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0 Título: A Geopolítica da Antropologia no Brasil ou Como a Província é Submetida ao Leito de Procusto Autoras: Mísia Lins Reesink (UFPE) Roberta Bivar Carneiro Campos (UFPE) RESUMO: O presente artigo analisa criticamente e, por conseqüência, desvela o estabelecimento e consolidação de um projeto de hegemonia geopolítico-acadêmico, no campo da antropologia, que se dá através da constituição de narrativas da história das ciências sociais brasileiras. A idéia de “deformação ideológica” de E. C. de Melo e as análises do “complexo mítico” de E. Leach associadas ao conceito de “campo” e de “trocas lingüísticas” de P. Bourdieu são fundamentais para pensarmos os processos de construções de narrativas míticas que se apresentam como estratégia de legitimação e de dominação no campo de competição geopolítico nacional, em geral, e geopolítico acadêmico, em particular, e que instaura clivagens regionais. Palavras-chaves: campo acadêmico, deformação ideológica, antropologia plural, narrativas históricas, clivagens regionais ABSTRACT: The analysis presented here examines narratives about the history and formation of the Brazilian social sciences. A critical analysis of these narratives for the field of anthropology shows how these constitute and consolidate a hegemonic geographical and academic project. To this purpose we apply the notions of “ideological deformation” of E. C. de Mello, “mythical complex” of E. Leach, and Bourdieu‟s notions of “field” and “linguistics exchange” to the processes of mythical narratives containing a strategy of dominating and legitimizing in a field national geopolitical academic competition. In this way the analysis will demonstrate how regional hierarchical chasms are elaborated by thoroughly underestimating the role of the “inferior” regions. Keywords: academic field, ideological deformation, plural anthropology, historical narratives, regional chasms.

Geopolítica Acadêmica_Reesink & Campos

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    Ttulo: A Geopoltica da Antropologia no Brasil

    ou Como a Provncia Submetida ao Leito de Procusto

    Autoras:

    Msia Lins Reesink (UFPE)

    Roberta Bivar Carneiro Campos (UFPE)

    RESUMO: O presente artigo analisa criticamente e, por conseqncia, desvela o

    estabelecimento e consolidao de um projeto de hegemonia geopoltico-acadmico, no

    campo da antropologia, que se d atravs da constituio de narrativas da histria das

    cincias sociais brasileiras. A idia de deformao ideolgica de E. C. de Melo e as anlises do complexo mtico de E. Leach associadas ao conceito de campo e de trocas lingsticas de P. Bourdieu so fundamentais para pensarmos os processos de construes de narrativas mticas que se apresentam como estratgia de legitimao e de

    dominao no campo de competio geopoltico nacional, em geral, e geopoltico

    acadmico, em particular, e que instaura clivagens regionais.

    Palavras-chaves: campo acadmico, deformao ideolgica, antropologia plural,

    narrativas histricas, clivagens regionais

    ABSTRACT: The analysis presented here examines narratives about the history and

    formation of the Brazilian social sciences. A critical analysis of these narratives for the

    field of anthropology shows how these constitute and consolidate a hegemonic

    geographical and academic project. To this purpose we apply the notions of ideological deformation of E. C. de Mello, mythical complex of E. Leach, and Bourdieus notions of field and linguistics exchange to the processes of mythical narratives containing a strategy of dominating and legitimizing in a field national geopolitical

    academic competition. In this way the analysis will demonstrate how regional

    hierarchical chasms are elaborated by thoroughly underestimating the role of the

    inferior regions. Keywords: academic field, ideological deformation, plural anthropology, historical

    narratives, regional chasms.

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    A Geopoltica da Antropologia no Brasil

    ou Como a Provncia Submetida ao Leito de Procusto1

    Por que somos invisveis? Esta questo inquietante, de contedo existencial e,

    aparentemente, retrica, expressa a nossa perplexidade diante da constatao objetiva, e

    que antes era intuda, sentida, subjetivada e ao mesmo tempo no acreditada, de um

    processo contnuo e histrico de invisibilizao da produo acadmica da provncia

    norte-nordestina no cenrio nacional. Este, digamos, despertar surgiu a partir de

    leituras dos balanos produzidos pela Anpocs (1999 e 2010), no campo da Antropologia

    Brasileira, em particular da Antropologia da Religio, em que a mais notvel

    caracterstica a excluso explcita de toda a produo de estudos sobre religio cuja

    localizao institucional esteja na provncia (Campos e Reesink, 2010)2.

    Por que, enfim, somos invisveis se estamos inseridos (historicamente) nos

    circuitos acadmicos internacionais e nos nacionais: com publicaes em revistas e

    livros, com participao em fruns de debates, como pesquisadores e professores

    convidados ou associados, com projetos de pesquisas financiados? Essa pergunta leva,

    de imediato, a outra questo: Como estamos sendo invisibilizados? Ao tentarmos

    procurar entender esse processo de invisibilizao da provncia N/NE no campo da

    Antropologia da Religio Brasileira, fomos nos dando conta que, isto que aparece

    explicitamente no caso do campo dos estudos antropolgicos sobre religio, apenas

    mais uma atualizao/redundncia do complexo mtico que narra a nossa

    inadequao/incapacidade/incompetncia acadmica crnica cuja figura taumatrgica,

    escolhido de forma no arbitrria, G. Freyre. Nesse sentido, -nos claro que aquilo que

    aparece explcito na antropologia da religio faz parte de um mesmo projeto de

    instaurao e consolidao de hegemonia poltico-acadmica que ultrapassa o campo

    dos estudos da religio, e mesmo da Antropologia em geral, e se enraza nas cincias

    sociais como um todo3, cujo resultado mais concreto o projeto da ABA sobre o

    Campo da Antropologia no Brasil (2004). A principal estratgia de ao tem sido a

    elaborao de um complexo mitolgico, no sentido dado por Leach, que narra e legitima

    a verdade e o direito de existir e de perpetuar, na academia, essa clivagem regional.

    1 Texto apresentado na XII ABANNE/IIIREA, Boa Vista, 2011.

    2 Sustentamos aqui a legitimidade acadmica de construirmos nossa reflexo e argumentao a partir da

    nossa localizao institucional-regional, ou, como preferimos, provinciana. 3 Mas no s: faz parte de um processo de construo de um projeto de hegemonia regional, que parte dos

    campos polticos e econmicos, e que repercute na academia.

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    O objetivo deste trabalho, portanto, o de desvelar ou questionar essa estrutura

    de prestgio que nos tem retido s margens da antropologia brasileira, submetendo a

    nossa produo ao leito de Procusto (Mello, 2004). S para lembrar, Procusto um

    personagem da mitologia grega que submetia seus prisioneiros ao suplcio de deit-los

    em uma cama: se o prisioneiro fosse menor, seria esticado at atingir o tamanho da

    cama; se ele fosse maior, teria as partes do corpo, que ultrapassassem a cama, cortadas

    fora a machadas. A expresso leito de Procusto aplicada, ento, para se referir a

    situaes de intolerncia em relao s diferenas, em que se usa a fora na extino da

    diversidade e da expresso e existncia das particularidades; alm disso, no direito, ela

    tambm usada quando se consideram semelhantes Procusto aqueles que tentam

    enquadrar, de modo inadequado, determinada realidade em um conceito que a ela no se

    ajusta (Dannemann, 2006), provocando resultados negativos.

    Por que e como estamos sendo submetidos ao leito de Procusto do eixo centro-

    sul, que insiste em nos enquadrar como formadores e produtores de uma antropologia

    insignificante, que no teria com o que contribuir para o debate nacional? Esta a nossa

    grande questo. E a resposta provisria que avanamos que isto fruto do processo de

    instaurao desse projeto de hegemonia geopoltico-acadmico, que (com raras

    excees) no encontrou entre ns (da provncia) resistncia alguma. Projeto este que,

    vale ressaltar, se consolida atravs da elaborao de narrativas que contam a histria

    das cincias sociais no Brasil, mas que em nossa anlise revela-se como um projeto pro

    causa sua.

    Entrementes

    A fundao do Imprio ainda hoje uma histria contada exclusivamente do ponto de vista do Rio de Janeiro, poca, pelos publicistas que participaram do

    debate poltico da Independncia, e depois pelos historiadores (Mello, 2004, p. 11).

    Essas palavras do historiador Evaldo Cabral de Mello so tomadas aqui de forma

    metafrica, para se pensar a geopoltica acadmica no campo da antropologia, mas que

    no seria demasiado propor que se trata mais de uma metonmia, tendo em vista o caso

    aqui em foco parecer fazer parte de um quadro geopoltico maior. Assim, se pode

    afirmar que a histria das Cincias Sociais, da Antropologia e da Antropologia da

    Religio no Brasil vem sendo contada do ponto de vista do eixo centro-sul, atravs de

    livros, coletneas e artigos publicados em revistas de alcance nacional, com maior

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    sistematicidade a partir da dcada de oitenta do sculo 20, atingindo seu pice na

    primeira dcada deste sculo, atravs de injunes realizadas pela ABA e ANPOCS.

    Esse esforo narrativo conjunto pode ser interpretado como a face visvel e

    estratgica disso que identificamos como um projeto de hegemonia geopoltico

    acadmico, que tem como conseqncia a nossa invisibilizao, e que pode ser

    antropologicamente refletido a luz das anlises de Leach sobre o mito. Assim, o que se

    tem ento um corpus inscriptum que vai se constituindo em um sistema mitolgico

    que narra a instaurao da real cincia social brasileira, em que vrias verses

    diferentes so contadas. Entretanto, como observou Leach, essa variedade no

    improdutiva, j que [] um trao comum a todos os sistemas mitolgicos que todas as

    estrias importantes se repitam em vrias verses diferentes (1983, p. 58). Haveria

    aqui uma lgica prtica e simblica nessa redundncia, pois:

    [A] redundncia do mito serve para reassegurar a sua veracidade. Qualquer mito particular tomado isoladamente como uma mensagem codificada confusa com

    interferncia de rudos. At mesmo o mais confiante dos devotos pode sentir-se

    meio incerto quanto ao que est sendo dito exatamente. Entretanto, por fora da

    redundncia, o crente pode sentir que, mesmo quando os pormenores variam, cada

    verso alternativa de um mito confirma a sua compreenso e refora o significado

    essencial de todas as verses (Leach, 1983, p. 58).

    Alm disso, Leach estava preocupado em demonstrar que essas diferentes verses so

    articuladas, portanto:

    Ao invs de tomar cada mito como algo em si mesmo com um significado singular para si, assumimos, desde o incio, que todo mito faz parte de um

    complexo e que qualquer padro que aparea em um deles ir reaparecer, na

    mesma ou em outras variaes, em outras partes do complexo. A estrutura que

    comum a todas as variaes torna-se evidente quando as verses diferentes so

    superpostas umas s outras (Leach, 1983, p. 69).

    Entretanto, para ns, um dos pontos mais pertinentes na reflexo de Leach quando ele

    avana, no contexto do complexo mitolgico, como a multiplicidade de repeties,

    inverses e variaes pode vir a formar uma mensagem consistente (Leach, 1983: 69).

    Aplicadas essas reflexes ao complexo mitolgico que narra a histria da nossa cincia,

    percebe-se claramente como a mensagem tornada consistente, e, o mais importante,

    como sua eficcia simblica (com efeitos prticos) poderosa.

    Essas diferentes verses so narradas em especial nas seguintes obras: Sobre O

    Pensamento Antropolgico (Oliveira, 1988), Histria das Cincias Sociais no Brasil

    (Miceli [org], 1989), As Assim Chamadas Cincias Sociais Brasileiras (Birman e

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    Bomeny [orgs], 1991), O Que Ler na Cincia Social Brasileira 1970-1995 (Miceli [org]

    1999), Uma Antropologia no Plural (Peirano, 1992), O Campo da Antropologia no

    Brasil (Trajano Filho e Ribeiro [orgs], 2004), e Horizontes das Cincias Sociais

    Brasileiras - Antropologia (Martins e Duarte [orgs], 2010). So essas obras que sero

    aqui analisadas, na realizao de uma meta-antropologia (Rabinow, 1999), por

    considerarmos que so esses trabalhos grandes narradores do mito das cincias sociais

    brasileiras, em particular da Antropologia, e que tem como objetivo e efeito subjacente

    elaborar uma mensagem consistente, e, portanto, vista como verdadeira.

    A primeira inferncia que tiramos desse quadro e dessas narrativas que, como

    demonstraremos mais adiante, o grande jogo acadmico que se est jogando o

    geopoltico: portanto, ao contrrio do que se escreve na superfcie, no so as diferenas

    ou clivagens terico-metodolgicas que esto em questo e que explicariam as

    diferenas institucionais/regionais, ou as linhagens, ou ainda os sucessos ou

    insucessos acadmicos. A principal clivagem, de fato, regional, e a partir dessa

    clivagem que se pensam, primeiramente, as estratgias e polticas acadmicas; e ainda

    atravs desta clivagem que se instaura uma diviso de competncias e (in)competncias

    no campo de saber. Reis (1991) j apontou criticamente para os efeitos nefastos e

    provincianos dessa estrutura de competncias que atribui ao centro do pas s reflexes

    mais abstratas. Todavia o sucesso da mensagem consistente dessa narrativa mtica

    justamente o de apresentar a clivagem regional como uma conseqncia menor ou

    subsidiria das outras, ou mais ainda: negando a sua existncia.

    Assim, e analogicamente, nas palavras de Mello:

    Sendo todo mito constitucional uma deformao ideolgica para fins precisos, torna-se irrelevante assinalar que se submetia aqui a histria provincial ao leito de

    Procusto de uma interpretao pro causa sua (Mello, 2004, p. 21 grifo em negrito nosso).

    Mais uma vez, nos utilizamos das palavras deste historiador por percebermos conexes

    histricas de longa durao entre os contextos, em que parece haver repeties

    constantes de uma mesma estratgia de construo de hegemonia de certas provncias

    sobre outras. A idia, ento, de deformao ideolgica usada por aquele autor,

    associada ao conceito de campo e de trocas lingsticas de Bourdieu (1982, 1984 e

    2001), fundamental para pensarmos esses processos de construes de narrativas

    mticas consistentes em que, de fato, essas narrativas se apresentam como a melhor

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    estratgia de legitimao e de dominao no campo de competio geopoltico nacional,

    em geral, e geopoltico acadmico, em particular. Pois, como explicita Bourdieu:

    os discursos no so apenas (ou no apenas por exceo) signos destinados a serem compreendidos, decifrados: so tambm signos de riqueza destinados a

    serem avaliados, apreciados e signos de autoridade, destinados a serem cridos e

    obedecidos (Bourdieu, 2001, p. 99).

    Derivando disto, podemos acrescentar que a deformao ideolgica que ocorre nessas

    narrativas pode ser percebida pelo uso da difuso, da atomizao, de tomar-se a parte

    pelo todo, do corte e recorte, da toro e da alienao de dados de pesquisa, alm da

    elaborao de expresses retricas que condensam rtulos e constroem imagens

    reproduzidas ad infinitum de um projeto acadmico, nacional, cientfico,

    institucionalizado e moderno naturalmente encontrado e realizado no eixo centro-

    sul; em contraposio a um no-projeto4 anti-acadmico, provinciano, impressionista,

    no institucionalizado e tradicional, estando sempre a reboque do primeiro, encontrando

    seu locus, com mais evidncia, no eixo Norte-Nordeste. H ainda, implcita e

    explicitamente, nessas narrativas, a idia de que no projeto que encontraremos aquilo

    que eptomizaria as aspiraes e os anseios de uma academia verdadeiramente nacional,

    enfim, o smbolo mesmo do nacional.

    O nosso argumento, entretanto, o de que este projeto acadmico naturalmente

    nacional trata-se de fato de um projeto de dominao de uma determinada elite, que

    como todas as outras provinciana e particular, que atravs da estratgia de

    deformao ideolgica se apresenta como empunhando um projeto nacional. Detentor

    das aspiraes da nao brasileira, ele aparece nessas narrativas como a expresso da

    consolidao da institucionalizao de uma cincia social/antropologia cientfica,

    moderna e democrtica. Nota-se, todavia, que esse projeto intelectual e acadmico, que

    se mostrar vitorioso, se realiza em oposio ou competio, bem ao modo bourdiano, a

    outros processos de institucionalizao que j se faziam no eixo norte-nordeste.

    Novamente, recorremos a Cabral de Mello para estabelecermos a analogia. Assim:

    O federalismo de 1817-1924 criou a pecha de separatismo sob a qual viveu Pernambuco ao longo do Primeiro e do Segundo Reinado, ao passo que a

    historiografia do perodo reivindicar para os conservadores do Rio, os

    saquaremas, o beau rle de construtores da nacionalidade em que se havia

    4 O emprego dos termos projeto e no-projeto em itlico no gratuito: a prpria idia de projeto guarda

    em si o sentido de ordem, organizao, disciplina, racionalidade, modernidade, e, porque no, cincia. O

    contrrio dos atributos normalmente aplicados provincia pelo complexo mitolgico aqui discutido.

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    travestido, graas localizao da Corte, o particularismo fluminense (Mello, 2004, p. 18 grifo em negrito nosso).

    Como temos discutido, nesse trabalho procuraremos demonstrar como vem sendo

    submetidas as provncias do Norte e Nordeste ao leito de Procusto das narrativas mticas

    que instauram a histria da nossa cincia. Para isto, tomaremos os casos da Bahia, Par

    e Pernambuco como modelos paradigmticos nesse processo. As razes para isto so

    basicamente duas: primeiro, so estas provncias que so as mais recorrentes nessas

    narrativas como exemplos de no-projetos; segundo, o nosso prprio conhecimento

    do campo norte-nordestino. No entanto, queremos deixar claro que no pretendemos

    reproduzir aqui um colonialismo interno, ao contrrio: esses casos devem ser tomados

    menos como metforas do que como metonmias de um mesmo processo que atinge a

    totalidade da regio Norte-Nordeste.

    Pensando com Bourdieu contra Miceli

    Como j sublinhado, a dcada de oitenta do sculo passado representa para ns o

    marco da construo sistemtica dessas narrativas mticas, que fazem usos de

    instrumentos metodolgicos estabelecidos como legitimamente cientficos e que, a

    priori, apresentariam a histria real e imparcial (neutra) das cincias sociais no Brasil.

    nesta dcada que trs projetos de pesquisa sobre essas cincias sociais so

    desenvolvidos: o primeiro a pesquisa de Peirano, sobre a antropologia e o caso

    brasileiro, que se inicia no fim dos anos 70, cujos resultados aparecem para o pblico

    brasileiro ao longo da dcada de 80, sendo sistematizados no seu livro de 1992, Uma

    antropologia no Plural; a segunda pesquisa a coordenada por Corra, iniciada em 1984,

    tambm sobre a histria da antropologia brasileira, cujo primeiro resultado se d com a

    publicao em 1987 de Histria da Antropologia no Brasil (1930-1960); a terceira

    pesquisa foi a desenvolvida por Miceli, a partir de 1986, e que culminou nos volumes

    Histria das Cincias Sociais no Brasil (1989), este ltimo produto ter um maior

    impacto na construo dessa narrativa, particularmente pelo seu alcance no meio das

    trs cincias sociais.

    Ao longo das dcadas seguintes, outras verses e variantes vo sendo narradas

    constituindo o que chamamos de complexo mitolgico das cincias sociais brasileiras.

    Identificamos, ento, e em grandes linhas, trs modelos de narrativas: o primeiro

    modelo, que chamamos de histrico, onde podem ser classificados os trabalhos

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    citados de Correa e Miceli; o segundo, de reflexo geral-estrutural, onde se classificam

    os trabalhos de Peirano, de Oliveira (Sobre o Pensamento Antropolgico), de P. Birman

    e H.Bomeny (As Assim Chamadas Cincias Sociais, formao do cientista social no

    Brasil) e de Trajano Filho e Ribeiro (O Campo da Antropologia no Brasil); por fim, o

    ltimo modelo, chamado de recenses temticas analticas, cujos trabalhos por

    excelncia so as publicaes da Anpocs: O Que Ler na Cincia Social Brasileira, Vols

    1, 2 e 3 de 1970 a 1995 (1999) e Vol 4 de 1970 a 2002 (2002), organizados por Miceli,

    e o mais recente de todos Horizontes das Cincias Sociais Brasileiras (2010),

    coordenado por Martins; como o prprio nome do modelo revela, este versa em torno

    das temticas e linhas de pesquisas desenvolvidas no pas, e que, ao mesmo tempo em

    que indica o que ler e quem ler, repercute as narrativas contidas nos diferentes

    modelos/verses. O conjunto desses modelos e verses do complexo mitolgico das

    cincias sociais brasileiras estabelece uma mensagem consistente, cuja capacidade

    auto-reprodutiva e legitimadora pode ser imaginada, ou mesmo mensurada, se

    pensarmos nos cursos introdutrios nas graduaes de cincias sociais espalhadas pela

    Federao, no s no que se refere s disciplinas de antropologia geral ou brasileira,

    mas tambm disciplinas temticas, como por exemplo, antropologia da religio o

    mesmo podendo ser aplicado s ps-graduaes; junta-se a isso os concursos pblicos

    para antroplogos, cujos candidatos, racionalmente, tendem a recorrer a essas recenses,

    reflexes e histrias; que em sua maioria possuem o selo legitimador de instituies

    como Anpocs, Capes, Finep, ABA e CNPq.

    Essas narrativas que elaboram o complexo mtico em questo tm uma

    preocupao, alis, como todo mito, em localizar no tempo e no espao, a origem do

    que narra, de um bero que lhe d legitimidade e de onde se possam identificar

    qualidades essenciais e virtuosas, j contidas na sua origem. Assim, seria na dcada de

    30, do sculo passado, na universidade paulista, que se encontraria a origem da real

    cincia social brasileira.

    Talvez seja Miceli o grande sistematizador e narrador dessa identificao entre

    So Paulo e real cincia social. Assim, na introduo da Histria das Cincias Sociais

    no Brasil (1930-1965), ele afirma:

    A Cincia Social enquanto tal constituiu uma ambio e um feito paulista, podendo-se associar tal orientao acadmica a uma postura de neutralidade

    doutrinria em relao poltica prtica e de certa distncia dos crculos e

    instituies onde estava se dando o treinamento efetivo dos futuros profissionais

    da poltica em So Paulo (Miceli, 1989, p. 15).

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    Essa coletnea organizada por Miceli, e que apresenta os resultados do seu projeto,

    para ns paradigmtica deste processo de consolidao da hegemonia geopoltica

    acadmica. Mais do que fazer uma histria das Cincias Sociais no Brasil, o objetivo

    no confessado mas presente nas entrelinhas - de elaborar uma narrativa que d

    fundamento acadmico e cientfico para a legitimidade da implantao e consolidao

    da hegemonia paulista, atravs de duas estratgias: a primeira, de incluso hierrquica,

    qualifica em graus diferenciados as cincias sociais sudestinas estas so consideradas

    institucionalizadas, pero no mucho, j que teriam relaes promscuas com polticos e

    governos, casos do Rio e, o mais grave, de Minas; a segunda estratgia, de excluso

    desqualificadora, que, como indica j o nome, exclui pela desqualificao as cincias

    sociais das demais provncias por classific-las como no institucionalizadas, mas

    provincianas, tradicionais, elitistas, ou seja: no fundo, anti-cincias sociais caso

    exemplar Pernambuco.

    Dois pontos chamam de forma excepcional a nossa ateno nessa coletnea. O

    primeiro deles de se auto-denominar histria das cincias sociais no Brasil quando s

    trata de quatro experincias, alm do mais de forma desigual: So Paulo, Rio de Janeiro,

    Minas Gerais e Pernambuco. O Par aparece de forma subsidiria quando se discute o

    caso dos museus nacionais (Nacional, Goeldi, Paulista), muito mais para demonstrar

    uma anti-modernidade e posicionamento histrico desses museus em um passado

    longnquo, cujo interesse o de permitir uma espcie de arqueologia da vida

    intelectual e cientfica do pas (Miceli, 1989, p. 6). Assim, o que temos de fato a

    narrativa da constituio do modelo paulista das cincias sociais em oposio ao

    modelo fluminense que produziria uma cincia de segunda categoria, em que Minas e

    Pernambuco seriam os casos-controle, j que o projeto se apresenta como cientfico.

    Aqui, nos surpreende imensamente que, em um trabalho que pretende fazer uma histria

    nacional dentro dos parmetros cientficos, a experincia baiana esteja ausente,

    particularmente quando sabido que j em 1948 Thales de Azevedo publicava As

    Cincias Sociais na Bahia, e que a fundao da Faculdade de Filosofia da Bahia

    acontece em 1941, e o curso de cincias sociais implantado na dcada de 40 (Brando,

    2005). No seria a ausncia baiana a mais um exerccio de deformao ideolgica, j

    que os dados parecem desconstruir as narrativas do mito, tendo em vista as cincias

    sociais baianas surgirem prximas ao modelo implicitamente proposto pelo complexo

    mitolgico?

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    A ausncia da Bahia no escopo do projeto nos leva ao segundo ponto observado:

    a contradio entre o recorte dado pelo projeto, o que apresentado, comentado e

    condensado na introduo do organizador e os dados descritos, discutidos e analisados

    no corpo da coletnea: especialmente nas introdues onde se encontram com mais

    evidncia as estratgias narrativas de construo do complexo mtico. Assim, a excluso

    da Bahia na escolha das histrias a ser pesquisadas (contendo implicitamente a idia de

    tratar-se de um contexto cientfico insignificante), contradito, por exemplo, pelo

    ltimo artigo da coletnea, Franceses e Norte-Americanos nas Cincias Sociais

    Brasileiras (1930-1960), de Massi, em que, aparentemente contra-gosto5, aparecem

    as relaes institucionais da Faculdade de Filosofia da Bahia com a Universidade de

    Columbia, j nos anos 30, consolidando-se no fim da dcada de 40 com o Programa de

    Pesquisas Sociais do Estado da Bahia-Columbia University, tendo Thales de Azevedo

    como um dos seus diretores, e produzindo impactos importantes, no s na antropologia

    nacional, mas tambm internacional.

    Em relao a Pernambuco, talvez essa contradio encontrada entre dados e

    narrativas seja mais gritante, j que se d pela presena e no pela ausncia. Nesse

    sentido, em seu texto Um Imprio na Provncia: o Instituto Joaquim Nabuco em

    Recife, Freston faz um trabalho correto de descrio da histria da Fundao Joaquim

    Nabuco em Pernambuco, fundada em 1949, demonstrando particularmente a

    complexidade do campo das cincias sociais pernambucano (que tem a Faculdade de

    Filosofia de Pernambuco fundada em 1941 e o curso stricto sensu de cincias sociais

    implantado em 1950); as relaes ao mesmo tempo de cooperao e competio entre o

    Instituto e a Universidade, tendo no antroplogo Ren Ribeiro figura emblemtica disso,

    pois pesquisador da Fundaj e professor catedrtico de Antropologia do curso de

    Cincias Sociais na UFPE; as diferentes temticas trabalhadas pelos seus pesquisadores,

    reconhecendo mesmo, que ao menos na rea de ecologia, a instituio pioneira. Em

    especial, o texto deste autor, alm de demonstrar a complexidade do caso da Fundaj e a

    pluralidade institucional das cincias sociais nesta provncia, ao realizar cerca de vinte

    entrevistas no Estado, permite notar que os seus cientistas sociais analisam criticamente

    este contexto.

    5 contra-gosto porque: a. no se poderia deixar de lado dessa histria esta relao institucional, j que

    seria facilmente considerada insuficiente e pouco competente se no aparecesse; b. a Bahia e seus

    cientistas sociais aparecem a de forma passiva exceso de Ansio Teixeira, aparecendo muito mais como campo de pesquisa do que como lugar produtor de pesquisa.

  • 10

    E, contudo, no reencontramos na introduo de Miceli esse quadro apresentado

    por Freston. Outra imagem elaborada, atravs de rtulos e expresses retricas. Assim,

    o campo das cincias sociais pernambucano de mltiplo e complexo reduzido a

    Fundaj, em que o todo tomado pela parte, passando a Fundaj a ser Pernambuco. Mas,

    particularmente quando o autor faz uma comparao entre Pernambuco e Minas que

    se percebe o alcance das tores e alienaes dos dados apresentados. Diz o autor,

    Nos dois estados citados, as obras dos cientistas sociais foram tomando corpo amarradas matriz provinciana de produo intelectual (Miceli, 1989, p. 17).

    Entretanto, pouco depois Minas Gerais salva pela estratgia da incluso, apesar de

    qualificada em uma categoria inferior. Assim,

    No obstante, existem diferenas gritantes entre os casos mineiro e pernambucano. E a principal delas tem a ver com o formato institucional de ambos

    os experimentos e, por conseguinte, com o perfil tcnico e acadmico dos

    intelectuais moldados nesses estados. Em Minas Gerais, as Cincias Sociais so

    introduzidas com a mediao da organizao universitria j implantada; em

    Recife, Gilberto Freyre envidou esforos para construir um espao institucional

    autnomo, completamente apartado tanto da universidade local como de

    qualquer outra jurisdio pblica ou governamental em nvel estadual. O projeto

    institucional mineiro contemplava a formao de quadros tcnicos em condies

    de passarem a gerir o processo de modernizao da economia e do governo

    estaduais [...]. O Instituto Joaquim Nabuco tendeu desde o incio a operar como

    uma cooperativa de pesquisadores, letrados e intelectuais provincianos, unidos

    pela perspectiva de criao cultural inovadora sob a liderana de Gilberto Freyre.

    [...] O experimento mineiro procurava impor sua legitimidade como antdoto para

    debelar o relativo atraso estadual enquanto o Joaquim Nabuco buscava afirmar sua

    identidade em termos de uma espcie de servio emergencial de preservao das

    tradies regionais (Miceli, 1989, p. 18 grifos nossos).

    Procuramos no texto de Freston dados que dessem fundamento a essas imagens

    das cincias sociais pernambucanas, e mesmo da Fundaj, e, como j avanado, no

    encontramos. Entretanto, como um bom conhecedor de Bourdieu, Miceli tem

    conscincia dos efeitos qualificadores e desqualificadores dessas imagens construdas,

    particularmente pelo seu potencial de condensadores de idias e rtulos que so

    facilmente consumidos. Mais do que isso, e ainda como um bom bourdiano que (ou

    foi), ele deve ter uma noo clara de como as introdues aos textos acadmicas so

    instrumentos importantes na luta pela hegemonia no campo, exatamente pelo seu poder

    de elaborar expresses retricas e de direcionar o interesse do leitor. Afinal de contas,

    quem se interessaria em ler um texto que descreve a histria provinciana de uma anti-

    cincia social, segundo o modelo implcito? Quem se interessaria em ler essa histria,

  • 11

    ou mesmo, tendo em mente os efeitos para alm do escopo do livro, quem se

    interessaria pela produo de uma cincia social assim rotulada:

    Em Pernambuco, essa tradio polgrafa abrange desde o ensaio poltico, os versos de circunstncia, a literatura de consagrao, passando pelas tcnicas do

    parecer jurdico, por toda a cultura da jurisprudncia, at os ensaios culturalistas e

    as receitas culinrias (Miceli, 1989, p. 17).

    Quem se interessaria?

    De fato, parece-nos que os conhecimentos de uma scio-antropologia bourdiana

    foram a aplicados competentemente. A pincelada final da desqualificao ou da

    submisso dessas provncias ao leito de Procusto a escolha de Miceli em dar

    preferncia ao que parece ser piadas ditas e ouvidas nos corredores acadmicos do que

    aos dados apresentados pelo seu pesquisador.

    Uma antropologia no Plural: faamos o dever de casa

    A consistncia do complexo mtico e, portanto, do seu sucesso como discurso

    hegemnico e qualificado, est ancorada sobre aquilo que analisamos como a chave

    interpretativa desse projeto de hegemonia geopoltico acadmico: a saber, a idia de

    institucionalizao, e seu derivado, cincias sociais institucionalizadas. Como

    estamos vendo, a classificao de institucionalizao ou no das cincias sociais vai ser

    um dos grandes modeladores do leito de Procusto, ou seja: , originariamente, a partir

    desse norte que se desqualificar ou se qualificar os formadores e produtores das

    cincias sociais, em particular da antropologia, no Brasil. Curiosamente, entre os textos

    analisados, o conceito institucionalizao/cincias sociais institucionalizadas nunca

    aparece claramente ou exclusivamente definido e, por isso, apresenta-se plstico e

    manipulvel, servindo facilmente s deformaes ideolgicas de circunstncia6. De

    qualquer forma, o termo institucionalizao/institucionalizado, ou de institution

    building, como prefere alguns (Velho, 2003) parece se impor, carregando em si um

    sentido a priori, mas nunca explcito, como dito, de: universidade como o locus de

    onde o processo se daria, e cujo contedo (ou implicao) seria o de modernidade,

    cientificidade, neutralidade, democracia, autonomia e independncia poltica; sendo a

    anttese dessa imagem G. Freyre, e metonimicamente a provncia norte/nordeste; na

    recorrente estratgia de se tomar a parte pelo todo, simplificando a complexidade, tanto

    6

    Havendo tambm certa hesitao, na dcada de oitenta, entre o uso do termo cincias sociais

    institucionalizadas ou burocratizadas, na verso de Oliveira para a antropologia.

  • 12

    de Freyre como da provncia. Assim, nessas narrativas no cabe espao nem para as

    trajetrias institucionais das cincias sociais na Bahia e no Par, por exemplo, como

    tambm para o fato de Freyre ter sido o primeiro professor de sociologia no Brasil, na

    cadeira implantada na Escola Normal de Pernambuco, em 1928; e de ter sido, alm de

    diretor do Departamento de Cincias Sociais da Universidade do Distrito Federal (RJ),

    na dcada de 30, o primeiro professor da primeira cadeira de Antropologia Cultural e

    Social da Amrica Latina, inaugurada naquela universidade em 1935, e em seguida

    tambm da de Sociologia, permanecendo ali at 1937 (Freyre apud Maio, 1999).

    Se levarmos em conta, porm, os depoimentos de E. Schaden e Thales de

    Azevedo (Peirano, 1991), na antropologia, at os anos sessenta, a grande preocupao

    dos antroplogos no era traduzida em termos de institucionalizao, mas de

    profissionalizao/profissionalizar e de espao de atuao profissional, como pode ser

    depreendido do trabalho de Cunha (1955) apresentado na primeira reunio da ABA, em

    1953. Neste sentido, Cunha levantava, poca, tanto no que se referia a uma

    antropologia pura quanto aplicada, o campo de possibilidades de atuao profissional,

    como, entre outros: o SPI, a Secretaria de Educao da Bahia, o Instituto Joaquim

    Nabuco, o Museu Nacional e o Museu Paraense Goeldi.

    O que parece se impor cada vez mais aos nossos olhos um contexto em que se

    estava gestando diferentes modelos do que so as cincias sociais, em geral, e a

    antropologia social, em particular, em que questes como formao, tipos de atuao

    profissional, e espaos de atuao e de produo e reproduo do conhecimento

    acadmico estavam em competio. Assim, de um lado o modelo instituio da

    provncia de So Paulo que atrelava diretamente universidade igual academia, onde

    a idia de fazer escola seria capital, e, que segundo Antnio Cndido (apud Peirano,

    1992), se fundava a partir de um projeto poltico de dominao e hegemonia de uma

    elite paulista com pretenses nacionais e que estabelecia a universidade como modelo

    por excelncia; de outro, o modelo profissionalizar, difundido na maior parte das

    diferentes provncias, e que no traduzia, ou reduzia, academia igual a universidade,

    mas que levava em conta espaos plurais de produo de conhecimento acadmico

    (particularmente no caso da antropologia), incluindo a, com maior ou menor

    protagonismo, o espao da universidade. dentro desse modelo que se inserem as

    iniciativas da criao do Instituto Joaquim Nabuco em 1949, do Instituto de

    Antropologia do Cear, em 1958, do CEAO, na Bahia, em 1959, e de fortalecimento

    dos museus Paraense Goeldi particularmente com a chegada de E. Galvo em 1955, e

  • 13

    do Museu Nacional, espaos estes consideradas como de legtimas instituies

    acadmicas, muitas das quais pensando e realizando a articulao que hoje afirmamos

    ser a vocao da universidade: ensino, pesquisa e extenso.

    Obviamente o modelo profissionalizar vai ser submetido a uma sistemtica

    desqualificao pelo modelo instituio, que elege Freyre como figura emblemtica

    do primeiro. Assim, mais uma vez nas palavras de Miceli:

    E ainda que os trabalhos de Gilberto Freyre sejam impensveis sem o prolongado estgio vivido em universidades, arquivos e bibliotecas norte-americanas e

    europias, ele consolidou sua carreira guiando-se pelo modelo do grande

    intelectual de provncia cujo espao institucional no seno a extenso de seu

    cacife pessoal (Miceli, 1989, p. 102 grifos nossos).

    Em um s pargrafo, Miceli transforma os ttulos de bacharel e mestre em Cincias

    Sociais de Freyre, que foi o primeiro brasileiro a obt-los, em estgio prolongado; sua

    insero nacional e internacional em intelectual de provncia; e os seus esforos de

    criao de espaos institucionais para a atuao-formao de cientistas sociais em

    projeto pessoal baseado em cacife pessoal; implicitamente de um lado relacionando o

    modelo instituio ao tipo puro de dominao burocrtica weberiana, cujo

    representante puro seria a escola paulista; do outro, o modelo profissionalizar ao

    tipo puro de dominao patriarcal/tradicional.

    Atravs dessa recorrente estratgia, o modelo instituio que se torna

    hegemnico na academia brasileira. Como descreve Velho:

    No Brasil tambm tivemos um (velho) orientalismo. Aqui no o lugar para entrar em detalhes a seu respeito. Mas em reao a ele, no caso da antropologia (e

    de outras disciplinas, como a cincia poltica) montou-se a partir da segunda

    metade da dcada de sessenta do sculo passado um aparato institucional que

    pretendia ser, por si, um monumento modernidade. Teve como base a criao de

    estudos ps-graduados segundo um modelo norte-americano. [...] Para tudo isso,

    contou-se com um apoio dos governos militares instaurados em 1964, em bvio

    contraste com o ocorrido contemporaneamente na Argentina. Mas contou-se

    tambm, poderosamente, com auxlio norte-americano (sobretudo da Fundao

    Ford), muitas vezes acionado em nome de um iderio liberal para se contrapor ao

    prprio regime militar. Curiosa combinao, que exigiu uma boa dose de

    habilidade poltica e de engenharia institucional por parte da comunidade

    cientfica em geral e dos antroplogos em particular (Velho, 2003, p. 10 -11).

    Ao mesmo tempo, Velho parece insinuar que o sacrifcio teria valido a pena:

    O resultado de tudo isso foi um impressionante desenvolvimento intelectual e institucional, a includo o das nossas associaes cientficas [...]. E incluiu

    tambm um notvel apego a identidades como a de antroplogo e o culto aos

    clssicos da disciplina (Velho, 2003, p. 11).

  • 14

    Contudo, parecia existir ainda na antropologia dos anos oitenta certa

    resistncia a esse processo homogeneizador do campo antropolgico. Comentando

    sobre a antropologia feita em So Paulo, Egon Schaden afirmou, no incio dos anos

    oitenta:

    Nunca chegou a esborar-se, felizmente, na Universidade de So Paulo, algo que pudesse denominar-se uma escola antropolgica paulista (Schaden apud Peirano, 1991, p. 43).

    Ao que parece, Egon Shaden felicita o salutar contexto de uma antropologia que no

    fazia escola, o que implicaria em instaurar linhagens, lealdade, obedincia, parentesco,

    reproduo, hierarquia, dependncia, ou seja: em nossa leitura, saudava o contexto de

    uma antropologia brasileira que se constitua de maneira diversa e descentralizada.

    Peirano (1991), no entanto, far um esforo considervel para desconstruir essa

    imagem apresentada por Shaden, na demonstrao de que partiria de Florestan

    Fernandes a formao de uma escola, atravs da traduo realizada por Oliveira, que

    fundaria a institucionalizao de uma antropologia moderna no Brasil. Fazendo isto,

    Peirano liga diretamente o estabelecimento da Antropologia brasileira moderna ao

    modelo instituio paulista, tendo, portanto, a sua origem no ancestral mtico da

    linhagem Florestan Fernandes. Nas suas palavras:

    Essa fase s comea a ocorrer com a proposta que tramita nas mos de Roberto Cardoso de Oliveira, que parte de Florestan Fernandes e ruma antropologia da

    frico intertnica, onde a questo indgena torna-se motivao para se pensar a

    sociedade nacional (Peirano, 1991, p.49).

    Toda a discusso de Peirano (1992) tem como pano de fundo a defesa da legitimidade

    das antropologias perifricas, advogando assim uma antropologia no plural: sua

    argumentao, ento, de que a constituio das antropologias modernas nacionais

    estaria diretamente relacionada questo do nation building; sendo toda antropologia

    uma antropologia nacional. Tal argumentao se revela, sobretudo, na sua preocupao

    em articular a produo do conhecimento antropolgico construo da idia de nao,

    em que, no caso da antropologia brasileira, isso se daria pela relao Florestan-Oliveira.

    Essa posio de Peirano tem encontrado enorme acolhida no meio antropolgico

    (Velho, 2003), com poucas excees. Deve-se admitir que se trata de uma

    argumentao extremamente sedutora, particularmente pelo seu aspecto poltico de

    posio de confronto e afirmao face s antropologias centrais: ela une todos em um

  • 15

    ns- antropologia brasileira/nacional que exige um reconhecimento deles-

    antropologias centrais. No entanto, e aqui se encontra o seu segundo efeito poltico, ao

    fazer isto ela instaura um ns unitrio, homogeneizador e que anula a diversidade

    interna, e faz isso impondo um modelo, um rosto para esse ns que desenhado em

    determinada provncia, que no certamente a provncia norte/nordeste; pois

    novamente somos submetidos ao leito de Procusto, recorrendo-se as mesmas

    estratgias de deformao ideolgica.

    Podemos identificar esse movimento quando, ao querer saber o que a

    antropologia no Brasil era ou deveria ser (Peirano, 1992, p. 15), e apesar de procurar

    demonstrar uma pluralidade ao entrevistar e/ou examinar a obras de cientistas sociais de

    diferentes geraes e interesses acadmicos (ibid), no por acaso Peirano se restringe

    a quatro profissionais de origem uspiana: F. Fernandes, D. Ribeiro, A. Candido e R. C.

    Oliveira e dois do Museu Nacional: O. Velho e R. DaMatta. Mesmo se poca da sua

    pesquisa Eduardo Galvo, institucionalmente identificado com o Museu Paraense

    Goeldi e o primeiro brasileiro a ter um doutorado em Antropologia, em 1952, j

    estivesse morto, apesar de suas obras ainda estarem vivas disposio para exame, de

    se perguntar por que reduzir o raio de entrevista a essas duas provncias? Por que no

    procurar ver isto do ponto de vista de Ren Ribeiro, primeiro brasileiro ps-graduado

    (com o grau de mestre) em antropologia social, obtido em 1947, ou Thales de Azevedo,

    um dos fundadores da ps-graduao em Cincias Sociais da UFBA, nos anos 60?

    Quais os critrios desse recorte, dessas escolhas? O modelo instituio da academia?

    As respostas para isso podem ser encontradas no argumento de Peirano de que, o

    esforo e a iniciativa de Ribeiro e de Galvo so excees regra, ao invs de ser

    visto como pioneirismo, ou mesmo como porta-vozes legtimos do que se entendia ser a

    antropologia aqui poderia se perguntar se Galvo tambm entraria na qualidade de

    exceo se tivesse permanecido na Universidade de Braslia. Mas, mais ampla do que a

    questo da exceo a idia desenvolvida por Peinano das linhagens na antropologia,

    que parece ser derivada da idia de manifestaes de antropologia. Assim, argumenta

    que ao invs de pensar a histria da antropologia atravs das categorias de pioneiros ou

    tempos hericos, dever-se-ia adotar uma abordagem mais sociolgica, em que:

    Esta talvez possa ser encontrada na idia de manifestaes de antropologia: os momentos das manifestaes diz-nos Antonio Candido para a literatura, so

    aqueles em que a imaturidade do meio dificulta a formao de grupos, a

    elaborao de uma linguagem prpria e o interesse pelas obras. Antonio Candido

    fala de manifestaes literrias quando no se definiu uma continuidade

  • 16

    ininterrupta de obras e autores, e quando estes ltimos no esto

    necessariamente cientes de integrarem um processo de formao (Peirano, 1991, p. 45-46).

    Ou seja, o corolrio dessa reflexo a implicao de que, se no h continuidade, no se

    forma nem linhagem nem escola, portanto no h antropologia, mas manifestaes

    antropolgicas. Este raciocnio de Peirano, e suas implicaes, de fundamental

    importncia aqui, porque, como demonstramos, compe uma das verses do complexo

    mtico, que atinge particularmente a antropologia. -se possvel, alm disso, perceber

    como h uma verdadeira articulao nas diferentes narrativas do mito, na constituio

    da sua consistncia.

    Nesse sentido, aparentemente Peirano estaria contradizendo a anlise de Oliveira,

    em que este classifica estruturalmente a antropologia brasileira a partir dos tempos

    herico, carismtico e burocrtico, onde no por acaso tanto Freyre quanto

    Nimuendaju esto fixados no tempo herico e, afirmamos, metonimicamente, a

    produo antropolgica nessas provncias. A partir da, no haveria ento uma soluo

    de continuidade, acontecendo com essas antropologias o mesmo que acontece com os

    ndios na histria brasileira: presentes na origem, mas ausentes nos outros tempos

    histricos. E aqui vemos a complementariedade da anlise de Peirano de Oliveira, pela

    analogia: nessas provncias haveria manifestaes de antropologia, mas no

    antropologia, pois no h continuidades, no h linhagens, nem escolas.

    A consistncia final desse complexo mtico se d atravs do Projeto da ABA

    O Campo da Antropologia no Brasil, desenvolvido entre 2002 e 2004, tendo seus

    resultados publicados em 2004. O que mais nos impressiona nesse projeto a

    reproduo e afinao da sua narrativa com as demais, particularmente com a de

    Peirano. Assim, o projeto elaborado pela ento diretoria da ABA (2002-2004), pretendia

    mapear, conhecer e descrever o campo da antropologia, a partir da implantao das ps-

    graduaes em antropologia excluso das de cincias sociais e afins, no perodo de

    1968 a 2002; procurava-se saber aqui as linhas e projetos de pesquisa, a insero

    nacional e internacional de antroplogos filiados desses PPGAs, o campo de atuao

    profissional dos egressos, a formao, ensino e reproduo da antropologia,

    financiamento e avaliao dos pesquisadores e dos PPGAs. Do conjunto de anlises,

    uma concluso que se tira a confirmao da existncia de linhagens. Como avanado

    na introduo da coletnea da ABA, escrita por Trajano Filho e Martins:

  • 17

    Da tambm o sucesso da metfora dos grupos unilineares de descendncia para se compreender a formao e a identidade profissional dos antroplogos: a idia de linhagens intelectuais (Trajano Filho e Martins, 2004, p. 34 - grifos nossos).

    O que nos estarrece, porm, nesta iniciativa e produto da nossa Associao a

    clareza com que se percebe, ao mesmo tempo, a convergncia e contribuio da ABA

    ao complexo mtico e a eficcia com que este vem nos tornando invisveis. Nesse

    sentido, no af de conhecer esse campo disciplinar, e de aplicar o seu esprito

    democrtico, a ABA se volta para as regies Norte e Nordeste, destacando-as do

    nacional, e apresentando-as, por exemplo, da seguinte maneira:

    Das interpretaes sobre o Brasil feitas por Gilberto Freyre nos anos 1930 e 1940 aos estudos de Thales de Azevedo, a antropologia brasileira tem encontrado no

    Nordeste uma regio que inspira clssicos (Trajano Filho e Martins, 2004, p. 27).

    Para em seguida se perguntar quem somos ns e o que fazemos. O que chama,

    primeiramente, a ateno nessa introduo a reafirmao da nossa localizao nos

    tempos hericos; em seguida, a constatao de que no existimos para alm dessa

    localizao nessa antropologia nacional institucional, estamos de fato invisibilizados.

    Isto porque, se aparentemente teramos ali aberta uma janela de visibilidade,

    contudo, pela estratgia de deformao ideolgica e de submisso ao leito de

    Procusto, o seu efeito eficaz , de fato, o de contribuir para a consistncia das

    narrativas do complexo mitolgico. Assim, das informaes que foram fornecidas por

    Beltro, para as provncias do Norte, e por Motta e Brando, para as provncias do

    Nordeste, e que afirmam com segurana que somos antroplogos, fazemos antropologia

    e formamos antroplogos, a introduo da ABA corta machadadas 42 pginas de

    dados e descries que apresentam o quadro da antropologia dessas provncias, para se

    concentrar em duas pginas de questionamentos, digamos, hamletianos, do texto de

    Motta e Brando; questes essas que, no caso dessa regio, levam em conta a atuao de

    antroplogos em contextos de ps-graduaes em cincias sociais e sociologia, e que

    mesmo assim se informado pelos autores de que so questes no respondidas, tendo

    em vista tratar-se de uma pesquisa in progress. A partir dessas duas pginas a

    introduo da ABA realiza as seguintes ilaes:

    As contribuies [...] sobre a antropologia na Amaznia e no Nordeste sugerem a existncia de mltiplas identificaes. Nessas regies a pesquisa tambm feita

    alm dos estreitos muros dos dois programas de ps-graduao em antropologia,

    por docentes de programas de cincias sociais e de sociologia. Deve-se ressaltar

  • 18

    aqui que essas atividades de pesquisa so percebidas como investigao

    antropolgica. O texto de Paula Montero7 refora esse ponto de vista, ao mostrar

    que a formao de profissionais em antropologia est concentrada em instituies

    do Centro-Sul do Brasil, apesar da tendncia desconcentrao institucional (Trajano Filho e Martins, 2004, p. 33 grifos nossos).

    O texto avana, ento:

    No fica claro nesses trabalhos, contudo, como pesquisadores que h anos esto vinculados a programas de sociologia e cincias sociais mantm a identidade de

    antroplogo. Sugiro que razovel pensar que, nesse caso, as identificaes so

    fortemente dependentes dos contextos em que so acionadas (Trajano Filho e Martins, 2004, p. 33).

    E acrescenta em nota:

    Os casos do Nordeste e da Amaznia no so exclusivos, mas antes extremos (Trajano Filho e Martins, 2004, p. 33).

    A manobra de deformao ideolgica impressionante e extremamente competente.

    A concluso moral, a mensagem consistente da narrativa do complexo mtico,

    apresenta-se quase completa e legitimada pela nossa prpria associao: no temos

    identidade, no formamos antroplogos, mas nossas pesquisas so percebidas como

    investigao antropolgica, mesmo que haja qualquer semelhana entre o nosso

    contexto e o resto do pas somos a um caso extremo.

    Se, como nos aconselha Leach, superpormos as diferentes verses do complexo

    do mito, poderemos ver como cada verso parte do todo. Assim, essa falta de

    identidade, essa investigao antropolgica, esse caso extremo, conjuga-se a

    exceo, a manifestao de antropologia, a no linhagem. Chegamos, ento, ao

    ponto fulcral: se, como sugeriu Velho, somos muito ciosos de uma identidade de

    antroplogo e se, como fala a introduo da ABA, a metfora da descendncia

    unilinear, das linhagens, que d a chave da compreenso da formao e da identidade de

    antroplogo; ento, s resta uma concluso lgica: como no temos linhagens, no

    temos cara, no somos antroplogos, pois no passamos de manifestaes

    antropolgicas. Nessas narrativas do complexo mtico surgimos, enfim, como

    monstros.

    7 O texto de Montero trata dos egressos dos PPGAs at 2002, em que 70% dos PPGAs se concentravam

    nas regies S/SE, tendo 66% dos egressos. Na nossa leitura, essa diferena entre capacidade de formao

    e formao demonstra apenas que os PPGAs nas outras provncias so mais efetivos nesse quesito.

  • 19

    Concluso Reflexiva e Propositiva

    A instaurao e consolidao de um projeto de hegemonia geopoltico-

    acadmico, no campo da antropologia, se d atravs da constituio de um complexo

    mtico das cincias sociais, produzindo uma mensagem consistente, cuja estratgia

    privilegiada a aplicao de uma deformao ideolgica pro causa sua. Nesse sentido,

    se continuarmos a adotar as concepes do complexo de mitos de Leach e a sua

    anlise obviamente inspirada em Lvi-Strauss, podemos avanar que essa mensagem

    consistente se estrutura em dois plos de oposio, ou discriminaes binrias

    (Leach, 1983: 62), que se posicionam hierarquicamente, e que representam de um lado o

    centro/a corte, do outra a periferia/a provncia. Temos assim as seguintes oposies

    que estruturam o complexo mitolgico do campo acadmico: ilustrao x sombras;

    claro x escuro; cientfico x ideolgico/impressionista; ordem x desordem; puro x

    impuro/misturado/miscigenado/hbrido; conhecido x desconhecido; ser x no ser. Aqui,

    o elemento de mediao , claramente, a idia ou categoria nacional.

    E em torno da disputa pelo que nao ou nacional como j demonstrou

    Mello (2004), que o jogo geopoltico se instaura, cujo modelo de nao que se impe e

    se torna hegemnico o do particularismo centro-sul. Nesse contexto, a ns, os situados

    nas provncias, resta-nos o sentimento de uma vergonha de si, nos termos propostos

    por Bourdieu, cuja reao diante da hegemonia a busca por disfarar, dissolver o lugar

    de origem; mesmo porque, quando se localiza o lugar e o sotaque com que se fala,

    somos imediatamente acusados de provincianismo; quando se prope uma reao

    dominao, em busca de posies mais equilibradas no campo, logo se chamado

    ateno para o risco de um ressentimento nietscheano.

    Entretanto, se estamos dispostos de fato a pensar uma antropologia da religio e

    uma antropologia em geral verdadeiramente brasileira e plural, devemos romper com a

    vergonha de si, romper com a estrutura afetiva imposta pela dominao. Assumindo

    assim a legitimidade de falar do lugar de onde estamos e com o sotaque que temos, e

    usar o ressentimento nietscheano, se que ele est a presente, de maneira propositiva,

    para exigir a constituio de uma antropologia descentralizada, criativa e original.

    Pois, se verdade o que Peirano e outros comentadores de Fernandes afirmam

    de que em termos tericos Florestan no criava propriamente, mas dava continuidade

    aqui tradio europia (Peirano, 1992, p. 76), e o que Costa (2010) diz de que a

    sociologia brasileira reprodutora e aplicadora das teorias centrais no caso brasileiro; e,

    nessa direo, se, como diz Peirano, a antropologia sai de uma costela de Florestan,

  • 20

    h de se compreender porque Stocking Jr. (1982) no v diferena significativa entre a

    nossa antropologia e as antropologias centrais. Ao que parece, ao se homogeneizar um

    campo, mesmo que sejamos reconhecidos como realizando uma antropologia

    competente, fazemos isso numa relao de dependncia, pois as possibilidades de

    constituir uma antropologia brasileira original perderam-se ao se escolher a hegemonia

    e dominao de uma provncia em lugar da pluralidade acadmica.

    Em contraposio a este estado da arte, propomos aqui que o campo

    antropolgico brasileiro se inspire no regionalismo do antroplogo Gilberto Freyre, para

    quem o regionalismo era, sobretudo, uma ao afirmativa para positivar as provncias,

    o provinciano. Nesse sentido, a geopoltica acadmica da antropologia brasileira deveria

    ser estabelecida no a partir de uma relao assimtrica entre centro e periferia, entre

    corte e provncia; mas antes, numa abordagem radicalmente simtrica de relaes entre

    provncias, na certeza de que cada ponto de vista, cada perspectiva provinciana, uma

    interpretao possvel e vlida na constituio de uma antropologia efetivamente

    simtrica e plural.

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