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Sérgio Francisco da Costa Gomes Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção social na terceira idade UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Porto, 2007

Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

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Page 1: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

Sérgio Francisco da Costa Gomes

Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento:

Intervenção social na terceira idade

UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Porto, 2007

Page 2: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção
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Sérgio Francisco da Costa Gomes

Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento:

Intervenção social na terceira idade

UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Porto, 2007

Page 4: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

Sérgio Francisco da Costa Gomes

Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento:

Intervenção social na terceira idade

Sob Orientação:

Professor Doutor João Casqueira Cardoso

“Dissertação apresentada

à Universidade Fernando Pessoa

como parte dos requisitos para obtenção

do grau Mestre em Trabalho Social”

Page 5: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

Resumo

“Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção social na terceira

idade” vai ao encontro não só de uma das temáticas mais pertinentes na área da acção

social, como se insere, numa perspectiva holística, na generalidade dos conteúdos e

objectivos gerais dos vários seminários constantes do “Mestrado de Trabalho Social”.

Tem por essencial objectivo perceber a Gerontologia no âmbito de uma investigação e

reflexão cientificas, a partir dos pressupostos subjacentes aos estudos por ela

proporcionados, acrescido pelo contributo proporcionado pelas áreas da Geriatria e da

Gerontologia Social, todas elas confluindo, de certa forma, num denominador comum: o

envelhecimento, o idoso e a velhice.

Uma reflexão, portanto, que se faz a partir da relação de multifacetados conceitos,

correlacionando-os, ao considerar-se que o envelhecimento é um processo, o idoso é um

ser do seu espaço e do seu tempo e a velhice é a última fase do processo humano de

nascer, viver e morrer.

Como tal, contextualizados em campos da Gerontologia e comungando da sua

especificidade como reflexão científica sobre a terceira idade, pensamos que além duma

investigação e revisão de literatura apropriada, a temática remeteu-nos para um trabalho

empírico, através dum levantamento de duas Instituições vocacionadas para o trabalho

de Acção Social para com os idosos e dos profissionais que cuidam deles, em espírito

de cidadania e de solidariedade social.

No fundo, a presente investigação alertou-nos para uma maior consciência – hoje tão

consensualmente defendida – da necessidade actual de uma reforma do pensamento,

direccionada ao ensino dos idosos e dos profissionais que cuidarão deles.

Page 6: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

Résumé

“Gérontologie et psychosociologie du vieillissement: intervention sociale et troisième

âge" va à la rencontre non seulement de l'une des thématiques les plus pertinentes du

domaine de l'action sociale, mais s'insère aussi dans une perspective holistique, dans la

globalité des contenus et objectifs généraux des divers séminaires inclus au sein du

Master en Travail Social.

L'objectif essentiel est de comprendre la Gérontologie dans le cadre d’une recherche et

d’une réflexion scientifiques, à partir des présupposés sous-jacents aux études qu'elle

proportionne, auxquels s'ajoute les contributions de la gériatrie et de la gérontologie

sociale — toutes disciplines qui confluent, d'une certaine manière, vers un dénominateur

commun : le vieillissement, la personne âgée et la vieillesse.

Il s'agit donc d'une réflexion qui se fait à partir de la relation entre des concepts aux

facettes multiples, les liant entre eux, en considérant la vieillesse comme un processus.

La personne âgée apparaît comme un être situé dans son espace et dans son temps, et la

vieillesse est la dernière phase du processus humain de naissance, vie et mort.

Comme tel, contextualisé dans les domaines de la Gérontologie et scient de sa spécificité

comme réflexion scientifique sur le troisième âge, ce travail réalisera une recherche et

une révision de la littérature appropriée. Celle-ci renverra également à un travail de

terrain, à travers l'étude de deux institutions ayant pour vocation le travail d'action

sociale destiné aux personnes âgées et impliquant des professionnels qui s'en occupent,

dans un esprit de citoyenneté et de solidarité sociale.

En somme, le présent travail contribue à une prise de conscience — aujourd'hui si

consensuellement défendue — sur la nécessité actuelle d'une réforme de la pensée, en ce

qui concerne l'enseignement des personnes âgées et des professionnels qui iront s'en

occuper.

Page 7: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

Summary

«Gerontology and Psycho Sociology of aging: Social intervention as far as old age»

leads us not only to one of the most pertinent issues in the area of social activity, but is

also included, according to a holistic perspective, in most of the contents and targets of

the several conferences of this work.

Its main function is to understand Gerontology according to a scientific investigation

and reflection, taking its studies as subjacent pretexts to the studies it provides and also

a contribution that Geriatrics and social Gerontology enable. All these confluent to a

common denominator: aging, old man and old age.

Thus it is a reflection that is based on multifaceted concepts, relating them, as we

consider that aging is a process, old man a human being in his space and time and old

age the last phase of the human process of being born, living and dying.

Being so, within the context of Gerontology and sharing its specificity as a scientific

reflection on old age, we think that apart from an investigation and revision of the

appropriate literature, this issue led us to an empiric piece of work, through the analysis

of two Institutions directed to social welfare as far as old men and the professional team

who take care of them with the spirit of citizenship and social solidarity.

Deep inside, this investigation called our attention to a wider conscience – today

assumed by all – of the real necessity of a reform in terms of thought, which should be

directed to the teaching of the old men and the professionals who will look after them.

Page 8: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

I

ÍNDICE

Resumo

Introdução------------------------------------------------------------------------------------1

Parte I – Fundamentação teórica----------------------------------------------------------4

1. - A Gerontologia como reflexão científica sobre o idoso------- -------------------4

1.1. – Idoso: processo inevitável da vida----------------------------------------------------4

1.2. - A questão do envelhecimento das populações-------------------------------------11

1.3. – Aspectos demográficos do envelhecimento em Portugal------------------------15

1.4. - Teorias gerais do envelhecimento: abordagens biológica, psicológica e social-20

1.5. - A demografia e a geografia do envelhecimento------------------------------------ 23

1.6. - A Psicologia do Desenvolvimento e a terceira idade------------------------------26

1.7. - 0 Idoso e as relações entre gerações--------------------------------------------------28

2. A Solidariedade Social e o Estado------------------------------------------------------31

2.1. - Direitos dos idosos e medidas de política social para a velhice-------------------31

2.2. - Competências do Estado na área de Solidariedade Social-------------------------33

2.3. – O Estado e a tarefa do bem-estar dos idosos---------------------------------------- 40

2.4. - As Mutualidades e as Instituições Particulares de Solidariedade Sócia----------43

3. - As Instituições de solidariedade social e a integração dos idosos---------------45

3.1. – Sociabilidade e inserção social das pessoas idosas---------------------------------47

3.2. - A missão de voluntariado nas Instituições da terceira idade-----------------------49

3.3. - Intervindo em projectos para a terceira idade----------------------------------------51

3.3.1. - Complemento Solidário para Idosos------------------------------------------------51

3.3.2. - Lares de terceira Idade, Centros de Dia e de Apoio Domiciliário--------------54

3.3.3. – Centros Sociais Paroquiais-----------------------------------------------------------55

3.3.4. - Universidades Seniores (Universidade da Terceira Idade)-----------------------57

3.3.4.1. – Conceito e finalidades------------------------------------------------------------- -57

3.3.4.2. – Historial e modelos de organização-----------------------------------------------59

3.3.4.3. - As UTI em Portugal----------------------------------------------------------------- 61

3.4. – O bem-estar dos idosos: a complementaridade das Instituições com a família-- 62

3.5. - Equipamentos sociais, programas e serviços para as pessoas idosas--------------65

Page 9: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

II

Parte II – Fundamentação prática do estudo---------------------------------------------66

1- A questão em análise-------------------------------------------------------------------------66

1.1. - A vida dos idosos nas Instituições-------------------------------------------------------66

1.2. – Metodologias e técnicas de investigação social utilizadas---------------------------67

1.3. - Objectivos do trabalho--------------------------------------------------------------------69

2. – Delimitação do estudo-------------------------------------------------------------------70

2.1. - Caracterização do meio de Santa Maria da Feira----------------------------------- 70

2.2. - Um breve olhar sobre Santa Maria da Feira----------------------------------------71

2.3. – População-------------------------------------------------------------------------------72

2.4. - Emprego e actividades nos diversos sectores---------------------------------------73

3. - Caracterização das Instituições estudadas------------------------------------------79

3.1. “ Centro Social Paroquial de Fornos------------------------------------------------ 79

3.1.1. -Caracterização da freguesia de Fornos---------------------------------------------79

3.1.2. - “ Centro Social Paroquial de Fornos”---------------------------------------------- 83

3.1.3. – Metodologia utilizada---------------------------------------------------------------85

3.1.4. - Recolha e tratamento dos dados do inquérito------------------------------------ 88

3.2. - “Associação de Apoio Social de Sanfins”-----------------------------------------92

3.2.1. – Caracterização da freguesia de Sanfins-------------------------------------------92

3.2.2. – “Associação de Apoio Social de Sanfins”--------------------------------------- 97

3.2.3. - Recolha e tratamento dos dados do inquérito------------------------------------100

4. Conclusão----------------------------------------------------------------------------------104

Bibliografia----------------------------------------------------------------------------------106

Anexos

Page 10: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

1

Introdução

A abordagem da problemática do idoso, em campos da Psicossociologia, surgiu – nos

como tarefa um tanto difícil dado não só estarmos perante um campo de investigação

muito vasto e complexo, face às múltiplas e diversas interpretações do fenómeno, como

pela imensa bibliografia existente e dificuldade duma seriação, o mais sintética possível,

quanto aos pontos tratados.

Pretendemos, assim, nesta Dissertação, abordar a temática do idoso na área da

Psicossociologia, em interdisciplinaridade com a Psicologia do Desenvolvimento,

Sociologia e suas incidências em campos da Sociologia Política.

Pensamos que, mais do que os já tão conhecidos factores e causas do idoso,

interpretados à luz da Psicofisiologia e Psicologia do Desenvolvimento, seria

interessante debruçarmos sobre o fenómeno do idoso nos nossos dias, tendo presente a

sua necessária contextualização à luz das políticas e acções seguidas pelo Estado e

Ministérios específicos, em suma a questão de como tem sido tratado o tema na nossa

sociedade.

Compreender-se-á assim que, além duma sumária reflexão sobre o idoso nos nossos

dias e nas populações na sociedade portuguesa, aproveitamos para um breve

levantamento do que se passa em algumas Instituições do nosso concelho de Santa

Maria da Feira.

No fundo, o espírito que nos animou, ao longo desta breve investigação, foi que,

fundamentalmente, ser-se idoso é uma conquista: envelhecer é bom; saber envelhecer é

uma atitude, à luz da máxima que o que era antes o privilégio de poucos chegar a idoso,

hoje, passa a ser a norma, mesmo nos países mais pobres.

O título da presente Dissertação é, já por si, bastante elucidativo e, como tal, de grande

alcance quanto a múltiplas e plurifacetadas áreas de investigação e de reflexão. Nesta

ordem de ideias, o presente trabalho obedeceu a dua partes distintas (embora

complementares, como é óbvio), sendo a primeira de abordagem teórica das temáticas

Page 11: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

2

mais pertinentes da Gerontologia : a Gerontologia, enquanto reflexão científica sobre a

pessoa idosa ; a solidariedade social e o Estado e as Instituições de Solidariedade Social.

Os conteúdos escolhidos quanto à abordagem desta temática, enquanto quadro de

referência teórico, remeteu-nos para uma reflexão dos diferentes territórios da

intervenção, como são, entre outros: envelhecimento e sociedade; conhecer a pessoa

idosa; políticas de protecção social e intervenção gerontológica e territorialização da

intervenção.

A par desta necessidade, no actual contexto das políticas de protecção social do idoso,

tivemos em consideração os novos objectivos que se desenham, bem como a inevitável

e desejável evolução das políticas sobre o idoso, versus políticas que tenham em conta o

continuum de existência dos indivíduos.

Ao longo desta nossa investigação aperecebemo-nos que a formação de hoje constitui,

sem dúvida, um factor estratatégico dessa evolução, ao contribuir para a construção do

conhecimento de como se encara o idoso nas nossas sociedades. Entre outras questões

mais pertinentes, que hoje se colocam, temos a de que será essencial para que políticas

sobre o idoso se inscrevam no quadro de uma nova geração de políticas sociais na lógica

do desenvolvimento sustentado.

Igualmente, mereceu - nos especial atenção a construção de políticas sobre os idosos

que garantam o direito a viver essa etapa da vida com dignidade e segurança, a definição

de estratégias orientadas para a prevenção dos riscos e para a redução/eliminição dos

efeitos nefastos de situações de precariedade física, mental e/ou social com que as

pessoas se podem confrontar.

Também consideramos como pertinente o acompanhamento dos percursos do idoso na

lógica da inclusão dos adultos de todas as idades, num processo de desenvolvimento

sustentado das nossas sociedades que se enquadra nas recomendações de diferentes

organizações internacionais, neste domínio.

No fundo, constatamos que preparar a fase de vida do idoso será a tónica de qualquer

política governamental, no sentido de minorar os problemas impostos a esta etapa da

vida porque, a par do papel insubstituível do Estado, há que apostar noutras vertentes,

para que o idoso esteja integrado em toda a sua abrangência social: na responsabilização

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da família mais próxima; na educação de crianças e jovens, alertando-os para os

princípios que sustentam a sociedade e, por último, na necessidade de prepararmos o

nosso próprio envelhecimento. Uma medida relacionada não só com a adopção de

hábitos e estilos de vida saudáveis, mas também com a interiorização da ideia de que a

dignidade da vida humana tem o mesmo valor à nascença como no estádio de idoso.

Na segunda parte da Dissertação, após diagnóstico do meio e das Instituições – objecto

do trabalho empírico –, ficámos conhecedores de certas situações pontuais existentes

com os utentes dessas Instituições.

Com base na observação directa, conversas informais e inquérito por questionário -

requisitos indispensáveis para um levantamento o mais objectivo possível - foi

possível a definição das situações mais problemáticas a serem objecto de futura

intervenção.

Duma forma especial, os objectivos e posturas, suscitados pelo trabalho empírico,

alertou-nos para a necessidade de implementação e de dinamização doutras áreas de

ocupação dos tempos livres em prol dos idosos, especialmente com o intuito de

valorarem, no seu quotidiano, a sua auto-estima, materializando a satisfação dessas

necessidades através de actividades significativas para uma melhor e mais salutar

ocupação dos tempo livres.

Novas e diferentes actividades que permitirão, assim, uma diferente forma dos idosos

ocuparem o seu rotineiro quotidiano, com práticas novas, inovadoras e que, no fundo,

traduzir-se-á em novas formas de expressão, de convívio, de viver diferentemente e com

mais qualidade.

.

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4

Parte I – Fundamentação teórica

1. - A Gerontologia como reflexão científica sobre o idoso

1.1. – Idoso: processo inevitável da vida

O idoso deverá ser encarado como um agente activo do desenvolvimento social, com

direito a permanecer autónomo o maior tempo possível e com uma vida digna e

respeitada. Daí tornar-se, hoje em dia, uma temática de significativa e relevante

importância nas várias áreas de investigação dos processos da vida humana, com uma

mais pertinente consciencialização dos problemas que esta idade põe, e daí ter nascido

uma ciência nova: a Gerontotologia.

Mostrar que a fase de idoso não tem somente um aspecto deficitário, mas que representa

sobretudo uma verdadeira crise, sinal das tentativas de adaptação do homem às novas

condições de existência criadas pela idade, é um dos objectivos prioritários da

Gerontologia.

Gerontologia é, assim, o estudo do processo de envelhecimento, com base nos

conhecimentos oriundos das ciências biológicas, psicocomportamentais e sociais,

acrescentando dados fundamentais a outros ramos, igualmente importantes na

investigação do idoso, como: a Geriatria, que trata das doenças no envelhecimento; a

Gerontologia Social, incidindo nos processos psicossociais manifestados no mesmo.

Foi no século XX, no Ocidente, que cuidar dos idosos tornou-se uma especialidade,

iniciando-se como ciência, embora trabalhos precursores tenham sido realizados no

século XIX. Com efeito, na década de 30, a inglesa Marjorie Warren desenvolveu uma

abordagem específica do idoso, no controlo de pacientes crónicos, em Londres. No

mesmo século, o russo Metchinikoff apresentou um tratado, onde correlacionava idoso a

um tipo de auto-intoxicação e, nesse momento, referiu-se, pela primeira vez, à palavra

Gerontologia. Ainda nesse século, Nascher, geriatra americano, nascido em Viena, criou

o termo Geriatria, um ramo da Medicina que trata das doenças que podem acometer os

idosos. Mais tarde foi criado o termo Gerontologia, como um ramo da ciência que se

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5

propõe a estudar o processo do idoso nos seus aspectos bio-psico-sociais e os múltiplos

problemas que possam envolver o ser humano (Beauvoir, 1990).

Falamos, também, da Gerontologia Social, área científica de formação recente e que

constitui uma exigência e necessidade das sociedades contemporâneas. Na verdade,

surge como construção de uma área transdisciplinar do conhecimento, na procura do

saber sobre as interdependências entre o envelhecimento humano e social,

designadamente ao nível do impacto dos fenómenos do envelhecimento nas estruturas

familiares, na economia, na protecção social, no direito, nas representações sociais sobre

a vida, a morte e o envelhecimento, bem como nas práticas culturais e na relação com o

tempo.

Na verdade, a implementação de políticas e de práticas sustentadas no conhecimento, e

no desenvolvimento da capacidade interpretativa, compreensiva e reflexiva da realidade,

fazem apelo à aquisição de conhecimentos e saberes, e à (re) construção teórica nos

diferentes territórios do envelhecimento, numa dialéctica interactiva, na qual se

inscrevem os diferentes projectos formativos em Gerontologia Social.

A necessidade de formação em Gerontologia Social é assim, hoje, largamente partilhada

pelos decisores, interventores e promotores, aos vários níveis. A sua oportunidade e

interesse revela-se particularmente importante a partir do incremento das respostas

sociais, num contexto de elevado índice de envelhecimento, com o aumento do número

das pessoas muito idosas, ao qual se associa, embora numa relação não directamente

proporcional, um maior número de situações que exigem mais cuidados e apoios no

quotidiano.

Falamos, concretamente, nos apoios à promoção e recuperação da autonomia, numa

lógica de questionamento da categorização do idoso dependente. Com efeito, é possivel,

assim, uma tentativa de contrariar a dicotomia autonomia/dependência, mormente no que

diz respeito às situações de incapacidade geradas por doenças físicas, por estados

demenciais e por deficiência mental, estas últimas até há pouco arredadas dos progressos

da longevidade, mas hoje abrangidas pelos ganhos de longevidade.

Daí que possam ser consideradas como as que mais requerem duma qualificação da

intervenção, em termos da organização de serviços e de práticas, num paradigma de

actuação diferente do habitualmente usado, tanto na abordagem curativa e dos serviços

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6

de saúde, como nas formas de protecção social. No entanto, a sua heterogeneidade e

complexidade, em oposição à homogeneização categorial que tem estado subjacente às

políticas de protecção social da dependência, levanta sérias questões conceptuais,

filosóficas, políticas e interventivas.

Na verdade, os territórios da dependência, ainda que não esgotem as necessidades de

formação em Gerontologia, fundamentam substancialmente os projectos formativos,

dado que a complexidade das situações, e o sofrimento humano que as acompanham,

exigem saberes pluridisciplinares que informem a intervenção multidisciplinar e

intersectorial. Neste sentido, a dependência constitui uma área de reflexão privilegiada

na construção do conhecimento e dos saberes sobre o envelhecer nas sociedades

contemporâneas. Daí que, sobre a mesma, se encontra a necessidade de afirmar a

primazia do sujeito, o debate sobre o direito a envelhecer, os preconceitos e as

representações sociais sobre a vida, o envelhecimento e a morte. Entre estas, a OCDE

(2002) define quatro eixos para as políticas no âmbito do envelhecimento:

� Prevenção;

� Detecção precoce de problemas, concentrando-se nas fases críticas da existência;

� Maior liberdade de escolha e maior responsabilização de cada um face ao seu

próprio futuro;

� Implementação de serviços de melhor qualidade.

Políticas que, tendo em conta o continuum da existência, intervenham nas idades mais

jovens, a partir do conhecimento sobre a génese dos processos de envelhecimento,

sabendo-se que as políticas têm efeitos no futuro dos indivíduos. No fundo, uma ruptura,

pois, com outros patamares do percurso de vida e de mudança de paradigma de análise

da problemática do envelhecimento, não só ao nível dos conceitos (idoso, pessoa idosa),

como da construção dos objectos de análise e das metodologias de intervenção.

Mudar o paradigma resulta, necessariamente, numa maior exigência dos projectos

formativos, a todos os níveis e, também, na importância da integração das questões do

envelhecimento nos currícula escolares. Como tal, a qualificação dos recursos humanos

constitui, sem dúvida, uma estratégia incontornável face ao imperativo ético de garantir

intervenção qualificada, na base do saber mais, para conhecer melhor os problemas, as

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7

necessidades reais, as expectativas, as estratégias de inserção das pessoas que

envelhecem, nos seus contextos. Evidentemente que tudo isto é indissociável também de

uma política de recursos humanos para esta área, exigente, realista, estratégica, centrada

no conhecimento e para o conhecimento do homem que envelhece, nos seus sítios, na

sociedade, no mundo que construíu e constrói.

Sabendo que o envelhecimento é um fenómeno estruturante das nossas sociedades, a

formação gerontológica na Europa perpassa, assim, pela constatação que os seus

territórios apresentam uma diversidade e complexidade crescentes, dado que o

envelhecimento da sociedade, e de cada um de nós, revela-se profundamente interpelante

e desafiante, pelo que nos remete, de novo, para a reciprocidade da relação

sociedade/sujeito.

Os ganhos em anos de vida entrosam-se em novos comportamentos, estilos de vida,

expectativas e valores, com repercussões nas formas de viver, de experienciar as

diferentes fases do ciclo de vida, bem como nas formas de sociabilidade e de

convivência. Com efeito, vivemos mais anos, mais anos com elevado nível de

autonomia, de capacidades, potencialidades de realização pessoal e de intervenção na

sociedade. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que se alterou o ciclo de vida, não

só pela crescente dessincronização entre o percurso das idades – inerentes ao processo de

desenvolvimento humano – bem como pelo trajecto socioprofissional.

Estudos desenvolvidos, em especial a partir dos anos 60 do séc. XX, têm procurado

identificar e apreender as alterações no ciclo de vida e do seu substancial alongamento,

como do reposicionamento das diferentes fases do seu percurso. O constante recuar do

marcador de idade de passagem a idoso e o recuar da morte, distanciando-a da

experiência humana, induz mudanças na relação com a morte, ao mesmo tempo que a

percepção da forte probabilidade de chegar a uma idade avançada produz alterações na

relação com a vida e o futuro.

A multiplicidade sincronizada entre os papéis e os estatutos, associada à heterogeneidade

das situações geradas neste contexto de mudança, dá lugar à explosão das singularidades,

indutoras de novos comportamentos face ao estatuto de idoso. Os tempos da vida

alteram-se pela mudança do sentido do tempo no percurso de vida dos indivíduos e,

Page 17: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

8

como tal, novos modelos emergem, a par da tendência para a cronologização do percurso

das idades, com marcadores do ciclo de vida .

Podemos afirmar que os idosos de hoje são a primeira geração a experienciar viver uma

idade adulta prolongada, marcada pela coexistência de identidades múltiplas. É um dado

novo poder ser simultaneamente filho, neto, pai, avô, professor e aluno, ajuda/apoio para

outro e ajudado/apoiado por outros. A gestão dos papéis no tempo e a própria gestão do

tempo na gestão das idades apresentam-se como dados novíssimos da nossa experiência

humana. Por outro lado, e a par desta tendência reestruturante do viver em sociedade,

coexistem fortes desigualdades entre as gerações, por género e por território. O

envelhecimento da população, com o “envelhecimento do envelhecimento” (a progressão

mais rápida dos grupos do topo da pirâmide etária), emerge com ganhos num continuum

temporal, mas apresenta fortes descontinuidades e desigualdades sociais.

O envelhecimento (ganhos em anos de vida) integra, assim, a reflexão sociopolítica no

domínio do direito inclusivo – direito a ser idoso – pela não segregação, pela idade, pelo

género, pelas capacidades ou incapacidades, mas o direito ao conhecimento e

reconhecimento do sujeito na singularidade do seu percurso, da sua história, do seu

projecto. Com razão refere Paula Guimarães (2002) ao considerar que nesta nova batalha

dos nossos dias, contra a exclusão, já não é suficiente criar condições idênticas de acesso

aos bens e aos direitos e, como tal, torna-se fundamental reinventar a justiça da

proporcionalidade e da equivalência.

O conceito de envelhecimento, dentro das suas múltiplas perspectivas de análise,

remete-nos, antes de mais, para o processo que ocorre durante o curso de vida do ser

humano, iniciando-se com o nascimento e terminando com a morte, processo que

provoca no organismo modificações biológicas, psicológicas e sociais, de forma mais

evidente. Nesta ordem de ideias, considera-se as modificações biológicas como as

morfológicas, reveladas por aparecimento de rugas, cabelos brancos e outras; as

fisiológicas, relacionadas com as alterações das funções orgânicas e as bioquímicas

como directamente ligadas às transformações das reacções químicas que se processam

no organismo.

Considera-se o envelhecimento como um processo biológico progressivo e natural,

caracterizado pelo declínio das funções celulares e pela diminuição da capacidade

Page 18: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

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funcional, que é vivido, de forma variável, consoante o contexto social de cada

indivíduo.

Quanto às modificações psicológicas estas ocorrem quando, ao envelhecer, o ser

humano precisa de se adaptar a cada situação nova do seu quotidiano; no respeitante às

modificações sociais, quando as relações sociais se tornam alteradas em função da

diminuição da produtividade e, principalmente, do poder físico e económico, sendo a

alteração social mais evidente em países de economia capitalista. Neste espírito, o idoso

é, ao mesmo tempo, uma etapa biológica e um estatuto social. Sob o ponto de vista

psicológico, significa um enfraquecimento das aptidões mentais, que começa em idades

variáveis segundo os indivíduos; o estatuto social, por sua vez, fixa o seu começo pelos

sessenta e cinco anos, idade legal da reforma.

De facto, o processo de envelhecimento não tem começo evidente porque pode iniciar-se

muito antes dos sessenta e cinco anos para umas aptidões, e muito mais tardiamente para

outras. Com efeito, o enfraquecimento das aptidões mentais não é uniforme, até porque a

plasticidade diminuída das estruturas nervosas não provoca necessariamente um défice

global. Esquematicamente, tudo aquilo que é adquirido subsiste durante muitíssimo

tempo, caso das aptidões verbais, o juízo e a experiência acumulada.

Segundo Morin (1997) é difícil perceber a origem e o motor do processo de envelhecer,

pois o carácter patológico deste processo manifesta-se em três planos: no social; na

percepção de que a velhice sadia é patológica enquanto velhice em si; na própria morte,

que é patológica e é aproximada pela velhice que com a morte estão inscritas na herança

genética humana e que são, com diz Morin (1997:320), "(...) coisas normais e naturais,

porque uma e outra são universais e não sofrem qualquer excepção entre os ‘mortais".

Numa perspectiva de enquadramento e de contextualização da abordagem do idoso

temos de nos remontar ao século XX, que se caracterizou por imensas transformações,

sendo a maior delas o envelhecimento populacional. Na verdade, a esperança de vida

cresceu, mundialmente, cerca de 30 anos no último século, sendo as consequências dessa

maior longevidade consideradas como dramáticas.

Toda a sociedade está a ser afectada – e continuará a sê-lo –, na medida em que se

espera, para as próximas décadas, um processo de envelhecimento ainda mais rápido,

reflectindo a diminuição acelerada das taxas de natalidade dos últimos anos, na maioria

Page 19: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

10

dos países. A equação demográfica é simples: quanto menor o número de jovens, e maior

o número de adultos atingindo a fase de idoso, mais rápido é o envelhecimento

populacional.

É máxima, para alguns, que o envelhecimento é uma conquista: envelhecer é bom; saber

envelhecer é uma atitude. Na verdade, o que era antes o privilégio de poucos, chegar a

idoso, hoje, passa a ser a norma, mesmo nos países mais pobres. Esta conquista maior do

século XX transforma-se, no entanto, num grande desafio para este século.

O envelhecimento é a última fase de um longo processo de desenvolvimento, que tem

início na concepção e prossegue ao longo da vida do indivíduo. É um processo que difere

de indivíduo para indivíduo, sendo frequente haver pessoas com a mesma idade

cronológica, mas com diferente idade fisiológica. Este factor depende de vários aspectos,

nomeadamente do meio ambiente, da condição de vida, da falta ou não de actividade,

entre outros.

Muitas pessoas, geralmente, não aceitam essa nova fase, muitas vezes devido a não

encontrarem um papel, para si, dentro da sociedade. A ocorrência das diversas

transformações, que o processo de envelhecimento implica, leva a que muitos indivíduos

se desmotivem e percam a razão de viver, inserindo-se num mundo de apatia e solidão.

Dependendo da situação de cada indivíduo é necessário, pois, aproveitar os seus

potenciais e a sua vitalidade, transmitindo apoio e integração a fim de que o sujeito se

sinta útil na sociedade.

De acordo com a actual valorização social, o idoso tem-se tornado, pouco a pouco,

sinónimo de incómodo para a família, que tem de lidar permanentemente com o idoso e

com as suas características constituindo, igualmente, um fardo pesado para a sociedade,

pois tem que disponibilizar verbas e condições adequadas a alguém que se tornou

improdutivo (Bize e Vallier, 1995).

Por seu lado, e neste contexto, o termo idoso é aplicado a nível institucional e estatal, no

ocidente, aos maiores de 65 anos, sendo que nos países orientais (ex: China ou Índia) a

idade de referência para o idoso é de 60 anos, dado que a esperança média de vida é

menor. Alguns autores defendem que o termo idoso é o mais correcto, na medida que

identifica a pessoa com o estado de idoso, fase em que se acumulam no indivíduo as

maiores desvantagens sociais, físicas e psicológicas.

Page 20: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

11

Bize e Vallier (1995) preferem usar o termo terceira idade para se referirem a este

período da vida. Igualmente, a Organização das Nações Unidas (ONU), nos seus

documentos, utiliza-o, dado que segundo esta traduz melhor a ideia do último terço, ou

último quarto da vida, quando o declínio do organismo mais se intensifica. A União

Europeia optou pela expressão “sénior” para designar a população com mais de 50 anos.

Por fim, outros assumem que não se pode medir ou quantificar todas as pessoas que

atingem a “terceira idade” como pertencentes a este grupo, dado que o envelhecimento é

um fenómeno pessoal, que varia bastante de indivíduo para indivíduo, não se

acomodando a limites cronológicos precisos.

1.2. - A questão do envelhecimento das populações

O envelhecimento demográfico das populações humanas é hoje uma certeza em todos

os países à escala mundial. Vários factores têm sido apontados como indicadores desse

envelhecimento, nomeadamente o declínio da mortalidade, melhoria das condições de

vida, aumento da esperança de vida, migrações internacionais, etc. Neste contexto, Brito

(2001:30) salienta que

"o aumento da população idosa a nível mundial, sobretudo, nos países industrializados,

deve-se a dois factores essenciais que são o aumento da esperança de vida e a redução

da natalidade".

Há, no entanto, uma verdade que será difícil esconder, e daí Esteves (1994:100) ser

muito pragmático quando nos refere que

"o peso da população idosa não só continua a aumentar como, ainda, vem

acompanhado de decréscimo da população jovem, constituindo o que se tem

vindo a designar como a dupla base do envelhecimento da população”.

É legítimo, no entanto, considerar como principais factores o declínio da mortalidade e

a regressão da fecundidade que ocorreram a partir dos anos setenta. Estes factores

vieram provocar, até aos nossos dias, um gradual envelhecimento das populações em

virtude da renovação de gerações se processar de uma forma muito mais lenta.

Page 21: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

12

Como nos refere Nazareth (1999), este envelhecimento demográfico aparece mais

acentuado a partir da segunda metade do século XX, estando na sua origem o

desequilíbrio entre as diferentes idades e gerações. Nazareth (1999:239) refere ainda

que não existe nenhuma doença chamada "envelhecimento" mas, sim, um

" (...) equilíbrio entre diferentes idades e gerações que se está a modificar, ou

seja, o ritmo de crescimento das pessoas idosas estar a aumentar enquanto que a

população total tem tendência a estabilizar os seus ritmos de crescimento ou até

mesmo diminuir".

Todos os factores, atrás enunciados, como responsáveis pelo envelhecimento das

populações, não reúnem consenso geral para todos os autores. Nazareth (1999) é de

opinião que este envelhecimento não tem uma consequência directa entre o aumento da

duração de vida e a melhoria das condições de vida.

Pela análise efectuada, concordamos com Fernandes (1997) quando refere que a baixa

de mortalidade infantil e a descida da fecundidade contribuíram, de uma forma inegável,

para a redução do número dos mais jovens e o aumento das pessoas idosas.

As novas tendências demográficas traduzem-se na inversão da pirâmide populacional de

muitos países. Se, até a 1960, a base era constituída essencialmente por indivíduos

desde a infância até pessoas com 50/60 anos, agora constata-se um fenómeno contrário:

na base da pirâmide populacional encontram-se as pessoas com mais idade.

Continuaremos a assistir a um grande desequilíbrio geracional porque, segundo

Nazareth (1999:242),

"a intensidade do declínio de fecundidade não deixa margem para duvidas sobre

a existência, nos próximos anos, de uma clara não renovação de gerações”.

O envelhecimento das sociedades tem-se processado de forma diferente, atingindo com

maior intensidade apenas algumas sociedades do conjunto mundial, ao mesmo tempo

que o desenvolvimento demográfico tem vindo "(…) a processar-se de uma forma em

que avultam não só movimentos diferenciados e contraditórios conforme as grandes

regiões como grandes desequilíbrios demográficos em favor dos países económica,

política e militarmente dominantes da cena mundial” Nazareth (1999:243).

Page 22: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

13

Assim, o problema do envelhecimento das populações não se põe de igual forma entre

os países industrializados e os países pobres, ou mesmo em vias de desenvolvimento.

Nos países pobres, devido à sua conjuntura económica e financeira deficitária, devido

aos altos níveis de fecundidade e de uma mortalidade muito elevada, o problema tem

outras repercussões. Nazareth (1999:33) refere que

"os países em desenvolvimento vivem ainda na asfixia de um crescimento

desmesurado resultante de um certo controlo dos níveis de mortalidade e taxas

de natalidade elevadíssimas".

O envelhecimento demográfico é, também, uma nova realidade na história das

populações das sociedades industrializadas. Por estudos recentes, e projecções

efectuadas, concluímos que a tendência para o envelhecimento das populações irá

acontecer de uma forma acentuada. A cumprirem-se as estimativas, no ano de 2050

haverá mais idosos do que jovens a nível mundial, com a população com mais de 65

anos a ultrapassar, em número, aqueles com menos de 15 anos.

Aos factores, atrás referenciados, poderemos ainda incluir outros (serviços sociais

melhor organizados, novas organizações das estruturas familiares, aumento do número

de mulheres no mundo do trabalho, avanços tecnológicos, avanços na medicina, etc.),

que produzirão efeitos importantes na longevidade e envelhecimento das populações e

da sociedade em geral.

Ao referir o envelhecimento das populações como o emergir de um problema social,

como um problema social de primeira ordem, queremos dizer que estamos perante

grupos sociais com interesses culturais específicos.

A sociedade terá que se preparar para enfrentar este problema. Este grande grupo social

irá exigir da sociedade bem-estar, segurança, melhor qualidade de vida a que,

honestamente, terão direito depois de uma longa vida de trabalho. Se é verdade que as

sociedades vão, a cada momento, referenciando e elaborando programas para combater

os problemas sociais, a partir de agora terão que se preparar para minorar, ou mesmo

resolver o aumento do número de idosos à escala mundial.

O número crescente de idosos alterará profundamente o equilíbrio económico, tendo em

conta que mexe nos encargos com reformas e com a assistência social. A melhoria das

Page 23: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

14

condições de vida, acesso à educação e cultura, assistência médica mais específica,

serão condições que irão possibilitar que o idoso, hoje, tenha mais e melhor tempo para

viver.

A tendência, em Portugal, não foge aos restantes países da Europa. Ainda que se registe

algum atraso irá ocorrer também um declínio da população jovem e o acentuar do

envelhecimento da população. Vários têm sido os factores que têm contribuído para

que, na sociedade portuguesa, o número de pessoas idosas não pare de aumentar. Num

estudo, elaborado por Maia (1993:35), Portugal irá assistir a um crescimento,

relativamente importante, da sua população com mais de 65 anos. Pela projecção

efectuada, o autor refere-nos que

"(...) o total de pessoas idosas irá passar de 1,4 milhões no ano de 2000, par 1,6

milhões no ano de 2020".

As transformações económicas e sociais, operadas na segunda metade do século XX,

vieram afectar a forma como as gerações tradicionalmente se relacionavam. O "dever

sagrado", que os filhos tinham de cuidar dos pais, vai-se transferindo para a sociedade.

Como afirma Fernandes (1997:14), o problema fundamental

" (...) é a institucionalização do encargo social do idoso em que a sociedade em

geral se substituí aos filhos e o que eram anteriormente problemas individuais e

privados, por isso vividos no âmbito da família, vão escapando para o exterior e

sendo assumidos como problemas de todos, que vão precisar de resolução

colectiva ”.

Outro aspecto que convém realçar, aliado ao fenómeno da institucionalização, é a

generalização dos sistemas de reforma. Esta irá também desvincular, de alguma forma,

os filhos do encargo económico dos pais, pois estes vivem agora um pouco melhor com

estes auxílios económicos. Vivem até bastante mais tarde e, por vezes, com melhor

saúde.

Os idosos vivem agora com alguma autonomia relativa dos seus descendentes,

possibilitando-lhes mesmo, por vezes, optar livremente pela institucionalização. Esta

autonomia financeira poderá, também, ser uma causa para o enfraquecimento das redes

familiares de solidariedade naturais. Entendemos que o idoso deverá estar socialmente

Page 24: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

15

integrado para que possa, livremente, tomar as opções que entenda serem as mais

correctas para o seu bem-estar.

Pelo facto de um indivíduo transpor determinada idade, e passar a ser considerado

idoso, não se deverá pôr uma barreira que quebre os laços sociais, familiares, que ao

longo dos anos foram construindo.

É fundamental que a fórmula mágica, que animou as políticas sociais do idoso, desde o

início da década de oitenta, não caia em "saco roto". É importante que os governantes

não criem, através das políticas sociais, os idosos como uma categoria social à parte,

constituída por pessoas segregadas, carenciadas, ou mesmo estigmatizadas.

1.3. – Aspectos demográficos do envelhecimento em Portugal

O envelhecimento humano e o estatuto de idoso foram, face às alterações demográficas

verificadas durante o século findo, produzidas no contexto das profundas

transformações sociais e económicas, que alteraram as nossas sociedades,

levantantando, consequentemente, novas questões de natureza especificamente de

índole social. Como tal, várias estratégias se enquadram nas recomendações de

diferentes organizações internacionais neste domínio, sendo a considerar entre outras:

� A construção de políticas do idoso e de envelhecimento, garantindo o direito a

envelhecer com dignidade e segurança;

� A definição de estratégias, orientadas para a prevenção dos riscos e para a

redução/eliminição dos efeitos nefastos de situações de precariedade física,

mental e/ou social com que as pessoas se podem confrontar na fase de idoso ;

� O acompanhamento dos percursos de envelhecimento na lógica da inclusão dos

adultos de todas as idades, num processo de desenvolvimento sustentado das

nossas sociedades.

A população mundial está a envelhecer calculando-se que, em 2010, as pessoas com

mais de 65 anos ultrapassem, em termos estatísticos, os jovens. Os avanços da Medicina

Page 25: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

16

permitiram que, em poucos anos, a esperança de vida quase duplicasse. Assim, a idade

média dos homens passou de 47 a 71 anos e nas mulheres de 51 para 78 anos. Neste

contexto, para uma melhor caracterização do envelhecimento há a considerar vários

aspectos dos quais se destacam, com mais pertinência, entre outros, os demográficos,

psicológicos, políticos e médicos.

No caso de Portugal, nas últimas décadas assistimos a um fenómeno demográfico muito

significativo para a actual situação do país: a diminuição das taxas de fecundidade e de

natalidade, embora esta situação seja semelhante aos demais países desenvolvidos. Estas

taxas (de fecundidade e natalidade) estão interligadas já que se a taxa de fecundidade

diminuir, automaticamente a taxa de natalidade diminui. E isso é o que está a acontecer,

devido a um conjunto de alterações socio-económicas que têm ocorrido, com natural e

notória mudança de estatutos e consequentes papéis. Nomeadamente, há a considerar,

entre outras, algumas ocorrências como mais pertinentes:

� Entrada da mulher no mundo do trabalho, donde se prevê uma menor

disponibilidade para os filhos (emancipação da mulher);

� Procura de melhor qualidade de vida (como uma família numerosa fica

dispendiosa, opta-se por uma família reduzida);

� Aumento da idade média de casamento;

� Devido ao prolongamento da escolaridade, a consequente dependência

económica dos filhos em relação aos pais, a dificuldade em entrar no mercado de

trabalho e em adquirir habitação própria;

� Aumento da idade média da mulher no nascimento do primeiro filho.

A análise da fecundidade das mulheres portuguesas, através do cálculo da idade média,

ao nascimento do primeiro filho, permite ainda uma segunda observação: a do

envelhecimento das mães portuguesas nos últimos anos. Nas décadas de 60 e 70 e

meados de 80 a idade média do nascimento do primeiro filho caracterizou-se por uma

certa diminuição, ou seja, uma tendência para o rejuvenescimento da primeira

maternidade. Caso de, em 1960, as mulheres portuguesas tiveram o primeiro filho em

média aos 25,1 anos; em 1970, isso aconteceu em média aos 24,4 anos e em 1980 aos

23,6 anos. A partir da segunda metade da década de 80 este valor começou a aumentar,

Page 26: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

17

situando-se em 1993 aos 25,2 anos traduzindo, assim, um envelhecimento da

maternidade nos últimos quinze anos.

Por outro lado, a generalidade dos países europeus exibe um forte envelhecimento

demográfico, com início nos anos 60, e que tem como causa dominante o grande declínio

da fecundidade.

Segundo informações do INE (1999 e 2001), e do Eurostat (2000), em 1950 a

percentagem (média não ponderada) da população europeia, com mais de 65 anos, era de

9,4%; em 1980, de 13,2% e em 1990 de 14,3. De outra forma, em 1984 existiam

49.000.000 de idosos na Europa e em 2025 prevê-se 80.000.000.

Em Portugal, até meados da década de 60, os efeitos do envelhecimento demográfico

ainda não se faziam notar muito. Todavia, no final deste século a estrutura da população

portuguesa apresenta já características de duplo envelhecimento, sendo que o mais grave

não é o aumento da esperança média de vida – isso é o efeito directo da melhoria das

condições vida –, mas sim devido ao grande declínio da fecundidade e à consequente

diminuição da população.

Pela primeira vez, na história de Portugal, os Censos de 2001 (INE, 2001) indicam que a

população idosa actual ultrapassa a jovem (16,4% e 16%, respectivamente). No relatório

da Comissão Europeia de 1999 (Eurolinkage, http://www.eurolinkage.org), sobre

demografia, a percentagem da população muito dependente representa 3% de população

europeia total, o que em Portugal perfaz um total de 283.000 pessoas. Nos idosos, esse

valor sobe para 8%, ou seja, 122.700 dos idosos portugueses têm incapacidades graves.

O aumento progressivo do número de pessoas idosas, sobretudo das muito idosas, tem

aumentado também a probabilidade de ocorrência de situações de dependência física,

psíquica e social, despontando a necessidade de criar novas respostas por parte do Estado

e da sociedade civil.

Esta “revolução grisalha” (Carrilho, 1993) tem uma considerável incidência sobre a

estrutura social, económica, do consumo, do trabalho e da segurança social. O aumento

dos custos com a saúde (medicamentos, internamentos, consultas, cirurgias, etc.) e com a

segurança social (mais reformas e pensões para pagar, mais comparticipações sociais,

Page 27: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

18

menor valor das contribuições e menos população activa) traduz-se num encargo brutal

para o Estado e para os contribuintes.

A estes dois factores associam-se a descida da taxa de mortalidade e o aumento da

esperança média de vida devido a situações julgadas como mais pertinentes, sendo a

destacar algumas delas, como:

� Uma evolução na Medicina (a nível preventivo e de tratamento de doenças);

� Uma melhoria alimentar (diversificação e qualidade);

� Hábitos de higiene pessoal, melhoria das condições sanitárias e de habitação;

� Diminuição do analfabetismo;

� Melhoria das condições de trabalho (segurança e horários) e do aumento da

esperança média de vida (por relação inversa à taxa da mortalidade).

Com esta predisposição para o envelhecimento da população, e diminuição da taxa de

natalidade, começamos a ter um duplo envelhecimento, isto é, envelhecimento na base e

no topo da pirâmide etária. Como exemplo disso temos, entre 1970 e 1994, um notório

estreitamento na base (em 1970 os jovens tinham uma percentagem de 28%, que passou

para 18% em 1994), enquanto que o topo alargou (de 9,7% para 14%4).

Podemos então relacionar o envelhecimento da população segundo alguns factores: por

um lado, com a diminuição das taxas de fecundidade e natalidade, que vem contribuir

para declínio da população jovem, bem como com a diminuição da taxa de mortalidade e

o aumento da esperança média de vida; por outro lado, analisar o envelhecimento à

escala regional e verificar as acentuadas assimetrias em Portugal.

O índice de envelhecimento, por sua vez, é mais acentuado no interior do país, devido à

migração interna da população activa para o litoral e, mesmo, à emigração, na procura de

melhores condições de vida, de trabalho e económicas, envelhecimento que reflecte o

recuo da taxa de mortalidade, de natalidade e o prolongamento da esperança média de

vida.

Page 28: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

19

A emigração e o êxodo rural vão proporcionar um envelhecimento desigual, pois no

interior está uma população mais idosa e, em contrapartida, no litoral encontra-se uma

população mais jovem. Assim, esta realidade vai traduzir-se em:

� Aumento dos encargos sociais relacionados com as reformas, pensões e

assistência médica;

� Aumento da taxa de dependência da população idosa em relação à activa, o que

agrava a carga financeira a suportar pelo grupo dos activos;

� Diminuição da disponibilidade de mão-de-obra, principalmente nas regiões onde

o envelhecimento é mais acentuado;

� Um maior enfraquecimento do espírito inovador e da capacidade de iniciativa da

população.

Por tudo isto, globalmente, a imagem que a sociedade tem dos idosos não é a mais

correcta, pois apenas considera a sua pauperização ou miséria, os seus custos

económicos e o seu aproveitamento eleitoral.

Daí que os idosos devam ser encarados como um sector importante da população

portuguesa, uma vez que detêm uma experiência acumulada de saberes e tradições,

podendo partilhá-los com as futuras gerações.

Nesta ordem de ideias é necessário reformar as nossas mentalidades, reinventar

completamente o estatuto do idoso e remodelar as nossas instituições, de modo que as

idades avançadas passem a ter um valor, quer económico, quer social, de modo a que

esta população seja uma mais-valia do que um encargo.

Page 29: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

20

1.4. - Teorias gerais do envelhecimento: abordagens biológica, psicológica e social

Estas concepções sobre o envelhecimento direccionam considerar a Gerontologia como

sendo uma ciência ampla, tendo a seu lado – duma forma muito estreita – a Geriatria e a

Gerontologia Social. Parece evidente que a explicitação e a análise da sua cientificidade

trarão contribuições para tornar mais claros o seu padrão de construção, a sua

configuração e a sua especificidade como ciência.

Na opinião de Rodrigues e Rauth (2002), a Gerontologia não é uma disciplina unificada,

mas um conjunto de disciplinas científicas que intervêm no mesmo campo, que

necessitam empreender esforços interdisciplinares, os quais excedam os limites de seus

próprios paradigmas e teorias, para criar concepções diferenciadas sobre o idoso e o

fenómeno do envelhecimento.

A razão de ser da Gerontologia está, pois, relacionada com questões sociais expressivas,

tais como o aumento da expectativa de vida, acarretando problemas demográficos; a

crescente procura dos serviços de saúde para idosos e problemas epidemiológicos; a alta

incidência e gastos elevados das “doenças crónicas não-transmissíveis” (DCNT); a

questão das desigualdades sociais, originárias do modelo económico e das relações

sociais entre os seres humanos e entre as classes sociais; o exercício pleno da cidadania

e outras questões de largo alcance, não deixando dúvidas sobre o carácter interventivo

da Gerontologia.

No entanto, cabe à Gerontologia não apontar o idoso como um problema social, mas

conceber essa fase de vida e suas possibilidades como resultantes de acções

multidimensionais e, neste sentido, considera-se a Gerontologia como uma disciplina

científica multi-interdisciplinar, tendo como finalidade o estudo dos idosos, as

características desta idade como fase final do ciclo de vida, o processo de

envelhecimento e seus determinantes biopsicossociais.

Na perspectiva de Beauvoir (1990) ser idoso é o que acontece aos seres humanos que

atingem esta fase de vida e portanto torna-se impossível encerrar essa pluralidade de

experiências num conceito, ou mesmo numa noção. Pelo menos, pode-se confrontá-los,

tentando destacar deles as constantes e dar razões às suas diferenças. A mesma autora

Page 30: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

21

mostra a complexidade do conceito de idoso, deixando claro que não se trata de

eliminar o conflito, mas de o reconhecer como elemento capaz de mexer com as

organizações e manter um clima propício à mudança. Com efeito, não se trata de

homogeneizar, mas de integrar as diferenças e, nesta ordem de ideias, Beauvoir (1990)

lembra ainda que, uma vez que em nós é o outro que é idoso, a revelação de nossa idade

vem através dos outros referindo que, mesmo enfraquecido, empobrecido, exilado no

seu tempo, o idoso permanece, sempre, o mesmo ser humano.

Na procura de outras abordagens quanto ao idoso, Martins (2002) considera que o idoso

pode ser considerado como um conceito abstracto, porque diz respeito a uma categoria

criada socialmente para demarcar o período em que os seres humanos ficam

envelhecidos, idosos. Defende, mesmo, ter sido mais fácil aos pesquisados

(adolescentes, adultos e idosos) definirem o idoso (aquele que, mesmo tendo idade

avançada, não se sente, porque é activo, participativo), por essas definições

apresentarem um carácter mais concreto e porque através dos idosos se pode identificar

as características dessa idade. Segundo ainda Martins (2002), o fenómeno do

envelhecimento e a determinação de quem seja idoso, muitas vezes, são considerados

com referência às restritas modificações que ocorrem no corpo, na dimensão física. Mas

é desejável que se perceba que, ao longo dos anos, são também processos das mudanças

na forma de pensar, de sentir e de agir dos seres humanos que passam por essa etapa do

processo de viver. Daí que seja necessário considerar as várias dimensões do ser

humano idoso, como sejam a biológica, psicológica, social, espiritual e outras mais que

necessitam ser consideradas para aproximação de um conceito que o abranja e que o

perceba como ser complexo.

Ainda no respeitante à exploração do conceito de idoso, outro estudioso – Bobbio

(1997) – defende que ser idoso não é uma cisão em relação à vida precedente, mas uma

continuidade da adolescência, da juventude, da maturidade, que podem ter sido vividas

de diversas maneiras, exercendo as circunstâncias históricas importância vital nas

causas desta fase de vida. Porém, mesmo não sendo idoso, Morin, em livros publicados

em época passada, correlaciona o processo de envelhecimento e principalmente a fase

de idoso com situações de perdas, com a morte, enfim, com um certo pessimismo. Neste

sentido, Bobbio (1997), também e de forma subtil, lembra as limitações e perdas que o

idoso traz para os seres humanos. Na verdade, todos se deparam com mais situações

negativas do que favoráveis relacionadas o envelhecimento, e isto a partir da

Page 31: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

22

convivência com os familiares mais idosos. É complexo, mas desejável, admitir que

envelhecer não é fácil, e que nesse processo é possível verificar uma situação dialógica,

onde convivem o medo e as perdas com os ganhos e as boas expectativas.

No entendimento de Lima (2001), o idoso suscita, nos dias de hoje, uma possibilidade

de se pensar uma nova maneira de o ser, justificando essa afirmação pelo facto de que

os idosos começam a organizar-se em movimentos que avançam, politicamente falando,

na discussão de seus direitos.

O idoso, visto como representação colectiva, começa, mesmo que de forma tímida, a

mostrar outro estilo de vida para os idosos que, ao invés de ficarem em casa, isolados,

saem em busca do lazer, de viagens, idas aos teatros, bingos, como na integração de

todo o género de grupos culturais, recreativos e desportivos, já não falando na adesão às

universidades abertas aos idosos. O movimento referido emerge com uma força ainda

desconhecida por aqueles que o experimentam, de sujeitos que tornam visível a

possibilidade de modificação desta etapa da vida, tirando os rótulos e contestando os

mitos.

Finalmente, há a considerar a postura de Fernandes (1997) quando alerta que, seja qual

for a óptica em que se discuta ou se escreva acerca do idoso, é desejável respeitar os

direitos intangíveis ou intocáveis do cidadão idoso.

Essas situações dizem respeito a quatro pontos especiais e que contemplam,

essencialmente: tratamento equitativo, através do reconhecimento de direitos pela

contribuição social, económica e cultural, na sua sociedade, ao longo da sua vida;

direito à igualdade, por meio de processos que combatam todas as formas de

discriminação; direito à autonomia, estimulando a participação social e familiar o

máximo possível e, finalmente, o direito à dignidade, respeitando sua imagem,

assegurando-lhe condições nos múltiplos aspectos que garantam satisfação de viver a

etapa de idoso.

Page 32: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

23

1.5. - A demografia e a geografia do envelhecimento

As condições de vida das gerações mais idosas, em que as mulheres estão

sobrerepresentadas, são maioritariamente mais desfavoráveis. Viver no interior

empobrecido é factor negativamente associado à situação de envelhecimento destas

gerações.

Isolamento e/ou solidão, habitat inadequado, dificuldades de comunicação/perda de

autonomia, dificuldades de acesso a serviços de qualidade e adequados à promoção de

autonomia e ao desenvolvimento pessoal, (des) igualdade de oportunidades de

participação na vida social, económica e cultural, constituem outros factores de

diferenciação negativa, especialmente evidentes entre os mais idosos. As desigualdades

sociais determinam desigualdades perante a vida e a morte, condicionando a maior ou

menor exposição aos riscos dum mau envelhecer. Como revelam alguns estudos,

pessoas, com elevado nível de educação, estão duas vezes mais representadas na

categoria dos autónomos do que os outros, segundo o resultado de uma investigação

realizada por Pérès e Barberger-Gateau (2001).

Em Portugal, a maior representação das valorações negativas, em termos de auto-

percepção da situação de saúde, nas pessoas idosas sem escolaridade ou com baixo nível

de escolaridade, é também indicativa dessa relação. No meio rural, por exemplo, a

solidariedade intergeracional é muito valorizada e assume um papel primordial no

desenvolvimento harmonioso do idoso, intervindo como "porto de abrigo". Igualmente

relevante é o facto do mesmo valorizar o acesso ao sistema de saúde, pelo que esta área

adquiriu alguma importância com o constante crescimento da oferta e acessibilidade ao

sector da saúde.

Destaca-se, igualmente, a crescente dependência do idoso no meio rural, onde cada um

depende ou de um filho(a) ou do cônjuge, mesmo que tenha o seu próprio rendimento

(pensão ou reforma). Se este não for dependente, economicamente, é certamente

dependente a nível social, uma vez que se trata de idosos inactivos, sem qualquer

trabalho remunerado. O facto do idoso ser socialmente dependente não se deve, única e

exclusivamente, à família, mas também à comunidade envolvente que actua como supor-

te social de segundo grau. De qualquer forma, a família é vista como um núcleo central

Page 33: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

24

de acolhimento, cooperando com este em tudo o que pode, uma vez que gosta de se

sentir prestável, independente e útil.

Igualmente, a entreajuda comunitária é um factor de diminuição de vulnerabilidade e um

aspecto primordial na vida rural de um idoso. As relações comunitárias adquirem

bastante importância, uma vez que quase preenchem o vazio que deixaram algumas das

suas famílias (por razões geográficas ou pessoais). Encontram aqui, na vizinhança, todo

o apoio e ajuda que permite a boa convivência e a verdadeira raiz da palavra

solidariedade. No meio rural é importante a interacção entre o idoso e as gerações mais

novas para que ambas possam perceber o verdadeiro valor de cada uma, bem como os

objectivos de interesse que buscam.

Podemos então afirmar que a pessoa idosa é considerada um ser vulnerável, uma vez que

é vista, na sua condição social, como inactiva e dependente, isto é, que sofre a transição

da sua fase de vida activa para uma inevitável fase inactiva dependente, traduzindo-se

numa perda para a maior parte dos idosos, sobretudo uma perda de rendimentos,

podendo começar, a partir daqui, a falar-se de um aumento da vulnerabilidade, que é

inversamente proporcional à diminuição da qualidade de vida.

Na verdade, no meio rural, a pessoa idosa é considerada vulnerável quando não tem

quem olhe por ela, que a ajude economicamente, que viva em situação de pobreza

latente. Assim, a vulnerabilidade associa-se, muitas vezes, aos idosos que possuem

condições habitacionais degradadas, que não têm acesso a qualquer tipo de ajuda social

(lares, centros de dia) a nível local, que não têm cuidados de saúde básicos e que não têm

na família o suporte social de primeiro grau. Um facto ainda a considerar e a reter

prende-se com a ideia de que, por vezes, o factor económico é muito menos importante

do que o factor de proximidade de famílias, dado que um idoso sozinho é muito mais

vulnerável do que aquele que se encontra em condições de máxima pobreza.

Em relação aos factores de vulnerabilidade geriátrica, que acompanham o idoso no

espaço rural, há a destacar os seguintes:

� A idade é considerada como um factor de vulnerabilidade, uma vez que o idoso

está muito mais exposto a todo o tipo de risco social e dependência, quer seja

económica, ou social;

Page 34: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

25

� A falta de apoio da família, que é vista como suporte de primeiro grau e que

permite o "crescimento" social e emocional do idoso, permitindo igualmente a

participação do mesmo em todas as actividades familiares e contribuindo para a

quebra do isolamento;

� O desenraizamento das relações socio-familiares no meio rural e que têm um

papel de extrema importância na vida comunitária rural. O fraco enraizamento

destas relações, que actuam como um foco central de acolhimento do próprio

idoso, pode levar a uma situação de degradação e estigmatização social.

Intimamente ligado ao factor supra mencionado está, sem dúvida, a ausência de relações

sócio-comunitárias que funcionam como suporte de segundo grau, que actuam como

rede informal de solidariedade, diminuem a vulnerabilidade e que permitem um menor

afastamento do núcleo societal que leva à socialização do próprio idoso. Daí que o

isolamento, em que por vezes o idoso se encerra, contribua para a ausência de laços

comunitários e de solidariedade. Por outro lado, a dependência económica e social é um

factor de vulnerabilidade, na medida em que o facto de um idoso ser dependente de

alguém (seja financeira ou socialmente) facilita e contribui para a estigmatização e para o

processo de pobreza, inerentes à faixa etária dos 65 ou mais anos. Os problemas de

saúde, por sua vez, aumentam a própria vulnerabilidade, uma vez que fragilizam o

próprio idoso e o tornam dependente caso, por exemplo, da perda de locomoção

enquanto importante factor de vulnerabilidade, pois impede o idoso de levar uma vida

normal e, consequentemente, traz dificuldades ao nível do relacionamento a nível social

e familiar, pois como não se pode movimentar, também não pode participar. Uma

conclusão a retirar deste factor é a de que quanto menor for a autonomia de um idoso,

mais vulnerável ele se torna aos olhos da sociedade.

Hoje defende-se que as pessoas idosas devem ser consideradas sujeitos activos,

intervenientes na sua comunidade de vida, levando a encarar o envelhecimento como um

"renascer", não na acepção de nascimento que tem subjacente a dependência total de

outrem, mas um renascer ligado ao envelhecimento, o que significa a mobilização dos

próprios idosos (individual ou colectivamente) para novos papéis, novos esquemas de

participação e novos modos de estar e de ser, conquistando condições de maior

dignidade para a sua vida, fazendo respeitar o contributo que deram para a construção da

sociedade actual.

Page 35: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

26

1.6. - A Psicologia do Desenvolvimento e a terceira idade

A Psicologia do Desenvolvimento – como estudo global do desenvolvimento da

personalidade, desde a sua concepção até ao estado idoso – estuda, também, a fase do

envelhecimento normal do homem. Começando em idades diversas, às vezes

precocemente, o envelhecimento apresenta aspectos positivos e negativos. Entre os

aspectos positivos, refira-se a acalmia da afectividade, muitas vezes demasiado

turbulenta durante a juventude. A acumulação do saber e das experiências vividas dá

mais profundeza intelectual ao homem idoso. Temos como exemplos marcantes o de

muitos escritores que não atingem a sua força plena, senão numa idade avançada. Se as

aptidões verbais e os conhecimentos intelectuais se acumulam de forma produtiva com a

idade, outras aptidões, em compensação, tendem a diminuir. Provou-se que a vitalidade

e a aptidão para movimentos delicados, por exemplo, sofrem uma diminuição notável.

No plano intelectual, a memória imediata é menos boa: os factos recentes são menos

bem retidos que os factos mais antigos. A afectividade sofre, às vezes, um retorno ao

egocentrismo dos primeiros anos. Não basta, portanto, retardar os processos fisiológicos

através de produtos estimulantes para evitar o envelhecimento.

A psicologia do idoso também intervém no estudo de alguns aspectos do

envelhecimento, nem sempre devidos a uma diminuição das faculdades. Factores

completamente exteriores podem ser a sua causa: sentimento de inutilidade crescente;

isolamento afectivo a seguir à morte dos parentes e ruptura brutal com a vida activa pela

entrada na reforma.

Para atenuar estes aspectos do envelhecimento, a gerontologia preocupa-se com

melhoramentos possíveis. Por exemplo, uma redução progressiva da actividade

profissional favoreceria o aparecimento de ocupações anexas compensadoras, dado que

em lugar de se sentir diminuído, física e moralmente, o idoso aprenderia a desenvolver

as suas novas capacidades, em vez de lamentar aquelas que desaparecem.

Muitas pessoas idosas, conservando uma forte vitalidade, fizeram a demonstração de

que isso era possível, operando elas próprias esta reconversão. Ser-se idoso é, ao mesmo

tempo, uma etapa biológica e um estatuto social. Sob o ponto de vista psicológico,

Page 36: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

27

significa um enfraquecimento das aptidões mentais, que começa em idades variáveis

segundo os indivíduos.

O estatuto social fixa o seu começo pelos sessenta e cinco anos, idade legal da reforma.

De facto, o processo não tem começo evidente, porque pode iniciar-se muito antes dos

sessenta e cinco anos para umas aptidões, e muito mais tardiamente para outras. Com

efeito, o enfraquecimento das aptidões mentais não é uniforme já que a plasticidade

diminuída das estruturas nervosas não provoca necessariamente um défice global.

Esquematicamente, tudo aquilo que é adquirido subsiste durante muitíssimo tempo: as

aptidões verbais, juízo e a experiência acumulada; a aquisição de novos conhecimentos

torna-se progressivamente impossível na medida em que, inacessível a novas formas de

pensamento, o idoso é menos receptivo, menos curioso.

O peso do passado e o enfraquecimento do dinamismo instintivo são também entraves

que afrouxam a actividade intelectual, a não ser que esta não tivesse sido exercitada

vigorosamente durante toda a vida. Profissionalmente, se o idoso possui uma forte

posição, tende a conservá-la, sem compreender a impaciência dos mais jovens; senão,

reformado, às vezes abandonado pelos parentes, sem saber como se ocupar, não pode

situar-se na colectividade. Sente-se isolado, inútil, sem valor, porque não lhe é atribuído

nenhum papel definido.

Parece tomar-se cada vez mais consciência dos problemas que esta idade põe e daí ter

nascido uma Ciência nova: a Gerentontologia. Mostra que o estatuto de idoso não tem

somente um aspecto deficitário, mas que representa sobretudo uma verdadeira crise,

sinal das tentativas desadaptação do homem às novas condições de existência criadas

pela idade.

Esta adaptação é difícil e depende muito da personalidade anterior, indo as reacções do

homem idoso à recusa pura e simples do seu estatuto de vida, acolhido como um

refúgio, passando pela depressão e pela /regressão narcisíaca. Os traços de carácter,

muitas vezes descritos (egocentrismo, apego excessivo aos bens, redução dos interesses,

refúgio no passado, recusa da mudança) são, muitas vezes, tentativas de defesa e de

adaptação.

Page 37: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

28

Mas as doenças anteriores que atacaram o organismo, as condições de vida, do meio

(alimentação, clima...), são igualmente influentes. Os tratamentos que visam retardar o

processo geral do envelhecimento insistem na importância do regime alimentar

(sobretudo na correcção das carências — vitaminas, minerais — e dos excessos) e no

regime geral de vida. Estão, neste caso, todo o tipo de trabalhos para continuação de

uma actividade física, equilíbrio entre o repouso e a actividade, boa higiene física e

mental, prática de um desporto, exames médicos sistemáticos, organização dos

passatempos, etc.

1.7. - 0 Idoso e as relações entre gerações

Ao falarmos de relações entre gerações recordamos que, na vivência da nossa infância,

terão passado alguns dos "idosos" que, para nós, foram mais significativos e, ainda hoje,

têm muita importância. Há uma relação de afecto entre as crianças e os idosos, dois

extremos que serão como que o abrir e o fechar do percurso da nossa vida. No entanto,

saídos da infância o quotidiano encarrega-se de apagar os espaços de consciência que

representam, para nós, os nossos idosos.

Estamos perante uma sociedade onde a expectativa é ser adulto, o que tira à criança a

alegria da brincadeira, restringindo ao adulto de amanhã a sensibilidade para a prática

do amor e impede ao idoso do futuro a aceitação do seu estatuto..., uma sociedade que

orienta de forma simbólica para a juventude e se esquece desta idade.

Assume-se a etapa de idoso, ou toma-se consciência da sua proximidade. Em todas as

famílias há a transmissão de crenças, valores e condutas de uma geração a outra. Se os

jovens de hoje tiverem uma nova percepção do idoso certamente passarão para os seus

filhos uma perspectiva diferente. Ao falarmos de relações entre gerações surge a

expressão "conflito de gerações". Seria mais interessante se pudéssemos substituir o

conflito por diálogo entre gerações.

O aumento da esperança de vida veio alterar as relações entre as gerações. A

probabilidade de ter avós vivos é hoje muito maior do que há cem anos. O modelo de

família nuclear foi-se impondo no mundo ocidental e a existência de pais idosos

Page 38: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

29

possibilita, agora, uma interacção entre gerações, muito mais importante do que nos

séculos passados. Não só as pessoas idosas são em maior número, como atingem a

idade da reforma com boa saúde e com vontade de não ficar paradas.

É a invenção da "terceira idade". Como consequência, a transmissão dos patrimónios

sofre uma radical transformação. Já não acontece de uma só vez, aquando da morte dos

pais, mas dilui-se no tempo, ao longo do ciclo de vida familiar. Os pais ajudam os

filhos, e esta geração idosa oferece um apoio activo à jovem geração que lhe dará

contrapartidas. O quadro de gentes é feito de luzes e de sombras. Na família, pais e

filhos nem sempre estão unidos. Não têm a mesma maneira de ver as coisas e os

conflitos são frequentes. Mantêm-se à distância sem, contudo, cortar as amarras.

Comunicam via telefone para manterem um contacto mais próximo. As reuniões de

família, as festas de fim-de-ano e os aniversários são motivos de união nestas reuniões,

feitas de proximidade e de distância de entendimento e de divergentes pontos de vista.

É precisamente este o conceito de ambivalência que traduz o sentimento de ser dividido

entre aspirações contrárias: oscilar entre afecto e aversão, entre autonomia e

dependência, ente aspiração em relação aquilo que é novo e ligação àquilo que impede

desligar do antigo.

O termo geração apresenta já em si uma ambivalência. Remete-nos, por um lado, à

ligação ao seio de uma sucessão, aquilo que se poderia chamar a "cadeia geracional”, ao

mesmo tempo que nos lembra que há continuamente produção de algo de novo, de

alguma coisa que se acrescenta: os novos elos da cadeia geracional. As relações ente

gerações comportam duas dimensões. Como todas as relações sociais baseiam-se numa

simpatia (proximidade) ou numa antipatia (afastamento) subjectivas, próprias das

pessoas, e são integradas nas mesmas e instituições sociais, a saber, as das famílias no

seio das quais exibem forças de inércia e de mudança.

Na base destas reflexões, podemos caracterizar possíveis configurações - tipo de

relações entre gerações. A “solidariedade” é uma das configurações de base das relações

intergeracionais no seio da família e da sociedade. A solidariedade é evidente quando,

ente as gerações, predominam acções de preservação num mesmo espírito.

Nesta ambivalência geracional, o que importa é a conservação de estruturas familiares,

por exemplo, registando-se uma elevada simpatia pessoal de proximidade. Se se der

Page 39: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

30

uma grande importância à mudança, e se esta for feita de comum acordo, pode falar-se

de "emancipação". Se as pessoas se afastem umas das outras, quer no contexto da

apreciação pessoal, quer na filosofia de vida, e se surgirem conflitos que levem a uma

ruptura temporária das relações, podemos falar de "individualização”.

Quando, nas relações íntergeracionais, as pessoas não têm grande coisa a dizer umas às

outras, mas estão ligadas por uma certa forma de vida, estamos em face do "cativeiro",

uma espécie de “prisão”. Este esquema de "ambivalência geracional" tem um valor

"heurístico", isto é, tem o objectivo de levar à observação e à investigação, permitindo

ordenar os dados existentes, levando mais longe a análise, ao apoiar-se nos resultados

adquiridos. A construção das relações intergeracionais deve ser repensada, analisada e

interpretada continuamente e de novo, historicamente, em função de contextos sociais

em permanente evolução. Os conflitos fazem também parte deste análise.

A ambivalência pode relacionar-se ainda com outros aspectos da dinâmica familiar,

nomeadamente o casal sem filhos, a separação e o divórcio. Se admitirmos que existem

modos idênticos de concepção, de relações geracionais familiares e sociais, é possível

interpretar, a um nível macro-sociológico, o modelo da "ambivalência geracional". Este

não pode esquecer a relação estreita entre género e geração. É que a experiência pessoal

contribui para a elaboração de identidades e enquadra as diferenças sociais.

Existem diferentes estratégias para abordar a ambivalência, podendo esta abordagem ser

mais ou menos restritiva. A ambivalência pode ser uma fonte de dificuldades ou de

oportunidades de inovação e desenvolvimento, tanto pessoal como social. Segundo

muitos estudiosos nesta área do idoso, o bem-estar nesta fase, em termos de relações

entre gerações na família, integração ou segregação espacial, não nos dá resultados

definitivos.

Pensar a relação entre o idoso e a família é ora fazer um retorno trágico da experiência

do envelhecimento, ora minimizar o conjunto de transformações ocorridas nas relações

familiares. Pensar na interacção entre idosos é traçar um quadro em que um conjunto de

mudanças e a criatividade seriam capazes de minimizar, ou mesmo negar, os

inconvenientes trazidos pelo avanço da idade.

Page 40: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

31

2. - A Solidariedade Social e o Estado

2.1. - Direitos dos idosos e medidas de política social

Hoje em dia, cada vez mais é dinamizada a Acção Social entre os idosos, e as razões de

tal facto devem-se porque ela proporciona aos indivíduos o desenvolvimento da sua

informação e formação, a sua participação social e a sua livre capacidade criadora. Isto,

em nome de uma melhor qualidade de vida, proporcionando o desenvolvimento pessoal

e social, evitando muitas vezes que os indivíduos ou, até mesmo, que grupo de

indivíduos se fechem em si mesmos e possam interagir com os outros e até mesmo com

o meio que os rodeia. Intervenção social para tornar a vida do idoso mais leve,

transformando a passividade, a resignação e o fatalismo do viver humano em

participação, autonomia e emancipação. No fundo, toda uma dinâmica social, entendida

como uma estratégia para o desenvolvimento pessoal e comunitário.

Na verdade, o envelhecimento exige uma nova organização, um outro olhar a nível social

na integração dos mais idosos na família e, até, no seu processo produtivo. Existem casos

em que a institucionalização é a única forma de enfrentar esta etapa da vida, tanto para os

próprios que deixaram de ser autónomos, como para os familiares mais próximos, cujas

condições de vida não permitem manter este tipo de dependência. Daí que, autonomia,

participação, prestação de cuidados, auto-realização e dignidade traduzam essenciais

dimensões de direitos fundamentais, no respeito pelo Homem e pela vida.

O envelhecimento é um processo complexo, que se exprime de formas diferentes com os

padrões culturais e, por isso, ao definir os direitos específicos dos idosos importa ter o

conhecimento deste fenómeno biológico, psíquico e social, numa perspectiva cultural.

Respeitar estes vectores é o único meio de respeitar cada uma das características que

acompanham a evolução do idoso.

Com efeito, os direitos específicos dos idosos inscrevem-se nestas dimensões, dado que

um dos mais importantes vectores dos direitos dos idosos é o que se inscreve na

possibilidade de o ser, isto é, no direito a preparar esta fase da vida, de forma digna e

sem sobressaltos.

Page 41: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

32

Tendo em consideração que aos direitos dos idosos estão subjacentes, como é óbvio, às

condicionantes desta fase de vida, as sociedades contemporâneas procuram dar resposta

aos mesmos, desenvolvendo novas formas de intervenção social e procurando estimular

a criação de mecanismos de solidariedade activa, que incluam a participação dos idosos.

A solidariedade informal inclui, assim, um número crescente de iniciativas de idosos

para idosos. Com efeito, visitas domiciliares, realização de tarefas diversificadas,

movimentos de apoio a pessoas de todas as idades são exemplos desta solidariedade

informal, a partir dos vizinhos, de pequenos grupos de paróquia ou de outros tipos de

associativismo.

Por todas estas razões, as dinâmicas sociais, locais e regionais, podem tornar-se agentes

aglutinadores, que completem e preencham os espaços deixados pelos organismos

estatais dado que, hoje, forças poderosas ligadas à cultura do mercado parecem pôr em

causa as acções do Estado Previdência, antes mesmo de se terem esgotado as respectivas.

2.2. - Competências do Estado na área de Solidariedade Social

A política de cooperação, que não pode deixar de processar-se com pleno e integral

respeito pela natureza particular, identidade e autonomia das Instituições, concretizou-se

através de acordos de cooperação celebrados ao abrigo do disposto no art. 4°, nº 2, do

Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social, aprovado pelo decreto-lei

nº 119/83, de 25 de Fevereiro e em conformidade com o preceituado pelo Despacho

Normativo nº 75/92, de 20 de Maio.

Na verdade, o Estado e as Instituições Particulares de Solidariedade Social, sobretudo a

partir dessa data, vêm assumindo uma real convergência de interesses no âmbito da

protecção dos direitos sociais dos cidadãos, como na promoção do respectivo bem-estar e

qualidade de vida.

Na verdade, as Instituições – enquanto expressão organizada das comunidades que visam

servir e mercê da respectiva relação de proximidade – têm demonstrado constituir as

mais atentas, válidas e eficazes formas de rentabilização de recursos e optimização das

Page 42: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

33

respostas no âmbito da prevenção e resolução dos problemas sociais que afectam as

pessoas, famílias e grupos, especialmente os que se encontram em situação de maior

vulnerabilidade, seja em situação social, ou económica, mais desfavorecidas.

Daí notarmos que o Estado tenha reconhecido e valorizado o insubstituível papel das

Instituições Particulares no desenvolvimento de actividades que lhe incumbe

prioritariamente garantir, no reconhecimento e valorização que se consubstanciam na

concessão de apoios materiais e técnicos, bem assim como de apoios financeiros que,

tendo em conta os custos operacionais de produção dos serviços, podem contribuir para o

exercício qualificado da actividade das Instituições.

De qualquer forma, torna-se necessário mudar de mentalidades e criar uma nova

abordagem em relação aos mais idosos, com um olhar cada vez mais positivo, até porque

é consabido que não envelhecemos todos ao mesmo tempo, nem da mesma forma.

A participação dos mais idosos na sociedade é vital e, como tal, as respostas não podem

ser as tradicionais, como a esmola ou a assistência pontual, mas sim "libertadoras", no

sentido de os colocar na vida activa sem remendos, de uma forma definitiva, digna e

justa, sem dependência de subsídios.

Preparar o envelhecimento significa que, a par do papel insubstituível do Estado, há que

apostar noutras vertentes para que o idoso esteja integrado em toda a sua abrangência

social: na responsabilização da família mais próxima, na educação de crianças e jovens,

alertando-os para os princípios que sustentam a sociedade e, por último, na necessidade

de prepararmos o nosso próprio envelhecimento. Medidas relacionadas não só com a

adopção de hábitos e estilos de vida saudáveis, mas também com a interiorização da

ideia de que a dignidade da vida humana tem o mesmo valor à nascença como na fase de

idoso, segundo o preceituado no decreto-lei nº 119/83, de 25 de Fevereiro.

O envelhecimento exige, pois, uma nova organização, um outro olhar a nível social na

integração dos mais idosos na família e, até, no seu processo produtivo, ao encontro da

constatação de que os idosos precisam de respostas sociais dignas e justas. Encontrar

respostas que libertem os idosos das dependências sociais, que lhes estão normalmente

associadas, tem sido o objectivo mobilizador de encontros, iniciativas e de seminários,

versando multifacetadas temáticas.

Page 43: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

34

Existem casos em que a institucionalização é a única forma de enfrentar esta etapa da

vida, tanto para os próprios que deixaram de ser autónomos, como para os familiares

mais próximos, cujas condições de vida não permitem manter este tipo de dependência.

Como tal, dá a conhecer o seu reconhecimento e valorização, que se consubstanciam na

concessão de apoios materiais e técnicos, bem assim como de apoios financeiros que,

tendo em conta os custos operacionais de produção dos serviços, possam contribuir para

o exercício qualificado da actividade das Instituições.

Esta política de cooperação – que não pode deixar de processar-se com pleno e integral

respeito pela natureza particular, identidade e autonomia das Instituições – concretiza-se

através de acordos de cooperação, celebrados ao abrigo do disposto, no Estatuto das

Instituições Particulares de Solidariedade Social. Por outro lado, e no que respeita aos

idosos, tem de se considerar, antes de mais, as várias vertentes em que se inserem e

podem ser entendidos: dependentes (os que necessitam de apoio vital); dependentes (os

que necessitam de cuidados pessoais e de enfermagem); autónomos (os que necessitam

de supervisão próxima) e independentes com ajuda, ou independentes.

Neste contexto, entender-se-á as directrizes estabelecidas pela Organização Mundial da

Saúde (OMS), em 1984, consubstanciadas nos seis objectivos para os cuidados prestados

aos idosos:

� Contribuir para que o idoso morra tranquilo;

� Dar suporte à família do idoso;

� Manter a qualidade de vida;

� Manter o idoso no lugar que ele deseja;

� Prevenir a perda de aptidões funcionais:

� Proporcionar assistência de qualidade.

Para além da dificuldade que existe, na maioria dos casos – por parte da

família/comunidade e por parte do próprio idoso – em aceitar o estado de idoso, existe

por parte do Estado, igualmente, uma grande dificuldade em criar estruturas de apoio ao

Page 44: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

35

idoso e em garantir o financiamento para todos os serviços e direitos que estes têm,

nomeadamente quanto a instituições de apoio social e médico, pensões ou reformas.

Perante o envelhecimento progressivo da população, a sociedade civil e o Estado tiveram

que se organizar e criar condições para acolher o número crescente de idosos. As

principais respostas para os idosos convergiram, assim, para as áreas da saúde (hospitais,

hospitais de retaguarda ou geriátricos, apoio domiciliário integrado) e sociais (lares,

centros de dia, serviços de apoio domiciliário, etc.), estas quase todas geridas por IPSS.

Como refere o Conselho Económico e Social (CES, 1994:60),

“Instituições com vocação social ou instituições com vocação médica?....,

sabemos que as fronteiras entre as duas se têm tornado cada vez mais ténues,

devido à alteração da procura, os postulantes são cada vez mais idosos e,

sobretudo, cada vez mais dependentes e frágeis.”

Constatamos, assim, no caso de perda de autonomia dos idosos, recorrerem

normalmente:

� À família, isto é a prestação de cuidados por parte do cônjuge, descendentes ou

parentes colaterais, ou por parte de uma intervenção conjunta de vários membros

da família;

� Aos serviços ao domicílio, que são a prestação de serviços diversificados

(alimentação, higiene, tratamento de roupa, outros) por parte de profissionais ou

voluntários especializados em casa do idoso;

� Às instituições, que são a prestação dos serviços de acolhimento e/ou tratamento

em instituições especializadas. Este serviço pode ser prestado permanentemente

(lares e residências) ou parcialmente (centros de dia, centros de convívio,

universidades para a terceira idade).

Podemos ainda considerar uma quarta via, que é a prestação de cuidados informais por

parte dos vizinhos e/ou voluntários, mas no universo dos cuidados aos idosos esta

solução é ainda residual, embora para alguns idosos seja a única.

Page 45: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

36

Segundo Hopp (1999) os prestadores de cuidados formais (profissionais e/ou família)

têm uma maior utilidade para as actividades da vida diária simples, enquanto os

prestados de cuidados informais são uma mais valia para as actividades instrumentais

(compras, lazer, passeios, etc.).

Idealmente, estes eixos deviam coexistir e serem desenvolvidos, simultaneamente, de

forma a permitir ao idoso a escolha ideal. Na realidade, estes três domínios funcionam

isoladamente no nosso país, no que resulta que a resposta que o idoso tem não é a ideal,

mas a que fica mais próxima da que existe.

Entendemos a família como a rede alargada de parentes (que podem ser de sangue, de

direito, de aliança ou de facto) com quem o idoso mantém relações e interacções mais ou

menos intensas. A família vê-se obrigada normalmente a tomar conta do idoso de duas

formas: ou através de um acidente súbito (queda, doença, desmaios regulares), ou por um

processo subreptício (mais frequente), lento e progressivo, em função da lenta

deterioração das capacidades do familiar idoso. Segundo Dell’Orto, citado no CES

(1994:58), os familiares que cuidam mais frequentemente dos idosos seguem a seguinte

ordem hierárquica: cônjuge, filha, nora, filho, outros parentes, outras pessoas (notando-se

um claro domínio do elemento feminino).

Apesar de 37,6% (INE, 1999) dos idosos portugueses viverem com a família, existe a

convicção muito forte, no público em geral, de que existe um grande desinvestimento

familiar relativamente aos ascendentes, o que não corresponde à realidade.

Por toda a Europa, a família constitui ainda o grande pilar da responsabilidade pelos

dependentes idosos, como é opinião de Pimentel (2001) ao referir que vários estudos que

têm sido realizados em Portugal e noutros países permitem contrariar estas

representações. A família contínua a ser uma instituição significativa para o suporte e

realização efectiva do indivíduo” ou, segundo Fernandes (1997:103),

“A instituição familiar é o garante da solidariedade necessária aos ascendentes

em situação de velhice”.

No entanto, as políticas geronto-sociais na Europa apoiam-se apenas em dois pilares

(instituições e apoio domiciliário), olvidando-se totalmente da família. A ausência quase

total de ajudas eficazes, destinadas às pessoas que cuidam dos familiares, encontra-se no

Page 46: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

37

centro dos problemas relativos às famílias dos idosos e é a principal razão pela qual as

famílias, muitas vezes, são obrigadas a recorrer às instituições de apoio aos idosos.

Considera-se, neste espírito, institucionalização do idoso quando este está, durante todo o

dia ou parte deste, entregue aos cuidados de uma instituição, que não a sua família, sendo

idosos institucionalizados residentes os que vivem 24 horas por dia numa instituição, no

caso dos lares ou residências.

Para Golffman, citado por Santos e Encarnação (1998:239),

“As instituições totais ou permanentes consistem em lugares de residência onde

um grupo numeroso de indivíduos em condições similares, levam uma vida

fechada e formalmente administrada por terceiros. Existe uma ruptura com o

exterior, dado que todos os aspectos da vida são regulados por uma única

entidade”.

Em tempos idos, a resposta a qualquer problema a que a família não pudesse responder,

relacionado com os idosos, resumia-se ao nível do internamento, se fosse um problema

de saúde em meio hospitalar, ou num asilo (ou albergue) se fosse um problema social. A

única resposta para a solidão, isolamento e idade era a institucionalização em asilos.

Progressivamente, a sociedade foi tendo noção que era necessário outro tipo de

tratamento para os idosos e desde a década 50, e principalmente na de 60, houve uma

tentativa por parte da sociedade e do Estado de melhorar as condições de acolhimento

dos asilos, passando estes a serem chamados de Lar de Idosos (mais tarde, Lar ou Lares)

ou com os eufemismos de o “Cantinho do Idoso”, a “Casa da Avozinha” ou “Casa de

Repouso”. Em 1974 estavam registados 154 lares não lucrativos e 39 lucrativos,

existindo actualmente 769 lares sob gestão das IPSS.

Os objectivos e serviços executados pelas IPSS têm a sua expressão física nos

equipamentos sociais, dado que alojam as valências de natureza residencial, ambulatória

ou mista, denominando-se valência à resposta social desenvolvida no interior ou a partir

de um equipamento social.

Nos finais dos anos 60 surgem as primeiras valências de Centros de Dia (CD), um

equipamento aberto, meio caminho entre o domicílio e o internamento, e ao mesmo

tempo local de tratamento e de prevenção. Por esta altura surgem, também, os Centros de

Page 47: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

38

Convívio (CC), com os mesmos propósitos dos Centros de Dia, mas mais vocacionados

para a animação e lazer dos idosos.

Em 1976 começou a elaboração de uma política, que ainda hoje se segue, de prevenção e

de manutenção das pessoas no seu domicílio o maior tempo possível, e no início dos

anos 80 surgem, com mais intensidade, os Serviços de Apoio Domiciliário (SAD), que

têm por objectivo prestar alguns serviços do Centro de Dia, não no equipamento, mas no

domicílio do utente.

Esta é uma resposta que continua a expandir-se e se apresenta como a solução ideal para

muitos problemas dos idosos. Porque, para além da qualidade do serviço e de permitir ao

idoso ficar mais tempo na sua própria casa, existe o factor económico. Na verdade, a

institucionalização é a forma mais cara de prestar cuidados de longa duração a pessoas

idosas e a pessoas com deficiência e os custos da institucionalização podem chegar a ser

sete vezes superiores aos dos cuidados ao domicílio (Quintela, 1992).

Nas IPSS, em 2000, o custo técnico por utente em lar era 87% mais caro que o utente em

SAD (UIPSS, 2000).

Na década de 90 surgiu mais uma resposta social, o Acolhimento Familiar de Idosos

(AFI), que prevê o acolhimento, em casa de famílias idóneas, de idosos que necessitam

de apoio, embora esta resposta ainda não tenha grande expressão em Portugal devido à

dificuldade em angariar famílias.

Nos finais dos anos 90, a SAD é alargado para o domínio da saúde, em conjunto com os

Centros de Saúde, o que origina o Apoio Domiciliário Integrado (ADI), que une a

resposta social com a resposta de saúde. Também, nesta altura, são criados os Centros de

Noite (CN), as Unidades de Apoio Integrado (UAI) e os Acolhimentos Temporários de

Emergência para Idosos (ATEI).

No futuro prevê-se o surgimento de novas respostas para esta população, assim como a

evolução de algumas das respostas tradicionais. Oficialmente, as respostas sociais,

reconhecidas pela Segurança Social para os idosos em Portugal, são oito:

� Centro de Convívio (CC) – é a resposta social, desenvolvida em equipamento de

apoio a actividades sócio-recreativas e culturais, organizadas e dinamizadas pelos

idosos de uma comunidade.

Page 48: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

39

� Centro de Dia (CD) – é a resposta social, desenvolvida em equipamento que

consiste na prestação de um conjunto de serviços que contribuem para a

manutenção dos idosos no seu meio sócio-familiar.

� Lares para idosos (Lares), que se caracterizam por ser estabelecimentos onde são

desenvolvidas actividades de apoio social a pessoas idosas, através do alojamento

colectivo, de utilização temporária ou permanente, fornecimento de alimentação,

cuidados de saúde, higiene, conforto, fomentando o convívio e a ocupação dos

tempos livres dos utentes.

� Residência – resposta social desenvolvida em equipamento, constituído por um

conjunto de apartamento, com serviços de utilização comum, para idosos com

autonomia total ou parcial.

� Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) – prestação de cuidados, individualizados

e personalizados no domicilio, a indivíduos e famílias quando, por motivo de

doença, deficiência, idade ou outro impedimento, não possam assegurar,

temporária ou permanentemente, a satisfação das suas necessidades básicas e/ou

actividades da vida diária.

� Acolhimento Familiar de Idosos (AFI) – integração, temporária ou permanente,

em famílias - consideradas idóneas ou tecnicamente enquadradas - de pessoas

idosas.

� Centro de Acolhimento Temporário de Emergência para Idosos – resposta social

desenvolvida em equipamento, de preferência a partir de uma estrutura já

existente, que consiste no acolhimento temporário a idosos em situação de

emergência social, perspectivando-se, mediante a especificidade de cada

situação, o encaminhamento do idoso ou para a família, ou para outra resposta

social de carácter permanente.

� Centro de Noite (CN) – é a resposta social desenvolvida em equipamento, de

preferência a partir de uma estrutura já existente, dirigida a idosos com

autonomia que desenvolvem as suas actividades da vida diária no domicilio mas

que durante a noite, por motivos de isolamento necessitam de algum suporte de

acompanhamento.

Page 49: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

40

2.3. – O Estado e a tarefa do bem-estar dos idosos

A fase de vida do idoso pode trazer ou agravar algumas doenças, mas tal não é uma

doença em si, nem deve ser encarada como tal. Corresponde, de facto, a um período de

grandes alterações físicas, psicológicas e sociais, a uma nova fase que, tal como todas as

outras, exige condições específicas para poder ser vivida de forma integral e plena.

A actual crise, e a estratégia que se tem adoptado no campo da Previdência,

incapacitaram o Estado da tarefa que lhe competia de assegurar a promoção e bem-estar

dos idosos, assim como da criação e manutenção de serviços e estruturas para uma

população idosa crescente e mais exigente. Resta à família cumprir a missão de se ocupar

dos mais idosos, ainda que, de forma complementar, com outros serviços.

Na opinião de Busse (1992),

“geralmente é uma combinação de crescentes debilidade da pessoa idosa e

recursos financeiros e emocionais decrescentes dos membros da família que

levanta a questão emocionalmente difícil de uma institucionalização a longo

prazo”.

Quando a família se sente acompanhada, dividindo tarefas com especialistas que

garantem o essencial durante o dia, cuidando da higiene e saúde do doente, entre outras

tarefas, é possível manter o idoso em casa até ao fim da vida. Os serviços institucionais

para este tipo de situação, como o Apoio Domiciliário e os Centros de Dia, são

normalmente comparticipados pela Assistência Social, sendo pagos mediante os

rendimentos do utente. Evidentemente que a família não poderá ser a única responsável

pela manutenção da qualidade de vida dos idosos.

Não podemos salvaguardar os direitos de uns, comprometendo o direito de outros.

Existem, de facto, algumas instituições de âmbito local, embora isso não signifique que

seja em número suficiente ou que garantam níveis mínimos de qualidade. E necessário

envolver toda a sociedade e criar soluções.

Os serviços de apoio domiciliário devem assumir a sua participação na sociedade.

Embora o número de idosos institucionalizados seja baixo, a verdade é que muitas

Page 50: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

41

famílias se vêem forçadas a recorrer a lares, obrigadas pelas circunstâncias que não lhes

permitem acompanhar os seus idosos de outra forma.

De âmbito estatal ou privado, é do interesse de todos nós que cresça o número de

instituições de solidariedade social e que o seu papel seja, cada vez mais, activo e de

complementaridade com as famílias. Caso contrário, estaremos cada vez mais

comprometidos com uma situação que a todos pertence.

Acontece, ao mesmo tempo, que o aumento do número de idosos na nossa sociedade

ocorre num contexto eminentemente desfavorável. A diminuição das taxas de natalidade

contribuem para que a situação se tome critica. A falta de disponibilidade por parte das

famílias para apoiar os mais idosos, e a actual crise dos sistemas de protecção social que

compromete as reformas, são problemas para os quais urgem novas soluções.

A chegada à idade da reforma, implicando a exclusão da participação nos sectores

produtivos e o afastamento do idoso dos centros de decisão, agrava a situação.

Actualmente, mais de um milhão de portugueses estão impossibilitados de trabalhar. A

situação de dependência, em que ficam de um momento para o outro, e a discriminação

que sentem por parte da população activa, traz frustração e revolta.

Se o envelhecimento era considerado, em séculos passados, um acontecimento

excepcional, encarado com respeito e orgulho, hoje tomou-se um problema delicado nos

países ocidentais desenvolvidos. Nas cultoras orientais e nos países onde a esperança de

vida é curta, os idosos são vistos como "reservatórios" de saber, guardadores de

informação e fontes de sabedoria.

É necessário que as pessoas mais idosas sejam consideradas, acima de tudo, como

pessoas até porque o aumento da esperança de vida é uma realidade positiva, tanto na

economia social como familiar, pois duplicou-se o tempo de vida. É necessário mudar de

mentalidades e criar uma nova abordagem em relação aos mais idosos, com um olhar

cada vez mais positivo. Para que se crie uma nova cultura, a formação é essencial, desde

os primeiros anos até ao fim da vida, compreendendo-se as vantagens do

envelhecimento. É preciso apostar cada vez mais em informar as novas gerações.

Por outro lado, o facto de a reforma oficial estar estipulada aos 65 anos de idade, não

deve impedir o idoso de manter um papel activo na sociedade, aproveitando as suas

Page 51: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

42

capacidades, que devem ser re-enquadradas dentro de tarefas adequadas à dimensão de

cada um. A reforma deveria ser, como acontece noutros países, adaptada a uma maior

longevidade. É preciso mudar a atitude para com esta idade, pois não envelhecemos

todos ao mesmo tempo, nem da mesma forma e a participação dos mais idosos na

sociedade é vital.

Por outro lado, os serviços de saúde devem estar preparados para prevenir os estados de

dependência e serem capazes de reabilitar ou estimular o potencial existente. A medicina

não tem ainda capacidades de intervenção suficiente para curar certas doenças e, por

isso, é necessário prevenir patologias tardias, apostando, por exemplo, no exercício físico

e nos cuidados com a alimentação. Deste modo podem ser evitadas doenças e aumentar a

qualidade de vida de cada um. Isto, para não falar na diminuição da despesa pública

neste sector.

O idoso deverá ser encarado como um agente activo do desenvolvimento social, com

direito com direito a permanecer autónomo o maior tempo possível e com uma vida

digna e respeitada. Só assim seremos capazes de construir uma sociedade inclusiva e

aberta, mantendo viva a nossa memória, a nossa história e as nossas referências de

sempre e para sempre. Tudo a bem do futuro e daquilo que se anuncia para o século XXI

e que tudo indica poder ser uma sociedade de idosos.

2.4. - As Mutualidades e as Instituições Particulares de Solidariedade Social

O século XIX conhece o desenvolvimento decisivo das Mutualidades. Efectivamente,

indo buscar raízes às confrarias laicas do século XIII e colhendo os ventos do

mutualismo que o operariado europeu ergue como bandeira da liberdade de associação

para auto protecção contra determinados riscos sociais então emergentes, Portugal assiste

ao aparecimento das primeiras associações de Socorros Mútuos (instituições conhecidas

por Montepios): agrupamento, sem fins lucrativos, de ajuda mútua de trabalhadores (da

mesma classe profissional) que, mediante cotização para um fundo comum, visavam

garantir protecção adequada aos seus associados contra determinados riscos sociais.

Page 52: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

43

Estas associações de socorros fraternais, muito divulgadas então no Reino Unido

(friendiy socíeties), surgem como uma resposta à insuficiência ou ausência de

mecanismos institucionalizados de segurança social, constituindo, desse modo, vias de

previdência colectiva, associações essas, ou montepios, que asseguravam aos seus

associados, nomeadamente: protecção na doença e desemprego; pensões de invalidez,

velhice e sobrevivência; subsídio de funeral.

O século XX português é, inquestionavelmente, marcado a dois tempos. Num primeiro

tempo, pelo Estado Novo que, praticamente, se alheou do exercício da acção social e

poucos incentivos deu às instituições particulares para a exercerem; num segundo tempo,

após Abril de 1974 e com a consagração de direitos e deveres sociais na Constituição de

1976, o Estado começou por ter um papel interventor neste domínio (chamando a si

responsabilidades e tarefas que não estava em condições de poder satisfazer cabalmente).

Com o aprofundamento e a consolidação da democracia, o Estado passou a reconhecer,

de facto e de direito, a relevância das Instituições Particulares de Solidariedade Social

(IPSS), aprovando o seu estatuto jurídico em 1983 (Decreto-Lei n.º 119/83, de 25/2) e

passando a estabelecer acordos de cooperação com elas relativamente ao exercício da

acção social.

No tocante às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), integrando o

denominado Terceiro Sector ou Economia Social, as Instituições Particulares de

Solidariedade Social (IPSS) podem definir-se como pessoas colectivas de direito privado

e utilidade pública, sem fins lucrativos, constituídas e administradas por particulares,

com o propósito de darem expressão organizada ao dever moral e cívico de solidariedade

e de justiça entre os cidadãos.

Na sua essência, o espírito que as orienta perpassa por uma actuação para a afirmação de

uma cidadania responsável, voluntariosa, justa e organizada. Estas instituições podem

revestir diferentes formas: misericórdias; associações de voluntários de acção social;

associações, fundações ou cooperativas de solidariedade social; associações de socorros

mútuos (associações mutualistas).

A actuação das IPSS desenvolve-se através da prestação de serviços e da concessão de

bens e de prestações pecuniárias nos domínios: do apoio a crianças e jovens, famílias e

pessoas portadoras de deficiência; da protecção dos cidadãos idosos e na invalidez e em

Page 53: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

44

todas as situações de falta ou diminuição de meios de subsistência ou de capacidade para

o trabalho; da promoção e da protecção da saúde através da prestação de cuidados de

medicina preventiva, curativa e de reabilitação; da educação e da formação profissional;

da resolução de problemas habitacionais.

3. - As Instituições de Solidariedade Social e a integração dos idosos

No que concerne às Instituições Particulares de solidariedade Social, assim como o que

de essencial é contemplado na legislação que as suportam e as legitimam é de referir,

entre outros parâmetros, a sua definição constante no DL. 119/83, considerando o

Artigo 1.º que refere: “Definição

1 – São instituições particulares de solidariedade social as constituídas, sem finalidade

lucrativa, por iniciativa de particulares, com o propósito de dar expressão organizada ao

dever moral de solidariedade e de justiça entre os indivíduos e desde que não sejam

administradas pelo Estado ou por um corpo autárquico, para prosseguir, entre outros, os

seguintes objectivos, mediante a concessão de bens e a prestação de serviços:

� Apoio a crianças e jovens;

� Apoio à família;

� Apoio à integração social e comunitária;

� Protecção dos cidadãos na velhice e invalidez e em todas as situações de falta ou

diminuição de meios de subsistência ou de capacidade para o trabalho;

� Promoção e protecção da saúde, nomeadamente através da prestação de

cuidados de medicina preventiva, curativa e de reabilitação;

� Educação e formação profissional dos cidadãos;

� Resolução dos problemas habitacionais das populações.

2 - Além dos enumerados no número anterior, as instituições podem prosseguir de

modo secundário outros fins não lucrativos que com aqueles sejam compatíveis.

Page 54: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

45

3 - O regime estabelecido neste diploma não se aplica às mesmas instituições em tudo o

que respeite exclusivamente aos fins referidos no número anterior.

Caracterizam-se ainda por prosseguirem, mediante a concessão de bens e a prestação de

outros objectivos do âmbito da protecção na saúde, da educação e formação

profissional, habitação, os seguintes objectivos do âmbito da Segurança Social:

� Apoio a crianças e jovens;

� Apoio às famílias;

� Protecção dos cidadãos na velhice e invalidez e em todas as situações de falta ou

de subsistência ou de capacidade para o trabalho”

Mais à frente salienta que “ Estes objectivos são concretizados através de respostas de

acção social em equipamentos como de parcerias em programas e projectos. Para levar a

cabo os objectivos da segurança social, as IPSS podem celebrar Acordo Centros

Distritais de Segurança Social, através dos quais garantem a concessão de equipamentos

e serviços à população ou Acordos de Gestão através dos quais assuma equipamentos

pertencentes ao Estado. Além dós apoios financeiros previstos, proporcionam a

manutenção e funcionamento de estabelecimentos de equipamento são concedidos

apoio técnico específico e outros apoios financeiros destinados a investimentos e

remodelação dos estabelecimentos, através do FIDDAC”. De realçar que, quanto a

legislação fundamental em relação às Instituições Particulares de Solidariedade Social,

temos, pois, o Decreto-Lei n." 119/83, de 25 de Fevereiro (DR n.º 46, l Série) alterado,

posteriormente, pelos:

� Decreto-Lei n." 89/85, de 1 de Abril (DR n.º 76, l Série);

� Decreto-Lei n." 402/85, de 11 de Outubro (DR n." 234, l Série);

� Decreto-Lei n.º 29/86, de 19 de Fevereiro (DR n.º 41, l Série);

� Portaria n.º 778/83, de 23 de Julho (DR n." 168, l Série);

� Despacho Normativo n." 75/92, de 20 de Maio (DR n.º 41, l Série B).

Refira-se, finalmente, que em relação às Casas do Povo e Cooperativas de Solidariedade

Social, que prossigam objectivos das IPSS, estas podem ser equiparadas a estas

instituições, mediante reconhecimento expresso aqueles objectivos pela Lei n.º 101/97,

de 13 de Setembro (DR n.º 212, l Série A)

Page 55: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

46

3.1. – Sociabilidade e inserção social das pessoas idosas

Sabemos que o envelhecimento é uma das fases da vida em que as pessoas atravessam as

maiores transformações, implicando, da sua parte, um grande esforço de adaptação.

Passam de um corpo activo e relacional, a um corpo razoavelmente dispensado de

participação na sociedade e o isolamento socioprofissional que a reforma acarreta, aliado

à sensação de inutilidade é, para a maior parte das pessoas, vivida com dor e angústia.

Por outro lado, esta época é quase sempre marcada por perdas sucessivas. Perdem-se

capacidades físicas e mentais, falha a memória e, muitas vezes, detectam-se lesões

cerebrais. A par deste sentimento de perda geral, muitos sentem que perdem, ainda,

alguma capacidade económica, pois passam a usufruir de um rendimento menor. Posto

assim, o estado do idoso parece um estado de desolação e desconforto permanente, mas

sabemos que, cada vez mais, está nas nossas mãos contrariar esta fatalidade.

Envelhecer pode ser um processo muito pacífico e feliz, tudo dependendo da nossa

atitude. Mesmo em situações delicadas e dolorosas é possível encontrar um equilíbrio

entre o que somos e aquilo que sentimos.

Na verdade, existem aspectos muito positivos no processo de envelhecimento.

Considerar os mais idosos pessoas incapazes, tristes e sós, é um erro crasso. Embora em

muitos casos possa estar próximo da realidade, não corresponde totalmente á verdade.

Existem cada vez mais pessoas a tirar partido da idade, do tempo livre e da relação com

os outros.

Há quem viva esta fase da vida de uma forma realizada, harmoniosa, activa e integrada

na sociedade, seja pelo papel que exerce na família seja pelas funções que executa na

comunidade.

Ser idoso pode não ser um problema ou um factor negativo. Tudo depende da forma

como encaramos a própria vida e, consequentemente, a forma como convivemos

connosco. Cada vida é única e diferente, devemos evitar estereotipar os mais idosos, pois

o envelhecimento varia de pessoa para pessoa e é, quase sempre, resultado da vida que se

teve.

Page 56: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

47

Quem foi capaz de ser feliz na vida activa, apesar das fases adversas e dos tempos

difíceis, terá maiores probabilidades de viver uma velhice tranquila, partindo do

principio que nada de verdadeiramente dramático aconteceu. A aceitação que cada um

faz da sua velhice, e a forma como encara e reage a esta fase da vida, é determinante para

a qualidade com que a vive.

Se acreditarmos que o envelhecimento não é, apenas, sinónimo da perda de qualidades e

de regressão, poderemos mais facilmente usufruir das vantagens implícitas a esta nova

condição, sejam elas o fim da competição e disputa, a tranquilidade da missão cumprida,

o fim de algumas responsabilidades, a ausência se horários rígidos e stress ou, ainda, a

experiência e sabedoria acumuladas.

Ninguém é verdadeiramente idoso, nem verdadeiramente novo, pois os graus de

maturidade variam de pessoa para pessoa e, muitas vezes, acontece-nos ficarmos

surpreendidos com a frescura e o espírito de pessoas de setenta e oitenta anos. Ou, pelo

contrário, desiludidos com a «velhice» de pessoas aparentemente muito novas.

A valorização dos mais idosos deve ser incutida nas novas gerações, educando-as para a

importância do papel dos avós na estrutura familiar e na própria cultura e sociedade. Só

assim será possível iniciar uma nova era, mais aberta e disponível às questões

relacionadas com esta idade.

A solidão e a inactividade são os grandes inimigos do idoso. É importante manter

relações de amizade e continuar a preocupar-se com os outros, de forma a não cair no

isolamento total e, mais tarde, em estados de depressão. Uma das formas de o fazer

poderá ser através dos centros de dia e de convívio da área de residência, onde se podem

encontrar espaços de convívio.

É importante continuar a planear, a ter objectivos e metas para o futuro, acalentando

perspectivas de mudança e de realização pessoal de forma a garantir o equilíbrio

psicológico. Na verdade, as metas dão sentido à vida e são extremamente importantes na

procura de novos desafios

Page 57: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

48

3.2. - A missão de voluntariado nas Instituições para idosos

Projectos deste teor remetem, necessariamente, para a missão de voluntariado,

instrumento ideal da expressão da solidariedade com os outros nomeadamente com

pessoas idosas que, por motivos diversos, tiveram de recorrer a Instituições de

Solidariedade Social.

O voluntariado é a expressão de uma comunidade saudável, consciente da imperiosa

necessidade de renovar laços de vizinhança, relações de pertença, comportamentos

solidários, como forma de combater a exclusão, recuperar a coesão social (porque se

recupera a confiança do meu vizinho), suprir incapacidade da estrutura organizativa,

garantir o desenvolvimento sustentado da sociedade. Isto é, o voluntariado é

manifestação inequívoca de cidadania.

A actividade voluntária assenta, em primeiro lugar, num princípio de solidariedade –

todos somos responsáveis por todos, todos temos deveres para com cada um e para com

a sociedade no seu todo, todos somos responsáveis pelo desenvolvimento comum.

Desenvolve-se, assim, de forma gratuita, sem que o seu desempenho dê lugar a qualquer

tipo de remunerações, subvenções ou donativos, requerendo, contudo, algumas

contrapartidas que de alguma forma impeçam a penalização do(a) voluntário(a): seguro,

refeição, transportes e reembolsos quando for caso disso.

Assenta, por isso, na necessária clarificação de competências e funções. 0 (a) voluntário

(a), não substitui os recursos humanos que se consideram necessários - antes intervém

em complementaridade, nunca como alternativa ou substituição, e sempre em

convergência com a cultura e as finalidades da organização em que se integra.

Ele é um pilar fundamental da construção da sociedade civil, porque consolida o nexo

comunitário através de uma actuação livre e competente, que é o exigido a qualquer tipo

de dinamizador, junto das Instituições de apoio aos idosos.

De facto, o(a) voluntário(a) não é apenas um curioso, ou um espontâneo. A sua acção é

enquadrada por organizações, organizações que a integram numa perspectiva mais

Page 58: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

49

ampla, que a optimiza e lhe precisa a finalidade, isto é, organizações que lhe

proporcionam a formação necessária e adequada à sua esfera de intervenção.

0(a) voluntário (a) não é um profissional, mas a ignorância dos procedimentos adequados

no respectivo sector de intervenção são incompatíveis com o necessário desempenho

responsável e convergente.

A acção voluntária desenvolve-se nos mais diversos sectores da sociedade: intervenção

social, cultural, ecológica e comunitária e, cada vez mais, a cobertura dinâmica e eficaz

deste bem como de outros domínios, dependam do envolvimento e do empenhamento

dos cidadãos.

Contudo, o voluntariado é uma emanação da sociedade civil e não uma variante

aligeirada de mais uma intervenção pública ou de uma repartição minimalista. E, como

tal, ao Estado incumbe estritamente o enquadramento geral, as linhas de referência de

desenvolvimento do voluntariado.

O voluntariado é, assim, um pilar fundamental na construção da sociedade civil, na

medida em que, ao ser expressão dos valores humanos da comunidade de apoio e de

serviço, induz a confiança social, reforça a construção do capital social, promove a

coesão comunitária.

Por outra palavras, o voluntariado é a expressão de uma comunidade saudável,

consciente da imperiosa necessidade de renovar laços de vizinhança, relações de

pertença, comportamentos solidários, como forma de combater a exclusão, recuperar a

coesão social (porque se recupera a confiança do meu vizinho), suprir incapacidades da

estrutura organizativa, garantir o desenvolvimento sustentado da sociedade. Isto é, o

voluntariado é manifestação inequívoca de cidadania.

Comunidades coesas e fortes são aquelas que contam com a participação activa e

consciente dos seus membros, onde o exercício da cidadania é sem dúvida a expressão

do contido na afirmação de Leonardo Coimbra: «o homem não é uma inutilidade no

mundo já feito; antes é o obreiro de um mundo por fazer».

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50

3.3. - Intervindo em projectos para os idosos

Hoje em dia, cada vez mais é dinamizada a Acção Social entre os idosos e isto porque

ela proporciona aos indivíduos o desenvolvimento da sua informação e formação, a sua

participação social e a sua livre capacidade criadora. Ao mesmo tempo, em nome de uma

melhor qualidade de vida, proporcionando o desenvolvimento pessoal e social, evitando

muitas vezes que os indivíduos, ou até mesmo grupo de indivíduos, se fechem em si

mesmos e possam interagir com os outros, e até mesmo com o meio que os rodeia.

A Acção Social surge, assim, como uma intervenção social para tornar a vida dos idosos

mais leve, dado que se assume numa perspectiva de praxis, transformando a passividade,

a resignação e o fatalismo do viver humano em participação, autonomia e emancipação.

No fundo, toda uma dinâmica social, entendida como uma estratégia para o

desenvolvimento pessoal e comunitário. É a partir da realidade em que estamos

inseridos, que devemos construir projectos de intervenção, porque a vida é tomar partido

nos projectos em que acreditamos. É animar e animar-se, partilhando poderes/saberes e

valores que criem um novo estilo de cidadania activa.

3.3.1. - Complemento Solidário para Idosos

De acordo com as várias estatísticas publicadas, o envelhecimento da população

portuguesa é uma realidade. Esta certeza está, para além de outros aspectos, relacionada

com a longevidade dos indivíduos e, por isso, torna-se premente, numa sociedade que se

pretende autónoma e moderna, que esta preocupação constitua um dos vectores

estratégicos das políticas definidas.

O envelhecimento da população é uma constatação e, quando relacionado com factores

de pobreza, a preocupação amplia-se significativamente. Os indicadores de pobreza,

respeitantes a Portugal, demonstram que as pessoas idosas são as mais penalizadas na

concretização das diferentes necessidades do seu dia-a-dia e no acesso a alguns bens e

serviços, o que faz deste grupo etário um dos mais frágeis e vulneráveis da nossa

Page 60: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

51

sociedade. Neste âmbito, não será certamente indiferente o facto de neste grupo se

concentrarem essencialmente pensionistas, cerca de um milhão, com idade igual ou

superior a 65 anos, que vivem com um rendimento inferior a 350 mensais. Para fazer

face a esta situação preocupante, foi criada uma prestação de combate a este tipo de

pobreza específica – o Complemento Solidário para Idosos. Trata-se de uma prestação de

atribuição diferenciada e pretende, como a própria palavra indica, ser um complemento a

um rendimento de que a pessoa idosa seja detentora. Para o reconhecimento do direito ao

complemento é necessário que o requerente satisfaça, cumulativamente, as seguintes

condições:

a) Ter idade igual ou superior a 65 anos, embora esta condição seja cumprido de forma

progressiva: 2006 - Idade igual ou superior a 80 anos; 2007 — Idade igual ou superior a

70 anos e 2008 — Idade igual ou superior a 65 anos. Para efeitos de atribuição da

prestação de Complemento Solidário para Idosos o agregado familiar é definido pelo

próprio requerente, cônjuge ou pessoa que viva com o requerente em situação de união

de facto há pelo menos 2 anos;

b) Residir em território nacional há, pelo menos, 6 anos;

c) Possuir recursos de montante inferior ao valor de referência do complemento. Para

uma pessoa isolada 4200€ anual e para um casal 7350€ anuais e cumulativamente 4200

anuais como pessoa isolada.

Para além dos rendimentos próprios do requerente ou do seu conjugue, designados de

recursos do requerente, na determinação da prestação, são também tidos em consideração

os rendimentos dos filhos legalmente obrigados a prestar alimentos.

De acordo com o Código Civil, mais especificamente no art. 2009°, estão vinculados à

prestação de alimentos, entre outros, os descendentes. Para esse efeito, os rendimentos

dos filhos do requerente, mediante o seu valor, são escalonados em diferentes patamares,

sendo apurado um montante que é somado aos recursos do requerente e calculado com

base na composição do agregado fiscal do filho do requerente. Essa componente é

designada de Componente de Solidariedade Familiar, um novo conceito inovador

inserido nesta prestação.

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52

O montante do Complemento Solidário para Idosos corresponde à diferença entre o

montante de recursos do requerente e o valor de referência do complemento. O valor de

referência é objecto de actualização periódica, tendo em conta o crescimento económico

e a distribuição da riqueza. O Complemento Solidário para Idosos, como foi referido,

será implementado progressivamente por idades, tendo, ainda, um percurso de

amadurecimento a fazer, esperando que, efectivamente, quem mais precisa tenha acesso

célere a esta prestação basilar.

O objectivo foi proporcionar as condições necessárias para que o acolhimento a esta

população seja efectuado de forma elucidativa c simultaneamente rigorosa, tendo em

conta a idade dos potenciais beneficiários da prestação e o carácter inovador da medida.

O Complemento Solidário para Idosos é uma prestação que estabelece uma nova

filosofia de base, quanto à atribuição de prestações desta natureza. Trata-se da assunção

de diferentes níveis de responsabilidade, baseados na individualização das funções de

cada interveniente: o próprio requerente/beneficiário, a família e o Estado.

Hierarquicamente assume-se o comprometimento de proporcionar a quem mais precisa o

acesso a um valor mínimo de sustento,

Em termos estatísticos já deram entrada nos serviços da Segurança Social cerca de 11

mil processos e foram realizados 66 mil atendimentos (Abril de 2006). Salienta-se ainda

que o Complemento Solidário para Idosos tem uma “face feminina": o número de

mulheres requerentes é significativamente superior ao número de homens.

Quanto a acções de sensibilização e de formação, o Instituto da Segurança Social, l.P.

(ISS, l.P.) é o responsável pela gestão desta medida, cuja implementação teve início em

Janeiro do presente ano.

Desde essa data, foram desenvolvidas acções de sensibilização, de Norte a Sul do país,

direccionada a todos os colaboradores, de forma a informar e alertar os diferentes

serviços sobre a nova prestação. Posteriormente foram desenvolvidas acções de

formação para os serviços de atendimento, abrangendo cerca de 550 pessoas.

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3.3.2. - Lares para Idosos, Centros de Dia e de Apoio Domiciliário

A pessoa acolhida tem os direitos inerentes ao reconhecimento da dignidade como ser

humano, independentemente da sua situação de dependência ou perda de autonomia.

Tendo em conta as manifestações variadas do idoso e seus diferentes graus, torna-se

difícil realizar um plano de assistência e de apoio, para instituições vocacionadas à

pessoa com todo o tipo de carências.

Quaisquer projectos de actividades não devem ser elaborados isoladamente, mas em

conjunto com outras instituições e dinamizadores socioculturais, de forma a haver um

cruzamento e uma partilha de conhecimentos a vários níveis, tendo sempre em

consideração as necessidades dos utentes bem como a sua situação geral. A prevenção de

problemas psicossociais, que ainda se associam frequentemente às ideias mais

avançadas, é antes de mais responsabilidade de cada um, mas também, num âmbito mais

alargado, de todas as instituições de apoio aos idosos. Assim, é fundamental que se criem

condições para que cada pessoa idosa se comprometa na preparação do seu próprio

projecto de vida, fomentando a sua adaptação aos novos contextos, recursos e

necessidades. Projecto de vida esse que não deixa de fazer sentido quando cessa o

vínculo laboral.

Na verdade, torna-se premente que cada instituição de apoio ao idoso projecte um plano

capaz de integrar e de apoiar diferentes áreas da vida de cada idoso, nomeadamente

desde o emocional, passando também pelo financeiro. As instituições de apoio, dirigidas

às pessoas idosas, devem ter como objectivo central, embora genérico, o de estimular o

desenvolvimento global, numa ampla dimensão humana, tendo em vista sua integração

nos parâmetros positivos da comunidade regular.

Toda a pessoa idosa tem direito à existência social, que compreende a possibilidade de se

relacionar com os outros, de modo a evitar o isolamento. As instituições direccionadas

aos idosos devem visar uma larga faixa de integração dos seus utentes, esperando, deste

modo, que o trabalho que desenvolve, seja a reposta mais adequada às finalidades que

pretendem atingir A pessoa idosa deve continuar a “crescer” em vários aspectos, na

medida em que deve continuar também a amadurecer no pensar, no agir, no querer, no

criar, no planear, no tomar iniciativas, no conviver, no descobrir e respeitar o outro, no

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colaborar, numa palavra: no valorizar-se. Tudo isto reflecte a larga faixa de integração

dos indivíduos, e que as instituições pretendem desenvolver. Contudo, esta integração é

possível, e tanto mais eficaz, se as instituições tiverem como suporte uma equipe

multidisciplinar baseada nas inter-relações e entreajuda estabelecidas entre os vários

elementos.

Toda esta acção é pensada em prol do desenvolvimento e na valorização da pessoa idosa.

Na realidade, e face a todos os objectivos que estas instituições se predispõem a atingir,

por vezes são confrontadas com alguns obstáculos, que dificultam o decorrer regular das

suas acções.

Relativamente aos idosos dos Centro de Dia e Apoio Domiciliário, de um modo geral

recorreram à instituição, na procura de um suporte tanto social, como emocional.

Tratam-se de idosos, onde nalguns casos não há retaguarda familiar, cujos familiares,

com uma organização da vida diária, não lhes permite dar o apoio adequado e suficiente.

È certo que alguns dos utentes estão na instituição porque, efectivamente, não possuem

outros recursos mas, de um modo geral, são os familiares que tratam da integração do

idoso na instituição. Contudo, o carácter de obrigação não é sempre visível, ou seja, os

idosos vão para a instituição porque os familiares os obrigam.

Normalmente, trata-se de uma preocupação dos mesmos familiares, desejando

asseguradas as necessidades dos idosos, com devida qualidade de vida.

3.3.3. - Centros Sociais Paroquiais

Os Centros Sociais são um dos rostos mais visíveis da actuação de muitas Paróquias

mas, quem olha para o trabalho desenvolvido pelos Centros Sociais, nem sempre se

apercebe de que se trata de uma expressão inseparável do resto da vida da solidariedade

duma comunidade e, igualmente, integrada na sua dimensão de acção e de intervenção

social. Há alguns anos, sentiu-se a necessidade de estreitar, cada vez mais, as relações

que devem existir entre os Centros e as Paróquias a que pertencem, visto os Centros

constituírem um serviço das mesmas, destinado ao exercício da caridade, e não uma

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instituição à parte, ou paralelos, embora por força das circunstâncias, sejam dotados de

personalidade jurídica diferente da das Paróquias.

Esta reflexão não perdeu actualidade, e seria desejável retomá-la, concretizando-a numa

avaliação serena e objectiva. Na verdade será natural de, entre outros aspectos,

considerar alguns que se mostram, pela sua natureza, motivo suficiente para um devida

reflexão. As Paróquias «sentem» os Centros Sociais como seus e, como tal, existe na

Paróquia um grupo de amizade e apoio ao Centro Social, constituído por paroquianos

que se proponham auxiliá-lo, espiritual ou também materialmente, na prossecução dos

seus fins.

O pessoal técnico e os outros trabalhadores reconhecem a sua vinculação espiritual, pelo

menos em sentido lato, à Paróquia de que o Centro depende, aliás geralmente

testemunhado pela vivência religiosa vividas pelos utentes.

Para além do pessoal profissionalizado, também há paroquianos a trabalhar como

voluntários, conforme normalmente se prevê nos seus estatutos. O pároco sente que o

continua a ser, quando assume, por força dos estatutos, presidente da Direcção, dando,

duma forma muito activa e dinâmica, a sua colaboração. Quando surgem questões

laborais, os párocos conseguem preservar a natureza e a imagem própria da sua missão,

sem prejuízo do rigor e da objectividade das decisões a tomar, sem que os outros os

vejam como simples administradores.

Mais urgente, no momento actual, tem sido o de reflectir sobre a validade e a

importância das acções que os Centros Sociais realizam, sobretudo no trabalho com

idosos e, em especial, no sentido de contrariar o seu isolamento e de os integrar o mais

plenamente possível nas suas famílias. Há um modo mais criativo de trabalhar com os

idosos, sem os isolar e também sem os infantilizar, que precisaria de ser mais

implementado.

Para além dos lares, convívios e centros de dia, a assistência domiciliária, que muitos

Centros praticam, é uma forma valiosa de manter os idosos e doentes integrados nas suas

próprias casas e no seu contexto familiar, uma necessidade e um desejo a que as

instituições oficiais só respondem de forma limitada, e que poderia generalizar-se muito

mais, com o auxílio de pessoal especializado.

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Há Centros Sociais que integram nas suas valências diversas actividades com os seus

utentes e que, além dos assistentes sociais e psicólogos, que exercem a sua função

específica, contam também com a colaboração de voluntários que acompanham, numa

base de amizade e confiança, essas pessoas.

Com os pais das crianças, que frequentam as creches e os jardins-de-infância e também

as valências de ATL, há um trabalho de integração comunitária sem pressa, mas que tem

de ser iniciada no momento oportuno e lavada por diante sem desânimo e com

esperança.

É evidente que os Centros Sociais Paroquiais não podem depender exclusivamente do

pessoal técnico com vínculo profissional, designadamente assistentes sociais, psicólogos,

educadoras de infância e pessoal auxiliar, até porque nem são estes que marcam o ritmo,

nem definem as linhas de rumo dos Centros.

Também não sãos os técnicos da Segurança Social que definem as opções culturais e

espirituais dos Centros Sociais Paroquiais... Estas tarefas competem exclusivamente à

Direcção, presidida pelo pároco, que nunca deixa de o ser.

E tem de haver voluntários, catequistas e diáconos permanentes, além dos próprios

sacerdotes, que exercem a suas funções num campo de missão que não constitui um

mundo à parte e independente do resto da Paróquia, mas que deve estar integrado com

absoluta normalidade, e sem nenhuma restrição, no dinamismo e na riqueza da sua vida

comunitária.

Como os Centros Sociais são reconhecidamente uma actividade da comunidade cristã, é

sempre oportuno passar do simples convívio ou da resolução de uma determinada

necessidade social à proposta evangelizadora clara e explícita.

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3.3.4. - Universidades Seniores (Universidades da Terceira Idade)

3.3.4.1. – Conceito e finalidades

A Universidade da Terceira Idade (ou Universidade Sénior ou Academia Sénior) é a

resposta social, que visa criar e dinamizar regularmente actividades culturais, sociais,

educacionais e de convívio, preferencialmente para e pelos maiores de 50 anos, em

regime informal e sem fins de certificação As UTI são “instituições que se dedicam a dar

resposta à procura de ensino informal em variados domínios e à procura de actividades

recreativas ou outras por parte da população sénior” (Pinto, 2003). As Universidades da

Terceira Idade (UTI) como movimento especifico de ensino para os seniores surgiram

em França em 1973 na Universidade de Toulouse com Pierre Vellas, médico e

investigador. Nascia no Departamento da Unidade de Ensino e de Pesquisas da

Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Toulouse o primeiro curso destinado

unicamente a reformados locais. As Universidades da Terceira Idade têm por objectivos

principais:

� Estudo dos problemas médicos, sociais e psicológicos dos idosos.

� Incentivar a participação e organização dos seniores, em actividades culturais, de

cidadania, de ensino e de lazer.

� Divulgar a história, as ciências, as tradições, a solidariedade, as artes, a

tolerância, os locais e os demais fenómenos sócio-culturais entre os seniores.

� Ser um pólo de informação e divulgação de serviços, deveres e direitos dos

seniores.

� Desenvolver as relações interpessoais e sociais entre as diversas gerações.

� Fomentar a pesquisa sobre os temas gerontológicos.

O universo das UTI hoje em dia é tão vasto de pais para pais e até de cidade para cidade,

que estas três faces ou gerações estão perfeitamente actualizados e presentes.

Cabe a cada universidade saber o que pretende para os seus alunos e a partir daí

organizar-se como tal. É perfeitamente possível ter na mesma região duas UTI a

funcionarem de maneira completamente distinta, uma destinada mais ao convívio e outra

com funções de investigação. O facto mais importante é as UTI serem Universidades

“da” Terceira Idade em vez de Universidades “para a” Terceira Idade.

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3.3.4.2. – Historial e modelos de organização

Passados sete anos de 1973, já existiam 52 UTI em toda a França. Em 1975 o movimento

internacionalizou, primeiro pelo espaço linguístico francês (Suíça, Bélgica e Canada) e

depois por todo o mundo e em 1976 foi criada a Associação Internacional das

Universidades da Terceira Idade, em Genebra (Suiça). Actualmente existem 300.000

UTI no mundo inteiro. Existem mundialmente quatro modelos de organização das UTI,

dos quais destacamos os dois principais: O modelo francês ou continental e o modelo

britânico ou inglês.

O modelo francês associa as UTI às Universidades Tradicionais, enquanto o modelo

britânico desenvolveu-se tendo por base as associações auto-organizadas ou as sem fins

lucrativos.

O modelo francês tem por base logística (professores, salas, equipamento, organização)

uma Universidade Tradicional; privilegia a pesquisa e investigação e pode criar cursos

superiores e de pós-graduação para seniores; o modelo britânico é mais independente e

menos formal que o francês porque aproxima mais os alunos e professores, há uma

maior participação dos alunos na gestão da UTI, sendo os professores voluntários e os

programas com uma vertente mais social e recreativa.

Temos assim dois modelos, idênticos nos objectivos mas dispares na organização.

Podemos ainda considerar mais dois modelos: os modelos mistos ou híbridos, que

associam o modelo francês ao modelo britânico, e o modelo norte-americano dos

Institutes for Learning in Retirement (ILR).

Estes modelos são mais teóricos que práticos, dado que, no essencial, cada organização,

independentemente do local, cria o seu próprio modelo de UTI, “os seus

modelos/projectos não só acabam por diferir de país para país mas também, dentro de

cada país, de região para região em função de diferentes variáveis. E este ajustamento de

projectos às condições particulares das populações revela-se, na minha opinião, a chave

de sucesso destas instituições” (Pinto, 2003).

De forma geral, as UTI destinam-se a maiores de 50 anos, não exigem nenhum grau de

habilitações especial (excepto algumas UIT da escola francesa), ministram cursos e

Page 68: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

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disciplinas, dando primazia á divulgação cultural e científica. As aulas são

complementadas com outras actividades recreativas, tais como teatro, coros, grupos de

dança e de música, conferências, exposições, desporto, pintura, edição de livros ou

revistas e visitas de estudo (especialmente o modelo norte-americano com a Elderhostel).

Os cursos propriamente ditos podem assumir duas formas. No modelo francês

predominam os cursos de média e longa duração, um ou mais anos. No modelo britânico

dominam os cursos de curta duração, de uma semana a dois meses.

As áreas privilegiadas dos cursos são comuns a todos os modelos e são as Línguas

(nativa e estrangeiras), as Ciências Sociais e Humanas (História, Sociologia, Psicologia),

a Cultura (música, arte, literatura, etc.), a Saúde (Nutrição, cuidados primários), a

Informática, as Artes Práticas (pintura, desenho, artesanato, etc.) e as Actividades

Desportivas e Físicas.

As UTI europeias possuem uma rede de trabalho conjunta, a "Learning in Later Life" -

European Network, que engloba universidades de 18 países, fundada em Dezembro de

1995 e cuja sede é na Universidade de Ulm (Alemanha), ainda que algo limitada.

A RUA (Red Americana de Universidades Abiertas) foi criada no III Congresso das

UTI sul-americanas em 1995, na Argentina e numa escala mundial as UTI encontram-se

reunidas na Associação Internacional das Universidades da Terceira Idade (AIUTA –

L’Association Internationale des Universités du Troisième Âge ou International

Association of Universities of the Third Age), que organiza encontros mundiais de dois

em dois anos, sendo o de 2004 na China.

Existe uma revista internacional, a TALIS (Third Age Learning International Studies),

com sede na Universidade de Saskatchewan no Canadá, que aborda os temas do ensino e

pesquisa para os seniores e relata as actividades das UTI de todo o mundo.

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3.3.4.3. - As UTI em Portugal

A primeira UTI chegou a Portugal em 1976, com a criação da Universidade

Internacional da Terceira Idade de Lisboa (UITIL). Seguiram-se a Universidade Popular

do Porto, a Universidade de Lisboa da Terceira Idade (ULTI) e a Universidade do

Autodidacta e da Terceira Idade do Porto (UATIP).

Apesar de terem aparecido, desde a década de 70, o número de UTI no nosso pais

permaneceu muito reduzido e limitado a Lisboa e ao Porto. Só nos finais dos anos 90 se

deu a verdadeira explosão de UTI pelo país, como se prova pelo surgimento de mais de

30 novas universidades, que se deve por uma lado à consciencialização pelo Estado e

pela sociedade do papel do idoso e do envelhecimento da população, à realização de

seminários e congressos sobre o tema, como o Ano Internacional da Pessoa Idosa em

1999 e a uma maior exposição, nos média, das UTI.

Existem actualmente 55 UTI, que contam com mais de 8.000 alunos, sendo as maiores a

Universidade de Lisboa da Terceira Idade e a Universidade do Autodidacta e da Terceira

Idade do Porto, com 700 e 600 alunos respectivamente. Existe claramente uma grande

predominância das mulheres. Quase todos os alunos têm um nível social e cultural acima

da média, excepção à USAL, que trabalha essencialmente com alunos com a 4ª classe.

Em Portugal perto de 80% das UTI foram criadas pelos próprios utilizadores e pela

comunidade, o que torna estas organizações ainda mais louváveis, e que nas palavras de

(Pinto, 2003)

“...quer isto dizer que, no nosso país, não foi o Estado, ao contrário do que se terá

passado noutros países, que tomou a iniciativa de chamar a si a “educação” dos

seniores instigando, por exemplo à criação de programas universitários para essa

população nas universidades públicas tradicionais.”

Existem apenas duas instituições de ensino superior com departamentos dedicados à

formação dos seniores (Instituto Superior de Serviço Social de Beja e Universidade

Católica da Figueira da Foz e UTI de Beja e da Figueira da Foz, respectivamente).

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A Academia Sénior da Covilhã também tem um protocolo de cooperação com a

Universidade da Beira Interior. Em Portugal, a grande maioria segue o modelo inglês. De

salientar a Universidade da Terceira Idade do Barreiro que é única pertença à autarquia

local. Porém a maioria das UTI está agregada a outra associação, tipo IPSS, Associação

Cultural ou Clube. As UTI funcionam todas fora do sistema escolar, mantendo-se fiéis

aos princípios básicos da aprendizagem informal.

3.4. – O bem-estar dos idosos: a complementaridade das Instituições com a família

O estatuto de idoso corresponde, de facto, a um período de grandes alterações físicas,

psicológicas e sociais, a uma nova fase que, tal como todas as outras, exige condições

específicas para poder ser vivida de forma integral e plena. A actual crise, e a estratégia

que se tem adoptado no campo da Previdência, incapacitaram o Estado da tarefa que lhe

competia de assegurar a promoção e bem-estar dos idosos, assim como da criação e

manutenção de serviços e estruturas para uma população idosa crescente e mais exigente.

Resta à família cumprir a missão de se ocupar dos mais idosos, ainda que, de forma

complementar, com outros serviços.

Na opinião de Busse (1992:310), “geralmente é uma combinação de crescentes

debilidade da pessoa idosa e recursos financeiros e emocionais decrescentes dos

membros da família que levanta a questão emocionalmente difícil de uma

institucionalização a longo prazo”.

Quando a família se sente acompanhada, dividindo tarefas com especialistas que

garantem o essencial durante o dia, cuidando da higiene e saúde do doente, entre outras

tarefas, é possível manter o idoso em casa até ao fim da vida.

Os serviços institucionais para este tipo de situação, como o Apoio Domiciliário e os

Centros de Dia, são normalmente comparticipados pela Assistência Social, sendo pagos

mediante os rendimentos do utente. Evidentemente que a família não poderá ser a única

responsável pela manutenção da qualidade de vida dos idosos. Não podemos

salvaguardar os direitos de uns, comprometendo o direito de outros. Existem, de facto,

algumas instituições de âmbito local, embora isso não signifique que seja em número

Page 71: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

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suficiente ou que garantam níveis mínimos de qualidade. E necessário envolver toda a

sociedade e criar soluções. Os serviços de apoio domiciliário devem assumir a sua

participação na sociedade.

Embora o número de idosos institucionalizados seja baixo, a verdade é que muitas

famílias se vêem forçadas a recorrer a lares, obrigadas pelas circunstâncias que não lhes

permitem acompanhar os seus idosos de outra forma. De âmbito estatal ou privado, é do

interesse de todos nós que cresça o número de instituições de solidariedade social e que o

seu papel seja, cada vez mais, activo e de complementaridade com as famílias. Caso

contrário, estaremos cada vez mais comprometidos com uma situação que a todos

pertence.

Acontece, ao mesmo tempo, que o aumento do número de idosos na nossa sociedade

ocorre num contexto eminentemente desfavorável. A diminuição das taxas de natalidade

contribuem para que a situação se tome critica. A falta de disponibilidade por parte das

famílias para apoiar os mais idosos, e a actual crise dos sistemas de protecção social que

compromete as reformas, são problemas para os quais urgem novas soluções. A chegada

à idade da reforma, implicando a exclusão da participação nos sectores produtivos e o

afastamento do idoso dos centros de decisão, agrava a situação. Actualmente, mais de

um milhão de portugueses estão impossibilitados de trabalhar. A situação de

dependência, em que ficam de um momento para o outro, e a discriminação que sentem

por parte da população activa, traz frustração e revolta.

Se o envelhecimento era considerado, em séculos passados, um acontecimento

excepcional, encarado com respeito e orgulho, hoje tomou-se um problema delicado nos

países ocidentais desenvolvidos. Nas cultoras orientais e nos países onde a esperança de

vida é curta, os idosos são vistos como "reservatórios" de saber, guardadores de

informação e fontes de sabedoria, É necessário que as pessoas mais idosas sejam

consideradas, acima de tudo, como pessoas. O aumento da esperança de vida é uma

realidade positiva, tanto na economia social como familiar, pois duplicou-se o tempo de

vida. É necessário mudar de mentalidades e criar uma nova abordagem em relação aos

mais idosos, com um olhar cada vez mais positivo.

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Para que se crie uma nova cultura, a formação é essencial, desde os primeiros anos até

ao fim da vida, compreendendo-se as vantagens do envelhecimento. É preciso apostar

cada vez mais em informar as novas gerações.

Por outro lado, o facto de a reforma oficial estar estipulada aos 65 anos de idade, não

deve impedir o idoso de manter um papel activo na sociedade, aproveitando as suas

capacidades, que devem ser re-enquadradas dentro de tarefas adequadas à dimensão de

cada um.

A reforma deveria ser, como acontece noutros países, adaptada a uma maior

longevidade. É preciso mudar a atitude para com o idoso, pois não envelhecemos todos

ao mesmo tempo, nem da mesma forma. A participação dos mais idosos na sociedade é

vital.

Por outro lado, os serviços de saúde devem estar preparados para prevenir os estados de

dependência e serem capazes de reabilitar ou estimular o potencial existente. A medicina

não tem ainda capacidades de intervenção suficiente para curar certas doenças e, por

isso, é necessário prevenir patologias tardias, apostando, por exemplo, no exercício físico

e nos cuidados com a alimentação. Deste modo podem ser evitadas doenças e aumentar a

qualidade de vida de cada um. Isto, para não falar na diminuição da despesa pública

neste sector.

O idoso deverá ser encarado como um agente activo do desenvolvimento social, com

direito com direito a permanecer autónomo o maior tempo possível e com uma vida

digna e respeitada.

Só assim seremos capazes de construir uma sociedade inclusiva e aberta, mantendo viva

a nossa memória, a nossa história e as nossas referências de sempre e para sempre. Tudo

a bem do futuro e daquilo que se anuncia para o século XXI e que tudo indica poder ser

uma sociedade de idosos.

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3.5. - Equipamentos sociais, programas e serviços para as pessoas idosas

Seguindo esta linha de pensamento, é necessário investir em actividades com os idosos

através de programas eficazes e interventivos, orientados para a dinâmica da

transformação participativa.

Com efeito há que dinamizar o quotidiano com actividades lúdicas que contribuam para

que o idoso participe e se sinta útil e, como tal, a possibilidade e necessidade de

condignas actividades físicas.

O envelhecimento como processo universal, inerente a todos os seres vivos tem vindo,

progressivamente, a sofrer transformações importantes, não só em termos conceptuais

como também nas estratégias de intervenção. Com efeito, tradicionalmente, o ser-se

idosos era considerada uma etapa em que os indivíduos estavam presos ao passado,

eram sujeitos passivos de um descanso obrigatório e de um tempo de ócio também ele

obrigado.

Hoje, pelo contrário, as especificidades desta população são respeitadas e consideradas

ponto de partida para intervenções em diversas áreas. Mais activas umas do que outras,

depende das pessoas o partilhar da vida em comum, e de tudo o que ela quer dizer de

alegria e de criatividade.

A finalidade será sempre a de dinamizar o quotidiano e de estimular a participação dos

utentes das Instituições de idosos em actividades de carácter lúdico e cultural, seja no

interior das mesmas, seja fora dos seus espaços, com toda uma gama de acções,

propiciadoras na luta contra o isolamento e a solidão.

Desta forma, ressaltará o espírito de entreajuda, e aumentam os níveis de auto-estima,

pela participação e relações provenientes em actividades lúdicas. Por tudo isto, as

estratégias de intervenção devem ser diferentes e adaptadas ao grupo/indivíduo, bem

como às respectivas necessidades.

É neste contexto que as Instituições de idosos convergem para finalidades idênticas,

orientando-se por objectivos de partilha e aprendizagem, duma procura de despertar, na

população, sentimentos de pertença, de dinamismo, de bem estar, de desafio, e de

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abertura, por forma a que a colaboração de todos seja um factor de mobilização e

mudança na comunidade local.

A prossecução deste "despertar" passa pelo desenvolvimento de actividades de carácter

lúdico; intelectual (leituras, histórias de vida, memórias...); físico (passeios, praticar

desporto...); social (convívios, visitas a outras instituições...); destreza manual

(bordados, bricolage, pintura...) e de outro tipo (teatro, encontros de (in) formação).

De acordo com o desenvolvimento da Psicologia do Idoso, as actividades artísticas são

um meio para o idoso libertar-se, criar, recriar, comunicar, partilhar, sentir-se útil,

participar, divertir-se…

Daí a importância de, muitas vezes, ser necessário incentivar, estimular o idoso a

escolher uma ocupação, uma actividade, a sair da rotina, a descobrir capacidades que,

muitas vezes, desconhecia e a viver melhor a sua vida.

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66

Parte II – Fundamentação prática do estudo

1. - A questão em análise

1.1. - A vida dos idosos nas Instituições

A Gerontologia Social parte do capital do conhecimento científico sobre o

envelhecimento, integrando os dados colhidos a partir da experiência dos profissionais

que trabalham neste sector.

Constitui-se, assim, como oportunidade de transformação da acção em conhecimento,

contribuindo também para que cada um construa e partilhe o seu próprio conhecimento.

Evidentemente que a presente dissertação, como qualquer trabalho desta índole, partiu

não só das referências colhidas na literatura realizada – na óptica da transdisciplinaridade

–, como foi estruturada a partir de múltiplos e diversificados conhecimentos

multidisciplinares, neste domínio, bem evidenciados ao longo da investigação teórica.

Numa breve síntese, a questão em análise – orientadora de toda a nossa investigação –

prende-se com a vida do idoso em Instituições de carácter social, nomeadamente aferidas

a I.P.S.S., casos de Centros de Dia e de Centros Sociais Paroquiais.

E é neste contexto que, após a cracterização do Concelho da Santa Maria da Feira,

escolhemos, aleatoriamente, duas dessas Instituições.

Nesta perspectiva e conjuntura consideramos os vários conteúdos conceptuais à luz

duma multicientificidade, considerando de uma maneira especial os seguintes factores,

conforme objecto de reflexão teórica na primeira parte do trabalho:

� Epistemológicos, conceptuais – envelhecimento, idoso, pessoa idosa, reformado,

necessidade, autonomia, dependência;

� Biopsicológicos – processos de envelhecimento dos indivíduos;

� Demográficos – envelhecimento social;

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� Sociológicos - condições de vida, representações sociais do idoso, cultura,

identidade, modos de vida, sociabilidades, habitat;

� Filosóficos – ética, morte e o fim da vida;

� Políticos – políticas sociais, protecção social, protecção dos direitos das pessoas

idosas;

� Interventivos – comunicação, inter-relação, escuta, reconhecimento, preservação

da autonomia;

� Territórios de intervenção gerontológica – organizações, estabelecimentos,

serviços, projectos.

1.2. – Metodologias e técnicas de investigação social utilizadas

Em termos metodológicos, a questão em análise assentou num modelo participativo,

enquanto observação participativa nos diversos locais - contexto espaço-temporal do

trabalho empírico - e propícios não só à troca de experiências, como à reflexividade

sobre as razões dos utentes aí conviverem.

Com base na observação directa, conversas informais e inquérito por questionário –

requisitos indispensáveis para um levantamento o mais objectivo possível – foi possível

a definição das situações mais problemáticas a serem objecto de futura intervenção.

Esta observação participativa constitui um instrumento de investigação/reflexão de

grande importância, dado que todos sabemos que o aumento significativo dos

estabelecimentos de apoio às pessoas idosas não foi acompanhado da necessária

qualificação dos profissionais, que neles asseguram os cuidados a pessoas com

problemas cada vez mais complexos, o mesmo acontecendo com os agentes que

orientam tecnicamente o funcionamento desses serviços.

No fundo tentamos inteirar do conhecimento dos projectos destas Instituições, que

definem as grandes orientações para acolher, com qualidade, as pessoas idosas, e pelo

projecto de vida, que tem directamente a ver com a vida dos residentes no quotidiano...

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68

Naturalmente que um projecto desta natureza torna-se propício à utilização de várias

técnicas metodológicas, embora convenhamos que a metodologia sempre presente ao

longo do trabalho empírico perpassou, fundamentalmente, por uma investigação-acção.

Esta, no fundo, através do conhecimento das Instituições, do público-alvo e do

conhecimento dos problemas através duma observação cimentada, desde a sua criação,

poderá ser vista como procedimento qualitativo.

Daí tratar-se duma investigação-acção, fundamentada por uma observação informal – e

posteriormente intencional – da situação referente ao quotidiano das Instituições, com

base nas conversas informais havidas com pessoas amigas e utentes, bem como das

assíduas visitas e consequente convívio com os destinatários do presente projecto.

Além do mais – e como metodologia inicial utilizada e inserida neste processo de

investigação – acção – recorremos a conversas informais com as assistentes sociais,

pessoas que julgámos serem as mais indicadas, pela responsabilidade máxima no

normal funcionamento das Instituições.

Tratou-se, com efeito, de analisar, quanto possível, a realidade, as suas características,

as opiniões diversas dos utentes e colaboradores e, assim, ficarmos com conhecimentos

essenciais duma problemática relativa a uma população determinada, segundo vários

ângulos e pontos de vista.

Privilegiou-se a abordagem directa das pessoas nos seus próprios contextos de

interacção, através de uma observação participante e utilizando, de uma maneira muito

especial, os dados fornecidos não só pelos contactos estabelecidos com a generalidade

dos envolvidos neste trabalho, bem como os dados obtidos nos inquéritos por

questionário, de relevante importância para a possibilidade da conceptualização do

presente trabalho de investigação.

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69

1.3. - Objectivos do trabalho

Aferidos à questão orientadora do nosso trabalho estiveram presentes objectivos bem

específicos, subordinados ao objectivo geral : a formação para o cuidar.

Entre outros, temos como objectivos específicos:

� Verificar quais as estatatégias prioritárias das Instituições na formação para

cuidar, nomeadamente quanto a itens como a profissionalização e a qualificação

da intervenção;

� Inquirir até que ponto está presente uma filosofia de intervenção, em que o

cuidar integra a procura de sentido para a acção, latente ou expressa pelos que

intervêm e cuidam;

� Reflectir sobre as situações de dependência que, sendo as mais exigentes no

cuidar, são as que mais requerem aptidões técnicas, não apenas no campo

biomédico, como nos campos psicológico, espiritual, antropológico, social e

ético;

� Questionar dos limites na base da ética e dos direitos, como eixos da reflexão

formativa no sentido do preparar para o cuidar;

� Inquirir sobre o desenvolvimento da reflexividade sobre as práticas - em especial

as que mais directamente se inscrevem no território do cuidar dos utentes -

mormente quanto à ocupação dos seus tempos livres;

� Conhecer as várias vertentes da ocupação dos tempos livres e das actividades

dos idosos; a essência e natureza das Instituições, como a especificidade de

utilização das mesma pelos utentes para uma melhor abordagem dos aspectos

estruturais e funcionais das mesmas.

Page 79: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

70

2. – Delimitação do estudo

2.1. - Caracterização do meio de Santa Maria da Feira

O concelho de Santa Maria da Feira situa-se a sul do Rio Douro, e é fronteiriço aos

concelhos de Arouca, Castelo de Paiva, Espinho, Gondomar, Oliveira de Azeméis,

Ovar, S. João da Madeira e Vila Nova de Gaia. Possui uma área aproximada de 213.000

Km2 e mais de 120.000 habitantes e, a nível histórico, o concelho tem uma herança

muito rica.

Os romanos encontraram um templo dedicado a Bandevelugo Toirecoou, simplesmente

Tueraeus, que era centro devocional de tal categoria que os mesmos não puderam

identificá-lo com nenhuma divindade romana. Com a cristianização, foi consagrado à

Mãe de Deus, Santa Maria, mantendo-se como forte centro religioso. Seguiram-se as

desordens das invasões, os abandonos, sendo as ruínas e o templo, com o seu recinto

envolvente, construído de fortes blocos, aproveitados na instável ocupação do início

para a fortaleza precária.

No começo da nacionalidade levantou-se uma fortaleza regular, na base da qual

aproveitaram os mesmos blocos e conservaram o culto a Santa Maria, em capela

modesta. O nome de Feira apareceu, pela primeira vez, no foral de Osseloa de 1117,

dado pela rainha D. Teresa. Era a designação do arrabalde que o escarpado do monte

havia impedido de construir junto aos muros e fizera descer para os terrenos férteis do

vale, onde as autoridades e os proprietários residiam. Mantendo a designação de Vila da

Feira até 1986, a Civitas Sanctae Mariae, circunscrição criada por Afonso III de Leão e

Astúrias, foi ao longo de séculos cabeça e núcleo da terra de Santa Maria.

Pela sucessiva divisão das terras de Santa Maria, que sempre encabeçou, a Cidade de

Santa Maria da Feira, em 1926, ficou reduzida às actuais trinta e uma freguesias:

Argoncilhe (Vila), Arrifana (Vila), Caldas de São Jorge, Canedo, Escapães, Espargo,

Fiães (Vila), Fornos, Gião, Guisande, Lobão, Louredo, Lourosa (Vila), Milheirós de

Poiares, Mosteirô, Nogueira da Regedoura, Paços de Brandão, Pigeiros, Rio Meão,

Page 80: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

71

Romariz, Sanfins, Sanguedo, Santa Maria da Feira (Cidade), Santa Maria de Lamas

(Vila), São João de Ver, São Paio de Oleiros, Souto, Travanca, Vale e Vila Maior.

Estas trinta e uma freguesia fazem de Santa Maria da Feira, um dos concelhos com mais

freguesias a nível do país.

2.2. - Um breve olhar sobre Santa Maria da Feira

O Concelho de Santa Maria da Feira tem cerca de cento e trinta mil habitantes,

distribuídos por duzentos e treze Km2 e por trinta e uma freguesias. Este concelho situa-

se a Sul do rio Douro e faz fronteira com Arouca, Castelo de Paiva, Espinho,

Gondomar, Oliveira de Azeméis, Ovar, São João da Madeira e Vila Nova de Gaia.

É com grande facilidade que se chega a Santa Maria da Feira, pois está dotada de

modernas redes de transporte e comunicação. Quer sejam rodoviárias (com acesso aos

principais itinerários e auto-estradas do país); ferroviários (linha Porto-Lisboa e linha do

Vale do Vouga); portuários (próximo de dois dos maiores portos Nacionais: Leixões e

Aveiro); aéreos (o Aeroporto Internacional Francisco Sá Carneiro está situado a trinta e

cinco km a Norte).

A Terra de Santa Maria, situada no contexto do Centro Litoral Norte do país é, do ponto

de vista da sua morfologia, uma região de transição entre os relevos acentuados e muito

antigos do extremo ocidental da meseta ibérica, e os solos recentes, terciários e

quaternários, que confinam com a orla marítima, constituindo-se em anfiteatros

fronteiro ao Oceano Atlântico. É de realçar a amenitude do clima e influência marítima

decrescente, à medida que se avança para o interior, possibilitando, sobretudo nas

encostas viradas a sul, a existência de uma vegetação extremamente diversificada. Por

sua vez, os vales cavados pelos cursos de água constituíram, desde os tempos remotos,

rotas privilegiadas de penetração e comunicação com o interior.

As zonas montanhosas, constituídas maioritariamente por xistos e granitos, vêm

sofrendo, de há milénios, uma erosão acentuada, a que não foi estranho o pastoreio

intensivo. Os terrenos de cultivo nas áreas de montanha, inicialmente circunscritas aos

Page 81: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

72

vales de aluvião, devido ao crescimento populacional, foram progressivamente

ocupando algumas encostas, através de um trabalho árduo de construção de terraços e

fertilização do solo com o estrume dos animais e os matos retirados das florestas

adjacentes, moldando e alterando lentamente a paisagem.

2.3. - População

Como referimos, anteriormente, o Concelho de Santa Maria da Feira tem cerca de cento

e trinta mil habitantes, estando estes divididos pelas suas trinta e uma freguesia. A

densidade da população por freguesias vem-se alterando ao longo dos tempos. No

entanto, vários textos e documentos alertam-nos essencialmente para as freguesias

situadas a Norte e a Sul do concelho. Os estudos, efectuados entre 1900 e 1981, dão

conta de uma grande homogeneidade dos valores encontrados para as trinta e uma

freguesias, apesar de já se encontrar uma certa diferenciação a nível de espaço.

Em 1900, são individualizadas seis freguesias: Argoncilhe, Nogueira da Regedoura,

Paços de Brandão, Lourosa e Fiães. Cada uma destas freguesias conta com

aproximadamente duzentos e cinquenta e um a quinhentos habitantes por quilómetro

quadrado. Nas restantes freguesias, o destaque vai para Santa Maria da Feira já que, só

em 1960, as outras freguesias revelam uma maior importância. No entanto, em 1981, os

valores tornam-se mais evidentes. Arrifana, situada no Sul do concelho, foi a freguesia

que desde cedo se diferenciou das restantes. Para isso, contribuiu a localização de

vizinhança em relação a São João da Madeira, a sua pequena superfície e o traçado da

rede viária. A partir de 1931 é notório um progressivo envelhecimento da população,

havendo um maior número de adultos e de idosos. São apontados dois factores como

explicativos deste facto:

� Alongamento da esperança média de vida (melhor nível de vida, assistência

médica, etc.);

� Decréscimo progressivo de nascimentos, ou seja, diminuição da taxa de

natalidade. Como é notório, Santa Maria da Feira é um concelho com uma

população envelhecida, contrastando com poucos jovens e crianças.

Page 82: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

73

2.4. - Emprego e actividades nos diversos sectores

O sector, a nível de emprego, predominante no concelho de Santa Maria da Feira é o

sector secundário e, talvez por isso, apresenta uma baixa taxa de desemprego,

comparativamente a outras zonas do país. Contudo, os dados relativamente ao

desemprego têm vindo a subir, uma vez que algumas fábricas encerraram recentemente

ou, então, estão em vias de fechar as portas.

� Distribuição sectorial do emprego

Entre 1890 a 1981, assiste-se a uma diminuição do sector primário. Esta diminuição

ocorre sobretudo entre a década de cinquenta e a década de sessenta. A partir de 1960, a

parcela da população activa no sector primário tem vindo a evidenciar valores bastante

reduzidos. Ao mesmo tempo que se assiste a um decréscimo progressivo de mão-de-

obra, ligada ao sector primário, assiste-se também a contínuo acréscimo dos valores

percentuais, no âmbito do sector secundário. Pode-se concluir, portanto, que a

distribuição sectorial do emprego, na década de cinquenta, teve um marco temporal de

primordial importância.

� Principais actividades

Este concelho não despreza as suas origens, visto que a agricultura, predominantemente

de subsistência, se mantém como actividade importante. Mas o grande impulso tem sido

dado pelo acréscimo do sector terciário, sendo o comércio entendido como uma aposta

estratégica de desenvolvimento, estando para isso a ser revitalizado e modernizado toda

a vertente comercial do centro histórico, através de um programa especial de urbanismo

comercial no âmbito do PROCOM (Programa de Apoio à Modernização do Comércio).

O concelho de Santa Maria da Feira congrega o maior centro mundial de transformação

da cortiça, para além da pujança manifesta de sectores como o calçado, ferragens,

brinquedos, madeiras, abrasivos, papel, lacticínios, alimentar e outros. O que faz um

conjunto de sete mil unidades colectadas, para efeitos de Contribuição Industrial, que

exporta cerca de cinquenta e cinco milhões de contos por ano, para além de fazerem

entrar cerca de quatro milhões de contos, em impostos, para os cofres do Estado.

Page 83: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

74

� A População por sectores de actividade

Os habitantes das trinta e uma freguesias de Santa Maria da Feira têm ocupações

bastante diversificadas. Podemos dividir as freguesias por três grandes agrupamentos:

1º- As freguesias mais industrializadas (com valores superiores a 75% da população

activa no sector secundário), como são o caso de Escapães, Arrifana, Fornos, Lourosa,

Milheirós de Poiares, Mosteirô, Sanfins, Sanguedo, Santa Maria de Lamas, São João de

Vêr e Travanca;

2º- Este agrupamento é constituído por dez freguesias: Argoncilhe, Espargo, Fiães,

Guisande, Lobão, Paços de Brandão, Pigeiros, Souto e Vila Maior. Aqui, a população

ligada ao sector secundário situa-se entre 60 a 75%;

3º- O último agrupamento é composto por quatro freguesias, das quais se destaca a

freguesia do Vale, com 44,6% da população ligada ao sector primário, enquanto que o

valor alusivo ao sector secundário é bastante inferior a 60%.

Destes dados pode-se concluir que, em todas as freguesias, predomina o sector

secundário. A freguesia, sede de concelho de Santa Maria da Feira, diferencia-se dos

três agrupamentos anteriores, visto que é a única freguesia onde cerca de 41,7% da

população exerce funções no sector terciário. No entanto, cerca de 54,1% da população

desta cidade encontra-se ligada ao sector secundário. A freguesia - sede de concelho -

surge, assim, como grande centro de comércio e de serviços.

� Equipamentos e vida social / cultural

Ao nível da cultura, em Santa Maria da Feira, foram criados certos hábitos sociais e

culturais. Como tal podemos, sinteticamente, caracterizar essas vertentes.

� Características socioculturais

A Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, ao tomar conhecimento das

potencialidades deste concelho, optou por uma política cultural orientada por duas

vertentes: por um lado, tenta incentivar a actividade das cento e setenta e quatro

Associações existentes em todo o concelho; por outro lado, procura patrocinar

actividades que, pela sua amplitude, estão fora do âmbito da acção das referidas

Page 84: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

75

associações, cabendo à Câmara realizá-las, com o objectivo de preencher lacunas no

espaço cultural.

Com este propósito, estabeleceu-se que numa primeira fase eram ouvidas as associações

que apresentam os seus programas anuais. Depois da Câmara analisar estes programas,

esta vai tentar coordená-los, de forma a não se tornarem repetitivos, havendo sempre o

respeito pela vontade das associações.

Numa segunda, e última fase, que vai complementar as actividades referidas, é

elaborado um programa conjunto anual de actividades culturais e recreativas. Para

atingir os fins a que se propõe, a Câmara decidiu fazer uma alteração na política de

subsídios, optando por atribuir verbas de acordo com as actividades que as associações

apresentam todos os anos. Com o objectivo de melhorar o sector cultural, e com base na

experiência do ano anterior, a Câmara procura responder às necessidades da população

e colmatar, ao mesmo tempo, as falhas neste sector.

Assim, é estabelecido um plano com base na consulta de associações e na apresentação

de projectos de actividades anuais, seleccionando, deste modo, aquelas que poderiam

integrar a semana cultural.

� Perspectivas no sector cultural

São várias e diversificadas as perspectivas criadas para o sector cultural, sendo a

destacar:

- Melhorar as condições em que se encontram as associações;

- Encetar acções de dinamização cultural, procurando preencher os intervalos

deixados pelas actividades das associações;

- Através da Biblioteca Municipal procurar dinamizar a leitura com palestras,

actividades juvenis, infantis, etc.

- Procurar a relação com os concelhos directivos das escolas e o pelouro da

cultura, a fim de, poder, através de acções turístico-culturais, levar as

crianças do concelho a conhecer a sua terra.

- Os feirenses têm grandes áreas de cultura, devido ao esforço promovida pela

Câmara Municipal e com resultados já à vista.

Page 85: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

76

� Instituições e serviços de apoio

� Apoio à Infância

Relativamente à Infância existem a funcionar as seguintes instituições:

- Catorze instituições (Creche, Jardim de Infância, ATL);

- Cinco instituições (Creche, Jardim de Infância);

- Duas instituições (Jardim de Infância, ATL);

- Uma instituição (Jardim de Infância);

- Duas instituições (Creche);

- Três instituições (ATL):

- Uma instituição (Creche, Jardim de Infância, ATL, primeiro ciclo do ensino

básico);

- Uma instituição (Jardim de Infância, primeiro ciclo do ensino básico);

- Duas instituições (Acolhimento a Menores).

Daqui podemos concluir que existem trinta e uma instituições vocacionadas para dar

apoio à Infância.

� Apoio a Idosos

No que diz respeito aos Idosos, existem a funcionar:

- Onze instituições de dia;

- Dois lares da Terceira Idade.

Portanto, existem em todo o concelho treze instituições para dar apoio aos Idosos que

são cada vez mais, e em construção está mais um Lar da Terceira Idade, na sede de

concelho, em Santa Maria da Feira.

� Apoio a Deficientes

Para apoiar as pessoas, com deficiências, Santa Maria da Feira dispõe das seguintes

instituições:

- Cercifeira;

- Cercilamas.

Page 86: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

77

� Apoio Domiciliário

No apoio domiciliário existem a funcionar sete instituições. Estas sete instituições dão

todo o tipo de assistência no que diz respeito ao apoio domiciliário.

� Apoio a pessoas em risco

Existe um Centro de Apoio a Toxicodependentes (CAT), com consultas médicas e

apoio psicológico a pessoas com problemas relacionados com a droga. Este Centro é

recente (2000) e foi criado devido à necessidade de se apoiar este grupo de pessoas.

No que diz respeito aos serviços públicos, existentes no concelho de Santa Maria da

Feira, estes são múltiplos e variados.

De referir, após a referência generalizada aos mesmos, a importância da Biblioteca

Municipal e da Escola Secundária de Santa Maria da Feira, sempre parcerias a contar

em qualquer tipo de projectos, a nível de animação e de intervenção no concelho.

- Câmara Municipal;

- Assembleia Municipal;

- Trinta e uma Juntas de Freguesia;

- Tribunal Judicial com quatro juízos;

- Tribunal de Trabalho com dois juízos;

- Dois Cartórios Notaria

- Cartórios de Registo Predial;

- Conservatória do Registo Civil;

- Quatro Repartições de Finanças;

- Quatro postos de Guarda Nacional Republicana;

- Polícia de Segurança Pública;

- Duas Academias de Música;

- Biblioteca Municipal;

- Duas Delegações escolares;

- ISVOUGA – Instituto Superior entre Douro e Vouga;

- ISPAB – Instituto Superior de Paços de Brandão;

- Escola de Hotelaria;

- Setenta e dois Jardins-de-infância (estatais, particulares e IPSS);

Page 87: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

78

- Noventa e três Escolas de Primeiro Ciclo;

- Vinte e três Postos Telescolas/Colégios;

- Duas Cercis;

- Três Escolas Secundárias.

� Áreas de ocupação de tempos livres e de lazer

O concelho de Santa Maria da Feira tem cerca de cento e setenta e quatro Associações

que se dedicam a vários domínios: Arte, Cultura, Desporto, Recreio.

Este concelho tem ainda Associações ligadas às actividades económicas, sociais e de

apoio humanitário como, por exemplo:

- Três Associações de Bombeiros;

- Piscinas;

- Visionarium;

- Agrupamento de Escuteiro

- Lions Club;

- Sociedade Columbofilia;

- Liga de Amigos;

- Club de Badminton;

- Clube Desportivo Feirense;

- Pavilhão Gimnodesportivo;

- Academia de Música;

- Cineteatro;

- Leo Club;

- Centro Cultural de Recreio do Orfeão da Feira;

- Europarque (Visionarium).

Page 88: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

79

3. - Caracterização das Instituições estudadas

3.1. - “ Centro Social Paroquial de Fornos”

3.1.1. - Caracterização da freguesia de Fornos

Conta a tradição antiga que o nome da Freguesia derivou de uns célebres fornos de telha

que existiam no lugar das Corgas, onde se fabricavam objectos de olaria rústica e telhas.

Em 1252, D. Afonso III deu foral à Freguesia.

Situada na metade sul do território concelhio, esta freguesia surge como limítrofe da

cidade da Feira, dela distando escasso par de quilómetros para o sudeste.

Abarcando uma área de mediana extensão (cujos contornos surgem vagamente a figurar

de um hexágono), Fornos surge envolvida e delimitada pelas congéneres Souto (a

oeste). Mosteiro (a sul), Arrifana (a leste), Escapães (a nordeste), Sanfins (a norte) e

pela já dita cidade sede (a noroeste).

É a freguesia servida, em termos rodoviários, pela EN 105-4, que a corta bem pela sua

área central e no sentido norte-sul.

É esta parcela de território relativamente pouco acidentada, registando apenas algumas

ténues ondulações de relevo, em suaves outeiros ou valados. A pequena bacia

hidrográfica do rio da Lavandeira (curso de água tributário da ria de Ovar) fica-lhe

próxima dos limites orientais.

O alto da Carvalheira será dos pontos mais elevados da freguesia, dali se podendo

desfrutar de ampla panorâmica em redor, logrando alcançar o olhar até à distante ria de

Aveiro.

Integra esta freguesia, por vezes também conhecida por Fomos da Feira, cerca de

dezena e meia de lugares principais, a saber: Aldeia Nova, Boavista, Carvalheiro, Casal

Page 89: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

80

de Matos, Corgas, Cruzeiro, Farinheiro, Igreja, laje, Moinhos, Monte, Quinta, Ribeiro,

Vinhais e Vingas.

É tradição local bem remota que o nome da freguesia possa derivar de uns antigos

fomos de telha, outrora existentes no lugar das Corgas.

Afirma, inclusivamente, o articulista da "Grande Enciclopédia", escrevendo que, pelos

meados do século, subsistiram ainda, por ali, alguns exemplares dessas telhas, do tipo

dito "nacional", bastante chatas, toscas e excepcionalmente espessas (cerca de dois

centímetros de grossura).

Não sendo das mais populosas do concelho da Feira, esta freguesia tem assumido, ao

longo dos últimos quatro decénios, uma já considerável taxa de crescimento

populacional.

Dos 1.592 residentes noticiados em 1960, terá "saltado" para 2.352 em 1981, o que

implicará uma taxa de variação estimável em 48%, aplicada a um lapso de cerca de duas

décadas. Os censos de 1991 apontavam, já, para 2.536 habitantes. O de 2001, conforme

gráfico elucidativo, refere a uma aumento de cerca de duzentos mais habitantes.

Gráfico A – Censos 2001

Freguesia: Fornos

2781

1366

2814

1390

8681012

804

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

Censos 2001

PopulaçãoPresente HM

PopulaçãoPresente H

PopulaçãoResidente HM

PopulaçãoResidente H

Familias

Alojamentos

Page 90: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

81

Surgindo noticiada, já como freguesia (“freguesia de Fomos"), por altura de 1251, S.

Salvador de Fornos é várias vezes mencionada, com este orago, durante os séculos XIII

e XIV.

No célebre "Censual do Cabido da Sé do Porto", porém (e certamente por lapso do

redactor), é data, como de invocação a S. Pedro ("Santi Petri de Fornos").

Curiosamente, num outro documento, este com data de 1371, o respectivo templo surge

noticiado como "Ecclesia de Fornelos".

A Igreja Matriz de S. Salvador de Fornos é uma bela e ampla estrutura setecentista, de

cuidada e atraente traça barroca.

Dotada de uma bem proporcionada e equilibrada torre sineira adossada ao flanco norte,

de planta quadrangular e dois níveis (o primeiro a subir bastante acima da linha de

cornija), esta igreja mostra um revestimento azulezar em padrão geométrico de

tonalidade azul, integrando ainda dois pequenos painéis figurados a enquadrar o pórtico.

Apresenta, este último, um delineamento rectangular liso e austero, a rematar num

interrompido frontão devolutas. Logo acima, soergue-se um amplo janelão gradeado,

rectangular, surgindo adornado por um emolduramento lateral almofadado. Mais acima,

depois da sobressaliente cornija, destaca-se então um esplêndido nicho de recorte em

arco redondo, rematado no topo por elegante frontão devoluto e envolvido em vistosa

decoração escultórica.

No seu interior abriga-se uma imagem pétrea, notando-se ao alto, no fecho do arqueie,

uma cartela, com a data de 1739.

Sabe-se, no entanto, que a fábrica do imóvel se terá arrastado desde finais do século

XVII. Quanto à imagem da Senhora, parece que pertenceu outrora ao Convento de Ave

Maria, na cidade do Porto.

Sobre uma pequena colina, junto ao lugar da Lage, foi erguida outrora uma secular

Ermida, dedicada à Senhora da Boa Morte. Após um restauro, ocorrido em finais de

oitocentos, passou a mesma a ter invocação a Santo António.

Page 91: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

82

"No seu frontispício, todo de granito, vêem-se, em belo baixo-relevo, as armas dos

Pintos. Ao lado direito de quem entra nota-se, na janela, vestígios de uma tribuna que

dava para a Casa Nobre, a que estava anexa", pode-se ler na "Grande Enciclopédia".

O templete foi pertença do cavaleiro de hábito de Cristo, Manuel Pinto Tavares.

No lugar de Veiros foi mandado levantar, em 1724, um Cruzeiro, defendido por uma

cobertura assente em quatro colunas. Foi o mesmo, posteriormente, substituído por uma

capela, entretanto desactivada ao culto e transformada em casa de habitação.

No tocante à arquitectura civil, será justo destacar, nesta freguesia de Fomos, a

interessante casa solarenga da Quinta. Ligada à família Correia de Pinho, pelo menos

desde a primeira metade do século passado.

No sítio da Ribeira da Água subsiste, embora já abandonada e um tanto arruinada, uma

interessante ponte de três arcos de volta perfeita, com confecção bastante regular na

respectiva silharia e aduelas. Tratar-se-á, segundo J. Costa, de um imóvel datável do

século XVII.

Testemunhará, assim, a multissecular permanência das técnicas construtivas herdadas

desde as épocas romana e medieval.

Estruturas e equipamentos sociais

- Solidariedade Social: o Centro Social e Paroquial de Fornos, o Centro de Dia e o

ATL chamam a si a responsabilidade dos serviços sociais e altruístas.

- Economia: as principais actividades vagueiam entre a Indústria e o Comércio.

Na primeira destacam-se os lacticínios, o calçado, as serrações de madeira e

serralharias. Na área do Comércio surgem, em primeira linha, os automóveis.

- A visitar: em Fornos é imprescindível dar um salto até à Ponte dos Três Arcos

(no Sítio da Ribeira da Água, estilo romano, datada do séc. XVII). Não se deve

perder, também, a Igreja Paroquial e a Capela de Santo António de Lage

(outrora dedicada à Senhora da Boa Morte).

Page 92: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

83

- Saúde: a Freguesia não dispõe de qualquer serviço e/ou estabelecimento que

faculte cuidados desta ordem.

- Desporto: a nível de infra-estruturas, a localidade possui um Parque de Jogos e

um Polidesportivo. Quanto a clubes, funciona o JUF, o qual fomenta a

modalidade de Atletismo.

- Cultura: em Fornos existe uma Escola de Música, com grande sucesso nos seus

propósitos. Pertence ao Centro Cultural e Recreativo, de onde já saíram três

orquestras. A Freguesia conta, ainda, com a Associação Infantil Nobre.

- Educação: o capítulo pedagógico está a cargo de três salas de Jardim-de-infância

e três Escolas de Ensino Básico.

- Projectos: encontra-se em perspectiva a construção de uma Zona Industrial, de

Zonas de Lazer e de Habitação Social.

- Carências: uma das grandes necessidades da Freguesia tem a ver com a área da

Saúde. Falta, então, um Centro, além de reclamar, ainda, por saneamento básico

e por água ao domicílio.

3.1.2. - “ Centro Social Paroquial de Fornos”

� Breve historial

Com a aprovação dos Estatutos, a 21 de Outubro de 1988, é criada a Instituição

Particular e de Solidariedade Social, não lucrativa, “ Centro Social Paroquial de Fornos”,

mediante iniciativa da Igreja da Paróquia e autorização pelo Bispo da Diocese. O Centro

propõe-se contribuir para a promoção integral de todos os paroquianos.

� Valências e seu funcionamento

“ O Centro Social e Paroquial de Fornos” é constituído por duas valências de carácter de

intervenção e de solidariedade social: Centro de Dia, Centro de Convívio, Apoio

Domiciliário e ATL. Como tal, chamam a si a responsabilidade dos serviços sociais e

altruístas da comunidade de Fornos.

Page 93: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

84

- ATL: É utilizado por cerca de 30 crianças.

- Centro de Convívio: Este Centro é frequentado, para sessões de ginástica e de

hidroginástica na piscina Municipal de Santa Maria da Feira, por 10 idosos,

sendo 6 senhoras e 4 homens.

- Apoio Domiciliário: Presta apoio domiciliário a 12 pessoas sendo, no total das

mesmas, 3 casais.

- Centro de Dia: é frequentado por 22 pessoas, com idades compreendidas entre os

60 e 90 anos, sendo 15 mulheres e 7 homens. Todos os utentes são residentes em

Fornos, viúvos, contando-se com um senhor casado e uma senhora solteira. A sua

situação social não impede, porém, de todos viverem com familiares. São todos

eles autónomos, tanto no aspecto motor como no de tomarem decisões.

Após contactos mais personalizados, havidos com os directores e a Assistente Social,

foi-nos também possível aceder ao Plano de Actividades, o qual nos suscitou algumas

curiosidades e sugestões.

Constatámos, com efeito, que um dos factores que mais contribui para o processo de

envelhecimento acelerado dos idosos é o sedentarismo, dado que a degeneração que se

verifica, ao nível das capacidades dos vários sistemas fisiológicos, diminui a capacidade

de desempenho das actividades comuns do dia-a-dia. A alegria de viver e o desejo de

melhor estado de espírito têm a ver com actividades, sejam elas de que tipo for, surgindo

assim a necessidade de oferecer, à população idosa, estímulos de natureza física,

emocional, social e intelectual.

A actividade física dos gerentes, neste Centro de Dia – como aliás na maior parte deles –,

é praticamente nula, sendo atenuada por sessões pontuais de ginástica e de piscina.

Assim, não estão muito motivados para qualquer tipo de exercício, limitando-se a tarefas

e actividades muito estáticas, embora a maioria se julgue incapaz, levando a um declínio

acentuado da capacidade funcional. A observação participante e espontânea investigação

– acção, aí realizadas, bem como após constantes contactos com os responsáveis da

Instituição, levou-nos ao conhecimento de certos dados quanto à situação da Instituição,

que se podem resumir, sinteticamente, à existência de algumas carências e consequentes

Page 94: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

85

necessidades, a suscitarem as desejadas actividades a serem dinamizadas. Constatou-se,

nomeadamente, certas carências quanto a aspectos a serem enriquecidos em algumas

actividades, planificadas anualmente, caso de:

- Número muito reduzido de recursos humanos;

- Notória escassez de actividades de índole recreativas e culturais, devidamente

planificadas;

- Limitação de pessoal técnico para trabalhar com os idosos;

- Escassez de actividades inovadoras;

- Fraco convívio com o meio externo.

Pudemos concluir assim que esta situação leva a uma falta de actividades inovadoras,

que se traduz num fraco dinamismo por parte dos utentes. Falamos, pois, de 22 idosos,

com idades compreendidas entre os 55 e 93 anos, conforme podemos verificar nos

gráficos seguintes, através dos dados biográficos colhidos após administração dum

inquérito por questionário.

3.1.3. – Metodologia utilizada

Aquando da orientação metodológica seguida no presente trabalho adoptámos um tipo

específico de investigação social, de base empírica, designado como investigação-acção.

As razões subjacentes à utilização do método de investigação-acção reportam-se ao

facto do mesmo conciliar os dois grandes objectivos de qualquer investigação holística:

um, de índole mais prático, (procurando uma melhor definição/caracterização do

problema e, consequentemente, o levantamento, a proposta e o acompanhamento do

desenvolvimento de acções que auxiliem na transformação da situação); outro, de

carácter mais teórico (possibilitando o conhecimento e acesso a informações que seriam

difíceis de obter com diferentes instrumentos).

Page 95: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

86

Com efeito, no desenvolvimento de trabalhos desta índole, recorre-se normalmente a

métodos e técnicas de natureza qualitativa e quantitativa, se bem que a especificidade do

mesmo possa vir a utilizar, apenas, um deles, face a opções que se julgar mais

adequadas e oportunas.

Recorremos, igualmente, a técnicas de teor quantitativo, com o intuito de procurarmos

as causas da situação. No caso concreto, utilizamos o inquérito por questionário, uma

das técnicas mais utilizadas de recolha de informação, que consiste em apresentar um

conjunto predeterminado de perguntas relativas à sua situação social, profissional ou

familiar, e ainda às suas opiniões, expectativas, atitudes em relação a questões de

opções humanas e/ou sociais, aos inquiridos que representam uma dada população

(amostra).

O método que seguimos caracterizou-se por uma pesquisa no terreno, sendo o

instrumento utilizado o recurso ao inquérito por questionário, que surge da interligação

entre os objectivos do nosso trabalho e a realidade da população observada, e

obedecendo às várias fases: planificação, recolha de informação, tratamento e análise

dos dados obtidos. Do inquérito por questionário podemos, entre outros dados, obter:

- Dados actuais relativos ao seu domínio pessoal (que se refiram ao próprio

indivíduo);

- Dados relativos ao ambiente onde o indivíduo está inserido;

- Opiniões – o que pensa sobre um determinado assunto;

- Atitudes e motivações – tudo o que está subjacente à acção e ao comportamento,

estando na base das opiniões.

Como tal, o inquérito surge como um instrumento estandardizado face ao modo como é

aplicado relativamente às questões e respostas pré-defínidas ao texto. Neste espírito,

formulámos um inquérito com questões muito precisas, de forma a obtermos dados da

situação existente, dos gostos e sugestões dos idosos quanto a actividades a serem

contempladas com atempada e devida programação. A partir da recolha e tratamento

dos dados obtidos pudemos tomar conhecimento de certos itens inerentes ao quotidiano

dos utentes e que podemos sintetizar quanto a:

Page 96: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

87

- Opiniões – respeitantes às atitudes, motivações e preferências dos idosos;

- Identificação – respeito às características básicas das unidades de análise;

- Informação – procuram saber os conhecimentos dos inquiridos;

- Acção – referem-se às actividades dos indivíduos;

- Intenção – procuram conhecer as intenções e propósitos das pessoas e

perspectivas sobre a realidade apresentada ao indivíduo.

Almeida (2000) é de opinião que, na condução de uma investigação, o investigador é

orientado por determinados objectivos operacionais. Estes vão depender da natureza dos

fenómenos e das variáveis em presença, bem como das condições de maior ou menor

controlo em que a investigação vai ocorrer. Como tal, importa saber o que se vai fazer,

quando e como vai ser feito, junto de quem e por quem vai ser levado a efeito e como

vão ser os resultados avaliados.

A opção por uma determinada metodologia obriga, antes de tudo, a conhecer as várias

opções possíveis, o mesmo é dizer, a responder à pertinente questão de que forma

conhecemos o que conhecemos. No nosso caso concreto, para além da contínua

investigação-acção, das conversas informais mantidas com a maioria dos utilizadores

das Instituições e da observação participativa, no estudo realizado a opção recaiu,

basicamente, numa metodologia quantitativa, materializada pelo inquérito por

questionário dirigido a todos os utentes.

Almeida (2000) entende que no plano de uma investigação todos os elementos

metodológicos se devem considerar em sintonia. Na forma como se conceptualiza o

plano, cabe ao investigador questionar de novo os aspectos de delimitação do problema,

as hipóteses e as variáveis em estudo. Cabe-lhe também questionar os sujeitos e as

amostras a utilizar, os momentos de avaliação, quais os instrumentos a utilizar e que

análises se devem efectuar com os dados.

As opções metodológicas assumem um papel determinante em investigação ao

possibilitarem estabelecer uma ligação coerente e lógica entre os propósitos que

Page 97: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

88

presidem à realização da investigação e os resultados que se poderão obter em função

das opções tomadas.

O conhecimento acerca das Instituições foi efectuado, pois, através de um estudo

delineado em duas vertentes distintas: uma de ordem teórica, que se iniciou por uma

revisão bibliográfica e outra, de carácter empírico, onde através das respostas a um

questionário se procurou analisar temática inerente à vida quotidiana nas Instituições.

Se há temáticas ricas em demasia e de desmesurado alcance a serem exploradas e a

atingir, talvez possamos encontrar, como exemplo, nas Instituições Particulares de

Solidariedade Social. Para tal, recorremos, para além da observação participante, a

conversas informais com as assistentes sociais, obtendo um ponto de situação das

Instituições, especialmente quanto às suas actividades, dificuldades e problemas,

projectos futuros, enfim, um conhecimento o mais aproximativo possível da sua vida.

Só assim, após uma tomada de conhecimento quanto a aspectos formais, estruturais e

funcionais é que podemos, conscientemente, ficar cientes duma maior capacidade para

agir face a uma contextualização global dos aspectos mais pertinentes, em termos de

recursos materiais e humanos.

3.1.4. - Recolha e tratamento dos dados do inquérito

Conforme atrás referido, o inquérito por questionário (Anexo 1) foi dirigido a vinte e

dois idosos, com idades compreendidas entre os 55 e 93 anos, conforme podemos

verificar nos gráficos seguintes, através dos dados biográficos, colhidos após

administração dum inquérito por questionário.

Além dos dados biográficos apresentamos as razões de terem recorrido à Instituição,

com quem vivem, preferências por algumas actividades desejadas, entre outros mais

aspectos compreensíveis para o recurso à Instituição.

Page 98: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

89

Gráfico 1 – Sexo

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Utentes

15 7

Senhoras Homens

Como se pode verificar, o total dos idosos, a frequentar o Centro, distribui-se por 15

(quinze) senhoras e 7 (sete) homens).

Gráfico 2 – Idade

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Idade

2 7 10 3

55-64 65-74 75-85 86-93

Face aos dados apresentados, a maior parte da idade dos utentes situa-se entre os 65-85,

perfazendo cerca de dois terços da população alvo.

Page 99: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

90

Gráfico 3 – Estado civil

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

1 1 20

Estado civil

Estado civil

Solteiro Casado Viúvo

Constata-se a existência de vinte viúvos, dum utente solteiro e de outro casado.

Gráfico 4 – Com quem vivem

0

2

4

6

8

10

12

14

Com quem vivem

Com quem vivem 13 4 3 1 1

Com quem vivem

Filhos Irmãos Sobrinhos Outros Sós

Mais de metade dos utentes (13) vivem com os filhos, havendo quatro a viverem com

irmãos e três com sobrinhos. Por outro lado, destaque - se haver um utente a viver só.

Page 100: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

91

Gráfico 5 – Razões de frequentar o Centro

0

1

2

3

4

5

6

7

Razões de frequência

7 4 6 3 2

Estar sóConselho

de amigosConvívio

Assistênci

a de saúde

Alimentaç

ão

As razões mais concludentes da frequência do Centro prendem-se pelo facto de estarem

sós (7), bem como da inevitável necessidade de convívio (6). Outros quatro, movidos por

conselhos de pessoas amigais, sendo os restantes devido a razões de necessidade de

assistência, em campos de saúde e de alimentação.

Gráfico 6 – Qual a frequência no Centro de Dia

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Frequência no Centro de Dia

16 4 2

Sempre Quase sempre Muitas vezes

Os dados são bem elucidativos quanto à regularidade de frequência no Centro,

com uma maioria esmagadora a frequentar assiduamente a Instituição.

Page 101: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

92

Gráfico 7 – Que actividades a serem desenvolvidas no Centro

0

2

4

6

8

10

12

Actividades a serem

desenvolvidas

Actividades a serem

desenvolvidas

5 3 2 12

Jogos

tradicionaisJardinagem

Expressões

plásticasGrupo Coral

Num total de 22 (vinte e dois) utentes a preferência pela formação e dinamização

dum grupo coral obteve resultado com percentagem a ultrapassar os 50%.

3.2.”Associação de Apoio Social de Sanfins”

3.2.1. – Caracterização da freguesia de Sanfins

� Localização e população

Integrando a área periférica oriental da urbe feirense, Sanfins dista apenas um escasso

par de quilómetros daquela cidade, tomando a direcção do nascente.

Para além de Santa Maria da Feira, que a delimita pelo flanco ocidental, a freguesia tem

por vizinhas, e limítrofes, as congéneres Caldas de S. Jorge (a norte), Pigeiros (a

nordeste), Escapâes (a Norte) e Fornos (a Sul).

O seu território, de pequena amplitude, assume os contornos de um fronteiro e alongado

rectângulo, cortado na extremidade nordestina pela EN1, e na zona meridional pela EN

223, as quais se assumirão como os principais eixos viários ao seu serviço.

Page 102: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

93

Acha-se em fase de projecto uma outra ligação, designada "via estruturante", a cruzar

Sanfins, um pouco mais pelo Norte, e a surgir como alternativa a dita ËN 223. A via-

férrea, na Linha do Vale do Vouga, possui, aqui, também um apeadeiro.

Segundo uma listagem publicada, nos anos quarenta deste século, por Arlindo de Sousa,

esta freguesia incluiria como principais lugares os de Aldeia, Carvalhosa, Gândara,

Gulfar, Moinhos, Monte, Picalhos, Presa, Quinta, Relva e Santa Catarina. Sanfins,

outrora São Fins (do arcaico "Sancti Felicis"), pertence ao grupo de freguesia cujo

antigo orago, S. Pedro e S. Féiix, se foi "decompondo" ao longo dos séculos, até surgir

como simples corónimo.

Ainda por 1708, porém, se registava a freguesia segundo a denominação "São Pedro

Fins da Feyra", na famosa "Corografia Portuguesa" do P.e Carvalho da Costa.

A despeito da sua condição limítrofe à urbe feirense, esta freguesia integra ainda o

grupo das menos populosas do concelho.

Em 1942, teria apenas 828 habitantes. Dezoito anos, depois, já secontabilizava 1168

residentes. Os censos de 1981 atribuíam-lhe, por seu turno, 1634 almas e, uma década

depois, ascenderia a 1865.

Uma estimativa actual apontará para um total de 2200 a 2300 habitantes.

Gráfico B – Censos 2001

Freguesia: Sanfins

1948

966

1959

970631 692 545

0

500

1000

1500

2000

2500

1

Censos 2001

PopulaçãoPresente HM

PopulaçãoPresente H

PopulaçãoResidente HM

PopulaçãoResidente H

Familias

Alojamentos

Edificios

Page 103: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

94

� Dados monográficos

As notícias documentais comprovarão que a freguesia já andaria organizada, como tal,

pelo primeiro quartel do século XIII.

As "Inquirições" de 1220 registam-na, depois de Espargo e antes de Souto, sob a

designação de "frigisia de Soneto Felke", mas já em 1212 se alude, muito

provavelmente, ao seu templo paroquial ("ecclesie sancti felicis"), segundo opinou já o

Pe. Domingos Moreira.

No chamado "Rol das Igrejas do Rei", atribuível aos meados do século XIII, aquele

templo é registado como "Eclesia de Sancto” .

Feliz hagiotopónimo haveria de conhecer, aliás, numerosas expressões gráficas ao longo

dos tempos, a saber: "Soneto Felice" em 1251, "sanfiiz" em 1307, "S. Fiiz" em 1430,

"Sam Fiz" em 1514, etc.

Logo a partir dos meados do século XIII, pelo menos, se terá por vezes acrescentado,

àquele, o determinativo “de Sub-Feira”, pois já em 1272 se menciona a “eclesiae santi

petri de soneto felice de super ffeyra”.

Na documentação da época repetem-se ainda “Soneto Felicis de supra feira”, “sancti

petro de soneto felice de super feíra” ou, ainda por 1542 “Sam Felíces de cima da

Feira” e em 1907, “S. Pedro Fins de Sub-Feira”.

A Igreja Paroquial de Sanfins, de orago S. Pedro (outrora S. Pedro e S. Fins ou Féiix,

como se viu) é um templo razoavelmente amplo, de austera e pesada arquitectura a um

gosto que se poderá classificar neoclassicizante.

Edificado por 1832, terá permanecido incluso até 1950, altura em que se terá

reformulado o projecto inicial.

O imóvel veio substituir uma anterior estrutura, com assento um pouco mais a sul, e

onde se abrigaria outrora um esplêndido altar lateral, em talha renascentista, o qual se

encontra actualmente na Capela de Santo António de Romariz.

Page 104: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

95

A actual Matriz ostenta um frontispício “pesado” e austero, surgindo do flanco sul uma

torre de planta quadrangular, adossada à parede lateral, e um tudo nada recuada em

relação ao dito alçado principal.

Este inclui, como únicas aberturas, o pórtico recortado em arco redondo liso e um amplo

janelão de iluminação do coro, este último logo acima de um muito espesso e

sobressaliente estribo de cantaria.

Este último elemento arquitectónico, responsável primeiro pelo ar “pesado” do edifício,

surge como que “suportado” por dois pares de pilastras de cantaria lisas, à laia de

portentosa arquitrave.

Uma inscrição latina, contendo um versículo bíblico e a data de 1832, acentua ainda

mais a lacónica gravidade do edifício oitocentista.

No arborizado e aprazível recinto fronteiro (a partir do qual se acede, através de um

escadaria, ao já descrito templo), pode apreciar-se ainda um singelo Cruzeiro Paroquial,

este datado de 1707.

A Quinta de Regadas, com seu edifício habitacional, é um curioso arremedo miniatural

de castelo, ao romântico gosto neomedievalista, e constitui-se como apreciável

exemplar de arquitectura habitacional oitocentista.

Pertenceu ao comendador Luís Augusto da Silva Canedo (1848-1917), que ali colocou

sua pedra de armas. Merece, também, uma vista e olhos a Quinta das Mestras.

O nome provém-lhe da designação eclesiástica: S. Pedro Fins. Da sua História não se

sabe quase nada, a não ser que em 1288 já estava constituída como Freguesia autónoma.

Facto caricato foi o da Igreja dedicada a S. Pedro já que a sua construção foi iniciada em

1832 e concluída em 1950.

Page 105: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

96

� Vida social, cultura e recreativa

- Solidariedade Social: nesta área, Sanfins vale-se de um Centro Social e Paroquial

(Jardim de Infância) da Confraria e de um Centro de Dia.

- Economia: o Comércio e as Pequenas Indústrias marcam o dia-a-dia económico da

Freguesia.

- Saúde: em Sanfins não existe qualquer serviço ou estabelecimento de Saúde.

Quando necessário, os locais recorrem ao Centro de Escapães, ou deslocam-se a

Santa Maria da Feira.

- Carências: à imagem das outras freguesias, Sanfins lamenta-se pela falta de Infra -

estruturas de água e esgotos.

- Desporto: o Grupo Cultural, Desportivo e Recreativo de Sanfins é responsável por

um forte dinamismo da freguesia a vários níveis. No tocante ao desporto, entrega-se

à prática do Atletismo (numa pista própria), do Futebol (Parque Desportivo), Mini-

Golfe (campo próprio), Futsal, Voleibol e do Ténis (num Polidesportivo).

- Curiosidades: obras da Igreja Adiadas 118 Anos: Em 1832 começou a construir-se

uma Igreja dedicada a S. Pedro. Pretendia-se que fosse perfeita, cumprindo com

todos os requisitos de beleza e arquitectura. Parece, no entanto, que o dinheiro não

chegou para tanta pretensão e a Igreja ficou inacabada. Só foi concluída em 1950

mas de forma diferente do projecto inicial.

- Cultura: o movimento cultural local deve-se ao Gabinete de Apoio à Juventude, que

promove inúmeras actividades, ao Grupo Cultural, Desportivo e Recreativo e à

Escola de Música.

- Projectos: está programada a criação de um Parque de Lazer.

- Educação: fazem parte da Freguesia uma Escola de 1° Ensino Básico, duas Pré-

Primárias, um infantário e um A.T.L.

Page 106: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

97

- A visitar: as casas senhoriais são atractivas, embora particulares, limitando,

portanto, a sua perfeita observação. O Parque da Igreja, pela beleza e relaxe que

proporciona, aconselha uma longa paragem.

3.2.2. – “Associação de Apoio Social de Sanfins”

� Breve historial

A Associação de Apoio Social de Sanfins foi constituída por escritura pública em 24 de

Junho de 1991 e caracteriza-se como uma Instituição Particular de Solidariedade Social,

com sede em Gândara, na freguesia de Sanfins, concelho de Santa Maria Feira. Tem por

objectivos a promoção do apoio social e o deu âmbito de acção abrange a freguesia de

Sanfins e freguesias limítrofes de Santa Maria da Feira.

Os utentes da “Associação de Apoio Social de Sanfins”, nas suas três valências,

perfazem a quantidade de cerca de uma centena de utentes, entre jovens, homens e

mulheres, assim constituídas: Centro de Convívio para Jovens, Centro de Dia, Apoio

Domiciliário a Idosos e pessoas com deficiência.

� Valências e seu funcionamento

Assim, para concretização dos seus objectivos a Instituição contempla três valências:

- Centro de Convívio para jovens;

- Centro de Dia;

- Apoio Domiciliário a idosos e pessoas com deficiência.

Os serviços prestados por esta Associação são gratuitos ou remunerados em regime de

porcionismo, de acordo com a situação económico – financeira dos utentes, apurada em

inquérito a que se procede face ao estipulado na lei em vigor e mediante cláusulas

consignadas nos seus Estatutos.

Como Associação que é, podem ser associados todas as pessoas singulares maiores de

18 anos e as pessoas colectivas. São órgãos da Associação, a Assembleia Geral, a

Direcção e o Conselho Fiscal, com um mandato de dois anos, após o qual procede-se à

Page 107: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

98

eleição dos novos corpos sociais, para um novo mandato, no mês de Dezembro do

último ano de cada biénio.

� O Centro de Dia

O Centro de Dia é um espaço aberto à comunidade, que visa reduzir, tanto quanto

possível, os factores de exclusão social, dando especial relevo ao processo de

envelhecimento da população, com vista à melhoria da qualidade de vida dos idosos e

da comunidade em geral.

O Centro de Dia funciona cinco dias por semana, das 8 horas às 19 horas. Por vezes

funciona aos sábados ou domingos, casos sejam calendarizadas alguns eventos para

esses dias.

Este Centro presta, aos idosos, assistência e o conforto necessários, em perfeito plano

de igualdade, de modo a corresponder sempre às suas necessidades intelectuais,

recreativas, físicas e morais. Actualmente conta com 28 idosos.

� Apoio Domiciliário

Presta ajuda ao domicílio a 10 pessoas idosas, que corresponde à realização de tarefas

várias, estabelecidas em função das necessidades dessas mesmas pessoas (higiene

pessoal, alimentação, arranjo doméstico, tratamento de roupas).

� Centro de Convívio

Promove o encontro e o convívio dos idosos entre si e com a comunidade em geral,

através de festas, passeios e das aulas de ginástica, duas vezes por semana.

O Centro de Dia está em bom estado de conservação. É um edifício moderno,

constituído por um só piso, com instalações com bastante luminosidade, com uma

arquitectura apreciável, em que não se descura os espaços verdes, os pátios para as

diversas actividades, com churrasqueira e esplanada.

Também usufrui de uma sala grande, onde se pode conviver, ver televisão, jogar às

cartas ou ao dominó, ouvir música e fazer ginástica.

Page 108: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

99

Ao lado está o refeitório. Em seguida a cozinha e a dispensa. A cozinha está bem

equipada e pronta a confeccionar todas as refeições. Anexa à cozinha encontramos a

dispensa e, logo de seguida, a lavandaria. Existem casas de banho e os balneários,

devidamente equipados para idosos imobilizados. Os corredores são largos e arejados.

O edifício é equipado com dois quartos para alguns idosos descansarem em caso de

necessidade. Um gabinete para a direcção e para o psicólogo. Secretária e uma sala

polivalente que serve como espaço de apoio à realização de algumas actividades.

� O problema: da observação do horário, à existência de tempos livres

É já uma constante verificar que, neste tipo de Instituições, o grande problema que se

coloca aos utentes passa-se, na verdade, com a ocupação dos seus tempos livres.

Sendo mais precisos, as naturais questões a colocar neste campo formulam-se desta

forma: como, com quem e com quê preencher o muito tempo livre disponível?

É óbvio que esta problemática constitui, infelizmente, uma situação generalizada,

advinda de muitas razões, das quais há a destacar, entre outras: a existência e/ou

disponibilidade e utilização dos diversos recursos de índole humanos, materiais e

financeiros, bem como toda uma contextura relacionada com a própria instituição e as

suas coordenadas históricas, de gestão, organização e relacionamento com a

comunidade conde está inserida.

Já não falamos, como é evidente, de outros factores tão limitativos da prática específica

de actividades e da ocupação e usufruição de passatempos. Referimo-nos,

concretamente, aos condicionalismos impostos pela própria avançada idade, à situação

de quase desgaste físico-psicológico e motivacional, que impossibilitam a

disponibilidade para quaisquer actividades de ocupação de tempos livres.

Numa palavra, as condições que o próprio estatuto de idoso confere quanto ao

entorpecimento generalizado de todas as capacidades psicofisiológicas da

personalidade. Com efeito, são paradigmáticas as doenças e debilidades de todo o

género, afectando as várias dimensionalidades da pessoa, mormente nos campos físicos,

psicológicos, afectivos, emotivo, intelectual e motivacional.

Page 109: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

100

Conforme pudemos constatar não só pelo horário prescrito para cada dia, de segunda a

sexta feira, bem como do Plano de Actividades para o ano de 2007, das acções

realizadas e a concretizarem-se e das conversas informais estabelecidas com a assistente

social e dos inquéritos feitos aos utentes identificamos o problema, que incide.,

essencialmente, na ausência de actividades de convívio e de interacção que favoreçam

práticas de comunicação, de melhor qualidade de vida e de construção de dias mais

felizes.

3.2.3. - Recolha e tratamento dos dados do inquérito

Optou-se, por um inquérito por questionário (Anexo2), realizado a um total de 28

utentes do Centro, através do qual pudemos conhecer, com mais profundidade, o

público – alvo, as suas experiências vividas e as suas preferências por algumas

actividades a serem desenvolvidas.

Gráfico 1 – Idade

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Senhoras 0 3 6 9

Homens 1 1 4 4

45-50 51-64 65-80 81-87

Idade

Dos 28 (vinte e oito) utentes, destaque-se a maioria das idades situar-se a partir

dos 65 anos, etapa considerada como marco do início da 3ª Idade. Apenas um

utente entre a faixa etária quarenta e cinco aos cinquenta anos e quarto entre os

cinquenta e um e sessenta e quatro anos.

Page 110: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

101

Gráfico 2 – Sexo

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Sexo

18 10

Senhoras Homens

Conforme os dados apresentados, registe-se uma maioria significativa das mulheres –

num total de dezoito - contra dez homens.

Gráfico 3 – Estado Civil

Verifica-se a existência de vinte utentes no estado de viuvez, quatro casados, sendo

três solteiros e um divorciado.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Estado Civil

3 4 20 1

Solteiro Casado Viúvo Divorciado

Page 111: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

102

Gráfico 4 – Com quem vivem

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Com quem vivem

Com quem vivem 16 3 2 4 3

Com quem vivem

Filhos Irmãos Sobrinhos Outros Sós

Uma grande parte dos utentes (16) vive com os filhos, havendo apenas três a viverem

sós. Os restantes vivem com irmãos (3); dois, com sobrinhos e os restantes quatro, com

outras pessoas.

Gráfico 5 – Razões principais de frequentar o Centro de Dia

0

2

4

6

8

10

12

Sehoras 3 11 4

Homens 2 4 4

Cuidados de saúde Não estar só Conviver

Razões de frequência do Centro

Os resultados apresentados são significativos: a maioria dos utentes (15) recorreu

ao Centro de Dia para não estarem sós; oito com o intuito de conviver e os

restantes cinco devido à necessidade de cuidados de saúde.

Page 112: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

103

Gráfico 6 – Com que regularidade frequenta o Centro

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 0

Senhoras 15 3

Homens 6 4

Frequência

Como se pode verificar, a maioria respondeu que o faz com muita frequência.

Gráfico 7 – Que actividades gostaria de ver desenvolvidas no Centro

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Senhoras 4 10 3 1

Homens 4 4 1 1

Jogos tradicionaisTeatro Pintura Outras

Actividades a serem desenvolvidas

À questão mais significativa do inquérito – “ Que actividades gostaria de ver

desenvolvidas no Centro de Dia?” - , a maioria optou pelo teatro, num total

De catorze opções; oito por jogos tradicionais e quatro por actividades ligadas

à pintura.

Page 113: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

104

4. - Conclusão

A título de conclusões gerais a presente Dissertação obedeceu a uma reflexão crítica

sobre as políticas seguidas na área da intervenção social junto dos idosos em instituições

particulares de solidariedade social.

Para tal tivemos em consideração a interacção íntima entre a concepção teórica da

temática a investigar (Gerentologia e intervenção social na terceira idade) e o seu

enquadramento em campos práticos, com respectivo trabalho empírico, realizado em

duas Instituições seriadas, cujo objectivo especial foi o de inquirir da problemática

relacionada com a ocupação dos tempos livres por parte dos utentes.

Após diagnóstico do meio e das Instituições ficámos conhecedores de certas situações

pontuais existentes nas mesmas, com base numa metodologia de investigação social,

utilizando uma observação directa, conversas informais e inquérito por questionário.

Evidentemente que o trabalho em campo, respeitou uma metodologia assente na

investigação – acção para a definição do problema.

Será de igual relevância referirmos a escolha e utilização dos inquéritos por

questionário, cujos resultados mais pertinentes apontaram para a necessidade de

implementação e de dinamização mais salutar na ocupação do tempo, materializando a

satisfação dessas necessidades através de actividades significativas.

Novas e diferentes actividades que permitirão, assim, uma diferente forma dos idosos

ocuparem o seu rotineiro quotidiano, com práticas novas, inovadoras e que, no fundo,

traduzir-se-á em novas formas de expressão, de convívio, de viver diferentemente e com

mais qualidade.

Através dos processos metodológicos utilizados, e ainda relacionados com esta

temática, há a destacar a constatação de vários aspectos respeitantes à disponibilidade e

utilização dos recursos humanos, materiais e financeiros, bem como toda uma

contextura relacionada com as instituições e as suas coordenadas históricas, de gestão,

organização e relacionamento com a comunidade conde está inserida.

Page 114: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

105

Igualmente há a destacar outros factores limitativos da prática específica de actividades

e da ocupação e usufruição de passatempos, nomeadamente os condicionalismos

impostos pela própria avançada idade, a situação de desgaste físico-psicológico e

motivacional, que impossibilitam a disponibilidade para quaisquer actividades de

ocupação de tempos livres.

Neste espírito, tentamos compreender melhor as diferentes valências das Instituições

Particulares de Solidariedade Social e diversificação dos serviços dando resposta às

necessidades dos utentes e famílias.

As conclusões mais evidentes a que chegámos prendem-se com a constatação que

envelhecimento é uma fase da vida das pessoas de maior vulnerabilidade e dependência,

e a inerente criação de estruturas de apoio, em articulação com os Serviços Públicos,

nomeadamente os da Saúde.

Igualmente, pensamos que a articulação entre as áreas sociais de apoio e de saúde deve

ser melhorada e extensiva a outras intervenções especializadas, caso das respostas

residenciais e, também aqui, repensados os seus modelos de intervenção. Como tal,

estruturas integradas que permitam vários tipos de intervenção Social, Saúde,

Ocupação, entre outras devidamente inseridas nas comunidades locais, parecem-nos as

respostas mais ajustadas para este tipo de população.

Deverão ainda ser pensadas e implementadas respostas inovadoras do tipo hospitais de

retaguarda, que atendam pessoas com idade avançada acamadas, em estado terminal,

que permitam uma intervenção mais ajustada à sua situação de saúde e de deficiência.

Devemos todos fazer um esforço adicional com o objectivo de eliminar todas as formas

de discriminação, em especial contra as pessoas de idade avançada, aí incluídas as

pessoas com deficiência, para que todos possam usufruir de uma plena cidadania

Page 115: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

106

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DECRETO-LEI N." 89/85, de 1 de Abril (DR n.º 76, l Série).

DECRETO-LEI N.º 29/86, de 19 de Fevereiro (DR n.º 41, l Série).

DECRETO-LEI nº 119/83, de 25 de Fevereiro.

DESPACHO NORMATIVO n." 75/92, de 20 de Maio (DR n.º 41, l Série B).

COMISSÃO EUROPEIA de 1999 (Eurolinkage, http://www.eurolinkage.org).

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DECRETO-LEI n º 119/83, de 25 de Fevereiro (DR n.º 46, l Série).

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PORTARIA n.º 778/83, de 23 de Julho (DR n." 168, l Série).

Page 118: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

ANEXOS

Page 119: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

ANEXO 1

Page 120: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

Inquérito por questionário

O presente inquérito por questionário destina-se a um estudo sobre “Gerontologia e

Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção social na terceira idade”, no âmbito

da conclusão do grau de Mestrado, em Trabalho Social, na Universidade Fernando

Pessoa.

Tem como objectivo conhecer a Instituição bem como, de uma forma especial, certos

pormenores relacionados com aspectos gerais dos utentes.

Assim sendo, as questões que se seguem referem-se a comportamentos que podem

estar mais ou menos de acordo com a sua forma de agir perante a Instituição.

Responda a todas as questões, o mais sincero e honestamente possível, de modo a

que os resultados tenham interesse efectivo. Marque uma cruz no quadrado que acha

correcta a resposta.

Garantimos que apenas o responsável pelo estudo terá acesso aos resultados. Para

que o anonimato seja garantido, agradecemos que não escreva o seu nome em

nenhuma folha do inquérito.

1 – Sexo

M

F

2 – Idade

55-64

65-74

75-85

86-93

Page 121: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

3 – Estado civil

Solteiro

Casado

Viúvo

4 – Com quem vivem

Filhos

Irmãos

Sobrinhos

Outros

Sós

5 – Razões de frequentar o Centro

Estar só

Conselho de amigos

Convívio

Assistência de saúde

Alimentação

Page 122: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

6 – Qual a frequência no Centro de Dia

Sempre

Quase sempre

Muitas vezes

7 – Que actividades a serem desenvolvidas no Centro

Jogos tradicionais

Jardinagem

Expressões plásticas

Grupo coral

Desde já, o nosso obrigado.

Page 123: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

ANEXO 2

Page 124: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

Inquérito por questionário

O presente inquérito por questionário, destina-se a um estudo sobre “Gerontologia e

Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção social na terceira idade” no âmbito

da conclusão do grau de Mestrado de Trabalho Social, na Universidade Fernando

Pessoa.

Tem como objectivo conhecer a Instituição bem como, de uma forma especial, certos

pormenores relacionados com aspectos gerais dos utentes.

Assim sendo, as questões que se seguem referem-se a comportamentos que podem estar

mais ou menos de acordo com a sua forma de agir perante a Instituição.

Responda a todas as questões, o mais sincero e honestamente possível, de modo a que

os resultados tenham interesse efectivo. Garantimos que apenas os responsáveis pelo

estudo terão acesso aos resultados.

Para que o anonimato seja garantido, agradecemos que não escreva o seu nome em

nenhuma folha do inquérito.

1 – Idade

44-50

51-64

65-80

81-87

2 – Sexo

M

F

Page 125: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

3 – Estado Civil

Solteiro

Casado

Viúvo

Divorciado

4 – Com quem vivem

Filhos

Irmãos

Sobrinhos

Outros

Sós

Page 126: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção

5 – Razões principais de frequentar o Centro de Dia

Cuidados de saúde

Não estar só

Conviver

6 – Qual a frequência no Centro de Dia

Quase sempre

Muitas vezes

7 – Que actividades a serem desenvolvidas no Centro

Jogos tradicionais

Teatro

Pintura

Outras

.

Desde já, o nosso obrigado.

Page 127: Gerontologia e Psicossociologia do Envelhecimento: Intervenção