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Correio da Feira 16.ABR.2012 16 Emigrou aos 26 anos. Viveu 10 anos no Brasil e 16 em França e regressou a “casa” na década de 80. Américo Correia é um dos mui- tos emigrantes feirenses que hoje recorrem ao Gabinete de Apoio às Comunidades Emigrantes, sedea- do em Lobão. A estrutura foi criada há 10 anos, numa parceria entre a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e o Ministério dos Negó- cios Estrangeiros, e, desde então, são muitos os que ali procuram resolver questões relacionadas com a permanência em países estrangeiros. Desde que abriu as portas, o Ga- binete de Apoio às Comunidades Emigrantes efectuou 12.149 aten- dimentos, sendo que o maior volu- me de procura registou-se no ano passado (1885 atendimentos), com 246 processos novos. Rober- tos Carlos Reis, responsável pelo gabinete, explica o aumento com a intensificação da emigração. “Há, de facto, um aumento de jovens interessados em procurar melhorar a sua condição salarial no estrangeiro” – explica. A crise está na base da maioria das deci- sões. “Mas não é uma emigração massiva”- ressalva. Segundo os dados, os novos emigrantes são, na maioria jovens com habilita- ções académicas elevadas e que procuram, no estrangeiro, melho- res salários. “Portanto, já não é o emigrante com uma escolaridade baixa e que procurava, sobretudo, empregos na área da construção civil”. A estatística revela ainda que do total de atendimentos realizados em 2012, 824 são mulheres e 1.061 são homens. O maior nú- mero de atendimentos aconteceu no mês de Março. Junho foi o mês em que o gabinete foi menos procurado. A freguesia de origem que regista maior número de atendimentos é Canedo, com 237. Registaram- se, no entanto, atendimentos de pessoas de outros concelhos, como Vila Nova de Gaia, Cin- fães, Penafiel, Arouca, Castelo de Paiva, Gondomar, S. João da Madeira, Vale de Cambra, Ovar, Estarreja, entre outras cidades estrangeiras. Diferente é também o processo de decisão destes jovens. Roberto Carlos Reis explica que, actual- mente, as pessoas interessadas em emigrar fazem-no de uma forma informada. “Querem saber mais sobre o país para onde que- rem viajar e vão já informados sobre os empregos disponíveis”. Portanto, longe vão os tempos da ”mala de cartão”. “Há outros que nos procuram precisamente para saber quais os países que ofere- cem melhores oportunidades”. No tempo de Américo Correia era tudo muito diferente. Partiu para o desconhecido, rumo ao Brasil. “Sai de Espargo e fui para o Rio de Janeiro e confesso que, na primeira semana, se tivesse estrada vinha embora a pé”. Mas não veio. Por ali ficou 10 anos. Trabalhou como empregado e, anos mais tarde, já geria a sua Há cada vez mais jovens feirenses que decidem procurar oportunidades de emprego no estrangeiro. Procuram melhores salá- rios, mas quando saem do país já sabem bem o que vão encontrar no país estrangeiro. O Gabinete de Apoio às Comunidades Emigrantes tem prestado essa ajuda que, em 2011, teve a maior procura de sempre, desde que abriu as portas em 2003. Sandra Moreno [email protected] Jovens feirenses estão a emigrar mas preparam-se para a nova vida Lobão // Gabinete de Apoio ao Emigrante registou o maior número de atendimentos em 2011

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Correio da Feira16.ABR.201216

Emigrou aos 26 anos. Viveu 10 anos no Brasil e 16 em França e regressou a “casa” na década de 80. Américo Correia é um dos mui-tos emigrantes feirenses que hoje recorrem ao Gabinete de Apoio às Comunidades Emigrantes, sedea-do em Lobão. A estrutura foi criada há 10 anos, numa parceria entre a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e o Ministério dos Negó-cios Estrangeiros, e, desde então, são muitos os que ali procuram resolver questões relacionadas com a permanência em países estrangeiros. Desde que abriu as portas, o Ga-

binete de Apoio às Comunidades Emigrantes efectuou 12.149 aten-dimentos, sendo que o maior volu-me de procura registou-se no ano passado (1885 atendimentos), com 246 processos novos. Rober-tos Carlos Reis, responsável pelo gabinete, explica o aumento com a intensificação da emigração. “Há, de facto, um aumento de jovens interessados em procurar melhorar a sua condição salarial no estrangeiro” – explica. A crise está na base da maioria das deci-sões. “Mas não é uma emigração massiva”- ressalva. Segundo os dados, os novos emigrantes são,

na maioria jovens com habilita-ções académicas elevadas e que procuram, no estrangeiro, melho-res salários. “Portanto, já não é o emigrante com uma escolaridade baixa e que procurava, sobretudo, empregos na área da construção civil”. A estatística revela ainda que do total de atendimentos realizados em 2012, 824 são mulheres e 1.061 são homens. O maior nú-mero de atendimentos aconteceu no mês de Março. Junho foi o mês em que o gabinete foi menos procurado.A freguesia de origem que regista

maior número de atendimentos é Canedo, com 237. Registaram-se, no entanto, atendimentos de pessoas de outros concelhos, como Vila Nova de Gaia, Cin-fães, Penafiel, Arouca, Castelo de Paiva, Gondomar, S. João da Madeira, Vale de Cambra, Ovar, Estarreja, entre outras cidades estrangeiras.Diferente é também o processo de decisão destes jovens. Roberto Carlos Reis explica que, actual-mente, as pessoas interessadas em emigrar fazem-no de uma forma informada. “Querem saber mais sobre o país para onde que-

rem viajar e vão já informados sobre os empregos disponíveis”. Portanto, longe vão os tempos da ”mala de cartão”. “Há outros que nos procuram precisamente para saber quais os países que ofere-cem melhores oportunidades”. No tempo de Américo Correia era tudo muito diferente. Partiu para o desconhecido, rumo ao Brasil. “Sai de Espargo e fui para o Rio de Janeiro e confesso que, na primeira semana, se tivesse estrada vinha embora a pé”. Mas não veio. Por ali ficou 10 anos. Trabalhou como empregado e, anos mais tarde, já geria a sua

Há cada vez mais jovens feirenses que decidem procurar oportunidades de emprego no estrangeiro. Procuram melhores salá-rios, mas quando saem do país já sabem bem o que vão encontrar no país estrangeiro. O Gabinete de Apoio às Comunidades Emigrantes tem prestado essa ajuda que, em 2011, teve a maior procura de sempre, desde que abriu as portas em 2003.

Sandra [email protected]

Jovens feirenses estão a emigrar mas preparam-se para a nova vida

Lobão // Gabinete de Apoio ao Emigrante registou o maior número de atendimentos em 2011

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empresa. Dali rumou para a França. Viveu na cidade da luz durante 16 anos. “E valeu a pena”- garante. Durante todo esse tempo, confessa nunca ter perdido o sonho de voltar. “Quando estamos longe do nosso país, é quando nos lembrámos mais dele”. Por isso, hoje a família e os amigos têm um significado mais especial, assim, como as cores de Portugal. “As saudades eram tantas que, assim que vim, quis reencontrar todos os meus amigos da escola e há 18 anos consecuti-vos que organizo um jantar com os antigos alunos da minha turma da escola primária”. No Gabinete de Apoio às Comuni-dades Emigrantes procura agora ajuda para resolver problemas relacionados com a sua pensão do Brasil. “É muita burocracia. Tem-lhe valido a ajuda desta estrutura que

o tem poupado a algumas viagens às terras de Vera Cruz. “Este é um dos problemas comuns, a resolução de problemas relacio-nados com a pensão e reformas. Mas tratamos de muitos outros, como equivalências de licenciatu-ras, de cartas de condução, ques-tões relacionadas com pensões de alimentos, entre muitas outras” – explica Roberto Carlos Reis, salientando, ser agora menor o tra-tamento de processos relacionados com a imigração. “Após a década de 90, verificou-se um aumento significativo da entrada no país de cidadãos estrangeiros, os quais muitos estão agora radicados no concelho da Feira, mas, desde o ano passado, que as entradas de novos cidadãos é muito reduzida. No concelho da Feira mantêm-se os 3.200 cidadãos estrangeiros”.