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O pai, o chefe, o filho, o rei...

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O PAI, O CHEFE, O FILHO, O REI.

Adaptação livre para o teatro sobre o conto de Dalton Trevisan de nome ‘O pai, o chefe e o rei’...

Por Abilio Machado de Lima Filho.

Cenário: A cozinha mirrada, tem uma panela e uma chaleira ao fogão, sobre a mesa a louça do jantar ainda está para lavar; um lampião; na cadeira o farrapo de pano usado como toalha, pendurado displicente no encosto; um balde ao lado de uma gamela; na parede se vê uma espingarda com a cartucheira, uma facão e o quadro de São Cristóvão. CENA I (O despertador toca) MULHER ___Piá. Tá na hora.

JOVEM ___Tá bão. Já acordei.

(Ela entra em cena, carrega o lampião que deposita na mesa, rasga um pedaço de pão e coloca num saco de papel. Ele entra sem camisa, ergue

a gamela, lava-se e veste a camisa amarrotada). MULHER ___Leve isto... JOVEM ___Deixe pras crianças... MULHER ___Já deixei um pedaço, vá com Deus. JOVEM ___Bença. (Está saindo e ouve-se um barulho, ele estaca a porta).

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O pai, o chefe, o filho, o rei...

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JOVEM ___Que barulho foi aquele? MULHER ___Baruio? (assustada). JOVEM ___Ah, minha mãe?! Não me diga que ele voltou... (ela fica

calada e meio sem jeito) Depois de tudo, diga que você não deixou ele ficar, pelo amor de Deus, diga...

MULHER ___Ele é seu pai. Ele me prometeu mudar. Ele tá carinhoso que só vendo.

JOVEM ___Até quando? Diga... Até ele te espancar tanto que te mate? MULHER ___Isso n’um vai acontecer. (Corre para ampará-lo) Meu fio, meu amado fio, sem ele todos nós... JOVEM ___Não, não fale... Todos nós o que? Sofremos com sua falta? Então me diga o que possuímos que possamos dizer: ‘ abençoado seja o meu pai ’? MULHER ___A nossa vida não tem sido fácil, nem prá nós e nem pr’ele, procure entender... JOVEM ___Entender?! O que você quer que eu entenda? Que agora que ele saiu da cadeia não tem aonde ir? Que ele abandonou a nossa família para ir morar com outra? Que graças a Deus ele então passou a espancar outra pessoa e não a você? Que espancou até matá-la? Entender que raras vezes consegui vê-lo sóbrio? MULHER ___Por favô, fio. Chega. Vá... (Beija a sua testa). (Ele sai, ela vem com lágrimas aos olhos, senta-se na cadeira e desmancha-se debruçada em soluços). (A luz treme como uma passagem de tempo). CENA II

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O pai, o chefe, o filho, o rei...

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(Sentado, o jovem chora, tenta alimentar-se e quase se afoga, abrir o vidro de conserva que leva café é trabalhoso, na sua ansiedade quase o joga. Tenta estudar a apostila que carrega e não consegue). JOVEM ___Merda. Parece que tudo está errado hoje. A vida já estava puxada. Acordar de madrugada, pegar no pesado como orelha

seca, estudar à noite. Não, não que eu lamente, não. Meu sacrifício é pela mãe e pelas crianças. Mas agora... Mas agora ele aparece... Todo aquele rancor, aquela fúria cresce dentro do peito, uma ansiedade que

me sufoca, nada me distrai... Senhor

___Falando sozinho menino?(Entrando). JOVEM ___Falando... Quero dizer pensando alto apenas. É o dia que não está rendendo. SENHOR ___Tenho notado. Tem alguma coisa errada? JOVEM ___Não. Não senhor... SENHOR ___O trabalho talvez? JOVEM ___Não. Este trabalho é uma benção senhor. SENHOR ___Em casa? Doença? Sabe que se precisar é só me procurar... (Saindo). JOVEM ___Não senhor... Claro que sim, se precisar eu lhe procuro e falo. Obrigado. (Vê o homem afastar-se). Como lhe falar? Como expor minha vida? Olha patrão... Estou com um problema... Como? É meu pai, sabe? Ele saiu da cadeia e foi lá pra casa e sabe? Ele bebe... Não é socialmente, não. Ele toma todas até perder a consciência e daí ele não é mais ele mesmo. Anda com uma faca na cinta e provoca briga com todos, se diz bandido e mau. Assim tenta agredir e furar a todos quando está alcoolizado. Aliás, jamais o vi sóbrio. O senhor sabe o que é não conhecer uma pessoa sem a máscara que usa em seu dia a dia, em seus minutos de vida? Muitas vezes chega em casa, e depois de bater na mulher e nos filhos atropela a todos para a noite fria. Não importa o

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tempo que faz lá fora. Outras vezes esmurra as paredes, arremessa a garrafa vazia e soca a mesa. Grita até altas horas da noite e de repente aquieta-se sentado no banquinho de madeira. Até que a mãe sonda pela porta entre aberta, recolhe as crianças em silêncio, vai até ele na maior humildade, lhe retira os calçados e deposita seus pés fedidos na gamela... E lava-os com carinho, acocorada. Quando está em seus melhores dias ele não dá tapas em seu rosto e também não a chama de vagabunda ou de rameira. Ah! Mas meu senhor. Quando está em seus piores dias... Ele quer ser o grande macho ignorante e primata, ele a

obriga a fazer sexo e satisfazer suas vontades... Mas quando ela não pode, aí meu senhor... Qualquer filho serve... Como dizer isso? Como? Quem ouviria? Quem acreditaria? Como contar a alguém o terror que vai

à Alma? Em não saber o que fazer quando se sente aliviado por que naquela noite... Ele... Ele escolheu outro para molestar e não você?

(A música é rápida e violenta) (Enquanto o jovem encolhe-se ao canto. Em sombra, uma briga acontece, coisas voam, gritos e frases perdidas surgem entremeando a música). MULHER

___Não faiz isso homem. Agora não... HOMEM ___ Mas eu quero agora. Ousa me pedir para parar? MULHER ___As crianças istão no quarto brincando. Deixe prá dispois. HOMEM ___Venha aqui. (Ela tenta se afastar quando ele tenta faze-la toca-lo no ventre). Toma isto. MULHER ___Por favor, n’um faiz... HOMEM ___O tempo passa e você continua sendo a rameira de sempre, êta merda de vida! Vou-me embora e nunca mais vejo teu focinho. MULHER ___Vai intão. Suma e não vorte nunca mais... (Ouve-se o som da porta sendo batida com força).

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CENA III

Tudo escuro, uma música funesta e um murmurinho de crianças em algazarra. MULHER

___Agora aquietem. Seu pai logo chega. CRIANÇA

___Mãe... E o pai... Ele sempre foi assim?(A mãe não responde e ela insiste) Ehimmm, mãe, foi?

MULHER ___Não. Não foi minha criança. (Entra em cena carregando o lampião). Nem me alembro mais quando aconteceu a mudança. Antes de nosso casório ele já bebia, sim. Mas, era tão trabaiador, rapaz bunito e bem quisto por todos. O meu pai e o pai dele eram compadres de boteco... E foi ali num boteco que eu fui prometida em casamento. Conheci ele dias antes do casório derradero. Foi assim... Eles chegaram ao sítio, carregados, truxeram um saco de mio, um de feijão, uma cesta grandona de fruta, uma grade de galinha e uma vaca mirrada e sarnenta. Ah! O porco. Não posso isquecer o mardito porco. Mas foi uma alegria que só vendo. Obedeci a meu pai e honrei o fio de bigode dele. Mas, a partir daquele momento a minha vida mudou. A vida do seu pai mudou, aos poucos tudo foi mudando foi ficando cada vez mais bêbado. Vendendo os animar, as ferramenta da roça para comprá mais bebida. Vendendo pedaços do sítio para pagar as dívida de jogo e de festa... Até que perdemo tudo. O serviço começou a fartá pramode ele passava mais tempo dentro do boteco e a nossa vida foi ficando difíci. Mas tudo piorou mesmo, Foi quando minha mãezinha e meu pai foram chamados por Deus... Eu perdi intão a proteção qui tinha e a violência começou. Muitas vezes achei que a curpa era minha, que era eu a curpada, mas, não. A verdade é que a curpa é da bebida, da cachaça, das companhia, dos famosos amigos de boteco que estão na desgraça, mas, que não querem ficar sozinhos, têem que levar outros consigo. Curpa também das mal-amadas que fazem fofocas, que só vivem a cuidar dos vizinho e falar mar da vida dos otros. Das acompanhantes de balcão que enganam os home oferecendo seus corpo prá que assim eles bebam mais E isqueçam o rumo di casa... (ouvem-se gritos ao longe, latidos de cachorros).

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CENA IV (Pode estar no fogão, uma criança agarrada ao colo, os gritos vão tomando dimensão e aproxima-se). HOMEM

___merda de cachorro covarde. Foge quando vê gente, que dianho! Vem qui seu pestilento, qui hoje eu tô a fim de sangrá um, pestiento d’uma figa, venha qui que te faço as tripa...

(Ele entra cambaleante, olha para a mulher, ainda de costas, vai até ela e lhe dá um tapa nas nádegas).

HOMEM ___É hoje qui eu te deixo toda assada. (Ri). (Ela lhe põe o prato de comida, fica perto do fogão a balançar o neném, leva ao quarto e quando volta...). HOMEM ___Seu home continua bandido e mau, sabe? (Agarra a mulher pelos cabelos). Vós mecê devia ter me avisado qui tinha um novo dono aquela venda. Quase furei o desgraçado. Ele teve a pachorra de me dizê qui eu n’um tinha mais conta lá naquela espelunca. Aí intão, eu obriguei ele a colocar na conta do nosso fio. Meu bom fio não vai ligá de te umas três canhas na conta dele. E vai pagá quietinho e de bom grado. MULHER ___Pel’amor de nosso bom Deus. Não comece c’um mar querência co’a vizinhança... HOMEM ___Mar querência?! Uhmmm, intão é o dono da venda que te tem acarmado este tempo todo, é? MULHER ___Não. Não tive mais ninguém dispois de ocê... (O tapa lhe queima o rosto). HOMEM ___Quem te deu essa confiança? Algum tempo fora e já me trata como a quarquer um? MULHER

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___Me adescurpa, meu sinhor?! É qui já perdi o jeito, adescurpa?! (Ela encolhe-se ao canto com medo de apanhar mais). (Ele senta-se desajeitadamente na cadeira, serve-se de mais bebida que sorve em uma virada) HOMEM

___Quero lavar meus pés c’um cadinho de sarmoura. (Ela vai até ele, fica de cócoras, tira seus sapatos e deposita-os bem

arrumadinhos, as meias são dobradas e colocadas sobre os calçados. Relembrando a lavação dos pés dos apóstolos na quinta-feira santa, humildemente, lava com carinho os pés de seu marido e seca-os).

(Há barulho lá fora, no fundo ela sabe que é o filho, levanta-se rapidamente e prepara o prato para o rebento que chega. O homem acompanha o movimento. Ela está no fogão... O jovem entra, pendura a mochila da escola, retira um saco plástico onde está a sobra de pão, o vidro que levou o café, o saco é enrolado e feito um nó e posto sobre a mesa com outra sacola com alguns produtos. Existe um clima no ar quando os olhares se cruzam, pai e filho, um olhar é provocativo e o outro com ódio). JOVEM ___Mãe?! Trouxe algumas coisas, não é muito, mas, vai ajudar até o dia do pagamento. MULHER ___É uma benção. Meu fio ocê é uma benção. (Está um pouco nervosa). Coma agora e adispois eu guardo o que ocê trouxe. JOVEM ___Mãe?! Aconteceu alguma coisa?(Estranhando a mãe não aproximar-se dele). MULHER ___Não. Não aconteceu nada. (quando o garoto chega perto, ela desvia-se para que ele não veja o seu rosto, tentando manter-se na escuridão). JOVEM ___Foi ele não foi?(Olhando o olho da mãe). HOMEM ___Ele o quê? Eta! (Dá um tapa na nádega da mulher). JOVEM

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___Deixa aminha mãe em paz. (Coloca-se entre a mãe e o velho). HOMEM ___Fio meu não grita cumigo. JOVEM ___Filho? Ainda quer me chamar de filho?(Gritando).

MULHER ___ Fio. N’um grita cum teu pai.

HOMEM ___Viu? Ocê num pode grita cumigo, não!Fio d’uma quenga.

MULHER ___E ocê. Num grite cum teu fio. HOMEM ___Será qui eu n’um mando mais nesta casa? JOVEM ___Você perdeu o direito quando saiu por aquela porta para ir morar com outra mulher. HOMEM ___Será qui eu não sou mais nada? Qui prá eu ter sussego eu tenho qui sangrar um? JOVEM ___Sabia que ia falar isso. Foi sempre assim, não foi? Você é um bêbado, um animal. E saber que um dia eu achei que isto era doença... Mas não é, Né pai?! MULHER ___Fio. Num fale assim cum teu pai, já disse. HOMEM ___Eu só BEBI UM POUCO PORQUE tÔ um pouco alegre. Mas bêbado? Bêbado. Ocê num pode falar cumigo deste jeito. Não mesmo. JOVEM ___Não?! Olha aí mãe... Eu não te falei que ele voltaria a fazer o mesmo que antes? MULHER

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___mas fio... Ele só é assim bêbado... VELHO ___Te falta respeito mulhé...(Bate) Mas eu te ensino.(Bate)Depois eu sangro este cabra aí... JOVEM ___Eu já te disse larga da minha mãe! Ou quem te sangra sou eu velho ordinário.

VELHO ___Você é bandido?! Por acaso tem coragê... Você quer

mesmo sangrar o teu pai e o chefe desta casa?

JOVEM ___Chefe?! Pai?! O senhor quer que eu seja mesmo bandido, é pai?!...Talvez me desse mais valor se eu fosse igual a isto, a esta coisa, que o senhor se tornou, não é mesmo? VELHO ___Então seria um hôme de verdade! JOVEM ___Quê? Bater em mulher é ser homem?...Encher a cara e perder a razão é ser homem? Estuprar os filhos é ser homem? VELHO ___O que? Você está chapado garoto? Anda usando tóxico? MULHER ___O que ocêis tão falando? JOVEM ___Ah, mãe! Não me diga que nunca viu ou ouviu nada... MULHER ___Hóme. Isto que meus ouvido tão iscuitando noé verdade, é? (Indo para o velho e afastada com um safanão). VELHO ___Não me fale desse modo, vóis mecê qué mesmo morre, eihm moleque? Que atrevimento, ara! Inda mais fazendo uma acusação como esta... JOVEM ___Não é capaz de assumir seus atos?! E ainda diz que é um hómi? Ou vai bota a culpa na bebida ou coisa que o valha, eihm? VELHO

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___Já disse...Num me fale ansim, vóis mecê me deve respeito. (puxando a peixeira da cinta). JOVEM ___Eu é que te digo. Guarde esta faca cega. Não me provoque... Oh, mãe! Diz pra ele, vai? Diz pra ele para que eu to ficando nervoso. (A mulher fica sem saber o que fazer, a mesa separa pai e filho, o velho

com a faca, o filho vai até a parede e pega a espingarda e desajeitadamente procura por cartuchos).

VELHO ___Eu vô te esfolar valentão...Te capo e jogo tua lingüiça pro cão lá fora come... Ou te pico em pedacinho.

(O velho com olhar de ódio aos poucos vai dando volta à mesa, o filho percorre caminho oposto tentando desesperadamente colocar o cartucho na espingarda). VELHO ___Vai atirar? Pois então atire, aqui oh!(bate na mesa, rasga a camisa com as mãos e abre os braços, desafiador). JOVEM ___Pois oi! Te dou a última chance. Nós vivemo felizes esses ano que o sinhô parou na cadeia, bem longe di nóis, porisso se qué continuá vivendo, vai embora, pegue tuas tralhas e se arranque e num apareça mais poraqui! Vá! Vóis mecê mi dá nojo! VELHO ___Ocê sabe que se eu saí por aquela porta, se eu me for... Eu volto!...E acabo com a raça de um por um de ocêis.Não deixo uma cria pra conta a história. Então?! Vê se é macho e atira. Pois, filho meu não pode comigo! MULHER ___Pelo amor de Deus. Parem. JOVEM ___Minha paciência foi embora. Sai ou não sai. VELHO ___Vóis mecê não é macho, piá de merda! (O jovem levanta a arma). VELHO ___Aqui, oh! Tem que ser no peito!

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JOVEm ___Vóis mecê está pedindo por isto há muito tempo. Quantas vezes fui tentado a fazer isto pra parar com tua covardia...E hoje, vóis mecê me dá a chance derradeira. VELHO ___Hóme qui é hóme não fala, faiz!

JOVEM ___Já que pediu... Eu lhe mato!

MULHER ___Por todos os Santos... Não!

(Seu grito desesperado é cortado pelo som do tiro. O impacto faz o velho cair sobre o banquinho e depois ao chão, e lá fica em espasmos, gemendo). CENA IV VELHO ___Maria, acuda! (Mãe e filho se olham, vão até lá erguem o velho sobre a mesa. O jovem apanha o banquinho, tira a camisa e senta-se, a mãe está inerte olhando o velho que geme e tem espasmos). MULHER ___O que ocê feiz meu fio... (E solta o braço que segura de repente, como a acordar do transe, ela coloca o bule no fogão, ajeita rapidamente o que acha estar fora do lugar, a espingarda na parede, a faca no pão, a cartucheira, ajeita o quadro de santo). MULHER ___Fio, o café num demora. (Traz a gamela para perto dele, ajoelha-se, retira calmamente os sapatos, as meias, e na vasilha lava os pés do filho, que vez ou outra esfrega-os. Um ao outro). MULHER ___Ocê me ouviu?! JOVEM ___Quê?

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MULHER ___O que ocê feiz... JOVEM ___Ele... Ele me duvidou e intão eu... Eu atirei! MULHER ___Sabe o que feiz? Vós mecê atirou no pai, no chefe e no rei...( ainda de cócoras seca os pés do filho, o velho dá seu último

gemido). Mas agora ele num é mais nada... Num é mais ninguém! (As luzes apagam em resistência, a música explode como um

despertar).

FIM ELENCO Mulher: Raquel Wücher. Jovem: Alvir Bianco. Homem: x.(off) Criança: x.(off) Velho: Poet Ha Abilio Machado.

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Estudo:

Dalton Trevisan e Teatro do Oprimido de Pedro Boal.

Para cada espetáculo um estudo, sobre um escritor ou uma técnica teatral, nada em um grupo pode separar a essência do aprender, cada texto oferece uma oportunidade, temos que aproveitá-

las quando surgem para crescermos cenicamente e em conhecimento educacional e moral.

Apresentado no projeto 45’ EM DOR MAIOR! No ano de 2002.

Realizado toda última segunda feira do mês no Salão da Sede Paroquial da Igreja Nossa Senhora da Piedade, em parceria com as reuniões do NA e do Amor Exigente. O projeto consistia em todo mês apresentar um texto, uma montagem diferente, foram nove espetáculos de cunho educativo e mais dois religiosos paixão e ressurreição.

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