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1 GESTÃO AMBIENTAL: MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO LIMPO PARA ATERROS SANITÁRIOS Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi 1 RESUMO O avanço tecnológico proporciona uma produção intensiva de bens variados com ciclo de vida reduzido. O ascendente descarte dos resíduos urbanos tem sido debatido constantemente. A partir do ano 2000 vários aterros sanitários brasileiros começaram a entrar no mercado de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Apesar de existir metodologia já desenvolvida e consistente para a inserção de projetos de aterros sanitários neste mercado, este trabalho busca discutir se oito aterros sanitários baianos possuem a qualificação mínima para as suas inserções, por meio de uma metodologia de simples aplicação baseada em elementos facilitadores ou restritivos para acessibilidade no mercado de crédito de carbono. Conclui-se que é necessária uma estimativa técnica bem executada das quantidades de gases emitidas pelo aterro, bem como estudos e projetos de engenharia para a implantação dos sistemas. A autora sugere alguns elementos que podem ser limitativos ou estimulantes para prosseguir na consecução das diversas etapas pré-definidas para os projetos MDL. Palavras-chave: Gestão Ambiental. Aterros Sanitários. Mecanismos de Desenvolvimento Limpo. 1 INTRODUÇÃO O avanço tecnológico proporciona uma produção intensiva de bens variados com ciclo de vida reduzido. A pressão para a eficiência industrial leva a busca de economia de escala, que produz semelhanças operacionais significativas entre as organizações produtoras, reduzindo os preços e atraindo consumidores por produtos cada vez mais descartáveis. O descarte destes materiais causa uma crescente degradação ao meio ambiente. O ascendente descarte dos resíduos urbanos tem sido assunto de constantes debates entre o setor produtivo, o Estado e a sociedade civil organizada, pois cria intensos impactos ambientais. Uma questão recorrente é: como tratar o crescente descarte final dos resíduos produzidos pelas organizações e pela sociedade? 1 Professora da Pós Graduação do Mestrado de Planejamento Ambiental da Universidade Católica do Salvador [email protected]

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GESTÃO AMBIENTAL: MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO LIMPO PARA ATERROS SANITÁRIOS

Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi1

RESUMO

O avanço tecnológico proporciona uma produção intensiva de bens variados com ciclo de vida reduzido. O ascendente descarte dos resíduos urbanos tem sido debatido constantemente. A partir do ano 2000 vários aterros sanitários brasileiros começaram a entrar no mercado de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Apesar de existir metodologia já desenvolvida e consistente para a inserção de projetos de aterros sanitários neste mercado, este trabalho busca discutir se oito aterros sanitários baianos possuem a qualificação mínima para as suas inserções, por meio de uma metodologia de simples aplicação baseada em elementos facilitadores ou restritivos para acessibilidade no mercado de crédito de carbono. Conclui-se que é necessária uma estimativa técnica bem executada das quantidades de gases emitidas pelo aterro, bem como estudos e projetos de engenharia para a implantação dos sistemas. A autora sugere alguns elementos que podem ser limitativos ou estimulantes para prosseguir na consecução das diversas etapas pré-definidas para os projetos MDL.

Palavras-chave: Gestão Ambiental. Aterros Sanitários. Mecanismos de Desenvolvimento Limpo.

1 INTRODUÇÃO

O avanço tecnológico proporciona uma produção intensiva de bens variados com ciclo

de vida reduzido. A pressão para a eficiência industrial leva a busca de economia de escala,

que produz semelhanças operacionais significativas entre as organizações produtoras,

reduzindo os preços e atraindo consumidores por produtos cada vez mais descartáveis. O

descarte destes materiais causa uma crescente degradação ao meio ambiente.

O ascendente descarte dos resíduos urbanos tem sido assunto de constantes debates

entre o setor produtivo, o Estado e a sociedade civil organizada, pois cria intensos impactos

ambientais. Uma questão recorrente é: como tratar o crescente descarte final dos resíduos

produzidos pelas organizações e pela sociedade?

1 Professora da Pós Graduação do Mestrado de Planejamento Ambiental da Universidade Católica do Salvador

[email protected]

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Segundo Coates (1981), desde o final da década de sessenta, a técnica preferida nos

Estados Unidos para o tratamento do lixo urbano é o aterro sanitário. Esse tipo de tratamento

foi impulsionado pelos primeiros movimentos norte-americanos associados aos aspectos da

conservação das matérias primas e do solo. No que tange à conservação, nos Estados Unidos,

a Agencia de Proteção Ambiental – EPA esclarece que os resíduos sólidos urbanos são

mesclados por diversas composições e matérias primas, que possuem valor econômico e

energético. Para esta Agência, cada comunidade deve buscar a melhor forma de gestão dos

seus resíduos, estabelecendo o equilíbrio entre as suas necessidades e a preservação

ambiental, iniciando, preferencialmente, pela redução na fonte. A EPA disponibiliza uma

hierarquia para as ações ligadas à gestão dos resíduos, como pode ser vista na Figura 1.0.

Figura 1.0 – Hierarquia na Gestão de Resíduos Sólidos Fonte: EPA (2015)

Técnicas e processos de conservação e prevenção ambientais, cada vez mais

modernos, estão sendo implementados em vários países. A hierarquia indicada pela EPA é a

mais utilizada, ou seja, iniciar reduzindo na fonte, passando por processos de reciclagem,

compostagem e recuperação energética até chegar à disposição final dos “últimos resíduos”,

aqueles que não podem mais ser utilizados.

Assim, o que não pode ser mais utilizado é destinado aos aterros sanitários. Os

projetos atuais dos aterros franceses estão cada vez mais “ambientalmente corretos”, visando

minimizar as reações da comunidade para a instalação desses equipamentos nos seus

territórios. O Syndicat Mixte des Hauts de Seine pour l'Elimination des Ordures Ménagères

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(SyCTOM), criado em 1984, presta serviços, de forma regionalizada, de tratamento final para

os resíduos sólidos gerados na aglomeração parisiense, para quase seis milhões de usuários.

Esse sindicato investe milhões de Euros em campanhas visando à redução na fonte e a

consequente diminuição do volume de resíduos não servíveis (ultimes), encaminhado aos

aterros sanitários. Algumas campanhas chamam a atenção pela sua dimensão, um exemplo é a

“E se jogarmos mais?”, localizadas próximas ao tráfego das vias periféricas de Paris, na qual a

estimativa de dois milhões e quatrocentas mil pessoas, que passam de carro, são alcançadas

pelas mensagens (Figura 2.0). Outro exemplo são os cartazes e as bandeiras de campanha, em

pontos de intensa passagem de pedestres, mobilizando os cidadãos a reduzir conjuntamente e

cotidianamente a geração dos seus resíduos (Figura 3.0) (SyCTON, 2013).

Figuras 2.0 e 3.0 – Campanhas promovidas pelo SyCTON (Paris): redução de resíduos

urbanos Fonte: SyCTOM (2013).

Proposições que requerem atitudes conscientes junto à valorização dos resíduos

gerados encontram dificuldades de serem implementadas em países em desenvolvimento. O

modelo de desenvolvimento urbano excludente e predatório continua presente nos serviços de

resíduos sólidos urbanos no Brasil, apesar da promulgação da Política Nacional de Resíduos

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Sólidos, Lei n. 12.305 de 02 de agosto de 2010, que preconiza que o desenvolvimento da

gestão integrada deve contemplar, além da coleta, a valorização, o tratamento e a disposição

final dos resíduos sólidos. A dificuldade da coleta, transporte, tratamento e destinação correta

dos resíduos industriais, ao lado das punições oriundas da normatização, vêm estimulando o

desenvolvimento de novas tecnologias para apoiar estratégias junto às ações menos poluentes.

O consumidor também tem cobrado uma postura ética e responsável das empresas. A cada

dia, o mercado está mais exigente no que diz respeito às questões ambientais.

As questões ambientais se encontram articuladas com o conceito, trazido pelo

Protocolo de Kyoto, de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que contempla a

redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE) 2 ou de captura de carbono.

A Agência Americana de Proteção Ambiental - EPA dissemina no seu encarte

“Climate Change and Waste Reducing Waste Can Make a Difference” a ligação entre

resíduos gerados e mudança climática e propõe quatro estratégias para “Fazer a Diferença”: 1-

Reduzir o consumo de energia, promovendo a redução e a reciclagem de produtos; 2- Reduzir

a incineração; diminuindo a produção de gases da combustão dos resíduos; 3- Reduzir a

emissão de gás metano pelos aterros sanitários e, 4- Estimular o seqüestro de carbono por

meio do plantio de árvores (EPA, 2015).

Diante de tais alternativas, analisaremos com mais profundidade a terceira. Infere-se

que a presença de resíduos a céu aberto podem se tornar um enorme entrave para a

minimização dos GEE. Por outro lado, a simples captura e queima do metano (CH4)

produzido nos aterros pode contribuir para a diminuição desses gases.

No Brasil, segundo o Sistema Nacional de Informações de Saneamento – Resíduos

Sólidos (2013), do total de 1.196 “lixões” presentes no solo nacional, 668 unidades se

encontravam no Nordeste do Brasil, ou seja, aproximadamente 56% dos resíduos sólidos

urbanos gerados eram descartados no solo, sem nenhum cuidado, sem proteção. Os aterros

2 O Gás de Efeito Estufa - GEE é qualquer gás traço que não absorva a radiação solar direta, mas que absorva a radiação de ondas longas emitidas ou refletidas pela superfície terrestre. Os GEE mais importantes são vapor d’água, dióxido de carbono, óxido nitroso, metano e CFC`s. O metano é vinte vezes mais danoso à atmosfera que o gás carbônico, intensificando os efeitos das mudanças climáticas.

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controlados representam 6,7% do total e 9,1% se caracteriza como aterro sanitário

convencional (BRASIL, 2014).

Na Bahia, em 2000, os primeiros aterros sanitários compartilhados entre diversos

municípios começaram a dar mostras de falta de sustentabilidade no modelo de gestão (Figura

4.0 e 5.0). Inicialmente, pensou-se que os problemas relativos à gestão dos aterros

implantados estavam ligados ao compartilhamento entre municípios próximos e à falta de um

modelo de integração adequado, mais tarde observou-se que também os aterros sanitários

isolados e os simplificados, implantados desde o final dos anos 90, inclusive com

financiamento internacional, apresentavam problemas semelhantes e necessitavam de

avaliação e melhorias (MARCHI, 2011).

Fonte: Marchi (2011).

Figuras 4.0. e 5.0.– Presença de Catadores e de Animais no Aterro Integrado Ilha

Posteriormente, em 2007, o Ministério do Meio Ambiente disponibilizou recursos para

financiar o Plano de Regionalização da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Estado da

Bahia, por meio do Convênio com o Governo do Estado da Bahia, sob o nº 00002 de

28/12/2007, que teria um prazo de execução de 18 meses. Este prazo foi prorrogado por mais

dezoito meses. Em novembro de 2013, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano - SEDUR

divulgou os resultados deste Relatório, que aponta para soluções tecnológicas potenciais

visando melhorar os impactos causados ao meio ambiente pelo descarte de resíduos sólidos na

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Bahia. Entretanto, é observado, junto às sugestões potenciais propostas pelo Relatório, a falta

de iniciativas de caráter intersetorial para redução de emissões de GEE, além da ausência de

proposições tecnológicas mais arrojadas. Nenhuma poderia ser classificada como MDL. As

dez sugestões apresentadas foram: 1- encerramento e/ou remediação de aterros; 2-

requalificação e ampliação de aterros sanitários; 3- unidade de compostagem; 4- unidade de

triagem; 5- postos de entrega voluntária de resíduos de construção civil (RCC), volumosos,

reciclagem e podas; 6- área de transbordo e triagem de RCC; 7- aterro de RCC inertes; 8-

aterro sanitário de pequeno porte; 9- aterro sanitário convencional; e, 10- estação de

transbordo (BAHIA, 2012).

Diante do desenho apresentado sobre o descarte de resíduos sólidos na Bahia, parte-se

do pressuposto da necessidade de promover conhecimentos ligados aos MDL e relacioná-los

aos aterros sanitários convencionais compartilhados, que por concentrarem grande volume de

resíduos, podem apresentar potencialidades para entrar no mercado mundial de crédito de

carbono, gerar energia renovável e captar novos recursos para serem utilizados na melhoria

das suas instalações.

Isto posto, o presente estudo tem como objetivo relacionar conceitos da gestão

ambiental e do MDL com aterros sanitários de forma compartilhada e identificar elementos

facilitadores e restritivos para utilização destes mecanismos em aterros localizados no estado

da Bahia.

2 A GESTÃO AMBIENTAL E O MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO

O modelo de produção contemporâneo não coincide com os limites ambientais do

planeta. Assunto presente nos constantes debates entre o setor produtivo, o Estado e a

sociedade civil organizada é o ascendente descarte dos resíduos sólidos urbanos, que gera

consequências ambientais intensas, como emissões de gases de efeito estufa, odores e

contaminação da água e da terra, provocando impactos sobre a vida das pessoas. O

gerenciamento dos resíduos sólidos no mundo é motivo de preocupação e os países buscam,

cada vez mais, o compartilhamento das ações entre o poder local, organizações e a sociedade

civil organizada.

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A gestão ambiental se tornou uma importante ferramenta estratégica, consoante com

os objetivos do modelo integrado, descentralizado e participativo, de gerir uma organização.

Para Moreno & Pol (1999) a gestão ambiental é aquela que incorpora os valores do

desenvolvimento sustentável na organização social e nas metas corporativas da empresa e da

administração pública. Integra políticas, programas e práticas relativas ao meio ambiente, em

um processo contínuo de melhoria da gestão. Portanto, a gestão ambiental é a forma de gerir

uma organização pública ou privada, sem prejuízos ao meio ambiente.

Para Shigunov et al. (2009), poucos pesquisadores vêm apresentando conceitos claros

relativos à gestão ambiental, voltadas para a perspectiva de atendimento às normas e às leis.

Reis define a gestão ambiental como rotinas e procedimentos que permitem a uma

organização administrar adequadamente as relações entre suas atividades e o meio ambiente,

atendendo às expectativas das partes interessadas; Reis ainda analisa a gestão ambiental,

como dinâmica que objetiva identificar as ações mais adequadas ao atendimento das

imposições aplicáveis às várias fases dos processos organizacionais, desde a geração, até o

descarte final, observando permanentemente os parâmetros legais (REIS, 1996, apud

SHIGUNOV et al., 2009).

Outra definição publicada é a de Moreira, que afirma que para a empresa apresentar

um nível mínimo de gestão ambiental tem que possuir um departamento de meio ambiente

responsável pelas exigências legais e pelas indicações dos meios mais adequados para o

controle do processo (MOREIRA, 2001, apud SHIGUNOV et al., 2009). Conforme Barbieri

(2004) na origem da expressão “Gestão Ambiental” estão as ações governamentais para

enfrentar a escassez de recursos, afirma que com o tempo outras questões estão sendo

incorporadas por outros agentes e com alcances diferentes (BARBIERI, 2004, apud

SHIGUNOV et al., 2009).

Shigunov et al. (2009) desenvolvem a Gestão Ambiental como ação eficaz entre a

organização e o meio ambiente e que trata das atividades da função gerencial que determinam

a Política ambiental, os objetivos e as responsabilidades e os colocam em prática por

intermédio do sistema ambiental, do planejamento ambiental e do controle ambiental.

Atualmente, muitos esforços são realizados na elaboração de normas relativas aos

sistemas de gestão ambiental, auditoria ambiental, rotulagem e outros processos ambientais.

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Entretanto, esse esforço pode aumentar o custo operacional das organizações. Programas de

gestão ambiental, nos quais as organizações estabelecem e mantêm ações visando atender a

seus objetivos e metas ambientais, são práticas que vêm ganhando espaço nas empresas

públicas e privadas. Esses programas estão em busca da melhoria contínua para as políticas

voltadas para a conservação e proteção das riquezas naturais, da prevenção e do controle da

poluição, da minimização dos resíduos sólidos, do reaproveitamento de materiais recicláveis e

do desenvolvimento de novas tecnologias, que minimizem possíveis impactos no meio

ambiente.

Apesar dos esforços, cada vez são mais frequentes as notícias sobre desastres

ambientais, aquecimento global, redução do volume de água potável e aumento da miséria,

comprometendo o sucesso de sistemas e modelos econômicos convencionais. Os gestores dos

serviços públicos, das organizações privadas e a sociedade civil são chamados a esse debate,

para que contribuam com as transformações requeridas, construindo novos caminhos em

direção a modelos que possam contemplar as demandas da sociedade e do Estado. Gestores

demonstram preocupações não só com a resolução dos problemas ambientais em benefício

das suas organizações, mas também com a mudança de clima e com a mitigação da

degradação das riquezas naturais.

A proposta é alargar a perspectiva atual, compreender o caminho trilhado, na busca da

incorporação da gestão ambiental de forma ampliada, que a associa não só às regras, normas,

leis, mas também, ao reconhecimento de que os problemas ecológicos no mundo não podem

ser entendidos isoladamente. Eles devem ser tratados de forma interligada e interdependente,

requerendo para a sua compreensão e solução um novo tipo de comportamento ecológico.

Nessa direção, emerge um regulamento europeu que traduz a co-participação entre

organizações, governos e comunidade: o Regulamento do Conselho das Comunidades

Européias (CEE) de número 1836/93, tendo sido adotado em junho de 1993. Esta normativa

possibilita a participação voluntária das empresas do setor industrial num sistema comunitário

de ecogestão e auditoria, objetiva melhorar o desempenho ambiental, buscar a conformidade

das ações empresariais com a legislação ambiental e, comunicar ao público os resultados

ambientais alcançados no cenário das organizações européias. Está aberta à participação

voluntária das empresas desde abril de 1995, e se encontra em constante revisão, buscando a

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integração do seu conteúdo com outros instrumentos, normas e políticas, como a International

Organization for Standardization (ISO 14001), o Responsible Care Program, o Modelo

Winter, a Coalision for Environmentally Responsible Economies (CERES), o Strategies for

Today’s Environmental Partnership (STEP), dentre outras. As organizações que participam

desse Sistema recebem atestados e os seus nomes são divulgados no Jornal Oficial da União

Européia. O público é informado do comportamento ambiental, a fim de exercer controle

social sobre as atividades da organização. Esse regulamento é chamado de Ecogerenciamento.

Orbach e Liedtke (1998) definem Ecogerenciamento como a gestão voltada para

integrar as questões ambientais no processo decisório. Para esses autores, é uma área

emergente, de grande importância para empresas comprometidas com seu ambiente ecológico

e que inserem a variável ambiental nas suas atividades. Classificam essa definição em quatro

abordagens, que diferem de acordo com as limitações impostas na sua aplicação: a econômica

restrita, a econômica ampla, a ecológica restrita, além da econômica e ecológica integradas.

Seu ponto de partida é uma mudança de valores na cultura organizacional.

O Ecogerenciamento sugere práticas de gestão que diminuam os impactos negativos

ocasionados pela organização, em contraste com a simples adesão às normas e às regulações

impostas pelo mercado ou pelo Estado. O Ecogerenciamento se baseia em uma visão

ecológica, em uma acepção mais ampla e profunda do que as descritas nos regulamentos dos

Sistemas de Gestão Ambiental (SGA3).

A coletânea de textos organizada por Callenbach (2000) propõe que as organizações

identifiquem o que pode ser feito a fim de reduzir os impactos das suas operações junto ao

meio ambiente. Os autores dos textos recomendam a sistematização de prioridades e a criação

de uma estratégia de ação, para que melhorias ambientais sejam implementadas. É uma nova

forma de agir, que não se subordina às ações defensivas ou reativas. Seria um comportamento

ativo e criativo junto ao seu entorno.

Está-se falando, portanto, de um valor e de práticas que pressupõem a potencialização

da definição do conceito de gestão ambiental. Essa definição não é só voltada para a

3 SGA - segundo a NBR ISO 14.001 o SGA é parte do sistema da gestão que compreende a estrutura

organizacional, as responsabilidades, as práticas, os procedimentos, os processos e os recursos para aplicar,

elaborar, revisar e manter uma política ambiental.

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preocupação do atendimento legal, mas, sobretudo, para a incorporação de variáveis

ecológicas e ambientais, que ainda não estejam institucionalizadas no processo gerencial.

Assim, ações relacionadas aos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo - MDL, que resultam

em melhoria do bem-estar humano e equidade social com redução de riscos ambientais, e

ações que vêm sendo desenvolvidas nas esferas local, estadual e federal relativas ao

saneamento básico, que buscam a universalização e a equidade de distribuição dos serviços,

são interdependentes e se interconectam em diferentes aspectos, incentivando políticas

públicas que garantam o bem-estar geral com o propósito fundamental de avançar no

desenvolvimento humano.

3 INTERAÇÕES ENTRE MDL E ATERROS SANITÁRIOS

Em 1992, no Rio de Janeiro foi realizada a primeira Cúpula da Terra (Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente), a Rio-92. Nesta Conferência foram reunidos chefes de

estado e representantes da sociedade civil organizada de muitas nações a fim de discutir

medidas de proteção ao meio ambiente e de alcance ao desenvolvimento socioeconômico.

Neste evento foi criada a Convenção sobre Mudança Climática, que entrou em vigor

em março de 1994, para discutir formas de lidar com o aquecimento global e suas

conseqüências. Em 1995, no primeiro encontro da Conferência das Partes da Convenção

sobre Mudanças Climáticas (COP 1) decidiu-se iniciar uma rodada de debates com programas

mais práticos e metas mais definidas. O resultado foi o lançamento, pelos 59 países presentes,

do Protocolo de Kyoto, em 1997, na COP 3. Em constante transformação, este Protocolo só

foi assinado em 2005 por 141 países, transformando-se em Tratado de Kyoto, que previu aos

países signatários, até 2012, a redução das emissões de gases poluentes a níveis 5% abaixo

dos índices de 1990.

Depois de muitas reuniões, em dezembro de 2014, na cidade de Lima, Peru, houve

uma nova Conferência sobre Mudanças Climáticas, à de número 20, chegando a 195 países

signatários. Entretanto, intensas discussões ainda são travadas para estabelecer uma forma

consensual para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Dentro do texto base

do Tratado de Kyoto, se encontram alguns mecanismos importantes, como:

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•Comércio de Emissões (CE) (Emissions Trading -ET ou Allwances). Trata-se

do comércio direto de créditos de carbono entre países industrializados,

responsáveis pelas maiores emissões - onde são distribuídas cotas ou permissões

de emissão que podem ser comercializadas. Assim, países ou empresas que

emitam abaixo de suas cotas podem vender as cotas não utilizadas para outros.

•Implementação Conjunta (IC) (Joint Implementation-JT). Trata-se da

geração de créditos de carbono por meio de projetos que absorvam ou reduzam

GEE. Dessa forma, países do Anexo I podem adquirir, de outros países do Anexo

I, Unidades de Redução de Emissões, provenientes de projetos destinados a

diminuir as emissões do GEE.

•Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) (Clean Development

Mechanism-CDM). Trata-se da geração de créditos de carbono por meio de

projetos que absorvam ou reduzam GEE desenvolvidos em países não

pertencentes ao Anexo I. Para cumprir parcialmente suas metas, países do Anexo I

podem comprar Reduções Certificadas de Emissões (Certified Emissions

Reduction - CER), obtidos por meio de melhoramento tecnológico para evitar ou

minimizar as emissões dos GEE. O CER é título comercializável no mercado

financeiro internacional ou diretamente entre empresas (CUOCO et al, 2006).

No Brasil, o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) é um sistema

voltado para as oportunidades de negócios com países desenvolvidos, que buscam promover a

redução do GEE fora de seu território, ou seja, comprando no mercado a CER. Esta é uma

iniciativa conjunta da Bolsa Mercantil & Futuro - BM&F e do Governo federal, coordenado

pela Secretaria de Política Econômica (SPE/MF) e integrado por representantes do Ministério

do Meio Ambiente (MMA), Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC),

Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério das Relações Exteriores (MCTI),

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e Casa Civil.

O Banco de Projetos Bolsa Mercantil e de Valores - BM&FBOVESPA é um sistema

que foi desenvolvido pela Bolsa para registrar os projetos validados por Entidades

Operacionais Designadas pela ONU, e também recebe Intenções de Projetos, ou seja, projetos

parcialmente estruturados para atingir condição futura de validação no âmbito do MDL. A

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responsável oficial pela avaliação dos projetos de MDL é a Comissão Interministerial de

Mudanças Globais de Clima (CIMGC). Neste sistema vários projetos de redução de gás

metano de aterros sanitários brasileiros encontram um canal de divulgação, interação e

captação de recursos com investidores estrangeiros interessados em adquirir créditos de

carbono.

A importância de projetos ligados à captação de gases de efeito estufa gerados pelos

aterros sanitários pode ser entendida pela alta redução que este MDL representa no impacto

de mudança climática. Em 2013, a compilação realizada pelo Ministério de Ciência

Tecnologia e Inovação, divulgada pelo estudo intitulado “Status dos projetos do Mecanismo

de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil”, apresenta quarenta e três projetos de MDL

ligados aos aterros sanitários para redução de GEE. Este número concentra 13% do total de

projetos aprovados em 2013 e representa uma redução de 20% em relação à estimativa de

geração total dos projetos apresentados. Os 43 projetos de “Gás de aterro” somente ficam

atrás dos 77 projetos de Hidroelétricas, que estimam reduzir 37% do total de geração de GEE.

Projetos de Biogás (62) representam 6,8% de redução (BRASIL, 2013).

Em 1997, em Salvador, capital do estado da Bahia, o Aterro Metropolitano Centro

(AMC) foi concebido para minimizar impactos ambientais, e servir como centro de excelência

no que se refere ao tratamento e disposição final de resíduos, culminando na sua inserção no

mercado de MDL. Os gases oriundos da decomposição da matéria orgânica do lixo são

coletados e eliminados por meio de chama (flaring), convertendo dessa forma seu teor em

energia limpa e reduzindo o impacto negativo na atmosfera (Figuras 6.0 e 7.0).

Fonte: Marchi (2011).

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Figuras 6.0. e 7.0. – AMC - Sala Informatizada para Controle dos Gases Gerados

Os demais aterros sanitários do estado da Bahia não vêm seguindo os procedimentos

de qualidade operacional observados no AMC, e essa foi uma das conclusões da pesquisa

realizada pela SEDUR em 2006, que investigava como estava a gestão de alguns aterros

sanitários compartilhados (MARCHI, 2011). Nas recomendações deste estudo foram

propostas cinco ações: planejamento integrado e articulado entre os diversos atores sociais e

institucionais envolvidos; investimento na capacitação técnica e no fortalecimento

institucional, principalmente nas prefeituras de pequeno e médio porte; diálogo e

comunicação permanentes com a população usuária dos serviços; proposição e consolidação

de instrumentos legais que regulamentassem as atividades do setor, e finalmente a da busca de

“mecanismos de financiamento inovadores, criativos e acessíveis, que garantam a auto

sustentabilidade dos sistemas implantados” (BAHIA, 2006:60).

Para investigar se aterros sanitários baianos possuem qualificação mínima para as suas

inserções no processo de solicitação de financiamento e apoio em “mecanismos inovadores,

criativos e acessíveis” de MDL faz-se necessário uma discussão sobre alguns elementos que

estimulem ou restrinjam o acesso deste setor no mercado de crédito de carbono, tomando

como referência nove aterros sanitários compartilhados baianos (incluindo o Aterro

Metropolitano Centro).

4 MÉTODO E PROCEDIMENTOS

A metodologia adotada foi o estudo exploratório. O estudo exploratório teve como

finalidade buscar ampliar o conhecimento sobre o mercado de crédito de carbono, de modo a

garantir familiaridade com o tema e contribuir para a difusão de informações que possam

responder algumas questões sobre a utilização de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo

(MDL) em equipamentos de destinação final de resíduos urbanos e conseqüente preservação

do meio ambiente.

Quanto aos procedimentos, alguns marcos teóricos e dados oficiais foram utilizados.

Conforme o Manual de Operações da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da

Bahia – CONDER (2004), o aterro sanitário é um equipamento projetado para receber e tratar

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o resíduo sólido (lixo) produzido pelos habitantes de uma cidade, com base em estudos de

engenharia, e desta forma, pode reduzir ao máximo os impactos causados ao meio ambiente.

É necessário que um aterro sanitário esteja em perfeitas condições de operação para

ser certificado pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima - CIMGC,

autoridade nacional designada para aprovação de projetos MDL no Brasil. Alguns aterros são

classificados como sanitários, mas na prática muitos se enquadram como controlados ou

lixões, pois não abrigam boas condições de destinação dos resíduos4.

Mello (2004) aponta o tipo de lixo, a quantidade diária de resíduos recebida e

acumulada ao longo do tempo5, a vida útil do aterro, a forma de operacionalização, dentre

outras, como especificidades necessárias para se verificar o potencial de produção de energia

e a quantidade de emissão de GEE associadas aos aterros.

Flint (2007) adverte que existem alguns procedimentos simplificados para projetos

MDL, os “Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo de Pequena Escala”,

recomendados nos Acordos de Marrakech (COP 10), e que prevêem projetos de energia

renováveis menores que 15 MW, ou seja, “Proyectos con actividades de energía renovable

con una capacidad de salida equivalente a un máximo de 15 megawatts (MW)” (FLINT,

2007:8).

Neste estudo foram selecionadas e agrupadas algumas variáveis para análise, tendo

como base o grau de importância de cada uma em relação à restrição ou à possibilidade de

aterros sanitários que as utilizarem entrarem no mercado mundial de crédito de carbono.

Borba (2002) considera que a quantidade de depósito de 200 mil toneladas de resíduos

ao ano em um aterro seria o volume mínimo viável para a produção de energia elétrica. A

vida útil do equipamento é fator determinante para um projeto MDL, visto que geralmente

4 Diferentemente dos aterros sanitários, onde são empregados procedimentos e cuidados de impermeabilização do solo, implantação de sistemas de drenagem eficazes e gerenciamento e monitoramento diários para uma destinação adequada dos resíduos sólidos, em muitas localidades ainda são utilizados aterros controlados, ou lixões. Os aterros controlados geralmente não dispõem de impermeabilização de base, nem sistemas de tratamento de chorume ou de dispersão dos gases gerados, porém utilizam princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os diariamente com uma camada de material inerte. “Lixões” consistem na disposição inadequada dos resíduos em áreas baldias, afastadas da cidade, não lhes dispensando cuidados. 5 No estudo citado foram “priorizados municípios com população mínima de 200 mil habitantes e aterros que tenham um volume de lixo acumulado suficiente para gerar uma potência de pelo menos 300kW de energia elétrica e a produção de biogás por um período mínimo de 10 a 15 anos” (MELLO et al, 2004:117).

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aterros com menos de cinco anos ainda não possuem carga suficiente de gases acumulados

para geração de eletricidade.

Assim, para construir um cenário que indique se os aterros sanitários compartilhados

baianos avaliados estão inseridos em condições favoráveis ou não para projetos MDL, o

presente trabalho foi dividido em quatro etapas. Na primeira foi utilizado o quadro de

avaliação física dos aterros com dados físicos e operacionais dos oito aterros sanitários

compartilhados (MARCHI, 2006).

Para definir a hierarquização das variáveis, optou-se primeiro pela caracterização

geológica, em razão da restrição legal à implantação de aterros sem o mapeamento e

prospecção geofísica da área a ser utilizada. A segunda, a terceira e a quarta variáveis estão

associadas à importância que fatores ambientais representam nos negócios ligados à

mecanismos de desenvolvimento limpos. A última variável (drenagem de gases) é

componente essencial para a captação dos gases produzidos pelo aterro e conseqüente

produção de energia (Quadro 1.0).

Fonte: Dados coletados de Marchi, 2006. Elaboração da autora.

Também foi escolhido o Aterro Metropolitano Centro6, localizado no município de

Salvador, e que já está operando no mercado de crédito de carbono, para servir como

parâmetro indicativo. Esta etapa objetiva evidenciar a situação física atual dos aterros

estudados. 6 Na avaliação do Aterro Metropolitano Centro, que atende a três municípios, Salvador, Simões Filho e Lauro de

Freitas foi utilizado resultados do trabalho de MARCHI (2011).

Quadro 1.0. Avaliação Física dos Aterros

Aterros Caracterização Tratamento Drenagem Lagoa de Drenagem de Geológica Paisagístico Superficial Estabilização Gases

Integrado Ilha Ponta do FerrolhoPorto Seguro/CabráliaSto. Antônio Jesus/D. Mac CostaRecôncavo SulCatu/Mata de S. João/PojucaCamaçari/ Dias D´ÁvilaIlhéus/ UruçucaMetropolitano CentroCritérios de Avaliação

Adequado Regular Inadequado

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No segundo momento uma tabela informativa foi montada com os dados de projeto

dos aterros sanitários da amostra. Esta fase objetiva demonstrar as condições básicas de cada

aterro, como: o início da operação pelo gestor; a população atendida; o custo da obra, a vida

útil, a contribuição estimada de resíduos sólidos e a quantidade anual de disposição do aterro

(V. Tabela 1.0).

Na terceira etapa, foi concebido o Quadro de Fatores Facilitadores e Restritivos com

alguns parâmetros mínimos necessários para a aprovação no sistema de negociação de

certificados ambientais, que está em linha com os princípios subjacentes à Convenção sobre

Mudança Climática. Na quarta e última fase, foi construído, por meio dos dados retirados da

tabela e quadros anteriores, um cenário que demonstra o grau de potencialidades e limitações

de cada aterro estudado junto ao mercado mundial de comercialização de “Créditos

Ambientais”.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este trabalho pretendeu identificar, através de alguns parâmetros, as restrições e as

potencialidades que alguns aterros sanitários compartilhados no estado da Bahia podem

abrigar para se qualificarem junto aos projetos no âmbito do MDL (Quadro 2.0).

Tabela 1.0. Dados de Projetos da Amostra

Início da População Custo Vida Útil Contribuição Quant.Anual Aterros Operação Atendida da Obra (Anos) Estimada Disposição

(ton/dia) (ton/ano)Integrado Ilha 1997 43.782 892.002,08 20 30,0 10.800,0Ponta do Ferrolho 1997 92.197 1.022.850,44 15 95,0 34.200,0Porto Seguro/Cabrália 2000 62.000 1.136.342,79 20 110,0 39.600,0Sto Ant. Jesus/D. M Costa 2000 83.873 1.111.449,45 15 59,9 21.549,6Recôncavo Sul 2001 43.350 1.796.404,64 15 71,6 25.758,0Catu/Mata S.João/Pojuca 2000 78.806 989.977,00 20 48,2 17.352,0Camaçari/ Dias D´Ávila 1995 161.915 1.129.885,92 15 39,8 90.000,0Ilhéus/ Uruçuca 2005 242.450 2.070.342,98 15 134,7 48.476,0Metropolitano Centro 1997 2.209.464 2.317.934,00 20 2250,0 810.000,0

Fonte: Relatório Situação Atual dos Resíduos Sólidos do Estado da Bahia. CONDER: Situação em Março/2004. Elaboração da autora.

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Fonte: Dados coletados de Marchi, 2011; UNFCC, 2010; CEPEA, 2004; Borba, 2002. Elaboração da

autora.

Deve-se ressaltar que a captação do gás destinada a estes projetos deve ser precedida

de uma estimativa técnica bem executada das quantidades emitidas pelo aterro, bem como de

estudos e projetos de engenharia para a implantação dos sistemas.

Partindo-se da metodologia aplicada neste estudo, infere-se que quatro dos oito aterros

estudados: Integrado Ilha, Ponta do Ferrolho, Integrado Porto Seguro/Cabrália e Catú/Mata de

São João/Pojuca, não possuíam potencialidades em 2006 para entrar no mercado de venda de

GEE. Por outro lado, exceto o Metropolitano Centro, que já está neste mercado e serviu como

referência para o estudo, somente o aterro Camaçari/Dias D’Ávila abrigava, ao menos, 50%

das possibilidades propostas para competição no mercado de crédito de carbono. Contudo,

alguns indicadores como vida útil e disposição mínima são fundamentais para a viabilidade do

projeto, concluindo-se assim que este aterro, com as características demonstradas, não possuía

elementos facilitadores para entrar neste mercado (Quadro 3).

Quadro 2.0. Fatores Facilitadores e Restritivos

Referência Variável Fatores Facilitadores ou Restritivos

Caracterização Geológica adequada ou regularCaracterização Geológica inadequada Tratamento Paisagístico adequado ou regular Tratamento Paisagístico inadequado

Situação Física Drenagem superficial adequada ou regular dos Aterros Drenagem superficial inadequada

Lagoa de Estabilização adequada ou regular Lagoa de Estabilização inadequadaDrenagem de gases adequadaDrenagem de gases regular ou inadequada População atendida de mais de 200 mil População atendida de menos de 200 mil

Dados do Vida útil de menos de 5 anosProjeto Vida útil de mais de 5 anos

Quantidade Disposição Mínima = + de 200 ton/ anoQuantidade Disposição Mínima = -

Critérios de Avaliação :Facilitadores

Restritivos

de 200 ton/ ano

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Fonte: Elaboração da Autora

Os aterros compartilhados de Santo Antonio de Jesus/Dom Macedo Costa, Recôncavo

Sul e Ilhéus/Uruçuca, embora apresentem algumas características positivas, não possuem

sequer a metade dos fatores tidos como facilitadores para obtenção de CRE, de acordo com a

metodologia aplicada.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O site do Ministério do Meio Ambiente (MMA) destaca que, dentre os compromissos

assumidos por todas as Partes que compõem o Quadro das Nações Unidas sobre Mudança de

Clima se encontra a promoção do desenvolvimento, da aplicação e da difusão de tecnologias,

práticas e processos que controlem, reduzam ou previnam as emissões antrópicas de gases de

efeito estufa.

Este artigo buscou relacionar conceitos de gestão ambiental e do MDL com a gestão

de aterros sanitários de forma compartilhada, no intuito de identificar elementos facilitadores

e restritivos para utilização de MDL. A despeito de limitações de natureza metodológica, já

que não se pretende produzir sínteses quantitativas, o esforço de construção de uma

metodologia de simples aplicação, baseada em elementos facilitadores ou restritivos,

representa um avanço em relação à publicações anteriores, já que permite, ao menos

preliminarmente, avaliar o potencial que alguns aterros sanitários compartilhados no estado da

Bahia abrigam para se qualificarem junto aos projetos no âmbito do MDL.

Quadro 3.0 Quadro Resumo dos Elementos Facilitadores e Restritivos dos Aterros Estudados

Aterros Caracteriz. Tratam. Drenag. Lagoa de Drenag. Pop. Vida Dispos.Geológica Paisagíst . Superfic. Estabiliz. Gases Atendida Útil Mínima

Integrado IlhaPonta do FerrolhoPorto Seguro / CabráliaSto . Antônio Jesus/ D. M. Costa Recôncavo Sul Catu/ Mata de S . João /Pojuca Camaçari/ Dias D´ÁvilaIlhéus/ UruçucaMetropolitano CentroCritérios de Avaliação

Potencialidades Restrições

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Tendo em conta os resultados da metodologia aplicada, as seguintes considerações

podem ser destacadas:

Na amostra estudada verificou-se que, pelos métodos adotados, os aterros

sanitários compartilhados não atingiram um conjunto de potencialidades requeridas

para iniciar o processo de vendas dos GEE no mercado MDL;

O Aterro Compartilhado Camaçari/ D’Ávila, caso o projeto original permita a

ampliação da vida útil e disposição de dejetos, em 2006 possuía condições técnico-

operacionais satisfatórias para a sua inserção no mercado de crédito de carbono;

O Aterro Compartilhado Ilhéus/Uruçuca, que começou a operar em 2005,

necessitaria de ampliação da quantidade anual de disposição e de melhorias

gerenciais, já que em 2006 possuía uma característica determinante (população

atendida) para alcançar sua adequação aos projetos MDL;

Caracterização Geológica, Drenagem de Gases, População Atendida e Disposição

Mínima são os fatores restritivos mais freqüentes nos aterros da amostra;

A frágil gestão dos aterros sanitários baianos é um importante fator limitante de

entrada neste mercado, reprimindo a captação de novos recursos que poderiam ser

utilizados na melhoria contínua das instalações.

Uma relevante limitação geral deve ser observada, grandes investimentos são

necessários para adaptar um aterro às normas internacionais, entretanto a incerteza quanto à

continuidade futura de vendas de crédito de carbono pode desestimular este mercado.

Considerando que os resultados aqui obtidos não esgotam o assunto, as metodologias

convencionais devem ser aplicadas para a fase que antecede a elaboração de projetos MDL, o

exame da adicionalidade e da linha de base, procedimentos que sinalizam os avanços da

redução de emissão de GEE e o cenário futuro com a implantação do projeto, são passos

iniciais importantes.

Outras fases devem ser observadas, como: a elaboração de um documento base,

denominado Documento de Concepção do Projeto, a validação do projeto efetuada por

entidade credenciada, a obtenção da aprovação do país anfitrião, o registro, a implementação

do projeto, o monitoramento, a verificação e certificação, e a emissão de RCE.

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O propósito deste trabalho foi discutir sobre alguns elementos facilitadores ou

restritivos de acessibilidade de aterros sanitários compartilhados no mercado de crédito de

carbono. Na análise realizada não foram considerados dois fatores chaves: (i) existência de

Licença de Funcionamento para os empreendimentos avaliados; e (ii) análise da possibilidade

prática de fornecimento da energia renovável gerada no processo, tanto no que se refere à

existência de rede de distribuição como de consumidores. Estudos aprofundados devem ser

realizados, no caso de algum gestor dos aterros sanitários tiver interesse em obter CDR.

Este artigo constitui-se em um método de aplicação prática para estudos ambientais

em áreas de aterro sanitário, que objetivem, sobretudo, à avaliação das condições técnicas e

operacionais destes equipamentos públicos no âmbito do MDL.

REFERÊNCIAS

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