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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA PALÔVA MARQUES CARVALHO GESTÃO DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO EM CONSTRUTORAS DA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA - BA Feira de Santana 2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

PALÔVA MARQUES CARVALHO

GESTÃO DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO EM CONSTRUTORAS DA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA - BA

Feira de Santana2009

PALÔVA MARQUES CARVALHO

GESTÃO DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO EM CONSTRUTORAS DA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA - BA

Monografia apresentada para conclusão do curso de graduação em Engenharia Civil

pela Universidade Estadual de Feira de Santana Orientador(ª): M.Sc. Áurea Chateaubriand A. Campos

Feira de Santana 2009

PALÔVA MARQUES CARVALHO

GESTÃO DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO EM CONSTRUTORAS DA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA – BA

Este trabalho foi julgado adequado para a obtenção do título de Engenheiro Civil aprovada em sua forma final pelo orientador e pela disciplina Projeto Final II do Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual de Feira de Santana.

________________________________________Profª. M.Sc. Áurea Chateaubrind A. Campos

Orientadora

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________Prof. Drª Maria do Socorro Costa São Mateus

______________________________________Prof. Drª. Sandra Maria Furiam Dias

AGRADECIMENTOS

A Deus, autor e consumador da minha fé, pela sua infinita misericórdia e amor.

Á minha família, minha mãe Lúcia Marques, minha irmã Manôa Marques e meu pai

Valney Carvalho que sempre estiveram ao meu lado demonstrando apoio

incondicional e muito amor.

Aos amigos, pela torcida e palavras de incentivo.

Aos professores, pela transmissão do conhecimento. Em especial à Prof.ª Áurea

Chateaubriand, pela orientação.

Aos Engenheiros e responsáveis técnicos das construtoras que permitiram a

realização das visitas nos canteiros e pela paciência e atenção na realização das

entrevistas.

RESUMO

Por meio deste trabalho, analisamos os procedimentos adotados para a gestão de

RCD em canteiros de obras de construtoras na cidade de Feira de Santana e como

estas estão procedendo para adaptar-se à resolução n° 307/2002 do Conselho

Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) que estabelece diretrizes, critérios e

procedimentos para a gestão dos RCD. Também estudamos a gestão dos RCD nas

cidades de Belo Horizonte, Salvador e São Paulo e esse levantamento bibliográfico

constatou a evolução e criação de métodos que minimizam a geração dos resíduos,

obedecendo às Leis regulamentadoras para disposição adequada de RCD. Quanto

à cidade de Feira de Santana, as visitas e entrevistas realizadas em quatro canteiros

de obra, indicam que a segregação, acondicionamento e destino final dos resíduos

gerados nessas empresas, está baseado nas diretrizes propostas pela Resolução

307 do CONAMA. A implantação desses Programas de Gerenciamento de Resíduos

da Construção Civil (PGRCC), previsto por esta resolução, além de organização e

limpeza de canteiros, promoveu a consciência ambiental.

PALAVRAS CHAVES: Resíduos de Construção. Gestão. Canteiros de obras.

ABSTRACT

This work analyzes the procedures adopted for the management of Civil Construction

Wastes (RCC) in seedbeds of workmanships of construction companies in the city of

Feira de Santana-BA. It knows their adaption to the resolution n º 307/2002 of the

“Conselho Nacional do Meio Ambiente” (CONAMA), which determine, criteria and

procedures for the management of the RCC. In addition the management of the RCC

in Belo Horizonte, Salvador and São Paulo cities is studied and compared this

bibliographical survey evidenced the evolution and creation of methods to minimize

the generation of wastes, in accordance to the Laws for an adequated disposal of

RCC. In Feira de Santana city, the visits and interviews applied to four seedbeds of

workmanship, have indicated that the segregation, preservation and final destination

of that type of waste generated in these companies, are in agreement to the

proposals for Resolution 307/2002 of CONAMA. The introduction of these Waste

Management Programs of Civil Construction (PGRCC), besides organization and

cleanness of seedbeds stimulated the environmental conscience.

Key Words: Civil Construction Waste. Management. Seedbeds of workmanship.

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Plano Integrado de Gerenciamento ................................................... 32

Figura 2.2 – Origem do RCD em algumas cidade brasileiras ............................... 33

Figura 2.3 - Geração do RCD: Setores público e privado .................................... 34

Figura 2.4 – Coleta e transporte do RCD: Setores publico e privado ................. 34

Figura 2.5 – Local de deposição de material pela população no município de São Paulo ................................................................................................................... 42

Figura 2.6 – Usina de reciclagem de entulho na cidade de São Paulo ............... 43

Figura 2.7 - Local de deposição de material pela população no município de Belo Horizonte ........................................................................................................... 46

Figura 2.8 - Usina de reciclagem de entulho na cidade de Belo Horizonte ........ 47

Figura 2.9 - Postos de Descarga de Entulho (PDE) em Salvador a) Rua Sérgio de Carvalho, Federação; b) Rua Wanderley de Pinho, Itaigara; c) Av. San Martin, Retiro. ............................................................................................................ 50

Figura 2.10 – Postos de Descarga de Entulho (PDE) em Salvador a) Rua Sérgio de Carvalho, Federação; b) Rua Wanderley de Pinho, Itaigara; c) Av. San Martin, Retiro. ............................................................................................................ 51

Figura 2.11 – CEPER - Central de Recepção de Podas, Entulhos e Recicláveis 53

Figura 2.12 – Área alternativa para deposição de RCD, próximo ao CEPER ..... 54

Figura 3.13 - Segregação do resíduo na fonte. a) empresa I; b) empresa II, c) empresa III. ................................................................................................................ 58

Figura 3.14 - Deposição do resíduo classe A. a)empresa I; b) empresa II; c) empresa III; d) empresa IV. ....................................................................................... 61

Figura 3.15 - Baias de separação de metais. a) empresa I; b) empresa II; c) empresa III .................................................................................................................. 64

Figura 3.16 – Acondicionamento final dos resíduos de madeira. a) empresa I; b) empresa II; c) empresa III; d) empresa IV. ....................................................... 65

Figura 3.17 - Acondicionamento de plástico e papel a) empresa I; b) empresa II; c)empresa III. .............................................................................................................. 66

Figura 3.18 - Acondicionamento do gesso, a)empresa I, b)empresa II e c)empresa C; .............................................................................................................. 68

Figura 3.19 – Acondicionamento de Resíduos Perigosos. a) empresa II e b) empresa III. ................................................................................................................. 69

Figura 3.20 – Movimentação dos resíduos da geração ao destino final. ............ 70

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Informações gerais sobre a gestão de RCD em alguns município brasileiros .................................................................................................................. 38

Tabela 2.2 – Usinas de Reciclagem no país em Novembro de 2008 ................... 39

Tabela 3.3 - Padronização Internacional de Cores - Resolução 275 do CONAMA 70

Tabela 3.4 – Principal vantagem devido á implantação do gerenciamento dos resíduos ...................................................................................................................... 71

LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Definições de Resíduos de Construção e Demolição por vários autores ........................................................................................................................ 18

Quadro 2.2 – Potencialidades para aplicação de reciclados de RCD ................. 25

Quadro 3.3 - Condições de caracterização e triagem dos resíduos .................... 57

Quadro 3.4 - Acondicionamento inicial no canteiro .............................................. 59

Quadro 3.5 – Condições de acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos Classe A .............................................................................................. 61

Quadro 3.6 - Condições de acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos Classe B .............................................................................................. 63

Quadro 3.7 Condições de acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos Classe C ..................................................................................................... 67

Quadro 3.8 - Condições de acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos Classe C .............................................................................................. 68

LISTA DE SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

ATT - Áreas de Transbordo e Triagem

BDE - Base de Descarga de Entulho

CEPER - Central de Recepção de Podas, Entulhos e Recicláveis

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LIMPURB - Empresa de Limpeza Urbana

PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat

PDE - Posto de Descarga de Entulho

PGRCC - Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil

RCC - Resíduo de Construção Civil

RCD - Resíduo de Construção e Demolição

RSM - Resíduos Sólidos Municipais

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESI - Serviço Social da Indústria

SINDUSCON - MG - Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado de Minas Gerais

SINDUSCON – SP - Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado de São Paulo

URPV - Unidade para recebimento de Pequenos Volumes

SUMÁRIO1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10

1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 11

1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................ 11 1.1.2 Objetivos Específicos .................................................................................. 12

1.2 METODOLOGIA ............................................................................................... 12

1.2.1 Caracterização das empresas participantes do estudo ............................. 13 2 RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD) ........................................ 17

2.1 IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELOS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO ........................................................................................................ 20

2.2 USO DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO ......................................................... 21

2.3 LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E NORMAS TÉCNICAS .................... 26

2.3.1 Resolução N° 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente .................... 29

2.4 GESTÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO ....................... 31

2.4.1 Geradores e gestores dos resíduos ........................................................... 31 2.4.2 Empresas coletoras e transportadoras ....................................................... 35

2.5 GESTÃO DO RCD EM ALGUMAS CIDADES BRASILEIRAS ......................... 37

2.5.1 São Paulo .................................................................................................... 41 2.5.2 Belo horizonte ............................................................................................. 45 2.5.3 Salvador ...................................................................................................... 48 2.5.4 Feira de Santana ....................................................................................... 52

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 55

3.1 ETAPA I - IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS .............................................................................................................. 55

3.2 ETAPA II – ATIVIDADES NO CANTEIRO ........................................................ 57

3.2.1 Acondicionamento inicial no canteiro ......................................................... 58 3.2.2 Acondicionamento Final no canteiro e Destinação Final ........................... 60

3.3 ETAPA III - AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS ............................................................................................................. 70

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 73

4.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................... 76

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 77 ANEXOS ..................................................................................................................... 80 ANEXO A – ENTREVISTA ESTRUTURADA APLICADA ÀS CONSTRUTORAS ... 81 ANEXO B – CROQUI DO CANTEIRO DE OBRAS DA EMPRESA I ....................... 85

ANEXO C – CROQUI DO CANTEIRO DE OBRAS DA EMPRESA II ...................... 86 ANEXO D – CROQUI DO CANTEIRO DE OBRAS DA EMPRESA III ..................... 87 ANEXO E – CROQUI DO CANTEIRO DE OBRAS DA EMPRESA IV ..................... 88 ANEXO F – RESOLUÇÃO CONAMA N° 307 ........................................................... 89

10

1 INTRODUÇÃO

Os resíduos sólidos gerados pela sociedade moderna têm se convertido numa

problemática de difícil solução. Exige-se então o estabelecimento de métodos para a

gestão desses resíduos.

Dentre os diferentes tipos de resíduos sólidos, o trabalho aqui apresentado trata

especificamente dos resíduos gerados nas atividades da construção civil Resíduo de

Construção e Demolição (RCD).

A preocupação com a geração dos RCD é a disponibilidade de locais nos centros

urbanos para a recepção, triagem e processamento desses resíduos. A existência

nas cidades de locais com esse objetivo proporciona aos mesmos, benefícios

ambientais, econômicos e sociais, aumentando o tempo de vida útil dos aterros

sanitários, preservando os recursos naturais e pode transformar uma fonte de

despesa em fonte de receita, pois a partir da reciclagem dos Resíduos de

Construção e Demolição (RCD) podem ser produzidos materiais utilizados em

pavimentação, agregado para o concreto, argamassa e outros (PINTO, 1999).

Uma solução encontrada para minimizar os impactos causados pelo RCD é uma

gestão com objetivo de minimizar a geração, maximizar a reutilização e viabilizar a

reciclagem dos RCD nos canteiros de obras.

No ano de 2002 foi instituída a resolução n° 307 do Conselho Nacional do Meio

Ambiente (CONAMA), a qual possui princípios de ações e métodos para

implantação de um modelo sustentável na construção civil, através dos agentes

envolvidos no sistema que são os geradores, os transportadores e as prefeituras

municipais. Com a resolução CONAMA 307 a tarefa de destinar corretamente o

entulho passa a ser responsabilidade dos geradores, ficando o poder público

regulamentar, fiscalizar e possibilitar um destino correto.

O gerenciamento adequado dos resíduos produzidos pelas empresas inclui sua

redução, reutilização e reciclagem e torna o processo construtivo ambientalmente

correto. Construtoras devem evitar uma disposição irregular para impedir impactos

11

ambientais. Por essa razão este trabalho visou investigar as formas utilizadas por

construtoras da cidade de Feira de Santana-BA no que tange à triagem, reciclagem

e disposição final dos RCD gerados em canteiros de obras.

O mercado da construção em Feira de Santana vem crescendo progressivamente

nos últimos anos. Isso impulsionou o desenvolvimento de algumas construtoras que

perceberam a necessidade de criar meios para a adequação ás leis que

regulamentam a diminuição de impactos ambientais gerados pelo RCD.

Há uma diversidade de aplicações possíveis da maior parte do volume de resíduos

gerados em canteiros de obras. Este fato evidencia a importância de se concentrar

esforços em pesquisas, buscando as alternativas viáveis em termos de desempenho

técnico, dos impactos ambientais, viabilidade de mercado dos produtos resultantes e

dos aspectos sociais (ARAÚJO et. al., 2005).

Existem encaminhamentos, baseados na resolução CONAMA n°307/2002, que são

posto em prática pelo poder público nas cidades de Belo Horizonte, Salvador e São

Paulo, também estudadas neste trabalho. Nessas capitais existem metodologias

utilizadas para implantação de Programa de Gerenciamento de Resíduos da

Construção Civil (PGRCC), programa este previsto pela resolução CONAMA 307

para os grandes geradores de resíduos. Essas metodologias são referenciais para

construtoras de outras cidades, como Feira de Santana-BA.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Avaliar a implantação e operacionalização do sistema de gerenciamento de resíduos

de construção em canteiros de obras em quatro construtoras na cidade de Feira de

Santana-BA.

12

1.1.2 Objetivos Específicos

a) Comparar as condições para adequação à resolução CONAMA 307/2002 em

canteiros de obra de quatro construtoras em Feira de Santana, apresentando as

iniciativas tomadas pelas mesmas para o alcance dessas recomendações;

b) Apresentar as condições de triagem, acondicionamento e destinação final dos

resíduos gerados nos canteiros de obras;

c) Trazer as avaliações feitas pelas empresas quanto à implantação dos Programas

de Gerenciamento de Resíduos nos canteiros de obra.

1.2 METODOLOGIA

No trabalho foi realizada uma breve revisão bibliográfica, que não tem por pretensão

esgotar o assunto, e sim trazer a debate a problemática.

Contou com o desenvolvimento prático em visita às empresas, com entrevista a uma

pessoa de cada empresa, os responsáveis pelo gerenciamento, implantação e

manutenção do PGRCC; e visita à um canteiro de obra de cada empresa.

As etapas de desenvolvimento deste trabalho referem-se à identificação da situação

encontrada em quatro construtoras na cidade de Feira de Santana, devido à

vigência da Resolução CONAMA nº 307/2002 (ANEXO F), compreendendo as ações

que estão sendo desenvolvidas nos canteiros de obra dessas empresas visitadas.

Foi elaborado um roteiro de perguntas estruturado adaptado do livro Gestão

Ambiental de Resíduos da Construção Civil: A experiência do SINDUSCON-SP,

desenvolvido em parceria com a empresa Obra Limpa, coordenado por PINTO

(2005), formando o roteiro para aplicação nas quatro empresas (ANEXO A). O

entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido com perguntas

predeterminadas. Na entrevista foram apresentados tópicos, tentando tornar mais

13

objetiva e direta a abordagem feita pelas empresas e dessa maneira padronizar as

respostas.

A entrevista foi aplicada à quatro empresas, que são identificadas neste trabalho

apenas como Empresa I, II, III e IV.

1.2.1 Caracterização das empresas participantes do estudo

Feira de Santana apresenta uma população estimada de 571.997 habitantes

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE ano 2007).

De acordo com a lista fornecida pela SINDUSCON-BA (Sindicato das indústrias da

construção civil – Bahia), atuam em Feira de Santana, cerca de cinqüenta empresas

de construção civil.

As empresas são classificadas em empresas de pequeno, médio e grande porte, de

acordo com a classificação estabelecida pelo SEBRAE, que utiliza o critério de

número de funcionários registrados: Microempresa até 19 empregados; Pequena

Empresa de 20 a 99 empregados; Média Empresa de 100 a 499 empregados;

Grande Empresa de 500 a mais empregados.

De acordo com BRASILEIRO (2008), dentre as construtoras atuantes em Feira de

Santana foram identificadas seis empresas de médio porte e duas empresas de

grande porte no setor de edificações.

Foi estudada uma empresa de grande porte, duas empresas de médio porte e uma

empresa de pequeno porte. A seleção das empresas baseou-se na existência do

Programa de Gerenciamento de Resíduos em processo de implantação ou

implantado, conhecidos por acadêmicos que possuem estudo na área.

14

• Empresa I

A empresa I, empresa de médio porte, atua no mercado da construção civil desde

1998 em Feira de Santana e em 2008 começou a entrar no mercado de outras

cidades baianas. A construtora atua no setor habitacional, especialmente para

classe média e média alta, no mercado privado. É ranqueada com a Caixa

Econômica Federal para construção de habitação de interesse social. Atualmente

está construindo cinco empreendimentos, condomínios residenciais para as classes

média e média alta.

A empresa I é certificada pela NBR ISO 9001:2000 e pelo Programa Brasileiro de

Qualidade e Produtividade na Habitação (PBQP-H), encontra-se em processo de

adequação para obtenção da certificação ISO 14001.

A implantação do Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil

(PGRCC) está em vigência há um ano e meio. A empresa contratou o SESI para

implantação do programa, por possuírem parceria em outras atividades da empresa.

A canteiro de obras visitado corresponde à obra horizontal, condomínio de casas

para a classe média.

• Empresa II

A construtora está no mercado de Feira de Santana há 20 anos, atuando

principalmente no ramo da habitação, como construtora e incorporadora, para as

classes média alta, média e baixa renda, inclusive com habitação de interesse

popular junto com programas da Caixa Econômica Federal. Além de Feira de

Santana a empresa atua em outras grandes cidades do interior da Bahia, inclusive

na capital Salvador, e no estado de Pernambuco. A construtora possui hoje nove

obras em andamento, atendendo as diversas classes. A empresa II é classificada

como empresa de grande porte.

A empresa possui selo de qualidade NBR ISO 9000:2000 e PBQP-H e encontra-se

em processo de adequação para obtenção da certificação ISO 14001. O PGRCC

15

está implantado há um ano, efetivamente trabalhado em três obras que estão em

fase de construção.

A empresa buscou os serviços de empresa de consultoria, que atua na área de

gestão de qualidade e gestão ambiental para auxiliarem na instalação do programa.

O canteiro de obra visitado corresponde construção de condomínio com edifícios de

cinco pavimentos.

• Empresa III

A empresa entrou no mercado da construção civil no ano de 1996, em Feira de

Santana através do ramo de reforma e construção industrial, ramificando para

habitação pelo crescimento deste mercado na região. Estão em andamento hoje

quatro empreendimentos no ramo de habitação, condomínios residenciais

direcionados para as classes média e média baixa, possuindo também reformas e

construção no setor industrial. A empresa III é classificada como empresa de médio

porte.

A construtora possui a certificação NBR ISO 9001:2000 e PBQP-H, buscando hoje

um Sistema de Gestão Integrado, que além de outros, necessita da certificação da

NBR ISO 14000:2004, que propõe um Sistema de Gestão Ambiental.

A implantação do PGRCC volta-se para o atendimento desta norma, além da

resolução CONAMA 307, e o período é de cinco meses. A empresa criou seus

procedimentos de gestão baseando-se em experiências pessoais, sendo

desenvolvido pela equipe responsável sobre a Gestão de Qualidade da empresa

com auxílio de empresa de consultoria.

A canteiro de obras visitado corresponde à obra horizontal, condomínio de casas

para a classe média.

16

• Empresa IV

A empresa está no mercado da construção de Feira de Santana há oito anos,

classificada como empresa de pequeno porte. A empresa está hoje na construção

de três empreendimentos, condomínios residenciais para as classes média e média

baixa. Possui selo de qualidade NBR ISO 9001:2000 e PBQP-H.

A empresa IV executa o gerenciamento de seus resíduos baseando-se nos

procedimentos de Gestão de Qualidade que são descritos na NBR ISO 9001:2000 e

PBQP-H.

Dessa maneira, o gerenciamento dos resíduos na empresa IV é feito baseado nos

procedimentos estabelecidos pelo Sistema de Gestão de Qualidade e elaborados

por equipe de funcionários da empresa, designados para esta atividade. Logo as

ações de gerenciamento dos RCD são resumidas, não sendo denominado

efetivamente como PGRCC, acontecendo, dessa maneira, há cinco meses.

A canteiro de obras visitado corresponde à obra horizontal, condomínio de casas

para a classe média.

17

2 RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD)

A indústria da construção civil tem o meio ambiente como objeto de transformação.

Ela modifica paisagens inserindo empreendimentos que visam o bem-estar do

homem. Além disso, consome uma grande variedade de recursos naturais como

insumos dos seus produtos e, conseqüentemente, geram resíduos, o Resíduo de

Construção e Demolição (RCD), sendo hoje um dos maiores problemas de

gerenciamento de limpeza urbana dos municípios brasileiros (LEITE, et. al., 2005).

De acordo com dados divulgados pelo IBGE (2005) apud ARAÚJO et. al. (2005), em

2003 a indústria da construção civil representou, na composição do PIB (Produto

Interno Bruto) nacional, 18,5% da classe Indústria e 7,14% do PIB nacional, sendo a

mesma apontada como uma das indústrias mais importantes para o

desenvolvimento econômico e social do país.

A cadeia produtiva da construção civil consome entre 14% e 50% dos recursos

naturais extraídos do planeta; no Japão corresponde a cerca de 50% dos materiais

que circulam na economia e nos EUA, o consumo de mais de dois bilhões de

toneladas representa cerca de 75% dos materiais circulantes (MINISTÉRIO DAS

CIDADES, 2006).

No Brasil, os RCD também atingem elevadas proporções da massa dos resíduos

sólidos urbanos. Essa grande massa de resíduos, quando mal gerenciada, degrada

a qualidade da vida urbana, sobrecarrega os serviços municipais de limpeza pública.

Ainda como repercussão reforça no país a desigualdade social uma vez que

escassos recursos públicos são continuamente drenados para pagar a conta da

coleta, transporte e disposição de resíduos depositados irregularmente em áreas

públicas, conta essa que, na realidade, é de responsabilidade dos geradores.

(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006).

O RCD, conhecido também como entulho, possui características bastante

heterogêneas em relação aos demais resíduos industriais. A sua composição e

18

quantidade produzida dependem de fatores, como mão de obra ou técnicas

construtivas empregadas.

A seguir é apresentado o Quadro 2.1 com algumas definições de RCD, por diversos

autores.

Quadro 2.1 – Definições de Resíduos de Construção e Demolição por vários autoresAutor Definição para RCD

EPA* São resíduos de materiais de construção e fragmentos de pedra de construção, renovação e demolição de edifícios e estradas (ex: concreto, madeira, metais, asfalto).

MAIA et. al. 1993

Todo material acumulado depois que uma parte foi tomada e utilizada, não apresentando mais fim específico, podendo ao apresentar uma aplicação este resíduo passar a ser um sub-produto.

SILVEIRA, 1993

Todo rejeito proveniente das atividades de engenharia civil. O autor classifica também segundo a sua origem, na origem, na demolição, na incorporação á construção.

ZORDAN, 1997

Os resíduos não contaminados, provenientes da construção, reformas, reparos e demolição de estruturas e estradas e resíduos sólidos não contaminados de vegetação, resultantes da limpeza e escavação de solos.

LEVY, 1997 São todas as sobras e rejeitos constituídos por todo material mineral proveniente do desperdício, inerente ao processo construtivo adotado na obra nova ou de reformas e demolição

STEIN, 1993, apud COSTA 1998

São resíduos produzidos a partir das atividades de construção e demolição de estruturas ou parte dela

ANDRADE, et. al. 1998

Conjunto de fragmentos ou restos de tijolos, concreto, argamassa, aço, madeira, entre outros, podendo oriundo dos desperdícios da construção, reforma e demolição de estruturas

HABITARE, 1998

Parcela de material não incorporada, ou seja, aquela que não é aproveitada ou aplicada ao local previsto.

Fonte: XAVIER, 2001. apud SAPATA, 2002.*EPA – Agência de Proteção Ambiental Americana

Algumas definições são generalistas como a feita por HABITARE (1998), outras são

específicas, apontado os materiais que originam o RCD ou a atividade que originou

os resíduos.

No Estado da Bahia, o Decreto Nº 7 967 de 2001, que regulamenta a Lei Estadual Nº 7.799 de

2001 que institui a Política Estadual de Administração dos Recursos Ambientais, considera

resíduo sólido: qualquer lixo, refugo, lodos, lamas e borras nos estados sólido e semi-sólido,

bem como determinados líquidos que pelas suas particularidades não podem ser tratados em

19

sistema de tratamento convencional, tornando inviável o seu lançamento na rede pública de

esgotos ou corpos de água (SANCHES, 2004).

A classificação da origem dos RCD proposta pela The Solid Waste Association of

North America (SWANA, 1993 apud PINTO, 1999) é bastante útil para a

quantificação de sua geração:

• material de obras viárias;

• material de escavação;

• demolição de edificações;

• construção e renovação de edifícios;

• limpeza de terrenos.

A composição dos RCD originados em cada uma dessas atividades é diferente em

cada país, em função da diversidade de tecnologias construtivas utilizadas.

Para a resolução CONAMA 307 Resíduos da Construção Civil (RCD) são os

provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de

construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais

como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas,

colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento

asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de

entulhos de obras.

De acordo com LEITE (2001) os resíduos, sejam eles quais forem, devem ser

classificados, do ponto de vista do risco ambiental, para que possam sofrer o correto

destino e manuseio. A NBR 10004 (2004) “Resíduos sólidos – Classificação” coloca

que a identificação dos constituintes a serem avaliados na caracterização do resíduo

deve ser criteriosa e estabelecida de acordo com as matérias-primas, os insumos e

o processo que lhe deu origem.

De acordo com LEITE (2001), alguns estudos dizem que resíduos de construção e

demolição, quando depositados indiscriminadamente podem ser foco para depósitos

de outros tipos de resíduo, que podem gerar contaminações devido à lixiviação ou

solubilização de certas substâncias nocivas. Ou ainda, os próprios resíduos de

20

construção e demolição podem conter materiais de pintura, ou substâncias de

tratamento de superfícies, entre outras, que podem percolar pelo solo,

contaminando-o (FEDERLE, citado por PENG et al., 1997; TORRING, 1998 apud

LEITE, 2001). Além destes materiais, os resíduos de construção e demolição podem

conter amianto ou metais pesados, que mesmo em pequenas quantidades, se

misturados ao resíduo, pode contaminá-lo de forma significativa (DORSTHORST e

HENDRIKS, 2000 apud LEITE, 2001).

Por estes motivos ZORDAN (2000) apud LEITE(2001) enfatiza que o resíduo de

construção, a depender da sua origem e materiais constituintes, pode estar inserido

em qualquer das classes apresentadas pela NBR 10004 (2004), ou seja, perigoso

classe I, não perigosos classe II, classe II-A não inerte ou classes II-B inerte.

2.1 IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELOS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

Os impactos negativos e incidentes no meio ambiente, causados pela deposição de

RCD, são inúmeros em nosso país, e normalmente são reflexos de grandes

volumes, que vem sendo gerado e disposto inadequadamente na malha urbana,

pela inexistência de uma política adequada de gerenciamento diferenciado e

integrado com os demais Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) municipais (SAPATA,

2002).

Segundo AGOPYAN et. al (2000) a indústria da construção é a atividade humana

com maior impacto sobre o meio ambiente, devido ao seu tamanho e importância

dentro da economia. Para ilustrar a dimensão das atividades de construção, ABCP

(1999) afirma que o consumo “per capita” de concreto, por ano, é maior do que o de

alimentos ou de qualquer outro produto necessário à sobrevivência e

desenvolvimento do homem, perdendo apenas para o consumo de água.

21

De acordo com diversos autores, PINTO, 1999; BRITO FILHO 1999; CATALUNYA,

1995; CAVALCANTI, 1996, citado por SAPATA (2002), pode-se enumerar alguns

impactos, tais como:

a) Impactos Ambientais: Ocupação das áreas naturais em baixadas, fundo de vales,

terrenos baldios, obstrução de rios, córregos que vem afetar a drenagem

superficial das águas;

b) Impactos Sanitários: A presença de RCD e outros resíduos, criam um ambiente

propício para a proliferação de vetores que exercem efeito deletério sobre o

saneamento local e a saúde humana;

c) Impactos Visuais: Aspectos visual da paisagem local fica totalmente

comprometido;

d) Impactos Sociais: Existência de uma classe social apresentando grandes e

pequenos gestores e grandes e pequenos coletores de RCD e demais resíduos

sólidos urbanos, sem noção de aspectos de prevenção sanitária e ambiental,

reflexo de uma gestão corretiva;

e) Impactos Econômicos: Custo elevado da gestão corretiva do RCD.

A partir de diagnóstico para a caracterização do RCD, muitos municípios se

conscientizaram do impacto da representatividade do RCD na composição dos

diversos resíduos gerados dentro de seu município (BRITO FILHO,1999).

2.2 USO DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO

Em diversos países a reciclagem de resíduos de construção encontra-se em estágio

avançado. No Brasil existem grupos em universidades muito ativos no estudo dos

resíduos de construção, seja no aspecto de redução de sua geração durante a

atividade de construção, políticas públicas para o manuseio dos resíduos ou

tecnologias para a reciclagem. Da mesma forma diversos municípios brasileiros

operam com sucesso centrais de reciclagem do resíduo de construção e demolição,

produzindo agregados ou reutilizando os RCD (LEITE, 2001).

22

A reciclagem de resíduos de construção é praticada em outros países há muitos

anos. A necessidade de reconstruir cidades destruídas durante guerras e devido a

catástrofes naturais levou ao desenvolvimento de técnicas de reciclagem dos

resíduos e o seu uso em serviços de construção na Europa, Estados Unidos e Japão

(ZORDAN, 1997).

Outros motivos contribuíram para a recuperação dos resíduos, principalmente nas

últimas décadas, como: esgotamento das jazidas de agregados, os prejuízos

acumulados ao longo dos tempos ao meio ambiente com a extração e a

conseqüente disposição dos resíduos e a sobrecarga de aterros. (LEITE, 2000).

Políticas públicas vigentes em outros países induzem os RCD a uma destinação

mais nobre que a deposição irregular em vias e logradouros públicos. Na Europa, a

média de reciclagem dos RCD é de 28% e vem crescendo aceleradamente. Nos

Países Baixos, esta é bem mais alta: em 2000, foram aproveitados 90% dos

resíduos da construção, 16,5 milhões de toneladas. (MINISTÉRIO DAS CIDADES,

2006).

A reciclagem de parcela significativa do RCD no Brasil vai depender de

desenvolvimento de novos mercados, melhorias de processamento, etc. Alternativas

viáveis e interessantes em outros países podem não ser as soluções para a situação

nacional, já que existem diferenças importantes nas técnicas construtivas,

resistência dos materiais empregados além das diferenças de mercado. Sob este

ponto de vista, é fundamental que sejam explorados sistematicamente as

alternativas que o resíduo brasileiro oferece (JADOVISK, 2005).

Toda atividade na construção civil produz, inevitavelmente, alguma perda, porém,

como estas acontecem em locais e momentos distintos, a simples separação prévia

destes materiais evitaria a contaminação dos rejeitos que ocorre nos “containers”

destinados a sua remoção do canteiro de obras. Restos de madeira, gesso,

materiais metálicos e plásticos, deveriam ter destinos específicos, de acordo com

seu potencial para a reciclagem ou grau de contaminação. Cabe também ressaltar,

que o tratamento dos resíduos é, por vezes, complexo e algumas vezes inviável

técnica ou economicamente, em função da contaminação que pode sofrer. Restos

de madeira, gesso, materiais metálicos e plásticos, devem ter destinos específicos,

23

de acordo com seu potencial para a reciclagem ou grau de contaminação (PUCCI,

2006).

Por isso segundo LEVY (2001), os resíduos de construção têm uma composição que

depende muito da fonte que o originou e do momento em que foi colhida a amostra.

Como o setor de construção desenvolve várias atividades dentro do canteiro de

obras, o resíduo gerado também pode ser composto por uma grande gama de

materiais. Além disso, uma edificação é composta por uma grande variedade de

diferentes componentes, e quando ocorre a sua demolição esta característica fica

evidenciada na composição do resíduo resultante.

Tudo isso confere ao material a ser reciclado uma alta heterogeneidade, e sua

separação total seria praticamente impossível. ZORDAN (1997) enfatiza que o

resíduo de construção e demolição talvez seja o mais heterogêneo de todos os

resíduos industriais e, ainda, que a sua composição química está relacionada com a

composição dos materiais que o compõe.

A caracterização do RCD é fundamental para escolha do processo de

beneficiamento. Os principais impedimentos para o uso de agregados são os teores

de argamassa, de contaminantes, de materiais pulverulentos e valores de absorção

de água e de massa específica (PINTO,1999).

O beneficiamento dos resíduos de construção e demolição envolve desde a sua

coleta e transporte, passando por separação, britagem e peneiramento, até a sua

estocagem para posterior utilização (LEITE, 2001).

A tendência para reciclagem dos RCD é crescente e cada vez mais fará parte de

nossa vida no futuro. No Brasil a reciclagem desses resíduos começa a se favorecer

quando prefeituras implantaram nos seus municípios usinas de reciclagem de RCD

(PINTO, 1999).

Segundo o autor, apud SAPATA (2002), a reciclagem de RCD tem o potencial para

colaborar em:

- Preservação das matérias primas naturais;

- Redução do consumo de energia;

24

- Economia de energia;

- Aumento da durabilidade;

- Proteção ao meio ambiente natural;

- Redução do desperdício e da geração de resíduos e seus impactos sanitário,

social, econômico e ambiental;

- Melhoria da qualidade do meio ambiente construído.

Sempre existiram barreiras a serem vencidas para a introdução de novos produtos

contendo RCD reciclados: legais/ regulamentares, educação e informação,

tecnológicas, econômicas e geográficas (LAURITZEN, 1998 apud AGOPYAN et. al.,

2000) e de mercado (JOHN, 2000 apud AGOPYAN et. al., 2000).

Segundo AGOPYAN et. al. (2000), uma tecnologia consagrada que consome

grandes volumes de RCD é a pavimentação, que possui as municipalidades como

clientes. O autor sugere que o caminho mais fácil para superar as limitações seja

encontrar mercado para produtos contendo agregado reciclado do que para o

agregado isoladamente. Além desses, no caso dos RCD reciclado existe também o

temor de que os clientes considerem um produto contendo resíduos como de menor

qualidade. Esta limitação somente pode ser enfrentada por uma política consistente

e prolongada de educação ambiental.

Tal observação ainda é vivenciada nove anos depois, pois o preconceito com o uso

de agregados reciclados de RCD ainda existe, porém sua utilização está

aumentando gradativamente, em decorrência de diversos estudos comprovando a

viabilidade técnica do uso desses subprodutos.

É desejável melhorar o manejo dos RCD quando da sua geração no canteiro de

obra, de forma que eles cheguem nas centrais de reciclagem classificados conforme

a sua natureza.

A seguir no Quadro 2.2 são apresentadas algumas potencialidades para aplicação

de materiais reciclados de RCD.

25

Quadro 2.2 – Potencialidades para aplicação de reciclados de RCDG

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2.3 LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E NORMAS TÉCNICAS

Existe hoje no Brasil um apanhado de leis, políticas públicas e normas técnicas que

são referências para a gestão dos RCD.

SANCHES (2004) faz um apanhado sobre a legislação brasileira, onde a primeira

tentativa de instituir um documento legal para a regulamentação das atividades de

destinação final dos resíduos sólidos foi o Projeto de Lei nº 203/91(PL 203/91), do

senado federal, que tratava exclusivamente dos resíduos do serviço de saúde. Entre

os anos de 1991 e 2002, setenta e quatro projetos de lei que tratam da matéria

foram apensos ao PL 203/91 dos quais cinco merecem destaque:

27

a) O Projeto de Lei nº 3.333/92 (PL 3.333/92) de autoria do Deputado Fábio

Feldman que apresenta os pressupostos básicos, os instrumentos e os objetivos

da política nacional de resíduos sólidos, classificação, gerenciamento,

acondicionamento, coleta, transporte, disposição final dos resíduos, bem como a

imputação de penalidades;

b) O Projeto de Lei nº 3.029/97 (PL 3.029/97) do Deputado Luciano Zica que institui

a política nacional de resíduos sólidos, propõe a criação do Sistema Nacional de

Resíduos – SISNARES para integrar união, estados e municípios no tratamento e

gestão dos resíduos, além de estabelecer padrões de lançamento de poluentes

atmosféricos;

c) O Projeto de Lei nº 4.502/98 (PL 4.502/98) do Deputado Ivan Valente que

também propõe uma política nacional de resíduos e apresenta uma classificação

que considera os resíduos da construção civil e estabelece normas para

reciclagem de resíduos;

d) O Projeto de Lei nº 4.730/98 (PL 4.730/98) de autoria do Deputado Padre Roque

que além da política nacional, trata do plano de gerenciamento de resíduos e das

penalidades a serem aplicadas adotando a Lei 9 605/98;

e) O Projeto de Lei nº 3.606/00 (PL 3.606/00) do Deputado Ronaldo Vasconcellos,

que propõe a política nacional, e trata do gerenciamento dos vários resíduos,

dentre eles o entulho e os materiais oriundos da construção civil.

Reafirmando a preocupação posta pela evolução apresenta nos projetos que foi

constituído o Estatuto das Cidades, Lei Federal nº 10.257, promulgada em

10/6/2001. Determina novas e importantes diretrizes para o desenvolvimento

sustentado dos aglomerados urbanos no País. Ele prevê a necessidade de proteção

e preservação do meio ambiente natural e construído, com uma justa distribuição

dos benefícios e ônus decorrentes da urbanização, exigindo que os municípios

adotem políticas setoriais articuladas e sintonizadas com o seu Plano Diretor. Uma

dessas políticas setoriais, que pode ser destacada, é a que trata da gestão dos

resíduos sólidos (PINTO et. al., 2005).

Há também a Lei N° 9605, dos crimes ambientais, de 12 de fevereiro de 1998. A

Resolução CONAMA nº 307 leva em consideração as definições dessa lei, que

28

prevê penalidades para a disposição final de resíduos em desacordo com a

legislação.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou um conjunto de normas

ligado à gestão de resíduos, que são as seguintes:

• NBR 15112:2004 Resíduos da construção civil e resíduos volumosos - Áreas

de transbordo e triagem - Diretrizes para projeto, implantação e operação;

• NBR 15113:2004 - Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes -

Aterros - Diretrizes para projeto, implantação e operação;

• NBR 15114:2004 - Resíduos sólidos da construção civil - Áreas de reciclagem -

Diretrizes para projeto, implantação e operação;

• NBR 15115:2004 - Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção

civil - Execução de camadas de pavimentação – Procedimentos;

• NBR 15116:2004 - Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção

civil – Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural

– Requisitos.

Existe como Políticas Públicas o Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços

e Obras (SIQ–C) e Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de

Serviços e Obras da Construção Civil (SiAC) , do Programa Brasileiro de Qualidade

e Produtividade do Habitat (PBQP-H). Este programa prevê quatro níveis de

certificação (D, C, B e A) e contempla os mesmos requisitos da NBR ISO 9001:2000,

definindo serviços e materiais a serem controlados.

Este programa declara a necessidade sobre as considerações dos impactos no meio

ambiente, causado pelos resíduos produzidos pela obra. Para que ocorra a

certificação da empresa no nível “A” é necessário, além de outros requisitos, definir

um destino adequado de seus resíduos.

De acordo com PINTO (2005) a falta de observância desses requisitos poderá

resultar na restrição ao crédito oferecido por instituições financeiras que exigem tal

qualificação como critério de seleção para seus tomadores de recursos.

29

2.3.1 Resolução N° 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente

A Resolução nº 307 do CONAMA, de 05 de julho de 2002, é o regulamento que trata do

gerenciamento e disposição final dos resíduos da construção civil e estabelece diretrizes,

critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil.

A resolução 307 do CONAMA diz que, gerenciamento de resíduos é o sistema que

visa reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos; inclui planejamento, responsabilidades,

práticas, procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as ações

necessárias ao cumprimento das etapas previstas em programas e planos.

De acordo com essa resolução, compete aos municípios a elaboração do Plano

Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, instrumento para a

implantação da gestão dos RCD. O plano deverá incorporar o Programa Municipal

de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil e os Projetos de Gerenciamento

de Resíduos da Construção Civil estes últimos a serem apresentados pelos grandes

geradores de RCD e submetidos para análise junto aos órgãos competentes

(BRASIL, 2002).

É instituído o plano integrado de gerenciamento de resíduos da construção civil, a ser

elaborado pelos municípios, como instrumento de gestão municipal que deve contemplar

diretrizes técnicas e procedimentos para elaboração dos programas municipais e projetos de

gerenciamento desses resíduos, estes a serem elaborados pelos grandes construtores. Prevê o

cadastramento de áreas para recebimento, triagem e armazenamento dos resíduos, conforme

as classes às quais pertencem, com o devido licenciamento ambiental (BRASIL, 2002).

Baseados nessa idéia, as empresas constroem planos, que dentro do Sistema de

Gestão de Qualidade, são os Planos de Qualidade da Obra, nos quais são

identificados e caracterizados os tipos de resíduos gerados nos canteiros e as

formas de geração desses resíduos.

Cabe mencionar que, ao implantar os programas, as construtoras podem incorporar

estes outros benefícios: atendimento aos requisitos legais e dos programas de

30

certificação; melhora nas condições de limpeza do canteiro, contribuindo para maior

organização da obra, diminuição dos acidentes de trabalho, redução do consumo de

recursos naturais e a conseqüente redução de resíduos (PINTO, 2005).

Além disso, a empresa inicia uma conscientização ambiental que pode se refletir na

promoção de outras ações que visem ao desenvolvimento sustentável. Tais ações,

incluídas na gestão estratégica de negócios, melhoram a imagem da empresa e

contribuem para sua valoração econômica.

Os resíduos da construção civil são classificados, de acordo com a resolução

CONAMA n°307 da seguinte maneira:

• Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais

como: de construção, demolição, reformas e reparos de edificações contendo

componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.),

argamassa e concreto; de processo de fabricação e/ou demolição de peças

pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos

canteiros de obras;

• Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como:

plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;

• Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias

ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou

recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso;

• Classe D: são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais

como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de

demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais

e outros.

Os municípios tiveram o prazo até 02 de janeiro de 2004 para a elaboração do plano integrado

de gerenciamento de resíduos da construção civil e até 02 de julho de 2004 para a sua

implementação, e conseqüente cessação de disposição irregular desses resíduos. Os

construtores têm o prazo até 02 de janeiro de 2005 para incluírem seus projetos de

gerenciamento de resíduos da construção civil nos projetos de obras a serem submetidos à

aprovação do órgão público competente (SANCHES, 2004).

31

2.4 GESTÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

Na gestão dos RCD observa-se que a qualidade do ambiente urbano é

comprometida tanto pela ação do próprio gerador quanto pela inexistência ou

ineficiência dos serviços de coleta e pela disposição inadequada desses resíduos

(lixões a céu aberto, terrenos baldios, etc). Por isso o que chama a atenção na

gestão dos RCD é a inter-relação entre o ambiente da geração dos resíduos e

aquele da sua movimentação, desde a coleta até a disposição final (BRITO FILHO,

1999).

2.4.1 Geradores e gestores dos resíduos

Os princípios da resolução CONAMA n° 307 devem materializar-se em duas ações

principais. A primeira com respeito a um Programa Municipal com caráter de serviço

público, no qual os pequenos geradores e os transportadores podem agir

corretamente no destino final dos resíduos gerados. A segunda etapa, que dá

sustentabilidade aos Projetos de Gerenciamento, obrigatórios para os grandes

geradores de resíduos, materializa-se numa rede de serviços abrangendo todos os

elos da cadeia operativa relacionada ao transporte, manejo, transformação e

disposição final dos grandes volumes de resíduos da construção civil (PINTO et. al,

2005).

As ações destinadas, por sua vez, ao disciplinamento do fluxo dos grandes volumes

de RCD, conseqüência da ação das empresas privadas de coleta. Essas ações

devem se submeter, por meio dos Projetos de Gerenciamento de Resíduos e dos

32

compromissos com transportadores cadastrados e áreas de recepção licenciadas,

aos princípios e diretrizes contidos no Plano Integrado de Gerenciamento e à ação

gestora do poder local (PINTO et. al, 2005). A Figura 2.1 permite uma visualização

da articulação dessas redes de serviços.

Figura 2.1 – Plano Integrado de GerenciamentoFonte: PINTO, 2005

As ações destinadas aos resíduos dos pequenos geradores, de um modo geral

provenientes de pequenas construções e reformas em regiões menos centrais dos

municípios, devem ser definidas como um serviço público de coleta, ancorado em

uma rede de pontos de entrega, instrumento de ação pública, que expressa os

compromissos municipais com a limpeza urbana, de maneira consistente com as

características dos problemas encontrados nos diversos bairros dos centros urbanos

(PINTO, 1999).

Os agentes responsáveis pela geração dos resíduos devem ser responsabilizados

por sua correta destinação, tanto do ponto de vista ambiental quanto nos aspectos

financeiros. (PINTO et.al., 2005).

De acordo com PINTO et.al. (2005), os geradores podem ser mais facilmente

identificados e caracterizados. Os principais responsáveis pela geração de volumes

significativos que devem ser considerados são:

33

• Executores de reformas, ampliações e demolições que, no conjunto, consistem na

fonte principal desses resíduos;

• Construtores de edificações novas, térreas ou de múltiplos pavimentos - com áreas

de construção superiores a 300m², cujas atividades quase sempre são formalizadas;

• Construtores de novas residências, tanto aquelas de maior porte, em geral

formalizadas, quanto as pequenas residências de periferia, quase sempre auto-

construídas e informais.

A Figura 2.2 informa a média de resíduos RCD gerada em alguns municípios

brasileiros diagnosticados por PINTO (2005).

Figura 2.2 – Origem do RCD em algumas cidade brasileirasFonte: I&T Informações e Técnicas

Observa-se que a maioria, 59%, da origem do RCD são reformas, ampliações e

demolições de edificações.

Para (PINTO et. al., 2005), atingir uma estimativa segura do volume de RCD gerado

no município, o método sugerido é somar três indicadores:

• A quantidade de resíduos oriundos de edificações novas construídas na cidade,

num determinado período de tempo;

• A quantidade de resíduos provenientes de reformas, ampliações e demolições,

regularmente removida no mesmo período de tempo;

• A quantidade de resíduos removidos de deposições irregulares pela

municipalidade, igualmente no mesmo período.

34

Existe hoje um grande número de construtoras instituem sistemas de gerenciamento

em seus canteiros de obra. Há, ainda, um interesse expressivo de empreendedores

privados para a abertura de novos e rentáveis negócios nas atividades de triagem e

reciclagem. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006).

Em palestra proferida no Encontro Nacional de Reaproveitamento de Resíduos na

Construção (ENARC), realizado em Feira de Santana em Julho de 2009, PINTO,

(2009) apresentou os dados de que a geração dos resíduos é dividida, conforme

Figura 2.3, da seguinte maneira:

Figura 2.3 - Geração do RCD: Setores público e privado

Observa-se que o setor privado é responsável por 95% da geração do RCD, e o

setor público gera apenas 5% deste RCD.

Porém, no que tange à responsabilidade para a coleta desses resíduos a Figura 2.4

apresenta proporções diferentes.

Figura 2.4 – Coleta e transporte do RCD: Setores publico e privado

O que se pôde perceber é que o setor público gerencia 15% da coleta e do

transporte, ou seja três vezes a mais que sua geração. O setor privado é o gerador,

porém o setor público é o gestor de parte desses resíduos. Com esses números é

possível perceber também, que o problema da geração dos resíduos é grande parte

da esfera privada.

Foi apresentado por PINTO (2009), que na cidade de Ribeirão Preto 70% dos

resíduos gerados são reciclados e 30% vai para aterro monitorado. Esses níveis são

comparados com a realidade de países desenvolvidos, como a Holanda.

35

Portanto, para PINTO (2005) as soluções para a gestão dos resíduos da construção

e demolição nas cidades devem ser viabilizadas de um modo capaz de integrar a

atuação dos seguintes agentes:

• órgão público municipal – responsável pelo controle e fiscalização sobre o

transporte e destinação dos resíduos;

• geradores de resíduos – responsável pela observância dos padrões previstos na

legislação específica no que se refere à disposição final dos resíduos, fazendo sua

gestão interna e externa;

• transportadores – responsável pela destinação aos locais licenciados e

apresentação do comprovante da destinação.

2.4.2 Empresas coletoras e transportadoras

O entulho de construção é hoje uma atividade comercial estabelecida em grandes

cidades brasileiras, envolvendo as empresas contratadas por prefeituras para

recolher o entulho depositado irregularmente ou operar os aterros de resíduos;

empresas de tamanho variado que trabalham com o transporte de entulho utilizando

caminhões poliguindaste e caçambas, e também um grupo de transportadores

autônomos, que utilizam carroças e até carrinhos de mão (BRITO FILHO, 1999).

Em meados dos anos 90, teve início o crescimento de empresas coletoras

autônomos prestando serviços de remoção dos resíduos de construção. Em muitas

cidades, houve forte presença das caçambas metálicas estacionárias removidas por

caminhões equipados com poliguindaste, que, em alguns casos, respondem pela

remoção de 80% a 90% do total de resíduos gerados. Em outros municípios, ocorre

o predomínio de caminhões com caçambas basculantes ou com carrocerias de

madeira e, também, de carroças de tração animal, às vezes centenas, constituindo-

se, nestes casos, em agentes de grande importância e que não podem ser

desprezados na nova política de gestão (PINTO et. al., 2005).

36

A indústria da construção civil, formal e informal, é o maior empregador do país - 4

milhões de empregos diretos e 12 milhões de empregos indiretos em 2005, cuja

economia representa cerca de 15% do PIB nacional (SINDUSCON-SP, 2005 apud

SANCHES, 2004). E a indústria da limpeza urbana, mais consolidada que a indústria

da construção empregou também em 2005, cerca de 400.000 pessoas (ABRELPE,

2005 apud SANCHES, 2004). Ambas as indústrias são dois gigantes da economia

urbana no Brasil e, no entanto, para viabilizar qualquer sistema de gerenciamento de

RCD dependem, fortemente, das operações de dezenas ou centenas de pequenas e

micro empresas coletoras e transportadoras de entulho (SANCHES, 2004).

A complexidade da gestão dos resíduos de construção é evidenciada pela ação de

legisladores e tomadores de decisão das políticas públicas, que desconhecem as

características da indústria de coleta e transporte do entulho de construção, ponto

crucial de todo o sistema, e assumem que o instrumento legal, por si só é suficiente

para a gestão integrada dos RCD (JADOVISCK, 2005).

Dessa maneira, entender o papel das empresas de coleta e transporte de entulho no

sucesso da implantação e consolidação de um sistema de gestão de resíduo de

construção é uma tarefa indispensável. Os bota-foras clandestinos surgem

principalmente da ação dessas empresas transportadoras dos resíduos das obras

de maior porte e que descarregam os materiais de forma descontrolada, em locais

freqüentemente inadequados para esse tipo de uso e sem licenciamento ambiental

(JADOVISCK, 2005).

Em grande número de casos, contudo, há consentimento — tácito ou explícito —

das administrações locais. (PINTO et. al., 2005).

Porém, grande parte das deposições irregulares resultam na maioria das vezes de

pequenas obras ou reformas realizadas pelas camadas da população urbana mais

carentes de recursos, freqüentemente por processos de autoconstrução, e que não

dispõem de recursos financeiros para a contratação dos agentes coletores formais

que atuam no setor. Colabora fortemente para a degradação ambiental resultante

dessas deposições irregulares a atuação dos pequenos veículos coletores com

baixa capacidade de deslocamento, dentre os quais se destacam as carroças de

tração animal (PINTO et. al., 2005).

37

Pelo descaso com disposição de RCD em encostas e outros locais inadequados é

visto que os agentes responsáveis pelo descarte de resíduos não estão

preocupados com os custos sociais que a atividade representa para as cidades

(JADOVISCK, 2005).

É importante notar ainda que, com grande freqüência, as deposições descontroladas

de RCD provocam uma atração praticamente irresistível para o lançamento

clandestino de outros tipos de resíduos não inertes, de origem doméstica e

industrial, acelerando sua degradação ambiental e tornando ainda mais complexa e

cara a possibilidade de sua recuperação futura (PINTO et. al, 2005).

2.5 GESTÃO DO RCD EM ALGUMAS CIDADES BRASILEIRAS

Municipalizar a gestão ambiental significa administrações municipais estruturem-se

para a implantação e aperfeiçoamento de um sistema próprio de controle ambiental,

que envolva os aspectos legais, institucionais, técnicos e operacionais, de modo a

atender às exigências de uma ação eficiente e eficaz no trato das questões

ambientais (SOUZA, 2002).

Para SANCHES (2004), a primeira dificuldade na elaboração de políticas públicas

voltadas à gestão de resíduos sólidos é a não vinculação do órgão responsável pela

limpeza pública a uma secretaria executora das funções de planejamento urbano e

ambiental.

A partir de 2002 destacou-se no Brasil o estabelecimento de políticas públicas,

normas, especificações técnicas e instrumentos econômicos, voltados ao

equacionamento dos problemas resultantes do manejo inadequado dos resíduos da

construção civil. Este conjunto de políticas, normas e instrumentos econômicos,

apresentados anteriormente no item 2.5, colocam o país em destaque entre os

situados no Hemisfério Sul. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006).

38

A inexistência de políticas ambientais adequadas á gestão do RCD é uma realidade

na maioria dos municípios brasileiros. Geralmente, os pequenos volumes gerados

pela atividade informal de reformas e construções de pequeno porte são

depositados em terrenos baldios, passeios, logradouros públicos, encostas, dentre

outros locais de forma clandestina e indiscriminada. Os volumes maiores são

vendidos por agentes terceirizados como matéria-prima para aterros, depositados

em bota-foras, em pedreiras desativadas e terrenos mais afastados de centros

urbanos (PINTO, 1999).

Informações gerais sobre iniciativas de municípios brasileiros estão apresentadas na

Tabela 2.1, levantada pelo Ministério das Cidades, abrangendo na coleta de dados

informações sobre Plano de Gestão, Legislação específica, Pontos de Entrega para

pequenos volumes, Áreas para manuseio de grandes volumes, tanto públicas

quanto privadas.

Tabela 2.1 – Informações gerais sobre a gestão de RCD em alguns município brasileiros

Município

Plano de Gestão

Desenvolvido

Legislação Específica Aprovada

Pontos de Entrega para

Pequenos Volumes

Áreas Privadas para

Manejo de Grandes Volumes

Áreas Públicas para

Manejo de Grandes Volumes

Araraquara/SP Sim - Sim - -

Belo Horizonte/MG

Sim - Sim Sim Sim

Brasília/DF - - - - Sim

Campinas/SP - - - - Sim

Curitiba/PR - Sim - - -

Diadema/SP Sim Sim Sim - -

Fortaleza/CE - - - Sim -

Guarulhos/SP Sim - Sim Sim Sim

Joinville/SC Sim Sim - Sim -

Jundiaí/SP - - - Sim -

Lages/SC - Sim - - -

Londrina/PR - - - - Sim

Maceió//AL - - Sim - -

Piracicaba/SP Sim - Sim - Sim

39

Ponta Grossa/RS - - - Sim -

Ribeirão Pires/SP Sim - Sim - Sim

Ribeirão Preto/SP

- - - - Sim

Rio de Janeiro/RJ - Sim Sim - -

Salvador/BA Sim - Sim - -

Santo André/SP - - Sim - -

S. Bernardo/SP - - - Sim -

São Carlos/SP - - Sim - Sim

S. Gonçalo/RJ - - - - Sim

São José R. Preto/SP

Sim Sim Sim Sim Sim

São José Campos/SP

- - - - Sim

São Paulo/SP Sim Sim Sim Sim -

Socorro/SP - - - Sim -

Uberlândia/MG - Sim Sim -

Vinhedo/SP - - - - Sim(*) Informações sujeitas a atualização

Fonte: MINITÉRIO DAS CIDADES, 2006.

Foi observado pelo Ministério das cidades, até o ano de 2006, somente a cidade de

São José do Rio Preto atende a todas características levantadas para caracterizar a

gestão do RCD no município.

Na Tabela 2.2 é apresentado as usinas de beneficiamento de RCD , publicado por

MIRANDA et. al. (2009).

Tabela 2.2 – Usinas de Reciclagem no país em Novembro de 2008

40

Fonte: MIRANDA, 2009.

MIRANDA et. al. (2009), coloca que após a resolução CONAMA 307, e exemplos de

gestão pública bem sucedidas como em Belo Horizonte houve crescimento no

número de usinas no país. Porém, para MIRANDA et. al. (2009), apesar da

quantidade de usinas ter aumentado a capacidade brasileira potencial de produção

de agregados reciclados está muito abaixo da geração de RCD em todo o país. Se

for considerado que todas as usinas brasileiras em operação ou em fase de

41

instalação estão reciclando RCD em sua capacidade nominal, teríamos a estimativa

de que somente 3,6% do RCD produzido no país estariam sendo reciclado.

2.5.1 São Paulo

Na cidade de São Paulo o Plano Integrado de Gerenciamento dos Resíduos da

Construção está em implantação. Existe um bom número de instalações públicas

para o recebimento de pequenos volumes (Pontos de Entrega - EcoPontos), como

visto na Figura 2.5. Consta também de uma Área de Reciclagem pública, diversas

Áreas de Reciclagem privadas e Aterros, varias Áreas de Transbordo e Triagem

privadas, e uma portaria do executivo (Port. 6787/2005) que institui a Licença

Especial a Titulo Precário (LETP), para a agilização do processo de licenciamento

das Áreas de Transbordo e Triagem (ATTs) privadas, consideradas como essenciais

(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006).

Entre 1993 e 2002, o aterro Itatinga e posteriormente o aterro Itaquera, em São

Paulo receberam da coleta pública coletiva 8.238.019 toneladas de RCD removidos

de vias e logradouros públicos (PASQUALOTTO FILHO et. al, 2007). Estudos

realizados pelo Departamento de Limpeza Urbana de São Paulo (LIMPURB – SP)

adotou o índice de 0,50 ton/hab/ano para a geração de RCD na zona urbana,

considerando um ano de 313 dias úteis. Assim sendo, considerando que em 2003

viviam 10,5 milhões de habitantes, estima-se que foram gerados durante este ano,

em São Paulo, aproximadamente 5,2 milhões de RCD, ou 16 mil toneladas por dia

(SCHNEIDER, 2003 apud PASQUALOTTO FILHO et. al, 2007).

42

Figura 2.5 – Local de deposição de material pela população no município de São PauloFonte: Ministério das Cidades, 2006.

De acordo com PASQUALOTTO FILHO et. al, (2007) no município de São Paulo,

atualmente o que acontece com o entulho é algo vergonhoso; esquinas

abandonadas ou terrenos baldios da periferia ou marginais da cidade são destinos

certos para a grande parte das toneladas de RCD produzidos diariamente.

Para PASQUALOTTO FILHO et. al, (2007), pode-se resumir que duas estratégias

operacionais destacam-se e norteiam as ações da administração municipal no

enfrentamento da deposição irregular de RCD:

• a remoção dos RCD de vias e logradouros públicos submetidos à contínua

deposição irregular;

• a atração dos RCD pela oferta de áreas públicas adequadas para a deposição

gratuita de grandes massas.

Cerca de 75% dos resíduos gerados pela construção nos municípios provêm de

eventos informais (obras de construção, reformas e demolições, geralmente

realizadas pelos próprios usuários dos imóveis). O poder público municipal deve

exercer um papel fundamental para disciplinar o fluxo dos resíduos, utilizando

instrumentos para regular especialmente a geração de resíduos provenientes dos

eventos informais (PINTO, 2005).

Diante da situação caótica de disposição dos resíduos nas cidades, o poder

público municipal atua, freqüentemente, com medidas paliativas, realizando

serviços de coleta e arcando com os custos do transporte e da disposição

final. Tal prática não soluciona definitivamente o problema de limpeza

urbana por não conseguir a remoção da totalidade dos resíduos. Ao

43

contrário, incentiva a continuidade da disposição irregular nos locais

atendidos pela limpeza pública da administração municipal (PINTO, 2005).

Devido aos encaminhamentos das ações a cerca da gestão dos resíduos da

construção em São Paulo, foi definido a obrigatoriedade do uso de agregados

reciclados em obras públicas, através do Decreto 48.075 / 2006, no seu Art. 1°,

parágrafo 1°. Na figura 2.6 é mostrada uma imagem de uma usina de

beneficiamento em São Paulo, produzindo agregados reciclados de RCD.

Figura 2.6 – Usina de reciclagem de entulho na cidade de São PauloFonte: Ministério das Cidades, 2006.

Em São Paulo o Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado de São

Paulo (SINDUSCON-SP) participa da elaboração de legislações e normatizações

ambientais, buscando soluções adequadas nas esferas federal, estadual e

municipais e age como agente facilitador para a implantação das soluções propostas

(PINTO, 2005).

Este órgão publicou um manual como resultado do “Programa de Gestão Ambiental

de Resíduos em Canteiros de Obras”, uma iniciativa do SindusCon-SP que contou

com a assessoria das empresas I&T – Informações e Técnicas e Obra Limpa

Comércio e Serviços Ltda. e que, em caráter experimental, implantou uma

metodologia para gestão de resíduos em canteiros de obras de 11 construtoras, no

período de Janeiro de 2003 a Agosto de 2004. O Projeto tem como objetivos, a

exemplo dos Sistemas de Gestão da Qualidade aplicados por grande parte das construtoras, o Programa de Gestão

Ambiental de Resíduos em Canteiro de Obras é um método que parte igualmente do desenvolvimento de um

planejamento (PINTO, 2005).

44

De acordo com o autor, PINTO (2005) as construtoras participantes do grupo-piloto conseguiram no experimento

facilmente incorporar aos procedimentos operacionais os novos conceitos ambientais da metodologia — como buscar a

redução de desperdícios, eliminando-os quando possível, promover a segregação dos materiais para reutilização no

próprio canteiro, encaminhar os resíduos para reciclagem ou dar destinação compromissada para as áreas licenciadas com

a utilização de transportadores (caçambeiros) credenciados.

A opinião do autor sobre o projeto é que,

Para um projeto experimental, o Programa de Gestão Ambiental de

Resíduos em Canteiros de Obras apresentou resultados surpreendentes em

pesquisa que uma empresa especializada independente aplicou nas

construtoras participantes do grupo-piloto, abordando um universo amplo de

pessoas envolvidas. A pesquisa constatou no grupo entrevistado um alto

grau de sensibilização, conscientização e interesse pelo assunto. Percebeu-

se uma expressiva redução de resíduos gerados, embora a quantificação

nos canteiros não estivesse ainda sistematizada. [...] A implantação do

programa proporcionou uma interessante redução dos custos operacionais

das obras, ao contrário do que alguns previam (PINTO, 2005).

A exemplo dos Sistemas de Gestão da Qualidade, aplicados por grande parte das

construtoras, o Programa de Gestão Ambiental de Resíduos em Canteiro de Obras é

um método que parte do desenvolvimento de um planejamento — fundamental na

concepção do programa e suas respectivas diretrizes (reuniões iniciais,

cronogramas de atividades e provisionamento de recursos (PINTO, 2005).

Para um projeto experimental, o Programa de Gestão Ambiental de Resíduos em

Canteiros de Obras apresentou resultados em pesquisa que constatou no grupo

entrevistado um alto grau de sensibilização, conscientização e interesse pelo

assunto. Percebeu-se uma expressiva redução de resíduos gerados, embora a

quantificação nos canteiros não estivesse ainda sistematizada. Concluiu-se, enfim,

que a implantação do programa proporcionou uma interessante redução dos custos

operacionais das obras, ao contrário do que alguns previam (PINTO, 2005).

45

2.5.2 Belo horizonte

Existem 23 pontos de entrega, designados como - Unidades para o Recebimento de

Pequenos Volumes (URPV), duas Áreas de Reciclagem, uma área para produção

de artefatos para a construção e uma Área de Transbordo e Triagem privada

(MINISTÉRIO DAS CIDADE, 2006).

A formulação de normas pelo poder municipal de Belo Horizonte revela a iniciativa e

orientação política que procurou incorporar nas suas práticas de gestão de resíduos

as determinações da Resolução nº. 307 do CONAMA, como revela o coordenador

do programa de reciclagem de entulho:

“[...] essa 307 ela foi inspirada também aqui no programa de

reciclagem de entulho. Então, se nós pegarmos a 307, eu digo

tranquilamente que 80% dela já existe em Belo Horizonte desde 95”.

(Relato de Entrevista, apud SILVA, 2005).

De acordo com SILVA (2005) para cumprir os dispositivos legais definidos pela

referida resolução, o poder público municipal vem formulando e implementando uma

política municipal de gestão integrada dos resíduos da construção civil. Essa política

envolve:

• Regulamentação da Política Municipal de resíduos da construção civil;

• Plano Integrado de Gerenciamento dos resíduos da construção civil;

• Projetos específicos de gerenciamento dos resíduos da construção civil.

Essa política pública municipal pauta-se nos seguintes princípios e diretrizes:

• criação de uma infra-estrutura urbana de coleta, triagem e reciclagem de

resíduos da construção civil, contribuindo, assim, para a redução das deposições

clandestinas que impactam o meio ambiente;

• promover a formação de parcerias entre diversos atores (públicos e privados)

pautadas na confiança e na cooperação, com vistas a melhorar a eficiência do

processo de gestão dos resíduos, reduzir os custos de operação;

46

• promover a inclusão social por meio da geração de emprego e renda, levando-

se em consideração o processo de destinação e reciclagem de resíduos da

construção civil que sejam compatíveis ambientalmente.

Em 1996, foi criada a Lei nº. 7.165, de 27 de agosto de 1996, que institui o Plano

Diretor do município de Belo Horizonte com a criação do projeto Correção Ambiental

e Reciclagem com Carroceiros. Em 1997, esses trabalhadores começaram a ser

organizados pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e incentivados a criarem

associações. Por meio desse projeto, o carroceiro passou a integrar o Programa de

Correção Ambiental das Deposições Clandestinas e Reciclagem de Entulho. Com a

estimativa de cerca de 5.000 carroceiros em Belo Horizonte como observado na

Figura 2.5, onde pelo menos 2.500 participam das associações. Foi criado pela Lei

8.093, de 26 de setembro de 2000, o Dia Municipal do Carroceiro como forma de

reconhecimento deste importante serviço e também estímulo para esses

trabalhadores, muitas vezes discriminados pela sociedade:

“Art. 1º - Fica instituído o Dia Municipal do Carroceiro, a ser comemorado no

primeiro domingo de setembro. Art. 2º - O Executivo incentivará a

comemoração da data, promovendo o Encontro Municipal dos Carroceiros”.

(Belo Horizonte, 2000 apud SILVA, 2005).

Figura 2.7 - Local de deposição de material pela população no município de Belo HorizonteFonte: Ministério das Cidades, 2006.

Devido a tais ações pelo poder público o município de Belo Horizonte é pioneiro na

implantação de política pública para gestão dos resíduos, com os processos de

gestão iniciado em 1993.

A reciclagem dos resíduos em Belo Horizonte também é pioneiro no Brasil. As

usinas de beneficiamento de RCD estão atuando na cidade de Belo Horizonte desde

47

o ano de 1994, de propriedade da prefeitura e em operação até este ano. Ver figura

2.8.

Figura 2.8 - Usina de reciclagem de entulho na cidade de Belo HorizonteFonte: Ministério das Cidades, 2006.

O Programa de Reciclagem de Entulho da Prefeitura de Belo Horizonte possui como

sistema de beneficiamento duas estações de reciclagem de entulho, localizadas no

bairro do Estoril, na Pampulha e CTRS-BR 040. Em conjunto as estações receberam

em 2003, 97.760m³ (117.312 ton/ano) de entulho, numa média de 9.776 ton/mês

(CUNHA JÚNIOR, 2005).

De acordo com CUNHA JÚNIOR (2005) o material reciclado tem sido utilizado pela

Prefeitura de Belo Horizonte em obras de manutenção de instalações de apoio à

limpeza urbana, em obras de via pública e ainda em obras de infra-estrutura em

vilas e favelas.

Foi elaborada por CUNHA JÚNIOR (2005) uma cartilha para o gerenciamento dos

resíduos sólidos para a construção civil, com o objetivo de prover informações para

as empresas da cadeia produtiva da construção no município de Belo Horizonte para

o gerenciamento de resíduos da construção, conforme resolução CONAMA 307,

contribuindo para redução do impacto causado pelo setor ao meio ambiente.

De acordo com essa cartilha as diretrizes a serem alcançadas pelo setor,

preferencialmente em ordem de prioridade:

• Reduzir os desperdícios e o volume dos resíduos gerados;

• Segregar os resíduos por classe e tipo;

48

• Reutilizar materiais, elementos e componentes que não necessitem de

transformações;

• Reciclar os resíduos, transformando-os em matéria-prima para a produção de

novos produtos.

De acordo com CUNHA JÚNIOR (2005) dentre as vantagens da redução de geração

de resíduos tem-se a diminuição do custo de produção, de contaminação do meio

ambiente e de gastos com a gestão dos resíduos.

Vale ressaltar que se faz necessário uma mudança de cultura junto a todos

os envolvidos no processo da construção, evidenciando a importância da

preservação do meio ambiente em que vivemos (CUNHA JÚNIOR, 2005).

A cartilha propõe uma metodologia de implantação denominada “Produção + limpa”,

que consiste em um programa de aplicação de uma estratégia econômica, ambiental

de técnica, integrada ao processo e ao produto,a fim de aumentar a eficiência do

uso da matérias-primas, água e energia, através da não geração, minimização ou

reciclagem dos resíduos gerados, com benefícios ambientais e econômicos para o

processo produtivo (CUNHA JÚNIOR, 2005).

A cartilha prevê uma ação social denominada “Brechó da Construção”, a qual

objetiva incentivar a reinserção dos resíduos reutilizáveis e recolher materiais

aproveitáveis que sobram e não serão mais utilizados nas obras. Estes materiais

serão recolhidos no local de doação para serem classificados, armazenados e

encaminhados para famílias de baixa renda.

2.5.3 Salvador

A LIMPURB, Empresa de Limpeza Urbana da cidade de Salvador, desenvolveu no

ano de 1997, uma proposta de resolução das condições inadequadas no trato das

questões dos resíduos gerados na construção civil. As linhas de ação contempladas

pelo projeto definem um Sistema Integrado de Manejo e Tratamento de Resíduos

49

Sólidos de Salvador, esperando-se assegurar melhores condições sanitárias,

funcionais, estéticas, ambientais e de custo, os quais deveriam contribuir para

estabelecer um novo padrão de qualidade de vida na cidade (LIMPURB, 1997).

Em Salvador foi coletado no ano de 2008 cerca de 600.000 toneladas de resíduo de

construção, representando 38% de todo lixo coletado na capital, essa média é

aproximadamente igual à média nacional, que chega a 40% (Relatório semestral

LIMPURB, 2008). Grande parte desse entulho é disposto em pontos de descarte

aleatórios na cidade.

O cenário indica a necessidade de adoção de medidas que venham corrigir os

problemas gerados pelo descarte inadequado de entulho, buscando melhorias para

o ambiente urbano. O modelo se baseia na descentralização do tratamento e destino

final do entulho através da implantação de áreas com a finalidade de receber, tratar

e reciclar o entulho da cidade. Essas áreas receberam o nome de Postos de

Descarga de Entulho (PDE) (Figura 2.10) e Bases de Descarga de Entulho (BDE),

cujo objetivo é transformar o descarte clandestino de entulho na cidade, em

deposição correta, através da adoção de uma política ordenadora que busque a

remediação da degradação ambiental gerada; maximização do reaproveitamento, da

reciclagem e da redução da geração dos RCD (LIMPURB, 1997).

50

a) b)

c)

Figura 2.9 - Postos de Descarga de Entulho (PDE) em Salvador a) Rua Sérgio de Carvalho, Federação; b) Rua Wanderley de Pinho, Itaigara; c) Av. San Martin, Retiro.

Os Postos de Descarga de Entulho podem receber até 2m³ de entulho, que disposto

temporariamente depois são transportados para a Base de Descarga de Entulho, a

qual foi projetado para receber o resíduo do grande gerador e os volumes coletados

nos PDE’s.

No Plano de Gestão Diferenciada, foram previstas 17 (dezessete) áreas espalhadas

pela cidade, para implantação dos Postos de Descarga de Entulho (PDE), porém,

hoje encontram-se em funcionamento apenas 5 (cinco). Três dessas unidades

podem ser vistas na Figura 2.9.

Nos três pontos visitados foi observado falta de sinalização identificando o local

como um Postos de Descarga de Entulho além do desconhecimento por parte da

população local da existência de uma unidade de recebimento.

51

a) b)

c)

Figura 2.10 – Postos de Descarga de Entulho (PDE) em Salvador a) Rua Sérgio de Carvalho, Federação; b) Rua Wanderley de Pinho, Itaigara; c) Av. San Martin, Retiro.

O pequeno gerador, que não possui informação sobre os PDE’s, deposita

inadequadamente os RCD em vários locais indevidos. Esse cenário é visto

cotidianamente nas ruas da cidade de Salvador.

Em Salvador o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), possui o

Programa de Gestão de Resíduos da Construção Civil, como um dos resultados do

Projeto Competir, oriundo de um acordo de cooperação técnica entre os governos

do Brasil e da Alemanha. O trabalho produzido, “Gestão de Resíduos na Construção

Civil: Redução, Reutilização e Reciclagem”, foi preparado como um instrumento de

consulta dando informações de forma prática sobre os aspectos relacionados à

construção civil buscando a melhoria da qualidade e da competitividade de

empresas de pequeno e médio porte do Nordeste, como citado por (LÔRDELO et

al., 2007).

O trabalho apresenta uma metodologia baseada na segregação dos resíduos no

canteiro, de forma a reaproveitá-los ou conduzi-los à destinação adequada, obtendo

como resultados parciais do programa a limpeza e organização da obra, segregação

52

e destinação ambientalmente responsáveis dos resíduos, controle do transporte e

disposição final (LÔRDELO et.al., 2007).

Os resíduos gerados classe A, são encaminhados para o aterro de Canabrava; os

resíduos classe B para as cooperativas de coleta,; os resíduos C e D foi buscada

solução com os produtores. Para o gesso é pensado o retorno do material para o

produtor, porém o volume gerado não justifica o transporte do material. Para os

utensílios contaminados com tintas, a sugestão é incineração destes; as sobras de

material de impermeabilização são devolvidos ao fabricante.

Em Salvador a área para o recebimento do entulho está se esgotando, havendo a

necessidade de se tratar o resíduo das classes A, para que a reciclagem e posterior

utilização deste seja economicamente viável, tornando este produto mais barato que

o agregado natural. Essa idéia ainda está distante da realidade de Salvador já que

os custos com transportes de agregado natural não são onerosos, pois ainda

existem jazidas na região metropolitana da capital, deixando este agregado bastante

competitivo.

Um grande passo para o Estado da Bahia foi apresentado no ENARC (2009), pela

Secretaria de Desenvolvimento Urbano, que será a implantação de uma usina de

beneficiamento de RCD na cidade de Camaçari. Esta usina terá como objetivo

atender para obras públicas estaduais com políticas de gestão ambiental, geração

de emprego e renda e produção de materiais de menor custo.

2.5.4 Feira de Santana

Em Feira de Santana a legislação ambiental é a Lei N° 1.612/92, código do Meio Ambiente

não traz referências específicas nas questões dos resíduos da construção civil em nenhum dos

seus parágrafos.

A Central de Recepção de Podas, Entulhos e Recicláveis (CEPER) foi a primeira a

ser implantada na cidade de Feira de Santana, Figura 2.11. Sua localização em um

53

ponto estratégico no bairro do Ponto Central deve-se à alta incidência de deposições

clandestinas na localidade. Dessa forma o CEPER apresenta-se como um receptor

oficial de pequeno porte (LEITE et. al., 2005).

Figura 2.11 – CEPER - Central de Recepção de Podas, Entulhos e Recicláveis

Foi realizado um estudo por LEITE et. e al. (2005) com o CEPER como epicentro de

uma circunferência de raio igual a 1Km, definindo uma área de 3,14km², com

cadastramento de pontos de descarga clandestina de entulho. Foi observado uma

grande incidência de deposição clandestina no entorno do CEPER. Os dados

demonstraram a falta de informação da população a respeito do CEPER como

agente receptor legalizado, indicam também um elevado grau de atividade da

construção civil informal na área de estudo. A alta incidência de deposições

clandestinas em terrenos baldios significa um grande problema para as prefeituras,

responsável pela limpeza pública, que são obrigadas a realizar limpeza desses

locais (LEITE et. al., 2005).

Dentre os danos provocados pela deposição clandestina do RCD, identificado por

LEITE et. al., (2005), foram riscos de acidente, impedimento de trânsito, obstrução

de passeio que modificam a rotina de pedestres e veículos, criam ambientes

propícios à criminalidade. Formação de depósito de Resíduos Sólidos Municipais

(RSM) quando depositados em terrenos baldios, causando mau cheiro e insetos e

animais peçonhentos que se transformam em vetores de doença.

Em Feira de Santana o CEPER foi um marco inicial para implantação de um sistema

de coleta diferenciada. Contudo no que tange ao RCD há a necessidade de planos

de gestão mais específicos que envolvam a sua reutilização. A geração do RCD tem

proporções iguais ou superiores ao volume de RSM e os impactos gerados pela sua

54

deposição levam a concluir que a melhor forma de tratar este resíduo é buscar

formas alternativas para sua reutilização (LEITE et. al. 2005).

Em visita ao local observou-se a existência de nova área de deposição de entulho

próximo ao CEPER, atrás da feira da avenida João Durval Carneiro, já identificado

no trabalho de LEITE et. al. (2005) como área de deposição clandestina, Figura

2.12. Este local é alternativo devido ao grande volume de entulho gerado na cidade,

porém não atende aos requisitos de gerenciamento de RCD previsto aos municípios.

Figura 2.12 – Área alternativa para deposição de RCD, próximo ao CEPER

55

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir são apresentados dados sobre as visitas técnicas e entrevista realizadas

em quatro construtoras de Feira de Santana que possuem gestão de Resíduos da

Construção Civil.

3.1 ETAPA I - IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

O Programa de Gerenciamento dos Resíduos da Construção Civil - PGRCC deve

ser desenvolvido no sentido das empresas se adequarem às determinações feitas

pela resolução CONAMA Nº 307/2002.

Foi questionado aos entrevistados, com cargos de responsabilidade de manutenção

do programa, se estes têm conhecimento que o programa deve ser implantado para

a adequação da resolução CONAMA 307. OS entrevistados das quatro empresas

responderam que são cientes das fundamentações teóricas que o programa abriga e

demonstraram que possuem consciência ambiental.

Dentre as etapas para instalação do programa, a primeira ação comum entre as

empresas I, II e III é a reunião inicial com o corpo técnico da obra. Essa reunião

conta com a presença do engenheiro, mestre, encarregados, técnico de segurança

do trabalho, almoxarifado, responsável pela qualidade, estagiários de engenharia. A

abrangência nessa reunião envolve sensibilização quanto aos impactos ambientais

causados pelas atividades de construção; demonstração do modo como as novas

diretrizes da ICC estabelecem um novo processo de gerenciamento de resíduos; e

esclarecimentos das implicações no dia-a-dia da obra decorrente da implantação de

uma metodologia de gerenciamento de resíduos.

O treinamento com o corpo operacional tem como objetivo central a capacitação

para as atividades diárias do programa. Os treinamentos com a mão-de-obra

56

ocorrem de forma parecida nas quatro empresas entrevistadas, acontecendo aliado

às atividade de segurança do trabalho e gestão de qualidade.

Foi feito nas quatro empresas treinamento inicial com o corpo colaborador, com

duração de 1 hora à 1 hora e 30 minutos. A manutenção e fixação das informações

é feita por meio de treinamentos semanais, realizados no campo com duração de 5 -

15 minutos.

A empresa III tem o cuidado de realizar treinamento no momento em que o novo

funcionário chega à obra, para que este se adéqüe às rotinas de segregação dos

resíduos.

O treinamento para a educação ambiental da mão-de-obra foi colocado pela

empresa I como se estivessem “começando do zero” pois seus funcionários não

possuíam informações sobre meio ambiente. De acordo PUCCI (2006) o funcionário

treinado por um PGRCC tem facilidade de se inserir no mercado, pois as empresas

terão que se adaptar a questão ambiental, assim o funcionário que conhece sobre

gestão ambiental estará melhor colocado pelo seu aperfeiçoamento profissional.

Com base nas informações encontradas nos planejamentos os PGRCC’s das

empresas I, II e III incluem em sua documentação uma planilha que define um “Fluxo

de Resíduos”. É abordado nessa planilha o tipo de resíduo, a quantidade,

acondicionamento inicial, transporte interno, acondicionamento final no canteiro,

transporte externo e destino final; essas definições são adaptáveis ao longo dos

processos de implantação.

É pensando, nesta etapa, nos equipamentos a serem utilizados, formas de

transporte da retirada dos resíduos do canteiro, quantificando os investimentos

necessários e levantando os ganhos com os materiais que poderão ser vendidos ou

reciclados. Porém, não foi levantado por nenhum entrevistado a ocorrência dessa

rotina na implantação do PGRCC.

Do planejamento, o passo seguinte é a tomada de ações práticas — a implantação,

concentrando o foco na informação, no treinamento e na capacitação das pessoas

envolvidas. Faz-se, então, o acompanhamento da evolução do processo por meio de

57

relatórios ou check-lists. Finalmente, as avaliações efetuadas redirecionam a tomada

de ações corretivas e retroalimentam o sistema de gestão (PINTO, 2005).

3.2 ETAPA II – ATIVIDADES NO CANTEIRO

De acordo com parágrafo 9° da resolução CONAMA n° 307/2002 os Projetos de

Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil deverão contemplar as etapas de

caracterização, triagem, acondicionamento, transporte e destinação final.

O Quadro 3.1 apresenta a caracterização e triagem encontradas nas empresas

visitadas, em função da classe de resíduo gerado.

Quadro 3.3 - Condições de caracterização e triagem dos resíduosEMPRESA I EMPRESA II EMPRESA III EMPRESA IV

Classe Classe Classe ClasseA B C D A B C D A B C D A B C D

Caracterização x x x x x x x x x X x x x xTriagem x x x x x x x x x X x x x x

Observou-se que a empresa IV é a única que não caracteriza e faz a segregação

dos resíduos classe C e D. Os resíduos de gesso não são gerados na obra visitada

e os resíduos perigosos são destinados no lixo comum.

As demais condições previstas são o acondicionamento, transporte e destino final. O

acondicionamento deve garantir o confinamento dos resíduos após a geração até a

etapa de transporte, assegurando condições de reutilização e de reciclagem.

A forma de transporte dos resíduos é comum às quatro empresas visitadas. Para os

resíduos classe A e C, utiliza-se veículo próprio para encaminhar os resíduos ao

aterro. Os resíduos que são doados ou comercializados são retirados da obra pelos

beneficiados e compradores.

58

3.2.1 Acondicionamento inicial no canteiro

A entrevista nas construtoras trouxe dados não abordados sobre o

acondicionamento dos resíduos gerados. Existe na empresas I, II e III um

acondicionamento inicial dos resíduos, perto da fonte geradora.

O acondicionamento inicial é feito no próprio local onde os resíduos são gerados

como visto na Figura 3.1.

a)

b) c)

Figura 3.13 - Segregação do resíduo na fonte. a) empresa I; b) empresa II, c) empresa III.

Devido ao fato do PGRCC da empresa I seguir a metodologia aplicada pelo SESI

seus procedimentos são conhecidos pela divulgação do trabalho de LÔRDELO et.

al. (2007). Tal trabalho sugere a colocação de um conjunto de bombonas para

acondicionamento dos resíduos no local da geração (Figura 3.1 a), na empresa I

está na entrada de uma unidade do condomínio, observado no Anexo A.

59

De acordo com LÔRDELO et. al. (2007), existem alguns dispositivos que podem ser

utilizados para acondicionamento de plásticos, madeiras, papéis e metais de

pequenas dimensões podendo ser bombonas, ou outro recipiente aberto e

resistente.

A empresa II posicionou as bombonas próximo à geração dos resíduos (figura 3.1b)

para segregação de aparas de tubo PVC (bombona vermelha) e aparas de madeira

(bombona preta), como observado no Anexo B.

A empresa III utiliza de recipiente de madeira para acondicionamento inicial dos

resíduos de plástico e matéria orgânica, por serem resíduos que não estão ligados á

etapa construtiva, sendo gerados pelos funcionários.

A seguir é apresentado no Quadro 3.2 as formas de acondicionamento inicial dos

resíduos encontradas nos canteiros de obra das empresas estudadas.

Quadro 3.4 - Acondicionamento inicial no canteiro

RESÍDUO Empresa I Empresa II Empresa III Empresa IV

Bloco de concreto, material cerâmico, argamassa

Pilhas *1 Pilhas Pilhas NO*3

Madeira Bombonas *2 Bombonas NO NOPlástico (embalagens,

tubulação)Bombonas Bombonas

Recipiente de Madeira

NO

Papel e papelão (embalagens) Bombonas BombonasRecipiente de

MadeiraNO

Metal (ferro aço, fiação, arame) Bombonas BombonasRecipiente de Madeira

NO

Gesso Pilhas Bombonas NO NOResíduos perigosos NO NO NO NO

*1Pilhas : Monte acumulado de material, formadas próximo ao local da geração.*2Bombonas: Recipiente plástico, produzido para conter substâncias líquidas, o qual depois de corretamente lavado e extraído sua parte superior pode ser utilizado como dispositivo para coleta*3NO: Não Ocorre uma segregação prévia na fonte geradora.

Cada funcionário após a realização de sua tarefa é responsável pelo recolhimento e

separação do resíduo gerado. Por isso os recipientes se localizam perto do local de

geração, sendo que a segregação deve acontecer imediatamente após a geração

dos resíduos, ainda na origem, para evitar a contaminação destes.

60

Os resíduos pesados ou de grandes dimensões, como os classe A e C são

acondicionados inicialmente em pilhas, também retiradas e transportadas para as

baias. Os resíduos perigosos devem ser dispostos diretamente nos locais destinos

para acondicionamento final.

Na empresa D não ocorre uma segregação prévia na fonte geradora dos resíduos. A

não segregação inicial dos resíduos implica na mistura destes, dificultando uma

posterior separação para o acondicionamento nas baias.

3.2.2 Acondicionamento Final no canteiro e Destinação Final

Segundo LÔRDELO et. al. (2007), o acondicionamento final dos resíduos deve ser

feito de modo a facilitar sua retirada e destinação final. Este acondicionamento deve

garantir que os resíduos continuem segregados mantendo as características

necessárias para a reciclagem.

Na definição do tamanho e local das baias, dispositivo utilizado para o

acondicionamento final dos resíduos, deve ser considerado volume e características

físicas dos resíduos e facilitação para a coleta. No decorrer da execução da obra as

soluções para o acondicionamento final podem variar, mas devem seguir os

mesmos requisitos.

Para o resíduo classe A, o acondicionamento final no canteiro é feito em baias nas

empresas I, III e IV. Na empresa II é destinada uma área aberta na qual o resíduo é

tratado para posterior reutilização. Esses locais podem ser observados na Figura

3.4.

61

a) b)

c) d)

Figura 3.14 - Deposição do resíduo classe A. a)empresa I; b) empresa II; c) empresa III; d)

empresa IV.

A seguir é apresentado o Quadro 3.3, apontando as condições encontrados para

acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos classe A, previstos

pela resolução CONAMA n° 307.

Quadro 3.5 – Condições de acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos Classe A

RESÍDUO CLASSE AAcondicionamento Transporte Destinação

EMPRESA IBaia própria, assegurando as possíveis condições de reutilização e reciclagem

Realizado por veículo próprio da empresa

A construtora destina no Aterro municipal.

EMPRESA IIÁrea destina para acondicionamento e beneficiamento do resíduo

Não retira do canteiro

A construtora reutiliza em camada de reaterro

EMPRESA IIIBaia própria, assegurando as possíveis condições de reutilização e reciclagem

Realizado por veículo próprio da empresa

A construtora destina no Aterro municipal.

EMPRESA IVBaia própria, assegurando as possíveis condições de reutilização e reciclagem

Realizado por veículo próprio da empresa

A construtora destina no Aterro municipal. Iniciativa de Reciclagem.

62

Sua reutilização é viabilizada por um processo artesanal, no qual os resíduos são

tratados e triturados com rolo compactador e pá-carregadeira, viabilizando sua

utilização para reaterro. Os resíduos são acumulados num volume suficiente para

ser beneficiado.

A empresa IV realizou reciclagem dos resíduos oriundos de argamassas como

agregado de argamassa de contra-piso, porém a atividade não teve prosseguimento

pois o beneficiamento era feito manualmente, não sendo viável economicamente

essa atividade por dispensar elevada carga-horária de funcionário não proporcional

ao valor gasto com o agregado natural.

Os resíduos classe A, componentes cerâmicos, argamassa e concreto são

encaminhado para o Aterro, sendo recebido pela empresa privada que realiza a

limpeza pública e é gestora do aterro municipal, a qual cobra R$7,5 por tonelada de

material depositada. A empresa gestora do aterro emiti comprovante de recebimento

para ser documentado como comprovação adequada desses resíduos.

De acordo com a resolução 307 do CONAMA, o aterro de resíduos da construção

civil é uma área onde serão empregadas técnicas de disposição de resíduos da

construção civil Classe A no solo, visando a reservação de materiais segregados de

forma a possibilitar seu uso futuro e/ou futura utilização da área, utilizando princípios

de engenharia para confiná-los ao menor volume possível, sem causar danos à

saúde pública e ao meio ambiente. Porém este trabalho não buscou estudar estas

áreas, que na cidade de Feira de Santana encontra-se sob responsabilidade de

empresa particular.

De acordo com a resolução CONAMA 307/2002, os geradores são responsáveis

pela destinação final dos resíduos, quando não é viável a reutilização dos resíduos

na própria obra. É necessário definir o local onde os resíduos serão depositados, a

tabela a seguir apresenta as soluções tomadas pelas empresas consultadas, dentro

das possibilidades existentes na cidade de Feira de Santana.

A seguir é apresentado o Quadro 3.4 apontando as condições encontradas para

acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos classe B, previstos

pela resolução CONAMA 307/2002.

63

Quadro 3.6 - Condições de acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos Classe B

RESÍDUO CLASSE BAcondicionamento Transporte Destinação

EMPRESA IBaias e BigBags*1 assegurando as possíveis condições de reutilização e reciclagem

Realizado pela cooperativa ou serviço que coleta o resíduo no canteiro

Cooperativas de catadores que reciclam papel e plástico; Madeira para panificadoras e metais para ferro-velho

EMPRESA IIBaias assegurando as possíveis condições de reutilização e reciclagem

Realizado pela cooperativa ou serviço que coleta o resíduo no canteiro

Cooperativas de catadores que reciclam papel e plástico; Metais para ferro-velho; Madeira reutilizada em outras obras

EMPRESA IIIBaias e Tonéis metálicos, assegurando as possíveis condições de reutilização e reciclagem

Realizado pela cooperativa ou serviço que coleta o resíduo no canteiro

Cooperativas de catadores que reciclam papel e plástico; Madeira para panificadoras e metais para ferro-velho

EMPRESA IVBaias assegurando as possíveis condições de reutilização e reciclagem

Realizado pela cooperativa ou serviço que coleta o resíduo no canteiro

Cooperativas de catadores que reciclam papel e plástico; Madeira para panificadoras e metais para ferro-velho

*1 – Big Bags – Sacos de ráfia que comportam até 1m³ de material num suporte de madeira.

A empresa IV não caracteriza e acondiciona os resíduos de plástico e papel de

acordo com a resolução 307 do CONAMA, porém a destinação destes acontece em

acordo a esta.

A Figura 3.3 mostra o acondicionamento encontradas nas empresas para metais e a

Figura 3.4 o acondicionamento da madeira nos canteiros.

a) b)

64

c)

Figura 3.15 - Baias de separação de metais. a) empresa I; b) empresa II; c) empresa III

Para os resíduos metálicos há a predominância de baias para acondicionamento

desse material, como visto na Figura 3.3. Dentre as formas de geração de resíduo

metálico temos sobra de aço para armadura, galões de tinta e fios para instalação.

a) b)

65

c) d)

Figura 3.16 – Acondicionamento final dos resíduos de madeira. a) empresa I; b) empresa II;

c) empresa III; d) empresa IV.

O papel e plástico gerado na obra é acondicionado em Big Bags na empresa I e em

baias na empresa II, e em Tonel pela empresa III, como visto na Figura 3.5.

66

a) b)

c)

Figura 3.17 - Acondicionamento de plástico e papel a) empresa I; b) empresa II; c)empresa III.

A retirada desses materiais do canteiro é feita pelas cooperativas, associações ou

pequenas empresas beneficiadas na compra ou recebimento dos materiais

recicláveis. O intervalo de tempo de uma coleta para outra desses produtos

recicláveis geralmente é grande, chegando até dois e três meses, acumulando

esses resíduos nos canteiros, sendo justificado pelas cooperativas que o volume

gerado em curtos períodos não compensa seu transporte.

Uma solução encontrada pela empresa C foi concentrar todos os resíduos

recicláveis de suas obras na sede da empresa, sendo o local de coleta dos agentes

recicladores, diminuindo o intervalo da coleta.

67

A seguir é apresentado o Quadro 3.5 apontando as condições para

acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos classe C, previstos

pela resolução CONAMA n° 307.

Quadro 3.7 Condições de acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos Classe C

RESÍDUO CLASSE CAcondicionamento Transporte Destinação

EMPRESA IBaia Realizado por

veículo próprio da empresa

A construtora destina no Aterro municipal.

EMPRESA IIBaia própria, assegurando as possíveis condições de reutilização e reciclagem

Realizado por veículo próprio da empresa

A construtora destina no Aterro municipal. Tentativa de reciclagem em blocos de concreto

EMPRESA IIIBaia Realizado por

veículo próprio da empresa

A construtora destina no Aterro municipal.

EMPRESA IV- - -

A empresa IV não possui tratamento e destinação adequada para seus resíduos

classe C.

Os resíduos de gesso são acondicionados em Baias pelas quatro empresas

entrevistadas. As baias nas empresas A e C podem ser vistas na Figura 3.6 a) e c).

A empresa B possui a baia com grandes dimensões e protegido de intempéries e

não tem contato com o solo, como visto na Figura 3.6 b). As empresas C e D não

tinham resíduo de gesso no momento de construção, porém a baia da empresa D já

estava construída, enquanto que a baia da empresa D, que será de madeira, ainda

não havia sido confeccionada.

68

a) b)

c)

Figura 3.18 - Acondicionamento do gesso, a)empresa I, b)empresa II e c)empresa C;

Os resíduos classe D, Resíduos perigosos, são materiais, instrumentos e

embalagens contaminados com tintas, solventes ou óleos e resíduo de amianto

(Resolução n° 348do CONAMA). A seguir é apresentado o Quadro 3.6, apontando

as condições para acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos

classe D, previstos pela resolução CONAMA n° 307.

Quadro 3.8 - Condições de acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos Classe C

RESÍDUO CLASSE DAcondicionamento Transporte Destinação

EMPRESA I- - -

EMPRESA IIBaia Não retira do canteiro Sem definição

EMPRESA IIITonel metálico Não retira do canteiro Sem definição

EMPRESA IV- - -

69

Não foi observado na empresa I o local para acondicionamento de resíduos

perigosos. A empresa IV não trata seus resíduos perigosos.

As empresas II e III estão buscando os serviços especializados em incineração de

resíduos. No mercado de Feira de Santana é cobrado em torno de R$ 800,00 por

tonelada de resíduo incinerado. Pelo fato de não ter decisão da destinação correta

os resíduos são acumulados nos canteiros.

A Figura 3.7 apresenta as formas de acondicionamento pelas empresas II e III dos

resíduos perigosos gerados por estas.

a) b)

Figura 3.19 – Acondicionamento de Resíduos Perigosos. a) empresa II e b) empresa III.

Foi observado, além do roteiro de entrevista que é relevante, nas empresas I, II e III

existe sinalização seguindo os padrões internacionais de cores, conforme resolução

275 do CONAMA. Para os resíduos classe A a cor utilizadas foi branco. Essa

sinalização pode ser observada nas imagens já apresentadas anteriormente. A

seguir é apresentada a Tabela 3.3 com a padronização das cores.

70

Tabela 3.3 - Padronização Internacional de Cores - Resolução 275 do CONAMACOR TIPO DE RESÍDUOAzul Papel/Papelão

Vermelho PlásticoVerde Vidro

Amarelo MetalPreto Madeira

Laranja Resíduos PerigososBranco Resíduos de serviço de saúdeRoxo Resíduos radioativos

Marrom Resíduos orgânicos

CinzaResíduo geral não reciclável ou misturado, ou

contaminado não passível de separaçãoFonte: LÔRDELO et. al. (2007).

Foi elaborado croquis dos canteiros visitados identificando os locais de disposição

dos resíduos, apresentados nos ANEXOS B, C, D e E deste trabalho.

A movimentação dos resíduos pode ser esquematizada conforme mostra a Figura

3.8.

Figura 3.20 – Movimentação dos resíduos da geração ao destino final.

3.3 ETAPA III - AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS

Foi pedido aos entrevistados que apontassem a vantagem principal em decorrência

à implantação do PGRCC. Os resultados são mostrados na Tabela 3.5.

71

Tabela 3.4 – Principal vantagem devido á implantação do gerenciamento dos resíduos

Principal vantagemEmpresas

I II III IVOrganização da Obra X X

Conscientização ambiental X X

Estes dados foram coletados junto aos entrevistados, porém como declarado pelo

entrevistado da empresa III, para a diretoria da empresa a principal vantagem da

implantação é o passo que se dá para a certificação da ISO 14001.

O entrevistado da empresa I, declarou que, apesar de não ser tão visível o programa

proporciona vantagens competitivas: “pois a empresa estaria como pioneira no

gerenciamento de resíduos na cidade de Feira de Santana, melhorando sua

imagem.” A imagem da construtora perante clientes, fornecedores e funcionários foi

melhorada em conseqüência da organização da obra, pois estes observam a

organização e limpeza dos canteiros. Além desse, para exemplificar a organização

alcançada, equipes de controle de endemias não encontraram nas obras da

empresa I focos de mosquito Aeds Egipt, demonstrando a limpeza dos canteiros.

A empresa B, por reutilizar os resíduos classe A, também considerou como positivo

esse aspecto.

Também foram levantados pontos críticos pelos entrevistados. Nas quatro empresas

o convencimento pela direção foi difícil, pois o programa não traz, de forma imediata,

benefícios de retorno financeiro. Os benefícios maiores estão no aspecto de

organização do canteiro de obras e conscientização ambiental, porém esses fatores,

em princípio não impressiona empresários da área da construção civil.

Para o entrevistado da empresa III a redução dos custos, previstos com a

implantação do PGRCC, ainda não podem ser vistos, pois algumas dificuldades

paralisam um andamento contínuo do programa. Para que barreiras como aquisição

correta de equipamentos e contratação de pessoal para gerir o programa sejam

vencidas, geralmente, são necessários investimentos. Logo a impressão da diretoria

com relação ao gerenciamento dos resíduos é de “gastos e não retornos”. Porém,

72

para o entrevistado, haverá sim um ganho financeiro com a continuidade do

programa.

As empresas entrevistadas levantaram também como ponto de dificuldade para

implantação do programa o treinamento com a mão-de-obra devido, principalmente

devido aos “vícios da construção” e costume adquirido em outras experiências de

emprego. O entrevistado da empresa III, levantou que apesar da dificuldade inicial é

possível observar a satisfação dos operários, mais envolvidos nas atividades diárias

de limpeza, em participar de algo novo que traz resultados visíveis como a

organização e limpeza do canteiro.

73

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente o entulho em Feira de Santana é depositado em esquinas abandonadas

ou terrenos baldios destinadas para a grande parte dos RCD produzidos diariamente

na cidade. Devido a essa condição a administração municipal de Feira de Santana

enfrenta essa problemática removendo os RCD de vias públicas, submetidas à

contínua deposição irregular.

Segundo PINTO (2005), as soluções para a gestão dos RCD nas cidades devem ser

viabilizadas de um modo capaz de integrar a atuação dos dois agentes envolvidos

no processo. O primeiro por ser o responsável pelo controle e fiscalização sobre o

transporte e destinação dos resíduos. E os geradores de resíduos, por serem

responsáveis pela observância dos padrões previstos na legislação específica no

que se refere à disposição final dos resíduos, fazendo sua gestão interna e externa.

O setor privado é o gerador dos resíduos e portanto as construtoras da cidade de

Feira de Santana, precisam atender à resolução n° 307 do CONAMA. As empresas

de médio e grande porte atuando em Feira de Santana, no sub-setor de edificações,

que já possuem programas de gestão da qualidade e segurança do trabalho está

viabilizando adequações às novas exigências ambientais para o cumprimento da

legislação, embora, ainda não sejam observadas fiscalizações por parte dos órgãos

públicos.

De acordo com a Resolução 307 do CONAMA os geradores deverão ter como

objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a

reutilização, a reciclagem e correta destinação final. A não geração dos resíduos é

um ponto questionável diante das técnicas construtivas utilizadas hoje na região de

Feira de Santana. A mão-de-obra também necessitaria de treinamentos, porém

ainda assim haveria casos particulares por estarmos tratando de pessoas.

Os PGRCC empregados nas empresas participantes deste estudo estão mais

voltados para a triagem, acondicionamento e destinação adequada dos resíduos

gerados, não priorizando a elaboração de um planejamento voltado para a não

geração de resíduos.

74

A reutilização dos resíduos de classe A, resíduos de argamassas, concretos e

material cerâmico, dentro dos canteiros estudados foi observado na empresa II. A

reciclagem deste teve apenas a iniciativa da empresa IV, que não deu

prosseguimento a atividade por não haver vantagens financeiras.

Os resíduos de classe B, madeira e metais, são reutilizados dentro dos canteiros

das quatro empresas até esgotar as possibilidades de uso. No fim da vida útil esses

materiais são destinados para serem reutilizados pelas cooperativas e associações

quando retirados dos canteiros pelos mesmos.

O resíduo classe C, gesso, teve tentativa de reciclagem pela empresa II, porém o

projeto não foi posto em prática.

A destinação responsável dos resíduos da construção civil foi identificada nas quatro

empresas visitadas, pois seus resíduos não são dispostos em áreas de “bota fora”,

em encostas, corpos d’água, lotes vagos ou áreas protegidas por Lei. A disposição

dos resíduos classe A e C é feita no aterro da cidade. O recebimento dos RCD pelo

aterro municipal não foi alvo deste trabalho, não podendo ser comentado sua gestão

ou forma de alocação dos resíduos recebidos das empresas construtoras.

De acordo com a Resolução 307 do CONAMA, os grandes geradores deverão

elaborar e implantar Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil

como objetivo de estabelecer procedimentos necessários para o manejo e

destinação ambientalmente adequados dos resíduos.

A contemplação das etapas previstas pela resolução CONAMA n°307 nos PGRCC

na caracterização e triagem, foi observado nas quatro empresas, sendo que a

empresa IV não atendeu essa condição para os resíduos perigosos e resíduos de

gesso. O acondicionamento é feito por meio de Baias e outros tipos de equipamento

como Big Bags e tonéis metálicos. Quanto à destinação, os resíduos Classe A e

Classe C são destinados ao aterro municipal; os resíduos Classe B são

armazenados nos canteiros temporariamente de modo a permitir a sua utilização ou

reciclagem futura pelas cooperativas, ferro velho ou comerciantes, sendo então

reutilizados e reciclados por estes; os resíduos Classe D devem ser destinados de

75

acordo normas técnicas específicas. O destino desses materiais também é estudado

pelas construtoras que não têm definido sua destinação.

Com a aplicação do gerenciamento dos resíduos os canteiros tendem a ser

organizados e limpos. O PGRCC foi avaliado também como um compromisso

ambiental, aplicando ferramentas construtivas mais conscientes, começando a partir

de treinamento. Ou seja, a organização do canteiro é resultado de treinamentos e

conscientização dos funcionários envolvidos em todas as etapas da obra e etapas

do processo de implantação do PGRCC.

O aprimoramento da consciência ambiental nos funcionários participantes do

programa ocorre com sensibilização sobre a problemática, pois esta deve ser

compartilhada com todos os níveis da sociedade, a Indústria da Construção Civil

(ICC), grande empregadora de mão-de-obra, estaria proporcionando aos seus

empregados educação ambiental por meio do PGRCC.

A avaliação quanto a imagem, perante clientes, fornecedores e funcionários da

empresa é devido à competição que existe no mercado da construção. Um

programa que se preocupe com as questões ambientais é um diferencial

mercadológico perante a concorrência que não possuir o plano. Por isso a

certificação ISO14001 tem sido, pelas diretorias e gerências, o grande motivador da

implantação dos PGRCC.

A partir deste trabalho acredita-se ter sido delineado um panorama favorável das

quatro empresas estudadas, diante de uma realidade em Feira de Santana de duas

empresas de grande porte e seis empresas de médio porte, e quarenta e duas

empresas de pequeno porte, conforme BRASILEIRO (2008).

É necessário aprofundamento do assunto, buscando outras construtoras existentes

na cidade de Feira da Santana, além do estudo junto aos agentes envolvidos na

recepção dos resíduos como cooperativas, recicladoras e o Aterro da cidade. Além

desses, o poder público também deve ser abordado para que se possa diagnosticar

em todos os aspectos pertinentes a gestão de RCD na cidade de Feira de Santana.

Ou seja, abranger mais agentes envolvidos para o cumprimento das diretrizes da

resolução 307 do CONAMA.

76

4.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Dentre algumas possibilidades visualizadas podemos apontar:

a) Elaborar um estudo detalhado em alguma das empresas estudadas

observando as atividades diárias de geração, transporte e destinação dos resíduos,

buscando dados de redução de resíduos gerados;

b) Estudar o Aterro da cidade de Feira de Santana, observando seu cumprimento

à resolução CONAMA nº 307 como área de recebimento de RCD;

c) Estudar as iniciativas da prefeitura de Feira de Santana quanto o cumprimento

da resolução n° 307 do CONAMA.

77

REFERÊNCIAS

AGOPYAN, V.; JHON, V. M. Reciclagem de Resíduos da Construção. In: SEMINÁRIO RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES, 2000, São Paulo. Anais... São Paulo, 2000.

ARAÚJO, N. M. G.; NÓBREGA, C. C.; MEIRA, A. R.; MEIRA, G. R. Roteiro para elaboração de projeto de gerenciamento de resíduos para empresa construtora da cidade de João Pessoa – PB (Brasil). In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GESTÃO E ECONOMIA DA CONSTRUÇÃO, 4, ENCONTRO LATINO AMERICANO DE GESTÃO E ECONOMIA DA CONSTRUÇÃO, 1, 2005, Porto Alegre, Anais... Porto Alegre: ANTAC, 2005.

BRASIL, Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n° 307, 05 de Julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil e dá outras providências. Diário oficial da República Federativa do Brasil. Brasília 17 de julho de 2002. Disponível em <http://www.mma.gov.br/conama/>.

BRASILEIRO, E. F. Gestão de resíduos sólidos em construtoras de médio e grande porte da cidade de Feira de Santana, Bahia. 2008. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Tecnologia. Feira de Santana, 2008.

BRITO FILHO, J. A. Cidades versus entulho. In: SEMINÁRIO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A RECICLAGEM NA CONSTRUÇÃO CIVIL, 2., 1999, São Paulo. Anais... São Paulo: Comitê Técnico do IBRACON: CT 206 – Meio Ambiente, 1999. p.56-67.

Comunicação Oral. Maria Valéria Gaspar de Queiroz Ferreira, SEDUR. Implantação de usina de reciclagem de resíduos de construção no estado da Bahia. Palestra. Encontro Nacional de Reaproveitamento de Resíduos na Construção (ENARC),1. Feira de Santana, Julho de 2009.

Comunicação Oral. Eng° Dr. Tarcísio de Paula Pinto, Consultor I&T. Gestão de resíduos da construção. Palestra. Encontro Nacional de Reaproveitamento de Resíduos na Construção (ENARC),1. Feira de Santana, Julho de 2009.

Comunicação Oral. Eng° Vicente Mário Viso Matos, SINDUSCON-BA. Gestão de resíduos em canteiros de obras. Palestra. Encontro Nacional de Reaproveitamento de Resíduos na Construção (ENARC),1. Feira de Santana, Julho de 2009.

78

CUNHA JÚNIOR, N.B. Cartilha de gerenciamento de resíduos sólidos para construção civil. SINDUSCON-MG. Belo Horizonte, 2005.

EMPRESA DE LIMPEZA URBANA DE SALVADOR (LIMPURB).Gestão Diferenciada de Entulho. Salvador, 1997.

EMPRESA DE LIMPEZA URBANA DE SALVADOR (LIMPURB).Relatório semestral das atividades da LIMPURB. Salvador, 2008.

JOHN, V. M. Reciclagem de resíduos na construção civil: contribuição à metodologia de pesquisa e desenvolvimento. 2000. Tese (Livre Docência) – Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

LEITE, M. B. Avaliação de propriedades mecânicas de concretos produzidos com agregados reciclados de resíduos de construção e demolição. 2001. 270 f. Tese (Doutorado) – Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.

LEITE, M. B.; MOURA, W. A.; CORREIA, R. F.; FREITAS, C. S.; SANTANA, F. G.. Estudo Piloto de RCD em Feira de Santana / Bahia. TECBAHIA, Camaçari, v. 20, p 131-155, 2005.

LEVY, S. M. Contribuição ao estudo da durabilidade de concretos produzidos com resíduos de concreto e alvenaria. 2001. 194 f. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

LÔRDELO, P. M., EVANGELISTA, P.P.A., FERRAZ, T.G.A. Gestão de Resíduos na construção civil: redução, reutilização e reciclagem. SENAI, 2007.

MIRANDA, L. F. R., ANGULO, S. C., CARELI, E. D. A reciclagem de resíduos de construção e demolição no Brasil: 1986-2008. Revista Ambiente Construído, Porto Alegre, v.9, n.1, p. 57-71, jan/mar. 2009.

MINISTÉRIO DAS CIDADES. Panorama dos resíduos de construção e demolição (RCD) no Brasil. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Brasília, 2006.

PASQUALOTTO FILHO, R.; CHIAVINI, P.P.R; CIMINO, R.J.P.; GUIMARÃES, S.A.V. Gestão de resíduos da construção civil e demolição no município de São Paulo e

79

normas existentes. Revista Técnica IPEP, São Paulo, v. 7, n.1, p. 55-72, jan./jun. 2007.

PINTO, T. P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. 1999. 190 f. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.

PINTO, T.P. Gestão de resíduos da construção civil: a experiência do SINDUSCON-SP. Obra Limpa, I&T, SINDUSCON-SP. São Paulo, 2005.

PINTO,T.P.; GONZÁLES, J.L.R. Manejo e gestão de resíduos da construção civil. V. 1, Manual de orientação: como implantar um sistema de manejo e gestão nos município. Ministério das cidades, Ministério do Meio Ambiente e Caixa Econômica Federal. Brasília, 2005.

PUCCI, R. B. Logística de Resíduo da Construção Civil atendendo à resolução CONAMA 307. 2006. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

SANCHES, M. C. G. Valoração do serviço público de destinação final dos resíduos gerados pela indústria da construção civil no município do Salvador – BA. Tese de Mestrado – Universidade de Brasília, 2004.

SAPATA, S. M. M., Diagnóstico e proposta para gerenciamento de resíduos da construção civil no município de Maringá-PR. Tese Mestrado – Universidade Federal de Santana Catarina, Florianópolis – 2002.

SOUZA, M. L. C.; CRUZ, M. A.. Municipalização da gestão ambiental, um exercício de cidadania. TECBAHIA, v.17, p. 84 – 93, 2002.

ZORDAN, S. E. A utilização do entulho como agregado na confecção do concreto. 1997, 140 f. Dissertação (Mestrado) –Departamento de Saneamento e Meio Ambiente da Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997.

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ANEXOS

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ANEXO A – ENTREVISTA ESTRUTURADA APLICADA ÀS CONSTRUTORAS

Entrevista com Construtoras que atuam na cidade de Feira de Santana que possuem um Programa de Gestão de Resíduos da Construção Civil.

Entrevistado: ____________________________________________________Empresa: _______________________________________________________

ETAPA I – Implantação do Programa

1. Qual o período de implantação do Programa de Gestão de Resíduos da Construção Civil?

2. Tem conhecimento de este programa é uma adequação á resolução 307 do CONAMA?

3. O Programa foi implantado por empresa de consultoria, ou pelo sistema de qualidade da empresa?

4. Para a implantação do Programa de Gestão de Resíduos da Construção Civil foi realizado uma seqüencia de atividades, como Reunião Inaugural, Planejamento, Implantação e Monitoramente, dentre de um cronograma pré-estabelecido? Ou seja, definir metas?

5. Na reunião/treinamento inicial, foi feito na presença de:

o Engenheiro

o Mestre / Encarregado

o Encarregado Administrativo

o Responsável pela Qualidade

o Técnico Segurança do Trabalho

o Suprimentos

o Outros___________________________________________________________

6. Foram abordados que itens na reunião?

o Sensibilização da equipe quanto ao impacto ambiental causado pelas atividades

de construção e demolição;

o Mostrar de que modo as leis e as novas diretrizes estabelecem um novo

processo de gerenciamento integrado desses resíduos e quais são suas implicações para o setor da construção civil;

o Esclarecer quais serão as implicações no dia-a-dia das obras decorrentes da

implantação de uma metodologia de gerenciamento de resíduos;

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o Outros:___________________________________________________________

7. Foi realizado o planejamento caracterizando a obra e as formas de geração de resíduos?

8. Possui “Tabela de Fluxo de Resíduos”?

9. Na etapa de implantação do Programa foi realizado treinamento com os funcionários?

10.As empresas transportadoras são regulamentadas pela prefeitura?

ETAPA II – Atividade no Canteiro

11.Quais as formas de acondicionamento no canteiro para os seguintes materiais:

o Resíduos classe A – RCD:_____________________________________

o Resíduos de Madeira: ________________________________________

o Resíduos metálicos: _________________________________________

o Resíduos de Gesso: _________________________________________

o Embalagens de plástico e papel: _______________________________

o Outros: ____________________________________________________

12.Quais os destinos finais para os mesmos:

o Resíduos classe A – RCD:_____________________________________

o Resíduos de Madeira: ________________________________________

o Resíduos metálicos: _________________________________________

o Resíduos de Gesso: _________________________________________

o Embalagens de plástico e papel: _______________________________

o Outros: ____________________________________________________

13. Quais materiais são reutilizados no canteiro e de que forma?

ETAPA III – Avaliação do Programa

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14. Com relação a avaliação do programa de Gestão do RCD foi possível levantar quais aspectos positivos:

o Redução do custo da Coleta:

o Redução do desperdício (menor geração de resíduo):

o Reaproveitamento do resíduo dentro da própria obra:

o Limpeza e organização nos canteiros:

o Redução dos riscos de acidentes de trabalho:

o Outros:

15. Quanto aos aspectos críticos:

o Treinamento da mão-de-obra:

o Correta aquisição de dispositivos de coleta:

o Atendimento insatisfatório das empresas coletoras e transportadoras :

o Controle dos registros da destinação dos resíduos:

o Comprometimento da direção da empresa e da gerência da obra:

o Outros:

16. Qual a vantagem principal devido a implantação do Programa de Gestão de RCD?

o Organização da obra:

o Conscientização Ambiental

o Redução de Custos

o Melhoria na administração dos resíduos

o Adequação á legislação

o Melhora a imagem da construtora

o Outras

17. Houve mudança na imagem da construtora?

Entrevista baseada na Metodologia para implantação da Gestão de Resíduos no Canteiro, que está presente no livro Gestão de Resíduos na Construção Civil:

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Redução, Reutilização e Reciclagem – SENAI, Salvador-BA, 2007. Baseada também no livro Gestão Ambiental de Resíduos da Construção Civil – A experiência do SINDUSCON – SP, São Paulo 2005.

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ANEXO B – CROQUI DO CANTEIRO DE OBRAS DA EMPRESA I

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ANEXO C – CROQUI DO CANTEIRO DE OBRAS DA EMPRESA II

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ANEXO D – CROQUI DO CANTEIRO DE OBRAS DA EMPRESA III

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ANEXO E – CROQUI DO CANTEIRO DE OBRAS DA EMPRESA IV

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ANEXO F – RESOLUÇÃO CONAMA N° 307

RESOLUÇÃO Nº 307, DE 5 DE JULHO DE 2002

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, no uso das competências que lhe foram conferidas pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6 de julho de 1990, e tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno, Anexo à Portaria nº 326, de 15 de dezembro de 1994, e

Considerando a política urbana de pleno desenvolvimento da função social da cidade e da propriedade urbana, conforme disposto na Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001;

Considerando a necessidade de implementação de diretrizes para a efetiva redução dos impactos ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil;

Considerando que a disposição de resíduos da construção civil em locais inadequados contribui para a degradação da qualidade ambiental;

Considerando que os resíduos da construção civil representam um significativo percentual dos resíduos sólidos produzidos nas áreas urbanas;

Considerando que os geradores de resíduos da construção civil devem ser responsáveis pelos resíduos das atividades de construção, reforma, reparos e demolições de estruturas e estradas, bem como por aqueles resultantes da remoção de vegetação e escavação de solos;

Considerando a viabilidade técnica e econômica de produção e uso de materiais provenientes da reciclagem de resíduos da construção civil; e

Considerando que a gestão integrada de resíduos da construção civil deverá proporcionar benefícios de ordem social, econômica e ambiental, resolve:

Art. 1º Estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, disciplinando as ações necessárias de forma a minimizar os impactos ambientais.

Art. 2º Para efeito desta Resolução, são adotadas as seguintes definições:

I - Resíduos da construção civil: são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha;

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II - Geradores: são pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, responsáveis por atividades ou empreendimentos que gerem os resíduos definidos nesta Resolução;

III - Transportadores: são as pessoas, físicas ou jurídicas, encarregadas da coleta e do transporte dos resíduos entre as fontes geradoras e as áreas de destinação;

IV - Agregado reciclado: é o material granular proveniente do beneficiamento de resíduos de construção que apresentem características técnicas para a aplicação em obras de edificação, de infra-estrutura, em aterros sanitários ou outras obras de engenharia;

V - Gerenciamento de resíduos: é o sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas em programas e planos;

VI - Reutilização: é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do mesmo;

VII - Reciclagem: é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à transformação;

VIII - Beneficiamento: é o ato de submeter um resíduo à operações e/ou processos que tenham por objetivo dotá-los de condições que permitam que sejam utilizados como matéria-prima ou produto;

IX - Aterro de resíduos da construção civil: é a área onde serão empregadas técnicas de disposição de resíduos da construção civil Classe A no solo, visando a reservação de materiais segregados de forma a possibilitar seu uso futuro e/ou futura utilização da área, utilizando princípios de engenharia para confiná-los ao menor volume possível, sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente;

X - Áreas de destinação de resíduos: são áreas destinadas ao beneficiamento ou à disposição final de resíduos.

Art. 3º Os resíduos da construção civil deverão ser classificados, para efeito desta Resolução, da seguinte forma:

I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;

b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;

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c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;

II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;

III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso;

IV - Classe D - são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.

Art. 4º Os geradores deverão ter como objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final.

§ 1º Os resíduos da construção civil não poderão ser dispostos em aterros de resíduos domiciliares, em áreas de bota fora, em encostas, corpos d`água, lotes vagos e em áreas protegidas por Lei, obedecidos os prazos definidos no art. 13 desta Resolução.

§ 2º Os resíduos deverão ser destinados de acordo com o disposto no art. 10 desta Resolução.

Art. 5º É instrumento para a implementação da gestão dos resíduos da construção civil o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, a ser elaborado pelos Municípios e pelo Distrito Federal, o qual deverá incorporar:

I - Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil; e

II - Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil.

Art 6º Deverão constar do Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil:

I - as diretrizes técnicas e procedimentos para o Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil e para os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil a serem elaborados pelos grandes geradores, possibilitando o exercício das responsabilidades de todos os geradores.

II - o cadastramento de áreas, públicas ou privadas, aptas para recebimento, triagem e armazenamento temporário de pequenos volumes, em conformidade com o porte da área urbana municipal, possibilitando a destinação posterior dos resíduos oriundos de pequenos geradores às áreas de beneficiamento;

III - o estabelecimento de processos de licenciamento para as áreas de beneficiamento e de disposição final de resíduos;

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IV - a proibição da disposição dos resíduos de construção em áreas não licenciadas;

V - o incentivo à reinserção dos resíduos reutilizáveis ou reciclados no ciclo produtivo;

VI - a definição de critérios para o cadastramento de transportadores;

VII - as ações de orientação, de fiscalização e de controle dos agentes envolvidos;

VIII - as ações educativas visando reduzir a geração de resíduos e possibilitar a sua segregação.

Art 7º O Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil será elaborado, implementado e coordenado pelos municípios e pelo Distrito Federal, e deverá estabelecer diretrizes técnicas e procedimentos para o exercício das responsabilidades dos pequenos geradores, em conformidade com os critérios técnicos do sistema de limpeza urbana local.

Art. 8º Os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil serão elaborados e implementados pelos geradores não enquadrados no artigo anterior e terão como objetivo estabelecer os procedimentos necessários para o manejo e destinação ambientalmente adequados dos resíduos.

§ 1º O Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, de empreendimentos e atividades não enquadrados na legislação como objeto de licenciamento ambiental, deverá ser apresentado juntamente com o projeto do empreendimento para análise pelo órgão competente do poder público municipal, em conformidade com o Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil.

§ 2º O Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil de atividades e empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental, deverá ser analisado dentro do processo de licenciamento, junto ao órgão ambiental competente.

Art. 9º Os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil deverão contemplar as seguintes etapas:

I - caracterização: nesta etapa o gerador deverá identificar e quantificar os resíduos;

II - triagem: deverá ser realizada, preferencialmente, pelo gerador na origem, ou ser realizada nas áreas de destinação licenciadas para essa finalidade, respeitadas as classes de resíduos estabelecidas no art. 3º desta Resolução;

III - acondicionamento: o gerador deve garantir o confinamento dos resíduos após a geração até a etapa de transporte, assegurando em todos os casos em que seja possível, as condições de reutilização e de reciclagem;

IV - transporte: deverá ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de acordo com as normas técnicas vigentes para o transporte de resíduos;

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V - destinação: deverá ser prevista de acordo com o estabelecido nesta Resolução.

Art. 10. Os resíduos da construção civil deverão ser destinados das seguintes formas:

I - Classe A: deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura;

II - Classe B: deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura;

III - Classe C: deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas especificas.

IV - Classe D: deverão ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas técnicas especificas.

Art. 11. Fica estabelecido o prazo máximo de doze meses para que os municípios e o Distrito Federal elaborem seus Planos Integrados de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil, contemplando os Programas Municipais de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil oriundos de geradores de pequenos volumes, e o prazo máximo de dezoito meses para sua implementação.

Art. 12. Fica estabelecido o prazo máximo de vinte e quatro meses para que os geradores, não enquadrados no art. 7º, incluam os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil nos projetos de obras a serem submetidos à aprovação ou ao licenciamento dos órgãos competentes, conforme §§ 1º e 2º do art. 8º.

Art. 13. No prazo máximo de dezoito meses os Municípios e o Distrito Federal deverão cessar a disposição de resíduos de construção civil em aterros de resíduos domiciliares e em áreas de bota fora.

Art. 14. Esta Resolução entra em vigor em 2 de janeiro de 2003.

JOSÉ CARLOS CARVALHO

Presidente do Conselho