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Gestão de Passivos Ambientais na Mineração Plano de Ação para Sustentabilidade do Setor de Rochas Ornamentais Ardósia Papagaios Projeto Associado 4174 Relatório Final Abril de 2010 feam FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE

Gestão de Passivos Ambientais - FEAM acao... · F981g Gestão de passivos ambientais na mineração: plano de ação P para a sustentabilidade do setor de rochas ornamentais –

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Gestão de Passivos Ambientais

na Mineração

Plano de Ação para Sustentabilidade do

Setor de Rochas Ornamentais Ardósia Papagaios

Projeto Associado 4174

RReellaattóórriioo FFiinnaall

AAbbrriill ddee 22001100

feam FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE

Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos

Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Fundação Estadual do Meio Ambiente

Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento

Gerência de Desenvolvimento e Apoio Técnico às Atividades Minerárias

Gestão de Passivos Ambientais

na Mineração

Plano de Ação para Sustentabilidade do

Setor de Rochas Ornamentais

Ardósia Papagaios

Projeto Associado 4174 Relatório Final - Abril de 2010

BBeelloo HHoorriizzoonnttee

22001100

Cidade Administrativa do Estado de Minas Gerais - Prédio Minas - 1º Andar Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n - Bairro Serra Verde - Belo Horizonte - Minas Gerais

CEP 31630-900 – Tel.: (31) 39151442

Publicado pela

Fundação Estadual do Meio Ambiente/Minas Gerais

Secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

José Carlos Carvalho

Presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente

José Cláudio Junqueira Ribeiro

Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento

Paulo Eduardo Fernandes de Almeida

Gerência de Desenvolvimento e Apoio Técnico às Atividades Minerárias

Caio Marcio de Benicio Rocha

Ficha Catalográfica elaborada pelo Núcleo de Documentação Ambiental do Sisema

Fundação Estadual do Meio Ambiente.

F981g Gestão de passivos ambientais na mineração: plano de ação P para a sustentabilidade do setor de rochas ornamentais – ardósia Papagaios / Fundação Estadual do Meio Ambiente. --- Belo Horizonte: Fundação Estadual do Meio Ambiente, 2010.

83p. : il. Projeto Associado 4174

1. Mineração. 2. Rochas ornamentais. 3. Passivo ambiental. I. Título

CDU: 622:504.05

Projeto Associado:

Plano de Ação para Sustentabilidade do

Setor de Rochas Ornamentais – Ardósia Papagaios

Dados do Projeto

Código: 4174 – Gestão de Passivos Ambientais na Mineração

Coordenador e Ordenador de Despesas: Paulo Eduardo Fernandes de

Almeida (Diretor DPED)

Gerente do Projeto: Caio Márcio de Benício Rocha (Gerente GEDAM)

Equipe:

Andréia Cristina Barroso Almeida – Analista Ambiental

Daniele Tonidandel Pereira Ribeiro – Analista Ambiental

Eloi Azalini Máximo – Analista Ambiental

João Antônio Lisardo Dias – Analista Ambiental

Rosa Carolina Amaral – Analista Ambiental

Laís Ferreira Jales – Estagiária

Pedro Henrique Souza de Miranda – Estagiário

Cid Chiodi Filho – Geólogo (consultoria externa)

Denize Kistemann Chiodi – Geóloga (consultoria externa)

Início do projeto: 01/03/2008

Término: 30/03/2010

Agradecimentos

A equipe técnica do Projeto Associado Ardósia expressa seus agradecimentos à

Prefeitura Municipal de Papagaios, na pessoa do Prefeito Mario Reis, à AMAR –

Associação dos Mineradores e Beneficiadores de Ardósia de Minas Gerais e a

CooperArdósia - Cooperativa dos Produtores e Beneficiadores da Província da

Ardósia.

“O mundo é um lugar perigoso de se viver,

não por causa daqueles que fazem o mal, mas

sim por causa daqueles que observam e

deixam o mal acontecer.”

Albert Einstein

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Área de extração minerária, com presença de numerosas pilhas de

estéril/rejeito ............................................................................................................................................... 15

FIGURA 2 - Vista parcial da área urbana de Papagaios .................................................................. 16

FIGURA 3 - Pequena serraria localizada na área urbana, sem nenhum controle ambiental .. 17

FIGURA 4 - Uma das principais vias de acesso ao município, com intensa presença de

serrarias........................................................................................................................................................ 18

FIGURA 5 - Depósito de rejeito utilizado pelas serrarias (sem regularização ambiental) ........... 18

FIGURA 6 - Bacia de decantação contendo material fino proveniente das serrarias .............. 19

FIGURA 7 - Formação de depósito ao longo da estrada de acesso ............................................. 19

FIGURA 8 - Estandes da FENAR – Feira Nacional da Ardósia ........................................................... 24

FIGURA 9 - Palestra da Diretora de Fiscalização, durante o evento .............................................. 24

FIGURA 10 - Platéia, durante palestras ministradas no evento ........................................................ 25

FIGURA 11 - Lavra localizada no Alto da Boa Vista, área licenciada............................................ 25

FIGURA 12 - Frente de lavra com armazenamento de rejeito e água de chuva estocada

para utilização no corte da rocha e taludes da lavra ..................................................................... 26

FIGURA 13 - Depósito clandestino de rejeito, localizado a aproximadamente 5 Km do municí-

pio de Papagaios, utilizados pelas serrarias há aproximadamente 30 anos ............................... 27

FIGURA 14 - Imagem de satélite da área urbana do município de Papagaios .......................... 27

FIGURA 15 - Localização do município de Papagaios ..................................................................... 29

FIGURA 16 - Acesso ao município de Papagaios ............................................................................... 30

FIGURA 17 - Estação de Tratamento de Esgoto - ETE ........................................................................ 34

FIGURA 18 - Lagoa de estabilização da ETE ........................................................................................ 35

FIGURA 19 - Usina de Tratamento de lixo urbano ............................................................................... 35

FIGURA 20 - Papa-pilhas, localizado no saguão principal da Prefeitura Municipal.................... 36

FIGURA 21 - Localização da área proposta para a implantação do Centro Industrial ............ 42

FIGURA 22 - Mapa Geológico Esquemático da Província de Ardósia de Minas Gerais ........... 45

FIGURA 23 - Região do Córrego das Pedras, maior concentração de mineração de ardósia

na região .................................................................................................................................................... 47

FIGURA 24 - Região de Olhos d’Água .................................................................................................. 48

FIGURA 25 - Região de Alto da Boa Vista ............................................................................................ 48

FIGURA 26 - Detalhe do capeamento da lavra ................................................................................. 49

FIGURA 27 - Detalhe do “carrinho paraopeba”, composto de discos diamantados sobre

rodas, utilizados no corte vertical da rocha ........................................................................................ 50

FIGURA 28 - Detalhe do disco diamantado utilizado no carrinho paraopeba ........................... 51

FIGURA 29 - Operários utilizando remos para desplacamento do material ................................. 51

FIGURA 30 - Empilhadeira sendo utilizada na remoção de lajões.................................................. 52

FIGURA 31 - Caminhão carregado com lajões .................................................................................. 52

FIGURA 32 - No piso da lavra, trabalhos de limpeza com o carregamento do rejeito em

caminhões, para transporte até as pilhas ........................................................................................... 53

FIGURA 33 - Seqüenciamento das operações de lavra de ardósia .............................................. 53

FIGURA 34 - Detalhe do trabalho manual de delaminação de lajotas ........................................ 54

FIGURA 35 - Mesa com serras de disco diamantado para corte, esquadrejamento em

dimensões pré-estabelecidas pelo mercado ..................................................................................... 55

FIGURA 36 - Furadeiras de bancada utilizadas na preparação de peças para mobiliários,

bancadas ou outros artefatos ................................................................................................................ 55

FIGURA 37 - Carpintaria, para confecção de pallet ......................................................................... 56

FIGURA 38 - Pallets prontos para comercialização ............................................................................ 57

FIGURA 39 - Seqüenciamento das operações de beneficiamento de ardósia .......................... 57

FIGURA 40 - Fluxograma das atividades do setor como um todo, inclusive a relação entre

pequenas e grandes empresas ............................................................................................................. 58

FIGURA 41 - Levantamento das empresas beneficiadoras de ardósia em Papagaios ............. 64

FIGURA 42 - Objetos confeccionados a partir do beneficiamento da ardósia .......................... 67

FIGURA 43 - Exemplo de artesanato produzido com ardósia ......................................................... 68

FIGURA 44 - Localização proposta para o Centro Industrial, delimitada em vermelho, e em

amarelo área destinada ao britador da CooperArdósia ................................................................ 68

FIGURA 45 - Bacia de contenção da empresa Ardósia Veredas ................................................... 69

FIGURA 46 - Placa de sinalização proibindo o tráfego de caminhões na área urbana do

município .................................................................................................................................................... 71

GRÁFICO 1 - Evolução da CFEM ........................................................................................................... 30

GRÁFICO 2 - Evolução populacional do município de Papagaios ............................................... 33

GRÁFICO 3 - Perfil da Produção Brasileira por Tipo de Rocha ........................................................ 61

GRÁFICO 4 - Produção brasileira de ardósia no período de 1994 a 1998 .................................... 65

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Situação dos Empreendimentos Minerários situados em Papagaios regularizados

ambientalmente ....................................................................................................................................... 39

Tabela 2 - Situação das empresas de beneficiamento de ardósia localizadas no município

de Papagaios ............................................................................................................................................ 40

Tabela 3 - Composição Mineralógica Modal das Ardósias ............................................................. 46

Tabela 4 - Exportação de ardósia entre os anos de 2001 a 2008 ................................................... 66

LISTA DE SIGLAS

AAF Autorização Ambiental de Funcionamento

AMAR Associação dos Mineradores e Beneficiadores de Ardósia de Minas Gerais

APA Área de Proteção Ambiental

APEF Autorização para Exploração Florestal

APL Arranjo Produtivo Local

APP Áreas de Proteção Permanente

CMRR Centro Mineiro de Referência em Resíduos

CODEMA Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente

CooperArdósia Cooperativa dos Produtores e Beneficiadores da Província da Ardósia

COPAM Conselho Estadual de Política Ambiental

DESA Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

DPED Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento

FEAM Fundação Estadual do Meio Ambiente

GCFAI Grupo Coordenador da Fiscalização Ambiental Integrada

GEDAM Gerência de Desenvolvimento e Apoio Técnico às Atividades Minerárias

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEF Instituto Estadual de Florestas

IEL-MG Instituto Euvaldo Lodi – Núcleo de Minas Gerais

IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas

LO Licença de Operação

LOC Licença de Operação Corretiva

REVLO Revalidação de Licença de Operação

SEMAD Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

SISEMA Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos

SUPRAM Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável

TAC Termo de Ajustamento de Conduta

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...................................................................................................................................13

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15

1.1 Objetivos e Justificativas ....................................................................................................... 20

2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .......................................................................................................... 23

3. DADOS GERAIS SOBRE O MUNICÍPIO DE PAPAGAIOS ............................................................... 29

4. HISTÓRICO DA ATIVIDADE PRODUTIVA DE ARDÓSIA NO MUNICÍPIO DE PAPAGAIOS ........ 37

5. A PRESENÇA DA FEAM EM PAPAGAIOS ....................................................................................... 39

6. O PROCESSO PRODUTIVO DA ARDÓSIA ....................................................................................... 43

6.1 Introdução ............................................................................................................................... 43

6.2 A Província de Ardósia de Minas Gerais ........................................................................... 43

6.2.1 Características Gerais ....................................................................................................... 43

6.2.2 Aspectos Geológicos ........................................................................................................ 45

6.3 Lavra ......................................................................................................................................... 47

6.4 Beneficiamento ...................................................................................................................... 54

6.5 Responsabilidade dos empreendedores na disposição adequada dos rejeitos

e resíduos – Legislação Estadual e Federal ................................................................................. 58

7. PRODUÇÃO DE LAVRA E GERAÇÃO DE REJEITOS DE ARDÓSIA NO MUNICÍPIO DE

PAPAGAIOS ................................................................................................................................................ 61

7.1 Estimativa da Produção de Ardósia Comercializável (Ano Base 2007 e 2008) ........ 61

7.1.1 Geração de Rejeitos de Lavra no Brasil.......................................................................... 62

7.1.2 Geração de Resíduos do Beneficiamento no Brasil ..................................................... 62

7.1.3 Geração de Rejeitos e Resíduos em Papagaios ........................................................... 62

7.1.4 Geração de Pó de Ardósia (Finos da Serrada) ............................................................. 63

7.2 Levantamentos sobre Rejeito do Beneficiamento em Papagaios .............................. 63

7.2.1 Estimativa da geração de rejeitos de ardósia acumulados........................................ 64

8. CONSIDERAÇÕES SOBRE O APROVEITAMENTO DE REJEITOS DA LAVRA E DO

BENEFICIAMENTO DA ARDÓSIA .............................................................................................................. 67

9. CONCLUSÕES ..................................................................................................................................... 71

10. AÇÕES COMPLEMENTARES – RECOMENDAÇÕES ...................................................................... 73

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................75

ANEXOS.................................................................................................................................................79

feam

13

APRESENTAÇÃO

O Projeto Associado 4174 – Plano de Ação para Sustentabilidade no Setor de Rochas

Ornamentais, teve como foco as atividades extrativas de quartzito no município de São

Thomé das Letras e de ardósia no município de Papagaios, situados respectivamente nas

regiões Sul e Central do Estado de Minas Gerais.

O Projeto foi realizado pela FEAM – Fundação Estadual do Meio Ambiente, através da sua

Gerência de Desenvolvimento e Apoio Técnico às Atividades Minerárias, tendo como

coordenadora e ordenadora de despesas a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento –

DPED.

A equipe técnica responsável pela abordagem das ardósias de Papagaios foi integrada

pela bióloga Rosa Carolina Amaral, pela geóloga Daniele Tonidandel Pereira Ribeiro, pelo

engº de minas João Antônio Lisardo Dias e pelos engº civis Eloi Azalini Máximo e Andréia

Cristina Barroso Almeida, analistas ambientais da FEAM, lotados na GEDAM – Gerência de

Desenvolvimento e Apoio Técnico à Atividade Mineraria e pelos geól. Cid Chiodi Filho e

Denize Kistemann Chiodi, consultores externos da Kistemann & Chiodi Assessoria e Projetos,

que passaram a integrar a equipe em fevereiro de 2009.

Este relatório apresenta as atividades desenvolvidas, resultados obtidos, plano de metas e

diretrizes estabelecidas especificamente para o Projeto Associado Ardósia Papagaios,

realizado no período de 01/03/2008 a 30/01/2010.

feam

15

1. INTRODUÇÃO

A província de Ardósia de Minas Gerais compreende total ou parcialmente os municípios de

Papagaios, Pompéu, Felixlândia, Caetanópolis, Pitangui, Martinho Campos, Paraopeba,

Leandro Ferreira e Curvelo.

Esta região tem uma área de aproximadamente 7.000 km², constituindo a maior reserva

geológica mundial, atualmente conhecida e explorada.

O município de Papagaios destaca-se por ser o principal foco de extração e

beneficiamento de ardósias, com cerca de 80% da produção total em Minas Gerais,

tornando-se responsável por metade da produção nacional.

Desde os anos 80, as atividades de extração e beneficiamento de ardósia ocorriam de

forma desordenada em Papagaios, tornando-se a principal fonte de renda, mas também o

principal problema ambiental do município. Entretanto, a partir do final da década de 90,

face à presença das equipes da FEAM na região, observou-se um grande avanço no

controle da lavra e nas serrarias associadas às grandes mineradoras, persistindo, ainda, a

desorganização e significativo impacto ambiental causado pelas pequenas serrarias

localizadas no centro urbano.

FIGURA 1 - Área de extração minerária, com presença de numerosas pilhas de estéril/rejeito

Fonte: APL, 2006.

feam

16

A maior concentração das empresas de mineração está inserida na zona do baixo curso do

Rio Paraopeba, que nasce no município de Cristiano Otoni, situado a mais de 200 km deste

e deságua na represa de Três Marias. Este rio corta diversas áreas de mineração no

Quadrilátero Ferrífero, além de municípios com alta taxa de ocupação urbana, sobretudo

na região metropolitana de Belo Horizonte.

As áreas de lavra estão inseridas em regiões ocupadas pela agropecuária e cultura de

subsistência, ocupando grandes extensões necessárias para abertura das cavas e

implantação de grandes depósitos de rejeitos, além das áreas destinadas ao

beneficiamento, no caso das grandes empresas (FIG. 1).

FIGURA 2 - Vista parcial da área urbana de Papagaios

Fonte: FEAM, 2009.

Nota: Pode-se observar a coexistência entre residências e pequenas serrarias.

Em relação às pequenas serrarias, as mesmas já se encontram integradas à mancha

urbana, não possuindo sequer barreiras físicas que as separem da área residencial. Os

principais impactos estão relacionados à geração de ruídos, efluentes líquidos e rejeitos,

bem como a emissão de particulados em suspensão (FIG. 2, 3 e 4).

Segundo levantamento realizado pela prefeitura municipal, entre os meses de abril e junho

de 2007, foram identificadas 135 indústrias de beneficiamento de ardósia, divididas entre

pequenas serrarias e empresas de médio porte voltadas à exportação da rocha

feam

17

ornamental. Estima-se que são descartados cerca de 60% do material extraído, entre aparas

e peças fraturadas.

O rejeito gerado pelas serrarias vem sendo depositado há mais de 30 anos em depósito que

margeia uma estrada vicinal, distante cerca de 5km da sede do município. O serviço de

transporte é realizado por “caçambeiros” terceirizados (FIG. 5).

Além desta área já impactada, pode-se observar no entorno do município, o surgimento de

pequenos depósitos que, se não forem contidos, também irão compor a paisagem local

(FIG. 6 e 7).

FIGURA 3 - Pequena serraria localizada na área urbana, sem nenhum controle ambiental

Fonte: FEAM, 2008.

feam

18

FIGURA 4 - Uma das principais vias de acesso ao município, com intensa presença de serrarias

Fonte: FEAM, 2008.

FIGURA 5 - Depósito de rejeito utilizado pelas serrarias (sem regularização ambiental)

Fonte: FEAM, 2008.

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19

FIGURA 6 - Bacia de decantação contendo material fino proveniente das serrarias

Fonte: FEAM, 2009.

FIGURA 7 - Formação de depósito ao longo da estrada de acesso

Fonte: FEAM, 2009.

feam

20

1.1 Objetivos e Justificativas

No âmbito dos projetos ligados ao enfoque Gestão de Passivos Ambientais na Mineração,

ora realizados pela FEAM, o Plano de Ação para sustentabilidade do setor de Ardósias em

Papagaios teve como principal objetivo propor medidas de controle ambiental e

ordenamento do setor produtivo da ardósia, visando assegurar o desenvolvimento

sustentável.

É importante destacar a importância deste segmento para o Estado de Minas Gerais e em

especial para o município de Papagaios, principalmente na geração de emprego e renda,

considerando que a mão de obra local não é suficiente para atender a demanda dos

setores minerário e industrial.

O Projeto procurou estabelecer uma interlocução direta entre os órgãos do poder público

estadual e o local, o setor produtivo e suas entidades representativas.

As bases metodológicas do trabalho envolveram:

Levantamento detalhado da situação dos empreendimentos extratores e

beneficiadores de ardósia quanto à regularização ambiental, visando identificar e

avaliar o desempenho dos mesmos;

Levantamento da situação das pequenas serrarias, localizadas na área urbana do

município;

Identificação de novos depósitos clandestinos, com o uso de imagem de satélite.

Justifica-se ainda à realização do presente trabalho, a importância sócio econômica e

ambiental atribuída ao setor, objeto de vários estudos e intervenções realizadas pelo Estado,

a saber:

O Diagnóstico do Setor de Rochas Ornamentais e de Revestimento no Estado de

Minas Gerais, realizado pela Geoexplore Consultoria para a então Cia. Mineradora

de Minas Gerais – COMIG, em 1998;

O Projeto Identificação, Caracterização e Classificação de Arranjos Produtivos de

Base Mineral e de Demanda Mineral Significativa no Brasil, realizado pela FIEMG,

feam

21

através do Instituto Metas para o Centro de Gestão de Estudos Estratégicos – CGEE /

Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT, concluído em 2002;

O Projeto Rochas de Minas: Estudo de Competitividade do Setor de Rochas

Ornamentais e de Revestimento do Estado de Minas Gerais, elaborado pelo Instituto

Euvaldo Lodi – IEL-MG para o Sindicato Intermunicipal de Mármores e Granitos –

SINROCHAS-MG, em 2003;

O Projeto Detalhamento de Arranjos Produtivos de Base Mineral; APL Ardósia –

Papagaios/MG, realizado pelo Instituto Euvaldo Lodi – IEL-MG para o Ministério de

Ciência e Tecnologia, em 2005-06;

O Termo de Referência para Elaboração do RCA e PCA da Atividade de Lavra de

Rochas Ornamentais e de Revestimento, de Processamento Simples, do Tipo

Quartzitos Foliados (Pedra São Tomé e Similares), elaborado pela Kistemann & Chiodi

Assessoria e Projetos para a FEAM em 2005;

Panorama do Setor de Ardósias do Estado de Minas Gerais. Produzido pela

Companhia Mineradora de Minas Gerais – COMIG. Coordenação: João Henrique

Grossi Sad. Execução: Cid Hiodi Filho, João Henrique Grossi Sad, Denize Kisteman

Chiod.

Operação Paraopeba, promovida pela SUPRAM Central Metropolitana, com o

objetivo de convocar os empreendimentos à regularização ambiental, 2008.

feam

23

2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades desenvolvidas no Projeto Associado Ardósia iniciaram-se através dos

levantamentos efetuados, envolvendo uma ampla pesquisa junto ao SIAM – Sistema de

Informações Ambientais da SEMAD e ao DNPM – Departamento Nacional de Produção

Mineral, dos processos relativos aos empreendimentos minerários localizados no município.

Quanto às indústrias de beneficiamento e as serrarias, localizadas na área urbana, tomou-se

como base o levantamento realizado pela Prefeitura nos meses de abril e maio de 2007,

parte integrante do relatório da CooperArdósia – Cooperativa dos Produtores e

Beneficiadores da Província de Ardósia (2007).

Além destes levantamentos, foram realizadas visitas técnicas aos empreendimentos, para

que fossem observados os aspectos ambientais e a influência da atividade na comunidade.

Visando promover um diálogo entre os agentes responsáveis pela elaboração do Plano de

Ação – Ardósia Papagaios foi estabelecida agenda de reuniões entre o SISEMA, prefeitura

municipal e representantes do setor produtivo. Estas reuniões, nas quais participaram

representantes da FEAM, mineradores e entidades representativas, responsáveis técnicos e

consultores contratados para o projeto, ocorreram na sede da AMAR – Associação dos

Mineradores de Ardósia de Minas Gerais e na Prefeitura de Papagaios, culminando na

realização do Seminário “Mineração de Ardósia em Papagaios e Região: O Desafio da

Sustentabilidade”.

O evento aconteceu no dia 27 de julho de 2008, concomitante à VI FENAR – Feira

Internacional da Ardósia, contando com o apoio da AMAR, CooperArdósia - Cooperativa

dos Produtores e Beneficiadores da Província da Ardósia e a Prefeitura Municipal de

Papagaios, com a participação de aproximadamente 100 pessoas de diversos órgãos,

consultores, representantes do poder público municipal e população local (FIG. 8, 9 e 10),

tendo como objetivos principais:

Informar aos representantes das mineradoras e indústrias locais, as políticas de

fiscalização e licenciamento adotadas pelo SISEMA na região;

Abordar e discutir temas vinculados a extração de ardósia.

feam

24

FIGURA 8 - Estandes da FENAR – Feira Nacional da Ardósia

Fonte: FEAM, 2008.

FIGURA 9 - Palestra da Diretora de Fiscalização, durante o evento

Fonte: FEAM, 2008.

Durante o evento, representantes da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), Instituto

Estadual de Florestas (IEF), do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), do

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do Centro Tecnológico de Minas

Gerais (CETEC), da AMAR, da Cooperativa dos Produtores e Beneficiadores da Província da

Ardósia (CooperArdósia), do Ministério Público Estadual, e do Banco de Desenvolvimento

de Minas Gerais (BDMG) discutiram a situação da mineração na região, alternativas para

aproveitamento de resíduos e financiamento para a micros, pequenas e médias empresas.

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25

FIGURA 10 - Platéia, durante palestras ministradas no evento

Fonte: FEAM, 2008.

FIGURA 11 - Lavra localizada no Alto da Boa Vista, área licenciada

Fonte: FEAM, 2008.

Além das ações já citadas, o Projeto Associado Ardósia também desenvolveu as seguintes

atividades:

Trabalhos de campo, com documentação fotográfica dos impactos ambientais

existentes e suas fontes geradoras em empreendimentos minerários (FIG. 11 e 12), no

feam

26

grande depósito clandestino de estéril (FIG. 13), nas indústrias e serrarias (FIG.14), na

área de disposição do lixo urbano (controlada e licenciada) e na estação de

tratamento de esgotos (licenciada);

FIGURA 12 - Frente de lavra com armazenamento de rejeito e água de chuva estocada para

utilização no corte da rocha e taludes da lavra

Fonte: FEAM, 2008.

Análise de fotos aéreas e imagens de satélite disponíveis, para identificação e

localização das áreas de direitos minerários e empreendimentos existentes;

Troca de informações com dirigentes da AMAR, discutindo-se os gargalos

operacionais e soluções em perspectiva para o setor;

Reuniões com o Prefeito de Papagaios para avaliar os projetos municipais de

alcance ambiental;

Reuniões com dirigentes do CMRR – Centro Mineiro de Referência em Resíduos para

proposição de seminário sobre o aproveitamento de rejeitos mínero-industriais no

Estado de Minas Gerais.

feam

27

FIGURA 13 - Depósito clandestino de rejeito, localizado a aproximadamente 5 Km do municí-

pio de Papagaios, utilizados pelas serrarias há aproximadamente 30 anos

Fonte: FEAM, 2008.

FIGURA 14 - Imagem de satélite da área urbana do município de Papagaios

Fonte: FEAM, 2009.

Nota: Delimitado em vermelho estão as indústrias e pequenas serrarias, que ocupam

aproximadamente 15 % da área total da malha urbana.

feam

29

3. DADOS GERAIS SOBRE O MUNICÍPIO DE PAPAGAIOS

O município de Papagaios localiza-se na Região Centro Oeste de Minas Gerais e limita-se

com os municípios de Pompeu, Pitangui, Maravilhas, Inhaúma, Paraopeba e Curvelo (FIG.

15), distante cerca de 151 km de Belo Horizonte, 580 km do Rio de Janeiro e 685 km de São

Paulo.

FIGURA 15 - Localização do município de Papagaios

Fonte: APL, 2006.

O acesso por asfalto pode ser feito pela rodovia BR 040, até o trevo de Sete Lagoas,

tomando o sentido de Fortuna de Minas ou pela rodovia BR 262 até Pará de Minas, seguindo

o sentido de Maravilhas (FIG. 16).

feam

30

AcessoAcesso

690Vitória

685São Paulo

580Rio de Janeiro

745Brasília

151Belo Horizonte

DistânciaMunicípio

Distância rodoviária (km)

• Rodovias que dão

acesso a Belo

Horizonte: BR-060,

BR-262, BR-381 e

BR-431.

• Rodovias que dão

acesso ao

município: BR-262 e

BR-352.

Fonte: Departamento

de Estradas de

Rodagem do Estado

de Minas Gerais –

DER/MG

FIGURA 16 - Acesso ao município de Papagaios

Fonte: CHID CHIODD, 2005.

Segundo dados do IBGE (2009), o município de Papagaios apresenta uma área de 553 km²

com 15.384 habitantes e renda per capta do PIB de R$ 8.394, destacando que o setor

mineração possui significativa contribuição, pois é a atividade mais desenvolvida.

Se compararmos o PIB do município de Papagaios (entre os anos de 2002 e 2006) no setor

agropecuário houve uma estabilização no patamar de R$ 14.000,00, enquanto a indústria

passou de R$ 26.000,00 para R$ 43.000,00, ou seja, incremento de 65 %.

244,7234,0

244,2

216,8232,4

32,0

0

50

100

150

200

250

300

R$ 1

.00

0

2004 2005 2006 2007 2008 2009*

GRÁFICO 1 - Evolução da CFEM

Fonte: DNPM, 2009.

feam

31

O GRAF. 1 apresenta a evolução da arrecadação da CFEM – Compensação Financeira

pela Exploração de Recursos Minerais no município de Papagaios. Pode-se observar que, a

partir de 2004, o valor vem se mantendo num patamar entre R$ 230 e R$ 245 mil, com leve

queda em 2007 (R$ 216 mil). No ano de 2009, até o mês abril, a arrecadação foi de R$ 32 mil.

Por extrapolação, a arrecadação anual será de R$ 128 mil, compatível com a queda na

produção em função da crise mundial e conseqüente queda nas exportações da ardósia.

Em relação à localização, as lavras de ardósia no Município de Papagaios estão

concentradas a uma altitude média de 720 m, em três regiões conhecidas por Córrego das

Pedras, Olhos d’água e Alto da Boa Vista, próximas ao Rio Paraopeba.

O relevo da região mostra superfícies tabulares e/ou superfícies de aplainamento, que são,

predominantemente, planas ou suavemente onduladas.

Na região onde Papagaios está inserido predominam os solos classificados como latossolos

vermelhos escuros distróficos, com horizonte “A” moderado e textura argilosa.

Secundariamente, aparecem os cambissolos distróficos, de horizonte “A” fraco e textura

argilosa. Estes solos tiveram sua origem principalmente devido ao clima zonal, que provocou

a laterização de rochas pré-existentes do Paleozóico. Localmente, observa-se um solo

textural de rochas do grupo Bambuí, apresentando horizonte “A” com poucos centímetros

de espessura, composição silto-argilosa, praticamente destituído de matéria orgânica e

horizonte “B” estruturalmente acamado (camadas definidas pelos estratos da rocha

alterada “in situ”).

De uma maneira geral, os solos mostram-se naturalmente propensos à ocorrência de

processos erosivos, agravados principalmente pelo desmatamento, queimadas e pastoreio.

Quanto à hidrografia, o município de Papagaios está inserido nas bacias dos rios Pará e

Paraopeba que são afluentes diretos do Rio São Francisco. Localmente, a área tem como

afluentes locais o Córrego Taquaral ou Capivara e o Ribeirão do Cedro. Esses córregos

deságuam na margem direita do Rio Paraopeba.

De acordo com Souza (1993, apud Lavrar Mineração, 2007) a região apresenta uma boa

disponibilidade hídrica superficial, com “variação intra-anual pouco intensa, com cheias e

recessões pouco pronunciadas”. Esta publicação descreve, ainda, que a pluviosidade varia

de 1000 a 1500 mm/ano e que o rendimento específico médio mensal varia de 5 a 30

l/s*km², correspondentes às contribuições unitárias mínimas e máximas com 10 anos de

recorrência. Dados da estação pluviométrica mais próxima (Santa Cruz, localizada próxima

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32

ao Rio Paraopeba) indicam deflúvios mensais máximos no mês de fevereiro e mínimos no

mês de agosto.

Quanto aos estudos hidrogeológicos, predominam na região em questão, aqüíferos do tipo

fraturado (em ardósias, calcários e ortognaisses) e cárstico (em calcários), onde a

circulação e armazenamento de água estão associados à porosidade secundária, por

falhas e fraturas/diáclases. Esses aqüíferos têm vazão limitada e distribuição heterogênea.

Informações extraídas do Projeto Alto São Francisco (CETEC, 1984) demonstram que os

aqüíferos fraturados apresentam níveis d’água geralmente entre 5 a 20 m; capacidade

específica média variando de 0,3 a 1,4 l/s*m para as rochas pelíticas e de 0,047 a 1,3 l/s*m

para as rochas carbonáticas; transmissividade de 3,55 x 10-5 m²/s nos calcários e 2,7 x 10-5

m²/s nos metapelitos; águas bicarbonatadas cálcicas magnesianas nos calcários, com

dureza média de 250 mg/l de CaCO3, pH de 6,1 a 8,3 e condutividade elétrica variando de

70 a 1.300 μS/cm; águas bicarbonatadas cálcicas nos metapelitos, com salinidade baixa e

pH variando de 5,1 a 8,2.

Localmente, os poços tubulares apresentam vazões que variam de 2.000 l/h a 30.000 l/h e

captam águas, respectivamente, em ardósias e calcários. Nas ardósias, o nível freático

encontra-se em profundidades superiores a 20 m, sendo que nos períodos chuvosos

aparecem pequenas percolações d’água nos contatos solo/ardósia decomposta/ardósia

sã, responsável pelo surgimento de pequenas nascentes intermitentes.

Na recarga das unidades aqüíferas predomina a alimentação através da drenagem

superficial, controlada por fraturamento e fluxo vertical descendente, proveniente de níveis

freáticos superficiais associados ao manto de intemperismo. As infiltrações diretas são

dificultadas pelo fato das fraturas serem descontínuas e estarem preenchidas por argila.

As ardósias do Supergrupo Bambuí constituem rochas com permeabilidade secundária

pouco desenvolvida, devido ao fato de quando alteradas, dão origem a argilas, que

poderão colmatar possíveis fraturas abertas pré-existentes, diminuindo a capacidade de

armazenamento de água. Já os calcários também presentes na região podem, por outro

lado, desenvolver importante sistema aqüífero, quando existe significativa diferença de cota

entre a área de recarga e o nível de base regional.

No caso da região de Papagaios, a maior parte do calcário encontra-se encoberto por

ardósias, e o nível de base regional, que é o Rio Paraopeba, encontra-se em cotas próximas

das altitudes máximas locais. Desta forma, as condições de infiltração e percolação não são

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33

propícias para solubilizar a rocha carbonática e conseqüentemente não há formação de

aqüífero cárstico importante na região.

Quanto à vegetação, a região em estudo é caracterizada por fragmentos remanescentes

de Cerrado, Campo-Cerrado, Mata de Galeria e por formações resultantes das alterações

antrópicas, sendo as pastagens e culturas temporárias.

A vegetação predominante é representada por espécies arbóreas de porte variável,

geralmente inclinadas, tortuosas e com ramificações irregulares e retorcidas.

Quanto às espécies existentes na região, a biodiversidade é alta.

É importante destacar que na região, há ocorrência de espécies em extinção como a

aroeira e o Gonçalo-alves. O Zoneamento Econômico Ecológico definiu como alta a

prioridade para a recuperação da região, enquanto a prioridade para a preservação é

baixa.

GRÁFICO 2 - Evolução populacional do município de Papagaios

Fonte: IBGE, 2009.

Conforme o GRAF. 2, o município de Papagaios possui uma população de 15.384

habitantes, sendo que aproximadamente 75% correspondem às pessoas residentes na área

urbana, considerando que o setor industrial, particularmente as atividades de extração e

beneficiamento de ardósia, são as que mais empregam. Outras atividades são

desenvolvidas, como criação de gado leiteiro e de corte, bem como extração de madeira

para o setor de ferro-gusa.

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34

A região é classificada como Metalúrgica, sendo que o rendimento mensal da maioria da

população é de 3,23 salários mínimos. A minoria, ou seja, apenas 2% recebem acima de 20

salários mínimos.

No setor educacional, 60% da população têm ensino fundamental e apenas 1% tem ensino

superior.

A infra-estrutura de saneamento do município é composta por uma ETA – Estação de

Tratamento de Água e uma ETE – Estação de Tratamento de Esgoto, ambas construídas e

operadas pela Prefeitura (FIG. 15 e 16).

FIGURA 17 - Estação de Tratamento de Esgoto - ETE

Fonte: FEAM, 2009.

Além destas estações, a prefeitura implantou 10 coletores de pilhas e baterias (papa-pilhas)

e um local destinado a receber pneus, denominado ecoponto pneumático (FIG. 17 e 18).

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35

FIGURA 18 - Lagoa de estabilização da ETE

Fonte: FEAM, 2009.

FIGURA 19 - Usina de Tratamento de lixo urbano

Fonte: FEAM, 2009.

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36

FIGURA 20 - Papa-pilhas, localizado no saguão principal da Prefeitura Municipal

Fonte: FEAM, 2009.

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37

4. HISTÓRICO DA ATIVIDADE PRODUTIVA DE ARDÓSIA NO MUNICÍPIO DE

PAPAGAIOS

De acordo com informações obtidas na base de dados do IBGE (2009), a ocupação do

município de Papagaios iniciou-se por volta de 1.800 com a construção da Fazenda

Morrinhos, assim denominada porque era rodeada por cinco pequenos morros, a saber:

Malhadinha, Anta, Boa Vista, do Urubu e do Chapéu.

A Fazenda Morrinhos foi doada pelo imperador D. Pedro I a um amigo caçador chamado

João Fraga. Posteriormente, essas terras foram ocupadas pelo casal Manuel e Catarina

Gonçalves Fraga, sendo esta, filha do Sr. João.

Após a morte do casal, a fazenda ficou sem donos, pois as terras não foram requisitadas.

Presume-se, portanto, que eles não deixaram descendentes.

Dentro de poucos anos, a fazenda transformou-se em um povoado, mudando o nome de

Morrinhos para Papagaios. Destaca-se que até 1911, o povoado de Papagaios pertencia ao

município de Maravilhas.

Em 13/08/1911, através da Lei Municipal nº 556, o povoado desmembrou-se de Maravilhas,

passando a ser um distrito de Pitangui. Somente em 12/12/1953, através da Lei Estadual nº

1.039, foi elevado à categoria de município e em 20/01/1954 houve a instalação oficial.

A atividade mineraria teve seu inicio no final da década de 70, e de acordo com relatório

da Cooperativa dos Produtores e Beneficiadores da Província de Ardósia - CooperArdósia

(2007):

Em apenas 29 anos de atividade no setor de Ardósia, o Brasil já se coloca como o segundo

maior produtor (atrás da Espanha), segundo maior consumidor (atrás da França) e segundo

maior exportador mundial (atrás da Espanha). A província de ardósia, no Estado de Minas

Gerais, responde por 98% da produção de matéria prima e 95% do processamento de lajotas,

chapas, telhas, tampos de bilhar, mobiliário e artesanato, processando também a totalidade

das exportações brasileiras. Nosso produto é encaminhado para o mercado internacional

todo beneficiado.

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39

5. A PRESENÇA DA FEAM EM PAPAGAIOS

A presença da FEAM na região, através de suas equipes, iniciou-se em meados do ano de

1992, consolidando-se de forma sistemática e efetiva a partir da realização da Operação

Ardósia, ocorrida em 1996, com a participação da Polícia Ambiental e os técnicos da FEAM,

cujo objetivo inicial foi o levantamento dos prováveis impactos da atividade na qualidade

das águas do Rio Paraopeba.

Nesta operação verificou-se que das 15 (quinze) empresas vistoriadas, apenas 1 (uma) era

licenciada. As demais, portanto, foram convocadas ao licenciamento ambiental. Desde

então, a equipe técnica da FEAM fiscaliza a região periodicamente, resultando num cenário

de empresas devidamente licenciadas.

Segundo dados do SIAM (2009), 16 empresas mineradoras que apresentam processos ativos

junto ao DNPM, possuem licença ambiental ou AAF – Autorização Ambiental de

Funcionamento válidas. Na TAB. 1 a seguir estão listados os principais empreendimentos

minerários da região, em processo de regularização ambiental, com os respectivos prazos

de validade.

Tabela 1 - Situação dos Empreendimentos Minerários situados em Papagaios regularizados ambientalmente

Empresas Processo

DNPM nº

Processo

COPAM nº

Licença

Ambiental

Validade

Licença

ANTÔNIO ALVES FILGUEIRAS CAMPOS - F.I. 836.808/1994 00069/01/02/07 REVLO 31/08/2017

ARDÓSIA REIS LTDA 831.007/2000 00661/01/03/05 AAF 06/04/2010

ARDOSIA VEREDA LTDA 830.018/1994 00389/97/05/07 LO 28/04/2012

HEBE MARIA REIS MINERAÇÃO LTDA 832.098/1989 00794/03/03/05 AAF 19/12/2009

HEBE MARIA REIS MINERAÇÃO LTDA 830.248/2001 00794/03/04/06 AAF 07/12/2010

HÉLIO FIGUEIRAS MINERAÇÃO LTDA 834.282/1996 00378/90/06/08 LOC 20/072013

LAVRAR MINERAÇÃO 832.127/1983 03354/05/01/07 LO 24/08/2010

MARIA LETÍCIA VALADARES DE VASCONCELOS

/ LINCAR PEDRAS DE ARDÓSIA LTDA 832.206/1987 00421/95/04/06 LO 14/12/2012

MARIA LETÍCIA VALADARES DE VASCONCELOS 830.666/1983 00421/95/05/06 REVLO EM ANÁLISE

MIN. DE PEDRAS ARDÓSIA CAMPOS MACIEL

LTDA 831.050/1990 00340/90/05/02 LO 30/01/2012

MINERAÇÃO ALTO DAS PEDRAS LTDA 833.674/1993 00087/02/04/09 LO 22/12/2014

MINERAÇÃO BAIA E FILHOS LTDA 830.811/1990 00439/00/03/04 LO 15/05/2012

RHÉA SILVIA VALADARES BAHIA 831.436/1985 08572/05/02/10 LO EM ANÁLISE

PECUÁRIA MORRINHOS LTDA 830.515/2001 00598/01/04/08 LO 09/12/2014

PECUÁRIA MORRINHOS LTDA 837.208/1993 23243/05/01/07 AAF 03/04/2011

PONTAL PECUÁRIA LTDA 834.283/1996 00211/97/02/01 LO 15/03/2010

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40

Em relação a regularização ambiental das serrarias de placas de ardósia, ressalta-se que

segundo levantamento efetuado pela Prefeitura (CooperArdósia, 2007), os

empreendimentos localizados na área urbana totalizam à 135, distribuídos entre indústrias e

pequenas serrarias, quase sempre sem regularização ambiental, conforme comprovado na

TAB. 2, que lista somente 44 empresas com processo de licenciamento ambiental (SIAM,

2009).

Tabela 2 - Situação das empresas de beneficiamento de ardósia localizadas no município de Papagaios

(Continua)

Empresas

Licenças

Negadas/Ano de

Formalização

Licenças

Concedidas/Ano

de Formalização

A. C. MINAS LTDA LOC 2002 AAF/ 2008

AGENOR XAVIER MACHADO LOC 2002 AAF /2006

AILTON GONCALVES DA SILVA - LO 2005

ALTIVO PEDRAS LTDA AAF 2008

ARDOSIA DIAS LTDA AAF 2006

ARDOSIA IRMAOS MACIEL LTDA LOC/2003 AAF/2008

ARDOSIA MINAS BRASIL LTDA AAF/2008

ARDOSIA NOVO MUNDO INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA LO/2001

ARDOSIA OLIVEIROS INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA AAF/2008

AUREO DOS SANTOS CORDEIRO AAF/2007

BC STONE INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ARDÓSIA LTDA AAF/2009

BENEFICIAMENTO ARDOSIA LO/2002

BERENICE FERREEIRA DE ABREU AAF/2007

ECB - ARDOSIAS LTDA LOC/2003

EDNA APARECIDA DE FREITAS BARCELOS AAF/2008

ELMO PEDRAS LTDA AAF/2008

GERALDO MARCOS VALADARES BAHIA AAF/2008

GILMAR VILAÇA DUARTE LOC/2003 AAF/2005

ISAMAR PEDRAS DE ARDOSIAS LTDA LOC/2002 AAF/2008

J R M PEDRAS DECORATIVAS LTDA LOC/2004

J.H PEDRAS LTDA LOC/2003

LAUDECI CARVALHO DA COSTA AAF/2006

LINCAR PEDRAS DE ARDOSIA LTDA LO/2002 LO/2005

LRS STONE INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PEDRAS LTDA AAF/2008

LUCIANO DE PAULA BARCELOS AAF/2007

LUIZ CARLOS FERREIRA MACIEL LOC/2003

MARIA ALZIRA CHAVES AAF/2008

MARIA FRANCISCA RIBEIRO DINIZ

MARIA IMACULADA SILVA AAF/2009

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41

Empresas

Licenças

Negadas/Ano de

Formalização

Licenças

Concedidas/Ano

de Formalização

MAURO GERALDO DE FARIA AAF/2008

MAURO GONÇALVES DE BARCELOS AAF/2008

MINAS MUNDO COMÉRCIO IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO LTDA AAF/2007

MINERAÇÃO ROCHA DAS PEDRAS LTDA AAF/2008

PEDRAL COMÉRCIO DE PEDRA ARDÓSIA LTDA AAF/2009

PEVEX PEDRAS NATURAIS LTDA LOC/2002 LO/2005

PLANA COMERCIO E INDÚSTRIA LTDA LP/2003 AAF/2006

RINALDO CORREIA DA SILVA AAF/2008

RICARDO CORREA DA SILVA AAF/2009

RODRIGO CAMPOS DUARTE AAF/2006

RONALDO REZENDE DE CAMPOS AAF/2007

SC PEDRAS LTDA LOC/2003 AAF/2005

SONIA DAS GRACAS BARCELOS AAF/2008

W.S. ARDOSIA LTDA AAF/2006

ZPP COMERCIO E EXPORTAÇÃO DE MINERIOS LTDA LOC/2002

O panorama apresentado pela TAB. 2 explicita o alto número de serrarias instaladas no

centro urbano do município. Este quadro tende a ser revertido com a criação do “Centro

Industrial” (FIG. 21), que se encontra em processo de licenciamento junto à SUPRAM Central.

Além da implantação das pequenas serrarias, será instalado, por iniciativa da

CooperArdósia, um britador coletivo com capacidade para processar todo o rejeito

produzido. Trata-se, portanto, de uma importante medida que resultará no melhor

ordenamento desta atividade e, conseqüentemente, menos impactos à população da

área urbana do município

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42

FIGURA 21 - Localização da área proposta para a implantação do Centro Industrial

Fonte: FEAM, 2009.

Deve-se, no entanto, reconhecer que as ações da FEAM, desenvolvidas desde a segunda

metade da década de 1990, não tiveram caráter meramente fiscalizatório.

Essas ações procuram fortalecer as bases de sustentabilidade da atividade produtiva,

promovendo melhorias técnicas na lavra, bem como incentivando a processo de

regularização ambiental deste segmento produtivo. Nestes termos, e dentro de sua área de

responsabilidade, o trabalho desenvolvido pela equipe técnica da FEAM em Papagaios,

constitui o que mais se aproxima de uma política pública de desenvolvimento mínero-

industrial.

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43

6. O PROCESSO PRODUTIVO DA ARDÓSIA

6.1 Introdução

As propriedades físicas das ardósias (clivagem preferencial, dureza média, baixa

porosidade, alta resistência mecânica e minerais resistentes ao intemperismo) permitem sua

ampla utilização como revestimento. As ardósias constituem assim, um recurso mineral

mundialmente conhecido e de largo emprego para edificações, como pisos e telhados, por

exemplo, inclusive em países que aplicam rígidos padrões técnicos e ambientais na lavra e

beneficiamento.

Além dos padrões cromáticos variados, proporcionados tanto por faces polidas quanto

naturais, as ardósias se destacam sendo utilizadas em revestimentos internos devido a sua

grande afinidade estética com madeiras, metais e tapeçarias. Somam-se a tais atributos

estéticos, a durabilidade dos revestimentos confeccionados em ardósia, bem como a

facilidade de sua manutenção e limpeza, o que lhes assegura grande confiabilidade no

mercado da construção civil.

6.2 A Província de Ardósia de Minas Gerais

6.2.1 Características Gerais

Conhecida como “Província de Ardósia de Minas Gerais” apresenta-se uma importante

seqüência de rochas sedimentares, de baixo grau metamórfico e de idade Pré-Cambriana

Superior, que encerra depósitos locais de ardósias de alta qualidade, ocorrendo numa área

de cerca de 7.000 km².

A Província de Ardósia de Minas Gerais insere-se em área poligonal, abrangendo total ou

parcialmente os municípios de Papagaios, Curvelo, Pompéu, Paraopeba, Caetanópolis,

Felixlândia, Leandro Ferreira e Martinho Campos. As ardósias estão contidas na Formação

Santa Helena, do Supergrupo Bambuí.

O principal foco de extração e beneficiamento de ardósias é o município de Papagaios

com 80% da produção total, em sua maioria ardósias cinzentas. As jazidas são lavradas a

céu aberto, a meia encosta e em cava fechadas, apresentando piso regular e plano

feam

44

(devido a rompimentos regulares e horizontais, também conhecidos por “clivagem

ardosiana”).

As principais variedades comerciais são denominadas pela cor e os principais produtos

beneficiados são ladrilhos/lajotas padronizados, para revestimento de piso. O restante

origina tampos de mesa, pias, bilhares, revestimento de paredes, mobiliário, telhas, mosaicos

e lousas.

Os principais impactos ambientais causados pela atividade de extração de ardósia são:

Alteração do relevo, provocado pelo decapeamento do corpo mineral, abertura de

estradas, praças e outras obras civis, deposição das pilhas de estéril/rejeito. Esta

movimentação de material pode provocar erosões devido à remoção das camadas

superficiais e da vegetação. Este conjunto de operações leva a alteração da

paisagem local provocando impacto visual;

Poluição das águas superficiais pelo carreamento de material terroso da área

lavrada, contaminação com óleos e graxas do maquinário utilizado e com o lixo

doméstico;

Alteração da qualidade do ar devido a poeiras geradas pelo tráfego de

equipamentos na abertura da cava. Soma-se ainda a emissão de gases devido ao

uso de explosivos e maquinário movido a óleo diesel;

Poluição sonora e vibrações provocando ruídos durante as etapas de extração

mineral, com circulação de veículos, corte do piso com disco diamantado e pelo

uso de explosivos;

Interferência no uso da terra, uma vez que grande parte das terras predomina a

criação de gado passa a ser utilizada pela mineração;

Impactos sociais e econômicos com geração de empregos, aumento da renda da

população e maior arrecadação de impostos para o município de Papagaio.

Em suma, a instalação da lavra de ardósia causa alterações no meio ambiente,

principalmente à modificação do relevo e da paisagem local, induzindo modificações na

flora e fauna local existente, na qualidade da água e do ar.

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45

6.2.2 Aspectos Geológicos

A seqüência metassedimentar do Grupo Bambuí, que contém as ardósias da região,

apresentando limite bem definido por feições tectonogeológicas, é datada do Proterozóico

Superior (600-500 milhões de anos) e tem desenvolvimento associado ao Ciclo Tectônico

Brasiliano, conforme descrito nos trabalhos de (AMARAL; KAWASHITA, 1967; THOMAZ FILHO et

al., 1998 ; DARDENE, 2000 apud APL, 2006.

FIGURA 22 - Mapa Geológico Esquemático da Província de Ardósia de Minas Gerais

Fonte: GROSSI-SAD et al., 2001.

Segundo Grossi-Sad & Quade, 1985; Costa & Grossi-Sad , 1987; Grossi-Sad et al., 1998 apud

APL, 2006, a seqüência estratigráfica referente ao Grupo Bambuí no âmbito da denominada

“Província de Ardósia de Minas Gerais” é representada do topo para a base: Formação Três

Marias; Subgrupo Paraopeba, constituído pelas Formações Lagoa do Jacaré (siltitos-

calcários anquimetamórficos) e Santa Helena (principal responsável pelo fornecimento de

ardósias) e Formação Sete Lagoas, assentada sobre o Complexo Basal (FIG. 22).

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46

Quanto à tectônica da região em questão, o aspecto mais interessante que afetou o Grupo

Bambuí, no Ciclo Brasiliano é o desenvolvimento da clivagem horizontal/subhorizontal e

subparalela ao acamamento das rochas, na porção não dobrada da bacia sedimentar.

Acredita-se que esforços tangenciais podem ter se propagado através desta zona estável, a

partir das faixas móveis pericratônicas (Faixa Brasília a oeste ou Faixa Espinhaço a leste),

determinando este arranjo peculiar da “clivagem ardosiana” (por cisalhamento ou

deslizamento tangencial). Entretanto, segundo Grossi-Sad et al. (1998), uma explicação mais

plausível para o paralelismo da clivagem com a estratificação parece envolver a perda de

água, a compactação e o soterramento profundo de rochas sedimentares síltico-argilosas,

ao invés de compressão tectônica e forças tangenciais.

Segundo Grossi-Sad et al. (1998 apud APL, 2006) as ardósias do Bambuí são rochas terrígenas

de granulação fina (pelíticas), apresentando-se em cores verdes, roxas, cinza, grafite, negras

e ferrugem. Mais de 50% dos grãos constituintes têm tamanho superior a 0,06 mm, com 30%

a 60% na dimensão de argila, são fracamente metamorfizadas e desenvolvem planos

preferenciais de partição, também conhecida como “clivagem ardosiana”. Devido a esta

última propriedade, blocos/placas de ardósia podem ser “abertos” em leitos muito finos (de

poucos milímetros de espessura), de muitos decímetros quadrados (até metros quadrados) e

com superfície plana contínua (BARBOSA, 1974 apud APL, 2006).

Segundo este mesmo autor, a composição mineralógica modal (% em volume) das ardósias

da Província Ardosiana de Papagaios é descrita na TAB. 3 a seguir:

Tabela 3 - Composição Mineralógica Modal das Ardósias

Minerais (%) Ardósia Negra Ardósia Cinza Ardósia Verde

Quartzo 24 – 26 26 – 30 30 - 32

Mica Branca 31 – 33 32 - 34 34 - 36

Clorita 20 – 23 18 – 20 18 - 20

Feldspato 12 – 15 12 - 15 14 - 15

Carbonato 3 – 5 3 – 5 0,5 - 1

Óxido de Ferro 2 – 3 2 – 3 2 - 3

Material Carbonoso 0,5 – 1 0,2 - 0,6 < 0,1

Fonte: GROSSI-SAD et al., 1998.

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47

6.3 Lavra

As atividades de lavra de ardósia, no município de Papagaios, têm três focos principais:

Córrego das Pedras (FIG. 23), Olhos d’água (FIG. 24) e Alto da Boa Vista (FIG. 25).

FIGURA 23 - Região do Córrego das Pedras, maior concentração de mineração de ardósia na região

Fonte: FEAM, 2009.

Em 1996, no início das fiscalizações tanto o emboque da lavra, quanto a deposição de

estéril e rejeito, eram iniciados a meia encosta e próximos às drenagens, uma vez que a

rocha encontrava-se ali semi aflorante. Hoje, após várias campanhas de fiscalizações, bem

como a conscientização dos empresários, esta conduta foi modificada.

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48

FIGURA 24 - Região de Olhos d’Água

Fonte: FEAM, 2009.

FIGURA 25 - Região de Alto da Boa Vista

Fonte: FEAM, 2009.

Nota: Indústria de grande porte no alto da foto.

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49

O método de lavra utilizado é a céu aberto, com bancadas em circuito fechado. O sistema

de drenagem direciona as águas pluviais para o interior da cava, para futura utilização no

corte da rocha. Tal procedimento faz-se necessário uma vez que, segundo medições

realizadas no município de Papagaios, constatou-se que para produzir 1 m3 de ardósia

beneficiada, consome-se 3.800 litros de água.

1

2

3

4

FIGURA 26 - Detalhe do capeamento da lavra

Fonte: Feam, 2009.

Nota: 1 – Camada de solo; 2 - Toá (rochas intemperizadas); 3 – Rocha alterada, onde

podemos notar perfuração e colocação de explosivos para desmonte; 4 – Rocha sã,

onde vemos o desenvolvimento da lavra, 2008.

O desenvolvimento da lavra é realizado com emboque a meia encosta, em áreas com

topografia ligeiramente inclinada, sendo precedido pela retirada do capeamento, que na

região varia de 30 a 40 m, composto por aproximadamente 1 m de solo e o restante de toá

(designação local para as rochas intemperizadas) e rocha alterada (FIG. 26).

A retirada do capeamento é realizada em três etapas descritas a seguir:

Primeiramente é retirada a camada de solo, com espessura variando de alguns

centímetros até alguns metros, com utilização de retro escavadeiras e pás

carregadeiras, para decapeamento e posterior carregamento. O material é

carregado em caminhões, para ser transportado até as pilhas de estéril;

feam

50

Em seguida, a camada de toá é desmontada com a utilização de retro

escavadeiras, podendo ser utilizados explosivos, sendo posteriormente carregada em

caminhões basculantes e enviada até as pilhas de estéril;

Por fim, a camada de rocha alterada é desmontada, com utilização de explosivos,

carregados e enviados às pilhas.

O índice de recuperação da ardósia é considerado bastante baixo, aproximadamente 15%,

se considerada toda a atividade (abertura das cavas, lavra e beneficiamento). No entanto,

se contabilizarmos somente na lavra (após ser atingida a rocha sã) esta encontra-se na faixa

de 30 a 40%.

Para se ter idéia do volume de estéril gerado, recorremos ao exemplo da APL de Ardósia

Papagaios: “Para uma ampliação de 5.000 m2 (100 m x 50 m), com 40 m de capeamento,

deverão ser removidos 200.000 m3 de estéril, com peso correspondente a cerca de 400.000 t

(base duas t/m3)”.

A lavra, após se atingir o material comercializável, é realizada em “degraus”, conforme

seqüência a seguir:

FIGURA 27 - Detalhe do “carrinho paraopeba”, composto de discos diamantados sobre rodas,

utilizados no corte vertical da rocha

Fonte: APL, 2006.

feam

51

Cortes verticais, com profundidade entre 15 e 25 centímetros, realizados com discos

diamantados acoplados em carrinhos, localmente chamados “paraopeba”. Os

materiais provenientes destes cortes são chamados de lajões, quando possuem

formas retangulares complexas e dimensões aproximadas de (2,30 x 1,40) m, ou

lajinhas; quando devido a fraturas possuem formas irregulares e apresentam maiores

perdas (FIG. 27 e 28);

FIGURA 28 - Detalhe do disco diamantado utilizado no carrinho paraopeba

Fonte: FEAM, 2008.

Desplacamento dos lajões e lajinhas, com utilização de alavancas em forma de

cunhas, localmente designados de remos (FIG. 29);

FIGURA 29 - Operários utilizando remos para desplacamento do material

Fonte: APL Papagaios, 2006.

feam

52

Carregamento do material em caminhões para envio às indústrias, com utilização de

empilhadeiras (FIG. 30 e 31);

FIGURA 30 - Empilhadeira sendo utilizada na remoção de lajões

Fonte: APL Papagaios, 2006.

FIGURA 31 - Caminhão carregado com lajões

Fonte: APL Papagaios, 2006.

feam

53

Carregamento com utilização de pá carregadeira, em caminhões basculantes, dos

rejeitos gerados na lavra, para posterior envio às pilhas de rejeito (FIG. 32).

FIGURA 32 - No piso da lavra, trabalhos de limpeza com o carregamento do rejeito em

caminhões, para transporte até as pilhas

Fonte: APL Papagaios, 2006.

Em resumo, o fluxograma a seguir (FIG. 33), apresenta todo o processo de lavra e transporte

até a etapa de beneficiamento:

Atividade de lavra

Remoção

do

capeamento

Utilização de retro e pás

carregadeiras, desmonte

com explosivos e utilização

de caminhões no

transporte.

Encaminhamento

do solo, toá, rocha

alterada para as

pilhas de estéril

e rejeitos

Lavra da ardósia

com potencial

comercial

Utilização do “carrinho

Paraopeba”, água,

remos, carregadeiras e

caminhões

rejeitos

Encaminhamento

das águas

utilizadas no corte

da rocha, para

decantação e retorno

ao processo.

Lajões e lajinhas encaminhadas às

Industrias localizadas dentro do

polígono ou na área urbana.

Industria localizada

dentro do polígono,

rejeitos encaminhados

às pilhas

FIGURA 33 - Seqüenciamento das operações de lavra de ardósia

feam

54

6.4 Beneficiamento

Após a lavra, os lajões e as lajinhas são encaminhados às indústrias para o beneficiamento,

podendo atender tanto o mercado interno como o mercado externo.

Os principais produtos, que consomem aproximadamente 70% das chapas beneficiadas,

são ladrilhos/lajotas padronizados, utilizados, sobretudo, para revestimento de pisos. O

restante da produção é destinado à elaboração de chapas, para peças padronizadas,

para tampos de mesa, pia e bilhares, revestimento de paredes e pisos, divisórias, mobiliário,

telhas, mosaicos telados, lousas (quadros negros) e artesanato.

No caso do mercado interno, este beneficiamento é realizado por pequenas serrarias

localizadas na área urbana, podendo ser considerado como “grosseiro”, uma vez que as

peças não sofrem polimento, calibração ou acabamentos laterais, sendo comercializadas

com faces naturais. Os principais produtos são os pisos.

No município de Papagaios foram levantadas aproximadamente 135 destas pequenas

empresas, que fazem o beneficiamento na seguinte seqüência:

Delaminação, que consiste na abertura de chapas de menores espessuras, com utilização

de cunha e marreta (FIG. 34);

FIGURA 34 - Detalhe do trabalho manual de delaminação

de lajotas

Fonte: FEAM, 2008.

Nota: Esse trabalho é muitas vezes efetuado por

arrendatários ou terceirizados, que operam por produção

e não por produtividade.

feam

55

Corte e esquadrejamento, com utilização de serras de discos diamantados, em dimensões

pré-estabelecidas pelo mercado (FIG. 35);

FIGURA 35 - Mesa com serras de disco diamantado para corte, esquadrejamento em

dimensões pré-estabelecidas pelo mercado

Fonte: APL Papagaios, 2006.

No caso de fabricação de mobiliários, bancadas ou outros artefatos, são incorporadas

furadeiras, politrizes manuais, etc. (FIG. 36).

FIGURA 36 - Furadeiras de bancada utilizadas na

preparação de peças para mobiliários,

bancadas ou outros artefatos

Fonte: APL Papagaios, 2006.

feam

56

Para o atendimento do mercado externo são exigidas estruturas industriais mais complexas,

que proporcionem melhor dimensionamento e acabamento dos produtos. Essas estruturas

envolvem linhas automáticas para preparação de ladrilhos e chapas, incorporando

cortadeiras de chapas do tipo serra - ponte, politrizes multicabeça, içadores de chapas,

calibradoras, fresas para sulcos (“groove”), encabeçadeiras e furadeiras, sempre mais

atualizados tecnologicamente. Essa tecnologia está disponível para as empresas, na forma

de máquinas, equipamentos e materiais de consumo, tanto nacionais quanto, sobretudo,

importados.

As principais operações de beneficiamento envolvem esquadrejamento (recorte de peças),

acabamento de superfícies (levigamento, polimento, fresamento/sulcamento),

acabamento de canto (bisotado, boleado, etc.), regularização de espessura (calibração),

cortes curvos e perfurações. O primeiro passo e mais importante, refere-se, no entanto, à

delaminação (abertura) das placas mais espessas derivadas da lavra, com uso de martelo e

talhadeira. O processo mais recente de beneficiamento de face é o acabamento

escovado.

Estas empresas fornecedoras do mercado externo costumam ainda terceirizar o que

poderíamos chamar de beneficiamento primário (delaminação, corte e esquadrejamento),

realizados pelas pequenas serrarias para posterior acabamento.

O material é devidamente embalado em pallets, sendo que estas empresas possuem

carpintarias onde estes são confeccionados (FIG. 37 e 38).

FIGURA 37 - Carpintaria, para confecção de pallet

Fonte: FEAM, 2008.

feam

57

FIGURA 38 - Pallets prontos para comercialização

Fonte: FEAM, 2008.

Em resumo, o fluxograma a seguir (FIG. 39), apresenta todo o processo de beneficiamento

até sua comercialização:

Beneficiamento

Empresa de

Mineração

Pequenas serrarias,

em áreas urbana,

delaminação, corte e

esquadrejamento e

confecção de mobiliário

Grandes indústrias, com linhas

automáticas de ladrilhos e chapas,

incorporando cortadeiras de chapas

do tipo serra ponte, politrizes

multicabeça, içadores de chapas,

calibradoras, fresas para sulcos

(“groove”), encabeçadeiras e

furadeiras.

RejeitosDepósito de

rejeitos, a 5 Km

do município.

Produção

comercializada no

mercado interno

Mercado externo, principalmente

EUA, Mercado Comum Europeu

Lajões

Lajinhas

Produto

Produto

Produto

Britagem

Rejeitos

Comercialização,

estradas

FIGURA 39 - Seqüenciamento das operações de beneficiamento de ardósia

feam

58

A FIG. 40 apresenta o fluxograma da destinação da ardósia para o caso de pequenas e

grandes empresas:

FIGURA 40 - Fluxograma das atividades do setor como um todo, inclusive a relação

entre pequenas e grandes empresas

Fonte: APL Ardósia, 2006.

6.5 Responsabilidade dos empreendedores na disposição adequada dos rejeitos

e resíduos – Legislação Estadual e Federal

A lei estadual 18.031/2009 que dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos em Minas

Gerais classifica-os quanto à natureza e à origem, com vistas a atribuir responsabilidades e

dar-lhes a adequada destinação. No artigo 14, a Lei se refere aos geradores de resíduos de

atividades minerarias e industriais, atribuindo a eles (empreendedores), a responsabilidade

pelo seu gerenciamento, desde a sua geração até a destinação final, incluindo:

I - a separação e a coleta interna de resíduos de acordo com suas classes e

características;

II - o acondicionamento, a identificação e o transporte interno, quando for o caso;

III - a manutenção de áreas para a sua operação e armazenagem;

IV - a apresentação de resíduos para coleta externa, quando for o caso, de acordo com

as normas pertinentes e na forma exigida pelas autoridades competentes;

V - o transporte, o tratamento e a destinação final dos resíduos, na forma exigida pela

legislação pertinente.

feam

59

Na esfera federal existe apenas um Projeto de Lei nº 1.991/2007 em tramite.

No caso da atividade mineraria, a geração do material estéril e sua adequada disposição

são os maiores desafios enfrentados pelo minerador, já que são necessárias grandes áreas

para a referida disposição deste material.

No caso das mineradoras de Papagaios, a maioria destas, realiza a disposição do material

estéril ou de rejeito em pilhas situadas dentro dos limites de suas poligonais. A adequada

formação destas estruturas implica na execução de projetos de engenharia, contemplando

sistemas de drenagem, além de estudos de estabilidade das mesmas.

Atualmente, devido à presença das equipes da Feam na região a partir de 1996, um grande

avanço se observou no que tange a construção e revegetação das pilhas.

Evidentemente, a operação, manutenção e segurança destas estruturas são de

responsabilidade do empreendedor.

Os demais resíduos sólidos e líquidos gerados pelas empresas mineradoras, desde que

devidamente licenciadas, possuem sistemas de coleta e tratamento dos mesmos.

feam

61

7. PRODUÇÃO DE LAVRA E GERAÇÃO DE REJEITOS DE ARDÓSIA NO MUNICÍPIO

DE PAPAGAIOS

7.1 Estimativa da Produção de Ardósia Comercializável (Ano Base 2007 e 2008)

GRÁFICO 3 - Perfil da Produção Brasileira por Tipo de Rocha

Fonte: CHIODI FILHO, 2007.

Segundo o GRAF. 3 (Chiodi Filho, 2007), a produção brasileira de ardósia no ano de 2007 foi

de 900.000 mil toneladas, referente a todo material extraído e encaminhado para o

beneficiamento,enquanto que para 2008, a ABIROCHAS estimou uma produção nacional

de 800 mil toneladas.

Segundo o consultor Cid Chiod, todos os dados disponíveis sobre a produção brasileira e

mineira de ardósias foram estimados, o que também é válido para a geração de rejeitos da

lavra e resíduos do beneficiamento.

De acordo com o APL (2006), o Estado de Minas Gerais é responsável por 94% da produção

nacional de ardósia, sendo que Papagaios produz 80% do total do Estado.

Como base de cálculo para a estimativa da geração de rejeitos de lavra e resíduos do

beneficiamento, pode-se assumir que a recuperação média da lavra de ardósias seja de

30% e que a recuperação média do beneficiamento seja de 40%.

Tomando-se como ponto de partida as 800 mil toneladas produzidas em 2008, que

representem a matéria-prima retirada das pedreiras para beneficiamento, ou seja, a

produção bruta de lavra de ardósia pode-se estimar os seguintes quantitativos:

feam

62

7.1.1 Geração de Rejeitos de Lavra no Brasil

O capeamento dos bancos de ardósia comercial, formado por solo e toá (rocha alterada),

pode ser considerado como estéril da lavra. A perda registrada nos próprios bancos de

ardósia fresca ou comercial (cerca de 70%) constitui mais especificamente como rejeito da

lavra.

Assim, as 800 mil t retiradas das pedreiras geraram um rejeito de 1,87 milhões toneladas [(800

mil t ÷ 0,3) – 800 mil t] de ardósia fresca acumulada nas pilhas de bota-fora das pedreiras.

Deve-se ainda considerar que o volume físico de solo e toá retirados para o decapeamento

dos bancos de ardósia comercial equivalem, em média, ao dobro do volume desses

bancos. Assim, mesmo com densidade pouco inferior à das ardósias frescas, pode-se estimar

que em 2008 teriam sido gerados cerca de 5 milhões t de material estéril (toá e solo) nas

pedreiras brasileiras de ardósia [(800 mil t ÷ 0,3) x 2].

7.1.2 Geração de Resíduos do Beneficiamento no Brasil

Com uma recuperação média de 40% no beneficiamento, as 800 mil t de ardósia

produzidas em 2008 geraram, por sua vez, 480 mil t de resíduos (800 mil t x 0,6), na forma de

cacos, cavacos e lama de corte, acumulados nos bota-foras das serrarias.

Sendo assim, para o ano de 2008, o índice de aproveitamento dos processos de lavra e

beneficiamento de ardósia foi de 13,6%, que representa a relação entre a produção total

após o beneficiamento (800 mil t x 0,4) e o total de rejeitos/resíduos produzidos (1,87 milhões

t + 480 mil t).

7.1.3 Geração de Rejeitos e Resíduos em Papagaios

Como apresentado anteriormente, a atividade extrativa de ardósia no Brasil gerou, no ano

base de 2008, 1,87 milhões t de rejeitos na lavra e 480 mil t de resíduos no beneficiamento.

Considerando que Minas Gerais é responsável por 94% da produção brasileira de ardósia e

Papagaios por 80% da produção total de Minas Gerais, a geração de rejeitos de lavra e

resíduos de beneficiamento, em Papagaios, teria sido de aproximadamente 1,77 milhões t

{[(1,87 milhões t + 480 mil t) x 0,94] x 0,80} e teriam sido acumulados nos bota-foras das

pedreiras cerca de 3,76 milhões t de solo e toá [(5 milhões x 0,94) x 0,8].

feam

63

7.1.4 Geração de Pó de Ardósia (Finos da Serrada)

Se admitirmos que cerca de 20% do “rejeito” do beneficiamento refere-se a pó de serrada,

temos uma geração de cerca de 100 mil t anuais de pó de ardósia no Brasil (480 mil t x 0,2).

Com as mesmas bases de cálculo anteriormente referidas, o volume de pó de ardósia

gerado em Papagaios, no ano 2008, seria de aproximadamente 75 mil t [(100 mil t x 0,94) x

0,80].

7.2 Levantamentos sobre Rejeito do Beneficiamento em Papagaios

Dos levantamentos que quantificam os rejeitos gerados nas indústrias e pequenas serrarias,

localizadas na área urbana de Papagaios, podem-se extrair os seguintes dados:

O primeiro remete-se à APL Papagaios “... Apenas na área de acumulação dos rejeitos das

empresas de beneficiamento instaladas na zona urbana de Papagaio, estariam sendo

colocadas 250 mil toneladas/ano de cacos, cavacos, aparas e material fino (este depósito

de rejeitos localiza-se às margens da rodovia que liga Papagaio a Caetanópolis)...”.

O segundo se refere ao levantamento realizado pela Prefeitura local, no ano de 2007, que

apresenta como resultados 264.000 t/ano de rejeitos e 7.128 t/ano de pó de ardósia. A

metodologia empregada pela prefeitura consistiu na aplicação de questionário, respondido

pelos proprietários de cada uma das 135 empresas levantadas, apresentando na Figura 9.

Ao avaliarmos os dois levantamentos, constatamos uma convergência de resultados, apesar

de termos aproximadamente 2 anos de diferença entre eles.

feam

64

FIGURA 41 - Levantamento das empresas beneficiadoras de ardósia em

Papagaios

Fonte: Relatório CooperArdósia, 2007.

7.2.1 Estimativa da geração de rejeitos de ardósia acumulados

Para o cálculo do volume de rejeitos acumulados nas pilhas existentes no município de

Papagaios, tomaremos como base as exportações Brasileiras apresentadas no gráfico

abaixo:

Segundo dados da COMIG, 1998, no “Panorama do Setor de Rochas Ornamentais e

de revestimento de MG”, as exportações na década de 1980 até 1993 foram de

5.000 t/ano, totalizando no final desses 13 anos uma produção de 65.000 t;

Com base na Fig. 10, a produção total entre os anos de 1994 a 1998 foi de 122.059 t;

feam

65

Tomando-se como base a taxa de crescimento da exportação (16%) entre os anos

de 1997 e 1998 e extrapolando este valor para os anos de 1999 e 2000, as

exportações seriam 39.121 t (1999) e 45.380 t (2000);

No período de 2001 a 2008, conforme TAB. 4, a exportação brasileira foi de 1.399.589t;

Assim, somando-se todos os valores temos um total de exportações Brasileiras, no

período de 1980 a 2008, de 1.606.149 t;

Considerando que Minas Gerais representa 94% da produção brasileira e Papagaios

representa 80% de toda produção mineira, Papagaios exportou, desde o início dos

anos 80, aproximadamente 1.207.824 t de ardósia;

Como o índice histórico das exportações brasileiras representa 35% da produção

total e tomando-se a estimativa de 1.207.824 t de ardósia exportada em Papagaios,

a produção total no município foi de 3.450.926 t de ardósia;

Considerando ainda que o índice de aproveitamento é de 15%, teríamos

aproximadamente 19.555.247 t de estéril e rejeito estocado no município de

Papagaios.

9.7

36

.68

2

12

.68

4.5

41

7.8

35

.37

3

9.7

93

.61

6

14

.69

9.1

77

54

.74

9.3

89

21.1

24

.44

1

20

.52

7.4

53

17

.59

2.3

96

29

.089

.97

5

33

.72

5.5

49

12

2.0

59

.81

4

1994 1995 1996 1997 1998 Total

Valor (US$ FOB)

Quantidade (kg liq.)

GRÁFICO 4 - Produção brasileira de ardósia no período de 1994 a 1998

Fonte: Panorama do Setor de Rochas Ornamentais e de revestimento de MG – COMIG, 1998.

feam

66

Tabela 4 - Exportação de ardósia entre os anos de 2001 a 2008

Ano 2001 2002 2003

US$FOB Peso (kg) US$FOB Peso (kg) US$FOB Peso (kg)

Brasil 30.021.250 84.284.096 34.991.782 105.770.688 42.216.274 130.852.395

MG 28.582.005 80.090.882 32.394.763 97.948.230 39.037.335 121.139.072

Ano 2004 2005 2006

US$FOB Peso (kg) US$FOB Peso (kg) US$FOB Peso (kg)

Brasil 60.562.565 189.555.351 68.760.478 202.934.756 84.597.789 226.167.879

MG 56.622.022 175.830.407 63.233.490 184.830.475 79.848.233 212.174.998

Ano 2007 2008 2009

US$FOB Peso (kg) US$FOB Peso (kg) US$FOB Peso (kg)

Brasil 98.356.431 240.028.786 101.091.287 219.995.291 --- ---

MG 92.943.791 225.291.131 96.175.139 208.800.910 --- --- Fonte: SMM/SEDE – 04/03/2009

feam

67

8. CONSIDERAÇÕES SOBRE O APROVEITAMENTO DE REJEITOS DA LAVRA E DO

BENEFICIAMENTO DA ARDÓSIA

No setor produtivo da ardósia, além da geração de rejeito, ainda são gerados grande

volume de estéril, solo e toá, para os quais não existem estudos sobre seu reaproveitamento.

A sustentabilidade da atividade produtiva da ardósia, tanto econômica quanto ambiental,

é cada vez mais dependente do melhor aproveitamento da matéria-prima, ou seja, da

redução do volume final de rejeitos da lavra e beneficiamento.

Existem duas alternativas para a redução dos rejeitos:

Diversificação dos produtos comercializados;

Reaproveitamento para usos diversos como na indústria, construção civil e

agropecuária.

Na linha da diversificação dos produtos, algumas atividades podem ser desenvolvidas,

como o caso da utilização na indústria moveleira, na fabricação de mesas, bancadas,

bancos, entre outros. O artesanato também está presente com a confecção de mosaicos

telados, etc. (FIG. 42 e 43).

FIGURA 42 - Objetos confeccionados a partir do beneficiamento da ardósia

Fonte: FEAM, 2009.

feam

68

FIGURA 43 - Exemplo de artesanato produzido com ardósia

Fonte: FEAM, 2009.

Uma das propostas apresentada em 2005 pela Prefeitura Municipal de Papagaios, visando o

reaproveitamento dos rejeitos da ardósia, é a iniciativa da implantação do Centro Industrial

para onde será transferida grande parte das serrarias, situadas na área urbana do

município.

FIGURA 44 - Localização proposta para o Centro Industrial, delimitada em vermelho, e em

amarelo área destinada ao britador da CooperArdósia

Fonte: FEAM, 2009.

feam

69

Com a concentração das mesmas, teremos também o acúmulo da geração dos rejeitos e

do pó de ardósia.

Sendo assim, justifica-se a implantação de uma planta de britagem e uma bacia de

contenção de finos. Esta planta, projetada pela CooperArdósia, poderá viabilizar o

reaproveitamento de aproximadamente 260.000 t/mês de rejeitos (geração referente às

indústrias localizadas em área urbana), bem como 7.200 t/mês de pó gerado (FIG. 44 e 45).

FIGURA 45 - Bacia de contenção da empresa Ardósia Veredas

Fonte: FEAM, 2009.

Quanto ao reaproveitamento dos rejeitos das ardósias, o Anexo I apresenta uma série de

artigos referentes às alternativas de utilização (APL Papagaios, 2006).

Entretanto, apesar das diversas alternativas para a devida utilização do rejeito, atualmente,

sua principal destinação continua sendo os botas-fora, situados próximos a cidade.

feam

71

9. CONCLUSÕES

As questões ambientais mais relevantes no município de Papagaios estão ligadas às

atividades do setor produtivo da ardósia, tanto da extração, como das serrarias localizadas

na área urbana.

Apesar dos grandes impactos ambientais gerados pelas serrarias como geração de pó de

ardósia e ruídos, há ainda uma tolerância por parte da comunidade com as empresas,

devido principalmente à importância do setor na geração de empregos e renda.

FIGURA 46 - Placa de sinalização proibindo o tráfego de caminhões na área urbana do município

Fonte: FEAM, 2008.

Entretanto, ao longo dos anos, o município vem procurando desenvolver uma melhor

política ambiental, considerando que já se encontram em operação: (1) Estação de

Tratamento de Esgoto – ETE, (2) Aterro sanitário e (3) coleta seletiva do lixo urbano, que teve

início com a implantação de pontos de entrega voluntária de pilhas e baterias (PEV’s) e um

Ecoponto Pneumático, local destinado a recolhimento de pneus.

O município de Papagaios aprovou a lei que proibiu o trânsito de caminhões em sua área

central, carregados de lajões e lajinhas, resultando em uma diminuição de poeira, devido

ao pó proveniente das carrocerias carregadas de lajes de ardósia (FIG. 46).

Com relação às serrarias localizadas na área urbana, estas causam impacto visual e

auditivo, pois algumas foram implantadas sem medidas de controle ambiental relacionado

feam

72

à proximidade com as residências. Com a transferência para o Centro Industrial, os

impactos causados pelas serrarias tenderão a desaparecer.

Dentre os impactos positivos, podemos citar a grande geração de empregos, conforme já

comprovado pelo Produto Interno Bruto (PIB), já que a arrecadação do setor industrial é 3

vezes maior que o da agricultura e próximo ao setor de serviços.

Entendemos ainda, que a recuperação dos passivos ambientais gerados pela atividade

mineraria, bem como a mitigação dos impactos que afetam o município de Papagaios, não

serão simplesmente obtidos por ações isoladas de fiscalização nas mineradoras. Para o

melhor ordenamento da atividade mineraria são necessárias ações integradas e articuladas

de diversos órgãos do governo estadual, como o Sisema e a Secretaria de Desenvolvimento

Econômico, visando o crescimento ordenado e sustentável das atividades de lavra e

beneficiamento de ardósia.

Uma alternativa econômica e ambiental bastante interessante é a adoção de uma política

de governo visando atrair empresas para utilizar o rejeito como matéria prima na fabricação

de seus produtos, principalmente no setor da construção civil, tais como cimenteiras,

cerâmicas e de pavimentação.

feam

73

10. AÇÕES COMPLEMENTARES – RECOMENDAÇÕES

No desenvolvimento do “Projeto Associado Ardósia – Papagaios” ficou evidente a

importância de uma ação continuada e sistemática por parte da Supram Central em

Papagaios, no que se refere ao licenciamento ambiental e implantação do Centro

Industrial.

Problemas ambientais históricos na região relacionados à deposição irregular dos rejeitos,

assoreamento de cursos d’água e supressão de vegetação devem ser resolvidos com o

aproveitamento destes resíduos, trabalhos de revegetação e também com a implantação

de sistemas de controle de carreamento de sedimentos, tais como sistema de drenagem de

pilhas, canaletas e tanques escavados no próprio solo, desde que operações de

manutenção sejam efetuadas periodicamente.

Compatível às novas atribuições da FEAM, uma ação/projeto que poderia ser desenvolvida

seria o acompanhamento da transferência das serrarias para o Centro Industrial, visando a

análise comparativa dos valores dos consumos de energia e água antes e após a

implantação do Centro Industrial.

A respeito do aproveitamento de rejeitos, já se discutiu e preliminarmente estruturou, junto

com o CMRR, a realização do 1º SEMINÁRIO MINEIRO SOBRE O APROVEITAMENTO DE

RESÍDUOS MÍNERO-INDUSTRIAIS.

O Seminário seria o ponto de partida para um trabalho mais amplo, que se designa como

“simbiose industrial”, através do qual avalia-se o mercado potencial para as matérias-primas

minerais afins aos rejeitos enfocados, visando promover a aproximação de consumidores e

fornecedores.

É importante que se promova a regularização do recolhimento da CFEM, conforme exposto

pelo DNPM no Seminário realizado em Papagaios, o que poderia ser encaminhado e

viabilizado através de uma ação articulada entre o FEAM, Prefeitura, DNPM, Secretaria

Estadual da Fazenda e AMAR.

Para as empresas produtoras de ardósia que comprovadamente se destacassem com

técnicas de maior aproveitamento dos resíduos gerados poderia instituir a aplicação de um

selo de mérito ambiental. Assim, As empresas contempladas fariam jus a algum tipo de

premiação, como por exemplo, incentivos fiscais e tributários e/ou linhas de crédito

facilitadas para o desenvolvimento de projetos industriais.

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75

REFERÊNCIAS

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ANEXOS

ANEXO I – Alternativas para utilização do rejeito de ardósia gerado (APL Papagaios, 2006).

DESA/UFMG – SEBRAE

O estudo pioneiro, sobre o aproveitamento dos rejeitos de ardósia, datam de 1996 e foi

efetuado através de convênio firmado entre o SEBRAE-MG, o Departamento de Engenharia

Sanitária e Ambiental (DESA/UFMG) e Associação Comercial e Industrial de Papagaio –

ACIP. Tal estudo, intitulado Caracterização e Pesquisa de Aplicações de Resíduos e Aparas

de Ardósia, centrou seu enfoque em resíduos sólidos e efluentes líquidos resultantes das

atividades de extração, beneficiamento e industrialização de ardósias. Nessa pesquisa,

coordenada pelo Prof. Wilfrid Keller Schwabe, foram realizadas análises granulométricas,

mineralógicas, químicas, termo-diferenciais, termo-gravimétricas e alguns testes cerâmicos,

analisando-se o pó de ardósia e aparas de tamanho variável. As análises permitiram

caracterizar o pó de ardósia como um material fino, sílico-aluminoso, que tem plasticidade e

alto teor em óxidos de ferro e álcalis (Na2O e K2O). Sua composição é semelhante à de

uma argila utilizada em olaria. O pó pode ser misturado na proporção de até 50% com

argila para cerâmica vermelha. O teor de óxido de ferro aprofunda a cor vermelha e o teor

de álcalis pode baixar o ponto de fusão, facilitando a sinterização e diminuindo o consumo

de energia na queima. A pesquisa concluiu que o rejeito sólido da ardósia, transformado em

pó ou brita, tem alta potencialidade para aplicação em agregados, agregado leve, cargas

(principalmente para massa asfáltica), blendagem com cimento e material cerâmico. A

pesquisa também concluiu que, com trabalhos mais aprofundados, poderia ser

caracterizada a possibilidade de uso dos rejeitos de ardósia na fabricação de telhas e

tijolos, impermeabilização em reservatórios e aterros, corretivo de solos, produção de solo-

cimento, pozolana e na recuperação de áreas degradadas.

APLICAÇÃO EM ESTRADAS – A EXPERIÊNCIA DA CONSTRUTORA EGESA

Foi utilizada brita de ardósia no asfalto a quente, usinado, realizado com sucesso pela

construtora EGESA na BR-040 num trecho de 10 km que liga os municípios de Pompéu e

Felixlândia, como antes mencionado. Foram consumidas 7.000 toneladas de brita de

ardósia. Um dos engenheiros responsáveis pela obra (engº. José Carlos Ribeiro), referiu que

torna-se necessário dispor de equipamento adequado para atender às normas do DNIT –

Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes, que substituiu o antigo DNER.

Ainda segundo o engenheiro, existem diversas utilizações possíveis dos resíduos da ardósia

no asfaltamento das estradas, além da brita na camada inferior e na pista de rolamento,

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80

como o pó para a mistura com outro mineral e no concreto (até os cacos podem ser

utilizados). Destaca-se que os rejeitos da ardósia também poderiam ser aproveitados para o

capeamento e asfaltamento de ruas, avenidas e praças, tanto nos municípios produtores

da Província da Ardósia quanto daqueles próximos a eles, observando-se os custos de

transporte e desde que sejam respeitadas as especificações e as condições de sua

utilização.

UTILIZAÇÃO EM REFLORESTAMENTO – A EXPERIÊNCIA DOS EMPRESÁRIOS

Empresários do segmento da ardósia confiam na possibilidade de uso do pó da ardósia

como fertilizante e corretivo de solo. No caso de projetos de reflorestamento, o pó da

ardósia seria aplicado no plantio de mudas de eucalipto. O embasamento para esta

utilização consiste no sucesso dos resultados experimentais com a revegetação nas pilhas

de ardósia, realizado pela pesquisadora Valéria Freitas (FREITAS et. al., 2005), do CETEC,

admitindo-se um princípio similar ao da rochagem para produção de fertilizantes

alternativos. Isto porque a ardósia possui concentrações expressivas de carbonato de cálcio

e potássio, capazes de tanto corrigir a acidez dos solos quanto melhorar a sua fertilidade

(refere-se que as concentrações de K2O são significativamente mais elevados nas ardósias

verdes e vinho, com teores até superiores a 5%). Cabe destacar a proximidade de grandes

projetos de reflorestamento da Província da Ardósia, especialmente de indústrias

siderúrgicas, inclusive de grande porte, como a Belgo Mineira e a Valourec & Mannesmann.

Existem também empreendimentos expressivos como o da Plantar e de outras empresas na

região, assim como próximo a Curvelo – grande porta de entrada do carvão proveniente de

plantios de eucalipto de outras áreas do estado, como o Jequitinhonha, o Norte de Minas, o

Noroeste e de outros estados. Um outro fato positivo para esta opção de reflorestamento, é

a proximidade com siderúrgicas e metalúrgicas, que utilizam carvão vegetal, em diversos

municípios próximos, como Sete Lagoas, Divinópolis, Itaúna, Pará de Mimas, Claúdio e

Pitangui.

INSUMO PARA CERÂMICA VERMELHA

Dissertação de Mestrado de Maria Cristina de A. OLIVEIRA (2001). Estudo de Aproveitamento

de Rejeitos da Mineração de Ardósia visando Aplicações Tecnológicas em Cerâmica.

No estudo de referência de Oliveira (2001), são apresentadas as seguintes conclusões e

considerações sobre a aplicação dos rejeitos da ardósia na indústria cerâmica. Os rejeitos

de ardósia, seja na forma de pó de ardósia obtido a partir da moagem dos rejeitos sólidos

ou na forma de lama oriunda do processo de beneficiamento, apresentam propriedades

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81

cerâmicas promissoras, quando estudados em escala laboratorial. Após queima, o pó de

ardósia desenvolve cor vermelha, característica que restringe sua aplicação aos produtos

de cerâmica vermelha estrutural (tijolos, telhas, etc.) e às placas cerâmicas para

revestimento de base vermelha, não podendo ser utilizado em massas de cor clara. Como o

pó de ardósia não apresenta plasticidade, não pode ser utilizado como única matéria prima

para cerâmica, pois devido ao seu baixo poder de coesão, não é possível conformar um

corpo com resistência mecânica à verde suficiente para permitir o seu manuseio ao longo

do processo de fabricação. Logo, deverá ser adicionado a argilas com alto poder de

agregação; neste caso o pó de ardósia agirá como um material desplastificante. Nas

misturas destinadas à produção de cerâmica vermelha foi possível introduzir até 40% de pó

de ardósia (abaixo de peneira 32 mesh), mantendo-se a absorção d’água do material

dentro do limite especificado pelas normas ABNT (NBR 7171; NBR 7172; NBR 9601; NBR 13582)

para os produtos de cerâmica vermelha estrutural (blocos cerâmicos para alvenaria e

telhas) e com boas condições de conformação por extrusão. Esse valor máximo para a

adição de pó de ardósia é válido para a mistura estudada que utilizou argila do tipo taguá

vermelho como base; porém, deve variar em função da plasticidade e do poder de

aglomeração de outras argilas sobre as quais o pó de ardósia seja misturado. Sobre a massa

de revestimento cerâmico foi possível adicionar até 20% de pó de ardósia, mantendo-se a

especificação para placas cerâmicas para revestimento – grupo de absorção BIIb prensado

(conforme ABNT NBR 13818) quanto aos valores de absorção d’água e carga de ruptura.

Adições superiores a 20 % resultaram em misturas cujo valor da absorção d’água excede o

limite especificado para essa classe de produtos. Também o valor da carga de ruptura

mostrou-se aquém da especificação. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Durante as visitas técnicas

realizadas em indústrias cerâmicas localizadas em cidades num raio de 80 Km ao redor de

Papagaio – MG, procedeu-se ao levantamento das principais necessidades e dificuldades

atualmente enfrentadas por elas, diante do desafio de otimizar o processo produtivo e

melhor qualificar os produtos. Destacam-se:

a. As argilas utilizadas na fabricação de produtos de cerâmica vermelha estrutural

apresentam cor de queima vermelho claro. Sabe-se que o consumidor geralmente exige

produtos com coloração vermelha mais acentuada.

b. A temperatura de queima das argilas empregadas é alta (cerca de 1150ºC), elevando o

custo de produção.

c. A matéria prima é trazida de longas distâncias, o que encarece o custo do frete.

As reservas das argilas utilizadas na região começaram a escassear, gerando a necessidade

de desenvolver novas matérias primas para uso industrial. Os resultados obtidos neste

trabalho demonstraram que a adição de pó de ardósia em misturas para cerâmica

vermelha estrutural, proporcionará uma série de vantagens técnico-econômicas que,

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82

certamente, contribuirão para a solução de grande parte dos problemas relatados pelas

empresas locais. Algumas dessas vantagens são:

· Intensificação da cor de queima vermelha;

· Diminuição da retração linear, o que acarreta uma redução na quantidade de material

requerida por peça produzida;

· Redução da quantidade de argila, aumentando a permeabilidade do material e

conseqüentemente, facilitando a saída da água de amassamento no momento da

secagem. Ressalta-se, finalmente, que para viabilizar o uso industrial do pó de ardósia em

misturas cerâmicas é fundamental que se proceda à adequação do processo de moagem

em larga escala e também à determinação do percentual de pó a ser adicionado, em

função das características das argilas com as quais o pó de ardósia comporá a mistura

(OLIVEIRA, 2001).

INSUMO PARA CIMENTO

Dissertação de Mestrado de Evandro CARRUSCA Oliveira (2001): Aproveitamento Industrial

de Resíduos de Ardósia como Insumo Mineral na Fabricação de Cimento. Esta pesquisa de

mestrado (CARRUSCA, 2001) foi implementada na fábrica de cimento da Holdercin Brasil S/A

/ Unidade Ciminas, com desenvolvimento de testes que objetivaram avaliar o

aproveitamento de resíduos de ardósia, em substituição à argila convencionalmente

utilizada, na composição primária da farinha para fabricação do clínquer e conseqüente

produção de cimento. Ensaios laboratoriais foram realizados na Holdercin e na Associação

Brasileira de Cimento Portland – ABCP, comparando-se os parâmetros técnicos da farinha

tradicional, contendo argila, e da farinha em desenvolvimento com os finos de ardósia (85%

de calcário e 15% de ardósia). Os resultados dos ensaios consideraram as propriedades

químicas e granulométricas dos resíduos de ardósia semelhantes às propriedades da argila

empregada na fabricação do cimento. Esses resultados também foram comprovados nas

análises da farinha de cru, matéria-prima que origina o clínquer. Comprovou-se, além disso,

através dos resultados dos testes de moagem e ensaios granulométricos um maior

rendimento na cominuição da farinha contendo ardósia. Os estudos de Carrusca (2001)

concluíram que a fase de testes de laboratório apresentou resultados positivos, confirmando

a possibilidade de se empregar as aparas de ardósia, na forma de brita fina, como

constituinte da farinha de cru, em substituição à argila.

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83

ATIVIDADE POZOLÂNICA11 DA ARDÓSIA EXPANDIDA

Tese de Doutorado de Maria Eugênia Monteiro de Castro SILVA (2004): Caracterização de

Produtos Gerados no Processo de Expansão Térmica de Rejeitos de Ardósia. O estudo de

Silva (2004) envolveu a realização de ensaios de expansão térmica das diferentes

variedades de ardósia produzidas em Papagaio e região, objetivando avaliação dos

produtos na indústria cimenteira. A ardósia natural não apresentou propriedades

pozolânicas para argamassa de cimento, quando avaliada pelos métodos químico e físico.

Por outro lado, os resultados obtidos para a ardósia expandida confirmaram a

pozolanicidade, segundo os ambos os métodos. A expansão das ardósias ocorreu no

sentido perpendicular à clivagem, sendo as ardósias pretas e grafite as que apresentaram

maior grau de expansão, seguidas, em ordem decrescente, das ardósias cinzas, ferrugem,

matacão, vinho e verde. “Materiais pozolânicos são materiais silicosos ou sílico-aluminosos

que, por si só, possuem pouca ou nenhuma atividade aglomerante, mas quando finamente

moídos e na presença de água, reagem com hidróxido de cálcio à temperatura ambiente,

formando compostos com propriedades aglomerantes” (LEA apud SILVA, 2004, p. 56). Após

a expansão térmica, a composição química das ardósias apresentou variações pouco

significativas. Para a massa específica, os valores foram inferiores, o que ocorreu também

com a resistência mecânica. Os valores de absorção de água dos produtos de expansão

foram mais altos, com exceção das ardósias vinho e verde, bem como da ardósia preta,

que não apresentou alteração. Apesar da variação, pode-se considerar que os valores

estão abaixo dos índices de absorção de água necessários para materiais pozolânicos.

Concluiu-se que o tratamento dos rejeitos de ardósia, pelo processo de expansão térmica,

promove o desenvolvimento das atividades pozolânicas do material. Devido ao caráter

pozolânico conferido aos produtos da expansão térmica das ardósias, como adição mineral

substituindo parcialmente o clínquer do cimento Portland, esses produtos apresentam-se

portanto como alternativa tecnicamente viável de aproveitamento dos rejeitos da lavra e

do beneficiamento. Segundo a ABCP, os ensaios realizados demonstram melhora na

qualidade do cimento, demandando-se estudos em escala industrial para definição da

economicidade do processo. Silva (2004) ressalta que na concepção do projeto previu-se a

realização de estudos de expansão térmica de rejeitos de ardósia visando à geração de

agregados leves para o uso na construção civil, porém a escala de laboratório inviabilizou a

pesquisa, o que certamente, segundo a autora, apresenta-se como uma alternativa de

significativa relevância técnica e econômica.