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Gestão de material desportivo.José Rebocho

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Gestão de material desportivo

José Pedro Sarmento de Rebocho

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1. Conceito de gestão de material desportivo

Em todas as actividades, o funcionamento dos sistemas e equipamentos está

dependente da existência em reserva e devidamente armazenado, de um conjunto

muito vasto de elementos simples e complexos que, de uma forma mais ou menos

rápida podem substituir, em caso de avaria temporária ou definitiva a peça ou o

sistema original.

Em alguns casos, pequenos artigos (ex: lampadas, postes, parafusos, etc) podem

obrigar a um bloqueio na utilização uma instalação desportiva. É por este motivo

essencial que todas as instalações possuam um conjunto de artigos preparados para,

no caso de avaria, serem rapidamente utilizados.

É evidente, que ter peças em armazem tem custos, mas também não é menos

verdade que a susbtituição rápida pode, em situações extremas, equivaler a um alto

nível de eficácia, impedindo a anulação ou paragem de uma actividade.

O valor acrescentado de uma boa gestão corrente dos materiais desportivos exige,

numa primeira fase a definição precisa do material necessário para ter em reserva, o

seu timing de compra e a gestão eficiente da sua premanência em armazem de

forma identificada e organizada.

A gestão correcta do material desportivo exige:

1. O conhecimento dos possíveis artigos necessários para o

funcionamento normal das instalações e equipamentos;

2. A identificação clara dos artigos e das suas normas de

funcionamento;

3. A utilização de um sistema de codificação e referenciação que

permita a localização rápida de cada artigo;

4. A manutenção e actualização constante de um inventário, sempre

adaptado ao crescimento do armazém.

2. Elaboração de um Inventário de Material Desportivo

O inventário é um instrumento fundamental de qualquer instalação porque permite

a contagem física de todos os artigos existentes bem como a sua especificação e

codificação. A especificação vai permitir a caracterização exaustiva e a definição do

modo de funcionamento com todas as suas indicações e contra-indicações, para

além das normas de manutenção com os seus esquemas rigidos e flexiveis. A

codificação garante a organização espacial do armazém e uma localização pré-

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definida para cada tipo de artigo, devendo-se para tal seguir os seguintes

indicadores1:

1. Especificação do artigo;

2. Referenciação do artigo;

3. Codificação do artigo;

4. Data de aquisição;

5. Empresa fornecedora;

6. Características técnicas de funcionamento;

7. Limitações técnicas;

8. Cuidados de limpeza;

9. Normas de manutenção;

10. Avarias (data, tipo e causa);

11. Reparações (data, tipo, entidade responsável e data de entrega);

Num inventário, a codificação permite dividir os materiais por grupos de utilização

específica, facilitando a sua localização espacial em armazém. Neste sentido, para o

caso das instalações desportivas, podemos apresentar a seguinte divisão:

Material desportivo: balizas, tabelas, marcadores electrónicos,

bancos de suplentes;

Subresselentes específicos: peças de reserva dos equipamentos

fornecidas pelos respectivos fabricantes;

Peças de reserva comuns: peças disponíveis do mercado com

aplicação em vários equipamentos (ex: rolamentos, filtros, válvulas,

rede);

Material de consumo: artigos de aplicação em muitos objectos e

situações de manutenção (ex: trapos, deperdícios, cabos, tubos e

mangueiras, parafusos);

Lubrificantes e afins;

Ferramentas.

No quadro seguinte encontramos outros dois sistemas de inventariação de

material.

1 Em anexo podemos ver um exemplo de uma ficha de armazenamento.

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Constantino, 1990

A principal questão da gestão de stocks tem a ver com a quantidade e diversidade

de material que se deve manter em armazém. Em primeiro lugar pelos valores de

imobilizado passíveis de serem disponibilizados e depois, pela própria disponibilidade

em termos de espaço e até mesmo de mão de obra qualificada disponível para o

operacionalizar.

Uma das técnicas mais utilizadas em materiais de desgaste rápido é a definição

de um número mínimo de unidades a partir do qual se realiza uma nova encomenda,

de forma a nunca se atingir uma situação de ruptura. A definição deste número limite

está directamente ligado ao conhecimento prévio da capacidade de resposta do

fornecedor2 e à velocidade de processamento da aquisição de novas remessas, por

parte dos serviços administrativos internos à instalação.

Hoje, dado o recurso cada vez mais frequente a software de gestão de stocks,

todo este processo se tornou muito mais claro e normalizado. Contudo, dada a

pequena dimensão das estruturas desportivas e perante a falta de cultura relativa a

estes princípios de funcionamento, exige-se dos gestores soluções mais expeditas e

tradicionais, sem comprometer a eficácia das operações.

Ainda que possa parecer que numa micro ou média organização os custos de uma

política de controlo dos materiais e equipamentos possa ser exagerada, facilmente

chegaremos a conclusões bem diferentes quando avaliamos o aumento dos períodos

de vida activa dos materiais, por mais pequenos e insignificantes que sejam.

Na prática desportiva existem milhares de pequenos elementos fundamentais para

o desenvolvimentos da actividade. O seu custo é muitas vezes diminuto mas, quando

analisados do ponto de vista do funcionamento global, verifica-se que correpondem a

investimentos muito elevados, logo, todo o seu processo de gestão deve ser

optimizado.

2 Tempo necessário e quantidade de produto disponível para a entrega.

SISTEMA DE SANT COUGAT SISTEMA DE HERNANDEZ

Material fixo

Material móvel pesado

Material móvel ligeiro

Material de Desportos Colectivos

Bolas de diferentes dimensões

Material Auxiliar

Aparelhos cravados, suspensos ou fixos

Aparelhos transportáveis

Aparelhos manuais

Material Complementar

Equipamento para teste e aptidão física

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Pensemos, por exemplo, no ciclo de vida das bolas das diferentes modalidades.

Longe vão os tempos em que os treinos se realizavam quase com uma bola para

toda a equipa. Hoje, rara é a modalidade onde não se exige quase uma bola por

jogador. Quanto custa cada bola? Qual o seu período de vida útil?

Para que a vida útil seja prolongada é necessário controlo, para que o artigo não

se perca ou seja roubado, e manutenção, para que não deteriore rapidamente as

suas características fundamentais.

No exemplo anterior, tal como em muitos outros produtos, é provavel que ao longo

da vida útil, estes venham a sofrer um desgaste que condicione a sua utilização

plena, permitindo, no entanto, utilizações parciais ou de menor exigência (ex: uma

bola de jogo passa ao fim de algum tempo para bola de treino e as bolas das equipas

principais passam para as equipas de formação ou para a utilização em trabalhos

mais específicos).

Um correcta elaboração do inventário permitirá aos gestores:

Maior facilidade na recolha de informações para a elaboração dos

planos e orçamentos anuais, com afectações mais adequadas para

as rúbricas de aquisição, manutenção e avarias;

Reduzir o imobilizado em armazém;

Identificar e eliminar os artigos considerados monos;

Possibilitar a cada momento a avaliação da quantidade de artigos

em armazém e do seu valor;

Dispor dos materiais necessários nos momentos certos;

Diminuir o tempo de procura;

Aumentar a eficácia e rigor na atribuição de custos;

Motivar o pessoal responsável e evidenciar uma imagem de

qualidade e eficácia.

3. Armazenamento de Material Desportivo

Durante muitos anos, os locais de armazenamento de material equivaliam ás

zonas menos qualificadas das instalações. O objectivo era o aproveitamento dos

espaços e não a sua adequação a uma finalidade, neste caso, o armazenamento de

material desportivo. Progressivamente, este critério tem vindo a ser substituido e, nos

dias de hoje, os locais reservados para o armazenamento são áreas especializadas e

preparadas para este efeito.

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Defende-se que, quanto melhor armazenado estiver o material, maior será o seu

controlo e a sua utilização, aumentando obviamente o seu ciclo de vida útil.

O local de armazenamento do material desportivo deve permitir a correcta

distribuição do material, por armários, prateleiras, paletes e reserva de áreas livres

para materiais de maiores dimensões.

Actualmente, existem instalações desportivas de diversos tipos, que exigem

cuidados específicos, tanto no que diz respeito à manutenção como relativamente ás

exigências dos locais utilizados para o armazenamento de materiais e equipamentos.

A importância e o impacto destas duas actividades varia com o tipo de infra-estrutura.

Mas face à evolução que as mesmas vão sofrendo no sentido da polivalência e da

utilização simultanea ou alternada dos mais diversos tipo de praticantes e

actividades, estes aspectos vão ganhando cada vez maior importância na avaliação

global da concepção e funcionamento de cada instalação.

No que diz respeito à arrumação do material, aconselhamos a que se levem em

consideração três princípios:

1. Disposição de acordo com a utilização;

2. Recurso a armários de prateleiras para materiais pequenos;

3. Armários com rodas para transporte.

Armazenamento de material em diferentes tipos de instalação.

Piscinas

As piscinas correspondem, provavelmente, à mais complexa estrutura desportiva

da actualidade, exigindo o seu funcionamento o recurso a diversos sistemas

operacionais: circulação de água; aquecimento e tratamento da água; ventilação e

climatização do ambiente, controlo de acessos e balneários, etc.

Para garantir o normal funcionamento de todos os sistemas envolvidos por

períodos quase sempre superiores a 12 horas por dia e 325 dias por ano, é

indispensável um cuidadoso programa de manutenção e uma elevada intervenção

sobre um conjunto muito vasto e variado de previsiveis avarias e situações

inesperadas.

Esta capacidade só se obtém através da existência de um quadro adequado de

pessoal técnico, profundamente ligado à instalação, com horário adequado e flexível

e com acesso a um armazém bem apetrechado de forma a intervir sobre eventuais

avarias, possibilitando um armazenamento correcto de todo o material usado nos

diversos tipos de actividades desenvolvidas na piscina.

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No caso particular das piscinas sugere-se a existência de dois armazéns. Um

localizado na zona de cais, possibilitando o manuseamento rápido, seguro e

controlado de todo o material passível de ser utilizado no plano de água, e um outro,

mais perto da casa das máquinas, com ligação directa ao exterior, onde se possam

armazenar todos os materiais ligados com o circuito de água, o seu aquecimento,

refrigeração e tratamento. Sugere-se uma atenção muito especial com o

armazenamento dos produtos químicos, quer pelos cuidados a ter no seu

manuseamento quer pela possibilidade de interferirem com alguns dos automatismos

dos diversos sistemas e materiais envolvidos no funcionamento da piscina3.

Pavilhões

Os pavilhões não param de aumentar a sua complexidade devido essencialmente

ao novo quadro de exigências sobre a qualidade e a temperatura do ambiente. Outro

dos motivos deste progressivo aumento de complexidade está directamente

relacionado com a polivalência de utilização que exige o recurso a novos materiais e

a tecnologias de montagem e desmontagem.

Neste sentido, somos da opinião que, para se atingir a máxima rentabilização

destas estruturas, é fundamental a existência de um acesso directo de grandes

dimensões, do exterior à área de jogo. Também neste caso, é fundamental a

existência de uma área de armazenamento junto ao recinto de jogo com dimensão

suficiente para permitir a mobilidade de equipamentos desportivos (ex: carros de

basquetebol, balizas, postes de voleibol, palcos desmontáveis e diversos tipos de

pisos amoviveis). Esta área, deve não só garantir o armazenamento como a

movimentação rápida e fácil dos materiais referidos, para além do armazenamento

de materiais mais pequenos. Deverá igualmente permitir a utilização, cada vez mais

frequente, de armários móveis, que facilitam o transporte de artigos como bolas de

diversas modalidades ou outros artigos técnicos ao centro do recinto de jogo.

Os tradicionais elementos gímnicos, utilizados com frequência em alguns ginásios,

deverão também ser motivo de muita atenção, quer pelo seu peso e dimensão (por

vezes elevadas), quer pelas suas particularidades (dificil manuseamento). Como

exemplos de materiais utilizados podemos mencionar: colchões, plintos, traves,

minitrampolins, camas elásticas, boks, etc., muito utilizados nas instalações

escolares.

3 Estes produtos podem corroer alguns dos materiais pertencentes a equipamentos de tratamento e

controlo da qualidade da água.

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Instalações de ar livre

Nas instalações de ar livre, com especial ênfase para os campos de futebol, é

também importante a existência de infra-estruturas para armazenar o material

utilizado em treinos e jogos, que integra hoje um grande número de artigos (ex:

mecos, barreiras, balizas, bolas, etc.).

De acordo com o tipo de piso (ex: relva natural, saibro ou relva artificial), torna-se

necessário criar armazéns para guardar, não só o material de reparação e

substuição, como todas as alfaias, veículos e restantes equipamentos e produtos

necessários para o tratamento e manutenção dos pisos.

Em todas as restantes instalações desportivas que não incluídas nestas três

categoria, a necessidade de grandes áreas de armazenamento de material é ainda

maior. Referimo-nos aos casos das pistas de atletismo, autódromos, postos náuticos,

etc., dadas as dimensões e o número de equipamentos e materiais que são

necessários proteger e guardar.

Esta necessidade de conceber áreas e instalações adequadas para o

armazenamento de materiais nas diversas instalações desportivas irá certamente

evoluir. A sofisticação do desporto obrigará ao recurso a sistemas mais evoluídos de

inventariação, armazenamento e movimentação de materiais, exigindo a existência

de pessoal qualificado e de sistemas informáticos que agilizem todo o funcionamento

da instalação.

Na concepção do local de armazenamento, sugerimos que se respeitem as

seguintes normas:

Dimensão adequada ao material;

Pé direito nunca inferior a 2,50 m;

Portão e acessibilidades adequadas ao tipo de materiais;

Localização no mesmo piso do recinto desportivo, evitando

percursos longos;

Ventilação adequada, evitando humidades e alterações rápidas e

profundas de temperatura;

Iluminação suficiente de acordo com as regras das modalidades;

Segurança;

Boas acessibilidades tanto para o exterior como para o interior da

instalação.

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Glossário

Conceito de gestão de material desportivo

Corresponde a um conjunto de operações que se inicia com a selecção das características

dos materiais a adquirir, passando pela sua aquisição, utilização, armazenamento e

manutenção.

Selecção do material

Fase de grande complexidade, onde se tenta detectar as necessidades de determinada

instalação ou actividade e se tenta encontrar, entre o material disponível no mercado, aquele

que de acordo com as disponibilidades existentes garante uma maior qualidade de

funcionamento.

Aquisição

Fase em que se opta por uma determinada proposta em função das condicionantes técnicas,

económicas, de garantia, de facilidade de manutenção e dos prazos de entrega.

Utilização

Rentabilização do investimento através de uma adequada e equilibrada utilização dos

materiais, sempre de acordo com as condições impostas pelos fabricantes.

Manutenção

Conjunto de acções que evitam a deterioração dos materiais e intervêm quando o estado de

conservação dos mesmos põe em risco os seus possíveis utilizadores.

Manutenção de material desportivo

A rentabilização e a gestão correcta e controlada do material desportivo. Passa pela

existência de um ficheiro individual ou inventário, que é um elemento dinâmico em constante

actualização, desde o momento de aquisição até à sua eliminação do efectivo.

Programas regulares de manutenção

O desenvolvimento tecnológico dos materiais e equipamentos utilizados no desporto exige

planos de manutenção muito rigorosos, definidos em conjunto com o fornecedor de forma a

especificar todas as acções de avaliação e intervenção e sua distribuição no tempo, de tal

modo que o material não perca a sua eficácia funcional.

Armazenamento de material desportivo

Quanto melhor armazenado estiver o material, assim se poderá controlar, utilizar e manter

durante mais tempo em bom estado de conservação.

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Anexos

Ficha de armazenamento

Especificação do artigo:

Bola de basquetebol de couro

Referênciação: Spalding NBA

Fornecedor: Equipsport

Data de aquisição: 25 / 3 / 00 Codificação: BBC00100

Caracteristicas técnicas de funcionamento:

manter a uma pressão de 60 bar

Limitações técnicas:

não utilizar em pisos de cimento; não jogar com os pés; não passar por água

Cuidados de limpeza:

nenhuns

Normas de manutenção:

verificar pressão

Avarias: 12/2/02 – esvaziamento devido a problemas na válvula de enchimento

Reparações: (entrega) 17/2/02 – equipsport

(recepção) 24/2/02 – válvula de enchimento substituid

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Bilbiografia

Cabral, J. (1998). Organização e Gestão da Manutenção: dos conceitos à prática… –

2ª edição. Lidel. Porto.

Constantino, J. (1990) Gestão de Material Desportivo. Câmara Municipal de Oeiras.

Sebenta da cadeira de Organização e Gestão Desportiva. Gabinete de Gestão

Desportiva da Faculdadade de Ciências do Desporto e de Educação Física da

Universidade do Porto.