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PODER JUDICIÁRIO Gabinete do Desembargador Carlos Alberto França Agravos Regimentais em Apelações Cíveis nº 431625- 51.2013.8.09.0051 (201394316259) Comarca de Goiânia 1ª Agravante : Universidade Estadual de Goiás - UEG 2º Agravante : Estado de Goiás Agravado : Eurípedes Pinto Rabelo Júnior Relator : Desembargador Carlos Alberto França R E L A T Ó R I O E V O T O Cuida-se de Agravos Regimentais manejados pela Universidade Estadual de Goiás - UEG e pelo Estado de Goiás face à decisão monocrática (fls. 244/260) que deu parcial provimento ao apelo manejado pelo Estado de Goiás e negou seguimento ao recurso interposto pela Universidade Estadual de Goiás – UEG, ambos em desfavor de Eurípedes Pinto Rabelo Júnior , com base no artigo 557, caput e § 1º-A, do Código de Processo Civil. Agravo Regimental I, manejado por Universidade Estadual de Goiás - UEG (fls. 263/274): A agravante, em suas razões, tece, inicialmente, breve relatos dos fatos processuais e defende o cabimento do presente recurso regimental, bem como sua tempestividade e a dispensabilidade do preparo. Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 1

Gabinete do Desembargador Carlos Alberto França · Agravo Regimental I, manejado por Universidade Estadual de Goiás - UEG (fls. 263/274): A agravante, em suas razões, tece, inicialmente,

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Gabinete do Desembargador Carlos Alberto França

Agravos Regimentais em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259)

Comarca de Goiânia

1ª Agravante : Universidade Estadual de Goiás - UEG

2º Agravante : Estado de Goiás

Agravado : Eurípedes Pinto Rabelo Júnior

Relator : Desembargador Carlos Alberto França

R E L A T Ó R I O E V O T O

Cuida-se de Agravos Regimentais manejados pela

Universidade Estadual de Goiás - UEG e pelo Estado de Goiás face à

decisão monocrática (fls. 244/260) que deu parcial provimento ao apelo

manejado pelo Estado de Goiás e negou seguimento ao recurso interposto

pela Universidade Estadual de Goiás – UEG, ambos em desfavor de

Eurípedes Pinto Rabelo Júnior, com base no artigo 557, caput e § 1º-A,

do Código de Processo Civil.

Agravo Regimental I, manejado por Universidade Estadual de Goiás -

UEG (fls. 263/274):

A agravante, em suas razões, tece, inicialmente, breve

relatos dos fatos processuais e defende o cabimento do presente recurso

regimental, bem como sua tempestividade e a dispensabilidade do preparo.

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Suscita a preliminar de carência de ação, pela

impossibilidade jurídica do pedido do autor/agravado, em virtude da

vedação ao controle do mérito administrativo pelo Poder Judiciário, sob

pena de ofensa ao princípio da separação dos poderes.

Verbera, “No caso em tela, como as regras editalícias

foram editadas em respeito à legislação e aos princípios norteadores do

direito pátrio, não há que se falar em necessidade de controle pelo

Judiciário do mérito administrativo.”, sob pena de substituir a banca

examinadora e rever os critérios de eliminação, o que lhe é vedado (fl.

269).

No mérito, reitera estar a avaliação psicológica respaldada

em exigência legal, observando critérios previamente estabelecidos, não se

revestindo a eliminação do agravado de qualquer ilegalidade, “de modo

que a alteração no resultado ou a submissão do Requerente a nova

avaliação psicológica implicaria violação aos Princípios da Legalidade,

da Isonomia e da Separação Dos Poderes, pois seria uma invasão de

competência exclusiva da Administração Pública” (fl. 272).

Entende que o recorrido deveria ter-se insurgido contra o

edital que regula o certame no momento em que dele tomou conhecimento,

tendo quedado-se inerte, restando, portanto, precluso seu direito de

impugnação. “Portanto, como houve o prévio conhecimento geral sobre os

critérios de avaliação psicológica, a participação dos interessados no

certame implica aceitação do edital em todos os seus termos.” (fl. 274).

Pugna pelo conhecimento e provimento do presente recurso,

para a retratação deste Relator em relação à decisão agravada ou seja o

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recurso analisado pelo Colegiado deste Tribunal de Justiça.

Prequestiona a matéria suscitada, para fins de interposição

de recurso aos Tribunais Superiores.

Ausência de preparo, em virtude de benefício legal

concedido às autarquias.

Agravo Regimental II, manejado pelo Estado de Goiás (fls. 301/319):

Compulsando o segundo recurso, a agravante, após defender

sua tempestividade, tece considerações acerca do cabimento do presente

recurso regimental à espécie, o qual, no seu entender, “não se destina, a

priori, a apresentar argumentos ou fatos novos; destina-se, isto sim, a

apresentar os argumentos tecidos no recurso originário ao Órgão

Colegiado, a fim de que este avalie a correção e adequação da decisão do

Relator” (fl. 305).

Advoga que o caso em comento não se enquadra nas

hipóteses de cabimento do julgamento monocrático, requerendo expressa

manifestação do Órgão Colegiado sobre a matéria discutida, sob pena de

violação ao artigo 93, IX, da Constituição Federal.

No mérito, após discorrer sobre os fatos processuais, reitera

que não poderia ter ocorrido o julgamento de forma monocrática no caso

em exame, “ante a ausência de identidade de tratamento da matéria pela

sentença apelada e os precedentes jurisprudenciais dos Tribunais

Superiores e do próprio Tribunal de Justiça de Goiás” (fl. 308).

Afirma que a declaração de nulidade do exame psicotécnico

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em concurso público deve resultar na determinação de submissão do

candidato a novo exame, observados os critérios e métodos objetivos e a

necessária fundamentação da decisão.

Colaciona julgados com o escopo de socorrer o direito

angariado.

Defende a validade do exame psicotécnico ao qual se

submeteu o recorrido, posto observadas as exigências legais, quais sejam,

previsão legal; critérios técnicos, científicos e objetivos e contraditório,

transcrevendo trechos do edital que regulou o certame.

Assevera inexistir subjetividade na prova psicotécnica, não

sendo exigido, outrossim, a divulgação dos métodos avaliativos utilizados

pela banca examinadora.

Conclui, “Considerando que a Administração, em momento

algum, privou a possibilidade de revisão da avaliação e tampouco o

conhecimento das razões da exclusão do concurso, não há que se falar em

ato ilegal por violação ao contraditório ou ao princípio da

motivação/publicidade dos atos administrativos.” (fl. 318).

Requer, ao final, a reconsideração do julgamento

monocrático ou a apreciação do recurso pelo Colegiado, prequestionando

as matérias suscitadas.

Preparo dispensável.

É o relatório. Passo ao voto.

Da análise das razões dos recursos interpostos, depreende-se

que suas pretensões residem na reforma da decisão monocrática que deu

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parcial provimento ao apelo manejado pelo Estado de Goiás e negou

seguimento ao recurso interposto pela Universidade Estadual de Goiás –

UEG, com base no artigo 557, caput e § 1º-A, do Código de Processo

Civil.

Incide, assim, a regra inserta no artigo 557, § 1º, do Código

de Processo Civil.

Em nota ao parágrafo 1º do artigo 557 do Código de

Processo Civil, Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery

lecionam:

“A norma prevê recurso de agravo interno contra o ato decisório,

singular, do relator, de inadmissibilidade, provimento ou

improvimento do recurso. [...] Hoje cabe esse novo agravo, não

apenas do indeferimento liminar do agravo de instrumento pelo

relator, mas da decisão monocrática de indeferimento, provimento ou

improvimento de qualquer recurso, proferida pelo relator. O agravo

interno deve ser julgado pelo órgão colegiado do tribunal competente

para conhecer e julgar o recurso indeferido, provido ou improvido

pelo relator”. (in Código de Processo Civil Comentado e legislação

extravagante, Ed. Revista dos Tribunais, 7ª edição, São Paulo, pág.

951).

De inteira pertinência ao tema versado, a jurisprudência:

"Agravo Interno. Decisão unipessoal que nega seguimento a recurso

de Apelação cível pelo art. 557 do CPC. Regimental. Fungibilidade.

(...) 1 - Aplica-se o princípio da fungibilidade para possibilitar o

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conhecimento de agravo regimental, manejado com base tão-só no

art. 364 do RITJGO, como agravo, previsto no § 1º do art. 557 do

CPC, sendo este direcionado em face de decisão unipessoal que nega

seguimento a recurso. (...)" (TJGO, 1ª CC, DGJ nº 19.577-4/195, Rel.

Dr. Carlos Alberto França, DJ 461 de 17/11/2009).

Convém ressaltar, inicialmente, ser perfeitamente

admissível, como ocorreu na espécie, o julgamento monocrático dos

apelos, nos termos do artigo 557, do CPC, tratando-se de matéria que

encontra-se prevalecente na jurisprudência do STJ e desta Corte de Justiça,

a fim de desobstruir as pautas dos tribunais, bem como garantir efetividade

aos princípios da celeridade e da economia processual, os quais, com a

promulgação da Emenda Constitucional n. 45, de 08/12/2004, ganharam

status de direito fundamental. A propósito:

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – MANDADO DE

SEGURANÇA - TRANSPORTE IRREGULAR - APREENSÃO DO

VEÍCULO – EXIGÊNCIA DO PAGAMENTO DE MULTA E

DESPESAS COM REMOÇÃO E ESTADIA – SEGURANÇA

CONCEDIDA EM PARTE PARA AFASTAR O PAGAMENTO DA

MULTA - APELAÇÃO – SEGUIMENTO NEGADO - AGRAVO

INTERNO - APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 557, § 2º, DO CPC -

PRETENDIDA VIOLAÇÃO DO ART. 557, CAPUT E § 2º –

AFASTAMENTO DA MULTA DO §2º DO ART. 557. 1. A aplicação do

art. 557 do CPC não configura restrição ao direito recursal das

partes, pois pretendeu o legislador, ao alterar referido dispositivo

pelas Leis 9.139/95 e 9.756/98, propiciar maior dinâmica aos

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julgamentos dos Tribunais, evitando-se, desta forma, enormes pautas

de processos idênticos versando sobre teses jurídicas já

sedimentadas. 2. Não se pode considerar protelatório o agravo

regimental interposto com o objetivo de esgotar a instância e

viabilizar o acesso aos recursos extraordinários. 3. A reconhecida

ausência de interesse em recorrer da Municipalidade, por meio de

decisão monocrática e referendada em agravo interno, efetivamente

se mostrou correto, pois, segundo afirma a própria Municipalidade,

em suas razões de apelação, "consoante indicado na peça

informativa, a autoridade não vem exigindo o pagamento da multa

para liberar o veículo" (fl. 56). 4. Recurso especial provido em

parte.” (STJ. REsp 969650 / SP. 2ª Turma. Rel. Min. Eliana Calmon.

DJ em 21/10/2008)

“PROCESSUAL CIVIL - APLICAÇÃO DO ART. 557 DO CPC -

LITIGÂNCIA DE MÁ-FE NÃO CONFIGURADA - MULTA

AFASTADA. 1. O julgamento monocrático pelo relator encontra

autorização no art. 557 do CPC, que pode negar seguimento a

recurso quando: a) manifestamente inadmissível (exame preliminar

de pressupostos objetivos); b) improcedente (exame da tese jurídica

discutida nos autos); c) prejudicado (questão meramente processual);

e d) em confronto com súmula ou jurisprudência dominante do

respectivo Tribunal, do STF ou de Tribunal Superior. 2.

Monocraticamente, o relator, nos termos do art. 557 do CPC, poderá

prover o recurso quando a decisão recorrida estiver em confronto

com súmula do próprio Tribunal ou jurisprudência dominante do STF

ou de Tribunal Superior (art. 557, § 1º do CPC). 3. A decisão

monocrática, confirmada por julgamento do órgão colegiado, pode

chegar a exame do STJ e/ou STF, a partir das teses prequestionadas

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nos precedentes invocados pelo relator. 4. Não se configura litigância

de má-fé a interposição de agravo regimental, com amparo no art.

557, § 1º do CPC, quando a parte tem obrigação de esgotar a

instância para, somente depois, ter acesso à instância extraordinária.

5. Multa por litigância de má-fé que se afasta. 6. Recurso especial

provido em parte.” (STJ. REsp 622821 / SP. 2ª Turma. Rel. Min.

Eliana Calmon. DJ em 23/08/2004)

Assim, estreme de dúvida que, com a nova redação dada

pela Lei n. 9.756/98 ao artigo 557, do Código de Processo Civil, buscou o

legislador tornar a justiça mais confiável e célere, conferindo ao relator o

poder/dever de negar seguimento àqueles recursos manifestamente

contrários à jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo

Tribunal Federal ou de Tribunal Superior, e neste diapasão os argumentos

são consistentes e razoáveis militando a favor de sua aplicação.

Registre-se que este Relator, ao apreciar monocraticamente

os apelos interpostos pelos requeridos, o fez com base em entendimentos

jurisprudenciais do Superior Tribunal de Justiça e deste Sodalício local, nos

termos do permissivo legal trazido pelo artigo 557, do Código

Instrumental.

Assim, não há qualquer vedação na aplicação do dispositivo

suso transcrito.

Passo, pois, à analise de ambos os agravos regimentais

conjuntamente.

De uma leitura atenta das peças que compõem estes autos, e

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analisando uma vez mais as argumentações expendidas pelos recorrentes e

as peças acostadas ao caderno processual, constato que estes não trouxeram

qualquer fato novo que pudesse ensejar a reconsideração do entendimento

anteriormente adotado.

In casu, os agravos regimentais não conseguem

desconstituir a decisão do Relator, demonstrando o seu equívoco, ou

desacerto, motivo pelo qual não merecem provimento. Ao contrário, os

pontos ora suscitados estão devidamente alicerçados na doutrina, na lei

processual vigente e, inclusive, em jurisprudência desta Corte e dos

Tribunais Superiores.

Por oportuno, transcrevo a integralidade da fundamentação

da decisão agravada, para que seja submetida à apreciação do órgão

colegiado:

“Pressentes os pressupostos de admissibilidade recursal, passo à

análise de ambos os recursos de forma concomitante.

Atinente à preliminar arguida pela parte requerida/segunda apelante,

consubstanciada na carência de ação pela impossibilidade jurídica

do pedido, dada a vedação do controle do mérito administrativo pelo

Poder Judiciário, não há como dar azo à sua pretensão.

Ora, ante à evidência de eventual prática que macule direitos

constitucionalmente ou mesmo legalmente protegidos, ainda que na

esfera administrativa, tem-se por pertinente a interposição de ação no

Judiciário, justamente para afastar tais práticas.

Sobre o tema, impende esclarecer que a possibilidade jurídica do

pedido, uma das condições da ação, não se confunde com a

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viabilidade jurídica do pedido. Desse modo, pode-se dizer que um

pedido é juridicamente possível quando inexistente qualquer vedação

expressa em lei que possa torná-lo inviável ou até mesmo ilícito.

Dito isso, verifico que, na situação vertente, não há no ordenamento

jurídico pátrio nenhuma proibição legal quanto à pretensão deduzida

em juízo pelo autor, razão pela qual rejeito a preliminar suscitada

pela Universidade, segunda apelante.

Sobre o tema, decidiu o Supremo Tribunal Federal da seguinte

maneira:

“O controle jurisdicional dos atos administrativos discricionários não

viola o princípio constitucional da separação dos poderes.

Precedente: ARE 759.108-AgR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira

Turma, Dje 30/10/2014, e ARE 806.492-AgR, Rel. Min. Gilmar

Mendes, Segunda Turma, Dje 5/6/2014.” (STF, 1ª Turma, ARE

826467 AgR/RJ Rel. Min. Luiz Fux, in DJe-245, de 15-12-2014).

“(...) O exame da legalidade dos atos administrativos pelo Poder

Judiciário não ofende o princípio da separação dos Poderes.” m(STF,

1ª Turma, ARE 831211 AgR/AC, Rel. Min. Rosa Weber, in DJ2- 201,

de 15-10-2014).

No mesmo sentido segue a jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça:

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. MANDADO

DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. ART. 535 DO CPC.

OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA.

IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. INOCORRÊNCIA.

(...) Segundo entendimento jurisprudencial e doutrinário, a tese de

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impossibilidade jurídica do pedido somente deve ser reconhecida

quando há expressa vedação do pedido no ordenamento jurídico, o

que não ocorre nos autos. Agravo regimental improvido.” (STJ –

AgRg no REsp. Nº 1.191.364 DF 2010/0078712-0, Relator: Ministro

Cesar Asfor Rocha, Data de Julgamento: 19/05/2011, T2 – Segunda

Turma, Data de Publicação: DJe 03/06/2011).

Em casos análogos, assim tem decidido esta Egrégia Corte:

“MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO DA

POLÍCIA MILITAR ESTADUAL. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA E

IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO (VEDAÇÃO DO

CONTROLE DO MÉRITO ADMINISTRATIVO PELO PODER

JUDICIÁRIO). NÃO OCORRÊNCIA. DIREITO LÍQUIDO E CERTO

CONFIGURADO. MATÉRIA DE MÉRITO. CANDIDATOS SUB

JUDICE. ALTERAÇÃO NA CLASSIFICAÇÃO DO IMPETRANTE,

REGULARMENTE APROVADO. NECESSIDADE DE CONFECÇÃO

DE LISTA INDEPENDENTE. SEGURANÇA CONCEDIDA. 1 - Não

há falar em inadequação da via eleita se o writ é impetrado no afã de

obstar ilegalidade ou abuso de poder por parte de autoridade

pública. 2 - Não se vislumbra carência de ação, por impossibilidade

jurídica do pedido, em razão de suposta vedação do controle do

mérito administrativo pelo Poder Judiciário, porquanto o exame da

legalidade dos atos administrativos pelo último, consoante

jurisprudência há muito consagrada, não ofende o princípio da

separação dos Poderes. 3 - A verificação do direito líquido e certo do

impetrante constitui matéria inerente ao próprio meritum causae,

razão de ser examinada em conjunto com este. 4 - (…) Segurança

concedida.” (TJGO, MANDADO DE SEGURANCA 98406-

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45.2014.8.09.0000, Rel. DR(A). EUDELCIO MACHADO

FAGUNDES, 2A CAMARA CIVEL, julgado em 27/01/2015, DJe 1723

de 06/02/2015).

“AÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO

DA POLÍCIA MILITAR. REGRA QUE CONSIDERA INAPTO

CANDIDATO COM TATUAGEM. PRELIMINAR DE

IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO AFASTADA.

PREVISÃO EDITALÍCIA ABUSIVA. 1. Não procede a preliminar de

carência de ação, vez que não há que se falar em impossibilidade

jurídica do pedido ante a vedação do controle do mérito

administrativo pelo Poder Judiciário, tampouco em preclusão do

direito de impugnar o edital, quando cabe ao Poder Judiciário

averiguar o aspecto da legalidade do edital, quanto à sua

conformação com o Direito, especificamente com a Constituição, bem

como quando é legítimo o exercício do direito da ação mandamental

a partir da efetiva produção de efeitos da regra editalícia. 2. Ainda

que prevista em edital, a regra que considera inapto candidato com

tatuagem revela-se abusiva, na medida em que os critérios aferíveis

em concurso público devem guardar correlação com as

especificidades da profissão, com o fundamento constitucional do

pluralismo e com o princípio da isonomia. SEGURANÇA

CONCEDIDA.” (TJGO, MANDADO DE SEGURANCA 366060-

02.2013.8.09.0000, Rel. DES. CARLOS ESCHER, 4A CAMARA

CIVEL, julgado em 06/02/2014, DJe 1485 de 13/02/2014).

Logo, não há falar em carência de ação pela impossibilidade jurídica

do pedido, o que leva à rejeição da preliminar arguida pela segunda

apelante.

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Dito isso, passo ao mérito.

Consoante relatado, trata-se de apelações cíveis interpostas por

Estado de Goiás e Universidade Estadual de Goiás UEG contra

sentença prolatada pelo juízo da 3ª Vara da Fazenda Pública

Estadual da Comarca de Goiânia, nos autos da ação ordinária com

pedido de antecipação de tutela, proposta por Eurípedes Pinto Rabelo

Júnior em desfavor do Estado de Goiás e da Universidade Estadual

de Goiás UEG.

O autor, ora apelado, insurgiu contra o resultado da fase do exame

psicológico para o cargo de Praça – Soldado de 2º classe da Polícia

Militar do Estado de Goiás por entender que sua eliminação na fase

final do certame, no teste psicológico, se deu de forma indevida.

A sentença, da lavra do Dr. Ari Ferreira de Queiroz, foi assim

redigida em sua parte dispositiva:

“Em face do exposto, por falta de objetividade nos critérios da

avaliação psicológica, hei por bem julgar procedente o pedido e

confirmar a liminar para declarar o autor aprovado nessa etapa e

habilitado a prosseguir rumo às demais.

Condeno o Estado de Goiás ao pagamento das custas processuais e

honorários advocatícios que arbitro em R$ 2.000,00 com fulcro no

art. 20, § 4º do Código de Processo Civil.

P. R. I.”

O cerne da controvérsia cinge-se, em síntese, no reconhecimento da

legalidade do ato administrativo que considerou o autor inapto no

exame psicotécnico, teste este que constituía etapa obrigatória e

eliminatória do concurso público para o provimento de cargos de

Soldado da Polícia Militar do Estado de Goiás.

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Com efeito, comungo do entendimento consistente no fato de ser

aceitável que os órgãos públicos, na seleção de seus futuros

servidores, utilizem o teste psicológico previsto em lei, como forma de

escolha daqueles cujo perfil mais se aproxime do patamar

considerado adequado para o serviço público, desde que, obviamente,

tal avaliação obedeça parâmetros previamente traçados no edital e

siga critérios que possam ser objetivamente estabelecidos pelos

candidatos.

No entanto, a meu ver, na hipótese vertente, procede o inconformismo

do apelado, uma vez que sua eliminação do certame, em razão de sua

inaptidão no exame psicológico ao qual foi submetido, padece de

razoabilidade, proporcionalidade e objetividade, na medida em que o

exame psicológico não representa suporte constitucional para afastar

concursandos, quando amparado em critérios puramente subjetivos.

Sabe-se que o edital de realização de qualquer concurso público é o

caminho pelo qual se guiará o candidato para verificação das regras

e exigências que lhe estão sendo impostas.

Como afirma Hely Lopes Meirelles, “a Administração é livre para

estabelecer as bases do concurso e os critérios de julgamento, desde

que o faça com igualdade para todos os candidatos, tendo, ainda, o

poder de, a todo tempo, alterar as condições e requisitos de admissão

dos

concorrentes, para melhor atendimento do interesse público” (In,

“Direito Administrativo Brasileiro”, Malheiros Editores, 18ª ed., p.

376).

Entretanto, a liberdade do Poder Público deve estar sempre orientada

pelos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade,

moralidade e publicidade (artigo 37, da CF), a fim de satisfazer e

demonstrar transparência, propiciando iguais oportunidades a todos

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 14

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os interessados.

A Constituição Federal prevê que os cargos, empregos e funções

públicas são acessíveis aos brasileiros que preencherem os requisitos

estabelecidos em lei (art. 37, inciso I), e a investidura neles depende

de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e

títulos. Daí emergem as duas condições ou requisitos ao concurso:

ser público e em condições iguais para todos os candidatos e que a

seleção seja objetiva.

Do contexto probatório ressai que o recorrido ajuizou a presente ação

estribado no argumento de que, como candidato do concurso para

Formação de Praças-Soldados da PMGO, objeto de certame

veiculado no edital n.º 01/PM/SSP/SECTEC – GO, de 17.10.2012,

logrou êxito na primeira e segunda fases do certame, contudo, na

terceira etapa, alusiva à avaliação psicológica, foi considerado

inapto para o ingresso nos quadros da corporação.

Infere-se, ainda, dos autos, que o “desligamento” do recorrido do

concurso teve como causa sua reprovação no exame psicotécnico que,

despojado de um grau mínimo de objetividade, não se presta à

aferição da capacitação do candidato para efeito classificatório.

Incontroverso que a adoção de critérios estritamente subjetivos

naquele exame não encontra respaldo na jurisprudência

predominante dos Tribunais Superiores, mesmo porque, admitido tal

critério, defeso seria ao Judiciário aferir eventual lesão a direito

individual.

Deste modo, a advir a inabilitação do recorrido de avaliação sigilosa

e/ou subjetiva, uma vez não revelados os métodos utilizados, não se

mostra admissível seu tolhimento às fases subsequentes do citado

curso de formação de praças e soldados da PMGO.

A respeito, confira-se o julgado deste Sodalício:

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 15

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“AGRAVO REGIMENTAL EM DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA. DE NULIDADE DE

ATO ADMINISTRATIVO C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONCURSO

PÚBLICO PARA SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR. EXAME

PSICOTÉCNICO. EXCLUSÃO DO CERTAME. CRITÉRIOS

SUBJETIVOS. INADMISSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE FATO NOVO.

PREQUESTIONAMENTO. 1. Apesar da aceitabilidade da tese no

sentido de que os órgãos públicos, na seleção de seus futuros

servidores, utilizem o teste psicológico previsto em lei, como forma de

escolha daqueles cujo perfil mais se aproxime do patamar

considerado adequado pela entidade, tal avaliação deve obedecer

parâmetros previamente traçados no edital, seguindo critérios que

possam ser objetivamente estabelecidos pelos candidatos. 2. O exame

psicotécnico deve adotar critérios científicos objetivos sobre a

personalidade do candidato para aferição isenta de sua capacitação

profissional, não é válida a apreciação meramente subjetiva, que

pode ensejar insegurança jurídica, impossibilidade de aferição da

correção da avaliação, além de propiciar o desvirtuamento do

resultado por arbítrio ou abuso de poder. 3. A ausência de motivação

no exame psicotécnico da exclusão do candidato do concurso público

violam os consagrados princípios constitucionais do direito de defesa

e do contraditório, isto à luz das disposições da Súmula 684, do STF,

ao preconizar a inconstitucionalidade do veto imotivado de

participação de candidato a concurso público. 4. É permitido à

administração pública rever os atos de seus agentes e/ou prepostos, a

invalidá-los se comprovadamente ilegais; entretanto, não exercitada a

prerrogativa, incumbe ao Judiciário perquirir da validade ou não do

ato impugnado, como ocorre no caso. 5. Desmerece censura a

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 16

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decisão monocrática atacada, devendo, pois, ser preservada,

sobretudo porque ausentes elementos e/ou fatos novos a ensejar sua

modificação. 6. Para fins de prequestionamento basta que a decisão

recorrida adote fundamentação suficiente para dirimir a controvérsia,

sendo desnecessária a manifestação expressa sobre todos os

argumentos e dispositivos legais apresentados pelas partes AGRAVO

REGIMENTAL CONHECIDO, PORÉM IMPROVIDO.” (TJGO,

DUPLO GRAU DE JURISDICAO 256340-49.2010.8.09.0051, Rel.

DES. MARIA DAS GRACAS CARNEIRO REQUI, 1A CAMARA

CIVEL, julgado em 05/06/2012, DJe 1083 de 18/06/2012).

“AÇÃO DE NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO. CONCURSO

PÚBLICO POLÍCIA MILITAR. FORMAÇÃO DE CADETE.

CANDIDATO SOLDADO. CONTRA INDICAÇÃO EM EXAME

PSICOLÓGICO. ANTERIOR APROVAÇÃO EM EXAME. LAUDO E

PARECER PSICOLÓGICO QUE REFUTAM A CONTRA-

INDICAÇÃO. DOSSIÊ FUNCIONAL E DECLARAÇÃO

FAVORÁVEIS. CONSEQUENTE HABILITAÇÃO PSICOLÓGICA DO

CANDIDATO AO INGRESSO NO CURSO. ATO ADMINISTRATIVO

VIOLADOR DOS PRINCÍPIOS/CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE E

PROPORCIONALIDADE. 1- Se o soldado militar candidato ao

Curso de Formação de Oficiais foi contra-indicado em exame

psicológico (embora nele já aprovado em exame anterior, quando

ingressou na carreira militar a nove anos), e seu Dossiê funcional e

Declaração do Departamento de Psicologia da corporação militam

sobremaneira à seu favor, bem como a posterior conclusão do Laudo

e Parecer Psicológico contrariam a avaliação da inaptidão

destacando a irregularidade na aplicação do teste pela banca do

certame, impõe-se reconhecer sua higidez psíquica que deve ser

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 17

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considerada apta, até o presente momento, ao exercício do cargo de

Cadete bem como para frequentar o referido curso. 2- Admite-se a

reversão do ato administrativo quando padece de nulidade por violar

os princípios/critérios da razoabilidade e proporcionalidade, vez que

a discricionariedade da Administração Pública não é absoluta e

intangível, porquanto não está autorizada a afrontar a lei. REMESSA

OBRIGATÓRIA E APELO CONHECIDOS E DESPROVIDOS.

SENTENÇA MANTIDA.” (TJGO, DUPLO GRAU DE JURISDICAO

242068-50.2010.8.09.0051, Rel. DES. CAMARGO NETO, 6A

CAMARA CIVEL, julgado em 31/01/2012, DJe 1009 de 23/02/2012).

“MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CURSO

DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS DA POLÍCIA MILITAR. AVALIAÇÃO

PSICOLÓGICA. AUSÊNCIA DE CRITÉRIOS CLAROS E

OBJETIVOS. CONSTATAÇÃO. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS

CONSTITUCIONAIS. ELIMINAÇÃO DE CANDIDATO POR ESSE

MOTIVO DECLARADA INSUBSISTENTE. 1 - Apesar da

aceitabilidade da tese no sentido de que os órgãos públicos, na

seleção de seus futuros servidores, utilizem o teste psicológico

previsto em lei, como forma de escolha daqueles cujo perfil mais se

aproxime do patamar considerado adequado pela entidade, tal

avaliação deve obedecer parâmetros previamente traçados no edital,

seguindo critérios que possam ser objetivamente estabelecidos pelos

candidatos. 2 - Nesse trilho, a eliminação de candidato em sede de

exame psicológico destituído de critérios claros e objetivos, configura

ato desproporcional e desarrazoado, não se amoldando aos nossos

princípios constitucionais, mormente no presente caso, onde se

constatou que pouco mais de 2 (duas) semanas antes o impetrante foi

considerado apto em teste psicológico, ao qual foi submetido por

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 18

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ocasião do certame para ingresso da carreira de Soldados do Corpo

de Bombeiros Militar do Estado de Goiás. 3 - As ingerências do

Poder Judiciário, por violação ao princípio implícito da

razoabilidade, não caracteriza violação do mérito administrativo,

pois hodiernamente, o controle de legalidade vem sendo exercido de

forma ampla, a abranger a compatibilidade com a lei e com as regras

constitucionais, inclusive os princípios de caráter normativo. 4 -

Ordem mandamental concedida para restituir ao impetrante o direito

de prosseguir no certame até seus ulteriores termos, mediante

ressalvas pré-estabelecidas. SEGURANÇA CONCEDIDA.” (TJGO,

MANDADO DE SEGURANCA 237887-62.2010.8.09.0000, Rel. DES.

KISLEU DIAS MACIEL FILHO, 4A CAMARA CIVEL, julgado em

13/01/2011, DJe 749 de 31/01/2011).

Por oportuno, transcrevo os precedentes do colendo Superior

Tribunal de Justiça, verbis:

“ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. CONCURSO

PÚBLICO. EXAME PSICOLÓGICO. CRITÉRIOS SUBJETIVOS E

AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO DO ATO QUE DECLAROU O

CANDIDATO NÃO RECOMENDADO. NULIDADE DA AVALIAÇÃO.

NECESSIDADE DE NOVO EXAME. 1. Hipótese em que o Tribunal

de origem, não obstante tenha reconhecido o caráter subjetivo da

avaliação psicológica a que foi submetida o recorrente, como também

a ausência de motivação do laudo que o declarou não recomendado,

entendeu por bem afastar a alegada nulidade do exame, em razão da

natureza especial do cargo, que envolve atividade policial,

assentando que o laudo oficial, realizado por profissionais que

possuem o conhecimento técnico e científico, deve ser prestigiado,

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 19

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negando-se admissão do candidato que não se enquadre nas

exigências para o desempenho do cargo. 2. Ao assim proceder, o

acórdão recorrido contrariou a jurisprudência desta Corte que exige

a adoção de critérios objetivos nos testes psicológicos e a

possibilidade de revisão do seu resultado, como também a que requer

que todo ato administrativo seja devidamente motivado, nos termos

do artigo 50, I, da Lei 9.784/99, o que, obviamente, só é possível com

a obtenção, de uma forma clara, motivada e compreensível, das

razões pelas quais o candidato foi considerado inapto no certame.

Uma vez declarada a nulidade do teste psicotécnico, deve o candidato

se submeter a outro exame. Precedentes: RMS 32.813/MT, Rel. Min.

Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 24/05/2013; REsp 991.989/PR,

Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 03/11/2008; MS 9.944/DF,

Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, DJ 13/06/2005;

AgRg no RMS 31.067/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta

Turma, DJe 22/08/2012; AgRg no RMS 27.105/PE, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 28/09/2011; AgRg no

REsp 1.326.567/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda

Turma, DJe 21/11/2012. 3. Recurso especial provido, para determinar

a submissão do candidato a novo exame psicotécnico, a ser aplicado

em conformidade com as normas pertinentes, a partir de critérios de

avaliação objetivos, resguardada a publicidade e motivação a ele

inerentes.” (REsp 1444840/DF, Rel. Ministro BENEDITO

GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/04/2015, DJe

24/04/2015).

“ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO

REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCURSO

PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO. LEGALIDADE. REVISÃO

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 20

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DOS REQUISITOS. APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO

JURISPRUDENCIAL. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO.

AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. A jurisprudência do

Superior Tribunal de Justiça se firmou no sentido de que a realização

de exames psicotécnicos em concursos públicos é legítima se houver

previsão legal e editalícia, além de serem objetivos os critérios

adotados para a avaliação e couber a interposição de recurso contra

o resultado. 2. (...) 3.(...) 4. Agravo regimental a que se nega

provimento.” (AgRg no Ag 1193784/GO, Rel. Ministro MARCO

AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 08/05/2014,

DJe 14/05/2014).

“EMENTA: “ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.

CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO. AUSÊNCIA DE

DEFINIÇÃO DOS CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA AVALIAÇÃO DO

CANDIDATO. É uníssono o entendimento proclamado no âmbito

deste Tribunal no sentido de não admitir exame psicotécnico segundo

critérios subjetivos e sigilosos, devendo impor critérios objetivos, que

não permitam procedimento seletivo discriminatório pelo eventual

arbítrio. Agravo Regimental a que se nega provimento.” (STJ, 6ª

Turma, Rel. Min. Paulo Medina, AgRg no REsp 443827/BA, DJ

24.10.2005, p. 391).

Nesta seara, a exclusão desmotivada de candidato à participação no

concurso é medida que se afigura manifestamente desprovida de

liceidade; a uma, por eivada de inconstitucionalidade e, a duas, por

se contrapor ao enunciado sumular nº 684 do STF, que assim dispõe:

“É inconstitucional o veto não motivado à participação de candidato

a concurso público.”

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 21

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In casu, entre os documentos juntados pela parte autora às fls. 09/10

se encontra o resultado da avaliação psicológica sem assinatura,

apenas com a conclusão da inaptidão do concursado, ora recorrido,

baseado em critérios extremamente vagos e imprecisos.

Como bem registrou o magistrado singular em sua sentença sobre a

ausência de objetividade do teste psicológico aplicado:

“Sem questionar as habilidades profissionais do psicólogo – se é que

redigido por profissional habilitado -, não há como aferir

objetivamente, a ponto de considerar alguém apto ou inapto, o seu

nível de atenção e atribuir certo peso, que comparado a algum outro,

resultaria na aprovação ou reprovação.

Além de vagos e imprecisos, esses termos, que parecem nada dizer

para o senso geral, estão desacompanhados de qualquer

fundamentação, como seria possível fazê-lo, tanto que o exame

particular ao qual o autor submeteu, realizado pela psicóloga Lana

Cláudia Fernandes Lino (fls. 11/12) bem o demonstrou”. (fls.188/189)

Assim é que, corretamente sopesados os fatos e circunstâncias

relatados nos autos, escorreita se mostra a sentença atacada, na

medida em que a inabilitação do autor/apelado deu-se de forma

unilateral e marcada pela subjetividade, talvez revestida de critérios

seletivos discriminatórios que, pelo visto, desautoriza sua exclusão

das fases seguintes do certame.

Assim, improcedentes as teses suscitadas nos dois apelos, impõe-se

manter a sentença monocrática, por estes e seus próprios e jurídicos

fundamentos.

Com efeito, conquanto a necessidade de submissão à avaliação

psicológica esteja devidamente prevista em lei, observo que o edital

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 22

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do concurso público quedou-se omisso em relação aos critérios de

avaliação a que se submeteriam os candidatos, assim como ao perfil

psicológico adequado para as atribuições inerentes à atividade

policial-militar, tendo o ato regulador do certame se limitado a fazer

referências a resoluções do Conselho Federal de Psicologia.

Ressalte-se que a própria Resolução nº 001/2002 do Conselho

Federal de Psicologia, citada no edital do concurso (Item 140.5 Fl.

37), dispõe sobre a necessidade desse instrumento expressamente

informar acerca dos critérios a serem utilizados na avaliação dos

candidatos, bem como dos aspectos psicológicos desejáveis para o

desempenho do cargo.

Desta feita, inolvidável que o edital não transpareceu a objetividade

do exame psicológico, pois deixou de transcrever os métodos a serem

utilizados e quais os aspectos relevantes para a avaliação do perfil

psicológico do candidato, restringindo-se a declinar quais seriam os

traços de personalidade incompatíveis para a inclusão na

Corporação.

Na linha de entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a mera

remissão do edital às Resoluções 001/2002, 02/2003 e 025/2001,

todas do Conselho Federal de Psicologia, não é suficiente para

demonstrar a objetividade que deve permear a fase de avaliação

psicológica, sendo necessário o esclarecimento ao candidato não só

dos critérios a serem utilizados na avaliação, mas também do perfil

desejado para o desempenho das atribuições de policial, in casu, do

grupo de Praças/Soldado.

Consequentemente, denota-se que o edital do concurso público

afrontou os princípios da motivação e da publicidade, os quais devem

ser observados pela Administração Pública, sob pena de viciar a

avaliação psicológica realizada nos candidatos, como de fato

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 23

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ocorreu.

Destarte, reconhecida a ilegalidade/nulidade do ato administrativo

que considerou o autor inapto no exame psicotécnico, merece ser

mantida a sentença.

Atinente aos honorários advocatícios, tese arguida pelo Estado de

Goiás, primeiro apelante, entendo que o valor estipulado na sentença

deve prevalecer.

Consoante dispõe o artigo 20, § 4º, do Código de Processo Civil, nas

causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que

não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas

execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados

consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as normas das

alíneas “a”, “b” e “c” do parágrafo anterior.

Percebe-se que, no caso em tela, trata-se de causa em que restou

vencida a Fazenda Pública, razão pela qual, consoante determina o

referido dispositivo de lei, devem ser mantidos os honorários

advocatícios fixados de acordo com a apreciação equitativa do

magistrado, observando-se, outrossim, os requisitos constantes das

alíneas do artigo 20, §3º, do aludido Codex.

As alíneas “a”,”b” e “c”, §3º, art. 20, do Código de Processo Civil

evidenciam que, ao fixar o valor dos honorários advocatícios, o juiz

deverá se ater para o grau de zelo do profissional; o lugar da

prestação de serviços, a natureza e a importância da causa, o

trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu

serviço.

No mesmo sentido vem perfilhando este Sodalício, senão vejamos:

“AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE

COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO DE SEGURO OBRIGATÓRIO

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 24

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(DPVAT). I - Boletim de Ocorrência Policial. Presunção de

veracidade. É entendimento pacífico desta Corte que não havendo

prova robusta em contrário, a elidi-lo, o boletim de ocorrência goza

de presunção 'juris tantum' de veracidade. II - Invalidez parcial e

permanente configurada. Valor de indenização de acordo com o grau

de invalidez permanente. Impossibilidade. Acidente ocorrido anterior

a Lei nº 11.482/07. 40 salários-mínimos à época do sinistro.

Inaplicabilidade da Tabela da Susep. Nos acidentes ocorridos

anteriores à Medida Provisória nº 451/08, convertida em Lei nº

11.945/09, é desnecessária a aferição do grau de invalidez que

acometeu a vítima na fixação do quantum indenizatório decorrente

de seguro obrigatório - DPVAT, bastando que a lesão seja

considerada permanente. Para tanto, suficiente que o sinistro

provoque sequelas que invalidem permanentemente o segurado,

acometendo-lhe a perda ou redução de função de caráter irreversível.

Tendo o sinistro ocorrido em data anterior à vigência da Lei

11.482/07, forçosa a fixação do seguro obrigatório de acordo com o

artigo 3º da Lei nº 6.194/74, que estabelece o seu valor em 40

(quarenta) salários-mínimos vigentes na época do sinistro e não

vigentes à época do efetivo pagamento. III - Pagamento devido nos

moldes da alínea 'a' do artigo 3º da Lei nº 6.194/74. Salário

Mínimo. A utilização do salário mínimo como base de cálculo para o

valor da condenação ao pagamento do seguro DPVAT é admissível,

não ocorrendo qualquer ofensa à Lei nº 6.205/75 e ao inciso IV do

artigo 7º da Constituição Federal, uma vez que não serve como fator

de correção de valores, adotado apenas como critério de fixação da

verba indenizatória. IV - Correção monetária. Incidência. A correção

monetária da indenização é devida a partir do sinistro, pois serve

para manter a indenização que era devida à época do acidente de

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 25

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trânsito, nos termos da Súmula nº 43 do STJ. V - Prequestionamento.

Quanto ao pedido de prequestionamento, estando que a matéria está

exaustivamente analisada nos autos, mostra-se infundado tal pleito.

VI - Honorários advocatícios. Majoração. A fixação dos honorários

advocatícios deverá obedecer aos parâmetros fixados no § 3º, do

artigo 20, do CPC, motivo pelo qual, mostrando-se irrisória tal

verba, deve ser majorada ao patamar de 15% sobre o valor da

condenação. VII - Nenhum elemento a ensejar a reconsideração da

decisão. Não trazendo a agravante nenhum elemento capaz de

sustentar a pleiteada reconsideração da decisão proferida em sede de

apelo, deve ser desprovido o agravo regimental, mantendo-se

incólume a decisão vergastada. Agravo Regimental conhecido e

desprovido.” (TJGO, APELAÇÃO CÍVEL 209127-52.2007.8.09.0051,

De minha relatória, 2A CAMARA CIVEL, julgado em 19/06/2012).

“RECURSOS DE AGRAVO REGIMENTAL. APELAÇÃO CÍVEL.

AÇÃO DE COBRANÇA SECURITÁRIA. DPVAT. INDENIZAÇÃO

PROPORCIONAL À INVALIDEZ DECORRENTE DE ACIDENTE

DE TRÂNSITO. CORREÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS. 1. É entendimento pacífico perante o colendo

Superior Tribunal de Justiça de que a indenização securitária deve

ser arbitrada em valores proporcionais à invalidez suportada pela

vítima de acidente de trânsito, inclusive, para os casos que estão sob

a égide da Lei nº 6.194/1974. 2. Consoante remansosa jurisprudência,

a correção monetária incidirá a partir do evento danoso. 3. Ante

valor da condenação, que de pequena monta, cabível a majoração da

verba honorária. RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS.”

(TJGO, APELACAO CIVEL 342660-28.2010.8.09.0011, Rel. DR(A).

MAURICIO PORFIRIO ROSA, 5A CAMARA CIVEL, julgado em

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02/08/2012, DJe 1143 de 12/09/2012).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. SUCUMBÊNCIA

RECÍPROCA. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 21, CAPUT, CPC.

MAJORAÇÃO HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, ARTIGO 20, § 4º,

DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 1. Tendo sido o quantum

cobrado pelo autor, em sua peça vestibular, significativamente

reduzido, cabível se apresenta a aplicação da sucumbência recíproca,

para que os ônus e despesas processuais sejam distribuídos de forma

proporcional e equivalente entre as partes, no percentual de 50%

(cinquenta por cento), arcando cada uma com os honorários de seu

próprio advogado. Inteligência do caput, do artigo 21, do Código de

Processo Civil. 2- Diante do longo período da demanda, assim como

o trabalho realizado pelo profissional da área, os honorários

advocatícios devem ser majorados ao patamar de 20% (vinte por

cento) sobre o valor da condenação. APELO CONHECIDO.

PARCIALMENTE PROVIDO.” (TJGO, APELACAO CIVEL 35537-

83.1997.8.09.0051, Rel. DES. ALAN S. DE SENA CONCEICAO, 5A

CAMARA CIVEL, julgado em 22/03/2012, DJe 1052 de 27/04/2012).

Partindo dos referidos elementos, o magistrado singular pautou-se

com moderação ao dimensioná-los, evitando a depreciação do

trabalho desempenhado pelo profissional ou o enriquecimento ilícito.

Desta forma, analisando a situação vertente, entendo que o valor dos

honorários advocatícios arbitrados pelo dirigente processual, na

sentença recorrida, se coaduna com o bom senso e a razoabilidade,

requisitos de observância impositiva para a fixação da verba

honorária.

Assim, tenho por bem manter a verba honorária fixado pelo

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 27

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magistrado sentenciante em R$ 2.000,00 (dois mil reais), com base na

norma insculpida no § 4º, do art. 20, do Digesto Processual Civil

Brasileiro, agora devido pela parte requerida/apelante.

Quanto à restituição pela Fazenda Pública das custas e despesas

desembolsadas pelo autor/apelado, tese também arguida pelo

Estado/primeiro apelante, em que pese o artigo 39, da Lei nº 6.830/80

dispor que “a Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de

custas e emolumentos”, quando vencida, esta deverá apenas restituir

à parte contrária os valores por ela adiantados a título de custas e

despesas processuais, conforme reza o parágrafo único do mesmo

dispositivo. Assim, deve a parte autora/apelada ser reembolsada dos

valores gastos no decorrer do trâmite processual a título de

pagamento de custas e demais despesas processuais.

A propósito:

“APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. ISENÇÃO DE

CUSTAS. FAZENDA PÚBLICA. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL.

AÇÃO MONITÓRIA. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. OFENSA À

COISA JULGADA. RELAÇÃO CONTRATUAL. JUROS DE MORA.

ARTIGO 1º-F, DA LEI Nº 9.494/1997. INAPLICABILIDADE. 1- A

Fazenda Pública Municipal é isenta do pagamento das custas

processuais, porém, se vencida, deverá efetuar, à parte vencedora, o

reembolso dos valores que antecipou. 2- Omissis. 3- Omissis. 4 -

Omissis.” RECURSOS DE APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDOS.

IMPROVIDO O PRIMEIRO E PARCIALMENTE PROVIDO O

SEGUNDO. (TJGO, APELACAO CIVEL 427631-13.2009.8.09.0000,

Rel. DR(A). GERSON SANTANA CINTRA, 1A CAMARA CIVEL,

julgado em 28/09/2010, DJe 677 de 07/10/2010).

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 28

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Desta forma, concluindo, merece parcial provimento a primeira

apelação manejada pelo Estado de Goiás, para reformar a sentença e

restringir a condenação do réu/apelante somente na parte em que

condena os requeridos ao reembolso das custas processuais.

No que pertine ao prequestionamento, tese arguida pela Universidade

Estadual de Goiás UEG/segunda apelante, assevero que o magistrado

não precisa esmiuçar todos os dispositivos legais indicados pela

parte, bastando que demonstre as razões de seu convencimento. A

jurisprudência do colendo Superior Tribunal de Justiça não destoa

desse entendimento, ipsis verbis:

“(…) O juiz não está obrigado a rebater, pormenorizadamente, todas

as questões trazidas pela parte, citando os dispositivos legais que esta

entende pertinentes para a resolução da controvérsia. A negativa de

prestação jurisprudencial se configura apenas quando o Tribunal

deixa de se manifestar sobre ponto que seria indubitavelmente

necessário ao deslinde do litígio. 5. (…).” (STJ, 6ª Turma, REsp nº

1134689/RR, Relª Minª Maria Thereza de Assis Moura, DJe de

14/03/2014, g.)

“(…) No entanto, o juiz não fica obrigado a manifestar-se sobre todas

as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por

elas, ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos quando já

encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão, o que de

fato ocorreu. (…). Agravo regimental improvido.” (STJ, 2ª Turma,

AgRg no AREsp nº 90484/AP, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de

19/02/2013, g.)

Por fim, quanto ao pedido de majoração da verba honorária

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 29

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formulado nas contrarrazões recursais, deixo de conhecê-lo, pois não

são as contrarrazões o meio adequado para pleitear reforma da

sentença.

A propósito:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO SECUNDUM

EVENTUM LITIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DO

PATRIMÔNIO PÚBLICO. DOCUMENTAÇÃO DO MUNICÍPIO.

CONCESSÃO DE PRAZO PARA IMPLEMENTAR MEDIDAS

ADEQUADAS. NÃO CUMPRIMENTO. IMPOSIÇÃO DE MULTA

DIÁRIA. POSSIBILIDADE. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. PLEITO EM

SEDE DE CONTRARRAZÕES. INCOMPORTABILIDADE. 1. Em

sede de agravo de instrumento, por tratar-se de recurso secundum

eventum litis, mostra-se pertinente ao órgão ad quem averiguar tão

somente a legalidade e/ou o acerto ou desacerto do ato a quo, sob

pena de suprimir-se inexoravelmente um grau de jurisdição. 2. A

multa diária pode ser fixada não só ao ente municipal, mas também

ao prefeito, já que este é responsável pela efetivação das decisões

judiciais. 3. Não é cabível o pedido de condenação em litigância de

má-fé, formulado em sede de contrarrazões, porquanto há via própria

e adequada para tal desiderato. RECURSO CONHECIDO E

DESPROVIDO. DECISÃO MANTIDA.” (TJGO, AGRAVO DE

INSTRUMENTO 85632-46.2015.8.09.0000, Rel. DES. FAUSTO

MOREIRA DINIZ, 6A CAMARA CIVEL, julgado em 07/07/2015, DJe

1827 de 16/07/2015).

“AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO

PREVIDÊNCIÁRIA COM PEDIDO DE BENEFÍCIO DE PENSÃO

POR MORTE. JULGAMENTO MONOCRÁTICO. POSSIBILIDADE.

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 30

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INEXISTÊNCIA DE FATOS NOVOS OU ARGUMENTOS NOVOS.

FORMULAÇÃO DE PEDIDOS EM CONTRARRAZÕES.

INVIABILIDADE. I - (…) II - (...) III - (...). IV - (...). V - (…) VI -

Pedido de reforma da sentença em contrarrazões. Impossibilidade.

Inviável a apreciação de pedido formulado em contrarrazões,

porquanto a resposta se destina, apenas, a contra-argumentar o

recurso de apelação. Agravo Regimental conhecido e parcialmente

provido, tão só para a correção de erro meramente material.”

(TJGO, APELACAO CIVEL 329680-54.2008.8.09.0032, DE MINHA

RELATORIA, 2A CAMARA CIVEL, julgado em 16/06/2015, DJe 1812

de 25/06/2015).”

No que tange à alegação do Estado de Goiás, segundo

agravante, de que a declaração de nulidade do exame psicotécnico em

concurso público deve resultar na determinação de submissão do candidato

a novo exame, observados os critérios e métodos objetivos e a necessária

fundamentação da decisão, esta configura-se nítida inovação recursal, posto

não levantada em sede de contestação (fls. 155/172), motivo pelo qual não

pode ser enfrentada por este Relator no presente recurso regimental, posto

operada a preclusão consumativa.

Nesse sentido:

“AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO CÍVEL EM EMBARGOS

À EXECUÇÃO. TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS E

CAPITALIZAÇÃO MENSAL. INEXISTÊNCIA DE ABUSIVIDADE.

INOVAÇÃO RECURSAL. INCOMPORTÁVEL. DECISÃO MANTIDA.

1. A estipulação de juros remuneratórios superiores a doze por cento

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 31

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ao ano, por si só, não indica abusividade. Súmula nº 382 do colendo

STJ. 2. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual

superior ao duodécuplo da taxa mensal é suficiente para permitir a

capitalização dos juros na forma em que foi contratada. Precedentes

do colendo STJ. 3. É defeso ao recorrente aduzir, por ocasião do

agravo regimental, matéria não versada nas razões do apelo, por

força da preclusão consumativa. 4. AGRAVO REGIMENTAL

CONHECIDO, MAS DESPROVIDO.” (TJGO, APELACAO CIVEL

231563-29.2012.8.09.0051, Rel. DES. ELIZABETH MARIA DA

SILVA, 4A CAMARA CIVEL, julgado em 15/08/2013, DJe 1372 de

26/08/2013).

“AGRAVOS REGIMENTAIS NA APELAÇÃO CÍVEL. DUPLO

APELO. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO C/C

REVISIONAL DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. RAZÕES

DISSOCIADAS. PREQUESTIONAMENTO. INOVAÇÃO RECURSAL.

INEXISTÊNCIA DE FATO NOVO. I- Não obstante a apelação

devolva ao Tribunal o conhecimento da matéria impugnada, as razões

do recurso devem guardar sintonia com o que foi decidido pelo

magistrado de origem. II- Não sendo rebatidos especificamente os

fundamentos do julgado, mediante invocação de razões de fato e de

direito a subsidiarem a postulação de reforma, incorre-se em violação

ao princípio da dialeticidade, bem como ao disposto no art. 514,

inciso II, do CPC, o que conduz à inadmissibilidade do recurso. III-

Inviável a apreciação, em sede de Agravo Regimental, de matéria não

invocada nas razões do Apelo, por se tratar de inovação de

fundamentos não admitida nesta fase processual seja por força da

preclusão ou da necessária observância do princípio do

contraditório. IV- O julgador, ao prestar a jurisdição, deve resolver as

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 32

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questões debatidas, mas não está obrigado a apreciar cada uma das

alegações trazidas pelas partes, tampouco fazer referência a cada

artigo de lei citado pelo recorrente. V- É medida imperativa o

desprovimento dos agravos regimentais que não trazem em suas

razões qualquer novo argumento que justifique a modificação da

decisão agravada. AGRAVOS REGIMENTAIS CONHECIDOS, MAS

DESPROVIDOS.” (TJGO, APELACAO CIVEL 75054-

07.2011.8.09.0051, Rel. DES. MARIA DAS GRACAS CARNEIRO

REQUI, 1A CAMARA CIVEL, julgado em 13/08/2013, DJe 1368 de

20/08/2013).

Na realidade, o que os agravantes buscam é reabrir a

discussão de matérias já ventiladas e decididas, apenas visando terem

subsídio para recorrerem à instância superior.

Sendo assim, a decisão de gabinete não merece qualquer

censura porque, antes de ser proferida, analisou todas as fundamentações

válidas que pudessem atestar a veracidade das teses dos recursos.

Eis o entendimento jurisprudencial deste Tribunal de

Justiça:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO EM CONFRONTO COM

A JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE DO TRIBUNAL. NEGADO

SEGUIMENTO (ART. 557, CAPUT, CPC). AGRAVO REGIMENTAL.

AUSÊNCIA DE FUNDAMENTO NOVO CAPAZ DE JUSTIFICAR A

MODIFICAÇÃO DO ENTENDIMENTO ANTERIORMENTE

FIRMADO. IMPROVIMENTO DO RECURSO. I – Omissis. II –

Mantém -se a decisão que, monocraticamente, negou seguimento ao

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 33

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recurso de agravo de instrumento, se a mesma não padece de

qualquer ilegalidade, nem foi apresentado pelo agravante fundamento

novo capaz de ensejar a modificação do entendimento anteriormente

firmado. Agravo regimental conhecido e improvido.(TJGO. Ac

138707-8/191. Rel. Dr. Donizete Martins de Oliveira. DJ nº 350, de

08/06/2009)

“AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ART.

557, CAPUT, CPC. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS NOVOS. 1 - É

lícito ao relator negar seguimento a recurso manifestamente

improcedente e contrário a jurisprudência assente no respectivo

Tribunal e no Superior Tribunal de Justiça, à luz do que estabelece o

artigo 557, caput do Código de Processo Civil. 2 - Ao interpor agravo

regimental da decisão que negou seguimento ao agravo, deve o

recorrente demonstrar o desacerto dos fundamentos do decisum

recorrido, sustentando a insurgência em elementos novos que

justifiquem o pedido de reconsideração, e não somente reiterar as

razões já formuladas na petição do recurso originário, já

apreciadas.” (TJGO, 2ª Câmara Cível, Agravo Regimental no Agravo

de Instrumento nº 58.109-0/180, DJ nº 66, de 10/04/08,

Desembargador Zacarias Neves Coelho).

Assim sendo, sem respaldo as argumentações dos

agravantes.

Registre-se, por fim, que, no tocante ao prequestionamento

das matérias discutidas pelos recorrentes, dentre as funções do Poder

Judiciário não se encontra cumulada a de órgão consultivo.

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 34

PODER JUDICIÁRIO

Gabinete do Desembargador Carlos Alberto França

Na confluência do exposto, conheço dos agravos

regimentais e nego-lhes provimento, mantendo a decisão atacada por seus

próprios e jurídicos fundamentos.

É o meu voto.

Goiânia, 06 de outubro de 2015.

Des. CARLOS ALBERTO FRANÇA

R E L A T O R

/C10

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 35

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Agravos Regimentais em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259)

Comarca de Goiânia

1ª Agravante : Universidade Estadual de Goiás - UEG

2º Agravante : Estado de Goiás

Agravado : Eurípedes Pinto Rabelo Júnior

Relator : Desembargador Carlos Alberto França

EMENTA: Agravos Regimentais em Apelações

Cíveis. Ação ordinária com pedido de tutela

antecipada. I - Decisão monocrática nos

termos do artigo 557, do Código de Processo

Civil. Possibilidade. A decisão monocrática

encontra-se de acordo com a jurisprudência

dominante deste Tribunal e dos Tribunais

Superiores, não cabendo a modificação do

pronunciamento via recurso de agravo regimental,

pois não foi comprovada a sua incorreção no

plano material e, ainda, acertada a incidência da

norma contida no artigo 557, do Código de

Processo Civil. II - Impossibilidade Jurídica do

Pedido. Vedação do Controle do Mérito

Administrativo pelo Poder Judiciário. Não

ocorrência. Não se vislumbra carência de ação,

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 36

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por impossibilidade jurídica do pedido, em razão

de suposta vedação do controle do mérito

administrativo pelo Poder Judiciário, porquanto o

exame da legalidade dos atos administrativos pelo

último, consoante jurisprudência há muito

consagrada, não ofende o princípio da separação

dos Poderes. III - Exame Psicotécnico. Apesar

da aceitabilidade da tese no sentido de que os

órgãos públicos, na seleção de seus futuros

servidores, utilizem o teste psicológico previsto

em lei, como forma de escolha daqueles cujo

perfil mais se aproxime do patamar considerado

adequado pela entidade, tal avaliação deve

obedecer parâmetros previamente traçados no

edital, seguindo critérios que possam ser

objetivamente estabelecidos pelos candidatos. IV

- Critérios Subjetivos. Inadmissibilidade. O

exame psicotécnico deve adotar critérios

científicos objetivos sobre a personalidade do

candidato para aferição de sua capacitação

profissional, não sendo válida a apreciação

meramente subjetiva, que pode ensejar

insegurança jurídica, impossibilidade de aferição

da correção da avaliação, além de propiciar o

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 37

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desvirtuamento do resultado por arbítrio ou abuso

de poder. V - Exclusão do Certame.

Impossibilidade. Ausência de motivação no

exame psicotécnico. A ausência de motivação no

exame psicotécnico da exclusão do candidato do

concurso público viola os consagrados princípios

constitucionais do direito de defesa e do

contraditório, isto à luz das disposições da

Súmula 684, do STF, ao preconizar a

inconstitucionalidade do veto imotivado de

participação de candidato a concurso público. VI

- Submissão a novo teste psicotécnico.

Inovação recursal. Não pode o recorrente

levantar, em sede de recurso regimental, questão

não aventada no apelo, sob pena de ofensa ao

princípio do contraditório e em virtude da

preclusão consumativa da matéria. VII –

Prequestionamento. Ao Poder Judiciário não é

dada a atribuição de órgão consultivo, descabendo

a este se manifestar expressamente sobre cada

dispositivo legal mencionado pelos agravantes,

mas sim resolver a questão posta em juízo. VIII -

Ausência de elementos novos. Não trazendo os

recorrentes nenhum elemento novo capaz de

Agravo Regimental em Apelações Cíveis nº 431625-51.2013.8.09.0051 (201394316259) 38

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sustentar a pleiteada reconsideração da decisão

fustigada, devem ser desprovidos os agravos

internos.

Agravos Regimentais conhecidos e

desprovidos.

A C Ó R D Ã O

Vistos, oralmente relatado e discutido o Agravos

Regimentais nos autos das Apelações Cíveis nº 431625-

51.2013.8.09.0051 (201394316259), da Comarca de Goiânia, figurando

como 1º agravante Universidade Estadual de Goiás - UEG e 2º agravante

o Estado de Goiás e como agravado Eurípedes Pinto Rabelo Júnior.

ACORDAM os integrantes da Terceira Turma Julgadora da

Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás,

por unanimidade de votos, em conhecer dos agravos regimentais e negar-

lhes provimento, nos termos do voto do Relator, proferido na assentada do

julgamento e que a este se incorpora.

Votaram, além do Relator, os Desembargadores Amaral

Wilson de Oliveira e Ney Teles de Paula.

Presidiu o julgamento o Desembargador Amaral Wilson de

Oliveira.

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Esteve presente à sessão o Doutor Waldir Lara Cardoso,

representando a Procuradoria-Geral de Justiça.

Goiânia, 06 de outubro de 2015.

Des. CARLOS ALBERTO FRANÇA

R E L A T O R

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