6
GLOBALIZAÇÃO E CULTURA 1. A identidade no mundo globalizado Desde a segunda metade do século xx, houve um processo de transformação radical das culturas locais. Entre os fatores que propiciaram essas mudanças está o fim da Guerra Fria. Uma nova geopolítica instalou-se no mundo. As nações passam a se aproximar política e comercialmente. Estabelece-se um grande mercado global por onde circulam mercadorias que passam a ser consumidas por qualquer pessoa em qualquer ponto do globo. Essas mercadorias transformam os hábitos e costumes dos mais distantes países e dos mais diferentes povos. Diversos produtos culturais como cinema, música, esportes, comidas, religião, principalmente americanos, passam a fazer parte do repertório da população das mais diferentes áreas do globo. Isso significa que há uma mudança nas identidades sociais decorrentes da passagem de identidades culturais relacionadas com o território, para outras que apresentam um aspecto transnacional, não diretamente vinculadas a uma base territorial. Isto não significa que há uma perda da identidade nacional em prol de uma transnacional, mas uma interação recíproca entre essas duas realidades. Os processos de difusão se aceleram e com a invasão da cultura global, favorecida pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e da internet cada vez mais ágeis, rápidos e eficientes, os traços mais tradicionais vão se enfraquecendo e os jovens passam a adotar outras formas de vida e relacionamento, promovendo alterações em sua própria cultura nacional. O impulso da busca da identidade convive com um amplo movimento de transformação social que faz emergir novas formas de sociabilidade e associação. Esportes inovadores como o Le Parkour, formas de entretenimento tecnológicas como o facebook e o youtube, religiões que congregam multidões em encontros mundiais, proporcionam formas de aproximação

Globalização e Cultura

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Globalização e CulturaGlobalização e CulturaGlobalização e Cultura

Citation preview

Page 1: Globalização e Cultura

GLOBALIZAÇÃO E CULTURA

1. A identidade no mundo globalizado

Desde a segunda metade do século xx, houve um processo de transformação radical das culturas locais. Entre os fatores que propiciaram essas mudanças está o fim da Guerra Fria. Uma nova geopolítica instalou-se no mundo. As nações passam a se aproximar política e comercialmente. Estabelece-se um grande mercado global por onde circulam mercadorias que passam a ser consumidas por qualquer pessoa em qualquer ponto do globo.

Essas mercadorias transformam os hábitos e costumes dos mais distantes países e dos mais diferentes povos. Diversos produtos culturais como cinema, música, esportes, comidas, religião, principalmente americanos, passam a fazer parte do repertório da população das mais diferentes áreas do globo. Isso significa que há uma mudança nas identidades sociais decorrentes da passagem de identidades culturais relacionadas com o território, para outras que apresentam um aspecto transnacional, não diretamente vinculadas a uma base territorial. Isto não significa que há uma perda da identidade nacional em prol de uma transnacional, mas uma interação recíproca entre essas duas realidades.

Os processos de difusão se aceleram e com a invasão da cultura global, favorecida pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e da internet cada vez mais ágeis, rápidos e eficientes, os traços mais tradicionais vão se enfraquecendo e os jovens passam a adotar outras formas de vida e relacionamento, promovendo alterações em sua própria cultura nacional.

O impulso da busca da identidade convive com um amplo movimento de transformação social que faz emergir novas formas de sociabilidade e associação. Esportes inovadores como o Le Parkour, formas de entretenimento tecnológicas como

o facebook e o youtube, religiões que congregam multidões em encontros mundiais, proporcionam formas de aproximação e afinidade pessoal cujo caráter mais esporádico e provisório estimula e satisfaz a busca identitária.

Na sociedade contemporânea experimentam-se formas inusitadas e precárias de sociabilidade e de pertencimento que substituem antigos modelos de formação da

identidade individual e coletiva. Exemplo desse sentimento de identidade que assume

importância inédita são as torcidas organizadas e os fãs-clubes de celebridades, que integram pessoas por certo tempo. A aglomeração por elementos identitários desta natureza faz surgir o fenômeno do tribalismo contemporâneo.

Imagem disponível em: http://passageirosdaadolescencia.blogspot.com.br/2011/01/le-parkour.html

Page 2: Globalização e Cultura

No mundo globalizado, com a perda da força aglutinadora dos Estados nacionais na formação das identidades nacionais, outras formas sociais são ressignificadas. Os grupos sociais que unem defensores de causas sociais ou determinados seguidores de determinadas crenças ou apaixonados por esportes ou animais ou admiradores de uma celebridade ou moradores de determinados bairros ou pessoas com a mesma opção sexual ou portadores de alguma característica física comum, entre outros, então se multiplicam e constituem-se em alternativa viável de identificação.

#@ Para refletir: A juventude atual está submetida a uma era em que impera a velocidade, o descartável (tudo se torna obsoleto rapidamente), a superficialidade, a fragmentação. Como você associa isso às manifestações nas ruas do Brasil em Junho de 2013?

2. Fundamentalismos e novas formas de pertencimento

As religiões são fonte de ideias, modos de pensar e crer e ser. No mundo contemporâneo, embora haja uma proliferação de religiões e igrejas semelhantes entre si, seus rituais diferem daqueles que caracterizam a vida religiosa no passado. As religiões atuais que congregam mais adeptos se caracterizam por cultos ruidosos em grandes templos, em que os membros manifestam publicamente a fé.

Evangélicos, maçônicos, católicos, islâmicos, judeus, cabalistas, umbandistas, entre outros, em busca de conforto, refúgio, segurança e identidade fornecidas por uma doutrina baseada em textos sagrados e mediada pela autoridade religiosa (sacerdote, monge, pastor, etc), muitos fiéis reúnem-se em torno de manifestações fundamentalistas. Contra qualquer dissidência ou debate, os fundamentalistas defendem a interpretação restrita dos textos sagrados como o Alcorão e a Bíblia, capazes de resistir ao relativismo da vida moderna.

O movimento fundamentalista islâmico, por exemplo, apoiado na defesa do Alcorão e na guerra santa é um dos mais evidentes, especialmente após o atentado de 11 de setembro de 2001 contra o World Trade Center, em Nova York, realizado por terroristas da organização Al-Qaeda. O uso de ações terroristas, das quais participam soldados suicidas, alarma todo o mundo e alerta para o crescimento da violência religiosa. Por ser contra o desenvolvimento do capitalismo, o fundamentalismo islâmico adquire, por vezes, conotações políticas de resistência ao poder hegemônico do capital e, consequentemente, dos Estados Unidos.

Embora conservadoras, as igrejas fundamentalistas utilizam os meios de comunicação mais modernos para a divulgação de seus princípios. Muitas emissoras de rádio e

Imagem disponível em: http://www.pime.org.br/mundoemissao/religgeralseculo.htm

Page 3: Globalização e Cultura

televisão no Brasil pertencem a grupos evangélicos e católicos carismáticos, que adotam a comunicação massiva como instrumento de conversão.

#@ Para refletir: Como o crescimento do fundamentalismo religioso no mundo globalizado tem se mostrado um entrave no reconhecimento e/ou ampliação dos direitos humanos das minorias?

3. Homogeneização ou fragmentação: uma falsa questão

Quando se discute as conseqüências culturais da globalização, em geral, parte-se de dois cenários colocados em extremos opostos: da homogeneização e da fragmentação. Embora seja uma simplificação, é útil para compreensão do processo que ocorre mundialmente.

O cenário mais conhecido e divulgado representa a globalização como uma homogeneização cultural. Nessa condição, as diferentes sociedades existentes no mundo estão sendo contagiadas por uma oferta de produtos culturais disponíveis globalmente. Argumenta-se, assim, que nos mais distantes pontos do planeta, come-se McDonald’s, bebe-se Coca-Cola, assiste-se MTV ou CNN, fala-se em direitos humanos, utiliza-se smartphones, trabalha-se com computadores Dell que utilizam produtos Microsoft, as características culturais de cada região estão seriamente ameaçadas. Como essas ideias e mercadorias , em sua maioria, têm origem ocidental, a globalização é percebida como ocidentalização disfarçada ou simplesmente americanização do mundo.

O outro cenário que se apresenta é o da fragmentação cultural e conflitos interculturais. O tribalismo tornou-se um fenômeno mundial, manifestando-se na crescente ênfase na diversidade, em vez da unidade. Dessa forma, a globalização seria uma realidade nova, que integra e recria singularidades e particularidades.

Mas as duas proposições opostas (homogeneização e

diversidade) não levam em conta o fenômeno da transculturação, durante o qual a difusão de valores globais provoca reações nas comunidades locais – de rejeição, mas também de incorporação e reinterpretação de novos hábitos e costumes. Assim, não há uma assimilação passiva de influências globais e estrangeiras por parte das diferentes populações. Ou ocorre uma resistência ou há a incorporação contextualizada e local.

Imagem disponível em: http://www.materiaincognita.com.br

Page 4: Globalização e Cultura

A resistência às influências estrangeiras ocorre das mais diversas maneiras. Muitas partem dos próprios governos locais, que procuram criar barreiras, como a censura à internet, a proibição do uso de palavras estrangeiras nos anúncios, etc. Outras resistências partem de movimentos sociais e de alguns setores da sociedade: surgem movimentos fundamentalistas que se apegam às tradições como resistência à globalização ocidentalizante.

Mas, de um modo geral, há uma predominância na incorporação e apropriação das influências estrangeiras nas vidas dos diferentes povos do mundo. Há um processo de adaptação no qual a mercadoria ou as ideias são incorporadas ao modo local. Não deixa de ser um produto ou ideia global, mas não é igual em todo lugar. O próprio McDonald’s sofre adaptações em todo o mundo: na Índia, seu sanduíche mais famoso, o Big Mac, não utiliza carne de vaca; na República Theca é fortemente temperado com páprica, entre outros exemplos. A boneca Barbie adapta-se às expectativas locais, identificando-se com as características étnicas de diferentes populações.

#@ Para refletir: Nas teorias em geral sobre globalização, admite-se a predominância da incorporação cultural, mesmo a partir da transculturação algumas culturas poderiam correr o risco de serem destruídas?

Bibliografia:

COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2011

DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.