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Geografia

Geografia Agrária

Aldo DantasRosana Silva de FrançaSara Raquel Fernandes Queiroz de Medeiros

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Geografia Agrária

2ª Edição

Natal – RN, 2011

Geografia

Aldo DantasRosana Silva de França

Sara Raquel Fernandes Queiroz de Medeiros

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COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOSMarcos Aurélio Felipe

GESTÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS

Luciana Melo de LacerdaRosilene Alves de Paiva

PROJETO GRÁFICOIvana Lima

REVISÃO DE MATERIAISRevisão de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares BorgesJanio Gustavo BarbosaJeremias Alves de AraújoKaline Sampaio de AraújoLuciane Almeida Mascarenhas de AndradeThalyta Mabel Nobre Barbosa

Revisão de Língua PortuguesaCamila Maria Gomes

Cristinara Ferreira dos SantosEmanuelle Pereira de Lima DinizJanaina Tomaz CapistranoPriscila Xavier de MacedoRhena Raize Peixoto de Lima

Revisão das Normas da ABNTVerônica Pinheiro da Silva

EDITORAÇÃO DE MATERIAISCriação e edição de imagensAdauto HarleyAnderson Gomes do NascimentoCarolina Costa de Oliveira

Dickson de Oliveira TavaresHeinkel HugeninLeonardo dos Santos FeitozaRoberto Luiz Batista de LimaRommel Figueiredo

DiagramaçãoAna Paula ResendeCarolina Aires MayerDavi Jose di Giacomo KoshiyamaElizabeth da Silva FerreiraIvana LimaJosé Antonio Bezerra JuniorRafael Marques Garcia

Módulo matemáticoJoacy Guilherme de A. F. Filho

IMAGENS UTILIZADASAcervo da UFRNwww.depositphotos.comwww.morguefile.comwww.sxc.huEncyclopædia Britannica, Inc.

FICHA TÉCNICA

Catalogação da publicação na fonte. Bibliotecária Verônica Pinheiro da Silva.

Governo Federal

Presidenta da RepúblicaDilma Vana Rousseff

Vice-Presidente da RepúblicaMichel Miguel Elias Temer Lulia

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Reitora

Ângela Maria Paiva Cruz

Vice-ReitoraMaria de Fátima Freire Melo Ximenes

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS)

Secretária de Educação a DistânciaMaria Carmem Freire Diógenes Rêgo

Secretária Adjunta de Educação a DistânciaEugênia Maria Dantas

© Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN.

Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educacão – MEC

Dantas, Aldo.

  Geografia Agrária / Aldo Dantas, Rosana Silva de França e Sara Raquel Fernandes Queiroz de Medeiros.

– 2. ed. – Natal: EDUFRN, 2011.  190 p.: il.

ISBN: 978-85-7273-890-3

  Disciplina ofertada ao curso de Geografia a Distância da UFRN.

  1. Geografia. 2. Agrária. 3. Agricultura. I. França, Rosana Silva de. II. Medeiros, Sara Raquel FernandesQueiroz de. III. Título.

CDU 91D192g

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Sumário

Apresentação Institucional 5

Aula 1 Bases teórico-conceituais da questão agrária 7

Aula 2 Agricultura e modo capitalista de produção 21

Aula 3 Estrutura agrária e produção do espaço agrário brasileiro 35

Aula 4 Os conflitos sociais no campo brasileiro 51

Aula 5 Reforma agrária brasileira 67

Aula 6 Agricultura e sustentabilidade 89

Aula 7 Agricultura e a questão ambiental 101

Aula 8 Espaço rural e espaço urbano 117

Aula 9 Transformações recentes no espaço rural 129

Aula 10 As políticas agrícolas e a agricultura familiar 143

Aula 11 Agricultura e energia 157

Aula 12 Agricultura e trabalho 171

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Apresentação Institucional

ASecretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grandedo Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, dasPolíticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação

a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil –UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: aprimeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendoimplementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu ; a segunda volta-se

para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializaçõesem Administração Pública e Administração Pública Municipal.

Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto demeios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que sãoelaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfico para atender às necessidades

de um aluno que aprende a distância. O conteúdo é elaborado por profissionais qualificados e

que têm experiência relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material

impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas,

livros, textos, filmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que

possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem.

Assim, a UFRN através da SEDIS se integra o grupo de instituições que assumiram odesafio de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como moda-

lidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais seleto oacesso à graduação e à pós-graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN está presente

em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando cursos degraduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando o EnsinoSuperior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e o conhecimentouma possibilidade concreta para o desenvolvimento local.

Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectuale econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação ecom a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLETE

O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade

estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIASEDIS/UFRN

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Bases teórico-conceituaisda questão agrária

1Aula

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Aula 1  Geografia Agrária 9

Apresentação

N

esta primeira aula, iniciaremos os estudos referentes à disciplina Geografia Agrária,na qual discutiremos as bases teórico-conceituais da agricultura. Nesse sentido, vocêestudará elementos como: o contexto histórico do desenvolvimento da agricultura, a

relação latifundiário/camponês e suas transformações marcantes ao longo do tempo histórico,em especial, as relações que perpassam o escravismo, o feudalismo e, principalmente, ocapitalismo. Destacaremos as principais correntes de pensamento que tratam da relaçãoexistente entre o camponês, o latifundiário e o modo de produção capitalista; por fim, osconceitos fundamentais para o estudo, a saber: questão agrária, questão agrícola, renda daterra, renda diferencial e renda absoluta.

ObjetivosConhecer os conceitos pertinentes ao tema, tais como:questão agrária, questão agrícola, renda da terra, rendadiferencial e renda absoluta.

Discutir as bases teóricas da agricultura.

Compreender as abordagens teóricas referentes àreprodução do camponês e do latifundiário e suasrelações com o capitalismo.

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Aula 1  Geografia Agrária10

Abordagensteóricas da agricultura

As teorias que abordam a temática da agricultura trazem a discussão do contextohistórico, para entendermos melhor como ocorreu o processo de dominação dos meiosde produção. Essa fundamentação é primordial para compreendermos como ocorrem

as relações entre a terra e o trabalho, no capitalismo. A título de comparação, faremos umaexplanação dessas relações no sistema feudal de produção. Outra discussão teórica será ascontradições do capitalismo, que cria e recria novas relações de trabalho para manter-se comosistema de produção.

Contexto histórico da agriculturaA agricultura é uma atividade milenar que passou por várias transformações ao longo do

tempo. Nesse sentido, vale destacar um pouco da evolução histórica que envolve o percursoda agricultura e dos atores sociais nela envolvidos.

Um dos atores envolvidos é o camponês, que não deve ser entendido apenas comoprodutor de sua própria subsistência, mas aquele que possui relação direta com a terra.

O camponês surge com a sedentarização dos seres humanos no espaço geográfico, ouseja, com a fixação do ser humano, que deixa de ser nômade e passa a fixar-se em determinados

lugares, principalmente, nas margens dos rios.

No entanto, no período Neolítico, iniciaram-se novos modos de relacionamento entre osseres humanos e a natureza, em que os seres humanos passaram a interferir de forma ativa noambiente, cultivando plantas, domesticando e criando animais. Dessa forma, os seres humanoscomeçaram a produzir sua própria alimentação. As comunidades desse período praticavam acoleta de frutos, a caça e a pesca, mas durante muito tempo fizeram pouco uso da agriculturae da criação de animais como forma de produzir alimentos.

No período das grandes civilizações agropecuárias (egípcia, mesopotâmia, persa,

hindu, romana, chinesa, grega, asteca, inca, maia etc.), como mostra Figura 1, houve umamodificação decisiva de como os grupos humanos se organizavam no espaço geográfico,dinamizando a divisão do trabalho no interior das civilizações. Com a evolução das relaçõessociais dentro das civilizações, ocorreu o aparecimento de grupos sociais diferenciados, o queampliou a divisão social do trabalho, fazendo surgir os trabalhadores especializados (ferreiros,carpinteiros, mercadores, guerreiros, sacerdotes, pastores etc.). Além disso, ocorreu tambémo desenvolvimento técnico, principalmente na agricultura, tendo impacto decisivo na produção.Cabe ressaltar que com a expansão das cidades houve a ampliação da produção de alimentos,

Sedentarização

Movimento desedentários, ou

seja, aquele que temhabitação fixa.

Nômade

Tribos ou povosque estão sempre a

deslocar-se em buscade alimentos,

pastagens etc.

Neolítico

Termo de origemgrega (neo = novoe lítico = pedra).

Refere-se ao períodohistórico em que apedra recebe nova

forma de tratamento:antes lascada, passou a

ser polida. A chamadaidade da pedra

polida compreende operíodo entre 10 mil

a 4.000 a. C.

Divisão do trabalho

Especialização dotrabalho cooperativo

em tarefas oupapéis específicos e

delimitados.

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Aula 1  Geografia Agrária 11

Figura 1 – Primeiras civilizações mundiais

Fonte: <http://www.iejusa.org.br/civilizacoesantigas/imagens/mapa3.jpg>.

Acesso em: 22 abr. 2009.

Com a evolução das relações de poder dentro dessas civilizações e o aumento do território,especificamente o império romano, deu-se a implosão a partir das invasões “bárbaras” e aexplosão a partir de movimentos instaurados dentro do próprio império, por exemplo, os

conflitos entre alguns generais romanos. Como consequência principal da dissolução doimpério romano, podemos citar um evento ímpar na história da humanidade, o êxodo urbano,ou seja, a migração das pessoas para o campo, dando início, assim, a um novo sistema deprodução de característica essencialmente agrícola – o Feudalismo.

No período do século V ao XV, predominaram as relações feudais de produção, ou seja,o chamado feudalismo, definido por Goff (1984) como um sistema baseado em vínculos dehomem a homem em que uma classe de guerreiros – os senhores – subordina uns aos outrospor uma hierarquia de vínculos de dependência, dominando a massa campesina que exploraa terra e lhes fornece o viver.

Segundo Kautsky (1998), o mundo medieval constituía uma cooperativa completamenteou quase totalmente autosuficiente, que não produzia apenas seus próprios produtos deconsumo pessoal, como também construía sua própria casa, seus próprios móveis, utensíliosdomésticos, ferramentas, curtiam o couro, preparava o linho e a lã, além de fabricar suaspróprias roupas, sapatos etc. Com o desenvolvimento da indústria e do comércio e o processode urbanização, aumentou a demanda por produtos agrícolas e de uso pessoal na Europa.

uma vez que era preciso abastecê-las, gerando a necessidade da ampliação do território econsequentemente a necessidade de um exército permanente para ampliar e controlar osnovos espaços conquistados.

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Aula 1  Geografia Agrária12

Figura 2 – Deveres do suserano e do vassalo.

Acumulaçãoprimitiva

Expressão quedesigna as primeiras

acumulações deriquezas (ou capitais)

que levaram aosurgimento do

capitalismo.

Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/_VrXwiKWjecE/ScPQxDcZqjI/AAAAAAAAGMs/ 

jIOyGgNKshU/s320/Feudalismo1.jpg>.Acesso em: 22 abr. 2009.

Tal fato gerou a crise no sistema cooperativo feudal, que não tinha capacidade de supriras demandas, principalmente nos núcleos urbanos, causando a dissolução da indústria ruraldoméstica, o que gerou uma migração da indústria rural de subsistência para os núcleosurbanos europeus.

No entanto, com a crise do Feudalismo, ocorre a formação dos Estados Nacionais e novaspráticas econômicas são efetivadas, ocorre o aumento do consumo e produção européias.Dessa forma, novas relações de produção emergem com o florescimento do Capitalismo.Com a expansão marítima comercial, metrópoles como Inglaterra, Portugal e Espanhatransformaram as colônias de exploração em grandes plantations  de produtos agrícolas, como a

cana-de-açúcar, o algodão, o fumo etc. Essa exploração definiu a divisão internacional dotrabalho entre os continentes africano, americano e asiático e foi importante para a acumulaçãoprimitiva do capital para os países da Europa Ocidental, sobretudo a Inglaterra, principalpotência econômica até a Primeira Guerra Mundial.

Desde então, o Capitalismo tem se expandido e as mudanças nas relações de trabalhoe no modo de vida da sociedade, tanto na cidade quanto no campo, são evidentes e geramgrandes discussões, em especial, destacaremos as repercussões do Capitalismo naagricultura. A terra, tida como fonte natural de vida, passa a ser vista como fonte de lucrocom o advento do Capitalismo.

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Aula 1  Geografia Agrária 13

A agricultura sob o capitalismo:abordagem teórica

O estudo acerca da agricultura na perspectiva do Capitalismo é um tema gerador demuitas discussões e correntes de pensamento. Cabe discutir aqui as principais correntesque procuram explicar as mudanças no campo advindas com esse sistema. Deve-se tambémdestacar que todos os autores concordam com o processo de generalização progressiva emtodos os ramos e setores de produção, no campo ou na cidade, o assalariamento constituitraço fundante do modo de produção capitalista.

Na realidade, ocorrem discordâncias teóricas em relação à interpretação desse processode generalização progressiva de todos os setores de produção e do assalariamento. Nessesentido, há duas correntes de pensamento. Na primeira, os autores dizem que ocorre um

processo de homogeneização com a formação do operariado único num pólo e a classeburguesa no outro. Para a segunda corrente, o processo é contraditório e heterogêneo, nelese expande o assalariamento e o trabalho familiar.

Em relação às duas correntes citadas, destaca-se outra corrente de pensamento,os seguidores da chamada teoria clássica explicam o processo de generalização dasrelações produtivas capitalistas por duas vias em que se dá a destruição dos camponesese a modernização dos latifúndios. O primeiro se dá pela diferença interna provocada pelascontradições da inserção do campesinato no mercado capitalista. O segundo decorre coma introdução das máquinas e insumos modernos, tornando os latifundiários capitalistas

do campo. Esse processo de mudanças tecnológicas no campo ficou conhecido comomodernização conservadora, uma vez que a estrutura social praticamente não sofreu alterações.

Relações feudais?Dentro da discussão teórica, cabe destacar os estudos que apontam que os camponeses e

os latifundiários são na realidade evidências da permanência de relações feudais de produção.Para essa corrente de pensamento, houve uma penetração das relações capitalistas nocampo. Essa penetração é explicada com o rompimento das estruturas políticas tradicionaisde dominação. Segundo essa corrente, apenas uma reforma profunda por meio da distribuiçãode terra provocaria transformações no momento em que a luta camponesa poderia destruir olatifúndio e os vestígios feudais e, assim, ocorreria a substituição pela propriedade camponesaou capitalista.

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Aula 1  Geografia Agrária14

O capitalismo cria e recriaas relações não-capitalistas

Ainda no plano teórico, vale destacar mais uma corrente de pensamento que defende queo próprio Capitalismo é o gerador das relações capitalistas e não-capitalistas. O Capitalismoé entendido como contraditório, uma vez que ocorre a criação e recriação das relações não-capitalistas de produção, ou seja, relações em que não existe trabalho assalariado. Para essacorrente, a relação capitalista ocorre com a construção de dois elementos: o capital produzidoe o trabalhador despossuído dos meios de produção.

Entendem esses autores que esse processo contraditório do desenvolvimento capitalistadecorre do fato de que a produção do capital nunca é, ou seja, nunca decorre de relaçõesespecificamente capitalistas de produção, fundadas, pois, no trabalho assalariado e nocapital. Para que a relação capitalista ocorra é necessário que seus dois elementos centrais

estejam constituídos, o capital produzido e os trabalhadores despojados dos meios deprodução (OLIVEIRA, 1995, p. 11).

As relações não-capitalistas são necessárias à reprodução do capital e ao processo desua reprodução ampliada do capital. Nesse processo contraditório, as relações antigas deprodução são redefinidas e subordinadas à reprodução do capital. Segundo os seguidoresdessa corrente, o processo contraditório de desenvolvimento do capitalismo se dá no sentidoda sujeição da renda da terra ao capital. Dessa forma, o capital subordina o campesinato,especula a terra, comprando-a e vendendo-a e sujeitando o trabalho nela realizado.

Leia o fragmento do texto e, em seguida, responda a atividade.

A expansão do Capitalismo no campo se dá primeiro e fundamentalmentepela sujeição da renda territorial ao capital. Comprando a terra, para explorarou vender, ou subordinando a produção de tipo camponês, o capital mostra-sefundamentalmente interessado na sujeição da renda da terra que é a condiçãopara que ele possa sujeitar também o trabalho que se dá na terra. Por isso, a

concentração ou a divisão da propriedade está fundamentalmente determinada pelarenda e renda subjugada pelo capital. No Brasil o movimento do capital não operade modo geral no sentido entre a separação entre a propriedade e a exploraçãodessa propriedade nem a separação do burguês e os proprietários grandes epequenos. Podemos citar como exemplo os agricultores familiares do sul doBrasil que continuam proprietários da terra e dos instrumentos que utilizam no seutrabalho. Ele não é um assalariado de ninguém. Como podemos dizer que o capital

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Atividade 1

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Aula 1  Geografia Agrária 15

instituiu a sujeição do seu trabalho, dominando-o? Nem há sujeição formal (nãoexiste vínculo trabalhista) nem há sujeição real (o capital não precisa apropriar-se da terra para retirar sua renda) do trabalho ao capital nesse caso, deixandoclara a sujeição da renda da terra ao capital. Esse é o processo que se observaclaramente em nosso país, tanto em relação à grande propriedade quanto emrelação à propriedade familiar de tipo camponês. (MARTINS, 1983, p. 174/176).

Como o Capitalismo consegue apropriar-se da renda da terra semapropriar-se diretamente dela, ou seja, sem comprá-la?

Do ponto de vista das “abordagens teóricas”, como você analisa oprocesso de expansão do capitalismo no campo e as consequênciasdesse processo para as classes sociais envolvidas.

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Aula 1  Geografia Agrária16

O agrário e o agrícolaO que é questão agrária e qual é a sua relação com a questão agrícola? A questão agrária

tem conteúdo político e social e a questão agrícola está relacionada à produção de gênerosalimentícios. Em outras palavras, como diz Graziano da Silva (1980, p. 11):

[...] a questão agrícola diz respeito aos aspectos ligados às mudanças na produçãoem si mesma: o que se produz, onde se produz e quando se produz. Já a questãoagrária está ligada às transformações nas relações de produção: como se produz, deque forma se produz. No equacionamento da questão agrícola, as variáveis importantessão a quantidade e os preços dos bens produzidos. Os principais indicadores da questãoagrária são outros: a maneira como se organiza o trabalho e a produção; o nível de rendae emprego dos trabalhadores rurais; a produtividade das pessoas ocupadas no campo etc.

Cabe destacar, como diz Graziano da Silva (1980), que a questão agrária e a questãoagrícola estão internamente relacionadas, sendo que muitas vezes suas crises ocorrem

simultaneamente, mas nem sempre isso é uma condição necessária, pois muitas vezes aresolução do problema agrícola pode servir para agravar a questão agrária. Discutiremosmelhor a respeito desta relação entre agrícola e agrária, nas próximas aulas.

Uma categoria fundamental para os estudos da questão agrária é a chamada renda daterra, que representa um lucro extraordinário, suplementar, permanente, que ocorre tanto nocampo como na cidade – também é denominada de renda territorial ou renda fundiária. Sendoa renda da terra um lucro extraordinário, fruto do trabalho excedente, esta constitui-se nafração da mais-valia. A renda da terra em sua forma mais desenvolvida no modo de produçãocapitalista é sempre sobra acima do lucro, ou seja, constitui-se num lucro excedente.

No entanto, a renda da terra sob o modo capitalista de produção é resultante da rendadiferencial e da renda absoluta.

RENDA DIFERENCIAL RENDA ABSOLUTA[...] decorre da diferença entre o preço individual de produção docapital particular que dispõe de uma força natural monopolizada eo preço de produção do capital empregado no conjunto do ramode atividade considerado. As causas da renda diferencial são três:sendo que as duas primeiras (renda diferencial I) independemdo capital. São elas: a diferença de fertilidade (natural) do soloe da localização das terras. Essas duas podem atuar em sentidosopostos. A terceira causa (renda diferencial II) é oriunda dos

investimentos de capital no solo para melhorar a sua produtividadee/ou localização.”

Para ficar claro, lembremos que a Renda diferencial I independe docapital. As terras que são férteis naturalmente e têm sua localizaçãoprivilegiada, por exemplo, a Zona da Mata Nordestina, as áreas deterra roxa no Paraná em Santa Catarina etc.

No caso da renda diferencial II, lembremos que esta é dependentedo capital, por exemplo, nas áreas de solos pobres, como o Cerradobrasileiro e grande parte dos solos amazônicos.

[...] é aquela que resulta do monopólio daterra por uma classe ou fração de classe,e desapareceria caso as terras fossemnacionalizadas. Assim, a renda absolutaé resultante da elevação dos preços deprodução desses gêneros, principalmentepor ação dos monopólios. Isso porque os

proprietários fundiários só permitem autilização de suas terras quando os preçosde mercado ultrapassam os seus preçosde produção”

No caso da renda absoluta, podemos citarcomo exemplo os grandes especuladoreslatifundiários que colocam suas terraspara produzir quando os preços estãoacima da média.

Quadro 1 – Rendas diferenciada e absoluta

Fonte: adaptado de Oliveira (1995, p. 74-75).

Mais-valia

Conceito desenvolvido

por Karl Marx. Refere-seao trabalho não pagoao trabalhador, isto é,

na exploração exercidapelos capitalistas sobre

seus assalariados.

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Atividade 2

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Aula 1  Geografia Agrária 17

Figura 3 – Feira Livre de Caicó, RN.

Fonte: <http://www.fja.rn.gov.br/imaterial/patrimonioimaterial/docs/fichas/feira_livre_

mercado_29_07_manha05.jpg>. Acesso em: 22 abr. 2009.

Faça uma pesquisa em seu município evidenciando a questão agrícola.

Especifique os tipos de renda existentes.

Faça uma pesquisa na feira de seu município e identifique os produtosagrícolas produzidos em seu município.

a) Liste os produtos agrícolas encontrados.

b) De acordo com o assunto abordado na aula, identifique se essesprodutos são produzidos por relações tipicamente capitalistas ou

relações não-capitalistas de produção.

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Resumo

Aula 1  Geografia Agrária18

Figura 4 – O autor José de Souza Martins.

Fonte: <http://www.estadao.com.br/suplementos/>. Acesso

em: 29 set. 2009.

Nesta aula, aprendemos as bases teóricas do Capitalismo, com ênfase nasprincipais correntes de pensamento que tratam da relação existente entre o

camponês, o latifundiário e o modo de produção capitalista. Destacamos aindaos conceitos fundamentais para o estudo, tais como: questão agrária, questãoagrícola, renda da terra, renda diferencial, renda absoluta e renda de monopólio.

Leitura complementarMARTINS, J. de S. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e seulugar no processo político. Petrópolis: Vozes, 1983.

Para esta aula, merece destaque o capítulo V sobre a sujeição da renda da terra aocapital e ao novo sentido da luta pela reforma agrária. Nesse capítulo o autor analisa asrelações capitalistas de produção, as contradições entre renda da terra e o capital, comose dá a apropriação da renda da terra pelo capital e as diferenças entre concentração dapropriedade e a do capital.

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Aula 1  Geografia Agrária 19

ReferênciasGOFF, Jacques Le. A civilização do ocidente medieval. Lisboa: Estampa, 1984.

LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade. São Paulo: Melhoramentos, 1982.

MOURA, Margarida Maria. Camponeses. 2. ed. São Paulo: Ática, 1988. (Série Princípios).

OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: Ática.1995. (Série Princípios).

SILVA, José F. Graziano da. O que é questão agrária. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1980.

AutoavaliaçãoElabore uma seqüência histórica (semelhante a uma linha do tempo) com asprincipais abordagens da agricultura e associe aos conceitos de: mais-valia,acumulação primitiva, renda da terra, questão agrária e agrícola.

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Anotações

Aula 1  Geografia Agrária20

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Agricultura e modocapitalista de produção

2Aula

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Aula 2  Geografia Agrária 23

ApresentaçãoNesta segunda aula, daremos continuidade e aprofundamento à aula 1 (Bases

teórico-conceituais da questão agrária). Discutiremos o desenvolvimento e a evolução daagricultura no modo capitalista de produção, em especial, as transformações na agricultura

ao longo das fases do capitalismo concorrencial e monopolista.

ObjetivosSaber as bases teóricas que consolidaram o capitalismo

como sistema hegemônico no tocante a agricultura.

Entender o funcionamento do capitalismo e sua relaçãocom a agricultura.

Compreender como se deu o desenvolvimento da agriculturadurante o capitalismo concorrencial e monopolista.

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Aula 2  Geografia Agrária24

Introdução: sobre o CapitalismoNo capitalismo concorrencial, a agricultura desenvolveu-se de duas formas: a agricultura

capitalista, baseada no trabalho assalariado e nos arrendamentos, e a agricultura baseadanas formas de produção não-capitalistas, em que se destaca a produção de mercadorias

camponesas e o escravismo, os quais se desenvolveram articulados com o comércio capitalista.

A fase do capitalismo monopolista se deu com a crise no final do século XIX. Especialmentena agricultura inglesa e européia, ocorreu o crescimento da produção e a queda da renda.Essa fase caracteriza-se pelo desenvolvimento da mecanização do campo, fusão de grandesempresas nos países desenvolvidos e fundação de grandes bancos, ou seja, concentraçãoe centralização de capitais. Ainda nessa fase, a agricultura desenvolveu-se no aumento daprodutividade do trabalho e no contexto de baixa geral de seus preços, criando assim ascondições de acumulação, da efetivação dos monopólios industriais.

Agricultura e modocapitalista de produçãoComo vimos na aula 1, o capitalismo é produto de um processo contraditório e seu

desenvolvimento é produto desse processo de reprodução ampliada do capital, ou seja, o modocapitalista de produção não se restringe apenas à produção de mercadorias, mas também incluia sua circulação e troca, quer seja por dinheiro quer por mercadoria.

O capitalismo, na realidade, está em constante desenvolvimento e expansão. Seu princípio

básico é representado por D – M – D’, ou seja, dinheiro compra mercadoria e força de trabalho para gerar mais dinheiro, ou seja, lucro. Esse é o princípio da reprodução ampliada do capital.No entanto, reprodução do capital também se dá de forma simples, ou seja, M – D – M, sem ageração de excedente em dinheiro, ou melhor, lucro. Nesse esquema, produz-se apenas paragarantir a sobrevivência.

Para entender o processo de desenvolvimento do capitalismo no tocante à agricultura,é importante compreender se esta se desenvolveu nas duas diferentes fases ou etapas docapitalismo, nas quais se destacam o capitalismo concorrencial e o monopolista.

Força de trabalho

Capacidade dostrabalhadores paraproduzir riquezas. 

Karl Marx explica quea compra e venda da

força de trabalho é uma

característica básica docapitalismo. A força detrabalho do trabalhador

é uma mercadoriaque o capitalista

compra e que gera asriquezas. Porém, essa

mercadoria (a forçade trabalho) gera maisriqueza do que quanto

ela mesma vale.

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Aula 2  Geografia Agrária 25

Capitalismo concorrencialA agricultura nessa etapa desenvolveu-se de duas formas: agricultura capitalista baseada

no trabalho assalariado e nos arrendamentos e a agricultura baseada nas formas de produçãonão-capitalistas em que se destaca a produção de mercadorias camponesas e o escravismo,

os quais se desenvolveram articulados com o comércio capitalista. Na Europa ocidental e nonordeste dos Estados Unidos, predominavam as relações tipicamente capitalistas, enquanto nascolônias de exploração, maior parte da Ásia, na África e na América, predominavam as relaçõesnão-capitalistas de produção, mas, contraditoriamente, havia uma articulação territorial emque o capitalismo se expandia dirigida pelos países centrais europeus.

Com o desenvolvimento industrial e urbano, especialmente nos países europeus, aagricultura foi adaptando-se às novas relações de poder e às leis do mercado capitalista.

O capitalismo concorrencial:o comércio e as formascomunitárias de produção

O capitalismo durante o processo de dominação colonial não destruiu integralmenteas comunidades nativas existentes. Na realidade, após a dominação do trabalho pela forçao capitalismo utilizava as formas de produção das comunidades para produzir mercadoriasou transformava os produtos típicos das comunidades em mercadorias. Desse modo, ocapitalismo submeteu os povos da Ásia, América e da África aos seus interesses comerciais,extraindo os seus excedentes para a realização da acumulação primitiva do capital. Nessemomento, você deve está perguntando: como aconteceu isso? Esse processo foi homogêneo?Bem, vamos tentar entender como o capitalismo expandiu-se no continente asiático, africano,americano e europeu.

Na Ásia, o capitalismo submeteu os povos que viviam sob o despotismo oriental, apropriando-se dessa forma de produzir através da Companhia das Índias Orientais. Nascomunidades que viviam do despotismo oriental, combinavam-se a manufatura e a agricultura,que as tornavam autossuficientes e portadoras de todas as condições de produção ereprodução dos excedentes. O trabalho excedente pertencia à comunidade superior, ou naforma de tributo ou de trabalho coletivo. No entanto, os comerciantes capitalistas europeusdesestruturaram essas relações através das relações com o Estado e os comerciantes que

Arrendamento

É o aluguel de terras para o

plantio e criação de animaismediante o pagamento de

uma renda em mercadoria

ou em dinheiro.

Despotismo oriental

Sistema de produção

asiático em que a

agricultura era a base da

economia com regime de

servidão coletiva submetidaao Estado, representado

pelas figuras do imperador,

rei ou faraó. Sistema

caracterizado por grandes

comunidades agrícolas.

Companhias dasÍndias Orientais

As Companhias das Índias

Orientais foram trêsorganizações distintas

com objetivos comerciais

no Sueste asiático,

de origens francesa,

holandesa e inglesa:

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Atividade 1

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Aula 2  Geografia Agrária26

aos poucos envolveram a comunidade superior no comércio, aumentando os tributos sobrea comunidade e quebrando o sistema autossuficiente.

Na África, assim como na Ásia, também houve o processo de aceleração damercantilização. Esse período foi marcado pelo tráfico de escravos, principalmente do séculoXVII ao XIX, estendendo-se de Senegal a Moçambique. A inserção da África no processo dedesenvolvimento do capitalismo se efetivou fundamentalmente com o tráfico negreiro. Após aproibição do tráfico, as comunidades africanas voltaram-se para produção de matérias-primase produtos agrícolas tropicais de exportação.

No continente americano, houve o processo de dominação dos povos indígenas, oqual se deu por meio da manutenção da estrutura comunitária, destinando os excedentesaos espanhóis. Durante a economia colonial, os indígenas americanos foram exploradosatravés da apropriação do excedente, quer pela via fiscal ou pela via de suas relações como monopólio comercial, ou, ainda, pelo aparelho eclesiástico e das ordens religiosas.

Portanto, a economia colonial fundou-se em duas bases: na articulação com as formas

comunitárias submetidas ao comércio internacional e na produção por parte das colôniasde produtos tropicais baseada no trabalho escravo. Vale salientar que a produção escravistaexpandiu-se pelo mundo, principalmente na América, sendo o escravo a própria mercadoria.

Com o fim do tráfico de escravos, o capital procurou novas formas de dominação dospovos de todo o mundo. No Brasil, destacou-se o colonato como uma alternativa para superara crise do trabalho escravo, substituindo o escravo e caracterizando-se como trabalho livre. Amudança na forma de produzir baseada no colonato objetivava preservar e ampliar a economiavoltada para exportação de produtos tropicais para a Europa capitalista.

Na Europa, as formas comunitárias de produção foram abolidas em detrimento dasformas capitalistas de produção, isso transformou os servos em trabalhadores assalariados eos grandes proprietários de terra em agricultores essencialmente capitalista, subordinando aagricultura à reprodução do capital e transferindo as decisões que se davam no espaço ruralpara o espaço urbano.

Como o capitalismo se apropriou das formas de produção nascomunidades nativas?

Comente a afirmação: os tributos sobre as comunidades nativasacarretaram a quebra do sistema autossuficiente.

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Aula 2  Geografia Agrária 27

Transformações na agricultura:o crescimento, a concorrência ea crise européia

Nesse período, aumentava a produção e crescia a produtividade das terras nos países

europeus. Esse período de prosperidade, segundo Kautsky (1998), durou até o último quarteldo século XIX, período em que os preços dos alimentos cresceram bastante na Europa. Noentanto, o período de prosperidade trouxe consigo o próprio estrangulamento da produçãoagrícola e a queda dos preços dos alimentos trouxe a concorrência dos produtos importados noseio de uma economia mundializada pela indústria de exportação. O baixo preço dos produtosimportados e a concorrência dos produtos agrícolas se deram em função dos menores gastosde produção e de exploração, em relação a custos e à exploração dos países europeus a queos trabalhadores estavam submetidos em outras partes do mundo.

Paralelamente à crise agrícola, desenvolvia-se a industrial capitalista e o crescimento dascidades, principalmente os centros europeus, mudando a relação campo-cidade a partir da quala agricultura transformava-se e adequava-se a novos sistemas, como: a rotação de culturasque aboliu o pousio, pois a rotação de cultura permitia a produção agrícola o ano inteiro; outrofator importante foi a alteração da base alimentar da população, ampliando a produção de carneem relação à produção das matérias-primas industriais, como lã, algodão etc. No seio desseprocesso, temos o desenvolvimento da indústria, o crescimento das cidades, a introdução damáquina na agricultura, modificando e ampliando a divisão do trabalho, tanto nos territórioscentrais como nos países periféricos do capitalismo, especialmente em relação a terra.

Pousio

Descanso da terra,evitando a perdatotal de nutrientes edesgaste do solo.

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Atividade 2

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Aula 2  Geografia Agrária28

Nas colônias do continente americano e da Austrália, a terra não era propriedade privadade ninguém, era propriedade coletiva. Nessas nações, não havia renda da terra a pagar ou acobrar, fato exatamente contrário à agricultura inglesa. Além disso, em muitas áreas, os soloseram bastante férteis como, por exemplo, o solo massapé, terra roxa e solos aluviais dasmargens dos rios, dispensando investimentos e gastos com adubação. As produções dessascolônias cresceram e geraram o agricultor especializado em um único produto. Tal fato abriu

caminho para a mecanização em função da falta de mão-de-obra. Outro fator importante é aintensificação da imigração, que provocava a redução dos salários agrícolas e a efervescênciada agricultura capitalista nesses lugares.

Em contrapartida, podemos citar um caso especial em que se efetivou uma agriculturacompetitiva possibilitada pela abolição dos escravos e pela Homestead Act , ou seja, Lei decolonização estadunidense (EUA), assinada em 1862, que permitia a concessão gratuita deterra para propriedades acima de 160 acres. Como conseqüência, houve uma grande migraçãopara o oeste, conhecida como “marcha para o oeste” no citado país.

Como esses eventos nos territórios periféricos pressionaram a política de produçãode massa e preço baixo de vários países, as colônias pressionaram a agricultura da Europaindustrial, principalmente da Inglaterra. Com isso, a agricultura européia e os chamadoslandlords (senhores de terra) entram em crise, sendo obrigados a reduzir suas rendas devidoà pressão da concorrência dos produtos importados. As consequências da crise da agriculturaeuropéia são diversas, mas destaca-se uma forte tendência à fragmentação do solo e exploraçãodo campesinato europeu pelo capital. O campesinato entra em crise profunda, nem mesmoalternativas como o cooperativismo foi totalmente eficaz. Tais acontecimentos apontavam onovo rumo da agricultura, ou seja, a sua industrialização, que se deu principalmente na fasedo capitalismo monopolista.

Acres

Unidade de medidade superfície agrária,

utilizada em paísescomo Inglaterra eEUA, equivalente a

0,4 ha  ou 4.000 m 2

Quais as principais características da agricultura na fase do capitalismoconcorrencial?

Faça um esboço das principais diferenças existentes entre oscontinentes asiático, africano, americano e europeu durante a fase docapitalismo concorrencial.

Pesquise e escreva um texto explicitando as causas e os benefícios doHomestead Act para os Estados Unidos.

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Aula 2  Geografia Agrária 29

Capitalismo monopolistaCom a crise no final do século XIX, especialmente na agricultura inglesa e européia,

ocorre o crescimento da produção e a queda da renda. As potências industriais européiaspassam a produzir e exportar manufaturas e importar produtos agrícolas de outras naçõesque se tornaram fornecedoras do mercado europeu. Essa concorrência, como foi citado,provocou a queda dos preços na Europa e ao mesmo tempo provocou a intensificação daagricultura européia, que passou a produzir mais para recuperar-se da queda dos preços,levando, contraditoriamente, à superprodução e baixa geral dos preços. Esse processo doplano imperialista do capitalismo criou uma separação internacionalizada entre os setores

agrícolas e industriais, acompanhada da queda histórica dos preços das matérias-primas esubida contínua dos preços dos produtos manufaturados.

Durante a fase do capitalismo monopolista, caracterizada pelo desenvolvimento damecanização do campo, ocorreu a fusão de grandes empresas nos países desenvolvidose a fundação de grandes bancos, ou seja, concentração e centralização de capitais. Nessafase, a agricultura desenvolveu-se no aumento da produtividade do trabalho e no contexto debaixa geral de seus preços, criando, assim, as condições de acumulação, da efetivação dosmonopólios industriais. A agricultura desenvolveu-se em duas vias: no consumo de produtosindustrializados de preços altos, como máquinas e equipamentos, e na venda de sua produçãode preços baixos. Dessa forma, foi inevitável o endividamento constante, sendo a figura doEstado, na maioria das vezes, o financiador da dívida.

Vale salientar que o próprio capitalismo promoveu a industrialização da agricultura e ageração da agroindústria. No entanto, como a rentabilidade do capital no campo não é alta, omonopólio industrial implantou-se na circulação, subordinando consequentemente a produção.

Em relação ao campesinato, ocorreram modificações significativas na fase monopolista docapital, em que o trabalho desenvolvido por eles foi altamente produtivo e ultra-especializado,

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Atividade 3

Aula 2  Geografia Agrária30

este trabalhador encontrava-se permanentemente endividado no banco e pressionadopelos encargos fiscais do Estado. O trabalho tornou-se intenso e muitas vezes o camponêsnecessitava entregar parte do processo do trabalho para trabalhadores de empreitada ou atémesmo entregar a colheita para os monopólios industriais.

No caso brasileiro, notamos claramente a presença do capital monopolista no campo. Essaonipresença do capital no campo tem aumentado ao longo do processo histórico, na produção

agropecuária, e, principalmente, controlando o processo produtivo através de financiamentos,venda de insumos, controlando a comercialização etc.

Podemos constatar em relação à renda do produtor rural que o pequeno agricultor,principalmente, nas áreas mais estruturadas, encontra-se preso duplamente, por um lado, pelacompra de insumos agrícolas, por outro, pela venda de sua produção. As duas situações sãocontroladas por oligopólios ou monopólios. Essas articulações entre os pequenos agricultorese os monopólios ou oligopólios acontecem entre grandes redes de supermercados e pequenosagricultores ou cooperativas, outras vezes por agroindústrias, do tomate, do fumo etc. Alémdesses casos, podemos citar as CEASAs (Central de Abastecimentos S/A), criadas para beneficiaro pequeno agricultor, acabaram beneficiando os grandes e médios intermediários e uma minoriade grandes cooperados. Essa articulação tem modificado a função da pequena agricultura, porum lado, os pequenos agricultores passam a produzir essencialmente para o mercado, deixandode ser agricultores de subsistência voltados para a produção de grãos básicos (feijão, arroz,mandioca etc.) e passando a produzirem “culturas de rico” (maçã, uva, soja, trigo etc.), ou seja,nesse momento o pequeno produtor passa a ser controlado pelo mercado.

Mesmo com a diminuição da importância da pequena agricultura como ofertante degêneros alimentícios, paralelamente, ela ganha importância como reserva de mão-de-obrapara os grandes latifundiários que assalariam esses agricultores.

Segundo Oliveira (1995), na fase da agricultura sob o capitalismo monopolista é realizadoo monopólio da produção, ou seja, a circulação fica subordinada à produção e o camponêsao capital, com intuito de obter a renda da terra. O camponês transforma-se ao longo doprocesso histórico e, contraditoriamente, persiste no sistema capitalista, que cria e recria ascondições para sua reprodução. Portanto, o conceito de renda da terra torna-se essencialpara a elucidação dessa sujeição do camponês e dos setores capitalistas agrícolas em relaçãoaos grandes monopólios capitalistas.

Elabore um quadro comparativo demonstrando as diferenças e semelhançasentre o camponês da fase do capitalismo concorrencial e o camponês da fase docapitalismo monopolista.

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Resumo

Aula 2  Geografia Agrária 31

Leitura complementarKAUSTSKY, Karl. A questão agrária. Tradução de Otto Erich Walter Mass. Brasília: LinhaGráfica, 1998.

Livro clássico escrito em 1898, destinado aos estudiosos das áreas humanas e sociais,analisa o desenvolvimento, as políticas e a evolução da agricultura na sociedade capitalista.Para esta aula, merece destaque o capítulo IV que trata da agricultura moderna em que édiscutida a divisão do trabalho, o sistema de adubação da terra, a ciência na agricultura e aintrodução da máquina na agricultura.

Figura 1 – Karl Kautsky, autor do livro

 Fonte:  http://einestages.spiegel.de/hund-images/2007/12/18/4/542929df593682c7ca20ab9999ef43f6_image_document_large_featured_borderless.jpg

Nesta aula, estudamos as bases teóricas do capitalismo e sua relação com o

desenvolvimento da agricultura, você estudou especificamente a evolução daagricultura durante as fases capitalista concorrencial e capitalista monopolista.

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Anotações

Aula 2  Geografia Agrária32

AutoavaliaçãoQuais foram as principais tendências do capitalismo concorrencial e monopolista?Explique como o capitalismo se consolidou como sistema hegemônico.

ReferênciasKAUSTSKY, Karl. A questão agrária. Tradução de Otto Erich Walter Mass. Brasília: LinhaGráfica, 1998.

OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: Ática.1995. (Série Princípios).

SILVA, José Graziano da. O que é questão agrária. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

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Anotações

Aula 2  Geografia Agrária 33

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Anotações

Aula 2  Geografia Agrária34

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Estrutura agrária e produçãodo espaço agrário brasileiro

3Aula

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Aula 3  Geografia Agrária 37

Apresentação

N

esta aula, estudaremos a respeito das origens da concentração da terra no Brasil desdeo período colonial até a atualidade, demonstrando suas causas e consequências. Paraisso, levaremos em consideração o processo histórico, ou seja, a relação entre os

espaços geográficos periféricos e centrais do sistema capitalista.

ObjetivosEntender as diferenças na relação capitalista entre os

países periféricos e os países centrais no que se refere àestrutura agrária.

Conhecer as origens da concentração fundiária brasileirae suas causas e consequências.

Compreender que a estrutura agrária de um território(país, estado, município) está diretamente relacionada àsua estrutura social, política e econômica.

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Aula 3  Geografia Agrária38

A relação centro-periferia esuas repercussões na estruturaagrária brasileira

Vários estudos revelam que a questão da propriedade da terra no Brasil e da situação daspessoas que nela trabalham ou dela precisam para trabalhar é uma situação bastante grave,geradora de desigualdade social, uma vez que a concentração de terra tem expulsado milharesde pessoas do campo para a cidade, provocando uma série de problemas socioambientais.Além disso, os grandes capitalistas latifundiários muitas vezes se apropriam de extensões deterra com vistas a usá-la como reserva de valor para especulação, sem nenhuma atividade

produtiva propriamente dita.

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Aula 3  Geografia Agrária 39

Relaçãocentro-periferia

Constitui-se

historicamente como

resultado da forma pela

qual o progresso técnico

propaga-se na economia

mundial. O centro são

economias que as técnicas

capitalistas de produção

penetram primeiro.

A periferia são economias

cuja produção permanece

inicialmente atrasada do

ponto de vista tecnológico

e de sua organização.

A estrutura agrária nos países periféricos tem relação direta com os países centrais oudesenvolvidos. Para entender a estruturação e ocupação do solo em relação ao uso da terrano Brasil e nos países periféricos, é preciso considerar o desenvolvimento desigual do capitalentre os territórios.

Para Milton Santos (1982), a combinação espacial entre centro e periferia no sistemamundial deve considerar três aspectos especiais:

a) aquelas forças que promovem a modernização e operam no centro do sistema nãoalcançam a periferia ao mesmo tempo; existe um efeito decrescente definido da distância.Isso poderia explicar a acumulação histórica capitalista, as variações entre países e asdesigualdades regionais dentro dos países;

b) alguns pontos do espaço são alcançados por novas forças, enquanto outros não recebemtais impactos. Sem dúvida, esses impactos não se dão ao acaso, sendo dirigidos do centrodo sistema em termos de máxima produtividade;

c) as forças emitidas nos centros ou polos mudam à medida que alcançam a periferia, ouseja, para se entender a reprodução dos espaços geográficos agrários deve-se levar emconsideração as diferenças socioespaciais.

Segundo o estudioso Porto Gonçalves (2004), a reprodução ampliada do capital queopera na agricultura atual está pautada em dois pilares:

no uso de um modo de produção de conhecimento próprio do capital, que se traduz nasupervalorização da ciência e nas técnicas ocidentais;

na expansão das áreas de terras cultivadas.

O primeiro pilar prediz que a agricultura desenvolvida nos países periféricos em geralconstitui-se num apêndice dos países centrais, que dominam as técnicas modernas, aimplementação de insumos e o desenvolvimento de tecnologia. No que se refere à expansãodas áreas cultivadas, destaca-se o seu crescimento devido a fatores estruturantes, como odesenvolvimento dos transportes para circulação de mercadorias e a melhoria nas condiçõesde armazenamento, acondicionamento e nas comunicações. Nos últimos 40, ocorreu umagrande expansão das áreas cultivadas, permitindo a incorporação de novas áreas agrícolas aomercado mundial, tendo como principais agentes financiadores o Banco Mundial, o Estado

e as multinacionais e transnacionais, repercutindo na estrutura agrária e fundiária do espaçogeográfico mundial.

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Aula 3  Geografia Agrária40

Sistema sesmarial

Sistema baseado na

sesmaria, ou seja,

latifúndio colonial

geralmente baseado no

trabalho escravo que

deveria contribuir para

ocupação econômica da

América portuguesa.

Origem da concentraçãode terras no Brasil

A concentração de terras no Brasil teve início com a divisão do território em capitaniashereditárias, definidas por Portugal em plena fase do desenvolvimento do capitalismoconcorrencial europeu, estabelecendo embrionariamente a relação centro-periferia do sistemacapitalista em que a capitania passou a ser colônia (ou seja, espaço periférico) e a metrópole(no caso, Portugal) passou a ser centro. Cabe lembrar que nesse período Portugal era umadas grandes potências mundiais.

Capitaniashereditárias

Grandes lotes de

terras, que foram

doadas para nobres e

pessoas de confiança do

rei. Estes que recebiam

as terras, chamados de

donatários, tinham a

função de administrar,

colonizar, proteger e

desenvolver a região.

Figura 1 – Localização das capitanias hereditárias

Fonte: <http://historiando.files.wordpress.com/2007/04/capitanias-hereditarias.gif>.

Acesso em: 29 set. 2009.

No período colonial, os portugueses instituíram os grandes domínios através da Sesmaria,apontada como a célula básica da reprodução colonial. O Brasil inicia suas atividades econômicaslogo após o surto do extrativismo, baseado nas grandes lavouras, ou seja, na grande propriedade.Logo, o açúcar torna-se a base econômica do sistema sesmarial. Como destaca Guimarães

(1963), a colônia tem sua base política apoiada em duas instituições – a sesmaria e o engenho,que se transformam na unidade econômica da coroa portuguesa.

A terra, nesse período, pertencia à coroa portuguesa e era doada seguindo os critériosestabelecidos pelo Rei, que obedecia na realidade a uma discriminação econômica (a condiçãosocial definia quem receberia a doação da terra). Os beneficiados, seguindo essa lógica,deveriam possuir os meios adequados para se instalarem na terra concedida. A legislaçãosesmarial ordenava que as terras doadas deveriam seguir um tamanho padrão de três léguas decomprimento por uma légua de largura (SILVA, 1980), mas essa lei não foi respeitada devido,

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Aula 3  Geografia Agrária 41

entre outros motivos, à vastidão do território brasileiro e à impossibilidade de controle porparte da coroa portuguesa. Através da sesmaria, na condição de posse da terra surgiram osgrandes domínios, que com a introdução do açúcar se transformaram em grandes domíniosna produção para exportação. O sistema sesmarial representou o início da concentraçãofundiária brasileira quando a sua base estava sustentada nos grandes domínios, conformeaponta Andrade (1996, p. 44):

A doação de terras em sesmarias – embora estas não dessem o domínio, mas tão somentea posse ao seu titular – provocou um processo de ocupação e apropriação das mesmas,sob a égide da grande propriedade, e definiu um processo de dominação do latifúndioque ainda hoje subsiste no País.

Esse cenário ficou caracterizado pela distribuição desigual da terra. De um lado, grandesglebas pertencentes aos Senhores, classe composta por nobres e burgueses; de outro lado,pequenos lotes de terra adquiridos por meio da posse ilegal pelos sujeitos sem recursos quese reproduziam à margem das necessidades de suprimentos da grande propriedade ondese utilizava mão-de-obra escrava em suas lavouras. Segundo Andrade (1996), os sujeitosse instalavam em áreas menos acessíveis através da posse e implantavam roças e currais,ao passo que esses posseiros, ao terem suas terras apropriadas pelos Senhores, tinhamduas alternativas: tornarem-se foreiros do Senhor ou migrarem para outra área mais distante,efetivando uma agricultura predatória.

A estrutura agrária brasileira foi definida pelos interesses dos colonizadores, segundo oqual a grande propriedade constituía fundamental importância para atender os interessese fornecer produtos ao mercado europeu:

O essencial da estrutura agrária brasileira legada pela colônia se encontrava assim

como que predeterminada no próprio caráter e nos objetivos da colonização. A grandepropriedade fundiária constituiria a regra e elemento central e básico do sistemaeconômico da colonização, que precisava desse elemento para realizar os fins a que sedestinava. A saber, o fornecimento em larga escala de produtos primários aos mercadoseuropeus (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 48).

Com o fim do sistema sesmarial, nos anos de 1820, emerge a chamada fase áureado posseiro; com a suspensão do regime Sesmarial, em 1822, por falta de uma legislação,ocorre a expansão das pequenas propriedades através da posse. Esse período chega ao fimcom a jurisdição da Lei de Terras, em 1850, que consolida a grande propriedade através

da legitimação das posses, formação de um mercado de trabalho com o fim do tráfico deescravos e criação do Imposto Territorial Rural (ITR). A Lei de Terras determina, a partir desua data de regulamentação (1854), a compra como única forma de aquisição das terrasdevolutas (SILVA, 1997). Dessa forma, as terras adquiridas ilegalmente, e/ou através dasposses, são regularizadas. “O projeto foi elaborado tanto para regularizar a situação daquelaspropriedades que tinham sido ilegalmente adquiridas, como também, ao mesmo tempo, paraestender o controle governamental sobre as terras em geral” (COSTA, 1985, p. 146). Essalegislação tornou mais difícil o acesso a terra daqueles sujeitos que não tinham condições

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Atividade 1

1

2

Aula 3  Geografia Agrária42

Explique como se deu o processo de concentração de terras no Brasil. A políticaagrária do presente sofre conseqüência deste processo? Por quê?

Como o sistema sesmarial procedeu na formação das oligarquias ecoronelismo?

Pesquise um pouco mais sobre a lei de terras, e relacione com osproblemas agrários atuais.

de adquiri-la por meio da compra, ou seja, os sujeitos sem prestígio ou sem recursos quecompõem a pequena propriedade.

Na realidade, a Lei de Terras, além de legalizar as propriedades adquiridas por meio dassesmarias e das posses, representou um regime de propriedade estratégico dos grandesfazendeiros, que asseguraram o controle político sobre a transição do trabalho escravo parao trabalho livre, conforme pontua Martins (2004, p. 5):

O regime de propriedade de 1850 tinha por objetivo criar mecanismos de interdição à livreposse da terra e, portanto, criar meios institucionais de gestação de uma superpopulaçãorelativa à disposição das grandes fazendas. Desse modo, assegurar que o fim daescravidão não seria também o fim da grande lavoura de exportação.

Nesse quadro, vale salientar que a Lei de Terras, considerada um marco jurídico demudanças à escravidão, é substituída pela superexploração da força de trabalho, aumentandoas desigualdades e solidificando o latifúndio. Com a constituição de 1891, a responsabilidadee legislação das terras públicas passam a pertencer aos estados, o que torna mais fácil aexpansão dos latifúndios na manipulação do poder político através de uma rede de relaçõesdeterminadas pelo coronelismo e a formação das oligarquias (MONTEIRO, 2001).

Sob a ótica do monopólio, os grandes proprietários garantiram seus domínios baseadosnum regime de propriedade, que mais do que atender seus objetivos e privilégios gerava umamassa de trabalhadores rurais dependentes.

Dessa forma, podemos dizer que as raízes da estrutura agrária dos países periféricos –em específico o espaço agrário brasileiro – foi e ainda continua sendo delineado no processohistórico na produção e reprodução do capital entre centro e periferia do sistema capitalista.

Coronelismo

Conjunto de ações

políticas de latifundiários

(chamados de coronéis)

em caráter local, regional

ou federal, onde se aplica

o domínio econômico e

social para a manipulação

eleitoral em causa própria

ou de particulares.

Oligarquias

Oligarquias são grupos

fechados e pequenos que

detêm o controle do poder,

geralmente formadas por

familiares de grandes

proprietários.

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Aula 3  Geografia Agrária 43

Estrutura agráriae estrutura fundiária

A relação entre os proprietários, os agricultores e a terra utilizada é conceituada, pelosestudiosos, como estrutura agrária e estrutura fundiária. A expressão estrutura agrária éusada em sentido amplo, significando a forma de acesso à propriedade da terra e à exploraçãoda mesma, indicando as relações entre os proprietários e os não proprietários, a forma comoas culturas se distribuem pela superfície da Terra (morfologia agrária) e como a população sedistribui e se relaciona com meios de transportes e comunicações (habitat  rural).

No sentido restrito, usado pela FAO e por vários órgãos oficiais e paraoficiais, a expressãoestrutura agrária corresponde apenas ao estudo das formas de acesso à propriedade da terrae à maneira como esta é explorada, tendo, assim, grande importância as relações existentesentre proprietários e trabalhadores agrícolas não proprietários. A estrutura fundiária é apenas aforma de acesso à propriedade da terra e a explicação da distribuição da propriedade, sendo seuestudo de grande importância, porque dela vai depender a melhor compreensão da estruturaagrária e dos fatores que presidem a formação da morfologia agrária e do habitat rural.

Para entender a estrutura agrária brasileira, é importante entender os problemasmetodológicos em relação à classificação das propriedades rurais, uma vez que o INCRA(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística) possuem distintas unidades de medidas. Para o IBGE, segundo os CensosAgropecuários, a unidade básica é o estabelecimento, definido como unidade administrativa

onde se processa uma exploração agropecuária. Os censos classificam os estabelecimentossegundo a condição principal do produtor (proprietário, parceiro, arrendatário e ocupante).O INCRA realiza o cadastro de imóveis rurais como sendo a unidade básica de medida; o imóvel

rural é definido como prédio rústico de área contínua, qualquer que seja sua localização, quese destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ouagroindustrial. O cadastro leva em consideração os imóveis rurais segundo a situação jurídicados declarantes (proprietários e/ou titulares de direito real e/ou titulares da posse), podendoum mesmo indivíduo pertencer a várias situações.

O cadastro de imóveis rurais classifica-se em quatro categorias: minifúndio, empresa

rural, latifúndio por exploração e latifúndio por dimensão. Para essa classificação, é essencialentender o conceito de módulo rural, que é derivado do conceito de propriedade familiar,e, sendo assim, é uma unidade de medida, expressa em hectares, que busca exprimir ainterdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e ascondições de seu aproveitamento econômico.

Outra categoria importante é o módulo fiscal, definido como unidade de medida expressaem hectares, fixada para cada um dos municípios brasileiros a partir de critérios tais como otipo de exploração predominante e a renda média obtida nesse tipo de exploração. No conjuntodo território nacional, o tamanho dos módulos fiscais varia entre 5 e 110 hectares.

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Atividade 2

12

Aula 3  Geografia Agrária44

Quais as definições de propriedade familiar?

O que o Incra considera como imóvel rural?

A concentração da

propriedade da terraO processo de concentração da terra difere da concentração de capital, ou seja, a terra

é um meio de produção específico monopolizado por uma classe detentora dos meios deprodução. Cabe salientar que a terra não é um meio de produção criado pelo trabalho humano;portanto, a terra não tem valor, e sim preço, o qual foi produzido pelo capitalismo. Os grandescapitalistas, ao se apropriarem de grandes extensões de terra, utilizam essa terra como reservade valor para especular e apropriar-se de sua renda.

[...] a concentração da terra não é igual à concentração do capital; ao contrário, revela airracionalidade do método que retira capital do processo produtivo, imobilizando-o sob aforma de propriedade capitalista da terra. Já a concentração do capital é aumento de poderde exploração, é aumento da capacidade produtiva do trabalhador; é aumento, portanto,da capacidade de extração do trabalho não-pago, da mais-valia (OLIVEIRA, 1995, p. 80).

Agora, preste bastante atenção no texto a seguir, porque ele será utilizado para respondera próxima Atividade.

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Aula 1  Geografia Agrária 45

A concentração da propriedade da terra

A questão da propriedade da terra no Brasil e da situação das pessoas que nela trabalham oudela precisam para trabalhar é hoje extremamente grave. O Censo Agropecuário de 1975 revelouque 52,3% dos estabelecimentos rurais do país têm menos de 10 ha  e ocupam tão somente aescassa área de 2,8% de toda a terra utilizada. Em contrapartida, 0,8% dos estabelecimentostêm mais de 1.000 ha  e ocupam 42,6% da área total. Mais da metade dos estabelecimentos

agropecuários ocupam menos de 3% da terra e menos de 1% dos estabelecimentos ocupa quasemetade da terra. Se levarmos em conta que, provavelmente, muitos dos grandes proprietáriostêm o domínio de mais de uma propriedade, estaremos em face de uma concentração fundiáriaainda maior. Além disso, a propriedade da terra vem se tornando inacessível a um númerocrescente de lavradores que dela necessitam para trabalhar e não para negociar.

Os estabelecimentos registrados nos dados censitários incluem os que são dirigidos porlavradores que não têm a propriedade da terra (arrendatários, parceiros autônomos eposseiros). Em 1950, apenas 19,2% dos lavradores não eram proprietários dos seusestabelecimentos rurais. Em 1975, essa porcentagem tinha subido para 38,1%; em 1950, para

cada lavrador não proprietário havia 4,2 que eram proprietários. Em 1975, para cada lavradornão proprietário havia apenas 1,6 proprietários. Esses números constantes dos censos oficiaisnão incluem aqueles que são trabalhadores rurais propriamente ditos e, portanto, sem terra(assalariados permanentes, assalariados temporários, parceiros subordinados), mas somenteos responsáveis pelos estabelecimentos.

Se analisarmos a situação em relação aos pequenos produtores agrícolas, verificamos quea situação é mais grave ainda. Em 1975, para cada lavrador proprietário havia um lavradornão proprietário da terra. No que se refere aos estabelecimentos com menos de 10 ha , que

constituem mais da metade das unidades de produção do país, notaremos que para cadalavrador proprietário há 1,3 lavradores não proprietários. Desde 1950 essa proporção vem seagravando, o que indica que um número crescente de lavradores não tem terra e para consegui-ladeve pagar uma renda ou invadi-la.

Além disso, devemos considerar os milhares de lavradores que tiveram que sair da terra – sejaterra própria, seja terra arrendada, seja terra ocupada. Entre 1950 e 1970, as oportunidadesde trabalho para terceiros na agropecuária (assalariados e parceiros subordinados) caíram emcerca de um milhão e meio de empregos.

O estrangulamento da pequena agricultura, por sua vez, está intimamente associado àexpansão das pastagens. Em 1970, os estabelecimentos agropecuários com mais de 20 ha  tinham 54,6% da sua área tomada por pastos e apenas 8,5% por lavouras. Já os pequenosprodutores, com estabelecimentos com menos de 20 ha , dedicavam 54,1% de suas terras àlavoura e 21,1% à pecuária. Dados oficiosos indicam que há hoje no país cerca de 40 milhõesde imigrantes, muitos dos quais obrigados a sair do seu lugar de origem devido principalmenteà concentração da propriedade da terra, à extensão das pastagens e à transformação nasrelações de trabalho na lavoura.

(MARTINS, 1991, p. 43-45).

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Atividade 3

1

2

3

Utilização das TerrasBrasil

Área total Lavourapermanente

Lavouratemporária

Lavoura emdescanso

Pastagemnatural

Pastagemplantadas

Matasnaturais

Matasplantadas

Produtivasnão

utilizadas

375 000 000

(ha)

350 000 000

325 000 000

300 000 000

275 000 000

250 000 000

225 000 000

19701975

1980

19851995-1996

Censos200 000 000

175 000 000

150 000 000

125 000 000

100 000 000

75 000 000

50 000 000

25 000 000

-

Aula 3  Geografia Agrária46

Quais são as consequências da concentração de terra exposta pelo autor?

Visite a página do Ministério da Agricultura <www.agricultura.gov.br>,analise e escreva suas conclusões a respeito dos dados sobre a estruturaagrária brasileira. Observação: para encontrar esses dados, siga essaseqüência dos links: 1º Estatísticas – 2º agricultura brasileira em número– 3º anuário 2005 – 4º concentração agrária – 5º estabelecimentos eárea para grupos de área total.

Faça uma leitura do gráfico levando em consideração os conceitosdiscutidos na aula e registre suas conclusões.

Figura 2 – Gráfico de utilização das terras no Brasil

Fonte: Censo agropecuário - IBGE.1995-96.

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Resumo

Aula 3  Geografia Agrária 47

Leitura complementarGUIMARÃES, Alberto Passos. Quatro séculos de latifúndio. São Paulo: Fulgor, 1963.

O autor faz uma abordagem histórica sobre os quatro séculos de latifúndio e a estrutura

social que tem permitido o latifúndio subsistir. Para esta aula merece destaque os capítulosX e XI. O capítulo X trata da estrutura agrária no século XX e o capítulo XI evidencia o cenárioeconômico e social na perspectiva da estrutura agrária no período pós 1964.

Figura 3 – O autor Alberto Passos Guimarães

Fonte: <http://www.iteral.al.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/a-um-passo-de-

guimaraes/image_mini>. Acesso em: 29 set. 2009.

Nesta aula, examinamos a estrutura agrária brasileira desde suas origens, causase consequências socioterritorias. Destacou-se o processo histórico e a relaçãoentre os espaços geográficos periféricos e centrais do sistema capitalista.

AutoavaliaçãoDe que maneira a estrutura agrária de um território está diretamente relacionadaà sua estrutura social, política e econômica? Cite exemplos.

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Aula 3  Geografia Agrária48

ReferênciasANDRADE, Manuel Correia de. A questão da terra na primeira república. In: SILVA, Sergio S.;SZMRECSÁNY, T. (Org.). História econômica da primeira república. São Paulo: Hucitec/ FAPESP/ABHE, 1996. p. 143 – 153. (Coletânea de textos apresentados no I Congresso Brasileiro

de História Econômica/USP).

COSTA, Emilia Viotti da. Política de terras no Brasil e nos Estados Unidos. In: ______.Da monarquia à república: momentos decisivos. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.

GUIMARÃES, Alberto Passos. Quatro séculos de latifúndio. São Paulo: Fulgor, 1963.

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. O desafio ambiental. Organizador Emir Sader. Rio deJaneiro: Record, 2004.

INSTITUTO BRASILEIR DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Disponível em: <www.ibge.

gov.br>. Acesso em:

INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRA. Disponível em:<http://www.incra.gov.br/>. Acesso em: 13 maio 2009.

KAUSTSKY, Karl. A questão agrária. Tradução de Otto Erich Walter Mass. Brasília: LinhaGráfica, 1998. 588 p.

OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: Ática,1995. (Série Princípios).

MARTINS, José de Souza Martins. Expropriação e violência: a questão política no campo. 3.ed . São Paulo: Hucitec, 1991. 182 p.

MARTINS, José de Souza. Impasses sociais e políticos em relação à reforma agrária e à

agricultura familiar no Brasil. Disponível em: <http://nead.org.br/artigodomes>. Acesso em:5 jan. 2004.

MONTEIRO, Denise Mattos. Terra e trabalho em perspectiva histórica: um exemplo do sertãonordestino (Portalegre - RN). Historia econômica & Historia de empresas, ano IV, n. 2,p. 7-33, 2001.

PRADO JUNIOR, Caio. A questão agrária no Brasil. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. 188p.

SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Hucitec, 1982.

SILVA, José Graziano da. Estrutura agrária e produção de subsistência na agricultura

brasileira. São Paulo: Hucitec, 1980.

SILVA, Ligia Osório. As Leis agrárias e o latifúndio improdutivo. São Paulo em Perspectiva,v. II, n. 2, p. 115–125, abr./jun. 1997.

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Anotações

Aula 3  Geografia Agrária 49

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Anotações

Aula 3  Geografia Agrária50

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Os conflitos sociaisno campo brasileiro

4Aula

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1

2

3

Aula 4  Geografia Agrária 53

Apresentação

N

esta aula serão abordados os conflitos sociais no campo brasileiro e sua evoluçãohistórica, quando serão destacadas as causas e consequências desses conflitos deluta pela terra e por melhores condições de vida e trabalho. Nesse sentido, também

se destaca a questão política e o papel do Estado frente às reivindicações dos sujeitos sociaisenvolvidos na questão agrária, uma vez que, como veremos nesta aula, o Estado em muitosmomentos buscou conter os avanços dos movimentos sociais, quer seja de forma repressiva,quer seja ignorando a situação.

ObjetivosConhecer o surgimento e evolução histórica dos conflitossociais no campo brasileiro.

Compreender que os principais problemas associados àquestão agrária estão ligados às relações econômicas epolíticas regidas pelo Estado.

Entender as consequências socioterritoriais causadaspelos conflitos sociais no contexto brasileiro.

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Aula 4  Geografia Agrária54

Histórico dos conflitossociais no campo

Os conflitos sociais no campo brasileiro constituem uma das marcas do desenvolvimento

e do processo de ocupação do campo. Na realidade, para entender esse processo precisamoscompreender o processo de ocupação e apropriação do território.

Os povos indígenas foram os primeiros a conhecer a fúria dos colonizadores. A históriaregistra o genocídio desses povos, que participaram de muitas histórias de massacres nocampo, como pontua Oliveira (1988, p. 15): “O território capitalista brasileiro foi produto

de conquista e destruição do território indígena. Espaço e tempo do universo cultural índio

foram sendo moldados ao espaço e tempo do capital” . A luta dos povos indígenas não cessoununca na história brasileira.

A violência no campo não é recente. A história está repleta de casos e tentativas de rompercom o sistema fundiário e as injustiças sociais no país. No período da escravidão, destaca-sea luta dos quilombolas. Dentre esses quilombos, Palmares, situado em Alagoas, foi o grandeexemplo de luta, resistência e destruição. No entanto, o fim da escravidão não foi suficiente paraacabar tais lutas e injustiças sociais. Destaca-se a luta sangrenta de Canudos (1893-1897), nosertão da Bahia, que segundo Martins (1981), envolveu o exército e milhares de camponeses.O saldo foi de cinco mil mortos, com severas derrotas às forças militares.

Quilombo

Sistema comunitáriode vida na floresta para

onde iam os negrosque conseguiam fugir

da escravidão, ou seja,território negro livreno seio do latifúndio

branco europeu.

Figura 1 – Arraial de Canudos

Fonte: Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/ 

brasil_america/imagens/canudos_conselheiro_casa.jpg>.Acesso em: 15 maio 2009.

Além da Guerra de Canudos, temos a Guerra de Contestado, nas regiões do Paraná eSanta Catarina, nos anos de 1912 a 1916. Este conflito também envolveu o exército e deixou umsaldo de cerca de três mil mortos (MARTINS, 1981). Outra luta de caráter importante consistiuna luta dos colonos nas fazendas de café, onde as greves eram reprimidas pelos capangasarmados. Os fazendeiros de café reagiam com repressão armada. As greves ocorriam devidoao não pagamento do salário, tentativa de redução de pagamento, castigos, multas etc.

Como podemos notar, são vários os exemplos de luta dos trabalhadores do campo pormelhores condições de vida e trabalho, ou melhor, nas palavras de Oliveira (1988, p 22),

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Goiás – Formoso eTrombas – posseiros –luta por terra; Pires doRio – arrendatários

Paraná – Porecatu – lutapor terra; Sudoeste(Francisco Beltrão, Pato

Branco) – posseiros –luta por terra

Rio Grande do Sul –acampamentos doMaster – luta porterra; Encruzilhadado Sul, Sarandi,Camaquã etc.

São Paulo – regiõesdiversas; melhoressalários e leistrabalhistas; Santa Fédo Sul – resistência dearrendatários àexpulsão

Rio de Janeiro – Baixadada Guanabara – posseiros– luta por terra

Minas Gerais – Triânculo Mineiro –arrendatários (luta por não elevaçãodas taxas de arrendamento); Vale doRio Doce – luta por terra

Bahia – zona do cacau –melhores salários e leistrabalhistas

Pernambuco – limiteagreste/mata – foreiros;mata – luta por melhoressalários e leis trabalhistas

Paraíba – região de Sapé– foreiros

Maranhão – vales do Itapecuru, Pindaré eMearim – posseiros, luta por terra

Aula 4  Geografia Agrária 55

o século XX tem sido rico em exemplos de luta pela terra, e dois processos têm atuadono sentido de soldar o movimento dos camponeses no Brasil. De um lado, a tentativa doresgate da condição de camponês autônomo frente à expropriação, representada pelosposseiros e sua luta contra os fazendeiros grileiros. De outro, o movimento originado naluta dos camponeses parceiros ou moradores contra a expropriação completa no seiodo latifúndio, que os transformava em trabalhadores assalariados.

Os processos descritos acima de luta no campo delinearam os conflitos sociais duranteo século XX. Exemplos desses processos foram a revolta de Trombas e Formoso, em Goiás, aGuerrilha de Porecatu, no Paraná, e a formação das Ligas Camponesas no Nordeste brasileiro(OLIVEIRA, 1988). Cabe destacar que é com as Ligas Camponesas, nas décadas de 1950 e1960, que a luta camponesa ganha dimensão nacional. Segundo Fernandes (1996), as LigasCamponesas surgiram na década de 1940, sendo dependentes do PCB (Partido ComunistaBrasileiro), que foi considerado ilegal pelo governo em 1947. Dessa forma, as Ligas Camponesassão violentamente reprimidas por pistoleiros e capatazes ou pelos próprios fazendeiros, que sesentiam ameaçados com as invasões. Esse movimento ressurge na década de 1950 no estado

de Pernambuco e se expande por vários estados nordestinos. Durante os anos de 1950/60ocorreram diversos conflitos no Brasil, conforme podemos perceber na Figura 2:

Figura 2 – Principais áreas de conflito no Brasil nos anos de 1950/60

Fonte: Medeiros (1989, p. 41).

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1

Atividade 1

Aula 4  Geografia Agrária56

Agora, vamos realizar uma atividade para você retomar um pouco o conteúdo. Caso tenhaalguma dúvida, volte a sua leitura ou avance mais um pouco para responder o que se pede.

Justifique a frase: “A formação do Brasil foi feita através da destruição de muitasnações indígenas” (OLIVEIRA, 1988, p.56).

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2

Aula 4  Geografia Agrária 57

Figura 3 – Assassinatos de trabalhadores rurais relacionados aos conflitos fundiários, Brasil, 1964-2000

Fonte CPT e MST, disponível em: <www.scielo.br/img/revistas/rep/v26n4/07f2.gif>. Acesso em: 26 maio 2009.

Faça uma leitura do gráfico (Figura 3) e comente, de forma analítica, acerca dosassassinatos de trabalhadores rurais e sua relação com os conflitos fundiários.

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Aula 4  Geografia Agrária58

Na década de 1960 surge, no sul do país, o Movimento dos Agricultores Sem-Terra(MASTER), que inicia as invasões nas grandes fazendas e permanece nelas através deacampamentos, efetivando, assim, a territorialização da luta pela terra naquele espaço.Entretanto, em 1964 o golpe militar mina todos os movimentos sociais formados, inclusiveas Ligas Camponesas – seus líderes foram presos, perseguidos ou “desapareceram”. Nesseperíodo deu-se início a um grande número de assassinatos no campo brasileiro. Ao tomarem o

poder, os militares afastam os principais interessados pela reforma na estrutura agrária brasileirae os movimentos sociais foram exterminados, sendo permitida apenas a existência de pequenasorganizações de produtores rurais que praticamente não possuíam representatividade. Oslatifundiários ficaram, portanto, beneficiados nessa situação de repressão.

A repressão militar em si mesma abrira as portas para a ação violenta dos grandesproprietários de terra, através de seus capatazes e pistoleiros, em centenas de pontosno país inteiro, na certeza de que eram impunes e, além disso, aliados da repressão namanutenção da ordem [...] Nunca na história do Brasil o latifúndio foi tão poderoso nouso da violência privada e nunca as forças armadas foram tão frágeis em relação a elequanto durante o regime militar (MARTINS, 1999, p. 83).

Durante o período militar, em meados dos anos 70, a Igreja cria a as Comunidades Eclesiaisde Base (CEB´s) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) que, mesmo com a repressão, continuariamo trabalho na articulação de novos movimentos, tão logo terminasse a ditadura militar. Em meioa toda essa repressão nasce, em 1979, o movimento mais organizado do país, o Movimentodos Trabalhadores Sem-Terra (MST), sendo institucionalizado em 1985 (FERNANDES, 1996).

Figura 4 – Organização dos Trabalhadores Sem-Terra

Foto: Sebastião Salgado. Disponível em: <http://www.vermelho.org.br>.

Acesso em: 26 maio 2009.

Figura 5 – Bandeira do MST

Fonte: <http://www.seresteros.com>. Acesso em: 26 maio 2009.

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Aula 4  Geografia Agrária 59

Vale salientar que os anos 1980 são marcados por fortes conflitos em que a violência e onúmero de assassinatos no campo cresceram bastante. Segundo Oliveira (1988), praticamenteem todos os estados brasileiros havia conflitos pela terra, sendo registrados 1.363 conflitos entreos anos de 1980 e 1981. O número de famílias envolvidas chegou a 365 mil, o que em númerosabsolutos representa aproximadamente 1.194 mil pessoas envolvidas diretamente em conflitos.

Nos anos de 1985 e 1986 ampliaram-se os conflitos armados e, em apenas dois anos,foram mortos 524 trabalhadores. Tal aumento do número de mortos teve conexão diretacom o processo de desenvolvimento da implementação e início do PNRA (Plano Nacionalde Reforma Agrária) e surgimento da UDR (União Democrática Ruralista), que passaram afazer a defesa dos latifundiários. Nesse período concentram-se conflitos na região Norte (emespecial na região do Bico do Papagaio, na Amazônia, na região sudeste do Pará) e no Nordeste(principalmente no Maranhão). O uso da violência se generalizou principalmente nas áreas defronteira (OLIVEIRA, 1988).

No seio desse processo o Estado buscou desarticular os movimentos, em alguns

momentos de forma repressiva e em outros ignorando a questão. De uma forma ou de outra,o Estado buscou conter os avanços dos movimentos sociais. Entretanto, a sociedade civil temapoiado e tem conseguido forças para mudar esse cenário.

De forma geral, nos anos de 1980 surgem novos personagens gerados pela expulsão deseringueiros de suas áreas (que se tornaram pastagens), na construção de usinas hidrelétricas,pela expulsão de milhares de trabalhadores agrícolas devido à modernização do campo etc.Dessa forma, intensificou-se a luta pela terra e pela reforma agrária (este tema será analisadona próxima aula).

Nos anos 1990 até a atualidade um dos movimentos que mais se destacou entre váriosoutros pela articulação nacional foi o MST, com a participação de milhares de trabalhadoresrurais e com a ocupação de terras ociosas ou públicas, o que tem forçado o Estado a realizarpolíticas redistributivas e de (re)socialização dos sujeitos envolvidos. Abordaremos maisdetalhadamente o assunto na próxima aula.

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Atividade 2

1

Aula 4  Geografia Agrária60

Faça um levantamento da estrutura da distribuição de terra de seu município. O

levantamento dos dados pode ser realizado no IBGE ou no INCRA. Entre muitosdados significativos, você pode coletar:

a) número de áreas ocupadas pelas propriedades e/ou estabelecimentos;

b) relação de trabalho e número de trabalhadores;

c) condições de trabalho no campo e remuneração recebida;

d) local de residência dos trabalhadores e a condição das mesmas.

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2

3

Aula 4  Geografia Agrária 61

Visite o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de sua cidade para saber como andamas relações entre trabalhadores e patrões. Pesquise sobre a existência ou não deconflitos no campo na sua região e qual estágio de evolução se encontram. Procuresaber, também, se ocorrem (ou já ocorreram) greves de trabalhadores na região eo porquê de suas ocorrências.

Se possível, visite um acampamento ou assentamento rural e discuta com os seus

membros o porquê de sua luta. Em seguida, escreva o relato de sua experiência.Caso não haja um acampamento próximo, pesquise na internet depoimentos deassentados e descreva-os aqui.

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Aula 4  Geografia Agrária62

GUERRA de Canudos. Direção de Sérgio Rezende. [s.l.]: Columbia TriStar Pictures, 1997.

Leituras complementaresMEDEIROS, Leonilde Servolo de. História dos movimentos sociais no campo. Rio de Janeiro:FASE, 1989. 215 p.

É interessante ler, em especial: o capítulo II, que trata da emergência e consolidação dasorganizações de trabalhadores rurais entre 1945 e 1964; o capítulo III, sobre a atomização daslutas; e o capítulo IV, sobre como os trabalhadores rurais recuperam espaço na cena política.

Figura 6 – Leonilde Servolo de Medeiros

Fonte: http://www.fazendeiro.com.br/noticias/images/30-09_g.jpg

Sinopse do filme:

Em 1893, Antônio Conselheiro (um monarquista assumido) e seus seguidorescomeçam a tornar um simples movimento em algo grande demais para a

República, que acabara de ser proclamada e decidira enviar vários destacamentosmilitares para destruí-los. Os seguidores de Antônio Conselheiro apenas defendiamseus lares, mas a nova ordem não podia aceitar que humildes moradores dosertão da Bahia desafiassem a República. Assim, em 1897, esforços são reunidospara destruir os sertanejos. Estes fatos são vistos pela ótica de uma família, quetem opiniões conflitantes sobre Conselheiro.

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Resumo

Aula 4  Geografia Agrária 63

Neste filme, observe os problemas sociais e a violência (legitimada pelo estado, via forçasarmadas) que ocorrem em decorrência da questão fundiária. A luta pela terra é retratada atravésdo movimento de conquista pelo direito de propriedade das terras já ocupadas.

CABRA marcado para morrer. Direção de Eduardo Coutinho. [s.l.]: Globo Vídeo, 1984.

Sinopse do filme:

O filme é uma narrativa semidocumental da vida de João Pedro Teixeira, um lídercamponês da Paraíba, assassinado em 1962. Foi interrompido em 1964, em razãodo golpe militar, e recomeçado 17 anos depois, recolhendo os depoimentos dos

camponeses que trabalharam nas primeiras filmagens. Conta a história das Ligascamponesas de Galileia e de Sapé e a vida de João Pedro através das palavras desua viúva, Elizabeth Teixeira, que conta sobre a sua vida nesses vinte anos, assimcomo a de seus filhos, separados dela desde dezembro de 1964.

Neste filme, teremos uma ideia real dos movimentos das ligas camponesas. O retrato daviolência é dramático. A exclusão é narrada, demonstrando o lado perverso da ausência deuma reforma agrária no Brasil.

Nesta aula, estudamos os principais conflitos sociais no campo brasileiro,tematizando suas causas e consequências. Destaca-se a questão política e o

papel do Estado frente às reivindicações dos trabalhadores do campo.

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Aula 4  Geografia Agrária64

AutoavaliaçãoElabore um quadro identificando os principais conflitos sociais ocorridos nocampo brasileiro, as medidas tomadas pelo Estado em relação a estes conflitose as causas e consequências socioterritoriais.

Modelo:

CONFLITO AÇÃO DO ESTADO CAUSA E CONSEQUÊNCIA

ReferênciasFERNANDES, Bernardo M. MST: movimento dos trabalhadores rurais sem terra: formação e

territorialização em São Paulo. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1996. 285 p.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia das lutas no campo. São Paulo: Contexto;EDUSP, 1988. (Coleção repensando a Geografia).

MARTINS, J. de S. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e seulugar no processo político. Petrópolis: Vozes, 1981.

______. O poder do atraso: ensaios de sociologia da história lenta. 2. ed. São Paulo: Hucitec,1999. 174 p.

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Anotações

Aula 4  Geografia Agrária 65

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Anotações

Aula 4  Geografia Agrária66

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Reforma agrária brasileira

5Aula

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1

2

3

Aula 5  Geografia Agrária 69

Apresentação

N

esta aula, estudaremos o tema da reforma agrária no Brasil, tratando as principaisdificuldades para sua implantação. O debate sobre a reforma agrária não é novo, masnos anos mais recentes muitas políticas de reforma agrária foram desenvolvidas pelo

Estado. Nesse cenário, destaca-se a participação dos movimentos sociais reivindicatórios daluta pela terra, como os sindicatos de trabalhadores rurais e o Movimento dos TrabalhadoresRurais – MST, que tem se revelado bastante forte pela articulação nacional. Veremos, nestaaula, quais são as necessidades e estratégias utilizadas pelos movimentos sociais de acordocom suas especificidades regionais e a as políticas de reforma agrária realizadas pelo Estado,em que se destacam os assentamentos rurais.

ObjetivosEntender os percursos da reforma agrária brasileira e asprincipais dificuldades para sua implementação.

Compreender as organizações sociais e suas vertentes emrelação à reforma agrária dentro de suas territorialidades.

Analisar as políticas de reforma agrária realizadas peloEstado.

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Aula 5  Geografia Agrária70

O contexto dareforma agrária brasileira

Odebate da reforma agrária no Brasil não é novo. Entretanto, na atualidade ele ganha umanova roupagem, muito distinta da que teve nos períodos anteriores (por exemplo, nos anosde 1950). Esse debate estava ligado, em geral, ao caminho da industrialização brasileira.

Temia-se que a agricultura viesse a constituir um obstáculo ao processo de industrialização,porque não aumentaria a produtividade dos trabalhadores nela ocupados. Isso significava, porum lado, que o setor agrícola não responderia em absoluto às necessidades alimentícias e àsmatérias-primas de que a indústria necessitaria, assim como os níveis de renda da populaçãoagrícola também não aumentariam, impossibilitando a criação de um mercado interno.

A reforma agrária tinha como objetivo principal solucionar as crises agrárias e agrícolas

pelas quais o país passava. Em suma, a reforma agrária objetivava alterar a estrutura de posseno uso da terra no Brasil, com intuito de promover o desenvolvimento mais rápido das forçasprodutivas no campo. O lema principal da reforma era: “é preciso acelerar a penetração dasrelações capitalistas de produção na agricultura brasileira”. Com isso, entregar os latifúndiospara os camponeses suprimiria as relações pré-capitalistas e aumentaria a produção, derivandoo fim da ociosidade nos latifúndios.

No entanto, estudos realizados sobre a reforma agrária no Brasil nesse período mostraramque não houve redistribuição de terra. Pelo contrário, aumentou a concentração da propriedade;concomitantemente, aumentou a miserabilidade no campo. Entretanto, a estrutura agrária

brasileira não constituiu um empecilho à industrialização no país. Nesse sentido, podemosdizer que o desenvolvimento das relações de produção capitalista no campo brasileiro tevegrandes avanços na solução da questão agrícola em detrimento da questão agrária, que, aocontrário, foi agravada.

Nesse contexto, foi criado em 1963 a Confederação Nacional dos Trabalhadores naAgricultura (CONTAG), órgão máximo do sindicalismo brasileiro que, nos anos da ditaduramilitar, sofreu grandes repressões e foi acusada pelos críticos de colocar “panos quentes” eapagar incêndios nas questões agrárias por não exercer uma luta mais objetiva e reivindicatóriados problemas do campo. Porém, para alguns a CONTAG acumulou importantes vitórias,

mesmo no período militar, sabendo recuar e avançar dependendo da conjuntura política.

Segundo Linhares e Teixeira da Silva (1999), o período dos anos de 1950, baseado nomodelo fordista-keynesiano periférico, a chamada substituição de importação, de relativobem-estar social, mas restrito a trabalhadores industriais urbanos, são característicasprincipais do desenvolvimento regional desse momento. Em paralelo, a questão agrária éidentificada com a questão nacional na luta contra o atraso e pela soberania nacional; o binômiominifúndio-latifúndio, com vínculo de dependência e prestígio distanciado do novo ethos daprodutividade industrial. Identifica raízes históricas na questão agrária brasileira.

Fordista-keynesianoperiférico

Nos anos de 1930 a1970 prevaleceu, nos

países capitalistas,esse modelo que

combinava consumoe produção em massae caracterizava-se pelaregulação de mercado

de trabalho e peloEstado interventor.

Ethos

Caráter cultural e social de

um grupo ou sociedade.

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Aula 5  Geografia Agrária 71

No período militar se dá a extensão do modelo fordista-keynesiano ao mundo rural, coma criação de mecanismos mitigadores de bem-estar social para os trabalhadores rurais, comoo FUNRURAL - Fundo de Apoio ao Trabalhador Rural e o direcionamento para a industrializaçãono campo; com o surgimento dos CAIs (Complexos Agroindustriais), a política implementadapara a pequena produção agrícola é restringida ao máximo, lançando os camponeses para aschamadas fronteiras agrícolas. Simultaneamente, incentiva grandes projetos pecuaristas e de

madeireiros nessas áreas.

Cabe ressaltar que, durante o regime militar, os movimentos, manifestações, atos outentativas de organização dos trabalhadores rurais eram imediatamente identificados comosubversivos, tornando-se caso de polícia. Foram tempos de fortes embates, como pode serobservado nos versos de Thiago de Mello (1974):

O tempo é de cuidado, companheiro.É tempo sobretudo de vigília.

O inimigo está solto e se disfarça,mas como usa botinas, fica fácil

distinguir-lhe o tacão grosso e lustrosoque pisa as forças clara da verdade

e esmaga os verdes que dão vida ao chão

(Canto de companheiro em tempos de cuidados).

A ausência de reforma agrária intensifica o desemprego no campo, inclusive nas áreastradicionais de pequena produção consolidada, como nas regiões Sul e Sudeste do país,inviabilizando o exercício da cidadania plena e fortalecendo a miséria no campo; mas, aomesmo tempo, ocorre a politização sobre a questão agrária. A nova paisagem rural brasileira,

tendo como atores principais os CAIs, integram-se ao sistema econômico mundial capitalistaatravés dos insumos, das patentes e do consumo, derivando a ampliação e concentração decapital e aumentando a exclusão no campo.

Com o fim da ditadura militar, democratização do país e a promulgação da Constituiçãode 1988, marcava-se um novo capítulo na política brasileira e no contexto internacional com aadoção do neoliberalismo. Nesse período, foi estabelecido o PNRA, Plano Nacional de ReformaAgrária, e criado o MIRAD, Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário, constituídode políticos e especialistas e com o objetivo de assentar um milhão e quinhentas mil famílias detrabalhadores rurais. Isso estava assegurado na Constituição de 1988, que define claramenteo uso da terra como função social. Ao mesmo tempo, consolidava-se um dos mais poderososlobbies de proprietários de terra do país, a UDR – União Democrática Ruralista, constituída depolíticos da direita brasileira, que era ligada a grandes grupos industriais, principalmente dosCAIs. A UDR, através de seus lobbies no Congresso e no Senado Federal, exercia influênciaem votações fundamentais direcionadas à reforma agrária.

Lobby

Grupo de pressãona esfera política,grupo de pessoasou organizações quetentam influenciar,aberta ou secretamente,as decisões do poderpúblico em favor deseus interesses.

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Atividade 1

1

2

Aula 5  Geografia Agrária72

Como você deve ter percebido, a reforma agrária envolve vários setores e classes sociais,o que se constitui num entrave, pois o que para alguns seria a solução, para outros é umproblema. Além disso, a reforma agrária não se remete apenas à redistribuição de terra, comopontua Martins (2003, p. 42):

[...] a reforma agrária não é apenas redistribuição de terra, mas redistribuição deoportunidades de reinserção ou de inserção no sistema econômico, forma de atenuar ouneutralizar as forças que tendem a dele expulsar ou descartar os inaproveitáveis de umaeconomia crescentemente seletiva e crescentemente dominada e regulada pela lógicado mercado e do lucro.

Em que consiste a reforma agrária?

Comente a relação entre a constituição de 1988 e as mudanças queocorreram no cenário da reforma agrária brasileira.

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Aula 5  Geografia Agrária 73

A reforma agráriae os contrastes regionais

A reforma agrária brasileira é uma questão complexa, que desde a colonização tem sidorelegada a segundo plano. Além disso, devemos considerar os diferentes aspectos regionaisbrasileiros. Graziano da Silva (1980) expõem alguns aspectos que diferenciam e explicam,de certa forma, os motivos das reivindicações dos trabalhadores rurais de acordo com asespecificidades regionais. Para isso, o autor utiliza a regionalização proposta pelo geógrafoPedro Pinchas Geiger, que divide o Brasil em três grades regiões: Amazônia, Nordeste e Centro-Sul (Figura 1). Na disciplina Geografia Regional do Brasil, você pode aprofundar ainda mais aproposta de regionalização de Geiger. Vamos, agora, destacar alguns aspectos da análise deGraziano da Silva.

Na região Centro-Sul do país, o ponto central das lutas e reivindicações parece sero cumprimento da legislação trabalhista (salário mínimo, domingo remunerado, férias,

indenização etc.). Estas reivindicações estão contextualizadas no processo de informalidade

que passa essa classe, pois a maioria dos trabalhadores rurais não tem carteira assinada.

Assim, embora exista o Estatuto do Trabalhador Rural e uma legislação complementar,

elas soam insuficientes. Em outras palavras, além de pouco, o que existe em benefício do

trabalhador rural não é cumprido. O não cumprimento da legislação, segundo os próprios

líderes, deve-se à fraqueza dos sindicatos brasileiros.

Em relação à região Nordeste, com exceção das zonas do Brasil Central e da zona

litorânea pertencente a esta região, destaca-se a luta dos pequenos rendeiros contra osproprietários de terra. Assim como os trabalhadores em geral, sua reivindicação específica

é o cumprimento da legislação existente, embora os rendeiros também reivindiquem aaplicação da legislação agrária consubstanciada no Estatuto da Terra e textos complementares.

Entretanto, as normas do Estatuto da Terra constituem um sonho, pois a grande maioria doscontratos de parceria e arrendamento no Brasil desrespeita a lei, tanto no que se refere às

condições especiais não permitidas, quanto à porcentagem máxima cobrada do parceiro, além

dos preços dos arrendamentos das terras. Desse modo, os trabalhadores rurais nordestinossão obrigados a vender sua produção aos proprietários, a se abastecer nos armazéns destes,

a prestar serviços gratuitos aos proprietários etc.

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OCEANO PACÍFICO 

OCEANO ATLÂNTICO 

ESCALA

Amazônia

Nordeste

Centro-Sul 0 500

Km 

O L

Aula 5  Geografia Agrária74

Figura 1 – Mapa com as grandes regiões ou complexos regionais brasileiros.

Grilagem

Falsificação de

documentos que se dá

quando uma pessoa

(grileiro) consegue várias

procurações falsas de

pessoas desconhecidas,

geralmente camponeses

que assinam os papéis

para seus “patrões”. Com

estes documentos falsos,

é realizada a compra

de várias propriedades

vizinhas, como se fosse

um grande loteamento.

Fonte: Becker (1972).

Nas zonas de expansão de fronteira agrícola na região Norte e Centro-Oeste, a luta dosposseiros se dá contra a grilagem de suas terras, que é uma das maneiras pelas quais asgrandes propriedades ampliam seus domínios. O que os posseiros da Amazônia reivindicamnão são apenas terras, mas que as terras deixem de ter valor. Em outras palavras, a resistência

dos posseiros contra os grileiros é uma luta contra a utilização da terra para fins não-produtivos,seja como reserva de valor, seja como meio de acesso a outras formas de riqueza (minério,madeira de lei etc.). Hoje, a luta dos posseiros é um dos mais profundos questionamentos àpropriedade capitalista de terra no Brasil.

A regionalização das reivindicações específicas dos trabalhadores rurais brasileiros nãosignifica, em totalidade, a existência de uma unidade de um plano mais geral. O centro daquestão é que todos os grupos de trabalhadores rurais pertencentes às regiões dependem,em maior ou menor grau, da venda de sua força de trabalho para sobreviver, seja por nãodisporem dos meios de produção insuficientes ou por não possuírem nada para vender além

de sua força de trabalho.

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Aula 5  Geografia Agrária 75

Movimento dos TrabalhadoresRurais Sem-Terra – MST

Uma das grandes novidades no cenário político e social brasileiro foi o fortalecimento do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, o MST, na década de 1990. Ele surgiu comoum forte movimento social autônomo, desvinculado de partidos políticos e de governos, nummomento de refluxos das organizações sindicais e de partidos de esquerda como PT, PDT, PCdo B e PCS, em plena crise de desemprego que assolava o país nesse período. Na sua essência,nega a cartilha neoliberal, o latifúndio brasileiro e os conservadores da política brasileira. Alémdisso, faz duras críticas à atuação das duas maiores forças sindicais brasileiras – a CUT e aforça sindical – por não atuarem de forma concisa nas questões econômicas e, principalmente,na questão agrária do Brasil.

O MST tem mostrado grande organização e mobilidade invejável a qualquer organizaçãosocial, pois consegue mobilizar, em um só protesto, trabalhadores de várias partes do Brasil,sempre acatando as orientações centrais do movimento. Isso causa na direita reacionáriabrasileira um imenso temor; ela passa a exigir do governo dura repressão pela força policial epela lei, criminalizando-o. Além disso, usam a mídia para denegrir a imagem deste movimentoperante a opinião pública brasileira, comparando o MST à guerrilha zapatista, no México, eàs Ligas camponesas; a direita reacionária defende a existência uma verdadeira guerrilha civilno campo e solicita a atuação repressiva do exército contra esse movimento.

Para João Pedro Stédile (1997), o MST é um movimento de massa de caráter sindical;

mas também é um movimento popular, porque as reivindicações não se esgotam na terra,sendo um movimento que briga contra o Estado e o latifúndio. Para estes homens, a reformaagrária não é apenas uma forma ou via de desenvolvimento: a reforma agrária é consideradauma necessidade primordial dos trabalhadores. Tem intuito de reduzir a concentração da terra,mudando a forma de sua utilização e tendo como algumas das finalidades a diminuição doêxodo rural e a construção de uma cidadania plena através da democratização das condições detrabalho e do acesso à terra. Para a maioria dos pensadores de esquerda, a estrutura fundiáriaé herança do passado colonial do país, que mantém características injustas e atrasadas. Nãoé possível, de forma alguma, pensar em desenvolvimento justo com a presença do latifúndio.

Contrapondo-se a essa ideia, temos o pensamento da direita brasileira, que considera aestrutura fundiária justa e democrática. Como exemplo, podemos citar a UDR, que diz queos conflitos do campo são uma síntese de agitadores de esquerda e de ideólogos urbanos;esses conflitos, inclusive, lançariam sobre o campo os restos de desempregados das cidadesfantasiados de sem-terra.

Guerrilha zapatista

Movimento que seinspirou na luta deEmiliano Zapata(líder dos embatespela reforma agráriamexicana) contra oregime autocrata dePorfirio Diaz, queencadeou a RevoluçãoMexicana em 1910.

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Atividade 2

1

2

Aula 5  Geografia Agrária76

A principal reivindicação dos trabalhadores rurais é uma reforma agrária que não pulverizeantieconomicamente a terra, e sim uma redistribuição de renda, de poder e de direitos em quesurjam novas formas alternativas como as cooperativas e multifamiliares. Em resumo, nãoanseiam a mera distribuição de pequenos lotes, o que apenas os habilitaria a continuarem sendomão de obra barata para os grandes proprietários, como também almejam uma mudança naestrutura política e social no campo.

A reforma agrária também tem um objetivo de romper com o monopólio da terra,permitindo, assim, que se apropriem do seu próprio trabalho. Para isso, torna-se necessárioeliminar o latifúndio e sua função parasitária da terra, desde o caso daqueles que deixam a terraà espera de valorização imobiliária até os que a utilizam para repassar um recurso financeiropara os pequenos produtores rurais.

Apesar de uma regionalização desigual nos país, não é possível ignorar o desenvolvimentoeconômico pelo qual o campo brasileiro passou, principalmente nas últimas décadas. Comoconsequência dessas transformações e do desenvolvimento, os trabalhadores rurais não se

limitam a reivindicar somente a reforma agrária parcial. Eles reivindicam uma reforma queleve em consideração questões como preços mínimos, comercialização, crédito e assistênciatécnica voltadas para os pequenos produtores, uma vez que as políticas agrícolas estão voltadaspara os grandes latifundiários e engendradas numa tríplice aliança entre indústria, banco egrandes proprietários de terra. Tal fato se justifica porque o crédito é utilizado para comprarmercadorias como tratores, colheitadeira, defensivos químicos etc. Além disso, os bancospreferem grandes financiamentos, ou seja, os grandes fazendeiros – os bancos e a indústriaformam uma aliança crucial para a reprodução do capital no campo.

Justifique: “As normas do Estatuto da Terra constituem um sonho”.

Fale sobre o surgimento do MST e o papel deste movimento na lutapela terra.

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Aula 5  Geografia Agrária 77

Cenário recente daquestão agrária brasileira: marco

jurídico e política de assentamentoA partir de 1985, com a redemocratização ou período da Nova República (1985-1989),

as desapropriações se tornam um dos objetivos prioritários para o plano do governo. Nesseperíodo é lançado o PNRA, como foi dito anteriormente, que estabelece zonas prioritáriascom fins de reforma agrária. No entanto, as desapropriações foram ocorrendo de maneiranão sistemática e não planejada, uma vez que se adotou a desapropriação emergencial. Essesistema de desapropriação emergencial retirou a flexibilidade do poder público em desapropriar

outros imóveis dentro de uma área prioritária, uma vez que nas desapropriações emergenciaisa área prioritária coincidia com a área de possível desapropriação por interesse social (LEITEet. al, 2004, p.39).

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Aula 5  Geografia Agrária78

Você sabia?

Nova República é o nome do período da História do Brasil que se seguiu ao fimda ditadura militar. É caracterizado pela ampla democratização política do Brasile sua estabilização econômica. Usualmente, considera-se o seu início em 1985,

quando, concorrendo com o candidato situacionista Paulo Maluf, o oposicionistaTancredo Neves ganha uma eleição indireta no Colégio Eleitoral, sucedendo o últimopresidente militar, João Figueiredo. Tancredo não chega a tomar posse, vindo afalecer vítima de infecção hospitalar contraída na ocasião de uma cirurgia. Seuvice-presidente José Sarney assume a presidência em seu lugar. Sob seu governoé promulgada a Constituição de 1988, que institui um Estado democrático e umarepública presidencialista, confirmada em plebiscito em 21 de abril de 1993.

No PNRA, a reforma agrária aparecia como prioridade do governo. O plano objetivavaassentar 7 milhões de trabalhadores rurais sem-terra ou com pouca terra no prazo de 15 anos.Para isso, contava com a participação da CONTAG, que apoiava a Nova República. No entanto,alguns segmentos apresentavam resistência à operacionalização do plano, uma vez que haviainteresses em sua concretização. A resistência à proposta se deu em diferentes segmentos,em que o MST fez oposição e continuou a organizar as ocupações de terra. Outros segmentosde oposição foram os representantes da classe fundiária, que organizaram um encontro paradiscutir as diretrizes do PNRA e fundaram um grupo para defender os interesses da classe – aUnião Democrática Ruralista, UDR (MEDEIROS, 2003).

O PNRA teve sua proposta derrotada pelos proprietários representados pela UDR, quelogo polarizaram o combate ao plano, defendendo o direito de propriedade – se necessário,inclusive, com uso da força. Com isso, os resultados do PNRA foram poucos, uma vez que naNova República foram assentadas apenas 83.687 famílias.

Para garantia de condições de investimento na terra, foi criado, nesse momento,o Programa de crédito Especial para Reforma Agrária – PROCERA (MEDEIROS, 2003). OPROCERA foi criado em 1985, no governo José Sarney, pelo Conselho Monetário Nacional,com o objetivo de aumentar a produção e produtividade agrícola dos assentamentos de reformaagrária. O programa visava a plena inserção do assentado no mercado, objetivando permitir a

sua emancipação, ou seja, a independência da tutela do governo. O PROCERA foi o responsávelpelos financiamentos e instalação de infraestrutura nas áreas de assentamentos.

No período de transição do final dos anos 1980 e início dos anos de 1990, o poderjudiciário fora o ator principal no comando da questão agrária brasileira, uma vez que havia umaimprecisão em definir o latifúndio improdutivo. Em 1993, é aprovada a Lei 8.629, que definiu quea propriedade que não cumprisse sua função social era passível de desapropriação, adotandocritérios de tamanho para essa desapropriação, em módulos fiscais (sendo passíveis dedesapropriação as propriedades acima de 15 módulos fiscais), banindo da lei o termo latifúndio.

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Aula 5  Geografia Agrária 79

No governo de Fernando Henrique Cardoso, inicialmente a questão agrária perde lugarna discussão, uma vez que o Plano Real era o centro do debate político e econômico. Maslogo a questão agrária retoma lugar de destaque, devido à ação violenta e o crescimentodo número de eventos em que a polícia legitimada pelo Estado combatia os movimentos.Dentre esses movimentos, destacou-se a luta travada entre a polícia e os militantes do MSTem Corumbiara (Rondônia), em 1995, e Eldorado dos Carajás (Pará), em 1996. Esse último

resultou no massacre de 17 trabalhadores. Tal evento foi filmado e teve repercussões em todoo mundo, gerando protestos em vários organismos nacionais e internacionais. A questãoagrária retoma a discussão – inclusive para o âmbito da sociedade – e o MST intensifica asmobilizações; outras entidades como os sindicatos, a Igreja e órgãos não-governamentaistambém pressionam a desapropriação de terras.

Figura 2 – Primeira página do Jornal do Brasil de sexta-feira,19 de abril de 1996, retratando o Massacre de Eldorado dos Carajás.

Fonte: <http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.

php?blogid=57&archive=2008-04>.Acesso em: 20 maio 2009.

O MST organiza marchas nacionais por reforma agrária, emprego e justiça, reunindo milharesde trabalhadores. Essas medidas têm repercussões na mídia e nas primeiras páginas de jornal.

Como consequência direta da efervescência da questão agrária aludida pelo MST, dossindicatos de trabalhadores rurais e outros mediadores, o governo cria, em 1997, o Ministériode Desenvolvimento Agrário (MDA) para retomar a iniciativa política e reduzir as ações do MST,principalmente nas ocupações de terras. Assim, o governo estabelece uma série de medidasprovisórias, decretos e leis complementares que modificam o modo pelo qual o poder executivoagia em relação aos conflitos. Essas medidas foram tomadas para agilizar as desapropriaçõesde terra e para acalmar os ânimos dos trabalhadores “sem-terra”, em especial dos movimentosliderados pelo MST.

Além disso, foram criadas algumas regulamentações para acelerar a realização dosassentamentos rurais, dentre as quais:

agilização do rito sumário;

vistoria das terras, acompanhada de representantes sindicais;

redução de juros compensatórios de 12% para 6% ao ano para desapropriações;

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Aula 5  Geografia Agrária80

  descentralização do Poder Federal, que passa a atribuir, também, à União e ao Estado arealização de funções antes exercidas apenas por ele, para realização das desapropriaçõese formação de assentamentos rurais.

Sob a ótica da descentralização iniciada no segundo mandato do governo FHC, asmedidas governamentais se consolidam com o programa “Agricultura familiar, reforma agráriae desenvolvimento local para um novo mundo rural”, realizado em 1999, ficando conhecidocomo “Novo mundo rural”. Esse programa firmou parcerias com estados e municípios,principalmente na negociação de terras e infraestrutura.

Uma dos aspectos derivado desses arranjos é avaliada por Medeiros (2003, p. 57), emque o assentado passa a ser visto como “empreendedor”, devendo ajustar-se ao mercadocompetitivo. Daí derivam inúmeras críticas sobre esse modelo de reforma agrária, que algunsdenominam de reforma agrária de mercado ou reforma negociada, que se caracteriza pelocaráter produtivista.

Ao longo dos últimos 20 anos, em linhas gerais, assim tem-se dado a instalação de

assentamentos rurais via políticas públicas, sejam esses assentamentos do INCRA ou doEstado, através do Programa Cédula da Terra e do Banco da Terra. A intensificação da lutapela terra pelos trabalhadores rurais que assumem a identidade de sem-terra faz com hajaa expansão dos assentamentos rurais em todo o país. A maior parte dos assentamentosrurais foram criados pelo governo Federal, mas há também assentamentos conduzidos pelosgovernos estaduais e municipais, em menor escala. Vale salientar que em algumas áreas doBrasil há, também, assentamentos extrativistas (em especial na região Norte), preservandoas formas tradicionais de utilização dos recursos naturais.

Os assentamentos rurais representam uma mudança na organização do espaço do campo.Esses novos territórios, apesar da dispersão e da não contiguidade, significam o repovoamentodo espaço rural.

Para finalizar, é importante ressaltar que as lutas por terra resultaram na criação de umaquantidade relativamente maior de assentamentos rurais em relação aos períodos anteriores, eque os números da Tabela 1 foram objeto de intensa disputa entre governo e movimentos sociais.

Tabela 1 - Assentamento de famílias por período de governo

PERÍODO FAMÍLIAS ASSENTADAS

1964/1984 (regime militar) 77.4651985/1989 (governo José Sarney) 83.687

1990/1992 (governo Collor de Mello) 42.516

1993/1994 (governo Itamar Franco) 14.365

1995/2002 (governo Fernando Henrique) 579.733*

2003/2005 (governo Lula) 245.061

*Exclui famílias que tiveram acesso à terra por meio do Banco da Terra e Crédito Fundiário, numtotal de 55.302.

Fonte: INCRA/MDA. Adaptado de Medeiros (2003, p.74).

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Atividade 3

1

Aula 5  Geografia Agrária 81

Faça uma leitura do Quadro 1- Principais conflitos envolvendo a questão agrária eescreva suas principais conclusões.

  1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Conflitos de Terra*  

Ocorrências deConflito

152 277 174 366 495 659 752 777 761 615

Ocupações 599 593 390 194 184 391 496 437 384 364

Acampamentos   65 64 285 150 90 67 48

Total Conf. Terra 751 870 564 625 743 1.335 1.398 1.304 1.212 1.027

Assassinatos** 38 27 20 29 43 71 37 38 35 25

Pessoas Envolvidas 662.590 536.220 439.805 419.165 425.780 1.127.205 965.710 803.850 703.250 612.000

Hectares 4.060.181 3.683.020 1.864.002 2.214.930 3.066.436 3.831.405 5.069.399 11.487.072 5.051.348 8.420.083

Conflitos Trabalhistas  

Ocorrências deTrabalho Escravo

14 16 21 45 147 238 236 276 262 265

Assassinatos   1 4 1 2 3 1

Pessoas Envolvidas 614 1.099 465 2.416 5.559 8385 6.075 7.707 6.930 8.653

Ocorrências deSuperexploraçãoe DesrespeitoTrabalhista

56 28 33 25 22 97 107 178 136 151

Assassinatos 5 1 2 1

Pessoas Envolvidas 366.720 4.133 53.441 5.087 5.586 6.983 4.202 3.958 8.010 7.293

Conflitos pela Água  

Nº de Conflitos   14 20 60 71 45 87

Assassinatos   2

Pessoas Envolvidas   14.352 48.005 107.245 162.315 13.072 163.735

Outros ***  

Nº de Conflitos 279 69 50 129 52 2 8

Assassinatos 4

Pessoas Envolvidas 109.162 164.909 62.319 106.104 43.525 250 3.660

Total  

Nº de Conflitos 1.100 983 660 880 925 1.690 1.801 1.881 1.657 1.538

Assassinatos 47 27 21 29 43 73 39 38 39 28

Pessoas Envolvidas 1.139.086 706.361 556.030 532.772 451.277 1.190.578 975.987 1.021.355 783.801 795.341

Hectares 4.060.181 3.683.020 1.864.002 2.214.930 3.066.436 3.831.405 5.069.399 11.487.072 5.051.348 8.420.083

Quadro 1 - Principais conflitos envolvendo a questão agrária

Fonte: Setor de Documentação da Secretaria Nacional da CPT, 15/03/2008.

*Ocorrências de conflitos: número de famílias despejadas, expulsas, com pertences destruídos, que sofreram ação de milícia privada.

**Assassinatos: está separado nos grandes eixos: Terra, Trabalhista, Água.

*** Outros: Conflitos em Tempos de Seca.

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2

Aula 5  Geografia Agrária82

Analise e redija um pequeno texto acerca do trecho abaixo encontrado na obra Mortee Vida Severina:

Funeral de um lavrador

Esta cova em que estás Com palmos medida 

É a conta menor Que tiraste em vida É de bom tamanho 

Nem largo nem fundo É a parte que te cabe 

Deste latifúndio Não é cova grande 

É cova medida É a terra que querias 

Ver dividida [...]

(João Cabral de Melo Neto, 1965)

Leia o texto elaborado pelas entidades de movimentos membros do Fórum Nacional deReforma Agrária e responda a Atividade 4 a seguir.

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Aula 1  Geografia Agrária 83

Carta da Terra

(em defesa da reforma agrária e da agricultura familiar)

As organizações que compõem o Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo– acreditando na urgência da democratização do acesso à terra e à água – defendem a realizaçãode uma ampla reforma agrária e o fortalecimento da agricultura familiar, pois só elas garantirãoo direito ao trabalho para a população rural, historicamente excluída, e a produção de alimentos

para o mercado interno, estruturando o caminho para a soberania alimentar do nosso país.

As entidades do Fórum defendem, por isso, a criação e a implementação de um Plano Nacional deReforma Agrária e a construção de alternativas de desenvolvimento rural sustentável e solidáriopara o Brasil, que alterem radicalmente o atual modelo de desenvolvimento agropecuário,excludente, predatório e concentrador de terra, renda e poder. Com este objetivo, lutam para:

1) a desapropriação dos latifúndios como o caminho constitucional para garantir a funçãosocial da terra; uma legislação que limite o tamanho das propriedades rurais atravésde emenda constitucional e o confisco integral de todas as terras onde houver trabalho

escravo, exploração de trabalho infantil, cultivo de plantas psicotrópicas e daquelas usadaspara práticas de contrabando ou adquiridas mediante práticas ilegais;

2) o respeito aos direitos humanos no campo, combatendo todas as formas de violênciae o fim da impunidade; o reconhecimento e a demarcação das terras das comunidadesindígenas e das áreas de remanescentes de quilombos; a criação de reservas extrativistas; aformulação de políticas públicas que respeitem a organização sociocultural e as formas deapropriação e uso dos recursos naturais destes povos e de populações como os ribeirinhos,seringueiros, quebradeiras de coco e outras;

3) o planejamento da produção familiar que leve em consideração as diversidades regionais,sua viabilidade e sustentabilidade econômica, social e ambiental com linhas de créditode custeio e investimento acessíveis, com programas de seguro agrícola e de serviçosde assistência técnica pública, gratuita e de qualidade e com garantia de preços mínimosjustos e de comercialização da produção;

4) a implantação de agroindústrias populares nos municípios do interior, nas diversas formascooperativas e associativas, para as quais sejam destinados prioritariamente os recursospúblicos, para melhorar a renda das famílias e promover um processo de interiorização

do desenvolvimento e da economia solidária;5) a produção de sementes pelos próprios agricultores e agricultoras, inclusive com incentivos

às iniciativas populares de resgate às sementes crioulas, como forma de garantir as sementescomo patrimônio da humanidade. Para tanto, combatem o patenteamento de seres vivos e aliberação da produção comercial e uso de sementes transgênicas, indutoras de monopólioque destrói a soberania dos agricultores e são nocivas ao meio ambiente e à saúde humana;

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Aula 1  Geografia Agrária84

6) o desenvolvimento e a disseminação de novas técnicas agrícolas não agressivas aomeio ambiente, implantando sistemas agropecuários sustentáveis que eliminem o uso deagrotóxicos; a preservação dos recursos hídricos e a democratização do acesso a fontese mananciais de águas como bens públicos e patrimônio da sociedade;

7) a melhoria e o fortalecimento do sistema previdenciário baseado na seguridade social, públicae universal, permitindo o acesso e a permanência dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

no Regime Geral da Previdência Social, garantindo uma vida digna à população do campo;

8) a implementação das diretrizes operacionais para a educação básica – aprovadas peloConselho Nacional de Educação – nas escolas no campo, localizadas prioritariamente nosprojetos de assentamentos, comunidades e distritos rurais, reforçando a utilização depráticas educativas que tenham como referência a terra e a água, a organização e a culturado campo, facilitando o acesso às escolas, combatendo o analfabetismo e garantindo odireito de todos à educação de qualidade em todos os níveis;

9) a garantia de igualdade de oportunidades e direitos para mulheres e jovens quecorrijam discriminações decorrentes de práticas e sistemas sociais injustos, buscandosua inclusão social a partir de ações afirmativas para que seu potencial organizativoe suas habilidades produtivas sejam aproveitados na construção de alternativas dedesenvolvimento e de soberania;

10) a elaboração de políticas públicas específicas para cada região do País, sobretudo paraas que sofrem com condições climáticas adversas; com ênfase ao desenvolvimento depolíticas de convivência com o semiárido brasileiro, especialmente o nordestino (ondese concentra o maior número de agricultores e agricultoras familiares) que, submetido

ao esgotamento dos recursos naturais, a práticas clientelistas históricas e a tecnologiasinadequadas, fica à mercê de programas compensatórios, fazendo-se urgente umapolítica de desenvolvimento sustentável para o mesmo.

Nesta luta pela reforma agrária e em defesa da agricultura familiar, as entidades emovimentos sociais signatários desta querem fortalecer a solidariedade entre os povos docontinente latino-americano através da construção de mecanismos justos de cooperação ecomercialização. Posicionam-se, por isto, contrários à criação da Área de Livre Comérciodas Américas (ALCA), que representa o monopólio comercial estadunidense, inclusive dasmultinacionais do setor de alimentação, e que vem sendo imposta, concretizando um modelo

oposto às históricas lutas populares pela democratização da terra, das riquezas e do poder. Acontinuidade deste tipo de negociações e acordos requer a realização de um plebiscito comoforma de diálogo e participação ampla da população nos mesmos.

As entidades esperam ainda que os órgãos públicos, em todos os níveis de governo,sejam estruturados e organizados para viabilizarem o Plano Nacional de Reforma Agrária,implementando as políticas públicas definidas para sua área de atuação.

Brasília, 23 de abril de 2003.

Fonte: <http://www.cptnac.com.br/>. Acesso em: 21 maio 2009.

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Atividade 4

Aula 5  Geografia Agrária 85

Agora, responda:

a) Você concorda com o documento? Justifique sua resposta.

b) Quais medidas você considera mais importantes ou primordiais parasolucionar a problemática agrária?

Leituras complementaresMEDEIROS, Leonilde Servolo de. Reforma agrária no Brasil: história e atualidade da luta pelaterra. São Paulo: Perseu Abramo, 2003. (Coleção Brasil Urgente).

A obra debate sobre a reforma agrária e a complexidade das relações que geraramos demandantes de terra – que continuam a ter essa demanda na ordem do dia, num paísurbanizado e industrializado. Para esta aula é interessante ler os capítulos 2, 5 e 6. O capítulo2 trata da origem do debate sobre a reforma agrária no Brasil, a política fundiária do governomilitar e das bases legais para a reforma agrária. O capítulo 5 mostra os resultados das açõesfundiárias nos anos de 1980-1990 e a experiência dos assentamentos rurais e o capítulo 6analisa a atualidade da reforma agrária.

VIDAS secas. Direção de Nelson Pereira dos Santos. [s.l]: Sino Filmes, 1963. Baseado nolivro Homônimo de Graciliano Ramos.

Sinopse: No paupérrimo Nordeste brasileiro, uma família vive sem esperanças no futuropor causa da seca e miséria que assolam suas vidas. Uma das grandes obras-primas do cinema

brasileiro.

É relevante observar as condições de vida do agricultor no nordeste brasileiro, em queas péssimas condições de trabalho, além dos problemas naturais – como as seca – sãoagravadas pela estrutura fundiária concentrada em grandes propriedades de terra (causa maior),acarretando na expulsão do homem do campo para a cidade. Deixa evidente a necessidade deuma política de redistribuição de terra no Brasil.

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Resumo

1

2

3

4

5

Aula 5  Geografia Agrária86

Você estudou nesta aula os caminhos e descaminhos da reforma agrária no Brasiltomando como referência os anos de 1950 até os tempos recentes, uma vez querecrudesceram os movimentos sociais de luta pela terra, embates e conflitos

que pressionaram o Estado à tomada de medidas para a realização da reformaagrária. Além disso, você verificou os contrastes regionais brasileiros em relaçãoàs reivindicações dos trabalhadores rurais, a organização e expansão do MST eas políticas efetivas recentes para a reforma agrária brasileira.

AutoavaliaçãoExplique, de maneira resumida, o percurso da reforma agrária no Brasil.

Quais as principais dificuldades na implementação da reforma agrária no Brasil?

Destaque as principais políticas de reforma agrária promovidas pelo Estado brasileiroentre meados dos anos 1970 e 1990.

De que maneira os contrastes regionais dificultaram o processo de reforma agrária?

Como o MST, uma organização social, promoveu e se inseriu neste contexto dereforma agrária?

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Anotações

Aula 5  Geografia Agrária 87

ReferênciasBECKER, Bertha. Crescimento econômico e estrutura espacial do Brasil. Revista Brasileira

de Geografia, Rio de Janeiro, v. 34, n. 4, p. 101-116, 1972. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-%20RJ/RBG/RBG%201972%20v34_n4.pdf>.

Acesso em: 7 out. 2009.

LEITE, Sergio et al. Impactos dos assentamentos: um estudo sobre o meio rural brasileiro.Brasília: Instituto de Cooperação para a agricultura: NEAD; São Paulo:

UNESP, 2004. 392 p.

LINHARES, Maria Yedda Leite; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Terra prometida: umahistória da questão agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia das lutas no campo. São Paulo: Contexto;

EDUSP, 1988. (Coleção repensando a Geografia).

MARTINS, José de Souza. O sujeito da reforma agrária. In: J. S. (Coord.). Travessias: a vivênciada reforma agrária nos assentamentos. Porto Alegre: UFRGS, 2003. p. 11-52.

MARTINS, J. de S. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e seulugar no processo político. Petrópolis: Vozes, 1981.

MEDEIROS, Leonilde Servolo de. Reforma agrária no Brasil: história e atualidade da luta pelaterra. São Paulo: Perseu Abramo, 2003. (Coleção Brasil Urgente).

STÉDILE, João Pedro. Questão agrária no Brasil. São Paulo: Atual, 1997.

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Anotações

Aula 5  Geografia Agrária88

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Agricultura e sustentabilidade

6Aula

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1

2

3

Aula 6  Geografia Agrária 91

Apresentação

N

esta aula, você estudará o tema Agricultura e sustentabilidade em que discutiremosa necessidade de repensar um novo modelo agrário-agrícola, uma vez que o meioambiente tem sofrido diversos impactos, apresentando sinais de esgotamento. Você

verá que a continuidade do modelo vigente apresenta limitações ecológicas na medida em quese intensifica o uso de práticas agrícolas prejudiciais aos ecossistemas. Nesse sentido, tem-sebuscado novas formas baseadas na sustentabilidade dos recursos naturais. Veremos nestaaula os fundamentos da Agroecologia e as alternativas, as dificuldades e as vantagens para odesenvolvimento rural sustentável.

ObjetivosCompreender as mudanças na agricultura no contexto dasustentabilidade.

Entender os fundamentos da Agroecologia.

Conhecer alternativas que possibilitem a implantação do

desenvolvimento rural sustentável.

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Aula 6  Geografia Agrária92

Agricultura e sustentabilidade

Analisando o processo de evolução tecnológica da agricultura, podemos observar quevárias práticas e tecnologias foram desenvolvidas no sentido de melhorar o padrão deprodutividade e diminuir as restrições ambientais a atividade agrícola. A expansão do

uso de fertilizantes, adubos, herbicidas, pesticidas e fungicidas há décadas é motivo de críticasde ambientalistas, de órgãos ligados à saúde e de sindicatos de trabalhadores, principalmente,rurais. Nesse sentido, tem-se buscado novas alternativas de produção uma vez que o meio

ambiente tem apresentado sinais de esgotamento. A continuidade do modelo vigente deconsumo exacerbado apresenta limitações ecológicas na medida em que se intensifica o usode práticas agrícolas prejudiciais aos ecossistemas.

Um dos marcos políticos mais relevantes que intensificou as práticas agrícolas predadorasfoi a Revolução Verde concebida pelos Estados Unidos, no período pós-Segunda GuerraMundial, em que os países receberam um “pacote tecnológico” que visava combater a fome,a miséria nos países subdesenvolvidos, entretanto o que se assistiu foi a acentuação dosproblemas socioambientais nos países beneficiados com essa política. O pacote tecnológicoera constituído de novas técnicas de cultivo, equipamentos, fertilizantes, agrotóxicos, etc. Tal

política aumentou à distância entre os grandes agricultores e os pequenos agricultores quenão tiveram condições de competir com o novo modelo de produtividade.

Nos anos de 1980, inicia-se uma discussão na opinião pública e, principalmente, nospaíses desenvolvidos sobre temas ambientais impactantes resultantes da Revolução Verde, daagricultura moderna, do efeito estufa, da poluição industrial, do desflorestamento entre outros.Com isso, questionava-se até que ponto ou até quando os recursos naturais suportariam oritmo do crescimento econômico, tecido pelo Industrialismo e pela própria humanidade. Dessaforma, consolidou-se um novo paradigma: o da sustentabilidade.

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SocialEcomômico

Ambiental

Aula 6  Geografia Agrária 93

Desenvolvimento sustentávele sustentabilidade

A origem do debate sobre o desenvolvimento sustentável tem sua origem no debaterealizado na Conferência de Estocolmo em 1972, que se consolida na ECO-92, realizada em1992 no Rio de Janeiro. O conceito de desenvolvimento sustentável mais referenciado é o deBrundtland. Esse diz que o desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidadesdas gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suaspróprias necessidades. Este novo estilo de desenvolvimento se pauta numa nova ética, na qualos objetivos econômicos estão subordinados às leis de funcionamento dos ecossistemas e orespeito à dignidade humana e a melhoria da qualidade de vida da sociedade.

No final dos anos de 1980, precisamente em 1987, foi publicado o Relatório de Brundtland chamado de “Nosso Futuro Comum” que ajudou a disseminar o ideal de um desenvolvimentosustentável para diferentes setores da sociedade, entre eles a agricultura. A conferênciadas Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e o Meio Ambiente (ECO-92) reafirmou essaideia, apresentando o desenvolvimento sustentável como aquele que é capaz de garantir asnecessidades das gerações futuras.

Nesse sentido, é imprescindível pensar uma agricultura permeada pelo desenvolvimentosustentável para romper com o modelo agrário-agrícola atual baseado na monocultura. Na tentativade romper com essa lógica, algumas técnicas têm sido desenvolvidas. Nos últimos anos, crescea discussão em torno da sustentabilidade, ou seja, promover a exploração de áreas ou o uso de

recursos planetários (naturais ou não) de forma a prejudicar minimamente o equilíbrio entre

o meio ambiente e as comunidades humanas e da biosfera que dele dependem para existir.

Vale salientar que a sustentabilidade depende de três variáveis interdependentes edependentes entre si, proporcionando a diminuição de impactos ambientais aos ecossistemasagrário, urbano etc. O tripé da sustentabilidade é composto pelas variáveis social, econômico

e ambiental representadas no diagrama abaixo:

Relatóriode Brundtland

Documento elaboradopela Comissão Mundial

sobre Meio Ambiente.

A ministra da Noruega

Gro Harlem Brundtland

foi indicada pela ONU

para estudar as questões

ambientais e, também,

chefiou a Comissão

Mundial sobre Meio

Ambiente, sendo assinado

em 1987 o documento

final desses estudos quechamou-se Nosso Futuro

Comum ou Relatório de

Brundtland. Esse propõe

o desenvolvimento

sustentável e apresenta

uma série de medidas

que devem ser

promovidas para alcançar

o desenvolvimento

sustentável.

Figura 1 – Tripé da Sustentabilidade

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Aula 6  Geografia Agrária94

O desenvolvimento sustentável é um modelo que pode ser utilizado para produção ereprodução dos espaços agrícolas, que visa atenuar os impactos socioambientais. Nessesentido, um dos ramos científicos que tem gerado bastante discussão é a Agroecologia.

AgroecologiaA Agroecologia é uma ciência que surgiu na década de 1970, como forma de estabelecer

uma base teórica para viabilizar uma agricultura alternativa, que aparece da necessidade demudar as técnicas modernas que causam diversos impactos ao solo com o uso intensivo deagrotóxicos, fertilizantes, máquinas pesadas e sementes de alta produtividade, etc.

No campo cientifico existem várias definições para Agroecologia, mas podemos dizerbaseado em Servilha Guzmmán e González Molina (apud CAPORAL; COSTABEBER, 2001,p. 37) que:

A Agroecologia corresponde a um campo de estudos que pretende o manejo ecológicodos recursos naturais, para – através de uma ação social coletiva de caráter participativo,de um enfoque holístico e de uma estratégia sistêmica – reconduzir o curso alterado dacoevolução social e ecológica mediante um controle das forças produtivas que estanqueseletivamente as formas degradantes e espoliadoras da natureza e da sociedade.

A Agroecologia trabalha levando em consideração que os agroecossistemas são unidadesfundamentais de pesquisa, levando em consideração os ciclos minerais, as transformações

energéticas, os processo biológicos, as relações socioeconômicas e ambientais de formaintegrada. Ela é uma ciência que visa alcançar a sustentabilidade ecológica, social, econômica,cultural, política e ética. Essa é uma proposta de desenvolvimento sustentável.

Além da Agroecologia existem outras manifestações de agricultura alternativa como aBiodinâmica, a Ecológica, a Orgânica, a Regenerativa, a Permacultura entre outras. No entanto,não podemos confundir a Agroecologia enquanto disciplina científica ou ciência como apenasuma prática ou um estilo de agricultura.

Na Agroecologia, a busca da sustentabilidade é uma meta nos sistemas agroecológicosque traça estratégias de minimização do uso de fontes artificiais de energia por fontes

naturais, ou melhor, a Agroecologia visa interpretar, entender e intervir nos agroecossitemasde forma a favorecer o seu fluxo energético de água e nutrientes, mantendo-o e, se possível,incrementando-o (BOEMEKE, 2001).

Agroecossistema

Unidade de trabalho

no caso de sistemas

agrícolas que diferefundamentalmente dos

ecossistemas naturais

por ser regulado pela

intervenção humana

na busca de um

determinado propósito.

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Aula 6  Geografia Agrária 95

Podemos listar alguns recursos ecológicos de produção agrícola e incrementação dossistemas como: o uso de biofertilizantes, caldas elaboradas com ingredientes naturais orgânicose químicos da propriedade ou da região, adubos de baixa solubilidade como o calcário e fosfatosnaturais, adubos verdes, o sal mineral caseiro, o plantio direto, o pastoreio rotativo, cortinasvegetais, entre outros. A Agroecologia baseia-se no manejo racional dos agroecossistemas.

No entanto, a difusão dos sistemas agroecológicos encontra dificuldades paraimplantação, observa-se que a agricultura orgânica se apropria melhor nos sistemas deorganização familiar de produção, uma vez que estes, na maioria das vezes, possuem estruturasde produção diversificadas. Já para os produtores patronais, de grandes propriedades, asdificuldades são maiores para a regra de diversificação da produção do agroecossistema. Alémdisso, nessas propriedades ocorre forte interação com o mercado, fato este que se reflete noprocesso de adoção de tecnologias que visam sempre os ganhos imediatos de produtividade,independentemente do modo de produção.

Vale salientar, que a organização da produção social é um componente importante para

se analisar quando nos referimos ao custo de conversão para a agricultura orgânica combases agroecológicas. Nesse sentido, necessita-se de acréscimo na demanda de trabalhopara a implantação desse sistema. No caso da produção familiar, este custo de conversão nãoé percebido, pois não há desembolso financeiro, diferentemente da produção empresarialque terá custos para realizar a conversão. Dessa maneira, pode ser observado que os custospresentes no processo de transição para modelos agroecológicos dificultam o desenvolvimentoefetivo para grande parte dos agricultores, mesmo considerando os preços dos produtosagroecológicos que a rede de consumo está disposta a pagar.

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2

Atividade

1

SocialEcomômico

Ambiental

Aula 6  Geografia Agrária96

Em que consiste a Agroecologia? Aponte suas vantagens e algumas dificuldadespara efetivá-la.

Você concorda com o tripé da sustentabilidade? Por quê?

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3

4

Aula 6  Geografia Agrária 97

Qual é a relação entre desenvolvimento sustentável e Agroecologia?

Pesquise e aponte as diferenças entre a agricultura tradicional e a produção comprincípios agroecológicos. Cite exemplos. Para responder à questão sugerimosconsultar os sites: www.mda.gov.br, www.nead.org.br, www.rts.org.br entre

outras fontes.

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Resumo

Aula 6  Geografia Agrária98

Nesta aula, estudamos o tema Agricultura e sustentabilidade em que éevidenciada a importância de repensar um novo modelo de agricultura baseadana sustentabilidade dos recursos naturais. Destacamos o desenvolvimentosustentável e os fundamentos da Agroecologia que se baseiam no manejo racionaldos agroecossistemas.

Leitura complementarPara aprofundamento desta aula, leia o texto “O paradigma da sustentabilidade” da página

53 à página 81. No texto, o autor Ronaldo G. de Lima discute os princípios da sustentabilidadee da Agroecologia como tendências importantes para a sustentabilidade do planeta.

ETGES, Virginia Elisabeta (Org.). Desenvolvimento rural: potencialidades em questão. SantaCruz do Sul: EDUNISC, 2001. 139 p.

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1

2

Aula 6  Geografia Agrária 99

AutoavaliaçãoO que é desenvolvimento sustentável? Qual é a sua importância para o equilíbriosocial, econômico e ambiental?

Retome as suas respostas às questões na atividade desta aula. Verifique se vocêconseguiu desenvolver a ideia de desenvolvimento rural sustentável, ou seja, odesenvolvimento da agricultura sustentável economicamente viável e socialmenteaceitável, uma vez que não é possível separar os componentes do problema agrário,socioeconômico e ecológico que demonstram complicações sociais, políticas e nãoapenas técnicas, até porque não são as técnicas que estabelecem os limites para atransição de um novo modelo agrícola. Não é possível defender mudanças ecológicasno setor agrícola sem defender mudanças similares em outras áreas da sociedadeque estão inter-relacionadas. Elabore um texto contextualizando as possibilidades

para o desenvolvimento rural sustentável.

Referências

BOEMEKE, L. Rogério. Agroecologia: uma proposta em construção. In: ETGES, VirginiaElisabeta (Org.). Desenvolvimento rural: potencialidades em questão. Santa Cruz do Sul:EDUNISC, 2001. 139 p.

CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, J. Antonio. Agroecologia e desenvolvimento ruralsustentável: perspectivas para um nova extensão rural. In: ETGES, Virginia Elisabeta (Org.).Desenvolvimento rural: potencialidades em questão. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2001. 139 p.

VIANA, Gilney Amorim; SILVA, Marina; NILO, Diniz. O desafio da sustentabilidade: um debatesocioambiental no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.

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Anotações

Aula 6  Geografia Agrária100

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Agricultura e a questão ambiental

7Aula

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1

2

3

Aula 7  Geografia Agrária 103

Apresentação

N

esta aula, você estudará o tema agricultura e a questão ambiental, em que sãoevidenciados os principais impactos ambientais rurais intensificados pela agriculturamoderna – baseada principalmente na monocultura, que vem utilizando novas

técnicas de produção em que se destacam o uso de máquinas, adubos, irrigação, agrotóxicose fertilizantes. Destaca-se também o desenvolvimento da engenharia genética e introduçãodos transgênicos e suas possíveis repercussões no meio ambiente. Além disso, você verá osimpactos ambientais causados pela agricultura predatória nos principais biomas brasileiros.

ObjetivosAnalisar o uso das novas tecnologias no campo e suas implicaçõesambientais.

Saber os principais impactos ambientais rurais.

Compreender os impactos ambientais no campo surgidos com aengenharia genética e suas consequências para os ecossistemas.

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Aula 7  Geografia Agrária104

Agricultura e meio ambiente

O

espaço rural caracteriza-se pela heterogeneidade, que se traduz na existência do ruraltradicional, do rural moderno, do rural global muitas vezes num mesmo espaço sociale geográfico. Tal característica deve-se, entre outros fatores, a sua formação social. No

entanto, destacaremos os processos evolutivos na utilização de novas técnicas na agriculturaem relação ao uso do solo dos quais derivam vários impactos ambientais.

Os agroecossistemas, em geral, exibem uma biodiversidade bem menor que osecossistemas naturais devido à agricultura moderna enfatizar a monocultura em detrimento daagricultura tradicional, que utiliza uma grande variedade de espécies sem o uso de agrotóxicos. Ésabido que o uso de pesticidas, herbicidas e fertilizantes de origem química mudou drasticamenteas bases da agricultura tradicional. Com isso, ocorreu um aumento na produtividade das lavourascom auxílio de máquinas e equipamentos que foram adaptados às tecnologias de plantio. Esseprocesso se deu efetivamente nos países desenvolvidos, os quais iniciaram a modernizaçãoagrícola e passaram a utilizar em 1874 o primeiro composto orgânico – DDT (abreviaturapara dichloro-diphenyl-trichloro-ethane ) – na agricultura e pecuária; essas passaram por umamudança estrutural drástica a partir do uso e convivência com a Química.

Paralelamente, no mesmo ano, 1874, os ambientalistas inauguraram a primeira unidadede conservação do planeta nos EUA: o Parque Nacional de Yellowstone . A ideologia na criaçãodessas unidades era proteger os “lugares selvagens e belos” dos próprios homens e dasatividades humanas para o deleite do homem moderno. Essa prática de criação de áreas eunidade de conservação, apesar de várias críticas, teve e continua tendo importância para a

conservação da diversidade biológica e manutenção de determinados ecossistemas.Entretanto, em relação ao DDT, em 1939, foram descobertas por Paul Muller suas

propriedades inseticidas. A aplicação do DDT para combater insetos rendeu-lhe o prêmio Nobelda Química em 1948. O composto químico era uma arma para combater o inseto causadorda malária. No entanto, anos depois se descobriu que todos os compostos organoclorados possuem propriedades cancerígenas e apresentam grande estabilidade química e alta toxidade.

Impactosambientais

Desequilíbrioprovocado por um

choque, um “traumaecológico”, resultante

da ação dos sereshumanos sobre o

meio ambiente.

Organoclorados: são compostos de carbono de cadeia acíclica contendo cloro,podendo conter um anel aromático. Devido a sua ação cancerígena, inúmerosde seus compostos foram banidos e outros tiveram suas estruturas modificadasem vários países, inclusive o Brasil.

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Atividade 1

Aula 7  Geografia Agrária 105

Vale salientar que as novas técnicas se disseminaram pelo planeta, ampliando aspossibilidades de plantio em regiões de solo e climas, antes considerados inadequados. Nospaíses subdesenvolvidos, em especial o Brasil, a agricultura era rudimentar, voltada paraprodução e exportação de alimentos. O uso de novas técnicas e de defensivos químicos éintroduzido após a 2ª Guerra Mundial, quando os Estados Unidos promoveram a RevoluçãoVerde através de um pacote tecnológico que continha os equipamentos, insumos e defensivos

favorecendo a agricultura intensiva.

No entanto, com o tempo foi ficando evidente o custo da Revolução Verde. A exploraçãoda terra e seu aproveitamento máximo aliado à falsa ideia da infinidade de recursos naturaisna perspectiva de lucro rápido resultaram numa degradação ambiental intensa, quer seja nacontaminação dos solos e da água, quer seja no envenenamento dos trabalhadores agrícolas,contaminação dos alimentos, empobrecimento da terra etc. Além disso, podemos destacaroutros aspectos negativos do ponto de vista social, uma vez que para adquirir o pacotetecnológico da Revolução Verde os produtores deveriam dispor de capital ou de empréstimobancário. Dessa forma, o pequeno produtor foi expelido do mercado.

Nos anos de 1970/80, desenvolveu-se um intenso movimento crítico no que se refere àRevolução Verde quanto ao uso de agrotóxicos e produtos químicos utilizados na atividadeagrícola. Nesse contexto, originou-se um movimento para promoção da agricultura orgânica eda Agroecologia. Cabe destacar que a Revolução Verde, segundo Porto Gonçalves (2004), deveser entendida no contexto da geopolítica da Guerra Fria, ou seja, os países capitalistas centrais,principalmente os Estados Unidos, implantaram-na com o intuito de conter movimentospolíticos no campo de cunho socialista e expandir o capitalismo no campo com a vendade equipamentos, máquinas, insumos, fertilizantes etc. Deve-se lembrar que as empresasagroquímicas e de equipamentos em geral têm suas sedes, em sua quase totalidade, nospaíses europeus centrais, EUA e no Canadá.

Com isso, o atual modelo agrário-agrícola engendrado pelo sistema de produção desistema capitalista não é apenas uma questão técnica/ecológica, mas gira em torno de comoequacionar as dimensões econômicas e socioambientais para reduzir os impactos ambientaisno espaço geográfico, especificamente no espaço rural (GONÇALVES, 2004).

Quais as implicações socioambientais provocadas pela Revolução Verde?

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Aula 7  Geografia Agrária106

Problemas ambientais rurais

Figura 1 – A insustentabilidade planetária

Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/>. Acesso em: 15 dez. 2009.

Os impactos ambientais da agricultura manifestam-se com maior intensidade nos solos;estes constituem um recurso com grande potencial de renovação, pois a perda de parte do soloé compensada no processo de intemperismo sofrido pelas rochas que forma continuadamentenovos solos. Na atualidade, o uso inadequado do solo pela agricultura baseada na monoculturautiliza grandes quantidades de defensivos agrícolas e fertilizantes e tem provocado sériosdanos ao meio ambiente.

A produção de espécies vegetais uniformes (soja, trigo, cana-de-açúcar, entre outros)nos grandes latifúndios favorece o desenvolvimento de grande quantidade de espécies

invasoras – as pragas – que se alimentam desses produtos. É o caso da lagarta da soja,do besouro bicudo do algodão, bactérias como os ácaros dos mamoeiros, o cancro cítricodos laranjais, as pragas dos cafezais, fungos que atacam o trigo e o milho e as pragas queinfestam os canaviais. Nas monoculturas, as pragas proliferam rapidamente e, para contera proliferação de tais manifestações, os latifúndios utilizam cada vez mais agrotóxicos, queprejudicam tanto a saúde humana quanto o meio ambiente na contaminação dos solos e doslençóis freáticos, rios etc. Esses agrotóxicos são chamados também de defensivos agrícolas(ROSS, 2001).

A aplicação frequente e intensa de agrotóxicos contamina os solos, tornando-o estéril

devido à eliminação microbiana, e ainda são usados herbicidas para o controle de ervasdaninhas ou mato, que se reproduzem mais rapidamente que as espécies cultivadas. Essesherbicidas são tão tóxicos quanto os agrotóxicos, causando desequilíbrio na biodiversidadedos ecossistemas.

Outro problema diz respeito à irrigação, que constitui uma prática bastante desenvolvida,mas que deve ser planejada e acompanhada por outras práticas. O objetivo fundamental dairrigação é levar água aos cultivos, possibilitando a produtividade e boa qualidade. Segundo

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Aula 7  Geografia Agrária 107

a ONU (2000), cerca de 70% da água consumida mundialmente, incluída a desviada dosrios e a bombeada do subsolo, é utilizada para a irrigação. No entanto, a irrigação provocadiversos impactos ambientais, tais como modificação do meio ambiente, salinização do solo,contaminação dos recursos hídricos, consumo exagerado da disponibilidade hídrica da região,consumo exagerado de energia e problemas de saúde pública.

Além desses problemas ambientais, o IPCC (Painel Intergovernamental de MudançaClimática) alerta que o mundo precisa reduzir seus gases causadores de efeito estufa paraestabelecer o equilíbrio da terra. A preocupação do IPCC é justificável, pois o efeito estufaafetará todo o planeta e, de forma desproporcional, os países pobres, que de acordo com asprojeções científicas serão os mais atingidos por catástrofes naturais e problemas ambientaiscomo ciclones tropicais, chuvas torrenciais, escassez de água, doenças e degradação dos solos.Esses países são mais vulneráveis devido à falta de recursos. Além disso, poderá ocorrer aredução de colheitas e várias mudanças na produção agrícola. O Brasil seria um dos paísesmais afetados devido às suas condições climáticas, edáficas e continentais.

Transgênicos e biotecnologia

Figura 2 – Transgênicos

Fonte: <http://ingeniosoft.blogdiario.com/img/transgen.jpg>.Acesso em: 15 dez. 2009.

Transgênicos são organismos que, mediante técnicas de engenharia genética, contêmmaterial genético de outros organismos. Os transgênicos, segundo os especialistas, causamuma erosão genética, ou seja, reduzem a diversidade de plantas cultivadas.

Os defensores dos transgênicos argumentam que eles podem trazer benefícios ecológicosem função de necessitarem de menor quantidade de aplicação de agrotóxico. Em contrapartida,a maioria dos ambientalistas sustenta que os transgênicos deverão dinamizar o processo de

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Os principais cultivos transgênicos no mundo(em milhões de hectares)

Produto Área cultivadaSoja tolerante a herbicida 36,5

7,7

3,0

2,5

2,4

2,2

2,22,2

Milho Bt resistente a insetos

Algodão Bt resistente a insetos

Algodão Bt tolerante a herbicidaMilho Bt tolerante a herbicida

Canola tolerante a herbicida

Milho tolerante a herbicida

Algodão tolerante a herbicida

Mudança de porcentagemdesde 2006

Área de colheita transgênica em 2007 (milhão hectare)

USAArgentina

BrasilCanadá

ÍndiaChina

ParaguaiÁfrica sul

Uruguai

FilipinasAustralia

6%

6%30%

15%

63%

9%30%

29%

25%

NA–50%

0 10 20 30 40 50 60

57.7

19.1

15.0

7.0

6.2

3.8

2.61.8

0.5

0.30.1

Aula 7  Geografia Agrária108

erosão genética devido à priorização de determinadas espécies em detrimento da biodiversidadegenética. Além disso, deixam os produtores agrícolas reféns de companhias transnacionais(por exemplo, Monsanto Estadunidense) que controlam as tecnologias e patentes tanto naprodução de sementes geneticamente modificadas quanto dos insumos necessários parafazê-las produzir. O quadro a seguir sintetiza os principais cultivos transgênicos mundiais.

Tabela 1 – Principais cultivos transgênicos no mundo

Segundo Lawrence (2008, p. 260), “a área de plantio de transgênicos no mundo temcrescido bastante; a área plantada com transgênicos cresceu 12% em 2007, com valoresglobais chegando a 700 milhões de dólares”. A autora, em seu artigo, chama atenção para ocrescimento brasileiro, que em 2007 ultrapassou os EUA em novas áreas de plantio. A Índiacontinuou seu rápido crescimento, seguida de perto pelo Paraguai, África do Sul e Uruguai.

Em oposição, na Austrália as áreas com cultivos transgênicos continuam em queda.

OBS: O crescimento percentual da área plantada entre 2006 e 2007 está mostrado na coluna da esquerda. As barrasà direita evidenciam as áreas de cultivo de transgênicos, ou seja, representam a área ocupada pelos transgênicosem hectares.

Figura 3 – Crescimento da área plantada e ocupada pelos transgênicos entre 2006 e 2007

Fonte: Lawrence (2008, p. 260).

Fonte: Internacional Service for the acquisition ofAgribiotech Applicaions (ISAAA) 2002

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Aula 7  Geografia Agrária 109

O gráfico demonstra o crescimento percentual da área plantada entre 2006 e 2007,mostrado na coluna da esquerda. O que é enfatizado no artigo é que o Brasil está adotando atecnologia avançada para desenvolver o cultivo assim como os EUA, sem testar os efeitos dostransgênicos na saúde humana e nos ecossistemas.

Entretanto, cabe lembrar que durante a RIO-92 foi assinada a Convenção Internacionalsobre Diversidade Biológica (CDB), ratificada por mais de 170 países, que reconhece os riscosadvindos da engenharia genética e ressalta o relevante papel que tem o acesso e transferênciade tecnologia entre os países signatários da Convenção para a conservação e uso sustentávelda biodiversidade, de modo que o uso de recursos genéticos não venha a causar danosambientais significativos.

Agricultura, tecnologiae meio ambiente no Brasil

No Brasil, o início da influência dos seres humanos sobre o meio ambiente começa apartir da chegada dos portugueses. Antes da ocupação do território brasileiro, as sociedadesindígenas que aqui habitavam sobreviviam basicamente da exploração dos recursos naturaisem harmonia com a natureza.

No Brasil, o predomínio da padronização dos cultivos, ou seja, o plantio de uma únicaespécie tem causado desequilíbrio nas cadeias alimentares preexistentes, que se tornaramverdadeiras pragas com o desaparecimento de seus predadores naturais (pássaros, cobras,

sapos, aranhas etc.). Esse padrão tem levado a utilização de agrotóxicos em grande quantidade,ocasionando a seleção natural dos seres imunes ao veneno; com isso, os agricultores sãoforçados a aplicar venenos cada vez mais potentes. Tal fato causa doenças para aqueles quemanipulam e aplicam esses venenos e para aquelas que consomem os alimentos contaminados,e causa poluição dos solos, empobrecendo-os ao impedir a proliferação de microrganismosfundamentais para sua fertilidade. Outro impacto danoso causado pela agricultura brasileiraé a erosão do solo, provocada principalmente pelo mau uso dele, tal como o revolvimentodo solo antes do cultivo, desagregando-o e facilitando o carreamento dos minerais pela água

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Aula 7  Geografia Agrária110

das chuvas. A perda de milhares de solos agricultáveis todos os anos é um dos mais gravesproblemas enfrentados pela agricultura brasileira. Isso ocasiona graves impactos ambientaisnos biomas brasileiros. São eles: amazônico, cerrado, mata atlântica, caatinga etc.

Todos os grandes domínios brasileiros foram e estão sendo afetados pela expansão eintensificação das atividades agrícolas baseados no manejo inadequado da terra. Os estudosindicam que são perdidas 25 toneladas/ano de solo por hectare, muito acima dos índicesmundialmente considerados razoáveis, os quais variam entre 3 e 12 toneladas/ano. Atualmente,esse processo alcança novas fronteiras ecológicas intensificado pelas novas tecnologiasda informática e da engenharia genética na produção de alimentos, principalmente pelasagroindústrias, modificando profundamente as paisagens ambientais no Brasil.

No cenário brasileiro, um dos produtos agrícolas que tem se destacado é a soja, maiorproduto de exportação e de área plantada. Ela tem avançado nas novas fronteiras agrícolas(conforme Figura 4), principalmente no cerrado e na Amazônia, sendo o estado de Mato Grossoo principal produtor. Entretanto, a monocultura da soja, assim como a pecuária, tem provocado

vários problemas ambientais nos domínios dos biomas brasileiros. O desmatamento no Brasilé um reflexo do avanço da agropecuária. A derrubada da vegetação tem dado lugar a campospara a agropecuária. Na Amazônia, o desmatamento, como pode ser visto na Figura 5 e naFigura 6, tem sido uma constante preocupação que desperta vários estudos sobre o uso daterra, uma vez que as florestas têm sido substituídas pela pecuária extensiva, plantio de grãose agricultura de corte e queima.

Figura 4 – Produção de soja brasileira em 2006

Fonte: IBGE.

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Taxa de Desmatamento Anual na Amazônia Legal

35000

30000

25000

20000

15000

10000

5000

0

     K   m

         2     /   a   n   o

888990 91 9293 9495 96979899 0001 020304 05 06 0708

(a) (b) (b) cAno

Consolidado Estimativa

REAS DESMATADASOCEANO 

ATLÂNTICO OCEANO 

ATLÂNTICO 1950 - 1960 1980 - 2000

0 360 Km  0 360 Km 

Aula 7  Geografia Agrária 111

Figura 5 – Evolução da taxa de desmatamento de 1988 a 2008(a: média 1977 a 1988; b: média 1992 a 1994; c: estimativa)

Fonte: INPE, Relatório PRODES, 2008.

Figura 6 – Expansão do desmatamento na Amazônia

Fonte: IBGE (2003).

Os impactos ambientais no setor agrícola são mais intensos nos grandes latifúndiosmonocultores e nas agroindústrias e com menor intensidade na pequena produção.Por todos os impactos ambientais causados pela agricultura, torna-se relevante pensar umnovo modelo de produção agrícola que priorize a sustentabilidade ambiental, pois os recursosnaturais estão se exaurindo.

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Atividade 2

1

2

3

Aula 7  Geografia Agrária112

Quais são as principais preocupações sobre a introdução dos transgênicos na parasociedade e quais são os possíveis impactos ambientais provocados pela transgenia?

Faça uma leitura do texto a seguir e indique quais são os principais impactoscausados pelo aquecimento global na agricultura brasileira.

Estudo avalia impacto do aquecimento global na agricultura

O aquecimento global poderá provocar uma mudança significativa no mapa

da agricultura brasileira, gerando a redução de áreas produtoras e prejuízoseconômicos de cerca de R$ 7,4 bilhões em 2020 e de R$ 14 bilhões em 2070.

Os resultados fazem parte do estudo “Aquecimento Global e Cenários Futuros daAgricultura Brasileira”, que avalia o impacto do aumento da temperatura sobrea agricultura em 2020, 2050 e 2070. A pesquisa avaliou as seguintes culturas:algodão, arroz, feijão, café, cana-de-açúcar, girassol, mandioca, milho e soja.Coordenado por Hilton Silveira Pinto, do Centro de Pesquisas Meteorológicase Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade de Campinas(Unicamp), e Eduardo Delgado Assad, da Embrapa Informática Agropecuária,o trabalho contou com a colaboração de 19 pesquisadores e com o apoio daEmbaixada do Reino Unido.

O estudo avalia que, se nada for feito para mitigar os efeitos das mudançasclimáticas ou adaptar as culturas para a nova situação, deve ocorrer uma migraçãoda produção agrícola para regiões que hoje não são de sua ocorrência em buscade condições climáticas melhores. Os autores, todavia, lembram que a agricultura

pode ter um papel importante na mitigação e na adaptação aos impactos dasmudanças climáticas.

Fonte: <http://www.embrapa.br/imprensa/noticias/2008/agosto/2a-semana/ 

estudo-avalia-impacto-de-aquecimento-global-na-agricultura/>.Acesso em: 19 out. 2009.

Com base em seus conhecimentos, que medidas poderiam ser adotadas paraminimizar os impactos ambientais na agricultura brasileira?

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Resumo

Aula 7  Geografia Agrária 113

Leitura complementarGONÇALVES, Carlos Walter. O desafio ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004.

É interessante você ler, em especial, o capítulo 13 – Quais são as implicações ambientais

específicas do atual modelo agrário/agrícola? E o capítulo 14 – Como o complexo oligárquicoagroquímico “absorveu” pós-revolução Verde?

Nesta aula, você estudou os impactos ambientais na agricultura fazendo umpercurso no contexto mundial e brasileiro. Discutimos os problemas ambientaisrurais, a introdução de novas tecnologias no campo, o uso intensivo deagrotóxicos, os transgênicos e os impactos ambientais rurais, destacando-se asituação dos biomas brasileiros.

AutoavaliaçãoCom base em tudo o que foi discutido nesta aula, responda às seguintes questões.

a) Explique os principais impactos ambientais causados pela modernização daagricultura.

b) Quais são as consequências e possíveis danos socioambientais trazidoscom o desenvolvimento da engenharia genética na agricultura, util izaçãode práticas agrícolas baseadas na monocultura e o uso de agrotóxicos efertilizantes no campo?

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Anotações

Aula 7  Geografia Agrária114

ReferênciasGONÇALVES, Carlos Walter Porto. O desafio ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004.

LAWRENCE, Stancy. Brazil surpasses US in new transgenic crop plantings. Revista Nature

Biotechnology, v. 26, n. 3, mar. 2008. Disponível em: <http://www.nature.com/nbt/journal/ v26/n3/index.html>. Acesso em: 8 abr. 2009.

ROSS, Jurandir L. Sanches. Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2001.

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Anotações

Aula 7  Geografia Agrária 115

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Anotações

Aula 7  Geografia Agrária116

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Espaço rural e espaço urbano

8Aula

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Aula 8  Geografia Agrária 119

ApresentaçãoNesta aula, você estudará o tema Espaço rural e urbano no que se refere a sua conceituação,

constituição e evolução histórica. Destacamos as mudanças socioespaciais no transcorrer dotempo em sua evolução na relação cidade-campo.

ObjetivosSaber os conceitos sobre rural e urbano.

Entender as dificuldades metodológicas na conceituaçãoe definição desses espaços.

Analisar a evolução histórica e as principais mudanças narelação cidade-campo.

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Aula 8  Geografia Agrária120

O rural e o urbanoA contraposição existente entre o rural e o urbano origina-se há mais de 5.500 anos,

ou seja, desde a Antiguidade, emergida pelas condições políticas e sociais que permitiram adivisão socioespacial do trabalho. A história da divisão do trabalho conduziu a um contínuo

desenvolvimento das formas de produção da existência do homem.

No período medieval, os limites físicos entre a cidade e o campo eram evidentes nascidades muradas. As cidades nas sociedades tradicionais segundo Giddens (2000, p. 560),eram na maioria pequenas e normalmente muradas e suas muralhas destinavam-se à defesamilitar, realçavam a separação entre a comunidade urbana e o campo.

Para Lefebvre (2001b, p. 29), a separação entre a cidade e o campo toma lugar entre asprimeiras e fundamentais divisões do trabalho (a biológica e a técnica) e completa:

A divisão social do trabalho entre a cidade e o campo corresponde à separação entre otrabalho material e o trabalho intelectual, e, por conseguinte entre o natural e o espiritual.À cidade incumbe o trabalho intelectual: funções de organização e de direção, atividadespolíticas e militares, elaboração do conhecimento teórico (filosofia e ciências). [...] O campo,ao mesmo tempo realidade prática e representação, vai trazer as imagens da natureza, doser, do original. A cidade vai trazer as imagens do esforço, da vontade, da subjetividade, dareflexão, sem que essas representações se afastem de atividades reais. Dessas imagensconfrontadas irão nascer grandes simbolismos. (LEFEBVRE, 2001b, p. 29).

A cidade e o campo têm se constituído um dos mais significativos temas de interesse dehistoriadores, sociólogos, antropólogos, economistas e geógrafos. Conforme Corrêa (1989,p. 40), este interesse se explica, por duas razões: primeiro, da crença empirista de que cidadee campo constituem as duas metades em que a sociedade pode ser dividida e analisada; esegundo, da crença marxista de que a cidade e campo são dois termos de uma contradiçãoem torno da qual a história se faz.

Como entender na atualidade o que é rural e o que é urbano? Como qualificar o rural e ourbano, sabendo-se que esses espaços têm passado por uma série de mudanças e têm geradodebate entre os estudiosos que passam a falar de um novo rural no Brasil e do chamado rurbano?

Silva (1996) em seus estudos sobre o rurbano, ou seja, fusão do rural e do urbano

demonstra em suas análises a tendência à urbanização do campo e a inserção de atividadesnão-agrícolas no campo ligadas ao lazer, à prestação de serviços e a indústria (conforme aaula Transformações recentes no espaço rural)

No entanto, observa-se que a falta de definição do que é urbano, do que é cidade, do queé rural é um embate. Dessa forma, destacamos alguns teóricos que assim definem:

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Atividade 1

Aula 8  Geografia Agrária 121

“Urbano designaria então uma forma especial de ocupação do espaço por umapopulação, a saber o aglomerado resultante de uma forte concentração e de umadensidade relativamente alta, tendo como correlato previsível uma diferenciaçãofuncional e social maior” (CASTELLS, 2000, p. 40)

“[...] distinção entre a cidade , realidade presente, imediata, dado prático-sensível,arquitetônico – e por outro lado o ‘urbano’, realidade social composta de relaçõesa serem concebidas, construídas ou reconstruídas pelo pensamento” (LEFEBVRE,2001b, p. 49).

“A noção de urbano  (oposta à rural ) pertence à dicotomia ideológica sociedadetradicional/sociedade moderna, e refere-se a uma certa heterogeneidade sociale funcional, sem poder defini-la de outra forma senão pela sua distância, masou menos grande, com respeito à sociedade moderna (CASTELLS, 2000, p. 47).

Como se pode perceber, vários autores discutem e tentam definir o que é rural é o queé urbano e suas especificidades territoriais, econômicas e sociais. Além disso, ainda há umaquestão metodológica na definição do que vem a ser urbano e rural.

Pesquise e discuta os parâmetros utilizados pelo IBGE na definição do que éurbano e do que é rural no Brasil e estabeleça uma comparação com outrospaíses. Sugerimos consultar os sites: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade e www.ibge.gov.br entre outras fontes disponíveis.

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Aula 8  Geografia Agrária122

Critérios utilizadospara definir o rural e o urbanoAs discussões a respeito do que é rural e do que é urbano são importantes para

compreendermos a dinâmica do mundo. Um dos critérios utilizados pelos países comoReino Unido, África do Sul, Tunísia e Brasil declaram como urbanos os residentes em áreascom certa forma de administração como as sedes municipais brasileiras, utilizando limitesestabelecidos oficialmente.

Outro critério utilizado diz respeito à densidade demográfica, ou seja, o número dehabitantes por quilômetro quadrado, as áreas rurais serão sempre menos densamentepovoadas que as urbanas. No entanto, a densidade demográfica não se apresenta homogêneana cidade. Reside aí um problema, pois considerar uma densidade como urbana é muito amploe indefinido, uma vez que os recenseamentos tomam por referência os domicílios. Dessamaneira, existem centros urbanos, de urbanidade intensa, como os centros da cidade queapresentam baixa densidade demográfica. Nesse contexto, não dá para considerar densidadedemográfica como sinônimo de urbanismo (ENDLICH, 2006).

O urbano e o rural também podem ser definidos pela natureza das atividades econômicas,ou melhor, nessa visão o rural está vinculado às atividades primárias e o urbano reúnepercentual significativo em relação à ocupação da população em atividades secundárias eterciárias. Esse critério é utilizado em países como o Peru e a Itália.

Os três critérios apresentados são exemplos estabelecidos e citados na literatura daGeografia, da Arquitetura e da Sociologia entre outras Ciências, poderíamos citar outroscritérios referentes aos aspectos morfológicos e ao modo de vida dos habitantes. No entanto,todos os critérios apresentam insuficiências na correspondência à atual realidade rural e urbana.

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a b

Aula 8  Geografia Agrária 123

Figura 1 – a: O urbano no rural e b: O rural no urbano

Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/_BCoJvVCAYtE/SrPa82CY8I/AAAAAAAABbk/WlnLpg2y054/s400/modernidade+no+sert%C3%A3o.bmp>; <http://3.bp.blogspot.

com/_OPvhib1dciI/SkDeq1iZpmI/AAAAAAAALh0/HEJvJl3mMdY/s400/Carro%C3%A7a.jpg>.Acesso em: 13 dez. 2009.

A evolução geral

do campo e da cidadeNo decorrer da formação e ocupação territorial, a sociedade está em constante mudança

que reflete diretamente na organização espacial e, consequentemente, nas relações humanas.Na atualidade, uma das questões mais relevantes é sobre o rural e o urbano tanto no meioacadêmico quanto nos órgãos de gestão pública na definição de políticas.

Ruy Moreira, renomado geógrafo pesquisador das mudanças espaciais, principalmente noBrasil, demonstra em suas análises que são três as formas históricas da relação cidade-campo

enquanto modo de organização espacial das sociedades no tempo: cidade e campo numasociedade de cultura rural; cidade e campo numa cultura de divisão territorial de trabalho; ecidade e campo numa sociedade de cultura urbana. Caracterizaremos cada momento a seguir:

1) A cidade e o campo numa sociedade de cultura rural – Essa fase diz respeito aosurgimento da cidade no contexto da história geral, marcada pela presença de umaeconomia de base rural. Nesse contexto, o trabalho é uma atividade rural e não urbana,ou seja, pertence ao universo rural e não urbano.

Na Geografia é fundamental pensar a dimensão espacial na definição de rural e do urbano.Ao discutir espaço, seja urbano ou rural, é sempre necessário pontuar que o espaço apresentaespecificidades decorrentes de sua construção histórica e passíveis a mudanças estruturais,econômicas, sociais, sendo que no âmbito local devem-se mostrar as diferentes espacialidades.

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Atividade 2

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Aula 8  Geografia Agrária124

2) A cidade e o campo da divisão capitalista do trabalho e das trocas – Fase caracterizadapelo nascimento do capitalismo e da divisão social do trabalho que viabiliza normas deorganização e da produção das trocas, criando a cidade e o campo que hoje conhecemos,ou seja, à cidade cabe a função dos setores secundário e terciário e, ao campo cabem asfunções relacionadas ao setor primário. Estabelecem-se entre esses espaços, relações deinterdependência em que a cidade e o campo se relacionam através da troca entre produtos

secundários e terciários por produtos primários.

3) A cidade e o campo da cultura urbana - Essa fase se caracteriza pela instalação daindústria no campo em que se formam os complexos agroindustriais, ocorrendo umaespécie de fim da divisão de trabalho, técnica e territorial que recria relações entre ossetores que eram até então separados.

Comente dois conceitos estudados a respeito do rural e do urbano.

Tomando como referência os conceitos estudados, como vocêcaracterizaria seu município em relação à urbanidade e a ruralidade.

Elabore um quadro sinótico, caracterizando o espaço do campo eda cidade.

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Resumo

Aula 8  Geografia Agrária 125

AutoavaliaçãoElabore um texto, apontando as dificuldades encontradas na definição dosespaços rural e urbano, considere:

a) critérios utilizados na delimitação do rural e do urbano;

b) dimensão espacial;

c) três formas históricas da relação cidade-campo, apontadas por Ruy Moreira.

Leitura complementarSPOSITO, M. Encarnação Beltrão; WHITACKER, Arthur Magon (Org.). Cidade e campo: relaçõese contradições entre urbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 2006. 248 p.

Para orientar seus estudos, leia o texto “O urbano e o rural em Henri Lefebvre” da página 53 àpágina 64 e, também, o texto “Reflexões em torno do urbano no Brasil” da página 65 à página 80.

Nesta aula, discutimos os conceitos de espaço rural e urbano, assim como os

critérios de delimitação desses espaços. Destacam-se as mudanças socioespaciaisno transcorrer do tempo em sua evolução em relação cidade-campo.

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Anotações

Aula 8  Geografia Agrária126

ReferênciasCASTELLS, Manuel. O processo histórico de urbanização. In: ______. A questão urbana. Riode Janeiro: Paz e Terra, 2000. p. 39 – 126.

CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989. (Série Princípios).ENDLICH, Ângela Maria. Perspectivas sobre o urbano e o rural. In: SPOSITO, M. EncarnaçãoBeltrão; WHITACKER, Arthur Magon (Org.). Cidade e campo: relações e contradições entreurbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 2006. p. 11-31.

FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. PortoAlegre: Editora Globo, 1975.

GIDDENS, Anthony. As cidades e o desenvolvimento do urbanismo moderno. In: ______.Sociologia. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000. cap. 17. p. 559-594.

LEFEBVRE, Henri. A cidade do capital. Rio de Janeiro: DP&A, 2001a.

LEFEBVRE, Henri. O direito a cidade. São Paulo: Centauro. 2001b.

SILVA, José Graziano da. O novo rural brasileiro. Campinas: Unicamp, 1996.

SPOSITO, M. Encarnação Beltrão; WHITACKER, Arthur Magon (Org.). Cidade e campo: relaçõese contradições entre urbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 2006. 248 p.

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Anotações

Aula 8  Geografia Agrária 127

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Anotações

Aula 8  Geografia Agrária128

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Transformações recentesno espaço rural

9Aula

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Aula 9  Geografia Agrária 131

ApresentaçãoNesta aula, você estudará as transformações recentes no espaço rural em que se

destaca a pluriatividade, ou seja, a inserção de atividades não-agrícolas no campo. Nessecontexto, discutiremos o percurso da pluriatividade desde sua origem no cenário europeu e

sua repercussão no Brasil.

ObjetivosSaber as transformações no campo e suas implicações

socioespaciais no território brasileiro.

Relacionar as mudanças na agricultura brasileira às novasatividades econômicas inseridas no campo.

Analisar as perspectivas socioeconômicas e os impactoscausados pelas novas atividades.

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Aula 9  Geografia Agrária132

Transformaçõesrecentes no espaço rural

Na atualidade, o mundo rural no Brasil não é mais restrito às atividades agropecuáriase agroindustriais. Essas atividades dividem espaço com outras atividades ligadas aoturismo, prestação de serviços e até indústria ficando difícil para os estudiosos do

“mundo agrário” delimitar onde começa ou termina o rural e o urbano (conforme discutimosna aula 8 - Espaço rural e espaço urbano).

Segundo Graziano da Silva (1996), o mundo rural é maior que o mundo agrícola. Omundo rural incorpora atividades novas tais como, os hobbies ou pequenos empreendimentos,transformando-as em negócios rentáveis multiplicando os pesque-pague (figura 1), os sítiosde lazer, as casas de campo, fruticulturas, floriculturas, além de hotéis-fazenda (figura 2),campos de golfe etc.

A área rural brasileira não se restringe mais à agropecuária e à agroindústria [...] Agora, aagropecuária moderna e a agricultura de subsistência dividem espaço com um conjunto

de atividades ligadas ao lazer, à prestação de serviços e até à indústria, reduzindo cadavez mais os limites entre o rural e o urbano do país. [...] Os mais de mil pesque-pagueespalhados por chácaras e sítios em todo o Brasil, por exemplo, utilizados como lazerpela classe média urbana, já são responsáveis por 90% do destino dos peixes de águadoce criados em cativeiro. (SILVA, 1996, p. 48-54).

No Brasil, em meados da década de 1990, começam a se tornar evidentes algumastransformações na cidade e no campo, tanto em si próprias como nas suas inter-relações. Ocampo não pode mais ser considerado o espaço preponderante da produção agropecuária,

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Aula 9  Geografia Agrária 133

pois o processo de ocupação e uso do solo passa por crescentes mudanças com o aumentodos conteúdos urbanos no meio rural e diversificação das atividades produtivas. Nessesentido, cabe destacar o desenvolvimento da pluriatividade no Brasil. A pluriatividade podeser entendida como:

Um fenômeno através do qual membros das famílias que habitam o meio rural optampelo exercício de diferentes atividades, ou mais rigorosamente, optam pelo exercíciode atividades não-agrícolas, mantendo a moradia no campo e uma ligação, inclusiveprodutiva, com a agricultura e a vida no espaço rural (Schneider, 2003, p. 48).

Figura 1 – Pesque-pague Cachimbo, em São José dos Pinhais/PR

Figura 2 – Hotel-Fazenda em Sabará/MG

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Aula 9  Geografia Agrária134

Origem da pluriatividadeNa discussão sobre a pluriatividade se destaca duas noções: agricultura de tempo parcial

(do inglês part-time farming ) e de pluriatividade (do francês pluriativité ) surgidas nos anosde 1940, mas tomou grande notoriedade a partir dos anos de 1970. Entretanto, é objeto de

discussão entre os especialistas europeus se a pluriatividade como relação de trabalho naagricultura é nova ou antiga.

As duas noções supracitadas surgem no mesmo momento, mas não são idênticas, oconceito de pluriatividade é de longe mais adequado à dinâmica agrícola atual, uma vez queo trabalho agrícola é pautado na descontinuidade temporal, pois não existe correspondênciaentre tempo de trabalho e de produção, uma vez que essa dinâmica depende da naturezanão nos permitindo afirmar que a outra atividade signifique dedicação em tempo parcial àagricultura. Ao contrário, a dinâmica sazonal do trabalho agrícola permite uma combinaçãode atividade familiar de tempo integral. Portanto, a noção de pluriatividade é mais significativapara compreendermos esse fenômeno que vem ocorrendo na agricultura.

Cabe salientar que o interessante é notar a diversificação das formas de organizaçãoe dinâmica da agricultura familiar, suas estratégias de reprodução: assalariamento urbano,transformação industrial ou artesanal das atividades agrícolas ou o desenvolvimento do terciário(serviços, lazer) no espaço rural; e não entre a discussão sobre qual o melhor termo a serutilizado. O fundamental é compreender que as múltiplas atividades praticadas pelas famíliasrurais representam uma estratégia de reprodução dessas famílias em que especialização énegada, como salienta Carneiro (1994 apud ALENTAJANO, 2001, p. 151):

Como resultado de um processo historicamente datado que começa com o estabelecimentode um modelo ideal de exploração agrícola, se apoiando sobre a especialização daprodução (e do trabalho) e sobre a produtividade, a pluriatividade dos tempos modernosse distingue daquela que era praticada durante o período da proto-industrialização. Nessestermos, ela é recriada por uma parte da produção rural para afrontar as crises geradaspela modernização da agricultura, como o demonstram os sociólogos, os economistas,os agrônomos.

As transformações na agricultura familiar e apluriatividade no contexto europeuA agricultura européia (ocidental) apresenta um caráter marcadamente familiar consolidado

no século XX, e indicava uma tendência de homogeneização ligada ao capital apresentando altamecanização e integração ao mercado de capitais. Tal acontecimento acarretou a especializaçãodos agricultores. Entretanto, nos anos de 1970 uma parcela significativa dos agricultores resistiaa essa tendência. Nos anos de 1980, uma crise de superprodução levou esses agricultores adiversificarem sua produção e suas atividades.

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Aula 9  Geografia Agrária 135

A mudança que está ocorrendo na agricultura européia desde os anos de 1970 tem comocausas a dependência dos agricultores ao mercado, a preocupação da sociedade com asquestões ambientais, a busca por uma melhor qualidade de vida e renda complementar, entreoutras. Esta mudança de paradigma impulsiona a pluriatividade transformando os ramos daatividade agrícola de monoativa para pluriativa.

As análises feitas na Europa e no Brasil sobre a pluriatividade no campo estão relacionadascom a crise do modelo fordista de produção e a emergência desde os anos de 1970 domundo flexível de produção que reestrutura e estrutura o espaço geográfico mundial. Comoexemplo, podemos destacar a desconcentração urbano-industrial que dinamiza as relações nocampo, principalmente nos espaços rurais das pequenas propriedades levando esses espaçosa pluriatividades como uma saída para a reprodução do capital e a sobrevivência dessespequenos agricultores.

A pluriatividade no BrasilAs discussões em torno da questão da pluriatividade ou agricultura parcial no Brasil é

limitada e recente. Segundo Alentajano (2001), essas discussões começam na Europa na décadade 1980 e no Brasil começa em meados de 1990. Na realidade há uma série de controvérsias acerca da pertinência da utilização desses termos (pluriatividade e agricultura em tempo parcial).

Uma primeira controvérsia aparece no debate europeu para definir o tempo em quea pluriatividade em tempo parcial predomina no mundo agrário. Para alguns especialistasa pluriatividade sempre foi uma característica do campesinato, na realidade o que estariaocorrendo é um fortalecimento dessa prática. Para outros especialistas é uma novidade no

campesinato, uma vez que não se trataria de uma multiplicidade de atividades em função daprecariedade do acesso aos mercados em conjunto com as estratégias que ainda têm emcomum, a não ser a negação da moderna agricultura familiar: da espacialização e especialização.

A agricultura brasileira concentra a modernização nas grandes propriedades, diferentedos países europeus onde se tornou uma agricultura familiar moderna. A inexistência no Brasildesse processo de modernização da agricultura familiar impede de usar o termo pluriatividade,no sentido de renascimento de uma prática camponesa típica como no sentido da negação damodernização/especialização. Segundo Alentajano (2001), existem dois aspectos fundamentaisque comprometem o uso da noção de pluriatividade para a realidade brasileira:

1 – o reconhecimento de que o padrão de modernização se baseou, fundamentalmente,na grande agricultura patronal e ampliou o poderio da grande propriedade no campobrasileiro não elimina o fato de que se constituiu uma parcela significativa de agricultoresfamiliares e que entres esses, surgiu uma expressiva parcela de pluriativos;

2 – deve-se considerar também que mesmo os setores da agricultura familiar nãoatingidos diretamente pela modernização agrícola, no sentido de se tornarem produtoresmodernos, foram indiretamente, atingidos por esse processo, seja do ponto de vistasocial, econômico ou ideológico, o que nos permite dizer que sua inserção na sociedadesofreu significativas transformações (ALENTAJANO, 2001, p. 151-152).

Famílias monoativas

São aquelas em quea força de trabalhofamiliar é empregadasomente nas atividadesagropecuárias, masnão estão isentas deoutras fontes de renda,como aposentadoriae pensões.

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Aula 9  Geografia Agrária136

Outro ponto importante a ser levado em consideração é o ambiente necessário para oaumento da pluriatividade. As análises feitas no Brasil e no continente europeu confirmam odesenvolvimento da pluriatividade ao processo recente urbano/industrial difuso como elementobasilador do modelo flexível de produção que acarretaria a pluriatividade no campo.

Associar a pluriatividade à industrialização difusa no Brasil segundo alguns autores ficacomplicado, pois o modelo flexível de produção baseado no urbano/industrial é bastanteconcentrado nas regiões sudeste e sul.

O trabalho realizado por Graziano da Silva e Del Grossi (1997 apud ALENTAJANO, 2001)revela que a região sudeste apresenta uma maior pluriatividade no meio rural corroborando aafirmação anterior. Entretanto, a região sul do Brasil possui a maior população em pequenaspropriedades e apresenta um espaço industrial desconcentrado, revelando uma baixapluriatividade conforme os dados que seguem:

Tabela 1 – População rural ocupada segundo setor de atividade principal que exerce; Brasil e regiões 1995(1000 pessoas).

REGIÃO AGRICOLA NÃO-AGRICOLA TOTAL % NÃO AGRÍCOLA

Norte 137 50 187 27

Nordeste 6774 1730 8504 20

Sudeste 2817 1254 4071 31

Sul 2750 66 3416 19

Centro-oeste 841 230 1072 21

Brasil 13320 3930 17249 23

Fonte: Graziano da Silva e Del Grossi (1987 apud ALENTAJANO 2001, p. 154).

A tabela 01 reafirma que, na realidade, a pluriatividade em todas as regiões brasileiras

no campo, como aponta Schneider (1993), diminui a dicotomia entre rural-urbano. Esse novocenário pode ser compreendido pelo incremento do emprego não-agrícola no campo. Aomesmo tempo, aumentou a massa de desempregados, inativos que mantêm residência rural.

A situação atual mostra que as ocupações essencialmente agrícolas são as que gerammenor renda e que o número de famílias ocupadas em atividades agrícolas está diminuindo,pois estas não conseguem sobreviver apenas com as rendas advindas da agricultura. Damesma forma, as famílias pluriativas, ou seja, que combinam atividades agrícolas e não-agrícolas, também estão passando por um processo de redução, causado pela queda darenda das atividades agropecuárias. Neste contexto, as famílias rurais brasileiras estão setornando cada vez mais não-agrícolas, obtendo sua sobrevivência de transferências sociais(aposentadorias e pensões) e de atividades não-agrícolas (SILVA, 1996).

Outro fator importante a destacar é que as ocupações agrícolas mais genéricas, comotrabalhador rural e empregado agrícola, que empregam os trabalhadores com menor grau dequalificação vêm diminuindo nos últimos anos, ao contrário das ocupações rurais não-agrícolas queapresentam considerável crescimento. Cabe salientar que um terço das atividades não-agrícolasgeradas nos anos de 1980 a 1990 estão ligadas às ocupações de baixa qualificação comoempregados domésticos, ajudantes de pedreiro e prestadores de serviços diversos.

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Atividade 1

1

2

Aula 9  Geografia Agrária 137

Parte da força de trabalho agrícola (homens e mulheres de meia idade e sem qualificaçãoprofissional) tem se tornado excedente devido à reestruturação produtiva e às novas tecnologias,exercendo um papel determinante na reprodução do capital, pois parte dessa mão de obratorna-se exército de reserva, funcionando como uma força produtiva sazonal no período decolheitas, corte de cana-de-açúcar, por exemplo, e outras atividades. Entretanto, mesmo emregiões que predominam grandes propriedades, a pluriatividade se desenvolve sem ocorrer à

democratização do acesso a terra.

Quais são os fatores determinantes para o desenvolvimento da

pluriatividade no Brasil?

Justifique a frase: “a pluriatividade em todas as regiões brasileiras nocampo diminui a dicotomia entre rural-urbano” 

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Aula 9  Geografia Agrária138

A pluriatividade nos assentamentos ruraisDe forma geral, a pluriatividade é ainda pouco relacionada com a realidade dos

assentamentos rurais de reforma agrária sendo preciso e extremamente importante estudara temática, pois hoje é inegável o avanço da pluriatividade nesses espaços. Um exemplo é aformação de cooperativas que diversificam o trabalho nesses espaços. Alentajano (2001) mostra

em uma pesquisa realizada em dois assentamentos no Rio de Janeiro a dinâmica econômicaatravés da integração associativa com o mercado, levando famílias à realização da pluriatividade.Esta se tornou fundamental para a reprodução dessas famílias através do aumento da renda. Noscasos pesquisados, as famílias pluriativas apresentam-se em maior número do que as famíliasmonoativas e a média da renda também é maior nas famílias pluriativas do que nas monoativas.

As pesquisas e estudos recentes têm mostrado que a pluriatividade está em expansãono campo em geral, principalmente nas pequenas propriedades e no caso dos assentamentosrurais brasileiros, a pluriatividade também tem se realizado como uma forma importante dereprodução social. Com isso, vários estudos apontam a necessidade para reavaliação da reforma

agrária brasileira, uma vez que não é levada em consideração a perspectiva pluriativa, ouseja, diversificação de atividades como se os assentamentos apresentassem, exclusivamente,atividades essencialmente agrícolas.

No mundo atual, as mudanças no campo político, econômico e social que vêm ocorrendoindicam um novo estilo de vida em que as inovações nos setores de comunicação e transportemudaram as noções e as distâncias físicas conhecidas. A informática e a microeletrônicapossibilitam novas formas de organização industrial. Vários autores como, por exemplo,Graziano da Silva (1996), Eli da Veiga, Alentajano (2001) e Porto Gonçalves (2004) apontama emergência de um novo paradigma produtivo tanto para agricultura como para a indústria,

pois as novas tecnologias estão alterando as formas de organização do trabalho e redefinindo alocalização espacial. O que temos assistido é um rearranjo espacial em que indústrias, atraídaspelos benefícios fiscais e estimuladas pelo desenvolvimento das telecomunicações, têm seinstalado no campo em busca de melhores condições de produção e trabalho. O campo seindustrializa e se urbaniza na visão de vários autores.

Cabe destacar que as políticas voltadas para o campo ainda são muito incipientes edirecionam-se para a melhoria das condições básicas de transporte, comunicação, saúde ehabitação. As áreas rurais apresentam outras necessidades, como definição ou zoneamento

de áreas industriais e de moradia, estabelecimento de áreas de preservação ambiental etc.

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Atividade 2

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Aula 9  Geografia Agrária 139

Leia o fragmento abaixo e construa um texto crítico relacionando-o com a realidadeno campo brasileiro.

Empreendimentos melhoram a vida dos agricultores do sertão piauiense.

23 jul. 2009

Filho de um agricultor de Ipiranga do Piauí, um dos muitos municípios castigados pelaseca no estado, José Francisco da Silva, 30 anos, já estava acostumado com sua sina. Ano sim,ano não, ele arrumava a mala e partia em busca de trabalho nos canaviais de Minas Gerais ouSão Paulo. “Não era fácil, não. Além do trabalho duro, tinha a saudade da família”, diz ele, queé casado e pai dos pequenos Tailan, 5 anos, Tainá, 7, e Tatiane, 12. O ano em que ficava juntoà família, vivia do seguro-desemprego, porque trabalho em Ipiranga é coisa rara. Em julho de2007, no entanto, sua sorte virou.

A cidade, distante 280 quilômetros de Teresina, ganhou uma pequena fábrica parabeneficiamento de castanha do caju e José Francisco foi um dos 36 moradores que conseguiramocupação por lá. “Ganho por volta de R$ 450 por mês. É menos do que recebia na cana, masvale mais a pena”, conta. “Agora, já dá para fazer planos para o futuro. Quero dar conforto aosmeus filhos e ficar perto deles.” Sua mulher, Maria da Cruz, 30 anos, que só tinha trabalhado

como empregada doméstica, ainda antes de se casar, foi contratada pela unidade, gerenciadapor uma cooperativa dos trabalhadores rurais de Ipiranga. Com seus ganhos, vai engordar arenda da família em mais R$ 250.

Fonte: <http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4602&Itemid=62>.Acesso em: 21 out. 2009.

Justifique a frase: “A pluriatividade é consequência das novas relações de poder

engendrado pelo modelo flexível de produção que se intensificou a partir de 1970”.

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Resumo

Aula 9  Geografia Agrária140

AutoavaliaçãoCom base em tudo o que foi discutido nesta aula, responda às seguintes questões.

a) A pluriatividade no campo brasileiro está relacionada com a desconcentraçãoindustrial e urbana? Justifique.

b) Qual é a relação entre pluriatividade e a agricultura familiar brasileira?

Nesta aula, você estudou as transformações recentes no espaço rural em quese destaca a pluriatividade no campo. Nesse contexto, faz-se um percurso sobrea origem da pluriatividade e seu desenvolvimento no campo brasileiro em quese destaca o dinamismo e as relações estabelecidas com as novas atividades.

Leitura complementarALENTAJANO, Paulo Roberto Raposo. Pluriatividade: uma noção válida para a análise darealidade agrária brasileira? In: TEDESCO, João Carlos. Agricultura familiar: realidades eperspectivas. 3. ed. Passo fundo, RS: UPF, 2001. 405 p.

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Anotações

Aula 9  Geografia Agrária 141

ReferênciasALENTAJANO, Paulo Roberto Raposo. Pluriatividade: uma noção válida para a análise darealidade agrária brasileira? In: TEDESCO, João Carlos. Agricultura familiar: realidades eperspectivas. 3. ed. Passo Fundo, RS: UPF, 2001. 405p. Leia, em especial, para esta aula

o capitulo 4 que trata das novas relações de trabalho no campo brasileiro, destacando apluriatividade nas diversas regiões do país.

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. O desafio ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004.

SILVA, José Graziano da. O novo rural brasileiro. Campinas: Unicamp, 1996.

SCHNEIDER, Sérgio. O desenvolvimento agrícola e as transformações da estrutura fundiária nospaíses do capitalismo avançado: a pluriatividade. Reforma agrária, v. 24, n. 3, set./dez. 1993.

SCHNEIDER, Sérgio. A pluriatividade na agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da

UFRGS, 2003.

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Anotações

Aula 9  Geografia Agrária142

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As políticas agrícolase a agricultura familiar

10Aula

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2

3

Aula 10  Geografia Agrária 145

Apresentação

N

esta aula, você vai estudar a agricultura familiar e as políticas agrícolas, destacando-seum pouco da história das políticas agrícolas brasileiras até a criação e desenvolvimentodo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Na aula,

você verá o conceito de agricultura familiar e analisaremos os rebatimentos do PRONAF naagricultura face às políticas atuais no que se refere a sua origem, objetivos e tendências.

Objetivos

Analisar o papel do Estado em relação às políticasagrícolas no Brasil.

Entender a questão conceitual que envolve a agriculturafamiliar.

Analisar o Programa Nacional de Fortalecimento daAgricultura Familiar, com ênfase na sua origem, objetivose tendências.

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Aula 10  Geografia Agrária146

Contexto daspolíticas agrícolas no Brasil

Apolítica agrícola brasileira ao longo de sua história tem beneficiado os grandeslatifundiários. Segundo Manuel Correia de Andrade (1979), os grandes latifundiáriossempre obtiveram apoio e auxílio governamentais concedidos através de crédito

subsidiado, de assistência agronômica, da organização da comercialização e da garantia de umpreço mínimo compensador para seus produtos agrícolas. Ao contrário, o pequeno agricultor

nunca usufruiu de uma política agrícola dessa magnitude, ficando na maioria das vezes a mercêdo mercado espoliativo ligado ao setor bancário.

A partir da Segunda Guerra Mundial, a agricultura brasileira passou a ser vista como asolução para o desenvolvimento do capitalismo e, ao mesmo tempo, lhe foi atribuída a tarefade abastecer os centros urbanos e equilibrar a balança de pagamentos através da exportaçãoe valorização de produtos agrícolas nobres (café, soja, cana-de-açúcar, algodão, trigo etc.)em detrimento dos produtos agrícolas considerados ordinários (feijão, milho, mandioca etc.).Esse modelo, que já vinha sendo praticado desde o período colonial em que a exportação dealguns produtos nobres já era estimulada, deixava a revelia a agricultura de subsistência. As

políticas no campo, de uma forma geral, beneficiavam os grandes latifundiários que dispõemde capital, bens e outras garantias para a obtenção de crédito.

No período militar, a política de crédito no Brasil mantinha-se nos mesmos moldesanteriores e estava voltada para os grandes latifundiários, indústrias e os complexosagroindustriais (CAIS). Vale salientar que a política econômica adotada pelos governos militaresrelegou para segundo plano as questões de natureza social, uma vez que nesse período ossalários dos trabalhadores menos qualificados foram diminuídos, com reajustes abaixo dainflação. É possível observar também que não mereceram atenção os programas relacionados

Política agrícola

É o conjunto de

providências de amparo à

propriedade da terra que

se destina a orientar, no

interesse da economia

rural, as atividadesagropecuárias, seja no

sentido de garantir-lhes

o pleno emprego,

seja de harmonizá-los

com o processo de

industrialização do país.

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Aula 10  Geografia Agrária 147

com saúde, educação e habitação popular, o que implicou a elevação dos índices de pobrezae desigualdade social no país.

Ainda no período militar, destacou-se o Estatuto da Terra (promulgado em 1965)que previu uma política de investimentos na pequena agricultura através da instalação decooperativas, numa tentativa de tornar eficiente e economicamente viável a pequena agriculturano Brasil. Na realidade, os investimentos feitos durante o período militar não correspondeuàs premissas do Estatuto, ao contrário, o que ocorreu foi uma concentração de terra e oempobrecimento do pequeno agricultor, beneficiando a elite agrária brasileira.

No entanto, observou-se com essas políticas um descompasso com a realidadesocioambiental brasileira, causando vários impactos como: erosão do solo, contaminaçãohidrográfica, forte êxodo rural, empobrecimento dos pequenos agricultores, urbanizaçãodescontrolada, conflitos no campo.

Nos anos seguintes, não se observa avanço nas políticas agrícolas, pelo contrário, nosanos de 1980 o modelo de desenvolvimento entra em crise acentuando as disparidades sociais

devido a, entre outros fatores, má distribuição de renda e ao baixo nível de crescimento do país.

Nas últimas décadas, tem-se destacado uma série de políticas compensatórias para tentarminimizar as desigualdades e os efeitos da pobreza. Entre essas medidas, pode-se citar o valegás, bolsa-escola, bolsa-família. Em relação às políticas agrícolas, faz-se necessário implementarpolíticas estruturais que beneficiem os trabalhadores rurais. Nesse contexto, o Programa Nacionalde Agricultura Familiar, criado em 1996, parece ser um marco no qual faremos uma análise. Noentanto, inicialmente faremos uma leitura conceitual sobre o que é agricultura familiar.

Agricultura familiar:questão conceitual

Uma discussão notável no cenário político atual diz respeito à definição da agriculturafamiliar. No campo teórico, existe um vasto debate acerca da temática, nesta aula destacaremos

algumas concepções importantes sobre a problemática. Primeiramente, pontuaremos osestudos teóricos acadêmicos e, em seguida, destacaremos a questão política e a agriculturafamiliar no campo das políticas públicas.

Carneiro (1999), ao estudar o problema conceitual em torno da agricultura familiar, montauma série de premissas para abordar ou determinar uma noção de agricultura familiar e ressaltaa complexidade no processo de diferenciação das várias categorias que formam a agriculturafamiliar. Tal complexidade se dá devido à intensificação da exploração capitalista. A autorachama atenção para a existência de outras categorias de agricultores familiares que não estão

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Aula 10  Geografia Agrária148

necessariamente ligados à atividade agrícola, os quais ela denomina os neo-rurais, ou seja,os agricultores que se enquadram no projeto “novo rural brasileiro”, com a implementação denovas atividades no campo, e os recém-assentados rurais, de origem urbana, que representamuma fração da população beneficiada pela política de assentamentos. De acordo com Carneiro(1999), a integração ao mercado é apenas uma das características da agricultura familiarcontemporânea, em que

As estratégias familiares vão depender, além do capital econômico disponível, obviamente,das condições de mercado (de trabalho, sobretudo) – do patrimônio familiar, ou seja, dascapacidades (individuais e coletivas) existentes para enfrentar a situação de queda dorendimento familiar e, então, inovar ou reinventar a tradição (CARNEIRO, 1999, p. 339).

Em concepção semelhante, Wanderley (2003) ressalta que a agricultura familiar não podeser pensada apenas como uma categoria produzida pelas políticas públicas, especialmente apartir da criação do PRONAF. A agricultura familiar insere-se numa perspectiva evolutiva decontinuidade e ruptura das formas tradicionais de produção

Compreende-se, assim, a agricultura familiar (Figura 1) como uma categoria genérica eheterogênea, que engloba as demais categorias, e mesmo fragilizada pela ação do capital, firma-see evolui conjuntamente com a história das relações econômicas, sociais e, principalmente, naconstrução de novas territorialidades no campo, como a implantação de assentamentos rurais.Na realidade, a agricultura familiar é um conceito genérico que combina propriedade e trabalho,assumindo no tempo e no espaço uma diversidade de formas sociais, em que a família éproprietária dos meios de produção, sendo que as transformações trazidas com a modernizaçãonão representam uma ruptura com as categorias pré-existentes (WANDERLEY, 1999).

Figura 1 – Mulheres agricultoras

 Fonte: <http://www.mda.gov.br/portal/>. Acesso em: 14 jul. 2009.

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Aula 10  Geografia Agrária 149

A trajetória do PRONAFe a agricultura familiar

De um modo geral, pode-se dizer que até o início da década de noventa não existianenhum tipo de política especial para o segmento da agricultura familiar, sendo essa atividade,inclusive, uma definição conceitual bastante imprecisa, uma vez que a mesma era tratada dedistintas formas (pequena produção, produção familiar, produção de subsistência etc.).

No entanto, em 1996, no governo Fernando Henrique Cardoso, foi criado o ProgramaNacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) com o objetivo de aumentara capacidade produtiva e melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares. Para oPRONAF, a agricultura familiar é definida como uma forma de produção em que predomina ainteração entre gestão, utilizando-se o trabalho familiar que pode em algumas ocasiões, ser

complementado pelo trabalho assalariado.O PRONAF surgiu na década de 1990, sendo dois fatores apontados como essenciais

para a sua criação: o primeiro diz que o PRONAF é elaborado em resposta a uma forte pressãoe reivindicação dos trabalhadores rurais, que se organizaram em marchas nacionais e emoutros movimentos de grande pungência; o outro refere-se ao desenvolvimento de pesquisas,fruto da união da Organização das Nações Unidas para Agricultura  e Alimentação (FAO) com oInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que definem com maior precisãoa agricultura familiar.

Contudo, institucionalmente, o PRONAF foi uma política que teve início no governo deItamar Franco, com a criação, em 1994, do Programa de Valorização da Pequena ProduçãoRural (PROVAP), que subsidiava crédito com taxas de juros acessíveis, concedidas pelo BNDES.Em 1995, o PROVAP foi reformulado e, no ano seguinte, foi operacionalizado o PRONAF, quese divide basicamente em três modalidades: crédito rural, infra-estrutura e serviços municipaise capacitação.

Em 1999, o PRONAF foi incorporado ao Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA),que criou em suas instâncias, uma secretaria própria para a agricultura familiar Secretariade Agricultura Familiar (SAF). Em relação ao público beneficiário, o programa divide-se em

quatro grupos ou tipos de agricultores familiares: Grupo A – assentados pelo programa dereforma agrária; Grupo B – agricultores com baixa produção e pouco potencial de respostaprodutiva; Grupo C – agricultores com exploração intermediária, mas com potencial deresposta produtiva; Grupo D – agricultores estabilizados economicamente. Além dessesgrupos, pode-se dizer que o programa ainda se encontra em construção e outros grupos ousubgrupos têm sido criados, como o Grupo E, e outras linhas de financiamentos destinadosà mulher e ao jovem. Os financiamentos do PRONAF têm crescido bastante no contextobrasileiro tanto para custeio quanto para investimento no atendimento das demandas regionaisconforme a distribuição na tabela 1.

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Aula 10  Geografia Agrária150

Tabela 1 – Valor financiado pelo PRONAF segundo finalidade do financiamento por região brasileira – 2006.

Brasil e GrandesRegiões

Custeio Investimento Total

EmR$ milhões

Em %Em

R$ milhõesEm %

EmR$ milhões

Em %

Norte 156,8 4,3 405,9 11,4 562,7 7,9

Nordeste 385,3 10,7 1.478,9 41,6 1.864,2 26,0

Sudeste 863,8 23,9 526,9 14,8 1.390,7 19,4

Sul 1.989,7 55,2 930,5 26,1 2.920,2 40,8

Centro- Oeste 211,8 5,9 216,5 6,1 428,3 6,0

BRASIL 3.607,4 100,0 3.558,7 100,0 7.166,1 100,0

Fonte: IBGE (2008).

Em relação à mão-de-obra empregada, há uma divergência entre as instituições públicase sindicais, no que se refere ao trabalho permanente utilizado na agricultura familiar, uma

vez que, segundo a FAO e o INCRA, a agricultura familiar apresenta apenas um empregadopermanente. Para o PRONAF, a agricultura familiar é a aquela que apresenta até doisempregados permanentes, cultivando área inferior a quatro módulos rurais. Por fim, para aConfederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (CONTAG), a agricultura familiar não contrataforça de trabalho permanente, e se realiza em menos de quatro módulos rurais. Na agriculturafamiliar, a diversidade e a desigualdade na distribuição dos estabelecimentos, como tambéma heterogeneidade da produção, caracterizam o desenvolvimento do setor. A Secretaria deAgricultura Familiar, criada pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário, separa os agricultoresfamiliares em três grupos:

a) os que estão integrados ao mercado, classificados como capitalizados;

b) os descapitalizados ou em fase de transição, que possuem algum nível de produção parao mercado;

c) os assalariados agrícolas e não-agrícolas, que moram no campo e têm quase todaprodução agropecuária voltada ao autoconsumo.

Segundo pesquisa do Ministério de Desenvolvimento Agrário, o primeiro grupo responde

por 71% do valor da produção familiar, representando cerca de 800.000 estabelecimentos;o segundo é responsável por 19% do valor da produção familiar, formado por 1.400.000estabelecimentos e o último produz 10% do valor da produção familiar e corresponde à cercade 1.900.000 estabelecimentos, o que significa dizer que a maioria dos agricultores não estáinserida no mercado e que sua produção é para suprir as suas necessidades.

Os estudos da FAO/INCRA, em 1995/6, revelam que 85,2% dos estabelecimentospertencem a agricultores familiares, que ocupavam uma área equivalente a 30,5% da áreatotal do campo, recebiam 25% do crédito destinado à agricultura e respondiam por 37,9%

Módulo rural

É uma unidade de medida

equivalente à área

necessária para suprir

a subsistência de uma

família. Essa unidade de

medida é determinada

pela interdependência

entre a dimensão, situação

geográfica dos imóveis

rurais, forma e condição

de seu aproveitamento.

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Atividade

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Aula 10  Geografia Agrária 151

do valor bruto da produção agropecuária no país. Esses dados indicam que certos fatores,principalmente no que se refere ao esforço familiar, permitiram aos agricultores a superaçãodas barreiras e problemas estruturais na geração de renda e na produção de alimentos e dematérias-primas. O mesmo estudo também registra a expulsão de mais de um milhão detrabalhadores, no período compreendido entre 1985 a 1995, que se traduz em conflitos agráriose tensão social no campo e nas cidades. A partir desse estudo, pode-se afirmar que a agricultura

brasileira está assentada em dois modelos de produção agrícola: o patronal e o familiar.

Nesse sentido, podemos ressaltar a importância da agricultura patronal, que geradivisas para nosso país essenciais na balança de pagamentos, mas é preciso desmitificare desmascarar o mito segundo o qual os grandes produtores são os responsáveis pelamaior parte da produção agrícola. Mito que tem levado a escolha de políticas públicasvoltadas para os grandes proprietários, os CAIS, as agroindústrias, crédito, assistênciatécnica, preço mínimo entre outros. Dessa forma, esse modelo de política está ligado àsoligarquias regionais ao invés de se ligar aos pequenos agricultores, provocando o êxodorural e conflitos no campo. O mito de que a agricultura patronal é mais adequada, sendo

responsável pela maior parte da produção de alimentos e viável economicamente nãocorresponde à realidade, pois os dados têm mostrado que 80% da produção total agrícolaé produzida pelos pequenos e médios produtores (OLIVEIRA, 2002). O Brasil é o país queapresenta maior concentração de renda do mundo, em todos os setores da economia, porisso é fundamental uma reforma agrária mais ampla amparada por uma política agrícolaeficaz, principalmente para a agricultura familiar.

Analise a tabela a seguir e faça uma relação com a trajetória do PRONAF e aagricultura familiar

Tabela 2 – Evolução dos municípios atendidos pelo PRONAF Brasil 2002/2002 – 2006/2007.

Ano Agrícola Municípios com crédito2001/2002 4.640

2002/2003 4.867

2003/2004 5.227

2004/2005 5.342

2005/2006 5.362

2006/2007 5.387

Fonte: IBGE (2008).

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2

Aula 10  Geografia Agrária152

Leia o fragmento de texto abaixo, em seguida, responda:

Agricultura Familiar e Tecnologia no Brasil

Nos últimos anos, as medidas de política passaram a reconhecer a importância daimportância da agricultura familiar, principalmente por programas de crédito como o PRONAF.

Mas é preciso reconhecer que o crédito ajuda, mas não é tudo. Sem tecnologia o agricultorfamiliar não consegue manter-se competitivo, e não conseguirá sobreviver. Esta de fato é umadas prioridades da Embrapa. A questão que se coloca é de que tecnologia estamos falando.Existe uma tecnologia apropriada para agricultores familiares?

O estudo do perfil da agricultura familiar revela que uma diversidade tão grande desistemas produtivos, de estratégias de produção e sobrevivência, de condições estruturais edisponibilidade de recursos que seria impossível pensar em desenvolver tecnologias para osagricultores familiares. Além disso, os que pensam em tecnologia apropriada se esquecem quevivemos em um mundo no qual o ritmo das transformações sociais, econômicas e tecnológicas

é vertiginoso, e que a tecnologia apropriada de hoje será inútil amanhã, quando provavelmentecomeçar a ser difundida entre os agricultores.

No Brasil os agricultores familiares, mesmo os que podem ser economicamente viáveis,enfrentam a restrição do tamanho da propriedade. Neste sentido, tecnologia apropriada paraos agricultores familiares são aquelas que permitem a intensificação da geração de valoragregado em pequenas áreas, a redução da restrição colocada pela disponibilidade de mão-de-obra familiar e a exploração das vantagens organizacionais associadas à base familiar. Istodá sentido à idéia de tecnologia para agricultura familiar. Em grande medida, essa tecnologia jáexiste, não requer maior esforço de pesquisa, e precisa apenas ser adaptada e disponibilizada.

Ao lado do esforço de adaptação é preciso reconhecer que a agricultura familiarnão pode ficar fora dos avanços que vêm sendo desenvolvidos pelas redes de pesquisa,incluindo a biotecnologia (transgênicos), a informática e os novos processos de gestão emonitoramento da produção, como por exemplo o controle da florescimento e maturação defrutos, micro irrigação etc. Deve incluir também pesquisas e medidas de política que reduzamos custos da agricultura orgânica e incentivem a indústria rural. Não se trata, portanto, dedefender a existência de um processo espontâneo e menos ainda baseado unicamente emconhecimentos seculares de agricultores sábios, transmitindo conhecimentos de pai para

filho em comunidades rurais isoladas.A apologia de formas precárias de organização, eqüitativas na pobreza, soaria romântica se

não levasse a resultados desastrosos. Insistir na produção familiar de milho, feijão e mandiocacom base na tradição alimentar de nosso povo é ignorar, antes de mais nada, as mudanças noshábitos alimentares da população, e subestimar os impactos decorrentes do avanço realizadopela pesquisa agrícola. É muito provável que a tentativa de impor “filtros tecnológicos” tenhacomo primeira vítima a própria agricultura familiar.

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Resumo

Aula 10  Geografia Agrária 153

A preocupação legítima com a agricultura familiar tem custos e demanda investimentospúblicos em pesquisa; em programas de capacitação em gestão da produção e de negócios(“empreendedorismo no campo”); no apoio às formas de organização que melhor aproveitamsuas vantagens em explorar novos mercados de produtos e serviços, agrícolas e não-agrícolas;e na provisão de recursos para formação de capacidade produtiva. Aí sim a experiência dos ex-agricultores familiares bem sucedidos que estão espalhados pelo Brasil poderá se multiplicar.

Fonte: adaptado de: Buanain e Silveira (2003, extraído da Internet).

a) Quais são as medidas necessárias para o pleno desenvolvimento da agricultura familiar?

b) Quais os tipos de tecnologias devem ser desenvolvidos para o segmento da agriculturafamiliar?

c) Pesquise e relate em um pequeno texto a respeito da situação da agricultura familiar emseu município.

Leitura complementarOLIVEIRA, Ariovaldo. Umbelino. de. O campo brasileiro no final dos anos de 1980. In: STÉDILE,João Pedro (Org.). A questão agrária hoje. 3. ed. Porto Alegra: UFRGS, 2002. 322 p.

O livro reúne uma série de textos que buscam elementos de (re)leitura da questão agrária,sendo assim uma referência importante para a reformulação e entendimento das políticas dedesenvolvimento.

Você estudou nesta aula a respeito das políticas agrícolas brasileiras e suaimportância. Nesse contexto, você viu a questão conceitual sobre a agriculturafamiliar e as políticas agrícolas mais recentes em que se destaca o desenvolvimentodo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e suasrepercussões socioterritoriais.

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Aula 10  Geografia Agrária154

AutoavaliaçãoCom base em tudo o que foi discutido nesta aula, responda às seguintes questões.

a) A concentração de renda brasileira é uma das maiores do mundo, assim

como a concentração de terras. Elabore um texto enfatizando a importânciade uma política pública agrícola para combater ou reverter esse quadro.

b) Qual o papel do estado nas políticas agrícolas no Brasil? Analisehistoricamente as políticas agrícolas implementadas pelo Estado brasileiro.

c) Cite os conceitos de agricultura familiar.

d) Qual a relação do PRONAF com o desenvolvimento da agricultura familiarbrasileira?

ReferênciasANDRADE, Manuel Correia de. Agricultura e capitalismo. São Paulo: Ciências Humanas,1979. 115 p.

BUANIN, Antonio Márcio; SILVEIRA, José Maria da. Agricultura familiar e tecnologia no Brasil.Jornal da Unicamp, ed. 217, jun. 2003. Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/ unicamp_hoje/ju/junho2003/ju217pg02.html>. Acesso em: 29 out. 2009.

CARNEIRO, Maria José. Agricultura familiar e pluriatividade: tipologias e políticas. In: COSTA,L. F. Carvalho; BRUNO, Regina; MOREIRA; J. Roberto (Org.). Mundo rural e tempo presente.Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p. 325-344.

IBGE. PNAD. NEAD. Estatísticas do Meio Rural. 2008.

OLIVEIRA, A. U. de. O campo brasileiro no final dos anos de 1980. In: STÉDILE, João Pedro

(Org.). A questão agrária hoje. 3. ed. Porto Alegra: UFRGS, 2002. 322 p.

WANDERLEY, Maria Nazaré Baudel. A Agricultura familiar no Brasil: um espaço em construção.Revista Reforma Agrária, [S.l.], n. 2/3, p. 37-57, mai./dez. 1995. (Agricultura familiar).

_______. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In: TEDESCO, João Carlos. (Org.).Agricultura familiar: realidades e perspectivas. 2. ed. Passo Fundo: EDIUPF, 1999. p. 21-55.

______. Agricultura familiar e campesinato: continuidades e rupturas. Revista Estudos

sociedade e agricultura, CPDA, n. 21, 2003.

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Anotações

Aula 10  Geografia Agrária 155

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Anotações

Aula 10  Geografia Agrária156

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Agricultura e energia

11Aula

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12

3

Aula 11  Geografia Agrária 159

Apresentação

N

esta aula, você estudará as políticas energéticas e sua relação com a agricultura. Verá tambémo Proálcool e suas novas perspectivas que se inserem na política do biodiesel implantadarecentemente no Brasil. Além disso, analisaremos o Programa Nacional de Produção e Uso

de Biodiesel – PNPB, suas perspectivas e efetivação tanto nos segmentos da agroindústria como daagricultura familiar. Destaca-se também o panorama atual do biodiesel no Brasil.

Objetivos

Conhecer as políticas energéticas e sua relação com a agricultura.

Compreender a necessidade e desenvolvimento de fontes de energiaalternativas consorciadas com a indústria e com a agricultura.

Analisar as perspectivas e os desafios dos biocombustíveis e suarelação com a agricultura familiar.

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Aula 11  Geografia Agrária160

Agricultura e energiaOs problemas ambientais globais estão diretamente ligados à matriz energética vigente,

provenientes dos combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo) têm produzido consequênciasgraves à dinâmica ambiental planetária, como o aumento da temperatura, poluição hidrológica,

poluição pedológica, poluição atmosférica, destruição da fauna e flora, etc. Este cenárioapresenta várias possibilidades e necessidades de pensarmos uma nova matriz energéticaestruturada e planejada em bases sustentável e viável socialmente, economicamente eambientalmente. Nesse sentido, a produção de biocombustíveis a partir de produtos agrícolas,tem sido apontada como uma das alternativas para reduzir a devastação ambiental.

Deste modo, é preciso uma política agrícola que insira a produção dos biocombustíveisno viés da sustentabilidade para não repetirmos os mesmo problemas causados pelas medidaspolíticas como a do Proálcool, criado durante o governo militar. Com isso, traçaremos umbreve retrospecto do Proálcool e de suas novas perspectivas que se inserem na política doBiodiesel implantada recentemente no Brasil.

O ProálcoolO Programa Nacional do Álcool foi criado em 1975, na ditadura militar, durante o governo

Ernesto Geisel para diminuir importação de combustíveis (gasolina, óleo diesel). Entretanto, oprojeto do Proálcool recebeu muitas críticas pelos diversos setores da sociedade como a queenfatiza que o álcool produzido só foi utilizado para substituir a gasolina, em vez de substituiro óleo diesel usado pelos transportes coletivos e de carga, uma vez que o óleo diesel é muitomais poluente que a gasolina. Outra critica bastante contundente, é a de que o Proálcool nãoincluiu os pequenos agricultores e apenas os grandes proprietários ligados às oligarquias regionais. Desse modo, esse projeto contribuiu na ampliação e concentração de terras, aindacontribuiu para a extinção de varias áreas de produtos de subsistência como o feijão, mandioca,milho etc. Nesse contexto, também podemos destacar as questões ambientais, que segundoespecialistas, a queimada efetivada nas lavouras de cana-de-açúcar provoca emissão de gasescomo CO 2, metano entre outros. Tais gases emitidos provocam danos à saúde humana,principalmente problemas respiratórios e outras consequências como empobrecimento dossolos, poluição dos corpos d’água causada pelo vinhoto que é despejado nos rios in naturapelas agroindústrias, exterminando várias espécies lacustres. Além dos fatores citados,destaca-se a exploração do trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar.

Apesar dos problemas citados, no momento atual, o país vive um grande crescimentoda produção dos canaviais na tentativa de criar uma fonte alternativa de energia. O plantio

Biodiesel

Bicombustívelderivado de biomassa

renovável para uso em

motores a combustãointerna com igniçãopor compressão ou,

conforme regulamentopara geração de

outro tipo de energia,que possa substituirparcial ou totalmente

combustíveis de origemfóssil. (Lei n. 11.097, de

13 de setembrode 2005).

Oligarquia

Significa,literalmente, governo de

poucos. As oligarquiassão grupos sociais

que detêm o domínioda cultura, da políticae da economia de um

país, e que exercemesse domínio no

atendimento de seus

próprios interessese em detrimento dasnecessidades dasmassas populares

(Fonte: http:// pt.wikipedia.org/wiki/ 

Oligarquia)

Vinhoto

É o resíduopastoso e malcheiroso

que sobra após a

destilação fracionada docaldo de cana-de-açúcar(garapa) fermentado,

para a obtenção doetanol (álcool etílico).

EspéciesLacustres

Seres que vivemem águas doces de

lagos e lagoas.

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    T   o   n   e    l   a    d   a   s   p   o   r        h     a

    M    i    l    h   õ   e   s    d   e

        h     a

Evolução da área e produtividade de cana-de-açúcar − BrasilRendimento

Área Plantada

Área Colhida

0

1

2

3

4

56

7

8

9

10 90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

    1    9   7   5

    1    9   7    6

    1    9   7   7

    1    9   7    8

    1    9   7    9

    1    9    8    0

    1    9    8    1

    1    9    8    2

    1    9    8    3

    1    9    8    4

    1    9    8   5

    1    9    8    6

    1    9    8   7

    1    9    8    8

    1    9    8    9

    1    9    9    0

    1    9    9    1

    1    9    9    2

    1    9    9    3

    1    9    9    4

    1    9    9   5

    1    9    9    6

    1    9    9   7

    1    9    9    8

    1    9    9    9

    2    0    0    0

    2    0    0    1

    2    0    0    2

    2    0    0    3

    2    0    0    4

    2    0    0   5

    2    0    0    6

    2    0    0   7

    2    0    0    8

    M    i    l    h   õ   e   s    d   e   m

         3

Evolução da produção brasileira de álcool.

30

25

20

1510

5

    1    9    4    9    /   5    0

    1    9    4    8    /    4    9

    1    9   5    0    /   5    1

    1    9   5    1    /   5    2

    1    9   5    2    /   5    3

    1    9   5    3    /   5    4

    1    9   5    4    /   5   5

    1    9   5   5    /   5    6

    1    9   5    6    /   5   7

    1    9   5   7    /   5    8

    1    9   5    8    /   5    9

    1    9   5    9    /    6    0

    1    9    6    0    /    6    1

    1    9    6    1    /    6    2

    1    9    6    2    /    6    3

    1    9    6    3    /    6    4

    1    9    6    4    /    6   5

    1    9    6   5    /    6    6

    1    9    6    6    /    6   7

    1    9    6   7    /    6    8

    1    9    6    8    /    6    9

    1    9    6    9    /   7    0

    1    9   7    0    /   7    1

    1    9   7    1    /   7    2

    1    9   7    2    /   7    3

    1    9   7    3    /   7    4

    1    9   7    4    /   7   5

    1    9   7   5    /   7    6

    1    9   7    6    /   7   7

    1    9   7   7    /   7    8

    1    9   7    8    /   7    9

    1    9   7    9    /    8    0

    1    9    8    0    /    8    1

    1    9    8    1    /    8    2

    1    9    8    2    /    8    3

    1    9    8    3    /    8    4

    1    9    8    4    /    8   5

    1    9    8   5    /    8    6

    1    9    8    6    /    8   7

    1    9    8   7    /    8    8

    1    9    8    8    /    8    9

    1    9    8    9    /    9    0

    1    9    9    0    /    9    1

    1    9    9    1    /    9    2

    1    9    9    2    /    9    3

    1    9    9    3    /    9    4

    1    9    9    4    /    9   5

    1    9    9   5    /    9    6

    1    9    9    6    /    9   7

    1    9    9   7    /    9    8

    1    9    9    8    /    9    9

    1    9    9    9    /    0    0

    2    0    0    0    /    0    1

    2    0    0    1    /    0    2

    2    0    0    2    /    0    3

    2    0    0    3    /    0    4

    2    0    0    4    /    0   5

    2    0    0   5    /    0    6

    2    0    0    6    /    0   7

    2    0    0   7    /    0    8

    2    0    0    8    /    0    9

Aula 11  Geografia Agrária 161

avança nas grandes regiões brasileiras e não apenas em áreas tradicionais. Ao contrário do queocorreu nos anos 1970, quando o governo encontrou no álcool a solução para enfrentar a crisedo petróleo. A produção de açúcar é um segmento de iniciativa privada, segmento esse queacredita que o álcool assumirá papel relevante na questão energética no Brasil. Desse modo,as perspectivas de elevação do consumo do álcool se somam a um momento favorável para oaumento das exportações do açúcar, e o resultado é o início de uma onda de crescimento sem

precedentes para o setor sucroalcooleiro conforme gráficos 1 e 2 que seguem:

Gráfico 1 – Evolução da área e produtividade da cana-de-açúcar brasileira

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.

Gráfico 2 – Evolução da produção brasileira de álcool

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.

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Algodão

Amendoim

Dendê

Girassol

Mamona

Pinhãomanso

Soja

MT, GOMS, BA eMA

SP

BA e PA

GO, MS,SP, RS e PR

Nordeste

Nordeste eMG

MT, PR, RS,GO, MS,

MG e SP

15

40 a 43

20

28 a 48

43 a 45

50 a 52

17

0,86 a 1,4

1,5 a 2

15 a 25

1,5 a 2

0,5 a 1,5

2 a 12

2 a 3

0,1 a 0,2

0,6 a 0,8

3 a 6

0,5 a 0,9

0,5 a 0,9

1 a 6

0,2 a 0,4

Anual

Anual

Perene

Anual

Anual

Perene

Anual

Mecanizada

MecanizadaIntensivaMO

Mecanizada

IntensivaMOIntensivaMO

Mecanizada

EspécieProdutividade(toneladas/ ha )

Porcentagemde óleo

Ciclode vida

Regiõesprodutoras

Tipo decultura

Rendimento(toneladaóleo/ ha )

Aula 11  Geografia Agrária162

O biodieselO biodiesel no Brasil passou a ser estudado na década de 1920 e ganhou destaque nos

anos de 1970 com a criação do Pró-óleo – Plano de Produção de Óleos Vegetais para FinsEnergéticos, que surgiu no início da primeira crise do petróleo. Nos anos de 1980, passou para

Programa Nacional de Óleos Vegetais para Fins Energéticos, que visava substituir até 30% do óleo diesel, apoiado na produção de soja, amendoim, colza e girassol. No entanto, esseprograma sofreu uma desaceleração devido à estabilização do preço do petróleo, a entrada doProálcool e os altos custos na produção e processamento das oleaginosas.

As pesquisas e uso do biodiesel retornam ao cenário recente devido à necessidadede buscar uma nova matriz energética, pois as questões ambientais colocam em xeque asustentabilidade do padrão atual.

Na produção do biodiesel podem ser utilizadas várias matérias-primas, dentre as

principais matérias utilizadas para produção do biodiesel estão oleaginosas como o algodão, oamendoim, o dendê, o girassol, a mamona, o pinhão manso e a soja. São também consideradasmatérias-primas para biocombustíveis os óleos de descarte, as gorduras animais e os óleos jáutilizados em frituras de alimentos. As oleaginosas apresentam características específicas deacordo com o solo, o clima e as tecnologias utilizadas. No quadro abaixo, podemos visualizaralgumas características de acordo com as regiões produtoras.

Quadro 1 – Caracterização das principais oleaginosas com potencial para produção de biodiesel no Brasil

Fonte: adaptada de Meirelles (2003 apud BIODIESEL..., 2007, p.30).

Colza

É uma planta,cujas sementes se

extraem o azeitede colza, utilizando

também na produçãode biodiesel.

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Aula 11  Geografia Agrária 163

Figura 1 – Potencialidade brasileira para produção de oleaginosas

Fonte: adaptada de Meirelles e Zoneamento de risco climático, MAPA (2003 apud SEBRAE, 2007, p.31).

Em 2002, o Governo Federal lançou o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel(PNPB), cujo objetivo principal em termos técnicos (econômico e ambiental) é obter umaprodução sustentável e seu uso no mercado brasileiro. Como objetivo específico a inclusão sociale o desenvolvimento regional direcionado para agricultura familiar. Para alcançar esses objetivosesta política terá vários ministérios trabalhando em sintonia, além de suas autarquias federais.

O etanol produzido através da cana-de-açúcar pode ser uma das alternativas para adiminuição da emissão de gases e partículas que comprometem o geossistema planetário e asaúde humana. A cana-de-açúcar sempre foi e, ainda, continua sendo um produto importantepara o Brasil, desde o processo de colonização de exploração implantada pelos países europeus

(Portugal, Holanda, Inglaterra).Atualmente, a cana-de-açúcar tem suscitado debates calorosos a respeito do seu

uso como combustível potencial para enfrentarmos a crise ambiental e social que assola asociedade mundial, e, em especifico, a sociedade brasileira. Com isso, aliado a políticas deincentivo nota-se o crescimento da produção de cana-de-açúcar ao longo dos últimos anosconforme gráfico 1.

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Atividade 1

1

2

Aula 11  Geografia Agrária164

No período da ditadura militar, nos anos de 1975, foi implantado o Proálcool com o intuitode tornar o país independente na produção de energia, projeto que não teve grande sucesso,mas deixou um legado tecnológico considerável. Claro que este projeto intensificou a crise nocampo brasileiro, devido à política governamental, priorizando os grandes latifundiários emdetrimento da valorização do pequeno agricultor.

Quais são os objetivos do Proálcool e o do PNB?

Destaque os principais impactos socioambientais provocadospelo Proálcool.

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Aula 11  Geografia Agrária 165

Programa Nacional de Produçãoe Uso de Biodiesel – PNPB

O Governo Federal para atingir os objetivos propostos pelo Programa Nacional deProdução e Uso do Biodiesel integrado à agricultura familiar utilizará alguns instrumentos,dentre esses destacam-se:

  a criação de mercado compulsório;

  a isenção fiscal total ou parcial de tributos federais;

  padronização do ICMS;

  subsídios financeiros e etc.

Além desses instrumentos, o governo criou uma legislação específica para dar suportee segurança jurídica ao projeto e garantir a demanda da parte do biodiesel produzido no país,independente do custo de produção e de transação. Além disso, o governo federal determinouum prazo para introdução do biodiesel no mercado brasileiro; prazo que inicia em 2008 e vaiaté 2012. Nesse intervalo de tempo, será obrigatório o uso de 2% do biodiesel ao óleo diesel ea partir de 2013 será obrigatório o uso de 5%. Outra medida anunciada pelo governo se dá noâmbito fiscal, a criação da Lei n.116/2005 que dispõem sobre a desoneração total ou parcialdos tributos federais sobre o biodiesel (PIS, PASEP E COFINS). A proposta inicial de isençãodo governo resume-se conforme a tabela abaixo:

Tabela 1 – Isenção fiscal para a produção de oleaginosas

REDUÇÃO MATÉRIA-PRIMA SETORES E REGIÃO DESTINADA

31% Palma e mamona Agronegócio nas regiões norte, nordeste e semi-árido

68% Qualquer Oleaginosas Todas as regiões brasileiras

100% Palma e mamona Regiões norte, nordeste e semiárido.

Fonte: adaptado de Garcia Junior e Romeiro (2009, p. 64).

Em relação à tributação estadual o governo estabeleceu uma alíquota de 12% para o ICMS(Imposto sobre circulação de Mercadorias e Serviços) em todo o território brasileiro. No quese refere à agricultura, o MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) criou instrumentospara o financiamento da produção de oleaginosas as quais foram inseridas ao PRONAF(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) que se subdivide em: PRONAFbiodiesel, PRONAF agroindústria, PRONAF infraestrutura e por último o PRONAF diversificação,capacitação, assistência técnica e extensão rural, inovação e insumos. Além dessas medidas, ogovernou criou o Programa Financeiro a Investimentos em Biodiesel para grandes investidores,

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O biodiesel pode ser a soluçãopara o isolamento energético deregiões longínquas na Amazônia,onde gasta-se normalmente atéo equivalente a 3 litros de diesel

para transportar 1 litro.

Associado a um programa deassentamentos sustentáveis,

possibilita a geração de emprego erenda para a população rural,

através da ricinocultura.

O biodiesel ajuda amelhorar a qualidadede vida nos grandes

centros urbanos. Assimcomo no Sul, a soja

parece ser a oleginosade maior potencial.

Cerca de 50% dos transportesde carga são feitos por

rodovias. Com o biodiesel,essa atividade pode tornar-se

mais barata e ecológica.

Com a queda do consumo deóleos de soja, a produção debiodiesel pode equailizar osdéficits do óleo de soja nosmercados convencionais.

NORTE   NORDESTE

CENTRO-OESTE

SUL

SUDESTE

Aula 11  Geografia Agrária166

Figura 2 – Benefícios do Biodiesel

Fonte: <http://www.petrobio.com.br/images/mapa.gif>. Acesso em: 22 out. 2009.

no qual será financiado pelo BNDES e, também, criou o selo combustível social que seráconcedido pelo MDA aos produtores agroindustriais de biodiesel.

O PNPB tem gerado amplo debate na agricultura brasileira se constituindo tema relevanteda economia. No entanto, cabe destacar que o projeto tem sido alvo de diversas críticasem que podemos citar alguns fatores positivos e fragilidades. Entre os fatores positivos,considera-se que o projeto é viável socioeconomicamente e ambientalmente e, ainda, inserea agricultura familiar ao agronegócio, possibilitando novas relações entre o setor industriale os produtores familiares. No que se refere às fragilidades, destaca-se a ausência de umapolítica especifica de apoio a organização da produção ligada a agricultura familiar (GARCIA;ROMEIRO, 2009). Portanto, o PNPB abre oportunidades tanto para o setor agrícola comopara o setor industrial e há também possibilidades de abertura de novos mercados em escalalocal e global, tanto em bens quanto em tecnologias, pois o Brasil é pioneiro no setor debiocombustíveis. No país são apontados diversos benefícios com a produção de biodiesel,conforme podemos visualizar na figura abaixo:

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Atividade 2

12

Aula 11  Geografia Agrária 167

Escreva uma análise sobre a política do Proálcool e dos Biocombustíveis.

Descreva as vantagens e desvantagens da atual política do biodiesel.

Panorama atualdo biodiesel no Brasil

A produção de biodiesel ainda é incipiente no Brasil quando comparada a outros países,mas as políticas ligadas ao biocombustível têm sido bastante estimuladas financeiramentecom várias linhas de crédito, tanto para o setor industrial quanto para a agricultura familiar.

Um problema do biodiesel é garantir sua competitividade perante o óleo diesel de petróleo,tendo em vista os elevados custos de produção do biocombustível. O Ministério da Agriculturaaponta que as atuais tecnologias de fabricação de bioenergia ainda dependem muito da cotaçãodo barril de petróleo. Exceto pelo caso do álcool, outros biocombustíveis só devem se viabilizarse os preços internacionais do petróleo se mantiverem altos. No Brasil, uma das principaisvantagens competitivas em relação a outros países é a perspectiva de incorporação de áreas à

agricultura de energia sem competição com a agricultura de alimentos, além da possibilidadede múltiplos cultivos no mesmo ano.

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Resumo

Aula 11  Geografia Agrária168

AutoavaliaçãoCom base em tudo o que foi discutido nesta aula, responda às seguintes questões:

a) Quais foram os benefícios e fragilidades do Proálcool desenvolvido durante o governo

militar? Quais são as perspectivas atuais do programa?

b) Em que consiste o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel – PNPB? Qual é arelação do programa com a agricultura familiar e a questões ambientais?

c) Qual é relação entre o desenvolvimento energético no Brasil e o desenvolvimento daagricultura?

Nesta aula, você estudou a questão energética e sua relação com a agricultura,destacando-se as políticas energéticas do Proálcool e do Programa Nacionalde Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). Nesse sentido, foram discutidas asperspectivas e os desafios da política do biodiesel e sua efetivação nos segmentosda agroindústria e da agricultura familiar. O panorama atual do biodiesel no Brasiltambém foi destacado.

Leitura complementarGARCIA JUNIOR, Ruiz; ROMEIRO Ademar Ribeiro. Governança da cadeia produtiva do biodieselbrasileiro. Revista de Política Agrícola, ano XVIII, n. 1, jan./mar. 2009.

O texto trata de questões atuais sobre as políticas desenvolvidas para o biodiesel brasileiro,evidenciando as potencialidades e fragilidades da agricultura em relação ao desenvolvimentodo setor energético.

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Anotações

Aula 11  Geografia Agrária 169

ReferênciasBRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Anuário estatísticoda agroenergia. Brasília, DF, 2009. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/>. Acessoem: 22 out. 2009.

GARCIA JUNIOR, Ruiz; ROMEIRO Ademar Ribeiro. Governança da cadeia produtiva do biodieselbrasileiro. Revista de Política Agrícola, ano XVIII, n. 1, jan./mar. 2009.

SEBRAE. Biodiesel. Brasília, 2007. Disponível em: <http://www.biodiesel.gov.br/docs/Cartilha_Sebrae.pdf>. Acesso em: 22 out. 2009.

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Anotações

Aula 11  Geografia Agrária170

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Agricultura e trabalho

12Aula

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1

2

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Aula 12  Geografia Agrária 173

ApresentaçãoNesta aula, estudaremos as relações de trabalho no campo. Para tanto, faremos um

breve histórico do trabalho rural no Brasil e, em seguida, destacaremos as relações de trabalhopropriamente ditas. Veremos, também, as relações de gênero e a participação da mulher no

trabalho agrícola.

ObjetivosEntender as relações de trabalho no campo brasileiro.

Conhecer a organização da produção brasileira nocontexto das relações de trabalho no campo.

Analisar a participação da mulher no trabalho agrícola.

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Aula 12  Geografia Agrária174

Retrospecto do

trabalho rural no BrasilAtualmente, vimos que o trabalho humano é fruto de várias transformações que o mundo

passou no último século, esse é fruto das relações econômicas, sociais e políticas.

O mundo rural não é mais um espaço isolado sobre o qual se desenvolve um conjunto deatividades agropecuárias. O isolamento não mais existe, pelo menos em grande parte do territórionacional. Estamos caminhando em direção a uma sociedade de forte complementaridadeurbano-rural. Nesse contexto, torna-se interessante resgatarmos um pouco da história do

trabalho rural no país para compreendermos quem são os atores responsáveis por importanteparte da riqueza gerada no campo brasileiro.

O tipo de colonização que foi empregada no país marcou profundamente as relaçõesde trabalho, os colonizadores vieram com o objetivo de enriquecimento rápido à custa daexploração dos recursos naturais e do trabalho (inicialmente indígena e, no segundo momento,escravo africano).

O Brasil colônia foi marcado pela grande propriedade, pela monocultura de exportação eo trabalho escravo. Nesse contexto, outras formas de exploração da natureza como a pecuária

extensiva e as pequenas lavouras constituíram-se como atividades marginais, subordinadas aeconomia colonial que originaram a agricultura familiar de subsistência.

Nas ultimas décadas do século XX, constituí-se o mercado de trabalho brasileiro capitalistaformado por trabalhadores livres, trabalhadores escravos recém libertos e imigrantes europeus.A mão de obra imigrante foi importante e permitiu o desenvolvimento da cafeicultura e deoutras atividades agrícolas e não-agrícolas.

Atualmente, temos diferentes relações de trabalho no campo e caracterizaremos asrelações mais significativas que se dão no campo brasileiro.

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Aula 12  Geografia Agrária 175

Relações de trabalhono campo brasileiro

Segundo Oliveira (2002), as relações de trabalho no campo brasileiro têm caráterdual e contraditório. Essas relações estão pautadas em características capitalistas (trabalhoassalariado) e não-capitalistas (parceria, trabalho familiar camponês etc). Este carátercontraditório e dual do capitalismo é essencial para sua produção e reprodução, pois oscapitalistas passam a não investir capital na contratação de mão de obra remunerada, ou seja,trabalho assalariado utilizado em suas propriedades e nas áreas de expansão agrícola. Dessamaneira, os capitalistas passam utilizar relações de trabalho não-capitalistas para acumularcapital, como exemplo, podemos citar a parceria e o arrendamento. Essas duas formas detrabalho são muito utilizadas nas áreas de fronteira.

Na prática, o capitalista do grande proprietário contrata alguns parceiros para desmatarparte de suas terras, recebendo pelo trabalho parte da madeira retirada e o direito de cultivar aterra por dois a três anos e, logo depois, semeia capim para seu rebanho. Esse tipo de relaçãopermite que o capitalista adquira capital sem utilizar relações de trabalho essencialmentecapitalista como pontua Oliveira (2002, p. 48):

[...] o processo de desenvolvimento desigual e contraditório do capitalismo particularmenteno campo é que estamos diante da sujeição da renda da terra ao capital o que significadizer que o capital não expande de forma absoluta o trabalho assalariado sua relação detrabalho típica, por todo canto e lugar, destruindo de forma total e absoluta o trabalhofamiliar camponês. Ao contrário, ele o capital, o cria e recria para que sua reprodução

seja possível, e com ela possa haver também o aumento, a criação de mais capitalista.

Portanto, o desenvolvimento capitalista no campo brasileiro é movido por suascontradições. Esse, portanto, é essencialmente contraditório e desigual, significando dizerque para que seu desenvolvimento seja possível ele tem que aparentar aspectos contraditóriospara sua reprodução.

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Aula 12  Geografia Agrária176

A transformação dosagricultores em capitalistas

A transformação dos agricultores em capitalistas do campo teve início na fase docapitalismo comercial (mercantilismo). Cabe ressaltar que esse processo continua a existirdesde seus primórdios, através das tecnologias ligadas ao campo (máquina, fertilizantes,sementes selecionadas, agrotóxicos, transportes e etc.) essas tecnologias estão à disposiçãodas famílias, criando possibilidade para aumentar sua produção gerando um excedente. Esseexcedente será vendido, aumentando a renda dos trabalhadores do campo. Tal fato permitiráque os trabalhadores adquiram mais novas tecnologias, produzam mais, acumulem mais.Esse processo permite que os agricultores, que antes produziam apenas sua subsistência,empreguem trabalhadores assalariados em suas terras. Nesse caso, as famílias passama exercer outras funções, não essencialmente agrícolas na administração dos bens,

comercialização dos produtos, tornando-se assim, capitalistas.

A organização da produção daagricultura brasileira e relações de trabalho

Na organização da produção da agricultura, podemos evidenciar 4 relações que sedestacam na literatura brasileira em relação ao trabalho no campo, são elas: o latifúndio, a

unidade familiar produtora de mercadorias, a unidade familiar de subsistência e a empresa

agropecuária capitalista, incluindo os complexos agroindustriais - CAIs.

1) O latifúndio – São grandes extensões de terra voltadas para a produção agrícola para omercado interno e, principalmente, para o externo. Nessas grandes propriedades, a forçade trabalho é diversificada classificando-as em: trabalho assalariado, parceiro, moradorou agregado, boia-fria ou diarista e o arrendatário.

a) Trabalhador assalariado – Trabalhador rural que recebe salário mensal em dinheiro paraprestar serviço nas propriedades. Este trabalhador pode possuir vínculo trabalhista.Relação de trabalho tipicamente capitalista.

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Aula 12  Geografia Agrária 177

b) Parceiro – Trabalhador que mediante um acordo realizado entre ele e o proprietário daterra utiliza a propriedade dividindo a produção com o dono da terra. As formas maisusuais são a meia, a terça, a quarta entre outros. Esse tipo de parceria predomina naslavouras temporárias.

c) Morador ou agregado – Trabalhador rural que vive em grandes propriedades com sua

família, produzindo para subsistência e prestando serviço para o proprietário da terra.

d) Boia-fria ou diarista – Trabalhador rural temporário assalariado, geralmente não possuivínculo empregatício.

e) Arrendatário – Trabalhador que aluga ou arrenda a terra de um proprietário mediantepagamento em dinheiro, prestação de serviço ou em mercadorias. Este se divide empequenos arrendatários que se assemelham aos parceiros, predominando o trabalhofamiliar e os grandes arrendatários que usam tecnologia, trabalho assalariado e grandesextensões de terras.

2) A unidade familiar produtora de mercadorias – A produção é realizada por pequenosproprietários e arrendatários, visando abastecer o mercado e prevalecendo o trabalhofamiliar. Entretanto, há eventual contratação de mão de obra complementar mediantesalários. Vale destacar que essas unidades passam por dificuldade devido à concorrênciada grande empresa capitalista. Em muitos casos para a sobrevivência da unidade utiliza-setrabalho infantil (conforme o gráfico 1) e feminino em jornadas exaustivas.

3) A unidade familiar de subsistência - Unidade característica por pequenos proprietários

ou minifundiários, pequenos arrendatários, parceiros, moradores ou agregados, posseiros.O trabalho empregado é familiar visando apenas à sobrevivência, ou seja, a supressão dasnecessidades básicas da unidade. Uma das características da unidade é a venda da forçade trabalho temporariamente para complementar a renda em lavouras temporárias nosgrandes plantios.

4) A empresa agropecuária capitalista incluindo os CAIs – A partir dos anos 1950/60,observa-se o processo de industrialização da agricultura brasileira. Nessa fase, aagricultura brasileira mecaniza-se e passa a fornecer matérias-primas para as indústrias.Nesse momento, verifica-se a passagem do complexo agrocomercial para o complexo

agroindustrial, ou seja, os CAIs que são implementados através de investimentosestrangeiros. As relações de trabalho capitalista expandem-se na agricultura e em outrossetores, estimulando mão de obra especializada não-agrícola como tratorista, técnicoagrícola, administrador, operador de máquinas etc.

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60,00

Distribuição das crianças de 10 a 14 anos que trabalham,segundo sua situação de domicílio

    P   e   r   c   e   n   t   u   a    l    (    %    )

Urbana Rural

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00

40,0%

15,0%

4,2%

40,8%

De 0 a 9 ha

De 10 a 99 ha

De 100 a 999 ha

De 1.000 ou mais

GRUPOS DE ÁREA

Aula 12  Geografia Agrária178

Gráfico 1 – Distribuição das crianças de 10 a 14 anos de idade por situação de ocupação e local de residência

Fonte: PNADS (1995). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/TRABIN1.HTM>. Acesso em: 22 out. 2009.

Na atualidade, a agricultura mundial encontra-se subordinada a agroindústria. Paraalguns especialistas, a agricultura tradicional está sendo substituída pela indústria. Os dadosapresentados pelos diversos estudos mostram que o pessoal ocupado na agricultura brasileiraconcentra-se nas propriedades de até 99 ha , conforme podemos observar no gráfico 2.

Gráfico 2 – Pessoal ocupado na agropecuária por grupo de área dos estabelecimentos

Fonte: IBGE (2004 apud MAGNOLI, 2005).

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Atividade 1

1

2

Aula 12  Geografia Agrária 179

Caracterize as relações de trabalho no campo brasileiro.

No seu município quais são as relações de produção da agricultura quemais se destacam entre as destacadas na aula? Caracterize as relaçõesde trabalho predominantes.

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Aula 12  Geografia Agrária180

Gênero e relaçõesde trabalho na agricultura

No meio rural, as desigualdades de gênero não se inscrevem num conjunto de outras

desigualdades sociais. As más condições de vida e de acesso à políticas públicas, principalmentenas regiões mais pobres do país, acentuam as desigualdades específicas de gênero. Nessesentido, embora afete todos os moradores das áreas rurais, a falta de infraestrutura atinge,em especial, as mulheres. Contudo, a participação da mulher no trabalho tem se acentuadoconforme podemos visualizar nas tabelas (01 e 02).

Tabela 1 – Indicadores de participação econômica de mulheres e homens.

Mulheres e homens no mercado de trabalho:indicadores de participação econômica – Brasil

Sexo e datas PEA (milhões) Taxa de atividade Porcentagem na PEAMulheres

1990 22,9 39,2 35,5

1993 28,1 47,0 39,6

1995 30,0 48,1 40,4

1998 31,3 47,6 40,7

Homens

1990 41,6 75,3 64,5

1993 42,9 76,0 60,4

1995 44,2 75,3 59,6

1998 45,6 73,6 59,3

Tabela 2 – Evolução histórica das atividades femininas segundo faixa de idade

Taxas de atividades femininas segundo faixas de idade

Faixas de idade 1970 1980 1990 1998

10 a 14 anos 6,5 8,4 10,6 11,4

15 a 19 anos 23,6 31,3 41,4 41,6

20 a 24 anos 27,7 38,5 52,9 61,6

25 a 29 anos 23,1 36,3 52,7 64,5

30 a 39 anos 20,1 35,1 54,7 66,4

40 a 49 anos 19,5 30,7 49,5 62,6

50 a 59 anos 15,4 21,5 34,5 46,6

60 anos e mais 7,9 7,5 11,5 19,1

Total 18,2 26,6 39,2 47,5

Fonte: UNICEF/IBGE,FIBGE/Censo e PNADs

Fonte: FIBGE, PNAD

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Atividade 21

Aula 12  Geografia Agrária 181

O trabalho feminino de forma geral, seja no campo ou na cidade, apresenta crescimento eembora ainda haja um longo caminho para equilibrar socialmente as relações entre homens emulheres, entre a cidade e o campo, podemos dizer que nos últimos anos várias medidas foramtomadas para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores rurais. Políticas que se constituemcomo respostas aos movimentos sociais dos trabalhadores. Podemos citar políticas especificascomo o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) mulher.

No entanto, tais políticas consideradas importantes ainda são insuficientes diante asdesigualdades sociais existentes no país, muitas dessas políticas ainda estão em fase deimplementação e não podem ainda ser avaliadas criticamente. Nesse contexto, os movimentosde mulheres rurais são importantes e constituem uma unidade de luta na garantia dos direitosconquistados e na mudança de concepção de trabalhadoras rurais como atores sociais e políticos.

Leia o poema a seguir e, em seguida, responda o que se pede.

Açúcar

(Poema de Ferreira Gullar, 1963)

O branco açúcar que adoçará meu cafénesta manhã de Ipanema

não foi produzido por mimnem surgiu dentro do açucareiro por milagre

Vejo-o puroe afável ao paladar

como beijo de moça, águana pele, flor

que se dissolve na boca. Mas este açúcar

não foi feito por mim.

Este açúcar veioda mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,

dona da mercearia.

Este açúcar veiode uma usina de açúcar de Pernambuco

ou no Estado do Rioe tampouco fez o dono da usina.

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Aula 12  Geografia Agrária182

Este açúcar era canae veio dos canaviais extensos

que não nascem por acasono regaço do vale.

Em lugares distantes, onde hospitalnem escola,

homens que não sabem ler e morrem de fomeaos 27 anos

plantaram e colheram a canaque viraria açúcar.

Em usinas escuras,homens de vida amarga

e duraproduzirameste açúcar

branco e purocom que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

a) Caracterize a relação de trabalho exposta no poema?

b) Ferreira Gullar escreveu em 1963 o poema Açúcar, em que expõe a exclusão social e asprecárias condições de trabalho nas usinas de açúcar. Nas relações de trabalho no campoainda é possível detectar essas situações? Justifique.

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2

Aula 12  Geografia Agrária 183

Caracterize a participação da mulher no campo e explicite uma política públicaespecífica para a mulher.

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Aula 12  Geografia Agrária184

Leitura complementarOLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: Ática.1995. (Série Princípios).

Essa obra é importante para entender mais sobre o desenvolvimento do capitalismo esua relação com a agricultura. Para melhor entendimento desta aula, leia o capítulo 5 que tratadas relações de produção na agricultura sob o capitalismo.

O autor: Ariovaldo Umbelino de Oliveira

Fonte: http://www.iea.usp.br/iea/imagens/ariovaldooliveira.jpg

Resumo

Nesta aula, você estudou as relações de trabalho na agricultura, destacando aorganização da produção da agricultura brasileira e as formas de trabalho nocampo. Nesse contexto, você viu também a transformação do agricultor emcapitalista e o aumento da participação feminina no trabalho agrícola.

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Anotações

Aula 12  Geografia Agrária 185

AutoavaliaçãoCom base no estudado e discutido nesta aula, responda às seguintes questões:

a) Descreva as relações de trabalho que predominam na agricultura brasileira?

b) Relate o processo de transformação dos agricultores em capitalistas.

c) Faça uma análise da participação da mulher no trabalho agrícola.

ReferênciasANDRADE, Manuel Correia de. Agricultura e capitalismo. São Paulo: Ciências Humanas,1979. 115 p.

OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: Ática.1995. (Série Princípios).

_______. O campo brasileiro no final dos anos de 1980. In: STÉDILE, João Pedro (Org.).  Aquestão agrária hoje. 3. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2002. 322 p.

ROMEIRO, Juan Ignácio. Questão agrária: latifúndio ou agricultura familiar. São Paulo:Moderna, 1998.

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Anotações

Aula 12  Geografia Agrária186

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Anotações

Aula 12  Geografia Agrária 187

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Anotações

Aula 12  Geografia Agrária188

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Esta edição foi produzida em mês de 2012 no Rio Grande do Norte, pela Secretaria de

Educação a Distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (SEDIS/UFRN).

Utilizando-se Helvetica Lt Std Condensed para corpo do texto e Helvetica Lt Std Condensed

Black títulos e subtítulos sobre papel offset 90 g/m2.

Impresso na nome da gráfica

Foram impressos 1.000 exemplares desta edição.

SEDIS Secretaria de Educação a Distância – UFRN | Campus Universitário

Praça Cívica | Natal/RN | CEP 59.078-970 | [email protected] | www.sedis.ufrn.br

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