13
GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM INDÚSTRIAS FABRICANTES DE BENS DE CONSUMO Antonio Carlos Dantas Cabral (IMT) [email protected] Antonio Carlos Bittencourt Cabral (IMT) [email protected] O objetivo deste trabalho foi desenvolver um modelo consistente de gestão do Sistema Embalagem, baseado em informações e indicadores de fácil acesso, e que permita orientar decisões nos vários níveis gerenciais influenciam todo o desempenhoo da empresa e contribuem diretamente para o aumento de produtividade e da lucratividade. A embalagem movimentou no Brasil, em 2009, R$ 36,2 bilhões. O seu materiais incide entre 5 e 20% no preço de venda de bens de consumo e chega a representar até 10% do faturamento bruto das empresas. Mesmo com toda essa importância econômica, é vista como sendo apenas uma etapa no seu fluxograma de processo ou como um simples contentor para o produto. O modelo destacou o Sistema Embalagem na estrutura organizacional e enfatizou a necessidade de gerenciá-lo corretamente. O passo inicial foi utilizar a ferramenta “Diagnóstico do Sistema Embalagem” para levantar, organizar e analisar criticamente as informações quantitativas e qualitativas, visando identificar seus pontos fortes e fracos e propor decisões táticas e estratégias para manter os primeiros e ações corretivas para eliminar os últimos. Três indicadores foram selecionados para a gestão do Sistema Embalagem: custo sistêmico, inovação e competências. O modelo foi aplicado em várias empresas e, dentre elas, foi selecionada uma indústria de brinquedos, tradicional com sua gestão focada em custos. Nela foi possível destacar a ausência de ações inovadoras, uma forte lacuna na formação de competências, a gestão focada em custos e, conseqüentemente, um pequeno horizonte de sobrevivência da empresa. O modelo se mostrou consistente e de média complexidade, permitindo identificar muitas oportunidades de melhoria que influenciam diretamente a lucratividade da empresa. Palavras-chaves: Embalagem, Sistema Embalagem, Gerenciamento Sistêmico, custo sistêmico, inovação, competência XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE

EMBALAGEM EM INDÚSTRIAS

FABRICANTES DE BENS DE CONSUMO

Antonio Carlos Dantas Cabral (IMT)

[email protected]

Antonio Carlos Bittencourt Cabral (IMT)

[email protected]

O objetivo deste trabalho foi desenvolver um modelo consistente de

gestão do Sistema Embalagem, baseado em informações e indicadores

de fácil acesso, e que permita orientar decisões nos vários níveis

gerenciais influenciam todo o desempenhoo da empresa e contribuem

diretamente para o aumento de produtividade e da lucratividade. A

embalagem movimentou no Brasil, em 2009, R$ 36,2 bilhões. O seu

materiais incide entre 5 e 20% no preço de venda de bens de consumo

e chega a representar até 10% do faturamento bruto das empresas.

Mesmo com toda essa importância econômica, é vista como sendo

apenas uma etapa no seu fluxograma de processo ou como um simples

contentor para o produto. O modelo destacou o Sistema Embalagem na

estrutura organizacional e enfatizou a necessidade de gerenciá-lo

corretamente. O passo inicial foi utilizar a ferramenta “Diagnóstico do

Sistema Embalagem” para levantar, organizar e analisar criticamente

as informações quantitativas e qualitativas, visando identificar seus

pontos fortes e fracos e propor decisões táticas e estratégias para

manter os primeiros e ações corretivas para eliminar os últimos. Três

indicadores foram selecionados para a gestão do Sistema Embalagem:

custo sistêmico, inovação e competências. O modelo foi aplicado em

várias empresas e, dentre elas, foi selecionada uma indústria de

brinquedos, tradicional com sua gestão focada em custos. Nela foi

possível destacar a ausência de ações inovadoras, uma forte lacuna na

formação de competências, a gestão focada em custos e,

conseqüentemente, um pequeno horizonte de sobrevivência da

empresa. O modelo se mostrou consistente e de média complexidade,

permitindo identificar muitas oportunidades de melhoria que

influenciam diretamente a lucratividade da empresa.

Palavras-chaves: Embalagem, Sistema Embalagem, Gerenciamento

Sistêmico, custo sistêmico, inovação, competência

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

Page 2: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

2

1. Introdução

O objetivo deste trabalho foi desenvolver um modelo consistente de gestão do Sistema

Embalagem em empresas usuárias de embalagem, baseado em informações e indicadores de

fácil acesso, e que permita orientar decisões.

Os modelos e técnicas de gestão oferecem meios de reduzir as complexidades e incertezas

envolvidas nos processos de transformação (HAVE, 2003). O autor afirma que muitos desses

modelos apenas auxiliam a memória e criam meios úteis para ordenar a realidade e dar

suporte à tomada de decisões. Devem, portanto, ser entendidos como ferramentas de análise

de situações cotidianas, que, aliadas ao conhecimento e experiência dos tomadores de

decisões, identificam possíveis linhas de ação, em busca da melhoria contínua do

funcionamento das organizações.

O modelo de gestão proposto tem como foco a embalagem, que movimentou no Brasil, em

2009, R$ 36,2 bilhões (ABRE, 2009). É um mercado que se caracteriza pela constante

evolução tecnológica, com freqüente desenvolvimento de novos materiais. A distribuição

desse faturamento por tipo de material é a seguinte: folhas metálicas (aço e alumínio), 18%;

plásticos, 37%; papel 7%; cartão e papelão ondulado 28%; vidro, 5%; madeira, 3%; têxteis,

2%. O custo desses materiais incide entre 5 e 20% no preço de venda de bens de consumo e

chegam a representar até 10% do faturamento bruto dos fabricantes. Todos estes dados

comprovam a importância econômica da embalagem e exigem atenção crescente no estudo de

todos os aspectos nela envolvidos - materiais, acessórios, rendimentos, perdas, equipamentos,

dentre outros - com o intuito de propor soluções criativas para os seus principais problemas e

de alternativas inovadoras que adicionem valor econômico.

Mesmo com toda essa importância econômica, a embalagem é vista como sendo apenas uma

etapa no seu fluxograma de processo ou como um simples contentor para o produto. Isto é

incorreto porque limita a atuação da empresa apenas ao material e deixa de lado outros fatores

que também influenciam o seu desempenho. Muitas indústrias usuárias a consideram,

erradamente, como “uma fonte de custos” ou como “um mal necessário” (CABRAL, 2003).

Poucas compreendem ela deve ser sempre entendida como parte integrante do bem fabricado,

fundamental para conservá-lo ao longo de sua vida útil e para minimizar perdas. Além disso, é

um excelente meio de comunicação, tanto pelo seu formato e cores, que podem surpreender

os consumidores, como pelas informações nela impressas, que, se bem redigidas, a

transformam, de um simples objeto, num convite ao diálogo (CABRAL,1999).

A embalagem deve ser entendida como sendo um sistema complexo que exige atenção

permanente sobre o todo e cada uma das suas partes para ser gerenciada com eficiência e

eficácia. Vale lembrar que sistema é um modelo interdisciplinar que procura explicar

operações, comportamentos, informações e outras variáveis que se agrupam com finalidade

específica.

A embalagem, como uma empresa, é um sistema aberto, absolutamente influenciado pela

incerteza do ambiente que as cerca e que, portanto, requer o uso de critérios de racionalidade

na sua gestão para assegurar a sua sobrevivência. Estes sistemas abertos são constituídos de

três níveis principais: institucional, intermediário e operacional, representados na Figura 1.

Nível institucional: Faceia o ambiente externo, trabalha com a incerteza e, a partir das

informações colhidas toma as decisões estratégicas das empresas.

Page 3: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

3

Nível intermediário: É o nível mediador ou gerencial, responsável pela articulação interna.

Transforma as estratégias elaboradas em planos de ação e deve ser, por este motivo, flexível e

elástico para amortecer e conter os impactos e pressões externas sem prejudicar as operações

internas.

Nível operacional: Opera na racionalidade estritamente técnica, executando rotinas e

ignorando incertezas e variações ambientais que são amortecidas pelos outros dois níveis.

Entradas no Saídas para

Sistema o ambiente

Nível estratégico

Nível intermediário

Nível operacional

Figura 1: Representação dos três níveis principais de um sistema

Em resumo, o modelo proposto pretende destacar o Sistema Embalagem na estrutura

organizacional e gerenciá-lo de forma a dar a ele o foco necessário para orientar decisões que

influenciam todo o desempenho da empresa, contribuindo diretamente para o aumento de

produtividade e da lucratividade. Essa pretensão de contribuir justificou a realização do

trabalho.

2. O Sistema Embalagem

O SISTEMA EMBALAGEM é o conjunto de operações, materiais e acessórios que são

utilizados na indústria com a finalidade de conter, proteger e conservar os diversos produtos e

transportá-los aos pontos de venda ou utilização, atendendo às necessidades dos consumidores

e/ou clientes a um custo adequado, respeitando a ética e o meio ambiente (CABRAL, 1994).

O sistema é alimentado por necessidades dos consumidores, inovações tecnológicas e

incertezas econômicas. O Sistema Embalagem, também citado de forma abreviada no texto

como SE, é esquematizado na Figura 2.

CONSUMIDORCONSUMIDORProjeto Criação

Especificação

Seleção de

Fornecedores

Compra e

Entrega

Recebimento e

EstocagemProcessamento e

Estocagem

Distribuição

PDV

Page 4: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

4

Figura 2: Representação do Sistema Embalagem (SE), que tem o foco no Consumidor.

Essas etapas podem ser alocadas a cada um dos três níveis (estratégico, intermediário e

operacional da Figura 1) como mostrado na Figura 3 e analisado a seguir.

Subsistema "pós envase"

DISTRIBUIÇÃO

CONSUMIDORES

AMBIENTE

EXTERNO

NÍVEL

ESTRATÉGICO

NÍVEL

INTERMEDIÁRIO

NÍVEL

OPERACIONAL

PROJETO

SELEÇÃO DE

FORNECEDORES

ESTOCAGEM

DO PRODUTO

ESTOCAGEM

RECEBIMENTO

PONTOS DE

VENDA

PRODUTO

PREPARO

PROCESSO

ENVASE

COMPRA

ESPECIFICAÇÃO CRIAÇÃO

Figura 3: Inserção do Sistema Embalagem nos níveis operacional, intermediário e estratégico

Consumidor: É a peça chave do SE. Todo o esforço deve ser feito para identificar suas

necessidades e seus desejos de consumo.

Projeto: Situa-se no nível estratégico, faceando o ambiente externo, e consiste na

conceituação da embalagem. É desenvolvido a partir da identificação das necessidades dos

consumidores ou dos clientes ou ainda em decorrência de oportunidades detectadas por

Marketing. Requer o conhecimento das características do produto, de seu processamento, de

suas necessidades de proteção, da cadeia de comercialização e dos materiais e equipamentos

disponíveis no mercado. Na fase de projeto são realizados todos os testes que simulam o

desempenho da embalagem, como permeabilidade, resistência ao transporte e empilhamento,

interações produto/materiais e outros.

Criação: Também no nível estratégico, a criação é simultânea ao projeto e poderia mesmo ser

considerada parte dele se não fosse habitualmente desenvolvida por agências especializadas,

Page 5: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

5

num processo que deve ser acompanhado pelo corpo técnico das empresas. Mesclam-se aqui,

a tecnologia específica de criação, os softwares avançados, os estudos sobre o efeito das cores

e as pesquisas diversas, com a capacidade dos profissionais em reunir tantos detalhes numa

única peça.

A especificação das embalagens, a seleção de fornecedores e a compra dos materiais

localizam-se no nível intermediário.

Especificação: Concluídos o projeto e a criação, formalizam-se as propriedades da

embalagem e suas variações toleradas num documento, denominado especificação, que serve

de base para a compra.

Seleção de fornecedores: Uma vez especificada a embalagem, os departamentos de compras

e desenvolvimento escolhem, por critérios técnicos e comerciais (qualidade, preço,

pontualidade e assistência técnica ou serviço) a empresa fornecedora. A preferência deve ser

dada para aquelas que já trabalham com "Qualidade Assegurada no Fornecimento". Muitas

vezes esta seleção é feita no início do projeto, assumindo o caráter de aliança estratégica.

Compra: A compra é o passo concreto na materialização do projeto de embalagem e deve ser

feita por profissionais habilitados tecnicamente. Todas as empresas devem ter política de

compras bem definidas e que considerem os critérios já citados - qualidade, preço,

pontualidade e assistência técnica - como indicadores da saúde da relação fornecedor/cliente.

É muito comum, e deve ser evitada, a compra baseada somente no preço. É um enfoque

míope porque amplia desnecessariamente o leque de fornecedores e desconsidera os demais

componentes do SE.

A partir deste ponto, adentra-se o nível operacional já definido anteriormente.

Recebimento: As embalagens adquiridas são recebidas na fábrica e inspecionadas seguindo

plano de controle de qualidade previamente estabelecido. No caso de fornecimento com

qualidade assegurada, a inspeção é substituída por visitas periódicas ao fabricante, que deve

emitir laudos para cada lote entregue.

Estocagem das embalagens: As embalagens aprovadas devem ser estocadas corretamente

obedecendo ao tradicional FIFO (“first in - first out”) e às recomendações técnicas de

empilhamento e cuidados no manuseio.

Envase: A partir deste ponto, a embalagem passa a se confundir com o produto assumindo a

responsabilidade de contê-lo e protegê-lo até o seu consumo ou utilização. O conceito de

Sistema Embalagem exige o amplo conhecimento das características técnicas e limitações dos

equipamentos e aplicação prática deste conhecimento para obter melhor eficiência da linha de

produção. Monitorar o desempenho no envase é fundamental para que rendimentos e perdas

tenham melhorias contínuas. Problemas devem ser analisados consistentemente pela empresa

usuária visando identificar suas verdadeiras causas antes de repassá-lo ao fabricante.

Estocagem do produto acabado: Última etapa do nível operacional, a estocagem deve

respeitar as limitações do produto - temperatura, umidade relativa adequados - e da

embalagem - empilhamento e conteinerização adequados.

Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte aos pontos de

venda ou utilização e a estocagem nestes locais até o momento da compra ou consumo.

As operações de estocagem de produto acabado, distribuição e avaliação nos pontos de venda

Page 6: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

6

podem ser agrupadas no subsistema denominado "pós-envase" (ver Figura 3) que deve ser

atentamente acompanhado, objetivando o contínuo aprimoramento e a detecção de eventuais

pontos falhos a corrigir. A responsabilidade, em última análise, cabe ao fabricante do

produto.

O passo inicial para a gestão do SE é conhecê-lo em seus detalhes, utilizando a ferramenta

“Diagnóstico do Sistema Embalagem”, descrita na Sessão 3.

3. O Diagnóstico do Sistema Embalagem

A primeira versão da ferramenta foi elaborada em 1994 (CABRAL, 1994. Trata-se de uma

ferramenta que permite levantar, organizar e analisar criticamente as informações

quantitativas e qualitativas sobre o funcionamento de cada uma das etapas do Sistema

Embalagem descritas na Sessão 2 acima, visando identificar seus pontos fortes e fracos,

propor decisões táticas e estratégias para manter os primeiros e ações corretivas para eliminar

os últimos. Essas informações, muitas vezes, estão disponíveis nos sistemas gerenciais da

empresa (SAP, por exemplo) e, por não terem sido reunidas de forma adequada, são

ignoradas. Algumas dessas informações são relacionadas a seguir:

Consumidor: Descrever e analisar os procedimentos adotados pela Empresa visando

atender às reclamações dos consumidores, relacionando-os, sempre que possível, ao SE;

Projeto: Relacionar as propriedades das embalagens com as necessidades de proteção do

produto e o desempenho real na distribuição e consumo;

Envase: Traçar o Gráfico V (ver Figura 4) dos equipamentos da linha de envase tendo

como base os desempenhos reais.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Valo

res r

ela

tivo

s

Equipamentos

Gráfico "V"

Figura 4: Gráfico V típico para a linha de envase (MORIN, 2001)

As informações quantitativas relacionadas ao custo sistêmico, inovação e competências

constituem os três indicadores de desempenho do SE, tema do subtítulo 3.1.

3.1. Indicadores de gestão do Sistema Embalagem

Indicadores são medidas de desempenho é um parâmetro ou um valor derivado de parâmetros

que aponta ou fornece informação sobre o estado do fenômeno, meio ou área com uma

significância estendida maior que a obtida diretamente pela observação das propriedades. Os

indicadores são medidas de desempenho (KRAJEWSKI, 2008).

Page 7: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

7

Três indicadores foram selecionados para a gestão do Sistema Embalagem: custo sistêmico,

inovação e competências.

Custo sistêmico

O custo, em muitas dessas organizações, é o único indicador utilizado. Por esse motivo, e para

facilitar comparações entre empresas, foi incluído no modelo com o enfoque sistêmico, ou

seja, agregando todos os custos diretos relacionados a cada uma das etapas do SE mostradas

na Figura 2. Para determiná-lo devem ser pinçadas todas as informações disponíveis na

contabilidade da empresa e dispostas numa planilha específica para permitir a sua correta

interpretação. A Figura 5 mostra aquela recomendada para compilar as informações sobre a

etapa “Compras” do SE. É importante ter em mente que o resultado dessa medição deve ser

interpretado como uma informação gerencial não contábil.

COMPONENTE

do componente por unidade

COMPRAS Material 1 -

Material 2 -

Material 3 -

Material 4 -

Material "n" -

Viagens / transporte -

Serviços de terceiros -

Utilidades (energia, telefone, etc) -

Recursos físicos (amortização) -

Pessoal (salários) -

Pessoal (treinamento) -

Outros (especificar) -

-

- -

CUSTO R$

TOTAL

ETAPA

Figura 5: Planilha utilizada para consolidar os dados de Compras

Inovação

A inovação foi selecionada porque deve refletir a preocupação da empresa em atender às

necessidades dos consumidores num mercado turbulento que rejeita a mesmice (CABRAL,

2003). Inovação é uma mudança tecnológica incremental, radical ou extrema, no processo de

fabricação, no produto acabado ou no serviço prestado (TIDD, 1997). Segundo o autor, as

empresas realmente inovadoras são, em média, duas vezes mais rentáveis que as demais.

Inovar é difícil, nem sempre leva a produtos e embalagens que são aceitos pelos consumidores

e exige um conjunto de recursos financeiros e humanos – competência - que nem sempre está

disponível. As pessoas e empresas inovadoras têm forte conhecimento específico, têm

iniciativa e, nas palavras de Kanitz (1998), têm “acabativa” que é a rara capacidade de

concluir um projeto iniciado.

As informações sobre esse indicador relacionam os investimentos e os resultados tangíveis e

não tangíveis obtidos nos últimos dois anos e os esperados para o ano atual e para os

próximos dois anos, de modo a evitar interpretações pontuais. A Figura 6 mostra a planilha

utilizada para consolidar as inovações.

Page 8: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

8

Inovação

R$ % s/ fat. R$ % s/ fat. Intangíveis

Consumidor

Projeto

Criação

Especificação

Aval. de fornecedores

Compras

Recebimento

Estocagem embalagem

Linha de envase

Estocagem produto

Distribuição

Pontos de venda

% s/ fat: informar o valor de benefício sobre a % do faturamento da empresa.

Etapa Investimento Benefícios

Figura 6: Planilha utilizada para consolidar as inovações nos últimos dois anos

Competência

A competência é relacionada à capacidade de se preparar para enfrentar a concorrência do

mercado por preços menores e por produtos e embalagens inovadoras. Segundo Fleury;

Fleury (2000) é “um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar,

transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização

e valor social ao indivíduo”. O autor também define competência como inteligência prática

que se apoia nos conhecimentos adquiridos e os transformam em soluções para os problemas

apresentados. As competências descritas pelos autores são mostradas na Figura 7.

Saber agirSaber o que e por que faz. Saber julgar, escolher,

decidir

Saber mobilizarSaber mobilizar recursos humanos, financeiros e

materiais, criando sinergia entre eles.

Saber comunicar

Compreender, processar, transmitir informações e

conhecimentos, assegurando o entendimento da

mensagem pelos outros.

Saber aprender

Trabalhar o conhecimento e a experiência. Rever

modelos mentais. Saber desenvolver-se e propiciar

o desenvolvimento dos outros.

Saber comprometer-seSaber engajar-se e comprometer-se com os

objetivos da organização.

Saber assumir

responsabilidades

Ser responsável, assumindo os riscos e as

conseqüências de suas ações, e ser, por isso,

reconhecido.

Ter visão estratégica

Conhecer e entender o negócio da organização, seu

ambiente, identificando oportunidades e alternativas.

Figura 7: Competências do profissional segundo Fleury,2000.

Esse indicador mede o número de horas efetivamente utilizadas pelos profissionais envolvidos

no SE em treinamento, cursos, feiras e exposições, visitas técnicas a fornecedores, dentre

outros. O valor referência adotado é 8 h/mês (4% das horas trabalhadas) de treinamento como

o mínimo necessário para consolidar e equalizar o conhecimento adquirido pelos funcionários

e transformá-lo em competências. A Figura 8 sintetiza essas informações para cada uma das

etapas do SE.

Page 9: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

9

Descrição h Descrição h Descrição h Descrição h

Consumidor

Projeto

Criação

Especificação

Aval. de fornecedores

Compras

Recebimento

Estocagem embalagem

Linha de envase

Estocagem produto

Distribuição

Pontos de venda

ETAPA DO SEProfissional

GRAU DE ATUALIZAÇÃO (horas . mês / pessoa)

Cursos Visitas técnicas Livros e revistas Feiras

Figura 8: Planilha utilizada para consolidar as informações relacionadas à formação de competências

4. Aplicação numa indústria de brinquedos

O diagnóstico foi aplicado em várias empresas fabricantes de bens de consumo. Este trabalho

apresenta os dados coletados numa indústria de brinquedos e concentrou-se nos indicadores

custo sistêmico e formação de competências porque a empresa não tem planos de inovação

consistentes para o ano atual e os próximos dois anos e no último biênio fez apenas um

lançamento de produto. Foi selecionado um dos seus produtos (100.000 unidades/mês) cujas

características são: a) embalagem primária: cartucho com janela superior, envolvido com

filme termoencolhível de alto brilho, contendo dois brinquedos; b) embalagem secundária:

caixa de papelão ondulado contendo, cada uma, dez unidades.

4.1. Custo sistêmico

A Figura 9 mostra as informações relacionadas aos custos de três das etapas avaliadas:

compras, montagem, e distribuição.

ETAPA COMPONENTE

do componente por unidade

COMPRAS Material 1 50.000,00 0,5000

Material 2 14.000,00 0,1400

Material 3 - Caixa de papelão com 10 un. 7.000,00 0,0700

Viagens / transporte - -

Serviços de terceiros - -

Utilidades (energia, telefone, etc) - -

Recursos físicos (amortização) - -

Pessoal (salários) 900,00 0,0090

Pessoal (treinamento) -

Outros (especificar) -

-

71.900,00 0,7190

Mat. 1 R$/un 0,50

Mat. 2 R$/un 0,14

Mat. 3 R$/un 0,70

Preços CIF

CUSTO R$

TOTAL

Page 10: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

10

ETAPA COMPONENTE

do componente por unidade

MONTAGEM Tempo parado - down time 4.000,00 0,0400

Material 1 - Perdas 1.500,00 0,0150

Material 2 - Perdas 350,00 0,0035

Material 3 - Perdas 35,00 0,0004

Serviços de terceiros - -

Utilidades (energia, telefone, etc) 550,00 0,0055

Recursos físicos (amortização) 17.500,00 0,1750

Pessoal (salários) 7.875,00 0,0788

Pessoal (treinamento) 787,50 0,0079

Outros (especificar) -

32.597,50 0,3260

Perdas %

Material 1 3,00%

Material 2 2,50%

Material 3 0,50%

CUSTO R$

TOTAL

ETAPA COMPONENTE

do componente por unidade

DISTRIBUIÇÃO Custo transporte 25.000,00 0,2500

Material 1 - Perdas e danos 2.000,00 0,0200

Material 2 - Perdas e danos 2.000,00 0,0200

Material 3 - Perdas e danos 200,00 0,0020

Serviços de terceiros - -

Utilidades (energia, telefone, etc) - -

Recursos físicos (amortização) - -

Pessoal (salários) - -

Pessoal (treinamento) - -

Outros (especificar) - -

29.200,00 0,2920

Perdas %

Material 1 2,00%

Material 2 2,00%

Material 3 0,20%

CUSTO R$

TOTAL

Figura 9: Planilhas com informações relacionadas às etapas compras, montagem e distribuição

Todos os valores obtidos na indústria foram consolidados na Figura 10.

TOTAL UNIDADE %

Consumidor 2.500,00R$ 0,03R$ 1%

Projeto 10.700,00R$ 0,11R$ 4%

Criação 1.000,00R$ 0,01R$ 0%

Especificação 1.500,00R$ 0,02R$ 1%

Avaliação de fornecedores 2.000,00R$ 0,02R$ 1%

Compras 71.900,00R$ 0,72R$ 26%

Recebimento 950,00R$ 0,01R$ 0%

Estocagem de materiais 6.610,70R$ 0,07R$ 2%

Envase / encaixotamento / paletização 32.597,50R$ 0,33R$ 12%

Estocagem de produto acabado 15.670,00R$ 0,16R$ 6%

Distribuição 29.200,00R$ 0,29R$ 11%

Pontos de venda 98.200,00R$ 0,98R$ 36%

TOTAL GERAL 272.828,20R$ 2,73R$ 100%

CUSTOETAPA

Figura 10: Consolidação dos dados relativos ao custo sistêmico

A análise da Figura 9 permite identificar perdas excessivas dos materiais de embalagem na

montagem e na distribuição. Na montagem, os valores de 3,0% e 2,5% indicam baixa

Page 11: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

11

qualidade dos materiais de embalagem 1 e 2 ou necessidade de treinamento dos operadores.

Na distribuição, há perda de caixas completas com todo o seu conteúdo, como a

proporcionalidade das perdas evidenciada pela relação 10:1 entre as embalagens primárias e

as secundárias. O problema pode ser atribuído ao dimensionamento inadequado das caixas de

papelão ou manuseio inadequado.

A Figura 10, por sua vez, mostra o custo sistêmico, que é R$ 2,73 / unidade produzida. Esse

valor é apenas gerencial e é o ponto de partida da análise crítica que deve ser feita

ininterruptamente. É visível a necessidade identificar pontos críticos e adotar ações corretivas

nos pontos de venda, na distribuição e no envase para reduzir a sua incidência no custo

sistêmico. Nesse caso específico dessa indústria de brinquedos, à semelhança de muitos

outros fabricantes de bens de consumo, todo o esforço estava sendo equivocadamente

despendido na redução do preço de compras em vez de ser dirigido para a correção dos

problemas internos.

Com base na análise das informações coletadas foram apresentadas várias recomendações à

empresa, dentre as quais se destacam: a) rever os padrões de produção, estocagem e

distribuição buscando reduzir as perdas de embalagem; b) simular situações com aumento da

resistência das embalagens (e do seu preço de compra) e eventual redução das perdas de

processo; c) auditar a distribuição e os pontos de venda para identificar fontes de perdas.

4.2. Competências

A atualização dos profissionais, relacionada diretamente à formação de competências na

indústria analisada é mostrada na Figura 11. A soma do tempo de treinamento e de

aperfeiçoamento é de 35,5 h (0,9 % das horas trabalhadas) porque a empresa financia curso de

pós-graduação para o gerente de projetos. Em circunstâncias normais, esse valor cai para

menos metade e esse é o padrão da empresa que deve ser alterado.

Foi recomendada a elaboração de um plano que aumente o nível de formação profissional dos

seus funcionários, via cursos específicos e incentivo ao auto-aperfeiçoamento de modo a

elevar o número de horas paulatinamente até chegar a 2%. Se executar plano, formando

competências, amplia-se a base para inovar, ampliar a gama de consumidores atendidos e

aumentar a lucratividade.

Page 12: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

12

Profissional

Descrição h Descrição h Descrição h Descrição h

Consumidor Gerente de Qualidade NA - NA - NA - NA -

Consumidor Auxiliar de Qualidade NA - NA - NA - NA -

Projeto Gerente de Engenharia Pós-graduação 15 Fornecedor 6 NA - NA -

Engenheiro NA - NA - NA - NA -

Especificação Analista NA - NA - NA - NA -

Aval. de fornecedores Gerente de Qualidade Graduação - NA - NA - NA -

Compras Gerente de Compras Graduação - Fornecedor 6 NA - Feira 1 4,5

Recebimento e estocagem Operador NA - NA - NA - NA -

Montagem Líder de Produção Técnico 4 NA - NA - NA -

Operador NA - NA - NA - NA -

Operador NA - NA - NA - NA -

Estocagem de produto acabado Operador NA - NA - NA - NA -

Distribuição Operador NA - NA - NA - NA -

Operador NA - NA - NA - NA -

Pontos de venda Promotor NA - NA - NA - NA -

Promotor NA - NA - NA - NA -

19 12 0 4,5

0,5% 0,3% 0,0% 0,1%

0,9%

16

8

128

3840

GRAU DE ATUALIZAÇÃO (horas . mês / pessoa)

Cursos Visitas técnicas Livros e revistas FeirasETAPA DO SE

TOTAIS - horas

% sobre horas trabalhadas / atividade

% sobre horas trabalhadas em todas as atividades

Número de funcionários

Horas trabalhadas / funcionário.dia

Total de horas trabalhadaspor mês

Horas trabalhadas / funcionário.dia

Figura 11: Consolidação das informações sobre atualização dos profissionais da indústria de brinquedos avaliada

5. Conclusão

O modelo de gestão do Sistema Embalagem é consistente e sua aplicação é de baixa

complexidade, podendo ser utilizado em qualquer empresa fabricante de bens de consumo.

Quando aplicado corretamente, permite identificar muitas oportunidades de melhoria que

influenciam diretamente a lucratividade da empresa.

6. Próxima etapa

A próxima etapa do trabalho, em andamento, é a inclusão do quarto indicador, o impacto

ambiental.

Referências

ABRE. Dados de Mercado 2009 – disponível em www.abre.org.br – acesso em 27 de abril de 2010.

CABRAL, A.C.D. - Qualidade Total em Sistemas de Embalagem para Alimentos – Apresentado no XIV

Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Alimentos – SBCTA – São Paulo, 1994.

CABRAL, A. C.D. Convite ao diálogo. Revista Abrenews, São Paulo, SP. n.20, p.3, 1999.

CABRAL, A. C. D. A teoria das restrições aplicada ao estudo de cadeias produtivas de alimentos. Tese

(Doutorado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção. São

Paulo, SP. 2003.

FLEURY, A; FLEURY, M. T. L. Estratégias empresariais e formação de competências. São Paulo: Atlas,

2000. 169p.

HAVE, S. T. Modelos de gestão: o que são e quando devem ser usados. São Paulo, SP: Prentice-Hall, 2003.

KANITZ, S. Iniciativa x acabativa. Revista Veja, São Paulo, ano 31, n.43, p.22, nov. 1998.

KRAJEWSKI, L; RITZMAN, L & MALHOTRA, M.. Administração de produção e operações. São Paulo,

SP. Ed. Artmed. 2009.

MORIN, P: Moderna metodologia para concepção de linhas de envase. São Caetano do Sul, SP. Ed. Instituto

Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, 2001.

Page 13: GERENCIAMENTO SISTÊMICO DE EMBALAGEM EM … · embalagem - empilhamento e conteinerização adequados. Distribuição: Etapa de passagem para o ambiente externo engloba o transporte

13

TIDD, J.; BESSANT, J.; PAVITT, K. Managing innovation. West Sussex: John Willey & Sons, 1997. 375p.