futebol Americano, uma divisão de

acesso à Super Liga. E a consolidação das jornadas foi a transmissão na partida entre Santa

Maria Soldiers contra Ijuí Drones, estreia do campeonato gaúcho, dia 20 de fevereiro de 2016.

Para a primeira jornada contamos com a equipe de acadêmicos que fazem parte do

Radar Esportivo, mais o convidado Matheus Martins de Albuquerque, que participa do

programa Planeta Oval, dispostos nas seguintes funções: Vinicius Denardin, plantonista;

Júlio Desordi, repórter de campo; Eduardo Tesch, repórter da torcida; Lucas Delgado,

narrador; Matheus Rossatto, comentarista; Matheus Martins de Albuquerque, comentarista;

Maria Júlia Corrêa, fotógrafa; Ramiro Brites e Marina Fortes, responsáveis por repercutir a

transmissão no Facebook, fazer o minuto-a-minuto da partida no Twitter, e cuidar das

interações com o ouvinte-internauta, por meio dessas mídias sociais. Além do técnico-

administrativo Renato Molina, responsável por garantir a linha entre o estádio e a rádio

funcionando.

Uma hora antes da partida, o plantonista começou o pré-jogo, do estúdio da rádio,

estava em constante interação com os repórteres, que já no estádio, apuravam as informações

prévias do jogo e traziam entrevistas ao vivo com treinadores, jogadores e torcida. O

plantonista ainda era responsável por inserções ao longo da partida, atualizava outros

resultados da mesma competição, e até mesmo, a rodada do futebol da bola redonda.

O narrador, os comentaristas, e os repórteres tinham a missão de criar as imagens de

um jogo de futebol americano no imaginário de um ouvinte, por vezes, pouco familiarizado

com o esporte. O grande desafio foi fazer uma transmissão didática o suficiente para que

todos entendessem, sem ficar entediante para um possível ouvinte expert em futebol

americano. O fato do futebol americano ser um jogo com muitas pausas, permite que as

devidas explicações sejam feitas, sem atrapalhar a narração da partida.

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Duas caixas de som instaladas ao lado das arquibancadas do Presidente Vargas,

estádio do E.C Internacional, onde o Santa Maria Soldiers manda seus jogos, reproduziam a

narração do Radar Esportivo, além das transmissões via web e na Rádio AM. Isso permitiu

uma interação constante com o público presente, em que o repórter da torcida facilitava esse

diálogo.

Além dessa interação com o público, a relação com as pessoas no ambiente virtual

também estava muito presente. Ao utilizar a hashtag #RadarnoFA, o ouvinte-internauta

participava da transmissão, via Twitter, ou com comentários na fanpage do Radar Esportivo

no Facebook.

Para a segunda transmissão, no dia 20 de fevereiro de 2016, algumas melhorias

pontuais foram feitas para que a Jornada fosse mais dinâmica e obtivesse um alcance maior

do que a primeira. Ao invés de dois comentaristas, apenas um acompanhava o narrador na

cabine de imprensa; e ao contrário de um plantonista, duas pessoas ficavam encarregadas de

trazer as notícias do estúdio da Rádio Universidade. Porém, o maior diferencial entre a

primeira e a segunda transmissão, foi o uso do aplicativo de mensagens instantâneas,

Whatsapp, fazendo com que a jornada ganhasse muito em interatividade e repercussão.

Figura 1 - Algumas das mensagens recebidas pelo Whatsapp

Nos jogos fora de casa, não foi possível mobilizar toda a equipe para a transmissão.

Por conta disso, com uma equipe reduzida, foi realizado apenas uma cobertura minuto-a-

minuto do jogo no Twitter, além de vídeos e fotos que foram vinculados ao blog do Radar

Esportivo, e no Facebook, junto com a crônica do jogo.

O primeiro jogo do Soldiers como visitante foi diante do Bulldogs F.A. de Venâncio

Aires, quando a partida acabou em um placar histórico e rendeu um bom exemplo de

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba - PR – 26 a 28/05/2016

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participação do ouvinte-internauta, transformado também em produtor de conteúdo. Esse

ouvinte demanda também uma nova postura dos meios de comunicação, “com a inserção do

veículo nas redes sociais e com o espaço para que o ouvinte-internauta se identifique com a

rádio- e ajude a construir o seu conteúdo” (LOPEZ, 2009, p.35).

Figura 2 - O jornalista Henrique Riffel, especializado em Futebol Americano, contribuiu com a transmissão via Twitter.

CONCLUSÃO

A proposta do artigo foi refletir sobre a experiência do Radar Esportivo na transmissão

ao vivo do futebol americano, a partir da perspectiva que o rádio se encontra num contexto

de convergência tecnológica. Avaliou-se que a experiência acadêmica teve baixo custo

financeiro e evidenciou alguns desafios do radiojornalismo contemporâneo, especialmente o

fato de que o rádio pode atingir um público maior e mais diversificado através de experiências

que não ficam restritas a apenas um dispositivo.

Além disso, a midiatização do esporte na cidade alça o Santa Maria Soldiers à

referência municipal em se falando de equipes esportivas, num momento em que o futebol

“tradicional” está intimamente ligado aos desencontros administrativos que refletiram nas

campanhas na Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho de Futebol.

Vale ressaltar a experiência adquirida pelos alunos, principalmente os mais velhos,

que encontraram no Futebol Americano um nicho de trabalho em ascensão no Brasil. A

mescla de teoria e prática; da aula e do projeto de extensão, respectivamente, tornam a

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formação dos estudantes muito mais rica e calejadora, os preparando para os desafios e

percalços de uma transmissão ao vivo.

REFERÊNCIAS

ECO, Umberto. A Falação Esportiva. In: Viagem na Irrealidade Cotidiana. Tradução de

Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

1984.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Tradução Susana Alexandria. São Paulo:

Aleph, 2009.

FERRARETTO, Luiz Arthur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre. Editora

Sagra Luzatto, 2001.

LOPEZ, Debora. Radiojornalismo hipermidiático: tendências e perspectivas de rádio all

news brasileiro em um contexto de convergência tecnológica. 2009. 230f. Dissertação

(Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas - Doutorado) -

Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009.

ORTRIWANO, Gisela. Rádio: interatividade entre rosas e espinhos. Revista de Estudos

Sobre Práticas de Recepção a Produtos Midiáticos. Programa de Pós Graduação em Meios e

Processos Audiovisuais (PPGMPA) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de

São Paulo - Revista Novos Olhares. São Paulo, ano 1, n.2, p.13-30, segundo semestre, 1998.