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REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2018 Volumen 19 Nº 1 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n010118.html Georreferenciamento e caracteristica das agressões de animais a humanos no município de Santa Teresa-es entre julho de 2011 a julho de 2015 http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n010118/011807.pdf 1 REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504 Georreferenciamento e caracteristica das agressões de animais a humanos no município de Santa Teresa-es entre julho de 2011 a julho de 2015 - Georreferencing and characteristic of human animal agressions in the municipality of santa teresa-es between july 2011 to july 2015 Barroso, Rogério Magno do Vale: Professor Adjunto Cirurgia Veterinária da Universidade Federal do Acre (UFAC), Brasil. E-mail: [email protected] | Felipe Totola Mohem: Médico Veterinário Autônomo | Fernando Vicentini: Professor Adjunto Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Brasil | Paula de Oliveira Braga: Médica Veterinária Autônoma RESUMO As agressões por animais somam grande parte dos casos de atendimentos emergenciais em hospitais, sendo potencialmente transmissoras do vírus da raiva e realizada, em sua maioria por mamíferos, os quais foram objeto deste estudo. Os dados foram coletados das fichas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Município de Santa Teresa-ES em um total de 275 fichas entre julho de 2011 a julho de 2015. Após análise estatística, constatamos que a maior parte das pessoas agredidas foi do sexo masculino, com 50,55%, a zona urbana com 66,18% foi a mais afetada, a idade mais predisposta fora de 1 a 10 anos com 18,91% das agressões. Cães e gatos somaram 93,09% dos ataques, com 73,09% casos de mordedura, 38,91% das agressões foram proferidos contra as mãos/pés, 67,64% de ferimento único, sendo 68,36% superficiais. Observamos que a profilaxia é o meio mais indicado para o controle desta enfermidade, sendo que a indicação médica pós-agressão foi a vacinação, observada em 50,18% dos casos, onde apenas o acompanhamento dos animais poderia solucionar o caso. Fora realizado ainda o georreferenciamento do local de moradia da pessoa agredida a fim de avaliar a vulnerabilidade de cada bairro. Palavras chaves: vigilância epidemiológica, vírus da raiva, mapa de risco e saúde pública. INTRODUÇÃO Ferimentos causados por traumas são em grande parte, os principais atendimentos emergenciais na medicina humana, sendo uma destas causas as mordeduras de animais, onde os cães são relatados como os principais agressores, seguidos de gatos e animais silvestres principalmente quando se

Georreferenciamento e caracteristica das agressões de ... · ... vigilância epidemiológica, vírus da raiva, mapa de risco e ... ficha é que a raiva é uma ... com a representação

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Georreferenciamento e caracteristica das agressões de animais a humanos no município de Santa Teresa-es entre julho de 2011 a julho de 2015 http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n010118/011807.pdf

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REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504

Georreferenciamento e caracteristica das agressões de animais a humanos no município de Santa Teresa-es entre julho de 2011 a julho de 2015 - Georreferencing and characteristic of human animal agressions in the municipality of santa teresa-es between july 2011 to july 2015

Barroso, Rogério Magno do Vale: Professor Adjunto Cirurgia Veterinária da Universidade Federal do Acre (UFAC), Brasil. E-mail: [email protected] | Felipe Totola Mohem: Médico Veterinário Autônomo | Fernando Vicentini: Professor Adjunto Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Brasil | Paula de Oliveira Braga: Médica Veterinária Autônoma

RESUMO As agressões por animais somam grande parte dos casos de atendimentos emergenciais em hospitais, sendo potencialmente transmissoras do vírus da raiva e realizada, em sua maioria por mamíferos, os quais foram objeto deste estudo. Os dados foram coletados das fichas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Município de Santa Teresa-ES em um total de 275 fichas entre julho de 2011 a julho de 2015. Após análise estatística, constatamos que a maior parte das pessoas agredidas foi do sexo masculino, com 50,55%, a zona urbana com 66,18% foi a mais afetada, a idade mais predisposta fora de 1 a 10 anos com 18,91% das agressões. Cães e gatos somaram 93,09% dos ataques, com 73,09% casos de mordedura, 38,91% das agressões foram proferidos contra as mãos/pés, 67,64% de ferimento único, sendo 68,36% superficiais. Observamos que a profilaxia é o meio mais indicado para o controle desta enfermidade, sendo que a indicação médica pós-agressão foi a vacinação, observada em 50,18% dos casos, onde apenas o acompanhamento dos animais poderia solucionar o caso. Fora realizado ainda o georreferenciamento do local de moradia da pessoa agredida a fim de avaliar a vulnerabilidade de cada bairro.

Palavras chaves: vigilância epidemiológica, vírus da raiva, mapa de risco e saúde pública. INTRODUÇÃO

Ferimentos causados por traumas são em grande parte, os principais atendimentos emergenciais na medicina humana, sendo uma destas causas as mordeduras de animais, onde os cães são relatados como os principais agressores, seguidos de gatos e animais silvestres principalmente quando se

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sentem acuados. Geralmente as mordeduras causadas por animais, resultam em laceração de tecidos, podendo em casos menos graves, provocarem apenas lesões superficiais, não sendo menos perigosas quanto a possíveis infecções (Waksman et al., 2014).

No Brasil a ocorrência de qualquer ataque efetuado por animais, deve

ser seguida pela entrada no Pronto Atendimento (PA), onde deverá ser realizada a anamnese completa do paciente agredido, obtendo todas as informações para a correta indicação de tratamento e coleta de dados da ficha de atendimento antirrábico do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

A grande importância desta ficha é que a raiva é uma zoonose

transmitida aos homens por introdução traumática do vírus pela saliva contaminada de animais infectados através de mordeduras, por aerossóis e por outras vias como ou transplante de córnea, sendo uma das zoonoses mais temidas pelos humanos, e tendo o cão como o principal transmissor para a espécie humana. Apenas mamíferos são capazes de se infectar e transmitir o vírus da raiva (Brasil, 2008; Brasil, 2011; Ferraz et al., 2013; Jesus et al., 2012).

Com o advento de novas tecnologias na área de informática, diversas

ferramentas vêm sendo criadas contribuindo assim com a representação gráfica de distribuição espacial das doenças e enfermidades ligadas à área da saúde como, dentre elas o georreferenciamento. Essas técnicas podem ser definidas como um conjunto de ferramentas para coleta, tratamento e manipulação de dados, com o intuito de identificar os fatores de risco através de suas similaridades e sua exata localização, delimitando assim as áreas de risco, bem como a análise e reflexão de elementos históricos, geográficos, sócio econômico e ambiental de ordem extrínseca ou intrínseca, envolvidos no aparecimento das doenças e sua delimitação/distribuição espacial (Müller et al., 2010; Neto et al., 2014).

Este trabalho objetivou identificar, localizar e referenciar os locais de maior

índice de ataques de animais potencialmente transmissores do vírus da raiva a humanos sofridos por pessoas na cidade de Santa Teresa-ES, além de determinar a idade mais predisponente aos ataques, área do corpo afetada, e localização geográfica dos locais onde ocorreram os ataques através do georreferenciamento. MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizado um estudo descritivo de caráter quantitativo e qualitativo, baseado nos registros secundários do banco de dados oficial do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), por meio de informações preenchidas nas fichas de notificação e investigação epidemiológica de atendimento antirrábico humano do setor de Vigilância Epidemiológica da

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Secretaria da Saúde do Município de Santa Teresa, Espirito Santo, no período de Julho de 2011 a julho de 2015.

Para a análise foram considerados quaisquer contatos que, de alguma

forma, pudesse favorecer a exposição humana ao vírus como mordeduras, arranhaduras, lambeduras e contato indireto.

As informações analisadas quanto a vitima foram sexo, idade, local de

moradia (bairro ou distrito), zoneamento (urbano ou rural), tipo de agressão, localização anatômica do local da agressão, quantidade e tipo de ferimentos, e a indicação médica pós-ataque. Os dados obtidos foram tratados e as informações referentes a região onde a vítima reside foram mapeados por georreferenciamento em mapa obtido através do Google Maps.

Quanto às informações gerais, foram contabilizadas a quantidade de

ataques em cada mês do ano e o nível de preenchimento das fichas do SINAN.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período de estudo, foram contabilizadas 275 fichas de atendimento do banco de dados oficiais (SINAN), relacionadas a ataques com potencial para transmissão do vírus da raiva.

Das espécies agressoras analisadas, a mais observada foi a canina, com

80% dos ataques, seguido por felinos com 13,09% (GRÁFICO 1), resultado este que vai de acordo com os obtidos por outros autores (Filgueira et al., 2011; Firych et al. 2012; Frias et al., 2012; Mascarenhas et al., 2012; Neto et al., 2012; Oliveira et al., 2012; Silva et al., 2013; Abreu e Crizóstomo, 2014; Busatto et al., 2014; Lopes et al., 2014).

GRÁFICO 1 - Espécies agressoras em Santa Teresa entre os anos 2011 a 2015.

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O município de Santa Teresa-ES possui uma quantidade maior de cães em relação a gatos, o que promove o aumento nos casos de ataques efetuados por esta espécie, outro fato que pode explicar esta diferença é o comportamento destas espécies, onde cadelas no cio promovem uma aglomeração de cães machos a sua volta, elevando o grau de agressividade destes animais, bem como o comportamento materno agressivo após o parto, este último que eleva o número de ataques em casos de cães domiciliados.

Referente à espécie felina, esta busca se afastar das pessoas e atacam

apenas em caso de se sentirem acuados, onde geralmente os acidentes acontecem ao brincar com estes animais devido às características anatômicas desta espécie, onde unhas e dentes são muito afiados. Queiros et al. (2013), levantam a possibilidade dos dados serem subestimados, pois ataques de cães quando filhotes durante brincadeiras não são considerados nem notificados devido a pouca preocupação por parte das pessoas quanto aos animais jovens com menos de um ano de idade ou ainda animais de pequeno porte.

Oliveira et al. (2012) em trabalhos realizados em Minas Gerais destacam

que além de cães e gatos serem os mais observados em casos de agressões, há a falta de um campo de preenchimento na ficha do SINAN, que seria o de ataques efetivados por herbívoros, onde segundo os autores, este se faria necessário devido os resultados encontrados neste estado, onde o agressões realizadas por herbívoros somaram 11.277 casos dos 471.464, consistindo assim em 2,39% do total das agressões, além do grande número de casos de raiva em herbívoros observados naquele Estado.

Quanto ao mês de maior ocorrência de acidentes, o mês de julho se

caracterizou como o mês de maior incidência com 12,73% dos casos, seguido de dezembro com 10,18%, resultado este que difere do trabalho realizado por Filgueira et al. (2011), onde o mês mais observado foi outubro, por ser este mês a campanha de vacinação estipulada pelo Ministério da Saúde, o que segundo os autores, promove na rede pública de saúde um maior índice de notificação de casos de ataque, podendo nos demais meses haver uma subnotificação.

Mascarenhas et al. (2012) em levantamento realizado no município de

Lauro de Freitas relataram uma homogeneidade na ocorrência dos ataques durante todo o ano, entretanto em dezembro e janeiro houve um pequeno aumento no número de agressões, explicado pelo fato da população ser flutuante no período de verão e por ser época em que os moradores do município permanecem em casa, elevando a exposição ao risco de ataques.

No caso do presente estudo, os meses de maior ocorrência, são julho e

dezembro, estes que são meses de férias escolares onde as crianças da cidade possuem o habito de brincar nas ruas, onde estão mais expostas a possibilidade de ataques. Outro fato que se mostra relevante é que durante o inverno a cidade de Santa Teresa-ES tem um grande numero de festivais e

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encontros, onde aumenta consideravelmente a quantidade de turistas, principalmente nos finais de semana.

Em relação ao sexo da pessoa agredida, os dados nos mostram um

equilíbrio, onde 50,55% dos ataques foram proferidos contra pessoas do sexo masculino, contra 49,45% dos casos que ocorreram a pessoas do sexo feminino. Ferraz et al. (2013), relataram em seu trabalho que 51,92% dos casos afetaram pessoas do sexo feminino, pelo fato das mulheres passarem mais tempo em casa. Entretanto nossos resultados corroboram com os estudos de Filgueira et al. (2011); Firych et al. (2012); Paranhos et al. (2013); Abreu e Crizóstomo (2014); Busatto et al. (2014); Lopes et al. (2014), estes que afirmam que a maior incidência se dá pela relação entre os homens e os animais potencialmente agressores, onde os homens tentam separar brigas dos animais e se aproximam durante a alimentação destes; atitudes estas menos vistas quando se trata de mulheres.

Outro dado interessante que nos mostra este trabalho foram dois casos

de acidentes com capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) em pessoas do sexo masculino, pelo habito dos agredidos procurarem locais mais isolados para a realização de pesca, que é muito praticada no município, os expondo assim ao risco de ataque.

Analisando a faixa etária, foi observado que 18,91% dos ataques foram

realizados contra crianças de 01 a 10 anos e 16% contra crianças/adolescentes de 11 a 20 anos, o que também foi descrito por Paranhos et al. (2013); Rodrigues et al. (2013); Lopes et al. (2014); Silva et al. (2014). Segundo estes autores, esta quantidade de ataques contra jovens, se dá à promiscuidade entre crianças e animais por brincadeiras e devido a sua permanência por mais tempo em casa, bem como a despreocupação durante a aproximação.

Deve-se também considerar a preocupação dos pais ou responsáveis

pelas crianças em procurar atendimento médico após o ataque, mesmo quando considerados leves, visto que um ataque que tido como superficial ou apenas uma lambedura que venha a ocorrer em adultos geralmente não vêem a ser notificado, pois estes não procuram auxilio médico para a investigação que se faria necessário, o que contribui para estes resultados.

Foi verificado ainda a incidência de 14,55% das agressões registradas

contra pessoas de 51 a 60 anos, indicando a vulnerabilidade dos idosos frente aos animais relacionada à diminuição de reflexo de defesa das pessoas nesta faixa etária, bem como um convívio maior com os animais por permanecerem mais tempo em suas residências, estando assim mais expostas a possibilidade de ataques.

Quando avaliado o tipo de agressão proferido contra humanos, foi

observado um resultado majoritário de mordeduras, representando 73,09% do total de ataques, contra 13,82% dos casos onde o tipo de agressão se

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caracterizou por arranhaduras, além da associação entre mordedura, lambedura e arranhadura contabilizando um total de 9,09%, se assemelhando a outros trabalhos (Filgueira et al., 2011; Veloso et al., 2011; Abreu e Crizóstomo, 2014; Busatto et al., 2014; Lopes et al., 2014).

Estes dados podem indicar que a população, de forma errônea, entende

que a mordedura seja a única fonte de exposição ao vírus da raiva e deixem de procurar o serviço de saúde nos demais casos de exposição. Outro fato que contribui para este resultado, é que os felinos e alguns animais silvestres, normalmente agridem por arranhaduras, enquanto que a principal forma de ataque dos cães é através de mordeduras, este último que como em maior número de casos registrados, eleva tais índices.

A avaliação do local agredido, nos mostra que 38,91% foram realizados

contra as mãos e os pés das vítimas e, 34,55% dos ataques, foram nas pernas, resultados que diferem dos obtidos por Rodrigues et al. (2013), onde 49,43% dos ataques de seu estudo foram nos braços, e de Abreu e Crizóstomo (2014), onde os resultados foram 36,16% para as pernas e 27,77% para mãos/pés. Entretanto os dados obtidos no presente trabalho se assemelham aos obtidos por outros autores (Filgueira et al., 2011; Veloso et al., 2011; Lopes et al., 2014), onde comparado aos seus resultados, não houve diferença, sendo que a principal explicação para tal número de agressões se caracteriza pela utilização das mãos e pés para se defender, e as pernas, devido ao fácil acesso para os animais proferirem o ataque.

Cabe ressaltar que tais informações nos mostram uma diferença nas

fichas clinicas, onde em outros países são obtidos separadamente mãos e pés, enquanto que na ficha disponibilizada pelo SINAN um dos campos possíveis de marcação é mãos/pés juntos em um só campo, o que dificulta a caracterização exata do local do ataque.

O tipo de ferimento mais observado foi o superficial com 68,36% dos

ataques, seguido pelo ferimento profundo com 26,18% (GRAFICO – 2). Diferentemente de Filgueira et al. (2011); Veloso et al. (2011) e Abreu e

Crizóstomo, (2014), onde houve uma maior incidência de ferimentos profundos, o elevado número de casos envolvendo ferimento superficiais encontrados se assemelham aos obtidos por Frias et al. (2012); Ferraz et al. (2013) e Lopes et al. (2014), onde em seus estudos, as duas variáveis se aproximaram, com uma leve diferença para o tipo superficial. Estes dados podem indicar o grau de agressividade dos animais, onde se evidenciam ataques superficiais, entretanto não são menos perigosos no que tange a transmissão de doenças. Já referente à quantidade de ferimentos, normalmente os acidentes envolveram um ferimento único, onde 67,64% do total se referem a ferimento único, enquanto 28,73% dos casos tiveram ferimentos múltiplos bem como relatado por Filgueira et al. (2011); Ferraz et al. (2013); Silva et al. 2013); Abreu e Crizóstomo (2014); Lopes et al. (2014); Silva et al. (2014).

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GRAFICO 2 - Divisão referente ao tipo de ferimentos causados pelos ataques do total de 275.

Estes números podem ser explicados pela realização de apenas uma

investida do animal contra a vitima, em caso de defesa, sendo que após este ataque as pessoas se afastam do animal agressor. Diferentemente de Morales et al. (2011) em Lima no Peru, onde foi relatado uma incidência de ferimentos múltiplos de 79,10% dos casos de mordeduras de cães em crianças, resultado este explicado devido impossibilidade de defesa por parte da vitima durante o ataque, resultando em grandes cicatrizes ou sequelas físicas.

Outra Quanto aos relatos da indicação medica após a agressão, foi

observado que 50,18% dos casos de agressão a vacinação da pessoa agredida foi solicitada, e 32,36% das fichas, encontravam-se com este campo sem preenchimento. Filgueira et al. (2011), atribui ao sistema operacional municipal, a responsabilidade de um controle mais eficaz no sentido a evitar o uso indiscriminado das vacinas, tendo em vista que o próprio Ministério da Saúde indica a vacinação apenas em casos onde não há o controle e nem a possibilidade de acompanhamento do animal agressor.

Outra medida para se reduzir o uso da vacina seria a interação entre os

setores de vigilância epidemiologia, vigilância ambiental e as unidades de saúde municipal, promovendo um intercambio entre estes setores melhorando assim a avaliação e a resolução de cada caso. Assim como os dados obtidos por Veloso et al. (2011), onde 78,10% dos casos tiveram a vacinação como indicação principal, estando este resultado relacionado à gravidade da lesão. Silva et al. (2013), enfatizam que o uso indiscriminado das vacinas leva a um grande desperdício de dinheiro público, onde casos menos graves de ataque, a conduta medica deveria ser diferente. No Perú Morales et al. (2011), relataram a indicação de vacinação antirrábica em 78,6% dos casos relatados,

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isto devido a orientação da “Norma técnica de salud para la prevención y control de rabia humana em el Perú (2007)”, sendo que os cães agressores eram conhecidos e não apresentavam sinais característicos da raiva, portanto a vacinação até o quinto dia após a mordedura fora indicado. Procedimento este que não é adotado no Brasil.

Foi avaliado ainda o nível de preenchimento das fichas do SINAN, onde

dos 60 campos passiveis de marcação (100%), 61,45% das fichas tinham de 75 a 85% dos campos preenchidos (GRAFICO - 3).

GRAFICO 3 - Nível de preenchimento da ficha de investigação do SINAN.

No levantamento realizado para avaliar a zona de domicilio das vítimas,

foi constatado que a zona urbana foi a mais afetada, com 66,18% dos ataques, onde para cálculo foram considerados a zona urbana da sede do município e dos cinco distritos (Alto Santa Maria, Alto Caldeirão, Santo Antônio do Canaã, São João de Petrópolis e Vinte e Cinco de Julho). Os casos notificados na zona rural compreendem 34,18% dos registros, dados estes que corroboram com os obtidos por Filgueira et al. (2011); Ferraz et al. (2013); Abreu e Crizóstomo (2014); Busatto et al. (2014); Lopes et al. (2014). Segundo estes autores a prevalência de ataques em pessoas na zona urbana se dá pela densidade populacional, tendo em vista a quantidade elevada de pessoas na área urbana em relação à zona rural, havendo ainda a possibilidade de subnotificações das agressões que possivelmente ocorreram fora da zona urbana, uma vez que a população rural tem um convívio mais próximo com os animais além de estarem mais afastados das unidades de saúde.

Uma alternativa para diminuir tais índices seria a posse responsável dos

animais, onde segundo Neto et al. (2012), o número de animais vadios decresce, diminuindo assim a quantidade de agressões, e consequentemente

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os atendimentos ocasionados por acidentes com animais nas unidades de saúde. Ideia esta defendida também por Veloso et al. (2011); Frias et al. (2012); Neto et al. (2012); Ferraz et al. (2013); Abreu e Crizóstomo, (2014), sendo que além desta iniciativa, outras como educação em saúde, vigilância dos animais e melhorias no sistema de informação, também poderiam ser adotadas. Em Santa Teresa, é realizado anualmente através da Prefeitura Municipal, uma campanha de controle de natalidade gratuito de cães e gatos.

Esta pesquisa nos possibilitou realizar através de mapas o

georreferenciamento no que diz respeito aos ataques de animais potencialmente transmissores do vírus da raiva no Município de Santa Teresa-ES, demonstrado na figura 2, demarcando a quantidade de agressões por distrito/povoado, e a sua distribuição na sede do município, representado na figura 3.

FIGURA 2 - Mapa geográfico de Santa Teresa-ES, demarcando a quantidade de ataques por Distrito/povoado.

Legenda: Distrito Povoado

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FIGURA 3 – Mapa geográfico da sede do município de Santa Teresa, demarcando a quantidade de ataque por bairro.

CONCLUSÃO

Os profissionais da saúde do Município não abordam de maneira adequada os pacientes vítimas de agressão por mordeduras animais. As fichas, fase fundamental para o perfil epidemiológico, acompanhamento dos agressores e para elaboração de estratégias de saúde públicas mais efetivas não são preenchidas em sua totalidade. Foi identificado um elevado número de indicação de vacinação pós-ataque que diferem do protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde, promovendo um maior gasto de dinheiro público. A integração entre médicos e médicos veterinários se mostra cada vez mais importante, possibilitando uma correta análise dos casos e posterior indicação de tratamento ao paciente.

O georreferenciamento dos casos de agressão possibilitou a detecção de

áreas de maior incidência de ataques e um direcionamento das ações de campo mais otimizado, reduzindo assim o tempo para realização de ações preventivas e corretivas visando à redução do número de agressões sofridas por humanos causadas por animais.

Fonte: Google Earth

Legenda: Bairro

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de Diagnostico Laboratorial da Raiva / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008.

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