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Revista da Gestão Costeira Integrada 8(2):25-45 (2008) www.aprh.pt/rgci www.gci.inf.br Gestão e Desenvolvimento Sustentável da Zona Costeira do Estado de Alagoas, Brasil * Management and Sustainable Development in Alagoas State’s Coastal Zone, Brazil Monica Dorigo Correia 1 2 , Hilda Helena Sovierzoski 2 RESUMO O Estado de Alagoas possui uma zona costeira com 230 km de extensão dividida em litoral norte, sul e central, onde está localizada a cidade de Maceió, capital do estado. Ao longo desta faixa litorânea encontram-se distribuídos inúmeros ecossistemas costeiros, típicos da região nordeste do Brasil, entre estes mata Atlântica, praias, restingas, dunas, manguezais, recifes de coral e recifes de arenito. As informações existentes sobre a zona costeira alagoana encontram-se dispersas em vários meios de divulgação. Este trabalho caracteriza o zoneamento ecológico e econômico da zona costeira do Estado de Alagoas, costa nordeste do Brasil. As informações aqui apresentadas e analisadas objetivam realizar um diagnóstico técnico sobre os aspectos ambientais, sócio-econômicos e jurídico-institucionais, referentes à situação dos municípios localizados na zona costeira do Estado de Alagoas. São identificados diferentes usos, com intensidade de atividades variadas junto à zona costeira do Estado de Alagoas, tendo-se optado em considerar dois aspectos. Primeiro inserem-se as Áreas de Importância Ecológica baseadas na legislação vigente, como as áreas de preservação permanente e as unidades de conservação já implantadas, como reservas, parques e áreas de proteção ambiental, sob responsabilidade das diferentes escalas governamentais, ou seja, municipais, estaduais e federais. Em segundo lugar se estabelecem as Áreas de Importância Sócio-Econômica, que incluem as consideradas relevantes para o desenvolvimento sustentável, muitas das quais ocupadas por diferentes atividades produtivas. Estas áreas estão definidas como áreas de expansão urbana, áreas de agricultura, áreas industriais, áreas de transporte, áreas para turismo, área de pesca artesanal e áreas para aquacultura. Considerando- se os aspectos ambientais e os sócio-econômicos da zona costeira alagoana são propostas três diferentes classificações de acordo com as características a seguir. As Áreas Apropriadas representam todos os locais onde existem cidades, indústrias, atividades agropecuárias e demais atividades econômicas, desde que quando necessário sejam aplicados os Termos de * Submissão – 4 Setembro 2008; Avaliação – 20 Outubro 2008; Recepção da versão revista – 3 Novembro 2008; Disponibilização on-line - 11 Dezembro 2008 1 autor correspondente: [email protected] 2 Universidade Federal de Alagoas, Setor de Comunidades Bentônicas (LABMAR/ICBS), Rua Aristeu de Andrade, 452 – 2º andar, Farol, Maceió, AL, Brasil. Endereços e-mail: [email protected] e [email protected]

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Gestão e Desenvolvimento Sustentável da Zona Costeira doEstado de Alagoas, Brasil *

Management and Sustainable Development in Alagoas State’sCoastal Zone, Brazil

Monica Dorigo Correia1 2, Hilda Helena Sovierzoski 2

RESUMO

O Estado de Alagoas possui uma zona costeira com 230 km de extensão dividida em litoral norte, sul e central, ondeestá localizada a cidade de Maceió, capital do estado. Ao longo desta faixa litorânea encontram-se distribuídos inúmerosecossistemas costeiros, típicos da região nordeste do Brasil, entre estes mata Atlântica, praias, restingas, dunas, manguezais,recifes de coral e recifes de arenito. As informações existentes sobre a zona costeira alagoana encontram-se dispersas emvários meios de divulgação. Este trabalho caracteriza o zoneamento ecológico e econômico da zona costeira do Estado deAlagoas, costa nordeste do Brasil. As informações aqui apresentadas e analisadas objetivam realizar um diagnósticotécnico sobre os aspectos ambientais, sócio-econômicos e jurídico-institucionais, referentes à situação dos municípioslocalizados na zona costeira do Estado de Alagoas. São identificados diferentes usos, com intensidade de atividadesvariadas junto à zona costeira do Estado de Alagoas, tendo-se optado em considerar dois aspectos. Primeiro inserem-se asÁreas de Importância Ecológica baseadas na legislação vigente, como as áreas de preservação permanente e as unidadesde conservação já implantadas, como reservas, parques e áreas de proteção ambiental, sob responsabilidade das diferentesescalas governamentais, ou seja, municipais, estaduais e federais. Em segundo lugar se estabelecem as Áreas de ImportânciaSócio-Econômica, que incluem as consideradas relevantes para o desenvolvimento sustentável, muitas das quais ocupadaspor diferentes atividades produtivas. Estas áreas estão definidas como áreas de expansão urbana, áreas de agricultura,áreas industriais, áreas de transporte, áreas para turismo, área de pesca artesanal e áreas para aquacultura. Considerando-se os aspectos ambientais e os sócio-econômicos da zona costeira alagoana são propostas três diferentes classificações deacordo com as características a seguir. As Áreas Apropriadas representam todos os locais onde existem cidades, indústrias,atividades agropecuárias e demais atividades econômicas, desde que quando necessário sejam aplicados os Termos de

* Submissão – 4 Setembro 2008; Avaliação – 20 Outubro 2008; Recepção da versão revista – 3 Novembro 2008; Disponibilização on-line - 11Dezembro 2008

1 autor correspondente: [email protected] Universidade Federal de Alagoas, Setor de Comunidades Bentônicas (LABMAR/ICBS), Rua Aristeu de Andrade, 452 – 2º andar, Farol, Maceió,AL, Brasil. Endereços e-mail: [email protected] e [email protected]

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Ajuste de Conduta, servindo como instrumentos jurídicos para recuperação de áreas degradadas. As Áreas Apropriadascom Restrição incluem aquelas determinadas para usos específicos, considerando-se as características dos ecossistemascosteiros existentes e a capacidade de suporte de carga em cada local, cabendo a definição dessas normas aos órgãoscompetentes. As Áreas não Apropriadas representam as áreas consideradas exclusivas de preservação e proteção ao meioambiente, incluindo os diferentes ecossistemas existentes ao longo da zona costeira alagoana, como as áreas de preservaçãopermanente e as unidades de conservação, ficando proibida toda e qualquer atividade de origem antrópica que venhacausar ameaça e/ou impacto ambiental aos ecossistemas nelas localizados. Com base nos critérios apresentados e nascaracterísticas semelhantes entre os municípios envolvidos propõem-se uma nova distribuição administrativa dos municípioslocalizados na zona costeira do Estado de Alagoas. O Litoral Norte encontra-se distribuído entre os municípios deMaragogi e Barra de Santo Antônio, tendo ao todo nove municípios. O Litoral Central passa a ter 10 municípios, desde omunicípio de Paripueira até Barra de São Miguel. O Litoral sul compreende os municípios entre Roteiro até Penedo, como total de seis municípios. Constatam-se diferentes processos de degradação ambiental, devido à ação direta de atividadesantrópicas inadequadas. Apesar desses problemas, o Estado de Alagoas possui importantes unidades de conservação nazona costeira, entre estas as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Costa dos Corais, Santa Rita e Piaçabuçu, além daEstação Ecológica do Peba, todas estas prejudicadas pela grande pressão antrópica existente, muitas vezes apoiada porinteresses econômicos duvidosos. Os resultados obtidos referente ao zoneamento proposto serve para o direcionamentodas atividades antrópicas, visando o desenvolvimento sustentável dos municípios da zona costeira do Estado de Alagoas,através da implementação de atividades produtivas e ecologicamente corretas.

Palavras-chave: Gerenciamento Costeiro, Impactos Ambientais, litoral de Alagoas.

ABSTRACT

The State of Alagoas has a coastal zone 230 km long, divided into a north, south and central coast, where the city of Maceio, the capitalof the state, is located. In this zone many coastal ecosystems typical of the northeast region of Brazil are distributed, among these beingAtlantic forests, beaches, sandbanks, mangroves, coral reefs and sandstone reefs. Existing information about the Alagoas coastal areas can befind, disperse in various means of dissemination. This study characterizes the ecological and economic zoning of the coastal zone of AlagoasState, on the northeast coast of Brazil. The information present here are bring up and analyze in order to carry out a technical diagnosis ofenvironmental, socio-economic and legal-institutional issues, with regards to the situation of the municipalities located in the coastal zone ofAlagoas State. Different uses, with varying intensity of activities along the coastal zone of Alagoas State are identify and two things are decideto be take into consideration. First, areas of ecological significance, base on existing legislation, such as areas of permanent preservation andconservation units already create, reserves, parks and areas of environmental protection under the responsibility of different levels of government,namely, municipal, state and federal. In the second, areas of socio-economic importance including those areas considered relevant to sustainabledevelopment, many of which are already used for different productive activities. These areas are defined as areas of urban expansion, areas ofagriculture, industrial areas, areas of transport, areas for tourism, area for local fishing and areas for aquaculture. Considering the environmentaland socio-economic coastal zone of Alagoas State, three different classifications are proposed according to the following characteristics. Appropriateareas represent all the areas where there are already cities, industries, agricultural activities and other economic activities, provided that theyadhere to the Terms of Conduct Adjustment, which serve as instruments for rehabilitation of degraded areas. Appropriate areas withrestrictions include areas that are established for specific uses, considering the characteristics of coastal ecosystems and the existing load-bearingcapacity of each place, with the establishment of these standards based on technical aspects from competent bodies. The non-appropriate areasrepresent areas consider exclusive for the conservation and protection of the environment, including different ecosystems along the coastal areaof Alagoas State, areas of permanent preservation units, such that any and all activities of human origin that would cause threat and/orenvironmental impact on ecosystems find in them are banned. Based on the criteria presented and the similar characteristics between themunicipalities involved a new administrative distribution is propose for the municipalities located in the coastal zone of the State of Alagoas.The North Coast is distributed between the municipalities of Maragogi and Barra de Santo Antonio, having in all nine municipalities. TheCentral Coast is replaced with 10 municipalities, ranging from Paripueira to Barra de São Miguel. The South Coast lies between themunicipalities of Roteiro until Penedo, with a total of six municipalities. Different processes of environmental degradation are due to the directaction of inappropriate human activities are noting. Despite these problems, the State of Alagoas has important conservation units in thecoastal zone, among these are the environmental protection areas of the Coral Coast, Santa Rita and Piaçabuçu, as well as the ecologicalstation of Pontal do Peba. However, all these areas are effecting by large human disturbances and often supported by economic interests. Theresults obtained concerning the proposed zoning serves to direct human activities aimed at sustainable development of coastal municipalities inthe State of Alagoas, through the implementation of productive and ecologically sound activities.

Keywords: Coastal Management, Environmental Impact Assessment, coast of Alagoas.

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1. INTRODUÇÃO

A crescente tomada de consciência nas últimasdécadas a respeito da gravidade dos problemasambientais conduz ao desenvolvimento de diferentespropostas direcionadas para a sustentabilidade daspolíticas ambientais. Essas propostas baseiam-se naintegração do planejamento sócio-econômico com omeio ambiente, objetivando evitar e/ou minimizar osproblemas e impactos decorrentes de atividadesantrópicas sem planejamento adequado, sendo essaidéia de desenvolvimento sustentável apresentada emum relatório pela primeira vez na ONU em 1987(Brundtland, 1991).

Os ecossistemas costeiros e marinhos estãoincluídos entre os ambientes mais vulneráveis eameaçados, pois 2/3 da população mundial vive naszonas costeiras. Fatos dessa natureza acarretam acriação de inúmeros instrumentos internacionais,como as resoluções do capítulo 17 da Agenda 21“Oceanos e Costas”, as quais visam o controle e aredução dos impactos ambientais causados pordiferentes atividades antrópicas junto aos ecossistemasmarinhos (Roberts, 2007).

A preocupação no Brasil com a utilização dosrecursos naturais aumenta a partir da década de 80,tendo-se refletido na Constituição Federal de 1988,criando-se as condições para a descentralização daformulação de políticas, permitindo que estados emunicípios assumam uma posição mais ativa emrelação às questões ambientais. Alguns estadosdemonstram maior consciência ambiental, em geralassociada ao melhor nível de informação dapopulação, somados a disponibilidade de recursoshumanos e financeiros, que variam entre as unidadesda Federação, resultando em desempenho bastantedesiguais (Lopes et al., 2001).

A mudança de atitude no Brasil intensifica-se apósa Conferência das Nações Unidas sobre o MeioAmbiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 nacidade do Rio de Janeiro. Assim como nasconferências mundiais subseqüentes, realizadas nadécada de 90, os países signatários assumemcompromissos com o desenvolvimento sustentável.Neste contexto o governo brasileiro cria a Comissãode Políticas Sustentáveis e a Agenda 21 (CPDS), tendocomo principal atribuição a elaboração e a implantaçãode planejamentos participativos, visando analisar a

situação do país, identificando potencialidades efragilidades, para conceber um plano dedesenvolvimento sustentável. O processo de gestãoambiental, de forma sustentável e participativa, resultaem vários programas governamentais de diferentesinstituições, como consta no documento de Gestãodos Recursos Naturais: subsídios à elaboração daAgenda 21 brasileira (Bezerra & Munhoz, 2000).

Em muitas regiões ocorrem impactos ambientaismuito intensos, causando sérias conseqüências parao equilíbrio ambiental, os quais somados à rapidezdas transformações de diferentes origens antrópicasfazem surgir a urgente necessidade da criação desoluções, que sejam propostas numa velocidade maiordo que atualmente vem sendo praticadas. Aperspectiva da melhoria da qualidade de vida daspopulações, a partir de levantamentos e diagnósticosregionais e locais, enfatizando o gerenciamentoparticipativo e ambientalmente correto, vem sendoalvo de inúmeros estudos e propostas (Callenbach etal., 1993; Lindenberg & Hawkins, 1995).

A caracterização dos ambientes costeirosalagoanos inicialmente é proposta por Goes (1979),que reúne um conjunto de posturas e ações políticasde base científica e/ou administrativa, objetivandomanter o equilíbrio ambiental através da ordenaçãoterritorial, com base nas normas racionais de uso domeio ambiente. Entretanto, inúmeras atividadesantrópicas vêm sendo desenvolvidasinadequadamente. Entre essas aquelas diretamenteligadas ao turismo, incluindo a ampliação da redehoteleira e de passeios ecológicos, os quais vêmacarretando muitos prejuízos ambientais, causando adestruição de ecossistemas costeiros e a redução dabiodiversidade, principalmente junto às áreas dosecossistemas de restingas, de manguezais e de recifes,distribuídos ao longo do litoral alagoano (Correia &Sovierzoski, 2005).

As informações existentes sobre a zona costeiraalagoana encontram-se dispersas em vários meios dedivulgação. Este trabalho caracteriza o zoneamentoecológico e econômico, com base no diagnósticotécnico sobre os aspectos ambientais, sócio-econômicos e jurídico-institucionais, referente àsituação dos municípios localizados na zona costeirado Estado de Alagoas.

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2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DEESTUDO

A zona costeira do litoral do Estado de Alagoaspossui 230 km de extensão, incluindo três regiõeslitorâneas, as quais compreendem ao todo 25municípios (Fig. 1).

A região de abrangência do Litoral Norte apresentauma área que corresponde aproximadamente a 2.160km2 de extensão e incluiu todos os municípios da zonacosteira ao norte do Estado de Alagoas. Esta regiãoencontra-se limitada ao norte pelo rio Persinunga quefaz divisa com o Estado de Pernambuco, onde estálocalizado o município de Maragogi, seguido porJaparatinga, Porto Calvo, Porto de Pedras, São Migueldos Milagres, Passo de Camaragibe, São Luiz doQuitunde, Matriz de Camaragibe, Barra de SantoAntônio e Paripueira. Baseando-se no limite da linhade costa, o Litoral Norte do Estado de Alagoas possuisua localização compreendida entre as coordenadasgeográficas 8o55’ - 9o32’ S / 36o10’ - 35o45’ W(Fig. 2).

A zona costeira que corresponde ao Litoral Centraldo Estado de Alagoas possui uma área comaproximadamente 3.346 km2 de extensão. Neste litoralestão inseridos os seguintes municípios: Maceió, RioLargo, Santa Luzia do Norte, Pilar, Coqueiro Seco,Satuba, Marechal Deodoro, Barra de São Miguel,Roteiro, São Miguel dos Campos, Coruripe e Jequiáda Praia. O limite referente à linha de costa para oLitoral Central do Estado de Alagoas apresenta-selocalizado entre as coordenadas geográficas 9o32’ -10o16’31” S / 35o45’ - 36o16’14” W (Fig. 3).

Para a zona costeira do Litoral Sul do Estado deAlagoas registra-se uma área que compreendeaproximadamente a 1.022 km2. Nesta região litorâneaestão incluídos os municípios de Feliz Deserto,Piaçabuçu e Penedo. Esta zona costeira encontra-selimitada geograficamente pelo rio São Francisco nosul, o qual faz divisa com o Estado de Sergipe. Tendocomo base os limites geográficos da linha de costa, oLitoral Sul do Estado de Alagoas está localizado

Fonte: Correia (2003)Figura 1 - Mapa geral da zona costeira do Estado de Alagoas.

Figure 1 - Map of the coast zone in the Alagoas State.

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Figura 2 - Mapa do Litoral Norte do Estado de Alagoas com a localização dos municípios.Figure 2 - Map of the North Coast in the Alagoas State with municipal locations.

Fonte: Correia (2003)

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Figura 3 – Mapa do Litoral Central do Estado de Alagoas com a localização dos municípios.Figure 3 – Map of the Central Coast in the Alagoas State with municipal locations.

Fonte: Correia (2003)

entre as coordenadas geográficas10o16’31” - 10o30’06” S / 36o16’14” - 36o23’07” W(Fig. 4).

3. ASPECTOS CLIMÁTICOS

O clima da zona costeira do litoral do Estado deAlagoas assemelha-se ao da faixa tropical úmida emtodo o mundo. Esta região apresenta seu litoralbanhado pelo Oceano Atlântico, que proporciona umclima quente e úmido, sem grandes diferenciaçõestérmicas ao longo do ano, porém com períodoschuvosos (outono - inverno) e outros secos (primavera- verão). Este clima resulta da influência do sistema

de circulação intertropical, o qual se apresentacontrolado pelas massas quentes, equatorial e tropical.Com base nestas características climáticas e de acordocom a classificação de “Koppen”, o litoral alagoanoé representado pelo tipo As, o qual corresponde aclima quente e úmido (Tropical e Equatorial), comum período de chuvas determinado, ocorrendo entreos meses de inverno (Salles, 1995).

4. HISTÓRICO

A colonização do Estado de Alagoas foi iniciadaem meados do século XVI, através de expediçõesrealizadas pelos bandeirantes, homens que realizaram

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expedições com o intuito de conhecer novas riquezas,que viajaram de Pernambuco até Porto Calvo,chegando posteriormente a Paripueira e Maceió,tendo sido instaladas várias fortificações ao longo dacosta. O processo de ocupação pelos portugueses foiiniciado a partir das plantações de cana-de-açúcar,associadas à retirada de pau-brasil. Posteriormente,os franceses e os holandeses ocuparam algumas partesdo território alagoano, principalmente entre osmunicípios de Maragogi e Porto Calvo, porém nãoconseguiram se fixar devido às investidas portuguesas(Altavila, 1988).

5. ASPECTOS AMBIENTAIS

A diversidade dos ecossistemas costeiros existentesao longo do litoral do Estado de Alagoas deve-seprincipalmente às variações do nível do mar, ocorridasentre 7 mil e 2 mil anos atrás. Muitas feiçõesgeomorfológicas hoje existentes decorrem dosmovimentos da transgressão marinha, favorecendo a

formação de estuários, cordões litorâneos, além dosrecifes de corais e recifes de arenito, assim como dasdiferentes feições da mata atlântica, resultando emecossistemas com grande diversidade biológica(Goes, 1979).

As transformações ocorridas no litoral de Alagoasao longo dos séculos decorrem de variadas açõesantrópicas, acarretando inúmeros impactosambientais, muitos dos quais acentuados. Entre osecossistemas mais alterados ao longo da zona costeiraalagoana encontra-se a Mata Atlântica, vegetaçãoocupando antigamente toda a faixa costeira da regiãonordeste do Brasil, dividida em matas dos tabuleiros,das encostas e ciliares. Devido ao desmatamento,iniciado desde o período colonial, a Mata Atlânticaencontra-se reduzida somente a pequenas manchasque atualmente representam apenas 5% da coberturavegetal inicial. Grande parte dessas áreas na regiãodos tabuleiros, formação quaternária com topografiaplana, sedimentar e de baixa altitude, está ocupadapela agricultura, baseada principalmente na indústriaaçucareira, que a partir da década de 70 intensifica-secom a implantação do programa de estímulo aprodução de etanol, conhecido como Pró-álcool. Nasáreas próximas à linha de costa, junto aos cordõesarenosos, os ecossistemas de dunas e restingas são osmais impactados, devido principalmente ao cultivode coco e à instalação das vilas posteriormentetransformadas em cidades, tendo como exemplo acidade de Maceió, capital do estado, cuja origem dapalavra em tupi quer dizer a terra que tapou o mar.Com os melhoramentos da estrada AL-101, quemargeia todo o litoral alagoano, tanto em direção aolitoral norte quanto ao sul, incrementam-se asatividades antrópicas que rapidamente se expandemcom a valorização econômica. Muitas áreas de praia edos estuários, incluindo os ecossistemas lagunares eos manguezais, encontram-se afetadas pela ocupaçãodesordenada e sem planejamento, com a implantaçãode novos loteamentos, residências de veraneio,pousadas e hotéis. Todas essas atividades antrópicasacarretam a intensificação dos impactos ambientaisjá existentes e vem causando outros sérios problemasaos ecossistemas costeiros, principalmente devido àausência de planejamento adequado e de gestãoadministrativa por parte dos órgãos responsáveis(Correia & Sovierzoski, 2000).

Figura 4 – Mapa do Litoral Sul do Estado deAlagoas com a localização dos municípios.Figure 4 – Map of the South Coast in the Alagoas Statewith municipal locations.

Fonte: Correia (2003)

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Com a necessidade do estabelecimento de novasáreas de lazer e o aumento do fluxo de turísticas, osecossistemas recifais, que até então se apresentampouco impactados, nos últimos 10 anos e de formacrescente vêm sofrendo grandes prejuízos,principalmente nas áreas das piscinas naturais e dasgalés. Estes ecossistemas encontram-se atualmenteentre os locais mais atingidos pelas atividades turísticasdesordenadas, principalmente devido ao grandenúmero de turistas concentrados em áreas impróprias,sem considerar a importância ecológica, a grandediversidade biológica e a fragilidade desses ambientes(Correia, 2000).

6. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

LITORAL NORTE - Existe a Área de PreservaçãoAmbiental Costa dos Corais (APA Costa dos Corais),criada pelo Decreto Federal de 23 de outubro de 1997e o Parque Municipal Marinho de Paripueira, criadoanteriormente e inserido na referida APA, ambos como objetivo de preservar os ecossistemas costeiros,principalmente os manguezais, praias e recifes.LITORAL CENTRAL – Possui várias unidades deconservação, duas em nível federal e as demais emnível estadual, abrangendo uma extensão considerável,encontrando-se, entretanto, localizadas em diferentesáreas. A Área de Preservação Permanente de Maceió(APP de Maceió ou Reserva do IBAMA/AL),denominada originalmente de Horto Florestal, criadapelo Decreto Federal no 36.326 e publicado em 14 deoutubro de 1954, sendo posteriormente declaradacomo APP através do Decreto Presidencial no 1.709,publicado em 20 de novembro de 1995, ficando anexaà sede estadual do IBAMA/AL. A Reserva ExtrativistaMarinha de Jequiá da Praia (RESEX de Jequiá daPraia), criada pelo Decreto Federal s/no, datado de27 de dezembro de 2001, tem como objetivo asseguraro uso sustentável e a conservação dos recursosnaturais renováveis, protegendo os meios de vida e acultura da população extrativista local. A Área deProteção Ambiental de Santa Rita (APA de Santa Rita)criada pela Lei Estadual no 4.607, datada de 19 dedezembro de 1984 e regulamentada pelo Decreto no

6.274 de cinco de julho de 1985, que inclui todas asilhas situadas na região estuarina, as encostas dostabuleiros junto ao continente e as restingas ao longoda linha de costa, junto ao ecossistema do Complexo

Estuarino-lagunar Mundaú/Manguaba (CELMM). AReserva Ecológica do Saco da Pedra (RESEC do Sacoda Pedra), criada pelo Decreto Estadual no 6.274, decinco de junho de 1985, situada dentro da abrangênciada APA de Santa Rita, sendo definida pela formaçãode um cordão arenoso que se estende desde a barrado Complexo Estuarino-lagunar Mundaú/Manguabaaté o término da parte que fica descoberta do recifede arenito durante as variações de marés. A Área deProteção Ambiental do Pratagy (APA do Pratagy)criada com base no Decreto Estadual no 37.589,datado de cinco de junho de 1998, com o objetivo depromover o manejo ambiental da bacia do rio Pratagy,visando garantir a oferta de água em qualidade equantidade, vital para o abastecimento de água potávelpara a cidade de Maceió. A Reserva Ecológica deManguezais da Lagoa do Roteiro (RESEC da Lagoado Roteiro) criada com base na Lei Estadual no 32.355,datada de três de junho de 1987, para a conservaçãoda extensa área de manguezal que constitui umimportante reduto de renovação e manutenção dosestoques pesqueiros da região, sendo a lagoa doRoteiro a quarta em extensão no estado.LITORAL SUL – Existem duas unidades de conservação,uma em nível estadual e outra em nível federal. AÁrea de Proteção Ambiental da Marituba do Peixe(APA da Marituba do Peixe), criada a partir do DecretoEstadual no 32.858, datado de cinco de março de 1988,inclui as principais várzeas localizadas às margens dorio São Francisco. A Área de Proteção Ambiental dePiaçabuçu (APA de Piaçabuçu) criada pelo DecretoFederal no 88.421, datado de 21 de junho de 1983,abrange quase toda a extensão correspondente à áreado município de mesmo nome, incluindo algumas dasprincipais ilhas e a foz do rio São Francisco. A EstaçãoEcológica da Praia do Peba, criada dentro da APA dePiaçabuçu, para preservar as áreas de desova detartarugas marinhas ameaçadas de extinção e de áreasutilizadas para alimentação e descanso de avesmigratórias.

7. MATERIAL E MÉTODOS

Os resultados obtidos baseiam-se em dadospretéritos, compilados de mapeamentosdesenvolvidos a partir de informações pré-existentes,disponibilizadas por diferentes fontes, os quaispossibilitam o delineamento dos ecossistemas e das

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análises das alterações ambientais. Entretanto, deve-se ressaltar que ainda existem muitas áreas em quefaltam os mapas digitalizados referentes à zona costeirado Estado de Alagoas. Para a elaboração dessesmapeamentos utiliza-se o Sistema Geográfico deInformação SAGA, através de convênio decooperação técnica firmado entre a UniversidadeFederal de Alagoas e a Universidade Federal do Riode Janeiro.

No Litoral Norte, que inclui dez municípioscosteiros, existem várias áreas para serem mapeadas eanalisadas, as quais variam em extensão conforme osmunicípios. Para o Litoral Central formado por dozemunicípios, encontram-se apenas quatro municípiosque possuem mapeamento completo, com os demaisapresentando áreas incompletas, inclusive na regiãonorte de Maceió, capital do estado. No Litoral Sul,composto por três municípios, apenas o municípiode Penedo ainda não está mapeado, entretanto é omunicípio que possui maior área entre os trêsanalisados.

Constata-se a ausência dos mapeamentos de váriasunidades de conservação, como parques, reservas eáreas de proteção ambiental (APAs), tanto deresponsabilidade federal, quanto estadual e municipal.Muitas dessas áreas estão instituídas há vários anos,porém ainda não possuem seus respectivoszoneamentos e planos de manejo. As unidades deconservação existentes estão localizadas em diferentesáreas do litoral alagoano, sendo a maior dessas a APACosta dos Corais, situada no Litoral Norte. Omapeamento apresentado das áreas dessas unidadesde conservação encontra-se baseada apenas nasreferências das coordenadas geográficas, de acordocom os textos das publicações impressas no DiárioOficial do Estado de Alagoas e no Diário Oficial daUnião, conforme a competência administrativa,somados também as informações publicadas por Auto(1988).

8. RESULTADOS

8.1. Aspectos do Zoneamento

Com base nas informações pretéritas reunidassão identificados e classificados os diferentes usos,com intensidade de atividades variadas para as áreaslitorâneas existentes ao longo da zona costeira do

Estado de Alagoas. Opta-se em considerar duasclassificações: Áreas de Importância Ecológica eÁreas de Importância Sócio-Econômica.

ÁREAS DE IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA: Baseiam-se nalegislação vigente, somadas as informações ambientaisdos ecossistemas existentes na zona costeira doEstado de Alagoas. A finalidade deverá ser a proibiçãode todo e qualquer tipo de atividade antrópica quealtere as condições ecológicas locais existentes, tendocomo função servir de área de refúgio e dereprodução para a fauna e a flora, tanto nosecossistemas terrestres quanto nos ecossistemasaquáticos, sendo necessário um monitoramentoconstante em todas as respectivas áreas.

Áreas de Preservação Permanente – Definição baseadana Resolução do Conselho Nacional de MeioAmbiente (CONAMA) nº 303, publicada em 20 demarço de 2002, a qual inclui todos os ecossistemasmencionados como mata de encosta, mata ciliar,restingas, dunas e manguezais, além dos ambientesrecifais de acordo com a LEI nº 9.605, publicada em12 de fevereiro de 1998.

Unidades de Conservação – Considera-se todas asáreas criadas legalmente, de acordo com asinformações publicações nos Diários Oficiais doEstado e da União, cujos limites delimitam-se combase em coordenadas geográficas específicas,podendo ser denominadas como parques, reservas eáreas de preservação permanente (APAs), tanto juntoa esfera municipal, estadual quanto a federal.

ÁREAS DE IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA: Incluiaquelas áreas consideradas relevantes para odesenvolvimento sustentável da zona costeiraalagoana, como exposto a seguir:

Áreas de Expansão Urbana - Áreas localizadas noentorno das cidades, as quais apresentam condiçõesadequadas para a ampliação urbana, incluindo oaumento das obras de construção civil e demaisbenfeitorias para o crescimento das cidades.

Áreas de Agricultura - Estas áreas em geral já seencontram definidas e utilizadas por diferentesatividades agrícolas, com predomínio de plantaçõesde cana-de-açúcar. Entretanto, muitas dessas áreasdeverão ser redimensionadas, para se adequarem àsleis ambientais e assim reduzirem os impactoscausados aos ecossistemas, principalmente da MataAtlântica.

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Áreas Industriais - Em alguns municípios já seencontram delimitadas e dimensionadas áreasexclusivas para o desenvolvimento de pólosindustriais, como é o caso dos municípios de Maceióe Marechal Deodoro. Entretanto, na maioria dosdemais municípios costeiros alagoanos, os critériospara a instalação de indústrias ainda não estãodefinidos e baseiam-se no estudo de situaçõesespecíficas, acarretando muitas vezes instalaçõesinadequadas, do ponto de vista ambiental e sócio-econômico.

Áreas de Transporte - A áreas utilizadas por diferentestipos de transporte, terrestres e aquáticos, apresentam-se caracterizadas em duas categorias: a) os corredorespara transporte pesado, representados pelas estradasde rodagens e rotas de navegação, por onde deverãotrafegar veículos e embarcações de médio e grandeporte, como caminhões, ônibus e barcos de pesca eb) os corredores de transporte leve, onde serápermitido somente o trânsito de automóveis epequenas embarcações, como veículos particulares,embarcações a motor, barcos a vela e jangadas,embarcações construídas com toras de madeira e vela,típicas do nordeste brasileiro. Nos ambientesaquáticos os corredores de transportes serãodemarcados por meio de bóias específicas, quandonecessário, em locais a serem determinados, utilizandoquando adequado as rotas atuais de embarcações.

Áreas para Turismo - Locais para realização dasatividades ligadas ao turismo deverão ser delimitadas,tanto nos ambientes terrestres quanto aquáticos,incluindo passeios com diferentes automóveis eembarcações, pois muitas destas áreas estãolocalizados nas Unidades de Conservação. Nosecossistemas terrestres podem ser demarcadas trilhasecológicas e diferentes locais de lazer. Nosecossistemas aquáticos, principalmente junto aosecossistemas recifais, podem ser localizadas áreas paraancoragem das embarcações, áreas de sacrifício parao pisoteio no substrato recifal e áreas para a realizaçãode mergulhos autônomos.

Área de Pesca Artesanal - Estas áreas já se encontramdefinidas pelos seus respectivos usuários e passarão aser de uso exclusivo para a utilização pelos pescadoresartesanais, com embarcações e apetrechos de pescaapropriados, sendo os mesmo devidamentecadastrados junto às colônias de pesca e aos demais

órgãos competentes.Áreas para Aquacultura - As áreas a serem utilizadas

para esta atividade deverão seguir rigorosamente alegislação vigente, em todos os aspectos ambientais elegais. Essa atividade deverá visar o estímulo à criaçãode espécies nativas e proibir a criação de espéciesexóticas em ambientes naturais. Com relação àutilização de tanques-rede, essa prática deverá serbaseada somente na criação de espécies nativas,principalmente em áreas naturais dos ecossistemasestuarinos, onde somente poderá ser instaladaqualquer unidade produtiva após a realização dozoneamento e ordenamento espacial específico. Comrelação à carcinocultura, o Estado de Alagoas possuiapenas dois empreendimentos, que vem causandoimpactos ambientais nas respectivas regiões ondeforam instaladas e apresentando um produto sócio-econômico pouco significativo. Poucas serão as áreascosteiras onde será possível a prática desse tipo deatividade, devido aos aspectos geomorfológicos dolitoral e da existência de várias unidades deconservação, como a APA Costa dos Corais, quecompreende toda a zona costeira do Litoral Norte deAlagoas.

8.2. CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS

Baseia-se no tipo de uso proposto para ozoneamento da região costeira alagoana,considerando-se as características ambientais e osaspectos sócio-econômicos regionais.

ÁREAS APROPRIADAS - Todas as áreas onde jáexistem cidades, indústrias, atividades agropecuáriase demais atividades econômicas. Entretanto, deveainda ser realizado o zoneamento das referidasatividades, visando o monitoramento ambiental e aproposta do desenvolvimento sustentável, com aaplicação dos Termos de Ajuste de Conduta (TAC),que servem como instrumentos jurídicos pararecuperação de áreas degradadas a ser firmado entrealguns dos órgãos de fiscalização governamentais,estadual ou federal conforme a competências, e a parteinteressada que geralmente é um infrator ambiental.

ÁREAS APROPRIADAS COM RESTRIÇÃO - Essas áreasestão determinadas para usos específicos,considerando-se as características dos ecossistemascosteiros existentes e a capacidade de suporte de cargaem cada local, cabendo a definição dessas normas

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pelos órgãos competentes. Como resultados práticosdeverão ser criados trilhas ecológicas, corredores paradiversos tipos de transportes terrestres e aquáticos,locais de ancoragem para barcos comerciais e depasseio, áreas de turismo aquático, áreas paramergulho autônomo, entre outros.

ÁREAS NÃO APROPRIADAS – São áreas consideradasexclusivas de preservação e proteção ao meioambiente, as quais representam amostras dosdiferentes ecossistemas existentes ao longo da zonacosteira alagoana. Nestas áreas é proibida toda equalquer atividade de origem antrópica que venhacausar ameaça e/ou impacto ambiental aosecossistemas nelas localizados. Essas áreas referem-se às Unidades de Conservação, como reservasecológicas, APAs e parques.

8.3. NOVA DISTRIBUIÇÃOADMINISTRATIVA

Tendo como base as informações obtidas, tantocom relação aos aspectos ecológicos quanto sócio-econômicos, e considerando-se o maior número deaspectos semelhantes entre os municípios envolvidos,opta-se por propor algumas alterações na distribuiçãoadministrativa dos municípios localizados na zonacosteira do Estado de Alagoas (Fig. 5).

LITORAL NORTE - Municípios: Maragogi,Japaratinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres,Passo de Camaragibe, Porto Calvo, Matriz deCamaragibe, São Luiz do Quitunde e Barra de SantoAntônio, permanecendo nove municípios, apenascom o deslocamento do município de Paripueira.

LITORAL CENTRAL - Municípios: Paripueira, Maceió,Marechal Deodoro, Rio Largo, Santa Luzia do Norte,Pilar, Coqueiro Seco, Satuba, São Miguel dos Campose Barra de São Miguel, reunindo ao todo dez

Figura 5 - Mapa geral da nova distribuição administrativa proposta para a zona costeira do Estado de Alagoas.

Figure 5 – General distribution map of the new administrative proposal for the coastal zone of the Alagoas State.

Fonte: modificado de Correia (2003)

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municípios, sendo incluído o município de Paripueira,por ser considerado como um município pertencentea Grande Maceió, sendo ainda deslocados os trêsmunicípios mais ao sul, os quais apresentam umconjunto de características distintas dos demais.

LITORAL SUL - Municípios: Roteiro, Jequiá da Praia,Coruripe, Feliz Deserto, Piaçabuçu e Penedo,totalizando seis municípios, sendo incluídos osmunicípios de Roteiro, Jequiá da Praia e Coruripe,pois apresentam vários aspectos semelhantes aos trêsmunicípios incluídos anteriormente.

8.4. SITUAÇÃO ATUAL

A zona costeira alagoana, em quase toda a suaextensão, apresenta uma vulnerabilidade ambientalalta, com uma economia ainda fortemente baseadaem atividades que causam impactos ambientais,diretos e indiretos. Muitos desses impactos vêmacarretando elevado grau de degradação ambiental,os quais afetam diferentes ecossistemas costeiros.Entre essas atividades antrópicas salientam-se aagroindústria canavieira e a pecuária extensiva, ambasdesenvolvidas ao longo de décadas. Essas atividades,em geral, baseiam-se em práticas de manejoinadequadas e ultrapassadas, como o corte da mataciliar de rios, lagoas, lagunas e estuários, além dolançamento de efluentes sem tratamento nos corposde água. Como agravante essas áreas, na quasetotalidade, pertencem a grandes produtores,detentores do poder sócio-econômico dos municípios,que utilizam mão-de-obra de baixa qualificação,conhecida como “bóia-fria” (Fig. 6).

A contribuição da indústria para a economia daregião é pouco diversificada, sendo baseadaprincipalmente nas usinas de açúcar e destilarias deálcool, as quais em geral estão localizadas nas regiõesdos tabuleiros, cujas áreas são conhecidas como zonada mata. Além destas existem vários matadouros,alguns curtumes e usinas processadoras de leite, todosde pequeno porte. A indústria química está restrita asempresas associadas ao grupo BRASKEN, localizadasna cidade de Maceió e no Pólo Cloroquímico, situadono município de Marechal Deodoro, litoral centraldo Estado. Ainda ocorrem muitos vazamentos porparte das indústrias, entre os quais a tiborna, vinhaçaou vinhoto, que é um dos resíduos líquidos doprocesso de fermentação do açúcar para obtenção

de etanol, ocorrendo em geral na proporção de umlitro de etanol para 8 a 10 litros de tiborna (Medeiros,1996). Este resíduo, quando lançado nos rios, chegaaos estuários e devido a grande quantidade de matériaorgânica resultam no processo denominadolocalmente de “verdete”, o qual causa um “bloom”,ou seja uma grande proliferação de microalgas queconsomem o oxigênio da água, causando grandesmortandades de peixes, crustáceos e moluscos(Fig. 7).

Na região oceânica a pesca tradicional é umaatividade de grande importância social para a região.Porém a produção pesqueira vem decrescendo porfalta de uma política adequada e de proteção contra apesca predatória, a qual pode ser considerada comouma das mais impactantes atualmente nas áreascosteiras, somadas a sobrepesca e a pesca em áreasde procriação, mesmo durante os períodos de defeso(Santos, 2000; Santos & Freitas, 2000). Em relação aesses impactos, pode-se constatar na prática que osarrastos de camarão realizados ao longo da costaalagoana vêm ao longo dos anos apresentandoredução na produção comercial (Fig. 8).

Outra atividade exploratória de difícilquantificação e controle é aquela praticada por muitasfamílias ribeirinhas, que vivem da extração dediferentes recursos naturais, entre esses os moluscoscomo o polvo (Octopus vulgaris) e os bivalves, como osururu (Mytella charruana), a ostra (Crassostrearhizophorae), o maçunim (Anomalocardia brasiliana) e aunha-de-velho (Tagelus plebeius). Entre estes, a ostra eo sururu, bivalves típicos dos estuários do litoral deAlagoas, são alvos de vários trabalhos quedemonstram a influência direta da salinidade no cicloreprodutivo e na produção natural destes moluscos(Correia, 1996). Além destes também são exploradasvárias espécies de crustáceos, como caranguejos(Cardisoma guaiumi, Goniopsis cruentata e Ucides cordatus),siris (Callinectes danae e Callinectes exasperatus) e a lagosta(Panulirus argus e Panulirus echinatus) (Costa, 1980).Todas estas espécies, junto a muitas outras de peixesestuarinos e marinhos, estão sendo exploradas semnenhum controle, o que somado aos impactosdecorrentes dos fatores de poluição aquática,associados ao descontrole da pesca, vem acarretandoa redução dos estoques naturais em várias regiõesestuarinas e recifais. Em muitas áreas, onde os

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ecossistemas aquáticos encontram-se maisintensamente explorados, já foi constatada a ausênciade determinadas espécies, consideradas de maior valoreconômico, o que poderá acarretar a extinção dasmesmas em determinadas áreas (ANA, 2006)(Fig. 9).

Nos ecossistemas recifais os impactos dasatividades turísticas ocorrem principalmente nas áreasconhecidas como piscinas naturais e galés, devido aonúmero elevado de turistas, o lançamento de âncorase o pisoteio sobre o substrato recifal, somados aouso de equipamentos de mergulho sem orientaçãoadequada. Todos estes fatores vêm acarretando adestruição de inúmeras espécies marinhas, entre essesprincipalmente corais, esponjas e algas, organismosfixos, alterando a estrutura trófica destas comunidadese comprometendo assim a biodiversidade recifal,considerada uma das mais elevadas nos ecossistemastropicais (Connell, 1978). Entre as áreas recifais maisimpactadas devido ao pisoteio, lixos, coleta deorganismos, lançamento de âncoras, óleos dasembarcações, estão a piscina natural da Pajuçara, emMaceió, os recifes de Paripueira e de São Miguel dosMilagres, além das galés de Maragogi. Todas essasáreas vêm sendo exploradas pelo turismodesordenado há vários anos, intensificadoprincipalmente nos meses de verão, devidodiariamente ao aumento no número excessivo deturistas e de barcos nesses recifes, muitos dos quaisse encontram dentro dos limites da APA Costa dosCorais (Fig. 10).

Os problemas ambientais que vêm sendointensificados mais recentemente decorrem da práticade atividades relacionadas à ocupação desordenada edo turismo inadequado ao longo do litoral alagoano,principalmente nas regiões próximas à linha de costa.Nas praias, restingas e lagoas, as áreas litorâneasconstituídas por Terrenos de Marinha quecorrespondem à faixa de 33 metros acima da preamardas marés de sizígia, vêm sofrendo a ocupaçãodesordenada devido a implantação de loteamentos,condomínios, bares e restaurantes, os quais na grandemaioria são construções irregulares e semlicenciamento, sem possuir infra-estrutura básica enem sanitária, acarretando sérios problemas deacúmulo de lixo e esgotamento sanitário (Fig. 11).

Os empreendimentos no setor turístico

encontram-se mais concentrados na cidade de Maceió,tendo-se verificado também em algumas cidades umaumento considerável de pousadas e de pequenoshotéis, principalmente ao longo do litoral norte. Existea perspectiva da instalação de vários empreendimentosturísticos de grande porte, em diferentes pontos aolongo de toda a costa alagoana, o que provavelmenteacarretará em um aumento considerável de impactosambientais, caso estes empreendimentos sejamlicenciados e implantados de forma desordenada esem adequação ambiental, como já constatado emalguns casos que fizeram ampliações posterioresirregulares e sem licenciamento (Fig. 12).

Outra incompatibilidade de uso pode ser verificadana região do baixo rio São Francisco, no litoral sul deAlagoas, onde após a construção da UsinaHidroelétrica de Xingó, todo o ecossistema aquáticofoi alterado, principalmente em relação à dinâmicadas enchentes (Medeiros, et al ., 2007). Estamodificação vem acarretando sérios impactosambientais, principalmente nos ecossistemas daVárzea da Marituba e junto à região da foz deste rio.Verifica-se nos últimos anos a redução drástica daquantidade de captura do camarão marinho pelosbarcos de pesca comercial, mesmo com o aumentodo esforço de trabalho (Santos & Freitas, 2006).Adicionalmente, nesta área existem duas unidades depreservação, sendo uma a nível federal e outra a nívelestadual, nas quais a qualidade ambiental está sendodeteriorada rapidamente, devido aos vários impactosambientais decorrentes das atividades antrópicas aolongo do rio São Francisco e na zona costeira próximaa sua foz devido a pesca de arrasto de camarão(Fig. 13).

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Fotos: M. D. CorreiaFigura 6 – Desmatamento em áreas de preservação permanente no Litoral Sul do Estado de Alagoas: (A) Mataciliar e (B) Mata AtlânticaFigure 6 – Deforestation in preserving areas in the South Coast of Alagoas State: (A) Gallery Florest and (B) Atlantic Florest

Fotos: M. D. CorreiaFigura 7 – Ocorrências de Verdete na Lagoa Manguaba no Litoral Central do Estado de Alagoas: (A) Canal deligação com o mar e (B) Margem da cidade de Marechal Deodoro.Figure 7 – Bloom on Manguaba coastal lagoon in the Central Coast of Alagoas State: (A) Channel to the sea and (B) coast fromMarechal Deodoro city.

Foto: M. D. CorreiaFigura 8 – Pesca de arrasto de camarão no Pontal do Peba,foz do rio São Francisco no Litoral Sul do Estado deAlagoas.Figure 8 – Fisheries of trawling for shrimp in the Pontal do Peba,mouth of the river San Francisco in the South Coast of AlagoasState.

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Fotos: M. D. CorreiaFigura 9 – Pescador artesanal de Paripueira no Litoral Norte do Estado de Alagoas.Figure 9 – Local collectors of sea food from Paripueira in the North Coast of Alagoas State.

Fotos: M. D. CorreiaFigura 10 – Impacto do turismo nos ecossistemas recifais da zona costeira do Estado de Alagoas: (A)Piscina Natural da Pajuçara na costa de Maceió e (B) recifes das galés de Maragoigi na APA Costa dosCorais, Litoral Norte.Figure 10 – Tourists impact on ecosystem reefs in the coastal zone of Alagoas State: (A) Pajuçara natural pool on Maceiócoast and (B) Maragogi coral reefs in the APA Costa dos Corais, North Coast.

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Fotos: M. D. CorreiaFigura 12 – Atividades hoteleiras irregulares na zona costeira da APA Costa dos Corais, Litoral Norte doEstado de Alagoas: (A) Desmatamentos e (B) Ampliações de construções.Figure 12 – Activities irregular hotel in the coastal zone in the Coral Coast APA, North Coast in the Alagoas State: (A)Deforestation and (B) Enhancements of buildings

Fotos: M. D. CorreiaFigura 11 – Construções irregulares na zona costeira do Estado de Alagoas: (A) Pontal do Coruripe no LitoralSul e (B) Barra de São Miguel no Litoral Central.Figure 11 – Irregulars buildings in the in the coastal zone of Alagoas State: (A) Pontal do Coruripe in the South Coast and (B)Barra de São Miguel on Central Coast.

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8.5. POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES

Existem os aspectos positivos referentes apotencialidades e os aspectos negativoscorrespondentes às limitações. Estes aspectosrelacionam-se diretamente com as potencialidadesambientais e sócio-econômicas existentes no litoralde Alagoas, sendo estas limitadas pela capacidade desuporte de carga de cada ecossistema costeiro. O usodas potencialidades favoráveis deve ser baseado ematividades praticadas de forma sustentável, visando apreservação e a conservação dos recursos naturais.As limitações ao uso produtivo, excluídas as restriçõesadministrativas e legais, deve levar em consideraçãoo grau de intensidade dos impactos ambientais e davulnerabilidade ambiental local. As estratégias de usodos recursos naturais devem basear-se nodesenvolvimento sustentável, onde as atividadeseconômicas implementadas devem conviverharmoniosamente com a capacidade de suporte dosecossistemas envolvidos, visando à preservação daqualidade ambiental e da biodiversidade costeira.

Atualmente existem inúmeras incompatibilidadeslegais, que envolvem questionamentos quanto à

Foto: M. D. CorreiaFigura 13 – Foz do rio São Francisco no Litoral Sul do Estado de Alagoas.Figure 13 – Mouth of the river San Francisco in the South coast of Alagoas State.

competência e responsabilidade legal dos diferentesórgãos responsáveis, nos três níveis da administraçãopública, os quais atuam na zona costeira do Estadode Alagoas. Essas divergências resultam nasobreposição entre áreas legalmente protegidas, combase na publicação dos decretos de criação de cadauma das unidades de conservação. Essas dificuldadesadministrativas resultam, muitas vezes, na autorizaçãopara a implantação de diferentes atividades sócio-econômicas incompatíveis com o objetivo propostopara as unidades de conservação existentes ao longoda costa alagoana, principalmente com relação àampliação da rede hoteleira e as atividades turísticas.Muitos fatos concretos dessa natureza têm sidoidentificados, os quais vários foram alvos de processosjunto à justiça estadual e federal.

As potencialidades estão diretamente associadasao desenvolvimento de uma gestão sustentável eecologicamente adequada dos ecossistemas costeiros,por parte de toda a sociedade. Como exemplo, noslocais utilizados para o turismo junto aos ecossistemasrecifais e manguezais, deverão ser definidas áreasespecíficas para os diferentes usos, tanto com relação

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às atividades ligadas à pesca quanto ao turismo, deforma a serem exploradas racionalmente, visando ouso sustentável e ecologicamente correto, tendo comobase a legislação ambiental vigente.

Para o estabelecimento de propostas destanatureza torna-se imprescindível o desenvolvimentode um programa integrado com as populações locais,incluindo todos os usuários e administradores, deforma que todos participem conjuntamente domonitoramento das atividades e da respectivafiscalização. Todas as atividades antrópicas registradasneste estudo são consideradas como causadoras deimpactos ambientais nos ecossistemas costeirosalagoanos. Muitas destas atividades também acarretamproblemas, direta ou indiretamente junto àspopulações locais. Sendo assim, propõem-se entãouma gestão participativa, onde a sociedade como umtodo trabalhe interligada, objetivando de formaconjunta a preservação do nosso patrimônio natural,a efetiva melhoria da qualidade de vida das populaçõesenvolvidas, o que resultará no desenvolvimentosustentável da zona costeira alagoana (Fig. 14).

8.6. DISCUSSÃO

A caracterização histórica da zona costeira doEstado de Alagoas demonstra que, desde o início daocupação humana, os ecossistemas costeirosalagoanos vêm sofrendo inúmeros impactosantrópicos, diretos e indiretos, decorrentes dedesmatamentos, implantação da agroindústriacanavieira e poluição. Somam-se a estes problemasos impactos decorrentes do crescimento desordenadodas cidades, incluindo os aspectos populacionais eindustriais, principalmente devido à ausência de infra-estrutura e de saneamento básico. Recentemente, oprocesso de desenvolvimento da zona costeira doEstado de Alagoas encontra-se primordialmentedirecionado para a expansão do turismo e da expansãode empreendimentos imobiliários, com a ampliaçãoda rede hoteleira e a instalação de loteamentos, muitosde forma inadequada. Acrescentam-se ainda váriasatividades turísticas desordenadas, como o uso eexploração inadequada principalmente dosecossistemas recifais e manguezais, acarretando adestruição desses ecossistemas.

As atividades econômicas atuais, ainda queincipientes do ponto de vista de geração do produtoeconômico, reúnem atividades com potencial paracontribuir e para superar o estado letárgico em quese encontra o sistema econômico alagoano,influenciando indiretamente os setores da economiatradicional. Entre as atividades que podem seradequadamente planejadas e desenvolvidas lista-se oturismo sustentável e a aquacultura de espécies nativas,de forma que contribuam para a melhoria da qualidadede vida da população. Todas estas atividades, hoje nagrande maioria inadequadamente implantadas, aomesmo tempo em que promovem oportunidades detrabalho e desenvolvimento, vêm acarretando gravesriscos e impactos ambientais, os quais em um futuroimediato comprometem a proposta de umdesenvolvimento sustentável para toda a zona costeiraem questão (Redmanglar, 2002).

Muitas das atividades econômicas mencionadasacima, desde que realizadas de forma ambientalmentecorreta, com base em um plano de gestão sustentável,podem ser consideradas adequadas ambientalmente,passando a contribuir como fator de melhoria dascondições ambientais e sócio-econômicas para aregião costeira alagoana. Ressalta-se ainda que os

Figura 14 – Organograma de Planejamento paraGestão Participativa e o Desenvolvimento Sustentáveldos Ecossistemas Costeiros.Figure 14 – Organizational chart of Participatory Planningand Management for Sustainable Development of CoastalEcosystems.

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ecossistemas localizados na zona costeira do Estadode Alagoas apresentam inúmeras áreas consideradasmuito frágeis, principalmente aquelas diretamentelocalizadas próximas à linha de costa. Nestas áreasestão incluídos os ecossistemas de restingas, dunas,estuários, lagunas, manguezais e recifes. Além destes,os ecossistemas de Mata Atlântica, representados pelasmatas dos tabuleiros, das encostas e ciliares, tambémsão considerados muito frágeis, devido à elevadabiodiversidade e as poucas áreas ainda existentes commanchas de mata nativa (Correia & Sovierzoski, 2005).

Os dados levantados apontam as necessidades eas demandas locais, bem como as perspectivas desoluções sustentáveis necessárias para cadaecossistema e as atividades antrópicas nelesdesenvolvidas. Sendo assim, torna-se urgente aatualização do mapeamento das alterações ambientaisem cada um dos ecossistemas costeiros citados. Esteprocedimento proporcionará condições para aidentificação das unidades espaciais de intervençãoque se fizerem necessárias, de acordo com ascaracterísticas ambientais, sociais e econômicas locais,tanto com relação aos aspectos favoráveis quanto aosrestritivos. O conjunto dessas unidades espaciaisconfigurará as áreas nas quais serão desenvolvidas eprojetadas as ações de planejamento. Os limites destasáreas serão definidos a partir do mapeamento dosecossistemas existentes, contendo os padrões de usoe cobertura dos solos, os quais poderão incluir totalou parcialmente, um ou mais municípios, objetivandoassim a realização do plano de gestão sustentável paraa zona costeira do Estado de Alagoas. Desta forma,o gerenciamento participativo e ambientalmentecorreto resultará no desenvolvimento sustentável parao litoral de Alagoas, como demonstrado em inúmerosestudos e propostas (Callenbach et al., 1993;Lindenberg & Hawkins, 1995).

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constata-se que o modelo histórico daestruturação da zona costeira alagoana, assim comotodo o Estado de Alagoas, tanto nas áreas urbanasquanto rurais, resulta num processo dedesenvolvimento muitas vezes autodestrutivo. Aestrutura sócio-econômica, a qual vem sedesenvolvendo ao longo de décadas, impondopadrões de desigualdade intra-regional, produzindo

a concentração do poder sócio-econômico,conseqüentemente político, dos vários segmentosterritoriais, acarretando inúmeras desigualdades sociaise econômicas em vários segmentos, muitos dos quaisse encontram estagnados hoje.

Evidentemente existem múltiplos usos, mais oumenos apropriados, mais ou menos consolidados,com maior ou menor grau de impacto ambiental aolongo da zona costeira alagoana. Entretanto, nasunidades de conservação, legalmente protegidas, osórgãos gestores devem priorizar as ações pertinentesà proteção, recuperação e consolidação dessas áreas.Muitos dos impactos antrópicos observados resultamdas dificuldades para avaliar a capacidade de suportedos ecossistemas, considerando os aspectos dadiversidade e produtividade biológica, acarretando umprocesso de empobrecimento biológico e degradaçãoambiental, verificado nas duas últimas décadas emdiferentes áreas do litoral alagoano.

Algumas propostas encontram-se formuladasvisando à criação de uma gestão participativa dasociedade com o meio ambiente, para alcançar odesenvolvimento sustentável da zona costeira doEstado de Alagoas. A gestão participativa deverá serdesenvolvida rapidamente, pois o que se vemobservando ao longo dos últimos anos é um processocada vez mais acelerado de deterioração das condiçõesambientais, de modo geral, para todo o Estado deAlagoas, sendo mais acentuado na zona costeira.Entretanto, pretende-se também esclarecer que existeum grande espaço para discussões, em função docaráter pretérito dos dados reunidos durante odesenvolvimento do referido trabalho, visando àobtenção de soluções adequadas, tendo como baseum futuro projeto de gestão participativa e integrada,nas formas ambiental, social, econômica e legal,objetivando promover o desenvolvimento sustentávele ambientalmente adequado da zona costeira doEstado de Alagoas.

BIBLIOGRAFIA

Costa, M. J. P. (coord.) (1980) - Projeto de LevantamentoEcológico e Cultural das regiões das Lagoas Mundaúe Manguaba. v. 2. p. 335-605. Secretaria deEstado do Planejamento e do Orçamento(SEPLAN), Maceió, AL, Brasil.

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