13
Universidade do Rio de Janeiro- UNIRIO Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – CCBS Escola de Ciências Biológicas - ECB Departamento de Ciências Naturais – DCN Disciplina de Gestão Ambiental Gestão da Avaliação do Ciclo de Vida Docente: Carlos Augusto Figueiredo Discentes: Luiz Felippe Gomes Fernandes Nunes - 20101114033 Marcos Ferreira de Oliveira Filho – 20101114025

Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trabalho de conclusão da disciplina de Gestão Ambiental no curso de bacharelado em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Citation preview

Page 1: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Universidade do Rio de Janeiro- UNIRIO Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – CCBS

Escola de Ciências Biológicas - ECB Departamento de Ciências Naturais – DCN

Disciplina de Gestão Ambiental

Gestão da Avaliação do Ciclo de Vida

Docente: Carlos Augusto Figueiredo

Discentes: Luiz Felippe Gomes Fernandes Nunes - 20101114033

Marcos Ferreira de Oliveira Filho – 20101114025

Page 2: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 2

1. INTRODUÇÃO

Há aproximadamente 40 anos, iniciou-se o pensamento ecológico e a

preocupação com a natureza e as próximas gerações, o que era um

pensamento marginal e de uma pequena fatia da sociedade torna-se,

paulatinamente, interesse geral alcançando até as instituições econômicas e

políticas. A priori, as organizações agiam de maneira reativa, quando se

mobilizavam acerca dos impactos ambientais de seus processos, o que é

chamado de controle. Em uma segunda fase, agem antecipando os

problemas, de uma maneira proativa, pela prevenção dos impactos. Além de

tratar os rejeitos das atividades as organizações buscam diminuir o

desperdício durante os processos ou pelo menos reaproveitar o que seria

diretamente disposto no ambiente. Então ao avaliar sua cadeia de processos

e mesmo o desenvolvimento de seus produtos e serviços, as organizações se

reinventam e inovam suas ferramentas e estruturas para diminuir sua

pegada ambiental, e por consequência, diminuir a depleção do meio

ambiente.

1.1. MARKETING E MARKETING VERDE

Através de pressões de consumidores e da legislação ambiental os

diversos setores da economia buscam apresentar um bom desempenho

ambiental, se tornar empresas verdes. Esse boom, essa bolha econômica da

sustentabilidade fez nascer, naturalmente, novas demandas e enfim uma

nova prática mercadológica, o eco marketing. Marketing que não deve ser

limitado ao nível de propaganda, segundo Kotler (1998) “é um processo

social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtém o que necessitam e

desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros”.

Ou seja, ele identifica as necessidades, desejos e demandas dos grupos e

transformam em produtos. Logo, o marketing ambiental é aquele que

Page 3: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 3

incorpora a cadeia do produto processos com mínimo de impacto sobre o

meio ambiente. A criação desse marketing mostra a evolução do valor

percebido pelos consumidores que passam a preferir produtos e serviços

ambientalmente amigáveis.

1.2. AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA (ACV)

Avaliação do Ciclo de Vida é um instrumento de analise do impacto

ambiental associado a um produto ou processo, compreendendo etapas que

vão do fornecimento de matérias-primas necessárias para sua fabricação, as

fases intermediárias do seu processo produtivo e, finalmente, o próprio

produto. A ACV inclui também a embalagem e transporte das matérias-

primas, os produtos intermédios gerados antes do produto final, a

embalagem e transporte envolvidos até seu ponto de venda, a utilização do

produto e o destino final do produto após a sua utilização (pós-uso). Permite

uma visão abrangente dos diversos impactos provocados ao meio ambiente,

possibilitando a identificação das medidas mais adequadas do ponto de vista

ambiental e econômico para sua minimização, constituindo-se assim numa

técnica de gerenciamento ambiental e de desenvolvimento sustentável

(CHEHEBE, 1998; JENSEN,1997; GRAEDEL,1998 apud LIMA, 2001; LEMOS &

BARROS, 2008).

A ACV é mais do que uma ferramenta metodológica, é um sistema de

criação, gerenciamento, estruturação e divulgação de produtos, embalagens

e processos relacionados com outras informações gerenciais. Incorpora os

aspectos ambientais, econômicos e sociais dos produtos aplicados ao longo

de todo o seu ciclo de vida. Para avaliar de maneira correta a organização

precisa estar bem relacionada com seus fornecedores, pois precisa

considerar toda essa rede.

Page 4: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 4

2. IMPORTÂNCIAS DO ACV

2.1. METODOLOGIA

A AVC analisa aspectos ambientais e impactos potenciais associados ao

ciclo de vida de um produto, ou seja, desde a extração dos recursos naturais

até a disposição final do produto. As categorias gerais de impactos ambiental

consideradas em estudo de AVC incluem usos de recursos naturais,

implicações sobre a saúde humana e consequências ecológicas (MATTSSON;

SONESSON, 2003).

A aplicação da AVC passar por quatro etapas: A definição do objetivo e

escopo; Analise do Inventario; Avaliação do Impacto; Interpretação.

A definição do objetivo e escopo possui grande importância, pois a

partir dele o seu trabalho será moldado, serão escolhidos os seus métodos,

unidades funcionais, as categorias de impactos consideradas, os métodos de

alocação, logo a base do seu trabalho.

Na parte relativa à Análise do Inventário, será elaborado um

fluxograma do sistema em estudo, onde os processos ou atividades que

serão avaliados sejam bem definidos, de acordo com os seus objetivos

previamente apontados. Assim, é feito um levantamento de dados de

entradas e saídas (consumo de recursos naturais e energia, emissão de ar,

água e solo).

É importante que esses dados encontrados estejam de acordo com o seu

objetivo, pois a sua qualidade é de suma importância para uma boa

avaliação do seu trabalho. A variedade de informações faz da transparência

dos dados algo crucial para a confiabilidade e aceitação do mesmo.

Com a presença desses dados compilados e as cargas ambientais

calculadas, se inicia a terceira parte, a Avaliação do Impacto do Ciclo de

Vida. Nessa fase ocorre uma separação dos fatores em categorias, de acordo

com o seu impacto, eutrofização, mudanças climáticas, acidificação, entre

outros. Posteriormente, é feita uma caracterização de acordo com o

Page 5: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 5

potencial de cada impacto na sua respectiva categoria, onde um maior

impacto atribuirá maiores valores. Assim somados os valores de cada

categoria e obtendo o resultado da categoria de impacto, sendo essa a

última parte obrigatória da AICV, de acordo com a norma ISO 14042 (2000).

Finalizando o trabalho, entramos na parte da interpretação, onde é

feito uma análise dos resultados encontrados da análise do inventário e da

avaliação de impactos obtidos no estudo. De acordo com a norma ISO

14043, a interpretação de incluir a identificação de impactos ambientais

significativos; avaliação do estudo em relação a sua completeza,

sensibilidade e consistência; bem como as conclusões e recomendações de

implementação de melhorias com a finalidade de reduzir os impactos

ambientais significativos.

As aplicações da metodologia da ACV são importantes, pois permite o

estudo de questões ambientais complexas, gerando dados importantes para

tomadas de decisões e resolução dos problemas, servindo então como

ferramenta da gestão ambiental em diversas situações, tais como:

- Gerenciamento e preservação de recursos naturais.

- Identificação dos pontos críticos de um determinado processo/produto

- Otimização de Sistemas de produtos

- Desenvolvimento de novos serviços e produtos

- Otimização de sistemas de reciclagem mecânica e/ou energética

- Definição de parâmetros para rotulação ambiental a um determinado

produto

2.2. PERSPECTIVAS DO ACV

Uma primeira perspectiva dentro do pensamento sobre o ciclo de vida

dos produtos incluía as etapas de extração da matéria prima, processos de

produção do produto, o uso em si até chegar a destinação final dos rejeitos

desse processo. Essa era chamada de uma visão “do berço ao túmulo” (from

cradle to grave ou from cradle to coffin), nessa visão não estava

compreendida nenhuma maneira de reinserir os rejeitos no processo

Page 6: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 6

produtivo, então, nessa visão a produtividade exauri as fontes naturais

gerando lixo no final do processo.

Na perspectiva do “berço ao berço” (cradle to cradle ou open loop

production), que é mais convergente com a sustentabilidade em toda sua

completude, ou seja, ambiental, social e econômica, busca-se minimizar a

pegada ambiental de um produto empregando cadeias produtoras,

operações e destinação final responsável. Nesse escopo também entram as

ferramentas para reinserir o que esta como resíduo de um produto ou

processo como matéria-prima em outro processo (e.g. a utilização de raspas

Page 7: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 7

de pneus na pavimentação pública, matéria orgânica na produção de

energia).

3. ROTULAGEM AMBIENTAL & ACV

A Rotulagem Ambiental consiste nas declarações que constam nos

rótulos de produtos, indicando seus atributos ambientais a partir de uma

Avaliação do seu Ciclo de Vida. Representa, ao mesmo tempo, uma das

ferramentas mais benéficas para a mudança dos hábitos dos seres humanos

Page 8: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 8

e uma das armas mais perigosas para enganar o consumidor sobre o real

impacto do produto que ele está prestes a usar.

Todavia, a veracidade dessas declarações surge como algo negativo na

rotulagem, caso haja falta de fiscalização por parte da sociedade, levando

um produto fortemente consumido e com grande impacto ao planeta.

Os selos se enquadram em três tipos de rotulagem ambiental segundo

a ISO. Os do tipo I, comumente denominados “selos verdes”, regulados pela

ISO 14024, são aqueles que apresentam os critérios ambientais dos produtos

e características funcionais dos produtos, avaliam e comprovam sua

conformidade. São selos voluntários, baseados em critérios múltiplos de

programas de terceira parte, a entidade que concede o selo faz uma

verificação se a empresa atende os critérios e licencia o uso do selo nos

produtos outorgados. Um dos selos pioneiros é o selo “anjo azul” (der blaue

engel) da Alemanha, outro selo amplamente vinculado é o selo do FSC

(Forest Stewardship Council, - “Conselho de Manejo Florestal”) que abrange

várias áreas e produtos relacionados a florestas.

A rotulagem tipo II, regulamentadas ISO 14021, são as auto-

declarações que dispõe os aspectos do produto, aspectos bons ou ruins, que

Page 9: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 9

podem ser utilizadas para analisar comparativamente os produtos com

similaridade funcional. Os rótulos tipo II podem ser voluntário ou compulsório

(que listam geralmente aspectos ruins ou perigosos, como a presença de

glúten em sua fórmula ou as publicações em cigarros). A declaração

ambiental tipo II mais conhecida é o ciclo de möbius que qualifica o produto

como reciclado ou reciclável.

Os selos tipo III, regulados pela ISO 14025, mostram informações de

produtos e serviços baseada em indicadores ambientais inerentes ao AVC,

por exemplo, consumo de recursos, produção de resíduos, emissões tóxicas.

Esses selos buscam facilitar a escolha por parte dos consumidores.

No Brasil, se destacam os específicos para alimentos orgânicos. Os

dois principais certificadores são a Associação de Agricultura Orgânica (AAO)

e Instituto Biodinâmico (IBD).

Page 10: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 10

A rotulagem verde surge então como uma forma de atestar que um

produto é ambientalmente superior aos outros produtos da mesma

categoria, favorecendo assim ações de marketing verde para o mesmo.

Dentro dessa nova perspectiva de mercado o ACV se torna uma ferramenta

mercadológica importante para as organizações. Por exemplo, um

determinado produto só existe e ganha força de mercado se a preocupação

com todos os impactos ambientais que este bem gera forem levadas em

conta pela empresa que o produz (ANDRADE, TACHISAWA & CARVALHO,

2003).

4. ACV NO BRASIL

A primeira atividade formal relacionada à ACV no Brasil, surgi somente

em 1994 com a criação do Grupo de Apoio a Normalização (Gana),

almejando a participação do Brasil na elaboração das normas ambientais.

O primeiro estudo completo de ACV realizado no país do qual se tem

noticia foi executado no centro de tecnologia de Embalagem (Cetea) do

Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) em 1999, e avaliou diferentes

materiais usados nas embalagens de alimentos.

Em 2009, GANA foi transformado no Comitê Brasileiro de Gestão

Ambiental da ABNT e foi responsável pelo lançamento das seguintes normas:

- NBR ISO 14040

- ABNT NBR ISO 14041

- ABNT NBR ISO 14042

Posteriormente no ano de 2002, foi fundada a Associação brasileira do

Ciclo de vida (ABCV), no intuito de desenvolver e expandir a idéia da ACV no

país, mantendo o vínculo com a comunidade internacional.

Acontece em 2007, no Centro de Convenções do Centro Universitário

SENAC na cidade de São Paulo, a Conferência Internacional Ciclo de Vida -

CILCA que deu continuidade ao esforço pioneiro empreendido em San José,

Page 11: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 11

Costa Rica, por ocasião da CILCA 2005 na busca da consolidação do Life

Cycle Thinking (LCT) e do Life Cycle Management (LCM) na América Latina e

no aprofundamento da integração desta região com outras, onde o tema

está mais avançado.

Em 2011 o CONMETRO aprova o Regimento Interno do Comitê Gestor

do Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida (PBACV) através da

Resolução no 01, de 6 de abril de 2011, que visa ampliar a utilização desses

estudos para expandir o conhecimento dos processos e melhorar a tomada

de decisão.

Com novas políticas públicas e privadas, o uso do ACV vem se

tornando interessante a múltiplos detentores de poder. O aumento do

interesse privado em se avaliar os aspectos ambientais da cadeia produtiva

visa aumentar seu desempenho ambiental (competitividade) diminuindo

custos em matéria-prima em prol do aumento de suas receitas, expressos

em maior market share.

5. CONCLUSÃO

Através desse estudo pudemos ampliar nosso conhecimento acerca da

Avaliação do Ciclo de Vida, assim percebemos que essa é uma ferramenta

importantíssima para amparar os processos e as organizações em sua

interface com o meio ambiente. Com o crescente avanço tecnológico a

Ecologia Industrial se torna, cada vez mais, objeto de estudo e reflexão no

que diz respeito à sustentabilidade do planeta. A ACV se apresenta como

uma alternativa abrangente e eficaz para respaldar as tomadas de decisões

no ambiente industrial contemporâneo e, a análise de sua eficiência, um

instrumento que ampara os stakeholders nas ações necessárias para a

melhoria da relação indústria-ambiente.

Page 12: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 12

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, R. O. B.; TACHIZAWA, T.; CARVALHO, A. B. Gestão Ambiental.

Enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento sustentável. São Paulo:

Pearson Makron Books, 2003.

BARBOZA, E. M. F.; Rotulagem Ambiental - Rótulos ambientais e Análise do

Ciclo de Vida (ACV). 2003

BARROS, R. L. P. e LEMOS, H. M. Gestão do Ciclo de Vida dos Produtos e

Rotulagem Ambiental nas micro e pequenas empresas. Rio de Janeiro:

Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente, 2008.

JÚNIOR, A. V.; DEMAJOROVIC J. Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental –

Desafios e Perspectivas para as Organizações. Senac São Paulo: 2ª

edição.

LIMA, Ângela M. Ferreira. Estudo da cadeia produtiva do polietileno tereftalato

(PET) na Região Metropolitana de Salvador como subsídio para Análise do

Ciclo de Vida. 2001. 94 p. Monografia (Especialização em Gerenciamento

e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo), Escola Politécnica,

Universidade Federal da Bahia, Salvador.

KOTLER, Philip. Administração de marketing: análise, planejamento,

implementação e controle. 5ª edição. São Paulo: Atlas, 1998.

MATSSON B. & U. SONESSON. (eds). 2003. Introduction. In: Environmentally-

Friendly Food Processing, Cambridge, England: Woodhead Publishing

Limited, 337 pages.

Page 13: Gestão Ambiental - Analise do Ciclo de Vida (ACV).pdf

Página 13

SONNEMANN, G. (project officer). JENSEN, A. A; REMMEN, A. (Editor).

Background Report for a UNEP Guide to Life Cycle management – A

bridge to sustainable products. 2005. 108p.

Environment Protection Agency (EPA) - Life Cycle Assessment (LCA)

<http://www.epa.gov/nrmrl/std/lca/lca.html> acesso em 12/03/2013

Environment Protection Agency (EPA) – LCA Resources

<http://www.epa.gov/nrmrl/std/lca/resources.html> acesso em

12/03/2013

Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida - PBACV

<http://www.inmetro.gov.br/download/wac/painel_4/wac_15_05.pdf>

acesso em 17/03/2013

ROTULAGEM AMBIENTAL - Rótulos ambientais e Análise do Ciclo de Vida (ACV)

<http://acv.ibict.br/publicacoes/realtorios/Rotulagem%20Ambiental.pdf>

acesso em 14/03/2013