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Gestão da água: o desafio do zinco em VazanteMG Saulo Rodrigues Filho 1 Maurício Boratto Viana 2 1. Introdução No âmbito do projeto de pesquisa Grandes minas e APLs de base mineral x comunidade local 3 , os autores estudaram o caso da mineração subterrânea de zinco em Vazante/MG. Foram feitas viagens ao município 4 , com a realização de visitas às instalações da Votorantim Metais Zinco (VMZ) e de entrevistas com atores‐chave locais, da empresa 5 e de órgãos públicos 6 , bem como a aplicação de questionários em 50 moradores de bairros mais próximos à mineração. Para a elaboração deste trabalho, além dos dados primários coletados, foram feitas pes‐ quisas em alguns sites de entidades oficiais (IBGE, PNUD, FIRJAN e FJP, conforme também o Anexo) e utilizadas outras fontes secundárias, tais como relatórios elaborados para a Votorantim (p.e., GOLDER ASSOCIATES, 2007) ou por técnicos da empresa (p.e., BITTENCOURT et al., 2008), entre outros trabalhos e relatórios internos, de temas e anos variados, citados em cada local. As principais conclusões do trabalho são de que Vazante, a despeito de outras potenciali‐ dades, ainda está intrinsecamente atrelada à mineração de zinco desenvolvida pela VMZ, responsável pelos bons índices apresentados pelo município. A empresa, por seu turno, enfrenta como maior desafio de sua atividade a gestão da água, em razão da necessidade de bombeamento contínuo para a viabilização da extração mineral, com todas as conse‐ quências daí advindas – grande gasto de energia, rebaixamento da água subterrânea, secamento de fontes e lagoas e recrudescimento do processo de dolinamento. 2. Caracterização da Mineração 2.1. Aspectos gerais A Unidade Vazante da Votorantim Metais Zinco (VMZ), uma subsidiária do Grupo Votorantim, o 3º maior produtor de zinco da América Latina, 5º do mundo, localiza‐se no 1 Diretor e professor adjunto do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília ‐ CDS/UnB; PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de Heidelberg – Alemanha. 2 Consultor legislativo da Câmara dos Deputados na área de meio ambiente; mestre e doutorando do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília ‐ CDS/UnB. 3 http://www.cetem.gov.br/workshop, acesso em 21 fev. 2011. 4 Datas das viagens: 23‐26 out. 2010, 29‐30 nov. 2010 e 18 fev. 2011. 5 No âmbito da VMZ – Unidade Vazante, os interlocutores principais dos autores foram: Cristiane Moreira Barcelo (equipe de meio ambiente, saúde e segurança do trabalho), Marcus Silva e Edmar Eufrásio de Araújo (equipe de hidrogeologia) e Vânio de Bessa (equipe de geologia), além de Ricardo Barbosa (ex‐ gerente de meio ambiente da empresa). 6 No âmbito do setor público e do terceiro setor foram entrevistados: Gilberto Ferreira (secretaria de meio ambiente), Benedito Batista Pereira Lima (secretaria executiva do Codema), Paulo Araújo (secretaria de agricultura), Paulo Roberto de Oliveira (Ong Adema), Elicia Ferreira do Prado (sindicato dos trabalhadores rurais), Vilmondes (sindicato rural) e Letícia Machado (Emater).

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Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante‐MG 

Saulo Rodrigues Filho1 Maurício Boratto Viana2 

1. Introdução No âmbito do projeto de pesquisa Grandes minas e APLs de base mineral x comunidade local3, os autores estudaram o caso da mineração subterrânea de zinco em Vazante/MG. Foram  feitas  viagens  ao  município4,  com  a  realização  de  visitas  às  instalações  da Votorantim Metais Zinco (VMZ) e de entrevistas com atores‐chave locais, da empresa5 e de órgãos públicos6, bem como a aplicação de questionários em 50 moradores de bairros mais próximos à mineração. 

Para a elaboração deste trabalho, além dos dados primários coletados, foram feitas pes‐quisas em alguns sites de entidades oficiais (IBGE, PNUD, FIRJAN e FJP, conforme também o Anexo) e utilizadas outras  fontes  secundárias,  tais  como relatórios elaborados para a Votorantim  (p.e.,  GOLDER  ASSOCIATES,  2007)  ou  por  técnicos  da  empresa  (p.e., BITTENCOURT et al., 2008), entre outros trabalhos e relatórios internos, de temas e anos variados, citados em cada local. 

As principais conclusões do trabalho são de que Vazante, a despeito de outras potenciali‐dades, ainda está intrinsecamente atrelada à mineração de zinco desenvolvida pela VMZ, responsável pelos bons  índices apresentados pelo município. A empresa, por seu turno, enfrenta como maior desafio de sua atividade a gestão da água, em razão da necessidade de bombeamento contínuo para a viabilização da extração mineral, com todas as conse‐quências  daí  advindas  –  grande  gasto  de  energia,  rebaixamento  da  água  subterrânea, secamento de fontes e lagoas e recrudescimento do processo de dolinamento. 

2. Caracterização da Mineração 

2.1. Aspectos gerais 

A  Unidade  Vazante  da  Votorantim  Metais  Zinco  (VMZ),  uma  subsidiária  do  Grupo Votorantim, o 3º maior produtor de zinco da América Latina, 5º do mundo, localiza‐se no 

                                                                  1   Diretor  e  professor  adjunto  do  Centro  de  Desenvolvimento  Sustentável  da  Universidade  de  Brasília  ‐ 

CDS/UnB; PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de Heidelberg – Alemanha. 2   Consultor legislativo da Câmara dos Deputados na área de meio ambiente; mestre e doutorando do Centro 

de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília ‐ CDS/UnB. 

3   http://www.cetem.gov.br/workshop, acesso em 21 fev. 2011. 

4   Datas das viagens: 23‐26 out. 2010, 29‐30 nov. 2010 e 18 fev. 2011. 

5   No  âmbito da VMZ – Unidade Vazante,  os  interlocutores  principais  dos  autores  foram: Cristiane Moreira Barcelo  (equipe  de  meio  ambiente,  saúde  e  segurança  do  trabalho),  Marcus  Silva  e  Edmar  Eufrásio  de Araújo  (equipe  de  hidrogeologia)  e  Vânio  de  Bessa  (equipe  de  geologia),  além  de  Ricardo  Barbosa  (ex‐gerente de meio ambiente da empresa). 

6   No âmbito do setor público e do terceiro setor  foram entrevistados: Gilberto Ferreira (secretaria de meio ambiente),  Benedito  Batista  Pereira  Lima  (secretaria  executiva  do  Codema),  Paulo  Araújo  (secretaria  de agricultura), Paulo Roberto de Oliveira (Ong Adema), Elicia Ferreira do Prado (sindicato dos trabalhadores rurais), Vilmondes (sindicato rural) e Letícia Machado (Emater). 

 

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Município de Vazante, situado no noroeste do Estado de Minas Gerais. Desde 1969, a VMZ – até 2006, com a denominação de Companhia Mineira de Metais (CMM), ou “Mineira” – se  dedica  à  mineração  e  beneficiamento  de  minérios  silicatados  de  zinco,  a  willemita (Zn2SiO4) e a calamina/hemimorfita (Zn4Si3O(OH)2). Em seus primeiros anos, a explora‐ção processava‐se apenas a céu aberto, com o predomínio da calamina. No início dos anos 1980 foram executados estudos que viabilizaram o avanço da mineração na porção sub‐terrânea,  onde  se  registra  a  presença  somente da willemita  como mineral‐minério  oxi‐dado, com teor em torno de 15%. 

O minério  extraído  nas  jazidas  é  processado  em duas  usinas  de  beneficiamento,  sendo uma para calamina e outra para willemita, sendo que apenas esta última se encontra hoje em funcionamento. O rejeito gerado no processo de beneficiamento é encaminhado para a barragem de Aroeira, inaugurada em janeiro de 2001. A produção é de cerca de 380 mil toneladas anuais de concentrado de zinco, com teor de 42%, encaminhada à metalurgia, à média de 60 a 70  caminhões/dia, na unidade de  refino da Votorantim situada em Três Marias/MG, a 300 km de Vazante. 

Atualmente,  a  empresa  está  em  processo  de  expansão,  visando  ao  desenvolvimento  e operacionalização da lavra subterrânea também no “Extremo Norte”, área da falida MASA (Mineração Areiense S/A), que constitui uma extensão da jazida da VMZ no sentido nor‐deste.  Os  direitos minerários  daquela  empresa  foram  adquiridos  recentemente,  adicio‐nando 15 a 20 anos aos atuais 18 anos de vida útil da jazida de Vazante. A VMZ também tem  outra mina  de  zinco  na  região,  situada  em Morro  Agudo,  no município  vizinho  de Paracatu, cujo minério sulfetado tem teor de zinco em torno de 4% e que também é envi‐ado à usina de Três Marias, onde ele é blendado ao proveniente de Vazante. 

A VMZ tinha 570 empregados na Unidade Vazante por ocasião das visitas, além de cerca de 200 terceirizados, entre fixos e temporários. Segundo dados coletados na empresa, sua Margem Ebitda7 encontra‐se na faixa de 30%, com gastos anuais em torno de R$150 mi‐lhões, dos quais um terço apenas com as atividades de bombeamento e pouco menos de um terço com pessoal e  impostos. A média salarial da empresa situa‐se na  faixa de três salários mínimos. 

Em 2010, a produção na Unidade Vazante era pouco superior a 1,2 milhão de toneladas anuais  de minério  ROM  (run of mine).  O minério  lavrado  é  encaminhado  à  unidade  de beneficiamento local, de onde sai uma produção de óxido de zinco contido a taxas médias de 14 mil t/mês (cerca de 160 mil t/ano de zinco contido em 380 mil t/ano de concen‐trado). Esse  concentrado é,  então,  enviado à unidade de  refino de Três Marias,  respon‐dendo por 65% de seu abastecimento.  

Para garantir tal produção, a VMZ consome, na Unidade Vazante, 2,89 mil m3/ano de óleo diesel  (24% da energia consumida) e 144,5 milhões kWh/ano de energia elétrica (76% do  total), pouco mais da metade dos quais, unicamente, na atividade de bombeamento. Com  isso,  pelos  cálculos  da  empresa,  foram  gastos,  em  2010,  414  kWh de  energia  por tonelada de zinco contido, o que, embora registrando uma redução de 6,7% em relação ao ano anterior, ainda coloca o  insumo energia como primordial no processo produtivo do zinco. 

                                                                  7   Margem  operacional,  ou  seja,  a  Ebitda  dividida  pela  receita  líquida,  sendo  que  Ebitda  = Earnings  before 

interest,  taxes,  depreciation  and  amortization,  isto  é,  os  ganhos  antes  dos  juros,  taxas,  depreciação  e amortização. 

 335 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

Com  relação  ao  consumo  de  água,  a  VMZ  utiliza  por  volta  de  914  m3/h  no  processo produtivo,  dos  quais  50  m3/h  (5,5%)  provenientes  do  rio  Santa  Catarina  e  864  m3/h (94,5%) de recirculação a partir da barragem de Aroeira. Dividindo‐se o valor total por 14  mil  t/mês  de  concentrado  de  zinco,  obtém‐se  o  consumo  de  47  m3  de  água  por tonelada de zinco contido. Esse número torna‐se sete vezes maior se forem considerados os  6  a  7  mil  m3/h  de  água  subterrânea  bombeada  para  a  viabilização  da  lavra.  Essas retiradas de água não afetam a cidade de Vazante, situada a montante da mineração, mas, em  certo  grau,  as  comunidades  de  Barroquinha/Barrocão  (cerca  de  doze  famílias)  e Catirina/Ouro Podre (cerca de vinte famílias), localizadas a jusante, segundo informações coletadas junto à Emater. 

2.2. Aspectos ambientais 

A  equipe  de  meio  ambiente,  saúde  e  segurança  do  trabalho  da  VMZ  constitui  uma gerência à parte, subordinada hierárquica e diretamente ao gerente geral, o que evidencia certo prestígio do setor, como reflexo da relevância que o tema ambiental tem alcançado nas empresas de mineração em geral. O nível interativo da área ambiental em relação aos demais setores da empresa é de orientação, mais do que de execução8. 

A área da empresa em Vazante é de 2.800 ha. Segundo relatório interno da VMZ sobre o plano  de  recuperação  de  áreas  degradadas  (PRAD,  12/11/2010),  a  área  afetada  pelas atividades  de mineração  é  de  602  ha,  dos  quais  539  ha  impactados  por  antigas  cavas, depósitos de estéril, barragens de rejeito, unidades de beneficiamento, vila residencial e demais instalações administrativas, de apoio e de infraestrutura, além de um passivo de 63 ha no Extremo Norte, para onde hoje se processa a expansão da empresa. Desses 602 ha, 152 ha já se encontram totalmente liberados para recuperação, 273 ha, parcialmente liberados,  e 177 ha ainda não  liberados para  recuperação. O  relatório  também  informa que, nos últimos cinco anos (de 2006 a 2010), foram recuperados 77,5 ha.  

A VMZ tem reserva legal averbada de cerca de 400 ha e ainda outros 150 ha por averbar. Sua  Reserva  Particular  do  Patrimônio  Natural  (RPPN),  denominada  Fazenda  Carneiro, com 484 ha e localizada no município vizinho de Lagamar, já possui plano de manejo, que se encontra em fase de implantação. A empresa também dispõe de brigada de emergência ambiental (principalmente para transporte de produtos perigosos) e brigada de incêndio, além de guarda montada. 

A  empresa  possui  plano  conceitual  de  descomissionamento,  elaborado  pela  Golder Associates  (2007),  que  prevê  ações  e  obras  que  perfazem,  aproximadamente,  R$  77 milhões. Desse  total, quase um terço estava previsto para  investimento no curto prazo, até o ano de 2012,  em ações destinadas à  correção dos passivos ambientais  existentes, constituídos,  basicamente,  pelas  antigas  instalações,  hoje  desativadas,  em  sua maioria. Outra  pendência  ambiental  verificada  é  a  inexistência  de  sistema  de  tratamento  de esgotos sanitários, que são encaminhados para fossas sépticas, com efluentes ainda fora dos padrões.  

Quanto ao monitoramento dos recursos hídricos, a empresa efetua cerca de mil análises mensais das águas superficiais, envolvendo por volta de 28 parâmetros em cerca de 30 pontos de amostragem. Em 2010, por ocasião das visitas, haviam sido diagnosticadas 56 não conformidades no total de parâmetros monitorados. A empresa já recebeu autoriza‐

                                                                  8 A equipe era composta por onze técnicos, dos quais nove eram empregados e dois subcontratados fixos, e se encontrava em processo de mudança da gerência, a época das nossas visitas, ao final de 2010 e início de 2011. 

 

336 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

ção para a análise de quatro parâmetros, que é efetuada, então, em laboratório próprio. Já o monitoramento de ruídos foi efetuado em outubro de 2009 em oito pontos de observa‐ção,  conforme  relatório  específico da  empresa  Limnos/Sanear. Observou‐se  que  alguns pontos apresentaram valores acima dos estabelecidos na Resolução Conama 01/90, em‐bora inferiores aos padrões da legislação estadual (Lei nº 10.100/90).  

A VMZ realiza o monitoramento da qualidade do ar no entorno da Unidade Vazante, regis‐trando, semanalmente, as concentrações de partículas  totais em suspensão (PTS) medi‐ante amostradores de grande volume (hi vol) em três pontos distintos. Os relatórios de monitoramento  indicam boa  qualidade do  ar  na maior  parte  do  tempo,  dentro  dos  pa‐drões estabelecidos pela Resolução Conama 03/90, com exceção dos meses de setembro e outubro, correspondentes ao período mais seco do ano, em que os resultados são pio‐res, mas, ainda assim, classificados como regulares, segundo os  índices de qualidade do ar. 

Quanto à gestão de resíduos, a VMZ adota procedimentos para o seu correto manuseio, coleta,  separação,  classificação  e  disposição  temporária,  objetivando  minimizar  seus riscos potenciais à saúde do trabalhador e ao meio ambiente. Todavia, enquanto o total de minério  ROM  subiu  de  1,055  milhões  de  toneladas  em  2009  para  1,2  milhões  de toneladas em 2010 (aumento de 13,7%), o total de resíduos aumentou 17,4% no mesmo período (de 2,7 milhões de resíduos em 2009 para 3,2 milhões em 2010).  

Os resíduos são recebidos nos  locais de disposição temporária  já devidamente pesados, sendo  sua  segregação  feita  em  coletores  apropriados  (caçambas,  tambores,  etc.), identificados e específicos para cada tipo de resíduo. O transporte e a destinação final são realizados  por  fornecedores  qualificados.  A  rastreabilidade  (resíduo,  fornecedor  e quantidade)  da  destinação  final  dos  resíduos  também  é  registrada.  Um  relatório  de inventário  de  resíduos  é  mensalmente  elaborado  para  o  órgão  ambiental  mineiro,  a Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM).  

Todas  as  atividades  da  VMZ  em  Vazante  estão  devidamente  formalizadas  junto  ao Conselho  Estadual  de  Política  Ambiental  (COPAM),  tendo  sido  expedida  uma  série  de Licenças  de Operação  (LO)  para  as  atividades minerárias  a  céu  aberto  e  em  subsolo,  e também  para  o  beneficiamento  e  lançamento  de  rejeitos  em  barragem.  A  fiscalização ambiental é hoje feita pela Superintendência Regional de Meio Ambiente do Noroeste de Minas  (SUPRAM/NW),  com  sede  em  Unaí.  Por  ocasião  da  vistoria  mais  recente,  em janeiro de 2009, foram exigidas uma análise epidemiológica e melhorias na barragem do Módulo III, que ainda estavam no prazo de cumprimento. Entre 2006 e 2009, nas últimas cinco fiscalizações, foram lavrados dois autos de infração, o primeiro dos quais, de 2007, referente ao posto de combustível, que acabou sendo arquivado, e o  segundo, de 2009, referente à unidade de conservação, que foi cancelado após recurso da empresa. 

Estão  ainda  formalizadas  junto  ao  Instituto  Mineiro  de  Gestão  das  Águas  (IGAM)  as atividades  relacionadas  ao  rebaixamento  de  nível  d'água  subterrânea,  no  âmbito  do processo n.º 283/2001.  Já para as atividades de  captação de  água a partir do  rio Santa Catarina,  foi  concedida  a  outorga  correspondente  à  portaria  nº 567/2003.  Eventuais autorizações de desmate, como por ocasião da implantação da barragem da Aroeira, são também  regularmente  providenciadas  pela  empresa  junto  ao  Instituto  Estadual  de Florestas (IEF).  

A Unidade Vazante da VMZ é certificada com a ISO 9001, que avalia a gestão da qualidade, desde 2002, e  com a  ISO 14001, que analisa os processos e programas relacionados ao meio ambiente, desde 2005. O relatório de avaliação de desempenho ambiental (RADA) 

 337 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

vem  sendo  apresentado  regularmente  ao  órgão  ambiental mineiro  a  cada  quatro  anos, tendo a VMZ obtido um ano adicional pelo fato de possuir a ISO 14001, cuja recertificação encontrava‐se  em andamento  ao  final  de 2010. Na  ocasião,  foram verificadas duas não conformidades  menores,  a  primeira  relativa  à  disposição  inadequada  de  resíduos  e  a segunda  referente  à  falta  de  controle  no  pátio  de  sucatas.  A  VMZ  ainda  não  conseguiu obter a certificação OHSAS 18001, de saúde e segurança do trabalho, por falta do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). 

Nas  visitas  realizadas  à  empresa  e  à  comunidade  de  Vazante,  pôde‐se  perceber  que  a população local mostra‐se bastante favorável à VMZ, em razão, principalmente, do grande número de empregos e da renda que ela gera. Trata‐se, de fato, da principal atividade do município, cuja economia está umbilicalmente ligada à mineração de zinco. 

Todavia, a comunidade também tem consciência do principal problema ambiental que a empresa  causa  –  com  o  ininterrupto  bombeamento  de  água  subterrânea,  ocorre  o rebaixamento do lençol na área da mina e entornos e, com isso, o surgimento de dolinas9 e o secamento de fontes e lagoas, tais como o Poço Verde e a Lagoa Sucuri, antigas áreas de lazer da população local. Hoje, tal rebaixamento já chega a 140 m. Ao mesmo tempo, há ideias equivocadas sobre outros impactos atribuídos à empresa, como o do surgimento de dolinas na área urbana. 

2.3. Aspectos geomorfológicos e hidrogeológicos 

A  questão  dos  dolinamentos  e  de  como  a  empresa  vem  gerenciando  o  problema  é  um capítulo  bem  interessante nesse  contexto  (conforme,  principalmente,  BITTENCOURT  et al., 2008). Toda área com rochas calcárias ou dolomíticas está sujeita a dolinamentos, mas eles ocorrem, em geral, em escala geomorfológica, ou seja, em períodos muito superiores aos  de  uma  geração  humana,  isso,  obviamente,  quando  não  há  interferência  antrópica. Esse foi o caso ‐ o aumento repentino das dolinas na área industrial e entorno, após um acidente ocorrido na operação de  lavra, em abril de 1999, e nos meses subsequentes. A questão, então, atingiu tal magnitude, que a empresa teve que retirar suas instalações dos locais de ocorrência da  rocha dolomítica,  relocando‐as para uma área de ocorrência de filitos.  

À  época,  ao  avançar  na  construção  de  uma  galeria  de  drenagem  no  nível  345  m,  foi atingida  uma  fratura  transversal  aberta  pela  dissolução  cárstica,  verificando‐se  a afluência de um grande fluxo d’água que, rapidamente, chegou a 5 mil m3/h, configurando risco  iminente  de  inundação  total  da  mina.  O  bombeamento,  então,  foi  aumentado bruscamente e em caráter de urgência, permanecendo em taxas médias de 7,5 mil m3/h entre os meses de abril e agosto de 1999. A solução do problema foi a construção de um tímpano de concreto para conter a entrada de água e o abandono de 400 m de galerias.  

Nos sete meses seguintes ao evento,  surgiram pouco mais de 70 dolinas  (média de dez por mês, contra os atuais 3,6 por mês de média nos últimos 17 anos) na área diretamente afetada  pelo  cone  de  depleção  do  bombeamento.  Verificou‐se,  concomitantemente,  a elevação  nos  níveis  de  turbidez  da  água  bombeada,  evidenciando  que  o  material inconsolidado (solo) de cotas superiores descia pelas fraturas junto com a água.  

                                                                  9 Depressões afuniladas produzidas pela dissolução de rochas calcárias ou pelo desmoronamento resultante de tais dissoluções (DICIONÁRIO AURÉLIO, modificado). 

 

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Isso  acabou  por  poluir  o  rio  Santa  Catarina  e  gerar  intensos  protestos  por  parte  das comunidades rurais ribeirinhas existentes a jusante da empresa, além dos vizinhos mais próximos à mineração afetados pelo rebaixamento do lençol freático. Também nos anos de 1999 e 2000, observou‐se pelo menos um caso de mortandade de peixes nesse curso d’água a jusante da empresa, que acabou sendo a ela atribuída pelos moradores atingidos. 

Assim, várias ações de mitigação e compensação de impactos foram adotadas pela VMZ, tais como o fornecimento de água para fins agropecuários a 30 propriedades rurais nas adjacências  da  mina,  medida  esta  que  teve  continuidade  nos  anos  seguintes.  A  VMZ também firmou um termo de ajustamento de conduta (TAC) junto à prefeitura municipal de Vazante,  tendo se comprometido a  implantar uma estação de  tratamento de esgotos (ETE).  A  ETE  encontra‐se  em  pleno  funcionamento  por  ocasião  das  entrevistas,  mas houve algumas reclamações quanto ao mau cheiro produzido no processo de tratamento.  

Atualmente, para as operações de lavra, a mina possui, no nível 292 m, um reservatório com  capacidade  de  30  mil  m3  de  água,  para  o  qual  são  direcionados  todos  os  fluxos hídricos  surgentes  com  o  desenvolvimento  das  galerias.  A  partir  desse  reservatório,  a água é bombeada para a barragem de Aroeira por um conjunto de nove potentes bombas, cada qual com 1.450 HP.  

Historicamente,  com o crescente desenvolvimento das galerias,  a  vazão bombeada vem aumentando gradualmente, tendo se situado abaixo de 1 mil m3/h até 1991, na faixa de 3 a 4 mil m3/h nos anos de 1992 a 1997, de 4 a 5 mil m3/h (com picos de até 8 mil m3/h) nos cinco anos seguintes e acima de 5 mil m3/h (com picos de até 14 mil m3/h) a partir de 2004. Tais picos ocorrem somente durante curtos períodos, ao longo da estação chuvosa. Atualmente, são bombeados, em média, de 6 a 7 mil m3/h de água. 

Após  o  acidente  ocorrido  em  1999,  foram  contratadas  consultorias  especializadas  e realizados diversos estudos sobre experiências semelhantes em todo o mundo. Assim, o desenvolvimento  da  mina  só  é  feito,  hoje,  em  conformidade  com  o  plano  de gerenciamento de  risco  em dolomitos,  sob  a  supervisão do  setor de hidrogeologia,  que dispõe  de  um  verdadeiro  arsenal  de  controle  e  monitoramento  das  atividades  de mineração,  com  ênfase  no  bombeamento  e  nos  efeitos  do  rebaixamento  da  água subterrânea. 

Basicamente,  para  que  acidente  semelhante  não  volte  a  ocorrer,  é  preciso  evitar  o rebaixamento brusco do nível das águas subterrâneas, sob pena de ensejar o surgimento de dolinas na área de influência do cone de depleção, que se desenvolve principalmente no  sentido nordeste,  no  rumo da  antiga MASA. Conforme  informações obtidas  junto ao setor  de hidrogeologia da  empresa,  já  no  sentido  inverso,  ou  seja,  no  rumo de  onde  se localiza a cidade de Vazante, distante cerca de 6 km do  local do bombeamento, há uma espessa  camada  de  solo  decomposto  que  contém muita  água  e  impede  a  expansão  do cone no sentido sudoeste.  

A empresa já havia catalogado, em 2010, mais de 800 dolinas na sua área de influência, que são permanentemente monitoradas, e das quais pouco mais de um quarto já sofreu reativação. Quase 80% das dolinas têm menos de cinco metros de diâmetro e dois metros de profundidade, apenas 6% têm mais de dez metros de diâmetro e só 3% excedem dez metros de profundidade.  

Na prática, assim que surge uma dolina, a VMZ a cataloga, estuda e tampona, fazendo uso de manta  plástica,  se  necessário,  para  impedir  a  percolação  de  água  e  a  reativação  do processo  de  dolinamento.  Além  de  ter  um  técnico  exclusivo  para  esse  tipo  de monitoramento  (que  inclui  inspeção  visual  para  o  reconhecimento  de  trincas  e 

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rachaduras,  abatimentos  do  terreno,  etc.),  a  VMZ  também  efetua  diversos  tipos  de prospecção  geofísica,  monitora  mais  de  170  poços  e  pontos  de  observação  e  adota algumas  medidas  preventivas  em  sua  área  industrial,  tais  como  a  manutenção  de tubulações  suspensas,  para  que  eventuais  vazamentos,  potenciais  indutores de dolinas, possam ser rapidamente diagnosticados e reparados.  

A  empresa  responsabiliza‐se pelo  tamponamento mesmo daquelas dolinas que não  são provocadas por ela, como as que surgem, principalmente durante a estação chuvosa, na área urbana de Vazante, como comumente ocorre no bairro Vazante Sul. Conforme pôde ser  observado nas  visitas,  tais  dolinas  são  causadas,  principalmente,  pela  concentração dos  fluxos  pluviais  resultantes  da  impermeabilização  parcial  do  solo  e  da  urbanização inapropriada em área calcária. 

Atualmente, os maiores riscos hídricos para a operação da mina estão associados: a uma eventual  falta  prolongada  de  energia,  que  impossibilite  o  funcionamento  das  bombas durante  um  razoável  lapso  temporal  (mais  de  um  dia,  por  exemplo);  a  uma  chuva torrencial  concentrada  nas  cabeceiras  do  ribeirão  Santa  Catarina,  que  provoque  a inundação  da  várzea  próxima  à  mina  e  produza  efeitos  deletérios  nas  galerias subterrâneas;  e,  por  fim,  a  um  afluxo  repentino  e  significativo  de  água  subterrânea durante as operações de lavra, como ocorrido em 1999. Apenas este último risco pode ser atenuado pela empresa, mediante uma série de medidas de prevenção adotadas durante as operações de lavra. 

3. Caracterização do Município10 

3.1. Caracterização física 

O  município  de  Vazante  está  localizado  em  área  de  clima  tropical  continental, caracterizado  por  verões  chuvosos  e  invernos  secos.  A  temperatura  média  anual  é  de 21,6°C. A precipitação média anual é de cerca de 1.470 mm, dos quais 90% concentrados nos meses de outubro a março, correspondentes às estações primavera/verão. Distando cerca de 350 km de Brasília e 530 km de Belo Horizonte, o acesso principal ao município é  feito  pela  rodovia  BR‐040,  além  de  outras,  federais  e  estaduais.  A  partir  da  cidade, chega‐se às instalações da VMZ por rodovia municipal asfaltada, após trajeto de 7 km no sentido nordeste.  

Na  região,  predominam  sequências  rochosas  filíticas  e  dolomíticas,  entre  outras,  que mergulham cerca de 40º no sentido noroeste, cada qual constituindo sistemas distintos, que reagem de maneiras diferenciadas às atividades de bombeamento da água subterrâ‐nea.  Os  aquíferos  dolomíticos  apresentam,  em  geral,  alta  porosidade  e  permeabilidade secundárias decorrentes dos processos de fraturamento e carstificação. 

3.2. Aspectos históricos: 

A ocupação do noroeste de Minas Gerais ocorreu a partir do garimpo de ouro, no século XVIII, que originou as povoações do ocidente do rio São Francisco. Antes dessa atividade, a região era conhecida dos criadores de gado, aí localizados anteriormente à fixação das primeiras bandeiras. 

                                                                  10 De acordo com Golder Associates (2007), onde não indicado. 

 

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No  início do século XVIII, Tomás do Lago Monteiro, procedente de Salvador,  solicitou e obteve a patente de coronel do Paracatu, com o objetivo de combater os índios da região. No interior de uma das grutas existentes, foi descoberta uma pedra que se assemelhava à imagem de Nossa Senhora, a qual atraía  fiéis e  romeiros de  longas distâncias, e o  lugar passou  a  se  chamar  Nossa  Senhora  da  Lapa.  Transformada  em  templo,  ao  seu  redor formou‐se um povoado (em 1920), quando, então, foi dividida a Fazenda Vazante, com a separação do patrimônio da Igreja. 

Em  1938,  a  vila  passou  à  condição  de  distrito  de  Vazante,  com  seu  território desmembrado  de  Paracatu,  e  sua  emancipação  política  ocorreu  em  1953.  O desenvolvimento econômico foi estimulado pela descoberta de minerais em seu subsolo, especialmente  os  minérios  de  zinco.  A  construção  de  Brasília  consolidou  a  ocupação, integrando definitivamente o município às diferentes áreas do mercado com a construção da  rodovia BR‐040.  Grandes  fluxos migratórios  se  dirigiram à  região,  também atraídos pela disponibilidade de terra.  

Na  década  de  1970,  o  governo  federal  implantou  programas  que  favoreceram  o desenvolvimento  e  a modernização  da  agricultura,  viabilizando  a  ocupação  econômica dos  cerrados,  vegetação  predominante  na  região.  Dentre  os  programas,  destaca‐se  o Planoroeste, contrato de financiamento com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),  com  investimentos  em  infraestrutura  de  transportes  para  comunicação  e escoamento de produção, visando à efetiva ocupação do noroeste de Minas.  

Outros programas  implantados na região  foram o Polocentro, o Prodecer e o Programa Especial  da  Região  Geoeconômica  de  Brasília  (PERGEB),  voltados  ao  incremento  da produção,  com  mecanização,  insumos  e  tecnologia,  objetivando  catalisar  o desenvolvimento  agropecuário.  A  situação  favorável  da  década  de  1970  atraiu  grandes produtores agrícolas e investidores, consolidando a ocupação da região. 

3.3. Aspectos populacionais 

O município de Vazante localiza‐se na mesorregião do noroeste de Minas. Sua área é de 1.913 km², sendo seu território dividido em três distritos: o distrito sede, o de Claro de Minas, cuja sede distrital situa‐se a 12 km da cidade de Vazante, e o de Vazamor, com sede distrital  situada  a  32  km  da  sede  municipal.  Na  zona  rural,  existe  cerca  de  30 comunidades,  a  maioria  das  quais  com  baixa  densidade  de  ocupação,  não  chegando  a conformar  núcleos  urbanos.  Três  comunidades  são  quilombolas  (Bainha,  Bagres  e Cabeluda). 

A  exemplo  da  maioria  dos  municípios  brasileiros,  Vazante  vem‐se  urbanizando rapidamente  nas  últimas  décadas,  indicando  a  importância  crescente  da  cidade  como centro polarizador das atividades econômicas. Enquanto 71% da população do município residiam na área rural na década de 1970, pouco mais de 80% dos habitantes já viviam na área urbana em 2010. No período 1991/2000, a população de Vazante teve taxa média de crescimento anual de 0,08%, enquanto a taxa de urbanização cresceu 10,94%. A análise da estrutura etária dos habitantes do município indica uma queda no número de jovens e aumento no total de adultos e idosos. 

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3.4. Aspectos econômicos 

Segundo o  IBGE11,  a média do Produto  Interno Bruto  (PIB) per capita  do município de Vazante passou de R$ 9,7 mil em 2004 para R$ 14,8 mil em 2008. A importância relativa dos setores de atividade econômica para o município revela que o industrial ainda é o que mais  se  destaca  na  geração  de  renda  (39%),  embora  tenha  perdido  terreno  na  década passada  (era  de  48%  em  2004).  Logo  a  seguir,  vem  o  setor  de  serviços  (37%),  que aumentou  um  pouco  sua  participação  (era  de  34%  em  2004)  e,  em  seguida,  o agropecuário  (19%),  que  também  vem  crescendo  nos  últimos  anos  (era  de  16%  em 2004). 

No setor industrial, tem destaque a implantação da então Companhia Mineira de Metais (CMM), hoje Votorantim Metais Zinco (VMZ), em fins da década de 1950, para a extração e beneficiamento de minério de zinco. Cumpre mencionar que, na década de 1990, deu‐se a abertura da economia brasileira para o mercado externo, o que propiciou a utilização de novos  equipamentos,  aumentando  significativamente  a  produtividade  industrial.  As principais reservas minerais de Vazante são os minerais de zinco, explorados pela VMZ, e o dolomito, explorado junto à cidade pela empresa Partecal.  

Com relação à agricultura, o produto agrícola com maior destaque em Vazante é o milho, com  produção  de  quase  duas  mil  toneladas  em  2006.  Na  pecuária,  o  rebanho  bovino ocupa o primeiro lugar, com pouco mais de 78 mil cabeças em 2006, sendo que os demais rebanhos detêm pouca importância para a economia do município (há menos de 40 mil aves e cinco mil porcos, ambos em 2006). 

Os dados do Anexo revelam uma grande disparidade entre os índices de emprego/renda, educação e  saúde que compõem o  Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal  (IFDM), quando comparados aos mesmos índices relativos do Índice Mineiro de Responsabilidade Social  (IMRS),  calculado  pela  Fundação  João  Pinheiro  (FJP),  que  considera  outros parâmetros  além  dos  três  citados:  enquanto  o  índice  IFDM  relativo  a  emprego/renda (0,5691)  situa‐se  bem abaixo dos de  educação  (0,7839)  e  saúde  (0,8227)  e  do próprio IFDM (0,7252), o IMRS relativo a renda (0,701) situa‐se acima dos outros dois (0,625) e do próprio IMRS (0,670). Assim, tais dados devem ser analisados com restrições. 

Interessante  observar  outra  aparente  contradição  no  desenvolvimento  de  Vazante, comparado ao de municípios limítrofes não mineradores. Por um lado, enquanto a renda per capita de Vazante subiu 42% entre os anos de 2000 e 2007, os municípios vizinhos não  mineradores  experimentaram  crescimento  menor:  29%  em  Guarda‐Mor,  35%  em João  Pinheiro,  12%  em  Lagamar  e  36%  em  Lagoa  Grande.  Apenas  Paracatu,  também minerador, obteve crescimento da renda per capita maior (51%) que Vazante no mesmo período. 

Contudo,  considerando‐se  as  posições  relativas  desses  municípios  no  Índice  Firjan  de Desenvolvimento Municipal (IFDM)12 no mesmo período (2000 e 2007), Vazante caiu da 42ª  posição  no  estado  de  Minas  Gerais  e  690ª  posição  no  Brasil  para  a  72ª  e  a  841ª posições, respectivamente; Guarda Mor evoluiu de 476ª e 2745ª para 396ª e 2545ª; João Pinheiro caiu de 509ª e 2851ª para 543ª e 3541ª; Lagamar subiu de 157ª e 1462ª para 126ª  e  1315ª;  Lagoa  Grande  desceu  de  292ª  e  2032ª  para  591ª  e  3363ª;  e  Paracatu 

                                                                  11 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1, acesso em 01/10/2011. 12  http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9229431C90122A3B25FA534A2.htm,  acesso  em 01/10/2011. 

 

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cresceu  vertiginosamente  da  215ª  posição  em Minas  Gerais  e  1729ª  no  Brasil  para  as posições  52ª  e  657ª,  respectivamente.  Ou  seja,  no  período  considerado,  Paracatu ultrapassou  Vazante  no  ranking  estadual  e  nacional  do  IFDM,  estando  ambos  os municípios bem melhor situados que seus vizinhos não mineradores. 

3.5. Infraestrutura básica 

Rodeada pelas serras do Garrote e dos Pilões, a cidade de Vazante estende‐se em um vale cárstico  ameno  e,  apesar  das  formações  rochosas  que  se  encontram  junto  à  área urbanizada,  as  quais,  no  início  da  ocupação,  constituíam  barreiras  à  continuidade  das vias,  apresenta  hoje  um  parcelamento  regular,  com  a  maior  parte  do  sistema  viário conformando um desenho ortogonal.  

Assim,  desde  a  década  de  1960,  quando  as  primeiras  empresas  mineradoras  se estruturaram no município, a cidade apresentou um significativo crescimento, mas foi na década de 1980 que ocorreu a maior aprovação de loteamentos e consequente expansão territorial. De maneira geral, o padrão da urbanização é bom, sendo quase todas as vias pavimentadas  e  servidas  por  infraestrutura  de  saneamento,  embora  o município  ainda não possua Plano Diretor. 

A  sede  municipal  conta  com  um  aeroporto,  com  pista  de  asfalto  de  900  m  de comprimento por 22 m de largura, não dispondo, contudo, de linhas aéreas regulares. A Companhia  Energética  de  Minas  Gerais  (CEMIG)  é  a  concessionária  responsável  pela energia elétrica distribuída. O setor  industrial é o maior consumidor (83,3% da energia consumida em 2003), apesar de responder pelo menor número de consumidores. A maior parte dos consumidores encontra‐se na classe residencial (5.130, ou 77,2%, consumindo 7,4% da energia). 

3.6. Educação 

A  infraestrutura  educacional  do  município  é  formada  por  escolas  da  rede  pública municipal  e  estadual,  ao  lado  da  rede  particular,  que  oferecem  ensino  infantil, fundamental, médio  e  superior,  ao  lado  de  cursos  profissionalizantes.  O  poder  público municipal é o  responsável pelo maior número de unidades de ensino existentes,  e  suas escolas oferecem os ensinos pré‐escolar e  fundamental  (5ª a 8ª  séries);  as unidades da rede estadual disponibilizam os ensinos fundamental (5ª a 8ª séries) e médio, enquanto as escolas particulares oferecem a pré‐escola e os ensinos fundamental e médio.  

O  Serviço  Nacional  de  Aprendizagem  Industrial  (SENAI),  presente  na  localidade  há poucos anos, oferece cursos técnicos na área de mineração, mecânica e eletroeletrônica. O de  mineração  foi  concebido  mediante  um  convênio  com  a  VMZ,  em  que  os  alunos desenvolvem  aulas  práticas  dentro  da  empresa.  Além  desses  cursos,  o  SENAI  oferece outros,  nas  modalidades  de  aprendizagem  social,  aprendizagem  industrial  e  de qualificação e aperfeiçoamento.  

O ensino superior está a cargo da Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), que oferece os cursos de administração, normal superior, serviço social e tecnologia em meio ambiente. Outra opção utilizada pelos moradores de Vazante é a frequência às faculdades de cidades próximas, como Paracatu, Patos de Minas e Uberlândia.  

A  análise  do  nível  educacional  dos  moradores  de  Vazante  indica  uma  diminuição considerável  no  número  de  analfabetos  entre  a  população  jovem,  no  período compreendido entre 1991 e 2000. Entre os moradores com idade de 07 a 14 anos, a taxa 

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de analfabetismo passou de 11,1% para 3,3%. De igual forma, cresceu a média de anos de estudo, ou seja, as pessoas passaram a frequentar escolas por mais tempo. Também entre a  população  adulta  com  mais  de  25  anos  de  idade  ocorreu  uma  queda  na  taxa  de analfabetismo no período considerado, passando de 21,2% para 13,6%. 

3.7. Saúde 

Segundo dados do Serviço Único de Saúde (SUS) do Ministério da Saúde, a infraestrutura de  saúde do Município de Vazante  é  composta por um hospital  público  (ano de 2004), com  capacidade  de  32  leitos,  além  de  uma  unidade  particular.  Informações  fornecidas pela prefeitura municipal dão conta da construção recente da Unidade Básica de Saúde do Vazante  Sul,  que,  juntamente  com  Postos  de  Saúde  e  quatro  Unidades  de  Saúde  da Família, atendem plenamente a população. 

A  análise  dos  indicadores  de  longevidade  e  de  mortalidade  mostra  que  a  taxa  de mortalidade  infantil  do  município  diminuiu  2,92%  entre  os  anos  de  1991  e  2000, passando de 39,34 por mil nascidos vivos para 38,19 por mil nascidos vivos. Ao mesmo tempo,  cresceu  a  esperança de  vida  ao nascer,  passando de 64,70  anos,  em 1991,  para 67,09 anos, em 2000. 

3.8. Habitação 

Analisando‐se  os  dados  censitários  sobre  o  número  de  domicílios  particulares permanentes  por  situação  nos  períodos  de  1991  e  2000,  verifica‐se,  nessa  década,  um comportamento  semelhante  do  município  de  Vazante  em  relação  ao  estado  de  Minas Gerais,  com  o  crescimento  dos  domicílios  urbanos  e  retração  dos  rurais,  embora  no estado o  grau  de  urbanização mantenha‐se  em patamares maiores nos  dois momentos registrados, chegando a 83,3% no estado em 2000, contra 78,4% no município (em 2010, já ultrapassava 80%). 

No  que  se  refere  à média  de moradores  por  domicílio  nos  dois  períodos  do  censo,  os dados,  tanto em 1991 quanto em 2000,  revelam situações  ligeiramente mais  favoráveis nas  áreas  urbanas  do  município  de  Vazante  (3,54  em  2000)  do  que  na  média  dos municípios  mineiros  (3,64  no  mesmo  ano),  tendo  em  vista  o  menor  número  de moradores por domicílio. Embora não necessariamente,  este pode  ser um  indicador de maior adequação da moradia. 

Nas  zonas  rurais,  o mesmo  fato  é  verificado,  sendo  também grande a probabilidade de melhores condições de habitação no município, uma vez que o número de moradores por domicílio (3,36, em 2000) é também menor, quando comparado à média do estado (3,97, no mesmo ano). De qualquer modo, é importante observar que em todas as unidades de análise houve queda da média de moradores no período em questão, o que, do ponto de vista da moradia, sugere uma melhoria das condições de conforto. 

No  que  diz  respeito  à  condição  de  ocupação,  observam‐se  maiores  percentuais  de domicílios próprios em todas as situações de localização no estado do que nas situações correspondentes  no município.  Por  outro  lado,  nas  unidades  espaciais  de  Vazante,  são menos  relevantes  os  percentuais  de  domicílios  alugados  e  mais  significativos  os  de cedidos. 

Cabe ainda registrar que, por ocasião das visitas realizadas ao final de 2010, observou‐se a  construção de  centenas de  casas populares nos  bairros mais  afastados,  a maioria  em 

 

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fase final de acabamento, o que deve melhorar sensivelmente os dados habitacionais do município no ano de 2011 e seguintes. 

3.9. Saneamento básico 

De  acordo  com  os  dados  do  censo  2000  do  IBGE,  em  termos  gerais,  os  índices  de atendimento por rede geral de água, poços ou nascentes e outras formas, canalizadas ou não,  são  semelhantes  no  município  e  no  estado  de  Minas  Gerais.  Na  área  urbana  de Vazante,  assim  como  no  restante  do  estado,  os  índices  superam  96%  de  atendimento, sendo pouco significativas as demais formas observadas.  

Na área rural do município, um percentual considerado elevado (23% dos domicílios), em função  das  características  de  adensamento,  é  atendido  pela  rede  geral.  Trata‐se, provavelmente,  de  algum  povoado  abastecido  ou  de  domicílios  situados  próximos  ao perímetro  urbano.  Ainda  assim,  a  grande maioria  dos  domicílios  nesta  zona  tem  como fonte de abastecimento poços ou nascentes. 

No que diz respeito ao tipo de esgotamento sanitário das habitações, de acordo com os dados  censitários,  a  cidade  de  Vazante  também  apresenta  uma  situação  confortável quanto aos índices de atendimento domiciliar por rede geral – mais de 90% das moradias atendidas, índice mais de dez pontos percentuais superior ao do estado de Minas Gerais.  

Na  área  rural  do  município,  a  situação  é  igualmente  bem  mais  favorável  do  que  no restante  do  estado,  uma  vez  que  cerca  de  um  terço  das  habitações  tem  soluções consideradas adequadas: 20% dos domicílios são servidos por rede geral e 12% por fossa séptica, enquanto no estado o atendimento por esses serviços soma apenas cerca de 10% do  total  de moradias.  Por  outro  lado,  os  dados  censitários  sobre  a  existência  de  fossa rudimentar e a total ausência de instalações sanitárias revelam condições ainda bastante precárias nas zonas rurais, tanto do município em foco quanto no estado.  

Em  relação  aos  resíduos  sólidos,  observa‐se  que  a  situação  quanto  aos  índices  de atendimento  com  coleta  domiciliar  é  semelhante  nas  áreas  urbanas  do  Município  de Vazante  e  do  estado  de Minas  Gerais  ‐  93%  das moradias,  no  ano  de  2000.  Nas  áreas rurais, o município apresenta índices de atendimento por coleta domiciliar 6% mais alto que o estado. Entretanto,  em ambas as unidades  territoriais prevalece a queima,  sendo que o estado, de modo geral, demonstra uma condição mais precária, com cerca de 21% dos domicílios depositando o  lixo em  terrenos baldios,  logradouros ou  corpos hídricos, soluções que causam sérios prejuízos à saúde humana e ao meio ambiente. 

3.10. Estrutura de meio ambiente 

A criação da Secretaria de Meio Ambiente do município de Vazante é  recente  (abril  de 2009).  Antes  dessa  data,  ela  constituía  apenas  um  setor  de  outra  secretaria.  Além  do secretário, conta com apenas dois técnicos e, segundo depoimentos colhidos, tem pouca força política, assim como a Secretaria de Turismo. 

Já  o  Conselho  Municipal  de  Defesa  e  Conservação  do  Meio  Ambiente  (CODEMA)  de Vazante foi criado em 1989. Em 1997, ele teve sua denominação alterada para Conselho Municipal  de  Desenvolvimento  Ambiental.  Trata‐se  de  um  órgão  colegiado  e,  em  tese, paritário  entre  o  Poder  Público  e  a  sociedade  civil,  embora,  segundo  o  art.  4º  da  Lei 1.046/97,  haja  predominância  de  representantes  do  primeiro,  sendo  seus  membros nomeados pelo prefeito municipal, conforme o art. 5º do mesmo diploma.  

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O  CODEMA  é  um  órgão  consultivo  de  assessoramento  ao  prefeito  e  deliberativo  no âmbito de sua competência. Na prática, ele não se reúne periodicamente, mas só quando demandado. Nesses casos, é elaborado um parecer por seu presidente, representante do Poder Público municipal, que é, então, levado à apreciação do órgão colegiado.  

Atualmente, a VMZ não se faz representar no conselho, apesar de convidada para tal na atual gestão e  tendo  tido  intensa atuação em gestões anteriores. Ao que parece, não há uma  política  específica  advinda  da  direção  da  empresa  em  participar  desse  fórum ambiental,  tendo decorrido as participações em anos anteriores única e exclusivamente da iniciativa dos então responsáveis pela gerência de meio ambiente. 

Com relação às entidades da sociedade civil atuantes na área de meio ambiente, existem duas organizações não governamentais (ONGs) no município: a Associação Vazantense de Ecologia  (AVE)  e  a  Associação  de  Defesa  do  Meio  Ambiente  de  Vazante  (Adema).  A primeira  delas  é  mais  antiga  e  faz  oposição  declarada  à  mineradora;  já  a  segunda  foi fundada  em  2003,  por  iniciativa  do  Ministério  Público  Estadual  (MPE),  para  ser  a destinatária das multas ambientais oriundas das ações desta instituição no município. No nível  regional,  sobressai  a  ONG Movimento  Verde  (Mover),  de  Paracatu  e,  ao  nível  do estado,  a  Associação  Mineira  de  Defesa  do  Ambiente  (Amda),  com  sede  em  Belo Horizonte. 

3.11. Turismo e lazer 

Vazante  tem  grande  potencial  turístico  ecológico  e  religioso,  a  partir  de  suas  várias grutas,  com destaque  especial  para  a  Lapa  Velha  e  a  Lapa Nova.  Ao  final  de  2010,  por ocasião das visitas, esta última gruta estava com sua infraestrutura de visitação (escadas, passarelas,  etc.)  em  fase  de  implantação,  de  acordo  com  as  previsões  de  seu  plano  de manejo. Além dessas, há outras duas grutas (Delza e Gameleira) dentro da área urbana, ainda  pouco  conhecidas  e  sem maiores medidas  de  proteção.  No  caso  da  gruta  Delza, situada nos fundos do Hotel Pousada, observou‐se, por ocasião das visitas realizadas em 2010, o muro de um imóvel particular construído junto à sua entrada, bem como entulhos de material de construção espalhados pelo terreno, aparentemente com a complacência do Poder Público municipal. 

Assim,  embora apresente grande potencial por  seu valioso patrimônio natural, Vazante praticamente não arrecada recursos dessa fonte, bastando apenas uma breve comparação com  municípios  vizinhos,  conforme  informações  obtidas  junto  à  Secretaria  de  Meio Ambiente:  enquanto  Paracatu  arrecada  cerca  de  R$  300  mil  anuais  apenas  com  ICMS Ecológico, e Guarda‐Mor, pouco menos da metade disso, Vazante arrecadou apenas R$ 70 em 2009, por não ter unidades de conservação registradas. No que tange à existência de aterro  sanitário,  que  é  o  outro  critério  utilizado  para  a  divisão  dos  recursos  do  ICMS Ecológico em Minas Gerais, ele estava em processo de instalação em 2010, mas ainda sem a Licença de Operação (LO). 

Quanto  ao  turismo  religioso,  já  vem  ocorrendo  há  décadas  no  município.  O  principal evento  turístico de Vazante é a Festa da N. Senhora da Lapa, que acontece anualmente, entre os dias 22 de abril e 03 de maio, nos arredores da  Igreja Matriz e da Lapa Velha, ocasião em que a população municipal mais que triplica e os moradores locais costumam alugar  suas  casas  para  os  turistas.  Por  fim,  outro  evento  que  vem  se  consolidando  na cidade ao longo dos anos, embora ainda pouco divulgado, é a Festa do Carro de Boi, que ocorre na primeira lua cheia de julho, e que já chegou a reunir mais de 150 carros de boi. 

 

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Há, mesmo, um enorme exemplar de carro de boi numa praça próxima ao ribeirão Santa Catarina, na saída para Lagamar, em homenagem ao evento. 

Quanto ao  lazer da população  local, a cidade conta com um ginásio poliesportivo e  três clubes sociais, o Vazante Clube, a Associação Atlética do Banco do Brasil e a Associação Desportiva da Votorantim. Entretanto, como os dois últimos são privativos dos funcioná‐rios, grande parte da população não é sócia, e acaba  tendo como opção a  frequência às cachoeiras e rios, nos finais de semana, ou a bares da cidade. Em 2002, foi inaugurado o Centro  Cultural  de  Vazante,  que  tem  sob  a  sua  coordenação  a  Casa  de  Cultura  "Ada Fonseca",  a  Biblioteca  Municipal  "Sebastiana  Corrêa  da  Silva",  o  Museu  Histórico  de Vazante "Salatiel Valeriano Corrêa" e a Banda de Música Municipal. Desde 1992, a cidade também conta com um teatro municipal instalado no primeiro piso da prefeitura Munici‐pal. 

4. Mineração e Sustentabilidade 

As  empresas  de mineração  extraem,  beneficiam,  transformam  e  tornam  úteis  diversos bens minerais, na forma de produtos essenciais para a sociedade moderna. Concomitan‐temente,  contudo,  elas produzem modificações no meio ambiente e na vida econômica, social e cultural das comunidades em sua área de influência. Se os impactos socioambien‐tais foram suportados pela sociedade durante centenas de anos em razão dos inúmeros benefícios propiciados pela atividade mineradora, em especial no que diz respeito à gera‐ção de impostos, emprego e renda, hoje o Poder Público e a sociedade vêm demandando práticas ambientalmente adequadas e socialmente justas nas últimas décadas.  

Por sua vez, as empresas de mineração, em especial as grandes corporações internacio‐nais, vêm tentando atender a essa demanda de tornar seu negócio mais sustentável medi‐ante diversas ações de responsabilidade socioambiental. E algumas das formas mais utili‐zadas por elas para demonstrar esse avanço têm sido a obtenção de certificações ambien‐tais e a publicação de relatórios de desempenho socioambiental (ou relatórios de susten‐tabilidade). 

Todavia, grande parte desses relatórios dá pouca atenção aos efeitos diretos e  indiretos provocados pela atividade minerária nas comunidades localizadas em sua área de influ‐ência. Talvez isso ocorra, até mesmo, pela falta ou escassez de indicadores nas dimensões econômica,  social  e  ambiental,  cuja  utilização  seja  consensualmente  estabelecida  por todas as partes interessadas. Com isso, nem sempre é possível obter um quadro confiável do grau de sustentabilidade alcançado pelas partes interessadas em decorrência da ativi‐dade minerária, em vista também da desigualdade econômica de forças em interação. 

Além disso, os relatórios costumam refletir apenas um lado da questão, ou seja, a visão da empresa acerca de sua atuação em prol da sustentabilidade. A opinião das comunidades afetadas, de suas lideranças, dos governos locais, das organizações não governamentais e até mesmo  do  público  interno  (empregados  e  terceirizados)  sobre  a  efetividade  dessa atuação é, muitas vezes, negligenciada pelos poderes constituídos e potencialmente capa‐zes de intervir em favor de todas as partes interessadas. 

O objetivo deste capítulo, portanto, é  tentar suprir esta última  lacuna, mediante a apre‐sentação dos principais resultados de três tipos de consultas efetuadas junto a esses ato‐res:  entrevistas  realizadas  com onze  lideranças  locais  em 2007  (GOLDER ASSOCIATES, 2007, p.  132/135),  questionários  aplicados no mesmo ano a 45  colaboradores  (39 em‐pregados e seis terceirizados) da Unidade Vazante da VMZ (GOLDER ASSOCIATES, 2007, 

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p. 135/144) e questionários aplicados por um dos autores deste relatório, em 2010, a 50 moradores da cidade de Vazante. 

4.1. Percepção das lideranças entrevistadas 

Quanto às instituições e serviços públicos e privados do município de Vazante, o consenso das  onze  lideranças  entrevistadas  (GOLDER ASSOCIATES,  2007,  p.  132‐135)  foi  de  que eles  atendem  bem  à  população.  Os  maiores  problemas  acontecem  na  área  da  saúde, devido  à  falta  de  algumas  especialidades médicas  no município,  tornando  necessário  o deslocamento  dos  pacientes  e  causando  demora  no  atendimento,  o  qual  deve  ser agendado em outro município, geralmente Uberlândia, Belo Horizonte ou Uberaba.  

Quanto  à  infraestrutura  urbana  e  regional,  no  geral,  ela  é  caracterizada  como  boa,  em termos de saneamento e vias públicas. Em relação aos serviços educacionais, foi citada a existência da UNIPAC em Vazante, única instituição de ensino superior na cidade, além de diversos  cursos  oferecidos  pelo  SENAI  e  pelo  Serviço Nacional  de  Aprendizagem Rural (SENAR).  Em  termos  de  infraestrutura  voltada  para  o  turismo  (hotéis,  bares  e restaurantes),  foi  bastante  mencionada  a  deficiência  de  atendimento  nesse  setor  e  a necessidade  de  maiores  investimentos  e  capacitação  das  pessoas,  para  um  bom atendimento aos clientes.  

De acordo com as  lideranças  locais entrevistadas,  em Vazante existem poucas opções e espaços de lazer e cultura, à exceção do Espaço Cultural do Banco do Brasil, que poucas pessoas  frequentam  ou  mesmo  conhecem.  Tal  como  a  maioria  da  população,  a  maior parte da juventude tem como ponto de encontro os bares da cidade, uma vez que também para eles faltam opções. De acordo com a fala de um entrevistado, “a juventude fica muito no computador, Orkut e MSN, sem interesses culturais, apenas no bate‐papo”. O que mais movimenta  a  cidade  são  as  igrejas,  tanto  a  católica  como  as  protestantes,  capazes  de reunir muitos jovens.  

Além  desses  eventos,  foi  citado  o  trabalho  da  Fundação  Conscienciarte,  instituição  de Paracatu  que  trabalha  na  cidade  com  programas  voltados  para  a  inclusão  de  jovens carentes no mercado de trabalho, a exemplo do “Adolescente Aprendiz”. Nesse programa, pessoas entre 14 e 17 anos de idade, em paralelo ao ensino fundamental, fazem cursos de secretariado, auxiliar administrativo, informática e marketing durante o período de dois anos. Além disso, o programa promove oportunidades para esses jovens participarem de programas de estágios nas empresas da região. O projeto começou a ser desenvolvido em Vazante  no  ano  de  2004,  em  parceria  com  a  prefeitura  municipal,  a  VMZ  e  outras empresas locais e, em 2007, capacitava por volta de 35 jovens no município. 

Segundo  os  entrevistados,  a  maior  demanda  da  população  local  é  pela  geração  de emprego, tanto para jovens quanto para adultos. Foi citado que as pessoas na faixa etária de 25 anos ou mais estão tendo menos oportunidades devido à falta de qualificação, uma vez  que  o  investimento  no  treinamento  da  mão‐de‐obra  está  voltado  para  os adolescentes.  

Quanto ao papel desempenhado pela VMZ, na opinião dos entrevistados, ela é a grande fonte  de  incremento  da  renda  da  cidade.  Prestadores  de  serviço,  comércio  em  geral  e aluguel de imóveis, dentre outros, são setores influenciados pela presença da empresa. 

Quanto às tendências e vocações, os moradores locais acreditam no potencial turístico do município, não só por causa da presença de grutas e cachoeiras, como também em virtude da  paisagem  cênica  e  de  fazendas  da  região.  Trilhas  de mountain­bike  também  foram 

 

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citadas. Conforme as entrevistas, a cidade possui dois roteiros turísticos, um rural e outro urbano, sendo que este último contempla a visita à gruta da Lapa Nova. Foi mencionado ainda o fato de Vazante fazer parte do circuito turístico Tropeiros de Minas. 

Os  moradores,  contudo,  reconhecem  a  deficiência  de  infraestrutura  específica  para  o atendimento  ao  turista  (hotéis,  bares,  restaurantes  e  mão  de  obra  especializada)  e acreditam que  a  atividade  turística,  como  fonte de  renda  e  emprego  em Vazante,  é  um projeto  de  longo  prazo.  Não  obstante,  já  está  sendo  pensado  hoje  pela  Agência  de Desenvolvimento de Vazante (ADVAZ).  

A agroindústria de  laticínios também foi mencionada como uma das alternativas para a sustentabilidade  econômica  do  município.  A  ADVAZ,  em  parceria  com  o  SENAR,  vem desenvolvendo um projeto de incentivo ao beneficiamento da cadeia produtiva do leite e ao  cooperativismo  junto  aos  pequenos  produtores  rurais.  Segundo  informações  de técnico  da  ADVAZ,  “hoje  há  na  cidade  apenas  um  laticínio  e  grande  parte  do  leite produzido é vendido para cooperativas de outros municípios”. 

Com menor número de citações, aparece a vocação do município para o aproveitamento da madeira do eucalipto voltada para desenvolvimento da indústria de celulose. Segundo um dos entrevistados, “a Votorantim possui uma grande área de plantio de eucaliptos, e poderia  negociar  essa  área,  após  a  exaustão  da mina,  para  a  continuidade do  plantio  e aproveitamento da madeira para indústria de celulose”. Nesse sentido, o SENAR também estabeleceu  parcerias  com  a  ADVAZ,  a  VMZ,  a  Universidade  Federal  de  Viçosa  (UFV)  e outras  instituições  privadas  e  entidades  civis,  visando  implementar  um  programa  de incentivo à  silvicultura em Vazante e  em  toda a microrregião de Paracatu. A VMZ, uma das principais parceiras desse projeto,  contribui com transferência de  tecnologia e com apoio financeiro.  

Em paralelo ao projeto de desenvolvimento da silvicultura na região, a ADVAZ desenvolve um  programa  de  incentivo  à  apicultura,  como  fonte  geradora  de  renda  para  pequenos produtores  e/ou  apicultores  profissionais.  Esse  projeto,  que,  em  tese,  representa  uma excelente  alternativa  para  a  sustentabilidade  socioambiental,  tem  a  parceria  do SEBRAE/Minas.  

Em  outra  ação  importante  que  visa  subsidiar  o  desenvolvimento  sustentável  rural  do município, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER/MG),  em  parceria  com  a  Prefeitura  Municipal  de  Vazante,  criou  o  Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável. Trata‐se de um instrumento de gestão e  tomada  de  decisões  com  o  objetivo  de  criar  condições  para  o  desenvolvimento  dos pequenos proprietários rurais. Dentre as principais ações estabelecidas neste plano estão a criação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e um conjunto de atividades contemplando  as  áreas  de  educação,  energia,  meio  ambiente  e  desenvolvimento econômico sustentável.  

Ao lado da agropecuária, a indústria de estruturas metálicas e a construção civil foram os outros setores mencionados como vocação do município. 

4.2. Percepção dos colaboradores da VMZ entrevistados 

Conforme também o relatório da Golder Associates (2007, p. 135/144)  foram aplicados questionários, naquele ano, a 45 colaboradores da Unidade Vazante da VMZ, dos quais 39 empregados  e  seis  terceirizados,  buscando  identificar  suas  expectativas  e  interesses. Metade deles  era natural de Vazante,  e  a maioria  dos demais,  de municípios próximos, 

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sendo que a grande maioria constituiu família e criou laços sociais no local, o que explica o grande vínculo que  têm com Vazante. De modo geral, na opinião dos entrevistados, a cidade  é  descrita  como  tranquila,  bem  cuidada  e  com  uma  população  hospitaleira  e receptiva.  

Dos  entrevistados,  quase  90%  possuíam  pelo  menos  o  ensino  médio,  percentual  este bastante superior à média local. Dentre os entrevistados deste setor, 48% concluíram ou estavam  cursando  cursos  técnicos,  tendo  como  objetivos  o  crescimento  dentro  da empresa  e  visando  atingir  cargos  e  funções  mais  elevados  na  organização.  Alguns colaboradores  demonstraram  interesse  em  investir  em  sua  formação, mas  justificaram não estarem estudando devido à troca de turnos, o que dificulta a frequência às aulas.  

Um aspecto facilitador declarado por vários entrevistados no tocante à profissionalização é a presença do SENAI na localidade, ofertando cursos técnicos em mineração, mecânica e elétrica.  Além  desses,  o  SENAI  oferece  outras  modalidades  de  cursos,  tais  como aprendizagem social, aprendizagem industrial, qualificação e aperfeiçoamento.  

A análise das entrevistas  realizadas  com os  colaboradores que atuam na área  técnica e administrativa  indicou  que,  além  de  possuírem  cursos  técnicos,  70%  deles  buscavam obter um  título de graduação superior. Esse  fato pode ser  justificado pela  facilidade de acesso às universidades locais. A UNIPAC instalou uma unidade no município, mas outras opções disponíveis são as faculdades instaladas em cidades próximas, como, por exemplo, em Paracatu, Patos de Minas e Uberlândia. 

No  tocante  ao  rendimento  médio  familiar  dos  entrevistados,  pode‐se  verificar  o predomínio  do  grupo  inserido  na  faixa  entre  três  e  cinco  salários  mínimos  (SMs), correspondendo  a  41% do  total  pesquisado.  A  seguir,  aparecem  aqueles  com  renda de cinco  a  dez  SMs,  igual  a  25% do  universo,  ao  lado  dos  que  recebem mais  de  dez  SMs, representando 18% dos entrevistados. Os outros dois grupos são formados por famílias com renda média de dois a três salários mínimos, representando 11% do total, enquanto os 5% restantes  recebem entre um e dois SMS. Naturalmente,  tais  valores  também são bastante superiores à média local. 

Durante  as  entrevistas  realizadas,  muitos  daqueles  com  maior  tempo  de  casa manifestaram o desejo de atingir a aposentadoria atuando na VMZ. Tal aspecto, aliado ao percentual  elevado de pessoas  com muito  tempo de permanência na  empresa,  revelam um futuro profissional fortemente vinculado à VMZ e à atividade de mineração. 

Entre  os  colaboradores  com  tempo  de  serviço  inferior  a  um  ano,  destacam‐se  os participantes do Programa Menor Aprendiz, desenvolvido pela empresa com o objetivo de  oferecer maiores  oportunidades  de  trabalho  aos  jovens  de  famílias  em  risco  social. Durante esse tempo, os jovens têm a oportunidade de trabalhar e conviver com os vários setores  da  empresa,  abrindo  um  leque  de  experiências  que  facilitará  o  ingresso  no mercado de trabalho.  

Grande parte dos terceirizados entrevistados também declarou possuir pouco tempo de serviço  na  empresa,  sendo  que  o  período  máximo  identificado  foi  de  cinco  anos.  Um aspecto  importante  neste  quesito  é  que  alguns  colaboradores,  durante  as  entrevistas, declararam ter atuado anteriormente como terceirizados e que, após algum tempo, foram contratados pela VMZ. Desta forma, uma das possíveis explicações para esta média baixa de  tempo de serviço dos  terceirizados é a provável  tendência da empresa em contratar essas  pessoas,  reduzindo  assim  o  tempo  médio  de  permanência  delas  nas  empresas terceirizadas. 

 

350 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

Um  dos  itens  da  pesquisa  procurou  identificar  o  interesse  dos  colaboradores  em desenvolver atividades diferentes das que desempenham atualmente dentro da VMZ. Os resultados obtidos mostraram que quase metade dos entrevistados não deseja trabalhar em  outras  atividades.  Dentre  os  53%  que  demonstraram  esse  interesse,  a maior  parte (41%) preferiu atividades ligadas diretamente à exploração mineral, tais como pesquisa mineral, planejamento de  lavra, operação de máquinas pesadas e topografia aplicada às minas subterrâneas. Pouco mais de um quinto mostrou interesse por atividades ligadas à mecânica  e  manutenção  de  autos  e  equipamentos  industriais,  enquanto  outros  13% citaram atividades vinculadas ao meio ambiente e à segurança do trabalho. 

4.3. Percepção dos moradores entrevistados 

Nos dias 23 e 24 de outubro de 2010 foram aplicados questionários por um dos autores em 50 moradores de Vazante, consultando‐os a respeito de sua opinião sobre a VMZ. Os entrevistados  foram  escolhidos  aleatoriamente,  mas  residiam,  principalmente,  nos bairros  Serra  Dourada,  Cidade  Nova  II,  Vazante  Sul  e  Novo  Horizonte,  em  razão  da localização mais próxima à mineração ou em locais de maior ocorrência de dolinas.  

Após  as  questões  iniciais  de  qualificação  dos  entrevistados  (faixa  etária,  tempo  de residência na  comunidade,  escolaridade e  renda  familiar),  foi  solicitada a opinião deles sobre  vários  temas  relacionados  à  mineração.  Antes,  contudo,  para  ensejar  uma apreciação mais acurada das respostas, foram indagadas três questões atinentes à relação do entrevistado com a mineração, à anterior visita a ela e ao conhecimento do minério explorado e sua aplicação. 

4.3.1. Relação com a mineração 

Dos 50 entrevistados, 58% tinham alguma relação com a mineração (já trabalharam lá ou em terceirizada, têm familiar empregado ou ainda trabalham na VMZ ou em terceirizada), ao passo que os demais 42% não tinham nenhuma relação, conforme os dados da Tabela 1. 

Tabela 1: Relação da comunidade com a mineração 

Relação com a mineração  Nº de entrevistados 

Percentual 

1º Não tem relação com a mineração 21 42% 2º Foi empregado (a)/subcontratado (a) da mineração 15 30% 3º Tem familiar empregado na mineração 14 28% 4º É empregado (a)/subcontratado (a) da mineração 5 10% Nota: Os dados ultrapassam 50 entrevistados e 100%, porque alguns deram mais de uma resposta. 

 

4.3.2. Visita à mineração 

Perguntados  se  já  haviam  visitado  a  VMZ,  80%  dos  entrevistados  afirmaram  que  sim (várias, algumas ou só uma vez) e 20%, que não (Tabela 2). No caso afirmativo, entre os motivos  alegados,  destaca‐se  o  fato  de  o  entrevistado  ser  ou  ter  sido  empregado  ou terceirizado, mesmo que por um curto período (48%). Outros motivos alegados por mais de  um  entrevistado  foram  o  convite  da  empresa  (12%,  principalmente  no  ambiente escolar), a visita a empregado (6%) e o encaminhamento de alguma reclamação (4%). Já entre os que nunca visitaram a empresa, 4% alegaram não terem sido convidados, além de falta de tempo, de interesse e até de coragem. 

 351 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

Tabela 2: Visitas à mineração por parte da comunidade 

Visita à mineração  Nº de entrevistados 

Percentual 

1º Visitaram a mineração várias vezes 28 58% 2º Nunca visitaram a mineração  10 20% 3º Visitaram a mineração poucas vezes 9 18% 4º Visitaram a mineração apenas uma vez 2 4% 

 

4.3.3. Conhecimento do minério explorado e de sua aplicação 

Indagados  se  sabiam que minério  era  explorado na mineração vizinha,  42  entrevistados (84%) disseram que  sim,  embora  apenas  39  (78%)  tenham  confirmado  sua  afirmação, declinando  o  nome  correto  do minério  (minério  de  zinco, willemita  ou  calamina).  Oito entrevistados (16%) afirmaram que não sabiam qual minério era ali explorado. Já quanto ao(s)  produto(s)  obtido(s)  a  partir  do minério,  28  entrevistados  (56%)  afirmaram que conheciam  algum(ns)  deles,  embora  apenas  26  (52%)  tenham  declinado  um  produto correto,  sendo mais  citada,  por metade dos  entrevistados que disseram sim,  a  telha de zinco. 

4.3.4. Imagem da mineração 

Questionados,  em pergunta  aberta,  sobre a primeira  imagem ou palavra que  lhes havia vindo à cabeça quando lhes foi informado que se tratava de um estudo sobre a influência da mineração nas comunidades de entorno e no município em que se insere, pouco mais da metade dos entrevistados respondeu com uma imagem negativa, cerca de um quarto com uma  imagem positiva e  o outro quarto declarou uma  imagem neutra ou nenhuma imagem (Tabela 3). Isso, certamente, reflete uma visão mais crítica em relação à atividade mineradora, a despeito de seus benefícios. 

Tabela 3: Imagem que os entrevistados têm da mineração 

Imagem da mineração 

Nº de entrevistados 

Percentual  Exemplos 

Negativa  26 52% Degradação ambiental, diminuição da água, buraco, desmatamento, etc. 

Positiva  12 24% Riqueza, emprego, renda, minério, etc. Neutra/não respondeu 12 24% A Mineira, a CMM, a Votorantim, etc.  

4.3.5. Benefícios percebidos 

Questionados,  em  pergunta  aberta,  sobre  o  que  a  VMZ  faz  de  bom  para  o  país,  a comunidade e o meio ambiente (Tabela 4), a grande maioria dos entrevistados respondeu que  “ela  dá  empregos”,  pouco mais  da metade,  que  “ela  ajuda  demais  a  prefeitura  em obras e eventos”, e pouco mais de um terço, que “ela desenvolve muitos projetos (cursos profissionalizantes,  atividades de esporte e  lazer,  etc.)”,  além das adiante especificadas. As demais respostas foram dadas por menos de 5% dos entrevistados. 

 

352 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

Tabela 4. Relação de benefícios percebidos pela comunidade frente a VMZ 

Benefícios produzidos pela empresa e percebidos pela população 

Nº de entrevistados 

Percentual 

1º Dá empregos  40 80% 2º Ajuda demais a Prefeitura em obras e eventos 28 56% 3º Desenvolve muitos projetos 18 36% 4º Promove o desenvolvimento da cidade e do País 13 26% 5º Planta mudas / refloresta 12 24% 6º Contribui com impostos 8 16% 7º Gera renda  5 10% Nota: Os dados ultrapassam 50 entrevistados e 100%, porque a maioria deu mais de uma resposta. 

 

4.3.6. Sugestões de outros benefícios 

Indagados,  também em pergunta  aberta,  sobre o que mais a VMZ poderia  fazer de bom para o país, a comunidade e o meio ambiente, mais de um terço dos entrevistados declarou que  “ela  deveria  preservar mais  o meio  ambiente”,  pouco mais  de um quarto,  que  “ela deveria, simplesmente, ajudar mais”, e um quinto, que “deveria gerar mais empregos, pois isso  não  ocorre  mais”,  além  de  outras  sugestões  adiante  especificadas  (Tabela  5).  As demais respostas foram dadas por menos de 5% dos entrevistados. 

Tabela 5: Sugestões da comunidade sobre quais benefícios a VMZ poderia proporcionar 

Benefícios sugeridos à empresa pela população  Nº de entrevistados 

Percentual 

1º Reflorestar mais, recuperar áreas degradadas, etc. 18 36% 2º Simplesmente “ajudar mais” 14 28% 3º Gerar mais empregos 10 20% 4º Ajudar mais na educação 5 10% 5º Melhorar a água da cidade 5 10% 6º Diminuir a contaminação e o bombeamento 5 10% 7º Valorizar mais a mão‐de‐obra local 4 8% 8º Melhorar o sistema de esgoto, por causa do mau cheiro 3 6% Nota: Os dados ultrapassam 50 entrevistados e 100%, porque alguns deram mais de uma resposta. 

 

4.3.7. Maiores incômodos 

Questionados,  em  pergunta  fechada,  com  16  opções,  sobre os  cinco maiores  incômodos provocados pela VMZ,  em  ordem  decrescente,  de modo  a  se  poder  aferir  também  qual seria  o  maior  incômodo,  a  redução  das  águas  obteve  ampla  maioria,  nos  dois  casos, conforme as respostas da Tabela 6. 

 

 

 

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Tabela 6: Maiores incômodos causados pela VMZ 

Maiores  incômodos  apontados  pela população  como  sendo  provocados pela mineração 

Apontado  como  um  dos cinco  maiores incômodos 

Apontado  como  o maior incômodo 

Nº de Entrevistados

Percentual Nº de Entrevistados 

Percentual 

1º Redução das águas 41 82% 21  42% 2º O fato de ela levar a riqueza e deixar pouco em troca 

31 62% 6  12% 

3º Poluição das águas 28 56% 5  10% 4º Dolinamentos 25 50% 10  20% 5º Barragens ou outras estruturas  com risco de acidente 

18 36% 2  4% 

6º  Geração  de  poucos  empregos  ou subempregos 

13 26% 4  8% 

7º Aumento do custo de vida local 12 24% 1  2% 8º  Poluição  visual  /  Alteração  da paisagem 

11 22% 1  2% 

9º Desmatamento 10 20% 0  0% 10º O fato de ela ser muito fechada com a comunidade 

8 16% 0  0% 

11º Poeira  5 10% 0  0% 12º Tráfego de veículos pesados 3 6% 0  0% 13º Vibração  2 4% 0  0% 14º Barulho  1 2% 0  0% 15º  Expulsão  direta  ou  indireta  de moradores locais 

1 2% 0  0% 

16º Alteração dos costumes locais 0 0% 0  0% Nota: Os dados ultrapassam 50 entrevistados e 100%, porque a maioria deu cinco respostas; alguns, menos de cinco. 

4.3.8. Ações de minimização de impactos socioambientais 

Indagados,  também  em pergunta  aberta,  se  eles  sabiam o que a VMZ  vem  fazendo para minimizar  os  impactos  socioambientais  que  produz,  quase  um  terço  dos  entrevistados apontou  tanto  a  retirada  do  tráfego  de  veículos  pesados  da  cidade  quanto  o tamponamento  das  dolinas,  seguidos  pela  recuperação  e  reflorestamento  de  áreas degradadas,  conforme  os  dados  seguintes.  As  respostas  dadas  por  menos  de  5%  dos entrevistados (ex.: promover palestras, monitorar as águas, etc.) não foram computadas (Tabela 7). 

 

354 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

Tabela 7: Percepção da comunidade frente a minimização dos impactos efetuados pela VMZ 

Ações de minimização de impactos socioambientais efetuadas pela empresa e percebidas pela população 

Nº de entrevistados 

Percentual 

1º Retirou o tráfego de veículos pesados da cidade  15 30% 1º Tapa as dolinas que aparecem, inclusive na cidade 15 30% 3º Recupera as áreas degradadas / refloresta 10 20% 4º Constrói / alteia barragem para o tratamento da água 7 14% 4º Fornece água em caminhão pipa / perfura poços artesianos 7 14% 6º Diminuiu a poeira e detonações ao afastar a mina da cidade 4 8% Nota: Os dados ultrapassam 50 entrevistados e 100%, porque alguns deram mais de uma resposta. 

4.3.9. Relacionamento empresa x comunidade 

Perguntada a opinião sobre o relacionamento da VMZ com a comunidade de entorno, mais da metade  dos  entrevistados  consideram‐na  boa,  conforme  os  seguintes  percentuais  e justificativas (Tabela 8): 

Tabela 8: O relacionamento com a VMZ na opinião da comunidade 

Relacionamento empresa x comunidade 

Nº de Entrevistados 

Percentual  Justificativas 

Muito ruim  0 0%  Comunicação e convívio difícil (12%), pouca transparência (6%), degradação do ambiente 

(6%), podia gerar mais empregos (4%) Ruim  6 12% 

Razoável  13 26% Bom  27 54%  Ajuda sempre a cidade (28%), faz reuniões, 

cursos e palestras (16%), atende bem nas visitas (10%), promove eventos (8%), gera 

empregos (6%), faz parcerias (4%) 

Muito bom  3 6% 

Não respondeu  1 2%  

4.3.10. Atividade substituta da mineração 

Indagados, em pergunta aberta, sobre que atividade(s) econômica(s) vai (vão) sustentar a cidade depois que o minério acabar, pouco mais da metade dos entrevistados não soube responder,  sendo  que  cinco  deles  disseram  que  “a  cidade  vai  acabar!”.  Entre  os  que responderam  com  alguma  atividade,  a  agropecuária  foi  a  mais  citada,  conforme  os resultados da Tabela 9. 

 355 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

Tabela 9: Atividade substituta da mineração segundo a comunidade 

Atividade substituta da mineração, quando da exaustão do minério 

Nº de entrevistados 

Percentual 

1º Não sabe  26 52% 2º Agropecuária 17 34% 3º Indústria (principalmente cimento) 6 12% 4º Turismo ecológico / religioso 2 4% 5º Comércio  1 2% Nota: Os dados ultrapassam 50 entrevistados e 100%, porque alguns deram mais de uma resposta. 

 

4.3.11. Responsabilidade pela busca de alternativas à atividade mineradora 

Perguntados sobre quem teria a responsabilidade de buscar alternativas econômicas para a  etapa  de  pós­exaustão  do minério,  sendo‐lhes  dadas  como  alternativas:  o  governo,  a comunidade,  a  empresa  de mineração  e  todos  os  três,  quase metade  dos  entrevistados respondeu pela responsabilidade compartilhada, seguida pela responsabilidade exclusiva do governo, conforme os resultados da Tabela 10. 

Tabela 10: A  responsabilidade da busca de alternativas econômicas à mineração segundo a comunidade 

Responsabilidade pela busca de alternativas à atividade mineradora 

Nº de entrevistados 

Percentual 

1º É do governo, da própria comunidade e da mineradora 24 48% 2º É só do governo 16 32% 3º É só da empresa de mineração 9 18% 4º É só da própria comunidade 3 6% 5º Não responderam 1 2% Nota: Os dados ultrapassam 50 entrevistados e 100%, porque alguns deram mais de uma resposta. 

 

4.3.12. Uso futuro da área minerada 

Indagados,  em pergunta  fechada,  sobre o que deveria  ser  implantado na área minerada após a exaustão (Tabela 11), 80% dos entrevistados citou o reflorestamento, sendo que, mais  da  metade  do  total,  com  mudas  de  espécies  nativas  e  frutíferas  e,  cerca  de  um quarto,  com  espécies  de  eucalipto  e  Pinus.  Outros  usos  tiveram  citações  iguais  ou inferiores a 10%, conforme os resultados seguintes: 

 

356 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

Tabela 11: Uso futuro da área minerada de acordo com a comunidade 

Uso futuro da área minerada  Nº de entrevistados 

Percentual 

1º Reflorestamento com mudas de espécies nativas e frutíferas 27 54% 2º Reflorestamento com mudas de eucalipto / Pinus 13 26% 3º Indústria  5 10% 4º Parque municipal, lago ou outra área de lazer 3 6% 5º Área de cultivo/pastagem 2 4% 5º Conjunto habitacional 2 4% 7º Aterro sanitário  1 2% 7º Bairro de classe média/alta 1 2% 7º Não respondeu  1 2% Nota: Os dados ultrapassam 50 entrevistados e 100%, porque alguns deram mais de uma resposta. 

 

4.3.13. CFEM 

Perguntados  se  já  haviam  ouvido  falar  em  Contribuição  Financeira  pela  Exploração  de Recursos Minerais (CFEM), se sabiam para que ela servia e a quem se destinava a maioria dos  recursos,  apenas  três  entrevistados  responderam  que  “sim”  à  primeira  pergunta, sendo  que  um  não  sabia  as  outras  duas  respostas.  Quanto  aos  outros  dois,  uma entrevistada acertou parcialmente a segunda pergunta (a CFEM serve para “recuperar e outras alternativas”)  e  ambos  erraram a  terceira pergunta,  respondendo que  a maioria dos recursos se destina aos estados, ao invés de aos municípios. 

4.3.14. Destino da mineração 

Por fim, questionados, em pergunta fechada, se as atividades de mineração em geral: não deveriam continuar de forma alguma; deveriam continuar, mesmo que tragam prejuízos às  comunidades  locais  e  ao  meio  ambiente;  ou  deveriam  continuar  só  se  adotadas medidas favoráveis às comunidades locais e ao meio ambiente, apenas três entrevistados responderam a segunda opção (mineração a qualquer preço), dois não responderam e 45 (90%)  optaram  pela  terceira  hipótese  (mineração  com  controle  ambiental  e  benefício social). 

5. Conclusões  A cidade de Vazante é considerada  tranquila, bem cuidada e dotada da maioria 

dos equipamentos urbanos que contribuem para uma boa qualidade de vida dos seus  cidadãos,  conforme  se  verificou  quando  das  visitas  efetuadas  ao  final  de 2010 e início de 2011. Um dos aspectos que mais salta aos olhos do visitante é o asfaltamento  da  grande  maioria  das  ruas,  motivo  de  satisfação  dos  vinte  mil moradores do município. 

Os índices do IBGE relativos ao município de Vazante apontam, em geral, baixos níveis de desigualdade e de taxa de ocupação e níveis intermediários de PIB per capita  e de  incidência de pobreza e de pobreza subjetiva,  apesar da expressiva contribuição da mineração na economia local. 

Os  índices  IDHM  (PNUD)  e  IFDM  (Firjan)  indicam  níveis  intermediários  de desenvolvimento  humano,  com  destaque  negativo  (abaixo  da  média)  para 

 357 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

emprego,  renda  e  longevidade  e  destaque  positivo  (acima  da  média)  para educação e saúde. Já o IMRS (FJP) aponta tendências um tanto divergentes, com destaque muito negativo para meio ambiente e habitação, pouco negativo para saúde e educação e positivo ou muito positivo para os demais (renda, segurança pública, finanças públicas e cultura, esporte e lazer). 

Embora  a  renda  per  capita  de  Vazante  tenha  evoluído  consideravelmente  no período 2000‐2007, o município perdeu posições no  IFDM,  sendo ultrapassado por  Paracatu,  mas  ainda  se  situando  bem  acima  dos  municípios  vizinhos  não mineradores. 

A  comunidade  dá  muita  importância  ao  Poder  Público,  enquanto  ente responsável  por  apontar  alternativas  econômicas  para  o  município  após  a exaustão  das  jazidas,  mas  demonstra  quase  completo  desconhecimento  dos benefícios econômicos que a mineração gera ao Poder Público no que se refere à CFEM. 

Em  razão  da  geração  de  emprego  e  renda  para  Vazante,  vários  moradores consideram a VMZ  como  “a mãe da  cidade”. Mais da metade dos entrevistados não acredita que outras atividades econômicas possam vir a substituí‐la, quando da exaustão das  jazidas de minério de zinco, enquanto que um terço aposta na agropecuária  como  alternativa,  mas  poucos  apontam  para  sua  outra  vocação natural, o turismo ecológico e religioso. 

A relevância da VMZ para o município de Vazante também pode ser aferida pelo lado  da  comunidade,  tanto  que,  entre  os  benefícios  reconhecidos  pelos moradores  entrevistados,  os  três  mais  citados  foram  que  ela  “dá  empregos”, “ajuda demais a prefeitura em obras e eventos” e “desenvolve muitos projetos”. 

É  inegável  que  a  VMZ  gera  muitos  empregos,  visto  que  mais  da  metade  dos moradores  entrevistados  tem  ou  teve  alguma  relação  com  a  empresa  ou terceirizadas. Mas  houve  reclamações de  que  a  situação  já  foi melhor  em anos anteriores,  em  especial  para  os  que  detêm  certa  experiência,  uma  vez  que  os programas de qualificação de mão‐de‐obra existentes estão mais voltados para os adolescentes. 

Diversos  colaboradores  com  maior  tempo  de  casa  manifestaram  o  desejo  de atingir  a  aposentadoria  atuando  na  VMZ,  o  que,  aliado  ao  grande  número  de empregados  com  muito  tempo  de  empresa,  revela  um  futuro  profissional fortemente vinculado à VMZ e à atividade de mineração. Esse nível de satisfação pode ser avaliado pelo fato de que quase metade dos empregados entrevistados não deseja trabalhar em outras atividades. 

A despeito dos inúmeros benefícios produzidos pela mineração, cerca de metade dos  moradores  entrevistados  tem  uma  imagem  negativa  da  atividade,  o  que reflete,  provavelmente,  uma  visão mais  crítica  também  em  relação  aos  efeitos deletérios  que  ela  gera  na  comunidade  e  no  meio  ambiente.  Isso  pode  ser confirmado pelo fato de que o benefício adicional mais citado, entre os sugeridos à  VMZ  pelos  entrevistados,  foi  o  de  “reflorestar  mais,  recuperar  áreas degradadas”.  

Essa  visão  crítica  quanto  aos  impactos  negativos  causados  pela  mineração também é  comprovada pelo  reconhecimento dos  entrevistados de que o maior incômodo causado pela VMZ é a redução das águas (pelo bombeamento), seguido 

 

358 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

do “fato de ela levar a riqueza e deixar pouco em troca”, da poluição das águas e dos  dolinamentos,  todos  eles  citados  por  mais  da  metade  dos  moradores entrevistados como um dos cinco maiores incômodos provocados pela VMZ. 

Falta  à  empresa  uma  maior  divulgação  das  medidas  que  vem  adotando  para minimizar e compensar os impactos socioambientais negativos que produz, tanto que as únicas ações mais citadas, mesmo assim por pouco menos de um terço dos moradores  entrevistados,  foram  a  retirada  do  tráfego  de  veículos  pesados  da cidade  e  o  tamponamento  das  dolinas  que  aparecem,  inclusive  dentro  do perímetro urbano.  

Também  falta  à  VMZ  uma  orientação mais  específica  quanto  à  participação  da empresa  nos  fóruns  ambientais  existentes,  principalmente  nos  de  ordem municipal, como o CODEMA. Por ocasião das visitas, no final de 2010, verificava‐se  certa  rotatividade  de  técnicos  da  empresa,  como  no  caso  dos  responsáveis pelas gerências de meio ambiente e de comunicação, o que acaba prejudicando a continuidade das ações da empresa nessas áreas. 

Não obstante esses aspectos, o relacionamento da empresa com a comunidade é considerado  razoável,  bom  ou  muito  bom  por  três  quartos  dos  moradores entrevistados, à alegação de que ela ajuda sempre a cidade, faz reuniões, cursos e palestras  com  frequência,  atende  bem  nas  visitas,  promove  eventos,  gera empregos e faz parcerias. 

O aspecto considerado mais crítico da mineração subterrânea de zinco efetuada pela VMZ em Vazante é o bombeamento contínuo de um grande volume de água, dadas  as  suas  implicações  no  consumo  de  energia,  na  destinação  da  água bombeada,  no  rebaixamento  da  água  subterrânea  (e  em  seus  efeitos  em superfície) e na própria segurança das atividades de lavra. Não é, pois, sem razão, que  a  VMZ  montou  uma  robusta  estrutura  de  controle  e  monitoramento  do processo, sob a responsabilidade do setor de hidrogeologia, com poder decisório sobre as operações de lavra. 

Com base nas  informações obtidas da empresa de que, por ocasião do acidente ocorrido em 1999, surgiu uma média de dez dolinas por mês no cone de depleção do bombeamento, e de que, nos últimos 17 anos, surgem por volta de 3,6 dolinas por mês, observa‐se que o processo de dolinamento não está de todo controlado, uma  vez  que  a  média  atual  ainda  é  bastante  alta  para  ser  imputada exclusivamente  aos  processos  geomorfológicos.  O  que  parece  certo,  contudo,  é que  as  dolinas  surgidas  no  perímetro  urbano  de  Vazante  não  decorrem  das atividades de lavra, embora a VMZ assuma para si a responsabilidade de estudá‐las, tamponá‐las e monitorá‐las. 

6. Agradecimentos 

Os  autores  agradecem  a  leitura  crítica  e  comentários  de  Ana  Lúcia  Villas  Bôas, pesquisadora  do  MAST‐MCT  e  de  Maria  Amélia  Enríquez,  professora  da  Universidade Federal do Pará (UFPA). 

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Bibliografia 

BITTENCOURT,  Cristian;  DE  BESSA,  Vanio;  ARAÚJO,  Edmar  Eufrasio  de.  The  Vazante underground mine, Brazil  – An example of  controlled water  table drawdown  in karstic areas.  Pôster  apresentado  na  11ª  Conferência  da  Sociedade  Americana  de Engenheiros Civis, 2008, 10 p. Disponível em: <http://cedb.asce.org/cgi/ www.display .cgi?166006>. 

ENTREVISTAS  com  Moradores  da  Comunidade  de  Vazante  (23‐26/10/2010)  e  com Atores‐Chave (29‐30/11/2010). 

FIRJAN.  Índice  FIRJAN  de  Desenvolvimento  Municipal.  Disponível  em: <www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9229431C90122A3B25FA534A2.htm>.  Acesso em: 20 out. /2010 e 21 fev. 2011.  

FJP.  Fundação  João  Pinheiro.  Índice Mineiro de Responsabilidade  Social.  Disponível em:  <www.fjp.gov.br/index.php/servicos/82‐servicos‐cepp/956‐indice‐mineiro‐de‐res ponsabilidade‐social‐imrs>. Acesso em: 20 out. 2010 e 21 fev. 2011. 

GOLDER ASSOCIATES. Plano conceitual de descomissionamento da unidade Vazante. Relatório  elaborado  para  a  Votorantim  Metais  (RT‐069‐5745‐5140‐0012‐01‐J).  Belo Horizonte, 149 p, Dez/2007. 

IBGE.  Instituto  Brasileiro  de  Geografia  e  Estatística.  Site.  Disponível  em: <www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 20 out. 2010 e 1 out. 2011. 

PNUD.  Atlas  do  Desenvolvimento  Humano  Municipal,  PNUD.  Disponível  em: <www.pnud.org.br/atlas/>. Acesso em: 20 out. 2010 / 21 fev. 2011. 

RELATÓRIOS INTERNOS DA VMZ. Temas e anos diversos. 

 

360 Gestão da água: o desafio do zinco em Vazante­MG 

Anexo 

Município de Vazante/MG: dados selecionados13  

Dados selecionados  Resultado Área  1.913 km2

População (2010)  19.723 pessoas (80,7% morando na cidade) Densidade demográfica (2010) 10,31 hab/km2

Domicílios particulares permanentes (2010) 6.445Moradores por domicílio (2010) 3,06Pessoal ocupado (2009) 3.625 pessoasPercentual de ocupação (2009) 18%PIB per capita (2008) R$ 14,8 milReceitas (2009)  R$ 30 milhõesDespesas (2009)  R$ 23 milhõesFPM (2009)  R$ 8,8 milhõesCFEM (2009)  R$ 1,6 milhãoÍndice de Gini (2003) 0,38Incidência de Pobreza (2003) 28,21Incidência de Pobreza Subjetiva (2003) 24,56Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)14 (1991 e 2000) 

0,686 e 0,757

IDHM Renda (1991 e 2000) 0,617 e 0,699IDHM Longevidade (1991 e 2000) 0,662 e 0,702IDHM Educação (1991 e 2000) 0,779 e 0,871Índice  Firjan  de  Desenvolvimento  Municipal (IFDM, 2006)15 

0,6856

IFDM (2007)  0,7252 (72º/MG, 841º/Brasil, com média 0,7478) IFDM Emprego e Renda (2007) 0,5691 (média do Brasil: 0,7520)IFDM Educação (2007) 0,7839 (média do Brasil: 0,7083)IFDM Saúde (2007)  0,8227 (média do Brasil: 0,7830)Índice  Mineiro  de  Responsabilidade  Social (IMRS, 2006)16 

0,670

IMRS Saúde (2006)  0,625 IMRS Educação (2006) 0,625IMRS Renda (2006)  0,701IMRS Segurança Pública (2006) 0,751IMRS Meio Ambiente e Habitação (2006) 0,354IMRS Cultura, Esporte e Lazer (2006) 0,818IMRS Finanças Municipais (2006) 0,817

 

                                                                  13   IBGE (2011). 14   PNUD (2010, 2011). 15   FIRJAN (2010, 2011).  16   FJP (2010, 2011).