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Informativo do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará - 7ª Região - Ano 11 - nº 43 - maio de 2011 Entrevista: CE e a Justiça do Trabalho em perspec- tiva - págs. 4 e 5 Memória: Maranhenses recorrem à Justiça do Trabalho no CE - pág. 8 TRT/CE lança selo co- memorativo para cele- brar 70 anos - pág. 7 Justiça do Trabalho possui DNA cearense - pág. 3 Cinco meses após a cria- ção da Justiça do Trabalho, em 1941, um grupo de pescado- res artesanais cearenses, após percorrer, heroicamente, numa jangada durante dois meses, a distância 2.381 quilômetros entre Fortaleza e o Rio Janeiro, chegava ao seu destino e ob- jetivo: entregar ao presidente Getúlio Vargas uma carta em que reivindicava direitos tra- balhistas e melhores condições de trabalho. Os trabalhadores do mar, os primeiros a reivin- dicar junto à autoridade maior do País, colocavam em prática o que preconizava a nova legis- lação da qual participou da sua elaboração e regulamentação outro cearense, o jurista Wal- demar Falcão, ministro da Jus- tiça à época em que foi criada a Justiça do Trabalho no Brasil, no dia 1º de maio de 1941. A odisséia dos jangadei- ros cearenses Jerônimo André de Souza, Raimundo “Tatá” Correia Lima e Manuel “Preto” Pereira da Silva, comandados por Manuel Olím- pio “Jacaré”, que morreu tragica- mente afogado no mar de São Conra- do (veja matéria na página 3), começou no dia 14 de setembro de 1941. Segundo o jornalista Edmar Morel, no livro “Histó- ria de um repórter”, “após 61 dias de viagem, os pescadores foram acolhidos em apoteo- se no Rio de Janeiro, levados em carro aberto ao Palácio do Catete e recebidos pelo ditador Getúlio Vargas”. O mais falan- te era Manoel Olímpio Meira, o Jacaré, líder do grupo e da Colônia de Pescadores Z-1, localizada na antiga Praia do Peixe, hoje Praia de Iracema. Ao todo, os quatro tripulantes tinham 28 filhos, todos morando em palhoças com chão de terra batida. Até aquela data, a assistência médico- social do poder público à profissão de pescador era ine- xistente. Ao encontrar-se com o presidente Getúlio Vargas e ser indagado sobre a situação de sua categoria, o jangadeiro Jacaré respondeu-lhe: “Esta- mos na mais negra desgraça. Cearenses navegam 2.300 km para reinvidicar direitos Não temos nada, nem mesmo o Instituto dos Marítimos nos ajuda. Moramos em palhoça, os meninos não estudam e nos- so divertimento é fazer filhos”. Consta que o presidente, pouco tempo depois, decretaria para a categoria direito aos benefícios do Instituto de Aposentadoria dos Marítimos. Todavia, mesmo com o gesto assistencialista de Getú- lio Vargas, a permanência dos quatro famosos jangadeiros, no antigo Distrito Federal, não foi fácil. O Departamento de Or- dem Política e Social - DOPS, órgão repressor do Estado Novo (1939/1945) vigiaria os passos dos cearenses, em es- pecial de Jacaré, imaginando ligações com adversários polí- ticos do governo. Getúlio recebe os pescadores Jerônimo André de Souza, Raimundo “Tatá” Correia Lima, Manuel “Preto” Pereira da Silva e Manuel Olímpio “Jacaré” Cinco meses após a instalação da Justiça do Trabalho do Ceará, um grupo de quatro pescadores artesanais navegou de Fortaleza ao Rio de Janeiro para entregar uma carta com reivindicações ao presidente Getúlio Vargas

Getúlio recebe os pescadores Jerônimo André de Souza ... · lação da qual participou da sua elaboração e regulamentação ... órgão repressor do Estado Novo ... do continente

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Informativo do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará - 7ª Região - Ano 11 - nº 43 - maio de 2011

Entrevista: CE e a Justiça do Trabalho em perspec-tiva - págs. 4 e 5

Memória: Maranhenses recorrem à Justiça do Trabalho no CE - pág. 8

TRT/CE lança selo co-memorativo para cele-brar 70 anos - pág. 7

Justiça do Trabalho possui DNA cearense - pág. 3

Cinco meses após a cria-ção da Justiça do Trabalho, em 1941, um grupo de pescado-res artesanais cearenses, após percorrer, heroicamente, numa jangada durante dois meses, a distância 2.381 quilômetros entre Fortaleza e o Rio Janeiro, chegava ao seu destino e ob-jetivo: entregar ao presidente Getúlio Vargas uma carta em que reivindicava direitos tra-balhistas e melhores condições de trabalho. Os trabalhadores do mar, os primeiros a reivin-dicar junto à autoridade maior do País, colocavam em prática o que preconizava a nova legis-lação da qual participou da sua elaboração e regulamentação outro cearense, o jurista Wal-demar Falcão, ministro da Jus-tiça à época em que foi criada a

Justiça do Trabalho no Brasil, no dia 1º de maio de 1941.

A odisséia dos jangadei-ros cearenses Jerônimo André de Souza, Raimundo “Tatá” Correia Lima e Manuel “Preto” Pereira da Silva, comandados por Manuel Olím-pio “Jacaré”, que morreu tragica-mente afogado no mar de São Conra-do (veja matéria na página 3), começou no dia 14 de setembro de 1941. Segundo o jornalista Edmar Morel, no livro “Histó-ria de um repórter”, “após 61 dias de viagem, os pescadores foram acolhidos em apoteo-se no Rio de Janeiro, levados em carro aberto ao Palácio do

Catete e recebidos pelo ditador Getúlio Vargas”. O mais falan-te era Manoel Olímpio Meira, o Jacaré, líder do grupo e da Colônia de Pescadores Z-1,

localizada na antiga Praia do Peixe, hoje Praia de

Iracema. Ao todo, os quatro tripulantes tinham 28 filhos, todos morando em palhoças com chão de terra batida.

Até aquela data, a assistência médico-

social do poder público à profissão de pescador era ine-xistente. Ao encontrar-se com o presidente Getúlio Vargas e ser indagado sobre a situação de sua categoria, o jangadeiro Jacaré respondeu-lhe: “Esta-mos na mais negra desgraça.

Cearenses navegam 2.300 km para reinvidicar direitos

Não temos nada, nem mesmo o Instituto dos Marítimos nos ajuda. Moramos em palhoça, os meninos não estudam e nos-so divertimento é fazer filhos”. Consta que o presidente, pouco tempo depois, decretaria para a categoria direito aos benefícios do Instituto de Aposentadoria dos Marítimos.

Todavia, mesmo com o gesto assistencialista de Getú-lio Vargas, a permanência dos quatro famosos jangadeiros, no antigo Distrito Federal, não foi fácil. O Departamento de Or-dem Política e Social - DOPS, órgão repressor do Estado Novo (1939/1945) vigiaria os passos dos cearenses, em es-pecial de Jacaré, imaginando ligações com adversários polí-ticos do governo.

Getúlio recebe os pescadores Jerônimo André de Souza, Raimundo “Tatá” Correia Lima, Manuel “Preto” Pereira da Silva e Manuel Olímpio “Jacaré”

Cinco meses após a instalação da Justiça do Trabalho do Ceará, um grupo de quatro pescadores artesanais navegou de Fortaleza ao Rio de Janeiro para entregar uma carta com reivindicações ao presidente Getúlio Vargas

Informativo do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará - 7ª Região2

Os 70 anos de uma Justiça jovem. Muitas instituições en-velhecem, definham e acabam, pela ineficiência em face da evo-lução da sociedade em que se acham constituídas. Nascida na década dos anos quarenta, essa septuagenária Justiça do Traba-lho, entretanto, continua jovem e cada vez mais jovem. O espíri-to que presidiu a sua criação não se descuidou da modernidade, de sorte que conciliadora e de atuação marcante do magistra-do em sala de audiência, está na atualidade em sintonia com os avanços tecnológicos, e com os novos desafios da relação de trabalho. Estruturada de forma exemplar, presta-se a resolver com celeridade os embates nas-cidos da prestação de serviço, com vínculo formal de trabalho, ou não, sempre forcejando por uma solução negociada entre as partes. De se regozijar ante a evidência de que tem sido capaz em toda a sua trajetória, de ofe-recer meio pacífico de resolu-ção de pendências trabalhistas. Justiça pacificadora, portanto, eis que exemplarmente dá solu-ção aos conflitos decorrentes do trabalho, no que reclamantes e reclamados desde muito tempo

reconhecem a sua utilidade e eficiência, e não se arriscam por soluções extrajudiciais de cunho precário, ou decorrentes de aten-tados contra a integridade física e moral, uns dos outros. A im-portância desse cenário avulta na sociedade de trabalhadores que somos todos nós. Milhares de operários, com carteira de trabalho, ou na informalidade, em momento algum desses anos desdenharam da capacidade de a Justiça do Trabalho responder de forma eficaz aos anseios de justiça. Imprescindível na sen-da da justiça social inacabada, quando ainda se espera que o capital seja consentâneo com função mais nobre do que en-riquecer o investidor, simples-mente, a Justiça do Trabalho tem sido lenitiva nas tensões sociais. Desde a origem é seguramente a que mais aproxima o juiz das partes litigantes. Desse contato nasceu a confiança, o diálogo franco que porfia em dar à Justi-ça do Trabalho seu caráter único e peculiar de justiça principal-mente conciliadora. A Justiça do Trabalho no Ceará remonta aos primeiros dias de sua própria existência como ramo do Poder Judiciário. Há nesse fato todo

um envolvimento histórico, eis que gerações de funcionários e juízes se sucederam, conferin-do credibilidade e consistência. Se hoje comemoramos, não há esquecer de nossos predeces-sores, aqueles que trabalhando em condições adversas, manti-veram inabalável a confiança da sociedade na instituição. Houve um tempo em que não existiam computadores e tudo era regis-trado em máquinas de escrever pelas hábeis mãos de serventu-ários dedicados. Um tempo de-pois e a informática veio subs-tituir antigos procedimentos manuais, aposentando as atas datilografadas, mas, sempre sob o impulso do trabalho de ser-vidores e magistrados. Somos os que fazem essa justiça e que conferimos a ela essa atmosfera prazenteira incessante. Deve-mos nos orgulhar por estarmos contribuindo para que assim seja. Somos agentes e partícipes dessa justiça, conferindo-lhe respeito, a certeza da celerida-de, e da eficiência. Celebremos, pois, todos nós, os 70 anos de uma justiça jovem.

Desembargador Cláudio PiresPresidente do TRT/CE

FOLHA 7 - Informativo do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará - 7ª Região

Editor: Moacir Maia CE00702JPRedação: Eliézer Rodrigues, Fátima Medina, Luiz Carlos Martins, Moa-cir Maia e Willians FaustoEditoração eletrônica: Odenes Uchôa e Hugo CardimFotografias: Carlos Cunha, StockPhotos, Arquivo NirezApoio: Antônio Carlos Santiago de Castro, Eugênio Ferraz, Solange Benevides

Av. Santos Dumont, 3384, Ed. Anexo II, 1º andar - Aldeota Fortaleza/CE - CEP: 60150-162Telefone: (85) 3388-9227E-mail: [email protected]: www.trt7.jus.brCanal YouTube: www.youtube.com/trtcearaTwitter: @trt7cearaPrograma De Fato e De Direito: quintas-feiras, às 19h, pela TV Ce-ará, com reapresentação no sábado, às 14h.

Receba a FOLHA7 na sua casa gratuitamente. Solicite enviando seu endereço completo para o nosso e-mail: [email protected]

Esta é uma edição his-tórica do Folha7 que torna evidente uma das mais signi-ficativas conquistas do povo brasileiro. Os 70 anos da Jus-tiça do Trabalho no País mar-cam, de forma definitiva, um avanço inconteste na garantia de direitos que respaldam as relações entre capital e traba-lho.

Uma edição temática que transita pelo processo histó-rico, desde os primórdios da Justiça trabalhista, nas suas origens e desafios iniciais, até alcançar uma leitura em toda a incursão evolutiva do ramo do Judiciário que mais se integra ao cotidiano da co-munidade.

Um recorte nesta história nos remete, por exemplo, ao marcante episódio dos dias primeiros da Justiça do Traba-lho, nos idos de 1941, quando quatro jangadeiros cearenses partiram do Mucuripe, indo

até o Rio de Janeiro, para reivindicar ao presidente Ge-túlio Vargas melhores condi-ções de trabalho para sua ca-tegoria profissional.

O Ceará integra-se à ori-gem da Justiça do Trabalho, faz parte dos que compuse-ram o elenco daquele projeto de formação. Isso é que jus-tifica ter o Estado figurado entre os tribunais originários a compor o primeiro desenho da Justiça laboral do País.

Aqui na 7ª Região, como fica evidente nestas páginas, a Justiça do Trabalho vem combinando, ao longo deste tempo, tradição e modernida-de, elementos fundamentais para o exercício da magis-tratura e a efetiva aplicação da Justiça. Com esta edição, acreditamos ter resgatado um pouco da memória e projeta-do um pouco do futuro.

Desejamos uma boa lei-tura!

Informativo do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará - 7ª Região 3

Na primeira semana de de-zembro de 1941, folheando a revista Time, o cineasta norte-americano Orson Welles tomou conhecimento da proeza dos quatro jangadeiros do Ceará. O diretor, ator, roteirista e protago-nista do clássico Cidadão Kane (Citizen Kane), residente em Hollywood, estava ultimando preparativos para viajar ao Bra-sil e colocar em prática a missão artística oficial do governo dos Estados Unidos, denominada de Política da Boa Vizinhança. Além de Welles, também vie-ram Walt Disney, Tyrone Power, Henry Fonda, entre outros. A II Guerra Mundial (1939/1945) abalava o mundo e o intercâmbio cultural criado pelo presidente norte-americano Franklin Roo-sevelt destinava-se a unir nações do continente contra o inimigo comum: o nazi-facismo.

O desejo de Welles era re-constituir o reide empreendido por Jacaré e seus amigos (Four Men on a Raft - Quatro homens em uma jangada) como sequên-cia do documentário It’s all true (É tudo verdade) sobre o carna-val brasileiro. O cineasta chegou no dia 8 de fevereiro de 1942, fil-mou a festa carnavalesca carioca e, um mês depois, desembarcou em Fortaleza com o intuito de fazer os primeiros contatos com os jangadeiros daquela aventu-

ra e que seria reinterpretada no filme por eles mesmos. No dia seguinte, Welles e sua equipe viajavam para São Luís e logo depois voltavam ao Rio de Ja-neiro.

Dois meses mais tarde, Jaca-ré e seus três companheiros fo-ram levados de avião até o Rio de Janeiro e hospedados no Ho-tel Copacabana Palace. Por 500 mil réis semanais, participariam de algumas cenas do episódio carnavalesco, ao lado de Grande Otelo, rodariam no aeroporto a despedida do Rio e reconstitui-riam, numa praia da Barra da Tijuca, a triunfal chegada da jan-gada São Pedro à Baía de Gua-nabara, no ano anterior.

Conta o escritor Firmino Holanda, em seu livro “Orson Welles no Ceará”, que no dia 19 de maio de 1942, os jangadeiros, na Praia do Juá, insistiram em chegar ao ponto da filmagem, navegando na mesma embarca-ção usada na travessia Fortaleza/Rio. “Uma lancha da produção rebocava a jangada. Como o mar estava bravo, resolveu-se cortar o cabo, separando as duas em-barcações. Foi quando veio uma forte onda, emborcando a janga-da e jogando os quatro homens no mar. Em princípio, o aciden-te não seria motivo de maiores preocupações, pois todos eram exímios nadadores”, relata.

Jangadeiros cearenses protagonizam filme de Orson Welles

Firmino Holanda registra que Jacaré não sobreviveu e seu corpo jamais foi encontrado. A tragédia, que abalou profunda-mente Orson Welles, inaugu-rou uma série de problemas do cineasta em terras brasileiras, principalmente na falta de apoio da produtora norte-americana (RKO), que restringiu ao mí-nimo os gastos com o trabalho, culminando com a sua demis-são. Mesmo assim, Welles con-tinuou as filmagens, em julho do mesmo ano, fazendo imagens

em Fortaleza, Recife, Salvador e no Rio de Janeiro. Porém, o fil-me nunca foi concluído.

Welles, que deixaria o Brasil para nunca mais voltar, morreria em 1986, em Hollywood. Três anos antes, foram localizadas 309 latas de suas filmagens. O cineasta Rogério Sganzerla, em 1986, realizou o longa metra-gem “Nem tudo é verdade”, so-bre os seis meses de permanên-cia de Orson Welles no Brasil, incluindo cenas dos jangadeiros do Ceará.

O jangadeiro Jacaré morreu afogado durante as filmagens do documentário

Justiça do Trabalho tem DNA cearenseDez anos antes da criação

da Justiça do Trabalho, Walde-mar Cromwell do Rego Falcão (1895/1946), nascido em Batu-rité, advogado e professor, já in-tegrava a movimentação na área trabalhista da Capital cearense. No cenário de intensa agitação operária, Waldemar Falcão par-ticipava, no dia 23 de agosto de 1931, da criação da Legião Cea-rense do Trabalho (LCT) que no mês seguinte instituiu o Tribu-nal Legionário de Conciliação e Arbitragem, que antecedeu as Juntas de Conciliação e Julga-mento em suas funções, inter-vindo nos conflitos trabalhistas e facilitando acordos entre pa-trões e empregados. Segundo Rejane Albuquerque, autora de monografia sobre a participação do Ceará na criação da Justiça do Trabalho, a atuação do ad-vogado era tão intensa e notória que no dia 27 de março de 1932 foi inquirido pelo ministro do Trabalho, Indústria e Comér-

cio, Lindolfo Collor (avô do ex-presidente Collor de Melo), para responder pela greve dos trabalhadores da Ceará Traway, Light & Power (empresa inglesa que explorava o ramo de ener-gia elétrica em Fortaleza). A mobilização durou 13 dias e foi considerada uma das maiores já organizadas pela LCT. O envol-vimento de Waldemar Falcão com as causas trabalhistas tam-bém ocorreu quando ele, como deputado federal, apresentou emenda à Constituição de 1934 sobre Justiça do Trabalho.

Mais tarde, em 25 de no-vembro de 1937, foi nomeado ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, pelo então presi-dente Getúlio Vargas. À frente do ministério, o cearense possi-bilitou, em 1938, pelo Decreto-Lei Nº 399, a regulamentação do salário mínimo, instituído dois anos antes. Ainda em 1938, no mês de fevereiro, criou o Instituto de Previdência e Assis-Waldemar Cromwell do Rego Falcão

tência aos Servidores do Estado (IPASE). No mês de abril, o Instituto de Resseguros do Bra-sil (IRB), e, dois meses depois, presidiu a XXIV Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, por escolha unânime dos 50 países representados naquele conclave patrocinado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Culminando a sua passagem pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comér-cio, estava presente no dia em que o Presidente Getúlio Vargas anunciava a criação da Justiça do Trabalho.

Um ano depois da criação da Justiça do Trabalho, Wal-demar Falcão foi nomeado mi-nistro do Supremo Tribunal de Justiça. Em agosto de 1945, as-sumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral. Faleceu no ano seguinte em Boston (EUA), deixando um legado significati-vo na consolidação dos direitos trabalhistas no Brasil.

Informativo do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará - 7ª Região4

balho no seu conjunto, na sua inteireza?

Des. Arízio: O nosso gran-de desafio está na Capital, na criação de novas Varas. Com a decisão do STF que qualquer publicação de Regime Jurídico Único de prefeitura, de qual-quer circunstância, está valen-do, a Justiça do Trabalho vai perder a competência em ações relativas a prefeituras. Resulta-do é que no Interior vai sobrar tempo para juiz julgar, já que 70%, 80% dos processos das Varas do Interior são reclama-ções contra o município. Ago-ra, o gargalo continua sendo Fortaleza, porque a Capital so-fre pouquíssima, quase nada a influência de Prefeitura. Estado já não tem mais, está consolida-do, praticamente não tem mais. Só aquelas terceirizações e não são tantas. Com o crescimento econômico, com o crescimento da população e da indústria na economia do Ceará, o TRT vai ter que instalar mais Varas na Capital para poder atender bem a população de Fortaleza.

Des. Cláudio: Veja que nós éramos apenas uma Vara em Fortaleza. Paulatinamente, fo-mos crescendo, para sete, doze, catorze Varas em Fortaleza. Mas a Capital também foi crescendo na sua população. Hoje, com as 14 Varas, lidamos anualmente com o dobro da média nacional de processos para juízes traba-lhistas. Enquanto a média na-cional é de 600 processos/ano,

nós trabalhamos com 1.200 processos/ano, às vezes mais. Portanto, o nosso desafio é do-tar a Justiça trabalhista na Capi-tal de meios técnicos, financei-ros e de pessoas para enfrentar essa demanda. Não há solução no curto prazo para resolver a questão trabalhista fora da Jus-tiça do Trabalho. Para isso, va-mos receber mais quatro Varas, que vão se somar às catorze, e estamos pedindo mais. A ideia não é outra se não atender a de-manda com qualidade. Eu acho que, medianamente, em termos de prazo e processos julgados, nós estamos bem.

Des. Arízio: Eu acho que a Justiça do Trabalho foi muito discriminada. Veja que vou fa-zer 35 anos de Tribunal no mês de agosto e no tempo em que eu entrei tinha uma decisão do TST que só se podia pedir a ins-talação de novas Juntas depois que se atingia 10 mil processos (na época eram Juntas de Con-ciliação e Julgamento, depois foram transformadas em Va-ras). Ora, isso era um ato desu-mano. Um juiz cuidar de 10 mil processos por ano. Aí a Justiça ficou emperrada. Mas aí, com os novos tribunais, essa visão retrógrada da Justiça do Traba-lho foi colocada de lado, graças a Deus. Tanto é que hoje, todos os tribunais novos que foram criados depois da Constituição de 88 estão melhores que os tribunais antigos, com exceção de Rio de Janeiro e São Paulo,

Qual a referência que o Ceará tem no contexto da Jus-tiça trabalhista brasileira?

Des. Arízio: Acho que o Ceará tem uma referência muito boa. É uma das regiões originárias, das sete primeiras criadas no País. Então a Justiça do Trabalho do Ceará tem uma tradição e que há de continuar. A Sétima Região incluía Ceará, Piauí e Maranhão. Hoje, a nos-sa contextualização é muito boa porque temos lá no TST deci-sões respeitadas, respeitabilís-simas por sinal.

Des. Cláudio: O Estado do Ceará tem demonstrado forte vocação para o progresso. A Justiça do Trabalho (JT) vem,

paulatinamente, se adaptando ao progresso, com significati-vas transformações e com um somatório de tradição e tempos modernos.

A população tem crescido, os polos industriais, e eu acho que a Justiça do Trabalho, gra-ças a esse pioneirismo que vem desde a década de 40, está res-pondendo satisfatoriamente às demandas do jurisdicionado.

Ao mesmo tempo em que crescemos, o magistrado tra-balhista tem como desafio res-ponder a esse crescimento de demanda, com eficiência e ce-leridade.

Qual é o desafio que está posto para a Justiça do Tra-

O Ceará e aJustiça do

Trabalho em perspectiva

Em entrevista, o presidente do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará (TRT/CE), desembargador Cláudio

Soares Pires, e o vice-presidente, desembargador Manoel Arízio Eduardo de Castro, debatem os avanços da Justiça

do Trabalho em seus 70 anos e os desafios a serem vencidos nos próximos anos.

entr

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trev

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Desembargadores Manoel Arízio de Castro e Cláudio Soares Pires debatem os desafios a serem vencidos pela Justiça do Trabalho no Ceará

Informativo do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará - 7ª Região 5

uma petição, fica mais fácil de você protelar e não resolver a questão. Na JT não dá pra você se esconder. O juiz ta lá, todo dia, recebendo 50, 100, 150 pessoas, e aí ou ele resolve ou a sociedade começa a cobrar. Cobra dele, do corregedor, do ouvidor, cobra do Presidente do Tribunal, etc.

Quando se fala, até filoso-ficamente, do que seja o exer-cício da Justiça ou aplicação efetiva do princípio da Justi-ça, isso dá uma satisfação a quem opera neste campo. No caso da JT, o juiz tem razões para estimular outras pessoas a esse exercício? Os senhores estimulariam os novos opera-dores do Direito a esse exer-cício?

Des. Arízio: Eu acho que sim. Apesar de termos proble-mas de valores na população brasileira, onde os valores mo-rais, intelectuais estão muito esgarçados, veja que quando chegamos aqui na magistratura, os juízes trabalhavam como um sacerdócio. Hoje, em termos gerais, se perdeu esse aspecto do sacerdócio. Mas acho que estamos chegando ao tempo de se trabalhar de novo com esse sentimento. Está na hora do Ju-diciário trabalhar, o Judiciário como um todo, trabalhar mais e com mais seriedade. Está na hora do Legislativo trabalhar mais e deixar de muito lenga-lenga e votos de interesses pes-soais. Está na hora de despertar para um País melhor. Ou nós fazemos isso ou nós seremos cobrados no futuro.

Des. Cláudio: Eu estou lembrando de uma fala do Mi-nistro Carlos Alberto Reis de Paula, do Tribunal Superior do Trabalho, ao se referir a carreira de Juiz do Trabalho. Deve ha-ver um envolvimento extremo entre o juiz e a comunidade. A carreira deve refletir o orgulho de ser magistrado, e completo envolvimento com a sociedade. É como diz o Doutor Arízio: “o juiz precisa se envolver”. Ele não pode chegar e passar ape-nas um dia no local e ir embora. O perfil dos novos juízes passou a ser algo complicado. Exige-se muito da parte teórica ou aca-dêmica, quando se sabe que as virtudes inerentes ao cargo têm mais a ver com a experiência de vida e com a maturidade. Por isso é que a tradição encarnada nos juízes mais experientes não pode ser substituída ou mesmo extinta à mercê do academi-cismo. Porque o agente políti-

Com o crescimento da população e da indústria na economia do Ce-ará, o TRT vai ter que instalar mais Varas na Capital para poder aten-der bem a população de Fortaleza.

Des. Arízio de Castro

que têm poderio econômico, poderio político. Mas aqui no nosso Ceará, esquecido aqui, num cantinho do Nordeste, so-fremos muito.

Quando se fala de celeri-dade processual, a JT se des-taca em relação aos outros ra-mos da Justiça. A que se pode atribuir isso? Qual é a mecâ-nica ou a operação da JT que dá esse diferencial?

Des. Arízio: Eu acho que é do próprio processo. O proces-so do trabalho é mais célere que o processo comum. Os recursos são em menor número e nós, quando fazemos uma audiên-cia una, temos três testemunhas de um lado, três do outro, fa-zemos as alegações finais e já decidimos. O gargalo mesmo é a execução. É aquele negócio, o cidadão tem o seu direito re-conhecido e daí pra frente, para executar, para receber o que lhe é devido, aí é que é difícil. Aliás, eu tenho uma teoria e fi-quei muito feliz quando vi um

ministro, num acórdão do Su-premo Tribunal Federal, propor a extinção do processo de exe-cução. Eu acho que não devia haver processo de execução. O processo era para ser um só e tirar muito recurso do processo de execução, embargos, agra-vos. Conclui o feito, fez a con-ta. Se não paga, penhora. Não penhora, vende. Vende e dá sa-tisfação, porque o cidadão tem seu direito reconhecido e fica aquela história, protelando, tem imóvel, não tem imóvel, tem bem, não tem bem e é aquele fim de mundo. Sem se falar que as questões que envolvem o po-der público são só para quem tem neto, tataraneto e por aí afora.

Des. Cláudio: No processo trabalhista, as partes têm con-tato direto e permanente com o juiz. Em razão de sua voca-ção conciliatória, 40% a 50% dos processos são resolvidos por acordo. Ela é célere por-que é conciliadora e o contato da parte é direto, conversando diretamente com o juiz. Quan-do você se esconde através de

co que está dentro do juiz não pode ser extinto.

Des. Arízio: Ficar ali, fe-chado num casulo, o juiz não pode.

Como gestores da JT no Ceará, quando se comemora os 70 anos da JT no País, qual é o legado que os senhores de-sejam deixar?

Des. Arízio: Eu acho que o meu legado eu já deixei. Eu estarei afastado definitivamen-te no dia 26 de julho de 2012, quando eu completo 70 anos. O meu legado eu já deixei, eu vou sair com mais de 35 anos de Tribunal e eu acho que é a minha experiência de vida é o exemplo que ficou. Eu não que-ro ser melhor do que ninguém, mas eu sempre disse: “se eu sou capaz de fazer uma coisa, você também é”. Eu não sou um su-per-homem, eu não sou o mais inteligente. Posso ser o mais bonito (risos). Então é preciso que o juiz do Trabalho encar-ne esse seu papel, que às vezes seja até um conselheiro, princi-palmente no Interior, onde a so-ciedade é bem menor. Ele tem que participar daquela socieda-de, tem que estar integrado, ele tem que conhecer as nuances do trabalho. Ele tem que saber como funciona a construção ci-vil, como funciona o comércio, o mercado de imóveis. Hoje é preciso ter essa visão, não é só aquilo de pegar a lei e aplicar, como ela vem, a letra fria da lei. Assim não se vai prosperar por-que a lei é fruto de um proble-ma social. Se nós nos confor-marmos com essa lei mal feita e não procurarmos nos insurgir contra ela, seremos acomoda-dos. Eu me lembro muito de um movimento originário no Rio Grande do Sul, que diziam que era dos “juízes petistas”. Eu até combati muito na época porque eles advogavam o primado da justiça sobre o direito. Hoje eu seria um “juiz petista” porque entendo o primado da justiça sobre o direito. Uma lei real-mente mal feita eu procuro não aplicar, eu procuro criticar a lei. Se você não criticar a lei, não criticar o que está aí, isso não muda nunca. Está tudo muito bem, está todo mundo aceitan-do, a magistratura está aplican-do a lei cordeiramente, como um boi que vai para o matadou-ro. Assim, a lei não vai mudar nunca. Então, eu acho que a gente como magistrado precisa atuar também como sociedade e é preciso que essa nova ge-ração também faça. Se insurja

contra lei mal feita, se insurja contra leis injustas. Você apli-ca, mas diz que ela é injusta, é mal feita, senão isso não muda nunca. Se não fizermos isso, o nosso legado é quase zero.

Des. Cláudio: Bom, 70 anos é uma idade que expressa velhice, no mais das vezes. A meu ver, 70 anos de Justiça do Trabalho, ao contrário, significa maturidade. Hoje, a Justiça do Trabalho é uma Justiça madura. Embora carente de um Código de Processo próprio, ela é uma Justiça madura, que se manteve atenta à evolução do ser humano e da sociedade. Houve uma épo-ca em que nós fazíamos o nosso trabalho com carbono e máqui-na de escrever. Hoje, temos os recursos do computador, nos modernizamos. Nós comemora-mos os 70 anos de uma Justiça jovem. E o legado que nós esta-mos deixando, para quem está chegando agora, é justamente este: modernidade e maturida-de. Maturidade no sentido de assumir o compromisso com o

sacerdócio da magistratura, por-que ela, até hoje, apesar de toda a tecnologia, ainda é sacerdócio. Tem uma frase do Carrion, que eu nunca esqueci, que diz que “o juiz quando vai decidir uma questão, ele sofre. Se não sofrer, ele é leviano”. Até hoje, a magis-tratura é sacerdócio, se bem que com os benefícios da tecnologia. O ensino teórico e as facilidades de se lidar com os meios tecno-lógicos, se não forem casados, acompanhados de juízes madu-ros, de juízes envolvidos, prova-velmente você vai ter uma jus-tiça célere e só isso. Por isso é bom lembrar a nossa época, em que saímos da profissão de advo-gado, de procurador, para abra-çar o sacerdócio da magistratu-ra, sem interesses outros, a não ser trabalhar como juiz. Esse é o legado que a gente deixa. Matu-ridade, responsabilidade e o en-volvimento com a sociedade. E temos exemplos, aqui dentro do nosso próprio Tribunal, ao longo do tempo, que deveriam servir como espelho para essa moçada que está chegando.

No processo trabalhista, as partes têm contato direto e permanente com o juiz. Em ra-zão de sua vocação concilia-tória, 40% a 50% dos proces-sos são resolvidos por acordo.

Des. Cláudio Pires

Informativo do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará - 7ª Região6

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gal Linha do tempo da Justiça do Trabalho

Ministério do TrabalhoO presidente Getúlio Vargas criou em

novembro de 1930, por meio de Decreto nº 19.433, o Ministério do Trabalho,

Indústria e Comércio (MTIC). Assumiu a pasta o ministro Lindolfo Leopoldo Boeckel Collor. Na estrutura do Ministério foi criado

o Departamento Nacional do Trabalho, responsável pela execução, fiscalização e cumprimento das leis trabalhistas.

Juntas de Conciliação e JulgamentoEm 25 de novembro de 1932, o Decreto nº 22.132 criou as Juntas de Conciliação e Julgamento. Elas eram compostas de um juiz

togado (aprovado em concurso público) e dois vogais (classistas), representando patrões e empregados. As Juntas faziam parte do MTIC e se limitavam a solucionar dissídios individuais envolvendo empregados sindicalizados.

Carteira de TrabalhoEm março de 1932, o Decreto

21.175 institui a Carteira do Trabalho para todos os

trabalhadores com mais de 16 anos na indústria e comércio,

sem distinção de sexo.

Trabalho FemininoO trabalho feminino na indústria e no comércio foi regulamentado em maio de 1932 pelo Decreto 21.417-A. Ele atribuiu salário igual a trabalho de igual valor, sem distinção de sexo. Também proibiu trabalho insalubre ou perigoso para

mulheres, o trabalho da gestante quatro semanas antes e depois do parto e a despedida imotivada de trabalhadoras grávidas. Outra determinação foi a que definia que estabelecimentos com mais de 30 mulheres empregadas deveriam ter local apropriado para guarda dos filhos em período de amamentação.

Nova ConstituiçãoFoi promulgada em julho de 1934 uma nova Constituição

Federal. Preocupada com a proteção social e os interesses do país,

ela estabelecia as condições de trabalho na cidade e no campoe previa um salário

mínimo.

Comissão de Conciliação

Em 1935 é instalada no Ceará a primeira Comissão Mista de

Conciliação, que funcionava na Inspetoria

Regional do Trabalho.

Salário MínimoO Decreto-lei 2.162,

de 01/05/1940, institui o salário mínimo

a todo trabalhador adulto, capaz de satisfazer as

necessidades de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte.

Justiça do TrabalhoO Decreto 6.596 de dezembro de 1940 aprovou o Regulamento

da Justiça do Trabalho. Ele dizia que a Justiça do Trabalho seria instalada em 1º de maio de

1941, ficando extintas as Juntas de Conciliação e Julgamento e as

Comissões Mistas de Conciliação.

Instalação OficialEm 1º de maio de 1941 é oficialmente instalada

a Justiça do Trabalho no Brasil, ainda subordinada ao MTIC. Nesta data é instalado em Fortaleza o Conselho Regional do Trabalho e a primeira Junta de Conciliação e Julgamento, tendo o juiz Adonias Lima como presidente do Conselho. A sessão de instalação aconteceu no palacete

localizado na Rua Guilherme Rocha, no edifício onde funcionou a Fênix Caixeiral do Ceará,

sendo a primeira sede do Tribunal.

o Decreto-lei 5.452 aprova a Consolidação das Leis do Trabalho, que entra em vigor em 10 de novembro do mesmo ano.

CLTDois anos após a instalação oficial da Justiça do Trabalho,

Tribunal RegionalEm setembro de 1946, o Decreto-lei

9.797 inclui a Justiça do Trabalho no Poder Judiciário: os Conselhos

Regionais do Trabalho transformam-se em Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e o Conselho Nacional do

Trabalho passa a constituir o Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Mudança de SedeEm dezembro de 1971 a sede da Justiça do Trabalho da 7ª Regiãomuda para a Avenida Santos

Dumont, onde permanece até hoje. Foi a primeira sede própria da Justiça do Trabalho.

Varas do TrabalhoEmenda Constitucional de nº 24 de 1999 extingue as representações classistas em todas as

instâncias. As Juntas de Conciliação e Julgamento passaram a ser denominadas de Varas do Trabalho.

Reforma do JudiciárioA Emenda Constitucional nº 45, promulgada em 30 de dezembro de 2004, realizou a Reforma do

Judiciário. Foi responsável, por exemplo, pela ampliação

da competência da Justiça do Trabalho, pela consagração

do princípio do direito à razoável duração do processo e pela instalação do Conselho

Nacional de Justiça.

Informativo do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará - 7ª Região 7

Para festejar 70 anos, Tribunal lança selo comemorativo

Para celebrar os 70 anos da Justiça do Trabalho, o Tribunal Regional do Trabalho do Cea-rá (TRT/CE) vai lançar no dia 6 de maio um selo comemo-rativo. Confeccionado pelos Correios e impresso em papel moeda, o selo passará a ser utilizado nas correspondên-cias do Tribunal e, sobretudo, na identificação de processos históricos que passarão a inte-grar o acervo do Memorial da Justiça do Trabalho do Ceará. A tiragem inicial do selo será de 120 mil unidades.

Atualmente, o Memorial Tribunal possui aproximada-mente 900 processos classi-ficados como históricos. De acordo com o ato Nº 78/02 da Presidência do Tribunal, para serem considerados históricos e receberem o selo de preser-vação, os processos judiciais devem ser apreciados por uma Comissão responsável pela identificação de valores his-tóricos, informativos ou cul-turais.

Entre os fatores conside-rados relevantes durante a seleção de processos estão, por exemplo, as decisões de grande impacto social, a tra-mitação em todas as instân-cias possíveis, envolvimento de personalidades e a origi-nalidade dos fatos. “O novo selo servirá também para os processos eletrônicos, que em breve passarão a fazer parte do acervo da Justiça do Traba-lho”, explica a coordenadora do Memorial, Esther Russo.

Criado há 10 anos, o Me-morial tem como objetivo difundir a história da Justi-ça do Trabalho do Ceará por meio de exposição permanen-te aberta à visitação pública, reunindo um acervo disponí-vel a pesquisa. Desde 2006, o memorial trabalhista cearense integra o Sistema Brasileiro de Museus, coordenado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).

Após passarem pelo crivo da Comissão responsável pela escolha dos processos históri-cos e serem chancelados com selo histórico, os autos são organizados no Memorial em

duas Seções: dissídios coleti-vos e reclamações trabalhis-tas. Desta categoria fazem parte os processos referentes à reclamação de cálculos, revisão e reposição salarial, insalubridade, segurança do trabalho, entre outros direitos reclamados pelo trabalhador.

Além de processos, o Me-morial armazena insígnias, medalhas e outros objetos de magistrados da 7ª Região da Justiça do Trabalho, além de mobiliário utilizado décadas atrás na sala do Tribunal Ple-no. Também é possível con-sultar no Memorial caderno de anotações e cadernos de estudos que pertenceram a magistrados.

Acesso ao acervo: Diaria-mente, o Memorial do TRT/CE recebe visitas programa-das de escolas, universidades e outros grupos interessados em consultar seu acervo do-cumental. O agendamento de visitas em grupo pode ser rea-lizado pelo site www.trt7.jus.br/memorial.

Para ampliar o número de visitantes, o Memorial reali-za durante este ano o projeto “Trabalhador do Futuro: Edu-cação para a Cidadania”. Ele tem como objetivo preparar professores para articularem temas comuns ao mundo do trabalho e à Justiça do Traba-lho às disciplinas já presentes no currículo escolar. “Da ma-temática à história, da geogra-fia às ciências, o tema trabalho circunscreve todas essas áreas do conhecimento”, explica Esther Russo.

O selo também será utilizado na identificação de documentos históricos que serão preservados no Memorial da Justiça do Trabalho do Ceará

O agendamento de visitas em grupo ao Memorial do TRT/CE pode ser realizado pelo site www.trt7.jus.br/memorial. Para realizar visita indi-viduais, não é preciso realizar agendamento prévio

Mobiliário exposto no Memorial da Justiça do Trabalho do Ceará

Fotos expostas no Memorial narram a trajetória da Justiça do Trabalho no Ceará

Imagem do selo comemorativo lançado pelo Justiça do Trabalho do Ceará

Informativo do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará - 7ª Região8

representava os trabalhadores. Para ele, sem o reajuste haveria o debilitamento do que julgava ser a maior energia da grandeza nacional: a força de trabalho dos operários.

Por outro lado, a defesa da categoria patronal argumentava que a situação econômica do país inviabilizava aumentos. “As difi-culdades existem, realmente. Mas não se manifestam, apenas, entre os trabalhadores da panificação, ou entre os assalariados em geral. Todas as classes profissionais, to-das as categorias econômicas es-tão sob o mesmo impacto”, dizia a defesa.

Ditadura Militar: Vivendo sob a forte vigilância do regime militar, o simples fato de reivindi-car direitos, realizado pelos padei-ros maranhenses, era considerado como um ato corajoso e ousado. Os três Atos Institucionais publi-cados pelo governo militar até junho de 1966 já criavam as bases para instalação dos Inquéritos Po-liciais Militares (IPMs). Manifes-tações ou greves eram interpreta-das como forte afronta ao Estado.

De acordo com o historiador Boris Fausto, logo no primeiro ano de ditadura 70% dos sindica-tos com mais de 5.000 membros já tinham sofrido intervenções e

Por reajuste salarial, padeiros maranhenses recorrem a Tribunal sediado no Ceará

Trabalhadores de indústrias de panificação e confeitarias de São Luís, no Maranhão, decidi-ram recorrer à Justiça do Trabalho no Ceará para pleitearem um rea-juste salarial de 60%. A inusitada situação de trabalhadores mara-nhenses terem que recorrer a um tribunal localizado no Ceará foi comum durante quase cinquenta anos. Entre 1941 e 1989, traba-lhadores maranhenses, piauien-ses e cearenses estavam todos vinculados à 7ª Região da Justiça do Trabalho, com sede em Forta-leza.

Por meio de dissídio coleti-vo Nº 110/1966, a reivindicação feita pelos padeiros de São Luís ocorreu em junho de 1966, duran-te a ditadura militar. Eles pediam reajuste de 30.600 cruzeiros. Im-possibilitado de ir a São Luís, o presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região, José Joarez Bastos, nomeou como seu representante o presidente da Jun-ta de Conciliação e Julgamento de São Luís, Warwick Campos Trinta.

“Negar-lhes o reajustamen-to pretendido será condená-los a adoecerem e morrerem de fome, pelo sacrifício de sua saúde, do seu bem-estar e do seu confor-to”, argumentava o advogado que

49 juízes foram expurgados. Na época, os tribunais do trabalho e suas juntas de conciliação eram formados por juízes de carreira e vogais, como eram chamados os classistas indicados por emprega-dos e empregadores.

Outro fator que dificultava ainda mais o êxito dos trabalha-dores da panificação maranhen-ses era a política econômica dos governos militares. Para tentar conter o avanço da inflação e re-duzir o déficit do setor público, foi lançado em 1964 o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), que contraia o acesso a créditos e comprimia os salários.

Justamente durante o período em que panificadoras e padeiros

Padeiros de São Luís enfrentaram limitações impostas pela ditadura militar para reivindicar reajuste salarial

Até 1989, Ceará, Mara-nhão e Piauí estavam vincu-lados a um único tribunal: o Regional do Trabalho da 7ª Região. Em 26 de maio de 1989, foi instalado oficial-mente o TRT da 16ª Região, com sede em São Luís e ju-risdição nos estados do Ma-ranhão e Piauí. A 7ª Região passa a se restringir exclusi-vamente ao Ceará.

Em 1991, a Lei Nº 8.221 criou o Tribunal Regional do

Quatro tribunais atendem trabalhadores de dois estados

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maranhenses debatiam na Justiça o reajuste, o presidente Castello Branco editou o Decreto-Lei Nº 15/1966 como um desdobramento do PAEG. A nova lei afirmava que não seria admitida a concessão de aumento ou reajuste salarial que implicasse em elevação de tarifas ou de preços sujeitos à fixação por autoridade pública ou repar-tição governamental, argumento imediatamente incorporado pelas indústrias de panificação.

Percebendo a dificuldade para conseguir avanços nas negocia-ções, os padeiros maranhenses aceitararam acordo que lhes asse-gurou reajuste de 15.000 cruzei-ros mensais, menos da metade do que reivindicavam inicialmente.

Trabalho da 22ª Região para atender exclusivamente os trabalhadores do Piauí.

Atualmente, quatro tribu-nais possuem abrangência em mais de um estado: o TRT da 8ª Região abrange o Pará e o Amapá; o TRT da 10ª Região abrange Tocantins e o Distrito Federal; o TRT da 11ª Região abrange Amazonas e Rorai-ma; e o TRT da 14ª Região tem como jurisdição Rondô-nia e Acre.