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Geografia Física de Portugal Tópicos do Programa - 1ª Parte Consultar os Tópicos do Programa - 2ª Parte ÍNDICE I - Introdução: Localização e dados elementares sobre o clima 1 - Caracterização geral de Portugal. A necessidade de integrar Portugal na Península Ibérica 2 - A posição da Península Ibérica no contexto europeu e mundial 3 - Caracterização geral da Península Ibérica 4 - A originalidade do clima Mediterrâneo 5 - Principais factores do clima da península Ibérica 6 - A precipitação sobre a Península Ibérica: Ibéria húmida/Ibéria seca 7 - O contraste litoral-interior 8 - Os factores termodinâmicos e a circulação atmosférica regional 9 - Tipos de clima da Península Ibérica 10 - Alguns aspectos do clima de Portugal - Análise da distribuição da temperatura e da precipitação em Portugal 11 - O clima de algumas estações portuguesas 12 - O clima da região do Porto Bibliografia relativa à Introdução II- Grandes conjuntos estruturais - plataformas e sistemas dobrados alpinos - caracterização geral 1 - Plataformas Plataformas cristalinas Bacias sedimentares: 2 - Sistemas dobrados alpinos III- A integração da Península Ibérica no quadro geológico europeu IV - As grandes regiões estruturais de Portugal 1 - Apresentação geral 2 - Distinção entre os conceitos de Maciço Hespérico e de Meseta Ibérica V - Maciço Hespérico 1 - Características gerais e zonamento 2 - Zona Cantábrica 3 - Zona Oeste-Astúrico-Leonesa 4 - Sub-zona da Galiza média-Trás-os-Montes 5 - Zona Centro-Ibérica 6 - Zona de Ossa-Morena 7 - Zona Sul Portuguesa 8 - Fracturação tardi-hercínica 9 - Reconstituição paleogeográfica do ciclo hercínico. Tentativa de síntese 10 - Análise global e comparação entre as diferentes zonas Bibliografia Geografia Física de Portugal http://www.letras.up.pt/geograf/geofis/t1.html 1 of 27 5/16/02 12:08 PM

Geografia Física de Portugal - web.letras.up.ptweb.letras.up.pt/asaraujo/geofis/t1.pdfA Meseta está rodeada de relevos por quase todos os lados , o que acentua o carácter continental

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  • Geografia Fsica de PortugalTpicos do Programa - 1 Parte

    Consultar os Tpicos do Programa - 2 ParteNDICE

    I - Introduo: Localizao e dados elementares sobre o clima

    1 - Caracterizao geral de Portugal. A necessidade de integrar Portugal na Pennsula Ibrica2 - A posio da Pennsula Ibrica no contexto europeu e mundial3 - Caracterizao geral da Pennsula Ibrica4 - A originalidade do clima Mediterrneo5 - Principais factores do clima da pennsula Ibrica6 - A precipitao sobre a Pennsula Ibrica: Ibria hmida/Ibria seca7 - O contraste litoral-interior8 - Os factores termodinmicos e a circulao atmosfrica regional9 - Tipos de clima da Pennsula Ibrica10 - Alguns aspectos do clima de Portugal - Anlise da distribuio da temperatura e daprecipitao em Portugal11 - O clima de algumas estaes portuguesas12 - O clima da regio do Porto

    Bibliografia relativa Introduo

    II- Grandes conjuntos estruturais - plataformas e sistemas dobrados alpinos -caracterizao geral 1 - Plataformas Plataformas cristalinas Bacias sedimentares: 2 - Sistemas dobrados alpinos

    III- A integrao da Pennsula Ibrica no quadro geolgico europeu

    IV - As grandes regies estruturais de Portugal 1 - Apresentao geral 2 - Distino entre os conceitos de Macio Hesprico e de Meseta Ibrica

    V - Macio Hesprico 1 - Caractersticas gerais e zonamento 2 - Zona Cantbrica 3 - Zona Oeste-Astrico-Leonesa 4 - Sub-zona da Galiza mdia-Trs-os-Montes 5 - Zona Centro-Ibrica 6 - Zona de Ossa-Morena 7 - Zona Sul Portuguesa 8 - Fracturao tardi-hercnica 9 - Reconstituio paleogeogrfica do ciclo hercnico. Tentativa de sntese 10 - Anlise global e comparao entre as diferentes zonas

    Bibliografia

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  • I - Introduo

    1 - Caracterizao geral de Portugal. A necessidade de integrar Portugal na PennsulaIbrica

    Nota: consultar, essencialmente, DAVEAU, S. - Portugal Geogrfico, ed. Joo S daCosta, Lisboa, 1995, 223 p.

    Dimenses do pas: 218 a 112 km no sentido dos paralelos; 600 km no sentido dos meridianos(de 37N a mais de 42N). Consequncias imediatas: os maiores contrastes sero, a priori, os que se estabelecem entre o Norte e o Sul. Esse facto ganha, ainda, maior realce se se atentar emque Portugal se situa, em termos climticos, numa faixa de transio.

    No s a posio em latitude que explica os contrastes climticos entre o Norte e o Sul. O relevo acentua o contraste entre o Norte mais pluvioso e mais acidentado e o Sul, com umaprecipitao quase sempre inferior a 800 mm.

    Apesar da largura reduzida do "rectngulo", os contrastes climticos entre o litoral e o interiorso, tambm, mais acentuados do que seria de esperar. Tambm aqui a distribuio do relevo vai ter uma influncia marcante.

    Para desfazer a velha ideia de que o clima determina quase tudo, convm equacionar esseproblema numa perspectiva histrica, insistindo na ideia de que a litoralizao do pas umprocesso relativamente recente, brutalmente acelerado nos ltimos tempos. Assim, os contrasteslitoral-interior s remotamente tero uma origem fsica, mas evoluem de acordo com factoreseconmicos variveis para cada momento histrico.

    De uma posio perifrica no contexto peninsular resulta a grande importncia do litoral (848km de permetro) e da fronteira com a Espanha (1200 km), qual se atribui uma importnciaquase sempre menor. Assim, costume dizer que Portugal e Espanha so dois pases de costasvoltadas um para o outro, ideia que se traduz, entre ns, no conhecido ditado: "de Espanha nembom vento nem bom casamento".

    Todavia, cada vez menos se pode considerar Portugal como se estivesse desligado do resto daPennsula Ibrica. Essa atitude levou, no passado, a que se considerasse o pas como uma ilha umtanto mtica, flutuando num espao abstracto e vazio, sem relao com o mundo exterior (S.Daveau, in O. Ribeiro, H. Lautensach e S. Daveau, 1987).

    Se esse procedimento incorrecto sob o ponto de vista da Geografia Humana, em que asrelaes transfronteirias entre regies contguas (cf. a importncia das relaes Minho-Galiza) cada vez maior, na Geografia Fsica as fronteiras fazem ainda menos sentido, j que so rarosos casos em que a fronteira tem uma base natural e a maior parte das regies "naturais" socomuns aos dois lados da fronteira.

    A posio de Portugal como "finisterra" numa Pennsula que estabelece a relao entre doismundos - o mundo mediterrnico e a Europa central e do Norte -, conduziu a um certoisolamento relativamente aos caminhos de invaso. Esse isolamento, juntamente com os factoreshistricos decorrentes da Reconquista, teria ajudado a individualizar o territrio onde a vivnciacomum criou uma grande identidade cultural, sublinhada pelas fronteiras mais antigas daEuropa.

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  • 2 - A posio da Pennsula Ibrica no contexto europeu e mundial

    A Pennsula Ibrica faz a transio entre a Europa e a frica. Todavia, como difcil e ociosoestabelecer limites num domnio de transio, no adianta especular sobre o carcter mais oumenos "africano" da Pennsula Ibrica, comum a toda a faixa mediterrnica em que aquela se integra, temperado, neste caso, pela sua posio atlntica.

    Sendo a Pennsula europeia que mais se aproxima de frica, a Pennsula Ibrica funciona comouma ponte entre os dois continentes, o que lhe permitiu ser alvo privilegiado das invases rabes,facto de que decorre uma parte importante da histria das naes ibricas durante a Idade Mdia.

    A conjugao entre uma posio mediterrnica e a sua situao ocidental (s ligeiramenteultrapassada pela Irlanda), convertem a Pennsula numa encruzilhada de caminhos, frente ao mar e ao Novo Mundo.

    3 - Caracterizao geral da Pennsula Ibrica

    Forma e dimenses

    A superfcie=581. 000 km2 (um pouco mais do que a Frana, 6 vezes e meia maior quePortugal).

    A Pennsula Ibrica tem uma largura mxima de cerca de 1000 km, latitude do cabo Finisterra. latitude de Barcelona a largura reduz-se para cerca de 800 km. Aumenta ligeiramente e de850 km latitude do Cabo da Nao (e da pennsula de Lisboa).

    Segundo os meridianos, as suas dimenses apresentam valores ligeiramente inferiores, mas damesma ordem de grandeza. Assim, o comprimento da Pennsula varia entre 820 km longitudede Gibraltar e 700 km longitude de Huelva.

    Trata-se de valores bastante prximos, o que mostra, s por si, um carcter macio inequvoco.

    A circunstncia de possuir uma ossatura constituda por um ncleo extenso de rochasprecmbricas e paleozicas (Macio Hesprico) permite Pennsula Ibrica apresentar o seuaspecto macio. As rochas dessa idade (precmbricas e paleozicas) afloram raramente naPennsula Balcnica e nunca na Pennsula Itlica.

    Como natural numa pennsula, a Pennsula Ibrica apresenta um grande desenvolvimento doslitorais (4118 km) do qual cerca de metade corresponde ao litoral mediterrneo.

    A linha de costa, sobretudo no litoral mediterrnico, desenvolve-se segundo grandes arcosapoiados nos diversos cabos (Finisterra, Carvoeiro, Roca, Espichel, Sines, Sagres, St Maria,Gibraltar, Gata, Palos, da Nao e de Creus). A costa Cantbrica tem um traado diverso, com umcarcter muito mais rectilneo no seu conjunto, embora com reentrncias de pormenor.

    Trata-se, em linhas gerais, de um litoral pouco recortado. As rias galegas e o esturio do Tejo soas maiores aberturas existentes no litoral da Pennsula Ibrica.

    Essa viso geral no deve conduzir-nos a generalizaes excessivas. Com efeito, a ideia de que aPennsula Ibrica apresenta litorais pouco recortados, apoiada em mapas de pequena escala, deveser matizada pela anlise dos mapas de maior escala, onde j podemos aperceber-nos de algumasreentrncias, ligadas s embocaduras dos rios e (ou) a acidentes geolgicos relevantes. Estasltimas, em Portugal, agrupam-se em reas bem definidas, ligadas, geralmente, ao afloramento derochas mesozicas (veja-se o caso da costa ocidental entre a Nazar e Setbal e da costaalgarvia).

    Numa costa predominantemente rectilnea, como a generalidade da costa portuguesa, estesacidentes foram aproveitados, desde tempos mais ou menos recuados, para a localizao deportos de pesca e (ou) dos portos comerciais modernos.

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  • Das pennsulas do Sul da Europa, a Pennsula Ibrica a que se liga ao continente por um istmomais estreito (440 km). Alm disso est separada da Europa pelos Pirinus. Por isso, a PennsulaIbrica funciona, efectivamente, quase como uma ilha (=pennsula), destacada do resto daEuropa. Atendendo s suas dimenses poderemos dizer que a Pennsula Ibrica corresponde aum continente em miniatura, com uma grande diversidade geo-estrutural e climtica, que,juntamente com a diversidade cultural, contribui para a existncia de paisagens muito variadas.

    O isolamento relativamente ao resto da Europa (apoiado nas barreiras fsicas dos Pirinus e domar), deve ser explorado de uma forma o menos determinista possvel. Isto porque barreirascomo os Alpes e os Pirinus nunca foram intransponveis. Por outro lado, o mar aproxima maisdo que afasta. Tudo depende da vontade de ultrapassar os obstculos fsicos e das tcnicaspostas ao seu servio. Na era das comunicaes via satlite, em que uma parte importante dotrfego se realiza por via area, as cadeias montanhosas perderam, obviamente, o seu papel debarreiras significativas.

    A circunstncia de ser "quase uma ilha" poderia ter levado a Pennsula Ibrica a constituir umaunidade politicamente homognea. Todavia, ela s atingiu a unidade poltica de forma episdica.Pelo contrrio, o espao Ibrico sempre foi atravessado por regionalismos e por culturasdiversificadas. A unificao de Espanha um fenmeno relativamente recente, que continua a ser contestado, por vezes de forma violenta, em algumas das suas regies autnomas. Aindependncia de Portugal nunca se teria restaurado se a experincia das descobertas e ocomrcio martimo que se lhe seguiu no tivesse criado interesses econmicos fortes que sesentiram ameaados com a hegemonia imposta por Castela.

    As barreiras fsicas funcionam, sobretudo, quando so interiorizadas.

    Assim, a "originalidade" dos processos polticos e sociais dos povos da Pennsula a partir dosculo XV, com um reforo especial a partir dos anos trinta do nosso sculo, permitiu que sefalasse, numa metfora de evidentes conotaes geolgicas, de uma "jangada de pedra", apropsito da Pennsula Ibrica.

    O relevo e a rede hidrogrfica.

    Extenso: 581. 000 km2. 211.000 km2 correspondem a planaltos. Com efeito, um grandeplanalto desnivelado, a Meseta Ibrica, ocupa uma parte importante do centro da Pennsula. Porisso, esta tem uma altitude mdia elevada (660 m de altitude mdia para o territrio espanhol),embora no se possa considerar uma regio montanhosa.

    Nesta Pennsula macia e planltica, as plancies so relativamente raras e s constituem unidadesmorfolgicas importantes no vale do Quadalquivir e na parte ocidental de Portugal.

    A Meseta est basculada para Oeste, apresentando um pendor de 0,5%. Assim, pela suaconfigurao geral, podemos dizer, com Elise Reclus (apud L. Sol Sabars, 1952) que aPennsula Ibrica "vira as costas a leste". Esse pendor para Oeste, bem como a existncia derelevos mais importantes no rebordo oriental da Meseta vai condicionar o traado dos maisimportantes rios peninsulares (Douro, Tejo, parte espanhola do Guadiana, Guadalquivir). Aprincipal excepo, a esse predomnio do traado para Oeste, corresponde ao Ebro.

    A Meseta est rodeada de relevos por quase todos os lados, o que acentua o carcter continentalque j lhe era dado pela sua posio interior. Alm disso, est dividida, pela Cordilheira Central,em submeseta setentrional e meridional.

    Assim, a falta de reentrncias litorais e os Cantbricos isolam completamente a regio deCastela-a-Velha (=submeseta setentrional) a Norte. A leste so os montes Ibricos e asCordilheiras Costeiras Catals, que so paralelas costa, que separam aquela regio doMediterrneo.

    Mesmo a Oeste, onde as montanhas mais importantes so oblquas em relao linha de costa, oCaramulo, o Maro e o Alvo, a Sanbria e os Montes de Len, acabam por constituir, em

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  • conjunto, uma muralha quase contnua, impedindo a entrada das influncias atlnticas nasubmeseta setentrional.

    A submeseta meridional comea por ser isolada dos ventos hmidos de Oeste e de noroeste pelaCordilheira Central e pelos Montes de Toledo. Esse isolamento relativamente ao Atlntico igualmente notrio a Sul, com a serra Morena. A sudeste, as Cordilheiras Bticas (com asmaiores altitudes dentro da Pennsula Ibrica) constituem um rebordo montanhoso imponente,isolando a Meseta do Mediterrneo.

    S no Alentejo a penetrao das influncias martimas parece ser mais fcil. Mesmo a, as serrasdo Cercal e de Grndola, apesar da pouca importncia topogrfica que tm, isolam o Alentejo domar, sob o ponto de vista climtico. No Algarve, esse papel desempenhado pelas serras deMonchique (902 m) e do Caldeiro (541 m).

    Assim, o interior da Pennsula Ibrica fica quase sempre bastante distante do mar. Essa distncia geralmente reforada pelo seu prprio rebordo montanhoso ou pelas cadeias perifricaspeninsulares. Apenas a Oeste parece ficar um pouco mais aberto sua influncia.

    Todavia, mesmo a, uma anlise de maior escala permite verificar que existe, quase sempre, umrebordo (designado como relevo ou macio marginal) que separa a plataforma litoral das regiesinteriores e que, apesar de parecer pouco significativo, pode constituir uma barreira nonegligencivel para as influncias martimas.

    Cabe aqui uma primeira pergunta, que deixamos em suspenso, por agora, sobre a origemprofunda do carcter perifrico da maior parte dos relevos peninsulares ( excepo daCordilheira Central).

    Para concluir esta alnea, poderemos perguntar-nos sobre as eventuais influncias da distribuiodo relevo na evoluo histrica e poltica dos povos da Pennsula. Com efeito, se o carcter de"quase ilha" poderia induzir um certo isolamento relativamente ao resto da Europa, com odecorrente sentido de pertena a uma outra unidade com caractersticas prprias, a fragmentaointerna decorrente do relevo define, pelo contrrio e a priori, uma tendncia para a existncia deregies com graus variveis de autonomia.

    Se essa relao existe, a sua influncia no pode ser exagerada. Os limites entre as unidadesnacionais so muitas vezes independentes do relevo (fronteira da Beira transmontana). Sendofenmenos humanos, as fronteiras polticas regem-se por leis que lhes so prprias. Quando haproveitamento de certas fronteiras naturais como limites polticos, eles funcionam mais comoreferncias do que como obstculos intransponveis (S. Daveau, 1976, cit. em C. A. Medeiros,1994). Da que se aproveitem, por exemplo, os cursos de gua, como limite entre concelhos efreguesias, dentro de Portugal. Mas mesmo quando isso acontece, a fronteira sofre,frequentemente, alteraes ao longo do tempo, o que prova que ela um fenmenoeminentemente poltico e que s por coincidncia e facilidade adopta traados com base fsica.

    A uma outra escala, as verdadeiras fronteiras culturais podero ser os vazios de homens, a terrade ningum, porque de aproveitamento difcil. Nessa perspectiva, efectivamente, algumas grandesbarreiras naturais (desertos, montanhas) podero ter funcionado, ou funcionar ainda, comofronteiras culturais.

    Mas mesmo isso no uma regra infalvel. A Sua, por exemplo, representa a organizao doespao baseado nas relaes econmicas que se estabelecem atravs dos Alpes. Do mesmomodo, foi a circulao intensa que se fazia na Meseta Castelhana que "fez" a Espanha e quepermitiu o domnio castelhano sobre as regies perifricas da Pennsula.

    Apesar de relativizarmos as influncias do meio fsico sobre o desenvolvimento histrico ecultural dos povos, no devemos cair no extremo oposto ao determinismo de natureza, afirmandoque esta no tem qualquer influncia, que tudo pertence ao livre arbtrio a histria dos homens.

    Embora seja, em boa parte, um produto da histria, uma nao no , apenas, um produto da

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  • Histria. "A Terra de um povo a combinao, original e fecunda, de dois elementos: territrio ecivilizao" (O. Ribeiro, 1955). Com efeito, os povos vivem sobre um territrio de que retiram asua subsistncia. Assim sendo, as condies fsicas desse territrio acabam por influenciar, deforma mais ou menos directa, os modos de vida da populao e, por seu intermdio, asrespectivas caractersticas culturais.

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    4 - A originalidade do clima Mediterrneo

    O ritmo anual do tempo que caracteriza os pases mediterrneos francamente original escalamundial. caracterizado por um Vero sem chuva, solarengo e quente, em alternncia ntida comuma estao fresca durante a qual se sucedem desordenadamente os dias de chuva e as abertas.

    Em todo o resto do Globo, a precipitao reparte-se quase igualmente entre todos os meses doano ou, ento,o Vero chuvoso.

    No clima mediterrnico, o pino do calor e a maior secura coincidem no tempo. Por isso, esteclima no favorvel vida vegetal e agricultura.

    apenas no caso do Mar Mediterrrneo que este tipo climtico se estende para leste, ao longo da faixa litoral do Mediterrneo.

    O anticidone subtropical dos Aores condiciona a subsidncia do ar que , por isso, muito seco.Isso impede a formaco de precipitao, no Vero. latitude de Portugal, e durante todo o ano latitude do Sahara. No fundo, o Vero Mediterrneo uma extenso temporria, para o norte, dacintura desrtica que separa, na parte ocidental dos continentes, a Zona Temperada da ZonaIntertropical.

    5 - Principais factores do clima Numa anlise preliminar, definimos a Pennsula Ibrica pelo seu carcter macio e pelopredomnio de relevos perifricos que isolam o seu interior das influncias do mar. Quais os principais factores que afectam o clima da Pennsula Ibrica?

    Latitude

    A latitude varia entre 43 47'N (Estaca de Bares, a leste do Cabo Ortegal) e 36 00'N (ilhota deTarifa, prximo de Gibraltar). Esta situao, que coincide perfeitamente com a do desenvolvimento do Mediterrneo, d-lhe partida, com grande probabilidade, caractersticas mediterrneas. Todavia, numa faixa detransio, como a faixa mediterrnica, variaes relativamente pequenas de latitude podemtraduzir-se em grandes modificaes climticas. Das pennsulas do Sul da Europa, a Pennsula Ibrica aquela que apresenta latitudes maisbaixas e que, adicionalmente, mais se aproxima de frica. Com efeito, o estreito de Gibraltar temapenas 14 km de largura. A regio de Reggio (Calbria, extremidade Sul da Pennsula Itlica)situa-se lati-tude do Cabo de Sines. Dos territrios europeus, s a ilha de Creta atinge latitudesmais baixas. A passagem das perturbaes da frente polar, durante o outono, inverno e parte da pri-mavera,atinge sobretudo o Norte, que fica mais pr-ximo das depresses que as condicionam. Durante overo, contudo, as influncias orientais (que penetram escassamente para o interior da costamediterrnica) e meridionais tornam-se mais relevantes. Assim, toda a Pennsula atravessadapor uma "luta" entre as influncias atlnticas e mediterrnicas. As caractersticas mediterrnicasestendem-se a todo o territrio, embora de forma muito mitigada a Norte e de forma cada vezmais clara medida que se caminha para Sul.

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  • O carcter macio da Pennsula Ibrica A configurao em forma de paralelogramo, e com poucas reentrncias da Pennsula, tem comoconsequncia que as reas do interior se situam a distncias apreciveis (que podem atin-girvalores superiores a 400 km) do mar.

    Distribuio e orientao do relevo Mas mais importante do que isso a circunstncia de a maior parte dos relevos se situar naperiferia da Pennsula, com uma disposio muitas vezes grosseiramente paralela linha decosta. Esta circunstncia vai condicionar a existncia de chuvas orogrficas nas vertentesex-postas aos ventos martimos e criar situ-a-es de abrigo nas vertentes opostas (efeito defhn). No so s os relevos importantes que provocam este efeito. Qualquer rugosidade do ter-renoque retarde o movimento de massas de ar hmido vai gerar movimentos ascencionais quepodero desencadear precipitao. por isso que a respectiva distribuio mostra umparalelismo to grande com o relevo. Como veremos, todavia, a distribuio do relevo no tem influncia s na precipitao. Isolandocertas regies dos ventos vindos do mar ela acentua a continentalidade do clima, au-mentando asamplitudes trmicas diurnas e anuais.

    6 - A precipitao sobre a Pennsula Ibrica: Ibria hmida/Ibria seca Apesar da importncia que a distribuio das temperaturas e a sua variao tem no espaopeninsular, podemos dizer que, situando-se a Pennsula nas latitudes mdias, as temperaturas,embora possam interferir no conforto da populao, nunca constituem reais limitaes aoestabelecimento dos homens. O mesmo no se pode dizer da precipitao. Esta pode variar entre valores superiores a 2000mm (Cantbricos, Pirinus, cabo Finisterra), atingindo mesmo mais de 3500 mm em certasmontanhas portuguesas (serra do Gers e da Cabreira), at valores inferiores a 300 mm (camposde Njar, vale inferior do Segura). Em Portugal atingem-se valores inferiores a 300 mm no vale da Rib de Massueime, na Beira transmontana. Mas valores inferiores a 500 mm sorelativamente frequentes, quer nos vales afluentes da margem esquerda do Douro, quer no baixoAlentejo e em quase todo o litoral do Algarve. Verifica-se que a Pennsula, na sua maior parte, recebe menos de 600 mm, mas que as fachadasnorte e NW so muito mais chuvosas, recebendo em geral mais de 1200 mm. O Noroeste de Portugal apresenta muitas caractersticas atlnticas. Mas as terras baixas deTrs-os-Montes e grande parte do Sul so, sem dvida, Mediterrneos Observando a distribuio das chuvas em Portugal nota-se que os contrastes se acentuam onde orelevo mais diferenciado. Chove mais nas terras altas, prximas do litoral e, principalmente, nasvertentes expostas aos ventos martimos; chove menos nas depresses, sobretudo nas maisafastadas do litoral e abrigadas por relevos interpostos. Perto do oceano as chuvas so frequentes mas pouco intensas. Nas vertentes abrigadas, o aquecimento das massas de ar, provocado pelo movimento desubsidncia a sotavento do obstculo, j no permite a condensao da humidade que elas aindacontm. Separando as reas com precipitao superior a 600 mm das restantes, obtemos uma faixacontnua englobando toda a fachada Norte da Pennsula e mais de metade da fachada ocidental,que se tem designado como Ibria Hmida. Se, em vez da isoieta de 600 mm, utilizarmos a de 800 mm, existe, como bvio, uma restrio da rea da Ibria Hmida. Esta restrio faz-senotar mais no Alentejo que no interior da Pennsula, porque as reas interiores com mais de 600mm de precipitao do interior da Pennsula correspondem sempre a reas montanhosas, onde asisoietas so bastante apertadas. Curiosamente, ambos os textos de Vil Valent (de 1968 e de1989, este inserido na Geografa Fsica de Espaa) parecem indicar uma certa preferncia pelovalor de 800 mm como limite entre as duas Ibrias. O limite entre a Ibria Hmida e a Seca situa-se latitude de Abrantes, no vale do Tejo. A leste, olimite situa-se perto da fronteira portuguesa. Todavia, o vale do Douro e o conjunto daCordilheira Central constituem excepes a esta regra, correspondendo a avanos,respectiva-mente, da Ibria Seca e da Hmida. Para o interior e para Sul destes limites, todas as reas com precipitao superior a 800 mm

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  • correspondem a reas montanhosas (Serra de Sintra, S. Mamede, Monchique, Caldeiro, Morenae parte ocidental da cordilheira Btica).

    7 - O contraste litoral-interior Um exemplo desta situao pode ser o contraste entre a plataforma litoral e as reas situadaspara o interior do relevo marginal, na regio do Porto. As estaes da S da Hora e da Serra doPilar apresentam amplitudes trmicas anuais (rondando os 9,3C) significativamente inferiores sda estao de Sto Tirso (=12,3C), embora a distncia a que esta ltima se situa do mar seja deapenas 25 km. Como seria de esperar, estas caractersticas acentuam-se medida que caminhamos para ointerior. Assim, o mapa n 3 de H. Lautensach (Geografa de Espaa y Portugal - Atlastemtico) demonstra, muito claramente, a influncia da continentalidade e da distribuio dorelevo nas amplitudes trmicas anuais. Estas so sempre mais baixas na fachada ocidental daPennsula (com valores de 6,2C no cabo de S. Vicente, cerca de 10C na regio do Porto) doque no litoral mediterrnico (o valor mais baixo de 11,4C na Costa Brava, mas os valores maisfrequentes nesse litoral rondam os 13-14C). As amplitudes trmicas na fachada ocidental daPennsula so tambm inferiores s do litoral Cantbrico (onde no descem abaixo dos 8,9C), oque poder relacionar-se com a m exposio aos ventos de Oeste que este litoral apre-senta. medida que se caminha para o interior estes valores aumentam rapidamente. Nota-se, todavia,que esse aumento no regular. H uma ntida acelerao que coincide com a barreira decondensao do Norte de Portugal. As curvas descrevem, depois, um vale que coincide com otraado da Cordilheira Central e mantm-se bastante prximas (uma variao de 3C deampli-tude trmica em cerca de 20 km), coincidindo, praticamente, com a fronteira portuguesa.Deste traado resulta bvia a importncia da distncia linha de costa, mas tambm do relevo eso-bre-tudo das consequncias que ele tem na precipitao e na humidade do ar. Com efeito,va-l-ores baixos da humidade do ar contribuem para o seu rpido aquecimento durante o dia edu-rante o vero e para um arrefecimento rpido durante a noite e durante o inverno, acentuando,assim, os valores da amplitude trmica diurna e anual. Tambm resulta evidente que a influncia moderadora do Atlntico no tem paralelo no marMediterrneo. Os valores mais elevados da amplitude trmica anual no coincidem com o centrogeomtrico da Pennsula, mas so nitidamente desviados para leste, ocorrendo na regio de Soria(21,6C), da serrania de Cuenca (21,3C), de Aranjuez (21,4C) e da serra de Segura (21,4C),que ficam a distncias cada vez mais pequenas do Mediterrneo (entre 200 e 100 km), medidaque se caminha para Sul. Parece, pois, evidente que a variao da amplitude trmica anual no se explica apenas peladistncia ao mar, mas fortemente influenciada pela distribuio do relevo e por uma boaexposio aos ventos de Oeste (de que decorrem valores elevados de precipitao e,conse-quentemente, de humidade do ar). Os diversos factores que referimos contribuem para a veracidade do ditado popular que diz que,no interior da Pennsula "h nove meses de inverno e trs de inferno".

    8 - Os factores termodinmicos e a circulao atmosfrica regional A Pennsula Ibrica, situando-se na parte meridional da zona temperada, um palco do combateentre a circulao da zona temperada (comandada pela corrente de jacto) e subtropical(controlada pelo anticiclone do Aores). O conjunto destas faixas desloca-se para Sul noIn-verno e para Norte no Vero, resultando, da, que a circulao perturbada de Oeste atinge aPennsula no Outono e na Primavera.

    Tipos de tempo da estao fresca Durante o Inverno, a frente polar pode atingir apenas o Sul da pennsula, permitindo que osanticiclones de origem trmica existentes, no Inverno, no interior da Europa emitamprolongamentos em crista para a Pennsula de molde a constituir situaes de bloqueio, que setraduzem por uma certa diminuio da precipitao em algumas es-taes, durante o ms deFevereiro. Durante a estao fresca Portugal encontra-se geralmente includo na faixa latitudinal varridapelas depresses da frente polar. So sistemas de circulao em que convergem duas massas dear diferentes. A subida da massa de ar mais quente favorece a condensao da humidade

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  • provocando o aparecimento de nuvens e de precipitao. Conforme a velocidade de deslocaodas massas de ar e a sua trajectria mais ou menos setentrional, a chuva pode ser fraca ou intensaem Portugal e atingir preferencialmente as vertentes expostas a SW ou a NW. Regra geral, oNorte do Pas recebe mais chuva que o Sul. Mas pode acontecer formar-se, mais ao Sul, uma depresso anexa, por penetrao de umacomprida lngua de ar frio por cima do ar morno subtropical. As depresses deste tipo provocamprecipitaes mais abundantes no Sul do Pas. Quando o ar frio de altitude se encontra separadoda sua origem setentrional, fala-se de uma situao de gota de ar frio, que pode persistir durantecerto tempo. As situaes depressionrias alternam com outras em que a circulao dominante de oeste seinterrompe, por estar bloqueada pela presena de um anticiclone de grande desenvolvimentovertical. Conforme a posio deste, sopram ventos frios de NE ou reina uma situao de grandecalma, favorvel ao arrefecimento nocturno nos vales e bacias, onde se desenvolve de madrugadaum denso nevoeiro pelicular de irradiao ou, at, a uma capa de geada.

    Tipos de tempo de Vero A influncia do anticiclone do Aores predomina no vero, produzindo uma subsidnciageneralizada sobre a Pennsula. Porm, dada a sua localizao numa rea de transio, possvela existncia de situaes tipicamente de vero durante o in-verno e vice-versa. A frequncia dassituaes atpicas controlada pela diferena de latitude entre as reas setentrionais emeridionais da Pennsula. As depresses de origem trmica no interior da Pennsula, conjuntamente com o anticiclone dosAores so responsveis por uma corrente de norte, a nortada, que se acentua a partir do fim damanh. A nortada provoca uma corrente martima que, devido fora de Coriolis, se dirige para Oeste,obrigando assim, por um fenmeno de compensao, subida frequente de guas profundas[upwelling]. Como as guas costeiras do Atlntico esto arrefecidas, desenvolve-se acima delasuma camada de ar fresco e hmido, onde aparece o nevoeiro de adveco. Este penetra poucopara o interior. Em todo o resto da Pennsula, submetido a uma situao anticiclnica muito estvel, a insolaoaquece fortemente o solo e a camada de ar que lhe est sobreposta, a ponto de dar origem a umamassa de ar dito ibrico muito quente e turvada por uma espessa bruma seca. A pressoatmosfrica baixa ento nas camadas interiores aquecidas da atmosfera peninsular. Se adepresso trmica se acentuar, chega a chamar a si o ar martimo do litoral ocidental,interrompendo durante alguns dias o calor trrido do interior. Mas, em breve, o ciclo doaquecimento volta a iniciar-se, restabelecendo um gradiente trmico oeste-leste muito acentuadoatravs dc Portugal.

    9 - Tipos de clima da Pennsula Ibrica difcil estabelecer uma classificao climtica totalmente satisfatria da Pennsula Ibrica, dadaa enorme diversidade de climas existentes. H, por isso, vrias tentativas de classificao dosclimas da Pennsula. A classificao proposta na Geografa de Espaa (J. Bosque Maurel e J. Vil Valent, 1989)contempla: 1 - um grupo de climas sob a influncia de processos atmosfricos de origem atlntica; 2 - um grupo de climas em que a influncia do Mediterrneo o elemento definidor essencial; 3 - um grupo de climas das regies interiores isolados de ambos os mares, de tendnciacontinental. A anlise de grficos termo-pluviomtricos de algumas estaes espanholas (por exemplo, ACorua, Barcelona, Madrid e Almeria), ilustra bem os trs grupos acima referidos e, ainda, aextrema degradao de um clima mediterrneo (exemplo: estao de Almeria), fruto de umaexposio particularmente desfavorvel, que leva J. Vil Valent (1968) a considerar umaEspanha semirida.

    10 - Alguns aspectos do clima de Portugal: Anlise da distribuio da temperatura e daprecipitao em Portugal A anlise dos mapas de isoietas publicados em S. Daveau et al. 1977 (Norte litoral - Norteinterior, - Centro litoral) ou de sua verso simplificada (O. Ribeiro, H. Lautensach, S. Daveau,1988) permitir, mais uma vez, agora com mais pormenor, confirmar a influncia do relevo e da

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  • latitude na distribuio da precipitao. Como estes dois factores esto associados, no Norte dopas, quase toda a rea a Norte do Tejo apre-senta mais de 800 mm de precipitao. A anlise das isotrmicas de Janeiro e Julho (O. Ribeiro, H. Lautensach, S. Daveau, 1988), com o seu traado, respectivamente, em diagonal e paralelo linha de costa, levar os alunos aidentificar os factores responsveis.

    11 - O clima de algumas estaes portuguesas A anlise dos grficos termo-pluviomtricos de algumas estaes portuguesas levar os alunos aidentificar as variedades climticos presentes e os factores responsveis pelas diferenasverificadas. Como concluso, sero referidas algumas tentativas de classificao climtica de Portugal (M. J.Alcoforado et al., 1982; S. Daveau et al., 1985) e discutidos os problemas e as difi-cul-dadesque qualquer classificao climtica coloca.

    12 - O clima da regio do Porto Parece-nos interessante fazer uma breve anlise das trs estaes da regio do Porto cujasnormais climatolgicas de 1931-60 esto disponveis. Essa anlise permitir aos alunos reflectirsobre a sua experincia pessoa e servir, assim, para interiorisar e consolidar os conhecimentosna rea da climatologia. Nesse sentido, analisaremos a evoluo das temperaturas mdias, das mdias das mxi-mas emnimas e das temperaturas extremas nas estaes de Sto Tirso, S. Gens e Serra do Pi-lar.Verifica-se que, embora as temperaturas mdias no sejam muito diferentes nestas trs es-taes,as amplitudes trmicas so sempre maiores em Sto Tirso. Alm disso, perceptvel a maiorvariao das temperaturas durante o vero. Como seria de esperar, as temperaturas extremas apresentam uma variao mais irregular, dado ocarcter aleatrio dos factores que as condicionam. Todavia, sempre em Sto Tirso que a suavariao maior. A estao de S. Gens aparece a seguir. Relativamente precipitao, a estao de Sto Tirso apresenta em todos os meses valoressuperiores aos de S. Gens e Serra do Pilar. possvel verificar que a principal diferena entreelas tem a ver com a intensidade das precipitaes, porque Sto Tirso tem menos dias deprecipi-tao fraca (

  • MEDEIROS, C. A. - Geografia de Portugal: ambiente natural e ocupao humana. Uma introduo, ImprensaUniversitria, Ed. Estampa, Lisboa, 1994, 250 p.

    RIBEIRO, O. - A formao de Portugal, Col. Identidade, srie Cultura Portuguesa, Instituto de Cultura e LnguaPortuguesa (ICALP), Lisboa, 1987, 134 p.

    (*) RIBEIRO, O. - Portugal, o Mediterrneo e o Atlntico, 5 Ed. Liv. S da Costa, Lisboa, 1987, 189 p.

    (*) RIBEIRO, O., LAUTENSACH, H., DAVEAU, S. - Geografia de Portugal. I. A posio geogrfica e oterritrio, Lisboa, Ed. S da Costa, 1987, 334 p.

    RIBEIRO, O., LAUTENSACH, H., DAVEAU, S. - Geografia de Portugal. III. O povo portugus, Lisboa, Ed.S da Costa, 1989, p. 627-942

    RIBEIRO, O - Geografa de Espaa y Portugal, Volume V, ed. Montaner y Simn, Barcelona, 1952, 268 p.

    SOL SABARS, L.- La genialidad geogrfica de la Pennsula IbricainGeografa de Espaa y Portugal, Tomo I(Geografa Fsica), Barcelona, 1952, p. 17-31

    (*) VIL VALENT, J. et al. - Geografa de Espaa, vol. I, Geografa Fsica, ed. Planeta, Barcelona, 1989, 591p. VIL VALENT, J. - La Peninsula Iberica, Ed. Ariel, Barcelona, 1968, 389 p.

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    II - Grandes conjuntos estruturais - plataformas e sistemas dobradosalpinos - caracterizao geral

    1 - Plataformas

    Como o nome indica, trata-se de reas aplanadas. Contudo, o significado da palavra "plataforma"nem sempre definido com clareza.

    Como j do conhecimento dos alunos, de disciplinas anteriores, a configurao aplanada dorelevo pode ter origem na eroso, na acumulao ou na estrutura das reas consideradas.

    Isso no admira se pensarmos que as plataformas podem ter origens bastante variadas.

    Para evitar confuses, utilizaremos a caracterizao de R. Coque (Geomorfologa, trad. castelhana, Alianza Ed., Madrid, 1987), que nos parece, por um lado, simples e intuitiva e, poroutro, dar conta da variedade de plataformas existentes superfcie do Globo.

    Segundo o referido texto, as plataformas correspondem aos conjuntos estruturais mais antigos.

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  • Representam partes consolidadas da crusta, rgidas e relativamente estveis. AS referidascaractrsticas, que se adaptam, sobretudo, s plataformas de eroso, podem extender-se splataformas de acumulao cujas caractersticas tectnicas derivem, essencialmente, do soco emque assentam.

    Ora, so raras as plataformas estruturais com dimenso suficiente para se considerarem "regiesde plataforma". Por isso, podemos dizer que as regies de plataforma so, quase sempre, reasde eroso ou de acumulao.

    A existncia de extensas reas cujo aplanamento tem origem na eroso ou acumulao significa,normalmente, que os fenmenos erosivos prevalecem sobre a movimentao tectnica. Trata-se,por isso, de regies relativamente estveis, situadas fora dos sistemas dobrados alpinos. Por isso,estas plataformas so conjuntos territoriais consolidados em antigas fases orognicas. Dadecorre a sua rigidez e estabilidade.

    Esta caracterizao implica que sejam formadas, sobretudo, por rochas gneas e metamrficas,correspondentes s razes de antigas cadeias montanhosas. Estas podem aflorar (plataformascristalinas) ou constiturem socos cobertos por pequenas espessuras (poucas centenas demetros) de sedimentos continentais com estrutura aclinal ou monoclinal de pequeno pendor(plataformas sedimentares). Mas plataformas cristalinas e sedimentares no correspondem acompartimentos estanques: basta um levantamento ligeiro para que toda a cobertura daplataforma seja erodida, fazendo aflorar o soco subjacente. Basta uma ligeira subsidncia paraque uma plataforma cristalina seja fossilizada por sedimentos, transformando-se em plataformasedimentar.

    As caractersticas das plataformas dependem muito da idade dos respectivos socos.

    Assim, as plataformas precmbricas (escudos ou crates) apresentam, geralmente, uma maiortendncia para a estabilidade. Correspondem aos antigos continentes da Laursia e Gondwana.O escudo Bltico o seu representante no Norte da Europa.

    As plataformas primrias (calednicas e hercnicas) individualizam-se em macios antigos(anteclises) e bacias sedimentares (sineclises). Nas sineclises a sedimentao mesozica ecenozica pode atingir uma certa espessura. As estruturas so aclinais na zona central emoderadamente monoclinais na periferia, podendo a disposio das camadas ser influenciadapor acidentes do soco.

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    Plataformas cristalinas

    Normalmente as plataformas incluem vestgios de antigos sistemas dobrados, precmbricos ouprimrios, em que a eroso, naturalmente persistente, uma vez que se trata de reas levantadas,acaba por fazer aflorar as razes das cadeias montanhosas (granitos, aurolas de metamorfismoregional) ou afloramentos de rochas resistentes formando cristas apalachianas (exemplo: ascristas quartzticas tpicas da Zona Centro-Ibrica).

    A individualizao dos macios paleozicos (calednicos ou hercnicos) , geralmente, devida aum levantamento bastante recente (plio-quaternrio ou, apenas, quaternrio). Resulta da umrelevo tpico, com uma superfcie culminante geralmente polignica, elaborada durante oCenozico e entalhada por gargantas por vezes profundas. Esta situao frequente no MacioHesprico.

    Porm, a estabilidade de uma determinada rea nunca indefinida. Assim, ao fim dum certotempo (algumas estimativas apontam para cerca de 80 milhes de anos, cf.Global

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  • Geomorphology, M. A. Summerfield, 1991), as diversas reas continentais reunidas numsupercontinente acabam por induzir um aquecimento considervel na astenosfera subjacente,devido dificuldade para o calor, de origem radioactiva, ou proveniente do ncleo da terra,atravessar a crusta continental.

    Da pode resultar um processo de intumescncia trmica que acaba por conduzir formao denovos rifts. Foi o que aconteceu aquando da ruptura da Pangea, no incio do Mesozico. o quese passa, actualmente, no vale do Rift, na parte oriental de frica. Todavia, face complexidadedo traado dos rifts, difcil prever se se vai dar alastramento dos fundos ocenicos nessa rea.Aparentemente, isso depender da movimentao global das placas. Os rifts mal situados relativamente a elas podero abortar (M. A. Summerfield, 1991, op. cit.).

    Um outro fenmeno que pode encontrar-se em certas margens passivas a existncia deimportantes rebordos montanhosos que correspondem a levantamentos na periferia dasplataformas. bastante discutida a origem desses rebordos, aventando-se teorias vrias, desdemodelos essencialmente trmicos, relacionados com os fluxos de calor do manto at modelosmecnicos (isostasia flexural, cf. M. A. Summerfield, 1991, op. cit.).

    Bacias sedimentares:

    Podem corresponder a diversos tipos:

    1 - Coberturas das plataformas epi-cmbricas, epi-calednicas ou epi-hercnicas da Europaestvel (exemplo: bacias interiores da Meseta);

    2 - Rifts intracontinentais onde esta cobertura deformada por falhas normais com rejectomoderado e onde o relevo assim criado compensado por uma sedimentao sncrona domovimento das falhas (exemplo: Bacia do Tejo e Sado);

    3 - Bacias alpinas perifricas onde se depositam os molassos das cadeias alpinas, com umasubsidncia por vezes muito activa que responsvel pela grande espessura dos terrenos,geralmente post-oligocnicos (exemplo: Bacia do Ebro).

    2 - Sistemas dobrados alpinos

    Constituem as faixas de sutura mais recentes, ligando ou apoiando-se sobre plataformasprecmbricas e paleozicas. Consoante a sua posio relativamente s plataformas pr-existentese arquitectura de conjunto da decorrente, podem classificar-se em vrios tipos:

    Tipo intracontinental: corresponde ao dobramento de sedimentos depositados num marepicontinental. Deste modo, o substrato formado pela crusta continental pr-existente.

    Os Pirinus constituem um exemplo deste tipo de cadeia. O soco hercnico forma a zona axial dacadeia e aparece, tambm, comprometido no dobramento correspondendo base de alguns dosmantos de carreamento que se dispem, formando um leque, a partir da referida zona axial.

    Tipo pericontinental: forma-se quando se desenvolve uma zona de subduco na periferia de umcontinente. A subduco da placa ocenica produz a compresso da crusta continental, bemcomo dos sedimentos depositados sobre ela e na fossa. A fuso de crusta ocenica juntamentecom a gua e os sedimentos que ela arrasta produz intenso vulcanismo de tipo intermdio(andesitos). Os exemplos clssicos desta situao so os Andes e as Montanhas Rochosas.

    Tipo intercontinental: cadeia montanhosa formada pelo choque de dois continentes. Representa ofecho de um ciclo, em que o oceano formado por rifting vai desaparecer e dar lugar a uma zonade sutura. Corresponde ao estdio final do ciclo de Wilson, de durao mdia de cerca de 500milhes de anos. o caso de maior complexidade estrutural, j que cada um dos continentespode ter, na sua periferia, arcos insulares ou cadeias pericontinentais. Pode dar-se como exemploos Alpes e os Himalaias. Nestes casos, a baixa densidade das duas placas litosfricas em colisono facilita a subduco, pelo que, no fundo, se d um empilhamento das placas continentais

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  • (obduco continental) conducente formao de relevos de grande altitude (Himalaias).

    Verifica-se uma progressiva importncia do soco na evoluo da cadeia montanhosa quando sevai das cadeias intercontinentais para as pericontinentais e intracontinentais.

    conveniente fazer, nesta altura, uma breve recapitulao das diversas fases da sedimentognese,da tectognese e do magmatismo que lhe est associado, noes j aprendidas na disciplina deIntroduo Geologia.

    necessrio, alm disso, matizar a importncia dos movimentos horizontais na criao dascadeias montanhosas. Eles no so os nicos responsveis pela criao do relevo. Com efeito, ascadeias alpinas europeias resultam da coincidncia entre os movimentos compressivos, geradoresde estruturas dobradas e de carreamentos de grande amplitude, e os movimentos verticais,responsveis por um levantamento de conjunto.

    A compresso que engendrou as cadeias alpinas europeias terminou no Miocnico superior. Todavia, os movimentos tectnicos prolongaram-se, geralmente, ao longo do Pliocnico e doQuaternrio.

    N.B: para acompanhar o texto parece-nos fundamental consultar mapas e as tabelascrono-estratigrficas enviadas por e-mail e tambm disponveis neste site:

    1 - Tabela em Portugus- Univ. Coimbra, 1973

    2 - Tabela do Prof. Joo Pais (Universidade Nova de Lisboa)

    3 - Tabela em ingls

    4 - Etc!

    Alguns textos e tabelas simplificadas podero dar uma ajuda inicial para a aprendizagem inicial

    Estas tabelas devero ser consultadas simultaneamente com mapas, dos quais destacamos, j queengloba todo o pas e de fcil leitura, o mapa tectnico da Pennsula Ibrica

    No Pliocnico, deu-se um movimento de subida de conjunto, em certas reas. Noutrasproduziu-se, por compensao, um afundamento com distenso que criou algumas baciasocenicas (sobretudo no Mediterrneo ocidental). No Quaternrio a compresso recomeou,sobretudo ao longo do actual limite de placas entre a Eursia e a frica.

    Assim, a individualizao das unidades morfoestruturais deve-se, em grande medida, aosmovimentos tectnicos recentes. As respectivas orientao e tendncia geral interferem com asorientaes antigas, ora se sobrepondo a elas, ora intersectando-as de forma quasecompletamente independente.

    Deste modo, a Geomorfologia deixa de ser, apenas, mais um elemento descritivo, porque, atravsdas suas relaes com a neotectnica, se torna um elemento essencial em qualquer sntesegeodinmica.

    II - A integrao da Pennsula Ibrica no quadro geolgico europeu

    (consultar, essencialmente RIBEIRO, A. et a l . . - Introduction la Gologie gnrale duPortugal, Servios Geol. Portugal, Lisboa, 1979, 114 p.

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  • descarregar a primeira parte do texto no formato pdf geol1.pdf

    descarregar a segunda parte do texto texto no formato pdf geol2.pdf

    Pode dizer-se, de um modo geral, que a Pennsula Ibrica corresponde a um grande planaltodesnivelado, rodeado por montanhas e apenas aberto a Oeste s influncias marinhas. Para acompreenso da estrutura geral da Pennsula e do seu carter macio necessrioreportarmo-nos sua situao no contexto europeu.

    Assim, a Europa pode ser dividida em grandes conjuntos agrupando rochas dobradas aquandode cada uma das grandes orogenias que a afectaram:

    Eo-Europa: formada durante orogneses Precmbricas (parte oriental da Escandinvia);

    Paleo-Europa: formada durante a orognese Calednica (parte ocidental da Escandinvia, Norteda Alemanha, maior parte da Gr-Bretanha e da Irlanda);

    Meso-Europa: formada durante a orognese Hercnica (grande parte da Alemanha, Frana e daPennsula Ibrica);

    Neo-Europa: parte oriental da Pennsula Ibrica, toda a cadeia Alpina e as cadeias que aprolongam para leste.

    Os macios hercnicos so caractersticos da Europa mdia. A cadeia Hercnica corresponde auma estrutura complexa e arqueada, opondo-se, assim ao desenvolvimento linear da cadeiaCalednica. Na rea sudoeste, as unidades hercnicas desenham o arco Ibero-armoricano,posteriormente segmentado pela abertura do golfo da Gasconha que separou a regio daBretanha da Pennsula Ibrica. A rotao do Macio Hesprico permitiu que ele seja o maciohercnico em posio mais meridional.

    As cadeias alpinas, testemunhos da ltima orogenia que afectou a Europa, so as que se situammais a Sul, volta do Mediterrneo.

    Parece, assim, que a idade das rochas que constituem o continente europeu progressivamentemais moderna medida que se caminha de Norte para Sul.

    Esta distribuio espacial pode explicar-se recorrendo teoria da tectnica de placas, que sustenta que todos os continentes se formaram a partir de fragmentos progressivamente cratonizados. Cada um desses fragmentos foi consolidado numa dada orogenia. Depois,abriam-se novos rifts e os novos mares e oceanos encheram-se de sedimentos. A criao denovas zonas de subduco junto a algumas margens continentais, consumindo crusta ocenica,leva a uma aproximao dos continentes e respectiva coliso, formando-se novas cadeiasmontanhosas nas faixas de sutura entre os antigos continentes. o caso dos orgenospaleozicos que formam faixas de sutura aglutinando fragmentos continentais de idadeprecmbrica.

    Os Alpes resultam da coliso entre a placa euroasitica e a placa africana, tal como os Himalaiasresultam da coliso entre a Eursia e a ndia. Assim sendo, o Mediterrneo um mar residualque tender a desaparecer, dentro de alguns milhes de anos. Nessa altura, a cadeia alpina seruma faixa contnua desde a Pennsula Ibrica at extremidade da sia.

    A teoria da tectnica de placas constituiu uma verdadeira revoluo na maneira de compreender aTerra. Os gelogos passaram a ter instrumentos de anlise que lhes permitem enquadrar a reaestudada num conjunto mais amplo e compreender melhor a respectiva paleogeografia,estabelecendo as relaes provveis com outras reas que possam ter feito parte do mesmoconjunto continental num passado mais ou menos remoto. exemplo disso a relao que seestabeleceu entre o Macio Hesprico e o Macio Armoricano. Deste modo, o enquadramentonuma rea afim, bem como a posio relativamente aos antigos limites de placas, ajuda a explicar

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  • o essencial da litologia e estrutura geolgica do Macio Hesprico.

    Por outro lado, a posio face s placas actuais determina a actividade sismo-tectnica actual. Ora, segundo esse ponto de vista, Portugal localiza-se na faixa de choque entre a Europa e africa, cujo limite corresponde falha Aores-Gibraltar e ao seu prolongamento noMediterrneo ocidental. Alm disso, estudos recentes (A. Ribeiro, referido em O. Ribeiro et al., 1987 e J. Cabral, 1993) sugerem a emergncia da uma zona de subduco que, partindo do Sulde Portugal, se estaria a estender para Norte e que explicaria a sismicidade anormalmente elevadae uma certa intensidade da movimentao neotectnica junto ao litoral ocidental da Pennsula.

    NB: Para saber a localizao dos ltimos sismos ocorridos em Portugal e Espanha, consulte ossites:

    http://www.meteo.pt/sismologia/map_sis.gif

    http://www.geo.ign.es/servidor/sismo/cnis/proximo/proximo.html

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    IV - As grandes regies estruturais de Portugal

    1 - Apresentao geral

    A observao de algumas fotografias aras disponveis no site do CNIG vem provar - para quemnecessitasse dessa prova, que existe uma enorme influncia da estrutura geolgica(litologia+estrutura) nas paisagens que os gegrafos em geral, e os geomorflogos emparticular, se propem estudar.

    Da que tenhamos privilegiado uma abordagem baseada justamente na estrutura geolgica, quenos permite, alm do mais, contar simultaneamente a "histria" de cada uma das grandes reasem que o pas se organiza de uma forma minimamente inteligivel.

    70% da superfcie de Portugal corresponde ao Macio Hesprico. Trata-se de um conjuntoconstitudo por rochas sedimentares, gneas e metamrficas ante-mesozicas, consolidadassobretudo aquando dos movimentos hercnicos. Estes so responsveis pelas suas orientaesde conjunto e pela promoo de extensos fenmenos de granitizao com o decorrentemetamorfismo.

    O Macio Hesprico ocupa a parte ocidental e central da Pennsula Ibrica e constitui o ncleoprimitivo e fundamental do territrio, que o mar s tornou a invadir na periferia. Por isso, volta do Macio Hesprico que se dispem as restantes unidades constituintes da PennsulaIbrica. Devido ao facto de ter sido dobrado e metamorfizado (muitas vezes com granitizao)durante a orogenia hercnica, o Macio Hesprico tornou-se no ncleo resistente ao dobramentoalpino. O carcter macio da Pennsula Ibrica e a importncia que os planaltos nela assumemdevem-se, justamente, existncia do soco hercnico que constitui a microplaca Ibrica.

    Como prprio das plataformas cristalinas, o Macio Hesprico constitudo por superfcies deeroso fracturadas ou balanceadas e levantadas a cotas variadas, com alguns relevos residuais(devidos a uma maior resistncia ou posio).

    Em alguns locais, no interior do Macio Hesprico, existem testemunhos de depsitos de origemcontinental, de idades muito variadas, que vo desde o Cretcico at ao Holocnico e que podemajudar a reconstituir a respectiva histria geomorfolgica.

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  • A periferia do Macio Hesprico foi invadida pelo mar durante o Mesozico e princpio doCenozico e foi, assim, coberta por sedimentos meso-cenozicos. A abertura do oceanoAtlntico controlou a evoluo da fachada ocidental Ibrica. A abertura e fecho do sulcomesogeu influenciou a evoluo da Orla Algarvia.

    Assim, o substrato paleozico, quer no centro, quer na periferia da Pennsula Ibrica est,frequentemente, coberto por sedimentos mais recentes que o mascaram.

    Todavia ele pode aparecer a descoberto, constituindo, quer extensas reas aplanadas (a superfcieda Meseta: Trs-os-Montes oriental, Beira Transmontana), quer os relevos que a circundam(rebordo montanhoso da Meseta).

    2 - Distino entre os conceitos de Macio Hesprico e de Meseta Ibrica

    O conceito de Macio Hesprico no coincide com o de Meseta Ibrica, que uma designaogeomorfolgica e s devia ser aplicada aos fragmentos aplanados do soco e sua coberturatabular (ao contrrio do que fazem, frequentemente, os autores de lngua castelhana, como se vna figura anterior).

    A Meseta corresponde, essencialmente, a um planalto interior modelado em argilas e margasmiocnicas que assentam sobre o soco hercnico. Este aflora em muitos locais em que acobertura Cenozica foi erodida, geralmente na periferia da Meseta. Estas reas aplanadas,cobertas por sedimentos tercirios funcionam como bacias interiores, por oposio s baciasexteriores do Tejo e Sado, Ebro e Guadadalquivir.

    Sob o ponto de vista geo-estrutural, os sectores da Meseta cobertos por sedimentos tercirioscorrespondem s bacias interiores do Douro (por vezes chamada de "Castela-a-Velha") e doTejo ("Castela-a-Nova").

    No fundo, a Meseta corresponde, quer a uma superfcie de eroso, talhada em rochas do MacioHesprico, quer a uma superfcie de acumulao de materiais Tercirios, que assentam sobre areferida superfcie de eroso.

    Os sedimentos miocnicos esto, geralmente, dissecados pelo encaixe dos rios e, por vezes, reduzidos a relevos residuais.

    No mapa de Lautensach pode verificar-se que a forma de descrever o relevo da Pennsulabaseada em conceitos descritivos nem sempre coincide com a descrio baseada em conceitosestruturais.

    A Meseta articula-se em dois degraus, separados pela Cordilheira Central, que corresponde a um horst devido compresso alpina, alongado na direco ENE-WSW (direco Btica). Dosdois degraus acima referidos, o mais alto o setentrional, com altitudes entre 700 e 800 m,enquanto que o degrau meridional apresenta altitudes entre 400 e 200 m.

    Ao mesmo tempo que se davam as movimentaes alpinas, todo o bloco da Meseta se inclinoupara Oeste, o que definiu a orientao dos principais rios (com a excepo do Ebro).

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    V - Macio Hesprico

    Nota: prope-se que os estudantes utilizem o esboo geolgico para irem pintando, depreferncia num programa de desenho (Adobe Photoshop) medida que foremestudando as diferentes matrias, as reas correspondentes com cores adequadas(podem utilizar as da legenda anexa).

    1 - Caractersticas gerais e zonamento

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  • o fragmento mais contnuo do soco hercnico na Europa. Dentro do Macio Hesprico ascaractersticas paleogeogrficas, tectnicas, magmticas e metamrficas so bastante constantesnuma direco paralela s estruturas, mas mudam radicalmente numa direco transversal. Isto imprime cadeia hercnica uma zonalidade que permite a correlao entre os diversosfragmentos do soco hercnico, hoje separados por bacias sedimentares, por fundos ocenicos oupor cadeias alpinas.

    Um primeiro zonamento do orgeno proposto por Lotze em 1945 foi revisto, dando origem szonas Cantbrica, Oeste-Astrico-Leonesa, Centro-Ibrica, Ossa-Morena e Sul-Portuguesa. Elaspodem agrupar-se em domnios e e zonas externas (Cantbrica e Sul-Portuguesa) e internas (asrestantes). Cada um desses conjuntos tem algumas caractersticas comuns.

    Assim, nos domnios e e zonas internas o Precmbrico e o Paleozico inferior predominam, adeformao precoce e intensa, o metamorfismo regional de grau elevado e existem extensasintruses sin-orognicas.

    Nos domnios externos o Paleozico superior aflora mais largamente, a deformao menosintensa e mais tardia, o metamorfismo regional de grau mais baixo e as intruses sin-orognicasmais raras.

    Tudo se passa com se houvesse uma migrao da sedimentao e da orognese das zonasinteriores para as exteriores.

    Como noutros locais da Europa, o orgeno hercnico Ibrico caracteriza-se por um dispositivo em leque com estruturas verticais, no centro, e tombadas para o exterior, nas margens.

    Existe, pois, uma certa simetria bilateral, mas h grandes diferenas entre os dois domniosexternos.

    Enquanto que na Zona Cantbrica predomina uma sedimentao carbonatada, de plataforma, asedimentao na Zona Sul-Portuguesa uma sedimentao mais profunda, de flyschinterestratificado com rochas vulcnicas que pressupem a existncia de uma margemcontinental activa, nessa rea, a partir do Devnico mdio.

    Flysch - termo originado na Sua, aplicado inicialmente aos sedimentos alpinos, posteriormente usado, poranalogia, para os hercnicos portugueses, por exemplo. Trata-se de sedimentos produzidos pela eroso deestruturas dobradas em formao, que so, posteriormente, dobrados por novas fases de dobramento. Na Sua,correspondem a rochas argilosas, arenitos impuros e conglomerados sintectnicos, ao contrrio dos molassos.Segundo "The Penguin Dictionary of Geology", trata-se de um termo que no deve ser exportado.

    Molasso - termo tambm originado na Sua: sedimentos produzidos pela eroso de cadeias montanhosas depoisda fase final duma orognese (formao post-tectnica). Na Sua os molassos alpinos incluem arcoses,conglomerados e brechas polimticos e argilitos vermelho acastanhados. Parecem ter-se formado em baciasintramontanhosas e so, geralmente, no marinhos. Os arenitos trissicos do leste dos USA seriam molassosderivados da eroso dos Apalaches e o grs vermelho antigo do Devnico de Inglaterra teria resultado da eroso dasmontanhas Calednicas.

    As diferentes zonas dentro do Macio Hesprico esto separadas por acidentes profundos de primeira grandeza. Estes acidentes manifestaram-se diversas vezes durante todo o ciclo hercnico,o que sugere um controle da evoluo paleogeogrfica e tectnica por falhas profundas,separando compartimentos crustais de natureza diferente. Alm disso, eles podem rejogar nosdiversos impulsos tectnicos sofridos pelo territrio, pelo que podem ser sede de movimentaoneotectnica aprecivel (ex: falha Porto-Tomar).

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    2 - Zona Cantbrica

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  • A Zona Cantbrica limitada, a Oeste, pelo anticlinrio de Narcea, onde se encontram os nicosafloramentos de Paleozico inferior desta zona. Os sedimentos tm fcies de plataformacarbonatada, com longos perodos de emerso, at que, no incio do Carbnico, se processa umagrande transgresso, responsvel pela formao dos calcrios que constituem os Picos deEuropa. O magmatismo raro, constitudo, apenas, por alguns "stocks" na rea do anticlinrio deNarcea. As estruturas constituem, no seu conjunto, o "arco asturiano", em que predominam os mantos produzidos pelo descolamento da cobertura paleozica sobre o substrato Precmbrico. Adeformao Westfaliana-Estefaniana (Carbnico superior) com formao de molassos.

    A inexistncia de metamorfismo e granitizao levou a que esta zona fosse retomada na orogenia alpina, mantendo uma deformao de tipo dctil e funcionando como um prolongamento dosPirinus.

    Sobre os calcrios de montanha, de idade carbnica e fcies por vezes recifal ,implantaram-sefenmenos de carsificao espectaculares:

    As reas mais bem preservadas dos Cantbricos constituem o Parque Nacional de Covadonga,onde possvel observar lagos glacirios como os de Enol e Ercina.

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  • 3 - Zona Oeste-Astrico-Leonesa

    O Paleozico inferior (Cmbrico e Ordovcico) torna-se muito espesso. O Silrico tem algumarepresentao. A primeira fase da orogenia hercnica mais antiga que na zona Cantbrica. Omagmatismo sin-orognico j se assemelha ao da zona Centro-Ibrica.

    O limite SW desta zona corresponde a uma antiforma (regio de Sanbria, muito perto da fronteira NE portuguesa) em que aflora uma formao precmbrica vulcano-detrtica (Ollo deSapo).

    A figura n 5 da notcia explicativa do Mapa tectnico de la Pennsula Ibrica y Balearespodeilustrar, melhor do que muitas palavras, as caractersticas essenciais destas duas zonas. Ointeresse da sua anlise reside, sobretudo, na possibilidade de comparao com as zonasportuguesas e na viso global que esse estudo comparado pode dar relativamente evoluo doorgeno hercnico ibrico.

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    4 - Sub-zona da Galiza mdia-Trs-os-Montes

    Corresponde a um sector especial dentro da zona Centro-Ibrica. Uma das caractersticas maissalientes o facto de possuir cinco macios de forma arredondada compostos por rochas de altograu de metamorfismo e de composio mfica e ultramfica, que teriam correspondido a antigassequncias ofiolticas. Estes macios situam-se no Cabo Ortegal, Santiago de Compostela, Laln,Bragana e Morais.

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  • Ofiolitos - Lavas bsicas e ultrabsicas relacionadas com o enchimento de um geossinclinal (Dictionary of Geology, Penguin Books, 1985).

    Tm uma histria muito complexa e por isso se consideraram polimetamrficos. Os respectivoscontactos com as zonas encaixantes so cavalgamentos sobre sequncias monometamrficas doSilrico, muito ricas em rochas vulcnicas cidas e bsicas (grupo transmontano). O grupotransmontano, por sua vez, cavalga as rochas da zona Centro-Ibrica por um outro acidente quedesenha um arco de 180 em Trs-os-Montes.

    O magmatismo sin-orognico caracterizado, em Trs-os-Montes oriental, pela exiguidade dasintruses de granitides.

    As dobras da primeira fase hercnica esto adaptadas aos limites das rochas menos dcteis quecompem os macios.

    Embora uma hiptese autoctonista parea responder bastante bem geometria dos macios e forma como se relacionam com as rochas encaixantes, no se deve excluir a possibilidade de umcarreamento de complexos polimetamrficos partindo de uma raiz situada no contacto entre azona Centro-Ibrica e Ossa-Morena, perto da regio do Porto. Nesse caso, o carreamentoter-se-ia estendido por 200 km. Esta teoria tem sido, ultimamente, defendida por A. Ribeiro e E.Pereira (in Pre-Mesozoic Geology of Iberia, 1990, p. 220-236).

    5 - Zona Centro-Ibrica

    Uma das caractersticas da Zona Centro-Ibrica a quase total ausncia de Precmbrico bemdocumentado, com excepo de um afloramento de gneisse do tipo Ollo de Sapo na regio deMiranda do Douro, situado sob o complexo xisto-grauvquico ante-ordovcico (CXG). Estecorresponde a uma srie tipo flysch , normalmente considerada de idade Precmbricasuperior/Cmbrica, embora, ultimamente, se tenha acentuado a tendncia para a considerarapenas Cmbrica. O complexo xisto-grauvquico corresponde a um fcies mais profundo doque a generalidade do Cmbrico das zonas envolventes, o que prova a existncia de uma fossaprofunda nesta rea, durante o Cmbrico.

    Os limites com as zonas envolventes correspondem a uma transio suave na parte NE, a partirdo flanco do anticlinrio do Ollo de Sapo. A SW trata-se da faixa de compressoPortalegre-Ferreira do Zzere. A Oeste, o contacto estabelece-se atravs da falha Porto-Tomar.

    A principal diferena da Zona Centro Ibrica em relao Zona Oeste-Astrico-Leonesacorresponde discordncia entre o quartzito do Ordovcico e o complexo xisto-grauvquico, o que implicaria a actuao de uma fase designada normalmente por "fase sarda", que no deve,contudo, ser relacionada com a orognese calednica, dado o seu carcter distensivo.

    Os quartzitos do Ordovcico correspondem, efectivamente a um dos aspectos mais relevantes daZona Centro-Ibrica, marcando muitas das suas paisagens. Podemos fazer um refernciaespecial ao anticlinal de Valongo, ao sinclinal do Buaco, e importncia que as cristasquartzticas tm na Beira Baixa.

    Na fossa drico-beir esto conservados dois conjuntos de molassos: do Westfaliano D (quecontm elementos do granito alcalino do Porto) e do Estefaniano B-C (cortados peloafloramento do granito calco-alcalino de Castro Daire).

    Os granitides hercnicos so muito variados e afloram em manchas muito extensas.Compreendem, sobretudo, os granitides da srie alcalina e calco-alcalina. As rochas bsicas somuito menos importantes.

    Granitides da srie alcalina (exemplo: granito do Porto)

    Predominam os granitos de duas micas, com carcter leucocrata, com percentagem de moscoviteidntica de biotite. Tm tendncia a acompanhar as fases compressivas. Os mais

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  • representativos tm idades volta de 300 MA.

    A sua mise en place fez-se, sobretudo, durante a tectognese. Esto estritamente controlados pelometamorfismo regional e parecem produzir-se por anatexia hmida da parte mdia da crusta nodecurso do metamorfismo regional. Sendo assim, relacionam-se com as reas envolventesatravs de aurolas de metamorfismo regional, bastante extensas. Estas apresentam sequnciasem que se parte de rochas como os gneisses, migmatitos e micaxistos, junto ao foco grantico ese passa, depois, para xistos mosqueados e, finalmente, xistos luzentes.

    Granitides da srie calco-alcalina e rochas bsicas associadas (granito de Lavadores, de CastroDaire)

    No caso destes granitos, a biotite domina a moscovite, so frequentes os precursores bsicos eos encraves microdiorticos. Apresentam carcter mesocrata e muitos minerais acessrios.

    Os granitos calco-alcalinos podem agrupar-se:

    1 - Granodioritos precoces, ligados a fases distensivas com idades situadas volta dos 330-320MA.

    2 - Granitos post-tectnicos formados durante o perodo de fracturao tardi-hercnica, posterior tectognese, que acompanhou, provavelmente, o perodo de surreio final da cadeia hercnica.So posteriores aos ganitos alcalinos e, na sua maior parte, apresentam idades que rondam os280 milhes de anos (MA). No Norte do Macio Hesprico esta srie formada por fuso secada parte inferior da crusta no decurso do metamorfismo regional e por mistura com produtosbsicos infracrustais. No Sul, a proporo de material infracrustal maior e alguns granitidespodem ter-se formado por diferenciao magmtica.

    O contacto entre a zona Centro-Ibrica e Ossa Morena: a falha Porto-Tomar

    O contacto entre a zona Centro-Ibrica e Ossa-Morena um alinhamento de primeira grandeza.Trata-se de um cavalgamento, no centro de Portugal (a SW), passando a um cisalhamento N/S,perto do bordo ocidental do Macio Hesprico, na regio de Coimbra. Para Norte, toma adireco NNW/SSE e atinge o litoral a Norte da praia da Madalena, cujas areias j assentamsobre gneisses e migmatitos da Zona de Ossa-Morena.

    A falha Porto-Tomar interpretada como sendo a sutura entre o continente Euroasitico (placaArmoricana) e Africano (Gondwana) ao tempo da orogenia Cadomiana (final do Precmbrico).Como se sabe, as zonas de sutura so faixas onde existe uma certa fragilidade da crusta quepode originar movimentao tectnica persistente, que se prolonga at aos nossos dias(neotectnica). Cabe aqui fazer uma primeira referncia importncia geomorfolgica que estafalha tem, mostrando que ela corresponde, grosso modo, ao rebordo interior da plataforma litoral na regio a Sul do Douro.

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    6 - Zona de Ossa-Morena

    A sequncia da Zona de Ossa-Morena comea por um Precmbrico polimetamrfico, seguido de um Precmbrico monometamrfico (Srie Negra), coberto, por sua vez, pelo conglomerado debase do Cmbrico, que tem fcies de plataforma carbonatada (mrmores de Estremoz-VilaViosa).

    A Norte de Abrantes, as estruturas da zona de Ossa-Morena tm uma direco quase N/S, nobordo ocidental do Macio Hesprico, e formam uma faixa estreita entre a zona Centro-Ibrica eos terrenos da Orla.

    Neste sector, o contacto entre as zonas de Ossa-Morena e Centro-Ibrica corresponde a uma

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  • "faixa blastomilontica", constituda por rochas metamrficas muito tectonizadas, intrudas porgneisses e migmatitos. Na faixa de Albergaria-a-Velha-Espinho verifica-se que o metamorfismohercnico se imprimiu sobre um metamorfismo pr-hercnico.

    O magmatismo sin-orognico tem caractersticas particulares.

    A NE h uma faixa de transio com a zona Centro-Ibrica, onde existem granitides idnticosaos desta zona. No macio de vora ainda se encontram granitides de duas micas. Para SW asintruses bsicas aumentam e o quimismo calco-alcalino predomina.

    Sob o ponto de vista paleogeogrfico, a Zona de Ossa-Morena pode interpretar-se como umtestemunho de crusta continental atenuada, situada entre um domnio ocenico representadopelos ofilitos de Beja-Acebuches, a SW, e a crusta continental normal, a NE, correspondente Zona Centro-Ibrica. Para alm das diferenas de fcies existentes entre esta zona e a zonaCentro-Ibrica, a principal diferena entre elas reside na existncia de um soco precmbrico emreas importantes da Zona de Ossa-Morena, que no tem equivalente na Zona Centro-Ibrica.

    7 - Zona Sul Portuguesa

    Trata-se de uma rea constituda por rochas muito mais recentes do que as que afloram naszonas centrais. Com efeito, falta todo o Paleozico inferior e as rochas mais antigas so doDevnico mdio. O vulcanismo, quer cido, quer mfico torna-se muito importante e as rochasplutnicas quase desaparecem. A conhecida faixa piritosa, que se localiza perto do contacto entre a Zona de Ossa-Morena e a Sul-Portuguesa e onde existam as maiores reservas do mundo depirites, fica a dever-se a processsos sedimentares submarinos relacionados com o vulcanismodesenvolvido num processo de distenso crustal posterior ao choque entre aquelas duas zonas(J. B. Silva, J. T. Oliveira e A. Ribeiro, 1991, p. 360, in Pre-Mesozoic Geology of Iberia).

    A xistosidade mergulha para NE, contrastando com a atitude quase vertical das dobras nas zonasinternas. Torna-se quase plana quando nos aproximamos do limite SW desta zona, originandoos carreamentos de Odemira e Carrapateira.

    Comparando a paleogeografia e a tectnica das zonas de Ossa-Morena e Sul-Portuguesa,podemos pr em evidncia uma polaridade muito ntida: a idade do flysch torna-se mais recente para SW, bem como a idade da deformao principal (Devnico mdio na zona de Ossa-Morenae afectando o Vestefaliano no limite SW da zona Sul-Portuguesa). Esta migrao para SW simtrica da migrao para NE no ramo setentrional da cadeia.

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    8 - Fracturao tardi-hercnica

    A fase final da orognese hercnica traduziu-se por uma subida ps-tectnica acompanhada pelaexistncia de tenses de direco N-S (durante o Estefaniano, fase I) e a respectiva mudana datenso para W-E (durante o Prmico, fase II).

    O sistema de tenses da fase I produziu dois conjuntos de desligamentos: um sistemasinistrgiro com direco NNE/SSW a ENE/WSW e um sistema dextrgiro com direcoNNW/SSE a NW/SE. Estes sistemas afectam os granitos alcalinos (30010 MA). Porm, aintruso dos granitos calco-alcalinos (28010 MA) parece ser parcialmente controlada por ele.Deve salientar-se a grande extenso e a importncia de que o rejogo destes acidentes durante oCenozico se reveste para a geomorfologia do territrio (correspondendo a graben tais como aVeiga de Chaves e da Vilaria, ou a horst tais como a Cordilheira Central, e ainda intensa redede fracturao que pode observar-se na Beira Alta, etc.).

    Durante a fase II a direco de compresso mxima passa a ser Este/Oeste. As estruturasdevidas a esta fase produzem estruturas de direco N/S numa formao post-tectnica, tipo"molasso" (Autuniano do Buaco), que o ltimo testemunho do ciclo hercnico no territrio de

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  • Portugal, e afectam, sobretudo, o bordo ocidental do Macio Hesprico. Assim, nas Berlengasque este sistema parece ter uma maior relevncia.

    A ltima fase de fracturao tardi-hercnica posterior ao Autuniano e anterior ao Trissico daregio de Coimbra, que no afectado pela fracturao N/S.

    A fracturao tardi-hercnica, cujos desligamentos rejogaram vrias vezes a partir dos tempospaleozicos, corresponde, nomeadamente, s falhas transformantes que vo condicionar asprimeiras fases da abertura do Oceano Atlntico, durante o Mesozico.

    9 - Reconstituio paleogeogrfica do ciclo hercnico. Tentativa de sntese

    A Pennsula Ibrica foi afectada por deversos Ciclos orognicos: Precmbrico, Hercnico eAlpino.

    Os sedimentos do ciclo hercnico formaram-se sobre um substrato precmbrico, que afloraapenas em alguns locais no interior da cadeia hercnica. Porm, a grande intensidade dadeformao hercnica apagou certas marcas deixadas por orogenias anteriores. Alm disso, emcertos locais, o ciclo hercnico comea no Precmbrico superior. Por isso, a nossa anlisebasear-se- no estudo do Ciclo Hercnico.

    O Ciclo Hercnico pode considerar-se estruturado em trs perodos diferentes:

    Entre o Precmbrico superior e o Devnico mdio: perodo geossinclinal (250 MA), com odepsito de espessas sries, em regime de extenso, acompanhada localmente de epirognese ede vulcanismo.

    Entre o Devnico mdio e o Vestefaliano (80 MA): tectognese. Predomina a contraco crustal,sedimentao sin-orognica do tipo flysch e a formao de granitides por anatexia (granitosalcalinos).

    Entre o Vestfaliano superior e o Prmico superior (60 MA) a cadeia foi levantada, erodida ecortada por desligamentos, enquanto que se davam as ltimas intruses post-tectnicas (granitoscalco-alcalinos) e se depositavam molassos nas fossas perifricas e intramontanhosas (perodopost-tectnico).

    Esta anlise super-simplificada ser complementada pela observao dos esquemas acimareferidos (A. Ribeiro, 1974, E. Pereira, 1988) e acompanhada por uma recapitulao dasformaes relacionadas com os eventos mais importantes, feita atravs da observao de mapasgeolgicos.

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    10 - Anlise global e comparao entre as diferentes zonas

    A descrio da litologia e estrutura das diferentes zonas dentro do Macio Hesprico,necessariamente muito sumria, ser efectuada com base na observao de mapas geolgicos, demolde a ser uma resultante da anlise dos alunos e no um objecto de memorizao.

    Para compreender como se processou a sedimentao e a tectognese dessas formaes e qual osignificado das diversas zonas na evoluo do orgeno hercnico Ibrico socorrer-nos-emos deesboos vrios, com destaque para o publicado em A. Ribeiro (Contribution l'tude tectoniquede Trs-os-Montes oriental, 1974, p. 160). Esta interpretao, cuja relativa simplicidade a tornaparticularmente interessante para os alunos, complementada por informao sobre teorias maisrecentes, contidas, nomeadamente, em E. Pereira (1988: Soco hercnico da zona Centro-Ibrica -evoluo geodinmica ). Esta abordagem permitir sublinhar o carcter relativamente efmerodas interpretaes deste tipo e a abertura inovao que deve ser apangio do esprito cientfico.

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  • Na Pennsula Ibrica a orognese hercnica tem um carcter polifsico. O essencial dadeformao deve-se a dois episdios de deformao que puderam ser datados pela presena dediscordncias nas zonas externas ou superficiais ou pelas dataes radiomtricas de certosgranitos de que se conhece a relao geomtrica com as estruturas.

    A 1 fase escalona-se entre o Devnico mdio e o Viseano (Carbnico inferior) e s afecta aszonas mais internas do orgeno.

    A segunda fase Westfaliana (Carbnico superior). Nas zonas internas origina dobras complano axial subvertical. Nas zonas externas, s ento deformadas, d origem a dobras com umplano axial varivel e a mantos superficiais.

    Trata-se de uma classificao um tanto artificial, porque muitas vezes h sobreposio econtinuidade entre as duas fases. Todavia, de um modo geral, pode dizer-se que tudo se passacomo se houvesse uma migrao da orognese das zonas internas para as exteriores.

    O metamorfismo regional afecta, sobretudo, as zonas internas. Por vezes, difcil distingui-lo defases metamrficas mais antigas.

    A cadeia hercnica sofreu uma evoluo quanto ao respectivo estilo tectnico: inicialmente dctil,tornou-se cada vez mais quebradio. Por isso, o fim da orognese foi marcado por uma rede dedesligamentos, sobretudo no sector SW. Estes desligamentos so ditos tardi-hercnicos porqueso posteriores s ltimas fases dcteis do Westfaliano, mas no afectam significativamente acobertura epi-hercnica.

    Dum modo geral, podemos dizer que o alinhamentoCrdova-Badajoz-Portalegre-Coimbra-Porto separa os sectores onde afloram fragmentos de umsoco grantico datado de 2000-2500 MA e retomado no Cadomiano (650-550 MA).

    Pelo contrrio, no sector situado no interior (Zona Centro-Ibrica) no se encontra um socograntico precmbrico indiscutvel, mas unicamente complexos de alto grau de metamorfismo, decomposio mfica e ultramfica (Macios de Vinhais-Bragana, Morais, Laln, Cabo Ortegal eSantiago de Compostela).

    As causas desta diferenciao so objecto de discusso, mas foi sugerido que o dito alinhamentoCrdova-Badajoz-Portalegre-Coimbra-Porto corresponderia sutura da orogenia Cadomiana(Precmbrico superior) e representaria a juno da Europa e da frica no Precmbrico superior.

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    Porto, 17 Novembro de 2001

    Maria da Assuno Arajo

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