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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSES DA ANLISE E DA AO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
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GEOGRAFIA REGIONAL CONTEMPORNEA DO BICO DO PAPAGAIO: A REGIO E A REGIONALIZAO
RUTILEIA LIMA ALMEIDA1
Resumo: O artigo discute questes relacionadas geografia contempornea da regio do Bico do Papagaio a luz dos conceitos de regio e de regionalizao. A regio do Bico do Papagaio uma regio do Estado do Tocantins que se configura como uma zona de confluncia com os estados do Maranho e do Par, formando um canal de acesso, via Belm-Braslia, para pessoas, mercadorias e informaes do Centro-Sul ao Norte do pas. Esse espao recortado de formas diferentes e de acordo com interesses diversos, delimitando seu territrio com distintos formatos. Dentre as regionalizaes estabelecidas, escolhemos para anlise a microrregio do Bico do Papagaio, o Norte do Tocantins e a Mesorregio Diferenciada do Bico do Papagaio.
Palavras-chave: Regio; Regionalizao; Bico do Papagaio Abstract: The article discusses issues related to contemporary geography of Parrot's Beak region of the light of the region and regionalization concepts. The Parrot's Beak region is a state of Tocantins region which is configured as a dividing line with the states of Maranho and Par, forming an access channel via the Belm-Braslia, for people, goods and information Centro- South to North. This space is cut in different ways and according to different interests, delimiting its territory with different formats. Among the established regionalization, we chose to analyze the micro Parrot 's Beak , the northern Tocantins and Mesoregion Differentiated Parrot 's Beak .
Key-words: Region; Regionalization; Parrot's Beak
1 Introduo
O presente trabalho visa analisar a geografia contempornea do Bico do
Papagaio, uma regio do Estado do Tocantins que se configura como uma zona de
confluncia com os estados do Maranho e do Par, formando um canal de acesso,
via Belm-Braslia, para pessoas, mercadorias e informaes do Centro-Sul ao
Norte do pas. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Tocantins, o
Bico do Papagaio uma microrregio poltico-administrativa composta por 25
municpios. J o Ministrio da Integrao Nacional entende que essa regio
ultrapassa as fronteiras do Estado do Tocantins, em seu extremo norte, e vai at o
Sudoeste do Maranho e o Sudeste do Par. Este ltimo recorte tambm
assumido pelo senso comum, pela sociedade civil e por polticos, o que se justifica
pelos laos historicamente construdos, dado o seu processo de ocupao e as suas
1 Mestre em Geografia - IESA/UFG. Prof do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do
Maranho - IFMA. Email de contato: rutigeo@ifma.edu.br
mailto:rutigeo@ifma.edu.br
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aproximaes geogrficas, cujo espao, material e simbolicamente contguos,
caracteriza-se por uma importante coerncia funcional.
Compreendemos que o Bico do Papagaio tem seu espao recortado de
formas distintas e de acordo com o interesse diversos, nesse caso importante
perceber a regionalizao enquanto instrumento de investigao (HAESBAERT
1999, p.19). Uma regionalizao pode motivar uma reflexo terica ou atender as
necessidades impostas por uma poltica setorial, uma prtica de planejamento ou
por propostas de desenvolvimento regional, a regionalizao surge como um
instrumento bsico do planejamento e pode contribuir para corroborar o
desenvolvimento. Dentre as regionalizaes estabelecidas, escolhemos para anlise
a Microrregio do Bico do Papagaio, o Norte do Tocantins e as Mesorregies
Diferenciadas.
A primeira, Microrregio do Bico do Papagaio uma determinao poltica
para fins administrativos, recorte que considera o extremo norte do Tocantins com
25 municpios. A segunda regionalizao, Norte do Tocantins, com 37 municpios
procura inserir um maior nmero de municpios, j que a inteno deste recorte
busca considerar as relaes de fluxos na produo e no consumo entre os
municpios. A regionalizao criada pelo governo federal, Mesorregio Diferenciada
do Bico do Papagaio, incorpora tanto municpios do estado do Tocantins, como dos
estados do Maranho e do Par. So 66 municpios que partilham caractersticas
polticas, econmicas e at culturais semelhantes. possvel perceber que a
regionalizao, as regionalizaes possveis e existentes para um mesmo territrio
so inmeras e usualmente atendem a interesses extremamente precisos
(LIMONAD 2004, p. 33).
2 Desenvolvimento
Qual ento seria a relao entre regio, regionalizao? Como podemos
relacionar esses conceitos para compreender a geografia contempornea da regio
do Bico do Papagaio?
O entendimento dessa relao perpassa por uma complexa questo, a de que
arriscado definir um espao regional, uma regio, com tantas variveis existentes
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no espao contemporneo. Existe uma dificuldade de determinar categoricamente o
limite de uma regio. complexo definir, segundo Limonad (2004, p.57) um marco
delimitador que permita ao cientista afirmar aqui termina uma regio A e ali comea
uma regio B, pois o espao uma expresso de continuidades e descontinuidades
fsicas e sociais.
Ao relacionar os conceitos de regio e regionalizao importante ressaltar
que o primeiro est conexo a uma construo histrica e com uma base terica-
metodologia intricada de aplicao, diferentemente do conceito de regionalizao,
aplicvel, principalmente, nas esferas de planejamento econmico e poltico.
Limonad (2004, p.57) afirma que uma regionalizao pode fundamentar uma
reflexo terica ou atender uma prtica de planejamento ou por propostas de
desenvolvimento regional. Ou seja, uma mesma regio pode ser regionalizada de
diversas formas, de acordo com o interesse de quem regionaliza a questo a se
considerar ao tratar de regionalizao, pois quem regionaliza, o faz com interesses
nem sempre explcitos.
Na maioria dos estudos, a regio era vista sob uma abordagem que concebia
o conceito apenas como uma parcela do espao, que possusse aspectos coerentes
de carter singular, aspectos contguos, at considerando uma homogeneidade
espacial. Um erro, segundo as novas teorias, j que a homogeneidade espacial no
existe2. Outro erro corrente seria a negligncia ao aspecto cultural. Qualquer poro
do espao institucionalizado ou no, que possui, segundo Haesbaert (1999, p.25)
identificao ideolgica-cultural e representatividade poltica, articulado em funo
de interesses especficos, geralmente econmicos, por uma frao ou bloco
regional de classe que nele reconhece sua base territorial de produo, pode ser
considerado um espao regional.
As mudanas conceituais emergem frente s novas formas de organizao do
espao e as interaes espaciais que se impem. Mesmo considerando esses
conceitos no podemos nos fixar exclusivamente na questo terica, Corra (1986, 2 A nova geografia regional demonstra o carter relevante de perceber as recentes questes
regionais, segundo Haesbaert (1999, p.16) regionalismos, identidades regionais e/ou regies so ou foram abordados tanto pela cincia poltica (desde o legado de Gramsci e a questo meridional italiana como questo regional, pela Economia regional (como nos trabalhos de Perroux, Boudeville, Richardson e Isnard), pela Sociologia (vide trabalhos de Bourdieu e Giddens), pela Antropologia e pela Histria regional.
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p.92), aponta para a relevncia de transcender essa etapa e proceder ao exame
das condies concretas de existncia de uma regio indispensvel.
A importncia do estudo emprico demonstra como o conceito adquire uma
face relacional, de forma que no possvel estudar uma regio isoladamente.
importante lembrar que segundo Santos (1988, p. 46) estudar uma regio significa
entrar num mar de relaes, formas, funes, organizaes, estruturas etc., com
seus mais distintos nveis de interao e contradio, que nesse processo
globalitrio, a anlise regional apreende novos contornos, precisando ser
redefinida j que enfocar o conceito apenas como um espao de coerncia
funcional no basta. Hoje, o mundo fragmentado, possui vrios espaos ou
subespaos recortados com continuidades e descontinuidades.
Nesta lgica, emerge a necessidade de uma nova metodologia para se
pensar nos espaos fragmentados, regionalizados, criados que podem ser
chamados de regio ou no. Mas, que espaos regionalizados so esses? O que
regionalizar? E o principal, porque regionalizar, qual objetivo? O Bico do Papagaio,
no Norte do Estado do Tocantins, pode ser considerado uma regio conforme
detalhamos o conceito ou apenas um espao regionalizado? Para Ribeiro (2004,
p.198):
A noo de regionalizar nitidamente polissmica. O termo refere-se, mais do que a efetiva existncia de regies, capacidade de produzi-las, o que inclui o acionamento de ideologia, com apoio, por exemplo, em dados da paisagem, valores culturais compartilhados ou critrios poltico-cientficos que legitimam fronteiras e limites.
Regionalizar exige uma interpretao maior do que uma simples diferenciao