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Texto 1 A Geografia Agrária no Brasil: Conceituação e periodização FERREIRA, Darlene Aparecida de Oliveira. FACULDADE PROJEÇÃO DISCIPLINA: GEOGRAFIA AGRÁRIA Prof. Me. André Vieira Freitas

Geografia Agrária No Brasil

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Page 1: Geografia Agrária No Brasil

Texto 1

A Geografia Agrária no Brasil:

Conceituação e periodização

FERREIRA, Darlene Aparecida de Oliveira.

FACULDADE PROJEÇÃO

DISCIPLINA: GEOGRAFIA AGRÁRIA

Prof. Me. André Vieira Freitas

Page 2: Geografia Agrária No Brasil

Estrutura

Pensar o agro do ponto de vista geográfico

Os períodos e fases de desenvolvimento da Geografia Agrária no

Brasil

Page 3: Geografia Agrária No Brasil

Introdução

O estudo da relação homem-natureza acompanha o

desenvolvimento da Geografia desde sua origem.

Campos de interesse para cada evento geográfico, resultando em

conjuntos sistematizados.

Geografia física e Geografia Humana.

Geografia da População, Industrial, Agrária, Urbana, dos Transportes,

Hidrologia, Geomorfologia, Climatologia.

Cada campo de interesse transformações ~ paradigmas e escolas

do pensamento geográfico.

p.

40-41

Page 4: Geografia Agrária No Brasil

Introdução

O interesse geográfico pelo meio rural é contemporâneo ao

desenvolvimento da Geografia Científica do século XIX e XX.

A sistematização da geografia surgiu em meio a uma sociedade

agrária.

Ênfase “natural” nos estudos rurais.

p.

40-41

Page 5: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Primeira forma de analisar a agricultura:

conhecer a superfície da terra;

detectar as formas de exploração (cultivos, técnicas).

Agricultura como um elemento da paisagem.

p.

41

Page 6: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográficoFases do interesse geográfico pela agricultura no Brasil até 1930(ANDRADE, 1994):

I – Até meados do século XVII:

trabalhos de cunho não-científico efetuados por cronistas, aventureiros ecomerciantes.

II – Primeira metade do século XIX:

marcada pela vinda de cientistas estrangeiros, que objetivavam conhecerdiferentes áreas do país.

III – Período Imperial e Primeira República:

estudos esparsos e pontuais de cientistas estrangeiros.

IV – Fins do século XIX e início do século XX:

trabalhos de cunho literário preocupados em estudar o processo deconquista e ocupação do território brasileiro.

p.

41-42

Page 7: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Pós Revolução de 1930:

proliferação de estudos sobre a realidade brasileira;

Gilberto Freire, Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de Holanda;

política de modernização.

Alguns geógrafos: discussão e sistematização teórica desse campo

de conhecimento dentro da Geografia.

Em princípio, a Geografia Agrária era desenvolvida como

“parte” da Geografia Econômica.

p.

42

Page 8: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Últimos 60 [70] anos

1930-1940:

divisão dual na Geografia – Física e Humana;

Humana prioridade para os estudos econômicos foco principal

na agricultura;

necessidade de definir um campo de estudo específico.

p.

42-43

Page 9: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

A partir da década de 1950:

desenvolvimento do sistema urbano-industrial;

a cidade e a indústria como percursores de uma nova realidade

econômica;

a agricultura passou a ser coadjuvante.

Primeiras contribuições relativas à definição e ao objeto da

Geografia Agrária.

Leo Waibel, Elio Magliorini, Daniel Faucher, Pierre George.

p.

43

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Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Migliorini:

Geografia Agrária como um dos campos da Geografia Econômica;

importância teórica e valorização prática;

estudo de um conjunto complexo de características que alia os

aspectos fisiográficos aos econômicos;

avaliação da produção, suas modificações, as culturas e os mercados;

a paisagem agrária é in fine o objeto de estudo.

p.

43-44

Page 11: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Waibel:

agricultura como um fenômeno da paisagem;

disciplina preocupada com a diferenciação espacial da agricultura.

Ramificações:

Geografia Agrária Estatística: preocupada com a distribuição das espécies

vegetais e animais ligadas à agricultura.

Geografia Agrária Ecológica: tratando das formas da economia privilegia a

relação com o meio ambiente.

Geografia Agrária Fisionômica: análise orientada pelos diferentes aspectos

da paisagem.

p.

44

Page 12: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Faucher:

Geografia Agrária qualitativa: descreve as formas e os meios da

atividade agrícola;

explica as paisagens e os modos de vida rurais através dos sistemas

agrícolas e sua evolução.

p.

44-45

Page 13: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

George:

descrever a diferenciação agrícola mundial, buscando as

características geográficas do trabalho agrícola.

Três campos diferentes para o estudo dos aspectos agrícolas:

a Geografia Agrícola: preocupada com a descrição e a distribuição dos

eventos agrícolas;

a Geografia Econômica: com a produção e o transporte dos cultivos;

a Geografia Social: com o tratamento dos agrupamentos humanos e das

civilizações envolvidas com o trabalho da terra.

p.

45-46

Page 14: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Otemba:

a economia agrária está submetida à ação dos fatores naturais e sua

variedade é resultado da dependência das características

geográficas;

geografia agrícola: estudar a diferenciação espacial das práticas

agrícolas, contribuindo na análise do problema da alimentação da

humanidade e do abastecimento das matérias-primas agrícolas;

a Geografia Agrária deveria existir em razão de seu papel na

sociedade – questão da produção de alimentos;

Geografia Agrária como uma ciência relacionada à Economia Política,

à História, às Ciências Naturais.

p.

46-47

Page 15: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Trabalhos geográficos sobre agricultura até a década de 1950:

Três categorias de análise:

estudos econômicos, referentes à avaliação da produção e da

comercialização de produtos agrícolas, examinados sob a forma de

dados estatísticos;

estudos ecológico-físicos nos quais há análise dos condicionantes

físicos: forma do terreno, clima, tipos de solo, importantes para explicar

a localização dos cultivos e o uso de recursos;

estudos sobre as formas espaciais da agricultura, ou melhor, da

paisagem, como resultado da ação humana.

p.

47

Page 16: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Década de 1960:

orientação marxista;

Geografia Agrária no âmbito da Geografia Econômica;

à Geografia Agrária deveriam interessar os sistemas agrícolas e não osprodutos agrícolas, as formações econômicas e não os métodos agrícolas;

definir os tipos de paisagem agrícola descrevendo seus elementos e afunção que desempenham na atividade agrícola;

influência da Economia Política relações de produção, modo deprodução e formas de economia;

o que deve ser priorizado são os aspectos econômicos advindos daatividade agrícola, determinantes dos fatos culturais;

Valverde.

p.

48-50

Page 17: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Geografia Agrícola ou Agrária?

Agrícola: derivado de ager, agri + colo (de colere = habitar,cultivar).

Mais restrito;

rigorosamente, a expressão “Geografia Agrícola” deveria englobarapenas o estudo da distribuição dos produtos cultivados e de suascondições de meio.

Agrário: ager, agricultura = campo.

Envolve aspectos sociais, como regimes de propriedade, relações deprodução, gêneros de vida, hábitat, tipos de habitação etc;

“Geografia Agrária” é mais conveniente, porque exprime melhor oconteúdo desse ramo da ciência.

p.

50

Page 18: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Década de 1970:

processo de modernização da agricultura:

novas formas de produzir;

relações de trabalho mais apropriadas à lógica do sistema capitalista;

a indústria passa a ser produtora de insumos para a agricultura e

consumidora de bens agrícolas.

Transformações no ambiente acadêmico:

preocupações teórico-metodológicas.

p.

51

Page 19: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Megale:

objeto da geografia agrária: compreensão total da atividade agrícola;

parte da Geografia, como ciência humana;

método empírico, procurando descobrir as causas do problema

estudado.

p.

51-52

Page 20: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Diniz:

As novas perspectivas metodológicas e as mudanças na forma deproduzir na agricultura deram ao agro nova configuração.

União Geográfica Internacional:

análise da agricultura como um sistema no qual os elementos,características ou propriedades da atividade é que deveriam ser usados nadefinição tipológica;

elementos internos: sociais, funcionais e de produção.

Principais características do período:

utilização de métodos quantitativos – modelos taxonômicos;

teorias de localização;

enfoque sistêmico.

p.

52-54

Page 21: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Gusmão:

novo paradigma, da ação: o desenvolvimento do espaço rural;

o rural indica o local onde se efetiva a atividade agrícola, ou seja,

o meio rural;

interessam os estudos sobre o espaço rural e não somente à atividade

agrícola.

p.

54-55

Page 22: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Ceron & Gerardi:

as pesquisas em Geografia Agrária deveriam seguir as seguintes

direções:

pesquisa teórico-metodológica e técnica;

estudos de caso vinculados ao planejamento tendo em vista o

desenvolvimento rural.

Caráter pragmático.

Maior aproximação da Geografia Agrária com as ciências afins, sob

uma ótica social e econômica.

A perspectiva determinista ambiental perde espaço para uma

avaliação social da agricultura.

p.

55-57

Page 23: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Silva e Mesquita:

questionamento quanto à responsabilidade da Geografia com relação

à sociedade:

bem-estar da população;

questão agrária.

Surgimento de uma preocupação social nos trabalhos geográficos.

p.

57

Page 24: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Década de 1980.

movimento de renovação paradigmática da Geografia;

ótica social no pensar o agro.

p.

57

Page 25: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Teixeira:

tendências dos temas que foram tratados na Geografia Agrária no

Brasil:

tendência regionalista;

quanto comportamento de um produto agrícola;

temas interessando a colonização;

do habitat;

de frentes pioneiras.

Avanço em direção à temática social.

p.

58

Page 26: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Longo:

reflexões referentes à sociedade ou à problemática agrária do país sob

a perspectiva histórica;

a organização da atividade agrícola é o elemento de análise, a forma

de produzir, dominada pelo sistema capitalista.

p.

58

Page 27: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Diniz:

o caráter espacial das análises é o que define os estudos geográficos

sobre agricultura.

Geografia Agrícola e Geografia Rural.

Maior consenso pelo uso do termo agrária.

p.

58-59

Page 28: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico Bray:

A Geografia Agrária brasileira pautou-se:

pelo movimento da sociedade;

e pela influência de outros estudiosos do agro brasileiro.

Década de 1980:

descolonização da Geografia Agrária nacional;

discurso mais voltado para as questões da agricultura nacional;

ótica marxista.

Andrade:

movimentos agrários no Nordeste;

momento de comunhão entre o geógrafo e o movimento da sociedade;

cientista também como cidadão.

p.

60-61

Page 29: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Galvão:

a revisão metodológica e a busca de novas formas para explicar a

realidade em mutação é o novo ponto a que chegou a Geografia;

a Geografia Agrária precisa responder e compreender o processo de

transformação por que passa o meio rural;

a articulação e interação entre o rural e o urbano.

O esquema teórico baseado na luta de classes e na lógica do capital

não responde totalmente à dinâmica do espaço agrário.

A Geografia Agrária deve atender à dinâmica da sociedade, que, em

transformação, ultrapassa os limites das relações econômicas.

p.

59-60;

61

Page 30: Geografia Agrária No Brasil

Pensar o agro do ponto de vista

geográfico

Preocupação comum – necessária associação do

desenvolvimento da Geografia Agrária

ao movimento da sociedade;

da própria ciência como um todo.

Década de 1980:

preocupação com a realidade, como a temática social;

interpretar o modo de pensar do geógrafo sobre a

agricultura, identificando como os estudos sobre agricultura se

desenvolveram;

talvez a preocupação conceitual stricto sensu tenha desaparecido.

p.

62

Page 31: Geografia Agrária No Brasil

Os períodos e fases de desenvolvimento

da Geografia Agrária no Brasil

Valverde (1964):

I fase (século XVIII-XIX): não existia preocupação com o método

científico.

II fase (1900-1950): geógrafos de formação universitária.

Até meados da década de 1930: geógrafos franceses pioneiros (Pierre

Dênis, Pierre Deffontainesl).

1940-1950: fase de sistematização da ciência geográfica no país, influência

da escola francesa (Pierre Deffontaines, Leo Waiber).

p.

63-64

Page 32: Geografia Agrária No Brasil

Os períodos e fases de desenvolvimento

da Geografia Agrária no Brasil

Gusmão (1978):

enfoques preferenciais dos estudos rurais no Brasil – três fases:

1ª – estudos rurais de diferenciação de áreas (da década

de 1940 até o início dos anos 70);

2ª – estudos classificatórios do espaço rural, com base em modelos

estatísticos-matemáticos (fim da década de 1960 e início da de 1970);

3ª – estudos de desenvolvimento rural que procuraram analisar a agricultura

no contexto da estrutura espacial brasileira (a partir de 1975).

p.

64

Page 33: Geografia Agrária No Brasil

Os períodos e fases de desenvolvimento

da Geografia Agrária no Brasil

Ceron & Gerardi (1979):

três fases:

1ª (1920 a 1950) – trabalhos ligados à “classificação da agricultura por áreas

ou espaços delimitados;

2ª (década de 1960) – enfatiza a tipologia da agricultura, segundo técnicas

estatísticas de taxonomia;

3ª (final da década de 1970) – estudos preocupados com o homem do

campo e suas condições de vida, avaliando diferentes aspectos do

desenvolvimento rural.

p.

64

Page 34: Geografia Agrária No Brasil

Os períodos e fases de desenvolvimento

da Geografia Agrária no Brasil

Monteiro (1980) – quatro períodos do desenvolvimento da ciência geográfica no país:

1º – de implantação da Geografia Científica (1934-1948):

criação dos cursos de Geografia e fundação da AGB;

Geografia Agrária – estudos dos franceses Deffontaines, Waibel e Monbeig – monografias que buscavamexplicar a realidade nacional, agrária, nesta época.

2º – difusão nacional (1948-1956):

saída dos franceses do Brasil e grande número de trabalhos de campo, realizados por intermédio da AGB;

Geografia Agrária – realização de estudos sobre distribuição espacial de produtos agrícolas.

3º – primeira época da afirmação (1956-1968):

existência de uma comunidade ativa de geógrafos pesquisadores;

destaque para os estudos agrários;

início da década de 1960 – urbanização e industrialização transformações mudanças metodológicas.

4º – segunda época da afirmação (1968-1977):

adoção da quantificação;

crescimento dos trabalhos de Geografia Urbana em detrimento dos estudos agrários e geomorfológicos.

p.

65

Page 35: Geografia Agrária No Brasil

Os períodos e fases de desenvolvimento

da Geografia Agrária no Brasil

Diniz (1984) – cinco escolas:

1ª – Geografia da Paisagem Agrária (desenvolvimento da Geografiacientífica).

busca da síntese pela observação da paisagem.

2ª – Geografia Econômica da Agricultura:

descrição da distribuição de produtos e rebanhos, sua vinculação aosfenômenos do quadro rural e a definição de regiões agrícolas

3ª – influência do estruturalismo na Geografia:

Teoria da Combinação Agrícola.

4ª – influenciada pelas comissões da União Geográfica Internacional:

estudos de utilização da terra e de tipologia agrícola.

5ª – enfoque quantitativo ou crítico.

p.

66

Page 36: Geografia Agrária No Brasil

Os períodos e fases de desenvolvimento

da Geografia Agrária no Brasil

p.

67

Page 37: Geografia Agrária No Brasil

Referência

FERREIRA, Darlene Aparecida de Oliveira. Questão Agrária no Brasil:

conceituação e periodização. Terra Livre, São Paulo, n. 16, p. 39-

70, 1º semestre/2001.

Page 38: Geografia Agrária No Brasil

Exercício

Em grupo, elabore uma questão (no estilo de avaliações como

ENADE e concursos públicos) de múltipla escolha (com 5 itens)

acerca das ideias apresentadas no texto.