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Prática comunitária e o trabalho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com crianças e adolescentes em Ribeirão Preto/SP - Brasil Community practice and the work of Landless Workers' Movement (MST) with children and adolescents in Ribeirão Preto/SP – Brasil Ana Paula Soares da Silva Juliana Bezzon da Silva Leandro Amorim Rosa Regiane Sbroion de Carvalho Ana Cecília Oliveira Silva Thaise Vieira Palavras-chave: comunidade rural, infância do campo, reforma agrária Keywords: rural community, country childhood, agrarian reform Autor Biografias: Dr. Ana Paula Soares da Silva, Coordenadora do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE, e Professora de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – FFCLRP-USP. Me. Juliana Bezzon da Silva, Colaboradora do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE – FFCLRP-USP. Me. Leandro Amorim Rosa, Pesquisador (nível Doutorado) no Núcleo de Psicologia Política - PUC-SP; Colaborador do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE – FFCLRP-USP. Dr. Regiane Sbroion de Carvalho, Pesquisadora (nível Doutorado) do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE – FFCLRP-USP. Dr. Ana Cecília Oliveira Silva, Pesquisadora (nível Doutorado) do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE – FFCLRP- USP. Me. Thaise Vieira, Colaboradora do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE – FFCLRP-USP. Autor Notas: Os autores agradecem o apoio financeiro às pesquisas recebido da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, e ao projeto de extensão, financiado pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo-USP. Citar: Soares da Silva, A.P., Bezzon da Silva, J., Rosa, L.A., Sbroion de Carvalho, R., Oliveira Silva, A.C., and Vieira, T. (2016). Prática comunitária e o trabalho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com crianças e adolescentes em Ribeirão Preto/SP – Brasil. Global Journal of Community Psychology Practice, 7(1S), 1-23. Retrieved Day/Month/Year, from (http://www.gjcpp.org)

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Prática comunitária e o trabalho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) com crianças e adolescentes em Ribeirão Preto/SP - Brasil

Community practice and the work of Landless Workers' Movement (MST) with children

and adolescents in Ribeirão Preto/SP – Brasil

Ana Paula Soares da

Silva

Juliana Bezzon da

Silva

Leandro Amorim Rosa

Regiane Sbroion de Carvalho

Ana Cecília Oliveira Silva

Thaise Vieira

Palavras-chave: comunidade rural, infância do campo, reforma agrária Keywords: rural community, country childhood, agrarian reform

Autor Biografias: Dr. Ana Paula Soares da Silva, Coordenadora do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE, e Professora de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – FFCLRP-USP. Me. Juliana Bezzon da Silva, Colaboradora do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE – FFCLRP-USP. Me. Leandro Amorim Rosa, Pesquisador (nível Doutorado) no Núcleo de Psicologia Política - PUC-SP; Colaborador do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE – FFCLRP-USP. Dr. Regiane Sbroion de Carvalho, Pesquisadora (nível Doutorado) do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE – FFCLRP-USP. Dr. Ana Cecília Oliveira Silva, Pesquisadora (nível Doutorado) do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE – FFCLRP-USP. Me. Thaise Vieira, Colaboradora do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas – LAPSAPE – FFCLRP-USP.

Autor Notas: Os autores agradecem o apoio financeiro às pesquisas recebido da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, e ao projeto de extensão, financiado pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo-USP.

Citar: Soares da Silva, A.P., Bezzon da Silva, J., Rosa, L.A., Sbroion de Carvalho, R., Oliveira Silva, A.C., and Vieira, T. (2016). Prática comunitária e o trabalho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com crianças e adolescentes em Ribeirão Preto/SP – Brasil. Global Journal of Community Psychology Practice, 7(1S), 1-23. Retrieved Day/Month/Year, from (http://www.gjcpp.org)

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PráticacomunitáriaeotrabalhodoMovimentodosTrabalhadoresRuraisSemTerra(MST)comcriançaseadolescentesemRibeirãoPreto/SP-Brasil

ResumoOartigorelataaexperiênciadepráticacomunitáriadoLAPSAPEque,nosanosde2007a2012,porsolicitaçãodosetordeeducaçãodoMovimentodosTrabalhadoresRuraisSemTerra –MST, realizou atividades emum assentamento de reforma agrária, localizado nacidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, Brasil. A atuação foi orientada pelaperspectiva teórica e metodológica histórico-cultural, articulando conhecimentos daPsicologiadoDesenvolvimentoePsicologiaSocial-Comunitária.Oobjetivodapráticaeracontribuirparaa formaçãodeeducadorespopulares, construindocomeles instrumentospara a atuação em diferentes níveis: organização e realização de atividades lúdicas eeducativascomascriançaseadolescentes;construçãodeconhecimentossobreainfânciapara proposição de ações de defesa de seus direitos junto a órgãos governamentais;envolvimento com as políticas de atendimento à educação das crianças e jovensassentados; integração das crianças ao espaço do assentamento da reforma agrária e aomodelo de produção econômica escolhido e em implantação pelos adultos. Participaramaproximadamentedezadultosequarentacriançaseadolescentesdediferentesidades(dostrês aos 17 anos). Orientou o trabalho o entendimento da necessária coconstrução e doaprendizado mútuo entre assentados e Universidade. Alguns dos eixos de trabalhodesenvolvidos foram:o lugarda infância eda criançano assentamento rural de reformaagrária; direitos das crianças e adolescentes; brincadeiras; registro e memória;desenvolvimento infantil; educação do campo; relações campo-cidade; preconceito;sustentabilidade. Por meio do trabalho com diferentes linguagens e métodos, houve acontribuição no empoderamento dos adultos para a organização de ações de luta pelamelhoriadaspolíticasdeeducação.Destaca-seoprotagonismoconstruído:namobilizaçãode adultos e crianças para combater os riscos no transporte escolar (o que resultou navisibilidade do tema na mídia, na conquista de melhores condições dos veículos e nacontratação de adultos assentados para acompanhar o trajeto entre o assentamento e aescola);nalutapelainclusão,noplanejamentoorçamentáriodomunicípio,deverbaparaaconstrução de escola no próprio assentamento; no envolvimento das crianças eadolescentes no projeto agroflorestal do assentamento. Ressalta-se que a prática foirealizadaemumacomunidadepoliticamenteengajada,principalmentedevidoàhistóriadeparticipaçãonomovimentosocialeà lutapelaconsolidaçãodoassentamentodereformaagrária. Nas avaliações conjuntas com os assentados, concluiu-se que a intervenção dogrupo do LAPSAPE contribuiu, num movimento gradativo, para a construção dasidentidadesdosparticipantes comoeducadores infantis,bemcomoparaa construçãodaautonomia em relação à argumentação, junto aos poderes públicos locais, a favor daspolíticaspúblicasquevisemamelhoriadascondiçõesdevidadascriançaseadolescentesassentados.

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CommunitypracticeandtheworkofLandlessWorkers'Movement(MST)withchildrenandadolescentsinRibeirãoPreto/SP–Brasil

AbstractTheaimofthisarticleistopresenttheexperienceofcommunitypracticeofLAPSAPEinanagrarianreformsettlement,locatedinthecityofRibeirãoPreto,StateofSãoPaulo,Brazil.The practice was conducted, during the years 2007 to 2012, at the invitation of theLandlessWorkersMovement–MST.Thecultural-historicalpsychologicalperspectiveandthe link between Developmental Psychology and Community Psychology oriented theactivities. The purpose of the practicewas contribute to thework of popular educators,building with them instruments to act in different levels: organization of playful andeducational activities with children and adolescents; construction of knowledges aboutchildhood to propose actions of defence of their rights with government agencies;involvementwith the policies of education of children and young people; integration ofchildren into space of the settlement of land reform. Ten adults and 40 children andadolescentsofdifferentages(fromthreeto17yearsold)participatedoftheactivities.Thecomprehension of mutual construction and learning between settlers and Universityguidedthepractice.Someof theprincipal linesof thedevelopedworkwere: theplaceofchildhoodandofthechildintheruralsettlement;rightsofchildrenandadolescents;plays;registry and memory of the activities; child development; rural education; rural-urbanrelationships;prejudice;sustainability.Throughthedeploymentofdifferentmethodsandlanguages, therewas contribution to the empowerment of adults for the organization ofactions for improvement of education policies.We highlight the role built in:mobilizingboth adults and children to combat the risks on school transport (which resulted in thevisibilityofthistopicinmedia, intheconquestofbetterconditionsofvehiclesandintheengagementofsettlersadults to followthepathbetweenthesettlementandtheschool);thestruggleforinclusioninmunicipalbudgetfundingfortheconstructionoftheschoolinthesettlement;andtheinvolvementofchildrenandadolescentsintheagroforestryproject.It should be noted that the practicewas performed in a politically engaged community,mainly due to the history of participation in social movement and the struggle for theconsolidationofsettlementofagrarianreform. In the jointassessmentswith thesettlers,weconcludedthattheinterventionoftheLAPSAPEgroupcontributedtotheconstructionof the identities of the participants as child educators aswell as for the construction ofautonomyinrelationtotheargumentinfavourofpublicpolicies,aimedatimprovingthelivingconditionsofchildrenandadolescentsfromagrarianreformsettlements.

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IntroduçãoAolongodahistóriadoBrasil,ostrabalhadoresruraiseagricultoresfamiliaresforamsubmetidosacondiçõesinsuficientesdeacessoaosbenssociaisedeprodução.Esteprocessoéresultadodeumprojetodedesenvolvimentoqueprivilegiouaconcentraçãodapropriedadedaterraederiqueza,expulsoudocampoospequenosagricultoreseproduziudesigualdadeseconômicasesociaisnocampoenacidade,assimcomoentreacidadeeocampo.AszonasruraisnoBrasilsãoasqueconcentramospioresíndicesdepobrezaedeacessoaosdireitosfundamentais.Aspolíticaspúblicasparaodesenvolvimentosocialeambientaldocampobrasileirosãoescassaseenfrentamodesafiodelidarcomoconjuntodeprecariedadeshistoricamenteacumuladasnoqueserefereaosserviçosdesaúde,educação,moradia,condiçõessanitáriaseprevidênciarural.Naanálisedapolíticaagrícoladirecionadaaosetorrural(Leite,2012),evidencia-seadestinaçãodegrandepartedosincentivoseconômicosedebenefíciospolíticosaosmédiose,principalmente,grandesprodutoresruraisrepresentantesdoagronegócioe,portanto,apreferênciaclaraporummodelodeproduçãoagrícolabaseadonolatifúndioenaagriculturadeexportaçãoemdetrimentodaagriculturafamiliar.Comoumaformaderesistênciaaestaspolíticasetendocomolutaprincipalareformaagrária,omovimentocamponêsnoBrasilorganizou-se,desdeadécadade1940,emtornodoquesedenominoudeLigasCamponesas.Esteprocessofoireprimidoapartirde1964,quandoogolpecivil-militarinstaurouaditaduracomoregimepolítico,quesobreviveuaté

finaldosanos1980.Nestecontexto,muitosmilitantescomunistasedeesquerda,entreelesliderançascamponesasdetodoopaís,foramperseguidosemortos.Aemergênciadosnovosmovimentossociaisesindicaisbrasileirosdelutapelaterrasedá,principalmente,apartirdadécadade1980.Em1984,écriadooMovimentodosTrabalhadoresRuraisSemTerra–MST,omovimentosocialdemaiorcapilaridadeeexpressãopolíticanoBrasil.EmboraoMSTtenhaumaforteorganizaçãoeumavisibilidadenacional,háváriosmovimentossociaisnocampobrasileiro,amaioriadeabrangênciaregionaloulocal,quepressionamogovernoparaaefetivaçãodareformaagráriapormeiodeocupaçõesemáreasquenãocumpremafunçãosocialdaterra.ComaretomadadademocraciaeaConstituiçãoFederalde1988,osdireitosàpropriedaderuraleareformaagráriasãoestabelecidoscomoprincípiosatreladosaocumprimentodafunçãosocialdaterra,aorientaraspolíticaspúblicasderedistribuiçãoedemocratizaçãodoacessoàterraedeconstruçãodajustiçasocialnocampo.Apesardessadeterminaçãolegal,amaioriadosassentamentosruraisdareformaagráriaisóécriadaeconsolidadaapartirdapressãodosmovimentossociais(Leite,Heredia,Medeiros,Palmeira,&Cintrão,2004).Aslutaspelareformaagráriaconfrontamalógicadosgrandesproprietáriosrurais,acaracterizarumasituaçãodeconstanteconflito,tensãoemortenocampobrasileiro.Nestecontexto,coexistem,geralmenteemtensão,aagriculturapautadanoagronegócio,naagroindústriaenaproduçãoparaexportação,eaagriculturafamiliar,compostaporgruposcujasidentidadessocioculturaissão

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diversas,comoassentadosdareformaagrária,ribeirinhos,quilombolas,entreoutros.Compreende-sequeareformaagráriabrasileiraeodesenvolvimentosocialdocamposãoprincípiosfundamentaisparaatransformaçãosocialeaemancipaçãodospovoshistoricamentesubalternizados.Hoje,nopaís,deacordocomoInstitutoNacionaldeColonizaçãoeReformaAgrária–INCRA,hámaisde9.200assentamentosrurais,nosquaisvivemquaseummilhãodefamíliasassentadas(INCRA,2015).Estaconjunturacolocaemevidênciaaconstituiçãodenovossujeitosdocampo,osassentadosdareformaagrária,emsuasdemandasparticulares,configuraçõesdevidaespecíficas,condiçõesdetrabalhopróprias,produção,moradia,lazereoutrasnecessidadespessoaisecoletivas.Apesardestacomplexasituaçãonocampo,quecompõepartesignificativadasproblemáticasedarealidadebrasileira,aPsicologiatemtidoinserçãopoucoexpressivanestecontexto(Leite&Dimenstein,2013).NoâmbitodaPsicologiaComunitáriabrasileira,Lane(1996,p.26)defendequeforam“ostrabalhoscomunitáriosdesenvolvidosnazonarural,provavelmenteosprimeirosafalarememcomunidade”,pormeiodacriaçãodecentrossociaiscomapoiodaigrejacatólicaeorientadospelaideologiadodesenvolvimentodecomunidadedaOrganizaçãodasNaçõesUnidas–ONU.Paraaautora,ésomentenadécadade1990quesãoidentificadasexceçõesaestaperspectiva,comalgunsprojetosquevisavamaconstruçãodaautonomiaeacríticaaosproblemasderivadosdacontradiçãoentrecapitaletrabalhonocampo.Freitas(1996),porsuavez,destaca,entreostrabalhospioneirosem

PsicologiaComunitárianoBrasil,aquelesdesenvolvidos,nasdécadasde1970e1980,comcomunidadesruraiseurbanasnaregiãonordestedopaís,naUniversidadeFederaldaParaíba.Apesardeiniciativasetrabalhospontuaisemalgumaslocalidadesrurais,éapenasapartirdosanos2000,provavelmenteemvirtudedoprocessodeinteriorizaçãodoscursosdePsicologianoBrasil(Leite&Dimeinstein,2013),quecomeçaaapareceruminteressemaiordaPsicologiapelosespaçosruraiseáreasdeassentamentodareformaagrária.Atualmente,háummovimentointencionaldeaglutinarospesquisadoresepsicólogosqueatuamemcontextosrurais(ConselhoFederaldePsicologia,2013),apartirdediferentestemáticas,comoporexemplo,saúdemental,culturaeprocessosidentitários,relaçõesrural-urbano,movimentossociaisdocampo,práticaseducativasevivênciasintergeracionais.Aaproximaçãodosassentamentosruraispartiudeumconvite,feitoporassentadosdareformaagrária,paraqueaUniversidadedeSãoPaulo–USP,sobcoordenaçãodospesquisadoresdohojechamadoLaboratóriodePsicologiaSocioambientalePráticasEducativas–LAPSAPEii,desenvolvesseatividadescomascriançaseadolescentesemumacomunidaderurallocalizadanacidadedeRibeirãoPreto,EstadodeSãoPaulo,regiãosudestedopaís.Oconvitenoscomprometeuéticaepoliticamentecomosassentados,desafiandoanossaexperiênciadeatuaçãocomformaçãoeinfância,acumuladapelapesquisaeintervençãoeminstituiçõesecomunidadesurbanas,desdeoiníciodosanos2000.

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Ascriançasdocamposofremincidênciadupladaausênciadepolíticaspúblicas.Seaspopulaçõeseconomicamenteativasdocampoforamsubmetidasausurpaçõesqueasimpediramdeteracessoadiversosdireitosparaodesenvolvimentodesuasvidasedeseinseriremnasrelaçõessociaiscomdignidade,ascriançasquevivememáreasruraissofreramesofremaindamais,porsereminvisibilizadaspelasaçõesdopoderpúblicoedasociedadedemodogeral.Aspolíticaspúblicas,quandoexistentes,relacionam-seapenascomavertenteagrícoladocampo,desconsiderandoadinâmicaderecriaçãodorural,deconstruçãodenovasruralidadesedocampocomoespaçodevida(Carneiro,2011),ondediferentesgeraçõesconstroemedepositamseusprojetosdeesperança,depresenteedefuturo(Cruz-Souza,2011;Silva,2014).Aspolíticaspúblicasvoltadasparaainfânciademodogeral,poroutrolado,privilegiamasmoradorasdacidade,dificultandooacessodascriançasdeáreasruraisadireitosbásicoscomo,porexemplo,aescola.Porestemotivo,pode-sedizerqueascriançasbrasileirasdeárearuralsofremumprocessoduplodeinvisibilidade,sejapelopertencimentoaocampo,sejapelaquestãoetáriaegeracional.NocasodascriançasvinculadasaoMST,destaca-seavivênciadesituaçõesdevitimizaçãoedepreconceito,umavezqueaimagemsocialdestegrupoé,emgrandeparte,mediadapelosórgãosdeimprensa,acaracterizá-lonoimagináriosocialcomoumgrupoperigosoàordempública.Énestecontextoamploecomplexoqueseinsereaatuaçãodenossogrupo.OartigobuscaapresentaraspectosdeumaexperiênciadepráticasocialcomunitáriarealizadacomcriançasecomeducadorespopularesdoSetordeEducaçãoiiideum

assentamentoruraldereformaagrárialocalizadonomunicípiodeRibeirãoPreto,EstadodeSãoPaulo,Brasil.Aatuaçãofoirealizadanumespaço/tempoespecíficodacomunidadeassentada,destinadoàsocializaçãoeàeducaçãonãoformaldascriançaseadolescentes,sobaresponsabilidadedosprópriosassentadosque,voluntariamenteedeformamilitante,realizamestetrabalhoestimuladopelacoordenaçãodoMST.Oobjetivodaatuaçãofoicontribuirparatransformaçõesnaquelacomunidadenoqueserefere:àsrelaçõesdosadultoscomascrianças;aoacessodascriançasassentadasaosdireitossociaisbásicos;aosespaçosdainfâncianalocalidade.Otrabalhoorientou-seporumaperspectivaampliadadepromoçãododesenvolvimentoruralquecompreendeadiversidadedocampoeasnecessidadesespecíficasdosseussujeitosemdiferentesmomentosdociclodevida.Nocasodosadultos,focalizou-senaproblematizaçãocrítico-reflexivadaspráticasdoseducadorespopularesnaquelacomunidade,naconstruçãodaidentidadedeeducadoresinfantis–porelesdenominadosde“cirandeiros”(MST,2004)–enopapeldosadultoscomomediadoreseapoiadoresdascriançasnosprocessosdelutaporseusdireitos.

BREVECONTEXTUALIZAÇÃODACOMUNIDADE

Compreendemosacomunidadecomoumespaçonoqualsemetabolizaadialéticaentreoindividualeocoletivo,caracterizadonãoporconsensoshomogeneizadores(Sawaia,2007)oupelaausênciadetensões,massim,comoolocalondesãodesenvolvidosrecursospessoaisesociaisparalidarcoletivaecriativamentecomtaisproblemaseconflitos,deformaatransformara

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realidade.Oassentamentoruralonderealizamosaintervenção,emsuahistóriaeorganização,sintetizatalconcepçãodinâmicadecomunidade,aqualprocuramospotencializaremnossaspráticas.Aáreadoassentamentoeraumafazendademonoculturadacana-de-açúcar,principalfontedaeconomiaagrário-exportadoradaregião.Adesapropriaçãodafazendadecorreudapressãodeváriosatoressociaiseenvolveuaspectosambientaisepolíticos.Ainiciativadopedidodedestinaçãodaáreaparafinsdereformaagráriaaconteceuem2000,quandoaPromotoriadeJustiçadoMeioAmbienteeConflitosAgráriosrequisitouaoINCRAadesapropriação,devidoelevadopassivoambientalesuspeitadeimprodutividadeeconômica.OMovimentodosTrabalhadoresRuraisSemTerra–MST,quehaviachegadoàregiãoem1999,conhecendooconflitoambientalinstaurado,ocupouaantigafazendaem2003.Váriosforamosmomentosemqueexperimentaramosconflituososprocessosdereintegraçãodeposseeembatecomapolícia,atéqueafazendafossedesapropriada,pormeiodedecretopresidencial,emdezembrode2005.Nesteprocesso,oMSTcontoucomumamploapoiodesetoresdaigrejacatólica,sindicatos,ambientalistasedemaissetoresprogressistasdasociedadecivil.Oassentamentoruralsitua-seemumadasáreasderecargadosegundomaiormanancialdeáguadocesubterrâneadomundo–oAquíferoGuarani–e,porestaparticularidadeambiental,temsuapropostadeproduçãobaseadaemprincípiosecológicosenosistemaagroflorestal.Foramassentadas550famíliasquehojeestãoorganizadasem

quatromovimentossociaiseáreasdistintas.Oassentamentoruralquerealizamosaintervençãodenomina-se“MárioLago”ivecorrespondeàáreacompostapor264famílias.OSetordeEducaçãorealizaumconjuntodeatividades,dentreelas,aorganizaçãodoespaço/tempoprópriodascriançaseadolescentes–denominadopeloMSTde“CirandaInfantil”–eaformaçãodoseducadoresresponsáveisporessesespaços(MST,2004).AsCirandasInfantissãopráticascomunitáriasdeeducaçãodosfilhosdosassentadoseacampados.Foramcriadasemfunçãodanecessidadeconcretadeumaaçãopartilhadaentreacomunidadeeasfamíliasparaapoiaraparticipaçãodospaisnasatividadesdomovimentoeparapromoverumespaçoquepossibiliteàcriançaoseudireitoàeducaçãoeconsidereasespecificidadesdavivênciadainfância(MST,2004).DentreosobjetivosdasCirandasInfantis(MST,2004),destacam-se:aorganizaçãodeatividadesnasquaisascriançassejamsujeitosdoprocesso;odesenvolvimentodacooperaçãodeformaeducativaqueconstruaavivênciadenovosvaloressocietais;aconstruçãodaidentidadedascriançascomomembrosdoMST;agarantiadaformaçãopolíticaepedagógicapermanentedaseducadoraseeducadoresinfantis.NoassentamentoMárioLago,aCirandatevesuaorigemaindanafasedeocupaçãodafazenda,em2003.Nossainserçãonoprojetoocorreuapartirde2007.Em2009,aCirandado“MárioLago”foidenominadadeCiranda“RumoàLiberdade”,apósumprocessodeescolhadeaproximadamentedoismeses,promovidocomopartedasatividadesdeextensãodoLAPSAPEeprotagonizado

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porcriançasejovensnoenvolvimentodetodaacomunidade.OsobjetivosdoMSTemrelaçãoàspropostaseducativasdascriançasdialogaramcomnossosprincípiosteóricosemetodológicosenortearamaatuaçãocomunitáriarealizadacomoumaformadecompartilhamentodacompreensãodospapéisdoseducadores,dosmembrosdoLAPSAPEedapromoçãodoespaçodainfâncianoassentamentorural.OSPRINCÍPIOSTEÓRICO-PRÁTICOSDA

ATUAÇÃOAatuaçãopelosmembrosdoLAPSAPEnaCirandaInfantil“RumoàLiberdade”foibaseadapredominantementenasáreasdeconhecimentodaPsicologiaSocialComunitáriaePsicologiadoDesenvolvimento.DesdeaPsicologiadoDesenvolvimento,nossaatuaçãotevecomofundamentoteórico-metodológicoaperspectivahistórico-cultural,decunhovigotskiano,oqueorientounossaconcepçãodesujeito,dedesenvolvimentohumano,depráticassocioculturaiseeducativase,consequentemente,dasrelaçõesinterpessoaisemcontextossituados,incluindonossasrelaçõescomacomunidade.MesmoreconhecendoascontribuiçõesdeautoresdaPsicologiaComunitáriavinculadosadiversasorigens(Reich,Riemer,Prilleltensky,&Montero,2007),asespecificidadeshistóricasecontextuaisdenossaintervençãonosaproximaramdosreferenciaislatino-americanos.Dentrenossosprincípiosorientadorespodemosdestacar:aconcepçãodesujeitodramáticoeconcreto(Vigotski,2000);construçãodeumprojetoquepartedademandaedaescutadacomunidadeearelaçãoteoriaeprática(Campos,2007);aconstruçãodeumarelaçãohorizontal

comoprincípiodialógico(Mayorga,2007);oreconhecimentodaresponsabilidadedapráticapsicológicanoprocessodepromoçãodacomunidadeeapotencializaçãodeprocessossociaiscomunitáriosnoterritório(Guareschi,1996);ofortalecimentocomunitário(Freitas,2010;Montero2006)esuareflexãoemconsideraçãoàsrelaçõesgeracionais;acontribuiçãoaoempoderamentopsicológico(Menezes,2010);acontinuidadedasatividadesobjetivandoaautonomia(Campos,2007).Aconcepçãodesujeitodramáticoeconcreto:Vigotski(1996,2000,2006)nospermitepensarosprocessosdeconstituiçãodamentecomonecessariamentecaracterizadospelacomplexidadedasfunçõespsicológicasedesuarelaçãooriginárianoseiodesociedadesdeterminadas,históricaeculturalmentesituadas,emtemposeespaçosespecíficos.Derivadesteentendimentoumaconcepçãotambémcomplexadesujeito,queinteriorizaastensõesvividasnatramasocial.Oautorentendeapersonalidadepormeiodametáforadodrama,queconstituioembateentrearazãoeaemoçãoconstruídonojogodasrelaçõessociaisedospapéispornósvivenciados.Umavezquesãotensosecontraditóriosessespapéisassimcomoasrelaçõessociaisqueosconstroem,tambémapersonalidadedestaformaseconstituiria,abrindoespaçoparaaconcepçãodosujeitodramático(Vigotski,2000).Aperspectivahistórico-cultural,nestetrabalho,épostaemdiálogocomaPsicologiaComunitáriaapartirdeseuposicionamentocomoumaabordagemteórico-crítica,carregando,doideáriomarxista,apropostadequeopsiquismo

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sedádeformacontextualizada,históricaedialética,eapontandoparaanecessidadedecomprometimentocomumapráxisdetransformaçãodarealidade(Ximenes&Barros,2009).EssaabordagemépartilhadacomoutrosautoresdaPsicologiaComunitáriabrasileira(Brandão&Bonfim,1999).Orientadosporestaperspectiva,emnossaprática,abuscaésemprepeloencontrocomosujeitocomplexo,nadramaticidadedavida,econcreto,síntesedemúltiplasdeterminaçõesmateriaisesimbólicas.Asidentidadesdecirandeiroedeassentadodareformaagráriasãoapenasalgumasdaquelasquecompõemossujeitoscomosquaisnosrelacionamos,quedialogam,porexemplo,comsuasidentidadesdefilhos/filhas,esposos/esposas,pais/mães,membrosdegruposreligiosos,membrosdasclassesdesfavorecidaseconomicamente.Énatramadessespapéisqueosadultosincorporamaresponsabilidadedoconjuntodacomunidadenaparticipaçãodaeducaçãocoletivadascrianças,apreocupaçãocomacriançaesuaformaçãocomoumapráticasocialcompartilhadaentreafamíliaeomovimentosocial.Istoincluiconfrontos,conflitosedesacordos,entreeleseconsigomesmos,promovendomovimentosdeempoderamentooudeestranhamentonoqueserefereaosprópriospapéisdeeducadorespopularesederepresentantesdomovimentosocialnestatarefa.Concorreaindacomestaconstruçãoofatodeestaremconstruindoseusprojetosdepresenteedefuturobuscandoconcretizaroassentamentoemmeioàsinúmerasdificuldadesmateriaiseaotempodespendidonaobtençãoderendaparaasobrevivência.Nestemovimento,ocorremprocessosdedesenvolvimentodiversos(relacionais,intergeracionais,grupais,identitários),

caracterizadosporidasevindas,avançoseretrocessos,transformaçõesecontinuidades.Destaforma,aatuaçãoprocuraumaleituraatentaeconstantedojogodospapéisedodramasubjetivodosparticipantes,acompreenderasposiçõesassumidaspelaseatribuídasàspessoas,marcadasporelementosafetivos,relaçõesdepoder,negociaçõescarregadasdeconflitosepermeadasporquestõesdegênero,classeegeração(Silva,2003).Trata-sedaleituradaqualidadeconcreta(Politzer,1998)edramáticadosujeito(Vigotski,1929).Éosujeitonaconcretudeviva,emergente,queseexpressanapráticacomunitáriadaCirandaInfantil.Desdeestaperspectiva,asdinâmicasemtornodamediaçãodascriançasaoprojetodeassentamentoeaosprincípiosdoMSTampliam-separaalémdeumapráticarestritivaaoâmbitodaeducação;aformaçãodecirandeirosultrapassaoslimitesdeumprojetodeformaçãodeeducadorespopulares.Esteprocessoganhasentidoapenasnoconjuntodavidadosassentados,noprojetodoassentamento,naspráticaseexpectativaseducativasquevinculamasgeraçõesnaqueleespaçoenalutacotidianaparaasobrevivênciaeparaamelhoriadascondiçõesdesaúde,educação,habitaçãoesociabilidadedacomunidade.Otrabalhobuscarefletircomosprópriosassentadosesseprocesso,deformaatrazerparaaconsciênciaosconstrangimentose,principalmente,aidentificaçãodaspotencialidadesdesuasaçõesedasaçõescomascriançaseadolescentes,demodoatambémimplicá-losereconhecê-loscomosujeitosativos,ligadosintergeracionalmentenaconstruçãodapropostadoassentamento.

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Alémdestepapelmediador,asaçõeseducativasdoscirandeirostambémforamconcebidascomoumapráticasocialmediadoradarelaçãodascriançascomoassentamento,ouseja,deapropriaçãodesignos,deinserçãonomundomediadapordiversosoutros,devinculaçãoepertencimentoaumgrupoculturale,consequentemente,deapropriaçãodeformasdepensar,sentireagirprópriosdaquelegrupo.Sãocompreendidascomopráticasdeconstituiçãodesubjetividadesepoderiamserchamadasdecoeducaçãopelocaráterdetrocaqueascaracterizam.Emtornodessaspráticas,orbitamsignificações,valores,projetosdesujeitosedesociedadesemdisputa.Olharparaelasécolocaremrelevoosprocessosrelacionaisededesenvolvimentoentrepessoasdediferentesgeraçõesoucoetâneos.Elasprópriascaracterizam-secomoelementosimportantesnacomposiçãodeumasituaçãosocialdedesenvolvimento(Vigotski,2006)paracriançaseadultos;comportamaspectosafetivos,motores,cognitivos,assimcomointencionaisounão;conformam-secomoumsistemaderelaçõesentreosujeitoearealidade,compeculiareseespecificidadesnosdiferentesperíodosdoprocessodedesenvolvimento.Dopontodevistametodológico,essesentendimentosimplicameminiciarotrabalhocomasseguintesanálises:docontextodacomunidadeedogrupo;docruzamentodashistóriasquecompõemaquelesocioambiente,articulandoahistóriadevidadossujeitos,ahistóriadoterritório(assentamentorural)edomovimentosocial(MST)earelaçãoentreessaslinhashistóricas.Esseprocessodeanálisehistórica(diacrónica)econtextual(sincrônica)foifeitoapartirdemuitasvisitasàcomunidadeemdiferentesmomentosdavidasocial,deentrevistas

comosassentadosacercadesuashistóriasdevidaedoterritórioocupado,deleiturasdedocumentosproduzidospelomovimentosocial.Aolongodetodaaintervençãoe,principalmente,emmomentosdeinícioedeavaliaçãodasatividades(queocorriamconjuntamentecomosassentadosaofinaldecadasemestre),foramanalisadas,emrelaçãocomaspossibilidadesepotencialidadesparaotrabalhocoletivocomascrianças,asconfiguraçõessubjetivasconcretasdosassentados,odramacomplexoemqueseencontravamemcadamomentonatramaafetivo-cognitivadosdiferentespapéis.Aconstruçãodoprojetoapartirdademandaedaescutadacomunidadeearelaçãoteoriaeprática:ApráticadecontribuiçãonaformaçãodosCirandeirosparaaatuaçãojuntoaosdireitosdascriançasdacomunidadedoAssentamentoRural“MárioLago”foipermeadapelaescutadosatoressociais,deseusdesejos,necessidades,projetoseescolhasenquantoumcoletivo,nabuscadeumacompreensãointegraldosujeitoedesuasdemandas.Aatuaçãosótemsentidoseopor-seaumpacoteprontodeconteúdosetécnicas.Trata-sedeumaaçãoformadoranegociadacomosenvolvidos,emqueapartirdesuasconcepçõescompreende-seolugarporelesocupadonacomunidade.Pormeiodessaformadeatuação,quefocalizouaparticipaçãoativacomênfasenodesejoenavozdosparticipantesemtodososprocessos,privilegiou-seavalorizaçãodascompetências,capacidadesepotencialidadesdosmembrosdaquelacomunidade(Menezes,2010).Aintervençãonestaperspectivaseorientaapartirdeumapráxiscomunitárianaqualteoriaepráticasãoentendidascomoindissociáveis(Campos,2007).Os

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conhecimentosdosuniversitáriosedosassentadosdereformaagráriadialogamcomoobjetivodepotencializarapráticadeambos,daqualadvêmnovossabereseperguntasque,porsuavez,orientarãooutrasintervençõesereflexões.Esteprincípiotraduziu-seemestratégiasmetodológicasdeplanejamentoinicialdasatividades,realizadocoletivamentepormeiodedinâmicasqueexploravamadialogiadainteraçãogrupal,alémdadefiniçãodeprioridadesquearticulavamasatividadesdascriançascomapautadoassentamentoedoMST.Asreuniõesperiódicasmantinhamemconstânciaapreocupaçãoquantoàadequaçãodasatividadesàsdemandasdosassentados.Aconstruçãodeumarelaçãohorizontalcomoprincípiodialógico:Oscontratosestabelecidosnasconversasiniciaiserenegociadosaolongodetodaaatuaçãobuscaramintencionale,portanto,conscientemente,amanutençãodeumarelaçãoquequestionaospoderesatribuídossocialehistoricamentecadapapeldosparticipantes:adultosassentados;adultosdaUniversidade;criançaseadolescentesassentados.Essespapéissãosignificadosporquestõesdeclasseeetárias,porrelaçõesentreosaberpopulareosaberacadêmico.Aconsciênciadestadistinçãoedesuatensãonaconstruçãodarelação,antesdesernegada,eraobjetodasconversasentreassentadosemembrosdonossogrupo.Ahorizontalidade,contudo,foientendidacomoumdesafioecomoumautopiaorientadoradainserçãonocampo,deformaasuperaro“pseudodiálogo”(Mayorga,2007).Asconcepçõessobreasformasdecidadaniaouemancipaçãoforamconstruídasconjuntamenteduranteoprocessodenossaspráticas.Poroutrolado,nãoforamnegadasas

diferençasexistentesentreosuniversitárioseassentados.Aocontrário,taldiferençafoiproblematizadaparapotencializaraaçãocoletivaesuperarinstantesemquearelaçãodepoderpoderiaestarcentradanonossogrupo.Oreconhecimentodaresponsabilidadedapráticapsicológicanoprocessodepromoçãodacomunidade:Aatuaçãocomunitáriaemumespaçoetempodeterminadosnecessariamenteimplicaemresponsabilidadeséticaseprofissionais(Guareschi,1996),comosadultoseascrianças.Apromoçãodacomunidadeserealizoupelacoconstruçãodossaberesepráticaseporumposicionamentodedesconstruçãodehierarquias,sociaisouetárias.Esteduploposicionamentoproblematizouacomunidadecomoumespaçoemqueosconflitossãotambématravessadosporquestõesetárias,porrelaçõesdepoderdiferenciadasentreadultosecrianças.Esseprincípioexigiumétodos:paraexplicitarosdeterminantesculturaisqueimpedemqueascriançassejamcompreendidascomopartefundamentalnaconstruçãodacomunidadeedoespaçodoassentamento;paraquestionarerefletirsobreaspráticasdosassentadosnarelaçãocomascrianças.Jogos,históriasedramatizaçõesforamconstruídosparaessaatividadereflexivadaprópriapráxis.Apromoçãodacomunidade,desdeumaperspectivaetária,passouasertambémumdiscursodosassentadosquecomeçaramadefenderjuntoaoutrossetoresdoassentamentoqueoempoderamentodossujeitosnoassentamentodeveocorrerindependentementedogrupogeracionalaoqualfazemparte.Ofortalecimentocomunitário:

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PartimosdadefiniçãodeMontero(2006)paraquemofortalecimentocomunitárioimplicaaconstruçãoconjuntade“capacidadeserecursosparacontrolarsuasituaçãodevida,atuandodemaneiracomprometida,conscienteecrítica,paraconseguiratransformaçãodeseuentornosegundosuasnecessidadeseaspirações,transformandoaomesmotempoasimesmos”(p.72,traduçãonossa).ApartirtambémdodiálogocomosprincípiosdefortalecimentopropostosporFreitas(2010),nasintervenções,háumapreocupaçãoconstantecom:aconstruçãopartilhadadosentimentodepertencimentoedecomunidade;asensibilidadeeaconscientizaçãodosdeterminantessócio-políticosdasituaçãovivida;oposicionamentocríticoehistóricofrenteaomundo,àsrelaçõesrural-urbanoeàsrelaçõesgeracionais,identificandoosdeterminantesestruturaiseconjunturaisdesuacondição;acapacidadedetraduziresteposicionamentocríticoemaçõesefetivasemdireçãodatransformaçãonumaperspectivacoletiva;abuscaeodesenvolvimentodeestratégiasnasintervençõescomunitáriasquetragamresultadosparaascrianças,enãoapenasindividuaisouparaosadultos.Aestratégiainicialepermanentefoioforteinvestimentonaconstruçãodevínculosdeconfiançaenaexplicitaçãoconstantedenossosposicionamentos,oquecaracterizouodesafioéticodeconciliaraaproximaçãodogrupoeaconstruçãodeumarelaçãopautadanasinceridadeenaexplicitaçãodospapéisinconciliáveisdeassentadosdareformaagráriaedemembrosdonossogrupo,deadultosecrianças.Contribuiçãoaoempoderamentopsicológico:

Oempoderamentoéentendidocomoumdesenvolvimentointerrelacionadodascapacidadesdeautoaceitaçãoeautoconfiança,compreensãosocialepolítica,edeenvolver-sesignificativamentenocontrolederecursosedecisõesdesuacomunidade(Menezes,2010).Navivênciaprolongadacomosassentados,ofortalecimentodaidentidadedeeducadorpopularatuouemoutrasesferasdavidaafetivadossujeitos.Istosedeucomoumaproduçãopaulatina,verificávelnasverbalizaçõesdosassentadosquecomeçaramaagregar,nasapresentaçõesdesimesmos,aidentidadedeeducador.Tambémtestemunharamtransformaçõesocorridasemseuspapéiserelaçõesfamiliares,decorrentesdestefortalecimento,objetodaaçãocomunitária.Acontinuidadedasatividadesobjetivandoaautonomia:Odesenvolvimentodaautonomia(Menezes,2010)foibuscadoconsiderandooaspectointergeracionaldogrupocomoqualtrabalhamos,ouseja,tantodosadultosparaatuaremnaCirandaInfantilcomascriançascomonaconstruçãodeestratégiasdeempoderamentodascriançasparaquesejamprotagonistasemprocessosdereivindicaçãodepolíticaspúblicasedemelhoriadoassentamento.Campos(2007)defendequeaproblemáticacentraldapsicologiacomunitáriaéatransformaçãodeindivíduosemsujeitos.Ouseja,aspráticasnessecampovisavampotencializaraautonomia,aconscientizaçãoeacapacidadedeatuardossujeitos(individuaisecoletivos,adultosecrianças)emrelaçãoàssuascondiçõesdevidae,principalmente,emrelaçãoànossaatuação.Asatividadescomogrupodeassentadosadultosforam

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mudandoaolongodotempo,emdireçãoamaioresgrausdeorganizaçãoeaçãoautônomaseautogestionárias,asquaispudessemsustentarsuaspráticasereflexõesnaausênciadenossogrupodepsicólogoseuniversitários.Aprópriarelaçãoautonomia-dependênciafoipautadaemalgunsmomentosdaintervenção,emparticularquando,apartirdealgumafastamentodogrupo,asatividadescomascriançasdeixavamdeocorrerouaconteciamcompoucareflexãoeplanejamento.

AATUAÇÃOCOMUNITÁRIANACIRANDAINFANTIL“RUMOÀ

LIBERDADE”Aatuação,ocorridadeformacontinuada,de2007a2102,aconteceubasicamenteaossábados,comperiodicidadesemanal,emencontrosnaáreacoletivadoassentamento,namaioriadasvezesnoperíododamanhã.Aolongodosanos,participaramdecadaencontro,emmédia,cincoprofissionaisdapsicologia/membrosdaUniversidade,10cirandeiroseemtornode40criançaseadolescentesde3a17anosdeidade.Osencontrospossuíamumanaturezanãoobrigatóriasendoqueamaioriadascriançaseadolescentestinhaumafrequênciaativaealgunsparticipavammaisdedeterminadosperíodos.Otempoeradivididoematividadeplanejadaelivre,salientando-se,contudo,queascriançasnãonecessariamenteeramcobradaspararealizarasatividadesplanejadas,oquelhesdavaalgumamargemdeautonomiaparaconstruirtambémalternativasnocasodenãoquereremparticipardaspropostasestruturadaspelosadultos.Aolongodosanos,aatuaçãofoidesenvolvidapormeiodediferentesformatosbemcomopeladiversificaçãodeatividadesetemáticas.Essasadequações

foramfeitascomoresultadodeumaaçãoorganicamentevinculadaàsmudançasdasdemandasdosadultosedascrianças,àmedidaqueapráticasedesenvolvia.Apesardasdiferentesconfigurações,ametodologiacontavasemprecomumaestruturabásicaqueprocuravaatenderàsatividades:formativasdosassentados;comascriançasedascrianças;deformaçãodosmembrosdoLAPSAPE.Asatividadescomosassentados,partindodareivindicaçãoparaseformaremcomoeducadorespopulares,buscaramconstruirumcaminhodegradativaaquisiçãodeautonomiaparaotrabalhocomascrianças,modificadosemprequehaviaumaexpressãodaconfiançaemsimesmos.Aconstruçãodestaidentidadeprecisavaacontecer,umavezquealgunsassentados,compoucodomíniodaleituraedaescrita,viam-secomoincompetentesparamediar,notempoenoespaço,asaçõescoletivascomascrianças.Trêsgrandesmomentospodemseridentificadosnoprocessodasatividadescomosassentados.Nodesenhoinicial,asatividadeseramfeitasapenascomosadultos,queacreditavamsernecessáriaumaaproximaçãoprimeiracomconteúdosrelativosàinfânciavparasomentedepois“colocaremtudoemprática”.Nesteperíodo,nãoarticulavamasatividadesformativascomaquelasquejádesenvolviamcomascriançasdesdeoiníciodoassentamento.Aproblematizaçãodestemodeloqueseparaateoriaeaprática,feitacomosassentados,comotempo,somou-seaodesejo,porelesmanifestado,deumaaçãodiretacomascrianças–umindíciodoembriãodaidentidadedeeducador.Posteriormente,quandojásesentiamresponsáveispelarealizaçãodos

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encontroscomascriançasdemodoaarticularomomentoformativoeomomentocomascrianças,oinvestimentodosencontrospriorizouaspropostasparaascriançasnaCirandaeasistematizaçãodeumprojetoqueassumisseumaconcepçãodeinfânciaedecriançanacomunidade;istoconduziuàsdiscussõessobreascondiçõesconcretasdascriançasnaCirandanoassentamentoeoespaçoqueacomunidadedesejava-lhesconstruir.Tambémforamdiscutidastemáticasqueabordavamsituaçõesdepreconceitoàsquaisosassentadoseascriançaseramsubmetidosforadoassentamento,responsabilizando-osparaumtrabalhodemodoafortalecerasidentidadesdascriançasparaoenfrentamentoeasuperaçãodestassituações.Foidestacadoopreconceitosofridonocontextoescolarpelascrianças,queadotavammedidasparadisfarçarasmarcasdeterradotrechodecasaparaaescola.Atemáticadopreconceitoganhouespaçoquandoascriançasdoassentamentocomeçaramaapresentarproblemasnarelaçãocomoutrascriançasnaescolaedesenvolviamestratégiasindividuaisparaenfrentarsituaçõesdoestranhamentodooutro:choro;carregarsapatosadicionaisparaseremtrocadosquandochegavaàescola;usodesacosplásticosnaspernas;apeloaoconfrontofísico.Reaçõesque,porvezes,buscavamumdistanciamentodaidentidadedeSemTerrae,poroutras,procuravammantê-laedefendê-la.Nestaetapa,quedurouaproximadamentede2009a2010,temasrelativosaoprotagonismoinfantilforamintroduzidosnosencontrosdediscussãocomosassentadosadultosecomascrianças.AsiniciativasdepráticascoletivasdeescutadascriançassobresituaçõesvividasnaescolaesobreaprópriaCiranda–como,porexemplo,a

promoçãodeassembleiasereuniõesespecíficassobreessasquestõescomascrianças–foramfomentadasnaatuaçãocomosassentadoseacompanhadaspornossogrupo.Porfim,comoumterceiroamplomomentodasatividadescomosadultos,jáentre2011e2012,asnecessidadesdeincorporaçãodacriançaaoprojetoagroflorestaldoassentamentotraduziram-senaescolhadestemodelodeproduçãocomooeixonorteadordasações.Foiconstruídoumprojetodecriaçãodeumespaçocoletivodecultivopormeiodosistemaagroflorestal,especificamenteparaomanejodascriançaseadolescentes,procurandoenvolverprofissionaisdaáreaagrícolaeambiental,especialistasnestetipodemanejo.Essaescolhasinalizouparaumaintegraçãodascriançascomosujeitosdoassentamento,possíveldeserfeitaapenasporquejáestavaatreladaaumaconcepçãodecriançacomopartedeumgrupo.Noprocessodeconstruçãodesicomoeducadorespopulares,aaproximaçãosucessiva,provocadapelasatividadescrítico-reflexivas,produziuumolharnosadultosquefortaleceuasproposiçõesgeraisdomovimentosocialaoqualpertencem(MST),deinserirascriançasnaspautasdereivindicaçãodomovimentoedemelhoriasdascondiçõesdevidanoassentamento.Nesseperíodo,foramintensificadasatividadesdereivindicaçãodoMST,cruzandoasaçõeseosconteúdosdaproduçãoconjuntadoespaçodeformaçãodaCirandacomasaçõesquerealizavamcomomembrosdomovimentosocial.DopontodevistadolugardacriançanaCiranda,introduziram,deformaaindaincipiente,afunçãodoquedenominaramde“CirandeiroMirim”,distribuindopartedasresponsabilidades

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doseducadoresparaascriançasnaconduçãodaprópriaCiranda.Emtodososmomentos,umaestruturabásicatambémeraseguida:levantamentonoiníciodosemestredasdemandas,dificuldades,potencialidadesedesejosdeaçãocomascrianças;desenvolvimentodosencontroscomascriançaspormeiodediferentesrecursos;reuniõesdeavaliaçãodotrabalho,principalmenteaofinaldosemestre,comindicaçõesparaosemestreseguinteecomquestionamentossobreoscaminhosdaatuação,sobreospapéisdecadaumesobreasrelaçõesdedependência/autonomiaemrelaçãoàsnossasações.Todasasatividades,doplanejamentoàavaliação,implicavamemconstruireoperarcominstrumentosesignosdiversos,afimdefomentaredeconfigurarumabasecomumdeconversaedetroca.Recursosexpressivosvariadosforamexplorados,porexemplo:materialgráfico,dramatização,leituraeconfecçãodetextosouportadoresdetexto,criaçãodeestóriascoletivas,confecçãodecartas,confecçãodeobjetosapartirdeelementosnaturais,recursosfotográficos,jogoscriadoscomobjetivosespecíficos,usodebonecos,tapeteseobjetosnãoestruturados.Aaçãoprivilegiou,portanto,amultiplicidadedelinguagens,asdiversasdimensõesexpressivasepossibilidadesparticipativasdossujeitosenvolvidos.AsatividadescomascriançastinhamcomoeixocentralaludicidadeebuscavamtrazerparaaCirandatemasrelativosaoassentamentoeàssuasvidas,objetivandofundamentalmentequeseapropriassemdosespaços,temposerelaçõesdoassentamento.Tambémotrabalhocommúltiplaslinguagensfoiumaestratégiautilizadanoengajamento

dascriançasnasatividadesplanejadas.Osrecursosparaasaçõescomascriançasforam:desenho;dramatização;plantiodeárvores;escritadecartas;leituradehistóriasepoesias;exibiçãodefilmes;jogos;modelagemcomargila;brincadeirascombrinquedoseobjetosdanatureza;construçãodebrinquedoseobjetosapartirdemateriaisreciclados.Asatividadespodemserconsideradasdedoistipos:aquelascircunscritasaoespaçodaCiranda;eaquelasdestinadasaarticularascriançasàsaçõesdomovimentosocialedoassentamento.Noprimeirotipo,queconcentraagrandemaioriadasatividades,emcadaencontro,temáticaserampropostaspormeiodealgumrecursooulinguagem,visandofortalecerasidentidadespessoaisecoletivasepromoverodesenvolvimentodascriançasemsuasmúltiplasdimensões.Compunhamosconteúdosdasatividadestemascomo:adescobertadahistóriadedenominaçãodosnúcleosondemoravamascrianças;vivênciasdepreconceito;asminasdeáguanoassentamentoeproblemasrelativosaoseuuso;agrotóxicoeproduçãoagroecológica;riquezaambientalnoassentamento;sistemaagroflorestal;espaçosdoassentamento;espaçosdacriançanoassentamento.Nosegundotipo,asatividadeseramprincipalmenterealizadasdemodoaarticularaCirandaàsaçõesdereivindicaçãodoassentamentoeàpautalocalenacionaldoMST,nalinhadeempoderamentodascriançasedesuaconstruçãocomosujeitospolíticos.Nessesmomentos,asatividadeseramplanejadasparaqueapresençaeavozdascrianças,dealgumaforma,sefizessempresentesnessasmanifestações.Comoexemplo,podemoscitar:elaboraçãodecartasdereivindicaçãoepanfletossobreas

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condiçõesdoassentamento;desenhoseredaçõescomopressãoparaaconstruçãodaescolanoassentamento;elaboraçãodemúsicasedeteatroparaapresentaçãodaCirandaematividadescoletivasdoassentamento;registrofotográficodoassentamentoparaexposiçãonacidade.Ascartasforamlevadasporcriançaseadolescentes,acompanhadasdosadultos,àPrefeituraMunicipal,àPromotoriadeJustiça,àagênciafinanceiraresponsávelpelaliberaçãodoscréditosdareformaagráriaparaaproduçãoeparaaconstruçãodascasas.Algumasdasdemandasexpostaspelascriançasnascartas,porexemplo,foram:necessidadedeinstalaçãodeenergiaelétricanasruasecasasdoassentamento;necessidadedeconstruçãodecisternasefossassépticas;entregadeliberaçãodematerialparaconstruçãodascasas;melhoriadotransporteescolaredaestradanoassentamento.Algumasdessasreivindicaçõesreproduziamaspautasdosadultos,maseramtrazidaspelascriançascomoumaausênciacompartilhadacomoconjuntodosassentados,queafetavaprofundamentesuasvidas.Outrasreivindicaçõeseramprópriasdomundodascriançaseadolescentes,comoaconstruçãodeumparqueinfantil,deumcampodefuteboledemelhorestruturanopontodotransporteescolarparaseprotegeremdachuvaedosol.Emumadasatividades,ascartasforamredigidascomoconviteparaqueosmoradoresdacidadefossemconheceroassentamentoeforamentreguesàscriançasqueestavamemumparquepúblicomunicipallocalizadonaáreaurbana.Emrelaçãoàconstruçãodaescola,durantemuitosanos,otemafoipautadoassentamento“MárioLago”edosoutrostrêsassentamentosjuntoaosórgãosgovernamentais.Ascrianças,que

sãotransportadastodososdiasparaasescolasdacidade,foramincluídasnesteprocesso,tantoparacompreenderadiscussãoqueosadultosfaziamemtornodaescolacomoparamanifestaraosadultosaescolaquegostariamquefosseconstruídanoassentamento.UmadascartasfoientregueaoMinistérioPúblico,quemediavaadefiniçãodaáreadeconstruçãodaescola.Instaurou-seumaagendadelutapelainclusãodeverba,noorçamentomunicipal,paraaconstruçãodeescolanopróprioassentamento.Ascondiçõesdotransporteescolartambémforamobjetodeaçãodascriançascomosadultos,cujasmanifestaçõesforamlevadasaoConselhoMunicipaldeEducaçãovi,ganhandovisibilidadenamídialocal(imprensaescritaetelevisiva).Algumasdestasreivindicaçõesforamconseguidasnaaçãocontinuadadelutadocoletivodoassentamento,porexemplo,aconquistademelhorescondiçõesdosveículosparaotransporteescolareacontrataçãodeadultosassentadosparaacompanharotrajetoentreoassentamentoruraleaescola,visandoasegurançaeoconfortodascriançasnotrajeto.Foitambémrealizadaumaatividadedefotografiaparaqueascriançasregistrassemasimagensquegostariamdeapresentaremumaexposiçãonacidade.Nessaocasião,umadasfotosapresentavaopostedeenergia,acompanhadadafaladequeestavamcontentescomaquelaconquistadoassentamento.Outrasreivindicações,contudo,nãotiveramsucesso;aconstruçãodaescolanoassentamentocontinuaaindaumsonhoparaascriançaseadultos.

CONSIDERAÇÕESFINAISOcaráterprolongadodeinserçãonacomunidadeinvestiunaatuaçãocomfoco

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noprocessomaisdoquenoresultado,sendoesteumdesdobramentodacontínuareconstruçãodavidacomunitáriaedasdemandasquesemodificavamnamedidaemquedeterminadasconquistaseramalcançadaseocenáriosocioambientalsetransformava.Durantetalprocesso,foipossívelverificar,pordiferentesmanifestaçõeseindícios,apotencializaçãodoespaçosocialcomunitário,segundoaconcepçãodeGuareschi(1996).Astransformaçõesprocessuaisrelacionadasaessapotencializaçãosãorelativas:àconstruçãodaidentidadedoscirandeiros;àapropriaçãoqueascriançasfizeramdaCiranda;àparticipaçãodascriançasnaconquistademelhoriasdoassentamento;aopapeldosmembrosdaUniversidade.ApromoçãodarelaçãointergeracionalocorridanaCirandaedainteraçãodecriançasdediferentesidadesimpôsdesafiosparaaspropostasformativaseparaaconstruçãodasidentidadesdeeducadores(adultosassentados),demembrosdeummovimentosocialdelutapelaterra(crianças)edesupostosformadores(membrosdaUniversidade),constituindoumaambiênciadetrocaseaprendizadoscujashierarquiasdesaberouetáriaforamradicalmentequestionadas.AsaçõesdaPsicologianestaexperiênciapotencializaramumconvíviosocialcomunitáriodentrodoassentamentorural,reiterandoaperspectivadepromoçãodasnovasruralidadescomoespaçodevida(Carneiro,2011).Oprincipalobjetivofoicontribuirparaofortalecimentodovínculoentreossujeitoseomovimentosocialnoqualelesmilitamecomacomunidadenaqualvivem.Asrelaçõesaliestabelecidas–

mesmopermeadasportensõesecontradições–permitiramqueadultosecrianças,apartirdareconfiguraçãodassubjetividadeseconsiderandoassingularidades,pudessemprotagonizarasaçõescoletivas,assimcomoofortalecersuasatividadesindividuaisegrupaispormeiodestasações.Dentreosresultadosalcançados,destacamoscrescentedesenvolvimentoesensibilidadedacomunidadeparaaquestãodainfância.Aolongodessatrajetória,podemosacompanharasdiferentesformascomasquaisacomunidadeserelacionoucomaquestãoecomoconstantementepautouelutoupelaefetivaçãodosdireitosdascrianças,deproteção,educaçãoeparticipação.Durantemuitosmomentos,osassentadosmencionaramaimportânciadaatuaçãonointeriordaCirandaedavivênciacomosmembrosdaUniversidadecomopartedoempoderamentodosadultosedascriançasemrelaçãoàposturadiantedadefesadaspolíticaspúblicasparaainfância,oquefoitrabalhadoaolongodosencontrosdeformaçãoenasatividadescomascrianças,pormeiododesenvolvimentodesentidosampliadossobreosdireitosdascriançaseadolescentes.Contudo,ainserçãoprolongadanacomunidade,pelaforçaqueosvínculosconstruídosacabamassumindo,porvezes,comprometeualeituracríticaqueolugardaUniversidadepermitiriatrazernodiálogocomosassentados.AsconfiguraçõesdasrelaçõesentrecomunidadeeUniversidade,delongoprazo,poderiamserobjetodepesquisas,umavezquecomplexificamofazerdaPsicologiaComunitáriaapartirdedemandasvinculadasaprocessosformativos,osquaisnecessariamenterequeremumtempoprolongadoparaque

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hajatransformaçãonaspráticassociaisenasinteraçõeshumanas.Ressalta-sequenossotrabalhofoirealizadoemumacomunidadepoliticamenteengajada,principalmentedevidoàhistóriadeparticipaçãonomovimentosocialeàlutapelaconsolidaçãodoassentamentoruraldereformaagrária.Entretanto,nasavaliaçõesconjuntas,concluiu-sequeaintervençãodogrupocontribuiuparaoprocessodeempoderamentodacomunidadenadefesadosdireitosdascrianças,sejapelaofertadeconteúdoserepertórios,sejapelastransformaçõesproduzidaspeloprocessoepelasdinâmicasgrupais.Issonãosignificadizerqueascontradiçõesetensõesforamsuperadas.Aproblematizaçãodacentralidadedasatividades(seconstruídaspredominantementecomascrianças,maisdoqueparaouporelas)ganhouespaçonamedidaemqueavançavaessedebatecomoscirandeiros,evidenciando-senoplanodiscursivo;contudo,nemsempresetraduzianasuaefetivaçãoemtermosdaorganizaçãodascriançasedasrelaçõescomelasestabelecidas.Estepontoindicaparaanecessidadedepesquisasqueinvestiguemasdinâmicassociaiscomunitáriasquedificultamaconstruçãodenovasrelaçõescomascriançasedoreconhecimentodesuaconstituiçãocomosujeitodoespaçoemquehabitam.Podeestaremjogo,nesteprocesso,aproduçãodeumadicotomiaentreosdireitosdeproteçãoedeparticipaçãodascrianças,assimcomoconcepçõesunidirecionaisdesocializaçãoedeinserçãodacriançanoseugruposociocultural.TambémastransformaçõesnospapéisdosmembrosdoLAPSAPEforamintensas,desdeonecessário

aprofundamentonasquestõesrelativasaoruralbrasileiroàconstruçãoderecursosmateriaismediadoresdasinteraçõescomosassentados,adultosecrianças.Compondoaatuação,alémdapresençanaCiranda,participamosdeeventosdiversosdoassentamento,como:assembleiasgerais;atoscoletivosereuniõesdeorganizaçãosobreahomologaçãodoslotesdoassentamentoesobreaassinaturadotermodeajustamentodeconduta,quedefiniuosistemaagroflorestalcomoumdospilaresdaproduçãonolocal;festividadesecomemorações;reuniõescomosassentadosnasnegociaçõescomosórgãosgovernamentais,noatendimentoaosdireitosdascriançasàeducaçãodequalidade,principalmentenoqueserefereàdemandapelaescolanaqueleterritório,àscondiçõesdotransporteescolareàobtençãodevagasdascriançasemcrechesepré-escolas.VivenciaressasexperiênciascomosassentadosauxiliounaampliaçãodacompreensãosobreossentidosdacomunidadeesobreopapeleimportânciadaCirandanaconstruçãodoassentamentoenavinculaçãointergeracionalquealiocorre.Essaexperiênciadeatuaçãocomunitáriaacrescentouaindamuitosdesafiosaosmodoscomotrabalhávamosemorganizaçõesurbanas,ademandarumconstanteprocessodereflexãosobreopapeleoslimitesdanossaatuação,alémdaleituraacuradaedaanálisesensívelnaavaliaçãoereorganizaçãodenossasaçõesdeacordocomomomentovivenciadonacomunidade,comosadultos,ascriançasecomomovimentosocial.Aimbricaçãodemuitosdospressupostospornósadotadoscomospressupostosdoprópriomovimentosocial,dificultamumaavaliaçãoprecisasobreopapeldaintervençãojuntoàsaçõesnaquela

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comunidadeassentada.PereiraeGuzzo(2014),tambémemtrabalhorealizadocomcriançasemassentamentodereformaagrária,convocamosprofissionaisaocuparemtaisespaçosparaaconstruçãodepráticasdeconscientizaçãoefortalecimentocomunitário,mas,aomesmotempo,sinalizamcomo,muitasvezes,essasaçõessãoavaliadascomomilitânciaenãocomotrabalhoprofissional.EstaquestãoapontaparaotênuelimiarqueseestabelecenaaçãodaPsicologiaComunitáriadecunhotransformadorcomasidentificaçõeshegemônicasquecirculamnoimagináriosocialacercadosgruposquepolitizamsuascausasedemandas.Esseaspectocomportaproblematizaçõesquemereceminvestimentosfuturos,aproblematizartantoasforçasexternasqueatuamnojulgamentodaaçãodospsicólogoscomoastramasqueseestabelecementreeleseaspautasdascomunidadesvinculadasamovimentossociais.Dequalquerforma,podemosverificarquefoiexatamenteajunçãodeambosossujeitos,cimentadapelocompartilhamentodeposicionamentosepeloreconhecimentodelugaresefunçõesdistintas,queauxiliouaconstruçãodeumvínculoqueserviudefonteparaacriaçãodeespaçosdepotênciaedenossaintervençãonabuscadeumpapeldefacilitador,quedeusuporteàparticipaçãoeaoprotagonismodosmembrosdacomunidade,elementoscaracterísticosdofazernaPsicologiaComunitária(Menezes,2010).AintervençãodescritaeanalisadapermiteareflexãosobreaspotencialidadesdotrabalhodaPsicologiaComunitáriaemcomunidadesruraisdesfavorecidaseconomicamente,comoumimportantemediadordapromoçãodalutapelosdireitossociaisbásicos.Aprecariedadedaofertadeserviços,assim

comoalentidãonoprocessodareformaagrária,produzumpermanenteestadodeluta,ademandarconstantementeenergiasdosassentadosnaorganizaçãodacomunidadeparaadefesadosdireitoscoletivos.Esteaspectoconcorrecomasdemandasdavidadiária,comanecessidadedebuscaralternativasparaasobrevivênciaecomasexpectativasdeconstruçãodenovasrelaçõesgeracionaisecomoambientenatural,constituindoumasituaçãodramáticaquesubmeteosassentadosaprocessosbastantedesgastantespessoalecoletivamente,físicaementalmente.Nessesentido,aponta-separaanecessidadedepolíticaspúblicasquefavoreçamotrabalhodopsicólogoemequipesmultiprofissionaisqueatuememserviçosdeatendimentobásicoaestapopulação,pormeiodepolíticasdeeducação(escolasnosassentamentosrurais),saúde(unidadesdeestratégiadesaúdedafamília)eassistênciasocial(centrosdereferência,fortalecimentodecooperativasecentroscomunitários,porexemplo).Apresençadessesequipamentosnacomunidadepoderiaproduziraçõesintegradasegarantiroacessoaosdireitossociaisbásicos,comooscitadosnestetrabalho,porexemplo,relacionadosàinfraestrutura,transporteevagasemescolaspróximasdecasa.Alémdisto,aintervençãorelatadaapontaparaanecessidadedeinvestigaçõesfuturasnessescontextos,demodoaexplicitarasdemandasprópriaseespecíficasdessaslocalidadesparaaPsicologiaComunitáriaeosefeitosdaausênciadaspolíticaspúblicasnaorganizaçãosubjetivadesuaspopulaçõesegruposetários.Poroutrolado,tambéménecessáriaainvestigaçãodosefeitospsicológicosdepolíticasespecíficasparaessaspopulaçõesdeformaaevidenciarpossíveisprocessosde

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guetizaçãoediscriminaçãoqueasprópriaspolíticaspoderiamcausar.Ésabidoqueaspolíticaspúblicaspodemserelasmesmasprodutorasdeprocessosdeexclusão.NossaatuaçãoconduziuosprincípiosdaPsicologiaComunitáriaparaumcampodediálogocomasaçõeseducacionais,geracionaiseetárias,historicamentemarcadasporhierarquiasquedesconsideramacriançacomosujeito.Talperspectivanoslevaacompreenderacontribuiçãodenossaatuaçãonosavançoscomunitáriosnessasáreas,inclusivenacompreensãodadimensãoéticaerelacionaldestapráticaempsicologia(Montero,2008).EssesdesafiosrepresentamreflexõesquecorroboramcomMontero(2008)noqueserefereàPsicologiaComunitárianãoapenascomoummodelodeintervenção,mascomoumapráxisdereflexãocríticasobreaparticipaçãoemummomentodacomunidade,comococonstrutoradepropostasdetransformaçãosocial.

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NOTASi“Acampamento”e“assentamento”ruraldereformaagráriasãoespaços/temposquepassamacompordeformamaisintensaocenárioruralbrasileironofinaldadécadade1980.Oprimeirotermocaracterizaaocupaçãotemporáriadeterras,organizadaporfamíliasemummovimentosocialdelutapelaterra,comoobjetivodeconquistaraárea.Osegundotermorefere-sejáàsituaçãoemqueaterrafoilegalizadaparafinsdareformaagrária.

iiOLAPSAPE,situadonaFaculdadedeFilosofia,CiênciaseLetrasdeRibeirãoPreto(FFCLRP)daUniversidadedeSãoPaulo(USP),foicriadoemmaiode2015,resultadododesdobramentodostrabalhosdogrupoatéentãodenominadoSEITERRA(Subjetividade,EducaçãoeInfânciaemTerritóriosRuraisedeReformaAgrária).Aexpansãodaatuaçãoemcomunidadesnãoapenaslocalizadasemáreasruraiseointeresseemumaperspectivacominfluênciadosdebatesdarelaçãoentresujeitos,comunidadeequestõesambientaisimpulsionouacriaçãodesteLaboratório.FazempartedoLAPSAPEalunosdegraduaçãoemPsicologia,deiniciaçãocientífica,mestrado,doutoradoepsicólogosepedagogosjáformadospelogrupo.

iiiOsacampamentoseosassentamentosruraisvinculadosaoMSTestruturam-seemtornodesetoresedeumacoordenaçãogeral.Osprincipaissetoressão:saúde;segurança;esporte,culturaelazer;finanças;secretaria;educação;produção(Firmiano,2009).Osmembrosdossetoresedacoordenaçãogeralestãosubordinadosàsdecisõesdaassembleiageral,realizadaperiodicamente.Alémdaorganizaçãosocialacimadescrita,háasetorizaçãorelacionadaàdivisãoespacialpormeiodelotesindividuaisedeáreascoletivas,sendoqueumconjuntodeterminadodeloteséconsideradoumnúcleo,cadaqualpossuindoumrepresentantenacoordenaçãogeral.Todasasrepresentaçõessãoigualmentecompostasporhomensemulheres.

ivMárioLagofoiumintelectualmarxistaeartistabrasileirocomexpressãonacional,vinculadoaumideáriodeesquerda.ÉumapráticadoMSTnomearosterritóriosporelesocupadoscomnomesdepersonalidadesassociadasàsbandeirasdosmovimentospopulares.

vNesseprimeiromomento,ostemasabordadosnosencontrosbasicamentetrataramdoresgatedasbrincadeirasnahistóriadevidadecadaum,dorepertóriodebrincadeirasedaculturapopularnacomunidade,alémdediscussõessobreinfânciaedireitosdacriança.

viInstânciadedefiniçãodaspolíticaspúblicasdeeducação,oConselhoMunicipaldeEducaçãoéconstituídopormembrosdaadministraçãopúblicaindicadospelopoderpúblicomunicipaleporrepresentanteseleitosdasociedadeciviledeentidadesdeclassevinculadasaáreadaeducação.