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Conceito. A ginástica aeróbica é um esporte que mistura coreografias dos atletas enquanto um acompanhamento musical serve como referência. Exigências. Os praticantes precisam mostrar, a todo momento, força, flexibilidade, coordenação, dinamismo e ritmo sincronizados com o acompanhamento musical. Cabeça. Além de dedicação e persistência, outro fator faz a diferença: “O lado psicológico conta muito”, explica Jéssica Patrícia. ¬ DANIEL OTTONI ¬ Um esporte que ainda não está na grade olímpi- ca, mas no qual o Brasil vem conquistando bons re- sultados, principalmente nas categorias de base, gra- ças a uma turma de muita qualidade que faz parte da equipe de ginástica aeróbica da Universidade Federal de Minas Geais (UFMG). O bom desempenho do Brasil nas competições inter- nacionais tem grande in- fluência do projeto da UFMG, que revela para o ti- me nacional um bom núme- ro de atletas e que usa a uni- versidade para o aprimora- mento. A estrutura é consi- derada a melhor do país, e o centro de treinamento é ti- do como de alto rendimen- to, atingindo os padrões in- ternacionais exigidos. O próximo compromisso do Brasil será o Pan-Ameri- cano de Acapulco, no Méxi- co, entre os dias 21 e 26 de novembro. Por lá, estarão se- te atletas da UFMG, sendo três da categoria infantoju- venil, três na juvenil e um na categoria adulto. “Man- ter o pessoal no adulto é difí- cil, pois o esporte exige dedi- cação. A opção seria investir na modalidade ou traba- lhar”, lamenta a técnica Kátia Lemos, fundadora do projeto, que existe desde 1996. “Como fazemos parte de uma instituição que visa à produção científica, conse- guimos vantagens. O piso, que importei da França, por exemplo, custa R$ 200 mil, mas gastamos R$ 45 mil. Tu- do pelo projeto de extensão e pesquisa que temos com outras áreas, como é o caso do nosso laboratório de biomecânica”, comemora Kátia. “Tudo o que produzi- mos, dividimos com outras áreas. É uma relação que di- ficilmente se vê nos clubes”, destaca a treinadora. A cada competição da modalidade, a Confedera- ção Brasileira de Ginástica (CBG) convoca atletas e trei- nadores com os melhores re- sultados, fazendo esse qua- dro não ser fixo. Nas últi- mas oportunidades, o pes- soal da UFMG tem marcado forte presença na delega- ção verde e amarela, tudo em virtude do sério traba- lho que é realizado. Jéssica Patrícia é uma das integrantes que vão ao México. Depois de vencer o Pan de 2010, com ape- nas 14 anos, na categoria infantojuvenil, ela conse- guiu o Bolsa-Atleta, que disponibiliza R$ 1.850 pa- ra gastos com transporte e alimentação. “Tive dificul- dades para comparecer aos treinos, faltava dinhei- ro. Minha mãe precisa dar autorização para que eu possa participar das com- petições, mas isso vai mu- dar quando eu completar 18 anos. É muita luta”, re- vela Jéssica. Dedicação. Além de se esforçarem nos treinos, atletas também têm que batalhar por recursos Saiba mais FOTOS ALISSON GONTIJO 7 A técnica da equipe de ginástica aeróbica da UFMG, Kátia Lemos, mostra um envolvimento além dos aspectos esportivos. As difi- culdades para que os atletas possam participar das princi- pais competições, tanto den- tro como fora do Brasil, são recorrentes e incomodam. “Por mais que estejamos fa- zendo um bom trabalho e conseguindo resultados ex- pressivos, a ginástica aeróbica não é um esporte olímpico, e a CBG acaba in- vestindo menos nessas mo- dalidades”, relata Kátia. A estrutura de alto nível contradiz com a realidade de muitos atletas, que reali- zam uma batalha diária pa- ra comparecer aos treinos e buscar um aperfeiçoamento no esporte. Para tentar garantir a presença dos seus principais atletas nas competições, Kátia faz malabarismos. “Se você chegar aqui, agora, no campus da UFMG, não vai me reconhecer. Estou de avental e touca vendendo cachorro-quente e chocola- te para os alunos. Minha ex- pectativa é conseguir levan- tar um dinheiro para ajudar a pagar os custos de trans- porte, hospedagem e ali- mentação”, admite a treina- dora, que serve de exemplo para os atletas. “Kátia realmente nos motiva pelo seu envolvi- mento e dedicação. Para participarmos do Mundial da Bulgária, em maio, ela vendeu livros que foram doados por várias pessoas. Ela nos ajuda muito nos treinos, mas também fora deles, mostrando um com- prometimento singular”, elogia Jéssica Patrícia. No Mundial, os custos dos atletas adultos foram bancados pela CBG. Mas as outras categorias tiveram que se virar. O melhor resul- tado veio com o trio do in- fantojuvenil, que ficou em sexto lugar, entre 60 países participantes. (DO) Atletas mineiros têm presença constante na seleção brasileira, principalmente em categorias de base UFMG é referência na aeróbica x K. Lemos TREINADORA “Se BH não tivesse tantas mulheres, juro que vendia meu marido para termos melhores condições.” x I. Ferreira EX-ATLETA “Não tive condições de me manter na categoria adulto. Hoje, ajudo na coordenação do projeto.” Buscando recursos Qualidade. Estrutura de alto nível da ajuda na formação de talentos dessa modalidade de ginástica Técnica se torna vendedora Projeto permite descoberta e aperfeiçoamento de novos talentos 22 e . O TEMPO Belo Horizonte SEGUNDA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2012 Especializados |

Ginástica aeróbica da UFMG ganha destaque

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Equipe da universidade mineira tem atletas convocados para a seleção brasileira frequentemente

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Page 1: Ginástica aeróbica da UFMG ganha destaque

Conceito. A ginásticaaeróbica é um esporteque mistura coreografiasdos atletas enquanto umacompanhamentomusical serve comoreferência.

Exigências. Ospraticantes precisammostrar, a todomomento, força,flexibilidade,coordenação, dinamismoe ritmo sincronizadoscom o acompanhamentomusical.

Cabeça. Além dededicação e persistência,outro fator faz adiferença: “O ladopsicológico conta muito”,explica Jéssica Patrícia.

¬ DANIEL OTTONI

¬Um esporte que aindanão está na grade olímpi-ca, mas no qual o Brasilvem conquistando bons re-sultados, principalmentenas categorias de base, gra-ças a uma turma de muitaqualidade que faz parte dae q u i p e d e g i n á s t i c aaeróbica da UniversidadeFederal de Minas Geais(UFMG).

O bom desempenho do

Brasil nas competições inter-nacionais tem grande in-fluência do projeto daUFMG, que revela para o ti-me nacional um bom núme-ro de atletas e que usa a uni-versidade para o aprimora-mento. A estrutura é consi-derada a melhor do país, e ocentro de treinamento é ti-do como de alto rendimen-to, atingindo os padrões in-ternacionais exigidos.

O próximo compromissodo Brasil será o Pan-Ameri-cano de Acapulco, no Méxi-co, entre os dias 21 e 26 denovembro. Por lá, estarão se-te atletas da UFMG, sendotrês da categoria infantoju-venil, três na juvenil e umna categoria adulto. “Man-ter o pessoal no adulto é difí-

cil, pois o esporte exige dedi-cação. A opção seria investirna modalidade ou traba-lhar”, lamenta a técnicaKátia Lemos, fundadora do

projeto, que existe desde1996.

“Como fazemos parte deuma instituição que visa àprodução científica, conse-guimos vantagens. O piso,que importei da França, porexemplo, custa R$ 200 mil,mas gastamos R$ 45 mil. Tu-do pelo projeto de extensãoe pesquisa que temos comoutras áreas, como é o casodo nosso laboratório debiomecânica”, comemoraKátia. “Tudo o que produzi-mos, dividimos com outrasáreas. É uma relação que di-ficilmente se vê nos clubes”,destaca a treinadora.

A cada competição damodalidade, a Confedera-ção Brasileira de Ginástica(CBG) convoca atletas e trei-

nadores com os melhores re-sultados, fazendo esse qua-dro não ser fixo. Nas últi-mas oportunidades, o pes-soal da UFMG tem marcado

forte presença na delega-ção verde e amarela, tudoem virtude do sério traba-lho que é realizado.

Jéssica Patrícia é umadas integrantes que vão aoMéxico. Depois de vencero Pan de 2010, com ape-nas 14 anos, na categoriainfantojuvenil, ela conse-guiu o Bolsa-Atleta, quedisponibiliza R$ 1.850 pa-ra gastos com transporte ealimentação. “Tive dificul-dades para compareceraos treinos, faltava dinhei-ro. Minha mãe precisa darautorização para que eupossa participar das com-petições, mas isso vai mu-dar quando eu completar18 anos. É muita luta”, re-vela Jéssica.

Dedicação. Além de se

esforçarem nos treinos,

atletas também têm que

batalhar por recursos

Saiba mais

FOTOS ALISSON GONTIJO

7A técnica da equipe deginástica aeróbica da

UFMG, Kátia Lemos, mostraum envolvimento além dosaspectos esportivos. As difi-culdades para que os atletaspossam participar das princi-pais competições, tanto den-tro como fora do Brasil, sãorecorrentes e incomodam.“Por mais que estejamos fa-zendo um bom trabalho econseguindo resultados ex-pressivos, a ginásticaaeróbica não é um esporteolímpico, e a CBG acaba in-vestindo menos nessas mo-dalidades”, relata Kátia.

A estrutura de alto nívelcontradiz com a realidadede muitos atletas, que reali-

zam uma batalha diária pa-ra comparecer aos treinos ebuscar um aperfeiçoamentono esporte.

Para tentar garantir apresença dos seus principaisatletas nas competições,Kátia faz malabarismos. “Sevocê chegar aqui, agora, nocampus da UFMG, não vaime reconhecer. Estou deavental e touca vendendocachorro-quente e chocola-te para os alunos. Minha ex-pectativa é conseguir levan-tar um dinheiro para ajudara pagar os custos de trans-porte, hospedagem e ali-mentação”, admite a treina-dora, que serve de exemplopara os atletas.

“Kátia realmente nosmotiva pelo seu envolvi-mento e dedicação. Paraparticiparmos do Mundialda Bulgária, em maio, elavendeu livros que foramdoados por várias pessoas.Ela nos ajuda muito nostreinos, mas também foradeles, mostrando um com-prometimento singular”,elogia Jéssica Patrícia.

No Mundial, os custosdos atletas adultos forambancados pela CBG. Mas asoutras categorias tiveramque se virar. O melhor resul-tado veio com o trio do in-fantojuvenil, que ficou emsexto lugar, entre 60 paísesparticipantes. (DO)

Atletasmineiros têmpresençaconstantenaseleçãobrasileira,principalmenteemcategoriasde base

UFMGéreferêncianaaeróbica

x K. LemosTREINADORA

“Se BH nãotivesse tantas

mulheres, juroque vendia meu

marido paratermos

melhorescondições.”

x I. FerreiraEX-ATLETA

“Não tivecondições de me

manter nacategoria

adulto. Hoje,ajudo na

coordenação doprojeto.”

Buscando recursos

Qualidade. Estrutura de alto nível da ajuda na formação de talentos dessa modalidade de ginástica

Técnica se torna vendedora

Projeto permite descoberta e aperfeiçoamento de novos talentos

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