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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Capítulo 1

Índia, 1817

Sob um céu incisivo, azul como as plumas do pavão, a cidade de Calcutá,calcinada pelo sol, estendia-se ao longo de um meandro do Rio Hooghly perfiladode palmeiras, como uma tapeçaria viva ou um delicioso xale de seda, queondeasse ao compasso de uma brisa carregada do aroma das especiarias.

Os bandos de pássaros revoavam em torno dos pináculos arredondados dosantigos templos hindus, e os fiéis, à entrada dos portões de tamanho sobrepostos,com túnicas com as cores vivas das flores, banhavam-se na escadaria de pedraque desaparecia nas águas.

O ruidoso mercado se estendia ao longo da nebulosa borda, em umatumultuosa confusão de postos e bancas dedicadas ao regateio que ofereciamtoda sorte de artigos, desde tapetes afegãos, até afrodisíacos preparados comchifre de rinoceronte.

Longe das povoadas bordas, o rio era um enxame de transações comerciais,típico da capital da Índia britânica.

O monopólio que a Companhia das Índias Orientais exercia há tempos foicancelado, era época de fazer fortuna, e águas turvas, ganho de pescadores.

Os mercados e os comerciantes instalados no cais carregavam produtosdestinados a mundos longínquos, em embarcações de plataforma redonda.

Entre tanto caos e exuberância, um veleiro de fundo plano atracava emsilêncio.

Um inglês alto e imponente, de mandíbula cinzelada e firme, estavadebruçado na amurada. Destacava entre a multidão por sua formidável estatura,seus olhos de lince, imóveis, e a discrição elegante de seu traje londrino, enquantoa suas costas os marinheiros sujos e descalços, se apressavam em jogar a âncorae recolher as velas, concentrados em suas tarefas.

O homem de olhos verdes e cabelo escuro, com traços sérios e aristocráticosescrutinava o panorama que oferecia o cais e vigiava com ar espectador, enquanto

refletia sobre sua missão...

Cada ano, no fim de setembro, quando minguavam as chuvas torrenciais damonção1, o céu se limpava e as revoltas águas das enchentes retrocediam,começava a mais sangrenta das estações, a temporada da guerra.

Os tambores soavam e os exércitos se concentravam a muitos quilômetrosde distância. Era o mês de outubro. O terreno começava a secar e, por sua dureza,logo estaria viável para as carruagens e as cargas de cavalaria. A matança era

1 Monção - vento periódico de ciclo anual, que sopra principalmente no Sudeste da Ásia,

alternativamente do mar para a terra e da terra para o mar, durante muitos meses. Na costabrasileira, sopra em direção ao norte de março a agosto, e para o sul nos outros meses do ano.

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iminente. A menos que pudesse impedi-lo.

Olhando para um lado, Ian Prescott, Marquês de Griffith, examinou asbarcaças próximas, com a segurança de quem sabe que o seguem. Nada novo sobo sol. Ainda não vira seu perseguidor, mas em sua profissão os homensdesenvolviam um sexto sentido sobre esses assuntos ou não viviam para contá-lo.De todos os modos, a situação não o preocupava. Era mais duro de cortar quequalquer outro Cortesão da época, o que já comprovaram, para sua desgraça,assassinos enviados por distintos Governos estrangeiros.

Escondido sob uma indumentária de confecção impecável levava umdiscreto arsenal, além disso, as potências coloniais que rivalizavam na região, nãopodiam assassinar um Diplomata de sua posição sem provocar um incidenteinternacional. Mesmo assim teria se encantado em saber quem o seguia.

— Será francês? — murmurou.

Os franceses tinham todos os pontos, como sempre, embora não pudesse

descartar aos holandeses, doídos pela perda recente do Ceilão para mãosbritânicas. Quanto aos portugueses, faziam valer sua presença em Goa. Semdúvida, os três países enviaram agentes para tentar averiguar o que tramavam osbritânicos.

Se, pelo contrário, fosse o Marajá de Janpur quem enviou o espião... Enfim,isso mudava as coisas e fazia que a situação fosse inabordável. Fosse quem fosse,se esse indivíduo quisesse matá-lo, já o teria tentado.

 Teria que andar com cuidado e decidir sobre a partida.

Quando a prancha chocou com as escadas de pedra que desciam até as

águas, Ian fez gestos ao trio de criados hindus que viajava com ele, jogou umaúltima olhada por cima do ombro e abandonou o navio.

Os passos terminantes de suas botas negras, que ocultavam sob a sola decouro, umas lâminas com mola incorporada, fizeram ressoar a passarela. Suabengala de punho de prata ocultava uma espada e, sob o sobretudo de umapagado verde oliva, levava presa ao peito, uma pistola carregada.

Subiu a escada seguido de seus criados e se deteve um instante ao chegarao alto. Frente ao abarrotado e buliçoso caldeirão que era o mercado, lamentounão ter tido tempo de se preparar, de informar-se em profundidade sobre oscostumes do país, como estava acostumado a fazer quando encomendavam uma

missão, entretanto, requereram seus serviços de forma súbita.Apesar de que fosse um qualificado especialista em dirigir delicadas

negociações como as que logo começariam, Ian nunca antes esteve na Índia.Recebeu a notificação de seu Governo quando estava descansando no Ceilão, jogado em uma praia de fina areia branca, e tentando a todo custo escapar dealguns demônios pessoais. Tratando de entender a sensação de vazio que vinhacrescendo no mais profundo dele nos últimos anos, deixando-o em um estado deisolamento, esterilidade e paralisia.

Ao não ter conseguido aliviar o sofrimento que ocultava cuidadosamente,aceitou de bom grado a missão de paliar a inquietação que se respirava no

Império Maratha2. Não obstante, até que se situasse e familiarizasse com este2 O Império Maratha foi um estado hindu localizado geograficamente na atual Índia, que existiu entre 1674 e 1820.

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com fio de prata e ouro, um algodão estampado mais fino que uma pluma,fabulosos tapetes de intrincada trama, brilhantes contas e animais de terracota,sandálias de couro, tintas e pigmentos, móveis estranhos de madeira de cipreste,estatuetas douradas de deusas de múltiplos braços e deuses de pele azulada.

À medida que entravam no mercado, Ian e seus criados eram sacudidos semconsideração alguma, por uma multidão tão variada como os artigos ali reunidos,para sua compra e venda.

Umas Senhoras hindus vestidas com as cores do arco íris e lenços de sedabrincavam, enquanto caminhavam acima e abaixo com o sorriso nos lábios,casadas levavam a marca de um distintivo ponto vermelho, o bindi6, na frente.Uns oficiais ingleses de uniforme passaram cavalgando escarranchado sobre unscavalos saltitantes, dignos de figurar na corrida da Gold Cup do Tattersalls. 

Monges budistas vestidos com túnicas de cor açafrão passeavam com a

cabeça raspada, os olhos amendoados e um sorriso radiante, como se carecessemde preocupações mundanas.

Era claro que os pacíficos Monges não tinham nem idéia de que sepreparava outra guerra. Um grupinho de muçulmanas cobertas de negro dos pés àcabeça se deteve a bisbilhotar no posto de um joalheiro. Uma delas levava seufilho pequeno pela mão, o menino, que ia comendo uma manga, arrancou um levesorriso de Ian, porque aparentava uns cinco anos, a mesma idade de seu filho.

Esqueceu a débil pontada que sentiu no peito e rebuscou entre asquinquilharias, para dar de presente algo ao seu herdeiro antes que a missãoiniciasse. Era um ritual que observava sempre, sem importar o lugar do mundoaonde seu trabalho o enviasse. Possivelmente mais tarde não daria tempo.Escolheu um elefante de madeira de teca e se aproximou do artesão.

— Koto?

Apesar de que nunca regateava a menos que dependesse disso o destinodas nações, aceitar sem protestos o primeiro preço estipulado teria sido um insultopara o comerciante. Por isso Ian, em sinal de respeito, regateou.

Ravi contemplava a cena, divertido.

Ultimada já a compra e depois de arrancar uma série de gargalhadasespontâneas ao tentar falar em bengali, o Lorde inglês entregou o brinquedo aoseu criado, fez um namastê7 ao lojista para se despedir e, encabeçando o grupo,seguiu percorrendo o mercado. Por fim alcançaram o outro extremo do mercado eo Marquês enviou Ravi para procurar uma carruagem para ir ao Grande HotelAkbar, que o Governador Geral Lorde Hastings, recomendou em uma amistosacarta que anexou ao comunicado que dava sua missão.

Ian enviou a um dos cules ao Palácio de Governo para informar sua chegadaa Lorde Hastings e comunicar que iria visitá-lo logo que se instalasse.

Esperaria instruções no hotel e, finalmente conseguiria conhecer os doisdistinguidos oficiais da cavalaria, que solicitou especialmente para que

6 Bindi é um apetrecho utilizado no centro da testa, próximo às sobrancelhas, na Ásia Meridional. Pode ser uma pequenaquantidade de tinta aplicada no local ou uma jóia7 Namastê é um cumprimento ou saudação falada no Sul da Ásia.

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colaborassem com ele em sua missão diplomática, Gabriel e Derek Knight.

Apesar de que ainda não fora apresentado a esse ramo do clã dos Knight,que deixou a Inglaterra, os vínculos existentes entre as duas poderosas famíliaseram sólidos.

Em Londres seu melhor amigo de infância e influente aliado político, era opatriarca desse clã, Robert Knight, Duque de Hawkscliffe, Hawk, como estavaacostumado a chamá-lo.

Gabriel e Derek eram primos irmãos de Hawk, do pau se tiram as lascas. Sepor acaso fosse pouco, os irmãos nasceram e se criaram na Índia, e conheciam oterreno e a sua gente melhor que ele.

Ian, ao manifestar sua preferência para que os selecionassem para estamissão, contribuíra para dar uma guinada a sua já por si brilhante trajetóriamilitar. Quanto a ele, se devia se introduzir em uma Corte estrangeira hostil queriarodear-se de homens nos que pudesse confiar.

Com a sensação de que alguém o observava e a certeza crescente de quevigiavam cada um de seus movimentos, o Marquês olhou para trás comnaturalidade esperando reconhecer o espião, em seu lugar, ficou paralisado dianteda visão estremecedora de um grande tigre de bengala enjaulado, quetransportavam através do mercado.

A jaula, suspensa em varas, descansava sobre os brônzeos ombros de aomenos oito transportadores. A criatura devia pesar mais de duzentos quilogramas.De caminho ao rio para embarcar à fera, provavelmente com destino à coleção deanimais selvagens de algum nobre europeu, a besta lançou um rugido queaterrorizou o grupo de transportadores com turbante e ficou dando patadas,através das barras de madeira de sua jaula.

Os cules gritaram, com pressas em se afastar, estiveram a ponto de deixarcair a jaula no chão. Entretanto, quando o supervisor comprovou que a estruturade madeira agüentaria sem problemas e lhes fez um gesto para que voltassempara trabalho, os homens estalaram em nervosas gargalhadas, ocuparam seuspostos com a devida precaução e, receosos, puseram os varais em seus ombros.

Ian observava a cena, fascinado pelo animal selvagem e, de certo modo,doído por seu destino. É claro que se ficasse livre destruiria tudo o queencontrasse no caminho.

Há bestas que é melhor que vivam enjauladas.Ele sabia de boa fonte.

— Sahib!

Ian se virou e viu que Ravi retornava correndo acompanhado de outro hindu,um lacaio de algum aristocrata, com um toucado branco e libré de cor lavanda.

Ravi assinalou uma luxuosa carruagem negra com quatro cavalos brancoscomo a neve, que esperava do outro lado da rua. Um cavalariço com libré idênticaa do lacaio sustentava a frente do guia.

— Sahib, este homem diz que lhe ordenaram vir recolhê-lo.

Ian observou o lacaio com cautela.

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— Você vem de parte do Governador?

— Não, Milorde — respondeu o criado com uma inclinação de cabeça — Meenviam da residência de Lorde Arthur Knight.

— De Lorde Arthur? — exclamou Ian, sabendo que se tratava do pai do

Derek e Gabriel.— Sim, Milorde. Faz quinze dias me ordenaram que viesse diariamente para

recolhê-lo. Disseram-me que desse isto.

O lacaio extraiu um papel de linho de cor crua que tinha dobrado no vistosocolete e entregou a Ian. A reação de suspeita do Marquês foi precipitada, porque anota estava selada, com um lacre de cera vermelha, no qual estamparam comfirmeza o emblema familiar dos Hawkscliffe. No instante em que viu seus traçossentiu um indício de alegria. Conhecia este brasão quase tão bem como o seupróprio. Possivelmente era um estranho em terras longínquas, mas essa visão tãofamiliar o fez retroceder ao passado e sentir-se como em casa.

Lorde Arthur era tio de Hawk e irmão mais novo do anterior Duque. Fora umtanto Bon vivant e farrista durante sua juventude, como estavam acostumados asê-los os filhos menores da nobreza, e também o parente favorito de todos osmoços, embora já fizesse trinta anos que partiu da Inglaterra, para fazer fortunana Companhia das Índias Orientais.

Ian prometera apresentar as saudações do ramo londrino da família Knight,ao descendente que fez raízes nestas paragens, mas não esperava se encontrarcom um compromisso social, antes de ter se instalado no hotel e de ocupar-se dospreparativos de sua missão. Em todo caso, e a falta de que Lorde Arthur tivesseido recebê-lo em pessoa, o emblema dos Hawkscliffe era a prova de que a históriado lacaio era verdadeira e não a ardilosa armadilha de um agente inimigo.

Por isso rompeu o selo e leu a carta.

“Querido Lorde Griffith:

Bem vindo à Índia! O melhor hotel de Calcutá não pode rivalizar com ahospitalidade do lar de um bom amigo, e como ouvi dizer que precisamente vocêé um membro da família da Inglaterra, rogo-lhe que venha a nossa casa o quantoantes e aceite ser nosso convidado. Procuraremos satisfazer todos seus desejos, para que se encontre cômodo entre nós.

Sinceramente sua, Georgiana Knight” 

  — Ora, Ora, Ora... — murmurou Ian — Georgiana.

A filha de Lorde Arthur.

Esforçou-se em afastar seus pensamentos dela. Tarefa nada fácil, tendo emconta que até a baía de Bengala circulavam intrigantes histórias sobre a jovemdama, não só sobre sua beleza, mas também sobre suas boas obras.

Apesar de que era uma das jovens mais cobiçadas da Sociedade britânica deCalcutá e que contava com inumeráveis amigos e mais pretendentes dos querecordava, a maior parte de sua considerável energia, parecia destinada às obras

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Umas chamas imponentes se erguiam para o céu azul. Um nauseabundoaroma de carne queimada remexeu seu estômago, mas isso não a deteria.

A vida de uma jovem, mais ainda, a vida de uma querida amiga dependia desua ação.

Os familiares do velho e estimado Balaram advertiram a presença deGeorgie. A maioria deles ainda se encontrava congregados ao redor da pirafunerária e, como se fosse um espetáculo, cumpriam com o duelo do respeitadoancião gemendo e gesticulando, mas alguns julgaram incômoda a incorporação da jovem ao grupo. Os hindus sabiam que os britânicos detestavam este rito sagrado,por isso Georgiana contava que alguns familiares de sua amiga tentassem detê-la.

A auto-imolação de uma viúva virtuosa e bela não só agradava aos deuses,mas sim era uma grande honra para sua família e a de seu marido. Queimar-seviva em um suicídio ritual só para honrar o nome de seu marido!

Georgie pensou que não existia um exemplo melhor para ilustrar tudo o que

de mau havia na instituição do matrimônio, inclusive em sua cultura.O homem tinha todo o poder. E, a verdade seja dita, apenas vendo como

tratavam às esposas no Oriente já bastava, para que qualquer mulher em seu são juízo fugisse do matrimônio como da peste.

Um impertinente aforismo extraído dos textos de sua famosa tia GeorgianaKnight, Duquesa de Hawkscliffe, cruzou pela mente, “Matrimônio é patrimônio”.Bem, pois esse dia não permitiria que, além disso, se convertesse em umacondenação a morte.

Nesse momento distinguiu sua querida e amável Lakshmi, em pé, junto à

fogueira, com seu vestido de noiva de seda vermelha bordado com fios de ouro epérolas. Essa beleza, com um cabelo negro como o azeviche, olhava o fogo comose refletisse sobre a agonia que sofreria, antes de cair no esquecimento. Absortaem seus pensamentos, e sem dúvida um pouco drogada com betel, a esposa dofalecido ainda não se dava conta da chegada de sua amiga britânica.

A égua branca, incomodada pela fumaça, encabritou-se quando Georgieordenou se deter ao lado do grupo funerário, a jovem obrigou com firmeza seusarreios a permanecer quieta e saltou da sela.

Os murmúrios foram desatando a seu passo quando a jovem se internouentre a multidão, com suas sandálias pisando decidida o pó a cada longo, mas

gracioso passo. As campainhas de prata que levava no tornozelo tilintaramlúgubres entre o cochicho.

 Todos sabiam que as duas jovens foram companheiras de brincadeirasdurante a infância e que Georgie estava mais interessada que qualquer de seuscompatriotas britânicos.

Por isso os parentes hindus pensaram que a jovem foi só se despedir pelaúltima vez. A família de Lakshmi gozava de uma boa posição econômica epertencia à casta dos brâmanes, equivalente à condição aristocrática do clã deGeorgie.

Deixaram-na passar. A jovem notou além da multidão a presença de Adley,que acabava de aparecer com grande estrépito, seguindo-a como de costume e

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— Seja valente, carinho. Seja valente para enfrentá-los e viver.

— Senhorita Knight, deveria partir — interrompeu o pai de Lakshmi — Já éhora. Apresse-se, Lakshmi, enquanto o fogo ainda é vivo.

Uma chuva de faíscas crepitou com violência e voou para Lakshmi formando

uma esteira de fogo, como se o velho Balaram alongasse a mão das profundezasígneas, tentando agarrar a pobre jovem e arrastá-la com ele a sua triste sina.Lakshmi desviou o olhar de seu Senhor e, de repente, olhou a Georgie com pâniconos olhos.

— Me ajude — sussurrou.

— Joga mais madeira ao fogo! — ordenou um dos parentes ao criado quetinha mais perto.

— Claro que a ajudarei — respondeu Georgie com o coração pulsando comforça — Por isso vim. Vem. Agarre-se ao meu braço. Vou tirá-la daqui.

“Antes que seus familiares obriguem a morrer, com seu consentimento ousem ele” pensou a jovem.

Uma coisa era pressioná-la para que cometesse este suicídio ritual, e outramuito diferente recorrer ao assassinato, jogando-a no fogo contra sua vontade.

Georgiana olhou ao redor com prudência, sabendo de que estavam emperigo.

— Tudo vai sair bem, prometo. Bem, é hora de partir — afirmou sustentandosua amiga com instinto protetor e afastando-a daquele inferno em chamas.

De repente, entre os familiares do falecido se elevou um clamor de protestoe todos praguejaram aos gritos às jovens, em poucos segundos as jovens se viramrodeadas por muitos rostos morenos encolerizados. Houve quem as agarrou porbraço para tentar separá-las.

— Deixem-na em paz! — gritou Georgie repartindo empurrões, conselho quepara os ouvidos dos nativos era de todo inaceitável.

O irmão do falecido se aproximou e agarrou Lakshmi por um braço,enquanto a repreendia em bengali, recordando seu sagrado dever e tentandoarrastá-la para o fogo, como se antes preferisse jogar as duas jovens às chamas,

que desonrar ao falecido patriarca da família.— Solte-a! — gritou Georgie empurrando o homem com o braço que ficava

livre, enquanto seguia agarrada com força a Lakshmi — Afaste-se dela! Nãodeixarei que a assassine!

— É uma ingrata! Não faça caso desta estrangeira intrometida! Filha, comose atreve a envergonhar assim a sua família?

— Pai, por favor! — choramingava Lakshmi lutando com seu pai, enquantoera sacudida de um lado para outro pelo estalo de violência que desatou ao seuredor.

Entretanto, quando os homens começaram a puxar com firmeza ambas as jovens para o fogo, o terror apareceu nos grandes olhos castanhos da viúva, que

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recuperou seu instinto de sobrevivência e lutou para se salvar.

Georgie custava respirar, mas se agarrou a sua amiga com ambos os braçose lançou uma olhada a suas costas.

— Adley!

— Estou aqui, Senhorita Knight! Resista, resista! Transcorreu só um par de minutos, toda uma eternidade, até que seu fiel

pretendente de aloirado cabelo, abriu espaço até elas montando um fino cavalocastrado de cor castanha e puxando as rédeas da égua branca de Georgie.

A altura dos animais e o impacto de seus cascos contra o chão obrigaram amultidão a se dispersar. De um empurrão, Georgie ajudou Lakshmi a montar atrásde Adley. E para indignação da família, a jovem hindu rodeou com seus braços afina cintura do inglês.

— Leve-a para casa! Parta! — apressou-o Georgie, mas Adley, ao ver a hostil

multidão, titubeou sem terminar de se decidir — Eu a seguirei!Georgiana deu uma palmada na garupa do cavalo para que ficasse em

movimento antes que as coisas piorassem. Em seguida, saltou no lombo de suaégua. O branco animal sacudiu a cabeça, então um dos parentes de Lakshmi seapoderou das rédeas para impedir sua fuga e começou a insultá-la, chamando-aintrometida, pagã e outros adjetivos menos amáveis. Mas, em última instância,usaram piores palavras para se referir a sua famosa tia, a desafiante Duquesarecebeu o apelido de “Raposa Hawkscliffe” pelos numerosos escândalos queprovocou. Entretanto, Georgie não iria se acovardar.

— Solte meu cavalo!

Começou a estreitar o cerco. À medida que aumentava seu temor, arespiração se fazia mais trabalhosa.

— Quer ir parar no fogo em seu lugar? — vociferava o enfurecido cunhado.

— Não me toque!

Enquanto se debatia entre os nativos, Georgiana ouviu os batimentosensurdecedores de seu coração, a respiração rouca de sua garganta e, como umrelâmpago, apareceu o que fazia tempo que esquecera o toque surdo do pânico.

Familiarizou-se com esse toque de pequena. Incapaz de inalar ar suficiente

para encher os pulmões, sobressaltou-a uma sensação de vertigem ao pensar quepoderia desmaiar e cair do cavalo e ir parar nas mãos da multidão encolerizada.De repente, um inglês de altura imponente irrompeu entre a multidão e afastoudela os parentes do falecido.

— Para trás! — rugiu brandindo apenas uma bengala para afastar os homense impedir de aproximar os outros.

Georgie abriu os olhos surpresa. A multidão retrocedeu diante das furiosasordens como se tivessem soltado um tigre no mercado. Quando recuperou oequilíbrio sobre a sela, Georgie lançou um atônito olhar ao magnífico intruso, a seumais de metro oitenta e três, detendo-se brevemente na amplitude de seus

ombros e o fino desenho de sua cintura.Entrando no grupo com apolínea elegância e a intensidade de uma caldeira

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fervendo, refinado até o brilho, o Cavalheiro se mostrava engomado e magnífico,do cabelo curto, liso e brilhante até as reluzentes botas negras. Quanto a suasólida e severa constituição, esse homem superava Adley e, além disso, carecia desua atordoada arrogância.

Georgie o reconheceu no ato não por causa de sua deliciosa roupa londrina,nem sequer porque fazia vários dias que a jovem aguardava sua chegada perto docais. Soube que se tratava de Lorde Griffith porque não estava apontando comuma arma as pessoas desarmadas.

Um homem dessa categoria não tinha nenhuma necessidade de fazê-lo.

O afamado Marquês fazia ornamento de maior poder com sua presença eseu olhar que outro qualquer com uma pistola.

Georgie o observou atemorizada. Parecia que seu ilustre convidado chegarafinalmente, e de primeiro instante ficou mais impressionada do que quisesseadmitir.

Ao fim de um momento Lorde Griffith começou a controlar o alvoroço semajuda de ninguém. Quis atrair a fúria da multidão para si para distrair os familiarese afastá-los da jovem, desse modo Georgiana dispôs de uns segundos paracompassar a respiração. Entretanto, era preciso que ambos saíssem dali.

A qualquer momento podia desencadear um estalo de violência.

O Diplomata a escrutinou com o olhar para se certificar que se encontravabem. Georgiana se esqueceu de expulsar o ar, sem importar a asma.

Santo céu, que agradável à vista resultava!

A jovem passou a vida adorando com orgulho aos seus dois queridos irmãose os rostos atraentes não estavam acostumados a impressioná-la. Agora bem, emmeio da refrega, a surpreendente beleza do Diplomata a fez piscar.

Alguns homens recuperaram a coragem e voltaram a se aproximar doMarquês, gritando em diversos dialetos com espírito belicoso e agitando os dedosdiante de seu rosto. A qualquer momento chegariam às mãos.

Ian se virou e lhes lançou um olhar de advertência. Seus olhos furiososaplacaram os ânimos durante uns segundos, mas, incomodados, os que rodeavamvoltaram a fazer todo o possível para sossegar o judicioso tom de voz com que oschamava à calma.

Georgie conseguiu manter quieto o cavalo e pode respirar profundamente,apesar de que o ar que inalou queimou seu peito. A jovem aproximou a égua doMarquês.

— Você deve ser Lorde Griffith, equivoco-me? — saudou-o querendoimprimir, quando menos, certa ligeireza as suas palavras.

Ian cruzou os olhos com a jovem entre surpreso e exasperado, e logo voltoua vigiar a multidão com desconfiança. Apesar de si mesmo, a dura linha de seuslábios se truncou e esboçou um sorriso taciturno.

— Senhorita Georgiana Knight.

— Em carne e osso — respondeu ela tossindo.

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— Recebi sua nota.

— Importa se saímos discretamente?

— Por mim, encantado.

Ian deu as costas à multidão brevemente e, de um salto, encarapitou-se na

garupa da égua, como um consumado cavaleiro. Suas mãos, grandes earistocráticas, ocultas em luvas de pele de pelica, roçaram sua cintura.

— Será melhor que eu agarre as rédeas.

Georgiana deixou escapar uma risada zombeteira. Homens!

— O cavalo é meu e você não conhece o caminho. Agarre-se bem.

Separando-se de um tranco um dos cunhados de Lakshmi, Georgieconseguiu que a égua desse meia volta.

Finalmente o poderoso cavalo escapou da multidão e, cavalgando diante de

seu novo aliado, resguardada por um robusto muro de quentes e masculinosmúsculos que cobriam suas costas, Georgiana saiu rapidamente em direção a suacasa.

Capítulo 2

Diabo! No que o meteu essa amalucada garota?

Ian foi à Índia para impedir uma guerra sangrenta, não para começá-la.

Entretanto, o Marquês Griffith não era um homem que perdesse os nervos. Jamais. Mostrar as emoções era coisa de camponeses. Apelando para suaconsiderável reserva de inquebrável paciência, Ian apertou a mandíbula e senegou a pronunciar uma só palavra.

De momento.

Ao ser um autêntico Cavalheiro, além de um acostumado Diplomata que

dominava os aspectos protocolares, em geral tratava às damas com a cortesia dequem as tem em um pedestal imaculado, e como essa jovem era membro dafamília Knight, sentia-se impelido a mostrar maior consideração para ela.

Não era fácil. Sobretudo porque passou por sua cabeça torcer seu belopescoço por ter colocado a si mesmo, e a sua missão, em perigo.

Resultava inconcebível que o tivesse obrigado a interromper um malditofuneral, e rogava para que entre os congregados não houvesse ninguém, comquem logo tivesse que tratar questões diplomáticas. Quanto a ela, que demôniospretendia percorrendo as ruas de Calcutá lançada como uma possessa?

Falaria com seu pai desse assunto. É claro. Pensou com acritude que não sedirigiria à jovem, mas sim manifestaria sua inconformidade aos homens de suafamília. Duvidava que Lorde Arthur estivesse a par da travessura que cometeu sua

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filha nesse dia, mas isso não o desculpava. A garota quase conseguiu que aassassem viva.

Era inconcebível que seu pai e seus irmãos não a vigiassem mais de perto.Acaso não sabiam que, como sobrinha da Raposa Hawkscliffe, necessitava que aatassem curto, mais que qualquer outra jovenzinha impulsiva? Este ramo dafamília Knight brincava com fogo, deixando que Georgiana atuasse por sua conta.

Contudo, sua formação e inclinação natural fazia ver as coisas de diferentesperspectivas. E, sem dúvida, depois de ter observado a valentia que a jovemmostrou junto à pira funerária e comprovado em pessoa que o resgate foi umaquestão de vida ou morte, não podia culpá-la de nada.

Essa jovem acabava de salvar uma vida.

Nunca vira uma mulher se arriscar tanto por alguém. Na realidade, adesconfiança com que contemplou essa nova Georgiana, se esfumou quase quetotalmente.

Por outro lado, ele era apenas um convidado. Seria desacatado exortar à jovem ou seu pai, por muito que tivesse gostado de fazê-lo, e considerando o fatode que cavalgar junto à deliciosa criatura provocasse pensamentos libidinosos,pouco ficava por dizer.

Deus bendito! Os quadris dessa mulher se balançaram apertados junto a suavirilha, enquanto contornava sua esbelta cintura com as mãos. Seu contatodespertou um furioso desejo nele a partir dos primeiros duzentos metros.

As longas pernas de Georgiana roçavam suas coxas como uma provocação,podia sentir as sutis flexões de suas panturrilhas ao dirigir o cavalo. E isso bastava

para enlouquecer um homem. Tentou fazer caso omisso. Desejar a virginal filha de seu anfitrião era, sem

lugar a dúvidas, o cúmulo da má educação.

Em um dado momento, Georgiana tossiu, com um som breve, rouco e seco,e seu instinto protetor voltou a ressurgir no ato.

Franzindo o cenho, Ian se deu conta de repente de que a jovem tinha certadificuldade para respirar. E ao escutar com maior atenção, ouviu o ruído de suadolorosa inspiração e notou a tensa rigidez dos músculos de suas costas. Umacareta de preocupação aflorou em seu rosto.

Separando de sua mente a desaprovação e a luxúria, Ian a segurou comfirmeza pela cintura.

— A fumaça afetou os pulmões.

— Não... Estou bem... De verdade.

Georgiana tentou sufocar um novo ataque de tosse, enquanto Ian seamaldiçoava por sua lascívia.

— Querida menina, você mente muito mal. Explique-me o que acontece —ordenou com um tom hesitante.

— Só é... Um pouco de asma. Passa-me desde que era menina. Normalmentenão é comum me dar, mas a fumaça...

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— Necessita um médico?

— Não, obrigado.

Georgiana dedicou um olhar de agradecimento por cima do ombro e logotitubeou.

—Quando chegar a casa, usarei um remédio que aprendi e que é muito útil.— Bem, vamos rápido.

Ian sussurrou que não tentasse falar, agarrou as rédeas com suavidade, semtolerar nenhuma só discussão e deixou que a jovem mostrasse o caminho,centrado por completo em levá-la a um lugar seguro onde recebesse os devidoscuidados.

Georgie sentiu alívio e gratidão no momento em que Lorde Griffith apareceu,e logo se dedicou a saborear com dissimulado prazer o modo em que, cavalgandoem seus arreios, o magnífico corpo do Marquês a agasalhou com zelo protetor.

Entretanto, quando se viu obrigada a entregar as rédeas, o triunfo de terresgatado Lakshmi embargou. Apesar de que não discutiu com ele nessa ocasião,sua delicada maneira de se apoderar do controle da situação trouxe para suamemória a primeira imagem que fez desse indivíduo, antes que irrompesse emcena e agisse com tanta galhardia junto ao fogo, em resumo, contemplou-o comsão cepticismo.

Evidentemente sabia que todos consideravam o Marquês Griffith umaespécie de modelo, um homem justo e de uma integridade irrepreensível.

Desde que recebeu uma carta dirigida a papai em que o Diplomata

anunciava sua iminente chegada, Georgiana se moveu pela Sociedade, para reunirtoda a informação possível, ou as fofocas que pudesse, sobre seu reputadoconvidado londrino.

Em sua qualidade de Diplomata superior, perito negociador do Ministério deAssuntos Exteriores e amigo particular do Ministro, Lorde Castlereagh, LordeGriffith evitou guerras e intermediou um ou outro cessar fogo, negociou tratados eliberações de reféns, e enfrentou poderosos ávidos de poder, com um destemidosangue frio e um férreo autocontrole, conforme se comentava.

Sempre que estava a ponto de estalar algum conflito em qualquer parte domundo, o Ministério de Assuntos Exteriores enviava Lorde Griffith, para que lidasse

com a situação.Como mulher que abraçava a ancestral filosofia hindu do jainismo, que

propugnava a não violência e a igualdade social, Georgie não podia evitarrespeitar um homem, cuja principal missão na vida era impedir que os sereshumanos se matassem entre si.

De todos os modos, tinha suas dúvidas a respeito. Não existia ninguém tãobondoso. Os místicos orientais ensinavam que a luz que irradia um indivíduo ématizada por sua sombra.

Além disso, tornou-se um tanto cética depois de comprovar que todos osDiplomatas, políticos e administradores que Londres enviava para ajudar oGoverno da Índia, aceitavam o encargo por um motivo fundamental, o ouro. Tãologo desembarcavam, já estavam brigando para encher os bolsos e levar o nível

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Agarrando uma ponta de seu etéreo sari de seda avançou com um mágicotinido de campainhas.

Ian a observou entrecerrando as pálpebras e sentindo-se um pouco comoUlisses quando, longe de seu lar, viu-se atraído para a morada de Circe. Os poetasantigos coincidem em assinalar que desejar uma feiticeira é extremamenteimprudente.

Se convertesse alguém em uma salamandra, seguramente teria merecido.Não obstante, Ian a seguiu. Antes de entrar, jogou um último e calculado olhadapor cima do ombro. Com sorte, sua fuga precipitada do mercado, possivelmenteconseguira despistar quem o seguia. Entrecerrando os olhos por causa do sol, Ianescrutinou a verde e extensa esplanada que havia do outro lado da rua e o campode manobras que rodeava o forte William. A nebulosa umidade suavizava osacusados ângulos da imponente fortaleza octogonal.

Escrutinou seus vizinhos e não viu nenhum suspeito. No momento, e

felizmente, parecia que os parentes do falecido tampouco os seguiram. A seguircruzou a soleira atrás de Georgiana.

No interior da moradia reinava o caos entre o serviço porque tinha chegadouma jovem hindu, com o Cavalheiro que Ian viu fugir da cremação a cavalo. Supôsque o jovem teria acompanhado à jovem ao piso superior para que se recuperassedo mau transe.

Enquanto isso, um grupo de criados nativos de todas as condições corriampara cima e para baixo presos do pânico, sem ordem e harmonia, alarmados eescandalizados possivelmente pelo desenvolvimento dos acontecimentos.Rodearam sua Senhora tão logo ela cruzou a porta e começaram a falar de uma

vez. Os diálogos em bengali, pronunciados à velocidade do relâmpago, resultarammuito rápidos para ele compreendê-los.

Ian aguardou uns segundos, mas não apareceram nem o pai nem os irmãosde Georgiana, por isso, enquanto a jovem tentava responder a todas as perguntase tranqüilizar os temores dos criados em sua própria língua, para passar a darinstruções com serenidade, Ian tomou ciência no assunto e assegurou a casa, sepor acaso a enfurecida multidão fosse atrás deles.

 Trancou a porta principal e percorreu todos os aposentos da planta baixa,fechando portas e janelas. Desconcertou-o comprovar que a decoração interior separecia como a de qualquer cômoda residência de Londres, apesar de seu

fantasioso exterior. A única diferença era que havia muitas jardineiras de pedra,com exuberantes plantas tropicais por todos os lados.

Quando fechou todas as portas e janelas e espiou o exterior de diversospontos da casa, para comprovar que ninguém se aproximava, Ian retornou aovestíbulo principal satisfeito de que, ao menos, tomaram mínimas precauções.

Georgiana terminara de conversar com seu angustiado pessoal. Virou-se e oolhou um pouco surpresa, como se estivesse perguntando por seu paradeiro.

Ian, sem deixar de estudar seu semblante, aproximou-se dela e a pegou pelocotovelo para conduzi-la com suavidade para a cadeira mais próxima.

— Como estão seus pulmões?

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O ligeiro rubor que apareceu em suas faces o desconcertou. Não parecia quefosse das que se ruborizam.

— Disso, nem pensar, Senhor, o prazer é meu — ela espetou com um tommundano — Você é o famoso.

— Tolices. Quer que a espere aqui enquanto vai ver seus amigos? —perguntou Ian assinalando o sofá que tinha ao lado.

— Não precisa. Irei um pouco mais tarde. Meus criados estão cuidando deles.

— Bem — assentiu Ian, e afastou a vista ao notar um silêncio claramenteincômodo, silêncio que, temia, denotava que ela era plenamente consciente de tê-lo cativado.

Sem dúvida não era homem para ficar boquiaberto e com a línguapendurada diante da presença de uma mulher formosa, mas... Essa tinha algoespecial.

Decidiu mudar de assunto e perguntou.— Quando espera que cheguem seus irmãos?

Ian deu por certo que Gabriel e Derek Knight estariam com sua guarnição oupossivelmente aguardando-o no Palácio de Governo. Desejou que não seimportassem de seu breve encontro com a jovem e, além disso, semacompanhante. Não obstante, por que se importariam? Ian era um amigo deconfiança da família, de uma reputação irrepreensível, por dizê-lo de algum modo,e tampouco ia passar nada mau.

“Embora... que pena!”  

Esses formosos lábios da cor das rosas pediam que os beijassem, mas nãovalia a pena correr o risco.

Georgiana não era uma viúva mundana, nenhuma Cortesã, a não ser uma jovem casadoura. Paquerar com ela conduziria o que menos desejava nestemundo, outra esposa.

Entretanto, quando Georgiana passou a ponta da língua pelos lábios depoisde tomar um gole de limonada, Ian teve que reprimir um violento estremecimento.

Esses desejos proibidos estavam desrespeitosos. A jovem herdara o famosoatrativo de sua escandalosa tia. Nada mais. Ian desviou o olhar.

— E seus irmãos?Georgiana também parecia ter perdido o fio.

— Ah... Oh... Tampouco estão em casa. Sinto muito.

E o obsequiou com um sorriso repentino das que cortam o fôlego.

—Terá que conformar-se comigo, temo-me.

Ian ficou olhando-a.

— É uma pena — murmurou enquanto tentava não pensar em tudo o quepoderia fazer com ela antes que seus irmãos retornassem de sua jornada

trabalhista. Ian olhou seu copo — Possivelmente você deveria mandar procurá-los,para fazer as apresentações aqui mesmo, em lugar do Palácio do Governo. Desse

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modo terá a todos à mão se essa turba decidir vir aqui.

— Ah, não se preocupe com os familiares de Balaram. Nunca se atreveriam aenfrentar minha família. Além disso, a guarnição está do outro lado da rua e amaioria dos oficiais prometeu aos meus irmãos que cuidarão de mim.

Ian dedicou um olhar inquisitivo.— Derek e Gabriel não estão no Palácio de Governo — admitiu Georgiana.

— Ah, não?

— Não.

A jovem, lentamente, fez um gesto de negação e sustentou o olhar. Logoficou direita.

—Meus irmãos estão no norte, a mais de trezentos quilômetros de distância,com seu regimento.

— O que?— Quer que mostre seus aposentos? Meus criados prepararam uns

aposentos muito agradáveis, para que se encontre cômodo durante sua estadia.Caso deseje descansar um pouco antes de...

— Espere um momento! — Ian deixou o copo de limonada e levou uma mãoà cintura — Está me dizendo, Senhorita Knight, que sua família não está em casa,que seus irmãos tampouco estão e que, em resumo, você vive sozinha?

— Bem... Eu não diria isso, a verdade. Está Purnima, claro, e Gita, e todo oserviço...

O retumbante suspiro de Ian a deixou sem palavras. O Diplomata se virou epassou a mão pelo cabelo tentando acalmar-se.

“Maldita seja, uma e mil vezes!” Eu deveria ter imaginado. Para sorte paraela, o Marquês não era um homem que perdesse os nervos. Ao contrário, arranhoua sobrancelha, respirou fundo e disse.

— Muito bem, o que vamos fazer para reconduzir esta situação? Talvez àLady Hastings ocorressem um par de coisas.

— O que quer dizer? — perguntou Georgiana franzindo seu delicado cenho —Não há nada que reconduzir.

— Você não pode viver aqui sozinha! — ele espetou com brutalidade — Nãosei em que diabo estaria pensando sua família, e tampouco me interessa saber.Sobretudo agora.

— Já disse que o clã de Balaram não é nenhum perigo, e, além disso, nãoestou sozinha. Conto com você! — exclamou Georgiana com uma alegre emboraforçado sorriso.

“Ao menos está ficando nervosa” 

Pensou Lorde Griffith com aspereza, sem poder reprimir um gesto dedesaprovação. Isso significava que a jovem devia ter alguma ligeira noção de que

o que propunha, passar a noite com ela e além disso, sozinhos, era umainconveniência. Um escândalo. O que se podia esperar da sobrinha da Raposa

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devia estar louco.

— Meena sabia que o fato de que meus irmãos estivessem em Janpur, seriaum estímulo acrescentado ao que não poderia resistir. A pobrezinha se sentemuito sozinha, tão longe de casa...

Georgiana deixou de falar. Parecia preocupada com sua amiga. É claro, Ian já vira aonde era capaz de chegar essa mulher para salvar a um ser querido.

— Meena pensou que seria divertido surpreender meus irmãos em Janpur —disse a jovem dando de ombros.

— Se não me acredita, posso trazer a carta...

— Não é necessário.

O Marquês se deteve e se cocou a sobrancelha de novo, absorto em seuspensamentos.

— Senhorita Knight, devo realçar que é muito importante que sejamosdiscretos nesta questão. Deve compreender que muitas vidas, milhares de vidas,estão em jogo, incluindo as de seus irmãos... E a minha. Não fale disto comninguém, porque poderia por em perigo a missão. Vim garantir a paz entre nós e Janpur, mas existem outras potências na Índia que quereriam que fracassasse.

— Nunca poria em perigo a causa da paz, Lorde Griffith. Como já comenteiantes, nem disse, nem o direi a ninguém.

— Bem. Procure que seja assim.

“Céus, para ser um Diplomata este homem é um grosseiro!”  pensouGeorgie.

Nesse preciso instante o som de uma carruagem que se aproximava chamoua atenção. Olhou pela janela e viu que seu lacaio chegara com os criados e abagagem de Lorde Griffith. Tentando conter a irritação, Georgiana se virou paraseu hóspede com o melhor de seus sorrisos.

— Ah, chegam suas coisas! Mostrarei seu aposento. Agora que jásolucionamos nossas diferenças fique e considere esta casa como seu próprio...

Lorde Griffith a interrompeu rindo de indignação.

— Sua persistência é digna de louvor, querida jovenzinha, mas não ficarei demaneira nenhuma. Seria uma falta de consideração da minha parte, como você

bem sabe.— Mas Purnima está em casa...

— De verdade acredita que a presença de sua aia bastará para parar osfalatórios dos vizinhos? — interrompeu-a — Querida, eu não me dedico a arruinar areputação das jovenzinhas.

— Você não vai arruinar nada! — protestou Georgiana — Ai, por que temosque nos tratar com tanta cerimônia? Quase somos da família.

— Mas não o somos — argumentou Ian apenas com um murmúrio — O certoé que não o somos.

Georgiana sentiu um nó no estômago ao captar a insinuação que ocultavam

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suas palavras.

— Pode ser que não o sejamos — admitiu a anfitriã aproximando-se dele —mas Lorde Griffith... Confio em você — Com a cabeça encurvada, contemplou-oatravés de suas longas pestanas —Todos sabem que você goza de uma reputaçãoirrepreensível.

Ian estalou em uma gargalhada.

— É a sua reputação que me preocupa.

— Ninguém tem por que sabê-lo — quis convencer a jovem — Além disso, sóserá uma noite... E logo sairemos para Janpur.

— Não! — exclamou ele retrocedendo — Não vai viajar comigo, Georgiana!

A jovem arqueou as sobrancelhas ao ouvir que a chamava por seu primeironome, inclusive ele pareceu surpreso de que tivesse escapado com tantaespontaneidade.

“Bem, é possível que leve a gravata menos engomada do que parece” ,pensou ela com um leve sorriso malicioso.

— Perdoe... Senhorita Knight — ele retificou com um tom entrecortadovoltando para as formalidades — A questão é que não é um bom momento para asvisitas. Por outro lado, é muito perigoso. E falando de perigos, pode mandarrecado ao oficial? Esperam-me no Palácio de Governo, mas ficarei com você atéque o oficial envie seus homens, como medida de segurança, se por acaso essagente enfurecida decide se apresentar em sua casa. Francamente, fiqueiestupefato de que seus irmãos a tenham deixado desprotegida...

— Oh, não. Não fariam isso jamais — exclamou Georgie batendo palmas.Imediatamente, uma dúzia de cipayos armados e vestidos com turbante,

casacas vermelhas, calças negras e botas de montar entraram em passoacelerado no vestíbulo e se detiveram em formação, com um brilho de aço.

Com um ruído seco, golpearam em uníssono no chão a culatra de seusmosquetes com a baioneta. Quando o Sargento ao mando se quadrou diante dela,Georgiana respondeu com uma inclinação de cabeça e olhou orgulhosa para LordeGriffith. Não pode evitar desfrutar um pouco.

— Não é verdade que impressionam?

Seu irmão Gabriel, um dos homens mais temidos da Índia, tinha-os treinadoem pessoa.

O Marquês examinou aos guarda-costas sem concessões.

— Posso perguntar por que não considerou pertinente levar estes homenscom você à... Digamos... Fogueira, Senhorita Knight?

— É claro. Se os parentes de Lakshmi me tivessem visto chegaracompanhada de tantos guarda-costas, em seguida teriam imaginado o quepretendia e não poderia me aproximar deles para salvá-la.

— Ah, claro... — concluiu Lorde Griffith com certa ironia — Bem, como

parece que tem tudo controlado, me despeço de você.— Oh, não se vá... — rogou a jovem.

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O Marquês não fez caso de seus rogos e fez um gesto de negação.

— Senhorita Knight — se despediu o Marquês com uma reverência, antes dedar meia volta e abandonar o salão.

Georgie sentiu uma pontada nos pulmões ao ver que o teimoso Marquês

partia e afogou um grito de indignação.Maldição! Ah, o que pouco a conhecia se pensava que ia se libertar dela com

tanta facilidade! Georgiana apertou os punhos e saiu atrás dele.

— Lorde Griffith!

Encontrou-o no caminho de entrada, dando instruções aos seus três criados,para que voltassem a por a bagagem no teto da carruagem, depois de dizer aolacaio que não se alojaria na casa.

— Lorde Griffith! — voltou a chamá-lo Georgie, enfurecida ao comprovar quenão respondia.

A jovem notou a queimação no peito, mas não quis levar a sério. Deteve-see, de pura indignação, levou-se as mãos à cintura.

— Não estava pedindo permissão!

O Marquês parou em seco e, lentamente, olhou-a por cima do ombro, comuns olhos sombrios que não pressagiavam nada bom. Georgie tragou saliva diantede seu perturbador olhar e elevou o queixo.

— Minha amiga me convidou para visitá-la em seu novo lar. Você não podeme deter. Irei a... — Georgiana calou para não anunciar seu destino publicamente— Irei ali, com você ou sem você. Por isso acredito que seria preferível que

viajássemos juntos. É mais seguro para ambos.Ian a olhou sem pronunciar uma só palavra. Georgie notou uma opressão na

garganta. Entretanto, manteve-se firme diante da extraordinária visão dessemagnífico exemplar de homem, virando em redondo e retornando ofendido pelocaminho.

A jovem pulsava com força o coração.

Lorde Griffith era tão alto que quando se deteve uns centímetros dela,Georgiana teve que inclinar a cabeça para trás para manter seu gélido olhar, masmesmo assim se negou a aceitar que seu silêncio ou sua altura a intimidassem.

— Meena me necessita, e se for ter outra estúpida guerra, quero ver meusirmãos, antes que saiam correndo à frente para lutar. Poderiam morrer. Alémdisso... — Georgiana se endireitou para olhar na face — Você não tem nenhumdireito de me dizer o que devo fazer.

Durante um bom momento, o Marquês ficou olhando impassível a jovem,medindo-a. Seu silêncio tirou Georgiana do sério. Finalmente, ele acessou com umgesto de assentimento.

— Muito bem — disse com suavidade.

Seus olhos eram inescrutáveis.

— Se isso for o que acredita... Espere em casa. Manterei você informada.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

—Querida, não chore — disse Georgiana aproximando-se da mesa.

Pôs uma mão no ombro, inclinou-se e a olhou com ar de gravidade tentandoencontrar as palavras adequadas, para controlar seu pranto.

— Por que chora? Deveria se alegrar. Está livre!

Lakshmi assuou o nariz e, com os olhos avermelhados, adotou umaexpressão dúbia.

— Não vê a fantástica oportunidade que se apresenta? — disse Georgiesentando-se diante dela e tentando transmitir seu entusiasmo à jovem, por terconseguido mudar o rumo de sua vida.

— Agora poderá fazer o que quiser. Pode trocar de nome, ter uma novaidentidade...

— Ai, Gigi, sempre foi uma herege.

— E dai? — replicou Georgiana esboçando um sorriso — Se obedecessetodas e cada uma das normas, você e eu nunca teríamos sido amigas. Olhe isto aajudará a ser mais valente. Serve-me.

Georgiana colocou a mão no bolso com um gesto quase furtivo e tirou suaposse mais apreciada, o livrinho que levava a todas as partes consigo, como sefosse um talismã. Reconfortava o mero feito de passar o dedo pelas imprecisasletras douradas, de sua gasta capa de pele de gamo. Era o Ensaio sobre os direitosnaturais do sexo fraco, por Georgiana Knight, oitava Duquesa de Hawkscliffe, asobras completas de sua escandalosa tia.

— Tome — disse Georgiana oferecendo o livro a Lakshmi — Vamos, pegue-o.

Dará a você... Uma nova perspectiva das coisas.Lakshmi não fez gesto de pegar o livro e ficou olhando-o com precaução.

Georgie esperou, consciente de que fazia três anos, desde o dia que secasou com Balaram, que Lakshmi não tocava um livro, como correspondia àsregras implícitas do purdah. Os hindus tradicionais tinham a superstição de que seuma mulher casada lia um livro, seu marido morreria. E então, claro está, aesposa deveria reunir-se com ele por meio do sati.

Georgie imaginava o que a tia Georgiana haveria dito a respeito, embora,conforme entendera, a Duquesa nunca viajara a um país onde as esposas viviamenclausuradas em haréns, como se fossem jóias que algum homem rico

colecionasse. É mais, pelo que alcançava, provavelmente à Duquesa não teriaimportado dispor de um harém de homens.

De sua parte, Georgie considerava que a norma que proibia os livros no purdah, era uma ferramenta muito efetiva, para manter as mulheres sumidas emuma conveniente ignorância. Uma mulher ingênua era muito mais fácil decontrolar. Esse incomodado pensamento a reafirmou em sua determinação deblindar seus sentimentos e não se apaixonar jamais, não terminar ela tambémsujeita ao poder implacável de um homem.

Devagar, com cautela, Lakshmi aceitou o livro que Georgiana oferecia.

— Bem... Agora já não poderia matá-lo — comentou a hindu com um tímidosorriso.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

— Me acalmar? — gritou Georgie — Não vou tolerar! Quem ele acredita queé? Não tem nenhum direito de me reter aqui contra minha vontade! Fez-meprisioneira em minha própria casa!

— Impôs-lhe o purdah — comentou Lakshmi quase para si mesma.

Georgie virou para ela, com os olhos totalmente abertos, serena.— Tem razão.

“Por cima de meu cadáver. Que homem horrível!” 

— O que vamos fazer? — perguntou Lakshmi desesperada — Agora nãopoderemos ir ver Meena.

— Sim, claro que iremos — assegurou Georgie — Esse homem não temnenhum poder sobre mim, e nunca terá.

— Mas como escaparemos?

— Bem... Ainda não pensei nisso — admitiu Georgiana olhando pela janelaque dava ao noroeste — mas não se preocupe Lakshmi. Já me ocorrerá algo.

Nesse momento o soldado que estava de serviço abaixo da janela deu unspassos e ficou ao alcance de sua vista. Começou a ronda olhando a direita eesquerda, patrulhando com uma expressão de suma gravidade.

Georgie aguçou a vista para estudar atentamente a face bem barbeada, quese destacava sob a sombra projetada pelo quepe e um sorriso aflorou em seuslábios, reconhecera um de seus admiradores.

 Tommy Gray.

Possivelmente o jovem Sargento notou que o olhavam, porque levantou avista para a janela que Georgiana apareceu.

A jovem desdobrou todos seus encantos femininos e saudou Tommylanguidamente, com um coquete gesto da mão.

O Sargento tirou o quepe e, riscando um arco no ar, devolveu a saudaçãosorrindo de orelha a orelha. Que doce! E que tolo! Os homens eram uns imbecisque precisavam demonstrar seu poder. Não valia a pena perder tempo com eles.

— Não se preocupe Lakshmi — assegurou a sua amiga sem deixar de sorrircom doçura, apoiando o queixo na palma da mão e fingindo admirar Tommy da

 janela — Acredita que vou permitir que um Marquês arrogante se interponha emmeu caminho? Nem pense! Meu pai não me educou para isto.

 

Nessa noite, Amir Firoz Jilyi se descalçou e entrou com andar furtivo e passosinuoso no templo de Kali, iluminado à luz das velas. Pela tarde esteve garoando eas últimas rabadas da monção, povoavam a escuridão de um ar úmido, que traziarumores secretos.

Uma vez comprovado com satisfação que o inglês passaria a noite noaposento de seu hotel, Firoz aproveitou essa fugaz oportunidade e foi apresentarseus respeitos à deusa que reverenciava. Sem afastar a vista da imponente

imagem que destacava ao fundo de um elevado espaço em sombras, o hindupenetrou no templo.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Os sacrifícios de animais terminaram ao anoitecer e, portanto, perdera osritos, mas quando o sacerdote foi saudá-lo, entregou de todos os modos, umavolumosa bolsa cheia de ouro, todo o arrecadado pelas fadigas suportadas em seunome. O ancião tocou a fronte para benzê-lo e Firoz inclinou a cabeça.

Quando o sacerdote foi guardar o importante donativo em um lugar seguro,Firoz se prostrou de joelhos diante do enorme ídolo e fez uma reverência. A seguirlevantou a vista devagar e, com a cabeça encurvada, escrutinou sua malignaforma, com crescente horror, sentindo que ainda arrepiava os cabelos, inclusivedepois de tantos anos.

Era monstruosa. Kali, a deusa da destruição.

Era a noite absoluta, a Mãe da Escuridão, o fim do tempo... Um pesadelo.Morte, medo e dor.

E para servi-la, obrigou-se a se familiarizar com as três coisas. Para ser dignode adorá-la.

O caminho era duro e solitário, mas poucos como ele alcançavamcompreender sua importância. Não teria que esquecer que sem o terror que adeusa inspirava e sem o que ela representava, o bom e leve que havia no mundonão teriam nenhum sentido.

Kali estava quase nua, com o corpo pintado de negro e o comprido cabelo deébano embaraçado, após ter dançado a dança da morte. Levava um colar decaveiras humanas e uma saia feita com braços cortados de homens. Seus olhosrefulgiam com sede de sangue e estirava uma língua de ouro, como se fossedevorar o mundo. Com cada um de seus quatro braços sustentavarespectivamente, uma espada ensangüentada, uma cabeça decapitada, o poderde vencer o medo e o segredo da bênção.

Firoz se perguntou quantas vítimas mais teria que sacrificar antes quedesvelasse o segredo. O certo era que gozava do favor da deusa. Inclusive seusirmãos de culto, os thug, tinham ciúmes. Ciúmes e medo. Agora bem, nenhumdeles servia à deusa tão sem piedade como ele, nem com tanta habilidade.

A deusa velava tanto por ele que as autoridades britânicas não conseguiamapanhá-lo, e embora tenha matado centenas de pessoas, Firoz seguia gozando deimunidade diante da lei hindu. Kali o protegia enviando mensagens continuamentepor meio de sinais e augúrios, essa noite, o grasnar do corvo indicou que chegara

o momento de ir rezar em seu grande templo.Recolheu-se para orar e a chamou por seus numerosos nomes com ummurmúrio fervoroso: Devi, Bhavani e, é claro, Mãe Kali, de onde provinha o nomede Calcutá.

A selvagem consorte de Shiva.

Kali era única que Firoz possuía, a única que conhecia desde a noite em queseus pais foram assassinados em seu nome, fazia muito tempo. Sua família viajavapelos caminhos, quando os assaltou um bando de thug. Firoz era um menino ecomo a irmandade se recusava matar meninos, não o eliminaram.

Quando seus pais foram devolvidos à terra, os mesmos homens que ossacrificaram, educaram e iniciaram o menino nos caminhos secretos da deusa.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

 Transcorrera uma semana e o Diplomata se encontrava negociando nosuntuoso salão do trono do Marajá de Janpur.

Com serena autoridade e fria determinação, Lorde Griffith dedicou um olharacerado aos reunidos na sala. Nem por um instante esqueceu o frágil equilíbrioque pendiam inumeráveis vidas. Sempre tinha vidas em perigo em sua profissão.

Consciente de que acabava de brindar a última oportunidade de impedir aguerra que se avizinhava ou, ao menos, de cortá-la antes que soasse o primeirodisparo, escolheu suas palavras com supremo cuidado.

— Lealdade — sentenciou com sua firme e cultivada voz, que ressonou sob oteto abobadado — é o que subjaz no fundo da controvérsia, Majestade.

Os Vizires, embelezados com turbantes e túnicas, deixaram de murmurarpara prestar atenção. Apesar de que os intérpretes estavam preparados paraintervir, os britânicos levavam bastante tempo na Índia e a maioria dos nobreshindus conhecia o inglês.

Diante dele, acomodado em um trono de almofadões, o formidável soberano Johar, Marajá de Janpur, acariciava a negra barba e escutava com avidez.

Vestido com esplendor oriental, o Monarca levava um colete solto e semmangas, de um rico brocado, que chegava à altura do joelho e, debaixo, umatúnica branca de manga longa rodeada com um cinturão e meias de seda brancas. Tinha preso uma safira do tamanho de um ovo no turbante que, além disso, eraadornado com um penacho de plumas de pavão, uma prerrogativa da realeza.

Atrás dele, formados por altura, colocaram-se vários ajudantes vestidos denegro e alguns ferozes guardas do Palácio. Eles sustentavam a chatri adornada

com franjas, ou sombrinha cerimoniosa, e outros abanavam lentamente SuaMajestade, com umas grandiosas plumas de pavão.

Ao seu lado, seu filho Shahu, o Príncipe herdeiro da Coroa, se esparramavaem um trono menor, com expressão aborrecida e insatisfeita, como se preferisseestar caçando nos espessos bosques circundantes, com seus falcões reais e seuexército de aduladores.

— Durante centenas de anos as seis casas reais do Império Maratha fizeramfrente ao invasor, graças a um sagrado juramento de sangue de mútua defesa —disse Ian se levantando da longa mesa de teca que ocupavam os membros de suadelegação, escolhidos pelo Marquês — Ao largo e ao longo destas terras todos

sabem, que se algum dos Reinos é atacado, outros reunirão seus exércitos e irãoem defesa do assediado. É invejável que existam neste mundo amigos tãoincondicionais.

Lorde Griffith contribuíra com amigos próprios à negociação. Gabriel e DerekKnight estavam sentados à mesa, com o resto dos membros de sua equipe, umbonito grandalhão escocês, o Major MacDonald, e o velho e viperino CoronelMontrose, o militar de maior posição do grupo. Os quatro homens observavamatentamente Ian, que caminhava devagar pelo branco chão de mármore e davaum novo giro ao seu discurso.

— O que aconteceria se um destes Marajás irmãos abusasse do alto sentido

da lealdade dos Marathas? O que ocorreria se cometesse um grave erro de julgamento, e escolhesse iniciar uma guerra que só está justificada por razões

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próprias? É justo que outros estejam obrigados a ir em sua ajuda, quando apenasele agiu que maneira irresponsável?

Detendo-se em um dos extremos da sala, o Marquês deu a volta e olhou aCorte com simplicidade.

— Padecerão vocês as privações da guerra e seus soldados cairão feridos, sópelos delírios vãos de seu grande aliado Baji Rao?

— Delírios? — o Príncipe herdeiro ficou em pé de um salto — Como se atrevea falar de meu tio com esta falta de respeito, inglês de...?

— Sente-se! — espetou Johar, que não pode reprimir um gesto deimpaciência pela apaixonada saída de tom de seu filho — Rogamos que sejapaciente com nosso filho, Lorde Griffith. Tem muito que aprender sobre como setratam os assuntos de Estado.

Ian fez uma reverência, absolutamente contrariado, a não ser, na realidade,dissimulando um sorriso mundano. Aos olhos de um Diplomata, essetemperamento era sinal de debilidade. O Príncipe Shahu fechou a boca e obedeceua seu pai com olhos furiosos. Precedido de um brilho de seus compridos pingentesde ouro, afastou de repente a chamativa túnica e, caminhando com sapatos deponta levantada, no que seria a versão oriental de um dandy londrino, retornou aoseu assento.

— Possivelmente Sua Alteza deseja que eu esclareça a natureza exata denosso conflito com Baji Rao — Ian ofereceu explicar com gelado aprumo.

— É claro! — ameaçou o jovem.

— Será um prazer.

O Marquês se aproximou da longa mesa e tomou o mapa que Derek Knightoferecia.

— Oculta nas montanhas dos territórios de sua família, está se consolidandouma colônia de criminosos. É a horda dos  pindari, um grupo de malfeitores,dejetos humanos, turba da pior índole, assassinos, violadores e ladrões. Cada anoos  pindari descem de seus redutos na montanha, arrasando e atacando porsurpresa os territórios próximos e depois queimam tudo aquilo que não podemroubar. Só no ano passado destruíram quatrocentos povoados, de soberaniabritânica ou hindu. Este mapa indica seus movimentos. Os povoados marcadoscom um X já não existem.

Aproximou-se dos dois tronos, enquanto ia desenrolando o mapa.

— Uma vez satisfeita sua necessidade de saque, os  pindari retornam aosesconderijos nas montanhas... E se preparam para o seguinte ataque. Nossosserviços de inteligência nos informaram que os delinqüentes, desfrutam de umavida tão tranqüila e cômoda na segurança do refúgio que Baji Rao lhes garante,que seu número aumentou para cinqüenta mil.

Um murmúrio de estupefação se elevou na sala da durbar, ao conhecer aquantidade de bandidos.

— Trinta mil homens montados, vinte mil a pé... E não cessam de adquirirartilharia pesada. Parece que estão preparando um exército, não é verdade? Umexército de bárbaros, que não obedece a nenhum código de conduta e não

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perdido o fio da conversa.

A Corte estava alvoroçada. Inclusive Johar fazia gestos a um Ministro paraque se aproximasse e conversava com ele em voz baixa, utilizando a pausa paracomentar a proposta de neutralidade.

Ian ocultou o mal estar que causou a intromissão e, deixando-os quemurmurassem com tranqüilidade, aproximou-se de novo da mesa para tomar umgole de água, enquanto trocava uns olhares de estoicismo com os irmãos Knight.Nenhum deles precisava expressar com palavras o desagrado que produzia oinesperado parêntese, que sabotara uns preliminares extremamente delicados.

De repente, o Príncipe Shahu retornou correndo.

— Pai, chega uma caravana... E parece um Cortejo real! Vêm vinte soldadosa cavalo, criados, músicos e muitos camelos carregados de presentes... E umaPrincesa montada em um elefante!

— Uma Princesa? — perguntou Johar levantando do trono e franzindo ocenho, enquanto o jovem voltava a sair a toda pressa.

Ian piscou diante da primeira idéia que veio à cabeça.

“Não... não é possível! — tirou essa possibilidade da mente — É impossível.” 

— Esperava visitas Sua Majestade? — perguntou Lorde Griffith com estudadacalma e à defensiva.

— Não.

O rosto do Marajá se crispou diante da sombra de uma dúvida. Olhou Ian, eIan devolveu o olhar cético.

— A situação é atípica — comentou o Diplomata com olhos de suspeita.

Não teria surpreendido que aquilo fosse uma astúcia dos Cortesãos de BajiRao.

— Mmm... — murmurou o Marajá como se ele também suspeitasse que obritânico estivesse consciente.

Irritado pela interrupção e pela possibilidade de que estivessem tramandoalguma maldade, Ian franziu o cenho. Talvez os Conselheiros reais tivessem algumdiabólico ás escondido sob a manga.

— Com sua permissão, Sire, eu gostaria que me concedesse uns momentospara avaliar a situação.

 Johar o despachou com um gesto da mão, para indicar que fizesse o quequisesse.

Ian se inclinou diante do Marajá estudando com cautela seus anfitriões, saiuda sala e se dirigiu à muralha açoitada pelos ventos, para ver essa “Princesa real” com seus próprios olhos.

Apesar de que ainda não divisara à mulher, já cruzara pela mente a idéia deretorcer seu pescoço. Sempre que se enredavam as coisas havia uma mulher pelomeio! Princípio tão infalível, segundo sua própria experiência, como as leis do

movimento de Newton.

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matrona vestida de negro e de certa idade, a aia.

E a última a apear, a “Princesa”  dos véus, saiu ao fim da howdah cominfinita graça.

Ver para acreditar.

No momento em que Georgiana apareceu diante de sua vista, a mais suavebrisa teria empurrado muralha abaixo. Sem lugar a dúvidas se tratava dela, ainconfundível Georgiana, com seu passo etéreo e diáfano, seguro e firme, com oesbelto perfil de suas femininas curvas, tão elegantes como a silhueta de um líriode água.

Um sári de seda tingido de claros tons rosáceos e da intensa tonalidade darosa envolvia sua magra figura, e Ian conteve o fôlego sem saber se tinha ouvidoou apenas imaginado o tinido, sempre tão sutil, das campainhas de prata que amulher usava no tornozelo.

Ficou olhando-a, sem dar crédito a sua audácia, e se sentiu atraído para elade um modo irresistível, quase mágico.

A jovem feiticeira o tinha encantado. Ian a observava sem piscar, comreservada fascinação. Um pouco mais atrás, o Príncipe Shahu parecia ser vítimados mesmos sintomas.

— Ah, é uma apsara — disse suspirando.

Uma criada celestial. O jovem Príncipe guerreiro babava.

A luxúria que Shahu não se esforçou em ocultar tirou Ian de seu estupor. ODiplomata olhou o Príncipe com inquietação.

O lacaio vestido com a libré da casa de Georgiana se apressou a cobri-la comuma sombrinha, para protegê-la do sol, mas a jovem entregou uma parte de papele, com delicados gestos, como a bailarina de um templo, enviou-o à entrada. Asdamas que a acompanhavam, incluindo a de maior idade, ficaram atrás dela.

Ian viu que o lacaio se aproximava correndo dos portões e, através dorestelo, entregava o papel a um guarda.

Enquanto o papelzinho iniciava sua rápida viagem fortaleza acima, Ian supôsque se tratava de seu cartão de visita e diversos e apressados pajens forampassando-o de mão em mão, Georgiana elevou a vista como se tivesse notado quea observavam.

Quando olhou para cima, seus olhos, perfilados com teatralidade deixaramIan estupefato. Os tinha pintado com Kohl, à maneira das damas hindus.Acentuando a cor negra de sua magnífica cabeleira, o Kohl realçava seu sedutor eexótico atrativo. Levava com desenvoltura um lenço transparente na cabeça, cujoextremo mais comprido pendurava de um lado, flutuando languidamente com abrisa.

Ian a olhou e, nesse momento, sentiu um desejo tão intenso como nuncasentira por outra mulher. Entretanto, o olhar frio que adivinhou nos olhos dela ofez retrair-se.

Georgiana escrutinou as ameias até que divisou o Marajá, que acabava desair para ver por si mesmo o que estava acontecendo. Johar a contemplou com

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agrado e esboçou em sua enrugada tez um sorriso prazeroso, cálido e masculino,a que se dedica a uma mulher formosa.

A jovem uniu as mãos e inclinou a cabeça saudando sua Majestade com umgracioso namastê. Johar tinha reputação de mulherengo, o que não erasurpreendente, porque em seu harém contava com trinta esposas e uma centenade concubinas, entretanto, Ian ficou assombrado ao perceber em si mesmo umareação interna, violenta e inexplicável, no momento em que o Monarca devolveu asaudação.

— Vá procurar a minha pérola — ordenou ao seu criado com uma voz graveque denotava que estava se divertindo.

A seguir fez um gesto ao guarda que tinha mais perto.

— Que entre! — e sem mais, Sua Majestade entrou no Palácio.

Ian voltou a olhar Georgiana e apertou as mandíbulas. Aquilo não pintavanada bem.

O Príncipe a queria. O Marajá a queria. Ele a queria. E, sem dúvida, tambéma quereriam os pindari.

Maldição! Como diabo se livrou dos guardas?

— O que acontece? — perguntaram Derek e Gabriel Knight, que acabavamde sair para ver o que acontecia.

Ian lhes dedicou um olhar sardônico.

Os irmãos Knight viram à jovem e, de repente, começaram a destrambelharda imprecações.

— Não posso acreditar! É Georgie! — Derek levou os dedos aos lábios elançou um assobio agudo, enquanto Gabriel a saudava com a mão.

— Georgiana! Griffith vamos procurá-la. Importa-se?

— Sim, desculpe-nos? — perguntou Derek voltando-se para ele sorridente —De todos os modos, parece que a reunião já terminou.

— Sim, misteriosamente.

— Podemos ir vê-la?

— É claro.

Ian contou a eles que a conheceu em Calcutá, embora economizasse ospormenores da confusão que sua irmã se colocou. Pensou que os detalhes de suaintromissão na sati podiam esperar até que concluísse a negociação. Esperara emvão, que todos pudessem se concentrar na tarefa que traziam em mãos. Uma idéiaabsurda.

— Não se preocupe, asseguraremos de que não se meta em problemas —prometeu Gabriel.

— Muito bem — respondeu Ian com um leve sorriso.

Os dois irmãos foram correndo saudá-la, enquanto as grandes portas de

 Janpur se abriam devagar com um rangido.Só então, quando apresentou seus respeitos ao Marajá e saudou

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calorosamente de longe seus irmãos, Georgiana se dignou a cruzar os olhos comIan. Dedicou-lhe um olhar acerado, luminoso como o relâmpago, desafiante ecolérico.

Essa garota traria problemas.

Ian a olhou enfurecido, plantou as mãos sobre a muralha e, com a cabeça,esboçou um lento gesto de condenação, como assegurando a essa jovem eencantadora diabinha, que conheceria o alcance de sua ira.

Capítulo 4

“A salvo finalmente.”  

Georgie suspirou, e a ligeira e sedosa gaze que cobria os lábios revoou no ar.

Fazia dois dias que chegaram rumores de outros viajantes do caminho, quediziam que viram vários membros da horda dos  pindari rondando pelos arredores.Por sorte, seu séquito chegou a Janpur sem sofrer percalço algum.

Enquanto os descomunais portões rangiam abrindo-se diante deles,Georgiana notou seus criados incomodados, sensação que ela tambémcompartilhava, mas aguardou com expressão serena e aparência tranqüila, atéque os guardas Marathas fizeram gestos para que entrassem.

A jovem fez um gesto para seu fiel lacaio e este, por sua vez, indicou à

caravana que se colocasse em marcha. A jovem preferiu não subir de novo noelefante que alugou, mas sim seguiu caminhando e encabeçou a pé a via de honrada fortaleza. A longa e estreita passagem aberta discorria em suave pendenteentre os enormes blocos de pedra, que formavam suas elevadas e austerasparedes e seu gentil chão.

Umas estátuas colossais situadas a cada noventa metros se erguiam deambos os lados. Viram gigantescas deidades e leões rampantes do deserto,mostrando as presas e as garras, mas o que mais infundiu respeito foram unsdescomunais casais de elefantes de guerra, esculpidos em pedra que, com atromba erguida, formavam uns arcos sob os quais deviam passar os visitantes.

A via cerimoniosa se desenhou para intimidar os que entravam no Palácio, eembora Georgie começasse a se sentir insignificante, entrou na fortaleza Marathaà cabeça de seu séquito, sem que falhasse o passo. A carcomia certaintranqüilidade, mas não queria que Lorde Griffith se desse conta.

Depois de transpor um arco que sustentava outros elefantes de pedracalcária, cada um com um lótus na tromba, viram que o passadiço desembocavaem uma enorme praça central, que bulia de atividade. Nesse ponto o pessoaldoméstico do Marajá se ocupou de atendê-los.

Os animais de Georgie, junto com seus tratadores, tomaram a mesma

direção, uns bamboleando-se para os estábulos de elefantes, outros para osestábulos destinados a camelos e cavalos.

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Salvo a criada e sua aia, o resto do serviço, lacaios e culis, cipaios e músicos,tomaram outro caminho, que conduzia aos seus aposentos, depois do templopiramidal de Shiva e a colossal jaula de ferro forjado, com frondosas árvores emseu interior, que era a morada dos tigres do Marajá.

Um membro do serviço doméstico de Johar conduziu Georgie e às Senhoraspara o outro extremo da praça, onde havia outro portão e um grande pátiocercado com uma fonte no centro. Encontravam-se já no Palácio propriamentedito, o coração de Georgiana começou a pulsar com força. As duas amigastrocaram um olhar de ânimo, porque ambas sabiam que só se sentiriam a salvo,quando se reunissem com Meena.

Umas robustas colunas suportavam o peso das duas galerias duplas, querodeavam o grande retângulo do pátio, aberto a um espaçoso céu azul. Aspalmeiras prosperavam nos cantos e projetavam uma agradável sombra.Entretanto, Georgie sentiu certa inquietação, quando se fixou que os guardas doPalácio, estavam postados em toda parte, como se também fossem estátuas de

pedra, com o olhar fixo e agarrando seus longos e reluzentes machados de guerra.Os guardas do Palácio vestiam uniforme negro que consistia em uma túnica

rodeada com um cinturão e, ajustadas calças, e todos tinham o mesmo aspecto,barba e cabelo longos, recolhidos em dois rabos simétricos, atados com barbantevermelho, que lhes caíam pelos ombros. Esses personagens, com as negrasbainhas de suas espadas e adagas de prata no cinto, davam verdadeiro medo.

Um deles, alarmado, virou a cabeça quando viu que os dois militaresfavoritos de Georgiana, entravam de repente no pátio fazendo ressonar asreluzentes botas negras contra o pavimento.

— Georgie!A jovem gritou de alegria ao reconhecer seus bonitos irmãos.

— Olá! — exclamou tirando o véu e correndo para saudá-los.

Contentes de estarem reunidos, Georgiana se viu sumida em muitos quentesabraços.

Gabriel a levantou do chão e a espremeu como um urso, Derek a abraçoucom carinho e plantou um sonoro beijo na face.

— Quem o diria! Não posso acreditar o que vêem meus olhos! De verdade évocê?

— Nos diga machona, o que está fazendo aqui?

— Tinha que vir. Tinha que vê-los. Ai, queridos irmãos, estão bem? —perguntou a jovem tocando com carinho os rostos belos e fortes dos jovens.

Em certo sentido, Georgiana assumira o papel de mãe, desde que morreu asua própria, apesar de ser mais jovem que eles.

— Têm boa cara. Comem bem?

Os dois irmãos riram pelo alvoroço que estava armando, mas esse par dedeslumbrantes patifes enchia de orgulho o coração de Georgiana. Adorava vê-losdessa maneira, bonitos e heróicos com seus uniformes de cavalaria azul escuro, os

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galões dourados, resplandecendo em seus largos ombros, as calças de montar corcreme e as reluzentes botas até o joelho.

Enfim... Compreendia as damas que se apaixonavam por eles, virtualmentea primeira vista. Com uns irmãos tão admiráveis, não era de estranhar que a jovem tivesse a lista em altíssimo nível quando se referia aos homens.

Ambos tinham o cabelo negro, mas Derek o usava comprido até os ombros eGabriel, curto. Os olhos de Gabriel eram como uma profunda safira escura deexpressão comovedora, os de Derek eram mais claros, azul céu, como os de seupai, e geralmente o ar velhaco aparecia neles.

Os dois tinham uma tez muito bronzeada, depois de levar anos cavalgandocom seus esquadrões pelas planícies.

— Como se inteirou de que estávamos em Janpur? — perguntou Derek.

— Meena me disse! Escreveu-me faz umas semanas. Viram-na?

— Claro que não. Não nos permite vê-la — murmurou Gabriel.O severo irmão mais velho fez um gesto de impotência, tomou pelos ombros

e a atraiu para si, para dar um afetuoso beijo na têmpora.

— Fez uma loucura vindo aqui.

— Não ficará zangado...

— Como quer que me zangue? Fazia um ano que não víamos nossairmãzinha.

— Não nos crie problemas com Lorde Griffith — advertiu Derek com vozgrave — É boa pessoa, mas prefere resolver as coisas com o manual de instruçõesà mão, você me entende.

— Conte-me tudo — murmurou Georgie.

— Nos prometa antes que se comportará como é devido — disse Gabrielobservando-a com receio.

— Nem pensar — protestou Georgiana com uma risadinha irônica.

Derek riu e puxou seu cabelo.

— Não mudou nada.

— Bem, vejo que a identidade de nossa “Princesa” já foi desvelada.

Uma voz curiosa e profunda se elevou a uns metros de distância. O som depassos secos e lentos ressonou no chão.

Georgie ficou gelada. Apesar de se achar de costas, reconheceu a voz. Nãoprecisava uma grande perícia para detectar a irritação que ocultava seu tomsarcástico.

“É Griffith.”

— Ah, sinto muito, Senhor — disse Gabriel pigarreando e lançando a Georgieum olhar de advertência para que cuidasse de suas boas maneiras — Estávamosnos despedindo.

— Não há por que se preocupar Cavalheiros — respondeu Ian com uma voz

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cálida como um dia da primavera. Mau presságio — Não há pressa, asseguro. Asnegociações se suspenderam e não se reatarão durante todo o dia. É curioso...Porque só é uma hora em ponto.

 Tirando forças de fraqueza para enfrentar a ele, Georgie se virou nomomento em que o Marquês acabava de consultar seu relógio de bolso e ofechava com um seco estalo, que parecia uma recriminação. Brilhavam-lhe osolhos, e quando seus olhares se cruzaram, Georgiana acusou o impacto visual comum calafrio que percorreu o corpo inteiro.

“Não posso suportar este homem”  disse a si mesma, incômoda aocomprovar que não era imune ao seu mundano magnetismo.

Era muito atraente. Elegante e refinado como sempre, vestia um fraquemarrom chocolate, uma impecável gravata branca e calças bege. Cravando nelaum frio olhar que a dissecou, Ian voltou a colocar o relógio de bolso no coleteriscado cor vinho que usava.

Georgie se fixou na tensão de sua mandíbula e se perguntou se não estariamais a salvo longe da fortaleza com os pindari. Entretanto, o Marquês pareciaresignado a aceitar o encontro dos três irmãos.

“Bom.” Porque ela não tinha intenção de partir. Na realidade, tinha vontadede surpreendê-lo as sós, para dizer umas boas.

Esse dominante aristocrata de Londres necessitava que dessem um par delições, sobre como tratar uma dama, começando pelo mais básico. Quer dizer,fazê-lo entender que não podia encerrá-la tranquilamente sob chave, como a uma

prisioneira consentida, porque aquilo era o mais conveniente para ele.Por outro lado, não era justo que julgasse sua personalidade apoiando-se em

um só incidente, esse desgraçado assunto na pira funerária do velho Balaram.Além disso, era preciso que se inteirasse de que não tinha nenhuma autoridadesobre ela.

Devia estar jogando fumaça agora que tinha a prova diante de seus olhos...Georgiana em Janpur e frente a ele! Ela era capaz de tomar suas própriasdecisões, o que tinha acreditado?

— Você... Eh... Já conhece nossa irmã, Milorde — recordou Gabriel comcautela rompendo um incômodo silêncio.

— Ah, sim. Conheci-a.

O Marquês inclinou a cabeça a modo de saudação, com uma cortês precisãoe falou com cristalina delicadeza.

— Senhorita Knight, é um prazer voltar a vê-la.

— O mesmo eu digo Milorde — respondeu ela assentindo como um membroda realeza.

Sustentou seu olhar, e decidiu que não era o momento de contar aos seusirmãos, que essa besta tentou pô-la sob prisão domiciliar. Não, era muito mais

inteligente deixar que a ameaça pendesse sobre sua cabeça, se por acasoprecisasse arrancar alguma outra concessão.

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tamborilavam seus grossos bíceps.

— Eu farei as perguntas, traidor! — Georgiana deu a volta e o encarou —direi o que é você. Você é um déspota, um tirano...

— Um tirano? — riu Ian.

— Já me ouviu!Georgiana levava dias esperando o momento de dar rédea soltas a sua fúria.

Esse homem ia se inteirar dela.

— Quem acredita que é para me dizer o que posso e o que não posso fazer,para me encerrar e me por guardas, como se fosse uma prisioneira em minhaprópria casa? Você não tinha nenhum direito de agir assim! Como se atreveu? E sepor acaso fosse pouco...

Ian tentou falar, mas Georgiana o interrompeu.

— Você mentiu para mim!

Ian arqueou uma sobrancelha diante da acusação, e nesse momento intuiuque iriam ter uma grave discussão, mais grave do que imaginou.

— Tomou-me por uma tola, me fazendo acreditar que viajaria com você e,pelo contrário, encerrou-me como se eu tivesse que observar a  purdah e partiusozinho! Isso foi uma canalhice. Uma asquerosa canalhice! Mas como pode verquerido Marquês, você não tem nenhum controle sobre mim.

Fez-lhe um florido gesto com as mãos, levou os punhos à cintura e jogou acabeça para trás com ar desafiante.

— Estou em Janpur, e você não pode fazer nada para evitá-lo! Seus planospara me enjaular não funcionaram.

Lorde Griffith estudou sua expressão com frieza, mas a tensão que aflorouem seus duros lábios traía certa inquietação.

“Bom” pensou Georgiana.

Esperava pô-lo tão furioso como tinha posto a ela. Caso conseguisseencolerizá-lo, possivelmente obteria que esse homem não voltasse a convertê-lano alvo de suas secretas manipulações.

— Pedi várias vezes que você ficasse em casa, Senhorita Knight — disse Ian

com um tom de voz do mais razoável.— Que não buscasse problemas e se comportasse. Aconselhei-a para seupróprio bem, assim como pela segurança de minha missão.

Ian fez uma pausa e encolheu os ombros.

— Sabia que não me escutaria, e por isso pedi a DeWitt que enviasse seushomens. Não me deixou outra alternativa.

— Mentira!

— Ao contrário, querida. Possivelmente o tenha esquecido, mas já tinha medado conta de que você é capaz de armá-la, e como aqui já temos uma boa

confusão montada... Só faltava você enredando e movendo-se como um elefanteem uma loja de porcelana — espetou o Marquês em um tom cortante.

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— Como um elefante em uma loja de porcelana? — repetiu a jovem com umgrito de indignação — Em toda minha vida jamais...!

— Você veio se intrometer! — exclamou Ian abatendo-se sobre ela com suaimponente altura e abandonando sua expressão de distante indiferença por outrade ensurdecedora cólera — Como se atreve a me desafiar?

— Não está acostumado, não é verdade? — contra atacou ela rindo — Bem,pois eu não me humilho diante de ninguém.

— É claro, que eu ter salvado a vida não conta nada...

— Eu sozinha teria controlado aquela gente.

Ian cravou o olhar, estupefato.

— Ha!

Georgie esboçou uma careta se negando a seguir por esse caminho,possivelmente por ter pecado de excessiva confiança.

O Marquês observou-a com incredulidade durante uns instantes, fez umgesto de impotência, como se pensasse que estava para que a encerrassem comos loucos. Continuando, aguçou os olhos e, levantando um dedo em sinal deadvertência, disse:

— Sabe qual é seu problema? É você uma menina mimada!

— Não é verdade! — protestou Georgiana sentindo-se ferida por suaspalavras — Você não me conhece!

— Atenhamo-nos aos fatos! Você queria ver sua amiga, a Princesa, vocêqueria ver seus irmãos... E os outros, que se chateiem! — gritou Ian zangado — Tem idéia do que está em jogo nesta operação? Por que as condenadas mulheresnão poderão aprender a usar a cabeça de vez em quando?

Georgie se obrigou a morder a língua e afastou o olhar do Marquês, tentandonão perder a paciência. Respirou fundo, controlou-se e seguiu falando.

— Muito bem, vale mais que nos acalmemos...

— Eu estou calmo! — trovejou o Marquês.

Georgiana passou por cima suas palavras.

— Agora vejo por que não me entende. Em parte, é por minha culpa. Diz que

sou uma menina mimada, mas isso é só porque não fui de todo... Sincera comvocê contando o que me preocupa de verdade. Bem, como parece que custa umpouco captar os enfoques sutis...

— Os enfoques sutis? — exclamou Lorde Griffith estalando em gargalhadas— Onde está a sutileza, pode se saber? Perdoe, mas me perdi.

Georgiana lançou um olhar de advertência.

— Terei que ser franca com você.

— Por favor. Sim, será muito enriquecedor.

Lorde Griffith pôs o pé sobre um tamborete e apoiou o cotovelo sobre o joelho. Esperou com olhar espectador e uma expressão zombeteira aflorou seubelo rosto.

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— Não sou a insossa jovenzinha que acredita. De verdade pensa que percorrium caminho tão longo, para fazer uma visita de cortesia?

A pergunta pareceu tomá-lo de surpresa. O Marquês analisou a jovem comprudência durante um segundo e logo encolheu os ombros.

— Muito bem. Se não veio fazer uma visita de cortesia, por que motivo veioGeorgiana?

A jovem o olhou fixamente.

— Por você.

— Por mim?

Lorde Griffith voltou a ficar surpreso diante de sua resposta, e uma sombrade confusa e adorável modéstia cruzou por seus olhos, mas logo voltou a ficar emguarda e proferiu um cínico sopro.

— Muito bem. Sinto-me adulado, mas...

— Não o esteja. Não são suas torneadas panturrilhas o que me interessaLorde Griffith, e sim o objetivo de sua missão em Janpur. Georgiana esperou unssegundos e dedicou um olhar de inteligência — Quero que me diga, agora mesmo,o que está acontecendo.

Lorde Griffith ficou quieto, baixou o pé do tamborete e se voltou para ela.

— Por que deveria contar a você?

Georgiana encolheu os ombros com recato e levou as mãos às costas.

— Porque aqui tenho influência, Lorde Griffith. Conto com a informação que

possa me dar a favorita do Rajá, informação que você não poderia obter. Issosignifica que posso favorecer ou obstaculizar seus progressos, dependendo dequais sejam seus objetivos, por isso proponho que comece me contando averdade.

Ian aguçou seus verdes olhos como os de um colérico tigre.

Georgiana seguiu falando.

— Quero saber o que veio fazer em Janpur. Caso se negue a me contar issopensarei o pior. Isso significa que irei a Meena dizer que advirta seu marido de quenão tem que confiar em você.

“Assim que esses são os termos.” Ian a tomou por uma jovem ociosa e consentida, mas começava a ver que

essa mulher falava muito a sério. Guardou silêncio, embora despedisse faíscaspelos olhos, olhou aturdido para seus aristocráticos dedos. Ora, como se ele nãosoubesse como as mulheres gastam os cérebro!

Georgie, encantada de que a visse com outros olhos, elevou o queixo.

— Em Calcutá me contou que o enviaram para impedir uma guerra. Se issofor certo, coincidimos em nosso objetivo. Como é natural, preferiria trabalhar a seufavor e não em seu contrário. Entretanto, depois do que me fez, custa-me

acreditar que seus motivos sejam tão puros.Ian desviou o olhar furioso e fingiu estudar o mural.

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— Você é uma mulher fascinante, Georgiana.

— Obrigado. Diga-me, do que se trata? É a paz seu autêntico objetivo ousuas negociações é outro infecto truque para ampliar o território da Companhiadas Índias Orientais?

Lorde Griffith a olhou de esguelha com ar reflexivo e cresceu com a ofensa.— Pareço a você um menino de recados de algum comerciante?

— Absolutamente, mas isso não responde a minha pergunta.

Ian a amaldiçoou em silêncio e franziu o cenho.

Georgie o observava intrigada.

— Ofendeu-se. Tentei descobrir suas intenções pelas boas. Caso você tivesseaceitado minha hospitalidade em Calcutá e falado comigo, poderia adivinhar aresposta por mim mesma sem causar nenhum incômodo.

— Duvido muito — grunhiu o Diplomata.— Você não viveu na Índia, Milorde — disse Georgiana cabisbaixa — Não viu

como a Companhia destroça tudo o que toca como o maldito Rei MIDAS, que aoconverter as coisas em ouro, destruía tudo o que tocava. O povo hindu foicondenado com esta maldição. Viu os exércitos da Companhia derrotar um antigoReino atrás de outro, e logo deixar no comando algum inglês corrupto eindiferente.

Georgiana controlou a nota de angústia que aparecia em sua voz.

— Aos administradores da Companhia pouco importa esta terra ou suagente. O único que querem é encher seus bolsos de qualquer maneira.

Ian a observou com receio.

— Seria imperdoável que isso acontecesse ao Rajá Johar. É um bomGovernante e um homem justo, e seu povo o necessita — Georgiana endureceu otom de sua voz — E se tiver que lutar contra você para poder salvar seu Reino,conte com isso.

— Há... — Lorde Griffith tocou a ponta do nariz em um exercício de paciênciae logo lançou um leve suspiro de desconfiança, deixando cair a mão — É este seuenfoque direto?

Georgiana se limitou a sustentar o olhar.— Por que não me contou tudo isto antes? Devia ter me dito em Calcutá oque estava conjecturando.

— Não sabia se podia confiar em você.

— Por isso era necessário ser sutil... — Ian, refletindo, deixou escapar umnovo suspiro — Bem, pode ser que ambos tenhamos ocultado um do outro nossasverdadeiras razões.

— Agora fui franca com você.

A espectadora pausa que a jovem fez a seguir era um convite.

— Muito bem, como vejo que isto significa muito para você, deixe queassegure em primeiro lugar, que não sou um criado da Companhia das Índias

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Orientais, nem da Coroa.

Seu tom era frio como o aço. Não em vão, a jovem ferira seu amor próprio.

— Não tenho nenhum interesse em “me encher os bolsos” com as riquezasdo Oriente. Não vim à Índia para ganhar dinheiro. De fato, estava descansando no

Ceilão, por assuntos próprios, quando me chamaram para que me ocupasse destaquestão. Interrompi meu repouso para ajudar, e se ainda pensa que vim em buscade tesouros hindus, me permita que cometa a vulgaridade de informar que resultaque já sou extremamente rico. Nasci com um pão sob o braço, se por acaso o quersaber, e se me dedicasse a viver como um esbanjador, no dia de minha mortehaveria mais ouro em minhas arcas de que possa gastar a maioria dos homensdurante três vidas.

Georgie escutou sua sutil reprimenda cabisbaixa.

— Ah.

— E mais, se acreditasse que o propósito de nossa missão fosse injusto, teriarecusado o encargo.

Georgiana notou que o Marquês a olhava fixamente.

— Em resumo, não me dedico a isto pelo pagamento, Georgiana. Vim pelobem de meu país e com a esperança de salvar muitas vidas. Se minha vida tiveralgum sentido é porque tenho me empenhado em converter o mundo em um lugarmais civilizado, por isso não compreendo as insinuações que fez antes sobre meucaráter.

Georgiana, cabisbaixa, não ousava se endireitar. E suas faces seavermelharam quando começou a recordar os comentários, que ouvira em

Sociedade sobre as proezas desse homem, evitar guerras, negociar tréguas...Não acreditara em nenhuma só palavra, dado os prejuízos que em geral

inspiravam os homens, reflexo dos ensinamentos de sua tia, embora também porcausa da injustiça que freqüentemente via se cometer com as mulheres ao seuredor. Nesse momento, os mesmos prejuízos a roíam como um terrier roendo otornozelo.

— Ainda não me contou o que veio a fazer em Janpur — gaguejou a jovemtremendo imperceptivelmente.

Com a cabeça encurvada, olhou-o receosa.

Ian riu com ar condescendente.— Não vai perdoar nada, verdade?

— Não posso. Estas pessoas são amigas minhas.

— Bem, vejo que é você leal. Concedo isso.

O Marquês sorriu para si e pôs-se a andar para a janela.

Georgiana permaneceu em silêncio, sem ceder nem um ápice, mas,reunindo forças da fraqueza, elevou a cabeça e o olhou nos olhos.

Lorde Griffith se acotovelou no batente e ficou a examiná-la, logo olhou para

o exterior, piscando diante da intensidade da luz.

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— De novo não me deixa alternativa — comentou o Marquês encolhendo osombros.

— Por outro lado, levo bastante tempo no ofício para saber que as mulheresfazem as coisas... A sua maneira. Por isso digo Senhorita Knight, que sejam quaisforem os misteriosos canais ocultos, aos que tem acesso, se quiser que esteMarajá conserve seu trono, procure que o persuadam de que deve aceitar o acordoque oferecemos.

Lorde Griffith fez uma pausa e logo abaixou a voz.

— Não é Johar a quem queremos destruir, e sim seu cunhado, Baji Rao.Ouviu falar dele?

Georgiana assentiu, e deu um tombo o coração ao pensar que finalmenteesse homem faria alguma confidência.

— Baji Rao é o  peshwa, o chefe do Império Maratha — respondeu a jovemquerendo impressioná-lo com seus conhecimentos da região.

— Bem, pois esse homem é como um espinho que temos cravado no pé.

Georgiana recostou o quadril no braço do sofá e ficou refletindo sobre o queacabava de ouvir.

— Não posso dizer que me surpreenda. Baji Rao não é como Johar. Ganhousua reputação de covarde e assassino, e em seu caráter há uma nervura cruel.Inclusive sua própria gente o odeia.

— É certo que parece ter dotes para criar inimigo — assentiu Ian com o solda tarde formando um halo em torno de seu negro cabelo — O Governador, Lorde

Hastings, ordenou a destruição da horda dos  pindari, mas Baji Rao oferece a elesum refúgio seguro. E isso nos obriga a invadir seu Reino para acabar com eles.

— Não cooperará?

— Absolutamente.

— Suponho que não confia em você — observou Georgiana dissimulando aalegria de ter ganhado finalmente, um pouco de respeito por parte do dominanteMarquês.

— Pelo que ouvi dizer, o  peshwa já não confia em ninguém — Lorde Griffith

se afastou da janela e se apoiou ao outro lado da mesa em que se achava à jovem— É difícil dizer o que espera ganhar com isto, mas utilizará nossas disputas sobreos  pindari, como uma desculpa para nos declarar guerra. Baji Rao está tentandoreunir seus aliados naturais e vim a Janpur para convencer o Rajá Johar, que semantenha à margem. Enviamos outra equipe a Gwalior com o mesmo propósito.No melhor dos casos, Janpur e Gwalior assinarão um tratado de neutralidade comos britânicos.

— Bem, de fato são os dois membros mais importantes da aliança Maratha.

— Precisamente. E sem eles, Baji Rao e outros aliados perderão. Assimsimples — Ian suspirou e, pensativo, bateu com os dedos na borda da mesa — Éclaro, tanto Janpur como Gwalior são livres de recusar nossa proposta, unir-se aBaji Rao e serem derrotados junto aos outros Marathas. Agora bem, se aceitarem

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nossa oferta e, recusar esta guerra acredito que seremos capazes de vencer BajiRao brevemente e os territórios que arrebatemos os cederemos a Janpur e Gwaliorpara que os repartam.

— Ao menos obteve que valha a pena abandonar o antigo tratado.

— É o primeiro princípio da diplomacia, querida. Tem-se que dar se querreceber — ele concedeu com um sorriso irônico.

Sustentaram-se o olhar mais tempo do que devido, até que Georgianaafastou os olhos.

— De todos os modos, duvido que Johar o siga. A lealdade e a honra são omais importante para os Marathas.

— Já me dei conta — comentou Ian aflito e olhando para outra parte, comose ele também estivesse desconcertado pela estranha alquimia que nascia entreambos — Esse Príncipe Shahu é um bom exemplo. É como um rastilho de pólvora,um patife orgulhoso e altivo. Por certo, ande com cuidado. Fixou-se em você.

Georgiana fez um gesto de displicência.

— Qual é o alcance de sua missão? Onde está o truque? Sempre há truque.

Lorde Griffith a olhou em silêncio.

—Terminar com o Império Maratha.

Georgie esboçou uma careta.

— Sabia. Estava temendo isso.

— Não somos os responsáveis, Georgiana. A culpa é de Baji Rao. É o chefe

da aliança e não cederá nem um ápice. Quer expulsar da Índia a todos osbrancos... Expulsá-los ou matá-los. Somos nós os que não queremos outra guerracom os Marathas. Reinava a estabilidade até que Baji Rao se fez com o poder. Eesta situação não nos convém, porque até agora os Marathas foram a barreira,que nos separa dos estados hindus do norte. Acredito que, por hoje, é a melhorsolução e tentarei impô-la sem derramamento de sangue. Quando tudo tenhaterminado, o povo maratha ficará sob o Governo desses dois sábios Marajás, quevalorizam a paz com seus vizinhos, uns homens em quem se pode confiar.Acabaremos com Baji Rao e a horda dos pindari desaparecerá.

— Isso sim que parece uma boa solução para todos.

— Vê? — brincou Lorde Griffith com simpatia se aproximando dela — Nãosou uma serpente horripilante, que veio tragar o Reino de Janpur.

— Bem, pode ser que não — respondeu Georgiana sorrindo com receio —Sinto tê-lo chamado de réptil. Não terá isso em conta, não é verdade? Ficamoscomo amigos?

— É claro — disse Ian estendendo a mão.

Georgiana levantou e se aproximou do Diplomata para estreitá-la.

— Não deveria dizer que é uma malcriada — murmurou Ian retendo sua mão— A lealdade que demonstra para seus amigos é um traço admirável.

Lorde Griffith levou a mão de Georgiana aos lábios e deu um afetuoso beijo

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nos nódulos, sem deixar de olhá-la.

— Espero que tenha me reservado um pouco dessa lealdade, agora que pusminha missão em suas mãos e que não se tomará levianamente a confiança quedepositei em você. Uma palavra a mais em ouvidos inimigos, Georgiana, e tudo irápara o lixo.

— Não o decepcionarei — disse ela com voz baixa olhando nos seus olhos.

— Muito bem.

Quando Lorde Griffith soltou a mão, Georgiana a pousou no peito doDiplomata e, lisonjeada e com olhos travessos, puxou um dos botões de seucolete.

— Vê? Ai está. Não foi tão difícil, verdade? Ter confiança em mim querodizer.

— Não me obrigue a lamentá-lo.

— Não o lamentará. Aguçarei os olhos e os ouvidos no harém para informá-lo. Se descobrir algo que nos possa ser útil, direi a você.

— Vá com cuidado — disse Ian com expressão grave.

— Acalme-se — sussurrou a jovem sorrindo — Se preocupa muito.

— E com razão. Falo a sério, Georgiana. Se voltar a me causar problemas, aenvio de volta a Calcutá...

— Levarei bem — disse ela para silenciá-lo.

De repente, com um olhar malicioso, Georgiana desabotoou o botão superior

de seu colete e, antes que ele pudesse protestar, encaminhou-se para a porta.— Está tentando me despir? — disse Ian em um murmúrio, enquanto voltava

a grampear o botão.

Georgiana se virou e dedicou um sorriso provocante.

— Não posso dizer que não me tenha passado pela cabeça.

“Nem a mim” pensou Ian ardentemente, esforçando-se para dissimular umfranco sorriso, enquanto a via afastar-se.

Cativado pelo jogo de luz projetado na lustrosa seda que agasalhava asesbeltas curvas da jovem, pousou seu faminto olhar em seus quadris. Esperavanão ter cometido um engano fatal, ao confiar a informação de que dispunha. Poroutro lado, essa mulher não deixara outra alternativa.

Ocultando com rapidez o insistente desejo que inspirava a jovem sereia, Iana seguiu para o pátio e se reuniu com os irmãos e as damas de companhia da jovem.

Uma criada ao serviço do Marajá esperava para acompanhar Georgiana e àsdemais mulheres a zenana, os aposentos do harém, enquanto que um Capitão daguarda real, apareceu para convidar Ian e os oficiais para contemplar umaexibição de armamento tradicional hindu. Tomaram caminhos opostos.

Georgiana se despediu de seus irmãos com uma saudação e lançou um olharde cumplicidade a Ian, que poderia derreter o gelo do Tamisa durante a feira

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natalina.

O Marquês Griffith inspirou profundamente, mas ela já afastara os olhos combela discrição e virava para seguir a criado para o harém. Ian ficou observando a jovem, enquanto esta cruzava um grandioso portão dourado que comunicava comoutra ala do Palácio.

— Espero que minha irmã não tenha causado muitos problemas ali dentro —comentou Gabriel com acanhamento, voltando-se para o Diplomata com olhos depreocupação — Temo que seja de pegar em armas.

— Um destes dias teremos que casar essa garota — murmurou Derek —tomara que não fosse tão condenadamente confusa!

— De qualquer maneira — afirmou Ian — Acredito que conseguimos nosentender.

 Temendo que os militares notassem sua preocupação pela jovem, afastou avista e pigarreou.

Logo se dirigiu ao Capitão Maratha que os esperava para conduzi-los à salade armas.

— Vamos?

— Depois de você, Senhor — disse Derek com cortesia.

Ian inclinou a cabeça e iniciou a marcha. Depois dele, Derek e Gabrieltrocaram um olhar de inteligência.

Seguiram-no sem mediar palavra.

 

Capítulo 5

Georgie e suas damas de companhia seguiram à criada pelo Palácio atéchegar ao grande deodhi, a entrada do harém, flanqueada por grossos pilares. Unseunucos imponentes, com a cabeça raspada, montavam guarda bloqueando osportões dourados com suas lanças atravessadas. Entretanto, quando as mulheres

se aproximaram, retiraram as armas e abriram as gigantescas portas.

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Georgiana e seu séquito seguiram caminhando por um longo corredor, queas conduziu a um átrio de mármore.

Meena, que as esperava com ânsia, saiu para recebê-las. As três amigas deinfância se reencontraram entre exclamações de alegria e fortes abraços.

Meena ficou dura como pedra ao ver Lakshmi.— Pelas presas de Ganesh, vou de surpresa em surpresa!

A esposa do Marajá estava exultante, e às três jovens faltou tempo parafalar todas de uma vez.

Enquanto Purnima e Gita se dirigiam aos aposentos para preparar todo onecessário para sua estadia, Meena ofereceu a Georgie e a Lakshmi mostrar a zenana particular, que estavam construindo em outra ala diferente do Palácio.

— Ainda está em obras, mas ao menos ali poderemos falar sem que umacentena de pessoas nos espie — murmurou a Princesa.

Suas amigas estiveram de acordo.

Através de um labirinto de sinuosos corredores, matizados passadiços,aposentos de estranha forma, galerias ocultas e retorcidas escadas caracol,puderam mover-se pelo Palácio sem que os olhares dos varões as detectassem.

Os invisíveis domínios das mulheres constituíam outro Palácio dentro doPalácio propriamente dito, os homens se dedicavam aos assuntos mundanos, asmulheres, pelo contrário, ficavam encerradas para sempre. Em toda parte haviagrades de escuta, miras e janelinhas de intrincada persiana, através das quais aomenos podiam observar o mundo dos homens. Agora certos aposentos ficavam

fora do alcance delas. Ao final chegaram à ala do Palácio onde estavamconstruindo a nova  zenana, mas devido às normas que ditava o  purdah, tiveramque despachar os trabalhadores, para que a Princesa pudesse mostrar o lugar assuas amigas.

— Meu marido é muito generoso — declarou Meena, enquanto forampercorrendo as diferentes salas em obras — Mas sabem o que é o que mais gosto?

— O que? — perguntou Georgie com um sorriso.

— Eu adoro pensar que a Rani Sujana terá que reconhecer que foi ela quemdeu a idéia a Johar — contou Meena com alegria — disse a ele que não suportavame ver diante dela... E já vêem a reação do Rajá! Olhem este será nosso

dormitório.Meena, com um sorriso provocante, conduziu-as para um aposento com o

teto alto e abobadado.

— Ai, queridas amigas — suspirou a jovem hindu — Quando um homem temtrinta esposas e uma centena de concubinas, só cabe dizer uma coisa, com aprática se alcança a perfeição.

Georgie estalou em uma gargalhada ao ouvir as escandalosas palavras deMeena, mas Lakshmi deixou escapar um suspiro de tristeza. A pena que sentia a jovem viúva por tudo o que perdeu se casando com um homem mais velho, fez

que Georgie não se aventurasse a infinidade de perguntas, que queria expor aMeena sobre um assunto que tão freqüentemente ocupava seus pensamentos.

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tirando importância com uma gargalhada.

— O último que desejo é me por em ridículo diante de vocês, Senhores —disse em tom galante — Apenas sou um Diplomata, e as proezas armamentistassão para os guerreiros.

Sua modesta resposta agradou Georgiana, que tinha tendências jainistas,embora a jovem duvidasse da sinceridade das palavras do Marquês.

Depois do amparo da janela, a jovem passeou o olhar pelo Marquês,desfrutando da esbelta e elegante compleição de sua figura, alta e varonil.

Depois da conversa nos novos aposentos de Meena, Georgie não pode evitarse perguntar, como se comportaria Lorde Griffith na cama com uma mulher.

Recordava a sedosa fortaleza de seu tato quando pegou sua mão, a suavecarícia de seus lábios, quando beijou os nódulos... A segurança que sentiu ao senotar agasalhada, por esse grande e quente corpo que cavalgava atrás dela.

Enquanto a jovem ia dando de presente aos olhos, desde os imaculadossapatos negros e as calças cor pavão do Marquês Griffith e logo subia por suasmusculosas coxas, o Diplomata se virou como quem não quer nada, e cravou osolhos na janela de persiana... Como se tivesse notado que o examinavam!

Georgie deu um salto para trás, entre culpada e surpresa. O repentinomovimento chamou a atenção de suas amigas.

— O que acontece? — perguntou Lakshmi.

Notava um sufoco tão intenso que estava segura de que suas faces estavamrubras como se acabasse de engolir uma pimenta malagueta.

— Encontra-se bem? — perguntou Meena com olhar atônito.— Sim... Estou bem. Faz um pouco... De calor aqui dentro. Vamos?

— Sim, vamos, iremos tomar um refresco. Fizeram uma viagem muito longa.

Meena a pegou pelo braço e Georgie se agarrou a Lakshmi jurando quetiraria o Marquês da cabeça fosse como fosse.

De volta ao harém, as jovens passaram junto ao imenso e resplandecentesalão de banquetes. Um exército de criados trabalhava em excesso, polindo unsornamentados candelabros e instalando uma grande quantidade de mesas.

— Esta noite haverá uma festa em honra da delegação inglesa — informouMeena, e logo deu uma carinhosa cotovelada em Georgie — Deveria ir, shona. Terá a oportunidade de estar com seus irmãos. A Lakshmi e a mim não irãoconvidar claro, mas não há motivo para que você não vá. É estrangeira, e alémdisso, uma convidada. Por outro lado, não afeta o purdah.

— Não se importa? — perguntou Georgie esperançosa, negando-se areconhecer que voltar a ver Lorde Griffith, a atraía mais que ficar em dia com seusirmãos.

— Claro que não — disse Meena, e Lakshmi assentiu de coração — Emboraadvirto que provocará um revôo...

— Já está acostumada — interveio Lakshmi.

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— As únicas mulheres que os homens vêem na sala de banquetes são asbailarinas. De todos os modos, acredito que deveria desfrutar da companhia deseus irmãos, enquanto possa — explicou Meena — Não está claro quanto tempoficarão... Suponho que até que terminem as negociações, e quem sabe o quedurarão?

— Sim, quem sabe...?

Repetiu Georgie perguntando-se quanto saberia Meena sobre os meandrosdas atuais deliberações de seu marido, com os britânicos de um lado, e com BajiRao, do outro provavelmente, muito pouco. A jovem seguiu suas amigas até oharém principal, um lugar de sonho. Localizado entre os jardins inferiores e unslagos em forma de lótus onde cresciam lírios de água, caprichosos pavilhões egalerias em arcada, o harém era um espaço etéreo dedicado ao prazer, luxo erelaxamento.

Havia salas dedicadas à arte e à música, à pintura e à dança, e uns pátios

onde montar a cavalo, praticar tiro com arco e disputar um animado jogo de bolaparecido com o tênis. Também havia um templo para as Senhoras dedicado aParvati, onde se respirava serenidade, pequeno, mas muito bonito, e uns jardinsinfantis muito bem equipados e cheios de criaturas felizes. Inclusive tinham umgrande salão para celebrar as reuniões do durbar , onde a Rajani atendia os casosque expunham as habitantes de seu Reino.

Por outro lado, no harém abundavam as mascotes, micos, cervosdomesticados e louros enjaulados de brilhantes cores. Embora as damas tivessemensinado às aves a realizar toda classe de absurdos truques, a Georgie resultavadifícil rir com suas excentricidades. Por muito formoso que fosse, por muitotranqüilo e seguro que parecesse, esse lugar seguia sendo uma jaula. Entretanto,guardou-se muito de expressar seus pensamentos em voz alta, decidida a nãoesquecer que aquilo era apenas sua opinião como britânica.

O certo era que Meena estava radiante e feliz, e que Lakshmi pareciaextasiada diante da graça desta versão Índia dos Campos Elíseos. Sem dúvidadevia ser o paraíso para ela, comparado com o diminuto cárcere que significaraseu matrimônio com o velho e estrito Balaram.

As jovens estavam contemplando os truques que as concubinas faziam comseus louros quando, de repente, do outro lado da grama, uma mulher alta eestilizada de uns quarenta anos surgiu do templo com um nutrido grupo de

ajudantes e de damas de companhia a suas costas.— Oh, não... — sussurrou Meena empalidecendo — É a Rani Sujana.

— Ah, sim? — murmurou Georgie com grande interesse seguindo seu olhar.

A elegante e magra silhueta da Rajani aparecia realçada por um sari escurode seda anil, entrelaçada com fios de prata e ouro, como se fosse um estreladocéu noturno. Era uma mulher formosa, e na frente levava uma reluzente jóia amodo de bindi. Tinha o cabelo liso, negro como o carvão, pele extremamente clarae olhos reflexivos, que estavam delineados com o Kohl. Entretanto, no momentoem que apareceu, foi como se um véu mortuário tivesse embaciado a alegria doharém.

 Todos os presentes abandonaram suas atividades, os jogos, a dança e as

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tarefas artísticas para se inclinar em uma profunda reverência diante de SuaMajestade, quase como se encolhessem de medo diante de sua presença. Amúsica se deteve. Inclusive os meninos deixaram de jogar, quando a Rajani cruzouos jardins com passo rápido e decidido.

— Maldição, viu-nos — exclamou Meena entre dentes quando a Rani Sujanaabandonou seu andar, rápido como uma flecha. Seus negros olhos se posaramnelas — Temo queridas, que Sua Majestade espera que a saudemos o estiloantigo.

— Caramba! — murmurou Georgie.

Entretanto, como um certo Diplomata a acusou de criar problemas, a jovemestava decidida a se comportar bem, sobretudo em honra de sua amiga. Era maisfácil seguir o costume da mujira e não ofender Sua Majestade, com uma simples ebreve inclinação à maneira britânica.

— Mas não penso tocá-la nos pés — acrescentou Georgie entre dentes.

— Abaixe — apressou Lakshmi com voz fraca.

Georgie, entre suas duas amigas, fincou-se de joelhos enquanto a Rajani seaproximava e, pelo bem de Meena, realizou obediente a reverência tradicional,que se destina à realeza e que consistia em inclinar-se até que a fronte quasetocasse o chão.

— Meena, quem são estas damas? — perguntou a Rani Sujana ao se deterdiante delas.

A reverência das jovens suavizou muito pouco, a secura de seu tom.

— Majestade apresento minhas amigas de Calcutá — disse Meena comacanhamento.

— Ninguém me consultou sobre esta visita.

— Sua Majestade... O Marajá... Deu-me permissão.

— Não ensinaram a educação? Não importa o que diga Johar. Primeiro deveperguntar a mim. Este é o protocolo.

— Sim... Sim, minha Rani.

Georgie franziu o cenho, com o rosto ainda sobre a relva, mas não seatreveu a levantar os olhos. Sabia que a Rani jogava fumaça. Pobre Meena.

Georgie se compadeceu dela. Por nada do mundo quereria uma inimizade como aRani Sujana. Ao fim de um bom momento, Lakshmi e Georgie receberam a ordemde se levantar.

Georgie não pode evitar advertir o malévolo olhar que a Rajani dedicou a jovem rival que roubou o carinho de seu marido. Apesar de que Georgie não podiasuportar ver Meena incomodada, em sua própria pele, a jovem se controlou epronunciou seus nomes a Rajani.

A Rani Sujana as examinou com frio interesse, sem prestar muita atenção aLakshmi, mas mostrando-se francamente incômoda, por ter encontrado umainglesa dentro de seu harém.

— Bem, se meu marido assim o quis, a mim só resta obedecer — disse com

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uma voz que parecia um dardo envenenado.

Continuando, desprezando-as, partiu mais leve que uma pluma e sem voltara vista para trás.

Meena lançou um suspiro de alívio quando a Rajani ficou fora de seu

alcance.— Sempre se comporta assim? — perguntou Lakshmi com uma careta de

desgosto.

— Pois isto não é nada — sussurrou Meena sem deixar de tremer —Geralmente é dez vezes pior! Considera-se virtualmente um ser divino, só porqueé irmã de Baji Rao!

Georgie aguçou o ouvido.

— É uma família muito arrogante — comentou a Princesa.

— Aonde vai agora? — perguntou Georgie ao ver que a Rajani se dirigia paraumas pesadas portas de madeira, emolduradas por um arco ogival de pedra.

— Certamente se dirige a sua sala de audiências particulares. Ninguém podeentrar nela, só os eunucos que formam sua guarda e, sua dama de companhia demais alta posição, permite atendê-la quando está lá dentro. Acusa-me de sermimada, mas Johar a deixa receber visitas do mundo exterior, sempre que elapermaneça atrás de um biombo.

— Visitas como a dele? — perguntou Georgie, surpresa, enquanto indicavacom um gesto o jovem, que acabava de abrir o grosso portão de madeira da salade audiências da Rajani e colocava o nariz no harém, embora sem cruzar a soleira.

— Ai, o que faz este aqui outra vez? — queixou-se Meena mudando derepente o tom de voz e incomodada pela intrusão.

— Quem é?

— É seu maravilhoso filho, o Príncipe Shahu. O  yuvraj, o Príncipe herdeiro. E,além disso, é... Como o dizem em inglês...? Um almofadinha?

— Sim. Isso já estou vendo.

Vestido com grande pompa com uma seda estampada, sapatilhas de pontalevantada, vistosos brincos de ouro nas orelhas e um turbante, o Príncipe pareciater vinte anos recém-cumpridos e era claro que estava encantado de tê-la

conhecido. Com grande petulância, dedicou um atrevido sorriso a Georgie, mas iavestido de uma maneira tão ridícula, que a jovem teve que afastar a vista e levaros dedos aos lábios para não rir.

— Olhe como a come com os olhos! Ect, esse imbecil sempre se pavoneia! —Meena franziu o cenho — É muito velho para entrar no harém, mas segue vindocada dia para ver sua mãe. Enfim, ao menos não fica muito tempo. Está proibido iralém da sala de audiências da Rani.

— Por que a visita tão freqüentemente?

— A Rani Sujana e ele são muito unidos. Educaram o Príncipe no harém,

como todos os meninos, mas parece que não entra na cabeça que deve agir comoum homem e prefere se agarrar às saias de sua mãe, como um menino malcriado.

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havia coisas que não acertava compreender, mas se para suas amigas, aquilofazia sentido, quem era ela para discutir. Lakshmi colocaria um sari branco, a corda morte.

A partir de então apenas vestiria essa cor.

Acabaram-se os amarelos intensos, os azuis cobalto e, é claro, os vermelhos,tonalidade destinada aos vestidos de noiva na Índia.

Meena e Georgie a acompanharam a uma das salas particulares do harém eLakshmi se sentou em frente a um espelho, apagou o bindi vermelho de suafronte, a marca de honra da mulher casada, e finalmente pegou as tesouras.

As lágrimas apareceram nos olhos de Georgie, quando Lakshmi tomou quaseum metro de seu precioso cabelo de cor ébano e, olhando-se ao espelho, sempiscar, cortou-o ao meio centímetro do couro cabeludo. A jovem britânica sentiu odesejo de afastar os olhos, mas se obrigou a olhar, se esforçando para reprimir opranto, enquanto sua amiga sucumbia ao desumano código de honra feminina,

que imperava em sua Sociedade. Lakshmi fazia exatamente o que sua famíliapedia, e com essa moeda pagava a troca. A jovem poderia ser livre e, em lugardisso, escolheu destruir-se em silêncio.

Meena olhava à frente e seu rosto expressava uma compassivadeterminação, como se pensasse que ela, em seu lugar, haveria feito o mesmo.

Enfim, esse sofrimento estóico não corria pelas veias de Georgie. Com o livrode sua escandalosa tia quase queimando no bolso, jurou por Deus que essa noiteiria à festa e demonstraria a todos esses homens, que o raciocínio de algumasmulheres, não podia se sossegar sob suas cruéis e desumanas botas.

E quanto a ela, se desejavam enjaulá-la, seria por cima de seu cadáver. 

— Tinha mandado me chamar, minha Rani?

Firoz permanecia imóvel do outro lado do biombo de madeira, que partia emduas a sala de audiências de Sua Majestade.

Na misteriosa área em penumbra que havia atrás da persiana de madeira deteca, a Rani caminhava para cima e para baixo como uma tigresa enjaulada. Àsvezes desejava tirá-la dali, era o bastante forte para libertá-la se ela assim oqueria, mas Firoz era realista e, para falar a verdade, o que faria ele com uma

Rajani? Sujana pertencia a Johar. E ele sabia qual era seu lugar.Nesse dia a Rani estava sozinha. Em geral não estava acostumado a acudir

acompanhada às suas reuniões. Já despachara seu atordoado filho com umasmoedas de ouro e um tapinha na face. Apenas Firoz sabia o verdadeiro alcance docontrole que Sujana exercia sobre Shahu.

Eram muito mais que mãe e filho, eram o marionetista e seu fantoche.Sujana, através desse moço, Governaria Janpur um dia.

Shahu era a chave de todos seus planos.

— Logo darei a você outra mensagem que deverá levar para meu irmão. Ele

está começando a perder a paciência — disse a Rani Sujana com desprezo e semdeixar de caminhar.

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A persiana do biombo projetava sombras sobre sua esbelta silhueta. Girouao chegar a um extremo e voltou sobre seus passos. Firoz a observavahipnotizado.

— Por agora quero que investigue a essa Georgiana se for possível. Eu nãogosto que esteja aqui, nem um pingo. Já é má sorte que estes ingleses acampemtranquilamente pelo Palácio, e ainda por cima tenho que encontrar isso, inclusiveaqui, no harém? Quantas coisas me vejo obrigada a suportar! Oh, essa asquerosarameira da Meena se atreveu a convidá-la. Tomara que estivesse morta!

Firoz a olhou com ar inquisitivo.

Atrás do biombo, Sujana se deteve e deixou escapar uma gargalhada grave,deliciosa e sinistra.

— Meu amigo, por agora, e ao menos de momento, falo em sentido retórico— repreendeu divertida —Tudo no seu devido tempo.

Firoz esteve a ponto de sorrir, mas dissimulou sua satisfação e inclinou acabeça. Logo saiu em silêncio para cumprir o encargo de sua Senhora.

 

Nunca se ouvira o som das gaitas de fole sob os abobadados tetos do Paláciode Janpur, mas enquanto a multidão da Corte Maratha ia se agrupando à esperado início da celebração, o Major MacDonald reuniu uns quantos escoceses eobsequiou seus anfitriões com uma exibição marcial da dança das espadas,orgulho de seu regimento das Highlands.

Embelezados com seus kilts e suas típicas boinas xadrez, ou Tam-o'-shanters, cerimonial, os bonitos guerreiros escoceses, executaram uma vigorosa

 jiga sobre as espadas cruzadas, que colocaram no chão. Enquanto as gaitas defole gemiam e os tambores do país troavam, os bailarinos demonstraram sua forçae agilidade, realizando uma extenuante série de saltos sobre as espadas, com umamão elevada e a outra no quadril.

— A dança tinha o propósito de esquentar as articulações dos homens antesda batalha — contou Ian ao grupo de Cortesãos Marathas que tinha ao lado,enquanto Ravi traduzia suas palavras, obediente.

— Provaram o uísque, Cavalheiros?

Ao estilo dos homens do mundo, Lorde Griffith assinalou com o copo uma

mesa, onde um criado servia umas doses do delicioso uísque escocês quetrouxeram em barris.

— É a bebida favorita dos homens de nossa terra.

Por sorte, a Corte do Marajá também recebera o presente de quinhentasgarrafas de champanhe, porque alguns Marathas tomaram um gole do seco eamargo uísque e quase o cuspiram. Ravi traduziu os discretos comentários de umcomensal, com a expressão: “beber merda líquida” , por causa dos antigos matizescriados pela fumaça da turfa. Alguns pareciam estar considerando se esse“presente”  na realidade não seria um insulto. Por sorte, o champanhe ganhouadeptos.

Escrutinando a sala de banquetes com uma atenção dissimulada por suaatitude cortês, Ian bebeu um pouco de uísque tentando não ficar nostálgico. Sua

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Um bracelete de rubis resplandecia em seu pulso, sobre as longas luvasbrancas, mas o que mais chamou a atenção do Marquês foi a chamativagenerosidade, com que se mostrava a nívea pele de Georgiana, que o diminutocorpo do vestido deixava ao ar, graças ao profundo decote em forma de coração eas mangas baixas.

A imagem o deixou sem palavras.

Lorde Griffith, que parlamentou com Reis e ganhou a reputação depersonagem eloqüente na Câmara dos Lordes, apenas conseguiu cravar nela seuolhar.

A jovem ficou na soleira, vacilando, porque também causara choque entre osMarathas.

O Marquês não precisou ter um grande domínio da língua Marathi parainterpretar a reação geral, uma mescla de surpresa, de tímida ofensa por suaatrevida intrusão e de simples estupefação masculina, diante do espetáculo de sua

incomensurável beleza.Os Marathas sabiam que as inglesas não observavam o  purdah, mas Ian

adivinhou por sua reação, que nunca viram ninguém parecido com GeorgianaKnight. E, de fato, em Londres tampouco. Ao menos, desde os tempos de sua tia.

Ian não sabia se a situação o irritava ou o divertia. Que diabos estavafazendo essa mulher? Acaso não se assustava com nada?

Apesar da intrépida Senhorita Knight ter notado a reação escandalizada daconcorrência, estava decidida a não se deter diante de nada. Passeava o olharpela sala de banquetes, procurando algum conhecido, como se acreditasse que

tinha todo o direito de estar ali.Entretanto, uma certa insegurança em seus movimentos e em sua postura,

que denotava que não estava tão descaradamente segura de si mesma, comodesejava aparentar, despertou o Cavalheirismo de Ian.

Parecia que sua endemoninhada moça, necessitava de outro resgate atempo.

Com uma cortês inclinação, o Marquês se despediu dos Cavalheiros queesteve falando e foi reunir-se com ela nessa ocasião decidido a levar com calma,as travessuras que ela tentava pregar novamente.

Antes de se aproximar da dama, tomou um último gole de seu ardenteuísque escocês.

Iria necessitar.

 

Capítulo 6

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

cortesia, que mostra todo Cavalheiro que se aprecie, mas não conseguia ocultar otom suave de seus olhos. Esse homem a intrigava.

— Muitíssimo obrigado, Lorde Griffith — respondeu ela com a mesmacortesia formal que empregara o aristocrata, enquanto se agarrava ao seu braço.

Georgiana viu o olhar de inteligência que trocavam seus irmãos, mas decidiunão fazer conta.

Nada poderia alterar a súbita cadência de seu passo ao atravessar o salãode banquetes no braço do Marquês. Certamente o homem a exortaria depois, masde momento parecia muito bem que tivesse decidido tomá-la sob seu amparo,porque nesse preciso instante se deu conta de que o Príncipe Shahu a olhava dooutro extremo da sala.

Georgie tinha desenvolvido toda sorte de estratégias para manter distânciaaos varões afetuosos, mas em geral se tratava de nababos britânicos, educadossegundo os códigos Cavalheirescos do Ocidente. Não da realeza kshatriya,

acostumada a tomar o que tinha vontade.O Rajá Johar não demorou a fazer sua aparição e o exército de criados do

Palácio, colocou mãos à obra e começou a servir um magnífico banquete. Osconvidados esperavam que desse início ao jantar de maneira oficial esparramadosem seus assentos... Ou, melhor dizendo, em uma profusão de almofadõesquadrados e de grandes travesseiros cilíndricos, dispostos para os comensais, aoredor de mesas baixas e largas.

Ian pensou que se tratava de um modo muito íntimo de jantar, sobretudo setinha ao lado uma encantadora e formosa mulher.

A Senhorita Knight tirou as luvas para o jantar e se sentou entre Gabriel eIan.

Uns criados descalços faziam ar movendo vagarosamente os leques de canolongo, feitos com plumas de pavão. Não demoraram em trazer umas grandesbandejas de prata, com uma vertiginosa seleção de exóticos manjares, que oscriados foram colocando entre cada dois comensais. A seguir ofereceram váriospães em forma de disco, com fermento e sem fermento. Esses discos de pãorecém-feito, macios e fumegantes, possuíam diferentes texturas e sabores, eGeorgiana começou a descrevê-los para o Marquês, pão de trigo, pão de hortelã,pão de farinha de milho, pão moreno feito com farinha de cardos e pão de farinha

de lentilhas, era o que empregavam os hindus em lugar de talheres para levar acomida à boca.

Nas bandejas tinham disposto um amplo sortido de aprimoramentos hindus,assim como de mantimentos básicos como o arroz. Havia kebabs grelhado, comverduras variadas e trocitos de frango e cordeiro trespassados em umas espadasem miniatura. As bandejas tinham uns compartimentos onde colocavam umasterrinas com purê de lentilhas e biryani, um maneirado de frango feito a fogolento, com verduras de chamativas cores e uma grande abundância de aromáticoscondimentos, entre os quais se contavam canela, açafrão e gengibre.

Ian acreditou se encontrar no mercado de especiarias, o lugar onde viu

Georgiana pela primeira vez. Lorde Griffith se interessou por outro curioso prato,que a jovem descreveu como a versão hindu do maneirado de cordeiro, preparado

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

com um molho de creme aromatizado ligeiramente com amêndoas.

Ian perguntou se ela também provaria o prato, mas a jovem respondeu quenão comia carne. O Diplomata arqueou uma sobrancelha, mas ao vê-la se servindode batatas ao curry, umas curiosas verduras, crocantes, raízes de lótus e cabaçaamarga, pediu que ela explicasse as guarnições dos pratos. Havia chutney  dehortelã, mangas curtidas com gengibre, molho de tamarindo e molho de iogurte,ideais para rebater as especiarias picantes... Porque a comida era acompanhadade umas diminutas pimentas malaguetas verde.

Apesar de ter sido educado na insípida cozinha inglesa, na reta escola ondese formava a aristocracia, Ian compreendeu que chegara o momento de se arriscarnos assuntos do paladar. Só esperava que naquela posição sentado, nãoterminasse com o purê de lentilhas encima, durante a precária viagem que oalimento realizava da mesa até sua boca, montado no pedaço de pão que fazia àsvezes de colher.

Georgiana o observava divertida e ria dos ocasionais e irônicos comentáriossobre si mesmo, que fazia o Marquês, como, por exemplo, afirmar resmungandoque, entre todas as noites, escolhera precisamente essa para colocar um coletebranco.

— Querido Lorde Griffith, seu intérprete não comentou o que significam paraos hindus as cores branca e negra? — murmurou Georgiana se aproximando dele.

— Não, por quê?

— Por que na Índia, o branco é a cor da morte e o negro traz má sorte.

— Diz a sério? — exclamou o Diplomata incorporando-se.

Georgiana fez um gesto de incredulidade e lambeu com refinamento, umpouco de molho que tinha ficado no dedo.

— Pessoalmente acredito que está muito atraente, mas se quer cativarnossos anfitriões, prove com o vermelho, o verde ou o azul. O amarelo é uma boaescolha. O rosa também é aceitável.

— O rosa? Querida dama, nem um só descendente dos caudilhos normandosvestiu jamais o rosa.

— Ponha-o na moda. Adley o seguiria — propôs Georgiana piscandodivertida.

Ian explodiu em gargalhadas.A Corte de músicos do Marajá levava um bom momento tocando. A sinuosa

veena, acompanhada de uma expressiva flauta e do lento e complexo ritmo dostambores, resultou ser muito relaxante.

O jantar transcorreu em agradável conversa. Agradável para todos, salvopara o Príncipe Shahu, que passou a noite tentando chamar a atenção deGeorgiana. Sem dúvida o vaidoso jovem estava encantado com a novidade, mas agraciosa indiferença dela parecia confundi-lo. Quanto mais educada ela semostrava recusando-o, mais gritalhão e insistente ficava o presumido. Seus doisguarda-costas assumiram a incômoda tarefa de confirmar, sem parar, as proezasdo filhotinho real em diversos campos, desde seus triunfos na caça até a perfeiçãode seus cavalos ou sua muito cacarejada habilidade com a espada.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

— Obrigado, Senhorita Knight, mas se me permite, direi que não tem nada atemer a esse respeito. Seus primos são boas pessoas, simpáticas e honoráveis.

— Bem, com você pode ser que sim, mas não se levaram muito bem comseu irmão Jack.

“De uma lealdade inquebrável, a jovem.” — Compreendo que Jack seja a ovelha negra da família, mas entre nós, direi

que é nosso primo favorito. Ensinou-me a usar um estilingue quando eu tinha dezanos. E a forçar fechaduras.

— Sim, isso é algo muito útil para uma menina pequena — comentou oMarquês com secura.

Georgiana sorriu.

— Mais do que acredita.

— Me alegro de que siga em contato com vocês. Seus irmãos, que vivem emLondres, não sabem nada dele há anos, mas acredito que Jack e sua irmã Jacindase escrevem.

— Eu gostaria de conhecer minha prima Jacinda — observou Georgiana —Me pergunto o que se deve sentir quando é educada como à filha de uma grandedama.

— Sua mãe também foi uma grande dama — murmurou Gabriel olhando-acom certa recriminação.

— Não tenho modo de saber — respondeu a jovem, cabisbaixa.

Derek pigarreou.

— Nossa mãe morreu quando éramos pequenos — explicou a Ian, e logopassou o braço pelos ombros de sua irmã — Por isso os três nos levamos tão bem.À força. Só tínhamos a nós... Ao papai e a nós.

Ian viu o modo em que Georgiana contemplava seus irmãos, com um olharde adoração e tristeza, e se deu conta de que, de certo modo, sentia-semarginalizada do vínculo masculino e militar que unia os jovens.

Não obstante, seu rosto expressava o muito que para ela significavam seusirmãos. Seus azuis olhos pareciam dizer que esses jovens eram o único que tinhano mundo.

Ian desviou o olhar do terno sorriso que Georgiana dirigia a Derek e a Gabriele ficou uns instantes contemplando sua taça com intranqüilidade, como se tivessevisto muito, como se tivesse vislumbrado o mais íntimo dessa mulher, umaexposta vulnerabilidade que o arrastava até o mais profundo de si mesmo.

Nesse momento uma exclamação de alegria rompeu o incômodo silêncioque se havia pairado sobre eles. Ian elevou os olhos e viu que uns Cortesãos de Janpur, vestidos com vistosas cores e sentados a uma mesa próxima, faziamgestos para Gabriel e Derek, para que fossem fumar com eles depois dassobremesas. Os dois irmãos pediram instruções a Ian com o olhar para saber sedevia aceitar ou declinar o convite. E o Diplomata assentiu impressionado pelasboas relações, que esses jovens contribuíram a criar entre sua delegação e osanfitriões Marathas.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

— Vigiem seus comentários e... Procurem que não tenham metido algo maisforte que o tabaco nessa pipa — advertiu em voz baixa.

Os jovens assentiram e foram reunirem se com suas novas amizades.

Uma vez sozinhos Ian se perguntou como poderia aproveitar a oportunidade

de falar com Georgiana. Para falar a verdade, o Marquês tinha muita vontade desaber coisas dela.

— Recupera-se bem sua amiga? Refiro a jovem que você salvou do fogo.

— Lakshmi? Ah, bastante bem suponho, dadas as circunstâncias. Obrigadopor seu interesse — disse Georgiana dedicando um sorriso — Lakshmi decidiu ficarcom Meena. Já acertaram tudo.

— Parece decepcionada — murmurou Ian analisando sua ambíguaexpressão.

Georgiana se desentendeu com um gesto.

— Escolheu observar o purdab. Não posso acreditar. Cortou o cabelo quaseao zero.

— Ah, sim? Ora... — Ian, pensativo, bebeu um gole de vinho — A verdade éque não me surpreende.

— Como que não? — exclamou a jovem virando-se para ele — Você não aconhece, mas eu sim. E asseguro que me deixou muito surpresa.

— Tem tudo contra ela. Não é bom obrigar o peixe a nadar contra corrente— Lorde Griffith se inclinou para ela e abaixou a voz — A maioria não tem avalentia de sair do casca de ovo, Senhorita Knight, e muito menos a fortaleza de

enfrentar à censura de outros. Já sabe disso.Georgiana franziu o cenho e olhou para outra parte.

— Resulta-me difícil de entender. Era uma oportunidade fantástica para quefosse livre... Pela primeira vez em sua vida! E a recusou.

— Há gente a quem a liberdade assusta, me acredite. Não se pode obrigarninguém a aceitar um presente, se não estiver preparado para recebê-lo.

— Em todo caso, não me assusta.

— Sim, isso já vejo — murmurou Ian esboçando um sorriso afetuoso. E então

decidiu aventurar-se — Por isso não se casou? Porque guarda cuidadosamente sualiberdade?

Georgiana o olhou com prevenção e deixou escapar uma gargalhada deintranqüilidade.

— Já se figura como sou, não é verdade?

— Absolutamente, mas o tento.

— Nesse caso, permita que me explique.

Ian a convidou a falar com um gesto.

Georgiana tomou um pouco de vinho e, com finura, passou a língua peloslábios.

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Envolvidos em íntima conversa, os dois britânicos se esqueceram do PríncipeShahu, mas enquanto isso o patife principesco esteve observando Georgiana, comuma frustração crescente, por não ter conseguido despertar sua admiração.

Várias taças de champanhe o encorajaram, sem suavizar suas maneiras, eseu pai, que estava conversando com uns homens no outro extremo da sala debanquetes, já não se encontrava presente para controlá-lo.

— Não ouviu o que dizia em brincadeira?

— Sinto muito, Alteza, mas não.

— Eu disse, meta-a no trato e farei que meu pai assine esse protocolo!

Georgiana ficou gelada diante da ofensa, os guardas riram de sua graça,incômodos, mas Ian era muito preparado para morder o anzol. Do mesmo modo,sabia que no oriente se podia vender as mulheres como o gado e que se poderiapersuadir o Rajá Johar, dizendo que se sua querida Meena queria a companhia daSenhorita Knight, a jovem devia ficar no Palácio.

— O que pede Alteza, é impossível — respondeu Ian com moderação.

— Por quê?

Lorde Griffith se aproximou de Georgiana e pôs uma mão no joelho com umgesto de absoluta familiaridade, como se ela fosse uma posse indisputável.

— Porque é minha — respondeu Lorde Griffith com um sorriso gelado.

Ian estava sustentando o olhar do Príncipe quando, de repente, uma músicamuito alta trovejou com tambores e gritos, cítaras e campainhas de prata, paradar boas vindas a uma rápida e titilante fila de bailarinas do Marajá.

O Príncipe Shahu lançou um olhar furioso a Ian e virou com aspereza, paraprestar atenção aos recém-chegados.

Ian demorou um pouco em retirar a mão do joelho de Georgiana. Pulsavacom força o coração e notou o sangue em suas veias, como se acabasse dereclamá-la para si de verdade.

Então se deu conta de que a audaz Georgiana se havia posto vermelha comoum tomate e dissimulou um sorriso. Bem, parecia que nessa ocasião havia tocadoo turno dele se surpreender.

Um gesto muito explícito possivelmente, mas eficaz.

— Deveria partir — se obrigou a dizer a jovem — Acredito que tentei muito àsorte. Além disso...

Os convidados começavam a passar as narguilés e Georgiana assinalou paraeles tossindo um pouco.

— Me estão enchendo de fumaça os pulmões.

— Claro.

Recordando sua doença, Ian se levantou e ofereceu a mão para ajudá-la aabandonar seu ninho de almofadões. Entretanto, ainda não tornara a por as luvas,

e o impacto de sua nua mão na dele, não contribuiu para diminuir a tensão queexistia entre ambos.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Possivelmente ainda desconfiassem um do outro, mas a atração que surgiraentre eles era inegável.

— Obrigado.

A delicada voz de Georgiana se quebrou. A pobrezinha parecia tão alterada

depois do atrevido contato dele, que quase não conseguia olhá-lo nos olhos.“Que curioso” , pensou o Marquês, divertido, enquanto constatava que a

 jovem olhava em qualquer parte para evitá-lo, o chão, o teto, as bailarinas denautch14...

“E pensar que a tomou por uma libertina...” 

Ian achou inesperada e atraente a virginal reticência da jovem.

— Quer que a acompanhe aos seus aposentos? — perguntou com ternaseriedade.

Georgiana o olhou cabisbaixa e dedicou um sorriso tímido.

— Lorde Griffith, não permitirão que se aproxime do harém, mas obrigado.

Ian devolveu o sorriso e se inclinou para murmurar ao seu ouvido,

— Algum dia deveria me dizer o que acontece ali dentro.

— De fato, isso é o que me pergunto — respondeu a jovem em um tommuito significativo.

Lançou um olhar precavido em direção ao Príncipe Shahu e logo voltou a sedirigir ao Marquês.

— Espero que tenhamos a oportunidade de voltar a falar muito em breve... Eem particular.

Seus azuis olhos enviaram uma mensagem,

“Tenho que dizer uma coisa”.

O Marquês fez uma reverência com galharda cautela.

— Estou ao seu dispor, Senhorita Knight. Mande me buscar quando odesejar.

Se a jovem captou algum duplo sentido em suas palavras, guardou para si ese limitou a responder com uma leve e nervosa inclinação de cabeça.

Parecia terem se entendido.— Até então, Lorde Griffith.

Georgiana abaixou os olhos, recolheu as saias e partiu sem pronunciarpalavra.

Preso de uma acesa paixão, Ian a seguiu com o olhar, enquanto ela cruzavaa sala de banquetes e desaparecia pela porta dourada.

 

14 Tradicional dança indiana.

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Quando Lakshmi decidiu retirar-se, esgotada pela emoção de tudo o queviveu Meena e Georgie ficaram as sós. A vivaz e faladora Princesa passou todo omomento elogiando as virtudes de seu marido, mas Georgie não se importou.

Propôs-se a fazer umas quantas perguntas a Meena sobre a natureza dasrelações carnais com o marido, mas agora não conseguia expôs. No fundo, nãoqueria saber como era o Marajá de Janpur, como amante. Apenas a interessavaesse maldito inglês que cativara a vertente mais travessa de sua imaginação e,sobre esse assunto, Meena não podia ajudá-la.

Ao final, quando enumerou os infinitos encantos de seu marido, Meenatambém decidiu ir dormir, mas Georgie ainda seguia inquieta. Esta última deu umbeijo na face, a modo de boa noite e ficou sentada sob as estrelas durante ummomento, tentando não pensar em Lorde Griffith.

Era uma pena que tivesse perdido sua esposa. Georgiana se perguntou queclasse de mulher teria escolhido o Diplomata. Sem dúvida, uma Senhorita londrina

correta e formal. Alguma jovem de sangue azul, produto da aristocracia. Suspiroue voltou a se sentir nervosa. Levantou-se, calçou as sapatilhas, sem colocar asmeias, e logo foi percorrer os labirínticos corredores do harém.

“Mais de uma poderia se perder aqui” pensou sem querer admitir diante desi mesma que, na realidade, ia parando em todas as miras e grades de escuta, emum dissimulado esforço para descobrir, em que canto do Palácio se encontravaLorde Griffith.

Em uma das longas e escuras galerias do piso superior espionou por umaestreita janelinha e viu que dava à ampla praça que havia ao final do caminhoprincipal, a mesma praça que teve que atravessar para entrar no Palácio pela

primeira vez. As tochas pareciam estudar a escuridão e iluminavam os guerreirosque, em pares, faziam a guarda. Alguns criados aproveitavam o ar fresco da noitee se apressavam em realizar suas tarefas, como varrer o chão empedrado oualimentar o fogo.

De sua elevada posição, Georgiana desfrutava, à luz das tochas, de uma boavista do templo do Marajá, que presidia a ala oriental da praça.

Não era excessivamente grande, embora contasse com abundantes relevos,era elevado e estreito e seu telhado, piramidal. A pouca distância do templo seencontrava a sofisticada jaula de ferro forjado dos tigres, do tamanho de umacasa. Umas frondosas árvores acrescentavam sua impenetrável escuridão.

A maioria dos Marajás colecionava animais selvagens, mas para Georgieparecia se recordar que no timbre real de Johar se apreciavam uns tigres ferozes.

Um movimento no centro da praça chamou sua atenção. Um inglês, com asmãos nos bolsos, caminhava sob a luz da lua.

Georgie pôs uns olhos como pratos.

Ao vê-lo, alto e elegante na escuridão, um calafrio percorreu seu corpo e, derepente, o coração acelerou. Por um momento mordeu os lábios pensando se eraacertado ou não se reunir com ele as sós, mas então recordou que tinha uma boadesculpa para sair. Devia contar suas suspeitas sobre a Rani Sujana.

A jovem se pôs a caminho e acelerou a marcha. Jurou a si mesma que não

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dispunham diante delas ,enquanto foram dirigindo diversas jaculatórias.

Georgie se voltou para Lorde Griffith e sacudiu a cabeça para advertir de queali não estariam sozinhos, então viu a elaborada entrada à famosa cova das precesde Janpur e fez gestos para que a seguisse. Ian a seguiu, sem deixar de examinara galeria lavrada na rocha que protegia a entrada da cova. Um par de pesadascolunas sustentavam um pórtico construído com pedra calcária da montanhapróxima. Flanqueavam-no umas talhas simétricas de criadas celestiais, que davamas boas vindas aos devotos e os acolhiam em suas salas perfuradas.

— A meseta de Decã está cheia de covas que servem de templos, como estedaqui — explicou Georgiana sussurrando à medida que se aproximavam — O forteé medieval e o santuário, mais antigo ainda, mas esta cova é anterior a todo oresto. Há quem diz que leva aqui uns mil anos. E também por isso escolheram amontanha para erigir a fortaleza. Tem a ver com a fertilidade.

— É curioso que não me surpreenda.

Georgiana dedicou um olhar de inteligência, tirou os sapatos, que deixou junto ao muro, e cruzou a galeria em penumbra.

Ian a seguia de perto, mas quando estivam no hall e olhou para frente, paraa escada esculpida na rocha que descia pelas vísceras da montanha, o sempregalante Lorde Griffith se situou à frente, para maior segurança e a segurou pelamão. Georgie, ainda com o vestido de noite posto, recolheu as saias com a mãoque ficou livre.

Seguiram o rastro de umas velas que os sacerdotes deixaram na escada depedra. Na profunda escuridão da cova as chamas pareciam diminutas estrelas. Oambiente era fresco e úmido, e enquanto desciam por essa espécie de tumba,apoderava-se deles a sensação de que um peso enorme se abatia sobre suascabeças. Entretanto, Georgie seguia afetada pela ousada troca de palavras deminutos atrás e, nervosa, procurou um tema mais seguro.

— Lorde Griffith, estava me perguntando...

— Chame-me Ian, por favor. O que quer saber?

Georgiana se deteve na escada e sorriu, agradecida por que pedir que ochamasse por seu primeiro nome.

— Perguntava-me por que percorreu meio mundo para procurar um lugar dedescanso — perguntou a jovem em tom amistoso enquanto ambos seguiamdescendo a longa e pétrea escada.

— Disse-me que esteve no Ceilão.

— Sim.

— A viagem da Inglaterra dura vários meses, não é verdade?

— Certo. Precisava encontrar um lugar onde pudesse descansar.

Georgiana o olhou com ceticismo.

— Suponho que chamaram antes.

— Nota-se muito? — disse Ian rindo.— Um pouco. Por que queria descansar num lugar tão longínquo?

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respondeu Ian olhando-a fixamente — Não acredito que essa mulher sejarelevante, sobretudo tendo observado o purdah. Por outro lado, se a Rani passasseinformação a Baji Rao estaria traindo seu marido. Por que teria que fazer algoassim?

— Por vingança, claro.

O Marquês franziu o sobrecenho.

— Não se inteirou que o Rajá Johar está loucamente apaixonado por Meena?— perguntou Georgiana em voz baixa.

Lorde Griffith deixou escapar um suspiro de exasperação e se arranhou afrente.

— As sacanagem da vida amorosa do Marajá não constavam em meusinformes. Diabos, uma mulher despeitada...

— Uma Rajani despeitada... — corrigiu-o Georgie — Possivelmente você

poderia conseguir que o Príncipe ficasse excluído das preliminares.Ian estalou em uma gargalhada.

— Não sei que explicação razoável poderia dar para que meu pedido não seinterpretasse como um colossal insulto ao Marajá. Quer que diga a Johar que seufilho é uma víbora e que sua esposa está conspirando contra ele? Com isso nãoconseguirei que firme o tratado.

— E se tivermos provas? — aventurou a jovem, encorajada.

Ian a observou com desconfiança.

— Há um aposento na  zenana, uma sala para as audiências particulares,onde a Rajani recebe a suas visitas — seguiu explicando Georgiana — Não sepermite a entrada a ninguém. Se essa mulher oculta algo, terá que olhar nesselugar. Aposto o que queira que posso entrar e dar uma olhada...

— Não — a interrompeu o Marquês com decisão levantando o dedo indicador— Quero que fique à margem de tudo isto, Georgiana. É muito perigoso. Isto não éum jogo.

— Ian com dois irmãos que não podem suportar perder uma batalha entendoperfeitamente o que está em jogo. Faria algo para ajudá-lo a impedir que sedeclare esta guerra.

— Um detalhe de sua parte, mas não tenho intenção de me misturar nasdisputas domésticas do Marajá. Seria o cúmulo da má educação e só conseguiriaofendê-lo. Terei que me limitar a resolver o outro extremo da equação, postareium guardião que vigie os possíveis espiões que a Rani despache da fortaleza.

— Isso é impossível. Há muitas portas e muitas pessoas observando, entremercadores e súditos. Além disso, olhe, vê o fácil que é escavar na pedra calcária?— indicou Georgiana assinalando as esculturas ao redor — A maioria destasantigas fortalezas contêm clandestinamente túneis secretos, que garantem asegurança dos Monarcas. É certo que a Rani os conhece. E como posso entrar noharém, ao menos terá a oportunidade de saber o que está acontecendo ali. A Rani

poderia estar minando todos seus esforços!— De todos os modos, já é tarde para isso. Quase concluímos as

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negociações e confio em que o Rajá firme o tratado. Ouve-me, Georgiana? Nãoquero que se meta nisto. É muito perigoso.

— Não tenho medo.

— Esse é precisamente o problema — protestou Ian.

— Já se arriscou muito vindo a Janpur e é claro que chamou a atenção detodos. Sem contar seus irmãos, sua beleza enfeitiçou todos os homens queestavam no salão de banquetes. Inclusive o Príncipe.

— E a você também? — retrucou a jovem sem poder se conter.

Lorde Griffith sustentou seu olhar.

— Acredito que já sabe a resposta.

— Sempre tão Diplomata... — provocou-o Georgiana com um sensualsussurro — Alguma vez responde diretamente a uma pergunta?

Ian a olhou nos lábios, como se lutasse contra a tentação debatendo-seconsigo mesmo. Ficou tão calado e quieto que Georgiana se perguntou se nãoteria passado da conta.

Então o Marquês cravou seus olhos nos dela e se aproximou, ao mesmotempo em que sua imponente sombra deixava na penumbra os relevos tântricos.Aproximou-se dela como um elegante Lúcifer sumido na escuridão subterrânea,iluminado à luz das velas, formidável e desenvolvido, decidido em seu propósito.

Apesar de Georgiana estremecer excitada ao tê-lo tão perto, sentiu que suasforças fraquejavam, porque esse homem irradiava um poder hipnótico.

Ian a tocou com venenosa ligeireza, como o homem que aguarda suaoportunidade. Roçando as maçãs do rosto com as pontas dos dedos, sua carícia,como uma pluma, subiu para sua orelha e avançou lentamente para a mandíbula eo queixo. Então, com dois dedos, elevou seu rosto.

Quando se inclinou para saborear essa mulher, Georgie começou a tremercomo uma folha. Fechou os olhos espectadora e com o coração pulsando comforça.

Seus lábios roçaram os dela em uma carícia sedosa, exploratória, emboraainda sabiamente controlada, enganando-a, como uma cativante miragem dodeserto, que conjurasse a imagem de um oásis.

Ian se deteve, de repente. A ânsia que Georgiana sentia por ele a estavavoltando louca. Sabia que Ian se esforçava em se reprimir, que dominava a paixãocom força de vontade, mas o sentimento era forte. Georgiana podia sentir a férreae tórrida necessidade desse homem pugnando por se libertar-se, assim como aretida força das grandes e elegantes mãos com que a tocava.

Elevou os olhos e viu que a estava olhando.

— É preciosa — sussurrou Ian.

A jovem devolveu o olhar com um receoso convite.

“Tome-me então. Não me dá medo.” 

O Marquês a agarrou com firmeza entre seus braços sem deixar nem um só

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também, e logo subiu roçando com os dedos até puxar o aristocrático nó de suagravata.

Fora gravata.

Ian a ajudou a tirar a afrouxando-a, e logo também a deixou cair ao chão.

Sem a gravata borboleta, a parte superior da camisa branca cedeu facilmente àmeticulosa exploração da jovem.

Georgiana seguiu o orgulhoso perfil de seu pescoço com as pontas dosdedos, pousou na pequena noz que tinha na base da garganta e se deteve em seupeito.

Ian sorriu, com os olhos em brasas. Georgiana devolveu o sorriso com umaalegria quente e o atraiu agarrando-o pela nuca. Nada podia romper oencantamento que criaram os beijos que davam. Sob o resplendor avermelhadodas velas, Ian a beijou nas pálpebras, nas faces, no pescoço, nas orelhas e nosombros.

Georgiana quase se retorceu de prazer com seus cuidados.

E ele quis mais. O vestido tinha um decote muito baixo e mangas atrevidasque deixavam os ombros ao ar. Ian deslizou um dedo para o interior do corpete e,com um movimento delicado, abaixou-o um pouco mais.

Georgiana se deu conta de que tinha tirado o seio fora e ouviu emitir umgrave e rouco suspiro de apreciação varonil, tão forte que quase parecia de dor.

Sua mão, bem treinada, cobriu o seio com uma carícia aveludada. Inclinou acabeça faminto e Georgie tremeu e deixou escapar um gemido, quando o Marquêspassou a língua uma e outra vez pelo mamilo.

Georgiana reclinou trêmula contra a pedra, de uma agradável texturarugosa, fria contra sua pele ardente. Acariciou a cabeça do aristocrata, enquantoele devorava seu seio, às vezes se aferrava ao sedoso cabelo de Ian, embriagadapela desavergonhada entrega desse homem. Embora tivesse exposto milhares deperguntas a Meena, não existiam palavras que fizessem justiça a estes sublimesprazeres.

 Tinha os mamilos tensos e o seio, cheio de desejo. Ian a acariciava tocava-acom ambas as mãos. O metal do maciço anel de brasão que usava no dedomindinho esquentou ao calor de seu contato. A temperatura ia subindo entreambos e Georgiana não se surpreenderia que, sob seu efeito, esse selo familiartivesse gravado sua marca nela. Notava fogo na pele, ardia de desejo por ele.

A jovem libertou o outro seio do decote e, transtornada, observou como aboca de Ian descia para ele. A ponta rosa intenso do inflado pico de seu seiosobressaiu até roçar os lábios do Marquês, Georgiana esperou, ofegante, seu beijo.

Ian brincou com ela uns segundos, mas quando apanhou todo o mamilo coma boca, a jovem gemeu em voz alta envolvendo-o em um abraço. O úmido erítmico puxão da boca no seio da jovem a satisfez e a excitou de uma vez. Ian sedeleitou no beijo, seu cinzelado rosto expressava o abandono e o desfruteabsolutos que sentia.

Gozou dela com uma oculta perversão, que ninguém teria suspeitado noformal Marquês. Georgiana estava encantada de que fosse tão maravilhosamente

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Pelo que sim estava seguro era de que quando essa ardente ingênua, entregemidos, dissera em seu ouvido que o desejava, ele foi incapaz de resistir. Admitiaque o que acabava de fazer com ela nada tinha a ver com honra, mas tendo emconta que se negou a introduzir o pênis como pediu, pensou que seu comedimentobeirava o heróico. Por outro lado, se a jovem desejava tanto uma experiência

carnal, não era muito melhor que praticasse com alguém que velaria por ela,alguém em quem podia confiar que não faria mal, nem arruinaria sua reputação,com fanfarronadas de juventude?

Da sua parte, Ian não recordava ter estado nunca com uma mulher, quereagisse com tanta paixão, essa mulher se entregava de todo coração aosprazeres. Era glorioso de ver.

E possivelmente fosse vaidade de sua parte, mas achava absolutamentegratificante o fato de que, embora inumeráveis homens a desejassem, ela sedevotasse a ele.

“Ah, Georgiana Knight.”  Deveria saber que essa jovem o seduziria até conseguir que fizesse

maldades com ela. Tinha-o caçado por culpa da desenfreada curiosidade quesentia por essa atraente sereia, que poderia ser sua esposa, se estivesse dispostoa fazer que se cumprissem as aspirações que, há gerações, pretendiam uma uniãoentre ambas as famílias.

Entretanto, Ian não tinha nenhuma intenção de fazê-lo. Apenas quis prová-la, os dois quiseram. Muitíssimo.

Lorde Griffith compreendeu então que os dois meteram isso na cabeça nomesmo dia em que se conheceram. Ele estava bem versado na arte de negar oevidente, mas ela não e, que o diabo a levasse, essa mulher era impossível deresistir. Ian era todo um Cavalheiro, mas Deus sabia que não era um santoprecisamente.

Um dia desses, quando partisse da Índia e retornasse a Inglaterra, recordariao incidente como um malicioso episódio de prazerosa intimidade. A doceGeorgiana na cova das preces.

Quando comprovou que ela retornara sã e salva ao Palácio, Ian contou aosseus irmãos, a preocupação que ela transmitira sobre o Príncipe Shahu e dacomunicação que este pudesse ter com a Rajani, da possibilidade de que o

herdeiro ao trono contasse a sua mãe tudo o que acontecia nas audiências do Rajá Johar, e confessou sentir-se preocupado deste modo, pelo fato de que a RaniSujana pudesse estar informando Baji Rao. Os três homens decidiram voltar paraestudar essa possibilidade.

Antes de entrar no Palácio, Derek perguntou com naturalidade o queaconteceu com sua gravata.

— Faz um calor de mil demônios e não consigo me acostumar ao clima.Como agüentam algo assim em plena batalha?

— Agüentamos e ponto — respondeu o militar encolhendo alegremente deombros, Gabriel, entretanto, observou Ian com certa reserva.

“Ele sabe — pensou Ian — ou ao menos o suspeita. Maldita seja!”  

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— Sim, mas... — a voz Gabriel quebrou, e se limitou a franzir o cenho.

— Gabriel sempre estamos falando o mesmo. Já não é uma menina. Separece com papai. Já sei que nós adoramos que esteja em casa para que cuide denós, mas cedo ou tarde teremos que deixar fazer sua própria vida. Já faz muitotempo que deveria ter se casado, e caso se interesse de verdade por Griffith, juroe perjuro que não serei eu quem se interponha em seu caminho. Esse homempoderia ser exatamente o que ela necessita. É o bastante preparado para dirigi-la,e para destruir seus truques, e me atreveria a dizer que ela também saberia dirigira ele.

Gabriel, ainda com uma expressão de irritação, abaixou os olhos e, ao fim deum momento, sacudiu a cabeça.

— Não quero que a leve tão longe, a Inglaterra, e que não a vejamos nuncamais — admitiu o jovem com um olhar triste — Seria como se a levasse a lua.

— Não acredita que se apressa muito?

— Não.

Derek riu aflito e deu uns golpezinhos em suas costas.

— Vamos, irmão. Temos trabalho. Alguma vez entenderei por que semprechega rapidamente a pior conclusão — recalcou o jovem compassando comdesenvoltura o passo ao de seu irmão — É um pessimista, sabia?

Gabriel riu com sarcasmo.

— Sou um soldado, e se por acaso não tenha se dado conta, quase sempretenho razão.

Gabriel o olhou com naturalidade, e os dois irmãos, passando por Ian,entraram no Palácio.

No interior os convidados ainda estavam reunidos no deslumbrante salão debanquetes, conversando e desfrutando das caprichosas evoluções das dançarinasde nautch e de outros artistas.

Ian se deteve ao observar uma mulher tampada com véus que se sentava àmesa do Rajá Johar. Dissimulou seu assombro quando um dos Cortesãos disse quese tratava da Rani Sujana em pessoa.

Como primeira esposa do Monarca, em certas ocasiões dispensava a

estranha honra de aparecer em público junto a seu marido, sobretudo em atosoficiais ou de etiqueta. É claro, a Sua Majestade só poderia ser contempladaatravés de vários véus, para não infringir o purdah.

Desejando aproveitar a oportunidade de analisar essa mulher e tentar leralgo nela apesar dos véus, Ian voltou a ocupar seu lugar na mesa do Marajá.

Quando os irmãos Knight se sentaram ao seu lado uns instantes depois, Ianainda estava desconcertado, porque não acertava iniciar uma conversa com aRajani, dado que a Sua Majestade era proibido falar com qualquer homem, quenão fosse seu marido e, possivelmente, seu filho.

Nenhum deles se achava presente. Johar se mudara para o outro extremo dogrande salão e estava em pé conversando com seus assessores. Shahu não se viapor nenhum lado. Sem esses homens, a pobre mulher, a quem não permitiam

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porque agia como o típico varão, que deseja proteger a sua dama. E Georgianaconhecia de sobra o assunto graças a Gabriel e a Derek.

Deste modo sabia, porque Ian acreditou nela até o ponto de mencionar queeste tratado de paz tinha importância vital. As vidas de muitas pessoas corriamperigo. Além disso, não prometeu que o ajudaria se estivesse em seu alcance fazê-lo?

Bem, agora tinha a oportunidade de demonstrar que podia ser útil.

 Jurando que entraria e sairia dessa sala secreta sem que ninguém se desseconta, Georgie notou que seu pulso se acelerava, enquanto se dirigia nas pontasdos pés para a porta. Fechada, é claro. Entretanto, isso não era nenhumimpedimento graças ao seu primo Jack. Esboçando um ladino sorriso, Georgianatirou uma longa forquilha do cabelo, agachou-se e, procurando agir com o máximosilêncio possível, manipulou a fechadura com a forquilha.

Clique.

“Enfim... obrigado, Jack.” 

Dando uma olhada com cautela a suas costas, Georgiana abriu a porta eespiou o interior. Assegurou-se que não houvesse ninguém dentro, penetrou nasala e, com silêncio, fechou a porta atrás dela e deu a volta à chave, para estarmais segura.

Um elaborado biombo de madeira percorria quase de lado a lado a sala deaudiências particulares. Através dos finos e intrincados arabescos de madeira deteca que conformavam seu traçado, a jovem viu que a porta das visitas, situada nooutro extremo da sala com paredes cegas, estava entreaberta.

A única luz que penetrava fracamente através da soleira procedia do longocorredor, junto aos quais os eunucos montavam guarda. Quando seus olhos seacostumaram à penumbra, Georgiana examinou a sala.

Um trono sobre um assoalho, transbordante de almofadas, constituía o pontode fuga da sala. As paredes circundantes estavam ricamente decoradas compinturas e mosaicos, sem esquecer as típicas estátuas de temas religiosos, umasde tamanho natural, outras colocadas sobre bases.

Observou uma linda escrivaninha de estilo europeu no canto, onde osecretário da Rani, ou possivelmente Sujana em pessoa, devia anotar os assuntosque se trataram nas diferentes audiências.

Georgie atravessou a sala correndo, abriu a inclinada tampa do móvel cominfinito cuidado e começou a revolver os papéis consciente que, como prêmio asua ousadia, possivelmente conseguiria que cortassem sua cabeça. Aproximou daluz vários maços de documentos e, como conhecia um pouco de Maratha, podedistinguir a temática geral de cada um deles, pedidos, julgamentos, legados,escrituras e folhas diversas.

Não havia nada suspeito ali, apenas a tediosa papelada de um personagemda realeza, que se ocupa meticulosamente das poucas tarefas que encomendam.

Durante um momento Georgie teve piedade de Sujana, porque inclusive em

seu breve encontro, ficou impressionada pela aura de feroz orgulho e inteligênciaque emanava dessa mulher. E se compadeceu porque estava enjaulada, como

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aquele tigre em sua sofisticada guarida.

“Vivendo nestas condições, uma mulher de talento pode ficar louca deamarrar” pensou a jovem, enquanto dava uma olhada pela sala perguntando-seonde podia seguir procurando.

Decidiu se aproximar do branco e vazio trono, e apalpou-o para ver se poracaso havia algo escondido em seu interior, ou dentro dos almofadões. Nada. Comcuidado, Georgiana dispôs as almofadas exatamente como as encontrou. Tinhaque se apressar.

Sem perder tempo, examinou as pinturas, os tapetes e as tapeçariasvizinhas movendo-os de lugar, tentando detectar se tinham compartimentossecretos. Nada.

Olhou ao redor com o cenho franzido, o único que ficava por registrar eramas estátuas. E decidiu comprovar se alguma era oca. Shiva, Ganesh, Indra,Parvati... Não ocultavam segredo algum. Entretanto, quando chegou à estátua de

Kali, com o mesmo tamanho de Georgie e negra como a boca de um lobo, preferiunão tocá-la.

“Só é uma estátua” disse-se zombando de seu temor.

Com a crispação desenhada no rosto, Georgiana apalpou os horríveisadornos da deusa da morte e, de repente, seus dedos detectaram uma costuraapenas perceptível ao redor da cabeça decapitada, que Kali agarrava semmisericórdia alguma. Agarrou-a decidida e a fez girar com prudência. O crânio seabriu de repente como uma portinhola e a jovem deixou escapar um grito afogado.

No interior havia um papel dobrado.

Olhando ao redor com ar de culpa, Georgie agarrou o papel e o desdobroucom o coração apertado. Aproximou a mensagem da luz que penetrava docorredor e pode distinguir umas linhas escritas a toda pressa.

Eram de punho e letra da Rajani, sem dúvida. Em sua arrogância, Sujananem sequer se incomodou em cifrar seu texto e, enquanto Georgie se esforçavaem traduzir a carta mentalmente, a maldade que resplandeciam nas palavras quelia, gelou seu sangue. Aquilo era pior do que suspeitava.

A Rani Sujana não só tinha tomado partido de Baji Rao, mas sim conspiravapara assassinar seu marido e por no trono o Príncipe Shahu!

 “Paciência, irmãozinho — dizia a condenatória carta no final. Enviarei um

recado quando a delegação britânica partir de Janpur. Então agiremos.” 

 

Georgie estava tão concentrada traduzindo a carta que não se deu conta deque outra pessoa se aproximava, até que ouviu um débil tinido de jóias. Muitotarde.

Saudaram-na com uma explosão do outro lado da sala.

— O que faz aqui? — perguntou uma voz grave.

Georgiana levantou a cabeça, arregalando os olhos como pratos, pálida

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como um morto.

“O Príncipe Shahu!” 

Pegaram-na com as mãos na massa.

Nesse instante Georgiana levou o papel às costas. Tentando esconder a

prova do complô da Rani Sujana, a jovem retrocedeu, enquanto ele a encurralavacom aqueles sapatos de ponteira levantada.

— Como te atreve a invadir a intimidade de minha mãe?

As sombras brincaram com a careta que esboçou o Príncipe herdeiropermutando-a em uma expressão sinistra, enquanto Georgie trabalhava emexcesso para inventar uma desculpa.

Esperava que ocorresse alguma explicação convincente, para que o Príncipepensasse que a situação não pintava tão mal como as aparências indicavam.

Embora, de fato, pintava fatal.

— Eu... — Georgiana olhou ao redor aterrorizada, tentando encontrar umavia de escape.

— Mulher estúpida!

A jóia que Shahu exibia no turbante cintilou e seus compridos pingentes deouro relampejaram na penumbra, mas as conchas de seus olhos seguiamescurecidas, por seu proeminente cenho.

— Esperava fazer uma visita de cortesia a você, apsara, mas agora... Quedesperdício!

Georgiana ouviu um sussurrante e metálico som no momento em que oPríncipe desembainhou sua adaga.

Capítulo 8

 Todos que se encontravam reunidos ao redor da mesa de Johar, no salão debanquetes, ficaram gelados ao ouvir um penetrante grito na distância.

Ian ficou direito, em guarda, e deixou a taça sobre a mesa. Teria jurado quese tratava de uma mulher, embora a voz ficasse afogada pelos muros do Palácio.

Gabriel e Derek também olharam para a porta dourada e ambos, guerreiroscurtidos nas batalhas, ficaram em alerta.

Um segundo grito, mais nítido, crispou o ambiente.

— Socorro!Derek e Gabriel ficaram em pé imediatamente e saíram como uma flecha do

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Georgie e seus irmãos já se achavam a caminho, inclusive antes queaparecesse a cinzenta e pobre luz do amanhecer. Foram a cavalo, cruzando o país,percorrendo o acidentado terreno, que era a morada do tigre, com o grupo decipaios as suas ordens e também com o Major MacDonald e alguns de seusvalorosos escoceses. Não iriam a Calcutá para recolher seus pertences.

O Coronel Montrose ordenara aos irmãos de Georgiana que fossem para achuvosa Inglaterra, com o encargo especial de informar ao Parlamento, sobre aurgente necessidade de conseguir mais recursos para o exército da Índia diante daiminência da guerra.

Inglaterra! Georgie estava atônita.

Ao sair para Janpur, há apenas uns dias, jamais teve a intenção deabandonar sua amada Índia, mas agora não ficava outra alternativa.

Ao por Gabriel e Derek sob a custódia do Coronel Montrose, o Rajá Joharsalvara a vida de seus irmãos e outorgou deliberadamente certa vantagem para

escapar, entretanto, na realidade os jovens se converteram em fugitivos da leihindu, e o exército do Marajá não demoraria em persegui-los.

Se os capturassem de novo, Johar não poderia voltar a ajudá-los. Se veriaobrigado a ordenar sua execução. Depois de tudo, nenhum Marajá que fosse dignode ocupar o trono, podia infringir a lei o seu desejo só por conveniência. Os fatosfalavam por si só, Gabriel assassinou o Príncipe herdeiro e Derek agiu comocúmplice, segundo as leis Marathas, os dois irmãos deviam pagar seu crime comuma morte horrível.

Alguns criminosos morriam esmagados sob a pata de um elefante. Outrosserviam de alimento aos tigres da Coroa. Entretanto, o destino mais provável quese enfrentariam os Knight, seria a decapitação diante uma turba sedenta desangue.

Georgie teria dado sua vida para salvar seus irmãos de uma morte segura,sobretudo porque estes tinham assassinado Shahu, para protegê-la. Por outrolado, sabia que não poderia ficar na Índia, porque também granjeou muitosinimigos. E tampouco podia permitir que a capturassem e utilizassem como refém,para atrair sua família diante da alegada justiça, pelo assassinato do PríncipeShahu. Por outro lado, os três irmãos não queriam se separar. Assim a famíliaKnight se decidiu a embarcar para rumar à terra que viu nascer seus pais.

Ian, ao se despedir, dissera a jovem que explicasse aos seus irmãos, que nãodeviam tentar ficar a lutar. Dado que Gabriel e Derek eram tremendamentepopulares, entre as distintas filas do exército, se morressem injustamente por terprocurado salvar a honra de sua irmã e proteger sua vida de qualquer ataque, astropas de Lorde Hastings, concentradas na próxima Cawnpore, teriam seamotinado. Uma nova causa de hostilidade entre britânicos e Marathas era oúltimo que convinha a uma situação tão precária como aquela, por isso se decidiuque os Knight partiriam do próximo porto de Bombaim, com destino à Inglaterra.

Um dos navios mercantes de seu primo Jack os tiraria da Índia. Por desgraça,antes tinham que percorrer muitos quilômetros, a maior parte dos quaistranscorriam pelo território de Baji Rao, e se sua pequena comitiva cruzasse comas hordas dos  pindari, já podiam se dar por mortos. A situação não satisfazia aninguém.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Georgie estava desesperada porque se viram obrigados a deixar para trásIan, para que atasse os cabos soltos. O Diplomata os tinha ameaçado para partir, esem tardar. Assegurara que arrumaria as coisas. Entretanto, ao seu modo de ver,Georgiana considerava terminada sua tarefa. Ele salvou sua vida. Agora bem, oMarquês ainda devia persuadir o Rajá Johar para que assinasse o tratado, e logo

sair daí são e salvo.No meio da amanhã a comitiva inteira começava a perder os nervos por

culpa do calor e do zumbido incessante dos insetos, que foram picando sem parar,tanto os sufocados humanos como aos suarentos cavalos. O sol, em seu pontomais alto, converteu o bosque pluvial de teça, que serpenteava o caminho, emuma estufa fumegante e abafada. Tirar a roupa para combater o calor sócontribuía em deixar a pele mais exposta às picadas de moscas e mosquitos.

Com um chapéu de palha de aba larga que protegia seu rosto do sol e umcasaco sobre os ombros para combater do frio quando fossem ao mar, Georgie,que queria montar escarranchado, pôs as calças de seda que levavam as hindus,

sob seu vestido de dia de estilo inglês. O terreno era muito abrupto para searriscar a ir sentada de lado, como as damas. Completada sua indumentária combotas de montar e luvas de pelica.

Imaginou que devia ter um aspecto bastante ridículo, mas depois dosacontecimentos das últimas vinte e quatro horas, sabia que mais valia estarpreparada para confrontar qualquer imprevisto. Ainda corriam perigo. Sem deixarde cavalgar e tentando acalmar seu indignado cavalo, Georgiana fez umpormenorizado repasse mental dos últimos acontecimentos. Descobriu um complôpara assassinar a um dos Marajás mais importantes do país, esteve a ponto demorrer atravessada por lanças Marathas, se por acaso fosse pouco, encontrou o

que certamente era o homem de seus sonhos e, com toda probabilidade,destroçou a gloriosa carreira militar de seus irmãos e torpedeou sua missão.

Ainda resultava inconcebível que o Coronel Montrose encomendasse umanova missão a Derek e Gabriel. A jovem, enquanto os esperava para partir, ouviu aconversa que seus irmãos mantiveram com o militar do comando.

— Coronel, o que acontecerá com nossos homens?

— Atribuirei outro superior. Deveriam estar contentes de que não exija quese demitam!

— Senhor, esse verme, independente que seja Príncipe ou não, tentou

assassinar a nossa irmã!— Sua irmã nem sequer deveria estar aqui! E agora, me escutem os dois! É

verdade que têm uns primos importantes na Câmara dos Lordes? Bem, pois osuse! E não se atreva a discutir comigo, moço, que eu já ia à guerra quando vocênasceu! Movam a bunda e sigam para Londres. Para ver se conseguem que essesmalditos medíocres e chorões da Índia House e do Parlamento entendam que aguerra é cara! Se quiserem que consigamos as vitórias que nos pedem, têm quenos dar os recursos que nos prometeram. Nossos homens necessitam cavalos...Armas melhores... Munição! Diabos estamos quebrados... E vêem como são ricosesses Marajás! Podem se permitir o luxo de lutar indefinidamente. Inclusive têm

em lista de nomes de Generais franceses, para que treinem suas tropas. E issoainda nos complica mais as coisas.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

— Por certo, o que diremos a papai? Que nos jogaram a pontapés da Índia?Asseguro que vai se desgostar.

— Tampouco acredito que se pusesse a saltar de alegria se tivéssemospermitido que matassem a nossa irmã não parece? Pelo amor de Deus, se cale já— murmurou Gabriel — Não sabe fechar a boca!

— Muito bem! — exclamou Derek pondo ponto final à conversa.

Com os calcanhares, pressionou o flanco do cavalo e saiu a galope.

Georgie olhou de soslaio para seu irmão mais velho.

Gabriel seguia com o olhar à frente.

A jovem ficou cabisbaixa e diminuiu o passo para deixar que ele também aadiantasse. Possivelmente Gabriel não era tão eloqüente expressando seu malestar como Derek, mas sem dúvida estaria pensando o mesmo, só que decidiraguardar para si seus comentários.

Espantando uma mosca gorda e asquerosa que incomodava seu cavalo,Georgiana ficou pensando na promessa de Meena. A Princesa se asseguraria deque seus criados e o elefante que alugou retornassem a Calcutá sãos e salvos.

Não queria pensar em sua aia, que ficou em Janpur, porque temia voltar achorar. Purnima era muito velha e o caminho que percorriam, muito inseguro einfestado de perigos para se arriscar a trazê-la com ela, pelo simples gosto que sefizesse de acompanhante. Por outro lado, nem sequer teve a oportunidade de sedespedir de Lakshmi, embora a pessoa que mais preocupava e estava presenteem seu pensamento fosse Ian, é claro. Recordava que se precipitou a intervir naluta para acalmar os ânimos de todos. Salvou-lhes a vida, e duvidava que algum

dos três pudesse jamais devolver o favor como era devido.A diferença de Derek, Ian não dirigiu nenhuma só palavra de recriminação.

Nem um só “eu disse” . De fato, mostrou-se amável, paciente e equânime, e emseus olhos brilhavam a preocupação que inspirava. Quando se despediram,Georgiana, arrependida, afundou seu rosto no peito do Marquês, tentandoafugentar o pensamento de que, quando eles partissem, ele ficaria em Janpur, comapenas um destacamento para respaldá-lo se as coisas ficassem feias.

— Não tema nada — sussurrou o Marquês passando seus quentes dedos peloqueixo e cruzando serenamente os olhos com os dela — Verei você na Inglaterra,de acordo?

Georgie desejou dar um beijo antes de partir, mas diante do Rajá Johar e deMeena, teria sido improcedente. Em seu lugar, assentiu.

— Muito bem. E agora vai. Com a cabeça alta, preciosa — ordenou comdoçura — E se lembre, tem que me reservar uma dança no Almack's.

Despachou-a com um sorriso de cumplicidade e uma discreta piscada, masGeorgiana não pode conter as lágrimas, diante da idéia de abandoná-lo semamigos em Janpur.

— Não acontecerá nada — sussurrou Ian — Vai.

E Lorde Griffith assinalou a porta com um olhar tão terno e corajoso, queGeorgiana pensou que recordaria esse instante toda sua vida.

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— Sim, bem... Mas esse homem não é um masoquista — interveio Derekatravessando a conversa, enquanto tirava a sela de montar do cavalo — Ninguémquer uma esposa que vai por aí criando problemas.

— Derek! — exclamou Gabriel ao ver que as lágrimas apareciam nos olhosde sua irmã.

Georgiana sabia que seu irmão menor dizia a verdade.

Gabriel se virou para ela e viu que tinha os olhos inundados de lágrimas.

— Carinho, não chore...

— Não dizia a sério! — quase gritou Derek, porque nenhum dos dois irmãospodia suportar jamais ver lágrimas nos olhos de Georgiana.

— Não — cortou a jovem com um tremor nos lábios — Tem razão. Nunca mequererá, e não o culpo! E dai, quem se importa!

Georgie partiu depressa porque queria dissimular sua feminina sensibilidadediante os homens, mas não pode evitar ouvi-los discutir em voz baixa, junto aoscavalos.

— É um idiota! O que acontece com você?

— Não sabia que ia se por a chorar...

Georgie não quis escutar mais. Resultava difícil aceitar os amáveis elogiosde Ian diante da terrível certeza de que se pôs completamente em ridículo diantedele. Estava segura de que o Marquês dedicou uns comentários tão agradáveisporque era um Cavalheiro, um homem muito elegante para dizer que era umacabeça de tarambola, sobretudo porque compreendeu que a jovem devia sofrer

algum transtorno.E era certo. Estava terrivelmente chocada, perdera a habitual e inquebrável

confiança em si mesma. Possivelmente chegou o momento de deixar de enfrentar,se não quisesse terminar como a tia Georgiana, arruinada e arruinando a vida deseus seres queridos. E se não, só cabia observar no que esteve a ponto deacontecer. Poderiam morrer todos por culpa dela.

Que tola foi ao se implicar em assuntos de importância que só competemaos homens! Possivelmente era ela que deveria observar o  purdah, para nãodanificar tudo, ou ao menos buscar um marido que dissesse o que devia fazer.

Apoiou-se em uma robusta e velha árvore de madeira de teca e, como nãotinha lenço, limpou-se o nariz com a manga de um modo absolutamente impróprio.

Não podia deixar de pensar na imagem de Lakshmi com a cabeça raspada.Ah, o dever...

Possivelmente Derek tivesse um pouco de razão.

Georgiana nunca pensou no matrimônio como em um dever. Sabia queassim o concebiam outras jovens, mas papai nunca deu motivos para acreditarque esse teria que ser seu caso, jamais inculcou essa idéia.

— Vamos, menina, não chore.

Georgie levantou a cabeça e viu o fornido e ruivo Major MacDonaldoferecendo seu lenço. A jovem o aceitou com as lágrimas correndo pelas faces.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Bombaim, enjoada pelas intermináveis perguntas que vinham à mente. Seusirmãos estavam vivos ou morreram? Teriam sobrevivido a sua terrível experiência?

Encontrava-se a milhares de milhas de casa, sem um centavo no bolso eapenas com a roupa que levava no corpo. Nem sequer estava segura que asautoridades a deixariam desembarcar, porque não tinha passaporte, nemdocumentos justificativos de sua identidade, diante os funcionários de alfândegas.Não teve tempo de resolver essas questões. Escapara com vida por milagre.

O Capitão do Andrômeda, um homem atento e amável, havia dito que não sepreocupasse, que quando remontassem o rio até os armazéns da Knight Shipping,possivelmente encontrariam ali seu primo, Lorde Jack, e este se encarregaria detratar com o Capitão do porto.

A Georgiana pareceu que aquilo era um modo como outro qualquer de dizer,que Jack se limitaria a subornar aos funcionários da alfândega, para assegurar-seque permitissem entrar no país. A jovem não duvidava de suas habilidades, seu

primo, o implacável magnata dos negócios, solucionava as coisas a sua maneira,mas não tinha a segurança de que Jack se encontrasse na Inglaterra.

O medo gelava seu sangue quando recordava que não conhecia ninguémnesta cidade e que, para dizer sem rodeios, não tinha para onde ir. Uns primos delinhagem antiga eram sua única esperança, mas o certo era que não os conhecia eque ignorava seu endereço.

A cidade se atava aos meandros do rio ao longo de vários quilômetros eGeorgiana não sabia como conseguiria localizar seus parentes. E se por algumestranho milagre encontrasse a residência dos Knight e aparecesse em sua portaem plena noite afirmando ser uma prima perdida da Índia, sem dúvida se

mostrariam incrédulos e tomariam por uma exímia grosseira. Inclusive pode quechamassem o oficial!

A angústia ia se apoderando de Georgiana à medida que se aproximavadessa borda estrangeira, sumida nas trevas. Em ambas as ribeiras, os edifícios seagrupavam entre si, quase disputando o espaço, formando uma interminável fileirade moles e comércios. Tremendo pelo frio clima nortista, Georgiana reuniucoragem, enquanto o navio avançava deslizando pelas águas, junto a umconcorrido parque de atrações, situado na borda meridional do Tamisa.

Faróis de alegres cores iluminavam pavilhões extravagantes lotados degente que se divertia. A música ensurdecedora e pegajosa se misturava com o

bulício dos bate-papos de centenas de farristas. Um marinheiro explicou que esselugar tão animado se chamava Vauxhall. Apesar da hora tardia, os barqueirosainda transportavam às pessoas para o parque de atrações.

Georgiana pediu emprestada a luneta ao primeiro piloto, contemplou umaexposição de vistosos arbustos artisticamente podados e uma atuação que adeixou tremendo ao ver o perigo que implicava, uns artistas disfarçados lançavamdiversos objetos ao ar sob a luz dos focos, enquanto caminhavam sobre uma cordaesticada a vários metros do chão.

Devolveu a luneta ao piloto, incapaz de seguir olhando porque estava segurade que todos cairiam... Como ela tinha caído. Sem dúvida, aprendeu bem a lição esabia que não valia à pena correr grandes riscos só para vangloriar-se.

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Rio acima passaram junto ao Palácio de Lambeth, residência do Bispo.Inclusive chegou a distinguir Whitehall, onde se reuniam os deputados. Sabia queIan tinha um banco no Parlamento, na Câmara dos Lordes. Quando pensava nele,a vontade de vê-lo oprimia seu peito.

“Estará a salvo? Terá conseguido sair de Janpur com vida?” 

Poderiam passar semanas antes que pudesse conhecer sua sorte, masGeorgiana tinha motivos para temer por sua segurança. Se a Rani Sujana foi tãoeficaz enviando seus assassinos atrás dela e seus irmãos, que perigos não teriadeslocado Ian, quando se viram obrigados a deixá-lo completamente só em Janpur? Não suportava esse pensamento porque, na realidade, seus sentimentospelo Marquês também tinham mudado.

Durante os longos e solitários meses no mar, revivendo a lembrança de cadapalavra que trocaram e de todos os beijos e carícias que roubaram na cova daspreces, a admiração que sentia por ele se converteu em algo mais profundo e

intenso.Por desgraça, depois de seu temerário comportamento em Janpur, estava

segura de que Derek tinha razão. Ian já não a quereria. Ao contrário seria comopedir a lua.

“Tomara que estivesse aqui comigo!”  pensou Georgiana com um que desaudade. Sentia-se perdida, e ele sempre acertava a encontrar as palavras exatas.

Seguindo pelo rio apareceu diante sua vista um extenso armazém com aspalavras “Knight Shipping”, pintadas com enormes letras maiúsculas em uma dasfachadas. Entretanto, caiu a alma aos pés quando se deu conta de que osescritórios do piso superior estavam às escuras, como a boca de lobo. Não havianinguém.

A julgar pelas aparências, estava autenticamente só nesse país estrangeiro.

A fragata jogou a âncora não muita longe da borda e arriou as velas no meiodo rio. O Capitão do porto situou sua barcaça junto ao casco de navio. Ao fim deuns minutos, o Capitão do Andrômeda respondia às perguntas, que aqueleformulava sobre seu carregamento.

A entrevista não durou muito e, a seu término, o Capitão da fragata seaproximou caminhando pesadamente para o parapeito, onde Georgie seguiaacotovelada.

— Quer descer a terra agora mesmo, Senhorita?

“Para que? — pensou Georgiana deprimida. O que vou fazer? Vagar pelasruas de Londres até o amanhecer?” 

— O Capitão do porto diz que já tem permissão — acrescentou o Capitãopiscando o olho.

— O que? Como é possível? Disse que não tenho documentação?

— Sim, e diz que o arrumou um Cavalheiro faz uns dias, antes que vocêchegasse.

— Um Cavalheiro? Quem?— Suponho que ele — disse o Capitão assinalando com o polegar para o

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amplo armazém sumido na penumbra.

Georgiana, atônita, seguiu seu olhar.

— Lorde Jack?

— Não, Senhorita, o que veio procurá-la.

Georgiana conteve o fôlego ao ouvir a notícia e escrutinou a borda naescuridão, negra como a tinta.

— Entendeu como se chama essa pessoa?

— O Capitão do porto não disse. Chamava-o Milorde. Quer que envie a umde meus homens para que se inteire?

— Não, não... Irei eu mesma!

Qualquer desculpa valia para sair do navio depois de tantos meses! Derepente pensou que o homem que a esperava na borda poderia ser seu pai. Derek

disse que escreveria várias cartas a Lorde Arthur, para dizer que se reunisse comeles em Londres. Possivelmente, além dos mares, algum navio do Jack entregou atempo a mensagem a seu amado pai.

“Sim, por que não poderia ser papai?”  

Georgiana estava convencida de que seu pai era capaz de fazer algo esempre foi em sua ajuda quando ela o necessitou. E se não era ele, devia ser umde seus aristocráticos primos Knight. Não conseguia a imaginar qual dessesparentes, que ainda eram uns desconhecidos para ela, poderia se inteirar de suachegada, mas não tinha a intenção de causar uma má impressão fazendo-oesperar e, a toda pressa, dispôs-se a desembarcar. Ao fim voltava a ter

esperanças!— Se vir algo estranho, volte direto ao navio, ouve-me? — advertiu-a o

Capitão abaixando a voz — O caís não é lugar para uma jovenzinha bonita,sobretudo de noite.

— Entendido. Muito obrigado, Capitão. Você foi muito amável, e me acrediteque me assegurarei de que Lorde Jack se inteire do bem que me trataram você esua tripulação...

— Ora, deixe-o... Vá já! — exclamou o Capitão enquanto em sua curtida carase desenhava um sorriso — Corra jovenzinha. E boa sorte.

O velho Capitão ordenou aos seus homens com voz ensurdecedora queabaixaram o bote para levá-la a terra firme e logo se foi caminhandocansativamente, para seguir arrumando seus assuntos com o Capitão do porto.

Ao fim de um momento, os marinheiros remavam para o caís fazendo frentea forte corrente, enquanto Georgiana se agarrava com força as bordas do esquife.Estava impaciente por averiguar se a receberia um estranho disposto a prestarajuda ou um ser querido. Os marinheiros colocaram os remos na oleosa corrente eaproximaram o esquife em ângulo ao caís.

Quando por fim o bamboleante bote foi amarrado com duas cordas a unsmofados postes, o contramestre ajudou a subir a escadinha de madeiraenganchada ao mole. Uns faróis distribuídos nos postes, a vários metros dedistância entre si, iluminavam fracamente as pranchas de madeira molhadas e

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entregas. Consegui uma lista das saídas e chegadas, pus um criado de vigilante eassim me inteirei de quando devia esperá-la a bordo do Andrômeda. Quanto amim, só faz uns dias que cheguei a Londres.

Georgiana se deteve, assombrada.

— É tão bom! — a jovem deu uns golpezinhos carinhosos no peito e sacudiua cabeça — Não sei como poderei agradecer isso e não me refiro só a isto...Salvou-nos a vida. A minha primeiro, na pira funerária de Balaram, e logo a demeus irmãos em Janpur.

— Teriam feito o mesmo por mim — respondeu Ian com a voz quebrada.

— Sinto muito tudo o que passou, Ian — disse Georgiana cravando nele seusolhos.

— Tolices.

— Como que tolices? Quase consigo que matem a todos! — exclamou a

 jovem, e as palavras que durante tanto tempo reprimiu começaram a brotar deseus lábios — Por que não quis escutá-lo? Disse-me que não me misturasse nessesassuntos e, pelo contrário, eu me impliquei sem fazer o menor caso. O pior é...

— Que nem sequer parei a pensar na possibilidade do fracasso, nemconsiderei o fato de que se me pegavam nessa sala, o curso da guerra poderiamudar. Sou uma amalucada, Ian, tola, cega e teimosa! Às vezes me perguntocomo me agüentam os outros. Quero dizer a você que sinto muitíssimo, sinto naalma. Acredita que poderá me perdoar algum dia?

Ian a observou durante uns instantes com ternura.

— Georgiana — sussurrou pronunciando seu nome e tomando-a com decisãopelos ombros — Escute.

A jovem o olhou angustiada nos olhos bebendo cada uma de suas palavras.O verde olhar de Ian relampejou divertido.

— Não tenho que perdoar nada. O certo é que salvou a situação. Digo-oseriamente — insistiu Lorde Griffith quando Georgiana começou a protestar — Eunão tinha nenhuma possibilidade de acessar essa informação, a do complô daRani. Pelo contrário você seguiu sua intuição e viu que algo não quadrava. Teve acoragem de obedecer aos seus instintos e eu a isso o chamo coragem.

— Só quer me adular.

— Salvou a vida de um Rajá — recordou Ian — Johar se aceitou a assinar otratado de neutralidade, depois de que partiu.

— Ah, isso é fantástico! Bem feito, Ian.

— Sim, mas se você não descobrisse a conspiração da Rani para assassiná-lo, esse tratado não valeria nem o papel no qual foi escrito. O que fez foi muitoousado, mas se não tivesse agido, a Rani Sujana teria assassinado seu marido,depois que partíssemos. Governaria através de seu filho e se uniria ao exército deBaji Rao. E se isso ocorresse Lorde Hastings teria que lutar, em uma guerra muitomais duradoura e sangrenta. Agora, pelo contrário, o conflito está controlado. E

com sorte, logo se solucionará. Por isso, querida, ao final sua desobediênciacontribuiu para salvar milhares de vidas.

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Georgiana ficou sem fala.

— Olhe, dei um sermão em você quando chegou a Janpur... Mas o certo éque sou eu quem deve uma desculpa.

— O que?

— Na realidade isto não teria me saído bem sem você. Sinceramente meatrevo a dizer que formamos uma equipe brilhante.

Georgiana sustentou seu olhar, e suas surpreendentes palavras chegaram àalma.

— O que acontece? — murmurou Ian.

— Estava segura de que me odiaria por todos os problemas que causei.

— Nem pensar. Mas sim direi uma coisa. Ian torceu o rosto quando voltou atomá-la pelos ombros inclinando-se para ela — Não volte a me assustar nuncamais desse modo! Tivemos sorte de que tudo saísse bem, mas não permitirei quevolte a se por em perigo de novo.

“Disse que não permitirá?” pensou Georgiana perguntando-se por que falariaem um tom tão possessivo.

— Diabos... Quando a vi correndo por aquele corredor com o pescoçoensangüentado... Não sei como consegui me controlar.

Ian ficou em silêncio e fez um gesto de condenação ao recordar o perto queessa mulher esteve da morte.

— Como está? Refiro-me à ferida.

— Curou-se faz tempo, vê? Só fica uma pequena cicatriz.Desejando assegurar que se encontrava bem, Georgiana inclinou a cabeça

de um lado e mostrou a antiga ferida a pobre luz dos faróis da carruagem queesperava junto a eles.

Ian afastou o cabelo com doçura, olhou seu pescoço e tocou a cicatriz docorte com seu enluvado dedo. Pulsava-lhe com força o coração quando seguiu alinha da cicatriz, de apenas um par de centímetros, seduzido pela curva de seudelicado e pálido pescoço. Suspeitava Georgiana o efeito que causava nele?

Inclinando para a jovem para examinar o claro risco da ferida que poderia ter

arrebatado essa mulher para sempre, Ian notou que seu cabelo, negro como anoite, cheirava salobro, a mar, e esse perfume se misturava com a sedutoracalidez do aroma feminino que era próprio dela.

Respirou ofegante esse cativante aroma que arrebatava seus sentidos.Cheirou-a, e o dominou um instintivo afã de possuí-la. O irresistível desejo queessa mulher inspirava sobreveio de novo, como se acabasse de levantar uma brisacarregada de especiarias. Estava acariciando o pescoço com o dedo, com o olharatento em seu movimento, mas a atração era muito forte. Incapaz de resistir oimpulso, acariciou a pálida marca com seus lábios.

Georgiana fechou os olhos, jogou para trás a cabeça brindando sua pele e

pronunciou seu nome com um sussurro. Ian estremeceu e passou um braço pelaesbelta cintura, enquanto deslizava a outra mão por seus cabelos.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Georgiana sorriu com incerteza e notou que as faces avermelhavam. Ianlevantou seu queixo com um nódulo e a obrigou a olhar aos olhos.

— O que vai acontecer Georgiana, é que vai se casar comigo.

A jovem abriu os olhos de par em par e ficou cravada da surpresa.

— Alguma pergunta? — inquiriu Ian com secura.Georgiana demorou uns segundos em decifrar a informação. E logo sacudiu

a cabeça assombrada.

— Só uma.

Ian arqueou uma sobrancelha com ar interrogativo.

— Quando? — sussurrou a jovem.

No rosto de Lorde Griffith se pintou um sorriso de malévola e deliciosasatisfação.

— Ora, Ora... Não vamos discutir?Georgiana o olhou com seus azuis e imensos olhos, cheia de confiança e de

 juvenil desejo, e também com um gesto de incredulidade.

— Boa garota — sussurrou Ian sem ocultar sua satisfação, inclinou-se e deuum longo e doce beijo — Vem, carinho — ordenou em voz baixa enquanto passavao braço pelos ombros com gesto protetor — Entre na carruagem, não vá se esfriar.

“Agora sim que estou sonhando”  pensou Georgie caminhando como seflutuasse, enquanto ele a conduzia para a elegante carruagem negra, que osesperava na pavimentação estaleiro.

O veículo ia puxado por quatro cavalos negros, e a luz das luzes dacarruagem iluminava as nuvenzinhas de vapor que os animais despediam pelasnarinas. Ian fez um gesto ao cocheiro, abriu a portinhola e estendeu a mão paraGeorgie. A jovem pousou um pé no degrau e tomou assento. A carruagem pareciauma salinha sobre rodas, iluminada por um par de velas acesas, que descansavamem uns diminutos spots de cristal esmerilhado. As paredes e o teto do interiorestavam atapetados com um delicioso tom damasco claro, para amortecer os sonsdo meio fio.

Georgie se sentou no assento de pele de pelica cor marfim e, ainda sem darcrédito aos seus olhos, observou como Ian se instalava por sua vez. Sem dúvida

tudo aquilo formava parte do mundo do Marquês. Que bem encaixava essehomem em seu entorno, o aristocrata milionário, que se sente a vontade nosofisticado cenário da capital do Império! De verdade que esse magnífico modelode virtudes seria seu marido?

Georgiana, depois da longa travessia, reparou em que ia mal arrumada.Levava o vestido limpo, mas o lavou tantas vezes que estava desfiado de tantousá-lo. Ele, pelo contrário, ia vestido com elegância, um imaculado colete e umagravata preciosa. Parecia que acabava de sair do teatro. Para Georgiana não foidifícil imaginar a quantidade de corações, que devia romper entre as refinadasdamas da Sociedade.

“Mas vai ser todo para mim” pensou a jovem incapaz de afastar seu atônitoolhar dele. Ian dedicou um mundano sorriso. Quando a carruagem se colocou em

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

— Sua governanta fez a bagagem enquanto eu me dedicava a arrumar ospreparativos da viagem.

— Ah, Ian... Pensa em tudo!

— Sim, bom, a importância do detalhe... — respondeu ele com secura.

Georgiana se equilibrou sobre ele e cobriu sua face de uma miríade debeijos.

— Obrigado, obrigado, mil obrigados! Meus vestidos, meus sapatos...!Voltarei a me converter em um ser humano!

— Suas coisas a esperam na Mansão dos Knight, que é para aonde nosdirigimos — explicou Lorde Griffith rindo diante tanta espontaneidade —Estaremos ali rapidamente. É ao outro lado da esquina.

— Oh, devemos ir agora mesmo? — protestou a jovem se afastando umpouco dele embora sem o soltar de todo — Por favor, não poderíamos ficar um

momento sozinhos? Senti tantas saudades...— Carinho — murmurou Ian roçando a face com um nódulo — São duas da

manhã.

— Eu não estou cansada. E você?

“Passou meu cansaço”  pensou Ian cravando seus olhos nela. Sentiaintensamente os delicados dedos com que essa mulher brincava com seu cabelo,com sua nuca. O leve contato de sua pele o fez tremer.

Não acreditava ter sentido um afeto tão declarado em toda sua vida.

— Ian, vamos... — enrolou-o Georgiana com um gracioso muxoxo — Não éque não queira conhecer meus parentes, mas esta noite é especial para nós, nãoparece? — seu olhar doce e o arrebatado brilho de seus olhos fizeram que assemanas que passou, angustiado pela decisão que tinha que tomar houvessevalido a pena — Não pode me levar amanhã?

Ian acariciou seu rosto com ternura, mas seu coração pulsava com força.

— Quer ficar comigo esta noite? — sussurrou o Marquês, e quando elaassentiu lentamente, estremeceu.

Ian titubeou debatendo consigo mesmo. Evidentemente, a situação eraincorreta e seu dever era preservar a reputação dessa mulher, mas tinha intenção

de se casar com ela e, além disso, nunca desejou tanto alguém como a desejava.Georgiana não suspeitava quantas vezes sua imagem povoou os sonhos do Ian.Uma noite após de outra, empapado de suor, Ian fez amor com Georgiana noReino da fantasia. Algo preferível aos pesadelos que sofreu depois da morte deCatherine.

— Está segura do que diz? — murmurou Lorde Griffith com os olhos embrasas e um olhar que a deixou entrever o que aconteceria se ela passasse essanoite em sua casa.

— Muito segura — sussurrou a jovem com a mesma paixão.

Essa mulher o enfeitiçou. Como podia se negar se também ele desejava? Eraimpossível resistir a Georgiana, tão formosa, tão doce e entregue, rodeando-o com

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

seus braços. Essa beleza jovem e sensual havia anulado sua vontade e Ian foiincapaz de contradizê-la. Como aconteceu na cova das preces.

— Muito bem.

Ian inclinou a cabeça e beijou os lábios de Georgiana com doçura e ânsia. A

 jovem, de súbito, tomou seu rosto, acalorada, e devolveu o beijo com aamadurecida predisposição de uma virgem excitada e desejosa de agradá-lo,pronta para sua iniciação.

Ian estremeceu, maravilhado do poder que essa jovem tinha para deixá-lolouco. Não via o momento de colocá-la em sua cama. Quase não podia esperarpara mostrar tudo o que um homem e uma mulher podiam compartilhar, averiguarcomo seria ter essa mulher debaixo dele, experimentando tudo pela primeira vez.

Abrigava suas dúvidas, é claro. A julgar pelas aparências, diria que essadiabinha ia resultar mais feroz que uma tigresa metida em um saco.

Estava impaciente por descobrir.

 Terminou de beijá-la com um brilho nos olhos e deu uns golpes na portinholada carruagem, para indicar ao cocheiro que mudaram de planos.

 

Capítulo 10

Em lugar de ir à casa dos Knight dirigiram-se para o outro extremo do Green

Park, à residência de Lorde Griffith.Quando a carruagem se deteve com suavidade diante de sua elevada e

régia casa de Londres, Ian apeou e deu uma olhada às aristocráticas avenidas parase assegurar de que ninguém estivesse olhando. Encontravam-se no centro emmoda da cidade, onde as fofocas corriam como rastilhos de pólvora. Uma jovemnão podia se permitir o luxo de cometer estupidez, sobretudo se era a sobrinha daRaposa Hawkscliffe. Embora o enlace fosse iminente, a Georgiana não convinhaque a vissem entrando na casa com Ian no meio da noite.

Entretanto, a essa hora as ruas estavam não só às escuras, mas tambémvazias. Essa noite não havia lua e as luzes da esquina projetavam um débilresplendor. Quando decidiu que a costa estava livre, Ian a ajudou a descer dacarruagem e os dois amantes trocaram um ardente olhar, que delatava o deliciososegredo que existia entre ambos. O Marquês assinalou a Mansão dos Knight, dooutro extremo do parque, e logo, depois de convidá-la a caminhar com urgênciapara sua própria casa de pedra Portland, os dois cruzaram a porta principal,pintada de bordô.

O vestíbulo da entrada, sumido na penumbra, deu-lhes as boas vindas comsua vazia grandeza, entre o enorme e circular mosaico em estilo romano que haviano meio da sala e as colunas coríntias de mármore, montando guarda ao redor. Nomeio do vasto e tenebroso espaço, uma espetacular e simétrica escada, com umcaprichoso corrimão de ferro, subia até o primeiro piso, a planta nobre.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Depois da escada, um deslumbrante tríptico18 de vidro, formado por trêsmagníficas janelas arqueadas, presidia o espaço. Pela manhã, a muito bela janelapanorâmica filtrava a luz natural, o alto teto se elevava por cima dos dois andarese ficava situado a uns quinze metros do vestíbulo e do pé da escada.

— Oh, Ian, tem uma casa preciosa — murmurou Georgiana olhando ao redorcom acanhamento.

Ian fechou a porta atrás dele e se aproximou da jovem com as mãos nascostas, admirando a Mansão junto a ela.

— Esta casa é dos dois — recordou com doçura.

Um sorriso de orelha a orelha aflorou no rosto de Georgiana, porque eletornou a surpreendê-la novamente.

— Vem — disse Ian piscando para ela.

Nesse momento o mordomo, o Senhor Tooke, apressou-se a recolher seus

casacos. Era um indivíduo de idade, afável, corpulento e baixinho. Estava quasecompletamente calvo, exibia um belo bigode branco e tinha brilhantes olhos azuis.O rosto de Tooke mostrava uma expressão risonha, que ainda resultou maispronunciada, quando Ian informou quem era Georgiana.

Quando Lorde Griffith insinuou ao seu leal criado de toda a vida que achegada da Senhorita Knight a Londres, revestia um significado especial, no queconcernia à intendência da casa, Tooke compreendeu o sentido dessas palavras eficou atônito, o Senhor, que há tanto tempo vivia em solidão, iria se casar! Por issoo homem deu calorosas boas vindas a Georgiana e a tomou sob seu cuidado comoa galinha aos seus pintinhos.

— Minha querida e muito estimada Senhorita, me diga o que posso oferecer.Gostaria de tomar algo? Tem fome, Milady? Jantou já? Uma xícara de chocolatepossivelmente?

Georgiana riu encantada pelo caloroso trato e agradeceu, mas declinou seusoferecimentos.

Aceitando sua resposta com uma reverência digna de um membro da Corte, Tooke tomou com rapidez a desfiada capa do jovem e o delicioso objeto de Ian ese apressou a partir para deixá-los sozinhos, fazendo ornamento da discrição, quecaracteriza quem está no comando de uma residência tão sofisticada como aquelae sabe não se alterar diante da inconveniência de uma visita tardia e semacompanhante. Sabia que o Senhor era um homem do mundo. Não obstante, Tooke dedicou um breve gesto de absoluta aprovação a Ian, no que se referia àescolha de sua prometida. Ian, por sua vez, pigarreou, tomou os candelabros que Tooke havia trazido e escoltou Georgiana até a planta principal.

Apesar de ser um pouco menos ostentoso que a Mansão dos Knight, o lar deIan refletia sua elevada posição, assim como seus cosmopolitas gostos. Os régiossalões dos dois primeiros pisos, foram cuidadosamente pensados, para satisfazeras exigências que comportava seu cargo de Diplomata, e as dimensões e adistribuição da residência cumpriam com acréscimo, com o objetivo de atender

18 Tríptico - obra de pintura, desenho ou escultura, composta de três painéis: um central e fixo, e os outros doislaterais e móveis, ligados ao primeiro por dobradiças ou gonzo. As partes laterais podem dobrar-se sobre a partecentral.

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aos dignitários estrangeiros, com delicioso gosto. Entretanto, Ian tinha que admitirque para a vida cotidiana, em certo sentido, a grandeza dos salões, punha emevidência sua frieza.

Embora habilitadas para grandes recepções, quase ninguém entrava nessassalas, à margem o serviço.

Durante sua infância, quando o pai de Ian possuía o título de Marquês, Ianem sua inocência, dava por certo que todos viviam do mesmo modo que ele e seuamigo Robert, em Mansões de vários pisos, jardins cercados e cheios deesculturas, tetos dourados de nove metros de altura e bustos de mármore,procedentes de escavações do período helenístico.

Na atualidade já sabia que o mundo era diferente, graças a Deus. Faziamuitos anos que compreendera quanto privilegiado era na vida e tomava comgrande seriedade a responsabilidade que vinha emparelhada aos privilégios.

Depois de guiar Georgiana entre a pompa e a ostentação das alas públicas,

subiram ao terceiro piso e chegaram à galeria particular. A longa e estreita saladiscorria ao longo da fachada posterior da casa e dava ao jardim.

A parte dianteira da planta foi dividida em dois grandes e suntuososapartamentos particulares, um para ele e o outro pensado para a Senhora da casa.Este último fazia tempo que permanecia vazio.

Cada suíte continha um espaçoso dormitório, uma sala de estar, um armárioe um trocador enorme, uma sala de banho e um sanitário, equipados ambos comtodos os avanços modernos. Os dois apartamentos se comunicavam entre si, parafacilitar as acostumadas visitas maritais, enquanto que a sala de estar comum,que havia na parte traseira da casa, cumpria a função de servir de espaçoparticular para a família.

Enquanto acompanhava Georgiana através da longa e estreita sala, para usoe desfrute dos membros da família, recordou sua mãe sentada junto a sua irmãMaura, ensinando-a bordar. Viu-se pequeno, convexo de barriga para baixo sobreo tapete azul, brincando com os bigodes de seu gato e tentando memorizar umaspassagens em latim de filósofos estóicos, que seu pai impôs como tarefa,enquanto escutava pela metade os escandalizados comentários de sua mãe, sobreas últimas escapadas “dessa mulher” , a vizinha, a escandalosa DuquesaHawkscliffe, a primeira Georgiana.

“Mamãe não teria aprovado o enlace” , pensou Ian com sarcasmo. Sua mãeacreditava nos matrimônios frios e dignos, e se possível infelizes. Não era deestranhar que fosse ela quem quebrou várias lanças em favor de Catherine. OMarquês tomou Georgiana por ambas as mãos e retrocedeu com ela para seudormitório, lentamente, com um sorriso que inspirava confiança.

Fechou a porta a todas essas antigas lembranças e virou a chave.

 

Georgie começava a se perguntar se o rubor que apareceu nas faces meiahora antes, não teria passado a ser um traço permanente de sua fisionomia,porque não tinha reflexos de desaparecer. Ao contrário, notou que avermelhava

ainda mais, se dava voltas à idéia de que Ian e ela foram fazer ali.

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Estranhou não sentir o mínimo receio ao permitir que esse homem aseduzisse. Tinha uma confiança absoluta nele. Sempre inspirou segurança, o quetinha sentido, porque salvou sua vida antes de conhecê-la. A essa encantadorasegurança cabia acrescentar agora o autêntico e caloroso afeto que sentia por elee o alívio de saber que lhe pertencia. A sensação de se considerar sua, imprimia

uma total naturalidade ao que foram fazer.Entretanto, isso não significava que a jovem não estivesse nervosa. O

coração pulsava com força pressentindo o que ocorreria. Georgiana sorriu coibidaquando ele fechou com chave a porta do dormitório.

— Entre — murmurou Ian assinalando o dormitório com um gracioso gesto —Coloque-se a vontade.

Lorde Griffith se virou e foi para o outro extremo da grande e tenebrosa salapara deixar os candelabros sobre a cômoda.

Georgie examinou o aposento sob a tênue luz que iluminava o vasto

entorno. Decoraram esse espaço em grande escala, com gravidade, pompa eesplendor, como quisessem recordar deliberadamente, que estava a ponto de sedeitar com um Lorde. As cores predominantes eram um azul escuro e um marromdiscreto, ambos os tons relaxantes, um pouco de sofisticado negro com toquesdourados e vermelho que matizava o conjunto. As paredes de cor cremecontrastavam com o chão de carvalho, os escuros tapetes persas e o tetoabobadado com medalhões pintados no afresco.

A sua esquerda, um alegre fogo crepitava na lareira, sob um antigo suportede pedra calcária branca como a neve. Em torno dela, e disposta com elegância,havia uma esbelta selaria de ébano com pátina de ouro de estilo romano, como se

aqueles fossem os aposentos onde se retirasse para descansar o próprio César.No extremo oposto, o gigantesco leito de Ian se abatia na escuridão. Georgie

sentiu um nó na garganta ao passear o olhar sobre ele. Quatro colunas coríntiasfaziam às vezes de pilares da cama e sustentavam um baldaquino estofado comgrosso veludo.

A colcha era de um lustroso cetim chocolate e os lençóis, cuidadosamenteabertos por uma criada, eram de algodão cru. Um montão de travesseirosadornados com borlas presidia o travesseiro de ébano. Em resumo, essa camaresultava intimidante, embora deliciosamente atraente.

Seu anfitrião, com um malvado encanto, tirou o fraque negro e o pendurouno pomo de um armário.

Enquanto Ian se aproximava, a luz do fogo projetou um halo avermelhadoem seu escuro cabelo e perfilou com brilho sua poderosa silhueta em forma detriângulo investido. Acelerou o coração de Georgiana. Uma parte dela queria saircorrendo, mas levava tanto tempo esperando, desejando e imaginando esse ato,que não retrocederia agora. Essa noite só desejava deixar que o homem de seussonhos satisfizesse sua curiosidade sensual. Essa noite decidiu seguir os impulsosde seu coração, explorar seus instintos, achar o segredo deste mistério que adesconcertava há tempo e seguir a pauta que marcasse Ian.

“Afinal das contas, este homem logo será meu marido”  pensou a jovem,enquanto começava a tirar as luvas. Esse pensamento arrancou de seus lábios

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

uma risada nervosa, atordoada e alegre.

Ian se aproximou dela em mangas de camisa e com um colete cinza risca degiz.

— Do que ri? — perguntou com um murmúrio, enquanto a tomava com

suavidade pelos cotovelos e acariciava os braços com ligeireza.— Sinto muito... É que não posso acreditar que isto esteja acontecendo de

verdade!

— Vamos muito rápido?

— Não — respondeu Georgiana aproximando-se dele e jogando para trás acabeça — É que estou contente.

Ian passou seus braços pela cintura dela e sorriu.

— Eu também.

E inclinando-se para frente a beijou com ternura nos lábios.Caso ficasse alguma sombra de dúvida, desvaneceu-se quando roçou sua

boca com sedoso cuidado. Georgie devolveu o beijo sem poder deixar de sorrir eacariciou seus braços, duros como o ferro, sobre a robusta cambraia de suacamisa.

De repente, levantou-a do chão sem prévio aviso, Georgiana explodiu emgargalhadas, quando viu que a levava para a lareira.

— Ahh... Ian.

— Diga carinho.

— Vai na direção errada — assinalou ela agarrando-o pela nuca e divertindo-se como uma menina.

— Mmm?

— A cama está por ali — sussurrou ao seu ouvido.

— Que impaciente! — repreendeu, fulminando-a por hábito.

— Ah, tem um plano!

— Sempre. Ao chegar junto à lareira, Ian a deixou no chão — Agora não teráfrio quando despi-la.

— Oh — exclamou Georgiana arregalando os olhos, embora não demorou emrecuperar seu habitual atrevimento — Ou quando eu despi-lo.

A jovem começou a desfazer a impecável gravata.

Ian se inclinou para beijá-la de novo, tão terno e seguro de si que a jovemapenas notou, que quando a rodeava entre seus braços, de fato estavadesabotoando as costas do vestido. Distraiu-a de suas autênticas intençõesplantando um beijo em sua face.

— Não está assustada, não é verdade?

— Não.

— Bem. Tomarei cuidado.

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O certo era que cada vez que ia à casa dos Knight se sentia ferido. Todosseus amigos estavam emparelhados e, além disso, eram felizes. Tampoucopoderia dizer que faltaram oportunidades de voltar a contrair matrimônio. Depoisdo ano oficioso de luto pela morte de Catherine, seu secretário havia mostradouma lista de trinta jovens casadouras, que se destacavam entre a enorme

quantidade de candidatas, que começaram a fazer discretas averiguações, pormeio de seus pais sobre seus futuros planos.

Nunca se iludiu quanto aos seus motivos. Sabia que tudo se reduzia aointeresse que despertava seu título, sua obscena fortuna e sua posição de homemdo mundo. Entretanto, Ian já estava farto de que o utilizassem e fugia de todasessas jovens de sorriso bobo. Agora bem, com Georgiana as coisas eramdiferentes. Essa mulher brindava uma nova oportunidade para desfrutar do únicoque realmente desejou em segredo, aquilo que o destino, apesar de todos os donscom que o havia agraciado, não pode dar, uma família.

Uma família própria, e um lar onde reinasse a felicidade e o amor. Acreditou

tê-lo conseguido há alguns anos, mas a situação acabou parecendo umabrincadeira de mau gosto. A valente Georgiana deu a ele coragem suficiente paratentar de novo. E se de alguma coisa estava seguro, era de que essa apaixonadaformosura nunca o trairia.

Separando de sua mente essas lembranças em favor de um futuro muitomais adulador, Ian seguiu beijando-a e começou a desatar as cintas das únicasanáguas que levava postas. O único que desejava essa noite era que Georgiana sesentisse valorizada e amada, como ele se sentia. Quando as anáguas, já soltas,caíram ao chão, Ian quis ajudá-la a desembaraçar-se delas e então se deu contade que a jovem ainda levava os sapatos postos. E ele também. Precavendo-se

ambos de uma vez, tiraram-se os sapatos sorrindo. O Marquês ficou contemplandodurante um longo momento a sua futura esposa e saboreou a visão de tê-la diantedele quase nua, vestida apenas com a camisa.

Helena de Tróia não poderia se comparar com ela. Georgiana era a mulhermais espetacular do mundo, pensou Ian admirando suas tranças da cor da meianoite, sua nacarada pele e seus lábios como as rosas, combinando com seu rubor.Para não mencionar seus olhos azul cobalto.

— Ouça, deixe de me olhar — disse Georgiana sarcástica vendo o cisco noolho alheio e não vendo uma viga no próprio.

Ian se limitou a sorrir.— Não posso evitar. Sinto-me como um Rei.

— Mais que um Rei parece um deus — suspirou a jovem com ardor.

Ian ficou cabisbaixo, sobressaltado diante desse louvor tão generoso de suaparte.

— E você parece um anjo.

— Mas não sou — ela recordou com um sorriso malandro e atraindo-o parasi.

— Não, não o é — concordou Ian encantado abraçando essa encantadorabruxa e rindo as gargalhadas — Essa é sua melhor qualidade.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Sua risada fez cócegas no lóbulo da orelha.

— Assegurarei de que seja assim.

O Marquês colocou o dedo em uma das alças de sua camisa, descobriu umde seus ombros e libertou seu seio, enquanto ela seguia esfregando-se contra seu

corpo. Georgiana notou seu sexo entre as pernas, grande e pulsátil, aumentandode tamanho, duro como o aço.

O Marquês pôs a mão em seu seio e a acariciou, e então abaixou a outraalça, até que a parte superior da camisa ficou à altura da cintura. Voltou aacariciá-la com suavidade e cobriu seu seio de beijos. Enquanto chupava osmamilos, Georgiana passou os dedos pelo cabelo, desceu pelos ombros e, com asunhas, percorreu com suavidade, provocativamente, suas esplêndidas costas.

Ian gemeu e voltou a reclamar sua boca. O corpo da jovem se moveu contrao colchão, uma vez encadeado ao ritmo, e suas pernas se abriram mais paraagarrá-lo entre as coxas. Passou os braços por suas costas. Sua temperatura subiu

uns graus, quando Ian subiu a camisa por cima de uma perna e escorregou suacálida e suave mão sob o ligeiro tecido, no que parecia uma manobra para darprazer, como a que praticou a noite que estiveram na cova das preces.

Durante vários minutos, Georgiana saboreou seu tato e proferiu um suspirouofegante, quando ele a penetrou com os dedos. Entretanto, nessa ocasião, e adiferença do que acontecera na cova das preces, a jovem estava disposta aoferecer um trato recíproco. Reunindo coragem pôs a mão na abertura de suascalças.

Ian se deteve.

A julgar pelas aparências, Milorde estava prestando toda sua atenção! Ianlogo que respirou quando a jovem desabotoou as calças e obteve seu prêmio.

— Oh — suspirou a jovem agarrando com os dedos seu volumoso pênis.Examinou a soberana longitude de seu membro assombrada de seu tamanho —Ian é... Enorme.

Ian riu sem fôlego apenas e, com os olhos fechados, esboçou uma careta.

— Não se preocupe, já disse que irei com cuidado. Ahhh...

— Faço-o bem?

Não chegou a responder a pergunta. Os olhos fechados e a expressão

arrebatada de seu amante, deram toda a informação que necessitava.O Marquês parecia completamente concentrado na mão que envolvia seu

membro, duro como uma pedra. Era curiosa a maneira como respondia ao seufirme agarre.

— Ah... Sua mão... — sussurrou Ian de repente agarrando-a pelos ombros —Poderia gozar em sua mão. Acaricie-me, Georgiana. Que prazer...

Seus ternos rogos a excitaram. Fez o que pedia após aprender a mover amão como gostava. Quando dominou o gesto, murmurou-lhe que se virasse. Ianobedeceu e ficou de costas. Apoiou-se sobre um cotovelo, Georgie passou uma

perna por cima de suas coxas e ficou em cima dele escarranchada. Beijou-o comtoda a alma e obsequiou com as duras carícias que disse que tanto gostava.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

— Pode ser que doa um pouco — disse Ian com brutalidade.

— Tanto faz — ofegou Georgiana decidida que a tomasse.

Notou que Ian tremia de luxúria quando sua boca lambeu a sua com umselvagem e cativante beijo.

Aceitou-o satisfeita, com as pernas e os lábios abertos para acolher a tãoansiada invasão.

Quando o dura pênis incidiu no empapado pelo que protegia suas partes, a jovem cravou seus dedos na suave carne das musculosas costas do Marquêsatraindo-o com renovada força.

Queria embeber-se desse homem. Seu corpo se arqueou debaixo de Ian,quando este se deslizou para o interior dessa mulher, úmido como o orvalho.

— Oh, Ian... — exclamou a jovem com a voz quebrada e ofegando.

— Georgie.

— O que acontece?

— Olhe-me. Quero ver seus olhos quando a possuir.

Georgiana obedeceu e sustentou seu olhar com absoluta adoração. Viu quea necessidade, pura e feroz, aparecia em seus olhos, mas percebeu mais coisas.Georgiana advertiu confiança e ternura em sua expressão. Não em vão prometeuque a trataria com carinho, e para jovem resultava impossível imaginar sequer apossibilidade de que Lorde Griffith faltasse com sua palavra.

“Que homem tão maravilhoso!” 

Georgiana teve que apelar para seu autocontrole para acariciar a face edizer, sem medir palavra, que entre ambos existia algo mais que a luxúria. Detodos os modos, era fantástico saber que ele controlava a situação, que fariaentender esta febril loucura, satisfaria seus apetites mais selvagens e aacompanharia sã e salva à outra borda.

Ian, com uma intensidade no olhar que indicava que chegou o momento,começou a penetrar devagar em seu dolorido canal.

Por desgraça, nesse mesmo instante foram interrompidos, e a magia danoite se truncou. Alguém discutia na alongada e estreita sala contigua aodormitório. Crispados por essa inesperada presença, os amantes se detiveram.

Quando os intrusos se aproximaram, Georgie reconheceu a voz do mordomo, quetinha adotado um tom suplicante e agitado. A outra voz, uma voz feminina, eraetérea e sofisticada.

— Não se preocupe querido Tooke, Lorde Griffith me espera, estou segura. Oque acontece? Quer fazer o favor de se afastar?

— Não — sussurrou Ian petrificado e sem poder mover-se — Não, agora não.Maldição!

— Ian, quem é?

O Marquês não respondeu. Limitou-se a olhá-la com cara de sofrimento.

— Lady Faulconer, você não entendeu! — repreendeu-a o Senhor Tooke —

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Milorde não está em casa!

— Então, por que sai luz de sua janela? Não seja idiota, claro que está emcasa.

— Mas não se encontra bem!

— Ah, não? Hoje o vi na ópera e me pareceu que tinha muito bom aspecto —declarou a dama enquanto Georgie, atônita, cravava seus olhos no homem queesteve a ponto de seduzi-la.

— Senhora devo insistir. Não pode entrar!

Georgie afogou um grito quando viu que o pomo da porta girava, e ficouboquiaberta, quando a altiva intrusa chamou impaciente à porta com os nódulos.

— Griffith? Vim vê-lo. Quer fazer o favor de dizer a seu mordomo que deixede me pisar os calcanhares como um terrier ressabiado?

— Me libertarei dela — sussurrou Ian — Prometo isso. Não se mova.

— O que está acontecendo? — perguntaram ambas as mulheres quase emuníssono.

Entretanto, enquanto a expressão de Georgie era de ultraje, a mulher quehavia do outro lado da porta, estalou em gargalhadas de mulher experimentada.

— Ian Prescott, será tão malvado! Há alguém aí dentro com você?

— Tess... Tem que partir — articulou Ian voltando a cabeça com a vozafogada — Agora não é um bom momento.

— Sinto muito, querido. Danifiquei sua diversão? — protestou a dama com

menos elegância que antes — Já o entendo. Está com a Baronesa Watson outravez, não é verdade? Olá, Emily! Espero que esteja passando bem, porque acaba deme danificar a noite.

— Quem é Emily? — perguntou Georgie.

— Que diferença faz!

— Pois sim me importa! — exclamou a jovem, furiosa, separando-se dele —Sai de cima de mim!

Ian se separou dela com um rugido de exasperação. Libertada de seu peso,Georgiana se incorporou.

— Quem é a mulher que quer entrar? — sussurrou tentando abaixar a voz eassinalando a porta.

— Tess. Lady Faulconer.

— Isso é tudo?

— Fomos... Amigos. Fomos durante uns anos.

— Amigos! Ahá...

— Diabos, Georgiana. Não significa nada para mim — murmurou furioso oMarquês, enquanto voltava a fechar a calça com gesto rápido e precipitado — Esta

noite fui à ópera para dizer a ela que tudo tinha terminado, mas a vi com outrohomem. Pareceu-me muito contente e dava por certo que durante minha longa

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

estadia na Índia, ela teria trocado de cavalo.

— Veja você estava muito equivocado!

— Não sei por que veio. Conversamos um pouco... E como vi que estava comoutra pessoa, não acreditei necessário dizer explicitamente que a deixaria

plantada! Dava por certo que ficava entendido!— Não ouviu dizer que nunca dê por certo as coisas?

— Georgie...

— Vai! Tire-a daqui, pelo amor de Deus. Não posso acreditar que tenha umaamante!

— Tinha Georgie, tinha uma amante. Isso passou muito antes de conhecê-la.

— Estou esperaaaando — disse Tess com um tom de impaciência passandopor cima dos cochichos, que os dois amantes acabavam de trocar.

Lady Faulconer chamou com os nódulos à porta como se achasse a situaçãomuito divertida.

Georgie mordeu a língua para não responder como uma qualquer, enojadaporque essa mulher entrou na casa toda alegre e foi direito ao dormitório. Se aporta não estivesse fechada teria entrado sem dúvidas!

Georgiana entrecerrou os olhos de raiva.

— Esta mulher esteve em sua cama, não é verdade?

Ian a olhou em silêncio.

— Fecha a porta atrás de mim. Não quero que a veja, porque se dedicará afofocar por toda a cidade.

— O que vai dizer?

— Mentiras.

— Perfeito. Quando quer, faz muito bem!

— Carinho, não esqueça que trabalho para o Governo — argumentou Ianarrastando as palavras.

Lorde Griffith se levantou da cama e se dirigiu à porta com o torso nu.

Georgie ia avisar de que não recebesse a essa mulher meio vestido, quando

caiu na conta, encolerizada, de que se eram amantes há anos, desde antes deconhecê-la, essa Tess já o teria visto nu.

Não era de estranhar que a fresca não partisse. Que mulher em seu são julgamento cederia a um espécime como Ian Prescott, sem apresentar batalha?

Ian esperou que Georgie se aproximasse da porta, para que esta a fechassecom chave. Sem dúvida Lady Faulconer não teria o menor reparo em entrar emseu dormitório se apresentasse a oportunidade.

Georgie, resmungando, separou-se de um murro um travesseiro e se dirigiuà porta.

Ian indicou com um gesto que ficasse de lado, para que não a vissem, e logosaiu fechando a porta atrás dele.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

bata, Camille cortou as pontas abertas de seus cabelos para dar movimento aoseu penteado e terminou com uma rápida manicure. Quando Georgie se olhouno espelho viu uma jovem inglesa de pura cepa, belamente polida com umvestido de manga longa e de Corte Império, de musselina estampada comramos, e penteada com um coque alto e algumas mechas soltas que

emoldurando o rosto. Enfim, um sari era mais cômodo, mas sem dúvida agoraseu aspecto correspondia ao de uma mulher, que acaba de receber umaespetacular proposta de matrimônio, da parte de um rico e influente Marquês.

Georgiana ficou olhando sua própria imagem refletida no espelho e seperguntou, dado seu estilo pouco convencional, se estaria à altura das exigênciasde um papel de tanta relevância pública, porque isso era o que significaria serMarquesa e esposa de Ian. Chegara o momento de enfrentar o mundo. Afastandoesses pensamentos de sua cabeça, Georgiana agradeceu às criadas e saiu dodormitório, para se apresentar diante de seus primos em ótimas condições.

Seguiu o corredor, sem saber muito bem aonde ia, e as surpreendentes

novidades da noite anterior voltaram a assaltá-la, quando Ian a trouxe para aMansão dos Knight, a opulenta residência de seus primos, os sofisticados Duquesde Hawkscliffe que, não obstante, insistiram em que os chamasse Robert e Bel.

Disseram que Jack esteve em Londres, mas que acabava de partir, e se poracaso isso não fosse o bastante surpreendente, considerando que seu primosempre afirmava que odiava a cidade, contaram que trouxe com ele... Umaesposa! Georgie custou acreditar que uma mulher conseguisse domesticar oselvagem Jack. Morria de impaciência por conhecer essa dama extraordinária, maspor desgraça ambos tornaram a embarcar devido a um assunto urgente, que Jacktrazia entre as mãos na América do Sul.

Georgie viu redobrar seu assombro, quando se inteirou pela boca de seusprimos, de que papai também esteve em Londres. Por desgraça, Jack necessitouque o ajudasse, em seus arriscados planos e, Lorde Arthur se viu obrigado a subirde novo a bordo... Apesar de ter recebido uma mensagem urgente de Derek, ondecontava os problemas que tiveram com o Marajá, enquanto ele se encontrava emalto mar.

A princípio, Georgie custou aceitar que seu pai antepôs os assuntos de Jackao bem estar de sua própria descendência, mas seu primo mais velho, Robert, oDuque, debaixo de cujo teto se hospedava, contou que Jack e seu pai seimplicaram, como se fosse pouco, na libertação das colônias espanholas da

América do Sul. Jack tinha carregado seus navios com soldados, armas e provisões para

abastecer os revolucionários e necessitava que Lorde Arthur o ajudasse a romper obloqueio espanhol.

Georgie odiava a idéia de que seu pai, que já completara sessenta anos,corresse tanto perigo como seus amados irmãos na Ásia. Já não era um meninogrande!

Lorde Arthur não sabia quando poderia retornar e, até então, pedira a Roberte a Bel que cuidassem dela. Por isso Georgiana, abandonada como sempre, viu-se

obrigada a esperar, rezar e tentar não ficar louca, até que sua aventureira famíliavoltasse a se reunir sob um mesmo teto. Georgie percorria o corredor tentando se

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

que a noite anterior não saiu segundo o previsto. E o que esse diaproporcionasse... Enfim, com ela, nunca se sabia. Ignorava se ainda se sentiriaofendida pela cena de Tess ou se uma boa noite de descanso a teria inspirado paradar por concluído o assunto.

A Duquesa de Hawkscliffe, Belinda, uma formosa loira, saiu em silêncio aocorredor e saudou ambos os homens, a Ian com um sorriso e seu marido, denegros cabelos, com um beijo na face.

— Robert posso falar com você um momento? — disse a Senhora ao seumarido pegando-o pelo da manga, enquanto indicava a Ian que entrasse na salade música — Olhe aí dentro — sussurrou.

Ian sorriu confuso à esposa de seu melhor amigo e foi investigar, enquantoBel fazia gestos a Hawk para que entrasse no estúdio, situado em frente. A portase fechou atrás deles.

O Marquês ouviu uns murmúrios que procediam da sala de música.

Cruzou a soleira e se deteve, atônito ao ver seu filho pequeno sonolento nocolo de Georgiana.

O futuro Marquês chupava o polegar, hábito infantil que ainda conservavadurante a sesta, agarrado ao recatado volante de renda da manga de Georgiana,como se quisesse ficar junto dessa jovem para sempre. Lia em voz baixa um livrode versos infantis.

Ian ficou olhando-os aniquilado.

Georgiana embalando seu filho, órfão de mãe, encarnava a genuína imagemda ternura maternal, e um arrebatamento de amarga doçura se apoderou do

Marquês, dando fé de sua imensa carência vital. Entretanto, Lorde Griffith tambémera consciente de que agora se apresentava a oportunidade de formar uma novafamília, um novo lar. Sua casa nunca foi um verdadeiro lar, porque carecia dealma, do mesmo modo que para seu filho sempre faltou o protetor carinho de umamãe.

Georgiana parecia tão doce, amável e acessível, tão capaz e tão sensível,que só contemplá-la, fazia um nó na garganta. Apoiou-se no batente da porta, sempoder afastar a vista dessa mulher.

“Tem que se casar comigo. Não aceitarei o contrário.” 

Pensou de novo no passado. Desejava que seu filho tivesse uma infânciamelhor que a sua, e lamentava profundamente estar agindo com ele, inclusive piorque como agiram seus próprios pais. A residência aristocrática em que Ian se criouera fria e restrita, uma morada que substituiu o amor pela classe, orgulho e adignidade. O clã dos Knight ao que se uniu, pelo contrário, apesar das confusões eo caos em que transcorriam suas vidas, achava-se mais estreitamente unidos,devido aos fortes laços que existiam entre Hawk e todos seus irmãos. Ian passou aformar parte de sua tribo com toda naturalidade, mas sempre e de algum modo defora, o que era distinto. Sobretudo então, quando já se casaram todos e tinhamesposas e filhos próprios. Quantos anos já passaram?

Entretanto, Ian seguia sozinho. 

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Quando elevou os olhos e viu o Ian na soleira da porta, Georgie seguiazangada com ele, por não ter contado que tinha Matthew. Uma coisa era esqueceras antigas amantes capazes de irromper em seu domicílio a qualquer hora e outramuito diferente, e bastante grave, manter em segredo a existência de um filho.

Georgiana notou sua presença, olhou para trás e viu o Marquês observando-os no silêncio sonolento da tarde, sua expressão a deixou gelada.

Os profundos e verdes olhos de Ian a olhavam com angústia, os marcadosplanos de seu rosto refletiam tensão. O Marquês ficou quieto e em silêncio, tensoo duro perfil de seus lábios, e cada centímetro de sua imponente e firme figuratransmitia uma solidão indescritível.

Georgie o olhou fixamente. Já notara o sofrimento que ocultava seuimpecável exterior na primeira vez que o viu em Calcutá, e havia tornado aobservá-lo na cova das preces, quando perguntou por sua esposa. Em geral, Iandissimulava bem, mas agora, pela primeira vez, ao observá-la junto a seu filho,

esse desamparo ressurgiu em primeiro plano, notava na face, via-se escrito emseu comovedor olhar.

Esse homem estava sofrendo. E um longo e escrutinador olhar bastava paratransformar a raiva inicial de Georgiana em compaixão. Como podia se zangarcom ele quando o via tão frágil e necessitado de ternura? Ocorreu quepossivelmente existisse um propósito, na viagem que se viu obrigada a fazer aLondres. Que aquilo possivelmente era um intuito do destino.

Ian Prescott salvou sua vida e a de seus irmãos. Agora era ela quem deviasalvar a ele.

Georgiana sustentou seu olhar em silêncio procurando não incomodar omenino que dormia. Ian se incorporou e se aproximou dela.

Matthew notou a presença de seu pai, sonolento, e se remexeu nos braçosde Georgiana. A jovem tranqüilizou o pequeno, dando um beijo na cálida fronte.

— Papai.

Matthew moveu seus pezinhos, calçados em meias, embora estivesse muitoa vontade para saltar do colo de Georgiana.

Ian sorriu à criatura com um indício de orgulho.

— Filho.

Inclinou-se e agarrou com suavidade um dos alegres e dançarinos pés deMatthew.

— Vejo que fez amizades.

Georgie estremeceu de alegria quando Ian cruzou os olhos com os dela.

— Olá.

A jovem sorriu confusa, recordando que seu filho a saudou da mesmamaneira.

— Servirão o almoço no terraço dentro de um momento — murmurou o

Marquês — Irei procurar alguma babá para que o vigie.Ian posou uma mão sobre a sonolenta cabecinha de seu filho.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

— Portou-se bem enquanto eu estava de viagem?

— Portou-se como um anjinho — respondeu Georgiana com redundância emnome de Matthew — É melhor que o pão.

A jovem beijou a alvoroçada cabecinha do menino e o abraçou forte.

— Eu cuido dele.— De verdade? — Ian a olhou contendo a surpresa — Que inveja...

— Temos que conversar — sussurrou Georgiana com expressão firme.

O que Ian leu nos olhos de sua prometida provocou uma fugaz sombra deintranqüilidade em seus cinzelados traços. Assentiu e foi procurar a uma dasbabás.

Uns minutos depois, quando Matthew já estava sob os cuidados de sua babá,Ian fechou a porta em silêncio e se voltou para ela, sem adivinhar que emGeorgiana despertou o instinto protetor, que tem toda mulher e se sentia um tantobeligerante ao ter tomado sob suas asas o pequeno. Uma parte dela queriaestrangular esse homem, mas a atitude soberba do Marquês, traía a absolutavulnerabilidade que ocultava sob a pele. Compreendeu que mais valia pisar noterreno com cuidado, porque parecia que acabava de tropeçar com seu calcanharde Aquiles.

Georgiana queria respostas, mas não desejava feri-lo. Questionou-se duranteuns instantes como deveria enfocar o assunto, mas terminou encolhendo osombros, em um gesto que indicava que em geral, saía-se melhor indo diretamenteao ponto.

— Por que não me contou que tem um filho?Ian fez gesto de não entender e a olhou de soslaio de uma prudente

distância.

— Não veio ao caso.

— Pois deveria ter feito vir! Tentava me ocultar isso de propósito ou apenasesqueceu que o menino existia?

— Nenhuma coisa nem a outra! — Ian franziu o cenho, virou e levou as mãosà cintura — Por certo, eu também tinha vontade de vê-la.

— Sinto muito que minha recepção não o tenha agradado Ian, mas temo que

comecei o dia com um bom susto. A princípio, quando alguém propõe matrimônioa uma mulher, deveria mencionar se houver algum menino no meio. Tem maisfilhos por aí?

— Não! — Ian ficou vermelho.

Virou-se e deu uns passos como se estivesse enjaulado.

Georgie suspirou devagar, mas uma leve dor nos pulmões recordou que seconectou com o pequeno Matthew Prescott, com tanto ardor e tão rapidamente,era porque infância dele tinha muito a ver com a sua própria, com a dor que sentiufreqüentemente ao ver-se abandonada, ao ficar sozinha. Valia mais não confiar em

Ian nesta questão. Por outro lado, quem melhor que ela poderia ajudá-lo aentender as necessidades da criança?

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

tom moderado.

— Sim. Depois de que seus irmãos me aconselhassem o enlace, dediquei-mea pensar nisso durante a viagem por mar e tomei uma decisão. Asseguro que oassunto me absorveu o pensamento.

— Espere um momento! Meus irmãos propuseram que me pedisse emmatrimônio?

— Ahá — Ian assentiu divertido, mas Georgie ficou pálida.

— Obrigaram-no Ian? Sei que podem ser muito convincentes quandoquerem...

— Não, claro que não. Não se zangue com eles. Só queriam o melhor paravocê... E aí é onde entro eu — sentenciou Lorde Griffith com total naturalidade.

Georgiana adotou uma expressão doída e voltou a pegar sua mão.

— Ian... Vou necessitar um pouco de tempo.

— Para que?

— A verdade é que pode chegar a ser muito dominante, e se for estar sobseu domínio preciso estar segura.

— Dominante não, sou um homem decidido! — protestou Lorde Griffith —Não é isso uma qualidade? Disse que toda mulher quer se casar com alguém aquem pode admirar.

“Quero saber se pode se apaixonar por mim” pensou Georgie sustentando oolhar.

Ian franziu o cenho e abaixou os olhos. Logo a olhou de soslaio,escrutinando-a.

— Ontem à noite parecia muito segura.

— Sim, mas então chegou ela e me dei conta de que há muitas coisas quenão sei de você.

A jovem estudou a expressão de seu prometido, desejando que se mostrassecooperador.

— Por que temos que ir com tanta pressa? Não podemos ir passo a passo,nos conhecer melhor, até que os dois tenhamos certeza de que isto é o mais

acertado? Digo-o pelo bem de Matthew.— Passo a passo? Parece-me que já nos saltamos uns quantos — disse Ian

lançando uma indireta.

Georgiana ruborizou. Abaixou os olhos e brincou nervosa com os dedos, quemantinha sobre o colo.

— O certo é que passei muito bem.

— Teria acontecido, melhor se Tess não nos tivesse interrompido.

Georgiana esboçou um sorriso, mas quando Ian tocou a face o fez com oolhar sério.

— Quero que saiba que não será um problema para nós. Assegurei-me de

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que entendesse que essa relação forma parte do passado.

— Alegra-me ouvi-lo.

Uns golpes na porta os interromperam.

— O almoço está servido! — Bel os chamou do outro lado recordando que

não esquecera seus deveres como acompanhante.Georgie não estranhou que a tivessem deixado tanto tempo a sós com Ian.

Seus primos pareciam decididos a emparelhá-los.

— Obrigado, agora mesmo vamos! — exclamou Georgiana.

— Diga, o que quer fazer, Georgiana? — perguntou Ian sem reservas.

A jovem o pegou pela mão.

— Quero ir mais devagar. Parece-me que os três, você, Matthew e eu,

precisamos nos conhecer melhor, antes de tomar uma decisão definitiva.— Quanto tempo necessita?

— Vejo que não gostou de minha resposta.

— Não vou esperar indefinidamente — disse Ian, incomodo —Não me dedicoa estes joguinhos.

— Isto não é um joguinho! Acabo de dizer como me sinto.

Ian se inclinou e plantou um firme beijo na face.

— Duas semanas — murmurou — Logo me dará sua resposta.

— Ian!

— Vamos? — Lorde Griffith se levantou e assinalou a porta com um gesto.

Controlando seu aborrecimento, Georgie recordou que seus primosesperavam. Suspirou, levantou-se e assentiu cortesmente para indicar, queaceitava que a acompanhasse ao terraço. Saíram da sala de música em silêncio,compassando o passo com toda naturalidade, enquanto percorriam a casa dosKnight agarrados pelo braço. Entretanto, Georgie não parava de dar voltas àcabeça, tentando compreender por que era tão difícil chegar até esse homem.

— Conte alguma anedota de quando era pequeno — disse Georgiana de

repente segurando o braço de Ian com ambas as mãos.— Por quê?

— Tento imaginá-lo à idade de Matthew. Devia ser um encanto.

— Claro que o era — resmungou Ian — Mas não tenho histórias para contar.

— Tem que ter alguma.

— Nasci grande, não sabia?

— Ai, Ian, por favor... Apenas uma anedota. Já disse que quero saber coisasde você. Meu amigo vai ter que me contar todos os detalhes.

— Bem, está bem — balbuciou Ian — Quando tinha a idade de Matthew,

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não?...

— Bem, quando tinha a idade de Matthew, decidi dar de presente a minhamãe um enorme buquê de flores.

Percorreram o longo corredor de mármore e descenderam pela curva e

marmórea escada.— Estava muito satisfeito de mim mesmo. Peguei muitas flores e fui para

casa com elas, certo de que minha mãe ficaria muito contente, por alguma razãonunca o estava. Pelo contrário, para minha surpresa, quando viu o presentedesmaiou, e me mandaram para o aposento dos meninos sem jantar. Montou-seum bom escândalo.

— Por quê?

— Porque, por desgraça, as flores que peguei eram do jardim de mamãe,que acabava de ganhar um prêmio. Enfim, entusiasmado como estava, arrasei-osem me dar conta, e o jardim ficou descascado toda a temporada.

Georgie, com uma terna careta e esboçando meio sorriso, deu-lhe umcarinhoso apertão no braço.

— Pobrezinho.

Ian estalou em uma gargalhada mundana e grave.

— Ah, querida... Não cresci precisamente cantando “Viva a Virgem”.

— Não, já o vejo. Mas não se preocupe tudo tem solução.

— Ah, sim?

— Sim, mas terá que começar com modéstia. Durante o almoço, porexemplo.

Georgiana saudou seus primos de longe e os dois se encaminharam para oagradável terraço em sombra.

— Disse que começaremos a comer pela sobremesa.

Ian fingiu desconcertar-se.

— Será capaz?

Georgiana se deteve e o atraiu para si para murmurar:

— Isso é o que você fez comigo.Ian arqueou a sobrancelha esquerda.

Georgiana mordeu o lábio e o olhou de soslaio, brincalhona. Voltou a puxá-loe o levou para a estival abundância que presidia a mesa.

 

“Esta mulher é perfeita para você, terá que reconhecer. Ah, Georgiana!”  Oque eu faria com essa personalidade?

Devia admitir que o fato de que pedisse mais tempo para que seconhecessem melhor o agradou. Antes de aceitar se casar com Catherine, eleapenas a conhecia. Se tivesse insistido em que se vissem mais vezes do queestipulavam as normas, sem a habitual reunião de familiares e acompanhantes,

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em apagar o passado que o acossava e impedir que se intrometesse em seupresente.

Georgiana o fazia feliz. Fazia feliz ao seu filho. Essa mulher era o futuro deambos, e Lorde Griffith, fazendo ornamento de sua férrea disciplina, impôs-secentrar-se apenas nisso.

 

Ao fim de uns dias se celebrou um baile, no qual Georgiana seriaapresentada em Sociedade.

Ian internou na buliçosa reunião com o coração e o passado ágeis,desfrutando plenamente, para sua surpresa, da ocasião. Em geral esses eventos oaborreciam soberanamente e terminava em algum canto falando de política,durante horas com os Cavalheiros mais anciões e secos.

Mas essa noite não.

Engoliu um merengue enquanto passeava pelo salão de baile e deixouescapar uma entusiasta exclamação, quando notou que o doce que fundia nalíngua com uma açucarada explosão de delicados aromas. Amêndoa, limão, umtoque de baunilha? Fosse o que fosse, estava delicioso.

Cantarolando absorto no ritmo da música, que soava extraordinariamentemelódica nessa noite, Ian pensou que jamais provou um doce tão bom comoaquele. Possivelmente ao fim de um momento comeria outro.

Ao passar sob a galeria ouviu um corpulento homem, de grande nariz e malusada velhice, que contava uma piada suja aos seus amigões. Por razões queignorava, Ian caiu em conta de que essa noite nem sequer esse humor vulgar era

capaz de incomodá-lo. Em geral, Lorde Griffith se mostrava intolerante com essaclasse de comentários porque considerava que valia mais reservá-los para o clubeou as corridas e não soltá-los jamais em companhia das damas, mas nessa noitetodo seu ser irradiava uma recém estreada tolerância, para as inumeráveisdebilidades da raça humana. Inclusive o brilhante resplendor dos lustres pareciaadoçar os rostos cansados e curvados pelo sofrimento das matronas maisinsatisfeitas da Sociedade.

Só Deus sabia o que se passava. Tinha os sentidos tão exacerbados queinclusive era consciente da textura da roupa contra sua pele, do robusto linho desua camisa, da suave lã de merino das calças negras. Usava a gravata mais solta

do que o habitual e o pescoço menos engomado.Sim, sentia que uma doçura corria pelas veias infectando-o com uma

enfermidade maravilhosa que, em lugar de prostrar os homens, aliviava-os. Essanoite se sentia cordial, como se acabasse de despertar de uma longa hibernação.É claro, tudo era obra de Georgiana, que o ressuscitou. Ignorava se isso implicavaque, na realidade, estava se apaixonando. Sentia-se mais agudo, mais sociável,mais cômodo em geral. Sorria mais e ria abertamente quando um conhecidopassava junto dele e sorria ou fazia uma leve inclinação de cabeça.

Ian foi passeando pela sala até que ela fez sua aparição. Ali estava do outrolado da sala, resplandecente e magnífica com um lustroso vestido de noite de

cetim, como as rosas estivais.

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Lorde Griffith se apoiou devagar em uma das imponentes colunas coríntiasdo salão de baile e se recreou observando-a, com a enfeitiçada fascinação comque os sonhadores poetas dos lagos contemplavam a saída do sol. De seu discretoângulo, pareceu que a jovem se desembaraçava bem.

No dia anterior acordaram que no baile manteriam uma distância de cortesiaentre os dois, enquanto ela se dedicava a se apresentar em Sociedade. Seria comoum jogo, delicioso e secreto. De fato, a valentia dessa mulher impedia de pegarsuas abas e obrigar todo mundo a fazer uma reverência por respeito a ele.Georgiana queria manter sua própria identidade, obter que as pessoas a vissem ea conhecessem, como um indivíduo que era antes que corresse a voz sobre suafutura união.

“Nossa possível futura união” , recordou Ian com ironia. Ao menos, no querespeitava a ela.

Quanto a ele, o enlace era uma certeza, e só questão de tempo. Em todo

caso, Ian reconheceu que Georgiana tomou uma decisão acertada ao enfocar anoite dessa maneira. Logo que corresse a voz de que os dois tinham uma relaçãoamorosa, Georgiana se converteria no alvo eleito por todas as ciumentas damasque, desde o falecimento de Catherine, tinham suas miras postas no Marquês. Aovê-la e admirar o gracioso pano do xale da Índia que, dos cotovelos, caía em umavolta por suas formosas costas, Ian compreendeu que não deviria se preocuparcomo se desembaraçaria em Sociedade. Não obstante, deu-lhe uns conselhossobre a atitude que devia adotar e o agradou constatar que a jovem levava a liçãobem aprendida.

Georgiana recorreu aos divertidos ares de Rainha de Sabá para impressionara concorrência o dia que chegou a Janpur, montada em seu elefante pintado eeclipsou os aristocratas londrinos de sangue azul ao representar esse papel dealtiva, distante, saudando Duques e a Príncipes como se estivesse sobre todos elese fossem eles os que tivessem o privilégio de conhecê-la.

“Nossa, que boa é.” 

A sobrinha e xará da Raposa Hawkscliffe deixou muito claro desde o começoque, provinciana ou não, não permitiria que a Sociedade londrina a deixasse delado. Sua grande beleza, combinada com seu porte admirável e sua estirpe deescândalo, causou revôo. Aguçou o ouvido para escutar as fofocas, Ian percebeuos atônitos sussurros no salão de baile. O triunfo de Georgiana redobrou o desejo

que sentia por ela.Em poucas horas a primeira Georgiana e seu errático estilo ficaram

eclipsados, quase esquecidos, diante da resplandecente glória desta segundamulher. Por fim, a meia noite em ponto, chegou o momento em que se reuniram.Ian se alegrava porque, para falar a verdade, começava a sentir ciúmes. Nãoresultava fácil vê-la dançar com outros homens.

 Todas e cada uma das jovens praticavam alguma arte para fazer suacompanhia agradável e interessante. Umas cantavam, outras tocavam piano einclusive havia quem tinha fama de ser boa aquarelista. Entretanto, ninguém podianegar que a arte de Georgiana era a dança. Vê-la evoluir era um prazer para os

sentidos. Possivelmente a prática da ioga dava uma graça etérea, mas o certo foique todos se fixaram em seu divino porte, seu delicioso equilíbrio, uma espécie de

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Dançaram, sorrindo e olhando-se nos olhos como dois tolos apaixonados,enquanto executavam os atrevidos passos da valsa em uníssono, sem esforçoaparente.

Ian a sustentou com firmeza pela cintura, Georgiana parecia acariciar oombro. O Marquês saboreou a dança, sem deixar de pensar se essa mulher estariase recordando da breve visita que fez em sua cama e a noite em que estiveram juntos na cova das preces.

— Já disse que quero dar um presente a você, formosa dama? —perguntoufinalmente Ian.

— A mim? Fantástico! O que é?

— Uma surpresa — a repreendeu — Mas não terá que esperar muito.Amanhã estará preparado. Quer que entregue pessoalmente?

— Sim, por favor! Ai me dê ao menos uma pista. Odeio as surpresas.

— Que estranho... Considerando que você é cheia de surpresas.— Se não souber do que se trata, como quer que diga se resulta adequado,

que aceite um presente de um Cavalheiro?

Ian riu malicioso.

— Por favor, por favor, Ian!

— Muito bem — disse ele estalando em uma gargalhada — É uma jóia, eembora pense que não é correto da minha parte e que parece que tomefamiliaridades com você, não importa. Quero que ponha isso.

— Ian!

— Silêncio!

— Quero dizer... Lorde Griffith — retificou Georgiana abaixando a voz paraque ninguém os ouvisse — Querido Lorde Griffith, acreditava que ainda dispunhade cinco dias.

— Não é um anel, se for isso o que a preocupa — esclareceu o Marquês,fazendo-a girar com suavidade ao som da peça, para o extremo oposto da pista,sob a sorridente expressão dos convidados — Asseguro que se trata... De outracoisa muito diferente.

— Ora, Ora, um pequeno mistério... — comentou Georgiana inclinando acabeça.

Ian sorriu.

Quando terminou a música, Georgiana ficou rindo com as facesavermelhadas e levou a mão ao peito para recuperar o fôlego. Lorde Griffithofereceu um refresco e ela aceitou assentindo agradada.

— Agora mesmo volto — sussurrou o Marquês.

Custou deixá-la, apesar de que notava seus olhos cravados nele enquanto se

afastava.Lorde Griffith fazia ornamento de suas boas maneiras abrindo passo entre a

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saber minha opinião, direi que esse sanguinário morreu como merecia.

— Ora! — exclamou Lorde Applecroft com sagacidade — Nunca o ouvi falarassim. É possível que durante suas viagens pegou algo da vida selvagem doOriente?

— Ah, meu bom amigo — atravessou o Marquês dando uns golpezinhos noombro — se não tivesse nascido com uma nervura selvagem, para começar nuncateria me atrevido a negociar com os selvagens Marajás.

Piscou o olho para ao velho Conde, riu ao ver a atônita expressão domensageiro e se afastou em busca do ponche que prometeu a sua dama.

— Que maravilhosa dança você teve com Lorde Griffith!

Georgie se virou surpresa, para indagar quem se dirigia a ela. Era umamulher de uns trinta anos, de pele impecável e cabelo loiro champagne, queprendeu com mestria.

Seu desenhado vestido de noite, de cetim rosa concha, levava um pescoçoalto estilo Van Dyke na parte posterior que, por diante, pendurava revelando umgeneroso decote. A graciosa criatura, sorrindo com benevolência, se aproximou da jovem e abanou o pescoço com um único gesto, lento e decididamente estudado.

Por alguma razão essa mulher a pôs em guarda.

— Obrigado, Senhora — respondeu Georgiana saudando a dama com umgesto de amabilidade — Parece-me que não nos conhecemos.

— Meu nome é Lady Faulconer, querida. Você, é claro, não necessitaapresentação. É a fofoca do baile — afirmou a dama em tom desenvolto, com umavoz melosa e sussurrante — E depois de uma valsa tão magnífica como esta,auguro que manhã você já haverá conquistado toda a cidade.

— Lady Faulconer, sim?

Georgie se esforçou para ocultar seu estupor e conseguiu sorrir com friezapor seu suposto louvor, embora não pode evitar pensar que motivo teria essamulher para adulá-la. É certo que Tess tramava algo.

— Você é muito amável. Entretanto, Lorde Griffith que deveria receber os

elogios. É um bailarino tão consumado, que pode obter que seu par sempre pareçafantástico.

 Tess respondeu com um olhar assassino ao elegante direto da jovem,estupefata ao comprovar o bem que devolveu o golpe, Georgie sorriu comserenidade.

— Sim, é certo, querida, mas você não é um par qualquer, não é verdade? —atacou de novo a dama com um ladino sorriso.

— Como diz? — perguntou Georgie com ar inquisitivo.

— Você é uma Knight e ele é um Prescott — explicou a antiga amante de Ian

— E suas duas famílias sempre foram... Próximos.

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Lady Faulconer se dedicou a observar a pista de danças, enquanto osbailarinos se repartiam em duas filas para executar uma dança campestre.

— Enfim... — acrescentou com um suspiro cosmopolita — Você tem maisoportunidade de apanhá-lo que qualquer outra.

Georgie reuniu forças de fraqueza e estalou em uma incômoda gargalhada.— Meu propósito não é apanhá-lo.

— Pode ser que não. De fato, é muito velho para você.

Georgie reprimiu uma expressão carrancuda ao se dar conta de que a damaestava estendendo uma armadilha.

— De todos os modos, aconselharão que se case com ele, anote o que digo— comentou Lady Faulconer com um tom despreocupado — Garanto que Griffith eHawkscliffe já estão preparando o compromisso.

O estilo presunçoso dessa mulher começava a chatear Georgiana, mas a jovem se esforçou por não demonstrar e riu com naturalidade ao ouvir essaspalavras.

— Querida Lady Faulconer, temo que me surpreendeu com suas predições.Georgiana falou com secura — Você deve saber algo que eu desconheço.

— Certo — respondeu a dama embebida na contemplação dos bailarinos — Epor isso, querida, decidi falar com você.

— Perdão, como diz?

Os cinza olhos de Lady Faulconer resplandeceram ao cruzar com os deGeorgiana.

— Reconheço que não me dediquei precisamente às boas obras duranteestes anos, mas alguém deveria adverti-la sobre... Esse homem.

Georgie piscou. “Me advertir?” 

— Não invejo sua situação, apressada pelas famílias, para que se convertaem Marquesa... E o que dizer dele! Ah, que ardiloso e galã é! Atreveria dizer quevocê nunca suspeitará de onde vêm os tiros.

— Senhora não a entendo — disse Georgiana, incômoda — Lorde Griffith étodo um Cavalheiro.

— De verdade? Bem, fala a juventude — comentou Lady Faulconer comindulgência — Você ainda não conhece o Marquês. Não como eu conheço.

Georgie a olhou com incredulidade, apesar de que se amaldiçoava por sepermitir escutar as mentiras dessa mulher.

— Nada mais longe de minha intenção que criticar um homem tão refinado,mas olhe querida, Lorde Griffith e eu... Oh, como diria? Poderia dizer que nossashistórias se cruzaram.

— A que se refere? — perguntou Georgie sem rodeios.

— Griffith e eu somos íntimos... Há muitos anos — admitiu a dama com

satisfação.E seu olhar deixou muito claro que não deixaria escapar esse homem sem

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turvos pensamentos, Georgie saiu ao terraço lajeado que dava ao jardim.Cascatas de flores iluminadas pelo resplendor das luzes de ferro forjadoconvergiam em umas musgosas jardineiras situadas estrategicamente. A brisaarrancava sussurros das folhas das árvores e, no alto, as estrelas titilavamrecortadas contra um céu negro como o peixe e uma lua de fina silhueta, que logo

que roçava um tênue banco de nuvens, que avançava em lenta peregrinação parao oeste.

Entretanto, apesar da beleza dessa noite de junho, a jovem estava confusadiante as surpreendentes declarações de Lady Faulconer e sentia um nó noestômago. Aconchegou-se no xale de seda para se proteger do ar fresco da noite,situou-se junto à baixa balaustrada, suspirou levemente e ficou cabisbaixa.

Não era necessário ser muito preparada para adivinhar que Lady Faulconertinha seus motivos para fazer esses comentários e que por isso mesmo não cairiana ardilosa armadilha dessa harpia ciumenta.

De todos os modos... Tinha uma imagem gravada na memória. O dia em que esteve na sala de

música da casa dos Knight, quando pediu a Ian que explicasse os motivos pelosque propunha matrimônio, ele não mencionou a palavra amor.

Falou da família, do dever, do desejo e o correto, mas nem por indício disseque estivesse apaixonado por ela. E começava a se dar-conta de que isso eraprecisamente o que esteve desejando escutar do fundo da alma. Teria razão LadyFaulconer? Ian ainda amava sua falecida esposa? Nunca falava dessa mulher.Georgie nem sequer sabia que chamasse Catherine, apenas que havia falecidodando a luz a Matthew. Ian dissera que a febre a levou.

Sabia que a febre puerperal era a causa de que falecessem milhares demulheres, que não conseguiam se recuperar do parto. Possivelmente Ian seculpava por engravidá-la... Em todo caso, resultava insuportável que seu amado seatormentasse por algo assim. O que sabia era que as únicas duas vezes que faloude sua falecida esposa, em Janpur, tinha-o feito com um tom de voz seco edistante e, conforme recordava Georgie, apressou-se a mudar de assunto. Sabiaque Ian não estava acostumado a falar do que, no fundo, importa mais, os temassentimentais. Já o havia descoberto com respeito a Matthew.

Quanto mais se aproximava de suas emoções, mais se encerrava em simesmo.

Possivelmente por isso nunca falava de Catherine. Tinha-a amado tanto queao fim de cinco anos sentia tão terna a ferida, que não podia suportar a tortura defalar de sua perda? Ainda a amava como afirmava Lady Faulconer? Possivelmentedeveria perguntar diretamente, embora não se sentisse preparada para enfrentareste tipo resposta.

Georgie se propôs lutar por ele, evidentemente, mas não o faria se seusesforços estavam condenados ao fracasso desde o começo. Pelo que sim estavasegura era de uma coisa, a diferença de sua amiga a Princesa Meena, ou suainimizade, a Rani Sujana, que neste caso era o mesmo, nunca aceitaria a idéia decompartilhar seu marido. E não estava disposta a compartilhar Ian com umfantasma, assim como tampouco com damas parecidas com Lady Faulconer.

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O verdadeiro amor para Georgiana não admitia meia medida. Queria queesse homem entregasse seu amor completamente, do mesmo modo que ela iria seentregar, se não, preferia abandoná-lo. Nesse preciso instante uma jovial voz devarão interrompeu o fio de seus pensamentos.

— Aqui está! Encontrei-a, rapazes! Está aqui fora!

Georgiana girou e viu aparecer pela porta aberta do terraço um dos jovensCavalheiros, que acabavam de se apresentar sorrindo abertamente. Porinfelicidade, não conseguia recordar seu nome.

— Oh, minha querida Senhorita Knight! Esqueceu? Prometeu-me uma dança!

— Encontrou-a! Está no terraço! — exclamaram outros varões que seencontravam no salão, enquanto o primeiro dandi se aproximava dela sem tardar.

Ao fim de uns minutos, Georgiana se viu rodeada de quatro frívolosCavalheiros, com elegantes colarinhos engomados e os cabelos engomados paratrás. Seus resplandecentes sorrisos e suas rosadas e bem barbeadas faces,recordaram muito Adley, seu tolo e encantador pretendente de Calcutá.

— Minha querida Senhorita, está bem? Egads parece nervoso!

— Não a monopolize, malvado!

— Quer beber algo? — ofereceu um terceiro.

— Não, estou bem, obrigada — respondeu Georgiana, perguntando se aofinal teria que acabar escolhendo um.

— Que alívio! Pensei que já não quereria dançar comigo!

Quando Georgiana se virou para o primeiro jovem, reprimindo uma respostaimpaciente, um segundo Cavalheiro afastou seu rival com uma cotovelada.

— Em todo caso é minha vez. Ela me prometeu!

— Está muito enganado — exclamou o primeiro apertando os punhos elevando-o à cintura — A Senhorita Knight disse claramente que me reservava aseguinte dança. Não se recorda Senhorita Knight? Diga a eles, por favor. Este tipoé um grosseiro.

— Eu, grosseiro? É você quem está incomodando-a!

— Não preste atenção neles — interveio outro Cavalheiro de sorriso

suntuoso, metendo-se entre seus companheiros e agarrando-a pela mão — Émuito formosa para perder tempo com eles. Dance comigo.

— Ora, este está arruinado! Sabe de uma coisa? Você é a jovem maisinteressante que chega à cidade há anos.

— Cavalheiros! — uma profunda e furiosa voz trovejou da porta.

 Todos ficaram imóveis.

Georgie olhou para trás, estupefata pelo irado tom.

Ian cruzou o terraço com passo ameaçador, e a luz das luzes esculpiu a raivaque aparecia em seu rosto.

Os novos amigos da jovem pareceram encolher como cães mulherengos,diante de um enorme e colérico leão.

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— O que... Significa tudo isto? — rugiu o Marquês fulminando com o olhar acada um dos dandis, porque, na realidade, estavam começando a ultrapassarem-se.

Os Cavalheiros balbuciaram erráticas desculpas e, pálidos como cera,fugiram em correria.

Ian voltou a cabeça. A raiva plasmou em seus largos e tensos ombros e emseu perfil de aristocrático, enquanto observava o atropelado retorno do grupo aointerior da sala.

Entretanto, quando também dedicou a ela o mesmo olhar intimidante,Georgiana se sentiu ofendida.

“A Santo Deus por que está me olhando com raiva? Se alguém tiver motivos para se ofender pelas rivais, sou eu... primeiro, por sua espantosa amante, e agora por sua santa esposa!” 

A visão de Georgiana rodeada de ávidos pretendentes arrepiou e despertounele uma avalanche de inconfessáveis impulsos nascidos nas profundidades deuma faceta de si mesmo, que procurou não reviver.

Apesar de que a jovem seguia sozinha junto à balaustrada, não podia afastara nociva imagem de seu pensamento, nem deter a rápida sucessão de idéiasassociadas, que desencadeou no canto mais sombrio de sua mente.

Nunca voltaria a permitir que uma mulher brincasse com ele. Que ohumilhasse. Que o traísse. Que fizesse perder a confiança. Nunca.

E se assim iria se comportar essa mulher, paquerando com uma horda dehomens que ofegavam por ela, a abandonaria imediatamente. Antes de seenvolver mais. Não podia reviver tudo isso.

“Não esqueça que é a sobrinha da Raposa Hawkscliffe.” 

Do outro extremo do terraço, Georgiana levou uma mão ao quadril e lançouum olhar de desafio.

— Por que essa cara de cão bravo?

Sua sincera pergunta e seu tom insolente o despertou do lúgubre sonho dopassado e o devolveram ao inseguro presente.

“É Georgie.” Era Georgie. Sua picante e travessa jovem. Não sua embusteira esposa.

Ian a examinou e ao fim de um momento se tranqüilizou ao pensar que a jovem não fez nada mau. Ainda.

— E ai? — exclamou Georgiana esboçando uma careta, enquanto esperavasua resposta com as sobrancelhas arqueadas.

A julgar pelas aparências, a jovem andava procurando briga. Que estranho. Éclaro, a fúria desatada com que a olhou devia ter relação. Bem, se obrigaria deixarde por cara de más pulgas. No final das contas, tratava-se de Georgie e não de

Catherine, e considerando tudo, sua reação brusca e intimidante ao vê-la rodeadade homens, possivelmente fosse desproporcional.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Atando curto seu feroz embora estranho gênio, Ian respirou fundo e seobrigou a controlar a raiva, até convertê-la em uma mera sensação de desagrado,combinada com uma saudável dose de vigilante suspeita, se fosse o caso.Endireitou os ombros, acalmou os traços de sua expressão e estendeu a bebida asua dama.

— Perdoe-me — espetou o Marquês oferecendo uma taça de ponche comchampagne — Entretiveram-me.

— Diga-me o que aborrece.

Sabia que não devia responder a essa pergunta e se esquivou.

— De fato — murmurou Ian franzindo o cenho, enquanto sustentava a taçadiante a luz — incomoda-me esta maldita mosca que se colocou em minha taça.

Um pequeno inseto alado caiu em seu ponche e se revolvia entre flutuantespartes de fruta, enquanto se afogava na doce beberagem.

— Ian.O Marquês a olhou de soslaio, sem abaixar a guarda.

— Sabe que não me referia a isso.

Compreendeu que devia calar, tentar sorrir e negar tudo. Nisso, era umespecialista. Entretanto, depois de considerar brevemente, o silêncio resultouinsuportável.

— Olhe, não é boa idéia que vá sozinha por aí sem sua acompanhante —disse Lorde Griffith afastando sua taça e falando com uma fúria controlada — Temque andar com mais cuidado, Georgiana. Estou seguro de que é consciente de que

não pode desfrutar da companhia de desconhecidos sem manchar sua reputação,a de sua família e a minha própria.

— Sai para tomar ar, para sua informação! Estava aqui pensando em minhascoisas quando esses Cavalheiros apareceram.

— E o que crê que queriam? — espetou Ian com voz grave e dura.

Georgiana o fulminou, mas desviou o olhar para não cruzar com seusintensos olhos e se concentrou no jardim, evitando o contato visual.

— Disseram-me que queriam dançar comigo.

— Exato — a admoestou o Marquês, mas então veio uma idéia à cabeça queo deixou duro como pedra — Ofenderam você?

Por seu tom de voz, parecia disposto a arrancar a cabeça de quem quer quefosse, se esse fosse o caso.

— Não — respondeu com uma exclamação maliciosa.

— Assustaram?

— Claro que não — protestou a jovem lançando um olhar que indicava quepossivelmente era ele quem a atemorizava nesse momento.

Ian abaixou os olhos, estupefato. Um momentâneo raio de lucidez penetrou

no negro caos de seus sentimentos desencontrados e resplandeceu nas trevas deseu pensamento.

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“O que me acontece?” O Marquês torceu o rosto.

Georgiana escrutinou seu rosto com a preocupação aflorando a seus azuis esagazes olhos.

Ian tomou a taça com serenidade, esvaziou seu conteúdo, com inseto

inclusive, sobre um canteiro de flores e, com um gesto extremamente refinado,deixou a taça vazia sobre a larga balaustrada.

— Deveríamos retornar ao salão de baile.

— Sim — murmurou Georgiana observando-o com apreensão — Vamos.

Levantando a borda das saias, a jovem deu a volta com um frufru de cetimcor de rosa e cruzou a terraço para voltar para o baile.

Ian, com o cenho franzido, seguia-a um passo atrás. Resultava-lhe incrível omal que, de repente, concluía a noite.

 

O retrato coincidia.

Sumido na escuridão, Firoz olhou atentamente o relicário que tinha na mão elogo espiou para a janela para ver o menino. Escondido entre as sombras dasárvores do parque dianteiro podia ver o interior da casa do Diplomata.

O pequeno, com o cabelo alvoroçado, descalço e vestido com uma longacamisa branca de dormir, subia ao aposento dos meninos, acompanhado doscriados da Mansão.

Firoz se fixou no velho e quadrado mordomo, nas duas criadas e em umrobusto lacaio. Não o preocupavam. Levava muito tempo dedicado a essa classede tarefas... Embora o certo fosse que os seqüestros de natureza política queperpetrou para a família de Baji Rao, em geral não incluíam nenhum menino. Nãogostava de manchar as mãos traficando jovenzinhos, mas por ela, por sua Rainhadas trevas, estava disposto a fazer uma exceção.

Firoz fechou o relicário com o retrato em miniatura de Matthew Prescott e ometeu no bolso da simples, indumentária de estilo inglês que tinha adotado parapassar inadvertido.

O navio em que cruzou o oceano acabava de chegar da Índia. Durante atravessia se uniu a um rico viajante seguindo os habituais procedimentos dos thug.

 Tratava-se de um exuberante nababo inglês encantado de terem se conhecido.Firoz não via o momento de assassiná-lo para se livrar de ter que escutá-lo falarsobre a caça da raposa, mas de algum modo, conteve-se.

Sir Bertram seria de utilidade. Nenhum assunto resultava mais querido aovaidoso inglês, que a casa de campo que iria construir em um dos condados desua terra, com a fortuna ganha na Índia.

Quando embarcaram, Firoz suplicou humildemente poder ter o privilégio deservir a um Sahib tão sábio e nobre como Sir Bertram, e ganhou a confiança doaristocrata, recorrendo às sabidas adulações. O dia que preparou um deliciosocurry adotando o papel de escravo que deseja agradar seu Senhor, Sir Bertram

caiu em suas redes e afirmou que era o melhor curry que provou e que Firoz deviase converter em seu criado.

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É claro, o resto do serviço hindu suspeitou do recém-chegadoimediatamente. Os criados tinham medo de Firoz, mas o nababo não quis escutá-los. Um dos bengalis tentou inclusive sussurrar aquele velho bêbado, que Firoztinha um olhar perigoso, mas Sir Bertram o despachou sem olhar, desejoso comoestava de exibir de sua coleção de seres humanos exóticos, diante dos Cavalheiros

ingleses de seu clube St. James.Ao chegar ao cais londrino, Firoz ficou com o grupo de Sir Bertram e ficou

maravilhado com a cosmopolita mescla, que viu em terra, de homens e mulheresprocedentes de todas as partes. Ouviu uma dúzia de idiomas no mínimo, desdeque desceu pela passarela do navio, até que subiu a carruagem que foi recolhê-lose que seguia a deliciosa carruagem do Baronete.

Para ilustrar a sua bailarina preferida de nautch, que havia trazido consigo,Sir Bertram assinalou a variedade de pessoas que havia no embarcadouro e fezmenção de seus estranhos trajes e costumes estrangeiros. Havia suecos de umloiro prateado, poloneses de duros traços e russos barbudos. Também viram

alemães de intenso olhar, escoceses que discutiam e irlandeses assobiando. Ositalianos, espanhóis e portugueses brigavam a gritos. Inclusive se fixaram em unsafricanos de pele muito escura, uma raça de indivíduos que Firoz não sabia nemque existisse.

Ora que mundo tão estranho e caótico que vivia estes ingleses! Desejavaretornar à tranqüilidade das montanhas desertas do norte de Janpur. Quandoconseguiu se orientar um pouco no novo local, esperou até meia noite e escapouda casa, que Sir Bertram tinha na cidade saindo pelos estábulos, sobre os que sealojava. Precisamente nos estábulos descobrira o mapa de Londres, que dirigia ococheiro.

Firoz o estudou atentamente seguindo com o dedo a rota que conduzia à ruaonde vivia Lorde Griffith. Em Janpur já haviam dito onde ficava a residência doMarquês.

A criada da Rani Sujana conseguiu seu endereço quando foi aos aposentosdo Diplomata, deixar uma fruta envenenada e se entreteve pinçando entre suascoisas. Firoz sabia exatamente aonde se dirigia e não custou muito encontrar olugar.

No momento se dedicou a passear a vista tranquilamente pelo parque e viuque brindaria uma boa via de escape quando saísse zumbindo com o menino. Uma

vez orientado, era questão de esperar o momento oportuno. Tomou notamentalmente de que devia acertar de antemão, o transporte que o levaria de voltaà Índia. A Rani Sujana deu uma grande quantidade de ouro para pagar a travessia.

Firoz pensou que seria melhor retornar a casa de Sir Bertram antes quesentissem sua falta, já deslizava pela sombra de um grande olmo quando, derepente, uma carruagem entrou a toda velocidade pela rua em penumbra e sedeteve com um chiado, diante da casa de Lorde Griffith.

Firoz voltou a se esconder entre as sombras e observou que o Marquêsdescia da carruagem de um salto e fechava a portinhola com irritação. Sem sedeter Lorde Griffith subiu a toda pressa os escassos degraus da escada e entrou

em seu domicílio despachando seu mordomo com um gesto da mão. Um sinistrosorriso se desenhou nos lábios de Firoz, que já vira o suficiente.

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Deu voltas à colherinha, devagar, e absorta ficou dando golpezinhos sobre amesa com a outra mão.

E se contasse a breve conversa que manteve com Lady Faulconer eperguntava de chofre se suas afirmações eram certas... Enfim, tudo aquilo pareciauma empresa extremamente arriscada e embaraçosa. Caso se atrevesse a falardesse assunto e Ian confirmasse a história de Lady Faulconer, se admitisse quesua falecida Catherine, sempre seria a Rainha de seu coração, partiria a alma deGeorgie. Por outro lado, a incerteza era pior. Sem dúvida deveria correr o risco eaveriguar quais eram os sentimentos que abrigava por ela e por Catherine. Tinhaque perguntar a ele e dar por resolvido esse assunto. Precisava falar com ele.

De repente se sentiu tão inquieta que teve que se levantar da cadeira. Tomou o último gole de chá e partiu ao seu aposento. Devia buscar algumentretenimento se não queria ficar louca, antes que se apresentasse a ocasião defalar com ele... Se é que voltaria a falar com ele. Possivelmente daria brilho àsunhas, pensou com aborrecimento. Tinha a cabeça tão cheia e o coração tão

inquieto, que não podia se dedicar as coisas mais produtivas.Entretanto, enquanto subia a escada ouviu os coléricos soluços e os

incoerentes protestos de um menino com manha. Preocupou-se instintivamente e,franzindo o cenho, terminou de subir a escada a toda pressa e percorreu o longocorredor de mármore, até a sala de música, de onde saíam os gritos.

Espiou da soleira da porta e descobriu que Sally, a babá, tentava em vãoacalmar Matthew, que estava vermelho da raiva.

— Venha, Senhor Aylesworth, é esta a maneira de se comportar de umCavalheiro?

— Não tenho por que escutá-la! Não é minha mãe!

— Não pode montar nas costas do cachorrinho! É velho e fará mal a ele!

A jovem, que estava passando um bom apuro, pegou Matthew pela mão etentava convencê-lo com doçura de que saísse da sala, certamente para levá-lo aoquarto dos meninos, para brincar com Morley, seu melhor amigo. Entretanto,nesse dia estava claro que o herdeiro de Ian não desejava seguir a rotinaacostumada. Estava obcecado com o cão favorito do Duque, Hyperion, um enormee frágil terra nova, que já tinha muitos anos. O leal mascote do Duque estava jogado junto ao sofá, observando a manha de Matthew com uma amável e canina

indiferença e se limitava a ofegar.— Hyperion é muito velho para que os meninos montem em seu lombo —explicou a criada pela enésima vez enquanto Georgie entrava para ver se podiaprestar ajuda.

— O que acontecerá caso se zangue e o morde?

— Quero montar! Não me morderá! Deixe-me em paz!

Matthew puxou a mão de Sally para se soltar e gritou com tanta fúria quepor pouco não rompeu os vidros da janela.

— Ai, por Deus! — exclamou Georgie com pena correndo para eles —

Matthew, querido, passa algo grave?Quando o menino levantou os olhos e a viu, a expressão de seu rosto mudou

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de repente e a raiva se converteu em uma profunda pena. Lorde Aylesworthrompeu a chorar.

— Bem, bem... Pequeno...

Georgie se ajoelhou e abraçou o menino. Não sabia o que o preocupava, mas

duvidava que tivesse algo que ver com o cão.— O que acontece, meu querido?

— Gritou comigo! — ele espetou.

— Não, não, Sally só quer que não faça mal sem querer a Hyperion,Matthew, porque Hyperion já é um vovô. Tem que tratá-lo com suavidade ouromperá suas costas, e então tio Robert ficará muito triste. Por que não subimosao quarto dos meninos e brincamos com Morley?

— Nãããoo! — Matthew a empurrou, mas Georgiana não o soltou.

— Cale-se, céus... Tomou café da manhã já? Na sala de jantar há bolinhos decanela — sussurrou Georgiana sem fazer caso da patada que o menino deu comoreação.

— Não quero!

— Matthew...

— Deixe-me em paz!

Ao ver que seus inescrutáveis desejos não eram satisfeitos, Matthew seguiucom sua manha.

— Já sei, iremos jogar a arca do Noé! Você me ensina todos os animais e eu

te contarei a história de um elefante.— Não! — o menino se separou dela com um rouco grito de cólera — Não

quero elefantes!

— Muito bem. Por que não vamos ao estábulo ver os pôneis?

— Não quero! — trovejou a criatura — Por que não me escutam?

Com uma paciência que surpreendeu inclusive a ela, Georgie o olhou comdoçura.

— O que quer meu querido?

E então descobriu.— Quero... O meu papai... — gemeu Matthew — Nunca está em casa! Nunca

quer brincar comigo!

— Ai, minha vida...

Georgie o atraiu para si e deu um forte abraço. A solidão do pobreprincipezinho partiu seu coração. O menino chorava com fúria e Georgiana,recordando os dias de sua infância, sabia exatamente como se sentia. Seguiuabraçando Matthew e o deixou chorar.

Ao fim de um momento, os soluços diminuíram e o menino apoiou sua

quente cabeça no ombro da jovem. Parecia bastante calmo para tentar raciocinarcom ele.

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— Matthew sei que parece que seu pai sempre tem coisas a fazer, masprometo que quer muitíssimo você. O que ocorre é que, verá, é um homem muitoimportante e as pessoas o necessitam, para que solucione os problemas domundo. O trabalho de seu papai consiste em que as pessoas se entendam e nãobriguem. Não é fácil. Deveria estar muito orgulhoso dele.

— Nunca está em casa. E sei que muito em breve voltará a partir.

— Ai, meu bonequinho — Georgie, com o ombro úmido pelas lágrimas domenino, levantou os olhos para dirigir-se à criada — Pode se inteirar se LordeGriffith está em casa esta manhã, por favor?

— Ah... Milorde foi ao Parlamento, Senhorita — respondeu a jovemavermelhando, porque acabava de confessar que estava a par das fofocas doserviço — Scott, o lacaio, me disse.

— Há — Georgie agradeceu com um sinal, separou Matthew e sorriu comternura — Acaba de me ocorrer uma idéia magnífica, Matthew. Quer que conte?

O menino assentiu secando os olhos. Entretanto, antes de falar, Georgianaagarrou seu lenço e o pôs no nariz.

— Assue.

O menino obedeceu e Georgiana limpou o nariz.

— Ocorreu-me que... E se formos ao Parlamento para ver seu pai, enquantotrabalha?

A criada afogou um grito.

— Ir ao Parlamento, Senhorita?

— Sim. Suspeito que será muito educativo. Há uma tribuna para os cidadãosouvirem a sessão, não é verdade?

— Sim, Senhorita, a galeria do povo, mas quase nunca deixam entrar asSenhoras, e com um menino...

Georgie, compadecida, sorriu para Matthew, enquanto acariciava uma negramecha de cabelo.

— Sim... Mas não esqueça que este menino em concreto, um dia ocupará um

importante banco na Câmara dos Lordes e controlará quem sabe quantosmunicípios adquiridos nos Comuns. Apenas ficaremos uns minutos, de acordo? O justo para que meu pequeno Lorde Aylesworth, veja que seu papai estátrabalhando a sério e que não o abandona porque quer.

Georgiana confiava que o menino compreendesse que na realidade ninguémo abandonou, embora às vezes desse essa impressão.

— O que parece o plano, jovem?

Matthew se animou. Arqueava as sobrancelhas, boquiaberto.

Georgie riu as gargalhadas.

— Interpretarei isso como um sim! Vamos maroto. Sally nos acompanhe aWhitehall e busque um lacaio que nos leve?

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— Ai, sim, Senhora! Também direi às cavalariças que preparem a calesa.

Georgiana agradeceu com uma inclinação de cabeça e se levantou tomandoMatthew pela mão. O menino a olhava com seus grandes e castanhos olhosabertos como pratos.

“Esses olhos escuros deviam ser de Catherine, porque os de Ian são verdes.” Georgiana sentiu certa desilusão ao se sentir excluída do trio inicial dos

Prescott, mas afastou essa idéia de seu pensamento. O que importava de quemera o jovem? O menino sofria e ela podia ajudá-lo.

— Vamos, meu querido, temos que procurar seus sapatos —Georgiana seagachou e piscou um olho —Vamos buscar uma aventura!

 

Capítulo 13

Matthew estava mais animado quando Georgie e ele, na calesa descoberta,

entraram no espaço ocupado pela Whitehall e se dirigiram para Westminster Hall,na beira do Tamisa, onde o Parlamento tinha sua sede.

O sol estava no alto e a brisa de junho brincava com as fitas do chapéu da jovem. Ao fim de um momento, a rangente calesa puxada por um só cavalo, sedeteve no buliçoso pátio do Palácio Novo, no instante preciso em que do outroextremo da avenida, os potentes sinos da Abadia de Westminster soava uma sóvez para marcar a meia hora.

O condutor ficou junto ao carruagem enquanto Scott, o lacaio, ajudava adescer o garoto e às duas mulheres. Os quatro, Georgie, Matthew, o lacaio e ababá, encaminharam-se para a confusão de velhos edifícios, que compunham a

complexa estrutura do Palácio medieval.Georgie elevou a vista e se fixou em uns desgastados pináculos cinza e nas

torres octogonais, mas saiu de sua contemplação, quando Scott os apressou, paraentrar no edifício de dois andares conhecido como antigo Tribunal de Apelações19,em cujo segundo piso se reunia os Lordes.

Georgie se deteve diante a formidável entrada e abaixou para arrumar a jaquetinha de Matthew. Logo tirou a boina e disse que a levasse pela mão.

— A boina, você tira. Os sapatos, você põe — recordou com severidade.

19 O antigo Palácio foi destruído em grande parte por um incêndio em 1834, coincidentemente, começou na Câmara dosLordes.

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Matthew riu.

— Já estamos preparados, meu precioso — disse a jovem passando a mãopor seu alvoroçado cabelo — Tem que prometer que ficará calado como um mortoquando entrarmos. Caso se comporte muito bem, quando acabarmos iremos aoGunther's tomar um sorvete.

— Com papai?

— Talvez sim. Vamos, entremos para olhar.

O menino pegou sua mão, entrou no carregado vestíbulo com Sally e Scottatrás. Naquele lugar reinava o silêncio.

“Não é estranho — pensou Georgiana — quais cidadãos vão se interessar  por uma aborrecida sessão de política, quando faz um maravilhoso dia de primavera?”  

Os criados se retiraram e se situaram respeitosamente junto a uma parede

de painéis em madeira escura, enquanto Georgie entrava na Câmara com Matthewpego pela mão.

No ato, o Cavalheiro Meirinho da Vara Negra, o chefe de protocolo,aproximou-se vestido com um antigo uniforme, de sombrio ébano e perguntou oque desejavam. Georgie se apressou a apresentar-se e a apresentar Matthew.

O homem não parecia disposto a deixá-la entrar na Câmara dos Lordes, paraque desse uma olhada da galeria de convidados. As Senhoras não podiampresenciar as sessões, mas Georgie fez ornamento de seus encantos e o enrolou,rogou e prometeu que só ficariam dois minutos, três no máximo, jurou pela tumbade sua mãe, que não alteraria o curso da sessão, recordou que sua família era de

alta linhagem, atreveu-se a se apresentar como a prometida do Marquês deGriffith e intimidou tanto o severo personagem para agradar a Matthew que nofinal se saiu bem.

Georgie tomou ao menino pela mão e, com grande alegria, seguiu a todapressa o Cavalheiro da Vara Negra para a escada, passou por uma biblioteca empenumbra e por umas dilapidadas salas de reuniões e chegou ao segundo piso. OCavalheiro Meirinho olhou ostentosamente um relógio de bolso, preparando-separa cronometrá-los, e Georgie advertiu Matthew pela última vez, quepermanecesse em silêncio quando entrassem. O guia abriu a porta e a jovem e omenino entraram nas pontas dos pés na galeria de convidados, que nesses

momentos estava vazia.De mãos dadas, Matthew e Georgiana se aproximaram do corrimão do

estilizado balcão e contemplaram a espetacular Câmara dos Lordes, onde estavase celebrando uma sessão. Uns enormes lustres de latão iluminavam a alongadasala e o baldaquino de veludo carmesim do chefe de Estado, construído sobre odourado e vazio trono do Soberano, presidia o extremo oposto da sala. Sobre oenvelhecido painel de carvalho, umas antigas tapeçarias emolduradas com umamadeira escura, representavam a grande vitória sobre a Armada Invencível.

Apenas consciente das observações que os oradores foram fazendo sobreáridas matérias de economia, Georgie escrutinou com afã as filas de bancos

vermelhos procurando Ian. Reconheceu seu primo Damien, Lorde Winterley, queestava sentado no final, porque era o Conde de mais recente nomeação.

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Robert tinha uma posição muito diferente, segundo a ordem formal deantiguidade, ao ser um dos Duques que fazia mais tempo que ocupava um assentono Parlamento. A ordem dos Lordes, como representantes de seus títulos denobreza, ficava determinado em cada uma das filas, segundo a antiguidade dotítulo.

Vários homens foram se levantando de seus bancos para tomar a palavraem rápida sucessão, seguindo as diretrizes que nesse aparente caos ia dando opresidente da Câmara, instalado em seu assento, o Woolsack.

— O Marquês Griffith tem a palavra — pronunciou o ancião dando umamartelada.

Quando Ian ficou em pé, Georgie e Matthew trocaram um sorriso desatisfação. O assunto era do mais árido, Ian criticou o excessivo gasto do Governodurante o último exercício e protestou contra a nova política fiscal. Georgie oobservava com rendida admiração, sem perder nenhuma só de suas palavras.

Esse homem estava tão cômodo diante dos pares do Reino, como se mantivesseuma conversa com comensais durante um jantar.

— Meus ilustres e nobres Senhores... — ao fazer uso de seu turno para expora questão, Ian passeou o olhar pelo matizado espaço e levantou os olhos até agaleria do povo.

Acelerou o coração de Georgie.

Lorde Griffith se deteve a meia frase. Acabava de reconhecê-la. A surpresaaflorou em seu belo rosto. De repente, Matthew já não pode agüentar mais. Omenino se levantou e saudou seu pai com entusiasmo.

— Papai! Esse é meu papai!— Silêncio — o apressou Georgie aterrada ao recordar as advertências do

meirinho.

Entretanto, quando a feliz espontaneidade do menino ressonou na Câmara,os Lordes estalaram em gargalhadas e se revolveram em seus assentos, para verde onde procediam os gritos.

— Ordem! Cavalheiros, a Câmara roga que mantenham a ordem —admoestou o presidente, embora também tivesse que fazer esforços paradissimular um benevolente sorriso patriarcal.

Georgie, vermelha como um tomate arrancou o sorridente Matthew docorrimão e o levou a rastros para a porta, antes de por Ian em ridículo, fazendoque os expulsassem oficialmente. De todos os modos, a jovem não pode evitarolhar para trás uma última vez, e durante um breve instante, seus olhos secruzaram.

A expressão de Ian se suavizou ao sustentar seu olhar.

— Lorde Griffith, tem algo mais a dizer? — perguntou o presidente.

Ian se voltou para o assento presidencial como se despertasse de um sonho.

— Ah... Não, Senhor. Deixo a tribuna.

— Como queira. A vez de palavra é para Lorde Forrester. Meu Lorde proceda.

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Quando o seguinte orador tomou a palavra, Ian, afastando as abas da jaqueta com elegância, voltou a sentar e dedicou a Georgie um sorriso aflito.Durante o breve descanso dos deputados, Ian fez um sinal para que descessem.

Georgie pegou Matthew pela mão para acompanhá-lo, mas logo que entrouna augusta Câmara, o menino se soltou e foi correndo para seu progenitor.

Georgiana observou aliviada que Ian agachava para receber seu filho com osbraços abertos. Em lugar de repreendê-lo pela interrupção, agarrou-o nos braços eo sustentou com orgulho, enquanto os Lordes mais velhos se aproximavam parasaudar e brincar com o pequeno.

Matthew agarrou seu pai pelo pescoço com uma rapidez que parecia dizerque agora que o tinha apanhado, nunca o voltaria a soltar.

Georgie saudou inibida os Cavalheiros. Reconheceu alguns assistentes dobaile da noite anterior. Ao final, Ian deixou Matthew no chão e, diante o indulgentesorriso dos Lordes mais velhos, acompanhou seu pequeno herdeiro ao banco que

seus antepassados tinham há séculos e que Matthew ocuparia por sua vez um dia.O menino se encarapitou sem deixar de sorrir para o Marquês, encantado de queprestassem tanta atenção a ele, sobretudo seu pai.

Georgie os observou com ternura do outro extremo da venerável sala.Quando viu que Ian ajudava Matthew descer do assento, dirigiu-se para eles. Iana viu e deixou que o menino corresse para ela. Encontraram-se na metade docorredor. Aproveitando que uns velhos Cavalheiros ficaram falando com Matthew,Ian se voltou para Georgiana, ainda um pouco desconcertado pela visita.

— Foi uma surpresa da mais inesperada — murmurou o Marquês enquanto, auns metros, um trio de simpáticos e idosos Condes perguntavam a Matthewquantos anos ele tinha.

— Suponho que não terá se importado... O menino fazia manha e, no fundo,o que queria... Matthew precisava vê-lo.

— Não, me alegro de que tenham vindo.

Ian escrutinou seu rosto.

Georgie fraquejou e afastou o olhar ruborizado.

— Sim, eh... Agora iremos ao Gunther's. Quer nos acompanhar?

— Há uma votação agora mesmo. Não poderei.

— Entendo — respondeu Georgiana abaixando a vista.

Uma incômoda pausa seguiu o diálogo.

Georgiana sentia que pulsava com força seu coração.

— Matthew não era o único que sentia sua falta — espetou de repenteencolhendo os ombros e esboçando um triste sorriso — Eu também.

— Você também?

— Queria... Não sabia se tudo ia bem... Entre nós dois. Ontem à noite foicomo se... Descontrolasse tudo.

— É certo — assentiu Ian com cautela.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Fez cara feia. Examinou vários ramos e constatou que uma legião de rivaisdisputava o afeto de Georgiana, um Duque, onze Condes e dois Viscondes.

Ao diabo com todos eles!

O Senhor Walsh, que ficou na soleira, levou as enluvadas mãos brancas às

costas e elevou o queixo, sem dissimular seu orgulho pelas hostes conquistadaspelo novo membro da família.

Ian torceu o gesto e o encarou sem medir palavra.

— É uma sorte que Milorde seja um homem tão equânime — observou oautoritário mordomo, arqueando com rabugice suas espessas sobrancelhas cinza.

Ian riu ironicamente, disposto a perdoar o atrevido comentário do mordomo.Não em vão o conhecia desde que tinha a idade de Matthew.

— Graças a Deus, não vim com as mãos vazias.

— Sem dúvida, Milorde. Boa sorte — acrescentou o Senhor Walsh,devolvendo o olhar com uma cortês amostra de indiferença.

Ian respondeu ao ativo ancião com um decidido gesto, saiu ao vestíbulo esubiu a escada. Entrou na sala de música e viu sua bela amiga banhada pela luzdo sol, que se filtrava pelas deslumbrantes janelas, que presidiam a paredeposterior.

Estava no chão, vestida com uma roupa estranha e contorcionando seusflexíveis membros em uma estranha posição. Ian inclinou a cabeça perplexo,enquanto ela estirava as pernas e as elevava por cima de sua cabeça.

“Que diabo...?” 

Seus delicados pés apontavam para o teto. Com as mãos se sustentava aslombares, cômoda e segura, e escorava a esbelta coluna sobre os cotovelos,formando uma espécie de tripé.

Ian, que era um homem que a maioria dos dias despertava com a sensaçãode ter as articulações de ferro, pensou que aquilo seria uma secreta forma detortura, embora a expressão da jovem parecesse de perfeito repouso. A finacamisa de estilo hindu subiu um pouco e deixava à vista uns centímetros de umplano e branco ventre. Do mesmo modo, as calças negras e soltas que envolviamsua elegante figura tinham escorrido e ofereciam uma escandalosa perspectiva deseus adoráveis tornozelos.

Georgiana, vermelha pela posição inversa que adotou, virou um pouco acabeça.

— Ian! — exclamou saudando-o contente — Entra! Ah, e fecha a porta, sim?Não quero que meus primos creiam que sou uma excêntrica.

O Marques riu a seu pesar pensando que já era um pouco tarde para isso.

Entretanto, obedeceu logo se aproximou da jovem com passo ligeiro e umsorriso nos lábios. Teve que por a cabeça em reverso para cruzar os olhos com osdela.

— Que demônios está fazendo, jovem?— Tocar o piano. O que te parece?

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

— Uma forma de tortura.

— É ioga, estúpido. Disse que é minha ginástica salvadora, recorda? —Georgiana fechou os olhos com expressão de absoluta calma — Deveria provaralgum dia. Ajudaria a não estar tão... Duro.

— Eu acreditava que você gostasse de duro — disse lisonjeador o Marquês,enquanto tirava a jaqueta e a deixava na poltrona que tinha mais perto.

— Que mau você é! — exclamou a jovem rindo.

— Não sabe o quanto — respondeu Ian em voz baixa.

Se soubesse como deixava voar o pensamento... A impressionanteflexibilidade da mulher o inspirou.

— Não dói?

— É fantástico — declarou ela antes de rodar lentamente pelas dorsais eficar tombada de barriga para cima.

Estirada sobre o luxuoso tapete, Georgiana se via terna e apetecível... Atentação personificada, com sua resplandecente pele e os olhos azuis como o céu.Ian se inclinou para diante de sua poltrona e a comeu com os olhos.

Georgiana estendeu a mão, Ian entrelaçou seus dedos com os dela, mas emlugar de ajudá-la a se levantar, foi ele que ficou de joelhos no chão e montouescarranchado sobre ela. Inclinou-se e tomou sua boca com um longo e decididobeijo, reclamando-a para si.

Georgiana gemeu e o rodeou entre seus braços. Abriu os lábios e devolveu obeijo com acesa paixão, movendo a língua até acoplá-la a dele. Com suas quentes

e suaves mãos agarrou o rosto e acariciou seu cabelo. Ian deslizou o braço pordebaixo da jovem e a sustentou com ardente desejo.

“O bonito de brigar é que logo terá que fazer as pazes” pensou.

Passou a palma de sua mão pela longa e exuberante trança de Georgianaatraindo-a para si. A jovem voltou a beijá-lo uma e outra vez, asfixiando-o com acálida e úmida doçura de sua boca e a sinceridade de sua acolhida.

O coração de Ian pulsava com fúria, porque os beijos dessa mulher,expressavam melhor que mil palavras, que não tinha motivo algum para estarciumento. Enviar flores era acertado, mas esses tipos estavam perdendo o tempo.

Suas carícias, seus beijos e seus suspiros confirmavam que ela era dele e deninguém mais. Ian a beijou no pescoço e nos estilizados, finos e femininos braçosque o agarravam.

E, ela o atormentava ondulando com sutileza seu esbelto corpo. Necessitavadessa mulher. Beijou-a com um beijo longo e profundo e ela o rodeou com suaspernas. Ian gemeu contra sua boca ao notar as unhas de Georgiana nas costas.Essa mulher necessitava que fizessem amor, e ele desejava tanto possuí-la! Nãoera isso o que foi fazer, mas cada vez que a tocava, resultava impossível secontrolar.

Obrigou-se a reprimir sua paixão e descansou sua fronte sobre a da jovem.

Se Hawk entrasse e os via assim, maldita a graça que faria. Rodar pelo chão com asensual priminha de seu amigo, não podia considerar um comportamento

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adequado, tendo em conta que a jovem se encontrava sob o amparo do Duque,enquanto vivesse em sua casa. Seduzi-la do outro lado do parque, em sua própriaresidência... Bem, isso era mais fácil de justificar.

Georgiana insistia em beijá-lo, mas Ian se esforçou por refrear a exuberânciada jovem.

— É um anjo, uma delícia — confessou o Marquês, ofegando.

— Mais... — Georgiana o pegou pela nuca e o atraiu para si com força.

Com uma risada bronca provocada por sua apaixonada exigência, Ian cedeuincapaz de resistir. Se fosse por ele, já podia morrer nesse mesmo instante.Entretanto, ocorreu um modo de devolver à terra a sua apaixonada ninfa, antesque os habitantes da casa descobrissem sua travessura.

— Não quer seu presente? — sussurrou em seu ouvido.

Georgiana se deteve e mordiscou a face com ar reflexivo.

—Trouxe-o?

— Está em meu bolso.

— Que mais tem no bolso, Ian? — perguntou a jovem com uma ladinagargalhada agarrando-o pelo pênis duro.

— Georgiana Louise! — exclamou o Marquês rindo surpreso — Referia-me aobolso da jaqueta, malvada.

— Prefiro isto.

Georgiana acariciou seu membro e Ian gemeu.

— É... Má.

— Não sabia que o levo no sangue?

— Sim, já o vejo.

Com expressão de desejo, o Marquês permitiu que o explorasse com a mãodurante um momento. Logo se separou dela, foi procurar a jaqueta e colocou amão no bolso interior.

Georgiana se incorporou sorrindo.

— Fecha os olhos e me dê a mão — ordenou o Marquês.

A jovem obedeceu e ele sentiu prazer em observá-la durante um segundo,admirando suas longas pestanas, negras como o carvão. Era preciosa, e tinha umponto de inocência, que não deixava de surpreendê-lo cada vez que aflorava nela.

— Segue aí? — apressou-o com impaciência.

— Aqui estou Princesa — respondeu Ian abaixando-se para beijar a palma desua mão e por seu presente nela.

O ligeiro tinido de prata o delatou antes que Georgiana abrisse os olhos.Quando Ian colocou a pulseirinha de prata em sua mão, a jovem abriu os olhos depar em par.

— Ian! — exclamou Georgiana olhando o presente com alegria. Comprou-meumas campainhas!

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E ficando de joelhos, jogou os braços ao pescoço.

Ian a abraçou por sua vez rodeando-a pela esbelta cintura.

— Nunca acreditei que deva mudar Georgiana — confessou com um gravesussurro — É perfeita tal como é.

— Oh, Ian... — a jovem o segurou pelo pescoço e deu um longo e sentidoabraço.

Ian pensou que jamais o abraçaram com tanto afeto em toda sua vida. Odesmesurado carinho dessa mulher, ainda causava certo embaraço, mas poderiase acostumar, pensou esboçando um sorriso.

— Vejamos — murmurou ao fim — Deixe que coloque em você.

Georgiana estampou um beijo em sua face e o soltou com reticência, mas sesentou no chão obediente. Quando Ian agachou, Georgiana estendeu um de seusesbeltos pés descalços sobre seu colo, em uma atitude de franca provocação. Ian

esboçou uma expressão luxuriosa, seduzido por seus coquetes e preciosos pés.Agarrou o calcanhar com suavidade e, deliberadamente, fez cócegas no pé

passando devagar a ponta do dedo pela ponte, quase o roçando. Entretanto,Georgiana apertou os lábios e se negou a estalar em gargalhadas. Ian beliscou umdedo, abandonou o jogo para melhor ocasião e colocou o pé da jovem sobre suacoxa. Agarrando em sua mão a esculpida cadeia de campainhas recém-saída daloja do ourives, envolveu seu atraente tornozelo com a delicada jóia e pressionou ofechamento.

— Voilà! — exclamou roçando para que soassem as campainhas.

Georgiana moveu o joelho e provou seus novos adornos.— Ah! Soam inclusive melhor que as antigas! — sem deixar de sorrir, a

 jovem retirou o pé de seu colo e se reclinou apoiando-se sobre as mãos — Quepresente tão bem pensado, Ian! É muito considerado comigo.

— Não seja tão dura consigo mesma.

— Sabe quanto significa para mim que o veja assim, que me aceite deverdade como sou? Terá que reconhecer que tenho... Minhas raridades, eu souperfeitamente conscientes disso.

Ian riu.

— Possivelmente terá que aprender a me valorizar. De minha parte, meesforço muito por me levar bem com todo mundo, mas... Nunca me havia sentidotão a vontade com alguém, até o dia que a conheci.

Ian posou uma mão sobre seu joelho e a acariciou.

— Possivelmente nem todos entendam, mas eu sim.

Georgiana se inclinou e o atraiu para ela para dar um firme embora ternobeijo nos lábios. Derreteu o coração de Ian. Adorava-a, mas conseguiu manter asformas. Tinha-o deixado tão estupefato que custou uns segundos recordar opropósito de sua visita. Georgiana voltou a sentar lentamente, e acariciou o flanco

com o pé. Essa mulher era uma absoluta tentação, até sem pretendê-lo.Ian pigarreou.

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— Deixe-me ir olhar.

Georgiana se soltou sem protestar e Ian se levantou para se aproximar das janelas. Dessa posição examinou o pátio de fora. Era certo. O velho cachorrão, queem geral era muito tranqüilo, percorria em ambos os sentidos a alta e negra gradede ferro forjado, que circundava o terreno da casa dos Knight. O terra nova ladravapara fora e mostrava os dentes como um lobo raivoso tentando morder algo.

Ou alguém. Ian entrecerrou os olhos. “Haverá um intruso?” 

Lorde Griffith se apressou a escrutinar o frondoso parque tentando distinguiro que desencadeou o frenesi canino. Foi então quando adivinhou a presença deum homem vestido de escuro. Ficou paralisado. Um calafrio de terror se apoderoudele. Aquilo era incrível. Matthew!

— Ian, o que acontece? — gritou Georgie, enquanto o Marquês se afastavacomo uma exalação da janela, pálido como cera, e se precipitava para a porta como coração apertado.

Logo que ouviu a pergunta.

— Ian!

— Tem o meu filho.

— O que? Quem?

Sem perder nem um segundo em explicações, saiu pela porta e se precipitoupelo corredor. Desceu pulando a curva escada e atravessou o vestíbulo demármore, antes de sair rapidamente pela porta principal.

— Milorde? — exclamou o Senhor Walsh correndo atrás dele, alarmado —

Algum imprevisto?— Chame à polícia! — gritou Ian, enquanto se equilibrava na grade de

ferro forjado como se acabasse de ser testemunha do Apocalipse.

Capítulo 14

“Que diabos...? Alguém tem Matthew?” Georgie jogou a túnica hindu sobre o traje de ioga e apareceu brevemente

na janela, mas não viu nada estranho, à exceção do desenquadrado cão. Ignoravao que acontecia, mas nunca viu Ian reagir dessa maneira.

Sem calçar-se, abandonou a toda pressa a sala de música uns segundosdepois do Marquês. Quando saiu da casa, encontrou o plácido pátio dos Knightem um estado de autêntico caos. Os criados abandonaram suas tarefas, Hyperionseguia ladrando com tanta força, que poderia ressuscitar um morto e, no interiorda casa, Bel gritava a Robert que saísse para ajudá-los.

— Foi um cigano, Senhora! — disse bradava uma das criadas — Um ciganotentou raptar o Senhor Matthew! Sally e Scott estavam brincando de esconder comele no parque e agora desapareceram!

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— O que?

Sem fazer caso do caos e espionando o parque, Georgie divisou de repenteum homem magro, vestido de escuro e com um chapéu de aba estreita, saindo doarvoredo em que se ocultava. O pânico se apoderou dela quando viu que oindivíduo agarrava pela cintura o menino e o levava arrastado, tampando a bocacom a mão livre. O homem corria com sua presa, a toda velocidade, em direção aum cavalo que os aguardava.

Matthew opunha uma enérgica resistência, mas suas patadas terminavamno ar. Então apareceu Ian seguindo os calcanhares e cortando distâncias.

Georgiana pensou que pararia seu coração ao vê-lo atravessar a gramacorrendo.

Lorde Griffith se equilibrou sobre eles quando já estavam a uns metros docavalo e derrubou o intruso, com um ataque tão brutal como uma diligência emfuga. Marquês, menino e presumido seqüestrador foram dar contra a suave grama.

Ian agarrou Matthew pelas costas de seu casaquinho e o afastou da luta comum empurrão, assinalando a casa dos Knight.

— Corre!

O menino aterrissou uns metros mais à frente e ficou estendido de quatrosobre a relva.

Com valentia, incorporou-se cambaleando e obedeceu a ordem de seu pai. Opânico aflorou em seu rosto. Correu para ficar a salvo tão rápido como suasperninhas permitiam, mas de repente, se deteve com insegurança infantil e sevoltou para seu pai.

Ao ver que seu progenitor se encetava em uma briga brutal, o pequeno, queapenas tinha cinco anos, começou a chorar no meio do parque.

Georgie saiu em disparada. Seus descalços pés passaram por umas bicudaspedras e continuaram em uma suave grama sem que a jovem diminuísse amarcha. O único que tinha em mente era salvar o menino. Nem sequer ouviu osgritos, olhou Ian ou se observou que seu primo Robert, a adiantava com um rifle eordenava que retornasse à casa. Seus instintos não atendiam a nada que nãofosse o menino que chorava, e nada a deteve até que chegou junto dele e oagarrou com força. Sem perguntar se estava bem, Georgiana o agarrou nos braçose correu para a Mansão dos Knight, com uma fortaleza que ignorava possuir.Fazendo caso omisso de seus fatigados pulmões, Georgie seguiu correndo até quevoltou a cruzar a grade.

O Senhor Walsh e a responsável pelas babás foram ao seu encontro, e acorpulenta mulher pegou o menino nos braços. Georgie sentiu fraquejar as pernas,mas quando o Senhor Walsh a apressou a se meter dentro da casa, a jovem senegou.

Agarrou à grade, e ficou olhando através das barras de ferro forjado paraIan, que de novo perseguia como um possesso o presumido seqüestrador. Oindivíduo se pôs em pé e tentava chegar até seu cavalo, mas Ian não tinha

nenhuma intenção de deixar escapar o canalha. O Marquês era mais alto e suaspassadas chegavam mais longe, além disso, estava furioso.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Enquanto Georgiana contemplava a renovada perseguição cravada no chão,algo em seu interior fez desejar que Ian não o apanhasse.

O Marquês tinha saído de casa sem nenhuma arma. E se esse criminosolevava uma?

Por sorte, Robert conseguiu pegar um rifle e agora corria para ajudar Ian.Antecipando-se de um modo inato aos movimentos de seu amigo graças àspartidas de caça menor durante sua infância, Robert se colocou em posição paracortar o passo do desconhecido. Impregnando com suavidade o rifle ao ombro, oDuque apontou para o peito do vilão, mas como levava Ian nos calcanhares, a unspassos dele apenas, não disparou.

Preso entre os dois, o criminoso desviou para a esquerda tentando escapardas tenazes que formaram seus oponentes, mas seus movimentos outorgaram aIan a estreita margem de vantagem que necessitava.

A infatigável perseguição terminou com ambos os competidores pelo chão. E

quando o atacante ameaçou Ian brandindo uma faca, Georgie rememorou asterríveis batalhas nas que se viu imersa, enquanto fugia de Janpur junto com seusirmãos.

Um calafrio percorreu seu corpo. Ian era Diplomata e pacifista. A diferençade Derek e Gabriel, não passou os últimos anos de sua vida combatendo. O medoa paralisou.

“OH, por favor, não me arrebatem isso!” 

Enjoada pelo espanto, Georgiana se aferrou as barras da grade, tão incapazde olhar como de afastar a vista.

Robert se aproximou correndo dos combatentes e se colocou junto a Ian,enquanto este arqueava o corpo para se esquivar de uma nova e selvageminvestida da adaga do vilão.

— Largue a faca, desgraçado, ou o frito com um tiro! — rugiu o Duqueapontando de novo.

Ian agarrou ao homem pelo pulso com um rápido arremesso e girou comsuavidade fazendo-o perder o equilíbrio. Deu uma joelhada no braço com tantacontundência, que o assassino soltou a arma gritando de dor. Ian o imobilizoupondo o cotovelo em cima da cara, e então começou o corpo a corpo.

Apesar de Robert estar preparado para intervir, não ousou apertar o gatilhopor medo de ferir seu amigo. Reduzido ambos os oponentes a uma briga a murros,aquele enfrentamento se converteu na luta mais brutal que Georgiana jamaispresenciou.

Apesar de que a jovem se fixou em que o indivíduo tinha o cabelo negrocomo o carvão e a tez morena, não compreendeu do que se tratava o assunto, atéque ouviu o presumido seqüestrador amaldiçoando... Em marathi.

Ficou boquiaberta ao compreender que o ódio da Rani Sujana os açoitou porterra e mar até alcançá-los. Rememorando ainda a espantosa lembrança dasbatalhas que terminou com a vida do pobre Major MacDonald e quase acaba com a

de seu irmão, Georgie soube que o homem que enfrentava Ian, não era um ciganoque raptava meninos, como a criada afirmou em sua inocência, e sim um dos

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assassinos pagos da Rajani!

Nesse momento o Senhor Walsh apareceu junto dela e tentou que seafastasse da grade, para que não presenciasse essa luta.

— Senhorita, tem que voltar para casa imediatamente!

— Deixe-me em paz! — gritou Georgiana desembaraçando-se do criado, nomesmo momento em que o atacante hindu dava um golpe em Ian, como se fossecortar seu pescoço.

Entretanto, no Cavalheiresco Diplomata se operou uma mudança. Desatou oinstinto selvagem. Ian tinha os joelhos enlameados pela grama, a camisa feitafarrapos, a cara manchada de sangue e o cabelo alvoroçado. O colérico rubor quetingia suas faces fazia que seus verdes olhos cintilassem com uma luz maldita.

Lorde Griffith estava acostumado a brincar sobre os brutais Senhores daguerra de origem normanda, que foram seus antepassados, mas demonstrou quelevava seu mesmo sangue nas veias, quando a violenta luta contra o agente daRajani começou a subir de tom.

Ajoelhando-se em cima da presa que não parava de chutar e retorcer-se,cravando-a no chão graças ao seu peso maior, Ian plantou um joelho no pescoçodo assassino, com a intenção de imobilizá-lo até que chegasse a polícia.Entretanto, nesse momento o hindu o agarrou pela garganta, com suas poderosasmãos e apertou com todas suas forças para asfixiá-lo.

O Marquês tentou escapar, mas os segundos transcorriam e nenhum dosdois afrouxava.

Ian afastou o cotovelo e deu ao indivíduo uma dúzia de rápidos murros em

pleno rosto, mas os potentes golpes com que debulhou o curtido assassino,apenas o atordoaram. Lutava para recuperar o fôlego e ia se pondo vermelho,notando que acabava o tempo.

Georgie observou a cena com terror, porque sabia perfeitamente, por terlibertado suas próprias batalhas com a asma, que ninguém podia viver mais deuns minutos sem ar. Então viu que Ian agarrava a faca que seu inimigo se viuobrigado a soltar. Estava no chão, junto dele.

Sem deixar de sujeitar ao hindu e lutando para respirar, Lorde Griffith mediucom a mão até onde estava a arma e, quando deu com ela seus dedos rodearam opunho, a brandiu sem um ápice de misericórdia. Arqueando para o céu a adaga, oMarquês afundou a folha na garganta do assassino.

Logo a soltou e, de um salto, separou-se de sua vítima ofegando nomomento em que as mãos do homicida afrouxaram a tensão. O homem deixou deagitar-se, seu corpo ficou inerte. Nem sequer teve tempo de gritar. Ao fim de unssegundos morreu.

Georgie olhava a cena boquiaberta, sem dar crédito ao que via, aliviada nomais fundo de seu ser, mas incapaz de entender que o Marquês Griffith, Diplomatade profissão, acabasse de vencer a um assassino treinado, liquidando-o a plena luzdo dia, em meio do Green Park.

“Sigo sem conhecer absolutamente a este homem...”.Ian se afastou do corpo sem vida de seu atacante, rodou de um lado,

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libertado de seu peso. Ainda de joelhos no chão, o Marquês se sentou e apoiou asmãos nas coxas, ofegando, jogou para trás a cabeça.

Hawkscliffe se aproximou deles devagar e cutucou o sujeito, que jazia debarriga para baixo, com a boca do rifle.

Os dois aristocratas, em silêncio, trocaram lúgubres olhares, imóveis, comose posassem para um horripilante quadro, enquanto uns aguerridos agentes depolícia apareciam urgentemente na cena acompanhados do Senhor Walsh, que seapressava a indicar o caminho.

Georgie ficou onde estava, pálida como cera e tampando a boca com ambasas mãos. Várias testemunhas que passeavam pelo parque contemplavamassustados a cena de uma distância segura.

O Senhor Walsh conseguiu por a correia em Hyperion e ordenou a um deseus lacaios que levasse a casa o cão, que seguia inquieto. O mordomo, com umtom seco, ordenou ao resto do pessoal que voltasse para seus postos. Enquanto

isso, Bel correu para Georgie e a enlaçou pela cintura em um gesto de consolo.— Vamos querida, entremos em casa.

— Matou-o.

— Já sei. Não passa nada. Tudo terminou.

— Capitão! Aqui há dois cadáveres! — gritou um dos agentes junto a ummatagal que havia perto do arvoredo.

Escapou um soluço de Georgie quando ouviu o tétrico achado, e Bel, comrenovado empenho, insistiu em que a acompanhasse a casa.

— Vamos, Georgie. Por hoje já vimos o suficiente.— Não, tenho que falar com Ian. Deixe-me ver se encontra bem.

Georgiana não esperou para ouvir a resposta de Bel, mas sim escapuliu pelagrade de ferro forjado e correu para o parque, em direção ao grupo de homensreunidos junto ao cadáver, Ian, Robert e uns quantos agentes.

Enquanto se aproximava escrutinava a compleição grande e forte de Ian sepor acaso o feriram.

Viu que estava manchado de sangue, tinha várias contusões e ainda tremiaum pouco pelo efeito da violência, mas pelo resto parecia estar ileso.

— Vi sua cara antes. Era de Janpur — contava Ian aos outros quandoGeorgiana se uniu a eles.

— O que fica de sua cara, quererá dizer — murmurou um dos agentes,enquanto cobria o cadáver e o levava sem cerimônia alguma para o furgão.

— Não se preocupe Griff. Chegaremos ao fundo do assunto — sentenciouRobert com o rifle apoiado no ombro.

— Tem que tirar Georgiana e Matthew de Londres — respondeu o Marquêstirando forças de fraqueza — A Rani Sujana tentou me envenenar quando estiveem Janpur. Seus agentes entraram em segredo em meu aposento e roubaram o

relicário para poder encontrar Matthew. Acaso não vê o que significa tudo isto?Matamos seu filho e agora ela vem pelo meu. Quem sabe quantos homens mais

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enviou em nossa busca? Seus agentes quase mataram Gabriel. Acreditei que tudotinha terminado, mas agora vejo que estava enganado. Meu filho corre perigo,Hawk. E sua prima também. Quero que os dois se afastem daqui, e que estejamcustodiados. Tem que levá-los para algum lugar seguro.

— A propriedade de Damien está um pouco afastada. Apenas a umas horasde caminho. Saberá chegar lá?

— Sim.

— Enviarei Lucien também. Sempre sabe como agir nestas circunstâncias.

Ian assentiu com tristeza, tossiu e tocou a garganta, recuperando-se aindado fracassado estrangulamento.

— Francamente, agradecerei muito sua ajuda.

— Milorde, quer nos acompanhar, por favor? — disse o chefe de polícia — Tem que vir conosco para responder umas perguntas.

Ian assentiu, mas então reparou na presença de Georgie.

— Um momento, o rogo.

— Bem, Senhor.

O oficial concedeu uns minutos, embora seguisse observando-o com ar desuspeita. Quando Georgiana passou junto de seu primo Robert, este dedicou umapertado sorriso de apoio. De repente, a jovem recordou que ia vestida com suaindumentária hindu, uma roupa um tanto escandalosa para os costumes londrinos.

Isso explicaria os estranhos olhares que dirigiam os agentes.

Ian e Georgiana se afastaram um pouco de outros.— Está bem? — sussurrou a jovem.

— Muito bem.

— Sangra seu lábio.

Ian o limpou e olhou a mão manchada. Logo a observou inseguro.

— Hawk a levará a Winterhaven. É a propriedade de Damien. Eu... Eh... Tenho que ficar na cidade durante um tempo, até que tudo isto se esclareça.

— Vão prendê-lo?

— Não sei.Georgiana se fixou em que os policiais anotavam os nomes das testemunhas

que estavam passeando pelo parque, quando se desenvolveu a cena. Um dosagentes se aproximou do cavalo que o assassino tentou utilizar para escapar eficou revolvendo o alforje da sela.

Ian seguiu o olhar da jovem, mas quando Georgiana se voltou de novo paraele, viu que a olhava fixamente nos olhos com uma expressão feroz emboraatormentada.

— Sinto... Muito — se obrigou a dizer Ian com a voz rouca.

— Não... Não passa nada — disse a jovem iniciando uma ameaça de carícia.Uma nova incerteza no que diz respeito a ele.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Ian viu que vacilava e fechou os olhos, estupefato, como se acabassem deesbofeteá-lo.

— Vai — sussurrou cabisbaixo.

— Ian, não queria dizer que... — Georgiana se decidiu a acariciá-lo, mas ele

se tornou para trás.— Cuida de meu filho. Fará isso?

— É claro — sussurrou a jovem assentindo ardentemente — Esperaremosvocê. Os dois.

Ian a despediu taciturno e distante.

Georgiana soube que acabava de se fechar em banda, então deu a volta.

— Nos veremos quando puder.

 

Apesar de ter conseguido evitar que saísse prejudicado um de seus seresqueridos, para Ian acabava de acontecer o que pior pudesse imaginar.

Explodira, e mostrou sua face oculta de todo mundo. Sentia-se exposto... Ummonstro capaz de abrigar os impulsos bestiais e guerreiros inatos à humanidade,que tanto se esforçava em dobrar e canalizar para fins positivos, através de seuofício de Diplomata.

Agora, acaso teve alternativa? A ameaça que se abatia sobre Georgiana eseu filho derrubaram as rígidas comportas, que estancava cuidadosamente sua

própria natureza há anos. Quando aprenderia que não se pode confiar nasemoções? Parecia que cada vez que saíam à tona, algo mau acontecia.

“Enfim, já está feito — pensou aborrecido —  Já não se pode dar marchaatrás.”  

O gato se escapou do saco... O tigre estava fora da jaula.

Em certo sentido se sentia quase aliviado de não ter que seguir seescondendo. Enfim podia respirar como se acabasse de tirar sua gravata muitoengomada. Voltou a esfregar a garganta, ainda crispada por ter visto a morte deperto.

Se não tivesse soltado à besta que levava dentro para destruir o agente daRajani, raptariam seu filho, sabe-se lá com que intenção, e Georgianapossivelmente teria sido a seguinte em morrer, porque ela revelou a traição daRajani Maratha. Entretanto, com sua raiva, tinha truncado essa cadeia deacontecimentos. E sentia uma sombria satisfação por isso. Se os agentes da RaniSujana voltavam a perseguir sua família, o encontrariam completamentepreparado para devolver, olho por olho e dente por dente.

O único que desejava era que sua vitória frente ao assassino, não houvessecustado o que mais importava neste mundo, a confiança de Matthew e o amor deGeorgiana. Estava disposto a fazer algo para conservar os dois. O que fosse. Que

sentido tinha se não se sentisse a salvo com ele? Não obstante, Ian viu queGeorgiana se separava dele e era muito consciente de que a jovem tinha idéias

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pacifistas. Não poderia suportar que o olhasse com o mesmo espanto nos olhos,que viu na expressão de Catherine segundos antes de morrer.

Nesse momento o chefe de polícia o requereu e Ian abandonou Green Parkem companhia dos agentes. Levaram-no ao despacho do juiz, onde, a portafechada, passou o resto da tarde respondendo uma e outra vez às perguntas queexpuseram um sem fim de funcionários de Bow Street e do Ministério do Interior.

No ínterim, o compacto grupo dos irmãos Knight entrou em ação. Hawk eseu bom amigo o Visconde Strathmore recorreram a sua posição, para conseguirque os recebessem diversos Embaixadores do Oriente, que residiam em Londres,com a intenção de averiguar se sabiam algo deste complô, ou se a Rani Sujana,seu irmão Baji Rao ou Firoz colocaram-se em contato com eles.

Por sua parte, Lucien defendeu os interesses de Ian durante o interrogatório.Lucien, seu companheiro no Ministério de Assuntos Exteriores e especialista emreuniões secretas, abandonou o serviço ativo quando se casou, mas a partir desse

dia começou a fazer novas amizades em Bow Street. Gostava de por a prova suashabilidades como espião, ajudando os agentes de Bow Street, a solucionar algunsmistérios inauditos. Não se podia contar com ninguém melhor em um momentocomo esse.

Quanto a seu irmão gêmeo, Damien, o Coronel Lorde Winterley, era oproprietário da casa de campo de Berkshire, onde Georgie e Matthew seinstalaram. Sua formosa propriedade de Winterhaven, concedida emagradecimento pelos extraordinários serviços que prestou ao seu país, na guerracontra Napoleão, estava muito bem situada, nem muito perto nem muito longe deLondres. O que convertia Winterhaven em um lugar especialmente seguro, parauma mulher e um menino que corressem perigo, era o fato de que Damien, o heróide guerra, cria quadras de cavalos de corridas, que dirigia com a ajuda de curtidosveteranos de guerra procedentes de seu regimento, todos soldados que serviramas suas ordens em tempos de conflito.

Lorde Alec, o mais jovem dos irmãos Knight, acompanhou-os durante aviagem para oferecer amparo. Alec era muito hábil com a espada, graças aoscontínuos duelos que disputou nos tempos em que era o canalha mais ladino deLondres. Alec, o complemento ideal do disciplinado, austero e responsávelDamien, era agudo e ousado e tinha alma de jogador, embora desde que se casou, já não se aproximava das cartas ou dos dados.

Graças à ajuda que prestaram os Knight, enquanto esteve detido, Ian podedesfrutar ao menos de certa tranqüilidade mental sabendo que Georgie e Matthewestariam sãos e salvos, até que pudesse se reunir com eles.

Entretanto, o momento resultava difícil de precisar.

O interrogatório seguiu seu curso. Ao final, Lucien conseguiu implicar seuscolegas do Ministério de Assuntos Exteriores e estes confirmaram o vínculoexistente, entre o estrangeiro morto e a última missão diplomática de Ian.

A tese de que o indivíduo era um espião da Rani Sujana foi corroborada pelofato de que o retrato em miniatura de Matthew, que o Marquês sentira falta desdeque partiu de Janpur, apareceu no bolso da vítima. Além disso, também influiu aquestão de que várias testemunhas que passeavam pelo parque viram o queaconteceu e seu testemunho reforçou a versão de Ian.

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Por outro lado, o mapa de Londres que os oficiais encontraram na bolsa dasela contribuiu com novos dados, proporcionar a direção de um tal Sir BertramDriscoll. O nababo, recém-chegado da Índia com seus criados nativos, relatou aosinvestigadores o modo em que Firoz se uniu a eles durante a viagem. O resto doserviço comentou o medo e as suspeitas que esse homem despertou no pessoal

desde o começo.Apesar de que Sir Bertram jurou aos agentes da Bow Street que Firoz viajava

sozinho, Ian seguia intranqüilo, pensando que a Rani Sujana possivelmente tivesseenviado outros assassinos, para perpetrar sua vingança.

Para falar a verdade, Lorde Griffith estava atônito de que a soberana fossetão longe em suas maquinações, para tentar arrebatar seu filho, para compensar amorte do Príncipe Shahu. Que mulher tão retorcida! Enfim... Possivelmente apenasfosse questão de tempo, que uma das imprevisíveis potências estrangeiras, comas que tratava decidisse castigá-lo pessoalmente por negociar acordos, que nemsempre eram do agrado de todos.

Por fim, para seu alívio, informaram a Ian que não apresentariam queixascontra ele. Os oficiais concluíram que se tratava de um caso de justiça naturalmuito claro e, é claro, de defesa própria, dado que o indivíduo tentara estrangulá-lo. Ian brindou sua cooperação se voltassem a necessitá-lo em um futuro e disseque poderiam ficar em contato com ele em Winterhaven ou em sua própriaMansão em Cumberland.

Decidiu que partiria de Londres até que o apaixonado fogo cruzado defofocas minguasse um pouco. Tinha certeza de que antes que chegasse a noite, játeria se estendido o rumor na cidade de que o refinado Marquês de Griffith,assassinou um homem a plena luz do dia, para impedir que seqüestrasse seu filho.Pensava que em geral o povo não o culparia por isso, mas estava seguro de quetodos ficariam estupefatos ao saber, que era capaz de cometer essa atrocidade.

Não tinha vontade de ficar para responder por vezes às perguntas de todose cada um de seus conhecidos. Era quase como se os ouvisse. Onde aprendeuessa técnica? Tinha matado alguma outra pessoa? Ian, de caráter reservado,estremeceu ao pensar em todas as intromissões, que sem dúvida teria quesuportar.

Não, o assunto prioritário era se reunir com seu filho e sua prometida eassegurar que ambos se encontrassem sãs e salvos e não estivessem muito

traumatizados, pela aberrante experiência que sofreram... E pelo modo em que oviram atuar.

Ian e Lucien abandonaram o sufocante escritório do juiz quando o sol já sepunha, jantaram e partiram imediatamente, cavalgando com o frio ar da noite. Nãofalaram durante quilômetros, porque nesse penoso dia tudo foi dito, mas sim cadaqual se abandonou aos seus próprios pensamentos.

O caminho que partia de Londres para o oeste se estendia como uma cintade prata diante de seus olhos, mas Ian quase não reparou nisso, porque não podiadeixar de pensar em Georgiana, em sua maneira de olhá-lo depois da luta, nacarícia que iniciara e que logo interrompeu... Temerosa na realidade de tocá-lo.

Ian sabia que não poderia suportar. Acostumou-se que Georgiana não tirasseas mãos de cima dele. A jovem conseguiu convertê-lo em um viciado em seu

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— É o melhor cachorrinho do mundo, papai!

— Bem, pois é seu. Que nome porá?

— Robin! — exclamou Matthew sem titubear.

— Robin? — repetiu Ian entre divertido e surpreso, sem atrever-se a

protestar — Muito bem. Que se chame Robin.Esperava que o menino escolhesse um nome normal e corrente como

bolinha, mas seu filho começava a dar amostras de ser um menino bastantecomplicado. De tal pau, tal lasca.

— Bem, querido, você e Robin precisam dormir um pouco — disse Ianlevantando as mantas para que Matthew se metesse dentro da cama.

A mascote seguiu dando saltos até que encontrou uma postura cômoda e seaconchegou junto ao menino. Matthew olhou seu novo cachorrinho e riuencantado.

— Matthew — disse Ian em tom grave enquanto alisava a vira do lençol —Pareceria bem a você se eu pedisse à Senhorita Georgie que se casasse comigo?

— O que? — o menino afastou os olhos da mascote e fitou mudo seu pai,boquiaberto.

— Digo-o porquê deste modo poderia viver conosco e cuidaria dos dois.

— E brincaria conosco?

— Sim.

— Como uma mamãe de verdade?

— Sim, filho. Como uma mãe de verdade.

— Sim, papai, diga-lhe, por favor! A Senhorita Georgie vale um ouro!

Ian riu derretendo de ternura.

— Outra das expressões de tio Alec? — perguntou inclinando-se para dar umbeijo na testa.

— Ehh?

— Dá igual. Boa noite, filho. Boa noite, filhotinho, eh... Robin.

Lorde Griffith se incorporou e se dirigiu à porta para ir procurar Georgiana.

— Papai.

Ian se deteve e o olhou com ar interrogativo.

— Espero que ela diga sim.

— Não se preocupe Matt. Fará isso.

“Assegurar-me-ei de que assim seja.” 

 

Os tranqüilos jardins, chapeados à luz das estrelas, perdiam-se na distância.

As flores noturnas liberavam timidamente suas delicadas fragrâncias notemperado ar estival. As constelações, brincando entre os lírios de água, refletiam-

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isso servisse de algo, porque estava convencida de que pertencia a esse homemde corpo e alma.

A beira da água, sumida em seus pensamentos, Georgiana se precaveu deque alguém a observava. Voltou-se para escrutinar entre as trevas e viu que setratava de Ian.

A princípio só distinguiu sua silhueta de ébano, alta e autoritária, recortadacontra o azulado negrume do jardim. Entretanto, quando o Marquês compreendeuque ela o reconheceu, saiu lentamente da escuridão, deixando que as fulgurantesestrelas e as sombras riscassem sua figura de prata.

Georgie era incapaz de se mover, enfeitiçada como estava pela silenciosapotência de seu olhar. A verde luminosidade de seus olhos destacava napenumbra, enquanto o Marquês se aproximava dela, com a estilizada e fina graçade um imponente e predador gato montês. O coração de Georgiana acelerou esentiu uma comichão na pele ao notá-lo tão perto dela. Essa noite percebeu algo

distinto, teve um pressentimento, uma ameaça de eletrizante lucidez.O Marquês devia ter desmontado há apenas um momento, pensou a jovem,

enquanto ele se aproximava, porque seu capote negro tinha pó do caminho. Via-otão diferente... Brusco, duro e mal barbeado. Essa noite sua boca, franzida e séria,esboçava uma expressão de tristeza e seus resplandecentes olhos a olhavam comferoz intensidade. Seu aspecto, ao recordar do que era capaz esse homem,resultava intimidante, inquietante... E, entretanto, curiosamente a excitava.

Ian acariciou suas costas a modo de saudação e a beijou na comissura doslábios. Ela virou e deu um abraço trêmulo, aliviada de vê-lo são e salvo.

— Graças a Deus que está livre! Temia que demorassem dias em soltá-lo.

— Não, não me retiveram. Não apresentarão queixas contra mim.

— Há alguma outra novidade?

— Nada do que deva se preocupar agora, carinho.

Com ternura, Ian afastou para trás seu cabelo.

— Agora que estou com você tudo irá bem.

Georgiana se separou um pouco dele e o olhou com ar sombrio.

— Não sabia que era capaz de fazer essas coisas, Ian.

Lorde Griffith assentiu afastando o olhar.— Assustou-me muito.

— Tem medo de mim agora? — perguntou Ian cravando seus olhos nela.

A jovem não respondeu.

— Não me deixe, Georgiana. Amo-a muito para deixá-la partir. Necessito devocê.

— Mas me dei conta de que me foge de propósito. E eu quero conhecê-lo,Ian — disse Georgiana agarrando-o pelas lapelas com angustiosa insistência —

Como posso amá-lo se nem sequer deseja que me aproxime de você?— Aproxime-se agora. Aproxime-se de mim esta noite.

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Seus quentes sussurros ao ouvido provocaram uma deliciosa sensação deprazer que percorreu todo seu corpo.

Ian a pegou pelos quadris, atraiu-a para si e a beijou no pescoço incitandosua luxúria com suaves beijos. Georgiana recordou as palavras que dissera dianteda jaula do tigre de Janpur.

“Não se equivoque, Senhorita Knight. Parecerá manso, encerrado ali dentro,mas este animal é selvagem. Certamente agora mesmo está pensando no macia esaborosa que estaria você, se pudesse fincar o dente.” 

A jaula se abriu e Ian mordia seu pescoço com delicadeza, entregue aamorosa brincadeira, incapaz de negar o afã que sentia por acariciá-la com mãossabias... Como se já não pudesse se controlar. E que sentido tinha fazê-lo, agoraque a jovem já sabia como era ele na realidade?

Enquanto os dedos do Marquês percorriam seus quadris agarrando-se cominstinto caçador, Georgiana, sem fôlego, soube o que esse homem desejava o que

necessitava nessa noite. Além disso, intuiu que não restava alternativa. Ia darprazer, um prazer incomensurável, mas também nessa noite Milorde não pareciadisposto a alimentar suas dúvidas.

Ian, que seguia as suas costas, retirou o cabelo de um lado e plantou nanuca seus arrogantes beijos. Georgie gemeu em silêncio deixando-se levar pelasedução. Seu contato a cativou. Sim, Georgiana sabia o que o Marquês desejava.Essa noite sentiu que não aceitaria um não como resposta... Como se ficassemforças para se negar!

Quando Georgiana deu a volta, Ian se ajoelhou diante dela sobre a suave edensa grama e a rodeou pela cintura com seus robustos braços. Tinha descidodevagar, beijando o corpo, sintonizando a pele sob a etérea gaze branca de seuvestido longo.

De joelhos, venerou seu corpo, beijou-a nos seios e acariciou seu púbis atéque a jovem sentiu que fervia seu sangue.

O tempo carecia de significado e o único certo era que sobrava o vestido.Queria sentir o sedoso ar contra sua pele, o doce peso de Ian em cima dela, e nadamais. Nesse momento não importavam as conseqüências. Tinha que possuí-lo,imediatamente.

Ian tirou a jaqueta e a camisa, como se essa noite estival fizesse muito calor

para ir vestido.Georgie tremia, transportada pelo aroma e a firmeza da grossa cadeia de

músculos do peito de seu amante, sobre a que deslizava com carinho ambas asmãos. Enquanto o Marquês ia excitando com carícias intermináveis, Georgianasentiu que começavam a fraquejar suas pernas.

Ao fim de um momento, encontrou-se nua e jogada de costas sobre a manta,com as estrelas como único teto. Ian terminou de despir-se e voltou para seusbraços, esfregando seu quente peito contra o dela e beijando a de formaabsolutamente sedutora.

De soslaio, Georgiana admirou a luz das estrelas que adornava a quietasuperfície do lago próximo.

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— Georgie, o que acontece?

A jovem encolheu os ombros, zangada.

— Parece-me que crê que não pode compartilhar esta parte de sua vidacomigo.

— Não é isso. É que... Esse capítulo de minha vida está concluído. E nãotenho vontade de revivê-lo.

Georgiana ficou cabisbaixa.

— O que foi? — perguntou Ian armando-se de paciência.

— Só queria me assegurar de que Lady Faulconer se enganava e que vocênão seguia apaixonado por Catherine. Não posso evitá-lo. Sim, tenho ciúmes deuma falecida. Sei que pensará que é uma tolice, mas é que... Quero que me amemuito mais!

— Georgiana... — suspirou Ian ficando de costas e apoiando as mãos noventre — Carinho, sabia que meu matrimônio com Catherine foi acertado pelosmeus pais?

— Não. Como saberia se nunca fala disso? — notou um rubor nas faces eesperou que não a tomasse por uma louca possessiva.

— Pois já sabe. Era a mãe de meu filho, e por isso sempre honrarei suamemória, mas nunca estive apaixonado, até que conheci você. O Marquês seapoiou em um cotovelo e a olhou com ar ladino — Quer que demonstre isso?

— Oh, Ian... Não! Afaste-se de mim, besta insaciável — murmurou ela semmuito convencimento.

Ao fim de um momento se rendeu com um risinho nervoso as suas melosastentativas, e o mestre da persuasão não demorou em voltar a fazer amor... Uma eoutra vez. Uma e outra vez.

 

O céu do verão era de um azul cobalto adornado com fofas nuvens, que sedeslocavam sobre a bela colcha bordada das ondulantes colinas de Cumberland eos prados salpicados de ovelhas. Depois de quase uma semana de viagem,estavam a ponto de chegar à Mansão campestre de Ian, Aylesworth Park, nomeque esta tirava do antigo condado que pertenceu a sua família, antes que

recebesse o título de Marquesado. Do mesmo modo, Aylesworth era o título quecorrespondia a Matthew como herdeiro de Ian. Georgie, animada, tinha o meninono colo e não cabia em si de alegria. Ambos olhavam boquiabertos pela janela.

Ian se sentou em frente e observava seu entusiasmo com um tímido sorriso,embora à medida que foram se aproximando do solar de seus antepassados,começou a se mostrar curiosamente taciturno.

— Olhe mamãe, é a Mansão Hawkscliffe! — exclamou Matthew assinalandouma colina longínqua.

Estava encantado de chamá-la por seu novo nome e se voltou para ela,nervoso.

— É a casa do Morley! Vive em um Castelo!

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— Santo céu... A Mansão Hawkscliffe? Diria que soa como algo...

— Aí cresceram seus primos... E seu pai também — recordou Ian.

O Marquês contou que, de pequeno, devia seguir pelo campo por mais deum quilômetro se queria brincar com Robert, Jack, Damien, Lucien e Alec.

Georgiana escutava encantada as lembranças de seu marido e o imaginavacaminhando pelos verdes vales, com seu grupo de fiéis companheiros,perseguindo uma manada de pôneis selvagens que vivia nos páramos altos oubrincando nas maltratadas ruínas de uma antiqüíssima torre de comemoração, quehavia nas imediações e da que se falava que pertenceu a Uther Pendragon, o paido Rei Artur.

— Oh, quero ir vê-la!

— Iremos. Talvez organizemos um picnic ali — propôs Ian.

— Hurra! Poderá ir também Robin?

— Como vai sem sua sombra? — interveio Georgie alvoroçando seu cabelocom carinho — Claro que pode ir.

A família seguiu a alegre marcha. A carruagem se introduziu no caminho quediscorria junto ao rio Griffith. Ian explicou que o rio que inspirou o recente título desua família nascia nas Highlands escocesas e morria em East Anglia.

— Oh, a ponte desapareceu — murmurou Georgie assinalando os fragmentosde madeira que no passado tinha servido para salvar o arborizado arroio, no pontoem que o rio Griffith se precipitava com mais ferocidade.

— Sim — respondeu Ian em uma atitude que para Georgie pareceu distante

— Uma tormenta a destruiu faz uns anos.— E alguma vez a arrumou? Não é muito mais difícil acessar a casa?

— Sim, bem, na realidade eu gosto de viver isolado — disse o Marquês emtom sarcástico — Economiza hóspedes indesejados.

— Ahh.

Georgiana considerou que era estranho que um homem normalmente muitoescrupuloso no cumprimento de suas responsabilidades, tivesse permitido queuma tarefa tão importante como aquela ficasse inconclusa.

— É muito caro reconstruir uma ponte — esclareceu Ian lendo seus

pensamentos — Enfim, prefiro esperar e instalar uma de ferro que voltar alevantar uma ponte de madeira para que a leve a corrente.

Lorde Griffith escolhia com cautela suas palavras.

— A primavera é extrema nestas terras. As águas aumentam muito quandoa neve dos Peninos começa a derreter.

— Entendo.

— Matthew, pode contar a mamãe o que terá que fazer quando alguém seaproxima do rio?

— Cuidado! Não se aproxime!— Muito bem — felicitou o Marquês, comentário que arrancou um

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— Que mau é!

— Não — murmurou o Marquês com um olhar turvo — Apenas tenho pressa.Estou desejando me colocar na cama.

— Está cansado, papai?

— Mmm... — respondeu Ian sem afastar a vista de Georgie.A jovem não pode evitar ruborizar e dedicou um amplo sorriso a modo de

reprimenda, “Diante do menino, não, malvado marido”.

A carruagem diminuiu a marcha quando chegaram às imponentes grades deferro forjado da propriedade, em cujo monograma aparecia uma elaborada letra G,como a que tinham blasonada na portinhola do veículo. O indivíduo de coradasfaces que ocupava a casinha do guarda saiu para abrir as portas e os saudoutocando alegremente seu chapéu.

Matthew o despediu muito contente.

— Que terrenos tão formosos! — exclamou Georgie olhando os pitorescosarbustos e os arvoredos em sombra.

— Capacidade Brown — respondeu Ian.

— O que é isso?

Ian sorriu.

— Dá igual. Desfruta da vista.

— Olhe que salgueiro chorão. É imenso... Magnífico! É um salgueiro, não éverdade?

— Sim.

— Na Índia não temos, mas ouvi falar deles. Ah... E isso o que é? Isso brancoque há depois das árvores. Uma fantasia paisagística?

— Não, é o monumento a Catherine — respondeu o Marquês em tom neutro.

Georgie o olhou, surpresa.

— Mamãe está no céu com os anjinhos — explicou Matthew com o tom dequem aprendeu bem a lição.

Georgie se voltou para ele e o olhou estupefata, logo afastou com carinho o

cabelo dos olhos. Notou que Ian a olhava, e quando cruzaram olhares, umasnegras sombras espreitando no mais profundo de seu verde olhar a advertiram deque aquilo não ia ser fácil. Era muito tarde para voltar atrás, e ademais não queriafazê-lo.

A carruagem desceu uma colina e subiu uma encosta, e quando os cavalos,que iam a trote, rodearam uma graciosa fonte de pedra levantando uma nuvem depó, a casa apareceu diante de seus olhos.

Acelerou o coração de Georgiana ao ver seu novo lar. A casa, enorme,branca e imponente, era de linhas nítidas e bem definidas, realizadas com antigasimetria e neoclássica precisão. Estava construída em grande escala, com uma

deliciosa galeria que presidia a entrada coroando uma larga escadaria.Georgiana observou que o pessoal uniformizado se apressava a ocupar seus

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olhava de soslaio para seu marido de vez em quando, com ar intrigado, enquanto Townsend guiava-os de sala em sala.

O que se passava? Não agia com normalidade. Georgiana não conseguiaentender seu desgosto com as rosas.

Possivelmente simplesmente não gostava de estar ali. Possivelmenteassaltavam antigas lembranças nessa casa que compartilhou com Catherine.

Enfim, ir a Escócia foi idéia dele. A distância do lugar punha a salvoGeorgiana e Matthew de qualquer ataque dos assassinos da Rani Sujana.Pensando bem, inclusive essa ponte derrubada os protegeria, porque convertiaAylesworth Park em um lugar quase inacessível. Eles mesmos chegaram à casapor um atalho alternativo, que só conheciam as pessoas familiarizadas com oterreno. Por isso, nesse sentido, a jovem se sentiu segura. E se perguntou seCatherine também se achou segura nessa propriedade.

Enquanto percorria a casa, Georgiana se manteve alerta se por acaso via

algum retrato de sua predecessora presidindo alguma sala, embora a curiosidadeque sentisse por ela foi aumentando, foi em vão, porque não havia nenhum emtoda a casa. Se existiu algum quadro dessa mulher, retiraram.

Georgie começava a achar que essa situação era muito estranha. Quandomanifestou sua franca admiração por um precioso trinchante que havia na sala de jantar, Townsend pareceu satisfeito e explicou que a anterior Lady Griffith oescolheu em pessoa.

— Ah...

Entretanto, enquanto foram percorrendo a casa, Georgiana pensou que

resultava muito difícil deduzir a personalidade dessa mulher a partir da decoração.Os aposentos estavam decoradas com bom gosto, ricos tecidos e cores poucoarriscadas, escolhas todas elas elegantes, mas absolutamente previsíveis. O bomgosto era manifesto, mas a quem obedecia o critério? Essa era a questão, porquenem um só metro quadrado da Mansão dos Prescott tinha um selo pessoal oudistintivo. Talvez o escritório dos arquitetos também desenhou os móveis, porqueaquela poderia ser a casa de qualquer um... Ou a de ninguém em concreto.

— Querido, estiveram muito tempo casados você e Catherine?

— Não chegou a um ano.

— Há. Portanto, estes preciosos aposentos os desenharam...

— Minha mãe.

— Claro.

Ao menos estava na casa onde Ian cresceu.

— Agora que o diz, acredito que chegou o momento de fazer umas quantosmudanças — sussurrou Ian com diplomacia ao ouvido.

Georgiana sorriu. Entretanto, quando subiram ao piso superior e entraramnos dormitórios contíguos de Milorde e Milady, a jovem observou que seu maridoadotava uma atitude glacial.

— Que espanto! — voltou a exclamar Ian entre dentes contemplando odormitório dourado e escarlate com desgosto.

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que um distanciamento taciturno se cercava nele, interpunha uma distância entreambos que não acertava a definir.

Os dias transcorriam e um reflexivo mutismo foi se apoderando dele.Mostrava-se retraído. Georgiana perguntou se queria falar do que estavaacontecendo, mas ele assegurou que não acontecia nada. Em mais de umaocasião o viu junto ao rio, contemplando a corrente no ponto onde as águasformavam redemoinhos.

Não obstante, o mais estranho aconteceu um dia no que Georgiana saiu ao jardim e o encontrou com um machado arrancando as rosas amarelas que subiampela fachada lateral da casa.

Ficou estupefata quando viu o Marquês manchado de barro, em mangas decamisa e suarento.

— Que demônios está fazendo?

— Eh... Ah... As rosas necessitavam uma poda. Na realidade, estou pensandoem jogar a casa abaixo. Você gostaria que construíssemos outra? — ofegou eentortou os olhos olhando a contraluz — É velha. Está passada da moda. Pensavaque possivelmente poderíamos ter uma casa neo-gótica.

Georgiana o olhou sem acreditar no que via.

Ian apoiou o machado no ombro e fez uma pausa para tomar um gole deágua.

— Queria algo?

— Não, não...

Até no caso de que o estranho comportamento de seu marido não adeixasse estupefata, Georgiana não se atreveria protestar, e ainda menos arecordar ao afamado par do Reino, que tinha jardineiros que se ocupavam dessaclasse de coisas. Georgiana fez um gesto de impotência e voltou para a casa.

Quando Lorde Griffith terminou de arrancar as rosas jogou o montão deramos no rio. Depois pela janela, Georgiana presenciou alarmada como seu maridoficava contemplando os montículos amarelos que flutuavam corrente abaixo.Parecia estar em seu próprio mundo, um lugar sem dúvida carente de alegria.

A jovem se virou para perguntar discretamente aos criados se adivinhavamo que preocupava seu Senhor, mas o serviço saiu fugindo quando viu que a

Senhora se aproximava como se adivinhassem seu assombro. Em lugar de darrespostas, os criados se apressaram a reatar suas tarefas guardando um silêncioconspirativo.

Nesse lugar ocorriam coisas muito estranhas e Georgie ignorava a razão.Perguntou se talvez Robert, o melhor amigo de Ian, poderia explicar. Entretanto,qualquer que fosse o demônio que espreitava seu marido, a destruição das rosaspareceu acalmá-lo durante uns dias. Seu amigável companheiro voltou a seconverter no Cavalheiro que era.

Desejando recuperar a normalidade, Georgie propôs celebrar um picnic nodia seguinte. O que preocupava Ian parecia ter se desencadeado no dia de suachegada e a jovem pensou que possivelmente faria bem se afastar da casadurante uma tarde. Com essa idéia em mente, quis que fossem Ian e Matthew

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ricocheteará? Nós olharemos.

— Muito bem — suspirou o pequeno, ofendido.

— Ai está — disse Georgie a Ian com um sussurro — Agora poderá tomaruma taça de vinho com sua esposa e desfrutar de um pouco de tranqüilidade.

— A esperança é a última que morre — comentou com sarcasmo o Marquês.Georgiana levantou alegre sua taça vazia e Ian serviu o vinho. Logo se

sentou frente a ela e ambos se dispuseram a tomar um singelo almoço, queconsistia em frios, que a jovem não tocou, sanduíches de pepino, salada debatatas, queijo, fruta e pão tenro de centeio. Georgie se alegrava de ter tido essaidéia. Passar uma tarde calorosa do verão relaxando os três juntos era o maisacertado. E, sobretudo, brindava a oportunidade de tentar descobrir o quepreocupava seu marido.

Com um precavido olhar de soslaio, Georgiana observou que Ian esfregava oombro.

— Dói?

— Dá-me ferroadas. Reconheço que não estou acostumado a dirigir ummachado.

— Não, isso espero. Vem, deixa que o ajude.

A jovem afastou o prato, incorporou-se e se ajoelhou atrás dele paramassagear seu ombro que doía.

— Mmm... Isto funciona.

— Querido, ontem... Essa maneira de empreender com as rosas foi um poucoestranha.

— Ah... Não podia suportar vê-las nem um dia mais.

— Por quê?

— Eram espantosas. Diga-me a verdade, não se alegra de que as tenhaarrancado?

Georgiana baixou os olhos.

— Se isso faz que se sinta melhor, é claro que sim.

— Eram dela, sabe?

— De sua mãe? — perguntou a jovem recordando a anedota infantil, em queIan fez um ramo para sua mãe e logo o castigaram.

Ian fez um gesto de negação.

— De Catherine.

— Ah! — murmurou Georgiana detendo-se em seco.

— Por ser uma garota de uma educação impecável, o certo era que tinha unsgostos vulgares e toscos.

— Ei! Viram o bem joguei a bola? — perguntou Matthew sustentando em altoa bola com ar triunfante.

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Georgie não podia acreditar. De repente, notou um espasmo nos pulmões ase ver abandonada e vacilou.

— Ian, me diga o que acontece!

— Confia em mim, Georgiana — espetou o Marquês detendo-se apenas uns

segundos — Vale mais que não saiba nada!Lorde Griffith se voltou e seguiu caminhando. Não retornou.

 

Assim que a assustava? Sem dúvida. Seguro que também assustava seufilho. Possivelmente no fundo era um monstro. Como Catherine dissera. Que classede enlouquecida besta esperava receber amor em troca?

Ao fim de um momento, Ian chegou junto ao torrencial rio com o coraçãodisparado. A ponte destruída tinha um aspecto fantasmagórico, incurável comouma ferida aberta. Fechou os olhos esforçando-se para manter a calma e

respirando fundo, pausadamente. O som do rio correndo aos seus pés ensurdeceue o aroma que emanava dele enganou seu olfato.

 Tomara que pudesse fazê-lo entender!

O educaram do berço depositando nele elevadas expectativas e devia estarà altura da resplandecente imagem familiar a que devia. Levara essa brilhante ebrunida armadura de aço durante tanto tempo que pregou à pele. Como aarrancaria de repente para mostrar a Georgiana como era na realidade?

“Deixa-a com suas ilusões.” Mais valia não saber a verdade. Ninguém deviasaber.

Entretanto, Ian não podia evitar pensar que aquilo era o fim previsível dealgo.

Georgiana o deixaria. Só era questão de tempo. Estava se aproximandomuito da verdade, como aconteceu com a Rani Sujana. Não havia maneira demanter um segredo a salvo de Georgiana Knight.

Descobriria e então a única maneira de conservar essa mulher seriaconvertê-la em sua prisioneira, porque assim agiria a besta que sabia que seconverteu. De todos os modos, Ian não podia suportar a idéia de fazer desgraçadaa sua flamejante esposa.

Quando voltou a abrir os olhos, as revoltosas águas do rio Griffith nãodemoraram em enfeitiçá-lo, fluindo, apanhadas entre ramos e galhos pulverizados,fazendo girar as folhas que caíram na corrente. Uns diminutos redemoinhos emforma de espirais apareceram onde as águas remansavam. Espumosos regatos,rochas mortais. Uma pedra especialmente pontuda cuja afiada borda encaixavacom a cicatriz que tinha no ombro.

“— Catherine! — seu rugido reverberou no desfiladeiro.” 

“— Solta os cavalos, animal! Abandono-o, odeio-o, é um monstro, umdemônio! Odeio o ar que respira!” 

“— Odeie-me quanto queira, mas não permitirei que abandone o recém-nascido.” 

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“— Ah, não? Espera e verá.” 

Lorde Griffith voltou a fechar os olhos tentando afastar aquela lembrança desua mente. O passado, passado era, o futuro pertencia a Georgiana.

“Por favor, não me obrigue a contar isso.”  

Era a primeira vez em sua vida que conhecia o verdadeiro amor e serelatasse o que aconteceu aquela noite, a jovem fugiria dele e possivelmentenunca retornaria. Para ser sincero, Ian não sabia se poderia suportar. Estava aponto de ficar louco consumido pela culpa, pelo eterno medo de que ela pudessedescobrir de algum modo. Não obstante, estava convencido de que Georgianadera a ele outra oportunidade, depois da exibição de violência que fez no GreenPark. E não queria desperdiçá-la contando que era capaz de fazer coisas muitopiores do que vira. Não queria que se inteirasse. E custava muitíssimo reconhecerdiante si mesmo.

Não, seria capaz de manter esse horrível segredo selado a cal e num canto

em seu interior. Sabia que era capaz de fazê-lo. Guardar segredos, ocultar seussentimentos... Esse era seu ponto forte.

Georgiana amava um Diplomata humanitário, um nobre justiceiro, umhomem que atendia a razões.

“Santo céu! Sou uma autêntica fraude.” 

Quando meteu na cabeça se casar com Georgiana, pensou com lógica, semse dar conta de que a situação podia acabar resultando...

Difícil. Como iria saber o que aconteceria quando se conhecessem a fundo?Quando fossem íntimos? Entretanto, como poderiam viver seu amor com este

terrível segredo na alma, abrindo um abismo entre ambos?Ian estava seguro de que se contasse a sua esposa, esta o abandonaria. Era

consciente de que, em certo sentido, estava fazendo a Georgie o que Catherine feza ele, se casar fingindo ser uma pessoa diferente da que era realmente. Mas nãopodia evitá-lo. Amava-a muitíssimo. Faria algo, teria se feito passar pelo que fossepara consegui-la. De algum modo, lutaria por manter sob chave esse segredo eseguir fingindo hipocritamente que era o irrepreensível Prescott, como levavafazendo desde aquela noite inexprimível. A partir de então apenas deveria seesforçar mais em ser o homem que ela desejava, amava e necessitava que fosse.

No fundo de tudo, no mais fundo, como o escuro limo e as frias e escurasrochas do rio, Ian não se arrependia de nada. Contara uma mentira a Georgiana,isso era certo... Mentiu ao mundo inteiro... E agora tinha que viver com isso. Masembora doesse, seguiria fazendo sem se queixar.

Pelo bem de Matthew.

 

Matthew foi dormir a sesta avançava já à tarde. Quando o menino dormiu,resguardado em sua caminha, Georgie decidiu passear um momento pelos camposda propriedade.

O humor taciturno que tinha ultimamente seu marido devia ser contagioso,porque descobriu que ainda se sentia doída e preocupada com a forma tão bruscade partir, com que os obsequiou Ian durante o almoço. O dia começou com bom

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— Deveria estar assustada, querida. Eu estaria em seu lugar.

— Ah... — Georgie respondeu com um sorriso divertido e carregado depaciência.

Menos mal que Ian advertiu que a anciã estava senil. De todos os modos,

suas palavras resultavam inquietantes dadas as circunstâncias.— Hoje não traz maçãs?

A velha parteira não levava o cesto, mas sim se apoiava sobre uma nodosabengala, para compensar sua maltratada figura.

— O que diz bonita? — perguntou levando a mão à orelha.

— Que não traz maçãs — repetiu Georgie sorrindo — A vi junto ao caminhono dia que chegamos. Levava um cesto de maçãs.

— Tenho permissão para pegá-las da horta!

— Oh, não...! Não queria dizer isso! Só procurava conversar.A mãe Absalón torceu o rosto com agressividade.

Considerando melhor, agora entendia por que seus primos suspeitavam quefosse uma bruxa! Essa mulher tinha um aspecto abominável, com a grossa capanegra, seus penetrantes olhos e umas mechas cinza que caíam do coque.

A anciã se aproximou dela bamboleando-se e apoiando-se na bengala.

— Diga-me, o que se sente alguém quando que se casou com o diabo?

Georgie arqueou as sobrancelhas.

— Refere-se a Lorde Griffith?— O diabo em pessoa! — gargalhou a mulher — O Rei dos embustes!

Georgie piscou atônita.

— Estou segura de que não é tão mau como você acredita.

— Ah, não? Não foi ele quem fez isto? — disse a mãe Absalón assinalando oobelisco — Não colocou a pobre e jovem Raposa nessa tumba?

— Boa Senhora, não deve culpar meu marido pela morte de Lady Catherine.É normal que um homem e uma mulher queiram ter um filho. E às vezes as coisasse complicam. Mas isso não significa que seja culpa de ninguém. Não foi culpa de

Lorde Griffith. E tampouco foi culpa sua. Às vezes, terá que culpar ao destino.— Ao destino? Ora! Não foi o destino que a atirou no rio na noite em que a

ponte caiu!

Georgie ficou olhando-a e empalideceu.

— O que... O que está dizendo? A falecida Lady Griffith morreu de febre.

— Não seja tola, menina. Tem que ser mais preparada se quiser sobreviverem um lugar como este. Febre? Essa é a história que contou a todos, para ocultarsua maldade. Esse homem é misterioso, selvagem e ardiloso, digo eu! Mas você é jovem e doce, como isto — disse a anciã tirando uma maçã amadurecida, debaixode sua volumosa capa e oferecendo a Georgie, que tomou estupefata.

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— Eles sabem o que fez — seguiu falando a mãe Absalón assinalando para aMansão, com um olhar astuto —Todos estavam ali naquela noite. Não se atrevema dizer em voz alta, porque têm medo de que também os mate!

— Não acredito — afirmou a jovem, que, depois de lançar a maçã com ardesafiante, voltou para dar as costas à anciã, que a observava com simpatia —Velha louca! Como se atreve a contar mentiras tão horríveis e espantosas sobreme... Meu fantástico marido? Pense que a acolheu em sua propriedade!

Aquela ingrata bruxa zombou dela.

— Minha jovem e formosa Marquesa... Que menina mais cega! Vigia poronde anda. Nestes jardins há muito espaço para outro monumento... Dedicado avocê.

— Parta! — exclamou Georgiana estremecendo.

— Pergunte ao velho Townsend se não crê na mãe Absalón — acrescentou aanciã enquanto se afastava coxeando — O Senhor matou Lady Catherine com suaspróprias mãos, e matará você também se der motivos para que se zangue. Vaicom cuidado, menina, com muito cuidado!

Georgie a observou se afastar, chocada.

Não acreditou em nenhuma só das envenenadas palavras da velha, ditadaspela loucura.

Entretanto, não compreendia por que não podia deixar de tremer.

 

Capítulo 16

Com a segurança que dava o pensar que voltava a ter a situação sobcontrole, Ian foi ver Matthew para fazer as pazes.

“A melhor virtude das crianças é que perdoam e esquecem os erros dos paismuito depressa — pensou o Marquês. As esposas já são outra história.” 

Decidido agarrar o touro pelos chifres como um homem, foi procurarGeorgiana. Transcorreram algumas horas desde sua briga e ainda não a vira, massabia que aquilo não podia durar muito. Desagradava-o profundamente brigar comela.

Como a parte ofensora que era, sabia que correspondia a ele fazer o próximomovimento, e não o contrário e que devia dizer que lamentava ter perdido osnervos e estragado seu picnic.

Percorreu várias salas, decidido a acertar tudo entre eles, porque sem ela sesentia vazio. Sabia que esses últimos dias sua conduta deixara muito a desejar,mas depois de um momento de reflexão que permitiu controlar seus impulsosmais inconfessáveis, sentia-se melhor. O que desejava realmente era que tudo

voltasse ao normal entre ambos.Começava a pensar que teria sido melhor não ter retornado jamais a essa

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casa, sentimento que se intensificou, quando ao fim a encontrou no atrozdormitório vermelho e dourado, que foi decorado para a Senhora da casa. Estavasozinha, sentada na beira da cama, de costas para ele. Permanecia imóvel, com oolhar fixo na janela e o cabelo escuro caindo em cachos soltos pelas costas.

O Marquês pensou que devia estar esperando à criada. Era quase a hora dese preparar para jantar, embora Georgiana ainda vestisse o precioso e clarovestido de passeio, que usava pela tarde.

— Carinho? — Ian titubeou na porta ao ver que Georgiana ficava tensa aoouvir sua doce saudação.

Ora. Sabia que não era rancorosa, mas tinha seus motivos para pensar quenesse dia sua mulher, não estaria disposta a perdoá-lo com tanta facilidade. Umacoisa era tirá-la do sério, mas por Matthew triste estava acostumado a encolerizá-la. Comovia-o pensar que protetora se mostrava com seu filho.

— Posso entrar?

— Pode fazer o que quiser. Está em sua casa.

Georgiana não se virou.

Ian torceu o rosto, as graves e cortantes palavras de sua esposa bastarampara indicar que se anunciava uma briga. Lorde Griffith fechou a porta atrás dele eentrou no dormitório.

— Hoje me comportei muito mal com você e quereria acertar as coisas.

Ian se apoiou em um dos pilares da cama e se manteve a distânciaprudente.

Quando Georgiana virou a cabeça para olhá-lo, Ian viu que tinha os olhosavermelhados e inchados e sentiu que rompia o coração. Esteve chorando.

Lorde Griffith a contemplou com ternura e remorso.

— Sinto muito, carinho.

Aproximou-se dela, mas quando pôs a mão em seu ombro e quis estreitá-laentre seus braços, a jovem deu um pulo. Ian se deteve. Georgiana estava imóvel,cabisbaixa.

O Marquês a observou, atônito pelo medo que detectou em seu repentinomovimento. Desconcertado, abaixou os olhos procurando as palavras adequadas,

e então viu o baú de viagem aberto, junto à cama. Na semana anterior o tinhamguardado vazio nos armários. Agora havia tornado a sair. Ian se fixou em quehavia roupa dentro, dobrada a toda pressa.

Deu-lhe um tombo o coração.

— Vai... A algum lugar? — perguntou reunindo forças da fraqueza paraarticular essas palavras com serenidade.

— Ainda não decidi — respondeu a jovem com um fio de voz, e então seusolhos se cruzaram.

— O que quer dizer, Georgiana?

— Sente-se, Ian.

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Lorde Griffith obedeceu e se acomodou na beira da cama, junto a ela.Georgiana o observou com seus grandes, azuis, intensos e solenes olhos.

— Necessito que me conte exatamente o que aconteceu a sua esposaCatherine, se não, parto.

Apesar de que Georgiana se expressou com tranqüilidade, suas palavras odeixaram sem fala.

A jovem estudou sua reação, embora ele fizesse todo o possível paraencaixar seu ultimato com equanimidade, ao menos exteriormente.

— Ouvi uns rumores... Terríveis. Caso não me conte a verdade levareiMatthew com os Hawkscliffe, e ali, na casa de meus primos, esperarei que papairetorne.

Ian ficou contemplando o chão de madeira nobre, enquanto os pensamentosse amontoavam em sua cabeça e o sangue tamborilava com força nas veias.Levou a mão aos lábios em atitude reflexiva e logo a olhou com ar melancólico.

Georgiana o desafiou com veemência, apertando a mandíbula com a dignadeterminação de seus antepassados guerreiros.

— Não minta — sussurrou.

Ian, cabisbaixo, notava um nó na garganta.

“Meu Deus, se mentir, danificarei tudo, e se não mentir, também.”  

Ficou em pé e se aproximou da janela. Acotovelou-se nela e ficoucontemplando a tranqüila e ainda ensolarada tarde.

— Não quero te perder, Georgiana — disse o Marquês com o olhar perdidona distância.

— Então convém me contar o que aconteceu. Agora. É certo, Ian? É tudoaquilo que mais odeio no mundo?

 Teria doído menos se Georgiana pegasse uma espada e o atravessasse comela. Lutando para digerir o golpe que apenas ela era capaz de dar, virou com a dorrefletida nos olhos.

— Matou-a? — perguntou Georgiana, com seus melosos lábios trêmulos,sustentando seu olhar a uns metros de distância.

Ian fechou os olhos e baixou a cabeça.— Foi um acidente.

— Oh, meu Deus...

O Marquês se obrigou a olhá-la com uma angustiosa expressão de súplica.

Georgiana se pôs em pé. Para Ian bastou ver seu pálido e desencaixadorosto, para ter certeza de que ficavam duas alternativas, contar tudo ou sedespedir para sempre dela. Inclusive para um Diplomata de primeira ordem já eramuito tarde para seguir dando voltas ao assunto. Além disso, descobriu quetampouco o desejava. Essa situação era o que mais aterrorizava no mundo, mas

agora que se encontrava nela, se deu conta de que estava muito cansado dearrastar esse segredo sozinho.

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Seu Único Desejo – Gaelen Foley

Não se incomodou em perguntar quem o disse. Pouco importava.

Possivelmente um criado. No fundo sabia que, cedo ou tarde, algumromperia o silêncio. A discrição do serviço permaneceu intacta durante cinco anos.

— Prometa que ao menos que me escutará — disse em tom lúgubre.

— Fale — ordenou ela com um murmúrio trêmulo — Diga-me se a amava.Diga-me como morreu.

— Amá-la? — repetiu Ian com uma amargura que saiu do fundo da sua alma— A odiava, Georgiana. Odiávamo-nos mutuamente.

— Odiava-a e por isso tirou sua vida, não é verdade? Já vi que é capaz dematar.

Ian ficou paralisado, estupefato ao ouvir a acusação.

— Isso não tem nada a ver. Fui o responsável por sua morte, mas eu não amatei, se isso for o que está pensando!

— O que aconteceu então?

Ian afastou a vista com um suspiro de raiva.

— Vale mais que colabore, Ian Prescott, porque se me diz uma só mentiracom esta lábia de...

— Direi a verdade — a interrompeu o Marquês — Só prometa que meescutará. Georgie, sem você não tenho nada...

— Tampouco eu... — disse a jovem com lágrimas nos olhos — Além disso,não quero perder você, mas é que nem sequer sei quem é!

— De verdade quer saber?

— Sim! Sim. Mais que nada no mundo — pronunciou a jovem com voz baixa.

Ian ficou cabisbaixo e levou as mãos à cintura. Manteve a cabeça encurvadadurante um momento.

— Quinze dias depois de nossas bodas as coisas começaram a ir mal. Aquiloera um desastre. Nunca quis fazer dano a ela. Juro sobre a tumba de meu pai.Nosso matrimônio... Foi acertado.

Georgiana voltou a sentar na cama porque notava certa debilidade em seusmovimentos.

— Sim, isso já havia me dito.

— Só a vi duas vezes antes de nos casar. Meus pais a escolheram por mim econfiei neles. Na verdade importava-me pouco. Não pretendia me casar por amor.O matrimônio apenas era outro de meus deveres.

Confessou o Marquês encolhendo os ombros.

— Havia algo nessa mulher que me dava pena, que queria proteger.

Voltou a dar a volta e se acotovelou na janela, com o olhar perdido nadistância.

— Celebramos uma grande boda em Londres. Houve um desfile interminávelde carruagens, convidados da realeza, chefes de Estado e um festim para mil

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dava conta de que me traíram desde o começo.

— Traído... Mas me disse que o matrimônio foi acertado. Quem mais sabia,os pais dela, os seus?

— Não saberia dizer... O que posso assegurar é que as duas famílias

quiseram celebrar o enlace. E claro, Catherine não ia tranquilamente dizer aosseus pais que permitiu que um dos cavalariços de seus estábulos a beneficiasse.

— Um cavalariço!

— Sim. Catherine não queria ser uma infeliz, altiva como era. Pensou que se jogasse bem suas cartas, teria direito a comer uma parte do bolo. Quanto a mim...Enfim, era o alvo perfeito. Muito enrijecido e cheio de orgulho, para que cruzassepor minha mente, a possibilidade de que me casasse com uma prostituta emfloração. Deus era o único que jurei que jamais faria! Sobretudo depois de ver osofrimento e a confusão com que sua libertina tia, a Duquesa, pagou aos seusfilhos.

— Tia Georgiana?

— A mesma — assentiu Ian sentando-se junto a ela.

Guardou silêncio durante um momento e logo seguiu falando.

— Catherine era pior que ela. Ao menos a Raposa Hawkscliffe não mantinhaem segredo seus namoricos, mas sim aceitava as conseqüências de seus atos,com bastante sangue frio. Minha esposa não. Era covarde, além de mentirosa. Tentei, sabe?

— Contraí matrimônio com toda a intenção de me converter em um marido

honrado e decente. Durante as duas primeiras semanas, antes que a verdadesaísse à luz, fiz todo o possível. Tratei-a com carinho e com toda a consideração deque era capaz. Queria amá-la... Ao seu devido tempo. E inclusive pensei, combastante ingenuidade de minha parte, que um dia ela chegaria a me querer.

Ian ficou cabisbaixo para ocultar um amargo sorriso.

— Por desgraça, estava apaixonada pelo cavalariço.

— E você, o que fez?

— Bem, quando a descobri jogando sangue de porco na cama a noite passoua se converter em um recital de gritos de minha parte e de lágrimas da parte dela.

— Bateu nela?— Georgiana — disse Ian voltando-se para ela com impaciência — de

verdade acredita que alguma vez bati em uma mulher?

— Não. Sinto muito — reconheceu Georgiana com expressão compungida.

Ian encolheu os ombros.

— Bem, menos mal que ao menos acredite nisso. O único que podia fazer foipressioná-la para que confessasse tudo. A ameaça de descobri-la em Sociedadefuncionava melhor nela, que qualquer outra coisa — explicou Ian com secura —Obriguei que me contasse tudo, embora me aborrecesse ter que escutar, como

tinha começado, quantas vezes se viu com ele, quais criados tinham propiciadosua relação... Pela manhã já tinha uma idéia bastante clara do que tinha sido essa

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aventura.

— Não deve ter perdido nem um segundo.

— Exato. No dia seguinte despedi seus criados, ordenei aos meus que não aperdessem de vista, encerrei-a em casa e cavalguei até os estábulos de seu pai

para por fim à relação.— Quer dizer que a pôs sob prisão domiciliar. Como me fez em Calcutá.

Ian a olhou incômodo, surpreso pela comparação, mas em lugar deresponder, seguiu explicando sua história.

— Quando cheguei aos estábulos de seu pai, vi o homem e tive umaspalavras com ele em particular.

— Desafiou-o?

— Ao contrário, tentou me chantagear. Possivelmente minha esposa estavaapaixonada por ele, mas ele não se importava minimamente. Era um canalha semmoral. Além do sexo, só interessava seu dinheiro, desde o início. Pediu-me cemlibras em troca de guardar silêncio.

— Não é uma grande soma, considerando tudo. Pagou?

— Que diabos, não! Nunca permitirei que me chantageiem. Disse que tinhavinte e quatro horas para sair da Inglaterra ou era um homem morto, e que seabrisse a boca e dissesse uma só palavra sobre minha mulher, o perseguiria até ofim do mundo e o mataria como a um cão.

— Ahh.

— Saiu fugindo.

— Não é estranho — comentou Georgiana com amargura.

— Partiu para Calais. Para o paraíso dos malandros.

Ian suspirou fundo e ficou pensativo.

— Estava tão satisfeito de ter me libertado de suas ameaças que temo fizalgo do que não me orgulho. Com o tempo me dei conta de que foi meu principalerro... O segundo, além de me casar com ela, que foi o primeiro.

— O que fez?

— Menti a Catherine. Disse que seu amante tinha morrido, que o matei. É oque teria feito qualquer homem. Mas eu quis fazer melhor. Sabia que minhasmentiras fariam que me odiasse ainda mais, mas queria que esse indivíduo saíssede nossas vidas e que minha mulher o tirasse da cabeça. Não suportava queabrigasse a esperança de que esse tipo poderia retornar algum dia, que poderiaencontrar a maneira de estar com ele no futuro. Queria que soubesse que aquilotinha terminado. E disse tudo isso... Porque desejava feri-la.

Ian afastou o olhar.

— Já disse que não me sinto orgulhoso disso.

Georgiana cravou o olhar.

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— Depois disso as coisas se acalmaram. Sabia que tinha conseguido feri-laporque Catherine se encerrou em si mesma. Segui recorrendo ao serviço, para quevigiassem todos seus movimentos. E logo, ao fim de nove meses, nasceu ummenino. Era meu filho, o autêntico herdeiro de minha antiga linhagem e de todaminha fortuna, ou era o bastardo de baixo estofo de um cavalariço?

— Matthew... — sussurrou Georgiana arregalando os olhos.

— Matthew — assentiu Ian pausadamente.

Georgie ficou muito afetada e triste depois de ouvir sua história. Sofria porele, pela dor e a traição que essa mulher infligiu. Pela sua decepção e ahumilhação.

A tensa e distante relação que Georgiana descobrira entre pai e filho aochegar à Inglaterra, começou a fazer sentido. Entretanto, fez um gesto deincredulidade.

— Duvidou da paternidade de Matthew?

— Durante muito tempo, sim.

— Suponho que agora já não. Não me negará que é seu vivo retrato. Tem ocabelo escuro como você, as sardas, o mesmo nariz... — esclareceu Georgianacom ternura passeando o olhar pelo rosto que amava — É uma cópia exata sua.Inclusive de sua maneira de ser. Tranqüilo e sério, preparado e curioso.

— E teimoso? — apontou Ian com um sorriso irônico que a Georgiana fezpensar, no arrebatamento de mau gênio que o menino teve umas horas antes.

O gênio do Marquês também resultou ser muito perigoso.

— Ah, sim — respondeu a jovem sorrindo com receio — É seu filho, é claro.Um aristocrata de ponta a ponta.

— E por isso necessitará disciplina. Os homens de minha posição têm muitopoder, dinheiro e influência para que se permita crescer como descerebrados.

— Não negarei isso.

Ficaram se olhando em silêncio. Ian a segurou pela mão e ela permitiu.Entretanto, apesar de que seu instinto a impelia a estreitá-lo entre seus braços,Georgiana se conteve.

— Ainda não me contou como morreu Catherine.

Ian assentiu e se soltou dela com um fundo suspiro.

— Durante sua gravidez, à medida que foram passando os meses, comecei anotar que mudava de atitude.

— A que classe de mudança se refere?

— Foi um mudar para melhor. Deixou de me odiar tanto. De vez em quandoparecia uma pessoa agradável. Pensei que aquilo era bom sinal e a animei a seguirpor esse caminho. Possivelmente começava a esquecer seu cavalariço. Decidi quenão contrataria uma babá quando nascesse o menino.

— Aquilo obrigaria Catherine a ser responsável pela primeira vez em suavida. Sabia que eu não gostava dela e temia que recusasse o bebê por minha

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culpa. Ocorreu-me que se visse obrigada a amamentar o pequeno, isso reforçaria ovínculo existente entre mãe e filho. E chegou o dia do parto. Matthew nasceu atarde, a parteira me disse que era um menino e que mãe e filho se encontravambem.

— Não teve febre?

— Não — sussurrou Ian com a cabeça encurvada e fazendo um gesto denegação — Sinto ter dito essa mentira.

Georgiana acariciou o braço.

— O que aconteceu querido?

Ian a olhou, e algo em seus olhos a obrigou a se afastar dele. Georgiana,com as mãos no colo, retorceu os dedos com renovada angústia.

— Duas semanas depois Catherine fugiu.

— O que?

— Pouco me importava que essa mulher me traísse, mas que traísseMatthew...

Georgie ficou estupefata.

— Abandonou-o. Abandonou a um menino recém-nascido de apenas duassemanas.

— Como pode fazer isso? Por quê?

— Recorda os criados que disse que despedi? Bem, através de sua antigacriada, o cavalariço conseguiu fazer chegar em segredo uma carta a Catherine, de

Calais. Dizia onde estava e a apressava a fugir de mim, na menor ocasião parareunir-se com ele. Quer dizer, nesses meses em que Catherine mudou de atitude,foi porque estava em compasso de espera e sabia que, uma vez desse a luz,fugiria.

— Planejou abandonar Matthew inclusive antes que nascesse?

Para Georgiana resultava impensável.

— Exato. Quanto a esse indivíduo, não me cabe a menor dúvida de queseguia tentando me tirar dinheiro ou da sua família, com a esperança de quealguém terminaria pagando, para evitar o escândalo. Enfim, naquela noite, a noite

da tormenta, eu fui à casa dos Hawkscliffe para jantar, tomar umas taças e jogarbilhar com seus primos, que naquela época eram solteiros. Queriam me felicitarpelo nascimento de meu filho. Ignoravam os problemas que tinha desde o dia deminhas bodas.

— Alguma vez contou a eles?

— Não. Nem sequer aos meus amigos íntimos — confessou Ian com umgesto de impotência — era muito sórdido. Não queria que soubessem que meenganaram. Temia que perdessem o respeito.

“Orgulho varonil. Suponho que não pode culpar por isso” , pensou Georgiana.

— Afinal, quando parti da Mansão dos Hawkscliffe e cheguei em casa, todomundo parecia ter enlouquecido e, pela boca de meus criados, inteirei-me de que

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Catherine fugira. Townsend disse que um coche foi recolhê-la. A criada e o lacaioque eu despedira há meses seguiam sendo leais a sua Senhora e foram procurá-lapara levá-la a França.

— Oh, Ian — sussurrou a jovem, chocada.

— Direi que me senti tentado a deixá-la partir, para não ter que voltar a versua cara, mas havia um recém-nascido no dormitório das crianças, e sem um babáà mão, não tinha maneira de alimentá-lo.

— Está-me dizendo que Catherine teria abandonado seu filho para quemorresse de fome?

— Isso é exatamente o que fez.

Georgie ficou boquiaberta.

Essa mulher resultava odiosa. Abandonar Matthew, além de Ian?

— Nessas circunstâncias não ficou alternativa. Subi no lombo de meu cavaloe cavalguei sob a tempestade para alcançá-la. Naquele momento asseguro a vocêque o único que sentia por essa mulher era desprezo, mas não permitiria que obebê morresse de fome, sob meu teto, tanto se fosse meu como se não. Alcancei acarruagem na ponte.

A angústia apareceu em sua serena voz, como se custasse um grandeesforço falar.

— Conduzia o lacaio, que não parava de me fustigar com o látego. Aponteiuma pistola e o homem compreendeu que eu não permitiria que fugissem.Cambaleou, consegui agarrar as rédeas do cavalo e detive a carruagem no meio

da ponte. Desmontei e fui tirar Catherine da carruagem. Ela e sua criada estavamhistéricas. De algum modo, Catherine conseguiu sair, ordenou aos seus criadosque ficassem na carruagem e saiu... Me apontando uma pistola.

— Uma pistola!

— Sim. Um encanto de mulher. Disse que me odiava e que me mataria senão deixava que partisse. Disse-me:

“Já tem seu herdeiro. Para isso me queria. Agora nos libertemos um dooutro de uma vez e para sempre”. 

— Disse-lhe que por mim não havia inconveniente, mas que não podiapermitir que um menino pequeno morresse porque ela fosse uma irresponsável. Ea agarrei pelo braço.

— O que aconteceu a pistola?

— Falhou o tiro. A pólvora estava molhada.

— Graças a Deus!

— O fato de que apertasse o gatilho me enfureceu. Lancei a pistola ao rio eentão me dei conta de que as águas tinham aumentado muito. Olhei ao redor eobservei que começavam a se agitar e a transbordar a ponte enfraquecendo as

vigas. Notei que a estrutura começava a ceder. O vento soprava impetuoso e osrelâmpagos enlouqueceram os cavalos. O lacaio procurou manter os animais sob

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controle, mas de repente, ouvi um forte rangido e a ponte deu uma inclinaçãobrusca. Catherine gritou, mas eu não a soltei. Nesse momento os cavalos saltarame levaram arrastada a carruagem e os criados. Ao fim de uns segundos saíamdisparados pelo caminho e se perdiam de vista.

— Ficamos os dois as sós na ponte. Meu cavalo andava perto. PegueiCatherine nos braços e a carreguei sobre um ombro para levá-la a casa à força, jáque se negava a ir por sua própria vontade. Pelo modo que resistiu, qualquer umdiria que a estava raptando um huno. Quando me deu uma cotovelada no olho,deixei-a no chão por medo de que caísse. Não queria que se machucasse. Aindaestava se recuperando do parto. Tentou sair correndo...

— Como... Atrás da carruagem?

— Sim. Gritava tanto e estava tão raivosa que juro que quase não sabia oque fazia. Voltei a agarrá-la pelo braço. Gritei. Disse que tínhamos que nos por asalvo da tormenta, mas ela me empurrou com brutalidade, com um gesto

violento... E nesse momento a ponte se rompeu. Diante meus olhos, Catherineescorregou, caiu pelo corrimão e a corrente a levou rio abaixo.

Georgie tampou a boca com um gesto de espanto.

— Corri para a beira da ponte e a vi na água. O rio era branco, a espuma orevolvia todo. Não podia ver as rochas, mas tirei a jaqueta e saltei à água parasalvá-la.

— Ian!

— A corrente era ensurdecedora. A água estava gelada e descia carregadade detritos.

— Não sei como, mas consegui passar o braço por sua cintura e comecei apuxá-la para salvá-la. Catherine seguiu lutando, embora estivesse meio afogada.Era como um animal enlouquecido, como um gato me cravando as garras. Estavatão concentrado em arrastá-la para fora da água, que não vi as rochas para ondenos dirigíamos. Só notei que uma delas me cravava no ombro e na nuca. O golpeme deixou quase inconsciente, e a perdi.

Ian deixou de falar. Seu olhar era de tristeza.

— Essa foi a última vez que a vi com vida.

Georgie o contemplou em silêncio, com olhos sombrios.

— Na manhã seguinte encontramos seu corpo rio abaixo, a menos deduzentos metros. Levamos para casa e então iniciaram as mentiras. Roguei aoserviço que mantivessem em segredo as circunstâncias de sua morte. Não havianenhuma necessidade de envergonhar as famílias. A sua e à minha. Nenhumanecessidade de que os periódicos ecoassem sua vergonha. E, sobretudo, nãopermitiria que o mundo começasse a questionar a legitimidade de meu filho.

Ian, com os olhos como brasas, sacudiu a cabeça.

— Não podia permitir depois de ver o que tiveram que viver seus primos porculpa das indiscrições de sua mãe. Tinha que proteger o futuro de meu filho e suareputação. E também devia proteger a mim mesmo — admitiu pensando melhor —Não podia suportar a idéia de me converter em objeto do escárnio, nem de me porem ridículo.

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Ian tragou saliva.

— Inventamos uma morte honorável para Catherine. A febre puerperal erauma boa desculpa, considerando sua situação. Nunca disse a verdade a suafamília. Nunca contei à minha. Nem sequer expliquei a seus primos, meusmelhores amigos. Não queria que nossos trapos sujos saíssem à luz.

O Marquês esteve um bom momento sem dizer uma palavra.

— Enfim, educaram-me para saber fingir, não? Celebramos o funeral, que foitão respeitável como foram as bodas. Desde que a conhecia, não recordava tê-lavisto jamais com uma expressão tão tranqüila — acrescentou em tom sarcástico.

— Meus criados a maquiaram com pós brancos e tamparam o rosto com ovéu de noiva. Velei por ela com meu filho nos braços, sem dizer nenhuma sópalavra sobre o cavalariço. Erigi um monumento e guardei luto para demonstrarminha dor, como mandam as convenções. A Sociedade me converteu em umaespécie de herói trágico.

Comentou Ian suspirando com cinismo.

— Mas ela não foi a única que morreu essa noite.

— Que outra coisa morreu Ian? — sussurrou Georgiana.

— A esperança de viver um amor autêntico — respondeu o Marquês comtristeza — Essa desilusão me levou a refugiar no trabalho. Possivelmente, dealgum modo, tentava expiar meus pecados ajudando outros a viverem em paz,embora a paz fosse uma sensação desconhecida para mim.

— Possivelmente isso fez que compreendesse seu valor.

— É possível. O que sei é que ao trabalhar a toque de caixa durante cincoanos seguidos, sobretudo em tempos tão difíceis para nosso país, com Napoleão ea guerra... Terminei instalado em uma estranha e lúgubre fuga, espiritualmente,poderia se dizer desolada, em certo sentido. Sua prima Bel dizia que estavaesgotado. Mas não era um esgotamento físico. Era... Outra coisa. Algo maisprofundo. Uma sensação de vazio. Mas como, Georgiana, foi o que me levou avagar pelo Ceilão com a intenção de procurar fazer as pazes com meus demôniosparticulares... Sem muito êxito, receio. Um dia o Governador Lorde Hastings seinteirou de que eu andava pela região e me pediu que o ajudasse nas negociaçõescom o Marajá de Janpur. Aceitei a missão e então — sussurrou Ian aproximando-sedela e agarrando seu rosto com suavidade — ali mesmo, no outro extremo domundo, vi você. O amor que sempre sonhei e que nunca pensei que chegaria aconhecer. Tinha desistido já.

— Oh, Ian... — Georgiana se aproximou dele.

— Salvou minha missão em Janpur com suas intrigas e agora, de novodescubro que meu destino está em suas mãos, minha doce Georgiana. Umdescarnado desejo aflorou em seu rosto — Poderá me amar sabendo que sou umafraude?

— Não é certo — murmurou a jovem tentando repensar sobre tudo o quetinha ouvido — Acredito que é um homem que tentou manter unida a sua família

com dignidade, apesar de ser traído de um modo monstruoso e terrível. E é um paique sacrificaria o que considera mais sagrado pelo carinho de seu filho.

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— Minha honra — acessou Ian com um fio de voz.

— Mas se não a perdeu, carinho! Sua honra está aqui —Georgiana pôs umamão em seu coração — E se quiser que responda sua pergunta, direi que sim.Claro que o amo. Sempre o amarei. Não duvide disso.

A jovem cravou seus olhos nos de seu marido.— Obrigado por confiar em mim ao fim e me contar seu segredo. Agora

compreendo por que demorou tanto. Se alguém tivesse me feito tudo isso, não seise teria tornado a ter fé. Amo-o, Ian. E prometo que nunca o trairei.

— Isso significa que vai ficar? — sussurrou Lorde Griffith.

— O que quer dizer, se vou abandoná-lo? A você e ao seu encantador filho?Se o abandonasse, estaria mais louca que ela. Não irei a nenhum lado, meu amor.Pertenço a este lugar. Pertenço a você.

Ian estava assombrado.

— O que acontece?

— Aterrorizava-me pensar que poderia perdê-la se contasse tudo.

— Não, teria me perdido se não tivesse me contado tudo.

— Entendo — assentiu Ian com ar solene.

Georgiana o beijou na face e abraçou os largos ombros de seu marido.

— Sabe? Não espero que seja perfeito... Embora, por alguma razão, pareceque você se exige isso continuamente.

Ian tocou a mão que ela tinha em seu peito e suas cabeças se juntaram.

— Georgiana, volte a me dizer que nunca me abandonará.

— Nunca o abandonarei, carinho. Partir é algo que não poderia fazer jamais.

Ian voltou a cabeça para beijá-la. Georgiana elevou o queixo e ele procurousua boca.

A jovem sentiu que bulia seu sangue quando ele acariciou com suavidadeseus lábios e a agarrou pelo quadril. Georgiana o estreitou entre seus braços eabriu a boca convidando-o a dar um profundo beijo. Ian colocou a língua e gemeulevemente enquanto, com suavidade, estendia-a de costas sobre a cama.

Georgiana adivinhou suas intenções pelo modo em que a beijou...E se entregou com toda sua alma.

— Não me deixe nunca — sussurrou de novo Ian enquanto suas sabias mãoscomeçavam a desabotoar com maestria o corpo de seu vestido — Eu te amo.

— Adoro-o, Ian — pronunciou Georgiana quase sem fôlego derretendo comseu contato.

Acariciou seu rosto e o cabelo.

— Ninguém deveria fazer tanto dano. Dedicarei a vida a dar todo o amor quenecessita.

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— Necessito-o. Necessito-o.

— Então tome — sussurrou Georgiana — Sou toda sua.

Seu gemido apenas se ouviu quando voltou a colocar sua boca na boca deGeorgiana, com renovadas ânsias, enredando os dedos grosseiramente em sua

cabeleira.Puxou seu decote enquanto ela, por sua vez, tirava a gravata e arrancava o

colete.

— Apresse-se — ofegou a jovem.

— Abra as pernas.

Georgiana obedeceu com afã, enquanto levantava suas saias e a montavaem um coito feroz, necessitado, apaixonado.

A cama inteira se balançava enquanto faziam amor, famintos.

Georgiana o beijou sentindo-o em suas vísceras, segura de que nunca secansaria desse homem.

— Oh, Ian...! — soluçou a jovem de prazer, com o coração extasiado.

— Quero começar do zero — sussurrou Ian com ferocidade —Quero umanova vida com você. Quero um filho.

— O que queira, farei o que você queira.

— Carinho...

Ian se deteve, devagar, acariciou seu sufocado e suarento semblantedurante um segundo e a olhou nos olhos, enquanto um nebuloso véu de lágrimasaparecia nos seu durante um fugaz instante.

— Sinto muito ter ocultado tantas coisas. Não voltarei a fazê-lo.

— Perdôo você meu amor.

— Dou graças a Deus por que tenha acreditado em mim.

— Claro que acredito — Georgiana agarrou sua mão e entrelaçou seus dedoscom os dele — Mas não tenha segredos comigo.

Ian negou com a cabeça e sua juvenil mecha de cabelo caiu sobre os olhos.

— Não farei. Dou minha palavra.

— Palavra de Cavalheiro — particularizou ela acariciando-o com adoração esem reparos.

O tímido sorriso que dedicou, ocultava sua expressão depois do escurocacho, produziu essa especial excitação que só Ian Prescott inspirava.

— Nem sempre — sussurrou o Marquês.

— Que sorte a minha! — exclamou Georgiana, e explodiu em gargalhadas deprazer e luxúria, enquanto ele punha todo seu empenho em demonstrar quantomau podia chegar a ser.

 

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Epílogo 

No buliçoso cais londrino do Rio Tamisa o aroma procedente do mercado depescado, impregnava o asfixiante ar do verão, enquanto as gaivotas grasnavamrevoando em atrás das sobras. O sol de verão cintilava com seus luminosos raiossobre a profunda superfície do rio esverdeado, enquanto inumeráveis esquifes ebarquinhos de pesca escapuliam entre os grandes navios. Nos próximos cais ondeGeorgie e Ian esperavam junto a Matthew, que ia pego a mão de seus pais,ouviam-se os rítmicos gritos dos marinheiros jogando músculo as suas tarefas.

Fazia apenas uns dias que tinham saído de Aylesworth Park a toda pressa aoreceber a mensagem de que a chegada dos irmãos de Georgiana era iminente.

Seu pai, Lorde Arthur Knight, viajava com Derek e Gabriel, em sua carta,contava que tinham conseguido reunir-se com seus filhos, quando o navio atracouem Portugal, para descarregar mercadorias da Índia.

Os três Prescott se encontravam junto ao rio, contemplando os navios comilusão, enquanto Ian ia assinalando ao seu filho as cenas mais dignas de ver.

“Formamos uma família inglesa perfeita” pensou Georgie sustentando umasombrinha sobre seu toucado para proteger do sol de meio dia.

Chegaram ao embarcadouro em duas carruagens, a grande carruagem decidade no qual viajava a família e uma carruagem descoberta para transportar a

bagagem dos recém-chegados.— Ali estão! — exclamou Ian de repente assinalando um longo navio que se

aproximava do cais, cheio de passageiros dispostos a desembarcar.

Georgie conteve o fôlego e esboçou um sorriso. Extasiada, não pode afastaro olhar quando viu que seus irmãos e seu pai aterrissavam no passadiço queconduzia ao cais.

Derek desceu de um salto e se virou para comprovar se Gabriel necessitavaajuda, o pai ficou atrás dele para sustentar o guerreiro ferido.

Gabriel avançou devagar e se encarapitou com cautela no passadiço.

Georgie imaginou que o orgulhoso Comandante devia detestar seu fracoestado de saúde, mas no que dizia respeito, só conseguia dar graças a Deus de

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que seguisse vivo.

— Por que não se adianta para saudá-los? — propôs Ian com doçura.

— Não se importa?

— Claro que não. Vai.

Georgiana dedicou uma expressão de amorosa gratidão... E logo sorriuincapaz de conter sua transbordada alegria. Entregou a sombrinha a um doscriados que aguardava junto a eles, recolheu as saias e saiu correndo para oembarcadouro para saudar sua família.

Seu pai foi o primeiro em vê-la do alto da passarela, atrás de Gabriel.

Alto e forte ainda atraente e robusto em seus sessenta anos, Lorde Arthurtirou o chapéu de duas pontas e saudou com ele a sua filha, esboçando um sorrisode orelha a orelha. A luz do sol se refletiu em seus espessos e brancos cachos,que, no passado, foram tão negros como os de seus irmãos.

— Papai! — exclamou Georgie, cujos passos ressonavam pelas tábuas doembarcadouro, enquanto ia esquivando dos marinheiros tatuados e das peixeirascom bandejas de arenques na cabeça.

Ao fim de uns segundos já se encontrava junto aos seus familiares e todos seabraçavam, alegres por estarem reunidos.

Georgie logo que podia falar embargada pela emoção de saber que tinhafaltado pouco para que a separação fosse permanente. Virou para Gabriel e oenvolveu em um carinhoso abraço.

— Acredito que nunca estive tão feliz de vê-lo como hoje. Como se encontra?

A jovem se afastou um pouco para examiná-lo e seu severo irmão maisvelho se limitou a inclinar a cabeça e a franzir os lábios. Georgiana acariciou suaface e se fixou em que estava mais magro e um pouco pálido. Seu curtido rostoacusava os rastros do sofrimento, mas advertia a mesma determinação de sempreem seus olhos azuis escuro.

— Meu irmão, o herói — disse Georgiana com lágrimas — Salvou nossasvidas e quase perde a sua. Mas agora já está aqui e vou cuidar de você até quefique bem.

— Perfeito, porque estou um pouco enojado de Derek — murmurou Gabriel

com secura.— Ah é! — protestou o irmão menor fingindo indignação enquanto os outros

riam — Não só é um ingrato, mas sim, além disso, é um infeliz. Teve-me preso depés e mãos cuidando dele todos os dias!

Gabriel dirigiu um sorriso sarcástico.

— Bem, bem... Onde está minha menina? — trovejou o pai.

Quando Lorde Arthur Knight abriu os braços, o rosto de Georgie iluminou ecorreu ao seu encontro.

— Velho patife! — exclamou a jovem dando um forte abraço em seu pai e

separando-se logo para fulminá-lo com o olhar — Acabaram-se as aventuras paravocê, Milorde! Se não, vai me dar um ataque de nervos! Jack terá que buscar outro

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voluntário, porque não vou deixar que parta outra vez. Entendeu?

— Silêncio, querida — Com uma gargalhada satisfeita, Lorde Arthur aseparou de si e a agarrou pelos ombros para olhá-la dos pés a cabeça, commanifesto orgulho — Ora, Ora... Milady se casou!

— Graças a mim — interveio Derek.Georgie se voltou com um amplo sorriso.

— Derek... Vem aqui, brilhante casamenteiro! — abraçou-o e o militardevolveu o gesto com um astuto e descomunal abraço — Sabe uma coisa? Àsvezes é o melhor irmão do mundo.

— Não é verdade que sim?

Georgiana pôs os olhos em branco.

— Certo. Diga-o já.

Derek esboçou um sorriso encantador.— Já disse isso.

Georgiana riu, fez um gesto de impotência e voltou a abraçá-lo. Derek aagarrou durante uns segundos e, sem trocar palavra, os dois souberam que nãoguardavam rancor, depois da discussão que tiveram ao partir de Janpur.

— Como vai à guerra? — perguntou Georgiana separando-se de seu irmão.

— Vai — respondeu Derek encolhendo os ombros — Não sabemos nadadesde que partimos da Índia, e isso faz já uns meses.

— Ainda estão sob as ordens do Coronel Montrose e têm que pedir aoParlamento novos recursos para o exército?

— Sim, que Deus tenha piedade de mim — comentou o militar arrastando aspalavras — Disse ao Gabriel que me ocuparia deste assunto. Deste modo, poderádedicar todos seus esforços a ficar bem. Por certo...

Derek jogou uma olhada em direção ao Ian, que caminhava junto a Matthewpelo embarcadouro para saudar seus novos parentes.

— O Rajá Johar descobriu que a Rani Sujana tentava assassinar a todos nóse... Enfim, digamos que se ocupou do problema ao estilo oriental.

— Ai, que espanto... — exclamou Georgie com uma careta de desgosto pelaquantidade de sangue que devia ter vertido, embora, de todos os modos, alegrou-se de coração por ouvir as notícias.

Se o Rajá Johar tinha ordenado que decapitassem, jogassem aos tigres oumaniatassem aos leais assassinos da Rani Sujana com algum recurso típico daimaginação oriental, isso significava que ninguém iria atrás deles. A partir deentão, cada noite, ao deitar Matthew, Georgiana poderia assegurar, absolutamenteconvencida, que sempre estaria a salvo.

Ian aceitou os apertões de mão e as felicitações de seu pai e de Gabriel porsuas bodas.

— Ah, olhe... — murmurou de repente Georgiana a Derek assinalando seupai, que acabava de conhecer seu novo neto — Recorda esse velho truque?

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Derek pôs os olhos em branco e riu.

— Vem aqui, jovem — ordenou Lorde Arthur a Matthew apresentando apalma da mão e assinalando-a com um dedo — Dê-me um murro com todas suasforças! Vejamos se está em forma!

Matthew olhou a Ian, atônito.— Vai, filho — murmurou seu pai com um olhar divertido que significava que

ele também recordava o gesto de Lorde Arthur, marca da casa, com o quedesafiava aos Knight e a ele de pequenos.

— Vamos, jovem! Bate forte! — apressou-o Lorde Arthur.

Matthew franziu o cenho, tornou para trás e golpeou a mão aberta de seunovo avô com todas suas forças. O homem, como era de esperar, deixou escaparum uivo de dor.

— Diabo, acredito que está quebrada! Droga, pequeno punho que tem o

pirralho!É claro, tudo formava parte da mesma pantomima.

Matthew olhou os outros com ar dúbio e, compreendendo a brincadeiraafinal, riu com eles.

— Deixa-o já, papai... — murmurou Gabriel dando uns golpezinhos no ombro— Faz trinta anos que faz a mesma brincadeira.

— Para ele é a primeira vez, não é verdade, menino? — Lorde Arthur,risonho, piscou o olho e alvoroçou seu cabelo.

Matthew decidiu nesse mesmo instante que ter um avô de verdade erafantástico e não demorou em pegar nas suas abas. Ao velho nababo, por sua vez,agradou muito seu valoroso e jovem neto adotivo e tomou sua mão com instintoprotetor.

Georgie observou a seu querido pai e a seu filhinho adotado caminhando juntos pelo cais, agarrados pela mão, e logo passeou o olhar pelos amado rostosde seus irmãos. Ambos pareciam contentes de que tivesse finalizado sua longa edifícil travessia.

Gabriel ainda devia guardar repouso durante um tempo e, quanto a Derek,apesar de que gastava uns modos tão irônicos e acalmados como sempre, parecia

que seu etéreo encanto exterior delatasse uma grave tristeza. Estar a ponto deperder Gabriel o tinha afetado muito mais do que estava disposto a admitir.

— Todos para as carruagens — se obrigou a dizer a jovem para superar o nóque fez na garganta — Vamos para casa.

— Não sei se chamaria isso de casa — comentou Derek entre dentes,examinando a desconhecida paisagem londrina.

Georgie se voltou para ele surpresa e ficou um pouco atrasada, enquanto Ianconduzia Gabriel pelo cais em direção às carruagens.

— Pensou em retornar à Índia?

— Quando tiver terminado minha missão, sim. Ah, não se apure, irmãzinha.Os filhos menores têm de fazer fortuna de algum modo.

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— Talvez conheça uma dama inglesa e terminará se casando e vivendo emLondres.

Derek estalou em uma gargalhada.

— Por que diabos cometeria uma tolice desse calibre, quando no Oriente há

tantas bailarinas? Além disso, tenho que retornar com meus homens. Estãoliberando uma batalha e eu deveria estar com eles.

Georgiana o olhou com nostalgia e Derek, indicando o embarcadouro comum Cavalheiresco gesto, convidou a passar adiante. Georgiana pôs-se a andar e seapressou a dizer a cada um como devia instalar-se nas carruagens.

— Caberemos todos? — perguntou Lorde Arthur ao ver a majestosacarruagem de passeio.

— Somos uma família e podemos nos apertar! — respondeu Georgiana comalegria.

— Isso não convém muito à ferida do Gabriel — murmurou Derek.— Sentem-se todos dentro. Eu conduzirei — ofereceu Ian.

— Que genro tão fantástico! — exclamou Lorde Arthur dando um carinhosotapinha nas costas do Marquês, quando este passou junto dele para subir à boleiado cocheiro.

— Ah, obrigado, Senhor — respondeu Lorde Griffith dedicando umencantador sorriso ao seu sogro e fazendo um gesto ao cocheiro para que seinstalasse na carruagem dos criados.

— Mas... O que dirão os londrinos quando virem Lorde Griffith conduzindo

sua própria carruagem? — enrolou Lorde Arthur com um brilho maligno em seusclaros olhos azul.

Ian lançou um olhar ladino.

— E a quem demônios importa o que pensem em Londres?

— Escandaliza-me, Lorde Griffith! Que idéias mais insensatas para umPrescott de sua categoria!

— Já sei — respondeu Ian com brutalidade — Tudo é por culpa de sua filha.Pulverizou nossas mais firmes tradições familiares.

— Possivelmente fez um favor — comentou o pai de Georgiana com um olharde inteligência, enquanto ajudava Matthew a subir a carruagem.

— Não duvide disso — respondeu Ian — Vamos, todos a bordo!

— Eu irei acima com você, meu esposo! — exclamou Georgie com alegriasubindo a boleia — Caso for deixar a todos com a boca aberta, eu ajudo!

— Tal e como deve ser... Minha leal e útil companheira — replicou Ian comuma expressão de sarcástico afeto.

Ajudou a subir à boleia e, ao fim de um momento, enquanto os quatropassageiros, o pai de Georgiana, Matthew e seus dois irmãos, se instalavam na

carruagem com elegância, todos ouviram claramente o curioso intercâmbio depalavras dos recém-casados.

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— Dê-me as rédeas, carinho.

— Mas Ian quero guiar a carruagem eu...

— Georgiana, me dê as rédeas.

Fez-se um longo silêncio infestado de recriminações.