Upload
truongkhuong
View
221
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
GESTÃO AMBIENTAL: MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO LIMPO PARA ATERROS SANITÁRIOS
Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi1
RESUMO
O avanço tecnológico proporciona uma produção intensiva de bens variados com ciclo de vida reduzido. O ascendente descarte dos resíduos urbanos tem sido debatido constantemente. A partir do ano 2000 vários aterros sanitários brasileiros começaram a entrar no mercado de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Apesar de existir metodologia já desenvolvida e consistente para a inserção de projetos de aterros sanitários neste mercado, este trabalho busca discutir se oito aterros sanitários baianos possuem a qualificação mínima para as suas inserções, por meio de uma metodologia de simples aplicação baseada em elementos facilitadores ou restritivos para acessibilidade no mercado de crédito de carbono. Conclui-se que é necessária uma estimativa técnica bem executada das quantidades de gases emitidas pelo aterro, bem como estudos e projetos de engenharia para a implantação dos sistemas. A autora sugere alguns elementos que podem ser limitativos ou estimulantes para prosseguir na consecução das diversas etapas pré-definidas para os projetos MDL.
Palavras-chave: Gestão Ambiental. Aterros Sanitários. Mecanismos de Desenvolvimento Limpo.
1 INTRODUÇÃO
O avanço tecnológico proporciona uma produção intensiva de bens variados com ciclo
de vida reduzido. A pressão para a eficiência industrial leva a busca de economia de escala,
que produz semelhanças operacionais significativas entre as organizações produtoras,
reduzindo os preços e atraindo consumidores por produtos cada vez mais descartáveis. O
descarte destes materiais causa uma crescente degradação ao meio ambiente.
O ascendente descarte dos resíduos urbanos tem sido assunto de constantes debates
entre o setor produtivo, o Estado e a sociedade civil organizada, pois cria intensos impactos
ambientais. Uma questão recorrente é: como tratar o crescente descarte final dos resíduos
produzidos pelas organizações e pela sociedade?
1 Professora da Pós Graduação do Mestrado de Planejamento Ambiental da Universidade Católica do Salvador
2
Segundo Coates (1981), desde o final da década de sessenta, a técnica preferida nos
Estados Unidos para o tratamento do lixo urbano é o aterro sanitário. Esse tipo de tratamento
foi impulsionado pelos primeiros movimentos norte-americanos associados aos aspectos da
conservação das matérias primas e do solo. No que tange à conservação, nos Estados Unidos,
a Agencia de Proteção Ambiental – EPA esclarece que os resíduos sólidos urbanos são
mesclados por diversas composições e matérias primas, que possuem valor econômico e
energético. Para esta Agência, cada comunidade deve buscar a melhor forma de gestão dos
seus resíduos, estabelecendo o equilíbrio entre as suas necessidades e a preservação
ambiental, iniciando, preferencialmente, pela redução na fonte. A EPA disponibiliza uma
hierarquia para as ações ligadas à gestão dos resíduos, como pode ser vista na Figura 1.0.
Figura 1.0 – Hierarquia na Gestão de Resíduos Sólidos Fonte: EPA (2015)
Técnicas e processos de conservação e prevenção ambientais, cada vez mais
modernos, estão sendo implementados em vários países. A hierarquia indicada pela EPA é a
mais utilizada, ou seja, iniciar reduzindo na fonte, passando por processos de reciclagem,
compostagem e recuperação energética até chegar à disposição final dos “últimos resíduos”,
aqueles que não podem mais ser utilizados.
Assim, o que não pode ser mais utilizado é destinado aos aterros sanitários. Os
projetos atuais dos aterros franceses estão cada vez mais “ambientalmente corretos”, visando
minimizar as reações da comunidade para a instalação desses equipamentos nos seus
territórios. O Syndicat Mixte des Hauts de Seine pour l'Elimination des Ordures Ménagères
3
(SyCTOM), criado em 1984, presta serviços, de forma regionalizada, de tratamento final para
os resíduos sólidos gerados na aglomeração parisiense, para quase seis milhões de usuários.
Esse sindicato investe milhões de Euros em campanhas visando à redução na fonte e a
consequente diminuição do volume de resíduos não servíveis (ultimes), encaminhado aos
aterros sanitários. Algumas campanhas chamam a atenção pela sua dimensão, um exemplo é a
“E se jogarmos mais?”, localizadas próximas ao tráfego das vias periféricas de Paris, na qual a
estimativa de dois milhões e quatrocentas mil pessoas, que passam de carro, são alcançadas
pelas mensagens (Figura 2.0). Outro exemplo são os cartazes e as bandeiras de campanha, em
pontos de intensa passagem de pedestres, mobilizando os cidadãos a reduzir conjuntamente e
cotidianamente a geração dos seus resíduos (Figura 3.0) (SyCTON, 2013).
Figuras 2.0 e 3.0 – Campanhas promovidas pelo SyCTON (Paris): redução de resíduos
urbanos Fonte: SyCTOM (2013).
Proposições que requerem atitudes conscientes junto à valorização dos resíduos
gerados encontram dificuldades de serem implementadas em países em desenvolvimento. O
modelo de desenvolvimento urbano excludente e predatório continua presente nos serviços de
resíduos sólidos urbanos no Brasil, apesar da promulgação da Política Nacional de Resíduos
4
Sólidos, Lei n. 12.305 de 02 de agosto de 2010, que preconiza que o desenvolvimento da
gestão integrada deve contemplar, além da coleta, a valorização, o tratamento e a disposição
final dos resíduos sólidos. A dificuldade da coleta, transporte, tratamento e destinação correta
dos resíduos industriais, ao lado das punições oriundas da normatização, vêm estimulando o
desenvolvimento de novas tecnologias para apoiar estratégias junto às ações menos poluentes.
O consumidor também tem cobrado uma postura ética e responsável das empresas. A cada
dia, o mercado está mais exigente no que diz respeito às questões ambientais.
As questões ambientais se encontram articuladas com o conceito, trazido pelo
Protocolo de Kyoto, de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que contempla a
redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE) 2 ou de captura de carbono.
A Agência Americana de Proteção Ambiental - EPA dissemina no seu encarte
“Climate Change and Waste Reducing Waste Can Make a Difference” a ligação entre
resíduos gerados e mudança climática e propõe quatro estratégias para “Fazer a Diferença”: 1-
Reduzir o consumo de energia, promovendo a redução e a reciclagem de produtos; 2- Reduzir
a incineração; diminuindo a produção de gases da combustão dos resíduos; 3- Reduzir a
emissão de gás metano pelos aterros sanitários e, 4- Estimular o seqüestro de carbono por
meio do plantio de árvores (EPA, 2015).
Diante de tais alternativas, analisaremos com mais profundidade a terceira. Infere-se
que a presença de resíduos a céu aberto podem se tornar um enorme entrave para a
minimização dos GEE. Por outro lado, a simples captura e queima do metano (CH4)
produzido nos aterros pode contribuir para a diminuição desses gases.
No Brasil, segundo o Sistema Nacional de Informações de Saneamento – Resíduos
Sólidos (2013), do total de 1.196 “lixões” presentes no solo nacional, 668 unidades se
encontravam no Nordeste do Brasil, ou seja, aproximadamente 56% dos resíduos sólidos
urbanos gerados eram descartados no solo, sem nenhum cuidado, sem proteção. Os aterros
2 O Gás de Efeito Estufa - GEE é qualquer gás traço que não absorva a radiação solar direta, mas que absorva a radiação de ondas longas emitidas ou refletidas pela superfície terrestre. Os GEE mais importantes são vapor d’água, dióxido de carbono, óxido nitroso, metano e CFC`s. O metano é vinte vezes mais danoso à atmosfera que o gás carbônico, intensificando os efeitos das mudanças climáticas.
5
controlados representam 6,7% do total e 9,1% se caracteriza como aterro sanitário
convencional (BRASIL, 2014).
Na Bahia, em 2000, os primeiros aterros sanitários compartilhados entre diversos
municípios começaram a dar mostras de falta de sustentabilidade no modelo de gestão (Figura
4.0 e 5.0). Inicialmente, pensou-se que os problemas relativos à gestão dos aterros
implantados estavam ligados ao compartilhamento entre municípios próximos e à falta de um
modelo de integração adequado, mais tarde observou-se que também os aterros sanitários
isolados e os simplificados, implantados desde o final dos anos 90, inclusive com
financiamento internacional, apresentavam problemas semelhantes e necessitavam de
avaliação e melhorias (MARCHI, 2011).
Fonte: Marchi (2011).
Figuras 4.0. e 5.0.– Presença de Catadores e de Animais no Aterro Integrado Ilha
Posteriormente, em 2007, o Ministério do Meio Ambiente disponibilizou recursos para
financiar o Plano de Regionalização da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Estado da
Bahia, por meio do Convênio com o Governo do Estado da Bahia, sob o nº 00002 de
28/12/2007, que teria um prazo de execução de 18 meses. Este prazo foi prorrogado por mais
dezoito meses. Em novembro de 2013, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano - SEDUR
divulgou os resultados deste Relatório, que aponta para soluções tecnológicas potenciais
visando melhorar os impactos causados ao meio ambiente pelo descarte de resíduos sólidos na
6
Bahia. Entretanto, é observado, junto às sugestões potenciais propostas pelo Relatório, a falta
de iniciativas de caráter intersetorial para redução de emissões de GEE, além da ausência de
proposições tecnológicas mais arrojadas. Nenhuma poderia ser classificada como MDL. As
dez sugestões apresentadas foram: 1- encerramento e/ou remediação de aterros; 2-
requalificação e ampliação de aterros sanitários; 3- unidade de compostagem; 4- unidade de
triagem; 5- postos de entrega voluntária de resíduos de construção civil (RCC), volumosos,
reciclagem e podas; 6- área de transbordo e triagem de RCC; 7- aterro de RCC inertes; 8-
aterro sanitário de pequeno porte; 9- aterro sanitário convencional; e, 10- estação de
transbordo (BAHIA, 2012).
Diante do desenho apresentado sobre o descarte de resíduos sólidos na Bahia, parte-se
do pressuposto da necessidade de promover conhecimentos ligados aos MDL e relacioná-los
aos aterros sanitários convencionais compartilhados, que por concentrarem grande volume de
resíduos, podem apresentar potencialidades para entrar no mercado mundial de crédito de
carbono, gerar energia renovável e captar novos recursos para serem utilizados na melhoria
das suas instalações.
Isto posto, o presente estudo tem como objetivo relacionar conceitos da gestão
ambiental e do MDL com aterros sanitários de forma compartilhada e identificar elementos
facilitadores e restritivos para utilização destes mecanismos em aterros localizados no estado
da Bahia.
2 A GESTÃO AMBIENTAL E O MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO
O modelo de produção contemporâneo não coincide com os limites ambientais do
planeta. Assunto presente nos constantes debates entre o setor produtivo, o Estado e a
sociedade civil organizada é o ascendente descarte dos resíduos sólidos urbanos, que gera
consequências ambientais intensas, como emissões de gases de efeito estufa, odores e
contaminação da água e da terra, provocando impactos sobre a vida das pessoas. O
gerenciamento dos resíduos sólidos no mundo é motivo de preocupação e os países buscam,
cada vez mais, o compartilhamento das ações entre o poder local, organizações e a sociedade
civil organizada.
7
A gestão ambiental se tornou uma importante ferramenta estratégica, consoante com
os objetivos do modelo integrado, descentralizado e participativo, de gerir uma organização.
Para Moreno & Pol (1999) a gestão ambiental é aquela que incorpora os valores do
desenvolvimento sustentável na organização social e nas metas corporativas da empresa e da
administração pública. Integra políticas, programas e práticas relativas ao meio ambiente, em
um processo contínuo de melhoria da gestão. Portanto, a gestão ambiental é a forma de gerir
uma organização pública ou privada, sem prejuízos ao meio ambiente.
Para Shigunov et al. (2009), poucos pesquisadores vêm apresentando conceitos claros
relativos à gestão ambiental, voltadas para a perspectiva de atendimento às normas e às leis.
Reis define a gestão ambiental como rotinas e procedimentos que permitem a uma
organização administrar adequadamente as relações entre suas atividades e o meio ambiente,
atendendo às expectativas das partes interessadas; Reis ainda analisa a gestão ambiental,
como dinâmica que objetiva identificar as ações mais adequadas ao atendimento das
imposições aplicáveis às várias fases dos processos organizacionais, desde a geração, até o
descarte final, observando permanentemente os parâmetros legais (REIS, 1996, apud
SHIGUNOV et al., 2009).
Outra definição publicada é a de Moreira, que afirma que para a empresa apresentar
um nível mínimo de gestão ambiental tem que possuir um departamento de meio ambiente
responsável pelas exigências legais e pelas indicações dos meios mais adequados para o
controle do processo (MOREIRA, 2001, apud SHIGUNOV et al., 2009). Conforme Barbieri
(2004) na origem da expressão “Gestão Ambiental” estão as ações governamentais para
enfrentar a escassez de recursos, afirma que com o tempo outras questões estão sendo
incorporadas por outros agentes e com alcances diferentes (BARBIERI, 2004, apud
SHIGUNOV et al., 2009).
Shigunov et al. (2009) desenvolvem a Gestão Ambiental como ação eficaz entre a
organização e o meio ambiente e que trata das atividades da função gerencial que determinam
a Política ambiental, os objetivos e as responsabilidades e os colocam em prática por
intermédio do sistema ambiental, do planejamento ambiental e do controle ambiental.
Atualmente, muitos esforços são realizados na elaboração de normas relativas aos
sistemas de gestão ambiental, auditoria ambiental, rotulagem e outros processos ambientais.
8
Entretanto, esse esforço pode aumentar o custo operacional das organizações. Programas de
gestão ambiental, nos quais as organizações estabelecem e mantêm ações visando atender a
seus objetivos e metas ambientais, são práticas que vêm ganhando espaço nas empresas
públicas e privadas. Esses programas estão em busca da melhoria contínua para as políticas
voltadas para a conservação e proteção das riquezas naturais, da prevenção e do controle da
poluição, da minimização dos resíduos sólidos, do reaproveitamento de materiais recicláveis e
do desenvolvimento de novas tecnologias, que minimizem possíveis impactos no meio
ambiente.
Apesar dos esforços, cada vez são mais frequentes as notícias sobre desastres
ambientais, aquecimento global, redução do volume de água potável e aumento da miséria,
comprometendo o sucesso de sistemas e modelos econômicos convencionais. Os gestores dos
serviços públicos, das organizações privadas e a sociedade civil são chamados a esse debate,
para que contribuam com as transformações requeridas, construindo novos caminhos em
direção a modelos que possam contemplar as demandas da sociedade e do Estado. Gestores
demonstram preocupações não só com a resolução dos problemas ambientais em benefício
das suas organizações, mas também com a mudança de clima e com a mitigação da
degradação das riquezas naturais.
A proposta é alargar a perspectiva atual, compreender o caminho trilhado, na busca da
incorporação da gestão ambiental de forma ampliada, que a associa não só às regras, normas,
leis, mas também, ao reconhecimento de que os problemas ecológicos no mundo não podem
ser entendidos isoladamente. Eles devem ser tratados de forma interligada e interdependente,
requerendo para a sua compreensão e solução um novo tipo de comportamento ecológico.
Nessa direção, emerge um regulamento europeu que traduz a co-participação entre
organizações, governos e comunidade: o Regulamento do Conselho das Comunidades
Européias (CEE) de número 1836/93, tendo sido adotado em junho de 1993. Esta normativa
possibilita a participação voluntária das empresas do setor industrial num sistema comunitário
de ecogestão e auditoria, objetiva melhorar o desempenho ambiental, buscar a conformidade
das ações empresariais com a legislação ambiental e, comunicar ao público os resultados
ambientais alcançados no cenário das organizações européias. Está aberta à participação
voluntária das empresas desde abril de 1995, e se encontra em constante revisão, buscando a
9
integração do seu conteúdo com outros instrumentos, normas e políticas, como a International
Organization for Standardization (ISO 14001), o Responsible Care Program, o Modelo
Winter, a Coalision for Environmentally Responsible Economies (CERES), o Strategies for
Today’s Environmental Partnership (STEP), dentre outras. As organizações que participam
desse Sistema recebem atestados e os seus nomes são divulgados no Jornal Oficial da União
Européia. O público é informado do comportamento ambiental, a fim de exercer controle
social sobre as atividades da organização. Esse regulamento é chamado de Ecogerenciamento.
Orbach e Liedtke (1998) definem Ecogerenciamento como a gestão voltada para
integrar as questões ambientais no processo decisório. Para esses autores, é uma área
emergente, de grande importância para empresas comprometidas com seu ambiente ecológico
e que inserem a variável ambiental nas suas atividades. Classificam essa definição em quatro
abordagens, que diferem de acordo com as limitações impostas na sua aplicação: a econômica
restrita, a econômica ampla, a ecológica restrita, além da econômica e ecológica integradas.
Seu ponto de partida é uma mudança de valores na cultura organizacional.
O Ecogerenciamento sugere práticas de gestão que diminuam os impactos negativos
ocasionados pela organização, em contraste com a simples adesão às normas e às regulações
impostas pelo mercado ou pelo Estado. O Ecogerenciamento se baseia em uma visão
ecológica, em uma acepção mais ampla e profunda do que as descritas nos regulamentos dos
Sistemas de Gestão Ambiental (SGA3).
A coletânea de textos organizada por Callenbach (2000) propõe que as organizações
identifiquem o que pode ser feito a fim de reduzir os impactos das suas operações junto ao
meio ambiente. Os autores dos textos recomendam a sistematização de prioridades e a criação
de uma estratégia de ação, para que melhorias ambientais sejam implementadas. É uma nova
forma de agir, que não se subordina às ações defensivas ou reativas. Seria um comportamento
ativo e criativo junto ao seu entorno.
Está-se falando, portanto, de um valor e de práticas que pressupõem a potencialização
da definição do conceito de gestão ambiental. Essa definição não é só voltada para a
3 SGA - segundo a NBR ISO 14.001 o SGA é parte do sistema da gestão que compreende a estrutura
organizacional, as responsabilidades, as práticas, os procedimentos, os processos e os recursos para aplicar,
elaborar, revisar e manter uma política ambiental.
10
preocupação do atendimento legal, mas, sobretudo, para a incorporação de variáveis
ecológicas e ambientais, que ainda não estejam institucionalizadas no processo gerencial.
Assim, ações relacionadas aos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo - MDL, que resultam
em melhoria do bem-estar humano e equidade social com redução de riscos ambientais, e
ações que vêm sendo desenvolvidas nas esferas local, estadual e federal relativas ao
saneamento básico, que buscam a universalização e a equidade de distribuição dos serviços,
são interdependentes e se interconectam em diferentes aspectos, incentivando políticas
públicas que garantam o bem-estar geral com o propósito fundamental de avançar no
desenvolvimento humano.
3 INTERAÇÕES ENTRE MDL E ATERROS SANITÁRIOS
Em 1992, no Rio de Janeiro foi realizada a primeira Cúpula da Terra (Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente), a Rio-92. Nesta Conferência foram reunidos chefes de
estado e representantes da sociedade civil organizada de muitas nações a fim de discutir
medidas de proteção ao meio ambiente e de alcance ao desenvolvimento socioeconômico.
Neste evento foi criada a Convenção sobre Mudança Climática, que entrou em vigor
em março de 1994, para discutir formas de lidar com o aquecimento global e suas
conseqüências. Em 1995, no primeiro encontro da Conferência das Partes da Convenção
sobre Mudanças Climáticas (COP 1) decidiu-se iniciar uma rodada de debates com programas
mais práticos e metas mais definidas. O resultado foi o lançamento, pelos 59 países presentes,
do Protocolo de Kyoto, em 1997, na COP 3. Em constante transformação, este Protocolo só
foi assinado em 2005 por 141 países, transformando-se em Tratado de Kyoto, que previu aos
países signatários, até 2012, a redução das emissões de gases poluentes a níveis 5% abaixo
dos índices de 1990.
Depois de muitas reuniões, em dezembro de 2014, na cidade de Lima, Peru, houve
uma nova Conferência sobre Mudanças Climáticas, à de número 20, chegando a 195 países
signatários. Entretanto, intensas discussões ainda são travadas para estabelecer uma forma
consensual para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Dentro do texto base
do Tratado de Kyoto, se encontram alguns mecanismos importantes, como:
11
•Comércio de Emissões (CE) (Emissions Trading -ET ou Allwances). Trata-se
do comércio direto de créditos de carbono entre países industrializados,
responsáveis pelas maiores emissões - onde são distribuídas cotas ou permissões
de emissão que podem ser comercializadas. Assim, países ou empresas que
emitam abaixo de suas cotas podem vender as cotas não utilizadas para outros.
•Implementação Conjunta (IC) (Joint Implementation-JT). Trata-se da
geração de créditos de carbono por meio de projetos que absorvam ou reduzam
GEE. Dessa forma, países do Anexo I podem adquirir, de outros países do Anexo
I, Unidades de Redução de Emissões, provenientes de projetos destinados a
diminuir as emissões do GEE.
•Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) (Clean Development
Mechanism-CDM). Trata-se da geração de créditos de carbono por meio de
projetos que absorvam ou reduzam GEE desenvolvidos em países não
pertencentes ao Anexo I. Para cumprir parcialmente suas metas, países do Anexo I
podem comprar Reduções Certificadas de Emissões (Certified Emissions
Reduction - CER), obtidos por meio de melhoramento tecnológico para evitar ou
minimizar as emissões dos GEE. O CER é título comercializável no mercado
financeiro internacional ou diretamente entre empresas (CUOCO et al, 2006).
No Brasil, o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) é um sistema
voltado para as oportunidades de negócios com países desenvolvidos, que buscam promover a
redução do GEE fora de seu território, ou seja, comprando no mercado a CER. Esta é uma
iniciativa conjunta da Bolsa Mercantil & Futuro - BM&F e do Governo federal, coordenado
pela Secretaria de Política Econômica (SPE/MF) e integrado por representantes do Ministério
do Meio Ambiente (MMA), Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC),
Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério das Relações Exteriores (MCTI),
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e Casa Civil.
O Banco de Projetos Bolsa Mercantil e de Valores - BM&FBOVESPA é um sistema
que foi desenvolvido pela Bolsa para registrar os projetos validados por Entidades
Operacionais Designadas pela ONU, e também recebe Intenções de Projetos, ou seja, projetos
parcialmente estruturados para atingir condição futura de validação no âmbito do MDL. A
12
responsável oficial pela avaliação dos projetos de MDL é a Comissão Interministerial de
Mudanças Globais de Clima (CIMGC). Neste sistema vários projetos de redução de gás
metano de aterros sanitários brasileiros encontram um canal de divulgação, interação e
captação de recursos com investidores estrangeiros interessados em adquirir créditos de
carbono.
A importância de projetos ligados à captação de gases de efeito estufa gerados pelos
aterros sanitários pode ser entendida pela alta redução que este MDL representa no impacto
de mudança climática. Em 2013, a compilação realizada pelo Ministério de Ciência
Tecnologia e Inovação, divulgada pelo estudo intitulado “Status dos projetos do Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil”, apresenta quarenta e três projetos de MDL
ligados aos aterros sanitários para redução de GEE. Este número concentra 13% do total de
projetos aprovados em 2013 e representa uma redução de 20% em relação à estimativa de
geração total dos projetos apresentados. Os 43 projetos de “Gás de aterro” somente ficam
atrás dos 77 projetos de Hidroelétricas, que estimam reduzir 37% do total de geração de GEE.
Projetos de Biogás (62) representam 6,8% de redução (BRASIL, 2013).
Em 1997, em Salvador, capital do estado da Bahia, o Aterro Metropolitano Centro
(AMC) foi concebido para minimizar impactos ambientais, e servir como centro de excelência
no que se refere ao tratamento e disposição final de resíduos, culminando na sua inserção no
mercado de MDL. Os gases oriundos da decomposição da matéria orgânica do lixo são
coletados e eliminados por meio de chama (flaring), convertendo dessa forma seu teor em
energia limpa e reduzindo o impacto negativo na atmosfera (Figuras 6.0 e 7.0).
Fonte: Marchi (2011).
13
Figuras 6.0. e 7.0. – AMC - Sala Informatizada para Controle dos Gases Gerados
Os demais aterros sanitários do estado da Bahia não vêm seguindo os procedimentos
de qualidade operacional observados no AMC, e essa foi uma das conclusões da pesquisa
realizada pela SEDUR em 2006, que investigava como estava a gestão de alguns aterros
sanitários compartilhados (MARCHI, 2011). Nas recomendações deste estudo foram
propostas cinco ações: planejamento integrado e articulado entre os diversos atores sociais e
institucionais envolvidos; investimento na capacitação técnica e no fortalecimento
institucional, principalmente nas prefeituras de pequeno e médio porte; diálogo e
comunicação permanentes com a população usuária dos serviços; proposição e consolidação
de instrumentos legais que regulamentassem as atividades do setor, e finalmente a da busca de
“mecanismos de financiamento inovadores, criativos e acessíveis, que garantam a auto
sustentabilidade dos sistemas implantados” (BAHIA, 2006:60).
Para investigar se aterros sanitários baianos possuem qualificação mínima para as suas
inserções no processo de solicitação de financiamento e apoio em “mecanismos inovadores,
criativos e acessíveis” de MDL faz-se necessário uma discussão sobre alguns elementos que
estimulem ou restrinjam o acesso deste setor no mercado de crédito de carbono, tomando
como referência nove aterros sanitários compartilhados baianos (incluindo o Aterro
Metropolitano Centro).
4 MÉTODO E PROCEDIMENTOS
A metodologia adotada foi o estudo exploratório. O estudo exploratório teve como
finalidade buscar ampliar o conhecimento sobre o mercado de crédito de carbono, de modo a
garantir familiaridade com o tema e contribuir para a difusão de informações que possam
responder algumas questões sobre a utilização de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo
(MDL) em equipamentos de destinação final de resíduos urbanos e conseqüente preservação
do meio ambiente.
Quanto aos procedimentos, alguns marcos teóricos e dados oficiais foram utilizados.
Conforme o Manual de Operações da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da
Bahia – CONDER (2004), o aterro sanitário é um equipamento projetado para receber e tratar
14
o resíduo sólido (lixo) produzido pelos habitantes de uma cidade, com base em estudos de
engenharia, e desta forma, pode reduzir ao máximo os impactos causados ao meio ambiente.
É necessário que um aterro sanitário esteja em perfeitas condições de operação para
ser certificado pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima - CIMGC,
autoridade nacional designada para aprovação de projetos MDL no Brasil. Alguns aterros são
classificados como sanitários, mas na prática muitos se enquadram como controlados ou
lixões, pois não abrigam boas condições de destinação dos resíduos4.
Mello (2004) aponta o tipo de lixo, a quantidade diária de resíduos recebida e
acumulada ao longo do tempo5, a vida útil do aterro, a forma de operacionalização, dentre
outras, como especificidades necessárias para se verificar o potencial de produção de energia
e a quantidade de emissão de GEE associadas aos aterros.
Flint (2007) adverte que existem alguns procedimentos simplificados para projetos
MDL, os “Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo de Pequena Escala”,
recomendados nos Acordos de Marrakech (COP 10), e que prevêem projetos de energia
renováveis menores que 15 MW, ou seja, “Proyectos con actividades de energía renovable
con una capacidad de salida equivalente a un máximo de 15 megawatts (MW)” (FLINT,
2007:8).
Neste estudo foram selecionadas e agrupadas algumas variáveis para análise, tendo
como base o grau de importância de cada uma em relação à restrição ou à possibilidade de
aterros sanitários que as utilizarem entrarem no mercado mundial de crédito de carbono.
Borba (2002) considera que a quantidade de depósito de 200 mil toneladas de resíduos
ao ano em um aterro seria o volume mínimo viável para a produção de energia elétrica. A
vida útil do equipamento é fator determinante para um projeto MDL, visto que geralmente
4 Diferentemente dos aterros sanitários, onde são empregados procedimentos e cuidados de impermeabilização do solo, implantação de sistemas de drenagem eficazes e gerenciamento e monitoramento diários para uma destinação adequada dos resíduos sólidos, em muitas localidades ainda são utilizados aterros controlados, ou lixões. Os aterros controlados geralmente não dispõem de impermeabilização de base, nem sistemas de tratamento de chorume ou de dispersão dos gases gerados, porém utilizam princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os diariamente com uma camada de material inerte. “Lixões” consistem na disposição inadequada dos resíduos em áreas baldias, afastadas da cidade, não lhes dispensando cuidados. 5 No estudo citado foram “priorizados municípios com população mínima de 200 mil habitantes e aterros que tenham um volume de lixo acumulado suficiente para gerar uma potência de pelo menos 300kW de energia elétrica e a produção de biogás por um período mínimo de 10 a 15 anos” (MELLO et al, 2004:117).
15
aterros com menos de cinco anos ainda não possuem carga suficiente de gases acumulados
para geração de eletricidade.
Assim, para construir um cenário que indique se os aterros sanitários compartilhados
baianos avaliados estão inseridos em condições favoráveis ou não para projetos MDL, o
presente trabalho foi dividido em quatro etapas. Na primeira foi utilizado o quadro de
avaliação física dos aterros com dados físicos e operacionais dos oito aterros sanitários
compartilhados (MARCHI, 2006).
Para definir a hierarquização das variáveis, optou-se primeiro pela caracterização
geológica, em razão da restrição legal à implantação de aterros sem o mapeamento e
prospecção geofísica da área a ser utilizada. A segunda, a terceira e a quarta variáveis estão
associadas à importância que fatores ambientais representam nos negócios ligados à
mecanismos de desenvolvimento limpos. A última variável (drenagem de gases) é
componente essencial para a captação dos gases produzidos pelo aterro e conseqüente
produção de energia (Quadro 1.0).
Fonte: Dados coletados de Marchi, 2006. Elaboração da autora.
Também foi escolhido o Aterro Metropolitano Centro6, localizado no município de
Salvador, e que já está operando no mercado de crédito de carbono, para servir como
parâmetro indicativo. Esta etapa objetiva evidenciar a situação física atual dos aterros
estudados. 6 Na avaliação do Aterro Metropolitano Centro, que atende a três municípios, Salvador, Simões Filho e Lauro de
Freitas foi utilizado resultados do trabalho de MARCHI (2011).
Quadro 1.0. Avaliação Física dos Aterros
Aterros Caracterização Tratamento Drenagem Lagoa de Drenagem de Geológica Paisagístico Superficial Estabilização Gases
Integrado Ilha Ponta do FerrolhoPorto Seguro/CabráliaSto. Antônio Jesus/D. Mac CostaRecôncavo SulCatu/Mata de S. João/PojucaCamaçari/ Dias D´ÁvilaIlhéus/ UruçucaMetropolitano CentroCritérios de Avaliação
Adequado Regular Inadequado
16
No segundo momento uma tabela informativa foi montada com os dados de projeto
dos aterros sanitários da amostra. Esta fase objetiva demonstrar as condições básicas de cada
aterro, como: o início da operação pelo gestor; a população atendida; o custo da obra, a vida
útil, a contribuição estimada de resíduos sólidos e a quantidade anual de disposição do aterro
(V. Tabela 1.0).
Na terceira etapa, foi concebido o Quadro de Fatores Facilitadores e Restritivos com
alguns parâmetros mínimos necessários para a aprovação no sistema de negociação de
certificados ambientais, que está em linha com os princípios subjacentes à Convenção sobre
Mudança Climática. Na quarta e última fase, foi construído, por meio dos dados retirados da
tabela e quadros anteriores, um cenário que demonstra o grau de potencialidades e limitações
de cada aterro estudado junto ao mercado mundial de comercialização de “Créditos
Ambientais”.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este trabalho pretendeu identificar, através de alguns parâmetros, as restrições e as
potencialidades que alguns aterros sanitários compartilhados no estado da Bahia podem
abrigar para se qualificarem junto aos projetos no âmbito do MDL (Quadro 2.0).
Tabela 1.0. Dados de Projetos da Amostra
Início da População Custo Vida Útil Contribuição Quant.Anual Aterros Operação Atendida da Obra (Anos) Estimada Disposição
(ton/dia) (ton/ano)Integrado Ilha 1997 43.782 892.002,08 20 30,0 10.800,0Ponta do Ferrolho 1997 92.197 1.022.850,44 15 95,0 34.200,0Porto Seguro/Cabrália 2000 62.000 1.136.342,79 20 110,0 39.600,0Sto Ant. Jesus/D. M Costa 2000 83.873 1.111.449,45 15 59,9 21.549,6Recôncavo Sul 2001 43.350 1.796.404,64 15 71,6 25.758,0Catu/Mata S.João/Pojuca 2000 78.806 989.977,00 20 48,2 17.352,0Camaçari/ Dias D´Ávila 1995 161.915 1.129.885,92 15 39,8 90.000,0Ilhéus/ Uruçuca 2005 242.450 2.070.342,98 15 134,7 48.476,0Metropolitano Centro 1997 2.209.464 2.317.934,00 20 2250,0 810.000,0
Fonte: Relatório Situação Atual dos Resíduos Sólidos do Estado da Bahia. CONDER: Situação em Março/2004. Elaboração da autora.
17
Fonte: Dados coletados de Marchi, 2011; UNFCC, 2010; CEPEA, 2004; Borba, 2002. Elaboração da
autora.
Deve-se ressaltar que a captação do gás destinada a estes projetos deve ser precedida
de uma estimativa técnica bem executada das quantidades emitidas pelo aterro, bem como de
estudos e projetos de engenharia para a implantação dos sistemas.
Partindo-se da metodologia aplicada neste estudo, infere-se que quatro dos oito aterros
estudados: Integrado Ilha, Ponta do Ferrolho, Integrado Porto Seguro/Cabrália e Catú/Mata de
São João/Pojuca, não possuíam potencialidades em 2006 para entrar no mercado de venda de
GEE. Por outro lado, exceto o Metropolitano Centro, que já está neste mercado e serviu como
referência para o estudo, somente o aterro Camaçari/Dias D’Ávila abrigava, ao menos, 50%
das possibilidades propostas para competição no mercado de crédito de carbono. Contudo,
alguns indicadores como vida útil e disposição mínima são fundamentais para a viabilidade do
projeto, concluindo-se assim que este aterro, com as características demonstradas, não possuía
elementos facilitadores para entrar neste mercado (Quadro 3).
Quadro 2.0. Fatores Facilitadores e Restritivos
Referência Variável Fatores Facilitadores ou Restritivos
Caracterização Geológica adequada ou regularCaracterização Geológica inadequada Tratamento Paisagístico adequado ou regular Tratamento Paisagístico inadequado
Situação Física Drenagem superficial adequada ou regular dos Aterros Drenagem superficial inadequada
Lagoa de Estabilização adequada ou regular Lagoa de Estabilização inadequadaDrenagem de gases adequadaDrenagem de gases regular ou inadequada População atendida de mais de 200 mil População atendida de menos de 200 mil
Dados do Vida útil de menos de 5 anosProjeto Vida útil de mais de 5 anos
Quantidade Disposição Mínima = + de 200 ton/ anoQuantidade Disposição Mínima = -
Critérios de Avaliação :Facilitadores
Restritivos
de 200 ton/ ano
18
Fonte: Elaboração da Autora
Os aterros compartilhados de Santo Antonio de Jesus/Dom Macedo Costa, Recôncavo
Sul e Ilhéus/Uruçuca, embora apresentem algumas características positivas, não possuem
sequer a metade dos fatores tidos como facilitadores para obtenção de CRE, de acordo com a
metodologia aplicada.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O site do Ministério do Meio Ambiente (MMA) destaca que, dentre os compromissos
assumidos por todas as Partes que compõem o Quadro das Nações Unidas sobre Mudança de
Clima se encontra a promoção do desenvolvimento, da aplicação e da difusão de tecnologias,
práticas e processos que controlem, reduzam ou previnam as emissões antrópicas de gases de
efeito estufa.
Este artigo buscou relacionar conceitos de gestão ambiental e do MDL com a gestão
de aterros sanitários de forma compartilhada, no intuito de identificar elementos facilitadores
e restritivos para utilização de MDL. A despeito de limitações de natureza metodológica, já
que não se pretende produzir sínteses quantitativas, o esforço de construção de uma
metodologia de simples aplicação, baseada em elementos facilitadores ou restritivos,
representa um avanço em relação à publicações anteriores, já que permite, ao menos
preliminarmente, avaliar o potencial que alguns aterros sanitários compartilhados no estado da
Bahia abrigam para se qualificarem junto aos projetos no âmbito do MDL.
Quadro 3.0 Quadro Resumo dos Elementos Facilitadores e Restritivos dos Aterros Estudados
Aterros Caracteriz. Tratam. Drenag. Lagoa de Drenag. Pop. Vida Dispos.Geológica Paisagíst . Superfic. Estabiliz. Gases Atendida Útil Mínima
Integrado IlhaPonta do FerrolhoPorto Seguro / CabráliaSto . Antônio Jesus/ D. M. Costa Recôncavo Sul Catu/ Mata de S . João /Pojuca Camaçari/ Dias D´ÁvilaIlhéus/ UruçucaMetropolitano CentroCritérios de Avaliação
Potencialidades Restrições
19
Tendo em conta os resultados da metodologia aplicada, as seguintes considerações
podem ser destacadas:
Na amostra estudada verificou-se que, pelos métodos adotados, os aterros
sanitários compartilhados não atingiram um conjunto de potencialidades requeridas
para iniciar o processo de vendas dos GEE no mercado MDL;
O Aterro Compartilhado Camaçari/ D’Ávila, caso o projeto original permita a
ampliação da vida útil e disposição de dejetos, em 2006 possuía condições técnico-
operacionais satisfatórias para a sua inserção no mercado de crédito de carbono;
O Aterro Compartilhado Ilhéus/Uruçuca, que começou a operar em 2005,
necessitaria de ampliação da quantidade anual de disposição e de melhorias
gerenciais, já que em 2006 possuía uma característica determinante (população
atendida) para alcançar sua adequação aos projetos MDL;
Caracterização Geológica, Drenagem de Gases, População Atendida e Disposição
Mínima são os fatores restritivos mais freqüentes nos aterros da amostra;
A frágil gestão dos aterros sanitários baianos é um importante fator limitante de
entrada neste mercado, reprimindo a captação de novos recursos que poderiam ser
utilizados na melhoria contínua das instalações.
Uma relevante limitação geral deve ser observada, grandes investimentos são
necessários para adaptar um aterro às normas internacionais, entretanto a incerteza quanto à
continuidade futura de vendas de crédito de carbono pode desestimular este mercado.
Considerando que os resultados aqui obtidos não esgotam o assunto, as metodologias
convencionais devem ser aplicadas para a fase que antecede a elaboração de projetos MDL, o
exame da adicionalidade e da linha de base, procedimentos que sinalizam os avanços da
redução de emissão de GEE e o cenário futuro com a implantação do projeto, são passos
iniciais importantes.
Outras fases devem ser observadas, como: a elaboração de um documento base,
denominado Documento de Concepção do Projeto, a validação do projeto efetuada por
entidade credenciada, a obtenção da aprovação do país anfitrião, o registro, a implementação
do projeto, o monitoramento, a verificação e certificação, e a emissão de RCE.
20
O propósito deste trabalho foi discutir sobre alguns elementos facilitadores ou
restritivos de acessibilidade de aterros sanitários compartilhados no mercado de crédito de
carbono. Na análise realizada não foram considerados dois fatores chaves: (i) existência de
Licença de Funcionamento para os empreendimentos avaliados; e (ii) análise da possibilidade
prática de fornecimento da energia renovável gerada no processo, tanto no que se refere à
existência de rede de distribuição como de consumidores. Estudos aprofundados devem ser
realizados, no caso de algum gestor dos aterros sanitários tiver interesse em obter CDR.
Este artigo constitui-se em um método de aplicação prática para estudos ambientais
em áreas de aterro sanitário, que objetivem, sobretudo, à avaliação das condições técnicas e
operacionais destes equipamentos públicos no âmbito do MDL.
REFERÊNCIAS
BAHIA. Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia - CONDER. Relatório Situação Atual dos Resíduos Sólidos do Estado da Bahia. CONDER: Março/2004. 21 p. Mimeo. BAHIA. Secretaria de Desenvolvimento Urbano - SEDUR. Relatório da Situação Gerencial dos Aterros do Estado da Bahia. Abril 2006. 64p. Mimeo. BAHIA. Secretaria de Desenvolvimento Urbano - SEDUR. Plano de regionalização da gestão integrada de resíduos sólidos do estado da Bahia. Relatório 2. vol 1. Memorial descritivo. Dez. 2012. 457p. Mimeo. BRASIL. Lei n. 12.305 – 02 ago de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm Acesso em 06/02/2015. _____. Ministério de Ciência e Tecnologia. Status dos projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil. Disponível em: http://www.mct.gov.br/upd_blob/0235/235385.pdf Acesso em 05 Mai. de 2015. ______. Ministério do Meio Ambiente. Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Disponível em: http://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas Acesso em 06 Fev. 2015 ______. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos – 2013. Brasília: MCidades. SNSA, 2014.
21
BORBA, Mário. O uso de resíduos sólidos municipais para produzir energia. In: Cadernos da Fundação Luis Eduardo Magalhães. Energia: Novos Cenários. Salvador: s.n, 2002. p.127-134. (Cadernos FLEM, 3). CALLENBACH, E. (Org.) EcoManagement: the Elmwood guide to Ecological Auditing and Sustainable Business. Berkeley: Elmwood Institute, 2000. ISBN13: 9781881052272. CHICAGO CLIMATE EXCHANGE - CCX. Goals of CCX. Disponível em: http://www.chicagoclimateexchange.com/content.jsf?id=821 Acesso em 24 Jan. 2014. COATES, Donald R. Environmental Geology. New York: Ed.John Wiley & Sons, 1981 CUOCO, L. A., TOSSINI, M.C. e VENTURA, E. F. Carbono Social: Desenvolvimento Sustentável via Mecanismo e Desenvolvimento Limpo? In: 30 Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, 2006, Salvador. 30 EnANPAD, 2006. Anais. EPA - UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Non-Hazardous Waste Management Hierarchy. Disponível em: http://www.epa.gov/waste/nonhaz/municipal/hierarchy.htm. Acesso em 11 Mai. 2014. _____. Climate Change and Waste. Reducing WasteCan Make a Difference. Disponível em: http://www.epa.gov/epawaste/nonhaz/municipal/pubs/ghg/climfold.pdf. Acesso em: 12 mar. 2014. FLINT Shannon. Mecanismo de Desarrollo Limpio – Identificatión de Proyecto. Proyecto Ambiental AIDIS-CANADA Carbon and Energy Management. Alberta Research Council. Canadá. Disponível em: www.aidis.org.br Acesso em 06 Out. 2014. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991. MARCHI, Cristina M. Dacach F. Gestão de Resíduos Sólidos: um Caso nos Pequenos e Médios Municípios Baianos. In: 30 Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, 2006, Salvador. 30 EnANPAD, 2006. Anais. _____. Ecogerenciamento: Aspectos das Características Geológicas e de Gestão na Construção de um Modelo para Instalação de Aterros Sanitários no Estado da Bahia. 2011. Tese (Doutorado em Geologia) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011. MELLO, Pedro Carvalho (coordenador) et al. Estudo do potencial de geração de energia renovável proveniente dos “aterros sanitários” nas regiões metropolitanas e grandes cidades do Brasil. Piracicaba: CEPEA & FEALQ, 2004 MORENO, E.; & POL, E. Nociones psicosociales para la intervención y la gestión ambiental. Barcelona: Publicacions Universitat de Barcelona, 1999.
22
ORBACH , T.; LIEDTKE, C. Eco-Management Accounting in Germany Concepts and practical Implementation. Final Report for the Project: “Management Accounting and Environmental Management: Towards the Sustainable Enterprise“.Sponsored by the Nederlandse Organisatie voor Wetenschappelijk Onderzoek NOW. Nr. 88. November 1998; ISSN 0949-5266. SHIGUNOV N. A.; CAMPOS, L. M. S.; SHIGUNOV, T. Fundamentos da Gestão Ambiental. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2009 SyCTON - SYNDICAT INTERCOMMUNAL TRAITEMENT DES ORDURES MENAGERES L’AGGLOMERATION PARISIENNE. 3ème Comité de pilotage du plan Métropole Prévention Déchets 2010-2014 Bilan et perspectives des actions menées en 2012. 15 janvier 2013 Disponível em: http://www.syctom-paris.fr/pdf/preventiondechet/reunion15janvier2013/Copilmdp15012013.pdf. Acesso em 11 Out. 2014. UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON CLIMATE CHANGE - UNFCC. Framework Convention onClimate Change Distr.: General 3 November 2010 Original: English. Disponível em http://unfccc.int/resource/docs/2010/cmp6/eng/10.pdf Acesso em 02 Abr.2015.