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GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO ......processo de qualificação que favoreça o atendimento de forma integral à Saúde da Pessoa Idosa, com foco no usuário, aumentando

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GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À

SAÚDE DA PESSOA IDOSA

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PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE

COORDENAÇÃO DAS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE E ÁREAS TEMÁTICAS

ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA

COORDENAÇÃO DE GESTÃO DE PESSOAS

ESCOLA MUNICIPAL DE SAÚDE

SÃO PAULO

2015

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Apresentação

O envelhecimento populacional apresenta-se como um fenômeno atual de grande relevância em todo o mundo. Envelhecer é considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos grandes triunfos da humanidade. Muitos esforços foram feitos para que as pessoas pudessem alcançar mais anos em sua existência. A saúde pública teve e tem responsabilidade nesse processo, à medida em que ofereceu a universalização dos serviços de saúde e saneamento à população brasileira a partir dos anos de 1980.

O Brasil envelhece rapidamente, principalmente nos grandes centros urbanos. Para se ter ideia, a população idosa brasileira supera 19 milhões, principalmente maiores de 60 anos. Somente a cidade de São Paulo acompanha a acentuada transição demográfica da população idosa que reside no município, que é 1.313.109, representando 11,88% total da população. A expectativa média de vida (74,2 anos no Município de São Paulo em 2007) se amplia de tal forma que grande parte da população irá alcançar a velhice.

A Política Municipal para a Saúde da Pessoa Idosa pauta suas ações nos marcos políticos/técnicos vigentes no país para a garantia de melhores condições de vida dos idosos paulistanos, especialmente a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, que define as diretrizes de ação, cujo objetivo é recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos idosos. O objetivo é direcionar medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Considerando o quadro apontado, pensar em processos de qualificação dos profissionais da rede que atendem a este segmento é fundamental, visando a atenção adequada às demandas da população idosa. Nesse sentido, a Coordenação de Gestão de Pessoas, Coordenação de Atenção Básica e Coordenação das Redes de Atenção à Saúde, por meio da Escola Municipal de Saúde/Escola Técnica do SUS de São Paulo e Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa oferecem aos profissionais de nível médio um

FERNANDO HADDAD Prefeito

JOSÉ DE FILIPPI JUNIOR Secretário Municipal

PAULO DE TARSO PUCCINI Secretário Adjunto

CORMARIE GUIMARÃES PEREZ Chefe de Gabinete

IARA ALVES DE CAMARGO Coordenadora das Redes de Atenção à Saúde e Áreas Temáticas

MARIA LUIZA MARCONDES DE MORAES Coordenação de Gestão de Pessoas

LAURA APARECIDA CHRISTIANO SANTUCCI Diretora Escola Municipal de Saúde

HIDEKO KAWATA MIURA Coordenadora Pedagógica da EMS

ESTER FINGUERUT SERFF Diretora da Divisão de Educação - EMS

Coordenação do Curso Gerenciamento de Cuidados para Atenção Integral à Saúde da Pessoa Idosa – EMS - ETSUS/SP Laura Aparecida Christiano Santucci Ester Finguerut Serff Hideko Kawata Miura Marilia Anselma Viana da Silva Berzin

Coordenação do Curso Gerenciamento de Cuidados para Atenção Integral à Saúde da Pessoa Idosa – Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa/SMS Sérgio Marcio Pacheco Paschoal Doralice Severo da Cruz Sandra Cristina Coelho Teixeira

Núcleo de Documentação - EMS Marine Fumiyo Otake Arakaki Yara Maria Spinola e Castro

Núcleo de Comunicação e TV Corporativa - EMS Nilciany Camargo Sandra Aparecida dos Santos Stahlhauer Antonio Carlos da Cruz Zacarias Viviane Fernades

Núcleo Escolar - EMS Rosangela Lopes Gonçalves Dirlene Costa Paolillo

Elaboração Yeda Aparecida de Oliveira Duarte

Colaboração Bernadete de Oliveira Célia Terezinha Bernardes da Costa Ester Finguerut Serff Doralice Severo da Cruz Fernando Aparecido da Silva Hideko Kawata Miura Jaqueline Alves Lopes Sartori Marilia Anselma Viana da Silva Berzins Renata Luciana Hasegawa Fregonezi Rosa Maria Bruno Marcucci Sandra Cristina Coelho Teixeira Sergio Marcio Pacheco Paschoal

S241sSão Paulo (Cidade). Secretaria da Saúde.Saúde da pessoa idosa: gerenciamento de cuidados para a atenção integralà saúde da pessoa idosa. Secretaria da Saúde. Área Técnica de Saúde daPessoa idosa; Escola Municipal de Saúde. – São Paulo:SMS, 2015. 158p.il.

1. Saúde pública. 2. Saúde do Idoso. 3. Sistema Único de Saúde.I. Escola Municipal de Saúde. II.Título.

CDU 614.2

Ficha Catalográfica:

ESCOLA MUNICIPAL DE SAÚDE - EMSRua Gomes de Carvalho, 250 - Vila Olímpia - São Paulo - SP CEP: 04547-001Fone/Fax: 11 3846-4569www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/ems

facebook.com/EscolaMunicipalDeSaude

twitter.com/EscolaMunSaude

slideshare.net/escolamunicipaldesaude

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Apresentação

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MÓDULO 1 - Velhice e Envelhecimento................................................... 7

“Percepções Sobre a Velhice” ............................................................ 8

Interpretação do Resultado .............................................................. 9

Atitudes, Mitos e Estereótipos Relacionados ao Envelhecimento e ao Cuidado à Pessoa Idosa ............................................................11

Atitudes Mitos e Estereótipos ............................................................ 12

Processo de Envelhecimento e Pessoa Idosa ..................................25

Quem é Velho no Brasil? .................................................................. 25

MÓDULO II - Família e Envelhecimento ..................................................41

PARTE 1 ...................................................................................... 41

Contextualizando o Idoso e sua Família .......................................49

A família do idoso .......................................................................... 56

PARTE 2 ...................................................................................... 64

Construindo uma Relação de Ajuda .............................................69

Primeiros Passos ............................................................................ 69

Características Necessárias para Construir uma Relação de Ajuda ............... 72

PARTE 3 ...................................................................................... 78

O Cuidado da Pessoa Idosa e os Cuidadores ...................................87

O Cuidado da Pessoa Idosa ............................................................... 87

Orientação de Cuidadores ............................................................... 90

MÓDULO III - Violência Contra a Pessoa Idosa ..........................................97

Sumário

processo de qualificação que favoreça o atendimento de forma integral à Saúde da Pessoa Idosa, com foco no usuário, aumentando e facilitando o acesso.

O curso “Gerenciamento de Cuidados para a Atenção Integral à Saúde da Pessoa Idosa” se fundamenta no desafio de construir o trabalho em rede e em equipe interdisciplinar. Gerenciar o cuidado das pessoas idosas com doenças crônicas exige conhecimento técnico assistencial, administrativo e capacidade em técnicas de resolução de problemas.

A proposta do curso baseia-se na aprendizagem significativa que trabalha com a interação dinâmica entre o professor e o aluno. A metodologia da problematização privilegia a prática dos próprios alunos, servindo de ponto de partida para o aprendizado para que eles possam refletir sobre esta prática e modificá-la se necessário. Ela respeita o ritmo individual de cada um e suas experiências vividas no ambiente de trabalho.

Sejam todos bem vindos e bom curso!

Equipe da Escola Municipal de Saúde

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Sumário

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MÓDULO 1 Velhice e Envelhecimento

Esse módulo tem por objetivos:

• Discorrer sobre mitos, preconceitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e à pessoa idosa,

• Identificar as pessoas idosas no Brasil e no mundo,

• Compreender as múltiplas dimensões do processo de envelhecimento,

• Conhecer as políticas relacionadas ao envelhecimento.

Para o desenvolvimento das atividades propomos a seguinte dinâmica. Na primeira parte “Atitudes, mitos e preconceitos relacionados à pessoa idosa”:

1. Em plenária:• Apresentação do módulo, do professor e dos alunos;

• Levantamento das expectativas do grupo;

• Orientação sobre o desenvolvimento das atividades presenciais e não pre-senciais.

2. Individualmente, preencher o instrumento “Percepções sobre a pessoa idosa” desenvolvido por Dubê (2006) que trata sobre os estereótipos relacionados aos idosos.

3. Em grupo, discutir sobre os resultados encontrados. Exemplificar com as vivências e experiências trazidas por cada um.

4. Leitura do texto de apoio sobre o tema.

VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL CONTRA A PESSOA IDOSA: A CONTRADIÇÃO DE QUEM CUIDA .........................................................................99

Direitos Humanos e Políticas Públicas ........................................ 101

MÓDULO IV - Principais Conceitos Relacionados ao Envelhecimento............ 107

Principais Conceitos Relacionados ao Envelhecimento .................. 111

MÓDULO V - Condições Crônicas e Envelhecimento ................................ 119

PARTE 1 .....................................................................................119

Modificações que Ocorrem com os Indivíduos no Processo de Envelhecimento .................................................................. 129

Entendendo o Envelhecer... .............................................................129

Mas tem Coisas que Mudam Mesmo... .................................................136

Por Que é Importante Conhecer As Alterações que Ocorrem com o Avançar da Idade? ......................................................................................149

PARTE 2 .....................................................................................151

O Cuidado da Pessoa Idosa com Limitações Funcionais .............................151

Alterações Funcionais e o Cuidado da Pessoa Idosa ....................... 159

Aspectos Relacionados à Comunicação ................................................162

Cuidados com a Alimentação ...........................................................167

Cuidados com a Higiene, Vestimenta e Conforto da Pessoa Idosa ................172

Cuidados com o Vestuário ...............................................................180

Cuidados com a Administração de Medicamentos ..................................181

Mecanismos Corporais, Mobilização e Transferência ...............................187

Cuidados com Sono e Repouso ..........................................................200

A Dimensão Espiritual das Pessoas Idosas e seu Cuidado ..........................205

Cuidados no Final da Vida ..............................................................210

PARTE 3 .....................................................................................215

Grandes Síndromes Geriátricas .........................................................215

Grandes Síndromes Geriátricas ............................................... 217

MÓDULO VI - Gerenciamento do Cuidado ............................................. 243

Redes de Atenção à Saúde no SUS e Linhas de Cuidado .................. 249

Histórico e Conceito das Redes de Atenção à Saúde ...............................249

Linhas de Cuidado .......................................................................257

MÓDULO VII - Plano de Intervenção Territorial ...................................... 269

PLANO DE INTERVENÇÃO TERRITORIAL ............................................ 281

MÓDULO VIII - Estudo Dirigido ........................................................... 301

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Módulo 1 Velhice e Envelhecimento

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Módulo 1 Velhice e Envelhecimento

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“PERCEPÇÕES SOBRE A VELHICE”1

Pense nas pessoas idosas que você conhece; primeiro de sua família, depois de seu local de trabalho e responda como você percebe as pessoas mais velhas?

Lembrando-se do que você acabou de pensar, preencha o teste a seguir e, ao final, você irá conhecer como está sua percepção sobre as pessoas idosas.

Para preencher o teste leia cada afirmação, pense rapidamente na sua resposta (a primeira é a que vale) e assinale um valor de 0 a 5 lembrando que quanto mais verdadeira for a afirmação para você, maior deve ser o valor assinalado. No final do teste some os valores assinalados e coloque o resultado no local indicado. Somente em seguida veja o escore e aguarde a discussão em grupo.

Não veja o escore antes de preencher o teste para que sua resposta não seja influenciada. Não se preocupe com o resultado. Nossas percepções são construídas de acordo com a sociedade em que vivemos. É importante, no entanto, tomarmos consciência delas, pois são a base de nossas atitudes pessoais e profissionais.

Em sua opinião, as pessoas idosas:

1 Dão muita importância à religião 5 4 3 2 1 02 São mais inquietas que os mais jovens 5 4 3 2 1 03 Vivem de suas lembranças 5 4 3 2 1 04 São mais sensíveis do que outras pessoas 5 4 3 2 1 05 Esperam que seus filhos se ocupem delas continuamente 5 4 3 2 1 06 Repetem sempre as mesmas coisas 5 4 3 2 1 07 São capazes de se adaptar à mudanças 5 4 3 2 1 08 Têm uma saúde frágil 5 4 3 2 1 09 Têm medo do futuro 5 4 3 2 1 010 São ricas ou estão bem financeiramente 5 4 3 2 1 011 Estão mais sujeitas à criminalidade que os mais jovens 5 4 3 2 1 0

12Sua aposentadoria provoca problemas de saúde e acelera seu processo de morte

5 4 3 2 1 0

13Passam seu tempo jogando cartas, damas, dominó ou bingo

5 4 3 2 1 0

14 Preocupam-se pouco com sua aparência 5 4 3 2 1 015 Sofrem de solidão 5 4 3 2 1 016 São teimosas e chatas 5 4 3 2 1 017 Representam um peso econômico para outras gerações 5 4 3 2 1 018 Têm tendência a se intrometer nos assuntos alheios 5 4 3 2 1 019 São menos capazes de aprender 5 4 3 2 1 020 Não tem interesse ou capacidade para a vida sexual 5 4 3 2 1 0

TOTAL

1 Retirado de: Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Envelheci-mento e Saúde da Pessoa Idosa. Rio de Janeiro: EAD/ENSP, 2008.

INTERPRETAÇÃO DO RESULTADO

Entre 75 e 100 pontos Sua adesão aos estereótipos negativos é elevada

Entre 50 e 74 pontos Você tem tendência a ver a pessoa idosa de forma estereotipada

Entre 25 e 49 pontos Você está no limiar dos estereótipos

De 0 a 24 pontos Você tem uma visão menos estereotipada da pessoa idosa

Quanto mais elevado for o escore obtido, mais elevada é sua adesão aos estereótipos negativos relacionados às pessoas idosas.

Discuta, em grupo, os resultados encontrados procurando se lembrar das pessoas de quem você lembrou quando respondeu ao teste.

Pense também se as pessoas idosas de sua família são iguais ou diferentes das pessoas idosas que você costuma atender em seu serviço. Discuta com o grupo.

Agora veja a figura a seguir e identifique a pessoa idosa justificando o porque.

Essa figura foi encontrada em um papiro egípcio datado de 2.900 antes de Cristo, portanto ele tem quase 5.000 anos. Na sua opinião, quem é idoso nessa figura e, por que?

Agora, veja a próxima figura, você costuma vê-la em seu dia-a-dia nos locais públicos. Olhe com atenção e identifique a pessoa idosa. Justifique por que, na sua opinião, essa pessoa é idosa.

A pessoa idosa é a figura de número _______. Eu a identifiquei como “idosa” por:

......................................................................................................

......................................................................................................

......................................................................................................

......................................................................................................

Comente sua justificativa com o grupo. Ao final o professor fará uma síntese das opiniões do grupo e assim conheceremos o perfil do mesmo em relação à velhice que será a base de nosso trabalho durante o curso.

Vamos ler o texto de apoio intitulado “Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado à pessoa idosa”, apresentado a seguir.

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ATITUDES, MITOS E ESTEREÓTIPOS RELACIONADOS AO ENVELHECIMENTO

E AO CUIDADO À PESSOA IDOSA

TEXTO DE APOIO

“A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada idade, de finalidade própria. Por isso a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade dos velhos são coisas naturais que devemos apreciar cada uma a seu tempo” (Cícero)

Desde a antiguidade, filósofos, como Cícero, demonstravam interesse e preocupação com o envelhecer e com os velhos. Sem dúvida, esses pensamentos acompanharam o processo histórico da civilização, sofrendo adequações aos valores de cada época e de cada cultura em particular.

Simone de Beauvoir em seu livro “A Velhice” descreveu as condições de vida do idoso em diversas culturas, das primitivas às contemporâneas. Segundo ela, “... ao perder a capacidade de produção, o velho torna-se apenas um objeto sem utilidade, transforma-se em encargo, com um estatuto que lhe é imposto pelos mais jovens”.

Nas sociedades primitivas, a situação do idoso era incerta, confusa e às vezes até contraditória. O jovem torna-se adulto e, portanto, cidadão, o adulto torna-se velho, cuja condição pode variar. Passar de uma categoria à outra pode significar promoção ou queda, dependendo da cultura em que a transição ocorre.

Nas sociedades agrícolas tradicionais a organização se fazia em função de categorias de idade. O fundamento dessa organização era a atividade econômica familiar atribuindo a cada indivíduo, em função de sua idade, uma determinada tarefa na produção. Existiam também funções sociais nos grupos da sociedade rural diferenciadas para cada idade.

Nas sociedades pré-industriais compostas essencialmente por camponeses e artesãos, o trabalhador rural vivia em seu local de trabalho, confundindo-se as tarefas domésticas com as produtivas. Entre os artesãos altamente qualificados, a capacidade e habilidade cresciam com a experiência e, portanto, com o avançar dos anos. Nas profissões em que a qualificação ou a habilidade declinava com a idade, havia uma divisão de trabalho que permitia adaptar as tarefas às possibilidades de cada um. Ao se tornar inteiramente incapaz, o velho continuava a viver no seio da família que lhe assegurava a subsistência.

Baseado no texto de Accioly MR; Vasconcelos ZP. Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao Envelhecimento. In: Duarte YAO; Diogo MJD. Atendimento Domiciliário: um enfoque gerontológico. São Paulo, Atheneu, 2000.

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Módulo 1 Velhice e Envelhecimento

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Outro mito da sociedade contemporânea é o de que as famílias cuidam de seus idosos mais dependentes. Tanto isso é um mito que o Estatuto do Idoso passou a criminalizar a não assistência da família. Um inquérito populacional que estuda as condições de vida e saúde dos idosos residentes no Município de São Paulo – Estudo SABE (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento) verificou que, entre as pessoas idosas que apresentavam dificuldades no desempenho de atividades básicas de vida diária e que, portanto, necessitavam de um cuidador presencial, em média, apenas 50% delas recebia auxilio em suas necessidades, independente do tipo de arranjo considerado.

Na sociedade moderna a crescente entrada da mulher no mercado de trabalho, antes as principais cuidadoras de seus parentes idosos, vem desfazendo o mito de imaginar que a família, centrada na figura feminina, pode sozinha cuidar dos seus idosos, sobretudo os que perderam ou estão em vias de perder a autonomia.

A sociedade industrial e de serviços estimula mitos que são úteis à manutenção do seu equilíbrio e podem encaminhar soluções para os desafios da modernidade. Um deles é o de que em todas as sociedades pré-industriais o idoso era respeitado e venerado, graças ao seu conhecimento e saber acumulados. Esse mito tem a função de estimular a família a cuidar de seus idosos improdutivos e dependentes. “É como se, incentivando a ideia mítica de que o homem vivia bem e era bem tratado na sociedade tradicional, culpabilizassemos as gerações atuais pelo seu descaso pela velhice e através deste sentimento estimulássemos os mais novos ao auxilio e cooperação aos mais velhos” (Magalhães,1987).

Definição de “mito” do Dicionário Houaiss:

Substantivo Masculino

1. relato fantástico de tradição oral, ger. protagonizado por seres que encarnam, sob forma simbólica, as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana; lenda, fábula, mitologia Ex.: mitos e lendas dos índios do Xingu, os mitos da Grécia antiga, o mito de Narciso

2. narrativa acerca dos tempos heroicos, que geralmente guarda um fundo de verdadeEx.: o mito dos argonautas e do velocino de ouro

3. Rubrica: antropologia relato simbólico, passado de geração em geração dentro de um grupo, que narra e explica a origem de determinado fenômeno, ser vivo, acidente geográfico, instituição, costume social etc.

Ex.: o mito da criação do mundo

4. Derivação: por extensão de sentido representação de fatos e/ou personagens históricos, freq. deformados, amplificados através do imaginário coletivo e de longas tradições literárias orais ou escritas

Ex.: o mito em torno de Tiradentes

Nas sociedades tradicionais a figura patriarcal ganhava destaque para que não desmoronasse o mito de uma velhice reverenciada. Já nas modernas sociedades urbanas e industriais o trabalhador nem sempre mora próximo ao seu local de trabalho e a família geralmente não tem relação com a sua atividade produtiva. Nessas sociedades, a família patriarcal é substituída pela família nuclear e o patrimônio coletivo pelo projeto de vida individual. A perda da capacidade produtiva e o desengajamento do mundo do trabalho constituem marcos significativos na vida do cidadão, apontando para um futuro incerto e diferenciado segundo a condição socioeconômica e de gênero.

Esse processo histórico contribuiu para que a velhice, na sociedade moderna, venha se caracterizando como uma fase da vida para a qual, ainda hoje, ainda existam poucos projetos pessoais e onde se observa um significativo declínio das pessoas idosas na participação social.

Na história da civilização, para cada época encontram-se diferentes atitudes em relação à velhice, interferindo de forma significativa no estabelecimento de relações intergeracionais, tanto no nível familiar como no comunitário.

Embora o contingente de pessoas idosas na sociedade contemporânea seja muito significativo, sua experiência de vida não conta de forma decisiva para o equilíbrio e a organização social.

“A imagem sublimada que fazemos das pessoas idosas é a do sábio, aureolado, de cabelos brancos, rico em experiência e venerável, que domina do alto a condição humana; quando se afastam desta imagem surge a oposta à primeira que é a do velho “esclerosado”, que não raciocina, que divaga e de quem as pessoas riem. De uma maneira ou de outra, pelas suas virtudes ou pelos seus objetivos, situam-se fora da humanidade”(Beauvoir).

ATITUDES MITOS E ESTEREÓTIPOS

O mito é uma representação simbólica que não se baseia na realidade. Manifesta-se por frases e expressões feitas (p.ex: “idade do condor” ou “com dor”) ou por eufemismos que tem a ver, exclusivamente, com a idade (p.ex:“idade de ouro; melhor idade”). Muitas vezes podem esconder hostilidade.

O mito da aposentadoria reflete bem os novos valores da sociedade contemporânea. Na visão que esse mito evoca, a aposentadoria marcaria uma “nova fase da vida” caracterizada pela “liberdade do uso do tempo”, possibilitando a fruição de bens e serviços da sociedade.

Na realidade, o que se observa, é que a aposentadoria não significa apenas o direito ao desengajamento remunerado do trabalho, mas, para alguns, pode significar o início de um processo de isolamento social. Constata-se, paradoxalmente, que ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos permitem o prolongamento dos anos de vida, a sociedade e o Estado retiram do indivíduo quase todos os seus papéis e funções sociais.

Texto de Apoio Atitudes, Mitos e Estereótipos Relacionados ao Envelhecimento ...

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Módulo 1 Velhice e Envelhecimento

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Os mitos contribuem na formação de atitudes e comportamentos. Atitude é uma disposição em relação a uma pessoa ou grupo; um conjunto de juízos que conduz a um comportamento, que nos leva a agir. Pode ser favorável ou desfavorável (dependendo das experiências ou informações prévias).

Definição de “atitude” do Dicionário Houaiss:

Substantivo Feminino

1. Comportamento ditado por disposição interior; maneira de agir em relação a pessoa, objeto, situação etc.; maneira, conduta Ex.: atitude arrogante, passiva

2. Posição assumida, orientação, modo ou norma de proceder Ex.: a atitude da Igreja em relação ao controle da natalidade

3. Comportamento afetado Ex.: a indiferença nele é pura atitude

4. Propósito ou modo de se manifestar esse propósito Ex.: atitude de magoar alguém

5. Estado de disponibilidade psicofísica marcado pela experiência e que exerce influência diretiva e dinâmica sobre o comportamento

As “crenças” representam um conjunto de informações sobre um assunto ou pessoa(s). Determinam nossas atitudes, nossas intenções e nossos comportamentos.

Formam-se a partir das informações que recebemos direta ou indiretamente.

Definição de “crença” do Dicionário Houaiss:

Substantivo Feminino:

1. Ato ou efeito de crer 2. Estado ou processo mental de quem acredita em pessoa ou coisa

Ex.: revela uma grande crença

2.1 Atitude de quem se persuadiu de algo pelos caracteres de verdade que ali encontrou

Ex.: crença em Deus, crença nas instituições democráticas

3. Fé, em termos religiosos Ex.: tem uma crença inabalável na Santíssima Trindade

4. Mito ou doutrina religiosa ou mística (mais usado no plural) Ex.: grassavam ali muitas crenças obscuras

5. Convicção profunda e sem justificativas racionais em qualquer pessoa ou coisa Ex.: em todos os momentos, sua crença no partido não esmoreceu

6. Opinião manifesta com fé e grande segurança Ex.: nossa crença, afinal, é de que todos serão recompensados

Já o “estereótipo” é um “chavão”, uma opinião formada geralmente desprovida de qualquer originalidade. É uma percepção automática não adaptada à situação, reproduzida sem variantes segundo um padrão bem determinado que pode ser positivo ou negativo.

Definição de “estereótipo” do Dicionário Houaiss:

Substantivo Masculino

1. Algo que se adequa a um padrão fixo ou geral Ex.: A Vênus de Willendorf é um estereótipo da mulher na arte paleolítica

2. Esse próprio padrão, geralmente formado de ideias preconcebidas e alimentado pela falta de conhecimento real sobre o assunto em questão Ex.: o estereótipo do amante latino

3. Ideia ou convicção classificatória preconcebida sobre alguém ou algo, resultante de expectativa, hábitos de julgamento ou falsas generalizações

4. Aquilo que é falto de originalidade; banalidade, lugar-comum, modelo, padrão básico

Definição de “preconceito” do Dicionário Houaiss

Substantivo masculino

1. qualquer opinião ou sentimento, quer favorável quer desfavorável, concebido sem exame crítico 1.1 ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado a priori, sem maior

conhecimento, ponderação ou razão 2. atitude, sentimento ou parecer insensato, esp. de natureza hostil, assumido

em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância Obs.: cf. estereótipo (‘padrão fixo’, ‘ideia ou convicção’)

Ex.: reconceito contra um grupo religioso, nacional ou racial

3. Psicanálise: qualquer atitude étnica que preencha uma função irracional específica, para seu portador. Ex.: preconceito alimentado pelo inconsciente individual

Embora a mídia, com frequência, aborde questões relacionadas ao envelhecimento, ela ainda o faz de forma aureolada distanciando-o da realidade de nossos velhos. Nossa sociedade ainda vê o envelhecimento como um assunto a ser evitado. A forte crença de que a velhice está associada à doença, deterioração e morte ainda predomina, mesmo que as pesquisas venham, insistentemente, mostrando o contrário.

O envelhecimento é uma etapa como outra qualquer do ciclo de vida. Tem seus problemas e dificuldades, mas também tem seus aspectos positivos e compensações. Em decorrência do estereótipo social e do desejo em se evitar falar sobre o assunto, muitas ideias falsas e erros de concepção sobre as pessoas idosas ainda são divulgados.

Texto de Apoio Atitudes, Mitos e Estereótipos Relacionados ao Envelhecimento ...

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Módulo 1 Velhice e Envelhecimento

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Texto de Apoio Atitudes, Mitos e Estereótipos Relacionados ao Envelhecimento ...

Atitudes negativas relacionadas ao envelhecimento baseiam-se, parcialmente, em ideias equivocadas de como os idosos realmente são. Isso é tão forte em nossa sociedade que originou um termo “ageism”, traduzido, em Portugal por Ferreira–Alves e Novo (2006) como ancianismo e por Couto et al (2009) no Brasil como ageismo.

Ageismo significa um processo sistemático de discriminação contra as pessoas idosas exclusivamente porque são velhas, como racismo e sexismo estão relacionados a atitudes preconceituosas com relação à cor da pele ou ao gênero. As pessoas idosas são categorizadas como senis, rígidas em suas atitudes, desatualizadas moral e socialmente devendo assim ser excluídas do convívio social.

Algumas ideias pré-concebidas sobre a velhice e as pessoas idosas ainda predominam em nossa sociedade e podem contribuir na formação de mitos e estereótipos que podem se traduzir em atitudes não adequadas no cuidado à pessoa idosa. São elas:

• A maioria dos idosos é doente e por estar doente, tem necessidade de ajuda para desenvolver as atividades cotidianas.

Muitas pessoas idosas veem a si mesmas como saudáveis. Elas têm uma vida completa e ativa. Embora muitas delas sejam portadoras de, pelo menos, uma doença crônica, elas aprenderam a manejar seus cuidados de saúde e viver produtivamente dentro das limitações impostas pela doença. Em São Paulo, O Estudo SABE mostrou que mais de 80% das pessoas idosas são completamente independentes no desempenho de suas atividades cotidianas mesmo possuindo uma ou mais doenças crônicas.

• A maior parte deles é solitário e infeliz.

Para alguns deles isso é verdade, mas isso ocorre na mesma probabilidade em que a mesma situação pode afetar os adultos jovens ou de meia idade. Isso quer dizer que ser solitário e infeliz não é uma característica do envelhecimento, mas sim, do ser humano. Muitos idosos são ativos, felizes e encontram prazer com os amigos e com a família. Outros, em virtude do maior tempo livre, engajam-se em atividades voluntárias que lhes traga satisfação pessoal.

• Os idosos são conservadores em seus hábitos de vida e incapazes de mudar;

As pessoas idosas acumularam experiências diversas em suas vidas e lidam com as situações novas com mais prudência e menos impulsividade que as gerações mais jovens. Normalmente elas se dispõem a discutir uma proposta nova desde que essa tenha um bom embasamento e seja feita com uma excelente argumentação.

• Muitos idosos são confusos e desinteressados em relação ao mundo à sua volta.

A maioria das pessoas idosas tem interesse no mundo a sua volta. Parte delas é culta, articulada e desejosa de aprender. Apenas uma pequena parcela deles sofre de demência e problemas de saúde que afetam a memória.

• Os velhos são improdutivos e representam um segmento inútil em nossa sociedade.

São incontáveis as contribuições das pessoas idosas em nossa sociedade. Muitos descobrem talentos na idade avançada dos quais não tinham consciência em sua

juventude. Por outro lado, os idosos são responsáveis pela manutenção de muitas famílias atualmente. Algumas cidades, em especial no Nordeste, sobrevivem quase que exclusivamente das aposentadorias e pensões dos idosos.

• Todo velho é “ranzinza”.

Essa não é uma característica exclusiva da pessoa idosa. O adjetivo apenas muda com o avançar da idade. Quando se trata de um adolescente normalmente esse adjetivo é atribuído às características da idade e assim, aceito. As pessoas tendem, apenas, a acentuar suas características ao envelhecer.

• Todo velho é assexuado.

O interesse e a atividade sexual são importantes na vida do ser humano de qualquer idade. Ter uma companhia e manter relações íntimas é essencial na vida das pessoas incluindo os idosos.

Os mitos e as crenças repercutem nas atitudes dos profissionais e dos cuidadores. Assim:

• Quem não considera os idosos diferentes entre si é incapaz de estabelecer intervenções específicas;

• Quem considera os idosos intransigentes e passivos não lhes dá oportuni-dade de emitirem opiniões;

• Quem considera os idosos conservadores e incapazes de mudanças não permite que eles se adaptem a novas situações ou tentem novos compor-tamentos;

• Aquele que nega aos idosos sua autonomia nega-lhe o direito a envelhecer dignamente.

Assim considerando, é fundamental que a primeira abordagem do curso de atualização em Gerontologia esteja relacionada à identificação de mitos, preconceitos e atitudes que os profissionais adotam frente aos idosos e à velhice pois a partir desse conhecimento traçaremos a identidade inicial do grupo com relação à velhice, às pessoas idosas e ao envelhecimento.

Para finalizarmos esse tópico vamos conversar sobre as “prioridades”. Vamos nos lembrar da figura que analisamos anteriormente:

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Módulo 1 Velhice e Envelhecimento

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Esse cartaz é observado nos transportes e lugares públicos além de ser utilizado também nos diferentes locais para caracterizar “atendimento preferencial”.

Em grupos pequenos vamos conversar sobre isso.

• Na sua opinião, as pessoas identificadas na figura devem ter atendimento preferencial? Por quê?

• Qual a diferença entre atendimento preferencial e fila preferencial?

• Você cede seu lugar no transporte público para a pessoa idosa ou para qualquer outra pessoa identificada no cartaz como preferencial?

• Você orienta pessoas mais jovens a cederem seu lugar para pessoas idosas ou para qualquer outra pessoa identificada no cartaz como preferencial?

• O que você sente quando está, em seu horário de almoço, na fila do banco há cerca de 40 minutos e, exatamente na hora em que você irá ser chama-da, chega uma senhora idosa, muito simpática e ativa, com muitas contas a pagar e....é atendida na sua frente?

• Agora iniciaremos a segunda parte desse módulo onde discorreremos so-bre “O Processo de envelhecimento”. Para tanto propomos a seguinte di-nâmica:

1. Individualmente, defina, por escrito, velhice, idoso e envelhecimento. 2. Em plenária, discuta com o grupo suas definições pessoais sobre velhice, idoso

e envelhecimento finalizando com uma definição comum ao grupo. 3. Em seu local de trabalho entreviste uma pessoa idosa indagando-a sobre o que

é, para ela, envelhecer e ser idosa e compare a resposta obtida com a definição obtida em sala de aula. Transcrever essa comparação e entregar para o professor na aula seguinte.

4. O professor fará uma breve explanação sobre o processo de envelhecimento no Mundo e no Brasil e sobre a heterogeneidade do envelhecimento.

5. Apresentar ao grupo o Estatuto do Idoso e orientar que cada aluno escolha um tópico da parte específica de saúde e o discuta criticamente. Esse material deverá ser entregue ao professor na aula seguinte.

6. Atividade não presencial: leitura do texto de apoio sobre o tema.

Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo I Atividade 1

Aluno(a): .........................................................................................

Individualmente defina:

VELHICE:

IDOSO:

ENVELHECIMENTO:

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo I Atividade 2

Aluno(a): .........................................................................................

Agora, após discutir com o grupo, transcreva a seguir as definições coletivas a que vocês chegaram. Guarde essa definição com você, pois necessitará dela para a pró-xima atividade.

VELHICE:

IDOSO:

ENVELHECIMENTO:

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GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo I Atividade 3

Aluno(a): .........................................................................................

Em seu local de trabalho, converse com uma pessoa que você considera idosa e peça que ela defina envelhecimento e o que significa para ela, ser idosa.Transcreva a resposta no espaço a seguir e, em seguida, compare com a definição coletiva que você e seu grupo construíram. Faça algumas observações sobre as similaridades e diferenças encontradas e entregue a seu professor na próxima aula.

DEFINA ENVELHECIMENTO:

PARA O(A) SR(A), O QUE É SER IDOSO(A)?

Compare a resposta obtida com a definição construída coletivamente e faça algu-mas observações sobre as similaridades e as diferenças encontradas.

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TEXTO DE APOIO

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QUEM É VELHO NO BRASIL?

A primeira coisa que devemos saber é que “idoso” no Brasil é toda e qualquer pessoa a partir dos 60 anos de idade. Isso está oficialmente determinado pela Política Nacional do Idoso e pelo Estatuto do Idoso, leis vigentes em nosso país.

A determinação cronológica do envelhecimento (por idade) é realizada para facilitar a organização de serviços assistenciais e a distribuição de alguns benefícios. O limite

etário aqui estabelecido segue orientação da Organização Mundial de Saúde que diz que, em países desenvolvidos (como Estados Unidos, Japão, Canadá, países europeus, etc) é considerada idosa, toda pessoa a partir dos 65 anos de idade e, nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, ainda hoje, esse limite etário é de 60 anos. Isso é devido às diferentes condições de vida a que a população é submetida o que pode, em especial com os economicamente menos favorecidos (mais pobres), gerar um “envelhecimento mais precoce”.

Mas lembre-se, não acontece nada de especial aos 60 anos, as pessoas não dormem com 59 anos e acordam diferentes aos 60. Os limites etários são determinações legais com embasamento científico e tendem a reunir, no mesmo grupo, pessoas similares.

No entanto, a questão da velhice, no Brasil é, ainda, acompanhada por mitos, estereótipos e preconceitos socialmente construídos ao longo do tempo, que já tivemos a oportunidade de discutir.

Na maioria das vezes acreditamos não sermos pessoas preconceituosas mas, isso não é, necessariamente, verdade. Podemos nem saber se somos preconceituosos ou não, pois nunca nos deparamos, antes, com situações que checassem nossas opiniões e, assim, não as visualizamos com clareza. Vocês se lembram do teste sobre preconceito contra a pessoa idosa que preencheram? E do resultado? Como vocês se classificaram?

Talvez você tenha se surpreendido com o resultado, mas, não se preocupe, nossos valores são construídos ao longo do tempo sob influência de diferentes fontes (família, escola, amigos, sociedade, mídia, etc). O importante é termos ciência dos mesmos para, conscientemente, podermos modificá-los, pois, a forma como consideramos o envelhecimento e as pessoas idosas irá se refletir diretamente em nossas atitudes.

PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E PESSOA IDOSA

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Módulo 1 Velhice e Envelhecimento

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Texto de Apoio Processo de Envelhecimento e Pessoa Idosa

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Você se lembra da figura abaixo que foi trabalhada na última aula não? Você deve tê-la visto em muitos lugares por onde circula. Com certeza você sabe que a pessoa idosa está representada nessa imagem pela última figura à direita não é?

Agora vamos pensar, porque você reconhece que essa figura como sendo a pessoa idosa? Ela tem cabelos brancos ou rugas, traços frequentemente associados aos mais idosos? Não, não tem. A figura mostra uma pessoa debilitada e, possivelmente com dor (daí a mão apoiada nas costas). No entanto, você, provavelmente, não teve dúvidas ao assinala-la como idoso, não é?

Limitação funcional e dor podem acontecer em qualquer idade, mas essa não é, necessariamente, uma característica de todos os idosos. É a isso que chamamos de construção social. Aprendemos a acreditar em determinadas coisas e as repetimos todos os dias sem refletir sobre seu real significado. É dessa forma que os preconceitos se perpetuam.

Preocupados com isso, houve um extenso trabalho em modificar o logotipo associado ao idoso e, depois de um concurso, os três mais votados foram os que se seguem:

O logotipo mais votado foi aprimorado ficando o seguinte, que deve substituir o anterior, em serviços públicos:

A partir de agora, essa nova figura deve ser, gradativamente incorporada ao imaginário da população em relação à representação da pessoa idosa. O que você acha dela? Você acha que as pessoas idosas estão representadas por essa figura e que, a população, em geral, vai reconhecer isso? Converse com seus colegas de classe e com seu professor sobre isso.

Bem, mas O QUE É ENVELHECIMENTO?

Nós já definimos, individualmente, “velhice”, “idoso” e “envelhecimento”. Depois, discutimos nossas definições pessoais com o grupo e chegamos a um acordo coletivo de quais seriam as definições para esses tópicos não é? Finalizando essa atividade, em nossa unidade de trabalho, entrevistamos uma pessoa idosa e ouvimos dela sua opinião sobre “o que é envelhecimento” e “o que é ser idoso”. Comparamos as opiniões levantadas por nossos colegas junto aos idosos com as definições obtidas pelo grupo em sala de aula e verificamos em que elas eram semelhantes ou diferentes.

Agora, vamos conhecer uma das definições de envelhecimento (existem muitas). Optamos por apresentar a que está colocada no Caderno de Atenção Básica nº 19 – Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa que está disponível no site: http://dab.saude.gov.br/caderno_ab.php

As definições de envelhecimento são muitas e baseiam-se em diferentes teorias. A definição apresentada no Caderno de Atenção Básica foi publicada pela Organização Panamericana de Saúde em 1993, onde envelhecimento é definido como:

“Processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto, aumenta sua possibilidade de morte”

Vamos entender esse conceito:

Quando se fala em “processo sequencial” o que se quer dizer é que envelhecer faz parte do curso de vida, é uma fase da vida, como outra qualquer que ocorre logo após a maturidade. O organismo humano atinge a maturidade ao redor dos 25 anos. Assim, desse momento até que o indivíduo morra, ele estará envelhecendo o que torna o “envelhecimento” a maior fase da vida de todo ser vivo. Você tinha se dado conta disso? E mais, você já tinha pensado que você está envelhecendo?

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Módulo 1 Velhice e Envelhecimento

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Texto de Apoio Processo de Envelhecimento e Pessoa Idosa

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Quando se fala em “individual” e “acumulativo” caracterizamos o envelhecimento como um processo que difere de um indivíduo a outro. Da mesma forma que pessoas com 18-20 anos são muito diferentes entre si, os idosos também o são. Cada pessoa idosa é a expressão do acúmulo de experiências vivenciadas ao longo de sua existência que vão se sobrepondo com o passar dos anos e que, em conjunto, representam sua “história de vida”. Essa “história” foi construída em diferentes ambientes sociais, culturais, históricos e econômicos onde, em diferentes momentos, a pessoa idosa teve que tomar decisões, escolher caminhos. Assim, o envelhecimento pode também ser compreendido como um reflexo das decisões tomadas durante a vida (portas que se abriram.....portas que se fecharam).

Para compreender melhor esse ponto podemos trabalhar com outro conceito que foi trazido para a saúde – “CAPITAL DE SAÚDE”. Faremos aqui uma síntese do que foi apresentado em um livro denominado “Decida você: como e quanto quer viver” escrito pelo geriatra Dr. Renato Maia Guimarães (1).

Capital de Saúde é um conceito da área de economia, trazido para a saúde e associado a um conceito sociológico - curso de vida, ou seja, o que ocorre na fase mais avançada da vida está associado a tudo o que se fez antes, ao que foi “poupado” e ao que foi “gasto”. Assim, Capital de Saúde pode ser compreendido como a somatória dos investimentos e dos gastos em saúde no decorrer da vida. Menos investimento e mais consumo significa menor estoque de saúde. Por outro lado, mais investimento e menos consumo significa maior estoque de saúde onde o resultado final dependerá do “capital inicial” (com o qual nascemos), do “nível de investimento” durante a vida e, da mesma forma, do “grau de consumo” durante o curso de vida.

Cerca de 30% de nosso capital de saúde são oriundos de nosso patrimônio genético, que é individual. Nós o recebemos diretamente de nossos pais que, por sua vez, receberam de seus pais e assim por diante, por gerações. Outros 20% estão ligados às condições socioeconômicas, históricas e, também, à sorte que tivemos em nossa infância, juventude e vida adulta. Assim, os outros 50% podem ser administrados pelo próprio indivíduo (dependendo de suas escolhas, de suas decisões). Vive e envelhece melhor quem age de forma a compensar as perdas associadas ao envelhecimento. Maior investimento significa maior estoque em saúde, em qualquer idade.

Outros dois pontos importantes, talvez os mais importantes, do conceito que estamos adotando é que o envelhecimento não é patológico, ou seja, velhice não é doença e, também, envelhecimento é um processo irreversível. O que se quer dizer com isso. Todo ser vivo nasce, cresce, amadurece, envelhece e morre. Esse é o curso de vida de qualquer ser vivo. A principal característica do envelhecimento é ser um processo de deterioração progressiva dos múltiplos sistemas que deixa o organismo mais vulnerável às adversidades, pois, já não consegue responder a elas prontamente, o que aumenta sua chance de morte. Tudo isso ocorre gradativamente durante o curso de vida. Esse processo só será acelerado na vigência de agravos ou doenças.

Por outro lado, o processo de envelhecimento é IRREVERSÍVEL. Podemos chegar às idades mais avançadas em ótimas condições funcionais e de saúde, dependendo de nosso curso de vida, mas, não chegaremos aos 90 anos com as mesmas condições físicas e funcionais que tínhamos aos 15 anos. Podemos melhorar a aparência, cuidar melhor do corpo, prevenir doenças e agravos, mas, mesmo assim, envelheceremos.

Assim, o “anti-ageing” não existe. Precisamos tomar cuidado com isso. Existem promessas de vida e juventude eternas que não são reais e podem ser muito prejudiciais à saúde e.... ao bolso (pois costumam ser muito caras). A “pílula da juventude” não existe realmente embora muitas pessoas passem a vida toda procurando por ela.

Agora vamos falar do NOSSO envelhecimento, pois, se compreendermos o nosso próprio envelhecimento, compreenderemos melhor as pessoas idosas! Para isso, continuaremos a utilizar como referência o livro do Dr. Guimarães (2007)(1).

Envelhecer pode ser algo que julgo que aconteça apenas com os outros, porém, morrer prematuramente, sofrer desnecessariamente ou apenas sobreviver NÃO É VIVER. Há algumas perguntas que devemos nos fazer: Existe uma razão para viver mais que não seja simplesmente estar vivo por mais tempo? Fazer 100 anos é algo a ser comemorado ou é um marco a ser alcançado? Existe um desejo legítimo de uma existência longa e bem vivida?(1).

Medir o tempo foi incorporado à cultura do ser humano. Vivemos cercados de marcos temporais. Acreditamos que apenas a juventude é bela. É necessário despir-se do preconceito para ver a beleza para além da juventude. Nosso padrão de beleza pode e deve ser adaptado ao longo da vida o que não significa “glamourizar” o mau gosto ou se esconder atrás do argumento “beleza interior”(1).

O envelhecimento ocorre, como já dissemos, com todos os seres vivos, mas, é um processo assimétrico, ou seja, ninguém envelhece da mesma forma (daí ser um processo individual). Ele é, na verdade, a expressão própria do curso de vida de cada indivíduo. Ele é o reflexo da ação do tempo comum a todos somado ao que se denomina “marcas da vida” que, juntos, constituem nossa “história de vida”(1).

Já comentamos que, quem investe em saúde mais do que consome terá um estoque maior em qualquer idade. Quanto o envelhecimento depreciará esse investimento? O resultado final, ou seja, nossa saúde nas idades mais avançadas, será uma somatória do nosso capital inicial, do nível de investimento que fizemos e do grau de consumo que tivemos(1).

Nosso “capital de saúde” envolve aspectos biológicos, psicológicos, sociais e econômicos.

Os aspectos biológicos associados ao “capital de saúde inicial” estão relacionados ao nosso patrimônio genético, às condições nas quais fomos gerados (gestação de nossa mãe e condição de nascimento), ou seja, à contribuição genética somada ao nosso desenvolvimento inicial. Em seguida virá a infância onde a existência de ambiente harmônico, de alimentação adequada, da presença de proteção e carinho representam um investimento poderoso. Na sua ausência não se agrega investimento ao capital inicial aumentando a chance de doenças e mortalidade na infância. Depois virá a adolescência e a juventude onde os aspectos educacionais e o nível socioeconômico de nossa família farão muita diferença. A idade adulta traz consigo a necessidade de alguns “investimentos” que exigem alguma disciplina como a prática de atividades físicas regulares, boa alimentação, bons cuidados à saúde, a adoção de um estilo de vida mais saudável (1).

Alguns aspectos psicológicos devem ser ressaltados. Um deles está relacionado à nossa AUTOESTIMA que é resultado da somatória do nosso valor como pessoa + conquistas durante a vida + trabalho + forças e fraquezas + percepção de como somos

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Módulo 1 Velhice e Envelhecimento

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Texto de Apoio Processo de Envelhecimento e Pessoa Idosa

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vistos pelos outros + relações com os outros. Quanto maior nossa autoestima, maior o capital de saúde. Quanto menor, maior chance de envelhecer sem sucesso, pois o indivíduo não vê um futuro bom ou melhor e assim, não agrega nada à sua(1).

Outro aspecto a considerar é a RESILIÊNCIA (em saúde), ou seja, as condições onde o indivíduo, após sofrer uma adversidade (perda de um ente querido, decepções no amor, trabalho, na vida familiar, na saúde), recupera-se e volta a viver com intensidade, sem ignorar a dor, mas convivendo com a situação sem ressentimentos ou lamentações(1).

HUMOR é outro ponto fundamental. Rir das coisas e de si mesmo faz bem à saúde, nos fortalece favorecendo uma vida mais longa. As pesquisas mostram que ter humor ajuda a relaxar, reduz os hormônios relacionados ao estresse, fortalece nosso sistema imunológico e contribui para a redução da dor(1). Ter FÉ, também parece favorecer a saúde e os comportamentos saudáveis(1).

Assim, segundo Dr. Guimarães, para investir em nosso capital de saúde devemos (1):

• Ter uma alimentação balanceada

• Aumentar nossa atividade física regular (combater o sedentarismo)

• Investir em seu estado emocional de forma positiva (sublimação, bom hu-mor, altruísmo, saber esquecer e adiar)

• Manter uma relação afetuosa

• Aprender continuamente e procurar sempre aprender coisas novas

• Estimular a criatividade

• Manter objetivos na vida

• Ter tempo para o ócio e para o lazer

Por outro lado, continua o autor, o que pode diminuir nosso capital de saúde?(1)

• Ter uma vida desregrada e exposta a muitos riscos;

• Não adotar práticas promotoras de saúde ou perpetuar condutas que ten-dem a exaurir o estoque de saúde;

• Fatalismo (o que tiver que ser será, coisas da idade);

• Crença de ser indestrutível;

• Desmotivação;

• Aposentadoria sem planejamento;

• Impulsividade e imediatismo (viver cada dia como se fosse o último).

Assim, para evitar a ocorrência de doenças e garantirmos uma vida mais longa devemos viver com equilíbrio e sensatez e investir em nossa saúde.

A saúde é um capital duradouro que tem como produto o tempo de vida saudável.

A figura a seguir mostra como, com o transcorrer da vida, podemos aumentar o risco de ocorrência de doenças:

Assim, vive e envelhece melhor quem tem maior “poupança” no capital saúde. Isso envolve escolha e ações que podem ser adotadas para compensar as perdas associadas ao envelhecimento. Envelhecer bem não é uma questão apenas de sorte, significa dizer sim ou não para as diferentes oportunidades e opções que cruzarem nosso caminho durante toda a vida. Não existe certo ou errado. O importante é viver em paz com princípios de humanidade e algumas virtudes. A vida é feita de escolhas e colheitas. Assim, decida você... como e quanto você quer viver...(1).

POR QUE ESTAMOS FALANDO DE ENVELHECIMENTO E DE PESSOAS IDOSAS?

Porque esse é o grupo etário que mais cresce em todo o mundo. Veja o gráfico a seguir que foi publicado pelas Nações Unidas em 2007, sobre o porcentual de mudança da população mundial segundo grupos etários no período de 2005 a 2040 e que comentamos na aula inaugural:

Fonte: United Nations, 2007

O que se pode notar nesse gráfico é que, todas as idades, juntas, crescerão, nesse período de 35 anos (2005 a 2040), em torno de 35%; o grupo etário de 65 a 84 anos crescerá 164%, o de 85 a 99 anos, 301% e os centenários crescerão 746%. Você já

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Texto de Apoio Processo de Envelhecimento e Pessoa Idosa

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deve ter sentido essa mudança em seu local de trabalho. Você reparou se o número de idosos que procura seu serviço aumentou nos últimos anos? E, ao andar pela rua, utilizar transportes públicos, você notou se a proporção de pessoas idosas presentes é cada vez mais frequente? Possivelmente sim. Os estudos mostram o que já está acontecendo em nosso meio. O que precisamos é saber disso e nos preparar para atuar nesse futuro, já presente, de forma competente.

O mais preocupante desse panorama mostrado pelas Nações Unidas é que, em nosso meio, pouco sabemos sobre as necessidades e as respostas em saúde dos idosos mais longevos (acima de 80 anos) e, como pudemos ver, esse é o grupo que mais acentuadamente cresce, no mundo e, em nosso meio. Para ilustrar esse crescimento veja a pirâmide feita pelo IBGE mostrando a projeção de crescimento dos idosos com idade igual e superior a 80 anos em um período de 70 anos (1980 a 2050).

A pirâmide não está invertida, é isso mesmo que vai ocorrer. O volume de pessoas desse grupo está crescendo de forma muito expressiva, o que você já deve observar no seu dia a dia.

Historicamente se utilizam pirâmides para representar a população onde, na base (parte de baixo) ficam os mais jovens, que sempre foram em número maior e, no topo, ficam os mais velhos. Quando um país começa a envelhecer, a base da pirâmide vai ficando mais estreita, porque temos menos jovens na população e, o topo, vai ficando mais alargado (mais pessoas idosas). Vejam as pirâmides do Brasil e de São Paulo segundo os dados do último Censo, em 2010.

No Brasil...

... no Estado de São Paulo....:

...e no Município de São Paulo, onde residimos e trabalhamos:

POPULAÇÃO IDOSA

Assim, em 2010, cerca de 11% da população brasileira já era idosa e, segunda a Organização Mundial de Saúde, um país pode ser considerado estruturalmente envelhecido quando o porcentual de idosos na população ultrapassa 7% o que torna o envelhecimento uma questão de saúde pública e uma prioridade na atenção à saúde no Brasil.

Entre os Censos que são realizados a cada dez anos, são realizadas as PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) onde são obtidas informações importantes sobre a população brasileira. No Censo ocorre a contagem de toda a população brasileira, nas PNADs são utilizadas amostras. A PNAD é uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em uma amostra de domicílios brasileiros que, por ter propósitos múltiplos, investiga diversas características socioeconômicas da sociedade, como população, educação, trabalho, rendimento, habitação, previdência social, migração, fecundidade, nupcialidade, saúde, nutrição etc., entre outros temas que são incluídos na pesquisa de acordo com as necessidades de informação para o Brasil. A pesquisa é feita em todas as regiões do Brasil incluindo as áreas rurais de Rondônia, Acre, Roraima, Pará e Amapá (excluídas até recentemente).

Segundo a PNAD realizada após o Censo, as pessoas com 60 anos e mais são, hoje, 12,6% da população, ou 24,85 milhões de indivíduos, sendo a maior parte deles

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mulheres (13,84 milhões) e vivendo em áreas urbanas (20,94 milhões). Podemos ver, assim, o crescimento contínuo da proporção de idosos na nossa população.

Como já dissemos; isso é um fenômeno mundial. Estudo das Nações Unidas mostrou que, no mundo, próximo ao ano de 2020 (portanto logo ali), teremos mais pessoas idosas que crianças no mundo (vejam o gráfico a seguir que mostra isso) sendo que isso NUNCA ocorreu na história da humanidade. Assim, estamos vivenciando um fenômeno único!

PORCENTAGEM DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO GLOBAL DE CRIANÇAS < DE 5 ANOS E DE PESSOAS IDOSAS COM 65 ANOS E MAIS

E o que acontecerá no Brasil? O que o IBGE já sabe?

Vejamos o gráfico a seguir. Nele podemos observar que, no Brasil, por volta de 2035, a nossa pirâmide populacional também inverterá, ou seja, teremos mais pessoas idosas que crianças e jovens com idade inferior a 15 anos. Faltam apenas 20 anos para isso, será que estamos preparados? Quantos anos você vai ter em 2035?

Fonte: IBGE

Diferentemente do que ocorreu nos países desenvolvidos que levaram cerca de 300 anos para envelhecer, o processo de envelhecimento na América Latina e Caribe, incluindo o Brasil, foi um fenômeno que ocorreu em torno de 40 anos,

ou seja, menos de uma geração. Embora isso pareça muito tempo, em termos de história é praticamente nada. Não houve tempo para uma adaptação correta das políticas públicas às novas demandas apresentadas por esse grupo. Enquanto ainda temos de lidar com questões relacionadas à pobreza, às desigualdades, às doenças transmissíveis (febre amarela, dengue, etc), à mortalidade infantil (que diminuiu muito, mas ainda ocorre); também precisamos lidar com as novas demandas como o aumento expressivo das doenças crônicas e suas sequelas incapacitantes que, muitas vezes, são observadas entre as pessoas idosas aumentando a necessidade de cuidados de longa duração para o qual nosso sistema de saúde ainda não está preparado.

Ao se falar em cuidados prolongados, necessariamente falamos da atuação da enfermagem que deve estar apta para assumir tal função, pois faz parte de seu escopo de trabalho.

Vejam o exemplo a seguir:

Uma pessoa idosa entra em um consultório ou na sala de atendimento de enfermagem, qual é a primeira pergunta que é feita? Qual a primeira pergunta que você faria? Seria algo como “qual é sua queixa”? ou “qual o seu problema”?

Se sim, admitimos que as pessoas procuram o serviço de saúde necessariamente quando tem um problema ou uma queixa, não é? Onde fica a “promoção de saúde” da qual tanto falamos?

Na verdade, ainda é assim que a maioria dos serviços se organiza. De um lado, os serviços estão organizados para atender as queixas e, de outro, a população também espera que seja assim. Isso funciona para doenças infecciosas, por exemplo. Assim, quando eu apresento um quadro infeccioso, procuro o serviço, recebo o diagnóstico e, associado a isso, provavelmente, também recebo uma prescrição de antibiótico que, em 7, 10 ou 15 dias, resolverá meu problema.

Será que, para controlar a hipertensão ou o diabetes, funcionaria assim também? Claro que não! Isso exige acompanhamento contínuo, mudança de hábitos, medicação continua etc. As doenças crônicas, por serem crônicas, nos acompanham para o resto de nossas vidas e, por essa razão, exigem acompanhamento contínuo e, outro tipo de organização de serviços que é o que trataremos mais para frente!

QUAIS SÃO AS IMPLICAÇÕES DESSE FENÔMENO PARA A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM?

O cuidado da pessoa idosa compreende a avaliação de suas condições funcionais e de saúde; diagnóstico, planejamento e implementação de serviços e cuidados à saúde que atendam às necessidades identificadas dessa população além da avaliação da efetividade de cada cuidado. Assim, para uma avaliação adequada das necessidades de atenção à saúde das pessoas idosas, torna-se necessário o conhecimento das principais alterações no organismo que ocorrem durante o processo de envelhecimento.

Nesse sentido, dois conceitos são fundamentais: Senescência e Senilidade.

SENESCÊNCIA é o processo natural de envelhecimento ou o conjunto de fenômenos associados a este processo. A senescência é um processo metabólico ativo

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essencial para o envelhecimento. Tais alterações têm por característica principal a diminuição progressiva de nossa RESERVA FUNCIONAL. Isto significa dizer que um organismo envelhecido, em condições normais, poderá sobreviver adequadamente, porém, quando submetido a situações de estresse físico, emocional, etc; pode apresentar dificuldades em manter sua homeostase manifestando, assim, sobrecarga funcional, que pode culminar em processos patológicos.

Este conceito se opõe à SENILIDADE, também denominado envelhecimento patológico, e que é entendido como os danos à saúde associados com o tempo, porém causados por doenças ou maus hábitos de saúde. Dessa forma, “velho senil” significa uma pessoa idosa doente, pois senil não deve ser adjetivo associado à pessoa simplesmente porque ela é velha.

O conhecimento e a compreensão das alterações associadas ao processo de envelhecimento são fundamentais para evitar dois grandes equívocos assistências citados por Jacob Filho e Souza (1994)(2):

1. sinais e sintomas próprios da senescência são equivocadamente atribuídos a doenças, determinando a realização de exames e tratamentos desnecessários. Nada mais é do que “diagnosticar” o envelhecimento como doença;

2. todas as alterações encontradas em um idoso são erroneamente atribuídas ao seu envelhecimento natural, impedindo a detecção de processos patológicos passíveis de tratamento e/ou cura.

Outro ponto fundamental a ser lembrado é que os sinais e sintomas clássicos das doenças podem estar ausentes, obscurecidos ou serem atípicos nos idosos como resultado de alterações nos sistemas orgânicos e nos mecanismos homeostáticos e pela coexistência de condições agudas ou crônicas.

Alguns exemplos:

a) Um idoso com infecção do trato urinário ao invés de apresentar febre, disúria ou urgência miccional, sintomas comumente encontrados nessas situações, pode apresentar confusão mental, perda do apetite, fraqueza, tontura ou fadiga;

b) Um idoso com pneumonia pode apresentar taquicardia, taquipnéia e confusão mental no lugar de febre e tosse produtiva como encontrado, por exemplo, em crianças;

c) No caso de um infarto do miocárdio o idoso pode, ao invés da dor torácica, tão característica, apresentar desconforto epigástrico, inquietação, confusão e ausência de dor postergando a atuação emergencial que tal quadro exige.

Assim sendo, é fundamental na avaliação da pessoa idosa, a valorização de suas queixas e a investigação minuciosa de qualquer alteração mencionada.

Outro conceito fundamental que devemos guardar é FUNCIONALIDADE.

Funcionalidade diz respeito aos níveis de “funcionamento” (função) de uma pessoa em diferentes áreas. A funcionalidade de uma pessoa pode ser mensurada por meio da avaliação funcional.

Avaliação funcional foi definida por Lawton em 1971(3), como “uma tentativa sistematizada de mensurar objetivamente os níveis nos quais uma pessoa funciona

numa variedade de áreas tais como integridade física, qualidade da automanutenção, qualidade no desempenho dos papéis, estado intelectual, atividades sociais, atitude em relação a si mesmo e ao seu estado emocional”. Para Granger, 1984 “é um método para descrever habilidades e atividades em ordem de mensurar o uso individual de uma variedade de habilidades incluídas no desempenho de tarefas necessárias na vida diária, nos compromissos vocacionais, nas interações sociais, nas atividades de lazer, e outros comportamentos requeridos”.

A avaliação funcional dos idosos é essencial para estabelecer um diagnóstico, um prognóstico e um julgamento clínico adequado que servirão de base para as decisões sobre os tratamentos e cuidados necessários. É um parâmetro que, associado a outros indicadores como morbidade e mortalidade, pode ser utilizado para determinar a eficácia e a eficiência das intervenções propostas.

Baseia-se no conceito de função, ou seja, a capacidade do indivíduo para adaptar-se aos problemas de todos os dias apesar de possuir uma incapacidade física, mental ou social. Envolve aquelas atividades que são desenvolvidas diariamente e estão diretamente relacionadas ao autocuidado, ao cuidado de seu entorno e à participação social. São denominadas “atividades de vida diária” e estão subdivididas em:

a) ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA DIÁRIA - indicam a capacidade de um indivíduo em levar uma vida independente dentro da comunidade. Envolve as seguintes atividades: realizar compras, manipular medicamentos, utilizar transporte, utilizar telefone, realizar tarefas domésticas leves e pesadas, preparar refeições quentes e administrar as próprias finanças. Quando comprometidas requerem uma reorganização familiar de forma a assistir adequadamente as necessidades da pessoa idosa e permitir que ela mantenha, pelo maior tempo possível, sua autonomia e independência.

b) ATIVIDADES BÁSICAS DE VIDA DIÁRIA - envolvem as atividades de autocuidado como alimentar-se, banhar-se, vestir-se, arrumar-se, mobilizar-se, manter controle sobre suas eliminações, deambular. Quando comprometidas requerem, necessariamente, a presença de um cuidador. Seu comprometimento implica em maior dependência das pessoas idosas e, portanto, maior necessidade de assistência.

A diminuição da capacidade funcional2 dos idosos tornando-os de alguma forma dependentes de assistência, ainda não teve seus mecanismos determinantes finais completamente estabelecidos. Ela pode representar o ponto final comum de muitas doenças ou um sinal precoce e sutil das mesmas.

Ao se avaliar a capacidade funcional de um idoso verifica-se por um lado, as ações que o mesmo é capaz de realizar e de outro a presença de necessidade de ajuda para realizá-las. Tais ações são avaliadas diretamente por meio da observação de sua execução. É importante salientar que se deve diferenciar a execução da ação (desempenho funcional), da capacidade em executá-la (capacidade funcional). A avaliação da ajuda requerida para completar determinada ação é realizada pós-determinação das ações que o idoso demonstra dificuldade ou incapacidade de realizar sozinho. Desta avaliação resulta uma classificação, onde o idoso aparecerá como:

2 A capacidade funcional “indica a habilidade do paciente de desempenhar trabalho e é tradicional-mente medida comparando o pico de capacidade de exercício do paciente com o pico esperado para sua idade e gênero”.

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Módulo 1 Velhice e Envelhecimento

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Texto de Apoio Processo de Envelhecimento e Pessoa Idosa

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a) dependente (em maior ou menor grau) ou

b) independente.

É necessariamente o grau de dependência que determinará os tipos de cuidados que vão ser necessários e como e por quem os mesmos poderão ser mais apropriadamente realizados.

O que ocorre com nossa capacidade funcional dos indivíduos ao longo da vida?

As diferentes alterações nos múltiplos sistemas alteram a capacidade e o desempenho funcional com o passar do tempo. Não se deve permitir que tais mudanças passem o que é denominado “limiar da incapacidade”, ou seja, mesmo que o desempenho funcional das pessoas diminua com o passar dos anos, medidas devem ser tomadas para evitar a instalação de quadros de incapacidade.

A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, reeditada em outubro de 2006, colocou a capacidade funcional da população idosa como o grande paradigma para organização dos serviços assistenciais conforme ilustrado a seguir.

Saúde da Pessoa IdosaLinha de Cuidado

Ações:Atenção DomiciliáriaReabilitaçãoPrevenção secundária

Ações:Promoção PrevençãoReabilitação PreventivaAtenção BásicaSuporte Social IN

TER

SET

ORI

ALI

DA

DE

INDEPENDENTE

FRÁGIL

Dado o aumento nas perdas e incapacidades, os idosos poderão experimentar vdebilidades que necessitam ser compensadas e se possível, eliminadas ou evitadas. Compensar perdas significa frequentemente, permitir que uns façam coisas para outros,

assim como a administração seletiva das próprias energias e competências. Frente a este quadro, o idoso pode reagir de forma a desconsiderar tais déficits, compensa-los ou permitir-se ser dependente nos domínios em que ocorreram perdas, com o objetivo de liberar energia para poder alcançar suas metas em outros domínios e atividades.

Assim colocado, o problema fundamental da velhice parece ser, portanto, o que foi denominado por Motlis como “balança geronto-geriátrica” que consiste em chegar a um equilíbrio entre as necessidades e as exigências mínimas dos idosos e os interesses da coletividade. A velhice em si, continua o autor, não cria ou desenvolve enfermidades; porém, nesta fase da vida, adquire características especiais. Esforços devem ser desenvolvidos no sentido de obtenção de cura até onde for possível, de reabilitação para readaptação dos idosos às suas atividades diárias de acordo com o meio a que pertencem e da garantia de uma assistência digna às suas necessidades até o momento de sua morte.

REFERÊNCIAS

(1) Guimarães RM. Decida você: como e quanto quer viver. Brasília. Saúde e Letras, 2007

(2) Jacob Filho W; Souza RR. Anatomia e fisiologia do envelhecimento. In: Carvalho Filho ET; Papaléo Netto M. Geriatria: fundamentos, clínica e terapêutica. São Paulo, Atheneu, 1994.

(3) Lawton MP. The functional assessment of elderly people. J.Am.Geriatr.Soc. 1971; 19:465-81.

Accioly MR; Vasconcelos ZP. Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao Envelhecimento. In: Duarte YAO; Diogo MJD. Atendimento Domiciliário: um enfoque gerontológico. São Paulo, Atheneu, 2000.

Couto MCPP; Koller SH; Novo R; Soares PS. Avaliação de discriminação contra idosos em contexto brasileiro: ageismo. Psicologia: teoria e prática. 2009; 25(4):509-18.

Duarte YAO. Família: rede de suporte ou fator estressor. A ótica de idosos e cuidadores familiares. São Paulo. Tese (Doutorado). Escola de Enfermagem. Universidade de São Paulo; 196p.

Ferreira-Alves J; Novo RF. Avaliação da discriminação social de pessoas idosas em Portugal. Int J Clin Health Psyschol. 2006; 6(1):65-77.

Freitas EV, Py L.(eds). Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro. Guanabara-Koogan, 2011.

Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Rio de Janeiro: EAD/ENSP, 2008.

Goldani AM. Desafios do “preconceito etário” no Brasil. Educ Soc. Campinas. 2010; 31(111):411-34.

Koch Filho, HR et al. Envelhecimento humano e ancianismo: revisão. Rev Clin Pesq Odontol. 2010; 6 (2):155-60.

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Olá, no módulo anterior conversamos sobre o envelhecimento, sobre ser idoso em nosso meio, sobre a heterogeneidade desse processo. Construímos uma definição, em grupo, sobre o que compreendemos como envelhecimento e a comparamos com as opiniões de pessoas idosas que assistimos em nosso local de trabalho. Possivelmente encontramos opiniões semelhantes às nossas e outras diferentes. Em grupo, fizemos uma aproximação entre esses conteúdos e, finalizamos o

módulo, com um conceito sobre envelhecimento e velhice que nos norteará daqui para frente.

Iniciaremos agora o segundo módulo sobre Família e Envelhecimento.

Para o desenvolvimento desse módulo, proponho a seguinte dinâmica:

1. Individualmente vocês responderão, por escrito, algumas questões relacionadas à família (atividade 1)

2. Em plenária, vocês conversarão sobre as respostas da atividade 1 e fecharão um consenso (atividade 2)

MÓDULO II Família e Envelhecimento

PARTE 1

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MÓDULO II Família e Envelhecimento

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3. Em seguida, o professor fará uma breve explanação sobre famílias, famílias de idosos e o cuidado da pessoa idosa no Brasil de hoje.

4. Em pequenos grupos, vocês lerão o parágrafo 3 do Estatuto do idoso e, considerando o que foi apresentado anteriormente, farão uma discussão sobre o tema a ser apresentado em plenária (atividade 3).

5. Em plenária, conversar sobre a atividade 3 finalizando com uma discussão sobre o papel do profissional de saúde na atenção às famílias de pessoas idosas.

6. Atividade não presencial – leitura do texto de apoio.

Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo IIAtividade 1

Família e Envelhecimento

Aluno(a): .........................................................................................

Defina Família:

Você acha que todas as famílias são iguais? Justifique sua resposta pensando na sua família, na família de seus amigos e nas famílias que você costuma atender no seu serviço.

Quem é responsável pelo cuidado da pessoa idosa mais dependente?

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Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo IIAtividade 2

Família e Envelhecimento - Consenso em Plenária

Aluno(a): .........................................................................................

Defina Família:

Igualdade entre as famílias:

Responsável pelo cuidado da pessoa idosa mais dependente:

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo IIAtividade 3

Família e Envelhecimento

Aluno(a): .........................................................................................

ESTATUTO DO IDOSO – Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003

Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

(OBS: entenda-se como direito à saúde, o direito também a ser cuidado)

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

Inciso V – priorização do atendimento do idoso por sua família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuem ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência.

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TEXTO DE APOIO

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CONTEXTUALIZANDO O IDOSO E SUA FAMÍLIA

Família é uma formação humana universal e ainda não foi descoberta outra formação capaz de substituí-la. Ao se falar sobre este tema, muitas emoções, pensamentos, lembranças e expectativas, por vezes contraditórias e, quase sempre intensas, afloram em nossas mentes. Cada pessoa tem e terá ao logo de sua existência, várias famílias (a de seus ancestrais, a de sua infância, a de sua adolescência, a de sua vida adulta e a de sua velhice), assumindo características peculiares em cada fase, mas mantendo sua função3 primordial, a de preservar a integridade física e emocional de cada um de seus membros e do próprio grupo familiar, propiciando seu desenvolvimento. Compreender sua organização e seu funcionamento4 pode auxiliar nas intervenções junto a idosos e seus familiares.

O ser humano é um ser social e, assim, tem necessidade de viver vinculado a outros, da mesma forma que busca o saber por sua intelectualidade e os valores por sua espiritualidade. Assim, a sobrevivência do homem em grupos é inerente à sua condição humana. Essa necessidade é traduzida pelo desejo de fazer parte, sentir que integra algo e assim está protegido, acolhido e aceito. Isto é concretizado por estruturas, agregações sociais ou redes de relações. Em diferentes culturas as agregações sociais variam seu nível de organização e diferenciação.

As diferentes redes de relações podem ser denominadas de grupos primários e grupos secundários. Os primeiros não são escolhidos pelas pessoas (o país onde nasceu, o continente, o hemisfério, o momento histórico e a própria família de origem – pais, avós, etc), o segundo é representado pelas opções do indivíduo (os amigos, o clube, o partido político).

A família, antecessora ou formada pelo indivíduo ao se unir a outra pessoa, é sempre um grupo primário. Segundo Rolla(1), “família é uma criação do ser humano em resposta ao seu desejo de ter um grupo de pessoas que atuem sobre interesses comuns e com um desenvolvimento afetivo, onde os afetos são recíprocos, buscando obter

3 Às famílias cabem as funções de proteção e socialização de seus membros em resposta frente à sociedade na qual vivem. É no interior das famílias que os indivíduos aprendem a fazer parte de um grupo e a se isolar dele desenvolvendo sua própria identidade (própria, mas que é influenciada pelo sistema de valores desse grupo).4 Para compreender uma família é necessário entender seu “funcionamento”. Este se baseia na com-preensão da família como um sistema operando em contextos sociais específicos e é composto por três componentes, a estrutura da família, seu estágio de desenvolvimento e sua capacidade de adaptação às circunstâncias de forma a manter a continuidade e a intensificar o crescimento psicossocial de cada membro familiar.

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Texto de Apoio Contextualizando o Idoso e sua Família

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soluções para os problemas que ocorrem durante a vida”. A família é representada, assim, por uma rede de relações de parentesco cujo funcionamento depende da forma como estas relações se organizam.

Independentemente disso, todas as famílias passam por transformações no decorrer do tempo conforme as pessoas se desenvolvem e se tornam maduras:

1. A primeira mudança é observada nos jovens que buscam sua própria identidade (identidade pessoal) e procuram sua diferenciação do grupo familiar (“ser um”).

2. Em seguida, esses jovens tendem a sair de suas casas e iniciar um relacionamento comum com outra pessoa (“ser um” → “ser dois”). Essa convivência deve gerar a síntese de duas culturas familiares distintas (a de cada um isoladamente) que deverão culminar na formação de uma terceira sem que haja a imposição das anteriores, o que caracteriza a harmonia do casal e compõe a cultura familiar das gerações posteriores (filhos).

3. Depois virão os filhos (próprios ou não) (“ser dois” → “ser três ou mais”).

4. Em seguida, ocorre o crescimento dos filhos e o desenvolvimento de sua autonomia e independência (crise da adolescência).

5. A seguir virá a fase de saída dos filhos de casa, por casamento, trabalho/estudo ou opção própria Essa fase traz transformações importantes como a integração com outras famílias e o sentimento de “perda” do filho, o que gera a denominada “síndrome do ninho vazio”(“ser três ou mais”→ “ser dois” novamente). O reencontro do casal.

6. A fase seguinte está relacionada aos netos, ao indivíduo se tornar avô/avó,

7. A última fase é onde ocorre o falecimento de um dos integrantes do casal (“ser dois”→“ser um”) fazendo com que o indivíduo volte a reencontrar-se consigo mesmo e com sua individualidade.

Estas fases geralmente ocorrem na maioria das famílias. Há outras, no entanto que não ocorrem com todas as famílias e são consideradas acidentais, geralmente imprevisíveis tais; como falecimento de um filho, aborto, esterilidade conjugal, mudanças bruscas no estilo de vida, etc. Em cada uma dessas fases, a família cumpre importantes papéis como assegurar o bem-estar afetivo e material e absorver o impacto das tensões provocadas por cada uma delas.

A dinâmica do sistema familiar nestas situações baseia-se na presença de um diálogo maior ou menor permitindo o amadurecimento da própria família onde cada um de seus membros poderá desenvolver sua presença afetiva, efetiva, livre e responsável perante a vida sendo então transformados de indivíduos em pessoas e passando a viver como tal.

A família é o lugar significativo e estável que proporciona o encontro harmônico das pessoas onde podem descobrir e dar à sua presença e à sua participação um sentido pleno, comprometido e responsável possibilitando assim o desenvolvimento de vínculos incondicionais. Esta família será mais estável e mais saudável à medida que seus membros forem capazes de harmonizar suas funções familiares com as circunstâncias dos outros. Na intimidade de um grupo familiar desenvolvido e amadurecido as funções familiares são recíprocas, vivenciadas a partir da abertura,

comunicação, respeito e aceitação de todos. Todas as decisões devem ser harmônicas visando o bem dos indivíduos e do grupo como um conjunto. Nesse sistema também ocorrem conflitos e confusões, mas existe uma predisposição para atendê-las. A essência deste grupo é a aceitação do outro e a dinâmica na reciprocidade dos papéis.

Estamos tratando aqui de uma família “ideal”, com capacidade para, efetivamente, prover e assistir às necessidades de seus membros.

Há, no entanto grupos familiares, considerados imaturos que, geralmente, são severos e rígidos, com funções estáticas e vínculos unidirecionais e imutáveis. Qualquer mudança no papel ou na expectativa do papel de algum de seus membros ocasiona confusão e desestruturação do grupo familiar, pois nenhum dos membros familiares está pronto ou disposto a se adaptar a uma nova situação (p.ex: ser cuidador). A essência deste grupo é a rigidez que se exterioriza com uma estabilidade e harmonia aparentes, porém frágeis que se desfazem frente à necessidade de modificações em sua estrutura para as quais não estão prontos a responder.

Para outros autores, a família é composta por uma rede de relações e não, necessariamente, representada por um agrupamento de pessoas interligadas entre si por laços sanguíneos. Trata-se apenas “de uma estrutura especificamente humana, insubstituível, dentro da qual cada membro tem uma função repleta de sentido”.

Para compreender a família, é necessário entender seu esquema de funcionamento interno que opera dentro de contextos sociais específicos. Tal esquema possui basicamente três componentes:

a) Estrutura: a família é um sistema aberto, em transformação. A estrutura familiar é o conjunto de exigências funcionais que estabelece a interação entre seus membros e um padrão de relações. Tais padrões regulam o comportamento dos membros da família (o pai, a mãe, o casal,etc);

b) Desenvolvimento: a família passa por diferentes fases durante sua existência (ciclo vital) que requerem de seus membros constantes adaptações. O desenvolvimento da família transcorre em etapas de complexidade crescente com períodos de equilíbrio e adaptação e outros de desequilíbrio. Estas mudanças evolutivas geram pressões em seus membros ocasionando estresses de acomodação (“crises”). Tais estresses, no entanto, são inerentes a estes processos de mudança e continuidade e não devem ser considerados patológicos. O resultado é um salto para um estágio novo e mais complexo, onde novas tarefas e habilidades serão desenvolvidas (ex: um casal que tem um filho; o avô que, por ter ficado viúvo, vem morar com a família exigindo a adaptação de todos).

c) Adaptação: a família se adapta às circunstâncias de forma a manter sua continuidade e intensificar o desenvolvimento psicossocial de seus membros. A família deve ser capaz de se adaptar quando as circunstâncias mudam, sem perder, no entanto, sua continuidade, que constitui um sistema de referência para seus membros (um idoso que desenvolve uma demência e, não pode mais ficar sozinho e continua residindo na casa).

A palavra “família”, do latim famulus (=escravo, servente), representa, de alguma forma, a dependência nata entre seus membros. Para Pintos a família é um

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sistema que pretende (ou deve pretender) ajudar cada membro a desenvolver uma presença afetiva, responsável e livre no mundo.

A família, nesse sentido, é entendida como um conglomerado de pessoas que, em seu conjunto (e só nestas condições) formam um todo significativo a partir do que é identificada e compreendida como família. Seus membros constituem “essa” família e não outra. Este conjunto, no entanto, não é representado pela somatória de seus membros individualmente e sim pela “multiplicação de individualidades”. Tal conjunto sempre será o resultado de todos os seus elementos e, mesmo na ausência de algum deles, sua identidade continua presente, influenciando a identidade do grupo. Isto faz com que cada membro da família possua um lugar significativo, não intercambiável, próprio e legítimo dentro de sua família. Segundo Minuchin, a família é mais do que a biopsicodinâmica individual de seus membros. Estes se relacionam a partir de certos ajustes que são os responsáveis pela formação de um todo; a estrutura da família. A realidade desta estrutura é diferente da realidade de seus membros individualmente.

Um bom exemplo para compreender isso é o almoço (ou jantar) de Natal, onde todos se reúnem e, apesar das diferenças, comportam-se de forma homogênea, compreendida como certa por cada um, mesmo que, fora daquele contexto, sejam pessoas completamente diferentes.

Dentro do sistema familiar, cada elemento possui algumas características:

a) valor individual: representa o próprio indivíduo como um valor,

b) papel de cada um: é o lugar ocupado por cada membro dentro do grupo familiar de onde derivam suas responsabilidades e respostas familiares. Cada indivíduo pode ser compreendido como um subsistema dentro da família. Tais subsistemas podem ser formados por geração, sexo, interesse ou função. Um mesmo indivíduo pode pertencer a diferentes subsistemas com níveis de poder e habilidades diferenciados. Na mesma família e, ao mesmo tempo, uma pessoa pode ser filha, esposa, mãe e avó. Cada um desses papéis tem exigências próprias que serão cobradas.

c) expectativa do papel: são resultantes de cada papel assumido por seus membros. As expectativas dos papéis são características intercambiáveis, não fixas e é este intercâmbio que fornece dinâmica e saúde ao grupo familiar. Há regras estabelecidas em cada grupo para cada individuo que devem ser suficientemente nítidas, porém não rígidas, para que permitam o desenvolvimento dos papéis de cada indivíduo dentro do sistema. Dos pais se espera o sustento da família, dos filhos, que estudem etc.

Todo grupo familiar funciona a partir de regras próprias que visam organizar a estrutura familiar e caracterizá-la. Um grupo familiar dito “flexível” organiza-se de forma dinâmica e volta-se para a realização individual e grupal.

Quando esta flexibilidade no intercâmbio de papéis não está presente diz-se que o sistema é “rígido” e para se manter, assume um modelo de equilíbrio familiar que tem por objetivo proteger o sistema de sua desintegração. Para tanto há uma redução do espaço pessoal (rigidez funcional) e uma rigidez do espaço integracional (evitando o intercâmbio). Para sobreviver, muitas vezes é necessário suprimir as necessidades individuais e até negar a existência de conflitos importantes que

passam a ser compreendidos como “característica daquela família”. Suas regras visam estabelecer e conter a dinâmica do grupo familiar, agindo de forma a fixar os indivíduos em seu status atual. (P.ex: em uma reunião familiar, para não gerar conflito, os filhos tendem a concordar com o pai ou mãe, mesmo que isso, não seja sua vontade)

A família está em constante processo de transformação e mudança que são os responsáveis pelo desenvolvimento da capacidade de crescimento da mesma permitindo sua continuidade como um grupo. Neste movimento ocorrem diferentes tipos situações que ocasionam problemas temporários com reassentamentos posteriores decorrentes de mecanismos de autorregulação ou autoequilíbrio proporcionando assim um crescimento significativo do sistema. Assim, a família mantém um equilíbrio instável, pois está permanentemente em busca de um sentido que a plenifique. A mudança é a norma, pois uma observação prolongada de qualquer família mostraria grande flexibilidade, constante flutuação e provavelmente mais desequilíbrio que equilíbrio. Os períodos de desequilíbrio alternam-se com períodos de equilíbrio mantendo assim a flutuação dentro de uma amplitude manejável.

Os grupos familiares podem ser maduros ou imaturos conforme sua estruturação e a capacidade de adaptação harmônica apresentada pelos mesmos frente às situações apresentadas.

O envelhecimento representa um período de mudanças que requer adaptações do próprio indivíduo que envelhece e de seu sistema familiar que igualmente envelhece. Os vínculos estabelecidos dentro deste sistema entre idoso e seus membros familiares facilitarão ou não a passagem de ambos por esta etapa da vida. O exercício da autonomia e independência desse idoso nesse contexto está diretamente relacionado com a função exercida por ele neste grupo e com os vínculos resultantes desta interação que podem ser instáveis ou estáveis, eficazes ou ineficazes de acordo com sua estabilidade frente às demandas e suas respostas às mesmas.

Os grupos familiares dos idosos podem ser didaticamente, subdivididos de acordo com seu amadurecimento e funcionalidade:

a) grupos familiares maduros ou funcionais

◦ o família normal5

b) grupos familiares imaturos ou disfuncionais

◦ família tipo clã

◦ família superprotetora

◦ família abandonadora

◦ família distante

Nos grupos maduros ou funcionais, a família responde aos conflitos e situações críticas com certa estabilidade emocional de forma a conseguir gerenciá-los a partir de recursos próprios (conhecidos ou potenciais) e resolver o problema instalado de forma adequada, ou seja, sem desestruturar o equilíbrio na dinâmica funcional da

5 “Normalidade” é aqui compreendida como a possibilidade de dar uma resposta flexível, dinâmica e efetiva diante dos diversos conflitos.

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Texto de Apoio Contextualizando o Idoso e sua Família

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família, pois seus membros são capazes de harmonizar suas próprias funções em relação aos outros de forma integrada, funcional e afetiva.

Para serem consideradas funcionais, as famílias devem proteger a integridade do grupo familiar como um todo e a autonomia funcional de suas partes onde cada membro e cada subsistema devem negociar sua autonomia e sua interdependência mantendo intercâmbios flexíveis.

A família dita “normal” é aquela na qual seus membros são ao mesmo tempo independentes e interdependentes, ou seja, são autônomos no que diz respeito às questões pessoais, mas comprometidos em seus vínculos familiares de forma recíproca. Envolve aceitação recíproca e positiva do outro, além de respeito, conhecimento, compreensão, responsabilidade e estabilidade emocional. Embora acolhedor e flexível, é um sistema firme, capaz de responder às demandas apresentadas de forma correta e adequada sem, no entanto, sobrecarregar excessivamente qualquer um de seus membros. Não se quer dizer aqui, que estas famílias são prontamente capazes de resolver todos os problemas existentes em suas relações e, neste caso, os relacionados a seus membros idosos. O que dizemos é que este grupo tem uma real disponibilidade para fazê-lo, pois estão dispostos a contribuir e a somar esforços e recursos na obtenção de soluções adequadas aos conflitos e necessidades de seus membros utilizando ferramentas como flexibilidade, criatividade e compreensão mútua. Constituem, para os profissionais, recursos estratégicos e terapêuticos, fundamentais e integrados na assistência ao idoso, pois, na prática, são famílias envolvidas, preocupadas na medida certa, colaborativas.

Os grupos familiares imaturos ou disfuncionais são aqueles nos quais não há um comprometimento com a dinâmica da família por parte de seus membros que costumam priorizar seus interesses particulares em detrimento do grupo e não assumem seus papéis dentro do mesmo. Nestes grupos, geralmente, os vínculos afetivos são superficiais e instáveis e existe um grau elevado de agressividade e hostilidade entre seus membros mesmo que não abertamente colocados. Raramente são capazes de resolver situações críticas como uma questão grupal e de forma adequada. Com frequência identificam o problema como responsabilidade única do membro que o desencadeou, lido aqui como um “estorvo”. Como são incapazes de solucionar seus problemas de forma equilibrada, atribuem seu fracasso sobre um ou alguns de seus membros. Por não se adaptarem às situações novas ou readequarem seus papéis frente às mesmas, provocam a desarmonia do grupo familiar que se expressa através de lacunas funcionais, sobreposição e/ou colisão de papéis. Nas situações conflitivas enfrentadas nestes grupos envolvendo pessoas idosas, frequentemente é possível observar uma solução aparente onde, ou o idoso é separado do seu meio (institucionalizado ou isolado do grupo) que o considerada gerador do problema ou, por outro lado, os outros membros da família se afastam para não se envolverem com a questão, uma vez que acreditam que a mesma não lhes diz respeito diretamente. Podem ainda intensificar crises pessoais de forma a terem uma desculpa racional para se liberarem da necessidade de responder às demandas do grupo.

No que se refere à atenção ao idoso, dentro dos grupos familiares considerados imaturos, as famílias podem ser alocadas em quatro grandes tipos:

• Família tipo clã: São os grupos patriarcais ou matriarcais, ou seja, orga-nizam-se em torno de um de seus membros que representa uma figura to-

têmica. São rígidos e atuam em bloco, sem independência ou dinamismo. Sua forma de comunicação é geralmente formal e unidirecional. Embora os conflitos existam, eles permanecem latentes, pois não poderiam con-frontar ou expor o grupo. Frente à presença de demandas relacionadas ao idoso, o clã poderá assumir diferentes posições conforme o papel ocupado pelo idoso em questão. Se ele não for o líder do grupo, este tenderá a simplesmente obedecer às orientações do mesmo. No entanto, se o pro-blema estiver justamente com o líder, o grupo familiar entra em angústia e sente-se ameaçado, pois sua força está no líder, agora debilitado. Nestas circunstâncias, tendem a ocupar-se com a sobrevivência do grupo familiar propriamente dito, essencial para sua própria sobrevivência e não são ca-pazes de responder às demandas do idoso. Nessas circunstâncias ou outro líder “herda” a função anteriormente exercida pelo idoso ou este, mes-mo debilitado, continua respondendo pelo clã. Quando o líder desaparece (morte ou séria incapacidade permanente), o grupo familiar tende a se dispersar.

• Família abandonadora: São grupos que se voltam para os próprios inte-resses e atividades e portanto são incapazes de se relacionarem com os outros membros da família de forma efetiva. Não contam com recursos afetivos, efetivos e emocionais para atender as demandas do grupo fami-liar. Acham que o idoso não é um problema seu e esperam que os outros assumam as questões relacionadas à ele e deem uma solução. São grupos onde, na verdade, nunca foram desenvolvidos laços afetivos reais e de cuja construção o idoso participou.

• Família distante: Difere da anterior por ter a tendência a intelectualizar a questão, sempre apresentando razões lógicas e argumentos válidos que justifiquem a não atenção às demandas do idoso. Estas famílias exterio-rizam certa serenidade que esconde os conflitos de tudo o que não é ma-nifestado ou sentido. Costumam exigir mais do que muitas vezes o idoso é capaz de oferecer, geralmente por uma inadequada interpretação do papel ou da responsabilidade familiar frente a ele. Tendem ainda a exigir que outros resolvam sua situação para que o grupo familiar volte à “nor-malidade”.

• Família superprotetora: São grupos que assumem uma posição de pro-teção extrema deixando de ser efetivos para serem asfixiantes. São oni-presentes, vigilantes e com emoções exacerbadas. Privam seus membros da própria liberdade, responsabilidade e privacidade necessárias para to-marem suas próprias decisões. Os idosos dessas famílias são, geralmente, tratados como crianças a quem se deve vigiar e governar à vontade. Suas atitudes tendem a desvalorizá-lo e inutilizá-lo colocando-o numa posição de menor participação dentro do grupo. Muitas vezes justificam sua ati-tude como sendo “o melhor para ele, pois terá uma velhice mais cômoda e prazerosa”. Além de anularem a capacidade de resposta do idoso (igno-rando sua autonomia), não respondem adequadamente quando solicitados a resolverem as demandas reais do mesmo.

Em qualquer uma destas famílias, ditas imaturas observa-se uma inadequação adaptativa frente às demandas reais e/ou potenciais de seus membros idosos.

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Observa-se assim a necessidade cada vez mais premente de serem estabelecidos esquemas assistenciais mais efetivos e dinâmicos capazes de assistir as demandas crescentes dos idosos e de suas famílias de forma a permitir que ambos encontrem, conjuntamente, uma solução terapêutica mais efetiva e adequada em que o equilíbrio familiar seja a meta melhorando, assim, a assistência ao idoso e diminuindo os custos emocionais da própria família.

A FAMÍLIA DO IDOSO

Quando se fala de família e idosos, devemos distinguir dois tipos de famílias: a de procriação e a de orientação. A primeira é formada pela união de duas pessoas de sexos diferentes que darão origem a uma descendência comum. É muito comum nos dias de hoje os idosos chegarem a serem avós e bisavós de suas famílias de procriação. A segunda refere-se à família em que se nasce e onde normalmente se convive até que se forme a própria família de procriação e na qual os avós e bisavós correspondem às gerações mais velhas.

É importante verificar as características das relações existentes entre os idosos e seus diferentes grupos familiares. Essas relações subdividem-se em intrageracionais (entre iguais, ou seja, entre idosos) e intergeracionais (entre gerações diferentes). A primeira diz respeito às relações conjugais e fraternais (irmãos) e a segunda às relações entre pais e filhos e avós e netos.

As relações conjugais representam a essência da relação familiar, pois são a partir delas que se iniciam as famílias considerando a existência dos filhos, responsáveis por garantir as gerações descendentes.

As relações fraternais recebem maior importância nos primeiros estágios de formação do indivíduo (infância e adolescência). Nesta fase há uma maior convivência entre os irmãos propiciada pela convivência na própria família. Com o crescimento dos mesmos e sua consequente saída dos lares (por casamento ou busca de uma vida mais independente) esta convivência tende a diminuir em virtude de novas responsabilidades e contatos assumidos externamente. Num terceiro momento, geralmente relacionado à fase madura e à velhice, tende a haver um reencontro entre irmãos para solucionarem problemas comuns como divisão de herança ou o cuidado de pais doentes/dependentes.

Nos dias de hoje, no entanto, a maioria dos idosos apoia-se, quando necessário e existente, em suas famílias de procriação e dadas às alterações que vêm ocorrendo nestas estruturas, atenção especial deve ser dada a este aspecto.

As relações intergeracionais estão presentes nas famílias de procriação e, dadas suas diferenças de papéis sociais, diferenciam-se das anteriores (famílias de orientação) pela presença de desigualdade de status entre as pessoas.

A primeira relação a ser citada é a existente entre pais e filhos. Esta relação possui dinâmica própria que caminha geralmente da dependência total para a independência e posteriormente para a interdependência ou dependência total novamente como forma de compensação vital. Tais relações variam entre sexos e culturas (em especial quando comparamos oriente e ocidente). Geralmente cabe às filhas o papel de cuidadoras de seus pais doentes e aos filhos a responsabilidade pela tomada de decisões e apoio financeiro. O nível socioeconômico também interfere.

Em famílias de nível socioeconômico menos favorecido, há maior probabilidade de recebimento de auxílio familiar do que nas classes média e alta. Apesar destas considerações, o número de idosos institucionalizados, no Brasil, é inferior a 1% da população idosa.

Independente do volume de relações é a qualidade apresentada pelas mesmas que parece ser mais significativa para os idosos. Isto é representado pelo potencial de relação de ajuda existente na família e que concretamente é reconhecido pelo idoso em caso de necessidade.

O segundo tipo, relação intergeracional, é representado pelos avós e netos. Este tipo de relação tem, nos dias de hoje, maior importância quantitativa. A quantidade de avós, cada vez mais presentes, em virtude do envelhecimento populacional, proporciona maiores oportunidades de relações. Disto advêm os chamados “conflitos geracionais” que são decorrentes das rápidas mudanças sociais observadas nas últimas décadas de onde surgiram objetivos, muitas vezes incompatíveis, entre as gerações. Tais “conflitos” foram muito evidenciados pela mídia, em especial nas décadas de 60 e 70, porém seus pressupostos não são necessariamente verdadeiros. A existência de conflitos entre pais e filhos geralmente separados por vinte ou trinta anos não se estende necessariamente aos avós e netos, separados por sessenta ou setenta anos. O papel de avô é mais livre que o papel de pai ou de filho e a sociedade ainda não o delimitou especificamente. Algumas pesquisas demonstram que estas relações entre avós e netos podem ser muito gratificantes e significativas. Há, no entanto, alguns estereótipos que traduzem o avô como um ser velho e limitado (já discutido anteriormente nesse curso).

Estudos realizados por pesquisadores espanhóis têm demonstrado que os fundamentos das relações positivas entre avós e netos baseiam-se na liberdade e flexibilidade. Situam ainda os avós como âncoras situacionais, pois são capazes de transmitir às gerações mais jovens além da história social geral, a da própria família, proporcionando-lhes assim referências sociais mais sólidas. Segundo Knobel(2), ser adulto é aprender da experiência dos mais velhos, pois a vida não começa com cada pessoa, é uma continuidade infinita, útil e muito grata. Reconhecer virtude e defeitos dos mais velhos é a forma de aproveitar a experiência e aprender e desta forma a contribuir para o engrandecimento moral que auxilia a humanidade a progredir.

A interação com familiares colaterais (primos, tios, tias, sobrinhos) geralmente depende da proximidade, preferência e disponibilidade geral da família nuclear. Frequentemente a família materna é emocionalmente mais íntima que a linhagem paterna. Eles podem ser um recurso de reserva da família para reposição em seus vazios ou perda de suas relações primárias, para solteiros ou idosos sem filhos.

Idosos parecem frequentemente estar vinculados a um sobrinho ou sobrinha favorita com quem compartilha e mantém alguma relação familiar e que, de alguma forma, serve como um substituto para o filho que ele nunca teve. Familiares colaterais distantes tornam-se importantes para alguns idosos quando eles buscam estabelecer seu lugar na estrutura familiar e fluxo geracional.

Os familiares são, portanto, a origem de grande parte do suporte material e emocional através de gerações. As constantes mudanças quanto à suplementação e demandas entre eles ajudam a estabelecer uma sólida reciprocidade confortável entre dar e receber. Também frequentemente pensa-se nos idosos unicamente como receptores.

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Isto nem sempre é verdadeiro, pois com o aumento do número de idosos e os avanços relacionados com a promoção da saúde no envelhecimento e com as intervenções assistenciais, verifica-se que, com frequência eles provêm suporte emocional e financeiro, cuidado para as crianças além de continuidade cultural e religiosa em muitas famílias. Em nosso meio, especificamente nas regiões Norte e Nordeste, os idosos são os responsáveis pelo sustento das famílias.

Observa-se ainda, o aumento progressivo no número de idosos fragilizados, com múltiplos problemas de saúde, sendo estes, em muitas ocasiões, cuidados por outros idosos. Em São Paulo, por exemplo, cerca de 40% dos cuidadores de idosos são igualmente idosos. Com a saída dos mais jovens das casas, as famílias de três ou quatro gerações coabitantes tendem a diminuir. Mudanças na mortalidade, fertilidade e casamentos e a presença cada vez mais frequente de divórcios e famílias de estilo alternativo afetam o balanço entre necessidades e a disponibilidade de auxílio real existente entre os membros familiares.

Algumas reflexões sobre as peculiaridades relacionadas às famílias que contam com membros idosos devem ser ressaltadas.

Um primeiro dado a ser considerado é a maior sobrevida feminina (em torno de oito anos) frente à masculina ocasionando assim a presença, na sociedade, de um maior número de viúvas. Esta maior sobrevida, no entanto, não corresponde necessariamente à melhor qualidade de vida. Litvak(3) ressalta que os problemas sociais, econômicos e de saúde dos idosos são, em grande parte, os das mulheres idosas, pois estas vivem mais que os homens e ao se tornarem viúvas, têm maior dificuldade em contrair novo matrimônio. Alem disso geralmente apresentam menores níveis de instrução e renda e maior frequência de queixas de saúde. Essas idosas, com frequência passam a residir com um dos filhos (geralmente filhas) formando assim grupos trigeracionais. Em muitos países, a prevalência de idosos residindo sozinhos é muito expressiva gerando a necessidade de uma reorganização social e assistencial. Isso também vem sendo progressivamente observado em nosso meio.

Há que ressaltar ainda, que a modificação que vem ocorrendo em nosso painel socioeconômico tem levado muitos filhos, em decorrência de questões financeiras, a retornarem para a casa de seus pais, em geral acompanhados de suas novas famílias. De uma forma ou outra observamos em muitas famílias que as avós passam a contribuir de alguma forma no orçamento doméstico e no cuidado das gerações mais jovens uma vez que as mulheres estão cada vez mais inseridas no mercado produtivo.

Ângelo(4) ressalta que, ao se visualizar a história da humanidade, verifica-se que, tradicionalmente, as famílias eram responsáveis por prover o cuidado das crianças, dos doentes, dos idosos mais debilitados ou muito longevos e nas situações de morte. A participação das mulheres na provisão destes cuidados era predominante. Atualmente, no entanto, a família enquanto instituição social está passando por um processo de redefinição. A progressiva inserção da mulher no mercado de trabalho retirou do seio familiar quem, até então, na maioria das vezes, era responsável pela realização das atividades de cuidado referentes às crianças e aos idosos. Elas passaram, também, a chefiar muitas famílias. Tais fatores associados ao expressivo aumento do número de separações e às migrações vêm alterando o perfil de poder e de tomada de decisões dentro das famílias que passam atualmente por uma construção de modelos alternativos.

É igualmente importante saber como as mudanças de sentimentos no contexto familiar afetam a saúde. É usualmente aceito que relacionamentos familiares são desejáveis para os idosos promoverem um senso de continuidade. A qualidade, significado e importância das relações com os membros familiares são fatores significantes na manutenção da moral e satisfação de vida. O mais importante é que cada membro da família seja aceito e compreendido como significante no sistema familiar.

Até muito recentemente, a figura do denominado “cuidador” centrava-se quase que exclusivamente nos elementos familiares que se disponibilizavam, voluntariamente ou por exclusiva ausência de outras opções, a atender as demandas emanadas por seus parentes idosos. Frente às diferentes demandas apresentadas, estes cuidadores, muitas vezes pertencentes às gerações mais novas, passavam então a atender aqueles que no passado lhes proporcionaram proteção, ajuda e cuidado.

Nos últimos 30 anos, muitos estudos e planos tem surgido sobre o histórico e tolerante papel da família como cuidadora de seus membros idosos. Atualmente, nos EUA, as famílias provêm, 80 a 90% dos cuidados aos idosos residentes na comunidade. Numericamente, 2,7 milhões de filhos respondem pelo cuidado de seus pais idosos incapacitados, contudo, muitas esposas, quando existentes, assumem esta função. Isso também é observado em nosso meio.

Historicamente o suporte familiar e o cuidado do idoso têm sido sempre voluntário ou conjuntural, neste caso em decorrência da inexistência de outras alternativas. Usualmente era esperado que um filho permanecesse na casa dos pais quando eles envelhecessem. Filhos únicos e mulheres não casadas são, ainda hoje, particularmente vulneráveis a assumir esta função.

Quando um cuidador está disponível, a carga sobre ele pode ser muito significativa. Esposas idosas frequentemente encontram-se disponíveis, mas, em muitas ocasiões, não são fisicamente capazes de atender a demanda constante de cuidados de seus cônjuges. É importante que outras opções assistenciais sejam oferecidas às famílias com o objetivo de adequar a assistência às necessidades existentes.

A institucionalização do idoso pode ser decorrente da inexistência de serviços suficientes, capazes de assistir as necessidades tanto dos idosos quanto de seus membros familiares. Parece que a maioria das famílias assiste aos idosos pelo maior período de tempo e tão bem quanto possível, porém, quando a institucionalização é necessária, os cuidadores alegam terem chegado ao fim de suas capacidades assistenciais. O planejamento programado para a manutenção da saúde dos cuidadores e das famílias dos idosos necessitados tem sido frequentemente negligenciado.

Enquanto instituição social, a família é, segundo nossa Constituição, legalmente reconhecida como responsável pelo provimento dos cuidados necessários a seus membros idosos (ver Estatuto do Idoso). Tal conceito é tão presente em nossa sociedade que chega, muitas vezes, a ser inquestionável. Esta situação pode ser com frequência observada nas práticas hospitalares ou ambulatoriais onde orientações sobre cuidados são fornecidas a elementos familiares sem antes ser verificada a real capacidade dessa família, enquanto unidade, ou deste familiar, enquanto cuidador, em realmente executá-las ou mesmo em compreender o processo de transformação ocorrido na vida do idoso por quem agora é responsável.

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Frente às transformações nas estruturas familiares, questionamentos quanto ao impacto causado pela presença de idosos com limitações importantes na dinâmica de funcionamento das famílias bem como das consequências disto no equilíbrio da estrutura familiar, passam a ser cada vez mais presentes. Supõe-se que, em condições de disfuncionalidade6, as famílias poderiam ter sua capacidade assistencial prejudicada e assim não conseguiriam prover adequadamente o atendimento sistemático das necessidades de cuidados de seus parentes idosos. A capacidade de identificar estas demandas de forma adequada pode estar prejudicada e consequentemente o reconhecimento de quais cuidados se fazem necessários e quem pode, mais apropriadamente, realizá-los.

Em algum momento do ciclo vital da família, ela se deparará com a situação de ter de optar por alguma das seguintes alternativas:

a) incorporar o idoso à casa de algum dos filhos;

b) institucionalizar o idoso;

c) deixar o idoso vivendo só;

d) disponibilizar alguém da própria família ou contratar outra pessoa para cuidar do idoso.

Soma-se a isto o fato de que o idoso não é, necessariamente, completamente incapaz de decidir sobre seu próprio destino. Ao contrário, desde que preservadas suas funções cognitivas, é uma pessoa que manifesta ou pode manifestar suas próprias expectativas frente à vida que lhe resta e tem o direito de fazê-lo (autonomia).

Em certas circunstâncias o idoso acaba sendo o responsável por denunciar uma problemática familiar existente previamente como a presença de conflitos ou disfunções familiares.

A atuação junto ao idoso e seus familiares pode ser compreendida sob diferentes aspectos. Num primeiro momento adotou-se uma atitude, denominada “gerocentrismo” onde o idoso era o centro da atenção dos profissionais que o assistiam, geralmente baseados em interpretações biofisiológicas do envelhecimento. Não destacava ou enfatizava a realidade de que este idoso não viveu e nem vive de forma isolada de seu grupo familiar e vice-versa. Estes são, sem dúvida, os pressupostos do desenvolvimento psicoafetivo do idoso e de sua família. As intervenções visavam unicamente o bem estar do idoso sem, necessariamente, procederem à análise do conjunto tornando-se ineficazes. Infelizmente este modelo ainda se repete em muitos serviços em nosso meio.

Num segundo momento, transferiram os esquemas de atuação já utilizados com crianças, adolescentes e até adultos para as famílias com idosos o que pode ser, também, comprometedor, pois, no caso dos primeiros, há uma expectativa de papel já estabelecida e um papel ou lugar já determinado no contexto familiar. A estrutura, na família dos idosos, é elaborada por si mesma e é a responsável pela dinâmica de funcionamento familiar instalado. Os idosos foram, na maioria das vezes, os protagonistas das estruturas instaladas nesses grupos familiares e, agora, são os beneficiários ou as vítimas da mesma. As relações e vinculações aí estabelecidas 6 Uma família disfuncional é aquela que não cumpre suas funções de acordo com a etapa do ciclo vital que se encontra e em relação às demandas que ocorrem em seu entorno.

derivam deles mesmos isto é, as relações e reações familiares na velhice correspondem à maneira como essas famílias se estruturaram funcionalmente.

É certo que, em algum momento da vida, os idosos acreditaram que suas famílias seriam companheiras e forneceriam o suporte necessário em sua velhice e é quando esta chega que os mesmos confirmarão ou não tais expectativas. Devemos compreender então que a dinâmica do sistema familiar fica afetada com a alteração funcional de um de seus membros e necessita ser reacomodada bem como reacomodar o membro acometido. Isto, com certeza, demandará certo tempo e pode ser considerada uma reação “normal” ou esperada. Por outro lado, quando esta “desacomodação” torna-se crônica vivencia-se uma situação de disfuncionalidade familiar relacionada a seus vínculos onde a desacomodação do sistema afeta diretamente as possibilidades individuais de resolução da própria desacomodação e vice-versa (o idoso afeta o grupo familiar e esse, também, afeta o idoso) fechando um ciclo que tende a se perpetuar.

Neste contexto, admite-se a família como unidade de diagnóstico e terapêutico a partir do reconhecimento de que a doença surge no seio da mesma e é diretamente influenciada por sua organização e funcionamento. Enquanto grupo, é ainda responsável pela origem da maioria das necessidades de seus membros.

A ausência deste tipo de avaliação pode gerar consequências importantes (tais como negligência e/ou maus tratos aos idosos fragilizados) e ainda, a completa desestruturação do equilíbrio familiar, o que em última análise diminui ainda mais a capacidade de assistência destinada ao idoso, fechando assim um ciclo que pode vir a tornar-se infindável.

Em decorrência do desenvolvimento da ciência médica, o cuidar mudou de lugar, passando dos lares para as instituições e tendo por consequência o rompimento do fluxo de conhecimento sobre as experiências assistenciais que passavam de uma geração a outra. O cuidar foi fragmentado entre o domínio profissional e o não profissional comprometendo, desta forma, a autonomia e a capacidade das famílias em assistir seus membros doentes. As instituições passaram a ser as responsáveis por prover este cuidado. A assistência à saúde em geral e a destinada aos idosos em especial, vem sendo reformulada. Urge deslocar o olhar dos profissionais de um enfoque mais individual para um olhar mais ampliado incluindo a família como um dos objetivos desta assistência.

SAÚDE DA FAMÍLIA

Segundo Elsen(5), o profissional de saúde enfrenta uma controvérsia ao cuidar ou se propor a cuidar de famílias. Essa diz respeito à compreensão da existência ou não de uma saúde familiar como entidade distinta da saúde dos indivíduos, ou seja, a saúde da família não é a somatória da saúde dos indivíduos que a compõe, é possuidora de um “estado de saúde” próprio, único e distinto.

Faz-se necessária uma definição operacional de família que, compartilhada com os outros elementos da equipe assistencial possa contribuir na objetivação de propostas de ações assistenciais efetivas e eficazes. Essa necessidade decorre do fato desta temática suscitar em cada profissional, (que também são pessoas) reflexões acerca de experiências pessoais carregadas de significados cognitivos e afetivos que resultam numa representação própria de família (real ou ideal) baseada em juízos, opiniões, afetos, emoções e expectativas.

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Embora muitas sejam as definições existentes, optamos aqui, pela proposta de Whall(6) para quem “família é um grupo autoidentificado de dois ou mais indivíduos cuja associação é caracterizada em termos especiais que pode ou não estar relacionado a linhas de sangue ou legais, mas que funcionam de modo a se considerarem uma família”. Nesta definição destaque é dado aos componentes interação, compromisso e afetividade como essenciais na compreensão e no desenvolvimento do trabalho envolvendo famílias.

Para Friedman(7) a saúde da família relaciona-se com o funcionamento e a adaptação familiar. A saúde de cada membro familiar individualmente afeta o funcionamento da família da mesma forma que o funcionamento da família afeta os membros individualmente. Assim, a avaliação da saúde da família envolve simultaneamente a avaliação dos membros familiares individualmente e da família como um todo.

A família saudável se une por laços de afetividade exteriorizados por amor e carinho, tem liberdade de expor sentimentos e dúvidas, compartilha crenças, valores e conhecimentos. Aceita a individualidade de seus membros, possui capacidade de conhecer e usufruir seus direitos, enfrenta crises, conflitos e contradições, pedindo e dando apoio a seus membros e às pessoas significativas. Atua conscientemente no ambiente em que vive, interagindo dinamicamente com outras pessoas e famílias em diversos níveis de aproximação, transformando e sendo transformada. “Desenvolve-se com experiência, construindo sua história de vida”.

Ângelo definiu saúde da família “como a capacidade plena de funcionar como um organismo vivo, refletida em sua capacidade de interagir, em comprometer-se com as demandas do organismo família e em agir em seu benefício”. O conhecimento da funcionalidade de uma família permite acessar sua dimensão saúde bem como conhecer seus pontos vulneráveis permitindo aos profissionais direcionarem sua assistência de forma a atingirem o seu conjunto.

Parece consenso que função e funcionamento familiar estão de alguma forma relacionados com a saúde da família. Quando falamos de famílias de idosos devemos lembrar que as funções da família tendem a se modificar para responder às necessidades especiais dos mesmos que agora podem estar mais fragilizados. Estas modificações relacionam-se à garantia de satisfação das necessidades físicas e de conforto além de prover suporte emocional ao idoso, manutenção de uma ligação entre a família e a comunidade, a instilação de um senso de significado de vida e o manejo das crises. A dinâmica existente entre os membros familiares pode ter efeitos positivos ou negativos sobre seus membros idosos. Assim, a avaliação da unidade familiar do idoso deve explorar alguns aspectos:

a) Como cada membro da família se sente em relação ao idoso e vice-versa?

b) Como ocorre a comunicação e interação entre os membros familiares e o idoso?

c) Que atitudes, valores e crenças estão presentes nestas relações?

d) Que ligações existem entre a unidade familiar e seu entorno?

As relações entre os idosos e seus familiares são influenciadas pelas relações que foram construídas durante toda uma vida e são significativamente importantes na construção de uma rede de suporte e na manutenção de uma família saudável nos anos mais tardios.

A disfunção familiar nas famílias com idosos pode ocorrer em decorrência do histórico familiar ou em função de eventos mais recentes (divórcio, morte de um membro da família, aumento da dependência do idoso, doença no cuidador, etc). Quando da presença de disfunções familiares, as famílias dos idosos podem:

a) serem menos capazes de atender as necessidades físicas, emocionais, socioeconômicas e espirituais de seus parentes;

b) serem muito rígidas em seus papéis, responsabilidades e opiniões;

c) serem incapazes ou apresentar má vontade para receber ou obter auxílio de outros;

d) apresentarem membros com psicopatologias ou distúrbios de conduta;

e) serem inexperientes ou ineficazes no manejo das crises;

f) serem ineficazes ou inapropriadas em sua comunicação e comportamentos

Compreende-se, assim, ser cada vez mais necessário; na assistência aos idosos, a compreensão que esses estão inseridos num contexto familiar em um contínuo processo de interação. A identificação e intervenção nas demandas isoladas dos idosos, sem considerar seu contexto familiar, podem mostrar-se ineficazes. Torna-se então, cada vez mais necessário, a existência de ferramentas que possam facilitar ou auxiliar os profissionais envolvidos na assistência aos idosos a ter uma visão mais globalizada da situação ora apresentada. Para este fim, alguns instrumentos foram desenvolvidos e vem se aperfeiçoando e, serão apresentados, na próxima aula.

REFERÊNCIAS

(1) Rolla EH. El ciclo de la vida de la familia. Atualidade Psicológica, , Buenos Aires; 1980; 54:12-14.

(2) Knobel M.Orientação familiar. Campinas, Papirus, 1992.

(3) Litvak J. El envejecimiento de la población: un desafío que va más allá del año 2000. Bol Of Sanit Panam. 1994; 109(1):1-5.

(4) Ângelo M. Com a família em tempos difíceis: uma perspectiva de enfermagem. São Paulo, 1997. Tese (Livre-Docência). Escola de Enfermagem. Universidade de São Paulo.117p.

(5) Elsen I. Desafios da enfermagem no cuidado de famílias. In: Bub LIR et.al. Marcos para a prática de enfermagem com famílias.Florianópolis. Ed UFSC. 1994. (Série Enfermagem REPENSUL). Cap.2. p-61-77

(6) Whall AL. The family has the unit of care in nursing: a historical review. Public Health Nursing. 1986; 3(4): 240-9.

(7) Friedman MM. Family nursing: theory and practice.3ª ed., Norwalk, Appleton-Lange, 1992.

Duarte YAO. Família: rede de suporte ou fator estressor. A ótica de idosos e cuidadores familiares. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem – Universidade de São Paulo. 2001.

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Na última aula nós pudemos discutir alguns tópicos relacionados à família. Iniciamos com uma definição de família e uma conversa sobre as famílias que conhecemos, com as quais convivemos e com as quais trabalhamos. Além disso, conversamos sobre as mudanças que vem ocorrendo na estrutura das famílias e o impacto de tais mudanças no cuidado de seus membros mais dependentes, incluindo, muitas vezes, pessoas idosas e, finalizamos, discutindo como o Estatuto do Idoso aborda a questão da responsabilidade pelo cuidado à pessoa idosa.

Como atividade não presencial, vocês devem ter lido o texto de apoio sobre “famílias”. É sobre esse texto que vamos conversar agora, pois ele será a base de nossas atividades no dia de hoje.

Para o desenvolvimento dessa aula, proponho a seguinte dinâmica:

1. Inicialmente, verificar se a atividade de leitura do texto foi realizada. Se sim, passar para o passo seguinte, se não, dar 30’ para a leitura do texto em sala de aula.

2. Em pequenos grupos, fazer uma síntese do que foi compreendido sobre organização familiar (estrutura, desenvolvimento e adaptação) e funcionamento familiar (grupos familiares funcionais ou maduros e grupos familiares disfuncionais ou imaturos) exemplificando cada item. (atividade 1)

3. Em plenária, conversar sobre a atividade 1 explicitando as principais dúvidas encontradas

4. Em seguida, o professor fará uma explanação sobre o texto de apoio onde os alunos deverão participar esclarecendo suas dúvidas e exemplificando com situações vivenciadas no seu dia a dia de trabalho.

5. Após finalizarmos essa conversa teremos mais claro em nossas mentes como as diferentes famílias se organizam e como funcionam. Agora, pensando no contexto familiar e em nossa atuação profissional junto às famílias vamos, em pequenos grupos, conversar sobre algumas crenças existentes, ora limitantes, ora facilitadoras. (atividade 2)

6. Em plenária, sintetizar a discussão dos grupos a postura profissional para a atuação com famílias.

7. Atividade não presencial - Vocês receberão texto de apoio sobre “Relação de Ajuda” que deverá ser lido até a próxima aula onde será discutido.

PARTE 2Secretaria Municipal da Saúde

Coordenação de Gestão de Pessoas Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo II - Aula 2Atividade 1

Família e Envelhecimento

Aluno(a): .........................................................................................

Faça uma síntese sobre:

a) Organização Familiar (estrutura, desenvolvimento e adaptação)

b) Grupos familiares maduros ou funcionais:

c) Grupos familiares imaturos ou disfuncionais:

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo II - Aula 2Atividade 1

Família e Envelhecimento - Crenças sobre as Famílias

Aluno(a): .........................................................................................

Discuta com seu grupo as consequências de cada crença colocada a seguir:

CRENÇAS LIMITADORAS:

• Uma “boa” família responde de maneira “certa”

• O profissional de saúde é um agente de mudanças e é o arquiteto da mu-dança familiar

• Mudanças ocorrem mediante interação instrutiva

• O profissional de saúde deve ser capaz de responder a todas as questões da família

CRENÇAS FACILITADORAS:

• A doença é um evento da família

• O profissional de saúde não é um agente de mudanças pois a mudança é mútua e recíproca

• É decisivo criar um contexto para mudança: interação colaborativa

• Cada pessoa envolvida na experiência de doença pode ter uma perspecti-va única sobre o que está acontecendo e deve acontecer

• O profissional de saúde desenvolve conversas terapêuticas e convites à reflexão

Em plenária, vamos conversar, em conjunto, sobre as consequências de tais crenças na organização de nosso trabalho junto às famílias.

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TEXTO DE APOIO

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Uma “relação de ajuda” pode ser entendida como uma ligação profunda e significativa entre a pessoa que ajuda e a que é ajudada, ligação essa que ultrapassa as simples trocas funcionais mantendo um prisma de crescimento e evolução. Relaciona-se à execução de atividades de cuidado que tem por princípio o respeito e a liberdade, ou seja, tem por finalidade auxiliar a pessoa que é ajudada a restabelecer e manter sua autonomia.

Neste contexto “cuidar” é compreendido como “ajudar a viver”. Este cuidado pode ser interno ou externo, ou seja, posso ajudar a mim mesmo respondendo pessoalmente pelos cuidados usuais (cuidar-se) ou, por outro lado, ser ajudado por alguém integral ou parcialmente.

No transcorrer de sua existência o ser humano experiência diversas situações de ajuda onde ora somos ajudados (cuidados), ora nos ajudamos (autocuidado) e ora ajudamos (cuidamos) outras pessoas. Compreender isso nos remete a outro conceito, o de “ajuda compartilhada” que envolve reciprocidade e solidariedade, onde todos necessitam uns dos outros e, a troca relacionada ao cuidado prestado, não gera sentimentos de dependência.

Aquele que se propõe a ajudar necessita ter adquirido experiência pessoal, relacionada ao processo de viver, às diferentes etapas da vida e a diferentes relações sociais a partir da convivência com diversos grupos de indivíduos. Nem sempre isto é permitido a algumas pessoas, pois, às vezes, essas se vêem frente a situações de ter de ajudar outros sem nem sequer terem ultrapassado algumas etapas da vida adulta que lhes possibilitaria conjugar experiência e formação.

Esse texto foi elaborado com o propósito de suscitar reflexões e discussões acerca do que se faz necessário para a construção de uma relação de ajuda, peça fundamental no desenvolvimento, com qualidade, das atividades dos profissionais de enfermagem. Os pressupostos colocados a seguir basearam-se nas considerações de alguns autores sobre a construção de relações de ajuda (Carkhuff,1977; Lazure, 1994; Bérger, 1996; Miranda & Miranda, 1996).

PRIMEIROS PASSOS

A primeira consideração a ser feita é que os profissionais envolvidos com atividades de ajuda devem desenvolver habilidades específicas. Embora sejam

CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO DE AJUDA

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elementos fundamentais, interesse e a boa vontade não são suficientes isoladamente. Não basta também apenas “saber” ou “saber fazer” para o desenvolvimento de um “bom” cuidado. É necessário “saber-ser” para si mesmo e para a pessoa idosa a quem se destina o seu olhar.

Devemos reconhecer que, em muitas ocasiões, ajudamos porque isto nos faz bem, porque nos sentimos especialmente lisonjeados quando sabemos que somos responsáveis pelo bem estar de alguém ou porque utilizamos esses momentos para um fortalecimento próprio onde exercemos nosso “poder” sobre o outro porque nos consideramos detentores do saber (e, portanto do poder) frente àqueles que nada sabem e que necessitam de nosso auxílio.

Conhecer-se é fundamental. Compreender que muitas das dificuldades que sentimos para lidar com os problemas, medos e sofrimentos das pessoas idosas ocorrem porque, talvez, tenhamos as mesmas dificuldades para lidar com os nossos próprios medos e com o nosso próprio sofrimento.

Conhecer-se não é fácil, pois geralmente nos coloca à frente de questões que não queremos ou gostamos de confrontar. Tememos sermos rejeitados, julgados, cobrados, pegos em situações desfavoráveis, correr riscos ou falharmos e termos de admitir essas falhas. Tememos, sobretudo, tomar consciência de nosso verdadeiro “eu” e de descobrir ser necessário realizar mudanças em nossos comportamentos e em nossas vidas.

Somente a partir deste conhecimento pessoal, podemos nos mover no sentido de compreender o outro e, daí, tentar estabelecer uma relação de ajuda. É necessário compreender que ajudar é “dar de si” pois envolve doação (de tempo, competência, saber, interesse), capacidade de escuta e compreensão.

Situações de emergência que possam por em risco a vida da pessoa idosa e mesmo as situações de substituição, onde o profissional faz pelo idoso o que ele está temporária ou permanentemente incapacitado para realizar são exemplos de ações que não estão em conformidade com a definição e com as finalidades da relação de ajuda.

Nas relações de ajuda os profissionais auxiliam as pessoas idosas a enfrentar e superar uma situação de crise com os recursos que as mesmas dispõem. Tais situações manifestam-se de diferentes maneiras, mais ou menos explícitas e/ou penosas. A capacidade e o limite de cada idoso, é inerente ao mesmo e foram construídos frente às suas experiências pessoais; cabendo ao profissional a habilidade em identifica-las, reconhecê-las e valorizá-las.

Muito embora toda relação de ajuda envolva comunicação nem toda comunicação é, necessariamente uma relação de ajuda. Quando o profissional pergunta à pessoa idosa sobre dados precisos (quantas vezes urinou no dia, que medicações costuma tomar, etc) ela vai lhe dar uma resposta precisa (desde que tenha capacidade de ouvir e compreender). Nesse caso, as informações estão apenas circulando.

A segunda consideração a ser feita é a compreensão de que, em uma relação de ajuda, o idoso é o principal detentor dos recursos para a resolução das dificuldades ou necessidades apresentadas. O estabelecimento de uma relação de ajuda possibilita a ele identificar, sentir, saber, escolher e decidir sobre as ações que o

envolvem (autonomia). Ao profissional cabe auxiliá-lo a descobrir ou redescobrir essas capacidades e potencialidades redirecionando suas energias para um novo olhar sobre si mesmo que, frente às circunstâncias apresentadas pode não existir ou estar muito deteriorado.

A principal ênfase da relação de ajuda é a dimensão afetiva do problema, pois, muitas das desadaptações não ocorrem por falta de conhecimento, mas sim por insatisfações emocionais. A relação de ajuda busca auxiliar a pessoa idosa a compreender a si mesma, a fazer escolhas significativas de forma independente e a fazer com que suas relações pessoais sejam mais satisfatórias. A relação de ajuda visa, sobretudo, a melhoria da autoestima, o alcance da autorrealização, a promoção de conforto psicológico e o fornecimento do apoio necessário para que a pessoa idosa seja capaz de se ver face a face com suas dificuldades existenciais.

Dessa forma a relação de ajuda visa auxiliar a pessoa idosa a:

a) ultrapassar uma situação-limite;

b) resolver uma situação atual ou potencial;

c) encontrar um funcionamento pessoal mais satisfatório; aumentando sua autoestima e sua segurança e diminuindo sua ansiedade ao mínimo;

d) desenvolver atitudes positivas frente às suas (in) capacidades;

e) melhorar sua capacidade de comunicação e sua relação com os outros;

f) identificar um sentido para sua existência.

g) manter um ambiente estimulante no que se refere aos níveis biopsicossocial.

Para se desenvolver uma relação de ajuda algumas capacidades são necessárias ao profissional:

• Ser preciso e objetivo no que lhe diz respeito e no que diz respeito aos outros;

• Ser capaz de respeitar-se e de respeitar aos outros;

• Ser congruente consigo mesmo e com a pessoa de quem cuida;

• Ser empático;

Assim, o profissional deve: reconhecer seus valores pessoais; ser capaz de analisar suas próprias emoções; estar apto a servir de modelo e a influenciar outros; ser altruísta; desenvolver um alto senso de responsabilidade em relação a si mesmo e aos outros; ser ético. Essas características auxiliarão a formação de interações mais abertas e significativas com os idosos e seus familiares, mantendo atitudes positivas visando o alcance da autonomia em vez do controle.

Para o estabelecimento de uma relação de ajuda é necessária uma definição clara dos objetivos das duas partes envolvidas – profissional e pessoa idosa.

Cabe ao profissional:

• identificar claramente os problemas vivenciados pelo idoso;

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• estabelecer conjuntamente com idoso/ família objetivos concretos e per-tinentes;

• avaliar juntamente com o idoso suas capacidades e suas limitações;

• auxiliá-lo na escolha dos meios para ajudá-lo a atingir seus objetivos le-vando em consideração seu sistema de valores.

• Cabe à pessoa idosa/família:

• participar ativamente na definição dos objetivos;

• trabalhar um elemento de cada vez;

• iniciar pelo problema atual ou o mais relevante.

CARACTERÍSTICAS NECESSÁRIAS PARA CONSTRUIR UMA RELAÇÃO DE AJUDA

CAPACIDADE DE ESCUTA

Escutar não é sinônimo de ouvir. Escutar é constatar através do estímulo do sistema auditivo; é um processo ativo e voluntário onde o indivíduo é impregnado pelo conjunto de suas percepções externas e internas. Na relação de ajuda, escutar representa um instrumento para compreender a pessoa idosa de forma a poder identificar, com precisão, as intervenções necessárias. Ao escutar a pessoa idosa o profissional pretende:

• mostrar-lhe sua importância;

• permitir que o idoso identifique suas emoções;

• auxiliá-lo na identificação de suas necessidades e na elaboração de um planejamento objetivo e eficaz para atendê-las.

• Para se escutar eficazmente o profissional deve:

• desejar estabelecer uma relação mais estreita com o idoso/família;

• escolher um local calmo que propicie a escuta;

• manter-se a uma distância confortável do idoso, mas que permita boa vi-sualização de ambos os lados

• procurar compreender não só a linguagem verbal, mas principalmente a não verbal do idoso/família;

• evitar julgamentos baseados em valores pessoais;

• reformular juntamente com o idoso/família o que o mesmo referiu vali-dando sua compreensão;

• respeitar, compreender e interpretar o silêncio da pessoa idosa.

O silêncio pode traduzir a intensidade da procura da resposta considerando tudo que a precedeu; pode significar o medo ou o sofrimento que impedem a elaboração de palavras ou ao contrário uma alegria tão intensa que também não pode ser traduzida por palavras. É a escuta do silêncio que exige a presença mais intensa e mais verdadeira do profissional, pois isso pode levá-lo ao encontro real do que o outro vive de mais profundo.

Silêncio não é sinônimo de vazio nem ausência de relação; costuma ser rico em significado. Para ser traduzido e transformado em instrumento de ajuda, deve ser compreendido, respeitado, acolhido e nunca, prematuramente interrompido.

Escutar não é memorizar as palavras emitidas pelo idoso, é compreendê-lo, ver, apreender e sentir o contexto e os sentimentos relacionados com o conteúdo das mensagens emitidas.Exige grande empenho, vigilância sensorial, intelectual e emocional, o que consome muita energia e requer preparo e amadurecimento. O profissional que realmente escuta o idoso reflete atentamente sobre o significado de suas mensagens (verbais e não verbais) buscando o estabelecimento de intervenções apropriadas às necessidades identificadas.

ESCUTAS QUE NÃO AJUDAM

• Escuta inadequada: O profissional está mais atento às próprias reflexões que as do idoso, está distraído, tem “pressa” em responder ao idoso ou identifica a situação descrita como familiar fazendo um processo de trans-ferência;

• Escuta apreciativa: O profissional utiliza algum juízo de valor durante a es-cuta. Embora normal, essa atitude pode ser nociva. Para evitá-la o profissio-nal necessita desenvolver a habilidade de aceitar o idoso e objetivamente escutá-lo.

• Escuta filtrada: Relaciona-se à nossa defesa pessoal, ou seja, selecionamos inconscientemente o que permitimos ou não entrar em contato conosco e criamos barreiras que, mesmo involuntariamente, deformam nossa capa-cidade de escutar. Isso pode ser evitado a partir do desenvolvimento de um profundo autoconhecimento.

• Escuta compassiva: Relaciona-se ao sentimento de compaixão desenvolvi-do pelo profissional em relação ao idoso a quem assiste. Tal atitude pode deturpar a percepção dos fatos gerando atitudes inadequadas.

CAPACIDADE DE CLARIFICAR

Clarificar significa tornar claro, limpo ou puro. Na relação de ajuda significa ser capaz de delimitar mais precisamente o problema e os envolvidos, de maneira concreta e realista. Para tanto o profissional deve ser capaz de auxiliar o idoso a refletir sobre seus problemas descrevendo-os em toda sua extensão, intensidade e complexidade. Após escutá-lo, deve repetir com suas palavras a mesma questão permitindo assim sua reinterpretação.

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• Dedicar-se inteiramente a ele quando da execução de algum cuidado pro-curando não se distrair com outros estímulos e evitando interrupções;

• Evitar demonstrar compaixão. A piedade não é sinal de respeito e nem não ajuda, sobretudo aos idosos;

• Mostrar-se confiante do potencial e nas capacidades do idoso valorizando--as de forma construtiva e realista;

• Demonstrar apoio afetivo;

• Respeitar a intimidade do idoso e a confidencialidade da conversa somen-te partilhando informações com sua prévia autorização;

• Aguardar as respostas e as decisões da pessoa que podem estar mais len-tificadas, não apressá-lo;

• Planejar conjuntamente com o idoso as atividades de cuidado a serem desenvolvidas perguntando sua opinião e buscando atendê-las.

O respeito na relação de ajuda permite auxiliar na elevação da autoestima e do autoconceito que, em muitos idosos mais dependentes, podem estar rebaixados.

OBSTÁCULOS AO RESPEITO

a) comportamentos punitivos e reprovadores;

b) juízos de valor;

c) utilização de frases feitas (despersonalização da relação);

d) escuta falsa, não centrada no idoso;

e) linguagem infantilizante (muito frequente no tratamento com idosos);

f) negação da experiência e das emoções do idoso;

g) não valorização das capacidades do idoso.

CAPACIDADE DE SER CONGRUENTE

Congruência significa harmonia, coerência de algo com o fim a que se destina. A congruência permite ao idoso a existência de concordância entre seu ser e sua experiência e sua expressão em seu comportamento. É, em outras palavras, a capacidade de ser autêntico. A pessoa que não possui esta capacidade separa-se de seu verdadeiro “eu” reduzindo sua identidade aos papéis que desempenha. Pode assim, sentir-se insatisfeito e dividido.

A autenticidade do cuidador pode se manifestar por sua espontaneidade; valorização do seu papel; coerência e capacidade em compartilhar experiências.

Sete são os obstáculos à autenticidade:

• Atitude defensiva, evitando impasses e auxiliando na elaboração das críti-cas que venha a receber;

As perguntas “quem, o que, onde, como e por que razão?” auxiliam na clarificação, enquanto o uso do “por que?” indiscriminado pode despertar no idoso a necessidade de se justificar, geralmente defendendo-se. Cada pergunta deve ter por objetivo auxiliar o idoso a perceber com maior clareza o problema ou as suas soluções.

A utilização de generalizações, abstrações ou termos imprecisos pode estar relacionada ao medo de enfrentar o problema. Assim fazendo ele (o problema) se torna maior e consequentemente menos delimitado. O profissional que quer ajudar não deve utilizar uma linguagem intelectual, abstrata, impessoal e/ou vaga, pois isso não auxilia a pessoa idosa a clarificar e precisar seu pensamento.

CAPACIDADE DE SE AUTORESPEITAR E DE RESPEITAR O IDOSO

O respeito é uma necessidade humana, é uma qualidade, um valor, uma atitude básica expressada pelo comportamento. Respeitar alguém significa acreditar em sua unicidade, em sua capacidade de viver de forma satisfatória. Respeitar-se significa ser verdadeiro consigo mesmo e com os outros e respeitar idoso significa comunicar-lhe que tentamos compreendê-lo como pessoa, sua experiência, seus valores e a situação que está vivenciando a partir do seu ponto de vista. Significa ainda identificar suas capacidades e seu potencial remanescente e auxiliá-lo a reconhecê-los e utilizá-los para lidar com essas situações permitindo-lhe o resgate da máxima autonomia possível. Será o idoso, no entanto, que decidirá utilizá-la ou não, ou seja, a decisão final é dele e respeitá-lo significa compreender e aceitar essa decisão mesmo que ela não corresponda a expectativa do profissional.

O respeito se manifesta por meio de atitudes e comportamentos, ativos ou passivos. Estar com o idoso, querer ajudá-lo e preocupar-se com seu bem estar; considerá-lo como ser único, independentemente de suas doenças ou limitações; acreditar que ele é capaz de decidir sobre seu próprio destino e acreditar em sua boa vontade são exemplos de atitudes que envolvem respeito.

Os comportamentos expressam o significado e o valor do idoso para com o profissional e sua vontade em trabalhar com ele. Ser capaz de estabelecer uma relação que envolva escuta e presença física atenta; aceitá-lo incondicionalmente evitando juízos críticos; expressar a empatia; demonstrar afeto e cordialidade; auxiliá-lo a desenvolver seus recursos pessoais encorajando-o, motivando-o e apoiando-o e não agindo por ele; manifestar compreensão e dedicação são exemplos de comportamentos respeitosos.

Enumeramos a seguir alguns exemplos de como o profissional pode demonstrar respeito pelo idoso:

• Mostrar que o aprecia como pessoa respeitando sua idade e sua persona-lidade;

• Não utilizar linguagem infantilizada ou demasiadamente familiar;

• Chamá-lo pelo nome (nome próprio ou apelido, desde que tenha autoriza-ção para tanto) e tratá-lo por senhor ou senhora;

• Cumprimentá-lo ao chegar e sempre que ele entrar no recinto em que o profissional está;

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• Censurá-lo, adverti-lo de forma contundente (representa uma afirmação da incapacidade do idoso em discernir entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, o colocando como incapaz de resolver seus problemas);

• Dar soluções (não permite ao idoso refletir sobre seu problema e sua po-tencialidade de ação);

• Argumentar logicamente (“O problema voltou obviamente porque o se-nhor não seguiu as orientações que dei...”), pois pode colocar o idoso em uma situação desconfortável, fazendo-o sentir-se um tolo, incapaz de seguir recomendações;

• Julgar e criticar (utilizando o próprio sistema de valores), pois pode levar o idoso a não mais confiar no profissional pois não se sente compreendido pelo mesmo;

• Aprovar, lisonjear (“Desta vez, tomou a decisão correta...”). Isto pode desenvolver no cliente o receio de não ser aprovado em outras situações pelo julgamento do profissional e, caso se arrependa da decisão tomada não se sentirá confortável em compartilhar tal sentimento com o mesmo;

• Analisar e interpretar (“Cada vez que o senhor quer a atenção de seus fi-lhos, comporta-se como se estivesse muito doente...”). Se a interpretação for verdadeira o idoso pode se sentir “apanhado” o que pode ser insusten-tável e, se não, pode sentir-se acusado ou incompreendido;

• Consolá-lo (“Não se preocupe, isso vai passar...”). O idoso pode sentir que o profissional minimiza a importância de seu problema e, portanto não haverá solução para o mesmo;

• Fazer muitas perguntas fechadas (onde? Quando? Como? Por que?). O idoso pode sentir-se interrogado;

• Gracejar. O gracejo muitas vezes é colocado para minimizar uma situação muito tensa criando um clima mais agradável. Porém sua utilização deve ser muito bem estudada pelo profissional, pois sua inadequação pode levar o idoso a pensar que o profissional não leva a sério seu problema ou suas necessidades ou ainda que não o respeita;

• Ridicularizar (“Assim o senhor está agindo como uma criancinha...”). Pode levar o idoso a se sentir desvalorizado ou desrespeitado e pode, ainda, gerar respostas agressivas.

A relação de ajuda, quando adequadamente estabelecida, permitirá ao idoso e a seus familiares a identificação de recursos próprios disponíveis para superar os problemas que estão vivenciando, fortalecendo-os para situações futuras. Este tipo de intervenção está diretamente associado à qualidade do cuidado prestado uma vez que procura auxiliar o idoso em todas as suas dimensões de ser humano.

“CUIDAR É AJUDAR”

REFERÊNCIASBerger L. A relação de ajuda em gerontologia. In: Berger L; Mailloux-Poiriér D. Pessoas idosas. Lusodidacta, Lisboa, 1995.

Duarte YAO. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas. São Paulo. Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social. Fundação Padre Anchieta, 2009. Cap 2.

Só assim o profissional será capaz de identificar e compreender verdadeiramente o conteúdo das mensagens da pessoa idosa, pois estará em posição de ver o mundo sob o mesmo prisma que o idoso vê.

A empatia pode ser desenvolvida pelo interesse pelo idoso; pelo conhecimento do comportamento humano; por uma personalidade afetuosa e flexível; pela capacidade de generalizações relativas às experiências de vida; pela capacidade para tolerar e utilizar o silêncio na relação; por semelhanças de experiências e vivências; pela disponibilidade e escuta atenta; pela tolerância ao estresse; por experiências de vida variadas propiciando maior flexibilidade e espontaneidade; pela autoafirmação; pelo uso de linguagem apropriada e pela capacidade de compreender a linguagem simbólica utilizada pelo idoso.

A empatia por si só não soluciona os problemas dos idosos como se fosse um passe de mágica; constitui-se em um meio para fazer com que ele não se sinta solitário frente a eles. Sentindo-se realmente compreendido por alguém que consegue entender a dimensão que estes tomam em sua vida, sente-se mais confortável e assim, pode canalizar sua energia na resolução dos mesmos com apoio do profissional com quem mantém uma relação de ajuda.

CAPACIDADE DE CONFRONTAÇÃO

Confrontar significa colocar frente a frente, defrontar, comparar; não envolve disputa como na palavra afrontar. A confrontação origina-se na empatia e respeito ao idoso e é uma manifestação suplementar à congruência do profissional. A confrontação, permite ao idoso estabelecer um contato mais profundo com o seu interior com aquilo que ele realmente é, com suas forças e seus recursos assim como com suas fraquezas e comportamentos prejudiciais. Na relação de ajuda a confrontação só deve ser utilizada quando existe entre profissional e cliente um verdadeiro clima de confiança. Sua utilização requer uma avaliação acurada do estado geral do idoso por parte do profissional que pretende utilizá-la.

A confrontação exige habilidade e tato. Confronta-se com o comportamento e não com o idoso. Envolve a descrição desses comportamentos sem emissão de julgamentos pois isso, nesse momento, poderia representar uma demonstração de desrespeito, levando a pessoa idosa a assumir uma postura defensiva. Por outro lado, nem sempre a confrontação é reconhecida como um instrumento de ajuda pelo idoso. Caso ele resista a esta forma de intervenção convém não insistir, aguardando uma ocasião mais oportuna para fazê-lo.

QUANDO A RELAÇÃO NÃO É DE AJUDA?

Muitas vezes os profissionais querem estabelecer uma relação de ajuda adequada, mas se frustram com seus resultados. Listaremos a seguir algumas intervenções que costumam ser muito utilizadas, mas que, normalmente, não respondem às necessidades de ajuda dos indivíduos.

• Dar ordens sem avaliar o contexto que envolve as situações (pode levar o idoso a ter de negar suas emoções traduzidas por seu comportamento);

• Fazer ameaças (“se não cumprir as orientações, não viremos mais visi-tá lo...”). Geralmente este comportamento acrescenta mais um elemen-to, o medo, à problemática apresentada pelo idoso;

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devemos compreender as famílias e tentar auxiliá-las segundo seu próprio sistema de valores.

Assim, é parte de nossas atribuições, ajudar as famílias a se organizarem para poderem cuidar melhor de seus membros mais necessitados. Isso só será possível se tentarmos compreendê-la. Compreender como se organizam, em que acreditam, como funcionam. Isso pode ser muito diferente daquilo que costumamos conviver no nosso dia-a-dia com as nossas famílias.

Atuaremos com famílias onde todos ou, pelo menos, a maioria dos membros tendem a se organizar para resolver uma situação que demanda mais atenção (p.ex: uma doença inesperada). Isso pode não ocorrer de maneira tranquila, eles poderão discutir, se desentender, mas, no final, eles se organizarão e darão conta de assistir seu membro mais necessitado sem sobrecarregar outros membros e sem desestruturar a família.

Essas famílias são aquelas que “nos ajudam”, ou seja, com as quais contamos, as que podemos orientar e acompanhar, pois logo vemos que, de alguma forma, elas estão abertas a receber orientações, são flexíveis para realizar mudanças necessárias e estão dispostas a se adaptar à nova situação apresentada.

Por outro lado, também atuaremos com famílias muito difíceis, que não aceitam nenhuma orientação, pois, ou dizem que não as compreendem, ou que não será possível realizar qualquer modificação ou adaptação por falta de recursos materiais ou humanos. Geralmente temos a sensação que nossas orientações caem “em um vazio” e, algumas vezes nos sentimos impotentes pois não conseguimos ver nenhum resultado positivo em relação ao cuidado a ser desenvolvido para o membro mais necessitado e tendemos a “desistir” desse acompanhamento alegando que a “família não adere ao tratamento/acompanhamento”. Nessas famílias normalmente não há uma divisão equânime de tarefas e, alguém sempre está estressado ou se sentindo sobrecarregado. Essas são as famílias mais difíceis e desafiadoras, mas também, são as que mais precisam de nossa ajuda. Não devemos “nunca” desistir delas. Será um trabalho árduo, longo, com resultados muitas vezes imperceptíveis, mas, o idoso que lá reside, precisa de nossa ajuda. Se atuarmos de forma compreensiva e acolhedora, poderemos conseguir pequenos resultados que beneficiarão a quem mais necessita.

Por essa razão, nós lemos o texto sobre como construir uma relação de ajuda e, nesse momento, vamos tentar trazer o que lemos para nossa realidade.

Essa é nossa última aula desse módulo. Para o seu desenvolvimento, proponho a seguinte dinâmica:

7. Inicialmente, faremos algumas considerações sintetizando o que discutimos nas duas aulas anteriores, focando o que apreendemos para nossa atuação profissional junto às famílias de pessoas idosas. Individualmente vamos ler essas considerações e, em seguida, desenvolver a atividade 1.

8. Em pequenos grupos, fazer uma síntese da atividade 1

9. Em plenária, conversar sobre a atividade 1 buscando compreender as diferenças entre os grupos.

10. Em seguida, começaremos a conversar sobre “cuidadores”. Para isso, inicialmente, individualmente, vamos desenvolver a atividade 2. Essa atividade deverá ser entregue ao professor.

11. Em seguida, em uma roda de conversa com o professor, conversaremos sobre a atividade 2 e sobre a questão dos cuidadores atualmente.

12. Finalizaremos a aula conversando sobre o Artigo 16 do Capítulo IV do Estatuto do Idoso. Discorra sobre o que você compreende sobre o que está descrito nesse artigo e, como deve ser a atuação dos profissionais de enfermagem junto aos acompanhantes, quando da internação de uma pessoa idosa (atividade 3)

13. Atividade não presencial - Vocês receberão um texto de apoio sobre “Cuidadores” que complementará o que foi discutido nessa aula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse momento já podemos compreender a dimensão do que chamamos “família”, isto é, que ao falarmos sobre famílias estamos discorrendo para além de laços consanguíneos.

Tradicionalmente existe a família da qual viemos (família de orientação) e a família que constituímos (família de procriação). Convivemos, ainda, com o que chamamos de famílias alternativas, aquelas que não seguem os padrões tradicionais. Independentemente do tipo de família que estivermos falando, todas elas seguirão um referencial de valores próprio que varia de uma família à outra.

Isso também vale para cada um de nós. É por essa razão que, ao atuarmos com as famílias de outras pessoas, tendemos a reproduzir nossos valores o que pode, em algumas situações, sem muito difícil (podemos nos ver frente a situações que temos dificuldade de compreender e aceitar, pois vão contra aquilo que acreditamos ou que aprendemos como certo).

É para compreendermos a questão das famílias num contexto maior que conversamos nas últimas duas aulas. Agora, já podemos compreender que a família do outro (amigos, vizinhos, idosos que atendemos, etc) tem o seu próprio sistema de valores que orienta sua organização e seu funcionamento e que isso dificilmente é modificável sem ajuda especializada (p.ex: terapia familiar). Em outras palavras,

PARTE 3

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSAFamília e Envelhecimento

Aluno(a): .........................................................................................

Para você o que é uma “relação de ajuda”?

O que significa construir uma “relação de ajuda” na sua profissão. Traduza isso na sua atuação profissional.

Elementos da relação de ajuda:

• Conhecer a si mesmo

• Conhecer o outro e respeitá-lo;

• Ser coerente;

• Ser empático

Relembrando o texto que você leu, traga esses conceitos para sua atuação profis-sional e comente como você os utiliza para organizar seu dia-a-dia de trabalho.

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Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSAFamília e Envelhecimento

Aluno(a): .........................................................................................

1. Para você, o que é ser “cuidador”?

2. Há diferença entre “cuidadores familiares” e “cuidadores não familiares”? Se sim, qual é essa diferença?

3. “Cuidador”é hoje uma profissão? Por que?

4. Você já atuou como “cuidador”? Conte sua experiência.

5. Na sua opinião, as pessoas que atuam como cuidadores deveriam integrar o quadro da enfermagem? Por que?

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Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSAFamília e Envelhecimento

Aluno(a): .........................................................................................

ESTATUTO DO IDOSO

CAPÍTULO IV DO DIREITO À SAÚDE:

Artigo 16:

Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar condições adequadas para sua permanência em tempo integral, segundocritério médico.

Parágrafo Único:

O acompanhamento ao idoso será autorizado pelo profissional de saúde responsável e, em caso de impedimento, a justificação deverá ser feita pelo mesmo, por escrito.

O que você entende com esse artigo do Estatuto? Como deve ser a atuação dos profissionais de enfermagem junto aos acompanhantes, quando da internação de uma pessoa idosa?

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TEXTO DE APOIO

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O CUIDADO DA PESSOA IDOSA

Cuidar da pessoa idosa de forma adequada envolve um cuidado mais amplo que tem por base a manutenção, no melhor nível possível, da condição funcional dos idosos. Assim, cuidar do idoso deve significar para os profissionais a manutenção do melhor nível possível de independência e autonomia da pessoa idosa no desempenho de suas atividades cotidianas independentemente do número de condições crônicas que ela possua.

Os idosos com problemas crônicos e, em especial, os mais dependentes, necessitam de maior apoio, de cuidado planejado o que vai além da atenção exclusivamente biomédica (p.ex: exames, remédios, curativos). Com o cuidado adequado, as complicações podem ser quase que totalmente calculados e, em vários casos, retardadas ou até mesmo evitadas.

Esse cuidado, quando necessário e possível, é executado por pessoas que denominamos “cuidadores”.

Cuidadores podem ser definidos como “as pessoas que cuidam de pessoas idosas que necessitam de acompanhamento ou cuidado, auxiliando no desenvolvendo de atividades cotidianas garantindo uma melhor qualidade de vida e a manutenção de sua integração com a sociedade”.

Até pouco tempo atrás, a figura do denominado “cuidador” centrava-se quase que exclusivamente nos elementos familiares que se disponibilizavam, voluntariamente ou por exclusiva ausência de outras opções, a atender as demandas emanadas por seus parentes que necessitassem de auxílio. Nos últimos 40 anos, muitos estudos têm discutido o histórico e tolerante papel da família como cuidadora de seus membros mais dependentes.

Historicamente o suporte familiar e o cuidado de pessoas com alguma dependência têm sido sempre voluntário ou conjuntural, neste caso em decorrência da inexistência de outra alternativa. Usualmente era esperado que, por exemplo, um(a) filho(a) permanecesse na casa dos pais quando eles envelhecessem ou que os recolhesse à sua casa nas idades mais longevas. Filhos únicos e mulheres não casadas são particularmente vulneráveis a assumir esta função.

Quando um cuidador familiar está disponível, a carga sobre ele pode ser muito significativa. Esposas idosas frequentemente encontram-se disponíveis, mas em muitas ocasiões não são fisicamente capazes de atender a demanda constante de

O CUIDADO DA PESSOA IDOSA E OS CUIDADORES

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cuidados de seus cônjuges. Morbidades físicas e psiquiátricas destes cuidadores tem sido alvo de inúmeros estudos.

Alguns estudos mostram que a institucionalização da pessoa idosa decorre, na maioria das vezes, pela inexistência de serviços suficientes capazes de assistir as necessidades tanto dos indivíduos dependentes quanto de seus membros familiares. Parece que a maioria das famílias assiste seus membros mais necessitados pelo maior período de tempo e tão bem quanto possível. Porém, quando todas as suas capacidades tiverem sido esgotadas, a institucionalização pode ser a única opção disponível. O planejamento programado para a manutenção da saúde dos cuidadores e das famílias dos indivíduos necessitados tem sido frequentemente negligenciado. Outras opções assistenciais tornam-se, nesse contexto, cada vez mais necessárias ainda mais porque, em nosso meio, ainda somos muito resistentes a compreender a instituição para idosos como uma opção boa e aceitável. Ainda tendemos a vê-la como uma punição ou como negligência da família no cuidado ao seu parente idoso mais necessitado.

Neste contexto, a figura do cuidador (que só existe na presença de uma pessoa com algum grau de dependência física e/ou mental) passa a ser uma força complementar na assistência à saúde, pois sem ele, nenhum programa de desospitalização pode ser efetivamente implementado ou mesmo a manutenção dessa pessoa no contexto domiciliar pode ser efetivada.

É impossível precisar hoje quantas são as pessoas mantidas em domicílio que necessitam da presença de um cuidador bem como, quantos e quem são esses cuidadores e de que forma estão desempenhando esse cuidado.

Programas de orientação de cuidadores surgiram em diferentes âmbitos. Essa temática começou a ser discutida, de forma mais organizada, pelo governo federal de 1998 frente a demanda da sociedade civil organizada e norteada pelos princípios legais da Política Nacional do Idoso de acordo com a Lei no 8842/94.

Em 1999 o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Saúde do Idoso e, no mesmo ano, foi assinada a Portaria Interministerial no 5153/99 que instituiu o Programa Nacional de Cuidadores de Idosos pelos Ministérios da Saúde e Previdência e Assistência Social hoje, Ministério do Desenvolvimento Social e combate à fome. Esse Programa teve por objetivo promover a melhoria das condições de atenção ao idoso mediante a capacitação de cuidadores domiciliares (familiares e não familiares) e institucionais dando ênfase à promoção de saúde, à prevenção de incapacidades e à manutenção, pelo maior tempo possível, da capacidade funcional do idoso. Nesse programa foram capacitados multiplicadores das diferentes regiões do país que deveriam reproduzir, em seus locais de origem, oficinas de capacitação voltadas aos cuidadores respeitando as especificidades de atenção de cada região. Esse programa teve como foco principal a capacitação de cuidadores familiares. O referido programa foi aplicado em algumas regiões, mas, em seguida, foi descontinuado não conseguindo se efetivar como um programa nacional.

Concomitantemente, em 2002 foi reeditada pelo Ministério do Trabalho a Classificação Brasileira de Ocupações, em uma nova versão, onde o “cuidador” passou a ser uma “ocupação” reconhecida (CBO no 5162.10) englobando diferentes denominações (cuidador de idosos, acompanhante de idosos, cuidador de pessoas

idosas e dependentes, cuidador domiciliar de idosos, cuidador institucional de idosos, gero-sitter).

Em 2002 foi publicada a Portaria GM/MS no 702/2002 criando as Redes Estaduais de Atenção à Saúde do Idoso que determinavam a criação dos denominados Centros de Referência em Assistência à Saúde do Idoso. A partir dessas portarias passou-se a discutir a necessidade de criação de uma rede formal de apoio, orientação e acompanhamento de cuidadores de pessoas incapacitadas. Essa portaria foi publicada juntamente com a reedição da Portaria referente ao Programa Nacional de Cuidadores, em 2003 tendo sido incluída essa rede voltada aos cuidadores. A formação dessa rede teria impacto direto na qualidade da assistência prestada aos portadores de incapacidades, na otimização dos recursos disponíveis para a assistência à saúde além de tornar a população mais necessitada visível ao Sistema de Saúde como um todo. No entanto, apesar de ter sido publicada, essa portaria nunca foi colocada em prática e essa rede, de fato, nunca existiu.

Por um período de tempo (2003-2006), não ocorreram outras propostas ou programas específicos voltados aos cuidadores, em nível federal. Essa questão só foi retomada em meados de 2006 quando da criação da caderneta e do caderno de atenção básica voltado aos idosos. A Área Técnica de Saúde do Idoso do MS compreendeu ser necessário que programas voltados aos cuidadores fossem retomados por se entender que a execução desse tipo de cuidado não é inata e, portanto, requer treinamento. Além disso, por ser o Brasil um país muito grande com múltiplas diferenças regionais e diferentes padrões de envelhecimento entendia-se como necessária a existência de linhas gerais de orientação voltadas para a formação dos cuidadores sendo essas adaptáveis às necessidades dos idosos de cada região do país. A ideia central era contribuir para a organização da formação dessas pessoas de forma homogênea (respeitadas as diferenças regionais) e caminhar para a criação da profissão de “cuidadores”, reconhecida e regulamentada.

Nesse sentido, em abril de 2007, a Área Técnica de Saúde do Idoso e o Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, desenvolveram um trabalho conjunto, em nível nacional, com especialistas da área de Gerontologia para propor um programa de formação para cuidadores de idosos cujas premissas serão aqui explicitadas. Esse programa teve seu projeto-piloto executado, com êxito, nas cinco regiões do país, mas, por questões governamentais, foi descontinuado. Até o momento, esse foi o maior avanço no sentido de organização da formação de cuidadores visando sua profissionalização.

Outras iniciativas foram realizadas, com êxito, em diferentes estados e cidades do país. No Estado de São Paulo, muitas cidades se empenharam no desenvolvimento de cursos de orientação a cuidadores, na maioria das vezes, voltados aos familiares. No Município de São Paulo, há uma experiência exitosa na criação de serviços inovadores voltados ao melhor cuidado da pessoa idosa em situação de fragilidade e vulnerabilidade social. Trata-se do “Programa de Acompanhantes de Idosos” desenvolvido desde 2004 pela Secretaria Municipal de Saúde, uma modalidade de cuidado domiciliar destinado às pessoas idosas mais vulneráveis com dependência funcional que visa o provimento de apoio e suporte nas atividades cotidianas e nas demais necessidades sociais e de saúde identificadas por equipe multiprofissional. Os acompanhantes são profissionais cuidadores que realizam atividades sistemáticas estabelecidas pela equipe multiprofissional, nos domicílios junto às pessoas idosas. Esse programa tem sido, desde sua criação, reconhecido como exemplar e inovador

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além de ser uma estratégia valiosa no campo da saúde, na garantia da acessibilidade, equidade e atenção integral às pessoas idosas em situação de fragilidade apontando para o compromisso da gestão pública com as reais necessidades da população idosa.

ORIENTAÇÃO DE CUIDADORES

Um cuidador (familiar ou leigo) só existe na vigência de uma pessoa dependente e, portanto, mais fragilizada. É no entanto, a sua existência que impede muitas vezes que estas pessoas sejam institucionalizadas e, por outro lado, auxiliam na implantação de diferentes programas assistenciais. Desta forma, compreende-se a necessidade de orientação e acompanhamento permanente deste binômio cuidador-indivíduo cuidado.

Para cuidar da pessoa idosa de forma adequada, além da formação mínima, é necessário que o cuidador sempre se mantenha informado e organize o cuidado a ser prestado tendo como princípios:

• a adoção de um estilo de vida mais saudável;

• a maximização da independência minimizando e compensando as perdas e limitações relacionadas ao envelhecimento;

• a promoção de conforto durante os momentos de maior angústia e fragili-dade incluindo o processo de morrer.

O cuidado não é construído de forma isolada, familiares e idosos devem participar ativamente do processo. Esse cuidado envolve informações atualizadas e instruções compartilhadas por todos os envolvidos permitindo uma sobrevida mais assistida e consequentemente mais digna.

Cuidar do idoso não será nunca “fazer por”, mas sempre “fazer com” e não se resume ao desenvolvimento de técnicas, mas sim a um envolvimento pessoal no que se conhece como “relação de ajuda” a qual já tivemos a oportunidade de discutir.

Quando se fala de orientação de cuidadores familiares alguns princípios básicos devem ser considerados. Essas orientações devem, sempre, buscar facilitar o dia-a-dia do cuidador considerando, em primeira instância, que ele é um leigo, e que, portanto, não tem conhecimento da área de saúde.

Na maioria das situações, ele se “transformou” em cuidador, de forma inusitada e, muitas vezes, inesperada. Em geral, as pessoas não se imaginam cuidadoras de seus parentes mais idosos quando ainda são jovens, até o dia em que necessitam assumir tal função. Essa “nova” função deverá ser incorporada na vida dessa pessoa junto a inúmeras outras que já existiam. Reorganizar o tempo e as prioridades, aprender coisas novas e redimensionar os gastos passam a ser questões fundamentais para a qual, muitas pessoas não estão preparadas ou, de fato, conseguem administrar.

Por essa razão, cuidadores familiares necessitam de atenção especial. É a existência dos mesmos que permite ao idoso mais dependente continuar a residir em sua casa ou junto de sua família. Sempre deveremos nos lembrar disso ao fornecer informações ou orientações para essas pessoas.

Os cursos de orientação a cuidadores familiares devem ser organizados com base nas suas necessidades mais imediatas fornecendo instrumentos para o melhor desenvolvimento de suas ações assistenciais de forma simples, organizada e direta. Isso contribui com a minimização da ansiedade do cuidador na realização dessas ações. De modo geral, o conteúdo desses cursos, assim como o voltado para cuidadores não familiares, restringem-se à ajuda no desenvolvimento das atividades cotidianas, denominadas, atividades de vida diária. A principal diferença é que, para cuidadores familiares, o foco deve ser a necessidade imediata pois estes estão mais receptivos a essas informações dado seu caráter prático na reorganização do dia-a-dia. Conteúdos adicionais podem ser ministrados posteriormente, quando se tornarem uma necessidade.

Já, pensando nos cuidadores não familiares e na homogeneização da formação dos mesmos visando sua profissionalização, o material produzido na Oficina realizada pelo Ministério da Saúde em 2007, publicado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social em 2010 foi revisto e rediscutido nos Congressos Regionais de Geriatria e Gerontologia de São Paulo e Rio de Janeiro em 2013 e no Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia em 2014 com todos os interessados em nível nacional sendo construída uma carta de recomendação para a organização dos cursos de formação de cuidadores.

Entende-se tratar-se de pessoas com idade mínima de 18 anos, de ambos os sexos, com ensino fundamental completo (9º ano). Os cursos deveriam ter na coordenação ou na orientação pedagógica alguém com formação na área de gerontologia para estruturação da grade curricular. Sua duração poderia variar de 80 a 120 horas, no mínimo incluindo, pelo menos, 40 horas de atividades ou vivências práticas.

Foram definidos alguns eixos integradores, competências e habilidades, relacionadas minimamente necessárias para o desenvolvimento dos cursos.

EIXO 1 - ENVELHECIMENTO E DIREITOS DA PESSOA IDOSA

Ao final do curso o cuidador deverá ser capaz de:

• Compreender o processo de envelhecimento em suas dimensões física, mental e social;

• Reconhecer sinais e sintomas atípicos de alterações nas condições de saú-de da pessoa idosa;

• Conhecer os direitos da pessoa idosa e agir no sentido de que os mesmos sejam sempre respeitados.

• Conhecer a legislação e os recursos para promover a garantia dos direitos;

• Identificar espaços de reivindicação dos direitos da pessoa idosa.

• Para atender a esse eixo, ao final do curso o cuidador deverá ter habilida-de para:

• Identificar as alterações decorrentes do processo de envelhecimento di-ferenciando os padrões de senescência com os de senilidade e agindo de acordo;

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EIXO 3 - AUXÍLIO NO DESEMPENHO DAS ATIVIDADES COTIDIANAS E PLANEJAMENTO DO CUIDADO

Ao final do curso o cuidador deverá ser capaz de:

• Identificar as necessidades de cuidados;

• Identificar a possibilidade de independência e reconhecer a autonomia do idoso para a realização das atividades de vida diária e, a partir daí, orga-nizar as atividades de suporte;

• Atuar de forma a estimular o resgate e/ou manutenção da independência e autonomia do idoso;

• Conhecer/reconhecer/identificar o nível / tipo de dependência do idoso, a fim de auxiliar o desempenho de suas AVDs na medida de suas necessi-dades

• Para atender a esse eixo, ao final do curso o cuidador deverá ter habilidade para:

• Identificar a relação entre problemas de saúde e condições de vida.

• Coletar informações sobre a história de vida e de saúde da pessoa idosa.

• Identificar o contexto familiar e social de vida da pessoa idosa.

• Identificar valores culturais, éticos, espirituais e religiosos da pessoa ido-sa e sua família.

• Participar da elaboração do plano de cuidado para a pessoa idosa, sua implementação, avaliação e reprogramação junto à equipe de saúde.

• Realizar ações de acompanhamento e cuidado à pessoa idosa com depen-dência, conforme as demandas e necessidades identificadas.

• Identificar situações e hábitos presentes no contexto de vida do idoso que são potencialmente promotores ou prejudiciais a sua saúde.

• Estimular a autonomia e independência da pessoa idosa frente as suas necessidades.

• Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades da vida diária, conforme o plano de cuidado.

• Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades instrumentais da vida diária.

• Sensibilizar a pessoa idosa e sua família quanto à necessidade de mudan-ças graduais e contínuas em hábitos e atitudes, a fim de facilitar a vida do idoso.

• Atentar para possíveis reações indesejadas em relação ao uso de medica-mentos.

• Providenciar suporte adequado às necessidades específicas da pessoa idosa.

• Identificar situações que apontem negligência aos direitos da pessoa idosa e promover os encaminhamentos necessários.

• Reconhecer e saber utilizar os mecanismos que asseguram os direitos dos idosos como cidadãos

• Garantir o acesso da pessoa idosa aos seus direitos legais por meio da utilização dos meios e recursos disponíveis.

• Divulgar para a pessoa idosa, seus familiares e para a comunidade a legis-lação nacional de garantia dos direitos dos idosos.

EIXO 2 - INTERAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Ao final do curso o cuidador deverá ser capaz de:

• Desenvolver ações que estimulem o processo de interação e comunicação entre o idoso, seus familiares e a comunidade;

• Compreender/interpretar as mensagens verbais e não verbais do idoso e se fazer entender;

• Promover/fazer a inter-relação entre família-serviços-comunidade (rede);

• Compreender e reconhecer o processo de comunicação do idoso (verbal e não verbal).

Para atender a esse eixo, ao final do curso o cuidador deverá ter habilidade para:

• Estimular a pessoa idosa na manutenção do convívio familiar e social;

• Promover atividades que estimulem o uso da linguagem oral e de outras formas de comunicação pela pessoa idosa;

• Promover junto à família, ambiente favorável à conversação com a pessoa idosa;

• Incentivar a socialização da pessoa idosa por meio da participação em grupos, tais como: grupos de acompanhamento terapêutico, de atividades socioculturais, de práticas corporais/atividades físicas e outros;

• Identificar redes de apoio na comunidade e estimular a participação da pessoa idosa, conforme orientações do plano de cuidado;

• Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades instrumentais da vida diária;

• Utilizar recursos de informação e comunicação adequados à pessoa idosa;

• Verificar a necessidade e ou condições de órteses (bengalas, andadores, etc.) e próteses dentárias, auditivas e oculares;

• Favorecer a leitura labial pela pessoa idosa, durante as conversações;

• Utilizar linguagem clara e precisa com a pessoa idosa e seus familiares.

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• Atentar para a necessidade e ou as condições das próteses e orteses em uso pela pessoa idosa.

• Estimular a prática de atividades que diminuem o risco de doenças crôni-cas, conforme orientações do plano de cuidado.

• Identificar sinais de fragilização da pessoa idosa.

• Identificar sinais de depressão e demência em pessoa idosa e encaminhar para os cuidados específicos.

• Encaminhar o idoso para atendimento à saúde, quando necessário.

• Acompanhar o idoso no uso da medicação.

• Acompanhar a situação vacinal da pessoa idosa;

• Orientar a família e atuar no caso de óbito da pessoa idosa.

EIXO 4 - PRONTIDÃO PARA AGIR EM SITUAÇÕES IMPREVISTAS

Ao final do curso o cuidador deverá ser capaz de:

• Reconhecer situações de urgência e emergência e ser capaz de realizar os primeiros socorros e demais ações sob orientação do profissional respon-sável;

• Agir com prontidão e presteza em situações imprevistas dentro do limite de suas atribuições.

• Para atender a esse eixo, ao final do curso o cuidador deverá ter habilidade para:

• Reconhecer situações de urgência e emergência.

• Realizar primeiros socorros.

• Providenciar atendimento de suporte

EIXO 5 - PREVENÇÃO DE RISCOS, ACIDENTES E VIOLÊNCIA

Ao final do curso o cuidador deverá ser capaz de:

• Identificar e reconhecer situações de risco à integridade física e psicológi-ca da pessoa idosa a fim de evitar situações de agravo;

• Promover ambiente seguro.

Para atender a esse eixo, ao final do curso o cuidador deverá ter habilidade para:

• Identificar situações de risco de violência;

• Prevenir, atuar e mobilizar recursos que reduzam riscos;

• Analisar os riscos sociais e ambientais à saúde da pessoa idosa com depen-dência;

• Avaliar condições de risco de acidentes domésticos e propor alternativas para resolução ou minimização.

• Identificar situações de autonegligência e promover os encaminhamentos necessários.

• Identificar sinais de maus tratos e promover os encaminhamentos neces-sários;

• Identificar situações de violência intra e extra familiar;

• Estimular a pessoa idosa e seus familiares a participarem de programas sociais locais que envolvam orientação e prevenção da violência intra e extra familiar, dentre outros;

• Notificar caso suspeito ou confirmado de violência contra a pessoa idosa.

EIXO 6 - DIREITOS E DEVERES DOS CUIDADORES DE PESSOAS IDOSAS

Ao final do curso o cuidador deverá ser capaz de:

• Conhecer os deveres dos cuidadores de pessoas idosas e agir no sentido de que os mesmos sejam sempre implementados.

• Conhecer a legislação vigente e os recursos para promover a garantia dos direitos dos cuidadores;

• Manter-se atualizado quanto à sua situação profissional agindo de acordo com o proposto.

Para atender a esse eixo, ao final do curso o cuidador deverá ter habilidade para:

• Reconhecer e saber utilizar os mecanismos que asseguram os direitos dos cuidadores de idosos

• Manter a pessoa idosa, seus familiares e a comunidade atualizados em relação à legislação referente aos direitos e à profissão de cuidadores.

Em nenhum momento devem ser ensinadas técnicas profissionais referentes a outras profissões, em especial à enfermagem que já possui legislação específica e conselho profissional próprio.

Da mesma forma, profissionais de enfermagem que, por opção ou necessidade desejarem atuar como cuidadores, devem procurar fazer um curso específico para esse fim uma vez que as escolas de nível médio não incluem conteúdos de gerontologia em seus currículos. Além disso, a maioria das atividades práticas desses cursos é voltada para a atuação em nível hospitalar o que pode gerar um viés na atuação desses profissionais junto aos idosos em suas residenciais transformando o ambiente doméstico em um ambiente asséptico, medicalizando o cuidado que deveria ser apenas uma facilitação do desempenho pessoal no dia a dia.

Profissionais de enfermagem e cuidadores possuem atuações complementares, de igual importância na construção do melhor cuidado a ser dado às pessoas idosas mais dependentes.

Os cuidadores não são e nem existe a pretensão de que sejam profissionais da área de enfermagem. São pessoas com uma formação híbrida que envolve elementos da área de saúde, social e de educação. Sua profissionalização ainda está tramitando em nível federal.

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Iniciaremos hoje o módulo sobre violência contra a pessoa idosa que, será desenvolvido em duas aulas. Para o seu desenvolvimento, proponho a seguinte dinâmica:

1. Como primeira atividade, vamos rever o que já foi levantado no Módulo de Família relacionado à violência contra pessoas idosas. (atividade 1) 2. Em plenária, fazer uma síntese da atividade 1

3. Em pequenos grupos, vamos ler as páginas 28 a 36 do Caderno de Violência contra a Pessoa Idosa elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde. (atividade 2)

4. Em seguida, em uma roda de conversa com o professor, conversaremos sobre a atividade 2 buscando traçar os indicadores relacionados ao perfil da vítima e do agressor de forma a podermos utilizar essas informações em nosso cotidiano de trabalho.

5. O professor fará uma breve explanação sobre a violência institucional e, cada aluno, em seu ambiente de trabalho, buscará, durante a semana, identificar e descrever uma situação que possa ser classificada como tal e que será discutida na próxima aula. (atividade 3)

6. Atividade não presencial – Leitura do Caderno de Violência contra a Pessoa Idosa e do texto de Minayo com ênfase na violência Institucional.

Para tanto foi feito um projeto de lei que foi submetido à aprovação do Senado e da Câmara dos Deputados.

Só para lembrar, um projeto de lei ou uma proposta de lei é um conjunto de normas que deve submeter-se à tramitação num órgão legislativo com o objetivo de efetivar-se através de uma lei. Os projetos de lei são feitos por membros do próprio órgão legislativo.

No caso da profissão de cuidadores, foram, inicialmente, apresentados três projetos de lei com a mesma finalidade, porém com orientações um pouco distintas. Desses projetos, o mais discutido foi o apresentado pelo Senador Waldemir Moka - PLS Nº 284/2011 em 25.05.11 que, após audiência pública (20 de outubro de 2011) e multiplas alterações, foi aprovado pelo Senado Federal em 12 de setembro de 2012 tendo como relatora a Senadora Marta Suplicy.

Como todo projeto de lei, após a aprovação em uma instância, é necessário que seja, também, aprovado na outra, no caso, a Câmara dos Deputados. Assim, após a aprovação, esse projeto foi encaminhado para a Câmara - PL 4702/2012 – sob a relatoria da Deputada Federal Benedita da Silva que realizou uma audiência pública em 08 de outubro de 2013. Nessa instância, o projeto de lei necessita ser aprovado em três Comissões:

• Comissão de Seguridade Social e Família – CSSF

• Comissão de Trabalho, de Administração e de Serviço Público – CTASP

• Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania- CCJC

Até o momento, continuamos aguardando o andamento desse projeto de lei. Até lá, espera-se que os cursos sigam as orientações aqui descritas, porém eles o farão apenas por uma questão de consciência dado que nada regulamenta essa formação até o momento.

Situações graves já foram identificadas: muitas pessoas sem qualquer qualificação, habilidade ou supervisão cuidando de pessoas idosas muito dependentes, “cursos” de formação de cuidadores com 2h de duração e emissão de certificado, cursos de cuidadores exclusivamente on-line, entre outras. O risco decorrente dessas situações está na qualidade da assistência ao idoso, já debilitado e, muitas vezes, incapaz de solicitar ajuda ou relatar qualquer negligência.

Isso não é digno e o que não é digno não é direito. Não é isso que desejamos para nossa velhice e, assim, não podemos pactuar com essa situação junto aos idosos de hoje.

REFERÊNCIAS

Berger L. A relação de ajuda em gerontologia. In: Berger L; Mailloux-Poiriér D. Pessoas idosas. Lusodidacta, Lisboa, 1995.

Berzins MAVS; Paschoal SMP. Programa “Acompanhante de Idosos”. Boletim do Instituto de Saúde. 2009; 47: 53-5.

Duarte YAO. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas. São Paulo. Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social. Fundação Padre Anchieta, 2009. Cap 1.

MÓDULO III Violência Contra

a Pessoa Idosa

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TEXTO DE APOIO

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A violência institucional que, em geral, também ocorre em todo o mundo, no Brasil ocupa um capítulo muito especial nas formas de abuso aos idosos. Ela se realiza como uma agressão política, cometida pelo estado, em nível macrossocial. E de maneira mais particular, é atualizada e reproduzida nas instituições públicas de prestação de serviços e nas entidades públicas e privadas de longa permanência.

O aparato do Estado é um grande regulador do curso da vida. E, no caso brasileiro, a posição oficial dos governos em relação aos velhos é aberta e avançada. Existem muitas leis a favor deles. Numa recente publicação que abrange informações sobre atos legislativos de 1917 a 2001, Barroso (2001) compilou 53 Leis, Decretos, Resoluções e Portarias, dispositivos nos quais os idosos são mencionados como sujeito de direitos e de proteção social. Atualmente está em elaboração um Plano Nacional de Enfrentamento da Violência contra os Idosos. No entanto, falta ainda muito a fazer, no plano da implementação concreta de dispositivos que assegurem os direitos desse grupo social.

No nível das instituições de prestação de serviços, as de saúde, assistência e previdência social (as que pela Constituição configuram os instrumentos da seguridade social) são campeãs de queixas e reclamações, nas delegacias de proteção aos idosos. Os serviços são exercidos por uma burocracia impessoal, que reproduz a cultura de discriminação por classe, de gênero e de idade, causando imenso sofrimento à maioria dos idosos, sobretudo aos pobres que não têm condições de optarem por outros serviços. Muitos idosos verbalizam a ideia de que ser aposentado significa ser maltratado pelo sistema social de assistência pública. As longas filas de que são vítimas, a falta de comunicação ou a comunicação confusa e a ausência de uma relação pessoal compreensiva por quem precisa dos cuidados, constituem uma forma de violência das quais os idosos mais se queixam. Apesar dos êxitos localizados que vêm ocorrendo no Programa Saúde da Família é ainda imenso o fosso entre a lei e a prática social.

Numa nota técnica para a Câmara dos Deputados Malagutti assim se refere: O serviço de saúde pública é o principal pesadelo desse contingente, que também é o mais penalizado pelos preços absurdos dos planos de saúde (2003: 3).

Uma terceira forma de expressão relevante da violência institucional ocorre nas relações e formas de tratamento que as entidades (asilos e clínicas) de longa

VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL CONTRA A PESSOA IDOSA:

A CONTRADIÇÃO DE QUEM CUIDAMarília Berzins

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TEXTO DE APOIO

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MÓDULO III Violência Contra a Pessoa Idosa

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permanência mantêm com os idosos. Ali, frequentemente se perpetram e se reproduzem abusos, maus tratos e negligências que chegam a produzir mortes, incapacitações e a acirrar processos mentais de depressão e demência. Orientado para fiscalizar casas de repouso, o Grupo de Atuação Especial de Proteção ao Idoso (GAEPI) do Ministério Público de São Paulo fechou 48 desses estabelecimentos entre 1994 a 1997 e Silva ressalta que existem muitos idosos abandonados em hospitais e asilo “quanto mais renda tem o idoso, mais a família tem pressa em colocá-lo em algum asilo para dispor de seus bens” (2004,3).

Hoje, há no país cerca de 2% da população idosa internada em asilos e clínicas. Um caso que chama atenção para a sinergia que acontece entre a violência estrutural, institucional e familiar no Brasil e serve como referência do que ocorre de forma menos noticiada é o da Clínica Santa Genoveva no Rio de Janeiro. Nela morreram 156 pacientes em 1996, em consequência de problemas nutricionais e de falhas na assistência médica.

A análise dos dados de internação hospitalar nessa Clínica, realizada por Guerra et al (2000), revelou que o excesso de mortalidade verificada em 1996 já vinha ocorrendo desde 1993 e poderia ter sido detectado e talvez até prevenido, se as informações houvessem sido devidamente avaliadas pelas instâncias públicas de fiscalização. Nesse caso paradigmático, a violência institucional da clínica que pode ser qualificada como negligência e abandono; se aliou à negligência e à leniência do poder público e ao abandono e ao descaso das famílias para com seus parentes idosos doentes e indefesos. Nas crônicas que se seguiram à denúncia do excesso de mortos, evidenciou-se que a maioria dos velhos não recebia visitas de parentes e alguns que compareciam à Clínica de vez em quando não tinham coragem de denunciar os maus tratos e as negligências que presenciavam por medo de ter que levar seu familiar de volta para a casa (Souza et al, 2002).

Em muitos asilos e clínicas, mesmo nos estabelecimentos públicos ou conveniados com o Estado, frequentemente, as pessoas são maltratadas, despersonalizadas, destituídas de qualquer poder e vontade, faltando-lhes alimentação, higiene e cuidados médicos adequados. Idosos são vistos, em muitos casos, como ocupantes de um leito. Infelizmente, embora seja um problema público e notório, os desmandos das clínicas e asilos não estão devidamente dimensionados, pois faltam investigações sobre a magnitude e a complexidade do fenômeno. E principalmente, quase inexiste a necessária vigilância e fiscalização desses estabelecimentos, como observam Guerra et al (2000), a não ser quando ocorre um escândalo ou alguma denúncia intensamente alardeada pela imprensa (Souza et al, 2002).

Quando se fala em Direitos Humanos algumas pessoas associam esse conjunto de direitos à defesa de bandidos ou ao crime. Esta é uma associação equivocada, pois dá a sensação para a maioria das pessoas que os direitos humanos são contrários à sociedade ao privilegiar pessoas criminosas. Os direitos humanos são pertencentes e inerentes a toda sociedade. Este princípio, chama-se universalidade. Isso quer dizer que todos nós, independente da condição social, da raça, da idade, do local onde nasceu, estamos protegidos pelos direitos humanos simplesmente pelo fato de sermos pessoas humanas. O fundamento dos direitos humanos baseia-se no fato de que todas as pessoas merecem igual respeito uma das outras. Isso nos sugere que quando formos capazes de agir em relação ao outro da mesma forma que gostaríamos, de que agissem conosco, estaremos observando outro principio que é o da igualdade.

Por direitos humanos ou direitos da pessoa humana podemos entender como sendo aqueles direitos correspondentes às necessidades essenciais da pessoa humana e devem ser atendidos para que possamos viver com dignidade. O direito à vida, à liberdade, à igualdade e, também ao pleno desenvolvimento da personalidade são alguns exemplos desses direitos. Todas as pessoas devem ter asseguradas desde o seu nascimento e durante toda a sua vida, as mínimas condições necessárias para viver com dignidade. Pessoas idosas e seus cuidadores estão também protegidos pelos direitos humanos. As necessidades básicas das pessoas idosas e dos seus cuidadores devem ser atendidas para que o direito à vida possa ser respeitado. A vida é um direito humano fundamental, assim como envelhecer com dignidade é um direito humano fundamental.

Na Constituição brasileira de 88 estão reafirmados os direitos humanos. A Constituição Federal dá uma forte ênfase aos direitos humanos. Ela é a mais avançada em matéria de direitos individuais e sociais na história do Brasil. Por isso, foi denominada e Constituição Cidadã. O Estatuto do Idoso promulgado em 2003, bem depois da Constituição Federal, também reafirma os direitos humanos (Ver capítulo OS DIREITOS DA PESSOA IDOSA NA LEGISLAÇÃO). Destacamos estes artigos do estatuto:

Art. 2º. “O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana...”

Art. 10. “É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.”

DIREITOS HUMANOS E POLÍTICAS PÚBLICAS

Marília Anselmo Viana da Silva Berzins

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MÓDULO III Violência Contra a Pessoa Idosa

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Texto de Apoio Direitos Humanos e Políticas Públicas

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Vivemos num estado democrático. Isso que dizer que o Brasil é um país onde a democracia é a forma de organização social e política. Portanto, todas as pessoas devem ser tratadas em situação de igualdade. É isso que nos diz a Constituição Federal “todos são iguais perante a lei”.

Um dos papeis que o estado democrático deve desenvolver é o planejamento e execução das políticas públicas. Elas nada mais são do que as ações que o governo realiza com a finalidade de atender aos interesses e necessidades dos cidadãos. Ou em outras palavras: As políticas públicas são as decisões de governo em diversas áreas (saúde, habitação, assistência social, educação, transporte etc) que influenciam a vida de um conjunto de cidadãos.

Para que as políticas públicas sejam efetivas e possam alcançar os resultados esperados, elas devem contar com a participação dos cidadãos, inclusive fiscalizando a sua realização. A participação das pessoas nos negócios do Estado é uma forma de exercer a cidadania. Isso é muito importante e é um mecanismo reconhecido nos estados democráticos.

As políticas públicas surgem muitas vezes provocadas pelos cidadãos que sentem a necessidade de algum serviço especifico ou da falta de solução para problemas que estão passando. A sociedade civil, por meio das suas mais diversas organizações, pressiona o estado para ofertar uma política pública. Um exemplo disso foi o “movimento das mães trabalhadoras” que pressionaram os governos para a instalação das creches. Hoje, as creches são equipamentos de educação para as crianças e espaços seguros onde as mães que trabalham foram podem deixar seus filhos. As creches fazem parte das políticas públicas de educação e também atendem as necessidades sociais de mães trabalhadoras.

O envelhecimento populacional é um fato real em nossa sociedade. Lembro que envelhecer não é problema. O envelhecimento deve ser entendido como triunfo e uma grande conquista da humanidade. Já acrescentamos mais anos à nossa existência. Está faltando dar dignidade a esses anos que foram ganhos. Precisamos juntar esforços coletivos para que as pessoas que alcançaram mais anos nas suas vidas possam viver em condições de dignidade, respeito e solidariedade.

Muitas pessoas idosas necessitam de cuidados para continuar a viver em suas casas e na comunidade onde estão inseridos. A família mudou muito nas últimas décadas. Um fator importante e decisivo para a mudança da estrutura familiar foi o fato da mulher, tradicional cuidadora, sair de casa para trabalhar. Outro fato também a ser considerado, é a redução do número de filhos das famílias brasileiras. Hoje em dia, a média de filhos por família é apenas dois. Esses e outros fatores estão exigindo da sociedade vários rearranjos na responsabilidade de quem cuida da pessoa idosa que precisa ser ajudada. Hoje, o cuidador ou cuidadora de idosos já é uma pessoa ou profissional bem conhecida das nossas famílias e da sociedade moderna. No passado, esta pessoa ou profissional era inexistente ou desconhecida. Com o aumento do número de pessoas idosas dependentes (fisicamente), esta função está sendo cada vez mais requisitada pelas pessoas idosas e pelas famílias.

Chegou o momento do Poder Público também se responsabilizar pelos cuidados da pessoa idosa que necessita deles por períodos prolongados ou curtos. A mobilização do segmento idoso por meio dos conselhos, fóruns, associações e outras formas de organização estão pressionando os governos para a oferta de uma política pública que proporcione os serviços de cuidador de idosos. Esta é uma necessidade urgentíssima!

O Estatuto do Idoso no artigo 3º diz que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação dos seus direitos. É preciso estruturar serviços públicos no campo da saúde, da assistência social e dos direitos humanos para suprir a necessidade desse grupo de idosos, chamados de vulneráveis, dependentes, frágeis ou em situação de fragilidade. É preciso criar novas formas de articulação em rede, oferecendo o cuidador formal para as famílias que dele necessitarem. Pode ser até mesmo para dar um “respiro” às famílias nos finais de semana, noites e etc. Para que isso ocorra é necessário conceber e organizar, do ponto de vista das políticas públicas, ações eficientes e eficazes.

Na cidade de São Paulo, a Prefeitura Municipal, desde o ano de 2004 desenvolve o Projeto Acompanhante de Idosos/Anjos Urbanos. Trata-se de uma política pública que oferece uma profissional (mulher) para exercer as atividades de acompanhante e cuidadora na casa de pessoas idosas que moram sozinhas ou não têm a presença constante dos seus familiares. É um projeto inovador, pois demonstra a responsabilidade do Poder Público na provisão dos cuidados aos seus cidadãos. A supervisão do trabalho é feita pela equipe de saúde da unidade básica, da Estratégia Saúde da Família ou pela Unidade de Referência de Saúde do Idoso. O Projeto é muito bem avaliado pelas pessoas idosas que dele se utilizam e pela comunidade onde as acompanhantes de idosos estão inseridas. Várias instituições já avaliaram o projeto como sendo uma experiência exitosa na temática do envelhecimento. Vários desafios se apresentam ao Projeto Acompanhante de Idosos/Anjos Urbanos. Talvez, o maior deles seja a sua universalização na cidade de São Paulo, chegando a todos as pessoas idosas que dele necessitarem. Entretanto, ele já aponta para várias possibilidades. Uma delas refere-se ao fato de que em outros municípios a experiência pode ser repetida. Precisa para tanto da vontade política e da mobilização da comunidade local para que famílias e pessoas idosas possam ser atendidas na sua integralidade.

Os Direitos Humanos e o respeito não envelhecem! Viver mais vem acompanhado de muitos desafios. Ao se viver mais, espera-se que a dignidade, o respeito e condições favoráveis sejam também incorporados à vida cotidiana das pessoas idosas. A integralidade do cuidado requer do poder público, a organização de serviços e, sobretudo, a oferta de políticas públicas eficientes para consolidar a prática de proteção e respeito aos direitos humanos dos cidadãos idosos. Cuidador de idoso e direitos humanos estão na mesma relação de fazer cuidado para pessoas idosas. Por fim, queremos ressaltar o fato de que em 2008 estamos comemorando 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos. Isso é um fato para ser celebrado por toda a sociedade. As pessoas idosas têm direito a ter direitos. Quem precisa de cuidados deve ter garantido esse direito.

Sugestão para leituras:

• Estatuto do Idoso. Lei nº 10.741 de 1º de Outubro de 2003.

• Constituição da República Federativa do Brasil. 01 de Outubro de 1988.

• Declaração Universal dos Direitos do Homem. ONU. 10 de Dezembro de 1948.

• Cartilha de Direitos Humanos para a Educação Básica – Acesso em: http://www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/a_pdf/cartilha_ma_direitos_huma-nos.pdf

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MÓDULO III Violência Contra a Pessoa Idosa

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REFERÊNCIAS

Secretaria Municipal de Saúde. Violência doméstica contra a pessoa idosa: orientações gerais. Coordenação de Desenvolvimento de Políticas de Saúde – CODEPPS. São Paulo: SMS, 2007. (texto de apoio 1)

Minayo MCS. Violência contra Idosos: o avesso do respeito à experiência e à sabedoria. (texto de apoio 2)

Berzins MAVS. Violência Institucional contra a Pessoa Idosa: a contradição de quem cuida. Tese (doutorado). Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo. 2009.

Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo III - Aula 1 - Atividade 1VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA

Aluno(a): .........................................................................................

1. Descreva uma situação de seu ambiente de trabalho que possa ser classificada como violência institucional

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Nesse módulo trabalharemos alguns conceitos muito comuns em relação ao envelhecimento que podem não ser tão claros ou homogêneos para todos. Como, em nossos próximos módulos, trabalharemos com o cuidado da pessoa idosa, é fundamental que falemos as mesmas coisas para caminharmos na mesma direção.

No entanto, uma aula para discutir conceitos pode ser meio cansativa. Assim, para aula proponho a seguinte dinâmica:

1. Inicialmente, distribuiremos a todos vocês alguns cartões coloridos. No cartão vermelho está o “termo” cujo conceito será trabalhado; no cartão verde está a descrição do conceito propriamente dito e o cartão amarelo refere-se a um exemplo relacionado ao conceito. Cada aluno receberá um kit com 3 cartões, um de cada cor, porém misturados. Cada um lerá o conteúdo de seus cartões individualmente e tentará associar conceito-definição.

2. Em plenária, iniciar a atividade. Um aluno diz a palavra contida no cartão vermelho e, o outro, com a descrição da definição, de identifica e completa a definição, fazendo um par. A seguir, juntar-se-á a esse par, o terceiro aluno (que se identificará) com o cartão amarelo com o mesmo termo e dará um exemplo referente ao conceito que está sendo discutido. O professor estimulará os alunos a desenvolverem outros três exemplos para cada conceito, preferencialmente trazidos de seu ambiente de trabalho. Isso facilitará a fixação dos conceitos.

3. É fundamental que dúvidas sejam esclarecidas ou mesmo que opiniões divergentes sejam explicitadas, pois, ao final da atividade, deveremos estar trabalhando com conceitos homogêneos ou muito próximos disso. Portanto, mão à obra.

4. Atividade não presencial – Os conceitos trabalhados em sala estarão descritos em texto complementar a ser entregue, após a aula. Esse material deverá ser relido por todos para auxiliar na fixação dos conceitos e também na construção do mapa conceitual de cada um. Cada aluno deverá escolher três conceitos discutidos em aula e desenvolver um exemplo (por escrito) para cada um, utilizando informações de seu ambiente de trabalho. Essa atividade deverá ser entregue para o professor na aula seguinte.

MÓDULO IV Principais Conceitos

Relacionados ao Envelhecimento

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo IV - Atividade não presencial (deverá ser entregue para o professor na próxima aula)

PRINCIPAIS CONVEITOS RELACIONADOS AO ENVELHECIMENTO

Aluno(a): .........................................................................................

Conceito 1:

Exemplo:

Conveito 2:

Exemplo:

Conceito 3:

Exemplo:

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TEXTO DE APOIO

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GERONTOLOGIA - De origem grega, significa estudo do envelhecimento. É o campo multi e interdisciplinar que visa à descrição e à explicação das mudanças típicas do processo do envelhecimento e de seus determinantes genético-biológicos, psicológicos e socioculturais. Interessa-se pelo estudo das características dos idosos, bem como pelas várias experiências de velhice e envelhecimento ocorridas em diferentes contextos socioculturais e históricos. Abrange aspectos do envelhecimento normal e patológico.

GERIATRIA - Representa o estudo clínico da velhice. Compreende a prevenção e o manejo das doenças do envelhecimento. É uma especialidade médica.

ATITUDES EM RELAÇÃO À VELHICE - Representa nossa disposição em relação a uma pessoa ou grupo de pessoas e é construída a partir de um conjunto de juízos que conduzirão a um comportamento. Desenvolve-se a partir de nossas experiências e da informação que possuímos sobre as pessoas ou grupo de pessoas.

“AGEISM” - Refere-se, essencialmente, às atitudes que os indivíduos e a sociedade têm frequentemente com os demais em função da idade. Já, a discriminação por idade descreve a situação em que a idade é o fator decisivo. É considerado o prejuízo mais importante, a discriminação mais significativa, a rejeição mais cruel è o terceiro grande “ismo”, depois de racismo e sexismo.

Exemplo 1: o empregador que decide contratar, promover, retreinar ou aposentar/dispensar um funcionário com base somente na idade. Ainda que reparar na idade de um indivíduo não seja inerentemente ofensivo, agir por estereótipos baseados em idade é claramente um preconceito contra o indivíduo, que frequentemente não é contestado pela sociedade.

IDOSO - “Idoso” no Brasil refere-se a toda e qualquer pessoa a partir dos 60 anos de idade. Isso está oficialmente determinado pela Política Nacional do Idoso e pelo Estatuto do Idoso, leis vigentes em nosso país. A determinação cronológica do envelhecimento (por idade) é realizada para facilitar a organização de serviços assistenciais e a distribuição de alguns benefícios. O limite etário aqui estabelecido segue orientação da Organização Mundial de Saúde que diz que, em países desenvolvidos (como Estados Unidos, Japão, Canadá, países europeus, etc) é considerada idosa toda pessoa a partir dos 65 anos de idade e, nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, ainda hoje, esse limite etário é de 60 anos. Isso é devido às diferentes

PRINCIPAIS CONCEITOS RELACIONADOS AO ENVELHECIMENTO

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MÓDULO IV Principais Conceitos Relacionados ao Envelhecimento

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Texto de Apoio Principais Conceitos Relacionados ao Envelhecimento

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condições de vida a que a população é submetida o que pode, em especial com os economicamente menos favorecidos, gerar um “envelhecimento mais precoce”.

ENVELHECIMENTO - Processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte.

EXPECTATIVA DE VIDA - Em biologia é normalmente definida como a duração média de vida esperada para os membros de uma espécie a partir do nascimento. Para a demografia é a estimativa sobre a duração média da vida de uma coorte por ocasião do nascimento.

CAPITAL DE SAÚDE - “Capital de Saúde” é um conceito da área de economia que foi trazido para a saúde e foi associado a um conceito sociológico - CURSO DE VIDA, ou seja, o que ocorre ao final da vida está associado a tudo o que se fez antes, ao que foi poupado e ao que foi gasto. Assim, Capital de Saúde pode ser compreendido como a somatória dos investimentos e dos gastos em saúde. Menos investimento e mais consumo significa menor estoque de saúde. Por outro lado, mais investimento e menos consumo significa maior estoque de saúde onde o resultado final dependerá do “Capital inicial” (que nasce conosco), do “Nível de investimento” e do “ Grau de consumo” que teremos durante o curso de vida.

TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA - Transição demográfica é um conceito que descreve a dinâmica do crescimento populacional, decorrente dos avanços da medicina, urbanização, desenvolvimento de novas tecnologias, taxas de natalidade e outros fatores. Em primeiro lugar, explica porque a população mundial disparou nos últimos 200 anos (passando de um bilhão de habitantes no ano 1800 aos sete bilhões na atualidade). Em segundo lugar, descreve o período de transformação de uma sociedade pré-industrial (caracterizada por ter taxas de natalidade e de mortalidade altas) a uma moderna ou pós-industrial (caracterizada por ter ambas as taxas baixas). Explica também porque, atualmente, temos um grande crescimento da população idosa na população total e, consequentemente, convivemos com mais idosos no dia-a-dia (diminuição da natalidade, diminuição da mortalidade e aumento da expectativa de vida).

TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA - Refere-se às mudanças ocorridas no tempo nos padrões de morte, morbidade e invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem, em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas. O processo engloba três mudanças básicas: substituição das doenças transmissíveis por outras não transmissíveis e causas externas; o deslocamento das cargas de morbi-mortalidade dos grupos mais jovens para os mais idosos e, transformação de um padrão onde predomina a mortalidade para outro onde a morbidade é predominante.

TERCEIRA IDADE - Terceira Idade é uma expressão que recentemente e com muita rapidez popularizou-se no vocabulário brasileiro. A expressão, de acordo com Laslett (1987), originou-se na França com a implantação, nos anos 70, das Universités du T’roisième Âge, sendo incorporada ao vocabulário anglo-saxão com a criação das Universities of the Third Age em Cambridge, na Inglaterra, no verão de 1981. Seu uso corrente entre os pesquisadores interessados no estudo da velhice não é explicado

pela referência a uma idade cronológica precisa, mas por ser essa uma forma de tratamento das pessoas de mais idade, que não adquiriu ainda uma conotação depreciativa. A invenção da terceira idade é compreendida como fruto do processo crescente de socialização da gestão da velhice: durante muito tempo considerada como própria da esfera privada e familiar, uma questão de previdência individual ou de associações filantrópicas, ela se transformou em uma questão pública. Um conjunto de orientações e intervenções foi definido e implementado pelo aparelho de Estado e outras organizações privadas. Como consequência, tentativas de homogeneização das representações da velhice são acionadas e uma nova categoria cultural é produzida: as pessoas idosas, como um conjunto autônomo e coerente que impõe outro recorte à geografia social, autorizando a colocação em prática de modos específicos de gestão.

SENESCÊNCIA - Senescência é o processo natural de envelhecimento ou o conjunto de fenômenos associados a este processo. A senescência é um processo metabólico ativo essencial para o envelhecimento. Tais alterações têm por característica principal a diminuição progressiva de nossa reserva funcional. Isto significa dizer que um organismo envelhecido, em condições normais, poderá sobreviver adequadamente, porém, quando submetido a situações de estresse físico, emocional, etc; pode apresentar dificuldades em manter sua homeostase manifestando assim, sobrecarga funcional, que pode culminar em processos patológicos.

SENILIDADE - Termo atribuído à presença de doenças e limitações que podem surgir ao longo da vida, como a osteoporose, a hipertensão arterial e o câncer. Estas são características do envelhecimento patológico e necessitam de abordagem e tratamento específicos. É verdade que as doenças, principalmente o câncer e as crônico-degenerativas, são muito mais prevalentes na população idosa, mas atribuir estas condições como esperadas para idades avançadas é um equívoco.

FUNCIONALIDADE - Funcionalidade diz respeito aos níveis de “funcionamento” (função) de uma pessoa em diferentes áreas. Baseia-se no conceito de função, ou seja, a capacidade do indivíduo para adaptar-se aos problemas de todos os dias apesar de possuir uma incapacidade física, mental ou social. Envolve aquelas atividades que são desenvolvidas diariamente e estão diretamente relacionadas ao autocuidado, ao cuidado de seu entorno e à participação social. A funcionalidade de uma pessoa pode ser mensurada por meio da avaliação funcional.

AVALIAÇÃO FUNCIONAL - Avaliação funcional foi definida por Lawton em 1971, como “uma tentativa sistematizada de mensurar objetivamente os níveis nos quais uma pessoa funciona numa variedade” de áreas tais quais integridade física, qualidade da automanutenção, qualidade no desempenho dos papéis, estado intelectual, atividades sociais, atitude em relação a si mesmo e ao seu estado emocional”. Para Granger, 1984 “é um método para descrever habilidades e atividades em ordem de mensurar o uso individual de uma variedade de habilidades incluídas no desempenho de tarefas necessárias na vida diária, nos compromissos vocacionais, nas interações sociais, nas atividades de lazer, e outros comportamentos requeridos”.

ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA - As atividades de vida diária (AVD) são as tarefas de desempenho ocupacional que o indivíduo realiza diariamente. Podem também ser denominadas atividades cotidianas. Subdividem-se em básicas, instrumentais e avançadas.

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MÓDULO IV Principais Conceitos Relacionados ao Envelhecimento

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Texto de Apoio Principais Conceitos Relacionados ao Envelhecimento

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DEPENDÊNCIA COMPORTAMENTAL - Frequentemente antecedida pela dependência física (biologicamente induzida) e consequente a uma real incompetência física; a dependência comportamental é socialmente induzida, independente do nível de competência do idoso. O ambiente espera incompetência e dá ajuda mesmo que isso seja desnecessário ou indesejável sob a pena de ser considerado irresponsável e negligente e torna-se assim determinante de desamparo e dependência. Um ambiente de baixa exigência, ao contrário, caracteriza-se pela superproteção que por sua vez, ocasiona dependência.

BEM ESTAR SUBJETIVO - Resultado da avaliação que o indivíduo realiza sobre as suas capacidades, as condições ambientais e a sua qualidade de vida, a partir de critérios pessoais combinados com os valores e as expectativas que vigoram na sociedade. Seu indicador mais conhecido é a “satisfação com a vida”.

CAPACIDADE FUNCIONAL - Relaciona-se à medida do grau de conservação da capacidade do indivíduo para realizar as atividades de vida diária (básicas ou instrumentais). Ao se avaliar a capacidade funcional de um idoso verifica-se por um lado, as ações que o mesmo é capaz de realizar e de outro a presença de necessidade de ajuda para realizá-las. Tais ações são avaliadas diretamente por meio da observação de sua execução. É importante salientar que se deve diferenciar a execução da ação, da capacidade em executá-la. A avaliação da ajuda requerida para completar determinada ação é realizada pós-determinação das ações que o idoso demonstra dificuldade ou incapacidade de realizar sozinho. Desta avaliação resulta uma classificação, onde o idoso aparecerá como dependente (em maior ou menor grau) ou independente.

FAMÍLIA - É uma criação do ser humano em resposta ao seu desejo de ter um grupo de pessoas que atuem sobre interesses comuns e com um desenvolvimento afetivo, em que os afetos são recíprocos, para obter soluções para os problemas do ciclo vital. Tal sistema é representado por uma rede de relações de parentesco cujo funcionamento depende da forma como estas relações se organizam. Idealmente é o lugar significativo e estável que proporciona o encontro harmônico das pessoas onde podem descobrir e dar à sua presença e à sua participação um sentido pleno, comprometido e responsável possibilitando assim o desenvolvimento de vínculos incondicionais.

FAMÍLIAS FUNCIONAIS - São aquelas que têm a capacidade de prover e assistir às necessidades de seus membros efetivamente. São representadas por grupo de pessoas desenvolvido e amadurecido com funções recíprocas, vivenciadas a partir da abertura, comunicação, respeito e aceitação de todos. Todas as decisões são harmônicas visando o bem dos indivíduos e do grupo como um conjunto. Neste grupo também ocorrem conflitos e confusões, mas existe uma predisposição a mudanças e recursos atualizáveis a atendê-las. A essência deste grupo é a aceitação do outro e a dinâmica da reciprocidade dos papéis. Seus membros são ao mesmo tempo independentes e interdependentes, ou seja, são autônomos no que diz respeito às questões pessoais, mas comprometidos em seus vínculos familiares de forma recíproca. Nesse grupo há aceitação recíproca e positiva do outro, além de respeito, conhecimento, compreensão, responsabilidade e estabilidade emocional. Embora acolhedor e flexível, é um grupo firme capaz de responder às demandas apresentadas de forma correta e adequada sem no entanto sobrecarregar excessivamente qualquer um de seus membros.

ATIVIDADES BÁSICAS DE VIDA DIÁRIA - Envolvem as atividades de autocuidado como alimentar-se, banhar-se, vestir-se, arrumar-se, mobilizar-se, manter controle sobre suas eliminações, deambular. Quando comprometidas requerem, necessariamente, a presença de um cuidador. Seu comprometimento implica em maior dependência das pessoas idosas e, portanto, maior necessidade de assistência.

ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA DIÁRIA - Indicam a capacidade de um indivíduo em levar uma vida independente dentro da comunidade. Envolve as seguintes atividades: realizar compras, manipular medicamentos, utilizar transporte, utilizar telefone, realizar tarefas domésticas leves e pesadas, preparar refeições quentes e administrar as próprias finanças. Quando comprometidas requerem uma reorganização familiar de forma a assistir adequadamente as necessidades da pessoa idosa e permitir que ela mantenha, pelo maior tempo possível, sua autonomia e independência.

AUTONOMIA - Autonomia é um termo de origem grega cujo significado está relacionado com independência, liberdade ou autossuficiência. É o exercício do autogoverno. Inclui: liberdade individual, privacidade, livre-escolha, liberdade e harmonia como os próprios sentimentos e necessidades. Em Filosofia, autonomia é um conceito que determina a liberdade de indivíduo em gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida por uma lei própria, que apesar de ser diferente das outras, não é incompatível com elas.

INDEPENDÊNCIA - O aspecto central do conceito de independência é a capacidade funcional que, em sua expressão máxima, significa poder sobreviver e desempenhar, sem ajuda, as atividades de vida diárias. A independência não é condição necessária para a autonomia embora seja uma condição frequentemente presente em pessoas capazes de decidirem por si. Não confunda os conceitos de “autonomia” e “independência”. Uma pessoa pode ter algum comprometimento funcional, mas preservar sua autonomia, ou seja, seu poder de decidir o que quer e como quer.

DEPENDÊNCIA - É a incapacidade de a pessoa funcionar satisfatoriamente sem ajuda, por limitações físico-funcionais e/ou por limitações cognitivas. É necessariamente o grau de dependência que determinará os tipos de cuidados que vão ser necessários e como e por quem os mesmos poderão ser mais apropriadamente realizados

DEPENDÊNCIA FÍSICA - Definida como incapacidade funcional, desamparo prático ou incapacidade individual para realizar atividades de vida diária. Existe em diferentes graus de dependência funcional, dependendo de quais e quantas incapacidades estão incluídas na avaliação. Esta dependência torna-se mais pronunciada quando o idoso é acometido por doenças cerebrais degenerativas ou por doenças incapacitantes. A incapacidade orgânica, no entanto, não é nem condição necessária nem suficiente para determinar a dependência. Na dinâmica das interações sociais e na percepção social, a dependência física é frequentemente interpretada como sinal de incompetência geral, geradora de dependência generalizada.

DEPENDÊNCIA ESTRUTURADA - Onde o significado do valor do ser humano é determinado, primariamente, pela participação no processo produtivo. Esta seria gerada pela perda do trabalho e/ou aposentadoria. Em essência, a cultura estabelece as bases para a dependência, na medida em que sua estrutura social até requer dependência de certos grupos da população para poder funcionar.

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MÓDULO IV Principais Conceitos Relacionados ao Envelhecimento

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Texto de Apoio Principais Conceitos Relacionados ao Envelhecimento

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FAMÍLIAS DISFUNCIONAIS - São grupos severos e rígidos, com funções estáticas e vínculos unidirecionais e imutáveis onde não há um comprometimento com a dinâmica e a vida do sistema por parte de seus membros que costumam priorizar seus interesses particulares em detrimento do grupo e não assumem seus papéis dentro do sistema. Possuem vínculos afetivos superficiais e instáveis e alto grau de agressividade e hostilidade entre seus membros mesmo que não abertamente colocados. Raramente são capazes de resolver situações críticas como uma questão grupal, de forma adequada e com frequência identificam a “crise” como responsabilidade única do membro que a desencadeou, lido aqui como um “estorvo”. Qualquer mudança no papel ou na expectativa do papel de algum de seus membros ocasiona confusão e desestruturação do grupo, pois os outros membros não estão prontos a se adaptar. A essência desse grupo é a rigidez que se exterioriza com uma estabilidade e harmonia aparentes, porém frágeis que se desfazem frente à necessidade de modificações em sua estrutura para as quais não estão prontos a responder.

FRAGILIDADE - Várias são as definições de fragilidade e não há um consenso sobre o assunto. Uma das autoras mais citadas (Fried) define Fragilidade como um processo fisiopatológico único, resultado de alterações em uma série de mecanismos biológicos que leva a alterações de múltiplos sistemas e, eventualmente, ao rompimento do equilíbrio homeostático. Fragilidade é, assim, considerada uma síndrome clínica caracterizada pela diminuição da reserva energética e pela resistência reduzida aos estressores, que resulta do declínio cumulativo dos sistemas fisiológicos e causa vulnerabilidade às condições adversas, por haver dificuldade de manutenção da homeostase em situações de exposição às perturbações, tais como, alterações de temperaturas ambientais e variações na condição de saúde.

CUIDADOR - É a pessoa que cuida de pessoas idosas que necessitem de acompanhamento ou cuidado, auxiliando no desenvolvendo atividades cotidianas de forma a garantir uma melhor qualidade de vida e a manutenção de sua integração com a sociedade.

DEFICIÊNCIA (impairment) - Refere-se a qualquer perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. Pode ser física, auditiva, visual, mental ou múltipla.

INCAPACIDADE (disability) - Reflete as consequências das deficiências em termos de desempenho e da funcionalidade do indivíduo.

DESVANTAGEM (handcap) - É a perda ou limitação das oportunidades de participar da vida em comunidade em igualdade de condições com as demais pessoas que não tem deficiência.

ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO (Coping) - São definidas como o uso que as pessoas fazem de estratégias cognitivas e comportamentais com o objetivo de lidar com demandas internas ou externas específicas que surgem em situações estressantes ou adversas. Referem-se ainda, à maneira pela qual as pessoas processam a informação recebida e respondem a tipos particulares de estresse.

REDE DE SUPORTE SOCIAL - Conjunto hierarquizado de pessoas que mantém entre si laços típicos das relações de dar e receber. Elas existem ao longo de todo o ciclo vital, atendendo à motivação básica do ser humano à vida gregária. No entanto, sua estrutura e suas funções sofrem alterações dependendo das necessidades das pessoas. Entre suas principais funções cita-se dar e receber apoio emocional, ajuda

material, serviços e informações; estabelecer novos contatos sociais. Familiares, vizinhos, amigos e conhecidos compõe a rede de relações e apoio informais. O tamanho da rede de relações sociais decresce com a idade, assim como o suporte social recebido (por doença e por morte dos membros mais velhos da rede). O suporte social oferecido mantém-se estável (nessa estatística tem peso importante as mulheres idosas, que são as cuidadoras principais de seus maridos doentes).

RESILIÊNCIA - Termo utilizado na Física para indicar uma característica de materiais que conseguem retornar a sua forma anterior após serem alvos de pressão, como por exemplo, a mola e o elástico. Para os seres humanos refere-se à capacidade de o indivíduo adaptar-se de maneira positiva diante de situações adversas, mantendo seu desenvolvimento normal e recuperando-se dos efeitos estressores. A velhice é caracterizada como uma etapa em que há uma redução das reservas, ou seja, uma diminuição de recursos internos e externos. Tal redução é resultante de uma alteração no equilíbrio entre ganhos e perdas, sendo as últimas mais frequentes, de ocorrência simultânea. Assim, o quadro que melhor descreve a velhice apresenta-a como o resultado de uma confluência de riscos, desafios e ganhos, o que sugere a necessidade de aumentar a resiliência, com a finalidade de manter o funcionamento adaptativo.

VULNERABILIDADE - Vulnerabilidade, refere-se tanto a um grupo de pessoas momentaneamente incapazes de exercer sua liberdade por uma contingência física ou como consequência de seu percurso de vida, como a um grupo também incapaz, mas, por consequências “sociais” e/ou “políticas”. Pode assim, ser um qualificador de pessoas ou grupos ou uma condição humana, universal, irredutível e inalienável. Como princípio, abarca ambos os sentidos, sendo acrescido de uma obrigação moral como um dever a ser cumprido. Assistir a pessoa vulnerável significa assegurar-lhe proteção de vida para além da proteção de sua integridade moral, dignidade humana e autonomia. No ser humano, a vulnerabilidade assume diferentes formas e dimensões:

a) vulnerabilidade biológica, continuamente desequilibrada por elementos biologicamente desestruturantes, necessitando de autopoiese e auto-organização;

b) vulnerabilidade psicológica, dependente da construção da psique da pessoa com base em suas experiências afetivas e imaginativas;

c) vulnerabilidade espiritual, que utiliza recursos simbólicos no auxílio do enfrentamento dos desafios e para transcender os limites impostos pela realidade;

d) vulnerabilidades cultural, social e ambiental, produzidas pelo entorno sociocultural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Neri, AL. Palavras-chave em Gerontologia. Campinas. Atheneu, 2005 (Coleção Velhice e Sociedade). 2ª. ed.

Goldani AM. Desafios do “preconceito etário” no Brasil. Educ Soc. Campinas. 2010; 31(111):411-34.

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Quando falamos em construir, de forma lógica e organizada o “cuidado” a ser prestado a alguém, devemos ter claro em nossa mente de que “público-alvo” estamos falando. Dessa forma, proponho que na aula de hoje conversemos sobre o processo de envelhecimento e suas implicações para o cuidado da pessoa idosa.

Para essa aula proponho a seguinte dinâmica:

1. Inicialmente, individualmente, cada um de vocês irá descrever as principais modificações (físicas/funcionais, psicológicas e sociais) que acreditam que ocorram com as pessoas em decorrência do processo de envelhecimento (atividade 1). 2. Em seguida, nos reuniremos em pequenos grupos e procuraremos chegar a um consenso sobre as descrições

em cada campo que serão, em seguida, discutidas em plenária (atividade 2). 3. Para a plenária (atividade 3), sugiro que sejam feitos três grupos, um para

descrever as modificações sociais, outro para as modificações psicológicas e outro para as modificações físicas. Sugiro que cada um dos grupos encene uma situação referente a cada conjunto de modificações que, em conjunto, serão discutidas. Lembrar de situações vivenciadas em seu ambiente de trabalho podem auxiliar na construção da representação.

4. Após a apresentação de cada grupo deverá ser feita uma síntese (atividade 4) relacionada às principais modificações relacionadas ao processo de envelhecimento com a participação de todos de forma a serem fixadas permitindo a elaboração do melhor cuidado à pessoa idosa.

MÓDULO V Condições Crônicas e

Envelhecimento

PARTE 1

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MÓDULO V Condições Crônicas e Envelhecimento

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5. É fundamental que dúvidas sejam esclarecidas ou mesmo que opiniões divergentes sejam explicitadas, pois, ao final da atividade, o grupo deve ser capaz de identificar as principais modificações que ocorrem com o envelhecimento e suas implicações para o cuidado da pessoa idosa.

6. Após a finalização da atividade 4, vamos ler o texto de apoio para complementar nossas discussões. Se não for possível finalizá-lo em sala de aula, deveremos fazê-lo como atividade não presencial, pois seu conteúdo será fundamental para as aulas subsequentes.

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Módulo V - Atividade 1 (atividade individual)MODIFICAÇÕES QUE OCORREM COM OS INDIVÍDUOS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Aluno(a): .........................................................................................

1. Descreva as principais modificações físico-funcionais que ocorrem com as pessoas em decorrência do processo de envelhecimento (composição corporal, sistema sensorial, sistema tegumentar, sistema cardiovascular, sistema respiratório, sistema neurológico, sistema digestório, sistema músculo-esquelético)

2. Descreva as principais modificações da esfera psicológica que acometem as pessoas no processo de envelhecimento

3. Descreva as principais modificações sociais relacionadas aos idosos e ao processo de envelhecimento

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Módulo V - Atividade 2 (Atividade Individual)MODIFICAÇÕES QUE OCORREM COM OS INDIVÍDUOS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Aluno(a): .........................................................................................

Em pequenos grupos vamos conversar sobre as descrições individuais e construir coletivamente uma descrição relativa a cada conjunto de modificações:

1. Modificações físico-funcionais:............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................2. Modificações psicológica ......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................3. Modificações sociais .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... ............................................................................................................................................................................................................

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Módulo V - Atividade 3 (Representação das Modificações Discutidas)MODIFICAÇÕES QUE OCORREM COM OS INDIVÍDUOS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Aluno(a): .........................................................................................

Agora que conversamos em grupo sobre as principais modificações que ocorrem com o envelhecimento, vamos nos lembrar dos idosos que atendemos em nosso local de trabalho. Vamos nos dividir em três grandes grupos e, cada um deles, será responsável por representar uma situação que ilustre as modificações que ocorrem no envelhecimento.

1. Grupo 1 - Modificações físico-funcionais (descreva a situação a ser representada a seguir): ..........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

2. Grupo 2 - Modificações psicológicas (descreva a situação a ser representada a seguir): ..........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

3. Grupo 3 - Modificações sociais (descreva a situação a ser representada a seguir): ..........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

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Módulo V - Atividade 4 (Síntese após Plenária)MODIFICAÇÕES QUE OCORREM COM OS INDIVÍDUOS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Aluno(a): .........................................................................................

Vamos finalizar as atividades com uma síntese da classe sobre as principais modi-ficações relacionadas ao processo de envelhecimento que serão complementadas com a leitura do texto de apoio.

3. Modificações físico-funcionais: ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

4. Modificações psicológicas .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... ......................................................................................................

5. Modificações sociais .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... ......................................................................................................

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TEXTO DE APOIO

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INTRODUÇÃO

É cada vez mais comum convivermos com um número cada vez maior de pessoas idosas, ou seja, homens e mulheres com idade igual e superior a 60 anos. Popularmente costumamos chamá-los de “velhos”, terceira idade, maior idade, melhor idade, etc.

A maioria das pessoas idosas vive de forma independente em suas próprias casas, sozinha ou com parentes. A maioria, também, costuma ser portadora de uma ou mais doenças crônicas como, por exemplo, hipertensão e diabetes. Isso não as torna pessoas doentes, pois, desde que façam um acompanhamento de saúde de forma regular, tomem seus medicamentos conforme indicado e modifiquem alguns hábitos de vida, tais doenças não serão geradoras de situações que comprometam uma vida independente e ativa.

Entre as pessoas idosas também encontramos outras que, ao contrário do que comentamos, não se encontram em boas condições de saúde. Elas podem ter até as mesmas doenças, mas, devido a maior gravidade ou pior acompanhamento das mesmas, chegaram às idades mais avançadas com limitações funcionais, ou seja, com problemas decorrentes de doenças pré-existentes que as fazem necessitar de ajuda para desempenhar suas atividades do dia-a-dia.

Compreender o que ocorre nessa fase da vida é fundamental para o planejamento de um cuidado adequado e compatível com as necessidades dos idosos com os quais convivemos diariamente.

ENTENDENDO O ENVELHECER...

A velhice, terceira idade, melhor idade ou qualquer nome que desejemos dar, nada mais é que uma fase da vida como todas as outras pelas quais já passamos – infância, adolescência, vida adulta, meia-idade... Assim como essas fases tinham características peculiares, na idade mais avançada elas também existem. Conhecê-las pode nos auxiliar a desfrutar os próximos anos da melhor forma possível e continuar nossa jornada na estrada da vida de forma prazerosa e gratificante.

MODIFICAÇÕES QUE OCORREM COM OS INDIVÍDUOS NO PROCESSO DE

ENVELHECIMENTO

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MÓDULO V Condições Crônicas e Envelhecimento

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No Brasil, segundo a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso, são consideradas idosas todas as pessoas a partir dos 60 anos de idade. Embora seja estabelecido esse limite cronológico mínimo, o mesmo não é feito em relação ao limite máximo.

Pode-se pensar “saúde” para a pessoa idosa como a resultante da soma entre saúde física e mental, independência econômica, independência no desempenho das atividades do dia-a-dia, suporte familiar e a existência de uma rede de amigos ou de pessoas em quem confiamos e com quem podemos contar quando necessário. Qualquer dessas dimensões; juntas ou isoladamente, quando comprometidas, pode afetar nossa capacidade em viver de forma autônoma (decidindo o que queremos) e independente (não precisando de ajuda), repercutindo consequentemente em nossa qualidade de vida.

Tais coisas são resultado de uma construção de toda uma vida, a vida que vivemos ou que escolhemos viver. No entanto essa é uma conta aberta a qual podemos adicionar novos créditos todos os dias. Assim, olhar para o passado não deve servir para olharmos o que não fizemos. Esse olhar deve, ao contrário, nos impulsionar para o futuro, renovando-nos a cada dia. Toda manhã, ao acordarmos, devemos encarar o desafio de viver o melhor dia de nossas vidas.

COMO FAZER ISSO SE TENHO UMA OU MAIS DOENÇAS?

Como dissemos, ao envelhecer é frequente observarmos a presença de uma ou mais doenças juntas, em sua maioria de natureza crônica: hipertensão; diabetes, osteoporose, etc. Todas elas têm, em comum, a característica de serem crônicas, ou seja, não tem cura mas, tem tratamento e podem ser controladas.

A medicina avançou muito e consegue controlar a maioria das doenças das pessoas idosas com medicamentos (remédios), alimentação adequada e exercícios contribuindo para que seja possível viver muitos anos com essas doenças sem qualquer problema maior. Com certeza morreremos com essas doenças, o que não precisamos, no entanto, é morrer por causa delas ou, o que ainda é pior, ficarmos dependentes em consequência delas e necessitarmos da ajuda de outras pessoas para fazer as coisas que gostamos todos os dias. Os problemas só acontecerão se acreditarmos, erroneamente, que nos “curamos” dessas doenças e, assim, abandonarmos o tratamento que fazíamos. Se eu tenho que tomar o “remédio” da pressão todos os dias, assim tem que ser. A minha pressão ficará controlada justamente porque estou fazendo o tratamento correto.

QUAIS SERIAM OS ASPECTOS PSICOSSOCIAIS RELACIONADOS AO ENVELHECIMENTO?

O envelhecimento é um processo biopsicossocial e, embora muita ênfase seja dada aos aspectos biofuncionais no planejamento assistencial, a compreensão da dinâmica psicossocial da pessoa idosa é fundamental na compreensão da evolução de seu processo de vida.

Os aspectos psicossociais envolvem os aspectos psicológicos e os sociais normalmente muito relacionados nesse grupo etário. Muitas são as respostas emocionais apresentadas pelos idosos como resultado do processo de envelhecimento normal, às

doenças que podem estar presentes nessa fase da vida, às mudanças de papel ou status social, mudanças econômicas e modificações na sua rede de suporte social.

ASPECTOS PSICOLÓGICOS

Para a melhor compreensão do estado emocional de uma pessoa idosa, deve-se buscar contextualizá-lo junto a sua história de vida, pois, com frequência, suas reações emocionais estarão diretamente relacionadas às vivências acumuladas no decorrer de toda a sua existência.

Na tentativa de se obter uma compreensão ampla e profunda da situação atual da pessoa idosa e evitar uma análise superficial, estereotipada e preconceituosa, geralmente dirigida apenas ao comportamento apresentado por ela no momento, é fundamental conversar, além da própria pessoa, com seus familiares e com outras pessoas de seu entorno. Deve-se também considerar que essa pessoa apresenta características próprias de personalidade.

O núcleo da personalidade é estabelecido na infância e permanece em níveis mentais inconscientes, tendo seus efeitos refletidos na vida adulta. Dessa forma, a capacidade de adaptação do idoso às mudanças que ocorrem com o envelhecimento dependerá de seu histórico de conflitos emocionais (não intensos) nas idades mais jovens. Assim, suas respostas serão eficientes, adequadas e não regressivas. Se, ao contrário, a pessoa idosa tiver vivenciado situações emocionais traumáticas em idades precoces, mesmo que inconscientes, isso poderá contribuir no desenvolvimento de distúrbios de adaptação ou de problemas psicológicos nas idades mais longevas.

O que seria, então, saúde mental na velhice?

Em linhas gerais, admite-se, que um adulto psiquicamente saudável apresentaria um equilíbrio entre a satisfação de suas necessidades pessoais e a de seus objetos de amor, maior tolerância a frustrações, controle dos impulsos agressivos, uma autoimagem positiva e maior eficácia na avaliação da realidade. Assim, a velhice “saudável” dependerá de laços afetivos satisfatórios, tolerância ao estresse, espontaneidade, otimismo, capacidade de atualizar-se e de sentimentos de segurança e autoestima.

Há várias explicações para os aspectos psicológicos relacionados ao envelhecimento. Uma delas está baseada na teoria do apego que pressupõe que uma relação afetiva segura e duradoura entre a criança e seus cuidadores primários (p.ex: pais) é a base para o desenvolvimento do senso de competência e do funcionamento autônomo. Viver e se desenvolver em um ambiente acolhedor e estimulador contribuem para o estabelecimento e preservação de sentimentos de segurança e autonomia no transcorrer da vida.

Quando, por outro lado, prevalecem experiências negativas, adquiridas a partir de vínculos precoces pouco amorosos e desfavoráveis ao desenvolvimento de uma autoimagem positiva, as adversidades típicas da vida ou as que podem ser experimentadas durante o processo de envelhecimento serão enfrentadas com intolerância e inconformismo, por reascenderem sentimentos de hostilidade e de autodepreciação.

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MÓDULO V Condições Crônicas e Envelhecimento

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Parece haver algum consenso na opinião de que, com o avançar da idade, a pessoa vai desenvolvendo mais consciente de suas limitações. Quanto maior a rigidez da adaptação de seu caráter em idades mais precoces, mais severos os sintomas de ansiedade e de insegurança com o avançar da idade.

O envelhecimento sempre será uma experiência individual, pois a maneira como cada pessoa direciona sua vida vai variar conforme a interação entre fatores genéticos, ambientais, sociais, econômicos, culturais e de saúde que vivenciou. Alguns autores admitem haver um equilíbrio entre ganhos e perdas durante todo o ciclo vital.

Envelhecer é, portanto, a construção de um caminho no transcorrer da vida e não um problema específico que atinge as pessoas de uma determinada faixa etária. As questões emocionais da velhice não têm a ver exclusivamente com esta etapa da vida, mas com a concepção de cada um sobre toda sua existência.

É importante lembrar que a pessoa idosa carrega consigo uma bagagem enorme de experiências que não deve ser subestimada. A memória do idoso tem importante função social de transmissão de experiências e de conhecimentos sobre o passado, o que enriquece e humaniza a vivência com as gerações mais jovens.

A passagem do tempo favorece uma compreensão mais ampla, mais realística e mais sintética da existência propiciando maior serenidade. A idade avançada estimula reflexões existenciais, introspecção e autoquestionamento, o que pode ser interessante para o desenvolvimento pessoal, mesmo que a morte esteja mais próxima.

A pessoa idosa, além de estar mais vulnerável a ocorrência de doenças, costuma enfrentar múltiplas situações de “perda” (aposentadoria, morte de entes queridos, distanciamento dos filhos, alteração da própria imagem, doenças) incluindo a maior proximidade da própria morte.

É compreensível que ao atingir a última etapa da vida, o ajustamento do sujeito idoso ao acúmulo de experiências de perdas diversas e à ideia da própria finitude, dependerá da forma como lidou previamente com experiências correlatas.

Compreender que atitudes intransigentes, irritabilidade excessiva, solicitações e queixas constantes podem estar refletindo uma fragilidade vivenciada pelo idoso diante de suas limitações, auxilia no estabelecimento de um cuidado personalizado, efetivo e adequado pois permitirá acolhe-lo em suas angústias (o que não significa superproteção), estimulá-lo a enfrentar a realidade sem se desvalorizar e sem perder de vista os aspectos positivos de sua vida (que sempre existem). Caso contrário, é provável que o profissional se envolva em uma “atmosfera emocional” negativa tornando sua tarefa mais difícil e desgastante.

Toda perda envolve um “luto” e esse pode ser compreendido como um processo de adaptação e transformação que resulta em benefícios após o enfrentamento da situação dolorosa, permitindo uma abertura para novos interesses, aprendizados, atividades e relacionamentos. Assim considerando, seria possível caracterizar a “senescência psíquica” como a possibilidade da pessoa idosa encontrar satisfação em viver, apesar das perdas ou de um estado de doença, o que dependerá de um funcionamento psíquico no qual prevaleçam sentimentos construtivos mesmo em

situações adversas. Reações depressivas, algum nível de ansiedade e de instabilidade emocional, são esperados e não devem ser confundidos com doenças.

Distúrbios psicológicos ou “senilidade psíquica” estão muito mais relacionados a problemas pré-existentes do que ao processo de envelhecimento em si. Frente a sintomas emocionais importantes como, por exemplo, alto nível de angústia, desmotivação, agressividade acentuada, comportamentos bizarros; a avaliação de um especialista deve ser solicitada.

O adoecimento sempre traz consigo alguns componentes de fragilização, independentemente da idade ou da estrutura de personalidade. Sua presença acarreta algumas repercussões psíquicas inevitáveis, como preocupações, angústias, medos, alterações na autoimagem e dependência (em maior ou menor grau). Quando a doença ocasiona uma limitação e um estado de dependência permanente essas repercussões somam-se a sentimentos de impotência, incompetência, autodesvalorização, revolta e intolerância, que, em última análise, diminui significativamente a autoestima das pessoas acometidas.

Frente a esse quadro a mente humana aciona mecanismos de defesa, operações psíquicas inconscientes com o objetivo de reduzir ou suprimir a vivência de sofrimento. Alguns desses mecanismos são:

• negação: procurar se afastar de algum aspecto desagradável da realidade sob o qual não se tem controle (p.ex: não acreditar em um diagnóstico de câncer);

• regressão: assumir condutas comuns na infância diante de conflitos (p.ex: excessivas queixas corporais, como forma de obter atenção evitando o contato com o plano emocional);

• projeção: colocar no mundo externo a percepção de um conteúdo interno indesejável. (p.ex: atribuir ao profissional que o assiste agressividade e intolerância, quando, na verdade, trata-se de um estado próprio de in-conformismo);

• formação reativa: comportar-se como se estivesse sentindo algo totalmen-te oposto ao que realmente sente, para evitar o contato com sentimentos inaceitáveis (p. ex: ser amável demais, quando o sentimento subjacente é de ódio ou revolta);

• rigidez: resistir à mudanças ou à reflexão, para aliviar a insegurança (p.ex: não aceitar sugestões de novas atividades, para demonstrar controle sobre sua vida);

• isolamento: evitar o contato com as pessoas para fugir da realidade (p.ex: dormir excessivamente).

Assim considerando, é importante estar atento a desajustes comportamentais da pessoa idosa com alguma limitação/doença buscando compreende-los como expressão de defesas contra angústias inconscientes.

O profissional de saúde é uma figura fundamental na manutenção do bem-estar psíquico da pessoa idosa que enfrenta problemas dessa natureza. No entanto, para que, de fato, possa colaborar é importante, na medida do possível, que ele mantenha seu

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MÓDULO V Condições Crônicas e Envelhecimento

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próprio equilíbrio emocional, de modo a poder lidar com as manifestações de angústia do idoso, sem ser “contagiado” por elas. Só assim ele poderá evitar a adoção de atitudes inadequadas como paternalismo, superproteção, condescendência, infantilização, impaciência, displicência, que comprometem a qualidade do cuidado prestado.

ASPECTOS SOCIAIS

A atenção global à pessoa idosa dá ênfase não apenas os aspectos orgânicos das doenças, mas também à sua vida como um todo o que inclui seu ambiente sócio-familiar. Busca-se com isso conhecer o seu meio, verificar se há algo nesse contexto que possa ser melhorado, adequado ou redimensionado de forma a assegurar que o cuidado que ela necessita nessa fase da vida pode ser, adequadamente, ministrado.

O ser humano é um ser social, por essa razão, estar inserido em um contexto social é essencial para sua sobrevivência. É nesse contexto que surgem as redes sociais.

O termo rede é utilizado para designar um determinado tipo de relação ou prática social. Baseia-se na sociometria que descreve as atitudes de aproximação e repulsão dos indivíduos a que alguns autores denominam “psicologia geográfica” uma vez que busca esboçar um mapa de relações para ser aplicado a grupos e comunidades (do tipo “quem conhece quem”).

Esse conhecimento é importante, pois permite reconhecer as reais possibilidades existentes para a pessoa idosa de acessar os recursos comunitários além de permitir uma análise de suas interações sociais: família, amigos, outros parentes, relações de trabalho, ligações comunitárias, etc.

O apoio social com que a pessoa idosa pode contar depende, geralmente, do número potencial de relações de ajuda ou apoio social existente; da intensidade das relações existentes (laços fortes ou fracos) e dos recursos necessários para acessar tais relações. Os laços fortes (geralmente de parentesco ou amizade) costumam representar uma melhor fonte de recursos apoiando-se na solidariedade e na distribuição de outros recursos não facilmente mensuráveis (atenção, preocupação, carinho, apoio, ajuda, etc).

As principais redes sociais das pessoas idosas são representadas pelas famílias, amigos e comunidade.

Com a diminuição cada vez mais expressiva do número membros no interior das famílias, o apoio comunitário (amigos e vizinhos) torna-se cada vez mais usual e necessário para a efetivação da atenção à pessoa idosa. Atualmente, cuidado ofertado pela família e pela comunidade em parceria com o disponibilizado pelos profissionais constituem um importante suporte aos idosos mais dependentes.

A categoria amigos pode ser definida como “relacionamentos voluntários, predominantemente entre iguais, resultado do livre-arbítrio; onde há troca de afeição, sem obrigatoriedade”. Os amigos são escolhidos com base em semelhanças entre as pessoas (gênero, etnia, status, escolaridade e faixa etária) e por apresentarem atributos considerados desejáveis como lealdade, confiança, valores e interesses comuns. Eles podem se predispor a vários tipos de assistência: companhia, compartilhamento de confidências, realização de serviços ou auxílio em atividades cotidianas. Frequentemente desempenham um papel pequeno na ajuda ao idoso mais fragilizado, ficando a maior

carga de cuidados sob responsabilidade da família, principalmente as esposas e filhas. Os amigos costumam, mais corriqueiramente, executar atividades instrumentais, tais como fazer compras, auxiliar nas atividades domésticas ou fazer companhia.

Os amigos geralmente são contemporâneos e, por essa razão, muitas vezes, apresentam as mesmas dificuldades ou limitações, dificultando a provisão de cuidados. Na amizade tudo é voluntário, não havendo nenhum caráter de obrigação, como pode ocorrer nos vínculos familiares. Mesmo assim, os amigos representam um vínculo extremamente significativo para o idoso para a manutenção de sentimentos de bem-estar e de interação social, diminuindo a solidão e o isolamento.

Com relação aos vizinhos, são relacionamentos marcados pela proximidade geográfica e contato frequente, características que podem ser associadas à provisão de auxílio, informações e realização de pequenas tarefas, muitas vezes imprescindíveis para aqueles que têm mobilidade limitada. Nos grandes centros urbanos, no entanto, esse padrão de relacionamento vem desaparecendo. Não é incomum que em um edifício, numa cidade como São Paulo, os vizinhos nem se conheçam.

As famílias vêm se modificando rápida e significativamente. Antigamente elas eram maiores, mais numerosas, frequentemente residiam no mesmo local, compartilhando, muitas vezes, da mesma atividade laboral. Tamanha proximidade promovia um maior envolvimento entre seus membros, favorecendo a execução do cuidado àqueles que assim necessitassem. Atualmente elas são menores, com composição diferenciada e, já não contam, na maioria das vezes, com alguém que fique disponível para assumir o cuidado de alguém quando necessário. Apesar disso ela ainda representa o recurso assistencial mais importante na vida do idoso.

Apesar da maior possibilidade de os idosos dependerem do apoio familiar à medida que envelhecem, não é a dependência o principal fator nas relações do idoso-família. O fator preponderante dessa relação é, acima de tudo, a interdependência, pois, em muitas ocasiões são os idosos que proveem assistência e auxílio aos filhos, netos e bisnetos.

No contexto familiar há, geralmente, uma expressão mais livre das emoções, podendo gerar situações agradáveis e descontraídas, ou momentos tensos e constrangedores. O contato próximo com o idoso e sua família poderá desencadear no profissional que os assiste inúmeras reações emocionais, conforme as relações ali estabelecidas. Não há como evitar um envolvimento com estas relações, porém ele pode ser menos desgastante, mais profissional e ético.

Para compreender o que ocorre deve-se observar como a família está organizada. Qual o papel do idoso dentro da rede familiar? Com quem ele de fato pode contar afetiva e financeiramente? Onde estão os principais focos de conflitos?

Não cabe ao profissional “julgar” as atitudes do idoso ou de seus familiares, pois seus valores morais, pessoais, culturais, religiosos, políticos ou outros, podem ser muito diferentes. O profissional deve, ao contrário, procurar desenvolver uma visão crítica, a mais neutra possível, buscando compreender o que está ocorrendo e por que não interferindo para que sejam mudados.

A pessoa idosa, no interior de sua família, pode ser valorizada, respeitada, amada e auxiliada adequadamente em suas necessidades, mas pode, também, ser rejeitada, tratado com indiferença ou hostilidade e tida como um “peso”. Essas atitudes são

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respostas que dependem da forma como as relações foram se estruturando ao longo da história da família, bem como da disponibilidade e personalidade das pessoas envolvidas.

Em certas situações, o profissional pode até fazer algumas sugestões ou solicitar colaboração visando melhorar a qualidade de vida da pessoa idosa, mas, em nenhum momento, deve criar expectativas em relação ao que acredita ser adequado para a vida do idoso, esquecendo-se das reais possibilidades afetivas do mesmo e das pessoas com quem convive.

Em suma, o ambiente domiciliar pode ser harmonioso, saudável, tranquilo, mas pode também ser conflituoso e desarmonioso dependendo das relações afetivas que foram construídas entre a pessoa idosa e seus familiares. O importante é estabelecer vínculos espontâneos, verdadeiros, nos quais os sentimentos, limites e potenciais de cada um possam ser respeitados.

MAS TEM COISAS QUE MUDAM MESMO...

O envelhecimento é um processo fisiológico. Pode ser definido, como já discutimos, como “um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto aumente sua possibilidade de morte”.

O envelhecimento pode ser compreendido como a consequência da passagem do tempo ou como o processo cronológico pelo qual um indivíduo se torna mais velho. Em nosso organismo o envelhecimento pode ser entendido como uma diminuição de nossa capacidade de resposta a múltiplos desafios.

Ao contrário do que imaginamos, começamos a envelhecer ao redor dos 20 anos de idade, mas, nessa fase isso não é percebido. Aos 30 anos começamos a perceber as primeiras alterações que irão se acentuar gradativamente com o avançar da idade. É claro que isso difere de pessoa para pessoa dependendo das condições físicas, ambientais e emocionais em que viveram. Por essa razão vemos pessoas da mesma idade que são fisicamente muito diferentes.

O envelhecimento fisiológico ou normal pode também ser entendido como uma diminuição progressiva da denominada “reserva funcional”, ou seja, diminuição da capacidade de resposta a desafios. Esta diminuição na capacidade está ligada a riscos progressivamente maiores de doença ou perda da capacidade de viver de forma independente. Por esta razão, a morte é a consequência final do envelhecimento.

A diminuição das reservas funcionais em seres humanos é lenta e progressiva, sendo compatível com a vida saudável em idades muito avançadas (p.ex: centenários), uma vez que em condições normais ou rotineiras, não costuma provocar quaisquer problemas. O estresse adicional causado pelas doenças (especialmente as crônicas) e a existência de hábitos de vida considerados inadequados (como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, obesidade entre outros) são os grandes vilões para a saúde das pessoas idosas, pois ao atingirem negativamente uma reserva funcional já diminuída (em relação ao jovem) poderão causar insuficiências orgânicas incapazes

de serem compensadas rapidamente podendo gerar situações em que a assistência (em maior ou menor grau) seja necessária.

É fundamental, no entanto, que dois grandes erros não sejam cometidos:

a) considerar que todas as alterações que ocorrem com um idoso sejam decorrentes de seu envelhecimento natural impedindo assim a detecção e o tratamento de processos patológicos ou

b) tratar o envelhecimento natural como doença a partir da realização de exames e tratamentos desnecessários originários de sinais e sintomas que podem ser facilmente explicados pela senescência.

Em biologia, “senescência” é o processo natural de envelhecimento ou o conjunto de fenômenos associados a este processo. As alterações decorrentes do processo de senescência podem, em sua maioria, ter seus efeitos minimizados pela assimilação de um estilo de vida mais ativo. Este conceito se opõe à “senilidade”, também denominado envelhecimento patológico, e que é entendido como os danos à saúde associados com o tempo, porém causados por doenças ou maus hábitos de saúde.

O limite exato entre esses dois estados não é preciso o que dificulta sua diferenciação. Essa dificuldade é consequência da indefinição da idade biológica, da grande variabilidade de comportamento do idoso perante fatores estressantes e de fatores genéticos.

O ser humano, da concepção à morte, passa por diversas fases: desenvolvimento, puberdade, maturidade e envelhecimento. Entre as três primeiras fases citadas é possível identificar marcadores físicos e fisiológicos de transição. O mesmo não acontece no envelhecimento, pois esse se manifesta pelo declínio linear em relação ao tempo das funções dos diversos órgãos o que não permite definir um ponto exato de transição, como observado nas fases anteriores da vida.

Seu início é relativamente precoce, ao redor dos 20 anos de idade, fase essa em que é pouco perceptível. No final da terceira década começam a surgir as primeiras alterações funcionais e/ou estruturais atribuídas ao envelhecimento. Admite se, como regra geral que, a partir dos 30 anos a cada ano haja perda de 1% da função/ano.

Essas alterações têm início discreto, e aumentam progressivamente diminuindo a reserva funcional e comprometendo a capacidade do órgão de se adaptar às modificações do meio interno e/ou externo. À exceção dos ovários e do timo tais alterações não causam insuficiência absoluta de um órgão ou sistema mesmo em idosos em velhice avançada. Paralelamente ao declínio funcional, ocorrem, alterações (perdas e/ou desorganização estrutural) nas moléculas, nas células e nos tecidos que aumentam progressivamente com o passar dos anos. A seguir serão descritas as principais alterações estruturais que ocorrem no organismo humano visando subsidiar o planejamento do cuidado a ser prestado.

SISTEMA TEGUMENTÁRIO (PELE, CABELOS, UNHAS E GLÂNDULAS SUDORÍPARAS E SEBÁCEAS)

As mudanças que ocorrem, com o envelhecimento, no sistema tegumentário são as mais visíveis pois afetam a aparência da pessoa.

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A condução nervosa também é comprometida fazendo com que os reflexos fiquem mais lentos e as reações aos estímulos sejam retardadas. Essas alterações, normalmente, são percebidas pelas pessoas idosas que tentam compensá-las aumentando a precisão ou adequação da reação o que permite que seu desempenho continue tão bom quanto o de um adulto mais jovem.

A capacidade de manter a temperatura corporal (termorregulação) também é afetada e coloca os idosos sujeitos às consequências da exposição a temperaturas mais extremas (frias ou quentes).

Uma importante preocupação das pessoas idosas é o comprometimento de seu funcionamento cognitivo. Inteligência, aprendizagem e memória estão relacionadas a esse funcionamento e em como a mente humana é capaz de raciocinar e fazer julgamentos acertados. O idoso não se torna menos inteligente com o avançar da idade. Da mesma forma, sua capacidade em aprender e reter novas informações permanece inalterada principalmente quando é frequentemente estimulada por uso regular. Já sua capacidade de resolver problemas complexos declina com o avançar da idade. A aprendizagem pode, no entanto, ser prejudicada em decorrência das alterações sensoriais (principalmente visão e audição).

Com relação à memória, verifica-se a existência de problemas relacionados à aquisição ativa da informação. É o processo ativo que permite o “aprofundamento” e o “gravar” efetivo da mesma permitindo que ela seja transformada, reorganizada e associada a outras informações existentes. Com relação à memória passiva, não são observadas diferenças significativas comparando os idosos com indivíduos jovens. Memórias adquiridas mais remotamente ficam mais preservadas. É comum que os idosos contem, com muitos detalhes, fatos que ocorreram em sua infância e juventude e, por outro lado, esqueçam o que comeram no café da manhã.

As principais queixas dos idosos se relacionam a pequenos esquecimentos cotidianos e isso está relacionado com algumas habilidades como a de reter uma informação (na memória de curto prazo) enquanto executa outra atividade (p.ex: guardar um número de telefone visto em um outdoor enquanto está dirigindo) ou ainda a habilidade de lembrar no futuro (memória prospectiva) uma intenção formulada no presente (p.ex: desligar o fogão antes da comida queimar).

As alterações sensoriais e a diminuição dos reflexos influenciam o planejamento antecipatório do idoso. Em outras palavras, há certa dificuldade em “perceber” o ambiente de forma adequada e responder, com segurança, rapidamente a diferentes estímulos. Isso não depende apenas de agilidade motora, mas também da rapidez das decisões para guiar os movimentos (p.ex: computar a velocidade com que o farol abre e fecha para calcular a rapidez necessária para atravessar uma rua).

Assim, mudanças na atenção, na memória imediata e na capacidade de planejamento antecipatório das ações especialmente quando a ação a ser desenvolvida envolve diferentes passos mostram-se importantes no desempenho dos idosos. Não é incomum que as idosas se queixem em demorar o dobro do tempo para preparar um prato que estavam acostumadas a fazer desde jovens pois “abrem o armário para pegar a panela e esquecem de pegar o óleo” necessitando parar a ação e retornar para buscar o ingrediente esquecido. Isso ocorre pela dificuldade em manter na mente várias coisas ao mesmo tempo (operações mentais simultâneas), habilidade relacionada à atenção. A realização de atividades físicas auxilia na melhora do

A pele é o maior órgão do corpo e é formada por uma camada mais externa (epiderme) e uma intermediária (derme) ricamente provida de vasos sanguíneos e nervos. Essas duas camadas sobrepostas são unidas por ondulações denteadas. Sob a derme encontra-se uma camada subcutânea composta por tecido conjuntivo e tecido adiposo (gordura) e uma camada elástica interna e, entre essas duas últimas estão os vasos sanguíneos superficiais, os nervos, as glândulas sudoríparas (que liberam o suor) e as glândulas sebáceas (que liberam gordura). A pele contém, ainda, um pigmento preto ou marrom, denominado melanina, que lhe fornece coloração.

Com o envelhecimento a pele diminui sua capacidade de reter umidade ficando mais ressecada o que pode causar prurido (coceira) e descamação. Epiderme e derme ficam mais finas, as ondulações que as unem são suavizadas e os vasos sanguíneos presentes diminuem e ficam mais frágeis. Isso faz com que qualquer compressão local mais intensa possa provocar um deslizamento entre essas estruturas com consequente rompimento dos vasos locais ocasionando hematomas (manchas arroxeadas) que podem ser erroneamente confundidos com agressões.

A produção de melanina diminui e sua distribuição deixa de ser totalmente uniforme. Isso faz com que a pele fique mais clara (pálida) e que, nas regiões comumente expostas ao sol (rosto, mãos, braços e pernas), surjam manchas mais escurecidas (manchas senis).

O tecido subcutâneo, que dá sustentação à estrutura do rosto, também diminui. Associado a diminuição da elasticidade da pele e à musculatura enfraquecida surgem as rugas e os vincos, particularmente perceptíveis no rosto.

Cabelos e pelos do corpo tornam-se mais finos e mais escassos e, com a diminuição da melanina, embranquecem. As unhas ficam mais espessas e quebradiças com crescimento lentificado. Isso é mais acentuado nas unhas dos pés o que permite maior acúmulo de sujeira e, consequentemente, maior suscetibilidade à contaminação por fungos.

As glândulas sebáceas aumentam de tamanho, mas diminuem sua capacidade funcional provocando diminuição na menor lubrificação da pele que fica sujeita a maiores atritos. As glândulas sudoríparas se atrofiam fazendo com que a pessoa idosa transpire menos.

SISTEMA NERVOSO

Simplificadamente pode-se dizer que o sistema nervoso (SN) é composto pelo sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP) que são inter-relacionados por múltiplos nervos interligados formando uma rede de comunicação. As células nervosas (neurônios) conduzem os impulsos nervosos de uma região a outra do corpo.

Com o envelhecimento há uma perda progressiva de neurônios, no entanto, por ser em grande número, tal perda não resulta, necessariamente, em prejuízo do funcionamento mental. No organismo, essa perda ocasiona algum grau de comprometimento na audição, na visão, no olfato, na regulação da temperatura e na sensação de dor. As perdas sensoriais contribuem com a diminuição do equilíbrio. A junção dessas alterações torna a pessoa idosa mais vulnerável à ocorrência de acidentes, em especial as quedas.

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A percepção de profundidade também é comprometida dificultando a percepção do idoso da real altura de degraus ou desníveis o que facilita a ocorrência de quedas.

AUDIÇÃO

A orelha (antes denominada ouvido) divide-se em orelha externa, orelha média e orelha interna.

Com o envelhecimento ocorre diminuição da produção das glândulas sudoríferas (secreção oleosa) do meato auditivo externo, tornando a pele dessa região mais ressecada e aumentando o prurido (coceira) e aumento da produção de cerume que pode resultar em diminuição da acuidade auditiva (excesso de cera).

Há uma perda da acuidade auditiva, em especial para os sons de alta frequência, em torno de 40%; causada por associação de perdas estruturais da orelha externa e média (perda condutiva) e da orelha interna (perda neurossensorial), essa denominada presbiacusia.

Também ocorre maior dificuldade em discriminar os sons. Vogais são ouvidas com mais facilidade (som mais baixo) que as consoantes. Distinguir “chi” de “ti” ou “p” de “b” é frequentemente mais difícil. Fala rápida e ruído de fundo (como rádio, televisão ou ruído de rua) também dificultam a compreensão do idoso ao que se fala.

A diminuição da acuidade auditiva pode gerar maior retraimento, isolamento social e solidão ocasionando impacto negativo na saúde e qualidade de vida das pessoas idosas. Ela sempre deverá ser avaliada, pois suas consequências podem ser minimizadas.

A diminuição da acuidade auditiva por acumulo de cerume pode ser evitada pela higienização adequada do canal auditivo. Isso, no entanto, deve ser feito por profissional habilitado. O uso de cotonetes pode introduzir o tampão de cera ainda mais profundamente e por essa razão não devem ser utilizados. Palitos ou grampos também não devem ser utilizados pelo risco de perfuração da membrana timpânica.

Algumas atitudes podem auxiliar na melhoria da comunicação com a pessoa idosa que apresenta presbiacusia. Isso será abordado no tópico referente à “comunicação com a pessoa idosa”.

O uso de aparelho auditivo pode trazer benefícios para alguns idosos. No entanto, sua indicação requer uma avaliação prévia de um especialista. O uso adequado de tais aparelhos não está vinculado apenas à sua aquisição. Além da indicação correta, é necessário um treinamento de uso que avalie, inclusive, a destreza motora da pessoa idosa para manipulá-lo. Quando isso não ocorre há um grande risco do aparelho auditivo ser guardado permanentemente.

PALADAR E OLFATO

Os órgãos envolvidos no paladar são as papilas gustativas localizadas nas partes pósteros-laterais da língua. O ser humano tende a diferenciar, dentre outros, quatro gostos básicos: doce, salgado, azedo e amargo. Com o avançar da idade ocorre uma diminuição do número de papilas gustativas em especial as relacionadas a doce e salgado. Isso é percebido p. ex. quando a idosa costuma cozinhar e, não percebe o excesso de sal colocado na confecção de pratos que sempre fez adequadamente.

desempenho das pessoas idosas sugerindo que alguns dos problemas relacionados ao “desempenho mental” possam ter ligação com baixa atividade geral.

Outra queixa importante dos idosos relaciona-se à dificuldade em “encontrar as palavras” (nomes de pessoas ou objetos). Isso é explicado pelo declínio na organização da linguagem com o avançar da idade que se traduz na lentidão para encontrar uma determinada palavra no vocabulário armazenado na memória do idoso. Normalmente não há dificuldade na estrutura do conhecimento (o idoso sabe para que o objeto é utilizado) mas sim no acesso a esse registro (p.ex: ele diz “talher para tomar sopa” ao invés de “colher”).

Quando a pessoa idosa não apresenta doenças relacionadas ao desempenho mental. Ela tende a manter um discurso normal, coeso, relevante e apropriado introduzindo tópicos e construindo sobre eles.

ÓRGÃOS SENSORIAIS

Todos os cinco sentidos tornam-se menos eficientes com o avançar da idade provocando impacto, em maior ou menor grau na segurança do desempenho das atividades cotidianas e no bem estar geral das pessoas idosas.

As modificações que ocorrem na visão e na audição, em especial, podem vir a comprometer um estilo de vida ativo e independente e aumentar o isolamento social da pessoa idosa com consequências muito negativas em seu estado de saúde geral.

VISÃO

O olho é o órgão da visão que sofre múltiplas alterações com o avançar da idade. Todas as outras estruturas (córnea, cristalino, corpo ciliar, íris, corpo vítreo e humor aquoso) também são afetadas com a idade. Há uma diminuição na sensibilidade da córnea aumentando o risco de lesão ocular. O cristalino fica maior, mais rígido, descorado e opacificado afetando a qualidade da visão e levando à formação da catarata. Há uma diminuição no tamanho da pupila que contribui para a perda da acuidade visual.

Para uma melhor visualização é necessário que o olho realize um processo denominado “acomodação” o qual permite a focalização de objetos mais próximos ou mais distantes. É realizado pelo corpo ciliar e pelas fibras musculares da íris. Com o avançar da idade, as fibras musculares tornam-se mais curtas e menos elásticas e parte delas é substituída por tecido conjuntivo. Na prática essas alterações dificultam a focalização, com clareza, de objetos próximos e a isso se denomina “presbiopia” ou “visão curta”.

Outras alterações como diminuição da visão periférica (por diminuição do campo visual) e noturna (envolve períodos/áreas de penumbra e noite) e aumento da sensibilidade à luz forte (decorrente da menor reação pupilar à luz) também ocorrem, comprometendo a capacidade de dirigir (especialmente à noite), participar de determinadas atividades sociais e desempenhar algumas atividades cotidianas além de aumentar, e muito, o risco de acidentes. As pessoas idosas exigem mais luminosidade que os mais jovens para enxergar adequadamente.

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o gás carbônico removido, sendo o processo reiniciado. Esse é um processo continuo e o coração é a “bomba” que torna isso possível.

As batidas do coração são ativadas e reguladas por um sistema que transmite impulsos elétricos e permite que o coração funcione por toda a vida, de forma regular. Diferentes problemas de saúde podem influenciar esse funcionamento.

Com o envelhecimento ocorrem algumas alterações na estrutura e função do coração e do sistema circulatório. O tamanho do coração permanece o mesmo ou até diminui na ausência de doenças cardíacas que o comprometam. No entanto, como as doenças das artérias são muito frequentes nesse grupo, comumente se observa um aumento no tamanho do mesmo.

O músculo que envolve o coração (miocárdio) fica mais fibroso e menos complacente diminuindo sua força de contração. As valvas tornam-se mais espessas e mais rígidas. As fibras elásticas das artérias diminuem e aumentam as colágenas estreitando, em maior ou menor grau, o espaço interno do vaso (por onde o sangue circula). Em termos funcionais, com o passar do tempo, o músculo cardíaco diminui sua eficiência e sua força de contração o que resulta na diminuição do débito cardíaco (volume de sangue bombeado pelo coração em um minuto) sob condições de estresse fisiológico. Tal diminuição procura ser compensada pelo aumento da frequência cardíaca durante o exercício a qual demora mais tempo para se normalizar após cessação do estímulo. Quanto ao estímulo elétrico, com as alterações que surgem no envelhecimento mais tempo é exigido para completar o ciclo contração/relaxamento do coração. Normalmente há uma adaptação do organismo a essas mudanças (p.ex: os idosos aprendem que é mais confortável utilizar um elevador a subir de escadas). No entanto, quando exigências incomuns são impostas ao coração (físicas ou psicológicas como p.ex: correr para pegar um ônibus ou receber uma notícia muito ruim), essas alterações passam a ser percebidas.

SISTEMA RESPIRATÓRIO

O sistema respiratório é o responsável por levar oxigênio (O2) para todas as células do corpo e remover dessas os resíduos existentes sob a forma de gás carbônico. O ar, que contém o O2, entre no organismo pelo nariz, onde é aquecido, filtrado e umedecido, descendo pela faringe, atravessando a laringe e entrando na traqueia (tubo revestido por cílios que varrem continuamente as partículas de poeira e os microrganismos para cima, para serem expelidos – expectorados). Essa se subdivide em duas ramificações, os brônquios (D e E) que entram nos pulmões. Os brônquios vão se subdividindo em ramificações cada vez menores (bronquíolos) que, por sua vez, também se ramificam em ductos alveolares chegando aos alvéolos. Esses são agrupamentos de ar que se assemelham a cachos de uva e são envolvidos por redes capilares (a menor divisão dos vasos sanguíneos). É nesse nível que o O2 é trocado pelo CO2.

Os pulmões, em número de dois, ficam no interior do tórax um de cada lado do coração sendo o D maior que o E. São revestidos por uma membrana dupla que os protege (pleura). Os pulmões se localizam no interior da cavidade torácica composta pelas costelas, coluna vertebral e esterno. As costelas são ligadas ao esterno por cartilagens costais.

O ato de respirar envolve dois movimentos, um ativo, a inspiração (colocar o ar do meio externo para dentro dos pulmões) e outro passivo, a expiração (expulsão do ar para fora dos pulmões). A respiração é controlada pelo sistema nervoso.

A diminuição da saliva e o uso de certos medicamentos podem deixar uma sensação de “gosto ruim” na boca prejudicando ainda mais o paladar. Outros problemas como tabagismo, dentição precária e inadequada higiene oral também podem afetar o paladar. Como consequência, pode ocorrer diminuição da ingestão alimentar e desinteresse pela alimentação ocasionando perda de peso, perda de massa muscular e facilitando a instalação de quadros de maior fragilidade.

O olfato permite a detecção de odores e depende de estimulação dos órgãos dos sentidos localizados no nariz que se ligam ao cérebro pelo nervo olfativo. Sabe-se que ocorre um declínio generalizado da função olfativa e perda moderada de neurônios, porém na prática, verifica-se que alguns idosos queixam-se mais que outros de tais perdas. Torna-se assim necessário o desenvolvimento de mais estudos sobre o tema, pois ainda são poucas as pesquisas relacionadas ao olfato.

A maximização do paladar e do olfato pode ser conseguida com alguns procedimentos como, um ambiente agradável na hora das refeições, limpo, iluminado, arejado e livre de odores desagradáveis; uso de outros temperos (ervas, condimentos e limão) desde que a pessoa idosa possa e goste; melhor higiene oral e avaliação odontológica regular. Quando o sentido do olfato for muito prejudicado, recomenda-se o uso doméstico de detectores de fumaça para evitar o risco de incêndios.

TATO

A sensação tátil também é reduzida com o avançar da idade. Isso pode ser observado pela diminuição da percepção do idoso à pressão e à dor e também na diferenciação de temperaturas. Tais mudanças podem fazer com que a pessoa idosa tenha uma interpretação equivocada do ambiente colocando em risco de segurança. Cuidados como a não utilização de bolsas de água quente (para evitar queimaduras), a orientação de uso de calçados fechados e confortáveis (para evitar lesões nos pés) e a proteção das mãos ao manipular objetos cortantes (como facas) auxiliam na diminuição do risco de acidentes.

SISTEMA CARDIOCIRCULATÓRIO

As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de óbitos entre as pessoas idosas.

O sistema cardiovascular funciona como um sistema fechado por onde o sangue circula “alimentando” as células (com oxigênio, nutrientes e outras substâncias) e removendo os resíduos produzidos. Dessa forma, há, no mesmo sistema, dois subsistemas separados e interligados, o lado direito (circulação pulmonar) e o lado esquerdo (circulação sistêmica).

O coração é um órgão muscular que tem aproximadamente o tamanho de um punho de um adulto, fechado. Ele é o responsável pelo bombeamento do sangue pelo corpo e é composto por dois sistemas de bombeamento independentes, um do lado direito e outro do lado esquerdo. Cada um destes sistemas tem dois compartimentos – um átrio e um ventrículo. Átrios e ventrículos são separados por finas estruturas denominadas “valvas”. Os ventrículos são as principais “bombas” do coração.

Todas as células de nosso corpo necessitam de oxigênio para viver. O papel do coração é enviar sangue rico em oxigênio a todas as células que compõe o nosso organismo. As artérias são as vias responsáveis por esse transporte do coração aos tecidos e as veias pelo transporte inverso, ou seja, trazem o gás carbônico dos tecidos de volta ao coração e daí aos pulmões, onde o sangue volta a receber oxigênio e a ter

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se localizam entre as vértebras da coluna. Alterações em sua estrutura decorrentes do avançar da idade provocam uma diminuição na espessura desses discos, acentuado as curvas da coluna (especialmente cervical e lombar).

Em algumas partes do corpo, as cartilagens continuam a se desenvolver como no nariz e na orelha, daí seu alongamento com o avançar da idade.

Como consequência, os ossos se tornam mais quebradiços e, assim, as fraturas passam a constituir um importante risco para as pessoas idosas. Sua altura tende a diminuir com o avançar da idade decorrente do afinamento dos discos e do encurtamento das vértebras. Essa diminuição pode ser ainda mais acentuada devido a maiores níveis de cifose (curvatura anômala da espinha dorsal, de convexidade posterior), inclinação da cabeça para trás e flexão dos quadris e joelhos.

O corpo humano contém aproximadamente 600 músculos que desempenham inúmeras funções. Atuam nas contrações e nos movimentos, dos mais simples (piscar os olhos) aos mais complexos (pular um obstáculo). Assim, as alterações musculares que ocorrem com o avançar da idade podem gerar alterações funcionais nas pessoas idosas. Cada músculo é composto por uma parte vermelha, onde estão as fibras musculares, e uma parte branca onde se localizam os tendões (de origem ou de inserção). A parte vermelha é a parte ativa dos músculos, responsável pela contração muscular. Os tendões são passivos, não se contraem, transmitem para o osso a força gerada na parte vermelha.

Com o envelhecimento ocorrem perdas celulares e, consequentemente, perda de massa muscular. Muitas células se atrofiam e morrem. Várias fibras musculares são substituídas por tecido adiposo (gordura) e conjuntivo. São vários os fatores associados com essa perda destacando-se a hereditário, a inatividade física e a má nutrição.

De modo geral observa-se diminuição da massa muscular geral, da força muscular e dos movimentos. Músculos dos braços e pernas tornam-se particularmente flácidos e enfraquecidos. A inatividade tem um impacto direto na atrofia muscular. A realização de exercício regular auxilia na manutenção da força e do tônus muscular reduzindo

Mudanças significativas ocorrem, com o envelhecimento, nos principais órgãos respiratórios. As paredes dos alvéolos tornam-se mais finas, os ductos alveolares ficam esticados causando o alargamento e o rompimento dos alvéolos. Essas mudanças diminuem a área de superfície de troca gasosa.

As cartilagens costais ficam mais rígidas (calcificação) diminuindo sua complacência exigindo uma maior atuação dos músculos acessórios (músculos do maxilar, do pescoço e intercostais) para que a respiração aconteça. Os músculos intercostais se atrofiam com o avançar da idade ficando mais fracos e, assim, aumentando o esforço respiratório.

O volume dos pulmões também se modifica. Como a base dos pulmões (a parte mais baixa) não infla adequadamente as secreções que se acumulam nos pulmões não são expectoradas com facilidade. A pessoa idosa também não expira de forma completa aumentando o que se chama de “volume residual”, ou seja, a quantidade de ar que permanece nos pulmões após a expiração máxima. Com esse aumento, diminui a capacidade vital (volume de ar que uma pessoa consegue expirar após a inspiração máxima). Esse conjunto de alterações pode repercutir na oxigenação do sangue.

A tosse é um mecanismo muito eficiente para eliminar partículas e secreções das vias aéreas. No envelhecimento há uma redução da elasticidade pulmonar e da força de contração dos músculos respiratórios que, associados, diminuem a efetividade do reflexo de tosse e, consequentemente, a limpeza das vias aéreas aumentando assim, a chance de se acumular secreções.

Apesar de todas essas mudanças a capacidade pulmonar total não é totalmente alterada, mas coloca a pessoa idosa em um maior risco para desenvolver infecções respiratórias, em especial a pneumonia.

Programas de exercícios regulares (p. ex: caminhar, andar de bicicleta ou nadar) podem reduzir significativamente essas modificações.

SISTEMA MÚSCULOESQUELÉTICO

O sistema musculoesquelético é composto, principalmente, por ossos, músculos e articulações. As últimas são as responsáveis pela união dos diferentes ossos permitindo a realização dos movimentos.

O esqueleto humano é composto por 214 ossos e forma a estrutura do corpo dando-lhe sustentação, armazenando cálcio e produzindo células sanguíneas. Compreende dois tipos de tecidos: ósseo e cartilagíneo (cartilagens = tecido flexível, branco ou cinzento, que se encontra especialmente na extremidade dos ossos). O tecido ósseo pode ser compacto ou esponjoso. Na pessoa idosa, o tecido compacto fica gradativamente mais poroso e mais delgado e o tecido esponjoso vai perdendo massa óssea.

Também ocorrem alterações nas células ósseas (osteócitos) que diminuem em número e em atividade afetando o metabolismo do cálcio (diminuem sua absorção). Também ocorre uma reabsorção gradual da superfície interna dos ossos longos e menos produção de “osso novo” na superfície externa.

O tecido cartilagíneo está presente nas diferentes articulações do esqueleto humano permitindo a execução dos movimentos amortecendo o impacto ósseo e diminuindo o atrito. Também constituem o tecido existente nos discos vertebrais que

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O fígado é um órgão único responsável pelo recebimento de todo sangue proveniente do estômago, intestino, pâncreas e baço. Recebe assim, as substâncias que foram absorvidas e as metaboliza ou altera, além de destruir as substâncias tóxicas. Parte delas é armazenada no próprio fígado para uso posterior (glicogênio) e as outras são liberadas, após processamento, novamente na circulação. Também produz a bileque é armazenada na vesícula cuja função é quebrar as moléculas de gordura facilitando a digestão. O envelhecimento ocasiona alterações em nível celular que não são funcionalmente significativas exceto a que se relaciona a menor capacidade de metabolizar medicamentos. Isso deve sempre chamar a atenção dos médicos na hora de prescrever medicamento para esse grupo e também aos familiares e cuidadores para que evitem, ao máximo, a automedicação.

O pâncreas produz o suco pancreático que auxilia na digestão e neutraliza a acidez do quimo produzido no estomago. Não são observadas grandes alterações nesse órgão com o envelhecimento a não ser um maior acúmulo de gordura que não o compromete funcionalmente.

SISTEMA URINÁRIO

O sistema urinário é composto pelos rins, ureteres, bexiga e uretra. Cabe aos rins a filtragem e remoção de resíduos do sangue formando a urina que é armazenada na bexiga e posteriormente eliminada.

A urina é formada dentro dos néfrons nos rins. O néfron é a unidade funcional do rim. Ele filtra o sangue, reabsorve substâncias necessárias ao organismo e secreta as desnecessárias juntamente com a água não reabsorvida na forma de urina.

Ao nascer, o ser humano tem em cada rim cerca de um milhão de néfrons. A partir dos 40 anos começa a ocorrer uma diminuição em tamanho e no número de néfron. Por volta de 80 anos cerca de 50% deles foram perdidos. Tal perda não afeta a função normal do rim que costuma utilizar, para tanto, cerca de 25% de seus néfrons. As taxas de filtração, excreção e reabsorção declinam com o avançar da idade. Dessas, a filtração é a perda mais preocupante, pois coloca o idoso em risco uma vez que é por esse meio que muitos medicamentos são excretados. Esses passam a ser eliminados de forma mais lenta, o que aumenta o risco de alcance de níveis tóxicos no sangue. Drogas de eliminação lenta devem ser prescritas com muita cautela e em doses reduzidas.

A diminuição do número de néfrons também afeta a capacidade do rim em concentrar a urina e isso pode afetar a equilíbrio hídrico do organismo podendo levar a pessoa idosa à desidratação principalmente em situações adversas como jejum, diarreia, vômito ou febre. O risco de desidratação é ainda maior, pois a pessoa idosa tem o reflexo de sede diminuído, o que faz com que ela ingira uma menor quantidade de líquidos.

A bexiga é um músculo na forma se “saco” responsável pelo armazenamento da urina. Com o avançar da idade parte da musculatura e o tecido elástico da bexiga são substituídos por tecido fibroso. Ela diminui sua capacidade de retenção e de esvaziar-se completamente. Em um jovem a bexiga tem uma capacidade de retenção de cerca de 600ml, já, em uma pessoa idosa, essa capacidade é reduzida para cerca de 250ml.

as consequências funcionais negativas que o avançar da idade pode ocasionar e que podem vir a comprometer sua independência.

SISTEMA DIGESTÓRIO

Constitui-se por um longo tubo que vai da boca ao ânus com alguns órgãos e glândulas em sua extensão. Fazem parte do sistema digestório: boca, glândulas salivares, faringe, esôfago, estomago, intestino delgado, intestino grosso, fígado, vesícula biliar e pâncreas. Com o envelhecimento há uma diminuição das secreções glandulares e da motilidade de todo o trato.

O alimento é introduzido na boca e aí reduzido a fragmentos menores e umidificado pela saliva que também inicia o processo de digestão (ação da amilase nos hidratos de carbono). As principais alterações observadas na boca relacionam-se a perda dos dentes, à perda óssea da mandíbula e maxilar (dificultando o uso de próteses ou “dentaduras”) e redução do volume da saliva que altera na qualidade alimentar do idoso (que passa a procurar alimentos menos fibrosos provocando maior constipação intestinal).

O alimento passa da boca ao estômago pela faringe e esôfago. Muitos idosos apresentam alguma dificuldade para engolir (disfagia) decorrente de alterações neurológicas ou no esfíncter interior do esôfago que passa, ao longo dos anos, a não relaxar completamente ou, ao contrário, não se fechar completamente permitindo o refluxo do suco gástrico do estômago dando uma “sensação de queimação”. A disfagia não é, no entanto, uma alteração considerada “normal” no envelhecimento. Sua presença incorre em risco de desenvolvimento de problemas relacionados à aspiração (para os pulmões) de substâncias que deveriam ir para o estômago o que pode necessitar de atendimento de urgência.

Em seguida o alimento chega ao estômago que, sob a ação de diferentes enzimas e do suco gástrico é transformado em quimo (bolo alimentar) e encaminhado ao duodeno. Com o envelhecimento ocorre diminuição na secreção das enzimas e no suco gástrico tornando o processo digestivo mais lentificado e dando ao idoso a sensação de “empachamento”.

O intestino delgado (formado por duodeno, jejuno e íleo) continua o processo digestivo por meio da liberação se secreções glandulares e da presença de secreções pancreáticas e da bile. Também é nesse local que se inicia a absorção dos nutrientes. Nos idosos há diminuição da secreção dessas enzimas influenciando a absorção do cálcio e das vitaminas B6 e B12 especificamente. Há ainda um enfraquecimento da musculatura diminuindo o peristaltismo (movimentos, como ondas, que levam o alimento através do trato alimentar) e contribuindo para a ocorrência de constipação intestinal.

O intestino grosso (ceco, colo, reto e ânus) é responsável pela absorção de água e sais. Com a absorção da água as fezes ficam mais ressecadas. Quando a pessoa idosa não se hidrata de forma adequada isso pode se transformar em um problema, pois facilita a formação de um bolo de fezes muito ressecado denominado “fecaloma” que impede o transito intestinal e necessita de remoção mecânica. Com o avançar da idade, a parede do intestino grosso torna-se mais delgada facilitando a formação de pequenas bolsas (divertículos) que podem, em determinadas situações, se inflamar ou se romper gerando necessidade de assistência. O intestino grosso conta com uma flora bacteriana que auxilia na produção de certas vitaminas. O uso indiscriminado de medicamento e em especial antibióticos nessa população podem comprometer essa flora e ocasionar diarreia e distúrbios nutricionais.

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MÓDULO V Condições Crônicas e Envelhecimento

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Em um jovem, quando cerca de 50% da capacidade da bexiga é preenchida, há um estímulo para que o indivíduo elimine a urina. Entre os idosos, a capacidade de perceber o enchimento da bexiga está diminuída o que faz com que eles só percebam isso quando a bexiga chega praticamente no seu limite o que provoca uma necessidade urgente de urinar. Como também é frequente a presença de fraqueza no esfíncter externo da uretra (responsável pela contenção da urina) que, associada à atrofia muscular do assoalho pélvico, permitem que perdas urinárias possam ocorrer. Situações que aumentam a pressão abdominal também podem ocasionar tais perdas (como espirrar, tossir, gargalhar, carregar peso, etc). Ressalta-se, no entanto, que a incontinência urinária não é e nem deve ser considerada como uma consequência normal do envelhecimento.

A eliminação de urina, nos homens, pode ainda ser prejudicada pelo aumento da próstata. Essa é um órgão situado abaixo da bexiga e que envolve a uretra (canal que conduz a urina da bexiga ao exterior). Com o avançar da idade, com muita frequência, há um crescimento da próstata (hiperplasia) que pode dificultar ou obstruir a passagem da urina. Sintomas como: sensação de não esvaziamento completo da bexiga logo após urinar; idas frequentes ao banheiro para urinar (com intervalos menores de 2h); jato de urina interrompido (como se o idoso urinasse “em prestações”) e fraco (necessitando fazer força abdominal para conseguir urinar); urgência para urinar; levantar à noite várias vezes para urinar (noctúria); em conjunto são chamados de prostatismo requerendo tratamento e, muitas vezes, cirurgia. Homens idosos, nessas condições, tem grande risco de desenvolver infecções urinárias de repetição.

SISTEMA IMUNOLÓGICO

O sistema imunológico tem por função defender a integridade interna do organismo contra aquilo que lhe é estranho, assim, ele deve diferenciar aquilo que é próprio do mesmo daquilo que não o é. Didaticamente ele se divide em dois: o sistema imunológico natural e o sistema imunológico adaptativo. O primeiro fornece uma resposta rápida, porém incompleta e inespecífica contra o que ele interpreta como “agressores”; o segundo fornece uma resposta mais lenta, no entanto, mais definitiva e específica. Esse sistema também sofre algumas alterações com o processo de envelhecimento ao que se denomina imunosenescência.

Imunosenescência pode ser compreendida como um quadro de remodelação no qual os elementos do sistema imunológico são reestruturados aumentando ou diminuindo a função de seus componentes, outros, no entanto, permanecem 153 inalterados. Como consequência observa-se a maior incidência e gravidade nas infecções entre as pessoas idosas, uma produção aumentada de auto anticorpos e o maior risco para o desenvolvimento de certos tipos de câncer.

As doenças infecciosas constituem uma das principais causas de hospitalização e de morte entre as pessoas idosas. Nesse grupo destacam-se os quadros de pneumonia, gripe, infecção do trato urinário, diverticulite, endocardite, bacteremia e infecções de pele (p.ex: herpes zoster, infecção em úlceras de pressão ou escaras) e tecidos moles (em especial no pé diabético). O declínio da função do sistema imunológico associado a outros fatores de risco contribuem para essas ocorrências.

O idoso, no entanto, pode apresentar infecção na ausência de sinais e sintomas clássicos. A febre, que é um dos principais sinais de infecção, pode estar ausente ou

ser pouco significativa. Sua presença, no entanto, pode sugerir a existência de uma doença grave.

As infecções nos idosos podem ocorrer com uma variedade de manifestações não usuais, inespecíficas e atípicas como, por exemplo, alterações inexplicáveis do estado funcional ou do estado mental (p.ex: confusão mental), perda de peso e quedas, sinais esses a que familiares e cuidadores devem estar muito atentos.

A pneumonia, por exemplo, causa de três a cinco vezes mais óbitos entre os idosos que entre os jovens. O idoso com pneumonia pode apresentar mal-estar, confusão mental ou delírio como sintomas iniciais e não febre, calafrios, dor torácica e tosse produtiva, sinais clássicos da doença em populações não idosas.

Já a infecção do trato urinário – ITU - (em qualquer lugar do rim ao meato urinário) constitui a infecção mais comum nesse grupo etário. Geralmente é assintomática, mas oferece grande risco para complicações graves (p. ex: septicemia ou infecção generalizada, insuficiência renal crônica, etc). A pessoa idosa pode apresentar, como manifestação da ITU, sutis alterações no estado mental ou o aparecimento de incontinência urinária, antes inexistente. Os sinais clássicos de ITU, dor ao urinar (disúria), urgência miccional ou aumento da frequência de idas ao banheiro para urinar, normalmente, não estão presentes nesse grupo. Idosos que utilizam sondas vesicais, os que apresentam incontinência, os que tem prostatismo, os residentes em Instituições de Longa Permanência (ILPIs) são os mais sujeitos a essas ocorrências e merecem atenção diferenciada.

Evidências sugerem que a adoção de um estilo de vida mais saudável, a prática de atividades físicas moderadas de forma regular e a ingestão de uma dieta adequada às necessidades calóricas contribuem para a manutenção da integridade do sistema imunológico durante o processo natural de envelhecimento.

POR QUE É IMPORTANTE CONHECER AS ALTERAÇÕES QUE OCORREM COM O AVANÇAR DA IDADE?

O envelhecimento é um processo natural e normal de desenvolvimento do ser humano no qual ocorrem alterações fisiológicas e psicossociais que são variáveis de uma pessoa à outra. Frente a essas alterações ocorrem adaptações que acompanharão o ser humano durante todo o processo de envelhecimento até sua morte.

O conhecimento dessas mudanças é o fator responsável pela qualificação do planejamento da assistência as necessidades das pessoas idosas e de sua execução propriamente dita. Alguns pontos fundamentais não devem ser esquecidos:

• as alterações são graduais, progressivas e individuais;

• na mesma pessoa, diferentes sistemas envelhecem em velocidades distin-tas;

• a vulnerabilidade aumenta com o avançar da idade;

• situações estressantes (fisiológicas ou psicossociais) ocasionam reações mais evidentes entre os idosos e requerem um tempo longo de reajusta-mento.

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MÓDULO V Condições Crônicas e Envelhecimento

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Quando a pessoa idosa adoece, com frequência o quadro é atípico, ou seja, os sinais e sintomas classicamente apresentados por indivíduos mais jovens com o mesmo problema não são, normalmente, encontrados nesse grupo etário. Inquietação, mudança de comportamento e/ou confusão mental costumam ser sinais precoces e importantes de alteração no estado de saúde.

A pessoa idosa com tais sinais, de surgimento agudo, quando levada a um serviço de saúde, não deve ter seu quadro confundido com sintomas de “demência”, pois isso pode postergar as intervenções necessárias e adequadas resultando em um prognóstico ruim.

Daí ser necessário para os profissionais que assistem aos idosos o conhecimento das modificações associadas ao processo de envelhecimento de forma a qualificar o planejamento assistencial.

REFERÊNCIAS

DUARTE YAO. Manual de Formadores de Cuidadores de Idosos. Secretaria de Estado da Saúde. Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social: Fundação Padre Anchieta, São Paulo, 2009.

DUARTE YAO. Manual de Cuidadores de Idosos. Secretaria de Estado da Saúde. Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social: Fundação Padre Anchieta, São Paulo, 2009.

DUARTE YAO; DIOGO MJD. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo, Atheneu, 2000.

PARTE 2

O CUIDADO DA PESSOA IDOSA COM LIMITAÇÕES FUNCIONAIS

Na última aula conversamos sobre as principais alterações que ocorrem no organismo humano com o envelhecimento. Devemos lembrar que tais alterações se bem administradas pelos próprios idosos, com adequado acompanhamento de suas condições de saúde e monitoramento de suas condições crônicas não deverão ser acompanhadas por desfechos em saúde, considerados negativos. Daí ser necessário valorizar, sempre, a queixa da pessoa idosa na busca precoce de alterações que possam estar ocorrendo e que, ainda, não apresentaram manifestações mais expressivas.

Para complementar a última aula vamos conversar hoje sobre as chamadas alterações funcionais” que podem ocorrem com o envelhecimento e seu impacto na vida das pessoas idosas e de seus familiares. Em nossa aula sobre os principais conceitos relacionados ao envelhecimento, já discutimos o significado da maior parte dos termos que vamos estar conversando hoje e que tenho certeza, vocês se lembram.

Assim, para essa aula proponho a seguinte dinâmica:

1. Inicialmente, proponho que, em grupo, recordemos os principais conceitos relacionados à aula de hoje, que já foram estudados. (atividade 1)

2. Em seguida, proponho que leiamos juntos o pequeno texto descrito na atividade 2 e, em seguida, conversemos com o professor, em plenária, sobre as dúvidas relacionadas aos conceitos que discutimos e sobre o qual lemos. Ao final dessa conversa deveremos compreender o porquê da capacidade funcional ter sido escolhida como o grande “divisor de águas” da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa em sua reedição de 2006.

3. Agora, novamente em pequenos grupos, vamos conversar sobre como a presença de limitações funcionais interferem na vida das pessoas idosas, o quanto geram de cuidados e qual a melhor maneira de assisti-los (quando as limitações estiverem presentes. (atividade 3)

4. Em plenária, vamos conversar sobre como construir a “linha de cuidados” referente às limitações funcionais. Que perguntas devemos ter em mente para essa construção e porquê. É fundamental que dúvidas sejam esclarecidas ou mesmo que opiniões divergentes sejam explicitadas, pois, ao final da atividade, 156 o grupo deve ser capaz de poder, em sua prática cotidiana, repetir esse mesmo raciocínio com cada pessoa idosa atendida.

5. Após a finalização da atividade 3, vamos ler o texto de apoio para complementar nossas discussões. Se não for possível finalizá-lo em sala de aula, deveremos fazê-lo como atividade não presencial pois, seu conteúdo será fundamental para o melhor desempenho de nossas atividades profissionais.

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Módulo V - Parte 2 Atividade 1 - (Atividade grupal)

RECORDAÇÃO DOS CONCEITOS RELACIONADOS À FUNCIONALIDADE

Aluno(a): .........................................................................................

Nessa atividade, sem consulta, vamos construir coletivamente, as definições relacionadas à funcionalidade (já discutidas na aula sobre conceitos) para verificar o que conseguimos gravar. Assim, em pequenos grupos, vamos lembrar o significado de:

FUNCIONALIDADE HUMANA

ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA

AUTONOMIA

INDEPENDÊNCIA

DEPENDÊNCIA

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Módulo V - Parte 2Atividade 3 - (atividade grupal)

IMPACTO DAS LIMITAÇÕES FUNCIONAIS NA VIDA COTIDIANA E SUA RELAÇÃO COM O CUIDADO

Aluno(a): .........................................................................................

Até aqui compreendemos como nosso organismo “funciona” para poder executar as suas atividades cotidianas, parte delas relacionadas ao autocuidado e, a outra parte, relacionada à manutenção de uma vida comunitária independente.

Se, apresentarmos limitações para o desempenho dessas atividades como devemos proceder?

Liste as principais perguntas para as quais você precisa de respostas para poder planejar o cuidado da pessoa idosa que você está acompanhando:

Em seguida, veja se, em sua lista, você incluiu as seguintes questões:

1. Qual o tipo de limitação funcional (LF) apresentada pela pessoa idosa?

2. Quando essa LF teve início?

3. A pessoa idosa se lembra como a LF começou e por quê?

4. No que a LF interfere? (em que tipo de atividades)

5. A LF impede que a pessoa idosa execute, de forma independente, alguma atividade? Qual (is)?

6. O que a pessoa idosa faz para poder executar as atividades comprometidas pela LF?

7. A pessoa idosa precisa de ajuda para executar sua AVDs em decorrência da LF? Se sim, ela recebe ajuda? Se sim, quem a ajuda?

8. Se a pessoa idosa precisar de ajuda para executar as AVDs e referir não receber ajuda, o que é feito?

9. A LF apresentada pela pessoa idosa está interferindo na qualidade de vida da pessoa idosa?

10. A LF apresentada pela pessoa idosa está interferindo nas relações familiares? Se sim, de que forma?

11. A LF apresentada pela pessoa idosa está gerando sobrecarga em um ou mais membros da família?

12. A pessoa idosa está desassistida em sua LF de forma a poder considerar o quadro observado como negligência? Se sim, o que deverá ser feito?

13. Que opções de cuidado estão disponíveis para a pessoa idosa?

Vamos comparar agora, a lista construída pela turma com as questões apresentadas. Vamos identificar as similaridades e as diferenças. Em conjunto, vamos discutir a importância desse conjunto de questões para o planejamento do cuidado da pessoa idosa referente às limitações funcionais.

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Módulo V - Parte 2Atividade 2 - (Leitura de texto em pequenos grupos)

FUNCIONALIDADE EM PESSOAS IDOSAS

Aluno(a): .........................................................................................

Para esta atividade voces devem retomar o texto “Processo de Envelhecimento e Pessoa Idosa, a partir da página 41, no parágrafo “funcionalidade diz respeito aos níveis de “funcionamento” (função) de uma pessoa em diferentes áreas. A funcionalidade de uma pessoa pode ser mensurada por meio da avaliação funcional...” até o final.

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TEXTO DE APOIO

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ALTERAÇÕES FUNCIONAIS E O CUIDADO DA PESSOA IDOSA

É comum entre os idosos a presença de uma ou mais doenças crônicas concomitantes o que requer especial atenção tanto no acompanhamento de tais condições quanto na prevenção de incapacidades.

Essas doenças, quando apresentam complicações ou são inadequadamente acompanhadas, podem ocasionar sequelas incapacitantes que comprometem a autonomia e a independência da pessoa idosa.

Define-se autonomia como a capacidade de decisão, de comando. De maneira mais ampla pode-se dizer que autonomia é o exercício do autogoverno incluindo liberdade individual, privacidade, livre-escolha, liberdade e harmonia como os próprios sentimentos e necessidades.

Independência pode ser definida como a capacidade de realizar algo com seus próprios meios; significa poder sobreviver e desempenhar, sem ajuda, as atividades cotidianas conhecidas como atividades de vida diária (AVDs).

Tradicionalmente o conceito de independência se contrapõe ao de dependência compreendido como a incapacidade de uma pessoa funcionar satisfatoriamente sem ajuda (por limitações físicas, funcionais e/ou mentais).

Para a pessoa idosa, de forma geral, a autonomia é mais útil que a independência, pois pode ser restaurada por completo, mesmo quando o indivíduo continua dependente. Por exemplo: um idoso com importante limitação para caminhar (p.ex: usuário de cadeira de rodas), poderá exercer sua autonomia – escolher as coisas que quer fazer e a maneira como gostaria que acontecessem - apesar de não ser totalmente independente para realizá-las).

Independência e dependência, no entanto, são conceitos ou estados que só podem existir em relação a alguma outra coisa. É possível, no mesmo indivíduo, a coexistência de independência financeira e dependência afetiva ou ainda, independência intelectual com completa dependência física (p.ex: o cientista Stephen Hawking, figura ao lado).

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A dependência, portanto, não é um atributo individual, mas sim de um indivíduo em relação a outros.

A independência funcional está relacionada com a capacidade e qualidade do desempenho das AVDs. Tem por base o conceito de função, ou seja, a capacidade do indivíduo para adaptar-se aos problemas de todos os dias apesar de possuir uma incapacidade física, mental ou social.

A funcionalidade da pessoa idosa é avaliada em termos das atividades desenvolvidas diariamente e que estão diretamente relacionadas ao autocuidado, ao cuidado de seu entorno e à participação social.

Didaticamente as denominadas “atividades de vida diária” estão subdivididas em:

Atividades Básicas de Vida Diária (ABVDs) - envolvem as atividades de autocuidado como alimentar-se, banhar-se, vestir-se, arrumar-se, mobilizar-se, manter controle sobre suas eliminações, deambular. Seu comprometimento exige necessariamente o auxílio de outra pessoa para seu desempenho.

Atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) - indicam a capacidade de um indivíduo em levar uma vida independente dentro da comunidade. Envolve atividades como: fazer compras, administrar os próprios medicamentos e finanças, utilizar transporte, realizar tarefas domésticas leves e pesadas, preparar refeições e telefonar. Quando de seu comprometimento, há a necessidade de uma reorganização familiar para auxiliar a pessoa idosa, mas, nem sempre será necessário um cuidador presencial.

Atividades avançadas de vida diária (AAVDs) – envolvem a participação da pessoa idosa em atividades sociais, produtivas e de lazer tais como viajar, visitar familiares e amigos, praticar esportes, etc. Quando comprometidas pode ser necessária a presença de outra pessoa para auxiliá-lo no desempenho das mesmas, mas geralmente sua ausência não comprometerá a sobrevida da pessoa idosa mas, apenas, sua qualidade de vida.

A presença de dificuldades no desempenho das atividades cotidianas (por questões físicas, mentais ou ambas) pode gerar a necessidade de outra pessoa para auxiliá-lo. A essa pessoa costuma-se denominar “cuidador”

Até muito recentemente, a figura do denominado “cuidador” centrava-se quase que exclusivamente nos elementos familiares que, voluntariamente ou por exclusiva ausência de outras opções, disponibilizavam-se a auxiliar seus parentes mais idosos que necessitassem de auxílio. Historicamente era esperado que, por exemplo, um filho permanecesse na casa dos pais quando eles envelhecessem. Filhos únicos e mulheres não casadas são particularmente vulneráveis a assumir esta função. Quando um cuidador familiar está disponível, a carga sobre ele pode ser muito significativa. Esposas idosas frequentemente encontram-se disponíveis, mas em muitas ocasiões não são fisicamente capazes de atender a demanda constante de cuidados de seus cônjuges.

Torna-se assim importante que outras opções assistenciais sejam oferecidas às famílias com o objetivo de adequar a assistência às necessidades emanadas pelos idosos.

Alguns estudos mostraram a mudança da pessoa idosa para uma instituição decorre da inexistência de serviços suficientes e/ou eficazes para assistir as necessidades tanto dos indivíduos dependentes quanto de seus membros familiares. Parece que a maioria das famílias auxilia seus membros mais necessitados pelo maior período de tempo e tão bem quanto possível, mas esse recurso está se tornando cada vez mais limitado.

Quando os cuidadores familiares alegam ter chegado ao fim de todas as suas capacidades assistenciais dois desfechos são esperados: institucionalização ou negligência. Neste contexto, a figura do cuidador profissional passa a ser uma força complementar urgente, necessária e indispensável na assistência a essas pessoas.

Programas de orientação de cuidadores surgiram em diferentes âmbitos, federal, estadual e municipal e junto com estes, muitos questionamentos em especial os relacionados, as quais atividades podem ou não ser delegadas a essas pessoas, como e quem poderá adequadamente orientá-las, como poderá ser desenvolvida uma rede de atenção adequada e suportiva às demandas das pessoas idosas, seus familiares e os próprios cuidadores.

Alguns indicativos já estão postos como a descrição das funções dos cuidadores pelo Código Brasileiro de Ocupações (2002) atribuindo a eles o auxílio ao desempenho de ações complementares à execução, eficaz, das atividades de vida diária em suas diferentes formas.

Cuidar da pessoa idosa de forma adequada é um dos princípios do que se denomina “cuidado gerontológico”. Esse cuidado mais amplo tem por base a manutenção, no melhor nível possível, da condição funcional dos idosos, ou seja, deve objetivar que o idoso seja capaz, independentemente do número de condições crônicas coexistentes, de manter o melhor e maior nível possível de independência e autonomia no desempenho de suas atividades cotidianas.

Embora a maior parte dos idosos permaneça independente, cerca de 20 - 25% dessa população encontram-se atualmente dependentes em uma ou mais atividades de vida diária e, portanto, necessitam da assistência de um cuidador. Essa prevalência aumenta com o avançar da idade atingindo cerca de 50% das pessoas idosas mais longevas (80 anos e mais) lembrando ser esse o grupo populacional que mais cresce. Os idosos com problemas crônicos e, em especial, os mais dependentes, necessitam de maior apoio, de atenção e de cuidado planejado de forma a assistir suas necessidades, o que vai muito além da atenção exclusivamente biomédica.

Os riscos e as complicações associados às condições crônicas podem ser quase que totalmente calculados e, em vários casos, retardados ou até mesmo evitados. Isso exige cuidados de saúde pró-ativos e organizados em torno dos conceitos de planejamento e prevenção.

O cuidado gerontológico necessita da incorporação de conhecimentos de diferentes áreas e de atualização constante para estabelecer junto ao idoso e seu entorno, condições que permitam, entre outras:

• a adoção de condições mais saudáveis relacionadas ao estilo de vida;

• facilitação do diagnóstico e tratamento das condições crônicas que ocor-rem na velhice a maximização da independência;

• a minimização e compensação das perdas e limitações relacionadas ao envelhecimento;

• promoção de conforto durante os momentos de angústia e maior fragilida-de na velhice incluindo o processo de morte.

No cuidado gerontológico, idosos e seus familiares não devem ser vistos como receptores passivos dos cuidados de saúde. Eles precisam e devem ser agentes ativos na construção de um novo cuidado participando do tratamento e sendo apoiados nesse sentido. Esse cuidado envolve informações atualizadas e instruções compartilhadas de forma a atuar na minimização dos efeitos incapacitantes das doenças e na

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Texto de Apoio Alterações Funcionais e o Cuidado da Pessoa Idosa

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diminuição do risco de óbito precoce. Cabe ao profissional de saúde que assiste aos idosos e seus familiares serem o catalisador dessa interação.

O controle das condições crônicas nos idosos pode, hoje, ser mais eficiente em virtude dos avanços científicos, mas, é o cuidado gerontológico que permitirá o seguimento regular da terapêutica através do acompanhamento do autogerenciamento, da detecção e intervenção precoce em agravos e agudizações e uma sobrevida mais assistida e consequentemente mais digna.

Embora simples e exequível tal cuidado exige repensar o cuidado à pessoa idosa hoje vigente adequando-o a realidade. Essa reflexão, no entanto, necessita ser rápida, pois rápido é o envelhecimento de nossa população. Se isso não acontecer, o envelhecimento ao invés de ser uma conquista será considerado um caos e estaremos condenando os idosos a uma “era do não cuidado”.

Nesse sentido, vamos ver a seguir alguns tópicos importantes que nos auxiliarão na construção de um cuidado mais adequado à pessoa idosa e seus familiares.

ASPECTOS RELACIONADOS À COMUNICAÇÃO

A comunicação é considerada uma necessidade fundamental cuja satisfação envolve um conjunto de condições biopsicossociais. É mais do que uma troca de palavras; trata-se de um processo dinâmico que permite que as pessoas se tornem acessíveis umas às outras através do compartilhamento de sentimentos, opiniões, experiências e informações.

Comunicar é tornar comum, é trocar. Isso envolve não somente o que é trocado entre as pessoas de maneira verbal, mas todos os sinais transmitidos através de nossas expressões faciais, do nosso corpo, da nossa postura corporal, da distância que mantemos entre as pessoas; da nossa capacidade e jeito de tocar, de usar determinada roupa.

A função básica da comunicação nas relações humanas é, além de tornar alguma coisa comum, nos ajudar a expressar nossos sentimentos o que é feito principalmente através de nosso corpo, que é o nosso instrumento de comunicação com o mundo e o responsável por mostrar o que estamos sentindo em relação aos assuntos e às pessoas que estão a nossa volta.

É importante considerar que, na comunicação verbal, as pessoas utilizam uma linguagem própria (originária de sua região, sua experiência, seu trabalho anterior) que precisa ser respeitada e compreendida de forma a se conseguir entender o significado dos termos por ela utilizados.

A comunicação é essencial na área de saúde, pois através dela são obtidas informações valiosas para o planejamento do cuidado. Várias são as formas de comunicação entre os seres humanos incluindo-se a fala, a escrita, as expressões faciais, a audição e o tato cabendo ao cuidador a interpretação das mensagens emitidas de forma a estabelecer um plano de cuidados adequado e coerente com as necessidades identificadas.

A comunicação interpessoal resulta da interação face a face e implica em fazer-se compreender e compreender o outro não sendo esse um processo totalmente objetivo. A percepção do indivíduo age como um filtro na decodificação da mensagem, ou seja, vemos e ouvimos conforme nossa percepção.

Em suma, a comunicação ocorre, dentro de um determinado contexto onde alguém transmite alguma coisa a outro alguém, de alguma forma e gerando algum efeito.

A comunicação é um processo complexo baseado em cinco dimensões: biológica, fisiológica, social, cultural e espiritual.

A diminuição das capacidades sensório-perceptivas que ocorrem no processo de envelhecimento pode afetar a comunicação das pessoas idosas. Tais alterações são manifestadas pela diminuição da capacidade de receber e tratar a informação proveniente do meio ambiente que, se não forem adequadamente administradas, poderão levar ao isolamento do indivíduo idoso.

A figura a seguir ilustra as principais mudanças fisiológicas relacionadas ao sistema sensorial que podem afetar a capacidade de comunicação das pessoas idosas.

Figura 1: Mudanças sensoriais no processo de senescência

Tato Audição Visão

• Redução das sensações táteis em especial as relacionadas à temperatura, pressão e dor local.

• Degeneração da cóclea e órgão de Corti;

• Espessamento do tímpano;

• Redução da produção de cerume;

• Otosclerose (ouvido médio);

• Atrofia do nervo auditivo.

Presbiacusia

• Redução da acuidade visual;

• Redução a visão periférica e da visão lateral;

• Diminuição do reflexo fotoreagente;

• Presbiopia

A comunicação pode ser verbal ou não verbal. A primeira refere-se às palavras que são expressas por meio da fala ou da escrita e a segunda está associada aos gestos, expressões faciais, postura corporal ou mesmo o silêncio em uma conversa. Estudos estimam que 7% das mensagens são transmitidas por palavras, 38% por sinais para linguísticos (entonação da voz, velocidade das palavras, etc) e 55% por sinais do corpo.

As pessoas idosas podem, algumas vezes, apresentar algumas alterações sensoriais que afetam diretamente o processo de comunicação. Isso ocorre, por exemplo, com a audição onde pode ocorrer uma diminuição da capacidade de discriminação dos sons o que significa que as pessoas idosas podem até preservar a capacidade de ouvir tons puros, mas quando esses tons são agrupados na formação de palavras, a capacidade de compreender e perceber esses sons, diferenciando-os, pode estar comprometida. A pessoa idosa que apresenta déficit auditivo tem uma capacidade diminuída de seguir com uma conversa evitando-a muitas vezes. Assim, a presbiacusia predispõe ao isolamento social.

As alterações visuais restringem a participação social e especialmente o interesse por atividades recreativas tendendo a bloquear a comunicação. Assim, toda vez que uma pessoa idosa apresentar déficits visuais ou auditivos, deve ser considerada em risco de isolamento, alteração na comunicação, ansiedade ou sentimento de impotência.

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Para poder melhorar a comunicação verbal com o idoso deve-se:

• usar frases curtas e objetivas;

• procurar um ambiente com poucos ruídos;

• repetir a comunicação erroneamente interpretada por ele utilizando pa-lavras diferentes, e de preferência, os termos também utilizados por ele;

• falar de frente para o idoso evitando virar-se ou afastar-se enquanto fala;

• evitar cobrir a boca com a mão ou com qualquer objeto enquanto fala, permitindo que ele possa ler os lábios;

• identificar o momento melhor de abordagem - que não tenha tantos ruídos a nossa volta;

• evitar infantilizá-lo utilizando termos inapropriados como “vovô”, “queri-do” ou ainda utilizando termos diminutivos desnecessários (“bonitinho”, “lindinho”, etc)

• chamá-lo pelo próprio nome ou da forma como ele referir preferir.

• quando possível e necessário, usar a escrita para auxiliar na retenção de informações.

O tipo de linguagem a ser utilizada é definido a partir da observação da sua habilidade cognitiva e de seu nível de orientação, considerando seus déficits sensoriais de visão e audição (se houver) e o uso de certos medicamentos (soníferos ou sedativos).

É necessário lembrar que a pessoa idosa pode necessitar de um tempo maior para responder as perguntas feitas. Assim, não elabore uma segunda questão antes de ouvir a resposta da primeira e não o interrompa no meio das frases, demonstrando pressa ou impaciência. É necessário dar tempo para que ele conclua o seu próprio pensamento em sinal de respeito a sua maneira de pensar.

Outra característica ligada à comunicação verbal, é o paraverbal, ou seja, a maneira como utilizamos a velocidade das falas, o tom de voz e os ruídos entre as falas. Isso auxilia na identificação dos sentimentos das pessoas por trás das falas (dúvida, apreensão, medo, etc). Assim como um grito pode ser usado para demonstrar susto, dor ou alegria, a hesitação da voz também pode demonstrar dúvida: “é...ah...hum..”. Grunhidos, levantar de sobrancelhas, laterização de cabeça e respostas monossilábicas, podem ser, por exemplo, indicativo de dúvida ou que ele gostaria de discutir o assunto em outro momento, ou separado das pessoas que estão presentes naquela determinada situação. Muitas vezes o idoso precisa falar sobre as suas experiências como uma forma de se fazer respeitar e sentir-se útil. Nossa participação nesse processo envolve ouvir, ouvir e...ouvir.

É bom lembrar que a necessidade de apoio e de manter relações significativas, continuam durante toda a vida. Assim, a pessoa idosa também sente necessidade de perceber que, as relações de comunicação são relações de igualdade, ou pelo menos, de respeito mútuo, traduzido pela não interrupção de suas falas, pelo fato de voltarmos nosso corpo em sua direção e olharmos para ela enquanto fala, de se demonstrar aceitação às coisas que diz com meneios positivos de cabeça, etc.

É necessário primeiro avaliar o contexto e individualizar as informações, pois não é todo idoso que tem declínio na acuidade auditiva ou que pensa muito lentamente. Idosos só são idosos, não são ignorantes ou necessariamente doentes/incapacitados.

Se por um lado o idoso pode apresentar algumas dificuldades na comunicação verbal, por outro, ele pode estar muito atento e treinado na decodificação da comunicação não verbal, pois teve uma vida toda de aprendizado para isso. Pelo fato de já ter vivido muito anos e de ter vivenciado inúmeras experiências, a pessoa idosa sabe decodificar, pelo menos de maneira inconsciente, nossa postura corporal, o “respeito” que temos por ela quando a tocamos de uma determinada maneira (com carinho ou com pressa), a emoção ou o sentimento básico que nutrimos por ela quando a estamos atendendo.

Para conhecer o que o idoso sente e pensa, é necessário observar o movimento do seu corpo, seus gestos, sua postura. A comunicação não verbal tem por objetivos completar, substituir ou contradizer a comunicação verbal além de demonstrar os sentimentos das pessoas e por essa razão deve ser sempre considerada.

De modo geral, o ser humano fala muito pouco o que sente e pensa muitas vezes pelo receio de ser ridicularizado (“Imagine...isso é bobagem...”) ou de não ser ouvidos (“Você está louco!...Podemos conversar depois?”). Por essa razão, tanto a comunicação verbal como a não verbal precisam ser valorizadas.

A primeira dimensão ou tipo de comunicação não verbal que deve ser considerada é a linguagem corporal, lembrando que, quando nos voltamos na direção do idoso e conversamos com ele, precisamos estar com o tronco voltado para ele, porque na cultura ocidental, o voltar-se em direção a alguma coisa, é considerado demonstração de interesse. A pessoa idosa já viveu muito tempo na nossa cultura para não ter dúvida de que uma pessoa realmente atenta, numa interação, volta o seu corpo para ela, assim como é capaz de usar meneios positivos de cabeça enquanto escuta e é capaz de demonstrar através de gestos, a complementaridade do que está sendo dito. Por exemplo, se dissermos que estamos interessados no que ele está falando, mas ficarmos balançando os pés, roendo unhas, ou olhando o horizonte, ele será capaz de interpretar isso como ansiedade ou desinteresse.

Para que criemos vínculo de confiança é necessária complementaridade na linguagem de corpo e no que nós verbalizamos. O ser humano demonstra através de suas expressões faciais o que está sentindo, mesmo sem nada verbalizar. Estudos mostram que através das expressões faciais podemos identificar alegria, tristeza, raiva, indiferença, desprezo, vergonha, interesse, medo e que tais expressões podem nos auxiliar a perceber como anda a nossa interação, nossa relação com ele.

Temos pouca consciência da expressão que fazemos quando conversamos com as pessoas. Por essa razão muitas vezes não gostamos de nos ver filmados ou fotografados, pois nos assustamos com nossas próprias expressões faciais. O idoso, porém, pode estar muito atento, pois já aprendeu como essa decodificação é importante.

Entende-se por uso eficaz da comunicação não verbal os comportamentos que encorajam a fala do outro a partir da demonstração de aceitação e respeito e, por uso ineficaz, aqueles que, possivelmente, enfraquecem ou desestimulam o diálogo.

O uso do espaço interpessoal constitui outra dimensão da comunicação não verbal. Trata-se da distância mantida entre as pessoas. Normalmente nos aproximamos, voltamos nosso corpo para aquilo que nos interessa e mantemos distância do que nos desagrada. A distância entre as pessoas pode ser caracterizada como: distância íntima, distância pessoal, distância social e distância pública.

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A distância íntima é aquela que vai do tocar o outro a, mais ou menos, 40-45cm de distância entre as pessoas e, só é ocupada, normalmente, por pessoas que realmente se gostam ou quando querem brigar. Ao longo da vida, costumamos manter com as pessoas, uma distância pessoal (de 40-45cm a 120 cm de distância).

Quando a pessoa idosa apresenta declínio auditivo ou visual, pode ter uma tendência a utilizar, com mais tranquilidade, a distância íntima, como forma de identificar com mais precisão as expressões faciais e de prestar atenção ao tom de voz de quem lhe fala.

Nas relações interpessoais existe um “espaço pessoal”, que não deve ser ultrapassado sem permissão incorrendo no risco de provocar reações de defesa. Esses sinais são expressos por: desviar os olhos e virar a cabeça; virar o corpo em outra direção; enrijecer a musculatura; cruzar os braços; dar respostas monossilábicas questões feitas ou se afastar (se o espaço permitir).

Toda vez que um profissional de saúde for executar um cuidado mais íntimo, o espaço pessoal será ultrapassado e sinais automáticos de defesa serão acionados. Isso pode ser evitado solicitando previamente autorização para essa “invasão” evitando assim que o vínculo de confiança não seja quebrado.

Outra questão importante sobre espaços interpessoais é a necessidade das pessoas em delimitarem seu próprio espaço. O idoso pode demarcar esse espaço por meio da colocação de suas próprias coisas (chinelo, livro, Bíblia, fotos). Invadir esse espaço sem permissão pode originar reações de defesa.

A maneira de se vestir, de se pentear, os adornos utilizados, etc também podem ser compreendidos como formas de comunicação não verbal. Uma pessoa com autoestima elevada vai estar preocupada em causar uma impressão bem cuidada (usando brinco, batom, roupa limpa). O idoso pode preferir roupas mais tradicionais e se sentir mais a vontade com cuidadores que o utilizem roupas menos extravagantes.

O ambiente também comunica e costuma mostrar algumas características pessoais das pessoas. Várias imagens de santos podem representar uma pessoa religiosa; muitas gravuras ou quadros podem demonstrar afinidade por arte, etc. Para compreender melhor um idoso e iniciar um vínculo é importante observar atentamente seu meio ambiente. Aquilo que ele coloca à sua volta e o que ele costuma cuidar (animal ou planta) podem ser os motivos para iniciar um diálogo.

O toque, uma das sinalizações não verbais, tem muitas características específicas que demonstram a intenção e a valorização do cuidador para com a pessoa idosa. A forma como nos aproximamos para tocar a pessoa, a rapidez dessa aproximação, o local onde se toca são indicadores do tipo de relação de afetividade que se tem por e com essa pessoa. Tocar alguém sem primeiro lhe dirigir o olhar pode representar desrespeito ou uma forma de poder sobre ela. Quem se sente subordinado toca menos o outro, ou o toca para chamar a atenção.

O toque carrega consigo mensagens como afeto, segurança, proteção, apoio, valorização da própria pessoa e auxílio na promoção de sua autoestima. As mensagens transmitidas pelo toque são influenciadas pela duração do contato, pela região tocada, pela intensidade do toque, pela frequência com que tocamos, pela velocidade de aproximação com a pessoa e até pela sensação que provoca no cuidador e na pessoa idosa.

É importante ressaltar que os idosos de hoje são de uma época em que o corpo era tido como “tabu”. O pudor e a vergonha ocupavam lugar de destaque e a aproximação física era vista com algum rechaço. Isso deve ser considerado ao se aproximar e tocar a pessoa idosa para evitar que esse procedimento desencadeie um afastamento da mesma. Em nossa realidade se aceita com mais facilidade o contato no ombro, braço e mão, do que em qualquer outra parte do corpo. Então, devem-se evitar contatos iniciais em qualquer outra parte do corpo da pessoa que não as citadas.

A pessoa idosa pode não verbalizar, mas comunicar a existência de maus tratos por meio de lesões, equimoses, úlceras de decúbito, desidratação ou ainda demonstração de medo ou ansiedade na presença de algum familiar. Isso deve ser um alerta sobre suas dificuldades nas relações familiares. É necessário estar atento para o que ela fala, o que ela não fala, seu comportamento, seus gestos, expressões facial, porque isso pode comunicar muito mais do que somente a avaliação das suas lesões, déficits ou incapacidades.

As pessoas costumam ouvir o que esperam e querem uma vez que tendem a sentir e agir de acordo com os próprios referenciais de vida. É importante ao profissional de saúde o reconhecimento disso para que compreenda que a maneira como a pessoa idosa percebe os fatos à sua volta influencia sua conduta mais do que a realidade da situação em si.

É necessário que o profissional esteja atento à comunicação verbal e não verbal, sua e da pessoa idosa para torná-la mais consciente e assim dispor de recursos para entendê-la de forma eficaz tornando-a parte de seu planejamento assistencial.

CUIDADOS COM A ALIMENTAÇÃO

A alimentação é fundamental na promoção, manutenção e/ou recuperação da saúde em qualquer fase da vida. As necessidades nutricionais, no entanto, variam de acordo com o sexo, a idade, a atividade física e a presença de doenças.

Com o envelhecimento ocorrem algumas alterações no organismo que podem modificar as necessidades nutricionais. Isso pode ser ainda mais acentuado pela presença de doenças, pelo uso de medicamentos ou por problemas sociais e psicológicos.

Com o avançar da idade ocorre uma mudança na composição corporal, com diminuição da massa magra (músculo e osso), aumento da massa gordurosa, diminuição do metabolismo basal e tendência a inatividade física. Essas transformações interferem na quantidade de energia necessária diariamente pela pessoa idosa.

Por outro lado as alterações sensoriais (visão, paladar, olfato, audição e tato) podem levar à perda de apetite, induzindo a menor ingestão de alimentos. A ausência parcial ou total de dentes, o uso de próteses (parciais ou totais) inadequadas, a presença de doenças periodontais e cáries e a diminuição da secreção salivar (xerostomia) são fatores que podem provocar dificuldade de mastigação e deglutição, propiciando hábitos alimentares inadequados, como a diminuição do consumo de determinados alimentos como carnes, frutas, verduras e legumes crus. Isso é ainda mais acentuado quando a pessoa idosa apresenta limitações físicas que a impedem de sair para fazer compras o que pode comprometer seu padrão alimentar.

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Alterações gástricas e metabólicas podem dificultar a digestão e favorecer a obstipação intestinal (prisão de ventre).

É frequente entre as pessoas idosas a presença simultânea de várias doenças, (diabetes mellitus, hipertensão arterial, aterosclerose, osteoporose, etc) que associadas ou isoladamente, podem afetar suas necessidades nutricionais, por alterarem os processos metabólicos, a digestão, absorção, utilização e excreção de nutrientes. Os medicamentos utilizados para controle dessas doenças podem interagir entre si e com os nutrientes dos alimentos, prejudicando o processo de alimentação e nutrição e, consequentemente, o estado nutricional dos idosos.

Com o processo de envelhecimento, as pessoas podem ainda perder o interesse para preparar e ingerir as refeições, ou porque moram sozinhas e não têm motivação para a realização dessas tarefas, ou porque, mesmo acompanhadas, vivem em permanente conflito e isso se reflete na recusa dos alimentos.

Os hábitos alimentares são fixados na infância e tendem a se perpetuar ao longo da vida, tornando-se cada vez mais arraigados e difíceis de serem modificados. Soma-se a isso a existência de crenças e tabus, baseados em informações incorretas que podem levar a prejuízos nutricionais. Assim, alguns alimentos ou preparações são considerados “leves”, “pesados”, “quentes”, “frios”, ou então, impróprios para o consumo em conjunto com outros alimentos (exemplo: leite com manga) ou ainda, impróprios para serem consumidos em determinados horários (por exemplo, à noite).

Existem também alguns alimentos ou preparações que são considerados “milagrosos” embora não apresentem qualquer comprovação científica (p.ex: suco de laranja com berinjela crua, pela manhã, em jejum para baixar o colesterol sanguíneo).

A escassez de recursos financeiros e a aposentadoria acabam comprometendo o padrão alimentar dos idosos uma vez que grande parte dos recursos financeiros são utilizados na aquisição de medicamentos, considerados prioritários. O restante é utilizado em parte na aquisição de alimentos mais baratos (pão, bolacha) e de mais fácil preparo, em detrimento de alimentos mais caros (carnes, leite e queijos).

FUNÇÕES DOS ALIMENTOS

O nosso organismo recebe todas as substâncias necessárias ao seu bom funcionamento através dos alimentos. Estes são constituídos por elementos chamados nutrientes e que são considerados indispensáveis à vida humana. Os nutrientes contidos nos alimentos são: água, carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas, minerais e fibras.

Cada alimento possui vários nutrientes em diferentes quantidades e cada nutriente exerce uma função específica no organismo. Com exceção do leite materno, nenhum outro alimento é completo do ponto de vista nutricional. Desta forma, tendo em vista a quantidade de nutrientes presentes nos alimentos, bem como a função que os mesmos exercem no organismo, os alimentos podem ser classificados em três grupos: energéticos, construtores e reguladores. O que determina em qual grupo os alimentos se enquadram é o nutriente que está presente em maior quantidade e a função que esse exerce, predominantemente, no organismo.

Os alimentos energéticos são aqueles que têm a função primordial de fornecer energia para que o nosso organismo possa desenvolver suas atividades, internas

(metabolismo basal) e externas (andar, correr, trabalhar, jogar, etc). São constituídos preponderantemente pelos por carboidratos (simples e complexos) e lipídios.

Os alimentos ricos em carboidratos complexos são representados especialmente pelo amido (cereais, farinhas derivadas de cereais e seus derivados, massas, feculentos e derivados); os ricos em carboidratos simples, são representados pelos açúcares, doces em geral, mel e refrigerantes comuns.

Os alimentos ricos em lipídios além de fornecer energia, veiculam ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis (solúveis na gordura), e auxiliam na regulação térmica do organismo (óleos, margarinas, gordura intrínseca das carnes ou dos leites, queijos, iogurtes). Os alimentos ricos em lipídios (gorduras) podem ser subdivididos em: de origem vegetal (óleos vegetais, azeite de oliva, azeite de dendê, gordura vegetal hidrogenada, margarinas, halvarinas, cremes vegetais) e, de origem animal (manteiga, banha, toucinho, bacon, creme de leite, além das gorduras intrínsecas dos alimentos - carnes, no leite e nos queijos, iogurtes, requeijão).

Existem ainda, as gorduras saturadas (gordura das carnes, do leite, dos queijos, manteiga, creme de leite, requeijão, banha, toucinho, ovo, gordura vegetal hidrogenada, azeite de dendê, gordura de coco, leite de coco, em óleos vegetais superaquecidos e reutilizados várias vezes e em margarinas duras) e as insaturadas (monoinsaturadas do azeite de oliva e as poliinsaturadas dos óleos vegetais e margarinas cremosas).

A ingestão de alimentos fontes de gorduras é importante, mas o seu consumo deve ser controlado, devido à alta densidade energética e por sua relação com algumas doenças (obesidade, diabetes e cardiovasculares).

Os alimentos construtores têm a função de fornecer substâncias para a construção, manutenção e/ou recuperação das diferentes partes do organismo. Fornecem, principalmente, proteínas, cálcio e ferro. Os alimentos ricos em proteínas podem ser de dois tipos: de origem animal (carnes de todos os tipos, vísceras, ovos, leites, queijos, iogurtes, coalhadas) e de origem vegetal (feijões de todos os tipos, soja, lentilha, grão de bico, ervilha seca).

Os alimentos ricos em cálcio são representados por leite, queijos, iogurtes e coalhada. Em sua forma integral têm gordura saturada e colesterol.

Os alimentos ricos em ferro são as carnes, vísceras (fígado, rins) e leguminosas secas. O ferro presente nas carnes é bem aproveitado pelo organismo, mas o das leguminosas secas, para ser aproveitado, necessita da ingestão de alimentos que contenham vitamina C (laranja, mexerica, acerola, caju e outros - ao natural ou sob a forma de sucos). Os ovos são ricos em proteínas mas não constituem boa fonte de ferro. Assim, não é recomendável fornecer gema de ovo como fonte de ferro.

Os alimentos reguladores regulam várias funções do organismo contribuindo na elevação da resistência do organismo às infecções, auxiliando na proteção da pele e da visão, ajudando na regulação do funcionamento intestinal. Esses alimentos fornecem, principalmente, vitaminas, minerais e fibras, e são representados pelas frutas, hortaliças e cereais integrais.

O teor de fibras da alimentação aumenta quando as frutas são consumidas com casca e bagaço. As frutas ricas em vitamina C (acerola, maracujá, goiaba, caju, laranja, mexerica, limão) devem ser consumidas diariamente, pois nosso organismo

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necessita delas todos os dias e não as armazena. As frutas devem ser bem lavadas em água corrente antes do consumo e podem ser ingeridas ao natural, sob a forma de salada de frutas, de sucos ou de vitaminas (leite batido com frutas).

As hortaliças podem ser subdivididas em verduras (alface, agrião, rúcula, repolho, couve, escarola, espinafre, brócolis, almeirão e outras) e legumes (pepino, tomate, quiabo, jiló, berinjela, pimentão, abobrinha, chuchu, cenoura, abóbora madura, beterraba e outras). Algumas vitaminas podem ser destruídas com a cocção (cozimento) das verduras, portanto esses alimentos devem ser consumidos preferentemente crus o mesmo ocorrendo com os legumes. Quando for necessário refogá-los, fazê-lo em fogo baixo, panela tampada, sem adição de água e em tempo adequado.

É preferível comprar as frutas e as hortaliças no período de safra, porque além de mais baratas, são mais nutritivas.

Os cereais integrais e derivados (arroz integral, aveia, pão de trigo integral, biscoitos integrais, farinhas integrais) fornecem vitaminas, minerais e fibras e em maior quantidade do que os seus correspondentes refinados.

Os idosos, em geral, apresentam diminuição do peristaltismo intestinal, ocorrendo frequentemente a obstipação intestinal (prisão de ventre). Assim, é de fundamental importância que se forneça quantidade adequada de frutas, de hortaliças e/ou de cereais integrais, para minimização desse problema. Deve-se, ainda, garantir um consumo adequado de água (6 a 8 copos) ou outros líquidos (exemplo: chás, sucos) por dia para facilitar o funcionamento adequado do intestino.

A alimentação saudável é importante para o bem estar físico, mental e social das pessoas, para a prevenção de agravos à saúde e para o controle de determinadas doenças, contribuindo assim para aumentar sua qualidade de vida. Uma alimentação saudável é a equilibrada do ponto de vista nutricional. Significa que deve fornecer energia (calorias) e todos os nutrientes em quantidade suficiente para o bom funcionamento do nosso organismo. Essa quantidade varia de pessoa para pessoa, de acordo com o sexo, a idade, o peso, a altura, a atividade física, o estado fisiológico ou presença de doenças. Portanto, a necessidade nutricional é individual.

Com o objetivo de auxiliar na orientação nutricional quanto à uma alimentação saudável para indivíduos idosos, o Grupo de Estudos de Nutrição na Terceira Idade - GENUTI, formado por nutricionistas, elaborou um guia alimentar onde a pirâmide foi escolhida como forma de orientação para uma alimentação saudável, porque sua estrutura dá a conotação exata de equilíbrio e proporcionalidade. A Pirâmide de Alimentos é dividida em sete grupos, de acordo com as funções que exercem no organismo.

Cada um dos grupos de alimentos fornece alguns nutrientes, porém não todos que o organismo necessita. Assim, é preciso consumir alimentos de todos os grupos para que a alimentação seja equilibrada. Nenhum deles é mais importante do que o outro, no entanto é necessário observar as porções recomendadas. Essas porções foram estabelecidas para cada grupo, partindo-se de uma quantidade considerada padrão (ou habitual) para cada grupo de alimento e seus respectivos equivalentes. Estabeleceu-se também um número mínimo e um máximo de porções para cada grupo, visando contemplar dietas com diferentes valores calóricos e necessidades específicas de nutrientes.

O Grupo 1 constitui a base da pirâmide e é composto por alimentos energéticos, ricos em carboidratos complexos. É o grupo que representa a maior parcela de contribuição da alimentação. O Grupo 2 é composto pelas hortaliças (verduras e legumes), alimentos reguladores e que devem compor a alimentação com 3 a 5 porções. O Grupo 3 é constituído pelas frutas, alimentos reguladores, recomendando-se que pelo menos uma delas seja rica em vitamina C. O Grupo 4 é composto pelo leite, queijo e iogurtes, também do grupo dos alimentos construtores. O Grupo 5 é constituído pelas carnes, ovos e leguminosas secas, do grupo dos alimentos construtores. O Grupo 6 é formado pelos açúcares e doces em geral, dos alimentos energéticos, mas que fornecem, principalmente, carboidratos simples. O Grupo 7 é constituído pelos lipídios, dos alimentos energéticos.

Para as pessoas idosas portadoras de diabete, obesidade ou hipertrigliceridemia (triglicérides sanguíneo elevado), o consumo de alimentos do Grupo 6 e 7 deve ser evitado ou controlado. Os produtos “diet” podem não conter açúcar, mas podem apresentar grande quantidade de gordura, o que seria igualmente contra indicado para esses indivíduos.

Cabe ressaltar que dentro do mesmo grupo, os alimentos se equivalem em termos nutricionais, podendo, portanto, serem substituídos uns pelos outros sem prejuízo da qualidade nutricional da alimentação.

Os alimentos dos Grupos 6 e 7 estão no topo da pirâmide, sendo proporcionalmente os menores grupos, demonstrando que devem ser consumidos em pequena quantidade, mesmo porque os nutrientes que eles fornecem estão presentes, naturalmente ou adicionados, nos alimentos dos outros grupos da pirâmide. Os açúcares são representados pelos cristais desenhados nos outros grupos e as gotinhas representam as gorduras. O fato de estar no topo da pirâmide não significa que sejam os mais importantes.

A água é um nutriente importantíssimo na alimentação dos idosos, mas frequentemente negligenciada. Alguns autores colocam que o idoso é um desidratado crônico e ao ser questionado sobre o seu consumo diário a resposta normalmente é: “Não sinto sede”, ou, então: “Não me lembro de beber água”. É importante a ingestão média, de 6 a 8 copos de água ou líquidos (chás, sucos) por dia. Popularmente, há uma falsa ideia de que não se deve beber líquido durante as refeições. Obviamente, não se deve exagerar na quantidade de líquido consumido - um copo por refeição - devendo-se evitar o consumo de refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Esse hábito

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facilita a mastigação e a deglutição, auxilia na formação do bolo alimentar e do bolo fecal, no bom funcionamento do intestino e na hidratação do organismo. A água exerce ainda outras funções importantes no organismo como: participar na regulação da temperatura corporal e em suas reações químicas; lubrificar as partes móveis do corpo; auxiliar no funcionamento adequado de todos os órgãos, na digestão e absorção dos alimentos, na circulação e excreção de nutrientes; conduzir nutrientes e catabólitos através de todo o corpo.

Em cada uma das refeições é fundamental que, pelo menos um alimento energético, um construtor e um regulador, estejam presentes. Deve-se realizar de três a cinco refeições por dia (café da manhã, lanche, almoço, lanche, jantar) oferecendo menor quantidade de alimentos por refeição, o que facilitará a digestão. É necessário que se mantenha regularidade no horário das refeições e que essas sejam agradáveis a todos os órgãos dos sentidos, despertando o apetite e o prazer de comer.

Há uma falsa ideia de que o idoso não deve jantar, mas apenas fazer um lanche à noite. Cientificamente não há nada que contraindique esta prática. O importante é observar a quantidade de alimentos a ser consumida à noite e o horário da refeição.

Em algumas ocasiões há necessidade de se modificar o preparo dos alimentos (picá-los bem, amassá-los ou liquidificá-los) para que o idoso possa se alimentar adequadamente permitindo a mastigação e a deglutição e facilitando a digestão. Em outras ocasiões será necessário o uso de sondas nasogástricas ou enterais e de dietas especiais, normalmente, preparadas por laboratórios especializados.

CUIDADOS COM A HIGIENE, VESTIMENTA E CONFORTO DA PESSOA IDOSA

A higiene pessoal é um cuidado considerado básico para a saúde e bem estar do ser humano. É uma atividade incorporada na rotina diária desde a infância e que difere de cultura para cultura e, entre diferentes épocas. Entende-se por higiene pessoal, a higiene corporal e íntima, a higiene oral e do couro cabeludo.

HIGIENE CORPORAL

A cultura do “asseio” ou da limpeza do corpo veio com a Revolução Industrial. Antes, as pessoas que trabalhavam no campo, traziam esse registro em seus corpos e suas roupas. Mulheres de pescadores cheiravam peixe e os camponeses cheiravam gado.

A sujeira era vista como positiva. Não tomar banho com frequência era uma demonstração de força, pois mostrava que a pessoa não sentia frio tão facilmente. Acreditava-se que a sujeira e as secreções que saiam do corpo forneciam uma proteção adicional à pessoa.

O asseio, o autocontrole e a disciplina foram importantes ferramentas passadas de mão em mão em um processo histórico comumente referido como o processo de domesticação da classe trabalhadora que adotava os valores da classe média por meio das ideias de higiene. As “novas” normas preconizavam que as pessoas sujas eram rebeldes e difíceis; pessoas limpas e saudáveis representavam organização. A

guerra contra a sujeira, impurezas e a desordem representava um clássico esforço contra o caos.

O asseio passou, então, a diferenciar a classe média da classe trabalhadora e os camponeses da burguesia, essa reconhecida como uma nova classe social emergente.

O asseio tornou-se moda. Um mundo sem cheiros era elegante e aristocrático (“mundo longe dos currais”). Os papéis domésticos foram redistribuídos valorizando mais aqueles que, de alguma forma, administravam o trabalho dos outros em detrimento daqueles que desenvolviam trabalhos pesados.

Os textos relacionados ao cuidado escritos nessa época falam da necessidade de “banhos de limpeza”. Para retirar a sujeira pesada sugeria-se adicionar amônia à água e, para remover graxa, sugeria-se adicionar álcool quente ou éter e benzina. As pessoas submetidas a esse banho, denominado “banho de admissão”, reclamavam do cheiro presente nessa mistura e de como se sentiam desconfortáveis com ele.

O lema adotado para a higienização das pessoas doentes dizia “pessoas acamadas podem não parecer sujas, mas elas necessitam de banho tanto quanto as que estão em pé”.

A explicação fisiológica utilizada dizia que a pele é um órgão de excreção, que secreta gordura e água na forma de transpiração juntamente com substancias orgânicas. Se essas substâncias não forem removidas da pele através do banho, elas provocariam um odor desagradável além de poderem provocar lesões na pele.

A partir daí, para algumas culturas, o banho passou a ter utilização terapêutica nas formas de hidroterapia, banho frio, banho quente, banhos de vapor. As pessoas procuravam tais banhos como uma forma de tratamento para suas doenças. Ainda hoje, muitas pessoas buscam banhos terapêuticos em spas ou estações de água na busca de melhorar suas condições de saúde.

Para outras culturas, no entanto, o banho não é visto como um procedimento de conforto para pessoas doentes ou dependentes. Elas acreditam que o banho pode tornar a pessoa ainda mais doente por ficar exposto ao frio.

Quando os cuidadores se depararem com resistência das pessoas idosas para o banho, a primeiro passo deve ser tentar descobrir o porquê. Eles podem ter receio de sofrer uma queda no banheiro, eles podem estar apresentando algum tipo de dor ou simplesmente estarem muito cansados.

As pessoas idosas realmente necessitam de banho diário?

O banho é, normalmente, realizado para agradar mais quem cuida (senso de responsabilidade) do que para atender a uma real necessidade ou desejo da pessoa cuidada.

O banho diário baseia-se mais em normas culturais que em requerimentos clínicos. Algumas culturas valorizam o asseio e consideram que o banho é incompleto se não houver o uso de vários xampus, sabonetes ou desodorantes; outras, no entanto, consideram o banho semanal suficiente não sentindo necessidade de “mascarar” o próprio odor com produtos perfumados.

A frequência do banho depende das necessidades apresentadas pelos idosos. Em algumas circunstâncias esse banho pode ser dado apenas, por exemplo, duas vezes

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por semana. É o caso das pessoas idosas com importante ressecamento de pele, os muito enfraquecidos ou os que, por problemas de saúde, cansam-se facilmente.

Embora o banho seja muito importante, a rotina de seu uso diário não pode ser legitimamente defendida. Se um banho/dia já é difícil de defender, que dirá dois. No entanto, isso é uma rotina para alguns hospitais, instituições, cuidado domiciliar, etc.

O auxílio à higiene corporal é, geralmente, uma das principais atividades desenvolvidas pelos cuidadores. Isso ocorre quando a pessoa idosa apresenta dificuldades para executar essa atividade sem auxílio. Várias são razões que podem gerar essa necessidade tais como efeitos das doenças existentes; diminuição de força e energia; presença de dor ou desconforto; incapacidade de acessar determinadas partes do corpo (p.ex: pés, pernas, costas); medo de se ferir durante o procedimento (insegurança pessoal); presença de confusão mental, dificuldade de compreensão, esquecimento do que deve ser realizado e como.

Essa dificuldade em desempenhar a higiene pessoal pode ser classificada como: temporária, permanente ou progressiva. O cuidador precisa ser alertado sobre a necessidade de estimular a pessoa idosa a realizar, durante o banho, aquilo que conseguir, pois os princípios de autonomia e independência devem ser sempre preservados.

O banho tem muitos objetivos incluindo: limpar a pele; remover as bactérias, eliminar e prevenir odores corporais; estimular a circulação e a movimentação articular; prevenir úlceras de pressão, promover conforto e sensação de bem-estar.

A pele é o maior órgão do nosso organismo constituindo uma barreira física em relação aos microorganismos e substâncias estranhas. Por conter inúmeras terminações nervosas, permite reconhecer informações sobre o meio exterior.

Com o envelhecimento ocorre diminuição da renovação epidérmica, diminuição da espessura da derme por perda de tecido subcutâneo, diminuição da tonicidade da pele por perda de elastina, perda da elasticidade da pele por diminuição do colágeno, alteração da barreira epidérmica devido a osteoatos, atrofia dos capilares da pele, perda de tecido adiposo subcutâneo e alteração em sua distribuição (menos em braços e pernas e mais na região abdominal), atrofia do tecido glandular da mama, aparecimento de rugas, aparecimento de manchas na epiderme, diminuição da atividade das glândulas sebáceas e atrofia das glândulas sudoríparas.

Também ocorrem alterações nos denominados “tegumentos” (pelos, cabelos, unhas): diminuição dos pelos, perda e diminuição da espessura dos cabelos, embranquecimento, lentificação do crescimento e espessamento das unhas (por diminuição da circulação periférica).

Com o avançar da idade há uma redução em todos os processos que mantém nossa pele umectada, há uma perda de seu suprimento sanguíneo que contribui para a diminuição da secreção sebácea. As glândulas sebáceas secretam sebo através do folículo piloso para a superfície da pele. Esse age como emoliente mantendo a umidade da pele; sua diminuição resulta em pele e cabelos mais ressecados.

O primeiro objetivo do cuidado com a pele da pessoa idosa é a manutenção de sua hidratação, pois a sua umidade auxilia na prevenção da formação de feridas, pois permite que essa seja mais resistente e tenha uma recuperação mais rápida quando lesada.

Os queratinócitos constituem 95% da epiderme e são capazes de absorver grande quantidade de água. É por essa razão que, quando ficamos muito tempo em contato

com a água, ficamos parecendo uma “ameixa seca”. Por essa razão, o momento ideal para hidratar a pele é logo após o banho, momento no qual os queratinócitos estarão retendo, na pele, a maior quantidade de água possível. A aplicação de cremes, emolientes e loções nesse momento auxiliam na prevenção da evaporação da água aumentando a umidade da camada mais superficial da pele e, consequentemente, aumentando sua proteção. Pensando no mesmo princípio, os óleos de banho não devem ser adicionados à água antes de 15-20 minutos de imersão.

Qualquer produto que diminua a umidade da pele deve ser evitado, assim, deve-se dar preferência aos produtos que contenham emolientes e evitar os que contenham álcool.

Talco e amido de milho não devem ser utilizados, o primeiro porque absorve o óleo e pode ser inalado e o segundo porque, na presença de umidade, quebra-se liberando glicose e permitindo a formação de um “meio de cultura” que pode facilitar o desenvolvimento de micro-organismos e permitir a instalação de um processo infeccioso.

O momento do banho também é indicado para uma observação mais detalhada da pele da pessoa idosa (inspeção) permitindo identificar lesões, rachaduras; descamação, mudanças de coloração (descorada, avermelhada, azulada); presença de regiões quente ao toque; edemas; hematomas e/ou tumorações.

Os princípios gerais para o banho de pessoas idosas incluem:

• Organização: prepare previamente o banho deixando separado tudo o que for ser utilizado;

• Privacidade: não exponha a pessoa idosa desnecessariamente;

• Manutenção do aquecimento da pessoa: mantenha o idoso coberto com uma toalha sempre que possível e evite as correntes de ar, fechando portas e janelas;

• Sequência: inicie o banho pelas áreas mais limpas seguindo para as mais sujas;

• Segurança: previna acidentes utilizando procedimentos de segurança como banho sentado, instalação de barras de apoio, uso de tapetes anti-derrapantes, checagem da temperatura da água, etc;

• Ergonomia: utilização os princípios de uso dos mecanismos corporais;

• Autonomia e Independência: encoraje o idoso a ajudar no banho o máximo que sua condição física/mental permitir;

• Conforto: proceder à higienização da pele com delicadeza, principalmen-te em peles lesionadas ou ressecadas.

Produtos utilizados no banho para o cuidado com a peleMuitos são os produtos disponíveis. A escolha depende da necessidade, da

adequação e da preferência da pessoa idosa.

Sabão: é utilizado para a limpeza da pele. Ele pode ser comum, medicamentoso, perfumado ou umectante. Os sabões/sabonetes comuns ressecam a pele e não devem

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ser utilizados todos os dias. As pessoas idosas que apresentarem ressecamento de pele em decorrência do envelhecimento devem utilizar sabonetes que contenham hidratantes ou lubrificantes. Procure utilizar o sabão/sabonete preferencial da pessoa idosa a menos que seja indicado o uso de algum produto especial.

Óleo de banho: geralmente é colocado na água do banho para amaciar a pele e prevenir seu ressecamento. Seu uso, no entanto, pode deixar o local do banho escorregadio aumentando o risco de quedas. É recomendado que óleos de banho sejam evitados e trocados por lubrificantes de pele a serem aplicados após o banho.

Cremes e loções: são aplicados para deixar a pele mais macia e prevenir seu ressecamento. Os idosos devem ser estimulados a auto aplicarem essas substâncias sendo auxiliados, apenas, nas regiões do corpo em que apresentam dificuldade para alcançar. A aplicação deve ser feita de forma delicada e gentil (não a esfregue vigorosamente) e ser precedida pelo aquecimento do produto nas próprias mãos. Utilize uma pequena quantidade e remova o excesso do creme com uma toalha, pois a aplicação em excesso deixará a pele desagradavelmente escorregadia e pegajosa o que pode ser desagradável e desconfortável para o idoso.

Talco: as pessoas idosas, geralmente, têm o hábito de utilizá-los para refrescar a pele e prevenir fricção entre duas superfícies que ficam em contato (entre as coxas, abaixo das mamas, etc), no entanto, não são recomendados. Se não for possível persuadir a pessoa idosa a não utilizá-lo, alguns cuidados necessitam ser observados: use apenas uma fina camada na superfície da pele; não o associe a cremes, pois isso propiciará a formação de uma crosta que se solidificará sobre a pele da pessoa idosa causando irritação e aumentando o risco de infecção; não o espalhe no ar, pois a inalação de partículas pode irritar o trato respiratório provocando espirros.

Desodorante: é utilizado para prevenir o odor corporal. São aplicados na região axilar após o banho. Seu uso deve ser evitado em peles irritadas ou machucadas. Dê preferência aos sem perfume, pois, ao contrário, podem provocar uma sensação de desconforto na pessoa idosa. O cuidador deve sempre perguntar a ela qual o desodorante de sua preferência e procurar utilizá-lo.

Tipos de banho Banho de aspersão (chuveiro): as pessoas idosas podem tomar banho de

chuveiro em pé ou sentadas, conforme sua condição física assim o permitir. Algumas medidas de segurança são necessárias. Sempre coloque um tapete antiderrapante no interior do box antes da pessoa idosa entrar no recinto; esteja certo que o piso do banheiro está seco para prevenir escorregões e quedas; não aplique óleo de banho na pele da pessoa durante o banho, para evitar que o piso fique escorregadio; certifique-se que a temperatura do água do banho está apropriada checando isso com o dorso da mão ou braço e proceda aos ajustes necessários antes de iniciar o banho; se a pessoa idosa for capaz de se banhar sozinha, o cuidador deve ficar próximo ao banheiro enquanto ela o faz; evite correntes de ar fechando a porta do banheiro e do box; a instalação de barras de segurança (para apoio) no interior do box aumenta a segurança da pessoa idosa durante o banho, ela deve ser orientada a nunca se apoiar no toalheiro ou na saboneteira pois esses locais não estão preparados para suportar seu peso e podem se quebrar ocasionando acidentes (quedas, traumas, lesões).

Banho de leito: é o tipo de banho dado a pessoas idosas que não são capazes de se banharem sozinhas e, não podem ou tem muita dificuldade em se dirigirem ao banheiro. Pessoas inconscientes, incapacitadas (física ou mentalmente) ou muito

enfraquecidas são potencialmente candidatas a esse tipo de banho. O banho de leito pode ser constrangedor para a pessoa idosa, pois aumenta seu sentimento de dependência, diminui sua autonomia e rompe com sua privacidade. Garantir a privacidade do idoso, executar o procedimento rápida e eficientemente e conversar com o idoso enquanto procede ao banho pode minimizar esses sentimentos.

Banho parcial: nesse tipo de banho face, mãos, axilas, pescoço, nádegas e genitália são, normalmente, as áreas higienizadas. Isso pode ser feito na cama ou no banheiro. A higiene oral pode ser feita nesse momento.

Cuidados com o banho• dirigir-se à pessoa idosa através de seu nome preferido demonstrando res-

peito e reforçando sua identidade pessoal;

• nunca utilizar apelidos sem autorização ou termos demasiadamente afetu-osos (minha querida, meu coração, minha linda, meu fofo) ou ainda dimi-nutivos que infantilizam (lindinha, queridinha, mãozinha, boquinha, etc)

• conversar com a pessoa idosa antes do banho explicando o que será feito e como;

• preparar o ambiente do banho separando os materiais necessários, fe-chando portas e janelas e aquecendo o ambiente;

• permitir que ela escolha os artigos a serem utilizados no banho, assim como as roupas que irá vestir após o mesmo;

• ajudá-lo na medida de sua necessidade;

• tranquilizar e confortar a pessoa idosa através do contato físico gentil e delicado principalmente para aqueles com déficits sensoriais;

• respeitar a intimidade do idoso durante o banho e sua privacidade (fechar a porta, o box, a cortina);

• evitar interrupções (nem as mais breves) durante a execução do banho (atender telefones ou a outras pessoas, sair do local do banho deixando a pessoa idosa sozinha);

Cuidado com as unhas das mãos e dos pésO cuidado com as unhas deve ser realizado, preferencialmente, após o banho,

pois estarão mais hidratadas e amolecidas. Caso sejam muito espessas, endurecidas e quebradiças coloque-as, por cerca de 10 minutos, imersas em uma solução de água bicarbonatada ou água morna com sabão neutro ou umectante. Isso facilitará seu corte que deve ser em linha reta (para evitar que encrave) e não muito rente à pele (evitando lesões que podem originar processos inflamatórios ou infecciosos). Após o corte devem ser lixadas, enxaguadas novamente. Finalizar secando cuidadosamente a região interdigital. Cutículas não devem ser retiradas para evitar ferimentos e infecções.

Os pés merecem atenção especial, pois são os responsáveis pela sustentação do corpo, postura e marcha, fundamentais para a maior independência da pessoa idosa. Inicialmente devem ser cuidadosamente inspecionados (temperatura, estado da pele, sensibilidade, circulação, presença de deformidades - joanetes, calosidades, etc - presença de micoses interdigitais e onicomicoses).

Alguns cuidados simples são recomendados: secá-los cuidadosamente, sem esfregar, especialmente as regiões interdigitais para evitar a contaminação por

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fungos; exercitá-los para prevenir contratura e atrofias musculares e estimular a circulação por meio da realização de movimentos de rotação e extensão; auxiliar na colocação de meias limpas e folgadas (sem furos ou remendadas com costuras duras) para a mantê-los aquecidos proporcionando sensação de conforto; auxiliar na colocação de calçados verificando sua adaptação aos pés (para evitar lesões). Pessoas idosas com diabetes requerem cuidado especial com os pés. Nesses casos, o encaminhamento para um podólogo pode ser necessário.

HIGIENE ORAL

A higiene oral tem por finalidades: a prática profilática de prevenção das afecções dentárias, periodontais e infecções; a eliminação de restos alimentares e micro-organismos; a estimulação da circulação sanguínea local; evitar mau hálito; proporcionar sensação agradável de limpeza e conforto. Sua falta ou deficiência, geralmente, podem ocasionar problemas como: cáries; acúmulo de placas bacterianas (mau hálito, sangramentos da gengiva); hipersensibilidade dos dentes (dificultando alimentação e hidratação); infecções.

Preconiza-se que a higiene oral deve ser seja realizada ao acordar, pela manhã, após as refeições, e antes de dormir. Essa recomendação é aplicada para dentes naturais ou não (próteses parciais ou totais). No caso do uso de próteses como (dentaduras, pontes ou coroas) há escovas próprias e pode-se também utilizar para higiene escovinhas de unhas (sem uso anterior), pois tornam a limpeza mais fácil e eficiente.

O idoso que não puder proceder à higiene oral no banheiro deve estar posicionado sentado (ângulo de 45°) ou deitado. O ideal é que o cuidador se posicione por trás do paciente assim poderá segurar facilmente sua cabeça. A escovação dos dentes naturais deve ser realizada com movimentos firmes, de varredura, num ângulo de 45° entre as cerdas da escova e a gengiva, tanto na arcada superior como na inferior, com o intuito de limpar os dentes e massagear a gengiva. Língua e mucosa oral também devem ser higienizadas. Existem, no mercado, dispositivos próprios para higienização da língua; na sua ausência pode ser utilizada a própria escova de dente ou uma espátula envolvida em gaze. Os movimentos devem ser suaves em um único sentido (de dentro para fora) para evitar a sensação de náuseas (vontade de vomitar). Após a escovação a boca deve ser enxaguada com água limpa, desprezando-a em recipiente próprio. Repita este procedimento quantas vezes forem necessárias, até que os dentes, a língua e a mucosa oral estejam limpos.

Durante a realização do procedimento deve ser observada a cor, sensibilidade e integridade dos lábios, língua, gengiva, dentes e mucosa oral, presença ou não de mau hálito e adaptação de próteses. Com o envelhecimento pode ocorrer uma perda da elasticidade da mucosa oral, diminuição do fluxo salivar, reabsorção óssea dificultando a adaptação das próteses dentárias o que pode provocar lesões nem sempre percebidas pela pessoa idosa. Fio dental deve ser utilizado para complementar a limpeza dos espaços interdentais, não permitido pelas escovas. Ao final do procedimento os lábios devem ser lubrificados evitando seu ressecamento e rachaduras.

Para a higienização da boca de idosos totalmente dependentes, deve-se buscar uma posição confortável.

Em 2010, no município de São Paulo, mais da metade dos idosos usavam algum tipo de prótese. A higienização das próteses é um procedimento fundamental para preservação da saúde geral. Entre outros problemas, próteses mal higienizadas podem ser meio de cultura para a Candida albicansqueestá presente na microbiota bucal

normal, mas em pacientes imunocomprometidos podem causar a candidíase que ocorre quando esse microrganismo adere à parte acrílica das próteses e também à mucosa do paciente formando placas brancas. Esse processo é chamado colonização.

As próteses totais (que não possuem metal somente acrílico) devem ser higienizadas com uma escova dura e sabão ou detergente neutro. Não se deve higienizar as próteses com creme dental, pois estes não desfazem a camada de gordura aderida ao acrílico. As próteses devem ser retiradas para dormir e conservadas em um copo com água. Caso tenham sido contaminadas por Candida albicans devem ser retiradas para dormir e após a higienização das mesmas, deve-se deixá-las em ambiente seco por no máximo 8 horas até que o quadro clínico da lesão melhore. Uma vez por semana, as próteses devem ser mergulhadas num copo americano com água misturada com uma colher de café de hipoclorito de sódio (água sanitária). Pela manhã, lavar bem a prótese antes do uso. A solução de clorexidina também é uma boa opção para higienização desses dispositivos.

As próteses que possuem metal e acrílico não devem ser mergulhadas em solução de hipoclorito de sódio, para evitar danos na parte metálica do dispositivo.

Idosos que não conseguem realizar a higienização podem ser acometidos de infecções devido à deglutição ou aspiração dos microorganismos aderidos à prótese. Assim os cuidadores deverão estar atentos para realizar os procedimentos de limpeza caso necessário.

Outro problema de saúde bucal que acomete essa população é o câncer de boca que é uma denominação que inclui os cânceres de lábio e de cavidade oral (mucosa bucal, gengivas, palato duro, língua e assoalho da boca) e está entre as principais causas de óbito por neoplasias. Representa uma causa importante de morbimortalidade uma vez que mais de 50% dos casos são diagnosticados em estágios avançados da doença. O câncer de boca é uma doença que pode ser prevenida de forma simples, desde que seja dada ênfase à promoção à saúde, ao aumento do acesso aos serviços de saúde e ao diagnóstico precoce.

O câncer bucal tende a acometer o sexo masculino de forma mais intensa e 70% dos casos são diagnosticados em indivíduos com idade superior a 50 anos. Localiza-se, preferencialmente, no assoalho da boca e na língua. Os tumores malignos da cavidade oral, incluindo os de língua, assoalho da boca, gengiva, palato e outros locais da boca têm uma associação claramente estabelecida com o hábito de fumar ou mastigar tabaco, e com o consumo de álcool. No entanto, existe um subconjunto de tipo de câncer que ocorre entre os sujeitos não expostos ao fumo ou álcool. Para esses casos há evidência epidemiológica do papel do Papilomavírus Humano (HPV) 16 e HPV 18, como possíveis agentes etiológicos dos tumores malignos de cavidade oral. Os cânceres de orofaringe e das tonsilas são também fortemente associados ao álcool e tabaco, mas a evidência extensa acumulada nos últimos anos pode apoiar um papel causal do HPV em uma fração considerável destes tipos de câncer, que têm aumentado em incidência, em algumas populações.

A infecção pelo HPV, na mucosa genital ou oral, pode ser subclínica ou associada a lesões benignas (verrugas comuns, condilomas, papilomas). Em geral, essas lesões são causadas principalmente por infecção por HPV de baixo risco. A infecção por HPV de alto risco é considerada como o principal agente etiológico do carcinoma cervical de células escamosas.

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As infecções por HPV são transmitidas principalmente através do contato direto, pele-a-pele ou pele-mucosa. Os vírus são transmitidos facilmente e cada genótipo tem o seu tropismo por determinado tecido. Os dados epidemiológicos recentes sugerem que as mudanças significativas na prevalência do HPV podem ser devido às mudanças nos hábitos sexuais, especialmente entre os jovens (ou seja, debut sexual precoce, múltiplos parceiros sexuais, sexo oral e anal). Este cenário implica na necessidade de ações dos pontos de AB, como campanhas sobre educação sexual e programas de vacinação, bem como o diagnóstico de doenças relacionadas com o HPV, tanto benignas como malignas.

É aconselhável que periodicamente se proceda ao autoexame da cavidade bucal. Caso o idoso não seja capaz de fazê-lo, o cuidador deverá realizar esse procedimento.

CUIDADOS COM O VESTUÁRIO

O vestuário é um hábito pessoal que pode ser modificado com o avançar da idade pela presença de disfunções físicas ou cognitivas.

As roupas das pessoas idosas devem acondicionadas em local de fácil acesso, em especial na presença de limitações motoras (uso de bengala, andador ou cadeira de rodas). O estilo preferencial dos idosos deve ser preservado sempre que possível, mantendo sua identidade e evitando constrangimentos. As mudanças, quando necessárias, devem ser feitas com a participação da pessoa idosa. Elas geralmente são indicadas quando há necessidade de reduzir o desconforto e cansaço na hora de se vestir e de andar. Recomenda-se o uso de tecidos macios, antialérgicos e que não amassem.

Se a pessoa idosa for mais dependente fisicamente ou se apresentar limitação articular (especialmente nas mãos), os zíperes poderão ser substituídos por elásticos e os botões por velcro. Fechamentos frontais de roupas e peças íntimas facilitam a maior independência da pessoa idosa na realização dessa atividade.

Os calçados devem ser de fácil colocação, confeccionados com material macio, porém firme, possuírem solados antiderrapantes e adequada e confortável adaptação aos pés e, preferencialmente, não devem possuir saltos altos. Isso evitará o aparecimento ou a piora de deformações (joanetes e calos) e/ou lesões (por má adaptação). Chinelos não são recomendados (principalmente os de dedo), pois facilitam a ocorrência de quedas. Sapatos fechados e sem cadarço são os mais recomendados.

O cuidador também deve estar atento na manutenção da higiene do vestuário e em sua organização, pois além de proporcionar sensação de conforto, segurança e bem estar ao idoso, auxilia na manutenção de sua independência para a execução dessa atividade por mais tempo.

Manter a autonomia da pessoa idosa constitui o princípio básico na execução desse cuidado. O cuidador deve auxiliá-la e não decidir por ela o que vai ou não vestir.

CUIDADOS COM A ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS

Os idosos representam o principal grupo de pessoas que usam medicamentos, e, muitas vezes, sem receita médica. Eles padecem de doenças crônicas como diabetes, artrite, hipertensão, doenças cardíacas e articulares, entre outras, necessitando usar esses agentes por longo prazo.

Medicamento é uma substância química, que produz efeitos sobre os organismos vivos, sendo composta por princípio ativo (contém a propriedade terapêutica) e excipientes que, geralmente, dão sabor e cor ao produto (Figura 1 - anexo)

Composição de medicamentos de administração via oral na forma liquida

Os medicamentos apresentam nomes distintos, os quais devem ser conhecidos no sentido de evitar problemas, especialmente quando há necessidade de comprar produtos com preços mais baixos. O nome genérico é aquele que foi registrado em órgão oficial e o nome comercial é o dado pela indústria que fabricou o medicamento. Por exemplo, o paracetamol é o nome genérico dos produtos que são vendidos por empresas diferentes com os seguintes nomes comercias: Acetofen®, Dôrico®, Parador ®, Tylenol ®.

Atualmente os medicamentos representam um dos principais recursos terapêuticos. Todavia, entre os idosos, especialmente os que são tratados em domicilio ou instituições asilares, eles são considerados os agentes mais envolvidos na ocorrência de problemas como quedas, fraturas, sangramentos do trato gastrintestinal, ente outros. Por essa razão é importante que os responsáveis pelo

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acompanhamento de idosos (cuidadores, familiares) conheçam alguns aspectos acerca dos medicamentos, no intuito de prevenir a ocorrência de adversidades e reduzir problemas frequentemente identificados como, por exemplo, quedas durante a noite, devido à necessidade do idoso levantar várias vezes para urinar porque tomou um diurético antes de deitar.

A administração correta dos medicamentos - que vai além dos cinco certos clássicos (medicamento certo, dose certa, via certa, horário certo, paciente certo) - e o seguimento das recomendações médicas são essenciais para a obtenção do efeito terapêutico desejado.

Medicamentos não criam funções no organismo, mas interferem nas existentes. Por não apresentarem seletividade total em relação às moléculas alvos (locais que se ligam no organismo) produzem reações conhecidas como adversas. Estas podem ser leves (p.ex: prurido (coceira) na ponta do nariz), moderadas (p.ex: dor de estomago, prurido generalizado) e graves (p.ex: sangramento gástrico, edema de glote - impedindo a respiração). Independente da gravidade o aparecimento de uma reação deve ser comunicado ao médico que acompanha a pessoa idosa.

Medicamentos são administrados em doses distintas dependendo da idade, peso e condição clínica (decorrentes de problemas cardíacos, renais e hepáticos). A dose é uma determinada quantidade de medicamento administrada ao idoso para produzir efeito terapêutico em seu organismo. Essa quantidade que deve ser absolutamente a indicada. O cuidador sempre deve ser rigorosamente orientado a não aumentar ou diminuir as doses sem orientação ou conhecimento do médico.

Tendo em vista que o envelhecimento causa alterações importantes nos processos de absorção, distribuição, metabolização e excreção dos medicamentos, predispondo o idoso ao risco de toxicidade, é fundamental que os responsáveis pelo cuidado, além de administrar a dose exatamente como prescrita, conheçam algumas reações adversas que são frequentes. O Quadro 1 ilustra medicamentos usados por idosos e envolvidos em reações adversas importantes.

Quadro 1 - Medicamentos e respectivas reações adversas

CLASSE TERAPÊUTICA/ MEDICAMENTOS REAÇÕES ADVERSAS

anti-inflematórios não-esteroidais Irritação e ulcera gástrica, nefrotoxicidade.

Anticolinérgicos Redução da motilidade do TGI, boca seca, hipotonia vesical, sedação, hipotensão ortostática, visão borrada

Benzodiazepinicos Hipotensão, fadiga, náusea, visão borrada, rash cutâneo.

Beta-bloqueadores Redução da contratilidade miocárdica, da condução elétrica e da frequência cardíaca, sedação leve, hipotensão ortostática.

Neurolépticos Sedação, discinesia tardia, boca seca, hipotensão ortostática, visão borrada

TGI : trato gastrintestinal.

Adicionalmente, é importante lembrar que tanto os medicamentos prescritos pelo médico, como aqueles comprados sem receita ou indicados por outras pessoas como, por exemplo, vitaminas, laxantes e fitoterápicos (ginkgo biloba, erva de São João, confrei, entre outros), podem causar problemas graves, especialmente quando associados com outros. Por exemplo, a ginkgo biloba não pode ser usada por pessoas que fazem tratamento com aspirina, acetaminofeno (Tyleno® Dôrico®), ou anticoagulantes, pois pode aumentar o risco de sangramento.

Os medicamentos administrados por via oral apresentam formas farmacêuticas (liquidas e sólidas) que tem por finalidade facilitar sua administração e promover a eficácia terapêutica (melhor resultado possível).

Os medicamentos na forma líquida são comercializados como suspensões, soluções, xaropes e aerossóis:

• Solução - têm aparência homogênea e límpida; pode ser administrado em sua forma original sem um cuidado prévio específico;

• Suspensão - é composta por partículas sólidas dispersas em líquido e, an-tes de administrada, deve ser agitada para sua homogeneização;

• Xarope - é uma solução com alta concentração de açúcar associada a aromáticos. O xarope por conter açúcar deve ser usado apenas com pres-crição médica aos pacientes diabéticos.

• Aerossóis - são medicamentos acondicionados em recipientes pressuriza-dos.

• As formas sólidas incluem os comprimidos, cápsulas, drágeas, pastilhas e supositórios. O Quadro 2 ilustra as características das formas sólidas e al-gumas precauções relacionadas a seu uso, pois podem “perder” parte das suas propriedades terapêuticas, caso não sejam administrados de modo correto.

Quadro 2 - Características das formas (sólidas) farmacêuticas dos medicamentos

FORMA CARACTERÍSTICAS

Comprimido

O medicamento na forma de pó é misturado, comprimido e moldado por meio de maquinas. Normalmente apresenta um sulco no meio, o que facilita sua divisão, quando a dose prescrita é menor que a apresentada pelo medicamento. Podem ser macerados (“esmagados”)

Cápsula

O medicamento na forma de pó, óleo ou liquido encontram-se no interior de uma cápsula, ou seja, de um revestimento digerível. O ideal é evitar a abertura da cápsula, uma vez que seu conteúdo pode ser destruído pelo suco gástrico, antes de chegar ao local onde, de fato, deveria ser liberado (p.ex: intestino).

Drágea

O medicamento apresenta uma capa de revestimento colorida (parecida com um esmalte), o que dificulta sua divisão. Um dos objetivos dessa capa de revestimento é proteger o medicamento da ação do suco gástrico presente no estomago (como nas cápsulas). As drágeas não devem ser maceradas (“esmagadas”) ou repartidas.

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Quando os medicamentos forem manipulados observar se existe na embalagem ou frasco o nome do farmacêutico responsável, o número do conselho profissional (CRF), a fórmula, a dose e o período de validade. Nunca aceite uma forma farmacêutica diferente daquela prescrita pelo médico. Por exemplo, se a dipirona foi prescrita na forma liquida para ser administrada em gotas, não deve ser substituída por comprimidos, pois as doses serão diferentes.

Aspectos Gerais da Administração de Medicamentos Para facilitar o cuidado do idoso relativo à administração de medicamentos,

e evitar problemas algumas condutas são fundamentais. Inicialmente é importante manter um registro diário dos medicamentos usados pelo idoso, incluindo os receitados pelo médico e aqueles usados sem receita (mas que também devem ser de conhecimento do médico).

Os idosos e seus familiares precisam ser orientados a anotar o nome de cada medicamento prescrito e/ou em uso, do médico que os receitou, a dose, o horário e como o mesmo deve ser tomado (p.ex: com um copo de água, suco, chá) mantendo tais anotações em um local de fácil visualização.

Os medicamentos devem ser armazenados em local fresco, seco, abrigados da luz e guardados em caixa com tampa e, sempre, na embalagem original. Assim, não devem ser guardados no armário da cozinha ou banheiro, locais esses, comumente utilizados.

Quando houver a necessidade de administrar vários medicamentos de diferentes formas farmacêuticas simultaneamente recomenda-se utilizar a seguinte sequência: primeiro administra-se os comprimidos ou cápsulas; em seguida os líquidos e por último o comprimido sublingual.

Outros aspectos também merecem destaque:

• Ler atentamente a bula do medicamento, prestando atenção nos itens relativos à dose, contraindicações, reações adversas, precauções, intera-ções com outros medicamentos e conservação do medicamento;

• Conservar o medicamento na embalagem original, mesmo após sua aber-tura (para verificar prazo de validade, lote e não misturar com outros). Nos casos em que os medicamentos estiverem em cartelas (geralmente os distribuídos pelas farmácias governamentais) não desprezá-las, mesmo após a retirada da maioria dos comprimidos, pois o nome, a dose e o lote podem estar contidos na parte da cartela que foi descartada;

• Jogar fora os medicamentos cujo prazo de validade esteja vencido;

• Conservar o medicamento fora do alcance de crianças e pessoas com com-prometimento de memória ou problemas de alteração de comportamento;

• Evitar que o medicamento prescrito pelo médico (nome, substância) seja trocado por outro dito “similar”; sempre que houver necessidade fale com o médico.

• Orientar o idoso e sua família em relação aos possíveis efeitos colaterais dos medicamentos, pois muitas pessoas abandonam o tratamento pela fal-ta de esclarecimento sobre os efeitos adversos dos medicamentosos;

FORMA CARACTERÍSTICAS

Pastilha

Medicamento misturado com açúcar em partes iguais. O uso de pastilhas em pessoas diabéticas deve ser cauteloso. Não é possível macerar uma pastilha, pois suas partes (parecidas com pequenos cristais) podem provocar lesões na boca do idoso por aderência na mucosa oral.

Todas as formas sólidas devem ser administradas com cuidado, tendo em vista que o idoso pode engasgar, principalmente quando forem grandes como ocorre, por exemplo, com antibióticos e complexos vitamínicos.

É imprescindível que o idoso, durante a administração do medicamento, fique sentado ou, caso esteja acamado, seja assim posicionado. A quantidade de liquido que vai auxiliar a ingestão do medicamento deve ser de pelo menos 100 mililitros (meio copo). Nos casos em que o idoso tiver restrição de líquidos (p.ex: pessoas com problemas renais), deve-se perguntar ao médico qual o volume que pode ser dado em cada administração.

Para o idoso, tomar vários medicamentos sozinho, pode não ser uma tarefa fácil. A diminuição da acuidade visual dificulta a leitura dos rótulos dos medicamentos; o comprometimento acuidade auditiva pode comprometer a compreensão das orientações e recomendações feitas pelo médico durante a consulta; a presença de problemas articulares, principalmente nas mãos, impede, muitas vezes, a abertura dos frascos, bem como a colocação correta do número de gotas de determinado medicamento no copo ou na colher.

Há situações em que o idoso completamente dependente tem que tomar, ao mesmo tempo, vários comprimidos e termina por engasgar ou vomitar. É importante que o cuidador esteja muito bem orientado sobre as limitações decorrentes do processo de envelhecimento e seja capaz de auxiliá-lo sem desqualificar sua participação, mesmo que pequena. Por exemplo, durante as consultas médicas, mesmo que o idoso apresente dificuldades em ouvir e compreender bem, ele deseja fazer as perguntas ao médico. Nessas situações, cabe ao cuidador anotar ou guardar as recomendações feitas pelo médico e perguntar outros aspetos que, por ventura, o idoso não tenha questionado.

Aspectos Gerais da Aquisição de Medicamentos Quando da aquisição de medicamentos na farmácia deve-se lembrar de que

somente o farmacêutico conhece a composição e finalidade do medicamento. Sendo assim, encontra-se habilitado a dar as orientações acerca de seu uso correto. O balconista da farmácia, por outro lado, não tem os conhecimentos técnicos necessários para indicar um medicamento e por essa razão não deve ser consultado quando da ocorrência de problemas de saúde, ainda que sejam considerados pelo próprio idoso ou cuidador como sintomas leves como ocorre, por exemplo, quando há “dor de barriga” ou “dor de cabeça”.

Antes da compra deve-se observar se o nome do medicamento corresponde ao receitado pelo médico, pois muitos têm nomes parecidos. Quando houver necessidade de substituição por outro, por exemplo, quando o preço é muito alto ou o produto não é encontrado nas farmácias, deve-se entrar em contato com o médico. NUNCA aceite as sugestões do balconista de substituição.

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• Quanto tempo demora a fazer o efeito do medicamento?

• Se houver esquecimento da tomada do medicamento, o que deve ser feito?

• Quais os efeitos indesejados que podem aparecer? E, caso apareçam o que deve ser feito?

• Durante o tratamento o paciente pode ingerir álcool? Pode usar outros tipos de medicamentos? Pode tomar banho sozinho?

• Por quanto tempo o medicamento será usado?

• Essas orientações podem contribuir para que o uso do medicamento possa ser mais seguro.

MECANISMOS CORPORAIS, MOBILIZAÇÃO E TRANSFERÊNCIA

Para o ser humano o movimento é um aspecto essencial da vida, dependemos dele para caminhar, correr, brincar, procurar e comer os alimentos, nos comunicarmos, enfim sobreviver. As pessoas saudáveis mantêm um adequado nível de movimentação. Elas esperam que seus sistemas, musculoesquelético e nervoso (muito complexos), trabalhem conjuntamente no desenvolvimento de tais atividades.

De modo geral, as pessoas não costumam cuidar adequadamente, durante a vida, dos sistemas que promovem e coordenam o movimento “saudável” até que o desuso, o trauma ou a doença interfiram nesse desempenho.

Níveis adequados de flexibilidade, equilíbrio de força muscular são importantes para a eficácia na execução dos movimentos envolvidos na realização das atividades de vida diária (AVDs). Com a diminuição da funcionalidade e o avançar da idade o desempenho das AVDs pode ser comprometido parcial ou completamente acarretando uma maior dependência do idoso com sério comprometimento de sua qualidade de vida.

As alterações fisiológicas no envelhecimento são progressivas e, muitas vezes, acompanhadas pelo aumento da prevalência de enfermidades agudas e crônicas. Dentre as alterações que ocorrem nessa fase da vida, destaque será dado à perda da força muscular, principal responsável pela deterioração da mobilidade e da capacidade funcional do indivíduo que está envelhecendo.

O movimento depende do sistema nervoso central que vai organizar os músculos e as articulações a realizar movimentos funcionais e coordenados.

Movimento Humano O movimento humano pode ser descrito como uma combinação complexa de

movimentos de translação (todo o corpo se move de forma única) e rotação (o corpo ou seus segmentos se movem em torno de um eixo instantâneo normalmente situado em um centro articular). Sua execução envolve ações coordenadas e integradas dos sistemas musculoesquelético e nervoso.

O sistema esquelético (ossos e cartilagens) tem por função a proteção dos órgãos internos do organismo humano; manter a forma e a postura corporal; prover áreas de armazenamento para sais minerais e gorduras; produzir células sanguíneas e permitir sua movimentação a partir do fornecimento de superfície para fixação de músculos, tendões e ligamentos que tracionam os ossos individuais e o produzem.

• Utilizar, sempre que possível, água para administrar os medicamentos. Gelatina, purê ou cremes podem ser utilizados, nos casos em que a pessoa não aceite o comprimido ou tenha dificuldade em degluti-lo apenas com líquidos;

• Adequar o horário de administração do medicamento de acordo com a finalidade terapêutica e a necessidade do doente. Por exemplo: adminis-trar ante-emético (medicamento para evitar náusea e vômito) antes (45-60 minutos) das refeições principais; administrar diurético durante o dia e até no máximo às 16 horas para evitar que o idoso tenha que levantar durante a noite para urinar;

• Evitar administrar o medicamento no escuro, pois pode haver equivoco em relação ao medicamento e a dose;

• Evitar colocar vários medicamentos no mesmo horário para serem admi-nistrados pois esta prática pode resultar na alteração dos efeitos dos mes-mos;

• Evitar administrar vários medicamentos macerados (triturados) pela sonda enteral;

• Administrar antiácidos (quando prescritos) de modo isolado, ou utilizar intervalos de aproximadamente duas horas entre o antiácido e a adminis-tração de outro medicamento;

• Se, logo após administrar o medicamento, o idoso apresentar algum sinto-ma estranho (coceira, náusea, vômito, palpitação, inchaço, etc) comuni-que-se imediatamente com o médico;

• Cuidado: a dose de um medicamento considerada normal para um adulto pode causar intoxicação e sérios danos a saúde de uma criança, de um idoso ou de uma pessoa que apresente doença cardíaca, hepática ou renal;

• Assegurar que o idoso não pratique automedicação;

• Nunca recomendar um medicamento a outra pessoa. As características de cada pessoa bem como suas indicações levam em consideração vários fatores que somente os médicos estão habilitados a realizar;

• Não interromper o tratamento por conta, antes de fazê-lo sempre consul-tar um médico.

• Evitar misturar álcool e medicamento. Alguns medicamentos, como por exemplo, diazepam, morfina, haldol, quando misturados com o álcool po-dem causar reações graves e até morte, dependendo da dose e da idade do paciente.

Sempre que o idoso receber uma receita médica é necessário que os seguintes aspectos sejam esclarecidos:

• Qual o nome do medicamento e por que será usado?

• Qual o nome da doença que trata este medicamento?

• Quantas vezes por dia o medicamento deve ser administrado?

• Como utilizar: como e quando tomar, horário, antes ou após as refeições, usar com água ou leite?

• Por quanto tempo o paciente deve utilizar? Até a próxima consulta, por 15 dias?

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O movimento dos segmentos anatômicos ocorre em torno de um eixo de rotação imaginário que passa pela articulação a qual esse segmento está ligado. Três são os eixos básicos utilizados na descrição do movimento humano: médio lateral, anteroposterior e longitudinal (figura 2)

Figura 2: Eixos ligados ao movimento humano

A rotação de um segmento anatômico é designada de acordo com a direção do movimento e medida como sendo o ângulo entre a posição atual e a posição de referência. Os três principais movimentos que ocorrem no plano sagital são: flexão, extensão, hipertextensão (figura 3).

Figura 3: Movimentos no plano sagital

Os ossos são estruturas muito rígidas que não podem se curvar, (como é necessário para a movimentação) sem danos. Para que o movimento ocorra eles são interligados por articulações. Os ligamentos (unem ossos e cartilagem), tendões (unem músculos e ossos) e a cartilagem (tecido conjuntivo não vascular encontrados nas articulações) dão força e flexibilidade ao sistema esquelético.

O sistema musculoesquelético (tecido muscular esquelético + tecido conjuntivo) envolve órgãos musculares individuais (p.ex: bíceps). O movimento resulta da contração desse músculo e da força aplicada sobre o tendão que, por sua vez, puxa o osso. A excitabilidade, a contratilidade, a extensibilidade e a elasticidade dos músculos permitem: a realização do movimento, a manutenção da postura e a produção de calor. Tônus muscular refere-se ao estado de ligeira contração em que se encontra o músculo esquelético. Ele pode ser muito prejudicado quando do repouso ou imobilidade prolongada incorrendo no risco do desenvolvimento de contraturas (contração permanente do músculo).

Os sistemas esquelético e muscular não podem produzir o movimento intencional sem a ação do sistema nervoso, pois é ele o responsável pelo estímulo de contração dos músculos.

Para compreender o movimento, o corpo humano é didaticamente dividido em planos (figura 1). Cada plano divide o corpo humano em duas metades iguais, sendo o ponto comum de intersecção o centro de massa do corpo:

a) Plano sagital: divide o corpo verticalmente em duas metades – direita e esquerda;

b) Plano frontal: divide o corpo verticalmente em duas metades – anterior e posterior;

c) Plano transverso: divide o corpo horizontalmente em duas metades – superior e inferior.

Figura 1: Planos anatômicos de referência

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Os movimentos relacionados ao plano transversal são, em sua maioria, movimentos de rotação em torno do eixo longitudinal dos segmentos anatômicos. Os principais são: rotação direita e esquerda (cabeça, pescoço e tronco); rotação média e lateral (pernas e braços); supinação e pronação (antebraço); Adução e abdução horizontal (braço e coxa); protracção e retracção (omoplata); circundação (dedos) e oposição (polegar) (figura 7).

Figura 7: Movimentos no plano transversal

Nossos movimentos voluntários, dos mais simples aos mais complexos são comprometidos se os sistemas sensórios ou motores envolvidos estiverem alterados. O controle do movimento pelo sistema nervoso é organizado de forma hierárquica: níveis mais elevados controlam aspectos mais complexos.

Os movimentos podem se apresentar de três formas:

• Reflexos: involuntários, contrações musculares desencadeadas por estí-mulos periféricos, presentes no controle dos movimentos voluntários;

• Cíclicos: rítmicos e repetitivos (p.ex: parte da mastigação e locomoção);

• Voluntários: direcionados a um objetivo, melhoram com a prática devido à melhor previsão e correção por mecanismos de controle de feedforward e feedback.

Os movimentos voluntários obedecem a princípios psicofísicos. O processamento motor começa com uma representação interna do estado do corpo: o objetivo desejado (ao contrário do processamento sensório). Na realização dos movimentos

No plano frontal, os movimentos mais importantes são: abdução, adução e flexão lateral – direita e esquerda (figura 4).

Figura 4: Movimentos no plano frontal.

Com relação aos movimentos de mãos e ombros temos elevação e depressão, desvio radial e desvio cubital (figura 5).

Figura 5: Movimentos no plano frontal: mãos e ombros.

Quanto aos movimentos dos pés temos: dorsiflexão e flexão plantar; eversão e inversão; abdução e adução; pronação e supinação dos pés (figura 6).

Figura 6: Movimentos no plano frontal: pés

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adequada utilização de equipamentos especiais e auxílios mecânicos contribuem na minimização da incidência de problemas articulares em cuidadores de idosos.

O primeiro passo nesse sentido é a compreensão dos mecanismos corporais.

Mecânica corporal

A mecânica corporal representa o uso eficiente do corpo como uma máquina e como meio de locomoção. Sua utilização de forma correta (em atividade ou repouso) permite a prevenção de lesões e dores musculares e/ou articulares.

Os cuidadores necessitam ser muito bem orientados quanto à utilização da mecânica corporal para o melhor desempenho de suas atividades e para a manutenção de sua saúde e bem-estar. Uma importante parcela de suas atividades (desde mudar uma cadeira de lugar até auxiliar o idoso a levantar da cama) exige a compreensão e o uso desses princípios. Eles precisam ser constantemente lembrados que a prevenção de problemas na coluna é mais eficiente que seu tratamento.

A mecânica corporal envolve:

a) alinhamento do corpo ou postura: é o alinhamento entre as partes do corpo permitindo o equilíbrio musculoesquelético e seu funcionamento fisiológico saudável, pois não permite o esforço indevido de articulações, músculos, tendões ou ligamentos.

b) equilíbrio: um corpo alinhado está em equilíbrio, pois seu centro de gravidade (ponto central da massa corporal) está próximo de sua base de apoio (fundação que estabilidade ao corpo) e a linha de gravidade (linha reta imaginária que passa pelo centro de gravidade)passa por essa. Quanto mais ampla a base de apoio e mais baixo o centro de gravidade, maior a estabilidade. Assim, o equilíbrio aumenta quando o indivíduo afasta os pés (ampliando a base de apoio) e flexiona o quadril e os joelhos (reduzindo o centro de gravidade). Essas duas manobras são importantes princípios que podem reduzir o esforço musculoesquelético que frequentemente ocorre com o excessivo alongamento ou a superextensão de um músculo ou músculo-tendão.

c) movimento coordenado: refere-se ao uso coordenado dos principais grupos musculares, das alavancas e apoios naturais do corpo na realização de atividades assistenciais para evitar a ocorrência de esforço musculoesquelético demasiado e lesões. Os cuidadores necessitam utilizá-los quando, por exemplo, posicionam, viram ou levantam a pessoa idosa mais dependente

Aplicação da mecânica corporal

É fundamental que os cuidadores sejam orientados em relação às técnicas utilizadas na prevenção do estresse da musculatura das costas (lombalgia é a principal queixa desse grupo) no bom desempenho de suas atividades. Isso envolve:

Desenvolver o hábito de manter uma postura ereta e, quando necessário, antes de iniciar uma atividade, ampliar a base de apoio e baixar o centro de gravidade;

• Utilização dos músculos mais longos dos braços e pernas nas atividades que exijam maior força (os músculos das costas são mais fracos e mais facilmente lesionáveis quando utilizados de forma inapropriada);

voluntários o encéfalo faz a representação dos atos motores, independente do efetor utilizado (equivalência motora). A amplitude do movimento é especificada antes do início do mesmo (programa motor).

O tempo gasto para responder a um estímulo depende da quantidade de informação que precisa ser processada para executar a tarefa. Há uma relação de troca entre velocidade do movimento e sua precisão. O tempo de reação aumenta com o número de escolhas possíveis e diminui com a aprendizagem.

Impacto do envelhecimento nas estruturas ligadas ao movimento humano

Com o envelhecimento ocorre uma perda de 10-20% na força muscular; diminuição na habilidade de manter a força estática; maior fadiga muscular; menor capacidade para hipertrofia; diminuição no tamanho e número de fibras musculares; diminuição na atividade da ATPase miofibrilar; diminuição de enzimas glicolíticas e oxidativas; diminuição dos estoques de adenosina tri-fosfato (ATP), creatina fosfato (CP), glicogênio, proteína mitocondrial; diminuição na velocidade de condução; aumento do limiar excitabilidade da membrana e diminuição na capacidade de regeneração.

Essas alterações impactam no desempenho de habilidades motoras de forma eficiente e podem tornar a pessoa idosa cada vez mais limitada em sua capacidade em desempenhar as atividades do dia-a-dia como levantar-se de uma cadeira, varrer o chão, jogar o lixo fora, tomar banho, etc; devido ao equilíbrio precário, resistência diminuída, fraqueza generalizada ou quedas repetidas. O que não é claro é se essas alterações são decorrentes do próprio processo de envelhecimento ou se são consequência da inatividade, muito comum nesse grupo. Muitas das alterações fisiológicas atribuídas ao envelhecimento são semelhantes às induzidas pela inatividade forçada e assim, acredita-se que possam ser atenuadas ou até mesmo revertidas pela realização de exercícios.

Com o envelhecimento ocorrem importantes alterações na composição corporal com um aumento de gordura corporal, em especial abdominal e uma diminuição de massa corporal magra (massa musculoesquelética) sendo esse último denominado “sarcopenia”. Com a perda muscular há uma diminuição do metabolismo basal, da força muscular e do nível de atividade que resultam na diminuição da necessidade energética.

Essas alterações aumentam o risco de desenvolvimento de doenças crônicas e de incapacidades que reduzem substancialmente as atividades dos idosos levando à perda de massa muscular e acúmulo de gordura e fechando assim um ciclo de balanço energético negativo que culmina com a instalação de quadros de �fragilidade� gerando maior dependência.

Muitas das atividades assistenciais dos cuidadores envolvem a mobilização (mudança de posição) e a transferência da pessoa idosa de um local para outro. Quando tais atividades são desenvolvidas sem a utilização de princípios de ergonomia, há uma grande possibilidade da ocorrência de agressões e danos à coluna vertebral sendo a lombalgia a queixa mais frequente. Oficinas de orientação sobre movimentação e transporte de pessoas com maior dependência juntamente com a de

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Mobilização e transporte de pessoas idosas mais dependentes

Antes de seu início, esses procedimentos devem ser cuidadosamente planejados. Esse planejamento envolve:

a) Avaliação e preparo da pessoa idosa – capacidade de compreensão e colaboração, presença de artefatos (p.ex: sondas), explicação prévia do procedimento, medidas de segurança (colocação de sapatos com solado antiderrapante ao invés de chinelos ou apenas meias);

b) Preparo do ambiente e dos equipamentos – verificação da adequação do tamanho do espaço físico para não restrição dos movimentos; verificação da disposição do mobiliário e remoção de obstáculos presentes; verificação das condições de segurança do piso (encerado, molhado, irregular). A colocação e/ou uso de equipamentos auxiliares (barras de apoio em banheiros, cadeiras de rodas próprias para banho e higiene – cadeira de banho) e a adaptação de certas condições ambientais (elevação da altura do vaso sanitário, substituição de degraus por rampas) podem ser necessárias (anexo 1).

c) Preparo do cuidador: conhecimento e aplicação da mecânica corporal (exposta anteriormente) na execução de suas atividades; utilizar sempre movimentos sincrônicos; trabalhar sempre com segurança e calma; utilizar roupa que permita liberdade de movimentos e sapatos apropriados (sem salto, com solado antiderrapante); saber que, em muitas ocasiões, não será possível executar os procedimentos, em segurança, sozinho e, nessas situações, solicitar auxílio.

Auxílio na movimentação na cama de idosos mais dependentes

a) Em duas pessoas: as duas pessoas devem ficar do mesmo lado de frente para a pessoa idosa; colocar uma das pernas à frente e os joelhos e quadris fletidos trazendo os braços ao nível da cama; a primeira pessoa um dos braços sob a cabeça do idoso e o outro sob a região lombar; a segunda pessoa coloca um braço também sob a região lombar e o outro na região posterior da coxa; as duas pessoas devem sincronizar seu movimento de modo a trazer o idoso para o lado da cama (em que estão) de forma coordenada.

Figura 8: alinhamento postural correto para erguer um objeto

• Estabilização da pelve para proteção das vísceras utilizando a “cintura in-terna” (contração simultânea dos glúteos para baixo e dos músculos abdo-minais para cima) e o diafragma quando inclinar, levantar, puxar ou tentar alcançar um objeto ou pessoa (figura 8);

Figura 9: Alinhamento postural com estabilização da pelve

• Posicionamento o mais próximo possível do objeto ou pessoa a ser levan-tado ou posicionado;

• Balançar os pés ou inclinar-se para frente e para trás permite utilizar o peso do próprio corpo como uma força para puxar ou empurrar algo redu-zindo o esforço dos braços e costas;

• Ao invés de levantar um objeto pesado ou uma pessoa deve-se utilizar outros mecanismos como escorregá-lo, rolá-lo, empurrá-lo ou puxá-lo re-duzindo a energia necessária para deslocá-lo contra a força da gravidade (que o puxa para baixo).

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fim; execute essa manobra preferencialmente em duas pessoas, uma de cada lado da cama; cada uma deverá segurar firmemente o lençol com as duas mãos e, em movimento ritmado, movimentar o idoso no sentido da cabeceira.

f) Sentar na cama: no caso do idoso poder ajudar parcialmente, posicionar-se de frente para ele colocando um de seus joelhos no nível do quadril do idoso e sentando-se sobre o próprio tornozelo; segurar no cotovelo do idoso que também se apoia no cotovelo do cuidador; sincronizadamente idoso e cuidador fazer força no sentido de aproximação permitindo que o idoso sente; colocar em suas costas com travesseiros de apoio.

g) Sentar na cama: quando o idoso for incapaz de colaborar o ideal é executar essa manobra em duas pessoas permanecendo uma de cada lado da cama olhando em direção à cabeceira; elas devem colocar um de seus joelhos no nível do quadril do idoso e sentando-se sobre o próprio tornozelo; utilizar o lençol móvel ou uma toalha resistente sob as costas do idoso e puxá-los de forma sincronizada elevando-o.

h) Sentar na cama: quando o idoso, apesar de limitado, pode executar a manobra sozinho, pode-se utilizar materiais simples fixados nos pés da cama, para auxiliá-lo como, por exemplo, um corda mais grossa com nós ou uma escada de cordas.

b) Em uma única pessoa: se a atividade necessitar ser realizada sem auxílio, deverá ser feita em etapas utilizando o peso corporal como contrapeso e lençol dobrado no sentido vertical e posicionado no meio da cama, abaixo do idoso (lençol móvel). Posicionar inicialmente os braços do idoso sobre seu corpo prevenindo traumas na movimentação; trazer inicialmente os membros inferiores para o lado do cuidador e em seguida segurar o lençol móvel firmemente e aproximá-lo de seu corpo, reorganizar a pessoa idosa na nova posição.

c) Colocação em decúbito lateral: posicionar-se do lado para o qual o idoso vai virar; cruzar o braço e a perna no sentido em que será virado (atenção para o posicionamento do outro braço); posicionar a cabeça do idoso na direção em que vai virar; rolar a pessoa para o lado desejado de forma gentil utilizando ombro e joelho como alavancas.

d) Colocação em decúbito lateral (2): Esse procedimento também pode ser feito com o auxílio do lençol móvel. Ficar do lado oposto ao que o idoso vai virar; puxar o lençol móvel movendo o idoso em sua direção (para a beira da cama) mantendo as costas eretas e utilizando o peso do próprio corpo para auxiliá-lo; elevar o lençol cuidadosamente fazendo com que o idoso vire para o lado oposto. É recomendável que, no lado oposto exista uma grade ou que a cama seja aproximada da parede (para evitar que o idoso caia no chão).

e) Subir o idoso na cama: tire o travesseiro da cabeça do idoso e coloque-o na cabeceira da cama (para proteger de traumas); utilize o lençol móvel para esse

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as rodas e erguer os apoios de pés e pernas; sentar o idoso na cama; virá-lo para o lado em que vai sair da cama, colocar os membros inferiores para fora da cama próximos à beira do leito; elevar a cabeceira ou elevar o tronco do idoso e girá-lo até que se sente; com o idoso sentado na cama calçá-lo com sapato ou chinelo antiderrapante; segurá-lo pelo cinto de transferência auxiliando-o a levantar-se, virar-se e sentar-se na cadeira de rodas.

d) Transferência da cama para poltrona/cadeira de rodas: se o idoso tiver condições de executar essa manobra sozinho ele pode ser orientado a utilizar uma prancha/tábua de transferência. Posicione a cadeira ao lado da cama (cadeira e cama devem ter a mesma altura); trave a cadeira e a cama (se necessário); remova o braço da cadeira e eleve o apoio dos pés; posicione a prancha/tábua apoiada seguramente entre a cama e a cadeira; deslizar pela prancha/tábua até a cama.

A utilização dessas manobras, além de preservar a saúde do cuidador, auxilia na construção de um vínculo positivo por meio do fornecimento de segurança ao idoso.

Esse tipo de material auxilia o idoso a erguer-se gradativamente minimizando o esforço exigido pela manobra e proporcionando-lhe maior independência.

Auxílio no transporte de idosos mais dependentes

Para o transporte de idosos devem ser utilizados dispositivos auxiliares como cinto de transporte, pranchas de transferência, discos giratórios e auxílios mecânicos (bengalas e andadores).

a) Auxilio para levantar de cadeira ou poltrona: deve-se utilizar um cinto de transferência e, conforme o caso, solicitar auxílio de outra pessoa. Posicione o idoso para frente da cadeira ou poltrona puxando-o alternadamente pelo quadril; permaneça ao lado da cadeira/poltrona olhando na mesma direção que ele; o idoso deve apoiar uma das mãos no braço da poltrona ou assento da cadeira e a outra na mão do cuidador; com o outro braço o cuidador circunda a cintura do idoso segurando-o pelo cinto; levante-o de forma coordenada com movimentos de balanço.

b) Auxilio na locomoção: deve-se utilizar um cinto de transferência. Se o idoso puder e conseguir andar, o cuidador deve posicionar-se bem próximo a ele, do lado em que ele apresenta alguma limitação/deficiência colocando um braço em volta de sua cintura e o outro apoiando sua mão.

c) Transferência da cama para poltrona/cadeira de rodas: posicionar a cadeira de rodas ao lado da cama com a frente voltada para o cuidador; travar

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como trabalho e escola. Estas “pistas” contribuem na organização da ritmicidade biológica, para a expressão de um determinado padrão de sono.

O ciclo vigília-sono (períodos de sono e de vigília ao longo das 24 horas) sofre importantes modificações durante o desenvolvimento do indivíduo. Nos bebês, o sono é fragmentado ao longo do dia e da noite; os adultos, em geral, dormem apenas durante a noite, exibindo um padrão chamado de monofásico e, as pessoas idosas, costumam apresentar um padrão de sono mais fragmentado, com episódios ocorrendo durante o dia e a noite, em diferentes proporções.

PADRÃO DE SONO E SUAS MODIFICAÇÕES COM O ENVELHECIMENTO

Em um indivíduo adulto jovem sem problemas de saúde, uma típica noite de sono pode ser dividida em ciclos que se repetem de quatro a cinco vezes e cuja duração média/ciclo é de 70 a 100 minutos. Um ciclo típico é constituído pelos vários estágios do sono sincronizado (estágios 1, 2, 3 e 4), seguidos por um período de sono paradoxal (ex: estrutura de sono de um adulto jovem - estágio 1, 2, 3, 4, 3, 2, eventualmente estágio 1 novamente, e sono paradoxal).

• Estágio 1 (5% do sono): é uma transição entre a vigília e a sonolência onde predominam ondas cerebrais de baixa amplitude e alta frequência.

• Estágio 2 (45% do sono): também chamado “sono superficial” onde exis-tem ondas de frequência rápida e poucas ondas mais lentas, além de fusos de sono e os complexos K.

• Estágio 3 (7% do sono): contém cerca de 20% a 50% de ondas delta, tam-bém chamadas de ondas lentas, que são ondas cerebrais de baixa frequ-ência e grande amplitude.

• Estágio 4 (13% do sono) são encontradas ondas delta em proporção supe-rior a 50%.

Assim, os estágios 3 e 4 constituem o denominado “sono profundo” onde, para ser despertado, o indivíduo necessita de um estímulo externo muito intenso. À medida que o sono progride, há uma diminuição da ocorrência desses estágios que predominam na primeira metade de uma noite típica de sono.

O sono paradoxal (sono REM), associado à ocorrência de sonhos, ocorre a intervalos regulares (cada 90 minutos), ocupando cerca de 20 a 30% do período total de sono. Ele e o estágio 2 predominam na segunda metade de uma noite típica de sono.

Com o envelhecimento ocorrem algumas modificações nesse padrão:

• diminuição da duração relativa e absoluta do sono de ondas lentas (sono “profundo”);

• aumento relativo e absoluto da duração dos estágios 1 e 2 (sono superficial);

• alterações na organização temporal do sono paradoxal e diminuição da sua duração;

• maior número de transições de um estágio para o outro, inclusive para a vigília, e maior número de interrupções no sono;

CUIDADOS COM SONO E REPOUSO

O sono é uma necessidade humana básica e, portanto, tem influência na qualidade de vida dos seres humanos. Nesse aspecto, importante papel é atribuído à qualidade do sono.

Sabe-se que a experiência de um sono insatisfatório ou insuficiente é muito desagradável refletindo no desempenho da pessoa em suas atividades da nossa vida diária, em seu comportamento e bem estar. Particularmente para as pessoas idosas, as

perturbações do sono constituem também fatores de risco ligados à institucionalização e à mortalidade.

O sono é constituído por diferentes estágios, de acordo com a frequência e amplitude típicas das ondas elétricas cerebrais geradas durante o fenômeno. A organização e a proporção que ocupam os vários estágios é conhecida como arquitetura intrínseca do sono, que se modifica com o envelhecimento.

Os diferentes estágios do sono podem ser identificados pela análise das características da atividade elétrica cerebral – eletroencefalograma.

A polissonografia é um conjunto de registros que atualmente é considerado essencial para a análise detalhada da arquitetura do sono e de distúrbios ligados a ele. Este exame inclui além do eletroencefalograma, o eletrooculograma que é o registro de diferenças de potencial entre a retina e a córnea, geradas pelos movimentos oculares e captadas por eletrodos colocados ao redor dos olhos, que permite a identificação do estágio de sono paradoxal ou REM (Rapid Eyes Movement - sono de movimentos oculares rápidos), o eletromiograma das regiões submentoniana e tibial anterior, para identificar o sono paradoxal e para identificar distúrbios como o mioclono noturno (“chutes” durante o sono), além de outros parâmetros como, fluxo aéreo nasal e oral, esforço respiratório, eletrocardiograma e oximetria transcutânea contínua, que contribuem para a identificação de problemas tais como os distúrbios respiratórios que ocorrem durante o sono (p.ex: apnéia do sono). Esse exame exige que a pessoa durma em um laboratório especialmente equipado para sua realização.

O SONO ENQUANTO RITMO BIOLÓGICO

O mundo se organiza em torno de uma periodicidade de 24 horas, determinada pelo movimento de rotação da Terra. Nossos ritmos biológicos mais conhecidos têm uma periodicidade semelhante e são chamados de ritmos circadianos (do latim circa diem, em torno de um dia). O ciclo vigília-sono é um ritmo circadiano.

Os seres vivos organizam seus ritmos biológicos de acordo com pistas temporais, chamadas de sincronizadores, de origem geofísica ou social, provenientes do ambiente em que vivem. As de origem geofísica são, por exemplo, a alternância entre o claro (dia) e o escuro (noite) e as estações do ano) e, as de origem social são representadas, por exemplo, pelos horários de diversos compromissos sociais, tais

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• despertar muito precoce (de madrugada, em torno das três ou quatro ho-ras da manhã) pode ser indício de um quadro depressivo;

• a sonolência diurna excessiva pode ser resultado de: síndrome da apneia do sono, mioclono noturno, ou outros distúrbios.

Atualmente, considera-se que a necessidade quantitativa de sono, ou seja, sua duração adequada, não diminui com o envelhecimento. Neste caso, questiona-se porque os idosos parecem ter, em geral, um sono noturno de menor duração e pior qualidade que os adultos jovens. Isso poderia estar relacionado à redução da capacidade para dormir e não da necessidade de sono entre os idosos a qual seria satisfeita com sua distribuição em mais de um episódio ao longo das vinte e quatro horas do dia. As interrupções frequentes do sono noturno e a presença de episódios de sono durante o dia (cochilo) parecem indicar além de uma diminuição na quantidade de sono, sua redistribuição, caracterizando-o com um padrão fragmentado, ou sono polifásico.

A qualidade percebida do sono é uma experiência subjetiva, portanto, não cabe ao cuidador afirmar que a pessoa idosa “dormiu muito bem” e está se “queixando à toa”, apenas por ter observado que essa dormiu uma noite inteira, de forma aparentemente profunda e tranquila. A observação contínua ao longo da noite não é o habitual, o que se costuma fazer são observações intermitentes entre as quais podem ocorrer episódios de interrupção do sono que passam despercebidos pelo observador.

O cuidado com o sono requer, inicialmente, uma avaliação do seu padrão habitual existam ou não queixas. Para isso devem ser anotados os horários de dormir e despertar, a latência estimada para o início do sono (“quanto tempo demorou para pegar no sono”), número, duração e motivo das interrupções do sono, número e duração de sestas ou “cochilos” e as queixas relatadas pelo companheiro de leito ou outras pessoas próximas e a satisfação do idoso com a qualidade do sono bem como a sensação de bem estar ao despertar, e a presença de sonolência ou fadiga durante o dia. Observações que indiquem a presença de problemas devem ser investigadas mais detalhadamente por um profissional de saúde.

Deve-se verificar se o idoso possui uma rotina que precede o ato de deitar-se para dormir, (p.ex: tomar banho ou fazer outro tipo de higiene, rezar um terço, fazer uma refeição), sua regularidade e sua possível influência na qualidade do sono. O ambiente físico em que o idoso dorme também deve ser observado quanto à temperatura, iluminação, sons, presença de outrem, características da cama e segurança do local.

A qualidade da vigília também deve ser analisada, pois alguns fatores, típicos de quando se está acordado, podem contribuir decisivamente para a qualidade do sono bem como sofrer a influência desta (realização de atividades de lazer, prática de exercícios físicos, presença de interação social, qualidade da alimentação do idoso, etc).

O cuidador deve estar orientado quanto às modificações que ocorrem com o padrão de sono das pessoas idosas e suas queixas, avaliar a necessidade de encaminhá-lo a um exame criterioso para afastar distúrbios do sono ligados a outros problemas de saúde, e conhecer algumas intervenções não farmacológicas que podem auxiliar a melhoria desse quadro.

A eficiência do sono é a proporção de tempo que uma pessoa consegue realmente dormir em relação ao tempo dispendido na cama com esse objetivo. Constitui um parâmetro fundamental na avaliação da qualidade do sono. Seu cálculo pode ser feito da seguinte maneira: consideremos uma pessoa que se deita às 22:00 horas e se levanta às 06:00 horas da manhã seguinte; ela apresentará 100% de eficiência do seno se dormir oito horas (oito horas de sono divididas por oito horas no leito); 75% se dormir seis horas (seis horas de sono divididas por oito horas no leito), e assim por diante.

As pessoas idosas apresentam redução da eficiência do sono para cerca de 70 a 80 %, variando conforme sexo e idade (em adultos jovens esse valor é da ordem de 90 %). Isso se deve, em parte, à dificuldade de manutenção do sono noturno. Tipicamente observa-se que o idoso acorda muito facilmente durante a noite, mesmo com estímulos leves, e que sons de pequena intensidade podem ser suficientes para acordá-los.

O “componente restaurador” do sono está relacionado às ondas delta, mas, não existem evidências de que a diminuição do sono profundo traga consequências negativas para a saúde da pessoa ou que contribua, por exemplo, para o envelhecimento.

Deve-se diferenciar, na pessoa idosa, as mudanças relacionadas ao sono, ligadas ao processo de envelhecimento das devidas às várias afecções associadas à idade (doenças crônicas, dores, quadros demenciais, etc) que podem contribuir, direta ou indiretamente, para a sua perturbação não sendo, no entanto, distúrbios primários deste.

No processo de envelhecimento, o sono sofre mudanças quantitativas e qualitativas que são percebidas pelo idoso como perturbações e podem ser apresentadas na forma de queixas. São elas:

• dificuldade em manter o sono noturno (idosos demoram para adormecer e acordam várias vezes durante a noite);

• percepção do sono como mais leve e menos satisfatório (menor eficiência do sono);

• despertar muito precoce. Alguns estudos sugerem que, com o envelheci-mento, torna-se necessário um avanço no sistema circadiano para que o organismo se ajuste à periodicidade do ambiente e da organização social (como se um “relógio interno” fosse adiantado) o que determinaria a es-colha de horários precoces para o início do sono e para o despertar, por exemplo.

• maior tendência a dormir durante o dia, intencionalmente ou não. (“sestas” e “cochilos”). Parte dos idosos já não está sob a influência de pistas tempo-rais importantes, como por exemplo, horários de trabalho e, assim, podem não ter interesse, motivação ou necessidade de manter horários regulares para levantar-se, deitar-se, alimentar-se ou executar quaisquer outras ati-vidades, contribuindo para acentuar ainda mais a fragmentação do sono.

• Estas modificações, quando muito acentuadas, podem representar distúrbios:

• “Distúrbio do Início e Manutenção do Sono” (DIMS) - exacerbação da difi-culdade em conciliar e em manter o sono noturno, queixa frequente entre as pessoas idosas;

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níveis de atividade física resultariam em aumento na profundidade e duração do sono. Os efeitos fisiológicos dos exercícios sobre o sono ainda não são bem conhecidos, no entanto, os efeitos psicológicos são positivos, e devem ser valorizados.

A atividade física deve ser adequada às condições de saúde do idoso e ser desenvolvida com regularidade e critério. Embora o período da manhã seja tradicionalmente recomendado para sua prática, vários estudos têm evidenciado que é neste período que ocorrem os maiores valores da pressão arterial, da viscosidade sanguínea e da agregabilidade plaquetária. Estes fatores, em conjunto com o esforço dispendido no exercício e a perda de líquidos, aumentam o risco de ocorrência de eventos cerebrais (AVC) e cardíacos isquêmicos (infarto) especialmente nas primeiras horas da manhã. Sugere-se assim a realização de exercícios de leve ou moderada intensidade, ao final da manhã ou da tarde, não devendo ser realizados logo antes de dormir, pois poderiam prejudicar a qualidade do sono. A exposição à luminosidade solar contribui na regularização do ritmo circadiano de secreção da melatonina, e auxilia a consolidação do padrão de sono do idoso.

O ambiente físico deve proporcionar conforto, segurança e permitir o contraste entre o dia e a noite. Conforto envolve a avaliação das condições do mobiliário (bom estado de conservação), colchões, travesseiros e roupas de cama (macias e bem esticadas), iluminação (indireta, de baixa intensidade), temperatura do ambiente (temperaturas muito baixas ou muito elevadas são fatores de perturbação do sono) e presença de ruídos (ambientes ruidosos provocam redução na quantidade de sono de ondas lentas, respostas cardiovasculares - taquicardia e vasoconstrição, interrupção do sono).

Segurança envolve a tranquilização da pessoa idosa contra a ocorrência de situações de violência (p.ex: assaltos). Uso de grades nas janelas (casas térreas) e revisão de portas e fechaduras podem contribuir para amenizar o problema.

O estabelecimento de contrastes entre o dia e a noite auxilia o sistema de temporização circadiana (sistema orgânico responsável pela organização dos ritmos circadianos) do idoso a distinguir entre ambos. Este sistema historicamente adaptou o organismo humano a dormir em um ambiente escuro e quieto, à noite. Além das recomendações mencionamos quanto ao conforto deve-se aumentar a quantidade de estímulos oferecida durante o dia diminuindo-as à noite (minimização de ruídos e iluminação no quarto do idoso).

A pessoa idosa deve procurar deitar-se apenas para dormir e, de preferência, quando sentir sono, evitando uma permanência longa e desnecessária na cama. Deve-se evitar a permanência prolongada no leito durante o dia. Idosos institucionalizados ou acamados tendem a apresentar um sono noturno muito fragmentado e pouco satisfatório, aumentando a sonolência diurna e criando um círculo vicioso.

A experiência subjetiva do sono é particular e complexa, e elevar a qualidade do sono significa melhorar a qualidade da vigília e, consequentemente, a qualidade de vida da pessoa idosa.

A DIMENSÃO ESPIRITUAL DAS PESSOAS IDOSAS E SEU CUIDADO

RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE

Desde a antiguidade sabe-se que os povos guardam e professam rituais que estão fora da compreensão mais objetiva/material. Envolvem uma relação com o

RECOMENDAÇÕES QUANTO AO USO DE MEDICAMENTOS PARA DORMIR

Infelizmente as pessoas idosas, costumeiramente, são responsáveis por grande parte do consumo de medicamentos para dormir (de diversos tipos), levados pela sensação de não dormirem bem ou o suficiente durante a noite. A utilização de medicamentos, no entanto, não assegura um sono de melhor qualidade. Modificações metabólicas e funcionais próprias do envelhecimento tornam a pessoa idosa mais vulnerável aos efeitos colaterais desses medicamentos além de uma indesejável sonolência durante o dia que pode aumentar, entre outros riscos, a possibilidade de quedas e suas consequentes complicações.

A prescrição de medicação de efeito sedativo ou hipnótico é de responsabilidade exclusiva do médico após minuciosa avaliação de todos os fatores que possam estar resultando em prejuízo para o sono do idoso. O cuidador deve ficar atento aos efeitos colaterais indesejáveis que essas possam ocasionar e NUNCA, sob nenhuma hipótese, deverá aumentar a dose prescrita sem consulta médica prévia.

SUGESTÕES PARA UM SONO DE MELHOR QUALIDADE

Não existem “receitas” de como dormir melhor, existem alternativas de tratamento não farmacológico para obtenção de sono de melhor qualidade que podem ser utilizadas e adequadas às peculiaridades do sono daquele indivíduo, com resultados que variam bastante de uma pessoa para a outra.

Deve-se atuar na promoção da, denominada, higiene do sono - conjunto de hábitos e comportamentos que auxiliam a melhorar ou manter a qualidade do sono. Envolve hábitos regulares, desenvolvimento de atividade(s) física(s) e ambiente físico adequado para dormir.

A manutenção de hábitos regulares contribui para um sono menos fragmentado e de melhor qualidade. Idosos com sono muito interrompido e sonolência diurna excessiva devem estabelecer horários e rotinas regulares para deitar-se e despertar além de horários de refeições, lazer, realização de atividade física e outros. Hábitos que “sinalizem” a aproximação do horário de dormir (preparo do leito, roupa apropriada, banho morno) são especialmente importantes. Os “cochilos” ou a sesta (que resultam em uma maior sensação de bem-estar) podem ser inseridos em horário regular como parte da rotina diária. O que não irá interferir na fragmentação do sono noturno.

A ingestão de alimentos leves antes de dormir não costuma ser prejudicial para o idoso, especialmente se é um hábito antigo e se ele não possui disfunções do trato alimentar, como o refluxo gastro-esofageano (quando deve ser contraindicada pelo maior risco de aspiração).

A ingestão de líquidos deverá ser restrita a algumas horas antes de deitar-se em especial na presença de noctúria (levantar à noite para urinar) ou de incontinência urinária. Diuréticos, deverão ser tomados, de preferência, pela manhã. Não há comprovação que o leite auxilie a conciliar o sono. Bebidas com cafeína (café, chá preto e mate, achocolatados e refrigerantes como coca ou pepsi-cola) por suas propriedades estimulantes, devem ser evitadas em horários próximos ao de dormir. O mesmo se aplica a cigarros (efeito estimulante) e álcool (provoca sonolência inicial, mas prejudica a qualidade do sono).

A crença que o desempenho de exercícios influencia positivamente a qualidade do sono relaciona-se à ideia de compensação das energias perdidas, portanto, maiores

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relações novas consigo, com os semelhantes e com o ambiente no qual está inserido. Toda uma hierarquia de valores vai sendo reelaborada. A cada passo vai sentindo-se mais livre, disponível, alegre e realizado. A esta altura podemos afirmar que há um despertar para a esperança. Vive-se a certeza de um infinito. Embora não se tenha ideia precisa de como isto se dá, este conjunto de sentimentos fornece um sentido novo ao existir permitindo o descobrimento do sentido da vida.

A vida passa então a ganhar sentido em toda sua extensão - da fecundação ao infinito percebendo-se a eternidade. O momento presente é vivido mais intensamente. Há um desejo de “curtir” o fato atual. Projetos que anteriormente geravam muita ansiedade cedem espaço para experimentar e gozar os acontecimentos do momento. Não há tanta preocupação e sim ocupação total com o fato atual. Um sentimento de transformação do tempo em eternidade. As lutas do passado, as investidas, os acontecimentos, etc., toda a história é rememorada numa perspectiva positiva de conquista e vitória. Uma valorização integral da própria vida. O negativo é explorado em função das superações, servindo para realçar as vitórias. Neste contexto tudo ganha sentido e se aprende a tirar proveito de todo e qualquer acontecimento.

Tendo esta compreensão antropológica, fica fácil perceber a presença de algo/alguém muito diferente de si mesmo, mas, agradavelmente empático e semelhante de onde provém toda segurança sentida, o ganho das forças e das luzes que dão sentido ao existir. O nome deste alguém varia conforme a cultura e segundo a história dos povos: Deus, Axé, Javé, Alá, etc. É com essa entidade espiritual que a relação transcorre criando um canal de comunicação, formando uma comunhão capaz de responder às ansiedades das limitações humanas. O equilíbrio e a paz reencontrados são vistos constantemente como uma possibilidade real. As tristezas tornam-se efêmeras, pois já se conhece a maneira de transformar a dor em alegria. O sentimento de ódio enfraquece; o perdão, a aceitação das diferenças e divergências torna-se, assim, possível. Nesta altura a abertura, o desapego e a partilha são vivenciados quotidianamente.

É ESTA A ESPIRITUALIDADE ENCONTRADA ENTRE AS PESSOAS IDOSAS?

Toda pessoa é capaz de desenvolver e atingir esta estatura, mas nem todos o farão. As dificuldades estão por conta dos bloqueios e condicionamentos que cada um vivenciou durante a vida e pela maneira como os enfrentou. Isto não depende da cultura, da formação intelectual ou de aprendizagens especiais. É intrínseco à pessoa. Basta a oportunidade para o exercício.

Nas idades mais longevas, as pessoas estão mais propensas a este trabalho pela autoridade moral que adquire a sabedoria popular, própria do ser pensante. Salvando os objetivos e opções, ou seja, tendo clareza de onde se quer chegar, não há o que temer neste processo. Os padrões estereotipados impostos pela sociedade podem impedir os sussurros do Espírito na pessoa. Ouvir a voz do Espírito, dar lugar à sua presença, deixar sair os sentimentos e desejos - do corpo e da mente - eis o segredo.

Num corpo cansado, enrugado e cicatrizado pelo tempo, há uma mente, às vezes, ferida pelos dissabores das relações que está mais aberta à percepção do Espírito. Seu olhar é mais confiante e seguro, mais altaneiro, pois conhece melhor a sua história carregada de experiências; passou por quase todas as ilusões e hoje tem como certezas que ninguém lhe roubará o futuro. A convivência com a perda

“além” sendo a ele atribuídas forças e acontecimentos inexplicáveis. Os cuidados prestados aos mortos e as crenças que advém na sobrevida acompanham uma certeza de vida espiritual.

Religiosidade é uma tendência natural de cada pessoa para o transcendental; é o voltar-se naturalmente a uma prática espiritual estimulada por tradições, medos, interesses, ignorâncias, etc. Assim, podemos atribuir religiosidade a qualquer prática cultural que envolva o imaterial transcendental.

Especificar religiosidade é quase impossível, dada a sua variedade e o caráter subjetivo cultural que assume em épocas, circunstâncias, povos e seus costumes. É toda relação com o transcendente a partir de si mesmo e da própria teia de relações (interpessoais, com o cosmo e consigo mesmo). A espiritualidade significa ser solidário no existir comum e não implica em ter conhecimentos científicos, ser letrado ou poderoso.

Espiritualidade refere-se ao “caminho do espírito”, ou seja, toda relação madura e consciente com o transcendental. Não mais uma fé simplista, mas uma fé de opção decidida que tem repercussões no jeito de ser e agir na vida, expressando uma atitude no existir. Portanto, a espiritualidade vai além da religiosidade porque traz a consciência e a certeza de um modo de viver. Outra característica é que entende fé como fidelidade o que norteia o agir em toda relação interpessoal. A comunhão entre religiosidade e espiritualidade é ampla e muitas vezes chega mesmo a se confundir se não tiver atento às diferenças. Ambos estão intimamente relacionados com o transcendental. Não há uma espiritualidade sem uma religiosidade. Por outro lado, podemos encontrar religiosidade sem espiritualidade. Toda espiritualidade cria uma religiosidade e o aprofundar-se em uma religiosidade faz chegar à espiritualidade. Uma não se contrapõe à outra; a espiritualidade dá verdadeiro sentido à religiosidade.

A DESCOBERTA DO ESPÍRITO

Para os que acreditam, toda pessoa humana, desde a fecundação possui um espírito que com a matéria e a psique formam o composto humano (psico-físico-espiritual). O crescimento físico, o desenvolvimento intelectual, a aprendizagem; considerando a cultura na qual cada um está inserido; parece dificultar a percepção do espírito. A pessoa fica envolvida com os afazeres que a vida proporciona e com a luta para conquistar o próprio espaço vital tornando-se desatencioso ao espiritual. No ocidente isto se agrava ainda mais com a compreensão de que o espiritual é algo a ser buscado quando próximo da morte, pois o transcendente parece ficar restrito ao pós-morte.

Com a invasão das correntes materialistas da gnose e do racionalismo, tudo o que diz respeito ao espiritual ficou mais teórico e, em muitos casos, sua consideração tornou-se ridícula. Esse panorama vem se modificando, a ponto das ciências consideram o subjetivo.

As religiões (verdadeiras ou não) proliferam auxiliando na busca ao espiritual de forma e caminhos variados. O envelhecimento favorece esta descoberta e aproximação. Com a experiência acumulada durante a vida, a pessoa fica mais propensa a pensar e repensar sua história voltando-se para si mesmo. É na sua intimidade que vai descobrindo o que é próprio seu, mas que ultrapassa suas capacidades de controle racional. Algo que está ligado diretamente aos seus sentimentos e ao desejo de imortalidade, perenidade existencial permitindo que sua história não seja destruída.

Este processo facilita a tomada de consciência de seus próprios limites e falhas levando-o à descoberta de sua humanidade. Cada vez que se sente humano cria

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Atenuando o senso crítico do perfeccionismo, os julgamentos e condenações cedem espaço a um novo modo de relacionar-se com o mundo, ficando mais atento às criaturas, voltando-se para o cuidado com animais e plantas, jardins, contatos com a terra. Engaja-se em causas humanitárias defendendo os mais necessitados e promovendo o bem comum (se consegue, atua como voluntário se não contribui de alguma forma com serviços benemerentes). Aceita o morrer com mais naturalidade, compreende o valor e a necessidade da morte, descobre a dignidade de viver e de morrer. Sente que a vida é maior que esta fase do consciente. Consigo mesmo, manifesta maior integração psico-físico-espiritual. Vive mais livre, sem medos e morre serenamente, em paz, na sua teia de relações. Quando tem oportunidade, gosta de manifestar sua opinião. Tem sempre o que dizer.

A CONTRIBUIÇÃO DA ESPIRITUALIDADE NA COMPREENSÃO DO SOFRIMENTO

Para alguns, o envelhecimento parece confundir-se com sofrimento. Pelo próprio processo de desgaste do viver, a pessoa idosa torna-se mais vulnerável às doenças e, consequentemente, aos sofrimentos de vários gêneros.

Historicamente imprimiram-se falsos conceitos a respeito do sofrimento em nossa cultura cujo objetivo era levar conformismo às situações adversas impostas. Frequentemente alguns ditos populares relembram tais fatos “é a vontade de Deus... Deus que castiga para a purificação.... foi Deus que levou... foi Deus que quis”.

Tal consolação longe de aliviar o sofrimento gera um conflito aberto e certa revolta com todo o transcendental; colabora para aumentar a depressão e o sentimento de inutilidade e abandono; empurra para a solidão e para um afastamento do espiritual.

O sofrimento é inerente à vida. Aprender a sofrer significa compreender a complexidade da vida e suas limitações. A morte, o fim, as perdas, fazem parte da dimensão psíquica e material. Quando se entende que o Espírito sobrevive a todas as intempéries, cria-se um relacionamento novo com o próprio sofrimento que, não acaba. Toda pessoa procura o seu bem estar e, por impulso natural, repele o sofrimento. A energia espiritual possibilita maior rapidez em cessar o sofrimento ou diminuí-lo a um nível de tolerância que permite a convivência mútua sem que se perca a esperança e a alegria. Passa-se assim a ser possível sofrer e ser feliz ao mesmo tempo. Abrindo espaço ao Espiritual presente em cada um, é possível ter dignidade também no sofrimento.

Dessa forma é importante que o cuidador compreenda que a velhice não é tempo de lamúrias e solidão; tempo de pagar o mal que fez durante os tempos mais ativos, pois o sofrimento acontece em qualquer idade.

COM O ENVELHECIMENTO, AS PESSOAS IDOSAS TORNAM-SE MAIS RELIGIOSAS OU ESPIRITUALISTAS?

Conversão significa mudar de vida, provocando uma ruptura, uma crise uma separação com o jeito de viver anterior. Os elementos internos que levam a uma conversão partem da descoberta do Espírito. É preciso acreditar, ter fé em algo transcendente que seja capaz de completar as ansiedades individuais e sociais. A conversão, portanto, se dá no campo individual em função de um bem-estar social. Geralmente é associada a um passado de sofrimento e tristeza; de frustração e

progressiva de vitalidade, contrapondo-se ao desejo ardente de viver traz a certeza do infinito no qual pode confiar com segurança.

Idosos na proximidade da morte ou pessoas que fizeram experiências de morte clínica e voltaram a viver, afirmam essa percepção de continuidade da vida numa dimensão mais plena. Uma vida sem as limitações da matéria, do tempo e do espaço. Vida espiritual, porém de realização plena de todos os desejos e sentimentos, vida absoluta. Por esta estatura espiritual de vida, vemos o mais propenso a aceitar os acontecimentos e capaz de consolar os que sofrem; capaz de transmitir esperança. Descobrir o positivo apesar do desespero aparente. Mesmo que não tenha ideias e conceitos claros sobre a vida depois da morte, ele crê. É como que se um véu ainda encobrisse a realidade, mas já deixa transparecer de que jeito será. Não sabe como, mas sabe que vai acontecer e sente acontecendo.

O PAPEL DA ORAÇÃO

A oração repetitiva (reza) ganha um sentido novo, porque, mesmo na monotonia da repetição, o orante está sincronizado com o Espírito que fala nele e a cadência repetitória no ritual lhe é suficiente para estabelecer uma relação sensível com o transcendente. A repetição ajuda a criar clima de entrar em êxtase.

Por outro lado, a própria doutrina que formou as consciências para a oração, não permitiu uma evolução livre no orar. Criaram-se as fórmulas consagradas, uma oração intelectualizada e de difícil compreensão, suprindo a liberdade de expressão na consciência de orar. Isto traz ao idoso, pela sua maior disponibilidade de tempo, um maior contato com seus livros de orações.

Contudo, não podemos reduzir a oração do idoso à reza repetitiva. Mesmo que ele afirme não ter a expressão livre de orar, concretamente ela acontece em sua vida pelo seu jeito de ser e de se comportar. Se orar é estar entrelaçado ao ser superior e transcendente, os idosos, de maneira geral, estão sempre lembrando o lado espiritual nos acontecimentos de sua vida. São expressões frequentemente ouvidas da boca dos idosos: “se Deus quiser; graças a Deus; Deus ajude; Deus o abençoe, etc”.

É necessário entender esses conceitos e esse percurso de modo a respeitar o idoso em suas crenças e em seu jeito de pensar. É necessário, também, estar atento a essa necessidade, muitas vezes mais importantes para a pessoa idosa que outras coisas como atividades sociais e/ou terapêuticas.

A ESPIRITUALIDADE COMO FERRAMENTA DE LIBERTAÇÃO

O processo de perdas e frustração pelas quais passa uma pessoa idosa, inegavelmente, lhe garante um altruísmo. Vai se transformando, se reestruturando dentro de uma compreensão mais ampla de seu ser e suas relações: consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com o transcendente. Se ele não foi despertado para uma prática religiosa na idade adulta, na velhice sentirá vergonha de se expor ficando preso aos conceitos do passado. Quando ajudado deixará fluir toda a liberdade latente em seu ser, encontrando o verdadeiro sentido para sua vida. O processo de libertação passa pela solidariedade a si mesmo e pelo respeito aos seus valores anteriores. Isto possibilita a erupção de novos valores e virtudes que serão manifestadas externamente ao público.

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associam-se dezenas de termos populares com o mesmo significado. Assim pode-se entender terminalidade como demarcação de campos, entre fases (com respeito às diversas facções religiosas ou crenças), térmico de um ciclo.

Elizabeth Kübler-Ross escreveu um livro que ficou muito famoso discorrendo sobre “a morte e o morrer”. Entre suas principais colocações encontra-se que o homem, em diferentes culturas e desde os tempos mais remotos, de alguma forma, sempre abominou a morte e, sendo assim, sempre a repelira. Em nosso inconsciente nossa morte não é possível; se nossa vida tiver um fim, isto será devido a alguma intervenção maligna, fora de nosso alcance; logo, somos mortos, não morremos, dando à morte um caráter de medo e pavor do qual tentamos nos afastar.

Algumas são as causas de isolarmos a morte de nossa vida diária: os idosos atualmente, raramente morrem em casa; têm-se grandes expectativas relacionadas à saúde e à vida; depende-se incondicional e totalmente de especialistas durante nossas doenças; a sociedade valoriza sobremaneira os valores materiais; há atualmente uma crise relacionada à direção espiritual. Tais causas não transformam nossa sociedade em algo destrutivo apenas fazem com que o processo de morrer seja mais difícil de vivenciar ou que não ocorra com tranquilidade.

Em alguns locais de tecnologia menos avançada e em tempos não muito distantes, morrer em casa fazia parte de um ritual familiar que envolvia uma preparação gradual de todos os elementos da família para a perda de um ente querido auxiliando na compreensão da morte como parte da vida. Esse tipo de vivência contribuía para o amadurecimento das pessoas e para o fortalecimento de seus valores e da unidade familiar. Nos tempos mais recentes, esse tipo de acontecimento tornou-se muito raro permitindo que a morte passasse a ser vista como algo “de fora”, externo à nosso cotidiano. Atualmente há um movimento de resgate do que se denomina “morrer dignamente” e isso pode acontecer em casa ou em outro local especialmente destinado a este fim.

No entanto, a morte ainda é, na maioria das vezes, solitária e impessoal e, muitas vezes, um ato mecânico e desumano. Na rotina frequente das salas de emergência e unidades de terapia intensiva há uma luta incessante para a manutenção da vida das pessoas que, por doenças ou agravos, encontra-se em risco de morte. Há outras pessoas, no entanto, que já não possuem possibilidade terapêutica de cura e que já estão, de alguma forma, cansadas de lutar contra o inevitável. Quando, muitas vezes por desejo ou desespero da família são levadas a estes locais para que, finalmente descansem são afastadas de tudo e todos que lhes é familiar; deparam-se com equipes que trabalham arduamente para manter sua sobrevida, monitorando-as de todas as formas e tendo pouco ou nenhum tempo para olhá-las como pessoas ou para ver quais são, naquele momento, suas reais necessidades. Nesse momento, essas pessoas colocam esses profissionais frente à eminente, apavorante e incômoda ideia da morte fazendo-as encarar sua falta de onipotência, suas limitações, suas falhas e sua própria mortalidade. Isso nos os torna mais frágeis ou vulneráveis, apenas os remete à sua verdadeira condição humana e finita.

Didaticamente o processo de morrer foi dividido em cinco fases para a qual o cuidador necessita estar orientado e preparado para poder auxiliar:

a) Negação e isolamento: Fase em que o cliente toma contato, de forma direta ou indireta, com a gravidade de seu estado de saúde e com a ausência

decepção onde a pessoa é despertada para buscar uma satisfação que está nela, mas que a transcendente e a torna mais universal.

O envelhecimento favorece esta conversão. Cansados da vida, habituados à necessidade frequente de adaptação às novas realidades impostas ou assumidas, as pessoas idosas são quase que naturalmente convidadas a abrir-se a um mundo diferente, às vezes, contra o qual lutou a vida inteira e nunca antes admitia assumir. Aí começa outro processo que é o de adaptação às novas realidades e comportamentos. Estes processos podem ser conscientes ou inconscientes e, de forma subliminar, vão encaminhando a pessoa ao desfecho final e ao prosseguir no novo caminho reelaboram-se novos padrões de comportamento, nova hierarquia de valores e novas estruturas. Passado o processo, a pessoa, quase sempre atinge maior liberdade, alegria e paz.

Nesse sentido conversão significa encontro com o Espírito; liberdade interior; abertura ao outro e possibilidade de caminhar na direção do intransponível buscando o eterno.

É difícil falar de conversão para aqueles que vivem da corrupção social (rico ou não, letrado ou poderoso), pois estão embotados por ideologias que barram a possibilidade de se tornarem pessoas na dimensão integral. Não admitem passar por mudanças perdendo algumas características para ganhar outras. A conversão exige humildade, é necessário um olhar interior reconhecendo os próprios erros e abrindo-se ao outro como companheiro; solidário na caminhada. Geralmente essas pessoas não atingem esse estado, vivem do poder e morrem sem prazer, frustrados porque vão morrer; alcançam as idades mais longevas carregando uma longa vida de sofrimentos e de produção de sofrimentos. Quem não se reconhece humano entre os humanos não conseguirá compreender o estágio superior do espiritual. O tempo de vida e a vida maturada com as experiências do tempo são pedagogias certas para a conversão.

Assim, é importante que se compreenda que nem todos chegarão a essa dimensão ou estarão abertos a ela. O papel de quem está ao lado da pessoa idosa é auxiliar os que estão entrando nesse caminho propiciando espaços e momentos de maior introspecção e exercício de sua espiritualidade. Para os que assim não seguirem, cabe-lhe estar presente buscando minimizar seus sofrimentos.

CUIDADOS NO FINAL DA VIDA

Esse texto ficaria incompleto sem uma abordagem sobre a terminalidade ou finitude, ou seja, o alcance do final da vida pelas pessoas mais longevas.

Abordar temas relacionados à morte e ao morrer remete-nos a reflexões mais íntimas e profundas relacionadas à vida, ao viver e ao envelhecer. Não se tem aqui a pretensão de esgotar o assunto ou transformar esse texto em alguma espécie de guia. A ideia é permitir que ocorram algumas reflexões quanto a esta temática tão presente no cotidiano das pessoas mais idosas.

Terminalidade é um neologismo, diz respeito à terminal (do latim terminale), cujo significado refere-se à demarcação de campos, algo que termina, extremidade, fim. Este termo tem a mesma origem de terminar (também do latim terminale) que significa por termo a, acabar, findar, concluir; demarcar, delimitar, delinear. Morte por sua vez, significa o fim da vida, fim. Seu sentido figurativo associa-se a grande dor, pesar profundo. Morrer significa perder a vida, falecer, expirar, perecer. A ele

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Texto de Apoio Alterações Funcionais e o Cuidado da Pessoa Idosa

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cessa e inicia-se o momento do repouso derradeiro”. É um momento de maior introversão da pessoa que está morrendo, de preparo pessoal. Constitui uma fase na qual não apenas o idoso, mas também sua família necessita de ajuda, compreensão e apoio. É um momento onde o silêncio costuma ser a linguagem predominante permitindo que o não verbal comunique mais que o verbal. Para tanto, o cuidador necessita estar capacitado a identificar essa fase e a trabalhar com o silêncio interpretando-o e mostrando ao idoso que ele não está só, por meio do toque delicado o que pode ser, por si só, muito reconfortante.

Esses estágios podem ou não serem sequenciais, ter duração variável e, às vezes, apresentarem-se em paralelo. Também é possível que nem todos os idosos em processo de morrer passem por todos eles antes do estágio final.

A esperança é, no entanto, algo que, declarada ou camufladamente permanece presente (a possibilidade de uma nova droga, um novo tratamento, etc). É este “fio de esperança” que os sustenta por dias, semanas ou meses. Quando a esperança se vai normalmente sua morte está mais próxima. Em muitas situações, Muitas vezes esta esperança, importante para o paciente sobreviver aos dias difíceis, a família, por não aceitar o que está ocorrendo, agarra-se doentiamente a esperanças inexistentes e não possibilita que o idoso vivencie o processo de morrer e alcance o estágio de aceitação final.

Auxiliar, nesse momento, é fundamental, mas não é fácil. O que pode ser muito claro ao cuidador, pode ser obscuro ou agressivo para a família. Uma intervenção inadequada pode canalizar toda a ira, frustração e inabilidade em lidar com a situação por parte da família, para o cuidador e assim quebrar um vínculo que pode ser precioso para todos nesse momento. Para evitar tais situações

É importante que o cuidador seja capaz de compreender o verdadeiro significado daquele momento para o idoso e para sua família. São muitas as modificações que ocorrem simultaneamente; a racionalização pode demorar a ocorrer e às vezes não ocorrer cedendo espaço para uma gama infindável de emoções desorganizadas.

Idoso e família podem estar em um descompasso no enfrentamento da situação, cabendo ao cuidador essa identificação para auxiliar na construção de um processo de aproximação a ser vivenciado conjuntamente por todos. Ouvir mais, clarificar as mensagens, respeitar os sentimentos presentes são atitudes que podem auxiliar.

COMO OFERECER AJUDA A ALGUÉM QUE ESTÁ MORRENDO?

Frente a uma pessoa idosa em processo de morte, muitos cuidadores sentem dificuldades concretas quanto ao que dizer e como de fato ajudar idosos e familiares que se deparam com tais situações?

A morte não é um acontecimento místico ou necessariamente se apresenta como um fim maravilhoso onde as pessoas visualizam uma luz brilhante, um jardim especial ou qualquer outra bela e confortante imagem. Alguns referem certa sensação reconfortante, mas para outros, a experiência da morte pode ser mais difícil.

Uma segunda consideração relaciona-se ao movimento vivenciado no século XX em busca de uma vida mais saudável, associada aos avanços tecnológicos, à busca da cura das doenças (antes não tratáveis) e do prolongamento da existência humana ao

de recursos terapêuticos para dizimar a doença que o atinge, utiliza de seus recursos mais pessoais para negar a realidade dos fatos. (... não está ocorrendo comigo...), busca incessantemente outros profissionais, submetendo-se a uma série infindável de exames e preferindo acreditar na possibilidade de erro diagnóstico. Nessa fase, o cuidador necessita estar atento aos momentos em que o idoso mostra-se disposto a “baixar” suas defesas e discutir a realidade. Isso não envolve, necessariamente, a necessidade de informar, de forma explícita, a gravidade e o desfecho de seu estado atual. Mais que isso, o cuidador deve procurar descobrir e atender às necessidades do idoso, verificar suas potencialidades e suas fraquezas e estar “abertos” a discutir com ele esse momento quando ele estiver “preparado” para isto ou ainda estar atento se ele explicitar com quem se sente mais à vontade em fazer isso. A negação, em muitas situações, está associada à sobrevivência emocional do idoso e, nesses casos, forçá-lo a aceitar a realidade pode somente causar-lhe mais sofrimento.

b) Raiva: Quando a fase de negação não pode ser mais sustentada, ela é geralmente substituída por outra permeada por sentimentos de raiva, revolta e ressentimento. É uma fase difícil de lidar, pois tende a se propagar (raiva da doença, de Deus, do médico, da equipe, do ambiente, da família, enfim de tudo que se relaciona de algum modo com seu estado atual). Normalmente, nessa fase, familiares e cuidadores demonstram pouco ou nenhum entusiasmo em atender o idoso dada a dificuldade na interação. Esse tipo de reação ocorre com cuidadores não capazes de desenvolver relações empáticas, ou seja, de se colocarem no lugar do idoso naquele momento, encarando o problema sob seu ponto de vista e desenvolvendo assim, o que se chama “relação de ajuda” anteriormente abordado. Esse é o momento em que a pessoa idosa mais necessita de respeito, compreensão, tempo e atenção e o cuidador só poderá adequadamente atendê-la se aprender a identificar e encarar seus próprios medos e defesas.

c) Barganha: É a fase da negociação como se fosse possível negociar a morte. Constitui uma tentativa de adiamento onde o idoso “troca” bom comportamento por uma meta auto imposta. Geralmente são feitas com Deus e raramente são explicitadas.

d) Depressão: Quando a pessoa não consegue mais negar ou “esconder” sua doença; a raiva ou revolta é substituída por um sentimento de grande perda. Pode ocorrer de duas formas: uma reativa e outra preparatória. A reativa requer diálogo e uma atuação encorajadora; a preparatória é, geralmente, mais silenciosa, requer a atenção do cuidador para compartilhar o sentimento através da compreensão mútua, do toque, do estar presente e menos de palavras. Frases feitas como “não fique triste”, tendem a não ajudar, pois a perda eminente (da vida, dos que ama, dos planos, etc) ocasiona o pesar e a dor e, nesse momento, os idosos tendem a querem olhar “para frente” e não mais para o que ficou para trás. É geralmente a fase que pedem para orar e quando o cuidador deverá procurar atendê-lo prontamente de modo a proporcionar-lhe conforto.

e) Aceitação: Nem todas as pessoas em processo de morrer alcançam essa fase. É necessário tempo para tanto e a superação das fases anteriores. Não constitui um estágio de felicidade, mas um momento de fuga de sentimentos, onde “a luta

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PARTE 3

GRANDES SÍNDROMES GERIÁTRICAS

Estamos finalizando nosso curso. Nos últimos meses conversamos sobre diferentes situações que envolvem o tema envelhecimento. Pensamos no envelhecimento como um processo relacionado a todos os seres vivos que assume diferentes significados dependendo da sociedade e da cultura com a qual lidamos. Compreendemos que podemos lidar com preconceitos, mitos e estereótipos relacionados à velhice e aos idosos e esses serão os responsáveis pelas diferentes atitudes assumidas pelas pessoas perante eles. Da indiferença à violência (expressa ou velada), múltiplas são as situações vivenciadas diariamente pelas pessoas idosas e com as quais convivemos em nosso ambiente de trabalho. Hoje, com certeza, podemos olhar para isso de forma diferente.

Compreendemos também que as pessoas idosas estão ligadas a diferentes pessoas a que chamamos rede de apoio e, a parte central dessa rede é constituída pela família ainda hoje a principal responsável pelo cuidado das pessoas idosas que necessitam de assistência. Vimos que essas famílias estão mudando e hoje, já não conseguem mais dar conta, sozinhas, das demandas assistenciais dos idosos. Também conversamos sobre as diferentes famílias, as mais funcionais e as disfuncionais e pudemos compreender como a identificação do funcionamento familiar pode nos auxiliar no planejamento assistencial direcionado às pessoas idosas. Compreendemos também o papel dos cuidadores e a diferença entre os cuidadores familiares e os que trabalham como cuidadores, ainda hoje uma ocupação. A partir da discussão sobre a construção da relação de ajuda pudemos ver como nos aproximar de forma efetiva das famílias, dos cuidadores e das pessoas idosas mais necessitadas e auxiliá-las a partir da construção de um cuidado conjunto, integral e integrado.

Em seguida compreendemos as alterações biopsicossociais que ocorrem com os indivíduos conforme vão envelhecendo e pudemos compreender o impacto da redução da reserva funcional dos desfechos de saúde apresentados pelas pessoas idosas frente a diferentes situações de estresse. Entendemos também, que os sinais e sintomas apresentados pelas pessoas idosas em relação a doenças e agravos podem ser ausentes, obscurecidos ou atípicos e, por essa razão, devemos valorizar sempre a queixa do idoso e, juntamente com ele, investiga-la em profundidade (busca ativa) de modo a intervir precocemente e aumentar a chance de sucesso terapêutico.

Também compreendemos que as pessoas idosas podem apresentar uma ou mais doenças crônicas associadas e que, o mais importante, é que essas condições crônicas sejam monitoradas e acompanhadas evitando agudizações e descompensações que, frente à reserva funcional diminuída podem ser muito danosas às pessoas idosas.

maior limite possível. Esse movimento pode criar a falsa expectativa de que a morte é algo sempre previsível e pode ser prevenida dependendo, apenas, de maior avanço tecnológico levando à ideia de imortalidade e aumentando a crença de que a morte é algo não natural. Doença e morte nem sempre requer intervenções de alta e cara tecnologia e a presença de grandes especialistas. Essa crença coloca tais ocorrências muito distantes dos seres humanos que se sentem impotentes frente a tais fatos.

Essas considerações, por si só, não são boas ou ruins, são apenas algumas barreiras a serem transpostas quando se assume a posição de “cuidadores”, ou seja, quando se quer auxiliar idosos e seus familiares no enfrentamento da morte, tão presente e tão desconhecida.

O profissional de saúde pode auxiliar esse momento ficando atento a alguns pontos como, por exemplo, o que se denomina “desligamento”, ou seja, o idoso pode querer ficar cada vez mais sozinho solicitando a redução das visitas para apenas os familiares/amigos mais próximos, depois só para os filhos e, finalmente só para o companheiro(a) permitindo-se assim desligar-se gradativamente daqueles que tem significado em sua vida. Isto não é significa um processo de isolamento, mas uma despedida, um permitir-se partir.

Idoso e em especial familiares podem desejar chorar. Intervenções do tipo “seja forte, não chore neste momento...” não ajudam, em primeiro lugar porque chorar não é sinal de fraqueza, mas a expressão de uma emoção interior que ao ser extravasada pode trazer alívio e aproximação, pode inclusive auxiliar a transformar os momentos finais em momentos de encontro.

Para os familiares de pessoas idosas, em idades muito avançadas e que são muito dependentes a ideia da morte pode ser algo frequentemente expresso senão desejado. Os quadros sem possibilidade terapêutica de cura costumam ser mais facilmente aceitos e a atuação do cuidador deve buscar preservar o respeito e a dignidade dos mesmos.

Em muitas situações, no entanto, o cuidador vai se deparar com interesses distintos, os do idoso e os dos familiares quando, seu comportamento ético, deve prevalecer. Cabe a ele ter seu olhar voltado para as necessidades do idoso de quem cuida que pode, por impossibilidade do meio em absorver tais demandas, não ter como expressar seus sentimentos, angústias e temores. Sua intervenção deve visar a qualificação do processo de morrer do idoso preservando, ao máximo, sua dignidade enquanto ser humano e o respeito em seu entorno.

REFERÊNCIAS

DUARTE YAO. Manual de Formadores de Cuidadores de Idosos. Secretaria de Estado da Saúde. Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social: Fundação Padre Anchieta, São Paulo, 2009.

DUARTE YAO. Manual de Cuidadores de Idosos. Secretaria de Estado da Saúde. Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social: Fundação Padre Anchieta, São Paulo, 2009.

DUARTE YAO; DIOGO MJD. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo, Atheneu, 2000.

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TEXTO DE APOIO

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Como já vimos, com o envelhecimento ocorrem múltiplas alterações nos diferentes sistemas orgânicos cujo resultado final é a progressiva diminuição de nossa reserva funcional o que, em condições normais não acarreta maiores problemas, mas, em situações de estresse (de qualquer natureza) podem levar à ocorrência de desequilíbrio e incapacidade de readaptação ocasionando uma descompensação progressiva que pode ser manifestada por diferentes agravos ou doenças.

Também já comentamos que os idosos costumam apresentar sinais e sintomas relacionados às doenças ou agravos de forma atípica, obscura ou inexistente. Isso exige do profissional de saúde uma grande capacidade de observação e a compreensão da necessidade de valorização da queixa da pessoa idosa buscando, juntamente com ela, identificar o que está ocorrendo e, intervir precocemente de forma a auxiliá-la em sua recuperação. Pelo fato da reserva funcional da pessoa idosa ser progressivamente menor, a intervenção precoce torna-se essencial para a melhoria da qualidade assistencial.

É comum que, entre as pessoas idosas, certos conjuntos de situações ocorram com maior frequência e, a partir da análise minuciosa de cada uma dessas condições, é possível compreender seus prováveis determinantes.

Tais condições são denominadas “grandes síndromes geriátricas” ou os cinco “is” da geriatria, pois a cada uma dessas condições foi dado um nome iniciado pela letra “I”: Imobilidade, Instabilidade Postural, Iatrogenia, Insuficiência cognitiva e Incontinência. Posteriormente acrescentou-se mais uma condição denominada “Insuficiência familiar” e, mais recentemente ainda, incluiu-se a “síndrome de Fragilidade”, porém, nenhum nome iniciado por “i” foi encontrado para denomina-la.

É sobre isso que vamos conversar nesse momento.

O primeiro ponto que devemos lembrar é que, uma “síndrome” se caracteriza por múltiplas etiologias, ou seja, não existe uma causa única. Ela, geralmente, não causa risco iminente de morte, mas compromete, de forma significativa, a qualidade de vida da pessoa acometida. Dada a multiplicidade etiológica associada à síndrome, ela envolve terapêutica complexa e, de preferência, uma abordagem multidisciplinar. No entanto, ainda hoje, pela inadequada formação de muitos profissionais, as síndromes podem ser erroneamente, confundidas como parte do processo normal de envelhecimento e, por essa razão, não serem adequadamente tratadas.

Entendemos ainda que, talvez mais importante que apenas avaliar e acompanhar as doenças apresentadas pelos idosos, devemos avaliar e compreender o impacto dessas nas condições funcionais dos idosos ou seja, quão independente eles são para o desempenho de suas atividades cotidianas. Pudemos discutir como fazer uma avaliação funcional e entender seu significado. Hoje entendemos que as pessoas idosas com comprometimento no desempenho de suas atividades instrumentais de vida diária podem ter sua participação social igualmente comprometida e, em casos mais extremos, podem não mais ser capazes de residir sozinhas. Isso nos auxiliará a olharmos para os idosos de nosso território de outra forma e planejarmos nosso acompanhamento de maneira diferenciada. Entendemos também que, os idosos que apresentam dificuldades em suas atividades básicas de vida diária estão com dificuldades para seu autocuidado e, assim, requerem o auxílio de outra pessoa, da família ou não, mas necessitam de forma contínua ou intermitente, da presença de um cuidador. Conversamos detalhadamente sobre como orientar esse cuidador no desempenho dessas atividades de forma a facilitar seu dia a dia e garantir o melhor cuidado desse idoso. Como já tínhamos discutido sobre a avaliação das famílias, o papel dos cuidadores e a construção da relação de ajuda, sem dúvida, nosso trabalho agora está mais fácil de ser desempenhado, pois contamos com as ferramentas necessárias para melhor desenvolve-lo.

Com todos os itens que conversamos nesse período compreendemos que o cuidado adequado aos idosos e seus familiares se faz de maneira contínua interligando os diferentes atores envolvidos em uma construção conjunto, ao que denominamos linha de cuidado que, agora, podemos começar a desenvolver em nosso dia a dia.

Para complementar essa conversa sobre a construção do cuidado dispensado à pessoa idosa vamos finalizar conversando sobre as grandes síndromes geriátricas, ou seja, sobre condições multifatoriais que podem acometer as pessoas idosas e serem mais facilmente identificadas pelos profissionais. A partir dessa compreensão, podemos agora planejar nossa assistência de forma mais direcionada e aumentar a possibilidade de sucesso terapêutico.

GRANDES SÍNDROMES GERIÁTRICAS

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INSTABILIDADE POSTURAL

A Instabilidade Postural, independentemente de sua causa, aumenta o risco de ocorrência de quedas. Pode ocorrer em consequência de alterações no sistema locomotor (p.ex: alterações na marcha), no sistema vestibular (p.ex: vertigens, tonturas), no sistema sensorial (p.ex: diminuição da acuidade visual) e do sistema de propriocepção (capacidade de perceber o próprio corpo e seu entorno). A principal consequência dessa síndrome é a ocorrência de quedas que são devastadoras na vida das pessoas idosas.

Há alguns anos, a Secretaria do Estado de Saúde do Estado de São Paulo fez uma campanha de prevenção de quedas em idosos tendo como slogam “Cair de maduro é só para fruta”, considerando que cair na velhice, embora frequente, não é normal.

Queda pode ser definida como o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial com incapacidade de correção em tempo hábil, determinada por circunstâncias multifatoriais que comprometem a estabilidade (Associação Médica Brasileira, 2000). A queda é, geralmente, um evento sinalizador do início do declínio da capacidade funcional ou sintoma de uma nova doença ou agravo.

Porque a ocorrência de quedas em idosos é considerada um evento tão importante?

Porque é frequente e pode ser devastador, comprometendo a saúde e a independência dos idosos e podendo levá-los mais rapidamente ao óbito. Além disso, custa caro tanto para o Estado quanto para as famílias.

Estudos epidemiológicos apontam que 35% a 40% dos idosos com idade igual ou superior a 60 anos caem ao menos uma vez ao ano sendo que essa proporção aumenta para 50% entre os idosos longevos (≥ 80 anos). Em torno de 13% dos idosos caem duas vezes ou mais ao ano e são chamados de “caidores”. Depois de um ano, 20% dos denominados “caidores” recorrentes estão hospitalizados, institucionalizados ou morreram. Entre os idosos que sofreram quedas, de 30 a 75% sofrem lesões, de diferentes tipos, mas, a maioria não procura assistência a não ser em casos mais graves, como, por exemplo, quando ocorrem fraturas.

As fraturas constituem os desfechos mais graves relacionados às quedas. A fratura de quadril compreende cerca de 25% das fraturas pós-queda em idosos que residem na comunidade. No ano 2000, no município de São Paulo foi encontrada uma prevalência de 28,6% de quedas entre as pessoas idosas residentes na comunidade. A prevalência de quedas em contextos fechados, como Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs) ou hospitais, tende a ser três vezes maior (1,5 quedas/leito/ano).

Segundo dados do Ministério da Saúde, em fevereiro de 2000, a taxa de mortalidade hospitalar em consequência de quedas, foi de 2,6%. Essa taxa eleva-se dramaticamente com a idade, sendo que 70% das mortes ocorreram entre as pessoas com idade igual e superior a 75 anos.

A queda constitui uma das mais importantes causas de acidentes entre os idosos e a principal causa de morte na categoria “traumas externos”. Pesquisas mostram que, entre os idosos que sofreram queda há um aumento de aproximadamente 50% na mortalidade no ano subsequente à mesma. Alguns autores afirmam que metade dos idosos que sofrem fratura de quadril em decorrência da queda ficam incapacitados

A figura a seguir, nos auxilia a compreender a relação das grandes síndromes com o processo de envelhecimento:

Observa-se que a associação entre as alterações fisiológicas relacionadas à senescência, ou seja, ao processo “normal” de envelhecimento e, as relacionadas à senilidade ou, as associadas aos processos de doença que comumente acometem os idosos, pode levar às “grandes síndromes”. Na maioria das vezes, não estamos atentos para essas condições embora convivamos com os idosos diariamente. O que é mais comum é darmos mais atenção para o que se chama “epifenômenos”, ou seja, às condições agudas, decorrentes das síndromes, que acometem as pessoas idosas e, geralmente são as responsáveis pela procura dos serviços de saúde. São exemplos dessas condições as pneumonias e as fraturas pós quedas.

Uma síndrome geralmente leva à outra produzindo o que se denomina “efeito dominó” cujo significado final é a piora significativa da qualidade de vida da pessoa idosa e de seus familiares.

Fonte: Leme, 2010.

Vamos agora, conversar um pouco sobre cada uma das síndromes.

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Texto de Apoio Grandes Síndromes Geriátricas

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As desordens cardiovasculares são responsáveis por 77% da procura pelos serviços de emergência com histórico de quedas inexplicáveis, recorrentes e associadas às perdas de consciência inexplicáveis.

A síncope vaso vagal é uma síndrome mediata neurológica e pode ocorrer, em qualquer idade, em decorrência de situações geradoras de estresse (p. ex: dor ou trauma emocional), podendo levar à perda da consciência. A síndrome da carótida sinusal ou “ataque de queda” é uma doença que raramente ocorre antes dos 50 anos e tem prevalência desconhecida. Ocorre, geralmente, após manobras realizadas na carótida sinusal (lateralização da cabeça por um esforço, dor ou permanência em pé tempo prolongado) podendo ser acompanhada por amnésia ou perda da consciência. É mais frequente em homens e essa associação pode estar relacionada à maior prevalência de comorbidades cardiovasculares nesse grupo. A prevalência de hipotensão ortostática aumenta com a idade. A hipotensão pós prandial pode ser exacerbada na mudança postural. Sua prevalência é desconhecida assim como a morbi-mortalidade associada. Todos esses achados justificam a necessidade do desenvolvimento de intervenções que visem a prevenção desse agravo.

A denominada “marcha senil” também pode estar associada a maior ocorrência de quedas entre as pessoas idosas. Esse tipo de marcha representa uma tentativa de aumentar a estabilidade e a segurança ao caminhar. Caracteriza-se por base alargada, diminuição do balanço dos braços, postura encurvada, flexão de quadril e joelhos, passos mais curtos e maior lentidão ao caminhar.

As drogas psicoativas têm um efeito de lentificação de resposta, sonolência, hipotensão postural além de outros efeitos colinérgicos como, por exemplo, a visão turva. Já os anti-hipertensivos podem aumentar a chance de ocorrência de quedas devido a hipotensão postural. Assim, é fundamental que o profissional de saúde que atende pessoas idosas conheça os efeitos adversos associados aos medicamentos de forma a orientá-lo e assim, prevenir a ocorrência de quedas associadas aos mesmos.

Entre os fatores extrínsecos destacam-se os riscos ambientais como iluminação inadequada, pisos irregulares ou escorregadios, obstáculos no caminho (móveis, fios), tapetes soltos, ausência de barras de apoio em banheiros, ausência de corrimãos em escadas, roupas muito longas, calçadas inadequadas, uso inadequado de tecnologia assistida (andador, bengala ou cadeiras de rodas).

A maioria das quedas (70%) acontece na residência dos idosos, em especial no quarto, na cozinha, no banheiro e na sala de jantar. Cerca de 10% delas ocorrem nas escadas, sendo o primeiro e o último degrau os mais perigosos.

Os fatores situacionais ou comportamentais são representados por algumas atividades que podem aumentar o risco de ocorrência do agravo como, por exemplo, andar de meia, ir ao banheiro à noite com as luzes apagadas (porque acredita conhecer bem o ambiente), subir em cadeira ou banquinho para pegar objetos localizados em níveis elevados, andar apressadamente quando isso constitui um hábito, etc.

Conhecer o histórico das quedas (definir o tipo de evento, como, onde e quando ocorreu) é o primeiro passo para um adequado planejamento das intervenções e das medidas preventivas. O histórico de quedas é o maior preditor de futuras quedas entre as pessoas idosas. Para tanto é necessária uma avaliação criteriosa da queda ocorrida. Pode-se utilizar o seguinte roteiro:

e podem ser institucionalizados e, desses, 25% morrerão em menos de seis meses, o que mostra o impacto negativo desse agravo na sobrevida e na qualidade de vida da pessoa idosa. De 10 a 25% das quedas de idosos em instituições são acompanhadas por lesões e/ou fraturas, responsáveis pelo maior comprometimento de sua mobilidade e por internações mais prolongadas.

Não é incomum que as pessoas idosas omitam a informação referente à ocorrência de quedas para os profissionais de saúde, familiares ou cuidadores. Isso ocorre ou por não estarem conscientes dos riscos associados às quedas; ou porque as consideram eventos comuns; ou por terem receio de serem considerados frágeis ou, ainda, por considerarem tal relato constrangedor.

Atualmente, as quedas são consideradas “eventos sentinela” responsáveis pelo desenvolvimento de uma “cascata de problemas” após sua ocorrência:

P. ex: Uma pessoa idosa sofre uma queda acidental e desenvolve medo de cair novamente. Torna-se assim, mais insegura reduzindo as atividades físicas que costumava desenvolver. Isso provoca menor mobilidade que, por sua vez, pode culminar com maior declínio funcional. Este pode levar à perda da independência, repercutindo de forma significativa em sua qualidade de vida.

Vários estudos apontam que uma das mais importantes consequências das quedas é o desenvolvimento do “medo de cair” (ptofobia), seguido das fraturas, hospitalização precoce, imobilização, institucionalização, isolamento social, depressão e óbito.

As quedas geram sintomas como ansiedade e depressão além da perda de confiança na própria capacidade de andar com segurança em diferentes ambientes o que está associado ao declínio funcional, sentimentos de inutilidade, isolamento social e depressão. Cerca de 45% dos idosos que caem apresentam alguma limitação em suas atividades em decorrência de lesões físicas ou por medo de cair.

Os quadros depressivos não são incomuns e estão relacionados ao sentimento de impotência, desamparo e isolamento social, pela impossibilidade de se locomover, quadros frequentemente presentes entre os idosos que sofreram quedas com lesões, em especial fraturas. Alguns pesquisadores consideram que um dos determinantes primordiais da qualidade de vida da pessoa idosa é sua capacidade de deambulação. Estudo mostrou que, entre os idosos que sofreram quedas, 88,5% deles tinham receio de cair novamente, 24% sofreram fraturas,24,3% tiveram de abandonar suas atividades anteriores, 26,9% precisaram modificar seus hábitos e 23,1% desenvolveram a síndrome de imobilidade.

As causas associadas às quedas de idosos são multifatoriais e complexas, resultado da associação de fatores individuais e ambientais. Os principais riscos associados às quedas podem ser classificados em fatores intrínsecos; extrínsecos ou ambientais; situacionais ou comportamentais.

Os fatores intrínsecos estão relacionados às alterações fisiológicas advindas do processo de envelhecimento (ex: alterações no equilíbrio, estabilidade postural, diminuição da força, diminuição na acuidade auditiva e visual, alterações posturais), a presença de comorbidades e o uso de múltiplos medicamentos (polifarmácia).

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IMOBILIDADE

A Síndrome da Imobilidade (SI) envolve a incapacidade da pessoa idosa em se locomover/mobilizar sem o auxílio de outras pessoas podendo estar restrito ao leito ou a uma cadeira de rodas. É decorrente de um conjunto de alterações presentes após um período de imobilização prolongada que comprometem a independência e, consequentemente, a qualidade de vida da pessoa idosa. Entre os idosos residentes na comunidade estima-se uma prevalência de imobilismo em torno de 25%; após uma hospitalização prolongada, a prevalência eleva-se para 30% a 50% e, entre os idosos institucionalizados sobe para 75%.

As principais causas:

• Problemas osteoarticulares;

• Alterações cardiovasculares;

• Doenças respiratórias (DPOC);

• Reações adversas a medicamentos (neurolépticos, ansiolíticos, hipnóticos)

• Doenças neurológicas e psiquiátricas (demência, depressão, Parkinson);

• Desnutrição;

• Quedas anteriores;

• Isolamento social

A imobilidade prolongada gera um progressivo declínio funcional que atinge vários sistemas orgânicos. Tais alterações associadas às decorrentes do próprio envelhecimento acabam por ocasionar a SI que pode estar associada a várias complicações como desenvolvimento de úlceras por pressão, trombose venosa profunda, embolia pulmonar, isquemia arterial aguda, fraturas, incontinência, retenção urinária, infecções, atrofia muscular, encurtamento dos tendões, contraturas, constipação, delírio, inversão do ritmo do sono, depressão, entre outras.

A SI é muito difícil de ser revertida após sua instalação o que torna essencial as medidas preventivas tais como:

• Identificação dos fatores de risco

• Restrição do tempo no leito

• Iniciar fisioterapia passiva e ativa precocemente quando da presença de limitação funcional estimulando o idoso a fazer os exercícios o mais fre-quentemente possível;

• Iniciar deambulação precoce sempre precedida da fase em posição sentada

• Apoio nutricional e psicológico.

INCONTINÊNCIA ESFINCTERIANA

Entre as incontinências, a urinária é a mais comumente observada nas pessoas idosas. Isso não faz dessa condição algo “normal” na velhice, muito pelo contrário.

a) Histórico de quedas nos últimos 3 meses

b) Onde caiu?

c) O que fazia?

d) Sentiu algo antes de cair?

e) Conseguiu levantar-se sozinho(a)? Necessitou de mais de 5 minutos para se levantar?

f) Iniciou medicação nova ou alterou a dosagem de algum medicamento que costumava tomar?

g) Você toma mais de 4 medicamentos diferentes por dia?

h) Ingeriu bebidas alcoólicas antes da queda?

i) Tem alguma doença crônica que estava/está descompensada?

j) Como está sua capacidade funcional (capacidade em desempenhar de forma independente suas atividades do dia a dia)?

k) Foi ao oftalmologista recentemente?

l) Peça que descreva a casa e os ambientes onde costuma circular para avaliar riscos ambientais;

m) Verifique evidências de maus tratos incluindo abandono e autonegligência

As intervenções nas situações de ocorrência de quedas são multifatoriais. Exercícios programados com ênfase no treinamento de equilíbrio e marcha, modificações nos esquemas medicamentosos (aprazamento), tratamento de hipotensão postural, alterações no ambiente físico tornando-o mais seguro, e tratamento das desordens cardiovasculares são alguns exemplos.

Promover a saúde da pessoa idosa inclui medidas de prevenção de quedas onde se destacam:

a) Avaliação geriátrica ampla com medidas corretivas adequadas;

b) Racionalização do uso de medicamentos;

c) Redução do consumo de bebidas alcoólicas;

d) Avaliação da acuidade visual;

e) Avaliação nutricional;

f) Estímulo à atividade física para fortalecimento muscular, melhoria do equilíbrio e marcha e da amplitude articular, aumento da flexibilidade e alongamento;

g) Correção de fatores de risco ambientais (p. ex: barras de apoio no banheiro, piso antiderrapante no banheiro e cozinha);

h) Conscientização e modificação de comportamentos de risco

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Devemos lembrar que o intestino sofre várias alterações com o processo de envelhecimento que podem ocasionar maior prevalência de constipação, neoplasias e doença diverticular. Alterações na inervação intestinal e na musculatura podem ocasionar a diminuição dos movimentos que impulsionam o bolo fecal.

Não é incomum que idosos com impactação fecal (fecaloma) queixem-se de perda de “fezes líquidas” que nada mais são do que muco eliminado pelo ânus produzido pelo intestino na tentativa de “empurrar” as fezes impactadas. O desconhecimento desse tipo de situação pode levar a uma conduta errônea como o tratamento da perda fecal como diarreia o que pioraria significativamente o quadro apresentado.

O tratamento deve ser feito com o uso de enemas, laxativos, uso de fibras e aumento na ingestão de líquidos.

IATROGENIA

Iatrogenia refere-se a um estado de doença, efeitos adversos ou complicações causadas por ou resultantes do tratamento em saúde. Em farmacologia, o termo iatrogenia refere-se a doenças ou alterações criadas por efeitos adversos associados aos medicamentos.

O termo deriva do grego iatros (médico, curandeiro) e genia (origem, causa), e pode aplicar-se tanto a efeitos bons como ruins. Desde o tempo de Hipócrates reconhece-se o potencial efeito lesivo das ações de uma pessoa que tenta curar.

Condições iatrogênicas não resultam necessariamente de erros médicos, tais como falhas durante uma cirurgia, ou a prescrição do medicamento errado. De fato, tanto os efeitos intrínsecos como os derivados de um tratamento médico podem ser iatrogênicos. Por exemplo, a radioterapia ou quimioterapia, devido à agressividade necessária dos agentes terapêuticos, causam perda de cabelo (alopécia), anemia, vômitos e náuseas, entre outros. Estes efeitos são iatrogênicos porque são consequências do tratamento médico.

Há situações onde pode realmente ocorrer negligência ou falhas nos procedimentos, como quando uma prescrição com má caligrafia leva à dispensa do medicamento errado podendo levar a efeitos danosos ao paciente tratado.

Uma causa muito comum de efeitos iatrogênicos é a interação medicamentosa, que ocorre quando um ou mais medicamentos alteram os efeitos de outros que estão sendo tomados pelo paciente, aumentando ou diminuindo a sua ação.

Efeitos adversos como reações alérgicas a medicamentos, mesmo quando inesperadas, são uma forma de iatrogenia. Em relação às pessoas idosas, as interações medicamentosas que ocasionam reações adversas a medicamentos (RAM) constituem as principais condições iatrogênicas.

Entre os idosos essas situações podem ocorrer com maior frequência dado o uso de múltiplos medicamentos e, muitas vezes pela presença da denominada polifarmácia (uso de 5 ou mais medicamentos diferentes). Por outro lado, a iatrogenia também pode estar associada ao uso das denominadas drogas potencialmente impróprias para pessoas idosas integrantes da lista de BEERS.

Ela representa uma alteração que deve ser investigada e tratada dado seu impacto na qualidade de vida das pessoas acometidas.

A incontinência urinária tem importante impacto social gerando estigma social capaz de causar restrições das atividades sociais, isolamento e depressão.

Com o envelhecimento há uma redução da contratilidade e da capacidade de armazenamento vesical, diminuição da habilidade em retardar a micção, aumento do volume residual e surgimento de contrações não inibidas pelo músculo detrusor.

A próstata é uma “esfera” que abraça a uretra e quando ocorre seu aumento ocorre simultaneamente um estrangulamento da uretra o que dificulta a passagem da urina. Nos homens, a hipertrofia da próstata é comum, resultando em retenção urinária, incontinência e maior tendência à ocorrência de infecção do trato urinário.

As mulheres idosas, em especial as multíparas, podem apresentar incontinência por estresse ou seja, liberação involuntária de urina quando do aumento da pressão intra-abdominal (tossir, espirrar, carregar peso, gargalhar) em decorrência do enfraquecimento da musculatura pélvica e da bexiga. Pode ainda ocorrer outros tipos de incontinência (urgência, funcional, hiperfluxo e mista), mas isso não deve ser considerada uma alteração normal do envelhecimento.

Cerca de 1/3 das pessoas idosas com incontinência apresentam causas reversíveis como delirium, infecção urinária, uretrite e vaginite atróficas, restrição da mobilidade, aumento da diurese, fecaloma, distúrbios psíquicos, uso de determinados medicamentos (diuréticos, sedativos, antidepressivos, analgésicos opióides, antipsicóticos) ou substâncias (cafeína, álcool).

Toda pessoa idosa com queixa de perda involuntária de urina deve ser -se a história da incontinência e seu impacto social. Perguntas como: quando começou, é intermitente ou contínua, ocorre de dia ou à noite, a caminho do banheiro e/ou durante algum esforço; se houve aumento da frequência miccional, se há dor à micção, se há perda involuntária de urina dormindo, qual o intervalo entre as micções, se, após urinar sente que o esvaziamento da bexiga foi insuficiente, quais as características do jato urinário, tem constipação intestinal, quais os medicamentos que utiliza, o banheiro é próximo e de fácil acesso, tem outras doenças, devem ser incluídas.

O tratamento da incontinência deve ser personalizado para cada idoso. Deve-se investigar a(s) causa(s) tratando-se as reversíveis. Os tratamentos farmacológicos e os cirúrgicos são de indicação médica e feitos após minuciosa avaliação.

Também devem ser utilizados os tratamentos não farmacológicos que envolvem modificações ambientais e técnicas corporais. As primeiras visam facilitar o acesso ao banheiro e tornar mais fácil e seguro seu manuseio (iluminação adequada, barras de apoio). A segunda envolve a realização de exercícios para fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico (treinamento vesical, exercícios de Kegel, cones vaginais, biofeedback e eletroestimulação) e a criação do hábito miccional (ir ao banheiro em intervalos regulares independente da vontade de urinar). O uso de tampões uretrais, absorventes e fraldas podem ser grandes aliados na melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa.

Mais rara, porém presente é a incontinência fecal (IF). Dados do Estudo SABE mostram que 7% das pessoas idosas residentes no município de São Paulo referem a presença de IF.

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da vida, mas é insuficiente para inviabilizar completamente os projetos de vida da pessoa que preserva o interesse em algumas atividades. A perda geradora da tristeza é gradativamente superada e permite uma vida psíquica normal.

Já a depressão caracteriza-se pela presença de humor deprimido (sensação de vida vazia, irritabilidade, emotividade excessiva, choro frequente, considera-se um peso para a família e acha a morte uma solução); perda de interesse ou prazer com as atividades que antes eram agradáveis; perda ou ganho significativo de peso; insônia ou hipersonia; agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada; diminuição da capacidade de concentração, pensamentos recorrentes de morte ou ideação suicida.

A prevalência de depressão nas pessoas idosas varia de 10% (idosos da comunidade) a 30% (residentes em ILPIs). É ainda sub diagnosticada e, por essa razão, sub tratada nesse grupo. Requer atenção dos profissionais de saúde, pois compromete significativamente a qualidade de vida das pessoas idosas e de seu entorno familiar.

O delirium é de instalação aguda e caracteriza-se pela presença de alterações do nível de consciência e pelo comprometimento global das funções cognitivas (memória, percepção, linguagem, etc). Geralmente está associado a quadros infecciosos e alterações metabólicas que devem ser investigadas e tratadas. Uma vez tratada a causa, tendem a desaparecer. A principal pergunta a ser feita para auxiliar na identificação do problema é “há quanto tempo a pessoa idosa está apresentando o quadro”. Instalações repentinas sugerem a presença de delirium.

Doenças mentais de início tardio também podem comprometer a cognição das pessoas idosas. As mais comuns são parafrenia tardia (quadro intermediário entre a esquizofrenia e a paranoia), esquizofrenia residual e oligofrenia, as duas últimas com histórico de doença mental prévia.

DEMÊNCIAS

Demência é o nome dado ao conjunto de alterações que ocorrem no cérebro das pessoas modificando suas capacidades intelectuais. O termo “demência” significa que a pessoa apresenta déficits de memória associados com dificuldades em pelo menos um outro setor, de intensidade suficiente para restringir as atividades diárias. Antigamente, quando as pessoas idosas apresentavam esse tipo de problema diziam que estava “esclerosada” ou pior, que estavam “caducando” e achavam que isso era normal, simplesmente porque elas eram velhas. Existem vários tipos de demência, mas a mais frequentemente observada nas pessoas idosas é a Doença de Alzheimer nome esse atribuído ao médico psiquiatra alemão Alois Alzeimer que, em 1907, identificou mudanças no tecido cerebral de uma mulher (Sra August D.) que havia morrido de uma rara doença mental.

Caracteriza-se como uma doença crônica, degenerativa e progressiva e, ainda hoje, incurável. Gradativamente as pessoas acometidas por essa doença vão apresentando problemas de memória, dificuldades no raciocínio (não conseguem resolver problemas do dia a dia), desorientação temporal (dia, mês e ano em que estamos), dificuldade com operações matemáticas (fazer contas), dificuldade de linguagem e alterações de comportamento (agitação, alucinações, delírios, etc).

Para minimizar essas ocorrências, alguns cuidados são necessários com as prescrições das pessoas idosas:

a) Esteja atento à presença de reações adversas e tratamentos desnecessários;

b) Considere a adesão, a informação e o tipo de embalagem do medicamento (pode confundir os idosos) e escolaridade da pessoa idosa;

c) Investigue a automedicação;

d) Atenção ao aprazamento entre as drogas (amplos intervalos entre as doses);

e) Revise a prescrição em todo atendimento do idoso e relembre com ele a indicação de cada medicamento;

f) Investigue reações adversas potenciais;

g) Esteja atento a possíveis interações medicamentosas.

INSUFICIÊNCIA COGNITIVA

Entende-se por cognição o conjunto de funções cerebrais formadas pela memória (armazenamento das informações), função executiva (capacidade de planejamento, antecipação, sequenciamento e monitoramento de tarefas complexas), linguagem (compreensão e expressão da linguagem escrita e oral), praxia (capacidade de executar um ato motor), gnosia (capacidade de reconhecimento de estímulos visuais, auditivos e táteis) e função visuo-espacial (capacidade de localização no espaço e percepção das relações entre os objetos). O funcionamento integrado dessas diferentes funções permite que os indivíduos interajam entre si e com o mundo buscando resolver as situações e dificuldades cotidianas (capacidade de decidir) que juntamente com nosso humor (motivação) são responsáveis pela manutenção da autonomia da pessoa idosa.

A senescência não afeta a cognição de forma significativa. As alterações que ocorrem, como já vimos anteriormente, levam a uma lentificação do processo cognitivo, redução da atenção, maior dificuldade no resgate das informações apreendidas e redução da memória prospectiva e contextual (dificuldade com detalhes) o que não acarreta prejuízo importante no desempenho das atividades cotidianas.

A incapacidade cognitiva é um diagnóstico sindrômico que envolve esquecimento confirmado por familiares, dificuldade no desempenho de atividades cotidianas e alteração na triagem cognitiva. Está associada a quatro grandes causas:

a) Demência

b) Depressão

c) Delirium

d) Doença mental.

As pessoas idosas podem apresentar desordens depressivas caracterizadas pela baixa do humor e variabilidade na gravidade. Existe depressão sintoma e depressão doença. A tristeza é um sentimento que pode estar presente em vários momentos

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20 anos antes dos primeiros sinais e sintomas perceptíveis. Iniciam os primeiros sintomas de perda de memória, ainda pouco significativos;

b) Estágio inicial: nessa fase a doença começa a afetar o córtex cerebral, a perda de memória continua a evoluir e outras habilidades cognitivas começam também a ser afetadas. Normalmente é nessa fase que é feito o diagnóstico clínico. Os principais sinais incluem: perda de memória, dificuldade em se localizar no espaço (ao sair de casa pode não conseguir voltar), demora mais tempo para desempenhar as atividades do dia a dia que sempre fez; apresenta problemas para administrar as finanças e pagar as contas; dificuldades de julgamento frente a problemas levando-o a decisões ruins; perda espontaneidade e do senso de iniciativa; mudanças de humor e de personalidade que podem aumentar a ansiedade. Nessa fase a pessoa pode ainda parecer saudável, mas começa a apresentar dificuldades no desempenho de atividades mais complexas no dia a dia.

c) Estágio moderado: fase em que a doença avança para outras áreas do córtex cerebral que controlam a linguagem, raciocínio, processamento sensorial e consciência. As regiões afetadas ficam mais atrofiadas continuam a se atrofiar e os sinais e sintomas da doença tornam-se mais pronunciados. É a fase em que os problemas comportamentais, como agitação e perambulação, podem ocorrer exigindo maior supervisão e cuidado. Os familiares geralmente têm muita dificuldade em lidar com essa fase. Os principais sinais e sintomas observados são: perda de memória mais acentuada; confusão mental; dificuldade em manter a atenção; problemas no reconhecimento de amigos e familiares; dificuldade com linguagem; problemas com leitura e com números; dificuldade em se organizar e pensar com lógica; incapacidade em aprender novas coisas ou em lidar com situações inesperadas, agitação, perambulação, dificuldade em repousar, medo e ansiedade, especialmente ao entardecer; alucinações, ilusões, irritabilidade, desconfiança ou paranoia; perda de controle dos impulsos (uso de linguagem vulgar; despir-se em locais e momentos inadequados, utilizar modos não aceitos socialmente); problemas de percepção espacial (dificuldade em levantar da cadeira ou se posicionar na mesa). O comportamento do ser humano é resultado de complexos processos cerebrais. Na DA esse processo é afetado ocasionando situações estressantes ou comportamentos inapropriados. Por exemplo: a pessoa idosa pode reagir furiosamente recusando-se a tomar banho ou a trocar de roupa simplesmente porque não está compreendendo o que o cuidador está pedindo a ele e, se ele entender, pode não se lembrar de como fazer isso. A fúria é uma forma de mascarar a ansiedade ou a confusão; para a pessoa idosa faz sentido tirar a roupa quando sente calor, o que ela não entende ou se lembra é que isso não é aceitável que isso seja feito em locais públicos.

d) Estágio avançado: é o último estágio da DA, há várias áreas do cérebro atrofiadas. As pessoas não mais conseguem reconhecer familiares e pessoas queridas ou se comunicar com os outras; são completamente dependentes da ajuda de outras pessoas. Outros sintomas incluem: perda de peso; dificuldade em deglutir (engolir); infecções de pele; gemidos constantes; maior sonolência; incontinência urinaria e fecal. Geralmente ficam acamados parte ou todo o

Esses problemas interferem no desempenho das atividades cotidianas do próprio idoso e das pessoas que o cercam. Ela é entendida como um grupo de sintomas que frequentemente acompanham a doença ou condição. Sua causa ainda não está completamente esclarecida.

Embora a Doença de Alzheimer (DA) seja mais frequentemente observada em pessoas idosas, ela não é própria do envelhecimento, pois pode acometer pessoas em qualquer período da idade adulta. Assim, é uma doença que se associa à idade, mas não é devida à idade. Nessa doença ocorre a morte de células do sistema nervoso (neurônios) iniciando-se em uma região do cérebro ligada à memória. Com o avançar da doença a morte celular vai se expandindo para outras áreas do cérebro e comprometendo outras habilidades intelectuais e de comportamento. A evolução da doença pode variar de três anos (em pessoas com diagnóstico aos 80 anos) até dez ou mais anos se o diagnóstico ocorrer em idades mais jovens.

As primeiras queixas são sempre relacionadas à memória (esquece compromissos, onde colocou as chaves, os óculos, esquece alimentos no fogo e mesmo com o cheiro de queimado não se lembra que os deixou lá, esquece recados, pagamento de contas, aniversários, etc). Como muitas pessoas, sem a doença, também podem apresentar parte ou muitos desses esquecimentos, essa queixa não é valorizada pelo próprio idoso ou por seus familiares. Como esses esquecimentos vão se acentuando isso pode gerar quadros de ansiedade ou depressão.

Esses sintomas vão se somando a outros, como dificuldade em aprender novas tarefas, lidar com tarefas que exijam raciocínio ou operações matemáticas. Tarefas que habitualmente eram feitas em problemas podem começar a se tornar penosas. Podem apresentar dificuldades em dizer o nome das coisas, ele vê uma colher, sabe pra que ela serve, é capaz de descrever, mas não consegue nominá-la ( ele diz ...aquilo que usamos para tomar sopa...).

De modo geral, as primeiras atividades cujo desempenho é comprometido pela doença, são as mais complexas (administração de finanças, uso de transportes públicos, dirigir um carro, fazer compras, preparar uma refeição), as atividades que costumava fazer (pequenos consertos domésticos, costura, bordado) e, posteriormente, as atividades mais simples (vestir-se, banhar-se, etc).

Essas queixas serão confirmadas por exames neuropsicológicos específicos para avaliar a memória, a linguagem, a capacidade de cálculo, o raciocínio, o julgamento entre outros. O diagnóstico definitivo, no entanto, só pode ser feito por biópsia cerebral ou autópsia. Isso normalmente não é feito, a biopsia pelos riscos e por não trazer nenhum benefício ou modificação ao tratamento da pessoa e a autopsia só em feita após o óbito (ajudará para pesquisa, mas não para o tratamento da pessoa idosa de quem cuidamos).

COMO EVOLUI A DOENÇA DE ALZHEIMER?

Embora o curso da DA não seja o mesmo para todas as pessoas, os sintomas desenvolvidos na maioria das vezes, seguem os mesmos estágios gerais.

a) Estágio pré-clínico: regiões do cérebro ligadas à memória de curto e longo prazo começam a ser afetadas. Essas mudanças possivelmente se iniciam 10 a

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ela não é motivo de preocupação, pois acidentes sempre podem ocorrer. Fazer uma revisão da casa buscando controlar ou minimizar situações de possível perigo é, assim, recomendável;

2. Adaptação do ambiente: será mais fácil modificar o ambiente do que mudar a maioria dos comportamentos;

3. Redução do perigo: reduzindo o perigo pode-se aumentar a independência. Um ambiente seguro pode ser menos restritivo e a pessoa idosa poderá circular com mais segurança e liberdade.

ALGUNS LEMBRETES

• Coloque os telefones de emergência e o endereço de sua casa ao lado de todos os telefones existentes na casa;

• Coloque uma secretaria eletrônica para atender ao telefone quando não puder fazê-lo e programe-a para fazê-lo ao menor número de chamadas possível. A pessoa idosa com DA pode não estar capacitada a receber re-cados e pode ser vítima de trotes maldosos que podem ocasionar uma rea-ção catastrófica (ver mais adiante). Guarde aparelhos celulares em locais seguros para que não se percam;

• Instale alarme de incêndio em todos os cômodos da casa;

• Evite o uso e a existência no interior da casa de produtos inflamáveis ou voláteis;

• Instale fechaduras de segurança em todas as portas e janelas que dão para o exterior;

• Guarde do lado de fora da casa, em local seguro, uma chave reserva, pois a pessoa idosa com DA pode trancar a porta e deixá-lo para fora;

• Procure não deixar fios elétricos pelo caminho; proteja as tomadas com dispositivos apropriados;

• Certifique-se que todos os cômodos contam com iluminação adequada;

• Instale interruptores de luz no início e no final das escadas;

• As escadas devem ter, no mínimo, um corrimão que vá do primeiro ao úl-timo degrau;

• Guarde todos os medicamentos em local seguro e trancado;

• Mantenha bebidas alcoólicas trancadas em local seguro e fora do alcance da pessoa idosa;

• Mantenha o ambiente organizado, a desordem pode levar à confusão;

• Retire móveis ou enfeites dos locais de circulação da pessoa idosa;

• Guarde sacolas plásticas em locais seguros e trancados (a pessoa pode acidentalmente asfixiar-se);

tempo o que propicia a instalação de quadros infecciosos como, por exemplo, pneumonia, que poderão levá-la a óbito.

No conjunto, a evolução da doença é progressivamente lenta, mas a pessoa pode apresentar períodos nos quais seu estado fica estável (platôs) que podem durar meses e, às vezes anos, após os quais pode ocorrer uma piora brusca.

Quadros de piora brusca também podem estar associados à ocorrência de outros problemas de saúde que o doente não saberá explicitar. Assim, na vigência dessas situações, sempre é necessário investigar.

Hoje existem algumas medicações para tratamento da DA, elas não vão curá-la, vão apenas tornar sua progressão mais lenta. Sua associação com outras medicações vai permitir o controle dos sintomas associados como alterações de comportamento, agressividade, agitação, depressão e apatia.

A pessoa idosa com DA pode também ser portadora de uma ou mais doenças crônicas simultâneas (hipertensão, diabetes, etc) que continuam a requerer o mesmo acompanhamento de antes do diagnóstico da demência. Se isso não for feito, tais doenças poderão descompensar agravando a sintomatologia apresentada.

Se a opção da família for manter a pessoa idosa com DA em sua casa ou na casa de algum parente é necessário que sejam algumas medidas de segurança sejam providenciadas para evitar a ocorrência de acidentes.

CONDIÇÕES GERAIS DE SEGURANÇA

Com o avançar da doença as pessoas idosas tornam-se cada vez menos capazes de se cuidarem sozinhas e em segurança. Alguns princípios de segurança gerais podem ser úteis:

1. Prevenção de riscos: é muito difícil antecipar o que uma pessoa com DA pode fazer. O fato de ainda não ter acontecido nada de mais grave não significa que

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• Coloque uma cadeira ou banco de plástico no interior do box para facilitar o banho, instale chuveirinho manual;

• Prefira chuveiros elétricos que utilizam uma só chave para mistura da água. Aquecedores com entradas separadas para água fria e quente po-dem ser motivo de acidentes;

• Coloque ralo com filtro na pia para evitar a perda de pequenos objetos;

• Mantenha uma luz noturna acesa no banheiro durante a noite;

• Retire do banheiro todos os aparelhos elétricos pequenos;

• Proteja as tomadas com protetores específicos;

SALA

• Retire fios soltos de todas as áreas de circulação;

• Retire tapetes soltos;

• Repare o assoalho se apresentar algum piso solto;

• Identifique todas as estruturas de vidro com um decalque contrastante;

• Guarde em local seguro controles remotos, aparelhos de som, DVDs, etc

COMPREENDENDO OS DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO

Os portadores de DA por não conseguirem expressar seus sentimentos e emoções como outras pessoas fazem, pode recorrer a comportamentos não usuais ou até estranhos, chegando, às vezes, a ser perigosos. Embora muito difícil e complexo, é importante tentar compreender o significado desses comportamentos. A maneira como o cuidador reage aos comportamentos do idoso refletem no mesmo. Se o cuidador está irritado, cansado e zangado (muitas vezes com razão), ele, provavelmente, se sentirá da mesma forma. É importante que se compreenda que essas reações não são intencionais ou pessoais. Ele não as tem “de propósito”.

ALGUMAS DICAS...

Perambulação: Esse costuma ser um comportamento frequente; pode expressar inquietação, insegurança ou falta de atividade física.

“ele caminha sem parar, de um lado para outro do quarto”

“ele fica, à noite, andando ao redor da mesa, por horas seguidas”

O que fazer?

Embora esse comportamento possa ser muito irritante para o cuidador, ele, em si, não causa nenhum mal ou coloca a pessoa em perigo. Deixe-o andar. Se isso acontecer à noite e ele residir em um apartamento, providencie um calçado confortável com solado de borracha para não fazer barulho e incomodar os vizinhos do andar de

• Retire da casa armas de fogo;

• Guarde todas as ferramentas e materiais elétricos na parte externa da casa;

• Elimine plantas venenosas do interior da casa;

• Se tiver aquários, mantenha-os fora de alcance.

COZINHA

• Instale fechaduras de segurança nas portas dos armários e nas gavetas onde existirem materiais cortantes, perfurantes ou quebráveis;

• Guarde em local seguro fósforos, produtos de limpeza, facas, talheres, louça valiosa;

• Não utilize nem armazene líquidos inflamáveis na cozinha;

• Mantenha uma luz noturna acesa na cozinha durante a noite;

• Guarde pequenos objetos em uma gaveta trancada (a pessoa idosa com DA pode confundi-los com alimentos);

• Retire frutas e verduras artificiais da cozinha bem como enfeites de gela-deira com aparência de produtos comestíveis;

QUARTOS

• Mantenha uma luz noturna acesa no quarto durante a noite;

• Mantenha um intercomunicador ligado no quarto da pessoa idosa com DA (daqueles que se utiliza no quarto de bebês) para avisá-lo de qualquer ruído que indique queda ou necessidade de ajuda;

• Retire ventiladores ou aquecedores portáteis;

• Encoste a cama na parede ou, em último caso, coloque o colchão no chão (para evitar quedas);

BANHEIRO

• Nunca deixe o idoso com DA, sozinho no banho;

• Retire a fechadura interna do banheiro para evitar que o idoso se tranque em seu interior;

• Coloque tapetes antiderrapantes no interior do box e na frente do lavabo;

• Eleve o assento do vaso sanitário ou coloque barras de apoio a seu lado;

• Instale barras de apoio no chuveiro preferencialmente de cores contras-tantes com a parede;

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mais sair. Ele passa a reagir menos aos eventos felizes ou infelizes (arrefecimento afetivo). Ele tende a aumentar com o avançar da doença e a comprometer as atividades do dia a dia. Isso tende a afetar também suas relações sociais e familiares aumentando seu isolamento.

O que fazer?

Avalie a capacidade remanescente do doente e proponha atividades programadas que ele consiga desempenhar. Essas atividades podem fazê-lo se sentir útil e integrado. Busque as atividades que lhe dão prazer e faça-as junto com ele. Mas avalie bem, pois se ele não conseguir desempenhar a atividade isso pode induzi-lo a perceber seu fracasso aumentando a angústia ainda mais. Evite que ele faça o que não se sente capaz de fazer. Não o coloque em situações de hiperestimulação, dê-lhe tempo para entender o que lhe foi solicitado e para que tente responder. Valorize seus sucessos, mesmo que mínimos.

Inquietação, nervosismo: As dificuldades apresentadas pelo doente no dia a dia modificam sua autopercepção e geram angústia. A desorientação (no tempo e no espaço) gera insegurança e ansiedade. No início da doença ele tem dificuldade em entender o que está acontecendo e entra em pânico por seus lapsos de memória e por perder a confiança em si mesmo. Com o avançar da doença, ele pode se sentir frequentemente diante de um fracasso, pois já não sabe avaliar o que é ou não capaz de fazer e tem medo que as pessoas o julguem um incapaz.

O que fazer?

Não tente argumentar ou explicar. Procure transmitir-lhe calma e tranquilidade (atenção ao tom de voz e postura corporal), se ele perceber que você está irritado com a situação, isso vai deixá-lo ainda mais nervoso. As palavras são importantes, mas podem não ser suficientes, toque-o gentilmente mostrando seu afeto. Fique a seu lado e procure fazer com ele as tarefas que o angustiam. Procure melhorar a autoestima do doente elogiando-o quando arrumado e limpo, ressaltando seus feitos manuais ou artesanais ou suas tarefas concluídas. Isso mostra reconhecimento e atenção e transmite confiança.

Alucinações e ideias delirantes: A pessoa idosa com DA pode referir que vê, ouve ou sente coisas, pessoas ou animais que não existem (alucinações) na realidade ou ainda pode referir temor ou expressar pensamentos que não condizem com a realidade (ideias delirantes). Geralmente as alucinações são visuais, simples ou muito elaboradas. Podem também ser auditivas (ouve a mãe chamando, alguém falando, etc). Na maioria das vezes são fenômenos transitórios. Podem ser favorecidas por comprometimentos sensoriais (redução da visão ou da audição). As consequências das alucinações dependem de sua natureza e de como são vivenciadas tanto pelo doente quanto por quem o cerca. Alucinações acompanhadas de agitação podem estar associadas a um evento clínico e o médico deve ser comunicado. As ideias delirantes representam uma interpretação equivocada de uma situação vivida. As mais comuns são roubo, ciúme ou está convencido que querem se livrar dele. Elas se caracterizam como uma convicção absoluta e inabalável do doente que ele pensa serem verdadeiras. Elas resistem a qualquer prova em contrário ou evidencias da realidade. Elas são geralmente transitórias e limitadas a um campo determinado, Normalmente não evoluem para um delírio que toma conta da vida do doente. Não se sabe sua causa, mas sabe-se que estão associadas às lesões cerebrais ocasionadas pela doença e, também, à dificuldade do doente em interpretar a realidade em

baixo. Reorganize o ambiente de forma a permitir que ele tenha espaço para andar sem ficar se chocando com móveis ou outros obstáculos. Se for um comportamento constante procure organizar caminhadas externas com ele, preferencialmente à tarde, em lugares pouco agitados.

Perguntas repetitivas: Esse é outro comportamento frequente e igualmente perturbador. Ele faz sempre as mesmas perguntas mesmo quando o cuidador acabou de respondê-la. Ele também pode repetir as mesmas frases e gestos constantemente. É preciso entender que o problema de base dessa pessoa é a memória. Ele repete as perguntas por que não memorizou as respostas. Cada vez que ele pergunta, para ele é como se fosse a primeira vez. Esse comportamento também pode expressar insegurança e ser a tradução de um pedido de ajuda. É uma forma de chamar a atenção do cuidador. Ações ou frases repetitivas podem expressar aquilo que ainda ele consegue fazer e que, de alguma forma o interessa ou o preocupa. Assim, uma mãe com DA pode falar ao telefone com o filho todos os dias, em diferentes momentos e sempre perguntar se ele se alimentou (independente da hora), se dormiu, se está bem.

O que fazer?

Não adianta se irritar ou tentar argumentar, apenas responda e entenda que é o máximo de elaboração que ela está conseguindo chegar. Não adianta dizer que você “já respondeu mais de 20 vezes”, isso só vai aumentar a insegurança do doente. É um comportamento, de fato, cansativo, monótono e irritante, mas não gera perigo algum. Deixe-o perguntar. Procure responder à pergunta de forma clara e precisa, lenta e articuladamente e peça que ele repita o que você disse.

Se a pergunta repetitiva estiver relacionada à hora (que horas são?), procure responder relacionando-a com alguma atividade (é hora do almoço, do jantar, de tomar banho, etc). A atividade ainda pode servir como uma referência de tempo enquanto o valor da hora provavelmente perdeu seu significado concreto.

Ele(a) o(a) segue por toda parte: Você pode representar a única referência de segurança que ele ainda tem, o resto do mundo pode parecer hostil e ameaçador. Pode também ser um comportamento “mimético”, ou seja, o doente reproduz os gestos, atitudes, idas e vindas do seu cuidador. Isso ocorre pela evolução da doença onde o doente perde sua autonomia em relação ao ambiente e passa a imitar o comportamento das pessoas ao seu redor, é um comportamento de dependência social. Pode ainda representar a angústia que sente em ficar sozinho.

O que fazer?

Procure entretê-lo com algum tipo de atividade que ele gosta de fazer e que o distrai. Momentaneamente ele vai esquecê-lo, mas permanecerá tranquilo porque sabe que você está por perto. Tente descobrir outras pessoas ou parentes com quem ele se sente tranquilo e veja a possibilidade de essas pessoas virem, rotineiramente, visitá-lo. Isso o auxiliará a manter outros vínculos e não se sentir inseguro na sua ausência. Acostume-o também a ficar sozinho em alguns momentos.

Apatia ou tristeza: Ele poderá se apresentar assim em diferentes momentos, em especial quando for ficando cada vez mais dependente. Pode representar um mecanismo de defesa contra o fracasso. Pode começar a apresentar uma menor reação às circunstancias emocionais, não quer fazer nada, nada o agrada, não quer

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Não significa que houve uma falha no cuidado, apenas evolução da doença. Pode ocorrer que ele reconheça a foto da esposa no álbum de casamento, mas não reconheça a mulher que está a seu lado como sendo ela. Ele pode olhar no espelho e conversar com sua imagem como se fosse um estranho ele pode até achar que as pessoas que vê na televisão são personagens reais e iniciar uma conversa com eles.

O que fazer?

É necessário explicar aos familiares que sofrem muito com essas situações por mais que entendam que isso é causado pela doença. Oriente-os a não tentar argumentar, não guardar rancor, não se torturar e, acima de tudo não repreendê-lo. Lembre-os da inutilidade em ficar repetindo o nome e o papel das pessoas, ele não será capaz de fixar. Às vezes essas situações são transitórias, oriente-os a sair brevemente do ambiente e, retornar depois, pois isso pode bastar para minimizar a situação.

Ele troca o dia pela noite: Isso pode acontecer por várias razões. Com o envelhecimento, a pessoa tende a dormir menos horas. Ela pode apresentar períodos de sonolência durante o dia e o cuidador permitir que ela durma por longos períodos o que vai interferir no sono noturno (pequenos cochilos não são ruins); ela pode ainda não ter nenhum gasto energético durante o dia (falta de atividade física). Pode acordar à noite e se sentir desorientada e perdida ficando com medo, inquieta e ansiosa.

O que fazer?

Mantenha uma programação rotineira de atividades durante o dia, pois assim, à noite, ele estará fisicamente mais cansado. Assegure-se que o quarto é um ambiente calmo e acolhedor onde o idoso se sente confortável e em segurança. Tranque portas e janelas que dão acesso à rua ou ao exterior da casa ou apartamento. Instale uma lâmpada noturna para que, ao acordar, ele consiga perceber o ambiente onde está. Programe passeios mais longos, mas de forma bem planejada e preferencialmente à tarde. Cerifique-se que ele esvaziou a bexiga antes de deitar. Caso ele levante e você não veja, ao perceber procure se aproximar dele com calma, de frente, olhando em seus olhos, falando delicadamente e lembrando-o quem você é. Mostre-lhe que está escuro, não adianta dizer “que é noite”, pois isso pode não ter mais nenhum significado. Converse calmamente com ele e tente levá-lo de volta ao quarto. Caso ele insista em ficar acordado, proponha alguma atividade para entretê-lo.

Reações catastróficas: A pessoa com DA gradativamente vai perdendo a noção de tempo e de espaço assim ela pode não saber onde está, se é dia ou noite, que horas são, etc. Isso o deixa muito inseguro e desorientado. Ele pode reagir desproporcionalmente às situações apresentadas gritando, chorando, batendo o pé ou até se tornando agressivo. A agressividade verbal é mais frequente que a física. Ele age assim porque não consegue adequar sua reação à situação que vivencia, ele vê ameaça e perigo onde não existem e apenas reage a essas sensações que, para ele são reais.

O que fazer?

Para o cuidador essas são situações sempre difíceis de lidar, pois cansam, estressam e magoam. O cuidador sempre fica se perguntando o que ele fez para desencadear essa situação. Muitas vezes não fez nada ou, fez algo que foi inadequadamente interpretado. Quando ocorrer esse tipo de situação procure manter a calma e tente controlá-la. Não grite com o idoso ou o segure com força, pois ele pode se sentir

decorrência de sua desorganização mental. Ideias de roubo ou ciúme podem afetar as relações afetivas, diminuir sua motivação e a de outras pessoas o que afetará a qualidade dos cuidados prestados.

O que fazer?

Não entre em pânico e não tente argumentar dizendo que aquilo que ele refere ver, sentir ou ouvir não é real. Para ele é bem real e ele tem plena convicção disso resistindo a qualquer tentativa de lhe mostrar o contrário. Se for possível, remova-o do ambiente ou comece outro assunto muito diferente como, por exemplo, o que fez durante o dia. Procure prender sua atenção com uma atividade prazerosa. No caso de ideias delirantes, se você for o alvo das acusações, não leve como uma ofensa pessoal. Não se zangue, por mais que pareça, não é pessoal. Se o alvo for outra pessoa, procure certificar-se da veracidade da situação (pode não ser verdade, mas, pode também ser). Deixe-o falar, procure não tomar partido, evite argumentar, alimentar ou contradizer suas colocações, tranquilize-o e desvie sua atenção para uma atividade de substituição.

Esconder objetos: Ele pega uma coisa que pensa que precisa, coloca-a em um lugar que lhe pareceu adequado naquele momento e, em seguida, esquece que a pegou e onde a colocou. Por essa razão, ele não vai entender sua irritação. É comum que os doentes coloquem os objetos em locais inusitados e que não se lembrem de onde estão ou neguem tê-los pego. Isso ocorre geralmente porque ele esqueceu o que devia fazer com esses objetos ou se distraiu quando os pegou ou ainda, para não ter que reconhecer seus déficits, nega ter visto ou pego o objeto em questão. Há situações em que ele vai referir que foi roubado e pode acusar a você ou a outra pessoa que trabalha na casa gerando situações tensas.

O que fazer?

Não o repreenda, ele não fez por mal. Possivelmente quis realmente guardá-lo, mas não vai se lembrar nem que o pegou e nem onde o colocou. A noção de significado das coisas pode estar perdida ou alterada. Assim, procure os objetos perdidos em todos os possíveis esconderijos (qualquer lugar onde ele possa caber). Considere olhar dentro dos bolsos das roupas no armário, dentro de sapatos e bolsas guardados, embaixo do tapete, do colchão ou de outros objetos maiores, dentro do lixo, da geladeira, atrás de almofadas, etc. Para evitar essas situações procure ser organizado e não deixe objetos de valor (chaves, talão de cheques, contas) ao alcance do idoso. Procure diminuir o número de “esconderijos” possíveis. Retire as chaves das gavetas deixando-as trancadas. Nunca despreze o lixo sem olhar seu interior. Tenha sempre cópias das chaves mais importantes e coloque-as em lugares distintos.

Eleficarepetindoquequerirparacasa,masestánela:Em consequência da doença ele está desorientado e pode ter dificuldade em reconhecer o ambiente como familiar, principalmente se foi modificado.

O que fazer?

Não tente argumentar e explicar que ele está na casa dele. Tire-o do ambiente, dê uma volta e retorne. Isso pode bastar para que ele se acalme. Se estiver muito agitado, coloque-o no carro e de uma volta mais longa.

Ele não se reconhece mais no espelho ou aos membros da família: É triste, mas é próprio da doença e seus mecanismos ainda não estão totalmente esclarecidos.

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dessa maneira, isso auxiliará no estabelecimento de um planejamento preventivo para novas ocorrências semelhantes.

Síndrome do “sundown” (por do sol): Os distúrbios de comportamento podem acontecer mais frequentemente em determinados horários do dia. É o caso do final da tarde, conhecido como sundown (pôr do sol). Nesse horário, o doente fica mais agitado, mais confuso e desorientado. Começa a seguir o cuidador pela casa toda, fica andando de um lado a outro e pode ver ou ouvir coisas que não existem. Isso pode ocorrer porque o doente perdeu a noção de dia e noite, ele confunde os dois períodos e perde a noção de suas respectivas atividades. O aumentar da escuridão pode provocar a sensação de medo aumentando sua insegurança.

O que fazer?

Pesquise uma causa física ou medicamentosa, converse com o médico. Tranquilize-o procurando ficar ao lado dele nesse momento e repita calmamente que ele não tem nada a temer. Inicie uma atividade de substituição que ele goste. Programe o dia para ter um fim de tarde calmo evitando tudo que possa causar estimulação excessiva (menos barulho, menor número de pessoas circulando, menos agitação).

A pessoa idosa com DA tem comportamentos sexuais inadequados: Esse tipo de comportamento pode estar relacionado às modificações da vida afetiva, à perda de julgamento crítico (desinibição ou conveniências sociais). Geralmente o doente apresenta uma diminuição da libido e da atividade sexual, mas, às vezes, pode ocorrer o contrário, aumentando. Isso pode ser expresso de diferentes maneiras: masturbação na frente de terceiros, uso de palavras ou gestos obscenos, assédio sexual com seu cuidador, propostas sexuais a uma pessoa desconhecida, apalpar pessoas desconhecidas ou com quem não tem qualquer intimidade. As manifestações inadequadas podem ser resultado da manutenção das necessidades sexuais. Mas, com a doença, ele está desorientado e pode ter perdido a conveniência social manifestando seus desejos de forma intempestiva (quando, como e onde não se deve). A manifestação mais frequente costuma ser “falta de pudor” (aparece nu na frente de visitas, crianças ou estranhos). É necessário entender e explicar para a família que esses comportamentos são devidos à ausência de crítica, não são intencionais.

O que fazer?

São situações extremamente delicadas para todos os envolvidos. Caso ainda exista o companheiro ou a esposa, converse sobre a possibilidade de manutenção, na medida do possível, de uma vida sexual ativa; da troca de gestos carinhosos (acariciar, beijar, manter maior contato físico). Lembre-se que o(a) idoso não está com más intenções, está apenas respondendo a estímulos que não controla mais.

Fale sobre possíveis alterações de seu comportamento sexual para evitar surpresas desagradáveis. Caso ele(a) tire a roupa em público, explique que não é exibicionismo, ele apenas esqueceu a importância e o significado social do fato de estar vestido. Não o(a) repreenda, leve-o(a) gentilmente de volta a seu quarto para vesti-lo(a). Explique às pessoas que ele(a) está doente e por essa razão não sabe que tais atitudes são inadequadas. Ele(a) não teve a intenção de chocar ninguém. Se a pessoa idosa se masturba, entenda e explique que ela o faz porque sente prazer, mas que a doença a fez perder o sentido das convenções sociais. Se ele fizer isso em privacidade, deixe-o; se não, leve-o gentilmente ao seu quarto, volte e explique o que está acontecendo.

ameaçado e agredido o que só irá piorar o quadro. Não se afaste, fale com ele em tom normal, com devagar e com delicadeza; se estiver chorando console-o. Não tente argumentar ou racionalizar nem tente se justificar isso só piorará a situação. Se ele ficar agressivo, não tente segurá-lo, saio do seu alcance, mas deixe que ele continue visualizando sua pessoa. Aguarde que a ira tende a passar. Esqueça o ocorrido após passar. Não tente voltar a ele tentando conversar a respeito, isso não vai ajudar. Por mais difícil e ilógico que pareça, geralmente há uma razão para o desencadeamento dessas situações. Procure descobrir qual é para poder evitá-la. Se isso acontecer em um ambiente público não se estresse e não sinta vergonha. Procure afastar as pessoas e explique que a pessoa é portadora de DA. Hoje em dia essa doença já é bem conhecida e alguém a conhecerá e poderá ajudá-lo a conter a situação conversando com as pessoas que estão começando a aglomerar ao seu redor.

Ele sai na rua e não sabe voltar para casa: O doente pode fugir de casa caracterizando uma fuga ou se perder em um trajeto corriqueiro caracterizando uma andança a esmo. As fugas geralmente ocorrem após alguma contrariedade ou por algum distúrbio de reconhecimento (não reconhece a casa, a esposa e foge para encontrá-los). O vagar a esmo está ligado à desorientação e à memória espacial. Ele sai, se perde, não encontra o caminho de volta, perde as referências e começa a vagar. Isso pode ocorrer porque está tentando chegar a um antigo endereço. Elas podem ser potencialmente perigosas, pois a pessoa pode andar longas distâncias e não conseguir pedir ajuda. Pode cair, ficar exposta a frio ou calor intenso, à chuva, ser agredida. Sua expressão (ar incerto ou perdido) ou atitude podem levar as pessoas a pensarem, erroneamente, que se trata de um alcoolista ou drogado e se afastarem dele recusando ajuda. Em cidades pequenas essas situações são menos problemáticas, pois geralmente as pessoas se conhecem e podem ajudar. Numa cidade como São Paulo, a pessoa pode, simplesmente, desaparecer.

O que fazer?

Não entre em pânico, analise calmamente a situação. Dê uma volta rápida no quarteirão. Se a busca começar rapidamente ele poderá ser encontrado em um raio de 1,5km de sua residência. Vá aos lugares que costuma ir quando sai com ele perguntando se as pessoas o viram; telefone para a polícia e saiba como descrevê-lo lembrando-se de como estava vestido quando desapareceu; avise os familiares. Como essa situação pode ser bastante comum, o ideal é preveni-la. Avise vizinhos e comerciantes próximos sobre a doença do idoso e que ele poderá se perder. Forneça seu telefone para os mesmos para que eles possam avisá-lo numa eventual circunstância dessas. Não deixe que o idoso use objetos de valor (jóias) ou carregue seus documentos originais. Providencie um identificador, que pode ser uma pulseira ou pode ser costurado na parte interna da roupa contendo nome, sobrenome, endereço e telefone de contato. Procure ter sempre uma foto da pessoa idosa atualizada para auxiliá-lo (ou à polícia) na busca. Mantenha as portas de acesso à rua, trancadas e as chaves em locais de difícil acesso. Colocar uma cortina ou uma tapeçaria cobrindo a porta também auxilia. Não se desespere e não se sinta necessariamente culpado. Procure prevenir essas situações e mantenha a família sempre orientada quanto a essa possibilidade. Saiba sempre para quem deve ligar se isso acontecer. Tenha sempre à mão telefones úteis (polícia, bombeiros, pronto-socorro, hospitais e serviços de urgência próximos, do médico do idoso e do parente que costuma ajudar). Quando ele for localizado, procure entender porque ele agiu

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QUAL O CRITÉRIO DE ESCOLHA DAS ATIVIDADES?

• Escolha atividades concebidas para adultos;

• As atividades devem ser concretas e de utilidade reconhecida (varrer a casa, estender a toalha na mesa, etc);

• Estarem centradas em coisas que ele sabia e gostava de fazer;

• Devem ter, preferencialmente, curta duração;

• Devem ser divididas em pequenas sequências claramente indicadas;

• Demonstre como fazer quando o ver com dúvidas, mas, não faça por ele;

• A qualidade do produto não deve ser importante, a execução e o entrete-nimento causado é que importam é a atividade;

• Passear é adequado e estimulante do ponto de vista físico, cognitivo e social. O período da tarde é o mais indicado. Procure fazer os mesmos tra-jetos, a rotina auxilia a desorientação causada pela doença. Procure um lugar ou horário mais tranquilo (menos barulho, menor tráfego). Estimule -o durante o passeio, conversando, mostrando as coisas. Não tenha pressa, o passeio não é uma corrida. Se ele quiser parar, faça uma pausa;

• Atividades culinárias para as mulheres costumam ser familiares e estimu-lantes. Evite objetos cortantes ou que possam quebrar. Oriente-a passo a passo e supervisione a atividade valorizando seus acertos.

ALGUMAS DICAS PARA O BOM CUIDADO DE UM IDOSO COM DEMÊNCIA DE ALZHEIMER:

• Lembre-se sempre que você está cuidado de uma pessoa que tem uma doença crônica e progressiva que, pode apresentar problemas de compor-tamento conforme for avançando;

• A agitação ou mudança de comportamento não é intencional ou deliberada;

• Carinho, afeto, atenção, calma tornam o cuidado do idoso com DA mais fácil de ser desempenhado;

• O idoso com DA esquece as coisas, inclusive seu passado, não adianta ficar remoendo ou lembrando coisas ruins que já aconteceram;

• É necessário estar sempre atualizado quanto à doença e os progressos em relação a seu tratamento;

• Procure desenvolver boas técnicas de comunicação tanto com o doente quanto com seus familiares;

• Mantenha sempre um ambiente organizado, calmo, tranquilo e encorajador;

• Demonstre segurança naquilo que vai fazer com o idoso, se ficar inseguro ele irá perceber e pode se agitar;

O QUE FAZER QUANDO SAIR COM O IDOSO DE CASA?

Procure levá-lo ao banheiro antes de sair. Não pergunte apenas se ele está com vontade de ir ao banheiro, lembre-se que ele pode não fazer mais a associação necessidade/ação. Verifique se as roupas que está utilizando são adequadas e fáceis de despir e vestir. Prepare uma valise com roupas adicionais para poder trocá-lo em caso de “acidentes”; inclua toalha e lenços higiênicos.

Assim que chegar ao destino, localize o banheiro mais próximo e acompanhe-o até lá. Auxilie-o, pois será um ambiente estranho e ele poderá apresentar dificuldades. Faça isso a cada duas horas aproximadamente. Fique atento a sinais que demonstrem que ela tem vontade de ir ao banheiro (ficar inquieto ou tentar tirar a roupa), aja rápida, mas calmamente.

COMO RECONHECER SINAIS DE DESCONFORTO

Com o avançar da doença, o idoso vai apresentando dificuldades em expressar desconforto, dor ou mal estar. O cuidador precisa estar atento para poder auxiliá-lo buscando reconhecer sinais que possam mostrar isso e buscando suas causas. Dificilmente ele utilizará palavras para expressar, Ele poderá chorar, gritar, ficar agitado ou muito apático. O comportamento não terá, necessariamente, uma causa evidente ou direta ele só está apontando que algo está errado. A tensão emocional pode ser expressa por inquietação, agitação e nervosismo. Pode começar a andar de um lado para outro, mexe insistentemente em alguma coisa ou em si mesmo. Apatia e passividade podem estar relacionadas ao avançar da doença. O cuidador deve estar atento se a instalação desse quadro foi repentina, pois pode indicar alterações físicas (doenças, infecções, etc). Sempre haverá uma razão para os sinais de desconforto. O cuidador poderá identificá-las mais facilmente se construir um bom vínculo com a pessoa de quem cuida e estar atento a seus sinais.

COMO OCUPAR O TEMPO LIVRE

As atividades do dia a dia com um idoso com DA, quando adequadamente executadas, ocupam boa parte do dia, pois levarão mais tempo para serem executadas. Mesmo assim, sobrará algum tempo livre que deverá ser preenchidas com atividades estimuladoras e planejadas. Por muito tempo a pessoa idosa poderá manter suas capacidades físicas podendo e devendo ser estimulado a utilizá-las. Desenvolvimento de atividades diversas tem muitas vantagens: manutenção da capacidade funcional; redução da dependência; diminuição do tédio e do isolamento; melhora da autoestima do idoso.

Para o alcance dessas vantagens, o cuidador deve estar atento a três regras básicas:

• As atividades propostas devem mobilizar as capacidades físicas e mentais remanescentes dos idosos:

◦ Não proponha atividades que sabe ele não consegue mais desempenhar;

◦ Procure conhecer os hábitos e preferências dos idosos e propor ativida-des que já faziam antes.

• O cuidador não deve fazer a atividade PELO idoso, mas COM o idoso:

• O cuidador deve dar ao idoso o tempo necessário para a execução da atividade.

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MÓDULO V Condições Crônicas e Envelhecimento

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Agora, conversar sobre as Redes de Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) e Linhas de Cuidado.

Para essa aula proponho a seguinte dinâmica:

1. Inicialmente, individualmente, cada um de vocês irá definir “rede de atenção à saúde” e “linhas de cuidado”. Em seguida, nos reuniremos em pequenos grupos e procuraremos chegar a um consenso sobre as duas definições que será, em seguida, discutida em plenária.

2. Após a discussão em plenária, vamos ler individualmente, o texto de apoio e comparar as definições obtidas na plenária com o material lido. Juntamente com o professor serão levantadas

as similaridades e as diferenças entre as opiniões dos alunos e o material distribuído.

3. É fundamental que dúvidas sejam esclarecidas ou mesmo que opiniões divergentes sejam explicitadas, pois, ao final da atividade, deveremos estar trabalhando com conceitos homogêneos ou muito próximos disso. Portanto, mão à obra.

4. Na segunda metade da aula iremos construir a linha de cuidado relacionada à D. Maria, uma idosa da cidade de Renascer que é atendida pela rede de atenção à saúde do SUS de sua cidade.

• Procure controlar situações que possam ser constrangedoras para ele, nunca o exponha ao ridículo;

• Retire-o de situações que possam gerar frustrações ou possam assustá-lo, faça-o calmamente, distraindo-o;

• Trate-o com naturalidade e como um adulto, sempre com muito respeito;

• Seja realista, não espere que o idoso apresente grandes melhoras;

• Nunca discuta com o idoso nem argumente muito, ele não irá compreendê--lo só perceberá sua irritação o que poderá assustá-lo ou enfurecê-lo;

• Tente rotinizar todas as atividades diárias de forma que cada dia possa ser bem programado;

• Supervisione a alimentação e o atendimento de necessidades de elimina-ção do idoso, ele pode não saber mais referir que as sente;

• Mudança de comportamento repentino sempre tem uma causa, física ou psicológica. Procure identificá-la e ajudá-lo a resolvê-la;

• Evite tarefas cansativas ou frustrantes,

• Não dê ao idoso, responsabilidades além de suas capacidades;

• NUNCA, em hipótese alguma, empurre, bata, grite, xingue ou desrespeite o idoso. Isso é considerado violência contra o idoso passível de ações pe-nais.

• Se ficar cansado, irritado ou descompensado peça uma folga, saia do am-biente, tire férias, mas NUNCA, desconte na pessoa idosa.

• Tenha paciência, paciência e....paciência.

REFERÊNCIAS

DUARTE YAO. Manual de Cuidadores de Idosos. Secretaria de Estado da Saúde. Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social: Fundação Padre Anchieta, São Paulo, 2009.

Vilela AL; Moraes EM; Lino V. Grandes Síndromes Geriátricas. In: Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Rio de Janeiro: EAD/ENSP, 2008.

MÓDULO VI Gerenciamento do Cuidado

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo VIAtividade 1 - (Atividade Individual)

GERENCIAMENTO DO CUIDADO - REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE (RAS) E LINHAS DE CUIDADO

Aluno(a): .........................................................................................

1. Defina Redes de Atenção à Saúde e dê um exemplo.

2. Defina Linhas de Cuidado e dê um exemplo.

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo VIAtividade 2 - (Atividade Grupal)

GERENCIAMENTO DO CUIDADO - REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE (RAS) E LINHAS DE CUIDADO

Aluno(a): .........................................................................................

1. Redes de Atenção à Saúde - Síntese.

2. Linhas de Cuidado - Síntese.

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TEXTO DE APOIO

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Esse texto foi elaborado a partir do material do curso sobre Redes de Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde ministrado pelo Ministério da Saúde e publicado em 2012.

As Redes de Atenção à Saúde (RAS) no Sistema Único de Saúde (SUS), representam um modelo de atenção que vem sendo preconizado pelo Ministério da Saúde que visa integrar e articular o sistema de saúde brasileiro em todos os estados, municípios e Distrito Federal.

Historicamente, a organização dos sistemas locais de saúde ocorre de forma hierarquizada, fragmentada e tende a medicalizar todos os problemas ou queixas trazidas pelo usuário. Essas, entre outras razões fazem com que o Sistema de Saúde não venha respondendo, satisfatoriamente, às demandas de saúde da população. Muitas estratégias têm sido implementadas com o objetivo de qualificar a atenção à saúde e, a implantação das Redes de Atenção à Saúde (RAS), integram esse conjunto daí ser fundamental que profissionais de saúde que atuam nessa rede, a conheçam.

Vamos conversar um pouco sobre a matriz teórica e conceitual da atenção à saúde no formato de redes integradas, focalizando a Atenção Primária/Estratégia Saúde da Família como seu centro de comunicação.

HISTÓRICO E CONCEITO DAS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE

A organização de redes integradas de atenção à saúde nos sistemas municipais e estaduais de saúde teve como estímulo a garantia da concretização dos princípios dos SUS - integralidade, universalidade e equidade da atenção à saúde da população brasileira – que adquiriu maior relevância no final da década de 1990 culminando com a publicação da Portaria GM nº 4.279 de dezembro de 2010.

Tudo isso ocorreu como consequência das alterações importantes no perfil epidemiológico da população que foram resultado de profundas transformações socioeconômicas e de estilo de vida com significativo impacto na saúde dos indivíduos e comunidades. Observa-se o aumento contínuo da prevalência de condições crônicas (CC), antes incipientes, que agora assumem papel de destaque junto às prioridades da agenda de saúde.

REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE NO SUS E LINHAS DE CUIDADO

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MÓDULO VI Gerenciamento do Cuidado

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Texto de Apoio Redes de Atenção à Saúde no SUS e Linhas de Cuidado

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ANTECEDENTES HISTÓRICOS

As Redes de Atenção à Saúde (RAS) tiveram origem no Reino Unido, na década de 1920, após a I Guerra Mundial, quando foi elaborado o Relatório Dawson, documento onde consta a primeira proposta de organização de sistemas regionalizados de saúde, cujos serviços de saúde deveriam acontecer por intermédio de uma organização ampliada que atendesse às necessidades da população de forma eficaz, fossem acessíveis a toda a população e oferecessem cuidados preventivos e curativos, tanto no âmbito domiciliar quanto nos centros de saúde secundários, fortemente vinculados aos hospitais.

Marcos mais atuais em relação às RAS decorrem da reunião de Alma-Ata, realizada em 1978. Nos Estados Unidos, na década de 90, houve uma retomada da discussão visando superar o problema imposto pela fragmentação do sistema de saúde. Investiu- se na oferta contínua de serviços a uma população específica, territorialmente delimitada, focada na Atenção Primária à Saúde (APS), desenvolvida de forma interdisciplinar e com a integração entre os serviços de saúde e os sistemas de informação.

Experiências semelhantes foram registradas também no Canadá. Na Europa ocidental, as RAS vêm sendo adotadas em países como Noruega, Suíça, Holanda, Espanha, França, Alemanha, Inglaterra e Irlanda. Já nos países da América Latina, a implementação das RAS ainda é inicial, sendo o Chile o país com maior experiência na área.

No Brasil, o tema tem sido tratado por diversos pesquisadores e data do final da década de 90. Algumas experiências têm sido implementadas com êxito.

Assim, em nível internacional e nacional, tem-se estabelecido um consenso gradativo de que a organização dos sistemas de saúde sob a forma de redes integradas é a melhor estratégia para garantir atenção integral, efetiva e eficaz às populações assistidas, com a possibilidade de construção de vínculos de cooperação e solidariedade entre as equipes e os níveis de gestão do sistema de saúde.

E, afinal de contas, o que vem a ser uma Rede de Atenção à Saúde?

CONCEITO DE REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE

Segundo Mendes, as redes podem ser caracterizadas pelos seguintes aspectos: autonomia, interdependência, confiança, cooperação e relações relativamente estáveis. No âmbito da saúde, todos esses aspectos estão presentes nas RAS, que devem ter foco na população, de forma integral, por meio de um serviço contínuo de cuidados que visem prioritariamente à promoção da saúde. Dessa forma, as RAS são definidas, oficialmente, segundo o anexo da Portaria GM nº 4.279/20101 que as instituiu no SUS, como: “arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado”.

As RAS têm como objetivo promover a integração de ações e serviços de saúde para prover uma atenção à saúde de forma contínua, integral, de qualidade, responsável, humanizada, com vistas à consolidação dos princípios e diretrizes do SUS.

Na Portaria que instituiu as RAS no âmbito de SUS, é possível identificar seis características importantes e inerentes à sua matriz conceitual. Assim, as RAS podem ser caracterizadas por:

O crescente aumento na prevalência de CC, entre outros fatores, mostrou a ineficácia do sistema de saúde brasileiro em lidar com essa demanda, pois o mesmo ainda está centrado em eventos agudos e organizado segundo preceitos de hierarquização, fragmentação e medicalização.

Assim, espera-se que o indivíduo busque assistência quando tem uma queixa decorrente de uma condição aguda (doença infecciosa, uma fratura, um procedimento cirúrgico, etc) que, uma vez identificada, poderá ser “tratada” a partir de intervenções específicas e, caso tudo transcorra conforme o esperado, será solucionado em curto espaço de tempo e o indivíduo será liberado não sendo necessário retornar ao sistema. Por exemplo: uma mãe procura o serviço de saúde com seu filho de 5 anos com quadro de febre e dor de garganta há 2 dias. Ao examinar a criança o médico diagnostica um processo infeccioso nas amigdalas. Prescreve antibioticoterapia associada com medicações para tratar os sintomas (dor e febre) e orienta retorno em uma semana. Após esse período ocorre a remissão dos sintomas e a criança recebe alta.

Com as condições crônicas não ocorre o mesmo. Vamos ver outra situação. A Sra. Joana chega à Unidade de Saúde com uma queixa de cefaleia importante há 3 dias que não passa com os analgésicos que comprou na farmácia por conta própria. Ela tem 56 anos, trabalha como diarista, é fumante, está com sobrepeso e não costuma ir ao médico. Só fez isso quando estava grávida. Ela tem quatro filhos. Ela procura o médico para que ele prescreva um “remédio” para “tirar” essa dor de cabeça, pois ela não está conseguindo trabalhar direito. Na consulta verifica-se que sua PA está 210 x 160 mmHg. O médico a orienta e a encaminha para uma Unidade de Pronto Atendimento para que possa ficar em repouso e ser medicada até a sua pressão baixar. Orienta também que ela agende uma consulta posterior para acompanhamento. Dona Joana sai da Unidade com um papel na mão, com doe de cabeça e insatisfeita com o atendimento, pois “ele não resolveu o problema dela”. Não segue o orientado e retorna para sua casa. Dois dias depois, ela desmaia e é levada ao hospital onde é diagnosticada com AVC isquêmico e, como consequência, ficou com uma hemiplegia D.

Nesse segundo exemplo vemos uma pessoa com uma CC (hipertensão) agravada por outras condições (tabagismo, sobrepeso, ausência de autocuidado com a própria saúde) que busca no atendimento de saúde uma solução mágica, um “remédio” que resolva seu problema instantaneamente e que, a partir dessa solução, nada mais precise ser feito. Isso não funciona para as CC, pois essas exigem uma abordagem mais complexa e uma atuação multidisciplinar, além de adesão ao tratamento e modificações de comportamento que, sabemos, não é nada fácil.

Por isso, é urgente que se estabeleçam novos processos organizativos, de gestão e atenção à saúde no SUS, baseados em evidências científicas, que levem em conta as reais necessidades de saúde da população e que de fato sejam efetivos e eficientes. Nesta conjuntura, as Redes de Atenção à Saúde surgem como uma possibilidade para a reestruturação dos serviços e processos de saúde, rumo ao restabelecimento da coerência entre os princípios e diretrizes do SUS e o perfil epidemiológico da população brasileira.

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2. Ofertar atenção contínua e integral: serviços e sistemas integrados poderão ser capazes de dar atenção integral aos usuários na medida em que, conseguindo solucionar aproximadamente 80% dos problemas de saúde que são demandados pela APS, os outros 20% dos casos seguem um fluxo cuja densidade tecnológica do tratamento aumenta a cada nível de atenção que se sucede. Ao final, a continuidade da atenção deverá ser mantida pelas equipes da APS.

3. Cuidado multiprofissional: faz-se necessária a composição multiprofissional das equipes de saúde porque os problemas de saúde muitas vezes são multicausais e complexos, e necessitam de diferentes olhares profissionais para o devido manejo. Porém, mais do que a multiprofissionalidade, a ação interdisciplinar desta equipe deve ser um objetivo a ser estabelecido, de modo a garantir o compartilhamento e a corresponsabilização da prática de saúde entre os membros da equipe.

4. Compartilhar objetivos e compromissos com os resultados, em termos sanitários e econômicos: a missão de uma equipe de saúde deve contemplar objetivos sanitários (como o aumento do aleitamento materno na região adscrita, maior e melhor atendimento à população, entre outros) e objetivos econômicos (como melhor alocação dos recursos humanos, tecnológicos e financeiros), de modo a gerar o melhor custo- benefício para a população atendida.

As RAS também apresentam atributos importantes a serem considerados durante seu processo de planejamento e implementação. Atributos são qualidades e características inerentes àquilo a que se referem. Os atributos essenciais das RAS são:

• População e territórios definidos;

• Extensa gama de estabelecimentos de saúde prestando diferentes ser-viços;

• APS como primeiro nível de atenção;

• Serviços especializados;

• Mecanismos de coordenação, continuidade do cuidado e assistência inte-gral fornecidos de forma continuada;

• Atenção à saúde centrada no indivíduo, na família e nas comunidades, levando em consideração as particularidades de cada um;

• Integração entre os diferentes entes federativos a fim de atingir um pro-pósito comum;

• Ampla participação social;

• Gestão integrada dos sistemas de apoio administrativo, clínico e logístico;

• Recursos suficientes;

• Sistema de informação integrado;

• Ação intersetorial;

• Financiamento tripartite e;

• Gestão baseada em resultados.

1. Formar relações horizontais entre os diferentes pontos de atenção: essa característica pressupõe que os pontos de atenção passem a ser entendidos como espaços onde são ofertados alguns serviços de saúde, sendo todos igualmente importantes para que sejam cumpridos os objetivos da rede de atenção. Ao contrário da forma de trabalho em sistemas de saúde hierárquicos, de formato piramidal e organizado segundo a complexidade relativa de cada nível de atenção (atenção primária, de média e de alta complexidade). As RAS são espaços que visam assegurar o compromisso com a melhora de saúde da população, ofertando serviços contínuos no âmbito dos diferentes níveis de atenção à saúde. Assim, para a lógica das RAS, um pronto socorro e um centro de especialidades, por exemplo, são igualmente importantes na garantia da atenção à saúde do usuário, pois ambos cumprem papéis específicos para necessidades específicas.

2. Atenção Primária à Saúde (APS) como centro de comunicação: embora seja preconizada a relação horizontal, ou seja, não hierárquica entre os níveis e pontos de atenção à saúde, não significa que um deles não deva ser priorizado - considerando investimentos e alocações de recursos. A lógica de organização do SUS em redes de atenção a partir da APS reafirma o seu papel de (1) ser a principal porta de entrada do usuário no sistema de saúde; (2) de ser responsável por coordenar o caminhar dos usuários pelos outros pontos de atenção da rede, quando suas necessidades de saúde não puderem ser atendidas somente por ações e serviços da APS; (3) e de manter o vínculo com estes usuários, dando continuidade à atenção (ações de promoção da saúde, prevenção de agravos, entre outros), mesmo que estejam sendo cuidados também em outros pontos de atenção da rede.

Essa posição estratégica da APS no fluxo da atenção à saúde do usuário, objetiva potencializar a garantia da integralidade, continuidade, eficiência e eficácia do sistema de saúde. A figura a seguir ilustra bem a APS como centro de comunicação da RAS.

Alta

complexidade

Média

complexidade

Atenção básica

1. Planejar e organizar as ações segundo as necessidades de saúde de uma população específica: as ações, serviços e programações em saúde devem basear-se no diagnóstico da população adscrita à equipe de saúde, considerando fatores e determinantes da saúde desta população. Na prática, tem se nas condições crônicas de doença. Além disso, a ação das equipes deve ser embasada em evidências científicas devidamente constatadas.

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f) Lista de espera: tecnologia que estabelece o ordenamento dos usuários dos serviços em determinados pontos de atenção à saúde, partindo de critérios claros de necessidades e riscos, de modo a garantir a transparência deste processo nos sistemas de saúde. Listas de espera longas e demoradas indicam uma disparidade entre oferta e demanda por serviços de saúde, e hoje constituem um grande obstáculo a ser superado pelo SUS.

Estas ferramentas possibilitarão não só a integração dos pontos de atenção, mas também permitirão uma reestruturação dos processos e trabalhos em equipe multiprofissional, com vistas à melhoria das ações interdisciplinares. Tal avanço nas práticas de saúde é necessário para o alcance dos objetivos esperados com a reestruturação do SUS segundo a lógica de redes. O uso de ferramentas qualificadas permitirá a adequada implantação e funcionamento das RAS em nível local.

A ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NAS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE

Para que as RAS sejam efetivas, eficientes e de qualidade, deve-se ter, antes de tudo, uma APS bem estruturada. Esta afirmação considera que, quando os atributos da APS estão plenamente desenvolvidos, obtêm-se melhores resultados econômicos e sanitários em termos de eficácia, continuidade e integralidade na atenção à saúde.

A APS deve ser estruturada de modo a propiciar o cumprimento de suas funções centrais de acolher, escutar e dar vazão às demandas existentes. Considerando o contexto de reestruturação do sistema de saúde segundo formato de redes de atenção, há outras funções prioritárias da APS, as quais contribuirão para o adequado funcionamento da RAS. São elas:

a) Ser a base: a modalidade primária de atenção deve estar presente nos estados e municípios de modo mais descentralizado e distribuído possível;

b) Ser resolutiva: deve ser capaz de gerar diagnóstico sanitário e situacional da população que vive no território sob sua responsabilidade, considerando riscos, necessidades e demandas de saúde. Para tanto, deve utilizar diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas;

c) Coordenar o cuidado: a APS deve atuar como centro de comunicação entre os diversos pontos e níveis de atenção, acompanhando e organizando o fluxo dos usuários, com o objetivo de produzir gestão compartilhada da atenção integral por meio da apropriação de ferramentas de micro gestão do cuidado. Além disso, deve articular também outras estruturas, como os sistemas logísticos e de apoio, relações intersetoriais e participação social da comunidade.

d) Ordenar as redes: a APS deve organizar as necessidades sanitárias da população sob sua responsabilidade em relação ao acesso aos outros pontos de atenção, contribuindo para que a programação dos serviços a serem ofertados efetivamente seja baseada na real demanda de saúde da população.

É por meio de uma APS bem estruturada que o usuário é adequadamente inserido em uma rede de atenção, o que ocorre pela utilização da adscrição da clientela. No caso da APS – tradicional ou Saúde da Família - a equipe de saúde tem sob sua responsabilidade um conjunto de famílias que vivem em um determinado território.

Na prática, a constituição da RAS é essencial, pois contribuirá para alcance dos princípios e diretrizes do SUS.

As RAS devem ser organizadas localmente por meio de um processo de planejamento que considere a realidade e os determinantes de saúde específicos de um território sanitário e das pessoas que nele vivem. Ainda, devem estar associados o uso de critérios gerenciais e eficiência econômica, com vistas a soluções integradas de atenção à saúde.

Partindo do ponto de vista da prática, onde os profissionais de saúde têm maior responsabilidade, são necessárias ferramentas capazes de assegurar padrões clínicos ótimos; diminuição de riscos para os usuários e profissionais; aumento da eficiência; prestação de serviços efetivos e melhoria na qualidade da atenção à saúde. Existem possibilidades com grande potencial, e a seguir estão apresentadas 6 importantes ferramentas para implantação das RAS:

a) Diretrizes clínicas: recomendações desenvolvidas de modo sistemático, baseadas em evidências, que orientam decisões dos profissionais de saúde em um caso clínico, envolvendo ações de prevenção, promoção e assistência. São conhecidas como protocolos ou linhas-guia. Viabilizam a comunicação entre as equipes e serviços, e orientam as Linhas de Cuidado. Exemplo: diretriz clínica para diagnóstico/ tratamento da fibrose cística.

b) Linhas de Cuidado: forma de articulação de recursos e práticas de saúde entre as unidades de atenção de uma região (primária, secundária ou terciária), com acolhimento e condução dos usuários pelas possíveis vias de diagnóstico e tratamento dentro da rede de saúde. Exemplo: linha de cuidado do parto e puerpério; linha de cuidado do diabetes e hipertensão arterial; linha de cuidado da obesidade.

c) Gestão da condição de saúde: processo que envolve a superação do modelo de atenção focado no indivíduo, utilizando procedimentos curativos e reabilitadores, para uma abordagem baseada na população local, que identifica indivíduos em risco e tem foco na promoção da saúde e/ou na ação preventiva, com intervenção precoce a fim de alcançar resultados satisfatórios com custos reduzidos.

d) Gestão de caso: processo que se desenvolve entre o profissional de saúde e o usuário, visando ao planejamento, monitoramento e avaliação das ações e serviços de saúde, de acordo com as necessidades do indivíduo. É o plano de cuidado que será posto em prática pelo profissional de saúde para responder à demanda de saúde do usuário.

e) Auditoria clínica: análise crítica e sistemática da qualidade da atenção à saúde. Não pode ser confundida com a auditoria realizada pelo Sistema Nacional de Auditoria (SNA). Tem como foco os usuários dos serviços de saúde, em um contexto favorável à melhoria da eficácia clínica, objetivando maximizar os resultados clínicos. Por exemplo: quando o gerente recém nomeado em um centro de saúde quer conhecer e melhorar os serviços da Pediatria, ele pode reter – por amostragem ou não - certa quantidade de prontuários clínicos para analisar os procedimentos que foram realizados pela equipe e como foram registrados os dados em prontuário.

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uma atenção resolutiva. Quando necessário, deve ser oferecido encaminhamento seguro por meio da articulação com outros pontos e serviços de atenção à saúde.

A relação do vínculo diz respeito à ligação entre usuário e o profissional/equipe de saúde, que deve ser construída desde o primeiro contato do indivíduo com o serviço de saúde, por meio de uma interação inicial que gere confiança e empatia. O vínculo, quando criado, possibilita uma melhor percepção da corresponsabilização pela saúde e do acompanhamento dos processos que ocorrem na rede de atenção, tanto por parte do usuário quanto por parte do profissional/equipe de saúde.

Cabe salientar que todas as ações da equipe de saúde devem buscar a integralidade da atenção, de modo a superar a assistência fragmentada gerada pelo modelo de atenção verticalizado. É essencial uma abordagem integral ao usuário, que o compreenda como ser humano em suas diferentes dimensões: biológicas, psicológicas, econômicas, sociais e culturais, em todos os pontos de atenção necessários para dar vazão às suas necessidades de saúde.

Desta forma, será mais provável que as ações empreendidas sejam de fato resolutivas. A questão da resolutividade diz respeito à capacidade das equipes de simplificar o serviço ao mesmo tempo em que devem agilizar os processos de atenção, a fim de alcançar resultados de modo eficaz e eficiente, com o melhor custo-benefício tanto para o usuário quanto para o próprio sistema, sem, contudo, abrir mão da qualidade do serviço.

Por fim, é essencial promover a responsabilização pela saúde da população e/ ou indivíduo atendido. No contexto do processo de cuidado, é obrigação comum a todos os atores envolvidos. Os diferentes profissionais e a equipe na qual se inserem devem compreender a importância de sua responsabilidade pelo cuidado integral do usuário, assumindo-a durante as etapas da linha de cuidado e nos diversos pontos de atenção. Por outro lado, também se deve incentivar a autonomia e a corresponsabilização por parte da população e/ou do indivíduo cuidado, a fim de potencializar os resultados e ampliar a capacidade de autocuidado à saúde.

LINHAS DE CUIDADO

As Linhas de Cuidado, Projetos Terapêuticos e Diretrizes Clínicas são estratégias de organização da ação e serviços que compõem as RAS, e concretizam as ferramentas de micro gestão e qualificação da atenção à saúde.

O QUE É UMA LINHA DE CUIDADO?

As Linhas de Cuidado (LC) integram as RAS. Uma RAS pode possuir uma ou várias LC, dependendo de uma série de fatores, como disponibilidade de profissionais, recursos materiais e orçamentários, etc.

Muitos consideram as LC como redes de atenção independentes, no entanto, é importante que você as compreenda como sendo estruturas funcionais que perpassam de forma transversal uma ou mais RAS. Segundo Franco & Franco, Linha de Cuidado é: “... a imagem pensada para expressar os fluxos assistenciais seguros e garantidos ao usuário, no sentido de atender às suas necessidades de saúde. É como se ela desenhasse o itinerário que o usuário faz por dentro de uma rede de saúde incluindo segmentos não necessariamente inseridos no sistema de saúde, mas que participam de alguma forma da rede, tal como entidades comunitárias e de assistência social”.

A partir do diagnóstico de saúde e de vida dessa clientela adscrita, as ações são planejadas e executadas, e os indivíduos são assistidos. De acordo com suas necessidades, as pessoas podem ser atendidas em diferentes serviços e rotinas, e este processo é comumente chamado de “referência”. Uma vez atendido em outros serviços e estabelecimentos de saúde, deve-se contrarreferenciar o usuário para a APS para continuidade do tratamento. Ou seja, cabe também à APS dar continuidade longitudinal à atenção ao paciente. Portanto, a APS tem como função coordenar e integrar os fluxos e contrafluxos dos usuários, produtos e informações, entre todos os pontos de atenção à saúde, tornando-se, assim, o centro de comunicação das RAS.

Neste contexto, a APS representa o início (porta de entrada preferencial), meio (referência) e o fim (longitudinalidade) da atenção à saúde da população. É por este motivo que se tem discutido tanto a valorização e qualificação da APS e tem-se defendido seu lugar de coordenação das redes de atenção.

Neste contexto, torna-se essencial que as equipes primárias de saúde estejam organizadas e operando da melhor forma possível. Isto significa que, para haver a real substituição do modelo de saúde hegemônico (hospitalocêntrico, hierarquizado e fragmentado) pelo modelo de redes integradas de saúde, é imprescindível – entre outros aspectos - a organização dos processos de trabalho, de modo que a atenção passe a ser integral, multiprofissional e interdisciplinar.

As equipes de saúde no Brasil ainda estão moldadas segundo o modelo hegemônico. Ou seja, ainda têm como base práticas fragmentadas, hierarquizadas, individualizadas, superespecializadas, medicalizadoras e médico-centradas, que necessitam de urgentes mudanças estruturais. Tais alterações nos modos de produzir saúde tendem a minimizar a fragmentação da atenção, promover a continuidade do cuidado, a integralidade da atenção e até a aumentar a eficiência na utilização de recursos que são objetivos precípuos de um sistema em redes integradas.

A reorganização das práticas de saúde como preceito para que as equipes possam coordenar o cuidado nas RAS deve ser estimulado em nível local, de modo que ela seja capaz de acompanhar o usuário durante todo o fluxo dentro do sistema de saúde até que a demanda de saúde seja sanada.

Assim, é necessário que os profissionais de saúde estejam aptos a adotarem, individualmente e em conjunto, práticas diferentes do modelo biomédico hegemônico e que sejam fundamentadas nas diretrizes da APS e das RAS. O estabelecimento da APS como centro de comunicação das redes de atenção requer profissionais tecnicamente competentes, comprometidos, em quantitativo suficientes e capazes de organizarem seus processos de trabalho em equipe, de forma que promovam a territorialização, adscrição da clientela, o acolhimento, o vínculo, a responsabilização, a integralidade e a resolutividade da atenção.

As práticas de saúde devem estar centradas nas necessidades do usuário e em seu cuidado, e não mais em procedimentos e especificidades profissionais. A presença de profissionais com diferentes formações, que se articulam e compartilham ações e desenvolvem processos interdisciplinares, colabora para a ampliação da capacidade de cuidado de toda a equipe, facilitando a gestão do cuidado integral do usuário e a coordenação das RAS.

O acolhimento, uma ação de responsabilidade das equipes da APS, deve estar presente em todas as relações do usuário com a equipe de saúde, constituindo-se uma das práticas das relações de cuidado. Assim, o acolhimento deve ocorrer desde a chegada e recepção do usuário na Unidade de Saúde, cabendo à equipe atendê-lo bem, ouvi-lo de forma qualificada, compreendendo sua necessidade e assegurando

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Vamos analisar esta figura considerando a rede de atenção à saúde materno-infantil de Minas Gerais, na qual estão presentes as LC de pré-natal e LC do parto e puerpério.

Como exemplo, tomemos uma situação hipotética da Linha de Cuidado Materno- infantil. Para esta LC, podem existir vários pontos de atenção: a UBS para o pré-natal, a maternidade para um parto sem complicações, a maternidade de alto risco para uma gestação complicada. Em cada ponto de atenção do fluxo será elaborado um projeto terapêutico diferenciado, tendo como base diretrizes clínicas.

Por exemplo: a equipe do centro obstétrico que fará o parto do recém-nascido adotará um projeto terapêutico de acordo com as condições da mãe e do bebê, com base na Diretriz Nacional do Parto. Se o bebê for prematuro, o projeto terapêutico será um; se o bebê estiver a termo, será adotado outro projeto terapêutico.

Após o nascimento do bebê, já em um leito na maternidade (clínica), o fluxo na LC progride, e chegamos até o leito clínico da maternidade. A equipe da maternidade adotará um determinado projeto terapêutico para o recém-nascido se ele for prematuro, e outro projeto terapêutico se ele for a termo, mas sempre baseada na fictícia Diretriz Nacional de Cuidados do Recém-Nascido. E assim o bebê será acompanhado conforme se avança nesta LC.

Como se pode observar, o usuário é o componente central na estruturação de todo o processo de produção de cuidado à saúde. Além de todos os profissionais envolvidos necessitarem trabalhar em equipe de forma integrada, a equipe da UBS deve ser definida como a gestora do projeto terapêutico, já que é responsável por dar continuidade aos cuidados. Assim, a equipe multiprofissional da atenção primária deverá garantir a entrada do usuário nos outros pontos de atenção e manter o vínculo com ele para acompanhá-lo em todo o processo.

Desta forma, a necessidade de cada usuário é colocada como responsabilidade de toda a equipe (e até mesmo de outros pontos de atenção), o que possibilita superar a fragmentação do atendimento e prezar pela integralidade do cuidado.

REFERÊNCIAS

Ministério da Saúde - Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN); Organização Panamericana da Saúde (OPAS); Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (OPSAN) Universidade de Brasília (UnB). Redes de Atenção de Saúde no SUS. Belo Horizonte, 2012.

Considerando a LC infantil, por exemplo, ela perpassa todas as RAS existentes e cada uma delas deverá conter procedimentos e ações que consigam atender às necessidades específicas de cuidado das crianças, seja em termos de nascimento, aspectos psicológicos ou de urgência ou emergência. Agora, considerando apenas uma das RAS, tem-se que, além da LC infantil, ela também poderá ser composta por outra LC. No caso da Rede Cegonha, por exemplo, há a LC do parto e puerpério. Assim, é possível uma RAS ter mais de uma LC, e uma LC perpassar mais de uma RAS. Em outras palavras, a partir de determinada rede de atenção, várias linhas de cuidado podem ser mapeadas de acordo com a necessidade do usuário e, posteriormente, definidas as linhas de cuidado que serão prioritariamente organizadas. Além disso, elas poderão estar presentes, transversalmente, em outras redes de atenção.

Portanto, a LC requer multi e interdisciplinaridade e é composta por um conjunto de fluxos interligados e contínuos que facilitam o encontro do usuário com os profissionais e ações mais aptas a atenderem suas necessidades, mesmo que para este fim instituições não governamentais, religiosas ou filantrópicas tenham que ser acionadas.

A ORGANIZAÇÃO DAS LINHAS DE CUIDADO

As LC devem ser organizadas de acordo com as necessidades de saúde do usuário. Em termos de atenção, as equipes de saúde dos diversos níveis de atenção são as responsáveis pelo cumprimento das LC. Ou seja, cabe às equipes estruturar seus modos de oferecer atenção à saúde da população adscrita, por meio da elaboração coletiva e interdisciplinar de projetos terapêuticos. Projetos terapêuticos7 podem ser definidos como o conjunto de ações escolhidas por uma determinada equipe de saúde para sanar uma demanda de saúde específica de um usuário. Eles costumam ter início na atenção primária, por ser a principal porta de entrada do sistema de saúde, e em seguida incluem outros pontos de atenção. A figura a seguir ilustra a estrutura de uma linha de cuidado.

7 O projeto terapêutico é um componente estratégico de uma linha de cuidado. É por meio dele que, em cada estágio da linha de cuidado, o cuidado e a atenção à saúde do usuário efetivamente ocorrem, uma vez que deve englobar as ações clínicas integradas de múltiplos profissionais. A definição de um determinado projeto tera-pêutico considera as recomendações de uma determinada diretriz clínica. Por ser uma recomendação, a diretriz clínica pode ou não ser seguida, a depender do caso. Logo, tem-se que a diretriz clínica é a referência que guiará a definição do projeto terapêutico singular de um paciente.

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo VI (Plenária)GERENCIAMENTO DO CUIDADO - REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE (RAS) E LINHAS DE CUIDADO

Aluno(a): .........................................................................................

1. Redes de Atenção à Saúde – Aspectos similares entre a síntese do grupo e o texto de apoio

2. Redes de Atenção à Saúde – Aspectos divergentes entre a síntese do grupo e o texto de apoio.

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

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Módulo VI Atividade 1 ( Atividade Grupal)

GERENCIAMENTO DO CUIDADO - REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE (RAS) E LINHAS DE CUIDADO

Para finalizarmos para essa aula proponho conversarmos sobre “Os outonos de D. Maria”. Temos utilizado esse material para o treinamento das diferentes equipes de atenção básica no Estado de São Paulo.

D. Maria é uma idosa que possivelmente identificamos em nosso ambiente de trabalho diariamente. Vamos contar sua trajetória nos últimos quatros anos (os outonos), compreender o que estava ocorrendo com ela e discutir o acompanhamento de saúde que obteve pensando na “linha de cuidado” que poderia ter sido adotada com ela. Para isso sugiro que:

1. Inicialmente, nos dividamos em quatro grupos, sendo cada grupo responsável pela discussão de uma cena. Vamos buscar identificar o que ocorre em cada cena, lembrando-se de nossas discussões em sala de aula. (atividade 1)

2. Em plenária, Cada grupo fará uma síntese e uma análise crítica da cena sob sua responsabilidade. Ao final, teremos construído a “linha de cuidado” de D Maria, a que ela vivenciou e a que propomos. (atividade 2)

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OS OUTONOS DE D. MARIA

CENA 1

Dona Maria, 77 anos, passa mais um outono na cidade de Renascer, uma cidade de médio porte com cerca de 100 mil habitantes, no Estado de São Paulo. Acabou de voltar da UBS Memórias da Serra, perto de sua casa, onde recebeu a vacina contra a gripe. Dona Maria segue então pra casa onde prepara o almoço, como faz diariamente, que compartilhará com seu neto que está morando com ela, agora que estuda na cidade. Depois do almoço vai ao grupo de oração onde encontra suas amigas para lerem, rezarem e também “jogar um pouco de conversa fora”, por que não? “O mundo está mudando tão rápido e sempre temos um assunto polêmico para discutir, amigos que se foram ou adoeceram etc. É muito triste envelhecer e ser um peso para os outros e também é muito difícil ver o mundo mudar tanto!”. Dona Maria volta para casa andando os cinco quarteirões que a separam da sua casa lembrando quando fazia isso com o Seu João, seu companheiro, falecido há dois anos de um infarto súbito. “Ele enxergava melhor e a ajudava a desviar dos buracos da rua”- Hoje tem muito medo de cair... Prepara um lanche (Chá com bolacha de água e sal), já que seu neto não voltará para o jantar. Cozinhar só para uma pessoa dá muito trabalho. Vai dormir em seguida, pois no dia seguinte precisa acordar cedo, pois é dia de fazer atividades físicas no parque com o grupo do Centro de Convivência das pessoas idosas e ela “não pode perder por nada desse mundo”! Já preparou inclusive o lanche que vai levar para todos (pão de forma, queijo e salame). Pouco antes de deitar, Dona Maria sentiu fortes dores de cabeça e vomitou. Ligou para seu vizinho e pediu que a levasse ao Pronto Socorro da cidade onde ficou muito tempo esperando para ser atendida, pois “tinham muitos casos mais graves na sua frente” e tarde da madrugada ainda ouviu: “sobrou aquela velha sem sono para atender na sala de espera!”. “Coitados” pensou ela, “estão todos cansados!” Sua pressão estava alta. Foi medicada e, quando a pressão normalizou, foi liberada. Ninguém perguntou se já tomava remédio para a pressão e ficou sem saber se era para tomar a medicação normalmente no dia seguinte. Assim resolveu não ir ao parque e foi à UBS para medir sua pressão novamente e pedir orientação de como proceder com os medicamentos que já vinha tomando. Mas a unidade estava muito cheia, disseram que só o médico poderia ajudá-la e ela desistiu. “Se tiver dor de cabeça tomo o remédio de novo”

CENA 2

E a vida seguia seu caminho quando no outono do ano seguinte, Dona Maria, 78 anos, foi à consulta agendada na UBS Memórias da Serra para controlar sua pressão e seu Diabetes. A Joana, enfermeira da unidade, a recebeu e disse que iria preencher junto com ela uma caderneta de saúde e que ela deveria manter sempre com ela. Quando Dona Maria contou que passou mal no mês anterior Joana lhe perguntou como estava seu diabetes e ela disse que no PS disseram que a taxa de açúcar estava baixa e a pressão estava alta. Ao preencher a caderneta e a avaliação global da pessoa idosa, Joana observou que Dona Maria avaliava sua saúde como regular, perdeu peso (que D Maria achou normal para sua idade), sua cognição estava preservada (identificada através da aplicação da escala do Mini Mental), tinha um quadro de depressão moderada (identificada através da aplicação da escala de depressão

geriátrica - GDS), incontinência urinária e episódios de tontura. Referiu duas quedas em casa no último mês, sem gravidade (fraturas ou necessidade de atendimento médico). O clínico Dr. Antonio, a Joana e a Fátima, assistente social da unidade, se preocuparam bastante com o processo de fragilização de Dona Maria. Sua pressão e glicemia estavam discretamente alteradas e foi ajustada a dose dos medicamentos. D Maria se queixou que sua dentadura estava um pouco folgada e machucando sua gengiva. Isso fez com que ela mudasse sua dieta (reduziu carnes, verduras cruas e frutas). Ao ser indagada sobre sua dieta, Dona Maria informou que agora que o neto trabalha de dia e estuda à noite não sente muita vontade de preparar refeições completas e que é mais prático comprar alguma coisa na padaria além disso, por causa da incontinência, diminuiu a quantidade de água consumida, afinal, não tem tanta sede.

Foi encaminhada para atendimento na urologia e para os serviços de saúde bucal e saúde mental. Foi feita uma orientação sobre a dieta pelo médico, que entregou um folheto sobre alimentação saudável na velhice e outro para diabéticos. Agendou-se ainda a visita da equipe da Estratégia de Saúde da Família para uma orientação no domicílio com a presença do neto e da filha que viria visitá-la no próximo fim de semana. A equipe de saúde da família havia sido implantada naquele bairro naquele mês e agora poderia acompanhá-la mais de perto. Dr. Antonio avisa, no entanto, que se ela começar a vir na unidade toda hora deveriam conseguir uma vaga num serviço mais especializado em “cuidar de velhos”. Dona Maria ficou assustada. Esse outono estava começando muito complicado. Acharam um monte de problemas com ela e ela se sentia muito sozinha para lidar com tudo isso. “Está difícil lembrar tudo o que os profissionais da UBS falam”. De qualquer forma, a equipe da UBS ajudou-a a decidir uma coisa: “mesmo com dificuldade”, não iria abandonar suas atividades e ainda ia se esforçar para estar mais presente nos grupos que a UBS realizava: idosos, hipertensão, diabetes e oficinas de atividades físicas orientadas aos idosos do “Agita Renascer”, mas está ficando difícil ir tantas vezes ao serviço. Não conseguiu marcar o urologista. A perda de urina a envergonha e por isso antes de sair de casa e à noite, evita tomar líquidos.

CENA 3

Um ano depois, aos 79 anos, em um domingo de sol, pela manhã, Ricardo, neto de Dona Maria a encontra caída no quintal, desacordada. Ele chamou o resgate que a levou ao PS da cidade. Ele informou que, ultimamente, ela estava saindo pouco e que já não estava mais conseguindo cozinhar como antes e que percebeu que ela “cheirava mal”. Disse que avisou sua mãe, que o orientou a ficar mais com ela, mas estudando e trabalhando estava difícil fazer isso. No PS o médico viu que sua pressão e glicemia estavam muito altas, estava desidratada e um pouco desnutrida. Na queda, ela fraturou o fêmur. Foi internada, operada e por causa do diabetes teve algumas complicações infecciosas que fizeram com que sua internação durasse mais de um mês. Na alta, estava mais desnutrida ainda, com uma feridinha na região sacral e um pouco confusa. Saiu com um encaminhamento para o neurologista, acompanhamento no ortopedista e fisioterapia. Ainda não conseguiu fazer uma dentadura nova e acha melhor comer alimentos pastosos e sopa. Sua filha conseguiu uma transferência de seu serviço para Renascer para poder ficar mais próxima da mãe, que não desejava sair da cidade onde sempre viveu e conhece todo mundo. Dona Maria começou a fazer

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fisioterapia no centro de referencia de reabilitação em um município vizinho onde sua filha a leva duas vezes por semana. Mas, está cada vez mais difícil se locomover e o seu neto passou na faculdade em outra cidade. Os agentes comunitários a visitam às vezes, mas nunca recebeu visita do médico. “Ir à UBS ficou cada vez mais difícil e eles não tem como me apoiar”. D Maria usa andador para se locomover sozinha e precisa de ajuda para atividades como limpar a casa, cozinhar e fazer compras. Por isso a Fátima contratou uma empregada doméstica que também ajuda D Maria nas suas atividades cotidianas, mas ela fica com muito medo dos engasgos frequentes, principalmente nas refeições. Além disso, D Maria tem se queixado de ficar muito sozinha em casa. A equipe da Estratégia de Saúde da Família a encaminhou para acompanhamento com a nutricionista e a fonoaudióloga do NASF. Apesar desses acompanhamentos, D Maria se engasgou com a sopa e desenvolveu uma pneumonia que a levou a uma nova internação.

CENA 4

Fátima acompanha a mãe durante a internação e ao observá-la pensava: como minha mãe fragilizou nos últimos anos! O que poderia ter sido feito por mim e pelos serviços do município de Renascer para mantê-la mais tempo saudável e ativa? E quando ela ficou mais frágil? E quando ficou mais dependente? Como poderia ter sido a linha de cuidado de D. Maria?

FALA AMENDOEIRA

“Disse a árvore para o velho: outoniza-te com paciência e doçura. As folhas caem é certo e os cabelos também, Mas, há alguma coisa de gracioso em tudo isso: Parábolas, ritmos, tons suaves. Outoniza-te com dignidade, meu velho”

Carlos Drumond de Andrade.

Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Módulo VI - Atividade 2 (Plenária)OS OUTONOS DE D. MARIA

Aluno(a): .........................................................................................

Após nossa discussão conjunta, vamos registrar uma síntese da Linha de Cuidado que idealizamos coletivamente para D. Maria.

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269

ATIVIDADE 1

Esse módulo corresponde ao trabalho de conclusão de curso que deverá ser desenvolvido por todos vocês. No primeiro momento, procuraremos conhecer a realidade de atenção à pessoa idosa que vivenciamos diariamente em nosso cotidiano de trabalho. Para tanto, faremos um levantamento dos idosos atendidos em sua unidade de trabalho por três dias seguidos; preencheremos algumas questões referentes ao atendimento da pessoa idosa e faremos o acompanhamento de dois idosos (um homem e uma mulher) desde sua entrada na unidade até a finalização do atendimento.. Esse material será discutido em sala de aula onde procuraremos identificar os pontos positivos e os negativos observados. O roteiro preenchido deverá ser entregue para o professor nesse dia.

MÓDULO VII Plano de Intervenção

Territorial

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Plano de Intervenção TerritorialROTEIRO DE IDENTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES RELACIONADAS À ATENÇÃO AO IDOSO

DESENVOLVIDO EM SUA UNIDADE

Aluno(a): .........................................................................................

Sua Unidade é:

( ) ESF

( ) UBS

( ) Outra ...........................................................................

(especifique)

Converse com a recepção de sua unidade para que seja feito, por 3 dias seguidos, o registro dos idosos que procuram atendimento na unidade. Nesse registro coloque idade da pessoa (60 anos e mais), sexo, motivo da procura (agendamento ou procura espontânea), desfecho (foi atendido no dia, foi agendado para outro dia, foi encaminhado para outro serviço). Para facilitar vou colocar uma folha em anexo específica para esse registro. Não é necessário colocar o nome do idoso. Nesse momento só queremos saber quantos são e porque eles procuram a unidade.

Na sua Unidade há um ou mais programas específicos de atenção aos idosos?

( ) sim

( ) não

Se sim, descreva-o (s) a seguir (atividades desenvolvidas, frequência com que ocorre, número médio de participantes, como são convidados a entrar, profissionais envolvidos no programa):

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Descreva como é feito o agendamento do idoso em sua unidade e o tempo médio de espera entre o agendamento e o atendimento propriamente dito. Por exemplo, agendamento para consulta é feito no início do mês, todo dia 01. Encaixes só de urgência.

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Descreva quais os atendimentos específicos da enfermagem relacionados às pessoas idosas (por exemplo: pré consulta, pós consulta, vacinas, distribuição de medicamentos, etc). Descreva, também, se receberam alguma orientação ou treinamento específico (relativo aos idosos) para o desenvolvimento dessas atividades.

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Na sua unidade, enquanto os idosos estão esperando pelo atendimento, é desenvolvido algum trabalho ou atividade específica com os mesmos?

( ) sim ( ) não

Se sim, descreva o que costuma ser feito e quais os profissionais envolvidos.

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Na sua unidade, após ser atendido, caso o(a) idoso(a) receba algum encaminhamento (consulta com especialista, exames específicos, etc), o que acontece em seguida?

( ) o idoso é orientado pós atendimento sobre o que deverá fazer mas o agendamento é responsabilidade dele ou de seus familiares

( ) o idoso é orientado pós atendimento sobre o que deverá fazer e também é feito o agendamento

( ) não é feito nada específico

Se o idoso receber algum tipo de orientação, como e por quem é feita?

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O que é feito quando o(a) idoso(a) falta a uma consulta agendada?

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Quantos idosos você costuma atender em um dia comum de trabalho e o que costuma fazer?

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Agora, como atividade final, você vai escolher duas pessoas idosas atendidas em sua unidade (um homem e uma mulher), preferencialmente em dias separados e vai acompanhar o atendimento recebido desde a hora que ele(a) entrar na unidade até a hora em que sair. Você não pode interferir; só ver o que acontece e descrever. (hora que chegou, tempo que esperou na recepção, o que queria, como foi atendido, tempo que esperou para o atendimento que veio procurar, onde foi após ser atendido, por quantas pessoas diferentes passou, recebeu orientação após atendimento).

Para facilitar, colocaremos um roteiro a seguir, mas você poderá anotar outras coisas que observar e que podem não estar contidas no roteiro.

ROTEIRO

1. O (a) idoso(a) chegou à Unidade para ser atendido, pois tinha consulta/atendimento agendado ou por procura espontânea?

2. Quem foi o primeiro profissional a quem o(a) idoso(a) se dirigiu ao chegar na unidade?

3. Como foi o atendimento? Quanto tempo demorou?

4. Se o idoso veio à Unidade por procura espontânea (sem estar agendado) o que ocorreu em seguida? Ele foi “encaixado” e recebeu o atendimento solicitado, foi encaminhado a outro serviço ou foi simplesmente dispensado?

5. Caso ele tenha sido encaminhado a outro serviço, como foi feito esse encaminhamento? (por formulário, por telefone, por orientação verbal etc). Na sua opinião, o(a) idoso(a) compreendeu por que foi encaminhado? E, na sua opinião, o(a) idoso(a) ficou satisfeito com o encaminhamento e com a orientação recebida?

PARA OS IDOSOS AGENDADOS E ATENDIDOS:

6. Quanto tempo o(a) idoso(a) aguardou entre sua chegada à Unidade e o atendimento/consulta agendada?

7. Quanto tempo demorou o atendimento/consulta?

8. Além do atendimento/consulta agendada, o(a) idoso(a) foi atendido(a) por outro profissional? Se sim, qual (ais)? Para que? Quanto tempo levou

9. No final do atendimento/consulta, o idoso saiu com alguma prescrição de medicamentos? Se sim, ele conseguiu pegar os medicamentos na unidade (todos os só alguns)? Caso ele tenha recebido medicamentos, foi realizada alguma orientação específica ou ele(a) apenas recebeu s medicamentos?

10. Na sua opinião, o(a) idoso(a) ficou satisfeito com o atendimento recebido? Justifique

11. No total, quanto tempo o(a) idoso(a) permaneceu na Unidade (da hora que chegou à hora que saiu)

12. Como você qualificaria o atendimento recebido pelo(a) idoso(a):

( ) Muito bom

( ) Bom

( ) Regular

( ) Ruim

Justifique e complete com suas sugestões.

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PARA OS QUE FOREM PREENCHER EM ATENDIMENTO DOMICILIAR.

1. O Atendimento Domiciliar (AD) estava agendado?

2. Como foi feito o agendamento?

3. Quem fez parte do AD (médico, enfermeira, auxiliar, agente comunitário etc)

4. Descreva como foi o atendimento. Que horas chegaram na residência, quem os recebeu, quanto tempo demorou o atendimento, o que foi feito?

5. Ao final do atendimento, foram feitas orientações? Se sim, de quem para quem? Na sua opinião o(a) idoso(a) e/ou seu(ua) cuidador(ora) compreenderam as orientações fornecidas?

6. Ao finalizarem o atendimento outro ficou agendado?

7. Qual a frequência de ADs a esse(a) idoso(a)?

8. Na sua opinião, o(a) idoso(a) está satisfeito(a) com o atendimento/acompanhamento recebido pelo AD?

9. Como você qualificaria o atendimento recebido pelo(a) idoso(a):

( ) Muito bom

( ) Bom

( ) Regular

( ) Ruim

Justifique e complete com suas sugestões.

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Descreva o atendimento de um idoso em sua unidade desde o momento de sua chegada até o final do atendimento.

IDOSO 1 (HOMEM)

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Descreva o atendimento de uma idosa em sua unidade desde o momento de sua chegada até o final do atendimento.

IDOSO 2 (MULHER)

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PANORAMA DOS IDOSOS QUE PROCURAM ATENDIMENTO NA UNIDADE DE SAÚDEPREENCHER TRÊS DIAS SEGUIDOS

DIA

IDA

DE

SEXO MOTIVO DA PRO-CURA

DESFECHO (O QUE FOI FEI-TO)

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PLANO DE INTERVENÇÃO TERRITORIAL

DISCUSSÃO SOBRE O TRABALHO DESENVOLVIDO NAS UNIDADES

Esse módulo corresponde ao trabalho de conclusão de curso que deverá ser desenvolvido por todos vocês. No primeiro momento, procuramos conhecer a realidade de atenção à pessoa idosa que é vivenciada diariamente em seu cotidiano de trabalho. Foi feito um levantamento de dados que discutiremos a seguir tentando identificar os pontos positivos e os negativos observados.

Para o desenvolvimento dessa aula, proponho a seguinte dinâmica:

14. Inicialmente, reunir em pequenos grupos (no máximo 5 pessoas/grupo de unidades diferentes) onde o roteiro preenchido por cada aluno será apresentado ao grupo e, em seguida, será feito um relatório sobre os pontos similares encontrados. Também deverão ser identificados os pontos positivos e negativos identificados que, deverão ser igualmente agrupados (atividade1).

15. Em plenária, conversar sobre a atividade 1 e, identificar com a classe, as similaridades e divergências encontradas em relação aos pontos positivos e negativos identificados. Fazer uma listagem para cada conjunto (uma para pontos positivos e outra para pontos negativos). Ordenar a listagem relativa a pontos positivos dos mais importantes (com maior impacto na assistência) aos menos expressivos. Fazer o mesmo em relação aos pontos negativos só que, para esses a ordenação deverá seguir a ordem de necessidade de intervenção (primeiro os pontos que precisam ser mais urgentemente corrigidos). Ao final, teremos uma listagem de intervenções a que poderão ser desenvolvidas. (atividade 2)

16. No terceiro momento, cada aluno deverá escolher um dos pontos identificados (o que parece ser mais importante para sua unidade de trabalho) e, desenvolver um plano de intervenção relativo ao mesmo que deverá ser apresentado e entregue como trabalho de conclusão de curso. (atividade 3)

17. Atividade não presencial – Elaborar o primeiro esboço de seu plano de intervenção seguindo o roteiro.

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Plano de Intervenção TerritorialAtividade 1 - (a ser preenchida em grupos de 5 alunos)IDENTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES RELACIONADAS À ATENÇÃO

AO IDOSO DESENVOLVIDAS NA REGIÃO

Aluno(a): .........................................................................................

1. Número e tipo de unidade (ESF, UBS, AD, outras especifique):

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2. Caracterização dos idosos atendidos. Inicialmente, fechar a planilha de cada unidade e, em seguida, fazer uma única planilha por grupo.

UNIDADE 1:

a) Número de idosos atendidos/dia e total dos três dias:

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b) Número de homens idosos atendidos = ..................................................

c) Número de mulheres idosas atendidas = ................................................

d) Número de idosos atendidos por agendamento = .....................................

e) Número de idosos atendidos por procura espontânea = ..............................

f) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram atendidos = ....................................................................................................

g) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram dispensados = ....................................................................................................

h) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram encaminhados para outras unidades = .......................................................................

i) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram agendados para outro dia = .....................................................................................

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UNIDADE 2:

a) Número de idosos atendidos/dia e total dos três dias:

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b) Número de homens idosos atendidos = ..................................................

c) Número de mulheres idosas atendidas = ................................................

d) Número de idosos atendidos por agendamento = ......................................

e) Número de idosos atendidos por procura espontânea = .............................

f) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram atendidos = ....................................................................................................

g) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram dispensados = ....................................................................................................

h) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram encaminhados para outras unidades = ........................................................................

i) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram agendados para outro dia = .....................................................................................

UNIDADE 3:

a) Número de idosos atendidos/dia e total dos três dias:

....................................................................................................

b) Número de homens idosos atendidos = ..................................................

c) Número de mulheres idosas atendidas = .................................................

d) Número de idosos atendidos por agendamento = ......................................

e) Número de idosos atendidos por procura espontânea = ..............................

f) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram atendidos = ....................................................................................................

g) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram dispensados = ....................................................................................................

h) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram encaminhados para outras unidades = ........................................................................

i) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram agendados para outro dia = .....................................................................................

UNIDADE 4:

a) Número de idosos atendidos/dia e total dos três dias:

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b) Número de homens idosos atendidos = ..................................................

c) Número de mulheres idosas atendidas = ................................................

d) Número de idosos atendidos por agendamento = .....................................

e) Número de idosos atendidos por procura espontânea = .............................

f) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram atendidos =

....................................................................................................

g) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram dispensados =

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h) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram encaminhados para outras unidades = ........................................................................

i) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram agendados para outro dia = ......................................................................................

UNIDADE 5:

a) Número de idosos atendidos/dia e total dos três dias:

....................................................................................................

b) Número de homens idosos atendidos = ..................................................

c) Número de mulheres idosas atendidas = ................................................

d) Número de idosos atendidos por agendamento = ......................................

e) Número de idosos atendidos por procura espontânea = .............................

f) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram atendidos =

....................................................................................................

g) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram dispensados =

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h) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram encaminhados para outras unidades = ........................................................................

i) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram agendados para outro dia = .....................................................................................

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RESULTADO DO GRUPO (somar os resultados de cada unidade apresentada)

a) Número de idosos atendidos/dia e total dos três dias:

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b) Número de homens idosos atendidos = ..................................................

c) Número de mulheres idosas atendidas = .................................................

d) Número de idosos atendidos por agendamento = .....................................

e) Número de idosos atendidos por procura espontânea = ..............................

f) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram atendidos = ....................................................................................................

g) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram dispensados = ....................................................................................................

h) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram encaminhados para outras unidades = ........................................................................

i) Número de idosos atendidos da procura espontânea que foram agendados para outro dia = ......................................................................................

4) Quantas unidades desenvolvem programas específicos para idosos?

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5) Listar os programas específicos de atenção aos idosos identificados:

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6) Número total de idosos atendidos pelos programas das unidades / mês:

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7) Liste as similaridades e diferenças observadas no agendamento dos idosos pelas unidades.

SIMILARIDADES: ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

DIFERENÇAS: ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

8) Faça uma lista dos atendimentos específicos da enfermagem relacionados às pessoas idosas identificados nas unidades (por exemplo: pré consulta, pós consulta, vacinas, distribuição de medicamentos, etc).

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9) Quantos profissionais receberam alguma orientação ou treinamento específico (relativo aos idosos) para o desenvolvimento das atividades listadas.

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10) Quantas unidades desenvolvem atividades com os idosos enquanto esses estão esperando pelo atendimento?

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11) Liste as atividades identificadas na questão 10.

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12) Descreva as similaridades e diferenças relativas aos encaminhamentos para outras unidades/serviços, dos idosos atendidos na unidade:

SIMILARIDADES: ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

DIFERENÇAS: ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

13) Descreva o que é feito pelas unidades quando o(a) idoso(a) falta a uma consulta agendada?

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14) Agora, cada elemento do grupo vai ler (para o grupo) o acompanhamento da pessoa idosa que realizou dos dois feitos, escolher o mais interessante). Ao final, deverá ser feita uma listagem de pontos positivos e negativos identificados no atendimento do idoso (de cada um e do conjunto)

SÍNTESE GRUPAL DOS PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS

RELATIVOS AOS ATENDIMENTOS DE IDOSOS ACOMPANHADOS

Pontos positivos:

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Pontos negativos:

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Secretaria Municipal da SaúdeCoordenação de Gestão de Pessoas

Escola Municipal de Saúde

GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Plano de Intervenção TerritorialAtividade 2 - (preenchida a partir da síntese levantada na Atividade 1)

IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS POSITIVOS RELATIVOS AO ATENDIMENTO DOS IDOSOS NAS UNIDADES

PONTOS POSITIVOS IDENTIFICADOS

ORDEM DE PRIORIDADE DE IMPORTÂNCIA

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Escola Municipal de Saúde

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Plano de Intervenção TerritorialAtividade 2 - (preenchida a partir da síntese levantada na Atividade 1)

IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS NEGATIVOS RELATIVOS AO ATENDIMENTO DOS IDOSOS NAS UNIDADES

PONTOS POSITIVOS IDENTIFICADOS

ORDEM DE PRIORIDADE DE IMPORTÂNCIA

PONTOS POSITIVOS IDENTIFICADOS

ORDEM DE PRIORIDADE DE IMPORTÂNCIA

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Plano de Intervenção TerritorialAtividade 1 - (a ser preenchida em grupos de 5 alunos)

PROPOSTA DE PLANO DE INTERVENÇÃO TERRITORIAL (1º ESBOÇO)

Aluno(a): .........................................................................................

TÓPICO ESCOLHIDO:

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POR QUE ESSE TÓPICO FOI O ESCOLHIDO?

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PARA VOCÊ, ESSE TÓPICO ESCOLHIDO PODE SER IMPLANTADO, POR MEIO DE UMA INTERVENÇÃO, EM SUA UNIDADE?

( ) Sim

( ) Não

Se sua resposta for não, volte à listagem e escolha outro que você acredita que pode ser implantado em sua unidade e reinicie o preenchimento desse formulário.

PONTOS POSITIVOS IDENTIFICADOS

ORDEM DE PRIORIDADE DE IMPORTÂNCIA

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DESCREVA COMO VOCÊ ACHA QUE ESSA INTERVENÇÃO PODE SER REALIZADA (profissionais envolvidos, recursos necessários, frequência de realização caso a intervenção tenha alguma periodicidade, número de idosos beneficiados pela intervenção proposta):

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LISTE AS FACILIDADES E AS DIFICULDADES QUE VOCÊ ACREDITA QUE ENCONTRARÁ EM SUA UNIDADE PARA A IMPLANTAÇÃO DA INTERVENÇÃO PROPOSTA:

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Entregue esse primeiro esboço para o professor na próxima aula. Após a leitura do material, o professor o auxiliará a confeccionar sua proposta final.

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GERENCIAMENTO DE CUIDADOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA PESSOA IDOSA

Plano de Intervenção TerritorialATIVIDADE NÃO PRESENCIAL

PROPOSTA DE PLANO DE INTERVENÇÃO TERRITORIAL (Roteiro para o trabalho final)

Aluno(a): .........................................................................................

1. Descrição da intervenção proposta

Motivação para desenvolvê-la (problema identificado ou programa a ser implantado)

Importância da intervenção para a unidade e para os idosos atendidos

Profissionais envolvidos

Tempo estimado para implantação da intervenção.

2. Descrição das facilidades e dificuldades para implantação da intervenção proposta.

3. Cronograma de implantação da intervenção proposta (passo a passo)

• apresentação da proposta para a unidade

• levantamento dos recursos necessários

• organização da intervenção

• divulgação para os colegas e para os idosos da intervenção a ser implantada

• início das atividades (pré teste)

• avaliação da intervenção desenvolvida no pré teste

• realização de ajustes necessários

• implantação da intervenção

• avaliação

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EXEMPLO

PROBLEMA IDENTIFICADO

Verificou-se na unidade que uma parcela dos idosos hipertensos estavam apresentando sintomas como cansaço, tontura, apatia e, vários deles apresentaram síncope e queda. Verificou-se ainda que, esses idosos tinham em comum serem analfabetos ou analfabetos funcionais (foram à escola, mas não sabem ler). Por essa razão esses idosos costumam identificar os medicamentos prescritos pela cor, forma ou tamanho. Ao se indagar, na pós consulta, as medicações que eles costumam tomar identificou-se que, vários deles, tomavam dois medicamentos iguais para controle de sua pressão, pois, por serem de cores diferentes (pois eram de lotes diferentes), acreditavam que fossem diferentes.

INTERVENÇÃO PROPOSTA

Desenvolver um impresso para orientação relativa às medicações prescritas visando a população que não sabe ler e que deverá ser distribuído na pós consulta ou na farmácia (no local onde os idosos costumam pegar a medicação).

RECURSOS NECESSÁRIOS:

Papel

Canetas coloridas

Cola

PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS:

Auxiliares/técnicos de enfermagem que atuam na pós consulta e na farmácia

FACILIDADES: Baixo custo

DIFICULDADES: Aceitação do grupo

CRONOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO

1. Apresentação do problema identificado para a equipe

2. Apresentação do impresso proposto

3. Avaliação pelos colegas do impresso proposto

4. Realização dos ajustes necessários

5. Realização do pré-teste por uma semana

6. Reunião para avaliação do pré-teste

7. Realização dos ajustes identificados na avaliação do pré-teste

8. Implantação do formulário

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As atividades práticas referentes a este módulo vem sendo desenvolvidas ao longo do curso e, nesse momento, vamos fazer uma revisão do que foi aprendido. Você encontrará uma série de perguntas e deverá assinalar se a afirmação é verdadeira ou falsa. No final, encontrará um gabarito para conferir suas respostas. Revise o conteúdo que você não acertar!

As questões a seguir referem-se ao processo de envelhecimento e à saúde da pessoa idosa. Vamos considerar os conteúdos relacionados à saúde do idoso que você teve contato até agora no curso.

Inicialmente vamos recordar os principais conceitos utilizados em gerontologia que, para quem não se lembra, é a ciência que estuda o envelhecimento. Leia atentamente as afirmações a seguir e assinale V para “verdadeiro” e F para “falso”:

( ) Envelhecimento é um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte.

( ) O envelhecimento também pode ser compreendido como a ação do tempo comum a todos somada ao que se denomina “marcas da vida” ou seja, a história de vida de cada indivíduo tornando esse processo assimétrico com uma expressão própria em cada indivíduo.

( ) Senescência e senilidade são sinônimos e representam as alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento.

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Agora, vamos recordar as principais alterações que ocorrem com o envelhecimento. Leia atentamente as afirmações a seguir e assinale V para “verdadeiro” e F para “falso”:

( ) Uma “síndrome” se caracteriza por múltiplas etiologias, ou seja, não existe uma causa única. Ela, geralmente, não causa risco iminente de morte, mas compromete, de forma significativa, a qualidade de vida da pessoa acometida

( ) O envelhecimento fisiológico ou normal pode também ser entendido como uma diminuição progressiva da denominada “reserva funcional”, ou seja, diminuição da capacidade de resposta a desafios. Esta diminuição na capacidade está ligada a riscos progressivamente maiores de doença ou perda da capacidade de viver de forma independente. Por esta razão, a morte é a consequência final do envelhecimento.

( ) A diminuição das reservas funcionais em seres humanos é lenta e progressiva, sendo compatível com a vida saudável em idades muito avançadas (p.ex: centenários), uma vez que em condições normais ou rotineiras, não costuma provocar quaisquer problemas. O estresse adicional causado pelas doenças (especialmente as crônicas) e a existência de hábitos de vida considerados inadequados (como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, obesidade entre outros) são os grandes vilões para a saúde das pessoas idosas pois ao atingirem negativamente uma reserva funcional já diminuída (em relação ao jovem) poderão causar insuficiências orgânicas incapazes de serem compensadas rapidamente podendo gerar situações em que a assistência (em maior ou menor grau) seja necessária.

( ) O início do envelhecimento é relativamente precoce, ao redor dos 20 anos de idade, fase essa em que é pouco perceptível. No final da terceira década começam a surgir as primeiras alterações funcionais e/ou estruturais. Admite se, como regra geral que, a partir dos 40 anos a cada ano haja perda de 1% da função/ano. À exceção dos ovários e do timo tais alterações não causam insuficiência absoluta de um órgão ou sistema mesmo em idosos em velhice avançada.

( ) Com o envelhecimento a pele diminui sua capacidade de reter umidade ficando mais ressecada o que pode causar prurido (coceira) e descamação. Epiderme

( ) O cuidado da pessoa idosa compreende a avaliação das condições funcionais e de saúde das pessoas idosas; diagnostico, planejamento e implementação de serviços e cuidados à saúde que atendam as necessidades identificadas dessa população além da avaliação da efetividade de cada cuidado.

( ) Os sinais e sintomas clássicos das doenças podem estar ausentes, obscurecidos ou serem atípicos nos idosos como resultado de alterações nos sistemas orgânicos e nos mecanismos homeostáticos e pela coexistência de condições agudas ou crônicas.

( ) O resultado da avaliação funcional é o nível de independência apresentada pelo indivíduo para o desempenho de suas atividades cotidianas.

( ) As “atividades de vida diária” são utilizadas para mensurar o grau de funcionalidade de um indivíduo. Didaticamente são subdivididas em “Avançadas” que envolvem as atividades produtivas, sociais e de lazer e representam uma participação social mais ativa, “instrumentais” relacionadas à uma vida comunitária independente e as “básicas” relacionadas às atividades de autocuidado.

( ) Autonomia e Independência são sinônimos.

( ) “Idoso” no Brasil refere-se a toda e qualquer pessoa a partir dos 60 anos de idade. Isso está oficialmente determinado pela Política Nacional do Idoso e pelo Estatuto do Idoso, leis vigentes em nosso país. A determinação cronológica do envelhecimento (por idade) é realizada para facilitar a organização de serviços assistenciais e a distribuição de alguns benefícios. O limite etário aqui estabelecido segue orientação da Organização Mundial de Saúde que diz que, em países desenvolvidos (como Estados Unidos, Japão, Canadá, países europeus, etc) é considerada idosa toda pessoa a partir dos 65 anos de idade e, nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, ainda hoje, esse limite etário é de 60 anos. Isso é devido às diferentes condições de vida a que a população é submetida o que pode, em especial com os economicamente menos favorecidos, gerar um “envelhecimento mais precoce”.

( ) Cuidador é a pessoa que cuida de pessoas idosas que necessitem de acompanhamento ou cuidado, auxiliando no desenvolvendo atividades cotidianas de forma a garantir uma melhor qualidade de vida e a manutenção de sua integração com a sociedade.

( ) Ao conjunto hierarquizado de pessoas que mantém entre si laços típicos das relações de dar e receber denomina-se rede de apoio social. Ela existe ao longo de todo o ciclo vital, atendendo à motivação básica do ser humano à vida gregária. No entanto, sua estrutura e suas funções sofrem alterações dependendo das necessidades das pessoas. Entre suas principais funções cita-se dar e receber apoio emocional, ajuda material, serviços e informações; estabelecer novos contatos sociais. Familiares, vizinhos, amigos e conhecidos compõe a rede de relações e apoio informais.

( ) A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, reeditada em outubro de 2006, colocou a capacidade funcional da população idosa como o grande paradigma para organização dos serviços assistenciais conforme ilustrado a seguir.

Saúde da Pessoa IdosaLinha de Cuidado

Ações:Atenção DomiciliáriaReabilitaçãoPrevenção secundária

Ações:Promoção PrevençãoReabilitação PreventivaAtenção BásicaSuporte Social IN

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( ) Queda é o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial com incapacidade de correção em tempo hábil, determinada por circunstâncias multifatoriais, comprometendo a estabilidade A queda é, geralmente, um evento sinalizador do início do declínio da capacidade funcional ou sintoma de uma nova doença ou agravo.

( ) Estudos epidemiológicos apontam que 35% a 40% dos idosos com idade igual ou superior a 60 anos caem ao menos uma vez ao ano, aumentando para 50% entre os idosos de 80 anos e mais e, 13% de todos os idosos caem duas vezes ou mais ao ano e são chamados de “caidores”. Depois de um ano, 20% dos “caidores” recorrentes estão no hospital, em uma instituição de longa permanência (ILPI) ou morreram.

( ) As fraturas constituem os desfechos mais graves relacionados às quedas. A fratura de quadril compreende cerca de 25% das fraturas pós-queda em idosos da comunidade.

( ) “Ptofobia” é o nome dado para caracterizar a fobia de quedas das pessoas idosas. A perda de confiança pode resultar na restrição das atividades. Além de ocorrer entre os idosos que sofreram quedas, pode ocorrer também entre os que não sofreram. As quedas geram sintomas como ansiedade e depressão além da perda de confiança na própria capacidade de andar com segurança em diferentes ambientes o que está associado ao declínio funcional, sentimentos de inutilidade, isolamento social e depressão.

( ) Os fatores de riscos para a ocorrência de quedas podem ser classificados em fatores intrínsecos; extrínsecos ou ambientais; situacionais ou comportamentais.

( ) Os fatores intrínsecos relacionados às quedas estão relacionados às alterações fisiológicas advindas do processo de envelhecimento (ex: alterações no equilíbrio, estabilidade postural, diminuição da força, diminuição na acuidade auditiva e visual, alterações posturais), a presença de comorbidades e o uso de múltiplos medicamentos (polifarmácia).

( ) Entre os fatores extrínsecos destacam-se os riscos ambientais como iluminação inadequada, pisos irregulares ou escorregadios, obstáculos no caminho (móveis, fios), tapetes soltos, ausência de barras de apoio em banheiros, ausência de corrimãos em escadas, roupas muito longas, calçadas inadequadas, uso inadequado de tecnologia assistida (andador, bengala ou cadeiras de rodas).

( ) Os fatores situacionais ou comportamentais são representados por algumas atividades que podem aumentar o risco de ocorrência de quedas como, por exemplo, deambular de meia, ir ao banheiro à noite com as luzes apagadas, subir em cadeira ou banquinho para pegar objetos localizados em níveis elevados ou andar apressadamente quando isso constitui um hábito.

( ) As intervenções nas situações de ocorrência de quedas são multifatoriais. Exercícios programados com ênfase no treinamento de equilíbrio e marcha, modificações nos esquemas medicamentosos (aprazamento), tratamento de hipotensão postural, alterações no ambiente físico tornando-o mais seguro, e tratamento das desordens cardiovasculares são alguns exemplos.

( ) Entre as medidas de prevenção de quedas em pessoas idosas destacam-se:

a) Avaliação geriátrica ampla com medidas corretivas adequadas;

b) Racionalização do uso de medicamentos;

c) Redução do consumo de bebidas alcoólicas;

e derme ficam mais finas, as ondulações que as unem são suavizadas e os vasos sanguíneos presentes diminuem e ficam mais frágeis. Isso faz com que qualquer compressão local mais intensa possa provocar um deslizamento entre essas estruturas com consequente rompimento dos vasos locais ocasionando hematomas (manchas arroxeadas) que podem ser erroneamente confundidos com agressões.

( ) As glândulas sebáceas diminuem de tamanho, mas aumentam sua capacidade funcional provocando maior lubrificação da pele. As glândulas sudoríparas também aumentam fazendo com que a pessoa idosa transpire mais.

( ) A diminuição das reservas funcionais em seres humanos é lenta e progressiva, sendo compatível com a vida saudável em idades muito avançadas (p.ex: centenários), uma vez que em condições normais ou rotineiras, não costuma provocar quaisquer problemas. O estresse adicional causado pelas doenças (especialmente as crônicas) e a existência de hábitos de vida considerados inadequados (como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, obesidade entre outros) são os grandes vilões para a saúde das pessoas idosas pois ao atingirem negativamente uma reserva funcional já diminuída (em relação ao jovem) poderão causar insuficiências orgânicas incapazes de serem compensadas rapidamente podendo gerar situações em que a assistência (em maior ou menor grau) seja necessária.

( ) Com o envelhecimento há uma progressiva perda de neurônios, no entanto, por serem em grande número, tal perda não resulta, necessariamente, em prejuízo do funcionamento mental. No organismo, essa perda ocasiona algum grau de comprometimento na audição, na visão, no olfato, na regulação da temperatura e na sensação de dor. As perdas sensoriais contribuem com a diminuição do equilíbrio. A junção dessas alterações torna a pessoa idosa mais vulnerável à ocorrência de acidentes, em especial as quedas.

( ) Com o envelhecimento a capacidade de manter a temperatura corporal (termorregulação) não é afetada

( ) Para uma melhor visualização é necessário que o olho realize um processo denominado “acomodação” o qual permite a focalização de objetos mais próximos ou mais distantes. É realizado pelo corpo ciliar e pelas fibras musculares da íris. Com o avançar da idade, as fibras musculares tornam-se mais curtas e menos elásticas e parte delas é substituída por tecido conjuntivo. Na prática essas alterações dificultam a focalização, com clareza, de objetos próximos e a isso se denomina “presbiopia” ou “visão curta”.

( ) A altura tende a diminuir com o avançar da idade em decorrência do afinamento dos discos e do encurtamento das vértebras. Essa diminuição pode ser ainda mais acentuada devido a maiores níveis de cifose (curvatura anômala da espinha dorsal, de convexidade posterior), inclinação da cabeça para trás e flexão dos quadris e joelhos.

( ) A realização de exercício regular auxilia na manutenção da força e do tônus muscular reduzindo as consequências funcionais negativas que o avançar da idade pode ocasionar e que podem vir a comprometer a independência da pessoa idosa.

Para finalizarmos, vamos nos lembrar da oficina de prevenção de quedas. Leia atentamente as afirmações a seguir e assinale V para “verdadeiro” e F para “falso”:

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o câncer e as crônico-degenerativas, são muito mais prevalentes na população idosa, mas atribuir estas condições como esperadas para idades avançadas é um equívoco.

( V ) O CUIDADO da pessoa idosa compreende a avaliação das condições funcionais e de saúde das pessoas idosas; diagnostico, planejamento e implementação de serviços e cuidados à saúde que atendam as necessidades identificadas dessa população além da avaliação da efetividade de cada cuidado.

( V ) Os sinais e sintomas clássicos das doenças podem estar ausentes, obscurecidos ou serem atípicos nos idosos como resultado de alterações nos sistemas orgânicos e nos mecanismos homeostáticos e pela coexistência de condições agudas ou crônicas.

( V ) O resultado da avaliação funcional é o nível de independência apresentada pelo indivíduo para o desempenho de suas atividades cotidianas.

( V ) As “atividades de vida diária” são utilizadas para mensurar o grau de funcionalidade de um indivíduo. Didaticamente são subdivididas em “Avançadas” que envolvem as atividades produtivas, sociais e de lazer e representam uma participação social mais ativa, “instrumentais” relacionadas à uma vida comunitária independente e as “básicas” relacionadas às atividades de autocuidado.

( F ) Autonomia e Independência são sinônimos. AUTONOMIA Autonomia é um termo de origem grega cujo significado está relacionado com

independência, liberdade ou autossuficiência. É o exercício do autogoverno. Inclui: liberdade individual, privacidade, livre-escolha, liberdade e harmonia como os próprios sentimentos e necessidades. Em Filosofia, autonomia é um conceito que determina a liberdade de indivíduo em gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida por uma lei própria, que apesar de ser diferente das outras, não é incompatível com elas.

INDEPENDÊNCIA O aspecto central do conceito de independência é a capacidade funcional que,

em sua expressão máxima, significa poder sobreviver e desempenhar, sem ajuda, as atividades de vida diárias. A independência não é condição necessária para a autonomia embora seja uma condição frequentemente presente em pessoas capazes de decidirem por si. Não confunda os conceitos de “autonomia” e “independência”. Uma pessoa pode ter algum comprometimento funcional, mas preservar sua autonomia, ou seja, seu poder de decidir o que quer e como quer.

( V ) “Idoso” no Brasil refere-se a toda e qualquer pessoa a partir dos 60 anos de idade. Isso está oficialmente determinado pela Política Nacional do Idoso e pelo Estatuto do Idoso, leis vigentes em nosso país. A determinação cronológica do envelhecimento (por idade) é realizada para facilitar a organização de serviços assistenciais e a distribuição de alguns benefícios. O limite etário aqui estabelecido segue orientação da Organização Mundial de Saúde que diz que, em países desenvolvidos (como Estados Unidos, Japão, Canadá, países europeus, etc) é considerada idosa toda pessoa a partir dos 65 anos de idade e, nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, ainda hoje, esse limite etário é de 60 anos. Isso é devido às diferentes condições de vida a que a população é submetida o que pode, em especial com os economicamente

d) Avaliação da acuidade visual;

e) Avaliação nutricional;

f) Estímulo à atividade física para fortalecimento muscular, melhoria do equilíbrio e marcha e da amplitude articular, aumento da flexibilidade e alongamento;

g) Correção de fatores de risco ambientais (p. ex: barras de apoio no banheiro, piso antiderrapante no banheiro e cozinha);

h) Conscientização e modificação de comportamentos de risco

GABARITO

As questões a seguir referem-se ao processo de envelhecimento e à saúde da pessoa idosa. Vamos considerar os conteúdos relacionados à saúde do idoso que você teve contato no curso.

Inicialmente vamos recordar os principais conceitos utilizados em gerontologia que, para quem não se lembra, é a ciência que estuda o envelhecimento. Leia atentamente as afirmações a seguir e assinale V para “verdadeiro” e F para “falso”:

( F ) Envelhecimento é um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte.

Envelhecimento é uma fase do ciclo de vida e, assim, um processo natural, não patológico. Velhice não é doença e não deve ser tratada como tal.

( V ) O envelhecimento também pode ser compreendido como a ação do tempo comum a todos somada ao que se denomina “marcas da vida” ou seja, a história de vida de cada indivíduo tornando esse processo assimétrico com uma expressão própria em cada indivíduo.

( F ) Senescência e senilidade são sinônimos e representam as alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento.

SENESCÊNCIA Senescência é o processo natural de envelhecimento ou o conjunto de fenômenos

associados a este processo. A senescência é um processo metabólico ativo essencial para o envelhecimento. Tais alterações têm por característica principal a diminuição progressiva de nossa reserva funcional. Isto significa dizer que um organismo envelhecido, em condições normais, poderá sobreviver adequadamente, porém, quando submetido a situações de estresse físico, emocional, etc; pode apresentar dificuldades em manter sua homeostase manifestando, assim, sobrecarga funcional, que pode culminar em processos patológicos.

SENILIDADE Termo atribuído à presença de doenças e limitações que podem surgir ao longo

da vida, como a osteoporose, a hipertensão arterial e o câncer. Estas são características do envelhecimento patológico e necessitam de

abordagem e tratamento específicos. É verdade que as doenças, principalmente

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(especialmente as crônicas) e a existência de hábitos de vida considerados inadequados (como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, obesidade entre outros) são os grandes vilões para a saúde das pessoas idosas pois ao atingirem negativamente uma reserva funcional já diminuída (em relação ao jovem) poderão causar insuficiências orgânicas incapazes de serem compensadas rapidamente podendo gerar situações em que a assistência (em maior ou menor grau) seja necessária.

( V ) O início do envelhecimento é relativamente precoce, ao redor dos 20 anos de idade, fase essa em que é pouco perceptível. No final da terceira década começam a surgir as primeiras alterações funcionais e/ou estruturais. Admite se, como regra geral que, a partir dos 40 anos a cada ano haja perda de 1% da função/ano. À exceção dos ovários e do timo tais alterações não causam insuficiência absoluta de um órgão ou sistema mesmo em idosos em velhice avançada.

( V ) Com o envelhecimento a pele diminui sua capacidade de reter umidade ficando mais ressecada o que pode causar prurido (coceira) e descamação. Epiderme e derme ficam mais finas, as ondulações que as unem são suavizadas e os vasos sanguíneos presentes diminuem e ficam mais frágeis. Isso faz com que qualquer compressão local mais intensa possa provocar um deslizamento entre essas estruturas com consequente rompimento dos vasos locais ocasionando hematomas (manchas arroxeadas) que podem ser erroneamente confundidos com agressões.

( F ) As glândulas sebáceas diminuem de tamanho, mas aumentam sua capacidade funcional provocando maior lubrificação da pele. As glândulas sudoríparas também aumentam fazendo com que a pessoa idosa transpire mais.

As glândulas sebáceas aumentam de tamanho, mas diminuem sua capacidade funcional provocando diminuição na menor lubrificação da pele que fica sujeita a maiores atritos. As glândulas sudoríparas se atrofiam fazendo com que a pessoa idosa transpire menos.

( V ) A diminuição das reservas funcionais em seres humanos é lenta e progressiva, sendo compatível com a vida saudável em idades muito avançadas (p.ex: centenários), uma vez que em condições normais ou rotineiras, não costuma provocar quaisquer problemas. O estresse adicional causado pelas doenças (especialmente as crônicas) e a existência de hábitos de vida considerados inadequados (como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, obesidade entre outros) são os grandes vilões para a saúde das pessoas idosas pois ao atingirem negativamente uma reserva funcional já diminuída (em relação ao jovem) poderão causar insuficiências orgânicas incapazes de serem compensadas rapidamente podendo gerar situações em que a assistência (em maior ou menor grau) seja necessária.

( V ) Com o envelhecimento há uma progressiva perda de neurônios, no entanto, por ser em grande número, tal perda não resulta, necessariamente, em prejuízo do funcionamento mental. No organismo, essa perda ocasiona algum grau de comprometimento na audição, na visão, no olfato, na regulação da temperatura e na sensação de dor. As perdas sensoriais contribuem com a diminuição do equilíbrio. A junção dessas alterações torna a pessoa idosa mais vulnerável à ocorrência de acidentes, em especial as quedas.

( F ) Com o envelhecimento a capacidade de manter a temperatura corporal (termorregulação) não é afetada

menos favorecidos, gerar um “envelhecimento mais precoce”.( V ) Cuidador é a pessoa que cuida de pessoas idosas que necessitem de

acompanhamento ou cuidado, auxiliando no desenvolvendo atividades cotidianas de forma a garantir uma melhor qualidade de vida e a manutenção de sua integração com a sociedade.

( V ) Ao conjunto hierarquizado de pessoas que mantém entre si laços típicos das relações de dar e receber denomina-se rede de apoio social. Ela existe ao longo de todo o ciclo vital, atendendo à motivação básica do ser humano à vida gregária. No entanto, sua estrutura e suas funções sofrem alterações dependendo das necessidades das pessoas. Entre suas principais funções cita-se dar e receber apoio emocional, ajuda material, serviços e informações; estabelecer novos contatos sociais. Familiares, vizinhos, amigos e conhecidos compõe a rede de relações e apoio informais.

( V ) A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, reeditada em outubro de 2006, colocou a capacidade funcional da população idosa como o grande paradigma para organização dos serviços assistenciais conforme ilustrado a seguir.

Saúde da Pessoa IdosaLinha de Cuidado

Ações:Atenção DomiciliáriaReabilitaçãoPrevenção secundária

Ações:Promoção PrevençãoReabilitação PreventivaAtenção BásicaSuporte Social IN

TERS

ETO

RIA

LID

AD

E

INDEPENDENTE

FRÁGIL

6. Agora, vamos recordar as principais alterações que ocorrem com o envelhecimento. Leia atentamente as afirmações a seguir e assinale V para “verdadeiro” e F para “falso”:

( V ) Uma “síndrome” se caracteriza por múltiplas etiologias, ou seja, não existe uma causa única. Ela, geralmente, não causa risco iminente de morte mas compromete, de forma significativa, a qualidade de vida da pessoa acometida

( V ) O envelhecimento fisiológico ou normal pode também ser entendido como uma diminuição progressiva da denominada “reserva funcional”, ou seja, diminuição da capacidade de resposta a desafios. Esta diminuição na capacidade está ligada a riscos progressivamente maiores de doença ou perda da capacidade de viver de forma independente. Por esta razão, a morte é a consequência final do envelhecimento.

( V ) A diminuição das reservas funcionais em seres humanos é lenta e progressiva, sendo compatível com a vida saudável em idades muito avançadas (p.ex: centenários), uma vez que em condições normais ou rotineiras, não costuma provocar quaisquer problemas. O estresse adicional causado pelas doenças

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estabilidade postural, diminuição da força, diminuição na acuidade auditiva e visual, alterações posturais), a presença de comorbidades e o uso de múltiplos medicamentos (polifarmácia).

( V ) Entre os fatores extrínsecos destacam-se os riscos ambientais como iluminação inadequada, pisos irregulares ou escorregadios, obstáculos no caminho (móveis, fios), tapetes soltos, ausência de barras de apoio em banheiros, ausência de corrimãos em escadas, roupas muito longas, calçadas inadequadas, uso inadequado de tecnologia assistida (andador, bengala ou cadeiras de rodas).

( V ) Os fatores situacionais ou comportamentais são representados por algumas atividades que podem aumentar o risco de ocorrência de quedas como, por exemplo, deambular de meia, ir ao banheiro à noite com as luzes apagadas, subir em cadeira ou banquinho para pegar objetos localizados em níveis elevados ou andar apressadamente quando isso constitui um hábito.

( V ) As intervenções nas situações de ocorrência de quedas são multifatoriais. Exercícios programados com ênfase no treinamento de equilíbrio e marcha, modificações nos esquemas medicamentosos (aprazamento), tratamento de hipotensão postural, alterações no ambiente físico tornando-o mais seguro, e tratamento das desordens cardiovasculares são alguns exemplos.

( V ) Entre as medidas de prevenção de quedas em pessoas idosas destacam-se: a) Avaliação geriátrica ampla com medidas corretivas adequadas; b) Racionalização do uso de medicamentos; c) Redução do consumo de bebidas alcoólicas; d) Avaliação da acuidade visual; e) Avaliação nutricional; f) Estímulo à atividade física para fortalecimento muscular, melhoria do

equilíbrio e marcha e da amplitude articular, aumento da flexibilidade e alongamento;

g) Correção de fatores de risco ambientais (p. ex: barras de apoio no banheiro, piso antiderrapante no banheiro e cozinha);

h) Conscientização e modificação de comportamentos de risco

A capacidade de manter a temperatura corporal (termorregulação) também é afetada e coloca os idosos sujeitos às consequências da exposição a temperaturas mais extremas (frias ou quentes).

( V ) Para uma melhor visualização é necessário que o olho realize um processo denominado “acomodação” o qual permite a focalização de objetos mais próximos ou mais distantes. É realizado pelo corpo ciliar e pelas fibras musculares da íris. Com o avançar da idade, as fibras musculares tornam-se mais curtas e menos elásticas e parte delas é substituída por tecido conjuntivo. Na prática essas alterações dificultam a focalização, com clareza, de objetos próximos e a isso se denomina “presbiopia” ou “visão curta”.

( V ) A altura tende a diminuir com o avançar da idade em decorrência do afinamento dos discos e do encurtamento das vértebras. Essa diminuição pode ser ainda mais acentuada devido a maiores níveis de cifose (curvatura anômala da espinha dorsal, de convexidade posterior), inclinação da cabeça para trás e flexão dos quadris e joelhos.

( V ) A realização de exercício regular auxilia na manutenção da força e do tônus muscular reduzindo as consequências funcionais negativas que o avançar da idade pode ocasionar e que podem vir a comprometer a independência da pessoa idosa.

7. Para finalizarmos, vamos nos lembrar da síndrome de instabilidade postural. Leia atentamente as afirmações a seguir e assinale V para “verdadeiro” e F para “falso”:

( V ) Queda é o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial com incapacidade de correção em tempo hábil, determinada por circunstâncias multifatoriais, comprometendo a estabilidade A queda é, geralmente, um evento sinalizador do início do declínio da capacidade funcional ou sintoma de uma nova doença ou agravo.

( V ) Estudos epidemiológicos apontam que 35% a 40% dos idosos com idade igual ou superior a 60 anos caem ao menos uma vez ao ano, aumentando para 50% entre os idosos de 80 anos e mais e, 13% de todos os idosos caem duas vezes ou mais ao ano e são chamados de “caidores”. Depois de um ano, 20% dos “caidores” recorrentes estão no hospital, em uma instituição de longa permanência (ILPI) ou morreram.

( V ) As fraturas constituem os desfechos mais graves relacionados às quedas. A fratura de quadril compreende cerca de 25% das fraturas pós-queda em idosos da comunidade.

( V ) “Ptofobia” é o nome dado para caracterizar a fobia de quedas das pessoas idosas. A perda de confiança pode resultar na restrição das atividades. Além de ocorrer entre os idosos que sofreram quedas, pode ocorrer também entre os que não sofreram. As quedas geram sintomas como ansiedade e depressão além da perda de confiança na própria capacidade de andar com segurança em diferentes ambientes o que está associado ao declínio funcional, sentimentos de inutilidade, isolamento social e depressão.

( V ) Os fatores de riscos para a ocorrência de quedas podem ser classificados em fatores intrínsecos; extrínsecos ou ambientais; situacionais ou comportamentais.

( V ) Os fatores intrínsecos relacionados às quedas estão relacionados às alterações fisiológicas advindas do processo de envelhecimento (ex: alterações no equilíbrio,

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ANOTAÇÕES__________________________________________________________________________

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