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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA RENATA MARTINS SALAMANCA GODOY GEOGRAFIA EM MULTIPLAS ESCALAS – O SINGULAR, O PARTICULAR E O GERAL NO ESTUDO DOS MUNICÍPIOS: Geografia em Escala Local – Um Estudo de Caso do Município de Uraí URAÍ - PARANÁ 2008

GEOGRAFIA EM MULTIPLAS ESCALAS – O SINGULAR, O … · 2009-05-22 · singular, o particular e o geral no estudo dos municípios. Este material foi elaborado tendo como base os conteúdos

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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

RENATA MARTINS SALAMANCA GODOY

GEOGRAFIA EM MULTIPLAS ESCALAS – O SINGULAR, O PARTICULAR

E O GERAL NO ESTUDO DOS MUNICÍPIOS: Geografia em Escala Local –

Um Estudo de Caso do Município de Uraí

URAÍ - PARANÁ

2008

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RENATA MARTINS SALAMANCA GODOY

GEOGRAFIA EM MULTIPLAS ESCALAS – O SINGULAR, O PARTICULAR

E O GERAL NO ESTUDO DOS MUNICÍPIOS: Geografia em Escala Local –

Um Estudo de Caso do Município de Uraí

Artigo científico apresentado à Universidade

Estadual de Londrina, como requisito para aprovação no

Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria

de Estado da Educação – Paraná, sob a orientação da

Professora Ângela Massumi Katuta.

URAÍ - PARANÁ

2008

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GEOGRAFIA EM MULTIPLAS ESCALAS – O SINGULAR, O PARTICULAR

E O GERAL NO ESTUDO DOS MUNICÍPIOS: Geografia em Escala Local –

Um Estudo de Caso do Município de Uraí

Renata Martins Salamanca Godoy

Professora de Geografia da Escola Estadual Prof. Paulo Mozart Machado – EF, Professora PDE –

2007, Graduada em Geografia pela UEL e Pedagogia pela FAFICOP; Pós-graduada em Educação Especial –

DM pelo CESULON.

RESUMO

O presente artigo visa auxiliar o trabalho docente em sala de aula por meio do

uso de material didático específico por nós elaborado e desenvolvido no contexto do

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Este material resultou de um

trabalho coletivo entre professores da Rede Estadual de Ensino do Paraná e

professores orientadores da Universidade Estadual de Londrina do curso de

Geografia. O título que atribuímos ao mesmo foi Geografia em Múltiplas Escalas – o

singular, o particular e o geral no estudo dos municípios. Este material foi elaborado

tendo como base os conteúdos estruturantes das Diretrizes Curriculares do Paraná,

contemplando três eixos: Limites, Arranjos Territoriais e Dinâmica Populacional. Seu

objetivo é auxiliar na construção de uma Geografia que dialogue com os saberes

discentes sobre o espaço, para tanto é fundamental que o estudante compreenda a

Geografia em escala local, ou seja, a que se realiza no âmbito do município a partir

da análise de seus diferentes arranjos territoriais. O pensamento que norteia este

trabalho fundamenta-se no entendimento de que a construção do conhecimento

parta da singularidade, passando pela particularidade chegando à generalidade,

para então, em movimentos dialéticos sucessivos, retornar novamente às instância

anteriores do conhecimento. Assim, a construção do conhecimento é aqui concebida

como um movimento infinito do pensamento.

Palavras - Chave: Geografia em Múltiplas Escalas. Singular.Limites. Dinâmica

Populacional. Arranjos Territoriais.

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ABSTRACT

The present article aims to help the teaching work in classroom through the use of

educational specific material prepared and developed in the context of the Program

of Educational Development - PDE. This material resulted from a collective work

among teachers belonging to the Paraná State Board of Teaching and teachers

advisors of the Londrina State University of the course of Geography. The title what

we attributed to it was Geography in Multiple Scales – the singular, the individual

and the general aspects in the study of the municipalities. This material was prepared

based on the structural contents of the Diretrizes Curriculares’ text of the state of

Paraná, contemplating three axes: Limits, Territorial Arrangements and Population

Dynamics. Its objective is to help in the construction of a Geography to enter into

dialogue with the student’s knowledge about the space, so it is essential to

understand the Geography in local scale, in other words, which happens in the

context of the municipality from the analysis of its different territorial arrangements.

The thought that orientates this work is based on the understanding of which the

construction of the knowledge leaves from the peculiarity, passing by the peculiarity

reaching the generality, so that, in dialectic successive movements, to return again to

the starting point of the knowledge. So, the construction of the knowledge is

conceived here like an infinite movement of the thought.

Key words: Geography in Multiple Scales. Singular.Limits. Population Dynamics. Territorial arrangements.

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INTRODUÇÃO

Ensinar Geografia aos educandos da Educação Básica têm sido um grande

desafio para os educadores, face a inúmeras dificuldades. Além dos alunos

mostrarem-se desmotivados, temos um grande desafio que é a falta de material

didático sobre o local vivenciado pelos mesmos pois, para que ocorra uma

aprendizagem significativa, é preciso estabelecer um diálogo entre os conteúdos

escolares e o cotidiano do aluno.

Cavalcante (1998) afirma que, para avançar no entendimento dos problemas

de ensino da geografia, deve-se levar em consideração os elementos presentes nas

representações de alunos e professores, juntamente com a análise científica.

Tendo em vista esta preocupação, o artigo apresenta o processo de

elaboração de um material pedagógico que procurou privilegiar o enfoque local,

mostrando sua grande relevância para o ensino da Geografia, no momento de nossa

intervenção pedagógica, pois nos foi útil para subsidiar e modificar metodologias e

trabalhos desenvolvidos, por nós docentes no dia-a-dia da sala de aula.

Moreira (2006) considera a Geografia uma ciência que estuda as

geograficidades, as formas de organização espacial dos seres humanos e que,

portanto, encontra na paisagem um privilegiado instrumento de leitura. Assim, criar

condições de realização de leitura das paisagens locais por meio dos raciocínios

geográficos remeterá os educandos ao entendimento dos significados de seu

espaço de vivência e, consequentemente, auxiliará os mesmos a compreenderem e

atuarem na realidade de maneira a construir espaços mais democráticos.

Experiências vivenciadas por pesquisadores como SCHIMDT e GARCIA

(2006, p. 82-85) também apontam como possibilidade de superação das dificuldades

no processo de ensino e aprendizagem a “aproximação da realidade”, cujo

significado é educar a partir da realidade local.

A produção do material teve como objetivo geral a compreensão da Geografia

em escala local, ou seja, do município de Uraí, a partir da análise de seus diferentes

arranjos territoriais, pois é de fundamental importância entender a lógica dessa

ordenação territorial vivenciada pelos estudantes. A partir do mesmo,

compreendemos que é possível o estabelecimento de articulações da escala local

com aquelas em nível regional e global abordadas nos livros didáticos de geografia.

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Assim, não se trata de substituir o livro didático mas de elaborar materiais que

possam ser aliados no trabalho com o mesmo.

A escala de abordagem local é imprescindível para que os educandos possam

estabelecer relações que os levem ao desvendamento dos arranjos territoriais. Isso

porque a abstração exigida para a construção dos conceitos que auxiliam a

compreender o espaço geográfico, torna-se um empecilho na aprendizagem, caso o

professor tenha tais constructos como ponto de partida, não acionando os

conhecimentos do senso comum (conceitos cotidianos) que os alunos já trazem

sobre a geografia que vivenciam cotidianamente. Por isso, é necessário ter como

ponto de partida os saberes e conceitos cotidianos para a transformação destes em

conhecimentos científicos por meio do processo de escolarização.

No contexto do trabalho que elaboramos fomos convidados a uma redefinição

quanto às ações ligadas à nossa prática pedagógica, buscando encaminhamentos

alternativos e possíveis, voltados para uma ação de integração que permita ao

educando a apropriação dos conceitos fundamentais da Geografia, levando-o a

compreensão do processo de produção e transformação do espaço geográfico em

que vive, sendo os conteúdos trabalhados de forma crítica e dinâmica, interligados

com sua realidade.

Segundo Cavalcanti (1998), citada nas Diretrizes Curriculares do Paraná

(2008, p. 31) “[...] o processo de apropriação e construção dos conceitos

fundamentais do conhecimento geográfico, se dá a partir da interação intencional

própria do ato docente”, cabendo a nós professores, ensinar o conhecimento

científico, levando o aluno a transformar o conhecimento do senso comum,

ampliando sua condição de análise e interpretação da realidade sócio-espacial.

O material pedagógico problematizado nesse artigo foi elaborado com a

intenção de tornar o ensino mais eficaz, moderno, atrativo, auxiliando ao educando a

compreender o seu mundo, proporcionando maior interesse e garantindo condições

reais de obtenção de sucesso no processo de ensino e aprendizagem.

POR QUE ENSINAR A GEOGRAFIA EM MÚLTIPLAS ESCALAS?

A necessidade de redirecionar o ensino da geografia é notória e urgente no

cotidiano das escolas, uma vez que os fracassos decorrentes da aprendizagem

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escolar e as atitudes que evidenciam a desmotivação aumentam a cada dia.

Pensando nisso, houve uma preocupação em vencer esse desafio e as dificuldades

de se ensinar Geografia ao educandos.

Ao elaborar o material didático, buscou-se criar condições para que os

educandos pudessem entender o significado da geografia em suas vidas,

fornecendo dados suficientes e necessários para entenderem os arranjos espaciais

vivenciados por eles, partindo do singular (local), procurando viabilizar a construção

de conceitos geográficos de maneira contextualizada e dialogada com os saberes

dos educandos. Isso porque, em geral, os conhecimentos geográficos são

abordados em escala global e regional, ficando a escala do cotidiano dos educandos

relegada a segundo plano e, não raro sendo desconsiderada. Desse modo,

praticamente inexiste um trabalho pedagógico na disciplina que auxilie aos

estudantes construírem sua identidade com os locais a partir da compreensão dos

arranjos espaciais neles existentes.

Citando Vygotsky, Katuta (2004) nos fala da importância da linguagem no

processo de construção dos conceitos. Explica que a ação antecede a construção

lingüística, portanto, o aluno terá sua aprendizagem potencializada se a mesma

dialogar com as suas experiências. Nesse sentido, nada mais eficaz no ensino de

geografia do que ter como ponto de partida a dimensão local que dialoga com os

arranjos espaciais presentes na própria vivência do estudante.

Nos processos de formação de conceitos, o pensamento oscila entre duas

direções: do particular para o geral e deste para o particular. Em função disso, se faz

necessário a produção de materiais didáticos que auxiliem no trabalho com a

compreensão dos arranjos espaciais locais.

Considerando-se o exposto, elaboramos por meio do Programa PDE

(Programa de Desenvolvimento Educacional), um material que auxilie no trabalho

com a geografia local. Procurou-se através desse material, possibilitar ao aluno, por

meio da prática reflexiva dos arranjos espaciais locais, compreender os espaços que

vivencia no cotidiano, valorizando-os e buscando alternativas viáveis à construção

de um saber que, ao ser apreendido e socializado, irá auxiliá-lo para o efetivo papel

de cidadão, o que supõe sua intervenção na realidade, e isso não se faz sem a

devida compreensão dos arranjos espaciais a partir de uma análise que articule as

escalas local, regional e global, dependendo do fenômeno que está sendo alvo de

estudo.

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Sabemos que a articulação entre essas três escalas no processo de estudo

da espacialidade dos fenômenos permitirá ao educando compreender a realidade,

permitindo que possa intervir na construção dos espaços.

Nesta perspectiva, partindo dos elementos locais da paisagem, usando-se

inúmeras linguagens, é possível que se elaborem ressignificações a fim de construir

os conhecimentos e atitudes imprescindíveis à construção da cidadania.

Dessa maneira, na produção do material didático nos preocupamos com a

utilização de diversas linguagens, além da escrita. Utilizamo-nos de imagens

fotográficas e cartográficas pois muitas informações são melhor comunicadas por

meio da linguagem visual.

Procurou-se através das imagens/linguagens desse trabalho, estabelecer uma

relação com os arranjos espaciais a serem estudados, tendo a preocupação com a

contextualização do fenômeno, situando-o no espaço-tempo. Se o aluno não

compreende a forma como o espaço ao seu redor está organizado não conseguirá

agir nele e muito menos conseguirá construir sua identidade com o local. É

importante destacar que não se trata de abordar apenas a escala local, dependendo

da abrangência geográfica do fenômeno e do objetivo pedagógico do professor, faz-

se necessário ampliar as escalas de análise, elemento fundamental para o

entendimento da espacialidade dos fenômenos. É neste sentido que se percebe a

importância do estudo do “local” como ponto de partida para a construção dos

conceitos geográficos e o necessário movimento do pensamento em outras escalas

a fim de que se possa compreender a espacialidade dos fenômenos, sobretudo em

um mundo globalizado. Bertanini (1985, p. 118), escreve: “Estudar o espaço vivido

significa superar a dimensão do espaço extensão, ou espaço suporte das atividades,

para acolher a noção de representação do espaço, como espaço construído através

do olhar das pessoas que o vivem-habitam.” É neste contexto que entendemos que

o ensino de geografia pode auxiliar a contribuir com a produção de espaços mais

democráticos.

Segundo Katuta (2007. s.p.) “[...] as imagens podem ser compreendidas como

testemunhas oculares, indícios e modos de registros de geograficidades.” Assim,

podemos verificar a importância das mesmas, sobretudo em um contexto onde há

falta de um registro escrito. As imagens constituem-se em documentos e registros

fundamentais que auxiliam na compreensão das geograficidades.

Segundo Vygotsky, “[...] o desenvolvimento do pensamento é determinado

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pela linguagem, isto é, pelos instrumentos lingüísticos do pensamento e pela

experiência sociocultural da criança.” (1993, p. 44). Desse modo, podemos perceber

a importância da linguagem e da palavra na formação de conceitos. Conforme

Vygotsky (1993), a formação de conceitos é o resultado de uma atividade complexa

em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte.

Para Pankow (1988) apud Katuta (p. 168):

[…] a linguagem atua como instrumento de orientação das ações humanas, e defende a idéia de que a mesma, somente adquire significações quando se refere à dimensão vivida pelo sujeito, à sua territorialidade, tornando-se, nesse caso, instrumento de conhecimento do mundo e de si. Quando essa conexão não é estabelecida, a linguagem serve, predominantemente, como instrumento de dominação e alienação.

É neste contexto que se pode afirmar que:

“Todo saber está de uma maneira ou de outra, ordenado por meio de

linguagens. As linguagens amplificam nossa capacidade de ver, apreender e

compreender as geograficidades, pois, cada uma delas, nos apresenta as formas

espaciais dos entes no mundo a partir de suas especificidades.” (KATUTA, 2005, p.

1).

É importante destacar que o trabalho Geografia em Múltiplas Escalas, teve a

preocupação de seguir os princípios das Diretrizes Curriculares do Estado do

Paraná, visto que um dos conteúdos estruturantes diz respeito à oportunização da

compreensão do espaço em que vivem os próprios educandos, por meio do

desvendamento dos arranjos espaciais em suas múltiplas escalas, fundamentais na

compreensão dos territórios.

Considerando o exposto, é importante salientar que este material deve ser

entendido como um recurso pedagógico imprescindível ao professor, contudo, como

qualquer outro instrumento didático, deve ser adequado à realidade de cada nível de

ensino. Além disso, trata-se de um recurso auxiliar no trabalho com o livro didático

que não tem a pretensão de substituí-lo.

O mesmo foi elaborado a partir de três eixos estruturantes:

• Limites, por meio deste eixo nos preocupamos com a compreensão do

fato de que todos os fenômenos possuem localização espacial e uma

determinada orientação. Assim, a partir deste entendimento

procuramos estabelecer as correlações entre as geograficidades dos

fenômenos em diferentes lugares e em múltiplas escalas.

• Arranjos Territoriais: com este eixo pretendemos reconhecer e

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identificar as características inerentes à estrutura urbana e rural,

analisando por meio de conceitos o uso e ocupação do solo a partir da

distinção de ambas as áreas. Objetivamos também analisar e

compreender conceitualmente a distribuição espacial das zonas de

ocorrência de serviços públicos essenciais, como água, esgoto, lixo,

rede elétrica, asfalto, entre outros, elementos fundamentais na

compreensão do espaço geográfico.

• Dinâmica populacional: neste eixo pretendemos compreender as suas

expressões espaciais. Além disso, visamos compreender a

geograficidade da segurança pública no município, entender como as

suas expressões espaciais articulam-se com os arranjos espaciais

pretéritos e presentes, analisar a estrutura populacional do município a

partir de vários indicadores (IDH, taxas de natalidade e mortalidade,

mortalidade infantil, estrutura etária, taxa de desemprego, população

economicamente ativa e escolaridade, entre outros).

Mostra-se claro neste material a necessidade de buscarmos informações

locais com fundamentação científica, a fim de organizá-las de forma satisfatória para

serem utilizadas como material pedagógico e de pesquisa, facilitando assim o

trabalho do professor de geografia. Parte daí a necessidade de uma sistematização

e organização dessas informações em materiais didáticos, contribuindo para uma

maior compreensão da organização do espaço local como ponto de partida, no

trabalho com os conhecimentos e conceitos da geografia.

Segundo Cavalcanti (1988, p. 128) a função da Geografia é formar uma

consciência espacial, um raciocínio geográfico, levando a compreensão da

espacialidade das práticas sociais para poder intervir no seu cotidiano de uma forma

mais autônoma. A compreensão de como a realidade local relaciona-se com o

contexto global é um trabalho a ser desenvolvido durante toda a escolaridade, de

modo cada vez mais abrangente, com o cuidado de não cair numa análise simplista

do lugar até chegar ao global de forma linear, pois as relações entre as escalas são

complexas.

Aprender de forma contextualizada, integrada e relacionada a outros

conhecimentos permite o desenvolvimento educacional que garantirá ao aluno a

compreensão da realidade de uma maneira menos caótica e sincrética.

Katuta (2004) em sua tese nos mostra que o ensino da Geografia hoje está

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transformando o aluno em um 'Estrangeiro em seu próprio mundo', devido à

realização de descrições descontextualizadas sobre o clima, relevo, vegetação,

embasamento rochoso, população, urbanização, industrialização, entre outros. Ao

negar o processo de contextualização do conteúdo nega-se a possibilidade de

compreensão dos arranjos espaciais em suas múltiplas escalas, não permitindo que

os estudantes compreendam os lugares que conhecem, transformando-os em

estrangeiros no mundo em que vivem.

A autora esclarece ainda que este termo “O Estrangeiro no mundo da

geografia”, foi utilizado pelo fato de que lhe pareceu útil para expressar o que ocorre,

em geral, com o aluno nas aulas de geografia, tanto no ensino básico como no

superior:

Via de regra, o discente se vê obrigado a reproduzir os hábitos discursivos, comportamentais, de pensamento e conhecimento considerados apropriados aos discentes da referida disciplina. Nela, não raro, as espacialidades são abordadas por meio da abstração […] (KATUTA, p. 30).

Tendo a preocupação de elaborar um material didático que contemple de

forma contextualizada os conteúdos de geografia, o trabalho apresentado neste

artigo, tem como objetivo geral a compreensão das espacialidades em escala local,

ou seja, do município de Uraí, a partir da análise de diferentes arranjos territoriais.

Compreendemos que, a partir do mesmo, será possível o estabelecimento de

articulações dessa escala com aquelas em nível regional e global abordadas nos

livros didáticos de Geografia e em outros materiais.

A hipótese que norteia este trabalho está fundamentada no entendimento de

que a construção do conhecimento supõe o movimento do pensamento que se

estrutura partindo da singularidade, passando pela particularidade chegando à

generalidade, para então, em movimentos dialéticos sucessivos, retornar novamente

às instâncias anteriores de conhecimentos, contudo, em nível intelectivo mais

elevado. É por isso que o ponto de partida da construção de conhecimentos está

situado no plano da singularidade ou do cotidiano, dimensão imprescindível para a

construção dos conceitos em geografia que estão no plano da abstração ou da

generalidade, ponto de chegada do processo ensino-aprendizagem.

Ao estruturar este material, contemplou-se três eixos fundamentais (eixos

estruturantes) e de grande amplitude, sempre tendo em vista o objetivo pedagógico

do ensino de Geografia, que é “[...] o entendimento dos arranjos espaciais por meio

da dialética entre os conhecimentos geográficos não formais e os

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científicos.”(Katuta, 2007). É importante destacar que entende-se por conteúdos

estruturantes os conhecimentos de grande amplitude que identificam e organizam os

campos de estudo de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para a

compreensão de seu objeto de estudo e ensino. (Diretrizes Curriculares, 2008, p.

25).

No item que segue abordaremos cada eixo estruturante. No processo de

produção e construção do conhecimento é necessário a utilização de instrumentos

que auxiliem tal processo. Daí a importância da produção de recursos didáticos e

materiais que propiciem melhorar o desenvolvimento do processo educacional.

Produzir um material que revele ao educando a compreensão de seu mundo é de

grande relevância para educadores e educandos.

Cabe destacar que a confecção deste material didático permitiu ampliar

conhecimentos sobre a geografia do município, desde o início de sua ocupação e

inserção no modo capitalista de produção no Brasil e no mundo.

LIMITES

Procurou-se trabalhar a construção de conceitos de divisas, fronteiras,

iniciando com a extensão do município, abordando as sua caracterização física

(clima, relevo, hidrografia, vegetação), o objetivo foi focalizar a relação Homem X

Meio, fundamental nos processos de organização territorial.

Dessa maneira, juntamente com o primeiro tema foi trabalhado os seguintes

conceitos e noções: perímetro urbano, vegetação, relevo, solo, hidrografia e clima do

município. Esses elementos foram abordados sob o ponto de vista local-global para

dar sentido à realidade pois, como afirma Pereira (2003, p. 15): “O papel

fundamental da Geografia no Ensino Básico é o de proporcionar aos alunos os

códigos que os permitam decifrar a realidade por meio da espacialidade dos

fenômenos, ou seja, alfabetizar geograficamente.”

Para o desenvolvimentos dos conteúdos, considerou-se que no espaço criado

pela nossa sociedade sempre se estabelecem limites que representam controles e

usos diferenciados do mesmo, estabelecidos por determinações históricas,

econômicas, sociais, políticas, geográficas e culturais.

Considerou-se também que buscar a compreensão do espaço vivenciado

implica entender os arranjos que nos rodeiam e também aos outros, o que nos

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auxilia a perceber quem somos e o papel que efetivamente temos em nossa

realidade.

Dessa maneira, compreender as fronteiras e limites requer um exercício de

compreensão dos hábitos, das necessidades e das relações sociais que os Homens

estabelecem entre si, com o meio em que vivem e com os povos de cultura e etnias

diferentes. A isso, deve ser somada a influência do fenômeno da globalização e suas

implicações nos arranjos espaciais produzidos em múltiplas escalas.

Para CALLAI e ZARTH (1988, p. 11):

[...] estudar o município é importante e necessário para o aluno, na medida em que ele está vivendo. Ali estão o espaço e o tempo delimitados, permitindo que se faça a análise de todos os aspectos da complexidade do lugar. [...] É uma escala de análise que permite que tenhamos próximo de nós todos aqueles elementos que expressam as condições sociais, econômicas, políticas do nosso mundo. É uma totalidade considerando seu conjunto, de todos os elementos ali existentes, mas que como tal, não pode perder de vista a dimensão de outras escalas de análises.

Como primeiro passo, elaborou-se o conceito de limite para o lugar-território,

explorando as visões globais, nacionais, estaduais até chegar ao singular. Somado a

isso, preocupou-se com o processo histórico-espacial constitutivo dos arranjos

espaciais locais por grupos sociais que estiveram e que chegaram no momento de

formação inicial do município. Dessa maneira, procurou-se explicitar como se deu a

organização espacial do município, sua lógica e os elementos que nela

influenciaram. O entendimento destas questões auxiliou a criar uma identidade,

inclusive quando se percebeu que cada um teve uma trajetória própria, única,

contudo, muito parecida com a do outro e de muitas famílias que habitavam no

mesmo município. Assim, tratou-se de verificar a dimensão social e singular dos

processos que influenciaram na produção dos arranjos espaciais do município, não

raro, orquestrados por políticas estaduais, regionais, nacionais e até mesmo

internacionais, como foi o caso do incentivo, no século XIX, ao processo de

imigração encetado, sobretudo, por países europeus e asiáticos.

O educador Paulo Freire (1995, p.26-27), afirma:

“[...] minha terra é a coexistência dramática de tempos díspares confundindo-

se no mesmo espaço geográfico. Toda 'terra' é o resultado de um espaço histórico,

contraditório, que me exige como a qualquer outro decisão, tomada de posições,

ruptura, opção.”

Neste contexto, o papel básico do ensino de Geografia é proporcionar várias

ferramentas para alfabetizar o aluno espacialmente em suas diversas escalas, a fim

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de auxiliar o mesmo no entendimento das noções de espaço, paisagem, natureza,

Estado e sociedade, conceitos fundamentais para o entendimento dos arranjos

espaciais.

Para MORAES (1998, p. 166) “[...] formar o indivíduo crítico implica em

estimular o aluno questionador dando-lhe, não uma explicação pronta do mundo,

mas elementos para o próprio questionamento das várias explicações”. Neste

sentido, busca-se trabalhar, como diz Souza Neto (2000), com um ensino de

geografia que aborde, inicialmente, o contexto mais próximo do aluno para, na

seqüência, remeter a outros níveis escalares. É dessa maneira que entendemos que

os conteúdos deixarão de ser percebidos como algo alheio à vivência dos

estudantes.

A não compreensão científica e sistematizada do espaço vivido leva a um

processo de estranhamento do sujeito, isso porque sua identidade é construída a

partir das relações que o mesmo estabelece com o meio em que vive. (KATUTA,

2004). Essa necessidade de compreender os arranjos espaciais produzidos pelos

seres humanos no mundo, se não orientada, conduz a entendimentos equivocados

da realidade, chegando até a produzir um sentimento de desalento, inconformidade

e desterritorialização, fruto do não entendimento do espaço em que vive.

A Escola e, especificamente o ensino da geografia, tem o papel de

proporcionar essa construção de significados em torno dos arranjos espaciais. É

neste contexto que os alunos podem compreender as paisagens produzidas pelas

sociedades atuais.

ARRANJOS TERRITORIAIS

A proposta de trabalhar com o tema arranjos territoriais se pretende

diferenciada, na medida em que a explicação dos processos parte do local

vivenciado e incorporado no imaginário do educando. Esse recorte levou em

consideração a estrutura fundiária, as relações de trabalho no campo, a relação

campo-cidade, o uso do solo urbano e a estrutura urbana do município. Esperou-se,

com isso, desenvolver no educando o gosto pela observação detalhada, pelo

estabelecimento de relações que o permitam compreender o que acontece no seu

município para, a partir daí, transcender da escala das particularidades para aquela

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das generalidades, que se insinuam nas escalas regionais, nacionais e mesmo

globais.

Para tanto, foi elaborado um conjunto de indagações prévias a serem

socializadas com os alunos, a fim de auxiliarem na reflexão sobre os vários aspectos

da problemática estudada. Essa foi a opção metodológica na busca pela construção

de conceitos e conhecimentos necessários para o entendimento da realidade, a

partir dos conteúdos trabalhados em geografia, de modo que a explicação teórica

não é ponto de partida, mas sim uma construção, onde o professor atua como

mediador para que, ao final do processo, o aluno tenha assimilado a lógica dos

arranjos territoriais.

Foram utilizadas um conjunto de linguagens como mapas, gráficos, tabelas,

fotos, imagens, poesias e músicas pois, conforme, Katuta (2004, p. 2), “[...] apesar

da riqueza da linguagem escrita, existem aspectos da geograficidade dos entes que

somente podem ser capturados e apresentados por imagens”. Assim, é de grande

importância a utilização de várias linguagens na produção de material didático, já

que “[...] a linguagem é um pressuposto que norteia todo o processo de construção

do conhecimento que construímos ao longo de nossas vidas.” (KATUTA, 2004, p. 1).

Ao desenvolver o tema por meio de questionamentos, imagens, mapas e

textos, preocupou-se em problematizar as características da agricultura no

município, transcendendo as escalas de modo a permitir que se compreenda sua

importância na economia do país, fato explícito por sua participação privilegiada no

equilíbrio da balança comercial. Como essa escala envolve um grau de abstração

nem sempre compatível com o estágio de cognição dos educandos, optou-se por

focalizar os arranjos agrícolas do município, os quais certamente dizem respeito às

experiências desses sujeitos, mesmo que a título de desafio para observação

posterior. Desse modo, o destaque foi dado aos produtos agrícolas produzidos no

local, seu destino, os indicadores do uso do solo como área ocupada com lavouras

permanentes, temporárias, pastagens, matas e reflorestamento.

Essa análise complementa-se com as considerações acerca da inserção do

município no contexto da industrialização e da introdução de equipamentos

modernos no campo, cujas conseqüências são as novas condições de produção e

de trabalho. Como decorrência, as famílias foram obrigadas a mudar seus hábitos e

costumes, e entrar no ritmo destas atividades ditas modernas, e que implicaram em

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redução nas ocupações agrícolas de cunho familiar, bem como de empregos

temporários e permanentes no campo.

Isso permite explicar a mudança no padrão de distribuição entre população

rural e urbana, mas não só, já que aliada à diminuição da população residente no

campo, houve perda populacional dos núcleos urbanos da maior parte dos

municípios de base econômica agrícola. No caso do Norte do Paraná, isso se

tornou mais evidente a partir da década de 1980, momento em que a cultura do café

já havia entrado em declínio e a migração foi a saída encontrada pelos camponeses,

tanto para as cidades maiores ou para novas áreas agrícolas. Cabe salientar que

além desse movimento migratório de enormes proporções, impactos ambientais

foram se avolumando, em particular no que diz respeito à degradação da flora,

destruição da fauna, dos recursos hídricos, isso por causa das técnicas de cultivo

baseadas em intensa mecanização e utilização intensiva de agrotóxicos.

A elaboração desse eixo estruturante propõe uma reflexão sobre a relação

entre cidade e campo, já que essa tem se tornado extremamente complexa, na

medida em que a tecnologia e a redução dos custos de produção têm criado, no

campo, estruturas que antes eram típicas do meio urbano, a exemplo das

agroindústrias. Pode-se afirmar que essas duas formas de organizar o espaço se

integram no processo de produção industrial.

Uma espécie de fim de divisão de trabalho, técnica e territorial, que recria as relações entre setores econômicos até então estrutural e territorialmente separados, e uma certa homogeneização de valores que expressam um mundo e um modo de vida até então tidos como próprios e privilégio da cidade toma em comum cidade e campo, tornando-os, de novo, um mundo único, desta vez configurado na cultura urbana, que se propaga pelos campos, aí eliminando o que era ainda remanescente da cultura rural do passado. (MOREIRA, p. 3, 2005).

A utilização de alguns recursos, sobretudo mapas, pode levar o aluno a

perceber a cidade como uma fração diferenciada do território, em oposição ao

campo, e mesmo com diferenças internas pronunciadas, dada a diversidade dos

usos e apropriações. Em linhas gerais, verifica-se um zoneamento da cidade, que

divide-se em área central, áreas industriais, residenciais, sempre determinadas pelo

poder aquisitivo da população e pela articulação entre poder de regulamentação e

força dos grupos privados dedicados à especulação imobiliária.

É isso que explica a dinâmica interna das cidades e seus vazios urbanos,

sabendo-se que as interações com os fluxos de capitais decorre de fatores

históricos, políticos e econômicos. Com esta proposta analítica, é possível se deter e

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compreender como se dá a participação de cada setor econômico do município, bem

como os fatores que interferem na distribuição espacial das atividades econômicas.

Após atentar a estas questões, é possível ainda ao aluno perceber que a

cidade é, ao mesmo tempo, reflexo e produto concreto da realidade social e

econômica do sistema capitalista. Para Callabi e Indovina (1973) “[...] a cidade,

deste ponto de vista, é um produto total. Ela tem valor de uso e tal valor depende de

necessidades historicamente determinadas, diante de tal valor de uso ela é produto

para a troca, ou seja, ela própria é mercadoria”.

Partindo desta compreensão de cidade, os alunos puderam compreender o

quão fundamentais são os serviços urbanos. Um desdobramento desse trabalho foi

o mapeamento dos mesmos, por meio do levantamento de dados sobre educação,

saúde, lazer, segurança, fornecimento de energia, água, esgoto, meios e vias de

transporte, coleta de lixo, creches, pontos turísticos, centros de convivência, etc.

Tudo isto dentro de uma orientação metodológica que permitiu questionar o quanto

esta estrutura espacial, na maioria pública, oferece oportunidades ou agrava os

fatores de exclusão. Não obstante, o fato de a proposta contemplar as dimensões:

acesso aos serviços públicos, direitos de cidadania e qualidade de vida como

elementos indissociáveis e inter-relacionado, o que permitiu ao aluno perceber as

diversas esferas de ações e responsabilidades dos atores sociais, incluindo as suas.

DINÂMICA POPULACIONAL

A dinâmica populacional é um dos fatores fundamentais para a compreensão

do nosso objeto de estudo, ou seja, a distribuição territorial dos fenômenos e seus

significados na organização e formação dos espaços geográficos. O intuito do

trabalho com esse tema foi entender como a dinâmica populacional interfere na

formação espacial da sociedade e reportar essa compreensão para o contexto do

município, pois, é a partir dela que o modo de produção, a estrutura de classes e os

arranjos territoriais se estabelecem e nos permitem reconhecer as diferentes formas

e agentes que determinam a incorporação da terra, de seus frutos, seus recursos

naturais e humanos, das pessoas e sua capacidade de trabalho e de consumo à

engrenagem universal do capitalismo.

Foi dado grande ênfase às características do povoamento, às migrações e à

estrutura populacional que imprimiram marca no município produzindo novas

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territorialidades, o objetivo é que se relacione as mudanças políticas e econômicas

ocorridas em escala nacional e mundial.

A dinâmica da população no espaço, no contexto das sociedades atuais, foi

analisada além da sua essência, a busca por sobrevivência, mas como uma

exigência de adaptação às necessidades de reprodução e acumulação do capital.

Assim, os grupos se deslocam motivados por diversos fatores, mas são

principalmente, aqueles ligados ao desenvolvimento econômico dos lugares os que

desenham as trajetórias de deslocamento da população no espaço na sociedade

moderna.

A dinâmica populacional em suas expressões espaciais contribui para a

compreensão da formação de diferentes geograficidades, sendo um dos aspectos

da mesma, qualquer que seja o ponto de entrada ou de saída dos grupos humanos,

obedecerá a lógica sobre a qual se apóia o raciocínio geográfico “[...] de que todo

fenômeno obedece ao princípio de organizar-se no espaço.”(Moreira, 2006, p.174,

apud KATUTA, 2005, p. 3).

Materializam-se no espaço as transformações dos lugares, as diferentes

formas de viver e se organizar, decorrentes do modelo econômico atual, do

desenvolvimento das forças produtivas e do avanço tecnológico. “A geograficidade

é, assim, o ser-estar espacial do ente. É o estado do ser no tempo-espaço. Um

princípio válido e atribuível a qualquer ente – pode ser o homem, um objeto natural

ou o próprio espaço […].” (MOREIRA, 2004, p. 34).

O diagnóstico da dinâmica populacional do município, das suas

características, do seu povoamento, das migrações e da sua estrutura populacional,

as mesmas que imprimiram marcas no município produzindo novas territorialidades,

permite a elaboração de uma leitura das espacialidades, das formas em que os

grupos sociais se organizam no espaço-tempo, dadas suas relações com as

mudanças políticas, econômicas e culturais ocorridas em escala nacional e mundial

e pressupõe o entendimento das geograficidades engendradas pela dinâmica

populacional em escala local.

Esse conhecimento sobre a dinâmica populacional e formação das diferentes

geograficidades contribui, em larga medida, para o entendimento dos problemas,

tais como: déficit de moradia, carência de infra-estrutura em determinados locais da

cidade, ocupações irregulares (assentamentos e favelas), crescimento do setor

informal, entre outros, com os quais nos defrontamos atualmente e que requerem

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políticas públicas voltadas para necessidades de rearrumação dos arranjos

geográficos do município. A geografia utilizando e interpretando diversas linguagens,

mapas, gráficos, tabelas e imagens conduz a uma leitura da paisagem,

representação no espaço das geograficidades. “Isso ocorre quando a paisagem se

revela em sua essência ao corpo que a experiência como espaço-tempo-mundo, o

espaço aparecendo como a forma de existência do homem-no-mundo.” (MOREIRA,

2004, p. 194).

Para a apresentação dos conteúdos que se referem à dinâmica populacional,

em escala local, procuramos organizar informações e dados relevantes do município

que permitissem a compreensão dos movimentos e deslocamentos populacionais

nessa escala, principalmente aqueles cujos resultados foram fundamentais na

organização do espaço e da geograficidade de cada um dos referidos municípios.

O material didático produzido sobre o município tem por finalidade apresentar

e permitir a análise da evolução demográfica da população na escala nacional,

estadual e municipal, ou seja, partindo de informações sobre o geral chegando ao

particular e singular que constitui a realidade populacional dos respectivos

municípios. Destaca-se que o material confeccionado dispõe de dados,

principalmente do período de 1970 a 2000, que enfocam as transformações

capitalistas no campo (modernização, mecanização e mudança de culturas),

intensificadas a partir da década de 1970, aliadas ao movimento combinado de

expulsão do campo e atração ideológica exercida pelas cidades, provocando um

grande fluxo migratório em direção aos centros urbanos. Salienta-se que são

apresentadas orientações pedagógicas para a discussão dos fatores e

conseqüências desencadeadas pelos referidos processos na organização da

paisagem e dos arranjos territoriais nos diferentes municípios.

Para desenvolver o trabalho foi necessário coletar dados que permitissem a

verificação dos diversos aspectos relacionados à dinâmica populacional, entre eles,

o povoamento, a migração, a evolução da população urbana, a questão da

segurança pública, a qualidade de vida, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

em diversas escalas geográficas e a composição etária da população dos

municípios.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação é uma ação inerente a toda e qualquer sociedade, indispensável

no mundo em que estamos inseridos. Portanto, fazem-se necessários profissionais

competentes, dinâmicos, inovadores, comprometidos, além de políticas

educacionais que favoreçam a constituição de ações significativas à construção do

conhecimento. Neste contexto, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná, em

cooperação do a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior,

institui o PDE como uma política educacional inovadora de Formação Continuada

dos professores da Rede Pública Estadual, o PDE (Programa de Desenvolvimento

Educacional).

Segundo a SEED (2007, p. 2) “[...] a parceria com as Instituições Públicas de

Ensino do Paraná decorre da percepção de que a essência do Programa encontra

ressonância na reflexão pedagógica crítica nelas produzidas”.

No ano de 2007 ocorreu a implementação do PDE e as Instituições de Ensino

Superior propuseram-se a um trabalho conjunto, entre professores orientadores e os

PDE da rede pública estadual. O objetivo primordial do programa realizado no

Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina foi auxiliar na

construção de uma política pública de formação continuada, onde o foco era a

autonomia intelectual e profissional dos educadores em geografia. Dessa maneira,

foi proposta a realização de uma formação continuada fundada na construção

coletiva que teve como objetivo geral ampliar a capacidade de reflexão e

investigação dos professores de geografia do ensino básico do estado do Paraná,

por meio do desenvolvimento de um Projeto de Educação Continuada que enfatizou

a elaboração de reflexões ligadas ao seu trabalho cotidiano em sala de aula (cursos)

e a elaboração de um material didático-pedagógico (projeto).

Estas reflexões e propostas de intervenção, bem como o material didático foi

confeccionado e elaborado por um grupo de treze professores da rede estadual de

ensino do estado do Paraná e de cinco professores da Universidade Estadual de

Londrina, na qual faziam as orientações necessárias para a produção do material

didático. Todo o processo de confecção e pesquisa foi feito de forma coletiva,

discutindo-se tópico por tópico, até chegar a um roteiro definitivo que contemplasse

determinados temas no material didático. O fato de o trabalho ser coletivo

enriqueceu as reflexões dos temas geográficos, bem como evidenciou o papel da

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geografia na escola e sua tarefa no âmbito da produção e socialização dos

conhecimentos.

É importante salientar a riqueza de produzir conjuntamente um material

focado no singular sem distanciar-se do regional e do global, dada a possibilidade de

ser adaptado a outras localidades, sem perder o enfoque e a metodologia utilizada.

A confecção deste material didático nos permitiu ampliar conhecimentos

sobre a geografia dos municípios, desde o início de suas ocupações e inserção no

modo capitalista de produção, principal responsável pela configuração das

características sociais, políticas, geográficas e culturais específicas de cada

município.

Nesse ano de 2008 as expectativas foram muitas, sobretudo no que se refere

à implementação do projeto durante as aulas. O material superou as expectativas, e

foi de grande importância fornecendo dados e direcionamentos suficientes e

necessários para entender os arranjos espaciais vivenciados pelos alunos. O

material produzido partindo do singular para o particular ajudou muito na construção

dos conceitos geográficos, pois facilitou os alunos fazerem a ligação entre o local, o

regional e o mundial no contexto escolar. Podemos perceber as reações dos alunos

frentes aos problemas encontrados no seu município e a sua capacidade de refletir,

pensar estratégias e soluções de interferências nos arranjos espaciais produzidos

pela sociedade em que vive.

Ademais, este material pode oferecer aos professores e alunos dados e

análises sistematizados do município que dificilmente são encontrados na literatura

oficial.

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