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“GINÁSIO PARA MENINOS” EM MORRINHOS – GO (1936-1971) · expande o formato e oferta de ensino, ... Do poder público haveria ajuda da Prefeitura com bolsas de estudo para os

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“GINÁSIO PARA MENINOS” EM MORRINHOS – GO (1936-1971)

Rosilene Alves da Silva Santee212

Aparecida Maria Almeida Barros213

Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão

Resumo: A pesquisa propõe analisar a constituição do “Ginásio para Meninos” em Morrinhoscom recorte temporal de 1936, data da fundação, até 1971, marco da nova legislação doensino e data em que a instituição encerra um ciclo com o formato de escola exclusivamentecatólica e assume novos contornos ao assinar um convênio com Estado de Goiás. Nestesentido, o recorte considera possíveis singularidades de formação e organização institucional,bem como as motivações e interesses que envolvem a oferta do curso ginasial para meninosno período. No contexto de disputas e/ou acordos entre a instrução pública e a educaçãocatólica, por meio das ordens religiosas, a investigação levanta questões como: o que seexpressa e se fortalece com a criação do “Ginásio para Meninos” em Morrinhos? Como seorganizou e se consolidou o projeto de formação do Ginásio? Na constituição interna, quemsão os sujeitos, o corpo docente, os gestores? De que forma os diferentes sujeitospotencializam a instituição? A pesquisa situada no campo da historiografia da educação,utiliza-se de revisão bibliográfica e de fontes históricas como base para o percurso e aporteteórico que fundamenta o diálogo científico da área. O referencial teórico selecionadocontempla autores, tais como Bencosta (2007), Gondra (2008), Halbwachs (2006), Le Goff(2003), Nosella & Buffa (2009), Saviani (1998, 2007, 2010), Souza (2007), Valdemarin(2005, 2013), Veiga & Pintassilgo (2000), Vidal (2006), Forquin (1993), Julia (2001) eMagalhães (2004). Enquanto perspectiva vislumbra-se chegar aos resultados mediante oexercício de caracterização, descrição das evidências e vestígios em que seja possível analisaros traços da cultura escolar católica, com ênfase nas singularidades e distinções inscritas nainstituição investigada.

Palavras Chave: Educação, Cultura Escolar, Ginásio

Introdução

A pesquisa tem como objeto o “Ginásio para Meninos”, em Morrinhos, Goiás. Estabelece como recorte temporal 1936 a 1971, demarcando a origem da instituição em 1936 e o ano de 1971 quando altera o seu funcionamento em termos de formato institucional,

212Graduada em Pedagogia e História UFG, e Mestranda em Educação RC/UFG, Bolsista CAPES - [email protected]

213Doutora em Educação pela UFSCar - [email protected]

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proveniente de mudanças ocorridas em nível macro, com a aprovação de uma nova lei da educação nacional e no nível local, visto que a partir de 1972, a escola assume novos contornos ao assinar um convênio com o Estado. Deixa de ser exclusivamente católica e expande o formato e oferta de ensino, ao formalizar um convênio com o poder público estadual. Assim, considerando que no período do recorte a instituição tenha mantido um mesmo perfil e organização estrutural, poder-se-á localizar singularidades, permanências e regularidades previstas em um mesmo modelo vigente durante os trinta e cinco anos (recorte temporal) em que esteve sob o comando de uma congregação religiosa.

A instituição confessional inicialmente tivera como foco de formação o curso ginasial para atender, em forma de internato, meninos, tanto da cidade de Morrinhos e região, quanto de outras localidades. Tal demanda surge, possivelmente pela cidade já dispor, na mesma época, de um internato para meninas, denominada Escola Normal Dr. Hermenegildo de Morais, popularmente conhecida como “Colégio das Freiras,” coordenada pelas Madres Agostinianas. Pressupõe-se que, por haver uma escola que já se responsabilizava pela formação das meninas, seria necessário, que uma instituição para os meninos fosse criada paraatender à demanda dos jovens. Na ausência de uma escola pública para esse fim, ter-se-ia umalacuna preenchida pela educação católica.

A presença e projeção da instituição em Morrinhos marcaram o imaginário e a memória coletiva de muitos, motivo pelo qual me despertou o interesse particular pelo Ginásio. Durante minha infância e adolescência, embora fosse aluna no grupo escolar ColégioCoronel Pedro Nunes, o contato com o “Ginásio dos Meninos” era consequente devido a expressiva arquitetura, cujo padrão chamava a atenção e a admiração de que circulava pelas imediações. Durante a juventude, a participação em comunidades de base e nos movimentos de jovens me aproximaram daquele espaço, quando tive a oportunidade de conviver com as ordens religiosas e de adentrar as dependências internas do Ginásio, onde se realizavam eventos e reuniões.

Nas últimas décadas do século XX e em tempos mais recentes, embora o espaço tenha mantido a oferta de cursos em diferentes níveis e modalidades, também foi destinado a outras finalidades como alojamento e residência de padres e estudantes seculares (seminaristas). Naquelas dependências, além da moradia dos padres, havia também o Seminário São José queatendia rapazes de diversas regiões. Ao acolher um formato organizacional/espacial de Escola Igreja, escritório paroquial, seminário, a estrutura física ocupa um quarteirão na Avenida Couto Magalhães.

Ao longo da minha trajetória pessoal e acadêmica, outras inserções e aproximações com o espaço e com as ordens religiosas fortaleceram o interesse em conhecer e investigar essa instituição, sendo, portanto, necessário delimitar o foco, delinear o objeto e recorte, tendo

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o “Ginásio dos Meninos” como uma alternativa de pesquisa. A pertinência da proposta se fundamenta pela abertura do campo da História da Educação:

Nesse contexto, o Ginásio torna-se objeto de interesse de um estudo científico no âmbito da historiografia da educação, pela possibilidade de buscar indícios acerca de como a Instituição teve origem, se consolidou e tornou-se referência na formação de jovens varões, considerando o contexto, o espaço e a organização interna. Nesse sentido, tem-se como intencionalidade, analisar a constituição histórica do “Ginásio para Meninos” na projeção e, sobretudo, considerada a sua importância para a formação de indivíduos oriundos de um determinado grupo social, com finalidades e interesses distintos. Conhecer sua trajetória educacional/institucional, assim como os aspectos socioculturais e religiosos, considerando a influência da Igreja no período que compreende o recorte, apontando a relevância da Instituição no cenário tanto educacional como na dinâmica social de Morrinhos.

Contexto de criação do “Ginásio para meninos” em Morrinhos

A fundação do Ginásio Senador Hermenegildo de Morais ocorreu em 11 de agosto de1936 e foi inaugurado 1º de abril de 1937. Começou a funcionar em 15 de março de 1938. O funcionamento da Instituição foi aprovado por Despacho ministerial de 05 de setembro de 1938, despacho publicado no Diário Oficial de 16 de setembro do mesmo ano. (SILVA, 1995, p.82). Localiza-se na Avenida Couto de Magalhães, porém no período que foi inaugurado, a região era dominada pelo cerrado e longe da principal rua da cidade, conhecida como “Rua doComércio”, atual Barão do Rio Branco. Foi nas proximidades da Rua do Comércio que iniciou as atividades no Ginásio, antes de ser transferido para a Avenida Couto de Magalhães.

A administração da instituição era exercida predominantemente por padres pertencentes à Congregação dos Estigmatinos, e em menor proporção por professores da Instituição. A Congregação dos Sagrados Estigmatinos de Nosso Senhor Jesus foi fundada porSão Gaspar Bertoni, no ano de 1816 na cidade de Verona, ao norte da Itália. Os primeiros padres estigmatinos chegaram ao Brasil em 1910 para cuidarem inicialmente de Seminários e na década de 1930, chegaram ao município de Morrinhos para administrarem a paróquia e o Ginásio.

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A Historiografia aponta que pesquisas sobre História Institucional, Instituições Escolares, Trajetória de Formação e Atuação Profissional Docente ou Formação Docente, História de Vida de profissionais da Educação têm sido temas pertinentes de pesquisa na área da Educação ou da História. Segundo Dermeval Saviani (2008, p.3), “a história da educação brasileira vem sendo objeto de um razoável número de investigações”. Nesta mesma perspectiva, nos últimos anos, a cultura escolar tem-se constituído em importante ferramenta para o estudo das relações entre escola e cultura. (VIDAL, 2009)

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Segundo Palacin (1989), Morrinhos, no cenário histórico de Goiás, no início do séculoXX, por volta dos anos 20, era uma das maiores cidades do Estado de Goiás, com uma população aproximada de 3 mil habitantes. Tem-se ainda que: No primeiro período do século, Morrinhos contava com três boas escolas: Ginásio Senador Hermenegildo Lopes de Morais, a Escola Normal Hermenegildo de Morais e o Ginásio Maria Amabini de Morais. (ROMANO, 2002, p.69)

A partir do levantamento bibliográfico e informações obtidas tanto na literatura local quanto em conversas com alguns moradores da cidade, algumas características da escola foram se evidenciando. Consta que a construção do Ginásio foi lenta, marcada pela escassez de mão de obra especializada em construção civil do porte requerido para construções de igual porte, além de onerosa. Dentre as medidas para a sequência da obra, a importação de pedreiros de outros estados. Enquanto isso, outras pessoas da cidade foram aprendendo os serviços, incluindo a participação de alguns frades. A título de projeção e suntuosidade do Ginásio na relação com o meio urbano e a sociedade local, vale ressaltar que foi a primeira construção em Morrinhos, utilizando concreto armado, denominado na época de cimento armado, fato que atraia a atenção de pessoas de diferentes idades e profissões.

Além da parte física, estrutural e arquitetônica, os aspectos legais e burocráticos também foram sendo providenciados e o primeiro Estatuto da Instituição, segundo Silva no livro Escola Célula Importante da Educação (1995), consta que os deveres do corpo docente eram semelhantes aos estabelecidos pelo Colégio Pedro II da cidade do Rio de Janeiro. Estabelecia ainda que, modificações posteriores poderiam ocorrer, de acordo com as conveniências administrativas do Estabelecimento.

Para que o Ginásio pudesse funcionar, foi feita a Inspeção Preliminar pelo Ministério da Educação e Saúde, representado pelo Inspetor Theodomiro de Magalhães, da Inspetoria Geral do Ensino Secundário, para que fizesse uma verificação prévia do Estabelecimento, cujo relatório saiu em fevereiro de 1938.

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Após insistentes pedidos do Arcebispo de Goiás, D. Emanuel Gomes de Oliveira, o Instituto Estigmatino aceitou cuidar espiritualmente de uma vasta região, que ficava ao sul da Arquidiocese. Para tal fundação, foi designado o Pe. Primo Scussolino, que se encontrava em Campinas-SP... chegou a Morrinhos-Go no dia 17 de junho de 1936... No fim de outubro de 1936, chegou Pe. Ângelo Pozzani, para ajudar Pe. Primo. E no fim de dezembro de 1936, chegou a Morrinhos, como auxiliar, o Pe. Osvaldo Casellato, que havia sido ordenado sacerdote em 29 de dezembro de 1935, sendo o primeiro padre estigmatino brasileiro... Pe. Osvaldo Caselllato, como diretor do Ginásio Senador Hermenegildo de Morais, deu início à construção do novo prédio do Ginásio, com abertura dos alicerces em 22 de fevereiro de 1939. (ZOPPE, 2006)

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É perceptível nesse discurso a justificativa da fundação da escola diante da existência de demanda da região, o que não responde à própria emergência da escola. Naquela época,

Constam na bibliografia histórica consultada que, no início de funcionamento do Ginásio, muitas dificuldades ocorreram, incluindo questões alusivas aos recursos financeiros até o quantitativo de alunos, pois muitos pais preferiam mandarem seus filhos para estudarem em outras escolas de internatos. Ou seja, sua criação por demanda do lugar é marcada por contradições que precisam ser explicitadas e investigadas. Se não havia o apoio necessário do poder público e o provimento principal viria de pessoas da sociedade civil, então, de onde partiram as demandas? Qual sociedade operou o interesse por uma escola para formar seus filhos? Do poder público haveria ajuda da Prefeitura com bolsas de estudo para os alunos carentes, contudo, conforme informações levantadas há indicativos de que (pelo menos em parte) os que recebiam o auxílio seriam filhos de pais que podiam pagar mensalidades, portanto, que dispunham de uma condição social e financeira distinta. Mas, será que essa era aúnica regra? Não haveria outros bolsistas, cujo critério social e de aptidão os tornariam merecedores de bolsa? São muitas as questões e indagações que instigam o exercício de pesquisa.

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O município de Morrinhos, onde se acha o Ginásio, apesar da sua excelente situação geográfica, não dispõe de boas vias de comunicação com os centros populosos. Dista do ponto mais próximo da Estrada de Ferro Goiás, 120 km... não obstante esse afastamento dos centros de cultura, o povo morrinhense demonstra notável interesse pela instrução, o que se constata em particular pela quantidade e organização de suas Escolas primárias espalhadas em todo o município. A manutenção de um Ginásio nos moldes da legislação federal não é só o anseio do povo local, mas constitui, sobretudo, problema de suma necessidade que vem consultar os interesses de uma enorme zona do Estado, de vez que o mais próximo estabelecimento – Ginásio Anchieta de Bonfim (atual Silvânia), dista de Morrinhos mais de 180 km. Acrescente-se que Morrinhos, ligado ao imenso sudoeste até agora desprovido de um estabelecimento de ensino secundário, possui dentro do município e circunvizinhanças, num perímetro de 100 km, mais de 10.000 crianças em idade escolar. Nada menos de 5 municípios se acham diretamente ligados à cidade de Morrinhos, capazes, portanto, de canalizar para o estabelecimento de ensino, os alunos que se destinam ao curso ginasial.

Como se observa pela exposição acima, o Ginásio Senador Hermenegildo de Morais está fadado a desempenhar importante papel na difusão da instrução de grau secundário naquela próspera região do território goiano. (SILVA, 1995, p. 83).

Morrinhos era uma cidade pequena, a existência do internato favoreceu seu desenvolvimento, dando lhe maior impulso com afluxo de alunos de outras localidades. Nessa época só havia internato para meninos em Silvânia (Bonfim) e Uberaba, distante do sul de Goiás. A fundação do Ginásio Senador Hermenegildo de Morais, juntamente com a do Colégio das Irmãs, transformou Morrinhos. Os benefícios resultantes dessas duas casas de ensino foram enormes... havia uma afluência muito grande em busca de estudos, principalmente por parte dos que desejavam colocar os filhos num internato. A busca de Escolas para os filhos trouxe, como conseqüência, a utilização do comércio local e a procura por médicos. (SILVA, 1995, p. 87, 88).

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A possibilidade de desvelar algumas facetas da história desta instituição se apresenta como a construção de uma dada memória, em determinado contexto histórico, numa dinâmicasingular e importante na história do lugar, que, não necessariamente esteja alinhada com a versão até então registrada e interpretada. Em outras palavras, recorrer às fontes históricas em busca de vestígios que permitam conhecer o interior do ginásio para meninos, poderá conduzir a pesquisa a novos achados e descobertas, no intento de desdobrar aspectos ainda invisíveis e que poderão significar e instigar novas leituras sobre a instituição, seus sujeitos e a formação ofertada, enfim, desvelar, nas singularidades da cultura escolar instituída, vertentes de diálogo e interlocução com a História da Educação em Goiás e no Brasil.

Aporte Teórico da pesquisa: A pesquisa situada na História das Instituições e na cultura escolar católica

Enquanto campo teórico em construção, a história das instituições escolares fundamenta a proposta de pesquisa e aponta indicadores conceituais e possibilidades de novosestudos. Com esta finalidade, recorremos a autores e obras que referenciam o objeto e estabelece o diálogo com produções no âmbito da historiografia da educação.

Na definição de Bencosta:

Paolo Nosella e Ester Buffa (2009) pontuam que países como Portugal, França, Itália, Espanha também têm dado destaque para as pesquisas sobre Instituições Escolares, mostrandoa disposição dos pesquisadores brasileiros em buscar referenciais na área. Entre os pesquisadores que têm publicado tais estudos podemos citar Saviani, Sanfelice, Gatti Júnior, Moura Nascimento, Noronha, Antônio Nóvoa, Justino Magalhães e outros. (NOSELLA e BUFFA, 2009).

A fertilidade desse campo é demonstrada por inúmeras pesquisas e pela localização de uma bibliografia altamente referenciada, divulgadas na forma de artigos de periódicos ou

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A História da Educação, que é um campo de estudo/pesquisa de constituição recente no Brasil tem, recentemente, uma grande produção bibliográfica, em especial no ano de 2005, quando vários títulos, de importância para seu desenvolvimento, foram publicados. (BENCOSTA, 2005, p. 297).

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livros, coletâneas organizadas por diversos autores, cuja investigação histórica de Instituições Escolares aborda vários aspectos, uma vertente que nos parece servir de fio condutor para diferentes estudos, situa a compreensão acerca da Cultura Escolar como prerrogativa fundamental no desenrolar das pesquisas. Apesar de ser onipresente, é prudente compreender que não há unanimidade nem consenso entre os pesquisadores ao definir Cultura Escolar.

Na concepção de Vidal

A pesquisadora Rosa de Fátima Souza define Cultura Escolar como:

Outro referente que emerge como elemento de contradição e conformação, situa na controvérsia entre educação e religião, posto que, sendo a instituição confessional, sob a coordenação de uma ordem religiosa, há distintos interesses em ação.

Na definição de José Gonçalves Gondra:

OBJETIVOS:

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A cultura escolar não deixa de ser uma importante ferramenta teórica para explorar o passado e o presente da escola na sua relação com a sociedade e a cultura, no jogo tenso de poder que perpassam o escolar e expressam nele as contradições sociais. (VIDAL, 2009).

A expressão cultura material escolar, por sua vez, passou a ser utilizada na área da História da Educação nos últimos anos, influenciada pelos estudos em cultura escolar, pela renovação na área provocada pela Nova História Cultural e pela preocupação crescente dos historiadores em relação à preservação de fontes de pesquisa e de memória educacional em arquivos escolares, museus e centros de documentação. (SOUZA, 2007, p.170).

O tema das relações entre educação e religião tem mobilizado a atenção dos educadores e o interesse dos historiadores da educação. Nesse sentido, os Congressos Brasileiros de História da Educação e os debates do Grupo de Trabalho de História da Educação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) têm trazido contribuições significativas para se compreender iniciativas diversas, associadas a diferentes religiões que vêm se processando no território nacional. (2008, p. 62)

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Analisar a constituição do “Ginásio para Meninos” em Morrinhos (1936-1971), tendo em vista as singularidades de formação e organização institucional e o funcionamento de uma Escola Católica. Contextualizar a instituição investigada no cenário da Educação no Brasil e em Goiás, bem como a presença da Educação Católica sob a coordenação das ordens religiosas. Caracterizar historicamente o Ginásio, situando sujeitos, funcionamento e organização institucional, a influência e referência da Educação Católica na formação de meninos em Morrinhos. Contribuir com a pesquisa sobre história das instituições escolares em Goiás e no Brasil, descobrindo singularidades internas da escola investigada e do curso ginasial da formação ofertada. Operacionalizar a Cultura Escolar para elucidar as práticas que se expressam no interior e na organização do Ginásio. Interpretar as singularidades do Ginásiono entrecruzamento da Educação Católica e o princípio de formação que predominou.

Ao demarcar como questão central da pesquisa a criação e funcionamento do “Ginásiopara Meninos” em Morrinhos (1936-1971) e o que predominou no princípio de formação, os objetivos específicos também são orientados por questões norteadoras, que pretendem dar visibilidade ao objeto, direcionando o que desejamos saber sobre a instituição. No contexto dedisputas entre a oferta da instrução pública e a presença da educação católica, por meio das ordens religiosas, o que se afirma com a criação do “Ginásio para Meninos” em Morrinhos? Educação Católica e Ginásio para Meninos – como se organiza e se consolida o projeto de formação do Ginásio? os sujeitos, o corpo docente, os gestores, a organização interna, dentre outros.

Referencial Metodológico da pesquisa

A pesquisa tem como fundamento a historiografia da educação, portanto, toma a revisão bibliográfica e as fontes históricas como base para o seu desenvolvimento teórico e metodológico.

Embora a revisão bibliográfica seja sine qua non na pesquisa científica em todas as áreas do conhecimento, sendo, portanto, uma consequência da formulação de uma pesquisa, nesse caso em particular, é mais que um exercício de protocolo, pois integra o formato e o percurso da investigação, sendo apropriada com duas finalidades: a) localizar estudos e pesquisas que tratam da historiografia da educação católica na oferta de cursos ginasiais, formatos institucionais, concepções e postulados de formação; b) fundamentar o diálogo com a história das instituições e com a cultura escolar católica, além de instruir o referencial de análise.

Por fontes históricas compreendem-se toda base material e objetos que contenha indícios e informações de interesse da pesquisa. Pretende-se localizar e consultar: regimentos

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escolares, regras e regulamentos da instituição, atas, relatórios de inspeção, planos de aulas, estatutos, despacho ministerial, livros de matrículas, planta/projeto de arquitetura do prédio, convênios, dentre outros, além de documentos iconográficos, como fotografias. Os locais onde possam ser encontrados estão em Morrinhos, Goiânia e outros lugares como nos arquivos Colégio, na sede da Cúria ou outros locais como o museu da cidade, e mesmo em acervos particulares, ou qualquer outro indicativo que possa contribuir para a produção da dissertação.

Até o momento, a pesquisa compreende três fases ou etapas: na primeira: realização do levantamento de novos documentos relevantes à pesquisa, análise e seleção dos mesmos. Asegunda, interpretação dos documentos, segundo a literatura referencial e a terceira, a escrita da dissertação.

Tem-se a percepção da metodologia de pesquisa como um caminho a ser construído, pois o confronto com o documento é sempre uma incógnita para o pesquisador. Como define Jacques Le Goff (2003), o documento precisa ser problematizado, pois ele por si só não é capaz de falar ao pesquisador.

A pesquisa encontra-se em fase inicial com levantamento de fontes documentais e seleção do referencial teórico, o que não esgota a busca de outras fontes escritas, além de fontes iconográficas como fotografias tanto nos acervos do Ginásio, como em acervos particulares que conservem dados históricos pertinentes ao interesse desta investigação. Efetivamente vislumbra-se chegar aos resultados mediante o exercício de caracterização, descrição das evidências e vestígios em que seja possível analisar os traços da cultura escolar católica, com ênfase nas singularidades e distinções inscritas na instituição investigada.

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