FUTEBOL E PAIXÃO: Análise das notícias dos times de Belo Horizonte nos jornais Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo, no primeiro turno do Brasileirão 2011

8/2/2019 FUTEBOL E PAIXÃO: Análise das notícias dos times de Belo Horizonte nos jornais Estado de Minas, Hoje em Dia e O …

http://slidepdf.com/reader/full/futebol-e-paixao-analise-das-noticias-dos-times-de-belo-horizonte-nos-jornais 1/63

Pedro Corrêa Costa

FUTEBOL E PAIXÃO:

Análise das notícias dos times de Belo Horizonte nos jornais Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo, no primeiro turno do Brasileirão 2011

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)2011



Pedro Corrêa Costa

FUTEBOL E PAIXÃO:

Análise das notícias dos times de Belo Horizonte nos jornais Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo, no primeiro turno do Brasileirão 2011

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social(Habilitação: Jornalismo), do Centro Universitário de Belo Horizonte(UNIBH), como requisito parcial à obtenção do título de bacharel emJornalismo.

Orientadora: Ângela de Moura

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)2011



SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 03

2 FUTEBOL: DO ELITISMO BRITÂNICO AO POPULAR BRASILEIRO .. 04

2.1 Futebol e a sociedade brasileira: uma relação de paixão ...................................... 05

2.2 A história e organização do futebol no Brasil ...................................................... 08

2.2.1 Nasce um novo esporte em uma nova cidade....................................................... 11

2.2.1.1 Torcendo até contra o vento: a história do Atlético ........................................... 13

2.2.1.2 A montanha russa decacampeã: a trajetória do América .................................... 14

2.2.1.3 As estrelas dos gramados de Minas Gerais: de Palestra a Cruzeiro .................... 163 UM ESPAÇO PARA A PAIXÃO ..................................................................... 20

3.1 Dos olhares desconfiados à popularização: o histórico do jornalismo esportivo ... 21

3.2 Critérios de noticiabilidade nas notícias esportivas .............................................. 27

3.2.1 Newsmaking........................................................................................................ 27

3.2.2 Newsmaking esportivo ........................................................................................ 30

3.3 O exercício do jornalismo esportivo .................................................................... 31

4 DE OLHO NO LANCE: ANALISANDO AS NOTÍCIAS .............................. 364.1 Raio-X dos jornais mineiros ................................................................................ 37

4.1.1 Estado de Minas .................................................................................................. 37

4.1.2 Hoje em Dia ........................................................................................................ 38

4.1.3 O Tempo ............................................................................................................. 38

4.2 O que se vê no papel ........................................................................................... 39

4.2.1 Os números ......................................................................................................... 39

4.2.1.1 Matérias publicadas .......................................................................................... 404.2.1.2 Espaço .............................................................................................................. 40

4.2.1.3 Elementos gráficos ........................................................................................... 41

4.2.2 Os textos ............................................................................................................. 43

4.2.2.1 A cobertura dos jornais ..................................................................................... 43

4.2.2.2 As matérias de América, Atlético e Cruzeiro .................................................... 51

CONCLUSÃO ............................................................................................................ 58

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61



3

1 INTRODUÇÃO

A imparcialidade na cobertura jornalística - tema deste estudo - é uma orientação que está em

quaisquer manuais de jornalismo, por se tratar de uma questão ética relacionada à

credibilidade da informação. O jornalismo esportivo, uma área que lida com a paixão,

sobretudo quando trata de futebol, é um gênero em que se exige mais atenção quanto à

imparcialidade, por parte do repórter, exatamente por mexer com sentimentos de milhões de

pessoas que acompanham o futebol.

Entretanto, a partir de observações empíricas das editorias de esporte, mais precisamente na

área de futebol, de três jornais que circulam em Belo Horizonte ( Estado de Minas, O Tempo e Hoje em Dia), nota-se que nas reportagens há diferenças de tratamento e visibilidade aos três

times da capital mineira (América, Atlético e Cruzeiro), mesmo na condição de que tais

agremiações estejam competindo na divisão de elite do Campeonato Brasileiro no ano de

2011. As matérias relativas aos times e publicadas nos veículos Estado de Minas, O Tempo e

Hoje em Dia durante o primeiro turno do torneio, de 21 de maio a 28 de agosto, são o objeto

deste estudo.

O que se pretende é comparar as notícias de três jornais de Belo Horizonte que repercutem os

jogos de cada rodada de América, Atlético e Cruzeiro durante o primeiro turno do

Campeonato Brasileiro Série A 2011, para identificar esta diferença de tratamento, além de

identificar os motivos para que isso ocorra.

Com esse foco, a presente monografia foi estruturada em dois capítulos teóricos e um capítulo

de análise. A primeira abordagem trata da trajetória do futebol no Brasil e em Belo Horizonte.Como chegou, como se popularizou, como é organizado. Além disso, um pequeno resumo das

histórias dos times cujas matérias serão objetos de estudo. Em seguida, o jornalismo esportivo

e a prática jornalística que envolve os profissionais dessa área. Para finalizar, são apresentadas

as análises do que a pesquisa se propõe a fazer e suas conclusões.



4

2 FUTEBOL: DO ELITISMO BRITÂNICO AO POPULAR BRASILEIRO

São diversos os relatos de atividades esportivas praticadas por diferentes culturas em épocas

remotas que consistiam em lançar uma bola com os pés em direção a um alvo. Chineses,

japoneses, gregos, romanos, maias, entre outras civilizações antigas, portanto, inventaram os

“ancestrais” do futebol moderno, tal qual se pratica desde a segunda metade do século XIX.

Este futebol moderno foi criado em 1863, na Inglaterra, por um grupo de representantes de 12

escolas londrinas, que decidiram formular as regras definitivas do esporte, que até àquela

época era um híbrido entre o futebol propriamente dito e o rugby1.

Desde a sua criação, foram necessários 32 anos2 para que o novo esporte chegasse ao Brasil.

O futebol veio na bagagem do paulistano filho de ingleses Charles Miller, que conheceu a

modalidade durante seus estudos em Southampton, Inglaterra, e realizou com seus amigos a

primeira partida no país em um terreno baldio em São Paulo, em abril de 1895 3.

Foi a partir dessa data que o Brasil conheceu o que viria a ser sua grande paixão nacional.

Esse foi o começo para que a popularização do esporte no país tornasse enorme.

Talvez porque o país tivesse tão pouco do que se orgulhar, o futebol converteu-se numequivocado meio de afirmação nacional. Ganhar uma Copa do Mundo passou a ser, desdenosso terceiro lugar na de 1938, uma espécie de termômetro: era isso que iria dizer seéramos ou não uma grande nação. Claro, não pensavam assim os mais lúcidos, os mais beminformados, os que viam o Brasil com olhos que não os do torcedor. Mas para este, sercampeão mundial era o atestado de nossa grandeza. Motivo de ter ele encarado comotragédia nacional a derrota para os uruguaios em 1950, em pleno Maracanã erguido justamente para festejarmos a vitória. Motivo também de duvidarmos de nosso talento, de

1 O rugby é um esporte de intenso contato físico e bastante popular na Europa, Oceania, África do Sul eArgentina. É uma prática semelhante ao futebol americano, pois, além da bola ser oval, pode-se utilizar os pés eas mãos. Até meados da segunda metade do século XIX, o rugby e o futebol eram um esporte só, mas devido auma reformulação de regras, houve um rompimento e, em 1871, foi fundada, na Inglaterra, a Rugby FootballUnion, a associação que passaria a controlar a modalidade.

2 Há autores, como Rodrigues (2006), que consideram que o futebol no Brasil tenha chegado em 1894.Entretanto, este ano se refere à chegada de Charles Miller no Brasil. A primeira partida de futebol realizada nopaís foi, de fato, em 1895, portanto, fica a critério do autor definir se o futebol brasileiro começou a partir dachegada de Miller ao Brasil ou do primeiro jogo do esporte realizado em terras brasileiras.

3 De acordo com Máximo (1999), há relatos de práticas esportivas semelhantes ao futebol no Brasil muitos anosantes da chegada de Charles Miller. Em 1870, no Recife, holandeses foram vistos jogando bola na praia, assim

como ingleses, em 1874, no Rio de Janeiro, além de uma suposta partida em Belém, em 1890, disputada porfuncionários de empresas inglesas na cidade. Porém, o autor considera o jogo realizado no dia 14 de abril de1895, em um terreno baldio entre as ruas Santa Rosa e Gasômetro, em São Paulo, como a primeira disputaoficial de futebol moderno no país, uma vez que “está devidamente documentado” (MÁXIMO, 1999, p. 180).



5

nossos brios, de nosso patriotismo, quando da derrota para os húngaros em 1954. Osequívocos se repetiriam até nos tão ansiados dias de glória, as conquistas de 1958, 1962 e1970. "Com o brasileiro não há quem possa...", cantava-se após a primeira. "Ninguémsegura este país!", exclamava-se depois da última (MÁXIMO, 1999, p.186).

Segundo Máximo (1999), o sucesso do futebol no Brasil é tão grande que, não à toa, ele foi

um importante instrumento utilizado na política, sobretudo, durante o regime militar.

[...] nunca futebol e política andaram tão de mãos dadas por aqui como nos anos que seseguiram ao tri de 1970. [...]. Naqueles tempos de regime militar, havia apenas doispartidos no Brasil, a Arena (do governo) e o MDB (de uma oposição controlada). Passada aCopa do Mundo do México, Brasília interveio na CBD (hoje CBF) forçando JoãoHavelange a renunciar à sua presidência e nomeando para substituí-lo o Almirante Helenode Barros Nunes, não por coincidência presidente da Arena fluminense. A partir daí osparticipantes do Campeonato Brasileiro foram sendo indicados por convite da CBD e não

por critérios técnicos. Dentro do humor que ainda lhe era permitido, o torcedor cunhou umdito não desprovido de fundamento: "Onde a Arena vai mal, um clube no Nacional…" Istoé, aos estados ou cidades em que o partido do governo estava ameaçado de perder aseleições, o almirante tentava agradar, arrebanhar votos, convidando mais de um clube paradisputar o Campeonato. Como resultado, a competição chegou a ter mais de 70participantes, um gigantismo que muito contribuiu para um período de declínio técnico dofutebol brasileiro (MÁXIMO, 1999, p.187).

Como será visto neste capítulo, o futebol é muito mais do que apenas um jogo, uma paixão no

Brasil. Sua história, organização e até a sua forma de ser praticado possuem traços inerentes à

cultura brasileira. Não por acaso há a alcunha de que o Brasil é o “país do futebol” (HELAL,1997, p.25).

2.1 Futebol e a sociedade brasileira: uma relação de paixão

O futebol é um dos esportes mais populares do mundo. No Brasil, este esporte é visto como

preferência nacional, capaz de reunir pessoas de diferentes credos e classes sociais em um

estádio com apenas algo em comum: a paixão pelo jogo. É este sentimento que possibilita que

elas estabeleçam entre si um sistema de comunicação que as torna “iguais”. Seja uma

conversa informal nos bares e escritórios, seja uma comemoração de um gol no estádio, Helal

(1997) define que, por meio do futebol, há uma universalidade entre os torcedores.

O futebol no Brasil pode ser visto como um poderoso instrumento de integração social.Através do futebol, a sociedade brasileira experimenta um sentido singular de totalidade eunidade, revestindo-se de uma universalidade capaz de mobilizar e gerar paixões emmilhões de pessoas. É nesse universo que observamos, com freqüência, indivíduos cujadiversidade está estabelecida pelas normas econômicas e sociais da sociedade se

transformarem em “iguais” através de um sistema de comunicação que os leva a abraços econversas informais nos estádios, ruas, praias e escritórios (HELAL, 1997, p.25).



6

Esta particularidade do futebol, de ser capaz de juntar pessoas diferentes e fazê-las com que se

comportem como iguais, contrapõe-se ao modelo social que é visto no Brasil, que segundo

Helal (1997), possui uma sociedade economicamente hierarquizada. Ou seja, no “paí s do

futebol”, ao mesmo tempo em que a sociedade é estratificada pelo nível sócio -econômico e

por relações de amizade, um esporte, cuja estrutura é democrática e universal, consegue

solidificar-se como o mais popular.

Entretanto, o paradoxo entre futebol e sociedade, no Brasil, acaba por aí. Na realidade, a

organização do futebol brasileiro manifesta-se como reflexo da sociedade brasileira, baseada

nos estudos de Roberto DaMatta4 (apud HELAL, 1997). Resumidamente, o antropólogo

explica que a sociedade brasileira é dividida em duas éticas: a moderna, constituída porvalores de igualdade; e a tradicional, em que as relações pessoais e o paternalismo são

determinantes.

Helal (1997) explica que, assim como a sociedade brasileira convive simultaneamente com as

éticas moderna e tradicional, a organização do futebol brasileiro é caracterizada por essa

bipolaridade. No futebol, a ética moderna é a visão da comercialização do espetáculo, da

organização profissional e da pragmatização da forma de jogar, que significa a priorização dopreparo físico e a força coletiva em detrimento à habilidade individual. O tradicional seria o

estilo de jogo mais livre, com belos espetáculos, mas com características amadoras.

Estas questões [a bipolaridade ética] têm estado presentes ao longo da história do nossofutebol, sendo constantemente atualizadas, com o “moderno” ora sendo visto como o“vilão” de alguns problemas que o futebol vem enfrentando, já que é responsável pelacomercialização do espetáculo e pelo fim do estilo “tradicional” de jogar [com mais driblese espontaneidades], ora sendo apontado como a solução para a “crise do futebol brasileiro”na medida em que o “tradicional”, a nível da organização deste esporte, estaria ressentindo-

se de uma “modernização” e impedindo o desenvolvimento deste esporte no país (HELAL,1997, p. 32).

Em suma, a organização do futebol brasileiro ao longo dos anos foi dividida da seguinte

maneira:

4 DAMATTA, Roberto et alli. Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke,1982.



7

Modelo tradicional Modelo moderno

Dirigentes amadores que se utilizavam da

política de troca de favores entre clubes e

federações;

Busca pelo modo empresarial por parte

dos dirigentes, aproveitando estratégias de

marketing, incluindo publicidade nos

estádios e uniformes;

Atletas com “amor à camisa”, isto é,

tinham prazer em jogar pelos clubes, que

abusavam do jogo individual, com dribles;

Jogadores com mentalidade profissional e

com maior rigor tático;

Campeonatos desorganizados, clubes mal

geridos.

Campeonatos organizados.

Em uma breve análise da evolução do futebol no Brasil, desde seu início como atividade

elitista, perpassando pelo seu momento áureo com as conquistas das Copas do Mundo de

1958, 1962 e 1970, até o início da década de 1990, com o fortalecimento da economia do país,

pode-se conferir que a organização do futebol brasileiro sempre esteve dividida entre os

modelos tradicional e o moderno.

A instituição do modelo moderno de organizar futebol na Europa, no início da década de1970, fez com que o modelo tradicional adotado no Brasil perdesse força. Os bons jogadores

que atuavam no país, preferiram migrar ao continente europeu em busca de melhores salários

e campeonatos mais organizados. Sendo assim, com o êxodo dos jogadores, os estádios

começaram a ficar cada vez mais vazios, os campeonatos tornaram-se pouco atrativos e, em

conseqüência, as receitas de bilheteria (a principal fonte de renda dos clubes até então) caíram

consideravelmente.

Esse cenário, na época, foi classificado pela imprensa do país como “crise do futebol

brasileiro” e uma das soluções, na época apresentada por especialistas para resolver este

problema, é a implementação do modelo moderno.

A introdução de publicidades nas camisas de times de futebol em 1983, o início dastransmissões ao vivo dos jogos a partir de 1987, a contratação de gerentes profissionais nosdepartamentos de futebol [...] e a parceria com empresas foram [...] modificações queocorreram [...] com o intuito de solucionar os problemas vigentes no âmbito da organização

deste esporte [futebol] no país (HELAL, 1997, p. 120).



8

Apesar de estas medidas terem sido, de fato, implementadas na forma de organizar o futebol,

o modelo tradicional ainda é utilizado nos dias atuais, como se verifica, sobretudo, no

amadorismo dos dirigentes. O motivo para que este fato ainda ocorra explica-se na própria

forma como a sociedade é organizada e como ela influencia na organização do esporte. Helal

(1997) define, então, que os padrões culturais de cada nação servem como espelhos para a

organização do futebol.

[...] a crise deste esporte [futebol] é explicada pelo modelo de organização “tradicional” nopaís, que privilegia amadorismo, troca de favores, paternalismo e compensação. Estemodelo de organização tende a ser substituído por um modelo onde a ética profissional(moderna) predominará em todos os níveis (HELAL, 1997, p. 124).

Conclui-se, portanto, que para que haja uma efetiva mudança na maneira de organizar o

futebol brasileiro, seria necessária uma modificação na própria cultura do país. O

paternalismo e as trocas de favores inerentes à ética tradicional da sociedade brasileira, em

termos generalistas, deveriam ser preteridos pelos valores de igualdade e leis imparciais

pertencentes à ética moderna. Se a sociedade brasileira, no cotidiano, seguir os valores

modernos, consequentemente, a maneira de se organizar o futebol será baseada no seu

respectivo modelo.

2.2 A história e organização do futebol no Brasil

Como já foi descrito no início do capítulo, o futebol chegou ao Brasil no final do século XIX.

O primeiro torneio oficial a ser disputado no país foi o Campeonato Paulista, em 1902.

Entretanto, nessa época, o esporte ainda era uma prática amadora e exclusiva aos jovens de

famílias ricas. Negros, pobres e analfabetos, quando não eram proibidos, tinham pouco acesso

ao futebol.

De acordo com Rodrigues Filho (2003), a situação só começou a mudar a partir do momento

em que o time do Club de Regatas Vasco da Gama venceu o Campeonato Carioca de 1923,

com uma equipe repleta de negros e brancos analfabetos, o que causou polêmica na época

entre os demais clubes formados por jogadores de classes sociais altas.

Desaparecera a vantagem de ser de boa família, de ser estudante, de ser branco. O rapaz deboa família, o estudante, o branco, tinha de competir, em igualdade de condições, com o pé-rapado, quase analfabeto, o mulato e o preto para ver quem jogava melhor. Era uma



9

verdadeira revolução que se operava no futebol brasileiro (RODRIGUES FILHO, 2003, p.126).

Com a crescente popularização do futebol no país e mais times seguindo o exemplo do Vasco

de 1923, incorporando homens mais humildes aos seus elencos, houve uma pressão de clubes,atletas e dirigentes para que o futebol fosse profissionalizado no país. O profissionalismo foi

oficialmente implantado em 1933, permitindo que o Brasil seguisse o exemplo do que já

vinha acontecendo na Europa5.

Máximo (1999) aponta que o profissionalismo no futebol ajudou a manter os melhores

jogadores da época no Brasil, ao invés de migrarem para a Europa, seduzidos pelos salários e

melhores condições de vida.

Uruguaios e argentinos já o adotavam [profissionalismo] havia algum tempo. Basicamente,como modo de evitar que seus melhores jogadores de origem italiana — os Nazassi, osMonti, os Colaussi, os Guaita, os Orsi e os Mascheroni — corressem atrás das liras italianase se transferissem para o Torino, o Milan, o Juventus, clubes que acabariam fazendo dealguns deles, oriundi naturalizados, bicampeões mundiais em 1934-1938 (MÁXIMO, 1999,p.184)

Entretanto, Máximo (1999) afirma que além de manter os melhores atletas no país, o

profissionalismo foi uma maneira que os clubes encontraram de evitar que os jogadoresnegros e pobres frequentassem suas sedes sociais. Isto se deve ao fato de que, na época, os

estatutos permitiam que apenas sócios pudessem jogar pelos times. Ora, sendo sócios, tais

atletas tinham o direito de utilizar quando bem quisessem as instalações dos clubes,

misturando-se com os demais frequentadores.

A profissionalização abriu definitivamente o caminho para que os primeiros gênios dofutebol brasileiro [...] entrassem em campo. Fausto dos Santos, Domingos da Guia,

Leônidas da Silva, Waldemar de Brito e depois uma longa e ilustre galeria de Zizinho aPelé. Integrado, profissionalizado e temperado na paixão, o futebol brasileiro seriadevidamente coroado em 1970 com o tricampeonato mundial no México e a conquistadefinitiva da Taça Jules Rimet6 (MÁXIMO, 1999, p.184)

5 Segundo Coelho (2009b), na Itália, a Juventus pagou pela contratação do jogador Viri Rosetta, em 1923. Foi aprimeira transferência paga no país, introduzindo o profissionalismo italiano. Nos anos seguintes, Espanha,Áustria, Argentina, Uruguai, entre outros países, tiveram situações semelhantes, iniciando, assim, o processo deprofissionalismo nestas nações.

6 Nome do troféu dado aos vencedores das Copas do Mundo de 1930 a 1970, em homenagem ao presidente daFédération Internationale de Football Association – FIFA (Federação Internacional de Futebol, em português), ofrancês Jules Rimet, que foi o idealizador da competição. O Brasil recebeu a taça em definitivo após ser aprimeira seleção a ganhar três vezes a Copa do Mundo (1958, 1962 e 1970).



10

Depois da profissionalização, o futebol cresceu no Brasil e os modos de administrar os clubes

e organizar os campeonatos foram se aprimorando.

No que se refere aos clubes, atualmente, existem diversas equipes que são denominadas

clubes-empresas, em que o objetivo é o de revelar jogadores para vendê-los posteriormente a

outros times, sempre visando o lucro7. Tais agremiações possuem um dono ou um grupo de

sócios investidores, representando uma maneira diferente de dirigir um clube do modelo

tradicional (presidente eleito por conselheiros por meio de um processo democrático).

Em relação aos campeonatos, as mudanças são várias. Até o final dos anos 90, o primeiro

semestre era destinado às disputas dos campeonatos estaduais, regionais8 e continentais. Osegundo semestre ficava por conta dos campeonatos nacionais, como a Copa do Brasil e o

Campeonato Brasileiro9.

Entretanto, a partir de 2003, o calendário foi significativamente alterado com a transformação

da fórmula de disputa da Série A do Campeonato Brasileiro. O torneio, que tinha 24 equipes,

passou a contar com dois turnos em que todos os times jogavam contra todos, totalizando 46

jogos para cada clube. Era consagrada campeã a agremiação que contabilizasse o maiornúmero de pontos ao final de todas as rodadas, sem a necessidade de realizar as partidas de

“mata-mata”, que até então eram comuns nos anos anteriores. Até hoje a fórmula de disputa é

a mesma10, a única mudança foi no número de participantes: de 24 passou a ser apenas 20.

7 Esse conceito de clube vem crescendo no Brasil, especialmente na região Sudeste. Empresas como a Red Bull(produtora de bebida energética), Pão de Açúcar e Sendas (do ramo de supermercados) criaram equipes defutebol que competem de forma profissional no país: Red Bull Brasil (SP), PAEC (SP) e Sendas (RJ). Em Minas

Gerais, o grande exemplo é a equipe do Funorte, de Montes Claros, que leva o nome de uma instituição deensino privado da região e participou, neste ano, da primeira divisão do campeonato mineiro.

8 Torneios regionais como Rio-São Paulo, Copa Sul-Minas, Copa dos Campeões, entre outros, foram extintos em2003 para evitar a sobrecarga de jogos das equipes que disputavam a Série A do Campeonato Brasileiro que,naquele ano, passou a ter um calendário mais extenso.

9 O Campeonato Brasileiro também foi um dos muitos torneios que tiveram grandes alterações ao longo dosanos. Desde 1971, ano de sua primeira edição, diversas fórmulas de disputas foram colocadas em prática, assimcomo o número de participantes na elite. Entretanto, a mais significativa foi a mudança ocorrida em 2003, citadano texto.

10 A fórmula é aplicada apenas nas séries A e B. Na série C, são 20 times divididos em quatro grupos. Em cada

grupo, cada equipe joga em dois turnos e os dois primeiros colocados avançam para as quartas-de-final, que, porsua vez, são disputadas em dois jogos (ida e volta) e os quatro vencedores avançam às semi-finais e estãoautomaticamente classificados para a série B do ano seguinte. Os dois vencedores das semis disputam a final. Nasérie D, são 40 equipes divididas em oito grupos e o sistema é semelhante ao da série C.



11

Este sistema de disputa impossibilitou que a divisão do ano para os torneios nacionais fosse

aplicada da mesma forma como anteriormente. Portanto, a partir de 2003, os campeonatos

estaduais diminuíram o número de jogos e passaram a ser disputados em três meses (de

janeiro a abril), sendo que o período compreendido entre maio e dezembro fica destinado aos

jogos do Campeonato Brasileiro11.

2.2.1 Nasce um novo esporte em uma nova cidade

Quando Belo Horizonte foi fundada, em dezembro de 1897, o futebol já tinha chegado ao

Brasil. Portanto, quando as primeiras partidas começaram a ser disputadas nos campos belo

horizontinos, grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já tinham equipes montadas ecampeonatos organizados.

Entretanto, o processo de introdução do esporte na nova capital mineira não foi diferente do

que aconteceu no restante do país. Assim como em São Paulo, Charles Miller, filho de uma

elitista família inglesa, apresentou o esporte à cidade após retornar de seus estudos na

Inglaterra; e no Rio de Janeiro, Oscar Cox, também filho de abastada família britânica,

disseminou o futebol em 1897 assim que voltou de uma temporada na Suíça, Belo Horizonteteve um representante que promoveu a modalidade na cidade: Victor Serpa.

De acordo com Rodrigues (2006), Serpa era carioca, estudou na Suíça e veio ser acadêmico

de Direito em Belo Horizonte. Entretanto, além de ensinar as leis, ele apresentou o futebol à

cidade fundando, em 1904, o primeiro time da capital: o Sport Club Foot Ball.

Assim como nas demais cidades da época, o futebol em Belo Horizonte era apenas para aelite. O estatuto do Sport Club Foot Ball deixava bem claro que o esporte não poderia ser

praticado por qualquer pessoa, conforme descreve Rodrigues (2006).

Os estatutos do clube, compostos de seis capítulos, foram aprovados no dia 23 de agosto domesmo ano [...]. Podiam participar desse clube “pessoas dignas”, nas categorias de sóciosefetivos, moradores da capital; correspondentes, residentes fora da capital e beneméritos[...]. O valor estipulado para o pagamento adiantado da jóia para o ingresso no clube de

11 Este período compreende apenas as séries A e B. As divisões C e D são disputadas a partir de julho eterminam em meados de novembro.



12

10$000 e a mensalidade de 5$00012 eram altos o bastante para selecionar criteriosamenteseus participantes, valores iguais aos cobrado pelo Fluminense do Rio de Janeiro, clube quese afirmava como da elite [...] (RODRIGUES, 2006, p.176).

Para poder realizar as partidas, disputadas entre a Rua Sapucaí e a antiga Estação Central, oSport Club dividia-se em dois times: o M r. Victor Serpa’s XI e o Mr. Oscar Americano’s XI

13.

Segundo Rodrigues (2006), os dois times utilizavam o mesmo esquema de jogo que era usado

tanto na Europa, como nos demais clubes brasileiros da época, sobretudo os cariocas: “Além

do goal-keeper [goleiro], os times possuíam dois backs – jogadores de defesa – ; três halfs –

que jogavam na intermediária do campo – e cinco fowards – jogadores de ataque”

(RODRIGUES, 2006, p.178).

Não demorou para que as partidas entre os times do Sport Club começassem a chamar a

atenção da sociedade belo horizontina e incentivasse novas iniciativas para criação de outras

agremiações. No dia 2 de outubro de 1904, pouco menos de três meses após a fundação do

Sport Club, surgiu o Plínio Foot-ball Club. No mesmo mês, outros dois novos clubes foram

fundados: o Mineiro Foot-ball Club e o Athletico Mineiro Foot-ball Club14, que no ano

seguinte passaria a se chamar Viserpa-foot-ball-club em homenagem ao falecimento de Victor

Serpa.

Com a cidade tendo cinco equipes (contando com os dois times do Sport Club que passaram a

chamar Colombo e Vespúcio), Rodrigues (2006) descreve que representantes destas entidades

se reuniram em outubro de 1904 para criar o primeiro torneio municipal de futebol. Em 19 de

outubro de 1904, foi realizada a primeira partida da competição, entre Colombo e Vespúcio.

Porém, de acordo com Rodrigues (2006), o futebol em Belo Horizonte, nos anos seguintes,

passou por um período de certo esquecimento por parte da imprensa, sobretudo pelo interesse

voltado para o turfe, que chegara na cidade. “Somente a partir de 1908 é que o futebol vai

ressurgir, com a criação de times que até hoje vêm construindo a história desse esporte na

12 A moeda vigente na época era o Real português, popularmente chamado de Réis. Nos valores especificados notexto, lê se 10 mil-réis e 5 mil-réis. Para converter precisamente estas quantias para o Real brasileiro é necessárioum cálculo bastante complexo. Mas, para um valor aproximado, basta considerar que mil réis são equivalentes acerca de 56 reais, logo, para se ingressar no Sport Club, o indivíduo deveria despender algo em torno de 560reais e pagar uma mensalidade de 280 reais, ou seja, quantias bastante significativas naquela época.

13 Ao ser fundado em 10 de julho de 1904, foi nomeado presidente do Sport Club, Oscar Americano. VictorSerpa foi eleito o capitão da equipe.

14 O Athletico não é o atual Clube Atlético Mineiro, que foi fundado, apenas, em 1908.



13

cidade [...]” (RODRIGUES, 2006, p. 189). A autora se refere aos três grandes times de

futebol profissionais belo horizontinos que estão ativos até os dias atuais: Clube Atlético

Mineiro (fundado em março de 1908), América Futebol Clube (criado em abril de 1912) e

Cruzeiro Esporte Clube (inaugurado em janeiro de 1921).

2.2.1.1 Torcendo até contra o vento: a história do Atlético

O coreto do Parque Municipal de Belo Horizonte foi onde nasceu o Clube Atlético Mineiro.

Um grupo de estudantes se reuniu no local, no dia 25 de março de 1908, e fundou a equipe

que veio a ser o primeiro campeão mineiro da história, em 1915.

O time que vestia camisas listradas em preto-e-branco fez seu primeiro jogo oficial quase um

ano após sua fundação: em 21 de março de 1909, vencendo por 3 a 0 o Sport Club. O

primeiro gol da partida foi feito por Aníbal Machado15, que alguns anos depois se consagraria

como escritor.

O Atlético goza da fama de ser uma equipe cuja história é marcada pelo pioneirismo. Desde o

início da sua fundação, o Galo16

– como o clube também é chamado – foi o primeiro timemineiro a jogar com bolas de couro17. Além de ter vencido o primeiro campeonato mineiro,

foi também a equipe mineira que fez o primeiro jogo internacional: venceu o Vitória de

Setúbal, de Portugal, em Belo Horizonte.

Os feitos inéditos estão em uma longa lista. Dentre os mais importantes, estão a conquista do

primeiro torneio interestadual profissional do país, a Copa dos Campeões do Brasil, em

1937

18

; o primeiro time brasileiro profissional a excursionar pela Europa, em 1950

19

; até o

15 Aníbal Monteiro Machado (Sabará, 9 de dezembro de 1894 – Rio de Janeiro, 20 de janeiro de 1964) foiescritor, promotor e professor de literatura e teatro. Tornou-se famoso pelos textos que escreveu, dentre eles,Viagem aos seios de Duília, que é considerado pelos críticos um dos melhores contos brasileiros de todos ostempos.

16 Na década de 40, o jornal A Folha de Minas iniciou um projeto para dar mascotes a cada time do futebolmineiro. O chargista Fernando Pieruccetti, conhecido como Mangabeira, foi encarregado de fazer os desenhos. Aescolha do galo como mascote do Atlético foi sob a justificativa de que a equipe demonstrava muita raça dentrode campo, parecendo uma briga de galo.

17 Na época, as partidas eram disputadas com bolas de meia.

18 O torneio reunia os campeões estaduais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.



14

ano passado, era considerado o primeiro campeão do Campeonato Brasileiro, ao vencer a

edição de 197120; e em 1992, o Atlético sagrou-se o primeiro campeão da Copa Conmebol21.

O clube se orgulha da sua torcida, tanto que recebeu a alcunha de “Time da Massa”, que é

famosa por apoiar a equipe, mesmo em situações críticas. O jornalista Roberto Drummond22

ilustrou bem essa relação entre time e fãs com a famosa frase: “Se houver uma camisa branca

e preta pendurada num varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento”.

Ao longo dos 103 anos de história, os principais títulos do Clube Atlético Mineiro foram: 40

campeonatos mineiros (o último conquistado em 2010), 1 Campeonato Brasileiro Série A

(1971), 1 Campeonato Brasileiro Série B (2006) e 2 copas Conmebol (1992 e 1997).

2.2.1.2 A montanha russa decacampeã: a trajetória do América

O América Futebol Clube foi fundado em 30 de abril de 1912, por alunos do Gymnasium

Anglo-Mineiro, uma escola onde as aulas eram ministradas por professores norte-americanos

em inglês. Apesar da forte influência americana à qual os fundadores estavam submetidos

(muitos deles eram torcedores do América, do Rio de Janeiro, também), o nome do time só foiescolhido por meio de um sorteio: além de América, havia as opções por Arlequim, Tymbiras

e Guarany23.

19 O time jogou contra equipes da Alemanha, Áustria, Bélgica, França e Luxemburgo e acumulou seis vitórias,dois empates e duas derrotas. Muitos destes jogos foram realizados em temperaturas abaixo de zero e nevando.Daí veio o título simbólico de “campeão do gelo”.

20 Em 2010, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu considerar a Taça Brasil (disputada entre 1959a 1968) e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa (realizada entre 1967 a 1970) como Campeonato Brasileiro. Destaforma, oficialmente, o primeiro campeão brasileiro, a partir desta decisão, é o Bahia, vencedor do título de 1959.

21 A Copa Conmebol foi um torneio disputado entre 1992 e 1999 que reunia equipes sul-americanas classificadasem seus respectivos campeonatos nacionais, mas que não tinha vaga na Libertadores, principal competiçãocontinental.

22 Roberto Drummond (Ferros, 21 de dezembro de 1933 – Belo Horizonte, 21 de junho de 2002) foi jornalista eescritor, famoso por suas crônicas e por participar de programas esportivos na TV Bandeirantes de BeloHorizonte.

23 O sorteio foi realizado nos porões da casa de um dos fundadores, Adhemar de Meira. Além da escolha do

nome, o evento serviu também para definir as cores do time: verde e branco. Em 1913, a equipe tornou-setricolor, com a inclusão do preto. Porém, em 1933, em protesto contra o profissionalismo no futebol, a equipemudou suas cores para o vermelho e branco até 1943, quando voltou a usar o verde, branco e preto.



15

Entretanto, foi só em 1913 que o América teve realmente um time para disputar jogos contra

outras equipes da época, pois quando o clube fora fundado, só havia garotos de 13 e 14 anos.

A nova agremiação se uniu com o Minas Geraes Football Club, ganhando um campo de

futebol, além do reforço de meio time do Atlético que se desentendeu com a diretoria da

agremiação alvinegra na época.

O primeiro jogo do América foi exatamente contra o Atlético, em 1913. Vitória americana por

1 a 0. Três anos mais tarde, o Tricolor das Alterosas (apelido dado ao América) entrou para a

história do futebol mundial, ao se consagrar a primeira equipe no mundo a conquistar dez

campeonatos profissionais consecutivos: os títulos mineiros entre 1916 a 192524.

Até a metade do século XX, América e Atlético eram as grandes potências do futebol mineiro.

Os jogos entre as duas equipes eram chamados de “o Clássico das Multidões”. Entretanto, a

partir da década de 1960, com a perda de jovens talentos de suas categorias de base para o

emergente Cruzeiro - entre eles Tostão25 -, a equipe tricolor perdeu sua força para o novo rival

tanto dentro de campo (com sucessivas perdas de títulos mineiros) quanto fora (a torcida

começou a diminuir).

A partir dessa época, o clube passou por dificuldades econômicas e chegou até a mudar-se

provisoriamente para Contagem, no final da década de 1970, retornando a Belo Horizonte

pouco tempo depois. A equipe conviveu com um jejum de 22 anos sem títulos, após o

Mineiro de 1971, voltando a ganhar a mesma competição em 1993.

Ao longo dos seus 99 anos de história, o América viveu outros períodos de altos e baixos. A

equipe disputou a série A do Campeonato Brasileiro em 1993, mas foi rebaixada e aindaimpedida pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de participar do torneio nos dois

anos seguintes. Porém, em 1997, a equipe ressurgiu com a sua primeira conquista nacional: o

24 Tal feito só foi igualado pelo ABC Futebol Clube, do Rio Grande do Norte, em 1932, com a conquista docampeonato potiguar daquele ano. A equipe venceu a competição de maneira consecutiva até 1941.

25 Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, nasceu no dia 25 de janeiro de 1947, em Belo Horizonte. Éconsiderado por muitos especialistas um dos melhores jogadores brasileiros de todos os tempos. Fez parte da

seleção brasileira campeã do mundo em 1970, no México. Tostão encerrou sua carreira precocemente, aos 27anos, por problemas na vista resultantes de um deslocamento da retina causado por uma bolada sofrida em umapartida. Ele jogou em apenas três times: América, Cruzeiro e Vasco da Gama.



16

Campeonato Brasileiro Série B, além de três anos depois vencer o torneio interestadual Copa

Sul-Minas26 e no ano seguinte voltar a conquistar o Campeonato Mineiro.

Entretanto, o período que parecia ser o princípio de uma reação para voltar ao posto de

potência do futebol mineiro foi marcado por uma nova crise. Em 2004, a equipe foi rebaixada

para a Série C do Campeonato Brasileiro. Em 2007, o time teve o seu pior ano da história, ao

ficar em último lugar no Campeonato Mineiro, tendo que disputar o Módulo II, a segunda

divisão do estadual, do ano seguinte.

Apesar dos resultados negativos, o América volta a mostrar porque sua trajetória é igual a

uma montanha russa. Em 2008, a equipe sagrou-se campeã da segunda divisão doCampeonato Mineiro; em 2009 conquistou o título da Série C do Campeonato Brasileiro e, no

ano seguinte, ficou em 4º lugar na Série B, garantindo acesso à elite do Brasileirão no ano de

2011, onze anos após sua última participação no torneio.

Os principais títulos do Coelho27 são: 15 campeonatos estaduais (último conquistado em

2001); 1 Campeonato Brasileiro Série B (1997); 1 Campeonato Brasileiro Série C (2009); e 1

Copa Sul-Minas (2000).

2.2.1.3 As estrelas dos gramados de Minas Gerais: de Palestra a Cruzeiro

O Cruzeiro foi fundado em 2 de janeiro de 1921, por imigrantes italianos que viviam na

capital mineira. A data de sua origem coincide com a passagem do cônsul da Itália por Belo

Horizonte e daí veio a iniciativa da criação da equipe de futebol chamada Societá Sportiva

Palestra Italia, que anos mais tarde mudaria o nome para Cruzeiro Esporte Clube

28

.

26 A Copa Sul-Minas teve apenas três edições: 2000, 2001 e 2002. Era disputada entre as principais equipes deMinas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.27 Mascote do América, também de autoria do Mangabeira, a exemplo do Atlético e do Cruzeiro, sob a justificativa de que a equipe era veloz e inteligente dentro de campo, como um coelho.

28 Há uma certa confusão em relação ao surgimento do Palestra Italia , de que o clube teria sido oriundo de

outra equipe de futebol de Belo Horizonte que, também, era composta por descendentes italianos: o Yale,fundado alguns anos antes. O que, de fato ocorreu, é que o Yale perdeu parte de seus associados, incluindo jogadores, exatamente para o Palestra, após algumas crises financeiras. Em 1925, o Yale encerrou suasatividades e o Palestra tornou-se o único representante da colônia italiana na capital mineira.



17

Ao contrário de Atlético e América, dois times fundados por jovens da elite belo horizontina,

o Cruzeiro surgiu de uma iniciativa da classe operária da cidade: pedreiros, pintores,

marceneiros, entre outros. Vale ressaltar que na década de 1920, foi o início da

democratização do futebol no Brasil, com alguns clubes já aceitando atletas de classes mais

baixas em seus quadros sociais.

A primeira partida do Palestra Italia foi contra um combinado de dois times de Nova Lima, o

Villa Nova (ativo profissionalmente até hoje) e o Palmeiras (já extinto). O jogo aconteceu em

Belo Horizonte, no estádio do Prado Mineiro, e terminou com vitória do Palestra Italia por 2

a 0, no dia 3 de abril de 1921. No mesmo ano, a nova agremiação belo horizontina derrotou

seu atual arqui-rival, Atlético, por 3 a 0.

Desde sua fundação, o Palestra Italia só aceitava atletas italianos ou descendentes de

imigrantes vindos da Itália. Mas essa situação mudou após uma reunião dos associados em

1925 que, visando ao crescimento nacional da equipe, permitiram jogadores de outras

nacionalidades defendendo as cores do Palestra29. Outra medida adotada foi colocar o nome

da agremiação em português: Sociedade Sportiva Palestra Itália30.

Em 1926 veio o primeiro título, o do Campeonato Mineiro. Dois anos mais tarde, o Palestra

iniciou uma campanha que culminaria no tricampeonato estadual em 1930, despontando-se

como uma potência do futebol mineiro.

Com o Brasil declarando guerra aos países do Eixo31, durante a 2ª Guerra Mundial, em janeiro

de 1942, por meio de um decreto-lei, ficou proibido que qualquer instituição brasileira fizesse

apologia a qualquer uma das nações inimigas. Como a Itália fazia parte deste grupo, o PalestraItália teve que mudar de nome para Palestra Mineiro. No entanto, houve uma nova mudança

em setembro daquele ano e a agremiação passou a se chamar Ypiranga, que durou apenas

29 O Palestra Itália jogava com camisa verde, calção branco e meias vermelhas, simbolizando a bandeira italiana.

30 O termo “esportiva” não existia na língua portuguesa no início do século XX. Portanto, era utilizado, no caso,em italiano.

31 Os países do Eixo eram aqueles que possuíam ideologias autoritárias durante a 2ª Guerra Mundial, como onazismo e o facismo. Faziam parte desse grupo de nações, a Alemanha, Itália e Japão, além do apoio deBulgária, Hungria e Romênia.



18

uma semana. No dia 7 de outubro de 1942, veio a mudança definitiva para Cruzeiro, em

homenagem ao símbolo da pátria, a constelação do Cruzeiro do Sul32.

Nos anos 50, o Cruzeiro passou por uma crise financeira, devido à reforma do seu estádio,

onde hoje localiza-se a sede do clube, no Barro Preto. Porém, tal situação foi importante para

sua consolidação no estado, uma vez que passou a disputar diversos amistosos no interior para

ganhar dinheiro e, com isso, começou a conquistar vários torcedores fora de Belo Horizonte.

Na década 1960, com as dívidas sanadas, a equipe se estabeleceu como uma potência nacional

ao ganhar a Taça Brasil de 1966, derrotando o poderoso Santos, de Pelé, na final.

Dez anos mais tarde e mais uma glória para o clube, desta vez, em nível continental: aconquista da Libertadores da América, o torneio mais importante da América do Sul. Com o

triunfo nessa competição, o Cruzeiro teve oportunidade de jogar contra o Bayern de Munique,

da Alemanha, para decidir o título de campeão mundial daquele ano, em que os alemães

saíram vencedores.

A década de 1980 não foi positiva para o Cruzeiro, que conquistou apenas dois títulos

estaduais no período, em 1984 e 1987. Porém, nos anos 90, a equipe voltou a triunfar.Conquistou duas copas do Brasil (1993 e 1996), venceu a Libertadores em 1997, além de seis

campeonatos mineiros.

Em 2000, a Raposa33 continuou a vencer campeonatos importantes. Sagrou-se bicampeão da

Copa Sul-Minas (2001 e 2002), sete campeonatos mineiros, uma Copa do Brasil e um

Campeonato Brasileiro Série A. O detalhe é que no ano de 2003, o Cruzeiro atingiu a façanha

de conquistar a tríplice coroa: venceu no mesmo ano o estadual, a Copa do Brasil e oBrasileirão.

Nos seus 90 anos de história, o Cruzeiro ganhou 37 estaduais (último em 2011), duas copas

Sul-Minas, quatro Copas do Brasil, dois Campeonatos Brasileiros e duas Libertadores.

32 A mudança não ficou apenas no nome. As cores italianas do uniforme foram substituídas pelo azul e branco

que se fazem presentes até hoje no fardamento da equipe.33 Foi o cartunista Mangabeira quem também escolheu a raposa para mascote do Cruzeiro. A ideia de associar oanimal ao time foi inspirada pelo presidente do time na época, Mário Grosso, que era reconhecido por suaesperteza e astúcia na administração da agremiação, como uma raposa.



19

Como se percebe, a trajetória desses três times mineiros contribuiu para popularizar o esporte

no Brasil. Apesar de sua origem como atividade para os ricos, ao longo do século XX, o

esporte se tornou uma paixão que não diferencia classes sociais e caracteriza-se pela sua

facilidade de ser praticado: bastam uma bola e um gol improvisado.

Mas nem sempre o futebol foi tão apaixonante assim, pelo menos, não para a imprensa, comoserá visto no próximo capítulo.



20

3 UM ESPAÇO PARA A PAIXÃO

O jornalismo esportivo é uma área que é vista como um espaço subjetivo, balizado empalpites e opiniões de pessoas apaixonadas pelo assunto, o que muitas vezes pode gerar

notícias que pecam na imparcialidade e falta de objetividade, entre outros equívocos passíveis

de ocorrer em qualquer editoria, mas mais comum na de esportes.

Coelho (2009a) cita que a paixão é o sentimento que define a opção de uma pessoa em fazer o

curso de Jornalismo na faculdade e querer trabalhar com esportes.

Se for apaixonado, o garoto de 12 anos certamente já decidiu o que quer ser quando crescer: jogador. Mas, claro, existe a possibilidade de o menino não jogar nada bem, o quefatalmente o fará começar cedo a pensar em uma opção. Na cabeça de muitos profissionaisque hoje atuam com esportes, foi nessa faixa etária que passou pela primeira vez a idéia devirar jornalista de esportes (COELHO, 2009a, p. 40).

Esta afirmação relaciona-se a diversos fatores que constroem a realidade do jornalismo

esportivo no cotidiano das redações. Primeiro: “esporte não é sinônimo de futebol”

(COELHO, 2009a, p.35). Da mesma forma, esporte não é sinônimo de basquete, vôlei, tênis

etc. O profissional que está atuando na área de jornalismo esportivo e for apaixonado por

determinado esporte tem que cobrir eventos diversos, mesmo que o esporte, salvo algumas

exceções (o automobilismo, por exemplo, por exigir conhecimentos técnicos muito

específicos), não seja sua es pecialidade. “Quem faz basquete também faz vôlei, atletismo,

boxe etc” (COELHO, 2009a, p.36).

Neste capítulo, o objetivo é abordar o jornalismo esportivo em jornais impressos no Brasil,

com o foco na cobertura do futebol. A discussão enfatiza como esse gênero jornalístico seconsolidou no país através do século XX, de que forma é praticado e as críticas mais

recorrentes feitas à editoria que, como Coelho (2009a) define, até um garoto de 12 anos tem,

em tese, capacidade para exercer.



21

3.1 Dos olhares desconfiados à popularização: o histórico do jornalismo esportivo

O jornalismo esportivo no Brasil, desde seu início – começo do século XX – até os diasatuais, é uma área que, ao longo desse período, teve muitos problemas para se consolidar no

mercado editorial, seja na forma de diários que contemplavam essencialmente o tema ou

como espaço em cadernos especializados dentro dos grandes jornais do país.

Tal afirmação é baseada na análise feita por Coelho (2009a), que aponta o jornalismo

esportivo brasileiro como uma editoria que sofreu preconceito dentro dos veículos de

comunicação. O autor explica que os donos dos jornais e os anunciantes não tinham interesse

em investir na editoria de esportes.

O principal argumento contrário ao jornalismo esportivo, que permaneceu válido até a metade

do século XX, é de que grande parte do público que se interessa por esportes – principalmente

o futebol – pertence às classes sociais C e D que, com baixo nível cultural não estaria

preparada para se aprofundar no assunto, seja por falta do hábito de leitura ou da falta de

alfabetização34. Segundo Coelho (2009a), do ponto de vista do mercado publicitário, não era

interessante investir em publicações populares. “Quanto menos anúncios, menos dinheiro,

menos condição de investir, maior o risco de fracasso [...]” (COELHO, 2009a, p.83).

Somado ao desinteresse, o futebol não parecia que iria virar uma paixão nacional, pelo menos,

não para a imprensa. Coelho (2009a) cita que no período em que o esporte chegou ao Brasil,

“pouca gente acreditava que o futebol fosse assunto para estampar manchetes” (COELHO,

2009a, p. 7). E, de fato, era difícil crer. Naquela época, o remo e as corridas de cavalo eram

mais populares.

Entretanto, para os veículos, nem mesmo estes esportes seriam dignos de terem mais espaço

do que a política nos jornais diários. Tampouco o futebol, mas isso não impedia que pequenas

notas fossem publicadas de vez em quando, principalmente em jornais cariocas, que, ao longo

dos anos, já demonstravam certo encantamento pela nova prática esportiva.

34 Entretanto, logo quando o futebol chegou ao Brasil, no final do século XIX, o esporte era visto como atividade

da elite, tanto é que os primeiros estatutos dos clubes impunham altas taxas de filiação, impedindo assim, quepopulares se tornassem sócios. Porém, foi a partir da década de 1920 que começou a mudar este cenário (videcapítulo 2) e o futebol se concretizou como esporte popular no Brasil.



22

Iniciou-se hoje, às 15 ½ horas, sob os melhores auspícios, o sensacional TerceiroCampeonato Sul-Americano de Football. Fazendo coincidir com esta temporada de“matches” internacionais, a festa de hoje teve ainda o seu brilho aumentado pela

inauguração do stadium do Fluminense Football Club, o glorioso campeão tricolorbrasileiro. A cerimônia de inauguração do stadium consistiu juntamente na inauguração do“match” internacional, para o qual foi construído o soberbo campo (RJ, 11 mai. 1919).35

(...) Pela primeira vez tivemos em nosso continente um embate travado com um ardorinacreditável por parte dos combatentes e que findou do modo mais honroso e nobre paranós brasileiros. (...) Os brasileiro depois de uma peleja renhidíssima, como até então não serealizara, abateram, ontem pelo score de 1x0 o formidável scratch uruguaio, que na opiniãounânime dos entendidos representava o expoente máximo do football oriental (OIMPARCIAL, 30 mai. 1919).36

Stycer (2007) descreve que, por conseqüência deste cenário, jornalistas com menos

experiência e com piores textos – em relação aos profissionais que cobriam a área política e

cultural, por exemplo – eram os responsáveis por cobrir os eventos esportivos. Até hoje,

embora haja jornalistas esportivos reconhecidos, a editoria de esportes é uma área que possui

muitos profissionais recém-formados, com pouca experiência e sujeitos a cometer erros37.

[O jornalismo esportivo era] uma tarefa de profissionais despreparados, mal remunerados ealheios a padrões éticos que, então [nas décadas de 20 e 30], já eram valorizados, emparticular a fidelidade à verdade factual e a sobriedade na forma de descrever os fatos(STYCER, 2007, p.6).

Apesar de sofrer com preconceito de ser um tema popular e com profissionais mal

remunerados enfrentando condições precárias de trabalho, o jornalismo esportivo foi

conquistando gradualmente seu espaço na mídia à medida em que o assunto foi tornando-se

mais comum entre todas as classes sociais.

Da mesma forma, evoluiu a maneira de se fazer jornalismo esportivo. No início do século

XX, eram comuns as notas escritas com termos estrangeiros que descreviam os jogos sem

muita preocupação em detalhar aspectos técnicos do esporte, como pode ser observado neste

trecho do jornal Minas Gerais38 cuja matéria foi publicada em 2 de outubro de 1904:

35 RIO JORNAL. Rio de Janeiro, 11 mai. 1919 apud COELHO, 2009a, p.12.

36 O IMPARCIAL. Rio de Janeiro, 30 mai. 1919 apud COELHO, 2009a, p.14.

37 As condições de trabalho dos jornalistas esportivos eram tão precárias que Stycer (2007) cita uma frase doescritor e jornalista Ruy Castro, em seu livro O Anjo Pornográfico (biografia de Nelson Rodrigues), que ilustra

bem a situação dos profissionais da área na década de 1920: “Não fosse pelo lanche que os clubes ofereciam nosdias de treino, alguns desses repórteres morreriam de fome.” (apud STYCER, 2007).

38 O periódico Minas Gerais é o jornal oficial do governo do estado de Minas Gerais.



23

Anteontem foi disputado mais um match de football no campo dessa novel sociedade,perante tão numerosa quão fina roda de distintos sportmen e gentis sportwomen. Prestou-segraciosamente a servir de referee o sr. capitão Haas, que se conservou durante toda a

partida perfeitamente imparcial e atento, o que grandemente contribuiu para o bomresultado dela. Venceu ainda desta vez o team do Sr. Victor Serpa por 2 gols a 1, apesar dodenodo e do brilho com que se bateu o do dr. Oscar Americano. Os pontos foram marcadospara os vencedores, pelos srs. José Mariano de Sales e Victor Serpa e para os vencidos pelosr. Joaquim Brasil. A luta esteve sempre animadíssima, o que demonstra que o popularsport está finalmente para sempre implantado em nosso áureo Estado (SPORT CLUB39 apud RODRIGUES, 2006, p. 180).

O texto acima demonstra bem como eram as notícias relacionadas ao futebol, logo no início

de sua chegada ao Brasil. No exemplo, informações acerca das escalações das equipes, o local

onde foi disputado o jogo, a quantidade de pessoas presentes e a descrição dos lances maisimportantes não foram consideradas relevantes pelo autor da matéria. Ao contrário, o

jornalista preferiu valorizar o evento como se fosse um encontro da elite da cidade e que os

envolvidos no jogo praticaram o esporte de maneira exemplar.

Segundo Stycer (2007), um grande problema observado no jornalismo esportivo, na primeira

metade do século XX, eram as matérias com características sensacionalistas e casos de

corrupção por parte dos jornalistas que, para cobrir seus baixos salários, aceitavam dinheiro

de dirigentes de clubes para publicar notícias de suas referidas agremiações.

Casos de jornalistas que inventavam entrevistas com jogadores para conseguirem uma boa

matéria eram comuns nos anos 20 e 30, como exemplifica Mazzoni 40 (apud STYCER, 2007).

Mazzoni também faz críticas com outra medida sensacionalista adotada pelos profissionais da

área, que era a de valorizar o bairrismo quando havia jogos de times de diferentes estados,

principalmente entre os de São Paulo e Rio de Janeiro. Tal prática prejudicava o esporte como

um todo, incentivando a violência entre torcedores e jogadores.

Se essa imprensa foge de sua verdadeira missão, se é escandalosa e perniciosa, envenena oambiente: os jogadores vão a campo mal intencionados, os ‘torcedores’ ficam de prevençãocontra tudo que não seja do seu lado. (...) Maior é essa nobre missão quando se trata de

39 SPORT CLUB. Minas Gerais. Bello Horizonte, 4 out. 1904a, p. 6.

40 MAZZONI, Thomaz. Problemas e aspectos do nosso futebol. São Paulo: A Gazeta, 1939. A degeneração daentrevista aos jornais, pp. 195-198.



24

futebol interestadual, porque este tem por finalidade fazer conhecer-se, unir e querer bem osbrasileiros, das diferentes regiões (MAZZONI41 apud STYCER, 2007, p. 5).

No que tange aos casos de corrupção, Sodré42 (apud STYCER, 2007) afirma que este mal não

era exclusivo do jornalismo esportivo, mas sim, de toda a imprensa, uma vez que os jornais da

época eram completamente dependentes financeiramente de grupos políticos e, portanto, suas

publicações, em sua maioria, favoreciam um lado em detrimento de outro, sem levar muito

em conta a questão ética e apelando para notícias exageradas e sensacionalistas.

Nos anos 40 e 50, dentro do jornalismo esportivo, destacavam-se as crônicas elaboradas por

jornalistas, como Nelson Rodrigues43 e Armando Nogueira44, que, segundo Coelho (2009a),

romanceavam o futebol, mas que continham uma série de imprecisões com o fato em si.

Abaixo, três trechos de textos de Nelson Rodrigues publicados na revista Manchete

Esportiva45 e uma parte de uma crônica de Armando Nogueira retirada de sua coluna Na

grande área46, do jornal Tribuna da Imprensa

47 , respectivamente:

No Maracanã, há entre nós e o jogo uma distância irredutível. Todas as nossas relações coma partida são modificadas. E, de fato, que espécie de élan, de glorioso espasmo, de furiosaadesão podemos ter, se tudo é tão vago, longínquo, utópico? Insisto, amigos: - a distância

41 MAZZONI, Thomaz. Problemas e aspectos do nosso futebol. São Paulo: A Gazeta, 1939. A boa imprensa e ocombate à indisciplina, pp. 31-32.

42 SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro, Mauad, 1999.

43 Nelson Falcão Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 – Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980) foidramaturgo, jornalista e escritor, famoso por suas obras polêmicas, pelas crônicas sobre futebol e por suas frasesde efeito. Era torcedor do Fluminense, do Rio de Janeiro.

44 Armando Nogueira (Xapuri – AC, 14 de janeiro de 1927 – Rio de Janeiro, 29 de março de 2010) foi jornalistae cronista esportivo. Além de seus textos sobre futebol, Armando Nogueira é um personagem importante notelejornalismo brasileiro, pois foi o responsável pela criação, na década de 1960, do Jornal Nacional da RedeGlobo, o mais importante telejornal do país até hoje.

45 A revista Manchete Esportiva era uma publicação semanal que circulou de novembro de 1955 a maio de 1959,voltando em junho de 1983 no formato de telejornal na Rede Manchete. O programa foi exibido até maio de1999, quando a emissora foi extinta.

46 Inicialmente, a coluna Na grande área começou a ser publicada pelo jornal Tribuna da Imprensa em 1963. Noano seguinte, Nogueira passou assinar a coluna no Jornal do Brasil por 13 anos seguidos.

47 O jornal Tribuna da Imprensa foi fundado em 27 de dezembro de 1949 pelo jornalista Carlos Lacerda, famoso

opositor ao governo Vargas. Assim como seu fundador, o veículo se destacou por ter um posicionamento deesquerda e criticar o regime militar, gerando sérias conseqüências, como o episódio ocorrido em 26 de março de1981, em que uma bomba explodiu em sua sede.



25

desumaniza os fatos, retira das criaturas todo o seu conteúdo poético e dramático (ME 5, 24dez. 1955). 48

O que nós chamamos idade, o que nós chamamos tempo, o que nós chamamos velhice nadamais é do que um jogo de aparências e de ilusões. A idade ricocheteia por Zizinho sematingi-lo. Em Assunção, ele se projetou aos olhos do público e dos companheiros, isento dotempo. E vamos e venhamos: – sua velhice é mil vezes mais nova, quinhentas vezes mais jovem do que a adolescência dos companheiros (ME 31, 23 jun. 1956).49

Geralmente, o jogador de 34 anos está gagá para o futebol, está babando de velhiceesportiva. Mas o caso de Zizinho mostra o seguinte: – o tempo é um convenção que nãoexiste nem para o craque, nem para a mulher bonita. Existe para o perna-de-pau e para obucho. Na intimidade da alcova, ninguém se lembraria de pedir à Rainha de Sabá, aCleópatra, uma certidão de nascimento (ME 2, 3 dez. 1955).50

Tudo acontece na grande área: a guerra de Pelé e a guerrilha de Garrincha, o chute fatal, a

rebatida heróica, o drible temerário de um beque, a tragédia do goleiro em cujos péssolitários a grama não floresce; na grande área, ressoa, implacável, a hora da verdade,erguendo e derrubando mitos no gesto simples de chutar uma bola; na grande área, nasce ogol, nasce o infarto que mata de emoção o torcedor; na grande área, onde os homens seacovardam e se engrandecem, a rasteira é pecado que no ato se paga pelo castigo do pênalti,entidade tão decisiva no destino de um jogo que, segundo um velho pensador do futebol, sódevia ser cobrado pelo presidente do clube; nos canteiros da grande área, os pés imortais deDomingos da Guia pisando a grama de leve para não magoar a própria semente de sua arte – Nílton Santos (MÁXIMO, 2010).51

A partir dos anos 60, a imprensa começou a tratar o jornalismo esportivo com o compromisso

com a verdade, de uma forma mais aproximada como é possível observar nos dias atuais. Os

grandes jornais da época iniciaram uma grande reformulação em suas redações, provocando,

assim, em uma divisão do trabalho que, dentre outras consequências, trouxe as editorias,

incluindo a de esportes. Desta forma, os veículos passaram a contratar cada vez mais

jornalistas especializados, sendo que algumas editorias de esporte chegaram a ter 20

profissionais.

Todos esses profissionais estão envolvidos exclusivamente no trabalho de trazer e publicar

informações. Não têm nenhuma relação com o ofício de opinar. Os textos opinativos sãopublicados com distinção gráfica bem evidente, para caracterizá-los como diferentes dostextos informativos. A responsabilidade por estes textos opinativos sempre coube a profissionais mais experientes, os chamados “colunistas”, que muitas vezes nem trabalham

48 MANCHETE ESPORTIVA. 5. ed. Rio de Janeiro, 24 dez. 1955 apud VOGEL, 1997, p. 3.

49 MANCHETE ESPORTIVA. 31. ed. Rio de Janeiro, 23 jun. 1956 apud VOGEL, 1997, p. 4.

50 MANCHETE ESPORTIVA. 2. ed. Rio de Janeiro, 3 dez. 1955 apud VOGEL, 2009, p. 4.

51 Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a-poesia-do-jogo. Acesso em 7 set.2011.



26

na redação. Todos os jornais mantêm um ou mais colunistas de esportes (STYCER, 2007,p. 7).

Na segunda metade da década de 1990, o Lance!52 contava com 30 pessoas em sua equipe,

que chegou a ter 40 profissionais, em determinado período. Na Folha de S. Paulo53, no início

dos anos 2000, a editoria de esportes empregava 15 pessoas, entretanto, devido ao seu grande

destaque dentro do jornal, houve um substancial aumento nos salários, fazendo com que

jornalistas de outros veículos optassem por largar seus empregos para se aventurarem na

Folha cobrindo férias só para ter um salário melhor e a oportunidade de serem integrados ao

jornal54.

Atualmente, segundo Coelho (2009a), existem quatro grandes redações de jornal no país: O

Estado de S. Paulo55, a Folha de S. Paulo, O Globo56 e a Zero Hora57 , além da Editora

Abril58. Entretanto, os salários da editoria de esporte são inferiores se comparados com os dos

outros cadernos, mesmo nestes veículos. É, também, para essa área em que, geralmente, são

encaminhados os novos profissionais.

Embora tenham ocorrido todas estas mudanças, a estigma de que o jornalista esportivo era

sensacionalista e corruptível manteve-se, segundo Stycer (2007), sobretudo nos jornaispopulares. Entretanto, Stycer (2007) e Coelho (2009a) afirmam que, mesmo nos veículos de

maior prestígio, os profissionais da área não são tão valorizados como os de outras editorias.

52 O Lance! é um jornal esportivo diário lançado em 1997 e sediado no Rio de Janeiro. O veículo conta comedições que cobrem Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia, Brasília e Manaus.

53 A Folha de São Paulo é um dos mais influentes jornais diários do Brasil. Foi fundado em 1921, é o jornal coma segunda maior circulação no país, ficando atrás apenas do popular Super Notícias, de Belo Horizonte.

54 Em julho de 2002, o jornal precisou contratar jornalistas para cobrirem férias de alguns repórteres. A procura

foi bastante alta, incluindo profissionais bem sucedidos e reconhecidos no mercado. Coelho (2009a) cita,inclusive, que um dos admitidos deixou o Lance! onde trabalhava para escrever durante três meses para a Folha por causa do salário melhor.

55 O Estado de São Paulo, também conhecido como Estadão, é um jornal diário fundado em 4 de janeiro de1875 com o nome de A Província de São Paulo. É um dos jornais mais influentes do Brasil e foi o pioneiro emvendas avulsas de suas publicações.

56 O Globo é um jornal diário fundado em 1925 e sediado no Rio de Janeiro. Faz parte das Organizações Globo,maior conglomerado de mídia da América Latina e um dos maiores do mundo.

57 O jornal diário Zero Hora foi fundado em 4 de maio de 1964, em Porto Alegre. Atualmente, é a 7ª publicaçãode maior circulação no país.

58 A Editora Abril é uma editora brasileira, sediada na cidade de São Paulo, fundada em 1950. A empresaatualmente publica 54 títulos, com circulação de 188,5 milhões de exemplares, sendo a maior do segmento naAmérica Latina.



27

“Não há, por exemplo, casos de jornalistas esportivos que tenham alcançado a direção de

qualquer um desses jornais” (STYCER, 2007, p. 8). Talvez o único exemplo que contraria a

afirmação do autor seja a trajetória do jornalista Armando Nogueira que foi diretor da Rede

Globo e que veio da área esportiva.

3.2 Critérios de noticiabilidade nas notícias esportivas

Antes de identificar quais são os critérios de noticiabilidade aplicados às notícias esportivas,

faz-se necessário esclarecer que o presente estudo analisará tais critérios baseado na teoria do

newsmaking. Portanto, primeiramente, é fundamental explicar o que é e como se aplica tal

teoria.

3.2.1 Newsmaking

A notícia, tal como se vê na mídia, aparenta-se como simples relato de algum acontecimento

feito por um jornalista que, de alguma forma, teve acesso a tal ocorrido. Entretanto, o que se

pode observar, a partir dos estudos do newsmaking, é um complexo sistema de elementos que

condicionam a publicação da informação e que são omitidos do público destinatário.

Wolf (1994) explica que o newsmaking engloba “a cultura profissional dos jornalistas e a

organização do trabalho e dos processos produtivos” (WOLF, 1994, p. 188). Os critérios de

noticiabilidade (os fatores que determinam o que deve ser notícia), o processo de edição, a

relação entre jornalistas e fontes, o papel desempenhado pelas agências de notícias, entre

outros, são alguns elementos que constituem o newsmaking.

Em suma, um fato só se torna notícia a partir do momento em que atende às exigências da

instituição (o veículo) e dos jornalistas.

Pode também dizer-se que a noticiabilidade corresponde ao conjunto de critérios, operaçõese instrumentos com os quais os órgãos de informação enfrentam a tarefa de escolher,quotidianamente, de entre um número imprevisível e indefinido de factos (sic), umaquantidade finita e tendencialmente estável de notícias (WOLF, 1994. p. 190).

Portanto, parte-se do princípio de que é necessário criar todo um processo de práticasprodutivas para poder selecionar, dentre todos os fatos que ocorrem – ou estão por acontecer –



28

no mundo, o que será noticiado. Para este processo ser instaurado, tanto pela mídia quanto

pelo jornalista, é preciso definir, antes de tudo, os critérios condicionantes para transformar

um fato em notícia, que são chamados “valores/notícia” (WOLF, 1994).

Os “valores/notícia”, além de separar o que deve ou não ser notícia, estabelecem diretrizes

para facilitar e otimizar o trabalho de produção nas redações. Estes critérios são classificados

por Wolf (1994) de acordo com conteúdo, acessibilidade de produção e realização, interesse

do público e da relação entre a concorrência no mercado informativo.

Em relação ao conteúdo, Wolf (1994) classifica como “critérios substantivos”, o autor explica

os fatores que determinam a importância e o interesse da notícia. No âmbito da importância,Wolf (1994) enumera quatro condicionantes de noticiabilidade: acontecimentos que envolvem

figuras de destaque sócio-políticos (presidentes de grandes organizações, políticos com alto

grau de hierarquia, celebridades); fatos de relevância nacional ou de proximidade geográfica

ou cultural (uma nova política pública, crise econômica em um país vizinho, um

pronunciamento do Vaticano – no caso de um país majoritariamente católico); episódios que

envolvem multidões (um acidente aéreo que teve diversas vítimas); acontecimento

significativo que condiciona a um fato de maior relevância (indicação dos candidatos queparticiparão de uma campanha eleitoral).

“Se as notícias avaliadas como importantes são, em certa medida, seleccionadas

<<obrigatoriamente>>, o factor do interesse provoca uma avaliação [...] mais aberta às

opiniões subjectivas, menos vinculativas para todos” (WOLF, 1994. p. 205). Em outras

palavras, o jornalista deve partir de uma premissa de o quê o público vai considerar atrativo e

do que irá chamar-lhe a atenção. “São interessantes as notícias que procuram dar umainterpretação de um acontecimento baseada no aspecto do <<interesse humano>>, do ponto

de vista insólito, das pequenas curiosidades que atraem a atenção” (WOLF, 1994. p. 205).

Quanto à questão da acessibilidade de produção e realização da notícia, os “valores/notícia”

são definidos pela disponibilidade de fazer a notícia (os materiais para produzi-la,

deslocamento do repórter, se há espaço para ela ser inserida no jornal etc.); a atualidade do

fato (deve ser o mais recente possível e tratar de algum assunto novo, exceto em algumas

áreas, como política); a qualidade da história (se está bem escrita, esclarecedora,

contundente); e a “ideologia da notícia [...] [em que] são noticiáveis, em primeiro lugar, os



29

acontecimentos que constituem e representam uma [...] ruptura do uso normal das coisas.

Constitui notícia aquilo que altera a rotina, as aparências normais” (WOLF, 1994. p. 207).

Os “valores/notícia” relativos ao público levam em consideração a subjetividade do jornalistano que se refere ao que interessa ao público, como já foi descrito anteriormente. Entretanto,

há outros fatores relacionados ao público, além da mera curiosidade acerca de um fato. A

clareza de linguagem (evitar a utilização de termos técnicos e específicos de determinada área

do conhecimento) e “a não noticiabilidade de factos ou pormenores de acontecimentos cuja

cobertura informativa (se presume) que provocaria traumas ou ansiedade no público ou feriria

a sua sensibilidade ou seus gostos” (WOLF, 1994. p. 214). Ou seja, algo que possa causar

sensações ruins no público.

Por fim, a concorrência também implica a seleção dos fatos. O receio de deixar de noticiar

algum fato relevante pelo veículo concorrente leva os meios de comunicação a, de certa

forma, padronizar o que vai ser notícia no dia da publicação, ou seja, todos vão publicar

praticamente os mesmos assuntos, à sua maneira.

Explicitados os elementos teóricos que definem o que pode ou não ser notícia, há de se fazer

referência à prática na rotina das redações. Os “valores/notícia” são empregados a partir d as

informações passadas pelas fontes (pessoas especialistas em determinadas áreas ou

representantes de instituições) e materiais de agência (que constituem como os dois principais

meios de recebimento das informações que chegam aos jornalistas) para definir o que será

publicado ou excluído ou, até mesmo, retido para ser divulgado em um momento oportuno, de

acordo com as diretrizes do meio de comunicação.

Entretanto, quando um fato é escolhido para se tornar notícia, os editores do veículo devem

divulgá-lo de acordo com a ideologia do veículo, ou seja, o que foi publicado, tanto em

relação ao texto quanto a sua apresentação gráfica.

Se todas as fases anteriores funcionam no sentido de descontextualizar os factos do quadrosocial, histórico, económico, político e cultural em que acontecem e em que sãointerpretáveis (isto é, no sentido de <<curvar>> os acontecimentos às exigências deorganização do trabalho informativo), nesta última fase [de edição], executa-se umaoperação inversa: recontextualizam-se esses acontecimentos, mas num quadro diferente,

dentro do formato do noticiário (WOLF, 1994. p. 244).



30

O que se pode concluir a partir deste contexto e tendo como base os “valores/notícia”

aplicados ao newsmaking é que o que se vê em uma notícia não é o mero relato de um

acontecimento. Trata-se, portanto, de um complexo sistema de caracterização do que é

notícia, a partir da visão do veículo em que é publicado e da subjetividade do mesmo em

relação às preferências do seu público.

3.2.2 Newsmaking esportivo

Uma vez explicado o conceito de newsmaking e como é aplicado no exercício do jornalismo,

fica mais simples entender como se dá o processo de escolha de notícias na editoria de

esportes, enfocando no futebol.

O jornalismo esportivo segue o mesmo padrão das outras editorias, de acordo com os

“valores/notícia” de Wolf (1994). Eventos mundialmente conhecidos, como as Olimpíadas e

Copa do Mundo de futebol, por exemplo, justamente por atraírem a atenção das pessoas e por

haver grandes patrocínios, recebem uma cobertura maciça dos veículos.

Entretanto, são eventos que não acontecem o tempo todo. No caso do futebol, o dia a dia doscadernos de esporte dos jornais concentra mais informações sobre resultados de jogos de

campeonatos mais importantes, movimentação no mercado de jogadores e técnicos, na

preparação dos times antes dos jogos e a repercussão de como foi o jogo, além de colunas

opinativas e estatísticas dos campeonatos.

Porém, o importante é observar que o principal critério de noticiabilidade nos dias atuais já

não é mais a troca de favores como ocorria ao longo da primeira metade do século XX. Combase nas observações de Bueno (2005), conclui-se que, dentre vários outros “valores/notícia”

utilizados pelo jornalismo esportivo, no que tange o futebol, o principal é o de interesse das

massas. Isto significa que clubes de maiores torcidas tendem a receber mais espaço no jornal

do que os que tiverem menos fãs.

Entretanto, há um outro “valor/notícia” embutido nesta questão e é necessário compreendê-lo.

O critério de proximidade geográfica é fundamental na hora de selecionar as notícias. Por

exemplo, é sabido que o Flamengo, do Rio de Janeiro, e o Corinthians, de São Paulo, são os



31

dois clubes com maior número de torcedores no país59. Logo, seguindo a lógica do

newsmaking de Wolf (1994), estes dois times deveriam receber mais espaço em qualquer

caderno de esporte do Brasil. Porém, não é o que acontece devido ao “valor/notícia”

geográfico. Em uma cidade como Porto Alegre, que tem uma população praticamente

dividida entre dois times (Grêmio e Internacional), os jornais cederão mais páginas para estas

agremiações e, quando necessário, publicarão notas sobre Flamengo e Corinthians. O mesmo

vale para uma cidade no interior de Pernambuco, por exemplo. Mesmo que não tenha um time

de expressão, os jornais do município vão publicar informações sobre os três grandes times do

estado, que no caso são Sport Recife, Náutico e Santa Cruz.

Mas tal fato não pode servir de regra. Jornais de estados que não possuem uma equipe deexpressão no cenário nacional tendem a publicar notícias sobre os times mais populares do

país. Isso ocorre, por exemplo, no Distrito Federal, em que as agremiações cariocas têm uma

legião de torcedores, enquanto os clubes locais, como o Brasiliense e o Gama, são deixados

em segundo plano, tendo apenas uma relação de simpatia com a população 60. O mesmo pode

ocorrer em estados que têm equipes fortes, mas devido à região, não são tão populares assim,

como é o caso da Zona da Mata mineira, que tem como grande pólo a cidade de Juiz de Fora,

onde a maioria dos habitantes torcem para equipes cariocas. Logo, Cruzeiro, Atlético eAmérica (representantes mineiros na Série A do Campeonato Brasileiro) ficam em segundo

plano em relação a Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo.

3.3 O exercício do jornalismo esportivo

Bueno (2005) argumenta que um dos principais equívocos cometidos pelo jornalismoesportivo é o foco apenas nas competições. Segundo o autor, quando há um intervalo em

determinado campeonato, principalmente no futebol, os jornalistas optam por notícias

59 As pesquisas realizadas em 2010 pelo Ibope e Datafolha apontam Flamengo e Corinthians como os dois clubesmais populares do Brasil. A equipe carioca possui 17% da preferência nacional, seguida pelo time paulista com14%.

60 A pesquisa realizada pelo Datafolha em 2010 expõe a superioridade dos números de torcedores de equipescariocas no Distrito Federal em relação aos demais times de outros estados. Só o Flamengo tem 33% dapreferência dos fãs. Vasco possui 9% e Botafogo e Fluminense têm, cada um, 3%. Portanto, 48% dosbrasilienses torcem por equipes cariocas. As equipes locais possuem apenas 2% de popularidade.



32

especulativas (contratação de jogadores, renovações de contrato) em vez de criar pautas sobre

outros assuntos que tenham a ver com o tema.

O esporte não pode, sob nenhuma hipótese, ser visto como uma atividade imune à ação deoutros interesses ou aspectos (econômicos, sociais, culturais, políticos) porque, como isso,ele se descontextualiza e, certamente, fica difícil entender porque algumas coisas neleocorrem. [...] Deve-se reconhecer que, sobretudo alguns jornalistas e veículos, maisrecentemente, têm buscado contextualizar o mundo do esporte, tentando visualizá-lo alémdas “quatro linhas do campo”, o que ocorreu especialmente durante os debates da CPI dofutebol no Brasil ou no escândalo das propinas, que marcaram as Olimpíadas do (sic)Inverno nos Estados Unidos, na década de 90. Mas é preciso adotar essa postura sempre: oesporte deve ser visto a partir de uma lente angular e não, a partir de um “zoom” (BUENO,2005, p. 2).

Outro erro constante, segundo Bueno (2005), são as diferenças nas coberturas jornalísticas

entre os times de futebol. Clubes do interior ou que possuem poucos torcedores têm menos

espaço nos veículos do que, inclusive, times de outros países. Para Bueno (2005), esta

situação é um reflexo do desinteresse dos grandes veículos de saber a opinião dos leitores,

uma vez que nas grandes metrópoles brasileiras, vivem muitas pessoas que vieram de outros

estados ou do interior que teriam interesse de ter acesso às informações de equipes menores.

Alguém que se disponha a verificar o espaço dedicado aos clubes do interior paulista ou ao

futebol de outros Estados brasileiros na Folha de S. Paulo ou no Estadão, descobrirá que eletem muito menos importância do que vários campeonatos internacionais. Será que os jornais fizeram alguma pesquisa de opinião entre os seus leitores a este respeito? Será queeles já contabilizaram, entre os seus assinantes e leitores de banca, o número de nordestinos(para só citar o caso da capital paulista, onde a legião de nordestinos é enorme) ou de pessoas do interior do Estado (somos uma metrópole invadida por “caipiras”) interessadosem notícias de seus clubes do coração? Torcedores que ficam privados de informaçõesbásicas (é mais fácil saber quanto foi o jogo do Energie Cotbus, da Alemanha, do que o domeu Leão do Norte, glorioso alvinegro ribeirãopretano!) e que, sem dúvida, se sentemfuriosos ao constatarem esta esta (sic) omissão e miopia da imprensa esportiva![...](BUENO, 2005, p. 6-7).

A qualidade da informação jornalística relacionada à cobertura esportiva no Brasil também éum ponto que merece ser questionado. Há muitas falhas que diminuem a credibilidade dos

profissionais da área, como por exemplo, diferença nas escalações dos times (determinado

jornal publica a escalação da equipe, enquanto outro veículo divulga uma outra escalação

desta mesma equipe), resultados errados das partidas, dados errados relativos a jogadores e

campeonatos (equívocos sobre quais clubes determinado atleta defendeu ou quantos gols tem

o artilheiro do torneio), entre outros.



33

Ainda em relação à qualidade da informação, a ética no jornalismo esportivo é um ponto a ser

considerado, uma vez que a mídia especializada explora a vida privada de atletas e dirigentes,

sob a justificativa de que como são figuras públicas, a audiência vai querer saber o que fazem

quando não estão em campo.

Ainda há muitas críticas em relação à cobertura jornalística de outros esportes, que não sejam

o futebol, uma vez que modalidades esportivas como atletismo, natação e outras, mesmo

tendo muitos praticantes no país, apenas recebem destaque da mídia durante torneios

importantes, além do fato de que apenas os atletas que ganharam medalhas recebem destaque

da mídia.

Em geral, a mídia só contempla determinados esportes no instante das grandes competiçõesinternacionais (as Olimpíadas e os Jogos Panamericanos), penalizando os que deles seocupam com dedicação, quase sempre solitários ou empreendedores. De maneira egoísta emesquinha, só reconhece os vencedores (os medalhistas), relegando os demais aoesquecimento, deixando de cumprir o seu papel de estimular as novas vocações e devalorizar o espírito de competição (BUENO, 2005, p. 5).

Tendo em vista os equívocos que são cometidos no jornalismo esportivo, a primeira

impressão é de que há uma falta de profissionalismo na área e que não merece credibilidade.

Entretanto, faz-se necessário ressaltar que não se pode generalizar. Para Bueno (2005), atletas,

dirigentes, políticos e imprensa, todos têm sua parcela de culpa, mas existem pessoas que

querem mudar o cenário, especialmente os novos profissionais que vêm entrando na área

esportiva, cujo objetivo é melhorar a qualidade da informação jornalística referente ao

esporte.

Porém, há de se reconhecer as dificuldades atuais em se fazer a cobertura jornalística de

esportes, principalmente na mídia impressa. Coelho (2009a) afirma que, além da paixão pelo jogo, é preciso ter boas relações com as fontes, criatividade na elaboração das pautas e que o

repórter saiba aproveitar bem o seu tempo.

A relação com as fontes, que no caso do jornalismo esportivo – em geral – são atletas, é,

segundo Coelho (2009a), complicada. Isto se deve ao fato de que não há comportamentos

homogêneos entre eles em relação à imprensa. Enquanto alguns são solícitos para conceder

entrevistas, outros não são. O autor afirma que, no caso da imprensa escrita, o relacionamentoentre jornalista e fonte tem que ser mais cuidadoso, pois quando o repórter escreve uma



34

declaração polêmica na matéria, pode haver problemas com o atleta que não quer se

responsabilizar pelo que disse.

Não deixar que as matérias sejam repetitivas e, por conseguinte, pouco atrativas para o leitor,

além do fato de não noticiar exatamente o mesmo fato que o jornal concorrente noticiou,

também são elementos fundamentais para uma boa cobertura jornalística esportiva, segundo

Coelho (2009a).

O horário de fechamento do jornal é um fator que influencia diretamente na qualidade da

notícia sobre um jogo, de acordo com Coelho (2009a). Quando o jogo é à noite, é necessário

que o repórter acompanhe a partida, faça suas anotações, preste atenção no desempenho decada jogador em campo e, simultaneamente, escreva a matéria. Não há tempo para que o

jornalista assista ao jogo inteiro com calma e depois produza o texto na redação do jornal.

Para o autor, quem fica prejudicado com essa situação são o repórter e o leitor, pois a notícia

não estará bem escrita (devido à pressa de sua entrega) e o profissional pode ser julgado pelos

leitores como uma pessoa que não conhece o esporte.

Por fim, há as críticas em relação à isenção do jornalista esportivo. Isenção no sentido de orepórter não deixar que sua paixão pelo seu time de infância atrapalhe na hora de fazer o seu

trabalho. Coelho (2009a) cita casos de profissionais que não revelam a torcida por seu clube

para evitar a perda de confiabilidade com o público.

Trata-se de uma questão ética. Bucci (2000) afirma que o jornalista é incapaz de ser “isento,

neutro e equânime, mas sempre é um militante” (BUCCI, 2000, p. 49) . O profissional tem a

obrigação de primar pelas diferenças de opinião, ouvir todos os lados dos fatos e buscar averdade, sempre tendo o cuidado de garantir a confiabilidade da informação junto ao seu

leitor/espectador/ouvinte. “O relato jornalístico precisa guardar um mínimo de confiabilidade

– um mínimo sem o qual a autoridade de imprensa estará perdida” (BUCCI, 2000, p. 52).

O medo de não conseguir passar essa confiança para o público faz com que muitos jornalistas

esportivos escondam o time pelo qual são torcedores. Isso é muito comum em regiões onde há

uma polarização de torcidas, como no Rio Grande do Sul, em que Internacional e Grêmio

praticamente dividem a paixão da população. Entretanto, Coelho (2009a) afirma que não há

problema algum em se revelar a preferência por uma equipe. O autor, inclusive, cita casos de



35

jornalistas bem sucedidos na profissão que sempre deixaram claro sua torcida e que, nem por

isso, perderam sua credibilidade, como o caso de João Saldanha (botafoguense) e Juca Kfouri

(corintiano).

Vergonha para jornalista de qualquer área é não declarar sua preferência. Jornalista políticotem o direito e o dever de votar. O fato de ter de comportar-se com isenção no períodoeleitoral não o obriga a anular seu voto. Da mesma forma, jornalista esportivo não devenunca se envergonhar de torcer por essa ou por aquela equipe. Vergonha para jornalista, éequivocar-se na informação, coisa comum quando se trata de apuração. Mas mentir sobreuma coisa que diz respeito à sua própria vida é esquecer-se do maior compromisso do jornalista: o compromisso com a verdade (COELHO, 2009a, pp. 58-59).

Pode-se concluir, portanto, que o jornalismo esportivo é uma área que, aparentemente, é

muito fácil de fazer. Coelho (2009a) afirma que um garoto de 12 anos pode explicar as regrasde seu esporte favorito, a escalação dos times e as últimas novidades de determinado esporte.

Porém, a rotina de um jornalista esportivo requer muito cuidado, desde o relacionamento com

a fonte até a publicação da matéria. Outro desafio é ter que controlar a paixão pelo assunto.

No próximo capítulo, serão analisadas as matérias dos três times belo horizontinos

participantes do Campeonato Brasileiro Série A 2011 publicadas nos jornais Estado de Minas,

Hoje em Dia e O Tempo. É uma oportunidade para se verificar como os repórteres destes

veículos colocam em prática o jornalismo esportivo.



36

4 DE OLHO NO LANCE: ANALISANDO AS NOTÍCIAS

O objetivo deste capítulo é analisar as diferenças textuais e visuais das notícias publicadas nos

jornais Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo que repercutem os jogos de cada rodada de

América, Atlético e Cruzeiro durante o primeiro turno do Campeonato Brasileiro Série A

2011, ocorrido entre os dias 21 de maio a 28 de agosto.

A análise, segundo Lakatos e Marconi (2001), é a divisão de um conjunto de ideias que visa a

encontrar o “elemento-chave” daquilo que o autor pretende passar ao leitor.

É a análise que vai permitir observar os componentes de um conjunto, percebersuas possíveis relações, ou seja, passar de uma ideia-chave para um conjunto deideias mais específicas, passar à generalização e, finalmente, à crítica (LAKATOSE MARCONI, 2001, p. 28).

Desta forma, serão analisados, nos objetos de estudo: o espaço destinado aos times nos

jornais; o texto das notícias e seus respectivos elementos gráficos; e critérios de

noticiabilidade, segundo a teoria do newsmaking.

Para analisar tais elementos, faz-se necessária uma divisão de metodologia, aplicando a estesobjetos dois tipos de análise: quantitativa e qualitativa.

No que se relaciona à análise quantitativa, este estudo visa a levantar os seguintes dados:

Números de matérias de cada time publicadas no período correspondente ao primeiro

turno do Campeonato Brasileiro Série A 2011

Espaço destinado a cada time nos dias em que há jogos a serem disputados e nos diasseguintes aos mesmos.

Número de elementos gráficos (fotos e ilustrações) presentes nas matérias publicadas

Referente à análise qualitativa, os seguintes aspectos serão analisados:

Estrutura da notícia

Critérios de noticiabilidade adotados, aplicando o estudo do newsmaking

Autoria das matérias



37

Entretanto, antes de proceder às análises, será apresentado um breve histórico dos jornais

Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo.

4.1 Raio-X dos jornais mineiros

4.1.1 Estado de Minas

Fundado em 7 de março de 1928, o Estado de Minas pertence ao Grupo Diários Associados61

e goza de ser um dos jornais mais populares, não somente em Belo Horizonte, mas como em

todo o estado de Minas Gerais, com uma tiragem média de 100 mil exemplares aos domingose 60 mil durante a semana – daí seu slogan “O grande jornal dos mineiros”.

O veículo é reconhecido por ter uma política editorial conservadora e por publicar conteúdo

bastante diversificado de notícias, divididas em informações regionais, nacionais e

internacionais. A qualidade das matérias publicadas no diário rendeu elogios de Assis

Chateaubriand62 que apelidou o Estado de Minas de o “Times brasileiro” - em referência ao

famoso jornal inglês63.

A publicação tem o formato standard 64 e apresenta oito cadernos fixos (Política, Opinião,

Nacional, Internacional, Economia, Gerais, EM Cultura e Esportes) e dezenove suplementos

(Agronegócio, Bem viver, Ciência, Ragga Drops, Direito & Justiça, Emprego, Especial,

Feminino & Masculino, Guia de gastronomia, Guia de negócios, Gurilândia, Hora Livre,

Imóveis, Informática, Pensar, Prazer EM ajudar, Turismo, TV e Veículos).

61 O Grupo Diários Associados é o sexto maior conglomerado de empresas de mídia do Brasil. Fundado em1924, no Rio de Janeiro chegou a ser a maior corporação de imprensa da América Latina. O grupo controla,atualmente, dentre outros, os jornais impressos Correio Braziliense (DF), Estado de Minas (MG), DiárioMercantil (RJ) e Diário de Pernambuco (PE). O auge do grupo foi quando controlava a TV Tupi e a revista OCruzeiro, em meados do século XX.

62 Francisco de Assis Alves Chateaubriand Bandeira de Melo (Umbuzeiro – PB, 4 de outubro de 1892 – SãoPaulo, 4 de abril de 1968) foi um dos maiores magnatas das comunicações do Brasil, fundador do Grupo DiáriosAssociados.

63 O jornal britânico The Times é um dos mais famosos e tradicionais diários do mundo. É editado em Londres epublicado diariamente desde 1785.

64 É o formato de jornal que possui dimensões de cerca de 50x30 cm. É um dos modelos mais utilizados nosdiários brasileiros.



38

O Estado de Minas também é o responsável pela publicação do jornal popular Aqui65, que

circula na Grande Belo Horizonte.

4.1.2 Hoje em Dia

O Hoje em Dia foi criado em 1988, pelo então governador de Minas Gerais, Newton Cardoso.

Atualmente, a publicação pertence ao Grupo Record, ligado à Igreja Universal do Reino de

Deus, e tem uma circulação média diária de 55 mil exemplares.

Publicado no formato standard , o Hoje em Dia sempre teve um cuidado especial com sua

parte gráfica, uma vez que o jornal foi o pioneiro em Minas a usar páginas coloridas desde suaprimeira edição. Ao longo de seus 23 anos de história, a publicação já reformulou inúmeras

vezes seu projeto gráfico, sendo o último iniciado em 2008.

Em relação ao conteúdo, o jornal se direciona a diversas notícias, enfocando os

acontecimentos em Belo Horizonte e região metropolitana. Porém, a editoria de Política tem

uma cobertura própria bastante consistente em âmbito nacional, uma vez que o veículo possui

uma sucursal em Brasília. Além deste caderno, o Hoje em Dia possui as seções de Economia,Cultura, Esportes, Minas, Opinião, Brasil e Mundo; e os suplementos Patrimônio, Terceira

Idade, Saúde, Educação, Lazer, Pet, Meio Ambiente, Informática, Tevê, Turismo, Veículos e

Moda.

4.1.3 O Tempo

Após três anos de pesquisas de mercado, O Tempo foi fundado em 21 de novembro de 1996,pelo ex-deputado federal Vittorio Medioli – presidente do Grupo SADA, que até hoje controla

o jornal por meio da Sempre Editora -, e tem circulação diária média de 55 mil exemplares.

Diferentemente dos seus principais concorrentes ( Estado de Minas e Hoje em Dia), O Tempo

é publicado em formato tablóide66 (desde sua última reformulação gráfica, em 2008) e é

65 O jornal Aqui pertence aos Diários Associados e possui formato tablóide. Tem cerca de 400 mil leitores só na

Grande BH, mas também é comercializado em mais 335 cidades do interior de Minas Gerais.

66 O formato tablóide possui dimensões de cerca de 33x28 cm. É um modelo muito comum utilizado naInglaterra.



39

sediado em Contagem. Outra característica do veículo é que ele possui diferentes publicações

na região metropolitana de Belo Horizonte, como as edições O Tempo Contagem67 e O Tempo

Betim68.

Entretanto, as diferenças acabam por aí. O conteúdo do jornal segue a mesma linha de notícias

divididas por segmentos que abrangem os acontecimentos locais, regionais e nacionais,

contando com oito cadernos fixos: Política, Opinião, Brasil, Mundo, Economia, Cidades,

Magazine e Esportes; e sete suplementos: Aparte, Agronegócios, Interessa, Lupa,

Blogdepapel.com, Imóveis & Construção e Fim de Papo.

A Sempre Editora também é responsável pela publicação dos jornais Super Notícia69 e oPampulha70.

4.2 O que se vê no papel

4.2.1 Os números

Durante o período compreendido entre 21 de maio a 29 de agosto71

, foram analisadas 58edições dos jornais Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo, totalizando 174 publicações.

Neste espaço de tempo, América, Atlético e Cruzeiro realizaram, cada um, 19 jogos.

67 Também em formato tabloide, O Tempo Contagem publica e apenas notícias que ocorrem na cidade deContagem, sendo exclusivamente vendido somente neste município.

68 Idem à edição de O Tempo Contagem, porém é exclusivo da cidade de Betim.

69 O Super Notícia é o jornal mais vendido do Brasil, superando a Folha de S. Paulo e O Globo. Segundo dadosdo Instituto Verificador de Circulação (IVC), o tablóide sensacionalista teve, em 2010, uma circulação média de295.701 exemplares.

70 O jornal Pampulha é um tablóide semanário distribuído gratuitamente em alguns bairros de Belo Horizonte. Apublicação tem conteúdo exclusivo da cidade de Belo Horizonte, mas com notícias mais leves, priorizando oentretenimento e bem-estar.

71 Ressalte-se que o primeiro turno do Campeonato Brasileiro Série A 2011 foi concluído em 28 de agosto,porém, como este estudo analisa os dias dos jogos, assim como o dia seguinte a rodada, a última data analisadafoi 29 de agosto de 2011.



40

Em virtude da análise quantitativa dos dados referentes a cada time apresentar valores

numéricos altos e haver diversos itens analisados, para facilitar a compreensão e a

comparação das informações, os resultados foram organizados em tabelas específicas.

4.2.1.1 Matérias publicadas72

A primeira tabela apresenta o número de matérias de América, Atlético e Cruzeiro que foram

publicadas nos jornais Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo73:

Tabela de Matérias

Estado de Minas Hoje em Dia O Tempo

Dia do Jogo Dia Seguinte Dia do Jogo Dia Seguinte Dia do Jogo Dia Seguinte

América 45 21 26 29 54 41

Atlético 46 31 36 35 57 51

Cruzeiro 49 34 34 34 61 52

Tendo em vista os dados apresentados pelas tabelas verifica-se um fluxo maior de notícias

sobre os times nos dias em que houve jogos. Também é possível constatar que o número de

matérias publicadas é bem equilibrado entre os três clubes, entretanto, não se pode dizer o

mesmo em relação aos jornais, uma vez que, observando a tabela, pode-se constatar que O

Tempo se destaca por ter veiculado mais notícias que o Estado de Minas e Hoje em Dia.

4.2.1.2 Espaço

O critério de espaço adotado neste estudo se refere à disponibilidade de páginas totais

destinadas aos noticiários de cada time mineiro que participa do Campeonato Brasileiro Série

A 2011 durante o primeiro turno do torneio. Entretanto, os dados estão em valores

aproximados para facilitar a compreensão, uma vez que há edições que publicaram matérias

que ocupam frações de página.

72 Para esta tabela, foram consideradas apenas notícias e notas. Colunas e reportagens especiais sobre outrascompetições não foram contabilizadas.

73 Há matérias que tratam especificamente dos jogos entre as equipes mineiras, os chamados clássicos. Destaforma, estas notícias foram computadas para as duas agremiações envolvidas. Por exemplo, se em determinado jornal foram publicadas cinco notícias sobre o jogo Atlético contra Cruzeiro, serão acrescidas cinco matériaspara ambos, independente do fato de ser no dia da partida ou no seguinte.



41

Tabela de Espaço

(valores aproximadosem páginas)



América 15 12 14 12 20 19Atlético 17 20 18 18 21 22

Cruzeiro 19 19 18 15 22 22

Ao observar a tabela acima, observa-se que o número de páginas destinadas para Cruzeiro e

Atlético em todos os jornais são superiores ao do América, porém, não é constatada uma

diferença tão grande assim, à exceção do Hoje em Dia, no qual o Coelho recebeu quatro

páginas a menos nos dias de jogos, em relação aos dois outros clubes, e seis a menos nos dias

seguintes em comparação com o Atlético.

Os números também apresentam uma característica que chama a atenção. Apenas em dois

momentos há mais espaço dedicado para notícias do dia seguinte às partidas, do que na data

do cotejo. E ambos ocorrem com o Galo: com os jornais Estado de Minas e O Tempo. O

principal motivo para que isso tenha ocorrido é o fato de que a equipe alvinegra teve mais

jogos isolados, ou seja, sem que Cruzeiro e América entrassem em campo no mesmo dia,

portanto, não tinha muita “concorrência” de espaço nos jornais com as outras agremiações.

4.2.1.3 Elementos gráficos

Na coleta de dados para o referido estudo, foram considerados elementos gráficos todas as

fotos, ilustrações, infográficos, boxes e olhos presentes nas matérias analisadas.

Entretanto, a fim de tornar a análise mais didática possível, tais elementos foram separados e

agrupados de acordo com suas semelhanças. Portanto, são apresentados três tipos de tabelas:

as de gravuras (fotografias e ilustrações), de gráficos (infográficos e boxes) e de olhos74.

74 Embora o olho gráfico seja um elemento semelhante ao box, decidiu-se deixá-lo separado por ser um item que,durante a coleta de dados, apareceu poucas vezes nos objetos de estudo.



42

Tabela de Gravuras




Cruzeiro 67 68 38 39 43 47

A partir da tabela acima, observa-se que não há muita diferença no número de gravuras em

matérias publicadas em dias de jogos e nos dias seguintes, além de haver certo equilíbrio entre

as equipes. Porém, mais uma vez, essa divisão já não é tão igual em relação aos jornais. O

Estado de Minas apresentou números bem superiores em comparação aos diários Hoje em Dia

e O Tempo.

Tabela de Gráficos



América 40 44 24 20 73 92

Atlético 47 66 29 30 71 90

Cruzeiro 53 62 25 24 82 89

Em relação aos gráficos, fica evidente o desequilíbrio de distribuição destes elementos entreas equipes. Enquanto Atlético e Cruzeiro apresentam, no Estado de Minas um número bem

superior ao América, no Hoje em Dia e no O Tempo não há grandes discrepâncias. Pelo

contrário, o Coelho, em O Tempo tem o maior número de gráficos em comparação aos outros

times, embora a diferença não seja tão superior como a evidenciada no Estado de Minas.

Entre os jornais, também é constatada uma variação grande no número de gráficos. O Hoje em

Dia demonstrou ser um veículo que utiliza muito pouco desse tipo de elemento, ao contráriodo O Tempo que usa em abundância. Isso fica claramente visível ao observar os números de

gráficos nas matérias do Atlético. O Tempo lançou mão deste recurso três vezes mais que o

Hoje em Dia no mesmo período de tempo.

Também deve-se ressaltar que o número de gráficos nos dias seguintes aos jogos é superior

aos das matérias publicadas nos dias das partidas. Isso é explicado devido ao fato de que os

jornais utilizam infográficos que avaliam o desempenho dos jogadores na rodada, o que sópode ser feito após a realização do cotejo.



43

Tabela de Olhos




Cruzeiro 5 9 17 12 0 0

A tabela acima demonstra que o recurso gráfico do olho é pouco explorado pelos jornais. À

primeira vista, chega-se até a conclusão de que o jornal O Tempo ignora solenemente tal

recurso, até por uma questão editorial. De fato, o veículo não utiliza o elemento do olho em

seu modelo clássico de diagramação, no meio da matéria, entre os textos. O que poderia ser

chamado de olho em tal diário é feito em boxes, por isso, foi computado na tabela Gráficos

neste estudo.

Enquanto isso, o Hoje em Dia é o jornal que mais utiliza o elemento do olho e há certo

equilíbrio de como ele é distribuído entre as equipes. O mesmo pode constatar no Estado de

Minas, embora o Atlético, em matérias publicadas nos dias seguintes às partidas, tenha um

número muito maior deste tipo de recurso em comparação ao América.

4.2.2 Os textos

Os dados apresentados nas tabelas da análise quantitativa ilustram bem o tratamento dos

veículos estudados ( Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo) a América, Atlético e

Cruzeiro durante o primeiro turno do campeonato. Entretanto, falta identificar como os

números se apresentam nas matérias do estudo.

Devido ao grande número de edições analisadas para esta pesquisa, apresentar a análise

qualitativa de cada uma delas torna-se completamente inviável e anti-didático. Portanto, para

facilitar a compreensão dos dados, será apresentado como os jornais publicam as notícias dos

times estudados, as peculiaridades destas matérias e as características da cobertura de cada

veículo, de uma forma mais generalizada.

4.2.2.1 A cobertura dos jornais



44

Cada jornal possui um padrão de apresentar a notícia em suas páginas, principalmente em

matérias publicadas nos dias seguintes aos jogos que, verificam-se em todos os veículos

estudados, as notícias principais são relativas às partidas disputadas na data anterior à

publicação, relatando os principais momentos dos confrontos.

O Estado de Minas, por exemplo, utiliza muitos elementos gráficos. Há sempre a presença de

dois boxes grandes que variam de localização na página dependendo do espaço destinado às

matérias. Mas, as informações seguem o mesmo padrão.

No primeiro box são divulgadas as notas, em números de 0 a 10, de avaliação das atuações

dos jogadores da equipe mineira em questão e uma breve justificativa pela razão da notaatribuída a cada atleta. Tal avaliação é feita pelo próprio autor da matéria que também julga a

atuação do árbitro e destaca um atleta da equipe adversária, sempre utilizando os mesmos

critérios aplicados anteriormente. Neste mesmo box, há também uma foto do principal

jogador do time de Belo Horizonte no confronto em ação.

O outro box possui, praticamente, um resumo das informações do jogo. Placar, escalação dos

times, trio de arbitragem, local de jogo, competição, quem fez os gols e em qual tempo forammarcados, quem levou cartão amarelo e/ou vermelho, público pagante e renda. Há também

uma foto do destaque do jogo e, ao lado, a justificativa do motivo de tal personagem ter sido

tão importante assim, e um pequeno infográfico que aponta um aspecto positivo e outro

negativo do confronto.

O veículo também utiliza muitas fotos que variam entre o preto-e-branco e as coloridas,

conforme a edição. Em sua maioria, as fotos ilustram momentos da partida, como um gol ou asua comemoração, ou então para um jogador que tenha se destacado positivo ou

negativamente. Mas sempre uma imagem condizente com o conteúdo da matéria, como é

possível perceber na edição do dia 23 de maio, no noticiário do América, em que a notícia

exalta os jogadores que entraram no segundo tempo e conseguiram virar a partida a favor do

Coelho, a foto principal é de um desses atletas comemorando seu tento.

Vale ressaltar, também, que na página, na parte inferior, há ainda um pequeno box que atenta

ao leitor que há mais informações no site do jornal referente à notícia.



45

A imagem seguinte permite a melhor visualização do exemplo citado:

Assim como no Estado de Minas, o O Tempo utiliza bastante elementos gráficos em suas

páginas e, inclusive, lança mão de recursos bem semelhantes ao seu concorrente, como os

boxes de avaliação das atuações dos atletas e o que informa os dados da partida de forma

objetiva.

Entretanto, as principais diferenças são que no primeiro quadro, há somente as notas dos

jogadores da equipe mineira e, ao invés de utilizar números, utiliza-se uma escala S/N (sem

nota), Ruim, Regular, Bom, e Ótimo. E quanto ao segundo box, as informações se limitam ao

placar, escalações dos times, a rodada, local, árbitro, quem fez o gol, quem recebeu cartão

amarelo e/ou vermelho, público pagante e renda.



46

As fotos também tentam retratar o que foi a partida, sendo coerente com a matéria a que está

relacionada. Na edição do dia 31 de julho, por exemplo, após o Cruzeiro perder a primeira

partida jogando em Sete Lagoas no campeonato, houve muitas críticas ao time, exceto ao

armador Montillo, considerado, pela imprensa e torcida, o único atleta capaz de conduzir a

equipe às vitórias. Portanto, a imagem mostra o jogador, sentado no gramado e a legenda com

o seguinte texto: “Solitário. Para torcida do Cruzeiro, apenas Montillo se salvou na derrota de

ontem para o Fogão” (OT, 31 de jul. 2011).75

Outra característica do veículo que o diferencia das outras publicações em suas edições após

os jogos é que é o único que contém mais de uma matéria, além da descritiva da partida.

Entretanto são notícias que estão sempre relacionadas. Na edição citada acima, por exemplo,há a repercussão do resultado da partida entre os atletas. “Jogadores procuram explicação” é o

título da matéria.

A imagem abaixo ilustra a análise do exemplo citado:

O jornal Hoje em Dia, por sua vez, investe mais em texto e fotos grandes do que infográficos,

ao contrário de seus concorrentes. Entretanto, é o veículo que mais utiliza o recurso do olho,

75 O TEMPO, 5.341. ed. Belo Horizonte, 31 de jul. 2011.



47

para destacar uma passagem mais importante do texto. Outro elemento utilizado é um box que

informa o placar do jogo, escalações das equipes, quem marcou os gols e quando foram feitos,

arbitragem, quem recebeu cartão amarelo e/ou vermelho, público pagante e renda.

Em algumas edições, há a inserção de um quadro com a tabela de classificação do

campeonato, como por exemplo, ocorre na edição do dia 17 de julho. Entretanto, não é um

padrão.

A utilização das fotos é semelhante ao dos outros jornais estudados. Porém, o Hoje em Dia

seleciona apenas uma imagem e cede grande espaço da página a ela. A edição citada acima,

mais uma vez é um exemplo. A reprodução ocupa praticamente metade da lauda, como podeser visto na imagem abaixo:



48

Vale ressaltar que tais características são mantidas nas edições publicadas nas datas dos jogos.

Entretanto, o foco das matérias está na preparação das equipes para a partida do dia, tanto dos

clubes mineiros, quanto dos adversários. Tanto o Estado de Minas e o Hoje em Dia

apresentam cobertura semelhante.

O primeiro apresenta um infográfico com as escalações dos times e destaca um atleta que, de

acordo com o autor da matéria, poderá ser o destaque do jogo. A figura abaixo permite uma

melhor visualização dos elementos:



49

O Hoje em Dia limita-se a um box que informa os prováveis jogadores que iniciarão a partida,

horário, local, arbitragem e em qual canal será transmitido o confronto, como pode ser visto

na imagem abaixo:



50

Já o O Tempo também apresenta essas mesmas características, mas possui um diferencial.

Sempre há, ao menos, um pequeno infográfico que informa algumas curiosidades sobre o

duelo entre as equipes, geralmente, em números. A imagem abaixo permite uma melhor

visualização do exemplo:

Por fim, no que se refere à análise dos jornais, constatou-se que nenhuma matéria das equipes

mineiras publicada nos veículos estudados foi feita por agência de notícias. Todas foramescritas pelos próprios repórteres dos meios de comunicação.



51

4.2.2.2 As matérias de América, Atlético e Cruzeiro

O América, por ser um clube de menor torcida e que há muitos anos não disputava a Série A

do Campeonato Brasileiro, teve suas matérias publicadas nos jornais Estado de Minas, Hoje

em Dia e O Tempo mais focadas na superação da equipe ao longo do campeonato.

Os títulos das notícias veiculadas no início do torneio demonstravam esperanças em um bom

desempenho do clube no torneio. Na edição do O Tempo, do dia 22 de maio (dia da estreia da

equipe mineira na competição), a matéria principal foi intitulada de “Coelho começa hoje

corrida com destino à Sul-Americana”, em que já visualiza uma projeção bastante otimista

para a campanha do time, já que a tendência de um clube recém-promovido à elite doCampeonato Brasileiro é de lutar contra o rebaixamento.

Após o primeiro jogo da equipe, que culminou na vitória por 2 a 1 contra o Bahia, de virada,

as matérias dos jornais continham textos bastante positivos e que confirmavam a projeção de

que, se o time não tinha condições de brigar pelo título ou por uma vaga na Copa

Libertadores, tinha, ao menos, boas perspectivas de terminar o campeonato em uma posição

intermediária na tabela de classificação.

Foi sofrido, mas o América conseguiu retornar à Série A do Campeonato Brasileiro damelhor forma possível: vencendo. Mesmo não apresentando o futebol com que a torcidasonha, chegou aos 2 a 1, [...] sobre o Bahia, ontem à noite, em Sete Lagoas, começando adisputa na parte de cima tabela – é o quinto colocado, À frente de equipes comoInternacional, Santos, Grêmio e Cruzeiro (EM, 23 de mai. 2011).76

Entretanto, o otimismo das publicações começou a mudar de tom com o seguimento das

partidas do campeonato. A equipe iniciou uma série de jogos sem ganhar, chegando a ocupar

a última posição do torneio – o time só voltaria a vencer no dia 7 de agosto, na 15ª rodada. A

edição do dia 1º de agosto do Hoje em Dia estampa na página principal do caderno de

esportes o título “Lanterna verde” (em alusão ao filme do super herói “Lanterna Verde” que

estreava nos cinemas na mesma época) e que continha em seu texto a sensação de desânimo

em relação ao futebol do Coelho: “Mas o América decepcionou de novo e seguiu em sua

rotina de fracassos, perdendo [para o Coritiba] por 3 a 1” (HD, 1º de ago. 2011)77.

76 ESTADO DE MINAS. 25.309. ed. Belo Horizonte, 23 de mai. 2011.

77 HOJE EM DIA. 8.286. ed. Belo Horizonte, 1º de ago. 2011.



52

Com o fraco desempenho do América no campeonato, as notícias nos dias dos jogos tinham

caráter de incentivar a equipe. Nas edições dos três jornais do dia 7 de agosto, isso ficou

evidente nos títulos das matérias. O Estado de Minas publicou “Mais do que hora de reagir”, a

manchete do Hoje em Dia foi “Givanildo [novo técnico do time] encara desafio de manter o

Coelho na Série A”, enquanto que o O Tempo estampou “Aposta no tabu para reagir”.

Essa esperança em uma reação não esteve presente apenas no texto. As fotos que ilustram as

matérias dão destaque para quem, na opinião dos jornalistas, poderiam ser os responsáveis em

tirar a equipe da situação em que se encontra no campeonato: o treinador Givanildo Oliveira,

que tem uma história vitoriosa no clube78; e o atacante Alessandro, principal artilheiro do time

no campeonato.

Entretanto, ao final do 1º turno, nem mesmo estes dois personagens inspiravam muita

confiança aos jornalistas que já publicavam matérias bastante pessimistas em relação ao

futuro da equipe, como a que foi veiculada no O Tempo, do dia 28 de agosto, intitulada de

“Coelho terá que vencer dez em 19”: uma projeção matemática para salvar a equipe do

rebaixamento bastante complicada, tendo em vista a irregularidade da campanha do time no

campeonato.

Nos últimos anos, o Atlético não conseguiu fazer boas campanhas no Campeonato Brasileiro

Série A. Desde 2003, quando o campeonato iniciou a fórmula de pontos corridos, a melhor

colocação que o Galo conseguiu atingir foi o 7º lugar (2003 e 2009). Nesse período,

entretanto, o time chegou a cair para a Série B (2005) e, desde que voltou à elite, convive com

a ameaça do rebaixamento ano a ano.

Em 2010, não foi diferente. Apesar de a equipe ter terminado em 13º, o time passou grande

parte do campeonato na zona de descenso, conseguindo se recuperar apenas na reta final do

torneio. Portanto, com este histórico, os jornais belo horizontinos estudados foram bem

cautelosos ao projetar o futuro do Atlético na Série A 2011. A edição do dia 21 de maio (data

da estreia do Galo na competição) do Estado de Minas intitulou a matéria do time de “A hora

da verdade”, comprovando essa desconfiança inicial.

78 O treinador conquistou os dois títulos nacionais do América na história: o Campeonato Brasileiro Série B de1997 e a Série C de 2009.



53

Entretanto, se a campanha da equipe era uma incógnita para os jornalistas, o mesmo não se

aplica para o trabalho realizado pelo treinador do time, na época, Dorival Júnior. Por ter sido

o responsável por livrar o clube do rebaixamento no ano anterior, o técnico recebeu o maior

destaque nos noticiários do Atlético. Isso é facilmente comprovado ao observar que, no dia 21

de maio, os três jornais publicaram suas matérias principais do noticiário do Galo com o foco

no treinador.

[...] Dorival Júnior encara hoje, diante do Atlético-PR, em Sete Lagoas, outro desafio àfrente da equipe alvinegra. Se no ano passado caiu nas graças da torcida ao ajudar o time aevitar o rebaixamento que parecia certo, agora precisa levá-lo a brigar pelo título dacompetição, conquistando, ao menos, vaga na Copa Libertadores do ano que vem (EM, 21de mai. 2011).79

Toda aquela desconfiança inicial em relação ao time antes de começar o campeonatotransformou-se em euforia dos jornais após a estreia. Com a vitória por 3 a 0, e uma qualidade

técnica bem apresentada na partida, as edições dos veículos no dia 22 de maio exaltaram o

desempenho atleticano e previram uma temporada de sucesso. O Estado de Minas intitulou

sua matéria de “A massa aprovou”, o Hoje em Dia escreveu “Galo arranca com goleada”, e o

O Tempo foi o mais eufórico, ao noticiar “Atlético tem início promissor”.

Apesar da boa estreia e do entusiasmo da imprensa, o Atlético demonstrou que os erros

cometidos no ano anterior se repetiriam em 2011. Depois da vitória sobre o Avaí, em

Florianópolis, pela 2ª rodada, a equipe só voltaria a vencer sete jogos depois. Sendo que neste

período, o Galo perdeu três partidas consecutivas por goleadas: 4 a 1 para o Flamengo, 4 a 0

para o Internacional e 3 a 0 para o Ceará. A situação da equipe estava bastante diferente

daquele clima de otimismo inicial.

Parece que não há luz no fim do túnel. A situação do Atlético se complica mais a cada dia

no Campeonato Brasileiro 2011. O time sofreu na noite de ontem a terceira goleada seguidae completou o sexto jogo consecutivo sem vitória na competição. [...] Com o placar, oalvinegro caiu para a 15ª colocação, com oito pontos, e está a um da zona de rebaixamento,fantasma que atormentou o time na temporada passada (HD, 7 de jul. 2011).80

A partir deste momento, ocorreu um fenômeno parecido com o que aconteceu nos noticiários

do América: um certo desânimo com a campanha da equipe. Após perder para o Figueirense,

em 6 de agosto, em Ipatinga, a edição do dia seguinte do Estado de Minas publicou a matéria

79 ESTADO DE MINAS, 25.307. ed. Belo Horizonte, 21 de mai. 2011.

80 HOJE EM DIA, 8.261. ed. Belo Horizonte, 7 de jul. 2011.



54

“Mais um fiasco. E agora, Dorival?”, em que, além de expor o sentimento de frustração da

torcida em relação ao futebol apresentado pelo Galo, o treinador Dorival Júnior, que no início

do campeonato era a esperança de trazer sucessos ao clube, já estava com seu trabalho

bastante contestado. “A situação de Dorival Júnior ficou insustentável no Atlético. Com

futebol medíocre, o time f oi derrotado pela oitava vez no Brasileiro [...]” (EM, 7 de ago.

2011)81.

Apesar da crise instalada no clube, e com a mudança de treinador, as notícias do Atlético

passaram a ter um tom de incentivo na recuperação, talvez pela própria mudança no comando

da equipe. A importância de vencer na competição, uma vez que o time já estava entre os

quatro últimos da classificação, pautava as notícias, como visto na edição de 17 de agosto do jornal O Tempo, cuja matéria principal foi intitulada de “Para não ficar só no discurso”.

Entretanto, a equipe não conseguiu se recuperar até o final do primeiro turno.

O Cruzeiro foi o vice-campeão do Campeonato Brasileiro Série A 2010. Além disso, o clube

conquistara o Campeonato Mineiro 2011 e vinha fazendo uma excelente campanha na Copa

Libertadores, que lhe garantiu o apelido de “Barcelona das Américas” 82. Por conseguinte, a

equipe celeste foi considerada pela imprensa como favorita a brigar pelo título do Brasileiro2011.

A estreia da Raposa aconteceu no dia 22 de maio, em Florianópolis, contra o recém-

promovido Figueirense, que ao contrário do time mineiro, teve um início de ano conturbado,

com a demissão do treinador e má campanha no estadual catarinense. Portanto, os jornais

Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo já estampavam em suas páginas textos bastante

confiantes em um bom resultado.

O atual campeão mineiro e vice nacional inicia hoje sua trajetória em mais um CampeonatoBrasileiro. Vencedor das edições de 1966 e 2003, o Cruzeiro começa a busca de seuterceiro caneco do torneio hoje, contra o Figueirense [...]. E a Raposa vai com a artilhariapesada para estrear com o pé direito (OT, 22 de mai. 2011).83

81 ESTADO DE MINAS, 25.385. ed. Belo Horizonte, 7 de ago. 2011.

82 Alusão à equipe espanhola do Barcelona que, na época, era considerada o melhor time do mundo por vencer

praticamente todos os seus jogos e campeonatos disputados exibindo um futebol agradável, de muita posse debola e dribles.

83 O TEMPO, 5.271. ed. Belo Horizonte, 22 de mai. 2011.



55

O trecho acima ilustra bem o sentimento positivo em relação à equipe. Porém, o resultado do

jogo não foi como a torcida e a imprensa esperavam. A derrota por 1 a 0, com um gol contra

após uma falha da defesa, causou muita surpresa, como pode ser visto nos títulos dos jornais

estudados. O Estado de Minas pôs em xeque o status do clube como favorito ao título com a

matéria intitulada “Sem DNA de campeão”; o Hoje em Dia foi mais objetivo com o título

“Cruzeiro tropeça no Figueirense”; enquanto que O Tempo traduziu o sentimento de

frustração com a estreia com a notícia “Cruzeiro decepciona no Sul”.

Apesar do mau começo, o resultado foi visto como uma espécie de “acidente de percurso”,

algo esporádico, uma fatalidade. Entretanto, as rodadas seguintes vieram a confirmar que a

temporada do Cruzeiro não seria só de glórias. A equipe ficou cinco jogos sem vencer, seposicionando na zona de rebaixamento. E as críticas da imprensa começaram a surgir,

principalmente na partida contra o Santos, em Sete Lagoas, em 11 de julho.

O confronto era visto como ideal para a equipe vencer, uma vez que o adversário estava

envolvido na disputa da final da Copa Libertadores e iria enfrentar o time mineiro com uma

equipe composta por jogadores considerados reservas. Porém, o jogo terminou empatado em

1 a 1. O Estado de Minas mais uma vez colocou em xeque a competência da Raposa com amatéria “Nem contra misto com 10”, exaltando que o Cruzeiro não foi capaz de vencer o

segundo escalão do time do Santos que, ainda por cima, jogou a partida com um jogador a

menos.

Os jornais já apontavam que uma crise havia sido instalada no clube. O técnico Cuca colocara

seu cargo à disposição e, após o empate em 1 a 1 no clássico contra o América, foi demitido.

O Cruzeiro só conquistaria sua primeira vitória no dia 25 de junho, contra o Cortiba, por 2 a1, já sob o comando do novo treinador Joel Santana, que conseguiu encetar uma série de três

vitórias consecutivas. A partir desta série de resultados, o discurso na imprensa começou a

mudar, apesar de haver algumas críticas em relação as exibições da equipe celeste.

O Cruzeiro sempre foi conhecido como um time clássico, de toque de bola e jogo bonito.No entanto, desde que assumiu o comando, Joel Santana tenta implantar um estilo diferentena Toca da Raposa. Agora, o que importa é o resultado. O resto é consequência e o torcedornão pode reclamar. Afinal, a nova filosofia tem surtido efeito: depois de um períodosombrio, já são três vitórias consecutivas e 100% de aproveitamento (HD, 7 de jul. 2011).84

84 HOJE EM DIA, 8.261. ed. Belo Horizonte, 7 de jul. 2011.



56

Além de o novo treinador ser elogiado, outro destaque nas notícias – e apontado como

fundamental para a recuperação do time -, foi o jogador Montillo. Tanto é que, nas edições

dos três jornais no dia 7 de agosto, dia seguinte à vitória frente ao Grêmio, todas as fotos e

títulos enalteciam a exibição do argentino.

Entretanto, o desempenho do Cruzeiro, que no início dos trabalhos de Joel Santana, parecia

que ia colocar a equipe na briga pelo título, tornou-se uma campanha bastante irregular.

Inclusive, o time teve uma série de quatro derrotas consecutivas. Portanto, as notícias do clube

cobram uma reação no campeonato.

Hoje pode ser um dia decisivo para se definir os objetivos do Cruzeiro na temporada 2011.Afinal, o time tem futebol para ainda sonhar com o título, ou vai somente brigar por umavaga na Copa Libertadores da América de 2012? [...]Joel Santana ainda não conseguiu dar um padrão de jogo ideal à equipe, que tem osciladomomentos de afirmação, e outros com derrotas inesperadas [...] (OT, 17 de ago. 2011)85

O trecho acima é de uma matéria ilustra bem a maneira como a imprensa pressionava um

desempenho melhor da agremiação. O título “Raposa tenta, enfim, embalar” também

demonstra que, ao contrário de América e Atlético, que também faziam campanhas ruins

neste momento do campeonato e que os jornalistas já os consideravam candidatos ao

rebaixamento, havia ainda esperança de que o Cruzeiro fosse melhorar de rendimento.

Em relação aos critérios de noticiabilidade, de acordo com os estudos do newsmaking

realizados por Wolf (1994), constatou-se que os jornais utilizam como principal

“valor/notícia” o interesse público. O futebol, por si só, é um assunto que atrai o povo

brasileiro, por ser considerada uma “paixão nacional”. Portanto, os veículos analisados

apresentam grande preocupação na apresentação das matérias relacionadas ao esporte, daí a

abundância de elementos gráficos (fotos, infográficos, boxes) que chamam a atenção do autor.

Além do interesse público, a expectativa de mercado é um critério que explica o motivo de

Atlético e Cruzeiro possuírem mais espaços nas publicações que o América. O fato dos dois

primeiros times terem maior número de torcedores induz aos meios de comunicação que

disponibilizem mais espaço para tais clubes, de forma a atrair mais leitores e anunciantes para

o jornal.

85 O TEMPO, 5.358. ed. Belo Horizonte, 17 de ago. 2011.



57

Por fim, a concorrência também é um ponto que influencia nos critérios de noticiabilidade.

Foi observado que as notícias nos jornais seguem o mesmo padrão, embora os veículos

possuam linhas editoriais específicas. Quando a edição é publicada no dia seguinte à partida,

todas as notícias descrevem o confronto. E quando o jogo é na data em que o jornal está

circulando, o foco das matérias está na preparação dos times.



58

CONCLUSÃO

O objetivo desta pesquisa acadêmica foi o de comparar as notícias de América, Atlético e

Cruzeiro publicadas em três jornais de grande circulação da capital mineira, Estado de Minas,

Hoje em Dia e O Tempo, para verificar como foi o tratamento destinado a estes clubes por

cada veículo durante o primeiro turno do Campeonato Brasileiro Série A 2011, analisando as

edições publicadas nas datas de realização das partidas e nos dias seguintes aos jogos.

A pesquisa é importante, no sentido de que a edição do torneio neste ano foi interessante para

o futebol mineiro, pois, desde 200886, não havia três times de Minas Gerais jogando na elite

do esporte nacional, e desde 200187, os três clubes de Belo Horizonte não disputavam acompetição. Ou seja, é uma oportunidade que há muitos anos não surgia para fazer a análise

que o referido estudo propõe.

Antes de iniciar a monografia, a expectativa principal era de encontrar uma grande diferença

na cobertura jornalística do América em relação a Atlético e Cruzeiro nos seguintes aspectos:

número de matérias por publicação, espaço destinado às notícias da equipe nas páginas do

veículo e textos que tratassem o clube como “time pequeno” e candidato ao rebaixamento.

Essa ideia foi baseada no fato de que o Coelho tem a menor torcida na capital, logo, não

justificaria que os jornais disponibilizassem grandes espaços para a cobertura da equipe.

Outro ponto é que o clube estava voltando à elite do futebol nacional após dez anos, sendo

que até três anos atrás, disputava a segunda divisão do campeonato estadual, o que gerou uma

queda na reputação da agremiação.

Entretanto, a primeira conclusão d este estudo é de que sim, há diferença de tratamento entre

América e os outros dois grandes de Belo Horizonte. Porém, não tão grande quanto o

esperado. De fato, o Coelho apresentou, em todos três jornais analisados, menor número de

notícias e menos espaço nas publicações. Mas não são números tão inferiores quando

comparados com os dados de Atlético e Cruzeiro. Até porque, não se justificaria haver uma

86 Neste ano, além de Atlético e Cruzeiro, o Ipatinga disputou pela primeira vez a competição, sendo rebaixadoà Série B no mesmo ano.

87 Última vez que o América disputou a elite da competição.



59

grande discrepância, uma vez que todas as agremiações disputavam o mesmo campeonato,

que é de extrema importância em nível nacional.

Quanto ao discurso do texto, não foi percebido nenhum menosprezo à equipe, pelo contrário,

mesmo nos momentos mais delicados, como quando o time ficou em último lugar na tabela de

classificação, as notícias sempre se mostraram otimistas e incentivavam a equipe.

Aliás, essa questão já entra na segunda conclusão. Foi observado que nas matérias de Atlético

e Cruzeiro há uma maior cobrança por melhores resultados e exibições por parte dos veículos

do que nas do América. Tal situação é consequência das expectativas que a mídia criou para

cada clube, como foi analisado no Capítulo 4.

Tanto o Galo quanto a Raposa iniciaram o campeonato sob pressão: o primeiro de fazer uma

campanha tranquila, diferente da temporada passada, e o segundo tinha a obrigação de

disputar o título. Como ambos contrariaram as previsões, as críticas surgiram. No caso do

América, acreditava-se que a equipe tinha condições de classificar-se para a Copa Sul

Americana, mas como acabara de ser promovido na Série B, era de se esperar muitas

dificuldades no torneio.

Entretanto, analisando de uma maneira mais geral as notícias de cada jornal, constatou-se que

há um padrão na forma de escrevê-las. Basicamente, há uma “receita de bolo”: dia de jogo,

matérias sobre a preparação das equipes; depois da partida, descrição de como foi o confronto

dos times.

Inclusive, esta é uma crítica que pode ser feita ao jornalismo esportivo atual: o marasmo dasnotícias. É raro encontrar matérias que não se encaixam nesse padrão citado acima que a

imprensa escrita segue. A sensação que o leitor tem é a de que leu a mesma coisa em

diferentes jornais. Portanto, cabe aqui fazer uma reflexão: o Brasil está prestes a receber dois

grandes eventos esportivos: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Será que não

está na hora de haver uma reformulação nas notícias da área? Buscar novas formas, novas

pautas, novos assuntos, de forma que o conteúdo continue atrativo ao consumidor?

Finalmente, o estudo alcançou o seu objetivo inicial. Há diferenças no tratamento, mas não de

forma tão desigual como se pensava antes. Motivos baseados no newsmaking são os



60

responsáveis para que haja a discrepância, ou seja, não é de forma aleatória. Entretanto, a

pesquisa também revela que o jornalismo esportivo está em uma espécie de uma zona de

conforto, na qual as notícias são repetidas nos veículos sem que haja a preocupação de

mostrar algo novo ao leitor.



61

REFERÊNCIAS

BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

BUENO, Wilson da Costa. Chutando pra fora: Os equívocos do jornalismo esportivobrasileiro. In: MARQUES, José Carlos (org). Comunicação e esportes: Tendências. SantaMaria, RS: Palloti, 2005.

COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2009a.(Coleção Comunicação)

COELHO, Paulo Vinicius. Bola Fora: A história do êxodo do futebol brasileiro. São Paulo:Panda Books, 2009b.

HELAL, Ronaldo. Passes e impasses: Futebol e cultura de massa no Brasil. Petrópolis, RJ:Vozes, 1997.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia

Cientifica. São Paulo: Editora Atlas, 2001.

MÁXIMO, João. Memórias do futebol brasileiro. Estudos avançados, São Paulo, v. 13, n. 37,p. 179-188, dez. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141999000300009&script=sci_arttext>. Acesso em: 11 de ago. 2011.

MÁXIMO, João. A poesia do jogo. 2010. Disponível em<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a-poesia-do-jogo>. Acesso em: 7 deset. 2011.

RODRIGUES, Marilita Aparecida Arantes. As raízes do futebol na capital mineira. Ciência &Conhecimento, Belo Horizonte, vol 2, n. 7, p. 163-191, mai. 2006. Disponível em:

<http://portaladm.estacio.br/media/1762191/edicao_7.pdf#page=165>. Acesso em: 10 de mar.2011.

RODRIGUES FILHO, Mário. O Negro no Futebol Brasileiro. 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad,2003.

STYCER, Maurício José. Jornalismo Esportivo: 110 anos sob pressão (Uma história deacusações de sensacionalismo, suborno, invenção de notícias e relações promíscuas comfontes e anunciantes). IN: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DACOMUNICAÇÃO, 30, 2007, Santos. Anais. Santos: Núcleo de Pesquisa ComunicaçãoCientífica, 2007.



62

VOGEL, Daisi Irmgard. Fábulas do Gol: a crônica esportiva de Nelson Rodrigues.Florianópolis: UFSC, 1997. Dissertação de Mestrado, Curso de Pós-Graduação em Letras,Universidade Federal de Santa Catarina, 1997. 100p.

WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. 3.ed.Lisboa: Editorial Presença, 1994.

Documents

FUTEBOL E PAIXÃO: Análise das notícias dos times de Belo Horizonte nos jornais Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo, no primeiro turno do Brasileirão 2011