Geologia USP- Bezerra, Francisco Hilário Rego; Mello, Claudio Limeira; Suguio, Kenitiro n.2_2006.pdf

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    - III -

    APRESENTAO

    A FORMAO BARREIRAS:RECENTES AVANOS E ANTIGAS QUESTES

    Este nmero da revista Geologia USP Srie Cientfica dedicado Formao Barrei-ras, constituindo uma coletnea de trabalhos apresentados no simpsio SignificadoGeolgico da Formao Barreiras, ocorrido em Guarapari (ES) em outubro de 2005,como parte da programao do X Congresso da Associao Brasileira de Estudos doQuaternrio (ABEQUA). Ao pesquisar sobre este tema, ou com diversos aspectosgeolgicos a ele relacionados, durante vrios anos (alguns de ns desde nossa formaoacadmica), sentamos a necessidade de um encontro cientfico que reunisse pesqui-sadores para debat-lo de forma integrada. Esta preocupao nos levou a propor umsimpsio para discutir o significado desta unidade estratigrfica, o primeiro dedicadoexclusivamente ao seu estudo. O perfil dos pesquisadores e o local de realizao nosindicaram que o X ABEQUA seria o frum adequado para este encontro.

    Descrever a evoluo do conhecimento sobre a Formao Barreiras igualmentedescrever o conhecimento da evoluo das cincias geolgicas no Brasil. A Formao

    Barreiras foi a primeira unidade estratigrfica documentada no Brasil, por ocasio daredao da carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, D. Manoel I. Estaunidade estende-se ao longo do litoral brasileiro, desde o Rio de Janeiro at o estadodo Amap, recobrindo depsitos sedimentares mesozicos de diversas bacias costeiras.Este o substrato sobre o qual se desenvolve a maior parte do Quaternrio costeirono Brasil. A poro do litoral onde esta unidade ocorre , na sua maioria, intensa-mente povoada. O seu uso constante na extrao de bens minerais, bem como degua subterrnea, tem exigido melhor conhecimento de seus diversos aspectos.

    Vrias questes, relacionadas Formao Barreiras, que so tratadas neste nmero,

    ainda persistem. Muitos estudos tm contribudo para entender a diversidade de pro-cessos e ambientes sedimentares, mas muito ainda deve ser feito para identificar ecaracterizar estas variaes. A idade da Formao Barreiras tem sido atribuda aointervalo de tempo que varia do Mioceno at o Plioceno-Pleistoceno. Grande partedestas idades, entretanto, foram vagamente inferidas a partir de interpretaesgeomorfolgicas e paleoclimticas. Apenas mais recentemente estudos palinolgicose radiomtricos apontam para uma idade miocnica. Mas, devido sua grande

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    - IV -

    distribuio e variao espacial, outras idades devem ser obtidas. Estudos tm de-

    monstrado que esta unidade sofreu considervel deformao tectnica. Estes trabalhosmostram o risco do uso de feies geomorfolgicas isoladamente para sua caracteri-zao e os possveis problemas para o seu mapeamento geolgico. Finalmente, muitosproblemas so provocados pelo excesso de denominaes estratigrficas informais.

    Nota-se, portanto, que as abordagens regionais e generalizaes feitas sobre aFormao Barreiras so problemticas. O relativo desconhecimento de diversosaspectos est exigindo uma reviso de muitos mapas desta unidade.

    Neste nmero especial, aspectos deposicionais e tectnicos da Formao Barreiras

    so descritos. Os trabalhos tratam de vrios trechos do litoral brasileiro e abrangempelo menos sete estados. Os artigos esto organizados em dois grupos. O primeirocontm cinco trabalhos e trata principalmente dos aspectos deposicionais, comoambientes e sistemas deposicionais, fcies sedimentares e caractersticasestratigrficas. O segundo contm trs trabalhos que descrevem principalmente asdeformaes tectnicas na gerao de estruturas e formas de relevo.

    Durante muito tempo, a Formao Barreiras era considerada de origem essencial-mente continental. Entretanto, mais recentemente, os trabalhos tm mostrado ainfluncia de oscilaes eustticas na sua origem e deposio at em ambientestransicional e marinho raso. Os dois primeiros trabalhos deste nmero especial,desenvolvidos no norte e nordeste do Brasil, tratam desta questo e apresentamelementos que possibilitam correlaes estratigrficas regionais.

    O trabalho de Mitsuru Arai mostra a evoluo desta unidade em associao com asvariaes eustticas do Mioceno. Para tanto, o autor usa dataes palinolgicas ecorrelaes estratigrficas realizadas principalmente no norte do pas. Este trabalhosugere a existncia de discordncia erosiva de grande importncia para correlaesestratigrficas. O autor ainda sugere a classificao desta unidade como grupo, com-posto por uma subunidade superior e outra inferior, separadas por esta discordncia.

    O trabalho de Dilce Rossetti, que trata da Formao Barreiras nos estados do Par eMaranho, identifica fcies sedimentares carbonticas e siliciclsticas que foraminterpretadas como de ambientes marinhos rasos e litorneos, limitadas pordescontinuidades. Estas superfcies seriam mapeveis em escala regional e servi-riam para correlao estratigrfica. Aliada influncia eusttica, esta autora aindasugere a existncia de controle tectnico associado sedimentao desta unidade,em vales estuarinos.

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    - V -

    GeologiaUSP

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    Normalmente, os sistemas deposicionais da Formao Barreiras tm sido associa-

    dos a leques aluviais e fluviais entrelaados, acompanhados de freqentes depsi-tos gravitacionais. Os dois trabalhos seguintes descrevem bem esta deposio con-tinental.

    O artigo de Morais et al. descreve associaes de fcies sedimentares no litoralfluminense, onde ainda existem poucos trabalhos de pesquisa sobre o tema. Osautores sugerem diferentes modelos fluviais entrelaados, com participao impor-tante de fluxos gravitacionais. Da mesma forma que no trabalho precedente, osautores concluem que mecanismos tectnicos sin-sedimentares tambm teriam con-trolado a sedimentao.

    O trabalho de Santos et al. usa nova tecnologia na caracterizao dos depsitossedimentares da Formao Barreiras nos litorais norte do Rio de Janeiro e sul doEsprito Santo. Eles apresentam o uso do georradar (em ingls Ground PenetratingRadar, GPR) na determinao da arquitetura deposicional desta unidade, que con-frontada com descries de afloramentos. Trata-se de uma contribuio interessantede uso de novas tecnologias em estudos de depsitos neognicos em subsuperfcie.

    Variaes importantes nos ambientes de deposio so sugeridas no quinto traba-lho deste primeiro grupo. Arajo et al. descrevem fcies siliciclsticas que teriamsido depositadas em um sistema fluvial meandrante. Esta interpretao est basea-da em descrio faciolgica de excelentes exposies no litoral do Rio Grande doNorte, e ilustra a diversidade de ambientes deposicionais desta unidade.

    O segundo grupo de trabalhos descreve, de forma mais detalhada, movimentosneotectnicos que afetaram esta unidade. No trabalho de Nogueira, Bezerra e Cas-tro investigada a deformao dos depsitos descritos por Arajo e outros no litoraldo Rio Grande do Norte. Os primeiros autores apresentam mapas de ispacas e decontorno estrutural da base da unidade, que mostram significativas variaes deespessura e de altitude do pacote sedimentar. Estas variaes so geralmente brus-cas e esto condicionadas por falhas. Os autores concluem que esta deformao

    foi induzida por dois campos de tenses tectnicas sucessivos.

    Os tabuleiros litorneos, tpicos da Formao Barreiras, tm sido descritos comouma feio geomorfolgica no deformada. Nos dois trabalhos seguintes, anali-sado o comportamento destas feies geomorfolgicas. Parmetros como altitude,orientao e padro de drenagem, alm de nvel de eroso, so usados para iden-tificar blocos tectnicos.

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    - VI -

    O trabalho de Furrier, Arajo e Meneses trata das relaes entre geomorfologia e

    tectnica, conforme observaes feitas na faixa sedimentar costeira do Estado daParaba, onde tabuleiros litorneosapresentam variaes de altitude e nvel de eroso.

    As transies so bruscas e esto delimitadas por falhas e basculamento de blocos.

    No artigo de Lima, Vilas Boas e Bezerra, no litoral sul do Estado da Bahia, soigualmente identificadas superfcies de tabuleiros com diferentes padres e orienta-es de drenagem associados a falhas. Os autores, atravs destes padres, identi-ficam trs sentidos de basculamento de blocos. De forma similar ao trabalho deMorais et al. no Estado do Rio de Janeiro, estes autores descrevem uma associaode fcies de sistema fluvial entrelaado.

    Os editores esperam que este nmero especial sirva de estmulo s pesquisas dadiversidade desta unidade e para embasar as integraes regionais. Esperam tam-bm que os trabalhos aqui apresentados contribuam para a explorao ordenadados recursos naturais ligados Formao Barreiras.

    Agradecimentos

    A coordenao deste volume temtico da Geologia USP agradece aos autores dosartigos, aos relatores annimos, ao Conselho Editorial desta revista e, de formaespecial, ao Prof. Dr. Thomas Rich Fairchild, do Instituto de Geocincias da USP,pelas pertinentes sugestes nas correes dosAbstracts.

    Francisco Hilrio Rego [email protected]

    Departamento de Geologia - CCET - UFRN, Natal, RN

    Claudio Limeira Mello

    [email protected] de Geologia - IGEO/CCMN - UFRJ, Rio de Janeiro, RJ

    Kenitiro SuguioDepartamento de Geologia Sedimentar e Ambiental - IGc - USP, So Paulo, SP

    Centro de Ps-Graduao, Pesquisa e Extenso - UnG, Guarulhos, SP