Geofrey Blainey - Uma Breve História Do Mundo

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  • 8/11/2019 Geofrey Blainey - Uma Breve Histria Do Mundo

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    UMA BREVE

    HISTRIA

    DO MUNDO

    Tr aduo: Edi t or a Fundamentowww. edi t or af undament o. com. br

    Geoffrey Blainey

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    Sumr i o

    Parte 11. Vi ndos da f r i ca2. Quando os mares comear am a subi r3. A pr i mei r a Revol uo Verde4. A cpul a da noi t e5. As ci dades dos val es6. Maravi l hoso mar7. Senhor do Amarel o - Rei do Ganges8. A ascenso de Roma9. I sr ael e "O Ungi do"

    10. Depoi s de Cr i st o

    11. O si nal da Lua cr escent e12. Os gansos sel vagens cr uzam as mont anhas13. Em di r eo Pol i nsi a

    Parte 214. Os mongis

    15. Os per i gos do cl i ma e das doenas16. Novos mensagei r os17. A gai ol a

    18. Os i ncas e os Andes19. A Ref or ma20. Vi agem ndi a21. Os pr esentes que o Novo Mundo escondi a22. O ol ho de vi dr o da ci nci a23. Dest r onando a col hei t a

    Parte 324. A queda das car t as do baral ho

    25. Al m do Saara26. Nobr e vapor27. Ser que t odos so i guai s?28. O gl obo desvendado29. As guer r as mundi ai s30. A bomba e a Lua31. Nem f r ut as, nem pssar osEp l ogo

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    P A R T E 1

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    CAPTULO 1

    Vindos da frica

    H 2 mi l hes de anos, el es vi vi am na f r i ca e er am poucos. E-r am ser es quase humanos, embora t endessem a ser menores que seusdescendent es que hoj e povoam o pl anet a. Andavam eretos e subi ammont anhas com enorme habi l i dade.

    Al i ment avam- se pr i nci pal ment e de f r ut as, nozes, sement es e ou-t r as pl ant as comest vei s, mas comeavam a consumi r carne. Seus i m-pl ement os eram pr i mi t i vos. Se er am bem- sucedi dos em dar f or ma auma pedr a, no i am mui t o l onge com a model agem. pr ovvel que u-sassem um pedao de pau para def esa ou at aque, ou at mesmo paraescavar , caso surpr eendessem um r oedor escondendo- se em um bur aco.No se sabe se const r u am abr i gos f ei t os de ar bust os e de pedaos

    de pau par a se pr oteger em do vent o f r i o no i nver no. No h dvi dade que al guns moravam em caver nas - quando podi am ser encont r adas- , mas uma r esi dnci a per manent e t er i a r est r i ngi do bast ant e a ne-cessr i a mobi l i dade par a encont r ar al i ment o suf i ci ent e. Par a vi verdo que a t er r a of er eci a, pr eci savam f azer l ongas cami nhadas a l u-gar es onde sement es e f r ut as pudessem ser encont r adas. Sua di etaera r esul t ado de uma sr i e de descobert as, f ei t as ao l ongo de cen-t enas de mi l hares de anos. Uma das mai s i mpor t ant es est ava em sa-ber se uma pl ant a, aparent ement e comest vel , no era venenosa; ex-pl orando novos l ugares pr ocur a de novos al i ment os em t empos deseca e car est i a, al guns devem t er morr i do por envenenament o.

    H 2 mi l hes de anos, esses seres humanos, conheci dos como ho-mi n deos, vi vi am pr i nci pal ment e nas r egi es dos atuai s Quni a,Tanzni a e Et i pi a. Se di vi di r mos a f r i ca em t r s zonas hor i zon-t ai s, a raa humana ocupava a zona cent r al , ou zona t r opi cal ,const i t u da pr i nci pal ment e de past os. Uma mudana no cl i ma, cer cade um ou doi s mi l hes de anos ant es, que f ez com que em cert as re-gi es os past os t enham subst i t u do boa par t e das f l or est as, podet er i ncent i vado esses homi n deos a, gr adual ment e, descendo das r -vor es, dei xar a companhi a de seus par ent es, os macacos, e passarmai s t empo no cho.

    El es j acumul avam uma l onga hi st r i a, embora no t i vessem ne-nhuma memr i a ou r egi st r o di sso. Fal amos hoj e do gr ande espao det empo que se passou desde a const r uo das pi r mi des do Egi t o, masesse per odo repr esent a um si mpl es pi scar de ol hos se comparado l onga hi st r i a que a r aa humana j vi veu. Na Tanzni a, descobr i u-se um r egi st r o pr i mi t i vo pel o qual se concl ui que doi s adul t os euma cr i ana cami nhavam sobr e ci nza vul cni ca amol eci da por umachuva r ecent e. A segui r , suas pegadas f or am cozi das pel o sol e,aos poucos, f or am cober t as por camadas de t er r a; as pegadas, def i -ni t i vament e humanas, t m pel o menos 3, 6 mi l hes de anos. At mesmoi sso consi derado um f at o r ecent e na hi st r i a do mundo cont empo-r neo: os l t i mos di nossaur os f or am ext i nt os h cer ca de 64 mi -l hes de anos.

    No l est e da f r i ca, os pr i mei r os humanos cost umavam acampar smar gens dos l agos e dos l ei t os arenosos de r i os ou em campi nas:

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    nesses l ocai s, f or am encont r ados al guns rest os dei xados por el es.Consegui am adapt ar - se a cl i mas mai s f r i os e, na Et i pi a, pr ef er i amos pl anal t os aber t os, a uma al t i t ude de 1. 600 ou 2. 000 met r os aci -ma do n vel do mar . Nas f l orest as sempre verdes das r egi es mont a-nhosas, t ambm sent i am- se em casa; sua adapt abi l i dade er a i mpr es-si onant e.

    De modo geral , na i mpi edosa compet i o por sobr evi ver e mul t i -pl i car - se, os humanos t i ver am sucesso. Nas r egi es da f r i ca quehabi t avam, eram em nmero bem menor que as espci es de gr andes a-ni mai s, al guns del es agr essi vos; ai nda assi m, os humanos pr osper a-r am. Tal vez as popul aes t enham se t ornado mui t o numerosas paraos r ecur sos di spon vei s na r egi o ou t enha havi do um l ongo per odode seca, e i sso os t enha l evado par a o nor t e. H f or t e i nd ci o deque, em al gum moment o dos l t i mos doi s mi l hes de anos, el es t e-nham comeado a mi grar mai s par a o nor t e. O mai or deser t o do mun-do, que se est ende do noroest e da f r i ca para al m da Ar bi a, po-de, por al gum t empo, t er i mpedi do seu avano. A est r ei t a f ai xa de

    t er r a ent r e a f r i ca e a si a Menor , cont udo, podi a ser f aci l ment eat r avessada.Movi am- se em pequenos gr upos: eram expl or ador es e col oni zado-

    r es. Em cada r egi o desconheci da, t i nham de adapt ar - se a novos a-l i ment os e pr ecaver - se cont r a ani mai s sel vagens, cobr as e i nsetosvenenosos. Os que abr i am cami nho consegui am uma cer t a vant agem,poi s os seres humanos, adver sr i os i mpl acvei s dos i nvasores det er r i t r i o, no est avam l par a at r apal har seu cami nho.

    Era mai s uma cor r i da de r evezamento do que uma l onga cami nha-da. poss vel que um gr upo de tal vez 6 ou 12 pessoas avanasseuma pequena di st nci a e deci di sse se est abel ecer naquel e l ugar .

    Out r os vi nham, passavam por ci ma del as ou i mpel i am- nas para out r ol ugar . O avano pel a si a pode ter l evado de 10 mi l a 200 mi l a-nos. Mont anhas t i nham de ser escal adas; pnt anos, venci dos. Ri osl ar gos, gel ados e de f or t e cor r ent eza t i nham de ser at r avessados.Ser que el es at r avessavam esses r i os em seus pont os mai s r asos,nas est aes mui t o secas, ou nos pont os mai s pr xi mos s nascen-t es, ant es que o l ei t o se t or nasse l ar go demai s? Ser que os ex-pl or ador es sabi am nadar ? No sabemos as r espost as. A noi t e, emt er r eno desconheci do, er a pr eci so sel eci onar um abr i go ou um l ugarcom um m ni mo de segur ana. Sem a aj uda de ces de guarda, cabi a ael es mant er vi gi l nci a sobr e ani mai s sel vagens que vi nham caar

    dur ant e a noi t e.No decorr er dessa l onga e l ent a mi gr ao, a pr i mei r a de mui t asna hi st r i a da r aa humana, esses povos or i gi nr i os dos t r pi cosavanar am par a t er r i t r i os bem mai s f r i os, j amai s conheci dos porqual quer de seus ancest r ai s. No se sabe ao cer t o se consegui amaquecer - se ao f ogo nas noi t es f r i as. pr ovvel que quando um r ai oca a nas pr oxi mi dades, ateando f ogo vegetao, el es apanhassemum gal ho em chamas e o t r anspor t assem para out r o l ugar . Quando ogal ho est ava quase t odo quei mado e o f ogo por se ext i ngui r , j unt a-vam- l he out r o gal ho. O f ogo era t o val i oso que, uma vez obt i do,er a t r at ado com desvel o; ai nda assi m, o f ogo podi a ext i ngui r - se

    por descui do, apagar - se sob uma chuva f or t e ou por f al t a de madei -r a seca ou gr avet os. Enquant o consegui am mant er o f ogo, devem t -l o l evado em suas vi agens como um obj et o pr eci oso, como f azi am os

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    pr i mei r os nmades aust r al i anos.A habi l i dade de pr oduzi r f ogo, em vez de obt - l o ao acaso,

    vei o bem mai s t arde na hi st r i a humana. Com o t empo, os humanosconsegui r am pr oduzi r uma chama at r avs do at r i t o e do cal or pr ovo-cados ao esf r egarem- se doi s pedaos de madei r a seca. Podi am, t am-bm, t r i scar um pedao de pi r i t a ou out r a r ocha adequada e, assi m,

    pr ovocar uma f a sca. Em ambos os processos, er am necessr i os gra-vet os mui t o secos e o dom ni o da ar t e de sopr ar del i cadament e so-br e os gravetos em chamas.

    O empr ego habi l i doso do f ogo, r esul t ado de mui t as i di as e ex-per i nci as dur ant e mi l hares de anos, uma das conqui st as da r aahumana. A geni al i dade da manei r a com que er a empregado pode servi st a na f orma de vi da que sobr evi veu at o scul o 20, em al gumasr egi es r emot as da Aust r l i a. Nas pl an ci es desanuvi adas do i nt e-r i or , os abor gi nes acendi am pequenas f oguei r as par a envi ar si nai sde f umaa, uma f orma i nt el i gent e de t el gr af o. Usavam o f ogo t am-bm par a cozi nhar , par a se aquecer e par a f or ar os ani mai s a sai r

    das t ocas ( enchendo- as de f umaa) . O f ogo er a a ni ca i l umi nao noi t e, excet o quando uma l ua chei a l hes dava l uz par a suas cer i m-ni as de dana. Er a usado par a endurecer os pedaos de pau usadospar a cavar , par a model ar madei r a com a qual er am f ei t as as l anase para cr emar os mort os. Er a usado, ai nda, para gr avar marcas ce-r i moni ai s na pel e humana e para af ast ar as cobr as do capi m per t odos acampament os. Er a um ef i caz r epel ent e de i nset os e er a usadopor caador es par a quei mar o capi m em si st ema de mosai cos em cer -t as ocasi es do ano e, assi m, i ncent i var novo cr esci ment o, quandovi essem as chuvas. Er am t o numerosos os usos do f ogo que, at re-cent ement e, f oi a f er r ament a de mai or ut i l i dade da r aa humana.

    Hoj e, os humanos possuem armas que f azem com que as gar r as eos dent es de um ani mal par eam i nsi gni f i cant es. Por mui t o t empo,ent r et ant o, f oi a r aa humana que est eve em desvant agem: f i si ca-ment e, era menor e mai s l eve que mui t os dos ani mai s que habi t avamas r edondezas e i ncomparavel ment e menos numer osa que cada rebanhode gr andes ani mai s. Todo o cont i ngente humano de cada r egi o erapequeno, se compar ado ao das out r as espci es. Na si a, o gr andemamut e de chi f r es r ecur vos, uma espci e de el ef ant e, deve t er ex-cedi do em mui t o o nmero de humanos, que el es vi am ocasi onal ment e,enquant o past avam.

    O per i go de at aque de ani mai s sel vagens er a const ant e. H pou-

    cos anos, em 1996, 33 cr i anas f or am f at al ment e at acadas por l o-bos, em um Est ado da ndi a. Na f r i ca, os l eopar dos e os l ees de-vem t er si do t emi dos pel os humanos. Obvi ament e, cada pequeno avan-o na capaci dade de organi zao humana f oi uma aj uda vi t al para aaut odef esa, pr i nci pal ment e noi t e. Sem a habi l i dade de cooper aocont r a o i ni mi go, poss vel que os pr i mei r os humanos a se ar r i s-car em em novas r eas t r opi cai s t enham si do f aci l ment e el i mi nadospor pr edador es. Em cer t os l ugar es, poss vel que o pel ot o def r ent e, compost o por menos de uma dzi a de i ndi v duos, t enha si dol ogo di zi mado.

    H cer ca de 1, 8 mi l ho de anos, o pel ot o de f r ent e desse mo-

    vi ment o chegou Chi na e ao Sudest e Asi t i co. Pouco se sabe sobr ea l onga sr i e de vi agens f ei t as pel a raa humana, embora mui t o a-i nda possa ser desvendado por ar quel ogos e pr - hi st or i adores no

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    pr xi mo scul o. Habi t ant es do i nt er i or em sua essnci a, esses hu-manos pr ovavel ment e t ar dar am em est abel ecer - se ao l ongo do l i t o-r al , l evando ai nda mai s t empo par a domi nar as guas, mesmo as mai sr asas.

    Em escavao recent e, f ei t a numa i l ha mai s af ast ada do ar qui -pl ago da I ndonsi a, r evel ar am- se r esqu ci os de habi t ao humana,

    r emont ando a mai s de 800 mi l anos. Os r esqu ci os descober t os noant i go l ei t o de um l ago na i l ha mont anhosa de Fl or es provar am, semqual quer sombr a de dvi da, que os humanos t i nham apr endi do a cons-t r ui r embarcaes e a conduzi - l as mar adent r o: as embarcaes avel a ai nda l evar i am mui t o t empo par a apar ecer . Par a chegar i l hade Fl ores, t i ver am de f azer uma t r avessi a mar t i ma ousada r umo aol est e, par t i ndo da i l ha mai s prxi ma. Mesmo que o n vel do mar es-t i vesse em seu pont o mai s bai xo, a di st nci a per cor r i da em bar coou bote pequeno, part i ndo dessa i l ha mai s prxi ma, deve t er si dode pel o menos 19 qui l met r os. Tal vez essa t enha si do a vi agem ma-r t i ma mai s l onga at ent o. Al go como a pr i mei r a vi agem Lua no

    scul o 20, no sent i do de que excedi a t odas as vi agens ant er i or es.Aqui e al i ai nda podem ser encont r ados t r aos da vi da cot i di a-na desses expl or ador es e col oni zador es pi onei r os. Per t o de Pequi m,em um acampament o humano, camadas de ci nza e car vo veget al f oramr ecent ement e descober t as at r avs de cui dadosas escavaes. Essasf oguei r as de acampament o permanecer am i nt act as por t al vez 400 mi lanos e cont i nham os rest os de uma r ef ei o: o osso cal ci nado de umveado e cascas de nozes de r vor es encont r adas naquel a r egi o.

    Um despertar

    No espao de vr i os mi l hes de anos, os humanos t i nham se t or -nado mai s adapt vei s, muni dos de mai s r ecursos. O cr ebr o humanoest ava crescendo em vol ume. Enquanto ocupava cer ca de 500 cent me-t r os cbi cos nos pr i mei r os humanos, chegou a 900 na espci e humanachamada Homo erect us, que l evou a cabo a l onga mi grao. Em algum

    ponto entre os ltimos 500 mil e 200 mil anos, o crebro sofreunovamente um crescimento notvel em volume; esse aumento foi umdos grandes acontecimentos na histria das mudanas biolgicas.

    A est r ut ur a do crebr o t ambm vi nha mudando e caract er i zava- sepor uma "rea motora e uma r ea da f al a". Um crebr o mai or pareci a

    est ar associ ado a uma crescent e habi l i dade em usar as mos e osbr aos e ao l ent o sur gi ment o de uma l i nguagem f al ada. Um cr esci -ment o t o subst anci al no t amanho do cr ebr o de qual quer espci e um acont eci ment o de gr ande i mpor t nci a. Como i sso acont eceu, po-r m, um gr ande mi st r i o; uma das poss vei s causas f oi o uso cadavez mai or da car ne na al i ment ao. pouco pr ovvel que a raa hu-mana, nesse est gi o, possu sse as ar mas ou as habi l i dades necess-r i as para matar ani mai s sel vagens de qual quer t amanho. Possi vel -ment e, as ref ei es de carne pr ovi nham da cr escent e coragem de r e-vi r ar as car caas de ani mai s r ecm- abat i dos, enquant o o r ebanho oua manada pr i nci pal past ava no mui t o l onge do l ocal , ou pr ovi nham

    da cr escent e habi l i dade de caar ani mai s menores que no apr esen-t avam per i go, mas que no er am f cei s de capt ur ar . pr ovvel que,no decor r er do t empo, os ci dos graxos encont r ados na carne t enham

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    sof i st i cado o cr ebr o e seu f unci onament o; a l ongo pr azo, essavant agem possi bi l i t ou aos humanos vi sl umbr ar mel hores manei r as decaar ani mai s. Tudo i sso, por m, apenas especul ao.

    A l i nguagem f al ada adqui r i a mai s pal avr as e mai s preci so. Asbel as- ar t es surgi am j unt ament e com o at o de comuni car - se at r avsda f al a, apoi ando- se no uso de s mbol os que podi am ser detectados

    pel o ouvi do e pel a vi so. A habi l i dade de i nvent ar s mbol os e der econhec- l os f oi r esul t ado do l ent o desenvol vi ment o do cr ebr o;t al vez um desenvol vi ment o da l ar i nge humana t ambm t enha aj udado aexpr essar esses s mbol os na f orma de sons.

    Apesar dos avanos obt i dos no est udo da ment e nos l t i mos 50anos, ai nda h mui t o que expl orar sobr e o crebr o e a f al a huma-nos. Nas pal avras de um mdi co especi al i st a, em uma at i vi dade com-pl exa como a f al a "a i nt erao das par t es do crebr o no se asse-mel ha ao si st ema de uma mqui na, mas, si m, a uma col cha de r et a-l hos" . Sej a qual f or sua or i gem, a f al a a mai or de todas as i n-venes.

    H cer ca de 60 mi l anos, sur gi r am si nai s de um desper t ar dahumani dade. Recuando no t empo, os pr- hi st or i adores e arquel ogoscol heram evi dnci as de uma l ent a sucesso de mudanas que, nos 30mi l anos segui nt es, chegar am a mer ecer descr i es, t ai s como "OGr ande Sal t o" ou "A Expl oso Cul t ur al " . H mui t a cont r ovr si a so-br e quem t er i a dado esse sal t o e quem t er i a pr ovocado essa expl o-so. Provavel ment e, as mudanas est i ver am a car go de um novo gr upohumano que sur gi u na f r i ca e depoi s emi gr ou par a a si a e a Eur o-pa, onde coexi st i u com o homem de Neander t hal , uma espci e quemai s t arde vi r i a a desapar ecer . O que di gno de not a a exi st n-ci a da cr i at i vi dade humana em vr i as f r ent es.

    A f al a de cent enas de geraes de pessoas que vi ver am dur ant eesse desper t ar est ador meci da e perdi da no t empo, mas par t e desuas ar t es e of ci os sobr evi ve em f r agment os ou i nt act a. As ar t esf l or escer am na Eur opa dur ant e a l onga er a gl aci al , que t eve i n ci ocerca de 75 mi l anos at r s. Evi dnci as que chegaram at nossos di -as sugerem que mui t os humanos esperavam r enovar sua exi st nci a emuma vi da aps a mort e; a vi agem para essa nova vi da requer i a aces-sr i os ou i ndi cat i vos do stat us de cada um, e os i t ens escol hi doser am ar r anj ados ao redor do cor po no t mul o. Em Sunghi r , na Rs-si a, cer ca de 28 mi l anos at r s, um homem de apr oxi madament e 60anos de i dade teve seu corpo adornado com mai s de doi s mi l f r ag-

    ment os de mar f i m e de out r os or nament os. At i ngi r 60 anos de i dadedeve t er si do al go di gno de vener ao, poi s a mai or i a dos adul t osmorr i a mui t o mai s cedo.

    Em out r o t mul o, ent er r ada ao l ado de um homem, uma adol es-cent e f ora vest i da com um chapu de cont as e um pr ovvel mant o, doqual o ni co vest gi o um al f i net e de mar f i m que o t er i a pr endi doao pescoo da meni na. Seu corpo est ava cober t o com mai s de ci ncomi l cont as e out r os enf ei t es. O l ongo t empo que os ami gos ou at r i bo i nt ei r a l evar am par a pr epar ar essas decor aes e o cui dadoque t i ver am para ar r umar o t mul o so um si nal de que a mor t e er at o i mpor t ant e quant o a vi da.

    No raro, as pessoas desse mundo nmade devem t er vi vi do umagr ande i ncer t eza. Est avam mer c das estaes cl i mt i cas, poi sno armazenavam gr os, nozes ou out r os al i ment os com os quai s pu-

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    dessem enf r ent ar a f ase i ni ci al de um per odo de car est i a. Em suamai or i a, os abr i gos er am f r gei s. Em al gumas regi es, vi vi am l adoa l ado com t i gr es, l ees, ur sos, pant er as, el ef ant es e out r os ani -mai s de gr ande f or a e f er oci dade. Devi am ansi ar por segur ana econsol ao. Comear am, ent o, a cr i ar r el i gi es e obj et os de devo-o e homenagem, ass i m como represent aes do mundo a seu redor .

    As t cni cas de caa f oram aos poucos se desenvol vendo. Lascasde pedr a em f orma de pont as de l ana, l mi nas e out r os i nst r umen-t os de cor t e e de per f ur ao, super i or es a t udo o que j havi a si -do usado at ent o, eram pr oduzi dos s cent enas de mi l hares no es-pao de apenas um ano. Em vez de i r ao encal o s de ani mai s pe-quenos, os caadores passar am a at acar ani mai s de mai or port e. NaAl emanha, caavam- se el ef ant es; na Fr ana, o l eopardo, por sua pe-l e e por sua car ne; na I t l i a, caava- se o j aval i .

    O desenvol vi ment o das ar mas parece t er ensej ado mai or habi l i -dade de organi zao. As ar mas e a habi l i dade humana de cooperaof i zeram par t e do mesmo desper t ar i nt el ect ual . Rebanhos de ani mai s

    er am caados e encur r al ados ou l evados mor t e em um pr eci p ci o, oque dava l ugar a gr andes f est as de car ne. comum, hoj e em di a,af i r mar que os seres humanos naquel a poca vi vi am em harmoni a como mei o ambi ent e e no matavam sem necessi dade ou com i mpr udnci a,mas essa af i r mao t em de ser t r at ada com cui dado, devi do f al t ade pr ovas e concl uses.

    Na Europa e na si a, onde quer que o supr i ment o de al i ment osf osse f avorvel , acampament os e vi l as adqui r i am f ei o mai s perma-nent e. As casas er am ger al ment e const r u das em encost as que of er e-ci am pr oteo cont r a os vent os gel ados. Uma pequena escavao ci r -cul ar cr i ava um espao pl ano que ser vi a de cho f ei t o de ar dsi a,

    e t r oncos de madei r a sust i nham o tel hado, que er a recober t o compel e de caval os sel vagens e de out r os ani mai s. Vi nda da f oguei r a,no cent r o do ni co e ampl o cmodo, a f umaa sa a por uma pequenaaber t ur a no t el hado.

    No mundo i nt ei r o, as pessoas vi vi am uma vi da semi nmade. Cadapequeno gr upo de pessoas, r ar amente chegando a 20, ocupava umgr ande t er r i t r i o. No decor r er de um ano, mudavam si st emat i cament ede l ugar , sem carr egar nenhum per t ence e f azendo uso da var i edadedos al i ment os da est ao: uma uva madura aqui , uma pl ant ao det ubr cul os al i , um ni nho com ovos de pssar os mai s adi ant e, umanoz que amadureci a acol . Desde que a popul ao f osse pequena e os

    r ecur sos nat ur ai s f ossem mui t os, as pessoas vi vi am em r el at i va a-bundnci a. poss vel que, s vezes, vr i os grupos se encont r assem a cada

    ano em l ugar es com f ar t ur a de al i ment os, mas as gr andes r euni esdevem t er si do uma rar i dade. No mundo i nt ei r o, poss vel que emnenhuma poca, por exempl o, antes de 20000 a. C, mai s de 500 pesso-as t enham se reuni do em um mesmo l ocal . At mesmo suas r euni esdevi am ser t empor r i as. Como no cul t i vavam e no cr i avam ani mai s,no podi am pr over com al i ment os uma gr ande reuni o de pessoas pormui t o t empo.

    Uma t r i bo ou gr upo de pessoas que est ava const ant ement e em mo-

    vi ment o no podi a t r at ar com ef i cci a dos doent es e dos que noagent avam r eal i zar l ongas cami nhadas. At bebs gmeos eram umgr ande t r anst orno e, pr ovavel ment e, um dos doi s er a mor t o. Os mai s

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    i dosos, que j no podi am andar , er am dei xados par a t r s par a mor -r er . Uma soci edade em movi ment o no t i nha out r a al t er nat i va.

    O colombo negro

    Todas as manhs, quando o sol apar eci a no Lest e Asi t i co, aspessoas podi am ser vi st as em at i vi dade: col ocando l enha no f ogo,amament ando as cr i anas, sai ndo para col her nozes ou capt ur ar ani -mai s sel vagens, r aspando a par t e i nt er na da pel e dos ani mai s par acom el a f azer em vest i ment as ou t i r ando l ascas das r ochas par a comel as model arem suas f er r ament as. As mesmas cenas, pr ovavel ment e,podi am ser t est emunhadas em dezenas de mi l hares de l ocai s medi daque os pr i mei r os r ai os de sol se movi am para oest e, por t oda a -si a e depoi s por t oda a Eur opa at o At l nt i co. At i vi dades seme-l hant es podi am ai nda ser vi st as na f r i ca, onde os humanos ocupa-vam uma r ea cada vez mai or .

    Cerca de 100 mi l anos at r s, a rea ocupada pel a r aa humanaera ext ensa, mas uma gr ande par t e do gl obo permaneci a desabi t adapel o homem. Os ani mai s das Amr i cas nunca t i nham ouvi do a voz hu-mana ou vi st o uma l ana. Na Aust r l i a e na Nova Gui n, que f orma-vam um cont i nent e ni co, no havi a pegadas humanas. As i l has mai sdi st ant es er am i nacess vei s. No Oceano Pac f i co, a mai or i a das i -l has hoj e habi t adas era desconheci da dos ser es humanos: Hava eI l ha de Pscoa, Tai t i e Samoa, Tonga e Fi j i , al m das gr andes i -l has da Nova Zel ndi a. No Oceano I ndi co, a gr ande i l ha de Madags-car , de cl i ma r el at i vament e quent e, nunca vi r a uma f oguei r a e, nasr emot as i l has vul cni cas de Maur ci o e Reuni o, o est r anho pssaro

    dod, que no voava, no era ai nda per t urbado pel os ser es humanos.No Oceano At l nt i co, ao nort e do Equador , os Aores e a I l ha daMadei r a er am desabi t ados. A Gr oenl ndi a e a I sl ndi a est avam per -manent ement e cober t as de gel o, e os pssaros das Ant i l has est avamt ot al ment e a sal vo dos caador es humanos.

    A r aa humana, na ver dade, est ava conf i nada a apenas uma massade t err a, cuj a rea t otal desocupada er a i mensa. A rea dessast er r as habi t vei s, mas desocupadas, er a equi val ent e si a, ao de-ser t o do Saar a e ao nor t e da f r i ca, j unt os.

    Vr i as vi agens de descobr i ment o comeavam a ser r eal i zadas. Oshumanos est avam assumi ndo a t aref a de uma segunda l onga mi grao.

    Ent r e as margens mai s pr xi mas do Sudest e Asi t i co, que na pocai ncl u a J ava, e o l i t or al mai s pr xi mo da Nova Gui n Aust r l i a,havi a oi t o bar r ei r as mar t i mas. A mai or i a del as er am pequenas pas-sagens ou est r ei t os, com a mar gem opost a vi s vel do pont o de par -t i da. A passagem mai s l ar ga t er i a cer ca de 80 qui l met r os. Os pi o-nei r os, usando botes ou pequenas canoas, ocasi onal ment e se avent u-r avam a i r de uma i l ha a out r a mai s pr xi ma - desde que a margemopost a f osse vi s vel . Mas, se o vent o sopr asse mui t o f or t e, suaf r gi l embar cao f i car i a al agada e t odos a bor do per ecer i am af o-gados.

    A t r avessi a desse mosai co de mares e i l has si t uados ent r e a

    si a, a oest e, e a Nova Gui n Aust r l i a, a l est e, se est endeu pormi l har es de anos. Em al gumas ocasi es, el a f oi suspensa por at 10mi l anos. Uma i l ha er a descober t a e povoada e, l ogo em segui da,

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    out r o bar co ou bot e encont r ava, aci dent al ou i nt enci onal ment e, ou-t r a i l ha. Fi nal ment e, sem a m ni ma i di a da i mpor t nci a da desco-ber t a, a raa humana at r acou na Nova Gui n Aust r l i a. No havi amot i vo para i magi nar que um novo cont i nent e t i vesse si do descober-t o. No se sabe quando o descobr i dor , com ext r ema di f i cul dade,chegou nova t er r a, mas quase cer t o que t enha si do h mai s de

    52 mi l anos.O novo cont i nent e er a uma sur pr esa, um eni gma e, s vezes, umt er r or . No havi a ani mai s per i gosos, mas mui t as das cobr as e al gu-mas das aranhas eram ext r emament e venenosas. Aos poucos, os r ecm-chegados f or am expl orando o cont i nent e: cada est ur i o, cada mont a-nha, cada pl an ci e e cada deser t o. Cami nhando por t er r a at a Tas-mni a, el es cozi nhavam em cavernas ao l ongo das mar gens dos r i osno que er a, na poca, uma t undr a e que hoj e uma f l orest a t r opi -cal . Esses novos habi t ant es da Tasmni a er am os que vi vi am mai s aosul do gl obo. Foi um ver dadei r o t est emunho da adapt abi l i dade doser humano, que havi a se or i gi nado nos t r pi cos, mudado para o

    nor t e, segui do para l est e e est ava agora a mei o cami nho do Pl oSul .Na l t i ma f ase desse l ent o movi ment o de povos, or i gi nado na

    f r i ca e est endendo- se mui t o al m, o desenvol vi ment o da l i nguagemf oi um dos t r i unf os. Os di al et os e as l nguas se mul t i pl i car am.Mesmo em uma vast a r egi o, onde t odos, na poca da col oni zao i -ni ci al , pr ovavel ment e emi t i am sons semel hant es, as l nguas di ver -gi r am. Os gr upos vi vi am em r el at i vo i sol ament o e, assi m, suas l n-guas evol u r am de acor do com padr es di ver sos. Pr ovavel ment e, j exi st i am mi l har es de l nguas di f er ent es quando t eve i n ci o um novoevent o geogrf i co que, separ ando permanent ement e di versos povos

    uns dos out r os, mul t i pl i cou ai nda mai s o nmero de l nguas.

    CAPTULO 2

    Quando os mares comearam a subir

    Em 20000 a. C, a r aa humana est ava conf i nada a um cont i nent emaci o. Eur opa e f r i ca, si a e Amr i ca no eram separadas por ma-r es, e essa ni ca massa de terr a er a pal co de quase t odas as at i -vi dades humanas. A Aust r l i a e a Nova Gui n j unt as f ormavam umasegunda massa de t er r a habi t ada, mas cont avam com menos de 5% dapopul ao mundi al . Havi a out r a car act er st i ca cur i osa dessa popu-l ao: est ava quase i nt ei r ament e conf i nada s zonas t r opi cal et emperadas; as reas mai s f r i as do mundo er am pr at i cament e desabi -t adas.

    Nessa poca, as t emper at ur as em t odos os l ugar es er am mui t omai s bai xas do que as de hoj e. As gel ei r as eram at i vas e mui t o ex-t ensas, mesmo no sul da Aust r l i a, enquant o no Hemi sf r i o Nor t euma enorme rea er a cober t a de gel o durant e quase t odo o ano. AFi nl ndi a, a Suci a e uma boa par t e da I r l anda, que na poca noer a uma i l ha, er am t er r as sem pr ovei t o. Nas par t es al t as da Eur opaCent r al , havi a uma r ea bem mai or que a da at ual Su a compl eta-

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    vi vi am no l i t or al not ar am mai s uma mudana: o mar est ava subi ndo,e i sso vi nha ocor r endo ant es mesmo de o cl i ma se t ornar ni t i damen-t e mai s quent e.

    Mui t os habi t ant es das vi l as pr xi mas ao mar t emi am que suascasas f ossem al agadas um di a; al guns vi vi am sob a expect at i va des-se di a. Ni ngum ent endi a a causa desse est r anho acont eci ment o, em-

    bor a pr ovavel ment e t i vesse as pr pr i as expl i caes. No t i nhammei os de saber que as gr andes r eas gel adas em ambas as ext r emi da-des do gl obo est avam l ent ament e der r etendo e que o degel o est avaf azendo subi r o n vel dos mar es.

    Com a mudana cl i mt i ca, vi er am as al t er aes na vazo dosgr andes r i os. Na f r i ca, por vol t a de 10000 a. C, a gua do LagoVi t r i a comeou a cor r er par a o Ri o Ni l o e, a par t i r de ent o, oNi l o t or nou- se o r i o mai s l ongo do mundo. No l est e e no oest e dasi a, o aument o na vazo dos grandes r i os deve t er t i do ef ei t ospr of undos. A mai or i a dos l ongos r i os asi t i cos dependi a do degel ono al t o das mont anhas da si a Cent r al e, como o vero t ornou- se

    mai s acent uado, a vazo de al guns r i os deve t er aument ado subst an-ci al ment e. O f l uxo de sedi ment os f i nos deposi t ados ao l ongo de r i -os, como o Ganges, o Amar el o e out r os, era, em part e, r esul t ado doaument o no vol ume dessa gua de degel o. As pl an ci es do ent orno,cober t as de sedi ment os, acabar i am por t or nar- se o bero do que ho-j e chamamos de ci vi l i zao.

    Dur ant e al gum t empo, o nor t e da f r i ca at r ai u col oni zador eshumanos. Em par t e das t er r as r i das, por vol t a de 7000 a. C, a pr e-ci pi t ao anual de chuvas er a t r s vezes mai s acent uada do que ade hoj e. Lagos e pnt anos pont i l havam o Saar a. As pessoas podi amper corr er vr i os t r echos da r egi o e no ver nada al m de campi nas

    ou espci es de bosques, onde i nmeras r vor es of ereci am sombr a. Apopul ao do nor t e da f r i ca deve t er aument ado rapi dament e duran-t e os scul os mai s f avor vei s. Em segui da, sobr evei o um per odo deseca e, a par t i r de 3000 a. C, apr oxi madament e, o homem comeou af ugi r dos deser t os que se expandi am cada vez mai s.

    A el evao do n vel dos mares est ava quase compl eta por vol t ade 8000 a. C. Ao t odo, os mares t i nham subi do at 140 met r os: umaal t ur a de 116 met r os uma aval i ao f r eqent e. Esse f oi o event omai s ext r aordi nr i o na hi st r i a humana dur ant e os l t i mos 100 mi lanos - mui t o mai s deci si vo do que a i nveno da mqui na a vapor , adescobert a das bact r i as, a i da Lua ou, na ver dade, do que o so-

    matr i o de t odos os event os do scul o 20. A el evao do n vel dosmar es desencadeou uma grande t r ansf or mao na vi da humana e umaexpl oso popul aci onal .

    No Sudest e Asi t i co, medi da que os mares subi r am, o ant i gol i t or al , na mai or i a dos l ugar es, t or nou- se i r r econhec vel e dei xoude ser l i t or al . No ent ant o, nenhum l i t or al f oi t o al t er ado quant oo do cont i nent e que abr angi a a Nova Gui n e a Aust r l i a. O cl i mat r opi cal da Nova Gui n, com suas al t as mont anhas, f oi af et ado demodo mar cant e. Nessas mont anhas, a l i nha de neve dur ant e o i nver nocost umava descer at 3. 600 met r os. Com a el evao das t emperat u-r as, ent r et ant o, a l i nha de neve r ecuou mai s de mi l met r os sobr e

    as encost as das mont anhas. Nas t err as mai s al t as, o cl i ma se t or -nou mui t o mai s f avorvel agr i cul t ur a. A Nova Gui n no perdeupel o f at o de os mar es t er em se el evado: a por o de ter r a que f oi

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    submersa pel as guas f oi compensada pel a ter r a que surgi u com odegel o e pel a di mi nui o dos vent os f r i os. Com a el evao cont nuado n vel dos mares, a Nova Gui n f i nal ment e se separou da Aust r -l i a, f or mando- se, assi m, o Est r ei t o de Tor r es.

    A Aust r l i a f oi par t i cul ar ment e remodel ada pel a el evao don vel dos mar es, poi s era o mai s pl ano dos cont i nent es. Tal vez umst i mo de suas t err as secas f oi , aos poucos, sendo submer gi do, en-quant o os habi t ant es do l i t or al obser vavam, sem mui t o que f azer .Ao f i nal desses not vei s acont eci ment os, as t r i bos aust r al i anas

    que um di a vi ver am a at 500 qui l met r os do oceano podi am ouvi r ,em noi t es de tempest ade, um som desconheci do e l gubr e, o bar ul hodas ondas.

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    No ext r emo sul do cont i nent e aust r al i ano, o mar i nvasor cr i ouuma f enda, e a Tasmni a acabou por se t ornar uma i l ha. Esse es-t r ei t o di vi sor t or nou- se cada vez mai s l ar go e mai s chuvoso, e aspessoas da i l ha f i car am t ot al ment e i sol adas no que se t or nou t al -vez a mai s l onga segr egao de que se t em not ci a. De f at o, as ca-r act er st i cas dos t asmani anos f or am bast ant e al t er adas dur ant e o

    l ongo per odo de i sol ament o; passaram a apr esent ar cabel os cr espose se t ornaram geral ment e menores do que os abor gi nes dos quai sdescendi am.

    A Aust r l i a cont i nent al , ao cont r r i o da Tasmni a, no est avacompl et ament e i sol ada. Um conj unt o de i l has bem pr xi mas umas dasout r as a l i gavam Nova Gui n e, de t empos em t empos, os doi s po-vos separados pel o est r ei t o mar engaj avam- se no comrci o. Mas, naver dade, esse est r ei t o espao, por r azes no escl ar eci das, ser vi ude gr ande val a ou bar r ei r a por mi l hares de anos. Do l ado da NovaGui n, surgi u uma f orma de vi da baseada em gr andes pl ant aes,cul t i vo de al i ment os, uma popul ao mui t o mai s densa e uma or gani -

    zao pol t i ca e soci al di f er ent e. Do out r o l ado, os aust r al i anospermanecer am col hendo e caando, organi zados em pequenos gr uposnmades e vi vendo si st emat i cament e da t er r a. No h dvi da de que,se os mar es no t i vessem subi do e se a Aust r l i a e a Nova Gui nt i vessem cont i nuado par t e do mesmo cont i nent e, com l i gaes aol ongo de uma vast a extenso, a hi st r i a recent e da Aust r l i a t er i amai s a ver com a hi st r i a da Nova Gui n. Quando o i sol ament o f oif i nal ment e r ompi do com a chegada dos i ngl eses a Sydney, em 1788, ochoque e a desordem causados ao modo de vi da pecul i ar dos aust r a-l i anos f or am mui t o mar cant es.

    As amricas esquecidas

    O cont i nent e amer i cano havi a si do r ecm- descober t o pel a r aahumana quando os mares comear am a subi r . Os pr i mei r os humanospr ovavel ment e at r avessaram o espao ent r e a Si br i a e o Al asca emal gum moment o ant es de 22000 a. C. Os doi s cont i nent es er am uni dospor um f r i o cor r edor de t er r a e, no ver o, a t r avessi a no podet er si do t o di f ci l . Na ver dade, poss vel que caador es e suasf am l i as si mpl esment e t enham at r avessado esse cor r edor pr ocur ade ani mai s, achado o out r o l ado mai s at r aent e e deci di do f i car . De

    f at o, el es f or am os descobr i dor es de um novo cont i nent e e com di -r ei t o a um l ugar especi al na hi st r i a, mas - at onde sabi am - es-t avam si mpl esment e real i zando seu t r abal ho nor mal de cada di a.Cer t ament e, vr i as l evas de pessoas at r avessaram esse cor r edor edesceram a cost a oest e at chegar ao Mxi co, de cl i ma mai s quent e.Sua pr esena no Mxi co, por vol t a de 22000 a. C, pode ser comprova-da pel os pr eci osos ar t ef at os f ei t os de pedr as de obsi di ana dei xa-das em seus acampamentos.

    Gr andes ani mai s past avam nas campi nas, f azendo del as o para sodos caadores. Bi ses, mamut es, mast odont es, caval os e camel os di -vi di am a pai sagem e no sabi am que caador es habi l i dosos est avam a

    cami nho. Caas pequenas, como coel hos e veados, podi am ser capt u-r adas aos mi l hes, e novas pl ant as comest vei s eram encont r adas emabundnci a. Quando o i nver no se apr oxi mava, os novos habi t ant es

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    t i nham acesso a mai s pel es e cour os de ani mai s do que poder i am u-sar .

    A popul ao da Amr i ca aumentava, e mui t as escavaes de acam-pamentos humanos apontam para uma rpi da di ssemi nao dos povoa-ment os por vol t a de 11000 a. C. At r avessando o i st mo do Panam, ohomem pr i mi t i vo chegou Amr i ca do Sul , com poucas bar r ei r as i m-

    pedi ndo o seu movi ment o, at que o gel o permanent e no ext r emo sulf osse avi st ado.A , ent o, os mar es que subi am sem avi so comear am a separ ar

    as Amr i cas do r est ant e do mundo. Por vol t a de 10000 a. C, o cor r e-dor de t err a que i a da si a ao Al asca, o ni co por t o de ent r adapar a as Amr i cas, f oi cor t ado pel a el evao dos mar es. For mava- seo Est r ei t o de Ber i ng e, dur ant e al gum t empo, o mar no novo est r ei -t o se congel ava, permi t i ndo cami nhar sobr e o gel o; ai nda assi m,esse pont o de t r avessi a er a per i goso quando o cl i ma se t or navamai s ameno. Quase t odo o cont at o ent r e as Amr i cas e o mundo ex-t er no f oi i nt er r ompi do e, t al vez por mai s de 10 mi l anos, r ei nou o

    si l nci o. Pssar os mi gr at r i os vi aj avam ent r e os doi s cont i nent es,mas as pessoas vi vi am i sol adas. Por f i m, os habi t ant es das Amr i -cas acabaram por desconhecer o l ugar de suas or i gens.

    Em seu pr ol ongado i sol ament o da si a, cont udo, as Amr i cas nof i caram est agnadas. Os humanos r api dament e penet r aram cada pedaode ter r a habi t vel . Aos poucos, r ami f i car am- se em vr i os modos devi da: os caador es i nu t es no nor t e gel ado, caador es e ext r at or esvagando pel o t ambm gel ado ext r emo sul , vr i os povos combi nandoat i vi dades de caa e l avour a em di ver sas part es da Amr i ca do Nor-t e e do Sul , enquant o al gumas t r i bos vi vi am com abundnci a de sal -mo e do t r abal ho escr avo, ao l ongo dos r i os Fr aser e Col mbi a, no

    Noroest e. Mesmo ant es de 2000 a. C, as Amr i cas possu am uma enormedi ver si dade de at i vi dades econmi cas e de cul t ur as.No f i m do scul o 20, surgi u a i di a de que, de al guma f orma, a

    Fl or est a Amazni ca, i sol ada e i mpenet r vel , havi a pr at i cament e es-capado da i nt er f ernci a humana. Com o respei t o cada vez mai or pel anatur eza em mui t os cant os do mundo oci dent al , a Fl orest a Amazni caem ger al consi der ada um pr od gi o. Al i , a nat ur eza pr i mi t i va sepr eser va em t oda a sua gl r i a vul ner vel : uma enorme baci a ver debanhada por um maj est oso r i o si l enci oso. At mesmo o Ri o Amazonas hoj e conheci do por sua ext r aor di nr i a hi st r i a humana dur ant e ol ongo per odo em que as Amr i cas f or am separ adas da Eur opa e da

    si a. Os t r abal hos de cermi ca mai s ant i gos em t odas as Amr i casf or am f ei t os no na Amr i ca Cent r al ou do Nor t e, mas na f l or est at r opi cal da Baci a Amazni ca, ant es de 5000 a. C. H t ambm evi dn-ci as de que o mi l ho, o cer eal mi l agr oso, f oi pr i mei r ament e cul t i -vado pel os pl ant ador es da r egi o. Cur i osament e, a di ver si dade bi o-l gi ca dessa r egi o ger al ment e mai s i mpr essi onant e, no na f l o-r est a vi r gem, mas nas reas que f or am cul t i vadas pel os pl ant ador espi onei r os da Amazni a e que, agora, est o camuf l adas por nova ve-get ao.

    Como as Amr i cas, o J apo t ambm f oi l anado num i sol ament oprol ongado. Sua hi st r i a humana er a mui t o mai s ext ensa do que a

    das Amr i cas. O pa s havi a si do ocupado h dezenas de mi l har es deanos ant es de os mares comearem a subi r . Uma das r egi es habi t a-das mai s f r i as do mundo, seus pi cos cober t os de neve h mui t o se

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    sobr epunham a i mensas r eas de f l or est as. Com os t exugos, l ebr es ej aval i s est avam os t i gres, pant er as, ur sos pardos, bi ses, uma es-pci e de el ef ant e e out r os ani mai s de por t e, embora seu nmero es-t i vesse di mi nui ndo.

    A medi da que os mares comear am a subi r , el es separaram as -r eas povoadas do J apo, mai s ao sul , e as conver t er am em i l has. O

    Est r ei t o de Tsushi ma, que separa o J apo da Cori a, f ormou- se des-de l ogo. Quando af i nal o J apo f oi t ot al ment e i sol ado, sua popul a-o er a mui t o pequena, pouco menos de 30 mi l pessoas, a mai or i apr ovavel ment e vi vendo no l i t or al ou pr xi mo del e, com o mar f or ne-cendo- l hes pei xes, os val es e pl an ci es dando- l hes veget ai s no ve-r o. Pequenos grupos de pessoas mudavam de l ugar para t i r ar mel horpr ovei t o das est aes que, quando er am pr ol i f er as, causavam gr andej bi l o, mas t empos de escassez est avam por vi r .

    Par a os j aponeses, no que el es chamam de per odo J omon, a ex-pect at i va de vi da er a bai xa, como para a mai or i a dos povos. Viver45 anos era uma raridade e chegar aos 70, um milagre. A ossada de

    um homem de Yokohama, escavada em 1949, f oi est udada at r avs der ai o X, most r ando que, quando cr i ana, el e s vezes passou f ome.Seus dent es, como o de t ant as out r as pessoas nmades, est avam des-gast ados e os mol ares i nf er i or es de um l ado da boca est avam quaseni vel ados com a gengi va super i or . O desgast e dos dent es f oi acel e-r ado pel a pr t i ca de assar carne sobr e pedr as quent es ou a f ogoabert o sobr e a arei a e, por t ant o, uma poro de carne geral ment evi nha sal pi cada de gr os.

    Os j aponeses da I l ha de Kyushu j f azi am t r abal hos de gr andebel eza em cer mi ca. Uma pea dat ada de 10500 a. C. pr ovavel ment emai s ant i ga que qual quer cermi ca da Chi na e, t al vez, do mundo i n-

    t ei r o. Cer mi cas ai nda mai s ant i gas f or am descober t as r ecent emen-t e. No decor r er de mi l har es de anos, suas f or mas t ornaram- se t oornament adas quant o as peas das ci vi l i zaes eg pci a, gr ega echi nesa, das quai s o J apo, devi do ao seu i sol ament o e di st nci a,no poder i a t er conheci ment o.

    Por vol t a de 5000 a. C, al gumas das casas ou cabanas j aponesasi mpressi onavam quando compar adas aos padres da mai or i a das r egi -es do gl obo. Cavava- se um bur aco, e as paredes da pequena casa decerca de 4 met r os quadr ados f i cavam par ci al ment e dent r o del e epar ci al ment e aci ma da super f ci e do cho. Tr aves ver t i cai s sust en-t avam o tel hado de sap, f ei t o com gr ama e j unco. Dent r o de um es-

    pao em que er a poss vel escut ar um ao out r o, podi am ser encont r a-das quat r o ou ci nco casas que, ao t odo, abr i gavam t al vez 15 pesso-as. Em noi t es f r i as, o cal or do cor po das pessoas amont oadas umasj unt o das out r as provavel mente er a r esponsvel pel a mai or par t e doaqueci ment o, poi s a f oguei r a er a l ocal i zada do l ado de f or a da ca-sa. Ces pequenos er am mant i dos para caa e t ambm para ser vi r emde companhi a. Prxi mo ao l ocal das casas, f oram escavadas pequenasf i gur as de barr o most r ando sei os e ndegas despr opor ci onai s, pos-si vel ment e r epr esent ando est t uas sagr adas que pr otegi am as mul he-r es nos t r abal hos de par t o.

    Os j aponeses j cul t i vavam al i ment os em al guns di st r i t os. Mui -

    t os gr upos vi vi am par t e do ano per t o das f l or est as, onde se podi acol her uma gr ande quant i dade de nozes, par t e das quai s era consu-mi da e par t e cul t i vada. Setembr o, out ubr o e novembr o er am os meses

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    par a col her f r ut os secos, sendo os da cast anhei r a os pr i mei r os acai r . Embor a as cast anhas sej am menos nut r i t i vas que os f r ut os danoguei r a, el as er am mai s f cei s de conservar ent r e camadas de f o-l has col ocadas em covas de ar mazenagem nas pr oxi mi dades ou dent r odas casas. Em cont r ast e, os f r ut os do car val ho que se despr endi amda r vor e pr eci savam de t r atament o com gua cor r ent e para r emover

    o ci do t ni co; r eduzi dos a f ar i nha f i na pel a ao de pedr as t r i -t ur ador as, os f r ut os do car val ho er am al t ament e sabor osos. A t ar e-f a de socar e de moer esses f r ut os - e de amassar bar r o para f azerpot es - em ger al f i cava com as mul her es. O const ant e exer c ci o t i -nha o cur i oso ef ei t o de al ongar suas cl av cul as.

    Com uma engenhosi dade cr escent e na pr oduo de al i ment os, apopul ao do J apo em 2000 a. C. devi a exceder os 200 mi l , f azendoda regi o uma das mai s densament e povoadas do mundo. Nos padresatuai s, no ent ant o, o J apo er a uma sel va espar sament e habi t ada.

    O paradoxo do isolamentoPor mi l har es de anos, as pessoas que vi vi am nos t er r i t r i os

    dos at uai s J apo e Est ados Uni dos er am bast ant e ou tot al ment e i so-l adas do mundo ext er no. Sua exper i nci a era pouco comum. Pode pa-r ecer que essas t er r as t enham f i cado per manent ement e af etadas poresse l ongo i sol ament o, ao mesmo t empo em que a Eur opa e a si acont i nuavam mudando rapi dament e. No ent ant o, as duas reas, queuma vez est i ver am t o i sol adas, so as gr andes pot nci as econmi -cas do mundo de hoj e.

    Tal vez esse paradoxo t enha uma expl i cao. O i sol amento geo-

    gr f i co, mai s cedo ou mai s t arde, er a um gr ande pr obl ema para t o-dos os povos; mas, nos l t i mos 150 anos, o i sol ament o geogr f i cose t ornou um mi st o de bno e de pat r i mni o. Em um mundo que en-col he cada vez mai s, i di as, bens e pessoas podem f aci l ment e at r a-vessar bar r ei r as mar t i mas que er am i mpenet r vei s h 10 mi l anos.Mas o mar ai nda uma barr ei r a para os exr ci t os i nvasor es. Par a oJ apo e os Est ados Uni dos, as barr ei r as mar t i mas dei xar am de seruma desvant agem e se t ornaram uma das pr i nci pai s f or as, sal vando-os de mui t as i nvases e f azendo- os r el ut ar em envol ver - se em guer -r as di spendi osas que ocor r i am l onge de casa.

    A Eur opa chegou a se enf r aquecer vr i as vezes com as guerr as

    ocor r i das em seu sol o e nos mares nos l t i mos 150 anos. Consegui use recuper ar , mas sua r ecuper ao e i nf l unci a gl obal f or am pr ej u-di cadas por di vi ses. Em cont r ast e, dur ant e o mesmo per odo, nosEst ados Uni dos uma s guerr a ecl odi u em seu sol o; ai nda assi m, umaguer r a ci vi l , e no cont r a i nvasor es. Se os Est ados Uni dos, em1800, est i vessem si t uados na Eur opa, pr ovavel ment e nunca ter i am seal ado a seu at ual poder ; nunca t er i am t i do sucesso numa pol t i cade i sol ament o. Da mesma f orma, as pr i nci pai s i l has do J apo, depa-r ando- se com uma si t uao mi l i t ar desesper ador a dur ant e os l t i mosmeses da Segunda Guer r a Mundi al , t ampouco f oram i nvadi das naquel apoca. Na verdade, r econhecendo a gr ande di f i cul dade de i nvadi r o

    J apo, os Est ados Uni dos, em 1945, no t i ver am quase nenhuma al -t ernat i va seno j ogar as pr i mei r as bombas atmi cas na esperana deamedr ont ar os j aponeses, l evando- os r endi o. Em essnci a, os

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    f at or es geogr f i cos que t i nham penal i zado e i sol ado o J apo e aAmr i ca do Nor t e aps a el evao do n vel dos mares acabaram sendouma vant agem em cer t as si t uaes.

    Cap t ul o 3A Primeira Revoluo Verde

    Na S r i a e na Pal est i na, l ogo aps os mar es t er em chegado aseu novo n vel , uma pequena r evol uo pareci a est ar comeando. Aocont r r i o da bem conheci da Revol uo I ndust r i al , el a f oi i ncri vel -ment e l ent a, e a f ora de seu i mpact o no ser i a sent i da dur ant emi l hares de anos. Mas a vi da humana t omar a um r umo do qual no ha-vi a como escapar .

    O vi l ar ej o de J er i c er a a vi t r i ne da r evol uo por vol t a de8000 a. C. Consi st i a de pequenas casas de t i j ol os de bar r o, l cul -t i vando t r i go e cevada em mi nscul os pedaos de t err a. Esses cer e-ai s, que or i gi nal ment e cresci am a er mo, f or am sel eci onados par acul t i vo porque seus gr os er am gr andes em comparao aos out r oscer eai s si l vest r es e um gr o mai or er a mai s f ci l de col her e demoer , sendo t r ansf or mado em f ar i nha i nt egr al r udi ment ar . Provavel -ment e, os habi t ant es dos vi l ar ej os pr epar avam a t er r a, sel eci ona-vam um t i po f i r me de sement e que no se despedaava quando madurae pl ant avam as sement es de f orma mai s concent r ada que a nat ur eza of azi a. O gr o, col hi do com f acas e f oi ces de pedr a, er a ar mazenadono vi l arej o. Hoj e, met ade das cal or i as do mundo vem de uma pequenavar i edade de cer eai s, os pr i mei r os dos quai s er am cul t i vados pel oshabi t ant es desses vi l ar ej os do Or i ent e Mdi o.

    A pr i nc pi o, os habi t ant es de J er i c e de out r os vi l ar ej os se-mel hant es no possu am nenhum ani mal domst i co. A mai or par t e dacarne que consumi am ai nda vi nha de gazel as sel vagens e de out r osani mai s e aves que el es di l i gent ement e caavam. Mas, nos cer ca de500 anos que passar am t ent ando domi nar o t r i go, a cevada e cer t aservi l has e gr os de l egumi nosas, comear am t ambm a cr i ar cabr as eovel has em pequenos r ebanhos, pr ovavel ment e nas proxi mi dades dosvi l ar ej os. A est ava mai s uma f or ma de pr ovi so de al i ment os, poi so r ebanho um al i ment o. Evi dnci as suger em que as pr i mei r as esp-ci es de ani mai s f or am domest i cadas i ni ci al ment e em r egi es di st i n-t as - ovel has nas f r ont ei r as da at ual Tur qui a e I r aque, cabr as nasmont anhas do I r , gado no pl anal t o da Anat l i a. Ovel has e cabr asvi vi am pr i nci pal ment e em r ebanhos e, por t ant o, er am mai s f cei s dedomest i car , poi s domest i car um i ndi v duo da espci e si gni f i cavadomest i car t odos.

    Os pr i mei r os humanos a domest i car ovel has, cabr as e boi s e amant - l os j untos em r ebanhos provavel ment e no f oram os mesmos quei ni ci ar am as pr i mei r as pl ant aes. Pl ant ar t r i go ou domest i car ca-bras r equer i a pel o menos uma dzi a de obser vador es, homens ou mu-l heres com ol hos bem at ent os. pr ovvel que os homens, que em ge-r al er am os caador es, t enham si do os domest i cador es dos ani mai s eque as mul her es t enham cul t i vado os pr i mei r os cer eai s. Os cer eai s

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    e o gado no coexi st i am em har moni a i ni ci al ment e. Os pr i mei r os l a-vrador es no quer i am ani mai s past ando per t o de suas pl ant aes,al i ment ando- se del as ou pi soteando- as.

    Nas pequenas f azendas e pl ant aes, o t r abal ho di r i o t i nha desegui r uma pr ogr amao mai s r gi da que nos di as de vi da nmade. Seera hora de capi nar , de cavar ou de semear , a opor t uni dade t i nha

    de ser apr ovei t ada - ou poder i a ser per di da. A nova f or ma de vi daexi gi a uma di sci pl i na e uma sucesso de obr i gaes que cont r ast a-vam com a l i ber dade dos t r abal hador es da col hei t a e dos caador es.

    No se sabe ao cer t o por que esse dupl o avano t eve l ugar nomesmo pont o do Medi t er r neo, mas a r egi o r eal ment e of ereci a van-t agens. Mai s par a o i nt er i or , abundavam doi s cereai s que davamgr os par t i cul ar ment e gr andes e al i t ambm habi t avam ovel has e ca-br as que, por serem pequenas e vi ver em em r ebanhos, er am mai s f -cei s de ser domest i cadas que a mai or i a dos gr andes ani mai s sel va-gens. Mas essas vant agens e essa sor t e, em si , no so suf i ci ent espara expl i car as mudanas. Na hi st r i a do mundo, opor t uni dades e

    sor t e f oram r el at i vament e abundant es, mas poucos f or am aquel es quesouber am apr ovei t - l as.Out r os f at or es mol dar am o i n ci o dessa nova f or ma de vi da. A

    el evao dos mar es al agando o l i t or al l evou os povos para o i nt e-r i or , onde, como resul t ado, uma mi st ur a de povos, i di as e hbi t osse i mps. Al m di sso, o cl i ma est ava se t or nando mai s quent e, f a-zendo com que cer t as pl ant as e ani mai s pr ol i f er assem. Os cer eai scer t ament e cr esci am numa r ea mai or que at ent o. Os ani mai s depor t e, t r adi ci onal ment e uma f ont e vi t al de al i ment os, est avam set or nando mai s escassos e i sso ser vi u de i ncent i vo para que se do-massem ani mai s sel vagens.

    Por l ongos per odos, as t r i bos pi onei r as que est avam ocupandopl ant aes e cr i ando rebanhos t i ver am de coexi st i r com os povosnmades. Essa convi vnci a i mpunha cer t a t enso. Em t empos de f ome,os nmades f ami nt os er am t ent ados a at acar os vi l ar ej os vi zi nhosque mant i nham est oques de gr os e r ebanhos de ani mai s. Os habi t an-t es dos vi l ar ej os, por sua vez, f or t i f i cavam- se e mant i nham vi gi -l nci a const ant e. Em mai or nmer o e mai s bem or gani zados - t r aba-l har na l avour a i mpl i cava or gani zao - , est es ger al ment e er am p-r eo para os nmades em qual quer l ut a.

    O futuro estava com os novos fazendeiros e pastores de reba-nhos; ter acesso ao celeiro em tempos de fome era possuir um pa-

    trimnio que nenhuma outra tribo na era nmade poderia possuir.Dur ant e a seca, o vi l ar ej o que t i vesse um bom est oque de gr os eum r ebanho de ovel has ou cabr as poder i a sobr evi ver por mai s t empo.

    As pessoas podi am possui r ovel has, mas, de cer t a f or ma, as o-vel has que possu am as pessoas, pr at i cament e f i xando- as ao vi l a-r ej o. Por i sso, a f or ma de vi da t r adi ci onal - a busca por al i men-t os, o saque e as al egr i as das caadas bem- sucedi das - ai nda t i nhaum cert o encant o. Er a t ambm uma f ont e segur a de al i ment os, pr i n-ci pal ment e na pr i maver a. Assi m, mi l har es de anos depoi s do surgi -ment o da l avour a e da cr i ao de ani mai s, mui t os vi l ar ej os ai ndadependi am mai s da caa e da col eta de al i ment os em pnt anos, f l o-

    r est as e pl an ci es do que da nova f ont e, pr oveni ent e de cer eai s,do l ei t e e da car ne.A di ssemi nao dessa nova f orma de vi da pel as mar gens do Medi -

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    um chef e, ger al ment e do sexo mascul i no. Ao mesmo t empo em que de-f endi a sua ci dade e suas t er r as ar vei s, o chef e apr ovei t ava a o-por t uni dade par a descont ar em seus i ni mi gos ant i gos desaf et os emgoas, capt ur ando al guns del es e escr avi zando- os. Os nmades r a-r ament e usavam escr avos, ao passo que um governant e sedent r i o po-der i a empr egar escr avos ou t r abal ho f or ado par a const r ui r canai s

    de i r r i gao, t empl os, f or t i f i caes e out r os pr oj et os. Os novosgovernant es podi am arr ecadar i mpost os na f orma de gr o, carne ouout r os bens, enquant o as t er r as dos nmades havi am si do r eas l i -vres de i mpost os.

    Os novos gover nant es or denavam sacerdotes que, por sua vez,davam l egi t i mi dade e apoi o mor al aos gover nant es. Enquant o a r el i -gi o em si era uma vel ha al i ada da r aa humana, sacerdotes e sa-cer dot i sas er am uma novi dade. El es aj udavam a t r azer a chuva quepunha f i m seca, abr i am cami nho par a uma col hei t a f ar t a, aj udavama derr otar o i ni mi go na guerr a e, pr ovavel ment e, davam uma sensa-o de paz i nt er i or par a aquel es que, caso cont r r i o, poder i am

    t er - se sent i do af l i t os. Por vol t a de 3500 a. C, mui t os dos vi l ar e-j os r urai s e pequenas ci dades da Eur opa e do Or i ente Mdi o est avamconst r ui ndo monument os r el i gi osos de t amanho i mpr essi onant e.

    As novas r el i gi es r ef l et i am um sent i ment o de admi r ao em r e-l ao ao uni ver so e s suas obr as, bem como os t emores e as espe-r anas em r el ao ao i menso poder da nat ur eza. Est a t i nha de seradorada e apazi guada; a popul ao de uma regi o podi a ser di zi madapor uma t empest ade de grani zo que dest r u a as pl ant aes, doenasque mat avam os r ebanhos, pragas de i nsetos ou f ungos que at acavama col hei t a, uma pr i mavera que passava sem chuvas, a di mi nui o donmer o de ani mai s sel vagens devi do a doenas, seca ou a uma en-

    chent e i nesper ada. Para garantir que o solo se mantivesse frtilou que a colheita anual fosse abundante, presentes poderiam seroferecidos aos deuses. O maior presente era o sacrifcio de umavida humana, que podi a abr i r os por t es at r avs dos quai s a abun-dnci a adent r ar i a.

    O enigma da nova guin e das amricas

    As r eas mai s al t as da Nova Gui n pareci am t o r emotas queper manecer am i nexpl oradas pel os eur opeus at o scul o 20. Por ou-

    t r o l ado, el as f or am um dos pi vs da r evol uo ver de. J em 7000a. C, quando a agr i cul t ur a ai nda no havi a chegado Eur opa, os ha-bi t ant es da Nova Gui n cul t i vavam vr i os t i pos de i nhame e out r asr a zes, o t aro ( t i po de i nhame que gost a de sombr a) , a cana- de-acar e a banana nat i va. Val as cavadas mo mel horavam a qual i -dade do sol o e aj udavam essa f orma si mpl es de l avour a. No i m-poss vel , ai nda que sej a pouco pr ovvel , que a i di a de l avrar at er r a t enha chegado Nova Gui n pr oveni ent e do Sudest e Asi t i co.

    Na Nova Gui n, as rvor es eram cor t adas com machados de pedr a,com os quai s o l enhador dava gol pes cur t os e br uscos, car act er s-t i cos dos machados de guerr a dos ndi os nor t e- amer i canos, em vez

    dos movi ment os t pi cos dos at uai s machados de cabo l ongo. Por f i m,a l enha e a vegetao r ast ei r a er am quei madas, const r u a- se umacerca e pl ant avam- se ra zes comest vei s usando as ci nzas r ecent es

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    da f oguei r a como nut r i ent e. A capi na er a uma t ar ef a f undament al e,ger al ment e, er a pr at i cada pel as mul her es. Aps al gumas saf r as, osol o se t ornava t emporar i ament e empobr eci do e, a al guma di st nci adal i , um novo pedao de ter r a da f l or est a er a ar duament e cul t i va-do. Er a uma f or ma de pi onei r i smo que exi gi a mui t o mscul o, r esi s-t nci a e suor . Tal mudana na f or ma de cul t i vo r equer i a gr andes

    r eas de f l or est a, das quai s s uma f r ao er a l avrada e pl ant adadur ant e o ano.As Amr i cas, assi m como a Nova Gui n, desenvol ver am suas pr -

    pr i as reas de l avour a. Pl ant as, como a abbor a, o al godo e a pi -ment a mal agueta, eram cul t i vadas no Mxi co ant es do ano 6000 a. C.e, mai s t ar de, sur gi r am o mi l ho e o f ei j o. Na cost a l est e do quehoj e so os Est ados Uni dos, as t er r as l avradas apar ecer am por vol -t a de 2500 a. C. No t empo devi do, a agr i cul t ur a se t ornou a basedas ci vi l i zaes amer i canas que os espanhi s vi er am a descobr i r .

    A vi so pr edomi nant e de que a agr i cul t ur a amer i cana e suasci vi l i zaes car act er st i cas sur gi r am pr at i cament e i sol adas. H um

    consenso de que a el evao do n vel dos mares i sol ou permanent e-ment e os novos col oni zador es que at r avessaram da si a para as Am-r i cas; cont udo, a possi bi l i dade de uma i nf l unci a cul t ur al r ecor -r ent e do l est e da si a, f r i ca ou Eur opa no pode ser el i mi nadapor compl eto. Tal vez uma nova l eva de col oni zadores t enha ocasi o-nal ment e chegado ao cont i nent e amer i cano.

    Al gumas evi dnci as f avorecem a teor i a de que a si a e as Am-r i cas t enham per maneci do em cont at o. Assi m, a gal i nha pi gment adada Chi na, com seus ossos pr et os e car ne escur a, exi st i u nas Amr i -cas, onde er a t r at ada da mesma f orma que na Chi na, sendo sacr i f i -cada em r i t uai s de magi a e de cur a, mas evi t ada nas r ef ei es. Se-

    r que essa gal i nha t er i a chegado da Chi na em bar cos de col oni za-dor es que vi er am mai s t ar de, em out r as l evas? Da mesma f orma, al -guns est udi osos ar gument am que o car act er st i co cal endr i o dosmai as, que vi vi am na Amr i ca t r opi cal , pr ovavel ment e se or i gi nouem Taxi l a, no atual Paqui st o, e que quat r o dos 20 nomes dados aosdi as desse cal endr i o f oram empr est ados di r et ament e das di vi ndadeshi ndus.

    O f l uxo de i di as, de pl ant as e de ani mai s pel o Pac f i co t al -vez t enha se dado em ambas as di r ees. No obst ant e, uma regi ode l avour as surgi u ant es das out r as e f oi mai s di nmi ca em t odosos seus ef ei t os. O Or i ent e Mdi o er a como um f ogo que, uma vez a-

    ceso, pr opi ci ava cada vez mai s l uz.Vasos f ei t os mo, cozi dos ao sol ou sobr e br asas er am umapart e f undament al da nova f orma de vi da. Enquant o os vasos no t i -nham ut i l i dade par a os povos nmades, poi s est es est avam em cons-t ant e movi ment o, os povos que vi vi am no mesmo l ugar boa par t e doano ganharam mui t o com a i nveno da cermi ca. No mundo oci dent al ,hoj e di f ci l compr eender por que os vasos cer mi cos f or am t oi mport ant es, j que so t o pouco usados at ual ment e, excet o comoenf ei t e. Os vasos er am pr i nci pal ment e val i osos par a f or necer l uz epara cozi nhar , sendo t ambm ext r emament e ef i ci ent es para quei marcombust vei s. Havi a l ampi es de cermi ca e vasi l has nas quai s co-

    l ocavam- se vel as; vasos mai ores, al guns com t ampas e al as, guar -davam gua e cer vej a dent r o de casa. Um vaso no vi t r i f i cado ser -vi a de mor i nga, poi s aparent ement e mant i nha a gua f r esca. Nas

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    past agens da Repbl i ca dos Camares, grandes vasos er am usados pa-r a a f abr i cao de vi nho de pal ma, enquant o out r os guardavam noz-de- col a. Os ni ger i anos t ocavam bumbos de cer mi ca em f uner ai s. Asmul heres encar r egavam- se dos t r abal hos em cermi ca em al gumas r e-gi es, admi ni st r ando, assi m, o que er a a pr i nci pal i ndst r i a demanuf at ura na poca.

    Uma soci edade sedentr i a que sabi a f azer vasos de cer mi caconsegui u evol ui r mai s, cr i ando novos car dpi os de comi da e bebi -da, poi s t i nha mui t o mai s chance do que os nmades de f azer aspr pr i as bebi das f er ment adas - j que est as exi gi am gr andes vasospar a ar mazen- l as. Uma soci edade que possu a vasos consegui a pr o-duzi r l vedo e empr eg- l o no pr eparo de pes em f ornos de cer mi -ca; uma soci edade que cozi nhava sua car ne em vasos, em vez de a-quec- l a em f ogo aber t o ou pedr a quent e, t i nha, cur i osament e, mai spr obabi l i dade de gost ar de sal . Na ver dade, o sal f oi o pr i mei r oal i ment o a t or nar - se um i t em r egul ar de comr ci o.

    Os f abr i cant es de cer mi ca f or am os pr ecur sores dos met al r gi -

    cos e, com seu barr o, acabaram pr ecedendo o t r abal hado com metal emi nr i o. Embor a a f abr i cao de cer mi ca sob cal or i nt enso no t e-nha l evado aut omat i cament e f undi o de mi nr i o, ser vi u como pas-so f undament al par a i sso. Como f azer o mel hor uso dos combust -vei s, como aument ar o cal or com um gol pe de ar f r i o, como manej aras l aterai s dos vasos cer mi cos sob o f ogo, quant o t empo dei x- l osesf r i ar : r espost as a t ai s per gunt as ser vi r am de di r et r i zes e i ndi -cador es par a o t r at ament o dos mi nr i os met l i cos sob cal or i nt en-so.

    Um dos marcos mai s i mport ant es da hi st r i a do mundo f oi a ex-t r ao, pel a pr i mei r a vez, de metai s quase pur os de pedaos de pe-

    dr a dur a e r i ca em cobr e, ut i l i zando- se o f ogo ar dent e e em br asa.As pr i mei r as f or nal has e of i ci nas de f undi o de cobr e f or am de-sent er r adas em Ti mna, no sul de I sr ael , vi st a das mont anhas se-cas da J or dni a. A f or nal ha, oper ada pel a pr i mei r a vez por vol t ade 4200 a. C, consi st i a de um pequeno bur aco no cho, em f or matooval e escavado at a prof undi dade apr oxi mada da mo de um adul t o.Par a evi t ar que gr ande quant i dade de cal or escapasse, uma cunhasi mpl es de pedra era col ocada por ci ma do f ogo como uma t ampa sol -t a. Er a um empr eendi ment o de f undo de qui nt al : di zer i sso no dei -xa de ser um exagero.

    A f undi o do cobr e, f i nal ment e, l evou descober t a de como

    obt er o br onze. pr ovvel que tenha si do um aci dent e, mas s ament e al ert a capaz de ver o si gni f i cado daqui l o que acont ece poraci dent e. O br onze f oi obt i do ao f undi r - se gr ande quant i dade decobr e pur o (90%) com uma pequena parcel a de est anho (10%) , a l i gar esul t ant e er a mai s dur a que o cobr e e mai s f ci l de mol dar . Porvol t a de 3500 a. C, o br onze j er a pr oduzi do por f er r ei r os nas ci -dades- est ado da Mesopotmi a. Onde encont r avam est anho, um i ngr edi -ent e essenci al , no se sabe ao cer t o at hoj e.

    Como por mi l agr e, um homem da er a do cobr e, em carne e osso,f oi r ecent ement e encont r ado. Seu corpo - a car ne ai nda sobr e osossos - f oi descobert o mai s ou menos 5 mi l anos depoi s de el e t er

    sa do para uma cami nhada ar r i scada pel os Al pes t i r ol eses, pr xi mo at ual f r ont ei r a ent r e ust r i a e I t l i a. El e at r avessava um des-f i l adei r o a 3. 200 met r os de al t ur a, mui t o aci ma das mai s al t as es-

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    O mistrio dos raios e das estrelas cadentes

    Nas t r i bos nmades e nos vi l arej os r ur ai s, os f enmenos meteo-r ol gi cos causavam gr ande medo. Na Tasmni a, mui t os abor gi nes f i -

    cavam amedr ont ados com as grandes t empest ades. "Chuva f or t e dur an-t e a noi t e" , escr eveu um observador br anco em 1831, "segui da det r ovoadas ensurdecedoras e o l ampej o vi vi do de r ai os, dos quai s osnat i vos demonst r avam um enor me medo" . Na noi t e segui nt e, a vi sode uma "f a sca el t r i ca" no cu escur o i nspi r ou sent i ment os de a-f l i o. Tal vez s o pensament o de ser at i ngi do por um r ai o aumen-t asse o medo. Lanando um ol har de ner vosi smo para uma r vore quehavi a si do despedaada por um r ai o, el es se r ecusavam - como osal emes do out r o l ado do mundo, nas r eas r ur ai s - a t ocar a ma-dei r a expost a.

    O cu notur no f oi um t et o em f orma de cpul a dur ant e t odos a-

    quel es anos em que as pessoas prat i cament e dor mi am sob as est r e-l as. As cr i anas eram ensi nadas a observar a mar cha regul ar dasest r el as pel o cu not ur no. Em r ar as ocasi es, el es vi am o cu es-cur o ser cr uzado por l uzes que passavam com gr ande vel oci dade. Al -gumas dessas l uzes eram est r el as cadent es vi s vei s por um ou doi ssegundos soment e e out r as most r avam uma i mpressi onant e cauda def ogo. Os nmades caadores e que vi vi am da col eta de al i ment os e-r am gr andes observador es do cu notur no e, assi m, possi vel ment eapr enderam por mei o da obser vao const ant e que as est r el as caden-t es er am em nmero duas vezes mai or dur ant e as pr i mei r as horas damanh do que nas pr i mei r as horas da noi t e. Quando um f enmeno es-t r anho acont eci a e er a vi s vel , acr edi t ava- se que o cu not ur noest i vesse f al ando.

    Em t odo o mundo, as pessoas se preocupavam com os comet as e asest r el as. Poucos f enmenos eram mai s exci t ant es par a el es do que avi so not ur na de um meteor o em chamas. A mai or i a dos meteor os sedesi nt egr ava ao cai r , e gr ande par t e dos que at i ngi am o gl obo ca ano mar ; soment e al guns del es al canaram a t err a. Um met eor i t o ummet eor o que chega a seu dest i no geral ment e em f orma de um pedaonegro de r ocha, e t ai s r ochas, aparent ement e cai ndo da morada dosdeuses, er am t r at adas com assombr o quando encont r adas. No Mxi co,a pedr a pr eci osa da pi r mi de de Chol ul a e, na S r i a, a pedr a ado-r ada de Er mesa pr ovavel ment e eram meteor i t os. No sant ur i o de Me-ca, havi a uma pedr a sagr ada que, segundo di zem, cai u dos cus. Eraadorada por t r i bos r abes e at por Maom.

    A i di a de que um met eor i t o ou uma est r el a cadent e er a umamensagem dos deuses par eci a conf i r mar - se por seu est r ondo - bemcomo por seu br i l ho i ncandescent e - quando mergul hava na ter r a.Soava para al guns com o est r ondo de um t r ovo; par a out r os, na erado vapor , par eci a a passagem de um t r em bar ul hent o. Em al gumas so-ci edades, uma est r el a cadent e er a vi st a como sor t e; em out r as, co-mo azar .

    Os povos nmades, que vi vi am sob as est r el as, e os povos j est abel eci dos em l ugar es f i xos, que vi vi am sob os cus sem nuvensdas pr i mei r as ci vi l i zaes do Or i ent e Mdi o, t i nham t oda a r azoem observar o cu notur no. Numa noi t e sem l ua, o cu era um t apete

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    maravi l hoso est endi do sobre el es. Seu aspect o mudava de hora emhora, e os padr es das al t eraes eram obser vados e coment ados. Nocl i ma seco da Aust r l i a Cent r al , onde no exi st i am r i os per manen-t es, al guns gr upos abor gi nes vi am a Vi a Lct ea como um gr ande r i ocor r endo pel o cu. Aos ol hos de mui t os povos, cr i at ur as poder osasvi vi am no Ar mament o. Par a out r os, um bur aco escur o na Vi a Lct ea

    era a casa do demni o.As pr i mei r as ci vi l i zaes a f l or escer em ao l ongo dos Ri os Ti -gr e e Euf r at es pr ossegui r am no endeusament o das est r el as. Com pr -t i ca em ast r onomi a, seus povos consegui am pr ever mui t os dos movi -ment os dos pr i nci pai s pl anet as e const el aes e, por sua vez, a-cr edi t avam que tai s movi ment os l hes possi bi l i t avam pr ever f enme-nos humanos. Os babi l ni os chegaram at mesmo a apr ender como pre-ver um ecl i pse l unar bem ant es de o ecl i pse acont ecer .

    O avano da ast r ol ogi a e o est udo da poss vel i nf l unci a dasest r el as e dos pl anet as sobr e os f enmenos humanos so hoj e em di ar epudi ados nos c r cul os i nt el ectuai s como uma si mul ao, mas havi a

    uma l gi ca exper i ment al nessa di sci pl i na i nt el ect ual que acabouat r ai ndo as mel hor es ment es das pr i mei r as ci vi l i zaes da Chi na edo Or i ent e Mdi o. Se o Sol podi a mol dar o vero e o i nver no, e sea Lua podi a det er mi nar as al t as mars e mol dar o cal endr i o, porque todas essas f oras t o poderosas no poder i am t ambm mol dar osdest i nos dos ser es humanos? Essa per gunt a i nt r i gou os est udi ososdur ant e mi l har es de anos. Os mdi cos t ambm segui r am essa l i nha e,at o scul o 20, as pessoas que sof r i am de doenas ment ai s eramchamadas de l unt i cas, o que si gni f i cava que sua doena era i nf l u-enci ada pel a Lua.

    A Lua, pequena ou grande, er a uma pr esena domi nador a. O mai or

    obj et o do cu not urno, apar ecendo e sumi ndo mai s ou menos 50 mi nu-t os mai s t ar de em di as sucessi vos, el a se movi a maj est osament e. ALua nova era i nvi s vel , poi s marchava pel o cu di ur no, em compassocom o Sol .

    J a Lua chei a podi a ser vi st a a noi t e t oda. Vi va, poder osa epessoal , a Lua era uma f i gur a f emi ni na para al guns povos e uma f i -gur a mascul i na, para out r os; era um s mbol o de vi da e de mort e, emui t os di zi am que determi nava quando as chuvas cai r i am. Acr edi t a-va- se que i nf l uenci ava o cr esci ment o da vegetao e por mi l har esde anos f oi uma r egr a, na r ea r ur al , os f azendei r os f azer em opl ant i o sempr e dur ant e a l ua nova. Mai s t ar de, na ndi a, no I r e

    na Gr ci a, acr edi t ava- se que, aps a mor t e, as pessoas vi aj avampar a a Lua. Os ci cl os l unar es acabar am const i t ui ndo os pr i mei r oscal endr i os, depoi s do surgi ment o da art e da ast r onomi a.

    "Tive um sonho?"

    A noi t e er a o per odo em que as pessoas t i nham sonhos - chei osde al egr i a, apavor ant es, cal mos, f ami l i ar es ou est r anhos. A noiteera vista por vrias tribos como um reino misterioso ao qual oshumanos eram admitidos enquanto dormiam. O sonho era a evidnciadessa visita. Os povos nat i vos do nor t e do Canad, prxi mo Ba a

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    Mesmo adi ant ando um pouco a hi st r i a, deve- se di zer que as r e-l i gi es post er i or es f or am t ambm pr of undament e af et adas pel o cunot ur no. O cal endr i o j udeu era baseado na Lua; o i n ci o do anor el i gi oso er a det er mi nado pel a j ust aposi o de doi s f enmenos di s-t i nt os - o si nal das espi gas apar ecendo nas pl ant aes de cevada eo pr i mei r o si nal da nova mei a- l ua. Buda nasceu num pont o especi al

    do ci cl o da Lua, enquant o uma est r el a br i l hant e no cu apont ou pa-r a onde J esus t i nha nasci do. No hi ndu smo e no j ai ni smo, um dosf enmenos sagr ados um f est i val de l ampi es que acont ece no di ade Lua chei a de um determi nado ms. O di a mai s sant o do cal endr i ocr i st o det er mi nado pel a Lua. No I sl , o cal endr i o ai nda ba-seado na Lua, e o r amad, o ms do j ej um, of i ci al ment e comea nomoment o em que a Lua nova vi s vel a ol ho nu. A ci vi l i zao chi -nesa venerava a Lua e as est r el as. At mesmo as pr i mei r as uni ver -si dades, que sur gi r am na I dade Mdi a, davam nf ase ast r ol ogi a.Ser pr of essor de ast r ol ogi a em uma dessas uni ver si dades ou ser umconsul t or em ast r ol ogi a de um r ei cr i st o ou de um gener al do s-

    cul o 12 era possui r poder de verdade. Foi Coprni co quem, 4 scu-l os mai s t ar de, acabou f azendo a ast r ol ogi a cai r dos cus acadmi -cos - mas no do cu par t i cul ar de cada pessoa, onde per manece combast ant e f or a.

    Captulo 5

    As Cidades dos Vales

    Se um vi aj ant e i ncansvel t i vesse vi vi do no Or i ent e Mdi o em4000 a. C. e t i vesse real i zado o f ei t o pouco comum - e t al vez i m-poss vel - de cruzar por t err a t oda a ext enso que vai das margensdo Mar Negr o ao al t o Ri o Ni l o, no t er i a encont r ado nenhum monu-ment o de mai or vul t o. No t er i a encont r ado nenhuma ci dade, no t e-r i a encont r ado nenhum t empl o do conheci ment o e nenhum pal ci o r ealde grande l uxo. Se, apr oxi madament e 1. 500 anos mai s t arde, suaspegadas t i vessem si do rast r eadas por out r o vi aj ant e, vi ses des-l umbr ant es t er i am si do r el at i vament e comuns, pr i nci pal ment e aol ongo dos gr andes r i os da regi o. Quat r o vol umosos r i os desse can-t o do mundo e vr i os out r os i mpor t ant es r i os de out r as t err as mai saf ast adas t i ver am um papel f undament al no desper t ar da ci vi l i za-o.

    Os gr andes r i os do Or i ent e Mdi o at r avessavam pl an ci es secascuj o sol o er a enr i queci do pel as enchent es anuai s. Dezenas de mi -l hes de t onel adas de sedi ment os er am carr egados corr ent e abai xo eespal hados em camadas f i nas por sobre o sol o empobreci do, como sef ossem um novo f er t i l i zant e. Nas est aes secas, os canai s car r e-gavam a gua dos r i os par a i r r i gar as t er r as arvei s quei madas pe-l o sol . Nas pl an ci es al agadas, as pessoas e as ci dades podi am r e-ceber mai s al i ment os, dent r o da mesma r ea, do que em qual quer ou-t r o l ugar do mundo naquel a poca. Em um t empo em que o t r anspor t epor t er r a er a pr i mi t i vo, os r i os l ar gos er am t ambm uma est r ada,ao l ongo da qual os bar cos podi am t r anspor t ar a par t es l ong nquas

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    do rei no e a bai xo cust o gr os e pedr as para const r uo.

    A vista das pirmides

    As mar gens do Ni l o nut r i r am a ci vi l i zao do Egi t o. O r i o, queabr i a seu cami nho ao l ongo de val es est r ei t os, t i nha soment e doi squi l met r os de l ar gur a nas proxi mi dades de Assu, no al t o Egi t o. Aar ei a do deser t o, na ver dade, escor r i a par a dent r o do ri o em v-r i os pont os. Mai s abai xo, o val e, no r ar o, chegava a t er 30 oumai s qui l met r os de l ar gur a, enquant o, no del t a, o mosai co de t er -r as r i cas em t er r enos bai xos e canai s de r i os t i nha mai s de 200qui l met r os de l ar gur a. Na poca das enchent es, o del t a do i nt er i -or , a pr i nci pal f ont e de r i queza eg pci a, t or nava- se um enor me l a-go que se sobrepunha s margens dos vi l arej os permanent es, empo-l ei r ados em seus pequenos mor r os. Na ver dade, os vi l ar ej os do del -t a er am conheci dos como "i l has" . A t er r a, cober t a recent ement e comuma nova camada de sol o t r azi do pel a enchent e, est ar i a pr ont a parauma nova col hei t a de cevada e t r i go depoi s que as guas bai xassem.

    O r i o nem sempr e era um pat r i mni o t o maravi l hoso. Se a en-chent e f osse mui t o al t a ou a vazo f osse mui t o r pi da, t odos ost er r enos si t uados nas margens de ar r ecadao e os canai s de guaer am dest r u dos; al m di sso, no er a r ar o ver as guas i nvadi ndoos campos mai s al t os. A medi da que as t cni cas de agr i cul t ur a sedesenvol vi am, pessoas ou ani mai s amar r ados com cordas t i nham de

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    ser empr egados para l evar gua, em bal des ou cest os, da par t e mai sbai xa par a a par t e mai s al t a.

    O Egi t o t eve uma l onga l i nhagem de monarcas poderosos, ci dadesi mpr essi onant es, uma vi da econmi ca e r el i gi osa de gr ande vi gor ,cel ei r os abar r ot ados de gr os nos anos de saf r as f ar t as e t mul osr eai s nos quai s grandes t esour os per maneci am na escur i do. L vi -

    ver am gener ai s de exr ci t o, bur ocr at as e sacer dot es que apr esent a-vam consi dervel poder de organi zao e de manut eno de regi s-t r os. Seus r egi st r os pi ct ogr f i cos, uma f or ma i ni ci al de escri t a,ser vi am como um mt odo de comuni cao ao l ongo do r i o.

    Havi a al i ar qui t et os comeando a t r abal har em seus esboos r e-qui nt ados, const r ut or es capaci t ados par a a i mpl ement ao de pr oj e-t os em pedr a maci a e mi l har es de ar t i st as t r abal hando com met ai spr eci osos, cobr e, madei r a, t eci dos e pedr as pr eci osas. Havi a t am-bm pr oj et i st as de canai s par a t r anspor t e e i r r i gao. Um dessescanai s l i gava o Ni l o ao Mar Ver mel ho. Vi vi am al i ci ent i st as queaument aram o conheci ment o sobr e a Lua e as est r el as e i nvent aram o

    cal endr i o pi onei r o que di vi di a o ano em 365 di as. Al i desf i l avamsacer dotes de gr ande i nf l unci a que f ormul aram uma vi so da vi daaps a mort e na qual pr i ncesas cont i nuavam a ser veneradas comopr i ncesas e na qual at os homens do povo poder i am "sent i r o gos-t i nho" da et er ni dade. O r ei , por ser um deus escondi do dent r o deum corpo humano, mereci a um t mul o al t ur a.

    As enchent es anuai s do Ni l o no er am dadas por cer t as. Em t o-dos os l ugares, mesmo ent r e os osi s do desert o, t empl os sunt uososer am const r u dos em honr a ao gover nant e di vi no, sem cuj a bno asguas do Ni l o no poder i am subi r anual ment e. Em t r oca, os t r i but ose i mpost os er am pagos ao t empl o na f orma de cevada e t r i go ou mes-

    mo em t er r as.Com o t empo, os t empl os chegar am a possui r cer ca de um t er ode t odas as t er r as arvei s ao l ongo do Ni l o.

    O j unco, que cresci a al t o, bal anando ao vent o, era uma i magemcomum em di ver sas par t es do Egi t o e t ambm da Mesopotmi a, onde osr i os t r ansbor davam em br ej os ou se espal havam por um del t a. Gr uposde t r abal hador es col hi am o j unco par a f azer os t el hados de sapdas casas. A ext r emi dade pont i aguda do j unco ser vi a t ambm comocanet a ou bur i l , com os quai s os pi ct ogr amas e as s l abas eram en-t al hados em pl acas de bar r o mi do. Por f i m, o bar r o f oi ameaadopor out r o mat er i al de escr i t a vi ndo dos r i os. A pl ant a do papi r o

    cr esci a nos br ej os do Ni l o - ou como col oca o Li vro de J : " pos-s vel que o papi r o cr esa onde no haj a br ej o?" Logo em 2700 a. C,os eg pci os, com seu t al ent o, est avam conver t endo papi r o em umaf orma de papel gr osso, ou pergami nho, pr ont o par a r eceber as mar -cas da caneta f ei t a de j unco. O papel , que quase uma essnci a dabur ocr aci a, f oi uma i nveno pr pr i a do Egi t o.

    Tal vez os eg pci os t enham si do os pr i mei r os a t r at ar os ces eos gatos como ani mai s domst i cos. Os gat os eram pi nt ados em t mu-l os; na mort e, seus corpos eram mumi f i cados, pr eparando- os para avi da aps a mor t e, e eram at vel ados pel as f am l i as, que demons-t r avam seu sof r i ment o r aspando as pr pr i as sobr ancel has. J em

    2000 a. C, cr i ava- se um t i po de co, chamado de gal go, cuj a pr i nci -pal t ar ef a er a par t i ci par do espor t e de caa l ebr e.Na medi ci na, os ant i gos eg pci os pr ovavel ment e l i der ar am o

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    mundo conheci do ent o. A mgi ca e o conheci ment o se mescl avam: umami st ura poderosa na ment e dos que acr edi t avam. Boa par t e do conhe-ci mento do cor po humano vi nha do cost ume de pr epar - l o par a a mu-mi f i cao. Em anat omi a, ci r ur gi a e f ar mci a, os ant i gos eg pci ost i ver am seus t r i unf os e, possi vel ment e, f or am os pr i mei r os a usarat adur as e t al as. Em suas cur as, usavam a gor dur a de cr i at ur as co-

    mo ratos e cobr as, ervas e vegetai s, pesando e medi ndo cada i ngr e-di ent e cui dadosament e. O cl ssi co gr ego escr i t o por Homero, A o-di ssi a, f az r ef er nci a aos mdi cos do Egi t o como sendo os mel ho-r es e, j naquel a poca, sua reput ao pel a habi l i dade, per spi c-ci a e desaf i o t i nha apr oxi madament e 2 mi l anos.

    Em 2600 a. C, os eg pci os f or am os pr i mei r os padei r os conheci -dos a f azer um t i po moderno de po com f erment o. Em sua f orma, opo que f azi am pareci a mai s com uma omel ete f i na do que com o pomai s f of o, f ei t o nos t empos da Gr ci a. Out r a i nveno dos eg pci osf oi o f or no de assar com uma f or nal ha para a l enha embai xo e umf or no no al t o.

    A pl an ci e al agada do Ni l o nor mal ment e pr oduzi a um excedent ede al i ment os que al i ment ava os que t r abal havam no campo e t ambmquel e dci mo da popul ao que morava nas ci dades e ser vi a ao mo-nar ca, aos seus sdi t os e aos sacerdot es. Foi esse excedent e deal i ment os, esse pequeno excesso de r i queza, que possi bi l i t ou a umasucesso de r ei s pl anej arem cerca de 80 pi r mi des como t mul os r e-ai s.

    Como o t er r eno ao l ongo do Ni l o era margeado s por escar pas epequenas mont anhas no sop de out r as mai ores, as pi r mi des at i ngi -r am um dom ni o que ser i a i mposs vel numa pai sagem mont anhosa. Apr i mei r a pi r mi de f oi const r u da por vol t a de 2700 a. C. A Grande

    Pirmide, 200 anos mais tarde, foi projetada para ter 146 metrosde altura, equivalente moderno de um arranha-cu de 50 andares.Exi gi u o esf oro de apr oxi madament e 100 mi l t r abal hadores, i ncl u-i ndo escr avos e os agr i cul t or es que f i cavam sem t r abal ho quando asenchent es anuai s est avam em seu pi ce. Enor mes bl ocos de cal cr i oe gr ani t o t i nham de ser cor t ados nas pedr ei r as e t r anspor t ados aol ocal da obr a sem a aj uda de r ol danas ou de ve cul os com r odas.Er a a est r ut ur a mai s i mpr essi onant e at ent o const r u da no mundoe, por t er si do const r u da num r ei no onde a popul ao tot al malpassava de um mi l ho, t or nava- se ai nda mai s i mpr essi onant e. A po-pul ao do Egi t o acabou cr escendo e, na poca do Novo Rei nado, a-

    pr oxi madament e 1. 500 anos mai s t arde, chegou a at i ngi r t al vez 4mi l hes.O Egi t o, mai s que qual quer out r a das ci vi l i zaes do r i o, con-

    t ou com l ongos per odos de est abi l i dade. Sua cont i nui dade na l n-gua e cul t ur a f oi surpr eendent e. Sua monarqui a dur ou apr oxi mada-ment e 3 mi l anos, uma das i nst i t ui es de mai or dur ao nos r egi s-t r os da hi st r i a. Embor a os def ei t os do Egi t o f ossem evi dent es,assi m t ambm er am as suas vi r t udes.

    Onde a roda rolou pela primeira vez

    Uma ci vi l i zao r i val f l or esceu na Mesopot mi a. L, a par de

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    sua bur ocraci a r el i gi osa e pr of ana, sur gi u, em 3700 a. C, o pr i mei -r o Est ado conheci do do mundo. O Est ado ocupava uma pl an ci e quent eent r e doi s r i os, o Ti gr e e o Euf r at es. Na ver dade, er a um f r ut o doval e f r t i l .

    Al i ment ados pel o der r et i ment o da neve nas mont anhas da Tur qui -a, ant es de chegar em ao l i mi t e da pl an ci e e se apr oxi mar em do mar

    ( onde f i nal ment e se uni am e f or mavam um s) , os r i os gmeos j t i -nham cobert o quase doi s t eros de sua vi agem at o mar. s vezes,mudavam de cur so ou se enchi am de sedi ment os, mas, durant e scu-l os, f or am usados por pequenos bar cos ou bot es f ei t os de pel e, quet r anspor t avam r i o abai xo a t o necessr i a madei r a or i gi nr i a dasr vor es do i nt er i or . Os val es mai s bai xos dos r i os gmeos eram a-bundant es quando pl ant ados com cevada e t r i go. Enquant o, na mai o-r i a das r egi es, os agr i cul t or es cavavam com pedaos de pau af i a-dos e ps r udi ment ar es; el es r eal ment e ar avam a ter r a, possi bi l i -t ando, assi m, que uma gr ande r ea f osse cul t i vada por um nmeropequeno de servos. Par t e da cevada era f erment ada e t r ansf ormada

    em cervej a, possi vel ment e a pr i mei r a cervej a do mundo.No sul da Mesopot mi a, conheci do como Sumr i a, bel as ci dadessur gi r am s mar gens dos r i os e canai s, e vr i as del as f i cavam vi st a umas das out r as. Por vol t a do ano 3000 a. C, dezoi t o ci dadesf l oresci am numa rea no mui t o mai or do que a atual Repbl i ca daI r l anda. Di z- se que Ur uk, l ocal i zada no at ual I r aque, chegou a t er50 mi l pessoas, t odas t i r ando seus al i ment os das t er r as ar vei sdas r edondezas. As ci dades t endi am a ser a capi t al de um pequenot er r i t r i o ou Est ado a seu r edor , mas as guer r as r eduzi r am o nme-r o de Est ados. Ser conqui st ado er a uma exper i nci a comu