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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 1 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ João S. Furtado [email protected] site em parceria com Teclim www.teclim.ufba.br/jsfurtado Gestão com responsabilidade socioambiental Desenvolvimento sustentável & comunidade São Paulo - Março 2003

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 1 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

João S. Furtado [email protected] site em parceria com Teclim www.teclim.ufba.br/jsfurtado

Gestão com responsabilidade socioambiental • Desenvolvimento sustentável

& comunidade

São Paulo - Março 2003

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 2 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Gestão com responsabilidade socioambiental reúne textos de livre acesso e uso, para organizações e pessoas interessadas em Responsabilidade Socioambiental (RSA), do ponto de vista da produção e consumo de bens e serviços sustentáveis. Por simplicidade, os temas poderão ser referidos como capítulos, mas são blocos independentes e não numerados, que poderão receber revisões, inclusões ou reordenações.

Temas abordados

Visão e motivações & Gestão e planejamento socioambiental estratégico

Desenvolvimento Sustentável & comunidade

Indicadores de sustentabilidade & de ecoeficiência

A empresa e a sociedade

Princípios de RSA, Códigos de conduta & Capacitação para RSA

Ferramentas e tecnologias socioambientais

Temas e ações com RSA

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Desenvolvimento sustentável & comunidade

1. Crescimento e desenvolvimento

O foco principal da economia criada pelo homem consiste no acesso a bens e serviços (utilidades), criados pela natureza ou oferecidos pelo sistema industrial. Neste sentido, é necessário estabelecer dois entendimentos básicos:

• crescimento econômico significa o acesso e acumulação de materiais físicos e financeiros, em termos quantitativos, ao passo que

• desenvolvimento econômico representa o acesso a bens e condições em bases qualitativas medido por índices de eficiência.

A integração das dimensões social e ambiental à econômica faz com que a medição do desenvolvimento deva ser feita com base em índices de ecoeficiência na gestão dos recursos naturais e na produção de bens e serviços.

Nestas condições, o conceito de riqueza real da comunidade ultrapassa o entendimento de crescimento econômico. Por conseqüência, requer a inclusão das coisas que as pessoas valorizam, tais como: emprego, educação, acesso à informação, saúde, segurança, liberdade, direito de escolha, qualidade social e ambiental, participação, laser e equidade.

A riqueza da pessoa é representada pelo acesso individual aos bens e serviços e a riqueza da nação definida pela totalidade dos serviços acessíveis à sua população1.

Crescimento e desenvolvimento – no sentido geral – ficam na dependência de direcionadores representados por: população, globalização, ambiente, economia, tecnologia e governança. São elementos intimamente relacionados a forças representadas por valores e necessidades, conhecimento e entendimento, estruturas de poder e cultura.

Em conjunto, crescimento e desenvolvimento determinam o destino da humanidade e servem para a busca respostas a questões fundamentais como: onde estamos; para onde estamos indo; onde pretendemos chegar; e como chegaremos lá.

A visão de curto prazo (aqui e agora) faz parte da cultura das pessoas e da maioria das organizações. Expectativas de médio termo (5 a 10 anos) são componentes de práticas de planejamento (nem sempre estratégico) de organizações mais diferenciadas, ao passo que os exercícios mais distantes (20-50 anos) são praticados, entre outros, por acadêmicos de grupos, agências multilaterais e ONGs Organizações Não Governamentais com interesses globais.

A história biológica de 40.000 anos da espécie humana atual (o Homo sapiens) contém muitas lacunas a serem desvendadas. Especialmente os aspectos sociais e econômicos relacionados a evidências deixadas pelos parentes humanos mais próximos, de 2-1,8

1 Schmidt-Bleek, F. & col. 1999. A report by the The Factor 10 Club. Chapter I. Factor 10: making sustainability accountable. Putting resource productivity into praxis. 67 pp. www.factor10-institute.org

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 4 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

milhões de anos atrás, que viviam na África e Ásia (o Homo erectus) ou de 200-180 mil, pelos que habitavam a Europa (o Homo neandertalis).

Os eventos mais destacados, na evolução humana, foram mudanças de biótipo, de hábitos alimentares, postura, desenvolvimento (qualitativo e quantitativo) do cérebro e comportamento tecnológico e social.

A principais hipóteses da migração, expansão e das alterações humanas aconteceram em estreita correlação com eventos ambientais globais, marcados por glaciações, ondas de calor e desertificações, permitindo detectar habilidades humanas para enfrentamento de adversidades e busca de abrigo em sistemas ecológicos menos agressivos do planeta, onde houvesse maior estoque de recursos vegetais e animais.

Com base no que aconteceu no passado, a visão de futuro, de longa distância, faz sentido para as pessoas interessadas na sobrevivência da espécie humana, quando se pensa nas grandes transformações que aconteceram nos últimos 100.000 anos de história social, econômica e tecnológica do Homo sapiens.

Características Idade da Pedra

100.000 anos Civilização

Antiga 10.000 anos

Era Moderna 1.000 anos

Fase Planetária 100 anos

Organização sócio-política

Tribo/Vila Estado-cidade, reino

Estado-nação Governança global

Economia Caça e colheita Agricultura assentada

Sistema industrial Globalização

Comunicação Linguagem Escrita Imprensa Internet Seg. Raskin, P. & col. 2002. Global transition. SEI & GSG 111 pp. www.gsg.org

Ao longo da trajetória humana, os padrões éticos do “homem econômico” e do “homem tecnológico” geraram o modelo econômico clássico que os colocou no centro do universo, passando a ignorar, deliberadamente ou não, as diferenças entre crescimento e desenvolvimento.

Por conta disso, o modelo equiparou as duas questões para fundir o aumento na produção e consumo de bens e serviços com a acumulação de capital material (físico) construído pelo próprio homem. E assim as coisas foram conduzidas, para ser potencializada, ao máximo, no modelo atual de globalização, com desregulamentação, liberalização e privatização.

Mas, houve preço a ser pago, representado por diferenças, conflitos e outras formas de desigualdades econômicas, sociais e ambientais2. Daí a esperança na evolução do Homo sapiens para o “Homo moralis”, com a prevalência de paradigma para se contraponha ao modelo econômico antropocêntrico; em que desenvolvimento signifique melhoria das condições em bem-estar, sem o necessário aumento de consumo; e a economia venha a ser conduzida em equilíbrio com a velocidade e produtividade dos estoques naturais – como propõe a economia de estado estável.

O modelo idealizado estabelece novo patamar para a sobrevivência da sociedade humana global, através do desenvolvimento sustentável. Trata-se de paradigma de relações harmônicas, de longíssimo prazo, capaz de proporcionar crescimento e desenvolvimento da comunidade humana, com equidade e, ao mesmo tempo, garantir a sustentação física e biológica dos sistemas ecológicos. Um sistema econômico que sobreviva dos rendimentos e não do estoque original de Capital Natural.

2 Estas questões são abordadas em outro capítulo desta série. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. A empresa e a sociedade.

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Todavia, e apesar dos progressos tecnológicos, é difícil aceitar que a sustentabilidade econômica das atividades humanas possa acontecer sem os efeitos negativos sobre a sustentabilidade social e ambiental, a menos que os atuais padrões de produção e consumo de bens e serviços sejam modificados. Também é incontestável que, nos últimos 100 anos, a comunidade humana criou diferentes tipos de bens.

• Capital Natural – representado por recursos renováveis e não-renováveis, providos pela natureza, a partir dos quais são produzidos materiais e serviços destinados ao abrigo, alimentação, defesa, educação, lazer e outros aspectos da qualidade de vida, de curto, médio e longo prazo.

• Capital Humano ou Social – expresso pelas conexões (amizades, relacionamentos, afinidades, etc.) entre as pessoas e a comunidade, educação, lazer, habilidades e saúde da população.

• Capital Construído, Físico ou Financeiro – expresso por bens materiais construídos e acumulados, como edificações, bens manufaturados e os valores físicos acumulados.

A partir dos anos 90, cresceu o interesse na distinção entre crescimento e desenvolvimento e aumentou o questionamento se o desenvolvimento econômico pode continuar sendo representado de modo simplificado, pelo aumento do Produto Nacional Bruto (PNB). Ou se PNB – mesmo refletindo as necessidades humanas básicas, não deveria ser substituído por índicadores mais dinâmicos, como:

• Contabilização de Capital Natural (Natural Resource Accounting) ou PNB Verde

• Taxa Genuína de Poupança • Índice Genuíno de Progresso • Tríplice Resultado Final • Desenvolvimento socioambiental e econômico sustentável.

As incertezas quando à efetividade dos índices tradicionais para expressar o desenvolvimento têm várias causas:

• intangibilidade de diversas variáveis sociais, culturais e ambientais; • dificuldades para interpretação integrada de fatores sociais, econômicos e

ambientais; • problemas derivados da realidade atual, com 1 bilhão de habitantes humanos

desfrutando benesses e acesso a riquezas jamais imaginadas por outros 5 bilhões que vivem à margem dos benefícios do crescimento econômico e

• cenários pessimistas em relação à expectativa do surgimento da Era de Consciência Global.

Analistas com foco no desenvolvimento sustentável reconhecem que os principais desafios são determinados pelo crescimento populacional, crescimento econômico, industrialização, urbanização, desigualdade de renda e pobreza e outros efeitos potencializados por agravantes causadas por comércio internacional, investimentos externos, ajuda estrangeira e privatização3.

Para encontrar respostas, têm sido feitos estudos e avaliação estratégica de impactos, previsão, avaliação e construção de cenários e a adoção do Princípio da Precaução, orientados para o desenvolvimento das comunidades humanas. Mas, estes são temas que ainda estão em sua infância. 3 http://www.worldbank.org/depweb/beyond/beyond.htm Soubotina, T. 2001. Beyond economic grotwh. 162 pp.

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2. Desenvolvimento Sustentável e comunidade

O conceito de comunidade fundamenta-se no entendimento de que cada grupo social ou conjunto populacional que habita uma área geográfica específica – determinada pelos respectivos membros – compartilha do mesmo governo, está irmanado por heranças cultural e histórica comuns, define seus valores, cultiva suas relações, estabelece os processos cooperativos e constrói meios e oportunidades para comunicação, aprendizagem, confiança e respeito4. A extensão da área ocupada depende da própria dimensão da comunidade e inclui os aspectos econômicos, ambientais e sócio-culturais.

A sustentabilidade da comunidade é proporcionada por: valores, cooperação para fruição de bens comuns, oportunidades para comunicação, aprendizagem, confiança e respeito interpessoal e interinstitucional. A qualidade da comunidade é revelada, entre outros indicadores, pelas interações entre o sistema de produção de bens e serviços e as características sócio-culturais e ambientais5. Todas as condições sócio-econômicas e ambientais estão interelacionadas.

Crescimento implica na acumulação de bens, enquanto desenvolvimento significa fruição socioambiental responsável e sustentável. Para verificar as condições de crescimento e desenvolvimento da comunidade é necessário:

• estabelecer entendimento ou percepção comum sobre o significado de Desenvolvimento Sustentável;

• definir alvos ou objetivos pretendidos, em alinhamento com a realidade da comunidade considerada;

• criar indicadores adequados e apropriados para acompanhar o progresso (crescimento e desenvolvimento) em relação aos alvos;

• definir a unidade de medida e o método de medição para cada indicador; 4 Sustainable Community Indicators Training Course. Sustainable Measures. 1998. www.sustainablemeasures.com/Training/Indicators/Outline.html 5 Indicators of sustainability training course. www.sustainablemeasures.com/Training/Indicators/Web1.html

Qualidade daágua

Qualidade daágua

Qualidade doar

Qualidade doar

Produção econsumo

sustentáveis

Produção econsumo

sustentáveis

Lucratividadedos

investidores

Lucratividadedos

investidores EducaçãoEducação

SaúdeSaúde

PobrezaPobreza

CriminalidadeCriminalidade

EmpregoEmprego

Recursosnaturais

Recursosnaturais

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• desenhar o plano de coleta, análise, interpretação, avaliação e comunicação dos indicadores a todas as partes interessadas;

• prever e implementar o sistema de realimentação do sistema e reiniciar o processo, de maneira a criar base de dados e eleger os marcos de referência ou benchmarking para cada alvo ou propósito mais relevantes.

3. Indicadores de desenvolvimento

O índice tradicional, para medição do progresso – representado pelo PNB Produto Nacional Bruto oferece números impressionantes. O Banco Mundial6 diz que houve progresso sem precedente na prosperidade e padrão de vida na maior parte do mundo. O PNB mundial aumentou de US$1,3 trilhões (em 1960), para US$29,6 trilhões (em 1997). As exportações totais saltaram, entre 1950 e 2000, de US$308 bilhões para US$3.554 bilhões7. As variações entre países são fornecidas por diversas organizações, através da Internet. As estatísticas da globalização, em 2001, estão disponíveis em texto da OMC Organização Mundial do Comércio8.

Entretanto, o modelo é contestado, do ponto de vista socioambiental, por pessoas e organizações com foco nas realidades globais. A redefinição de progresso, por exemplo9, questiona o uso do PNB que expressa as transações monetárias de bens e serviços, para indicar a riqueza dos países e do mundo. Defende, ao contrário, o uso do IGP Indicador Genuíno de Progresso que leva em consideração os reais custos socioambientais da atividade econômica.

O IGP considera grandes blocos de custos e outros não computados pelo PNB, como:

1. custos pessoais de consumo e os fatores que afetam a qualidade de vida, como desemprego, custos com crimes, desagregação familiar, o valor do serviço doméstico não remunerado e os cuidados infantis; o valor do trabalho voluntário, tempo gasto para se chegar ao trabalho, em prejuízo do lazer e descanso, serviços duráveis ao consumidor, serviços em rodovias e vias públicas e

2. custos ambientais envolvendo, por exemplo, a depleção e degradação de recursos naturais (especialmente os não renováveis) usados na produção de bens e serviços; custo para redução de poluição domiciliar, custos ambientais de longo prazo.

IGP e PNB dão resultados distintos. Os cálculos referentes ao ano 2000, em US$Bilhões (valores de 1966) foram: IGP Per capita U$9,550; PNB Per Capita US$33,497. Assim, as benesses esperadas e reconhecidas pelo PNB não aconteceram para todas as pessoas, ocasionando ilhas de riquezas.

O Banco Mundial criou – como parte de suas iniciativas para determinação de indicadores ambientais – a Estimativa de riqueza (Wealth Estimates) e a Taxa Genuína de Poupança (Genuine saving), com o propósito de combinar, no mesmo indicador, fatores ambientais e econômicos10.

Apesar de combinar vários indicadores socioambientais, os indicadores do Banco Mundial não têm a abrangência do Índice Genuíno de Progresso. Mas, a Taxa Genuína de Poupança é calculada pela fórmula: 6 http://www.worldbank.org/data/archive/wdi99/globalinks.htm 7 David C. Korten. Mencionado. 8 www.bea.gov 9 http://www.rprogress.org/projects/gpi Redefining Progress 10 WORLD BANK. Environmental indicators. An overview of selected initiatives at the World Bank., 12 pp. 2002. www.worldbank.org – Usar o instrumento de “busca”.

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• aumento no capital produzido menos a diminuição do capital natural • mais ao aumento no capital humano, • dividido pelo PNB • e o resultado multiplicado por 100.

Assim, a Taxa Genuína de Poupança, quando baixa ou negativa, indica que parte considerável dos recursos naturais foi usada irracionalmente, em prejuízo do bem-estar das populações futuras11.

O crescimento exponencial da população, o modelo de desenvolvimento econômico e as pressões sobre os recursos ambientais deram origem a círculo vicioso de demandas, necessidades e respostas. Os sistemas produtivos agrícolas e industriais geraram hábitos de consumo alimentar, transporte, habitação e provimento de bens e serviços em países mais ricos que se tornaram modelos e desejos, por outras nações, mas que não foram e dificilmente serão atingidos.

Há, portanto, grande contradição entre crescimento (e até mesmo desenvolvimento) econômico e sustentabilidade socioambiental. Neste sentido, é oportuno destacar as discussões a respeito de economia de estado estável.

As ações humanas – sob a denominação genérica de economia

• causam a destruição e redução dos recursos, em termos locais, regionais e globais;

• apropriam-se da capacidade produtiva dos ambientes terrestre e aquático e do potencial de energia solar e outras formas de energia incorporada em produtos e serviços oferecidos no mercado;

• e geram a deposição de resíduos e de outros materiais, cuja eliminação não está garantida pela tecnologia disponível.

A economia – definida em termos de PNB Produto Nacional Bruto e Per Capita – é considerada muito grande para ser sustentável, em longo prazo e que o avanço no crescimento econômico levará a humanidade ao desastre, mais cedo ou mais tarde12. As propostas como NAFTA, ALCA, GATT/OMC e ações similares, com a justificativa de aumentar a oferta de emprego e renda, sem políticas socioambientais, são questionadas quanto ao sucesso.

O mesmo se aplica à economia global competitiva, às tentativas de redução de déficits, balança de pagamentos sob a ótica unilateral do crescimento econômico, mesmo quando os formadores de opinião e dirigentes públicos utilizam o termo sustentável.

Para garantir o equilíbrio dos direcionadores econômicos e socioambientais, o caminho inexorável será a economia de estado estável, lenta, muitas vezes com interesse zero e acompanhada de crescimento zero. Mas, isto representará o fim do sistema monetário e a necessidade de repensar completamente a maneira de organizar a economia e distribuir o poder de compra13.

As opiniões contrárias dizem que é preciso crescer para aumentar a riqueza e com a riqueza e tecnologia os problemas serão resolvidos, inclusive a

11 Soubotina, T. já mencionada. 12 http://www.npg.org/pospapers/nogrowth.html NPG Position Statement. A No-Growth, Steady-State Economy Must Be Our Goal.Donald Mann, President NPG. 18 pp. 13 Hickerson, R.L. 1995. Hubbert’s prescription for survival, a steady state economy.http://www.oilcrisis.com/hubbert/hubecon.htm

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remediação e controle de poluição. E que o crescimento econômico zero é visto com depressão e estagnação.Mas, são contestadas14.

A grande questão é se será possível conciliar crescimento populacional continuado, expansão de consumo e posse de bens – que constituem sistemas abertos a fluxos de materiais e energia – com a disponibilidade de recursos naturais renováveis da Terra que, em si, é um sistema fechado para recursos, embora aberto para fluxos energéticos de radiação solar.

Daí a pergunta: por quanto tempo os ciclos poderão crescer, independentes uns dos outros?

Os comentaristas consideram que o crescimento econômico sustentável é “falso teorema”, mesmo que ocorra de maneira lenta e com base em princípios éticos do ponto de vista socioambiental15.

Os globalistas monetaristas refutam a economia de estado estável

As diferenças nos padrões socioambientais inspiraram a proposta de outras maneiras para avaliar o consumo e produção sustentável de bens e serviços, a partir, por exemplo: da capacidade de carga que os sistemas naturais podem suportar; dos limites do eco-espaço; da pegada ecológica; da ecoeficiência; da contabilização de recursos naturais e da economia de estado estável16. Os instrumentos citados são abordados, com maior abrangência, no capítulo Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas socioambientais. Entretanto, a Pegada ecológica merece atenção especial, por expressar a conseqüência ambiental, econômica e social do modelo de consumo atual da sociedade humana.

Pegada ecológica (ecological footprint)

Este índice mede a capacidade de sustentação da vida humana no planeta e é definido como

o número global de unidade de medida agrária (acre ou hectare)17 biologicamente produtivo, necessário para sustentar a vida de um indivíduo ou de uma população humana de determinada densidade. Ou qual a área da terra que a pessoa usa, para atender suas necessidades, de acordo com o estilo de vida pessoal.

A Pegada ecológica revela que as pessoas deveriam agir diferentemente, da maneira como o fazem hoje. Baseia-se em pensar globalmente e agir localmente, para que possam tomar decisões a partir de opções distintas como as praticadas atualmente.

Os valores mundial e nacional para a pegada ecológica fazem parte das discussões por diversas ONGs e agências multilaterais, e estão disponíveis na Internet, com especial destaque para a contribuição da ONG Redefining Progress18. É possível fazer testes individuais, baseados no modo de vida pessoal, com interpretação de resultado em linha, com o devido ajuste de resultados existentes para o respectivo país19.

14 http:/www.worldpolicy.org/globalrights/ecoindex.html Daly, Herman. A catechism of growth fallacies. 15 Murcott, S. 1997. What is sustainability? AAAS Annual Conference, IIASA “Sustainability Indicators Symposium”, Seattle, WA 16/2/97. www.sustainableliving.org/appen-e.htm ; 8 pp; 16 http://www.oecd.org/EN/home/0,,EN-home-21-nodirectorate-no-no--21,00.html OECD Sustainable development 17 Acre = 4.047 m2; hectare = 10.000 m2 18 http://www.rprogress.org 19 http://www.earthday.net/footprint.stm

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O teste em linha,20 simulando-se uma pessoa (de um casal), morando em apartamento nas cidades de São Paulo e Nova Iorque, levou em conta hábitos de consumo idênticos, mas em distintas condições e oferta locais em alimentação, transporte, habitação e demais indicadores previstos no modelo, para as duas cidades.

Resultados Ano 2002 (teste pessoal on line; casal em apartamento, São Paulo)

São Paulo unidade Hectare

N. Iorque unidade Acre

Pegada média mundial por pessoa 1,8 ha/pessoa 4,5 acre/pessoa

Pegada média global para o País 2,4 ha/pessoa 24 acre/pessoa

Pegada individual no teste: 1 pessoa de casal morando em apartamento

4,8 ha/pessoa 20 acre/pessoa

Número de planetas necessários se toda a população da terra tivesse o mesmo padrão

2,7 4,4

Os dados mostram que os habitantes de países desenvolvidos encontraram meios para ultrapassar os limites de capacidade de provimento sustentável e de consumo, apropriando-se de bens comuns do planeta, em termos de alimentação, mobilidade, abrigo, bens e serviços.

O modelo de consumo do morador em São Paulo deixa uma pegada ecológica duas vezes maior do que a da média global para o Brasil. Se adotado pelos demais habitantes da terra, haveria necessidade 2,7 planetas para sustentar a população humana na terra.

O mesmo padrão de vida, no exercício feito se morador estivesse em Nova Iorque, com hábitos de consumo de São Paulo (guardadas as diferenças relativas de oferta), revela que a pegada ecológica em Nova Iorque foi menor do que a média para os EUA. Entretanto, a pegada ecológica para Nova Iorque seria 5 vezes maior do que a média mundial e demandaria 4,4 planetas para a sobrevivência humana na terra.

4. Consciência global

As condições socioambientais, de hoje, são precedidas de importantes marcos históricos. O período 2002-2012 será marcado por incertezas sobre as mudanças político-econômicas e, por conseqüência, econômico-ambientais e socioeconômicas, devidas ao comportamento de grupos dominantes, alinhados ao Governo dos EUA sob a Presidência de G. Bush Jr e a ascensão de governantes de extrema direita em vários países da União Européia. As relações entre desenvolvimento sustentável, RSA e comércio internacional, sob a intervenção das OMC Organização Mundial do Comércio será motivo de debates.

20 Exercício pessoal.

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Segundo o Secretário Geral da ONU21 , 30 anos não foram suficientes para que fossem encontradas soluções para cinco grandes questões globais:

• esgoto e acesso a água potável • acesso a energia • produtividade agrícola • biodiversidade e gestão dos ecossistemas • saúde humana.

Os números da pegada ecológica e das diferenças entre o PNB e o IGP devem ser encarados como maior seriedade se forem acrescentadas as conseqüências socioambientais de políticas públicas criadas por governantes de países onde prevalecem conceitos exclusivamente liberais (ou neoliberais) de mercado livre, absolutamente desregulamentado, de base predominantemente econômica. Ou de regimes militaristas e outras formas de domínio que impedem a discussão pluralística dos impactos socioambientais de políticas públicas.

A crise socioambiental tem sido usada para a construção de hipóteses visionárias, segundo uns, mas tidas como certezas, por outros – de que a terra é um planeta perigoso para a perpetuação da espécie humana, na maneira como vive se hoje. A crise ambiental também serve para visões – ficcionistas ou não – de que o homem terá que habitar outros planetas e que passará por transformações no biótipo que lhe garantirão a sobrevivência em condições socioambientais distintas das que hoje existem.

No transcorrer da vida da comunidade humana, os paradigmas culturais e as tecnologias resultantes foram responsáveis por três ondas, que marcaram o domínio do homem sobre a terra e previsão de outra futura, a quarta.

• A Primeira Onda - Era Nômade ou da agricultura, que levou milhares de anos para se espalhar pelo planeta.

• A Segunda Onda, na passagem da Era Agrícola para a Era Industrial, precisou de centenas de anos para dominar o mundo, porém sem caráter cultural global.

• A Terceira Onda, resultante da transformação da Era Industrial para a Era da Informação, precisará de poucas décadas para dominar os conceitos e princípios do sistema produtivo.

• A Quarta Onda é vista como a necessidade de ingresso na Era da Consciência Global ou da Estabilização da Carga Ecológica22.

A expectativa para a estabilidade ecológica baseia-se no fato de que a humanidade vive uma grande bolha, exagero, ou transgressão (overshooting) de caráter ecológico provocado pelo consumo exacerbado de recursos e pela geração de resíduos que ultrapassa a capacidade de transformação natural23. A consciência do colapso seria a motivação principal para a Era da Consciência Global.

21 Speech by UN Secretary-General Kofi Annan, delivered by Mrs. Annan 14 may 2002 at the American Museum of Natural History. In it, the Secretary-General sets out the five key areas where he feels concrete results can and must be obtained at the Johannesburg Summit. (Posted by the UN Department of Public Information) 22 Oliver W. Markley. Sem data (porém, após 1995). The Fourth Wave: a normative forecast for the future of "Spaceshipe Earth". http://www.cl.uh.edu/futureweb/spaceship.html#1 23 www.rprogress.org Wackernage, M. 2001. Advancing sustainable resource management. Using ecological footprint analysis for problem formulation, policy development, and communication.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 12 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Construção de cenários

Previsões para o futuro da espécie humana fazem parte da preocupação de número crescente de pessoas e organizações em vários países. A visão da Era da Consciência Global está em sintonia com a classe de cenários denominada Grandes Transições, cujas bases estão apoiadas na capacidade e no desejo de sobrevivência da espécie humana diante de pressões e ameaças. Cada cenário apóia-se em conceitos e opiniões emitidos por formadores de opinião que criaram correntes de pensamento importantes24.

Cenário Antecedentes Filosofia Moto

Smith

Otimismo de mercado; mão invisível e iluminada

Não se preocupe e seja feliz

Mundos Convencionais Mercado Reforma Política Keynes

Brundtland Política com gerenciamento supervisionado

Crescimento, ambiente e equidade através de melhor tecnologia e gestão

Malthus

Melancolia existencial; catástrofe populacional e de recursos

O fim está chegando

Barbarização Colapso Fortaleza Mundial Hobbes Caos social; natureza perversa

do homem Ordem através de líderes fortes

Morris e utopistas sociais; Ghandhi

Romance pastoral; bondade humana; industrialização demoníaca

O pequeno é belo

Grandes Transições Eco-comunalismo Novo Paradigma da Sustentabilidade

Mill Sustentabilidade como revolução social progressiva

Solidariedade humana, novos valores e a arte de viver

Misturando Tudo Seu cunhado (provavelmente)

Sem grandes filosofias Que será, será!

As expectativas (mais do que as opiniões) divergem. Do ponto de vista das expectativas de evolução da humanidade, relacionadas à governança ambiental, foram considerados cinco possíveis cenários de governança global, dos quais quatro foram interpretados como sendo de baixa e média probabilidade e um muito improvável de acontecer25.

Probabilidade Cenário

Média

Bifurcação sócio-cultural – nacional e internacional – da humanidade, de subculturas conflitantes e com baixa governança global. Predomínio de subcultura materialista e individualismo com forte capacidade tecno-organizacional, tendência para conquistas, baixa capacidade emocional para auto-consciência e desenvolvimento interno. Sem consideração para os excluídos e propenso à repressão seletiva e exterminação

Média-alta

Bifurcação sócio-cultural com governança global oligárquica, baseada em apartheid, como no primeiro cenário. Os países ricos já dispõem de estruturas globais de governança, como a OTAN, G-7, estruturas inter-bancárias, FMI, Interpol e possibilidades de agências para regulamentar

24 Tradução livre de Raskin, P. & col. 2002. Global transition. SEI & GSG 111 pp. www.gsg.org 25 Viola, E. 1999. Multidimensionality of globalization, environmentalism, and the new transnational social forces.http://www.ciaonet.org/isa/vie01

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 13 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

questões ambientais e epidemiológicas, globalmente.

Média-baixa

Sociedade dualística, com governança global oligárquica. Uma parte dominante aceita responsabilidades para atenuar as exclusões sociais. Forte tendência para governança global, combinando princípios transnacionais e internacionais, através de Conselho de Segurança e Autoridade Pública Transnacional, para proteção ambiental, saúde pública e comunicação, finanças, comércio, alguns já presentes atualmente.

Baixa

Sociedade integrada, de média assimetria social e média governança oligárquica global, com valores pós-materialistas e valoração da riqueza e benesses tanto nacional ou internacional, envolvendo participação política, qualidade de vida, proteção ambiental e desenvolvimento pessoal. Propensão para a construção de organizações de governança global, segundo a lógica universal conduzida por elite auto-perpetuável, mas não por meios democráticos generalizados. Poucos indicadores, atualmente.

Muito improvável

Sociedade integrada, com baixa assimetria e dotada de governança global democrática, representada pelo Iluminismo, almejada pela Liga das Nações, Internacional Socialista e Ambientalismo (Uma Terra, Um Mundo, Um Governo).

As preocupações com o futuro têm motivado propostas para estudos acadêmicos e publicações orientadas para o capitalismo natural26 e a reforma das estratégias de negócios e do mercado27, a fim de garantir condições para sustentabilidade socioambiental futura.

O sucesso e sobrevivência da sociedade humana estão fortemente relacionados importantes fatores ou variáveis socioambientais, com especial destaque para três deles: energia renovável (de baixa entropia), biodiversidade e uso correto da terra.

• No primeiro caso, é preciso dispor de instrumentos para evitar a acumulação de energia entrópica (no sentido de trabalho), represada em meios ou substratos de onde se torna irrecuperável ou somente recuperável com o emprego de altas cargas energéticas.

• No segundo, é preciso aperfeiçoar a capacidade humana para prevenir ou remediar a diminuição da biodiversidade, a fim de evitar a homogeneidade das espécies existentes e a decorrente diminuição das oportunidades para o aparecimento de novas espécies.

Isto explica, entre outras razões, o interesse humano para a construção de cenários – como visão de futuro – cujo propósito é estabelecer políticas públicas e estratégias de desenvolvimento econômico, social e ambiental, tanto no nível de organismos governamentais e multi-governamentais, como de organizações individualmente, independente de interesses lucrativos ou sociais.

A visão de futuro, em relação à sustentabilidade do planeta terra, tem sido objeto de atenção de várias pessoas e organizações, como os exemplos que serão mencionados, nos quais os autores abordaram a questão em diferentes níveis de aprofundamento.

O vocabulário relacionado aos vários tipos de cenários é extenso28, incluindo inúmeros outros (além dos que serão citados), tais como: Cenário de Linha de Base, Cenário

26 http://www.earthscan.co.uk/asp/bookdetails.asp?key=3184 - Hawken P., Lovins, A. & Lovins, L. 1999. Natural Capitalism: The Next Industrial Revolution. 27 http://www.wbcsd.org/newscenter/releases/3march02.htm Global trends are reshaping business strategy and markets. New report from UNEP, WBCSD and WRI. 28 http://www.who.int/terminology/ter/Health_futures.html

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 14 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Exploratório, de Custo-Benefício, de Desenvolvimento, Cenário Utópico e Não-utópico, de Extrapolação, Referencial, e Estratégico.

O futuro é difícil, senão impossível de ser previsto – dizem muitos. Apesar disso, várias ferramentas e técnicas de previsão foram desenvolvidas e continuarão sendo aprimoradas, com base na combinação de processos empíricos, intuitivos e em fundamentos científicos, com o emprego de maior ou menor sofisticação de métodos de simulação e modelagem. Para isso, há duas grandes tendências:

(i) prever o cenário futuro (forecasting) e (ii) imaginar o futuro de sucesso e reconstruir o caminho para alcançá-lo

(backcasting). No geral, predomina o modelo de previsão (forecasting), com os principais objetivos:

• estabelecer a visão de como será o futuro; • reconhecer os principais direcionadores e megatendências; • imaginar quais serão as circunstâncias encontradas no futuro, especialmente as

incertezas relacionadas às atividades ou iniciativas de determinada organização ou de segmento e

• aprimorar a percepção a respeito da conduta futura dos diversos agentes, no ambiente organizacional interno, no meio onde as transações acontecem (genericamente chamado de mercado) e no contexto em geral, no nível local, nacional e global.

O alvo do cenário tem várias dimensões: criar estratégias, planejar ações e estabelecer a maneira de como medi-las, em relação à visão de futuro, levando-se em conta a utilidade imaginada para o cenário:

• estabelecer os meios para conduzir atividades, de acordo com determinadas condições e contextos;

• definir as características de determinadas partes interessadas, suas necessidades e ambiente; e

• identificar alvos e prever a cronologia dos eventos. As limitações básicas para construção de cenários derivam de ideologias, natureza dos conceitos adotados, mudanças contínuas no ambiente interno e externo das organizações e instituições. As causas principais são: globalização, liberalização e desregulamentação; mudança de paradigmas tecnológicos, sociais, econômicos e ambientais; alterações de regimes políticos e governamentais; valores e princípios de produtores e consumidores; informação e comunicação.

As metodologias e técnicas usadas são diversificadas e influenciadas pela ideologia e comportamento das pessoas em relação às macro-questões envolvidas. Por conta disso, são gerados cenários de diferentes níveis, classes ou dimensões. Com freqüência, as classes são subdivididas em subclasses, com diferentes títulos ou denominações, embora apresentem similaridades, quanto à descrição, conceituação ou abrangência.

Os cenários mais comuns – denominados convencionais, mais prováveis, plausíveis, preferíveis, ou de médio prazo, são usados para propostas de políticas e, em geral, acompanhados de cenários suplementares cujos direcionadores principais são representados por crescimento populacional, econômico e mudanças tecnológicas.

Gradativamente, aumenta o interesse na construção de cenários complexos, de caráter sistêmico e com enfoque no desenvolvimento sustentável e a conseqüente

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 15 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

incorporação de dimensões representadas pelo capital produzido pelo homem (bens monetários ou físicos), capital natural, organização social e institucional.

Entendimentos e ideologias

O quadro seguinte foi construído a partir do texto que aborda as forças sociais transnacionais29. Sua análise ajuda a entender as diferenças de cenários, decorrentes das diferenças ideológicas entre formadores de opinião e os conseqüentes marcos de referência (benchmarking) a respeito de questões socioambientais e de desenvolvimento sustentável.

Perfis Interesses

Nacionalistas Estado Nação Globalistas Escala global Sustentabilistas Proteção ambiental combinada com desenvolvimento econômico Progressistas Redistribuição progressiva de renda e equidade nacional e internacional Conservadores Manutenção da dinâmica social tal como está

Forças sociais transnacionais Comportamento ou ideologia

Progressista

Protecionismo econômico e forte intervenção do Estado a favor da justiça social. Forte poder militar. Oposição às organizações transnacionais à militarização das agências da ONU. Nacionalista

Conservador Protecionismo econômico e EUA como referência internacional; temor das multinacionais e oposição à militarização da ONU.

Progressista

Favorável à economia aberta e mercado mundial, com forte papel das transnacionais, rápido desarmamento e construção de instituições de governança global, especialmente para regulamentar o capital especulativo.

Globalista

Conservador

Favorável à economia aberta e mercado mundial, com forte papel das transnacionais, ao desarmamento gradual e aperfeiçoamento da ONU, para criação de autoridade transnacional e estratificação das Nações. Fortalecimento de agências como FMI, OMC, Banco Mundial.

Progressista Desenvolvimento sustentável em escala nacional e forte intervenção para justiça social; contrários à ONU e às transnacionais. Nacionalista-

Sustentabilista Conservador

Proteção ambiental em escala global; rejeição ao armamento das agências da ONU e transnacionais; favoráveis a poderosa força armada nacional.

Progressista

Condenação moral e econômica de sistemas produtivos ineficientes e de desperdício; apoio a reformas mundiais para políticas ambientais viáveis em seus próprios espaços nacionais; diminuição de assimetrias através do desenvolvimento sustentável, através de autoridade supranacional, de caráter democrático, mas com aceitação de oligarquias para acelerar o processo.

Globalista-Sustentabilista

Conservador

Favorável à economia aberta e mercado mundial, com forte papel das transnacionais, desarmamento parcial e rápida construção de instituições de governança especialmente em questões ambientais, baseada em oligarquias e poder econômico diferenciado dos países.

29 Viola, E. 1999. Multidimensionality of globalization, environmentalism, and the new transnational social forces, 10 pp. Columbia International Affairs On line. www.ciaonet.org/isa/vie01/

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 16 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Outro caso de influência, para a construção de cenários, refere-se à maneira como as pessoas pensam ou vêem o futuro. Para a Technology Features Inc.30 há cinco maneiras de como as pessoas vêem o futuro. Cada tipo de entendimento comporta ou utiliza diferentes modelos de técnicas para construção de cenários.

1. Extrapoladores – O futuro é visto como a extensão das tendências do passado e que forças inexoráveis e de grande escala determinarão o futuro de maneira lógica, contínua e previsível. Técnicas aplicáveis: Análise de tendência tecnológica, Análise de Fisher-Pay; Análise de Gompertz, Análise do limite de crescimento, Curva de aprendizagem.

2. Analistas de padrões – O futuro refletirá a replicação de eventos cíclicos do passado, a partir de situações análogas já observadas no passado, com fortes mecanismos de realimentação na sociedade e direcionadores humanos básicos. Técnicas aplicáveis: Análise de analogia, Análise de precursor de tendência, Matrizes morfológicas, Modelos de retroalimentação.

3. Analistas de alvos – O futuro será determinado por crenças e ações de vários indivíduos, organizações e instituições, estando, portanto, sujeito às mudanças em tais entidades e com dependência a atitudes de tomadores de decisões e determinadores de tendências.Técnicas aplicáveis: Análise de impacto, Análise de conteúdo, Análise das partes interessadas (stakeholders), Análise de patente.

4. Counter Punchers – O futuro resultará de eventos e ações imprevisíveis e, em grande parte, ao acaso, exigindo o monitoramento cuidadoso dos acontecimentos nos ambientes técnicos e sociais e a manutenção de alto grau de flexibilidade no planejamento. Técnicas aplicáveis: Escaneamento, monitoramento e seguimento (tracking), Cenários alternativos, Modelos de Monte Carlo.

5. Intuitivos – O futuro é visto como resultado de mistura complexa de tendências inexoráveis, eventos randômicos e atitudes de indivíduos e instituições chave, dependente, em grande parte, de informações e percepções acumuladas no subconsciente e da intuição pessoal, não sendo previsível, portanto, usar qualquer técnica racional para previsão futura. Técnicas aplicáveis: Levantamento de Delphi, Conferência nominal de grupos, Gestão e vantagem tecnológica.

O Sistema IPAT-S31 é apresentado como linguagem ou ferramenta – mas não como modelo –para desenvolvimento e análise de cenários de moderada complexidade. O objetivo é compatibilizar as necessidades presentes e futuras. IPAT-S é linguagem encriptada de computação, para responder a questões derivadas dos impactos humanos, resultantes da ação:

Impacto = População x Afluência x Tecnologia

A linguagem de programação estabelece que “mudanças em escala da população levam a mudanças em escala de impacto ambiental, modificada por mudanças em

30 www.fti.com/rescon/TF_techniques.html 31 Kemp-Benedict, E. 2002. IPAT-S A scripting language for sustainability scenarios.. http://home.attbi.com/~kempbenedict/IPAT_S/

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afluência e tecnologia”. O sistema é de livre acesso32, para uso de especialistas interessados em trabalho colaborativo para a construção de cenários.

O Modelo ECCO33 - Evaluation of Capital Creation Options lida com conceitos fundamentais.

• Capital Construído pelo Homem (Human Made Capital), graças à utilização de recursos naturais e de aplicação de energia.

• Capital Natural – representado por materiais não-renováveis, renováveis e recicláveis ou potencialmente recicláveis.

• Termodinâmica no sentido de trabalho, levando-se em conta que nenhuma transformação, movimento, conversão, ou provisão pode se tornar efetiva sem a aplicação de trabalho (que os químicos chamam de energia livre e os engenheiros de disponibilidade) ou, simplesmente, energia.

O princípio é gerar informações sobre as correlações entre entradas e saídas (inputs and outputs), conduzidas por unidades de energia requeridas para que os eventos aconteçam. Assim, o modelo baseia-se na aplicação de princípios físicos (termodinâmica) à modelagem econômica, para medir o capital físico criado pelo homem, sob a condição de Capital Natural não-renovável, tendo-se em vista determinado padrão de qualidade relacionado à energia e incorporado na produção.

O Modelo ECCO foi proposto para responder, através de gráficos comparativos, “a que taxa máxima pode a economia expandir-se, à luz de: economia corrente, estoque de capital, recursos naturais, topografia, população e objetivos políticos, ambientais e sociais definidos por determinado usuário”.

A descrição e instrução para uso estão disponíveis34 e os resultados proporcionam a simulação por inteiro (holística) de interações de longo prazo, para intervenções em economias regionais ou nacionais, de grande escala e o ambiente natural. O número de variáveis estabelecidas para o padrão a ser adotado é grande35 e a essência do sistema está em (i) estabelecer as condições ou cenário inicial, (ii) rodar o modelo e (iii) interpretar os resultados, através de simulações comparadas.

O modelo não responde a questões de curto prazo, mas atende a situações como, por exemplo: “com que velocidade teremos que investir em tecnologias de energia renovável, a fim de manter o suprimento de energia, se o suprimento de petróleo se exaurir em 15 anos? Em 50 anos? Ou em 100 anos?

A União Européia utilizou o modelo ECCO36, combinado com a Análise de Fluxo de Material, esta última relacionada aos conceitos de Demanda Material Total e Intensidade de Uso de Material por Unidade de Serviço37. Os objetivos ou interrogações fundamentais estão centrados na formulação de políticas de sustentabilidade baseadas em impactos econômicos e laborais de curto e médio prazos.

A visão da União Européia é de que o propósito dos cenários não é dizer o que o usuário deve fazer, mas servir-se deles como “detectores de enganos”, para identificar efeitos colaterais e não-intencionais de medidas políticas. A essência da proposta está

32 http://home.attbi.com/~kempbenedict/IPAT_S/Licence.html 33 Criado por Malcolom Slesser e Jane King. www.vats.gsa.ac.uk/Slesser/natural.htm 34 http://www.eccosim.org.uk/ 35 www.cranes.cng1.com/ecco/gloss/ecco.html 36 Wuppertal Institut. Modelling a socially and environmentally sustainable European Union, 30 pp. http://www.wupperinst.org/Projekte/SuE 37 Estes conceitos estão abordados em outro texto da série Gestão com responsabilidade socioambiental

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na implementação de ações concretas para estabelecer as conexões das dimensões econômica, ambiental, social e institucional da sustentabilidade.

Para isso, o modelo visa buscar respostas para questões como:

• Qual seria a redução da economia da EU, em X anos, causada por redução de Y vezes do fluxo total de material (inclusive energia, comparado com o fluxo corrente), nos próximos Z anos?

• Quais as implicações sobre as variáveis ou indicadores sócio-econômicos, tais como emprego, tecnologia e bem-estar em termos de padrão de vida material?

A dimensão física do modelo está no consumo de materiais (inclusive energia), de maneira a não ultrapassar a capacidade de sustentação (carrying capacity) da Natureza, levando-se em consideração outros conceitos relevantes, que foram adotados para a modelagem:

• a dimensão física da sustentabilidade refere-se a deixar intacta – por tempo infinito – a estabilidade dos processos evolucionários internos da ecosfera;

• a ecosfera (região entre a crosta da terra e a atmosfera) é uma estrutura dinâmica, auto-organizadora e a antroposfera ou tecnosfera (meio sob a influência das ações humanas) é um subsistema aberto, termodinâmico;

• ecosfera e antroposfera são partes de um sistema maior, a Terra, ambas abertas aos fluxos de materiais e de energia;

• a Terra é um sistema fechado para fluxos externos de matéria, mas aberto a entrada de energia, basicamente de radiação solar do espaço, que garante o uso sustentável de recursos naturais para a humanidade;

• o sistema econômico será apenas ambientalmente sustentável desde que esteja em dinâmica de estado-estável, em que o volume de recursos para geral o bem-estar seja permanentemente restrito à dimensão e qualidade que não sobre-explore as fontes ou cause dano aos sumidouros (sinks) da ecosfera;

• a condição ambiental da sustentabilidade é o sistema físico de estado-estável, com o menor possível fluxo funcional (não geograficamente definido) de recursos, existente nas entradas e saídas dos processos produtivos estabelecidos entre a tecnosfera e a ecosfera;

• a impossibilidade ou imprecisão para estabelecer a capacidade de sustentação da terra faz com que as decisões políticas para aplicação deste conceito leve em conta o Princípio da Precaução;

• as políticas tradicionais de enfocar e regulamentar as saídas de materiais resultam em comando e controle de quantidades a serem emitidas, devendo ser substituídas por regulamentação relacionada a entradas e especificadas por quantidades a serem proibidas.

A análise do modelo de desenvolvimento sustentável proposto para a União Européia é baseada no eixo formado por três elementos: fluxo de energia, fluxo de materiais e uso da terra.

A Oficina de Cenário38 permite elaborar cenários globais para médio e longo prazo. Exercício, envolvendo a ocupação da terra, baseou-se na seguinte questão central: como a comunidade melhor cumpriria seu papel? Para tanto, os participantes foram orientados para:

1. imaginar o cenário

38 Gilman, R. 1996. Attuning to the future. In context. 44, 3 pp. www.contex.org/ICLIB/IC44/Attune.htm

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2. produzir o breve resumo, através de discussão livre (brainstorming) 3. estabelecer os tipos de cenários, que atendem a condições, como:

• Próximo do real • Desastre e colapso • Triunfo eco-tecnológico • Transformação e consciência

4. e levar em consideração os pressupostos: • contraste • bom equilíbrio entre: (a) desafios e oportunidades e (b) alguma

plausibilidade • escalonamento baseado em análise de FOFA Fortalezas,

Oportunidades, Fraquezas e Ameaças (SWOT). Próximo do real – Neste tipo de futuro, os “negócios como são hoje” (business-as-usual) estarão sob condições idênticas ou piores do que as atuais, mesmo que as empresas modifiquem seu comportamento.

Desastre e colapso – As calamidades humanas irão eliminar a maior das instituições econômicas e governamentais conhecidas, reduzir significativamente a população humana e fazer com que os sobreviventes vivam de modo mais simples e com focos locais.

Triunfo eco-tecnológico – Estas classe de cenário depende de inovações radicais, inicialmente em energia fotovoltaica, permitindo que os pressupostos sejam atendidos e o planeta caminhe firmemente para a sustentabilidade total.

Transformação e consciência – Para esta dimensão, consenso social a respeito do significado da vida muda profundamente, de maneira a alterar a ética e moral das atuais instituições sociais, econômicas e governamentais, e que a consciência não está atrelada à matéria.

O Sistema PoleStar é um software para organização de informações ambientais, econômicas e de recursos, para montagem de cenários e os respectivos marcos de referência (benchmarking). O modelo é de livre acesso e foi desenhado para conciliar objetivos ambientais e sócio-econômicos39. Há vários textos disponíveis no site.

O uso do sistema resultou na geração de três grandes classes de cenários40.

Mundo convencional – Esta opção corresponde ao modelo atual que mais predomina nos estudos já realizados e baseia-se, essencialmente, no modo de negócios correntes (business as usual). Não estão previstas maiores descontinuidades, mas sim a perpetuação do poder econômico, globalização e a continuidade das condições sociais, econômicas e ambientais. Foram estimadas baixas modificações em políticas públicas, mas consideradas situações como: evolução do sistema produtivo em direção à Produção Limpa; uso eficiente de recursos; sustentabilidade agrícola; ganho de poder (empowerment) da sociedade para requerer gestão ambiental e difusão de tecnologias amigáveis. O padrão de consumo seguirá o modelo adotado nos países ricos, atualmente.

Barbarização – Este modelo também é fruto do crescimento do poder econômico global em relação aos governos e à sociedade, e representa um perigo, pois, a sociedade humana não conseguiu promover mudanças e

39 http://www.seib.org/polestar/ 40 Grammig, Thomas. 1998. PoleStar …..

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controlar as instituições convencionais. O fosso entre os mais pobres e os mais ricos aumentou substancialmente, tanto dentro como em entre os países. As condições globais comuns se deterioram, acompanhadas da decomposição da qualidade de vida, do ponto de vista social, ambiental e ética. A segregação da imensa maioria de pessoas pobres constitui grande calamidade, em relação às ilhas de riqueza de pequena parte da população rica, com hábitos exacerbados de consumismo sem bases de sustentabilidade. As taxas de crescimento do segmento rico da sociedade humana provocarão maiores danos ambientais, de um lado e fome e miséria, de outro, com surgimento de grandes tensões, terrorismo, regimes políticos autocráticos e militarismo, entre outras formas de violência, em direção ao caos.

Grande transição – Esta visão envolve soluções utópicas, visionárias e novos arranjos socioambientais. A sociedade humana é preservadora ambiental e promotora de alto nível de bem-estar, graças à eficiência de materiais e distribuição eqüitativa. O modelo está embasado em várias formas de tratados, alguns já existentes, para representar sistema de arranjo econômico, social e ambiental para um futuro relativamente distante. A densidade populacional é mantida a nível relativamente baixo, o fluxo de materiais é reduzido sensivelmente, através de baixo consumismo e do sistema de manufatura da indústria verde, regimes democráticos, tecnologias de pequena escala e autonomias econômicas.

O uso do Sistema PoleStar, pelo Global Scenario Group41 resultou na publicação de cenários das classes mencionadas, com subdivisão de algumas classes e produção de extensa gama de tipos e marcos de referência42.

• A classe Mundos Convencionais deu origem às subclasses: (a) Cenário de Forças de Mercado, do tipo previsão (forecasting) e desdobramentos de tendências demográficas, econômicas, ambientais e tecnológicas e (b) Cenário de Reforma Política, do tipo imaginar o cenário de sucesso e reconstruir o caminho (backcasting), com base na emergência de consenso popular e forte vontade política de transição para a sustentabilidade.

• A classe Barbarização deu origem ao Cenário Fortaleza Mundial, prevendo-se que as classes abastadas iriam construir barreiras físicas e militares para isolarem-se das grandes massas de miseráveis e para garantir as condições para preservar suas riquezas.

Há dezenas de marcos de referência, baseados na combinação de importantes elementos.

• Indicadores ambientais e alvos – Emissões, concentração de CO2 e aquecimento do planeta; ecoeficiência e uso de material per capita; liberação de POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes) e metais pesados; taxa de uso-por-recurso e população em estresse de água; deflorestamento, degradação do solo e pesca predatória.

• Indicadores selecionados de cenários – Paz, liberdade, desenvolvimento, clima, ecossistemas, estresse de água, população, economia e equidade internacional.

• Estrutura e análise de regiões multinacionais.

41 www.gsg.org 42 Kemp-Benedict, E & col. 2002. Global Scenario Group Futures. Technical notes. SEI Stockholm Environment Institute. PoleStar Series Report nr. 9, 264 pp. www.tellus.org/seib/publications/GSFFutures_PS9.pdf

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Cada classe de cenário tem reflexos distintos em relação à população, economia, ambiente, equidade, tecnologia e, por conseqüência, nos conflitos entre povos e pessoas.

Os criadores de cenários, confiantes no sucesso da sociedade planetária43, destacam que:

• o modelo Forças de Mercado apóia-se na auto-correção determinada pela competitividade de mercado;

• a Reforma Política depende da ação dos governos, na busca de futuro sustentável;

• a Fortaleza Mundial dependerá da força armada para impor a ordem, proteger o ambiente (em benefício de grupos minoritários, detentores das riquezas), a fim de evitar o Colapso,

• ao passo que as Grandes Transições visualizam o futuro sustentável e desejável, a partir de novos valores da sociedade civil.

O esquema apresentado em seguida incorpora as sugestões das diversas fontes já citadas. A grande questão é se o Homo sapiens prevalecerá sobre o Homo economicus.

43 Raskin, P. & col. 2002. Great transition. The promise and lure of the times ahead. SEI and Global Scenario Group. 111pp. www.gsg.org/gsgpubl.html

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 22 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Tecnosfera

Rigor

Ciência Imaginação

Construção decenários

Modeloquantitativo

Modeloqualititativo

Padrõeshistóricos

Condiçõescorrentes

Aspirações

Valores

Instituições

Disciplina

Intuição

Estrutura

Riqueza

Textura

Antroposfera

Eventoscolaterais

Efeitos eImpactos

Questões IncertezasIndicadoresou variáveis

Econômicos

Sociais

Ambientais

Institucionais

Escolhas

Estágio atualdo problema

Forçasdirecionadoras

Energia

Fluxos derecursos

Materiais

Espaço(terra)

População

Afluência

Tecnologia

Atrativas

SeparativasCalamidades

Progressostecnológicos

Ecosfera

Cenários - Visão de futuro

Forecasting Backcasting

Previsão futuro

Imaginação desucesso e

reconstrução derotas

Alternativas

Processosfísicos

Próximo do real (Business as usual)Mais provável ou Médio prazoMundos convencionais

Desastre e colapsoBarbarizaçãoFortaleza mundial

Triunfo eco-tecnológicoTransformação e consciênciaGrandes transições

Direções

Prioridades

Harmonizaçãode linguagem

Ambienteorganizacional

Ambientetransacional

Ambientecontextual

ConceitosCarga ecológica

DesmaterializaçãoDemanda MaterialPegada EcológicaProdução Limpa

Fator 10Sistemas

ECCOPoleStarIPAT-SOficinas

6. Conceitos e princípios de Desenvolvimento Sustentável

A Carta da Terra44 destaca as questões críticas que a humanidade enfrenta, para a sustentabilidade do planeta. As condições fundamentais para a escolha do futuro dependerão de mudanças de valores, instituições, estilos de vida e o compromisso de responsabilidade universal compartilhada. A sociedade sustentável terá que rever os padrões de consumo e produção de bens e serviços, com base nos princípios do desenvolvimento que integra as questões sociais, ambientais e econômicas.

44 www.earthcharter.org

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 23 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Questões essenciais para a qualidade do desenvolvimento da sociedade humana, representadas por energia, agricultura, construção civil, indústria, serviços em geral, transportes, turismo e saúde, estão em estreita correlação e sob a influência de outras questões não menos complexas como mudança do clima, resíduos em geral, poluição do ar, ambiente marinho e costeiro, depleção de recursos, poluição da água, assentamento urbano, dispersão de tóxicos, perda de biodiversidade, destruição da camada de ozônio, etc..

As dimensões militares, econômico-produtivas, financeiras, culturais, religiosas, de relacionamento interpessoal, científico-tecnológicas, epidemiológicas, policial-criminais e políticas. São questões que agravam as previsões para os próximos 40 anos45, alertando para as difíceis condições para a massa dos países, genericamente chamados de PNDs Países Não Desenvolvidos, especialmente para as comunidades com renda per Capita média para baixa.

• Maior crescimento, porém com aumento de desigualdades

• Renda crescente, porém, menor do que nos PDs

• Aumento da força de trabalho, porém, com problemas de emprego

• Aumento da expectativa de vida, mas com sérios problemas de saúde

• Dificuldades de acesso à disponibilidade de alimentos

• Necessidades crescentes de educação formal e habilitação profissional

• Dificuldade de acesso à água, prevendo-se 40% da população mundial vivendo em áreas de escassez

• Notável aumento da população urbana

As diferenças sociais e econômicas foram fortemente acentuadas pela globalização, com a ampliação do vocabulário para distinguir as nações desenvolvidas, superpotências, emergentes, estagnadas, extremamente pobres e politicamente excluídas46. As forças sociais transnacionais tendem a tornar ainda mais complicada a distinção das condições sócio-econômicas e ambientais das nações.

O conceito original de desenvolvimento sustentável47 é “atender as necessidades do presente, sem comprometer o direito (ability) das gerações futuras para atenderem (meet) suas próprias necessidades” e, como tal, foi incorporado como Princípio 3 da Declaração do Rio 92. Mas, os limites sociais, econômicos e ambientais do desenvolvimento sustentável ganharam novas dimensões, de natureza ideológica, a partir da articulação da questão da sustentabilidade (Princípio 3) da Declaração do Rio48, ao Princípio de Participação (Princípio 10), Prevenção e Precaução (Princípio 15), Poluidor Pagador (Princípio 16) e Avaliação de Impacto (Princípio 17), entre outros.

45 www.wri.org - Tomorrow’s markets: global trends and their implications for business. 2002 46 Viola. E. 1999. Multidimensionality of globalization, environmentalism, and the new transnacional social forces.10 pp. CIAO, www.ciaonet.org/isa/vie01 47 http://www.ceres.ca.gov/tcsf/sustainable_development.html - relatório apresentado à ONU, em 1987 pela The World Commission on Environment and Development (The Brundtland Commission), centrado em política global e no debate "crescimento versus ambiente" 48 Antonio Fernando Pinheiro Pedro. 2001. Aspectos ideológicos do meio ambiente. Ver. Cult. R. IMAE, S. Paulo ano 2, nr. 4, pp. 43-46. http://www.unep.org/Documents/Default.asp?DocumentID=78&ArticleID=1163 Rio Declaration

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No Brasil, o entendimento jurídico é de que o desenvolvimento sustentável consiste na exploração equilibrada dos recursos naturais, nos limites da satisfação das necessidades e do bem-estar da presente geração, assim como de sua conservação no interesse das gerações futuras49.

Para a OECD, significa a rota de desenvolvimento ao longo da qual a maximização do bem estar do ser humano na geração atual não leve ao declínio do bem estar futuro50. A visão do World Business Council for Sustainable Development é muito próxima da definição original: "a forma de progresso que atende as necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atenderem suas necessidades"51. Proposta de linguagem para a área empresarial diz que “desenvolvimento sustentável significa a adoção de estratégicas de negócios e atividades que atendam as necessidades da organização e suas partes interessadas, ao mesmo tempo em que protege, mantém e aprimora os recursos humanos e naturais que serão necessários no futuro”52.

Desenvolvimento sustentável é considerado como processo evolutivo de aperfeiçoamento da economia, do ambiente e da sociedade, para o benefício das gerações presentes e futuras (Interagency Working Group Indicators), ou o progresso da qualidade da vida humana, enquanto vivendo dentro da capacidade de sustentação dos ecossistemas (UNEP, WWF World Wildlife Fundation e IUCN International Union for Conservation of Nature).

A coletânea de definições e de indicadores de Desenvolvimento Sustentável53 oferece quadro historio interessante, para a construção do entendimento atual que, a propósito, ainda está no plano de declarações públicas, sem muita efetividade e de ações concretas, de parte de governos, empresas e da sociedade em geral.

Critérios para o desenvolvimento sustentável

A base para o desenvolvimento sustentável está na racionalidade do sistema de produção e consumo de bens e serviços, envolvendo capital natural, capital construído pelo homem e o capital social, propriamente dito, levando-se em conta54:

• crescimento econômico, não apenas para garantir o desenvolvimento social e a qualidade de vida, representada por renda, saúde humana, nível de educação, diversidade e valores culturais, relacionamentos interpessoais na comunidade e qualidade dos ecossistemas;

• integração do planejamento sócio-econômico-ambiental, para tomada de decisões e

• o compromisso para a equidade, com distribuição eqüitativa dos custos e benefícios.

As propostas abrangem variada gama de critérios55. As expressões listadas a seguir foram compiladas e distribuídas por ordem alfabética, uma vez que, com freqüência, expressam a mesma coisa.

49 Maria da Graça Krieger & col. 1998. Dicionário de direito ambiental. Ed. Universidade. UFRS, 511 pp. 50 http://www.oecd.org/EN/glossary/0,,EN-glossary-21-nodirectorate-no-no-311-21,00.html 51 www.wbcsd.org 2002. The business case for sustainable development. 52 Business strategies for sustainable development. 19 pp. www.bsdglobal.com/pdf/business_strategy.pdf Acessado em jan 03. 53 Murcott, Susan. 1997. Sustainability principles, ecosystem principles. Appendix A, B, C, D. www.sustainableliving.org 54 Business principles for a sustainable and competitive future. www.ec.gc.ca/grngvt/apnd_3_e.htm .

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 25 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

55 Murcott, S. 1997. Criteria of sustainable development. www.sustainableliving.org/appen-c.htm

acesso a recursos naturais biodiversidade capacidade de sustentação dos ecossistemas coesão social conservação de recursos diversidade ecológica eco-inovação eficiência no uso de recursos naturais empoderamento social equidade individual e social gestão responsável humanismo

identidade cultural internalização de custos mobilidade social participação participação pública política comercial eqüitativa preservação de recursos qualidade de vida reabilitação de recursos responsabilidade global valorização da vida valorização local viabilidade de mercado visão integral do desenvolvimento

Esforços para o desenvolvimento sustentável

Planos e programas de desenvolvimento sustentável foram implementados em diversos países e a expressão repetida em por empresas e organizações de interesse social. Para muitos, entretanto, trata-se de uma questão subjetiva, figura de retórica e, portanto, expressão usada no discurso de relações públicas das empresas.

O reconhecimento do desenvolvimento sustentável como Princípio 19 da Agenda 21 fez com que o conceito fosse incorporado em estudos e pesquisas, na área acadêmica, fomentado por governos e incluído no discurso de grande número de organizações governamentais, não-governamentais e – em particular - nas grandes empresas de negócios.

Planos, programas e outras iniciativas menos formais foram implementados, em várias partes do mundo, porém insuficientes em relação às expectativas da reunião da Cúpula da Terra – na Rio 92. Por isso, havia muita esperança de que, durante a reunião Rio+10, em 2002, realizada em Johannesburgo (agosto-setembro, 2002), a discussão sobre Sociedade e Desenvolvimento Sustentável resultasse no estabelecimento de metas e compromissos políticos e financeiros formais e diferenciados. Compromissos que seriam assumidos por todos os países, especialmente pelos mais ricos, uma vez que estes consomem mais e são os principais responsáveis pela maior pressão sobre os recursos e maiores impactos sobre os bens comuns.

A pauta da Cúpula da Terra Rio+10 não teve o sucesso esperado, em relação aos compromissos esperados dos países, para o desenvolvimento sustentável. Algumas situações ficaram evidentes: desenvolvimento sustentável continua sendo figura de retórica. Na prática, passados 30 anos de esperanças, houve agravamento da situação quanto às questões fundamentais para a espécie humana, tais como água, saneamento, energia, produtividade agrícola, biodiversidade, crescimento populacional, desigualdade de renda e pobreza, urbanização e industrialização.

Depois da Rio 92, houve esforços para o desenvolvimento econômico sustentável, mas praticamente nada objetivamente para a incorporação das dimensões sociais e ambientais:

• a sociedade como um todo precisa melhorar seu nível de educação ambiental

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• e as empresas devem praticar a governança corporativa comprometida com a RSA.

Os programas de desenvolvimento sustentável não mostraram conseqüências práticas suficientes, em virtude da falta de resultados mensuráveis em relação ao consumo de bens naturais, da dificuldade para medir os impactos maléficos causados pela atividade industrial aos bens comuns e da falta de engajamento efetivo de governos e empresas, entre outras razões.

É comum registrar comentários sobre a carência de:

• regulamentação e políticas públicas apropriadas • educação ambiental ampliada e • estratégias de desenvolvimento sustentável, implementadas em todas as

atividades e unidades operacionais das organizações. Nem sempre os princípios do desenvolvimento sustentável são articulados às ferramentas de gestão de operações, levando-se em conta pressupostos essenciais como:

• a sustentabilidade tem que estar focada em resultados e abordada a partir de planejamento e decisão com visão integral, sistêmica, holística, combinando elementos ou recursos ambientais, econômicos e sociais;

• o crescimento econômico precisa resultar em qualidade de vida e

• as ações devem estar necessariamente orientadas para a equidade e coesão social.

O entendimento de qualidade de vida reflete o conjunto diversificado de indicadores, como:

• abrigo/habitação • alimentação • ambiente/qualidade • coesão • direitos humanos • educação • emprego/oportunidade de trabalho • energia • equidade/discriminação • identidade cultural • infra-estrutura/serviços públicos • proteção infantil/juventude • recreação/laser/uso do tempo • renda/sustentabilidade econômica/distribuição de bens • saúde/bem-estar pessoal e comunitário • segurança pessoal e comunitária • transporte/mobilidade • respeito à diversidade individual, comunitária, nacional e universal.

Há propostas para inserção de sustentabilidade em ações práticas, em nível de programas de governo ou de empresas, com diferentes níveis de complexidade. A

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abordagem mais detalhada está incluída no capítulo dedicado à Gestão e planejamento estratégico, envolvendo questões e sistemas complexos, como é o caso da ecosfera. As principais dificuldades para lidar com tais temas são derivadas da falta de precisão para definir e detalhar os alvos e estabelecer os indicadores. Sem isso, fica difícil influenciar as decisões de negócios e iniciativas.

A disponibilidade de instrumentos e estratégias organizacionais permite, portanto, interpretar o conceito clássico de Desenvolvimento Sustentável56, para uso individual, comunitário e organizacional.

Sustentabilidade econômica

• Consumir somente os recursos pelos quais puder pagar.

• Contrair débito que possa ser pago em prazo adequado, em relação à sustentabilidade do sistema atual.

• Não transferir dívidas (externalidades e déficits econômico-sociais e econômico-ambientais) para terceiros, hoje e no futuro.

Sustentabilidade ambiental

• Extrair do ambiente apenas o que a natureza puder repor, em prazos adequados de recuperação do Capital natural.

• Despejar na natureza somente o que puder ser bio-convertido pelos sumidouros naturais, em prazos adequados com a capacidade de carga da terra.

• Não transferir déficit de Capital natural para gerações futuras.

Sustentabilidade social

• Comprometer-se e agir para a equidade, redução da pobreza e coesão social.

• Fortalecer a identidade cultural, o direito de participação (empowerment), acesso a bens naturais e à qualidade de vida individual e comunitária.

• Não transferir déficits de Capital Humano e Social para gerações futuras.

No caso das empresas, é necessária a capacitação para:

a. conhecer, suficientemente bem, os processos de produção adotados e os produtos e serviços elaborados;

b. calcular, corretamente, o balanço de material, de água e energia;

c. lidar com indicadores de sustentabilidade e ecoeficiência;

d. contabilizar os dispêndios socioambientais e elaborar os balanços sociais e ambientais

e. lidar com as ferramentas ambientais de gestão já mencionadas, outras já incluídas em tópico próprio e os conceitos adicionais, como: capital natural, caminho natural (natural step), capacidade de carga da terra (carrying capacity, etc.;

f. e utilizar modelos estratégicos para alinhar os princípios de Desenvolvimento Sustentável às atividades da organização.

56 Opinião pessoal.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 28 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Dessa maneira, é possível adotar a definição de Desenvolvimento Sustentável aplicada às empresas de negócios57

Os cenários pessimistas para os próximos 10 a 40 anos, derivam de diagnósticos que apontam para agravamento das crises ambientais, sociais e econômicas para os PNDs58. A saída terá que ser encontrada em políticas públicas capazes de defender interesses difusos, contra a posse privada dos bens comuns pelas empresas de negócios.

Esta visão encontra apoio na análise de seis principais megatendências para as empresas estabelecidas59:

1. globalização do mercado, capital e competição industrial

2. explosão da tecnologia da informação e comunicação

3. nova “física” da competição nos negócios: alianças estratégicas

4. revolução do valor do conhecimento: triunfo do capital intelectual

5. liberação política, econômica e comercial

6. revolução da sustentabilidade: emergência do desempenho como direcionador chave para competitividade.

7. Indicadores de sustentabilidade

A criação de indicadores, para aferir o desempenho socioambiental, é o primeiro passo a ser dado por qualquer organização ou agência de governo que se proponha a realizar ações concretas em relação ao desenvolvimento sustentável.

Vários países fornecem informações para a base de dados da Divisão de Estatísticas da ONU60 , inclusive o Brasil. Os dados do Brasil, até 2001, aparecem na página da Divisão de Estatística, como em outras páginas acessadas através da Internet, mas, não atendem, satisfatoriamente, a condição de indicador e, portanto, não permitiram que o Brasil figurasse, adequadamente, nas estatísticas internacionais.

Os indicadores de sustentabilidade são tratados, com maior abrangência, em outro capítulo da série Gestão com responsabilidade socioambiental. A presença dos dados sócio-econômico-ambientais do Brasil, no ISA Índice de Sustentabilidade Ambiental61 também não têm característica de indicadores. A pontuação e classificação do Brasil foram – em parte – baseadas em simulação e modelagem, pela inexistência de informações e indicadores temporais e espaciais efetivos.

O Brasil ocupou a 28a. posição (em 2001), entre 122 nações avaliadas, tendo alcançado Índice de Sustentabilidade Ambiental de 57,4 (em relação ao máximo de 100) e de 52,2 (avaliação por pares especialistas), com base em cinco grandes categorias de indicadores: sistemas ambientais, redução de estresse, redução da vulnerabilidade humana, capacidade social e institucional e gestão (stewardship) global. Resultados do Brasil, segundo o ISA:

57 Business strategies for sustainable development.19 pp. Acessado em jan 2003. www.bsdglobal.com/pdf/business_strategy.pdf 58 www.wri.org - Tomorrow’s markets: global trends and their implications for business. 2002 59 Martin Whittaker. 2001. Finance Mining Sustainablility. World Bank Group. http://www.worldbank.org/mining/news/conference/program/1 60 hhttttpp::////wwwwww..uunn..oorrgg//eessaa//aaggeennddaa2211//nnaattlliinnffoo//ccoouunnttrr//bbrraazziill//iinnddeexx..hhttmm 61 hhttttpp::////wwwwww..cciieessiinn..ccoolluummbbiiaa..eedduu//iinnddiiccaattoorrss//EESSII

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5558

6361

530

50

100Global

Sist amb

EstresseVulnerab

Soc instit

Em 2002, a posição do Brasil continuou inalterada: 59,6 (em relação ao máximo de 100 pontos). Para os interessados em comparações, a Argentina teve melhor avaliação: 19a. colocada, ISA 62,5 e 52,2 (avaliação por pares), em 2001 e 61,5 em 2002.

A criação da Comissão Consultiva de Estatísticas Ambientais no IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indica melhores perspectivas para geração de informações sobre o desempenho do Brasil em relação ao desenvolvimento sustentável, pela participação dos ministérios do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e (possivelmente) IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Os indicadores ambientais selecionados pelo IBGE, para os relatórios anuais, estão apresentados em outro capítulo desta série. Porém, é desejável que o IBGE incorpore – para a geração de indicadores institucionais – entes importantes para o aumento da capacidade na tomada de decisões, tais como grupos acadêmicos, ONGs, representantes de grupos principais, etnias minoritárias e grupos indígenas. Ou, pelo menos, os incluíssem no processo consultivo (Comissão). Em modelos disponíveis, tais entes já foram identificados como indicadores. O primeiro relatório de desenvolvimento sustentável, do IBGE, apareceu em 200262.

A seleção e criação de indicadores levam em conta – entre outras iniciativas - consultas aos distintos agentes interessados, cientistas, engenheiros, dentro e fora do governo, análise da mídia e literatura científica, levantamento de opiniões, envolvendo temas relacionados com a sustentabilidade.

8. Comércio ambiental internacional e desenvolvimento sustentável

Sob a ótica do comércio internacional63, o desenvolvimento sustentável apresenta três importantes dimensões, levando-se em conta o presente e o futuro: economia, justiça social e sustentação ambiental.

Trata-se da exploração racional de recursos naturais, com o uso de tecnologias mais inofensivas e apropriadas para o ambiente. Neste caso, os desafios são determinados por:

• aumento da população e demandas de consumo de bens e serviços • crescimento urbano • uso de tecnologias recurso (natural) intensivas • acúmulo de resíduos, principalmente os tóxicos e perigosos.

62 IBGE.2002. Indicadores de desenvolvimento sustentável. Brasil. 2002, 197 pp. www.ibge.gov.br (Geociências, Indicadores de Desenvolvimento Sustentável) 63 Antônio Sérgio Braga & Luiz Camargo de Miranda. 2002. Comércio e meio ambiente: uma agenda positiva para o desenvolvimento sustentável. Brasília, MMA/SDS, 310 pp.

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As ações da OMC sobre o comércio internacional incluem aspectos socioambientais que, em várias situações, acabam provocando reflexos para o desenvolvimento sustentável e prevalecendo sobre as legislações nacionais.64

O papel e atitudes da OMC são considerados corretos por uns65 e contestados por outros66. Para os primeiros, há incompreensão sobre o papel da Organização e o uso, em alguns casos, de eco-terrorismo. Para outros, a OMC precisa tornar-se "mais verde"67, transparente e menos sujeita ao poder de voto dos países ricos.

Destacam-se, assim, dois extremos, em relação ao binômio desenvolvimento sustentável-comércio internacional: (a) foco no capital natural e (b) a visão segundo o capital monetário. A primeira surge da indagação de como aprimorar e sustentar a vida na terra. A segunda expressa a antítese da sociedade capitalista, baseada na competição, maximização de lucro e redução de custos. São condutas contraditórias, determinadas por éticas e valores diferentes68 .

Neste universo de contradições, há proposta para que o governo crie condições para o estabelecimento de uma agenda apropriada para o binômio comércio (especialmente o internacional) e ambiente (inclusive os aspectos sociais), levando em conta questões como69:

• identificar segmentos ou setores relevantes • identificar indicadores de sustentabilidade • caracterizar a relevância econômica e ambiental • determinar sistemas de produtos com menor ou mais baixos índices de

toxicidade • definir as relações entre recursos naturais e desenvolvimento • repensar o modelo de exportação de matérias primas, mão-de-obra e produtos

com baixo valor agregado, para produtos de melhor desempenho e melhor tecnologia ambiental

• produzir e exportar produtos "limpos" (baixo consumo de recursos, inclusive água e energia, com índice mais baixo de toxicidade e gerador de menor volume de resíduos, emissões e efluentes)

• atender os padrões elevados de qualidade socioambiental e, com isso, atender as exigências previstas por instrumentos como o Princípio do Poluidor Pagador, Princípio da Precaução, Direito Público de Acesso à Informação e outros regulamentos mandatários e voluntários, como ISO 14001, EMAS (Eco-Management and Audit Scheme70), Rotulagem Ambiental, etc..

Pelo menos em tese, muitas pessoas e diversas manifestações, relativas à visão comercial, social e política do desenvolvimento sustentável, concordam em que é preciso conhecer a capacidade de sustentação (carrying) da terra e dispor de 64 As relações entre comércio internacional e OMC são também abordadas no capítulo que trata de Produção Limpa. 65 Helga Hoffmann. 2002. Meio ambiente e comércio internacional. Ver. Cult. R. IMAE, S. Paulo ano 2, nr. 4, pp 36-42. 66 http://pilger.carlton.com/globalisation/multinationals Seven solutions to the globalisation problem; David C. Korten. 1996. Quando as corporações regem o mundo, Ed. Futura 417 pp. 67 http://www.greenpeace.org/pressreleases/toxics/2000sep18.html WORLD TRADE ORGANISATION STILL IN NEED OF ENVIRONMENTAL REFORM - 18 September 2000 68 http://www.un.org/documents/ecosoc/cn17/1998/background/ecn171998-bp7.htm Commission on Sustainable Development. Background Paper nr. 7. 20 April - 1 May 1998. Corporate management tools for sustainable development: from accounting to accounting. 69 Antônio Sérgio Braga & Luiz Camargo de Miranda. Já citado. 70 http://europa.eu.int/comm/environment/emas/index_en.htm

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tecnologias apropriadas, para uso de recursos naturais, de modo a não transferir ônus em relação aos futuros estoques. Na prática, entretanto, há contradições e controvérsias.

• Organismos multilaterais, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e porta-vozes de Países Desenvolvidos (PDs) Não Desenvolvidos (PNDs), insistem na necessidade de políticas e tecnologias com padrões socioambientais internacionais elevados.

• Proposta de agenda de negociação multilateral de comércio internacional para a América Latina e Caribe71 defende o direito soberano do Estado para explorar seus próprios recursos (Princípio 2 da Declaração do Rio sobre o Meio-ambiente, 1992) e participar da repartição dos benefícios da exploração econômica dos recursos genéticos (Convenção da Biodiversidade), pelo fato da Declaração do Rio reconhecer as contribuições diferenciadas dos Estados na degradação do ambiente (Princípio 7). A justificativa usada visa garantir as vantagens comparativas dos PNDs, detentores de parcelas importantes de recursos naturais, como o Brasil.

• Fundos de investimento ético, ONGs socioambientais e outras interessadas em contabilização ambiental, transparência e comunicação pública, reclamam a necessidade de instrumentos regulamentados (obrigatórios) de caráter internacional, para demonstração de desempenho socioambiental, auditado por partes independentes.

• Empresas, várias organizações multilaterais e ONGs representativas do segmento privado, ou com interesses em temas comerciais, defendem o mercado livre e uso de instrumentos voluntários.

A diversidade de entendimento e de conduta gera contradições sobre a responsabilidade por danos, impactos ou sobrecargas para a saúde do homem e ambiente e pelos custos socioambientais transferidos para a sociedade - as externalidades - quando bens e serviços são introduzidos no ambiente público.

Nos PDs, há crescente preocupação para substituir as tecnologias de produção segundo o modelo de fim-de-tubo (end-of-pipe), por outras de caráter preventivo e, em alguns, precaucionário.

• O modelo fim-de-tubo preocupa-se com os resíduos industriais, através da contenção, tratamento, destruição (em geral por incineração), descarte e destinação.

• O preventivo e precaucionário procuram evitar a geração na fonte e propõem medidas para reciclar, reusar ou remanufaturar todo o resíduo (não-produto) gerado, com o emprego de tecnologias limpas (clean) ou mais limpas (cleaner)72.

Agenda para a América Latina e Caribe reivindica comportamento diferenciado dos Estados quanto ao ambiente, mas reconhece que o Brasil exporta produtos mais sujos do que os que importa de PDs, pelo fato dos produtos locais serem:

• dependentes de produtos primários

71 Antônio Sérgio Braga & Luiz Camargo de Miranda. 2002. Comércio e meio ambiente: uma agenda positiva para o desenvolvimento sustentável. Brasília, MMA/SDS, 310 pp. 72 Nas expressões Cleaner Production e Cleaner technology, o adjetivo cleaner refere-se ao processo e tecnologia industrial tradicionais, mas não ao vocábulo clean. Na discussão de Produção Limpa e Produção Mais Limpa, o leitor verá que, do ponto de vista socioambiental. Produção limpa é mais exigente e, portanto, mais efetiva do que a Produção Mais Limpa.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 32 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

• dotados de elevado índice de toxicidade • resultantes de tecnologia intensiva em recursos • e transferidores de externalidades, ou seja, custos socioambientais não

assumidos pelo produtor (como, a propósito, também é feito pelas indústrias dos PDs).

De acordo com a Agenda mencionada, a discussão das relações entre tecnologias ambientais e comércio internacionais envolve, em especial, temas ou questões importantes, como:

• Agenda participativa • Aquecimento global • Avaliação de Impacto no Ciclo-de-Vida (Life-Cycle Impact Assessment) e

Avaliação de Custo no Ciclo-de-Vida (Life-Cycle Cost Assessment) do produto

• Bens e alvos comuns • Biossegurança • Camada de ozônio • Direito Público de Acesso à Informação e Participação de Grupos de Interesse

(stakeholders e shareholders) • Espécies em extinção • Externalidades de consumo - a jusante ou downstream - não contabilizados,

nem assumidos pelo produtor • Externalidades de produção - a montante ou upstream - freqüentemente não

contabilizados, porém, assumidos pelo produtor • Impactos: fatores causais, previsão, avaliação e medidas de prevenção,

mitigação, compensação e plano de monitoração • Indicadores de desempenho socioambiental e econômico de sustentabilidade • Índice de toxicidade de produtos industrial, determinado a partir do (i) índice

de intensidade de toxicidade humana (segundo o Banco Mundial e calculado com base no Toxic Release Inventory TRI dos EUA, Human Health and Ecotoxicity Database e Longitudinal Research Database) e (ii) índice de dependência de produtos primários, determinantes da base poluidora de produtos recurso-intensivos e seus efeitos local (nacional), transfronteiriço e global.

• Informação Prévia de Consentimento (PIC Previous Information Consent), especialmente para substâncias químicas

• Linha de base de poluição (Pollution Baseline) determinada pela geração e liberação de produtos, substâncias ou efeitos, a curto, médio e longo prazos, capazes de causar danos, impactos ou cargas para o homem e o ambiente (água, ar, solo) e para os recursos naturais renováveis e não-renováveis

• Madeiras tropicais • Métodos de Processos e Produção (PPM Process and Production Methods),

envolvendo efeitos ambientais relacionais ao manuseio, consumo ou descarte final, abrangendo Exigências Produto-Relacionadas e Produtos-Não-Relacionadas

• Política de devolução garantida (Take Back) • Princípio da precaução • Princípio da prevenção

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 33 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

• Princípio do poluidor pagador • Prioridades regionais e internacionais • Propriedade industrial - patentes, especialmente em recursos genéticos • Relatório público de desempenho socioambiental • Responsabilidade estendida (continuada) do produtor • Rotulagem/selo ambiental • Tipologias de resíduos, especialmente o tóxicos e perigosos, inclusive os não-

produtos gerados durante o processo de produção, aqui incluídas perdas de matérias primas, água e energia

• Transferência de resíduos perigosos • Vantagens socioambientais competitivas e comparativas

As Convenções Internacionais, que dependem de tecnologias ambientais, são documentos importantes73 para avaliação dos compromissos assumidos pelos países.

Aarhus Convention on Access to Information, Public Participation in Decision-making and Access to Justice in Environmental Matters (Aarhus)

Agreements on Straddling and Migratory Fish Stocks

Basel Basel Convention on the Tranboundary Movements of Hazardous Wastes and their Disposal

CBD Convention on Biological Diversity

CCD United Nations Convention to Combat Desertification in those Countries Experiencing Serious Drought and Desertification, Particularly Africa

CITES Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora

CMS Convention on the Conservation of Migratory Species of Wild Animals

Heritage Convention Concerning the Protection of the World Cultural and Natural Heritage

OSPAR Convention for the Protection of the Marine Environment of the North East Atlantic (OSPAR)

Ozone Viena Convention for the Protection of the Ozone Layer and Montreal Protocol on Substances that Deplete the Ozone Layer

PICs Prior Informed Consents

POPs Persistent Organic Pollutants

Ramsar Convention on Wetlands of International Importance specially as Waterfowl Habitat

UNCLOS United Nations Convention on the Law of the Sea

UNFCCC United Nations Framework convention on Climate Change

Controvérsias na agenda ecológica e econômica

As questões relacionadas ao comércio internacional e ambiente, no âmbito da OMC são abordadas sob dois aspectos:

1. as reações das empresas, frente às barreiras, restrições e alegações de natureza ambiental e

73 As principais Convenções ambientais foram traduzidas para o idioma português, pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, em 1997.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 34 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. as implicações das atitudes e regulamentos da OMC, em relação aos acordos multilaterais de comércio, do ponto de vista do desenvolvimento sustentável e suas implicações em relação a aspectos socioambientais de ordem global ou nacional, tendo em vista as diferenças entre PD Países Desenvolvidos, PNDs Países Não Desenvolvidos e em PED Países Em Desenvolvimento74.

Ação Reação da sociedade Reação dos negócios Política pública para proteção, conservação e recuperação de recursos naturais

Necessária e apóia. Quem deverá pagar?

Aumento de custos. Quem deverá pagar

Política pública - aumento de riqueza, emprego e níveis de renda

Importante. Como repartir os custos?

O mercado irá pagar por isso?

Regulamentação mais rígida para controle da poluição

Indispensável Aumento de custos de produção

Rotulagem ou selo ambiental

Necessário. Obriga a elevação da RSA. Faltam debates nos PNDs

Barreiras não tarifárias. Aumento dos custos de produção. Altera as regras de competitividade. Não há infra-estrutura para questões relativas aos produtos.

Elevação dos padrões ambientais

Não há debates Vantagens competitivas são neutralizadas. Determinam barreiras tarifárias

Internalização de custos ambientais do sistema produtivo de bens e serviços

É preciso. Setor cívico não deve arcar com os custos privados. Empresas têm ganhos com economia de insumos, processo e uso de resíduos É da responsabilidade do setor produtivo. Empresas não contabilizam o passivo ambiental. Têm visão equivocada a respeito dos investimentos na mudança de paradigmas. A falta de ação atrai indústrias sujas ou cria paraísos de poluição

Aumenta custos. Não há incentivos, nem subsídios. Afeta a competitividade internacional. Faltam políticas públicas. Perde-se a vantagem comparativa.

A globalização requer a abertura econômica nos PNDs e PEDs

Cria indústrias com menor potencial de poluição. Empresas superestimam os custos de controle ambiental. Há maior acesso a tecnologias ambientais responsáveis para o mercado local e global

Perde-se a vantagem comparativa dos países com menor exigência ambiental e com maior intensidade de uso de recursos naturais. Empresas não estão preparadas econômica e tecnicamente para incorporar as novas tecnologias

Desenvolvimento Há compatibilidade? Mercado deve determinar 74 Derivadas, basicamente, de Antônio Sérgio Braga & Luiz Camargo Miranda. 2002. Comércio e Meio Ambiente: uma agenda positiva para o desenvolvimento sustentável. MMA/SDS, 310 pp.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 35 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

econômico, ambiental e social sustentável

Mercado não é adequado. Direito de propriedade não é bem definido. Valor dos recursos naturais não é refletido no mercado. Aumento de renda causa danos ambientais que podem ser irreversíveis.

as regras. Resulta no melhor manejo dos recursos e valorização dos recursos naturais e ecossistemas. Quanto maior o crescimento econômico, menor a poluição. Governo não resolve.

Políticas de atração de investimentos devem estar em concordância com a gestão responsável dos recursos naturais e do ambiente

O Estado deve legislar sobre os investidores e estes têm responsabilidades para com o País. Muitos Estados são mais fracos do que as grandes transnacionais

Os investidores querem a defesa de seus investimentos

É preciso compatibilizar políticas de atração de investimentos com a defesa ambiental

Investidores e empresas têm responsabilidades sociais

Investidor quer garantia para riscos

Diferenças de regulamentação ambiental criam diferenças em competitividade internacional.

Regulação branda gera paraísos de poluição. Há tendência para "regulamentos mínimos" com danos ambientais maiores para os PNDs. Produtos sujos são discriminados em mercados mais exigentes

Há aumento da competitividade

Exposição internacional força melhor desempenho ambiental da empresa

Maior facilidade de acesso a tecnologias e mercado

Aumento da concorrência força redução de custos e menor dispêndio em questões ambientais

Produtos precisam ser mais limpos e menos recurso intensivos, para evitar conflitos internacionais e comerciais

Indústria local deve acompanhar as tendências internacionais, para o desenvolvimento sustentável

É preciso haver investimentos e faltam recursos e instrumentos de política

Padrões ambientais elevados, acordos voluntários e protecionismo verde

Importantes para o desenvolvimento sustentável

São iniciativas de PDs, produtores de tecnologias ambientais e que orientam suas ações em função de suas realidades e de interesses econômicos

Controle ambiental nas indústrias

É necessário e não envolve gastos elevados - 1% a 2% do valor total das exportações

Envolve custos elevados para a indústria com perda de competitividade

Princípio da Precaução Importante para salvaguardar a sociedade humana e biodiversidade

Interessa os PDs e não os PNDs. Pode criar protecionismo. É preferível o princípio das responsabilidades diferenciadas

É fundamental que as controvérsias sejam eliminadas, para que as organizações possam tirar o máximo proveito das aplicações estratégicas das tecnologias ou ferramentas de gestão socioambiental.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 36 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

O maior sucesso comercial está reservado às empresas mais bem capacitadas para medir, limitar, corrigir e – acima de tudo prevenir danos ambientais e conseqüências sociais resultantes da emissão de poluentes, do consumo não-sustentável de recursos, de água e energia, principalmente quando se tratar de energia não renovável.

9. Inserção de Desenvolvimento Sustentável na produção de bens e serviços As dificuldades para incorporação do princípio da sustentabilidade social, econômica e ambiental nas atividades da organização partem de importantes grupos de pressupostos.

1. É preciso lidar com iniciativas caracterizadas por complexidade intrínseca, levando-se em conta:

(a) os princípios envolvidos e o fato de que as questões ou temas socioambientais englobam elementos multi-meios (ar, água, solo, subsolo), de interesse freqüentemente difuso ou multi-pontos, cujos impactos ultrapassam os limites locais, para ganharem significado regional ou global.

(b) a natureza dos sistemas, subsistemas e condições observados nas dimensões sociais, econômicas e ambientais que caracterizam o desenvolvimento sustentável e

(c) as ferramentas a serem utilizadas, sejam estas representadas por conceitos ou por tecnologias.

2. As características organizacionais e culturais, prevalentes nas organizações produtivas, representam barreiras para implementação de modelos estratégicos, devido a questões como:

(a) falta ou carência – na organização ou nas pessoas que trabalharam para ela – de entendimento do real significado da RSA, quando a organização recebe a licença para operar

(b) prevalência, entre as organizações, da cultura socioambiental conservadora e reativa, fazendo com que as operações produtivas sejam realizadas no limite da conformidade

(c) entendimento, nas empresas com fins lucrativos, de que as questões socioambientais são elementos de despesas que comprometem a competitividade e não como elementos para decisão de negócios e competitividade

(d) irrelevância hierárquica da gestão socioambiental, na configuração organizacional verticalizada, independente da estratégia de negócios estar ou não integrada na cadeia de suprimentos, estar ou não voltada para produtos primários concentrados, para bens simples ou homogêneos, para linhas de montagem de produtos heterogêneos, para manufatura à base de tecnologias sofisticadas, etc.

(e) e a falta de prática para planejar, programar, executar e gerenciar iniciativas integradoras, transversais, de natureza corporativa e multi-partes interessadas.

3. O modelo educacional é, tradicionalmente, orientado por disciplinas do conhecimento e o de preparação profissional privilegia técnicas especializadas, ambos sem visão de integralidade, multilateralidade e flexibilidade.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 37 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. O comportamento dos consumidores requer mudanças substanciais, pois, está voltado para consumismo intenso de produtos e serviços com obsolescência programada e desperdício.

Modelos de estratégias de desenvolvimento sustentável

Os comentários a seguir abordam número limitado de tipos de estratégias que foram propostas por pessoas ou organizações que se dedicam a promover o desenvolvimento sustentável para a produção de bens e serviços.

Modelo 1 – Estratégias de governo

De modo geral, as agências governamentais utilizam a palavra estratégia para representar os tipos de iniciativas e a maneira ou procedimentos que serão adotados em relação a determinado número de questões, assuntos ou problemas de caráter local, mas que estão articulados a temas globais. As questões abrangem, por exemplo: qualidade e suprimento de água, energia, aquecimento do planeta, emissões ácidas, substâncias depletoras da camada de ozônio, proteção da biodiversidade, etc..

Não são considerados, em geral, os elementos, nem os passos recomendados para o planejamento. Portanto,

• não são identificados os alvos, objetivos, as metas qualificadas e quantificadas;

• não são elaborados cenários prospectivos dos tipos forecasting (simulação do futuro, com base nos problemas e tendências do presente) e backcasting (visão de sucesso futuro), nem estabelecidos os por que, quem, o que, como, onde, para que, com atribuição de funções e responsabilidades;

• a visão nem sempre é estabelecida com clareza;

• os indicadores não são criados com precisão e não há pré-definição de instrumentos e recursos, nem arroladas as ferramentas de gestão socioambiental, sob a forma de princípios, conceitos ou tecnologias ambientais.

Faltam, acima de tudo, métodos e mecanismos para estabelecer os fluxos e nexos destinados a integrar as dimensões sistêmicas do desenvolvimento sustentável, isto é, os recursos econômicos, sociais e ambientais.

Modelo 2 - Identificação de ações sustentáveis e não-sustentáveis

Este tipo de estratégia75 consiste em identificar as atividades como sendo sustentáveis ou não sustentáveis, com base na gestão dos fluxos de materiais resultantes de atividades humanas.

Estão incluídas entre as sustentáveis, as ações com dimensões econômica, social e ambiental integradas e com enfoque em conservação, poupança, recuperação, reuso, renovação reciclagem de recursos materiais, água e energia e, em especial, o uso responsável de recursos renováveis e não-renováveis.

Há, portanto, a combinação ou interação de conceitos relativos a tipos de materiais, processos produtivos e uso de bens e serviços, levando em conta as emissões de resíduos e os impactos causados ao homem e ao ambiente.

As não-sustentáveis demandam contínuo ingresso de recursos não renováveis; recursos renováveis em maior velocidade do que a natureza tem condições de renovar;

75 Sustainability. www.cyberus.ca/~sustain1/Sustain.html

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 38 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Ações na

cadeia de ne-gócios

Transfe-rên-

cia detecnolo-

gia

Ferra-mentas

de gestão

Articula-çãocom

agentesinteressa

dos

Padrõeseleva-dos

de RSA

Códigosde ética

Objeti-vos

corpora-tivos

Adoçãode

princí-pios

de DS

Açõesna

empresa

Ações na

cadeia de ne-gócios

Transfe-rên-

cia detecnolo-

gia

Ferra-mentas

de gestão

Articula-çãocom

agentesinteressa

dos

Padrõeseleva-dos

de RSA

Códigosde ética

Objeti-vos

corpora-tivos

Adoçãode

princí-pios

de DS

Açõesna

empresa

as atividades que causam acumulação continuada na superfície da terra, destruição da biodiversidade e que prejudicam o bem-estar da população.

Este modo de abordar o desenvolvimento sustentável resulta em propostas – geralmente nacionais – para metas a serem perseguidas que, dificilmente poderão ser adotadas por empresas, individualmente, a menos que a cultura socioambiental esteja bem consolidada.

Os temas mais sensíveis, no enfoque sustentável, abrangem, por exemplo: equidade, qualidade de vida, geração e uso de energia (com preferência para a energia renovável), transporte, uso da terra e habitação, comunidades saudáveis ou sustentáveis, eco-indústrias, biodiversidade, etc..

Modelo 3 - Implementação de ações gerenciais integrativas

A proposta é do Governo do Canadá76 e destaca a importância de serem considerados grandes blocos estratégicos de iniciativas, abrangendo princípios socioambientais abordados em várias partes deste texto e outros específicos para a competitividade futura de negócios.

No caso das empresas, é indicada a importância de estabelecimento de objetivos e alvos corporativos alinhados aos princípios do desenvolvimento sustentável, com responsabilização para comunicar, periodicamente, o desempenho frente aos objetivos, para todas as partes interessadas.

Modelo 4 - Medidas de desempenho para estratégias de desenvolvimento sustentável

O modelo foi proposto para uso de unidade (Department) responsável por atividades ou programa de Desenvolvimento Sustentável77.

As ilustrações foram baseadas na interpretação dos modelos 3 e 4. A primeira figura contém os grandes componentes segundo a visão geral. A segunda representa o encadeamento das ações estratégicas.

76 Green Government – Canadá - www.ec.gc.ca/grngvt/apnd_3_e.htm 77 Developing Performance Measures for Sustainable Development Strategies. 9 pp. Acessado em 6/out/02. www.oag-bvd.gc.ca/domino/cesd_cedd.nsf/html/pmwork_e.html

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 39 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Medição do desempenho��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

6. Medidas potenciais de desempenho

��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

7. Informação e medidas de linha de base

��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

8. Adequação de medida de desempenho

��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

9. Responsabilidade erecursos para implementação

����������������������������������������������������������������������������������������������������

Política de negócios�������������������������

���������������������������������������������������������������������������Política sócio-

ambiental

����������������������������������������������������������������������������������������������������

Objetivos estratéticos da

empresa

����������������������������������������������������������������������������������������������������

Planejamento estratégico do

programa

����������������������������������������������������������������������������������������������������Programa de

desenvolvimento sustentável

����������������������������������������������������������������������������������������������������

Planejamento estratégico

global

Objetivos & estratégias���������������������������������������������������������������������������1. Confirmação do papel do programa

���������������������������������������������������������������������������

2. Atividades e saídas chaves

������������������������������������������������������������������������������3. Partes interessadas e temas

������������������������������������������������������������������������������������4. Alvos a serem alcançados

������������������������������������������������������������������������5. Respostas e exigências de desempenho

1. Definir1.1.Objetivos estratégicos1.2.Atividades principais e resultados esperados1.3.Aspectos significativos do programa1.4.Idem de desenvolvimento sustentável.

2. Identificar2.1.Atividades chave2.2.Significação (alta, média e baixa)

3.Caracterizar2.1.Atividades chave2.2.Significação (alta, média e baixa)

5.Relacionar5.1.Requisitos necessários de respostas5.2.Respostas esperadas e desempenho

6. Definir6.1.Modo de gestão do programa6.2.Focos: gestão de riscos, recursos, padrões de gestão, práticas operacionais, análise de conteúdo, análise de longo prazo

7. Correlacionar7.1.Linha de base (referencial) para cada medição prevista7.2.Nível de recurso ou de esforço exigido para alcançar os objetivos

8. Selecionar8.1.Medidas de avaliação apropriadas para acompanhar o desempenho, quanto ao conteúdo e qualidade de desempenho esperado8.2.Definir critérios de medidas de desempenho: significativa (compreensível, relevante, comparável) confiável e prática

9. Estabelecer9.1.Relações entre responsabilidades recursos para implementação, envolvendo: resultados, saídas, atividades e recursos

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Critérios de qualidade para medidas de desempenho

Modelo 5 - Definição de níveis estratégicos e sinergia de ferramentas de gestão

A utilização de alguns modelos e sua inserção, tratadas no Modelo complexo78, considerado abrangente e sofisticado para o Desenvolvimento Sustentável Estratégico, é baseada na sinergia entre diversas ferramentas como Natural Step, Factor X, Factor 4, Natural Capital, Zeri Emmission, Sustainable Technology Development e outras (várias dessas apresentada em outro capítulo da série Gestão com responsabilidade socioambiental).

O modelo abrange cinco níveis hierárquicos estratégicos e complexo processo de interrelacionamento dos subsistemas.

1. Ecosfera – sociedade humana e ecossistemas naturais.

2. Sustentabilidade, com quatro condições – concentração de material extraído da terra, concentração de material produzido pelo homem, degradação por meios físicos e sustentação de necessidades humanas.

3. Princípios e estratégias de gestão com RSA

4. Ações efetivas

5. Ferramentas de gestão com RSA

Entre os modelos estratégicos para inserir a sustentabilidade nas ações das organizações, um propõe o uso dos princípios, em combinação com a sinergia de ferramentas, em vários níveis sistemicos79.

1. Ecosfera ou biosfera – localizada entre a litosfera, a fase rochosa e a atmosfera, onde ocorrem os fenômenos sociais, biológicos, químicos e físicos,

78 K.-H. Robert e col. 2002. Strategic sustainable development – selection, design and synergies of applied tools. Jour. Cleaner Production 10(2002): 197-214. www.cleanerproduction.net .Só para assinantes. 79 K.-H. Robert & col. 2002. Strategic sustainable development – selection, design and synergies of applied tools. J. Cleaner Production 10 (2002): 197-214. www.cleanerproduction.net

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capazes de determinar as relações entre os componentes bióticos e abióticos do planeta terra. Este nível abrange dois âmbitos ou componentes.

Ecossistema humano – antroposfera, tecnosfera ou sociedade humana, propriamente dia, cujas características são determinadas por critérios, valores, princípios, ética, paradigmas e outros aspectos das relações econômicas e sociais, criados pela sociedade humana.

Ecossistemas naturais, sujeitos aos princípios e regras determinados pela ecologia, ciclos geoquímicos e ações humanas.

2. Sustentabilidade – representada pelo conceito original (Relatório de Brundtland e Princípio 3 da Declaração do Rio) e as diversas interpretações manifestadas por diferentes organizações, governos e formadores de opinião. Este nível abrange quatro condições:

Fluxos litosfera-ecosfera – dos quais resultam materiais acumulados na superfície da terra, os quais afetam a sustentabilidade em função da intensidade, equilíbrio (balanço) e qualidade final dos depósitos.

Fluxos sociedade-ecosfera – responsáveis pela concentração de substâncias produzidas pela sociedade e que afetam a sustentabilidade em razão da intensidade e equilíbrio (balanço), degradabilidade e qualidade final dos depósitos.

Ações físicas da sociedade humana – que causam impactos e danos à qualidade ou promovem a destruição de ecossistemas, através de manipulação do ambiente, colheita, extrativismo e outras formas de intervenção por processos produtivos. São fatores importantes: produtividade, qualidade final dos recursos e disponibilidade de bens.

Atendimento a necessidades humanas – traduzidas pelo acesso e fruição de bens, globalmente.

O modelo considera a utilização, em todos os níveis e partes do sistema, de dois macroprocessos estratégicos para poupança e prevenção de efeitos danosos para a saúde humana e qualidade ambiental.

• Desmaterialização – representada pela diminuição de intensidade, volume e outras formas de uso de recursos naturais, inclusive água e energia.

• Substituição – caracterizada pela troca de materiais e mudança de processos, para privilegiar componentes ecologicamente mais adequados, evitar o consumo de recursos mais escassos ou os mais danosos, segundo aspectos toxicológicos, epidemiológicos e, em especial, as substâncias que causam danos permanentes.

A desmaterialização e substituição – quando aplicadas nas três primeiras condições – têm como objetivo prevenir a interferência destrutiva nas funções e evolução dos sistemas ecológicos. Na quarta – Atendimento das necessidades humanas – a desmaterialização ultrapassa as condições ecológicas e inclui aspectos de saúde relacionados à poluição, de caráter epidemiológico, como os POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes), substâncias desorganizadoras do sistema endócrino, doenças auto-imunes, por exemplo.

3. Ações ou processos – para alcançar os objetivos, passo-a-passo e efetivar as mudanças à base de desmaterialização, substituição ou ambas, levando em conta grandes blocos de iniciativas.

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(i) Princípios de investimentos estratégicos, destinados a aperfeiçoar o desempenho social e econômico. Este bloco leva em conta:

a. visão de futuro (estratégia propriamente dita), isto é, situação ou condição a que se deseja chegar, utilizando-se de processos de previsão (forescasting), avaliação de tendências e condições atuais, porém, mudança de direção, para eliminar problemas e corrigir o curso do desenvolvimento;

b. uso de plataformas flexíveis, para evitar “becos-sem-saída”;

c. orientação para bom retorno sobre os investimentos, a partir de custos menores e maiores oportunidades de mercado

d. adoção do Princípio da Precaução, para questões de risco social, ambiental e econômico.

(ii) Princípios sociais, caracterizados por:

a. diálogo e encorajamento para o trabalho em equipe, eliminação de conflitos e estímulo ao envolvimento de todas as partes interessadas;

b. transparência ou participação democrática, para prevenção de erros e estímulo à participação colaborativa na cadeia de negócios ou suprimento

(iii) instrumentos de política, para facilitar mudanças de conduta e criar condições para implementação de medidas adequadas que se tornarem necessárias:

a. impostos diferenciados, para estimular a redução de fluxos materiais na economia, combinados com instrumentos regulatórios, acordos voluntários, etc., como poluidor pagador, imposto verde, entre outros:

b. subsídios de longo prazo, quando não interfiram em prática de livre concorrência;

c. normas e padrões, desde que contribuam para condições de excelência, sem requerer elevado consumo de energia, materiais e espaço;

d. acordos internacionais, como os Princípios da Declaração do Rio, Protocolos e Convenções, desde que contribuindo positivamente para o desenvolvimento sustentável;

e. acordos internacionais de comércio e desenvolvimento econômico, desde que não contribuam para transferência de poluição, consumo intensivo de materiais e transferência de custos de externalidades;

f. legislação, destinada à proteção dos bens comuns, sempre que outros meios ou possibilidades não sejam eficientes, recomendando-se a discussão de acordos internacionais, pelo fato dos problemas de sustentabilidade terem efeito global.

4. Ações – abrangendo os princípios de processos apresentados no nível 3, em consonância com os princípios da sustentabilidade (Nível 2), com efeitos na ecosfera (Nível 1). As ações envolvendo os megaprocessos desmaterialização e substituição são representadas, em geral, por reuso, reciclagem, remanufatura, mudança da matriz energética, etc..

5. Ferramentas – caracterizadas por instrumentos, métodos de abordagem ou tecnologias para atuação em dois âmbitos.

a. Avaliação da conformidade das ações ao plano geral e objetivos

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 43 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

b. Monitoramento dos impactos atuais no sistema a ser protegido

Os autores do modelo mencionam as ferramentas listadas a seguir. Além dessas, há outras, apresentadas em capítulo próprio desta série, que poderão ser utilizadas, ampliando o conjunto de recursos disponíveis.

• Fator X (ou Fator 10) • Avaliação do Ciclo-de-Vida, Fardo ou Mochila Ecológica

(Ecological Rucksacks80) e Intensidade de Material por Unidade de Serviço

• Fluxo total de material • Sistemas de gestão ecológica/ambiental, como Normas ISO,

EMAS • Pegada ecológica • Emissão zero • Desenvolvimento de tecnologia sustentável • Produção (Mais) Limpa • Capital Natural

Independente do modelo a ser adotado, é indispensável eleger os indicadores socioambientais que possam ser medidos, contabilizados e avaliados.

i. indicadores de sustentabilidade ou de ordem global, para caracterizar questões ou comuns e

ii. indicadores de ecoeficiência, relativos aos negócios ou atividades da empresa ou organização não-comercial, em três condições fundamentais: (a) negócio ou atividade-específicos, (b) caráter geral ou (c) de uso potencial, porém de interesse no setor ou segmento de atuação da empresa ou organização.

A visão geral a respeito dos indicadores está apresentada de maneira mais ampliada, em capítulo à parte da série Gestão com responsabilidade socioambiental. Organismos internacionais oferecem sugestões para indicadores referentes aos temas globais, ao passo que as agências nacionais criam seus próprios indicadores. É importante mencionar que há coincidência quanto aos indicadores de sustentabilidade para as questões globais. Isto já está definido, para o Brasil, através do arcabouço de indicadores de sustentabilidade criado pelo IBGE. As diferentes entre os modelos estão, essencialmente, na designação dada para os tipos ou níveis de agregação dos indicadores.

Para abordar as questões relacionadas a energia, são disponíveis ferramentas (softwares) se suporte para decisões com diversas aplicações.81

10. Avaliação do Desenvolvimento Sustentável Apesar da complexa natureza do conceito e princípios envolvidos e da dificuldade para criação indicadores capazes de integrar as dimensões econômicas, sociais e ambientais, o esquema a seguir é uma tentativa para a construção de modelo para avaliar a sustentabilidade, com a participação da comunidade.

80 Fluxos ocultos ou escondidos, como o consumo de combustível fóssil usado em transporte na mineração. 81 www.sustainable.doe.gov/toolkit/landuse.shtml Smart Communities Network. Sustainable development decision support tools.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 44 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Reuniões

Oficinas

Círculos deaprendizagem

Discussões

Modelagem

O QUEAVALIAR?

LISTAGEMPRIORITÁRIA

VISÃO COMUM

INDICADORES

DESIGN DACOLETA

AÇÕES

Pré-teste? Grupode controle?

COLETA DEINFORMAÇÕES

Princípios

Política

Meios

Variáveis

Quando

Onde

Benchmarks?

Pré-teste?

Instrumentos

TécnicasHabilidades

Necessidades

IndicadoresResponsabilida

des

Rotinas

Ferramentas

ANÁLISE DEDADOS

Dadosqualitativos

Dadosquantitativos

Acurácia

Qualidade

Integralidade

ApropriabilidadeVisão holística

Situaçõesespecíficas

Reconhecível

Claro esimples

Quantificável

Relevante epertinente

Aceitável

Crivel

Referencial

Fácil de coletare medir

COMUNICAÇÃO

Questões

Visão Objetivo

Linha debase

Respostasdesejadas

AVALIAÇÃOEmissor

Mensagem

Canal

Receptor

Gatekeeper

Nessidade

Problema

SituaçãoAudiência

Incertezas

Filtros

Ruídos

Grupos detemas

Recursos

Tempo oucronograma

Agrupamentos

Tempo

Tipo de designElementosimportantes

Comoimpelementar

Comparações

Partesinteressadas

Ukaga, O. 2002. Participatory evaluation of sustainabledevelopment. in Evaluating Sustainable SustainableDevelopment Policy. Greenleaf Publ. p. 27-36.www.greenleaf-publishing.com/gmi/gmi36.htm

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 45 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

A avaliação no nível da empresa de negócios ainda está em fase de desenvolvimento. Os modelos mais comuns referem-se a Relatório de Resultado Final Tríplice 82. Texto específico trata de Princípios de Medição de Sustentabilidade 83, que considera:

• recursos usados e valores socioambientais correspondentes criados

• inclusão de aspectos econômicos, ambientais e sociais (Resultado Final Tríplice)

• consideração sistemática da Avaliação do ciclo-de-vida de produtos e serviços

• construção, uso e avaliação de indicadores de ecoeficiência e da organização

• alinhamento dos indicadores à política de sustentabilidade.

Os aspectos relacionados à sustentabilidade de produtos ilustram o perfil de indicadores recomendados para a avaliação.

O processo de medição do desempenho de sustentabilidade revela analogia ao arcabouço da ISO14031 Avaliação de desempenho ambiental. A seqüência proposta é considerada universal, mas a implementação irá variar de acordo com as diferenças de estratégia de negócio, impactos ambientais e estrutura organizacional.

Os dados públicos de cinco empresas revelaram que os seguintes princípios foram utilizados, de maneira e intensidade distintas pelas organizações.

82 Tema abordado no capítulo Ferramentas e tecnologias socioambientais, da série Gestão com responsabilidade socioambiental. 83 Fiksel, J. & col. 1999. Measuring progress towards sustainability principles, process, and best practices. 36 pp. 1999 Greening of Industry Network Conference Best Practice Proceedings. http://www.inknowvate.com/inknowvate/Fiksel_McDaneil_Mendenhall.pdf

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 46 de 46 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________