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Gabriela tagarela

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A Gabriela era uma menina encantadora…Desde muito pequenina, logo que conseguiu dizer as primeiras palavras, ela não parava de balbuciar repetidamente: - Ma ma ma, Pa pa pa, Pó pó pó… Claro que todos lhe achavam imensa graça, pois era uma criança ainda tão pequenina e tão comunicativa! Por isso respondiam-lhe sempre, naquela linguagem engraçada que só os bebés entendem: - Olá… bé bé… Ti ti ti… Bá bá bá... Gu gu gu…- e a ela ficava fascinada.

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O tempo foi passando e a Gabriela foi crescendo, habituando-se a falar, falar, falar... sem parar. As pessoas já não lhe achavam tanta graça, mas continuavam a ouvi-la e a responder-lhe, pois eram bem-educadas. Só que, ao fim de algum tempo passado na companhia da Gabriela, todos ficavam um bocadinho cansados… pois, ela não parava mesmo de falar! E nem se importava nada de interromper as conversas dos outros, desde que isso lhe permitisse deitar cá para fora aquele verdadeiro rio de palavras que lhe saía pela boca sempre que a abria.

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Então a Gabriela começou a ter alguns problemas por ser assim, tão tagarela…Em casa, os pais procuravam descobrir uma solução, pois não conseguiam aguentar tanta e tanta conversa fiada. Quase não havia diálogodiálogo, porque a Gabriela não deixava… era só um monólogomonólogo, que é o que acontece quando se fala sozinho.Na escola, os professores também estavam preocupados. Isto porque a Gabriela, quando começava a falar, não parava mais e acabava-se a aula logo ali… nem os colegas aguentavam, nem aproveitavam as aulas, porque a Gabriela punha dúvidas mas não esperava as respostas e respondia sem ter havido perguntas!

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Por mais que lhe dissessem, a Gabriela não conseguia controlar-se. Então as pessoas deixaram de lhe prestar atenção. Ela falava, falava, mas ninguém ligava!Foi aí que aconteceu o pior, se é que podia acontecer alguma coisa pior… a Gabriela começou a falar mais alto! Sim, já que ninguém lhe ligava, ela achava que as pessoas não a ouviam e então gritava. A situação tornou-se cada vez pior: em casa ela não deixava ninguém falar, na escola os professores e colegas não conseguiam fazer nada, quando ia passear metia conversa com toda a gente… enfim, já não dava mais para aguentar!

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Nessa altura os pais decidiram levar a Gabriela ao médico; ela não gostou muito da ideia, mas lá foi, argumentando todo o caminho que não precisava de médico nenhum...A consulta não correu muito bem, porque os pais não conseguiam explicar o que se passava… o que valeu foi que o médico percebeu logo a situação, pois a Gabriela explicou-a várias vezes, não o deixando perguntar nada. Observou-lhe a garganta e esse foi o único momento da consulta em que a Gabriela esteve calada, pois não dava jeito nenhum falar com a boca tão aberta. Nessa altura o médico disse que as cordas vocais da Gabriela estavam doentes. Tinham nódulos, que é uma coisa que aparece quando se abusa da voz, por isso precisava de lhe dar descanso e, quem sabe, até de terapia da fala.

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A Gabriela ouviu e ficou um bocadinho assustada mas, quando o médico acabou de a examinar, desatou a falar, a falar, ou seja, a gritar, a gritar, sem parar!- Será que a miúda ouve mal? – Perguntou o pai.O médico então observou-lhe os ouvidos. Estava tudo em ordem, a Gabriela conseguia ouvir muito bem, só não estava interessada em ouvir os outros, apenas a si própria.Então o médico teve uma ideia: aproveitou uma altura em que ela tagarelava sem parar e fez uma proposta aos pais, quase em segredo. Eles riram-se e saíram do consultório, sem sequer trazerem uma receita…

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A Gabriela foi levada a um Parque de Diversões. Que giro, tanta coisa para ver e contar, tanta gente com quem meter conversa! Por isso ela estava especialmente entusiasmada e tagarelava sem parar…Foi então que entraram na Sala dos Espelhos. Como a Gabriela era um bocado distraída, olhou para todas aquelasaquelas pessoas pessoas à sua volta e desatou logo a falar com elas. Os pais, devagarinho, saíram e deixaram-na só, tal como o médico tinha aconselhado.O tempo foi passando, uma hora, outra hora… e nada de a Gabriela se cansar de tagarelar.

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Mas, a certa altura, começou a ficar zangada: então não era que aquelas pessoasaquelas pessoas não lhe ligavam nenhuma, não paravam de falar e nem sequer a ouviam? Que mal-educadas!Olhou à sua volta com mais atenção. Na verdade, aquelas não eram outras pessoasoutras pessoas, não podiam ser, porque todas eram iguais a ela. Intrigada estendeu a mão… tocou numa superfície lisa e fria, era um espelho! Por isso é que aquelas pessoasaquelas pessoas só falavam e não ouviam o que ela dizia! Todas aquelas pessoas aquelas pessoas eram ela, a Gabriela. Ela é que não parava de falar! Ela é que era mal-educada!

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Já era quase noite e os pais estavam cansados de esperar à porta da Sala dos Espelhos. A Gabriela saiu, calada e triste e foi assim até casa. Ao chegar, disse aos pais, em voz baixa, que tinha aprendido a lição: percebeu que não devia falar demais, porque cansava as pessoas; entendeu que devia falar baixo, porque ninguém gosta de ouvir gritos e além disso faz mal às cordas vocais. Compreendeu que devia deixar os outros falarem, pois eles também têm o que dizer. Se não deixarmos os outros falar connosco, não pode haver um diálogo!

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A partir daí a Gabriela deixou de ser tagarela. Na verdade, se ela tivesse ouvido o que lhe diziam, não precisava de ter ido à Sala dos Espelhos, falar sozinha durante tanto tempo. Agora fala baixo, não interrompe as conversas e cala-se sempre que é necessário. Lá em casa as coisas mudaram para muito melhor e na escola então, nem se fala! Os professores dão as aulas tranquilamente, os colegas conseguem aprender melhor e mais… arranjou muitos amigos, pois antes não havia ninguém que tivesse paciência para a aturar!

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